ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO Capa Sem Título, 2010 (série Exercício para Construção do Infinito), de Carla Chaim Curadoria, texto, edição Gabriela Longman Pesquisa, entrevistas Gabriela Longman e Mariana Tiemi K. Projeto gráfico e produção gráfica Mariana Tiemi K.
A reprodução das obras e fotografias aqui publicadas foi autorizada exclusivamente para finalidades privadas, sendo vedada sua exposição pública sob qualquer meio ou sua exploração sob qualquer modalidade, nos termos dos artigos 77 a 79 da Lei de Direitos Autorais (Lei no 6910, de 19 de fevereiro de 1998).
ÍNDICE 7
O mapa do mapa
75
Da micronarrativa
9
Arte em tempos de excesso
91
Do corpo sujeito
13
O sistema da arte no Brasil
111
Arquiteturas
17
Linguagens híbridas
125
Por uma nova geometria
19
ARTISTAS
137
ESPAÇOS
21
A cidade íntima
157
PROJETOS
33
Uma estranha natureza
176
Entrevistados (as)
45
A História, ainda
177
Bibliografia
57
Ruínas, memórias, deslocamentos
178
Publicações recomendadas
179
Agradecimentos
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
O mapa do mapa Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez. Fracassa de novo. Fracassa melhor. Samuel Beckett
Elemento de representação por excelência, um mapa é sempre um pouco mais e muito menos do que a realidade. Não bastasse ser circunscrito a determinada área, todo mapa é também carregado pela subjetividade de quem o desenha – os critérios que regem suas legendas, seu esquema de cores, a proporção entre as partes. Ainda assim, um mapa continua sendo a tentativa mais sincera e mais recorrente de se decifrar um território, compreender seus relevos, domínios, fronteiras, penínsulas e ilhas. O presente ensaio propõe um mapeamento do cenário atual das artes visuais no Brasil. Ao contrário de uma representação histórica, na qual bem ou mal alguns pontos já foram demarcados pela passagem do tempo, o que se tem é um território em plena formação, com contornos que sutilmente se delineiam. Ainda assim, partimos da premissa de que é possível, mesmo sem a distância histórica, detectar questionamentos, temáticas, técnicas e direções da produção artística atual, procurando adivinhar-lhe sentidos possíveis. O avesso do mapa é o que está subjacente. O que não é dito. Terreno da arte por excelência, as chamadas entrelinhas da produção contemporânea também estão no horizonte desse livro. O que querem os artistas hoje no Brasil? Que inquietações os movem? Como interagem com a própria história e com as transformações do mundo ao redor? Depois de oito meses de pesquisa ininterrupta, as perguntas multiplicam-se tanto quanto as respostas, mas cutucar o avesso, sentir que existe e que se movimenta como o magma por baixo da terra já é um bom começo. Um mapa é sempre o que ele mostra e o que ele esconde.
Série Sala de Leitura, 2010 Lucas Dupin
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INTRODUÇÃO
Um pouco de método Em linhas gerais, a arte contemporânea se caracteriza como aquela surgida nos anos 1950 e 1960, especialmente por meio de artistas que buscaram vincular arte e vida de uma maneira até então impensada. O que se apresenta aqui, no entanto, é uma reflexão sobre a produção mais recente, realizada nos últimos cinco anos. Embora uma bibliografia considerável tenha sido consultada (ver página 177), a maior parte do conteúdo desse ensaio1 deriva das mais de cinquenta entrevistas realizadas com artistas, gestores e curadores de diferentes partes do Brasil. É dessa escuta polivalente, num total de mais de duzentas horas de gravação, que surge o núcleo-base desse material sobre o fazer e o pensar a arte no Brasil de hoje. Na impossibilidade de se percorrer o território brasileiro como um todo, sete capitais foram escolhidas para uma investigação presencial: Belo Horizonte, Brasília, Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. A internet, porém, foi uma grande aliada e permitiu uma pesquisa mais abrangente e algumas entrevistas com artistas e outros personagens além desse universo - incluindo algumas cidades pequenas. Este ensaio divide-se em três eixos fundamentais: Espaços, Artistas e Projetos. Mesmo que exista uma permeabilidade entre esses campos, cada um deles isoladamente demonstrou-se insuficiente para compreender a cena contemporânea em sua complexidade de articulações. Outras entradas para as obras faziam-se necessárias. Como consideramos que seria redutor agrupar artistas por região geográfica, suporte ou linguagem, optou-se, então, por apontar grandes questões contemporâneas (não confundir com temas), procurando pensar de que maneira cada uma delas figura no horizonte da produção recente. Num mapeamento ideal, universos artísticos particulares como o grafite e a chamada arte digital mereceriam capítulos e discussões específicas, mas nos parece que uma bibliografia de estudiosos dos respectivos campos proporciona um melhor diagnóstico dessas manifestações do que se poderia
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pretender aqui2. Da mesma forma, embora muitos artistas desse mapeamento trabalhem com fotografia, as questões específicas da produção fotográfica contemporânea foram recém-discutidas no trabalho impecável de Eder Chiodetto3. Assim, mais do que destrinchar esta ou aquela linguagem, o que se apresenta aqui é mais um ensaio sobre o nosso tempo – a maneira como ele é vivido, percebido, experimentado pelos artistas. Pois que o contemporâneo, na definição de Giorgio Agamben, é justamente "aquele que estabelece uma singlular relação com o próprio tempo, que adere a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias"4. Com a devida aderência e a devida distância, estamos prontos para começar.
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Chamá-lo ensaio foi a maneira encontrada para definir um trabalho que se pretende jornalístico, embora não seja uma reportagem; que se pretende curatorial, embora não seja uma curadoria, e que se pretende teórico, embora passe longe das convenções acadêmicas. Assim como o artista pode, hoje, trabalhar em suportes tão diversos quanto o vídeo e a escultura, a performance e a fotografia, o pesquisador contemporâneo pode, também, deslizar com mais desenvoltura entre as possibilidades de abordagem e ação, sabendo combinando-as à maneira que lhe parecer mais pertinente. Foi isso, ao menos, o que se procurou fazer aqui. 2 LEITE, Antonio Eleilson (Org.). Graffiti em SP: tendências contemporâneas, Rio de Janeiro: Aeroplano, 2013; ARANTES, Priscila. Arte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac, 2012. O livro, organizado por Antonio Eleilson Leite, destaca a presença nos novos coletivos de negros e mulheres em um panorama tradicionalmente branco e masculino. 3 CHIODETTO, Eder (Org.). Geração 00: A nova fotografia brasileira. São Paulo: Edições Sesc SP, 2013.
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009, p. 59. 4
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Arte em tempos de excesso Será que tudo me interessa? Cada coisa é demais e tantas Quais eram minhas esperanças? O que é ameaça e o que é promessa? Ruas voando sobre ruas Letras demais Tudo mentindo O redentor Que horror Que lindo Caetano Veloso
Navios a vapor, linha de montagem, luz elétrica, radiotransmissor. A partir de meados do século 19, o avanço dos processos industriais acompanhado por uma revolução nas ciências e nos transportes provocaria uma aceleração sem precedentes do ritmo de vida. Nunca o mundo havia mudado tão depressa quanto mudou entre 1880 e 1940, provocando a transformação de relações e costumes tão bem sentenciada por Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936). Instalados em cidades a cada dia maiores, os homens modernos criaram novas formas de lazer em consonância com seu tempo – a vertigem da montanha russa e a vertigem do cinema – e novas ferramentas epistemológicas como a linguística e a psicanálise. A invenção da fotografia, bem se sabe, viria revirar a história da arte, provocando uma crise na representação com consequências até hoje reverberantes. Mas não é disso que trata esse ensaio. Tão grande, quiçá maior, que a mudança daquele momento, é a transformação alavancada pela revolução microeletrônica e biotecnológica a partir dos anos 1960, lançando sobre o presente uma miríade de interrogações e previsões nem sempre otimistas5. Marcado pela afirmação do capital especulativo em escala global, pela hiperconectividade digital e pela dissolução das principais utopias que moveram o século 20, o presente se revela em sua complexidade pós-tudo. "O contemporâneo é, antes de qualquer coisa,
o campo das batalhas perdidas, ou melhor, o campo do pós-guerra, o campo abandonado, póscombate", escreve Renato Rezende6. Daí, talvez, a força tão grande de uma estética da ruína e da memória na produção recente, como se verá nos capítulos subsequentes. Mas – e isto também se nota –, para além da ruína, existe o novo: novos otimismos, novos pessimismos, a nova grama que já cresce num território de incertezas. Sem repostas claras sobre o novo papel da China na esfera geopolítica, sobre as consequências do aquecimento global ou sobre a situação dos índios na Amazônia, os artistas vivem hoje imersos em sensações de imprevisibilidade, fragmentação. Vivem e produzem, movidos por razões diversas – intervenção na paisagem urbana, expressão da subjetividade, crença política, inconformismo, sobrevivência. Vivem e respondem, procurando maneiras de mover-se nesse novo terreno onde os parâmetros modernos já não servem como guia de orientação. Vivem e festejam – às vezes por alegria, às vezes por desespero. A partir dos anos 1980, e com mais ênfase a partir do ano 2000, uma avalanche de recurso financeiro de novas fontes trouxe novas feições ao mercado de arte contemporânea. Pontuada por palavras como hype e glamour, uma parcela do meio movimenta-se em torno de um universo festivo alimentado pelo sistema de galerias e instituições. Regado a espumante e modismos extravagantes, essa moveable feast de vernissages, rooftops, studio
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INTRODUÇÃO
visits carrega algo de estimulante e maravilhoso. E algo de perigosamente superficial. "Entre os artistas e os frequentadores dedicados de galerias, há hoje tanta coisa que ninguém quer discutir que chega a ser difícil saber por onde começar", escreve Jed Perl num artigo primoroso7, lembrando que o excesso imobiliza o debate8. Sim. A sensação é de que nunca houve tantos museus, feiras, art spaces, configuração que propicia uma nova e imbricada constelação. "Para onde vão tantos artistas?", é a pergunta que ressoa a cada exposição de "novos talentos", "jovens apostas", ou qualquer termo similar. Que tantas curadorias curam os "novos curadores"? Dentro do espectro de novidades incessantes, a tecnologia ajuda a criar novas redes e conexões. No campo da ação política, movimentos como a primavera árabe e as manifestações brasileiras de junho de 2013 tiveram nas redes sociais sua ferramenta crucial de mobilização. No campo artístico, não é diferente: a cada dia, a rede mundial ajuda a criar um intercâmbio inédito entre artistas, agentes culturais e instituições no mundo todo. Resenhas sobre exposições nos cinco continentes chegam simultaneamente às galerias do Chelsea, em Nova York, e à Usina de Arte de Rio Branco, no Acre. De modo inédito, o acesso à informação trazido pela globalização permite fortalecer como nunca as iniciativas locais. Mas nem tudo são boas notícias. Em substituição ao tempo sincopado da linha de montagem, a sensação contemporânea é de um tempo difuso, onde a informação é despejada por variados canais ao mesmo tempo, fragmentada e cheia de ruídos. E é nesse panorama que excesso se configura como matriz (estética, mas não só) da nova era. "Em um mundo rico em informações, a riqueza da informação implica a carência de outra coisa: escassez daquilo que a informação consome. O que a informação consome é bastante óbvio: ela consome a atenção de seus destinatários. Dessa forma, a abundância de informação gera carência de tempo", antecipou um economista norte-americano nos anos 19709. Há então que resguardar-se, proteger o próprio
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tempo. É por isso, talvez, que diante de um tempo comprimido pela tecnologia – tempo exigente e eternamente atual10 – os artistas tendam a responder com elogios à lentidão. Diante de uma economia controlada por oligopólios e grandes corporações, eles muitas vezes agem no plano do micro, do pontual, do íntimo. São tempos de excesso, cada coisa é demais e tantas, mas a arte é uma zona de resistência possível para a incompletude, o silêncio, o intervalo, a falta. Mora aí, quiçá, seu grande trunfo.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
5 "Digamos que o quadrimotor constituído por ciência, técnica, economia, lucro, que supostamente produziria o progresso, hoje em dia propulsa a nave espacial Terra sem que haja nenhum piloto e traz consigo uma dupla ameaça de morte". MORIN, Edgar. Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011, p. 40. 6 REZENDE, Renato. "Entre a tragédia e a farsa: estratégias contemporâneas de artista". In NUNES, Kamilla. Espaços autônomos de arte contemporânea. Rio de Janeiro: Editora Circuito, 2013, pp. 8-13.
PERL, Jed. Estética laissez-faire. Serrote, São Paulo, n.16, mar. 2014, p. 59 ; originalmente publicado na coletânea do autor Magicians & Charlatans: Essays on Art and Culture. Nova York: Eakins Press Foundation, 2012. 7
8 "Raramente se ouvem hoje em dia os antigos debates a respeito da relativa importância de forma e conteúdo. E qualquer pessoa que pretenda fazer certas distinções críticas entre alta cultura e cultura popular, provavelmente será recebida com olhares de ceticismo, como se houvesse algo inaceitável até mesmo na possibilidade dessa discussão." (PERL, op.cit.) 9 SIMON, Herbert. A. "Designing Organizations for an Information-Rich World". In: GREENBERGER, Martin (Ed.). Computers, Communication, and the Public Interest. Baltimore: The Johns Hopkins Press, 1971, pp. 37-72.
"O mandato 'aproveite bem sua vida', que poderia produzir alguns efeitos subjetivos interessantes e criativos, torna-se estéril quando a ideia de 'aproveitamento' alia-se à lógica da produção, da acumulação e do consumo. A obsolescência programada do passado e da memória produz um sujeito permanentemente disponível, pronto a se desfazer de suas referências em troca das novidades em oferta. Desligado do frágil fio que ata o presente à experiência passada, voltado sofregamente para o futuro com medo de ser deixado para trás, o dito 'consumidor' sofre com o encurtamento da duração" (KHEL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.). 10
O sonho, 2007 Gustavo Speridião
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INTRODUÇÃO
Caboclo Borboleta (O caboclo dos Aflitos), 2014 Arthur Scovino
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
O sistema da arte no Brasil Ao longo das ultimas três décadas, acontecimentos no plano político, social e cultural contribuíram para transformar de maneira ímpar as formas do fazer, do pensar e do consumir arte no Brasil. Pode parecer trivial à primeira vista, mas ser artista em início de carreira em 2014 é muito diferente de sê-lo em 1922, 1940, 1968 ou 1992. De lá para cá, o número de instituições públicas e privadas dedicadas à arte contemporânea cresceu de modo exponencial1, o mercado solidificou-se em São Paulo e no Rio de Janeiro2 e novos cursos de artes visuais surgiram em todo o território nacional gerando debates sobre a profissionalização do fazer artístico3. No âmbito da política pública, a promulgação da Lei Federal de Incentivo à Cultura no início dos anos 1990 seria responsável por um rearranjo da economia cultural. Ao mesmo tempo que possibilitou uma injeção de novos recursos, a legislação relegou a empresários e/ou departamentos de marketing o poder decisório sobre alocação dos mesmos – não livre de críticas4. Para as artes visuais em particular, a lei marca o início de uma era de grandes exposições, multiplicação de centros culturais privados e valorização da figura do curador como legitimador de conteúdos5. Para jovens criadores, no entanto, não vem tanto via Lei Rouanet a principal transformação. Fenômeno ainda mais recente, o surgimento de novos fundos setorizados e editais em nível federal, estadual e municipal6 tem contemplado cada vez mais linguagens e regiões geográficas em sua especificidade. Ainda que os tradicionais Salões de Arte continuem respondendo pelo início de carreira de boa parte dos artistas, a proliferação de pequenos editais parece inaugurar novas possibilidades de criação e gestão de projetos em nível local, oferecendo possibilidades até então inexistentes fora dos grandes centros7. Mais amplo e democrático, o meio tornou-se também mais complexo, concorrido e seccionado. O aquecimento do mercado, com seus leilões, fundos
e feiras, acabou por criar uma espécie de mítica em torno da figura do jovem artista. Tratado como "bom investimento", "jovem promessa" ou "jovem aposta", ele vive num cenário em que algumas das antigas exigências – formação rigorosa, domínio formal – foram flexibilizadas, ao mesmo tempo em que novas habilidades ligadas à visibilidade e autopromoção midiática entraram em jogo com muita ênfase. "Teve um aluno para quem eu dava orientação que foi para uma galeria e vendeu tudo", lembra o artista plástico e professor Nino Cais. "O cara que estava em processo vira um maneirista, porque tudo já está resolvido: já vendeu, a crítica falou bem, saiu no jornal... 'pronto: virei artista'. Falo para ir devagar, fazer um caminho, criar alicerces, porque as galerias querem roubar o que há de mais precioso, que é sua iniciação da sua produção".8 Em outras palavras: embora tenha se tornado mais fácil ser "jovem artista", o desenvolvimento de uma carreira a médio e longo prazo continua sendo um desafio num sistema ávido por novidade. "Sempre é mais fácil para um artista jovem mostrar sua obra. Já um artista velho, digamos assim, de mais idade, não tem o mesmo espaço, isso me incomoda muito", sugere Marcia Gadioli9 – artista e gestora da Casa Contemporânea (SP), ela coordena um grupo de acompanhamento com artistas entre 40 e 80 anos. Assim, apesar do crescimento do aquecimento do mercado, a fragilidade das instituições públicas (em especial no que tange à pesquisa, à documentação/ memória e às políticas de aquisição de acervo) ainda é vista como entrave para a consolidação de um sistema menos dependente dos fluxos e vontades do capital especulativo. Se uma minoria de artistas vive da venda de obras, a sobrevivência da maior parte advém de atividades relacionadas – ensino, produção e montagem de exposições, ilustração editorial ou publicitária, design e trabalhos diversos dentro e fora do meio artístico.
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INTRODUÇÃO
Longe do centro Outra mudança fundamental das últimas décadas diz respeito à flexibilização das antigas categorizações de centro e periferia. Ao ser incorporado e celebrado pelo circuito da arte a partir dos anos 2000, o grafite levantou um novo debate sobre sua potência longe das ruas. Tal e qual o rap na cena musical brasileira, sua matriz marginal (a palavra é traiçoeira mas não intimida) vem sendo – antropofagicamente – deglutida, misturada, incorporada, gerando novos filhotes. "O que é a submissão do grafitão institucionalizado em galerias e museus? Mudar o nome para street art repotencializa o procedimento depois de sua perda da potência do ato não mais transgressivo?", pergunta um provocativo, Paulo Herkenhoff10. Mas a pergunta ecoa: por que é errado vender um grafite e certo vender um quadro? Os questionamentos se multiplicam lá e cá. Fato é que para além do interesse pelas obras em si, a periferia urbana vem ganhando atenção como ambiente de criação, com seus códigos, modelos de organização e matrizes de sociabilidade próprias. Existe sempre um risco, porém, de olhar para ela sob o signo do exótico, admiração perigosa que pode reforçar a separação entre o aqui e o lá, o dito eu e o dito outro11. Saindo da escala da cidade para a escala global, foi justamente o interesse pelos "novos eixos" periféricos que garantiu um olhar renovado sobre a arte brasileira na última década. Excluídos da história da arte oficial até o fim da Guerra Fria, África, Ásia Oriental, Leste Europeu, Oriente Médio e América Latina parecem ter tido sua produção contemporânea subitamente revelada. Inocências à parte, o interesse estético vem acompanhado de um interesse econômico pelas novas dinâmicas de mercado estabelecidas em Istambul, Dubai, Hong Kong ou São Paulo, cidades que desenvolveram seus próprios circuitos e ajudam a formar um novo e intricado mapa da cena artística12. No que diz respeito à "descoberta" brasileira, nos últimos dez anos, algumas das mais importantes instituições promoveram retrospectivas individuais, em especial de artistas ligados ao neoconcretismo
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dos anos 196013. Enquanto a produção política dos anos 1970 e 1980 começa só agora a ser revisitada.
Pensando o meio A produção crítica vive também um período de mudanças significativas: a grande imprensa deixou de ser o eixo central do debate estético, que se refaz sob novos contornos em publicações acadêmicas, debates presenciais, novos blogs e fóruns virtuais. Embora surjam novas revistas e espaços especializados, os meios curatorial e crítico brasileiro estão longe da profissionalização existente em alguns países da Europa Central e América do Norte. "Essa é uma situação que se dá especificamente na América Latina, e é uma condução de origem econômica [...]. Aqui é tudo muito precário, o curador é crítico, e escreve no jornal, na revista e no catálogo; e ao mesmo tempo ele é pesquisador e professor. Atua em diferentes funções, há uma promiscuidade", sugere o curador Felipe Scovino14. Mas não seria essa mistura, essa promiscuidade algo precária, um componente saudável sob certo ponto de vista? Numa era marcada pela mistura, o fim das categorias rígidas na arte, com suas dores e delícias, é o foco do próximo capítulo.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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Nove museus públicos intitulados Museu de Arte Contemporânea (MACs) foram construídos dos anos 1980 para cá: em Americana (SP), Botucatu (SP), Goiânia (GO), Campo Grande (MS), Porto Alegre (RS), Niterói (RJ), Jataí (GO), Feira de Santana (BA) e Fortaleza (CE). A partir dos anos 1990, com mais ênfase nos anos 2000, o modelo proeminente passaria a ser o de centros culturais vinculados à instituições financeiras públicas e privadas. Vale a pena citar ainda a inauguração do Instituto Inhotim, em 2006. Para dados sobre o crescimento do mercado primário de arte contemporânea vale apena consultar a Pesquisa Setorial Latitude, com dados de 45 galerias vinculadas a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT). O documento está disponível em <http://media.latitudebrasil.org/uploads/arquivos/ arquivo/relatorio_por-1.pdf> 2
3 O que torna o artista um professional? O diploma? A inserção no meio? A questão foi o fio condutor de um debate entre Mario Ramiro, Carla Zaccagnini e Traplev dentro do seminário Longitudes, realizado nos dias 29 e 30 de março de 2014 na Casa do Povo, em São Paulo. O video da discussão está disponível na íntegra em <http://www.youtube.com/watch?v=CTS_WuOs708>
Tornou-se clássico o caso do Cirque du Soleil, companhia canadense que em 2006 foi autorizada a captar R$ 9,4 milhões para realização de um espetáculo cujos ingressos custavam de R$ 50 a R$ 370. Recentemente, a exposição "Made by Brazillians", no Hospital Matarazzo sofreu críticas por usar dinheiro publico para valorização de um futuro empreendimento imobiliário no local. CYPRIANO, Fabio. Mostra parece só disfarçar projeto imobiliário, Folha de S.Paulo, Ilustrada, 9 de setembro de 2014, disponível para leitura em <www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/184652mostra-parece-so-disfarcar-projeto-imobiliario.shtml> 4
Instituto Nacional de Fotografia, que foi desmontado pelo governo Collor e reapareceu com novos contornos em 2010. 7 A maioria dos projetos apresentados neste livro foi desenvolvida a partir desses mecanismos. 8 Entrevista com Nino Cais, realizada em 27 de fevereiro de 2014. 9 Entrevista com Marcia Gadioli, realizada em 24 de fevereiro de 2014.
HERKENHOFF, Paulo. "Pum e cuspe no museu". In MANESCHY, Orjando e LIMA, Ana Paula Felicíssimo de Camargo (Org.). Já: Emergências Contemporâneas. Belém: EDUFPA/ Mirante, 2008, p. 203. 10
11 Da mesma forma, a celebração de artistas advindos das chamadas minorias – indígenas, mulheres, negros, transexuais – ainda esbarra por vezes num olhar colonizante. Há que atentar-se. 12 BELTING, Hans; BUDDENSIEG, Andrea e WEIBEL, Peter (Eds.). The Global Contemporary and the Rise of New Art Worlds. Cambridge: The MIT Press, 2013.
Hélio Oiticica: The Body of Color (Museum of Fine Arts, Houston, 2006-2007; Tate Modern, Londres, 2007), Lygia Pape (Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, 2011), Mira Schendel (Tate Modern 20132014) e Lygia Clark (MoMA,2014). 13
14 REZENDE, Renato; BUENO, Guilherme. "Felipe Scovino". In:______ Conversas com curadores e crítico de arte. Rio de Janeiro: Circuito, 2013, p. 17
5 O papel e a importância do curador para a legitimação da cena contemporânea vêm sendo debatidos de modo exaustivo nacional e internacionalmente. Por hora, parece importante frisar que em grande medida a curadoria parece ter substituído a crítica tradicional (vinculada à imprensa) como eixo da atividade reflexiva na arte. 6 Para citar alguns exemplos pontuais: o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura foi instituído em 2002; o edital Conexão Artes Visuais/MinC/Funarte/ Petrobrás foi criado em 2006 e lançado em 2007. Um dos mais importantes editais na área fotografia, o Prêmio Marc Ferrez foi criado em 1984, no então
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INTRODUÇÃO
Quase paisagem Ivan Grilo
1 "Fotografias são fruto de performances; desenhos são construções de arquiteturas íntimas; performances discutem o lugar da imagem, em que o corpo assume papéis que se modificam. [...] Artistas vêm propondo experimentações que amolecem as perspectivas das linguagens", sugere o curador Orlando Maneschy in Outra natureza: 6 diálogos sobre a Amazônia, catálogo da exposição Outra natureza, realizada no Espaço Cultural Banco da Amazônia, em 2013.
Assim como outros setores, cada vez mais o meio cultural trabalha com o regime de prestação de serviço em substituição ao emprego formal. Manobra do sistema para redução de custos, ela vem acompanhada por uma manobra das pessoas, que já não se veem obrigadas a trabalhar dentro de uma única matriz específica. O debate é um dos eixos do livro organizado por Mark Banks, Rosalind Gill; Stephanie Taylor. Cultural Work: Labour, Continuity and Change in the Cultural and Creative Industries. Nova York: Routledge, 2014. 2
Essa busca de uma "pureza" que ficou perdida no passado é uma constante romântica na história da arte que se manifesta em diferentes movimentos e ocasiões. Hoje, a Nova York dos anos 1960, com Bob Dylan, Patti Smith, Janis Joplin e Andy Warhol, tornou-se um mito tão grande quanto a cultura Greco-romana para os Renascentistas ou a estatuária Africana para o círculo cultural parisiense no início do século 20. Exagero propositalmente na comparação, mas é interessante pensar por que esta matriz cultural específica inspira boa parte da estética, da moda e do comportamento atual. 3
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Linguagens híbridas Não datam de hoje as investigações artísticas com os chamados "novos suportes": materiais brutos, objetos do cotidiano, utilização do próprio corpo e das mais variadas tecnologias. A partir dos anos 1960, inaugurou-se um "vale tudo" da arte contemporânea, consequência do impulso dos artistas em experimentar novos formatos de trabalho e eixos de atuação. No caldeirão contemporâneo, as combinações são cada vez mais ousadas1. Pouco a pouco, as antigas categorizações (figurativo versus abstrato em pintura, documental versus ficcional em fotografia etc.) foram relativizadas ou caíram por terra, taxadas de obsoletas. Da mesma forma, a ideia formal de "ofício" (pintor, escultor etc.) foi substituída por habilidades – desenhista, montador, curador, produtor, performer, gestor, articulador – que se alternam e se combinam de acordo com a ocasião. Nunca houve tanta liberdade e tanta instabilidade2. Por algum tempo, pensou-se que as novas formas e técnicas tornariam obsoletos os suportes tradicionais como a pintura e a escultura. Nada mais falso. Tudo se adiciona, e o que se nota é um retorno de materiais tão antigos quanto o mármore, o bronze ou a resina convivendo com uso de geolocalização, robótica e tecnologia 3D. Num processo que se estende pelas últimas décadas, o vídeo, o computador e todas as ferramentas disponibilizadas pela revolução digital passaram a integrar o repertório artístico. Ao mesmo tempo, entretanto, um movimento contrário e complementar procura resgatar as técnicas artesanais mais prosaicas: encadernação, carimbos, lambe-lambes, numa tentativa de não perder de vista o lastro manual e humano da produção artística. Retrato mais pungente desse novo panorama, as feiras de publicações independentes são um dos fenômenos mais interessantes do cenário plásticoeditorial atual. Eventos como Tijuana (SP), Feira Plana (SP), Pão de Forma (RJ), Feira Gráfica (Belo Horizonte), Parada Gráfica (Porto Alegre) têm assistido a um crescimento pungente de participantes
e de público, com pequenas editoras interessadas no universo da autopublicação. Livros, pôsteres, zines, histórias em quadrinhos, oficinas de encadernação... Em diálogo com uma estética hipster, as novas publicações parecem estar para o meio artístico e editorial como o retorno do vinil está para a música. Propondo a produção em microescala, o apuro artesanal no fazer e o consumo consciente, é difícil ver essas iniciativas com maus olhos, mas é interessante pensar sobre seu componente nostálgico3. Finalmente, é preciso dizer que uma onda criativa importante parece nascer da promiscuidade saudável entre as artes "puras" – pintura, música, teatro, literatura etc. – e os campos da economia criativa – arquitetura, design, moda, editoração... –, recuperando experiências fecundas do passado (penso sobretudo na Bauhaus), agora com ferramentas de compartilhamento e intercâmbio em nível global. Para uma geração marcada pela fragmentação, pela instabilidade e pelo deslocamento, a mistura de linguagens parece permitir novas formas de resistência e novas possibilidades de incorporar-se ao capitalismo pós-industrial. Só resistir seria ingênuo. Só incorporar-se seria em vão.
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ARTISTAS
Um projeto como o Rumos, que tinha essa premissa, contou em sua última edição com doze curadores visitando mais de cem cidades para selecionar 45 artistas". Ver Convite à viagem, exposição apresentada pelo Itaú Cultural de São Paulo, em 2012. 1
2 86 nomes consagrados da arte contemporânea brasileira foram selecionados por doze curadores consagrados para compor livro ABC: Arte brasileira contemporânea, lançado em 2014. Encomenda da Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT), o livro foi bastante criticado pelo fato de 47 dos 86 artistas selecionados serem representados por três galerias paulistanas – Fortes Vilaça, Luisa Strina e Vermelho. Ainda assim, é um bom volume de referência sobre os nomes mais conhecidos do circuito nascidos entre 1960 e 1985. PEDROSA, Adriano; DUARTE, Luiza (Org.). ABC – arte brasileira contemporânea. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
Nucas, 2013 Jorge Soledar
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
ARTISTAS I don't look for skill in art; I look for originality, surprise, obsession, energy, experimentation [...]. Skill has nothing to do with technical proficiency; it has to do with being flexible and creative. I'm interested in people who rethink skill, who redefine or reimagine it: an engineer, say, who builds rockets from rocks. Jarry Saltz
Desde o início, havia a premissa de não fazer desse ensaio uma "descoberta" de novos talentos emergentes pelo Brasil. Em primeiro lugar, porque para isso seria necessário mais tempo, mais viagens, mais equipe1. Feito em escala íntima, essa pesquisa não tem pretensão, ou mesmo possibilidade de revelar nomes secretos em que nenhum curador ou pesquisador em artes visuais tenha jamais esbarrado. Ao mesmo tempo, havia o desejo de fugir do que já é muito conhecido ou consagrado2, e os nomes aqui apresentados dificilmente farão parte do repertório público mais amplo, mesmo entre aqueles que frequentam museus e galerias de arte com alguma regularidade. A ideia própria de mapeamento já foi posta em questão na introdução desse livro. Da mesma forma, a ideia de artista emergente parece ecoar um mercado ávido por descobrir, adivinhar ou mesmo criar os nomes que "farão história" nas próximas décadas, figurando então em museus e grandes coleções do futuro. Sem bola de cristal, o esforço me parece vão. Os catálogos de qualquer bienal ou galeria importante entre os anos 1951 e 1990 mostram como a grande maioria dos nomes então expostos e altamente celebrados caiu no esquecimento. O meio da arte tem sua dinâmica própria de revelações, ostracismos e redescobertas, sempre em consonância com a história do gosto e suas mutações. Ninguém, creio eu, é capaz de premeditar o que desejarão os colecionadores em 2040. Assim, na impossibilidade da descoberta, o que se
propõe aqui é uma apresentação de artistas, mesmo para quem já os conhece. Estruturadas em torno de oito questões contemporâneas (não confundir com temas), as páginas a seguir oferecem menos uma seleção de indivíduos (com seus nomes, biografias, currículos etc.) e mais uma seleção de trabalhos, procurando, observá-los em inter-relação. Cada agrupamento, para mim, representa uma exposição possível e potencialmente interessante. Cada trabalho, uma resposta pungente a perguntas que flutuam no ar. Feitas todos essas ressalvas, subsiste ainda a sensação de que esse recorte é um entre tantos possíveis, e que o critério de seleção é pessoal, desesperadoramente pessoal. É claro que se poderia desenvolver aqui argumentos em favor da qualidade estética de cada obra apresentada. Prefiro, ao invés disso, acreditar que as imagens são potentes por si, e torcer para que o leitor compartilhe do espanto – impacto, emoção, surpresa e especialmente alegria – que tive e tenho ao me deparar com elas.
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ARTISTAS Monumento, 2012 Bel Falleiros
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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A cidade íntima Nos últimos dez anos, quase todas as capitais brasileiras se transformaram de modo ímpar. Em processos complexos de desenvolvimento, esforços inéditos para revitalização das zonas históricas (antigos portos, praças centrais, imóveis oitocentistas) convivem com a verticalização abrupta de outras áreas, criação de bairros sem planejamento urbanístico e expulsão de populações tradicionais. A realização da Copa do Mundo nos meses de junho e julho de 2013 trouxe consigo obras e operações urbanas em larga escala, muitas delas controversas1, gerando novas reflexões sobre as prioridades e os destinos das urbis contemporâneas no Brasil. Pensar sobre a cidade – como espaço de encontro e disputa, mas também como espaço do anonimato e da solidão – aparece no horizonte de uma série de artistas visuais mas também de outros campos da produção recente2. Como conectar-se à história de construção e ruína dos centros urbanos? Como tornarse sujeito do próprio destino em paisagens mutantes em que o espaço público nem sempre é de todos e o espaço íntimo parece vigiado? As tentativas se multiplicam.
Em Manaus apenas 11% da população tem acesso à coleta de esgoto. Os R$ 600 milhões gastos com o estádio do Mundial elevariam o percentual a mais de 50%. Informações dos sites <www.portal2014.org.br e www.copadomundo.uol.com.br>. Ver ainda o artigo de Milton Hatoum, Estádios novos, miséria antiga, Estado de São Paulo, 26 de junho de 2012, disponível em <http://cultura.estadao. com.br/noticias/geral,estadios-novosmiseria-antiga-imp-,889904> 2 No campo audiovisual vale a pena mencionar O Som ao Redor (2012), filme de Kleber Mendonça Filho, que ao debruçar-se sobre uma rua no Recife traça um retrato primoroso da vida nas principais capitais brasileiras.
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ARTISTAS Bel Falleiros 1983 • São Paulo/SP http://www.belfalleiros.com
Acima: Ventura, 2011 | À dir.: MB, 2012; Postais paulistanos, 2010
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
Panorama II, 2013, Panorama I, 2013; Semana dois, 2011
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Notas de esquecimento, 2010
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO Íris Helena 1987 • João Pessoa/PB http://www.irishelena.com
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Daniel Escobar 1982 • Santo Ângelo/ RS http://www.danielescobar.com.br/
À esq.: Permeável XV (da série Perto Demais), 2011 Espanha 282-283 (da série The World), 2014 Acima: Permeável XIV (da série Perto Demais), 2011 Permeável XV (da série Perto Demais), 2011
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ARTISTAS
Daniel Murgel 1981 • Niterói/RJ http://dmurgel.blogspot.com.br/
Acima: A presença do jardim de inferno no jardim de epicuro, 2012 À dir.: Pintura de parede: a parede tetrapharmacon, 2012
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ARTISTAS
Marcelo Solá 1971 • Goiânia/GO http://marcelosola.blogspot.com.br/
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À esq.: Desenhos, 2013 | Acima: Desenhos, 2012
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Uma estranha natureza
Óculos Duplo #1, 2013
Ao comentar sobre abertura da 31 Bienal de São Paulo, um fotógrafo brasileiro foi enfático: "Parece a feira de ciências". Elogio ou crítica? Elogio e crítica? De algum modo, o comentário parece ultrapassar a especificidade do fotógrafo e a especificidade da exposição para tanger um ponto mais amplo: revisando a seu modo campos epistemológicos como a zoologia, a astronomia ou a botânica, a estética contemporânea parece recuperar de modo ímpar a profusão dos antigos "Gabinetes de Curiosidades" dos séculos 16 e 17. Numa era anterior aos grandes museus e coleções públicas, esses salões particulares faziam conviver experiência e ocultismo, racionalidade e magia. Do Frankenstein de Mary Shelley (1818) à ficção científica hollywoodiana, fantasias escabrosas sobre o lado negro da ciência e da tecnologia permeiam a cultura popular. Hoje, em tempos de viagem espacial e clonagem de animais, a ciência é vista ora como redenção (o fim da fome no mundo) ora como tragédia anunciada (guerra biológica, aquecimento global). Como representar a "verdadeira" natureza em um mundo governado pelo artificio? Essa distinção (natureza x artifício) ainda faz sentido? De algum modo, paira no ar uma espécie de nostalgia romântica do tempo em que a ciência andava ao lado do místico e do maravilhoso. a
Otavio Schipper
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ARTISTAS
Otavio Schipper 1979 â&#x20AC;˘ Rio de Janeiro/RJ http://otavioschipper.com/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Inconsciente mec창nico, 2010
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Vítor Mizael 1982 • São Caetano do Sul/SP http://vitormizael.tumblr.com/
À esq.: Autorretrato, 2006 - 2008; Autorretrato, 2006 Abaixo: "sem título", 2013
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ARTISTAS
Rodrigo Zeferino 1979 â&#x20AC;˘ Ipatinga/MG http://www.rodrigozeferino.com/zeferino/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Em sentido horário: Terra cortada, 2010/2011; Ocupações, 2010; Transformação da matéria, 2012; Noite cega, 2010/2011
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ARTISTAS
Marcelo Moscheta 1976 • São José do Rio Preto/SP http://www.marcelomoscheta.art.br/
Em sentido horário: Ny Alesund, 2012; Displacing Territories Project for the Border Brazil/Uruguai, 2011; Universalis Cosmographia, 2013; A Line In the Arctic, 2012
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ARTISTAS Marta Jourdan 1972 • Rio de Janeiro/RJ
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Frames do filme em HD Súbita matéria, de 2012
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ARTISTAS 44
Vapor Deus, 2007 Gustavo Speridi達o
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
A História, ainda A Gioconda sorri porque todos os que lhe puseram bigodes estão mortos. André Malraux
Muitas vezes a arte contemporânea adota uma estratégia particular: a chamada tabula rasa do passado. Mas o passado é insistente. Do posso fundo em que ele habita, ecoam ruídos dos acontecimentos políticos, especialmente aqueles cujas consequências ainda se fazem visíveis na conjuntura atual. Na Alemanha artistas como Komar & Melamid, Sigmar Polke e Neo Rauch discutem como a representação pode ser manipulada com fins ideológicos. No Brasil, uma onde recente de artistas revisita o discurso ambíguo da mestiçagem racial, revisitando as fraturas não calcificadas da escravidão. Ferida mais recente, os anos de chumbo da ditadura militar também reaparecem no horizonte, não via arte engajada que marcou os anos 1970, mas via fragmentos e fricções de memória. Não se trata aqui de reduzir as obras a seu diálogo com a história ou com a política3, mas de perceber o poder que tem de evocar questões ainda pungentes. Longe da exaltação ufanista, muitos desses trabalhos propõe uma relação instável, oscilante com o Brasil. "Não tem essa ideia de que o colo da pátria será um ninho confortável para deitarmos, um berço explêndido. Tal e qual Berço explêndido do Vergara ou Éden do Hélio Oticica, não há conforto neste lugar", sugere Marcelo Campos4. Longe do "ame-o ou deixe-o", os novos artistas lançam-se em ousadas proposições.
3 Obras de Carlos Vergara e de Rubens Gerchman foram prejudicadas nos anos 1960 e 1970 por serem analisadas exclusivamente por seu teor político. 4 REZENDE, Renato; BUENO, Guilherme. "Marcelo Campos". In:______ Conversas com curadores e crítico de arte. Rio de Janeiro: Circuito, 2013 p. 38.
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ARTISTAS 46
Gustavo Speridião 1978 • Rio de Janeiro/RJ
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: Rimbaud (da série Retratos de combatentes), 2011; Angelina Jolie (da série Retratos de combatentes), 2011 | Acima: The Great Art History, 2011
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ARTISTAS Acima: Fim de ..., 2012 (ambas) | À dir.: Brasilia Round (da série Lacrimogêneo), 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Myriam Zini 1971 • Marrocos http://www.myriamzini.com/
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ARTISTAS
Lippe Muniz 1986 â&#x20AC;˘ Rio de Janeiro/RJ
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http://lippeart.blogspot.com.br/
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Na outra pรกg.: Weltwehmut - Happy Sad, 2012 | ร esq.: Weltwehmut - Ku Klux Klan, 2011 e Weltwehmut - Essays (Dilma Rousseff), 2013
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ARTISTAS
Carlos Contente 1977 â&#x20AC;˘ Rio de Janeiro/RJ http://www.carloscontente.com.br/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Em sentido horário: Entrevista com o Verde, 2003, sequência de 40 desenhos; Rio, acho isso tudo muitengraçado, 2013; Tarsilão, 2004
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ARTISTAS
Arjan Martins 1960 â&#x20AC;˘ Rio de Janeiro/RJ
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: Trópicos, 2014; Trópicos II, 2014 | Acima: Américas, 2013
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ARTISTAS Costumes estranhos e sonhos absurdos, 2014 Piti TomĂŠ
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Ruínas, memórias, deslocamentos Num mundo de mobilidade, contornos fluidos e deslocamentos cada vez mais frequentes, o artista tornou-se um viajante por excelência. Trata-se, porém, de uma espécie muito diversa dos naturalistas que percorreram o Brasil desde o descobrimento ou dos apressados viajantes de negócios que hoje lotam os aeroportos das principais capitais globais. Incorporando a tradição dos road movies1, o artista contemporâneo tornouse uma espécie de colecionador de vestígios, caixeiro-viajante tentando inventar novos sentidos possíveis para os restos e rastros que encontra no caminho. Ao contrário do turista típico, seu olhar não busca o monumental ou o consagrado, mas descobre detalhes sem relevância aparente na paisagem. Se a ideia mesma de jornada faz-se fundamental para a pesquisa artística contemporânea2, a viagem às vezes acontece unicamente por meio da memória – percurso igualmente subjetivo e pautado pelo imprevisível. "Vivemos em campos de não permanência, em espaços de passagem em que as relações são provisórias, os produtos descartáveis", sugere um texto de Cauê Alves e Cristina Tejo sobre o conceito de itinerário. Nesse contexto, as reminiscências da memória surgem tal e qual ruínas de uma civilização perdida. O que desaparece e o que se preserva num mundo em mudança acelerada? Quando a vida e o mundo se transformam, para onde tudo vai? E, especialmente, o que acontece com aquilo que fica? "O contemporâneo é o intempestivo", resumiu Roland Barthes, ele próprio um entusiasta da noção de fragmento e arqueologia do sensível. Num mundo em que as grandes estruturas – nação, partido, família – são postas em xeque, o olhar acurado sobre os estilhaços carrega certa nostalgia e certa urgência.
1
No contexto brasileiro, penso logo no filme Bye Bye Brasil de Cacá Diegues. A ideia de jornada está no centro de algumas das mais importantes exposições recentes sobre a produção contemporânea. Penso especialmente no 32o Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) (Itinerário, Itinerância, curadoria de Cauê Alves e Cristiana Tejo, exposição realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo de 15 de outubro a 11 de setembro de 2011). 2
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ARTISTAS
Piti Tomé 1984 • Rio de Janeiro/RJ http://pititome.com/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Em sentido horário, começando pela outra pág.: Curvo-me sob este fardo, 2013; Roteiro para aula prática de sistema circulatório, 2014; Uma ilusão fugaz que nos prende a todos nós, 2014
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ARTISTAS Flávia Junqueira 1985 • São Paulo/SP http://www.flaviajunqueira.com.br/
À esq.: Na companhia dos objetos #2, 2008; A casa em festa #4, 2010
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ARTISTAS Rochele Zandavalli 1980 â&#x20AC;˘ Garibaldi/RS http://www.labareda.art.br/
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Na outra pág.: III (da série All We Need), 2009 Ao lado e acima, ambos os trabalhos da série Rever - Retratos Ressignificados, 2009-2012
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ARTISTAS
Pedro David 1980 โ ข Garibaldi/RS http://pedrodavid.com/
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Em sentido horรกrio: O jardim, 2009-Atual; O jardim, 2009-Atual; Brasa, 2011; Cartografia do infinito, 2010
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66 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Ivan Grilo 1986 • Itatiba/SP http://www.ivangrilo.art.br/
Em sentido horário: Entre névoa, 2013; Estudo para álbum, 2013; Comum União, 2011
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68 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Romy Pocztaruk 1983 • Porto Alegre/RS http://romypocz.com/
Projeto "A última aventura", 2011
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ARTISTAS
Renata Har 1981 • São Paulo/SP http://www.renatahar.com/
Acima: Sem título, 2010 | Ao lado: The Sea, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
Adauany Zimovski 1983 • São José dos Campos/SP http://adauany.com/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: da série Calendário, 2011; Acima: da série Paisagem Pragmática, 2010
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ARTISTAS
Da série Alfarrábios, 2009 Lucas Dupin
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Da micronarrativa Em diferentes momentos ao longo século 20, a capacidade narrativa da arte foi quase expurgada em prol da pura experiência visual – supremacia da cor, da linha e da forma. Com o fim das utopias modernas, no entanto, o retorno do componente narrativo parece ser um traço essencial na nova produção plástica. Com uma espécie de microscópio sobre a intimidade do cotidiano, os novos artistas criam histórias a partir de experiência pessoal, literatura, cultura popular, fantasia ou quaisquer outros universos de referência. Tal e qual a literatura contemporânea, a nova narrativa visual é cheia de alusões à própria artificialidade do discurso, assinalando ao espectador que as histórias contadas são parciais, incompletas ou fragmentadas. "No mundo pós-industrial narrativas já não são sobre a experiência direta ou o 'mundo real'. São amálgamas de ficções vagamente lembradas ou esquecidas sobre o passado"5. Numa profusão de histórias mutáveis, incoerentes ou inconclusivas, não faltam estranhas catalogações e colecionismos.
5 JAMESON, Frederic. "Postmodernism and Consumer Society". In: FOSTER, Hal (Ed.). The Anti-Aesthetic: Essays on Postmodern Culture. Seattle: Bay Press,1983 p.115. Tradução livre.
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Lucas Dupin 1985 • Belo Horizonte/MG http://www.lucasdupin.com.br/pt/
À esq.: da série Alfarrábios, 2009; da série Pequenas Navegações, 2008 | Abaixo: Sob a Água o Céu, 2008
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78 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Nara Amélia 1982 • Três Passos/RS http://naramelia.blogspot.com.br/
À esq.: A joia falsa do meu câmbio, 2010; O caminho para o meu coração, 2010 | Acima: Animal que pode prometer, 2010
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ARTISTAS
Luciana Paiva 1982 • Brasília/DF http://cargocollective.com/lupaiva
Em sentido horário: Não é o fim, 2013; Problemas de ótica e reflexão, 2005; Não alimente o livrinho, 2005
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
André Griffo 1979 • Barra Mansa/RJ http://andregriffo.blogspot.com.br/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Em sentido horรกrio: Caixas, 2011; Reuso e retardo, 2012; Vitrine, 2011
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Virgílio Neto 1986 • Brasília/DF http://www.virgilioneto.com/
Sem título, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Bruno Kurru 1984 • São Bernardo do Campo/SP http://www.brunokurru.com/
Em sentido horário: Janela ou ausência dela, 2012; Superfície transponível, 2014; Quantos mares cabem em um lápis de cor azul?, 2013
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ARTISTAS
Da série Rua, 2006
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Antônio Bokel 1978 • Rio de Janeiro/RJ http://www.antoniobokel.com.br/
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ARTISTAS
Pr贸teses afetivas Jorge Soledar
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Do corpo sujeito Tema central no pensamento e da produção contemporânea, o corpo aparece hoje longe da aura de harmonia e invencibilidade que marca sua concepção clássica. "Your body is a battleground", cravou a artista norteamericana Barbara Kruger em um trabalho de 1989. De fato: numa época de obsessão social pela perfeição física, corpos supostamente perfeitos inundam a publicidade, o cinema e os meios de comunicação. Enquanto isso, na arte, o corpo torna-se um instrumento poderoso para celebrar a liberdade sexual e identitária, exorcizar traumas privados ou questionar estereótipos raciais e de gênero. Em diferentes suportes, surgem novas representações que revelam corpos ordinários, vulneráveis, fragmentados, mutantes, dilacerados ou mesmo mortos. Mas é o próprio corpo, em muitos casos, o único e grande suporte3. "O corpo é político mesmo sem querer ser. O corpo expressa o que já tem de signo e é espaço para expressões de novos signos", sugere Tales Frey, artista e idealizador da mostra Performatus. "Ele contém suas próprias metáforas e pode acolher, também, significados que o artista queira imprimir sobre ele. Na nossa atualidade tão multiculturalista, o corpo é um meio eficaz de abordagem dessa subjetivação"4. Em 1970, Antonio Manuel tirou a roupa no MAM do Rio no que é tido como um dos eventos iniciáticos da body art no Brasil. Se naquele momento tratava-se de defender um direito ao erótico contra o puritanismo e o politicamente correto da cultura oficial, hoje a luta é justamente por um corpo que de algum modo se defenda e não se deixe erotizar automaticamente5.
3 "A diferença em relação ao teatro é que performance não é uma interpretação, não há representação, como não há nenhum suporte para indicar essa ausência da representação, a não ser o próprio corpo que não representa nada, só apresenta ele mesmo numa determinada situação" REZENDE, Renato; BUENO, Guilherme. "Daniela Labra". In:______ Conversas com curadores e crítico de arte. Rio de Janeiro: Circuito, 2013 p. 87.
Entrevista com Tales Frey realizada em 24 de março de 2014. 4
5 Em artigo intitulado "Por uma crítica da economia libidinal", Vladimir Safatle retoma Jacques Lacan e a escola de Frankfurt diferenciando o capitalismo de produção, regido pela repressão, do capitalismo de consumo contemporâneo. Longe da dialética prazer-desprazer do primeiro, esta nova sociedade é regida por um imperativo de gozo pleno e sem restrições. SAFATLE, Vladimir. Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008. Nesse sentido ver também Zizek, S.; Daly, G.. Arriscar o impossível: conversas com Zizek. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p. 89.
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92 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Jorge Soledar 1979 • Porto Alegre/RS http://cargocollective.com/soledar
À esq.: Nucas, 2013 | Acima: Próteses afetivas, 2009-2010
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ARTISTAS
Micheline Torres
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1974 • Sertãozinho/PB
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: Carne, 2008 | Acima: Pequenas histórias sobre pessoas e lugares, 2012
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96 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Berna Reale 1965 • Belém/PA http://bernareale.com
Da esq. para a dir.: Número repetido, 2012 e Palomo, 2013
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ARTISTAS André Terayama 1989 • São Paulo/SP http://vimeo.com/andrehag
Acima: Cavaletes, 2011 | À dir.: Strike #1, 6, 2, 4, 2012
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
Arthur Scovino 1980 • São Gonçalo/RJ http://arthurscovino.wordpress.com/
Em sentido horário: Caboclo Samambaia (O caboclo dos Aflitos), 2014; Recanto dos Aflitos (O caboclo dos Aflitos), 2014
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ARTISTAS 102
Em sentido horário: A notícia, 2013 Tabuleiro, 2013 A promessa B, 2012
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO Dalton Paula 1982 • Brasília/DF http://daltonpaula.blogspot.com.br/
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ARTISTAS
Acima: Sem título (da série Objetos para tampar o sol de seus olhos), 2010 | À dir.: Sem título (da série Para venda), 2011
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Paulo Nazareth 1977 â&#x20AC;˘ Governador Valadares/MG http://artecontemporanealtda.blogspot.com.br/
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ARTISTAS
Ayrson Heráclito 1968 • Macaúbas/BA http://ayrsonheraclitoart.blogspot.com.br/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Na pág. ao lado: série Bori Cabeça de Ogum 1/6, 2009 Nesta pág., da esq. para a dir.: série Bori Cabeça de Xangô 1/6, 2009 e série Bori Cabeça de Omolú 1/6, 2009
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ARTISTAS Amanda Melo 1978 • São Lourenço da Mata/PE
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Acima: Round IV, 2010 | À dir.: Madrepérolas I, 2011
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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110 ARTISTAS
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Eclipses (ocupações), 2007
Arquiteturas
Yana Tamayo
Fosse através da "máquina de viver" de Le Corbusier, do repúdio ao ornamento por Adolf Loos ou das promessas redentoras de Brasília, a arquitetura funcionou como grande veículo da utopia social moderna. Hoje, de um modo curioso, sonhos e fracassos ligados aos ideais de funcionalidade e eficiência ajudam a revigorar o pensamento de artistas contemporâneos sobre o espaço. Com olhar irônico de quem já viu a história tomar outros cursos, artistas não se cansam de revisitar mitos e promessas modernistas para a casa e para a cidade ideal. Ao mesmo tempo, muitos artistas se valem de repertório arquitetônico para ir além da dimensão plástica em direção a um pensamento crítico sobre a ocupação do espaço. Heranças do minimalismo e da fabricação industrial convivem, muitas vezes, com matrizes de artesanato e cor locais, ajudando a compor novas instalações e esculturas. Nesse mesmo sentido, uma das expertises contemporâneas é provocar perturbações e ruídos de toda espécie na paisagem urbana, de forma que locais simbólicos ou reconhecidos assumam novas configurações.
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ARTISTAS
Yana Tamayo 1978 • Brasília/DF http://cargocollective.com/yanatamayo
Acima: Sem título (Revoluções provisórias), 2014 | Ao lado: Paisagem cambiante III, 2006
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Gisele Camargo 1970 • Rio de Janeiro/RJ
Acima: Sem título, 2013; Apolo III, 2014 | À dir.: Cápsula C, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Da série Planetários, 2013
Flora Rebollo 1983 • São Paulo/SP http://florarebollo.tumblr.com/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Rodrigo Sassi 1981 • São Paulo/SP http://www.rodrigosassi.com/
Acima: Ponto pra fuga, 2012; Ao lado: A câmera se desloca procurando acompanhar uma segunda intenção, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Maria Nepomuceno 1976 â&#x20AC;˘ Rio de Janeiro/RJ
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: Sem título, 2010 | Acima: Sem título, 2010
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ARTISTAS Nathalia García 1986 • Porto Alegre/RS http://www.nathaliagarcia.com.br/
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
À esq.: Castelo, 2014 | Acima: Sem título, 2013
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124 ARTISTAS
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Por uma nova geometria Não é preciso dizer o quanto os movimentos derivados da abstração geométrica foram de importância capital para a arte brasileira e latinoamericana, sobretudo no período entre 1930 e 19706. Entre manifestos, debates e disputas teóricas que marcaram época, o legado de nomes tão diversos quanto Franz Weissmann, Sérvulo Esmeraldo, Amilcar de Castro, Waldemar Cordeiro, Hélio Oiticica ou Antonio Maluf se faz sentir em toda a formação crítica sobre a transição particular entre o que se convencionou chamar de arte moderna e a dita arte contemporânea. Como lidar com a herança sob novos contornos? Algumas das respostas artísticas mais recentes têm sido repensar possiblidades geométricas combinadas a novas matrizes e elementos orgânicos derivados da cultura pop, da arte naif, da fotografia ou mesmo do artesanato. Associada historicamente ao mundo industrial moderno, a geometria contemporânea supera a utopia da forma pura, assumindo novos riscos e direções.
Et nous, nous marchons inconnus, 2014 Ana Mazzei
6 Geometria radial é o título de uma recente exposição de arte latino-americana no Royal Academy of Arts de Londres (5 de julho a 28 de setembro de 2014). O conjunto reúne oitenta peças da Colección Patricia Phelps de Cisneros que tem na geometria seu ponto de partida. <https:// www.royalacademy.org.uk/ exhibition/23>
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ARTISTAS
Ana Mazzei 1980 • São Paulo/SP http://www.anamazzei.net/
Acima: Planta – série I, 2013 À dir.: Se disser que fui pássaro, 2014
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
Carla Chaim 1983 • São Paulo/SP http://www.carlachaim.com/
Acima: Passarada, 2009 | À dir.: Sem título 05, 2013; Paisagens Impossíveis II, 2009
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS
Antonio Malta 1961 • São Paulo/SP
Acima: War Pigs, 2007 À dir.: Sem título, 2006
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Marcelo Jacomé 1980 • Rio de Janeiro/RJ http://www.marcelojacome.com.br/
Acima: Planos-pipa no 17, 2013 | À dir.: Planos-pipa, 2011; Pontos suspensos, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ARTISTAS Guilherme Dable 1976 • Porto Alegre/RS
Abaixo: sem título, 2012 | À dir.: então, gradualmente, você acorda novamente e prossegue, 2013
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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ESPAĂ&#x2021;OS Largo das Artes, Rio de Janeiro
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
ESPAÇOS Era uma casa muito engraçada. Ali, artistas trabalhando nos mais diversos suportes reuniam-se, discutiam, faziam festas, expunham, arranjavam, rearranjavam, propondo novas formas para articulação, produção, gestão e recepção no âmbito das artes visuais. Alguns poucos lugares assim existiram no Brasil ao longo do século 201. Contudo, o século 21 assiste a uma verdadeira proliferação de espaços experimentais autogeridos. Conhecidos internacionalmente como artist-run-spaces, eles se estabelecem como nova peça no sistema de arte brasileiro, operando à margem e ao mesmo tempo em diálogo com governos, mercado e instituições. Concentrados inicialmente no eixo Rio-São Paulo, espaços independentes estão presentes hoje nas principais capitais brasileiras. Em dezembro de 2010, uma reunião de 23 representantes na Casa da Ribeira, em Natal, gerou a Rede de Espaços Independentes (Rede E.E.I.2). Encontros de caráter similar aconteceram nos últimos anos, com destaque para Circuitos da Desdobra: debate sobre a situação atual dos espaços autônomos para as artes visuais, ocorrido em abril de 2014 no Rio de Janeiro3. "Eles [os espaços] são parte de um conjunto de práticas autônomas, governadas por políticas e dinâmicas intensivas, por processos não lineares e por um ideal de autogestão, liberdade e resistência", escreve Kamila Nunes, numa pesquisa pioneira e detalhada sobre o fenômeno4. Longe da terminologia institucional (museu, fundação, instituto, centro cultural), as novas organizações se auto intitulam espaço, plataforma, ateliê, projeto, organismo, casa. Uns lembram uma galeria, com exposições regulares mas sem finalidade comercial; outros são espaços de cursos, muitas vezes em diálogo com outros campos da produção cultural; alguns privilegiam intercâmbios e residências; outros, finalmente, servem como espaço de trabalho para artistas que compartilham equipamentos – prensa, laboratório, computadores etc. – ao mesmo tempo em que promovem eventos
de variadas espécies. Tanto quanto sua nomenclatura e atividades, os modelos de organização, gestão e financiamento desses espaços são os mais heterodoxos possíveis. Editais, cursos, crowdfunding, leilões, festas e venda de publicações são algumas das estratégias para sobrevivência, mas dificilmente existe um planejamento financeiro a longo prazo. E nem é a ideia. Seu compromisso, a julgar pelo modo como pensam e trabalham, é muito mais com as urgências do presente do que com as expectativas do futuro. Embora sejam extremamente diversos entre si, o que parece comum aos novos espaços é ideia mesma de laboratório, o caráter experimental de suas ações e de sua própria existência – daí que muitos fechem antes mesmo de completar três anos. É pela negativa (não ser uma galeria; não ser uma instituição, não ser um museu) que esses espaços se conectam, testam limites e provocam novos questionamentos no circuito. Nas próximas páginas, alguns espaços pelo Brasil são apresentados, frisando sua vocação como celeiro para pesquisa visual5 e o papel fundamental que têm desempenhado para organização de novos projetos artísticos6. Ponto de encontro por excelência, essas novas plataformas têm ajudado os artistas a se organizar em redes de colaboração (estética, política, econômica) numa época em que noção romântica do artista solitário parece já não vigorar da mesma forma. Antigo espaço da criação isolada, o ateliê torna-se então um espaço de circulação e troca. Antes oculto ou introvertido, o processo criativo surge agora como parte da obra. Via de regra, os espaços independentes mesclam a intimidade e informalidade do ambiente doméstico com práticas de intercâmbio e abertura ao externo, atuando sempre em microescala. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, no entanto, dois projetos de caráter mais amplo – Pivô e Fábrica Behring têm incorporado estratégias de funcionamento dos espaços autogeridos para criar novos modos de gestão institucional7.
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ESPAÇOS
Do espaço subjetivo Nesta nova esfera de atuação, um fenômeno recorrente é a incorporação de imóveis históricos, muitas vezes em estado de abandono. Anti "cubo branco" por princípio, os novos espaços quase sempre partem do pressuposto de que o local ou imóvel – sua história, suas características físicas, sua singularidade – é parte integrante dos processos que acontecem lá dentro. "O espaço sempre reconfigura a experiência. Sendo amplo ou muito pequeno, as qualidades do espaço se desdobram pelos seus modos de uso e pelos afetos que destinamos a ele, reconstruindo nossas experiências na lacuna entre o hábito e a novidade", escreveu Eduardo de Jesus na publicação inaugural da Casa Tomada, no bairro paulistano da Aclimação: "Afetos, memórias e experiências que de alguma forma parecem ficar gravadas em nós e também na fisicalidade do espaço. Assim, o espaço torna-se ao mesmo tempo realidade e fabulação"8. Dialogando com seu uso original, um antigo hospital no bairro paulistano da Pompeia, uma casinha numa das primeiras quadras do Plano Piloto, em Brasília, e um galpão fabril num bairro satélite de Belo Horizonte são alguns exemplos de locais impregnados de significado. Ao mesmo tempo em que proclamam a independência, a autogestão, a autonomia e o experimentalismo, quase todos os gestores de espaços independentes se queixam da falta de reconhecimento e de políticas públicas e da impossibilidade de sobreviver9. Por outro lado, correm o risco de, uma vez devidamente financiados pelo Estado ou pela iniciativa privada, incorrerem nos mesmos processos burocratizantes ou institucionalizantes que tanto criticam. Fortalecendo circuitos locais, os novos espaços integram-se em redes globais de intercâmbio e residência artística, criando uma dinâmica nova, particular e interessante para o meio. O grande desafio é manter ativo o frescor que os move.
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
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Para citar os mais emblemáticos: o Clube dos Artistas Modernos (CAM), liderado por Flávio de Carvalho, foi fundado em 1932 e contava com a participação de Antonio Gomide, Carlos Prado e Di Cavancanti. Experiência que durou de junho de 1966 a maio de 1967, Rex Gallery&Sons, foi levada a cabo por Geraldo de Barros, Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Carlos Fajardo, José Resende e Frederico Nasser. Finalmente, cabe mencionar o Espaço N.O. – Centro Alternativo de Cultura, inicativa de artistas de Porto Alegre que funcionou entre 1979 e 1982. 2 Propostas e participantes em: <http://www. casadaribeira.com.br/projetos/rede-e-e-i/5/> 3
<http://www.circuitosdadesdobra.com>
4 NUNES, Kamila. Espaços Autônomos de arte contemporânea. Rio de Janeiro: Circuito, 2013. 5 De algum modo os novos espaços parecem assumir a função desempenhada pelos coletivos nos anos 1990. Sua estrutura, porém, se baseia mais no trabalho colaborativo do que na atuação conjunta com anulação individual que marcava a ação dos principais coletivos. 6 Muitos dos projetos apresentados na terceira parte desse livro são iniciativas surgidas ou levadas a cabo por meio de espaços independentes. 7 "Como artista, para mim é algo muito importante que a coisa exista num plano físico. Estamos numa era de comunidades do Facebook, então partia muito dessa pergunta, 'aonde você vai, em São Paulo, para conhecer artistas?'. Quis que isso acontecesse nesse espaço, que fosse uma congregação de encontros muito pouco mediada, é o que fazemos aqui" (Entrevista com Fernanda Brenner sobre a Pivô realizada em 18 de fevereiro de 2014). 8 JESUS, Eduardo de. "Casa Tomada. Ligada e na pilha". In: Convivências #1 (sem editora).
Em meados de 2013, a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo lançou o primeiro edital específico para o financiamento das atividades dos espaços independentes. Atualmente, a principal expectativa do circuito é que políticas similares surjam em outros Estados e em nível federal. 9
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ESPAÇOS Ocupando um casarão do século 19 no centro histórico do Rio de Janeiro, é um centro independente de arte contemporânea com galeria, cursos, ateliês e um programa de residências artísticas, que em 2013 recebeu catorze artistas de nove países. Em 2014, o espaço programou novos cursos e workshops e expandiu o seu programa de residências para a área de curadoria. Procurando contribuir para revitalização urbana do centro histórico do Rio de Janeiro, os ateliês do Largo são ocupados por artistas locais e também por aqueles que participam do programa de residências, estimulando a movimentação de pessoas e ideias.
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Ateliês. Foto por Frederico Pellachin
Largo das Artes Criação: 2007 Cidade: Rio de Janeiro Diretores: Consuelo Bassanesi e Miguel Sayad www.largodasartes.com.br
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Fábrica Bhering Criação: 2012 Cidade: Rio de Janeiro Participantes: 52 ateliês e 21 empresas www.fabricabhering.com
No bairro de Santo Cristo, zona portuária carioca, uma fábrica de chocolates abandonada até 2007 abriga hoje mais de oitenta ateliês. Espalhados por diferentes andares, espaços dedicam-se à pintura, literatura, fotografia, vídeos, performance, instalação, restauração, desenho e multimídia, convivendo com maquinário e com as antigas instalações industriais. Um café e uma loja de móveis complementam o centro criativo, que recebe visitantes todo primeiro sábado do mês.
Nossa primeira exposição nesse espaço, dentro da Fábrica Bhering, foi com o DOTMOV em 2010, esse festival multimídia japonês. Não tinha quase ninguém aqui, vieram vinte, trinta pessoas, mas foi ótimo. Depois, com a primeira ArtRio, já abrimos os ateliês, e aí veio um público muito grande e começou a acontecer essa transformação da Bhering, as pessoas vinham e falavam que era um lugar incrível, com ateliês bacanas. Hoje, somos entre oitenta e noventa inquilinos, uns cinquenta ateliês. - Gabriela Maciel. Desde 2010 mantém o espaço TAL – TechArtLab dentro da Fábrica Behring
Hoje em dia vejo as galerias do Rio de Janeiro muito mais abertas às novas formas de expressão, vamos dizer assim, mas teve uma época em que eu achava que era muito comercial. Eu dizia: "tem tanta gente fazendo arte multimídia, performance, videoinstalação, e para onde é que eles vão? Como é que eles vão?" Era museu para os mais conhecidos, e a galera super jovem e interessante sem espaço para expor. - Gabriela Maciel
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ESPAÇOS
Barracão Maravilha Criação: 2008 Cidade: Rio de Janeiro Fundadores: Hugo Richard, Natali Tubenchlak, Robson, Zé Carlos Garcia e Marcelo Velloso
Criado pelos artistas Hugo Richard, Natali Tubenchlak, Robson e Zé Carlos Garcia e pelo produtor Marcelo Velloso, ocupa um sobrado centenário da Lapa carioca. Misto de espaço de trabalho e espaço expositivo, surgiu em 2008 e a partir de 2011 convidou outros artistas para integrar o ateliê. A grande vitrine de vidro sobre uma rua de movimento, desperta a curiosidade de quem passa.
www.barracaomaravilha.com.br
Isso é um ateliê de produção antes de mais nada, cada um aqui faz o seu trabalho, esse é o ponto inicial de tudo. Brincamos dizendo que cada hora um de nós é o síndico do espaço: precisamos apenas pagar a conta do mês e manter o espaço minimamente em funcionamento. Se fosse um espaço que tivesse que lidar com editais, teria que ter uma parte de administração muito mais formalizada, algo que não temos. - Hugo Richard
O Zé Carlos e o Robson são escultores de carnaval há mais de dez anos. Todos, de alguma forma têm algum tipo de relação [com esse universo]. Se você for para um barracão de escola de samba e ver como ele funciona, é caótico e anárquico. São várias pessoas trabalhando no mesmo lugar, em coisas muito distintas entre si, para fazerem algo em comum. É um pouco do que nós fazemos aqui... Manter isso aberto é o nosso Carnaval. - Hugo Richard
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Criação: 1997 Cidade: Campinas Fundadora: Samantha Moreira Participantes: Henrique Lukas, Maíra Costa Endo e Samantha Moreira www.atelieaberto.art.br
Ateliê Aberto
Criado em Campinas em 1997, é considerado o mais antigo espaço independente em atividade. Laboratório permanente de processos colaborativos e de convívio, se estrutura a partir de três frentes: espaço cultural, criação de projetos e prestação de serviços para outros espaços e instituições. Situado hoje no bairro do Cambuí, propõe residências, ações, exposições, festas, mostras e debates ampliando as possibilidades de criação e pesquisa dentro do circuito da arte contemporânea.
Foto do flickr: http://www.flickr.com/photos/atelieaberto
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ESPAÇOS
Dizem que o Brasil está em alta. Onde? Pra quê? Por quê? Está em alta com qualidade, ou está em alta com blablablá? Acho que as pessoas vivem muito o hoje. Hoje é lindo, é festa, "sou artista!". A questão é que o que eu sou hoje vai reverberar daqui dez anos Nino Cais
Existem outros espaços que têm essa necessidade mostrar e mostrar, cada vez mais. Aqui é um pouco o contrário: a casa é um projeto para nós mesmos. Os grupos de acompanhamento têm convidados, mas se você vier, vão estar todos concentrados, pensando. Visitamos exposições e depois voltamos para dentro para discuti-las. - Nino Cais
Numa mesma rua de Pinheiros (rua Hermes Fontes), duas casas vizinhas abrigam os ateliês permanentes de Laura Gorski, Julia Kater, Carla Chaim, Nico Cais e Marcelo Amorim. Ao mesmo tempo, os espaços promovem programas de acompanhamento, cursos, residências, encontros e exposições.
Criação: 2011 Cidade: São Paulo Fundadora: Carla Chaim jardimdohermes.com
Jardim do Hermes + Fonte Acompanhamento de portfólios Foto por Leka Mendes
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Exposição coletiva do projeto Vitrine 2013, em março de 2014. Foto por Diogo Lucato
.Aurora
Criação: 2013
Cidade: São Paulo Participantes: Bel Falleiros, Diogo Lucato, Francesco Di Tillo, Gabriel Gutierrez, Laura Daviña e Claudia Afonso www.pontoaurora.com
Formado e gerido por cinco artistas – Bel Falleiros, Diogo Lucato, Francesco Di Tillo, Gabriel Gutierrez e Laura Daviña – e uma arquiteta de exposições – Claudia Afonso –, funciona como ateliê dos artistas e espaço expositivo e de trocas, num apartamento na rua central que lhe dá o nome. De acordo com o texto de apresentação dos próprios participantes:
Em conexão com outros convidados, outros pontos no espaço, o . Aurora se propõe um lugar de abertura para novas frentes de expressão, pontos de partidas . de ateliê . de encontros . de ideias . de ideais . de trocas . de liberdade . de experimentação . de reflexão . de produção . de intercâmbio . de vendas . de possibilidades . de convívio . de convites e nunca pontos finais
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ESPAÇOS Aberto em dezembro de 2011, ocupa um imóvel histórico ao lado da Catedral da Sé. Sendo pouco a pouco recuperada, a casa de 1890 possui espaço de trabalho coletivo, ateliês temporários, espaço para residência, ambientes expositivos, escritório, cozinha, biblioteca e "sala de estar". Sua missão é "buscar e encontrar formas alternativas de independência material e mental, propondo um novo modo de organização da vida em comum, para permitir-nos um constante estado de criação". O casarão abriga também o brechó e acervo de figurinos Casa Juisi e são frequentes os intercâmbios entre as duas iniciativas.
É uma característica conceitual minha, fazer eventos com comida de forma bastante ritualística, pensando na cozinha como performance. Tem a ver com celebração, união, e também com uma crítica sutil às aberturas de exposição, que giram em torno de bebida alcóolica de um jeito meio superficial. Queria que as pessoas se sentassem juntas... Já teve acontecimentos históricos.. o Hudinilson Jr. e o Paulo Bruscky se encontrarem aqui, e a gente cozinhar um peixe. Queria realmente fazer desse lugar um espaço de encontro. - Maria Montero
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Fachada do espaço, localizado no centro de São Paulo
Phosphorus Criação: 2011 Cidade: São Paulo Fundadora: Maria Montero www.phosphorus.art.br
Foi a história com essa casa que realmente impulsionou tudo, ela é de 1890, primeiro cartório de São Paulo, na primeira rua dessa cidade, ao lado de um monte de instituições que também não existiam quando nos mudamos pra cá. É uma rua com uma extrema vocação cultural, e precisa ser resgatada. - Maria Montero
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Criação: 2003 Cidade: São Paulo Fundadores: Bruna Costa, Rafael Campos Rocha e Sílvia Jábali www.atelie397.com
Ateliê 397 Foto por Leka Mendes
Espaço estruturado em torno de um longo corredor na Vila Madalena, o Ateliê 397 promove ações inovadoras procurando comentar – irônicamente, críticamente – o circuito das artes. Entre exposições, debates, festas, o ateliê tem no happening um forte componente. Para ajudar o financiamento de suas atividades, criou, entre outras ações, o leilão Surpraise, onde obras de artistas consagrados e iniciantes são penduradas lado a lado sem identificação e a autoria só é revelada após o ultimo lance.
Ducim coremporem inullup taquasped que dit, sequunt volore quassit, omnihicia nobis restet qui bere nem recerib usdaera tquunto volo coriam, con nihillitint. Ignatincius rest, sincto id et faccust iaecuptio et autam, que volupta tibusa dolore rem sequiae niet et aut offic tem as vollupt aspiendita vellupi ciliquam qui as aut pre deniscitios molest a nisimuscil earuptatem volorporeius estiae. Icitatur? Qui ra nitecte volupta cus sandis namusdaes que destiasita dis maio conseca tiorepta quiam quunt essundest la inveliq uatur, unt eicientur, et labor accaborrum entin conseri.Aximus estem fugiae dolorem. Re dus consequo ium nimagnimus voloris que prati undant, eum autem. Ut hiliquam ipiet laut eria dolut modit ipsam fuga. Et untiscit et, serfernatum rem id mo quatem fugit ut lacerit harciet facest, et illuptus, eseque si arciam dus dolore rem re nihicitias adignime quam eumet laborate consequ.
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ESPAÇOS
Quando tivermos uma oficina pronta, outras coisas começarão a rolar. Desde os artistas visuais, os grupos de teatro, todos precisam cortar uma madeira, serrar, pregar, fazer uma parte do cenário ou uma traquitana. - Géssica Arjona
Criação: 2010 Cidade: São Paulo Fundadores: Kako Guirado, Géssica Arjona, Vicente Martos e Bruno Di Trento www.condominiocultural.org.br
Condomínio Cultural Residência de encontro com professores em outubro de 2013. Foto por Ligia Jardim
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Nossa ideia era procurar um espaço para nos apropriarmos dele. Essa exposição saiu em junho de 2012 e se chamou Cidades Contínuas. Foram 45 artistas, dois ou três do Condomínio, a grande maioria era de fora. Havia esse desejo de ocupar, olhar para um espaço e entendê-lo como um espaço expositivo, ressignificando-o. - Vicente Martos
Antiga escola (entre 1935 e 1955), antiga maternidade (de 1955 a 1977) e antigo hospital geriátrico Vila Anglo Brasileira (1977 a 1955), funciona desde 2010 como espaço de trabalho compartilhado, com salas alugadas a grupos de teatro, dança, música e artes visuais. Os "condôminos" dividem salas, cozinha e um amplo quintal. Toda quinta-feira, os coletivos se reúnem e um grupo em especial apresenta seus atuais projetos. Mobiliário, utensílios e vestígios diversos do antigo hospital foram agrupados numa sala, gerando uma espécie de exposição permanente sobre a memória do local.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Localizado numa sobreloja de 3,5 mil m2 no edifício Copan, o espaço inaugurado em 2012 se articula por meio de exposições, workshops, ateliês temporários, residências, atividades educativas e palestras divididas entre o Programa de Exposições Anual e o Pivô Pesquisa. Sua estrutura segue se desenvolvendo em paralelo à sua programação, num processo em constante mutação.
Fachada
Pivô Criação: 2012
Cidade: São Paulo Fundadora: Fernanda Brenner www.pivo.org.br
O espaço estava à venda havia vinte anos, depois de ter sido um hospital dentário e uma clínica dos funcionários do Bradesco. Eram vinte anos de poeira, ratos mortos, banheiros velhos, restos de hospital, porém era um espaço extraordinário. A partir do minuto em que entrei aqui me perguntei como isso existia em São Paulo. Durante um ano comecei a trazer pessoas, sempre dizendo "olha, esse lugar existe, alguém tem que fazer alguma coisa. É uma coisa muito simbólica e traumática de como a cidade trata espaços desse gênero na memória e herança. [...] É impossível reformar esse espaço, precisa de milhões de reais". Essa reforma foi uma antirreforma, um processo arqueológico de oito meses tirando, quebrando tudo que não era original. Foi um processo de escavar o Oscar Niemeyer que existia aqui, com 25 anos de mal uso do espaço. - Fernanda Brenner
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ESPAÇOS Sempre houve essa expectativa para que esse lugar se tornasse um espaço de troca e de encontro. Artistas mais antigos, que têm uma trajetória maior aqui em Porto Alegre, falam que era importante existir um lugar como a Subterrânea, pois quando a coisa está muito institucionalizada, como no Instituto Goethe no Santander Cultura e na Fundação Iberê Camargo, talvez não se tenha o calor da coisa, de acontecer esse tipo de dinâmica que acontece aqui. - James Zortéa
Criado para ser o ateliê privado para um grupo de artistas, acabou se tornando em espaço de ativação do circuito artístico no Rio Grande do Sul. Hoje, aos oito anos de existência, nenhum dos fundadores utiliza o espaço como área de trabalho, preferindo fazer dele um centro de exposições, cursos, debates e eventos de variada espécie. Projetos em conjunto com outros espaços, como a Casa Paralela (Pelotas) acontecem com frequência.
Temos uma tradição no Atelier Subterrânea, de que quase todo mundo passa pelo viés do desenho, mas não é necessariamente uma regra. Mas aí tu tem que pensar o desenho sendo puxado lá da escola de fotografia, uma ideia expandida de desenho, que pode se mover desde a performance, atravessar o vídeo, as esculturas do Túlio [Pinto], sabe? Vem da instituição de artes, mesmo, de pessoas que estão muito voltadas às questões de concepções de projetos, de desenho como projeto. - James Zortéa
Mesa redonda - Projeto "A palavra está com elas" (2013). Foto por Isabel Waquil
Atelier Subterrânea Criação: 2006 Cidade: Porto Alegre Fundadores: Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa, Lilian Maus e Túlio Pinto
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www.subterranea.art.br
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO Nosso maior gasto mensal é o aluguel. Junto com alguns ex-residentes do JA.CA, em especial com o venezuelano Alejandro Haiek, começamos a vislumbrar a possibilidade de ter uma sede nossa, construída como trabalho artístico. - Francisca Caporali Criação: 2010 Cidade: Belo Horizonte Fundadores: Francisca Caporali, Xandro Gontijo, Pedro Mendes e Mathew Wood www.jacaarte.org
JA.CA Projeto INVENTARIAR, pelo coletivo SC02 em 2013, durante a residência artística RE:USO no JA.CA
Criado formalmente em 2010, o JA.CA (Centro de Arte e Tecnologia) atua como espaço de aprendizado e intercâmbio de experiências, com sede no Jardim Canadá, bairro em transformação a 20km de Belo Horizonte. Espécie de "laboratório com o território", trabalha na fronteira entre arte, arquitetura, design e intervenção urbana, promovendo programas de residência com duração de dois meses (para artistas nacionais e internacionais) e oficinas ligadas, principalmente, ao uso da madeira. Em um grande galpão alugado, foram montados uma marcenaria industrial, espaços de trabalho e quartos para residências. Ali, desenvolveu-se, entre outros, o projeto Re:Uso, edital em torno do aproveitamento de materiais descartados para intervenções em vizinhanças que, assim como o Jardim Canadá, são fruto das recentes expansões metropolitanas.
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ESPAÇOS
"Postal V" da série Postais para C., 2013, de Rita Almeida, expostos no Centro Cultural Elefante em 2014
Centro Cultural Elefante Criação: 2013 Cidade: Brasília Fundadores: Flavia Gimenes e Matias Mesquita www.elefantecentrocultural.com
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O espaço idealizado por Flavia Gimenes foi inaugurado há pouco mais de um ano visando estimular a convivência, a pesquisa e a produção experimental. Exposições, residências, cursos, laboratórios de acompanhamento crítico estão entre as atividades realizadas. Diálogos com outras áreas como cinema e artes visuais também fazem parte do escopo.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO O Pedro Ivo Verçosa e o Felipe Cavalcante editam a Sem/Registro, revista com impressões em serigrafia de altíssima qualidade, e a Samba, publicação voltada para quadrinhos e colagens. Uma coisa vai desaguando na outra. Temos um pé muito grande no design, e nos interessamos muito pelo processo das gráficas, tipos de papel, etc. Virgílio Neto
Aqui no Espaço Laje temos muito esse lugar da guerrilha. Vi uma palestra da Carmela Gross em que ela dizia que artista é tipo moleque de rua, bem mambembe. Se a Carmela está dizendo, deve ser isso mesmo. O Lucas [Gehre] todo final de semana, pega a caixinha de feira, põe os quadrinhos e sai; às vezes vende, às vezes não. Num dia você está montando banquinha no Cine Brasília; noutro dia, você está numa puta feira como a SP-Arte vendendo livro de artista. Mas isso é bom, porque dá uns choques interessantes. Virgílio Neto
A casa, numa das mais antigas superquadras da Asa Sul, serve de ateliê coletivo para Felipe Cavalcante, Gabriel Mesquita, Lucas Gehre, Pedro Ivo Verçosa, Rafael Lobo, Ricardo Ponte e Virgílio Neto, misturando desenho, quadrinhos, cinema, colagem, serigrafia e festa. Ao contrário de outros espaços, a Laje não tem pretensões de ser espaço de cursos ou centro cultural, mas acabou, informalmente, se tornando ponto de encontro para jovens da cena artística de Brasília. Com as paredes tomadas por todo tipo de desenho, pôster, papel, pintura e bilhete, o espaço algo underground tem um trânsito de pessoas e projetos todo próprio.
Criação: 2011 Cidade: Brasília Participantes: Felipe Cavalcante, Gabriel Mesquita, Lucas Gehre, Pedro Ivo Verçosa, Rafael Lobo, Ricardo Ponte e Virgílio Neto www.facebook.com/EspacoLaje
Espaço Laje Foto por Gabriela Longman
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ESPAÇOS
O espaço no Centro histórico do Recife dedica-se especialmente ao cinema experimental e à videoarte, áreas de expertise do cineasta e ensaísta francês Yann Beauvais. Radicado na capital pernambucana desde 2011, Beauvais fundou, ao lado do artista multimídia Edson Barrus, um espaço marcado pelo trânsito internacional, recebendo ali nomes importantes como a austríaca Valie Export, o norteamericano Paul Sharits e o britânico Malcom Le Grice. (Beauvais é também o fundador da Light Cone, associação criada em 1982 voltada à preservação, distribuição e difusão do cinema experimental). Além de exposições, o espaço promove cursos, palestras e grupos de acompanhamento crítico a um público cativo de artistas e universitários.
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Criação: 2011 Cidade: Recife Fundadores: Yann Beauvais e Edson Barrus www.bcubico.com
Bcúbico Malcolm Le Grice em Contexto (2013). Foto por Edson Barrus
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
As pessoas se confundem por causa do nome, mas toda a dinâmica do Museu do Trabalho é de um espaço independente. Não temos verba nenhuma, é uma autogestão, o dinheiro é todo de iniciativas nossas. Estamos num galpão emprestado. - Hugo Rodrigues
Criado em 1982 para funcionar como museu de artes gráficas, teve seu projeto abandonado em 1988. Desde então, Hugo Rodrigues tomou conta do espaço, transformando-o numa espécie de oficina cooperativa, com espaço de trabalho e cursos para artistas independentes, com ênfase especial em desenho e gravura. O espaço abriga ainda a Parada Gráfica, feira de artes gráficas, quadrinhos, publicações independentes e afins, que teve sua 2a edição em 2014.
Muitas máquinas e prensas que estão aí são propriedade dos artistas. Foram vindo de lá e daqui, e foi-se montando a oficina toda, que hoje é bem completa, dá para se trabalhar com todas as técnicas. - Hugo Rodrigues
Criação: 1982 Cidade: Porto Alegre Fundador: Marcos Flávio Soares www.museudotrabalho.org
Museu do Trabalho Abertura da exposição Decolagem Foto por Daniel Fontana
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PROJETOS Trabalho de Helder Holiveira
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
PROJETOS Termo derivado do latim que traz consigo a ideia de "Lançar para frente", a palavra "projeto" vem sendo usada em abundância na nova economia criativa (implicados aí, sem dúvida, os mecanismo de financiamento via Leis de Incentivo, editais, etc. que trabalham sempre com a ideia do vir a ser realizado1). Mas para além do significado clássico, arquitetônico, de intenção futura, projeto tornou-se também um nome usado para designar ações e iniciativas que se estendem no tempo e que de algum modo escapam dos espaços e formatos tradicionais – daí sua utilidade num mundo onde as linguagens e plataformas se misturam cada vez mais. "É inegável o potencial da arte como projeção de um 'outro lugar' – uma utopia ou heterotopia de onde se pode observar o mundo de um novo ponto de vista", sugere o curador Paulo Miyada2, escrevendo sobre um projeto de residência numa cidade satélite de Belo Horizonte. "Mas é, também, prodigioso que uma obra possa se misturar a tal ponto com os desafios concretos de um contexto, que ela possa atuar como seu sismógrafo". Nos últimos anos, ações artísticas têm acontecido na praia, nos muros da cidade, em carroças de catadores de lixo, em feiras editoriais. Sem se configurar como tradicional "exposição", "salão", "festival" ou "simpósio", novas iniciativas (algumas delas individuais) ajudam a movimentar a discussão estética contemporânea ao propor novos arranjos de produção, circulação e difusão. Se os espaços apresentados nas páginas anteriores funcionam especialmente como eixo articulador interno ao circuito de arte (fortalecendo pesquisa, conexões e diálogos entre artistas, críticos e curadores), os projetos aqui apresentados são, de maneira geral, voltados a públicos mais amplos, e muitas vezes com cunho social. No Brasil, sua importância têm sido fundamental no sentido de criar conexões entre as artes visuais e outras bases de produção e circulação fora do "meio cultural". Da mesma forma que os artistas e os espaços
foram escolhidos, muitos outros projetos poderiam integrar esse ensaio. De qualquer forma, me parece que a seleção apresentada a seguir dá uma boa dimensão da diversidade e dos acontecimentos em curso pelo território nacional. A dose de ousadia que comportam ajuda a arejar um campo ainda vivenciado como hermético e elitista. Para além do cubo branco e do museu, arte e vida se costuram.
1 Nos últimos trinta anos, a maior parte dos museus e centros de arte deixou de elaborar seus conteúdos de programação internamente, passando, ao invés disso, a acolher/encomendar/receber projetos externos, com vantagens e desvantagens. 2
MIYADA, Paulo. "Subúrbio-sismógrafo: cozinha temporária". In LINKE, Ines; GANZ, Louise. Cozinhas Temporárias: pelos quintais do Jardim Canadá. Belo Horizonte: JA.CA, 2013.
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PROJETOS
Residência Itatiaia (Belo Horizonte) Cidade escondida entre as montanhas de Minas Gerais, Itatiaia reúne trezentos habitantes, setenta casas e a terceira igreja mais antiga do Estado. A partir de um acordo entre a Associação de Moradores e a galeria quartoamado (Belo Horizonte), artistas, sempre em dupla, vêm sendo convidados para realizar uma intervenção nos muros e fachadas, a partir de diálogos com os habitantes da vila. Depois de receber os artistas plásticos Clara Valente e Thiago Alvim, em maio de 2014, a segunda etapa, em julho, abrigou o trabalho de Luís Matuto e Baba Jung. Incorporando materiais e iconografia locais, ressaltando antigos rebocos e tijolos, as intervenções delicadas buscam discutir a identidade da cidade e da própria cultura do interior de Minas. A documentação do processo está disponível em dois vídeos: <http://www.quartoamado.com/itatiaia/>
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Trabalho de Thiago Alvim
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Muros: Territórios compartilhados (Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador)
Nuvem, 2011, Guilherme Cunha
Repensar o papel dos muros e suas possibilidades como suporte artístico é o grande eixo de orientação da iniciativa capitaneada por Bruno Vilela. Em três edições (2011 em Belo Horizonte; 2012 em Fortaleza e 2013 em Salvador), o projeto buscou outros registros de intervenção urbana que não o grafite e os adesivos, apoiando ações em vídeo, performance e instalação. Através de um edital público, o projeto propôs a artistas que desenvolvessem projetos nos quais o muro compusesse a estrutura, tanto física quanto conceitual da obra. "É nessa ressignificação dos muros como suporte para a mediação simbólica que esse projeto se baseia [...]. A produção artística muitas vezes se limita aos espaços intramuros, locais de acesso restrito. Assim, de forma geral, a população acaba por ter pouco contato com as artes visuais. A proposta deste projeto é exatamente transformar essa barreira em acesso", explica Vilela.
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PROJETOS
Projeto Vizinhança (Porto Alegre) Vivendo em Barcelona, a arquiteta e artista visual Márcia Braga se impressionou com os centros cívicos que existiam em cada bairro, locais de convivência que oferecem exposições, biblioteca, cursos diversos, atividades físicas com programação para crianças e idosos. De volta a Porto Alegre, articulou-se com a publicitária Aline Bueno para criar, em 2012, o Projeto Vizinhança: ocupação de imóveis ociosos (à venda, para alugar etc.) ou terrenos baldios com uma programação de atividades gratuitas – especialmente oficinas artísticas – visando aproximar os moradores do entorno. As datas e locais são anunciados no site do projeto, e a programação vai se construindo a partir de ideias e participações voluntárias. "A percepção que tivemos foi de que nossos vizinhos eram desconhecidos. Existia uma vontade de estimular pessoas a conviverem, a resgatarem essas relações que antes eram tão saudáveis e bonitas, e que agora são quase que banais, burocráticas ou qualquer coisa assim", conta Braga, que já realizou oito edições da empreitada em diferentes bairros da cidade.
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Café na Calçada, 2013
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Pimp My Carroça Com a primeira edição realizada em junho de 2012 no Vale do Anhangabaú, Pimp My Carroça consiste numa intervenção proativa em carroças e carroceiros de grandes centros urbanos. No dia marcado, uma série de ações acontecem: a distribuição de um kit ao catador (camiseta, fitas refletivas, capa de chuva personalizada, meia, tênis, luvas emborrachadas), atendimento oftalmológico, atendimento com clínicos gerais, cabelerereiro etc.; as carroças recebem limpeza, funilaria, marcenaria, borracharia e pintura personalizada (feita por artistas locais), além da instalação de itens de segurança: espelhos retrovisores, fitas refletivas e buzinas. As intervenções artísticas são as mais variadas possíveis, mas a maioria se inspira na estética do grafite para deixar as carroças mais bonitas (melhorando a cidade) e mais chamativas (melhorando a segurança dos catadores).
Grafite de Mundano
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PROJETOS
Projeto Circular Campina-Cidade Velha (Belém) Kamara Kó
Idealizado pela galerista Makiko Akao, o projeto criado em 2013 busca fortalecer o circuito artístico e cultural dos bairros da Campina e Cidade Velha, na zona histórica de Belém. De três em três meses, nove espaços culturais (Kamaro Kó Galeria, Atelier da Michelle Cunha, Atelier do Porto, Casa Dirigível Espaço Cultural, Elf Galeria, Associação Fotoativa, In Busb – Casarão dos Bonecos, Galeria Gotazkaen e Discoaoleo) abrem as portas com uma programação especial de exposições, shows e oficinas artísticas, contando ainda com o apoio de bares, restaurantes do entorno. "Tombados pelo IPHAN desde 2012 como Patrimônio Cultural, os bairros ainda precisam de mais cuidado para serem efetivamente preservados", sugere Makiko, que busca envolver os moradores e comerciantes do bairro na ação. Com apoio do Fórum Landi, da UFPA (Universidade Federal do Pará) o projeto pretende iniciar as comemorações dos 400 anos da cidade a serem comemorados em 2016.
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Xumucuís (Belém) O site/produtora gerido pelo curador independente Ramiro Quaresma e pela produtora Deyse Marinho tornou-se uma importante plataforma de articulação da cena artística do Pará e da região amazônica. São eles, por exemplo, os responsáveis pela produção do Salão Xumucuís de Arte Digital (a terceira edição aconteceu em 2014) que tem ajudado a revelar alguns dos artistas mais interessantes da região Norte. Para além das novas mídias, a museologia, o patrimônio histórico e a identidade amazônica são alguns dos eixos abordados pela dupla por meio de oficinas e exposições, envolvendo instituições públicas e privadas no estado paraense. O nome Xumucuís homenageia uma obra de Valdir Sarubbi, exibida na 11a Bienal de São Paulo (1971).
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PROJETOS
Piolho Nababo (Belo Horizonte) Intervenção bem-humorada no circuito de arte, o Piolho Nababo é uma festa-leilão com centenas de obras a baixíssimo custo. Realizado desde 2011 pelos artistas Froiid K e Warley Desali, o evento itinerante ganhou um endereço fixo dentro do Edifício Maletta, prédio histórico no centro da cidade. Não há curadoria. Todos os trabalhos – desenhos, aquarelas, esculturas, a maioria deles em pequeno formato – são recebidos com alegria alguns dias antes e pendurados na parede gerando uma estética do excesso e da sobreposição típica do comércio popular. Ao longo da noite, os participantes se entusiasmam com rock antigo e ajudam a colocar em circulação nomes da nova safra da arte contemporânea mineira. Em fevereiro, uma edição especial foi realizada em ambiente institucional (Palácio das Artes), com todos os lances começando em R$ 1,99.
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Projeto Muros: Territórios Compartilhados Fortaleza, 2012
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
O projeto foi o resultado de uma residência da dupla mineira Thislandyourland (Ines Linke e Louise Ganz) em Nova Lima, cidade satélite de Belo Horizonte, entre junho e novembro de 2012. Interessadas nas logísticas de produção, distribuição e consumo de alimentos no local, as artistas procuraram mapear as fontes alimentares – animais e seus derivados, hortaliças, ervas, ervas medicinais e outras – cultivadas pelos moradores ou encontradas em terrenos baldios a fim de criar uma experimentação culinária a partir do material encontrado. "Propusemos um projeto no qual pretendíamos discutir o grau de autonomia ou dependência de seus moradores aos sistemas econômicos de mercado, diante do monopólio cada vez mais intenso dos meios de produção de alimento pelas empresas de agronegócio e indústrias alimentícias, pelas grandes redes de supermercado e pelo sistema financeiro [...]. Durante a realização do projeto, fomos surpreendidas pelos quintais, lajes, vasos, e latas com ervas e outros alimentos, além de modos de ocupação do espaço público ou privado com micronegócios. Mesmo em uma pequena escala, cada pessoa produzia algo em casa ou no trabalho", explica a dupla. Pé de mamão, uma moita de cana, um limoeiro atrás dos muros, couve nos quintais, boldo nos terrenos baldios. Em cinco áreas distintas, foram montadas as cozinhas temporárias para preparar um prato a partir dos alimentos colhidos no quarteirão e organizar um evento coletivo com pessoas do local para compartilhar as comidas.
Cozinhas Temporárias: pelos quintais do Jardim Canadá (Nova Lima, MG)
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PROJETOS
Oiapoque ao Chuí Cruzando cinco regiões brasileiras e onze estados (Amapá, Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, findando sua rota na cidade Chuí, ao extremo sul brasileiro), a artista Luciana Magno faz um percurso por rodovias e hidrovias que soma aproximadamente 6.037km. O projeto propõe ações artísticas durante o trajeto (utilizando contatos telefônicos com os moradores das pequenas cidades), além da formação de um arquivo de vídeos e áudios acerca da diversidade cultural, histórica e geográfica do Brasil. O website ganha alimentação contínua durante o percurso e um documentário foi realizado paralelamente. "Há dois meses na estrada, mais de vinte cidades percorridas em 4 mil km, e não recebemos nenhuma cara feia, nenhuma menção de perigo das pessoas que cruzamos no caminho", escreveu a artista em Uberaba. "Quando a gente pergunta se o lugar é seguro as pessoas olham pra gente como se fossemos ETs. Parece que o medo é uma coisa das grandes cidades, utilizado pela mídia em prol da indústria da segurança. Nós brasileiros não conhecemos o Brasil."
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Codex Ex Machina (Londrina) Surgido em outubro de 2013, o Codex Ex Machina consiste numa plataforma para criação de livros ao vivo, recuperando a manualidade (e o charme) do processo. Tudo é feito na hora: os textos (com técnicas de cut-up), as impressões de gravuras (xilo, linóleo e monotipia), encadernação artesanal e a impressão tipográfica dos títulos. O resultado são livretos únicos, irrepetíveis, feitos em feiras e outros eventos diante de uma plateia que acompanha o processo passo a passo.
Parada Gráfica, 2014
"Não trabalhamos com certeza" é o lema do projeto ligado à associação cultural Grafatório, em Londrina. Durante uma edição da Feira Plana, em março de 2014, o grupo tomou por tema uma São Paulo "distópica, cyberpunk, bizonha, lisérgica e pós-apocalíptica". Publicidades, notícias policiais, propaganda política e outros detritos, discursos e imagens residuais produzidas na urb serviram como matéria-prima para os livros, oscilando entre "um ultrarrealismo exagerado e um surrealismo pertinente", como se autoclassifica o grupo.
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PROJETOS
ArtePraia (Natal) Entre os objetos do ArtePraia está o de fazer aproximações possíveis entre arte contemporânea e o público em "sítios não legitimados do fazer arte e apreciar Arte" – no caso, as praias urbanas de Natal. Com a terceira edição realizada em junho de 2014, os organizadores (ligados ao espaço Casa da Ribeira) apostam que ações na praia podem gerar situações tão ou mais reflexivas do que as vivenciadas em museus ou salas de exposição. Projeções nas dunas, pinturas sobre a areia e instalações participativas usando o vento e o próprio público foram algumas das ideias desenvolvidas por artistas e coletivos.
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Paisagem: tempo em suspenção, 2013, de Felipe Góes
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Contorno (Porto Alegre) Pequena produtora de filmes e editora de livros, a Contorno experimenta suportes e investiga a precariedade dos materiais. Desde 2013, o grupo formado por Daniel Eizirik, Denis Rodriguez, João Kowacs e Leonardo Remor possui um trailer de fabricação artesanal (comprado de um antigo circo familiar Spacial Circus Show) que utiliza como ateliê sobre rodas – ateliê, meio de locomoção, espaço para oficinas, espaço expositivo – atuando na periferia de Porto Alegre, no interior e mesmo em países vizinhos. Depois de um mini-documentário em animação usando papel, tinta e carvão ("Diga para minha família que estou preso e vou voltar em um ano", pequena joia disponível em <http://contorno.me/filme/diga-para-minhafamilia/>) e outras realizações, o grupo prepara a uma viagem (Simpático e Elegante Caixeiro Viajante) que resultará num livro e numa exposição. "Nós percebemos como o trailer é um espaço mágico, e as pessoas se sentem atraídas. Seria muito mais fácil alugarmos uma sala comercial, mas ele tem toda uma história pregressa, é um trailer que antes do circo veio de um parque de diversões, um trailer de tiro ao alvo", explica Leonardo Remor. "Esse trailer precisava de reformas, documentação para legalização, ele ficou um ano nesse processo e agora é nossa sede móvel"1.
No topo: foto e ilustração por Leonardo Remor Acima: exposição Horizonte à Venda, 2013, na Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre)
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Entrevista realizada com Leonardo Remor e Daniel Eizirik em 14 de maio de 2014.
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PROJETOS
Paginário (Rio de Janeiro)
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Concebido pelo produtor editorial Leonardo Villa-Forte, se baseia na intersecção entre intervenção urbana e literatura. A ação, de simples realização, consiste em xerocar páginas de livros – romances, contos, poesia – e marcar com canetas tipo marcador de texto as passagens favoritas de cada página. Coladas num só muro ou parede, as folhas se transformam num grande mosaico literário e visual. "É uma forma de brigarmos contra a predominância de textos publicitários e imperativos que invadem nossos olhares em toda rua e muro que vemos por aí, oferecendo a alternativa com textos mais quentes e poéticos, permitindo encontros com autores do nosso gosto e com uma disposição diferente e colorida", sugere o criador. De dezembro de 2013 a setembro de 2014, cinco edições foram realizadas, quatro delas no Rio (Lapa, Laranjeiras, Copacabana e Vila Isabel) e uma em Petrópolis.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
A Bolha Editora (Rio de Janeiro) Editora independente, o selo fundado por Rachel Gontijo é também um "armazém de artes visuais". Em feiras de publicações independentes em todo o Brasil, tem causado furor ao apresentar litografias, lambe-lambes, zines e quadrinhos com acabamento primoroso. Pouco a pouco, transformou-se também em produtora de eventos. Situada no terraço da Fábrica Bhering, no Santo Cristo, sua sede começou a promover a Hora Feliz: visita aos bastidores da criação editorial com música e atividades diversas. No mesmo local, instituiu o Bolha Open Air, sessão de cinema com filmes projetados na parede em que cada espectador leva sua cadeira de praia. É ainda corealizadora da Feira Pão de Forma, principal feira de arte impressa da cidade.
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PROJETOS
Galeria a Céu Aberto (São Paulo) Grafite do Grupo OPNI
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Entrevista realizada com Val Opni em 16 de maio de 2014.
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A chamada Galeria a Céu Aberto foi criada pelo Grupo OPNI [Toddy e Val] no bairro da Vila Flávia, distrito de São Mateus. Conversando com moradores e conclamando artistas, a dupla de grafiteiros trouxe aproximadamente duzentas intervenções de arte urbana para os muros da favela paulistana, procurando chamar atenção para as condições precárias de moradia, falta de tratamento de esgoto e outros problemas sociais. "Por que a galeria só está naquelas regiões mais 'chiques'? Quando colocamos uma galeria pública, em que os moradores ganham uma obra de arte na fachada, de artistas que já rodaram o mundo, nós mexemos com a autoestima dessa população tão carente e violentada através dos políticos, da repressão policial", conta Val Opni1. O processo curatorial das intervenções é desenvolvido pela própria dupla, que já trouxe para as ruas e vielas de São Mateus algumas das referências nacionais (Does, Schok, Finok, Ise, Jhoao Henr, Miau, Zefix, Onesto, Bonga, Binho, Gueto, Etron, Nove, Chivitz, Minhau, Arlin, Haigraff, Graphes, Nitros, Tika, Anarkia, Combo, Bobe, Trampo, Lidhia, Vejam, Rizo e Kajaman) e internacionais (Shalak do Canadá, Shonis da Argentina, Aspi da Argentina, Ayslap e Baster do Chile, Sato da Espanha, Beli da Bélgica, Atsuo do Japão] e Joel dos EUA) do graffiti, criando um resultado que impressiona pelas dimensões e pela qualidade das intervenções.
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Desenho Pendular / 08/12/2010
Performance Diária (São Paulo) De 8 de dezembro de 2010 a 7 de dezembro de 2011, o artista plástico, ator e performer Felipe Bittencourt empenhou-se em desenhar e postar em seu blog um projeto de performance por dia, usando sempre o mesmo personagem ("o performer"). Passadas duas semanas do início do projeto, recebeu uma foto de estudantes do Chile realizando uma de suas sugestões. Ao longo do tempo uma série de outras manifestações se seguiriam, revelando o potencial poético da iniciativa. "A realização das performances por outros tornou-se uma constante. O fato de outros realizarem as performances é um assunto que vai além do alcance do artista e de seu personagem. As performances estão aí e podem ser realizadas por quem queira", escreveu a curadora Paula Borghi, quando os desenhos foram emoldurados e expostos lado a lado no Paço das Artes, em junho de 2013. As propostas registradas – ora melancólicas, ora agressivas, engraçadas, nonsense ou suicidas foram reunidas em livro (NVersos Editora, 2012) mas continuam disponíveis online: <www.performancediariaonline.blogspot.com.br>
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PROJETOS
Imargem (São Paulo) Com sede no Jardim das Gaivotas, Grajaú, o projeto coletivo Imargem mistura ações culturais, pedagógicas e ambientais – em torno da represa Billings – desenvolvidas por artistas, educadores e outros profissionais da região. Com forte influência dos conceitos da geografia humana (conceito de Milton Santos), suas ações se voltam para espaço urbano entendido como paisagem povoada. "Sempre houve muito contexto político, sem nos privarmos dos conceitos estéticos. Definimos aos poucos os eixos de atuação: o campo das artes, a questão do meio ambiente e da convivência. Esses eixos são transversais em todas as ações", diz o coordenador Wellington Neri1. 1
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Entrevista realizada com Wellington Neri em 9 de maio de 2014.
Na área artística, atividades envolvendo grafite e intervenção urbana são as mais frequentes. No bairro Ilha do Bororé, por exemplo, um grande mural foi produzido com grafite, pixo, estêncil e lambe-lambe para ilustrar a história do bairro, construída a partir de entrevistas com os moradores mais antigos e lideranças locais. Em agosto de 2014, o coletivo ficou responsável pela curadoria da Virada Sustentável na região extremo sul, que procura chamar atenção do poder público para a região.
INTRODUÇÃO
Entrevistados (as)
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Adeildo Leite (Recife) Alexandre Copês (Porto Alegre) Aline Bueno (Porto Alegre, Projeto Vizinhança) Ana Maria Krein (São Paulo, Atelier do Centro) Armando Queiroz (Belém) Bernardo Biagioni (Belo Horizonte, Quartoamado) Bruno Vilela (Belo Horizonte, EXA) Camila Tomé (Rio de Janeiro, MUV) Carla Chaim (São Paulo, Hermes) Carolina Paz (São Paulo, Ateliê Coletivo 2E1) Cecilia Stelini (Campinas, AT | AL | 609) Christus Nóbrega (Brasília) Claudia Afonso (São Paulo, .Aurora) Daniel Eizirik (Porto Alegre, Contorno) Danielle Fonseca (Belém) Dora Corrêa (São Paulo, Estemp) Douglas de Freitas (São Paulo, Ateliê Coletivo 2E1) Duda Pedreira (Rio de Janeiro, Comuna) Edson Barrus (Recife, BCubico) Ellen Slegers (São Paulo, Estemp) Emmanuelle Gaden (São Paulo, Atelier do Centro) Fernanda Brenner (São Paulo, Pivô) Flavia Gimenes (Brasília, Centro Cultural Elefante) Francisca Caporali (Belo Horizonte, JA.CA) Francesco Di Tillo (São Paulo, .Aurora) Gabriel Botta (São Paulo, Atelier do Centro) Gabriel Gutierrez (São Paulo, .Aurora) Gabriela Ferreira Sellan (São Paulo, Atelier do Centro) Gabriela Kauffmann (São Paulo, Ateliê Novo) Gabriela Maceda (Rio de Janeiro, Tal) Germania Heibe (São Paulo, Ateliê Novo) Henrique Lukas (Campinas, Ateliê Aberto) Hernani Dimantas (São Paulo, Ateliê Novo) Hugo Richard (Rio de Janeiro, Barracão Maravilha) Hugo Rodrigues (Porto Alegre, Museu do Trabalho) Íris Helena (Brasília) Isabel Waquil (Porto Alegre, Atelier Subterrânea) James Zortéa (Porto Alegre, Atelier Subterrânea) Joana Meniconi (Belo Horizonte, JA.CA) João Perdião (Belo Horizonte, A Zica) Juliana D'Assunção (Rio de Janeiro, Fábrica Bhering)
Júlia Milaré (São Paulo, Ateliê Novo) Keila Sobral (Belém) Kuk Jae (São Paulo, Estúdio Jagunguein) Laura Cosendey (Rio de Janeiro, casamata) Laura Daviña (São Paulo, .Aurora) Leonardo Remor (Porto Alegre, Contorno) Luiza Crosman (Rio de Janeiro, casamata) Maíra Costa Endo (Campinas, Ateliê Aberto) Makiko Akao (Belém, Kamara Kó) Marcelo Amorim (São Paulo, Ateliê397) Marcelo Salles (São Paulo, Casa Contemporânea) Márcia Braga (Porto Alegre, Projeto Vizinhança) Marcia Gadioli (São Paulo, Casa Contemporânea) Marcone Moreira (Rio de Janeiro, Barracão Maravilha) Maria Montero (São Paulo, Phosphorus) Monica Rizzolli (São Paulo, Ateliê Coletivo 2E1) Nino Cais (São Paulo, Hermes) Niura Borges (Porto Alegre, Galeria Mamute) Norma Vieira (São Paulo, Tote Espaço Cultural) Orlando Maneschy (Belém) Paola Alfamor (Porto Alegre/São Paulo) Pedro Campanha (São Paulo, Atelier do Centro) Piti Tomé (Rio de Janeiro) Rachel Gontijo (Rio de Janeiro, A Bolha Editora) Renata Paciullo Ribeiro (São Paulo, Estemp) Rogério Nakaoka (São Paulo, Ateliê Novo) Roni Hirsch (São Paulo, Estúdio do Morro) Rubens Espírito Santo (São Paulo, Atelier do Centro) Samantha Moreira (Campinas, Ateliê Aberto) Stephanie Afonso (Rio de Janeiro, MUV) Sylvia Carolinne de Andueza (Rio de Janeiro, Fábrica Bhering) Tainá Azeredo (São Paulo, Casa Tomada) Thales Frey (São Paulo, Performatus) Tikka Meszaros (São Paulo) Val Opni (São Paulo, Grupo OPNI) Virgílio Neto (Brasília) Warley Desali (Belo Horizonte, Piolho Nababo) Wellington Neri (São Paulo) Yann Beauvais (Recife, Bê Cúbico) Yana Tamayo (Brasília)
ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Bibliografia Convite à viagem. São Paulo: Itaú Cultural, 2012. Catálogo de exposição. Outra natureza: 6 diálogos sobre a Amazônia. Belém: Inflamável Produções / Mirante – Território Móvel, 2013. Catálogo de exposição. AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. ARANTES, Priscila. Arte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac, 2012. BANKS, Mark; GILL, Rosalind; TAYLOR, Stephanie (Orgs). Cultural Work: Labour, Continuity and Change in the Cultural and Creative Industries. Nova York: Routledge, 2014. BELTING, Hans; BUDDENSIEG; Andrea e WEIBEL, Peter (Eds.). The Global Contemporary and the Rise of New Art Worlds. Cambridge: The MIT Press, 2013. BUENO, Guilherme; REZENDE, Renato. Conversas com curadores e crítico de arte. Rio de Janeiro: Circuito, 2013. CHIODETTO, Eder (Org.). Geração 00: A nova fotografia brasileira. São Paulo: Edições Sesc SP, 2013. GREENBERGER, Martin (Ed.). Computers, Communication, and the Public Interest. Baltimore: The Johns Hopkins Press, 1971. HEARTNEY, Eleanor. Art & Today. Londres: Phaidon Press, 2008. HERKENHOFF, Paulo. "Pum e cuspe no museu". In MANESCHY, Orjando e LIMA, Ana Paula Felicíssimo de Camargo (Org.). Já: Emergências Contemporâneas. Belém: EDUFPA/Mirante, 2008. JAMESON, Frederic. "Postmodernism and Consumer Society". In: FOSTER, Hal (Ed.). The Anti-Aesthetic: Essays on Postmodern Culture. Seattle: Bay Press,1983. KHEL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009. LEITE, Antonio Eleilson (Org.). Graffiti em SP: tendências contemporâneas. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2013. MILLET, Catherine. L'Art contemporaine: Histoire et géographie. Paris: Flammarion, 2006. MORIN, Edgar. Rumo ao abismo? Ensaio sobre o destino da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
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INTRODUÇÃO NAVES, Rodrigo. A forma difícil: Ensaios sobre arte brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. NUNES, Kamilla. Espaços autônomos de arte contemporânea. Rio de Janeiro: Circuito, 2013. PEDROSA, Adriano; DUARTE, Luiza (Org.). ABC – arte brasileira contemporânea. São Paulo: Cosac Naify, 2014. PERL, Jed. Estética laissez-faire. Serrote, São Paulo, n.16, mar. 2014, p. 59. SAFATLE, Vladimir. Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008. ^
^
Zizek, S.; Daly, G.. Arriscar o impossível: conversas com Zizek. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Publicações recomendadas Impressas e eletrônicas Não-Lugar www.naolugar.com.br Piseagrama piseagrama.org Performatus performatus.net Revista Tatuí issuu.com/tatui Recibo issuu.com/recibo
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ARTES VISUAIS: UM MAPA E SEU AVESSO
Agradecimentos Esse trabalho existe graças ao interesse do SESC-SP, na figura de seu diretor Danilo Santos de Miranda. A possibilidade de realizá-lo com tamanha liberdade e autonomia intelectual é um privilégio imensurável para qualquer jornalista ou pesquisador. Na impossibilidade de mencionar todos os envolvidos diretos, deixo aqui algumas menções pontuais imprescindíveis: A todos entrevistados, pelo tempo e disposição em dividir conosco suas histórias e experiências. A Paula Strozenberg, pelo acolhimento no Rio, a Liliane e Sergio Longman pela acolhida no Recife. A Mario Gioia, com quem há dez anos mantenho discussões sobre artes visuais. A Mariana, designer talentosa, companheira de pesquisa e ponto fundamental de apoio nos momentos de incerteza e oscilação. A Rozy e Eduardo, o casal do mundo. A Murilo Valle, que me apresentou ao Brasil. A Benedita Bueno (in memoriam), que vai comigo onde eu vou. Gabriela Longman
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Este livro foi composto com as fontes Liberty Sans e Dense. Impresso pela Ibraphel em São Paulo, sobre papel couchê fosco 120 g e cartão 200 g. Tiragem de 5 unidades.