FAMALICÃO PARA O MUNDO
“25 Abril, 50 anos de Liberdade e Democracia - Um conto, uma ilustração”
DE
“De FAMALICÃO Projeto Contributos da para o Mundo: História Local”
VENCEDORES
2.º Escalão – Produção Escrita
Individual: Matilde Nogueira Moreira, 5.º A, n.20, Escola Básica do 2º/3.ª ciclo de Ribeirão
Coletivo: Turma H2, EB1 de Oliveira de S. Mateus, Agrupamento de Escolas Terras do Ave;
3.º Escalão – Produção Escrita
Individual: Daniela Gomes Fernandes, 9.º B, n.º 6, Escola Secundária Padre Benjamim Salgadio,
Coletivo: Turma 9.º 3, Agrup. de Escolas de Gondifelos;
4.º Escalão – Produção Escrita
Individual: Tiago Carvalho Barquero da Silva, 11.º J Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco;
Coletivo: sem trabalhos a concurso.
“De FAMALICÃO Projeto Contributos da para o Mundo: História Local”
Hoje é dia 25 de Abril de 2024.
A nossa atualidade
Celebramos 50 anos da Revolução dos Cravos, como foi chamada, mas é muito mais do que isso. A minha avó conta-nos histórias muito tristes dessa altura.
A minha prima Sara, que mora na minha rua, gosta muito de sair à noite com os seus amigos aos fins de semana para se divertir “dançar e beber uns copos”, como ela diz. A minha avó diz-lhe muitas vezes que ela não sabe a sorte que tem por ter nascido depois do dia 25 de Abril de 1974. Ela diz que “no tempo dela” não podiam usar saias curtas como se usa agora. Calças? Nem pensar! Isso era coisa de homens e nem pensar em sair à noite com os rapazes sozinha. Ela contou-nos que só quando havia as festas nas aldeias é que podiam sair, isto se tivessem um irmão mais velho que as acompanhasse, caso contrário ficavam em casa a trabalhar.
A Sara anda a estudar e gosta muito de defender as mulheres e às vezes tem longas conversas com a minha avó sobre política, música e moda, apesar de a minha avó só ter andado na escola até à segunda classe. Como era menina, o dever dela era ficar em casa a ajudar os pais. A minha avó também diz que os tempos em vivemos hoje são muito modernos e que na altura dela não se podia dizer um “ai” diferente, que logo alguém ouvia e chamava a polícia a famosa P.I.D.E .
A minha prima diz-me que foi por isso que foi feita a revolução e que foi nessa revolução que foi conquistada a liberdade de expressão, o direito a viver livremente consoante as nossas convicções. Ela também diz que já que fez dezoito anos e que vai votar pela primeira vez para ajudar a continuar a formar uma sociedade justa para todos.
Ontem, notelejornaldanoite, houve um debatepolítico porcausadas próximaseleições.Aminha prima disse à minha avó que existem vários partidos políticos e todos eles com ideias diferentes que se opõem uns aos outros. A minha avó diz que agora até os animais têm um partido para defender os seus direitos e que a sociedade está mesmo diferente, pois no tempo dela era um poder só e absoluto.
Hoje quando a escola acabar também vou a casa da minha avó jantar. Espero que ela tenha comprado a “famosa” bebida como ela chama à Coca-Cola. Nos tempos dela, diz que se tinha de ir até Espanha para a encontrar, porque Salazar não deixava entrar em Portugal essas modernices.
Durante o jantar, contei à minha avó como correu o concerto da Carolina Deslandes, que fui ver com a minha prima. Estava a cantarolar a minha música preferida, quando a minha avó nos contou, mais uma vez, que no tempo da sua juventude não havia liberdade para ouvir concertos e que todas as letras das músicas, e mesmo as notícias, primeiro eram revistas pela censura . Havia músicas que eram mesmo proibidas de passar na rádio. Nem consigo imaginar tal coisa… gosto tanto de música! Por isso compreendo agora porque é que tanta gente fugiu do nosso país naquela altura à procura de uma vida mais livre e com melhores condições de vida.
Quando saí da casa da minha avó, pensei que, realmente, temos muita sorte em viver depois de 25 de Abril de 1974. Temos liberdade para fazer as nossas escolhas, dar opiniões sobre o que se passa no mundo, temos acesso a toda informação e a cultura variável.
Obrigada àqueles que fizeram um dia a revolução!
Escola Básica de Ribeirão – 2.º ciclo
Matilde Nogueira Moreira, 5ºA, nº20
Ecos do passado: Viajando no tempo
A máquina Big Bang Invertida ficou incrível! É grande, redonda e foi desenhada para viajar no tempo. Na sua construção foi utilizada tecnologia de ponta. Há sensores incorporados que ligam e desligam através de botões e teclas de diamante, e luzes que a fazem brilhar no escuro. Está equipada com câmaras e drones para que os tripulantes possam registar as imagens de tudo o que observam quando partem em missão.
Prontos para a viagem, Soraia e Duarte vestem um fato altamente tecnológico, com um painel eletrónico incorporado no peito, e dirigem-se ao portal principal da Big Bang. Foram selecionados pela sua coragem para experimentarem, pela primeira vez, a máquina do tempo. Boa sorte. Desejaram um ao outro antes de clicarem numa das teclas de diamante. Agora! E, em segundos, foram parar a uma escola, numa aldeia do Norte de Portugal, chamada Oliveira S. Mateus. Estávamos no dia 15 de abril do ano de 1974.
Estupefactos, os pequenos tripulantes perceberam que os meninos e as meninas não brincavam uns com os outros. Estavam separados por uma rede que dividia o recreio. Meninos para um lado e meninas para o outro. Todos usavam batas, talvez para esconderem a pobreza e a miséria que as roupas denunciavam.
Humm! Muito estranho. As crianças da escola aproximaram-se com olhar desconfiado. Algumas fugiram assustadas. Mas, depois de uma troca de olhares começaram a conversar.
Explicaram que o Parque do Quinteiro, mesmo ali ao lado, era bom para brincarem juntos, mas como eram pobres estavam proibidos de lá entrar.
António, o aluno mais velho, explicou que a vida era muito difícil. Não há liberdade porque vivemos em ditadura. Acrescentou que quando saísse da escola tinha que trabalhar para ajudar a família. Passava-se muita fome naquele tempo. Nunca tinha comido uma banana e até o pão era difícil de encontrar. Contou que o Carlos saiu da escola para ir trabalhar com apenas treze anos. Mergulhava as pernas nas águas do rio Ave para tirar areia para a construção de casas. É um trabalho muito duro. Recebia vinte escudos, uma nota de Santo António, que entregava direitinha à mãe para ajudar nas despesas da casa. O pai do Manuel estava na prisão, em Peniche. Tinha ido a salto para França para escapar à guerra, mas acabou preso pela PIDE, já muito perto de Espanha. Não temos notícias dele. O Lápis Azul encobria as verdades que não podiam ser reveladas.
Do outro lado da rede do recreio da escola, aproximou-se uma menina curiosa e sonhadora. A Anabela. Contou que também ela não poderia continuar a estudar quando terminasse a quarta classe. Tomava conta de três irmãos e todos os dias percorria quilómetros
com o irmão mais novo ao colo para a mãe o amamentar. A mãe trabalhava em Riba de Ave na fábrica Sampaio Ferreira. Naquele tempo, os operários trabalhavam em condições miseráveis, recebiam pouco dinheiro por muitas horas de trabalho. Anabela adorava ler, mas não tinha livros. Ter um livro era como ter um tesouro. Talvez a professora, D. Elvira, intercedesse junto dos seus pais para a deixar continuar a estudar. Era assim que a professora costumava fazer com os bons alunos.
A conversa foi interrompida quando o recreio terminou. Temos de entrar antes que a professora nos dê umas boas reguadas. Despediram-se com um sorriso tímido e afastaram-se a correr. A Soraia e o Duarte não sabiam o que eram reguadas e nem tiveram tempo para perguntar. Também não tiveram tempo de lhes dizer que a Revolução dos Cravos estava quase a acontecer e que ia trazer liberdade ao país e melhores condições de vida para todos.
Voltaram a preparar-se para atravessar o portal da Big Bang Invertida. Ativaram o painel eletrónico instalado nos fatos e avançaram mais alguns dias no tempo. Pararam no dia 25 de abril de 1974 e, desta vez, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Havia muita alegria nas ruas. As espingardas dos soldados estavam enfeitadas com cravos vermelhos. Ouviam-se gritos de Liberdade.
Entretanto, na pequena aldeia, lá no Norte, em Oliveira S. Mateus, reinava o silêncio. As notícias iam chegando devagarinho, aos poucos, através da rádio. Havia ainda muito receio por terem vivido tantos anos em Ditadura. Só passados alguns dias, no primeiro de maio, o povo pôde festejar verdadeiramente a liberdade, numa grande concentração junto ao rio Ave. A ponte tornou-se pequena para tamanha multidão.
Carlos, veio a tornar-se Presidente da Junta de Freguesia. Anabela, conseguiu terminar os seus estudos e é a professora da escola. António, fundou a primeira Associação de Pais, tendo sido presidente da mesma durante vários anos. Todos têm, hoje, uma participação muito ativa na freguesia para compensar os tempos em que viveram oprimidos, sem liberdade de expressão.
Com o 25 de Abril de 1974, imbuídos pelo espírito da Revolução, as crianças da pequena escola de madeira invadiram o parque do Quinteiro, onde até aí estavam proibidos de entrar, e grafitaram à entrada “Bicicletas ao Parque!”.
de Oliveira S. Mateus
2023/2024
Conto (escrito pelos alunos da turma H2, coletivamente)
EB
Turma H2
25 de Abril – 50 anos de liberdade e democracia
Museu Vivo
No coração da cidade, entre prédios antigos e ruas de paralelepípedos, fica um museu da Revolução dos Cravos, mas este não é um museu comum, é onde a história ganha vida.
A seu mando está Manuel, um senhor de idade, que todos os dias vê a sua vida documentada por aquelas fotografias e vivas memórias de um tempo indelicado, na qual esperava nunca mais voltar.
A entrar pelas portas de vidro, adornadas com pequenos cravos coloridos estava mais um dos inúmeros grupos escolares a preparar-se para uma regressão a um passado não muito distante, mas tão pouco desejado.
Estas crianças, a jorrar de alegria e satisfação, olham à sua volta perscrutando cuidadosamente todas aquelas fotografias a preto e branco e os jornais rasgados exibidos nas vitrines da entrada do imponente sítio histórico e, com mil perguntas a pulsar na garganta esperam pelo começo oficial da sua visita interativa por aquela que era a história do seu verdadeiro país e que tão mal, ao contrário do que eles mesmos achavam, conheciam.
Então, o outro grupo de estudantes, um pouco mais velhos que os meninos curiosos que aguardavam pela sua entrada, emergiram para o mundo exterior, impactados da sua visita. Alguns deixavam escapar lágrimas silenciosas enquanto outros ainda assimilavam, em silêncio, tudo o que haviam observado naquele pequeno local que salvaguardava quarenta e oito anos da mais impura passagem dos nossos antepassados. Atrás deste grupo, surgiu a figura serena de Manuel, pronto para mais uma dose de terapia de regressão.
“Vamos lá começar a nossa visita?”, perguntou Manuel com um enorme sorriso acolhedor a surgir em seus lábios, recebendo respostas entusiasmadas de “sim” ou então alguns murmúrios de “finalmente”. E assim, com uma sensação de antecipação, estas crianças puderam dar início àquela que seria uma pequena viagem que lhes ficaria na memória para sempre
Conforme os seus pequenos passos proporcionavam uma marcha organizada pelas entranhas do museu as emoções aumentavam cada vez mais e, após mais umas curtas instruções de segurança e de comportamento, adentraram na primeira sala que, conforme um pequeno letreiro indicava seria a recriação das “Ruas da Revolução”.
O ambiente era preenchido com sons reais e característicos das manifestações realizadas nessa tão memorável época, desde o murmúrio da multidão pertencente às marchas, aos gritos suplicantes de ajuda e protesto e às músicas entoadas por vozes determinadas e corajosas. As paredes eram
preenchidas com projeções de slogans políticos pintados à mão em lençóis e pedaços de cartão, expressando os ideais de liberdade e democracia que ecoavam por toda a cidade naqueles anos turbulentos.
Apesar de ainda serem de tenra idade e não perceberem o que muitas daquelas escritas manifestantes significavam, as crianças andavam pela sala maravilhadas com tudo aquilo que viam, exploravam as imagens de soldados empunhando as suas armas com cravos, o famoso símbolo da revolução, com maior interesse. Elas tinham a oportunidade de caminhar por aquelas ruas recriadas e sentir a energia pulsante do movimento revolucionário, enquanto, nas suas mentes ingénuas e virgens, se viam vestidos naqueles fatos, em cima de um tanque e a cantarolar as famosas cantigas.
A segunda sala erguia-se atrás de um cartaz que confirmava a sua identidade, “Discursos e debates” . Esta diferenciava-se bastante daquela em que eles tinham acabado de passar. Era adornada com câmaras antigas e microfones de reportagem ainda mais antigos, um estrado, que apresentava uma pequena televisão em seu topo, elevava-se de um grande conjunto de almofadas que foram de imediato ocupadas pelos pequenos.
Então, imagens acompanhadas pelo seu som, abafado e antiquado, de imagens proeminentes da revolução debatendo entre si preencheram o ecrã vazio. Imagens que Manuel recordava terem sido ecoadas pelas ruas daquela época crucial durante longas semanas, agora preenchiam o espaço trazendo consigo uma sensação palpável do passado.
Para as crianças fora uma revelação surpreendente testemunhar e assistir a imagens e vídeos, que até então só conheciam pelos pequenos documentos e fotografias que preenchiam os seus manuais Estas, foram também, convidadas a interagir e fazer parte de debates teatrais, em que as perguntas eram habilmente e cuidadosamente preparadas para a sua faixa etária. Estas questões delicadas permitiram às crianças fazer pequenas abordagens a temas como a liberdade, justiça e participação cívica de uma maneira engraçada na qual nunca tinham participado.
A seguinte área, que tinha como título, “Bastidores secretos”, despertara uma curiosidade crescente e um ânimo unânime entre os pequenos. Esta recriava todos os bastidores secretos da Revolução dos Cravos, onde os detalhes ocultos da história começam a surgir desde planos clandestinos, a reuniões secretas e até mesmo às ações dos grupos clandestinos.
Ao percorrer as portas desta sala as crianças foram acolhidas por ambiente de mistério e intrigas, com paredes repletas de esquemas e documentos que revelam segredos do grande dia e que foram perscrutados por muitos pares de olhos excitados. Além disso, os estudantes foram desafiados a decifrar a escrita em código, encontrar mensagens escondidas de entre inúmeros papéis “chatos” à
vista desarmada, resolver quebra-cabeças e seguir trilhas ao coração daquele que fora o dia da salvação de seu país.
Esta experiência fora sem dúvida a que deixara todos mais excitados e entusiasmados para o que viria a seguir. O desejo de descobrir mais segredos e desvendar as perguntas que se formulavam nas suas cabeças pulsava cada vez mais rápido dentro das suas veias, tornando esta jornada ainda mais significativa e emocionante para elas.
Na Sala dos “Heróis Anônimos” e da “Transformação”, as crianças foram convidadas a mergulhar em duas realidades complementares da Revolução, que destacavam tanto as histórias individuais de coragem quanto as mudanças coletivas que moldaram Portugal após este evento histórico.
Ao entrar na primeira das últimas áreas, os visitantes foram apresentados às mais belas e corajosas histórias de pessoas comuns que obteram papéis cruciais, mas cujas contribuições muitas vezes passaram despercebidas. Tendo o poder de se conectarem com essas histórias pessoais, os pequenos poderam aprender sobre o poder da ação individual para criar mudanças significativas na sociedade.
Em seguida na Sala da “Transformação”, as crianças penetraram e exploraram as mudanças sociais, políticas, culturais e económicas que ocorram em Portugal após o 25 de abril. Foi neste pequeno espaço que uma das missões iniciais desta visita fora cumprida: apreciar o progresso alcançado ao longo dos anos
Após exploradas todas as salas do museu, as crianças saem das instalações, ainda maravilhadas com tudo o que viram e aprenderam. Manuel, com um sorriso caloroso e simpatizante, lidera o grupo de volta ao mundo exterior, enquanto as professoras partilham animadamente as experiências vividas e o impacto que estas tiveram sobre as mentes jovens dos seus alunos.
À medida que se aproximam do fim da viagem, Manuel para em frente às portas que ostentavam os cravos e volta-se para o grupo de crianças com um olhar carinhoso. “Espero que tenham gostado da nossa jornada juntos”, começa por dizer, sempre com um sorriso estampado no rosto, “lembrem-se sempre da importância da liberdade, da democracia e do poder de fazer a diferença.”
As crianças assentem com entusiasmo, absorvendo as palavras de Manuel com grande gratificação por tudo o que ele lhes mostrara hoje e após fazerem as despedidas iniciam o seu caminho carregando consigo lembranças vívidas daquela experiência memorável.
Enquanto o grupo caminha em direção ao autocarro, o sol põe-se no horizonte, salpicando a sua tinta de tons laranja e rosa para o céu. O vento sopra suavente e leva consigo o espírito da revolução e a promessa de um futuro brilhante e promissor, onde a liberdade e a democracia continuam a florescer.
E assim, enquanto veem o dia cair pelas janelas do veículo, as crianças partem com um novo senso de ver o seu próprio país, prontas para enfrentar a realidade com coragem e determinação, sabendo que são os guardiões de um longo período de luta e dos ideais pelos quais ela se levantou.
Daniela Gomes Fernandes, nº6, 9ºB
Escola Secundária Padre Benjamim Salgado
25 de abril uma memória!
Numa sexta feira ensolarada, no fim de novembro, dois irmãos gêmeos chamados Francisco e João Pedro, que frequentavam o 7º ano, foram desafiados pela professora Odete, de História, a fazer um trabalho sobre a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, na sequência da exposição que viram na escola sobre os antecedentes da revolução da liberdade.
O João Pedro era o irmão mais velho por apenas 5 minutos de diferença. Apesar de serem gémeos, são bem diferentes, ele é alto, elegante, tem o cabelo castanho e encaracolado e olhos castanhos. É engraçado, gosta de estudar e gosta muito de jogar vôlei. O Francisco é baixo, elegante, tem cabelo loiro e liso e olhos verdes. Ele é rebelde, alegre, não gosta de estudar e gosta de jogar futebol.
Quando terminaram a aula, os irmãos foram de comboio para casa, onde o Francisco disse:
- Vamos fazer uma espingarda e um cravo de cartão para o trabalho?
- Não, vai ser muito difícil, é melhor fazer cartazes - disse o João Pedro
- Mas vai ser mais divertido e criativo - disse o Francisco
- Quando chegarmos a casa, pensamos melhor Vamos fazer os trabalhos de casa e depois vemos isso - disse o João Pedro
Chegando a casa, eles fizeram os trabalhos de casa de matemática sobre equações do 1º grau, o Francisco achou muito difícil e complicado, já o João Pedro fê-los com muita facilidade. Mal acabaram de fazer os trabalhos de casa, foram fazer um sandwich para cada um. Quando estavam a comer, o Francisco disse:
- Será que antes do 25 de abril nós poderíamos ter uma escola como hoje em dia?
Quando o João Pedro ia responder, a mãe chegou. Ela chamava-se Ângela, tinha 45 anos, era costureira e só tinha o 9°ano. Era alta, magra, tinha cabelo ruivo, comprido e encaracolado e os olhos cor de mel. Eles contaram à mãe sobre o trabalho que tinham de fazer A mãe disse:
- Pelo que os vossos avós contavam, antes do 25 de Abril a vida era muito difícil Por exemplo, apesar de haver escola, a taxa de analfabetismo era muito elevada, pois nem todos tinham acesso aos estudos e muitos desistiam da escola para ir trabalhar Se agora estivéssemos naquela altura, vocês estariam na mocidade portuguesa, onde não poderiam dar a vossa opinião e tirar dúvidas livremente e também não poderiam usar as roupas que usam no vosso dia a dia, mas sim um uniforme que se assemelhava com os uniformes dos escuteiros de hoje A saúde era muito pouca, havendo uma grande taxa de mortalidade infantil diminuindo a população portuguesa, porque eram poucos os profissionais de saúde.
Depois de falarem mais um pouco sobre as histórias que lhes contava daquela época, a mãe ajudou os gêmeos a pensarem no que fazer para o trabalho.
Na escola, os dois irmãos foram falar com os seus colegas de grupo e decidiram ir para a biblioteca discutir o assunto. Estiveram lá a trocar ideias sobre o trabalho e pensaram que seria interessante fazer uma exposição com imagens e histórias daquele tempo.
Com base nesta conversa, no fim do dia, os irmãos foram ter com o seu avô Lino, que tinha 75 anos e que vivia com eles na mesma casa
Avô Lino! Avô Lino! - chamaram os irmãos
-
- Digam-me, meus pequenos - respondeu o avô
- Avô, a nossa professora de História desafiou-nos a fazer uma exposição na escola sobre o dia 25 de Abril, será que o avô nos podia ajudar em algumas coisas? - disse o Francisco
- Claro que sim, digam-me lá o que precisam de saber - disse o avô
- Podes dizer-nos como era a vida antes do 25 de Abril? - perguntou o João Pedro.
- Posso, mas antes de vos contar vamos sentar-nos na sala - disse o avô.
Os dois irmãos e o seu avô foram para a sala e sentaram-se no sofá. Eles estavam prontos para ouvir a história que o avô lhes ia contar.
- Eu vou contar-vos como era a vida antes do dia 25 de Abril de 1974. Antes desse dia, as mulheres não tinham os mesmos direitos legais que os homens e muitas necessitavam de autorização escrita dos maridos para certos atos da vida social As enfermeiras, professoras, telefonistas e hospedeiras não se podiam casar sem uma autorização especial As mulheres não tinham direito ao voto Os universitários envolvidos em atividades associativas e políticas contra o regime eram incorporados à força na tropa e incluídos nos contingentes enviados para a Guerra Colonial Antes não havia hospitais como há hoje em dia, também não havia salário mínimo nem passe social e muito menos os idosos tinham pensão de reforma As crianças eram separadas por gênero na escola, e também era proibido o consumo de coca-cola ninguém sabia muito bem o porquê - contou o avô - Obrigado, avô, mas será que também nos podias contar como as pessoas viveram aquele dia? - disse o João Pedro .
- Ora vamos lá a ver… Naquele dia, de madrugada, os militares do MFA ocuparam os estúdios do Rádio Clube Português e, através da rádio, explicaram à população que pretendiam que o País fosse de novo uma democracia, com eleições e liberdade para todos. E punham no ar músicas de que a ditadura não gostava, como Grândola Vila Morena, de José Afonso, e usavam-nas como senhas para comunicarem uns aos outros como decorriam as ações da revolução
Ao mesmo tempo, uma coluna militar com tanques, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e marchou para Lisboa Na capital, tomou posições junto dos ministérios e depois cercou o quartel da GNR do Carmo, onde se tinha refugiado Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar à frente da ditadura Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares A certa altura, uma vendedora de flores começou a distribuir cravos Os soldados enfiaram o pé do seu cravo no cano da espingarda e os civis punham a flor ao peito Por isso se falava da Revolução dos Cravos Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares e o que era um golpe de Estado transformou-se numa verdadeira revolução. Ao fim da tarde, Marcelo Caetano rendeu-se e entregou o poder ao general Spínola, que, embora não pertencesse ao MFA, não pensava da mesma maneira que o governo acerca das colónias - contou o avô.
Os dois irmãos ouviram as histórias que o avô Lino contou e o João Pedro apontou no seu caderno tudo o que era importante, para depois partilhar com os seus colegas de grupo.
- Muito obrigado, avô, deste-nos uma grande ajuda. Até já - disse o João Pedro.
- De nada meus netinhos Até fiquei contente por precisarem da minha ajuda Até logo - disse o avô
Já em Dezembro, num domingo à noite, durante a refeição, os irmãos decidiram falar de novo sobre o projeto do
25 de abril
- Avoooo, a propósito daquela conversa que tivemos sobre a revolução dos cravos, precisamos de perceber melhor o que se passou Podes ajudar-nos a esclarecer a situação? - disse o Francisco
- Isso é muita coisa para a minha cabeça, hahaha Não sei se poderei acrescentar muito mais
- Por exemplo, avô, naquela época, como eram as profissões? - Insistiu o Francisco
- Antes do 25 de abril, eram principalmente os homens que trabalhavam e as mulheres ficavam em casa e cuidavam dos filhos, que eram muitos. Os nossos trabalhos eram muito cansativos e complicados, pois não tínhamos grande formação e os salários do povo eram salários muito baixos, que mal dava para comer.
- E como eram as escolas?- Questionou ainda o Francisco.
- As escolas eram divididas em duas partes: metade era para meninos, que tinham que usar uniforme, calças e camisa e a outra metade para as meninas, que tinham que usar saia e camisa. Na escola os meninos não podiam estar com as meninas e vice-versa Mudando de assunto, o João Pedro disse: A nossa professora tem-nos falado da PIDE Será que nos podes ajudar a perceber o que era, avô?
- A PIDE era uma polícia que defendia a política instalada Por exemplo, quem falava mal do governo era perseguido até a morte, por isso não havia oposição ao governo Não era permitido grupos de pessoas juntarem-se para falar ou discutir ideias, não havia associações e não era permitido festejar no dia do trabalhador
Agora é muito diferente porque as pessoas são livres de manifestar a sua opinião. Agora existe liberdade de expressão, revoltas, greves e antes do 25 de abril isso era impossível de pensar. Ainda me lembro das festas que existiram, depois da revolução. Mais de um milhão de pessoas saíram à rua para festejar em Lisboa.
- Oh pai, agora os problemas de liberdade não são tão evidentes, mas não deixam de existir e associam-se à responsabilidade - disse o João Pedro. Por exemplo, como existe internet as pessoas conseguem dizer as coisas sem que se descubra a sua identidade e também violam o direito de autor. Por isso existe muito cyberbullying e muitas fakes news
O pai, que era engenheiro eletrotécnico e que sabia bem do que estavam a falar, pois a mãe já tinha falado com ele sobre este interessante trabalho, disse:
- Pois! Agora é difícil de acreditar no que é dito na internet porque é difícil de saber se é verdade, porque existem muitas pessoas que querem enganar as outras e é por isso que é preciso ter muito cuidado com a internet Por outro lado, a violação dos direitos de autor abrange responsabilidade civil e criminal, que pode implicar a prática de crimes como usurpação, contrafação e aproveitamento de obra contrafeita ou usurpada Também o cyberbullying é crime e vocês nunca devem aproveitar a internet para agredir ou expor problemas de outras pessoas, nem permitir que outros o façam sem ser denunciados.
Os gémeos estavam mesmo surpreendidos com todas estas informações e a conversa continuou animada.
Depois do jantar, o Francisco e o João Pedro juntaram estas novidades e reflexões ao trabalho que já tinham compilado no computador, onde iam articulando imagens e dados para confirmar e aprofundar estes assuntos. Em janeiro, depois das férias de Natal, num dos encontros semanais do grupo de trabalho dos gémeos, estavam eles na escola com os colegas a fazer o trabalho de preparação da exposição do 25 de abril e o grupo considerou que era importante referenciar alguns aspetos sobre a liberdade no mundo de hoje
Durante o caminho para casa, os irmãos iam falando sobre o assunto Quando chegaram a casa, disse o Francisco:
- Oh João, eu acho que devíamos falar sobre alguns dos tipos de países onde existe pouca liberdade
- Também acho que sim Podemos referir os países radicais islâmicos, porque lá é onde existem mais restrições
- Concordo, essa é uma das regiões com menos liberdade no mundo! Temos de referir o motivo pelo qual existe esse problema - acrescentou o Francisco
Eles fazem uma breve pesquisa
- Encontrei uma lista de motivos. Aqui diz… há pouca liberdade para as mulheres - disse o João.
- Ah isso! Por exemplo, as mulheres não podem sair de casa sem a companhia de um homem e têm de vestir um Hijab. E não nos podemos esquecer de referir os Talibãs, que é o grande motivo dessa pouca liberdade feminina.
As mulheres não podem ir à escola por causa deles - comentou o Francisco.
- Ainda existem 104 países que impedem as mulheres de fazer tarefas simples, como conduzir!- disse o João. A maior parte são Países Islâmicos
- Ainda bem que acrescentaste isso! E diz mais alguma coisa na lista?
- Sim, há intolerância religiosa, porque lá eles não gostam de se misturar com outras culturas e desprezam-nas
- Ok, mas agora vamos dormir porque está a ficar tarde
Os irmãos foram dormir
No outro dia, quando chegam da escola, estavam eles de novo a conversar sobre o assunto quando a mãe deles entra no quarto e pergunta:
- Do que estão a falar meninos?
Os gémeos explicam à mãe que estavam a falar sobre o trabalho para escola, para a exposição sobre o 25 de abril.
A mãe escuta-os e desafia-os a aprofundar ainda mais o assunto.
- Ok, mãe. Mas nós já falamos sobre a falta de liberdade decorrente da intolerância religiosa - disse o João.
- Eu acho que poderiam falar também sobre os países com ditadura. Passa muito nas notícias, por isso deve ser bastante importante para o vosso trabalho - ajudou a mãe
- Sim, mas temos de referir alguns países onde existe esse problema!
O João pesquisa sobre o assunto:
- Encontrei!
- Boa
- Aqui diz, por exemplo, a Coreia do Norte e a Rússia
- Ah sim! A Coreia do Norte é muito difícil lá - disse o Francisco Lá, todos têm de usar o corte de cabelo do ditador. E não existe Internet livre em nenhum lugar do País. As pessoas que vivem lá não conhecem o mundo de fora, por causa dele. Ele não deixa ninguém viajar para fora do País e as pessoas não se podem expressar contra o regime.
- Sim, deve ser muito difícil viver lá - comentou a mãe.
No dia seguinte, os irmãos acordam entusiasmados para ir à escola fechar o trabalho com os colegas e mostrar à professora Odete o que todos fizeram para preparar a exposição!
=FIM=
para concurso subordinado ao tema “25 de Abril: 50 anos de liberdade e democracia”
(promovido pela Câmara de Vila Nova de Famalicão, através do projeto educativo e cultural “De Famalicão para o Mundo”)
Autores
1 Beatriz Marques Santos
2 Beatriz Oliveira Araújo
3 Carlos Daniel Silva Oliveira
4 Daniel Ferreira Silva
5 Francisco Lino M Ribeiro
7 João Paulo Matos Rios Novais
8 José Pedro Varajão Aguiar
9 Lara Beatriz Fernandes
10 Leonardo Augusto Guimarães Santos
11 Leonardo Miguel Oliveira Martins
12 Mariana Ferreira Silva
13 Mariana Leitão Guimarães
14 Tomás Dinis Correia Fonseca
Alunos do 9º3 - 2023-24
Agrupamento de Escolas de Gondifelos
Fontes de informação consultadas
Grupo 1
https://wwwpordata pt/censos/quadro-resumo-portugal Grupo 2
https://escolaamiga.pt/blog/485f9848-a6ab-4f64-b00f-05e7f5b6171e
https://visao pt/visaojunior/historia-visaojunior/2016-04-14-conta-me-como-foi-o-25-de-abril/ Grupo 3
https://tag jn pt/25-abril-revolucao-mudou-portugal/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o de 25 de Abril de 1974 Grupo 4
https://pt wikipedia org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o dos Direitos Humanos no Isl%C3%A3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade religiosa por regi%C3%A3o
Professores colaboradores
● Conceição Torres
● Jones Maciel
● Serafim Faria
TRABALHO COLETIVO
A FUGA PELA LIBERDADE DAS
FLORES
DO CAMPO
Uma vez, numa floresta, havia uma bela abelha, como todas as outras abelhas, uma risca amarela outra preta, uma amarela outra preta e por assim adiante. Todas as abelhas viviam na sua colmeia, dentro de uma árvore de carvalho, num vasto campo coberto de flores cores arco-íris e um cheiro doce, este situava-se no coração desta imensa floresta repleta de vida animal e vegetal. Voltando à nossa amiguinha abelha, esta, uma abelha operária, trabalhava todo o dia como todas as outras, sempre o mesmo trabalho repetitivo, escolher uma flor do campo, voar até ela, recolher todo o pólen da mesma, e voltar para a colmeia e voar a outra flor para fazer o mesmo. Nenhuma outra abelha parecia incomodada com o seu trabalho diário, apenas a nossa querida amiga, esta era um pouco diferente de todas as outras, tinha um instinto que não estava destinada a ser uma coletora de pólen durante toda a sua vida. Esta abelha queria explorar o resto da imensa floresta que a rodeava e até quem sabe o resto do mundo, mas estava presa na sua colmeia com o resto de todas as outas abelhas. A nossa amiga vivia infeliz a fazer o que não gostava, até um certo dia em que estava tão desmotivada para continuar que não conseguia mais trabalhar nem mais um segundo, de tão depressiva e cansada se demonstrava, que uma das outras abelhas reparou. O nome desta abelha atenta era Papoila.
- Está tudo bem contigo? - Pergunta Papoila à nossa pequena amiga - não te conheço, mas dá para ver que estás perturbada com algo, queres falar sobre isso? - acrescenta ela.
A nossa amiga mantém-se calada, evidentemente preocupada, a Papoila não desiste, e pergunta novamente.
- Não é por não falares que o problema se vai resolver por milagre não achas?
Surpreendentemente a nossa amiguinha abana a cabeça para cima e para baixo, muito devagar, concordando com Papoila.
- Então? - pergunta a Papoila exaltada – Estou á espera para saber oque te deixou tão em baixo para te poder ajudar no que poder.
Mesmo não sendo muito conversadora a nossa amiga, muito tímida, conta à papoila que está infeliz com a sua vida atual e que quer fazer alguma coisa para mudar. Muito atenta Papoila ouve tudo, então diz:
- Não vais acreditar, eu sinto a mesma coisa com a minha vida sempre o mesmo trabalho aborrecido de coletar pólen de tantas flores, todos os dias, desde que me lembro.
Mas o que é que eu iria fazer sozinha em relação a isso, nada, mas com uma companheira poderíamos as duas realizar os nossos sonhos. O que achas? - pergunta Papoila totalmente animada à nossa amiguinha.
Esta, uma segunda vez, muito mais animada abana a cabeça para cima e para baixo. Então as duas começam logo a preparar-se para escaparem da sua prisão, a colmeia do bosque. Elas não
poderiam apenas sair no meio do dia e ir embora como se não estivesse a acontecer nada. Então fizeram um plano. Combinaram que, no alto da noite, quando a lua atingisse o seu ápice, no céu estrelado da noite fria e escura do bosque, sairiam as duas dos seus dormitórios sorrateiramente para não serem vistas por ninguém. Quando a lua subiu alto no céu, as duas encontraram-se numa saída escondida do carvalho onde se situava a colmeia, então, prontas para começar a sua aventura juntas e descobrir tudo o que a floresta tinha para oferecer a duas pequenas abelhas Papoila vira-se para a nossa pequena amiga e diz:
- Está mesmo a acontecer, todos os nossos sonhos podem e vão se realizar a partir do momento em que voarmos deste sítio fora. Adeus, colmeia, foste um bom sítio para dormir de noite, mas não foste uma boa casa para viver, nós vamos encontrar um sítio melhor, e já agora quado digo “nós” refiro-me a mim e a ... - virando-se para a nossa pequenita amiguinha.
- Cravo... o meu nome é Cravo.
FIM
Nome do Estabelecimento de Ensino: Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Ano Letivo 2023/2024
Turma: 11ºJ
Aluna: Tiago Carvalho Barquero da Silva
Título do trabalho: A Fuga pela Liberdade das Flores do Campo
1.º E 2.º ESCALÃO
CONTOS
O Tesouro da Liberdade
Numa pequena aldeia portuguesa, situada entre montanhas verdejantes, num vale sereno, por onde passava um rio de águas cristalinas e abundantes em peixes, viviam habitantes bondosos, humildes e resilientes. Essa aldeia situava-se no coração do Minho. As pessoas viviam rodeados por uma beleza natural, pois a aldeia tinha paisagens lindíssimas, mas num tempo de silêncio e submissão, uma vez que pairava no ar o peso da opressão. Os habitantes viviam com as limitações impostas pela falta de liberdade e com as injustiças que os aprisionavam.
As pessoas daquela aldeia estavam cansadas de não poderem dizer o que pensavam, pois tudo era controlado pelo governo. As notícias que ouviam na rádio, os jornais que chegavam à aldeia e os poucos livros que encontravam, passavam pelo “lápis azul” da censura. Assim, num clima de desconfiança e medo, os habitantes não conviviam uns com os outros, pois não queriam correr o risco de serem presos. As pessoas andavam tristes e limitavam-se a obedecer, sem terem qualquer oportunidade para escolherem: as músicas, os filmes, os livros e até as suas próprias roupas.
Embora ninguém estivesse de acordo com o governo, as pessoas não tinham outras opções, pois os membros de partidos da oposição eram presos, exilados ou até mesmo mortos. Assim, não havia oposição!
Naquele tempo, em Portugal, só podiam votar os homens e, apenas as mulheres que tivessem o ensino secundário. Os jovens em idade militar eram obrigados a ir para a guerra do ultramar
As enfermeiras, telefonistas e hospedeiras não podiam casar. E as professoras, tinham de ter uma autorização especial do governo para poderem casar.
As raparigas e os rapazes não podiam estar juntos nas escolas, eram obrigados a usar fardas e tinham, obrigatoriamente, professores do mesmo género dos alunos.
Mas, naquela aldeia, a maior parte da população era analfabeta e trabalhava no campo, retratando o que acontecia pelo país fora. Pelo menos, ali, tinham um pedaço de terra para cultivarem os seus alimentos e não passavam fome, como acontecia noutros locais do país. As pessoas habitavam em casas rudimentares, feitas de pedra, onde o frio e a chuva penetravam facilmente. As casas tinham poucas divisões e quase nenhum mobiliário. Para cozinhar e para os cuidados de higiene diários, as pessoas tinham de se deslocar até à fonte mais próxima, para irem buscar a água, que traziam em cântaros. Os alimentos eram cozinhados sobre uma pedra, em potes de ferro, utilizando como combustível a lenha que iam buscar ao monte. Na grande maioria das casas pobres da aldeia, a higiene era feita numa casa de banho situada no exterior. As noites começavam muito cedo e eram utilizadas velas ou lamparinas de azeite para iluminar os espaços, pois não havia luz elétrica. As peças de mobiliário eram poucas, destacando-se as arcas, para guardar as roupas e enxovais e as maceiras para colocar a massa do pão a fermentar. Geralmente as pessoas alimentavam-se de broa e caldo de hortaliças. As galinhas eram um luxo para a maior parte dos camponeses. A sua carne só era consumida pelas grávidas ou quando havia uma doença persistente. Vendiam-se os ovos ou faziam-se doces, em tempo de festa. Havia pouco peixe: sardinhas e carapaus, de vez em quando, mas a quantidade era
irrisória e ainda hoje perdura na memória de muitos a “sardinha para três”, dividida por três pessoas. Comiase sobretudo carne de porco, conservada em sal ou em banha, mas em pouquíssima quantidade, atendendo a que a carne de um porco tinha de alimentar uma família, por vezes bastante numerosa, e durante um ano. Apesar das dificuldades da vida, as pessoas encontravam alguma alegria naquela vida simples e pobre.
Outras, procuravam melhores condições e oportunidades, fugindo do país, clandestinamente, emigrando para países da Europa, muitas vezes a pé, apenas com uma mala de cartão.
Naquela aldeia minhota vivia um jovem chamado Miguel, cujo coração transbordava de sonhos e anseios por um país mais justo e livre. Inspirado pelas histórias dos seus avós, ouvidas à volta da lareira, sobre tempos passados, onde a liberdade não era apenas uma palavra vazia, mas sim um sentimento que se respirava no ar, Miguel ansiava por algo maior.
Miguel tinha 10 anos e, por isso, foi obrigado a frequentar a Mocidade Portuguesa, que era uma organização nacional, à qual deviam pertencer, obrigatoriamente, os jovens dos sete aos catorze anos. Mas, se quisessem, podiam ficar até aos 25 anos Os seus membros encontravam-se divididos por quatro escalões etários: Lusitos, dos 7 aos 10 anos; os Infantes, dos 10 aos 14 anos; os Vanguardistas, dos 14 aos 17 anos e os Cadetes, dos 17 aos 25 anos. A Mocidade Portuguesa pretendia abranger toda a juventude, escolar ou não, e destinava-se a «estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina e no culto do dever militar». Miguel estava assim a desenvolver as suas capacidades físicas e o gosto pela disciplina e pelo dever militar, no entanto, como via as pessoas tristes ao seu redor, isso gerava nele uma insatisfação muito grande que o impelia a fazer algo.
Um dia, Miguel teve uma rara oportunidade de fazer um passeio à cidade de Braga e ficou maravilhado com tudo o que encontrava a cada esquina. Aproveitou cada minuto para visitar cada rua desta cidade milenar, entrando em todos os monumentos que encontrava, mas o que mais o fascinou foi uma biblioteca. Pela primeira vez, teve a oportunidade de folhear livros que nunca tinha imaginado existirem Naquele ambiente de euforia e entusiasmo, Miguel deparou-se com um livro, cujo título "O Tesouro da Liberdade", escrito em letras douradas, chamou a sua atenção Este título despertou nele um sentimento de angústia, uma vez que sentia falta dessa mesma liberdade na aldeia em que vivia.
À medida que folheava as páginas desgastadas daquele livro, encontrou relatos sobre uma sociedade mais justa e livre. Aquelas palavras antigas agitaram algo dentro dele, acendendo a chama da mudança, da esperança e a necessidade da busca incansável pela liberdade.
Passou a noite em claro, a pensar no livro que encontrara na biblioteca, e numa forma de lutar pela liberdade sem prejudicar as pessoas da sua família, os amigos e os vizinhos, por quem sentia grande afeição.
No dia seguinte, decidiu compartilhar sua descoberta com alguns amigos e vizinhos de confiança, todos igualmente cansados do silêncio que os envolvia. Não quis contar à sua família para não os deixar preocupados, pois sabia que naquela altura, a PIDE, a Polícia Internacional de Defesa do Estado, era um perigo
real para quem pensava ou agia de forma diferente do estabelecido pelo governo, podendo ser preso juntamente com quem o apoiava.
Desta forma, conscientes do perigo, Miguel e os seus amigos, iniciaram encontros secretos num moinho afastado da aldeia. Aí, discutiam ideias, sonhavam com um futuro diferente e planejavam uma forma de desafiar o estado de opressão em que viviam.
As reuniões tornaram-se mais frequentes e a determinação e resistência cresceu entre eles. Inspirados pelas histórias do livro "O Tesouro da Liberdade", começaram a distribuir panfletos clandestinos, espalhando mensagens de esperança e unidade. Aos poucos, os outros habitantes da aldeia começaram a unir-se ao movimento, compartilhando o desejo por uma mudança real.
O tempo passou e Miguel integrou as Forças Armadas, cumprindo o serviço militar obrigatório, juntamente com os seus amigos Aí, conseguiu perceber que aquele movimento que gerou há uns anos atrás na sua aldeia, também estava presente entre os Militares das Forças Armadas. Tal como ele, os seus novos colegas partilhavam o desejo de alcançar a liberdade. Todos compreendiam que a liberdade não era apenas a ausência de restrições, mas a capacidade de agir de acordo com os seus princípios, expressar opiniões e viver sem o peso da opressão. A liberdade influencia a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, que era a sociedade que todos idealizavam. Unidos por um objetivo comum, a força coletiva é capaz de superar desafios aparentemente intransponíveis. Essa solidariedade favorece a comunidade e destaca a diversidade de vozes e perspetivas que contribuem para a riqueza de uma sociedade mais justa. Sentia-se no ar uma vontade real de mudança, como se as páginas do livro antigo se materializassem diante deles. Viram o despontar de uma nova era de liberdade que se materializou numa revolução, a “Revolução dos Cravos”, no dia 25 de abril de 1974. Este dia permitiu que Miguel e seus amigos olhassem para o horizonte com esperança renovada, ao participaram ativamente nesta revolução. Eles sabiam que a jornada pela liberdade era contínua, mas aquele momento era a prova viva de que, unidos e determinados, poderiam mudar o curso da história, como se comprovou novamente, um ano depois, a 25 de novembro de 1975.
Mas, a participação ativa não ficou apenas pelos militares. Como uma onda imparável, o movimento alastrou-se por todo o país. A revolução pacífica varreu Portugal, derrubando barreiras e trazendo consigo a promessa de um amanhã mais brilhante.
Naquele dia memorável, as ruas silenciosas daquela aldeia foram despertadas pelo som dos passos decididos de centenas de pessoas. Erguiam-se bandeiras, entoavam-se palavras de ordem e canções de liberdade e festejava-se o fim da opressão.
E assim, a aldeia, antes adormecida, despertou para uma nova realidade, onde a liberdade tornou-se um tesouro precioso, guardado não em cofres, mas nos corações de todos os seus habitantes, que passaram a ser livres neste país, chamado Portugal.
Escola Básica de Lousado
4.º ano /Turma L4A
Alunos:
Carlos Henrique Brandão Freitas
Clara Oliveira Ferreira
Duarte Nuno Oliveira Sampaio
Francisca Sofia Serra Batista e Silvestre Vieira
Francisco Azevedo Campos Araújo
Guilherme Pimenta Borges
Hugo Rodrigo Silva Faria
João Miguel Pereira dos Santos
Lara Ferreira Gomes
Leonor Costa Fernandes
Luna Daniela Fuca Costa
Margarida Leonor Ribeiro da Costa
Maria da Costa Araújo
Maria Figueiredo Meneses
Matilde Maria Faria dos Santos
Matilde Oliveira Gonçalves
Mónica Clairon Rebelo
Mónica Sofia Moreira Vilela
Rafael Azevedo Silva
Soraia Costa Alves
Vicente Oliveira Freitas
O 25 de abril aos olhos de uma criança
Mal cheguei da escola, corri entusiasmada para casa da minha avó e contei-lhe que na aula desse dia tínhamos falado dos 50 anos do 25 de abril. Então, pedi-lhe para me narrar como viveu esse dia, como criança.
A minha avó demorou um pouco a absorver as minhas palavras e, pelo que me pareceu, a avivar memórias. Depois aclarou a voz e começou:
- Num dia ensolarado de abril, quando ainda era uma pequena menina curiosa, vi o mundo ao meu redor transformar-se diante dos meus olhos.
Parou um pouco, pensou e contou-me em primeiro lugar como tudo era antes do 25 de abril.
- As ruas eram silenciosas, como se as palavras estivessem presas no ar. As pessoas sussurravam com receio, e as cores pareciam desbotadas, como se o próprio sol estivesse aprisionado. Na escola só havia meninas na minha sala, porque rapazes e raparigas andavam separados. Logo pela manhã, ao entrar na sala, cantávamos o hino nacional e rezávamos virados para o crucifixo, que estava ao lado da fotografia de António de Oliveira Salazar. Havia o culto da Igreja Católica e do líder, o Presidente do Conselho de Ministros do Governo do Estado Novo. - explicou a minha avó, para que eu entendesse melhor a sua realidade.
Tentei imaginar-me naquele tempo, mas… como tudo estava diferente!
- Avó, conta-me mais! - pedi-lhe, deixando a minha curiosidade ganhar asas.
E a minha avó continuou:
- Sabes, o meu pai e os seus amigos, tinham um desejo enorme de liberdade, até fizeram parte de um pequeno grupo, que se reunia secretamente, para discutir ideias proibidas e sonhar com um Portugal livre.
- Um grupo secreto? Porquê, avó?
- Como não havia liberdade em exprimir as suas ideias e opiniões, tinham de fazê-lo em segredo. Um dia, enquanto participavam numa dessas reuniões clandestinas, a polícia política invadiu o local e prendeu todos os presentes, incluindo o meu pai. Eles foram interrogados e torturados, mas não cederam, mantiveram-se firmes nos seus ideais de liberdade, pois tinham esperança num futuro melhor.
- E quanto tempo estiveram presos, avó? - perguntei, preocupada.
- Imagina, só foram libertados após o regime autoritário ter sido derrubado pela Revolução.
Nesse instante, o rosto da minha avó já estava banhado em lágrimas. Abraçando-a, sentei-me no seu colo e incentivei-a a continuar a história.
- Nesse tempo, para além de não termos liberdade para exprimir a nossa opinião, os castigos físicos eram frequentes, tanto em casa como na escola. Em todo o lado, imperavam o rigor e o medo. O país era dominado por um único partido político, a Ação Nacional Popular, que apoiava o governo de forma inquestionável. Durante algum tempo, as mulheres nem podiam exercer o direito de voto, a não ser que tivessem habilitações literárias ou fossem chefes de famílias. - explicou a minha avó muito indignada.
- Como assim, avó? Não iam votar, nem escolher os seus representantes? - questionei cada vez mais admirada.
- Não, minha querida, nesse tempo as mulheres não eram independentes, nem autónomas. Imagina tu, para viajarem para fora do país precisavam da autorização escrita do marido. E então, pedir o divórcio era impensável. - acrescentou ela, emocionada.
- Então estou a ver que as mulheres tinham uma vida muito diferente da dos homens, cheia de desigualdades!
- Sim, a nível económico, havia muitas desigualdades. As mulheres tinham salários muito inferiores ao dos homens. Cada patrão pagava aos seus trabalhadores, o que queria, sem qualquer regulamentação estatal. E eram, na maior parte das vezes, salários miseráveis e horas de trabalho intermináveis.
- Oh, avó! E ninguém fazia greves ou contestava, nem se manifestava na comunicação social?
- Nessa época, a imprensa era fortemente censurada, as notícias só eram autorizadas para publicação após a aprovação dos serviços de censura, o que limitava a liberdade de expressão e o acesso à informação. - esclareceu, de imediato, a avó.
- E quando é que tudo isto terminou?
O rosto da minha avó transformou-se. Com um sorriso aberto e os olhos sonhadores e brilhantes, percebi que iria relatar algo especial.
- Na manhã do dia 25 de abril de 1974, ouviu-se na rádio a música “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso. Muitas pessoas saíram para as ruas e uniram-se aos militares. Então, o que inicialmente era um golpe de estado acabou por evoluir para uma autêntica revolução, com a participação crescente da população. Em determinado momento, uma vendedora de flores iniciou a distribuição de cravos. Os soldados inseriram a flor no cano das suas espingardas, enquanto os civis a colocaram no peito. Esse gesto simbólico de união floresceu, originando assim a conhecida expressão “Revolução dos cravos”.
- Deve ter sido um momento emocionante! Obrigada pelo relato que fizeste, avó.
Após esta longa conversa, aprendi que o 25 de abril de 1974 não era apenas uma data no calendário, mas um marco na história que libertou o país de correntes invisíveis e que iniciou uma era de liberdade, democracia e progresso para Portugal.
Fiquei contente de os meus antepassados terem lutado e nunca terem desistido, para que, agora, eu possa brincar sem medo e ouvir histórias contadas com alegria, pois o 25 de abril trouxe um novo amanhecer para todos nós.
Trabalho coletivo dos alunos do 3.º e 4.º ano da Escola Básica de Barranhas, Vilarinho das Cambas
Testemunho da Nossa Bisavó
Era inverno, estava muito frio, a chuva batia na vidraça da janela da cozinha da casa da família Costa. A bisavó Maria estava com as netas à volta da lareira.
- Este ano comemora-se os 50 anos do 25 de Abril! – exclamou a bisavó.
As netas olharam para ela e perguntaram:
- Avozinha porque falas tanto do 25 de abril?
- O 25 de abril trouxe-nos a liberdade e, por isso, esse dia ficou marcado para sempre no meu coração. – explicou a bisavó.
A neta mais velha disse:
- Não estamos a perceber nada, queremos que expliques melhor o que aconteceu nesse dia.
A nossa professora já nos informou que iriamos falar desse tema.
-Tive uma ideia bisa, podes vir à nossa escola explicar o que sabes! – gritou a Sofia.
A avozinha Maria ficou muito pensativa e ao mesmo tempo entusiasmada e respondeu:
- Concordo contigo, vou contar a todos os alunos da tua escola, como era a vida antes e depois do 25 de Abril.
A turma da pequena Sofia estava reunida na sala de aula, ansiosa pela visita da bisavó da menina. Todos sabiam que a ela era uma mulher especial, cheia de histórias fascinantes para contar. Hoje, ela iria falar sobre os acontecimentos que marcaram Portugal e a nossa freguesia, mais propriamente as tradições, antes e depois do 25 de abril de 1974.
A avozinha da Sofia entrou na sala com um sorriso caloroso, carregando consigo o peso dos anos e a sabedoria acumulada ao longo da sua vida. Sentou-se à frente da turma e começou a falar com uma voz suave, mas cheia de autoridade.
- Meninos e meninas! - disse ela.
- Hoje vou contar-vos sobre um tempo em que Portugal era muito diferente do que conhecem hoje. Era um país onde as pessoas não podiam falar livremente, onde as ideias eram reprimidas e a liberdade era apenas um sonho distante.
Ela começou a relatar acontecimentos que antecederam a Revolução dos Cravos, descrevendo como o país estava mergulhado numa ditadura opressiva, onde o medo e a censura eram omnipresentes. As crianças ouviam atentamente, fascinadas com os relatos da bisavó Maria.
- A vida era difícil para muitas pessoas, não tinham o que comer, tomavam um pequeno almoço reforçado (uma sopa de couves ou migas), na casa dos lavradores, onde iam
trabalhar, vindimar, tirar o leite às vacas sem tecnologias, tudo feito à mão, trabalho muito duro. - continuou a bisavó.
- Os alimentos eram divididos por várias pessoas, por exemplo uma sardinha era para três. O pão era cozido numa só fornada, por semana, o qual tinha que durar muito tempo, guardado numa masseira. – disse ela.
- Havia escolas femininas e masculinas, os alunos não se juntavam, as turmas eram enormes. Logo pela manhã tinham que rezar, todas as salas tinham um cruxifixo e um quadro com a foto do António Oliveira Salazar. – exclamou a bisavó com tristeza.
- Quando já eramos mais crescidas namorávamos à janela, não podíamos dar a mão ao nosso namorado. As festas que existiam eram na margem do Rio Ave e nas Azenhas, jogos tradicionais e danças típicas. – disse com saudade.
- Nesse tempo havia pouquíssimos carros, as pessoas mais pobres andavam a pé ou de bicicleta. Os lavradores utilizavam os carros de bois para se deslocarem até à praia da Póvoa de Varzim, “para irem a banhos” e com elas levavam tudo o que precisavam (alimentos, roupa…) - referiu ela com alegria.
- Havia injustiça, pobreza e falta de oportunidades para muitos. Mas então, algo extraordinário aconteceu. No dia 25 de abril de 1974, o povo português levantou-se contra a opressão. Foi uma revolução pacífica, onde os soldados colocaram cravos nos canos de suas armas, simbolizando a paz e a esperança.
As crianças olhavam para a bisavó, fascinadas com a história que ela estava a partilhar. Queriam saber mais sobre como as coisas mudaram após a revolução.
- A partir desse dia: continuou a avó. - Portugal começou a trilhar um novo caminho. A liberdade de expressão foi restaurada, as pessoas puderam falar abertamente sobre suas ideias e crenças. Houve melhorias na educação, na saúde e nos direitos humanos. Foi um momento de grande esperança e renovação para o nosso país e claro para a nossa terra também.
As crianças ouviam atentamente, absorvendo cada palavra da avozinha. Ela terminou a sua história com uma mensagem de esperança para o futuro.
- Nunca se esqueçam! - disse ela, olhando para o rosto de cada criança.
- A liberdade é um direito precioso que devemos valorizar e proteger. O 25 de abril de 1974 foi um lembrete poderoso do que o povo unido pode alcançar quando luta por aquilo em que acredita.
As crianças aplaudiram entusiasticamente a bisavó de Sofia, agradecendo-lhe por partilhar a sua história e ensinamentos. Eles entenderam que a história de Portugal e da freguesia não era apenas algo do passado, mas sim uma fonte de inspiração e aprendizagem para o presente e para o futuro.
Nota: Este foi o tema principal do nosso Projeto de Escola em articulação com o programa educativo e cultural “De Famalicão para o Mundo”.
Todas as atividades desenvolvidas no âmbito das tradições da nossa freguesia, foram ao encontro deste tema tão importante, “50 anos “ de Liberdade e Democracia.
Esta história que acabamos de contar é uma história real, contada na primeira pessoa.
Todos estes temas serão trabalhados na escola, ao longo do ano letivo.
Escola de Valdossos Turmas do 3.º / 4.º anos
O sopro da democracia
Adivinhem quem eu sou! Não sabem? Pronto, pronto, eu sou o Vento. Vamos passear pelo mundo! Apertem os cintos e vamos para a viagem…
Vou contar-vos um segredo, “eu sou espião e espio o mundo”. Vamos à Europa! Que país escolhemos? Pode ser Portugal. Vamos lá!
Finalmente chegamos. Oh não! Está tudo escuro, parece que há um manto preto por cima de Portugal. Vamos lá entrar para ver o que se passa…
Só víamos pessoas tristes, pareciam sem alma! O que fazemos? Talvez possa soprar para afastar este manto negro de cima deste país. Soprei o mais que pude, mas não consegui, parecia que estava “colado”
Entramos de novo em Portugal, mas desta vez, era para ver o que é que as pessoas faziam. Todas tinham fita cola na boca para não falarem, os jornais vinham todos cortados, quando escreviam um livro, um “lápis azul” riscava e só eram publicadas algumas partes…
Voltei a soprar para tentar afastar o manto preto, mas não consegui. Eu estava triste! Pensei que só o tempo poderia ajudar, pensei que um dia mudasse tudo… Então, esperei por esse dia porque me disseram que há sempre um tempo para tudo.
Certa manhã, bem cedinho, ouvi uma música a tocar! Pensei que estava a sonhar! Essa música vinha de dentro das casas e em todos os rádios se ouvia “Grândola Vila Morena”.
Corri cidades, vilas, aldeias, todas as ruas e comecei a ver militares a marchar, vi tanques e armas nas mãos. “O que se passa neste país?”, perguntei a mim mesmo.
Parei no norte de Portugal, em Vila Nova de Famalicão, e decidi bater à porta de uma casa que ficava perto da Câmara Municipal e onde se avistava também um grande palacete de cor verde.
“Truz, truz, truz…”
Ninguém me respondia, lá dentro, as pessoas cheias de medo, escondiam-se.
Resolvi alegrar um pouco esta vila. Soprei, soprei e espalhei cravos vermelhos pelo ar.
Acreditem ou não, estas lindas flores entraram nas espingardas dos militares, nos tanques, nas casas… em todo o lado.
“Ajudem-me, ajudem-me!”, pedi eu a toda gente.
“Uaauuuuu estamos a conseguir afastar este manto preto! Olhem ali! As pessoas estão a retirar a fita cola da boca e a atirar cravos com uma expressão de alegria estampada no rosto!”
A união faz a força e com a ajuda de todos conseguimos arrancar aquele manto negro de opressão e passamos a viver alegres, livres, felizes e onde se começou a respirar liberdade, justiça e igualdade.
Mais uma missão cumprida! Vou voltar a viajar pelo mundo e quem sabe ajudar outro país a viver em LIBERDADE…
Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Escola Básica Luís de Camões
2023/2024 Turma 4BB
•Ana Beatriz Carvalho Ferreira
•Ana Teresa Martins de Almeida
•Angélico Miguel Sampaio
•Duarte Moreira Carvalho Rei
•Fabrício Salazar Boguinha
•Francisca Barbosa Marinho
•Gabriel Mendes Valentim
•Gonçalo Dinis de Castro Magalhães
•Gonçalo Silva Verde Faria
•Gonçalo Teixeira Costa
•Henrique Aguiar Moreira
•Joana Veloso Machado
•João Castro Aguiar
•Letícia Maria Sampaio
•Maria Carolina da Silva Gonçalves
•Maria Carolina Sousa Lima
•Maria Diogo Ribeiro Aguiar
•Maria Inês de Almeida Monteiro
•Maria João da Silva Piedade
•Polina Radivilova
•Sofia Oliveira Osório
•Tiago Dinis Ferreira Certal
•Valdemiro Santos Lambert
“25 de Abril: 50 anos de liberdade e democracia”
No concelho de Famalicão, numa vila pitoresca e muito acolhedora, há uma turma com meninos muito especiais e felizes! Essa turma é a turma Fam3C: é composta por alunos compreensivos e amigos uns dos outros. São todos iguais uns aos outros; pensam igual, vestem-se igual, comem igual, andam igual, riem igual, choram igual. Imaginem vocês que até sonham igual!
Uma vez que são pessoas iguais, nesta turma não há conflitos! É um sonho de vida. Ninguém se zanga com ninguém. A professora também é muito feliz. Ela também é igual a todos os outros professores. E são felizes. E todos dizem que aquela turma é uma turma de sonho. Não há conflitos, não há discussões, não há pensamentos diferentes.
São todos iguais, mas há umas meninas que são mais felizes do que os outros. As duas meninas que se mostram mais felizes são a Censura e a Ditadura. Adoram ver todos os colegas a pensarem da mesma maneira, ou melhor a não pensarem! Todos se limitam a dizer, fazer e pensar o que os obrigam a dizer, fazer e pensar. Todos iguais. Sem conflitos. Sem questionar.
Ao contrário destas duas meninas, a Liberdade e a Democracia têm o brilho um pouco mais apagado. No início foi lhes difícil entender, mas como todos eram iguais acabaram por ficar também elas iguais a todos os outros. Resolveram esquecer aquele mal-estar que sentiam quando não podiam dizer aquilo que pensavam e seguir os outros. Era mais fácil e assim todos estavam tão felizes!
Viveram assim exatamente iguais uns aos outros durante longos dias. E longas noites. Sempre iguais. Sempre a viver iguais. E felizes por serem iguais e por não terem opinião ou melhor, por terem opiniões iguais a todas as outras opiniões. Sem conflitos. Sem diferenças.
Num belo dia de abril, a professora anunciou a chegada duma nova aluna. Todos ficaram contentes por terem mais uma colega igual a eles. Mais uma pessoa a pensar como eles, a ser como eles, a rir como eles, a sonhar como eles. Que bela notícia! Ficaram ansiosos por conhecer a colega.
Ao outro dia, estava um bela manhã primaveril, ouviu-se um enorme grito vindo do lado do portão. Todos olharam ao memo tempo (afinal faziam tudo igual uns aos outros) e viram uma menina muito bonita, mas diferente! Como era possível? Todos deviam estar vestidos de azul e ela vinha de vermelho! Como se atrevia? Quem seria aquela menina?
Ouviram-se mais gritos de espanto. Todos pararam e ninguém foi ter com aquela menina de vermelho. Decidiram ignorar aquela pessoa diferente, não queriam juntar-se com alguém assim. Parecia feliz, sorridente e sonhadora, mas era diferente! Ninguém sabia lidar com isso. Ou será que alguém saberia?
A Liberdade e a Democracia adoraram aquela menina diferente. Era mesmo gira. Estavam com tanta vontade de ir ter com ela, tocar nas suas roupas com cores vivas e no seu cabelo cor de sol… Olharam uma para a outra a medo e compreenderam que as duas queriam conhecer a menina nova… Mas não era possível! Elas eram iguais aos outros meninos todos e aquela menina era diferente. Não podia ser! Cabisbaixas, seguiram todos os meninos iguais.
A menina de vermelho vestiu todas as cores do arco-íris, dia após dia. Cada vez estava mais bonita e tinha um ar mais feliz. Mas estava sempre sozinha. Os meninos iguais não se juntavam àquela menina. Ela era diferente. E eles eram iguais.
Liberdade e Democracia estavam cada vez mais curiosas e com mais vontade de conhecer aquela menina corajosa que todos os dias enfrentava os olhares de todos os outros. Ela tinha alguma coisa que lhe dava um ar poderoso. Ela estava sozinha, andava sozinha, pensava sozinha, chorava sozinha, ria-se sozinha e mesmo assim mostrava-se feliz e radiosa… Liberdade e Democracia tinham ciúmes da sua ousadia, sentiam que queriam ser como ela, mas eram incapazes de deixar de ser iguais a todos os outros…
Que aflição! Que dor!
Aos poucos as duas meninas foram perdendo o brilho, ficando mais tristes… As coisas já não faziam sentido. Estariam certas? Seria certo seguir todos os meninos iguais? Então porque razão a menina de vermelho parecia cada vez mais feliz? E quem era ela afinal?
No jardim, as duas meninas ousaram olhar para a menina e ela disse-lhes:
-Olá! Eu sou a Revolução e vocês quem são?
- Eu sou a Liberdade e esta é a Democracia! -respondeu Liberdade.
A Democracia corou, mas ficou feliz por a Liberdade ter respondido à Revolução!
-Muito gosto em conhecer-vos! – retorquiu a Revolução
As três continuaram o seu caminho, mas todas sabiam que algo tinha mudado. A Liberdade e a Democracia tinham ganho uma vontade enorme de sonhar, de pensar, de
comer, de andar, de vestir, de ser… diferentes! A Revolução fez com que questionassem as suas vidas… Como poderiam agora negar o que sentiam? Como poderiam continuar a ser iguais quando as suas mentes queriam era ser diferentes?
Ao outro dia não aguentaram e vestiram o que lhes apeteceu! E ao chegar à escola correram ao encontro da Revolução. Todos ficaram espantados com esta atitude. Como é que elas foram capazes? E para piorar a situação, as três estavam muito felizes! Tudo à volta delas era paz e harmonia, era mel e cheiro de morango e de cravos!
Cravos! Cravos! Cravos!
Sim, eram cravos lindos e cheirosos que se viam por ali. E cada vez mais meninos iguais ficavam com muita vontade de ir ter com as três meninas e com aqueles cravos cheirosos que agora ali estavam…. Apenas a Censura e a Ditadura continuavam completamente contra estas três meninas loucas que pareciam tão felizes…
Aos poucos o canteiro de cravos foi crescendo e as meninas agora não eram apenas três: vieram a Justiça, o Direito, a Paz, a Educação, a Responsabilidade, o Pensamento, a Opinião, a Cidadania, a Proteção… Vieram todos aqueles que estavam escondidos até aqui; que estavam paralisados pelo medo.
Os meninos iguais eram cada vez menos, todos os dias diminuíam até que apenas restaram a Censura e a Ditadura. Só os dois, não tinham força. Só os dois não iam a lado nenhum. Já ninguém os seguia, já ninguém os queria, já ninguém tinha medo. Estavam sozinhos. Não tinham apoio. Já não eram iguais. E não aguentaram o brilho daqueles cravos nem a Luz daquelas crianças que tinham aprendido que podiam ser livres!
E fugiram. Nunca mais ninguém os viu.
Agora todos eram livres. Agora todos eram verdadeiramente felizes. Agora todos podiam escolher!
Viva A Liberdade, Viva a Democracia!
Viva PORTUGAL!
Centro Escolar de Ribeirão
Rib3C- Professora Susana Marona
susanamarona@eb23-ribeirao.pt
Afonso Costa Gomes
Beatriz Faria Martins
Beatriz Sofia da Silva Carvalho
Bianca da Silva Miranda
Carlota Alves Silva
Carolina Carvalho Mesquita
Clara Dias Carvalho
Diogo Carvalho Ribeiro
Francisco Miguel Guimarães Silva
Gonçalo Martins Carvalho
Isaac Campos Pereira
Lourenço José da Costa Moreira
Luís Alexandre Moreira Costa
Maria Carolina Rocha Santos
Mel Carvalho Corrêa Souza
Miguel Rodrigues de Oliveira
Rafael e Silva Carneiro
Renato Martins Marques
Salvador Tomás Pedroso Silva
Santiago da Cunha Ferreira
Tomás da Costa Pereira
Valentina Conde Semedo
Vinicius Cavalcanti Lopes de Marins
Gyovanna Martins Rocha
Hoje é dia 25 de Abril de 2024.
A nossa atualidade
Celebramos 50 anos da Revolução dos Cravos, como foi chamada, mas é muito mais do que isso. A minha avó conta-nos histórias muito tristes dessa altura.
A minha prima Sara, que mora na minha rua, gosta muito de sair à noite com os seus amigos aos fins de semana para se divertir “dançar e beber uns copos”, como ela diz. A minha avó diz-lhe muitas vezes que ela não sabe a sorte que tem por ter nascido depois do dia 25 de Abril de 1974. Ela diz que “no tempo dela” não podiam usar saias curtas como se usa agora. Calças? Nem pensar! Isso era coisa de homens e nem pensar em sair à noite com os rapazes sozinha. Ela contou-nos que só quando havia as festas nas aldeias é que podiam sair, isto se tivessem um irmão mais velho que as acompanhasse, caso contrário ficavam em casa a trabalhar.
A Sara anda a estudar e gosta muito de defender as mulheres e às vezes tem longas conversas com a minha avó sobre política, música e moda, apesar de a minha avó só ter andado na escola até à segunda classe. Como era menina, o dever dela era ficar em casa a ajudar os pais. A minha avó também diz que os tempos em vivemos hoje são muito modernos e que na altura dela não se podia dizer um “ai” diferente, que logo alguém ouvia e chamava a polícia a famosa P.I.D.E .
A minha prima diz-me que foi por isso que foi feita a revolução e que foi nessa revolução que foi conquistada a liberdade de expressão, o direito a viver livremente consoante as nossas convicções. Ela também diz que já que fez dezoito anos e que vai votar pela primeira vez para ajudar a continuar a formar uma sociedade justa para todos.
Ontem, no telejornal da noite, houve um debate político por causa das próximas eleições. A minha prima disse à minha avó que existem vários partidos políticos e todos eles com ideias diferentes que se opõem uns aos outros. A minha avó diz que agora até os animais têm um partido para defender os seus direitos e que a sociedade está mesmo diferente, pois no tempo dela era um poder só e absoluto.
Hoje quando a escola acabar também vou a casa da minha avó jantar. Espero que ela tenha comprado a “famosa” bebida como ela chama à Coca-Cola. Nos tempos dela, diz que se tinha de ir até Espanha para a encontrar, porque Salazar não deixava entrar em Portugal essas modernices.
Durante o jantar, contei à minha avó como correu o concerto da Carolina Deslandes, que fui ver com a minha prima. Estava a cantarolar a minha música preferida, quando a minha avó nos contou, mais uma vez, que no tempo da sua juventude não havia liberdade para ouvir concertos e que todas as letras das músicas, e mesmo as notícias, primeiro eram revistas pela censura . Havia músicas que eram mesmo proibidas de passar na rádio. Nem consigo imaginar tal coisa… gosto tanto de música! Por isso compreendo agora porque é que tanta gente fugiu do nosso país naquela altura à procura de uma vida mais livre e com melhores condições de vida.
Quando saí da casa da minha avó, pensei que, realmente, temos muita sorte em viver depois de 25 de Abril de 1974. Temos liberdade para fazer as nossas escolhas, dar opiniões sobre o que se passa no mundo, temos acesso a toda informação e a cultura variável.
Obrigada àqueles que fizeram um dia a revolução!
Escola básica de Ribeirão
Matilde Nogueira Moreira, 5ºA, nº20
No futuro ainda será Abril
No distante ano de 2175, a humanidade vive num mundo cheio de problemas, onde a liberdade já não existe. O aquecimento global, a falta de água, a escassez de comida lançou a humanidade para guerras sem fim, umas a seguir a outras, e, assim, a democracia foi ficando esquecida….
Nem toda a gente tinha perdido a esperança num mundo melhor. Alfredo, um jovem investigador sonhador, era uma dessas pessoas, pois ainda mantinha a esperança de viver sem ser oprimido e vigiado. Este homem trabalhava como investigador numa agência governamental, ou seja, a PNDG (Polícia Nacional de Defesa do Governo), no Noroeste a Península Ibérica. Se as pessoas dissessem alguma coisa contra o governo, desapareciam misteriosamente e nunca mais eram vistas por ninguém. Alfredo irá descobrir coisas que mudarão o rumo do futuro.
Alfredo, por ordem do governo, foi investigar uma velha casa abandonada e decrépita. Para executar a sua missão, pediu a companhia de um velho amigo, Edgar, um ex-militar desiludido com as exigências do governo da altura. Ao chegarem, avistaram um gato preto, cujos olhos verdes brilhavam na escuridão como faróis no nevoeiro, mostrando curiosidade pelos caixotes, caixas e arquivos espalhados pelo chão e por inúmeras prateleiras. Uma dessas caixas caiu de uma prateleira espalhando o seu conteúdo pelo chão, revelando papeis muito antigos.
Alfredo e seu amigo encontraram pilhas sobre pilhas de cartas, fotografias antigas, jornais amarelecidos pelo tempo e muitos mais documentos. Nas fotos viam-se pessoas alegres, colocando cravos em nas espingardas dos soldados, pessoas abraçando-se. Numa breve análise Alfredo apercebeu-se que o governo daquele país de que os jornais noticiavam tinha sido derrubado, falavam de uma ditadura abatida por militares. Um novo governo tinha sido instaurado e parece que tinha acabado com uma guerra que durara 13 anos, dando liberdade às pessoas. Descobriram que a vida em Portugal, que era o nome daquela terra, era muito parecida com aquela em que eles viviam atualmente. Descobriram também que a vida nesse país, “Portugal,” era censurada, porém, em vez de serem vigiados pela PNDG, eram pela PIDE. Os dois amigos ficaram curiosos e não pararam de investigar, viram, por exemplo, que a guerra colonial tinha começado em 1960. Esta guerra parece ter tido pesadas consequências: mortes, muitos feridos e desertores. Estes investigadores sabiam que os documentos deviam ser entregues e destruídos, mas repensaram esta decisão. Durante anos tinham trabalhado para um governo que sabiam que oprimia, matava e censurava tudo e todos que se opusessem. Não, eles não dariam os documentos ao governo! Arranjariam um lugar seguro para onde levariam todos os jornais, livros e filmes encontrados. Nesse lugar, eles e os seus amigos mais chegados estudariam os achados a fim de
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conhecerem todos os acontecimentos do passado que havia sido silenciado e, depois, espalhariam a mensagem que eles traziam.
Assim, chegaram à conclusão que aquele regime se chamou Estado Novo ou Salazarismo, visto que o seu chefe, durante muito tempo, fora António de Oliveira Salazar. Descobriram que a
PIDE violava o código dos Direitos Humanos, também era responsável pela vigilância e perseguição aos opositores políticos. Tudo era muito sinistro e muito idêntico à época em que viviam, contudo havia mais informações sobre aquele passado. Alfredo chamou a atenção de Edgar:
- Olha, havia Censura, diz aqui que o regime ditatorial suprimiu todas as liberdades democráticas, incluindo a liberdade de imprensa, estabelecendo a censura aos jornais, livros, espetáculos, nomeadamente ao cinema e ao teatro. E que a guerra em África parecia nunca mais ter fim.
- Sim, tudo faz parte dos motivos que levaram à tal revolução do 25 de abril. Observou Edgar.
Na sua busca para saber o que tinha acontecido encontraram um amarelecido jornal, chamado “Estrela da Manhã”, editado numa antiga terra chamada Vila Nova de Famalicão.
Folheando o velho jornal viram notícias mais alegres, em que, várias vezes, se repetia a mesma data: 25 de abril de 1974. No dia 1 de maio de 1974, o jornal destacava estas notícias: “O 25 de Abril em Famalicão- Depois de meio século vitoriou-se a liberdade”; “Feriado Nacional o dia 1º de Maio”, e outras sobre o mesmo assunto. Recolheram mais informações em jornais, livros, programas de rádio e da televisão e concluíram que deveria ter mesmo acontecido uma revolução.
Os dois amigos começaram a pôr em parte o seu plano. Eles iriam, com os seus amigos mais íntimos, aqueles que sabiam ser contra o regime ditatorial em que viviam, espalhar a mensagem que os documentos que encontrados transmitiam, especialmente que ainda havia esperança num futuro melhor. Distribuiriam panfletos, manifestos pela liberdade por todas as cidades, mostrariam os jornais e as fotos do 25 de abril. Fundariam uma estação de rádio e contariam tudo sobre a revolução dos cravos, tal como aprecia nas noticias daquele passado longínquo.
Contariam que na madrugada de 25 de abril, um grupo de militares, os capitães de abril, cansados da guerra, lideraram um golpe militar contra o regime político autoritário. A revolução começou com a transmissão de algumas músicas, as senhas para os militares revoltosos saírem para as ruas,” E depois do adeus”, “Grândola, vila morena” e algumas mensagens. Os militares começaram por ocupar os pontos estratégicos da capital do país. A D. Celeste e outras floristas, colocaram cravos nas armas dos soldados e a população saiu para a rua, apoiando os militares, manifestando o seu desejo de liberdade e democracia.
Alfredo, Edgar e os seus amigos conseguiram atingir os seus objetivos. As pessoas, na ânsia pela democracia revoltaram-se contra o governo. Os apoiantes do regime opressor foram exilados. Houve luta armada, mas a revolução acabaria por ganhar. Muitas regiões do globo aliaram-se ao
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movimento. A ditadura iria acabar, as pessoas seriam libertadas, depois de anos serem submetidas à opressão, à censura, à guerra e a democracia foi finalmente restaurada Afinal, naquele ano de 2175, abril também tinha acontecido.
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Agrupamento de Escolas D. Maria II – V. N Famalicão
Turma A – 6º Ano
Disciplina de HGP e Cidadania
Professora Maria Manuela Ventura
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Numa linda tarde de primavera, enquanto brincava e explorava o sótão da casa da minha avó, deparei-me com um lenço branco com um cravo bordado com a frase “Viva a liberdade”.
Deslumbrada com o que havia encontrado num baú tão antigo, interroguei a minha avó:
- Avó, o que significa isto que está neste lenço?
E ela com os olhos cheios de água, respondeu:
- Foi o dia em que acabou o Estado Novo...
- Como assim?
- É uma história difícil e longa, mas com um final feliz. Eu vou-te explicar um pouco para também perceberes a diferença de hoje para essa época. Viviamos numa opressão terrível, caracterizada pela repressão política, censura e ausência de liberdades democráticas, era proibído falar sobre vários temas, principalmente sobre a política, nem os meios de comunicação social eram livres de informar. Pelo contrário, minha querida, os jornalistas que escrevessem algum artigo ou notícia que não favorecesse o governo podiam ir presos. – respondeu avó.
- Presos avó? Respondi eu estupefacta.
- Sim, não se podia dizer mal do Governo, nem dar a entender alguma opinião contrária. Tudo passava pelo rigoroso “lápis azul” da censura e até os livros, músicas, desenhos e notícias eram apreendidos por colocarem em causa a ordem pública, minha netinha.
Admirada com o que ouvia, interroguei:
- Mas quem controlava isso?
- Naquela altura chamavam eles a “PIDE”, era a Polícia Internacional e de Defesa do Estado. A função desta polícia era perseguir, prender e interrogar qualquer pessoa que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista, imagina que não era permitido grupos de pessoas juntarem-se para falar, discutir ideias e muito menos para reuniões ou associações –respondeu triste a avó.
- E as crianças? Como funcionava as escolas? - perguntei eu.
- As crianças tinham de usar fardas e eram separadas por género, não haviam turmas mistas e por vezes, as raparigas iam à escola de manhã e os rapazes de tarde. Imagina que as professoras tinham de ter uma autorização especial até para casar.
O lençomisterioso
A história estava cada vez a deixar-me mais espantada e a levantar mais questões na minha cabeça, então, continuei a questionar a minha avó:
- As mulheres eram tratadas com igualdade?
- Não, minha filha, já para saírem sozinhas do país, todas as mulheres casadas precisavam da autorização do marido, enfermeiras e hospedeiras da TAP não podiam casar e as mulheres só podiam votar se tivessem o ensino secundário.
Disse a avó:
- Minha neta, isto foi só um resumo daquilo que foi a ditadura do famoso Salazar.
- Salazar avó? Quem é esse famoso senhor? - perguntei eu.
- Salazar foi um ditador nacionalista português. Além de chefiar diversos ministérios, foi presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo.
- Então o povo vivia todo revoltado, sem se poder manifestar?
- Ora nem mais. E ano após ano, nada mudava, e o nosso pequeno Portugal ficava muito atrasado em relação aos outros países, que iam progredindo, iam tendo novas ideias… E o nosso país parecia ter ficado estancado no tempo. –respondeu abanando com a cabeça a avó.
- Que tempos tão dificeís avó... – respondi eu
- Como era de esperar, o povo estava farto de tudo o que sucedia à sua volta e foi então que os militares portugueses se reuniram para fazer um plano: o exército, a marinha e a aviação. A ideia era, basicamente, deitar aquele Estado Novo abaixo, sem que o governo pudesse fazer nada para o impedir.
- E conseguiram avó? – perguntei eu toda entusiasmada.
- Sim é a chamada Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974.
- Dos cravos? – questionei novamente.
- Sim, porque em vez de disparar balas, os militares colocaram cravos vermelhos nos canos das suas armas, oferecidos por uma florista que ia a passar e tinha essas flores na mão, não houve uma única morte e mesmo assim a revolução triunfou.
- Muito bem, avó, realmente vivemos uma realidade muito diferente hoje em dia, uma democracia com eleições livres e multipartidárias.
- Exatamente, minha neta, por isso não podemos nunca deixar de votar, porque foi um direito que custou muito a ser conquistado. Após a revolução, foram feitos muitos esforços para promover a igualdade social e os direitos humanos, começamos a ter acesso à educação, saúde e outros serviços públicos.
- Temos realmente de valorizar estes feitos – respondi eu.
- Tens toda a razão, minha querida, até os artistas tiveram um reflorescimento cultural e intelectual, com liberdade artística, literária e cultural como o cinema, teatro, literatura e muitas mais artes. Acrescentou ainda a avó - espero que tenhas gostado desta pequena explicação e que dês valor aos direitos que foram tão difíceis para serem conquistados, acredita que foram muitas lágrimas e sofrimento dos que viveram o antes do 25 de abril, aproveita a vida e goza de todas as oportunidades que te forem propostas, com juízo sempre!! – disse sorrindo a avó.
- Muito bem, avó, obrigada por partilhares estas memórias comigo, vejo então que o teu lenço tem tudo a ver com esta incrível história, fico feliz que tudo tenha evoluído e como diz o teu lenço:
- VIVA A LIBERDADE!!
Escola EB 1, 2 Dr. Nuno Simões
Ano letivo 2023/2024
Alice Carvalho Oliveira
Ana Cardoso Monteiro
Daniel Gomes Granjo
Diogo Peixoto Oliveira
Guilherme Guimarães Pinheiro
Inês Pinheiro Silva
João Pedro C. Fragoso
Leonor Araújo Pinto
Leonor Carvalho Maia
Lourenço Miguel M. Calisto
Lucas Maia Oliveira
Maria Monteiro Palha
Marina Bezerra Azevedo
Matias Fernandes Silva
Salvador Ribeiro Gomes
Samuel Monteiro Silva
Turma 606
Portugal antes do 25 de Abril
Faz já 50 anos que a liberdade foi conquistada aqui em Portugal. Assim, há já meio século, que Portugal é livre de fazer as suas escolhas. Agora, Portugal tem o direito de escolher quem é que quer que governe o seu país, os portugueses podem decidir onde querem passar férias e o que fazer na vida. Mas nem sempre foi assim.
Há muitos anos, havia um país que era conhecido pelo nome” O País das Pessoas Tristes”. Era, nada mais, nada menos do que Portugal! Na altura, Portugal era governado por um tirano, António Salazar. Com ele no poder, as pessoas não eram felizes. Não podiam dizer o que pensavam e não tinham o direito de fazer o que quisessem. Todos os livros impressos tinham de passar pelas mãos do Estado Se alguma coisa o desagradasse, o Estado certificava-se de que esse livro não era lido por ninguém. Também não podiam ouvir as músicas que lhes apetecesse, como era o caso da linda e inspiradora canção, “Grândola Vila Morena”, escrita por José Afonso. Tal como a maior parte, o governo não aprovou por causa da sua libertadora mensagem.
Era, igualmente, proíbido as raparigas irem à escola para que ficassem a trabalhar o dia todo e não tivessem tempo para estudar e descobrir todas as patranhas que o Estado já tinha inventado. Já os rapazes, a maior parte, nem tinha tempo para acabar a escola, pois muitos, ainda adolescentes eram enviados para a guerra, abandonando as famílias, não sabendo quando é que íam voltar, se é que voltariam. Não podiam viajar e, estranhamente, beber CocaCola também não lhes era permitido. As pessoas raramente saíam de casa e, se saíssem, voltavam o mais depressa que podiam.
Para piorar, ainda havia a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), que, para além de defender o Estado, também se metia na vida das pessoas estando em todo o lado, espiando e lendo as suas cartas. Tudo isto só para saber se havia algures um desordeiro a falar mal do Estado em segredo Os poucos que desobedeciam, iam para sítios secretos, (os quais não posso revelar aonde ficam!), discutir planos para quebrar aquela maldição. Os estrangeiros que por cá passavam ficavam abismados com a tristeza que havia neste país.
Quando um corajoso tinha a ousadia de falar com um dos turistas, esse, logo ficava deprimido depois de ouvir a história da razão pela qual os portugueses viviam numa tristeza tão profunda. Todos os visitantes davam mais valor às suas vidas, porque para eles a liberdade era uma coisa banal, que toda a gente tinha. Até eles, já pouco falavam e tinham muito medo de por cá andar. Demorou anos até os informados se revolucionarem contra aquela tortura.
Até que chegou o dia. Deu-se o sinal. A música proibida acabara de tocar. Os soldados cansaram-se de lutar, as mulheres cansaram-se de trabalhar, enquanto as crianças felizes e despreocupadas, corriam para as ruas tão divertidas e alegres como nunca tinham estado. Enquanto isso, D. Celeste Martins Caeiro, já farta daquela censura, dançando pelas ruas, foi distribuindo cravos a cada um dos soldados. Estes, puseram-nos nas pontas das espingardas para que em vez de balas, saíssem pétalas encarnadas da ponta das suas armas. Nem a PIDE nem o governo estavam à altura de tamanha revolução, por isso, com o rabinho entre as pernas, fugiram para o estrangeiro e nunca mais foram vistos. O povo tinha vencido
Nunca se tinha visto tamanha alegria em Portugal! Uma multidão acumulou-se no meio da rua cantando e dançando, dando as boas vindas à nova era de felicidade que por eles esperava. Uma nova fonte de esperança brotava agora dos corações dos portugueses. Uma nova era de paz e fraternidade parecia eminente. Foi este o momento mais importante da vida de todos portugueses pois sem ele, Portugal não tinha evoluído E foi assim, que Portugal se tornou no país que é hoje, graças a esta pacífica revolução!
EB23 Ribeirão
Beatriz Bompastor nº3 5º A
25.02.2024
Qual é o significado do cravo?
O cravo vermelho tornou-se o simbolo da Revolução de Abril, porque uma mulher chamada Celeste Martins Caeiro, dona de um restaurante que permanecia encerrado por conta dos acontecimentos ocorridos naquela madrugada, começou a distribuir cravos vermelhos por todas as pessoas. Um soldado pediu-lhe um cigarro e essa mulher, em vez de lhe dar um cigarro, deu-lhe um cravo Ela começou a distribuir cravos pelos soldados, para fossem colocados nos canos das suas espingardas, demonstrando que aquela Revolução seria uma Revolução pacifíca e sem agressão.
Este trabalho foi realizado por: Salomé Pereira Nº20 e Margarida Oliveira Nº19.
Turma: 5ºF
Escola e Agrupamento: Escola EB 2,3 de Ribeirão, Agrupamentos Escolas de Ribeirão.
Professora de Português/D.turma: Prof.ª Sara Fernandes
Viva a Liberdade
Há muitos anos, no tempo em que os nossos avós eram jovens, vivia-se num clima de medo e terror, no nosso país. Quando nos contam essa história é muito difícil para nós, imaginar esse sofrimento e como as pessoas se sentiam durante esses anos de falta de liberdade.
As pessoas sentiam-se desconfortáveis e ameaçadas porque não eram livres, não podiam fazer
o que queriam, nem dizer o que pensavam ou o que sentiam, viviam como se estivessem numa prisão. Se desrespeitassem o governo poderiam ser presas, até mesmo mortas.
Os nossos avós contam que havia polícias por toda a parte, para vigiar as pessoas e impedir que elas falassem entre si. Não deixavam atravessar as fronteiras, controlavam a correspondência e ouviam as conversas para que ninguém falasse mal do regime de Salazar.
Sim, os nossos avós, explicaram-nos que era António de Oliveira Salazar quem mandava no nosso país.
Os meninos, como nós, não podiam ouvir música, ler os livros e ver os filmes que queriam porque eram proibidos.
Às raparigas e aos rapazes não era permitido andar na mesma escola, tinham de brincar em recreios separados por muros e por grades.
Naquele tempo passava-se fome…
Nas salas de aula, colocado na parede, havia o quadro de Salazar para impor a sua autoridade. Rezava-se antes das aulas e cantava-se o hino de Portugal. Nós não conseguimos imaginar como seria não podermos brincar todos juntos, não vemos mal algum em crescermos juntos…
Os nossos avós quando cresciam, eram mandados para a Guerra em vários países e muitas vezes não regressavam de lá.
Nós não compreendíamos porque votavam em governantes que não os deixavam ser livres. Foi quando os nossos avós nos explicaram que não tinha direto ao voto, eles não podiam escolher quem estaria à frente da nação. Viviam numa ditadura!
Houve um dia em que, as pessoas decidiram reconquistar a sua Liberdade.
Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para finalmente lutarem pela sua Liberdade.
O povo saiu à rua, as janelas encheram-se de cravos e bandeiras, os soldados puseram cravos nas espingardas.
As pessoas que tinham sido expulsas e obrigadas a refugiar-se longe, regressaram, abrirem as portas das prisões e os presos voltaram a casa. Os jovens como os nossos avós, regressaram da
guerra e voltaram a abraçar as suas famílias. Os meninos e as meninas puderam pela primeira vez brincar e estudar juntos.
Foi uma grande festa, o Povo festejava livremente. Era o 25 de Abril, que passou a ser conhecido como o Dia da Liberdade.
Tudo isto aconteceu há 50 anos, mas os nossos avós ainda têm isso muito presente nas suas memórias.
Trabalho realizado pelos alunos da turma do 4ºF da Escola Básica Terras do Ave
Íris Fontão
Leonor Pinto
Leonor Castro
Luana Cardoso
Lucas Santos
Mara Oliveira
Margarida Fareia
Martim Guimarães
Mateus Costa
Mélanie Almeida
Pedro Baptista
Santiago Gonçalves
Ecos do passado: Viajando no tempo
A máquina Big Bang Invertida ficou incrível! É grande, redonda e foi desenhada para viajar no tempo. Na sua construção foi utilizada tecnologia de ponta. Há sensores incorporados que ligam e desligam através de botões e teclas de diamante, e luzes que a fazem brilhar no escuro. Está equipada com câmaras e drones para que os tripulantes possam registar as imagens de tudo o que observam quando partem em missão.
Prontos para a viagem, Soraia e Duarte vestem um fato altamente tecnológico, com um painel eletrónico incorporado no peito, e dirigem-se ao portal principal da Big Bang. Foram selecionados pela sua coragem para experimentarem, pela primeira vez, a máquina do tempo. Boa sorte. Desejaram um ao outro antes de clicarem numa das teclas de diamante. Agora! E, em segundos, foram parar a uma escola, numa aldeia do Norte de Portugal, chamada Oliveira S. Mateus. Estávamos no dia 15 de abril do ano de 1974.
Estupefactos, os pequenos tripulantes perceberam que os meninos e as meninas não brincavam uns com os outros. Estavam separados por uma rede que dividia o recreio. Meninos para um lado e meninas para o outro. Todos usavam batas, talvez para esconderem a pobreza e a miséria que as roupas denunciavam.
Humm! Muito estranho. As crianças da escola aproximaram-se com olhar desconfiado. Algumas fugiram assustadas. Mas, depois de uma troca de olhares começaram a conversar.
Explicaram que o Parque do Quinteiro, mesmo ali ao lado, era bom para brincarem juntos, mas como eram pobres estavam proibidos de lá entrar.
António, o aluno mais velho, explicou que a vida era muito difícil. Não há liberdade porque vivemos em ditadura. Acrescentou que quando saísse da escola tinha que trabalhar para ajudar a família. Passava-se muita fome naquele tempo. Nunca tinha comido uma banana e até o pão era difícil de encontrar. Contou que o Carlos saiu da escola para ir trabalhar com apenas treze anos. Mergulhava as pernas nas águas do rio Ave para tirar areia para a construção de casas. É um trabalho muito duro. Recebia vinte escudos, uma nota de Santo António, que entregava direitinha à mãe para ajudar nas despesas da casa. O pai do Manuel estava na prisão, em Peniche. Tinha ido a salto para França para escapar à guerra, mas acabou preso pela PIDE, já muito perto de Espanha. Não temos notícias dele. O Lápis Azul encobria as verdades que não podiam ser reveladas.
Do outro lado da rede do recreio da escola, aproximou-se uma menina curiosa e sonhadora. A Anabela. Contou que também ela não poderia continuar a estudar quando terminasse a quarta classe. Tomava conta de três irmãos e todos os dias percorria quilómetros
com o irmão mais novo ao colo para a mãe o amamentar. A mãe trabalhava em Riba de Ave na fábrica Sampaio Ferreira. Naquele tempo, os operários trabalhavam em condições miseráveis, recebiam pouco dinheiro por muitas horas de trabalho. Anabela adorava ler, mas não tinha livros. Ter um livro era como ter um tesouro. Talvez a professora, D. Elvira, intercedesse junto dos seus pais para a deixar continuar a estudar. Era assim que a professora costumava fazer com os bons alunos.
A conversa foi interrompida quando o recreio terminou. Temos de entrar antes que a professora nos dê umas boas reguadas. Despediram-se com um sorriso tímido e afastaram-se a correr. A Soraia e o Duarte não sabiam o que eram reguadas e nem tiveram tempo para perguntar. Também não tiveram tempo de lhes dizer que a Revolução dos Cravos estava quase a acontecer e que ia trazer liberdade ao país e melhores condições de vida para todos.
Voltaram a preparar-se para atravessar o portal da Big Bang Invertida. Ativaram o painel eletrónico instalado nos fatos e avançaram mais alguns dias no tempo. Pararam no dia 25 de abril de 1974 e, desta vez, no Terreiro do Paço, em Lisboa.
Havia muita alegria nas ruas. As espingardas dos soldados estavam enfeitadas com cravos vermelhos. Ouviam-se gritos de Liberdade.
Entretanto, na pequena aldeia, lá no Norte, em Oliveira S. Mateus, reinava o silêncio. As notícias iam chegando devagarinho, aos poucos, através da rádio. Havia ainda muito receio por terem vivido tantos anos em Ditadura. Só passados alguns dias, no primeiro de maio, o povo pôde festejar verdadeiramente a liberdade, numa grande concentração junto ao rio Ave. A ponte tornou-se pequena para tamanha multidão.
Carlos, veio a tornar-se Presidente da Junta de Freguesia. Anabela, conseguiu terminar os seus estudos e é a professora da escola. António, fundou a primeira Associação de Pais, tendo sido presidente da mesma durante vários anos. Todos têm, hoje, uma participação muito ativa na freguesia para compensar os tempos em que viveram oprimidos, sem liberdade de expressão.
Com o 25 de Abril de 1974, imbuídos pelo espírito da Revolução, as crianças da pequena escola de madeira invadiram o parque do Quinteiro, onde até aí estavam proibidos de entrar, e grafitaram à entrada “Bicicletas ao Parque!”.
de Oliveira S. Mateus
2023/2024
Conto (escrito pelos alunos da turma H2, coletivamente)
EB
Turma H2
Amoreliberdade
Numatardechuvosadeinverno,Helder,comoerahabitual,foiparacasadosseusavós.Não podendobrincarnojardimquerodeavaacasa,Helderdeixou-seficarpelasala,aopédoavôque, sentadonasuacadeiradebaloiço,seaqueciacomaschamascrepitantesdalareira.Rodeadode memóriasfotográficas,Heldercomeçouaobservarasfotografiascomonuncaantesohaviafeito,e enquantoobservavaasdiferentesmolduras,umadasfotografiasdespertouasuacuriosidade.Esta retratavaosseusavósnodiadocasamento.Helderpegounamolduraqueocativoueperguntou:
-Avô,comoconhecesteaavó?
Peranteaquelapergunta,osolhosdoavôbrilharamedeexpressãoemocionadacomeçoua contarasuahistóriadeamoraoneto.Umahistóriaqueguardavacomcarinho,comoumtesouro preciosoqueresistiraaotestedotempo.
-Meuquerido,voulevar-tenumaviagemdotempo! Aumtempoemqueeuerajoveme Portugalestavaimersonaagitaçãodamudança.-começouoavô,enquantoonetooescutava atentamente.-Eueraumrapazapaixonado,cheiodesonhoseideais.Efoinessemomento tumultuadodanossahistóriaqueeuconheciatuaavó.Elaeraumajovemencantadora,comum sorrisoqueiluminavaomeumundo.Aindamelembrodoprimeiroencontro,comosefosseontem. FoiduranteamanifestaçãodaRevoluçãodosCravos.Asruasfervilhavamcomofervordamudança, eali,nomeiodamultidão,osnossosolharesencontraram-se.
-RevoluçãodosCravos,avô?Masasplantastambémserevoltam?!-questionouoHelder, comumolharestupefato.
PeranteasquestõesdoHelder,oavôdeuumagrandegargalhadaeobservouonetocom ternura,antesdasuaexplicação.Elesabiaqueeraimportantetransmitirnãoapenasosfactos históricos,mastambémosignificadoeoimpactoqueesseeventotevenavidadaspessoasena históriadePortugal.
-Não,meuquerido,asplantasnãoserevoltam.ARevoluçãodosCravosfoiummomento extraordinárionahistóriadePortugal,umperíododemudançaetransformaçãoqueaconteceuem abrilde1974.-começouoavô,escolhendoassuaspalavrascomcuidado.-ImaginaquePortugal eraumpássaronumagaiola,comassuasasascortadas,incapazdevoarlivremente.Eraumpaís governadoporumregimeautoritário,ondeasliberdadesindividuaiseramrestritaseademocracia eraapenasumsonhodistanteparamuitos.Aspessoasviviamcommedodeexpressarassuas opiniõesedeseremperseguidaspordiscordaremdogoverno.
Oavôrespiroufundo,enquantoreuniaassuaslembrançasecontinuou.
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-ARevoluçãodosCravosfoicomoabrirasportasdeumagaiolaedeixaropássarovoar livremente.Foiummovimentopacífico,lideradopelopovo,especialmentepelosmilitaresque estavamdescontentescomoregimeopressivo.Osmilitaresescolheramodia25deabrilparaagire, comcravosvermelhosoferecidosporumafloristaecolocadosnoscanosdasespingardas, marcharampelasruasdeLisboae,semderramaremsangue,conseguiramderrubarumgoverno autoritário.
Oavôolhounosolhosdoneto,certificando-sedequeeleentendiaaimportânciadesse momentonahistóriadePortugal.
-ARevoluçãodosCravosnãofoiapenassobreaquedadeumregime,massobreorenascer daesperança,daliberdadeedademocracia.Foiummarcoqueabriucaminhoparaumnovo Portugal,ondeaspessoaspassaramapoderexpressarlivrementeassuasideiaseondeajustiçaea igualdadefloresceram.
Omeninoabsorviacadapalavraquesaíadoslábiostrémulosdeemoçãodeumavô envolvidonasmemóriasdeumavidalonga,difícil,masrepletadefelicidade.
-Estouaperceber,avô!ARevoluçãodosCravosfoiumalutapelodireitodaspessoasaserem livreseaviveremnumpaísjusto.-disseoneto,refletindosobreoqueacabaradeouvireaprender.
Oavôsorriucomorgulhoesatisfação,felizporpoderpartilharumpedaçodasuahistóriade vidacomoseuneto.Talvezopedaçomaisvalioso!
Embebidonestaatmosferadeemoção,Helderlembrou-sedaavó,edeformaentusiasta pergunta:
-Eaavó,avô,eaavó?
Oavôcontinuouacontarasuahistória,transportandoonetoparaumtempoemqueo amorfloresceu,mesmonomeiodaagitaçãopolítica.
-Onossoamorcresceucomoumaflor,forteeresistenteàmudança.Encontrávamo-nos secretamentenasombradanoitedeparquestranquilos,semprecomocoraçãoabaterfortede emoçãoemedo.Masonossoamoreramaisfortequequalquertempestade,maisresistentedoque qualquerregime.
Oavôsorriuaorelembraraquelesmomentospreciosos,enquantoonetooolhava,fascinado pelahistória,econtinuou:
-Quando,finalmente,sedeuarevoluçãoePortugalrespiravaliberdade,celebramosanossa uniãodiantedeumanovaeraquesorriaparanós.Casamo-noscomapromessadeenfrentarjuntos todososdesafiosqueavidanosreservava.
Alheiaaoclimadeemoçãoeentusiasmo,alareiracontinuavaacrepitarsuavemente enquantooavôconcluíaasuahistória.Oneto,comosolhosabrilhardeemoção,levantou-see
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abraçou-ocomcarinho.Umabraçoforte!Umabraçotãolongoquantooamorquesentiamentreos dois!
-Avô,obrigadoporpartilharesestahistóriatãobonitacomigo!Éumainspiração!-disseo neto,comgratidão,tentandodisfarçaravozembargadaeesconderaslágrimasqueteimavamcair.
Eali,naquelasala,juntoàlareira,otempoparounumaconexãoeternaentreopassadoeo presente,entreavôeneto.Oamoreahistóriaentrelaçaram-se!
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AgrupamentodeEscolasTerrasdoAve-EBTerrasdoAve 3.ºAno-TurmaF1-2023/2024
DaviSantosBomfimAzevedo
DavideSantiagoMarquesPereira
DuarteSilvaMartins
DuarteFerreiraSilva
DuarteMachadoAzevedo
GabrielSilvaRocha
GonçaloOliveiraMoutinho
IaraAlvesAraújo
JuanaQuinterosAntonio
LaraFilipeCarvalhoAbreu
LeonardoMonteiro
LeonorGonçalvesSampaio
LucasMarquesCampos
MargaridaPereiraMendes
MartimOliveiraRodrigues
SimãoGonçalvesSampaio
SophiaLeiteBonfim
VicentedeMirandaPereiraRibeiro
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Oavôcontadordehistórias
Numamanhãgeladadejaneiro,apequenaLuísafoivisitaroavôManuel,aLisboa.
Eraofim-de-semanadoaniversáriodoseuqueridoavô,quefazia73anos.
Luísaadoravisitá-loeouvirashistóriasdeantigamenteouinventadaspeloavô,juntoàlareira.
Opaiaindamaltinhaparadoocarro,jáLuísaestavaaabriraportaeaabraçaroavô.
EsfomeadosdalongaviagemdoPortoatéLisboa,almoçaramedeliciaram-secomocozidoà portuguesaqueaavóAméliatinhafeitocomtantocarinho.
Depoisdoalmoço,Luísa,cansadadetãolongaviagem,foideitar-senoquartodosavós.Aí,algo despertouasuaatenção.Nuncatinhareparadonumamolduracomumafoto,apretoebranco,doavôcom umaarma,juntodeoutraspessoas.
Intrigada,Luísacorreuparaasalaeperguntou:
-Avô,quefotoéaquelaquetensnoquarto?
-Qualdelas?
-Aquelaqueestáscomumaarmanamão.Éverdadeira?!
-ÓminhaqueridaLuísa,issoéumalongahistória
-Conta,conta…
-Hámuitosanos,Portugalvivianumperíodomuitocomplicadoeoshomens,osmaisjovens, comoeu,naquelaaltura,eramobrigadosairparaaguerra.Comosabes,aguerranãoéalgobom.
-Então,porquecolocasteafotonoteuquarto?
-Óminhaquerida,nessedia,eueosmeuscompanheiros,fizemosalgodequenosorgulhamos muito.Aoaproximarmo-nosdeumaaldeia,apercebemo-nosquehaviamuitascriançaseidososassustadose comfome
-Porqueestavamassustados?
-Nessaaltura,nósestávamosemÁfricaparaobrigaraquelepovoaestarsobonossodomínio.Então, eupudevercoisasmuitomás.Noentanto,nodiaemquetireiessafoto,nóssalvámoseajudámosaquelas criançaseidosos.Brincámoscomaquelesmeninos,demos-lhecomida,curámososseusferimentose ajudámosumagrávidaateroseubebé.Foiumdiaespecialparanós,aocontráriodetodososoutros.
Emocionado,oavôManuelenxugouaslágrimas.
Luísaabraçou-ocomforçaedisse:
-Avô,podesexplicar-meporqueteobrigaramairparaaguerra?Oqueaconteceriasedissessesque nãoias?
-Bem,voucontar-teumpoucodasituaçãoquePortugalviviaquandoeuerajovem Mas,primeiro vamoscomerumafatiadebolodecenouraqueaavófezparanós.Deveestardelicioso!
Ameninapercebeuqueiriaterumaconversasériaequeoavônãosesentiamuitoconfortávelpara falarsobreesseassunto,mas,comosempre,iriasatisfazerasuacuriosidade.
Jásentadosconfortavelmentenosofá,oavôcomeçouacontarque,quandoerajovem,Portugal vivianumaditadura,tendocomochefedeestado,AntóniodeOliveiraSalazare,maistarde,MarceloCaetano.
-Ditadura?Oqueéditadura?
-Ditaduraéquandoopoderdeumanação/paísestácentradoapenasnumapessoaeeladecide tudo.
-Comoassim,avô?
-Imaginanatuacasa,opaiouamãedecidiremtudo.
-Avô,entãonaminhacasaéumaditadura!!!
Oavôsoltouumagargalhadaeexplicoucomcalma:
-Não,natuacasanãoéumaditadura.Ospaisdecidemoqueémelhorparati,semnuncase esqueceremdaquiloquetugostase,certamente,sempreouvematuaopinião,certo?
Luísaconcordou,mascompoucaconvicção.Então,oavôcontinuou…
-Antigamente,aspessoasnãopodiamexpressarasuaopinião,nemsepodiamjuntarpublicamente nemfalarmaldoGoverno,poispodiamserpresasporisso.Haviaumapolíciapolítica,aPIDE,queasprendia, torturavae,porvezes,assassinava.Aspessoasviviamassustadasenãofalavamcomninguém,poisnãosabiam quemfaziapartedessapolícia.
-Asério?Nãopodiamestaràvontadecomosamigos?Aspessoasdeviamestarmuitotristes.
-Sim,eramuitotriste.Mas,maistristeaindaeraavidadasmulheres.
-Comoassim?-perguntouLuísasurpreendidacomestainformação.
-Sabes,nessaaltura,asmulheresnãotinhamvoznanossasociedade.Paraalémdenãoiremà escolaedenuncaaprenderemalereaescrever,eram,desdeainfância,educadasaseremdonasdecasa,a trataremdosirmãose,maistarde,dosfilhos.Tambémtrabalhavamnocampoeeradifícil.
Luísaestavachocadacomoqueouvia.Oavôcontinuou…
-Daquiaalgunsdiasiráhavereleiçõeseatuamãeeatuaavóirãovotar…
-Eu,quandoforgrande,tambémvouvotar.-disse,interrompendooavô.
-Poisé,Luísa… Antigamente,asmulheresnãotinhamodireitodevoto,sóoshomens.Sabiasqueas enfermeiras,astelefonistaseashospedeirasdaTAPnãopodiamcasar?Easprofessorassópodiamcasar comumaautorizaçãoespecial?
Luísaficouboquiaberta.
-Comoépossível?
-Eaindahámais sequisessemsairdopaís,sópodiamfazê-locomautorizaçãodomarido.
-Aindabemquenãonascinaqueletempo!
-Éverdade.Outroslutaramparaquehojepudessesvivercomliberdade.
-Avô,seasmulheresnãosabiamlernemescrever,entãonãopodiamescrevercartasdeamorouler umlivro.
Peranteoqueanetadisse,oavôsoltouumagargalhada.
-Nãoescreviamoupediamajudaparaofazer.Lerumlivro?Tudoeracontrolado,comooslivrosque sevendiam,oquesedizianarádio,asmúsicasqueseouvia,oqueescreviamnosjornais Chamava-se censura.
Otempopassouenemreparamnolindodiadesolqueestavaláfora.
OavôsugeriuiremdarumpasseioeaproveitarparacomerumpasteldeBelém.Imediatamente, Luísaaceitou.Vestiramocasaco,calçaramasbotaseláforam.
Duranteopasseio,ameninaiacontandoaoavôcomoestavamacorrerasaulaseoquantogostava deandarnobalé.Atéfoidemonstrandoalgunspassosquetinhaaprendidoequasequecaía,poisnem reparouqueopisoestavaescorregadio.
Osdoisriram-semuitoeoavôdeu-lheamão.
EnquantocaminhavamecomiamopasteldeBelém,oavôparouemfrentedeumedifício.
Sentaram-seeoavôperguntou:
-Sabesqueedifícioéeste?
-Não.
Oavôcontinuou.
-Aquiaconteceualgoimportanterelacionadocomanossaconversa. -Comosechama?
-Calma.Antesdisso,aindatenhomuitoparatecontar.
Luísaarregalouosolhosdecuriosidadeedisse:
-Váláconta.Querosabertudo!
-Orabem,aspessoasandavamdescontentese,nodia24deabrilde1974,umgrupodemilitares, comandadoporOteloSaraivadeCarvalho,organizaram-separadarinícioaumgolpedeEstado.Para ninguémdesconfiar,elesarranjaramestratégias…
-Estratégias?Comoassim?
-Aprimeira,queindicavaqueestavatudoprontofoiàs22:55h,passounarádioamúsica”Edepois doadeus”,deumcantorchamadoPaulodeCarvalho.Algumtempodepois,às00:20h,passouamúsica “GrândolaVilaMorena”,deZecaAfonso.Comestamúsica,osmilitareseoseucapitão,SalgueiroMaia, iniciaramaRevoluçãoeocuparamoBancodePortugal,arádioMarconieoTerreirodoPaço,ondeestavam concentradostodososministérios.
-Eporqueestamosaqui?Comosechamaesteedifício?
-Chama-seQuarteldoCarmoefoiaquiquese“escondeu”MarceloCaetanoeosseusministros.
-Encontraram-nos?
-Sim,querdizer,passadasalgumashoras,elesentregaram-se,oumelhor,renderam-sequesignifica quedesistiram.
-GraçasaDeus!Finalmenteaspessoaspuderamserlivres.Foiissoqueaconteceu,avô?
Enquantocaminhavamemdireçãoacasa,oavôfoicontandoalgumasdasmudançasocorridas.
-Entretanto,oMFA,queeraoMovimentodasForçasArmadas,comodevesimaginar,éformadopor militares,entregouopoderaumaJuntadeSalvaçãoNacional,lideradaporAntónioSpínola.
-Avô,essesenhorerabom,queriaquetodosfossemlivres?
-Sim,Luísa,estesenhoreoMFAtrouxeramalegriaaosportugueses.Aspessoaspassaramaser livresdedarasuaopinião;aescolapassouaserparatodos,meninosemeninas,ricosepobres;aspessoas quetinhamsidopresasporfalaremmaldoGovernoforamlibertadas;passouaexistirumsaláriomínimoe ostrabalhadoresganharamdireitos,comoporexemploterférias;ovotopassouaserumdireitodetodos osmaioresdedezoitoanos;deixoudeexistiracensuraaosmeiosdecomunicação;acabouaguerra colonial,entreoutrascoisas.
-Eusouumasortudaporvivernumademostracia!
-ÓLuísa,nãoédemostracia,masdemocracia!
Osdoisriramsemparar.
Quandochegaramacasa,Luísafoilogoabraçarospaiseaavó.
Opaicuriosoperguntou:
-Então,oqueandaramafazer?
-Pai,nemimaginasoqueaprendisobrearevolução.Avô,comosechamouarevolução?
-RevoluçãodosCravos!
-DosCravos?Algumacoisanãomecontaste!
-Chama-seassim,porque,quandoosmilitaresestavamnoTerreirodoPaço,passouumafloristaque colocouumcravonapontadecadaarma,emsinaldePaz.Eassimficouconhecida.
-Uau,tusabestantacoisa!Quandochegaràescolaeaprofessorafalarsobreo25deabrileuvou partilharoquemecontaste.
Eassimfoi… Passadosunsdias,aLuísatelefonouaoavôacontarqueaprofessoraeoscolegas adoraramashistóriasqueelapartilhousobreaRevoluçãodosCravos.
-Sabes,avô,aprofessoragostariadesaberse,quandonosvieresvisitar,podesiràminhaescolafalar sobreessetema.Gostavatanto,podesiravô?Porfavor,dizquesiiiimmmmm…
-Combinado,dizàprofessoraqueaceitooconvitecomtodoogosto.Elaqueescolhaodiaqueeu apareço.
ALuísaficoumuitofeliz,porquepoderiaapresentaraosseusamigosomelhorcontadorde histórias,verdadeiraseinventadas,domundo,oseuavôManuel.
EBOliveiraSantaMaria 2023/2024-3.ºanoJ1 ProfessoraTitular:ÂngelaPereira-966248451
Turma3.ºanoJ1
-CarlotaPereiraMelo
-ClaraCostaRibeiro
-DanielJoséSilvaCastro
-GonçaloFerreiraLopes
-JoãoOliveiraMachadoRuivo
-LaraOliveiraMoreira
-LeonardoMendesMachado
-LeonorOliveiraGomes
-MargaridaSilvaCardoso
-MariaClaraAlvesVeloso
-MariaFranciscaAraújoFernandes
-MariaJoãoAbreuSáPereira
-MariaMachadoRodrigues
-MariaRodriguesNeto
-MatildeRibeiroGomes
-MiguelAlvesRibeiro
-MiguelÂngeloOliveiraCosta
-RafaelCapelaOliveiraSilva
-SimãoAlvesRibeiro
-DiogoSilvaCarneiro
ProfessoraTitular:ÂngelaPereira-966248451
Histórias de liberdade
Naquela manhã, David acordou mais cedo do que o normal. Algo tinha perturbado o seu sono. Sentia uma sensação estranha nas pernas, como se uma aranha gigante trepasse o seu corpo. Rapidamente, levantou-se e abriu a janela do quarto. A rua estava vazia, muita calma. O vento soprava os galhos finos das pequenas árvores rentes à estrada, o sol já nascia ao longe e iluminava as casas. Distraído com a paisagem, nem sentia a mãe a tocar-lhe no ombro. A mãe mandou-o vestir o uniforme e, como acordara mais cedo, depois podia descansar.
Vestiu-se rapidamente e desceu para jogar à bola com o seu melhor amigo. Embora David fosse surdo, isso não o limitava muito, já que sabia ler lábios Assim, as pessoas podiam falar normalmente com ele, que ele entendia. Quando jogava à bola, David lembrava-se do seu pai que, em 1970, foi para a guerra colonial e, desde aí, nunca mais voltara. Tinha muitas saudades dele.
De repente, um soldado alto, que tinha um ar de ser muito forte e corajoso, e que estava montado num cavalo cor de neve salpicado de manchas castanhas, ordenou que saíssem o mais rápido possível da rua e que não voltassem a sair de casa naquele dia. Num passo pesado, com uma extrema tristeza acumulada, David pegou na bola e voltou para casa. Já o seu amigo corria com um ar de medo no rosto. Parecia que o militar lhe tinha gritado.
Em casa, deitou-se no sofá e ligou a televisão na esperança de ver algo interessante.
Infelizmente, para sua grande desilusão, a imagem falhava e as legendas correspondiam a letras de músicas secantes. Só não desligou o aparelho porque a sua avó, que fazia o almoço, pediu para o deixar ligado; que queria ouvir a música mesmo que não se percebesse nada da imagem Entediado, olhou à sua volta. Viu que a sua mãe estava muito nervosa, andava de um lado para o outro, impacientemente. Não lhe perguntou o motivo. Ele conhecia a sua mãe. Uma mulher extremamente humilde, carinhosa e muito trabalhadora. O problema é que ela se punha sempre em último lugar. Quando tinha tempo para si, sentia-se a pessoa mais egoísta à face da Terra. Não via valor em cuidar da sua autoestima e das suas necessidades, mesmo que de forma tão esporádica Para ela, tudo era culpa sua, desde o seu filho ter nascido surdo até à partida do seu marido para a Guiné. Ele era, na verdade, o único que conseguia fazer a D. Maria Alexandra, a sua linda mulher, sentir-se mais confiante e positiva em relação à vida. Finalmente, na televisão, passava algo que já não parecia tão aborrecido. Apareceu uma notícia. Depois de o título surgir em letras brancas, que se destacavam naquele quadrado negro, David não entendeu nada, estava muito cansado e confuso. Parecia que tinha acabado de acordar da maneira mais repentina e brusca possível. E tinha. Tinha acabado de acordar do mar de pensamentos em que caíra e que, por acidente, adormecera. Com alguma frequência, David
desligava da realidade e começava a navegar pela imaginação. Não se importava nada com isso, pelo contrário, ele era um sonhador e ali nada o restringia. Podia imaginar como seria a sua vida se fosse um animal, como seria a sua avó quando era jovem ou até a sua mãe quando era bebé. Mas o que o deixava mesmo feliz ao perder-se nos caminhos vastos da imaginação era que, ali, podia ver o seu pai a sorrir-lhe com um ar doce e meigo, porém com uma roupa que nunca o vira usar. Estava estampada com tons de verde e de castanho e com um capacete rijo a combinar. Achava a vestimenta engraçada
Já de volta à vida real, viu a sua mãe, a sua avó e o seu gato, o Zeca, a almoçar A mãe e a avó estavam felizes e emocionadas, como se algo incrível tivesse acabado de acontecer Curioso, decidiu perguntar o que se passava. Para o seu espanto, a notícia era terrível. A ditadura tinha acabado. De imediato, perguntou como elas estavam tão alegres e não aterrorizadas. O medo subia-lhe pelo corpo. O que aconteceria a seguir? Como seria o novo Estado? Ele era tão feliz e livre no Estado Novo! A escola ensinara-o que Salazar era uma pessoa maravilhosa. Por que os militares queriam derrubar o Estado Novo? Essas dúvidas corriam a sua inocente cabeça, todas ao mesmo tempo.
A raiva e a revolta preenchiam-lhe agora a alma. Raramente tinha tais sentimentos. Ele era uma pessoa muito pura e bondosa, embora não fosse tão sorridente e brincalhão, pelo menos não tanto como o seu amigo Pedro. Ele era o único que conseguia despertar esse lado secreto do David e era por isso que os dois eram tão próximos. Partilhavam mais segredos do que aqueles que contavam aos pais. David sabia que Pedro e a sua família eram muito pobres. O seu pai era pescador e ele não conseguia pescar muitos peixes. Era o mais velho dos seus cinco irmãos e o que menos recebia atenção. Isso contribuiu para se afastar tanto da família.
O pai de David também era pescador, mas tinha mais sorte na pescaria Era mais experiente e sempre voltava com muitos peixes à segunda, quarta e sexta. Também só tinha um filho, a mulher e a sogra para alimentar. Eram poucos os que não passavam fome nesse tempo e David era um desses felizardos
A notícia espalhou-se rapidamente. Sentia-se tonto, a precisar de respirar. Correu para a varanda, onde viu militares, tanques e pessoas com cravos que eram atirados ao ar. David também queria atirar os cravos que a avó plantara, mas com os vasos. Arrancou, furioso, um deles e desfolhou-o sem dó nem piedade. Afinal, aqueles militares provavelmente iam estragar o país com um novo Estado. Portugal podia ficar mais pobre e a sua família não conseguiria ajudar o pai de Pedro quando este apenas pescasse um peixe. O seu melhor amigo morreria de fome? Estes eram os pensamentos de David, uma criança com apenas oito anos.
Magicamente, as pétalas do cravo juntaram-se e alguém pegou nele. David olhou para a frente e viu o seu pai, que tinha uma aura brilhante à sua volta. O rapaz lembrava-se vividamente
como era o seu pai, alto, forte, de olhos azuis e de cabelo castanho, quase preto. Por isso, logo o reconheceu. Queria dizer-lhe que tinha muitas saudades e que voltasse depressa para casa. O pai, de olhos marejados, disse-lhe que já não voltaria fisicamente, mas que estaria para sempre com ele, mesmo que nunca o visse. David, de coração partido, percebeu o que se tinha passado e começou a chorar. O pai tocou-lhe carinhosamente na cabeça, dizendo-lhe: “ – David, um dia entenderás tudo isto. Continua de cabeça erguida, como eu o fiz. Adeus”. E depois desapareceu. Dois anos se passaram desde o ocorrido e, com muita dificuldade, David chegou ao quinto ano, juntamente com Pedro. Durante esse período, Portugal ficou numa desordem. Sempre trocava de Governo.
Aos poucos, tudo foi melhorando e ficando mais calmo. Finalmente, David começou a acreditar que, talvez, a democracia pudesse chegar a qualquer lado.
Colégio Machado Ruivo
Ano letivo 2023-2024 / 6.º A
Afonso Pereira Cunha Veloso Poiarez
Ana Miguel Guimarães Silva
Beatriz Rodrigues Afonso
Bernardo Silva Gomes da Costa
Ema Rodrigues Correia Ferreira
Filipe Silva Monteiro de Azevedo
Francisco Coroa Pinto
Gaspar Serra Borges dos Santos Guimarães
Gonçalo de Oliveira Eusébio
Maria da Cunha Correia
Matilde Ferrão e Silva
Matilde Pinto Neves de Oliveira
Miguel Marinho Barbosa
Nuno Tomás Azevedo Paulo Eusébio
Petra Ribeiro Marques de Oliveira
Rafael Rodrigues Correia Ferreira
Rodrigo Fidalgo Lino Pereira Costa
Vasco Correia Mendonça
25 de abril: 50 anos de liberdade e democracia
Se eu estivesse no dia 25 de abril de 1974, em Lisboa
Numa alvorada de abril, uma andorinha planava pelos céus de Lisboa, entre os campos adornados de flores. A andorinha que plantava sonhos pelo céu de Lisboa era eu, voando em busca de liberdade e esperança.
Pairava no ar, porém, uma tristeza entre todos os que encontrei no meu caminho com conversas sussurradas e olhares melancólicos.
Por entre as ruas silenciosas da cidade, pousei, suavemente, no alpendre de uma casa. Avistei uma senhora de meia-idade, com um brilho no olhar, enquanto se entregava à doce melodia “Grândola Vila Morena”. Os ponteiros do relógio marcavam meia-noite e vinte.
Lá do alto, vi os soldados seguindo a sua marcha em direção ao Terreiro do Paço, como se de um tabuleiro de xadrez se tratasse. Em vez de armas, só lindos cravos vermelhos foram lançados ao vento, como símbolo da liberdade.
As ruas ecoavam com o clamor do povo: “Liberdade, liberdade” e eu planava, alegremente, pelo estrelado céu de Lisboa. A música desdobrava-se em pequenas melodias como uma dança de luz e sorrisos.
Vislumbro, das alturas, o desaparecer das sombras da ditadura, dando lugar à aurora radiante da democracia, onde os corações floresciam em liberdade e esperança.
Voava então, ainda, mais feliz entre os raios de sol que despontavam as praças e os sons suaves vindos do Tejo que acompanhavam o meu voo.
Os sonhos floresciam entre todos e Portugal respirou, finalmente, a brisa da liberdade.
Turma 4º BC
Afonso Moniz Carvalho Azevedo Vilela
André da Silva Carvalho
Dinis Barbosa Pereira
Enzo Silva Rodrigues
Francisco Alves Magalhães
Iara Filipa de Jesus Monteiro
Isaac Ferreira Monteiro
João Dinis Sousa Pereira
João Maria Sá Araújo
Joaquim Eduardo Marques da Cruz Costa
Leonor Moreira Rodrigues
Maria da Luz Brandão Lopes
Maria Luísa Barbosa Carvalho
Mariana Calderon Laguado
Martim Moniz Carvalho Azevedo Vilela
Matilde Silva Mendes
Rodrigo Marcos Ribeiro
Salvador Paupério Brandão Ferreira
Sara Ribeiro Campos
Sofia Filipe de Oliveira Rebelo da Silva
Victória da Silva Ferreira
“25 de Abril: 50 anos de liberdade e democracia”
Se eu estivesse em Lisboa no dia 25 de Abril de 1974…
O vaso da Liberdade
Olá! Eu sou um vaso azul e branco, cheio de desenhos que parecem pequenas danças. Vivo numa varanda na Rua das Flores, em Lisboa e tenho uma história para vos contar. Aconteceu no dia 25 de Abril de 1974, um dia que nunca vou esquecer.
Naquela manhã, acordei cheio de cravos vermelhos. A minha dona, a Dona Celeste Caeiro, cuida muito bem de mim e gosta de me encher de flores. Mas naquele dia foi diferente. Havia muitos barulhos estranhos lá fora, gente a falar alto e o som de carros e de tanques.
De repente, vi algo incrível: as pessoas começaram a dar cravos aos soldados que estavam na rua.
E sabem uma coisa? Um dos meus cravos foi escolhido por um jovem, que colocou a flor no cano da arma de um soldado. O soldado sorriu, e eu senti uma alegria enorme. Eu, um simples vaso, estava a ajudar a fazer a paz!
A Dona Celeste explicou-me depois, que aquele dia tinha sido muito importante. Era o dia da Liberdade de Portugal, o dia em que as pessoas lutaram sem lutar, usando flores em vez de armas.
Desde esse dia, sinto-me muito mais do que apenas um vaso. Sou um símbolo daquele momento mágico, um lembrete de como a paz e a liberdade são importantes. E tudo isso porque um dos meus cravos ajudou alguém a sorrir num dia tão especial.
E assim, mesmo sendo um vaso, eu vi como um simples gesto pode mudar o mundo. E esta é a minha história.
Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Escola Básica Luís de Camões
Ano 2023 / 2024 Turma 4BA
Carolina Lopes Gouveia
Constança Mendanha P. Carvalho
Duarte Nuno Araújo Rafael Oliveira
Francisco Jorge de Oliveira Costa
Francisco Ramos Moreira
Gabriela Veloso Pereira
Guilherme Coelho Sousa
Ianne Raquel Sandim dos Santos
João Duarte Vila Catão C. Rodrigues
Lisandra Silva Vicente
Mafalda ribeiro Sequeira
Maria Carlos de Vieira e Abreu
Maria Coelho de Frutuoso
Matilde Silva Maia
Miguel Guilherme S. Domingues
Miguel Lopes Faria
Rodrigo Ribeiro Castro
Sofia Endrijevschi
Tiago Guedes Lopes Araújo
Tiago Miranda Pereira
Tomás Castro Gomes
Vitória Isabel Almeida Ribeiro
3.º ESCALÃO CONTOS
25deabril .umamemória!
Numasextafeiraensolarada,nofimdenovembro,doisirmãosgêmeoschamadosFranciscoeJoãoPedro,que frequentavamo7ºano,foramdesafiadospelaprofessoraOdete,deHistória,afazerumtrabalhosobrea comemoraçãodos50anosdo25deAbril,nasequênciadaexposiçãoqueviramnaescolasobreosantecedentes darevoluçãodaliberdade.
OJoãoPedroeraoirmãomaisvelhoporapenas5minutosdediferença.Apesardeseremgémeos,sãobem diferentes,eleéalto,elegante,temocabelocastanhoeencaracoladoeolhoscastanhos.Éengraçado,gostade estudaregostamuitodejogarvôlei.OFranciscoébaixo,elegante,temcabeloloiroelisoeolhosverdes.Eleé rebelde,alegre,nãogostadeestudaregostadejogarfutebol.
Quandoterminaramaaula,osirmãosforamdecomboioparacasa,ondeoFranciscodisse:
-Vamosfazerumaespingardaeumcravodecartãoparaotrabalho?
-Não,vaisermuitodifícil,émelhorfazercartazes-disseoJoãoPedro.
-Masvaisermaisdivertidoecriativo-disseoFrancisco.
-Quandochegarmosacasa,pensamosmelhor.Vamosfazerostrabalhosdecasaedepoisvemosisso-disseo JoãoPedro.
Chegandoacasa,elesfizeramostrabalhosdecasadematemáticasobreequaçõesdo1ºgrau,oFranciscoachou muitodifícilecomplicado,jáoJoãoPedrofê-loscommuitafacilidade.Malacabaramdefazerostrabalhosde casa,foramfazerumsandwichparacadaum.Quandoestavamacomer,oFranciscodisse:
-Seráqueantesdo25deabrilnóspoderíamosterumaescolacomohojeemdia?
QuandooJoãoPedroiaresponder,amãechegou.Elachamava-seÂngela,tinha45anos,eracostureiraesótinha o9°ano.Eraalta,magra,tinhacabeloruivo,compridoeencaracoladoeosolhoscordemel.
Elescontaramàmãesobreotrabalhoquetinhamdefazer.Amãedisse:
-Peloqueosvossosavóscontavam,antesdo25deAbrilavidaeramuitodifícil.Porexemplo,apesardehaver escola,ataxadeanalfabetismoeramuitoelevada,poisnemtodostinhamacessoaosestudosemuitosdesistiam daescolaparairtrabalhar.Seagoraestivéssemosnaquelaaltura,vocêsestariamnamocidadeportuguesa,onde nãopoderiamdaravossaopiniãoetirardúvidaslivrementeetambémnãopoderiamusarasroupasqueusamno vossodiaadia,massimumuniformequeseassemelhavacomosuniformesdosescuteirosdehoje.Asaúdeera muitopouca,havendoumagrandetaxademortalidadeinfantildiminuindoapopulaçãoportuguesa,porqueeram poucososprofissionaisdesaúde.
Depoisdefalaremmaisumpoucosobreashistóriasquelhescontavadaquelaépoca,amãeajudouosgêmeosa pensaremnoquefazerparaotrabalho.
Naescola,osdoisirmãosforamfalarcomosseuscolegasdegrupoedecidiramirparaabibliotecadiscutiro assunto.Estiveramláatrocarideiassobreotrabalhoepensaramqueseriainteressantefazerumaexposiçãocom imagensehistóriasdaqueletempo.
Combasenestaconversa,nofimdodia,osirmãosforamtercomoseuavôLino,quetinha75anosequevivia comelesnamesmacasa.
-AvôLino!AvôLino!-chamaramosirmãos.
-Digam-me,meuspequenos-respondeuoavô.
-Avô,anossaprofessoradeHistóriadesafiou-nosafazerumaexposiçãonaescolasobreodia25deAbril,será queoavônospodiaajudaremalgumascoisas?-disseoFrancisco.
-Claroquesim,digam-meláoqueprecisamdesaber-disseoavô
-Podesdizer-noscomoeraavidaantesdo25deAbril?-perguntouoJoãoPedro.
-Posso,masantesdevoscontarvamossentar-nosnasala-disseoavô.
Osdoisirmãoseoseuavôforamparaasalaesentaram-senosofá.Elesestavamprontosparaouvirahistóriaque oavôlhesiacontar.
-Euvoucontar-voscomoeraavidaantesdodia25deAbrilde1974.Antesdessedia,asmulheresnãotinhamos mesmosdireitoslegaisqueoshomensemuitasnecessitavamdeautorizaçãoescritadosmaridosparacertosatos davidasocial.Asenfermeiras,professoras,telefonistasehospedeirasnãosepodiamcasarsemumaautorização especial.Asmulheresnãotinhamdireitoaovoto.Osuniversitáriosenvolvidosematividadesassociativase políticascontraoregimeeramincorporadosàforçanatropaeincluídosnoscontingentesenviadosparaaGuerra Colonial.Antesnãohaviahospitaiscomoháhojeemdia,tambémnãohaviasaláriomínimonempassesociale muitomenososidosostinhampensãodereforma.Ascriançaseramseparadasporgêneronaescola,etambém eraproibidooconsumodecoca-colaninguémsabiamuitobemoporquê-contouoavô.
-Obrigado,avô,masseráquetambémnospodiascontarcomoaspessoasviveramaqueledia?-disseoJoão Pedro.
-Oravamosláaver… Naqueledia,demadrugada,osmilitaresdoMFAocuparamosestúdiosdoRádioClube Portuguêse,atravésdarádio,explicaramàpopulaçãoquepretendiamqueoPaísfossedenovoumademocracia, comeleiçõeseliberdadeparatodos.Epunhamnoarmúsicasdequeaditaduranãogostava,comoGrândolaVila Morena,deJoséAfonso,eusavam-nascomosenhasparacomunicaremunsaosoutroscomodecorriamasações darevolução.
Aomesmotempo,umacolunamilitarcomtanques,comandadapelocapitãoSalgueiroMaia,saiudaEscola PráticadeCavalaria,emSantarém,emarchouparaLisboa.Nacapital,tomouposiçõesjuntodosministériose depoiscercouoquarteldaGNRdoCarmo,ondesetinharefugiadoMarceloCaetano,osucessordeSalazarà frentedaditadura.Duranteodia,apopulaçãodeLisboafoi-sejuntandoaosmilitares.Acertaaltura,uma vendedoradeflorescomeçouadistribuircravos.Ossoldadosenfiaramopédoseucravonocanodaespingardae oscivispunhamafloraopeito.PorissosefalavadaRevoluçãodosCravos.Duranteodia,apopulaçãodeLisboa foi-sejuntandoaosmilitareseoqueeraumgolpedeEstadotransformou-senumaverdadeirarevolução.Aofim datarde,MarceloCaetanorendeu-seeentregouopoderaogeneralSpínola,que,emboranãopertencesseao MFA,nãopensavadamesmamaneiraqueogovernoacercadascolónias-contouoavô.
OsdoisirmãosouviramashistóriasqueoavôLinocontoueoJoãoPedroapontounoseucadernotudooqueera importante,paradepoispartilharcomosseuscolegasdegrupo.
-Muitoobrigado,avô,deste-nosumagrandeajuda.Atéjá-disseoJoãoPedro.
-Denadameusnetinhos.Atéfiqueicontenteporprecisaremdaminhaajuda.Atélogo-disseoavô.
JáemDezembro,numdomingoànoite,durantearefeição,osirmãosdecidiramfalardenovosobreoprojetodo
25deabril.
-Avoooo,apropósitodaquelaconversaquetivemossobrearevoluçãodoscravos,precisamosdeperceber melhoroquesepassou.Podesajudar-nosaesclarecerasituação?-disseoFrancisco
-Issoémuitacoisaparaaminhacabeça,hahaha.Nãoseisepodereiacrescentarmuitomais...
-Porexemplo,avô,naquelaépoca,comoeramasprofissões?-InsistiuoFrancisco.
-Antesdo25deabril,eramprincipalmenteoshomensquetrabalhavameasmulheresficavamemcasae cuidavamdosfilhos,queerammuitos.Osnossostrabalhoserammuitocansativosecomplicados,poisnão tínhamosgrandeformaçãoeossaláriosdopovoeramsaláriosmuitobaixos,quemaldavaparacomer.
-Ecomoeramasescolas?-QuestionouaindaoFrancisco.
-Asescolaseramdivididasemduaspartes:metadeeraparameninos,quetinhamqueusaruniforme,calçase camisaeaoutrametadeparaasmeninas,quetinhamqueusarsaiaecamisa.Naescolaosmeninosnãopodiam estarcomasmeninasevice-versa.
Mudandodeassunto,oJoãoPedrodisse:Anossaprofessoratem-nosfaladodaPIDE.Seráquenospodesajudara perceberoqueera,avô?
-APIDEeraumapolíciaquedefendiaapolíticainstalada.Porexemplo,quemfalavamaldogovernoera perseguidoatéamorte,porissonãohaviaoposiçãoaogoverno.Nãoerapermitidogruposdepessoas juntarem-separafalaroudiscutirideias,nãohaviaassociaçõesenãoerapermitidofestejarnodiadotrabalhador. Agoraémuitodiferenteporqueaspessoassãolivresdemanifestarasuaopinião.Agoraexisteliberdadede expressão,revoltas,greveseantesdo25deabrilissoeraimpossíveldepensar.Aindamelembrodasfestasque existiram,depoisdarevolução.MaisdeummilhãodepessoassaíramàruaparafestejaremLisboa.
-Ohpai,agoraosproblemasdeliberdadenãosãotãoevidentes,masnãodeixamdeexistireassociam-seà responsabilidade-disseoJoãoPedro.Porexemplo,comoexisteinternetaspessoasconseguemdizerascoisas semquesedescubraasuaidentidadeetambémviolamodireitodeautor.Porissoexistemuitocyberbullyinge muitasfakesnews.
Opai,queeraengenheiroeletrotécnicoequesabiabemdoqueestavamafalar,poisamãejátinhafaladocom elesobreesteinteressantetrabalho,disse:
-Pois!Agoraédifícildeacreditarnoqueéditonainternetporqueédifícildesaberseéverdade,porqueexistem muitaspessoasquequeremenganarasoutraseéporissoqueéprecisotermuitocuidadocomainternet.Por outrolado,aviolaçãodosdireitosdeautorabrangeresponsabilidadecivilecriminal,quepodeimplicaraprática decrimescomousurpação,contrafaçãoeaproveitamentodeobracontrafeitaouusurpada.Tambémo cyberbullyingécrimeevocêsnuncadevemaproveitarainternetparaagredirouexporproblemasdeoutras pessoas,nempermitirqueoutrosofaçamsemserdenunciados.
Osgémeosestavammesmosurpreendidoscomtodasestasinformaçõeseaconversacontinuouanimada.
Depoisdojantar,oFranciscoeoJoãoPedrojuntaramestasnovidadesereflexõesaotrabalhoquejátinham compiladonocomputador,ondeiamarticulandoimagensedadosparaconfirmareaprofundarestesassuntos.
Emjaneiro,depoisdasfériasdeNatal,numdosencontrossemanaisdogrupodetrabalhodosgémeos,estavam elesnaescolacomoscolegasafazerotrabalhodepreparaçãodaexposiçãodo25deabrileogrupoconsiderou queeraimportantereferenciaralgunsaspetossobrealiberdadenomundodehoje.
Duranteocaminhoparacasa,osirmãosiamfalandosobreoassunto.Quandochegaramacasa,disseoFrancisco:
-OhJoão,euachoquedevíamosfalarsobrealgunsdostiposdepaísesondeexistepoucaliberdade.
-Tambémachoquesim.Podemosreferirospaísesradicaisislâmicos,porqueláéondeexistemmaisrestrições
-Concordo,essaéumadasregiõescommenosliberdadenomundo!Temosdereferiromotivopeloqualexiste esseproblema-acrescentouoFrancisco.
Elesfazemumabrevepesquisa
-Encontreiumalistademotivos.Aquidiz… hápoucaliberdadeparaasmulheres-disseoJoão.
-Ahisso!Porexemplo,asmulheresnãopodemsairdecasasemacompanhiadeumhomemetêmdevestirum Hijab.EnãonospodemosesquecerdereferirosTalibãs,queéograndemotivodessapoucaliberdadefeminina.
Asmulheresnãopodemiràescolaporcausadeles-comentouoFrancisco.
-Aindaexistem104paísesqueimpedemasmulheresdefazertarefassimples,comoconduzir!-disseoJoão.A maiorpartesãoPaísesIslâmicos.
-Aindabemqueacrescentasteisso!Edizmaisalgumacoisanalista?
-Sim,háintolerânciareligiosa,porqueláelesnãogostamdesemisturarcomoutrasculturasedesprezam-nas.
-Ok,masagoravamosdormirporqueestáaficartarde.
Osirmãosforamdormir
Nooutrodia,quandochegamdaescola,estavamelesdenovoaconversarsobreoassuntoquandoamãedeles entranoquartoepergunta:
-Doqueestãoafalarmeninos?
Osgémeosexplicamàmãequeestavamafalarsobreotrabalhoparaescola,paraaexposiçãosobreo25deabril. Amãeescuta-osedesafia-osaaprofundaraindamaisoassunto.
-Ok,mãe.Masnósjáfalamossobreafaltadeliberdadedecorrentedaintolerânciareligiosa-disseoJoão.
-Euachoquepoderiamfalartambémsobreospaísescomditadura.Passamuitonasnotícias,porissodeveser bastanteimportanteparaovossotrabalho-ajudouamãe.
-Sim,mastemosdereferiralgunspaísesondeexisteesseproblema!
OJoãopesquisasobreoassunto:
-Encontrei!
-Boa.
-Aquidiz,porexemplo,aCoreiadoNorteeaRússia.
-Ahsim!ACoreiadoNorte émuitodifícillá-disseoFrancisco.Lá,todostêmdeusarocortedecabelodo ditador.EnãoexisteInternetlivreemnenhumlugardoPaís.Aspessoasquevivemlánãoconhecemomundode fora,porcausadele.ElenãodeixaninguémviajarparaforadoPaíseaspessoasnãosepodemexpressarcontrao regime.
-Sim,devesermuitodifícilviverlá-comentouamãe.
Nodiaseguinte,osirmãosacordamentusiasmadosparairàescolafecharotrabalhocomoscolegasemostrarà professoraOdeteoquetodosfizeramparaprepararaexposição!
=FIM=
paraconcursosubordinadoaotema“25deAbril:50anosdeliberdadeedemocracia” (promovidopelaCâmaradeVilaNovadeFamalicão,atravésdoprojetoeducativoecultural“DeFamalicãoparaoMundo”)
Autores
1BeatrizMarquesSantos
2BeatrizOliveiraAraújo
3CarlosDanielSilvaOliveira
4DanielFerreiraSilva
5FranciscoLinoM.Ribeiro
7JoãoPauloMatosRiosNovais
8JoséPedroVarajãoAguiar
9LaraBeatrizFernandes
10LeonardoAugustoGuimarãesSantos
11LeonardoMiguelOliveiraMartins
12MarianaFerreiraSilva
13MarianaLeitãoGuimarães
14TomásDinisCorreiaFonseca
Alunosdo9º3-2023-24
AgrupamentodeEscolasdeGondifelos
Fontesdeinformaçãoconsultadas
Grupo1
https://www.pordata.pt/censos/quadro-resumo-portugal Grupo2
https://escolaamiga.pt/blog/485f9848-a6ab-4f64-b00f-05e7f5b6171e
https://visao.pt/visaojunior/historia-visaojunior/2016-04-14-conta-me-como-foi-o-25-de-abril/ Grupo3
https://tag.jn.pt/25-abril-revolucao-mudou-portugal/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_25_de_Abril_de_1974 Grupo4
https://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_dos_Direitos_Humanos_no_Isl%C3%A3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade_religiosa_por_regi%C3%A3o
Professorescolaboradores
● ConceiçãoTorres
● JonesMaciel
● SerafimFaria
TRABALHOCOLETIVO
25 de abril – 50 anos de liberdade e democracia
Museu Vivo
No coração da cidade, entre prédios antigos e ruas de paralelepípedos, fica um museu da Revolução dos Cravos, mas este não é um museu comum, é onde a história ganha vida.
A seu mando está Manuel, um senhor de idade, que todos os dias vê a sua vida documentada por aquelas fotografias e vivas memórias de um tempo indelicado, na qual esperava nunca mais voltar.
A entrar pelas portas de vidro, adornadas com pequenos cravos coloridos estava mais um dos inúmeros grupos escolares a preparar-se para uma regressão a um passado não muito distante, mas tão pouco desejado.
Estas crianças, a jorrar de alegria e satisfação, olham à sua volta perscrutando cuidadosamente todas aquelas fotografias a preto e branco e os jornais rasgados exibidos nas vitrines da entrada do imponente sítio histórico e, com mil perguntas a pulsar na garganta esperam pelo começo oficial da sua visita interativa por aquela que era a história do seu verdadeiro país e que tão mal, ao contrário do que eles mesmos achavam, conheciam.
Então, o outro grupo de estudantes, um pouco mais velhos que os meninos curiosos que aguardavam pela sua entrada, emergiram para o mundo exterior, impactados da sua visita. Alguns deixavam escapar lágrimas silenciosas enquanto outros ainda assimilavam, em silêncio, tudo o que haviam observado naquele pequeno local que salvaguardava quarenta e oito anos da mais impura passagem dos nossos antepassados. Atrás deste grupo, surgiu a figura serena de Manuel, pronto para mais uma dose de terapia de regressão.
“Vamos lá começar a nossa visita?”, perguntou Manuel com um enorme sorriso acolhedor a surgir em seus lábios, recebendo respostas entusiasmadas de “sim” ou então alguns murmúrios de “finalmente”. E assim, com uma sensação de antecipação, estas crianças puderam dar início àquela que seria uma pequena viagem que lhes ficaria na memória para sempre
Conforme os seus pequenos passos proporcionavam uma marcha organizada pelas entranhas do museu as emoções aumentavam cada vez mais e, após mais umas curtas instruções de segurança e de comportamento, adentraram na primeira sala que, conforme um pequeno letreiro indicava seria a recriação das “Ruas da Revolução”.
O ambiente era preenchido com sons reais e característicos das manifestações realizadas nessa tão memorável época, desde o murmúrio da multidão pertencente às marchas, aos gritos suplicantes de ajuda e protesto e às músicas entoadas por vozes determinadas e corajosas. As paredes eram
preenchidas com projeções de slogans políticos pintados à mão em lençóis e pedaços de cartão, expressando os ideais de liberdade e democracia que ecoavam por toda a cidade naqueles anos turbulentos.
Apesar de ainda serem de tenra idade e não perceberem o que muitas daquelas escritas manifestantes significavam, as crianças andavam pela sala maravilhadas com tudo aquilo que viam, exploravam as imagens de soldados empunhando as suas armas com cravos, o famoso símbolo da revolução, com maior interesse. Elas tinham a oportunidade de caminhar por aquelas ruas recriadas e sentir a energia pulsante do movimento revolucionário, enquanto, nas suas mentes ingénuas e virgens, se viam vestidos naqueles fatos, em cima de um tanque e a cantarolar as famosas cantigas.
A segunda sala erguia-se atrás de um cartaz que confirmava a sua identidade, “Discursos e debates” . Esta diferenciava-se bastante daquela em que eles tinham acabado de passar. Era adornada com câmaras antigas e microfones de reportagem ainda mais antigos, um estrado, que apresentava uma pequena televisão em seu topo, elevava-se de um grande conjunto de almofadas que foram de imediato ocupadas pelos pequenos.
Então, imagens acompanhadas pelo seu som, abafado e antiquado, de imagens proeminentes da revolução debatendo entre si preencheram o ecrã vazio. Imagens que Manuel recordava terem sido ecoadas pelas ruas daquela época crucial durante longas semanas, agora preenchiam o espaço trazendo consigo uma sensação palpável do passado.
Para as crianças fora uma revelação surpreendente testemunhar e assistir a imagens e vídeos, que até então só conheciam pelos pequenos documentos e fotografias que preenchiam os seus manuais Estas, foram também, convidadas a interagir e fazer parte de debates teatrais, em que as perguntas eram habilmente e cuidadosamente preparadas para a sua faixa etária. Estas questões delicadas permitiram às crianças fazer pequenas abordagens a temas como a liberdade, justiça e participação cívica de uma maneira engraçada na qual nunca tinham participado.
A seguinte área, que tinha como título, “Bastidores secretos”, despertara uma curiosidade crescente e um ânimo unânime entre os pequenos. Esta recriava todos os bastidores secretos da Revolução dos Cravos, onde os detalhes ocultos da história começam a surgir desde planos clandestinos, a reuniões secretas e até mesmo às ações dos grupos clandestinos.
Ao percorrer as portas desta sala as crianças foram acolhidas por ambiente de mistério e intrigas, com paredes repletas de esquemas e documentos que revelam segredos do grande dia e que foram perscrutados por muitos pares de olhos excitados. Além disso, os estudantes foram desafiados a decifrar a escrita em código, encontrar mensagens escondidas de entre inúmeros papéis “chatos” à
vista desarmada, resolver quebra-cabeças e seguir trilhas ao coração daquele que fora o dia da salvação de seu país.
Esta experiência fora sem dúvida a que deixara todos mais excitados e entusiasmados para o que viria a seguir. O desejo de descobrir mais segredos e desvendar as perguntas que se formulavam nas suas cabeças pulsava cada vez mais rápido dentro das suas veias, tornando esta jornada ainda mais significativa e emocionante para elas.
Na Sala dos “Heróis Anônimos” e da “Transformação”, as crianças foram convidadas a mergulhar em duas realidades complementares da Revolução, que destacavam tanto as histórias individuais de coragem quanto as mudanças coletivas que moldaram Portugal após este evento histórico.
Ao entrar na primeira das últimas áreas, os visitantes foram apresentados às mais belas e corajosas histórias de pessoas comuns que obteram papéis cruciais, mas cujas contribuições muitas vezes passaram despercebidas. Tendo o poder de se conectarem com essas histórias pessoais, os pequenos poderam aprender sobre o poder da ação individual para criar mudanças significativas na sociedade.
Em seguida na Sala da “Transformação”, as crianças penetraram e exploraram as mudanças sociais, políticas, culturais e económicas que ocorram em Portugal após o 25 de abril. Foi neste pequeno espaço que uma das missões iniciais desta visita fora cumprida: apreciar o progresso alcançado ao longo dos anos
Após exploradas todas as salas do museu, as crianças saem das instalações, ainda maravilhadas com tudo o que viram e aprenderam. Manuel, com um sorriso caloroso e simpatizante, lidera o grupo de volta ao mundo exterior, enquanto as professoras partilham animadamente as experiências vividas e o impacto que estas tiveram sobre as mentes jovens dos seus alunos.
À medida que se aproximam do fim da viagem, Manuel para em frente às portas que ostentavam os cravos e volta-se para o grupo de crianças com um olhar carinhoso. “Espero que tenham gostado da nossa jornada juntos”, começa por dizer, sempre com um sorriso estampado no rosto, “lembrem-se sempre da importância da liberdade, da democracia e do poder de fazer a diferença.”
As crianças assentem com entusiasmo, absorvendo as palavras de Manuel com grande gratificação por tudo o que ele lhes mostrara hoje e após fazerem as despedidas iniciam o seu caminho carregando consigo lembranças vívidas daquela experiência memorável.
Enquanto o grupo caminha em direção ao autocarro, o sol põe-se no horizonte, salpicando a sua tinta de tons laranja e rosa para o céu. O vento sopra suavente e leva consigo o espírito da revolução e a promessa de um futuro brilhante e promissor, onde a liberdade e a democracia continuam a florescer.
E assim, enquanto veem o dia cair pelas janelas do veículo, as crianças partem com um novo senso de ver o seu próprio país, prontas para enfrentar a realidade com coragem e determinação, sabendo que são os guardiões de um longo período de luta e dos ideais pelos quais ela se levantou.
Daniela Gomes Fernandes, nº6, 9ºB
Escola Secundária Padre Benjamim Salgado
O grande “25 de abril”
Oito anos se passaram na minha vida e, até à minha aula de história de ontem, o "25 de abril" era apenas uma referência casual nas notícias. No entanto, este tema despertou em mim uma curiosidade tão intensa e pareceu tão significativo que a minha vontade de saber mais tornou-se irresistível. Fui impulsionado a perguntar à minha mãe sobre esse evento, pois como pode um português, independentemente da idade, desconhecer um acontecimento, descrito pelo professor como "fonte de liberdade e alegria do povo".
Esta manhã, despertei sonolento como é costume na maioria das manhãs. Sabia que não seria o momento ideal para fazer perguntas, pois minha falta de energia matinal dificultaria a retenção adequada da informação. Além disso, a minha mãe, provavelmente, não estaria disponível para me explicar detalhadamente o que eu pretendia, já que, como ela sempre diz, "o trabalho não espera e a professora também não".
O dia passou sem que o tema fosse abordado na aula de história de hoje, deixando-me sinceramente desiludido. O professor, em vez disso, abordou um assunto sombrio que ele chamou "ditadura". Descreveu-a como um flagelo que atentava contra o bem-estar, o desenvolvimento intelectual e social da população, caracterizando-a como uma manifestação de pura ganância e um desejo desmedido pelo poder. Essas palavras ecoam na minha mente, levantando a questão de como algo tão mau ainda pode ocorrer no mundo de hoje. Agora, só na próxima semana teremos a oportunidade de continuar a explorar este assunto, o que aumenta ainda mais minha fome de saber.
Contudo, quando cheguei a casa, a minha mãe já lá se encontrava, acompanhada pela minha avó. Não consegui esconder a minha satisfação por ver a minha querida avó Conceição, que apenas nos visitava uma vez por semana e, então, aproveitei e questionei-a:
- Olá, querida avó! Ontem, o meu professor de história falou-me numa coisa que parecia importante ele chamou-a de 25 de abril e, hoje, ensinou-nos sobre outra coisa, mas esta já parecia muito má, chamava-se ditadura.
- Olá, Manuel! Sim, o 25 de abril foi uma coisa muito importante e boa, se não tivesse acontecido, nós, portugueses, ainda vivíamos sobre um regime ditatorial. O 25 de abril aconteceu há 50 anos, no ano de 1974 e deu-nos uma coisa extremamente importante chamada “liberdade” - disse a avó enquanto me dava um beijinho.
- O que é isso de liberdade? - pergunto eu, como sempre tão novinho e desinformado.
- Liberdade é a capacidade de fazermos o que queremos, quando queremos, da maneira que queremos e sem restrições. Às vezes até existe quem use isso para o mal, contudo, no tempo antes do 25 de abril existia uma polícia especial chamada de PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) que não te deixava dizer nada contra a ideia do governante, que, na época, foi um senhor chamado Salazar e, mais tarde, foi o Marcelo Caetano. Não te deixavam fazer o querias, não podia ser tudo publicado, ou seja, nem todos os desenhos animados eram aprovados, apenas passavam os desenhos animados que dissessem bem sobre o regime, apesar de muitas vezes aquilo ser mentira. Nem todas as pessoas podiam votar e dar a sua opinião, as pessoas mais ricas e influentes mandavam nas mais pobres, ou seja, existiam muitas desigualdadesterminou a minha avó o discurso.
- Quando começou tudo isso?
Desta vez, a minha mãe interveio:
- Sabes, filho, tudo começou com um golpe militar, que teve lugar em 1926, e que aconteceu por causa da desordem que existia em Portugal. Em 1928, o chefe militar, que exerceu a função de presidente da República, o senhor Óscar Carmona, convidou o senhor António José de Oliveira Salazar, que era professor universitário de economia na universidade de Coimbra, para Ministro das Finanças, para tentar melhorar a economia do país, o dinheiro do país, filho. Ele resolveu tão bem o problema que, em 1932, o Presidente…
- O senhor Óscar Carmona… – repeti eu, interrompendo o discurso da minha mãe
- Sim, filho – prosseguiu a minha mãe– decidiu promover Salazar a chefe do Governo e, em 1933, este aprovou uma nova constituição, que é um documento com as leis mais importantes do país, aqui Salazar limitou a liberdade de greve e expressão dos portugueses e fez com que cada vez mais ele tivesse mais poder e importância, concentrando nele todos os poderes, o poder legislativo de fazer as leis, o executivo de fazer cumprir as leis e o judicial de castigar quem não cumpre as leis.
- Então, o domínio de Salazar começou em 1933? – perguntei eu, começando a entender as coisas.
- Sim, e este domínio de Salazar ficou conhecido como Estado Novo - esclarece a minha mãe.
- Demorou 41 anos, acabando em 1974 – começou a minha avó- e demorou este tempo todo porque Salazar, apesar de ter lutado contra o analfabetismo (não saber ler e escrever) através da criação das escolas, usou o ensino para promover as suas ideias e através da polícia especial…
- A PIDE – intervenho eu de novo, quebrando o raciocínio da minha avó.
- Sim, Manuel – prossegue a minha avó – e da censura (restringir o que se publicava) ele controlou tudo o que se fazia e ainda mais, ele criou algumas organizações para a tua idade, organizações essas que utilizou para formar crianças que obedecessem às suas ideias.
- Como se chamavam? - interpelo eu, apesar de não me agradar a ideia de ter de participar forçadamente numa organização paramilitar juvenil.
- Legião e mocidade portuguesa, mas Manuel ele também se publicitava através de cartazes e, nas escolas, rapazes e raparigas não conviviam, não podias fazer nenhuma asneira senão levavas reguadas bem dolorosas, eram outros tempos, muito diferentes e, felizmente, tu estás a crescer agora e não antes, porque agora tens muitas mais oportunidades de aprender sem ser limitado ou influenciado pelo governo.
- Esse tempo não parecia nada bom – desabafo
- Não era, apesar de haver coisas boas, como as ideias do regime que defendiam a família, e o povo mais pobre era muito unido… – afirmou a minha avó.
- Tão unido que, no dia 25 de abril de 1974, trabalhando em conjunto com os militares, conseguiram impor o fim do regime e colocaram de novo a democracia e a liberdade como os donos de Portugal. – completou a minha mãe, concordando com a minha avó que o povo era unido
Honestamente, fiquei orgulhoso por saber que todos nós, quando nos unimos e trabalhamos em conjunto, conseguimos fazer coisas maravilhosas, como deitar abaixo uma ditadura.
- O teu avô e o irmão do teu avô foram para Lisboa, comandados pelo senhor Salgueiro Maia, para um lugar chamado Largo do Carmo com o objetivo de obrigarem o antigo chefe do Conselho (chefe do Governo atual Primeiro-Ministro) Marcelo Caetano a demitir-se do cargo e a ceder o lugar aos militares - declarou a minha avó
- Mas nem tudo foi um mar de cravos, pois os anos a seguir foram muito difíceis e conturbados, marcados pela instabilidade política e um clima de tensão, onde mudamos de governantes 6 vezes. Porém, e graças ao empenho e dedicação de muitas pessoas importantes, como Francisco Sá Carneiro, António Ramalho Eanes, Humberto Delgado, Mário Soares, Otelo Saraiva de Carvalho e António Spínola, Portugal, nesse período tão difícil, não se deixou reentrar numa ditadura, mas antes continuamos na democracia que até hoje dura. Filho, às vezes o que é bom
dá muito trabalho para alcançar e exemplo disso é a nossa atual constituição que demorou dois anos a ser feita e apenas foi concluída a 2 de abril de 1976.
- Mãe, isso parece que foi realmente difícil, mas ainda bem que atualmente não estamos numa ditadura porque não parece nada agradável viver num lugar que na censura, oprime e desvaloriza – desabafo
- É verdade – respondem a minha mãe e avó em coro.
A tarde passou-se e a hora de dormir também chegou.
Incrível o que se passou naquele dia, “25 de abril” Para a semana vou pedir ao professor para falarmos sobre isto e vou mostrar o que hoje aprendi. Hoje retiro 3 lições, a primeira: aprendi que viver numa ditadura não é fácil e que muitas vezes estamos nela porque nos manipulam e controlam, será que isso ainda existe? Só espero que mesmo que isso exista os outros países ao menos ajudem as pessoas a não sofrerem. A segunda coisa que aprendi foi que quando o povo se une e trabalha com um nobre objetivo, consegue alcançá-lo; por fim, aprendi a valorizar aquilo que tenho, pois o que para mim é básico (a liberdade e o acesso à escola) para outros nem sequer existe ou então é restringido e manipulado
A infância de Cravinho
Manhã chuvosa de Domingo… véspera de mais uma comemoração da Revolução de Abril.
Sentada no seu cadeirão, a avó Vitória, enquanto ia desenrolando o seu novelo de lã que parecia não ter fim, com o intuito de fazer um novo gorrinho para o seu neto mais novo, Curioso, entretia-se a contar-lhe a história de Abril enquanto baloiçava o seu cadeirão centenário.
Curioso adorava histórias! Tinha 8 anos mas já era capaz de ficar horas atento, a escutar uma boa história, como se o imaginário o conseguisse levar para bem longe dali.
- Sabes, meu querido, amanhã não há escola. As crianças vão ficar em casa porque se comemora um dia muito importante na história do nosso país.
Curioso, muito sério, arregalou os olhos, enquanto esperou que a avó lhe dissesse mais alguma coisa.
- Vou contar-te a História do menino Cravinho.
Curioso sorriu, entusiasmado.
- Cravinho era um menino como tu. Era jovem, gostava de brincar, de ir à escola, de passear com os pais… Mas não sorria como tu! Não teve a tua sorte; viveu uma época difícil…
Na rua onde morava, tudo parecia triste. Depois de um dia de trabalho, as pessoas circulavam apressadas, não conviviam. Os vizinhos mal se falavam. Receavam que alguém os observasse com o intuito de os acusar de divulgarem ideias contrárias ao regime político da época. As pessoas pareciam amedrontadas. Nas esquinas apareciam senhores de semblante pesado que pareciam vigiar toda a população. Cravinho também não se sentia seguro. Os pais não o deixavam brincar como gostava, na rua, a qualquer momento e com todas as outras crianças
Curioso deu por si a imaginar-se em casa, fechado, sem poder jogar à bola ou à apanhada com os amiguinhos do bairro.
- Porque não poderia ele brincar? Pensava ele. Que injusto seria!
- A liberdade estava condicionada! Exclamava a avó. Os direitos individuais não eram respeitados. Vivia-se uma Ditadura. Existia um senhor, chamado Salazar, que controlava todos os portugueses, tanto ao nível das atitudes como do seu pensamento. Todos obedeciam à “Lição de Salazar”, que perseguia e prendia todas as pessoas que tivessem opiniões contrárias às que defendia. Rádio, televisão, teatro, cinema, livros, artigos de jornal, tudo era severamente supervisionado.
Na escola, o Cravinho só tinha um livro, no qual aprendia todas as matérias. Salazar não autorizava que as crianças lessem tudo o que lhes apetecia. Consegues imaginar como seria? Logo tu, que tanto gostas de desfolhar os mais variados livros… Curioso fez uma cara feia.
-
O Cravinho frequentava uma organização juvenil que lhe ensinava que devia engrandecer a figura de Salazar. O dia a dia das crianças era muito diferente do de hoje. Com o passar do tempo, as pessoas tornaram-se cada vez mais descontentes e começaram a manifestar-se contra o regime. Até que, certo dia, chegou a liberdade! Nunca antes os olhos de Cravinho tinham brilhado tanto quando a mãe lhe disse que, em família, iam poder dar um grande passeio pelo parque!
Na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, os militares uniram-se, descontentes também com a Guerra Colonial, e saíram à rua para fazer a Revolução. Foi o início do fim! Conseguiram desmantelar as estruturas do Estado Novo e restaurar a liberdade!
Iniciou-se o processo de criação de um estado democrático. Os portugueses não podiam ter ficado mais felizes! Foi um dia tão bonito…
As ruas encheram-se de pessoas. As janelas e varandas ficaram repletas de cravos e bandeiras. Até hoje, o cravo tem um significado especial.
Sabes porquê? Uma senhora lisboeta chamada Celeste Caeiro, empregada de mesa do restaurante “Franjinhas”, que nesse dia ia comemorar o aniversário da sua inauguração, chegou ao estabelecimento e recebeu a notícia de que não poderia abrir ao público devido à Revolução.
O dono do restaurante, que tinha encomendado cravos vermelhos para oferecer na inauguração, devido ao sucedido, ofereceu-os aos funcionários do restaurante.
A Dª Celeste decidiu então levar os Cravos até ao Rossio. Quando um soldado lhe pediu um cigarro, a senhora ofereceu-lhe um cravo que de imediato ele colocou no cano da sua espingarda. O gesto depressa foi reproduzido pelos restantes militares e as flores acabaram por ser todas distribuídas Horas mais tarde, várias floristas se esforçavam para que ninguém ficasse sem cravos, contribuindo para os imortalizar como símbolo de liberdade. Este gesto simbolizou uma revolução histórica que aliou os cravos à ausência de derramamento de sangue.
Felizes e emocionados, todos gritavam, a uma só voz:
- Liberdade, viva a liberdade!!
A vida de Cravinho e da sua família nunca mais foi a mesma a partir desse dia. Sabes, meu querido, porque a liberdade é o bem mais precioso do ser humano!
Curioso, muito atento e pensativo, apenas suspirou e esboçou um sorriso.
- Que bom! O Cravinho tornou-se um menino feliz, como eu!
Estabelecimento de Ensino – Escola D. Sancho I
Ano Letivo – 2023/2024
Turma - 902
Mafalda Lima Nora
José Diogo Carneiro Sá
25 de Abril
A Revolução de 25 de Abril também conhecida como Revolução dos Cravos, Revolução de Abril ou apenas por 25 de Abril, refere-se a um evento da história de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido a 25 de Abril de 1974, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, e que iniciou um processo que viria a terminar com a implantação de um regime democrático e com a entrada em vigor da nova Constituição a 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista. Esta ação foi liderada por um movimento militar, o Movimento das Forças Armadas (MFA), composto na sua maior parte por capitães que tinham participado na Guerra Colonial e que tiveram o apoio de oficiais milicianos. Este movimento surgiu por volta de 1973, baseando-se inicialmente em reivindicações corporativistas como a luta pelo prestígio das forças armadas, acabando por atingir o regime político em vigor. Com reduzido poderio militar e com uma adesão em massa da população ao movimento, a reação do regime foi praticamente inexistente e infrutífera, registrando-se apenas quatro civis mortos e quarenta e cinco feridos em Lisboa, atingidos pelas balas da DGS.O movimento confiou a direção do país à Junta de Salvação Nacional, que assumiu os poderes dos órgãos do Estado. A 15 de maio de 1974, o General António de Spínola foi nomeado Presidente da República. O cargo de primeiroministro seria atribuído a Adelino da Palma Carlos.] Seguiu-se um período de grande agitação social, política e militar conhecido como o PREC (Processo Revolucionário em Curso), marcado por manifestações, ocupações, governos provisórios, nacionalizações e confrontos militares que terminaram com o 25 de novembro de 1975. Estabilizada a conjuntura política, prosseguiram os trabalhos da Assembleia Constituinte para a nova constituição democrática, que entrou em vigor no dia 25 de abril de 1976, o mesmo dia das primeiras eleições legislativas da nova República. Na sequência destes eventos foi instituído em Portugal um feriado nacional no dia 25 de abril, denominado como "Dia da Liberdade”. A Revolução dos Cravos aconteceu praticamente sem violência, com apenas quatro mortos. Diante da vitória rápida e sem hostilidades, dizem que uma florista começou a oferecer flores aos soldados. Outras versões afirmam que foi uma pedestre que voltava do trabalho. De todas as maneiras, a flor foi entregue aos soldados, que as puseram nos canos dos fuzis. Os cidadãos que saíam às ruas para comemorar, também pegavam cravos e assim, esta flor ficou como símbolo e nome da revolução.
Felícia Machado
Escola Terras do Ave
Turma 6ºF
11/03/2024
50 anos de Liberdade e Democracia
A história revolucionária
Há histórias que marcam uma vida, um povo e um País. E deixam marcas profundas naqueles que a viveram.
Foi o caso da família do João.
Antes de 1974, levavam uma vida pobre, reprimida e sem liberdade. Viviam numa Ditadura.
O João apenas estudou até ao 4.º ano, numa turma só de meninos. Partilhava o recreio apenas com os meninos. Estavam separados das meninas.
Começou a trabalhar com apenas 10 anos. Passava muito tempo na rua, na brincadeira. A sua família não tinha carro nem televisão. Habituou-se a comer pão com manteiga ou com marmelada, ao pequeno almoço. Comia muito peixe porque a carne era mais cara. Os doces, os rebuçados tinham de vir de Espanha, quando os tios lá iam, escondidos. Como a coca-cola.
Os pais, sacrificaram-se muito. Pouco falavam na rua e evitavam grandes aglomerações. Foram à escola, sabiam ler. A mãe operária, o pai jornalista.
A mãe do João foi uma escrava do sistema. Ganhava menos que os homens, no entanto fazia parte de uma percentagem mínima de mulheres que trabalhavam naquele regime. Muitos homens foram obrigados a combater na Guerra Colonial e com isso a escassez de mão de obra nas fábricas.
A classe operária foi uma das armas mortíferas na luta contra o Estado Novo.
Já o pai do João, jornalista, foi muitas vezes ameaçado. O que escrevia para o Jornal era, primeiramente, aprovado pelo governo. Idiotas com o “Lápis Azul”. Quantas vezes, reescreveu histórias. Esteve na prisão porque ousou dizer que não concordava com o regime. Estava cansado, não concordava com o sentido da Guerra Colonial e com as condições sociais, políticas e económicas do seu país. Tinha muitos conhecidos: médicos e professores que tais como ele estavam insatisfeitos e perturbados com o regime. Muitos deles, ousavam criticar e agitavam o governo por meio da escrita e da música. Foram perseguidos pela PIDE, já que o governo os via como inimigos.
O João e a sua família viviam tempos difíceis. Histórias que ouviam de que os militares estavam cansados de uma guerra sem sentido e com muitas mortes, o povo cansado das condições em que viviam, o medo, a quererem reivindicar os seus direitos foi o suporte para uma Revolução tanto desejada.
Assim, o acordar no dia 25 de abril de 1974 foi diferente para a família do João. Pela radio, ouviase notícias de uma revolução. Ouviam-se, na rua, protestos.
A população pensava que os militares estavam a atirar bombas e aos tiros. Estavam com medo de morrer. Permaneceram em casa, a ouvir música, enquanto não tinham notícias sobre o que estava a acontecer.
O pai do João atirou-se à rua. Juntou-se ao Movimento das Forcas Armadas, e com ele muitos apoiantes, seus amigos.
Foi um golpe de estado, que em 24 horas, marcou o fim da ditadura que durava há mais de quatro décadas. Os heróis de cravos nos canos devolveram a esperança ao povo português.
Apenas, queriam estabelecer a democracia e terminar com a guerra colonial.
O João e a mãe, saíram à rua, horas depois de conheceram as verdadeiras intenções do MFA.
Afinal, não havia uma guerra, violência…. Os militares não queriam disparar as armas. Com os cravos usaram-na como uma jarra.
O João e o pai reencontraram-se e abraçaram-se. Comentavam com os amigos e sem medo, o sucedido. A liberdade imperava.
O pai do João, estava feliz. Afinal, ia relatar na primeira pessoa, para o jornal, o momento histórico que viveu, e que lutou, mesmo que fosse na clandestinidade.
A ditadura tinha terminado e o nosso país renascia das cinzas em liberdade para a democracia.
Escola Básica Terras do Ave
6.ºF n. º5
Gonçalo Daniel Leite Leal
Professor de HGP, Eduardo Santos
Enquanto há Abril, há esperança
Há muitos anos, em 1974, o Movimento das Forças Armadas e a população portuguesa pretendiam um país diferente, fazendo uma revolução que, mais tarde, resultou no término do Estado Novo, conduzindo ao início da vida democrática em Portugal.
Antigamente, antes de 1974, Portugal era um país pouco desenvolvido e sem liberdade. O meu avô, Francisco, contou-me como era a vida no tempo do regime comandado por Oliveira Salazar Ele disse-me que as pessoas não podiam expressar livremente a sua opinião, ouvir as músicas que queriam, vestir o que pretendiam Houve uma altura até em que a minha avó, falecida quando o meu pai apenas tinha quatro anos de idade, foi levada pela PIDE por estar a usar calças de ganga e uma t-shirt vermelha com um pouco de decote O meu avô também foi levado por tentar livrar a minha avó daquela situação
A revolta dos portugueses com o estado da nação era cada vez mais palpável. O país não se desenvolvia e não acompanhava a evolução de outros países. Vivia-se num país ultra tradicional, conservador, cinzento e retrógrado a vários níveis.
O meu pai, o capitão Salgueiro Maia, era um militar do MFA, Movimento das Forças Armadas. Num dia normal como todos os outros, disse:
– Pai, em breve teremos grandes mudanças em Portugal!
– Shiu! Ainda te ouvem! A ver vamos, meu filho – respondeu o pai.
Despediu-se do pai sem demoras e logo se dirigiu para Santarém, para pôr em marcha a revolução que preparara há largos meses em reuniões de conspiração do Movimento dos Capitães.
Após uma noite de muito trabalho, os portugueses mal esperavam que a noite do dia 24 de abril iria mudar Portugal. Nessa noite, o meu avô ouvia tranquilamente a rádio sem saber que uma das músicas que escutou deu o sinal para a mudança A minha mãe contou-me que, nessa mesma noite, o meu pai saiu de casa à civil, levando consigo apenas um saco com cigarrilhas e lenços de mão.
Na manhã do dia seguinte, o meu pai arriscava a vida no Terreiro do Paço e a minha mãe dava explicações de Matemática, como se nada se estivesse a passar, tal como tinha combinado com o meu pai. O nosso Salgueiro Maia conseguira neutralizar, sem disparar um tiro, um conjunto de tanques do regime. Pela tarde, no Largo do Carmo, diante do quartel do Comando-Geral da GNR, as pessoas já gritavam, entusiasmadas, pelo nome do meu pai. Ele, envergando um megafone, pedia a rendição do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, e de dois dos seus ministros. Pela 17h00, o regime caía.
A D. Celeste Caeiro, avó de uma conhecida minha, andou, nesse dia, a distribuir cravos vermelhos pelos militares. Esses cravos destinavam-se aos clientes do restaurante onde trabalhava, como forma de celebrar o primeiro ano do estabelecimento. No entanto, à conta da revolução, o restaurante não abriu e teve de ir para casa. No caminho, um dos militares que seguia num tanque pediu-lhe um cigarro. Ela não fumava e, por isso, acabou por oferecer-lhe um cravo. O militar aceitou a oferta e colocou-o no cano da sua espingarda. Outros militares fizeram o mesmo. Entretanto, também as floristas da Baixa de Lisboa começaram a replicar o gesto da D. Celeste. Foi, assim, que a revolução do dia 25 de Abril ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”.
Esse dia marcou o fim do Estado Novo e o início de uma nova vida para os portugueses
O futuro era agora risonho e a esperança vivia no coração de cada um.
Colégio Machado Ruivo
Ano letivo 2023-2024 / 7.º A
Afonso Santana Machado Faria
André Miguel Sousa Martins
Diogo de Carvalho Baptista
Guilherme Sousa Fernandes
Inês de Figueiredo Fonseca
Lara Pereira Ribeiro
Letícia Gonçalves Viegas
Maria João Martins Oliveira
Maria Manuel Ramires Gomes Silva
Maria Miguel Moreira Gonçalves
Maria Miguel Ribeiro Jesus
Matilde Pereira da Silva
Nuno Alexandre Araújo Fânzeres
Pedro Afonso Brandão Campos Costa
Samuel Pinto Ferreira Dinis
Reencontros de Abril
Num dia chuvoso de janeiro, pelas quatro da tarde, a Maria Machado encontrou-se, como habitualmente, com o seu avô Clemente, no café da esquina de Grimancelos, ansiosa por pôr em dia os assuntos da semana.
Desde os seus sete anos e sete meses que a Maria se encontrava no Café 25 de Abril, todos os sábados, com o seu avô, que, brevemente, celebraria os seus 81 anos de idade. Como era, então, hábito, a menina, de mochila às costas e a saltitar, entrou pela porta do café à procura do seu avô. Quando o avistou, sentou-se e pediu o de costume: um bolo de arroz e um sumo de laranja natural com dois cubos de gelo. A conversa começou a fluir quando o Paulo Ferreira, o dono do estabelecimento, lhes trouxe o lanche. A certa altura, a Maria lembrou-se de algo que leu no telemóvel.
– Avô, sabias que este ano o 25 de Abril faz 50 anos!?
– Como o tempo voa! Ainda me lembro muito bem – respondeu o avô, pensativo
– Mas não foi só em Lisboa? – perguntou a neta.
– Não, aqui mesmo, neste café, eu reunia clandestinamente com os meus amigos para falarmos sobre o Estado Novo.
– Conta-me mais! – pediu ela, curiosa.
E o avô assim fez: –
O ano era 1971. Eu e outros cidadãos fazíamos, semanalmente, reuniões onde conversávamos sobre a situação política atual, a ditadura. Foi numa dessas reuniões onde conheci o meu melhor amigo, o Sebastião Ribeiro. Corria tudo bem até que, numa sexta-feira, como qualquer outra, a PIDE entrou por aqui adentro. Como naquela altura era proibido conspirar contra o Estado, prenderam-nos a todos, exceto a mim Que sorte! Consegui fugir pelas traseiras até ao bosque sem que ninguém reparasse. Com medo de que a PIDE me encontrasse, juntei tudo o que tinha numa pequena mala de mão, já levemente amassada, e fugi para a França.
O caminho até lá não foi fácil, mas, de camioneta em camioneta, acabei por lá chegar. Comecei por tentar arranjar um sítio onde pudesse dormir. Acabei por conhecer uma mulher, extremamente amável, que me deixou passar as noites no seu antigo quarto. Aos poucos, fui, também, começando a aprender francês. Tentei candidatar-me a um importante emprego, como construtor num novo e exorbitante edifício no centro de Paris.
Após alguns meses a viver em França, consegui juntar dinheiro suficiente para arranjar o meu próprio cantinho, mas, em vez disso, decidi usar o meu pé-de-meia para comprar o mais bonito anel para pedir em casamento a tua avó, a senhora simpática que me acolheu na sua
casa. Depois disso, a minha vida só melhorou: consegui um cargo melhor no meu trabalho, a tua avó Rosa engravidou e consegui, finalmente, comprar uma casinha no campo para vivermos. O nosso novo lar era esplêndido. À volta da pequena habitação, havia árvores altas e verdejantes, flores de todas as cores, passarinhos que cantavam ao nascer-do-sol e um cheiro a liberdade no ar. Apesar de tudo ser perfeito, comecei a lembrar-me do que deixei para trás, da minha nação. Lembrei-me da ditadura, dos meus amigos, do sofrimento, da minha família, do lugar onde cresci e do meu velho amigo Sebastião Ribeiro. Agora não estava tudo bem. Algo dentro de mim obrigava-me a voltar.
Após refletir sobre o assunto, durante alguns dias, decidi que estava na hora de entregar as más notícias à Rosa. Eu disse-lhe que regressaria a França quando curasse as minhas incertezas e a situação do meu país melhorasse. Apesar do sofrimento que lhe causei, a tua avó não se opôs à minha decisão, já que sabia que era o melhor a fazer e que nunca se devia impedir um homem com um propósito nobre de partir Chegada a hora, guardei os meus pertences na minha velha mala de mão e dirigi-me para Portugal.
De camioneta em camioneta, lá cheguei. Conseguia sentir a pressão no ar. Com o coração a bater forte no peito, fui a caminho de Barcelos. Mesmo que apenas se tivessem passado três anos, eu quase já não reconhecia aquele lugar, que agora já não me pertencia. A caminho da casa dos meus pais, passei junto ao café. Um enorme sentimento de raiva e de injustiça explodiu dentro de mim. Como estariam os meus amigos? Estariam zangados comigo? Tentei pôr de lado os pensamentos, as perguntas e as dúvidas para conseguir continuar. Cheguei a casa e fui recebido com mil beijos e abraços dos meus pais.
Nas semanas seguintes, a minha vida resumiu-se a nada. Dentro de mim habitava a vergonha. Apenas me lamentava e sofria. Um dia, porém, no dia 24 de abril desse ano, quando estava a caminho do bar, perto das onze horas da noite, ouvi uma música no rádio que me cativou a atenção Era a música “E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho. Não sei como, mas senti que algo de muito importante estava prestes a acontecer. Horas depois, a RTP fez uma declaração ao país: a ditadura tinha chegado ao fim, agora podíamos ser livres, agora a censura tinha acabado. As notícias percorreram com muita rapidez a aldeia de Grimancelos e quase dois dias depois libertaram os presos políticos.
Mal soube da libertação dos presos políticos de Caxias, dirigi-me, o mais rápido possível, para Lisboa, para poder voltar a ver o meu amigo, mas, quando lá cheguei, não sabia onde o procurar. Ainda tonto com tudo o que tinha acontecido, decidi ir aos hospitais ver se por ali estava, mas a sorte não esteve do meu lado.
Apesar da deceção, tomei a decisão de voltar para a França para poder reencontrar-me com a minha mulher que teria o nosso bebé em apenas um mês. Voltei a guardar tudo e, após
uma longa viagem, cheguei. Lá, continuei a viver a minha vida, agora com uma consciência menos pesada, pois tinha deixado para trás um país livre.
– A sério, avô?! Que história fixe! Já agora, sabes o que aconteceu ao teu amigo? –perguntou a Maria Machado, muito fascinada.
– Não, minha netinha. Não sei…
Neste exato momento, o Paulo Ferreira, o dono do café, aproximou-se da mesa.
– Desculpem, não pude evitar e acabei por ouvir a vossa conversa. Estava a falar do Sebastião Ribeiro? Eu acho que sei quem é
Os olhos do avô Clemente iluminaram-se. O senhor Paulo explicou que o Sebastião se tinha mudado para Espanha, quando saiu da prisão, e que ficou lá durante anos, mas que, devido ao falecimento da sua mulher, tinha regressado a Portugal, passando a viver em Grimancelos, sem, no entanto, sair muito de casa. Mal o Paulo acabou de falar, a menina pôs a mochila às costas, pegou na mão do avô e puxou-o com toda a sua força para fora do café para poder ajudá-lo a encontrar o seu velho amigo.
Num dia solarengo de abril, a Maria Machado, o seu avô Clemente e o Sebastião Ribeiro encontraram-se no café 25 de Abril para celebrar os 50 anos do Dia da Liberdade! Estavam felizes por Portugal não viver mais num clima de terror e de sombra, lembrando-se da revolução militar e popular que possibilitou o início do regime democrático constitucional, ao fim de anos de opressão e de perseguição política.
Colégio Machado Ruivo
Ano letivo 2023-2024 / 7.º A
Maria Miguel Ribeiro Jesus
O sonho é uma constante de Abril
No ano de 1974, em Lisboa, Manuel, que tinha acabado de fazer 19 anos, viu o seu sonho de adolescente tornar-se realidade.
Quando era criança, o seu pai comprou uma livraria numa região bastante popular da cidade Porém, passados cinco meses, o seu negócio faliu à conta do regime. A PIDE andava sempre de roda da porta do pai de Manuel até que chegou o dia em que recebeu uma ordem para a fechar de vez.
Por lá passavam muitos jovens, entre os quais aqueles que já tinham visitado o estrangeiro, deixando num frenesim constante a polícia do Estado. Seguiram-se meses difíceis em casa de Manuel. O pai vivia preocupado, na ânsia de encontrar um novo sustento.
Após esse acontecimento, Manuel cresceu num ambiente de medo e de revolta. Aguardou, ansioso, o dia em que, já adulto, contribuiria para a derrota do malfeitor Oliveira Salazar e de todos os que com ele compactuavam. Manuel sonhou, sem saber, com o fim da ditadura e com a implantação da liberdade, da justiça, da igualdade e da paz; sonhou com um regime democrático em que o pai podia vender sossegadamente os seus livros, organizar saraus literários e conferências políticas.
Como Manuel, havia outros inconformados com o estado da nação. O jovem sabia disso e logo começou a reunir-se com outras pessoas cujos princípios e valores não se coadunavam com os defendidos pelo Estado Novo. Encontravam-se às escondidas, em cafés ou em casas uns dos outros, tentando encontrar uma solução para a mudança do país.
Alguns meses depois, já no início de fevereiro, juntaram-se ao movimento alguns militares que se tinham apercebido de alguma agitação, fora do comum, na Escola Prática de Cavalaria de Santarém. Tinham conhecimento de que havia capitães a reunir clandestinamente e que algo de sério estava prestes a acontecer. Tinham de estar, por isso, em alerta
Na madrugada do dia 25 de abril, o chamado Movimento das Forças Armadas preparou um golpe de Estado que derrubaria o Governo. Os militares apenas aguardavam um sinal para avançar, que, por momentos, pensaram que não iria dar-se
Manuel já dormia quando, na rádio, pouco depois da meia-noite, passou a música “Grândola Vila Morena”, o sinal que os militares esperavam para avançar com o golpe. Salgueiro Maia já estava no Terreiro do Paço, quando Manuel foi acordado abruptamente por um seu camarada de luta a dar conta do que estava a acontecer. Vestiu-se à pressa e logo correu para o centro de Lisboa. Lá chegado, juntou-se aos militares, ajudando-os a afastar as multidões das zonas onde podiam correr risco de vida. Sentia o coração a bater acelerado no peito. Seria o fim do regime que roubou o sonho do seu
pai? O sustento da sua família? Os membros ou até a vida de tantos homens que foram combater na Guerra do Ultramar? Com o final da tarde veio, finalmente, a queda da ditadura.
No meio de armas e de cravos, de militares e de tanques, o Governo de Salazar e de Marcello Caetano caiu, e a liberdade, a justiça, a paz e a igualdade voltaram a ser soberanas em Portugal, fazendo com que o desejo mais profundo do menino Manuel se cumprisse
Um ano após o sucedido, Manuel comemorou o primeiro aniversário do 25 de Abril com uma conferência sobre a liberdade e a igualdade na livraria que herdara do seu pai.
Colégio Machado Ruivo
Ano letivo 2023-2024 / 8.º A
Afonso Machado Ferreira
Bárbara Pereira Malheiro
Benedita Oliveira Couto
Bernardo Couto Pereira
Francisco Moreira Luzio
Inês Pimenta e Costa
Lara Ramos Marques
Leonor Amorim Amaral Reis Serra
Leonor da Costa Martins Macedo de Sena
Lourenço Castro Gouveia
Mafalda Araújo Monteiro
Mafalda Daniela Moura Araújo
Mafalda Ribeiro de Freitas
Maria João Vaz Azevedo
Maria Santiago Dias Granja
Salvador Vasconcelos Mesquita
Tiago Pinto Teixeira
Tiago Sampaio Monteiro
Vasco Filipe dos Santos Pinho Soares
A Família Liberdade
Vivia-se, naquela época, um período em que a liberdade de expressão e o espírito crítico não eram bem-vindos na sociedade portuguesa. Era o ano de 1974 e a censura tomava conta do dia a dia do povo português. Nas escolas, as crianças desconheciam outras realidades para além da do Estado Novo. Os jornais, os livros, a rádio, a televisão encontravam-se em constante controlo, por forma a que somente os ideais do ditador António de Oliveira Salazar fossem seguidos. Que fique esclarecido: as pessoas tinham uma opinião, porém o medo das consequências que poderiam sofrer ao expressarem-se gritava mais alto.
Apesar destas limitações, Alice, uma jovem sonhadora de doze anos, tinha esperança de reencontrar o seu pai, José Carvalho, um opositor à ditadura que estava preso por participar no planeamento de um golpe de Estado.
Todos os dias, a pequena menina ia ao escritório do seu pai e lia os textos e livros que ele guardava numa estante muito bem escondida Lá, encontrava-se informação sobre os mais variados assuntos Havia um grande mapa, em que nele estavam assinalados os países que o seu pai gostaria de visitar e de explorar com ela e os tipos de governos adotados em cada um Se a PIDE, a polícia política portuguesa, encontrasse aqueles documentos, os mesmos seriam destruídos e a Alice e a sua família teriam de lidar com sérias consequências. Alice só queria o seu pai de volta, um homem admirável pela sua força e coragem.
Era um dia normal, como todos os outros. Eram quatro da manhã e Alice não conseguia dormir. Então, decidiu abrir a janela do seu quarto para ver a paisagem e sentir a brisa amena que passava, mas, para sua surpresa, viu inúmeros tanques de guerra e militares que não passaram despercebidos pela vizinhança. De início, ela achou que estava a sonhar, ficando um pouco confusa, mas, quando a sua mãe a chamou com euforia e já com lágrimas nos olhos, percebeu que talvez não fosse um sonho A mãe ouvira um comunicado na Rádio Clube Português pouco tempo depois das quatro da manhã a referir que as Forças Armadas Portuguesas apelavam a que todos os habitantes da cidade de Lisboa recolhessem às suas casas nas quais se deviam conservar com a máxima calma
Alice, extasiada com a ideia do que poderia acontecer, correu para o andar de baixo da sua casa, pegou no seu casaco, calçou rapidamente os seus sapatos e saiu para a rua, para acompanhar os tanques com a sua mãe. Esta, conhecendo um dos militares, amigo do seu marido, perguntou-lhe o que estava a acontecer e, no final da sua explicação, o soldado afirmou que nunca era tarde para tomar a decisão de mudar
À medida que o sol foi nascendo na cidade de Lisboa, mais e mais portugueses se juntaram na Praça do Comércio, curiosos com o que viria a acontecer a seguir, havendo um certo
sentimento de receio, mas, ao mesmo tempo, de entusiasmo Depois de várias horas, percebendo a vitória das Forças Armadas e uma vez confirmada a segurança de todos, Lisboa explodiu numa onda de felicidade indiscritível. Alice estava maravilhada e ainda com uma certa dificuldade em acreditar em tudo o que estava a acontecer. Vivia um momento que nem em sonhos pensou ser possível.
Uma florista, no calor do momento, começou a distribuir cravos pelos militares e pelos cidadãos. Ofereceu uma das flores à Alice, que a viu como símbolo de um novo começo. Ela e a mãe não perderam tempo e logo correram para a prisão de Caxias para saberem da situação do pai. As Forças Armadas preparavam-se para libertar os presos políticos, pelo que ficaram à espera.
Alice estava cansada Já se tinham passado dois longos dias e, quando ela estava prestes a fechar os olhos, viu o seu pai a sair, juntamente com o seu amigo militar. Ela correu para junto dele e deu-lhe um enorme abraço A família que já não estava há tanto tempo reunida não conseguiu conter as lágrimas de tanta saudade.
Uns bons anos se passaram e Alice, a menina pequenina a quem a liberdade trouxe o pai de volta, tornou-se num importante membro do Parlamento. Ela própria começou a fazer a mudança.
Colégio Machado Ruivo
Ano letivo 2023-2024 / 9.º A
Afonso de Figueiredo Fonseca
Ana Carolina Fernandes Moreira
Bia Cristina Lopes Costa
Bruna Sofia da Costa Fernandes
Gabriel Parpinelli Ribeiro
Gil Correia Mendonça
Gonçalo Fontes da Silva
Leonor Costa Gonçalves
Leonor de Castro Paiva Moniz
Luís Maria Leite Pereira Pinheiro Machado
Luísa Lourenço Fernandes
Maria Meneses Carvalho Martins
Maria Miguel Brandão Campos Costa
Maria Miguel Costa Gonçalves
Mariana Araújo da Fonseca e Castro
Mariana Senra Amorim
Miguel Pedro Araújo Cruz e Silva
Miguel Tentugal Pereira
Zélia Gonçalves da Silva
Nocoraçãodeumacidadeportuguesa,Lisboa,viviaumameninachamadaSofia. Elaeraumameninasempreatentaatudoaoseuredoreadoravaprocurarsemprehistóriasnovas.
Naquelamanhãdeabril,oSolnasciaeSofiaacordoucomasensaçãodequealgoextraordinário tinhaacontecido.
Comoseucoraçãoacelerado,levantou-seecorreuparaajaneladoseuquarto,ansiosapor descobriroquelheprovocoutalsensação.
E,dajaneladoseuquarto,viuasruasaganharemvida,comaagitaçãodosmoradoreseas bandeirasqueabanavamcomovento.
Alémdisso,ouviavozesaaclamarempelodireitoàliberdadee,lánofundo,ouviaamúsicaGrândola VilaMorena,deJoséAfonso.
Sofiaqueriatantodesvendarqualarazãodetalaparatoqueseaventurouapercorrerasruas movimentadasdacidade.
EnquantoSofiapercorriaasruasmovimentadasdeLisboa,naquelamanhãdeabril,elaavistouoSr. Manuel,umsenhordecabelosgrisalhos.
Comoestavatãoadmirada,comtalaparatonasuacidade,decidiuseaproximardoSr.Manuele perguntar-lhequalarazãodetalmultidão.
Elerespondeu-lhecommuitasimpatia,eexplicou-lhequehámuitotempo,osportuguesesviviam sobumregimeopressivo.
Eramprivadosdasliberdadesbásicaseacensuraestavaemtodolugarfazendoassimquemuitos vivessemcommedo.
O25deabrilaosolhosdeumacriança
Hoje,osmilitareslideraramumgolpedeestadopacíficopoisqueriamliberdade,democraciae justiçasocialparaonossopaís.
Aspessoassaíramàsruasefinalmentepuderamfalar,pensareagirlivremente.
Estamosaviverummomentodegrandeesperançaealegriaparatodosnós.
Eéporissoqueestouaquihoje,parahonraraquelesquelutarampelanossaliberdadeepara garantirquenuncaesqueçamosoquehojeconquistamos.
SofiaagradeceuaoSr.Manuelporcompartilharasuahistóriaecontinuouoseucaminhopelasruas deLisboa,agoracomacompreensãodosignificadodo25deabril.
Duranteopercurso,paracasa,ofereceramumcravovermelho,símbolodaconquistados portugueses.
Aochegaracasa,elasentiu,dentrodesi,quefinalmentePortugalseriaumpaíslivreedemocratae queelapoderiacresceremliberdadeedemocracia.
Doisanosdepois,sentiuumaimensaalegriaporpresenciaresertestemunhadetãoesperada mudança.
Osportuguesesvotaram,pelaprimeiravez,emliberdade,desdehámuitasdécadas.Puderam finalmenteexpressarlivrementeoquelhesianopensamentoenocoração.
Assim,entresorrisosecravosvermelhos,Sofiaaprendeuaimportânciado25deabril.Aquelanão eraapenasumahistóriadopassado,massimumalembrançavivadalutapelaliberdadeeda esperançaporumfuturomelhor.
Nome:AnaRitaCostaMagalhães
Nº1
Turma:9ºC
Escola:AETerrasdoAve
UmmeninochamadoVenâncio
EmAnãCetus,umapequenacidadedeCata-vento,existiaumrapazchamadoVenâncio, VenâncioVimeiro.Pequeninoeenvergonhado,frequentadordoensinoprimário,eraumaluno exemplar.Gostavamuitodematemática,porissoestudavamais,noentanto,ultrapassava rapidamenteassuasdificuldadesemtodasasoutrasdisciplinas.Dadoqueeraumaluno extremamenteestudiosoetrabalhadoroscolegasfaziamtroçadele,mastalvezestaestivesse disfarçadadeinveja.
Venâncioandavasempremuitoasseado,usavaconstantementeumascalçaseumacamisa detecido,clarinhas,feitascomalgunsremendosdepanosobrado,comosetodososdiasfossem diasdemissa-comparaçãoqueoscolegastambémfaziamimensasvezesdadoqueera extremamentecatólicoepraticante.Algunssalientavamqueoquemaissedestacavaneleeramos seusenormesóculoscastanhos,nemredondos,nemquadrados,masque,defacto,lhedavammais inteligênciadoqueaquelaqueelejátinha.Outrosopinavamqueoquemaissedestacavaeramos seussapatos,tambémcastanhos,masesteseramvelhos,decamponês,oquecontrastavacomtodo orestodocenário.
Alémde,claro,Venâncioserconhecidonãosónaescola,comotambémforadela,porser alguémbastanteasseado,eratambémconhecidoporandarsemprecomoseucadernopequenino, preto,comumsímbolodeumacruz,nãoumcrucifixo,umacruz,ondeneleestavapenduradoum lápisazul-escuro,queandavasempreafiadocomosefosseumaagulha,queeleusavaparaescrever todososseuspensamentosdiários.
Certodia,nofinalzinhodoseuensinoprimário,Venâncio,pormilagre,esqueceu-sedoseu tãoqueridocadernonasaladeaula,talvezcomapressadeencontraramãe,quelhetinha prometidoqueoiriabuscar.Osseuscolegasdeturma,curiososporsaberoqueestavanaqueletão secretocadernoqueVenânciotantoestimava,pegaramneleecomeçaramalertodososseus apontamentos,dosquais,amaiorparteoueramsobrematemáticaousobreaIgrejaCatólica.No seguimentodisto,estaspequenascriancinhasmaléficascomeçaramariscartudo,comoaguçado lápisazul,deixandoocadernoemcimadasuasecretária.Nodiaseguinte,obviamente,Venâncioa veroquelhetinhamfeitoaocaderno,desatouachorar,umchorodesalmado,quesecaíssesobrea terraformariaumrio.Masnãofoiestapassagemquesedestacou,massim,ofactodequandoestar prestesaabandonarasala,minutosdepois,acompanhadopelasuamãe,deixaraseguintefrasea pairarnoar:“Vocêsaindavãotermuitassurpresascomestelápis ”
Averdadeéquenuncamaisvoltouàquelaescola.Porpertenceraumafamíliadecatólicos extremamentepraticantes,decidiuingressarnumcolégiocatólico,ondeVenâncioaumentouoseu
apreçopeladoutrinacristã,desenvolveuosentidodeobediência,disciplinaeaumentoutambémo seurendimentoescolareoseugostopelaescrita,fazendo,pelaprimeiravez,partedeumjornal,o jornaldocolégio,ondelhedavatantogostoescrever.
Eosanosforampassando eeleentroueterminouocursodedireito,sendooalunocoma melhornotafinal.Mas,claramentenãosepodiaesquecerdasuaqueridamatemática,fazendo depoisummestradoemciênciaseconómicas.Duranteosanospassadosnauniversidade,foifazendo diversosamigos,comideiasparecidasàdeleejáqueestavaemDireito,começouaseinteressar cadavezmaisporquestõesrelacionadascomapolítica,comoagovernaçãodopaíseajustiçano mesmo.
Apósoseumestrado,Venâncio,umrapaz,consideravelmentenovo,começouadaraulasna universidade,ondeemtemposhaviaestudado.Nuncaantesestabelecidaqualquerrelaçãodepura químicaeatémesmoentendimentocomoseupar,eradiferentedosseuscolegas,umpoucomais velhos,poisnemfilhos,nemmulher,nemfamília,nadatinha.Entretanto,podemosdizerque, mudou…
VenâncioestabeleceuumarelaçãocomValéria,umaaluna.Estadespertourapidamenteo sentidodealertadoprofessor,porquealémdeserumadeduasraparigasnumaturmadetrinta alunosdeeconomia,eradeterminada,faladora,estudiosa,intelectualeportadoradeumaconversa cujostemas,nemsemprerelacionadoscomeconomia,massim,comtudoaqueestaseligava, prendiamsempredetalmodoVenânciofazendo-opensarbastantee,namaioriadasvezes, discordardassuasopiniões,levandoasaladeaulaaumautênticopalcodedebate.Apesarde,nesta altura,asmulheresseremextremamentedesvalorizadas,Venâncionãodesvalorizouesta.Gostavado seumododesafiador,quenenhumrapazseatreviaater.Modoestequenuncaofaziasentir,de certomodo,ameaçado,massim,impulsionadoafundamentarcadavezmaisassuasideias.
Valéria,podemosdizerque,eraumfrutoproibido.Nãopodiaacontecernadaentreum professoreumaluno,aindaparamais,umprofessortãoprestigiadoeimportantecomoele,masa verdadeéqueaconteceu.Logoapósconcluirocurso,claramentedeformaclandestina,osdois envolveram-se.
Estecasoperdurounotempo,nuncahavendotrocasdeinformaçõespropriamentepessoais, sabiamumacoisaououtra,masnadademuitoprivado.Esteslimitavam-se,quandoestavamjuntos, adiscutiropiniões,nasuamaioriarelacionadascomamaneiracomoumeoutroviamomundo,as pessoas,ocomandodasmesmas.Assuasopiniões,comoemtempospassados,divergiambastante: ela,apologistadeumpaíslivre,ondeopovoé,decertaforma,aforçamaior,ondenãohátanta miséria,tantamentira,tantasimposições,ondeahonestidadeeaautonomiapredominam;ele apologistadeumpaísondealguémeraaforçamaior,queimpusesseaopovodisciplina,obediência,
ocatolicismo,poisacreditavaquesóassimseconseguiacontrolarahumanidade,fazendocomque estaevoluísse,semprecomaajudadeDeus.Eassimpassavam… temposetemposadiscutirpara aquieparaalisemsequerseaperceberemdoquãoestavam,já,habituadoseligadosumaooutro.
Passadonãomuitotempo,tudoisto,maisumavez,mudou.
Venâncio,devidoatodooseuvalorenquantoprofessor,foiconvidadoachefiarum departamentodogoverno,ondearelaçãodosdois,clandestina,semanteve.Noentanto,quando estepassouaotãoesperadocargodechefesupremo,caíramambosporTerra Asuasubidaao poderfezcomqueestepusesseempráticatodasaquelasideiasqueanteriormentetinhapartilhado comValéria,oque,claramentedespertaramnelaumsentimentodefúriaeangústiadotamanhodo mundo.
Passadopoucotempodestapassagem,arelaçãodosdoisdeixoucompletamentedeexistir, passandoValériaaintegrar,clandestinamente,umpartidodaoposição,queseopunhaferozmente àsideiasdeVenâncio.
Eotempofoipassando… dedesconhecidospassaramaconhecidosquepassarama amantes,quevoltaramaoinício,adesconhecidos.
Comojáhaviasidoreferido,anteriormente,Venânciotinhaumfortecarinhopeloseu cadernopretinhodainfância,masmaisdoqueaisso,àquelelápisazul,queaindaofazialembrar, apesardejáterempassadoanoseanos,daenormehumilhaçãoqueVenânciohaviapassado,de certaforma,àcustadestelápis.
Numdiafrio,deinverno,LucrécioEsponje,diretordeumjornal,mandouumexemplardo seujornalparaogovernoparaquefosserevistoe,posteriormente,lançado.MasVenâncio,aover quetaljornalerapropriedadedaquelepequenorapazmaldoso,oqualhámuitosemuitosanosatrás lhetinha,juntamentecomoutrosamigos,riscadotodoocaderno,nemolhouparaaquiloquenele estavaescritoeriscoutudo,tudo,tudo,acabandoporcolocarocarimbode“nãoautorizado”. Perantetalsituação,quefoiconsideradaumaextremainjustiçanãosópelojornalemquestão,como tambémportodososoutros,deu-seumamanifestação,podemosconsideraruma manifestaçãozinha.Pessoas,nasuamaioria,constituintesdospartidosdaoposição,manifestaram-se contraasideiaseimposiçõesdeVenâncio,mastambém,poreste,ternegadoapartilhadojornal maisrenomadodaépoca,quenãopodiadeixarpassaranotíciadequeaPyxis(umacolóniade Cata-Vento)tinhaganhoasuaindependência.Paraacabarrapidamentecomisto,paraquenãose juntassecadavezmaisgenteàmanifestação,decidiuprocurarolíderdamesma.Àesperaquefosse LucrécioEsponje,equelhepoderia,defacto“tratardasaúde”,encontroulá,onomemais inesperadodesempre“ValériaEsponje–cônjugehá20anosdeLucrécioEsponje”.Claramente, Venâncioficouboquiabertoeatémeiozonzo,comoseumasteroidefizesseaTerraabanareele
abanassejunto.Ele,Venâncio,queriasevingar,nãosabiasemaisdelaoudele,todavia,amágoa que,anteriormente,Valérialhetinhacausado,nãotinhanemmeiotamanhodaquelaaqueelefora sujeitoporLucrécioPorisso,talvezporamardemaisaquelamulher,nãoaquererfazersofrereser extremamentevingativo,decidiumandar-lhesaPIDEacasa.Comumtomdevozquedeveriasairde ummodoimperativo,porém,quasequenãosaía,ordenouqueacabassemcomavidadeValéria, fazendoquestãoquefosseàfrentedeLucrécioe,posteriormente,omandassemparaSeyfert,onde acabariapormorrerdecerteza,pensandoVenâncioque,agora,nãoteriamaispreocupaçõesnem commulheres,nemcomaoposição.E,maisumavez,pensouerrado
Narealidade,duranteunslongostempos,estevetudobastantecalmo,mas,comose costumadizer,atéaodiadenãoestar.
Nãosesabebemcomo,masumacartadeLucrécio,vindadeSeyferthaviaescapado, chegandoaCata-VentoainformaçãodetudooqueVenânciotinhamandadofazer.Todaa população,jádescontentecomasuagovernação,ficoupiursa,comasinformaçõesquehaviam chegado,eisto,foiagotadeáguaparaocomeço.
Começaram-seaagruparpessoas,emaispessoasemaispessoas“Elasnãoparavamde chegar”,vindasdetodososlados,tornando-seumamanifestaçãomonstruosíssima.Cartazesvoavam portodoolado,gritoserammandadosparaoaremformadeprotestoe,às12h30,erammandadas florzinhas,vermelhasdacordosangue,paraocéu,comaesperançadequepudessemflorescerláe que,assim,tornassemoambientemelhor.Etudoistopassoudeumaesperançaparaumarealidade.
“Eédevidoàcoragemdessaspessoas,queseopõemaoregime,queomeubisavôeomeu avôforamfinalmenteretiradosdopoder,fazendopartidoscomoodaminhaqueridabisavógovernar opaíseadarliberdadeatodoestepovomerecedor,quetantosanospassaramdebaixoda barbatanadeumtubarãoazul.Nãoseesqueçamqueomundosóevoluiusehouverdivergênciae debatesdeopiniões.Lutemsemprepelaliberdade,sempre,sempre,sempre.VIVAAOS50ANOSDE LIBERDADE!”
AnaisaAzevedoAbreuPereiranº2do9ºC-EscolaBásicaTerrasdoAve
O
ESTADO NOVO JÁ NÃO TINHA PERNAS PARA ANDAR
Estavam já no alvoroço da madrugada de 24 de Abril de 1974 quando os jornalistas do jornal
oficial da Imprensa de Vila Nova de Famalicão despertaram sobressaltados depois da campainha soar, de uma forma que já ditava o que se tratava. Recompuseram-se rapidamente nas cadeiras, conjeturando, por instantes, o propósito daquela visita do funcionário dos correios da cidade.
Atarantado, à porta, atulhado de jornais já revistos e riscados pela censura prévia, esperava que um jornalista acabasse de distribuir os jornais pelas escrivaninhas, para poder con nuar a rota pela cidade, distribuindo cartas e cartas. Queria ficar rapidamente aviado.
Os jornalistas, já com o jornal sobre a escrivaninha, de modo a prevenir um atraso na publicação do jornal da manhã, fizeram o acondicionamento das ar culações das mãos, com especial aprovisionamento nos dedos. Isto era importan ssimo já que um dos seus “tropas”, pertencente à Legião Portuguesa, nha recentemente amputado um dos braços em prol da nação e, por isso, ficou “sem medo”. Como tal, a comunidade de no ciaristas capacitados nha de se regenerar e trabalhar em união.
Vários dos escrivães que lá se prostravam, faziam já parte da mobília quando Marcelo Caetano ascendeu ao “trono”. Era como se Daniel Gusmão fosse o território mais extenso perdido num mar de valores e conhecimentos, todos os outros diaristas fossem meras ilhas mudas, desde sempre. Para todo o sempre? Onde ainda se usava madeira para fazer fogo, onde ainda as grandezas veneradas eram passadas, a bem dizer só lhes “restava o abandono e a solidão”.
Daniel Gusmão, o mais manifestante e audaz de todos os seus colegas, num estado de exaustão rela vo à censura, nha uma rolha entalada na garganta, que o impedia de se exprimir. Temia que a sua voz, como a de um fascista, se tornasse sombria. Como tal, reflete um úl mo momento sobre o que pretende ignorar, as no cias censuradas. Sentado no divã ao fundo da sala, para onde se dirigiu depois de receber o jornal censurado, há momentos lhe entregue, pousado sobre a sua perna esquerda, folheia aquele pedaço massivo de folhas onde foram embu dos retângulos azuis em cima de parágrafos e palavras, transfigurando completamente o seu sen do. Eis que o “Tac, Tac” ensurdecedor das máquinas de escrever o conduzem a uma decisão. Aquilo que ousava fazer, sendo ele um funcionário secreto da DGS, era o suficiente para o pôr em risco de vida. Cinge-se a ignorar o texto reprimido pela Censura Prévia. Não nha e nunca teve pernas para andar a sua concordância
com a repressão do regime. Um comunista, senão o martelo e a foice, não usaria outra arma. Muitas exigências do Estado Novo o perturbavam, era momento de caminhar para a mudança.
Carateres que outrora foram ocultados desta vez foram discriminados em primeira página no jornal da manhã:
“Se de um lado de Portugal uns nham um filho na casa do povo, inundados de costumes e cortesias religiosas, desde sedas bordadas até bênçãos pelo “padre da Igreja”. Se de um lado de Portugal uns mil afirmavam em vozes que saltavam em uníssono “Salazar é o Salvador da Pátria!”.
Do outro… Sem saber que carregava outro ser vivo no interior de seu ventre, uma jovem chegou ao chão apoiada pelas mãos e pelos joelhos, na posição de um sapo sal tante, sen u, espontaneamente, que algo estava a ser expelido pelo seu ânus. Tentou empurrá-lo para dentro, mas aquela matéria con nuou a lutar contra a progenitora. Justamente quando ela caiu de costas, já que nha perdido o equilíbrio, formou como que uma cerca impossibilitando que ele saísse por aquele buraco, então com toda sua força arrancou-o da sua barriga. A pobre criança saiu daquele lugar escuro e assombrado. Tentou cortar o cordão umbilical com os dentes podres dos discursos polí cos mas gados. Estava prestes a ficar sem dentes. Do outro lado de Portugal desesperam pela salvação que em nenhum momento apareceu. Será que a aparência vale a realidade?”
Os portugueses depois de lerem o jornal da manhã estavam pulgas para saber mais sobre a realidade do país onde viviam. Assim, os principais jornais privados, como o “Diário de No cias”, “O século” e “Os ridículos”, foram os jornais mais lidos depois de Daniel Gusmão decidir ignorar a censura, onde se liam temá cas rela vas à sociedade na época. Como “- Que porcaria de praia! Não tem um único homem!”. Ou, onde se liam também temá cas rela vas à economia, como “Ainda bem que temos de ver a luz aos quadradinhos por mais 5 anos! Aquilo lá fora, está mesmo mau!”.
Até que os jornais que violaram a fiscalização chegassem às mãos da DGS não demorou muito. Tanto que nesse mesmo dia, os membros da DGS invadiram o jornal oficial, procurando sa sfações de forma violenta.
Apesar de ser secretamente um agente da lei, nunca, até àquela tarde, depois da invasão do seu local de trabalho, Daniel Gusmão, diretor do jornal, se vira sob a mira de uma arma, cujo deslocamento regressivo do ga lho era certo, esta que era empunhada pela pálida mão que contrastava com as unhas degradadas e pavorosas daquele seu colega agente da DGS. Quer fossem as suas unhas, uma mina de lixo recôndita a ser escavada, quer por ser ví ma de uma micose num estado avançado, era certo que a validade do seu ganha pão estava por um fio. Coincidentemente, a
arma para a qual estava a olhar naquele momento, não nha sido carregada, mas nem disso quem a segurava sabia. Uma ligeira inclinação do pescoço do diarista Gusmão foi o suficiente para sustentar ainda mais a sua opinião, de que aquilo não era claramente a sua praia.
Aquele humano despido de humanismo pelo que estava prestes a ousar fazer, pronuncia as suas úl mas palavras, cujo eco foi levado pela brisa que entrou pela frincha da porta frontal do estabelecimento. Sem coragem para matar quem quer mais que fosse sem sequer saber o porquê de o fazer, num gesto trémulo desviou a arma ensebada de cianeto, para si e proferiu um ideal invocado pelas profecias astrológicas.
- O Fim dos Dias do Estado Novo chegou. - proferiu este agente da DGS, Faus no de Sousa, num tom que se ia desvanecendo, à medida que o cianeto atuava.
A interpretação destas palavras pelo Daniel Gusmão foi rápida e eficaz. Como um bom simbologista astrológico, o homem já morto pelo cianeto besuntado no ga lho da arma, já pressen a que a idade astrológica de Pisces do Estado Novo estava prestes a findar, o ideal pisceano que defende que é uma obrigatoriedade exis r um poder superior a dizer ao homem o que fazer, visto que este é incapaz de pensar pela sua própria cabeça. Toda a nação haveria de sempre convergir num ponto, para que o progresso do país es vesse garan do. No entanto, Faus no de Sousa pressen a que estavam a entrar na idade de Aquarius, que afirma que o homem aprenderá a verdade e será capaz de pensar por si próprio.
Paralelas agonias foram traçadas nas diferentes linhagens vitais daquela sala:
- Quem canta atrás de si?- ques onou, ironicamente, um PIDE-DGS, a um diarista cego.
- Está aí quem?- pergunta-se, segundos depois, o jornalista cego.
- Um servente do grande democrata português. - vocera, ironicamente, o agente da polícia estatal ao mesmo tempo que se ouve o estalar da bala na nuca daquele inocente.
Este fenómeno bélico ia-se repe ndo por toda a sala.
Um ruído no corredor, atrás de Daniel Gusmão fê-lo voltar-se. Nada mais viu senão sombras.
Embrenhou-se, uma outra vez, na paisagem sanguinária que via naquela sala. Duvidou do silêncio momentâneo que provinha das ruas. Não havia mais nada a dizer ou a tentar fazer. Valeu a pena sujeitar a sua vida pela liberdade? Qual era a sua importância, dentro da imensidão desta tragédia, as suas ilusões numa noite de 24 de Abril? Um homem que mesmo pondo em risco a vida con nua entalado? De que lhe valia pedir que o sangue dos inocentes se tornasse cravos?
O que o estava a incomodar eram aquelas náuseas e enjoos que o fizeram cambalear até à casa de banho onde esperava, finalmente, vomitar aquela rolha que o entalava, quando a sen u a escorregar pela boca sen u a picada de um cravo. Naquele momento a única coisa que lhe veio à cabeça foi:
- Depois da rolha, o cravo, como mandará daqui em diante, a lei da imprensa.
Os gritos encontraram-se na madrugada do 25 de abril de 1974. É certo que o país vai acordar, pois os gritos deixaram de ser mudos.
As ruas de Portugal foram invadidas pela mul dão, o que “deu lugar a entusiás cas manifestações de simpa a”. Daniel Gusmão depois do vómito que o aliviou, neutral, salvou-se daquele mórbido ambiente na sala de imprensa. Seguiu os gritos vindos da confusão que ladeava o jornal. E no meio dessa confusão algo “caiu" sem se despedir, foi triste? Talvez. Mas também já não nha pernas para andar.
Já passaram 50 anos desde aquele dia que Daniel Gusmão não se esquece. Passeia pelo seu jardim de cravos, de onde colhe todos os anos, ramos para assear a campa do seu colega Faus no Sousa.
Num tom de reflexão, profere as seguintes palavras:
- Nasci em tempo de ditadura, agora, como cidadão democrá co quero evoluir nesta con nuidade! Foi, assim, que venci aquela sombra de temor que me desvairava, graças a isto a censura “caiu”. Viva à democracia que tem pernas para andar!
Francisca Pereira Oliveira nº8, 9ºC, EB Terras do Ave
Numa aldeia remota no interior de Portugal há alguns anos que se viviam tempos difíceis devido às restrições impostas pelo Estado Novo. Tudo isto assombrava os dias de Júlia, uma jovem ambiciosa que sonhava poder viver livremente no seu próprio país.
Todos os dias ouvia secretamente os seus avós, pais e pessoas mais velhas a relembrarem os velhos tempos, de quando eram mais felizes, tinham opinião própria e a sua vida não era controlada a cada movimento que faziam. Agora, com o Estado Novo e com toda a repressão que era vivida no seu país, nada era justo, toda a gente vivia assombrada pelo medo que a Ditadura causava em todos. O medo de uma simples opinião poder mudar tudo, quando a liberdade de expressão é um direito totalmente legítimo do ser humano. A Júlia era uma rapariga muito curiosa e altruísta, queria sempre saber mais e mais. Consequentemente corria alguns riscos, mas que lhe traziam a adrenalina que tanto adorava.
Ela, secretamente, ouvia programas de rádio e lia jornais e revistas que violavam as regras impostas pelo Estado Novo, onde apenas mostravam a realidade que era escondida pelo Salazar acerca do nosso país, Portugal. Todos os dias se questionava de como é que haviam pessoas que acreditavam no discurso daquele homem, e como era possível alguém ser idolatrado de tal maneira, quando nada de bom tinha feito.
Apesar de concordarem com os ideais dela, os pais de Júlia tinham receio do que ela pudesse dizer em público e lembravam-lhe sempre do perigo que era desafiar as autoridades.
Júlia e os seus pais moravam numa pequena aldeia nos arredores de Lisboa, e viviam da agricultura, dependendo da colheita para o sustento da família, mas encontravam todos confortos na vida que tinham.
Apesar de muito do seu tempo ser passado no campo a ajudar os pais, Júlia ia à escola todos os dias, e era lá que encontrava as suas amigas. Era com elas que brincava diariamente até á hora do jantar, e passava o seu tempo livre.
Era impensável não poder ter uma vida normal, onde a liberdade não fazia parte dela, a cada dia que passava a revolta que crescia dentro de si era cada vez maior. O controle que Salazar tinha instruído no país era inadmissível a seu ver. Por ele, Júlia só sentia desprezo e ansiava todos os dias para que deixasse o poder.
Dia 25, um dia como outro qualquer, pensava Júlia, levantou-se cedo porque antes de ir para a escola tinha de ajudar os pais. Já no dia anterior ela tinha notado que o ambiente em casa estava estranho… parecia que os pais lhe estavam a tentar esconder alguma coisa, mas tentou ignorar isso. Até que uns minutos mais tarde percebeu tudo. O grande dia tinha chegado, pelo qual ela tinha esperado tempo mais do que suficiente. Portugal estava a postos para acabar com a Ditadura.
Júlia sentia que o que sempre sonhou se estava a tornar realidade, e não podia estar mais feliz. As ruas encheram-se de esperança e o povo português saía à rua eufórico com a mudança. Os abraços eram carregados de alívio e a euforia que era vivida naquela aldeia e em todo o país era inexplicável. Júlia e os familiares naquele momento aperceberam-se de que todo o esforço e sacrifício que tinham feito não foram em vão. E agora, o povo português estava pronto para abraçar a nova era do seu estimado país.
O dia em que tudo mudou
No meio de toda a confusão Júlia perdeu as amigas que tinham vindo com ela e começou a procurálas, porque estava a ficar tarde e não queria ir embora sozinha. Percorreu todos os recantos e também foi aos vários cafés que estavam abertos e cheios de militares a festejarem, mas não as encontrou. A certa altura já estava a ficar desesperada porque estava totalmente sozinha, e como já tinha perdido a esperança de as encontrar decidiu sentar-se numa das inúmeras praças que haviam em Lisboa. Era de madrugada e mesmo as ruas ainda tendo movimento, o ambiente começou a ficar mais vazio e solitário e o frio que se sentia em pleno abril ainda era muito, porque o tempo ainda era de inverno.
Um rapaz que estava por lá a passar decidiu parar e sentar-se ao lado dela. Aquela jovem tinha chamado a atenção dele, porque mesmo sendo de noite os olhos dela brilhavam de uma maneira que ele nunca tinha visto.
- Olá, tudo bem?
- Sim e contigo? - disse a Júlia
- Também, chamo-me Vicente
- Um nome muito bonito, gostava de dar esse nome ao meu filho, quando o tiver claro - disse a jovem com um sorriso no rosto que não ficou indiferente ao rapaz.
- E tu como é que te chamas?
- Júlia!
- E o que é que faz uma menina tão bonita a estas horas sozinha, ainda por cima numa noite tão especial?
A Júlia mostrou um sorriso tímido… Ela nunca teve muito contacto com rapazes e a cada mínima interação que tinha com um, o seu coração acelerava como se tivesse acabado de correr uma maratona.
- Realmente é uma noite mesmo muito especial, esperei quase a minha vida toda por este dia. Estava tão feliz que até perdi as minhas amigas e agora estou aqui, sem maneira de voltar para casa.
- Que não seja por isso, diz-me onde moras que eu levo-te lá.
- Claro que não! - disse Júlia, já a sentir o seu espaço a ser invadido.
- Então, mas porquê?
- Eu mal te conheço, não posso aceitar.
- Então vais me ficar a conhecer agora - disse Vicente com um ar muito convencido que atraiu muito rapidamente a jovem.
Nos minutos seguintes, aliás, nas duas horas seguintes, eles conversaram e ficaram a conhecer muito um do outro, onde moravam, o que faziam, em que acreditavam, o que gostavam e também os medos de cada um. Parecia que já se conheciam há anos e que eram amigos inseparáveis, porque os sorrisos que partilharam naquela conversa eram incontáveis. Nenhum dos dois tinha dado pelo passar do tempo, e a verdade é que os dois se estavam a sentir muito bem ali e o Vicente não estava a conseguir controlar a atração que sentia pela Júlia. Nunca tinha visto uma menina tão bonita, ela tinha uma boca rosada, um cabelo comprido castanho claro, um sorriso lindo, mas o que se destacava mesmo eram os seus olhos, castanhos cor de amêndoa que quando ela se ria, quase que fechavam. Ela era perfeita aos olhos
dele e a única coisa que lhe apetecia fazer era beijá-la e sentir que ela também o queria, mas ele tinha medo de invadir o seu espaço. Ela parecia uma menina tão sensível e pela conversa que teve com ela percebeu que ela nunca tinha estado com nenhum rapaz. Ele já tinha tido uma namorada antes, mas ela mudou-se para outro país e depois veio a descobrir que ela o tinha traído, enquanto ainda estavam juntos. Ele ficou muito magoado na altura, pensou que não era suficiente, mas depois percebeu que merecia melhor e decidiu seguir em frente. Mesmo já se tendo relacionado com uma rapariga antes, nunca tinha sentido nada assim, e decidiu avançar, porque a sua mãe sempre lhe dissera que não era uma questão de tempo, e sim de conexão. Com a Júlia, a conexão foi logo criada no momento em que a viu. Sem pensar muito, enquanto ela lhe continuava a contar das suas histórias e ele olhava para ela de uma maneira que mais parecia hipnotizado pela sua voz, pela sua maneira de mexer as mãos, pelos seus olhos, por ela. Ele aproximou-se e colocou-lhe o cabelo para trás da orelha, pôs a sua mão no pescoço dela e beijou-lhe os lábios, depois olhou para ela com medo, porque não queria avançar mais se ela não se sentisse confortável. Júlia como não tinha nada a perder e também se sentia atraída pelo Vicente, correspondeu. Os minutos que se seguiram foram especiais para os dois e só queriam que aquele momento não acabasse e que durasse para sempre. Mas Júlia, por mais que quisesse, não se podia deixar levar, nem avançar mais, porque afinal não estavam no sítio mais apropriado e ela não se sentia muito confortável ali. Vicente rapidamente percebeu isso e decidiu tomar ele a iniciativa. Afastou os seus lábios dos dela e olhou para ela de tal forma que ela até estremeceu. Ele tinha os olhos lindos, azul cor de mar. Sempre que o observava parecia que era emergida pelo seu olhar. Ele era deslumbrante aos olhos dela, tinha uma pele clara, tinha sardas nas bochechas e os seus cabelos eram loiros, da cor do sol. As cores do rosto dele eram tão harmônicas, combinava tudo na perfeição. Nem ela sabia o que sentir em relação ao que tinha acabado de acontecer, só sabia que estava feliz.
- Queres que te leve a casa? Já está a ficar tarde.
- Eu só precisava de ligar aos meus pais, eles devem estar muito preocupados.
- Tenho telefone fixo em minha casa, se quiseres podes dormir lá e amanhã levo-te a casa.
- Se não te incomodar, por mim tudo bem - Júlia já se sentia mais à vontade.
Os dois levantaram-se do banco onde estavam e caminharam durante uns dez minutos até chegarem à casa dele. Vicente tinha uma realidade um bocado diferente da de Júlia. Os pais dele eram médicos e ele vivia nos apartamentos no centro da cidade. Os pais ainda não estavam em casa, então eles sentiram-se mais à vontade. Ele ofereceu-lhe comida e mostrou-lhe o quarto de visitas onde ela podia dormir, para depois no dia seguinte ele a levar de regresso a casa. Quando ela se estava a preparar para se deitar, Vicente bateu à porta e perguntou se podia entrar.
- Sim, estou só a acabar de me vestir.
- Tudo bem, precisas de mais alguma coisa?
- Sim, está tudo bem. Aliás muito bem! - disse Júlia com um sorriso no rosto.
- E posso saber o motivo de tanta felicidade?
- Claro, aliás, o motivo és tu.
Vicente não conseguiu esconder o sorriso e aproximou-se dela e deu-lhe um beijo na testa.
Durante a conversa que tinham tido, Júlia referiu que adorava os beijinhos na testa que o pai lhe dava todos os dias antes de ela sair para ir para a escola. De certa forma sentia-se segura com aquele beijo, e era a demonstração de amor que mais adorava.
- Não querias ligar aos teus pais?
- Ah sim, até já me tinha esquecido. - disse Júlia a rir-se ao mesmo tempo.
Ela liga aos pais e diz-lhes que está tudo bem e dá uma desculpa esfarrapada para não demorar muito. Depois de pousar o telefone, Júlia olha para Vicente e foca o seu olhar nos olhos dele que não se cansava de admirar. Beijam-se outra vez e o ambiente acaba por aquecer, mas, entretanto, ouvem o som da fechadura da porta a abrir. Recompõe-se tão rápido que os pais acabam por nem se aperceberem do que se estava a passar antes deles chegarem. A Júlia foi para o quarto de visitas e ele voltou a beijá-la, mas desta vez mais rapidamente antes de se dirigir para o seu quarto.
Na manhã seguinte ele levou-a a casa, que nem ficava assim tão longe da sua. A Júlia foi obrigada a contar aos pais o que se tinha passado, mas como é óbvio sem pormenores. Mais tarde acabou por contar à mãe, porque ela começou a reparar que as visitas de Vicente eram mais frequentes do que o normal. Passado algum tempo eles já faziam tudo juntos e eram inseparáveis. Nunca tinha amado assim ninguém e nunca se tinha sentido conectado desta maneira com alguém. A cada dia que passava ele apaixonava-se ainda mais por Júlia e sentia-se cada vez mais orgulhoso dela. Apesar de se terem conhecido de uma maneira tão improvável, ela era tudo para ele, só com ela é que se sentia completo e feliz.
Os pais e amigas de Júlia estavam muito orgulhosos dela, ela estava verdadeiramente feliz, encontrara alguém com quem se sentia bem e também o tempo de pesadelo do Estado Novo acabara. Ela estava verdadeiramente realizada, e como era óbvio eles só a queriam ver bem.
Os anos foram passando e, entretanto, Júlia já tinha dezanove anos. Já namorava com o Vicente há quatro anos, e estavam mais felizes do que nunca. Passaram por momentos difíceis como é de se esperar de uma relação, mas conseguiram ultrapassá-los e estavam muito bem. De vez em quando Júlia parava para pensar, como é que um simples rapaz que tinha conhecido na noite da grande revolução do 25 de abril, que foi um dia muito marcante para ela, se tinha tornado tão importante na sua vida. Porque agora, passado tanto tempo, ele continuava a não ser um simples rapaz, ele era o seu porto seguro, a quem recorria quando precisava e com quem podia contar sempre. Para além de Vicente ser o seu confidente, também era o amor da sua vida. Podia ser muito nova, mas o sonho dela era casar com ele e ser mãe, para poder dar o nome do pai, Vicente, ao seu filho. Dissera-lhe isso naquela noite, na noite em que se conheceram e que a partir daí ela deixou de conseguir viver sem ele e de imaginar uma vida sem ele. Porque todos os planos que fazia, o incluía.
E foi assim que a grande revolução do 25 de abril, mudou vidas, não só a de Júlia e de Vicente, mas de todo o povo português.
Inês Moreira Ferreira, nº 10, 9º A - Escola Básica Terras do Ave
Hácinquentaanos,numamanhãensolaradadeabril,Portugalacordousobumnovocéu.Os ventosdamudançasopravampelasruas,carregandoconsigooperfumedecravosvermelhosea promessadeliberdade.Eraodia25deabrilde1974,odiadaRevoluçãodosCravos.
NocoraçãodeLisboa,umjovemchamadoMiguelobservavaasmultidõesnasruas, empunhandocartazesecantandocançõesdeprotesto.Elesentiaaenergiapulsantenoar,o zumbidodaesperançaqueecoavaportodoopaís.Comotantosoutrosjovensdasuageração, MiguelsonhavacomumPortugallivre,ondetodospudessemviversemmedoesemopressão.
Enquantoosolseerguiasobreostelhadosdacidade,Migueldecidiujuntar-seàmarchapela liberdade.Elejuntou-seaosseusamigosnaPraçadoComércio,ondeseviuenvolvidonumacorrente humanadesolidariedadeedeterminação.ÀmedidaqueavançavampelasruasdeLisboa,Miguel sentiaumasensaçãodeeuforiaapoderar-sedele,comoseestivesseatestemunharahistóriaa desenrolar-sediantedosseusolhos.
ARevoluçãodosCravosfoiummomentodeuniãoecoragem,ondeaspessoasdetodasas origensseuniramemproldeumobjetivocomum:libertarPortugaldojugodaditadura.Àmedida queodiaavançava,ossoldadosrebeldesocuparamospontos-chavedacidade,derrubandooregime autoritáriodeSalazarerestaurandoademocraciaaopaís.
ParaMigueleparatantosoutrosportugueses,aquelediamarcouoiníciodeumanovaera. Eracomoseomundoestivesserepletodepossibilidades,comoseofuturoestivesseaoalcancedas mãos.Nosdiasseguintes,opaísmergulhounumfrenesideatividadepolíticaesocial,comcomícios, manifestaçõesedebatesfervorosossobreorumoquePortugaldeveriaseguir.ParaMiguel,aqueles diasforamumdespertarpolíticoepessoal.Eleviu-seenvolvidoemdiscussõesapaixonadassobreos valoresdaliberdadeedajustiça,inspirando-senaspalavrasdelíderescomoOteloSaraivade Carvalho,MárioSoareseÁlvaroCunhal.Eletestemunhouaaberturadosjornaiscensurados,ondeas vozesoutrorasilenciadasagorapodiamserouvidasaltoeclaro.
Àmedidaqueosmesessetransformavamemanos,Miguelviuoseupaístransformar-se diantedosseusolhos.Portugalembarcounumprocessodemodernizaçãoedemocratização, construindoinstituiçõessólidasegarantindoosdireitosfundamentaisdosseuscidadãos.Opaís abraçouadiversidadeeapluralidade,celebrandoasuaricahistóriaecultura.
Hoje,cinquentaanosapósaRevoluçãodosCravos,Miguelolhaparatráscomgratidãoe orgulho.Elevêcomooseupaíssuperouadversidadesedesafios,emergindomaisforteemaisunido doquenunca.OscravosqueumdiafloresceramnasruasdeLisboaagorasãosímbolosdeuma naçãoresiliente,umanaçãoquenuncadesistiudelutarpelasualiberdadeesuadignidade.
CravosdeLiberdade
EnquantoMiguelcaminhapelasruasdasuacidadenatal,elesorriaoverumanovageração deportuguesesquecarregamconsigoolegadodaRevoluçãodosCravos,prontosparadefenderos valoresquetornarampossívelaliberdadequehojedesfrutam.
JoaquimCarlosPeixotoAzevedonº6,9ºD
TiagoSalvadorMachadoMarquesnº13,9ºD
EscolaBásicaTerrasdoAve
Arevoluçãodoscravos
EraumamanhãdeabrilcomooutraqualqueremLisboa.Osolespreitavaporentreasnuvens,as ruasestavamcalmas,enquantooaromadocaféfrescoflutuavanoar.Noentanto,naqueledia,algoestava diferente.Umaenergiainexplicávelpairavasobreacidade,comoseopróprioventosussurrassesegredos demudança.
Entreasparedesdequartéisecasas,ummurmúriodeinsatisfaçãocresciaentreossoldados.Nas conversassussurradasduranteasnoitesmaldormidas,sentia-seodesejoporliberdadeejustiça.Eassim, naquelamanhãde25deabrilde1974,opovoacordoucomaesperançanoscoraçõesdaquelesque ousaramsonharcomumpaíslivre.
Osolmalsetinhaerguidoquandoosprimeirospassosforamdados.Umgrupodejovensmilitares, corajososedeterminados,lideradospeloCapitãoSalgueiroMaia,ergueu-secontraaopressãoquehá décadasaprisionavaPortugalsoboregimeditatorialeavançarampelasruasdacidade.
Enquantoisso,noslaresportugueses,famíliasreuniam-seàvoltaderádios,aaguardar ansiosamentepornotícias.Oscoraçõesdopovobatiamapressadamente,incertosdoqueiriaacontecer.E então,comoumpiscardeolhos,receberamanotíciatãoesperada:arevoluçãohaviacomeçado.
Opovo,hámuitosilenciadopelomedoepelaopressão,ergueu-se,inundandoasruascomaforça dasuavoz.Cravosvermelhos,símbolosdapazeresistência,foramerguidosempunhoscerradose colocadosnasarmasdosmilitares.
Enquantoostanquesavançavampelasruas,ossoldadoserguiamsuasarmasnãocontraopovo, mascontraoqueosaprisionava.Eassim,comaforçadavontadeeadeterminaçãodemilhares,as correntesdaopressãoforamdestruídas,dandolugaràpromessadeumnovoamanhecer.
Àmedidaqueodiaavançava,ascoresdaliberdadepintavamohorizonte.Praçaseavenidasquehá poucotempoestavammergulhadasnaescuridãodarepressãoagorabrilhavamcomaluzdaliberdade.A RevoluçãodosCravosnãoapenasacaboucomumregime,masergueuosalicercesdeumanaçãoquese via,pelaprimeiravezemmuitosanos,livreparaescolherseuprópriodestino.
Eassim,enquantoosolsepunhasobreLisboanaquelahistóricatardedeabril,opovoportuguês celebravanãoapenasaconquistadaliberdade,mastambémopodertransformadordauniãoeda coragem.O25deabrilde1974tornou-senãoapenasumapáginanahistóriadePortugal,masumsímbolo deesperançaeinspiraçãoparatodosaquelesquedesejamummundoondealiberdadesejaodireitode todos.
MartadaCunhaBarrosdeSousaeSilvanº89ºD EscolaBásicaTerrasdoAve
Alfredoeraumjovemestudanteuniversitário,vivendoemLisboanofinaldosanos60.Era umperíododeagitaçãopolíticaemPortugal,comoregimeautoritáriodoEstadoNovoainda firmementeestabelecido.Apesardasrestriçõesàliberdadedeexpressãoeassembleia,Alfredoe seusamigos,ManueleSofia,compartilhavamumarevoltacontraoestadonovo.
Ostrêsfrequentementesereuniamemcafésdiscretos,discutindoosproblemasdopaíse sonhandocomumPortugallivreedemocrático.EnquantoAlfredoeramaiscauteloso,Manuele Sofiaeramardentesdefensoresdamudança,dispostosaarriscartudopelaliberdade.
Emabrilde1974,odestinodelesmudoudrasticamente.Naquelamanhãdeabril,enquanto Alfredoliajornaisnocafé,notíciascomeçaramaseespalharrapidamentesobreumgolpemilitarem curso.OMovimentodasForçasArmadas,compostoporoficiaisdescontentescomoregime,estava tomandoainiciativaparaderrubarogovernoautoritário.
Alfredo,ManueleSofiasentiramumamisturadeesperançaemedoenquantoasruasde Lisboaseenchiamdepessoas,algumascomemorandoaquedadoregime,outrastemerosasdoque ofuturopoderiatrazer.Determinadosaparticipardomomentohistórico,ostrêsamigosseuniram aosmanifestantesnasruas,cantandomúsicasdeliberdadeeerguendocartazesexigindo democracia.
Àmedidaqueosdiaspassavam,Alfredo,ManueleSofiaviramopaíssetransformardiante deseusolhos.OregimeautoritáriofoiderrubadoePortugalembarcouemumnovocaminhoem direçãoàliberdadeeàdemocracia.Noentanto,ofuturoaindaeraincerto,comlutaspolíticase desafioseconómicospelafrente.
Enquantoopaíssereergueu,ostrêsamigospermaneceramunidos,trabalhandopara construirumPortugalmelhor.Alfredoencontrousuavozcomoescritor,documentandooseventos turbulentosquetestemunhou.ManueleSofiasetornaramativistas,dedicadosagarantirqueos ideaisdeliberdadepelosquaislutaramnãofossemperdidosnotumultodamudança.
Juntos,Alfredo,ManueleSofiarepresentavamaesperançaeadeterminaçãodeuma geraçãoquedesafiouaopressãoelutoupelaliberdade.Suashistórias,assimcomoasdemuitos outros,seentrelaçaramcomoseventosdo25deabril,umdiaquemarcariaparasempreahistória dePortugal.
RafaelMendesdeAlmeidanº15,9ºA-EscolaBásicaTerrasdoAve
LiberdadeDespertada
4.º ESCALÃO CONTOS
A FUGA PELA LIBERDADE DAS
FLORES
DO CAMPO
Uma vez, numa floresta, havia uma bela abelha, como todas as outras abelhas, uma risca amarela outra preta, uma amarela outra preta e por assim adiante. Todas as abelhas viviam na sua colmeia, dentro de uma árvore de carvalho, num vasto campo coberto de flores cores arco-íris e um cheiro doce, este situava-se no coração desta imensa floresta repleta de vida animal e vegetal. Voltando à nossa amiguinha abelha, esta, uma abelha operária, trabalhava todo o dia como todas as outras, sempre o mesmo trabalho repetitivo, escolher uma flor do campo, voar até ela, recolher todo o pólen da mesma, e voltar para a colmeia e voar a outra flor para fazer o mesmo. Nenhuma outra abelha parecia incomodada com o seu trabalho diário, apenas a nossa querida amiga, esta era um pouco diferente de todas as outras, tinha um instinto que não estava destinada a ser uma coletora de pólen durante toda a sua vida. Esta abelha queria explorar o resto da imensa floresta que a rodeava e até quem sabe o resto do mundo, mas estava presa na sua colmeia com o resto de todas as outas abelhas. A nossa amiga vivia infeliz a fazer o que não gostava, até um certo dia em que estava tão desmotivada para continuar que não conseguia mais trabalhar nem mais um segundo, de tão depressiva e cansada se demonstrava, que uma das outras abelhas reparou. O nome desta abelha atenta era Papoila.
- Está tudo bem contigo? - Pergunta Papoila à nossa pequena amiga - não te conheço, mas dá para ver que estás perturbada com algo, queres falar sobre isso? - acrescenta ela.
A nossa amiga mantém-se calada, evidentemente preocupada, a Papoila não desiste, e pergunta novamente.
- Não é por não falares que o problema se vai resolver por milagre não achas?
Surpreendentemente a nossa amiguinha abana a cabeça para cima e para baixo, muito devagar, concordando com Papoila.
- Então? - pergunta a Papoila exaltada – Estou á espera para saber oque te deixou tão em baixo para te poder ajudar no que poder.
Mesmo não sendo muito conversadora a nossa amiga, muito tímida, conta à papoila que está infeliz com a sua vida atual e que quer fazer alguma coisa para mudar. Muito atenta Papoila ouve tudo, então diz:
- Não vais acreditar, eu sinto a mesma coisa com a minha vida sempre o mesmo trabalho aborrecido de coletar pólen de tantas flores, todos os dias, desde que me lembro.
Mas o que é que eu iria fazer sozinha em relação a isso, nada, mas com uma companheira poderíamos as duas realizar os nossos sonhos. O que achas? - pergunta Papoila totalmente animada à nossa amiguinha.
Esta, uma segunda vez, muito mais animada abana a cabeça para cima e para baixo. Então as duas começam logo a preparar-se para escaparem da sua prisão, a colmeia do bosque. Elas não
poderiam apenas sair no meio do dia e ir embora como se não estivesse a acontecer nada. Então fizeram um plano. Combinaram que, no alto da noite, quando a lua atingisse o seu ápice, no céu estrelado da noite fria e escura do bosque, sairiam as duas dos seus dormitórios sorrateiramente para não serem vistas por ninguém. Quando a lua subiu alto no céu, as duas encontraram-se numa saída escondida do carvalho onde se situava a colmeia, então, prontas para começar a sua aventura juntas e descobrir tudo o que a floresta tinha para oferecer a duas pequenas abelhas Papoila vira-se para a nossa pequena amiga e diz:
- Está mesmo a acontecer, todos os nossos sonhos podem e vão se realizar a partir do momento em que voarmos deste sítio fora. Adeus, colmeia, foste um bom sítio para dormir de noite, mas não foste uma boa casa para viver, nós vamos encontrar um sítio melhor, e já agora quado digo “nós” refiro-me a mim e a ... - virando-se para a nossa pequenita amiguinha.
- Cravo... o meu nome é Cravo.
FIM
Nome do Estabelecimento de Ensino: Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Ano Letivo 2023/2024
Turma: 11ºJ
Aluna: Tiago Carvalho Barquero da Silva
Título do trabalho: A Fuga pela Liberdade das Flores do Campo
Numa sociedade, há muito conquistada pelas elites dominadoras, um grupo de rebeldes surge da classe oprimida, liderado por aqueles que se recusam a aceitar o seu destino e que começam a questionar o sistema no qual vivem desde que nasceram.
Reúnem-se no subsolo da cidade, onde ninguém os pode ver e onde podem ser livres, envolvem-se em atividades proibidas e clandestinas que desafiam a autoridade, criam arte, poesia e música, obras subversivas que questionam as normas estabelecidas e inspiram outros a juntarem-se à luta pela liberdade e igualdade Esta jornada leva-os a descobrir a verdadeira natureza da liberdade e os sacrifícios necessários para alcançá-la, para si e para os outros habitantes.
Hoje é o dia 25 de abril de 2074, o dia pelo qual este grupo esperou tanto, o Dia da Liberdade, foram dias, noites sem dormir a planear algo perfeito, algo que os podia finalmente libertar deste regime autoritário, em que os seus pais já viviam e onde eles nasceram, no berço da repressão e da violência.
Estavam escondidos nas margens escuras da cidade, nos becos há muito esquecidos pelas autoridades máximas. Becos estes onde viviam os mais oprimidos, mais pobres, que nesta resistência foram os membros mais fortes e determinados para mudança: mulheres, homens, crianças, de todas as raças e etnias que presenciaram e sentiram na pele o que é ser esquecido e o que é lutar para conseguir o mínimo.
Imergidos pelo silêncio e pela escuridão que os rodeia, Sara, uma das líderes da rebelião, espera pelo sinal, juntamente com os seus camaradas. Não consegue parar de ouvir as vozes fracas daqueles que já viu partir durante esta luta, talvez seja isso que lhe dá força para continuar, para estar onde está hoje, no dia de hoje, lutando por quem não o pode fazer, a lutar por aqueles que viram a liberdade a ser arrancada das suas mãos.
Enquanto viaja no espaço da sua mente, ao relembrar esta jornada, Hugo, irmão de Sara, aperta-lhe a mão, num sinal de carinho e força. Sem palavras só com um olhar transmite-lhe a força que precisava para fazer o medo desaparecer. Num tom confiante, Sara diz-lhe:
- Vai correr tudo bem!
- Claro que vai, irmã! - disse ele com olhar determinado - passamos anos a planear a solução para libertamos esta sociedade de um sistema que explora cada um de nós até ao último suspiro, estamos aqui por nós e por cada uma das pessoas que precisa de ajuda - no exato momento que termina de falar, uma música começa a tocar pela cidade…
- O sinal… - sussurra Sara.
A Rebelião no subsolo
No beco, ouvem-se sussurros de animação e esperança!... Ao mesmo tempo que todos se levantam e vão para a rua, o som da música que foi criada durante as atividades clandestinas no subsolo, invade-os, um claro símbolo de uma era que acabou para começar outra. Sara e os seus companheiros, também líderes da resistência, olham estagnados para aquela visão, milhares de cidadãos a sair às ruas a lutar pelos seus direitos - há muito roubados- juntamente com os seus camaradas, mas não usam a violência como meio de protesto pois não queriam ser iguais àqueles que governavam, que usavam a violência e o medo como meio de calar o povo.
Ao longe, Sara viu Celeste, um membro do grupo que esteve sempre presente em todas as reuniões e atividades da resistência no subsolo, que nunca desistiu de lutar, pois presenciou o que é ser uma das principais vítimas da ditadura.
Sara corre até à amiga, que está a distribuir cravos, o símbolo da rebelião, do amor, admiração e do respeito, ao vê-la, Celeste abre um sorriso e diz:
- Conseguimos, Sara!
- Sim, conseguimos, obrigada!
- Toma, usa isto, fica-te bem, demonstra a tua força interior. - diz Celeste num tom carinhoso, ao pôr um cravo na orelha de Sara.
- Usa um também - Sara comenta, enquanto pega numa flor e a coloca na mão da companheirapara nunca esqueceres desta jornada intensa que passamos, mas que, no final, valeu tudo a pena!!!!
Depois de distribuírem mais alguns cravos pelas pessoas, elas dirigem-se para perto dos seus camaradas. Com a libertação dos oprimidos e a derrota dos opressores, num mar de cravos vermelhos e de esperança, Sara e a rebelião sabem que é o começo de uma nova era e o caminho para tornar a sociedade ainda melhor.
NomedoEstabelecimentodeEnsino:AgrupamentodeEscolasCamiloCasteloBranco
AnoLetivo2023/2024
Turma:11ºI
Aluna:MariaManuelSantosCouto
Títulodotrabalho:ARebeliãodoSubsolo
As Asas da Liberdade
Era o amanhecer do dia 25 de abril de 1974, e o sol emergia timidamente sobre os telhados de Lisboa, anunciando um dia que ficaria para sempre marcado na história portuguesa. No meio da cidade adormecida, duas amigas inseparáveis, Ana e Sofia, caminhavam pelas ruas de Alfama, com os primeiros raios de luz a banhar as fachadas coloridas das casas antigas.
Estas compartilhavam uma amizade que resistira ao teste do tempo, desde os primeiros dias de brincadeiras inocentes até à adolescência marcada por sonhos e aspirações.
Ambas tinham um desejo ardente por liberdade, um anseio que era ainda mais intenso naquela manhã de esperança e incerteza.
Enquanto caminhavam, uma gaivota solitária cruzou o céu, com umas asas majestosas a cortar o ar com graça e determinação. As amigas observaram a ave com admiração, maravilhadas com a liberdade de voar para onde desejasse. Trocaram olhares significativos, compreendendo em silêncio que, de certa forma, a gaivota personificava tudo aquilo que mais desejavam.
- Seria incrível ter asas como ela, não achas, Ana?" Murmurou Sofia, com os olhos a brilhar com uma esperança fervorosa.
- Sim, já imaginaste poderíamos voar para longe daqui, para um lugar onde pudéssemos ser verdadeiramente livres? - retorquiu, com uma voz repleta de determinação.
Elas continuaram a caminhar, cada passo impulsionado pela antecipação e pela promessa de mudança que pairava no ar. À medida que se aproximavam do centro da cidade, o som distante de sirenes e de vozes agitadas começou a preencher o ar, um prenúncio da revolução iminente.
De repente, o silêncio da manhã foi quebrado pelo um ruido ensurdecedor, aquilo parecia ser, soldados a entupir as ruas com tanques e armas. Ambas se encolheram com medo, mas também com uma coragem renovada. Sabiam que este era o momento pelo qual haviam esperado, o momento em que a liberdade finalmente se tornaria uma realidade.
Correram pelas ruas agitadas, esquivando-se dos soldados, seguindo o som da multidão que clamava por mudança. O sol brilhava e brilhava, iluminando os rostos determinados enquanto avançavam em direção ao coração da revolução.
Finalmente, chegaram à Praça do Comércio, onde milhares de pessoas se reuniam, erguendo bandeiras e cartazes em apoio à liberdade.
Enquanto observavam os eventos a desenrolarem-se diante dos seus olhos, uma sombra passou por cima delas. Olharam para cima e viram a mesma gaivota que tinham visto pela manhã, a pairar no céu azul como um símbolo de esperança e liberdade.
- Olha, Sofia, é como se ela estivesse a observar, e a dizer para continuar a lutar – disse Ana com um sorriso.
Sofia assentiu, com os olhos a brilhar com emoção.
- Sim, ela faz me lembrar que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, existe sempre uma maneira de alcançar a liberdade.
Enquanto o dia se desenrolava, as amigas testemunharam a queda do regime opressor e o nascimento de uma nova era de liberdade e democracia em Portugal. As ruas estavam repletas de celebração e esperança, ambas entenderam logo que estavam a testemunhar um momento histórico que moldaria o futuro de sua nação.
À medida que o sol se punha sobre Lisboa, banhando a cidade em tons de dourado e rosa, a Ana e Sofia sentaram-se à beira do rio Tejo, observando as luzes da cidade a brilharem à sua frente. A gaivota pairava no céu acima delas, as suas asas estendidas num gesto de liberdade eterna.
E foi nesse momento que Ana e Sofia repararam nos cravos vermelhos por todo o lado, a enfeitar os cabelos e a ser oferecidos em gestos de gratidão e solidariedade. Os cravos, símbolos da revolução pacífica que culminara na conquista da liberdade, estavam em todos os lugares, enfeitando a cidade como um lembrete da resistência e da esperança que tinham unido a população.
- Olha, Sofia, os cravos estão por toda a parte. Eles são como pequenos lembretes da coragem e da determinação da população portuguesa,- disse Ana, com os olhos a brilhar de emoção.
-São, de facto. Eles representam a beleza da liberdade conquistada com sacrifício e amor!respondeu Sofia, tocando suavemente o cravo que agora enfeitava a sua própria lapela.
E assim, enquanto a noite caía sobre Lisboa, Ana, Sofia e a gaivota compartilharam um momento de silêncio reverente, sabendo que, juntas, acabavam de testemunhar a verdadeira essência da liberdade. E enquanto o mundo continuava a girar, elas carregariam consigo as memórias deste dia extraordinário, lembrando-se sempre do poder das asas da liberdade e da beleza dos cravos vermelhos que floresciam em todos os cantos de sua amada cidade.
Nome do Estabelecimento de Ensino: Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Ano Letivo 2023/2024
Turma: 11ºJ
Aluna: Mafalda Pinto Correia
Título do trabalho: As asas da Liberdade
“Mas a opinião dele está errada!”
João era um rapazito como qualquer outro. Gostava muito de brincar com bonecas e ver desenhos animados. O seu preferido era um sobre abelhas, tanto que, no início do ano letivo, os avós lhe compraram uma mochila e lancheira do mesmo, que João adora e trata com muito cuidado. Este menino frequenta uma escola primária, onde a nossa história começa.
Certo dia, João estava a preparar a sua secretária da escola para mais um dia de aulas, quando a professora chamou a atenção da turma.
Bom dia, Meninos. Quero que deem as boas-vindas a um novo colega que entrou para nossa turma, o Pedro! Sejam simpáticos e brinquem com ele no intervalo!
João acenou a Pedro, chamando-o para se sentar no lugar livre ao seu lado. O rapaz aproximouse timidamente, mas com um sorriso no rosto.
Olá! Eu sou o João. Queres ser meu amigo?
Pode ser. Eu sou o Pedro.
No intervalo vou apresentar-te aos meus amigos, que são todos muito simpáticos!
Pedro sorriu, mas nada disse, já que a professora tinha começado a escrever o sumário no quadro, dando início à aula.
Após muitos verbos conjugados no presente, passado e futuro, chegou finalmente o intervalo, e as crianças saíram, de lancheiras na mão, para o recreio. João levou Pedro pela mão até ao canto do recreio onde os seus amigos o esperavam, sentados em roda a conversar.
Olá, malta! Este é o Pedro, o meu novo amigo! Ele entrou hoje na minha turma, e vai começar a brincar connosco! Pedro, estes são o Simão, a Mariana, a Rita e a Rosa.
Olá a todos. Eu sou o Pedro - apresentou-se o rapaz, um pouco envergonhado, mas feliz por fazer amigos.
Prazer em conhecer-te Pedro! - disse Simão. E, chegando-se para o lado para abrir espaço, acrescentou - Vem, senta-te aqui e junta-te a nós! Qual é a tua cor favorita?
A conversa seguiu animada até todos acabarem de lanchar, de seguida, levantaram-se e foram brincar aos piratas até as aulas recomeçarem. A professora agradeceu à turma por acolherem tão bem o novo colega, e o Pedro sorriu para o João. O almoço também correu bem, mas não se pode dizer o mesmo acerca do lanche da tarde…
O grupo continuava a conversar alegremente, quando Rosa se lembrou de algo:
Acho que ainda ninguém te perguntou, então pergunto eu: qual é o teu desenho animado preferido?
Pedro ponderou um bocado, e respondeu:
Talvez o dos vampiros, que dá no canal 2.
As crianças acenaram com a cabeça, satisfeitas com a resposta.
O que achas do das abelhas do canal 3? - perguntou João.
Todos se calaram e olharam para Pedro.
Sinceramente, não gosto nada desse. Acho a personagem principal irritante e não mete piada.
João olhou o amigo horrorizado.
Como podes dizer isso??? O desenho das abelhas é o melhor de sempre! - exclamou o rapaz, agitando a sua lancheira temática na cara do amigo - A personagem principal é o minha preferida, e o que estás a dizer está errado! Não quero mais ser teu amigo, tu não percebes nada!
Pedro olhou para o resto do grupo, procurando apoio, mas os outros não lhe retribuíram o olhar.
Desculpa Pedro, mas o João é nosso amigo há mais tempo, então vamos deixar de ser teus amigos.
O menino novo levantou-se sem dizer mais nada, e virando-se de costas, afastou-se lentamente. Ao fim de 10 passos, desatou a correr, e foi esconder-se na casa de banho a chorar.
O resto do grupo prosseguiu nas suas brincadeiras sem o Pedro, tentando acalmar João que continuava irritado. A professora notou que a turma já não olhava para o menino durante as aulas e que João o ignorava, então, à saída, perguntou a Pedro o que se tinha passado. A criança, cabisbaixa, contou que eles se tinham zangado por ele não gostar do desenho animado das abelhas, e que queria ir para casa assistir a vários episódios para começar a gostar.
Estava João em casa, a preparar um jantar a fingir para as suas bonecas, quando o seu pai o chamou para conversarem.
João, aconteceu alguma coisa hoje na escola que me devas contar?
Sim, pai! Hoje entrou um miúdo novo para a nossa turma, e ele até parecia fixe, mas depois descobri que ele não gosta do desenho animado das abelhas. Acreditas???? É impossível não gostar!!
Então nós deixamos de ser amigos porque ele não percebe nada.
Sabes, a tua professora ligou-me para falar desse mesmo assunto. Fazes alguma ideia do porquê?
Vão expulsá-lo da escola por ele não gostar? Acho que faz sentido, porque ele disse que o protagonista é irritante! Aquele rapaz deve ser louco, só pode!
Temos de ter uma conversa séria, João. Não podes condenar uma pessoa pela sua opinião, quando esta não afeta um grupo ou uma pessoa individual.
Mas a opinião dele está errada!
Não há opiniões erradas, João. Se todos gostássemos das mesmas coisas, o mundo não teria piada, e não se fazia nada de novo ou diferente. Deves sempre respeitar as opiniões dos outros. Eu
gosto muito de ténis, mas nunca me zanguei contigo por não gostares, porque te respeito e tens direito à tua opinião. Se toda a gente gostasse de gelado de chocolate, talvez não se tivessem inventado outros sabores.
E não ia haver gelado de morango???
Talvez.
Acho que já percebo pai. Fui péssimo com o Pedro, achas que ele me desculpa?
É bom que reconheças que erraste, agora o que tens a fazer é pedir desculpas de forma sincera e esperares que ele te perdoe.
Ok pai! Mal posso esperar por amanhã, o Pedro é muito fixe e quero ser amigo dele!!
Quando João chegou à escola, foi logo ter com Pedro, que já estava sentado no seu lugar, de ombros pesados e cara triste.
Bom dia, Pedro.
O rapaz olhou-o confuso, pois não percebia porque é que João estava a falar consigo.
Desculpa eu não gostar do desenho animado das abelhas, João. Eu ontem até estive a assistir e…
Não! - apressou-se João a interromper, recebendo um olhar perplexo de Pedro - Eu é que tenho de te pedir desculpas! Tu podes não gostar do desenho animado das abelhas, porque isso é a tua opinião, e a tua opinião é válida, e não faz com que eu deixe de gostar, nem te faz uma pior pessoa. Por favor, desculpa a maneira como gritei contigo ontem, eu achava que só eu é que tinha razão, mas o meu pai explicou-me as opiniões e eu percebi o quão mau fui para ti. Espero que me possas desculpar!
Obrigado por pedires desculpa e perceberes que foste mau. Fico feliz que respeites a minha opinião, e tenho a certeza de que há outras coisas que gostamos os dois. E, sim, eu desculpo-te!
João sorriu largamente, e abraçou logo o amigo, murmurando que nunca mais gritaria com ele e que ele era incrível e muito inteligente. Pedro corou com os elogios e abraçou o seu amigo.
Mais tarde João falou com o resto do grupo, e explicou-lhes o que o pai lhe tinha ensinado. Os amigos foram logo desculpar-se a Pedro, e acabaram todos juntos a brincar aos vampiros no intervalo.
E esta história acaba aqui, na escola em que começou, com o mesmo rapazito. Mas, agora, João é uma pessoa mais tolerante e aberta a diferentes opiniões, e tem um novo amigo fixe. E podemos imaginar que João continua a crescer e a aprender, e que João e Pedro continuam amigos durante as suas vidas, mas isso deixo à imaginação do leitor. FIM
Nome do Estabelecimento de Ensino: Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Ano Letivo 2023/2024
Turma: 11ºJ
Aluna: Matilde Correia Lopes e Silva
Título do trabalho: Mas a opinião dele está errada!
Melodias de abril
Hoje, dia 24 de abril de 1974, escrevo enquanto aguardo, impacientemente, o momento que poderá mudar o curso da minha vida. Não sei bem o que esperar, na verdade, vejo duas opções para o futuro uma que me anima e dá esperança para continuar a escrever e compor, uma vida sem censura, sem medo de falar o que penso, onde possa ter a minha voz ouvida, e uma outra opção que só de pensar despedaça-me coração, como é que pode ser possível que esta ditadura continue? Não pode! Não o permitirei! O povo não o permitirá! A voz do povo é quem mais ordena! Este governo cairá antes do fim do mês, confio em nós, o povo, nós faremos a nossa voz ser ouvida!
Continuo sentado durante horas, na minha carteira onde tenho um relógio, que aponta agora as 22:53h, e um rádio que ouço atentamente à espera do primeiro sinal… não deverá faltar muito...
Aqui está... esta canção, esta linda composição tão apaixonante. Já a tinha escutado antes, porém, ao ouvi-la agora, enquanto escrevo, não consigo deixar de me admirar pela letra espantosa e pela forma incrível como Paulo de Carvalho interpreta a sua música. Neste momento só imagino as guardas a prepararem-se para sair e, por conseguinte, mudar o curso do nosso país, derrubar esta ditadura, devolver ao povo a sua voz. Porém, o primeiro sinal passou e nada posso eu fazer se não esperar pelo segundo, ouvi-lo-ei atentamente o que acontecerá depois?
A meia-noite já virou, os olhos ainda se mantêm abertos mesmo com o cansaço a apertar cada vez mais, todavia a ânsia para viver o que está para vir também cresce dentro de mim, cada minuto um pouco mais.
Aqui está a “Grândola”, “Grândola Vila Morena” conheço-a tão bem, é um orgulho vê-la a ser usada como senha da revolução, a avisar os militares que está na hora de sair às ruas e marchar. Ouço cada verso atentamente, o sono passou, recordo-me de cada um deles a surgir na minha cabeça pela primeira vez, cantei-os por dias a fio. Porém, poucas foram as vezes que os recitei para serem ouvidos, não sabia quem poderia estar à escuta, era sempre melhor não arriscar assim tanto, já escrever tais versos fora risco que chegue... A partir de hoje cantá-los-ei sem medo! Eu sei, eu acredito!
O povo começou a sair às ruas, e eu pretendo segui-los. Estou a preparar-me para sair, levarei estas folhas comigo, quero deixar registado este momento, para que as gerações futuras não voltem a chegar perto deste regime, para que tenham em vista os nossos erros, para que não se deixem chegar a enganar como nós fomos enganados
Encontrei um velho amigo numa esquina, sentei-me com ele e os dois conversamos sobre o que está a acontecer. Mal saí de casa, vi cravos no cano das armas dos militares e, de longe, uma jovem senhora carregava consigo um ramo deles que ia distribuindo por todos os soldados. No entanto, nenhum de nós sabia o porquê, suspeitamos que seriam uma forma que a senhora arranjou de lhes agradecer pelo que estavam a fazer. Não se ouvia tiros, achei que seria algo incessável, todavia
não poderia estar mais enganado e assim feliz pelo meu equívoco, feliz pelos cravos estarem a bloquear a saída dos mesmos
Andei pelas ruas durante horas sem saber bem o que se passava, ouviam-se coisas, mas nada se sabia de veredito. Neste tempo, em que aqui me tenho encontrado, “Grândola, Vila Morena” já virou o hino da revolução Que contente isso me deixa!
Já para lá vai o meio-dia, quando vem a notícia do fim do regime ditatorial do estado novo. Aí, a alegria desse momento! Não há palavras para descrever!...
Sentado à sombra da azinheira mais antiga do local, vejo pessoas a comemorar a Liberdade. Comemoram poder expressar-se sem medo da censura ou da repressão. Comemoram não ter de se preocupar com quem os poderá ouvir. Eu comemoro poder escrever, compor, cantar, poder ser eu.
Comemoro poder estar a escrever nestas páginas sem qualquer receio do que acontecerá se alguma vez forem encontradas. Na verdade, tenho uma alegria tremenda só de pensar na história que estas possuem, contam o dia que libertou o povo português.
Nome do Estabelecimento de Ensino: Agrupamento de Escolas Camilo Castelo Branco
Ano Letivo 2023/2024
Turma: 11ºI
Aluna: Beatriz Maio Oliveira
Título do trabalho: Melodias de abril
Os Cravos da Liberdade
Era uma manhã de primavera fresca e luminosa em Lisboa, no dia 25 de abril de 1974, um dia até então igual a todos os outros, carregado por uma luta incansável pela liberdade, para aqueles que habitavam em Portugal. Naquele dia, o sol nasceu com uma luz especial, como se soubesse que testemunharia a transformação da nação. Pelas ruas, ouvia-se os sussurros das pessoas, enquanto trocavam olhares que se encontravam carregados de descontentamento.
Ao longo do dia, pessoas de todas as idades e classes sociais reuniam-se pelas ruas da capital, apesar de silenciosos, mantinham-se todos unidos e determinados em vencer o que há muito já sonhavam… a busca pela liberdade. No meio dessa multidão, destacava-se Aurora, uma jovem estudante de literatura, cujos olhos brilhavam com a chama da esperança Era apaixonada pela simplicidade da vida e pela busca da verdade. Aurora ansiava pela liberdade e carregava consigo expectativas há muito reprimidas, tinha o desejo de o mundo se tornar num lugar onde todos pudessem escolher o seu próprio caminho. Enquanto lá estava, sentia o seu coração pulsar com toda a ansiedade e curiosidade que nela habitavam.
Ao longo do caminho que percorria junto daquela multidão, os seus olhos encontraram-se com os de Lourenço, cujos olhos transmitiam determinação e, após breves segundos a olharem um para o outro, ela sentiu algo de diferente a respeito daquele rapaz que nunca tinha visto.
Lourenço, um jovem soldado, muito perspicaz e também curioso, tinha a sensação de que algo importante estava para acontecer. Trazia vestido o seu uniforme militar, um brilho no olhar apesar da sua cara fechada, enquanto a sua mente se encontrava inquieta. Ele lançou-lhe um aceno discreto que comunicava uma cumplicidade silenciosa. Ela compreendeu que, por trás daquele uniforme militar, existia um rapaz que continha o desejo pela mudança.
À medida que o sol se punha, os relatos acerca do que circulava pelo país ecoavam nas mentes de toda a população. Foi então que toda a gente se reuniu e marchou enquanto gritava por liberdade, mas foi ao chegar à ponte sobre o rio Tejo, que o cenário mudou. Depararam-se com tanques e soldados que estavam posicionados, a bloquear o caminho. Contudo, em vez de surgir um confronto, um silêncio tenso pairou sobre a multidão. Os habitantes traziam consigo cravos que simbolizavam a esperança de uma vida mais pacífica. E, ao contrário do que há muito vinha a acontecer, desta vez não foram oprimidos, tendo assim espaço para expressarem a sua luta. Lourenço, erguendo um cravo na sua mão, avançou corajosamente em direção aos tanques. Aurora seguiu o seu exemplo, enquanto sentia dentro de si uma crescente emoção ao perceber que algo de melhor estava por vir. Os soldados aceitaram os cravos e foi então que essa flor vermelha foi colocada nas armas dos militares, como forma de demonstrar que estavam todos unidos pelo mesmo
desejo. Os adultos sorriam enquanto se recordavam dos tempos difíceis que passaram, os jovens celebravam pela esperança que carregavam por terem a oportunidade de ter um futuro mais brilhante, e as crianças, sem entenderem completamente o significado da revolução, seguravam os cravos nas suas mãos pequenas, absorvendo a atmosfera da mudança, mas sorrindo como se nenhum dia tivesse sido tão brilhante como aquele.
Esta mudança, que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos, marcou o fim da ditadura em Portugal. As praças e ruas, que antes eram palco de repressão, eram agora inundadas por uma enchente de celebração. Cravos vermelhos eram distribuídos, simbolizando a união entre o povo e os militares que, de mãos dadas, haviam superado todo aquele aprisionamento. Aquele dia tornou-se símbolo de resiliência e mostrou a todos que mesmo onde existe tanta opressão, a liberdade é capaz de continuar a florescer.
A noite caiu sobre Lisboa, mas as ruas agora estavam iluminadas pela luz das celebrações, que indicavam um novo capítulo da história de Portugal. As pessoas dançavam, cantavam e abraçavamse, unidas pela vitória. Aurora e Lourenço estavam lado a lado entre a multidão, e sentiam uma profunda gratidão por fazerem parte daquela mudança.
Na manhã seguinte, Portugal acordou para um novo capítulo da sua história. Estavam agora todos livres para seguir os seus sonhos sem medo de serem censurados, enquanto olhavam para o horizonte cheio de possibilidades. A Revolução dos Cravos libertou não apenas uma nação, mas também inspirou o mundo a acreditar na força da mudança pacífica e na esperança que floresce mesmo nos momentos mais sombrios.
O 25 de abril veio para mostrar que mesmo nas circunstâncias mais adversas, a esperança e a coragem podem florescer como cravos vermelhos.
NomedoEstabelecimentodeEnsino:AgrupamentodeEscolasCamiloCasteloBranco
AnoLetivo2023/2024
Turma:11ºI
Aluna:LaraRafaelaSáCosta
Títulodotrabalho:Oscravosdaliberdade
O desejo de uma criança tornado realidade
Um dia, durante o período da ditadura, nasceu um menino chamado Vicente. À medida que ia crescendo, Vicente ia-se apercebendo do que se passava à sua volta. O que se passava no seu país era uma atrocidade, pois as pessoas, mas principalmente as mulheres, não tinham direitos nenhuns.
Um dia ele começou a fazer muitas perguntas à mãe e ela não sabia o que ia responder, como por exemplo:
Vicente - Mãe, porque é que tu não vais trabalhar?
Mãe - As mulheres não podem trabalhar.
Vicente - No nosso país só há um partido e quando há eleições tu não podes ir votar, porquê?
Mãe - Aqui é assim, mas não há problema. As mulheres só podem votar se tiverem o secundário, coisa que a mãe não pôde frequentar pois o teu avô não deixou.
Vicente - Todos os filmes, livros, séries e programas têm de passar pelos governantes do nosso país para quê?
Mãe - Todo o conteúdo cultural tem de ser revisto pelos governantes, pois têm de estar alinhados com os valores do país. Se alguma coisa for contra o governo ou se o governo não gostar, é censurado ou não pode ser publicado ou exibido no nosso país.
Vicente - Quando eu nasci, porque é que o pai não estava e só o vi muito tempo depois?
Mãe - Quando tu nasceste o pai estava no serviço militar obrigatório, que é depois dos dezoito anos e tem a duração de um ano.
Vicente - O pai não tem férias?
Mãe - Não.
Vicente - Porque é que aquele homem está sempre ali à entrada da rua?
Mãe - Vicente, podes parar de fazer perguntas, por favor?
O Vicente fez o que a mãe lhe pediu e foi pensar para o seu quarto. Com o passar dos anos, Vicente percebia que não havia condições para se viver em Portugal e que a ditadura tinha de acabar. Decidiu que a melhor forma de atuar era sendo militar, tendo elaborado um plano para acabar com a ditadura. Passado algum tempo, juntou várias pessoas para conseguir colocar o seu plano em marcha.
Na madrugada do dia 25 de abril de 1974, ele e os seus colegas militares iniciaram a estratégia para derrubar a ditadura, tendo sido bem-sucedidos. O golpe militar ficou conhecido como 25 de Abril ou Revolução dos Cravos e marcou o fim da ditadura em Portugal. O nome Revolução dos Cravos deve-se a não ter havido tiros ou confrontos, algo raro num golpe militar, e as perfumadas flores vermelhas, os cravos, foram colocadas no cano das espingardas e distribuídas pelo povo que enchia as ruas numa explosão de alegria.
Esta revolução trouxe a democracia a Portugal, contribuindo para várias mudanças políticas e sociais. O povo, principalmente as mulheres, passou a ter mais direitos e mais liberdade de expressão e circulação. Foi permitida a existência de vários partidos enquanto na ditadura só havia um partido político, primeiro a União Nacional, e depois Ação Nacional Popular, que apoiava o governo. As eleições passaram a ser livres e para maiores de 18 anos, e as mulheres puderam começar a votar sem serem obrigadas a ter o secundário Durante a ditadura, não podia haver notícias contra o governo, ou seja, havia censura, nos jornais, na literatura e no cinema, a partir do 25 de Abril deixou de haver censura e tudo que era produzido no exterior começou a ser visualizado em Portugal, foram criados vários canais de televisão e rádio e jornais, sem o controlo do governo sobre o que era produzido pelos seus escritores e jornalistas. Havia a uma polícia política, a PIDE, que tinha informadores em todo o lado para ouvir as conversas das pessoas, que foi extinta. As mulheres deixaram de necessitar de autorização do pai ou do marido para saírem do país. Às pessoas casadas pela Igreja foi-lhes permitido o divórcio e os casais homossexuais começaram a poder circular livremente na rua. Antes cada patrão pagava o que queria aos seus trabalhadores e os trabalhadores não tinham direito a férias e agora existe um salário mínimo, que neste momento é de oitocentos e vinte euros, e todos os anos os trabalhadores têm no mínimo direito a vinte e dois dias de férias. Houve várias mudanças, quer na Saúde quer na Educação, sendo que foi criado o Serviço Nacional de Saúde e atualmente todos os alunos são obrigados a estudar até aos 18 anos.
Todos os desejos do Vicente foram tornados realidade. Portugal passou a ser um país livre, tanto na cultura, na comunicação, na circulação, como na política. Os cidadãos têm agora direitos iguais e liberdade de expressão. Quando temos um objetivo e lutamos por ele, conseguimos atingi-lo.
Beatriz Maria Pereira da Silva, n º 7 - 12ºA
Escola Secundária Padre Benjamim Salgado
"UmlegadodeLiberdadeeEsperança"
-Avó,avó!Horadahistória!!!
-Ora,entãovamoslá,ahistóriadehojetemumsignificadomuitoespecialparamim!A 25deAbrilde1974,tinhaeumaisoumenosatuaidade,epareciaumaquinta-feira igualatodasasoutras
-Mas,avó,comoéqueeramasoutrasquintas-feiras?
-Osdiaseramescuros,nãohavialiberdade,oquesignificavaquenemanossaopiniãode gaiatos,pormaisinocentequefosse,nãoapoderíamossequercomentá-laenem podíamosjogaràbolanarua,portanto,osnossosdiasresumiam-seairàescolaeser ensinadossegundo sabesoquê?
-Não,conta-me!
-ÉramosensinadossegundoosideaisdeSalazar:Deus,PátriaeFamília… talcomotudoo quesepassavanopaíserasegundoessesideais…
-Esófaziasissoavó?Iasàescolaemaisnada?
-Não,minhaquerida,nósíamosàescola,simsenhora,mas,depois,eu,comoera menina,vinhaparacasaajudaraminhamãenastarefasdecasa,eomeuirmão -Otio?
-Sim,sim,comoerameninoiaparaaMocidadePortuguesa -Vó,oqueéisso?
-Bem,aMocidadePortuguesaeraumaespéciede“escuteiros”,porquetambémestavam divididosemlusitos,infanteseporaíadiante masoobjetivoeradiferentedos “escuteiros”queconheces,eramaisparaprepararosmeninosparaserviremoseupaís quandofosseprecisoeparaaprenderemarespeitardetodasasformasostrêsideais impostospeloSr.Dr.AntóniodeOliveiraSalazar.
-O“Deus,aPátriaeaFamília”,nãoé?
-É,sim,muitobem!
-Mas,então,oqueéquetudoisso,quejámecontaste,temavercomo25deAbril,esse dianãoéferiado?Équeeuachoquenessedianãoháescola!
-É,eéporissoquetecontoestahistória,paraficaresasaberoporquêdeserferiado,e denãoiresàescola!
-Sim,conta,conta,estouagostardeaprendermaissobreo25deAbril!
-Comoeudizia,quandotinhaatuaidade,7aninhos,poraí,aspessoaseramcontroladas emtudooquefaziam,haviaregrasparatudo!
-Masvó,hojetambémtemosregras…
-Sim,claroquetemos,easregrassãomuitoimportantes,masantigamenteeramregras queimpediamaspessoasdeterliberdadedeexpressão;imaginalátuqueseeu quisesseiràtuaturmacontarumahistória,comoaqueteestouacontaragora,tinha-a deacontarprimeiroaoscensoresparaavaliar
-Oquesãocensores?
-Eramaspessoasqueexaminavamtudooqueviesseapúblico,comooslivrosde histórias,osjornaiseatéasmúsicas!
-Mas,porquê?
-Porquenaquelaépocanãohavialiberdade,eogoverno,láoSalazar,tinhamedodas opiniõesdossubversivos,daquelesquenãogostavamdamaneiracomoelegovernavae, então,paraevitarqueaspessoasfalassem“mal”delecontrolavatudooqueviessea público,paraquenãosaíssenadacomprometedor,quepusesseemcausatudoaquilo queeleditava!
-Asério!!Masissoeramuitomau,masagorajánãoénadaassim,poisnãoVó?Foipor causadaquelediaquemeestavasadizerdo25deAbrilnãoé?!Issonãosechama RevoluçãodosCravos??
-Muitobem!Éissomesmo,mascomoéquesabes?
-Lánaminhaescolaestamosaprepararumapeçadeteatroparacomemoraros50anos daRevoluçãodosCravos!
-Ai,meuDeus,comootempopassa,50anosjá!Parecequefoiontem -Simsim,mascontinua,euquerosabermaissobrearevolução!!
-Então,comojáteexpliquei,aspessoaseramtodascontroladas,nãotinhamliberdade nenhumaejáestavamcansadasdevivernaqueleregimeopressivo;então,começaram aorganizarummovimento,arevolução,parareclamaremosseusdireitos.
-Mastenhoumadúvida,Vó,seosdacensuracontrolavamtudooqueaspessoasfaziam ediziam,comoéqueelesconseguiramorganizarassimumarevoluçãosemoscensores descobrirem??
-Excelentepergunta,minhamenina!Ora,agora,deixaste-mesemargumentos,e,se queresquetediga,achoquenuncapenseibemnessepormenor.Agenteficoutão contentequandoficamoslivres!Mas,peloqueouvifalarnostemposaseguir,foiatravés decódigos,edamaneiracomoelespronunciavamaspalavras,quedavamaentendero queiamfazer,eatéasmúsicasquepassavamnarádio.Sabiasquefoicomumamúsica queelesderamosinalparaossoldadosavançaredarinícioàrevolução?
-Asério!!Quefixe!Equemúsicafoi,euconheço?
-Não,nãodevesconhecer,éumamúsicaantigadograndeZecaAfonso,“Grândola,Vila Morena”.
-Podemosouvir?
“Grândola,vilamorena/Terradafraternidade/Opovoéquemmaisordena/Dentrodeti,ó cidade ”
-Eassimossoldadossabiamqueessamúsicaeraosinal,nãoé?
-Sim,senhora,elessabiamquequandoessamúsicatocasseestavanahoradeoscapitães deabrilavançaremparaoCarmoparadeteropresidentedaépoca
-EraoMarcelo,Vó?
-Sim,ahah,eraMarcelo maseraoutro,nãoeraoRebelodeSousa,eraoMarcelo Caetano!Nessedia,quandoosmilitarescirculavampelasruasdeLisboa,haviauma meninaqueláestavaapassar,parairparaotrabalho,sabes,masestavatudofechado porqueestavaarevoluçãonasruas,masaCeleste… achoqueeraonomeda rapariguita… nãosabiaefoitrabalhar,eumdossoldadospediu-lheumcigarro,masa únicacoisaquetraziaconsigoeraumbraçadodecravosquelevavaparavendernaquele dia.E,então,comoeraaúnicacoisaquetinhaparaoferecer,colocouumcravonaponta daespingardadecadasoldado umcravo,eassim,elesavançaramcomarevolução.
-Masquebonitoavó,foimesmoaRevoluçãodosCravos,literalmente,elesderrotaramo presidentesemviolência,issoémuitoimportante,issomostraqueaviolêncianãoé precisaemnenhumasituação.Seeles,numarevolução,nãoprecisaramdeviolência, quandoomeuamigobateunaminhacoleganãodeviaterlevadoumapalmada,porque aviolêncianãoservedenada,nãoé,Vó!?
-É,pois,devemossemprelutarpeloquequeremoseporaquiloemqueacreditamos, lutarpelosnossosdireitosedeveresequerersempreomelhorparatodaagente, usandoasmelhoresmaneiraseosmétodosmaisacertadosesemviolência!
O25deAbrilfoi,econtinuaaser,ummudardevida,ummudardepensamentos,de mentalidadesedeatitudes,umavezqueoseucontributosemantémacesononosso quotidiano-aliberdadeeademocraciaquepermitem,seroquisermos.Semestegrandeato decoragemdeváriosmilitaresquepuseramasualiberdadeemriscoporumPortugalmelhor, comoéqueseriaonossodiaadiahoje?Seráqueaditadurateriacaídosemnenhuma intervençãodopovo?Seráqueíamoscontinuarsobumestadoopressivoesemvoz?Seráqueo paísiriaserreconquistado,anexadoaEspanhaeviveríamosnumamonarquia?
…
Bem,nuncasaberemosesópodemosestargratospornãotermosquesaber,outalvez não… Umaexperiênciacomofoioanteseoduranteo25deAbrilseriaum“abrirdeolhos”para muitoscidadãosquenãoapreciamerespeitamasualiberdade,porque,sejamossinceros,se fossehoje,alguémteriaacoragemquepersonalidades,comoSalgueiroMaiaeZecaAfonso, tiveramabravuradesemanifestar,lutarefazeradiferençaporumanaçãomelhor?
Não,provavelmentenão,oespíritocorajoso,revolucionárioelutador,atualmente,está escondidodebaixodepessoascovardes,quenãotêmacoragemdeexpressaroseudesagrado, esemvoz,quenãotêmvontadedemudaroquenãoécorreto.
Aminhaavócontou-meahistóriadaRevoluçãodosCravos,massenãotivessecontado, seráquesaberiadarvaloràliberdadeeàvozquetemoshojeequenãoaproveitamos?
Saberdarvaloraoquetemose,principalmente,aliberdadeéumavirtudedequenem todostêmafelicidadedeter.Nasituaçãoemqueestáomundohojeemdia,podemostemer temposmaisdifíceisdosqueantecederamo25deAbril,eaí,todosdarãoodevidovaloraoque têm,pormaissimplesqueseja.
O25deAbrildeu-sepormausmotivos,quepunhamafelicidadedaspessoasemcausa, mastodoessesofrimentoteveumpropósito,mostraràsgeraçõesfuturasquetemosqueter garraecoragem.ArevoluçãodeAbrilnãoaconteciaseaspessoasfossemcomoasdehojeem dia,issoéumabrirdeolhosparamuitagente,umalição.
25deAbril,aliçãoquejamaisseráesquecida!
Leonor dos Santos Gonçalves
12.07 A.E. D. Sancho I