Jornal Estrela da Manhã - Edição Especial

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Ano XXVIII – 3 de Maio de 2014

Nº 1323

Edição Especial

Estrela da Manhã Semanário Republicano e Democrático Independente e Defensor dos Interesses da Região

JOSÉ CASIMIRO DA SILVA, UM GRANDE FAMALICENSE Há uma música da fadista Mariza que diz que “há gente que fica na história, da história da gente”. José Casimiro da Silva é uma dessas figuras incontornáveis da história das gentes de Vila Nova de Famalicão. Famalicense de gema, nascido na freguesia de Calendário, José Casimiro da Silva foi, acima de tudo, um grande empreendedor. A sua obra, que atravessa várias áreas da sociedade, deixou vestígios importantes na vida do nosso concelho, que nem o tempo nem a memória coletiva apagam. Por isso, enquanto famalicense e presidente da Câmara Municipal é, para mim, uma grande honra associar-me a esta homenagem, nesta edição especial do Jornal “Estrela da Manhã”. Cinquenta e quatro anos após o lançamento do primeiro número, reavivamos agora esta publicação, que foi também o reflexo do espírito empreendedor e inovador deste Homem, cujo nome está escrito com letras de ouro nos pergaminhos da nossa história. Fruto de uma época em que a instabilidade política e social marcava o dia-a-dia, Casimiro da Silva conseguiu criar e dinamizar instituições e associações, verdadeiros pilares da

nossa sociedade, que ainda hoje mantêm a sua marca, como é o caso do Rotary Clube de Famalicão, mas também da Santa Casa da Misericórdia, ou da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão. Publicista e jornalista foi diretor, proprietário e editor, primeiro do jornal “Estrela do Minho” e depois do “Estrela da Manhã”, que junta agora ao seu espólio esta edição especial. Foi também o fundador do Centro Gráfico de Famalicão. Casimiro da Silva foi ainda vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão na época do Estado Novo. Da multiplicidade de cargos exercidos destaque ainda para a direção do Futebol Clube de Famalicão, num dos períodos áureos do clube, presidência do Grémio do Comércio de Famalicão, presidência da Comissão Venatória do Concelho de Vila Nova de Famalicão, mesário do Hospital, entre outros. Foi, sem dúvida, um homem das letras, da cultura, da comunidade, mas foi sobretudo um homem de ação. Em 1959, Casimiro da Silva integra a Comissão Executiva das Festas Antoninas reavivando as festividades do con-

celho, após um interregno de quase meio século. As festas regressam “nas vésperas do 13 de Junho graças à congregação dos esforços de um grupo inflamado de bairristas e da Câmara Municipal do Concelho”, como refere João Afonso Machado na obra “Famalicão uma Vila que se inova”. Casimiro da Silva fica responsável pela organização da Parada Folclórica. Em 1980, um grupo de amigos prestou-lhe uma homenagem, na Fundação Cupertino de Miranda, atribuindo-lhe então a autarquia famalicense, presidida por Antero Martins, a Medalha de Ouro de Reconhecimento. Na altura, foi também atribuído o seu nome a uma rua, em Calendário, sua terra natal. Como todas as figuras marcantes, Casimiro da Silva foi também uma personalidade controversa, principalmente no que diz respeito à política e à sua relação com o Estado Novo. Fernando Pessoa dizia que “o Homem é do tamanho do seu sonho”. Eu acrescento que o homem é também do tamanho da sua obra. E, José Casimiro da Silva tem uma obra enorme, uma obra que merece ser divulgada e cada vez mais valorizada! Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão Paulo Cunha


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ESTRELA DA MANHÃ

José Casimiro da Silva

EDITORIAL Nunca me foi tão difícil escrever um texto. Afinal de contas, um editorial deveria ser apenas uma nota de quem assina a edição, onde se enquadra o teor dos conteúdos e onde se justifica o mote para a publicação. Mas neste caso, por muito que tivesse procurado fazê-lo, assim tão-só, não consigo libertar-me da carga emocional que sobre mim impende ao escrever o editorial de uma edição especial do Estrela da Manhã. Foi o meu avô quem me ensinou a ler, aos cinco anos de idade. Sentava-me num enorme cadeirão verde que havia à entrada do seu escritório, e passava-me para a mão o Estrela da Manhã que então se publicava semanalmente: “deves concentrar-te primeiro nas letras que estão em «caixa alta»; vais lá baixo à fábrica, à «composição manual», e procuras o tipo e o tamanho das letras que aí vês nos títulos”. E foi assim que, ao longo de quase um ano, entre o jardim-de-infância e o arranque da escola primária, eu lá ia passando os dias brincando e aprendendo a ler, com o meu avô. Está bom de ver que, por razões óbvias, me é totalmente impossível referir-me ao visado na homenagem como sendo – apenas – o cidadão José Casimiro da Silva. De forma que, não obstante a honra que tenho em assinar este texto na qualidade de editor, vou já avisando que este poderá muito bem ser o texto editorial mais “sui generis” que alguma vez terão lido, pois que para lá do necessário enquadramento dos conteúdos e inevitáveis agradecimentos, se trata de falar de alguém que amei profundamente e de quem guardo as mais enternecedoras memórias.

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Breves notas bibliográficas

Por circunstâncias do acaso encontro-me no coração do Douro Vinhateiro enquanto busco inspiração e procuro dar coerência às torrentes de informação que a memória me vai trazendo para o consciente. Não deixa de ser curioso que a esposa e os filhos me tenham trazido para um retiro de alguns dias, justamente nesta região do país que o meu avô tão bem conhecia e onde teimava em voltar amiúde. Naturalmente que tendo eu tido o privilégio de o acompanhar algumas vezes quer em passeios de família às amendoeiras em flor quer como debutante em jornadas de caça, acabo por rebuscar memórias de menino, por entre montes e vales, onde a forte presença do meu avô inevitavelmente perdura. Na esteira destas memórias há um enorme rol de coisas intangíveis que constituem, para mim e para a família, uma herança grandiosa. A herança de um homem que nascido em 1901 recusou o destino que – à priori – lhe estava traçado; o exemplo de um homem que teimou em completar a 4ª classe, e que soube agarrar a sorte de nesta fase da sua vida ter conhecido e privado com a família directa de Bernardino Machado que – imagino eu – muito tenha contribuído para o seu gosto pelo conhecimento, pela erudição, e pela escrita, a que – afinal - numa versão jornalística, acabou por dedicar toda a sua vida. O exemplo de um homem que nunca se resignou, e que fez da sua própria vida um modelo de virtuosismo republicano quer no sentido em que a construiu com mérito próprio, com trabalho, com engenho e com o

reconhecimento dos seus concidadãos, quer ainda no muito que de si dedicou ao engrandecimento de Famalicão e a muitas das suas instituições. Do que era tangível pouco restou. O tempo e o fogo volatilizaram praticamente tudo. Mas a memória de todas as coisas imateriais que nos deixou, permanece bem viva. Recordo-o como um homem culto, um autodidata, com uma enorme capacidade de relacionamento interpessoal que lhe granjeava amizades com todo o tipo de pessoas, e que balanceava sempre as apreciações que fazia e as decisões que tomava, com medidas de razão e de emoção. Um homem de equilíbrios, de bom senso, mas que não

deixava de ter as suas convicções. No que à vida política respeita, a marca de republicano fervoroso é-lhe característica, e são-lhe reconhecidas várias tomadas de posição na linha do “reviralho” entre 1926 e 1940. Nas décadas de 50 e 60 serviu na Câmara Municipal e em diversas instituições famalicenses. Na década de 70, acreditou esperançado na “primavera marcelista”, embora tivesse acabado por digerir com naturalidade o período pós-25 de Abril. Há um episódio curioso que bem ilustra a sua faceta de homem de convicções; poucos anos depois da Revolução dos Cravos, há um movimento informal de caçadores que se organiza em defesa do regime livre de caça, contrariando uma tendência cada vez mais crescente de criar coutadas e zonas de caça reservadas para associados. Reuniram-se milhares de caçadores que encheram completamente o pavilhão municipal de Barcelos, e segundo me narraram alguns dos presentes, houve um discurso que pôs toda aquela gente ao rubro, ao ponto de ter sido difícil conter aquela mole humana que se preparava para “marchar em Lisboa” em defesa do regime livre de caça. Paradoxalmente, entre os maiores defensores das coutadas encontravam-se individualidades perfeitamente conotadas com partidos de esquerda… Enfim, de volta a 2014, foi com imenso regozijo e satisfação que a família recebeu a notícia que o município lhe queria prestar uma homenagem, por altura do trigésimo aniversário de sua morte. Esta edição especial do jornal Estrela da Manhã é patrocina-

da pela Câmara Municipal, e insere-se nessa homenagem; procurou reunir depoimentos de pessoas que privaram com José Casimiro da Silva, de instituições em que ele esteve envolvido, da imprensa escrita local que actualmente pontua o panorama jornalístico famalicense, e também dar corpo a alguns ensaios de prosa ou poesia que foram escritos ao longo da sua vida. Apesar de já terem passado mais de 30 anos após a sua morte, foi muito reconfortante ter recebido inúmeros contributos, sugestões e depoimentos de tantas pessoas que com ele privaram, seja em acontecimentos sociais, seja profissionalmente, seja em episódios de caça e pesca. Alguns desses contributos estão vertidos aqui neste jornal, outros serão verbalizados na sessão de homenagem que hoje – 03 de Maio de 2014 – decorre no edifício da biblioteca municipal. Um agradecimento especial ao Sr. Presidente da Câmara Municipal, Dr. Paulo Cunha, em nome de todos quantos se envolveram nesta homenagem. A iniciativa é do município; os recursos alocados, quer materiais quer humanos, são do município; A família apenas disponibilizou alguns adereços e fotografias, assim como se disponibilizou para colaborar na edição especial do Estrela da Manhã. Bem-haja Sr. Presidente da Câmara Municipal, por manter viva a nossa memória colectiva, e por ter possibilitado a realização de um evento que não é mais que um tributo a um famalicense que tem uma vida de dedicação à sua terra! João Casimiro da Silva

FICHA TÉCNICA Editor: João Casimiro da Silva

Composição e paginação: MCSDesign

Colaboradores: Almeida Pinto, António Peixoto, Barroso da Fonte, Cândido de Oliveira, Domingos Casimiro da Silva, Emília Nóvoa Faria, Fernando Costa Soares, João Coelho, Júlio Fontes, Júlio Sá, Libório Silva, Manuel João Brandão, Manuel José Barbosa Carvalho (autor da caricatura), Rui Lima, Rui Maia, Sandra Gonçalves.

Edição: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão Impressão: Mota e Ferreira artes gráficas Tiragem: 200 exemplares

Maio 2014

Domingos José Casimiro José Casimiro da Silva nasceu a 29 de Maio de 1901 na freguesia de Calendário, Vila Nova de Famalicão, onde sempre residiu, sendo o mais velho dos cinco filhos do casal Domingos Casimiro da Silva e de Belmira Rodrigues Correia da Silva. Com o pai emigrado no Brasil foi sob a autoridade matriarcal que cresceu e homem se tornou. Regularmente, de três em três anos, seu pai visitava a família e com ela passava uns breves quarenta e

cia-se literariamente no Jornal “O Darquense” – Viana do Castelo e dois ou três anos mais tarde reúne os seus primeiros poemas num caderno a que chama: “Versos: Rosas d’Espinhos”. Dois anos mais tarde publica a primeira obra a que dá o título de “Pérolas Foscas: Crónicas” e em 1925 integra o grupo fundador do jornal famalicense O Minhoto. No ano seguinte passa a colaborar regularmente no jornal Estrela do Minho, onde cativou a amizade do seu fundador e editor, passando dois anos mais tarde a ser o seu director. Ao

a 11 de Abril de 1960. Escreveu prosa e versos, nos jornais “Estrela do Minho” e “Estrela da Manhã” e além do seu próprio nome, usou diversos pseudónimos – JOTA CÊ, J. C., Reinaldo, Violeta Triste, Ego Sun, NiHil – e publicou os livros: Rosas d’ Espinhos: Versos, 1922 Pérolas Foscas: Crónicas, 1924 Silhuetas: A graça feminina famalicense, 1935 A organização corporativa da Indústria Gráfica: Subsídios, 1936 A União da Província através da imprensa – Conferência, 1946 A actividade Municipal: O problema das águas, 1946 Júlio Brandão: Criador de Beleza, 1950 Dos Mesteirais da Idade Média à República Corporativa de 1933 e ás Primeiras Corporações de 1957 – Conferência, 1957 Trutas e Turismo, 1958 Elucidário Turístico do Concelho de V. N. de Famalicão e Roteiro do Minho, 1960 Turismo e Riquezas das Serranias do Tâmega: Do belo-horrível de outrora à presente imponência

eram lidas com muito agrado no Estrela da Manhã. Famalicense bairrista, em quase todas as associações e colectividades locais deixou a sua marca, tendo exercido os mais diversos cargos directivos em clubes como o Futebol Clube de Famalicão, o Clube de Caçadores de Famalicão, o Rotary Clube de Famalicão e associações como a Santa Casa da Misericórdia, os Bombeiros Voluntários de Famalicão, o Orfeão Famalicense, o Grémio do Comércio, a Associação Comercial, a Banda de Música e o Ateneu Comercial e Industrial, a Comissão Venatória, todos de Vila Nova de Famalicão. Com carácter regional e nacional exerceu cargos na Associação de Futebol de Braga, no Grémio Nacional dos Industriais de Tipografia e Fotogravura, no Grémio da Imprensa Regional, na Associação de Imprensa não Diária. Em 1982 integra o grupo fundador do Instituto Português da Imprensa Regional. Espírito conciliador, foi muitas vezes o recurso e outras tantas a

José Casimiro da Silva e Domingos José, no início dos anos sessenta.

cinco dias, - os três anos de intervalo ditavam a diferença de idades de seus irmãos e os quarenta e cinco dias serviam a José Casimiro para gozar de outras liberdades, que sua mãe, sem a presença paterna nunca autorizaria. A Primeira Grande Guerra coincide com os seus 13 anos e o período difícil que se seguiu, com carências de géneros alimentícios, forçaram-no, como homem da casa, a longas caminhadas até à vizinha freguesia de Silveiros no Concelho de Barcelos, para conseguir a farinha de que a família tanto necessitava. Com a idade militar a aproximar-se e como o país estava em guerra, alistou-se na milícia para preparar a sua entrada. Em 1918 a guerra terminou e o com o fim do pesadelo foi altura de fazer pela vida, primeiro na Conservatória do Registo Civil em Vila Nova de Famalicão e mais tarde no Banco Crédit Franco-Portugais no Porto, para onde se deslocava diariamente. Por esta altura (18/19 anos) ini-

mesmo tempo e por convite de Manuel Pinto de Sousa assume a gerência da então prestigiada “Tipografia Minerva”, onde se mantém até 1952. Na década de 1940 foi Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e iniciou a correspondência com os Jornais diários “O Primeiro de Janeiro”, e “Diário Popular”. Entre 1946 e 1949 é presidente da direcção do Futebol Clube de Famalicão e é reeleito presidente em 1949. Em 1952, incompatibilizado com os herdeiros de Manuel Pinto de Sousa, deixa a Tipografia Minerva e inicia um novo capítulo da sua vida ao criar o Centro Gráfico de Famalicão, para onde transitam grande parte dos funcionários da Tipografia Minerva, e onde o jornal Estrela do Minho passa a ser impresso. Em Abril de 1960 e após um longa disputa nos tribunais, deixa de ser proprietário do Estrela do Minho e funda o jornal “Estrela da Manhã” saindo o seu primeiro n.º

José Casimiro da Silva na sua casa, na Rua da Senra em Vila Nova de Famalicão, nos anos oitenta do séc. XX.

florestal da Serra do Marão, 1966 Vila Nova de Famalicão e o seu Termo – Achegas para uma monografia e um roteiro turístico do Minho, 1968. A caça e a pesca eram os seus “hobbies” favoritos e o relato das mais variadas peripécias tanto piscatórias como cinegéticas

tábua de salvação para resolver uma crise directiva que afectasse qualquer clube ou associação, ao promover a convergência de opiniões, propor nomes ou em último caso constituir uma Lista ou Comissão Administrativa onde ele próprio figurava para resolver a questão.

Após um interregno de 44 anos e acompanhado por um lote de famalicenses ilustres integra a Comissão Executiva das Festas Antoninas de 1959. Juntamente com Amadeu Mesquita, Álvaro Sousa Lopes e a colaboração da totalidade da Direcção da Santa Casa da Misericórdia de V. N. de Famalicão, levaram a cabo a tarefa hercúlea de implementar e concluir a construção do Hospital Distrital de Vila Nova de Famalicão. Sempre que se pensasse homenagear um famalicense a presença de José Casimiro na comissão organizadora era quase obrigatória, não só pela estima e amizade pessoal que cultivava com grande parte dos homenageados, mas também pelo rigor dos dados biográficos que reunia e que só por si eram a trave mestra de toda a homenagem. Ele próprio recebeu em 1980 a Medalha de Ouro de Reconhecimento da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, sendo na mesma altura atribuído o seu nome a uma rua da freguesia do Calendário. Orador fluente, bebeu nos livros que ao longo dos 82 anos foi lendo e coleccionando, o conhecimento que o seu grau académico não comportava, mas que lhe permitia falar com toda a desenvoltura dos assuntos mais variados. Nunca preparou um discurso, nem usou qualquer tipo de cábula, pois com a inata capacidade oratória que o caracterizava, destacava os tópicos que achava mais importantes e passava com agrado geral as ideias que queria transmitir. Em 27 de Fevereiro de 1983 – Festa de encerramento da época de caça, em Estorãos, Ponte de Lima – fez o seu último discurso, 24 dias antes de morrer. Apesar de ter sido pai aos 44 anos, ou talvez por isso, entendia perfeitamente as gerações mais novas e convivia com alegria com os meus amigos. Jovial e com um sentido de humor muito próprio, gostava de pregar uma inocente partidita, que os meus amigos com saudade não deixarão de recordar.


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JOSÉ CASIMIRO DA SILVA

José Casimiro da Silva

Mestre no jornalismo Barroso da Fonte Convidado a dar o meu testemunho sobre o Jornalista José Casimiro da Silva começo por esclarecer que foi curto o meu tempo de contacto com ele. Mas esse pouco tempo deu para receber dele uma grande lição de vida. Deixo-me seduzir pelos provérbios populares que sintetizam muitas normas de vida comunitária, como este que afirma ser um «velho um poço de sabedoria». Teria José Casimiro da Silva 78 anos de idade quando o conheci pessoalmente. Andaria eu pelo 37º de existência. Regressado de Angola como oficial miliciano ranger e depois de sete anos de radicação em Chaves, fixara-me em Guimarães, onde casei e constitui família. Entre 1967 e 1975 trabalhei naquela cidade Transmontana, como professor eventual do então Liceu, acumulando com as funções de chefe de redacção do Notícias de Chaves. Era director desse Semanário o professor primário aposentado, Américo Soares Pinto. Natural de Braga mas radicado na cidade Flaviense, pertenceu a uma geração de notáveis intelectuais da região do Minho. A essa geração pertenceram Jerónimo de Castro, José Moreira, Padre Júlio Vaz, José Casimiro da Silva, Rebelo Mesquita e Antonino Dias Pinto de Castro, jornalistas de peso e cidadãos irrepreensíveis. De todos eles me falava Pinto Soares, em cada semana que chegavam pelo sistema de permuta, os jornais que eles dirigiam ou neles colaboravam: Diário do Minho, Correio do Minho, Estrela da Manhã, Jornal de Famalicão, Notícias de Guimarães... Ainda eu vivia em Chaves e já conhecia esses beneméritos do Jornalismo regional. Em 1975 optei por viver em Guimarães e, ali fundei o Gabinete de Imprensa, com a parceria dos correspondentes de jornais diários: Simão Freitas

(Comércio do Porto); Américo Augusto Borges (Primeiro de Janeiro), Barroso da Fonte (Jornal de Notícias) e Fernando Tavares (Diário do Norte). Iniciara-me eu no jornalismo, em Janeiro de 1953, em A Voz de Trás-os-Montes. Em 1962 alarguei a colaboração ao Notícias de Chaves e à Voz de Chaves. Mantive esse gosto durante os 25 meses em que estive em Angola. No regresso reparti a colaboração ao Notícias de Guimarães e ao Comércio de Guimarães. Os quatro correspondentes e os directores dos semanários locais, acordámos fundar uma associação que congregasse todos aqueles que estivessem ligados ao jornalismo. É que nessa altura difícil do PREC praticar o jornalismo tornava-se tarefa complicada porque só os profissionais poderiam ter acesso às fontes e ter apoio jurídico do sindicato, enquanto os amadores nem tinham uma coisa nem outra. Tinham deveres, mas não tinham direitos. E algumas vezes os correspondentes eram enxovalhados num tempo em que valia tudo. Foi por causa dessas reivindicações que se fundou o Gabinete de Imprensa de Guimarães, com data oficial de 3 de Março de 1976. Era a primeira associação de imprensa regional do país, depois do 25 de Abril de 1974. Começou por promover cursos intensivos dessa actividade, ministrados por profissionais do sector. Com apoio do FAOJ foi possível ministrar esses cursos, nos 13 concelhos do distrito de Braga. Ao mesmo tempo esses cursos simultâneos funcionavam em regime pós-laboral. Tiveram a duração de seis meses. No distrito de Braga saíram dessa fornada 410 formandos que se distribuíram pela região, ora nesses primeiros anos da revolução, quer posteriormente, nas rádios locais. O GI tinha como objectivo

prioritário apoiar os colaboradores da imprensa regional. Para darem formação convidámos como formadores directores de jornais regionais: como José Casimiro da Silva, (Estrela da Manhã); da imprensa diária, como Pinto Garcia, Rui Osório e Jorge Cruz (JN), Silva Tavares (Comércio do Porto); Domingos Silva Araújo (Diário do Minho) e Luís Filipe Magalhães (Correio do Minho) e Jorge Ferreira (Primeiro de Janeiro). Cada um destes formadores cumpriu o périplo por todos os concelhos, em sistema rotativo, onde houve as mesmas aulas com os mesmos docentes. Com resumos dessas disciplinas se editou um opúsculo de 40 páginas que foi distribuído a todos os formandos e orientadores. Para exercitarem esses conhecimentos fundou-se um jornal de Curso a que se seguiu GI-Espaço Novo de que saíram três edições. Do GI nasceu em 1976, o Instituto Português da Imprensa Regional (IPIR), em 1982, com objectivos complementares: defender os órgãos onde os jornalistas trabalhavam. Gerado no seio do GI, tiveram sede simultânea: na Casa Medieval, Centro Histórico de Guimarães. Um ano depois a sede do IPIR foi transferida para a Póvoa de Varzim, onde continuou por mais uns anos, até que definitivamente se mudou para Barcelos, adquirindo sede própria. José Casimiro da Silva participou no acto da outorga da Escritura notarial, em Guimarães, pelas 11h do dia 11 de Janeiro, conforme pode ler-se na página 91 da Revista Gil Vicente, n.º 9 – vol. III da 3ª série, referente ao trimestre Janeiro /Março de 1982. Durante o X Encontro dos sócios do GI que decorreu no Centro Cultural de Vila Real e no qual participaram 63 publicações regionais, tomaram-se diversas decisões que foram publicadas na

Um grande Cidadão, um grande Homem Revista nº 12 – vol. III – 3ª série, referente ao 4º trimestre de 1982, pp. 378/382. Numa dessas páginas pode ler-se que com a presença de 75 sócios do IPIR foram eleitos os primeiros corpos gerentes para o mandato de 3 anos. José Casimiro da Silva passou a fazer parte como vogal da Assembleia Geral, presidida por Manuel da Costa Figueira, Director Geral da Comunicação Social. No número duplo: 13/14 – Vol. IV – 3ª série, propriedade do Gabinete de Imprensa, na rubrica regular, onde se fazia a súmula de notícias alusivas ora ao GI ora ao IPIR, página 90/91 noticia-se o Encontro da Imprensa Regional que decorreu em Fafe promovido pelo «Povo...» daquela cidade. De entre outros assuntos: «foi evocada a figura gigantesca no jornalismo, desaparecida em 22 de Março último e que foi grande entusiasta, quer do G.I. quer do I.P.I.R.: José Casimiro da Silva. Algumas deliberações foram tomadas no sentido da sua evocação pública, a começar pela edição de um livro bibliográfico, cuja tarefa foi acometida ao Escritor Dr. A. Lopes de Oliveira...». Uma dessas deliberações consistiu na proclamação dele como Sócio Honorário. O que deixo dito foram os factos que me aproximaram desse «gigante» da imprensa regional. Um

Homem que deixou rasto perfumado nos caminhos que trilhou no jornalismo. Sério, culto, solidário, combativo, foi um verdadeiro mestre. Essa geração de ilustres obreiros da pena fertilizou-me e a vários outros que enfrentámos um período revolucionário muito complexo para a imprensa. Pessoalmente devo muito à linha de orientação editorial que bebi em José Casimiro da Silva. Em 23 de Janeiro último completei 62 anos ininterruptos da militância jornalística…Infelizmente foi na qualidade de director da Delegação do Porto da Direcção-Geral da Comunicação Social que representei o Director-Geral, Manuel Figueira, no funeral de José Casimiro. Ambos já partiram. A imprensa regional que um e outro tão bem defenderam, após a sua morte, entrou em decadência. Um ano depois do desaparecimento do director do Estrela da Manhã e do saneamento selvagem de que Manuel Figueira foi vítima, a imprensa regional ficou órfã. Substituiu-o um dos principais coveiros do país que, desde aí, contaminou todos os sectores da vida portuguesa. Também já partiu e por isso não cito o seu nome. Bem-haja quem se lembrou de prestar esta justíssima homenagem a um dos mais competentes jornalistas do século XX.

Representantes da Imprensa Regional numa visita à Cutipol, na década de 80, do séc. XX. Da esq. para a dir.: José Casimiro da Silva, Luís Lencastre, Barroso da Fonte e Carlos Sousa Brito (Secretário de Estado da Comunicação Social). Em pé José de Abreu.

EM MEMÓRIA DE JOSÉ CASIMIRO DA SILVA Fernando Costa Soares Era eu ainda uma criança quando ouvia já, frequentemente, o meu pai falar do «Zé Casimiro» (permita-se-me que lhe chame assim, por ser desse modo que lá em casa era familiarmente tratado). Este nome começou a tornar-se-me familiar e, à medida que fui cres-

cendo, foi-me despontando a curiosidade de conhecer, de ver quem era, o «Zé Casimiro». Meu pai e ele eram clientes recíprocos nas suas relações comerciais e eram, ambos, entusiastas fervorosos dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, o que os levava a encontros e conversas frequentes, muito antes ainda de meu pai ser colaborador

do jornal de que aquele era então diretor, a «Estrela do Minho» e, mais tarde, da «Estrela da Manhã», jornal este que José Casimiro fundou e de que saiu o primeiro número em 11 de abril de 1960. Foi nesse contexto, vão passados quase 70 anos, que acabei por conhecer e «cumprimentar» o «Zé Casimiro». Homem alto, seco mas elegante,

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vestido de cores escuras, de profundas dioptrias nas suas lentes e boina basca – talvez à Montgomery – tocou-me e sorriu-me levemente e eu lá retribuí conforme pude, num misto de admiração, surpresa e intimidação perante personalidade tão apregoada e que, de repente, ali estava à minha frente, aparentemente distante mas que irradiava

compreensão e afeto. Lembro-me perfeitamente da sua voz pausada e grave, da perspicácia do seu olhar e de uma aura qualquer flutuando em torno do seu ser e que eram os indícios, de que eu não tinha ainda bem consciência mas que intuía, da sua forte personalidade e do jornalista e sensível escritor que ele foi. A partir daí comecei a ver com (continua na página seguinte)

Manuel João Brandão Não me lembro de não conhecer o Sr. José Casimiro. Foi sobretudo durante a minha infância e adolescência que pude privar mais de perto com a sua rara e, em muitos aspetos, exemplar personalidade. O meu testemunho baseia-se na memória desse tempo em que na sua casa da Senra eu tinha uma segunda família. A vida e o tempo foram-me reforçando a ideia das raras qualidades que possuía. Farei relato de alguns exemplos simples, vividos na intimidade, mas que penso revelarem a estirpe do homem de que falámos. Amigo do seu amigo cultivava o convívio entre os amigos e a família. Era um conversador nato e um verdadeiro contador de histórias, com um humor acutilante que interessava a todos, inclusive, aos mais

novos. Já com avançada idade, mas com um espírito jovial, que sempre manteve, recordo como se divertia no Carnaval “pregando inesperadas partidas” a todos os que o rodeavam. Lembro com saudade, os jantares de aniversário em que participava o seu grupo de amigos caçadores. Guardei para sempre na memória as imagens do Pe. Aviz de Brito, de Ferreira Duque, de Hilário Ferreira Castro e de Jorge Lamego e, do modo franco e amigo como discutiam sob a batuta sensata de José Casimiro. Eu e o Domingos, jovens “convidados especiais“, absorvíamos atentos toda aquela informação e comportamentos. Tinha o cuidado de nos chamar à conversa e ouvir com atenção as nossas opiniões. O seu fino trato, elegante, culto e respeitador sempre foi apreciado por aqueles que tiveram o privilé-

gio de com ele conviver. Tratava com igual consideração todos os que com ele privavam, independentemente da sua condição social e, também por isso, por todos era respeitado. A sua generosidade e o sentido de cidadania faziam parte intrínseca do seu quotidiano, manifestandose a todo o momento nos comentários e nas discussões que promovia acerca dos temas mais diversos desde a literatura, ao desporto ou à política, sempre com opiniões fundamentadas e com uma postura livre e independente, que ao tempo exigiam muita lucidez e coragem. Grande parte das vezes os temas surgiam de raiz com preocupações humanitárias e quando não era o caso, aproveitava todas as oportunidades para tentar encontrar soluções para a gestão das diversas Associações Famalicenses que

integrou empenhadamente (“sempre em defesa da nossa terra”). Inimaginável nos dias de hoje, recordo ainda um facto curioso e revelador do espírito generoso e humilde da personalidade do nosso homenageado. A porta de entrada da casa da Senra nunca era fechada à chave, mantendo-se permanentemente somente encostada. Quem queria entrava e, na hora das refeições, era convidado a juntar-se aos comensais. Fosse quem fosse era bem recebido. À mesa havia sempre lugar para ”mais um” e, muitas vezes para quem mais precisava. Pelo menos “uma malga de sopa e uns dedos de conversa” eram-lhes servidos com sorrisos pela incansável D. Maria José e pelo Sr. José Casimiro. Nessa época era frequente vê-los acompanhados de algum amigo na

sala de jantar em animado convívio (como Lino Simões ou Alberto Paiva que viviam na mesma rua) e, pelo fim do dia, encontrarmos o vizinho ”Firo Toca” (figura típica e emblemática da “vila“ desse tempo) em animada conversa, enquanto comia uma sopa e, com muito respeito, lançava as suas críticas jocosas e pertinentes a destacadas figuras e acontecimentos da nossa terra. Terminarei evocando uma citação de “autor desconhecido” que muito aprecio:

Profundamente bairrista e dadivoso, integrou os corpos diretivos das principais associações famalicenses, nomeadamente a dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, onde manteve um acentuado convívio com meu pai que acabou por propiciar o nosso conhecimento. Ninguém de Famalicão, do seu tempo, poderia resistir à sua eloquência. Para além disso, um pequeno e anódino facto fez com que o «Zé Casimiro» ficasse mais ligado a mim: tinha manuscrito e, depois, datilografado o meu primeiro livro de poemas. Mas, como publicá-lo!? Pensei e andei de um lado para o outro até que, abriu-se-me uma luz, resolvi ir falar com o «Zé Casimiro», apesar de já não estar com ele havia uns tempos porque a minha vida profissional me obrigara, entretanto, a deixar a minha terra. Trabalhava ele então na mesma rua mas noutras instalações. Éramos mais velhos, mas ele continuava com aquela mesma elegância de atleta e desportista, que também o era – que o digam os seus companheiros de caça e pesca – e com aquele mesmo ar de intelectual um tanto distante mas apaixonado, em simultâneo; abraçámo-nos, trocámos impressões sobre o passado, sobre o que eu fazia então, onde eu estava…. Disse-lhe o que pretendia e indaguei da sua disponibilidade para

o efeito; recordo um seu sorriso ténue – era muito parco em sorrisos o seu rosto – e logo, pegando no «manuscrito», me afirmou que o ia ler mas que via possibilidades, à partida, de o publicar. Deu-me uma resposta positiva passados uns dias e, algum tempo decorrido, depois das conversas e troca de ideias próprias destes assuntos, o livro estava feito e foi distribuído. Não sei bem se já existia uma amizade que permitisse aquela colaboração ou se foi essa colaboração que fez nascer a amizade. O que é certo é que foi essa colaboração e o seu fruto que selaram incontornável e inesquecivelmente a nossa ligação. Uma ligação que nasceu da intuição recíproca que tivéramos, eu criança ainda, ele homem já experimentado nas letras, de que alguma coisa teríamos de dar um ao outro, que alguma coisa havíamos de fazer juntos: e assim foi. Cada vez mais embrenhado na minha vida profissional, o tempo e a distância foram-nos separando. Mas o seu espírito, os seus escritos, o seu porte, o seu estar na sua terra, na «nossa terra», eram-me inesquecíveis. E é por isso que quando me vem à ideia um sem-número de vivências, minhas e dos meus amigos daquele tempo, o José Casimiro, que era doutra geração, aparece como uma figura de referência literária, cultural e humana

de grande envergadura. Não seria preciso que eu o dissesse e a prova disso é esta homenagem, que é da terra. Mas acho que há verdades que nunca é de mais reafirmar. São imperativos da consciência e dos afetos. São indícios palpáveis do calor que envolveu pessoas que nasceram e viveram nas mesmas paisagens, nas mesmas ruas, que respiraram o mesmo ar. É esse o caminho, a meu ver, que conduz ao sentimento de pertença a uma terra e a uma comunidade. É esse o caminho que hoje nos une a propósito e em torno da saudade desse famalicense de primeira grandeza que foi José Casimiro da Silva.

“O dinheiro faz homens ricos, O conhecimento faz homens sábios, A humildade faz Grandes Homens“ tão válida nos dias de hoje e tão significativa na memória de José Casimiro, um Homem Rico de Valores e de Conhecimento.

EM MEMÓRIA DE JOSÉ CASIMIRO DA SILVA uma certa regularidade o «Zé Casimiro», umas vezes quando ele se encontrava com meu pai, outras, já mais tarde e movido pela curiosidade de ver como se faziam os jornais, quando sozinho o ia visitar nas instalações da então «Minerva», na Rua Barão da Trovisqueira, onde ele trabalhava na direção e edição do seu jornal. Ainda me explicou, vagamente mas tanto quanto o permitiria a minha compreensão, como se procedia ao alinhamento dos caracteres, como daí sairia um texto escrito e como, depois, nas «máquinas», nas rotativas, ele poderia ser reproduzido um número incontável de vezes e ser consubstanciado no «jornal». Ia sabendo, entretanto e vagamente, que o José Casimiro era autor de versos e prosa e que «fizera» já diversos livros. Não tinha ainda, nessa altura, a perceção do conteúdo dessas letras nesses textos, mas viria a saber, mais tarde embora, que neles vinha escrita a personalidade do seu autor, o pensamento que ia naquela cabeça emoldurada pela boina basca e com aquele olhar tão penetrante, debaixo e quase escondido pela pesada estrutura dos seus óculos. Nessa personalidade vinha escrita a sua poética sensibilidade e o seu arguto olhar de jornalista a que nada do que se passava na sua terra escapava. Do

seu arguto olhar resultava a objetividade e imparcialidade com que relatava as notícias dos acontecimentos que se iam sucedendo, fossem eles relativos à Câmara Municipal e freguesias, aos bombeiros – quer «de cima» quer «de baixo» – ao Futebol Clube de Famalicão, ao Famalicense Atlético Clube, aos momentos do quotidiano mais marcantes dos cidadãos e sei lá que mais…; daquela sensibilidade vinha o calor e a paixão com que falava dos que lhes eram mais queridos, dos «bombeiros de baixo» e dos que neles «militavam», como era o caso de meu pai, e de tudo o que, para além de uma perspetiva meramente noticiosa, merecia a atenção da sua compreensão e humanidade. Mas se era assim nas letras, também na palavra o José Casimiro não ficava atrás: possuía um particular dom de orador com extraordinária capacidade de improviso, o que, conjugado com uma memória privilegiada, com a afirmatividade da sua presença e com o calor da sua voz, dava aos seus discursos uma carga persuasiva e de arrebatamento a que era impossível ficar indiferente. Foi essa invulgar caraterística oratória que muito contribuiu, certamente, para a grande força organizativa que lhe permitiu dar peso e relevo a todos os empreendimentos em que se empenhou.

José Casimiro da Silva acompanhado de um sobrinho, no Clube de Caçadores de Famalicão.


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Diz o ditado popular que “De médico e de louco todos temos um pouco!” ou se preferirem que “De sábio e de louco todos temos um pouco!” e eu por analogia fiz uma adaptação para “De poeta e de louco todos temos um pouco!”, e assim dar a conhecer uma faceta de meu Pai, ao divulgar uma poesia e sonetos com dedicatórias pessoais, e nunca publicados.

ESTRELA DA MANHÃ

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA

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UMA VIDA DEDICADA À TERRA

Domingos Casimiro

Marcha das Antoninas

Nos teus anos

A minha Páscoa

No dia de aniversário de sua mulher, Maria José-

Se me lembro! A Páscoa tinha para mim um encantamento indizível, proporcionando-me estranhos e confusos sentimentos de alegria e tristeza, de consolação e de amargura, de entusiasmo e de dor, de arrebatamento e de meditação. E não se limitava àquele domingo deliciosamente festivo e ansiosamente esperado, cuja missa, feita de rápidas e rejubilantes expressões de aleluia e em contraste com a de Ramos, tinha para mim, garoto traquina que não parava um quarto de hora num só sítio, a enormíssima vantagem de não ter Evangelho e de durar somente uns rápidos minutos! Espantosamente fiel aos mais longínquos episódios da infância, a minha memória arquiva ainda o alvoroço vivido nesses domingos de sol radioso, com o repicar delirantemente festivo dos sinos, o estralejar contínuo dos foguetes, as estradas e os caminhos transformados em tapetes de verdura, misto de abróteas, de lilases e rosas por onde passaria o «Compasso», à frente de cujo séquito, composto pelo senhor Abade, pelo «homem» da Cruz, pelo rapaz do hissope e pelo «homem» do cesto cheiinho

Nem a brincar se diria Que me esqueci deste dia Vinte e sete de Janeiro; Entre uma jóia e dinheiro Depois de muito pensar Resolvi dar-te Maria Tão cheio de meditar Não o que queria - milhões Mas aquilo que é moedas Com que se compram melões... É pouco bem sei que é, Mais seria o meu desejo, Mas se lhe juntares um beijo Que dirás, Maria José?... 27-01-1968

Soneto I As festas de Vila Nova Ressurgem hoje de novo, Alegres como uma trova Na boca do nosso povo. Rapazes e raparigas, Cantemos Famalicão Que as nossas lindas cantigas São vozes de coração.

Coro Nossas vozes argentinas São um coro sem igual Vinde ver as “Antoninas” Multidões de Portugal! Em trovas do nosso jeito, Saídas do coração, gritemos a todo peito: Avante Famalicão! As nossas ruas modestas Despertam mais uma vez: Por elas passam as festas Do Santo mais português. Ao vê-las do Paraíso, Santo António de Lisboa Olhou-nos com um sorriso De quem acha a festa boa…

II No dia das Antoninas Pecado é trabalhar. Dos campos, das oficinas, Tudo tem que vir folgar! Já tocam as concertinas A roda anda e desanda! No dia das “Antoninas” É Santo António quem manda! José Casimiro da Silva

No 7.º aniversário de minha filha Belmira Maria

Se as musas consentirem no desejo De ofertar-te um soneto nesta hora Catorze versos vou fazer-te, embora, Receie a forma... Há quanto não versejo! Sete anos, filha, vais fazer agora Boneca em cujos olhos me revejo! - E se eu deixasse os versos e num beijo Dissesse da ternura que em mim mora? Seis versos inda faltam, meu tesouro Em árduos decassílabos compor, E o fecho deve ser com chave de ouro... Quase no fim desisto. É bem melhor Depositar em teu cabelo louro Catorze beijos, meu ditoso amor! 09-04-1958

Morrer d’ Amor! “Á minha musa inspiradora”

Morrer d’ amor é morte tão linda, Tão sublime, e tão desejada Quão dura é a saudade infinda, Que se sente pela mulher amada! Assim queria eu morrer... A amar... Morrer a ver-te através duma visão E o teu nome santo a balbuciar... E sem vida já um pobre coração!... Assim queria eu morrer... Acabar A minha existência, que é tão cruel E no Paraíso só p’ra te velar! E depois tua vinda aguardar Com calma, resignação mas sem fel E vivermos eternamente a amar!!! 26-12-1921

Os «Maios» e o Primeiro de Maio Menino e moço, com os meus sete anos (lembro-me como se fora hoje!) não havia véspera do 1.º de Maio que não me trouxesse, a mim e aos meus companheiros vizinhos, a grata tarefa de ir à procura dos «Maios» que à noite haveriam de ser religiosamente postos nas portas e janelas da nossa e das outras portas, e janelas da nossa e das outras casas, não fosse o «diabo», feito «cavalo branco», investir sobre as nossas casas, forçar postas e janelas e levar-nos para os seus «domínios»… O «Maio» geralmente, era formado por uma roda de giestas, armando-se, depois, com a habilidade de cada um, uma coroa de flores, onde as de cor amarela, tinham «maior «poder» para conter o «maio» em respeito! Outros, formavam cruzes dos mais variados tamanhos e não havia casa onde não se insinuasse, pelo menos, um ramo de giestas de flores amarelas.

de maças e de estranhos ovos cor de violeta, vinha o rapaz da campainha a encher de alvoroço a aldeia. E eu ajoelhava-me e nós ajoelhávamos para beijar o Senhor – uma imagem de prata caprichosamente enfeitada de flores, trena e talhão, rescendendo a cravo – em volta de uma mesa redonda, ao centro da qual e sobre uma toalha rendada e engomada de alvo linho, se encontrava o raminho espetado numa linda maça previamente adquirida e guardada contra as tentações da «canalha» para oferecer ao senhor Abade! E enquanto o senhor Abade, a suar as estopinhas, se sentava um minuto para debicar, forçadamente, um doce e humedecer os lábios com uma gota de «vinho fino» a sua comitiva deixava escorregar deliciosamente o cálice, lambia os beiços e recebia as oferendas. E lá se iam de novo, aleluia, aleluia, aleluia, enquanto eu me precipitava lépido sobre a sala de visitas, tentado pela doçaria e pelo cálice do senhor Abade que quase ficou intacto…

29 Maio 1901 José Casimiro da Silva, filho de Domingos Casimiro da Silva e de Belmira Rodrigues Correia da Silva, nasce na freguesia de Calendário, do concelho de Vila Nova de Famalicão. 1917-1918 Publica as suas primícias literárias no jornal «O Darquense», de Viana do Castelo. 1922 Reúne os seus primeiros poemas num caderno, intitulando esta colectânea Versos: Rosas d’ Espinhos. Agosto 1925 Integra o grupo fundador do novo periódico famalicense «O Minhoto». Em Novembro, três meses depois da saída do primeiro número para as bancas, o jornal suspende a publicação.

José Casimiro da Silva «Estrela da Manhã». – A. 19, n.º 944 (3 Maio 1978).

Natal Enternecedora, emotiva e carinhosa festa a do Natal, em que as crianças, mal passam os Santos, começam, ansiosamente, a contar pelos dedos, os dias que para ela faltam… «Dos Santos ao Santo André, um mês é»… «Do Santo André ao Natal, um mês que tal»… / E depois do Santo André, lá vinha a «Senhora da Conceição» e com ela, após a ceia, a reza em coro

Década de 1940 É correspondente dos jornais «Diário Popular» de Lisboa e d’«O Primeiro de Janeiro» do Porto. Fevereiro 1940 Toma posse do cargo de Presidente da Assembleia-Geral do Grémio Nacional dos Industriais de Tipografia e Fotogravura. 1942-1945 Exerce o cargo de vereador na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

de água de Entre-Douro-e-Minho aos rios e regatos dos Altos Minho e Douro e das belas regiões bragançãs. Março 1959 Participa na I Reunião da Imprensa Regional Sector Norte, que se realiza no Estoril, como representante do jornal «Estrela do Minho». Junho 1959 As Festas Antoninas voltam a ser cartaz turístico em Vila Nova de Famalicão, após um interregno de mais de 44 anos. José Casimiro, responsável pela organização da Parada Folclórica, integra a Comissão Executiva das Festas Antoninas de 1959. 11 Abril 1960 Funda o novo periódico «Estrela da Manhã» depois de ter abandonado a direcção do jornal «Estrela do Minho».

Janeiro 1946 É eleito Presidente da Direcção do Futebol Clube de Famalicão para o triénio 1946-1949.

José Casimiro da Silva com 1 ano de idade.

daquele enorme rosário de contas brancas, enfiadas num cordão vermelho, ao qual estava presa uma fita com uma linda mensagem da padroeira de Portugal, que minha avó, a família à sua volta na pequena sala, «deitava» pausadamente na sua voz quase centenária: «Senhora da Conceição… Senhora da Conceição… porque Vós disseste quem o Vosso Santo nome nomeasse cento e sessenta vezes, que lhe havíeis de acudir em todas as aflições»… Lembro-me como se fora hoje! Não havia dúvidas… estava pertíssimo o Natal! Cá fora a geada caía e nós chupávamos o gelo roubado às poças e armávamos ratoeiras aos pardais… E a imaginação da criança era um mundo de felicidade! José Casimiro da Silva «Estrela do Minho». – A. 55, n.º 2824 (25 Dez. 1949), p. 1

Março 1952 Abre uma nova tipografia – Centro Gráfico – na Avenida Barão de Trovisqueira, no edifício onde tinha funcionado o Centro Industrial do Minho.

1926 É admitido na redacção do jornal «Estrela do Minho» de que era proprietário, director e editor Manuel Pinto de Sousa. Agosto 1928 Ao fim de «dois anos de tirocínio sob os olhares paternais de Pinto de Sousa» é-lhe entregue a direcção do jornal. 1933-1934 Exerce o cargo de 1.º Secretário da Direcção da Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão. 1936-1938 Exerce o cargo de 1º Secretário da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Famalicão.

Agosto 1953 Perfaz 25 anos na direcção do jornal «Estrela do Minho». 1955-1958 É membro do Conselho Municipal de Vila Nova de Famalicão, na qualidade de representante da Casa do Povo. Junho 1955 Apresentação de um documentário sobre Famalicão, realizado por António Ricardo Malheiro, no Cinema Trindade do Porto, numa sessão reservada à vereação municipal. O texto do documentário, com locução de Fernando Pessa, é da autoria de José Casimiro da Silva. 1958 Amante de pesca, sobretudo da pesca de trutas, publica, em edição do autor, Trutas e Turismo: Dos cursos

assuntos relacionados com a nova unidade hospitalar de Famalicão. 23 Novembro 1962 Profere a conferência «O Orfeão Famalicense ao longo de três gerações: subsídios para a sua história e alguns aspectos da vida cultural, artística, social, económica e política de V. N. de Famalicão, a partir de 1910», realizada no Ateneu Comercial e Industrial de Famalicão no âmbito do programa das comemorações do 5.º aniversário da reorganização do Orfeão Famalicense e do 46.º aniversário da sua fundação. 27 Março de 1963 Na qualidade de secretário da Santa Casa da Misericórdia é recebido, juntamente com o Provedor Amadeu Mesquita e o Presidente da Câmara, em audiência pelo Ministro das Obras Públicas, Eng.º Arantes e Oliveira. 1964-1966 Exerce o cargo de Presidente da Comissão Venatória do Concelho de Vila Nova de Famalicão. É eleito Presidente da AssembleiaGeral da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão para o triénio 1964-1966.

1946-1950 Exerce o cargo de vereador na Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

José Casimiro da Silva «Estrela do Minho». – A. 47 n.º 2420 (5 Abr. 1942)

Recordo-me também que no 1.º de Maio corria para a margem da linha para ver as locomotivas caprichosamente ornamentadas de verdura e giestas. Era assim o 1.º de Maio há sete dezenas de anos, conjugado com a obrigação de, todas as tardes, durante o «Mês de Maio» não faltar a um só dos seus piedosos exercícios na igreja de S. Julião do Calendário

Agosto 1938 Passados quatro anos da morte de Manuel Pinto de Sousa, José Casimiro chama a si a propriedade do jornal, passando o seu nome a figurar no cabeçalho como proprietário, director e editor do jornal «Estrela do Minho».

17 Dezembro de 1960 É um dos principais promotores da homenagem a Vasco César de Carvalho, um dos seus amigos de adolescência e companheiro nas tertúlias do «Café Júlio», onde também marcavam presença Júlio Brandão, Sebastião de Carvalho, Carlos Bacelar, Álvaro Corte-Real, Higino Robalo e Alexandrino Costa. 1961-1969 Exerce o cargo de Secretário da Mesa Regedora da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão. Novembro 1961 Como mesário do Hospital é chamado a participar num grupo de trabalho, constituído pelo Presidente da Câmara, Eng.º José Pinto de Oliveira, Provedor da Misericórdia, Amadeu Mesquita, Reverendo Joaquim Fernandes e José Horácio Moreira de Carvalho, com vista à resolução de

Abril 1964 Preside aos trabalhos do I Encontro da Imprensa Regional de AquémDouro, em Viana do Castelo. Maio 1965 Preside aos trabalhos do II Encontro da Imprensa Regional de Aquém-Douro, em Guimarães. Dezembro 1965 É eleito Secretário da Mesa Regedora da Santa Casa da Misericórdia. 1967 É eleito Presidente da Assembleia-Geral da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão para o triénio 1967-1969. 20 Fevereiro 1967 Como decano dos jornalistas famalicenses é o escolhido para discursar no almoço em honra dos órgãos de informação, oferecido por Cupertino de Miranda, Presidente dos Conselhos de Administração dos Bancos Português do Atlântico e Comercial de Angola.

Janeiro 1968 Recebe o 1.º prémio da «Celulose do Tâmega» pelo seu trabalho sobre o tema Das belezas da Serra do Marão, publicado no jornal «Estrela da Manhã» em Maio de 1967. Maio 1968 Promove e organiza o V Encontro da Imprensa Regional de Aquém-Douro, em Vila Nova de Famalicão. 1973 É eleito Presidente da AssembleiaGeral da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão para o triénio 1973-1976. É eleito para o Conselho Geral do Grémio da Imprensa Não-Diária, no triénio de 1973-1975, como representante da imprensa do Norte do país. 1974 É designado 2º vice-Presidente do Rotary Clube de Famalicão. 1976 É eleito Presidente do Rotary Clube de Famalicão. 26 Julho 1980 Famalicão presta homenagem a José Casimiro da Silva. Recebe a Medalha de Ouro de Reconhecimento da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, à época presidida por Antero Alexandre Castro Martins e, em Calendário, terra da sua naturalidade, é atribuido o seu nome a uma rua. 1982 É eleito Presidente da AssembleiaGeral da Banda do Grupo Recreativo Musical de Famalicão. Integra o grupo fundador do Instituto Português de Imprensa Regional. 23 Março 1983 Morre aos 81 anos na sua casa, freguesia de Calendário, em Vila Nova de Famalicão.


ESTRELA DA MANHÃ

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ESTRELA DA MANHÃ

José Casimiro da Silva Almeida Pinto Tive conhecimento que a memória de José Casimiro da Silva vai ser alvo duma homenagem em 3 de Maio deste ano. Fiquei contentíssimo ao tomar conhecimento desta notícia e de imediato aceitei o convite para estar presente e escrever algumas palavras para uma edição especial do “Estrela da Manhã”, que foi uma referência importante da imprensa regional e que tantas recordações nos trás à memória. É uma honra para mim poder tomar parte num acto de enorme justiça para com um Vulto Famalicense que pertence e sempre pertencerá à história de V. N. de Famalicão. Conheci muito de perto José Casimiro da Silva e entre nós havia enormes laços de amizade, fortalecidos ao longo dos tempos por uma grande e franca convivência. Com José Casimiro da Silva aprendia-se sempre. Era um encanto ouvi-lo falar. Belíssimo conversador, elegante nas palavras, profundo nas ideias, um intelectual de enorme cultura. Um orador por excelência onde as palavras fluíam com grande entusiasmo e facilidade e sempre rendilhadas e envoltas num perfume intenso e que eram um encanto para quem tinha o privilégio de o ouvir. Figura imponente, alto, boa com-

pleição física, elegantemente vestido, rosto aberto, óculos graduados, cabelos raros, um cavalheiro. José Casimiro da Silva aliava a tudo isto uma facilidade enorme para escrever, onde transparecia toda a sua personalidade e maneira de estar na vida. De grande frontalidade, mas duma correção sem limites. José Casimiro da Silva era um jornalista de mão cheia, com punhos de renda e caneta de oiro. Defensor acérrimo dos ideais republicanos e democráticos, nunca deixou de expor, através da oratória ou da escrita, aquilo que pensava ser o melhor para o seu Portugal ou para a sua V. N. de Famalicão. José Casimiro da Silva era um bairrista dos quatro costados. Recordo com saudade os seus artigos onde defendia, no seu estilo vigoroso e de grande entusiasmo, as causas nobres para o seu e nosso Concelho de V. N. de Famalicão, que ele amava profundamente e serviu como um sacerdócio. Fez parte da Câmara Municipal desde 1943 a 1950, Conselheiro Municipal a partir de 1951, foi secretário da Mesa Regedora da Santa Casa da Misericórdia, presidiu à Comissão Venatória, secretariou o Clube de Caçadores e a Casa dos Pobres. Foi diretor da Associação Comercial e Industrial, do Orfeão Famalicense e grande animador das Festas Antoninas, presidente

Famalicão nas palavras de José Casimiro da Silva da Casa do Povo do Calendário e Vilarinho das Cambas. Serviu, como sempre o fez, em todas as Associações e Coletividades por onde passou como o Clube Rotário, o Futebol Clube de Famalicão, os Bombeiros Voluntários de Famalicão, desinteressadamente e “pro bono público”. A sua acção meritória esteve presente desde o campo do desporto, da cultura, da saúde, das instituições de solidariedade social e de recreio, até às esferas superiores da Administração Municipal. Como disse atrás, foi com grande regozijo que recebi a notícia e o convite para uma cerimónia de homenagem a José Casimiro da Silva, famalicense que recordo com muita saudade e que perdurará para sempre na minha memória. Nunca é demais lembrar os homens Bons e Grandes Figuras Públicas que de uma maneira ou de outra foram acérrimos defensores e amantes da terra que os viu nascer e por ela deram sempre o seu melhor. A terminar não posso deixar de lembrar, e que me perdoem, aquele já longíncuo dia de 26 de Julho de 1980, em que tive a enorme honra e o orgulho de presidir, como Presidente da Assembleia Municipal de V. N. de Famalicão e como Presidente da Comissão Executiva de Homenagem a José Casimiro da Silva, à sessão sole-

ne na Fundação Cupertino de Miranda e onde esteve presente a nata de V. N. de Famalicão e as mais altas individualidades do Distrito de Braga e onde tanta gente e tanto calor humano envolveram o homenageado. Recordo com grande saudade e forte emoção ao constatar que tantos Amigos Bons e que tanto deram por V. N. de Famalicão já partiram para outro Mundo e que se solidarizaram num forte abraço de homenagem a José Casimiro da Silva naquele penúltimo sábado de Julho de 1980 e que se associaram à entrega da Medalha de Oiro de Reconhecimento da Câmara Municipal de Concelho de Vila Nova de Famalicão, à Medalha de Oiro de Duas Estrelas da Liga dos Bombeiros Portugueses, à Medalha de Oiro dos Serviços Distintos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, ao Emblema de Oiro do Futebol Clube de Famalicão, à Lira de Oiro do Orfeão Famalicense, ao Diploma de Sócio Benemérito do Grupo Recreativo e Musical Famalicense (Banda de Música de Famalicão), à Medalha “Vermeille” da Associação Comercial de Famalicão, à Medalha comemorativa da Associação dos Antigos Alunos do INA. Seguiu-se o descerramento em Calendário, freguesia onde residia José Casimiro da Silva, acto que foi aplaudido

com grande entusiasmo por todos os presentes. Permitam-me que transcreva as palavras proferidas pelo Governador Civil do Distrito de Braga, à época, Dr. Fernando Alberto Ribeiro da Silva, uma referência e figura pública do PPD/PSD, por quem sempre nutri uma grande amizade e simpatia, e que atesta bem a grandeza da homenagem que os famalicenses tributaram a José Casimiro da Silva, já lá vão 34 anos. Disse ele: não conhecendo nem a pessoa nem a obra de José Casimiro da Silva, pois encontrava-se ali sob convite do Sr. Presidente da Assembleia Municipal de V. N. de Famalicão, Dr. Almeida Pinto, para participar numa homenagem a um homem bom e a um jornalista brilhante, saiu dali confundido pelo que lhe foi dado observar e ultrapassa – frisou – tudo quanto no género tem observado em festas semelhantes no seu Distrito, terminando por afirmar ser muito difícil encontrar um jornalista e um cidadão de tamanha envergadura. Todos quantos conheceram José Casimiro da Silva, com a devida vénia, farão suas as palavras proferidas pelo mais alto Magistrado do Distrito acerca deste insigne famalicense.

José Casimiro, a Estrela e Famalicão António Cândido de Oliveira Em 23 de Julho de 1980 escrevíamos na “Estrela da Manhã”, num espaço de publicação semanal, intitulado “Pequenas Coisas”, dedicado à vida local, o seguinte: A homenagem que vai ser prestada ao Director deste Semanário é um acto de inteira justiça. Com efeito, merece ser saudado de um modo muito significativo um famalicenses que, ao longo de várias décadas, se tem interessado e tem lutado pelo bem da sua terra. Tem sido principalmente à frente da “Estrela” que José Casimiro da Silva tem mostrado o muito amor que tem a Vila Nova de Famalicão”. E acrescentava:” Aprecio desde há muito

o seu bairrismo, a elevação do seu estilo jornalístico e o seu espírito de abertura e tolerância”. Colocava ainda uma nota pessoal dizendo: “ Lembro-me que a Estrela foi o primeiro jornal famalicense que comecei a ler. Ele chegava a casa de meus pais, aos domingos, por volta das 11 horas”. (Para quem estranhe esta chegada dominical do jornal é preciso lembrar que naquele tempo os CTT distribuíam correio aos domingos) O ato principal dessa homenagem teve lugar no auditório da Fundação Cupertino de Miranda, no dia 26 de Julho de 1980. Um número especial da “Estrela” de 6 de Agosto do mesmo ano, dava conta detalhada de toda a

homenagem, que teve no Dr. Almeida Pinto, então Presidente da Assembleia Municipal, um dos principais animadores. A ela se associaram um largo conjunto de instituições a que o homenageado estava ligado. Assim , o Rotary Club de Famalicão, a Associação Comercial, os Bombeiros Voluntários de Famalicão , a Santa Casa da Misericórdia, a Banda Musical, o Futebol Club de Famalicão e ainda outras. Na intervenção que fez, José Casimiro confessa aquilo que norteou a sua vida pública e que demonstrou , na verdade, com atos: o amor a Vila Nova de Famalicão. Pode por isso dizer-se que esta homenagem, que os seus descen-

dentes em boa hora promovem, é também uma homenagem a Vila Nova de Famalicão. E assume assim uma especial atualidade. Com ela transmite-se uma mensagem: a de que vale a pena lutar pela nossa terra que tanto precisa. Estamos a atravessar um tempo difícil em que assuntos da maior importância para o concelho estão à espera de uma adequada solução. Famalicão corre o risco de perder serviços públicos da maior utilidade; corre o risco de não conseguir infraestruturas e equipamentos importantes e principalmente corre o risco de não dar o salto qualitativo de que tanto precisa para se afirmar com mais força na região. Todos devemos ter isso bem pre-

sente. José Casimiro, que serviu Famalicão em tempos difíceis como foram, desde logo os dos anos 40 e 50 do século passado, em que também o dinheiro não abundava, participou ativamente numa profunda transformação do nosso concelho e da sua sede. A melhor forma de o homenagearmos é lutarmos todos por essas causas para bem da nossa terra. E porque uma homenagem deve deixar algo de concreto com vista ao futuro vou propor ao filho Domingos José, meu colega de estudos, a reedição atualizada de algo que me parece ser muito útil para quem gosta de Famalicão. Veremos se é possível.

A Vila de Famalicão José Casimiro da Silva Famalicão não tem cordilheiras, nem serras, nem mesmo altitudes de pasmar. Não tem rios caudalosos, nem castelo feudais, por entre cujas ameias soldados da fundação, defendessem ou atacassem, para criar o Portugal que havia de ser e é eterno. Tudo aqui é modesto e simples. Mas vós, ó forasteiro ou turista, se aqui vierdes, não vades daqui embora sem que subais a São Tiago

da Cruz, a maravilhar-vos da vista dos vales de São Martinho e São Cosme, e a estender o olhar para o infinito poente, do miradouro do Senhor dos Aflitos; ide a Lemenhe e subi à Senhora do Carmo; trepai, em fácil alpinismo, ao alto do Facho e Santa Catarina; deleitai-vos com o lirismo e graça do Moledo escalavrado e pedregoso; reparai no templo de São Tiago de Antas e no de Santa Maria de Oliveira, entrai no Mosteiro de Landim e escutai, se não for mera ilusão, o

som harmonioso que vem do coro e se alastra, em vaga e murmúrio, pelas alturas da arcaria, parecendo que ali ficou, para sempre com eco dos salmos cantados pelos velhos cónegos Agostinho que ali viveram. O Nosso Concelho: Vila Nova de Famalicão e as suas indústrias, comércio, profissões liberais e agricultura. Org. Carlos Sousa Machado e Lamarck Rebelo; colab. Alexandrino Costa e José Casimiro da Silva. Vila Nova de Famalicão: C.S.M : L.R., 1947

Aspecto económico do Concelho Ao elaborarmos este pequeno trabalho, escrito corrente cálamo, acode-nos à mente aquele dito pitoresco de um escritor distinto, segundo o qual a gente minhota cultivava a arte de empobrecer alegremente. O Minho, porém, dentro da sua pequenez geográfica, é relativamente grande e é possível, por isso, que o conceito desse dito não atinja este canto delicioso de terra, cuja população abnegadamente devotada ao culto do Trabalho e do Amor, pratica simultaneamente, olhos postos na interrogação impressionante do amanhã, a religião do «pé-de-meia»… E que a atingisse? Se o sumus desse conceito quase vale um poema!... Relativamente nova, Famalicão deve o seu progresso ao labor incessante da sua gente: à vastidão e importância da sua rede de comunicações; às albufeiras e à «graça» do seu Ave incansável e pitoresco; ao privilégio da sua excelente posição topográfica. Foi terra essencialmente agrícola e foi também centro comercial de primeira ordem. Hoje é um vasto empório industrial, cujo valor, na economia da Nação se cifra em largas dezenas de milhares de contos. Às suas quarenta e cinco mil almas, excluída a percentagem de 13% devida às crianças, podemos

dar-lhes a seguinte arrumação: Ocupados na indústria, 20%; na lavoura, 20%; no comércio, 3%; em artes diversas, 4 %. Faltam 40%. Essa percentagem é absorvida, em partes sensivelmente iguais, pela pequena propriedade, pelo pequeno capital (os chamados remediados de ontem); pelo governo doméstico e pelos beneficiados com os rendimentos das correntes imigratórias e de um modo especial das do Brasil. Tal é, economicamente, a posição das quatro e meia dezenas de milhar de almas do concelho de Famalicão. Na vanguarda da sua indústria encontra-se o ramo de fiação e tecidos, que predomina a nascente, a leste e na própria sede do concelho. Seguem-se as indústrias de electricidade; materiais de construção; sedas e lanifícios; resinosos; trabalhos gráficos e fundição. Para animar toda esta indústria, dispõe Famalicão de uma rede de 150 quilómetros de estradas que os camiões percorrem incessantemente; de uma rede ferroviária que abrange 23 quilómetros na via larga e 30 quilómetros na via reduzida, e de uma rede considerável de comunicações telefónicas, com cerca de 100 quilómetros de linhas. A lavoura tem o seu predomínio a sul, suoeste, oeste, noroeste e norte, ou seja desde os

campos ubérrimos de Lousado e Ribeirão e as agras enormes de Fradelos, até às leiras mimosas de Gondifelos, Cavalões, Outiz, Louro, Mouquim e Nine. Fora destas zonas, é cuidada particularmente em Requião, em todo o vale de S. Cosme e ao longo da estrada de Guimarães até o extremo do concelho e de um modo geral em todas as 48 freguesias de Famalicão onde é dispensada à lavoura um carinho especial apesar das deserções que nesta última década se têm observado do campo para as fábricas. E como «Pão e vinho andam caminho» temos em abundância na primeira zona o pão abençoado, e na segunda o vinho delicioso, que alimentam para a árdua tarefa do Trabalho uma legião heróica de desvelados obreiros. José Casimiro da Silva – “Aspecto económico do Concelho” in «Portugal Económico Monumental e Artístico». Guimarães: Editorial Lusitana, 1936.

«Estrela do Minho». – A. 42, n.º 2130 (6 Set. 1936)

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ESTRELA DA MANHÃ

COMO SE FAZ UM JORNAL José Casimiro da Silva Feita por jornalistas, profissionais ou amadores, a Imprensa é hoje considerada, em todo o mundo, como um dos mais fortes poderes do Estado, quaisquer que sejam os seus sistemas políticos e sociais. Reconquistada em Portugal em 1974, com o 25 de Abril, a liberdade de expressão de pensamen-

to pela Imprensa e outros meios de comunicação social, os jornalistas e homens de letras viram devolvido ao povo português um direito que durante meio século lhe fora negado. E em 26 de Fevereiro de 1975, por Decreto-Lei n.º 85-C/75, foi promulgada a Lei da Liberdade de Imprensa e Direito à Informação. É um documento, cujo texto todos os inclinados para o jornalis-

mo, precisam de conhecer. Esse e outros textos como o da «Declaração Universal dos Direitos do Homem» em cujo primeiro artigo se lê: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem proceder uns em relação aos outros, dentro de um espírito fraternal». Que os futuros jornalistas sobre os quais

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AS INSTITUIÇÕES FALAM DE JOSÉ CASIMIRO impende a responsabilidade de se baterem por um mundo autenticamente democrático, com mais justiça e liberdade, saibam dirigir, encaminhar as letras que atiram para os componedores ou saiam do teclado das suas máquinas de compor, num sentido construtivo, visando, com verdade, a fraternidade e a paz. Saber lidar com as letras que estão

ao alcance de todos e muito especialmente dos jornalistas, é tarefa muito séria e muito grave, a exigir de todos e de cada um, o máximo de prudência, de tolerância (porque nem todos podemos pensar de modo igual mas temos de respeitar o dos outros), e de verdade, sobretudo de verdade.

José Casimiro deixou a sua marca para as gerações futuras

António Peixoto Presidente da Associação Comercial Industrial Vila Nova de Famalicão

Tal como escreveu certo dia José Casimiro, no semanário “Estrela da Manhã”, a Associação Comercial e Industrial de V. N. Famalicão (ACIF) foi “fundada para defender os interesses económicos do Concelho e acarinhada, portanto, pelas suas forças vivas, cedo ela confundiu a defesa dos interesses da classe com a defesa do bom nome de Vila Nova de Famalicão, do seu prestígio e do seu engrandecimento”. Na certeza também que para esse pres-

tígio granjeado muito contribuiu a figura do próprio cidadão e director da Associação, José Casimiro. José Casimiro da Silva assumiu a presidência do Grémio do Comércio do Concelho de V. N. Famalicão no ano de 1954 para comandar os destinos da instituição no triénio de 1955-1957, contando com a colaboração de dois activos e conhecidos comerciantes, José de Oliveira Guimarães e António Andrade da Silva. Nesse período, o Grémio revelou

especial actividade, nomeadamente com a iniciativa dos concursos de montras, das iluminações de Natal, das Festas do Concelho, enquanto na secretaria se tratava do projecto do Regulamento Económico da questão dos ambulantes, da valorização e disciplina das feiras e da criação de uma secretaria ou agência de serviços gratuitos para os, na altura, 1200 agremiados dispersos pelas 49 freguesias do concelho famalicense. José Casimiro contribuiu de perto

e de forma decisiva para o desenvolvimento do Grémio, prezando pelo seu bom nome, transformando-o numa Instituição respeitada. Quer como presidente, director ou benfeitor da Associação deixou a sua marca para as gerações futuras. Acaba por estar nas raízes do momento actual da ACIF. Por isso, em meu nome pessoal, da Direcção, de todos os associados, obrigado José Casimiro da Silva.

OS JORNAIS FALAM DE JOSÉ CASIMIRO “Viveu e Morreu a Servir” Sandra Gonçalves Directora d’ O Povo Famalicense

Escrever sobre José Casimiro da Silva deveria ser fácil, sobretudo para quem partilha com ele a escrita. Não é. Não é porque a minha e a sua geração não se cruzaram. Não é porque não partilho com ele as raízes, a terra. Não é fácil porque ao tentar perceber a dimensão da sua existência, me esbarrei no excesso informativo digno dos grandes homens. Director do jornal “Estrela do Minho”, entre 1928 e 1960, e depois

fundador e director do “Estrela da Manhã”, entre 1960 e 1983, José Casimiro da Silva foi muito mais do que um jornalista. Pesquisando aprendi que foi vereador da Câmara Municipal de Famalicão, fundador do Centro Gráfico, dirigente da Santa Casa da Misericórdia, dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, do Grupo Musical de Famalicão, da Creche-Mãe, do Clube de Caçadores e fundador do Rotary Clube de Famalicão. Tocou estes e muitos mais setores da sociedade civil famalicense. Não o tendo conhecido, pareceu-

José Casimiro um dos nossos! -me fazer sentido honrar a sua memória através dos testemunhos daqueles que com ele privaram, e que o definem como um homem com uma profundo amor à sua terra, e forte vocação de serviço à sua comunidade. Na primeiro edição do jornal “Estrela da Manhã” após a morte do fundador – a 30 de Março de 1983 – Rodrigo Silva escrevia que José Casimiro da Silva “viveu e morreu a servir”. No papel de jornalista, escreveu ao longo de mais de meio século. A “tolerância era parte integrante da sua formação política e isso no-

tava-se, quer no contacto pessoal, quer nos escritos”, escreveu também António Cândido Oliveira no “Estrela da Manhã”, após a rescaldo da perda. Falecido aos 81 anos, curiosamente a poucas semanas do 23.º aniversário do jornal que fundou – seria celebrado a 11 de Abril de 1983 – também o “Diário do Minho” lhe reservou uma homenagem, na edição de 26 de Março. Fernando da Cruz elogiava-o como “escritor de fino trato, orador fluente, metódico em todos os seus actos”. À distância de uma geração, os

relatos da vida e obra de José Casimiro da Silva deixam perceber o mérito de um homem dinâmico, inteligente, e de princípios. Conjugando tudo, a história diz que era um homem raro. E é de homens raros que se fazem os momentos mais felizes, nobres e heróicos de uma comunidade. José Casimiro da Silva deixou marcas que justificam plenamente uma homenagem, à passagem do 30.º aniversário do seu falecimento. Lembrá-lo é lembrar quão importante é termos homens como ele entre nós.

Foi uma figura complexa e multifacetada Rui Lima Director do Jornal Cidade Hoje

Famalicão sempre foi um concelho que se afirmou também por via do jornalismo. No século XX, a par da pujança industrial que florescia em diversas freguesias do concelho e de um comércio cada vez mais forte, vários títulos de jornais registavam a vida famalicense e colocavam impressa a história dos seus protagonistas. Assim se foi escrevendo a História de Famalicão e

a José Casimiro da Silva devemos muitos dos registos desse tempo não muito longínquo mas diferente do vivido hoje. Na primeira metade do século XX, os jornalistas não usavam computadores, MP3, a Internet e as máquinas fotográficas não eram digitais, mas a palavra tinha, como continua a ter, apesar de tudo, uma força vulcânica. Mas José Casimiro da Silva foi uma figura profícua famalicense não só nas letras, mas igualmente na cultura e nos movimentos associativos.

Para quem não sabe, foi publicista e jornalista, director do “Estrela do Minho” e posteriormente proprietário do jornal “Estrela da Manhã”. Não posso deixar de sublinhar o virtuosismo da acção de José Casimiro que, já no seu tempo, contribuiu para o que hoje se define como “marketing territorial”; uma vez que muita da notoriedade de Famalicão desse tempo deve-se à acção dos jornais. Por exemplo, dos vários títulos que publicou, registese o “Elucidário Turístico do Con-

celho de Vila Nova de Famalicão e Roteiro do Minho” ou “O Orfeão Famalicense ao Longo de Três Gerações”, focando neste último a República no seu início em Famalicão, não só no plano político, como cultural; como interessante é um texto em que aborda a problemática de Riba de Ave a Concelho (1914), ou a visita a Famalicão de Bernardino Machado. Em 1980, um grupo de amigos prestou-lhe, na Fundação Cupertino de Miranda, uma homenagem e a

Câmara Municipal de Famalicão, da qual foi vereador da Cultura, na década de 40, atribuiu-lhe a Medalha de Ouro de Reconhecimento. Através daqueles que o conheceram, posso dizer que José Casimiro da Silva foi uma figura complexa e multifacetada, mas também uma alma serena e moderada, que emprestou a sua vida à palavra, à cultura e ao associativismo em prol do desenvolvimento comum.

João Coelho Presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão.

A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão, não poderia deixar de aplaudir a merecida homenagem, que a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão presta ao seu antigo director e presidente do órgão máximo da colectividade, a Assembleia Geral. José Casimiro, como todos o conheceram, foi um homem de dávida total à causa humanitária dos bombeiros, tendo exercido na AHBVVNF, os cargos de Primeiro Secretário da Direcção, de 1936 a 1938, e de Presidente da Assembleia Geral, de 1964 a 1976. A frontalidade e o espírito de missão que imprimia a todas as tarefas que lhe confiaram, fizeram com que granjeasse a admiração e estima de todos os elementos do corpo de bombeiros, dos órgãos sociais e dos associados.

Enquanto Vereador do Pelouro de Incêndios, em nome do Concelho, José Casimiro apresentou em 13 de Outubro de 1943, a proposta de atribuição da medalha de ouro à AHBVVNF, pelos altos serviços prestados à sua Terra, pugnando, sem tréguas, pela distinção dos Voluntários de Vila Nova de Famalicão, cujo cinquentenário já havia sido assinalado em 1940. Todavia, o sentido de justiça de José Casimiro, impunha-lhe que o município famalicense marcasse aqueles 50 anos, com a medalha de ouro, vindo a ser aprovada, por unanimidade, a atribuição mediante proposta do seu pelouro. No “Estrela do Minho”, jornal que dirigiu com superior isenção e pendor eminentemente informativo, José Casimiro destacou sempre as notícias da vida da sua associação de bombeiros, realçando o brilhantismo dos actos públicos em que a mesma participava e promovia. Cumpre-nos destacar o seu papel interventivo, no permanente relevo da concórdia e do salutar convívio entre as corporações de bombeiros do concelho de Vila Nova de Famalicão, que tem orientado, desde sempre, a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Famalicão. Para José Casimiro, um afectuoso abraço de eterna saudade.

Obrigado Irmão José Casimiro da Silva

Rui Maia Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão

José Casimiro da Silva exerceu o cargo de Secretário da Mesa Regedora da Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão no período compreendido entre 1961 e 1969. O seu papel foi de elevado relevo e dedicação tendo representado a Santa Casa da Misericórdia em várias delegações da Mesa Regedora. O seu nome está associado à conclusão e inauguração do Hospital S. João de Deus, obra emblemática do nosso concelho, no ano

de 1964. É com homens como o Senhor José Casimiro da Silva que se escreve a história e o reconhecimento do inquestionável papel que a Misericórdia de Famalicão desenvolve no plano social no nosso concelho, na assistência e beneficência que tem por fim o exercício de Obras de Misericórdia. Muito obrigado Senhor José Casimiro pela sua competência, generosidade e carinho com que honrou os compromissos da Irmandade da Misericórdia.

Viver Rotary, transformar vidas

Júlio Sá Presidente do Rotary C. Famalicão

Libório Silva

Sócio fundador do Rotary C. Famalicão

Falar de José Casimiro é muito fácil e simultaneamente gratificante. É um orgulho tê-lo como companheiro e como sócio fundador do Rotary Club de Famalicão. Apesar

de um tanto reservado, o José Casimiro foi um verdadeiro diplomata, muito cordial, atencioso, afetuoso e voluntarioso. Para ele que caraterizou o “Rotary como amizade, companheirismo, educação e, acima de tudo, consideração e respeito pelo próximo”, seria reconfortante se pudesse regressar e constatar que a sua obra teve continuidade e que o clube continua com a mesma determinação no serviço às comunidades, na promoção da paz e da compreensão mundial e, sobretudo, na vivência do companheirismo. José Casimiro serviu o Rotary Club de Famalicão durante 15 anos: foi seu sócio fundador, mas faltou à cerimónia de imposição de insígnias, pois estava interna-

do, tendo recebido as mesmas, uns dias mais tarde, na cama do Hospital. Serviu o clube até à morte! Foi acometido dum AVC ao serviço do clube, quando, em casa do companheiro João Oliveira, preparava uma homenagem ao companheiro Alberto Simões, outro ilustre rotário famalicense. De repente, José Casimiro garatujava, em vez de escrever, falava sem nexo… era o fim duma existência cheia ao serviço dos outros! No entanto, ao longo destes 44 anos de existência, o clube, tal como José Casimiro o havia feito em vida, teve sempre presente o ideal de servir, indo de encontro ao lema rotário: “Dar de si, sem pensar em si”!


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JOSÉ CASIMIRO DA SILVA ALMA-MATER DOS ENCONTROS DA IMPRENSA REGIONAL Emília Nóvoa Faria José Casimiro da Silva (1901-1983), o decano dos jornalistas famalicenses nas décadas de 70 e 80 do século passado, deixou um rasto marcante na imprensa regional da época, o que, só por si, justifica e torna inteiramente justa a homenagem que o Município de Vila Nova de Famalicão presta hoje a este filho da terra, desaparecido há pouco mais de 30 anos. Casimiro da Silva começou muito novo a trabalhar como guarda-livros no Porto. Aos 23 anos foi administrador do jornal O Minhoto, propriedade da Comissão Municipal do Partido Republicano Português, uma experiência que não duraria mais do que 3 meses, o tempo de publicação do periódico, mas que terá sido determinante para, mais tarde, abraçar a carreira de jornalista. Desde 1928 e durante cerca de 3 décadas, dirigiu o jornal Estrela do Minho, do qual se tornaria proprietário. No entanto, dissidências com os herdeiros do seu fundador levaram ao seu afastamento em 1960. Inconformado com a decisão judicial que lhe retirou a propriedade do Estrela do Minho, fundou no mesmo ano um outro jornal, com um título muito semelhante, chamado Estrela da Manhã, que viria a dirigir até ao fim da sua vida. Homem de acção e grande empreendedor, fundou, em 1952, o Centro Gráfico de Famalicão para “servir as Artes Gráficas e especialmente o livro, a revista e o jornal”. Nesta tipografia, uma

das mais conhecidas de Famalicão, a par com a Minerva e a Aliança, imprimiu-se um número significativo de periódicos famalicenses. Ao longo do tempo, o seu nome aparece também associado a diversas instituições locais, como a Santa Casa da Misericórdia, a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Famalicão, a Associação Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão, o Orfeão Famalicense e a Banda do Grupo Recreativo Musical de Famalicão, entre várias outras. Morreu a 22 de Março de 1983, contava então 81 anos de idade. O notável contributo de José Casimiro da Silva em prol da imprensa regional atingiu, talvez, o seu ponto mais alto, na organização e dinamização nos encontros da Imprensa Regional Aquém-Douro, que se realizaram entre 1964 e 1970, tendo por palco Viana do Castelo (1964), Guimarães (1965), Amarante (1966), Vila Real (1967), Vila Nova de Famalicão (1968), de novo Amarante (1969) e Vila Nova de Gaia (1970). Em quase todos, foi ele que presidiu sempre aos trabalhos. É o próprio José Casimiro que, a propósito do primeiro desses Encontros, exalta a mais-valia de tal iniciativa no âmbito regional: «Mesmo dentro do espaço geográfico das respectivas regiões, os responsáveis pelas suas «folhas» desconheciam-se […] e foi preciso que […] durante três dias inteiramente cheios, a Aurora do Lima (o mais velho semanário português) arrimado à colaboração do seu co-

lega Notícias de Viana concebesse e «arrancasse» (com o êxito de que muitos de nós fomos testemunhas) para o «I Encontro da Imprensa Regional de Aquém-Douro. Para quê? – Para que através de um salutar e fraternal convívio (que faltava) melhor se pudessem conhecer os «homens dos jornais» e em conjunto, quebrado o isolamento em que viviam, discutirem os problemas de maior relevância para a Imprensa Regional.» No V Encontro, realizado em Vila Nova de Famalicão, são dele também as palavras de saudação onde proclamou uma vez mais os fins destas jornadas: «confraternizar, arejar, fugindo aos ambientes oficinais e por vezes escaldantes onde aos poucos todos nos tisnamos no exercício do nosso múnus onde a remuneração de cada um é apenas a satisfação do dever cumprido para com a Terra, para com a Cultura e para com a Pátria; conhecermo-nos melhor; mostrar-nos uns aos outros as nossas terras, juntando à permuta dos nossos jornais o intercâmbio das próprias pessoas e dialogar no sentido de uma de cada vez mais íntima união ou consciencialização tendente à melhor defesa dos interesses da classe». O Ordem Nova, de Vila Real, destaca a importância da sua intervenção num curto, mas significativo elogio: «José Casimiro da Silva, o homem que não conta os anos e existência, teimosamente jovem, organizou, decidiu e realizou, em pleno êxito, o V Encontro da Imprensa Regional Entre Douro e Minho. O jornalista Zé Casimiro

Sessão de abertura do V Encontro da Imprensa Regional de Aquém-Douro, no salão nobre do Ateneu Comercial e Industrial de Vila Nova de Famalicão. 18 de Maio de 1968. Da esq. para a dir.: Isaura Pinto Basto, Directora do jornal O Desforço, Rogério Peres Claro, Presidente do Grémio da Imprensa Não-Diária, Manuel Agonia Frasco, Director do jornal O Comércio da Póvoa de Varzim e José Casimiro da Silva, Director do jornal Estrela da Manhã.

– alto como uma torre, e simples e afável como um irmão mais novo – festejou, assim, o 49.º ano de homem de Imprensa. E que exemplo de dinamismo, de elevação intelectual e de imparcialidade o deste jovem de 66 anos!...». De igual forma O Comércio da Póvoa de Varzim exprime o mesmo reconhecimento ao considerar que «não podemos deixar de assinalar o trabalho insano de José Casimiro da Silva, ilustre director d’«A Estrela da Manhã», que foi a alma -mater deste Encontro […]. Daqui, desta Póvoa a quem ele dedica extrema amizade e simpatia, enviamoslhe o nosso abraço amigo». Das suas reflexões sobre o papel central da imprensa regional na construção das sociedades locais e na forma de fazer jornalismo, respigamos ainda este excerto retirado do que escreveu por altura do

PROGRAMA DA HOMENAGEM A JOSÉ CASIMIRO DA SILVA Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco 15h00

Inauguração da exposição José Casimiro da Silva um jornalista famalicense

15h30

Apresentação do opúsculo Versos: Rosas d’Espinho, de José Casimiro da Silva por Domingos Casimiro da Silva Declamação de poemas da autoria de José Casimiro da Silva por Margarida, Rodrigo e Sofia Casimiro da Silva

Sessão solene

Abertura pelo Presidente da Câmara Municipal, Dr. Paulo Cunha

Actuação da Tuna Académica da Universidade Lusíada de Famalicão

Actuação do Orfeão Famalicense

17h30

Intervenções de amigos de José Casimiro da Silva

Lançamento do livro

A Imprensa Periódica Famalicense nos séculos XIX e XX, de Emília Nóvoa Faria.

Encontro Nacional da Imprensa Regional, realizado na Póvoa de Varzim, em Junho de 1979: «[A Imprensa Regional] dá exemplos de pluralismo político ou de democracia, sem necessidade de lavar cérebros a ninguém. Bate-se pelos assuntos da Terra e colabora, mesmo criticando com a independência que a caracteriza, orgulhando-se do seu portuguesismo e não pactuando com apaniguados ou partidários que obedeçam a nações estrangeiras, sejam quais forem, na Europa e no Mundo. Deixem que a Imprensa Regional, «formando» mais que «informando», continue a saber falar do seu povo, a um povo que, nem pelo facto de ser provinciano deixa de ter a clara noção dos seus problemas e encontrar para eles a necessária e exacta solução.»


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