Igor Peres_Monografia

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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, SĂŁo Paulo, 2015

Igor de Miranda Peres + Lizete Maria Rubano


Nem a um, nem a outro. Somos planetรกrios, portanto, a todos.



Do Meu Quarto Semestre

“ Com as mãos atadas Não me expresso. Delas preciso livres, Valsando com meus sonhos.

Contato com a superfície, Anseio concretoInfinidade de traços, Levam a diferentes caminhos.

Nessa dança da incerteza, Aprecio o ritmo, vejo beleza. Risco torto, poesia, Ideia de futuro- de projeto.

Com pés no chão, sólida fundação, A cabeça livre e a pena na mão, Se faz música de Tom, texto de Chico, Casa do Oscar- eu, arquiteto.”


SUMÁRIO PARTE I – NECESSIDADE, EXPRESSÃO E REALIDADE INTRODUÇÃO À TEORIA ENVOLVIDA CAP 01. OS PERCURSOS COMO FORMADORES DE PAISAGENS 1.1 NOMADISMO E ERRÂNCIA 1.2 DOS MENIRES AO KÁ 1.3 SER FLÂNEUR, PERDER-SE 1.4 O CAMINHAR COMO UM ATO POÉTICO

CAP 02. OS VAZIOS COMO SIGNIFICAÇÕES ESPACIAIS

2.1 VAZIO PLENO 2.2 VAZIO ENTRE 2.3 VAZIO NÃO EDIFICADO

CAP 03. AS LÓGICAS COMO A ESSÊNCIA DO CONSTRUIR

3.1 A LÓGICA DO MERCADO 3.2 A LÓGICA DA GRANDEZA 3.3 A LÓGICA DO RASTRO


PARTE II – DIALÉTICA, EXPERIMENTAÇÕES E INTERVENÇÃO INTRODUÇÃO ÀS ÁREAS DE ATUAÇÃO E PRÁTICAS ADOTADAS CAP 04. ÁREA 01 CENTRO

4.1 LOCALIZAÇÃO E ENSAIO FOTOGRÁFICO 4.2 CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA 4.3 PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS

CAP 05. ÁREA 02 VILA OLÍMPIA 5.1 LOCALIZAÇÃO E ENSAIO FOTOGRÁFICO 5.2 CONCEITUAÇÃO DA PROPOSTA 5.3 O PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS CAP 06. ÁREA 03 BARRAFUNDA 6.1 ENSAIO FOTOGRÁFICO 6.2 CONCEITUAÇAO DA PROPOSTA 6.3 O PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS CAP 07. ÁREA 04 AUGUSTA

7.1 ENSAIO FOTOGRÁFICO 7.2 CONCEITUAÇÃO DA PROPOSTA 7.3 O PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS CONSIDERAÇÕES GERAIS BIBLIOGRAFIA



PARTE I NECESSIDADE, EXPRESSÃO, REALIDADE

“A errância construída produz novos territórios a ser explorados, novos espaços a ser habitados, novas rotas a ser percorridas” CARERI, Francisco, 2002


INTRODUÇÃO À TEORIA ENVOLVIDA

Nos capítulos dessa primeira etapa, aborda-se o entendimento do caminhar como ação modificadora da paisagem a ato de manifestação e expressão artística na cidade, segundo, principalmente, relatos de Francisco Careri em seu livro Walkscapes (2002) e conceitos de Massimo Canevacci presentes em A Cidade Polifônica (1997). Paralelamente a grupos europeus citados por Careri, no Brasil, Lygia Clark desenvolvia suas séries em obras que incitam, assim como esses movimentos, o espectador a participar de suas formulações- “a verdadeira arte está no ato de fazê-la e não no resultado final”.¹ Entre o fim de uma série e a de concepção de um novo tema de estudo para sua produção, a 1. CLARK, Lygia, 1964


artista sofria crises existenciais, em que dizia perder dimensão de planos e do espaço. Tal momento de hiato foi intitulado por ela de Vazio Pleno, e pode ser metaforicamente aplicado à cidade, para aludir intervalos urbanos que não se desenvolvem segundo as lógicas de mercado. São resíduos em angústia, que permitem um exercício intelectual e que esperam representar, a partir de uma lógica própria, uma significação outra, um porvir. A reflexão do arquiteto, então, deve ser convertida no desenho de arquitetura que permite a diversidade de apropriações e espaço para o inusitado, o eventual. Mais do que propor arquiteturas auto referentes, deve-se focar no resgate da ideia de cidade como uma construção dos


desejos coletivos e de territórios legíveis para as diferentes escalas presentes no meio urbano. Assim, esse trabalho tem a função de questionar estruturas pré-estabelecidas por meio de análises e hipóteses práticas embasadas teoricamente em autores e experimentações já feitas, ao discutir formas de se fazer cidade ressaltando a poesia dos pequenos atos cotidianos.


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CAP 1 – O PERCURSO COMO FORMADOR DE PAISAGENS 1.1 – NOMADISMO E ERRÂNCIA

“A arquitetura é o aspecto visual da história”¹ Bruno Zevi

O conteúdo da epígrafe se relaciona diretamente ao trabalho aqui proposto, na medida em que, considerado o fato de que história é um processo, podemos estudar a trajetória da arquitetura sob o ponto de vista da abordagem sobre o ato de caminhar. Esse, que se inicia como as primeiras ações de modificação na paisagem pelos povos nômades e é uma constante em todas as épocas já decorridas, produz arquitetura e paisagens até chegarmos nas edificações e propostas atuais. (Careri, Francisco, 2012).

1. ZEVI, Bruno, Saber Ver Arquiterura, 1948, pg.45

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A história do homem está baseada em inúmeros movimentos de migrações, trocas culturais, comerciais e religiosas-muitos deles seguindo o posicionamento solar e da linha do horizontenos quais se criaram percursos construtores de ordem frente ao caos do desconhecido. Num processo lento e complexo culminam, hoje, na apropriação e mapeamento quase que total do nosso território. Os conceitos de errância e nomadismo são comumente conhecidos como sinônimos, todavia se diferem uma vez que, o primeiro está ligado aos deslocamentos cíclicos do gado durante a transumância, enquanto o segundo à caça e coleta do homem paleolítico. Os povos nômades consideravam o percurso como um lugar simbólico ao mesmo tempo que 18


viam os espaços como resultado da ação de eventos, que deixavam rastros invisíveis a partir dos quais se criariam mapas mentais de pontos, linhas e superfícies de lugares apreendidos durante as viagens (Careri, Francisco, 2012).

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Imgem: 1. Refugiados Sírios: nomadismo pela sobrevivência em 2015


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1.2 DOS MENIRES AO KÁ

“Menires são

Esse nomadismo é entendido como o ato do

concebidos como

eterno deslocamento e que só foi possível a

a primeira forma

criação das primeiras cidades a partir da fixa-

de arquitetura

ção dos povos numa determinada área onde

construída, já na

seriam desenvolvidos a agricultura e pastoreio.

idade da Pedra.”

Esse, é o senso comum sobre a relação do ser humano com a terra, porém em estudo mais profundo, vemos que os povos nômades já agiam na paisagem com pedras de diversos tipos e tamanhos espalhados em campo aberto, na intenção de marcar pontos de troca e melhores rotas para migração. Os chamados Menires são concebidos como a primeira forma de arquitetura construída, já na Idade da Pedra (CARERI, 2012). O conceito egípcio do Ká está intimamente ligado a esses 22


Imgens: 2. Menir de Bulhoa Reguengos, 2012 3. Estátua representativa do Deus egípcio Ká

alinhamentos ou posicionamentos das pedras-marcos territoriais chamadas de Menires, como já dito. Segundo Careri (2012, pg. 61), “a pedra era o único material eterno que podia conter o Ká”, símbolo do eterno errar- dois braços levantados de modo a transmitir a ideia do contato com a energia de Deus e da adoração ao Solaludia às migrações e ao espírito dos viajantes.

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1.3 SER FLÂNEUR, PERDER-SE

Walter Benjamin descreve o flâneur segundo ensaios e análises sobre a obra de Charles Baudelaire. Para ele, os escritos do poeta francês são fragrantes mais precisos e intensos da vida social parisiense do século XIX, revelando as mais finas e sutis articulações do indivíduo moderno com o cenário urbano. (BENJAMIN, 1999) Segundo Sérgio Roberto Massagli (2008, vl.12, pg.55) historicamente, no contexto da transição entre os períodos da Revolução Industrial e Modernidade, o flâneur é aquele se que beneficia da transitoriedade da cidade e nos fornece imagens de diferentes pontos de vista das pessoas que a habitam e que função elas desempenham num ambiente urbano observado diariamente. 26


Imgem: 4. GAVARNI, Paul, Le Flâneur, 1842

É um burguês que discorda da divisão de trabalho vigente na sociedade da qual faz parte e dispende seu tempo na busca pela experiência e não apenas conhecimento, ‘perdendo-se’ entre seus semelhantes lindando com a ambiguidade entre unidade e coletivo ao se sentir sozinho em meio a eles. Quando nos dispomos a seguir caminhos não planejados, sair sem rumo na expectativa de quebrar o conhecido ritmo cotidiano e nos permitir uma chance para a surpresa, estamos encarando o ato de caminhar como uma prática estética e observando a cidade, mesmo que subconsciente e distraidamente. Como Careri (2002, pg.162): Em italiano, andare a Zonzo significa ‘perder tempo vagando 27


sem objetivo’. É um modo de dizer cuja origem é desconhecida, mas que se inscreve perfeitamente na cidade passeada pelos flâneurs, nas ruas em que vagavam os artistas das vanguardas dos anos vinte e nos lugares a que iam à deriva os jovens letristas do pós-guerra. Este singelo ato indica uma intenção não artística do indivíduo, todavia uma manifestação do subconsciente condicionado, na busca de uma eventual descoberta que possibilite um prazer fugaz, porém intenso no momento em que foi vivenciado. “Todo mapa caracteriza ‘sua’ metrópole; mas esta era uma megalópole tão grande que sobrepunha e misturava estilos e pontos de referência diversos, de uma maneira geral para mim paroxística, portanto, a

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única coisa que um ‘estrangeiro’ como eu, como um conhecimento escassíssimo de português, podia fa-

2. CANEVACCI, Massimo,1997, pg. 14

zer era perder-se na cidade.”²

A rotina intensa que nos consome o tempo, a dificuldade do deslocamento e o custo muitas vezes atrelado a uma programação, nos leva quase sempre a desistir de usufruir o que a

“O caminhar na

cidade oferece enquanto atividade. Estranha-

cidade, então,

mente quando somos turistas deixamos todos

é participar da

impasses de lado e nos ‘deixamos levar’ pelas

polifonia presente

cidades desconhecidas, que acabamos por explorar mais do que a nós que vivemos. Canevacci, (1997, pg.15) descreve a metrópole de São Paulo como uma cidade, ‘que se comunica com vozes diversas e todas copresenrtes: uma cidade narrada por um coro polifônico, no 29

nela, experimentar desde suas ‘harmonias elevadas’, assim como suas ‘dissonâncias’ existentes.”


Imgem: 5. FERRARI, Leon, Bairro, 1980 Alusão à polifonia das Cidades

qual os vários itinerários musicais ou os materiais sonoros se cruzam, se encontram e se fundem, obtendo harmonias mais elevadas ou dissonâncias, através de suas respectivas linhas melódicas’. O caminhar na cidade é, então, participar da polifonia presente nela, experimentar desde suas ‘harmonias elevadas’, assim como suas ‘dissonâncias’ existentes.

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1.4 O CAMINHAR COMO UM ATO POÉTICO

Mais do que uma ação de busca por alimento e outros fatores relacionados à sobrevivência, ou o simples fato do deslocamento, o caminhar foi adquirindo um significado outro, desde a modernidade com os flâneurs. Movimentos artísticos do século XX, cada um com sua peculiaridade, tinham seus integrantes reunidos em pontos pouco frequentados das regiões que habitavam. Encaravam isso, o ato de andar, como meio de expressão e intervenção na cidade. O movimento dadaísta famoso pela vertente que subverte significado inato a um determinado objeto, ao deslocá-lo de seu ambiente e escalas usuais (lembremos do urinol de Duchamp), se manifesta no plano urbano no ano de 1921, quando são propostas “visitas-excursões” a lugares da 33


Imgem: 6. DUCHAMP, Marcel,Fountain, 1917 7. Caminhadas Dadaístas, 1921

cidade não tidos como célebres, afim de “superar o que era entendido por arte” e dessacralizá-la. Assim, estimam em ligar a arte à vida cotidiana e agora o objeto subvertido e transformado em arte é o corpo dos próprios artistas. “A terra sob meus pés não é senão um imenso jornal explicado. Às vezes, passa uma fotografia, é uma curiosidade qualquer, e das flores nasce uniformemente o odor, o bom odor de tinta de papel impresso”³

As práticas dadaístas na cidade repercutiram no campo da psicanálise e geraram pesquisas freudianas sobre o subconsciente da cidade, o que culminou, também na faceta urbanística, do movimento surrealista. André Breton, prin3. BRETON, André, 1924, pg. 81

cipal representante desse movimento, se utiliza 34


do termo “deambulação” para descrever a ex-

“As práticas dada-

periência entre os limites da vida consciente e

ístas na cidade re-

a onírica de suas caminhadas e conversas, em

percutiram no cam-

bosques e campos (agora não mais nas cida-

po da psicanálise e

des, como os dadaístas) que se pode traduzir

geraram pesquisas

como uma “essência da desorientação” (BRE-

freudianas sobre o

TON, 1924).

subconsciente da

Uma prova mais palpável de que o movimento se aproxima da poética do caminhar com uma intenção claramente sensorial, é a proposta de mapas sugeridas por Breton: os lugares de que gostamos teriam a cor branca, os que queremos evitar, preto e o restante cinza, para que se represente alterações de atração/repulsão. O lado sensorial do surrealismo deveria ser experimentado cotidianamente ao nos deixarmos 35

cidade.”


ser dominados pelo espaço, nos perdermos nele; como Franco La Cecla (1988, pg. 48): Perder-se significa que entre nós e o espaço não existe somente uma relação de domínio, de controle por parte do sujeito, mas também a possibilidade de o espaço nos dominar. Nos anos de 1956 e 1957 o grupo de artistas Imgem: 8. Alusão à caminhada surrealista

do Situacionismo, cujo lema era “morar é estar em qualquer lugar como na própria casa”, continua a investigação da prática do andar sobre a cidade sem ter apenas a finalidade do deslocamento. Consideram motivo de decadência a demasiada importância que os surrealistas deram ao inconsciente e optam por utilizar os binômios racional/irracional,consciente/inconsciente con36


densados no termo criado por Guy Debord, do qual trata sua teoria, que chamam de “derive”, ou em português deriva. O movimento Letrista/Situacionista difere-se também do anterior ao tratar a cidade de maneira objetiva, lúdica e espontânea, onde a poesia seria substituída pela paixão da aventura urbana. Como Ivan Chtcheglov (1958, Internationale Situationniste) “ A arquitetura é o meio mais simples de articular o tempo e o espaço para modelar a realidade, para fazer sonhar” “Os novos poderes tendem a um complexo de atividades humanas que se situa além da utilidade: os tempos disponíveis, os jogos superiores. Contrariamente ao que se pensam os funcionalistas, a cultura se encontra lá onde termina o útil.” 4

4. ALBERTS, Armando, Internationale Situationiste, n.3, 1959.

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Na Internacional Situacionista realizada entre as décadas de 1950-1970, define-se que a teoria da deriva é um procedimento psicogeográfico em que se estuda o comportamento humano a partir das reações psíquicas e emocionais das pessoas frente às possibilidades urbanas, para assim se ter mais ciência de quais zonas psíquicas nos estimulam quando nos “deixamos levar” pela cidade. Ainda, muito se fala sobre o tempo livre não utilitarista para encarar a vida-cidade como algo lúdico, um espaço alternativo em que todos os indivíduos são agentes construtores do meio, que permitiria a experiência coletiva e rechaço ao trabalho e ao talento pessoal; consideravam como certa, portanto, a arte anônima.

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Imgem: 9. FULTON, Hamish, Boulognesur-Mer, 2010

Seguindo, utilizo as considerações de Careri

“(...) dividir-se-á

(2002, pg. 111): Em dezembro de 1966, pu-

novamente a

blicou-se na revista Artforum o relato de uma

essência artística

viagem de Tony Smith por uma estrada em

com o objeto-que

construção na periferia de Nova York. É a essa

não fica dentro

experiência pela New Jersey Turnpike vivida

de galerias, mas

por Tony Smith-considerado para muitos como o ‘artífice’ da arte minimalista estadunidenseque Gilles Tibergheim remonta as origens da land art e é essa a primeira viagem on the road que se pode remontar à série de caminhadas pelos desertos e pelas periferias urbanas que atravessam o final dos anos sessenta. No movimento Land Art vemos, o corpo humano como ferramenta para a produção de arte, dividir-se-á novamente a essência artística com o objeto-que não fica dentro de galerias, mas 39

em paisagens naturais”


em paisagens naturais até então não ‘contaminadas’- o que acarreta mudanças significativas nesse campo. Como representar a arte do caminhar esteticamente? Nos movimentos anteriores há poucos registros do que foi feito: dadaístas e surrealistas apenas descreveram suas caminhadas e postularam suas afirmações; situacionistas produziram mapas sensoriais. Em resposta à, segundo seus representantes, monotonia do minimalismo e ao desinteresse pela efervescência tecnológica vigente na época, Robert Smithson, Richard Long e Hamish Fulton, propõem, com o uso de técnicas da arquitetura, ações físicas no território que promoveriam reais transformações e chegariam no 40


resultado de paisagens artificiais construídas. Como qualquer outro grupo de artistas, cada um de seus autores possuía sua forma de se expressar: Para Robert Smithson o processo de criação estava intrínseco ao instinto de viajar e da experimentação do lugar antes da proposição; Richard Long via o corpo como objeto de ação de desenho na paisagem; Hamish Fulton afirmava que nós somos receptores sensoriais, defendia o caminhar sem rastro e a filosofia do “Walks are like clouds. They come and go”

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Imgem: 10. SMITHSON, Robert, From Point to Salt Lake, 1970 11. LONG, Richard, A Line Made by Walking, 1967 12. FULTON, Hamish, From Point to Walking, 1973

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CAP 02. OS VAZIOS COMO SIGNIFICAÇÕES ESPACIAIS 2.1 O VAZIO PLENO

Pode-se traçar interessante paralelo entre o contexto já ilustrado, com a produção da artista brasileira Lygia Clark, que propunha, assim como a essência dos movimentos walk, a aproximação do cotidiano com a arte ao ‘introduzir’ o espectador na sua obra e considerá-lo elemento principal de seu trabalho. Segundo a artista: “ Muda-se o mundo, muda a consistência sensível da subjetividade, indissociavelmente: entre eu e o outro, desencadeiam-se devires não paralelos de cada um em um processo sem fim.”1 É na obra Caminhando (1963), que já vemos clara essa intenção- o espectador deve recortar um papel de modo a criar uma forma contínua elaborada pelo tridimensionamento de algo de duas dimensões, similar à fita de Moebius, para 49

1. CLARK, Lygia, Discurso em 1962.


“Tenho pavor

que, assim, ele mesmo tenha a vivência da arte

do espaço, mas

e do seu objeto sem avesso nem direito.

sei também que através dele me

Para Lygia, mesmo que não seja considerado

reconstruo.”

uma obra de arte para alguns, o ato deveria acontecer, pois ele leva o espectador a ter ciência do próprio lado poético. Isso nos faz lembrar os movimentos artísticos europeus nos quais o ato de caminhar - para as pessoas sem a intenção sensível e inventiva, as “céticas” - provavelmente não era considerado uma expressão e sim um simples percurso a ser executado. “Tenho pavor do espaço, mas sei também que através dele me reconstruo. O sentido prático sempre me falta nas crises, pois a primeira coisa que sinto é a falta de percepção dos planos e perco equilíbrio físico. Brinco com ele de perde e ganha e jogamos

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Imagem: 1. CLARK, Lygia, Caminhando, 1964

a partida do gato e do rato. Ele me persegue me apavora e me destrói e eu o domino e o reconstruo dentro do meu eu. Cada vez que, através do incons-

2. CLARK, Arquivo Lygia Clark do Centro de Documentação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

ciente, começa aparecer algo novo, eu levo uma rasteira, pois esse espaço-tempo novo adquirido não me serve mais. É preciso morrer mesmo integralmente e deixar o novo nascer com todas as implicações terríveis do ‘sentimento de perda’ da falta de equilíbrio interior, do afastamento da realidade já adquirida; é o vazio vivido como tal, até o momento dele se transformar no vazio pleno, cheio de uma nova significação.”2

“(...) é o vazio vivido como

A artista sofria crises entre os intervalos de produção e uma nova ‘descoberta’ no campo da arte, intervalo esse que nomeia de vazio

tal, até o momento dele se transformar

pleno- interessante notar a escolha dos ter-

no vazio pleno,

mos ‘espaço’, ‘plano’ e ’vazio’ na tentativa de

cheio de uma nova

expressar a sua angústia e ansiedade. Mesmo

significação.”

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que tenham um significado outro, no caso subjetivo e metafísico, rementem ao campo do literal tão presente nas manifestações dos grupos europeus (ainda que o surrealismo falasse sobre o inconsciente, o fundo para se pensar subjetivamente era o caminhar na cidade), pois são elementos componentes da dimensão urbana. Podemos, ainda, associar o discurso de Lygia ao conceito de ‘perder-se’ de Canevacci e Careri. De certa forma, Lygia sentia-se perdida no hiato entre o resultado final de um período de estudo e dedicação a determinado tema e conceito e a concepção de novas fontes e possibilidades de trabalho que dariam continuidade à sua produção. Assim como o sentimento de ‘perder-se’ na cidade, o vazio pleno de Lygia carrega a dualidade da angústia e indecisão de 52


Imgem: 2.CLARK, Lygia, Caminhando, 1964

se estar vivendo algo desconhecido e o prazer de se deparar com algo novo, que pode nos levar a nos ‘reconstruirmos no espaço’. Claro que a experiência na cidade é muito menos subjetiva do que se produzir algo pensado para ser arte, entretanto, quando ‘perdidos’ nela não estaríamos, então, vivenciando algo similar ao vazio pleno elucidado pela artista? O medo (in)consciente do desconhecido e a ansiedade pelo porvir, ainda que com níveis de abstrações diferentes, se aproximam do conceito elaborado por Lygia, ao abandonarmos o tido como seguro e evidente e passarmos a primar pelo inusitado e eventual.

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2.2 O VAZIO ENTRE

“Nesses vazios

Quando analisamos obras arquitetônicas con-

entre criados

testando seus princípios resultantes de sen-

almeja-se uma

tidos e significados históricos apriorísticos e

significação outra

deslocamos o foco dos edifícios em si, para

do local por meio

olharmos os espaços criados entre eles, vemos

de uma nova apropriação.”

que esse intervalo vazio induz aos devires, às indefinições que possibilitam aparição do eventual. Podemos chamá-los, segundo definições de Igor Guatelli em seu livro Arquitetura do Entre-Lugares (2012), de vazios entre. Assim como em Lygia Clark, há a avidez pelo preenchimento do seu ser, nesses vazios entre criados almeja-se uma significação outra do local por meio de uma nova apropriação. Talvez, ali, como em Clark e suas obras e nas dos artistas dos movimentos walk e land, é que o usuário pudesse aparecer como protagonista 56


da potencial mudança, de uso e significado. A artista busca, ao longo dos seus trabalhos, aproximar a Arte ao cotidiano, e uma vez que o

Imagens: Concurso Palácio dos Sovietes, 1931 3. Proposta de Le Corbusier 4.Proposta de vazio entre de Perret

foco da ação está no processo - e não apenas no resultado final -, vemos a arte se manifestar como uma ação eventual. “(...) vazio veiculador de intensidades e permanece à espera de outros registros, ações e eventos.” 3

Ao sugerir a discussão sobre os intervalos, questionamos esses valores atribuídos a priori numa historicamente enraizada estrutura de pensamento do fazer arquitetônico, materializada formal e compositivamente no objeto. Estabeleceu-se uma noção de programa elaborada como uma “ação reguladora da ocupação e uso e não potencializadora de situações e aconteci57

3. GUATELLI, Igor, 2012, pg. 62


mentos” (GUATELLI, 2012), que reduz o território a um contingente de normas e adequações a fim de inseri-lo numa lógica de interesses ou que o transforma, caso contrário, em resíduo. O foco no vazio entre edificações leva ao exercício reflexivo sobre as edificações em si. A partir de especulações conceituais objetiva-se a criação de ambientes múltiplos que possibilitem diferentes intensidades de uso, ricos em contradições e polifonia, espaços democráticos. Sempre com a premissa da intensificação da leitura e apropriações por parte dos usuários, o desenho do arquiteto deve comportar ações que se manifestariam além do traço por ele proposto, que subverteriam a noção de programa impondo nova lógica de uso do espaço. 58


Imagem: 5. TSCHUMI, Bernard, Paque La Villete, 1974. Exemplo de vazios entre potencializadores de eventos.

“ Essas amnésias urbanas não estão apenas à espera de ser preenchidas de coisas, mas são espaços vivos a ser preenchidos de significados. Portanto, não se trata de uma não cidade a ser transformada em cidade, mas de uma cidade paralela com dinâmicas e estruturas próprias que ainda devem ser compreendidas.” 4 4. CARERI, Francisco, 2002, pg. 159

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2.3 O VAZIO NÃO EDIFICADO

“O momento era

Lygia Clark quando ‘perdida’ no hiato de va-

uma oportunidade

zio pleno, dizia ter pavor do espaço, mas que

de territórios

só a partir dele, se reconstruiria e encontraria

tornarem-se

nova significação para sua arte. Tal fato e fa-

algo além do

zendo-se um recorte temporal para o período

preenchimento dos

do pós-guerra europeu, nos servem de parâ-

vazios, segundo uma cultura funcionalista.”

metro para discussão sobre o chamado vazio não edificado. Com países destruídos em grande déficit de equipamentos e serviços públicos, o momento era uma oportunidade de territórios tornarem-se algo além do preenchimento dos vazios, segundo uma cultura funcionalista. “Os vazios são parte fundamental do sistema urbano e são espaços que habitam a cidade de modo nômade, deslocam-se sempre que o poder tenta impor uma nova ordem. São realidades crescidas fora e contra aquele projeto moderno que ainda é

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incapaz de reconhecer os seus valores e, por isso, de associar-se a eles.”5

Imagem: 6. WENDERS, Win, Ferris Wheel, Armenia, 2008. Alusão ao ‘vazio preenchido’ pelo funcionalismo

Em áreas saturadas de história invisível, com memórias de arquitetura construída e não construída (HUYSSEN, 2000), Aldo Van Eyck elabora na Holanda, operações pontuais onde se constrói o mínimo possível. Concebidas em terrenos vazios, tiram partido da conformação do lugar e se configuram como pequenas intervenções lúdicas, que incitam encontros e integração, assim como relação com a vizinhança construída. “ Não há espaço para o imponderável, nenhum lugar onde ele possa se aninhar, nem tampouco para as coisas que escapam às limitações e melhorias efetuadas pelo arquiteto. (...) Em vez dos inconvenientes da corrupção e da confusão, alcançamos agora o 63

5. CARERI, Francisco, 2002, pg. 1591.


Imagem: 7. EYCK, Aldo Van, Dijkstraat Playground, Holanda, 1947

tédio e a higiene. Simplesmente milhas e milhas de um nada organizado, e ninguém que se sinta como ‘alguém vivendo em algum lugar.”6

O vazio é tema de estudo para quem quer discutir as fragilidades e porvires do ambiente urbano e é importante entendê-lo não como um lote com baixo índice de aproveitamento. São áreas ‘isoladas’ em meio à infraestrutura existente nas adjacências que, por algum motivo, são desinteressantes às lógicas de apropriação funcionais do espaço. Além disso, apesar do desejo de transformação e ocupação de áreas tidas como subutilizadas, deve-se questionar a real necessidade e o significado de uma construção nelas, evitando-se apenas a ocupação pragmática de um vazio. 6. EYCK, Aldo Van, 1948.

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CAP 03. AS LÓGICAS COMO A ESSÊNCIA DO CONSTRUIR 3.1 A LÓGICA DO MERCADO

No sistema capitalista de produção, que tem como essência a geração de lucro, o excedente desempenha importante papel no mundo urbano. O valor obtido é reinvestido na iniciativa de se gerar maior renda em processo cíclico de constante acúmulo de capital. O mecanismo se apresenta danoso, quando o potencial excedente passa a servir unicamente a fins econômicos. Assim, a parte do lucro obtido que deveria ser destinada ao desenvolvimento efetivo do meio urbano na criação de espaços públicos e infraestruturas de suporte à cidade, é reaplicada na valoração diferenciada dos lugares, sem compromisso com a democratização e cidadania. “Isso significa que o capitalismo está eternamente produzindo excedentes de produção exigidos pela 68


urbanização. A relação inversa também se aplica. O

1. HARVEY, David, 2012, pg.30

capitalismo precisa da urbanização para absorver o excedente de produção que nunca deixa de produzir. Dessa maneira, surge uma ligação íntima entre o desenvolvimento do capitalismo e urbanização. Não surpreende, portanto, que as curvas logísticas do aumento da produção capitalista sejam, com o tempo, muito semelhantes às curvas logísticas da urbanização da população mundial.”¹

Nesse sentido, tornam-se necessárias ações efetivas do Estado na proposição de políticas públicas que regularizariam e reformulariam o reinvestimento do excedente. Segundo Mia

“Dessa maneira,

Couto (2012) “Essas políticas urbanísticas não

surge uma ligação

existem ou foram substituídas por imprevisí-

íntima entre o

veis leis do mercado; hoje o chão da terra sus-

desenvolvimento

cita um pertence, uma ocupação selvagem que

do capitalismo e

pede arquitetos sem pedir arquitetura”.

urbanização.”

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Imagens: 1 e 2. Ilustrações por Kindred Studio. Alusões ao poder do mercado sobre as questões da cidade e ao ‘profissionalismo asséptico’, respectivamente.

Nesse quadro, há o declínio do papel do arquiteto e urbanista frente aos ‘pais da cidade, empreendedores e políticos’ (HUYSSEN, 2000), e o ambiente urbano em detrimento de sua complexidade enquanto conglomerado de signos e construção dos desejos coletivos, passa a se constituir de loteamentos privados. “Mas essa mudança da escrita para a imagem traz uma significativa inversão. Para ser bem claro: o discurso da cidade como texto, nos anos 1970, era sobretudo um discurso que envolvia arquitetos, críticos literários, teóricos e filósofos determinados a explorar e criar novos vocabulários para o espaço urbano depois do modernismo.”²

A imagem se reporta à Praça Rotary, localizada, em uma região de diversos escritórios de arquitetura. Ela e a citação de Andreas Huyssen, 2. HUYSSEN, Andreas, 2000, pg. 98

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Imagem : 3. Pichação em frente ao escritório de arquitetura MMBB, cujo um dos arquitetos é Fenando Mello Franco, também Secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo.

demonstram o questionamento sobre a decorrente função dos ditos ‘agentes transformadores’ da cidade nos últimos anos. Em entrevista à Revista Contraste n°2, 2013, Guilherme Wisnik, discorre sobre a atual participação dos planejadores no enfrentamento e na proposição de alternativas para as cidades, relacionando a frase da imagem ao discurso de Rem Koolhaas. Segundo ele, um dos principais problemas elucidados pelo arquiteto holandês, é a falta de proposição de um novo modelo com diretrizes capazes de possibilitar uma visão do todo, na tentativa de se enriquecer a infraestrutura urbana visualizando as deficiências da cidade em grande escala. 71


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3.2 A LÓGICA DA GRANDEZA

Entende-se grandeza aqui como sendo as escalas introduzidas pelas grandes cidades ou pelas infraestruturas de articulação/conexão: “Onde a arquitetura revela, a Grandeza assombra” (KOOLHAAS, 2012). Estaria relacionada a questões que extrapolam o objeto arquitetônico: à burocracia geradora de lentidão, dificuldade e inflexibilidade em setores públicos e privados das cidades-serviços, comércio, transporte, lazer e à arquitetura asséptica de arquitetos imparciais e ‘rendidos’ ao determinismo do cotidiano (KOOLHAAS, 2012). Podemos dizer que a Grandeza é também demanda da lógica do mercado, cada vez mais específica e incontestável, que exige profissionais impecavelmente eficientes e sua encomenda entregue dentro dos conformes. 74


“A Grandeza significa rendição às tecnologias; aos

“(...) a massa

engenheiros, empreiteiros, fabricantes; aos políti-

construída não

cos, aos outros. Promete uma espécie de estatuto

pode apenas

pós-heróico da arquitetura-um realinhamento com

determinar um

a neutralidade”³

programa e ser

Rem Koolhaas junto à sua equipe do OMA trata a Grandeza ironicamente, encarando-a como realidade das megacidades mundiais. Desenvolve projetos de grandes proporções com a

concebido e espacializado num gesto arquitetônico único.”

premissa de que a massa construída não pode apenas determinar um programa e ser concebido e espacializado num gesto arquitetônico único, (BRISSAC, 1999), mas ser híbrida e intimamente conectada ao espaço urbano. Vem ao Brasil em 1999 e aborda a questão da Grandeza, quando participa da quarta edição do Arte Cidade, um coletivo que propõe ações e 3. KOOLHAAS, Rem, 2012, pg.17

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reflexões urbanas para São Paulo. O tema era a revitalização do edifício São Vito. Demolido em 2011, a edificação icônica localizada próxima ao Mercado Municipal e adjacente à Avenida dos Estados, sofria processo de degradação desde a década de 1980. Apontou-se que o problema se dava pela dificuldade de articulação e mobilidade entre o edifício e a cidade, nos seus descomunais, dado o gabarito do entorno, 27 andares de uso único habitacional. Dessa forma, foi proposto um elevador externo e de última geração que, segundo Koolhass, requalificaria as dinâmicas e a conexão do edifício com a rua. O propósito ia além, quando observado o processo de mobilização de diferentes setores da sociedade- poder público, 76


corporações privadas e associações comunitárias- na discussão de uma ação urbana pontual, que poderia desencadear uma série de outras tantas.

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Imagem: 4. Composição fotográfica referente a paisagem urbana de antes e depois da demolição do Edifíco São Vito.


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3.3 A LÓGICA DO RASTRO

A arquitetura, então, sempre vinculada à reflexão e imposições programáticas, assim como a significações pré-concebidas, interpretaria as lacunas criadas entre as edificações como elementos vinculadores entre ‘cheios’ e ‘vazios’, igualmente importantes na composição do espaço. Utiliza-se o pensamento formulado por Guatelli, 2012, a fim de um exercício conceitual acerca dos vazios residuais, para se propor arquiteturas-suporte que conteriam usos possíveis e complementares a regiões específicas, assim como estratégias capazes de ‘dessacralizar’ o espaço hierarquizado do objeto arquitetônico e da cidade. “ A obra de Lina Bo Bardi é (...) entendida não como uma série de edifícios acabados, mas como um conjunto de dados, materiais, restos, detritos e detalhes 80


inadvertidos, que possam existir acerca do projeto

4. DE OLIVEIRA, Olivia, 2006, p.11

de um edifício, que na verdade continua sendo feito a partir de uma memória que se vai resgatando.”4

As arquiteturas de Lina, a exemplo de obras realizadas de maneira sensível, procuram tangenciar o ser humano em sua complexidade, sempre em processo de formação e em busca de significação e significados para sua existência. Essa formulação talvez esteja presente, também, na ideia de rastro, em que os tempos e as marcas desses tempos, relacionados, desencadeiam outras possibilidades: daí a tentativa do arquiteto em articular o definido e o não definido por ele, pelo desenho inacabado sem uma formulação definitiva, pertencente ao lugar. “Nem ausência nem presença absolutas” (Guatelli, 2012). Aqui, valoriza-se a capacidade 81

“(...) obras realizadas de maneira sensível, procuram tangenciar o ser humano em sua complexidade, sempre em processo de formação.”


Imagem: 5. STEINBERG, Saul, Untitled, 1948 Referência ao desenho do arquiteto como rastro.

de improviso e inventividade dos usuários, as obras se dariam como palco para o inusitado e eventual, interpretando a realidade única de cada região. Resgata-se o pensamento de Lygia Clark, que diz que ‘a estrutura aí só existe como suporte para o gesto expressivo’, para se defender a arquitetura como meio de amparo às manifestações e anseios coletivos. Assim, deve-se estimar pelo acontecimento, que é problemático em sua dificuldade de articulação, mas é, também, problematizante (DELEUZE, 2009) enquanto questionamento das estruturas de pensamento engessadas e de consequentes proposições projetuais desprovidas de desejos coletivos.

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Como nas obras de Clark, procura-se chegar em uma intervenção em que não haja um único autor, mas vários que se apropriam e usufruem o espaço de diversas formas, para se chegar na ‘arte sem arte, que nada tem a ver com o artista, e tudo a ver como o espectador’. (CLARK, 1963).

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Imagem: 6. A imagem remete à apropriação que vai além do projeto. O que foi feito para delimitar, agora proporciona prazer.



PARTE II DIALÉTICA, EXPERIMENTAÇÕES E INTERVENÇÃO

“Não mudamos o mundo da noite para o dia, fazemos uma série de experimentações.” Mendes da Rocha, Paulo, no filme Vilanova Artigas: O Arquiteto e a Luz, 2015


INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS ADOTADAS CONCEITUAÇÃO DO ESTUDO

Nessa segunda etapa, mais prática, embasou-se teoricamente as experimentações em conceitos reunidos e comentados pela professora Lizete Rubano, no livro Hipóteses do Real (2012). Ele contém concursos desenvolvidos pelo escritório Vigglieca & Associados no período entre 1971 a 2011 e é dividido pelos temas de: áreas consolidadas, áreas em transformação, áreas de transposição ou borda e áreas novas, das quais fez-se reinterpretações, concebendo-se os quatro objetos arquitetônicos que seguem. Inspirou-se também, nos conceitos de infiltrar, mirar, transpor e invadir, da tese de doutorado do arquiteto Ângelo Bucci- São Paulo, Razões de Arquitetura: da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes (2010). Tais imagens reforçam as quatro situações de cidade do pri86


meiro parágrafo, já que se dão de maneira empírica pelo caminhar em São Paulo. Saindo do campo da arquitetura, metaforicamente, utiliza-se os métodos de reprodução e interdependências biológicas entre os seres vivos na natureza para se aludir à idealização dos quatro objetos e suas relações com a realidade das respectivas áreas de atuação. Em posse dos conceitos, levantou-se em seguida as forças preponderantes em cada uma das regiões, assim como as poéticas inatas aos lotes das intervenções.

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PREMISSA DA AÇÃO

Estamos acostumados a receber um terreno que deve abrigar um determinado uso préestabelecido e um checklist de programas para nos orientar acerca de quais espaços devemos organizar. Diferentemente desse tipo de metodologia que se tem implementado nas universidades, os terrenos de intervenção foram escolhidos após fundamentação teórica para que, daí sim, se pudesse pensar sobre áreas da cidade que corresponderiam às expectativas do estudo. Disso, viria a arquitetura com a proposta de programa em resposta ao que o local informa ou que complementaria suas atividades cotidianas.

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MÉTODOS DE ANÁLISE

Primeiramente houve a reflexão sobre regiões da cidade que apresentariam condições de uso e de ocupações que remeteriam aos conceitos abordados, como por exemplo, a Vila Olímpia, que já se entende como uma área consolidada dada pela característica empresarial e financeira. Seguindo, levantou-se a massa construída de cada região para se destacar os vazios, e na sequência, estudá-los. Após separação dos vazios, foram analisados os equipamentos de mobilidade, como estações de Metrô e da CPTM, linhas e pontos de ônibus, ciclovias e bicicletários e equipamentos públicos ou privados de funções diversas, presentes em cada uma das regiões. Assim, pôde-se apontar qual dos terrenos representaria um vazio que pouco se expressa nas dinâmicas das áreas, mesmo que a infraestrutura se faça presente. 89



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CAP 4 – ÁREA 01 CENTRO DE SÃO PAULO 4.2 CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA AS FORÇAS DA REGIÃO

HISTÓRIA

Historicamente o centro é um polo de atração seja pelas suas construções icônicas e as inúmeras atividades culturais, seja pela sua oferta de trabalho. Mesmo que hoje ele venha sofrendo transformações relativas a novas demandas de mercado, ainda é o principal espaço das lutas pelo direito à cidade, que englobam desde discussões sobre a infraestrutura até o uso do solo urbano para finalidade pública.

PERCURSO

O caminhar no centro nos põe em contato com a diversidade e a surpresa que as cidades podem oferecer. Nele podemos fazer nossas atividades cotidianas a pé, uma vez que a maioria dos edifícios possui comércio e serviços diversos em seus térreos; isso sem contar as galerias e vielas que concentram programas em seus interiores e atuam como extensões das ruas da cidade. 94


CONVIVÊNCIA

Apesar do quadro de desigualdade e violência presentes, podemos dizer que o Centro de São Paulo é o local de maior acolhimento de acontecimentos urbanos diversos. Em praças, largos e calçadas, músicos tocam, artistas pintam, dançarinos ao som dos rádios de pilha movimentam-se de modo a chamar a atenção, religiosos pregam, juntando gente. Esses e outros eventos que reúnem pessoas em volta ou despertam a curiosidade de quem passa, promovem naturalmente no centro a convivência entre indivíduos, em grande maioria, desconhecidos uns para os outros não importando a origem, etnia ou classe social.

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ÁREAS EM TRANSFORMAÇÃO

O centro da cidade há muito não tem apenas a sua faceta histórica: revela as diferentes camadas de tempos diversos. Concomitantemente ao cenário atual em que vivemos, nele vemos um pouco dos diferentes momentos da cidade. O centro é, portanto, uma paisagem marcada por contrastes físico-espaciais; simbólico-sociais. Faz-se assim, uso do conceito de Áreas em Transformação para se aludir ao processo de mudanças que ocorrem na área central de São Paulo. “O centro histórico de São Paulo (...), embora fundado há quase cinco séculos precisa ser reconstruído no seu sentido. Isso se faz necessário em parte porque, como diz Milton Santos, ‘os eventos apagam o saber já constituído, exigindo novos saberes’ e em parte porque a memória do lugar perdeu a sua 1. BUCCI, Ângelo, 2010, p. 91.

nitidez significativa”1 97


Imagens: 1. Levantamento histórico fotográfico pelo Google Street View

Apesar da nítida relação histórica entre a região e suas construções, as novas dinâmicas e demandas da cidade têm transformado a paisagem urbana do centro de São Paulo. Uma das principais questões são as ocupações de edifícios abandonados principalmente por movimentos sociais de pessoas em busca de abrigo e coletivos de artistas procurando sobreviver da venda de respectivas produções. Essas são disputas pelo direito à cidade e que se somam à luta pela apropriação de espaços públicos tão desvalorizados na cidade. Como sabemos, uma das estratégias capitalistas, que tem o urbano como foco, corresponde ao reinvestimento do excedente na cidade (HARVEY, 2012). Ou seja, para além de ser resultado ou expressão das lógicas de acumu98


lação, a cidade é o próprio objeto desse processo. Ainda que a cidade seja o resultado da produção coletiva, nesse sistema há determinadas regiões de interesse para se destinar o capital excedente, que quase sempre não são da esfera do bem público e coletivo. Os “resíduos urbanos”, espaços “fora das lógicas organizativas utilitárias” da cidade (Sassen in Solà-Morales, 2002), são tidos como “desinteressantes” às dinâmicas especulativas vigentes do mercado e demanda, ainda que a infraestrutura da cidade chegue até eles. Apresentam-se como complexos desafios intelectuais ao gerarem a indagação sobre suas possíveis ‘reinserções’, pensando-os agora dotados de uma vertente social e pública. São a possibilidade de reinvenção e questionamento dos 99


Imagens: 2. Vista dos terrenos, 2015

‘sentidos e significados históricos ainda aceitos e mantidos a priori como princípios arquitetônicos incontestes das designações da arquitetura’ (GUATELLI, 2012) A escolha de um terreno-resíduo, no cruzamento das ruas Ipiranga e Rua Araújo, é que desencadeou uma reflexão e a proposta projetual. Em uma ponta de lote, que não acompanhou o elevado gabarito das adjacências e hoje um estacionamento, a área tem localização estratégica por ser circundada de equipamentos urbanos de mobilidade com caráter público, e eixos viários relevantes, como a já citada Rua Ipiranga, a Avenida São João e a Rua da Consolação. Além disso, está em meio a uma diversidade de atividades culturais efervescentes como teatros, bares, restaurantes e boates. 100


O OBJETO SÍNTESE

O Objeto Síntese é a coexistência do antigo em meio às novas dinâmicas e demandas da cidade. Pretende-se articular os diferentes tempos para o surgimento de um projeto de arquitetura, que carrega história e contemporaneidade e as questões da cidade. É um Centro de Informação e Amparo às Dinâmicas da Cidade. O CIADIC foi concebido como uma estrutura que pudesse apoiar e potencializar experiências e discussões acerca do centro de São Paulo. Dois lotes, um com uma pré-existência (o estacionamento), outro não, onde as edificações propostas são conectadas por um passeio elevado com ângulo de modo a favorecer as visuais. No primeiro terreno buscou-se requalificar um dos pontos da rede de Centro de Informações 101


Imagem: 3. CIT República

Turísticas (CIT, programa do governo municipal operante desse 1983) e implementar uma praça, a partir de uma topografia criada com a perspectiva de continuidade das calçadas e, portanto, do percurso do pedestre. Há na Praça da República um CIT, que passa despercebido por muitos- um módulo em prisma retangular com grafites e uma única abertura onde se atende as pessoas e se orienta não só turistas, mas quem está à procura de informações sobre programas culturais. Por se tratar de um elemento fortemente ligado às atividades da cidade, e ser de pouca notoriedade apesar da importância, relocou-se e conectou-se o CIT ao DCIC pela passarela articulada à sua cobertura. O Centro por sua vez, tem o programa mais flexível e pretende 102


abrigar e possibilitar a aparição do eventual com sua estrutura, quase como um “andaime” sustentando suas lajes e mezaninos de planta livre. Há apenas três pavimentos com programas bem definidos- administração e sala para equipamentos a serem utilizados nos ‘pavimentos livres’; o café e o mirador/mirante. O restante poder abrigar diversas apropriações desde ensaios de dança até um momento de descanso. Essa proposição aparece como possível resposta e provocação à carência de estruturas, que podem ser singelas intervenções pontuais, mas que dariam suporte a atividades cotidianas na cidade e às discussões sobre edificações subutilizadas ou reintegradas, que permanecem como ruínas. 103


2. KOOLHAAS, Rem, 2012

“(...) a irrigação de territórios com potencial; não mais visará configurações estáveis, mas sim a criação de campos que possibilitem acomodar processos que se recusam a cristalizar-se em formas definitivas; não será mais sobre definições meticulosas, imposições de limites, mas sobre nações em expansão, negação de limites. Não sobre separar e identificar entidades, mas sobre descobrir híbridos inomináveis.”²

Foi feita uma pesquisa sobre elementos da materialidade e suas respectivas composições existentes no entorno próximo, agrupando-se texturas, padrões e cores locais. Fazendo-se uso deles - e com a intenção de se contrastar às construções pelo material e uso e não por uma forma exuberante e chamativa - optou-se pela utilização de estrutura metálica com fechamentos em vidros e pele 104


dupla com brises móveis de policarbonato. Para aludir ao conceito de coexistência entre as camadas antigas e novas da cidade, utilizou-se o aço em contraste ao concreto predominante nas edificações vizinhas e que, apesar de ser utilizado na construção civil desde o século XVIII, responde às condições atuais da área central, densa e sem espaço para canteiros tradicionais; expressando-se como um sistema de maior flexibilidade e racionalidade construtiva. O conjunto policarbonato e vidro trabalha na intenção de permitir a visão do entorno, uma vez que o policarbonato translúcido- o padrão da fachada varia o número de ranhuras de acordo com a necessidade de proteção – absorveria a insolação direta da luz solar e transmitiria apenas a iluminação natural. 105

Imagem: 4. Análise de texturas e cores


Referências Estrutura

Referências Fechamentos

Referências Térreo


ReferĂŞncias Uso


MIRAR

3. BUCCI, Ângelo, 2010

“ Mirante, nesse caso, não designa o olhar contemplativo; ao contrário, é o olhar indicativo, como um gesto que aponta para onde se desdobrarão as outras três operações (infiltrar, invadir e transpor) entre as duas cidades cindidas em seus territórios típicos de domínio que são a várzea e o patamar de terra firme” ³

O significado do mirante proposto vai além da condição de observação do entorno. No último pavimento encontra-se o mirador/mirante que usualmente imaginamos como um ambiente vedado por vidros, ou totalmente aberto, dotado de transparência e claridade. Em contrapartida a essa ideia, cria-se aqui um ambiente composto por concreto aparente, fechado, escuro e quieto, a fim de incitar uma experiência de natureza reflexiva ao usuário. É iluminado por pequenos rasgos criados em padrões, na vertical, 108


de modo a despertar a curiosidade do usuário que se aproxima para ver o exterior e ressaltar a altura das construções e o skyline da cidade.

Referências Mirador 109


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PROTOCOOPERAÇÃO

Da biologia: ‘A protocooperação é uma relação ecológica interespecífica harmônica não obrigatória, na qual há vantagens recíprocas entre as espécies que se relacionam, ou seja, ocorre um comum beneficiamento entre ambos os organismos, vivendo de forma independente.’ O conceito biológico serve para se aludir o impacto de uma nova construção em região de grande importância histórica. No caso, o Centro de São Paulo se beneficiaria da nova estrutura que daria suporte às suas dinâmicas e atividades, assim como o reforço à provocação dos seus edifícios subutilizados, uma vez que o Centro de Amparo é um edifício de programa flexível que comporta a diversidade de apropriações em seu interior. Esse último teria vantagens no que diz respeito ao aproveitamento 114


de toda infraestrutura já existente no local e a tradição e notoriedade da área de implantação.

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Imagem: 5. Exemplo clássico de protocooperação entre peixe palhaço e anêmona do mar.


POÉTICAS INATAS AO TERRENO

ABRIGO A região central de São Paulo possui inúmeros lugares de permanência, porém em poucos deles pode-se ficar por um longo período exercendo alguma atividade além da específica, proposta do ponto de vista funcional, para o local. O CIADIC, portanto, por meio de suas lajes acolhedoras de eventos e térreo convidativo, se estabeleceria como um espaço de abrigo aos que querem ensaiar uma peça de teatro, estudar, ver uma exposição ou simplesmente parar, esperar a chuva passar ou tomar um café- permitindo-se um momento de pausa.



CIRCULAÇÃO O primeiro lote, uma ilha entre ruas e sem nenhuma edificação, possui naturalmente a característica de transitoriedade. O outro terreno, onde acontece a maior parte da proposta, por ser uma ponta de lote e ter calçadas amplas, também se caracteriza como um local de intenso fluxo de passagem, ainda que haja uma construção térrea nele.


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LANTERNA URBANA Ainda que a região de estudo seja uma centralidade, há nela, literal e metaforicamente, pontos escuros que necessitam luminosidade. Nesse sentido, o conjunto proposto é pensado para que sirva como um ponto de referência ao pedestre. Semelhante a um farol ele seria um marco na paisagem, um ponto luminoso indicativo.


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4.3 PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS

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Pré-existência

Escavação

Fluxos

Estrutura Primária

Estrutura Secundária

Estrutura Auxiliar

Caixilharia

Fachada Dupla

Fechamentos


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CAP 5– ÁREA 02 VILA OLÍMPIA 5.2 CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA AS FORÇAS DA REGIÃO

VELOCIDADE

É uma região caracterizada pela faceta empresarial onde o conceito de Tempo tem significado produtivo e organizativo. Apresenta intensos fluxos tanto de pedestres e veículos, principalmente nos horários de entrada, almoço e saída do expediente do trabalho, quanto de troca de dados informação e negócios. Mais do que um conceito, a ‘velocidade’ é um modo de vida da região.

GENERICIDADE

Assim como outros centros empresariais, o local não possui marcos territoriais efetivos que a caracterizam a região. Ele é parte territorial do movimento pendular, em que o trabalhador vai até uma centralidade e depois volta para sua residência, geralmente longe dos locais onde exerce a profissão. Existem nela pontos de referência frágeis, que não configuram efetivas marcas no território, mesmo representando identidade para quem lá frequenta. 156


PROPRIEDADE

Na localidade vemos a multiplicação de empreendimentos ligados a grandes incorporadoras que, na lógica do excedente, reinvestem seus lucros em áreas de interesse. Como já dito em capítulos anteriores, o problema se dá quando a parte do lucro que poderia ser melhor equalizada quando do reinvestimento no urbano é utilizada para gerar mais e mais diferenciações na cidade. A propriedade, como temos visto ao longo de toda nossa história, não exerce a função social preconizada pela Constituição.

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ÁREAS CONSOLIDADAS

O conceito de Área Consolidada se exprime na Vila Olímpia no sentido da tentativa de se trabalhar com as forças vigentes na região , possibilitando o aparecimento de uma estrutura que resgate a ideia de cidade como uma construção do desejo coletivo. A intervenção objetiva despertar no usuário um momento de calmaria em meio à dinâmica nervosa ali presente e propiciar maior relação entre as pessoas e o território que ocupam. “A cidade é um jogo a ser utilizado para o próprio aprazimento, um espaço para ser vivido coletivamente e onde experimentar comportamentos alternativos, onde perder o tempo útil para transformá-lo em tempo lúdico-construtivo.”¹

Imagens: 1. CARERI, Francisco, 2002, p.98

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O OBJETO ESTRANHO

O Objeto Estranho, em resposta à intensidade e rapidez de fluxos locais, é um ambiente que concede momentos de pausa e tem programa contrário ao que se espera para área. Pode ser um lugar do silêncio, do encontro ou da permanência. É elaborada assim, uma efetiva praça de acontecimentos com topografia construída, contrastando-se em relação ao entorno plano horizontalmente e alto e envidraçado verticalmente, de modo a trazer outra possível experiência em um lugar previsível. Lendo-se a demanda local altamente tecnológica, a praça se faz interativa, uma vez que varia de acordo com a vontade do usuário. Escolhe-se a posição por meio de um aplicativo semelhante aos criados para sistemas gratuitos de transporte de bicicletas. Há a possibilidade da variação de altura, bem como da intensidade e cor da luz das unidades que compõe a praça. 160


REFERÊNCIAS CONCEITUAIS DE PROJETO

01. Concurso Market Square Cover, Labory & Shippan, Marrocos, 2012 No Tapete Voador, como os arquitetos batizaram a proposta para a Praça Mercado, criou-se uma quadrícula no lote subdividindo-o em pequenos quadrados que encerram a forma dos módulos estruturais compositivos do projeto. Por meio do jogo de alturas da rede estrutural de pistões mecânicos, que pode ser alterada de acordo com a necessidade do momento, cria-se uma praça mercado.

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Imagens: 1 a 5. Concurso Market Square Cover, Labory & Shippan, Marrocos, 2012

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02. Sanya Lake Park SuperMarket, NL Architects, China, 2013 A concepção de projeto é construir topografia em níveis sobrepostos que remeteriam a curvas da paisagem natural. Tal recurso, torna o conjunto aparentemente convidativo e menos impactante visualmente do que uma construção convencional.

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Imagens: 6 a 9. Sanya Lake Park SuperMarket, NL Architects, China, 2013

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03. The Why Factory, MVRDV, Holanda, 2009 O estúdio de arquitetura Holandês MVRDV juntamente com a universidade de Delft, inseriu um prisma escalonado em meio a uma construção existente. O projeto atua de modo a abrigar salas de trabalho e reunião em seu interior e na arquibancada propriamente dita, momentos de pausa, área de produção e palestras.

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Imagens: 10 a 13. The Why Factory, MVRDV, Holanda, 2009

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INFILTRAR

“ Um vale cavado pelas águas velozes de um pequeno córrego, como uma garganta entre dois platôs de cotas de nível idênticas, dividiu o patamar de terra firme, criando, assim uma colina isolada onde se implantou o núcleo histórico primordial da cidade. Esse ‘recinto’ a céu aberto é um pedaço da várzea quase prisioneiro entre as duas metades do patamar de terra firme.”

Essa bonita passagem sobre o Vale do Anhangabaú reforça a ideia do uso da topografia como uma maneira de ação no território. O ‘recinto preso’ será infiltrado pela intervenção na intenção de se inverter a lógica das construções existentes- cria-se algo sutil e gentil com a cidade acima do nível do solo, um pequeno oásis em meio a massa construída.² 2. BUCCI, Ângelo, 2010

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FRAGMENTAÇÃO

3. Portal Só Biologia

Sob um viés biológico, partiu-se do conceito da reprodução animal para se aludir ao modo como a proposta foi concebida. Na biologia, fragmentação se dá quando “o corpo do progenitor é quebrado em vários pedaços, sendo que cada uma destas partes é capaz de se reproduzir individualmente até assumir a forma semelhante de seu progenitor”³. A ideia é que os fragmentos não voltem a ser como

Imagens: Reprodução por Fragmentação 14. Reprodução Estrela-do-Mar 15. Reprodução Planária

o original, mas sim originem peças recortadas segundo os novos percursos da praça.

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POÉTICAS INATAS AO TERRENO

CONVERGÊNCIA O alto gabarito do entorno reforça o terreno vazio que ‘solto’ visualmente das construções vizinhas torna-se ponto convergente dos olhares. Uma ilha entre cruzamento de vias movimentadas criada muito mais pela ausência do que pela presença de algo edificado.



PERMANÊNCIA No terreno de intervenção já há uma praça que se faz tímida perto do impacto que poderia representar na região. Apesar da vocação para permanência, por ser uma área vazia frente às grandes edificações adjacentes com térreos privados, torna-se quase que um local de passagem não fosse pela vegetação e escassos bancos.



ARTICULAÇÃO O lote tem implantação favorecida uma vez que, da saída da estação de trem da Estação Vila Olímpia até a Avenida Brigadeiro Faria Lima, temos um fluxo contínuo que, se seguido, desemboca no Largo da Batata. Esse percurso é pontuado por equipamentos públicos notáveis como a já citada estação Vila Olímpia da CPTM, estação Faria Lima de Metrô e por diversas linhas de ônibus e as ciclovias da Marginal Pinheiros e Faria Lima.



5.3 PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS

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CAP 6– ÁREA 03 BARRA FUNDA 6.2 CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA AS FORÇAS DA REGIÃO

DESCONEXÃO

A linha férrea é, sem dúvida, grande personagem que marca a paisagem urbana e apresenta diferentes configurações ao longo do seu extenso percurso. O terreno de estudo se caracteriza como um espaço residual desconexo ao tecido urbano, uma vez que se encontra intramuros: os elementos infraestruruais do elevado e da própria ferrovia encerram-no e afastam-no da urbanidade adjacente.

PASSAGEM

Além dos equipamentos de mobilidade- elevado, estações da CPTM e do Metrô- que conferem naturalmente a característica de transitoriedade, há na área determinados usos que reiteram tal característica. A grande gama de boates presente, abre suas portas apenas no período noturno e instituições ligadas ao ensino intensificam os fluxos locais apenas durante as aulas. 194


TRADIÇÃO

Os galpões das antigas fábricas são marcas impactantes na imagem territorial. Em seus tijolos, carregam a semântica histórica ao demonstrarem a passagem do tempo pela mudança das dinâmicas vigentes na área, onde o passado industrial perde espaço às novas demandas de cidade.

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ÁREAS DE TRANSIÇÃO

Tomando os equipamentos de mobilidade como realidade do local deve-se, portanto, incluí-los no partido para a criação de uma estrutura urbana que extrapole o lote e se conecte a eles. Essa estrutura deve ser capaz de interpretar a realidade local tornando-a legível para quem frequenta a região e suscitar, enquanto ação pontual, transformações nas dinâmicas locais. Pretende-se assim, por meio da intervenção, requalificar o espaço abandonado, já que a cidade não vai até ele, levá-lo à cidade. O programa se desenvolve em um complexo de palcos que surgem no topo das construções e infraestrutura existentes onde o entorno urbano fará parte do espetáculo e ‘libertará’ o terreno do ‘cativeiro’ intramuros.

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O OBJETO FUGITIVO

Aproveita-se o plano inclinado do Elevado Pacaembu e o paredão da linha férrea na intenção de se fazer pausas para acomodar as pessoas que esperam um espetáculo, ou procuram refúgio antes de voltar as atividades cotidianas. Abaixo do viaduto, um espaço em estado avançado de degradação, acontece o programa servidor dos palcos. Lá encontramos por onde esperar e nos informar sobre os espetáculos em cartaz, um pequeno serviço de café, banheiros e camarins para os artistas. As grandes passarelas e elevador articulam os palcos nos topos dos edifícios e o viaduto Pacaembu de ambos os lados-do vazio urbano e o da icônica construção que é o Memorial da América Latina. Bem-vindos aos Palcos Suspensos Articuladores. Boa experiência! 198


REFERÊNCIAS CONCEITUAIS DE PROJETO

01. Prometeo, Renzo Piano Building Workshop, Itália,1983-1984 Espectadores embaixo músicos em cima: Piano inverte a lógica de configuração do teatro tradicional quando desenha o teatro em Veneza. Tal ação representa uma intenção conceitual de transformar as espacialidades palco – plateia e a relação das pessoas com a cena, feita por meio de uma maior – e diferente- relação entre os espectadores e músicos.

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Imagens: 1 a 4. Prometeo, Renzo Piano Building Workshop, Itรกlia,1983-1984.

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02. TEATRO OFICINA, LINA BO BARDI, BRASIL, 1980 Mais do que ser o espaço onde se encenam peças, o palco é elemento integrante do cenário delas. Ao não seguir uma conformação usual de construção, sua estrutura permite não só maior integração entre ator/espectador, como na obra de Renzo Piano, mas também, entre ator e ambiente.

201

Imagens: 5 a 7. Teatro Oficina, Lina Bo Bardi, Brasil, 1980


202


03. Zollvenrein, OMA, Alemanha, 2010 Zollvenrein Essen é referência direta para o Objeto Fugitivo, seja pela característica industrial dos arredores, seja pelos elementos de mobilidade e articulação marcantes. Antiga refinaria de carvão, a materialidade se expressa densa e sombria, pela presença principalmente do aço, do tijolo e o concerto, constituintes de uma arquitetura monumental de poucas aberturas e Imagens:

ritmos racionais.

8 a 10, Zollvenrein,OMA,Alemanha, 2010

203


204


TRANSPOR

1. BUCCI, Ângelo, 2010

“Se o olhar, a partir do mirante, indica o sentido que se quer para as operações, a transposição de nível tem o propósito de conectar a várzea e o patamar de terra firme através do seu desenvolvimento em diferentes cotas de nível como cidade vertical.”¹

As construções do entorno, o elevado e o muro da ferrovia, apresentam níveis diferentes entre si que representam possibilidade de partido de projeto. Dessa relação entre cotas cria-se o Objeto Fugitivo, um elemento não só de centralidade, mas de articulação dos movimentos e fluxos urbanos da localidade.

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POLINIZAÇÃO

2. Portal Só Biologia

Segundo fontes da biologia, a polinização “é o processo que garante a produção de frutos e sementes e a reprodução de diversas plantas, sendo um dos principais mecanismos de manutenção e promoção da biodiversidade na Terra.”² Leva-se para a região a possibilidade para se fazer notar não só o objeto no lote de implantação, mas também nos seus arredores degradados. Uma operação pontual que pode desencadear uma série de novas outras, requalificando o local.

Imagem: Reprodução por Polinização 11. Na foto, pelo vento

206


POÉTICAS INATAS AO TERRENO

SUBSTÂNCIA Tijolo, aço enferrujado, cimento queimado. A síntese da memória material da localidade se traduz austera e banal, já que se faz por elementos tidos como simples no campo da construção.



MOISAICO O terreno de ação é formado por diferentes realidades- encontrase em meio a novas construções ligadas ao mercado especulativo, a zonas residenciais e industriais antigas de gabarito baixo, a ocupações irregulares, além de ter, também equipamentos de mobilidade.

nas imediações,



MOMENTO Além da articulação dos diferentes níveis de cidade nas respectivas alturas, a proposta deve conectar os momentos presentes nela. Propor algo para área é associar o tempo de quem anda a pé na região com o tempo do carro apressado no elevado, assim como do trem que passa carregado e tem destino certo.



6.3 PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS


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CAP7– ÁREA 04 RUA AUGUSTA 7.2 CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA AS FORÇAS DA REGIÃO

CULTURA URBANA

A Augusta se faz no térreo. Ainda que haja construções verticalizadas interessantes, ela é melhor compreendida se analisada pelo nível do pedestre, uma vez que extrapola as propostas formais e comporta eventos diversos, literalmente no meio da rua.

PLURALIDADE

Historicamente uma rua luxuosa de alto padrão, hoje, além do caráter diversificado de comércio e entretenimento, a Augusta abriga os mais variados grupos e tribos. É conhecida por ser espaço de manifestação daqueles que lutam por direitos de igualdade em meio aos padrões sociais pré-estabelecidos.

232


OLHAR

Na

Augusta

naturalmente

andamos

mais devagar, haja vista a quantidade de informações visuais que nos chama a atenção e a quantidade de pessoas usando o espaço da rua e das calçadas. Somos expostos a uma série de letreiros luminosos; vitrines de lojas que vendem de discos a roupas e acessórios e

artigos

sexuais;

inúmeros

serviços

concentrados nos térreos de edifícios antigos, bares e galerias. Mesmo que venha sofrendo um paulatino processo de descaracterização, é uma rua em que ainda é possível ‘perder-se’, onde o tempo é desacelerado para a satisfação do olhar.

233


234


ÁREAS NOVAS

A rua Augusta apresenta nítido conflito: sua crescente descaracterização dada pelos grandes empreendimentos financiados pela iniciativa privada, que se coloca sobre as dinâmicas sociais e de apropriação presentes alí. Esse processo ainda convive com as atividades que se dão nos térreos dos edifícios existentes-bares, restaurantes, cinemas, teatros, lojas alternativas, galerias. Os edifícios construídos recentemente, bem como as propostas futuras, liquidam a escala de cidade da rua, uma vez que possuem gabarito desproporcional ao existente e se encerram em grades e muros, repelindo qualquer espontaneidade do pedestre. Interpreta-se, assim, o termo “Áreas Novas” como ironia ao que se planeja para o local, pensando já nessa completa descaracterização da rua. 235


O OBJETO RESISTÊNCIA

Objetiva-se por meio do Objeto Resistência reforçar a relação edifício/rua, por meio da criação de uma arquitetura que se funde ao percurso da calçada e induz a entrada na área construída de maneira quase imperceptível, fluida, convidativa. Em contrapartida aos térreos fechados e edifícios inadequados

dos

lançamentos

imobiliários,

o objeto resistência distribuiria as pessoas aos ambientes por rampas que incitam essa continuidade do percurso peatonal. Abrigará o programa complementar ao característico do Imagem: 1. Iniciativa da Loja El Cabritón, que abre espaço para grafiteiros trabalharem na fachada do estabelecimento. A ideia é que todo mês seja um artista diferente.

lugar: uma galeria de arte alternativa. Ainda, extrapolando-se o lote, une-se a nova edificação às vizinhas de mesmo gabarito, para se conceber um terraço elevado, uma área potencial de permanência e do convívio inerente à Augusta. 236


REFERÊNCIAS CONCEITUAIS DE PROJETO

01. Olympia, Estúdio Herreros, Holanda, 2009 Além do encaixe à massa construída adjacente e terraço-jardim elevado, essa proposta se relaciona, ainda, ao Objeto Resistência na media em que seu térreo se mostra permeável para o interior de quadra de desenho racional. Mesmo que no lote da Augusta não haja a característica de se adentrar à quadra, o desejo de integração e vivência com os arredores, fazse conceitualmente presente.

237


Imagens: 2 a 6. Olympia, Estudio Herreros, Holanda, 2009

238


02. BMW Guggenheim Lab, Atelier Bow-Wow, Nova York, 2011 O projeto consiste em uma estrutra metálica modular de fácil montagem inserida entre construções. A arquitetura proposta se configura como uma lâmamina de circulação, uma vez que liga duas ruas opostas, e permanência, dada

a

intenção

programática

variada.

Acoplada a ela, uma série de equipamentos técnicos reforçam a lógica de flexibilidade e do suporte a ações urbanas do cotidianoprojeção de informação, filmes, palestras, a travessia da quadra - ou a uma conversa, aproveitando-se

a

sombra

do

239

conjunto.


240


Imagens: 7 a 9, BMW Guggenheim Lab, Atelier Bow-Wow, Nova York, 2011

03. La Lira, RCR, Espanha, 2011 Também

na

tentativa

de

resgate

às

referências históricas, o estúdio RCR interfere precisamente para que a memória do antigo teatro seja preservada, porém sem qualquer tipo de mimetismo do que antes lá havia. Pela construção de um invólucro, espécie de porticado, atinge-se tal recuperação, que se dá mais pela ausência do que pela presença de elementos arquitetônicos. Criase assim, uma praça que acolhe apropriações diversas, dentre elas, peças de teatro.

241


Imagens: 10 a 12, La Lira, RCR, Espanha, 2011

242


INVADIR

2. BUCCI, Ângelo, 2010

“Invadir, nesse caso, é o oposto de transpor. Transpor é evitar, negar; em oposição, invadir é fundir, concordar. A ideia é que os vinte metros verticais, que serviriam parar segregar a cidade formal e informal, sejam, agora, vinte metros de espessura de uma única cidade.”²

Interpretando-se a referida citação, então, além da força do térreo, o edifício proposto passaria a não só apresentar qualidade na escala do pedestre, mas também na dimensão vertical. O térreo, com suas atividades, invadiria o espaço entre, preenchendo-o com novas significações.

243


MUTUALISMO

3. Portal Só Biologia

Entende-se o mutualismo como a associação obrigatória entre indivíduos, em que ambos se beneficiam. Mais precisamente, é “uma das relações

harmônicas

interespecíficas

(entre

indivíduos de espécie diferentes), na qual ambos se beneficiam. A relação entre os seres é íntima e duradoura. Esta relação é chamada por alguns autores de simbiose obrigatória, pois uma espécie não poderia sobreviver independente da outra.”³ Considerando-se tal conceito, podemos dizer que a concepção do Objeto Resistência não existiria Imagem: 13. Exemplo de relação de mutualismo entre jacaré e pássaro palito.

caso os edifícios do entorno não se fizessem ali presentes, eles são parte fundamental do partido da proposta. Todavia, eles ganham também sentido outro ao se levar para a área novo uso, seja ele no térreo rearticulado com a rua, seja ele no terraço elevado, que une as três construções. 244


POÉTICAS INATAS AO TERRENO

PREENCHIMENTO A pré-existência possui gabarito baixo frente às construções que a tangenciam, o que nos faz refletir sobre o uso desses vazios espaciais criados entre edifícios. Eles se apresentam como possibilidades de inserção a uma nova lógica de pensar projeto, contrária a padrões pré-estabelecidos.

Imagem: 14. Alusão a pensamentos que se diferenciam de um padrão previamente determinado.



CONTINUIDADE Parte-se da premissa de que a Augusta se faz no térreo, para justificar a concepção do projeto em rampas. Elas, por suas inclinações pouco acentuadas, se configuram como continuidade do passeio público e favorencem a entrada na Galeria Alternativa.

Imagem: 15. Referência a continuidade da cultura urbana tão presente na Rua Augusta.



COMPLEMENTARIEDADE O programa acontece como crítica às novas construções realizadas pelo mercado imobiliário, com seus muros e guaritas. Assim, condensando forças da região e desejos coletivos locais hegemônicos, propõe-se a Galeria de Arte Alternativa com seus ateliês a meios-níveis abertos ao público passante; percursos conformadores de espaço e de continuidade urbana. Em seu topo, um terraço, que sugere uma nova apropriação do espaço.

Imagem: 16. Remete-se a identidade local, para se reforçar a proposta resistente à especulação imobiliária e complementar ao que se espera para a região.



7.3 PROCESSO EM HIPÓTESES PRÁTICAS

251


252


253






258




CONSIDERAÇÕES GERAIS

Em uma sociedade como a nossa, estamos condicionados a buscar repostas a questões feitas a nós, a resolvermos problemas de prontidão. Este trabalho é uma tentativa de demonstrar a importância do processo em construir o ambiente e formar territórios habitáveis. A cidade se realiza mediante processos complexos e agentes em disputa e cooperação e as apropriações imperam sobre as lógicas assertivas e definitivas de projeto. Assim, buscou-se -por meio de experiências e hipóteses-, valorizar as possibilidades de uso, a capacidade criativa e de reinvenção das pessoas, em detrimento do desenho e projetos “de autor”, sem vínculos com os temas urbanos. Concebidas em vazios residuais, em lotes que de alguma forma são desinteressantes para as práticas mercadológicas, tais arquiteturas incitam uma lógica própria. Propôs-se, portanto, construções que, embora possam em seu conceito servir de partido para outras intervenções pontuais, são concebidas para áreas específicas de atuação. Só podem ser entendidas no contexto da sua inserção, já que são respostas a necessidades e dinâmicas do contexto para o qual foram pensadas. O trabalho perpassa do percurso ao rastro, ressaltando-se a força das ações pontuais disseminadas no espaço urbano. Buscou-se maior aproximação da arte à arquitetura, ao se resgatar a poesia dos pequenos gestos cotidianos inatos à realidade de uma cidade conformada pelos anseios e expressões coletivas. 261


BIBLIOGRAFIA :

Revista Contravento. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 2015. Revista Contraste. São Paulo: LPG, FAU-Usp, 2013. BOGEA, Marta. Cidade Errante. São Paulo: Senac, 2009. BUCCI, Ângelo. São Paulo, Razões de arquitetura, da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo: Romano Guerra, 2010. CANEVACCI, Massimo. A Cidade Polifônica. São Paulo: Studio Nobel, 1997. CARERI, Francisco. Walkscapes, o caminhar como prática estética. São Paulo: Studio Nobel, 1997. GUATELLI, Igor. Arquitetura dos entre-lugares. São Paulo: Senac, 2012. HARVEY, David. Cidades Rebeldes: do direito a cidade à revolução urbana. São Paulo. Martins Fontes, 2014. HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória. São Paulo, Aeroplano, 2004.


KOOLHAAS, Rem. Três textos sobre a cidade. São Paulo: Gustavo Gilli, 2013 OLIVEIRA, Olívia de. Lina Bo Bardi: sutis substâncias da arquitetura. São Paulo: Romano Guerra & Gustavo Gilli, 2006 ROCHA, Paulo Mendes da. Maquetes de papel. São Paulo: Cosac Naify, 2007 ROLNIK, Sueli. In The Experimental Exercise of Freedom: Lygia Clark, Gego, Mathias Goeritz, Hélio Oiticica and Mira Schendel. Los Angeles: The Museum of Contemporary Art,1999. RUBANO, Lizete Maria. Hipóteses do Real – Concursos de Arquitetura e Urbanismo – 1971-2011 – Vigliecca & Associados. São Paulo: Vigliecca&Associados, 2013.


RELAÇÃO DE IMAGENS:

CAP 01 Imagem 01. p.19. Refugiados Sírios: nomadismo pela sobrevivência em 2015. fonte: www.publico.pt, acesso outubro,2015 Imagem 02. p.23. Menir de Bulhoa Reguengos fonte:commons.wikimedia.org, acesso março 2015 Imagem 03. p.23, Estátua representativa do Deus egípcio Ká. fonte: www.originofnations.org, acesso março 2015 Imagem 04. p.27, GAVARNI, Paul, Le Flâneur, 1842. fonte: www.originofnations.org, acesso maio 2015 Imagem 05. p.30, FERRARI, Leon, Bairro, 1980, Alusão à polifonia das Cidades, fonte: www.leonferrari.com.ar/, acesso novembro 2015 Imagem 06 p.34, DUCHAMP, Marcel,Fountain, 1917 fonte: httpwww.mixite.catwp-contentuploadsdada, acesso maio 2015 Imagem 07 p.34, Caminhadas Dadaístas, 1921 fonte: httpgreynotgrey.comblogwp, acesso maio 2015


Imagem 08 p.36, AlusĂŁo Ă caminhada surrealista fonte: www.buzzfeed.com, acesso maio, 2015 Imagem 10. p.43. SMITHSON, Robert, From Point to Salt Lake, 1970, fonte:http://www.robertsmithson.com/introduction/introduction.htm, acesso outubro,2015 Imagem 11. p.43. LONG, Richard, A Line Made by Walking, 1967 fonte: http://www.richardlong.org/acesso setembro,2015 Imagem 12 p.44. FULTON, Hamish, From Point to Walking, 1973 fonte: www.hamish-fulton.com/.com, acesso setembro, 2015 CAP 02 Imagem 1. p.50. CLARK,Lygia, Caminhando, 1964 fonte: arteeculturagrega.blogspot.com, acesso junho, 2015 Imagem 2. p.52. CLARK,Lygia, Caminhando, 1964 fonte: www.revistacliche.com.br, acesso junho, 2015


Imagem 03. p.57. Concurso Palácio dos Sovietes, proposta de Le Corbusier, 1931. fonte: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/concursos marcantesdo-seculo-xx, acesso outubro, 2015 Imagem 04. p.57. Concurso Palácio dos Sovietes, proposta de Auguste Perret, 1931. fonte: https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/concursos marcantesdo-seculo-xx, acesso outubro, 2015 Imagem 05. p.59. TSCHUMI, Bernard, Paque La Villete, 1974. Exemplo de vazios entre potencializadores de eventos. fonte: architetturapovera.wordpress.com, acesso outubro,2015 Imagem 06. p.63. WENDERS, Win, Ferris Wheel, Armenia, 2008. Alusão ao ‘vazio preenchido’ pelo funcionalismo. fonte: httpsdprbcn.wordpress.com20110414wim-wenders-photos, acesso, novembro 2015 Imagem 07. p.64. EYCK, Aldo Van, Dijkstraat Playground, Holanda, 1947 fonte: www.play-scapes.com, acesso outubro, 2015


CAP 03 Imagens 01 e 02 p.70. Ilustrações por Kindred Studio. Alusões ao poder do mercado sobre as questões da cidade e ao ‘profissionalismo asséptico’, respectivamente. fonte: http://www.kindredstudio.net, acesso agosto, 2015 Imagem 03. p.71. Pichação em frente ao escritório de arquitetura MMBB, cujo um dos arquitetos é Fenando Mello Franco, também Secretário de Desenvolvimento Urbano de São Paulo. fonte: http40.media.tumblrcomef, acesso setembro, 2015 Imagem 04 p.77. Composição fotográfica referente a paisagem urbana de antes e depois da demolição do Edifíco São Vito. fonte: httpgarapa.orgportfoliomorar, acesso outubro,2015 Imagem 05. p.80. STEINBERG, Saul, Untitled, 1948. Referência ao desenho do arquiteto como rastro. fonte: http//www.saulsteinbergfoundation.orggallerygalleryuntitled1948 novembro 2015


Imagem 06. p.81. A imagem remete à apropriação que vai além do projeto. O que foi feito para delimitar, agora proporciona prazer. fonte: httpwww.microact.org, acesso outubro, 2015 CAP 4 Imagem 01 p.99. Levantamento histórico fotográfico. fonte: www.google.com, acesso março, 2015 Imagem 02 p.100. Vista dos terrenos. fonte: www.google.com, acesso março, 2015 Imagem 03 p.102. CIT República. fonte: www.google.com, acesso maio, 2015 Imagem 04 p.105. Análise de texturas e cores. fonte: www.google.com, acesso maio, 2015 Imagem 05. p 115.Exemplo clássico de protocooperação entre peixe palhaço e anêmona do mar. fonte: www.sóbiologia.com, acesso setembro, 2015


CAP 5 Imagens 01 a 05 p.162. Concurso Market Square Cover, Labory & Shippan, Marrocos, 2012. fonte: www.ac-ca, acesso agosto, 2015 Imagens 06 a 09 p.163. Sanya Lake Park SuperMarket, NL Architects, China, 2013. fonte: www.archdaily, acesso agosto, 2015 Imagem 10 a 13 p.166. The Why Factory, MVRDV, Holanda, 2009. fonte: http://www.mvrdv.nl/en/, acesso agosto, 2015 Imagem 14 p.168. Reprodução por Fragmentação. Reprodução Estrelado-Mar fonte: www.sóbiologia, acesso setembro, 2015 Imagem 15 p.168. Reprodução por Fragmentação. Reprodução Planária. fonte: www.sóbiologia, acesso setembro, 2015


CAP 6 Imagens 01 a 04 p.200. Prometeo, Renzo Piano Building Workshop, Itália,1983-1984. fonte: www.rpwb.com, acesso setembro, 2015 Imagens 05 a 07 p.201. Teatro Oficina, Lina Bo Bardi, Brasil, 1980. fonte: www.archdaily, acesso agosto, 2015 Imagem 08 a 10 p.203. Zollvenrein, OMA, Alemanha, 2010. fonte: http://oma.eu/office, acesso outubro, 2015 Imagem 11 p.206. Reprodução por Polinização. Polinização pelo vento. fonte: www.sóbiologia, acesso setembro, 2015 Imagem 15 p.168. Reprodução por Fragmentação. Reprodução Planária. fonte: www.sóbiologia, acesso setembro, 2015 CAP 7 Imagem 01 p.236. Iniciativa da Loja El Cabritón, que abre espaço para grafiteiros trabalharem na fachada do estabelecimento. A ideia é que todo


mês seja um artista diferente fonte: http://www.elcabriton.com, acesso setembro, 2015 Imagens 02 a 06 p.239. Olympia, Estudio Herreros, Holanda, 2009. fonte: http://estudioherreros.com, acesso julho, 2015 Imagens 07 a 09 p.240. BMW Guggenheim Lab, Atelier Bow-Wow, Nova York, 2011. fonte: http://www.bow-wow.jp/, acesso maio, 2015 Imagens 10 a 12 p.242. La Lira, RCR, Espanha, 2011. fonte: http://www.archdaily.com.br//, acesso outubro, 2015 Imagem 13 p.244. Exemplo de relação de mutualismo entre jacaré e pássaro palito. fonte: http://www.sobiologia.com.br//, acesso setembro, 2015 Imagem 14 p.246. Alusão a pensamentos que se diferenciam de um padrão previamente determinado. fonte: http://www.flickr.com.br//, acesso agosto, 2015


Imagem 15 p.247. Referência a continuidade da cultura urbana tão presente na Rua Augusta.. fonte: http://www.flickr.com.br//, acesso agosto, 2015

Imagem 16 p.249. Remete-se a identidade local, para se reforçar a proposta resistente à especulação imobiliária e complementar ao que se espera para a região. fonte: https://saopaulonaoquersercinza.wordpress.com, acesso, novembro, 2015




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