Ecomuseu Informação N.º 38 – Janeiro | Fevereiro | Março 2006

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ecomuseu informação BOLETIM TRIMESTRAL DO ECOMUSEU MUNICIPAL DO SEIXAL

JANEIRO . FEVEREIRO . MARÇO

n.º 38 . 2006

ÍNDICE 2. //

9.10.11.12 // NOTÍCIA

16.17.18.19 //

2006

Moinhos de Maré do Ocidente

MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS

Estreitar e desenvolver parcerias,

Europeu - balanço do projecto

As vinhas, a produção de vinho

valorizando o património cultural

apoiado pelo Programa Cultura e o trabalho nas antigas 2000

quintas e lagares do Concelho

4.5.6.7 // PROGRAMA DE

13.14.15 // CONHECER

20 // NÚCLEOS E SERVIÇOS

INICIATIVAS DO SERVIÇO

A Cerâmica Arqueológica

EDUCATIVO

da Rua 1.º de Dezembro (Seixal)

3 // EXPOSIÇÕES

8 // AGENDA


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02 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 38 JAN.FEV.MAR. 2006 2006 Estreitar e desenvolver parcerias, valorizando o património cultural Ao longo de 2005, apesar de vários objectivos adiados e da necessidade de readequar prioridades e acções aos recursos disponíveis, bastantes projectos do Ecomuseu Municipal do Seixal foram desenvolvidos ou realizados, no sentido quer da valorização do património comum, quer do estreitamento de parcerias com outros organismos culturais e entidades com quem partilhamos interesses em prol do desenvolvimento local. No trabalho do museu municipal, a Câmara Municipal do Seixal contou com diversos e inestimáveis apoios de muitos Amigos e Doadores, grupo informal que continuou a alargar-se e a diversificar a sua composição. De acordo com a missão do Ecomuseu Municipal do Seixal, dinamizaremos formas de acção cultural e educativa que articulem melhor a planificação e a actividade da equipa técnica com o emprego desse importante universo de recursos ligados aos nossos Amigos e Doadores, a par de acções de parceria, visando contribuir para o aprofundamento do papel social do museu. Em 2005, o acervo museológico do Ecomuseu Municipal do Seixal foi enriquecido, não apenas como resultado da investigação, mas também de contribuições de Doadores e Amigos, tanto no plano material, através de bens que nos foram confiados, como no plano das memórias e da história oral, regozijando-nos por termos continuado a aumentar o espólio documental baseado no registo de testemunhos e experiências de vida, imperdíveis para a construção da memória colectiva. Acompanhando actividades públicas, tais como inaugurações de exposições, visitas e passeios, comemorações e apresentações de edições reportadas ao património do concelho do Seixal, a presença de muitos Amigos e Doadores foi uma constante de encorajamento e de inspiração do trabalho de toda a equipa do Ecomuseu. Tais actividades foram momentos privilegiados para estreitarmos relações e laços afectivos, para além da oportunidade de partilharmos e de fruirmos espaços e recursos patrimoniais. Em 2006, na perspectiva de, enquanto instrumento evolutivo e dinâmico, contribuir para a valorização do património cultural, o Ecomuseu Municipal do Seixal empenhar-se-á na concretização dos projectos em curso e na interacção com as comunidades locais, continuando a contar com o apoio dos seus Amigos e Doadores. [Graça Filipe]

WWW.CM-SEIXAL.PT/ECOMUSEU

FICHA TÉCNICA FOTO CAPA

Detalhe da exposição Moinhos de Maré do Ocidente Europeu. Foto: Traou-Meur, Côtes d'Armor, França © Loïc Ménanteau, 1993.

EDIÇÃO

DIRECÇÃO

GRAFISMO E REVISÃO

IMPRESSÃO

Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal do Seixal

Graça Filipe

Sector de Apoio Gráfico e Edições da C.M.S.

Fotolitaria - Gabinete de Produção Gráfica Lda.

TEXTOS/INVESTIGAÇÃO/NOTÍCIA

Graça Filipe; Cláudia Silveira; Jorge Raposo; Fátima Sabino e Laudelina Emídio INFORMAÇÃO/AGENDA

Distribuição gratuita Assinaturas a pedido junto do EMS

Carla Costa e Graça Filipe

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

EMS/CDI, António Silva, Carla Costa, Cézer Santos, Loïc Ménanteau, João Martins, Paula Azguime, Rosa Reis

TIRAGEM

6000 exemplares ISSN

0873-6197 DEPÓSITO LEGAL

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NOTÍCIA

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MOINHOS DE MARÉ DO OCIDENTE EUROPEU - balanço do projecto apoiado pelo Programa Cultura 2000 O projecto Moinhos de Maré do Ocidente Europeu: valorização do património cultural e natural enquanto recurso de desenvolvimento, coordenado pela Câmara Municipal do Seixal através do Ecomuseu Municipal do Seixal, decorreu entre Novembro de 2004 e Novembro de 2005, com o apoio do Programa Cultura 2000 da Comissão Europeia.

Visando estimular a partilha de informações e experiências, a promoção de boas práticas de conservação e restauro e a definição de estratégias de divulgação que permitam melhorar o acesso do público a estes elementos patrimoniais, iniciou-se com a participação de seis instituições: o Ecomuseu Municipal do Seixal, a Association Estuarium (França) e o Ecoparque de Trasmiera (Cantábria, Espanha) - instituições co-organizadoras - e ainda o Concello de Muros (Galiza, Espanha), a Mancomunidad de Islantilla (Andaluzia, Espanha) e o River Lea Tidal Mill Trust (Inglaterra, Reino Unido). Contudo, o interesse suscitado ao longo do desenvolvimento do plano de trabalho traduziu-se na progressiva integração de outras instituições, o que constituiu uma mais-valia, tornando possível uma abordagem mais abrangente da temática, uma maior partilha de recursos, uma difusão mais eficaz do projecto e dos seus propósitos e, sobretudo, permitindo o desenvolvimento de contactos entre um amplo leque de instituições europeias devotadas a projectos de cariz idêntico e que, em muitos casos, nunca anteriormente haviam estabelecido relações entre si. Assim, foi muito gratificante para quem teve a incumbência de coordenar os trabalhos, acolher os sucessivos contributos que, para além dos parceiros iniciais, e embora com diferentes graus de compromisso, nos foram chegando das seguintes instituições: a Associação Esteiros (Portugal), a Associación Tajamar (Espanha), a Association du Moulin de Berno (França), a Association Indre Histoire d’Îles (França), a Câmara Municipal de Aveiro (Portugal), a Câmara Municipal da Moita (Portugal), o Centre for Maritime Archaeology of the University of Ulster (Irlanda do Norte, Reino Unido), a Communauté de Communes du Bassin de Marennes (França), o Eling Tide Mill Trust (Inglaterra, Reino Unido), a Escola de Fuzileiros de Vale do Zebro (Portugal), o Estado-Maior da Armada (Portugal), a Fundación Centro de Estudios Marinos (Andaluzia, Espanha), Kruibeke Municipal Council (Flandres, Bélgica), o Géolittomer - Université de Nantes (França), a Mairie de La Vicomté-sur-Rance (França), o Parque Natural da Ria Formosa (Portugal), o Pembrokeshire Coast National Park (País de Gales, Reino Unido), o Pôle Historique d’Indret (França), o Woodbridge Tidal Mill Trust (Inglaterra, Reino Unido) e também de Mr. David Jones (Inglaterra, Reino Unido), investigador que há muito se dedica a esta área. Entre as actividades concretizadas no âmbito do projecto, inclui-se o Encontro Internacional Moinhos de Maré no Ocidente Europeu, que decorreu no Seixal em Janeiro de 2005 - ver Ecomuseu Informação, 35 (pp. 8-9). Com o objectivo de congregar instituições e investigadores envolvidos no estudo e recuperação deste tipo de estruturas, o evento permitiu não só o intercâmbio de experiências ao nível da recuperação, conservação e reabilitação de moinhos de maré na Europa Ocidental, como contribuiu igualmente para a discussão de metodologias e para a apresentação de linhas de investigação actualmente em desenvolvimento em diversas instituições públicas e privadas que tutelam antigos edifícios moageiros localizados em diversos pontos do litoral atlântico europeu. Além de diversas instituições e investigadores portugueses, foi possível contar com a participação de um amplo leque de investigadores com


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10 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 38 JAN.FEV.MAR. 2006 NOTÍCIA formações distintas ligados a algumas das mais representativas instituições europeias com intervenção neste domínio, o que permitiu uma abordagem multifacetada da temática. Os participantes acordaram na necessidade de elaborar um inventário à escala europeia, procurando construir uma visão de conjunto sobre o desenvolvimento histórico e a implantação geográfica destas estruturas, incluindo as que já desapareceram. Defenderam ainda a importância de promover uma gestão hidráulica adequada dos espaços onde se localizam moinhos de maré, a fim de evitar a sua sedimentação, bem como o desenvolvimento de projectos de investigação arqueológica que permitam o aprofundamento de conhecimentos sobre aspectos como a sua cronologia, difusão, funcionamento e, eventualmente, a localização de estruturas entretanto desaparecidas.

Encontro Internacional Moinhos de Maré no Ocidente Europeu, no Seixal, Janeiro 2005. © EMS/CDI, Rosa Reis

Posteriormente, foram editados um conjunto de postais, um conjunto de puzzles didácticos alusivos à temática e uma brochura sobre moinhos de maré existentes no espaço europeu, a qual disponibiliza informação (em quatro idiomas) relativa a treze estruturas deste tipo distribuídas por cinco países europeus, todas elas intervencionadas de forma a garantir a respectiva preservação, bem como a fruição pública dos espaços, assumindo-se actualmente como importantes recursos patrimoniais no seio das comunidades em que se integram. Estes materiais foram apresentados em cada uma das instituições participantes no projecto ao seu público, seguindo o modelo que lhes pareceu mais adequado.

Visita no Moinho de Maré de Corroios, por ocasião da apresentação da brochura Moinhos de Maré no Ocidente Europeu, Setembro 2005. © EMS/CDI, António Silva

No âmbito do projecto, foi ainda preparada uma exposição itinerante, também em quatro idiomas, disponível em dois conjuntos, cuja apresentação decorreu a 29 de Outubro no Moinho de Maré de Prat (La Vicomté-sur-Rance, Côtes d’Armor, França), a qual irá ser acolhida por diversas instituições europeias no decurso de 2006. Resultando da colaboração de mais de 20 instituições e investigadores devotados a projectos de investigação, conservação, reabilitação e divulgação de moinhos de maré existentes no espaço europeu, aborda aspectos relacionados com a difusão e implantação geográfica destas estruturas, as suas tipologias e modo de funcionamento, a diversidade de utilizações e a valorização patrimonial destes testemunhos.


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Detalhe da Exposição itinerante Moinhos de Maré do Ocidente Europeu

A produção de um CD-Rom serviu de complemento aos demais materiais, pois permite integrar um amplo conjunto de informações e recursos. Foi apresentado por ocasião de um encontro organizado pelo município de Arnuero, através do Ecoparque de Trasmiera e que teve lugar nos dias 4 e 5 de Novembro, na Cantábria. No âmbito deste encontro, foi anunciado que, além do CD-Rom, e aproveitando a sua estrutura e conteúdos, foi criado um website (www.moinhosdemare-europa.org), cujo alojamento se encontra assegurado por um ano, o qual integrará uma secção de notícias actualizada pelo Ecomuseu Municipal do Seixal a partir do contributo das diferentes instituições. Desta forma, quer a itinerância da exposição, quer o contacto entre as várias entidades, quer ainda outras actividades cuja divulgação se julgue pertinente poderão ser difundidas para um público mais amplo. O encerramento deste evento, coincidindo com o próprio encerramento do projecto, ficou marcado pela aprovação, por proposta da Associación Tajamar, de um manifesto sobre arquitectura característica de zonas localizadas entre marés, que aqui reproduzimos. Dado o interesse e qualidade das comunicações apresentadas no decurso do projecto, e tendo em vista a utilidade de dar continuidade aos contactos até agora estabelecidos, ponderamos promover, no decurso do próximo ano, a publicação de um volume de actas que congregue os trabalhos apresentados pelas diversas instituições participantes. A coordenação deste projecto revelou-se uma experiência muito gratificante para o Ecomuseu Municipal do Seixal: pelas instituições que conhecemos, pelas pessoas com quem contactámos, pelo valor dos diversos projectos reflectidos nos materiais produzidos e, sobretudo, pela consciência reforçada de que vale a pena continuarmos a trabalhar pela preservação destes elementos patrimoniais cuja importância histórica, cultural e social, bem como as potencialidades educativas associadas às respectivas estruturas e enquadramento natural, foram evidenciadas a uma escala europeia. [Cláudia Silveira]


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12 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 38 JAN.FEV.MAR. 2006 NOTÍCIA MANIFESTO APROVADO NO ENCERRAMENTO DO PROJECTO MOINHOS DE MARÉ DO OCIDENTE EUROPEU

1.º Os moinhos de maré, respectivas caldeiras e espaços envolventes, a par de outras instalações de utilização tradicional das marés, integram um conjunto característico do litoral europeu, a arquitectura intermareal, que se encontra em perigo de desaparecimento. 2.º Devem ser tomadas medidas urgentes que evitem o derrube, transformações ou qualquer tipo de actuação, incluindo o abandono, que coloque em risco a conservação dos moinhos de maré e os demais testemunhos da arquitectura intermareal das nossas costas.

3.º Os moinhos de maré, caldeiras, diques e espaços envolventes, a arquitectura intermareal em geral, devem ser declarados património comum europeu sob os auspícios da Carta de Veneza, da Carta Europeia do Património Arquitectónico e das diversas resoluções da Conferência dos Ministros responsáveis pelo Património Cultural. 4.º As diferentes Regiões e Estados devem contemplar a defesa destes elementos do património cultural e harmonizar as suas actuações, compatibilizando as intervenções de planeamento do meio ambiente litoral e as declarações de Bens de Interesse Cultural. Não pode admitir-se que os limites fronteiriços, regionais ou municipais separem um estuário ou espaço único, natural ou cultural, e que as actuações das entidades de um lado e do outro sejam contraditórias. Constituem instrumentos de especial relevância para estes objectivos, no caso português, os Planos de Ordenamento da Orla Costeira, a Lei do Património Cultural e o Plano Nacional da Política do Ambiente.

5.º Devem ser fomentados os estudos científicos, históricos e antropológicos conjuntos, envolvendo centros de investigação e organizações profissionais, bem como a sua divulgação através dos meios de comunicação, e também a promoção de intercâmbios inter-regionais de todo o tipo, tanto culturais como turísticos. 6.º Deve ser dada prioridade à conservação e preservação dos actuais vestígios arquitectónicos relativamente a outras intervenções, mantendo, consolidando e valorizando o conceito de ruína, de forma a dignificar a envolvente paisagística. Devem ser realizados estudos arqueológicos e históricos prévios a qualquer intervenção.

7.º No caso de se proceder a intervenções de restauro, devem ser aplicados os mesmos critérios de conservação em vigor para os demais elementos do património arquitectónico ou cultural, bem como o mesmo quadro legislativo e as directivas europeias e internacionais em vigor. Santander, 5 de Novembro de 2005


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CONHECER

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CONHECER «Num total de 1518 fragmentos, foi possível [..] reconhecer a forma de 450 objectos, entre os quais se encontram chávenas, pires, jarras, terrinas, tampas, tigelas, taças e, principalmente, pratos.»

A Cerâmica Arqueológica da Rua 1.º de Dezembro (Seixal) Em 1999, as obras promovidas pela Autarquia para adaptar o antigo posto da GNR do Seixal à instalação de diversos serviços municipais, levaram à demolição integral do interior do actual n.º 2 da Rua 1.º de Dezembro e à intrusão no subsolo, para reforço estrutural do imóvel e colocação de infra-estruturas técnicas. Nos trabalhos de construção civil, rapidamente se identificou e recolheu espólio arqueológico relacionado com anteriores ocupações urbanas do local e, principalmente, com o facto de aqui se ter erguido, eventualmente desde o século XVI, uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição, mais tarde substituída pela igreja que hoje serve a paróquia (inaugurada em 1728). A presença destes materiais e o reconhecimento do potencial científico e patrimonial do sítio justificaram que então se realizasse uma intervenção arqueológica de emergência, adjudicada à empresa ERA-Arqueologia, que veio a revelar espaços de cariz residencial e estruturas que sustentam uma proposta de reconstituição parcial do templo - para mais informação, ver ANTUNES-FERREIRA, Nathalie e FERREIRA, Maria Mulize (2000), “As Práticas de Inumação na Antiga Ermida de N.ª Sr.ª da Conceição (Seixal)”. Revista Era-Arqueologia. Lisboa: Era-Arqueologia. 3: 59-73 ou “ERMIDA (A) de Nossa Senhora da Conceição: contributo da Arqueologia para a história do urbanismo do Seixal” (2000), Ecomuseu Informação (Abr./Mai./Jun.), p. 8. Ainda que parcialmente, na maioria dos casos, no interior do referido templo foram escavadas 18 sepulturas, de onde se exumaram 57 indivíduos e as ossadas dispersas de, pelo menos, 146 outros, num significativo conjunto de espólio osteológico datável do início do século XVII ao final do século XIX, entretanto estudado por uma equipa do Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra e da empresa Bioanthropos. Se os resultados deste estudo são muito interessantes para o conhecimento dos antigos habitantes da vila e para a contextualização histórica, económica e social das suas condições de vida - ver “CONHECER a População Antiga do Seixal e de Arrentela, através da Arqueologia e da Antropologia” (2004), Ecomuseu Informação, 32 (Jul./Ago./Set.), pp. 8-9, não menos importante será, para concretização desse objectivo, o alargamento da investigação ao restante espólio recolhido na escavação. Nesse sentido, a Câmara Municipal aprovou em devido tempo uma proposta de trabalho da ERA-Arqueologia, que, com a colaboração e acompanhamento do Serviço de Arqueologia do Ecomuseu Municipal do Seixal e o financiamento parcial da Rede Portuguesa de Museus, se desenvolve segundo um faseamento que atendeu em primeiro lugar às cerâmicas e

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Seriação tipológica e puzzle de fragmentos cerâmicos

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14 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 38 JAN.FEV.MAR. 2006 CONHECER aos artefactos metálicos, incide agora sobre os numismas e as peças em vidro, para vir a encerrar com os restantes materiais (objectos de adorno, artefactos em osso, etc.) e com a produção de um relatório final. Prevê-se mesmo que os resultados do trabalho de campo e da subsequente investigação pluridisciplinar se materializem numa futura edição monográfica, que garanta a sua difusão junto de um público alargado. No que respeita às cerâmicas, estas passaram por uma prévia lavagem, marcação e seriação, operações indispensáveis à posterior identificação de fragmentos pertencentes às mesmas peças e à sua colagem, para reconstituição formal e melhor interpretação dos processos de deposição e mobilização de solos no sítio (não é despiciendo o modo como os vários pedaços de uma peça partida se distribuem pela área escavada). Como é habitual neste tipo de estudos de materiais arqueológicos, a seriação conduziu à individualização de conjuntos que viriam a ser tratados independentemente, do ponto de vista da classificação e caracterizaFundo de jarra em faiança ção das formas, mas também das técnicas utidatável de 1886, com aplicação lizadas no fabrico e na decoração, quando existe. de marca da Fábrica Um desses conjuntos é o das faianças, que, tal d'Alcântara, Faiança Fina como as porcelanas, podem constituir indi© EMS/CDI, Cézer Santos, 2002 cadores importantes para complementar e precisar o enquadramento cronológico proposto a partir da interpretação da estratigrafia registada aquando do trabalho de campo. Num total de 1518 fragmentos, foi possível à equipa da ERA-Arqueologia (em cujo Relatório de Progresso se baseia a informação técnica destas linhas) reconhecer a forma de 450 objectos, entre os quais se encontram chávenas, pires, jarras, terrinas, tamFragmento de fundo de prato em faiança pas, tigelas, taças e, principalmente, datável de 1894 a 1902, com aplicação pratos, todos com a superfície esmaltada de marca da Real Fábrica de Sacavém a branco, nalguns casos decorada com © EMS/CDI, Cézer Santos, 2002 motivos geométricos ou vegetalistas, pintados ou estampados a azul, verde, manganés, rosa, vermelho, amarelo, laranja, castanho, preto, etc. Produzidas genericamente entre os séculos XVII e XIX, com alguns exemplares entrando mesmo pelo século XX, três dezenas destas peças podem ser atribuídas à Fábrica de Loiça de Sacavém, correspondendo a produções balizadas entre 1863 e 1970. Um fundo de prato ostenta estampa da respectiva Fragmento de pequena taça em marca (datará de 1894 a 1902). A Fábrica de porcelana, decorada a azul, Alcântara, Faiança Fina está também recom motivos geométricos e vegetalistas presentada, através dos fundos de um prato © EMS/CDI, Cézer Santos, 2002 e de uma jarra (produzidos em 1885 e 1886, respectivamente). A análise cuidada das pastas, considerando a cor, a textura, a dureza, a natureza das inclusões e o tipo de fractura, permitiu ainda tipificar seis fabricos diferentes, com algumas variantes. Num segundo conjunto, o das porcelanas, foram estudados 66 fragmentos, 23 dos quais com formas reconhecíveis - chávenas, pratos e taças -, deco-


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rados com motivos geométricos e vegetalistas pintados a azul, castanho, cinzento e manganés. Um pequeno lote de 31 fragmentos de azulejo constitui um terceiro grupo, na sua maioria de caracterização muito limitada, devido à reduzida dimensão e ao mau estado de conservação. No geral, trata-se de azulejos de padrão decorados a azul, amarelo e/ou laranja. Por fim, o quarto e último grupo é o das cerâmicas comuns, vidradas e não vidradas, com 5117 fragmentos, onde se incluem 381 pertencentes a formas abertas (pratos, frigideiras, caçoilas, caçarolas, tigelas, taças e alguidares) ou formas fechadas (cântaros, bilhas, panelas, púcaros e potes), para além de alguFragmento de bordo de cerâmica mas tampas, uma malha de jogo e um pencomum com decoração modelada dente, usado como objecto de adorno. À se© EMS/CDI, Cézer Santos, 2002 melhança do realizado para as faianças, a análise das pastas conduziu aqui à individualização de 12 tipos de fabrico, também com algumas variantes. Naturalmente, toda esta informação terá ainda de ser abordada de modo mais abrangente, que permita relacionar com mais clareza os tipos de fabrico com as formas e as técnicas decorativas, desenvolvendo a pesquisa de paralelos na bibliografia arqueológica nacional e internacional e criando condições para uma atribuição cronológica mais segura e precisa. Os Fragmento de fundo de cerâmica comum estudos sistemáticos do restante espólio com decoração incisa e incrustada integrar-se-ão igualmente nesta pers© EMS/CDI, Cézer Santos, 2002 pectiva globalizante, que nos abrirá mais uma janela para o conhecimento da história de um sítio marcante para as comunidades que, nos séculos mais recentes, habitaram a vila do Seixal. [Jorge Raposo]

DESTAQUES BIBLIOGRÁFICOS:

ANTUNES-FERREIRA, Nathalie e FERREIRA, Maria Mulize (2000), “As Práticas de Inumação na Antiga Ermida de N.ª Sr.ª da Conceição” (Seixal). Revista Era-Arqueologia. Lisboa: Era-Arqueologia. 3: 59-73. “ERMIDA (A) de Nossa Senhora da Conceição: contributo da Arqueologia para a história do urbanismo do Seixal” (2000), Ecomuseu Informação (Abr./Mai./Jun.), p. 8. “CONHECER a População Antiga do Seixal e de Arrentela, através da Arqueologia e da Antropologia” (2004), Ecomuseu Informação, 32 (Jul./Ago./Set.), pp. 8-9.


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MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS «Só fermentava no lagar, quando houve anos em que a gente não tinha vasilhas que chegassem para pôr o vinho todo [...]» - Pedro Gomes

As vinhas, a produção de vinho e o trabalho nas antigas quintas e lagares do Concelho Ao longo de séculos e praticamente até há poucas décadas atrás, a cultura da vinha e a produção de vinho ocuparam um importante lugar na história rural e na economia do território actualmente correspondente ao concelho do Seixal, entre outras actividades agrícolas proporcionadas pelas extensas áreas agrícolas, principalmente provenientes de antigas quintas senhoriais. Assim como as vinhas deixaram de caracterizar a paisagem rural desta região da Outra Banda, também os numerosos lagares de vinho foram sucessivamente destruídos pelas vagas da conversão industrial e da ocupação urbana, poucos testemunhos materiais restando das técnicas artesanais e do trabalho ligado à vinha e aos afamados ou pelo menos muito consumidos vinhos do Seixal. Entre os bens culturais que se procura ainda preservar, contribuindo para documentar e conhecer essas actividades, incluímos as memórias dos últimos proprietários ou trabalhadores ligados à produção de vinho. É em registos de seis relatos orais - recolhidos pelo Ecomuseu através de Laudelina Emídio e de Fátima Sabino - que baseamos a informação a seguir divulgada, graças aos contributos de João Guilherme Gomes, agricultor da Quinta da Soledade, em Arrentela (entrevistado em 1997, com 61 anos), de Virgínia Ferreira, filha de um proprietário de uma quinta na Aldeia de Pires (entrevistada em 1997, com 72 anos), de Mário Lopes, vendedor de fruta da Aldeia de Paio Pires (entrevistado em 1999, com 72 anos), de José Tiago, agricultor da Aldeia de Paio Pires (entrevistado em 2000, com 75 anos), de Selénia Rodrigues (Maria), caseira da Quinta de Santa Teresinha, no Seixal ( entrevistada em 2004, com 75 anos), e de Pedro Gomes, agricultor da Aldeia de Paio Pires (entrevistado em 2004, com 55 anos), actual proprietário de um lagar de vara e fuso datado de 1761.

Desenho de equipamento de lagar de vinho, sistema de prensa de parafuso, © EMS/CDI, Maria João Cunha

Lagar de vinho - Quinta Grande ou Madre de Deus: prensa de parafuso © EMS/CDI, Rosa Reis, 2001

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Em várias quintas locais conviveram duas modalidades de cultivo da vinha, como no caso da Quinta da Soledade. Requerendo muitos cuidados ao longo do ano (tais como a cava, a poda, a sulfatação e outros), a sua cultura absorvia, em permanência ou sazonalmente, um elevado número de trabalhadores, para cuja contratação eram correntes “as praças”, em meados do século XX, conforme referido por João Guilherme Gomes: «Das ditas latadas havia muito poucas. Por exemplo, aqui nesta Quinta chegou a haver uma muito grande, mas já foi uns anos mais tarde. Em princípio era tudo vinha rasteira, não era[m] cá atadas com nada.» «Havia aqui vários [trabalhadores], que não eram de cá, mas praticamente estavam cá a trabalhar; uns eram ali dos lados de Azeitão.[Outros] Eram pessoas que vinham [da região da Tocha], numa certa altura de começar [a cavar] as vinhas. Vinha um comboio cheio de homens [...]. Depois iam dois para uma quinta, três para outra, quatro, outros mais. Outros iam trabalhar uma semana para um lado e iam trabalhar uma semana para outro, era conforme os homenzinhos das quintas tinham trabalho para lhes dar.» «[...] Em determinados sítios [Torre da Marinha, Paio Pires] juntavam-se todos e depois iam para os fazendeiros, que eram os rendeiros ou os donos das quintas. Iam lá àquele sítio e depois: “- Eh pá, queres ir trabalhar para mim? Quanto é que queres ganhar?”»

Desenho de equipamento de lagar de vinho, sistema de vara e fuso. © EMS/CDI, Maria João Cunha

No final do Verão, os cachos de uvas estavam maduros, e os proprietários das quintas, com o apoio de trabalhadores permanentes, familiares ou vizinhos, efectuavam a vindima, seguindo critérios que a experiência ditara como os mais adequados para se obter um bom vinho. Segundo José Tiago: «Naquele tempo eram apanhados os cachos e eram limpos todos os baguinhos verdes que ficavam e os secos, mas agora não. Agora vindimam parras, vindimam tudo: seco, verde, tudo. Põem tudo lá dentro. A uva verde não faz bom vinho.» A responsabilidade da apanha das uvas era, geralmente, confiada às mulheres, cabendo aos homens o transporte dos cestos para o tinote (grande recipiente cilíndrico aberto num dos topos) assente sobre a carroça que o faria chegar ao lagar ou à eira. Relatou-nos Mário Lopes que, na Aldeia de Paio Pires, «Todos os fazendeiros tinham uma eira e todos cortavam [as uvas] e [as] punham ao Sol. Nunca se cortava a uva e se fazia o vinho logo. Quando saíam da eira, já vinham murchas. Às vezes, quando apanhavam muito Sol os antigos usavam um regador -, à noite deitavam uns borrifos de água e depois no outro dia apanhavam sol. Aquele engaço que tinha ficava murcho.» Pedro Gomes, por seu lado, lembrou que depois de alguns dias de exposição ao sol, ao entrarem para o lagar, «Algumas [uvas] já vinham meias passas. Ora aquilo dava um grau! A eira ainda aumenta o grau de açúcar na uva. Houve um ano em que o vinho teve quase 16 graus.»


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18 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 38 JAN.FEV.MAR. 2006 MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS A pisa das uvas no tanque do lagar, por grupos de homens descalços, ocorria geralmente à noite e a sua duração dependia do número de homens envolvidos e da quantidade de uvas a pisar. Sendo certo que a fermentação e a trasfega do vinho mosto eram operações subsequentes e necessárias ao fabrico do vinho, a maneira de as realizar não era idêntica em todo o concelho. Os agricultores que tinham menos uvas a pisar, como nos recordou João Guilherme Gomes, deixavam-nas «ficar no lagar e depois ia-se lá de manhã e à noite pisar aquilo. Ficava no próprio tanque. Todos os dias iam lá dentro... Quem não ia, havia umas forcas, que se acalcava. A gente chamava acalcar as massas. Outros tinham que fazer o vinho mais que uma vez, havia uns tonéis grandes, aquilo ia lá para dentro - o vinho e a tal dita massa - e fervia lá dentro o vinho. Depois passava-se o vinho a limpo, punha-se para outro tonel. Depois tirava-se a massa e ia para dentro de um trincho, depois era apertado para espremer o vinho todo. E havia outro [processo] ainda. Era o chamado “bica aberta”. A gente pisava o vinho e era logo passado. [...] no mesmo dia, tirava-se logo para os tonéis, para ele não ficar carrascudo, tão carrascão.» Por isso para alguns produtores, segundo Pedro Gomes, a fermentação do vinho no lagar era a excepção: «Só fermentava no lagar, quando houve anos em que a gente não tinha vasilhas que chegassem para pôr o vinho todo, e então houve alturas em que o meu pai teve o lagar e o pio [lagariça] cheio de vinho e o vinho a ferver dentro do lagar. O meu avô foi comprar vasilhas, [...], porque quando isso não acontecia, o vinho fervia sempre dentro dos tonéis com as próprias massas.» Para outros agricultores, a fermentação do vinho nos pipos correspondia à fase final de estabilização depois de, no lagar, ao fim de uns quatro dias, a fermentação ter feito ascender o bagaço à superfície do mosto, promovendo assim a sua separação. Segundo Selénia Rodrigues (Maria) «[...] ali [no lagar de Santa Teresinha] também fervia nos pipos, mas já era com menos força, que tinha de se deixar destapado de cima e ainda escorria, às vezes, pelos pipos. E conforme ele ia fervendo, ia mingando e ia-se acrescentando.» Mas, independentemente do momento em que se realizava a primeira trasfega do vinho mosto, havia que prensar o bagaço/as massas resultante(s) da pisa das uvas, para que fosse libertado todo o vinho que ainda contivessem, ou espremer os bagos que continuassem inteiros.

Desenho de prensa de parafuso de lagar de vinho. © EMS/CDI, Maria João Cunha

A par dos tradicionais lagares de vara e fuso, aplicando técnicas ancestrais como as que a família de Pedro Gomes, na Aldeia de Paio Pires, manteve em uso até há pouco tempo, instalaram-se no Concelho os lagares de prensa de parafuso, em madeira, mais tarde substituídas pelas prensas metálicas. Nos lagares de vara e fuso, a prensagem dependia da compressão que a vara exercia sobre as massas. Começava-se por juntá-las para um lado do tanque do lagar a fim de que o vinho escorresse para a lagariça. Nessa altura, segundo Pedro Gomes, eram introduzidas nuns trinchos de madeira sobrepondo-


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-lhes uma tampa circular, também de madeira, e uns troncos para fazer altura que permitissem o assentamento da vara e esta «conforme arreava em cima dos cepos, ia espremendo o engaço da uva.»

Desenho de trinchos em madeira, esparto e respectivos materiais de junção, de lagar de vinho. © EMS/CDI, Maria João Cunha

A utilização dos trinchos representou para José Tiago uma melhoria e um ganho de eficiência no processo de fabrico do vinho: «Agora há uns trinchos de madeira com aduelas. Naquele tempo não, era um cabo de cairo. A gente tinha de fazer aquilo [o pé] a preceito, mais ou menos redondo. Depois era atado, em toda a volta, em toda a volta. Atava o engaço até acima, depois de estar em cima levava uma tampa redonda à medida do pé e depois levava ali dois ou três paus grossos por cima para fazer peso, e depois então é que a vara descia e fazia pressão até o peso ficar no ar. Ficava assim 24 horas. No outro dia estava quente o bagaço e não tinha lá vinho nenhum. Depois rodava-se o fuso, com a tranca ao contrário para fazer descer o peso e subia a vara. E aquele fuso era untado com sebo para ser mais prático. Se não fosse isso fazia uma chiada.» Como lembrou Virgínia Ferreira, havia quem na altura da trasfega do vinho avaliasse a graduação do vinho utilizando um aparelho, «[...] o pesa-mostos, para ver se o mosto estava muito doce, se o mosto estivesse muito doce, deitava-lhe uns coisos [canecos] de água porque não podia ser muito doce porque o vinho depois ficava doce de mais.» As massas ou engaços, mesmo depois de prensadas, eram ainda susceptíveis de aproveitamento: [O meu pai] «ia levar os engaços ao Zé dos Queijos para fazer aguardente, tinha um alambique.» Finalmente, lembrou João Guilherme Gomes, «Tirava-se o vinho limpo, ficava lá [no lagar] as massas, punha-se a água, a que entendiam pôr e continuava a ferver, depois fazia-se a água-pé e depois nessa altura é que ia ser prensado.» Além de comercializados para o exterior, o vinho e a água-pé produzidos nas quintas do Concelho eram largamente consumidos localmente, não só, como relatou Mário Lopes, «[...] porque naquele tempo havia muito pessoal a trabalhar no campo e tinham o hábito de dar de beber às pessoas que trabalhavam e eles [os patrões] também bebiam». , como, além disso, por exemplo segundo João Guilherme Gomes, os produtores «guardavam um tanto para eles, para o gasto do ano e o resto vendiam para as tabernas, aí na Arrentela e na Torre. Mesmo eles iam às adegas comprar logo na altura de abrir os pipos. Depois iam lá buscar conforme iam precisando. Juntavam-se dois ou três com um garrafão na mão, quando tinham dinheiro [...].» [Fátima Sabino]


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