1 Quando São Patrício (monge e Bispo) evangelizou a Irlanda, (e fez isso fundando inúmeros mosteiros) querendo explicar o Mistério da Santíssima Trindade, se serviu de um pequeno exemplo: tomou entre as mãos um trevo e disse que, como aquele trifólio formava uma única plantinha, assim as três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, formam um único Deus. O exemplo obteve grande êxito: a multidão que o escutava abraçou a fé cristã e desde então, até hoje, no dia de sua festa os irlandeses fixam à roupa um trevo, cuja folha se divide em três, em memória de sua conversão e em honra do Santo que os evangelizou. O Mistério da Santíssima Trindade, celebrado neste primeiro domingo depois de Pentecostes, é o primeiro Mistério da fé cristã, o mais importante e o menos acessível à inteligência humana. Deste Mistério pode-se apenas colher pálidos reflexos na criação, a qual, sendo obra de Deus, traz impressa em si a marca do seu criador. Por este motivo a inteligência humana não consegue compreender este Mistério, mas entende que tal Mistério, mesmo superando a humana compreensão, não é contra a razão; entende, além disso, que as semelhanças ou afinidades que encontramos na obra da criação confirmam o nosso ato de fé. A razão humana não conseguiria jamais conhecer Deus em três Pessoas iguais e distintas. Esta verdade a conhecemos só porque Jesus a revelou a nós. A frase da Escritura que mais nos faz compreender este Mistério é a afirmação de São João evangelista: «Deus é amor» (1Jo 4,8). Nesta pequena frase se encerra todo o Mistério de Deus uno e trino. Deus é trino, em três pessoas, justamente porque é amor. Quando falamos de amor, fala-se sempre de uma comunhão de pessoas: a pessoa que ama, a pessoa amada e o amor recíproco. O Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai e o amor recíproco entre o Pai e o Filho é o Espírito Santo. Existe amor só onde há comunhão. Mas, mesmo sendo três pessoas, são um único Deus, porque o amor une e, em Deus, o amor é tão perfeito que de três pessoas há um só Deus. O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, e juntos não formam três divindades, mas o único Deus. O mistério da Santíssima Trindade se reflete de maneira particular no homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Entre as criaturas visíveis, o homem e a mulher são as mais perfeitas, aquelas que mais revelam o mistério desta comunhão divina. Além do que, quanto mais alguém ama, tanto mais se santifica, tanto mais conhece Deus e tanto mais faz Deus conhecido ao mundo. A família humana é chamada a santidade, justamente porque é chamada a exprimir o mistério de Deus. Mais pessoas, unidas pelo amor, formam uma única família e devem ajudar-se mutuamente a amar e servir o seu Criador. Separada e emancipada de Deus, a família perde muito do seu valor e vive menos a sua vocação. O Beato Carlos, último imperador da Áustria, no dia do seu noivado, disse á sua prometida esposa que daquele momento em diante deveriam ajudar-se
2 reciprocamente a irem ao Paraíso. E, alguns anos depois, afirmou que preferiria muito mais que o Senhor levasse os seus filhos do que vê-los cometer um só pecado mortal. Deus é amor infinito e tal amor livremente quer verter-se sobre as criaturas, primeiramente sobre o homem, o qual pelo pecado se separou do seu Criador. Por este motivo, o evangelho de hoje nos remete ao mandamento de Jesus dado aos Apóstolos de pregar a todos os povos e de os batizar em nome da Santíssima Trindade: «Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizandoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28,19). Batismo nos torna filhos de Deus e templos da Santíssima Trindade. Ao longo dos séculos, a Igreja obedeceu a este mandamento do Senhor e sempre se empenhou na obra missionária, afim de que todos os povos conheçam o único verdadeiro Deus em três pessoas iguais e distintas. A obra missionária não consiste somente em ir ao encontro dos sofrimentos e das privações humanas, mas se propõe em primeiro lugar ensinar as verdades que são o caminho para o céu, sobretudo o Mistério da Santíssima Trindade, e de batizar todos os povos. Que somos filhos de Deus São Paulo o atesta na segunda leitura de hoje: «Não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba! Pai! » (Rm 8,15). Caros irmãos e irmãs, conscientes desta altíssima dignidade, esforcemo-nos cada dia em viver como verdadeiros cristãos, fiéis ao ensinamento do Evangelho, cuidando da presença de Deus em nós como o bem mais precioso da nossa própria vida. AMÉM.