F R E I JOSÉ AP. DE ANDRADE JOÃ O M ARCOS ANDRIETTA
Esperança na Dor O sentido cristão do sofrimento humano
“Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, meus olhos te veem” (Jó 42, 5).
Apresentação O conteúdo desta publicação é fruto da experiência vivida entre o frei José Aparecido de Andrade e João Marcos Andrietta,
na
busca
de
compreenderem a realidade do
Sofrimento
Humano.
Ambos desejam compartilhar com quem sofre tudo o que aprenderam.
Índice Apresentação
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Finalidade
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Objetivo
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Definição de Sofrimento Humano
O Sentido Cristão do Sofrimento Humano
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Esperança na Dor
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Sofrimento e Consciência
O Livro de Jó
A Dor da Salvação
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Testemunhos
Unção dos Enfermos
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O Ofício de Curar
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Oração do Enfermo
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Mensagem Final
Esperança na Dor
Objetivo Trazer esclarecimentos sobre algumas teologias que entendiam o sofrimento como castigo, porque a mentalidade predominante era a da teologia da retribuição, isto é, premiar os bons e castigar os maus. A Bíblia registrou e tratou com detalhes essa linha de pensamento no Livro de Jó, que por si só fornece muitos elementos de reflexão, nos conduzindo à devida compreensão de que o sofrimento é parte integrante do ser humano. Mas, o livro relata que os amigos de Jó queriam convencê-lo de que ele sofria e devia ser castigado por causa dos seus pecados. No entanto, ao longo da sua história Jó esclareceu que o Deus que conhecia não punia, e sim libertava.
Finalidade Esta publicação visa ajudar o doente, seus familiares e amigos a compreenderem o sentido cristão do sofrimento humano, a partir da sua própria vivência de dor, pois a condição que se encontra é uma oportunidade para rever a vida e crescer espiritualmente. Além desta situação, a experiência de padecer propícia a chance de ampliar o conhecimento a respeito de si mesmo, e a ocasião de ser cuidado por alguém proporciona melhor entendimento da relação paciente – cuidador, por meio da qual, ambos podem obter imenso aprendizado. A prioridade deste instrumento de formação e informação é desfazer a ideia de que o sofrimento é um castigo, que faz surgir com frequência a indagação: Por que comigo? Porque como criaturas humanas ninguém está isento de ser acometido de sofrimentos. Por isso, a compreensão do significado do padecimento ajuda a aceitar e a conviver com tal realidade, tornando o fardo mais leve, conforme a promessa de Jesus ao anunciar: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fadigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos dareis descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30).
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O sentido cristão do sofrimento humano
Definição de Sofrimento Humano “O sofrimento humano suscita compaixão, inspira também respeito e, a seu modo, intimida. Nele, efetivamente, está contida a grandeza de um mistério específico. Este respeito particular por todo e qualquer sofrimento humano deve ficar assente (= definido ou determinado) no princípio de quanto vai ser explanado a seguir, que promana (= procede ou deriva) da necessidade mais profunda do coração, bem como de um imperativo da fé. Estes dois motivos parecem aproximar-se particularmente um do outro e unir-se entre si, quanto ao tema do sofrimento: a necessidade do coração impõe-nos vencer a timidez; e o imperativo da fé proporciona o conteúdo, em nome e em virtude da qual nós ousamos tocar naquilo que parece ser tão intangível em cada um dos homens; efetivamente, o homem no seu sofrimento permanece um mistério intangível” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 4). “Não se trata aqui, como se verá, somente de fazer uma descrição do sofrimento. Existem outros critérios, que estão para além da esfera da descrição, dos quais devemos lançar mão quando queremos penetrar no mundo do sofrimento humano. A medicina, enquanto ciência e, conjuntamente, como arte de curar, descobre no vasto terreno dos sofrimentos do homem o seu setor mais conhecido; ou seja, aquele que é identificado com maior precisão e, correlativamente, contrabalançado pelos métodos do «reagir» (isto é, da terapia). Contudo, isso é apenas um setor. O campo do sofrimento humano é muito mais vasto, muito mais diversificado e mais pluridimensional (= várias dimensões). O homem sofre de diversas maneiras, que nem sempre são consideradas pela medicina, nem sequer pelos seus ramos mais avançados. O sofrimento é algo mais amplo e mais complexo do que a doença e, ao mesmo tempo, algo mais profundamente enraizado na própria humanidade. É nos dada uma certa ideia quanto a este problema pela distinção entre sofrimento físico e sofrimento moral. Esta distinção toma como fundamento a dupla dimensão do ser humano e indica o elemento corporal e espiritual como o imediato ou direto sujeito do sofrimento. Ainda que se possam usar, até certo ponto, como sinônimas as palavras «sofrimento» e «dor», o sofrimento físico dá-se quando, seja de que modo for, «dói» o corpo; enquanto que o sofrimento moral é «dor da alma». Trata-se, de fato, da dor de tipo espiritual e não apenas da dimensão «psíquica» da dor, que anda sempre junta tanto com o sofrimento moral, como com o sofrimento físico. A amplidão do sofrimento moral e a multiplicidade das suas formas não são menores do que as do sofrimento físico; mas, ao mesmo tempo, o primeiro apresenta-se como algo mais difícil de identificar e de ser atingido pela terapia”. (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 5). “A Sagrada Escritura é um grande livro sobre o sofrimento. Do Antigo Testamento fazemos menção apenas de alguns exemplos de situações que patenteiam as marcas do sofrimento; e, em primeiro lugar, do sofrimento moral...”. “Não se pode negar, efetivamente, que os sofrimentos morais têm também uma componente «física», ou somática, e que frequentemente se refletem no estado geral do organismo” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 6).
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Esperança na Dor
O Sentido Cristão do Sofrimento Humano “No fundo de cada sofrimento experimentado pelo homem, como também na base de todo o mundo dos sofrimentos, aparece inevitavelmente a pergunta: por quê? É uma pergunta acerca da causa, da razão e também acerca da finalidade (para quê?); trata-se sempre, afinal, de uma pergunta acerca do sentido. Esta não só acompanha o sofrimento humano, mas parece até determinar o seu conteúdo humano, o que faz com que o sofrimento seja propriamente sofrimento humano. A dor, como é óbvio, em especial a dor física, encontra-se amplamente difundida no mundo dos animais. Mas só o homem, ao sofrer, sabe que sofre e se pergunta o porquê; e sofre de um modo humanamente ainda mais profundo se não encontra uma resposta satisfatória. Trata-se de uma pergunta difícil, como é também difícil uma outra muito afim, ou seja, a que diz respeito ao mal. Por quê o mal? Por quê o mal no mundo? Quando fazemos a pergunta desta maneira fazemos sempre também, ao menos em certa medida, uma pergunta sobre o sofrimento. Ambas as perguntas são difíceis, quando o homem as faz ao homem, os homens aos homens, como também quando o homem as apresenta a Deus. Com efeito, o homem não põe esta questão ao mundo, ainda que muitas vezes o sofrimento lhe provenha do mundo; mas põe-na a Deus, como Criador e Senhor do mundo. É bem sabido que, quando se calcorreia (= caminha) o terreno desta pergunta, se chega não só a múltiplas frustrações e conflitos nas relações do homem com Deus, mas sucede até chegar-se à própria negação de Deus. Se, efetivamente, a existência do mundo como que abre o olhar da alma à existência de Deus, à sua sapiência, poder e magnificência, então o mal e o sofrimento parecem ofuscar esta imagem, às vezes de modo radical; e isto mais ainda olhando ao quotidiano com a dramaticidade de tantos sofrimentos sem culpa e de tantas culpas sem pena adequada. Esta circunstância, portanto — mais do que qualquer outra, talvez — indica quanto é importante a pergunta sobre o sentido do sofrimento e com que acuidade se devam tratar, quer a mesma pergunta, quer as possíveis respostas a dar-lhe” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 9). “O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a, como vemos na Revelação do Antigo Testamento. A pergunta encontrou a sua expressão mais viva no Livro de Jó. É conhecida a história deste homem justo que, sem culpa nenhuma da sua parte, é provado com inúmeros sofrimentos. Perde os seus bens, os filhos e filhas e, por fim, ele próprio é atingido por uma doença grave. Nesta situação horrível, apresentam-se em sua casa três velhos amigos que procuram — cada um com palavras diferentes — convencê-lo de que, para ter sido atingido por tão variados e tão terríveis sofrimentos, deve ter cometido alguma falta grave. Com efeito, dizem-lhe eles, o sofrimento atinge o homem sempre como pena por uma culpa; é mandado por Deus, que é absolutamente justo e age com motivações que são da ordem da justiça. Dir-se-ia que os velhos amigos de Jó querem não só convencê-lo da justeza moral do mal, mas, de algum modo, procuram defender, aos seus próprios olhos, o sentido moral do sofrimento. Este, a seu ver, pode ter sentido somente como pena pelo pecado; e portanto, exclusivamente no plano da justiça de Deus, que paga o bem com o bem e o mal com o mal. O ponto de referência, neste caso, é a doutrina expressa noutros escritos do Antigo Testamento, que nos apresentam o sofrimento como castigo infligido por Deus pelos pecados dos homens. O Deus da Revelação é Legislador e Juiz em plano tão elevado, que nenhuma autoridade temporal o pode alcançar. O Deus 8
O sentido cristão do sofrimento humano
da Revelação, efetivamente, primeiro que tudo é o Criador, do qual provém, juntamente com a existência, o bem que é essencial à criação. Por conseguinte, a violação consciente e livre deste bem, por parte do homem, é não só transgressão da lei, mas também ofensa ao Criador, que é o Primeiro Legislador. Tal transgressão tem caráter de pecado no sentido próprio, isto é, no sentido bíblico e teológico desta palavra. Ao mal moral do pecado corresponde o castigo, que garante a ordem moral no mesmo sentido transcendente em que esta ordem foi estabelecida pela vontade do Criador e Supremo Legislador. Daqui se segue também uma das verdades fundamentais da fé religiosa, baseada igualmente na Revelação; ou seja, que Deus é juiz justo, que premia o bem e castiga o mal: «Vós, Senhor, sois justo em tudo o que fizestes; todas as vossas obras são verdadeiras, retos os vossos caminhos, todos os vossos juízos se baseiam na verdade, e tomastes decisões conforme a verdade em tudo o que fizestes que nos sobreviesse e à cidade santa dos nossos pais, Jerusalém. Sim, em verdade e justiça nos infligistes todos estes castigos por causa de nossos pecados» (23 – Salmo 118 (119), 137 ss.). Na opinião manifestada pelos amigos de Jó exprime-se uma convicção que também se encontra na consciência moral da humanidade: a ordem moral objetiva exige uma pena para a transgressão, para o pecado e para o crime. Sob este ponto de vista, o sofrimento aparece como um «mal justificado». A convicção daqueles que explicam o sofrimento como castigo pelo pecado apoia-se na ordem da justiça, e isso corresponde à opinião expressa por um dos amigos de Jó «Pelo que vi, aqueles que cultivam a iniquidade e os que semeiam a maldade também as colhem»” (24 – Jó 4, 8). (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 10).
O Livro de Jó Convém abordar com maiores detalhes a história de Jó, contextualizada na obra intitulada “O Livro de Jó”, de Ivo Storniolo, pela Editora Paulus, que presta relevantes esclarecimentos a respeito desse personagem considerado a referência do sofrimento. O Livro de Jó conta a sucessão dos acontecimentos trágicos envolvendo um homem temente a Deus que, apesar de passar por provações e privações sem limites, de todos os infortúnios, não vacila na fé e nem afrouxa a sua fidelidade a Deus. Destaca-se da obra mencionada dois trechos bastante intrigantes, que despertam o interesse de uma reflexão mais aprofundada com relação às inquietações de Jó. Vejamos: — “Estou cansado da minha vida” Começa o longo debate entre Jó e seus amigos, obra do autor exílico. O foco da atenção é, à luz da teologia da época, centralizado no dogma da retribuição, buscando compreender os motivos de tudo o que aconteceu com Jó. O temperamento do personagem mudou. O “Jó paciente” da lenda desaparece. Agora começamos a ver o que se passa no interior de Jó e, nas mãos do autor exílico, ele se torna rebelde e questionador, alguém que luta com todas as forças para preservar o único bem que lhe resta: integridade de caráter. Isso mostra a intenção do autor. Para ele, os três 9
Esperança na Dor amigos representam uma nova investida do satã. A dúvida que eles vão levantar é se Jó é mesmo um justo. Não é o que sempre acontece com o pobre e o doente? Não pensamos logo que eles são os únicos responsáveis pela sua própria situação lastimável? Este é o problema: Até que ponto o povo empobrecido e enfraquecido pode sustentar a própria honradez e boa fama? Não costumamos dizer que o pobre é preguiçoso e vagabundo, e que o doente é sem dúvida um depravado e suicida? — Jó: Eu quero a morte! O pesado silêncio é rompido, e Jó não amaldiçoa Deus, mas o dia do próprio nascimento. Como reage a pessoa que foi satanicamente atingida pelo empobrecimento e pela doença? Com desespero. Longe de confessar puramente a sua fé, ele agora expressa apenas três desejos que se alternam: seria preferível nunca ter sido concebido, ou ter sido um aborto ou morrido ao nascer, ou então morrer imediatamente. Os três desejos são os de alguém que se debate entre a vida e a morte. Primeiro Jó tenta negar a própria existência, e a melhor forma é desejar nunca ter sido concebido – aquela noite jamais deveria ter entrado no calendário, ou o mundo deveria ter acabado antes dela. De fato, para que gerar um ser vivo se a vida é tão cruel? Mas Jó foi concebido. Então melhor seria ter tido a sorte de um aborto, ou ter morrido logo ao nascer. Desse modo, ele não sofreria por causa das desigualdades sociais: reis, governantes, nobres, injustos, esgotados, pequenos e grandes, prisioneiros e escravos... – todos eles ficam igualados pela morte. Resta a pergunta: Por que a vida não produz a mesma igualdade? Será que a morte é mais forte do que a vida? Mas Jó não foi abortado, nem morreu logo ao nascer. O que lhe resta? Desejar a morte agora mesmo. Se não existe nenhum caminho de vida, é melhor morrer, porque “vivo sem paz, sem tranquilidade e sem descanso, em continuo sobressalto”. E fica a terrível pergunta dirigida a Deus: “Para que (Deus) dar à luz a um homem que não encontra caminho, porque (próprio) Deus o cercou de todos os lados?”. Suspeita grave. Será que foi Deus mesmo que o cercou? Eis como reage interiormente o pobre e doente. Depois de sete dias e sete noites de mergulho em si próprio, a conclusão desesperadora é a de que a vida não tem sentido, e a única alternativa seria a morte. Será essa a saída para ¾ da humanidade? Melhor que não existisse, ou que já tivesse morrido, ou que morresse agora mesmo? Portanto, como visto acima, vale a pena as pessoas desconsoladas, em virtude de alguma fatalidade, conhecerem os pormenores da existência deste símbolo das agruras da vida, que mesmo vivendo gravíssimo flagelo faz a sua experiência com Deus e confessa a Ele: “Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, meus olhos te veem” (Jó 42, 5).
Esperança na Dor “Mas para se poder perceber a verdadeira resposta ao «porquê» do sofrimento, devemos voltar a nossa atenção para a revelação do amor divino, fonte última 10
O sentido cristão do sofrimento humano
do sentido de tudo aquilo que existe. O amor é também a fonte mais rica do sentido do sofrimento que, não obstante, permanece sempre um mistério; estamos conscientes da insuficiência e inadequação das nossas explicações. Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o «porquê» do sofrimento, na medida em que nós formos capazes de compreender a sublimidade (= perfeição) do amor divino. Para descobrir o sentido profundo do sofrimento, seguindo a Palavra de Deus revelada, é preciso abrir-se amplamente ao sujeito humano com as suas múltiplas potencialidades. É preciso, sobretudo, acolher a luz da Revelação, não só porque ela exprime a ordem transcendente da justiça, mas também porque ilumina esta ordem com o amor, qual fonte definitiva de tudo o que existe. O Amor é ainda a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento. Esta resposta foi dada por Deus ao homem na Cruz de Jesus Cristo” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, Dor Salvífica, Papa João Paulo II – Tópico 13).
A Dor da Salvação “Deus em sua sabedoria e bondade infinitas, sabe aproveitar o próprio mal cometido pelas criaturas para daí tirar bens maiores. O povo já se acostumou a dizer que “Deus escreve reto por linhas tortas”, e que “as pessoas se convertem pelo amor ou pela dor”. É nessa hora sagrada que os corações se unem, as mãos se apertam e o filho lembra-se do Pai. Não fora o sofrimento angustiante daquele filho pródigo do Evangelho, jamais ele teria abandonado a vida devassa e voltado para a boa casa do Pai. Sim, o sofrimento é sagrado! É nele que encontramos a nós mesmos e encontramos os outros, sem máscaras, sem enfeites e sem enganos. Ele não foi criado por Deus, mas Cristo lhe deu um enorme sentido. Somente Cristo! Lembra o Concílio Vaticano II: “Por Cristo e em Cristo se esclarece o enigma da dor e da morte” (Gaudium et Spes - Tópico 22). São Paulo ensina que “Onde abundou o pecado, aí superabundou a graça” (Rm 5, 20). Isto quer dizer que Deus não ficou indiferente à desgraça do homem por causa do pecado; ao contrário, assumiu e enfrentou o problema. E qual foi a solução de Deus? A mais difícil para Ele. Enviou o seu Filho ao mundo, como homem, como um “novo Adão”, para ser a nova Cabeça da humanidade redimida”. “Cristo assumiu a dor e a morte de cada homem até as últimas consequências. A partir da morte de Jesus, o sofrimento humano passou a ter sentido; agora Ele não é simples consequência do pecado ou castigo da justiça divina; Ele foi redimido e passou a ser matéria prima da salvação; por meio d´Ele o homem pode voltar a Deus. Cristo se oferece como vítima de sacrifício pelos pecados dos irmãos; assim eliminou a causa primeira do sofrimento, o pecado, e amou e obedeceu ao Pai como Adão não quis fazer. “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por nós a fim de que nos tornássemos justiça de Deus por Ele”. (2ª. Cor 5, 21). Então, agora, todo sofrimento é redentor, tem um sentido. Agora, nenhum sofrimento e nenhuma lágrima são perdidos depois que Cristo sofreu. Por isso a Igreja reza: “com a Sua morte destruiu a morte, e com a Sua ressurreição devolveu-nos a vida” (Missa do Tempo Pascal). “O Senhor bebeu o cálice da dor, até a última gota, para que todo o sofrimento da terra fosse resgatado, transformado (transfigurado) e divinizado. Qualquer que seja a dor, ela é parte da mesma dor do Senhor, pois Ele a assumiu na Sua Santa Paixão. É por isso que São Paulo afirma: “Contemplo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo” (Col 1, 24). “Quando você sofre com Cristo, ajuda-O a salvar os irmãos. Podemos então dizer que
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Esperança na Dor Cristo transformou o sofrimento, que antes era tragédia sem sentido, em graças para o mundo. Deus quis salvar os homens por Cristo, inocentes, mas também por aqueles que se unem a Cristo pela santidade de sua vida. Cristo quis prolongar a sua Paixão redentora nos membros do seu Corpo: a Igreja, você; dando a cada um de nós a oportunidade de se associar a Ele na sua obra redentora, isto nos torna dignos de Jesus Cristo. Por isso, o sofrimento é transcendente, ultrapassa o sofrer de um simples ser biológico. O mundo precisa muito de almas reparadoras. Deus chama muitas pessoas dispostas a se imolarem pela salvação dos outros. “Eis uma verdade absolutamente certa: Se morremos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos perseverar, com Ele reinaremos” (2ª. Tm 2, 11-12). Isto fazia São Paulo olhar o sofrimento que padecia por Cristo e pelo Evangelho, com muito amor: “Em tudo somos atribulados, mas não oprimidos; perplexos, mas não desesperados; perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não perdidos; por toda parte levamos sempre no corpo os sofrimentos de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo. De fato, enquanto vivemos, somos continuamente entregues à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na nossa carne mortal... Com certeza de que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, nos ressuscitará também a nós com Jesus” (2ª. Cor 4, 8-11.14). “Se alguém quer vir após mim, tome a sua cruz todos os dias e siga-me” (Lc 9, 23). O caminho que leva ao Reino dos Céus é estreito e apertado, em oposição ao caminho largo e espaçoso que conduz à perdição (Mt 7, 13s). Para ser fiel a Cristo, o cristão tem que estar preparado para suportar injúrias e tribulações: “O servo não é maior do que o seu Senhor. Se perseguiram a Mim, também a vós hão de perseguir” (Jo 15, 18-21); “No mundo tereis que sofrer. Mas tende confiança. Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). Na medida que tomamos e assumimos a nossa cruz, unindo-nos espiritualmente à cruz de Cristo, vamos sentindo o valor salvífico do sofrimento; e esta descoberta é acompanhada de paz interior e alegria espiritual. Isto levava o Apóstolo a dizer: “Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa” (Col 1, 24). No último parágrafo da Carta Apostólica sobre o sofrimento, o Papa João Paulo II dirigiu um apelo caloroso aos que sofrem: “Pedimos a todos vós que sofreis, que nos ajudeis. Precisamente a vós, que sois fracos, pedimos que vos torneis uma fonte de força do bem e do mal, de que o nosso mundo contemporâneo nos oferece o espetáculo, que vença o vosso sofrimento em união com a Cruz de Cristo” (Salvifici Doloris – Tópico 31) - O conteúdo desta parte intitulada “A Dor da Salvação”, foi extraído na íntegra do livro “Sofrendo na Fé”, Profº. Felipe Aquino, Editora Cléofas.
Sofrimento e Consciência É oportuno ainda, transcrever um trecho do livro O Mal e o Sofrimento, de Dominique Morin, pela Editora Loyola, que traz interessante abordagem sobre o tema central desta reflexão, e ressalta: As dimensões da infelicidade: “Múltiplas, infelizmente, são as desgraças que podem se abater sobre nós. Múltiplas, igualmente, são as respostas possíveis a esses rasgos que fazem duramente surgir as questões “por quê?” e sobretudo, “por quê eu?”. “Tais questões surgem em nós porque temos uma consciência aguda de nossa finitude e de nossos limites. Porque somos capazes de pensar sobre o que nos acontece e porque 12
O sentido cristão do sofrimento humano
discernimos mais ou menos os males que estão na origem de nossos sofrimentos e que os engendram. Porque sentimos haver uma diferença entre as causas imediatas do mal e do sofrimento, e da falta de sentido do que acontece e nos mergulha na confusão”. Uma dolorosa tomada de consciência: “Não há realmente mal e sofrimento antes da aparição da consciência. O universo material e o mundo vegetal não sofrem. Um objeto nunca se sente mal, e é preciso recusar a tendência que temos de projetar nossos sentimentos na natureza e batizar de “mal” o que de fato é “natural’. Assim, um terremoto não é, em si, nem um bem, nem um mal. É simplesmente fenômeno geológico. Só se torna um mal quando custa a vida de homens – de animais – porque então há sofrimento”. “Sofrimento e consciência estão, portanto, estreitamente relacionados; e, quanto mais viva a consciência mais o sofrimento cresce. Contrariamente ao animal, o homem não se conforma em sofrer. Ele sabe que sofre, o que duplica o sofrimento. Sem contar que ele não vive o seu sofrimento somente no presente. O seu passado pode obcecá-lo a ponto de fazê-lo prisioneiro de terríveis remorsos e conduzi-lo à depressão. O mesmo acontece com seu futuro, que ele pode temer até o ponto de impedi-lo de viver. Por outro lado, ele sabe que é mortal, e a perspectiva da morte assombra o horizonte de toda vida. Finalmente, tudo isso lhe parece mais injusto porque ele tem em si um imenso desejo de felicidade”. O livro aprofunda a análise a respeito do sofrimento, apresentando a seguinte conclusão: “O sofrimento pode ser uma travessia do deserto espantosamente renovadora. Nos casos mais graves, a destruição pode ser absoluta: a lembrança do passado só oferece dor, o presente não é nada além de terror, teme-se o futuro. Diante de um mal implacável, todos os apoios humanos se evaporam. O próprio Deus parece ausente”. O sofrimento, eco doloroso do mal, em nós: “A grande diferença entre o animal e o homem é que este último pode refletir sobre o sofrimento e identificar sua origem: o mal em sua dupla dimensão, física e moral”. “Na raiz do sofrimento, efetivamente, existe o mal em suas incontáveis formas: a doença física ou psíquica, as preocupações, os medos, as mágoas da sensibilidade, o amor decepcionado, as violências físicas e morais com suas consequências trágicas. Todos esses males afetam o homem e o assaltam por todos os lados, entre os momentos de trégua e de felicidade, sempre breve demais para seu gosto, e que, não obstante, ele pode, às vezes, felizmente, viver”.
Testemunhos O Papa João Paulo II em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris nos diz: “O homem sofre quando ele experimenta um mal qualquer”. Essa frase me fez perceber que sou um sofredor, o mal me rodeia e está presente no meu quotidiano. Quero dizer, que experimento da sorte da humanidade, isto é, estou sujeito ao sofrimento e consciente de que não serei poupado mesmo sendo um sacerdote. Como ministro ordenado, acompanho e tenho o 13
Esperança na Dor compromisso de ouvir os irmãos e as irmãs – principalmente, quem está acamado – falarem de suas vidas e de relatarem sobre suas “dores”. Essa realidade, que enxergo nos sofredores é sem máscara, sem enfeite e muito concreta. Por isso, convivo com o sofrimento, comungo com a dor do outro, e a exemplo de todas as pessoas, também estou sujeito ao sofrimento, mesmo sem estar enfermo. Quando me aproximo das pessoas fragilizadas pela enfermidade ou daquelas que estão privadas das necessidades básicas, percebo ser empático ao sofrimento humano, que um dia também poderá ser o meu, pois faz parte do processo da existência da humanidade, independente da condição social e econômica a que o indivíduo pertença. Aliás, já disse Mário Sérgio Cortella, filósofo e educador: “Nós somos o único animal que é mortal. Todos os outros animais são imortais. Embora todos morram, nós somos o único que, além de morrer, sabe que vai morrer. Você e eu sabemos que vamos morrer. Desse ponto de vista, não é a morte que me importa, porque ela é um fato. O que me importa é o que eu faço da minha vida enquanto a minha morte não acontece para que essa vida não seja banal, superficial, fútil, pequena. Nesta hora eu preciso ser capaz de fazer falta”. Assim, a dor e o sofrimento do outro, recorda a minha condição de ser finito. Então, somos todos participantes da mesma história e fazemos parte do mesmo caminho. Frei José Aparecido de Andrade (frei Cido), 60 anos, Ordem dos Carmelitas (Itu - SP) Em junho de 2009 fui diagnosticado com uma doença degenerativa, progressiva, incapacitante, com expectativa de vida em torno de três anos, e que para a medicina não tem cura. A enfermidade tem o nome de Esclerose Lateral Amiotrófica, e é conhecida pela sigla ELA. Ao longo dos últimos oito anos perdi quase todos os movimentos do corpo, me alimento por sonda, não falo, respiro por aparelho, estou permanentemente na cama há cinco anos, e dependo de cuidados – para tudo – dia e noite. Diante desse quadro e frente a todos os desafios e privações impostos pela doença, nunca me desesperei, pelo contrário sempre percebi nitidamente a presença de Deus me amparando e providenciando tudo o que preciso para receber um tratamento de excelência, proporcionando o meu bem-estar corporal, emocional e espiritual. A experiência que vivencio me permite afirmar – tendo plena convicção e serenidade – que devo a Deus todas as condições favoráveis do meu estado, pois além do Seu amor infinito pelo dom da minha vida, Ele também me cumulou com a virtude da fé, pela qual consigo extrair as forças necessárias para enfrentar as tribulações causadas devido aos avanços da doença, e aceitar os desígnios do Senhor, totalmente resignado, com incondicional confiança na Providência Divina. Posso assegurar que Deus também submete a nossa fé à prova, sobretudo nas adversidades causadas por nós mesmos, a partir das escolhas erradas que fazemos, ou que surgem pelas próprias circunstâncias da vida. Revelo também que há oito anos Deus pede demonstração da minha fé diariamente, pois à medida que aparecem novas limitações provocadas pela ELA, tenho que buscar ânimo na misericórdia do Senhor, renovan14
O sentido cristão do sofrimento humano
do a crença nas Suas promessas: Ele sempre nos oferece o melhor e jamais desampara quem necessita do Seu socorro. Confesso que adotando essa atitude me sinto fortalecido para encarar sem medo todas as consequências da evolução da enfermidade. Destaco ainda que alcanço o – imprescindível – entusiasmo para persistir me alicerçando no ensinamento transmitido por Jesus, e pelo qual não resta dúvida sobre o que realmente é fé. Tal aprendizado apanho da severa repreensão que Jesus faz a Pedro pelo vacilo da fé do apóstolo: “A barca, porém, já longe da terra, era agitada pelas ondas, pois o vento era contrário. Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: “É um fantasma”. E gritaram de medo. Jesus, porém, logo lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”. Então Pedro lhe disse: “Senhor, se és tu, manda-me ir a teu encontro, caminhando sobre a água”. E Jesus respondeu: “Vem!” Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!”. Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?”. Assim que subiram na barca, o vento se acalmou” (Mt 14, 24-32). Compreendo que Deus mostra seu descontentamento com a falta de fé. Portanto, se tenho fé nunca poderei ter medo dos efeitos da progressão da ELA. E, como inspiração para prosseguir com a minha vida, me agarro confiante no incentivo de Jesus, que “grita no meu ouvido”: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”. João Marcos Andrietta, 57 anos (Salto – SP)
Unção dos Enfermos É um dos sete Sacramentos da Igreja Católica, oferecido aos doentes como uma graça especial, com o propósito de auxiliar o enfermo a superar as contrariedades impostas pela doença. Tal sacramento é realizado pelo sacerdote ou pelo bispo – únicos ministros que podem administrar a Santa Unção – obedecendo o seguinte ritual: — O sacerdote unge o enfermo com o santo óleo, na fronte e nas mãos: Celebrante: Por esta santa unção e pela sua misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo para que, liberto(a) dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos. Amém! — Estendendo as mãos, o sacerdote reza a oração: Celebrante: Curai redentor nosso, pela graça do Espírito Santo, os sofrimentos deste(a) enfermo(a). Sarai suas feridas, perdoai seus pecados e expulsai para longe dele(a) todos os sofrimentos espirituais e corporais. Concedei-lhe plena saúde de alma e corpo a fim de que, restabelecido(a) pela vossa misericórdia, possa retomar as suas atividades. Vos que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo. Amém! A importância do Sacerdote na vida do doente também é confirmada no trecho bíblico de Tiago, que anuncia: “Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” https://www.bibliaonline.com.br/acf/tg/5/13-15+ ( Tg 5, 13-15). 15
Esperança na Dor Vale destacar o que diz o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica sobre o sentido cristão do sofrimento humano, quando afirma: “A compaixão de Jesus pelos doentes e as numerosas curas de enfermos são um claro sinal de que, com Ele chegou o Reino de Deus e a vitória sobre o pecado, o sofrimento e a morte. Com a sua paixão e morte, Ele dá um novo sentido ao sofrimento, o qual, se unido ao seu, pode ser meio de purificação e de salvação para nós e para os outros” (314) e “A igreja tendo recebido do Senhor a ordem de curar os enfermos, procura pô-la em prática com os cuidados para com os doentes, acompanhados da oração de intercessão. Ela possui sobretudo um sacramento especifico em favor dos enfermos, instituído pelo próprio Cristo e atestado por São Tiago: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor” (Tg 5, 14-15) (315).
Oração do Enfermo Ó Deus, que sois a salvação eterna de todos os que creem em vós, escutai este meu apelo para que me livre dessa enfermidade que tanto me faz sofrer. Em vós coloco toda a minha confiança para que conduza os conhecimentos e as ações de cada profissional da saúde em favor do bem. Que eles atuem sob a Sua inspiração e bênção, a fim de que possam prescrever o tratamento adequado para cada enfermidade. Fazei, com a Vossa misericórdia, que todos os remédios aplicados a este mal sejam salutares. Ouvi, Senhor, minha prece e aumentai em mim a fé e a esperança. Obrigado, Senhor, pelo dom da vida e, por isso, eu te louvo! Amém! — Rezar um Pai Nosso, três Ave-Maria e um Glória ao Pai. “Porque te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas, diz o Senhor” (Jr 30,17).
O Ofício de Curar Pedimos permissão aos Profissionais da Saúde (Cuidadores, Profissionais das áreas de Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Odontologia, Nutrição, Psicologia, Fonoaudiologia, Podologia, Farmácia e Terapia Ocupacional) para dirigir-lhes algumas palavras no sentido de valorizar tão nobres profissões que escolheram e enaltecer todas as ocupações citadas na vida dos doentes. Não tenham dúvida, todo trabalho que executam no tratamento dos pacientes que cuidam, pode determinar a cura física ou o agravamento do estado de saúde destas pessoas. Obviamente, quando tratam os que sofrem com habilidade e dignidade – sobretudo, olhando nos olhos e tocando nos doentes – acontece um momento sublime e transformador, no qual quem padece sente no seu íntimo que aqueles olhos e aquelas mãos são capazes de favorecer melhoras no bem-estar corporal, emocional e espiritual. Daí a importância dos Profissionais da Saúde na existência das pessoas, visto que receberam – do Senhor – a admirável vocação de concretizarem “o ofício de curar”, gesto que possibilita a restauração da vida, bem supremo, dom de Deus. 16
O sentido cristão do sofrimento humano
Mensagem Final A nossa expectativa com este material é oferecer Esperança na Dor diante das situações e consequências do sofrimento humano. Entendemos que – como sacerdote e enfermo – tínhamos a missão de compartilhar tudo o que aprendemos vivenciando “na carne” o sofrimento e, ao mesmo tempo, testemunhar que Deus chama todos os seus filhos e filhas à santidade, e o sofrimento – se bem compreendido e vivido – é um caminho seguro rumo à conquista da santificação. Assim concluímos, nos servindo de mais um trecho da Carta Apostólica Salvificis Doloris (Dor da Salvação), do Papa João Paulo II (Tópico 31): “Tal é o sentido do sofrimento: verdadeiramente sobrenatural e, ao mesmo tempo, humano; é sobrenatural, porque se radica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão”. “O sofrimento faz parte, certamente, do mistério do homem. Talvez não esteja tão envolvido como o mesmo homem por este mistério, que é particularmente impenetrável. O Concílio Vaticano II exprimiu esta verdade assim: «na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem. Com efeito..., Cristo, que é o novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai o do Seu amor, também manifesta plenamente o homem ao homem e descobrelhe a sublimidade da sua vocação». (100) Se é verdade que estas palavras dizem respeito a tudo o que concerne o mistério do homem, então elas referem-se de modo particularíssimo, certamente, ao sofrimento humano. Quanto a este ponto, o «revelar o homem ao homem e descobrir-lhe a sublimidade de sua vocação» é sobremaneira indispensável. Acontece, porém — como a experiência demonstra — isso ser particularmente dramático. Mas quando se realiza totalmente e se transforma em luz para a vida humana, é também particularmente bemaventurante. «Por Cristo e em Cristo se esclarece o enigma da dor e da morte». (101) Desejamos que Deus conceda a todas as pessoas doentes o conforto do físico, a paz de espírito e a força e a coragem para enfrentarem quaisquer adversidades! Frei Cido e João Marcos Itu e Salto, junho de 2017.
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Gratidão É com grande satisfação que agradecemos a cada um dos patrocinadores por acreditar no nosso trabalho e, juntamente conosco, A produção dessa revista é de levar uma reflexão de conforto aos que sofrem. “Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos” (Gal 6,9). Creiamos! Apesar do sofrimento, vale a pena viver. Somos gratos à sua colaboração. Deus lhe pague!
Expediente
Esperança na Dor
O sentido cristão do sofrimento humano
Jornalista Responsável
Ágata Cristiane Henrique / MTB 43.486-SP
Redação
Frei José Aparecido de Andrade, Ordem dos Carmelitas João Marcos Andrietta
Diagramação
DG Publicidade www.dgpublicidade.com.br
Capa e Ilustrações Hélio Rodrigues
Gráfica
Nome da Gráfica
Tiragem
XXX Exemplares
Distribuição Gratuita
Hospitais, postos de saúde, clínicas, casas de repouso, consultórios, entidades beneficentes e igrejas.
Oração do Enfermo PEDIDO DE UMA GRAÇA DE DEUS Meu Deus, o Senhor sabe o que estou passando e conhece as minhas angústias. Meu Deus, o Senhor sabe o que preciso e conhece as minhas expectativas. Meu Deus, o Senhor sabe das minhas forças e conhece as minhas fraquezas. Meu Deus, o Senhor sabe dos meus pecados e conhece as minhas limitações. Meu Deus, o Senhor sabe do que sou capaz e conhece as minhas intenções. Meu Deus, o Senhor sabe que tenho fé em Ti e conhece as minhas esperanças. Meu Deus, o Senhor sabe que desejo receber a cura e conhece a minha doença. Meu Deus, o Senhor sabe que dou graças pelo dom da vida e conhece a minha luta para viver. Meu Deus, o Senhor sabe que aceito Sua vontade e conhece minha decisão de cumpri-la. Portanto, entrego em Tuas mãos: as minhas angústias; as minhas expectativas; as minhas fraquezas; as minhas limitações; as minhas intenções; as minhas esperanças; a minha doença; a minha luta para viver; e minha decisão de cumprir Sua vontade. Amém! J.M.A. 09/2010
Esperança na Dor
F R E I JOSÉ AP. DE ANDRADE JOÃ O M ARCOS ANDRIETTA
Esperança na Dor O sentido cristão do sofrimento humano
“Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, meus olhos te veem” (Jó 42, 5).
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