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˙n.º 44˙JULHO.AGOSTO.SETEMBRO Boletim trimestral do Ecomuseu Municipal do Seixal
ecomuseu informação
Programa de Iniciativas de Serviço Educativo/Participe nas actividades deste trimestre Consulte as páginas 5, 6, 7 e 8 e inscreva-se através da ficha em anexa, preenchendo-a e enviando-a ao EMS ou consulte a página de Serviço Educativo em www.cm-seixal.pt/ecomuseu e inscreva-se pela Internet
ATÉ AO FINAL DE SETEMBRO
Joaquim Vieira Natividade, uma vida com a cortiça (1899-1968) Exposição temporária
21 E 22 DE SETEMBRO
Joaquim Vieira Natividade, a Subericultura e o Património Suberícola e Corticeiro Seminário e visitas – programa na página 18
˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙n.º 44˙JUL.AGO.SET
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ÍNDICE
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9˙10˙11
EM FOCO
EDITORIAL
Obrigado, amigos e doadores!
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
Protecção e valorização do património marítimo do estuário do Tejo – museus e comunidades
3˙4
. Fernanda Ferreira
. Graça Filipe e Elisabete Curtinhal
Documentos
exposições 12˙13˙14 5˙6˙7˙8
Programa de Iniciativas dE Serviço Educativo
Conhecer
18˙19
Uma divindade no acervo do Ecomuseu Municipal do Seixal
agenda
. Jorge Raposo
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Núcleos e serviços
EDITORIAL OBRIGADO, AMIGOS E DOADORES! São Amigos e Doadores do Ecomuseu Municipal do Seixal todos aqueles que, ao longo de duas décadas e meia, confiaram num projecto museológico municipal a quem ofereceram ou doaram objectos do seu património individual ou familiar, atribuindo-lhes um papel relevante para a construção da memória colectiva e por isso os destinando a acervo do museu, em função do seu valor patrimonial, qualquer que seja o carácter mais acentuado no seu reconhecimento – simbólico, social, histórico, artístico ou técnico-científico. São também seus Amigos e Doadores os que permitiram o registo e a documentação de depoimentos e histórias de vida, de testemunhos e relatos de experiências, conhecimentos e saberes, por vezes complementares de objectos também oferecidos e incorporados pelo Ecomuseu, mas em inúmeros casos constituindo em si mesmos documentos de inestimável valor para a história do Concelho, integrando o património comum duma população deste território, que nos cabe legar às gerações futuras.
Gostaríamos que mais Amigos e Doadores, assim como um universo ampliado de utilizadores, tivessem uma relação continuada e de proximidade com o Ecomuseu, não só baseada na regularidade da comunicação, mas também em aspectos concretos de participação, ou frequentando mais e aproveitando melhor os recursos patrimoniais acessíveis e as numerosas iniciativas que trimestralmente lhes apresentamos, influindo activamente na adequação da programação do museu aos seus interesses e necessidades.
A todas e todos, actualmente quinhentos, Amigos & Doadores do Ecomuseu Municipal e em nome deste, agradecemos a participação, que sabemos ser uma exigência para que o museu prossiga a sua missão e o trabalho de preservar, interpretar e devolver à comunidade, valorizados, os bens integrados no património cultural sob sua responsabilidade de gestão.
A relação entre a gestão de património e o desenvolvimento local concelhio tem sido estabelecida sobretudo por via do trabalho ecomuseal, numa lógica comunitária associada à territorialidade do projecto que pode agora ser avaliado por 25 anos de percurso. Deverá prosseguir, construindo memórias e reconfigurando identidades, para o que contribui a investigação e a preservação de recursos patrimoniais, a comunicação e a difusão do conhecimento de bens materiais e imateriais, dando lugar à sua apropriação dinâmica, por uma população e num território em evolução.
Ao longo dos anos, a Câmara Municipal do Seixal tem promovido junto de todos a informação sistemática sobre as actividades do museu e os projectos patrimoniais que tutela, embora não se subestime tudo o que será necessário levar a cabo, para progressivamente corresponder às expectativas de exibição de parte mais representativa do acervo constituído, de forma a satisfazer os interesses da comunidade participante, mas também a suscitar a motivação de novos públicos.
Cremos que, a revelar-se uma suficiente disponibilidade de alguns Amigos e Doadores para a constituição de uma entidade associativa ou a formalização de um grupo com uma acção organizada em prol de objectivos convergentes com os do Ecomuseu Municipal do Seixal, tal projecto potenciaria um envolvimento social de carácter mais alargado, possibilitando tanto a participação de elementos da população concelhia como de outros.
Já pensou qual pode ser actualmente a sua participação na actividade do Ecomuseu e como poderá contribuir para a realização futura de muitos projectos que importa concretizar nos próximos 25 anos? Graça Filipe
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EXPOSIÇÕES
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Para mais informações sobre Exposições e Notícias, consulte o site www.cm-seixal/ecomuseu
Núcleo da MUNDET do EMS Joaquim Vieira Natividade foi um técnico/investigador excepcional, um incansável trabalhador por uma vida melhor nos campos e por uma agricultura e florestas mais modernas e produtivas, um apaixonado pela cultura do sobreiro e pela cortiça e será sempre um exemplo e referência para todos nós. Eng.º José Neiva Vieira © EMS/CDI – Luís Martins, 2007
Exposição temporária Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox
Joaquim Vieira Natividade, uma vida com a cortiça (1899-1968) Exposição que rende homenagem ao fundador da subericultura científica, divulgando sobretudo as três décadas de labor de Joaquim Vieira Natividade e o seu incontornável legado de conhecimento sobre o sobreiro e a cortiça. As suas palavras “nenhuma árvore dá tanto exigindo tão pouco”, referindo-se de forma singela ao sobreiro, revelam a muita admiração que esta espécie agro-florestal lhe merecia e à qual devotou uma longa vida de estudo, investigação e divulgação.
Exposição de longa duração Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox A produção de vapor para a fábrica
Quem diz cortiça diz Mundet, quem diz Mundet diz cortiça São conservados e apresentados os equipamentos ligados à produção da energia térmica, fundamental, quer para o cozimento da cortiça, quer para operações subsequentes da sua transformação, no espaço onde se produzia e a partir do qual era distribuído todo o vapor que alimentava as caldeiras e estufas da fábrica (e ainda equipamentos de apoio aos trabalhadores, como as estufas dos Refeitórios).
Direcção-Geral dos Recursos Florestais, 2007
Em exibição, destacam-se alguns objectos que ilustram a actividade do investigador e do homem de campo, provenientes da Estação Experimental do Sobreiro, criada e sediada em Alcobaça, os quais são actualmente espólio da Estação Florestal Nacional (em Oeiras). Além da participação especial deste organismo, a exposição contou com os apoios da Fundação João Lopes Fernandes e da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, nomeadamente do Eng.º José Neiva, assim como com a colaboração da Casa-Museu Vieira Natividade (IPPAR). O visitante pode observar ao microscópio diferentes preparações de células de cortiça e visionar um pequeno DVD sobre a vida e obra científica de Joaquim Vieira Natividade.
agora interpretados e museografados constituíam uma das oficinas equipadas e destinadas a cozer cortiça – outrora as Caldeiras dos Moços. O edifício foi construído em 1942, dispondo de um conjunto de caldeiras de cozer em tijolo refractário, segundo desenho técnico do engenheiro catalão Telmo Trill Cals, com a colaboração do desenhador Luís Almeida. Este equipamento industrial tinha a capacidade de cozer em simultâneo dezasseis fardos de cortiça, mas, mais tarde, nos anos 70, uma das caldeiras foi alterada para a trasfega de água, reduzindo a capacidade de cozimento para doze fardos. A produção média diária era de 60 fardos cozidos (sendo o seu peso unitário entre 250 kg e 300 kg).
Edifício das Caldeiras de Cozer Cortiça
A cortiça na fábrica: a preparação Fazendo parte da antiga secção de prancha da Mundet, o espaço e os equipamentos
A partir do património industrial actualmente ali conservado, são dados a conhecer os principais procedimentos de preparação industrial da cortiça, enquanto matéria-prima.
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Núcleo NAVAL do EMS Exposição de longa duração
Barcos, memórias do Tejo Apresentando uma série de modelos construídos ao longo de vários anos pelo EMS – através dos seus artífices e da incorporação de participações de marítimos que trabalharam no Estuário –, ilustram-se as principais tipologias de embarcações tradicionais, de cabotagem e de pesca. Os recursos audiovisuais e multimédia dão a conhecer o património cultural do estuário do Tejo e procuram sensibilizar para a sua salvaguarda, convidando o visitante a percorrer outros lugares e a contactar directamente com eventos e testemunhos
Baía do Seixal, Núcleo Naval do EMS, no Dia Internacional dos Museus, 2007 © EMS/CDI – Pedro Vilela, 2007
que fazem parte da cultura fluvial e marítima desta região, em particular das suas comunidades ribeirinhas.
Exposição temporária de curta duração, na Oficina do Núcleo Naval, sobre património marítimo do estuário do Tejo Até início de Outubro
O álbum do Arrais: 25 anos de navegação no Ecomuseu O projecto municipal de recuperação, conservação e reutilização de embarcações tradicionais do estuário do Tejo teve início em 1981, data em que a Câmara Municipal do Seixal adquiriu as primeiras embarcações, passando em 1982 a integrá-las na estrutura museológica municipal. Têm sido diversas as vicissitudes e é com-
objectivos educativos e de lazer, contribuindo para o conhecimento e a interpretação
plexo o processo de valorização do património náutico do estuário do Tejo, mas desde 1983 até à actualidade transportaram, no seu conjunto, cerca de 100 mil visitantes, em actividades e passeios que conciliaram
do vasto património flúvio-marítimo do estuário do Tejo. É este percurso que brevemente se ilustra através da documentação fotográfica reproduzida nesta mostra temática.
Varino Amoroso na Expo 98 © EMS/CDI – João Martins, 1998
EM CIRCULAÇÃO PELA EUROPA
Moinho de Maré Grand Traouiéros © Loïc Ménanteau, 2005.
Exposição itinerante
MOINHOS DE MARÉ DO OCIDENTE EUROPEU
A exposição itinerante Moinhos de Maré do Ocidente Europeu, produzida pelo Ecomuseu Municipal do Seixal no âmbito de um projecto apoiado pelo Programa Cultura 2000 da Comissão Europeia, regressou a França, sendo apresentada, entre 15 de Junho e 15 de Setembro, na Maison du Littoral de Ploumanac’h, que se situa nas proximidades de dois ancestrais e emblemáticos moinhos de maré da Bretanha, Grands Traouiéros e Petits Traouiéros.
Mais informações disponíveis sobre a exposição e o projecto que a enquadra no site www.moinhosdemare-europa.org.
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CDI
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Centro de Documentação e Informação
A acompanhar o tema em foco deste número do boletim Ecomuseu Informação sobre Protecção e valorização da cultura e do património marítimos do estuário do Tejo, no âmbito das comemorações dos 25 anos do Ecomuseu Municipal do Seixal, dedicamos a rubrica do CDI à divulgação, junto dos nossos leitores e utilizadores, dos múltiplos recursos de informação disponíveis na área do património flúvio-marítimo, aos quais poderão aceder através do Centro de Documentação e Informação (CDI). Para as Edições em destaque, preparámos uma selecção de publicações sobre a temática abordada. Deixamos também aos nossos leitores a sugestão de consulta da Bibliografia Temática sobre Património flúvio-marítimo, disponível no sítio web do EMS, na página do CDI, em Bibliografias Temáticas, que complementará a selecção apresentada neste número. Nas colecções documentais do CDI, a área da história e da cultura flúvio-marítima, da construção naval e do património náutico, em particular aquela reportada ao estuário do Tejo, detém um lugar bastante importante. © EMS/CDI – António Silva, 2007 No âmbito da sua missão e objectivos, o CDI procura pesquisar, seleccionar, processar e tornar acessíveis as fontes e os recursos de informação sobre uma das áreas, multidisciplinar, de maior relevância no trabalho desenvolvido pelo EMS. A selecção destes recursos para o CDI não se restringe apenas à aquisição de monografias ou de publicações periódicas. As colecções documentais integram importantes recursos de informação na área da fotografia, do vídeo, dos documentos cartográficos e dos documentos gráficos. A colecção de documentos fotográficos, constituída por espécies em suporte analógico e digital e de vídeo, integra imagens que testemunham os múltiplos eixos de acção museal do EMS: (a) Gestão do acervo móvel, com imagens que documentam as colecções que fazem parte deste acervo, em particular a colecção de ferramentas de construção naval e a colecção de modelos e miniaturas de embarcações tradicionais do Tejo; (b) Gestão do acervo imóvel e flutuante, com imagens que documentam o Núcleo Naval e as três embarcações geridas pelo EMS, mais especificamente no que diz respeito à sua recuperação e conservação; (c) Actividades de comunicação e de educação patrimonial, que documentam as iniciativas realizadas pelo Serviço Educativo e na oficina artesanal (do Núcleo Naval) de construção e conservação de modelos de embarcações tradicionais; (d) Documentação de apoio às exposições e a outros projectos desenvolvidos na área do património náutico e da investigação da cultura marítima; (e) Documentação do património material e imaterial do concelho do Seixal (embarcações, estaleiros navais). Merece também um especial realce a colecção de documentos gráficos e cartográficos reportados à cultura marítima. Os folhetos e cartazes de divulgação de museus e outros projectos ligados ao património náutico, os desenhos das embarcações tradicionais e das ferramentas de construção naval, os planos de embarcações e documentos cartográficos reportados ao território nacional. Por último, fazemos referência a um importante núcleo de documentos sonoros relacionados com a cultura flúvio-marítima do concelho do Seixal e do estuário do Tejo. Neste conjunto incluem-se testemunhos orais recolhidos no final da década de 80 do século XX, junto de pessoas ligadas à construção naval e aos estaleiros navais. O tratamento deste material foi objecto de um projecto de apoio da Rede Portuguesa de Museus, que se encontra em fase de conclusão.
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Edições em destaque
CATUS, J. ; DAUCHEZ, P. ; LEQUESNE, G. - Construction des modèles réduits de bateaux. [Douarnenez] : Le Chasse-Marée/ ArMen, 1995. ISBN 2-903708-60-6 Publicação que compila em versão fac-similada, três obras publicadas entre 1890 e 1950, o Petit traité de la construction et du gréement des modèles de bateaux, de Baron J. de Catus, de 1889, L’art et la manière de construire des modèles de voiliers, de Philippe Dauchez, de 1948 e L’art et la manière de construire des modèles de bateaux anciens, XVIIIe siècles, de Georges Lequesne, de 1947. O CDI disponibiliza diversas publicações de referência desta editora reportadas não só à construção de modelos de embarcações mas também às mais diversas áreas do património marítimo. COELHO, António Matias - Nos rios de Constância : a faina, a fé e a festa. Constância: Câmara Municipal, 1998. Edição da Câmara Municipal de Constância que retrata, na primeira parte, a estreita relação entre esta região e os rios Tejo e Zêzere no âmbito da actividade piscatória, da construção e reparação naval e os transportes fluviais. A segunda e terceira parte do livro são dedicadas à devoção e às festas realizadas em Constância em honra da Nossa Senhora da Boa Viagem.
DIAS, Mário Balseiro - Círio dos marítimos de Alcochete. Alcochete : Câmara Municipal de Alcochete, 2002. ISBN 972-9217-27-0 Publicação que retrata o estudo e investigação realizados pelo autor sobre os aspectos históricos e etnográficos da festa do Círio dos Marítimos de Alcochete, um dos seis círios que festejam Nossa Senhora da Atalaia. Após uma nota introdutória sobre a Nossa Senhora da Atalaia e os Marítimos de Alcochete, a segunda parte desta obra apresenta a história e evolução do Círio dos Marítimos de Alcochete desde a sua origem até à actualidade e os festejos em que o Círio dos Marítimos participa. Seguem-se os Apêndices e Anexos que complementam a investigação apresentada neste estudo. MONTIJO. Câmara Municipal - Montijo e o rio: cem anos de uma relação. Montijo : Câmara Municipal de Montijo, D.L. 2001. Catálogo da exposição realizada pela Câmara Municipal do Montijo dedicada à relação entre as populações da região do Montijo e o rio Tejo, especialmente no que diz respeito à actividade piscatória, ao desenvolvimento da salicultura e ainda aos transportes fluviais, quer de passageiros, quer de mercadorias, durante o século XX. Contém também referência à apanha da ostra, à construção naval e aos moinhos de maré.
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Edições em destaque
JORNADAS DA CULTURA MARÍTIMA, 2, Nazaré, 1998; JORNADAS DA CULTURA MARÍTIMA, 3, Nazaré, 1999; JORNADAS DA CULTURA MARÍTIMA, 4, Nazaré, 2002; JORNADAS DA CULTURA MARÍTIMA, 5, Nazaré, 2003; JORNADAS DA CULTURA MARÍTIMA, 6, Nazaré, 2004 Identidade e turismo; Novos desafios; Jornadas da cultura marítima; Jornadas - internacionais - da cultura marítima; Jornadas da cultura marítima. [Nazaré]: Câmara Municipal da Nazaré, D.L. 2005. Actas das várias Jornadas realizadas na Nazaré, entre 1998 e 2004, dedicadas à cultura marítima, promovendo a divulgação do valor do mar nas suas múltiplas vertentes – turística, económica, ambiental, cultural e patrimonial.
LEITÃO, Manuel - Barcos do rio Tejo: a fragata do Tejo e tipos relacionados = Boats of the Lisbon river. 3.ª ed. Lisboa : Museu de Marinha, imp. 2002. ISBN 972-9312-28-1 Terceira edição da obra publicada pela primeira vez em 1963 pelo National Maritime Museum que retrata uma vasta tipologia de embarcações tradicionais do rio Tejo. A descrição técnica da construção das embarcações é acompanhada por desenhos e modelos exactos das mesmas e imagens em contexto real. A edição compreende ainda uma versão em inglês.
SEMINÁRIO OS MUSEUS E O PATRIMÓNIO NÁUTICO E SUBAQUÁTICO, Portimão, 2004 Os museus e o património náutico e subaquático: actas do seminário. Portimão: Câmara Municipal de Portimão, 2004. ISBN 972-99212-3-7 Actas do Seminário realizado em Portimão no âmbito do Projecto “Valorizar e divulgar o património arqueológico subaquático do rio Arade” em que se apresentaram diversas experiências sobre diferentes contextos e projectos, nos domínios da Museologia, do Património Náutico e Subaquático. Destaca-se o texto da comunicação apresentada sobre o “Património flúvio-marítimo do estuário do Tejo na programação e nas actividades do Ecomuseu Municipal do Seixal”.
Destacamos ainda alguns artigos sobre a história e o património marítimo, publicados em anteriores números do boletim Ecomuseu Informação.
CURTINHAL, Elisabete – Trabalhar no Tejo: memória das profissões do rio. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal. N.º 30 (Jan/Fev/Mar. 2004), pp. 10-11.
CURTINHAL, Elisabete – A herança da construção naval : famílias e estaleiros nos concelhos do Seixal e da Moita. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal. N.º 40 (Jul/Ago/Set. 2006), pp. 14-16.
FILIPE, Graça – Núcleo Naval de Ecomuseu : difundir e valorizar o património flúvio-marítimo do estuário do Tejo. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal. N.º 36 (Jul/ Ago/Set. 2005), pp. 1-2.
CURTINHAL, Elisabete – Do rio e de além terra : crenças e festividades no estuário do Tejo. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal. N.º 35 (Abr/Mai/Jun. 2005), pp. 15-17.
FILIPE, Graça – Uma colecção de modelos e miniaturas de barcos tradicionais do estuário do Tejo. Ecomuseu Informação. Seixal : Câmara Municipal. N.º 33 (Out/Nov/Dez. 2004), pp. 8-10. Fernanda Ferreira
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CONHECER Fase de escavação da camada de derrube de adobe que selava a unidade estratigráfica onde se recolheu a
estatueta de Mercúrio (Ref.ª Inv. EMS.2007.00116.00000). © EMS/CDI, Jorge Raposo, 2003.
A Arqueologia proporciona, por vezes, achados que nos permitem recuar até práticas sociais, religiosas, simbólicas ou outras que marcavam o quotidiano de há séculos ou milhares de anos. Perto da povoação de Arrentela, por exemplo, foi recolhida estatueta representativa de uma das divindades adoradas até à consolidação do cristianismo: Hermes para os Gregos, Mercúrio para os Romanos.
Uma divindade no acervo do Ecomuseu Municipal do Seixal A principal manifestação artística inspirada na mitologia greco-latina que se conhecia no concelho do Seixal é a obra de um anónimo pintor lisboeta do século XVIII, preservada na série de nove painéis que compõe o tecto em caixotão de uma das salas da Quinta da Trindade, hoje integrada na estrutura descentralizada do Ecomuseu Municipal do Seixal. Ao conjunto foi já dedicado estudo monográfico (ver Fontes) e nele se representam episódios que procuram conciliar as ideologias profana e cristã de setecentos, através de situações protagonizadas por heróis e deuses como Páris, Hércules, Diana, Cúpido, Vulcano, Apolo ou Mercúrio. Este último, contudo, veio a surgir num contexto muito mais antigo, de cronologia romana, em época onde não seria apenas uma evocação artística, mas antes símbolo icónico da religiosida-
de politeísta de tradição grega que os Romanos trouxeram até ao nosso território. O achado ocorreu em intervenção arqueológica de emergência promovida pelo Serviço de Arqueologia do Ecomuseu em 2003, na sequência do acompanhamento da abertura de valas de saneamento básico para ligação à nova urbanização da Quinta de S. João (Arrentela). Numa zona já próxima da Calçada da Boa Hora e das ruínas de outra quinta vizinha, a Quinta da Laranjeira, foram então aflorados e escavados contextos claramente romanos, com identificação de estruturas que deverão corresponder a uma villa, unidade agrícola que, pelo menos entre os séculos II e IV, terá explorado a generosidade dos terrenos e beneficiado da proximidade do rio e dos centros urbanos de maior dimensão, como Olisipo (Lisboa). Do espólio associado destacam-se as cerâ-
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Estatueta de Mercúrio no momento da descoberta. © EMS/CDI – Jorge Raposo, 2003
que este tinha pela música e por outras artes para sanar a questão com a oferta da lira que inventara a partir de uma carapaça de tartaruga, de onde já era capaz de extrair belas melodias. Recebeu ainda o caduceu, a vara de Apolo, também fundador da Medicina, onde se entrelaçavam as duas serpentes que simbolizavam a morte e a vida, a fecundidade e a regeneração da terra e dos homens. Com este novo atributo passou a invocar as almas que entregava a Caronte, o barqueiro encarregue de as transportar para o mundo dos mortos, e adquiriu poderes de induzir o sono da morte, mas também a paz e a concórdia. Noutro episódio célebre, Hermes recorreu ao caduceu e ao virtuosismo na oratória e na música (foi também inventor da flauta-de-pã) para enfrentar com sucesso Argos, um ser que adormeceu e matou, apesar dele ter cem olhos e só fechar dois de cada vez. Veloz, ágil e diligente, Hermes / Mercúrio era normalmente representado por um jovem viajante, usando simplesmente um manto (clamide) pelas costas, chapéu com duas pequenas asas (petaso) e sandálias também aladas (talaria), por vezes com uma bolsa (marsupium) numa mão, enquanto a outra segurava o indispensável caduceu.
micas de produção local ou importadas (ânforas que envasaram produtos alimentares diversos e loiça de mesa em terra sigillata) e, embora com menor expressividade, os vidros (onde se inclui uma candeia cónica delicadamente decorada), as moedas (34 exemplares, com cunhagens entre os séculos II e IV) e outros objectos metálicos. Uma das boas e gratas surpresas aconteceu na escavação de unidade estratigráfica datável do século IV e selada pelo derrube de uma parede em adobe. Aí se recolheu uma pequena estatueta em liga de cobre que, após cuidadosa limpeza e identificação dos atributos, se concluiu representar Mercúrio, deus mensageiro e mediador entre o mundo dos vivos e o dos mortos, dotado de grande eloquência e polivalência, protector das artes e da literatura, dos atletas e dos pastores, do comércio e dos ladrões. Mercúrio é a representação romana de Hermes, filho de uma ninfa, Maya, e de Zeus (Júpiter), o deus que determinava o destino do Universo e protegia a Humanidade, em honra do qual se celebravam de quatro em quatro anos, na cidade de Olímpia, os jogos que inspiraram os modernos Jogos Olímpicos. Entre os episódios que definem a personalidade tão inteligente quanto irrequieta e enganosa de Hermes, conta-se o que o levou, ainda criança de berço, a roubar parte do gado à guarda do seu meio-irmão Apolo, temporariamente privado dos poderes divinos. Mais tarde, aproveitou o grande apreço
Muito popular na capital e em várias províncias imperiais, Mercúrio foi honrado com templo construído em 495 a.C. numa das sete colinas de Roma, o Monte Aventino, em espaço nobre junto ao Circo Máximo. Em 15 de Maio, era regularmente evocado através da Mercuralia, festival de bom augúrio para comerciantes e mercadores. A ampla difusão geográfica e temporal do seu culto é comprovada, entre outros, pelo achado agora conhecido na Quinta de S. João / Quinta da Laranjeira (Arrentela / Seixal). Trata-se de uma estatueta com 7,3 x 3,3 x 1,9 cm de dimensão máxima, que representa Mercúrio de pé com os atributos que o caracterizam, nomeadamente o chapéu com duas pequenas asas laterais, o manto sobre as costas e o caduceu na mão esquerda. Das sandálias aladas subsistem apenas vestígios, dado que a extremidade dos membros inferiores está partida. Com a mão direita pega numa vara terminada em superfície espalmada e sub-rectangular, que poderá representar um remo, talvez alusivo à acção protectora da navegação e do comércio fluvial e marítimo que dele esperariam os habitantes desta zona ribeirinha e estuarina. Estudo iconográfico mais desenvolvido aguarda próxima oportunidade, mas estas observações resultam já de intervenção de conservação adjudicada pelo Ecomuseu à empresa ERA – Arqueologia e rea-
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CONHECER Uma divindade no acervo do Ecomuseu Municipal do Seixal
Estatueta de Mercúrio após limpeza sumária e antes da intervenção de conservação (frente e costas). © EMS/CDI – Cézer Santos, 2004
Estatueta de Mercúrio após a intervenção de conservação (frente e costas). © EMS/CDI – Cézer Santos, 2007
lizada pela conservadora-restauradora Sara Fragoso. Assumidamente minimalista, essa intervenção consistiu essencialmente na limpeza das camadas de corrosão que cobriam a peça, na consolidação de superfícies friáveis, estabilização química e aplicação de protecção exterior, para acondicionamento em reserva. Complementarmente, decidiu-se aproveitar a ocasião para executar radiografia digital que mostrou que o corpo da divindade, executado com molde em cera perdida, é constituído por uma liga de cobre com elevado teor de chumbo, enquanto que no eventual remo se usou latão. Análises de espectrometria de microfluorescência de raios X e de microdifracção do mesmo tipo de radiação carecem de desenvolvimento científico, pois revelaram camadas superficiais de caracterização muito complexa, consequência das condições ambientais a que o objecto esteve sujeito e dos posteriores processos de corrosão.
Cláudio II (268-270 AD) e cinco bronzes do século IV, de cunhagens sob as governações de Constantino I (307-337 AD) a Juliano II (360-363 AD).
Aquando da escavação arqueológica, a abundância de carvões e cinzas na unidade estratigráfica que revelou a estatueta ilustra bem episódio com forte acção do fogo que a análise microscópica também evidencia. A datação de um desses carvões pelo método do carbono 14, executada no Instituto Tecnológico e Nuclear (ref.ª Sac-2074), é justamente um dos indicadores cronológicos mais precisos que temos para o enquadramento cronológico da peça, apontando para uma data de 1730 ± 40 anos BP
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(anos de radiocarbono), valor que, calibrado para anos de calendário a 2 s (isto é, com uma probabilidade de ocorrência de 95 %), corresponde ao intervalo de 224-412 cal AD. Essa datação é perfeitamente consentânea, por exemplo, com os numismas presentes no mesmo contexto: um Antoninianus em cobre cunhado no período governativo de
A futura escavação extensiva do sítio permitirá compreender melhor o contexto de utilização e o verdadeiro valor simbólico, à época, desta pequena representação de Mercúrio. Para isso, a Câmara Municipal do Seixal protocolou com o antigo proprietário do terreno a definição de uma área de reserva arqueológica que irá consignar também em sede de revisão do Plano Director Municipal do concelho. Este será um dos projectos que ocupará a equipa do Serviço de Arqueologia do Ecomuseu nos próximos anos, antevendo-se que possa revelar estruturas e bens móveis enriquecedores do acervo da instituição e, consequentemente, da investigação científica que promove e da oferta patrimonial que poderá colocar à fruição de públicos diversificados.
Fontes: CARMONA MUELA, Juan (2002) – Iconografía Clásica: guía básica para estudiantes. 2.ª ed. Madrid: Ediciones Istmo (Colección Fundamentos, 161). MANGUCCI, António Celso (2003) – Metamorfoses, Ordem e Erudição: a iconografia das pinturas mitológicas no tecto da Quinta da Trindade. Seixal: Câmara Municipal do Seixal (Colecção Património e História, 2). RAPOSO, Jorge (2003) – “Presença Romana na Quinta de S. João (Arrentela, Seixal): breve síntese de novos dados”. Al-Madan. Almada. IIª Série. 12: 184-185.
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© EMS/CDI – Pedro Vilela, 2007
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Protecção e valorização da cultura e do património flúvio-marítimos do estuário do Tejo Como foi anunciado na edição deste boletim do anterior trimestre, a programação de Maio-Património deste ano foi sobretudo dedicada à cultura e ao património flúvio-marítimos, dando ênfase a um dos campos temáticos e de actuação mais importantes do Ecomuseu Municipal do Seixal, quando este comemora o seu vigésimo quinto ano de actividade. Maio-Património é um conjunto de eventos que o Ecomuseu Municipal organiza no mês de Maio, desde 2006, para assinalar o Dia Internacional dos Museus e a Noite dos Museus, que têm projecção e significados respectivamente internacionais e europeus, programando-os para o território e as comunidades de referência do museu. Os eventos de 2007 integraram assim um Encontro de embarcações tradicionais do estuário do Tejo, na baía do Seixal, promovido com a colaboração da Associação Náutica do Seixal e da Associação Naval Amorense, contando com apoios de numerosas entidades com as quais se vêm desenvolvendo parcerias e intercâmbios em torno do património marítimo. Constituíram a Comissão de Honra deste encontro S. Ex.ª o Presidente da República, os Ministros da Cultura e do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, o Chefe do Estado-Maior da Armada, o Presidente da Junta Metropolitana de Lisboa e da Câmara Municipal do Barreiro, o Presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal e da Câmara Municipal do Seixal, o Presidente da Região de Turismo da Costa Azul, o Presidente do Conselho de Administração do Porto de Lisboa e o Comandante da Capitania do Porto de Lisboa.
Entre 18 e 20 de Maio, a baía do Seixal acolheu 30 embarcações tradicionais, a maioria das quais oriundas do estuário do Tejo, sendo outras provenientes de Setúbal, do Norte do país e da Galiza (Espanha). Participaram embarcações das Câmaras Municipais do Seixal, da Moita, de Vila Franca de Xira e de Cascais, da Associação Naval Amorense, do Centro Náutico Moitense, da Associação Naval Sarilhense, do Clube Desportivo de Paço de Arcos, do Grupo de Amigos do Museu de Marinha, da Associação Portuguesa de Património Marítimo, do Fórum Esposendense, da Associação de Barcos do Norte e da Federação Galega para a Cultura Marítima. Com 135 tripulantes presentes, as embarcações participantes foram as seguintes: canoas Boneca (Lisboa), Cabo da Marinha (Amora), Canastrinha (Moita), Esperança (Sarilhos Pequenos), Gavião dos Mares (Moita), Nina (Moita), Papa Milhas (Moita), Ponta da Marinha (Sarilhos Pequenos), Princesa do Tejo (Moita), Sempre Consegui (Sarilhos Pequenos), Senhora da Graça (Sarilhos Pequenos) e Zérrui (Moita); catraios Baguinho (Sarilhos Pequenos), Flor do Cais (Alhos Vedros), Jorge Martins (Seixal), O Pé Leve (Paço de Arcos), Primavera (Moita), Sarilhense (Sarilhos Pequenos) e Vela Latina (Sarilhos Pequenos); catraias Nossa Senhora da Agonia (Viana do Castelo) e Santa Maria dos Anjos (Esposende); bote-de-fragata Baía do Seixal (Seixal); fragata Afonso de Albuquerque (Lisboa); varinos O Boa Viagem (Moita), Liberdade (Vila Franca de Xira) e Sou do Tejo (Sarilhos Pequenos); galeões do sal Pego do Altar (Setúbal) e Estou para Ver (Cascais) e as dornas Forza Z e O Pequeno (Galiza). Para além dos tripulantes, muitos participantes aproveitaram a realização do desfile do dia 18 e da regata do dia 19 de Maio para conhecerem melhor
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algumas daquelas embarcações, a bordo das quais navegaram. Conciliando a organização do Encontro com um dos projectos associados à área de investigação sobre cultura e património flúvio-marítimos, o Ecomuseu iniciou também uma primeira fase de inventário de embarcações tradicionais do estuário do Tejo - registo, identificação e descrição básica das embarcações tradicionais a flutuar e/ou a navegar actualmente no estuário do Tejo, conservadas e registadas pelos seus detentores (armadores individuais ou colectivos) como embarcações de recreio ou turísticas. Este trabalho será levado a cabo de forma participada, envolvendo os proprietários e os tripulantes dos barcos registados. No dia 19 de Maio, no Auditório Municipal, no Fórum Cultural do Seixal, teve lugar uma sessão pública sobre Protecção e valorização do património marítimo do estuário do Tejo – Museus e Comunidades, que reuniu mais de 50 pessoas, principalmente membros das associações náuticas do estuário do Tejo, proprietários de embarcações tradicionais, representantes de autoridades marítimas e de autarquias, técnicos e profissionais de museus. Foram apresentadas as seguintes comunicações, cujos conteúdos estarão disponíveis na página do Ecomuseu na Internet: - Da gestão de embarcações de recreio à salvaguarda de património marítimo navegante do estuário do Tejo, por João Martins, do Ecomuseu Municipal do Seixal; - A Autoridade Marítima Nacional. O Estado no Mar, por Filipe Matos Nogueira, representante da Capitania do Porto de Lisboa; - Sonhar o baixo, por Fernando Carvalho Rodrigues, em representação do Centro Náutico Moitense; - O Museu de Marinha e a preservação do património marítimo português, por José António Rodrigues Pereira, Director do Museu de Marinha; - The maritime heritage movement in Europe, por Thedo Fruithof, Secretário do European Maritime Heritage. Graça Filipe e Elisabete Curtinhal
Recomendações para a PROTECÇÃO E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO MARÍTIMO DO ESTUÁRIO DO TEJO – MUSEUS E COMUNIDADES Resultantes da Sessão Pública de 19 de Maio 2007, no Seixal, no âmbito do 1.º Encontro de Embarcações Tradicionais na Baía do Seixal Os participantes nesta Sessão, reunidos no Auditório Municipal no Fórum Cultural do Seixal, en-
quanto representantes de associações náuticas do estuário do Tejo e de autoridades marítimas, proprietários de embarcações tradicionais, técnicos de autarquias locais e profissionais de museus, confiaram à Câmara Municipal do Seixal, através do Ecomuseu Municipal do Seixal (EMS), enquanto entidade organizadora, a elaboração de um documento de breve balanço das intervenções e dos debates registados, para conhecimento das principais instituições consideradas interventoras ou com responsabilidade em diferentes campos da salvaguarda e da navegação das embarcações tradicionais. Assim, salientando-se ao longo da referida sessão a necessidade da conjugação de esforços e de parcerias entre as entidades das margens Norte e Sul do Tejo envolvidas na preservação e na navegação das embarcações tradicionais, assim como o propósito de contribuir para uma maior mobilização da sociedade civil, foram recomendadas acções e iniciativas tais como: - A cooperação entre entidades associativas dos concelhos ribeirinhos do estuário do Tejo, nomeadamente as que operam nas áreas da formação e da náutica de recreio, para estruturarem ou consolidarem uma vertente ligada à memória e à cultura marítima, potenciando o seu papel sensibilizador junto das respectivas comunidades, em prol da protecção do património cultural, do ambiente e da valorização da paisagem; - A avaliação comparativa das várias experiências decorridas ao longo dos últimos 25 anos, de recuperação de embarcações tradicionais reutilizadas enquanto barcos de recreio em actividades de carácter cultural, educativo e turístico, em que as autarquias desempenharam um importante papel, não dispensando contudo a articulação com as autoridades marítimas e com prestadores de serviços específicos, como estaleiros navais; - A cooperação entre as diversas instituições, tutelas e agentes culturais para a formação e o desenvolvimento de públicos para eventos náuticos que associem aspectos identitários e promovam a cultura marítima no estuário do Tejo; - A continuidade de projectos de salvaguarda, conservação e manutenção de embarcações tradicionais, a par da transmissão de saberes e técnicas de navegação, através de formação e da constituição de tripulações para a respectiva reutilização com fins culturais e educativos, de fruição patrimonial e turística; - A realização regular, pelo menos anual, na baía do Seixal, a partir deste primeiro encontro de 2007, de eventos que reúnam embarcações tradicionais do estuário do Tejo, de proprietários públicos, associativos ou privados e, se possível, de outras proveniências e referências culturais, que expressem a diversidade do património marítimo
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português, contribuindo para a sua divulgação e salvaguarda; - A instalação e a promoção do acesso de estruturas marítimas de apoio às embarcações tradicionais, com o envolvimento ou sob a responsabilidade da Administração do Porto de Lisboa neste e noutros projectos que aproximem as comunidades do Rio e contribuam para um desenvolvimento integrado e para a qualificação do quotidiano das populações ribeirinhas, estreitamente ligado ao estuário do Tejo; - A promoção de projectos em que participem e cooperem museus vocacionados para a protecção e a valorização da cultura e do património marítimos, em estreita relação com as comunidades locais. Neste sentido, o EMS visa organizar uma próxima jornada de museus sobre cultura e património flúvio-marítimos, em parceria com o Museu de Marinha de Lisboa e em articulação com a Rede Portuguesa de Museus, a fim de operacionalizar o trabalho museológico em rede neste âmbito temático, em Portugal, também beneficiando da troca e partilha de experiências com entidades estrangeiras ou organizações internacionais; - A realização de inventários de património marítimo e fluvial em Portugal e em particular no estuário do Tejo, incluindo um inventário de embarcações tradicionais, com uma inerente identificação e classificação de tipologias, procurando em simultâneo desenvolver o quadro legal e definir medidas de protecção e de salvaguarda patrimonial, abarcando de forma integrada as vertentes materiais e imateriais. No âmbito do Encontro de embarcações tradicionais do estuário do Tejo, realizado na baía do Seixal, o EMS iniciou e divulgou um projecto de inventário, delineando uma metodologia participada e em que propõe o envolvimento dos proprietários e dos tripulantes das embarcações registadas.
CARTA DE BARCELONA: PRINCÍPIOS DA PRESERVAÇÃO DO PATRIMÓNIO MARÍTIMO FLUTUANTE E NAVEGANTE O actual conceito de património marítimo flutuante, que abarca, quer embarcações de grandes dimensões, de relevância civilizacional, quer pequenas embarcações, que tenham um particular significado cultural, assim como o princípio de relação entre a preservação do património flutuante e a perpetuação de técnicas tradicionais, encontram-se consignados na Carta de Barcelona, de Março de 2003. Esta foi assinada a bordo de um navio-museu (fragata Jyland), em Ebeltoft, na Dinamarca, por iniciativa do EMH – European Maritime Heritage, na sequência do seu 4.º Congresso, que teve lugar em Barcelona, em Agosto de 2001, e do debate entre museus marítimos, operadores e proprietários de navios históricos.
O European Maritime Heritage (EMH: www.european-maritime-heritage.com) – Património Marítimo Europeu – é uma associação, constituída em 1992, cujo principal propósito é representar os interesses dos proprietários e das organizações que, na Europa, mantêm embarcações tradicionais a navegar, tendo por objectivo a criação de uma plataforma legal comum para todas as embarcações históricas e tradicionais europeias. O Ecomuseu Municipal do Seixal está em vias de se tornar um dos seus membros consultores (17, em 2007).
CARTA DE BARCELONA (Tradução da responsabilidade do Ecomuseu Municipal do Seixal, a partir do texto editado por Ingo Heidbrink/EMH) Definições Artigo 1.º - O conceito de património marítimo flutuante engloba a embarcação tradicional na qual se encontra a evidência de uma determinada civilização ou de um acontecimento relevante assim como de navegação tradicional, de marinharia e de trabalho marítimo. Aplica-se simultaneamente às embarcações de maior e de menor porte que existiram no passado e adquiriram relevância cultural ao longo dos tempos. Artigo 2.º - A preservação, a recuperação e a utilização de embarcações tradicionais devem recorrer a todas as disciplinas científicas, às técnicas e aos meios que possam contribuir para o estudo e a salvaguarda do património marítimo flutuante. Objectivo Artigo 3.º - A intenção subjacente à preservação e à recuperação de embarcações tradicionais a navegar deve ser a de as salvaguardar, quer como obras de arte, quer como testemunhos históricos ou de forma a perpetuar saberes tradicionais. Preservação Artigo 4.º - Considera-se essencial para uma preservação continuada das embarcações a navegar que a sua manutenção seja feita permanentemente. Artigo 5.º - Reutilizar as embarcações em actividades de recreio facilita a sua preservação, contudo, as exigências desta utilização não deverão implicar uma alteração significativa da estrutura geral das embarcações, pelo que as modificações inerentes à mudança de função devem ser mantidas dentro de determinados limites.
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Recuperação Artigo 6.º - Uma embarcação tradicional é inseparável do contexto histórico do qual é testemunho, assim como da sua área de navegação de origem. Deste modo, o seu ancoradouro e a sua área de navegação devem localizar-se preferencialmente na área da sua antiga utilização. Artigo 7.º - O processo de recuperação é altamente especializado. Os seus objectivos são preservar e revelar o valor estético, funcional e histórico das embarcações tradicionais, pelo que se deve basear no respeito pelo uso de materiais originais e pelo recurso a documentação cuja autenticidade esteja comprovada. O processo de recuperação deve ser sempre precedido e acompanhado por um estudo de carácter histórico da embarcação. Artigo 8.º - A qualidade dos resultados obtidos com o processo de recuperação de embarcações tradicionais depende do recurso às técnicas e aos materiais tradicionais. Nos casos em que as técnicas e os materiais tradicionais se demonstrem inadequados, a consolidação de embarcações tradicionais preservadas a navegar poderá ser obtida com o uso de materiais modernos de conservação, cuja eficácia tenha já sido demonstrada através de dados científicos e confirmada através da experiência. Artigo 9.º - A recuperação de uma embarcação tradicional não significa necessariamente uma
Seminário
Joaquim Vieira Natividade, a Subericultura e o Património Suberícola e Corticeiro
aproximação às suas características de origem. Nalguns casos, as embarcações têm um valor histórico acrescido em fases posteriores do seu período de actividade. A recuperação reportada a um determinado período deve ser realizada apenas após uma análise exaustiva da fiabilidade da documentação histórica e técnica disponível sobre esse determinado período. Artigo 10.º - O equipamento de navegação e de segurança, que é obrigatório ter a bordo, deve integrar harmoniosamente o conjunto da embarcação mas, simultaneamente, deve distinguir-se do original de modo a que a recuperação não distorça as características artísticas ou históricas. Artigo 11.º - Admite-se apenas a realização de alterações estruturais nos casos em que as mesmas não retirem valor às partes significativas da embarcação e ao equilíbrio da sua composição. Artigo 12.º - Todas as obras de recuperação devem ser devidamente documentadas, nomeadamente através da elaboração de relatórios detalhados, ilustrados com desenhos e/ou fotografias e outros meios considerados apropriados. Cada fase dos trabalhos de desmantelamento, reparação, construção e adição de novas partes, assim como características identificadas no decurso dos trabalhos, devem ser igualmente incluídas.
Painel I - Montados de sobro e sobreirais – características, valor paisagístico e riqueza biológica como ecossistemas 12h Visita à Exposição Joaquim Vieira Natividade – uma vida com a cortiça (1899-1968) Local: Núcleo da Mundet do Ecomuseu Municipal do Seixal 14.30/16 h Painel II - Investigação e desenvolvimento suberícolas e sua projecção económica – de Vieira Natividade aos nossos dias
Organização: Ecomuseu Municipal do Seixal Data: 21-22 Setembro Programa (sujeito a confirmação) 21 de Setembro 9.30 / 11.30 h Local: Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal
16.30/18.30 h Painel III - Conhecimento e divulgação do património suberícola e corticeiro – pomotores, projectos e parcerias 22 Setembro Visita a um montado
museu da rede portuguesa de museus NÚCLEOS E SERVIÇOS
Núcleo da Mundet Praça 1.º de Maio, 1 2840-485 Seixal SERVIÇOS CENTRAIS – Edifício dos Escritórios Telefone: 210976112 – Fax: 210976113 E-mail: ecomuseu@cm-seixal.pt Horário de atendimento geral: De 2.ª a 6.ª feira, das 9h às 12.30h e das 14h às 17.30h
Embarcações Tradicionais do Tejo Cais principal de apoio: Seixal Varino Amoroso e bote-de-fragata Baía do Seixal Realização de passeios no Tejo, entre Abril e Outubro Informações sobre programação de actividades: Serviço Educativo Bote-de-fragata Gaivotas em estaleiro
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO Horário de consulta de Verão (Junho - Setembro): 3.as, 4.as e 5.as feiras, das 10h às 12.30h e das 14h às 17h Horário de consulta de Inverno (Outubro - Maio): 3.as, 4.as e 5.as feiras, das 10h às 17h e-mail: ecomuseu.cdi@cm-seixal.pt
NÚCLEO DA QUINTA DA TRINDADE Azinheira, Seixal Imóvel Classificado de Interesse Público Acesso condicionado
SERVIÇO EDUCATIVO Horários de atendimento telefónico: 2.as feiras, das 9h às 12.30h e das 14h às 17h e-mail: ecomuseu.se@cm-seixal.pt ¬ EXPOSIÇÕES – Edifícios das Caldeiras Babcock & Wilcox e das Caldeiras de Cozer Horários de Verão (Junho - Setembro): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14.30h às 18.30h Horários de Inverno (Outubro - Maio): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14h às 17h Encerramento: 2.as feiras e feriados nacionais
Núcleo de Olaria Romana da Quinta do Rouxinol Quinta do Rouxinol, Corroios Sítio Classificado como Monumento Nacional Fornos de Cerâmica Romanos (sécs. II-IV) Acesso condicionado
Núcleo do Moinho de Maré de Corroios Devido a obras de conservação e de requalificação do imóvel e da envolvente, este núcleo encontra-se encerrado ao público
NÚCLEO NAVAL Av. da República - Arrentela
Extensão do Ecomuseu na Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços
Vale de Milhaços, Corroios ¬ EXPOSIÇÕES ¬ Oficina de construção artesanal de modelos de barcos do Tejo Horários de Verão (Junho - Setembro): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14.30h às 18.30h Horários de Inverno (Outubro - Maio): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14h às 17h Encerramento: 2.as feiras e feriados nacionais
Sítio Classificado Imóvel de Interesse Público Acesso condicionado
Extensão do Ecomuseu na Quinta de S. Pedro Quinta de S. Pedro, Corroios Campo arqueológico necrópole medieval-moderna (séculos. XIII-XVII) Acesso condicionado
Ficha Técnica _ Ecomuseu Informação n.º 44 _ www.cm-seixal.pt/ecomuseu Edição Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal do Seixal
Distribuição gratuita Assinaturas a pedido junto do EMS
Direcção E EDITORIAL
Créditos fotográficos
Graça Filipe
Indicados nas legendas respectivas
Participaram nesta edição
Grafismo e Revisão
Exposições: Graça Filipe e Cláudia Silveira Programa de Iniciativas de Serviço Educativo e Agenda: Carla Costa Centro de Documentação e Informação: Fernanda Ferreira Conhecer: Jorge Raposo Em foco: Graça Filipe e Elisabete Curtinhal Apoio nos recursos fotográficos e ilustrações
Fernanda Ferreira, Fernanda Machado e Jorge Raposo
Sector de Apoio Gráfico e de Edições da CMS Impressão
Grafema, Sociedade Gráfica, S.A. Tiragem
6000 exemplares ISSN
0873-6197 DEPÓSITO LEGAL
106175/96