> Pluma
Number One
Fluorocarbon HG & Lady Bug!
Pescar carpas à pluma é talvez o maior desafio que um pescador de iscos artificiais pode experimentar em águas interiores. Mas o desafio não é só para o pescador, é também para os materiais! TTexto e Imagens: Gomes Torres
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o contrário do que possa parecer, as carpas atacam iscos artificiais, em particular quando se encontram em condições de sobrepopulação – bastante comum, ou os grandes exemplares que precisam de grande quantidade de proteínas. Ainda assim, para uma carpa atacar um isco artificial é necessário que estejam reunidas algumas condições e sejam cumpridos alguns requisitos.
Condições naturais
As condições naturais elementares para que possamos pescar carpas à pluma são fundamentalmente duas. Estes dois factores não conseguimos controlar e são intrínsecos a cada massa de água e do comportamento específico da sua população de carpas. A primeira condição é que as carpas dessa massa de água tenham um comportamento que as leve a pro-
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curar alimento junto às margens e sejam por isso possíveis de detectar visualmente pelo pescador. Ou seja, numa suave aproximação à água e em deslocação cuidada ao longo desta, deveremos conseguir encontrar carpas a procurar alimento junto às margens, em muito baixa profundidade, em algumas ocasiões até com o lombo fora de água. Outras vezes, podem ser vistas em cardumes a alimentar-se à superfície, com a boca fora de água, absorvendo uma fina película composta por insectos mortos, ou restos provenientes de eclosões destes, estando também ao alcance do nosso lançamento. Estas são as duas formas típicas em que as carpas estão a alimentar-se e se estiverem ao alcance dum lançamento, podem ser pescadas à pluma. A segunda condição preferencial é que as margens sejam de fácil
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acesso, com inclinações suaves, sem grandes obstáculos e sem árvores próximas que atrapalhem o lançamento. Desta forma podemos com mais facilidade concentrarmonos na aproximação ao peixe e no lançamento, que deverá ser sempre o mais discreto possível.
Condições comportamentais
Entre os preceitos que podemos controlar, encontra-se em lugar de destaque o comportamento e a atitude do pescador. Quando as carpas se encontram em locais de baixa profundidade, estão extremamente atentas e desconfiadas, pelo que qualquer ruído ou gesto brusco as põe imediatamente em fuga, assustando também quaisquer outros peixes das imediações. Qualquer ruído produzido durante a deslocação é facilmente transmitido ao solo e por sua vez à água, pondo em fuga
descontrolada qualquer peixe que se encontre próximo. Por isso, os movimentos pelas margens devem ser extremamente cuidados, como os de um felino! Devemos tentar utilizar calçado que absorva o impacto da deslocação, bem como roupas discretas e movimentos suaves na caminhada. Muitas vezes, basta a cauda de rato a viajar no ar,
para as por em debandada, com as vibrações que produz! Os iscos são também importantes e constituídos por dois grupos, dependendo das duas formas atrás referidas de alimentação: Quando procuram comida no fundo junto à margem, qualquer imitação de uma larva produz resultados, em-
bora diferentes de local para local. Regularmente procuram larvas de insectos aquáticos, sobretudo larvas de libelinha. No entanto, como oportunistas que são, não recusam qualquer outro tipo de isco, mesmo que não imite nada, sendo uma pluma atractiva e generalista, uma das mais efectivas que tenho na caixa. As imitações de pequenos lagostins são também particularmente efectivas, em especial para as grandes carpas. Em locais onde se pratica bastante a pesca com asticot, as imitações desta larva, com a vantagem de ser uma montagem bastante fácil de realizar, dão sempre bons resultados também. Quando se encontram à superfície, com as bocas quase fora de água, recorremos às moscas secas e/ou flutuantes. Imitações de mosquitos em anzóis pequenos (16 a 20), escaravelhos e formigas de asa, são as mais efectivas quando se alimentam nestas condições. O lançamento é outro factor fundamental para o sucesso desta pesca. Ao contrário do que se pensa quando começamos a pescar à pluma, é muito mais importante lançar bem do que lançar longe. Lançar bem significa não embaraçar a linha no ar ou tocar com o terminal na
superfície quando fazemos falsos lançamentos e fundamentalmente, ter precisão na colocação do isco na água. Este aspecto é extremamente importante porque se não for colocado muito próximo da carpa, não surte efeito, porque o peixe não o vê. O ideal é lançar para lá da nossa potencial presa, sem que a cauda de rato a assuste, e depois com um puxão rápido mas discreto, colocar o isco no local para onde a carpa se está a deslocar. Ao contrário do que se possa pensar, a carpa não é um peixe que tenha uma visão com muito alcance, porque como sabemos dá mais importância aos barbilhos tácteis e às vibrações, para detectar o alimento, do que à visão. Obviamente, se não tivermos precisão no lançamento não conseguimos que a carpa se cruze com o isco. Por outro lado, comprometemos todo o esforço da aproximação, se a cauda de rato ou até o isco cair mesmo em cima do peixe … Daí que o material e em especial a cana e o tippet sejam extremamente importantes, devendo este último possuir características muito especiais para este tipo de pesca.
Materiais em teste
Uma das canas de pluma utilizadas
foi a Lady Bug de 9” e linha # 7/8 da VEGA. O comportamento desta cana criava-nos algumas expectativas, porque devido às linhas recomendadas (#7/8), poderia ser demasiado poderosa e deselegante para os lançamentos mais discretos, o que quer dizer plumas mais leves, como os mosquitos. Apesar disso, equipada com um carreto cheio com linha DT7F (duplo fuso, tamanho 7 e flutuante) demonstrou uma grande facilidade em colocar a linha no ar, permitindo lançamentos com elegância e sem esforço. Nas lutas com as carpas evidenciou muita flexibilidade, mas sem deixar que o pescador perca o controlo do peixe. Refira-se que a flexibilidade e a acção parabólica são características das canas de pluma, sendo fundamental quando se usam diâmetros finos, como é o caso, impedindo a ruptura das linhas aquando dos arranques intempestivos destes ciprinídeos. Se a cana é determinante, o tippet é fundamental. Este pedaço de fio é o troço mais fino, e por isso teoricamente menos resistente de toda a linha, devendo ser de uma qualidade a toda a prova em
Devemos tentar utilizar calçado que absorva o impacto da deslocação, bem como roupas discretas e movimentos suaves na caminhada. termos de resistência à tracção e à abrasão. No tippet do terminal da linha foi utilizado o fio Number One Fluorocarbon HG na medida de 0,16mm. No final da jornada constatámos que esta excepcional linha da VEGA foi determinante para o sucesso e a diversão que conseguimos, porque não se verificaram surpresas depois das ferragens. Resistiu aos arranques brutais das carpas, roçou em todo o género de obstáculos porque os peixes estão em águas muito baixas com vegetação e pedras, como contribui também para não assustar as carpas que, como vimos nestas condições, estão em estado de alerta máximo. Neste campo a invisibilidade virtual do fluorocarbono mostrou-se decisiva, não denunciando a sua presença, quando se aproximavam da pluma para a verificar antes de a aspirar. Ficamos por isso com uma óptima
impressão da cana de pluma Lady Bug, que se mostrou bastante polivalente e precisa nos lançamentos, bem como com o fio Number One Fluorocarbon HG. Este último foi, sem dúvida, determinante para a concretização das capturas, graças às suas características de invisibilidade antes e a resistência a todos os níveis depois. É caso para dizer que o Number One começa a mostrar o que vale, ainda antes da captura! Por outro lado, ficamos com a certeza que estamos a lidar com um fio que pode ter inúmeras aplicações em todos os tipos de modalidade, quer em água doce, quer no mar, onde seja determinante a sua discrição e a resistência em ambientes hostis para as nossas linhas de pesca. Tal como a cana Lady Bug, que para além das carpas, é uma excelente cana para os achigãs ou para os robalos desde que equipada com linhas e carretos adequados a cada missão. jP
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