Além do fundo do poço | 1
2 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
Solicite nosso catálogo completo, com mais de 500 títulos, onde você encontra as melhores opções do bom livro espírita: literatura infantojuvenil, contos, obras biográficas e de autoajuda, mensagens espirituais, romances palpitantes, estudos doutrinários, obras básicas de Allan Kardec, e mais os esclarecedores cursos e estudos para aplicação no centro espírita – iniciação, mediunidade, reuniões mediúnicas, oratória, desobsessão, fluidos e passes. E caso não encontre os nossos livros na livraria de sua preferência, solicite o endereço de nosso distribuidor mais próximo de você. Edição e distribuição
Editora EME
Caixa Postal 1820 – CEP 13360‑000 – Capivari – SP Telefones: (19) 3491‑7000 | 3491‑5449 Vivo (19) 99983-2575 | Claro (19) 99317-2800 vendas@editoraeme.com.br – www.editoraeme.com.br
Além do fundo do poço | 3
Marco Antônio Vieira pelo espírito Jonas
Capivari-SP – 2015 –
4 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito) © 2015 Marco Antônio Vieira
Os direitos autorais desta obra foram cedidos pelo autor para a Comunidade Psicossomática Nova Consciência. A Editora EME mantém, o Centro Espírita “Mensagem de Esperança”, colabora na manutenção da Comunidade Psicossomática Nova Consciência (clínica masculina para tratamento da dependência química), e patrocina, junto com outras empresas, a Central de Educação e Atendimento da Criança (Casa da Criança), em Capivari-SP. 1ª edição – agosto/2015 – 3.000 exemplares | Victor Augusto Benatti | Victor Augusto Benatti Revisão | Izabel Braghero Capa
DIAGRAMAÇÃO
Ficha catalográfica
Jonas (Espírito) Além do fundo do poço / pelo espírito Jonas; [psicografado por] Marco Antônio Vieira – 1ª ed. agosto/2015 – Capivari, SP : Editora EME. 192 p.
ISBN 978‑85‑63448-54-5
1. Romance mediúnico. 2. Vida após a morte. 3. Uso de drogas. 4. Consequências da dependência química no mundo espiritual. I. TÍTULO. CDD 133.9
Além do fundo do poço | 5
Sumário Prefácio........................................................................ 7 Primeiras palavras................................................... 13 Meu recado............................................................... 25 Notas.......................................................................... 31 Humilde apelo.......................................................... 35 1. O fim?......................................................................... 37 2. Estranho pesadelo.................................................... 41 3. Despertar................................................................... 45 4. Um não-ser, em um não-lugar............................... 51 5. Leito do terror........................................................... 57 6. O abismo.................................................................... 63 7. Recomeço................................................................... 77 8. Um oásis.................................................................... 89 9. Novo despertar......................................................... 95 10. Revelações............................................................... 105 11. Caminhada esclarecedora..................................... 115 12. Transferido.............................................................. 121 13. Novas perspectivas................................................ 129
6 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
14. Novas lições............................................................ 139 15. O joio e o trigo........................................................ 147 16. Grupos de estudos................................................. 153 17. Verdades que libertam.......................................... 159 18. No templo............................................................... 169 19. A primeira oportunidade...................................... 181 20. Reencontros............................................................. 185
Além do fundo do poço | 7
Prefácio Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos Céus, que um destes pequeninos se perca. Jesus (Mateus 18:14) Sou uma pessoa afortunada, não faço uso de nenhu‑
ma droga, nem mesmo do álcool ou cigarro. Sou casa‑ do e pai de seis filhos. Um deles passou por algumas internações por causa da dependência química, mas hoje se encontra restabelecido, com saúde, trabalhando, vivendo uma vida normal. Essa experiência me sovou para a vida, assim como a massa do pão precisa ser sovada para tomar o seu formato ideal. Deus me sovou, junto com a esposa, nesta experiência da adicção. Depois de muita angústia, busca de ajuda, trata‑ mento espiritual e formação acadêmica, hoje dirijo, com um filho, a clínica espírita Comunidade Psicos‑
8 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
somática Nova Consciência, na cidade de Capivari, onde atendemos até 20 pacientes de quatro a seis me‑ ses por turno, para tratamento. Mas o que são as drogas e o que é a dependên‑ cia química? As drogas são substâncias químicas, naturais ou sintéticas, que provocam alterações psíquicas e físicas em quem as consome, e que levam à dependência fí‑ sica e psicológica. Seu uso sistemático traz sérias consequências físi‑ cas, psicológicas e sociais, podendo levar à morte em casos extremos, em geral por problemas circulatórios ou respiratórios. É o que se chama overdose. Além das drogas tradicionais, nós, os especialistas, também incluímos na lista o fumo e o álcool. Nestes últimos cinco anos de atividades da Nova Consciência tivemos a morte de nove pacientes que se internaram. Destes nove, apenas três haviam con cluído o tratamento; os outros seis abortaram logo nos primeiros dias, e suas famílias não conseguiram que voltassem a buscar ajuda clínica. Quatro deles come‑ teram suicídio, quatro desencarnaram por morte natu‑ ral, com enfermidades causadas pelo uso das drogas, e um deles por acidente num afogamento, quando já vivia livre das drogas. A dependência química é mais conhecida como drogadição (adicção, viciação), que tem o sentido de escravidão. Ela deve ser encarada como uma doença
Além do fundo do poço | 9
primária, crônica, progressiva e fatal se não tratada, assim como a diabetes, a hipertensão ou a asma. Um dos seus sintomas é o desejo incontrolável de usar droga ou de beber. Se inicialmente o uso de drogas é um comporta‑ mento voluntário, seu uso prolongado dispara no cérebro um dispositivo mental que parece “ligar-se”; quando é “ligado”, o indivíduo entra em estado de dependência química, caracterizado pela busca e con‑ sumo compulsivo e obsessivo da droga. O cérebro não esquece a sensação provocada pelos primeiros usos da droga. Pode passar um, cinco ou dez anos, voltando ao uso, volta toda a compulsão, que é do físico, e a obsessão (ideia fixa), que é da men‑ te, além da doença espiritual, que é o egocentrismo. Para um dependente químico não existe cura, mas recuperação. E essa recuperação exige abstinência to‑ tal das drogas, inclusive do álcool e do tabaco. As consequências do uso das drogas são diversas e afetam o organismo como um todo, como coração, pul‑ mão, estômago, fígado, rim, cérebro. Cada tipo de droga traz sua fieira de possíveis complicações, das duas dro‑ gas lícitas, por exemplo, no Brasil o álcool está associado a 60 tipos de doenças e lesões; o cigarro segundo o INCA – Instituto Nacional do Câncer – a 50 enfermidades. Para nós, os especialistas, o melhor modo de com‑ bater a droga é a prevenção. A informação, a educação, a espiritualidade e o
10 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
iálogo apontamos como o melhor caminho para im‑ d pedir que os adolescentes se viciem. Já para usuários que ainda não estão dependen‑ tes, os tratamentos recomendados são a psicoterapia ou o tratamento médico com especialistas na área da dependência química e a participação em grupos de apoio e ajuda mútua, como os Alcoólicos Anônimos (AA) ou os Narcóticos Anônimos (NA). Para combater a adicção instalada (o vício), além das terapia e internação, usamos medicamentos que reduzem os sintomas da abstinência ou que blo‑ queiam os efeitos das drogas. Para a família, a frequência aos grupos de apoio, como Nar-Non, Alanon, Amor Exigente, Pastoral da Sobriedade, ou atendimentos psicoterapêuticos são fundamentais. E as melhores atitudes para lidar com o filho usuário de drogas ainda é a velha conversa sobre as razões (que são múltiplas) que o estão levando ao consumo de substâncias psicoativas. Nada de estigmatizar o filho, nada de ficar recriminando-o ou procurando culpados; pedir ajuda e orientação a profissionais de confiança e com especialização é o caminho. Este romance que você tem em mãos, psicografado pelo médium e professor Marco Antônio Vieira, vem revelar o outro lado da vida, além do fundo do poço, quer dizer, depois de se afogar no vício da dependên‑
Além do fundo do poço | 11
cia vem a morte do corpo e o descortinar na vida espi‑ ritual, narrados pelo espírito do jovem Jonas. No livro Jovens no Além, publicado pela editora GEEM, o espírito do jovem Jair Presente se comuni‑ ca através da mediunidade de Chico Xavier, poucos dias depois de sua desencarnação num afogamento na Prainha Azul, em Americana. Envia várias correspondências para os familiares e amigos estudantes. E, numa dessas cartas, adverte os amigos Carlos, Sérgio e Wilson, que, contrariando os há‑ bitos do grupo, passaram a procurar nos goles de cani‑ nha o esquecimento da saudade que os torturava, após a morte do amigo Jair (conforme nota do Editor da GEEM em 25/08/74). O espírito Jair enfatiza taxativamente, na advertência do Além, pelo lápis de Chico Xavier: “Só aqueles caras gamados com casa e comida é que ficam aí, às vezes, até procurando esquecer tudo com umas e outras. Mas vocês já sabem. Essa de pinga não cola”. Finalizando, dizemos: jovem, comemore! Todo dia é dia de festa, você está vivo nesta dimensão. Mas para isso você não precisa da droga; e isso não virá com a droga. Você pode ver, falar, ouvir, usar as mãos e cami‑ nhar com segurança. Comemore cada vitória em seu dia a dia. E escolha os bons pensamentos para iluminarem seu caminho, sua fé, sua esperança, seu amor pela fa‑ mília e pela vida.
12 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
Tenha certeza de que pode transformar sua vida numa cachoeira de bênçãos divinas, para você e para os seus, lembrando que sua felicidade é a felicidade do Universo. Deus ama você. Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo (Editor da Editora EME e especialista em dependência química pela USP/SP/GREA)
Além do fundo do poço | 13
Primeiras palavras Em meados de 2008, se iniciaram as interrupções do
meu sono noturno, nas quais, geralmente, acordava por volta das 03h00 da madrugada. No início pensei tratar-se de insônia provocada pelo estresse cotidiano. Muito trabalho, muitas aulas para planejar e executar; a esposa estava grávida pela terceira vez (a nossa Sophia nasceu em agosto de 2008) as expec‑ tativas e ansiedades familiares também eram naturais. Mesmo após consultas médicas e uso dos medica‑ mentos receitados, a tal insônia continuava. E, curio‑ samente, sempre despertando por volta das três ho‑ ras da manhã, com poucas variações, durante sema‑ nas sucessivas. Reparei, então, que durante aquele período os meus sonhos eram com uma determinada pessoa – é o que os estudos psicológicos classificam como “sonhos recor‑ rentes”. Sonhava repetidas vezes com um velho conhe‑ cido, da época da adolescência, e que havia desencar‑
14 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
nado de modo trágico, pois se envolvera com o tráfico de drogas nos seus últimos anos de existência terrestre. Fato estranho sonhar com o antigo amigo porque, há muitos anos não mantinha contato com a família dele e muito menos tinha qualquer pensamento e/ou recordação recente daquela pessoa. Não havia então, segundo os meus pensamentos mais íntimos, motiva‑ ções e/ou estímulos que pudessem provocar ou justi‑ ficar tais memórias por meio dos sonhos. Na doutrina espírita1, codificada por Allan Kardec, tenho aprendido que os sonhos representam, também, uma das formas pelas quais nós, os encarnados (os cha‑ mados “vivos”), podemos realizar contatos com os de‑ sencarnados (os ditos “mortos”), havendo mesmo um tipo de mediunidade chamada “onírica” (que se dá por meio dos sonhos), e pela qual os médiuns experimentam diversas vivências no mundo espiritual e trazem suas impressões para o “lado de cá” através dos seus relatos. Assim, sob a orientação da doutrina espírita, en‑ tendi que aqueles sonhos recorrentes com aquele ve‑ lho colega de adolescência, podiam ser mesmo encon‑ tros reais e, caso fossem, certamente deviam ter algum motivo específico. Como é de meu costume, coloquei o nome daquele amigo nos “livros de orações” das casas espiritistas 1
Cujos livros básicos são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.
Além do fundo do poço | 15
que frequento – inclusive, pedi a minha mãe, que par‑ ticipasse das minhas orações pelo amigo, que também havia conhecido, e que ela colocasse o nome dele no centro espírita que frequentava. Do mesmo modo busquei envolvê-lo em nossos cultos domésticos, o culto do evangelho no lar2. Assim, em meus sonhos, comecei a tentar dialogar com aquele irmão – embora, devo confessar aqui que, em meu íntimo, houvesse certa resistência de minha parte, pois, equivocadamente, ainda permanecia com mágoas no coração, porque o nosso último encontro, ao final da nossa adolescência, não foi proveitoso, pois em minha profunda ignorância o “julguei” e o “sen‑ tenciei”, já naquela época por seus desregramentos e por seus repetidos desvios de conduta. Passados alguns anos daquele desentendimento que gerou o nosso afastamento, tomei conhecimento do des‑ fecho lamentável da sua história na Terra, por meio de uma desencarnação que ocorreu de forma violentíssima. Então, anos depois da desencarnação daquele companheiro, estava sonhando com ele várias noi‑ tes seguidas. E o sono interrompido e os sonhos agitados con‑ tinuavam, quem sabe, pensei, não era o meu incons‑ ciente atuando (gritando!) por eu ter perdido a opor‑ 2
Atividade doméstica semanal que reúne todos os membros da nos‑ sa família para o estudo da doutrina espírita.
16 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
tunidade de reatar nossa antiga amizade? E podia ser mesmo, a psicologia explica. Certo dia, após chegar ao lar depois da jornada diária de trabalho, encontrei a esposa gestante, com aquele barrigão lindo e os dois filhos, Daniel (então, com 8 anos) e Fernando (com 4 anos), que brincavam na sala do nosso apartamento, em meio a um mar de brinquedos espalhados pelo chão. O meu filho Fernando – que desde os seus primei‑ ros anos de idade mantém curiosos contatos com os nossos amigos desencarnados e, vez por outra, nos transmite pequenas mensagens interessantes –, virou-se para mim e disse: – Papai, hoje um moço veio aqui e brincou comigo e com os meus brinquedos. E ele me disse que queria muito falar com você. Obviamente, perguntei ao pequeno, no intuito de verificar se havia algo de real na mensagem ou se, ao contrário, era apenas mais uma fantasia infantil: – É mesmo, meu filho? E o que ele queria falar co‑ migo? Você lembra? E o meu filho, ainda manuseando os seus brinque‑ dos e sem olhar para mim, respondeu: – Não sei o que ele queria falar com você. Mas, ele me disse que o nome dele é Jonas3. 3
O nome foi alterado por solicitação do próprio espírito e concor‑ dância nossa, para evitarmos quaisquer transtornos desnecessários (com familiares, com amigos, etc.).
Além do fundo do poço | 17
Aquele nome me pegou de surpresa naquele momento, realmente não esperava ouvir o nome da criatura com a qual estava sonhando. Estava ain‑ da sob o impacto do nome e indaguei buscando mais detalhes: – É mesmo, meu filho? E como ele era? Era criança igual a você, assim do seu tamanho? Então, o pequeno Fernando levantou a cabeça e apontou para um grande quadro de Jesus, que possuí mos em nossa sala, e afirmou: – Não pai, ele era grande e era igual ao “Jejus”, aquele ali sabe? Assim, daquele jeito ali. Pasmem! Não precisava de mais confirmações! Jonas foi nesta sua última encarnação, realmente, um dos rapazes mais belos que já conheci, ao final da adolescência sua figura lembrava mesmo aquele Jesus retratado por vários pintores europeus. Cabelos casta‑ nhos claros e longos – na altura dos ombros, bem no estilo “anos 70” –, olhos castanho-esverdeados, barba e bigodes castanhos e não muito espessos, um corpo esguio (quase atlético, antes das drogas se apossarem dele, é claro), mais ou menos, um metro e noventa de altura, um tipo físico que passava tranquilamente por “modelo fotográfico”. Obter aquela confirmação por meio do meu filho foi realmente um impacto. Não possuía nem uma fotografia do velho amigo em nossa residência, meu filho não tinha como “adi‑
18 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
vinhar” a aparência de Jonas (nem mesmo a esposa o havia conhecido pessoalmente). E os estranhos sonhos e a insônia persistiram por mais alguns meses, inclusive, chegando mesmo a afe‑ tar o meu desempenho no cotidiano, pelo sono se‑ quencialmente interrompido. Em um dos meus sonhos, antes de iniciar os traba‑ lhos de escrita deste livro, fui conduzido por um ami‑ go espiritual a uma grande praia com extensa faixa de areias finas e brancas4. Uma vegetação rasteira e florida emoldurava o ce‑ nário e uma brisa refrescante fazia rolar a fina areia sob os meus pés. O sol brilhante iluminava toda a região, espar‑ gindo calor agradável, refletindo sua luz e colorin‑ do ainda mais aquele ambiente que inspirava paz e tranquilidade. Ouvia as ondas quebrando, cadenciada à curta dis‑ tância de onde estávamos, e uma brisa suave e refres‑ cante fazia estremecer as minhas roupas. Alguns passos mais adiante, avistei uma pessoa que estava sentada na praia observando o ir e vir das ondas. Ao me aproximar, reconheci de imediato aquele jovem, sim, era ele mesmo, Jonas. 4
No decorrer da escrita deste trabalho soube dos contatos anterio‑ res, porém, não guardei na memória recordações mais precisas dos mesmos.
Além do fundo do poço | 19
Os seus cabelos longos eram agitados pelo vento marítimo. Ele estava descalço, com seus pés levemen‑ te enfiados na areia da praia, estava todo vestido de branco, suas roupas pareciam feitas em tecido muito leve que lembrava o algodão, as calças largas do tipo de amarrar na cintura e uma bata no estilo indiano; eram roupas típicas dos anos 70. Sentei-me ao seu lado e permaneci em silêncio, olhando aquele mar de um azul fantástico e ouvindo as ondas quebrarem diante de nós. E em meu coração uma certeza enorme de aproveitar aquele momento e me desculpar pelo mal-entendido do passado. Percebi que ele olhava fixamente para o horizon‑ te e depois de um profundo suspiro, virou-se para mim com aqueles imensos olhos castanho-esverdea‑ dos cheios de lágrimas e falou com a voz embargada pela emoção: – Fala aí, Marquinho, meu irmão? Tudo em cima? Cara, eu sei que andei pisando muito na bola. Vacilei mesmo com muita gente e também com você. Des‑ culpe o mau jeito, valeu? Eu queria muito que você pudesse me dar uma força pra eu tentar acertar algu‑ mas coisas. Será que você topa, em nome dos velhos e bons tempos? Olhei para ele e vi que lágrimas rolavam abun‑ dantes por sua face. Nunca havia presenciado Jonas chorar, em momento algum, em sua última existên‑ cia aqui na Terra. Aquela imagem ficou gravada em
20 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
minha alma e, naquele momento, senti uma grande compaixão por aquele antigo amigo. Despertei realmente muito impressionado com aquele sonho, com aquele emocionante reencontro. Naquela mesma manhã, em oração, pedi aos meus amigos espirituais, entre eles a irmã Josefa5 – uma frei‑ ra desencarnada, muito simpática, que há alguns anos se apresentou como mentora de nosso grupo familiar –, que me orientassem em minhas decisões e que ilu‑ minassem as minhas intenções. Queria, sim, auxiliar aquele meu antigo amigo de‑ sencarnado, porém, ainda carregava incertezas em meu coração, fato que os amigos espirituais bem o sabiam. Ao findar a oração uma frase me veio à mente e me fez recordar, automaticamente de Jesus, quando ensinou: – Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele6. Ao ouvir aquele conselho evangélico, confesso aqui que senti grande vergonha de mim mesmo, daquela 5
6
Irmã Josefa, em sua última reencarnação (que ocorreu entre o final do século XIX e o início do século XX) nasceu na Espanha e ainda bem jovem tornou-se freira da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus (em França), onde desencarnou com menos de quarenta anos de idade. Atualmente, pelo que nos foi informado, esta amiga mentora também trabalha em missões de resgate de irmãos nossos nas regiões mais sombrias do mundo espiritual, nas áreas mais próximas da Terra (região conhecida entre os espíritas como “umbral”). Aquelas “Equipes de Socorro” são identificadas como os “Samaritanos” (vide a obra do espírito André Luiz, em psicografia de Chico Xavier). Mateus, 5:25
Além do fundo do poço | 21
minha atitude mental de dúvida. Assim, mesmo diante de minha pequenez e ainda iniciando neste tipo de pro‑ dução literária específica7, coloquei-me à disposição do plano espiritual, para que o melhor pudesse ser feito. E, no reconhecimento das minhas grandes e muitas limitações, quero deixar registrado aqui, para que to‑ dos os prováveis leitores destas linhas saibam, o meu mais sincero pedido de desculpas ao irmão Jonas. Re‑ lembrando mais uma das lições do mestre Jesus, como julgar o argueiro nos olhos de nossos irmãos? Quem somos nós para julgar? No mesmo sentido, recordo ainda uma antiga edi‑ ção do livro Os miseráveis, de Victor Hugo, onde se encontra na introdução uma grave e inesquecível ad‑ vertência: piedade para os que caem, porque ninguém pode mensurar o peso que fez aquela criatura cair. Cônscios das minhas grandes limitações, a irmã Josefa me afirmou que, para a minha tranquilidade e segurança8, ela estaria comigo durante todo o tempo, na tarefa de transmitir a mensagem do irmão Jonas, pois, se era certo que ele ainda se encontrava em fase de estudos e tratamentos no mundo maior, o mesmo 7
8
Desde muito jovem escrevia páginas, trovas, versos e pequenas mensagens que sabia não serem de minha produção mental, mas não havia, até agora, vivenciado a escrita de um livro ditado por um desencarnado. Principalmente, devido às energias ainda muito densas do espírito comunicante.
22 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
já era possuidor dos requisitos mínimos e necessários para aquele tipo de atividade. A bondosa freira informou-me ainda que aquele nosso irmão, apresentava desejo sincero de servir e que, também fora autorizado e por misericórdia divi‑ na, a empreender tal exercício como parte de seu pro‑ cesso de reajustamento e reeducação espiritual. Do mesmo modo a amiga espiritual me informou que, caso aceitasse aquela tarefa, receberia o apoio e a colaboração direta de outros dois grandes amigos e mentores espirituais muito queridos, que aqui chama‑ remos de irmão Gonçalves e irmão Souza. A princípio, ficou combinado que o espírito Jonas viria ao meu encontro semanalmente, em dias e horas previamente combinados, quando lhe fosse possível e autorizado, mas sempre acompanhado por aquela equipe de tarefeiros. E caso fosse necessário, devido a qualquer impedi‑ mento temporário, eu seria conduzido a locais previa‑ mente preparados pela mesma equipe, para o encon‑ tro com aquele nosso irmão. Vale ressaltar aqui que o texto foi transmitido de várias maneiras diferentes. Em alguns momentos o relato foi ditado, em outras ocasiões fui levado por meio dos sonhos e captava o que deveria escrever, por vezes vi e ouvi as cenas descritas, ou ainda somente sentava diante do computador e, sob a inspiração e orientação dos amigos espirituais, o texto fluía.
Além do fundo do poço | 23
Entretanto, estava ciente de que qualquer que fosse a forma de comunicação, a equipe espiritual estava sem‑ pre atenta e presente para supervisionar todo o processo, promover o equilíbrio e instalar a harmonia necessária. Em nossos vários contatos anteriores à feitura deste livro, percebi que Jonas está realmente desejoso de co‑ laborar, especialmente, com os irmãos encarnados que passam pelo problema-situação das drogas (os adictos) e com seus círculos de familiares e de amigos mais pró‑ ximos. Compreendi que ele quer muito auxiliar, princi‑ palmente, aquelas pessoas que estão, direta ou indireta‑ mente, envolvidas com o mundo tenebroso das drogas. O seu maior desejo é que a sua história de vida – a “sua experiência de queda”, como ele mesmo afirmou mais de uma vez –, seja mais um instrumento, ainda que peque‑ no, de colaboração nesta guerra árdua e violenta, cuja vitória é muito difícil, todos o sabemos, mas é possível. E, encerrando estas palavras iniciais vale destacar que este é um caso e assim deve ser compreendido, este não é um modelo geral porque em se tratando de vida espiritual, é sempre bom termos em mente que cada caso é um caso. Esta é, portanto, a história de um espíri‑ to, uma história de vida, um estudo específico, que po‑ derá servir para reflexão e possível auxílio na tomada de decisões importantes sempre em defesa da vida. E, a principal intenção e meta, repito, é a de au‑ xiliar, de colaborar, no combate ao uso e abuso das drogas, sejam elas quais forem.
24 | Marco Antônio Vieira | Jonas (espírito)
Neste sentido, com a alma de joelhos, agradeço ao Pai e Criador de todas as coisas por mais esta abençoa‑ da oportunidade. Também sou grato ao nosso mestre Jesus, nos‑ so governador amantíssimo, que é o modelo e guia da humanidade, e que dirige os destinos da “nave-escola Terra” nesta gravíssima hora de transição planetária. Agradeço à nossa iluminada e bendita doutrina espírita, que é, simultaneamente, o cristianismo redi‑ vivo e o consolador prometido pelo Cristo de Deus. Minha mais profunda gratidão aos amigos, orien‑ tadores e mentores espirituais irmã Josefa, irmão Gonçalves, irmão Souza e outros anônimos, pelos caminhos sugeridos, pela paciência e pela luz bendi‑ ta oferecida. E, finalmente, ao amigo-irmão Jonas, digo muito obrigado por haver permitido que participasse des‑ te importantíssimo projeto de regeneração que é, ao mesmo tempo, individual e coletivo. Esta é mais uma prova de que, realmente, o acaso não existe. Niterói-RJ, 2014. Marco Antônio Vieira Nota do médium: Considero altamente recomendável a leitura de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec) para total compreensão deste livro.