Ecomuseu Informação N.º 35 – Abril | Maio | Junho 2005

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ecomuseu informação BOLETIM TRIMESTRAL DO ECOMUSEU MUNICIPAL DO SEIXAL

nº 35 . 2005

ABRIL . MAIO . JUNHO

Gerir os museus como espaços de compreensão e de comunicação entre culturas e comunidades Segundo dados publicados (A Guide to Europe Museum Statistics. Berlin: Institut für Museumskunde, 2003), a Europa dispunha em 2003 de mais de 15 000 museus e na União Europeia os museus seriam visitados por cerca de 500 milhões de pessoas todos os anos. Segundo as mesmas estatísticas, Portugal disporia de 5,3 museus por 100 mil habitantes, quantitativamente acima do Reino Unido, por exemplo (com 4,3 museus pelo mesmo número de habitantes), mas, na mesma relação comparativa, abaixo da Noruega (com 11,4 museus). Estes números podem ter um reduzido significado, descontextualizados de dados qualitativos e realmente reveladores do papel dos museus, dos objectivos traçados por aqueles que os administram e tutelam e dos resultados atingidos. Parece assim mais relevante sabermos que, enquanto na Noruega ÍNDICE 3.

10.11.

15.16.17.

EXPOSIÇÕES

TEMA DE REFLEXÃO

MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS

4.5.6.

Gestão de museus

Do rio e de além terra: crenças e

PROGRAMA DE INICIATIVAS

12.13.14.

festividades no estuário do Tejo

DO SERVIÇO EDUCATIVO

CONHECER

18.19.

7.8.

Uma colecção de desenhos da

PATRIMÓNIO CULTURAL

AGENDA

Mundet para a marca Jointite

DO CONCELHO

8.9.

e a aplicação de aglomerado

Espaços de espectáculos

NOTÍCIA

de cortiça para revestimento

no concelho do Seixal

isolante e decorativo


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02 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . nº 35 . ABR.MAI.JUN. 2005 e no Reino Unido respectivamente 45% e 42% da população com idade de 15 ou mais anos visita museus pelo menos uma vez por ano (Eurobarometer Survey 2001), a percentagem comparativa em Portugal desce para 16%, sendo já em Espanha de 22%. O número de pessoas empregadas a tempo inteiro em museus da Europa (ou directamente relacionadas) foi estimado, segundo as fontes anteriormente referidas, em cerca de 250 000, apoiados em muitos milhares de voluntários. Em 2003, existiam no Reino Unidos 28 085 voluntários e 16 777 pessoas remuneradas a trabalhar em museus. Em Espanha, o número de pessoas remuneradas em museus era de 8827 e os voluntários eram 1438, enquanto em Portugal eram apenas indicados 419 voluntários e 3945 pessoas remuneradas em museus. Recentemente (Outubro de 2004), a 21.ª Assembleia Geral do Conselho Internacional de Museus (ICOM), realizada em Seul (Coreia), aprovou uma Resolução (n.º 5, sobre a Autonomia dos Museus) apontando a necessidade de assegurar uma maior autonomia financeira e de gestão dos museus. A questão do financiamento, estreitamente ligada à da sustentabilidade, que não pode ser antagónica da natureza não-lucrativa da instituição museal, emerge com uma importância crescente, confirmando ou fazendo prever que o problema da gestão, mesmo nos casos de tutela pública, se descentra cada vez mais para um campo de estatuto e de responsabilidades mistas, entre o público e o privado, incluindo modalidades de organização associativas. Pretendendo-se que os museus cumpram uma das suas mais importantes funções, contribuindo para a formação ao longo da vida dos cidadãos, parece-nos incontornável e tão necessário, no presente e no futuro, como uma maior autonomia financeira e de gestão, proporcionar, através dos museus, mais espaços de cidadania e de participação das comunidades na construção e na transmissão da(s) memória(s) colectiva(s). Esta parece-nos uma questão indissociável dos modelos de gestão dos museus, quer ao nível da mobilização e da aceitação de voluntariado(s), quer da inclusão de mecanismos de gestão participada por representantes de comunidades, para além da conquista e da formação de públicos. «(...) devidamente geridos e dotados de meios adequados, os museus são por natureza instituições e espaços privilegiados para favorecer, pelas mais variadas formas e meios, a compreensão entre culturas e comunidades.»

Assistimos à mobilização de pessoas e instituições, à escala mundial, em acções de solidariedade para com as vítimas do tsunami que atingiu as populações asiáticas. Mas a capacidade de comunicação entre culturas, povos ou comunidades, no seus quotidianos, não pode depender de ocasiões extremas de sofrimento humano em que parecem mais fáceis de superar as tensões e os conflitos. Ora, devidamente geridos e dotados de meios adequados, os museus são por natureza instituições e espaços privilegiados para favorecer, pelas mais variadas formas e meios, a compreensão entre culturas e comunidades. A 21 de Maio assinala-se o “Dia mundial da diversidade cultural para o diálogo e o desenvolvimento”, criado pela UNESCO e o “Dia Internacional dos Museus”, a 18 de Maio, é este ano comemorado com idêntica orientação: “Os museus, pontes entre culturas”. [Graça Filipe] WWW.CM-SEIXAL.PT/ECOMUSEU

FICHA TÉCNICA FOTO CAPA

Fachada da Mundet & C.ª Lda. (Seixal, meados de século XX). Colecção do EMS

EDIÇÃO

DIRECÇÃO

GRAFISMO E REVISÃO

IMPRESSÃO

Câmara Municipal do Seixal Ecomuseu Municipal do Seixal

Graça Filipe

Sector de Apoio Gráfico e Edições da C.M.S.

Grafema-Sociedade Gráfica, SA

TEXTOS/INVESTIGAÇÃO

Graça Filipe, Graça Pimentel Lemos, Elisabete Curtinhal e João Paulo Santos INFORMAÇÃO/AGENDA/NOTÍCIAS

Graça Filipe, Carla Costa e Cláudia Silveira

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

TIRAGEM

EMS/CDI, António Silva, Rosa Reis, Carla Costa, Luís Azevedo, João Martins e Júlio pereira Dinis

6000 exemplares ISSN

0873-6197 DEPÓSITO LEGAL

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TEMA DE REFLEXÃO «O processo de avaliação (...) deverá assim abarcar tanto os modos de circulação de recursos e de informação entre órgãos de gestão (...), como os resultados obtidos e repercutidos no território e na população.»

Gestão de museus À particularidade e/ou singularidade do seu acervo ou património, cada museu alia uma certa especificidade de objectivos, de recursos e de organização destinados a implementar um programa e actividades originais, apresentando-se com uma identidade e um percurso próprios, não obstante a natureza comum e universal da instituição museal, na sociedade contemporânea. Abordando a gestão neste contexto, procuraremos sintetizar alguns aspectos do modelo de gestão do EMS. Ao mesmo tempo que salientamos o carácter evolutivo do museu, capitalizável como parte do processo de desenvolvimento local e ainda longe da estabilização programática (no essencial respeitante ao património e ao território) e orgânica (nomeadamente administrativa, incluindo a relação entre tutela, técnicos e comunidade), sublinhamos a importância de objectivos faseados bem definidos, de instrumentos de planificação e de avaliação claramente assumidos e de órgãos de gestão identificados e munidos de meios adequados aos objectivos a atingir. A questão do modelo de gestão do EMS requer uma análise em extensão, começando por dois aspectos essenciais, um ligado ao território, outro ligado à tutela. Em primeiro lugar, tratando-se de um museu de vocação territorial, o EMS procura abordar multidisciplinar/transdisciplinarmente o respectivo património (visando ou não a sua incorporação no sentido museológico), mas não pode delimitar simplesmente esse território através das fronteiras do Concelho. Em segundo lugar, como acontece com inúmeros museus tutelados por Câmaras Municipais, o EMS integra (na Câmara Municipal do Seixal, enquanto Divisão de Património Histórico-Natural) o sistema de serviços e de competências autárquicas, tendendo a associar-se estreitamente às mais diversas vertentes da esfera autárquica e enfrentando exigências de desempenho para as quais a sua estrutura funcional tem de adaptar, pragmaticamente, os meios disponíveis. Na presente fase de evolução, ora pela perspectiva da gestão autárquica local, ora pela perspectiva da política museológica nacional e da Rede Portuguesa de Museus, urge analisar a sustentabilidade da composição territorial – núcleos e extensões do EMS - não se adiando a avaliação do Programa de Qualificação e Desenvolvimento do EMS (2001-2006), nos seus principais eixos programáticos: qualificação e desenvolvimento dos núcleos existentes, musealização da Mundet e Circuito Museológico Industrial. Por outro lado, a estrutura orgânica em que se enquadra o museu, além de ter uma designação desajustada, carece de actualização, na forma e nas atribuições com que está contemplada, praticamente desde 1993, no Regulamento Municipal. As modificações devem basear-se na avaliação do funcionamento assente numa estrutura evolutiva em que se articulam critérios organizativos, do curto ao longo prazo, de âmbito funcional e de âmbito temático – aplicados nos serviços instalados e em áreas funcionais específicas – com objectivos e projectos de médio prazo – desenvolvidos e realizados por grupos de trabalho.

Reprodução de fotografia: Saída da fábrica (Mundet) © Acervo EMS

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A estrutura funcional do EMS atende à evolução profissional dos seus elementos permanentes, que no total são actualmente 46, dos quais 36 pertencem ao Quadro de Pessoal da CMS. O modelo de gestão do EMS contempla, a par da direcção (chefe de divisão) organicamente instituída, em que assenta a relação central com a tutela, um nível intermédio de coordenação interna e de relações com as entidades e parceiros exteriores, municipais e outros. Os chamados coordenadores internos (de serviços) constituem um Grupo de Trabalho, muito importante como órgão de gestão do museu (planificação, execução e avaliação). Segundo o estatuto regulador do funcionamento municipal, à direcção do Ecomuseu cabe também a elaboração de alguns dos seus principais instrumentos de gestão: com periodicidade anual, o plano e orçamento e o relatório de actividades; com periodicidade mensal, relatórios de actividades. Tais documentos tornam-se particularmente relevantes porque, por um lado, resultam de processos sucessivos de registo e de circulação de informação respeitante a todos os segmentos e vertentes do trabalho do museu e, por outro lado, proporcionando o (re)conhecimento formal de factos relevantes e de propostas técnicas, conferem-lhes um vínculo institucional que os transpõe para o plano político da actuação da tutela. Além do enquadramento legal, o exemplo mais expressivo de documento fundamental regulador da vida de um museu e do compromisso entre tutela, população e equipa técnica, eventualmente abrangendo outros parceiros e/ou órgãos de gestão envolvidos no processo museal, é o programa museológico – a que reportamos a missão e o modelo de gestão. Dele advirão, ainda que sujeitos a revisões porventura mais frequentes, a política de incorporação – para a qual a Lei-Quadro dos Museus Portugueses requer actualização pelo menos de 5 em 5 anos -, a política de exposição e o plano de segurança do museu. O regulamento do museu é igualmente necessário e previsto na mesma Lei nº 47/2004 (19 de Agosto), devendo contemplar a interacção dinâmica entre os principais domínios do trabalho museal (acervo/património e comunidade, públicos, pessoal). Na criação e/ou actualização e aprovação próximas de tais documentos, coloca-se à CMS, como tutela e aos vários órgãos de gestão do EMS, a vasta tarefa de mobilização de contributos e de recursos, para que não se elaborem simplesmente os documentos-tipo exigidos por lei, mas que se consolidem caminhos originais e percursos genuínos, viabilizando compromissos sustentáveis entre parceiros (políticos e população). Encontram-se instalados e dispõem, cada um, de coordenação intermédia entre as respectivas equipas e a direcção do museu os seguintes serviços centrais: Serviço de Arqueologia; Serviço de Inventário e Estudo de Património Industrial; Serviço de Conservação e Inventário Geral; Serviço de Património Náutico; Centro de Documentação e Informação e Serviço Educativo. Outras equipas e/ou técnicos desenvolvem projectos e acções assentes em funções de âmbito patrimonial e museológico, sob planificação dependente da direcção do museu e dos serviços anteriormente elencados, nas seguintes áreas: de Arquitectura e Património Cultural Imóvel; de Moinhos de Maré (História e Património) e de Exposições e Comunicação. O museu dispõe ainda de um Serviço Administrativo, que simultaneamente apoia o funcionamento de todas as áreas e serviços, distribuídos pelos vários núcleos. Com objectivos traçados a médio prazo, contemplados na planificação anual do EMS (e de projecção plurianual da respectiva unidade orgânica), encontram-se constituídos e activos 5 Grupos de Trabalho, de composição técnica transversal aos serviços e áreas centrais de funcionamento: para o Sistema de Documentação e Inventário; para a Carta do Património; para o Site (Internet); para a Planificação de Exposições; para o Projecto Cultura 2000 (2004-2005). No processo de avaliação do museu deverão contabilizar-se os recursos e a informação disponibilizados, a montante, por parte da tutela, assim como os recursos, informação e conhecimento gerados, tornados acessíveis e aproveitados a partir do processo de trabalho museológico e das parcerias e projectos desenvolvidos em simultâneo. A gestão do museu deve permitir a construção duma identidade da instituição museal, quer do ponto de vista do seu património/acervo e do seu contexto social, quer do ponto de vista das interacções do museu com outros parceiros, em grande medida agenciadas pelos técnicos, em trabalho de equipa sustentado por adequada formação profissional, mas exigindo iniciativa e decisão políticas e financeiras. [Graça Filipe]


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CONHECER «É incontornável a referência ao mobiliário de escritório, no qual se incluem os bares e móveis soltos. Ao traço de modernidade associam-se soluções verdadeiramente funcionais, inovadoras (...)»

Uma colecção de desenhos da Mundet para a marca Jointite e a aplicação de aglomerado de cortiça para revestimento isolante e decorativo Ao vasto espólio da Mundet & C.ª Ld.ª que, desde 1996, com a municipalização dos bens da antiga fábrica do Seixal, vem sendo integrado no acervo do Ecomuseu Municipal, pertence um conjunto de desenhos técnicos para a marca de produtos aglomerados Jointite, com enfoque no revestimento de mobiliário, paredes, tectos, pavimentos e outros elementos decorativos. No ano de 1931, o Jointite foi acrescentado às várias especialidades produzidas pela corticeira Mundet. O referido produto viria a ser patenteado em nome de Mundet & Companhia, Limitada, no ano de 1943, de acordo com o registo de marca entrado na Repartição da Propriedade Industrial, organismo, à época, dependente do Ministério da Economia. O pedido de 20 de Agosto informa que a marca é «(...) destinada a ladrilhos de cortiça, placas de cortiça, cortiça endurecida, revestimentos de paredes (não metálicos) e lambris (...)». Apesar do razoável estado de conservação, a documentação gráfica que constitui a colecção, localizada e recolhida no contexto do levantamento e inventário de património industrial da Mundet, encontrava-se em muito más condições de acondicionamento, pelo que a equipa técnica do museu se regogijou pela oportunidade da respectiva salvaguarda. A colecção é composta por um conjunto de 594 peças desenhadas, oriundas do Gabinete Técnico da Mundet & C.ª, Ld.ª, que funcionou em Lisboa até 1965, ano em que foi transferido para o Seixal. O autor da maior parte, senão mesmo da totalidade destes desenhos de projecto, datados de 1944 e 1946, foi Hermínio Lopes Castilho (1907-1967), que frequentara o Curso de Belas Artes de Lisboa (veja-se o boletim trimestral nº 27, de 2003). Os desenhos distribuíam-se por vários álbuns, alguns identificados na capa (por exemplo, com a inscrição: mobiliário ou conjuntos e motivos decorativos / Castilho), outros sem qualquer identificação, apresentando uma separação temática das peças gráficas. Estas foram executadas em suporte de papel translúcido ou vegetal (desenhos originais), traçadas a tinta-da-china. Existem ainda várias cópias, realizadas no mesmo suporte ou em papel heliográfico, apresentando estudos cromáticos executados com recurso a lápis de cor. Para uma melhor operacionalidade na apresentação sumária desta colecção, subdividimo-la em 3 grandes grupos: desenhos de mobiliário; desenhos de revestimento de paredes e afins (associados ao gosto e difusão dos materiais utilizados na construção civil da época, apresentam aplicações características para o isolamento térmico e acústico); desenhos de outros elementos decorativos.

. . .

Desenho de perspectiva rigorosa: Conjunto de interior ostentando as diversas aplicações de cortiça aglomerada Jointite (Inv. EMS.2003.752)

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Os desenhos de mobiliário correspondem a plantas, alçados e perspectivas rigorosas de mobiliário de quarto, de salas de jantar, de escritórios, e até mesmo de bares e móveis soltos, abrangendo uma notável pormenorização construtiva e decorativa. Ao traço rigoroso, junta-se a perfeição geométrica das formas, agregada a uma profusão policromática dos pormenores desenhados. No mobiliário de quarto, as camas são revestidas de colchas com tonalidades e padrões harmonizados com os cortinados, e também com os bancos de toucador. Sobre estes últimos, são, por vezes, representados objectos associados ao tratamento de beleza feminina. Ainda que o estudo da colecção esteja por desenvolver, nota-se a semelhança de pormenores decorativos existentes em alguns destes desenhos ou projectos, com destino não identificado, com aspectos que podem ser observados em documentos iconográficos de projectos destinadas ao Círculo Rotário no México, entidade que porventura terá originado uma encomenda de trabalho. Relativamente ao mobiliário de sala de jantar, o desenho oferece-nos grande detalhe na sugestão decorativa, por exemplo na loiça disposta nas cristaleiras, ou nas jarras e centros de mesa, com composições florais. É incontornável a referência ao mobiliário de escritório, no qual se incluem os bares e móveis soltos. Ao traço de modernidade associam-se soluções verdadeiramente funcionais, inovadoras e, diríamos, arrojadas para a época, como por exemplo a utilização de rodas nos móveis, facilitando a deslocação/movimentação e, naturalmente, qualquer reorganização dos espaços. As áreas reservadas Desenho de perspectiva rigorosa de mobiliário – bar (Inv. EMS.2003.944). à arrumação de bebidas e utensílios de apoio são normalmente ocultáveis entre prateleiras com livros e bibelôs. Esta optimização espacial do móvel é simultaneamente visível quanto ao lugar a tomar pela telefonia aparelho que à época ainda estava pouco divulgado entre a população portuguesa impondo-se, para além das Plantas e alçados de cadeiras de escritório (Inv. EMS. 2003.1241). suas dimensões (bem diferentes das actuais) e detalhes do próprio desenho, nas soluções técnicas propostas (encastre). Neste conjunto de desenhos, estão identificados dois projectos específicos. O primeiro, elaborado para a casa de um dos gerentes da fábrica, Luís Gubert (1881-1956), no Seixal, compreendendo planta de distribuição de móveis, planta e alçados dos mesmos (armário, secretária, cadeira, móvel que integra sofá, prateleiras, bar e rádio). Outro projecto é composto por um conjunto similar de peças desenhadas com destino indicado como uns escritórios em Alcanena, que até ao momento ainda não identificámos. Neste grupo de desenhos, à visão conjunta da distribuição dos móveis pelo espaço (perspectiva rigorosa) associam-se peças tais como plantas, alçados e cortes, onde cada elemento é projectado individualmente e cotado. Na colecção, o maior grupo de desenhos abrange os estudos para revesti mento de interiores (paredes, tectos, sancas e pavimentos), com fins decorativos e de isolamento térmico e acústico. Alguns parecem remeter para


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projectos a aplicar em locais específicos, sendo mais uma vez assinalável a riqueza de detalhes. Por exemplo, num projecto para café a representação identifica um determinado universo, incluindo mesas, cadeiras, balcões, balanças, máquinas, até mesmo os frascos de vários feitios e tamanhos, onde se guardavam as iguarias que faziam as delícias dos mais pequenos, como os rebuçados, também eles desenhados em alguns casos. Ainda relativamente aos estabelecimentos comerciais, os elementos utilizados na decoração dão-nos até pistas sobre a localização geográfica e o contexto, urbano ou rural, da obra a realizar. Um dos casos identificados é o do café Monte-Neve, na Guarda, onde toda a decoração surge como um prolongamento do contexto local: montes, neve e esquiadores. A introdução de objectos de uso comum nos desenhos de conjunto tem por objectivo proporcionar, ao leitor menos familiarizado com o desenho técnico, uma percepção mais clara do aspecto que o espaço virá a ter. Sendo um recurso usado, pelos profissionais, nos desenhos de apresentação de projectos, os referidos objectos, com dimensões bem conhecidas, transmitem uma noção de escala que, de outro modo, dificilmente seria apreendida pelos potenciais clientes. Nos projectos para Cine-Teatros, relativamente aos quais se realizaram efectivamente numerosas obras de aplicação de Jointite, como por exemplo em Abrantes, em Évora e em Santo Amaro de Oeiras, a decoração é sóbria. Lugares de passagem, por assim dizer, onde a arquitectura previa que as atenções fossem canalizadas para o ecrã ou para a boca de palco. Outras peças desenhadas remetem-nos para espaços pertença de associações profissionais/sindicatos, algumas ligadas a actividades marítimas/piscatórias, outras à indústria, com decorações bem representativas de uma ideografia associável ao Estado Novo. A indicação que remetia para a utilização do produto Jointite é comum a todos os desenhos, assim como as áreas da sua aplicação (tectos, paredes, sancas, lambris, portas, pavimentos, mobiliário e outros elementos). Apresentavam-se assim uma série de modelos, que poderiam ser conjugados em conformidade com as solicitações do(s) cliente(s). Daí existirem muitas plantas com estudos de pormenores decorativos, sobretudo ao nível das aplicações em pavimentos, que vão desde as composições geométricas simples, repetitivas e monocromáticas, até aos jogos de tonalidades, dimensões e composições mais complexas, por exemplo com efeitos de padrão axadrezado, ou de entrançamento, ou de tridimensionalidade, ou espinhado, até à percepção da Cruz de Santa Brígida, entre outros. Nos desenhos inclui-se o revestimento de zonas de passagem (átrios, corredores, patamares, escadas), assim como a própria composição dos ladrilhos, de acordo com a sua dimensão e especificidade (arestas boleadas, ovadas). Um terceiro grupo é formado pelas peças gráficas relativas a certos ele mentos ou objectos decorativos usados sobretudo nos desenhos de perspectiva rigorosa de mobiliário. Assim, temos desenhos de pormenor de candeeiros de tecto, de relógios de parede (simples ou decorados), ou de puxadores e dobradiças. Naturalmente, esta colecção não nos dá, por si só, toda a informação que o produto Jointite merece que conheçamos, através de outras fontes, nomeadamente as que se encontram entre o acervo da Mundet, que nos esclareçam quanto à sua origem e produção industrial, comercialização, período e espectro de aplicações. Contudo, atenta a profusão de pormenores observável nos projectos, intuímos que estes correspondessem a encomendas. Estaremos perante soluções criadas para um pequeno segmento do mercado português? Ou destinadas a clientes no estrangeiro? Só uma investigação sistemática poderá dar-nos respostas a algumas dúvidas aqui lançadas. [Graça Pimentel Lemos]


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MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS «(...) os perigos inerentes ao trabalho a bordo, a imprevisibilidade dos fenómenos naturais assim como a vivência de situações traumatizantes (...) aprofundaram nos marítimos (...) o seu sentimento de fé (...)»

Do rio e de além terra: crenças e festividades no estuário do Tejo A fixação de comunidades nas margens do estuário do Tejo, tendo em vista um aproveitamento dos recursos flúvio-marítimos existentes, trouxe consigo a comunicação entre os diversos núcleos populacionais ribeirinhos, na qual as embarcações desempenharam um papel essencial. Antes da construção das pontes sobre o Tejo e do desenvolvimento das vias de comunicação e dos transportes rodoviários, o tráfego fluvial desempenhou um papel de extrema importância para a vida socioeconómica daquelas populações. Na diversidade e riqueza marítima do Tejo, distinguem-se as embarcações de tráfego local e as embarcações de pesca. A navegação no estuário do Tejo, a bordo de embarcações de madeira, à vela e sem motor, tal como era feita outrora, apresentava diversos riscos. Uma análise de documentação proveniente do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), que compreende o período entre 1899 e 1942, permite concluir que no Tejo as principais e mais frequentes situações de perigo para as embarcações e os seus tripulantes eram as seguintes: embarcações que se viravam e/ou afundavam na sequência de mau tempo, embarcações que se perdiam e ficavam à deriva no rio, abalroamentos das embarcações por parte dos grandes navios e vapores, quedas ao rio dos marítimos e dos descarregadores na sequência de manobras a bordo das embarcações. Especificamente sobre a classe piscatória, vejamos este excerto de um relatório da gerência do então Real Instituto de Socorros a Náufragos relativo ao período entre 1899 e 1902: «A classe dos pescadores é das que labuta n’um dos mais arduos trabalhos e d’elle aufere insignificante remuneração, estando não poucas vezes exposta às mais terriveis desgraças, e de certo no espirito de vós todos estão bem presentes as grandes hecatombes de que têem sido testemunhas as nossas praias». Décadas mais tarde, a situação parece manter-se inalterada e no relatório da gerência do Instituto de Socorros a Náufragos relativo ao período entre 1940 e 1942, é feita referência às consequências socioeconómicas dos incidentes ocorridos no rio e no mar: «Portugal continua a ser terra de marinheiros e pescadores. Toda a costa marítima é por vezes castigada com grandes temporais que deixam sempre bem tristes recordações. Lares desfeitos, entes queridos desaparecidos por vezes de duas e três gerações dentro da mesma família – embarcações desmanteladas ou afundadas, aparelhos de pesca perdidos». As deficientes condições de trabalho e de segurança a bordo das embarcações, os perigos inerentes ao trabalho a bordo, a imprevisibilidade dos fenómenos naturais assim como a vivência de situações traumatizantes mas

Procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem na Moita, 2003 ©EMS/CDI e João Martins

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milagrosas aprofundaram nos marítimos e pescadores o seu sentimento de fé e deram origem a diversas crenças e devoções, no caso da margem Sul do estuário do Tejo, quer a Nossa Senhora, quer a um Santo padroeiro. Uma das imagens religiosas que é alvo de maior devoção por parte das comunidades piscatórias e de marítimos é Nossa Senhora da Atalaia. No Montijo, esta devoção remonta a 1507 quando uma peste dizimou parte da população de Lisboa. Pelo socorro prestado pela Virgem, à Atalaia acorriam as populações da capital e de várias localidades da margem Sul do Tejo. De cada uma delas saíam diversos círios organizados por grupos específicos, tais como os pescadores e os marítimos. É o caso do Círio dos Marítimos de Alcochete, um dos seis círios que actualmente se realizam em honra de Nossa Senhora da Atalaia. Os primeiros documentos conhecidos que confirmam a sua existência datam do início do século XVI mas, segundo a tradição oral, esta devoção da comunidade local terá começado dois séculos antes, na sequência de um episódio lendário em que um barqueiro, surpreendido por uma tempestade enquanto navegava no rio, terá pedido protecção à Senhora da Atalaia. A tempestade terá acalmado e a tripulação terá regressado sã e salva a Alcochete. Desde então, cumpriu-se a promessa de realizar as festas em sua honra. A devoção por Nossa Senhora, de um modo geral profundamente arreigada entre a população portuguesa, conhece significativa expressão na crença dos homens do rio em Nossa Senhora da Boa Viagem que se celebra, por exemplo, nos concelhos da Moita e de Constância. Esta localidade foi terra de marítimos, pescadores e construtores navais, o que torna compreensível a profunda tradição marítima da comunidade e consequentemente a sua devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem. Na Moita, a festa em sua honra terá tido a sua origem no século XVII, no seio da comunidade local de marítimos que sentiam profunda devoção por Nossa Senhora e de quem esperavam protecção divina para os seus barcos e tripulações, desejando que após o labor no Tejo pudessem fazer boa viagem no regresso a casa. No âmbito das celebrações religiosas realiza-se uma procissão durante a qual se faz a bênção das embarcações e um cortejo de barcos tradicionais do Tejo que conta com participações oriundas de diversas localidades da margem Sul do estuário. Actualmente, esta festa é a que tem maior projecção no concelho da Moita. No entanto, existem outras com idêntica origem na comunidade de marítimos, entre as quais destacamos a festa em honra de Nossa Senhora da Graça, em Sarilhos Pequenos.

Procissão de São Pedro no Montijo, 1940. Imagem cedida pelo Arquivo Municipal de Montijo

Especialmente junto dos pescadores, São Pedro é igualmente alvo de devoção cristã e, também ele pescador, é naturalmente padroeiro da classe piscatória. Refiram-se as festas que se realizam no Seixal e no Montijo, em ambos os


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casos uma herança cultural da devoção das respectivas comunidades piscatórias. Celebradas a 29 de Junho, o dia em que a Igreja Católica comemora a morte de São Pedro, enquanto a pesca teve importância económica, eram organizadas, custeadas e oferecidas às vilas pelos pescadores. No Seixal, a comunidade piscatória desempenhou um papel importante na vida religiosa local como provam a participação significativa na construção da igreja matriz iniciada em 1726 e a sua reconstrução após o terramoto de 1755. No Montijo, para além da procissão, realiza-se a tradicional queima do batel. Noutros concelhos, assistimos a festas dinamizadas pela população em geral, que, não sendo exclusivas dos marítimos ou dos pescadores, tiveram, no entanto, uma activa participação dos mesmos, na altura em que aquelas actividades foram importantes para as economias locais. É o caso da Nossa Senhora do Rosário no Barreiro e do Senhor Jesus da Misericórdia na Azambuja. Um dos acontecimentos que mais marcou as populações ribeirinhas e que desencadeou o surgimento de festas religiosas também em honra de Nossa Senhora foi o terramoto de 1 de Novembro de 1755. Associadas a este acontecimento estão, por exemplo, as festividades de Nossa Senhora da Soledade, em Arrentela (concelho do Seixal) e de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Cacilhas (concelho de Almada). Segundo a tradição, perante as águas revoltas do rio, a imagem da Santa foi levada por um grupo de pescadores até às margens do Tejo, tendo feito o milagre de acalmar e recuar as ondas que ameaçavam as respectivas localidades e as suas populações. Como forma de evocar e de agradecer o milagre, estas duas comunidades realizam, desde então, uma procissão e, em ambos os casos, as imagens da Virgem são levadas simbolicamente até à margem do rio. Por fim, merecem referência as festas de carácter essencialmente recreativo e desportivo que se baseiam na tradição marítima do estuário do Tejo e são dinamizadas por agentes locais empenhados em preservar e promover a cultura marítima e as embarcações tradicionais. É o caso do Cruzeiro do Tejo, na Azambuja e da Festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. São duas festas que mobilizam anualmente antigos marítimos e pescadores assim como apaixonados pelos barcos tradicionais e pela cultura marítima do Tejo. A primeira edição do Cruzeiro do Tejo realizou-se em 1966, por iniciativa de um grupo de jovens desportistas náuticos de Alhandra, que pretendiam divulgar a beleza paisagística e as potencialidades recreativas do rio Tejo. Actualmente, o Cruzeiro do Tejo é uma das maiores provas náuticas do País, envolvendo milhares de participantes e centenas de embarcações de diversas tipologias, desde as modernas embarcações de recreio, às embarcações tradicionais do Tejo. Para além de uma regata, realiza-se uma festa tradicional ribatejana de convívio entre todos os participantes. A Câmara Municipal do Seixal, através do Ecomuseu, participa na prova, com as suas embarcações, há cerca de 20 anos. A Festa do Colete Encarnado realizou-se pela primeira vez em Vila Franca de Xira, em 1932. Apesar de não ser uma festividade tradicionalmente associada à comunidade marítima, as embarcações que desempenhavam um papel importante no âmbito das diversas actividades económicas eram presença quase obrigatória. Por exemplo, em 1957, realizou-se uma missa campal na lezíria, seguida de um cortejo fluvial e do transporte da imagem de Nossa Senhora de Alcamé até à outra margem. Actualmente, a esta festa acorrem diversas embarcações tradicionais do Tejo que, engalanadas, contribuem para o seu embelezamento. Actualmente, a generalidade destas festas, nomeadamente as que tiveram uma íntima relação com as comunidades piscatórias e de marítimos, são uma recriação de realidades passadas, assumindo novos contornos e baseando-se em novos pressupostos, envolvendo diferentes agentes sociais. A sua organização, outrora da responsabilidade das próprias comunidades constituídas pelos marítimos, pelos pescadores e, nalguns casos, pelos trabalhadores da construção naval, são agora na sua maioria apoiadas pelas autarquias com objectivos identitários e de promoção cultural. [Elisabete Curtinhal]


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PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO «Os espectáculos da proclamada Sétima Arte trouxeram à população imagens de um Mundo apenas conhecido pelos livros ou imprensa»

Espaços de espectáculos no concelho do Seixal A vida da maioria da população do Município do Seixal sempre foi dura. No entanto, aos esforçados trabalhadores ainda sobrava ânimo para a promoção de actividades lúdicas e culturais, em notável e geralmente bem sucedida procura de valorização da classe. Os bailes, inicialmente associados às festividades populares tradicionais, viriam a conhecer um brilho mais significativo com a proliferação das Sociedades Filarmónicas, que fizeram questão de evocar nas próprias denominações o sector ou a classe laboral predominante dos seus associados. São bons exemplos a S. F. Operária Amorense, fundada pelos operários da Fábrica de Garrafas de Vidro de Amora, e a S. F. Fabril Arrentelense, fundada por trabalhadores da Companhia de Lanifícios de Arrentela. A rivalidade entre colectividades, por vezes extremada, levava à procura de uma excelência na realização de tais eventos, pois a própria sobrevivência dessas instituições estava dependente das receitas. Um dos expedientes mais usados pelas colectividades para angariar alguns fundos durante os bailes era o denominado "Damas ao Bufete". Consistia no pregão da citada frase, durante uma dança, provocando a sua interrupção e "obrigando" o par a dirigir-se para o Bar, onde se consumiam bebidas e géneros alimentícios, cabendo ao elemento masculino pagar a despesa. Os frequentadores habituais sabiam de antemão a altura aproximada do pregão, evitando convidar uma parceira nessas ocasiões, fugindo deste modo à despesa. No entanto, a dança seguinte estava interdita aos elementos masculinos que não houvessem participado na dança das "Damas ao Bufete". A infracção desta regra originava acaloradas discussões e mesmo tentativas de expulsão de frequentadores dos bailes... Para exibições públicas das bandas das Sociedades Filarmónicas, foram edificados diversos coretos, um por cada associação. Assim, a Aldeia de Paio Pires ainda conserva o seu (da Sociedade Musical 5 de Outubro), tal como a Amora (da S. F. Operária Amorense). Com saudade, os Arrentelenses evocam o coreto da sua filarmónica (da S. F. Fabril Arrentelense, antecessora da S. F. União Arrentelense), no topo Norte do jardim da zona ribeirinha da povoação, e os Seixalenses não ocultam a nostalgia dos coretos das duas Sociedades rivais, um na Praça Luís de Camões (da S. F. União Seixalense), o outro no Largo da Igreja (da S. F. Democrática Timbre Seixalense). Estes coretos eram sempre rodeados de espaços amplos, para permitir a realização de bailes ou, simplesmente, acomodar a audiência. Também as representações teatrais sempre marcaram presença no Concelho. Destacamos a acção de pequenos grupos de teatro locais que, anteriormente a Abril de 1974, levaram ao palco, em algumas das colectividades concelhias, peças de cariz vincadamente político, muitas vezes escritas pelos seus próprios membros.

Pormenor de projecto (fachada principal) para Cine-Teatro-Bar no Seixal (apresentado em 1945, não construído)

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Algumas colectividades promoveram debates políticos ou colóquios com intelectuais de pensamento político liberal. Por vezes, a consequência foi o encerramento das instalações pela polícia política. Os espectáculos musicais têm igualmente grande tradição. No topo Sul do actual Núcleo Urbano Antigo de Arrentela, junto à E.N. 378, existiu um edifício, demolido há mais de uma década, onde funcionou uma Casa de Fados, propriedade do Sr. Bonifácio. Já no período subsequente a Abril de 1974, o pavilhão do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional acolheu actuações de cantores de intervenção. Desde 1990, o jornal Avante! promove, anualmente, a sua Festa na Quinta da Atalaia, que conta com grande variedade de espectáculos, nomeadamente musicais. O Circo, espectáculo nómada de raízes milenares, ainda hoje marca presença assídua no Concelho. Desde há várias décadas, os dois locais preferidos para a montagem das tendas e acampamentos deste espectáculo tem sido as Quintas dos Pinheiros e Girassóis (vulgo Largo da Cruz de Pau) e o terreno da Companhia de Lanifícios de Arrentela (junto à Ponte da Fraternidade). Mas, de entre todos os espectáculos, nenhum povoou os sonhos dos munícipes como o Cinema. Os espectáculos da proclamada Sétima Arte trouxeram à população imagens de um Mundo apenas conhecido pelos livros ou imprensa. As colectividades viram no cinema um meio de aumentar as suas parcas receitas. Quando os recursos eram escassos, os recintos (cobertos ou não) polivalentes conheceram mais um uso; assim aconteceu, por exemplo, com a sede do Portugal Cultura e Recreio, o ringue do Grupo Desportivo da Mundet e a verbena do Atlético Clube da Arrentela, onde a respectiva Direcção promoveu a construção, nos anos 50, de um ecrã em betão armado, com dimensões que permitiam a projecção de filmes de 70 mm, tal como os melhores cinemas de Lisboa! Outras, mais abastadas, viriam a construir ou a adaptar salas adequadas, como aconteceu nas sedes da S. F. Operária Amorense, Ginásio Clube de Corroios e S. F. União Seixalense. Na década de 40 do século XX, já funcionava um espaço unicamente destinado a exibições cinematográficas no Seixal, num imóvel que foi demolido no início dos anos 90. Ocupava a metade Poente do actual parque de estacionamento público da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Seixal, no Largo dos Restauradores, e era popularmente conhecido por "Cinema do Angelo", nome próprio do empresário. Como este edifício era arrendado e o proprietário exigia um aumento da mensalidade para autorizar obras de beneficiação, o Sr. Angelo Rodrigues Valgôde apresentou à Câmara Municipal, em 1945, um projecto para um Cine-Teatro-Bar, a ser edificado na Praça dos Mártires da Liberdade, no Seixal. Apesar do interesse da Autarquia, não viria a ser concretizado este primeiro projecto de um edifício concebido especificamente para espaço de espectáculos, no Concelho. A distinção viria a caber ao Cinema São Vicente, em Aldeia de Paio Pires, construído por iniciativa de Manuel Bonaparte Figueira. Com projecto apresentado em 1960, o cinema estaria pronto no ano seguinte. O nome terá sido inspirado no da terra natal do proprietário, S. Vicente, em Cabo Verde. Posteriormente, este imóvel viria a pertencer à empresa Lusomundo que, durante algum tempo, o arrendou para fins de culto religioso. Em meados da década de 90 do século XX, o edifício foi adquirido pela Câmara Municipal que, após obras de beneficiação, lhe devolveu a utilização de espaço de espectáculos. A televisão surgiria em Portugal no ano de 1957. Os cafés, as salas de convívio das colectividades, onde famílias inteiras se deslocavam, em autênticas romarias, tornaram-se, durante mais de uma década, novos espaços de espectáculos. A expansão urbanística e demográfica iniciada na década de 80 do século XX, tem sido acompanhada da construção de novas salas de cinema, em Centros Comerciais em Miratejo e Cruz de Pau. No início da década de 90, a Câmara Municipal promoveu a construção do Auditório do Fórum Cultural do Seixal, espaço de espectáculos com possibilidades diversificadas. Actualmente, está em construção um complexo de salas de cinema, integrado numa Grande Superfície Comercial no Fogueteiro. [João Paulo Santos]


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CÂMARA MUNICIPAL DO SEIXAL ecomuseu municipal do seixal museu da rede portuguesa de museus

NÚCLEO SEDE

NÚCLEO NAVAL

Praceta Francisco Adolfo Coelho

Av. da República - Arrentela

Torre da Marinha, 2840-409 Seixal T.: 21 227 62 90 Fax: 21 227 63 40

EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

e-mail: ecomuseu@cm-seixal.pt

. Barcos, memórias do Tejo

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO

OFICINA DE CONSTRUÇÃO ARTESANAL

Horários de consulta:

DE MODELOS DE BARCOS DO TEJO

3as, 4as e 5as feiras, das 10h às 17h

Horários de Inverno (Outubro - Maio):

e-mail: ecomuseu.cdi@cm-seixal.pt

De 3ª a 6ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h

SERVIÇO EDUCATIVO

Sábados e domingos, das 14h às 17h

Horários de atendimento telefónico:

Horários de Verão (Junho - Setembro):

2as e 3as feiras, das 9h às 12.30h e das 14h às 17h

De 3ª a 6ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h

e-mail: ecomuseu.se@cm-seixal.pt

Sábados e domingos, das 14.30h às 18.30h

(está prevista para 2005 a transferência destes

Encerramento:

serviços para o Núcleo da Mundet)

2as feiras, feriados nacionais e municipal

NÚCLEO DA MUNDET Largo 1º de Maio, Seixal

EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS DO TEJO Cais principal de apoio: Seixal

EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS

VARINO AMOROSO E BOTE-DE-FRAGATA

EDIFÍCIO DAS CALDEIRAS BABCOCK

E BAÍA DO SEIXAL

EDIFÍCIO DAS CALDEIRAS DE COZER

Realização de passeios no Tejo, entre Abril

até 5 de Junho 2005

. Circuito Museológico Industrial: entre documentar o passado e proteger o futuro . Produzir pólvora em Vale de Milhaços

e Outubro de cada ano Informações sobre programação de actividades: Serviço Educativo

BOTE-DE-FRAGATA GAIVOTAS em estaleiro

a partir de Junho 2005

. Quem diz cortiça, diz Mundet. Quem diz Mundet, diz cortiça.

NÚCLEO DA QUINTA DA TRINDADE Azinheira, Seixal

Horários de Inverno (Outubro - Maio):

Imóvel Classificado de Interesse Público

De 3ª a 6ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h

Acesso condicionado

Sábados e domingos, das 14h às 17h

Reservas, Serviço de Arqueologia

Horários de Verão (Junho - Setembro):

e Serviço de Conservação e Inventário Geral

De 3ª a 6ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14.30h às 18.30h Encerramento:

NÚCLEO DO MOINHO DE MARÉ DE CORROIOS

2as feiras, feriados nacionais e municipal Devido a obras de conservação e de requalifiSERVIÇO DE ESTUDO E INVENTÁRIO

cação do imóvel e da envolvente, este núcleo

DE PATRIMÓNIO INDUSTRIAL

encontra-se encerrado ao público

Provisoriamente a funcionar no Centro de Recursos e de Formação da CMS na Munde

EXTENSÃO DO ECOMUSEU NA QUINTA DE S. PEDRO Quinta de S. Pedro, Corroios

NÚCLEO DE OLARIA ROMANA DA QUINTA DO ROUXINOL Quinta do Rouxinol, Corroios Sítio Classificado como Monumento Nacional

CAMPO ARQUEOLÓGICO: NECRÓPOLE

FORNOS DE CERÂMICA ROMANOS (SÉCS. II-V)

MEDIEVAL-MODERNA (SÉCS. XIII-XVII)

Acesso condicionado

Actividades anunciadas no programa de Iniciativas e na Agenda

EXTENSÃO DO ECOMUSEU NA FÁBRICA DE PÓLVORA DE VALE DE MILHAÇOS Vale de Milhaços, Corroios Sítio em vias de classificação Acesso condicionado


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