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contatoPor onde quer que Jesus vá, a doença se retira e os espíritos malignos fogem. Devolve, inclusive, a vida aos mortos. Surge uma pergunta: a doença, a morte, os espíritos malignos têm uma ligação com Jesus e o seu reino? Já naquela época esta pergunta era atual. Jesus era somente um curandeiro mais esperto que seus colegas? Um hipnotizador melhor que os outros? Qual era a natureza da magia ou, como diríamos hoje, do fluído parapsicológico que o tornava tão eficiente? Jesus não se esquiva nunca do doente que se dirige a ele. Ele sabe que o seu trabalho é o de curar e sabe também que a sua missão esbarra nos poderes de um príncipe cujo reino pertence a este mundo. Todavia, frequentemente deixa entender que a cura do corpo caminha junto com a cura da alma. Ás vezes os pecados do doente são perdoados - para o escândalo dos fariseus - antes que ocorra a cura da doença. Depois, em certos casos, o famoso fluído que estaria em Jesus se torna inoperante, parece paralisado, em particular quando aos doentes falta a fé. Com frequência Jesus atribui a cura não aos próprios poderes, mas à fé do doente. De
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modo que o fluido misterioso não está em primeiro lugar em Jesus, mas naquele que deposita toda a sua confiança em Jesus; fluído da fé do pobre ao qual Jesus se dobra todas as vezes. Mas, não sem acrescentar, de modo significativo: “Não peques mais” (Jo 5,14). Curar, ressuscitar, perdoar, expulsar o demônio: um elo misterioso une esta atividade de Jesus. Trata-se de múltiplos aspectos de uma mesma realidade, a saber, do reino que ele traz em si. Um reino que é ao mesmo tempo integridade de alma e integridade de corpos, quer dizer, “a” vida no sentido forte da palavra, participação na vida divina que penetra progressivamente todos os estratos da nossa humanidade. Jesus “o” vivo não veio porventura para que nós tivéssemos a vida e a tivéssemos em abundância (Jo10,10)? Mas esta é uma visão otimista e ingênua da realidade, dirão vocês. Só em parte. De fato, o próprio Jesus, para doar a vida, não escapará da morte. Após ter curado tantas pessoas, chegará para ele a hora em que será incapaz de salvar a si mesmo, o momento em que a morte o esperará, inelutavelmente. O mesmo vale para nós.
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Miraculados por uma medicina sempre mais eficaz ou, por efeito de uma graça particular, miraculados pela fé, nós sabemos bem que continuamos prometidos a uma última doença, sabemos que somos mortos em regime condicional, uma condição um tanto inevitável. Por que então estas curas sempre provisórias se, um dia, a estas curas deverá seguir a recaída fatal? E a vida divina onde cavouca uma veia em seres prometidos à morte? Onde e como pode Jesus salvar-nos de forma duradoura? A resposta é simples. Tudo aquilo que nos acontece nesta terra é só o sinal do reino. A doença e a cura, a morte aparente e o recobrar da consciência, a angústia pelo fim pressagiado e a alegria pela saúde recuperada nos deixam sempre no provisório, e são apenas os sinais, contudo, sinais no aqui e agora, quase sacramentos - na verdade - do mistério de Páscoa em direção ao qual nos dirigimos dia após dia: a nossa Páscoa que se une à única Páscoa de Jesus. Caros irmãos e irmãs, a vitória de Jesus sobre a morte não consiste naquilo que ele poderia ter evitado, mas antes no fato de que ele
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definitivamente a transpôs, antes de tudo por conta própria, depois e por todos nós. Para derrotar o mal e a morte, Jesus não tinha outro meio a disposição senão o de enfrenta-los, tomando sobre si os nossos pecados e a nossa morte, para aniquilá-los por meio de sua amorosa obediência. Doravante, a nossa cura e a nossa ressurreição podem finalmente serem definitivas. Porém, não evitando este percurso sobre o qual Jesus nos precedeu. De fato, não haverá jamais uma Páscoa sem uma Sexta-feira Santa, jamais uma cura definitiva e pascal sem sacrifício mortal, mas com Jesus e na sua Páscoa. AMÉM.