Ecomuseu Informação N.º 39 – Abril | Maio | Junho 2006

Page 1

ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:40

Page 1

ecomuseu informação BOLETIM TRIMESTRAL DO ECOMUSEU MUNICIPAL DO SEIXAL

n.º 39 . 2006

ABRIL . MAIO . JUNHO

ÍNDICE 3 // Os museus e os jovens

11.12.13.14 // CONHECER

17.18.19 //

3 // EXPOSIÇÕES

As Caldeiras dos Moços

PATRIMÓNIO CULTURAL

4.5.6.7 // PROGRAMA

da Mundet (Seixal) e o cozimento DO CONCELHO DO SEIXAL

DE INICIATIVAS DO SERVIÇO

da cortiça, uma operação

Edifícios da antiga Companhia

EDUCATIVO

essencial para a transformação

de Lanifícios de Arrentela:

8 // AGENDA

industrial desta matéria-prima

história e memória da fábrica e do sítio industrial

9.10 // TEMA DE REFLEXÃO Qualificação e desenvolvimento

15.16 //

do EMS - [II] Principais domínios

MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS

20 //

de avaliação e de actualização

Amigos cujas memórias

NÚCLEOS E SERVIÇOS

programática

guardamos para o futuro


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:40

Page 2

02 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 Os museus e os jovens «Os museus e os jovens» é o tema escolhido este ano para o Dia Internacional dos Museus, que se comemora a 18 de Maio, por iniciativa do Conselho Internacional dos Museus (ICOM). Parece-nos um tema potencialmente muito inspirador para que na comunidade museal se analise a acção de cada museu e (re)perspective o seu futuro. Reflectir sobre a inclusão e participação dos jovens na vida e no papel social dos museus será importante e poderá influir nas atitudes e acções de todos, incluindo tutelas e responsáveis, profissionais e pessoal dos museus, públicos, amigos e voluntários, membros das comunidades em que os museus estão inseridos, mecenas e todos aqueles de que depende, por alguma forma, o futuro dos museus, ligando-os cada vez mais ao desenvolvimento social, ao diálogo entre culturas e à paz entre os povos. Este ano, em Maio, o Ecomuseu perfaz 24 anos de actividade. Uma das suas características principais, que ressalta ao longo deste percurso de quase um quarto de século, é a capacidade de adequação do seu funcionamento e das suas linhas programáticas às realidades do território, onde se operaram (e operam) inegáveis mudanças. Tal capacidade decorre, em primeiro lugar, dum modelo de gestão dinâmico, assente na interacção com grupos de interesse, amigos e públicos do museu, por um lado, e na participação da equipa técnica e dos profissionais que dela têm feito parte, readequando-se em vários momentos às necessidades funcionais e de intervenção do Ecomuseu, no seu território de referência. A comemoração do 24.º aniversário do Ecomuseu é ocasião para dirigirmos uma saudação não só a todos os nossos colaboradores actuais, como também aos muitos que já inscreveram na nossa pequena história o contributo dado através da sua participação ou da sua acção criativa, e ainda a muitos parceiros e aos profissionais de museus, em Portugal e noutros países, que, por nos apoiarem ou nos criticarem, têm revelado atenção pelo nosso trabalho. Muito especialmente, expressamos um imenso agradecimento a todos os amigos e doadores que nestas décadas confiaram no Ecomuseu Municipal do Seixal para incorporar, conservar e transmitir às próximas gerações, bens e colecções, nomeadamente em função do valor de memória e do significado cultural e identitário atribuído. Este agradecimento abarca ainda todos os que nos dispensaram momentos e dias das suas vidas e nos confiaram a missão de registar as suas memórias activas e de, transmitindo-as às actuais e futuras gerações, contribuir para a construção de uma memória colectiva. Pretendendo conferir cada vez uma maior eficácia às vertentes de comunicação do Ecomuseu com os jovens, entre os nossos principais públicos-alvo e comunidades de interacção, relevamos o papel dos profissionais jovens na nossa equipa, quotidianamente incentivados a intervir criativamente e com perseverança no projecto patrimonial e museológico municipal. Continuaremos a contar com os jovens, de geração e de espírito, na necessária integração do Ecomuseu no meio territorial, como recurso e enquanto processo dinâmico de desenvolvimento, através da valorização e da actualização do seu acervo - material e imaterial, imóvel, móvel e flutuante - e do património cultural do Concelho e nacional. [Graça Filipe] WWW.CM-SEIXAL.PT/ECOMUSEU

FICHA TÉCNICA FOTO CAPA

: Bote-de-fragata Baía do Seixal a navegar no Tejo ©EMS / CDI - António Silva, 2005.

EDIÇÃO

DIRECÇÃO

GRAFISMO E REVISÃO

IMPRESSÃO

Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal do Seixal

Graça Filipe

Sector de Apoio Gráfico e Edições da C.M.S.

Grafema, Sociedade Gráfica, SA

Distribuição gratuita Assinaturas a pedido junto do EMS

Carla Costa e Graça Filipe

TEXTOS/INVESTIGAÇÃO/NOTÍCIA

Graça Filipe; Fátima Afonso; Fátima Veríssimo INFORMAÇÃO/AGENDA

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS

TIRAGEM

EMS/CDI, António Silva, Carla Costa, João Martins, A. Policarpo, Rosa Reis, Armindo Cardoso

6000 exemplares ISSN

0873-6197 DEPÓSITO LEGAL

106175/96


20.04.06

10:41

Page 9

TEMA DE REFLEXÃO

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

09

TEMA DE REFLEXÃO « O aproveitamento e a gestão de bens culturais e naturais no âmbito museal torna-os parte duma distinta cadeia de procedimentos.»

Qualificação e desenvolvimento do EMS [II] Principais domínios de avaliação e de actualização programática Na última edição de 2005 do Ecomuseu Informação, como tema de reflexão abordámos a qualificação e o desenvolvimento do EMS sob a perspectiva dos princípios da política museológica face à Lei-Quadro dos Museus (Lei n-º 47/2004, de 19 de Agosto). Retomamos o tema, como então prevíamos, procurando contextualizar as prioridades de avaliação, segundo os principais domínios de planificação e de actualização programática do Ecomuseu, estando em vias de se concluir o ciclo temporal correspondente ao seu Programa de Qualificação e de Desenvolvimento (2001-2006). No domínio da interacção com as comunidades e da comunicação com os públicos, importa-nos analisar, por um lado, os percursos e os resultados de parcerias, ou dos projectos baseados no propósito de as estabelecer, centradas no património cultural e tendo em vista a sua valorização. Por outro lado, é necessário ponderar as causas e áreas de decréscimo de utilizadores e de visitantes, planificando a comunicação consoante os públicos-alvo que simultaneamente melhor se articulem com os recursos existentes e a inserção do Ecomuseu no território. Recordamos como os estudos sociológicos pioneiros de Pierre Bourdieu e Alain Derbel, nos anos 60 do século XX, em França - L'amour de l'art. Les musées d'art européens et leurs publics -, não só contribuíram para colocar o museu no seu contexto social como mostraram a necessidade de estudar os públicos. Acompanhando as mudanças dos museus, especialistas de várias disciplinas das ciências humanas tomaram-nos como objecto de estudo, sob diferentes perspectivas e explorando as diversas dimensões da actividade museal, evidenciando a sua inegável e crescente complexidade. Segundo uma escala e a um ritmo específicos, em Portugal não ficámos alheios a esse processo, desde logo graças a grupos associativos e profissionais, assim como ao trabalho cultural autárquico, também beneficiando da ligação da esfera académica a essa realidade e da nova dinâmica de formação nas áreas museológica e patrimonial e, mais recentemente, devido à criação de uma estrutura e do modelo de implantação da Rede Portuguesa de Museus. Reflectindo sobre as políticas públicas e a evolução do sector cultural, em que se enquadram os museus, nos finais do século XX e no iniciar do século XXI, a nossa atenção recai sobre a predominância do sector público, tanto no investimento, como no direccionamento profissional. Assim, cremos que se deve avaliar, também no que toca aos museus de abrangência municipal e de tutela autárquica, a questão de gratuitidade ou de pagamento de acesso e de

Mundet © Rosa Reis, 2005

ECOINFO_39_0_2006


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 10

10 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 TEMA DE REFLEXÃO serviços, em consonância com as actuais perspectivas de sustentabilidade - e de financiamento - à medida que se acentua o potencial de comunicação e a necessidade de formar (novos) públicos. A preocupação deve alargar-se às formas de financiamento que associem de forma crescente o sector privado ao património cultural e aos museus, respeitando os princípios da política museológica nacional e as particularidades de políticas e projectos culturais locais. Também aqui relevamos a especificidade dos museus com vocação territorial (e dos ecomuseus), face à expectativa de que proporcionem, de forma sustentada, um efectivo papel social às vertentes do património e a heranças culturais frequentemente negligenciados nos modelos ou organizações considerados mais tradicionais, contribuindo para a expansão e a renovação museais em Portugal. Estas reflexões relacionam-se com outro domínio de avaliação, que é o respei tante à valorização do acervo do EMS, considerando que os enunciados princípios da política museológica reportam a todo o processo museal, devendo desde logo reflectir-se na selecção de bens a incorporar. A participação do EMS na gestão e na valorização dos patrimónios à escala do território não passa necessariamente por essa incorporação, mas no actual processo de reprogramação e de avaliação é necessária uma definição clara, no que concerne a aplicação de funções museais no contexto actual e/ou de outros modelos de gestão de património, do estatuto dos bens materiais - imóveis ou móveis - e, até, do património imaterial (por exemplo, um saber-fazer associado à conservação de técnicas ou de um sistema técnico, como no caso da construção naval em madeira). O aproveitamento e a gestão de bens culturais e naturais no âmbito museal torna-os parte duma distinta cadeia de procedimentos, desde a incorporação, a investigação, a conservação, a documentação, a interpretação e a comunicação, à sua valorização num sentido global e de forma sustentável. Em tal processo distinguem-se portanto opções programáticas inerentes a outras fórmulas de (re)utilização de bens culturais, ainda que se devam sempre articular projectos ou acções do EMS com os dos promotores de outras desejáveis iniciativas respeitantes ao património. Também à luz dos princípios da política museológica, cremos ser de grande importância a activação de mecanismos de interacção e de parcerias entre museus credenciados, no plano dos acervos, no âmbito da Rede Portuguesa de Museus, potenciando a transversalidade e a descentralização e a sua repercussão nas esferas profissional, de centros de investigação e de públicos/fruidores do património cultural e natural e do conhecimento gerado pela sua gestão museal. Finalmente, devemos reflectir e avaliar a nossa experiência no que toca ao desenvolvimento técnico e científico, no plano dos recursos humanos, mais uma vez perspectivando as linhas de trabalho em parceria e abrindo-nos ao campo de possibilidades ligadas a programas de voluntariado cultural. Nas últimas décadas, num elevado número de museus do nosso país, sendo relevantes as experiências decorrentes de tutelas locais, vem sendo afirmada a sua vocação cultural, a par da sua função patrimonial. Por sua vez, as novas etapas de desenvolvimento e de qualificação trazem aos museus novas necessidades de funcionamento e de reperspectivação profissional. Assim, conhecendo e avaliando as mudanças próprias de cada instituição, parece-nos necessário rever os modelos mais comuns de organização e, também, de financiamento. Neste contexto, que evolui rapidamente, emergem novas exigências - e porventura áreas e dinâmicas profissionais -, passando pela definição de competências e pela preparação de museólogos. Evidentemente que têm de ser contempladas, entre outras, as questões de administração, de programação museológica ligada à gestão museal dos acervos e dos processos da sua difusão, aprofundando e dinamizando a comunicação com os públicos e promovendo a cidadania. [Graça Filipe]


10:41

Page 11

CONHECER

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

11

CONHECER « (...) onde se manipulavam pranchas de cortiça já espalmadas e planas, e embora permanecessem os perigos da manipulação da cortiça em água a elevada temperatura (...) »

As Caldeiras dos Moços da Mundet (Seixal) e o cozimento da cortiça, uma operação essencial para a transformação industrial desta matéria-prima Em 2000 o EMS abriu ao público o Edifício das Caldeiras de Cozer Cortiça, com fins expositivos. Durante os últimos 40 anos de laboração da fábrica, naquele espaço procedeu-se ao cozimento da matéria-prima, uma operação fundamental para a transformação industrial da cortiça, geralmente efectuada em dois momentos - a 1.ª e a 2.ª cozeduras - com um período de estabilização de permeio. A cozedura facilitava a posterior transformação da cortiça nas oficinas, aumentando a espessura das pranchas, amaciando a cortiça, tornando-a mais flexível e apta a ser trabalhada, para além de remover a terra ainda presente nas pranchas e eliminar os parasitas existentes na matéria-prima.

Edifício das caldeiras de cozer da fábrica Mundet (Seixal). Desenho de Luís de Almeida, datado de 1942 © EMS/ CDI

O Decreto n.º 4272, de 8 de Maio de 1918, compreendia na designação de “caldeiras” não só os geradores de vapor de água (exemplares deste tipo de infra-estruturas energéticas, são as caldeiras de construção Babcock & Wilcox, instaladas num edifício próximo) mas “…todos os recipientes submetidos a pressão de vapor superior à atmosférica” (art. 1.º). O edifício destinado a albergar o conjunto de caldeiras de cozer em tijolo refractário foi construído em 1942, segundo o desenho técnico do engenheiro catalão Telmo Trill Cals, então técnico da firma, com a colaboração de um desenhador da empresa, Luís Almeida. As características de construção do edifício - os largos vãos de acesso, um pé-direito alto e a cobertura com

anos 1970 © EMS/CDI

20.04.06

O cozimento dos fardos de cortiça na água em ebulição. Fábrica Mundet (Seixal),

ECOINFO_39_0_2006


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 12

12 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 CONHECER lanternim e chaminés - denotam preocupações de funcionalidade, de iluminação e de arejamento, procurando minimizar o calor e a grande acumulação de vapor gerado pelo processo de cozimento da cortiça nas caldeiras. O vapor produzido por geradores de marca Babcock & Wilcox e transmitido por via aérea entre os dois imóveis, era introduzido nos tanques através de um tubo de cobre perfurado, proporcionando uma melhor distribuição do vapor na água e o seu aquecimento até ao ponto de ebulição. Inicialmente captada nos poços da fábrica, a água utilizada nas caldeiras passou, mais tarde, a ser abastecida através da rede pública de distribuição de água. A matéria-prima chegava a este espaço, após uma primeira cozedura, à qual se seguia um período de estabilização de entre duas a quatro semanas, durante o qual perdia o excedente de água e a sua forma encanudada. As pranchas de cortiça eram em seguida transportadas do local de repouso para os telheiros da secção de prancha, onde operários especializados traçadores, escolhedores e calibradores - realizavam a selecção da matéria-prima em bancas.

Corte de uma das caldeiras ou tanque onde os fardos de cortiça eram cozidos. Desenho de Telmo Trill, datado de 1942 © EMS/ CDI

Após a sua selecção, de acordo com o seu calibre e qualidade, as pranchas eram dispostas em pilhas onde aguardavam por uma segunda cozedura, que era realizada nas caldeiras deste imóvel, designadas habitualmente por Caldeiras dos Moços, distinguindo assim este imóvel de um outro conjunto de caldeiras existente na fábrica, junto ao telheiro grande da secção de prancha onde se efectuava a escolha da cortiça: as Caldeiras dos Homens. Era nestas últimas que se efectuava a primeira cozedura da cortiça, a que correspondia um trabalho que exigia robustez física e habilidade manual maiores, para enfardar as pranchas vindas do mato e obrigar os volumosos fardos a submergir na água. Dada a menor dificuldade do trabalho executado no segundo conjunto de caldeiras, onde se manipulavam pranchas de cortiça já espalmadas e planas, e embora permanecessem os perigos da manipulação da cortiça em água a elevada temperatura (entre os 80º e os 100º) numa atmosfera de intenso calor húmido e odores, tais tarefas encontravam-se reservadas aos operários mais jovens e, por este motivo, o conjunto foi denominado de Caldeiras dos Moços. A equipa de operários desta secção era constituída por enfardadores,


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 13

CONHECER

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

13

caldeireiros e empilhadores. Os enfardadores deslocavam-se à zona de depósito de matéria-prima, retiravam as pranchas da pilha ou do monte e colocavam-nas em caixas-molde, construindo os fardos com uma volumetria regular e dimensões adequadas à sua introdução nas caldeiras onde seriam cozidos. Os fardos, bem apertados e rolando sobre si mesmos, eram empurrados para cima da zorra e transportados para as caldeiras, onde os operários os descarregavam e introduziam na água em ebulição. A operação de cozimento da cortiça realizada pelos caldeireiros era dificultada, quer pela abundância de água fervente (as sobras de água das caldeiras durante o cozimento eram naturalmente escoadas, devido à acentuada inclinação do pavimento), quer pela flutuabilidade da própria matéria-prima. Devido a estas dificuldades, os operários tendiam a auxiliar a operação com o peso do próprio corpo, apesar deste procedimento ser contrário às regras de segurança estabelecidas na fábrica.

Construção de um fardo de cortiça utilizando a caixa-molde © EMS/ CDI

A utilização da ponte e diferencial e a adaptação de uma das caldeiras a depósito para trasfega de água, na década de 70, facilitou as operações de carregar a caldeira e de retirar os fardos após cozimento. O transporte de água do tanque para o depósito permitia aos caldeireiros colocarem facilmente, quer o trincho - pequena plataforma de madeira com ferragens que pressionavam a caldeirada durante a cozedura - quer as correntes de ferro sobre os fardos, obrigando a cortiça a submergir. De seguida, a quantidade de água necessária ao cozimento era reposta no tanque, dando-se início à segunda cozedura. Após a cozedura, com uma duração de cerca de vinte minutos, removidas as correntes da caldeira e os trinchos, voltavam a efectuar a trasfega de água do depósito para o tanque, elevando a cortiça e facilitando a remoção dos fardos. A produção média diária era de 60 fardos, pesando unitariamente cerca de 250 kg a 300 kg. No final do dia, os caldeireiros limpavam a água depositada no interior das caldeiras retirando as migalhas - bocados da cortiça - com as escumadeiras de rede, e colocavam os estrados de madeira sobre os tanques, por motivos que se prendiam com a segurança no trabalho. No final da semana de trabalho esvaziavam-se as caldeiras de águas residuais directamente para o rio Judeu, procedendo-se então à remoção de areias, lamas e desperdícios de cortiça que se depositavam no fundo das caldeiras. Uma vez cozida, a cortiça era destinada ou ao circuito comercial, sendo acondicionada em fardos para exportação, ou aos fundões - armazéns de matéria-prima - existentes junto às oficinas de transformação da broca, das rolhas de champanhe e da laminagem de papel de cortiça. Os empilhadores - operários que trabalhavam nos fundões - descarregavam e desfaziam os


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 14

14 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 CONHECER fardos, empilhando as pranchas fumegantes nos espaços fechados, escuros e húmidos dos fundões, onde a cortiça permanecia depositada até ser necessária à produção. Neste espaço das Caldeiras dos Moços encontram-se instaladas três autoclaves que tiveram como função proporcionar o cozimento rápido da matéria-prima num ambiente de vapor quente e húmido. Uma das vantagens da sua utilização na cozedura da cortiça seria a possibilidade da imediata utilização da matéria-prima na transformação, algo que não acontecia com a cortiça cozida em água, operação à qual se seguia um período de repouso de cerca de oito dias. Devido a reclamações por parte dos clientes, baseadas na deficiente capacidade de vedação da rolha de cortiça cozida por este processo no engarrafamento, esta função inicial das autoclaves acabou por ser preterida a favor de tarefas directamente relacionadas com o trabalho realizado na oficina de produção de rolhas de champanhe. O desenho técnico da autoclave, da autoria de Telmo Trill Cals, apresenta o alçado principal da autoclave com a porta e volantes de segurança laterais. O sistema de roldanas e contrapeso, suspenso sobre o corpo paralelepipédico da autoclave, permitia elevar e baixar a porta, fazendo-se o acesso da matéria-prima ao seu interior por meio de uma vagoneta sobre carril. No interior da autoclave, uma peça em chapa cravada dispersava o vapor, de modo a que não incidisse directamente sobre a cortiça, permitindo o cozimento uniforme daquela matéria-prima. O controle de abertura e de fecho da circulação do vapor era efectuado manualmente pelo operário. Após a cozedura, fechava o circuito do vapor, abria a torneira de saída de resíduos condensados para o esgoto e, finalmente, a porta da autoclave. Na parte superior da autoclave existe um manómetro de pressão do vapor e uma válvula de segurança. Esta última abria sempre que a pressão do vapor era demasiado elevada, permitindo, por questões de segurança, a exaustão do vapor para a atmosfera. Não obstante um elevado grau de mecanização e de eficiência técnica do sector de transformação de cortiça, nas décadas de 1940 e 1950, na Fábrica Mundet (Seixal), o trabalho desenvolvido no sector de preparação da cortiça baseava-se ainda na destreza manual, na acuidade visual e no conhecimento especializado e saber-fazer dos operários corticeiros, desempenhando uma série de importantes operações, de difícil mecanização e Operário trabalhando com o sistema de ponte e diferencial com uma cadência própria. para introdução do fardo na caldeira. Fábrica Mundet (Seixal) © EMS/ CDI Foi essencialmente a tais características do trabalho daqueles corticeiros que se deveu o funcionamento da secção da prancha da Mundet (Seixal) em moldes praticamente inalterados, até ao encerramento, em 1989. [Fátima Afonso]


20.04.06

10:41

Page 15

MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

15

MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS «Por ocasião do 24.º aniversário do Ecomuseu Municipal do Seixal e pretendendo simbolicamente render homenagem de gratidão aos Amigos e Doadores [...]»

Amigos cujas memórias guardamos para o futuro Através desta rubrica (e como indica a sua denominação, de Memórias e Quotidianos), o nosso boletim trimestral tem-se dedicado à divulgação, directa ou indirectamente, de testemunhos considerados importantes do ponto de vista da nossa história local e de uma memória comum, ligada ao trabalho e ao lazer, às instituições, às comunidades e a alguns dos seus membros, nomeadamente em função do seu contributo para uma causa colectiva. Na origem e fornecendo fontes para a elaboração dos textos publicados desde 2000, foi concebido e tem sido desenvolvido um projecto de levantamento e recolha oral, principalmente associado ao inventário e estudo de património industrial, mas cujos contornos se têm simultaneamente definido em consonância com outros projectos de investigação e de documentação de património e de acervo do Ecomuseu. Infelizmente, à semelhança do que acontece com os bens materiais por vezes identificados e localizados, mas para que não são suficientes e eficazes as medidas de salvaguarda diagnosticadas, também sabemos que, ora por omissão nossa, ora por indisponibilidade dos pretendidos informantes, falhámos bastantes oportunidades de registar e documentar histórias e Emílio Rebelo, em convívio de aniversário do Ecomuseu. Emílio de experiências de vida com que Oliveira Rebelo era, entre alguns amigos e doadores mais assíduos nas acrescentaríamos o potencial suas visitas e participações na vida do Ecomuseu, um seixalense por identitário do património imaquem toda a equipa sentia um afecto especial. Um amigo que nos terial referente ao território. procurava e que acedia aos nossos convites com a familiaridade que Nalgumas casos, não deixatorna natural a partilha de momentos, para os tornar menos solitários ram porém de se proporcionar ou que acrescenta alegria ao convívio proporcionado por certos evencontactos com alguma regutos e datas comemorativas. © EMS/CDI - Rosa Reis , 1998 laridade e até laços de verdadeira afectividade com a equipa técnica do Ecomuseu, especialmente quando aquelas pessoas fazem parte da comunidade que habitualmente designamos por Amigos e Doadores. Por ocasião do 24.º aniversário do Ecomuseu Municipal do Seixal e pretendendo simbolicamente render homenagem de gratidão aos Amigos e Doadores que acompanharam o seu percurso e aos que continuarão a apoiar os projectos pre-

Músicos da Sociedade Filarmónica Democrática Timbre Seixalense, em frente à Casa da Infância da Mundet (década 1950). O músico à frente, à esquerda, era Emílio Rebelo.

ECOINFO_39_0_2006


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 16

16 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 MEMÓRIAS E QUOTIDIANOS sentes e futuros, reiteramos a importância que atribuímos à cerca de centena e meia de pessoas/entidades que ofereceram ou doaram objectos e contribuíram directamente para a constituição do acervo do Ecomuseu, a que acrescem cerca de perto de quatro centenas de informantes cujos testemunhos, devidamente tratados, foram igualmente incorporados como acervo documental. (V. em www.cm-seixal.pt/ecomuseu - Centro de Documentação - Edições on-line - Comunicações: “Amigos e Doadores do EMS: entre informalidade e compromisso institucional, relações dinâmicas e formas de participação centradas no património”, texto de comunicação apresentada no I Congresso dos Amigos dos Museus de Portugal, em Novembro de 2005.)

Orquestra Jazz Aranhas (1934 a 1953), da Sociedade Filarmónica Democrática Timbre Seixalense, numa festa de confraternização dos empregados da Mundet, nos respectivos Refeitórios, no Seixal. Músicos da esquerda para a direita, sentados à frente: Saxofone Tenor - José Gomes Oliveira; 1.º Saxofone Alto e Soprano Emílio Oliveira Rebelo; 3.º Saxofone Alto e Clarinete - Rafael Gonçalves; 2.º Trompete - Virgolino Silva; 1.º Trompete - José António Calqueiro; Trombone de Varas - João Coelho Tavares. Atrás, entre Emílio e Rafael, o Baterista - Adelino Feliciano Tavares; entre Rafael e Virgolino, o Souzafone - Mário Fabrício das Dores ; em pé, com maracas, Gastão Chitas Correia.

Emílio Rebelo foi um Amigo e Doador com que muitos de nós, no Ecomuseu, partilhámos inúmeras horas de convívio, tanto em encontros de carácter mais formal, em que participou assiduamente, como em momentos e ocasiões de iniciativa espontânea e que nos habituámos gostosamente a encontrar numa quase familiaridade. A convivialidade estabelecida nos diferentes momentos partilhados com Emílio Rebelo deu lugar e alimentou laços mútuos de amizade e de afecto, facilitados pelo seu gosto natural em comunicar, pela simplicidade com que valorizava a sua enorme experiência de vida, pela alegria com que partilhava o seu acervo de memória, principalmente nos domínios privilegiados nas suas conversas - a história do Seixal e da “sua” Timbre, a música, as marchas e a poesia populares e o trabalho e saber técnico ligado à actividade industrial, particularmente a corticeira, desde a experiência na Companhia de Agricultura de Portugal à na C.G. Wicander Lda. Emílio Rebelo manifestava um sincero apreço em relação ao trabalho do Ecomuseu, por vezes demonstrando-o por escrito, como na Marcha Canção que publicámos em 1999 (v. Ecomuseu Informação de Abril-Maio-Junho, p. 2). Lamentamos nunca se ter proporcionado o registo material de alguns dos seus testemunhos orais. E foi com mágoa que constatámos não ter retribuído a sua presença e dedicação, não tendo estado representados, por desconhecimento, no momento mais triste, o da despedida, embora saibamos que ele tinha a certeza de que continuaríamos a preservar, também em homenagem à sua vida, as memórias de outros quotidianos, que nos confiou, bem como a lembrança da sua alegria de viver e da sua confiança no futuro, mesmo quando inquieto pela solidão e pela irreversibilidade dos efeitos do tempo. [Graça Filipe]


20.04.06

10:41

Page 17

PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DO SEIXAL

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

17

PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DO SEIXAL «[...] é importante que se preservem e reabilitem, para novas utilizações, alguns espaços que transmitam a memória da função fabril [...]»

Edifícios da antiga Companhia de Lanifícios de Arrentela: história e memória da fábrica e do sítio industrial A Companhia de Lanifícios de Arrentela (CLA) constituiu-se em 1862, com fábrica localizada na Torre da Marinha, em sítio já anteriormente ocupado por actividades industriais, em função de um importante conjunto de factores favoráveis para tal, desde logo pela proximidade do rio Judeu e sua confluência com o Estuário do Tejo. Esta localização proporcionava, além de condições de acesso fluvial (e de circulação de matérias-primas e de produtos acabados), o aproveitamento das águas do rio Judeu e da energia das marés, atestada pelo Moinho da Rapoza e, supomos, do pisão que André Durrieu instalou em meados do século XIX, associado ao lavadouro de lãs. Em 1831, a propriedade e os equipamentos de André Durrieu foram adquiridos para a instalação da Real Fábrica de Mantas e Cobertores para o Exército, a qual abarcava todas as fases do processo de fabrico, desde a lavagem ao acabamento. Embora com um curto período de laboração, até 1835, aquela fábrica teve uma importância significativa quer pelo número de operários, cerca de 90, quer pela produção média anual de 8000 cobertores e mantas. A degradação dos equipamentos e a falta de lã justificaram, em parte, o encerramento da fábrica, a qual foi vendida por um preço insignificante a João Rodrigues Blanco. Este, em 1848, instalou no local uma fábrica de estamparia de algodões. A importância da fábrica de lanifícios que deu trabalho a sucessivas gerações de trabalhadores e que, para além de marcar a economia local, ganhou uma projecção nacional, ainda hoje reconhecida na memória de muitas pessoas, inicia-se com a constituição de uma parceria mercantil em 1855, antes do estabelecimento da Companhia de Lanifícios de Arrentela, S.A.R.L. em 1862. Introduziram-se alterações significativas no espaço edificado e adquiram-se diversas máquinas, incluindo uma máquina a vapor, conforme era relatado no Archivo Pittoresco, vol. V, p. 167: “Tem esta fábrica uma excelente machina a vapor de força de 48 cavallos, que trabalha continuamente com toda a sua força. É obra da Officina Nacional do sr. Collares e a primeira que se fez em Portugal. Tem mais 6 machinas de fiação, com 1560 fusos, 32 teares mechanicos, além de teares manuaes, diversas máquinas de lavar, cardar, urdir, lustrar, e outras para tinturaria, todas aperfeiçoadas”. Reconhecida pela qualidade e variedade dos produtos fabricados, a fábrica participou, entre outras, na Exposição Industrial do Porto, merecendo a atribuição das medalhas de prata (1861) e de ouro (1897) e na Exposição Industrial de Belém, onde foi distinguida com uma medalha de mérito e

Oficina de acabamento de fazendas da CLA © EMS/CDI - Armindo Cardoso, 1997.

ECOINFO_39_0_2006


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 18

18 ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006 PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DO SEIXAL assim foi citada no respectivo catálogo [SOUSA, A.E.; CAVALEIRO, F. - A Exposição Industrial de Belém em 1893, Lucas & Filho, ed., Lisboa, 1894, pp. X-XI.]: “Esta companhia, verdadeira potência fabril, tendo as suas officinas montadas perfeitamente com todos os apparelhos e instrumentos de trabalho mais aperfeiçoados, pelas excepcionaes condições económicas em que se encontra, quanto à facilidade e custo dos transportes, tem podido tomar uma importancia consideravel como principal fabrica de lanifícios, que realmente é, de Portugal”.

1 2 8 6 7 9

11

3 5

4 10

1

Casa do Peso da Lã*

7

Oficinas de Acabamento de Fazendas - 1897

2

Armazém e Lavagem de Lã - 1903

8

Oficinas de Apoio*

3

Oficinas de Cardação

9

Casa da Direcção* - 1862

4

Oficinas de Fiação

10

Cooperativa de Consumo*

5

Oficinas de Tecelagem

11

Habitações

6

Tinturaria* - 1903

*Edifícios demolidos na década de 90 do século XX

A importância económica da fábrica repercutiu-se notoriamente na comunidade, pois proporcionava trabalho a 500 famílias oriundas das principais áreas industriais do ramo têxtil, como a Covilhã, Tortozendo e Gouveia e do concelho do Seixal, nomeadamente da freguesia de Arrentela. Inserida em meio rural, com indícios já então visíveis de alguma industrialização, a fábrica de lanifícios, muita intensiva em mão-de-obra beneficiou da quantidade de mão-de-obra local e da especialização técnica de operários provenientes da Beira Interior. Além deste factor e da sua localização geográfica, dada a proximidade com a região de Lisboa, que lhe assegurou a acessibilidade aos mercados de matérias-primas e de produtos, a fábrica beneficiou, como começámos por sublinhar quanto às características do sítio, em relação ao rio Judeu e ao esteiro do Tejo, de uma boa via de circulação e da abundância de água para o processo de fabrico. A fábrica da CLA funcionou até ao século XX, sendo desactivada no final da década de 80. No início dos anos 90 foi sujeita a desmantelamento, procedendo-se, sem a possibilidade de qualquer registo ou documentação, à alienação da sua maquinaria e equipamentos, processo a que não foram poupados a maioria dos imóveis e oficinas, não obstante o seu elevado interesse histórico, tecnológico e cultural. O conjunto edificado da CLA organizava-se, numa planta rectangular, segun-


ECOINFO_39_0_2006

20.04.06

10:41

Page 19

PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DO SEIXAL

ECOMUSEU INFORMAÇÃO . n.º 39 ABR.MAI.JUN. 2006

19

do uma lógica funcional de organização inerente à sequência das fases de fabrico. Os edifícios destacavam-se pela sua dimensão e estrutura arquitectónica rectilínea, com fachadas rasgadas por um grande número de vãos. O remate a tijolo burro, decorando janelas e portas, assim como a articulação do emprego do ferro, betão e tijolo, contribuíam para uma notável singularidade arquitectónica do conjunto e para a sua riqueza plástica. Apesar da destruição do sítio, tais características restam ainda visíveis em alguns edifícios, como o do armazenamento e lavagem de lãs, a grande oficina (cardação, fiação e tecelagem) e o edifício do acabamento de fazendas. Este conjunto de edifícios que chegaram até nós são, em parte, reveladores dos períodos áureos de funcionamento da fábrica no plano da sua edificação e no da renovação tecnológica. O edifício destinado ao armazenamento e lavagem de lãs, de dois pisos, em ferro e tijolo, foi construído em 1904, à semelhança de outros edifícios estruturantes, demolidos em 1997, como foi o caso da tinturaria. Encontrava-se articulado com a Casa do Peso da Lã (igualmente destruída em 1997), situada nas proximidades do portinho/cais que serviu a fábrica, através de uma via-férrea que transportava a lã desde esse cais até este edifício. A grande oficina corresponde ao edifício que actualmente conhecemos e que ocasionalmente acolhe feiras e exposições. À data da constituição da CLA teria dimensões mais reduzidas, tendo a oficina sido ampliada em 1905, em cerca de 15 metros, em relação ao edifício mais antigo que ainda conserva as paredes em alvenaria e as janelas circulares rasgadas na parede. A função de acabamento de fazendas ou ultimação é referenciada no Relatório de Gerência de 1897, a partir do qual se infere que o edifício onde estavam instaladas as funções de acabamento foi demolido em 1897 e substituído por um novo edifício, inteiramente isolado, de dois pisos, construído em alvenaria, ferro e tijolo, que corresponde ao actual edifício em forma de U. Além dos edifícios com uma função industrial, mereciam destaque e ilustravam o contexto social da fábrica o conjunto de habitações para operários localizado junto à estrada, entre a rotunda da Torre da Marinha e a que dá acesso ao Seixal e, no espaço adjacente, a Cooperativa de Consumo dos Trabalhadores da Fábrica criada em 1916, a qual foi demolida nos anos 90 do século XX. Restam as habitações, em mau estado de conservação. Alguns dos edifícios e pequenas oficinas de apoio relevantes para a compreensão do conjunto patrimonial foram demolidos no final dos anos 90, de onde se destaca a perda da tinturaria, datada do início do século XX, da casa das caldeiras e da máquina a vapor e da Casa da Direcção, que no início da constituição da CLA concentrou algumas fases do processo de fabrico, além da função residencial para técnicos especializados oriundos da Beira Interior. O processo de estudo e de inventário do conjunto patrimonial, apesar de iniciado antes da destruição destes imóveis, foi altamente prejudicado por esta. Conquanto se tenha procedido ao levantamento funcional dos espaços, o registo fotográfico e a recolha oral, é relativamente reduzido o acervo do EMS proveniente da antiga fábrica, sobretudo se comparado com a importância da fábrica e da indústria de lanifícios no território e a nível nacional. Com o objectivo de divulgação da informação que temos recolhido, com a participação da comunidade e da investigação em curso sobre o sítio e a fábrica da CLA, é importante que se preservem e reabilitem, para novas utilizações, alguns espaços que transmitam a memória da função fabril de outrora, indo ao encontro da sensibilidade do público, manifestada em eventos ali decorridos, nomeadamente durante as Festas Populares de Arrentela, tais como a exposição Arrentela x Património, programada pelo Ecomuseu e integrando a demonstração do funcionamento de um tear mecânico [dado também a conhecer através do Ecomuseu Informação, n.º 34 (Jan.Fev.Março 2005), pp 13-15] . [Fátima Veríssimo]


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.