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˙n.º 42˙JANEIRO.FEVEREIRO.MARÇO Boletim trimestral do Ecomuseu Municipal do Seixal
ecomuseu informação
Ateliê Descobertas matemáticas na Mundet
Conservação em estaleiro, da embarcação Baía do Seixal
© EMS/CDI – João Martins, 2006
© EMS/CDI – João Martins, 2006
Programa de Iniciativas de Serviço Educativo Consulte as páginas 5 a 8 Inscreva-se através da ficha em anexo, preenchendo-a e enviando-a ao EMS ou consulte a página de Serviço Educativo em www.cm-seixal.pt/ecomuseu e inscreva-se pela Internet.
Nova edição – Apresentação pública no Núcleo da Mundet do EMS – Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox, 28 de Março, Dia Nacional dos Centros Históricos, às 15h
No Núcleo Naval do EMS, visite, a partir de Fevereiro Ciclo de mostras fotográficas sobre património marítimo do Estuário do Tejo, complementando aspectos e temáticas da exposição de longa duração. Consulte as páginas 2-3 e a página de Exposições em www.cm-seixal.pt/ecomuseu
Dossiê Didáctico n.º 4 Núcleos Urbanos Antigos: Amora, Arrentela e Seixal – Materiais Didácticos no Âmbito da Educação Patrimonial
˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙n.º 42˙JAN.FEV.MAR
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ÍNDICE 14˙15˙16˙17 3˙4
exposições 5˙6˙7˙8
Programa de Iniciativas dE Serviço Educativo 9˙10
11˙12˙13
Conhecer A Colecção de Desenhos Técnicos do Fundo Mundet Fátima Afonso e Fernanda Ferreira
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO . Fernanda Ferreira
CARTA do Património do Concelho do seixal O Coreto da Sociedade Filarmónica Operária Amorense – 100 Anos de tradição musical . Fátima Afonso 18˙19
agenda 20
Núcleos e serviços
EDITORIAL Em 2007, comemorar e reflectir sobre os 25 anos do Ecomuseu Tomando parte de uma responsabilidade colectiva pela salvaguarda e a valorização do património cultural das comunidades e dos povos, aos museus competem principalmente a investigação, a incorporação, a conservação, a exposição, a comunicação e a educação. Não obstante a mudança constante a que estão sujeitas as instituições museais e o facto de as suas actividades se encontrarem extremamente vulneráveis à globalização e a factores económicos, são aquelas competências específicas, centradas nos acervos e num património comum, universal, que sustentam o papel social dos museus.
As exposições e iniciativas de educação museal e patrimonial que preenchem o primeiro trimestre de 2007 dão continuidade aos propósitos de estreitar diálogos com públicos e utilizadores do Ecomuseu, alargar a comunicação com novos públicos e consolidar relações e projectos em parceria.
No âmbito local, enquanto o museu é reflexo do território e da sociedade, particularmente nos casos em que os museus têm uma dimensão territorial, o diálogo com os públicos e o compromisso de interagir com as comunidades estão associados a processos de patrimonialização, exigindo às tutelas e às equipas técnicas uma grande sensibilidade à mudança, bem como um esforço de interpretação e de selecção dos recursos culturais e patrimoniais. Uma tal política valoriza a investigação multidisciplinar, centrada no território e no seu património, de forma a fazer convergir as diversas vertentes do desenvolvimento local, incluindo a transmissão de memórias e a salvaguarda de espaços e de referências identitárias.
Na sua acção educativa e de mediação do património, além destes núcleos museológicos, continuarão a ser valorizados os centros históricos, chamados Núcleos Urbanos Antigos, do Seixal e de Arrentela. A estes será dedicada a 4.ª edição dos Dossiês Didácticos do Ecomuseu, correspondendo à publicação de trabalhos elaborados em contexto de formação de professores, portanto resultado de parceria com o nosso Serviço Educativo.
No caso do Ecomuseu Municipal do Seixal, o trabalho de investigação é da maior importância para a valorização de um acervo que ganhou uma dimensão assinalável, reflectindo rápidos processos de patrimonialização, num território em mudança e face a um ritmo de incorporação de bens e de colecções a que não foi ainda possível fazer corresponder todos os meios técnicos, materiais e humanos necessários à sua gestão. Assim, continuaremos a procurar formas sustentáveis de valorização deste património, para o que urge simultaneamente diversificar os meios de apropriação e um maior envolvimento das comunidades na sua conservação e fruição.
O património técnico e industrial – tendo especial destaque a temática corticeira –, assim como a cultura e o património fluvial e marítimo constituem focos de divulgação e de difusão, no que toca às exposições de longa duração e temporárias, no Núcleo da Mundet e no Núcleo Naval.
Confirmando-se os esperados benefícios da renovação de instalações de serviços museológicos centrais, nomeadamente no caso do Centro de Documentação e Informação, sublinhamos a qualificação permanente da oferta prestada aos leitores e utilizadores externos, para o que continuará a contribuir a respectiva rubrica neste boletim e o acesso a recursos de informação em linha. Conscientes do trabalho exigido pelo desafio inerente à vocação territorial do Ecomuseu e à diversidade do património a gerir, preparemos ainda e divulgaremos a partir do início de 2007 de um conjunto de novas actividades com que se assinalarão os 25 anos de vida do museu municipal, aproveitando para ampliar a reflexão sobre os problemas actuais e as perspectivas de futuro. Graça Filipe
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EXPOSIÇÕES
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˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙
Para mais informações sobre Exposições e Notícias, consulte o site www.cm-seixal/ecomuseu
Núcleo da MUNDET do EMS Exposições temporárias Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox Até Março
A indústria corticeira na actualidade Exposição que conta com o apoio de dezenas de empresas e de pessoas ligadas ao
Sobreiro da Herdade de Leitões e Montalvo (Montargil), transplantado em 19 de Agosto de 1957 por Joaquim Vieira Natividade, proveniente de uma lande da Serra de Grândola © Carlos Carrasco, 2000
A partir de Março
Joaquim Vieira Natividade, uma vida com a cortiça (1899-1968)
sector corticeiro, permitindo-nos reunir amostras e objectos que ilustram a importância e a multiplicidade de produtos e de aplicações de cortiça, numa indústria em que nada se perde, tudo se transforma, evidenciando o papel da investigação e da inovação tecnológica que lhes estão ligadas.
Evocando e homenageando aquele que pode ser considerado o fundador da subericultura científica, esta exposição tem por principal objectivo proporcionar um conhecimento geral das três décadas de labor de Joaquim Vieira Natividade e do seu incontornável legado na área do sobreiro e da cortiça. A ligação de Joaquim Vieira Natividade à tematica suberícola, enquanto engenheiro agrónomo e engenheiro silvicultor, a par de outras actividades da sua multifacetada personalidade, surgiu em 1930, quando passou a dirigir a Estação Experimental do Sobreiro e do Eucalipto, então criada, com sede em Alcobaça, sua terra natal, encabeçando o primeiro grupo de investigação em Portugal nesta área. A sua obra Subericultura (1950) continua a ser uma referência nacional e internacional obrigatória, para todos os que se interessam pelo estudo do sobreiro e da cortiça, tendo sido traduzida para várias línguas.
mentava as caldeiras e estufas da fábrica (e ainda equipamentos de apoio aos trabalhadores, como as estufas dos Refeitórios), descrevem-se os equipamentos ligados à produção da energia térmica fundamental, quer para o cozimento da cortiça, quer para operações subsequentes da sua transformação.
Exposição A cortiça na fábrica: a preparação © EMS/CDI – Luis Martins, 2006
Exposição de longa duração
Quem diz cortiça diz Mundet, quem diz Mundet diz cortiça Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox A produção de vapor para a fábrica No espaço onde se produzia e a partir do qual era distribuído todo o vapor que ali-
Edifício das Caldeiras de Cozer Cortiça A cortiça na fábrica: a preparação Na antiga secção de prancha da Mundet, numa das oficinas equipadas e destinadas a cozer cortiça – outrora as Caldeiras dos Moços –, o espaço e o património industrial aí conservado são interpretados e relacionados com o funcionamento das outras secções, permitindo ao visitante, não só compreender a sua função, como também conhecer os principais procedimentos de preparação industrial da cortiça, enquanto matéria-prima.
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Núcleo NAVAL do EMS Exposição temporária De Fevereiro a Abril
Conservar para Navegar Em 2007, uma das novidades na programação deste núcleo museológico do EMS será a apresentação, no espaço da Oficina, de um ciclo de mostras fotográficas sobre património marítimo do Estuário do Tejo, de curta duração, tendo por objectivo geral divulgar, sob diferentes perspectivas, um património ainda subvalorizado: das actividades das embarcações tradicionais, às festividades locais e à vida dos marítimos e das comunidades ribeirinhas. A primeira mostra fotográfica que estará patente na Oficina do Núcleo Naval tem como temática as obras de conservação e de manutenção de uma das embarcações
Exposição de longa duração
Barcos, memórias do Tejo Exposição dedicada à cultura e ao património marítimo do Estuário do Tejo, através do estaque às embarcações tradicionais, de que apresenta uma das melhores colecções de modelos dos principais tipos de barcos de cabotagem e de pesca da região. Integra uma sonorização original com música de Miguel Azguime e diversos recursos multimédia. A memória do lugar é representada, tridimensionalmente, através de um diorama
Trabalhos de conservação em estaleiro, da embarcação Baía do Seixal © EMS/CDI – João Martins, 2006
do EMS - o bote-de-fragata Baía do Seixal – realizadas no Estaleiro de Sarilhos Pequenos, no concelho da Moita.
de interpretação do antigo estaleiro naval artesanal, exemplificando a actividade que tinha entre os anos 50 e os anos 70 do século XX. A partir da visita ao Núcleo Naval do EMS, espera-se que o visitante prolongue a sua atenção pelos inúmeros testemunhos duma cultura fluvial e marítima que marcam ainda a paisagem e algumas subsistências de pessoas ligadas ao meio, no Seixal e noutros concelhos ribeirinhos, tardando em ser objecto de uma verdadeira política de salvaguarda, que potencie tais recursos no desenvolvimento regional.
EM CIRCULAÇÃO PELA EUROPA
MOINHOS DE MARÉ DO OCIDENTE EUROPEU
apoiado pelo Programa Cultura 2000 da Comissão Europeia, em que colaboraram diversos investigadores e instituições, encontra-se desde o passado dia 14 de Novembro (2006), no House Mill, Three Mill Lane, em Londres, acolhida pelo River Lea Tidal Mill Trust. Esta exposição retrata a história dos moinhos de maré europeus e encontra-se em digressão pela Europa desde Outubro de 2005, tendo recebido já mais de 8000 visitantes. No seu percurso no Reino Unido, já visitou o Hampshire, o Essex e o País de Gales, cumprindo mais uma etapa do seu périplo com a passagem pelo House Mill, nas proximidades do futuro Parque Olímpico a construir para os Jogos de 2012.
A exposição itinerante Moinhos de Maré do Ocidente Europeu, produzida pelo Ecomuseu Municipal do Seixal no âmbito de um projecto
Mais informações disponíveis sobre a exposição e o projecto que a enquadra no site www.moinhosdemare-europa.org.
© The River Lea Tidal Mill Trust, 2004
Exposição itinerante
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CDI
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Centro de Documentação e Informação
O CDI gere uma importante e significativa colecção de documentos fotográficos, testemunho único das actividades desenvolvidas pelo EMS, desde 1982, e que constitui um recurso incontornável para o estudo da história e do património local, material e imaterial, particularmente no que se refere ao período contemporâneo.
Para além dos múltiplos aspectos relacionados com a gestão e actividade do EMS – documentação de acervo, actividades de educação patrimonial no âmbito do Programa de Iniciativas do Serviço Educativo, centradas nas colecções e de animação dos espaços museológicos, exposições e outros eventos promovidos pelo Ecomuseu –, os documentos fotográficos que disponibilizamos para consulta e cedência aos nossos utilizadores abarcam a memória colectiva no que concerne o património arqueológico, arquitectónico, industrial, flúvio-marítimo, cultural e natural, passando Depósito do CDI pelas principais actividades tradicionais do Con© EMS/CDI – António Silva, 2006 celho, parte das quais hoje extintas, nomeadamente a pesca, a construção e reparação navais, a moagem, o comércio tradicional e algumas indústrias, como sejam, a corticeira, a siderúrgica, entre outras. Deste património documental fotográfico também faz parte um importante levantamento do património imóvel e da paisagem construída do Concelho, com particular destaque para os Núcleos Urbanos Antigos de Arrentela, do Seixal, de Amora e de Aldeia de Paio Pires. Esta colecção é disponibilizada aos utilizadores, embora com acesso condicionado. A sua integração na base de gestão de imagem em utilização no CDI, futuramente disponibilizada através da Internet, possibilitam aos utilizadores uma maior rapidez e facilidade no acesso, utilização e reprodução destes documentos fotográficos, tanto aqueles cujo suporte original é o analógico e que foram objecto de digitalização, como aquelas imagens cujo suporte original é já o digital. Paralelamente e em acompanhamento de medidas de conservação preventiva no que diz respeito ao acervo do EMS, tem sido também preocupação deste promover o desenvolvimento de projectos no âmbito da transferência de informação de objectos incorporados no acervo museológico para suportes alternativos, preservando, por um lado, os documentos originais e, por outro lado, facilitando o acesso à informação contida nesses mesmos suportes originais, através da consulta e de pesquisa de imagens no CDI. Estes projectos têm sido apoiados com recurso a diversas acções do Programa de Apoio à Qualificação de Museus da Rede Portuguesa de Museus (RPM) e, mais recentemente, com o projecto do EMS apoiado pelo Programa Operacional da Cultura – Medida 2.2 Utilização das novas tecnologias de informação para acesso à cultura / Acção 1 Inventariação e Digitalização do Património Imóvel e Móvel e sua divulgação, intitulado Inventário museológico e digitalização de colecções fotográficas e divulgação de acervo móvel e imóvel do EMS. Destacamos os conjuntos documentais pertencentes ao Fundo Mundet – o conjunto dos negativos de vidro, o conjunto de desenhos de aplicações de cortiça Jointite (ver Ecomuseu Informação, n.º 35, 2005) e parte do conjunto de desenhos produzidos pelos Serviços Técnicos da empresa Mundet & C.ª Lda, divulgado na presente edição, na rubrica Conhecer. Desta forma, e prosseguindo o objectivo de divulgar nesta rubrica edições incorporadas nas colecções documentais do CDI, neste trimestre propomos os nossos leitores e utilizadores, reportada ao conteúdo da rubrica Conhecer, a divulgação de edições relacionadas com a temática da cortiça, com particular destaque para aquelas editadas pelo EMS.
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Edições em destaque
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GIL, Luís Manuel da Costa Cabral e - Cortiça: da produção à aplicação. Seixal: Câmara Municipal do Seixal, Ecomuseu Municipal, 2005. 143 p. ISBN 972-8740-14-X. Edição da Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal que procura iniciar o leitor no universo da temática da cortiça. O autor faz uma breve descrição da utilização deste material desde a Antiguidade, abordando posteriormente a produção e exploração florestal desta matéria-prima em Portugal e noutros países, passando pelas diversas fases da sua transformação industrial em diferentes produtos e suas aplicações, finalizando este capítulo com uma análise do sector corticeiro. Por último, o autor aborda as questões da investigação no campo científico e perspectivas futuras na utilização deste material. Destaca-se nesta edição a utilização de imagens pertencentes ao Fundo Mundet & C.ª Lda., incorporado no acervo do EMS.
ALVARADO I COSTA, Joaquim – Industrials i tapers: del segle XVIII al XX. Girona : Ajuntament de Cassà de la Selva, 2005.
MUSEU DA CORTIÇA DA FÁBRICA DO INGLÊS – Museu da
Estruturada em sete capítulos e anexos, a obra inicia-
cortiça da fábrica do inglês: exposição permanente: estudos:
-se com uma resenha histórica sobre o desenvolvimento
catálogo. Silves : Fábrica do Inglês, S.A., 1999.
da indústria corticeira na Catalunha, e mais especifica-
A publicação encontra-se organizada em duas partes.
mente em Cassà de la Selva, entre 1750-1939. Nos capí-
Numa primeira parte são reunidos textos de diversos au-
tulos finais, o autor inclui uma apresentação da história
tores sobre Silves, a indústria corticeira em Silves, e em
de algumas empresas daquela região, dedicadas à acti-
particular sobre a empresa Avern, Sons & Barris e sobre
vidade industrial corticeira.
a sua posterior reabilitação e transformação no Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês. Inclui ainda um texto so-
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL “CORTIÇA, PATRIMÓNIO
bre os trabalhadores algarvios na empresa Mundet & C.ª
INDUSTRIAL E MUSEOLOGIA”, Seixal, 2000 - Cortiça, pa-
Lda. e uma breve cronologia da Fábrica do Inglês.
trimónio industrial e museologia [Documento electrónico].
A segunda parte é constituída pelo catálogo da exposição
Multimédia. Seixal : Câmara Municipal do Seixal, Ecomu-
permanente do Museu, no qual são apresentados os tex-
seu Municipal, 2003. 1 disco (CD-ROM).
tos e objectos exibidos na referida exposição.
Actas da Conferência Internacional sobre Cortiça, Património Industrial e Museologia que reúne as comuni-
NATIVIDADE, J. Vieira - Colectânea dos artigos publicados
cações apresentadas nesta Conferência organizadas de
no boletim da Junta Nacional da Cortiça: 1938-1960. [Lisboa]:
acordo com as seguintes temáticas – História e cultura
Instituto Florestal, 1993.
da cortiça; Produção, indústria e comércio da cortiça,
A publicação junta todos os artigos publicados por J. Viei-
Museologia e património industrial da cortiça.
ra Natividade no Boletim da Junta Nacional de Cortiça, dedicados ao tema dos sobreiros, montados e da subericultura, principalmente em contexto nacional. Inclui também um editorial publicado no mesmo Boletim, da autoria de J. Brito dos Santos, em 1968, em homenagem a Vieira Natividade e uma bibliografia da obra de J. Vieira Natividade dedicada à subericultura. NATIVIDADE, J. Vieira - Subericultura. Lisboa : Ministério da Economia, Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, 1950. Nesta obra que tem permanecido, desde a sua publicação, como texto de referência para todos os investigadores nesta área, J. Vieira Natividade introduz os leitores no panorama suberícola dos diferentes países da Europa Mediterrânica e do Norte de África, fazendo uma pequena abordagem a outros países. Apresenta em seguida o
FORTES, Manuel Amaral ; ROSA, Maria Emília ; PEREI-
sobreiro e a cortiça e as suas respectivas características.
RA, Helena - A cortiça. Lisboa : IST Press, cop. 2004.
Termina com alguns capítulos referentes à produção e
Obra dedicada inteiramente à cortiça e aos conhecimen-
exploração dos sobreiros, nomeadamente sobre a sua
tos científicos existentes sobre este material. São incluí-
criação, a poda, o descortiçamento, as suas doenças e
dos capítulos sobre a formação da cortiça no sobreiro,
pragas e, finalmente, os produtos que deles se podem
sobre a química da cortiça e sobre a sua estrutura ce-
aproveitar – a cortiça, a lande, a madeira, entre outros. A
lular. Uma grande parte do livro é dedicada às proprie-
obra inclui também um resumo da legislação portuguesa
dades da cortiça, e em particular as suas propriedades
de protecção ao sobreiro actualizada à data da sua pu-
mecânicas. O livro contém ainda capítulos sobre a in-
blicação.
dústria corticeira e sobre os seus principais produtos, com algum destaque para as rolhas de cortiça natural.
Fernanda Ferreira
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Planta geral da Mundet (Seixal). © Acervo do EMS/Fundo Mundet
CONHECER
A par da incorporação de colecções técnicas e industriais e da musealização do sítio industrial da Mundet, o EMS tem por objectivo a organização e a disponibilização de fundos documentais reportados ao universo da cortiça. Entre a documentação do fundo documental Mundet, destacamos um conjunto de cerca de 7000 desenhos e plantas dos Serviços Técnicos da empresa, existindo desenhos de quase todos os edifícios da fábrica Mundet (Seixal), bem como desenhos de produtos, de máquinas e de outros equipamentos de produção, que eram produzidos nas oficinas de apoio da própria fábrica. A colecção assume uma importância relevante, quer para o estudo do sítio industrial e da sua história, quer para o estudo, a interpretação e a contextualização de outras colecções e património, como sejam dos espaços fabris ou das máquinas e equipamentos incorporados no acervo do EMS, quer ainda para estudos de carácter técnico/tecnológico sobre a indústria corticeira.
A colecção de desenhos técnicos do fundo Mundet Organizados no final da década de 1930 e instalados no bloco de edifícios consagrado às oficinas de apoio à produção industrial corticeira – carpintaria, serralharia e forja, oficinas de electricistas, de latoeiros, de pintores e de correeiros, até então dispersos por vários espaços na fábrica, com as quais estavam obviamente relacionados –, os Serviços Técnicos da Mundet e sala de desenho constituíram uma equipa projectista. Esta era especializada em solucionar as questões técnico-funcionais e industriais da empresa, compreendendo para tal uma forte articulação e complementaridade profissional entre o engenheiro, o mestre de construção civil e o desenhador – cruzando conhecimentos nas áreas de materiais de construção e da mecânica aplicada, da topografia, da arquitectura, entre outras – a nível da concepção e projecto, da adaptação ou da am-
pliação de edifícios industriais, na introdução de novas máquinas, tecnologias e infra-estruturas energéticas. À constituição de uma equipa técnica projectista e à criação, instalação e organização destes serviços na fábrica não terá sido alheia a aquisição que a Mundet & C.ª, Lda. fez, a partir de meados dos anos 30 do século XX, de grandes parcelas de terreno que confinavam com a fábrica da Mundet (Seixal), propícias quer a uma desejada ampliação da área fabril (fenómeno que sucedeu, quase simultaneamente, à ampliação das fábricas Mundet em Amora e Montijo), quer à edificação de instalações destinadas aos serviços sociais e actividades desportivas de apoio aos seus trabalhadores. No bloco de edifícios destinado aos Serviços Técnicos da Mundet e às oficinas de apoio da fábri-
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Desenho de máquina de cortar rolhas e quadros © Acervo do EMS/Fundo Mundet
Assim, os Serviços Técnicos da Mundet tiveram de refazer a numeração utilizada anteriormente pela empresa, resultando daí a identificação numérica dos diferentes espaços da fábrica utilizada pela empresa até à sua desactivação, em 1989. Esta mesma numeração foi adoptada pelo EMS, a partir de 1997, para identificar as diferentes oficinas, armazéns, depósitos, serviços sociais e desportivos, entre outros espaços da fábrica, no âmbito do programa e metodologia do projecto de inventário e estudo do património industrial da Mundet. Esta colecção de desenhos reporta-se a diferentes fases de implantação e de reorganização das fábricas Mundet (Amora, Ponte de Sor, Mora e Montijo), com maior incidência no que se refere à Mundet (Seixal).
Desenho de máquina de fazer rolhas a esmoril © Acervo do EMS/Fundo Mundet
ca foi recolhido, entre outra documentação, um importante e volumoso conjunto de desenhos técnicos, produzidos desde a criação daqueles serviços (os finais da década de 1930) até aos anos oitenta, integrando, quer desenhos reportados às fábricas Mundet (Seixal, Amora, Ponte de Sor, Mora e Montijo), quer uma interessante colecção de desenhos de aplicação de aglomerado de cortiça – marca Jointite – para revestimento isolante e decorativo de interiores [ver Ecomuseu Informação n.º 35, de 2005].
Dada a considerável ampliação da área edificada da fábrica, tornou-se necessário organizar os registos e actualizar a identificação dos imóveis.
Nos desenhos da fábrica Mundet (Seixal) figuram a maioria dos edifícios, assinalando sobretudo a implantação de equipamento nas oficinas e noutros espaços de produção, representados por pisos e, por vezes, associada às perspectivas em corte ou em alçado, facilitando a compreensão sobre a implantação do equipamento técnico-funcional naqueles espaços. Os dados rigorosos registados, tanto a nível arquitectónico como técnico, elucidam ainda quanto à circulação interna das matérias-primas e dos produtos, ao longo da sua transformação, até ao acabamento. Podemos considerar que não houve, por parte dos Serviços Técnicos, a intenção de realizar um levantamento arquitectónico actualizado e completo, dado que esta documentação era utilizada pela equipa técnica projectista como instrumento de trabalho, sendo a sua função utilitária definida pelas obrigações legais a cumprir pela empresa (as empresas estavam obrigadas a apresentar às entidades competentes os pedidos de autorização de obra de construção ou ampliação de edifício industrial, de introdução ou regularização de máquinas e de outros equipamentos industriais, acompanhados por desenhos e memórias descritivas). Por este motivo, muitos dos conjuntos de desenhos de obra são “lacunares” (com excepção para o caso dos projectos de construção de raiz), dado que apenas representam graficamente o sítio exacto onde a empresa pretendia alterar ou ampliar um edifício fabril (oficina, telheiro ou armazém), ou introduzir uma nova máquina ou outro equipamento produtivo, desenhando-se apenas as peças necessárias e realizando-se as perspectivas indispensáveis à sua apreciação pelas entidades competentes. Num período de cerca de 50 anos de funcionamento daquele serviço, foram realizados desenhos de
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A Colecção de Desenhos Técnicos do Fundo Mundet
Desenho de caldeira de pressão © Acervo do EMS/Fundo Mundet
localização topográfica, de edifícios e de conjuntos edificados, de pormenor (máquinas corticeiras e peças para adaptar aos maquinismos, a fim de melhorar o desempenho das suas funções específicas, equipamentos técnico-funcionais e instrumentos, entre outros), de instalações e de circuitos de vapor, de água, de ar comprimido, de electricidade, de aspiração de pó, e escoamento de efluentes da fábrica, entre outros desenhos, organizados e acondicionados em conjunto, consoante o tema e o imóvel, em rolos numerados. Foi utilizado, pelos desenhadores dos Serviços Técnicos da firma, entre 1937 e 1951, o livro de Registo de desenhos da fábrica do Seixal, onde registavam os projectos desenhos, atribuindo um número identificativo a cada peça desenhada. Grande parte do conjunto de desenhos técnicos apresenta anotações manuscritas e esquissos grosseiramente rabiscados a lápis de carvão ou de cor, vermelho, sobre fotocópias heliográficas, assinalando o que se pretendia instalar ou alterar, salvaguardando desta forma os desenhos originais aguarelados, em tela ou papel vegetal. Importa salientar que o desenho técnico de instalação de equipamento industrial e ligações funcionais na fábrica, desenhos que implicavam conhecimentos sobre mecânica e tecnologia aplicada a esta indústria, entre os anos finais da década de 30 e os anos 60 do século XX, foram da autoria e responsabilidade do técnico de engenharia Telmo Trill, possivelmente ligado aos construtores de máquinas para a indústria corticeira – Talleres Trill – empresa de origem catalã. Admitido na Mundet em 1936, o Eng.º Trill tor-
nou-se um dos principais técnicos responsáveis pelas inovações tecnológicas na fábrica. No que se refere à construção civil de edifícios industriais ou de âmbito social, sobretudo das décadas de 1930 a 1940, os projectos foram da responsabilidade de desenhadores da Mundet, entre os quais destacamos Luís d’Almeida e Hermínio Lopes Castilho (desenhadores admitidos na empresa em 1938). Mais tarde, integrou a equipa o desenhador Guilherme de Almeida, entre outros técnicos que trabalharam nos Serviços Técnicos. Desde logo, os desenhos técnicos que fazem parte do arquivo da empresa constituem uma das principais fontes de informação, quer para o inventário e estudo de património daquele sítio industrial, quer para a história empresarial da Mundet, recorrendo-se, como forma de validar os dados apurados na análise dos desenhos, ao seu cruzamento com fontes escritas e iconográficas, não só do arquivo empresarial, como de arquivos oficiais, e ainda com a informação proveniente do levantamento oral que se tem vindo a realizar, sobretudo junto de antigos trabalhadores. Os fundos documentais, salvaguardados nas reservas museológicas do EMS, estão a ser objecto de inventário desenvolvido, em suporte digital, passando a integrar a base geral de inventário segundo o sistema de documentação do EMS, prevendo-se, no futuro, a sua progressiva mas total disponibilidade aos diversos públicos interessados nas temáticas da indústria e, em especial, da indústria corticeira. Fátima Afonso e Fernanda Ferreira
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CARTA DO PATRIMÓNIO DO CONCELHO DO SEIXAL Base do balaústre do guarda-corpo do palanque, representando três
espigas de trigo – © EMS/CDI – Francisco Silva, 1996
O Coreto da Sociedade Filarmónica Operária Amorense – 100 anos de tradição musical Património arquitectónico a preservar Construídos em praças, largos ou jardins, os coretos marcaram a paisagem urbana, assumindo um carácter emblemático para as sociedades filarmónicas e contribuindo para a identidade cultural das comunidades locais. O coreto da Sociedade Filarmónica Operária Amorense (SFOA), na freguesia de Amora, e o coreto da Sociedade Musical 5 de Outubro, na freguesia de Aldeia de Paio Pires, integram a Carta do Património do Concelho do Seixal (correspondendo, em termos de inventário, respectivamente, às fichas CPS.00053 e CPS.00054). Dado o seu interesse histórico e cultural, estes elementos urbanos foram inventariados e considerados dignos de protecção enquanto imóveis de interesse concelhio, por deliberação da CMS e da Assembleia Municipal (1995), encontrando-se integrados respectivamente no Núcleo Urbano Antigo de Amora de Baixo e no Núcleo Urbano Antigo de Aldeia de Paio Pires, estruturas urbanas que foram objecto de regulamento de protecção instituído pelo Plano Director Municipal do Seixal (1991).
Da industrialização à constituição das filarmónicas Em meados do século XIX, a industrialização do concelho do Seixal implicou uma alteração significativa na vida das populações. Trabalhadores de um mesmo ofício ou congregando operários de
uma dada indústria reuniram-se e fundaram colectividades com bandas de música agregadas que, preenchendo os tempos livres da população, proporcionavam espaços de cultura, recreio e de convívio onde a música tinha um papel fundamental. As bandas de música eram uma presença constante nas festas e arraiais locais, organizados muitas vezes pelas próprias sociedades filarmónicas, que assim promoviam o convívio e a solidariedade entre associados e população em geral. Anteriormente à edificação de coretos permanentes, era habitual, por altura da organização de festas religiosas ou populares, as sociedades filarmónicas locais solicitarem à edilidade a armação temporária de coretos em logradouros públicos onde se realizavam os festejos, espectáculos diversos e animações de rua. Em 1874, a Sociedade Filarmónica União Seixalense (SFUS) e a Sociedade Filarmónica Timbre Seixalense solicitaram à Câmara Municipal as licenças para a construção dos respectivos coretos com base em alvenaria e madeira no centro do Largo da Estalagem (actual Praça Luís de Camões) e no Largo da Igreja [Livro de Actas de Sessão de Câmara, 1874]. No entanto, só em 1880, a autarquia autorizou a construção de um coreto permanente no sítio onde a SFUS costumava erigir o seu palanque temporário. Por altura da inauguração do coreto da Timbre Seixalense, no Largo da Igreja, no Seixal, em 1905,
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INVENTÁRIO DE PATRIMÓNIO CULTURAL IMÓVEL Referência de Sítio
CPS.00053
Designação
Coreto da Sociedade Filarmónica Operária Amorense Localização administrativa: Amora Toponímia: Praça 5 de Outubro Localização geográfica: Folha CMP N.º 442 Carta DGSU/CMS N.º 442-4 / 1-2 SIG – Ortofotomapa 442412 Coordenadas: X = -85260,300 ; Y = -115024,100.
Coreto da SFOA, em Amora © EMS/CDI – Francisco Silva, 1996
Categoria de sítio: Arquitectura Civil Tipo de sítio: Coreto Cronologia: Idade Contemporânea / Séc. XX (inaugurado em 19 de Junho de 1907) Medidas de protecção: integrado no Núcleo Urbano Antigo de Amora. Em 1995, a Câmara Municipal do Seixal (CMS) e a Assembleia Municipal reconheceram valor concelhio a este imóvel. Estado de conservação: Bom. Descrição sumária: coreto de planta octogonal regular, formado por uma base em betão armado e alvenaria de tijolo e/ou pedra, rebocada e pintada, rematada por uma cornija. No interior da base existe um compartimento destinado ao arrumo de material de apoio. O acesso ao palanque faz-se por uma escadaria dupla, sob a qual se situa a porta de acesso ao citado compartimento. As guardas das escadas e do palanque são de ferro fundido, tal como os oito pilares que sustentam a cobertura. Esta, em forma de campânula, com oito faces, apresenta grilhagem em ferro fundido em todo o perímetro, e tem coroamento. Suspenso do centro da cobertura, encontra-se um candeeiro, em ferro e vidro fosco. Síntese de intervenções: 1907 (19 de Junho) – inauguração do coreto, após construção financiada por subscrição pública. 1944 – obras de conservação e pintura, financiadas por subscrição pública. 1996 – levantamento arquitectónico e fotográfico, e proposta de recuperação, promovidos pela CMS. 1997 – obras de conservação e reabilitação, promovidas pela CMS.
já existiria, no jardim da povoação de Arrentela, o coreto da Sociedade Filarmónica Fabril Arrentelense (os coretos de Arrentela e Seixal foram demolidos nas décadas de 1960 e 1970). A estes imóveis, seguiu-se a construção dos coretos de Amora (1907), Aldeia de Paio Pires (1930) e, mais recentemente, Fernão Ferro (1987).
Tipo de uso: coreto (palanque coberto, para actuação de bandas de música). Bibliografia principal: “CORETOS” (1997). Ecomuseu Informação. Seixal: Câmara Municipal, Ecomuseu Municipal. [5]:7. HISTÓRIA do concelho do Seixal: 3 – elementos para a história das colectividades (1982). Seixal: Câmara Municipal. NABAIS, António J. (1981) – História do concelho do Seixal: I – cronologia. Seixal: Câmara Municipal. “PATRIMÓNIO a proteger”(2002). Ecomuseu Informação. Seixal: Câmara Municipal, Ecomuseu Municipal. 25: 6-10. PATRIMÓNIO metropolitano: inventário geo-referenciado do património da Área Metropolitana de Lisboa (2002). Lisboa: Junta Metropolitana de Lisboa. 1 CD-ROM “… PELAS FREGUESIAS” (2003). Ecomuseu Informação. Seixal: Câmara Municipal, Ecomuseu Municipal. 28: 9-14. SANTOS, João Paulo (2004) – “O Núcleo Urbano Antigo de Amora”. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal, Ecomuseu Municipal. 33: 14-16. SEIXAL. Câmara Municipal. Ecomuseu (2004) - Listagem do Património Cultural do Seixal. [S.l. : s.n.]. Acessível no Centro de Documentação e Informação do Ecomuseu Municipal do Seixal. Observações: o imóvel é propriedade particular da SFO Amorense. Inventariante: João Paulo Santos Data da inventariação: Novembro de 2003
As memórias de outros quotidianos, por Amélio Cunha Ao assinalarmos o centenário do Coreto da SFOA, na freguesia de Amora, apresentamos no presente texto o registo de memória transmitida oralmente por Amélio Baptista Cunha (falecido) ao Ecomuseu Municipal do Seixal, em 1999. Associado e antigo
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CARTA DO PATRIMÓNIO DO CONCELHO DO SEIXAL “… Nasceu com o nome de Sociedade Filarmónica dos Operários Vidreiros da Amora porque aquilo nasceu da Fábrica de Vidros. […] Ali talvez por volta de 1888, foi o José Lourenço da Silva Gomes que era o principal accionista da Fábrica de Vidros e […] gostava muito de música e já havia as filarmónicas na Arrentela, no Seixal, não sei se a de Paio Pires havia nem se não... Isso é que eu não sei. Ele então pensou em formar uns músicos […] Eram só vidreiros, não havia mais ninguém senão vidreiros! Começou-se a precisar de instrumentos e o José Lourenço da Silva Gomes é que começou a comprar instrumentos e a dar a este e dar àquele, na condição deles depois pagarem os instrumentos. […] E até que se fez a Filarmónica. Depois, a Filarmónica dos Vidreiros era o “Ai Jesus!” de todo o pessoal da Amora. Aquilo para eles, a menina dos olhos era a Filarmónica! Coreto da SFOA (Amora) – aspecto da inauguração © EMS/CDI – foto cedida por Amélio Cunha
músico da SFOA, Amélio Cunha era conhecedor da história e de vivências daquela colectividade local, à qual a sua família se encontrava fortemente ligada. Lembra-se de todos os coretos do Concelho? “Lembro-me, pois, toquei em todos. Desapareceram todos, só há em Paio Pires e na Amora. Nos coretos é que dávamos os concertos. Nunca cheguei a tocar no coreto de Arrentela, mas ia lá às festas, era naquele jardim. Mas o melhor coreto de todos era o da Amora. O nosso coreto era muito largo e além disso tinha uma cúpula muito boa, com uma boa acústica. Era muito apreciado por essas bandas regimentais que vinham aí e gabavam o nosso coreto. […] Depois começou a haver festas organizadas pela [Sociedade] Filarmónica [Operária Amorense], e então já deixaram de vir bandas regimentais, eram, então, as bandas do Concelho. Eram a Timbre Seixalense e a União Seixalense e depois nós íamos lá como Filarmónica Operária Amorense. Íamos por permuta pagar a vinda deles. Vinha a de Paio Pires… (a de Arrentela nunca vinha porque havia uma grande política entre Amora e Arrentela), vinham aquelas duas do Seixal […]. E depois nós íamos também pagar as permutas. Íamos ao coreto da Timbre, íamos ao coreto da União, íamos ao coreto de Paio Pires.” Amélio Cunha, associado e antigo músico da SFOA, 91 anos (1999)
A Sociedade Filarmónica Operária Amorense (SFOA), fundada em 1898, teve a sua génese intimamente associada a actividades de lazer e quotidianos da Fábrica de Garrafas de Vidro de Amora, tendo sido fortemente impulsionada pelo seu operariado.
De maneira que havia o comércio e havia proprietários de vinhas, como a Família Carvalho, o [José O’Neill] Pedrosa, que não achavam bem aquilo ser só dos músicos da fábrica, e então mudaram de nome. Mudaram de nome e começaram então os filhos de sapateiros, os filhos de merceeiros… Já não era só gente vidreira. E então mudaram o nome para a Sociedade Filarmónica Operária Amorense como é hoje o nome. […] Todos os tijolos que fazem o piso do coreto foram feitos na Fábrica de Garrafas. Tínhamos uma olaria dentro da Fábrica de Garrafas que era para fazer os tijolos. Aquilo tinha que ser uns tijolos especiais para aguentar com o calor do vidro em chama. […] As pessoas da Filarmónica sabiam que no Seixal e na Arrentela havia coretos, só a Amora é que não tinha, e os próprios músicos e as próprias direcções é que começaram a trabalhar naquilo. O desenho [do coreto] foi feito pelo músico Manuel Henriques Júnior, que era um tipo bastante inteligente – chegou a ir montar fábricas de garrafas à Espanha e tudo. Ele chegou a ir montar fábricas à Espanha! – E o desenho foi feito por ele. Ele era também um dos homens que trabalhava em pedreiro, ele e mais alguns como o do Aborreces, e o meu avô também… Eles é que fizeram aquilo. E depois, é claro, houve então a ferragem que foi feita em Lisboa numa fábrica qualquer. Aí é que se fez uma subscrição pública, mas o que é que não se fazia com subscrições? Todas as coisas se faziam com subscrições...” Amélio Cunha, associado e antigo músico da SFOA, 91 anos (1999) Construído com dinheiro resultante de subscrição pública promovida por uma comissão de amorenses, o imóvel foi oferecido pela população à SFOA tendo sido inaugurado em 19 de Junho de 1907.
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O Coreto da Sociedade Filarmónica Operária Amorense – 100 anos de tradição musical
Bairro operário da Fábrica de Garrafas de Vidro de Amora Este conjunto habitacional, localizado na antiga Quinta das Lobatas, é constituído por duas correntezas de casas organizadas ao longo de um eixo viário ribeirinho (actual Av. Silva Gomes) e destinava-se a garantir uma zona residencial para os operários vidreiros. A correnteza mais antiga (cerca de 1897) apresenta um conjunto habitacional de casas térreas, do qual se distinguem dois edifícios de loja e primeiro andar e um terceiro edifício de piso único com frontão no seu alçado principal, que atribuem simetria e equilíbrio ao conjunto. A segunda correnteza de habitações operárias teve uma implantação no terreno que resultou da sua subordinação à configuração da linha de costa e da via de comunicação com a qual confina. Contemporâneos do bairro, existem os edifícios-escola destinados, quer ao ensino dos filhos dos mestres e operários de nacionalidade alemã, quer à instrução primária os filhos dos operários portugueses. Integrando a Carta de Património do Concelho do Seixal (CPS.00039) e o Núcleo Urbano Antigo de Amora, o bairro operário dos vidreiros, que urge preservar e valorizar, constitui um importante testemunho remanescente da Fábrica de Garrafas de Vidro de Amora, que projectou aquela localidade na história da indústria vidreira nacional dos séculos XIX e XX (1888-1926).
O Coreto da Sociedade Musical 5 de Outubro, em Aldeia de Paio Pires Em 1881, em Aldeia de Paio Pires foi fundada uma sociedade filarmónica com sede na Rua Direita junto à escola pública que, mais tarde, se tornou na génese da Sociedade Filarmónica União Capricho Aldeiense. No entanto, com o advento do regime republicano, passou a designar-se Sociedade Musical 5 de Outubro. Enquadrado num dos espaços ajardinados da freguesia, o Largo D. Paio Peres Correia, o coreto daquela Sociedade foi construído graças aos recursos obtidos por subscrição pública, em 1930. Espaço exíguo face ao aumento do número de músicos e à alteração de composição das bandas filarmónicas, aquele equipamento cultural foi objecto de obras de ampliação, evidenciadas em alguns aspectos estruturais e decorativos. De características construtivas idênticas ao coreto de Amora, o imóvel é constituído por um palanque de planta octogonal com os balaústres do guarda-corpo em ferro fundido, sendo a base
Coreto da Sociedade Musical 5 de Outubro, em Aldeia de Paio Pires © EMS/CDI – Francisco Silva, 1996
revestida a azulejos. A cobertura, sustentada por oito colunas de ferro e rebordada a rendilhado em ferro fundido, sendo rematada exteriormente por uma lira.
Intervenções de conservação e restauro nos coretos de Amora e de Aldeia de Paio Pires Em 1996, os coretos de Amora e Aldeia de Paio Pires foram objecto de proposta de recuperação com levantamento em desenho e fotografia, promovida pelo Ecomuseu Municipal, através do Centro de Arqueologia de Almada, tendo em vista o restauro e a reabilitação daqueles equipamentos culturais e recreativos. As intervenções foram realizadas pela CMS no ano seguinte, no âmbito das quais foram desmontadas todas as peças metálicas dos coretos, que se encontravam em avançado estado de degradação, realizando-se ainda obras de construção civil que visaram pôr termo às infiltrações de água e humidades que afectavam aquelas estruturas. Fátima Afonso