2009
˙n.º 51˙abril.maio.junho Boletim trimestral do Ecomuseu Municipal do Seixal
ecomuseu informação Maio património 3.º ENCONTRO DE EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS NA BAÍA DO SEIXAL
2.º encontro de embarcações tradicionais na baía do Seixal © EMS/CDI, António Silva, 2008
Programa: página 5 EXPOSIÇÃO QUINTA DO ROUXINOL: UMA OLARIA ROMANA NO ESTUÁRIO DO TEJO (Corroios, Seixal) NO MUSEu nacional de arqueologia Participe nas visitas temáticas
Informações: página 8
Exposição Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios, Seixal) © Matthias Tissot, MNA — IMC, 2009
27.ª época de passeios no estuário do tejo Bote-de-fragata baía do seixal 20 anos de navegação e recreio
Informações: páginas 5 a 8
Bote-de-fragata Baía do Seixal © EMS/CDI, António Silva, 2005
Consulte e inscreva-se nas iniciativas em: www.cm-seixal.pt/ecomuseu
˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙n.º 51˙abr.mai.jun
2009
ÍNDICE 2
EDITORIAL Maio Património: fortalecer identidades, construir memórias . Graça Filipe 3˙4
exposições 5˙
Maio património 2009 3.º encontro de embarcações tradicionais na baía do seixal
15˙16˙17’18
10˙11
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO
carta do património do concelho do seixal
. Fernanda Ferreira
. João Paulo Santos
12˙13 ˙14
19
conhecer
Agenda
Bote-defragata Baía do Seixal: 20 anos de reconhecimento de valor patrimonial, a navegar como embarcação de recreio . Elisabete Curtinhal e Graça Filipe
20
Núcleos e serviços do EMS
6˙7 ˙8˙9
Programa de iniciativas de serviço educativo
EDITORIAL Maio Património: fortalecer identidades, construir memórias Dia Internacional dos Museus celebra o papel dos museus e do património para um turismo cultural sustentável A 18 de Maio, em todos os continentes, celebra-se o Dia
reunir meios de contacto e de divulgação de dois museus e
Internacional dos Museus, que o ICOM (Conselho Internacional
alargando o universo de visitantes potencialmente interessa-
de Museus) dedicou, em 2009, ao tema de «Museus e
dos em conhecer também outros patrimónios e realidades
Turismo». Estima-se que em 2008 tenham participado cerca
do nosso Concelho.
de 20 000 museus na celebração desta jornada, abrangendo cerca de 90 países. O que se pretende este ano é celebrar o
As iniciativas que oferecemos e divulgamos para este tri-
turismo sustentável e demonstrar como é que através dos
mestre foram concebidas, por um lado, para atrair ou fazer
museus se podem criar relações de mútuo benefício entre as
regressar visitantes de todas as idades e proveniências
comunidades locais e os visitantes, permitindo a conjugação
geográficas, quer aos espaços e recursos do Ecomuseu,
de sensibilidades e mesmo de esforços que promovam o
quer ainda, num âmbito mais alargado, ao estuário do Tejo e
património natural e cultural e o desenvolvimento local.
à baía do Seixal, aproveitando a estação do ano que atravessamos e as condições naturais de que o território beneficia.
A 18 de Maio, o Município do Seixal comemora a abertura
Salientamos porém que a programação cultural diversificada
ao público (e a criação, em 1982) do seu museu municipal:
e intensiva de Abril a Junho, como a que preparámos para
o Ecomuseu.
todo o ano de 2009, tem por finalidade principal que as
Para além da programação do Dia Internacional dos Museus
comunidades locais e o Ecomuseu interajam na percepção
e do 27.º aniversário do Ecomuseu, este boletim divulga
e na valorização do património, utilizando-o para fortalecer
numerosas iniciativas, reflectindo a diversidade de temáticas
identidades e construir memórias.
patrimoniais abarcadas na actividade museológica.
Este processo e a desejável participação das comunidades
Tendo uma data móvel, a Noite dos Museus realiza-se em
na gestão do seu património natural e cultural – desde logo
2009 no dia 16 de Maio e o Ecomuseu convida os seus visitan-
tornando-se elas próprias visitantes/públicos do Ecomuseu
tes a participarem no concerto que terá lugar no Núcleo da
Municipal – constituem factores importantíssimos na estra-
Mundet e a passarem ali um serão de convívio em ambiente
tégia de desenvolvimento sustentável do turismo na região
industrial.
e no Município. É sob esta perspectiva e de acordo com as convenções
Pelo quarto ano consecutivo, desde que aderimos também à
internacionais e cartas de princípios que no mundo inteiro
comemoração da Noite dos Museus, Maio será festejado no
reforçam a importância da conservação do património como
nosso Município como mês do Património, reforçando e diver-
recurso de desenvolvimento, e o consequente papel dos
sificando a programação do Ecomuseu Municipal do Seixal,
museus, que organizamos o 3.º encontro de embarcações
em que se incluem exposições, navegação e passeios no
tradicionais na baía do Seixal, procurando interpretar o patri-
estuário do Tejo, visitas, ateliês, debates, curso de modelismo,
mónio marítimo e fluvial através de contextos actuais, em que
convívios e reencontro de amigos e doadores.
são protagonistas as comunidades herdeiras, transmissoras
As exposições e actividades de comunicação e difusão que
e renovadoras de saberes-fazer e de práticas culturais.
lhes associamos projectam o património e as referências identitárias das comunidades locais para além dos limites territoriais do Seixal. Recordamos particularmente que a exposição Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios, Seixal) se apresenta no Museu Nacional de Arqueologia desde 19 de Março passado, com a novidade de
Graça Filipe
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EXPOSIÇÕES
abr.mai.jun n.º 51
˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙
Para mais informações sobre Exposições e Notícias, consulte o site www.cm-seixal.pt/ecomuseu
Núcleo da MUNDET do EMS Exposição temporária
Cortiça ao milímetro Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox Apesar de ter sido uma das principais especialidades da Mundet (Seixal) entre 1915 e 1988, o papel de cortiça e o seu modo de fabrico aparecem à maioria dos visitantes como uma novidade do sector industrial corticeiro. Hoje em dia é principalmente associado a produtos decorativos e a acessórios utilitários, mas quando mobilizava centenas de trabalhadores nesta fábrica do Seixal, o papel de cortiça foi também produzido para a indústria tabaqueira. A exposição Cortiça ao milímetro interpreta o funcionamento da oficina de fabrico de papel, com base nas suas máquinas e nas memórias dos antigos trabalhadores, e apresenta aos visitantes a grande diversidade dos produtos elaborados na Mundet a partir de finíssimas folhas de cortiça laminada. Exposição de longa duração
Quem diz cortiça diz Mundet, quem diz Mundet diz cortiça Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox A produção de vapor para a fábrica Edifício das Caldeiras Cozer Cortiça A cortiça na fábrica: a preparação Através do percurso expositivo Quem diz cortiça diz Mundet… interpretam-se dois edifícios industriais da antiga fábrica, incluindo a oficina de produção de vapor, as Caldeiras Babcock & WIlcox – que o Ecomuseu Municipal utiliza também como espaço de exposição temporária – e as Caldeiras dos Moços, onde se procedia ao cozimento de pranchas de cortiça, operação indispensável ao processamento da matéria-
Edifício das Caldeiras Babcock & WIlcox © EMS/CDI, António Silva 2006
-prima para as suas várias aplicações, desde a laminagem para papel, ao fabrico de rolhas. No futuro, este percurso deverá prolongar-se noutros edifícios da Mundet, tais como o da Oficina de Rebaixar.
Exposição temporária
Oficina do Núcleo Naval Memórias da Faina do Alto Mar A partir de Abril, até Outubro de 2009 Inserida no ciclo temático Bacalhoeiros – entre a Terra Nova e o Seixal, de que já apresentámos A Ponta dos Corvos e a seca de bacalhau, esta nova exposição sintetiza alguns aspectos da história e das práticas da pesca de bacalhau, designadamente a utilização dos dóris, pequenas embarcações de 4 a 5 metros a bordo das quais os pescadores podiam pescar, à linha, até cerca de 300 quilos de peixe.
Faina a bordo de um dóri – aguarela Gronelândia, de Jorge Brandeiro, 1956 © EMS/CDI
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Núcleo NAVAL do EMS Exposição de longa duração
Barcos, memórias do Tejo Exposição, complementada pelo catálogo editado com o mesmo título, que interpreta e dá a conhecer aos visitantes o sítio e a tipologia de um antigo estaleiro naval artesanal, o estuário do Tejo, o seu património flúvio-marítimo e as suas memórias ligadas aos barcos tradicionais, de pesca e de tráfego local. Estaleiro de Arrentela, década 1950. Reprodução do original de Pereira, Camacho (org.), Seixal, Edição ROTEP n.º 178, 1954.
Exposição temporária no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa
Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo [Corroios, Seixal] Resultante de uma parceria e de um projecto museográfico que teve o apoio do Programa Promuseus (2007) do Instituto de Museus e da Conservação, no âmbito da Rede Portuguesa de Museus, esta exposição apresenta uma reconstituição à escala natural de um forno cerâmico da mesma tipologia de um dos fornos romanos da Quinta do Rouxinol, a par da sua reconstituição virtual tridimensional. Devidamente contextualizadas em relação ao sítio de proveniência, são interpretadas as produções da olaria (séculos II-V) e a actividade do oleiro, além de materiais exógenos, que o projecto de investigação também valorizou. Uma exposição para visitar até Novembro, dispondo de um guia de apoio editado pela Câmara Municipal do Seixal.
Exposição Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios, Seixal) © Matthias Tissot, MNA - IMC, 2009
em circulação pela europa Exposição itinerante
Moinhos de Maré do Ocidente Europeu Exposição que aborda aspectos relacionados com a difusão e a implantação geográfica de moinhos de maré no ocidente europeu, as suas tipologias e o modo de funcionamento, a diversidade de utilizações e a valorização patrimonial destes testemunhos culturais. Encontrando-se em circulação desde Outubro de 2005, resulta de uma parceria internacional coordenada pelo Ecomuseu Municipal do
Seixal, a qual foi desenvolvida no âmbito de um projecto apoiado pelo Programa Cultura 2000 da Comissão Europeia. Encontra-se agendada a sua apresentação entre os dias 20 de Abril e 31 de Maio de 2009 no Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo, instalado no Moinho de Maré da Argaçosa, recentemente recuperado por iniciativa da autarquia local. Mais informações sobre a exposição e o projecto que a enquadra encontram-se disponíveis no site www.moinhosdemare-europa.org.
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˙ECOMUSEU INFORMAÇÃO˙
Maio Património 2009
encontro de embarcações tradicionais na baía do seixal
Programa 22 de Maio 13.30h | 15.00h - Desfile de embarcações tradicionais na Baía do Seixal; passeios a bordo. 14.00h | 16.00h – Ateliês Aprender a fazer… nós de marinheiro e Pintura tradicional de barcos do Tejo no jardim do Seixal
22 a 26 maio 2009
16 de Maio | Noite dos Museus 22h, Núcleo da Mundet do EMS Edifício das Caldeiras Babcock & Wilcox Concerto pelo Eire Trio (violino, contrabaixo e harpa) ORGANIZAÇÃO
- Profissionais e outros interessados em actividades ligadas à conservação e à navegação de embarcações tradicionais. - Comunidades locais.
APOIOS
MARCODIESEL
23 de Maio 14.00 | 16.00h — 3.ª Regata do Ecomuseu Municipal do Seixal na Baía do Seixal; passeios a bordo 14.00h | 16.00h — Ateliês Aprender a fazer… Nós de marinheiro e Pintura tradicional de barcos do Tejo no jardim do Seixal 16.30h | 19.30h — Sessão pública O património marítimo e a formação profissional – parcerias para o desenvolvimento de profissões ligadas ao mar, na Associação Náutica do Seixal
WWW.CM-SEIXAL.PT
18 de Maio | Dia Internacional dos Museus e 27.º aniversário do EMS 9.00h | 12.00h Passeio de barco a bordo do Bote-de-Fragata Baía do Seixal 18h, Núcleo Naval do EMS Concerto pela Escola de Jazz e Música Moderna de Almada-Seixal 22 a 26 de Maio | 3.º Encontro de Embarcações Tradicionais na Baía do Seixal Organizado pela Câmara Municipal do Seixal, através do EMS, o Encontro tem por objectivos principais: - A protecção e a valorização do património marítimo e fluvial, em particular das embarcações tradicionais, enquanto recursos de desenvolvimento, divulgando-os nos âmbitos nacional e internacional; - A promoção da cultura marítima e a valorização do património natural e cultural do estuário do Tejo; - A promoção de parcerias para o desenvolvimento de profissões ligadas ao mar com especial ênfase na importância da formação profissional para assegurar os saberes-fazer associados à navegação e à manutenção das embarcações tradicionais; - O alargamento de públicos interessados em acontecimentos náuticos e em práticas de cultura associadas a espaços ribeirinhos e ao estuário do Tejo, nomeadamente a bordo de embarcações tradicionais e de recreio; Destinatários: - Proprietários e tripulações de embarcações tradicionais, com as respectivas embarcações. - Públicos diversos, nomeadamente interessados em navegar a bordo de embarcações tradicionais no estuário do Tejo.
16.30h – Abertura 17.00h às 18.50h – Comunicações, abordando as seguintes vertentes do tema geral: - Situação e necessidades da formação profissional para embarcações com valor patrimonial: construção naval em madeira, fabrico de velas e pintura decorativa; - Experiências de formação de tripulações em contexto patrimonial e museológico; - Ensino da navegação à vela; - Formação profissional para a pesca; - Formação e credenciação de profissões ligadas ao mar; - Experiências e práticas no contexto associativo; - O caso da Galiza; 18:50 – Debate 19:30 – Encerramento 24 de Maio 14.30h | 17.00h – Navegação livre na Baía do Seixal / Passeio a bordo das embarcações tradicionais 14.00h | 16.00h – Ateliês Aprender a fazer… nós de marinheiro e Pintura tradicional de barcos do Tejo, no jardim do Seixal 25 de Maio 14.30h | 17.00h – Passeios a bordo das embarcações tradicionais. Navegação em frota. 14.00h | 16.00h – Ateliês Aprender a fazer… Nós de marinheiro e Pintura tradicional de barcos do Tejo, no jardim do Seixal 26 de Maio 14.30h | 17.00h – Passeios a bordo das embarcações tradicionais. Navegação em frota.
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CDI
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Centro de Documentação e Informação
Complementando a divulgação, nesta edição do Ecomuseu Informação, sobre as actividades em curso no âmbito da exposição temporária Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios, Seixal), patente ao público no Museu Nacional de Arqueologia, propomos-lhe algumas sugestões de leitura relacionadas com a temática da Arqueologia, particularmente reportadas ao Período Romano, e com os conteúdos da referida exposição sobre a produção de cerâmica.
¬ BERNAL CASASOLA, Darío, ed. - Excavaciones arqueologicas en el alfar romano de la Venta del Carmen, Los Barrios (Cadiz) : una aproximacion a la produccion de anforas en la Bahia de Algeciras en
epoca
altoimperial.
Madrid : UAM Ediciones ; Cádiz : Ayuntamiento de Los Barrios , D.L. 1998. 408 p. ISBN 84-7477-718-6.
Para além dos recursos documentais em destaque, que abordam a temática de forma abrangente, o Centro de Documentação e Informação disponibiliza também para consulta diversos documentos sobre a presença romana no estuário do Tejo e, em particular, sobre a produção de cerâmica na olaria romana da Quinta do Rouxinol, resultantes de projectos de investigação e outras actividades e iniciativas da responsabilidade da equipa técnica do EMS. Entre tais documentos, destacamos relatórios de campanhas arqueológicas, relatórios de estudo de materiais arqueológicos e comunicações apresentadas em congressos e encontros científicos, entre outros recursos.
Edição que divulga os diversos trabalhos de investigação centrados no sítio arqueológico de Venta del Carmen, resultantes das duas intervenções arqueológicas realizadas em 1996 e 1997. Os estudos ocupam-se dos diversos aspectos e materiais do sítio arqueológico cujos resultados foram recolhidos através de modernas técnicas de análise. A olaria de Venta del Carmen teve o seu período de funcionamento entre a época de Augusto até finais do século I d.C. e foi concebida à semelhança de outras olarias da mesma época. A investigação realizada demonstra que produziu fundamentalmente ânforas para armazenamento e transporte de alimentos tendo como produção complementar materiais cerâmicos destinados à construção e vestígios limitados de outros materiais cerâmicos.
Edições em destaque ¬ CONGRESO INTERNA¬ CHAVARRÍA ARNAU, Alexandra - El final de las
CIONAL DE LA ASOCIA-
villae en Hispania : (siglos IV-VII D.C.). Turnhout : Bre-
CIÓN
pols Publishers, cop. 2007. 307, [5] p. (Bibliothèque
ROMANAE
de l’Antiquité Tardive ; 7). ISBN 978-2-503-51735-3.
26, Cádiz, 2008 - Cerámi-
Este trabalho que tem por base a investigação rea-
cas hispanorromanas : un
lizada para uma tese de doutoramento, resulta no
estado de la cuestión. 1.ª
levantamento, análise e interpretação sistemáti-
ed. Cadiz : Universidad de
ca da evolução e das transformações funcionais
Cádiz, Servicio de Publi-
ocorridas nas villas existentes no território da Pe-
REI
CRETARIAE FAUTORES,
caciones ; Fundación Pou-
nínsula Ibérica. A primeira parte da edição resulta
roulis, 2008. 808 p. ISBN 978-84-9828-216-0
da investigação realizada de forma minuciosa pela
Actas do XXVI do Congreso Internacional de la
autora às fontes de carácter histórico e arqueológi-
Asociación Rei Cretariae Romanae Fautores edi-
co abrangendo todos os aspectos relacionados com
tadas com dois principais objectivos. Em primeiro
as transformações arquitectónicas e funcionais
lugar, disponibilizar aos investigadores presentes
das villas. Na segunda parte, a autora apresenta
no Congresso informação sobre a produção de ce-
o levantamento sistemático dos sítios arqueológi-
râmica romana em território da Península Ibérica.
cos, que inclui aspectos tais como a localização,
Em segundo lugar, esta edição pretende ser um
descrição arquitectónica, actividades económicas,
instrumento ágil, actualizado e sintético sobre as
proprietário, cronologia, materiais arqueológicos e
principais classes cerâmicas de manufactura his-
bibliografia específica para cada sítio arqueológico.
pânica, permitindo a divulgação dos estudos sobre cerâmica romana. A edição aborda fundamentalmente a produção na Península Ibérica entre os séculos III a.C. e VII d.C. e está organizada em seis partes distintas. Estudios
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Preliminares que aborda aspectos fundamentais
com as técnicas e métodos de trabalho empregues
que contextualizam as olarias romanas em territó-
na análise das peças de cerâmica sigillata encon-
rio hispano; Roma en la fase de conquista (siglos
tradas; o estudo das formas lisas e das marcas, os
III-I a.C.) que tem como objectivo fundamental ilus-
modos de cozedura e as tipologias das peças, entre
trar a importância da olaria na Península Ibérica
outros.
antes dos romanos e a continuidade dessas olarias no período romano; Nuevos tiempos, nuevos gustos (Augusto-siglo II d.C.) e Cerâmicas hispanorro-
¬ PEÑA, J. Theodore - Roman pottery in the archa-
manas en la antigüedad tardía (siglos III-VII d.C.),
eological record. 1.ª ed. Cambridge: Cambridge
complementam este estudo cronológico da cerâ-
University Press, 2007. 430 p. ISBN 978-0-521-
mica romana. A quinta parte intitulada Algo más
-86541-8.
que cerâmica: la singularidad de las ánforas, abor-
Os estudos sobre a cerâmica romana assumem um
da a problemática destes recipientes para trans-
particular destaque na investigação arqueológica
porte comercial. Por último, Otras producciones
reportada ao período romano. Através do estudo da
alfareras y tendencias actuales no qual se incluem
cerâmica é possível a recolha de informação sobre
estudos sobre cerâmicas não destinadas ao con-
vários aspectos da vida económica dos romanos. A
sumo ou armazenamento, por exemplo, materiais
partir de 1970 os estudos realizados têm-se dedica-
de construção.
do à geografia, organização e tecnologia de produção de cerâmica, mecanismos da sua distribuição e utilização. Mais recentemente a introdução de ¬ CUOMO DI CAPRIO,
novas metodologias de pesquisa a estes materiais
Ninina - Ceramica in
arqueológicos tem permitido o estudo de aspectos
archeologia 2 : antiche
sociais e ideológicos.
techiche di lavorazione
A edição analisa, com base num modelo de ciclo
e moderni metodi di in-
de vida da cerâmica romana que inclui diferentes
dagine. Roma : L’ Erma
etapas entre as quais a manufactura, distribuição,
di Bretschneider, 2007.
utilização original e reutilização, de que forma os
752 p. (Studia Archaeo-
romanos utilizavam a cerâmica e as implicações
logical ; 144). ISBN 88-
destas formas de uso para a investigação arqueo-
8265-397-8.
lógica e para o conhecimento da cultura material
A primeira parte da
no mundo romano.
edição compreende o estudo de todas as etapas de produção de cerâmica: a preparação da argila, modelação, decoração, cozedura, representando todas
¬ JEREZ LINDE, José Manuel - La terra sigillata itá-
as fases de laboração com descrições pormenori-
lica del Museo Nacional de Arte Romano de Mérida.
zadas, ilustrações, imagens e quadros explicativos
Mérida : Museo Nacional de Arte Romano, 2005.
das técnicas utilizadas. A segunda parte da edição
174 p. (Cuadernos Emeritenses; 29). ISSN 1695-
é dedicada às diversas análises laboratoriais exis-
-4521.
tentes e úteis para uma melhor compreensão e conhecimento dos materiais arqueológicos. A edição inclui ainda uma lista sobre fontes documentais
¬ JEREZ LINDE, José Manuel - Terra sigillata his-
que abordam o mundo clássico e moderno.
pánica tardía del Museo Nacional de Arte Romano de Mérida. Mérida : Museo Nacional de Arte Romano, 2006. 160 p. (Cuadernos Emeritenses; 35). ISSN
¬ La Graufesenque (Millau, Aveyron) : sigillées lisses
1965-4521.
et autres productions. 1.ª ed. Pessac : Fédération
Dois estudos do mesmo autor reportados às co-
Aquitania, 2007. vol. 2 (589 p.). (Études d’archéologie
lecções de terra sigillata pertencentes ao Museo
urbaine). ISBN 2-910763-10-2.
Nacional de Arte Romano de Mérida. A primeira
Esta obra sobre o centro produtor de cerâmica de
publicação mais do que um mero catálogo com
terra sigillata de La Graufesenque, em França,
dados técnicos e quantitativos pretende expor as
na actual cidade de Milau, (que tem sido desco-
reflexões do autor sobre os materiais de origem
berto ao longo de várias campanhas de trabalho
itálica e a problemática das importações para o ter-
arqueológico), conta com a colaboração de vários
ritório de Mérida. A segunda publicação é também
especialistas em Arqueologia, como são os casos
um catálogo onde o autor apresenta os materiais
de Martine Genin, Catherine Dejoie, Phillipe de
de cerâmica sigillata de origem emeritense.
Parseval, Sabrina Relaix, Daniel Schaad, Jean-Luc Schenck-David e Phillipe Sciau. O livro apresenta monograficamente vários aspectos relacionados
Fernanda Ferreira
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Bote-de-fragata Baía do Seixal © EMS/CDI, João Martins, 2005
CONHECER
O bote-de-fragata Baía do Seixal foi incorporado em 1989 no Ecomuseu Municipal do Seixal e desde que começou a navegar como embarcação de recreio, em 1990, foi objecto de um continuado processo de conservação e de navegação, integrando, com os seus diversos tripulantes, todas as épocas anuais de passeios no estuário do Tejo, de que puderam usufruir os visitantes do Ecomuseu. Constitui um símbolo de vitalidade de património imaterial e das comunidades ribeirinhas detentoras de saberes-fazer ligados à construção e à reparação naval em madeira, ao fabrico de velas, à pintura decorativa e à navegação à vela no estuário do Tejo. É-lhe assim reconhecido um valor patrimonial indissociável da sua preservação a flutuar e a navegar, o que o torna um bem cultural de características bastante específicas.
Bote-de-fragata Baía do Seixal:
20 anos de reconhecimento de valor patrimonial, a navegar como embarcação de recreio De acordo com a proposta de Regulamento do Ecomuseu Municipal do Seixal (em processo de apreciação pela Câmara Municipal), são três as embarcações tradicionais do estuário do Tejo que integram o seu acervo como património cultural marítimo flutuante/navegante. Referimo-nos aos botes–de-fragata Baía do Seixal e Gaivotas e ao varino Amoroso. Embora geridas de forma a cumprir uma programação estreitamente ligada com a programação do Núcleo Naval, àqueles bens culturais foram atribuídos objectivos específicos no âmbito da missão do EMS: • contribuir para a conservação de património
activa, contribuindo para a construção e o auto-reconhecimento de comunidades ribeirinhas que assumam um papel organizado na preservação dos recursos naturais marinhos e fluviais.
natural e cultural – material e imaterial - do estuário do Tejo; • activar a transmissão dos saberes e das técnicas tradicionais de navegação à vela no contexto do estuário do Tejo e a construção das memórias sociais ligadas à cultura marítima; • promover a consciência ambiental e a cidadania
cadorias e abandonadas nas margens do Tejo, entre as décadas de 1960 e 1970 do século XX. Por iniciativa do Município do Seixal, a seguir ao botede-fragata Gaivotas foram recuperados e, como aquele, registados como barcos de recreio, entre o início da década de 80 e o início da década de 90 do século passado, o Baía do Seixal e o Amoroso.
Foi na década de 1980 que a Câmara Municipal do Seixal adquiriu estas embarcações e ainda uma fragata, com o propósito de promover a sua recuperação e de as preservar e reutilizar com fins culturais, quando todas já tinham sido desactivadas da sua função de origem, o tráfego local. Tal como aquelas, inúmeras embarcações foram desfuncionalizadas do transporte de bens e mer-
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CONHECER Foi assumida a insustentabilidade de recuperar ou de reconstruir a fragata Cravidão, embarcação que permaneceu junto ao Núcleo Naval, em Arrentela, embora se considere ainda necessário tomar algumas medidas para a sua documentação. Neste artigo, pretendemos em particular assinalar o facto de, em 2009, com a 27.ª época de passeios no Tejo do Ecomuseu Municipal do Seixal, o Baía do Seixal completar 20 anos de navegação de recreio, constituindo um recurso patrimonial com uma relevante função social e cultural. Devido a variadas vicissitudes e a especificidades do processo de preservação, lamentavelmente nenhuma das outras duas embarcações – o bote-de-fragata Gaivotas e o varino Amoroso – tiveram até hoje um percurso semelhante, ocorrendo vários impedimentos à sua regular reutilização, não obstante o continuado esforço para que se venha a garantir o retorno à navegação e a sua simultânea operacionalidade como barcos de recreio. Este é um dos actuais projectos patrimoniais da Câmara Municipal do Seixal, para que estão direccionados importantes recursos orçamentais e técnicos. Contamos abordar este projecto e sobre ele informar os nossos leitores, em próxima edição deste boletim. O bote-de-fragata Baía do Seixal é a embarcação mais antiga entre as que integram o acervo do EMS. Data de 1914 o primeiro registo de que temos conhecimento. Contudo, várias evidências apontam para o facto da sua construção poder
Pintura tradicional em estaleiro © EMS/CDI, João Martins, 2007
ser anterior àquela data. Naquele primeiro registo, chamava-se Emília e os seus proprietários eram oriundos de Aldegalega do Ribatejo, actualmente Montijo. Posteriormente, foi vendido a dois sócios, um de Sarilhos Pequenos, na Moita e outro de Coina, no Barreiro. Nesta altura, a sua designação foi alterada para Flôr de Coina. Na década de 1930, a embarcação foi adquirida por um importante armador: Salvador Rodrigues Pampulim, que lhe atribuiu o nome de Cici, sendo esta a ortografia que consta do registo feito na Delegação Marítima do Barreiro. Em 1971, o bote
foi adquirido pela empresa Tertejo – Cargas, Armazenagem e Comércio Geral, Lda., de Alhandra. Foi depois de adquirida e recuperada no estaleiro Álvaro Lopes Venâncio & Filhos que, em 1989, foi registada pela Câmara Municipal do Seixal, como embarcação de recreio, passando a ser reutilizada, no âmbito do Ecomuseu, com a designação de Baía do Seixal. No estaleiro de Amora (antecedente do actual estaleiro Venamar), a embarcação foi alvo, entre 1988 e 1989, de uma grande obra de recuperação em que, para além dos profissionais da firma, participaram também aprendizes do ofício de carpinteiro de machado, no âmbito de um curso de formação promovido pela Câmara Municipal do Seixal em parceria com o Instituto de Emprego e Formação Profissional. Para além da substituição de madeiras, a obra implicou a colocação de um mastro novo, a instalação de um equipamento sanitário e a adaptação para integrar um motor propulsor auxiliar, que passou a equipar a embarcação. Tais intervenções tiveram por objectivo responder às exigências da nova função de recreio, nomeadamente a segurança da navegação e o acesso público de passageiros. Terminada a recuperação, a primeira pintura decorativa da embarcação foi feita por Henrique Rodrigues, antigo marítimo, natural de Sarilhos Pequenos, pintor a quem o estaleiro de Álvaro Venâncio recorria, naquela época, para executar a pintura tradicional das embarcações do estuário do Tejo. A viagem inaugural do Baía do Seixal deu-se a 25 de Abril de 1989. A sua primeira tripulação era constituída pelo arrais José Pires e pelo camarada António José Soares que já faziam parte da equipa do Ecomuseu como tripulantes do bote-de-fragata Gaivotas. Na primeira época de passeios do Baía do Seixal, a tripulação acolheu dois novos elementos: Francisco Senhorinho Cruz e Manuel Sousa, assegurando a transmissão de técnicas e saberes-fazer relacionados com a navegação tradicional à vela no estuário do Tejo. De 1990 a 2003, as funções de arrais da embarcação couberam a Francisco Cruz. Desde então, o mestre da embarcação foi João Martins, tripulante que também recebeu formação em navegação nas embarcações tradicionais do estuário do Tejo integrado na equipa do EMS, na qual ingressou e iniciou funções em 1995, como camarada no varino Amoroso. A par de tripulante, é o técnico coordenador do Serviço de Património Marítimo, abarcando no seu trabalho as três embarcações e suas tripulações e a Oficina do Núcleo Naval do Ecomuseu. No processo de reutilização do Baía do Seixal, à semelhança do que ocorre com as outras embarcações geridas pelo EMS, no âmbito da sua pro-
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Bote-de-fragata Baía do Seixal: 20 anos de reconhecimento de valor patrimonial,a navegar como embarcação de recreio
2.º encontro de embarcações tradicionais na baía do Seixal © EMS/CDI, António SIlva, 2008
gramação, opera-se um constante processo de construção e activação de memórias, de apropriação patrimonial pelas comunidades locais e de transmissão de saberes e de técnicas relacionados com a construção e reparação naval, com o fabrico de velas, com a pintura decorativa tradicional e com a navegação. Neste processo, ao longo das duas últimas décadas, tiveram um papel relevante os arrais e camaradas, os carpinteiros de machado, calafates, mestres de velas e pintores, a quem se deve em grande medida a possibilidade de salvaguarda das embarcações do Tejo a que hoje se reconhece um inegável interesse histórico e valor patrimonial. Tendo em conta que a conservação dinâmica destas embarcações requer uma constante aplicação de técnicas e saberes, a par da renovação de materiais, torna-se primordial o património gestual e imaterial incorporado ao longo daquele processo. De acordo com a Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (UNESCO 2003), não obstante estar em constante mutação, a recriação do património cultural
imaterial pelos actores sociais em função dos contextos naturais, sociais, culturais e históricos, confere-lhes um sentimento de identidade e continuidade e contribui para a promoção do respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana. Bote-de-fragata Baía do Seixal Local e data de construção: desconhecidos Função original: transporte fluvial de carga Construtor: desconhecido Sistema de propulsão original: vela ou remos (a reboque do barco de apoio) Cais de embarque actual: Seixal Dimensões e tonelagem de arqueação actuais: -Comprimento: 12, 45 m; Boca: 3, 59 m; Pontal: 1, 47 m -Arqueação: 16 T.A.B (Toneladas de Arqueação Bruta) -Área vélica total: 70.45 m2 (vela grande: 59.07 m2 e estai: 11.38 m2) Materiais de construção: pinho manso, pinho bravo e câmbala Sistema de propulsão actual: armação constituída por vela latina quadrangular e estai. Motor auxiliar: Cummins, 4 cil., 76 HP Descrição da embarcação: embarcação de proa direita, popa de painel e com quilha. O casco é bojudo e ligeiramente convexo, estando assim adaptado a navegar em águas pouco profundas devido ao seu pequeno calado. O costado é protegido por duas cintas em cada bordo. No poço, foi adaptado um espaço para o motor auxiliar, assim como para a instalação de uma pequena casa-de-banho. A vante existe um compartimento coberto destinado a arrumação e acomodação. Tripulação: arrais e ajudante Lotação máxima de passageiros: 56 Proprietário e gestor: Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal do Seixal Fontes documentais: Arquivo da Delegação Marítima do Barreiro, Arquivo da Delegação Marítima de Vila Franca de Xira e Capitania do Porto de Lisboa.
Registos: Data 1914
Nome Emilia
Matrícula (10-E-49) B 33 TL
Proprietário(s) Francisco Faria Caria Júnior e outros herdeiros (Aldegalega de Ribatejo)
1914
Emilia
B 33 TL
Isidoro Maria de Oliveira, Leonor Julia Fialho Caria e Aniceta da Conceição (Aldegalega de Ribatejo)
1922
Flôr de Coina
B 33 TL
José Fernandes Conim (Sarilhos Pequenos) e Guilherme Augusto Esteves (Coina - Barreiro)
1922 1936
Emilia José Cici
B 33 TL B 33 TL
José Fernandes Conim (Sarilhos Pequenos) Salvador Rodrigues Pampulim (Lisboa)
1957
Cici
B 33 TL
Salvador Pampulim, Lda. (Lisboa)
1971
Cici
VF 1001 TL
Tertejo – Cargas, Armazenagem e Comércio Geral, Lda (Alhandra)
1989
Baía do Seixal
5356 LX
Câmara Municipal do Seixal
2000
Baía do Seixal
D5356 LX
Câmara Municipal do Seixal
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CARTA DO PATRIMÓNIO Do seixal Inauguração do caminho-de-ferro Barreiro – Seixal. Data: 1923/07/30 Fundo: O Século Fonte: Arquivo Nacional Torre do Tombo / DGARQ /MC. Código de referência: PT/TT/EPJS/SF/FT/04-23/04093
A ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DO SEIXAL A Importância do caminho-de-ferro, desde o século XIX O desenvolvimento da máquina a vapor, pelo engenheiro escocês James Watt (1736-1819), abriu um vasto leque de possibilidades de evolução, ao nível da produção industrial, dos acessórios domésticos e dos transportes. Nesta última área, a adopção da máquina a vapor teve um impacto tremendo nas artes da navegação e da construção de embarcações, e levaria ao aparecimento de um novo tipo de transporte terrestre: o comboio. A primeira locomotiva a vapor foi desenhada e construída, em 1804, pelo engenheiro de minas inglês Richard Trevithick (1771-1833) que, no ano anterior, já criara um veículo a vapor para circulação em estrada, denominado London Steam Carriage e, a partir de 1808, viria a desenvolver máquinas para embarcações. No entanto, as locomotivas de Trevithick tinham uma utilização essencialmente industrial, nomeadamente em minas. Em 1814, o engenheiro civil e mecânico inglês George Stephenson (1781-1848) viria a construir a primeira locomotiva a vapor destinada ao transporte público, o que contribuiu definitivamente para a plena afirmação do comboio como meio de transporte de elevada capacidade de carga, rápido e económico. Pelo seu decisivo contributo, Stephenson viria a ser considerado o pai do caminho-de-ferro. Rapidamente, o caminho-de-ferro tornou-se um símbolo de progresso e poder, condição que nunca viria a perder, nem mesmo com o desenvolvimento dos transportes aeronáuticos. Portugal não escapou ao fascínio pelo caminho-de-ferro. A Companhia Central Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal seria criada em 1851 e a viagem inaugural da primeira via férrea, entre Lisboa e Carregado, teria lugar a 28 de Outubro de 1856. Em 31 de Outubro de 1918, um despacho governamental dizia ser de toda a conveniência o prosseguimento da construção de diversas vias férreas, entre elas a de
ligação do Barreiro a Cacilhas. Este ramal nunca viria a ser completado, com toda a probabilidade (embora nunca oficialmente assumido) pela decisão da transferência das instalações do Arsenal da Marinha de Lisboa para o Alfeite (Concelho de Almada), por um outro despacho governamental, também de 1918. Condicionantes da ligação ferroviária ao Seixal Embora inicial e oficialmente denominado Ramal de Cacilhas, apenas viria a ser efectivada a ligação entre o Barreiro e o Seixal, já que a ligação à Ponta dos Corvos ainda começou a ser construída, mas nem sequer foi instalado o último troço da ponte, pelo que ficaria conhecido como Ramal do Seixal. Foi o 156.º troço de via férrea a ser implantado em Portugal. O ramal foi inaugurado em 29 de Julho de 1923, com pompa e circunstância, destacando-se a presença do chefe do Governo, engenheiro António Maria da Silva. O prolongamento da via até Cacilhas foi continuamente reclamado pelas Câmaras, população e imprensa regional dos concelhos de Seixal, Almada e Barreiro, mas a decisão de transferência do Arsenal da Marinha para o Alfeite e os conflitos económicos resultantes da previsível limitação do acesso de embarcações à foz do rio Judeu (vulgo Baía do Seixal), pela ligação à Ponta dos Corvos, viriam a obstar decisivamente à prossecução da almejada obra. A limitação do acesso de embarcações ao rio Coina também já gerara conflitos entre a CP e a Siderurgia Nacional. Em 18 de Setembro de 1969, o cargueiro Argel, da empresa Vieira e Silvestre, Lda., rebocado pelas lanchas Andorinha e Nova Tinta, colidiu com um dos pilares da ponte que ligava o Seixal ao Barreiro, causando a derrocada do tabuleiro numa extensão de cerca de 100 metros, o que motivou a cessação da carreira. Embora a população e a imprensa regional não se coibissem de apontar o dedo ao conflito de interesses económicos da Siderurgia Nacional, que pretendia de-
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CARTA DO PATRIMÓNIO DO CONCELHO DO SEIXAL A antiga estação ferroviária do Seixal
senvolver o acesso ao seu cais fluvial, e da CP, também não pode ser olvidado que o abandono do projecto de prolongamento da via férrea até Cacilhas levou a que o ramal nunca tenha atingido o volume de transporte inicialmente expectável. Consequentemente, a destruição parcial da ponte terá, com toda a probabilidade, sido aproveitada para justificar o encerramento de um ramal pouco rentável, situação que ainda tenderia a agravar-se em caso de alargamento da ponte sobre o Rio Coina, para permitir o trânsito de veículos automóveis e peões, como, por essa altura, já reclamava a população e a imprensa regional seixalense. Para o avolumar das suspeitas da população e da imprensa muito contribuíram os factos de a embarcação quase não ter sofrido danos e do desinteresse na reparação da ponte e restabelecimento da circulação ferroviária. Passadas quatro décadas, o mesmo conflito de trânsito levou a que o traçado inicialmente previsto para a travessia do Metropolitano Ligeiro da Margem Sul do Tejo sobre o rio Coina tivesse sido alterado, de modo a que o cais fluvial da Siderurgia Nacional possa vir a ser reactivado.
Antiga estação da CP do Seixal © EMS/CDI, Fernando Falcão, 1980
Conjunto edificado a preservar Em 1996, as instalações da antiga Estação Ferroviária do Seixal foram cedidas ao Núcleo do Concelho do Seixal da Cruz Vermelha Portuguesa (NCSCVP), numa fase inicial pelo Gabinete do Nó Ferroviário de Lisboa e, posteriormente, pela Direcção Geral do Património, entidade actualmente responsável pelo conjunto edificado. Passemos agora a uma breve análise da morfologia e organização espacial da estação do Seixal. A disposição dos edifícios é típica de uma pequena estação ferroviária portuguesa. As construções apresentam-se alinhadas numa paralela à via, no caso específico do Seixal com a orientação geográfica Este-Sueste–Oes-Noroeste. De Nascente para Poente, encontramos sucessivamente o depósito de mercadorias, o edifício principal, um pequeno bloco de sanitários públicos e, finalmente, duas habitações geminadas. Em termos arquitectónicos, o depósito de mercadorias é um edifício de linhas simples, com planta rectangular, portões emoldurados a cantaria de pedra calcária branca, de duas folhas em madeira, nos alçados laterais e num topo (neste caso, o Poente), pé-direito elevado, cobertura de duas águas de acentuada pendente, em telha Marselha, e beirado do mesmo tipo. Os cunhais e o envasamento são igualmente de cantaria. A estrutura do telhado é em asnas de madeira. A ventilação era originalmente natural, com aberturas ao longo das paredes laterais, protegidas das intempéries pelos grandes beirados, conjugados com a pendente acentuada da cobertura. Nos finais do século XX, as aberturas foram
fechadas com alvenaria, apenas restando dois pequenos vãos guarnecidos com caixilharia, sendo ainda criado um piso intermédio, em laje aligeirada, comunicando com o piso térreo através de escadas. O edifício principal é composto por três corpos, de planta rectangular, e desenvolve-se em dois pisos, com o superior apresentando cerca de 50% da área bruta do térreo. O corpo central, de dois pisos, apresenta comprimento e largura superiores aos de cada um dos corpos laterais, ambos de um só piso. A distribuição dos vãos é simétrica em todos os alçados, com os alçados Norte e Sul apresentando cinco portas no piso térreo e três janelas no piso superior. Todos os vãos são emoldurados a cantaria de pedra calcária branca, rematados em arco de ressalva, com duas folhas envidraçadas e bandeira. Os cunhais e o envasamento são também em cantaria. O piso térreo apresenta, no exterior, lambril de azulejaria padrão, em tons de verde. As coberturas, de quatro águas no corpo central e de três águas em cada um dos corpos laterais, é de telha do tipo Marselha, em cor natural. Os panos de fachada são rematados em faixa de azulejaria padronizada, cornija e platibanda. A habitação do chefe da estação e respectiva família estava instalada no piso superior. No piso térreo, funcionavam a sala de espera e vestíbulo; bilheteira, gabinete do chefe da estação e um pequeno quarto; arrecadações de volumes e bagagens; sala de despachos; habitação do Carregador e respectiva família; dormitório de pessoal braçal; e escada de acesso ao piso superior. O sistema construtivo empregava uma técnica tradicional e perfeitamente adequada à construção num terreno de nível freático tão elevado como este, ou seja, a adopção de caixas de ar sob os sobrados do piso térreo, reduzindo com bastante eficácia as infiltrações por capilaridade. Deste modo, o ambiente do interior era mais confortável e as possibilidades de degradação das madeiras por acção da humidade e dos xilófagos consideravelmente reduzidas. No âmbito das obras de adaptação das instalações do NCSCVP, as caixas de ar foram entulhadas, as lacunas da azulejaria preenchidas e o guarnecimento dos vãos passou a exibir aros e caixilharia em alumínio termolacado. As paredes dos topos Nascente e Poente, quer do edifício principal, quer do depósito de mercadorias, contêm a inscrição “SEIXAL”. O pequeno bloco de sanitários públicos, igualmente de planta rectangular, apresenta um pé-direito normal e, originalmente, tinha ventilação natural, num sistema semelhante ao do depósito de mercadorias. O conjunto compreende dois blocos de sanitários contíguos, permitindo a separação por sexos. Destaca-se o revestimento das paredes exteriores com azulejaria padronizada. As alterações recentes compreenderam o guarnecimento dos vãos e a reposição das lacunas no revestimento azulejar. O conjunto é rematado, no topo Poente, por duas habitações geminadas, térreas, destinadas ao factor, ao agulheiro e respectivas famílias. As casas são formadas por três corpos justapostos, de plantas rectangulares. Cada um destes corpos apresenta cobertura de quatro águas, em telha do tipo Marselha, de cor natural, e beirado em telha do tipo Meia-Cana. Estes edifícios encontram-se actualmente devolutos.
João Paulo Santos
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CARTA DO PATRIMÓNIO do concelho do seixal A antiga Estação Ferroviária do Seixal
compostas, regulares, com coincidência exterior – interior, de massa simples ou volumes justapostos, com disposição em horizontalidade. Síntese de intervenções: 2000 – O Ecomuseu Municipal do Seixal promoveu o levantamento descritivo e oral das instalações com vista ao inventário do sítio.
INVENTÁRIO DO PATRIMÓNIO Estação da CP, Seixal © EMS/CDI, CULTURAL IMÓVEL autor desconhecido. REFERÊNCIA DE SÍTIO: CPS.00055. DESIGNAÇÃO: Estação da CP. Localização administrativa: Seixal. Toponímia: Av MUD Juvenil, Azinheira, Seixal. Localização geográfica: SIG – ortofotomapa n.º 442.243. Coordenadas: X = -83752,100; Y = -113084,300 m. Categoria de sítio: Arquitectura civil. Tipo de sítio: Estação ferroviária. Cronologia: Idade Contemporânea; séc. XX; (1923). O prolongamento do Barreiro a Cacilhas foi considerado um complemento importante da linha ferroviária de Sul e Sueste. A sua construção foi autorizada pela base 4.ª da Lei de 14 de Julho de 1899, no entanto, diversas circunstâncias demoraram o uso da referida autorização, tendo sido inaugurada a exploração da referida linha férrea a 29 de Julho de 1923. Em 1996, as instalações foram cedidas ao Núcleo da Cruz Vermelha do Seixal, entidade que utiliza este espaço. Estado de conservação: Razoável, mas com as obras do novo terminal fluvial da Transtejo e respectivo parque de estacionamento para viaturas, a envolvência do imóvel sofreu importantes alterações, entre as quais a remoção dos carris e respectivas chulipas. Descrição sumária: Conjunto composto por três edifícios, do qual destacamos o edifício principal, de dois pisos, onde funcionou a Estação de Caminhos-de-Ferro Portugueses e serviu de habitação ao chefe de estação. O edifício conserva ainda alguns equipamentos inerentes à sua antiga funcionalidade (bilheteira, bagagem e sala de espera). Complementares a este edifício, o armazém de mercadorias, a casa de habitação para factores e subchefes de estação, e as instalações sanitárias. Os imóveis apresentam plantas longitudinais,
CP / EP – CVP: 1996 / 1998 – Projecto de reutilização, obras de conservação geral e limpeza, de reconstrução, consolidação estrutural, infra-estruturas (águas, esgotos e electricidade), recuperação e conservação das coberturas, de tectos de pavimentos, rebocos e caixilharia. 1995 – Proposta de classificação aprovada por deliberação da Câmara Municipal do Seixal, de 11 de Janeiro de 1995, e aprovada pela Assembleia Municipal do Seixal, de 23 de Fevereiro de 1995. Tipo de uso: Assistência / Cruz Vermelha Portuguesa. Bibliografia principal: “PATRIMÓNIO a proteger” (2002), Ecomuseu Informação. Seixal: Câmara Municipal, Ecomuseu Municipal. 25: 6-10. PATRIMÓNIO metropolitano: inventário georeferenciado do património da Área Metropolitana de Lisboa (2002). Lisboa: Junta Metropolitana de Lisboa. 1 CD-ROM. REBELO, Manuel d’Oliveira (1959) – Retalhos da minha terra: monografia do concelho do Seixal. Seixal: [s.n.]. Observações: Propriedade estatal, encontrando-se sob a alçada da Direcção-Geral de Património. As coordenadas de localização geográfica correspondem ao ponto corpo central do edifício da estação. Inventariante: Maria de Fátima Afonso. Data de inventariação: Dezembro de 2003. Data de actualização: Setembro de 2007.
museu da rede portuguesa de museus NÚCLEOS E SERVIÇOS
Núcleo da Mundet Praça 1.º de Maio, 1 2840-485 Seixal SERVIÇOS CENTRAIS – Edifício dos Escritórios Telefone: 210976112 – Fax: 210976113 E-mail: ecomuseu@cm-seixal.pt Horário de atendimento geral: De 2.ª a 6.ª feira, das 9h às 12.30h e das 14h às 17.30h CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO Horário de consulta de Inverno (Outubro-Maio): 3.as, 4.as e 5.as feiras, 10.00h às 17.00h Horário de consulta de Verão (Junho-Setembro): 3.as, 4.as e 5.as feiras, das 9h às 12.30h e das 14h às 17h E-mail: ecomuseu.cdi@cm-seixal.pt
Embarcações Tradicionais do Tejo Cais principal de apoio: Seixal Varino Amoroso e bote-de-fragata Baía do Seixal Realização de passeios no Tejo, entre Abril e Outubro Informações sobre programação de actividades: Serviço Educativo do Ecomuseu VARINO AMORO E Bote-de-fragata Gaivotas em estaleiro
NÚCLEO DA QUINTA DA TRINDADE AV. MUD Juvenil, Seixal Imóvel Classificado de Interesse Público Acesso condicionado
SERVIÇO EDUCATIVO Horários de atendimento telefónico: 2.as feiras, das 9h às 12.30h e das 14h às 17h E-mail: ecomuseu.se@cm-seixal.pt ¬ EXPOSIÇÕES – Edifícios das Caldeiras Babcock & Wilcox e das Caldeiras de Cozer Horários de Inverno (Outubro - Maio): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14h às 17h Horário de Verão (Junho - Setembro): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h Sábados e domingos, das 14.30h às 18.30h Encerramento: 2.as feiras e feriados nacionais
Núcleo dA Olaria Romana da Quinta do Rouxinol Quinta do Rouxinol, Corroios Sítio Classificado Monumento Nacional Fornos de Cerâmica Romanos (sécs. II-IV) Acesso condicionado
Núcleo do Moinho de Maré de Corroios Após obras de conservação e de requalificação do imóvel e da envolvente, este núcleo será reaberto ao público em data próxima, a anunciar
NÚCLEO NAVAL Av. da República - Arrentela
Extensão do Ecomuseu na ANTIGA Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços Vale de Milhaços, Corroios
¬ EXPOSIÇÕES ¬ Oficina de construção de modelos de barcos do Tejo Horário de Inverno (Outubro - Maio): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14 às 17h Sábados e domingos, das 14h às 17h Horário de Verão (Junho - Setembro): De 3.ª a 6.ª feira, das 9h às 12h e das 14 às 17h Sábados e domingos, das 14h às 18.30h Encerramento: 2.as feiras e feriados nacionais
Sítio Classificado Imóvel de Interesse Público Acesso condicionado Informação sobre visitas, além da programação divulgada: Serviço Educativo
Extensão do Ecomuseu na Quinta de S. Pedro Quinta de S. Pedro, Corroios Campo arqueológico necrópole medieval-moderna (séculos XIII-XVII) Acesso condicionado
Ficha Técnica _ Ecomuseu Informação n.º 51 _ www.cm-seixal.pt/ecomuseu Edição Câmara Municipal do Seixal/Ecomuseu Municipal do Seixal
Distribuição gratuita Assinaturas a pedido junto do EMS
Direcção E EDITORIAL
Graça Filipe
Participaram nesta edição: Exposições Graça Filipe e Jorge Raposo; Itinerância «Moinhos de Maré do Ocidente Europeu» Cláudia Silveira; Programa de Iniciativas de Serviço Educativo Carla Costa e Graça Filipe; Centro de Documentação e Informação Fernanda Ferreira; Conhecer Elisabete Curtinhal e Graça Filipe; Carta do Património do Concelho do Seixal João Paulo Santos e Fátima Afonso; Maio Património e Agenda Carla Costa e Graça Filipe. Apoio nos recursos fotográficos e ilustrações
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Créditos fotográficos
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