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AI QUE SAUDADE DE TUDO

"Mas tudo o quê? Da minha família, dos meus amigos, das tias, dos padrinhos, dos vizinhos..." E de toda essa rede de apoio que eu deixei para trás...Já parou para pensar

sobre isso? Que além de toda essa fase de adaptação, ainda nos sentimos muito só por não ter com quem contar, mesmo em uma emergência? Ainda mais para descansar e se recuperar de uma baita enxaqueca. Historicamente falando, sempre precisamos e tivemos pessoas para nos ajudar. Vocês se lembram que em um passado não muito distante, o ser humano vivia em aldeias, vilarejos e pequenas comunidades? Há até um provérbio africano que diz "é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança". E a cada dia que passa estamos mais distantes disso. Com o passar do tempo, as famílias estão se movendo para cidades, estados e países diferentes dos seus de origem em busca de novas possibilidades e empregos. Isso afasta mais as pessoas de conviver com conhecidos e familiares. Esse é um movimento natural da nossa sociedade atual. Porém, também traz algumas consequências. A solidão materna e a falta de rede de apoio amorosa e empática são algumas delas. Quantas vezes nos vemos tendo que equilibrar vários pratinhos, com mil coisas para fazer e completamente só? Quantas vezes gostaríamos de apenas um "dá ele aqui no meu colo e termina de comer, ou “pode terminar seu relatório que eu faço um lanche para eles”. Quando eu disse que historicamente viemos de lugares sempre rodeado de pessoas, isso nos traz duas informações bem importantes: uma é sobre sempre ter alguém para socorrer. E a outra é que estar com outros bem perto também nos deixa bem suscetíveis a opiniões, sugestões e até intromissões em nosso papel de mãe e cuidadora. Como tudo na vida, tem dois lados, estar juntos com quem amamos e estarmos acostumados a ter por perto. Talvez esquecemos disso, mas lembramos muito de não ter com quem contar. Não é fácil começar uma nova vida em um lugar diferente. Pessoas, ambiente, costumes, cultura, trânsito, escola, emprego... no caso de um país diferente: língua, leis, hábitos, costumes, valores, organização. Tudo isso do lado de fora e do lado de dentro, enquanto isso, para lidar com essa demanda externa, precisamos utilizar: abdicação, motivação, resiliência, esperança, força de vontade, jogo de cintura, flexibilidade, comunicação, inteligência emocional, desprendimento... Habilidades essas que não desenvolvemos na educação que tivemos. E, possivelmente, não tivemos tempo para desenvolver na correria do dia a dia. Nada fácil né minha gente? Há quem diga até que mudar para fora do país não é para qualquer um, e eu afirmo: não mesmo! Todo mundo pode... mas nem todo mundo se dispõe a se desdobrar em mil para se adaptar. Essa adaptação inclui a fase das novidades, a pausa para o cansaço, oração, o choro velado, a gratidão pelas portas que se abrem, pausa para agradecer, as comparações- para melhor e para pior, o pensar em desistir, mais oração, a força para recomeçar, orações de novo... quase não há estabilidade emocional nos primeiros meses ou anos para alguns. Depois de um tempo, tudo se ajeita... e muito aprendizado acontece para aqueles que se dispõe a enfrentar. A mudança para outro país nos traz muita esperança no futuro, muita solidão no presente e uma baita saudade de momentos do passado. Talvez seja de um colo... talvez de um afago... talvez de um bolo quentinho... o que sei é que viver sozinha em outro país, me deixa sempre com uma saudade de alguma coisa lá de onde vim!

Rejane Villas Boas

@rejanevb_psico

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