Solenidade de Pentecostes 24 de maio 2015. Caríssimos irmãos e irmãs: Anualmente, a oração que a Igreja proclama na Quinta-feira da Oitava da Páscoa toca-me profundamente. Reza o texto: Ó Deus, que reunistes povos tão diversos no louvor do vosso nome, concedei aos que renasceram nas águas do batismo ter no coração a mesma fé e na vida a mesma caridade”. Pergunto-me sempre quando a proclamo: tenho “a mesma fé no coração e na vida a mesma caridade”, juntamente com todos os batizados, discípulos do Ressuscitado, num lugar muito concreto da barca de Pedro? Nascemos todos da água do Batismo e recebendo o Espírito Santo fomos transformados em Templo de Deus. Depois, Confirmados pelo Santo Crisma, recebemos o Espírito Santo para sermos sacerdotes, profetas e reis e, assim, dilatar o Reino do perdão. Enfim, jamais olvidemos de que todo batizado é missionário por natureza, não importando o lugar onde se encontra na Igreja e, a partir dele, a forma de anunciar o Evangelho. Uma vez batizados e confirmados, nos tornamos membros da Igreja, nascida do lado aberto de Cristo na Cruz e hoje, em Pentecostes, reunida num mesmo lugar e confirmada pela efusão do Espírito Santo em 1
línguas de fogo. Portanto, podemos e devemos em assembleia alimentarnos da mesa da Palavra e da mesa Eucarística. Mas, precisamos nos questionar: neutralizamos a eficácia dos Sacramentos e da Palavra da Salvação pelos nossos pecados, e, assim, impedimos de “ter no coração a mesma fé e na vida a mesma caridade “? Sem dúvida, é o Espírito Santo, operante na Igreja e Dom da Páscoa da Ressurreição do Cristo Jesus, que nos possibilita, pelo seu poder santificador, “ter no coração a mesma fé e na vida a mesma caridade”. Porém, quando “os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e seus maus desejos.” (Gl 5,24) Vivificados pelo Espírito Paráclito, é-nos impossível divergir na compreensão, aceitação e proclamação da fé que recebemos dos Apóstolos. A Igreja é, pois, sua depositária, que nos sustenta na fé. Todavia, busco saciar minha sede da verdade na fonte da Igreja fundada por Jesus Cristo ou em mananciais de águas com percursos e percalços de séculos, possivelmente contaminados por outras vertentes? Fiel à verdade de seus Dogmas, a Esposa do Cristo se mantém inabalável na fé pelo serviço de seu magistério eclesiástico. Está e esteve sempre aberta à novas e mais profundas compreensões de seus Dogmas, como os recebeu do Cristo. Por isso, ela roga ao Pai, pelo Cristo, no Espírito Santo para que tenhamos “no coração a mesma fé”. Quando corrige alguns de seus filhos que já não têm no coração a mesma fé que todos 2
professamos, o faz por fidelidade à verdade. Acreditamos nesse necessário bem? Ter no coração a mesma fé, não significa camuflar um desejo de maior aprofundamento em verdades professadas de difícil compreensão. Entretanto, a razão chega a um ponto e, depois, imerge-se na esfera do mistério. Não temos respostas lógicas para todas as perguntas sobre a nossa fé. Por isso, é preciso ter no coração a mesma fé e na devida proporção a mesma humildade, para não cairmos na pretensão de apreender ou dominar todo o Mistério Divino revelado pelo Cristo, como se fosse possível. A fé no coração é a mesma, mas na vida dos batizados se diversifica, pois o Espírito Santo derrama em nossos corações os seus dons para serem transformados em serviço ao bem do Reino. “Ter na vida a mesma caridade” não significa fazer a mesma coisa; pelo contrário, os carismas são distribuídos para a utilidade da Igreja e do mundo. A mesma caridade, nada mais é do que o amor transformado em gestos para situações reais e concretas. Nós o temos, pois foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. “Se vivemos pelo Espírito, procedamos também segundo o Espírito corretamente” .(Gl 5,16-25) A caridade é, pois, o amor atual e atuante do batizado quando, consciente, põe em prática a fé que professa.
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Na Epístola aos Romanos, São Paulo afirma: ”há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do em comum”. (Rm 12,7) Pentecostes é a reunião de povos tão diversos no louvor do nome de nosso Deus, mas a dispersão desse mesmo povo pelos quatro cantos do mundo. Pela virtude do Espírito Santo, todos os povos de diferentes, raças, línguas e nações são chamados a ter no coração a mesma fé e na vida a mesma caridade, diversificada e multiplicada em progressão geométrica – se assim podemos nos expressar – que atua apaixonadamente em necessidades sempre inusitadas, diferentes, desafiadoras e crucificantes. A festa de Pentecostes nos consiga de Deus a graça de termos “no coração a mesma fé e na vida a mesma caridade”. Assim seja!
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