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3.9 Naturalmente Famalicão –Cronologia de uma paisagem

Entre janeiro e agosto de 2022 esteve patente na Casa do Território, no Parque da Devesa uma exposição intitulada “Naturalmente Famalicão”, que visou apresentar a evolução da paisagem do concelho ao longo dos últimos 6000 anos. Este período corresponde ao intervalo entre o assentamento definitivo dos primeiros povoados até aos dias de hoje e as transformações da paisagem descritas ocorrem essencialmente pela ação humana. Nesse sentido esta mostra, complementada com um programa paralelo de atividades, procurou instigar os famalicenses para a construção de um futuro melhor.

Entre o momento em que surgiram os primeiros povoados no local onde viria a ser Famalicão e dois mil e vinte e dois o rio Ave correu, geralmente sereno, desde a serra até ao mar. Mas nem o curso do rio esteve imune às transformações que impusemos à paisagem da qual restam apenas indícios daquilo que foi quando os nossos antepassados aqui se instalaram. Seis mil anos, são geralmente um intervalo insignificante na história de uma paisagem, porém à pergunta que levantamos, “O que pensaria um habitante do Castro das Eiras se ao sair do balneário, rastejando sob a abertura da Pedra Formosa, encontrasse a paisagem que construímos?” teria de ser dada uma resposta que tivesse por base o espanto de não reconhecer quase nada do que estaria a ver.

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A exposição Naturalmente Famalicão procurou mostrar, de uma forma gráfica e intuitiva, como evoluiu a paisagem do concelho, como consequência dos avanços tecnológicos, das mudanças administrativas e fluxo de populações ou da introdução de animais e sobretudo de plantas que trouxemos de outras paragens.

A paisagem que se vê através da janela da Casa do Território, inclui evidências de todos esses momentos, das sucessivas gerações de famalicenses, das suas vontades e anseios. Este acumular de mudanças resultou num território profundamente alterado onde o espaço natural quase desapareceu. No entanto, em primeiro plano temos o parque da cidade que é também uma evidência de uma mudança de paradigma que se pode observar num último momento desta viagem pela paisagem do concelho, onde o natural volta a ser uma prioridade.

Foi neste contexto que, mais do que um exercício de história, a exposição Naturalmente Famalicão apresentou-se como sendo um convite a uma reflexão sobre como desejamos que seja o nosso território no futuro!

Para além dos conteúdos disponíveis nas paredes, nos módulos e plintos, o visitante encontra informação que só é visivél quando interage com os elementos expositivos, tornando a visita uma busca ativa pelo conhecimento.

Por fim e como principal mensagem desta mostra, é sugerida a ideia, muitas vezes esquecida, de que a paisagem é uma construção conjunta, da qual todos temos responsabilidade. Nesse sentido, o visitante é convidado a desenhar e partilhar na sala de exposição, a sua visão de como perspectiva que evolua a paisagem do concelho.

A julgar pelos contributos, vamos ter um futuro mais verde!

O cultivo de algumas plantas, sobretudo leguminosas e cereais e a criação de animais como vacas e cabras, permitem que o Homem se torne sedentário, surgindo assim os primeiros assentamentos definitivos. Há cerca de 6000 anos o Homem já não vive apenas do que a natureza oferece, molda o território em seu proveito, usando a enxada mas sobretudo o fogo como grande modelador da paisagem. No entanto, os vales aluviais permanecem densos de vegetação, impenetráveis e repletos de animais selvagens.

1 – NASCIMENTO DE CRISTO

Em plena invasão romana os habitantes locais vivem em povoados fortificados no topo de colinas a que chamamos Castros. Os Castros tornam a presença humana evidente na paisagem e a agricultura e a pecuária ocupam áreas extensas e fizeram a floresta recuar. Os animais selvagens são ainda abundantes e um importante recurso, mas são ao mesmo tempo uma ameaça, sobretudo para os animais que o Homem cria, que agora inclui galinhas trazidas pelos Fenícios.

476 – QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO

Terminou o domínio romano na região mas deixou uma transformação indelével na paisagem. Pequenos núcleos urbanos espalham-se pelo território que é cruzado por estradas pavimentadas por onde circulam pessoas e mercadorias. Até os cursos de água podem ser atravessados e em qualquer altura do ano com novas pontes construídas. Toda esta inovação tem grande impacto na paisagem, com a expansão da área agrícola e uma crescente procura de lenha que cria uma enorme pressão sobre a floresta e a vida selvagem da região.

1205 – CARTA DE FORAL

Alguns séculos atribulados com invasões de povos vindos do norte e do sul terminam com a criação do Reino de Portugal e pouco tempo depois e por carta de foral é reconhecido por D. Sancho I o povoamento de Famalicão. Estamos num momento de reorganização em que se promove o povoamento e o aumento demográfico, o que resulta na expansão da área agrícola e no consequente recuo da floresta. Nesta altura já existem todos os povoados que vão dar origem às freguesias que conhecemos hoje.

Uma guerra civil, as guerras com Castela pela independência do reino e uma pandemia (Peste Negra) estagnam o desenvolvimento do país. Logo depois, a vila de Famalicão perde a autonomia administrativa e passa a integrar o concelho de Barcelos. Nem o clima está de feição, após um óptimo climático medieval em que as culturas prosperaram, entramos numa pequena idade do gelo, o que faz com que as florestas voltem a recuperar terrenos que haviam sido antes cultivados e prosperam os animais selvagens!

1835 – CRIAÇÃO DO CONCELHO

Os Descobrimentos e as plantas trazidas das Américas, como o milho e a batata, transformam a paisagem num retalho de pequenas parcelas que sustentam uma crescente população. A arquitectura tem como recursos materiais naturais o que faz com que os casarios se integrem na paisagem, no entanto, a pressão sobre o território natural é tamanha que a floresta quase desapareceu. As áreas agrícolas ocupam todas as zonas planas e as aves aquáticas que passam o inverno nas margens do Ave começam a perder o seu habitat.

1985 – ELEVAÇÃO A CIDADE

Aglomerados urbanos e industriais crescem desenfreadamente e são uma constante na paisagem que se fragmenta em talhões definidos pelas estradas agora em alcatrão. Novas fontes de energia diminuíram drasticamente o uso de lenha e a produção de adubos químicos quebrou a relação entre a floresta e a agricultura. O território natural está agora ocupado ou por agricultura moderna e mecanizada ou pela silvicultura do eucalipto, toda a bacia do Ave está poluída e a vida selvagem quase desapareceu.

2022 – PRESENTE

A área urbana continuou a crescer e com edifícios cada vez maiores, assim como as vias de comunicação que fragmentam ainda mais o território. A agricultura e a silvicultura foram-se especializando e um punhado de plantas dominou toda a paisagem. No entanto, o desenvolvimento da rede de saneamento e de tratamento de resíduos diminuiu muito a poluição das linhas de água e algumas espécies outrora raras voltaram a prosperar. Multiplicam-se as campanhas de educação ambiental onde a floresta autóctone é uma tema central, mas terão efeito com o clima a mudar?

e 21 Inauguração da exposição, c om a presença do Sr. Vereador do Ambiente, Dr. Hélder

22 e 23 Interação dos visitantes c om os elementos expositivos

24 e 25 Serviços educativos: As e scolas na exposição –os mais novos e 27 Serviços educativos: As e scolas na exposição –os do meio

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