Acao e Reacao - Loungetude46

Page 1


Loungetude46 Todos os direitos desta edição reservados

L46 PRODUÇÕES R. Afonso de Freitas, 367 - 04006-051 Paraíso, São Paulo Tel: (11) 5082-2657 www.loungetude46.com Coordenação Editorial

Paulo Papaleo

Impressão

Prol Editora Gráfica Projeto Gráfico

Apoio Cultural

Paulo Papaleo e Rafael Gaiani

Faculdade Belas Artes de São Paulo - Febasp

Ilustrações

Impresso no Brasil Printed in Brazil

Rafael Gaiani Fotografias

Paulo Papaleo Produção Musical

Remi Chatain Fugurino

Mariana Degani Produção Executiva

Manoela Wright

Loungetude46 Ação e Reação Editora Mundo Pensante , 2010.

Índices para catálogo sistemático: 1. Ação e Reação : Ilustração, Música, Poesia, Fotografia



PREFÁCIO Com enorme satisfação nós, do Loungetude46, apresentamos nosso segundo álbum, o CD-livro “Ação e Reação”. De matéria-prima genuinamente paulistana, este trabalho é composto por músicas, fotos, ilustrações, poemas e arranjos, todos de nossa autoria. Todas as ideias e conceitos contidos neste trabalho são fruto de muita reflexão e de questionamentos discutidos pelos integrantes do coletivo. Ao decidirmos produzir nosso segundo álbum, sentimos que o tradicional CD seria um suporte restrito para nosso trabalho. Além de músicos, temos integrantes na área da ilustração, da pintura, da fotografia, da literatura e da musicoterapia. É desse conjunto de modalidades artísticas que se nutre o grupo. Daí surgiu a ideia de fazer um CD-livro. Depois de definido o suporte, um dos primeiros desafios era encontrar um nome para o álbum. Primeiro, analisamos faixa por faixa, em busca de uma possível candidata para nomear a obra. Não nos satisfazendo com as opções, descartamos essa hipótese. Fizemos então o oposto: dar um nome ao disco e, com esse nome, compor e gravar uma das faixas: “Ação e Reação”. Mas por que “Ação e Reação”? As respostas são muitas e por vezes insuficientes... Viver em São Paulo é confrontar-se o tempo todo com outras


criaturas, tão confusas e complexas quanto cada um de nós. Saber lidar com as diferenças torna-se indispensável para quem vive em uma megalópole. Essa relação ação/reação é, no fundo, o que rege o comportamento social da cidade e permite, mesmo com todas as contradições, o convívio em sociedade. Por outro lado, sabemos que a publicação desse trabalho é uma ação que pretende causar alguma reação nos ouvintes/leitores. Estamos jogando algo no mundo, e agora esperamos – mas não parados – que isso traga boas conseqüências. Desejamos que essa meta seja cumprida, de preferência que a obra provoque no público as reflexões por nós propostas e que produza também boas vibrações. Contudo, o que melhor explica a escolha desse nome, é o ambiente democrático que um trabalho artístico coletivo como esse cria e do qual depende para ser desenvolvido. Em cada ensaio, encontro ou discussão, pessoas diferentes, trazendo bagagens e pontos de vistas distintos precisavam dar vida a uma obra coletiva. Mesmo vivendo todas em São Paulo e sendo esta megalópole a maior referência do grupo, ninguém “enxerga” a mesma cidade. Cada um carrega aquilo que vivenciou, sentiu e absorveu durante sua jornada. “Ação e Reação” é o ponto desta cidade subjetiva que cada um do grupo carrega dentro de si, uma praça ou esquina “telepática” de discussão, onde todos se encontraram, para a criação e produção deste trabalho. Boa audição e boa leitura!


1 MASSA OU POVO


Massa é tudo o que pode ser moldado pelas mãos, povo é o inevitável que sempre tem razão. O povo vê graça, a massa ilusão. A massa está para o “você” assim como o povo está para o “si mesmo”. E vocês, quem são? A massa ou o povo?


2 EXTRA Extraditaram o Abadia, no Brasil expirou sua estadia, o Zé esticou suas pernas na Embaixada com mais quarenta na jogada. O Chávez logo estatizou seu barril, deixando o pobre little George a ver navios... Quem é que manda nessa selva? Estrago num trago de cachaça deu fama ao político de estandarte; escândalos sóbrios pairando nos tribunais, todos querem sua parte. E o tapa-sexo da mulata na Avenida escapuliu e a nota dez foi recebida... Manchete nos jornais!




Um babaca tropeรงou no fio e desligou Itaipu, mais uma vez todo o povo do Brasil teve que tomar o seu rumo. E os mendigos que jรก nรฃo dormiam mais por quatro horas puderam dormir em paz...

Quando a mรกquina parou.


3 QUAL É?

Qual é a sua vibração? Qual é a sua? Sentindo o som seu corpo vai entrando nessa vibração. Mexa os braços, sinta os átomos numa natural adaptação. Dance! The way you look is a mistery. Dance! Shake everything you’ve got. Dance! O Rebolation. Já tá dentro? Preparado “pruma” nova sensação? Um... dois... três... quatro, cinco, seis, sete, oito, nove... DEZ! Qual é a sua vibração? Qual é a sua?



Não importa agora, solta o corpo sem demora, não dê bola à sua volta, sai da rota, vem na nossa vibração! Chama os “bródi”, se sacode, mais um gole, olhe e cole, não deu mole, bole um papo, pra que role nova curtição! Não insista à beça, saia dessa bem depressa, peça um novo pulso pra dançar na nova pega, quero ver quem se entrega ao som!



4 GALINHAS NO OUTONO


Vejo o sol nascer de novo. piscando, com mal contato. Sinto saltar mais outro ovo direto para o seu prato, onde não posso chocar meu filho estalado. Enquanto preparo seu café você me quer para o jantar, dispensa guardanapo ou talher, cuidado pra não se engasgar com essa canja. Somos apenas as galinhas no outono esperando pelo verão.


Vejo a fila de formando, gerando certo alarde. Todas elas seguem caminhando, buscando a liberdade. Mas eu sei o que virá depois daquela porta.

Já está chegando a minha vez, só restam três e aí sou eu, mas eu não isento o freguês por não ter sido quem torceu meu pescoço...





5

AÇÃO E REAÇÃO

Nascer, morrer. Acelerar, frear Cair, levantar. .

Plantar, colher. Inspirar, expirar, Ouvir música, dançar!


Nascer, colher Acelerar, dançar. Cair, expirar.

Plantar, morrer. Inspirar, levantar Ouvir mĂşsica, cantar!


Se existe luz no céu é porque a luz está na Terra;

se existe outro céu é porque somos nós os homens.

se existe Deus no céu é porque Deus está na Terra;


Lancei meu canto ao Universo e o Universo cantou com a minha voz.


6 SONETO-PARÁGRAFO




Olhem pra vocês! Estão todos banhados em óleo, jogaram-se dentro da máquina; arranhões nos braços e pernas e ninguém carrega isqueiro, mas todos fumam como loucos ao que as árvores balançam expulsando pássaros e derramando frutos. Se a brisa é o inverso da ventania e o ar que respiramos nos pertence, por que a expiração sempre nos vence se não existe mente fraca nem vazia? Se apenas uma perna nos segura e alçar voo é só o sonho de uma pedra, imaginem seu retorno em linda queda, inflando, delicada e prematura. Conheço a natureza do concreto, dos micróbios e das placas de trânsito, o que difere o ser humano de um inseto. Também conheço o outro plano, dos automóveis com rabo de peixe, o dia que amanhece por engano. Mas a máquina não para, trabalha cuspindo a honra dos homens. Não existe mão-de-obra, só o que há é matéria-prima. O aço cobre a nudez e toda gravata é aparafusada diretamente no pescoço. Vistam suas máscaras! Sejam bem-vindos ao mundo gasoso, onde se come poeira e se bebe petróleo.


7 PETRÓLEO


A carne tá embalada com petróleo; cenoura é embalada com petróleo; a rua tá forrada de petróleo; a minha roupa é puro petróleo; o óleo é embalado com petróleo; petróleo é embalado com petróleo; e eu sei que um dia vou virar... . . . . . . .

Petróleo!


8 BRASILEIRA


Meu suor congela quando sinto frio. Minha farda é amarela, minha alma é de donzela, meu cenário é o Brasil.

Meu querer desperta quando quero mais. Deixo a porta aberta, a visita é certa, assim vivo em paz.

Meus cabelos longos não te deixam ver o contorno dos meus ombros, onde mandarins e pombos pousam sem querer.


Minha voz ecoa em qualquer lugar. Garras de leoa se a presa for boa, se não deixe estar.

Meu corpo balança, gira sem parar. Num passo de dança até onde se alcança começo a voar.

Meus cabelos longos não te deixam ver o contorno dos meus ombros, onde mandarins e pombos pousam sem querer.



9 O ANÚNCIO


Atenção! Senhoras e senhores pensantes; jovens perdidos, idosos e gestantes; prostitutas, viciados e retirantes; donos de bar, mendigos e estudantes. Atenção caros artistas, poetas mortos, magos e alquimistas; cineastas, escritores e jornalistas; músicos, pintores, atores e equilibristas. Atenção! Muita Atenção! Por mais que esteja escuro não quer dizer que seja noite.


10 ECLIPSE


Anuncio Nova Era; já, porém, anunciada, pois o profeta, distraído, anotou a data errada. Muita festa, muito vinho, embriaguez sagrada, aparição divina: Luz amarelada.

Respirar e encher de nuvens os pulmões; olhar para cima e encontrar o centro da chuva; tocar a terra, perder o ego e colher novas percepções. Por mais que esteja escuro não quer dizer que seja noite.

Calar-se perante a Luz é como escurecer por dentro; na escuridão reside a voz, que cantando confunde a dor.

Um copo de café sobre um poema de Leminski é o sol que ilumina um homem com uma dor.

Mas se iluminada for revelar-se-á lamento. Basta abrir a boca e engolir uma manhã.

Por mais que esteja escuro não quer dizer que seja noite. Por mais que esteja escuro não quer dizer que seja noite.



Por mais que esteja escuro n達o quer dizer que seja noite.


Músicas 4. Galinhas no Outono (5:39) 1. Massa ou Povo (0:31)

(R. Quartier/ M. Degani e T. Bandeira)

(T. Bandeira) Thiago Bandeira: Voz Loungetude46: Ohm

2. Extra (3:33) (R. Chatain/ A. Moreira, A. Cavalcante, M. Degani e T. Bandeira) Adolfo Moreira - Baixo elétrico Bruno Duarte - Surdo, cuíca, apito, caxixi, ganzá, bongô, congas, timbales, campana, frigideira, garrafas, jornal, colher e ralador Mariana Degani - Voz Paulo Papaleo - Bateria Rafael Montorfano - Piano Remi Chatain - Flauta transversal e saxofones alto e barítono Adair Vinícius - Trombone de vara

3. Qual é? (7:00)

Adolfo Moreira- Baixo elétrico Bruno Duarte - Vibrafone, bongô, congas, timbales, campana, clave, guiro, castanhola, bloquinho, karkaboo, reco-reco, matraca, leguero, zabumba e djembê Mariana Degani - Voz Paulo Papaleo - Bateria Rafael Montorfano - Piano Remi Chatain - Voz, assobio, flauta transversal e saxofones alto e barítono Adair Vinicius: Trombone de vara

5. Ação e Reação (8:06) (A. Moreira e R. Chatain/ M. Degani e T. Bandeira ) Adolfo Moreira: Baixo elétrico Bruno Duarte: Vibrafone, bumbo leguero, chapa de aço, zabumba e djembê Mariana Degani: Voz Paulo Papaleo: Bateria Rafael “Chicão” Montorfano: Piano elétrico Remi Chatain: Vioão e flauta transversal

(R. Montorfano) Adolfo Moreira: Baixo elétrico e coro Bruno Duarte: Vibratone, reco-reco, triângulo, bongô, meialua, caxixi, cowbell, agogô, djembê, bugigangas e coro Caio Echem: Guitarra Mariana Degani: Voz e coro Paulo Papaleo: Bateria e coro Rafael “Chicão” Montorfano: Piano elétrico e coro Remi Chatain: Saxofone alto e barítono, sonoplastia e coro Adair Vinicius: Trombone de vara Romain Quartier: Trompete e flugelhorn

6. Soneto-parágrafo (1:30) (T. Bandeira) Bruno Duarte: Pá, reco-reco, lata, furadeira, tubo de ferro, galão de água, fita crepe, tubo de papelão e matraca Thiago Bandeira: Voz


7. Petróleo (4:17) (R. Chatain) Adolfo Moreira: Baixo elétrico Bruno Duarte: Pá, reco-reco, lata, furadeira, tubo de ferro, galão de água, fita crepe, tubo de papelão e matraca Caio Echem: Guitarra Eduardo Bonuzzi: Efeitos Mariana Degani: Voz e coro Paulo Papaleo: Bateria Madjid: Poema persa Rafael “Chicão” Montorfano: Piano elétrico Remi Chatain: Saxofone alto e barítono e efeitos Adair Vinicius: Trombone de vara Eduardo Bonuzzi: Efeitos Romain Quartier: Trompete

8. Brasileira (4:15) (M. Degani/ T. Bandeira) Adolfo Moreira: Baixo elétrico Bruno Duarte: Vibrafone, caxixi, ganzá, xequerê, apitos, assobios, djembê, timbal e moringas Mariana Degani: Voz Paulo Papaleo: Bateria Rafael “Chicão” Montorfano: Piano elétrico Remi Chatain: Saxofone alto e barítono e flauta transversal

9. O Anúncio (B. Duarte/ T. Bandeira) Adolfo Moreira: Baixo elétrico Bruno Duarte: Vibrafone Thiago Bandeira: Voz

10. Eclipse (6:04) (B. Duarte e M. Degani/ T. Bandeira) Adolfo Moreira- Baixo elétrico Bruno Duarte - Vibrafone, kalimba, ganzá, tampinha, zabumba, onça, leguero, conga, surdo, timbal e repenique Mariana Degani - Voz Paulo Papaleo - Bateria Rafael Montorfano - Piano e Rhodes Remi Chatain - Violão, flauta transversal e saxofone barítono Adair Vinícius - Trombone de vara


Produção do disco: Produção musical: Remi Chatain Arranjos: Loungetude46 Técnico de gravação: Remi Chatain no Estúdio Tolteka (exceto “Ação e Reação”, por Gutão, no Estúdio Lamparina) Edição e mixagem: Remi Chatain e Eduardo Bonuzzi (em Petróleo), no Estúdio Tolteka Masterização e finalização: Rodrigo Loli, no Estúdio Tonelada


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.