Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja

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[ FICHA TÉCNICA ]

TERRAS DE ANTUÃ REVISTA DE PUBLICAÇÃO ANUAL Nº11 | ANO 11 | NOVEMBRO DE 2017

DIRETORA Rosa Maria Rodrigues EDITOR Câmara Municipal de Estarreja IMPRESSÃO E ACABAMENTO Ria Print - Celeste Carvalho TIRAGEM 500 Exemplares IMAGEM DE CAPA Biblioteca Municipal de Estarreja (pormenor) PROJETO GRÁFICO Câmara Municipal de Estarreja | GCRPT ISBN 1646-8562 DEPÓSITO LEGAL 267394/07 Os artigos publicados neste número são da responsabilidade científica e ética dos seus autores bem com o respeito pelo acordo ortográfico em vigor.


[ SUMÁRIO ]

“Rosto” Edificado Diamantino Sabina

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EDITORIAL Rosa Maria Rodrigues

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CARLOS PINTO DE SOUSA UM AUTODIDACTA DO CRESCIMENTO CULTURAL António Augusto Silva

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UMA ALDEIA DE HÁ DOIS MIL ANOS UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO E A SUA INVESTIGAÇÃO António Manuel Silva, Gabriel R. Pereira, Paulo P. Lemos e Sara Almeida e Silva

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A PEDRA DE ARMAS DA “CASA DO COUTO”, EM SALREU Delfim Bismarck Ferreira

30

PALACETES EM ESTARREJA Domingos Tavares

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MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO José Gurgo e Cirne

57

O PATRIMÓNIO BIBLIOGRÁFICO DE ANTÓNIO MADUREIRA CASA-MUSEU MARIETA SOLHEIRO MADUREIRA EM ESTARREJA Juliana Cunha

67

TAVARES RESENDE DA CASA DE S. BERNARDO DA CONGOSTA EM AVANCA ESTARREJA, AVEIRO Luís Cardoso Menezes

75

OS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA (1914-1918) Marco Pereira

103

ESCULTURA DEVOCIONAL NA IGREJA MATRIZ DE AVANCA Maria Clara de Paiva Vide Marques, António Cruz Leandro e Luís Alberto Casimiro

122

FORAL DO ANTUÃ: DOCUMENTOS AUTÊNTICOS QUE O TROUXERAM ATÉ HOJE Norvinda Leite

139

UMA CARTA Sérgio Paulo Silva

152

JOAQUIM MARIA LEITE Teresa Cruz Tubby

162


EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1906 Teresa Cruz Tubby e Valter Santos

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SAUDADES EGAS MONIZ - UM PERCURSO Rosa Maria Rodrigues

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REVISTAS “TERRAS DE ANTUÔ

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“ROSTO” EDIFICADO Diamantino Sabina*

É esta a quarta edição em que destacamos os edifícios mais emblemáticos do nosso Concelho. Há 3 anos o resplandecente edifício arte nova no centro de Salreu. Há 2, a Casa do Marinheiro. No ano passado, o imponente e belo edifício dos Paços do Concelho e, nesta 11ª edição, damos “rosto” ao Palacete que hoje alberga a Biblioteca Municipal de Estarreja. Há, contudo, mais palacetes pela cidade e pelo Concelho. Uns mais estimados que outros é verdade - o peso do passar do tempo não perdoa - mas mesmo nesses, as marcas arquitetónicas revelam bem a mestria dos seus artistas-arquitetos. Artistas-arquitetos diga-se, que definiram a fachada urbana de alguns dos mais belos recantos de Portugal. Em Estarreja, felizmente, temos recantos desses! Sobre esses artistas não ouso escrever, pois de arquitetura sei pouco e por certo não faria jus ao mérito destes Homens! Disso escreva quem sabe e nesta mesma revista, sobre o assunto dos Palacetes em Estarreja e dos seus brilhantes arquitetos, escreveu, e bem, Domingos Tavares. O Palacete Fonseca, a Casa Joaquim Silva e o Palacete doVisconde de Salreu, são pedaços de história que mereceram deste arquiteto o maior rigor e entusiasmo. São marcas de uma burguesia presente dos finais do século XIX e dos inícios do século XX, fruto de Homens bem-sucedidos e da Revolução Industrial. Bem presente, aliás, na freguesia de Avanca onde ainda se erguem imponentes alguns dos mais bonitos exemplares de Palacetes e de Casas Apalaçadas do Concelho. Para quem gosta de Eça de Queiroz, transportam-nos para um passado longínquo de elaboradas intrigas, de amores proibidos e da correria de crianças pelos longos corredores. Levam-nos a imaginar as galas da Belle Epoque onde salas bem iluminadas recebiam as Senhoras vestidas de seda e homens de chapéu alto, casaco de asas de grilo e bigodes bem retorcidos. Ouve-se música de violinos e violoncelo, beberica-se Champagne francês e o fumo dos cigarros inunda toda a sala e o seu redor. Contam-se anedotas enxovalhando o Rei, ouve-se risos na sala de jogo e gritam-se vivas à República! Fala-se naquela inovação extraordinária, o primeiro automóvel que surgira na cidade. Transportam-nos para um passado carregado de História e de Histórias e é isso que fazemos aqui. Fazemos viver e perdurar essa História, seja nos Palacetes, seja nas Pessoas, nos Reis ou nos plebeus. Nos emigrantes e nos que ficaram por cá. São os “rostos” do nosso passado, aqueles que ajudaram a construir a nossa identidade. São esses “rostos” a fundação das nossas Terras de Antuã!

* Presidente da Câmara Municipal de Estarreja



EDITORIAL

Rosa Maria Rodrigues Iniciámos o percurso da segunda década da publicação de Terras de Antuã. Conscientes que neste calcorrear do tempo e no tempo, estamos a contribuir de forma inequívoca, para o enriquecimento da nossa memória coletiva e naturalmente prestamos o devido tributo a um passado, que fundamentado na investigação cuidada e rigorosa das fontes históricas, nos impele a um olhar atento, sensível, curioso e defensor da história e património do Concelho de Estarreja ou com ele relacionado. Os temas apresentados nesta edição de Terras de Antuã são diversificados, sendo alguns de continuidade em relação a anteriores estudos, o que permite a leitura mais abrangente de certas temáticas e com abordagens sobre arqueologia, escultura religiosa, arquitetura, genealogia, heráldica, emigração, património natural e edificado, recantos intimistas, olhares e retratos de quotidianos, personalidades e a análise do Foral de Antuã, julgamos ter conseguido uma revista criteriosa, diversificada e em consonância com o preconizado para este projeto. A imagem de capa de Terras de Antuã apresenta o edifício da, outrora designada Casa dos Leites. Este é inequivocamente um notável exemplar arquitetónico de feição neoclássica, mandado construir por Joaquim Maria Leite e seu irmão (emigrantes no Brasil - Belém do Pará), no final do século XIX. Este serviu para diferentes utilizações, no entanto a partir de 2004, assume-se como um Pólo cultural por excelência, pois alberga a Biblioteca Municipal de Estarreja. O capítulo Saudades de Terras de Antuã evoca os 90 anos da invenção da Angiografia Cerebral, onde se traça um ténue percurso iniciado em 1924 pelo Egas Moniz, onde este com rigor soube delinear um trabalho de investigação, procurar o fio condutor, seriar as experiências, indo paulatinamente e persistentemente estabelecendo a técnica, para com rigor interpretar os resultados obtidos e catapultar os mesmos, para que hoje possamos reconhecer, que esta técnica lhe está conceptualmente ligada e singelamente dizer Obrigado Mestre. A todos os que contribuíram para o concretizar desta edição de Terras de Antuã, o nosso agradecimento.



TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

CARLOS PINTO DE SOUSA UM AUTODIDACTA DO CRESCIMENTO CULTURAL António Augusto Silva*

A Praça de Estarreja conheceu ao longo de muitas décadas várias famílias de comerciantes que, aí vivendo e trabalhando, ajudaram a que esse local fosse o mais importante do Concelho e referência para as terras vizinhas. O mercado semanal instituído em 1812 tinha lugar aos domingos de manhã; então o Município incluía o que hoje é a Murtosa, ou seja as produções agrícola e piscatória tinham ali um local ideal para a sua comercialização. A chegada do comboio a Estarreja veio dar à Vila e ao seu mercado uma importância estratégica na região. Por isso em 1911 o mercado passa a ser bisemanal, às 5ªs e domingos de manhã. Era, sem dúvida, o mais importante das redondezas. Uma família cujo apelido perdurou até hoje, e de que vou lembrar um descendente, é a PINTO DE SOUSA. Chegado de Gaia em 1891 ou 1892 Manuel Pinto de Sousa terá sido o primeiro barbeiro profissional em Estarreja; instalou-se na Praça, aqui casou e passou a profissão a seu filho José Maria nascido em 1901. Como se sabe, nesse tempo e em qualquer lugar, uma barbearia era um espaço muito importante para a troca de informação e comunicação entre a pessoas das mais variadas categorias sociais. Nesta barbearia, que depois viria a vender artigos de livraria e papelaria, nasceu a 8 de Abril de 1925 Carlos Augusto da Graça e Sousa, que todos conheceríamos como Carlos Pinto de Sousa, assumindo como “herança” o apelido da família e que é a principal razão deste artigo. Carlos, como todas as outras crianças da Freguesia de Beduído fez o ensino primário na Escola Conde de Ferreira e, como o seu Pai e Avô, aprendeu a arte de barbeiro; curiosamente deles não recebeu o dom de tocar viola ou violão - em que eram exímios -, embora no futuro se tornasse num sério melómano.

* Investigador - autodidacta - sobre a história de Estarreja e Murtosa Agradecemos à Dona Odília Mortágua Bandeira, viúva de Carlos Pinto Sousa, as informações e imagens cedidas para este artigo.

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ANTÓNIO AUGUSTO SILVA

Na barbearia foi contactando com tudo o que o envolvia; tornou-se assim um autodidacta e, dada a sua curiosidade e vontade de apreender tudo o que à sua volta acontecia, começou por participar em actividades culturais que a sociedade pós Segunda Guerra pedia. Em Março de 1951 falece o seu Pai e ele assume a liderança da casa; nesse mesmo ano faz parte do Círculo Cultural de Estarreja que promove uma homenagem ao famoso actor Alves da Cunha que nessa temporada se despedia dos palcos; a efeméride ficou registada numa placa descerrada no Cine Teatro de Estarreja que, felizmente, ainda lá subsiste. Em Setembro de 1953 aparece junto ao Dr. Eduardo Câmara, Dr. Tomaz de Figueiredo, Luís Vilhena e José Bento, entre outros, como organizador do 1º Salão Fotográfico de Estarreja. Participando como fotógrafo é vencedor da categoria “retrato”; no ano seguinte, mas em Novembro, participação no 2º Salão e nova distinção na mesma categoria. Por esse tempo começara as transmissões radiofónicas a partir de sua casa e, com a colaboração do amigo Luís Vilhena. Era nos meses de Verão que a “Central de Som de Estarreja” funcionava para animar com música a Praça através de uns altifalantes aí instalados. Esta vertente radiofónica poderá estar ligada a um tio paterno, de nome Manuel João que, pelo menos desde 1933, era locutor nos Estados Unidos e em 1941/2 trabalhava para a NBC - National Broadcasting Company-, no serviço noticioso para “Portugal e Império Português”. A 28 de Fevereiro de 1954 contrai matrimónio com D. Odília Eduarda Mortágua Bandeira. Este ano marca também a modernização da casa comercial, passados que estavam os anos de luto pelo falecimento do Pai. A loja passa a oferecer agora modernos equipamentos de rádio, e depois televisão. É o 1º agente da Grundig em Estarreja, mais tarde viria a Philips e outras marcas. Em Novembro de 1957, na casa Pinto de Sousa, assiste-se às primeiras emissões da RTP com alguma qualidade através do posto da Serra da Lousã. A casa já era vendedora de aparelhos de televisão mas através de sinal receptor aí instalado as imagens passaram a ser visionadas no Centro Recreativo de Estarreja, mesmo defronte. A barbearia - génese familiar - era agora também espaço de venda de rádios, material fotográfico, televisões e outros electrodomésticos que a modernidade ia solicitando.

Interior da Barbearia já com rádios

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O seu espírito inovador não se contentava. No principio dos anos 60, e na falta de produtos divulgadores das belezas de Estarreja ele, que anos antes fizera muitas e lindas fotografias, resolve editar uma série de postais da terra; uma colecção de 5 postais a cores, editados em Barcelona, e uma outra a preto e branco - pelo menos 8 exemplares -, que mostravam paisagens e costumes que hoje dificilmente encontraremos. E tudo a suas expensas. Em 1963, com 37 anos, é admitido no Rotary Clube de Estarreja que fora fundado em Novembro de 1961. Neste movimento passaria por várias funções, como a de Presidente no ano 1970/71. A este Clube viria a regressar em 1994 tornando a ser Presidente no ano 1996/97. Mas o associativismo fez sempre parte da sua vida. Na década de 60 integra a direcção dos Bombeiros Voluntários e do Centro Recreativo de Estarreja.

A central de som - Outubro de 1969

Nessa mesma década regressa a Central de Som de Estarreja, mas agora com instalações numa sala do rés do chão da Casa do Pessoal do Amoníaco Português, hoje Biblioteca Municipal. Aqui já o equipamento era adequado e, assim, as noites de Verão tinham animação garantida na Praça; além de notícias de interesse local havia ainda lugar para discos pedidos. A Rádio passou também a transmitir na Torreira, em Agosto e Setembro, aproveitando a presença de muitos veraneantes. Em 1965 faz parte da Comissão que organiza o 1º Festival de Verão de Estarreja e, com o mesmo, o Concurso Etnográfico de Danças e Trajes Regionais do Distrito de Aveiro, que teve lugar a 10 de Julho e contou com a direcção do afamado etnógrafo Pedro Homem de Melo.

Frente do estabelecimento com carregamento de televisores

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ANTÓNIO AUGUSTO SILVA

A barbearia deixa de funcionar em 1969; por ela, em quase 80 anos, tinham passado muitos jovens que aí aprenderam a arte e depois seguiram a sua própria vida. Assim a Casa Pinto de Sousa passa a comercializar principalmente electrodomésticos de todo o género e os respectivos acessórios, juntando Agência dos Jogos da Santa Casa, mas mantendo sempre o espírito de local de tertúlia que funcionava há muitos anos, onde amigos se encontravam para conversar sobre coisas que diziam respeito à melhoria cultural da população. Tornaram-se famosas as decorações da montra do estabelecimento, especialmente no Carnaval, Festas de Santo António e Natal. Em 1973 adere ao Elos Clube de Estarreja, da Comunidade Lusíada onde permanecerá até 1980, quando o mesmo acabou. As peripécias da vida levaram ao encerramento da casa mas, mesmo assim, muitos eram os que ao passar na Praça e à sua porta, entravam para um bocado de amena cavaqueira, pois com ele era um prazer conversar sobre acontecimentos locais, dado que toda a sua vida foi passada num meio que ele viu crescer e, dotado de uma extraordinária memória, nos esclarecia e ensinava. Veio a falecer em 26 de Maio de 2012. Sobrevive-lhe a sua dedicada esposa, ela também guardadora de muitas memórias que com ele compartilhou. Daquela geração de 50 atrás referida vive ainda, felizmente, o Poeta José Bento, de Pardilhó. No jornal “O Concelho de Estarreja” de 24 de Julho de 2012 ele lembrava a figura do amigo; deste texto deixo um pequeno excerto que bem o retrata: “Em mais de meio século de convívio com Carlos Pinto de Sousa, não tenho o menor motivo para recordar algo que o diminua, o mínimo que seja, a amizade e o reconhecimento que sempre lhe dediquei com firmes razões, e que ele amplamente merecia. Ele foi um dos mais belos, generosos e interessantes espíritos com que me foi dado conviver”.

Carlos Pinto de Sousa e José Bento numa reunião do Rotary Clube de Estarreja de 22 de maio de 1997

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UMA ALDEIA DE HÁ DOIS MIL ANOS. UM SÍTIO ARQUEOLÓGICO E A SUA INVESTIGAÇÃO António Manuel S. P. Silva * , Gabriel R. Pereira ** Sara Almeida e Silva *** e Paulo A. P. Lemos **** Imagine o leitor ou leitora uma aldeia antiga num território de povoamento algo disperso. Não precisa de ser muito grande: duas dúzias de casas com seus anexos agrícolas, estábulos, arrumos para lenha, um ou outro celeiro. Pode mesmo sem dificuldade imaginar - como num filme - alguns sinais da vida dessa comunidade: o fumo das lareiras a escoar-se pelas chaminés, o pastor que ao fim da tarde, entre balidos e gritos de incitamento, recolhe o gado ao redil, os velhos sentados nos alpendres a conversar histórias de outros tempos. Imagine agora (e aqui já entra a arqueologia) que por qualquer razão o lugarejo foi abandonado. Poderá ter sido porque os terrenos de cultivo de encosta, magros e custosos, à força de amanho anos a fio se tornaram pouco produtivos; porque alguma ameaça de guerra ou rapina incentivou os aldeões a procurar pouso mais protegido; ou simplesmente porque uma aldeia próxima prosperara e atraía os povos das vizinhanças, oferecendo-lhes maior comodidade, segurança ou possibilidade de ascensão social. Dissemos “abandonado”, não necessariamente destruído por eventual incêndio ou calamidade natural ou arrasado por qualquer ataque inimigo. Por isso, com tempo e vagar os moradores despiram as casas de tudo o que pudesse ter préstimo na nova habitação, não esquecendo uma ou outra soleira, padieira ou pedra melhor aparelhada que a esforço se carregou para a carroça na antevisão gostosa da reutilização. Levaram as louças mais úteis e vistosas (as grandes talhas de barro onde a água se mantinha fresca e a farinha se conservava longos meses após a colheita, e os pucarinhos finos de beber, que passavam de mão em mão nas festas da aldeia), as alfaias em ferro e outros metais - raras e difíceis de obter - e naturalmente as roupas, adereços e atavios pessoais, onde ressaltavam colares e braceletes em bronze (e, quem sabe, algum de metal nobre) e outros feitos de contas coloridas, em pasta de vidro, que gentes de fora traziam de longe a longe para troca por produtos nativos. Com a partida definitiva dos moradores, ficou a aldeia deserta e esquecida. Certamente já viu o leitor ou leitora um casebre abandonado há décadas na vertente de um monte ou no recanto de um milheiral… recorda-se? As velhas paredes de rachão com seixo ou adobe parcialmente derrubadas, os restos de telhado ocultos já no chão pelo silvado, comidas já as madeiras pelos anos, o edifício já quase escondido pela vegetação que, sem a mão disciplinadora do Homem, invadiu muros e ruínas, que bicharada incontável adoptou para ninho ou covil.

* Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. Investigador do CITCEM (UP). Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (SFRH-BD-95469-2013) na Universidade de Santiago de Compostela. amspsilva@hotmail.com ** Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. Investigador do CITCEM (UP). Projecto PROBA. pereira.gr@gmail.com *** Arqueóloga. Centro de Arqueologia de Arouca. Projecto PROBA. saralmeidasilva@gmail.com **** Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. Projecto PROBA. paplemos@gmail.com

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ANTÓNIO MANUEL SILVA | GABRIEL PEREIRA | PAULO LEMOS | SARA ALMEIDA E SILVA

E aqui entra o Tempo como personagem principal e a Arqueologia regressa como narradora. Se assim é em cinquenta ou sessenta anos, recrie agora a leitora ou o leitor a mesma construção - e desta vez toda a nossa aldeia - abandonada, saqueada, sujeita à inclemência dos fogos e temporais ao longo de mil, mil e quinhentos, dois mil anos!... E aqui chegamos, sem mais delongas ou imaginações, ao castro de Salreu. Deserto o povoado, dois milénios se abateram sobre a aldeia, o vento e as chuvas acumularam todos os anos centímetros de poeiras e areia sobre o casario derribado, a vegetação de cada estação crescia estrumada pela manta morta da que lhe subjazia, árvores levantaram-se e foram cortadas, arrastaram-se terras para leiras e plantios, e em anos mais modernos poderosas máquinas nivelaram pendentes e criaram plataformas mais aptas para a floresta planeada. Fruto de todas estas circunstâncias, as ruínas milenares do povoado pré-romano tanto se encontram quase à superfície (em zonas de encosta mais sujeitas à erosão) como sepultadas por mais de dois metros de sedimentos, tendo pelo contrário noutros pontos sido completamente destruídas pelo plantio mecânico do eucaliptal. A ação do tempo, da natureza e da população que nos últimos dois milénios continuou a frequentar e a utilizar o monte do crasto são os responsáveis por este diferenciado grau de preservação dos vestígios arqueológicos naquele local. Sobram só pedras e pequenos cacos de louça? Não. Por detrás desses humildes indícios há restos de vidas e comunidades que a pesquisa arqueológica tenta vislumbrar e, em sentido figurado, trazer aos nossos dias, apresentando às gerações atuais o que se vai descobrindo desses antepassados. Uma aldeia entre aldeias O conhecimento do passado é não só cumulativo como espacialmente relacional. Ao investigar o castro de Salreu e a sua população de há mais de dois milénios não estamos a estudar uma ilha isolada no meio do oceano nem um grupo humano a tal ponto singular e exótico que se lhe não encontrem paralelos ou afinidades regionais. Nesses tempos, a franja litoral do Entre Douro e Vouga estava pontuada por dezenas de povoados, revelando uma apreciável densidade demográfica mas não tanto, por exemplo, como o litoral do Douro até ao Minho, onde à época - e por certo prefigurando a densa ocupação antrópica que ainda hoje se verifica - os castros pontuavam quase tudo quanto era colina ou cumeada, numa proporção próxima de um ou dois por cada das modernas freguesias. A estes aldeamentos indígenas correntemente chamamos “castros”, mais por tradição e facilidade nomeativa, pois o conceito historiográfico convencional de “cultura castreja” tem sido objeto de numerosas e justas críticas, por de certa forma homogeneizar sob o mesmo designativo realidades que se descobrem cada vez mais diversas, além de sobrevalorizar o modelo arquitetónico dos povoados em relação a outros traços do sistema cultural. Na verdade, estamos a falar de aglomerados populacionais que compartem algumas caraterísticas mais ou menos comuns mas que são diversos em numerosos aspetos, desde a época e circunstâncias da sua criação, desenvolvimento e abandono até certamente ao substrato étnico que lhes deu vida.

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Fig. 1 - O castro de Salreu, visto sensivelmente de Noroeste (a área desmatada corresponde à superfície culminante).Em primeiro plano o rio Antuã. Foto: GoogleEarth

Muitos destes povoados surgem nos finais do período conhecido como Idade do Bronze, algures entre os séculos X e VIII antes da nossa era, como novas fundações ou porventura dando continuidade a estabelecimentos mais antigos. Tanto quanto sabemos, as comunidades dessa época selecionaram para a instalação dos povoados locais mais ou menos elevados, com razoável dominância visual e, em muitos casos, evidentes preocupações defensivas, fosse pelo escarpado das encostas ou pela construção de sistemas de delimitação como fossos, muros e taludes, devendo todavia entender-se estes dispositivos num sentido de proteção muito amplo e não estritamente no plano estratégico-militar. Há quem sugira que estas dinâmicas de povoamento poderão ter que ver com a acumulação de excedentes de produção (cereais ou gado), o controle de certas matérias-primas críticas como os recursos minerais ou metálicos, o sal ou outros, que terão levado a uma progressiva diferenciação social e à emergência de elites locais e regionais e ao aparecimento de estruturas de poder cada vez mais hierarquizadas. Estas aldeias do Bronze Final eram núcleos geralmente de pequena dimensão, raramente ultrapassando um ou dois hectares de superfície e possuiam, além dos sistemas de delimitação do povoado, habitações usualmente feitas de materiais perecíveis, cabanas de madeira e ramagens estruturadas por postes em madeira ou, quando muito, com uma primeira fiada de pedras sobre a qual assentavam paredes urdidas com vegetais, sendo a cobertura do mesmo tipo. Por isso, na generalidade dos casos os vestígios arqueológicos destes aldeamentos resumem-se aos negativos de implantação dos postes, lareiras ou fragmentos de barro mal cozido com que por vezes nivelavam o solo ou calafetavam a base das palhotas. Não é deste período, aparentemente, o castro de Salreu (Fig. 1), considerando a tipologia das cerâmicas e outros objetos ali recolhidos,

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ANTÓNIO MANUEL SILVA | GABRIEL PEREIRA | PAULO LEMOS | SARA ALMEIDA E SILVA

mas temos bons exemplos de povoados antigos a pouca distância, nomeadamente no sítio de São Julião, na Branca, Albergaria-a-Velha (Silva; Pereira da Silva 1995; Silva et al. 2015; 2017), no Monte Calvo de Cesar, Oliveira de Azeméis (Silva 1994: 55-56)1, na Cividade, em Arouca (Silva 2014: 250-251; Silva; Leite 2010) ou no Senhor dos Aflitos, no mesmo concelho (Silva 2014: 248-249; Silva; Lemos, no prelo). Muitos destes povoados continuaram a ser ocupados nos séculos seguintes e resistiram até ao período de invasão romana, nos séculos II e I antes de Cristo, mas alguns - como é o caso de São Julião da Branca - extinguiram-se antes do período conhecido como Idade do Ferro. Nesta fase, assim designada pelas primeiras ocorrências de artefactos forjados em ferro (se bem que raríssimos na nossa região) detetam-se a partir do registo arqueológico indicadores de aumento de produção, a vários níveis, maior exploração dos recursos naturais e, em consequência, talvez um acentuado crescimento demográfico com aumento da diferenciação e especialização socio-económica. Datarão deste período, com fundações entre os séculosVI e IV antes da nossa era, a maior parte dos castros conhecidos no Centro e Norte de Portugal, assinalando-se modificações significativas quer nos sistemas defensivos - agora por vezes, mas nem sempre, verdadeiras muralhas pétreas, altas e espessas - quer nas construções de natureza doméstica, onde a pedra se generaliza até ser a matéria-prima dominante, trabalhada com maior facilidade e mestria graças à generalização dos picos em ferro algum tempo depois. Na Idade do Ferro será o apogeu de castros como os de Romariz (Santa Maria da Feira), Ul (Oliveira de Azeméis), Valinhas (Arouca) ou Monte Murado (Vila Nova de Gaia), se bem que com raízes anteriores (Silva 1994; 2005). Também o castro de Ovil, em Espinho, que temos vindo a evocar como paralelo mais próximo, tanto na implantação topográfica como na arquitectura, do de Salreu (Silva et al. 2016), foi estabelecido em meados do primeiro milénio, de acordo com datações de radiocarbono efetuadas (Salvador; Silva 2010). Os utensílios, louças e adornos diversificam-se e aumentam de qualidade, tornando-se comuns as cerâmicas com decoração profusa, com motivos incisos e estampilhados sobre a pasta fresca, objetos em bronze como alfinetes de vestuário, pesos em pedra ou cerâmica para uso em teares, cossoiros para a fiação e todo um conjunto de artefactos que traduzem a prática e hábitos quotidianos de uma sociedade desenvolvida e socialmente estruturada, com agricultores e criadores de gado, artesãos e chefes locais e regionais, ligados à função militar e cujas imagens aparentemente se conservaram, iconograficamente estilizadas, nas imponentes estátuas de “guerreiros galaicos”, ou “guerreiros lusitanos”, como aparece em publicações mais antigas, em consequência do equívoco que dava este povo como antecedente histórico direto dos portugueses . Na verdade, graças aos autores clássicos, que começam a registar e a descrever os povos e costumes da Ibéria ou da Hispânia, conforme a tradição grega ou latina, conhecemos já o nome de alguns desses povos antigos (ou pelo menos o modo como esses autores os perceberam e escreveram). O grego Estrabão (64 a.C. - c. 19) referiu, entre outros povos, os Galaicos, que viviam a Norte do Douro e os Lusitanos, a Sul, cujos costumes descreveu de forma muito detalhada, mas é o naturalista Plínio, o Velho (23 - 79) que mais interessa à nossa região, enumerando muitos povos e em particular, no litoral a sul do Douro, nas terras da Lusitânia, os Turduli veteres e os Paesuri, não se percebe com que relação ou distribuição

1 - Trabalhos arqueológicos recentes, dirigidos por João T. Tavares e Adriaan de Man - a quem agradecemos a informação e a permissão para o seu uso - identificaram abundante espólio recente correspondente no essencial a uma ocupação do Bronze Final.

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geográfica. Dos Túrdulos Velhos - que parecem ter migrado a partir de regiões meridionais em meados do milénio - temos notícia epigráfica segura nas tábuas de hospitalidade em bronze aparecidas no Monte Murado, Vila Nova de Gaia, que nos dizem que nos começos da nossa era uma figura desses túrdulos aí foi recebida e rapidamente ganhou preponderância (Silva 1983); sobre os Pésures pouco sabemos, optando alguns autores por propor a sua localização nas regiões mais interiores de Arouca ou até entre o Paiva e a região de Resende (Silva 1999; 2007: 389-397). Algum destes povos residiria no castro de Salreu? Ninguém poderá dizê-lo, até porque provavelmente Plínio e os autores dessa época apenas registaram os grupos étnicos maiores, deixando na sombra da história uma miríada de populações que se nomeariam principalmente como habitantes do castro de… (castellani de…, como posteriormente aparecerá em algumas inscrições de época romana), ainda que integrando grupos étnico-linguísticos e “famílias” culturais mais amplas. Há ainda um bom número de povoados que são criados apenas nos finais da Idade do Ferro, a partir dos séculos III ou II antes de Cristo e já praticamente durante o período de domínio romano da Península Ibérica. Alguns autores chamaram-lhes até “castros agrícolas”, porque abandonam as implantações de altura e evidente preocupação estratégica e defensiva para se situarem em colinas baixas, próximos dos campos agrícolas e pastagens e sem condições especiais de proteção. Fruto de circunstâncias socio-económicas que globalmente nos escapam, estes povoados desenvolvem-se já em plena época de romanização e por isso a sua “cultura material” incorpora numerosos elementos importados ou adaptados aos novos gostos e estéticas2. Principais resultados da campanha de 2017 Tendo já sido parcialmente publicados, em anteriores volumes desta mesma revista, os resultados das campanhas arqueológicas de 2011 (Silva; Pereira; Lemos 2012) e de 2016 (Silva et al. 2016a), limitar-nos-emos nesta breve notícia a dar conta dos dados mais relevantes dos trabalhos levados a cabo no ano em curso, que aliás só foram concluídos no passado mês de Setembro, pelo que não houve sequer tempo de processar devidamente os achados e registos ou analisar convenientemente os elementos observados. Em 2017 as escavações incidiram em três setores, na continuidade aliás das pesquisas precedentes (Fig, 2). No rebordo da segunda plataforma, junto ao talude, procedeu-se ao alargamento do setor A, onde em 2016 haviam já sido localizados restos de uma estrutura habitacional; sensivelmente no mesmo alinhamento, mas a uma cota inferior em cerca de 7,5 metros, abriu-se uma pequena sondagem de diagnóstico sobre a quebra de cota do terceiro talude (setor G), para avaliar a possibilidade de aí se localizar outra “muralha” ou estrutura de delimitação do povoado; por fim, algumas dezenas de metros para Poente (setor K) intervencionou-se um tramo do muro delimitador da aldeia, que havia sido reconhecido e registado com base apenas nos vestígios visíveis no talude de um caminho de acesso aos terrenos do monte.

2 - Não citamos bibliografia específica para estes temas para não sobrecarregar o texto, tanto mais que são informações de caráter geral. O leitor interessado poderá encontrar outros elementos no capítulo respectivo de qualquer obra atualizada sobre história de Portugal.

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ANTÓNIO MANUEL SILVA | GABRIEL PEREIRA | PAULO LEMOS | SARA ALMEIDA E SILVA

Fig. 2 - Áreas escavadas no castro de Salreu em 2011, 2016 e 2017. Levantamento: Multimapa

Fig. 3 - Uma perspectiva da estrutura de delimitação do povoado (setor K). Foto: CAA

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Neste último setor foi escavada uma área de 16 m2, pondo-se a descoberto, sob uma camada de cobertura relativamente pouco espessa, um tramo de um muro largo, feito quase exclusivamente de blocos e pequenas lajes de xisto (Figs. 3 e 4). Mede cerca de 4 metros de largura e acompanha o desnível de terreno, com uma diferença de cota igualmente na ordem dos quatro metros entre o ponto superior e o limite exterior da estrutura. Foi posto à vista numa extensão também de 4 metros, se bem que pelos vestígios microtopográficos possa estender-se naquele ponto do castro, ao longo de cerca de uma dezena de metros, uma vez que os terrenos envolventes se encontram ripados, o que não deve ter possibilitado a conservação do muro. Atendendo à fragilidade da estrutura, devida ao aparelho e materiais constituintes, não foi possível por ora distinguir particulares detalhes construtivos, o que implicará o alargamento da escavação para além dos limites interno e externo do muro. A sua altura atual não ultrapassa cerca de um metro, mas certamente que o muro se elevaria bastante mais à época da sua construção. O material arqueológico que ocorre nesta área é relativamente homogéneo e em tudo idêntico ao do restante povoado, sendo por isso de presumir a coetaneidade entre este muro, que certamente acompanha o segundo talude até à zona do setor A, e as restantes estruturas em escavação no castro de Salreu. À cota do talude inferior as sondagens feitas na plataforma em 2016 (setor G) atingiram uma profundidade desusada, levando-nos a supor que alguma construção exterior tenha servido como elemento de contenção das terras. Tal foi a justificação de uma pequena sondagem (8 m2) localizada precisamente sobre a quebra do talude (Fig. 5). Os resultados, porém, mesmo após um pequeno alargamento para Norte, não foram conclusivos.

Fig. 4 - Vista superior da “muralha” ou estrutura de contenção no setor K. Foto: Multimapa

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Observou-se com efeito a presença de alguns blocos de pedra de apreciáveis dimensões mas sem articulação ou estruturação intencional para comprovar a hipótese de trabalho, devendo por certo procurar-se a estrutura murária de contenção a cota um pouco inferior na encosta. Também neste ponto o espólio arqueológico exumado, em quantidade apreciável, não destoa do das restantes áreas do povoado.

Fig. 5 - Sondagem sobre o talude inferior (setor G), evidenciando talvez restos de construções mas que não foi ainda conclusiva. Foto: CAA

Finalmente, o setor A suscitava grandes expectativas, em consequência da identificação na campanha anterior de um tramo de planta curvilínea da primeira edificação, presumivelmente habitacional, do sítio. Tais expectativas não saíram goradas, se bem que a grande profundidade do terreno (mais de 2,5 metros) tenha causado dificuldades apreciáveis, não obstante terem sido utilizados meios mecânicos para o desaterro do primeiro metro de sedimentos, correspondentes a depósitos de cobertura e remeximento atuais e de reduzido ou nulo interesse arqueológico neste ponto da estação. Quando foi atingida a cota das estruturas descobertas em 2016 - já nos últimos dias da campanha - detetaram-se dois níveis de pavimento, um em terra compacta pisada, e o segundo, assente sobre o anterior, composto por uma camada de argila cozida pelo fogo, onde puderam observar-se, já ténues mas ainda perfeitamente perceptíveis em alguns pontos, pequenos círculos impressos na superfície, talvez com intenção ornamental (Fig. 8). Sobre este piso ou já nos seus limites registaram-se alguns depósitos compactos e com bastantes carvões e matéria orgânica que nos permitem suspeitar da presença de uma lareira, o que só a prossecução dos trabalhos permitirá esclarecer. Um pouco mais para Nascente, descobriu-se outro pequeno tramo de muro

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curvilíneo, desta vez assente não na rocha natural como o oposto, mas em sedimentos subjacentes, o que resultará da irregular topografia do substrato original. Implantados e reconstituídos graficamente estes dois muretes, parecem sugerir uma construção de plano subcircular ou talvez ligeiramente oblonga, que poderá medir, a admitirmos uma maior regularidade, cerca de 4,8 por 4,4 metros (Figs. 6 e 7).

Fig. 6 - Vista aérea da área doméstica do setor A. 1 - Tramo de muro a SO., junto à rocha natural cortada para a implantação da construção; 2 - Pavimento decorado em argila; 3 - Provável resto de lareira; 4 - Tramo de muro a NE. Foto: Multimapa

O espólio arqueológico recolhido neste setor é, pelo grande volume de terras movimentadas, o mais numeroso e diversificado, sem que todavia se distinga tipológica ou cronologicamente do dos restantes setores, como notámos. Predomina largamente a cerâmica e entre esta a protohistórica, sendo mais pontuais as louças modernas e contemporâneas que ocorrem nos níveis superiores. Não é possível à data em que fechamos esta notícia adiantar muitos pormenores, quantificando-se as recolhas em mais de sete milhares de fragmentos. Além dos fragmentos de bojo de recipientes, sempre os mais numerosos, registaram-se numerosos bordos e um bom número de asas, aumentando também o volume de fragmentos decorados, essencialmente pelas

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técnicas da impressão e da incisão, registando-se a ocorrência de motivos decorativos em círculos concêntricos, escudetes, linhas de SS e outros temas correntes nestes contextos históricoculturais, verificando-se até que as peças exumadas em 2017 ampliam significativamente o elenco de motivos ornamentais registados nos trabalhos de 2011 e 2016 (Fig. 9).

Fig. 7 - Reconstituição gráfica hipotética da construção ainda em escavação no setor A. Desenho: GRP/CAA

Os objetos em pedra continuam raros, contabilizando-se apenas alguns “pesos de rede” com duplo entalhe lateral simétrico e um ou outro elemento com perfuração ou alisamento de intencionalidade duvidosa. De igual modo, também os restos metálicos são pouco comuns, registando-se tão só dois pequenos fragmentos de objetos em ferro, incaracterísticos, uma fivela de cinto, em liga de cobre, e um pequeno aro do mesmo material, peças que se encontram em tratamento laboratorial e sobre as quais nada mais podemos adiantar por ora. Recolheram-se ainda quatro contas de colar em pasta vítrea, de diferentes colorações (Fig. 10).

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Fig. 8 - Setor A. Restos de pavimento em argila decorada. Foto: CAA

A campanha arqueológica de 2017 ampliou assim significativamente a informação disponível e melhorou o nosso conhecimento sobre esta aldeia de há mais de 2000 anos que é o castro de Salreu. Temos finalmente à vista um largo troço da estrutura pétrea de delimitação do povoado e podemos propor a reconstituição planimétrica da primeira habitação, onde além do mais se conservou um trecho de um pavimento decorado em argila. O espólio cerâmico e de outro tipo é cada vez mais volumoso e diversificado, permitindo estudos mais consistentes sobre a produção olárica indígena e a sua coexistência com algumas louças importadas, reunindo-se por um outro lado um efectivo mais sólido para estudos estatísticos e comparativos. A cronologia de um povoado desta natureza pode ser proposta com base em dois tipos de elementos; pela análise e consideração de determinados itens mais específicos do espólio ou pelo recurso a datações absolutas por meios radiométricos. A partir de uma amostra de material orgânico recolhida na campanha de 2011 (sementes de uma favácea, o que garante maior precisão do que se a datação fosse obtida, por exemplo, com carvões de uma espécie arbórea de grande longevidade) foi feita num laboratório dos EUA uma datação de carbono 14 (pela técnica designada como AMS) que proporcionou, após as devidas calibrações estatísticas um intervalo de ocupação entre os anos de 358 e 259 a.C., ou seja, rondando o século III a.C., cronologia que entendemos consistente com a generalidade dos materiais arqueológicos recolhidos. É possível, todavia, que os inícios do povoamento em Salreu sejam algo anteriores, o que não pudemos ainda apurar, estendendo-se talvez até à mudança de era. Alguns pequenos fragmentos de ânfora itálica, do século I a.C. constituem por ora os únicos elementos romanos e devem marcar o momento de abandono do povoado, por razões que naturalmente não conhecemos.

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Coincidindo esta campanha com a conclusão do projeto de investigação PROBA+2 Proto-história da Bacia do Antuã (2016-2017), que por sua vez foi já um prolongamento do projeto PROBA original, entre 2011-2015 (Silva et al. 2016b), no âmbito do qual foram feitas, em 2011, as primeiras escavações no castro de Salreu, este constitui naturalmente um momento de balanço, revisão dos dados e projeção dos desenvolvimentos que este programa de investigação poderá vir a ter, agora enquadrado em novo projeto plurianual a submeter à entidade oficial de tutela.

Fig. 9 - Cerâmica decorada recolhida na campanha de 2017. Foto: CAA

Entendemos, e aparentemente em sintonia com os responsáveis autárquicos locais, que o castro de Salreu justifica, pela sua singularidade e potencial para a compreensão da ocupação proto-histórica neste litoral das terras do Vouga (Silva; Pereira 2010), a continuidade do seu estudo nos próximos anos. Afinal, a intervenção de 2017 foi apenas a terceira e a área escavada não ultrapassa ainda, somadas as três campanhas, o total de 134 m2 (cerca de 0,7% do povoado, se estimarmos a sua dimensão em dois hectares). Imagine por isso o leitor ou a leitora - retomando o fio à parábola com que encetámos o texto - essa escassa área de escavação distribuída mais ou menos aleatoriamente pela nossa aldeia contemporânea supostamente abandonada por milénios… e a quantidade e qualidade de informação com que a partir desses 134 m2 intentaria reconstituir a sua arquitectura, eixos de circulação e sistemas produtivos.

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Fig. 10 - Contas de colar em pasta vítrea, de várias cores, recolhidas na campanha de 2017. Foto: CAA

Na verdade, deve reconhecer-se, três campanhas de escavação são muito pouco para uma noção, mesmo ilusória, de um povoado desta dimensão. Constituem apenas, e isso logrou atingir-se, uma primeira aproximação e ponto de retoma para estudos mais aprofundados. Mas entretanto outra questão emerge e requer decisão. Nas primeiras duas campanhas o pressuposto da autorização para as sondagens por parte dos proprietários dos terrenos, requisito legalmente indispensável, era o do mínimo impacte possível sobre as espécies arbóreas de rendimento e a reposição do terreno escavado após os trabalhos. Nesta fase, o volume de terras removidas (sobretudo no setor A) e em especial a importância e potencial das ruínas deixadas a descoberto impõe outras soluções, pois o aterro provisório das sondagens inviabiliza a prossecução de novas pesquisas. O que fazer? Entendemos chegado o momento das entidades públicas negociarem com os proprietários a aquisição de alguns dos terrenos intervencionados ou, em alternativa, formas de arrendamento temporário, se tal tiver enquadramento legal, podendo encarar-se igualmente a possibilidade de propor a classificação patrimonial do castro de Salreu, o que, não colidindo com o direito de propriedade particular, impõe algumas condicionantes de uso que podem beneficiar a preservação dos vestígios arqueológicos ainda remanescentes apesar da florestação intensiva. Abandonada pelos moradores numa encruzilhada da história (o tempo em que romanos e outros forasteiros mudaram indelevelmente a face do território), a antiga aldeia perdeu-se nos séculos, e só o nome arcaico - Crasto - corrompido pelo falar do povo e naturalmente arrastado para o casario habitado, ficou a memorar aos mais esclarecidos que aqueles matos e pinhais já foram chão de gerações. O crasto parece agora achar-se noutra encruzilhada, aquela em que poderá escapar de vez ao olvido para perpetuar-se como sinal vivo do passado de Salreu e de Estarreja.

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Bibliografia Salvador, Jorge F.; Silva, António Manuel S. P. (2010) - O Castro de Ovil (Espinho), um povoado da Idade do Ferro. In Pinto, Filipe M. S. (coord.) - Arqueologia da Terra de Santa Maria: balanços e perspectivas. Santa Maria da Feira: Liga dos Amigos da Feira, 2010, p. 53-73 Silva, António Manuel S. P. (1994) - Proto-história e Romanização no Entre Douro eVouga Litoral. Elementos para uma avaliação crítica. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 2 vols. Texto policop. Silva, António Manuel S. P. (1999) - Aspetos territoriais da ocupação castreja na região do Entre Douro e Vouga. Revista de Guimarães, vol. especial [Actas do Congresso de Proto-história Europeia, vol. 1]. Guimarães: Soc. Martins Sarmento, p. 403-429 Silva, António Manuel S. P. (2005) - Povoamento proto-histórico no Entre Douro e Vouga Litoral: a estruturação do habitat. I - Arquitetura dos castros. In Castro, um lugar para habitar. Colóquio [Cadernos do Museu, 11]. Penafiel: Museu Municipal, p. 167-188 Silva, António Manuel S. P. coord. (2004) - Memórias da Terra. Património Arqueológico do Concelho de Arouca. Arouca: Câmara Municipal Silva, António Manuel S. P.; Lemos, Paulo A. P. (2005) - Sondagem arqueológica no povoado da Idade do Bronze do Senhor dos Aflitos (Arouca, Centro-Norte de Portugal). In Actas das 6as Jornadas de Arqueologia doVale do Douro. Zamora: Zamora Protohistórica, no prelo. Silva, António Manuel S. P.; Leite, Joana N. (2010) - The place of Cividade. An approach to Late Bronze/Iron Age transition in Arouca valley (NW Portugal). In Bettencourt, A. M.; Sanches, M. J.; Alves, L. B.; Fabregas, R. (eds.) - Conceptualizing space and place. On the role of agency, memory and identity in the construction of space from the Upper Paleolithic to the Iron Age in Europe. Oxford: Archeopress, p. 153-160 Silva, António Manuel S. P.; Pereira, Gabriel R. (2010) - Povoamento proto-histórico na fachada atlântica do Entre Douro e Vouga. Paleoambientes e dinâmica cultural. In Bettencourt, A. M. S.; Alves, M. I. C.; Monteiro-Rodrigues, S. (eds.) - Variações paleoambientais e evolução antrópica no Quaternário do Ocidente Peninsular. S.l.: APEQ/CITCEM, p. 189-203 Silva, António Manuel S. P.; Pereira, Gabriel R.; Lemos, Paulo A. P. (2012) - O castro de Salreu (Estarreja): resultados da primeira campanha de escavações arqueológicas. Terras de Antuã. Histórias e memórias do Concelho de Estarreja. 6 (2012). Estarreja, p. 47-89 Silva, António Manuel S. P.; Pereira, Gabriel R.; Lemos, Paulo A. P.; Almeida e Silva, Sara (2015) - Escavações arqueológicas em São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha). Campanhas de 2014-2015. Albergue. História e Património do Concelho de Albergaria-a-Velha. 2. Albergaria-a-Velha: Câmara Municipal, p. 59-91

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

A PEDRA DE ARMAS DA “CASA DO COUTO”, EM SALREU Delfim Bismarck Ferreira *

Na sequência do artigo publicado no último número da revista “Terras de Antuã”, voltamos à temática da heráldica no concelho de Estarreja, desta vez com um pequeno estudo sobre a pedra de armas da “Casa do Couto”, em Salreu. A “Casa do Couto” remonta ao século XVIII e foi sede de um vínculo instituído em 16 de Agosto de 1755 por D. Mariana Nogueira de Pinho, viúva de João Rebelo de Almeida, a favor de seus filhos: Frei Antonio do Amaral, Frei Bernardo do Amaral, Ld.o Gonçalo Rebelo de Pinho e Jose Caetano de Almeida e Amaral.1 Este último viria a ser o sucessor nos bens vinculados, constituídos por um rol de propriedades dispersas por diversas freguesias, entre as quais: Angeja, Branca, Fermelã, Ribeira de Fráguas, Salreu e Vera Cruz, ou seja, pelos actuais concelhos de Albergaria-a-Velha, Aveiro e Estarreja, encabeçando os mesmos a sua q.ta com suas cazas citta no Coutto desta freg.ª de Sam Martt.º de Salrreu (…) cercada de muro que tem de comprido pello Nacente e Sul sento e setenta varas de largo pello poente sento e vinte e oito varas e de comprido pello Norte findando em ponta aguda sento e setenta varas e parte de todas as p.tes com os cam.os públicos e tem as ditas cazas seis sallas duas alcobas suas ginellas rasgadas p.ª c cam.º com sua escada na emtrada e seu pátio e oito loges.

“Casa do Couto”, em Salreu - século XVIII2

* Historiador. 1 - FERREIRA, D. B., 2013, pp. 55-64. 2 - Fotografia da década de 70 do século XX. CME, Fundo Francisco Marques Rodrigues.

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Ainda no mesmo século, um dos filhos de José Caetano de Almeida e Amaral, João do Amaral Correia de Almeida e Calvos, viria a armoriar a “Casa do Couto”, com o brasão de armas que lhe foi atribuído em 24 de Julho de 1788, pela Rainha D: Maria I.3 Esta pedra de armas foi executada em calcário, remonta ao século XVIII e tem a seguinte descrição heráldica: Escudo francês (mal representado), esquartelado: 1.º - Calvos, esquartelado: o primeiro e o quarto de vermelho, com cinco fivelas redondas (aqui mal representadas) de prata postas em sautor; o segundo e o terceiro de azul, com cinco vieiras de prata, também em sautor (mal representadas); escudete sobreposto de ouro, com um leopardo de sua cor; 2.º - Correia, de ouro, fretado de vermelho, de seis peças; 3.º - Silva, de prata, com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho ou de azul; 4.º - Amaral, de ouro, seis crescentes invertidos de azul (mal representados por não estarem invertidos). Elmo fechado e paquife. Timbre: o dos Calvos, que é o leopardo do escudo. Escudo assente numa cartela decorativa de inspiração barroca.

Pedra de armas existente na fachada principal da “Casa do Couto”, em Salreu4

3 - BORREGO, N., vol. II, 2004, p. 190. O original desta Carta de Brasão de Armas esteve exposto na Exposição Districtal de Aveiro de 1882, pelo seu então detentor Francisco António do Amaral Cirne, de Salreu (GOMES, M., 1883, p. 86). 4 - Fotografia da década de 70 do século XX. CME, Fundo Francisco Marques Rodrigues.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

A mesma pedra de armas, mutilada, na actualidade5

(I) - Cap. João do Amaral Correia de Almeida e Calvos, nasceu em Salreu, filho de José Caetano de Almeida e Amaral, natural de Salreu, onde foi Senhor da “Casa do Couto” e da Capela de São Mateus, Ouvidor de Estarreja e familiar do Santo Ofício por carta de 3 de Março de 17396, e de sua mulher7 D. Raquel Maria Pinto Correia da Silva Calvos8, Senhora da “Quinta da Granja” em Aregos, São Miguel de Anreade, Resende, de onde era natural, neto paterno de João Rebelo de Almeida, Familiar do Santo Ofício, natural de Salreu, e de sua mulher D. Mariana Nogueira de Pinho, natural de Fermelã, instituidora do vínculo da “Casa do Couto” em 17559, moradores na referida casa, e neto materno de António Correia Pinto da Silva e Calvos, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, natural de Torgueda, Vila Real, e de sua mulher D. Eugénia Eufrásia Pinto da Fonseca, natural de Anreade, e aí moradores, na sua “Quinta da Granja”. Foi Senhor da “Casa de Santo António do Couto”, em Salreu, juiz dos órfãos de Estarreja por provisões de 9 de Agosto de 178710 e de 9 de Dezembro de 179411, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, fidalgo de Cota de Armas por carta de 24 de Julho de 1788 (Calvos, Correia, Silva e Amaral)12, e no ano do seu falecimento terá adquirido a “Casa dos Freixos”, em Salreu, popularmente conhecida por “Casa do Santo”, onde faleceu em 26 de Setembro de 1799, sendo sepultado na capela-mor da Igreja Paroquial de Salreu.13 Casou em Coimbra, com D. Mariana Inácia de Almeida e Macedo, natural de Coimbra, filha de Roque Francisco Guimarães e de sua mulher D. Ana Josefa de Almeida Macedo, daquela cidade.

5 - Fotografia do autor. 6 - IAN/TT, Habilitações do Santo Oficio, José, m. 44, n.º 711 (LIMA, J. H. P., 1969, p. 149). 7 - Ajustados para casar em 1743 (LIMA, J. H. P., 1969, p. 149). 8 - Assim surge nos registos de seus netos, embora no Processo de habilitação para o Santo Ofício de seu marido, seja identificada como Raquel Maria Pinto da Fonseca e Silva. 9 - FERREIRA, D. B., 2013, pp. 55-64. 10 - IAN/TT, Chancelaria de D. Maria I, Liv. 30, fl. 269. 11 - IAN/TT, Registo Geral de Mercês, Registo de Certidões, Liv. I, fl. 173 v. 12 - BORREGO, N. G. P., vol. II, 2004, p. 190. 13 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 8, Óbitos, fl. 50v.

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Residiram na “Quinta da Granja”, em Aregos, e depois na “Casa do Couto”, em Salreu, onde tiveram, pelo menos, catorze filhos: Maria do Carmo, Raquel Maria, José, João, Maria Joaquina, Francisco, António, Maria José, António, Mariana Delfina, António, Rita Delfina, Felipe e Ana.

Pormenor do pórtico armoriado e profusamente trabalhado de inspiração barroca, da “Quinta da Granja”, em Aregos, Anreade, Resende. Escudo francês, esquartelado, posto au balon: 1.º - Pinto, de prata, com cinco crescentes de vermelho, postos em sautor; 2.º - Fonseca, de ouro, com cinco estrelas de sete raios de vermelho, postas em sautor; 3.º - Magalhães?, de prata, com três faixas xadrezadas de vermelho e de prata, de três tiras; 4.º - Calvos, esquartelado: o primeiro e o quarto de vermelho, com cinco fivelas redondas de prata postas em sautor; o segundo e o terceiro de azul, com cinco vieiras de prata, também em sautor; escudete sobreposto de ouro, com um leopardo de sua cor; Elmo aberto, timbre: o dos Pintos, que é um leopardo de prata, armado e lampassado de vermelho, com um crescente do mesmo na espádua (deteriorado).

“Casa dos Freixos”, em Salreu, também conhecida por “Casa do Santo”14 14 - NEVES, A., 2007, p. 11.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

1(II) - Maria do Carmo, terá nascido em 1773 e falecido criança. 2(II) - D. Raquel Maria Pinto Correia de Almeida e Calvos, proprietária e doméstica, nasceu em 31 de Março de 1774 na “Casa do Couto”, em Salreu.15 Casou em 1 de Junho de 1793 em Salreu16, com Bernardo Jacinto de Quadros Pacheco Côrte-Real, proprietário, natural de Eixo, Aveiro, onde foi baptizado em 24 de Novembro de 174817, e foi Senhor da “Casa de Queirós”, em Antuã, Salreu.18 Era filho de Jacinto Bernardo de Quadros Coutinho Teixeira de Escobar, Senhor da “Quinta da Corredoura” (Casa da Aldeia”), em Sever do Vouga, natural de Arouca, e de sua mulher D. Inocência Margarida Violante Pacheco Pinto Côrte-Real, natural de Recardães, neto paterno de Jacinto de Quadros Teixeira, da “Quinta de São Pedro”, em Arouca, e da “Quinta da Corredoura”, em Sever do Vouga, Ouvidor, Familiar do Santo Ofício, e de sua segunda mulher D. Francisca Bernarda Coutinho Cardoso, natural de Sever do Vouga, e neto materno de Pedro Tavares Pacheco, Senhor da “Casa dos Morgados da Póvoa da Fonte”, em Recardães, e de Sua mulher D. Maria Pinto Coutinho, natural de Eixo, Aveiro. Bernardo Jacinto faleceu em 28 de Dezembro de 1821, na “Casa do Couto”, em Salreu19. D. Raquel Maria foi Senhora da “Quinta da Teixeira”, em Carvalhal, Macinhata do Vouga, que vendeu em 8 de Fevereiro de 1829.20 Faleceu em 4 de Outubro de 1830 em Antuã, Salreu.21 Residiram inicialmente na “Casa do Couto”, depois na Rua de São Martinho e mais tarde em Antuã, bem como na “Casa de Queirós”22, em Salreu, onde tiveram doze filhos: Maria Engrácia (n. 1793), Raquel Maria (n. 1795), Antónia Augusta (n. 1796), José Joaquim, Bernardo José (n. 1798), Caetano José (n. 1800), Margarida Engrácia (n. 1803), João (n. 1807), Filipe José (n. 1810), António Joaquim, Inocência Margarida (n. 1817) e Ana Peregrina. 3(II) - José do Amaral Pinto Correia de Almeida, proprietário, nasceu em 13 de Agosto de 1775 na “Quinta da Granja”, em Aregos, Anreade, Resende. Casou em 21 de Novembro de 1803 na Capela de São Bernardo, em Avanca23, com D. Maria Caetana de Tavares de Resende, proprietária e doméstica, nascida em 10 de Março de 1777 em Avanca24. Era filha do Cap. João Roberto Tavares de Resende e de sua mulher D. Bernarda de Resende Valente, da Congosta, Avanca, neta paterna do Cap. Diogo Tavares de Resende e de sua mulher D. Maria Joana da Silva, e neta materna de Francisco de Pinho Valente e de sua mulher Perpétua de Resende, todos de Avanca. Residiram inicialmente na “Casa do Santo”, em Salreu, depois na “Casa do Couto”, também em Salreu, e finalmente na Congosta, em Avanca.

15 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 2, Baptismos, fls. 226-226v. 16 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 7, Casamentos, fl. 61v. 17 - ADAVR, Livro Paroquial de Eixo, n.º 3, Baptismos, fls. 265v.-266. 18 - GONÇALVES, M. P., 2005, p. 147. 19 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 8, Óbitos, fl. 236v. 20 - GONÇALVES, M. P., 2005, p. 148. 21 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 8, Óbitos, fl. 328v. 22 - CME, Fundo Francisco Marques Rodrigues. 23 - ADAVR, Livro Paroquial de Avanca, n.º 13, Misto, fl. 137v. 24 - ADAVR, Livro Paroquial de Avanca, n.º 9, Baptismos, fl. 62.

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Administrador do vinculo da “Casa do Couto”, em Salreu, na altura em que sucedeo a contenda dos Francezes em este Reino e na sua freg.ª, em 7br.º e vendose pr isso obrigado a fugir com sua Fam.ª daqueles malevados, o fez, caminhando de terra em terra, mas chegando a entre ambos os Ryos, não pode passar dahi por moléstia q o acommetteo, e vendose próximo á morte tratou de receber os sacram.tos de Penit.ª.25 José faleceu em 15 de Outubro de 1810 no Porrão, Entre-os-Rios, e foi sepultado na Capela de São Tiago, em Avanca26, sem geração. Deixou por universal herdeiro seu sobrinho João Pinto de Quadros Côrte-Real, filho de sua irmã D. Raquel.27 4(II) - João, nasceu em 5 de Setembro de 1776 na “Quinta da Granja”, em Aregos, Anreade, Resende, e faleceu ainda criança em Agosto de 1782. 5(II) - Maria Joaquina, nasceu em 23 de Outubro de 1777 na “Casa do Couto”, em Salreu.28 Terá falecido ainda criança. 6(II) - Francisco do Amaral Pinto Correia de Almeida e Calvos, ou do Amaral de Almeida Pinto Correia e Calvos, ou do Amaral Cirne, como também surge referido, proprietário, nasceu em 18 de Outubro de 1778 na “Casa do Couto”, em Salreu29, de que foi Senhor30 e onde sucedeu a seus pais, e depois Senhor da “Casa do Santo”, em Salreu. Casou com D. Maria Paula Teixeira Cabral Cirne, proprietária e doméstica, natural de Penafiel, irmã da 1.ª Baronesa das Lages31, filhas de Josefino Teixeira Cabral e de sua mulher D. Ana Joaquina Cirne, Senhores da “Quinta das Lages”, em Penafiel. D. Maria Paula faleceu em 20 de Maio de 1821 na “Casa do Santo”, em Salreu32, onde viveram e tiveram, pelo menos, quatro filhos: Ana Augusta (n. 1814), Maria Carolina (n. 1818), Francisco António (n. 1819) e António. Residiram inicialmente na “Casa do Couto” e depois na “Casa do Santo”, em Salreu. Francisco voltou a casar, em 10 de Novembro de 1821, em Beduído33, com D. Rita Joaquina Perpétua Soares de Albergaria proprietária e doméstica, 7.ª Senhora da “Casa e Capela dos Morgados de Santo António da Praça”, em Estarreja, onde nasceu em 2 de Junho de 1789.34 Era filha do Cap. Dr. António Afonso da Costa Pereira Soares de Albergaria, 4.º Senhor da “Casa e Capela dos Morgados de Santo António da Praça”, em Beduído, e de sua mulher D. Ana Antónia Joaquina Soares da Silva Brandão, natural de Pinheiro da Bemposta, neta paterna do Cap. Mateus António Afonso Pereira da Costa Soares de Albergaria e Silva, 3.º Senhor da “Casa dos Morgados de Santo António da Praça”, em Beduído, e de sua mulher D. Bernarda

25 - Segundo o testamento de José do Amaral Pinto Correia de Almeida, s.d. (CME, Fundo Francisco Marques Rodrigues). 26 - ADAVR, Livro Paroquial de Avanca, n.º 13, Misto, fl. 249v. 27 - Segundo o testamento de José do Amaral Pinto Correia de Almeida, s.d. (CME, Fundo Francisco Marques Rodrigues). 28 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fl. 11. 29 - SOTTOMAYOR, A. P., 1994, p. 37. 30 - CUNHA, J. T. A., 1972, pp. 153-154. 31 - A mãe de D. Ana Augusta e D. Maria José Teixeira Cirne Cabral, 1.ª Baronesa e 5.ª Senhora das Lages, eram filhas de Zeferino Teixeira Cabral, 4.º Senhor da “Quinta das Lages” (PINTO, A. S., Tomo 2, 1991, p. 68). 32 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 8, Óbitos, fl. 228v. 33 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 14, Misto, fls. 139v.-140. 34 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 10, Misto, fls. 656v.-657.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

Josefa Pereira Marques do Couto, naturais de Beduído, Estarreja, e neta materna do Capitãomor da Vila da Bemposta, Dr. Francisco da Silva Soares, e de sua mulher D. Rita Joaquina Teodora de Jesus, de Pinheiro da Bemposta. D. Rita Joaquina faleceu em 28 de Setembro de 1840 em Beduído, Estarreja.35 Residiram na “Casa do Santo”, em Salreu36, onde tiveram uma filha: D. Rita Teresa (n. 1823).37 7(II) - António, nasceu em 24 de Fevereiro de 1780 na “Casa do Couto”, em Salreu38, e faleceu ainda criança. 8(II) - D. Maria José de Amaral Pinto Correia de Almeida e Calvos, proprietária e doméstica, nasceu em 27 de Novembro de 1783 na “Casa do Couto”, em Salreu.39 Casou em 25 de Fevereiro de 1808 na Capela de Nossa Senhora do Monte, em Salreu40, com António Teixeira Pinto Malheiro de Melo Cardoso, proprietário, natural da “Quinta do Prado”, São Cipriano, Resende. Era filho de Afonso Manuel Teixeira Pinto e de sua mulher D. Maria Leonor Malheiro de Melo, Senhores da “Quinta do Prado”, em São Cipriano, Resende. Transferiram residência para Resende, onde faleceram e terão tido geração. 9(II) - António, nasceu na “Casa do Couto”, em Salreu, onde foi baptizado em 3 de Janeiro de 1785.41 Faleceu ainda criança. 10(II) - Mariana Delfina, nasceu em 2 de Setembro de 1787 na “Casa do Couto”, em Salreu.42 Faleceu ainda criança. 11(II) - António, nasceu na “Casa da Couto”, em Salreu, onde foi baptizado em 26 de Maio de 1789.43 Faleceu ainda criança. 12(II) - D. Rita Delfina do Amaral, nasceu por volta de 1790. Faleceu solteira e sem geração, em 6 de Outubro de 1855 na “Casa do Couto”, em Salreu.44 13(II) - Felipe, nasceu em 2 de Janeiro de 1793 na “Casa do Couto”, em Salreu.45 Faleceu ainda criança. 14(II) - Ana, nasceu em 29 de Maio de 1794 na “Casa do Couto”, em Salreu.46 Faleceu ainda criança.

35 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 16, Misto, fl. 236. 36 - MARQUES, J. A., 1998. 37 - FERREIRA, D. B., 2009, pp. 43-78. 38 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fls. 60-60v. 39 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fls. 131v.-132. 40 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 7, Casamentos, fls. 111-111v. 41 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fl. 153. 42 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fls. 195v.-196. 43 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fl. 221v. 44 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 20, Óbitos, fl. 196. 45 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fl. 253v. 46 - ADAVR, Livro Paroquial de Salreu, n.º 3, Baptismos, fls. 266-266v.

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A família da “Casa do Couto”, mandou colocar no seu jazigo de família, no cemitério paroquial de Salreu, outra pedra de armas, mais recente, tendo por base o mesmo brasão de armas. Esta pedra de armas, em calcário, remontará ao século XIX/XX, encontra-se na fachada principal do jazigo da família da “Casa do Couto”, e representa também o brasão de armas atribuído em 24 de Julho de 1788, pela Rainha D. Maria I, a João de Amaral Pinto Correia de Almeida e Calvos atrás citado. Tem a seguinte descrição heráldica: Escudo de fantasia, esquartelado: 1.º - Calvos, esquartelado: o primeiro e o quarto de vermelho, com cinco fivelas redondas (aqui mal representadas) de prata postas em sautor; o segundo e o terceiro de azul, com cinco vieiras de prata, também em sautor (mal representadas); escudete sobreposto de ouro, com um leopardo de sua cor; 2.º - Correia, de ouro, fretado de vermelho, de seis peças; 3.º - Silva, de prata, com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho ou de azul; 4.º - Amaral, de ouro, seis crescentes invertidos de azul (mal representados).Timbre: o dos Calvos, que é o leopardo do escudo. Paquife de ramagens simétricas.

Pedra de armas existente na fachada principal do jazigo da família da “Casa do Couto”, em Salreu47

47 - Fotografia actual do autor.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

Bibliografia Fontes manuscritas: ADAVR - Arquivo Distrital de Aveiro: Livros Paroquiais de Avanca, Beduído, Eixo e Salreu CME - Câmara Municipal de Estarreja: Fundo Francisco Marques Rodrigues IAN/TT - Instituto de Arquivos Nacionais / Torre do Tombo: Chancelaria de D. Maria I, Liv. 30 Habilitações do Santo Oficio, José, m. 44, n.º 711 Registo Geral de Mercês, Registo de Certidões, Liv. I Fontes impressas: BORREGO, Nuno Gonçalo Pereira, Cartas de Brasão de Armas, Lisboa, DisLivro Histórica, vol. II, 2004. CUNHA, José Tavares Afonso e, Notas Marinhoas, Ed. Autor, 1972. FERREIRA, Delfim Bismarck, “Casa dos Morgados de Santo António da Praça, em Estarreja”, Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, Estarreja, Câmara Municipal de Estarreja, n.º 3, Ano III, 2009. __________, “O Vínculo da Casa do Couto, em Salreu (1755)”, Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, Estarreja, Câmara Municipal de Estarreja, n.º 7, Ano VII, 2013. GOMES, Marques, Catalogo da Exposição Districtal de Aveiro de 1882, Porto, Imprensa Commercial, 1883. GONÇALVES, Mário Pedro, Memorial de Família - Genealogia e Heráldica, Águeda, Ed. Autor, 2005. LIMA, Jorge Hugo Pires de, “Habilitações para o Santo Ofício no Distrito de Aveiro”, Arquivo do Distrito de Aveiro, 1969, p. 149. MARQUES, Jorge António, “Aveiro. Uma terra, um povo, uma lenda ou uma história - Pedro António Marques (36)”, O Aveiro, 3 de Setembro de 1998. NEVES, Amaro, “Em Salreu, a “Casa do Santo” ou “Casa do Ferraz”, Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, Estarreja, Câmara Municipal de Estarreja, n.º 1, Ano I, 2007. PINTO, Albano da Silveira, Resenha das Famílias Titulares e Grandes de Portugal, Lisboa, Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, Tomo II, 2.ª Ed. 1991. SOTTOMAYOR, António Pedro de, Lembranças da Fontinha, Lisboa, Ed. Autor, 1994.

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PALACETES EM ESTARREJA1 Domingos Tavares*

António da Silva foi um homem de família que manteve uma relação de solidariedade com os irmãos, comprovada pelas várias situações em que concorreu com o seu trabalho para a concretização de diferentes obras. Foi assim com o acompanhamento dos arranjos de jardim da Quinta do Campo Alegre quando o irmão Severiano casou com a viúva de João Andresen, Joana Lehmann, continuando o apoio que vinha de trás desde que o casal Andresen havia adquirido a propriedade. O mesmo veio a suceder realizando o projecto da casa do irmão Joaquim da Silva quando este se veio a estabelecer como médico em Estarreja, abrindo consultórios em várias freguesias do concelho.2 Mas as ligações à sua terra natal não se ficaram por aí, deixando a marca de destacado projectista em outras notáveis residências que constituem, ainda hoje, memória referenciadora da transformação arquitectónica porque passou a antiga Vila de Antuã nos anos iniciais do século XX, com a evidência dos seus chalés e palacetes. Outro exemplo foi o da nova residência para António Caetano Lopes da Fonseca, escrivão de direito, notário e presidente da Câmara Municipal entre 1902 e 1904.3 Sem esquecer o projecto para a reconstrução da casa dos pais em Salréu, por iniciativa do irmão Domingos, que ficou conhecida pelo palacete do Visconde. Ao longo dos anos de actividade como projectista, António da Silva criou uma relação próxima com alguns clientes especiais. Em particular contam-se agentes exportadores, gente ligada ao comércio dos vinhos com negócios significativos ligados ao Brasil. Resultou que os exemplos detectados de palacetes realizados para “brasileiros de torna-viagem”, foram-no para três personalidades que fizeram vida e fortuna na cidade de Belém do Pará e por outras terras da Amazónia. Estas construções podem ser lidas como sínteses gerais de uma arquitectura de expressão Beaux-Arts, a um nível de coerência que as obras anteriores não expressam completamente. Reuniram-se, nos três casos aqui referenciados, alguns dos principais tópicos legíveis nos primeiros palacetes da nova Foz do Douro, entre o Passeio Alegre e a Rua do Castelo do Queijo. O exemplo mais enigmático na prossecução coerente desta linguagem erudita, talvez porque melhor documentado mas não completamente esclarecido, é o da residência de Manuel Marques Gomes integrada na Quinta da Alumiara em Canidelo, Vila Nova de Gaia, no alto da colina sobranceira à foz do rio Douro.4 É o próprio dono da obra que avalisa a principal informação disponível sobre a conclusão das obras em 1904, através de uma publicação de recortes biográficos de portugueses no Brasil: “Esta construção, uma das mais belas da vizinhança do Porto, faz realmente honra ao arquitecto António da Silva, homem de gosto e competência”.5 O engenheiro, lente da Academia Politécnica, é tratado por arquitecto com toda a consideração. * Arquitecto, Professor emérito e coordenador de Investigação (Grupo Atlas da Casa - Erudito e popular na arquitectura portuguesa) no Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. 1 - Este artigo dá continuidade ao que foi publicado em Terras do Antuã, nº10/2016, sob o título “Casas com torre”. 2 - Maria de Jesus Oliveira e SILVA, As elites locais e a sua influência nos fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, Estarreja, Terras de Antuã nº 5, 2010 (p.169-170). 3 - Mala da Europa, 24/11/1901. “ Vai adiantado em obras interiores o grande e belo edifício do Exmo Sr. António Caetano Lopes da Fonseca, antigo e digno Escrivão de Direito desta Comarca e um carácter respeitabilíssimo. Tal construção, que se ergue altiva e simpática numa das ruas desta Vila, fica sendo uma das mais importantes, senão a mais valiosa deste Concelho.” Informação amavelmente fornecida pelo senhor António Augusto Silva Rodrigues. 4 - Domingos TAVARES, Casas de Brasileiro, Porto, Dafne, 2015, (p.61-84). 5 - Conforme revista Portuguezes no Brasil. Galeria de retratos e perfis biográficos, Lisboa, 1904.

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DOMINGOS TAVARES

Palacete Marques Gomes, Canidelo, Vila Nova de Gaia.

Pela plasticidade das formas e coerência da composição, este palacete da Quinta da Alumiara parece ser o terceiro desta série identificada para emigrantes e o mais cuidado na aplicação dos princípios adoptados pela Academia de Paris na transição para o século XX. São eles o equilíbrio entre os detalhes representativos da linguagem clássica, sempre procurados pelos arquitectos eruditos, e a inventiva moderna para a representação perfeitamente legível das coerências funcionais. Observando a imagem geral do edifício reconhecem-se inúmeras situações de réplica dos princípios aplicados no palacete Andresen da Avenida de Montevideu. A base da planta consta de uma clara aproximação ao quadrado, abrindo um espaço nuclear no coração da casa que serve as diferentes funções distribuídas pelos dois andares principais, preenchendo o perímetro interior da residência. Este vazio central, como um átrio de solenidades, toma conta de toda a altura disponível até à cobertura, beneficiando da inserção de um amplo lanternim a jorrar luz zenital. Reconverte a ideia barroca da teatralização da escada, colocando-a em posição envolvente acompanhando as paredes decoradas, expressando um tratamento nobre na continuação do vestíbulo com paredes pintadas a fresco.6 Observada de longe, constacta-se a colocação de duas torres diferenciadas nos ângulos opostos do volume construído forçando a leitura diagonal, o que acentua a imponência da obra, tomada como recorte encantado no cume da Alumiara.

6 - Um estudo mais alargado sobre a Quinta da Alumiara e a residência que a integra foi publicado em: Domingos TAVARES, Palacete Marques Gomes, Porto, Dafne, 2015.

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Palacete Marques Gomes, fachada sul (fotografia antiga).

As quatro fachadas apresentam sinais diferenciadores dentro da unidade física do edifício. Correspondem a leituras funcionais e critérios de relação com o exterior distintos, seja com o jardim privado a nascente, ou com uma área a poente de arranjos próprios de uma quinta rural. E do lado sul, vindo da povoação, desenvolve uma alameda arborizada de aproximação a partir da portaria junto à rua. Destaca-se o gosto repetido pela quebra da simetria na colocação dos vários elementos volumétricos que caracterizam esta arquitectura, com realce para a escadaria exterior frontal ligeiramente deslocada para a esquerda, servindo um largo patamar de espera. Na contenção lateral deste patamar de chegada usa um corpo destacado, coroado por chapéu prismático à maneira francesa com remate em serralharia característica dispondo de dois óculos decorados na base do telhado especial. Este corpo integra formações de janelas duplas em cuidado tratamento clássico, servindo de contraponto ao volume dominante da torre sudeste. Uma segunda fachada qualificada é servida por outra escadaria do lado do jardim e, na face oposta, uma porta mais discreta comunica com os serviços em cave. É um sistema de múltiplas entradas, incluindo a habitual entrada de serviço a norte sob a terceira escada exterior e um outro acesso secundário protegido pela varanda nascente.

Palacete Marques Gomes, fachada nascente, em ruína.

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DOMINGOS TAVARES

São vários os elementos comuns de aproximação ao modo francês, presentes neste edifício, que já se encontravam nas casas que realizou na Foz. O mais comum é o que se refere ao desenho do embasamento. As paredes de face revestida e ligeiramente rampeada, mostram um aparelho fino na montagem de cunhais recortados em que a pedra sugerida se apresenta como sendo silhares de largura alternada, como oferecendo as ligações em mata-juntas à continuidade das alvenarias recobertas. É um princípio construtivo que foi muito popular no renascimento europeu, o qual traduzia a noção estrutural das cinturas fortificadas da cidade antiga, conferindo a ideia de estabilidade e segurança. Nos planos de granito sobressai a face afagada dos planos em contínuo, ligando peças distintas. Depois, acompanhando o primeiro tramo da subida das torres, são introduzidas faixas horizontais paralelas fingindo ser de pedra, graças à diferenciação da pintura, num esquema que se identifica com o método das texturas decorativas e serve para estabelecer a ligação com o alinhamento da cornija acima do andar nobre.

Neste palacete assume particular importância a variação do desenho das janelas enquanto detalhe caracterizador das funções privadas e a sua relevância para o entendimento de um outro modo de conceber a arquitectura. Como primeiro critério para um método de projectar percebe-se a escolha da qualificação dos espaços internos nas suas diferentes valências de uso, logo seguido da sua legibilidade particular na imagem conjunta do edifício, através da diferenciação no tratamento dos vãos, tendo em conta o lugar que ocupam na forma geral, absorvendo o efeito das assimetrias geradas em plantas e o seu contributo para a reposição dos equilíbrios. Este método confere particular significado às janelas altas das torres, tratados como edículas coroadas por um frontão simples sobreposto ao arco redondo. A introdução deste pormenor na configuração mais esbelta das alongadas torres da Alumiara, mostra a técnica de repetição de pormenores de desenho em obras distintas, procurando para cada caso resultados compositivos coerentes.

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Palacete Alves de Freitas, Fafe

Palacete dos Brandões, Oliveira de Azeméis

No centro de Fafe, uma terra profundamente marcada pela presença activa de investidores regressados da emigração para o Brasil, a residência mandada construir por João Alves de Freitas reflecte uma evidente aproximação com a atitude conceptual do palacete da Alumiara.Também a terceira casa de brasileiro identificada nesta sequência, o palacete dos Brandões bem implantado no centro de Oliveira de Azeméis, repete as características atrás enumeradas, numa sequência que contribuiu para a fixação do chamado estilo de Casa de Emigrante, que fez escola nas primeiras décadas do século XX. Tudo indica que o palacete de Oliveira de Azeméis seja o primeiro dos três exemplos aqui referidos, contemporâneo ou pouco posterior ao palacete Andresen na Foz do Douro e, portanto, datável do final do século XIX. Enquadra-se nos mesmos princípios de

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DOMINGOS TAVARES

organização geral da casa, localizada no interior do lote de esquina e envolto por amplo espaço ajardinado, separado do espaço público por muro baixo e gradeamento transparente dobrando para as duas frentes de rua. No centro de Estarreja, António da Silva deixou marca das suas concepções inovadoras, sintetizando em dois palacetes de programação distinta as duas linhas complementares que explorou, também, em numerosos outros projectos: uma versão mais áulica, de interiores requintados, como na casa do Dr. Fonseca; e a variante mais discreta e contida, até nos custos, no tratamento da residência do irmão Joaquim. Sendo certo que, no essencial, elas não se afastam do padrão base, estes dois exemplos pretendiam apenas servir com mérito dois cidadãos da terra, cuja notoriedade advinha do exercício qualificado das suas profissões de evidente relevância social. E mostram que o trabalho de pesquisa do professor de desenho na Academia Politécnica, explorando os modelos arquitectónicos inventados para a nova burguesia europeia e intensamente divulgados pelas revistas francesas da especialidade, procurava encontrar as formas adequadas a uma nova configuração urbana das nossas cidades e vilas. Para tanto, valiam as boas encomendas de proprietários com meios financeiros disponíveis para poder ambicionar uma instalação destacada no seio das próprias comunidades. Não valia a circunstância de o trabalho se destinar a uma estância balnear de prestígio ou a localidades na periferia dos grandes centros. Nem tomava como diferentes, nos seus objectivos de representação pública, a mais avançada burguesia, os simpáticos comerciantes de torna-viagem ou os seus familiares e outros conterrâneos ilustres.

Palacete Fonseca, Estarreja

O palacete Fonseca, na Rua Dr. Manuel Barbosa, datado de 1901, apresenta-se como continuidade das primeiras soluções desenvolvidas na Foz do Douro. Parte da planta em quadrado com o vazio central coberto com grande lanternim de iluminação e destacando, no

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ângulo noroeste, a forma em torreão tomando mais de um terço da largura da frente de rua. Em contraponto, com a evidência apenas no perfil do telhado, a marca diagonal da resolução do canto sudeste, nas relações com o quintal e jardim. Localizado num caminho secundário da estrutura urbana central, fica ainda assim implantada na parte alta da colina do centro cívico, a trezentos metros do largo da Câmara. Repete, em particular, vários aspectos da composição do palacete do Passeio Alegre, no Porto, por se colocar no alinhamento à face da rua, com a fachada principal enquadrada por dois portões completando o muro de vedação gradeado. Interessante observar a particularidade deste volume, eminente na forma geral da casa, a repetir rigorosamente o desenho de trabalhos anteriores, com as janelas altas e a pirâmide quadrangular aguda nos telhados, afirmando-se como referencial na paisagem envolvente.

São numerosos os detalhes repetidos, nomeadamente os lintéis fingidos das janelas do primeiro andar, a cachorrada de modilhões na formação dos beirais, ainda que num ritmo diferente, mas unificando o perfil das cornijas, e o próprio desenho da base da torre. Aparece a janela dupla encaixada no plano da parede riscada pelas estreitas faixas horizontais paralelas formadas no reboco e repete-se a sugestão do peitoril descido encaixando as tabelas rectangulares para sugerir maior preenchimento vertical, que são outra marca deste projectista. Diferentes são as padieiras arqueadas da porta da rua e da janela dupla que a acompanha, com um trabalho em pedra imitando a solução cerâmica que António da Silva utilizou frequentemente nas casas de objectivos mais modestos. Também o traçado da parte do alçado nascente identificando a posição de uma escada de serviço, revela uma mudança de escala na composição, com um remate destacado em frontão redondo de gosto clássico, igual à solução do palacete dos Brandões. Também transportadas do palacete Brandão, são as lucarnas que acompanham as platibandas superiores de três alçados, umas cortando a cornija outras sobrepostas na beira do telhado, mas todas utilizando o critério de cobertura circular.

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Palacete Fonseca, fachada sul

Palacete Fonseca, salão do primeiro andar

Aproveitando o acentuado declive do terreno em que se implanta o edifício, o que também explica o seu alinhamento à face da rua na cota mais alta, coloca-se o rés-do-chão a menos de um metro acima da soleira da porta de entrada, dispensando a utilização degraus exteriores suplementares. Assim se poupa uma escadaria frontal e se garante o alinhsamento da fachada com a rua. Aos dois andares naturais, acrescenta uma cave de desenvolvimento pleno para sudeste em contacto com uma das plataformas intermédias em que se decompõe a propriedade. Uma varanda miradouro percorre toda a fachada posterior ao nível do pavimento principal, abrindo o campo visual de disfrute do

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vale do Rio Antuã, na extensão da paisagem poente até às planícies do Vouga. A versão actualmente existente deste largo terraço, extensão da sala de jantar, não pode ser original pelo facto de em 1901 não ser plena a utilização do betão armado, muito menos com a caracterização e dimensões que se podem observar, cujo traço faz pensar numa realização da segunda ou terceira década do século XX. Mas a concepção geral da obra exigia a presença desta varanda, inicialmente realizada em vigas, prumos e consolas de ferro para apoio do pavimento, como a que existe no palacete que foi de Constantino Batalha, frente ao jardim do Passeio Alegre, no Porto.

Palacete Fonseca, vista do poente

A residência apresenta características organizativas semelhantes às dos palacetes anteriormente referidos que se distinguem por possuir um átrio central com escadaria de ligação ao andar, sob a presença intensa da luz difundida por um grande lanternim montado no telhado. Repete o esquema base em quadrado, neste caso com variações mínimas no período exterior, distribuindo os cómodos na envolvência do átrio. O vestíbulo liga, em primeiro movimento, com uma biblioteca, ou espaço de trabalho do dono da casa, e com uma sala de visitas. Estas duas salas, a par com a porta envidraçada, fazem a ligação ao átrio. Seguem-se a sala de fumo e a sala de jantar. Ao contrário da maioria dos palacetes tratados a este nível, a cozinha e uma copa de ligação fazem parte da mesma sequência em rés-do-chão. No andar, os quartos são distribuídos nas alas do quadrante sul e, para o lado da rua, instala-se a sequência de dois salões de festa, estar e representação da família. Uma escada de serviço, em posição lateral, liga os quatro pavimentos. É na sua proximidade que se localizam pequenos W.C.,7 com os banhos na cave e compartimentos de toillet anexos aos quartos, incluindo os das águas furtadas. 7 - O W.C., que frequentemente António da Silva identifica como latrina, foi uma descoberta inglesa (Water Closet), que consistia num pequeno espaço dispondo de água canalizada, descarga e esgoto, e correspondeu a um avanço significativo para a higiene da vida privada.

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Casa Joaquim Silva, Estarreja

Diferente é a leitura que se pode fazer da casa construída para o irmão Joaquim, que se foi instalar numa zona baixa da parte nordeste da vila, à entrada da actual Rua Conde de Ferreira, a seiscentos metros da Praça da Câmara. Dispondo de um terreno de menor dimensão, o corpo principal da construção ocupa uma área significativamente mais reduzida, cerca de metade da do palacete Fonseca, ainda que seja generosa nos anexos envolventes que o complementam. Para garantir uma perspectiva larga condizente com a ideia de moradia importante, o volume afastase quanto possível do muro de vedação à rua encostando aos anexos no fundo do terreno. Assim liberta na frente um excelente espaço de jardim e utiliza a técnica de explorar ao máximo a altura, com dois andares principais de bom pé direito sobre uma cave que vale como um verdadeiro résdo-chão. Acrescenta a habitual torre de esquina com a ideia de mais um pavimento, integrando o respectivo salão no aproveitamento das águas furtadas. Com a evidência de telhados e beirais, resulta mais uma imagem de chalé, ou disfarce de palacete, marcando a diferença de escala em relação às demais moradias da vizinhança, enriquecendo o cenário urbano na configuração do lugar.

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Ao procurar manter o programa de um investimento de baixo custo sem perda da referenciação qualificada da obra, António da Silva recupera a experiência de outras intervenções onde se confrontou com critérios semelhantes. Foi o caso das moradias geminadas da Rua do Crasto e o chalé de Charles Tait na Rua da Índia, ambas na Foz do Douro, as que mais contribuíram para uma solução integrada como a aqui proposta. No estabelecimento dos diferentes detalhes construtivos e resoluções parciais de configuração da imagem arquitectónica constacta-se mais uma vez, como prática sistemática deste projectista, a incorporação de elementos utilizados em obras precedentes. Nesta moradia é dada maior evidência à escada frontal que conduz à porta de entrada para o andar nobre, colocada no andamento do pátio a partir do portão exterior. A varanda de recepção dividese em duas partes: um movimento à direita dobrando para a fachada lateral, na criação de um espaço de conforto exterior para uso da sala principal; um passo breve de cinco degraus para a esquerda coloca o visitante junto à porta, protegido pelo pequeno pórtico de sustentação da pequena varanda sobreposta, ao nível do andar. Armados, a varanda e o pórtico, com estrutura de alvenaria convencional, numa variante que incorpora a técnica construtiva de lajes de abobadilha de betão armada com perfis de ferro transversais, o autor abandona a pedra nestes elementos exteriores e completa os planos convencionados para balaústres com cortinas de tijolo.

Casa Joaquim Silva, entrada lateral

As janelas, de padieira curva ou recta, são iguais às das obras acima citadas, com particular referência ao chaléTait, do qual utiliza, quase integralmente, o mesmo desenho de torre, com a pequena diferença de um menor destaque para a ausência de cachorros no suporte das sacadas do envidraçado mais alto. Também a cachorrada de madeira no suporte dos beirais salientes aparece em outras construções da responsabilidade de António da Silva e identifica-se com as casas onde se pretendeu dar um sentido de obras mais ligeiras e de menor custo. Os requintes decorativos são quase totalmente transferidos para estas linhas de remate das coberturas. Nelas se inserem faixas de azulejo divididas em painéis entre os delicados, mas numerosos triângulos de apoio marcando a sombra dos beirais. Era uma modalidade então muito em voga entre as iniciativas de inspiração Arte Nova, a que os arquitectos não gostavam de se furtar, também muito explorada nas arquitecturas de veraneio importadas de França.

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Casa Joaquim Silva, sala de jantar

Igualmente a organização interna revela as adaptações necessárias ao funcionamento equilibrado de uma casa menor, abdicando da escadaria central própria dos palacetes urbanos e colocando um único meio de circulação vertical servindo os quatro andares efectivos, associado a uma segunda entrada na lateral a nascente. Assim, o vestíbulo liga a uma sala de recepção, ou gabinete particular do médico, enquadrado pela estrutura da torre, e ao salão de representação familiar com aberturas na frente para a rua. Do vestíbulo se passa para o átrio da escada e dele para um ponto de distribuição entre a cozinha e a sala de jantar. Observando a singeleza do esquema, compreende-se que em pouco tempo se tenha tornado imprescindível alargar a solução para a cozinha e sanitário, havendo lugar à construção de um corpo novo. Não é de excluir que este acrescento, encaixado no ângulo sudeste da construção, tenha sido decidido ainda em tempo de intervenção de António da Silva, visto que segue o exemplo da Casa Tait, com uma cozinha agregada ao rés-do-chão, neste caso com uma escada directa ao pátio. No entanto desapareceu todo o tratamento do soco, molduras de vãos e recorte dos beirais, anunciando tratar-se de um complemento posterior ao projecto inicial. Não se conhecendo a data precisa da realização desta moradia em Estarreja, e se é certa a presunção da prioridade das obras da Foz, então a casa do médico Joaquim da Silva será, também ela, datável dos anos 1899 ou 1900. O que significa que projectos de encomenda distinta, gerando opções arquitectónicas particulares para cada caso, foram produzidos com elevado grau de coincidência no tempo. Isso implicou diferenciações funcionais relativamente subtis, mas também a ausência de referências clássicas nas moradias ditas mais modestas como seria, também, a casa de Joaquim. Desaparece a importância da pedra aparente, substituída pelo tijolo, escasseiam as simetrias, perdemse definitivamente os sinais de um neobarroco então a ser implementado por prestigiados arquitectos actuando nas cidades principais. Não existem os embasamentos de granito, repetindo o seu desenho em argamassas de cimento pintado, incluindo os cunhais de silhares aparentes de dimensão alternada, as pilastras de marcação de ritmos e as cornijas na base ou no remate de platibandas. Até as lucarnas ou os óculos de iluminação de mansardas desapareceram, perdendo-se os fechos de volutas normalmente utilizados em arcos e no acerto lateral do encaixe das janelas nas platibandas.

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Casa Joaquim Silva, fachada poente

Partiu da iniciativa de Domingos da Silva, que fez fortuna no Brasil para onde emigrou com a idade de dezasseis anos, a oportunidade para o projecto de reconstrução da casa dos pais, em Salréu, programa que terá tido início em 1904. Este irmão começou como empregado numa casa comercial do Rio de Janeiro, mas passados dez anos estabeleceu-se por conta própria com um negócio de serração. Transformado em empresário de sucesso estendeu a actividade para a importação e exportação de madeiras e outros materiais de construção, criando a sua própria frota de navios mercantes e estendendo a actividade a outros ramos de negócio. Nesse ano de 1904 surgem as primeiras notícias da presença deste “brasileiro” em Salreu, alargando a propriedade que fora dos seus pais para aí instalar, entre outras, uma fábrica de lacticínios com vacaria anexa e uma moagem com instalação de descasque de arroz. Aproximação a um regresso parcial à terra natal, justificando um plano muito afirmativo de presença através da edificação do palacete, bem como da acção filantrópica em benefício da educação das crianças do lugar, com a criação da Escola Primária das Laceiras, oferta que justificou a atribuição ao benemérito do título de Visconde de Salréu, por parte do rei D. Carlos.

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Palacete Visconde de Salréu

Entre 1904 e 1906, datas em que decorreu a realização do projecto e da obra para a nova casa dos Silva, ocorreu também a edificação da escola primária, da autoria de Manuel Norte Júnior (1878-1962), um jovem arquitecto de Lisboa em início de carreira, recentemente regressado de uma fase de formação em Paris. Por contraste, e no referente à edificação da residência, faz sentido o envolvimento no projecto de António da Silva, então um projectista experiente com cinquenta anos de idade e uma sólida carreira profissional. Independentemente dos contactos ou relações que naturalmente possam ter sido estabelecidas entre os dois, manifesta-se por parte do promotor o cuidado em dispor do serviço de profissionais qualificados. O irmão, conhecer das tradições familiares e intérprete dos valores locais, revela a componente conservadora integrada no exercício da obra nova. Expressa o sentido culto da segurança no confronto com o entusiasmo de um jovem artista vinte e seis anos mais novo, transportador da inovação e carregado de ambições formais. No entanto, no desenho da escola primária, revelou-se bem mais contido no enunciado da corrente Beaux-Arts que adoptou, sem revogar um certo conservadorismo clássico como o que veio depois a expressar nas fantasiadas fachadas neobarrocas dos prédios de Lisboa, que mereceram a Norte Júnior três prémios Valmor. Colocada na evidência do alto da colina de Salreu, acima do perfil das torres da igreja matriz, a casa nova da família Silva cumpria os desígnios que eram comuns à maioria dos emigrados que vinham depois construir nos seus lugares de origem, evidenciando perante vizinhos e conterrâneos um estatuto de ascensão social. Encostada à estrada que vai para Albergaria, no

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extremo sul da propriedade, levanta um imponente mirante bem acima da altura dos três andares que compõem o corpo principal da residência. Aproveita a paisagem espectáculo da amplidão da Ria que se desenvolve a poente para lá da povoação, tomando uma posição chave na distância, para ver e para ser vista. Obra que só pode ser interpretada como da primeira geração moderna do século, versão erudita que evidencia o seu cariz intelectual na simplicidade das opções formais, de volumetria compacta, mas muito bem definida, sem adornos ou complementos decorativos. Nas habituais janelas verticais sobram as padieiras, reduzidas a sinais simplificados. Distingue apenas o trato dos beirais salientes ao gosto novo da variante chalé, em madeira recortada ou com cachorrada ritmada e um filete de azulejo a destacar as linhas de remate.

A residência temporária para o visconde em Salreu não reflecte, na organização dos espaços interiores e no sistema de ligações da propriedade com o espaço público, a mesma exuberância com que foram tratados os outros palacetes de torna-viagem. Se o vestíbulo resolve a transição de um escadório exterior apertado contra a parede na exígua faixa de terreno reservada à ligação com a rua, para as salas do programa característico destas casas, desaparece a ideia do átrio central, da iluminação dramática ou do escadório cenográfico. A própria escada interna, inserida no perímetro justo do corpo da torre e que corre toda a vertical do prédio, faz passagem entre salas e serviços sem qualquer outra folga de espaço. Neste sentido, percebe-se a opção por um esquema compacto, orientado sobre si próprio. Não descendo a cozinha à cave, beneficiou de um corpo acoplado ao prisma quadrangular principal, com acesso próprio a partir do sector de quintal que complementa o jardim mais próximo da casa. É a sala de jantar que abre em varanda larga para norte e se estende em escadaria nobre até ao solo. Goza do arranjo mais ou menos exótico do pequeno parque murado dentro da propriedade e põe em evidência a intenção prioritária do projecto: compactar a organização interior da residência e estender o usufruto da habitação pelo recinto privado exterior, onde imperam alamedas e estátuas de mármore.

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Palacete Visconde de Salréu, fachada norte

É possível filiar a concepção erudita que esteve na base do palacete do Visconde de Salreu no conhecimento de uma moda persistente entre a burguesia urbana mais endinheirada quando edificava segundas residências em estilo francês nas estâncias balneares do país. Constituindo um trabalho da maturidade do seu autor, expressa alguma reflexão crítica sobre toda a produção precedente libertando-a dos gostos de superficialidades decorativas que vinham fazendo moda na arquitectura de vilegiatura desenvolvida na Foz do Douro. Começava a ser menos legível a doutrina da escola de Paris e a ambição escondida de transformar as praias portuguesas em novas Biarritz.

Palacete Visconde de Salréu, sala de jantar

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O exercício inovador de transportar para o Porto o ideal de casa burguesa europeia através do modelo de chalé à francesa, mas amarrando-o à tradição neoclássica do pátio com escadaria central fortemente iluminada, de que António da Silva se assumiu como paladino, apagou-se com o surgir das variantes eruditas adoptadas pelos arquitectos da geração seguinte. A Avenida da Boavista viu proliferar as moradias de banqueiros e outros homens ricos, com uma panóplia de outros modelos ditos do Ecletismo, e o próprio dinamizador das soluções em palacete-chalé na Foz viu mais entusiasmo nos clientes torna-viagem de outras terras, passando progressivamente a utilizar linguagens mais modestas nas encomendas para a cidade. Esta leitura permite perceber uma variação entre o palacete, que dispõe de escadaria nobre no centro da composição ligando a entrada ao primeiro andar, e o chalé, com menor área de construção e escada única lateral. Se em ambos os casos a presença das torres é indispensável, na versão menor a torre é única e, muitas vezes, aparece diluída no jogo dinâmico dos volumes. É nestes casos que a componente decorativa, por menor, ganha posição no recorte mais espontâneo dos materiais empregues no exterior da construção, como é o caso dos remates de madeira, da utilização das cerâmicas vermelhas ou no recorte das superfícies em pedra.

Palacete Visconde de Salréu, pormenor da fachada nascente

Com o avançar do tempo, todos os outros chalés que num bairro ou outro da cidade do Porto foram aparecendo, começaram a parecer soluções repetidas ou insignificantes, até se chegar ao esquecimento. Os arquitectos passaram a seguir lições diferentes e procuraram outros modelos. Românticos, nacionalistas ou internacionais, uns mais técnicos construtores por oposição a funcionalistas excitados pelas notícias do moderno, com pedra ou betão armado, foram ganhando posição no mercado da cultura para serem chamados às melhores intervenções de representação simbólica no espaço público.

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DOMINGOS TAVARES

António da Silva, o professor de desenho da Academia Politécnica, morreu em 1909, e não deixou instruções, não participou em polémicas públicas ou fez discurso teórico para justificar o valor de um caminho próprio no campo da arquitectura. Pouco sabemos do que pensava ser a contribuição pessoal que ajudou a consolidar as linhas particulares de alguns cenários urbanos, com particular ênfase na categoria das vilas burguesas. Também não ficaram sinais particulares da organização do trabalho enquanto projectista, responsável pela produção de um conjunto de obras notáveis, capazes de assinalar um momento marcante da transformação da arquitectura portuguesa. Muito menos, ficou por explicar porque chegou tão tarde à dimensão criativa do processo construtivo, reduzindo o seu tempo artístico a uns curtos dez anos de produção identificável, depois de largos treze anos envolvido em tarefas menores do mercado da construção que crescia no Porto, a cidade que o acolheu.

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MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO1 OS PAINÉIS DOS BARCOS MOLICEIROS José Gurgo e Cirne*

EM BUSCA DO TEMPO ESQUECIDO Geografia, História e Paisagem Foi no Outono de 1795 que o conde Hoffmannsegg2 fez a sua primeira viagem a Portugal, na companhia de Wilhelm Tilesius3. Em Setembro de 1797 aventurar-se-ia de novo a vir a Portugal, agora na companhia do prof. Henrich Link4. Atravessaram por terra a França e a Espanha, entrando em Portugal por Elvas, a 11 de Fevereiro de 1798. Link ficaria apenas até 1799, mas Hoffmannsegg permaneceria até 1801 (Oliveira, 2015:27). Após visitarem Lisboa e arredores, em Maio de 1798 rumaram ao Norte, continuando para Coimbra, cujas imediações também visitaram. De Coimbra, Hoffmannsegg e Link seguiram para Aveiro: * Licenciado em Antropologia e Serviço Social, pós-graduado em Família e Sistemas Sociais, mestre em Antropologia Social e Cultural, DEA em Antropologia, frequentou Estudos Avançados em História das Idades Média, Moderna e Contemporânea, sendo actualmente doutorando em Antropologia. 1 - O presente trabalho corresponde à transcrição, ligeiramente aumentada e atualizada, de um subcapítulo extraído da dissertação de mestrado em Antropologia Social e Cultural, concluído no Departamento de Ciências da Vida da F.C.T. da Universidade de Coimbra em 2012. 2 - Johann Centurius Graf Von Hoffmannsegg (1766-1849). 3 - Wilhelm Gottfried Tilesius (1769-1857). 4 - Johann Heinrich Friedrich Link (1767-1851).

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JOSÉ GURGO E CIRNE

As alegres colinas de Coimbra acompanham o viajante ao longo de apenas uma légua, a região torna-se depois mais plana, segue-se uma terra baixa coberta de seixos e areia, charnecas e pinhais. Só perto de Aveiro, que fica a nove léguas de Coimbra, a região se apresenta melhor cultivada. Também só se encontram duas pequenas aldeias, Sendas Novas e Palhaça5 (Link, 2005:195). Sobre a cidade, o naturalista alemão tece algumas considerações acerca da região onde está implantada, das suas funções administrativas e da importância que mereceu ao seu olhar crítico: Aveiro situa-se numa região plana e muito pantanosa na foz doVouga. É uma cidade, sede de um corregimento6, e portanto também assento de um corregedor e de um provedor, tem aproximadamente 1400 fogos divididos por quatro paróquias e seis conventos7.Vêem-se ainda as antigas muralhas da terra8, para além das quais a cidade no entanto agora se alargou. A maioria das casas é pequena, o número dos nobres também é muito diminuto. O rio Vouga, ainda muito estreito, corre pelo meio da cidade9, mas tem um belo cais. Diante da cidade divide-se em dois braços, um dos quais segue para a esquerda e para sul em direcção ao mar e o outro para norte em direcção a Ovar. O comércio é insignificante, só pequenas barcaças se aproximam da cidade, de uma forma geral apenas barcos pequenos conseguem passar a perigosa barra, cujos bancos de areia mudam constantemente (id:195). O que lhe permitiu concluir o seguinte: Não há outra cidade em Portugal que tenha em seu redor uma planície tão extensa e tão grandes pântanos de água doce como Aveiro (id:195). Daí que a terra seja igualmente muito pouco saudável, coisa de que logo nos apercebemos pelos rostos magros e pálidos dos habitantes (id:195-196). Febres intermitentes são aí habituais e, como em todas as terras quentes, mais perigosas do que nas frias, doenças infecciosas também não são raras (Link, 2005:196). E foi por essa extensão de água doce que avançaram até Ovar. Aqui, encontraram uma região muito bem cultivada onde viram, pela primeira vez, pastagens artificiais de azevém (Lolliul perenne)10 mas encontraram também “cultivada uma erva de pasto até agora não descrita (Ornithopus sativus nob.), uma planta muito curiosa, usada com muito proveito em todo o Minho e também em alguns sítios à volta de Coimbra”. A Ornithopus sativus nob. corresponde à “serradela”11 ou “espadaneira” Ornithopus sativus Brot. (Oliveira, 2015:258). 5 - Na 2ª edição francesa, vertida do alemão, lê-se Balhaza (cf. Link, 1808:414). 6 - Trata-se, com certeza, de lapso do tradutor, que deveria ter escrito “corregedoria”. 7 - Também na 2ª edição francesa, lê-se: “quatre diocèses et six monastères” (cf. Link, 1808:414). 8 - É consabido que tais muralhas foram deitadas abaixo para com as suas pedras serem realizadas as obras de abertura da nova barra, concluídas dez anos depois, em 3 de Abril de 1808 (cf. Oliveira, 1988:33). 9 - De notar a mesma constatação errónea, que confundiu também Hans Christian Anderson (1866), já após a realização das obras da barra e a abertura do Rio Novo do Príncipe (cf. Anderson, 2003). 10 - Provavelmente a variedade que ainda hoje popularmente se denomina “azevém-de-sete-anos”. (A serradela, a que adiante se alude, ou o trevo, podiam também ser semeados em mistura com o azevém, a aveia ou o aveão, para pastagem directa durante o Inverno e a Primavera ou como parco recurso de feno. De resto, o que mais se usava era a chamada “palha branca”, as hastes do azevém - não necessariamente perene, que também o havia e poderá mesmo ter induzido em erro, quanto à sua longevidade, os ilustres naturalistas - após lhe terem sido segadas as respectivas espigas. E, a propósito, não esqueçamos a palha do milho, então alimento de Inverno por excelência do gado bovino. 11 - Nome que ainda hoje perdura na memória da região, pois que, até meados do século XX, a sua semente era transaccionada na praça de Estarreja, tal como o feijão e o milho, principais produtos da terra. A sua importância como planta forrageira manteve-se enquanto a pecuária não suplantou a agricultura. De facto, era usada como especial alimento do gado marinhão empregue na tiragem das alfaias agrícolas, quando se iniciava a lavragem das terras. (Note-se que, por norma, eram necessárias duas juntas de vacas daquela raça para puxarem uma charrua. Aliás, quatro – no máximo seis – cabeças destes animais representavam todo o pecúlio bovino das maiores casas de lavoura; quando muito, acrescentavamlhes uma vaca leiteira, cujo produto era destinado ao consumo doméstico. Daí ser frequente a entreajuda nestas tarefas, através da cedência mútua de animais para tal fim.)

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É o próprio Link, pela pena de Fernando Clara, autor da primeira tradução portuguesa do livro, só realizada duzentos anos após, a partir directamente do alemão, quem no-lo confirma: Fomos daqui para Ovar por água. O braço do Vouga, que é na realidade um lago, continua durante três léguas extremamente estreito, depois alarga-se muito ao longo de uma légua formando um autêntico lago interior, no fim termina num canal estreito com uma légua de comprimento que acaba mesmo junto a Ovar. Por aqui se vê como os mapas de López12 e todos os outros estão mal desenhados no que respeita à largura do lago. A água é muito doce apesar de frequentemente estar separada do mar pelas dunas. A viagem em pequenas barcaças numa água pouco profunda, onde em muitos locais se tem de impelir a embarcação com varas13, através de zonas planas e pantanosas tem muito de desagradável. Ovar é uma vila considerável com 1300 fogos, entre os quais se encontram muitas casas bonitas e grandes14. Encontrámos uma região muito bem cultivada, uma cultura que depois no Minho se torna habitual, vimos aqui, pela primeira vez, pastagens artificiais, observámos o azevém (Lolium perenne)15 aqui semeado que nestas regiões quentes se torna uma planta anual, enquanto que, ao contrário, os subarbustos das terras meridionais tornam-se anuais no Norte. Este fenómeno é porém devido à seca, que faz com que as raízes murchem no Verão. Encontrámos também cultivada uma erva de pasto até agora não descrita Ornithopus sativus nob.), uma planta muito curiosa, usada com muito proveito em todo o Minho e também em alguns sítios à volta de Coimbra (id:196). Também nos seus Estudos geográficos: alterações litorais - a ria de Aveiro, Luís Filipe Lucci, um século mais tarde (1918), começa por deplorar a impressão de monotonia que esta lhe comunicava, com seus extensos areais da linha costeira, entre Espinho e o Mondego, de idêntica paisagem física. Não obstante, diz: Mas se perscrutarmos devidamente toda a orla, lobrigaremos duas extensas linguetas ou cabedelos, que velam uma antiga conquista oceânica, de animada fisionomia, contrastando com a sóbria rectidão apresentada na parte externa dos nehrungen. As águas distribuem-se por veios de desigual amplitude, e formam no seu conjunto uma caprichosa miniatura dos hafes da Alemanha do Norte, - tal é a fértil ria de Aveiro (idem: 28). Igualmente, cinco anos depois, em Origens da ria de Aveiro, Alberto Souto (1923) esclarece: A Ria de Aveiro não é uma ria do género das da Galiza, classificadas por Richthofen,16 mas sim um lido, semelhante aos do Adriático, um haff semelhante aos do Báltico, uma laguna construída pelo distendimento [sic] dum cordão litoral e preenchida por assoreamentos e sedimentações deltaicas em que trabalharam variados elementos: o mar com as suas correntes, as suas vagas e as suas marés; o vento com a sua força mecânica; os rios com as suas areias e as suas vazas, os organismos vegetais e animais, etc. (idem: 26).

12 - Tomás López de Vargas Machuca (1778). Mapa general del Reyno de Portugal: Comprehende sus províncias, corregimentos, oidorias, proveedurias, concejos, et &c. Madrid (cf. Oliveira, 2015:462.) 13 - Na edição francesa que temos vindo a cotejar, lê-se: “… et où l’on est souvent obligé de faire marcher le navire à l’aide des crocs” (cf. Link, 1808:416). Note-se que “crocs” (croques), embora perfeita terminologia marítima, não são propriamente “varas”. O mais certo, porém, é que, no caso presente, o fossem de verdade, de pinho e bem afeiçoadas à mão de quem as usava, estando o vocábulo utilizado pelo autor contaminado pela sua experiência de outros ambientes portuários. 14 - Registe-se a importância, ao tempo, da vila de Ovar, por comparação com a então já cidade de Aveiro (distinção que lhe fora concedida por D. José em 1759, talvez como pio remorso ou frugal recompensa pela morte justiceira dos Távoras, seus duques titulares, a instâncias do Marquês de Pombal). 15 - Link chama-lhe “algue d’Angleterre” (id, 1808:417). 16 - Ferdinand de Richthofen (1833-1905), geólogo e explorador alemão (Lello, 1992 [II]: 761).

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Mas já António do Nascimento Leitão (1906), referindo-se à ria de Aveiro n’ A bacia hidrográfica de Aveiro e a salubridade pública, dissertação apresentada à Escola Médico-Cirúrgica do Porto, dizia o seguinte: As águas que as montanhas vertem para o grande reservatório que é a ria, vêm pelo rio Vouga, pelo pequeno rio Antuã, que desagua um pouco ao norte daquele, e pelas inúmeras ribeiras, que encaminhadas para o mar pelo declive do terreno de todo o distrito de Aveiro e parte do de Coimbra, são detidas na sua marcha pela cota das dunas do litoral. A formação da ria parece, pois, devida à existência das dunas (idem: 31).17 E acrescenta: Com a superfície de 6.270 hectares, a ria, em toda ela navegável, estabelece assim comunicação entre os concelhos de Ovar, Estarreja,18 Aveiro, Ílhavo eVagos - no distrito de Aveiro, e Mira - no de Coimbra (idem: 32). Voltando ainda a Luís Filipe Lucci, este, referindo-se à dimensão da ria, esclarece: No relatório elaborado em 191219 atribui-se ao estuário a área de uns 6.000 hectares de água,20 abrangendo esta bacia os concelhos de Mira, Ílhavo,Vagos, Aveiro, Estarreja e Ovar (idem:32).21 E, transcrevendo a descrição que nesse relatório se faz da situação da barra: “Desde 1808 acha-se a posição da barra assegurada por meio de dois diques ou paredões (…). Estes diques dividiam, de princípio, a ria em duas, garantindo a comunicação com o mar só à do norte; a do sul, compreendendo apenas o canal de Mira, vazava directamente por outra barra situada naVagueira” (idem: 34-35).22 Este é um pormenor que tem andado arredado de tudo quanto se tem escrito sobre a ria de Aveiro mas que, para o que nos interessa, pode fazer alguma diferença, ao contribuir para justificar o facto de as pinturas dos painéis dos moliceiros serem exclusivas da sua parte norte. (Os barcos oriundos da parte sul, que ocasionalmente se deslocavam para o norte, eram despidos de ornamentações, sendo, por isso e pela menor graciosidade das suas linhas, pejorativamente designados por “matolas”.) Aquela afirmação é corroborada pelo mesmo autor, mais à frente, quando afirma: Em 1876, desejando-se que a corrente de Mira fosse aproveitada durante a vazante, cortou-se o dique em diversos segmentos, e, após esta obra, a massa líquida lançou-se mais fortemente para o norte, fechando-se a velha saída daVagueira (idem: 50).23

17 - “Um dique de areias do litoral protege-a numa extensão de 50 quilómetros do oceano, com o qual só tem uma comunicação - a barra de Aveiro” (Leitão, 1906: 31). 18 - Incluía as freguesias de Bunheiro e Murtosa, “duas das mais importantes, das mais populosas, prósperas e maiores”, do qual se desmembraram sob “as influências políticas da jornada nacional de 1926”, segundo informa o Dr. António Tavares Afonso e Cunha (cf. Cunha in Freire, 1946: 10). O concelho da Murtosa foi criado em 29 de Outubro daquele mesmo ano. 19 - Relatório oficial do regulamento da ria, elaborado por Augusto Nobre, Jaime Afreixo e José Monteiro de Macedo, de 28 de Dezembro de 1912. 20 - Cf. Nobre et al. (1915: 10): “A ria de Aveiro é ainda hoje um extenso estuário, com a superfície de cerca de 6.000 hectares de água, no qual desaguam o Vouga, o Antuã, vários riachos e inúmeras correntes pluviais de que a região é fértil.” 21 - “O Sr. M. de Alcoforado diz que a bacia de Aveiro se alastra por uns 11.000 hectares, cujos 8.000 estão sempre inundados e 3.000 ora alagados ora enxutos, consoante se produz o preamar ou o baixamar” (N.A.). Se as nossas contas estão correctas, os 11.000 ha correspondem a 110 km2; os 8.000 ha a 80 km2; os 6.000 ha a 60 km2; e os 3.000 ha a 30 km2. Para servir de termo de comparação, note-se que a área do concelho da Murtosa é de 55 km2 (cf. Relatório e Contas de Gerência da CMM, 1965: 25). 22 - Cf. Nobre et al. (1915: 5-6), de cuja obra este trecho constitui uma simples transcrição. Estes autores acrescentam apenas: “A navegação entre ambas fazia-se por uma abertura de 5,80 m praticada no segundo molhe, no sítio da Cambeia” (idem: 6). 23 - Cf. Nobre et al. (1915: 6): “Mais tarde, por 1877, foi o primeiro dique cortado em 11 vãos no extremo que separava o canal de Mira, a fim deste, nas vazantes, juntar as suas águas às que vinham do norte e modificar a incidência normal destas no paredão, perdendo aí a força com que vinham atacar os bancos e cabedelos da barra.”

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Mas esta é uma constante da história da ria. Como nos explica Orlando de Oliveira (1988), socorrendo-se de informações do comandante Silvério da Rocha e Cunha, que transcreve, a formação do cordão litoral que separa a ria do mar terá começado no século XI ou XII. Anteriormente, a linha de costa, traçada com exactidão no portulano de Petrus Visconti (1318), seguia mais pelo nascente (idem: 19). Até ao fim do século XVI, o cordão litoral avançou para o sítio onde foi construída a capela da Senhora das Areias, em S. Jacinto, nas imediações de Aveiro. Porém, com o seu avanço para sul dessa posição, começou um período de decadência que se iria prolongar até meados do século XVIII, quando a barra se fixou um pouco ao norte dos Palheiros de Mira (idem: 20). Citando a referida fonte, diz: “Com o avanço do cordão litoral para o sul daquela posição (…), começa o período de decadência: crises nas comunicações entre a laguna e o mar, diminuição do volume de águas salgadas na laguna, empobrecimento das pescas, da indústria salineira, da agricultura, decrescimento comercial, marítimo e demográfico” (Cunha in Oliveira, 1988: 20).24 Mas é o próprio autor quem nos informa: Nesta acidentada história foi trágico o ano de 1757: a barra, situada então nos vastos areais de Mira, fechou completamente (Oliveira, 1988: 33). Entretanto, o capitão-mor de Ílhavo, João de Sousa Ribeiro da Silveira, conseguiu autorização para abrir, por sua conta e risco, um regueirão na Vagueira. Mas foi sol de pouca dura, pois em 1765 a barra voltou novamente a fechar (idem: 35) E assim se manteve até que, quase meio século depois, em 3 de Abril de 1808, foi finalmente reaberta (idem: 37). A reabertura da barra aconteceu num ambiente bélico, aquando da 2ª Invasão Francesa, o que determinou a escolha do porto que melhor permitisse o desembarque de tropas aliadas. Prova disso é que o Governo Provisional do Porto mandara suspender as obras públicas, em geral, com excepção das da Barra de Aveiro. Assim, em 13 de Maio de 1809, um comboio naval de Sua Majestade Britânica, constituído por 40 velas e escoltado pelo brigue de guerra Port Mahon, em que vinham dois iates portugueses, todos conduzindo munições para o exército britânico, entrou a nova barra em tempo recorde (Amorim; Garcia, 2008: 6).25 Disso nos dá também testemunho o conhecido monografista Alberto Lamy: Durante a ofensiva luso-britânica uma divisão de infantaria do exército de Wellesley, comandada pelo major Rowland Hill, chegou à cidade de Aveiro no dia 9 de Maio de 1809 e, seguindo pela ria desembarcou em Ovar, provavelmente no cais da ribeira, ao romper do dia 10, com a finalidade de cortar a retaguarda aos franceses que retiravam pela estrada de Oliveira de Azeméis (desembarcaram 3.000

24 - A propósito, nas Memórias paroquiais de 1758, o cura do Bunheiro diz o seguinte: “Só sim o que houve nesta freguesia a quatro de Dezembro do presente ano de mil setecentos e cinquenta e sete, uma inundação de água no rio, que daria com o lugar dos Sedouros desta freguesia, pelas muitas casas que se demoliram, e bens que se perderam com a dita inundação, ou cheia, mais de um conto; e a oito do dito mês por milagre da Virgem Nossa Senhora da Conceição começou de vaziar, a dita cheia, e diziam que pela muita abundância que houve de água, que com a força dela se abrira uma barra para as partes do rio de Aveiro que já algum dia a foi, donde dizem que podem entrar embarcações; se não vaziasse a dita alagar-se-ia a vila de Aveiro, e todas estas freguesias circunvizinhas” (Oliveira et al 2009: 115). 25 - Isidoro Francisco Guimarães, o oficial da Marinha que coordenou a manobra, refere apenas “40 Transportes Britânicos” (Guimarães in Pimenta, 1942: 169). No entanto, reportando-se ao mesmo assunto e baseando-se em documento da Alfândega de Aveiro, o Dr. Alberto Souto refere “trinta e oito navios de transporte e um brigue de guerra com mantimentos e munições” (Souto, 1941: 39).

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soldados) (Lamy, 2001: 247).26 Mas, voltando aos tempos de paz, Luís Filipe Lucci acrescenta uma nota de pitoresco à paisagem da ria e diz o seguinte: 27 Em toda a orla rareiam os terrenos de altitude superior a 30 m, mas a paisagem está longe de ser monótona. Desenrola-se frequentemente uma alegre vivacidade, derivada sobretudo do revestimento vegetal e das várias formas de actividade humana. Até a extrema diversidade do recorte dos barcos vem animar o ambiente, provocando modalidades de raro encanto estético. Há uma justa combinação de tons, germinada pelas culturas do milho e do arroz, pelas brancas pirâmides de sal e pelo azul das águas. Enfim, é uma faixa duma beleza peculiar dentro da terra lusitana (idem: 36). Ocupando-se então da flora e da fauna da ria, o mesmo autor, após considerar que a massa líquida recebida do oceano influi na permanência duma certa salinidade (idem: 41), conclui: Quando a barra se obstrui e se tal facto coincide com um poderoso caudal do Vouga, as águas doces alastram-se pela ria, dificultando a vida a muitos animais e plantas habituados a abundante salinidade. Uns morrem ante uma brusca variação mesológica, outros passam a barra e tentam lobrigar na plataforma continental as indispensáveis condições para desenvolverem as suas complexas actividade (idem: 51). Referindo-se concretamente ao moliço, diz: Ocupando-nos da flora, devemos destacar em primeiro lugar um conjunto de plantas, designadas genericamente pelo nome de moliço, e que são de grande valor como adubo agrícola; algumas centenas de indivíduos auferem os seus lucros da venda destes vegetais (idem: 52). E, mais à frente, acrescenta: A aquisição do moliço também se enfileira entre as principais riquezas desta bacia, rendendo anualmente para cima de 250 contos e tendo sido calculada para 1917 uma importante subida. O moliço é um esplêndido adubo, fertilizando a maior parte dos terrenos afins à depressão; certos barcos dedicamse à apanha destas algas, misturadas com alguns pequenos animais, que pretendem ocultar-se dos peixes mais vorazes (idem: 60). A propósito do moliço, também o já citado António do Nascimento Leitão, refere: No fundo da ria e nas praias que só na baixa-mar ficam a descoberto, nascem e desenvolvem-se, numa exuberância prodigiosa, diferentes espécies de plantas marinhas, conhecidas na região pelo nome indistinto de moliço, que a agricultura consome com avidez insaciável (idem: 128). Pormenorizando, acrescenta:

26 - A propósito do facto descrito, Guimarães faz o seguinte reparo: “Na repartição da Marinha não há naquela cidade polícia alguma: agora bem o observei na passagem das tropas combinadas, que sendo precisos Barcos para as conduzirem a Ovar, e às Provisões, com muito custo pude aprontar 130, quando a Ria tem 3 mil, e disto muitíssimo se queixou o General Welesley” (Guimarães in Pimenta, 1942: 169). 27 - Mas não nos deixemos iludir com esta descrição bucólica. Apenas um ano depois de estas palavras terem sido publicadas, a Monarquia do Norte estendeu as suas fronteiras até à ria. Raul Tamagnini, republicano e voluntário civil deixou disso testemunho, em nota referente ao dia 12 de Fevereiro de 1919. De noite, rumo a Ovar, viu surgir na frente dele e dos companheiros um barco, o qual, após se certificarem que vinha carregado de gente, mandaram parar. Como todavia o arrais fingisse não ouvir, ameaçaram disparar. Então de imediato o barco atravessou, enquanto o arrais exclamava: “Oh meus senhores, isto é tudo boa gente, é tudo gente de paz que vai para as suas terras…” (Tamagnini, 1921: 192).

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A colheita faz-se com ancinhos de ferro28, que, presos ao barco, ou com o esforço braçal, mordem o fundo num certo percurso, e que no fim de um ano têm produzido a importante soma de 160:000$000 réis (idem: 129). E, de seguida, esclarece: Esta indústria fornece trabalho a 2.500 homens, fora os que se empregam na construção dos barcos e aparelhos, e presta à agricultura de uma parte do distrito um auxílio, sem o qual os campos, em vez de férteis, estariam esterilizados29 (idem: 129).30 Cinquenta anos depois de estas palavras terem sido escritas, o capitão-de-fragata Agostinho Simões Lopes (1968) lembrava que, com a reabertura da barra em 1808, a agricultura teve um novo desenvolvimento e que, em consequência dele, houve uma maior necessidade de moliço para adubar as terras. Mas com a crescente e desordenada apanha do moliço e sem qualquer regulamento que a disciplinasse, esta actividade entrou em choque com a da pesca lagunar (idem: 24). Para obstar à situação, em 9 de Setembro de 1868 foi publicado um Edital pelo Governo Civil do Distrito de Aveiro, tendente a restringir a apanha do moliço em prol da exploração da pesca (idem: 24). Com a mesma finalidade, também as Câmaras Municipais tomaram medidas restritivas quanto à apanha do moliço (idem: 26-27). Já vimos, no essencial, em anterior número de “Terras de Antuã”31, quais as medidas adoptadas pela Câmara Municipal de Estarreja. As restantes tomaram medidas em tudo parecidas, dando primazia aos moliceiros dos seus concelhos e impondo períodos de defeso na apanha do moliço. Só estes é que diferiam sensivelmente de concelho para concelho: Estarreja - desde 24 de Junho até 31 de Julho; Ílhavo - desde 15 de Abril até 25 de Julho; Ovar - desde 29 de Junho até 31 de Julho; Vagos - desde 15 de Junho até 31 de Julho (idem: 26-27). Publicado novo regulamento em 2 de Outubro de 1886, que obrigava os barcos a duas matrículas anuais (Janeiro e Julho), logo contra ele se levantaram vozes de protesto. O Director da 2ª Circunscrição Hidráulica solicitou então ao Bispo-Conde de Coimbra (cidade em que aquela estava sediada), cujos poderes eclesiásticos alcançavam então as terras ribeirinhas de Aveiro, a cooperação dos párocos da sua diocese com vista à boa aceitação da medida (Cunha, 1995: 145). Este fez publicar uma Pastoral em 1891 e nela, referindo-se a certo prelado que governara o Bispado de Aveiro antes da sua extinção32 e a uma intervenção que tivera, em 1878, na Câmara dos Deputados, da qual era membro, lamentava-se: Só em 1886, 8 anos depois, é que se publicou, não uma providência especial para a ria d’ Aveiro sobre a apanha do moliço, como era urgente, mas um Regulamento Geral com providências gerais sobre a polícia da pesca; e com tudo já lá vão mais 4 anos, sem que este mesmo se tenha posto em vigor; porque outra causa dos nossos males sociais é a facilidade com que se promulgam leis e se decretam providências para não se executarem, ou para se suspender a sua execução logo que se levante contra ela, ou o mais insignificante 28 - Deve referir-se ao gadanhão. Cf. Nobre et al. (1915: 55): “É um ancinho de tamanho médio entre os dois anteriores [grande e pequeno], com os dentes um pouco mais altos, os quais são no norte da ria, de carvalho, e no sul, de ferro.” 29 - “Francisco Augusto da Fonseca Regalla - A ria de Aveiro e as suas indústrias. 1889” (N.A.). 30 - Cf. Lucci (1918: 57-58): “Quase todos os concelhos que marginam a ria de Aveiro possuem uma densidade de população que ultrapassa sensivelmente a média registada em todo o país, destacando-se a este respeito as zonas de Ílhavo, Estarreja e Ovar”. 31 - TA, nº 9 (2015:140-146). 32 - A diocese de Aveiro foi criada em 12 de Abril de 1774 e extinta em 30 de Setembro de 1881, tendo sido restaurada em 24 de Agosto de 1938 (Lello, 1992 [I]: 261).

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atrito ou o mais fútil interesse político; e daqui o princípio e força da autoridade se aniquila, o respeito e a obediência às leis se despreza, e a impossibilidade de governar, e o futuro da anarquia que nos assusta (Pina, 1891: 6). Mas parece que nenhuma dessas medidas surtiu qualquer efeito, não sabemos se devido realmente ao enorme predomínio dos interesses agrícolas, como afirma o militar, se pela bem mais prosaica falta de uma autoridade que fiscalizasse e impusesse o cumprimento de tais disposições, como o mesmo também admite, ou se devido àquela facilidade com que se promulgam leis (…) para não se executarem, como diz o bem avisado clérigo. O certo é que esta situação se manteve até que, já nos alvores da República, surgiu pela primeira vez um Regulamento da pesca e apanha de moliço na Ria de Aveiro, aprovado por Decreto de 28 de Dezembro de 1912 (Lopes, 1968: 27). Mas nesta prolongada luta, parece que quer pescadores quer moliceiros foram apenas actores secundários num enredo de interesses obscuros, mas no fim irmanados na mesma miséria que aquele Regulamento supostamente pretendia evitar. Sobre a questão, informa-nos José Tavares Afonso e Cunha: Publicado o regulamento em 28 de Dezembro de 1912, não tardou que pescadores e moliceiros se vissem empurrados para as agruras da inibição e do defeso. E a fome veio, cruel e devastadora; estalou a revolta. Os pescadores e os moliceiros saíram para a rua a clamar pelo seu direito ao trabalho, a gritar por pão, a ameaçar ir buscá-lo onde quer que estivesse. As autoridades alarmaram-se, chamaram a tropa, a Murtosa esteve em estado de sítio durante três dias. A 5 de Maio de 1913, noticiava o jornal da terra: “De todo o alvoroçado movimento que na passada semana tanto agitou o povo desta freguesia resta apenas a recordação das tormentosas incertezas que muitos experimentaram e a mágoa de ainda se reterem encarcerados alguns daqueles desgraçados que uma torturante exigência de estômagos vazios levou a reclamar tumultuariamente o que em vão haviam humildemente implorado (Cunha, 1995: 149-150). Ainda neste contexto, embora mais de duas décadas após os factos descritos, Tomás de Sousa informa: Os moliceiros, que não têm outro modo de vida, tiram sempre licenças anuais; e para esses calculamos um número nunca inferior a 180 marés por ano, visto terem muitos dias em que cada barco pode apanhar duas marés. É crível que todos os moliceiros que se servem das licenças para a apanha de moliço no segundo período, também tenham “usado pela arte de moliceiro” no primeiro período; mas a razão de tirar duas licenças, na maioria dos casos é por não terem dinheiro para fazerem uma despesa tão elevada de uma só vez (Sousa, 1936: 61). E passa a detalhar que para o período decorrido entre 24 de Junho de 1933 e 24 de Março de 1934, tinham sido passadas apenas 175 licenças anuais para apanha de moliço. Para a primeira safra, que terminou em 23 de Outubro daquele ano, foram tiradas 505 meias licenças; e para a segunda, que começou logo em 24 de Outubro e terminou em 23 de Março do ano seguinte, foram tiradas 353 meias licenças. Embora o valor do moliço que se extraiu da ria nesse ano fosse computado em 2.864.937$50, o autor no entanto concluía: Ora, é desta soma total que saem os impostos para o Estado e Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, bem como o preço dos arreios de trabalho; da parte restante é donde vive, numa miséria honrada, um bom número de famílias (idem: 63).33

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Simões Lopes lembra ainda que, segundo Fonseca Regalla (1889), também ele militar da marinha, em 1889 existiam 1.342 barcos moliceiros (Lopes, 1968: 29), embora tal número também incluísse as embarcações mais pequenas, tipo bateira, que são utilizadas directamente pelos lavradores para o seu serviço pessoal (idem: 30). Esclarece que o número de homens que, segundo Regalla, estavam afectos à actividade da apanha do moliço, era de 2.542, o que representava, como diz, uma média aproximada de dois homens por cada barco (idem: 30). Ora, tal número corrobora aquele que também foi apresentado por Leitão (1906), que, como vimos, se baseou no referido autor. No entanto, no ano anterior àquele em que escreve, esse número já estava reduzido a 602, menos de metade (Lopes, 1968: 29). Pormenor interessante é o que acrescenta de seguida, quando refere que muitos moliceiros empregam a bordo as suas mulheres, algumas com inscrição marítima mas a maior parte com uma simples autorização da autoridade marítima para exercerem aquela actividade (idem: 30). Porém, isso e o facto de as bateiras dos lavradores não necessitarem de mais de um homem para as manobrar, cujo número pouco tinha diminuído, faria com que a média de homens que se dedicavam à apanha do moliço fosse inferior à anteriormente indicada. Seria, por isso, em relação aos autênticos barcos moliceiros que se tinha registado o maior decréscimo (idem: 30). E duas páginas adiante, conclui: O moliceiro não usufrui qualquer modalidade de assistência. O patrão não tem qualquer agremiação e o trabalhador não tem sindicato ou qualquer outro organismo análogo e, tanto um como outro não estão abrangidos pelos organismos oficiais de assistência. Em face da natureza do seu trabalho, é o moliceiro que se encontra na mais baixa categoria da escala marítima e o que tem mais baixo nível profissional. É uma categoria que, apesar de prevista no próprio Regulamento da Inscrição Marítima, só existe na Ria de Aveiro (idem: 32).

33 - Cada licença anual, entre impostos para o Estado e para a Junta Autónoma da Ria e Barra de Aveiro, custava 112$00. Cada meia licença custava 62$00 para o primeiro período (mais rendoso) e 52$00 para o segundo (menos rendoso). O preço de cada maré para o ano em questão rondou a média de 25$00 (cf. Sousa, 1936: 63).

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Bibliografia Amorim, Inês; Garcia, João (coord.). 2008. A barra e os portos da Ria de Aveiro: 1808-1932 (Catálogo da Exposição). Aveiro, Administração do Porto de Aveiro e Comissão das Comemorações do Bicentenário da Abertura da Barra de Aveiro (1808-2008). Andersen, Hans Christian. 2003. Uma visita em Portugal em 1866. 4ª edição. Vila Nova de Gaia, Edições Gailivro, Lda. Cunha, José Tavares Afonso e . 1995. Notas marinhoas (Vol. V). S/l, Edição do Autor. Dias, Jorge. 1982. Os arados portugueses e as suas prováveis origens. 2ª edição. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Freire, João Paulo. 1946. “Estarreja: alguns apontamentos para o estudo geral do concelho”, in Cadernos dum jornalista: factos, memórias, acontecimentos, Porto, Portugália, nº 3. Lamy, Alberto Sousa. 2011. Monografia de Ovar (Vol. 1). 2ª edição. Ovar, Câmara Municipal de Ovar. Leitão, António do Nascimento. 1906. A bacia hidrográfica de Aveiro e a salubridade pública. Porto, Imprensa Portuguesa. Lello Universal - Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro em 2 Volumes. 1992. Lello & Irmão Editores, Porto. Link, Johann Friedrich; Hoffmannsegg, Johann Centurius von. 1808. Voyage en Portugal, fait depuis 1797 jusqu’ en 1799 (Tome Premier). Paris, Dentu, Imprimeure-Libraire. Link, Johann Friedrich. 2005. Notas de uma viagem a Portugal e através de França e Espanha. Lisboa, Biblioteca Nacional. Lopes, Agostinho Simões. 1968. “O problema do moliço na Ria de Aveiro”, in Aveiro e o seu distrito, nº 5, pp: 23-33. Lucci, Luiz Filipe de Lencastre Schwalbach. 1918. Estudos geográficos: alterações litorais, a ria de Aveiro. Lisboa, Tipografia do Anuário Comercial. Oliveira, Américo; Silva, Filomeno. 2009. Estarreja e Murtosa nas memórias paroquiais de 1758. Fundação Solheiro Madureira, Estarreja. Oliveira, José Augusto. 1935. Conquista de Lisboa aos mouros (1147): narrada pelo cruzado Osberno, testemunha presencial. Lisboa, S. Industriais da C.M.L. _______. 1936. Conquista de Lisboa aos mouros (1147): narrações pelos cruzados Osberno e Arnulfo, testemunhas presenciais do cerco. 2ª edição. Lisboa, S. Industriais da C.M.L. Oliveira, Nuno Gomes. 2015. A Flore Portugaise e as viagens em Portugal de Hoffmannsegg e Link (1795 a 1801). Lisboa, Chiado Editora. Oliveira, Orlando. 1988. Origens da ria de Aveiro. Aveiro, Câmara Municipal de Aveiro. Pimenta, Belisário. 1942. “A barra de Aveiro em 1809” in Arquivo do distrito de Aveiro. Vol. VIII, pp: 161-173. Pina, D. Manuel Corrêa de Bastos. 1891. Pastoral do bispo de Coimbra sobre a ria de Aveiro. Coimbra, s/ed. Relatório e Contas de Gerência (1965). 1966. Murtosa, C.M.M. Nobre, Augusto; Afreixo, Jaime; Macedo, José de. 1915. A ria de Aveiro: relatório do regulamento da ria de 28 de Dezembro de 1912. Lisboa, Imprensa Nacional. Sousa,Tomaz Tavares de. 1936. “Os moliços”, in Arquivo do distrito de Aveiro,Vol. II, pp: 57-64 e 177-190. Souto, Alberto. 1923. Origens da ria de Aveiro. Aveiro, Livraria João Vieira da Cunha Editora. ____________. 1941. “Um comboio marítimo inglês no porto de Aveiro em 1809” in Arquivo do distrito de Aveiro, Vol. VII, pp: 39-41. Tamagnini, Raul. 1921. Notas de um voluntário civil nas margens do Vouga. Porto, Tipografia de “A Tribuna”. [ 66 ]


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O PATRIMÓNIO BIBLIOGRÁFICO DE ANTÓNIO MADUREIRA CASA-MUSEU MARIETA SOLHEIRO MADUREIRA EM ESTARREJA Juliana Cunha * “Dá que pensar se teria valido a pena tantos trabalhos e canseiras, em tão longo tempo, para aqui chegarmos. Mas, quem sabe, Senhor! De tudo o que o Homem faz com Humildade e com Amor, sempre fica - e para todo o sempre - o Sonho e a Saudade!”. 1 António Madureira A humildade e o amor. O sonho e a saudade. Em poucas palavras podemos definir a vida e o legado ímpar de António Madureira2. A Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, situada no concelho de Estarreja “é o produto de um lento e longo esforço - de mais de cinquenta anos - de um casal enamorado das Belas-Artes. É a prova viva do que podem valer a perseverança e o amor”3. Propriedade da Fundação Solheiro Madureira, instituída em 1992 por António Madureira, da qual fazem parte as Câmaras Municipais de Estarreja e Murtosa, a Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira é uma verdadeira evocação ao amor, dedicada à sua companheira de sempre. “Está neste caso o Nome dado a esta casa, doce lembrança em memória e sufrágio de quem foi a sua obreira mais diligente e mais obscura. Não recordar, neste lugar, a sua passada existência seria feio pecado de ingratidão”.4 Todos os recantos da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira são ímpares, singulares e recheados de tesouros e obras de grande valor e arte, mas será sobre o património bibliográfico de António Madureira difundido pela biblioteca privada e pelo seu magnificente escritório que dedicaremos este texto. Na residência do casal Madureira, atualmente Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, existem dois espaços onde os livros nos brindam com o seu papel principal. No rés-do-chão da referida Casa-Museu, numa pequena sala, podemos observar o recanto que é apelidado de biblioteca. Espaço sereno e iluminado pela luz natural que trespassa a janela foi pensado para o casal desfrutar do prazer da leitura. Na biblioteca, para além dos tesouros bibliográficos que figuram na estante que ocupa toda a parede do recanto, outras obras de arte podem ser apreciadas. Na referida estante um painel de estilo renascença, policromado sobre folha de ouro, do século XVIII; duas cadeiras de braços estilo Régence, século XVIII; mesa de centro com tampo recortado, século XIX; contador, móvel português do século XVIII, de pausanto com decoração de tremidos e ondeados5, entre outros objetos de valor e arte. *Licenciada em Ciência da Informação Arquivística e Biblioteconómica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. 1 - MADUREIRA, António in Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira: catálogo-guia ilustrado/ fot. Estúdios Carlos Ramos. Aveiro: Lusitânia, [1992]. Pág. 9. 2 - António Mota Godinho Madureira nasceu a 5 de dezembro de 1912 em Silves, e faleceu em Estarreja a 16 de março de 1996. Em Estarreja exerceu atividade de veterinário municipal e, posteriormente, inspetor municipal de sanidade pecuária dos Concelhos de Estarreja e Murtosa. 3 - MADUREIRA, António in Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira: catálogo-guia ilustrado/ fot. Estúdios Carlos Ramos. Aveiro: Lusitânia, [1992]. Pág. 9. 4 - Idem 5 - Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira: catálogo-guia ilustrado/ fot. Estúdios Carlos Ramos. Aveiro: Lusitânia, [1992]. Pág.58.

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JULIANA CUNHA

O património bibliográfico disperso pelas quinze prateleiras da estante é constituído essencialmente por monografias de Arte, Pintura, História da Arte e coleções de Enciclopédias. Os documentos encontram-se maioritariamente em bom estado de conservação e preservação.

1 - Biblioteca privada da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, 2017.6

A Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira tem adotado medidas de conservação para que os documentos se mantenham em bom estado de preservação, com especial atenção para os livros antigos. É realizada a verificação sistemática de temperatura e humidade, para que não ocorram oscilações acentuadas que podem danificar o acervo bibliográfico, assim como são utilizados aparelhos desumidificadores. Privada e museológica, a biblioteca e todo o património bibliográfico de António Madureira poderão ser vislumbrados numa visita à Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira e quem a contempla, percebe o gosto e o interesse do casal pelas Belas-Artes, mas também pelas Letras.

2 - Biblioteca privada da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, 2017.7 6 - Fotografia da autora. 7 - Idem.

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No primeiro andar da Casa-Museu outro imponente espaço surge, numa sala ampla e repleta de luz, onde várias estantes erguem com os seus tesouros bibliográficos e desempenham dedicado papel. Local imponente e majestoso, o escritório de António Madureira terá sido um lugar dedicado à leitura, à escrita e à reflexão. Os livros, esses, com as suas lombadas alinhadas milimetricamente nas estantes, manifestam e desvendam o gosto e os interesses particulares dos proprietários. O património bibliográfico de António Madureira disperso pela biblioteca e pelo escritório foi, como todas as outras obras de arte da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, adquirido por si e pela sua esposa ao longo de toda a vida. O espólio documental de António Madureira é constituído por cerca de 1800 exemplares, concentrado essencialmente pela biblioteca e pelo escritório.

3 - Escritório de António Madureira - Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, 2017. 8

Nas estantes do escritório de António Madureira figuram livros de Arte, História, Pintura, Medicina Veterinária, e clássicos da Literatura portuguesa e estrangeira. Luís de Camões, Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Eça de Queirós ou Alexandre Herculano, são alguns dos autores clássicos portugueses que António Madureira apreciava. Quanto à Literatura estrangeira, obras de Max Weber, Honoré Balzac e Óscar Wilde estão presentes nas estantes do escritório. O património bibliográfico de António Madureira é recheado de obras de grandes vultos da Literatura portuguesa e mundial. Para além de obras na língua materna, também habitam nas estantes documentos em língua estrangeira, nomeadamente em francês e castelhano.

8 - Fotografia da autora.

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JULIANA CUNHA

No imponente escritório de António Madureira estão presentes verdadeiros tesouros bibliográficos, como é o caso do documento “Medicina doméstica ou tratado completo de meios de conservar a saúde”, de Guilherme Buchan, edição de 1794 e encadernado a pele. No mesmo local, outro livro antigo desperta a atenção, um exemplar de Luís de Camões, encadernado a pele com a inscrição manuscrita na contracapa “comprado num alfarrabista” em junho de 1911, posteriormente adquirido por António Madureira para o seu acervo bibliográfico.

4 - Escritório de António Madureira - Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, 2017. 9

5 - Conjunto de livros antigos - Escritório de António Madureira.10

9 - Fotografia da autora. 10 - Idem.

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6 - Livro antigo, edição de 1794 “Medicina doméstica…”, de Guilherme Buchan.11

7 - Livro antigo de Luís de Camões.12

11 - Fotografia da autora. 12 - Idem.

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JULIANA CUNHA

8 - Livro antigo de Luís de Camões.13

O património bibliográfico de António Madureira está marcado com um carimbo de posse da Fundação Solheiro Madureira, proprietária da Casa-Museu. Além dos tesouros bibliográficos, o escritório de António Madureira possui mobiliário e peças de grande valia e arte, nomeadamente quatro colunas barrocas, século XVIII, decorando uma estante; mesa rústica portuguesa, século XVIII; um armário de farmácia, em castanho, com vidro, século XVII ou dois candelabros de parede, azulejos do século XVIII,14 entre outros objetos de valor.

13 - Fotografia da autora. 14 - Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira: catálogo-guia ilustrado/ fot. Estúdios Carlos Ramos. Aveiro: Lusitânia, [1992]. Pág.56. 15 - Fotografia da autora. 16 - FERREIRA, Delfim Bismarck/António Mota Godinho Madureira: um esboço biográfico in Terras de Antuã. N.º 6, Ano 6, 2012, p. 103. 17 - MADUREIRA, António/Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira. Aveiro: Lusitânia, 1990. Pág. 22. 18 - Fotografia da autora.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

9 - Estantes de livros do escritório de António Madureira.15

Além do prazer da leitura, António Madureira também se dedicou à escrita, tendo publicado ao longo da sua vida diversos trabalhos científicos relacionados com a sua atividade profissional. Na Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira pode-se observar a suas publicações literárias, assim como outros objetos relacionados com a escrita. Homem culto e “dotado de invulgar sensibilidade rodeou-se de amigos e homens de grande cultura…”16. Em forma de conclusão, termina-se como começou. A humildade e a amor. O sonho e a saudade. Mas acrescenta-se: as letras e os livros. “E que, acima de tudo, uma Casa-Museu constitua, no que representa de dádiva generosa e de defesa do nosso património, uma afirmação de Esperança e de Fé dos portugueses, no destino de Portugal!”17

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JULIANA CUNHA

10 - Publicações de António Madureira - Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira.

11 - Publicações de António Madureira - “Diversos”.18

Referências Bibliográficas Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira: catálogo-guia ilustrado/ fot. Estúdios Carlos Ramos. Aveiro: Lusitânia, [1992]. FERREIRA, Delfim Bismarck/António Mota Godinho Madureira: um esboço biográfico in Terras de Antuã. N.º 6, Ano 6, 2012, p. 91-110 FERREIRA, Delfim Bismarck/Dr. António Madureira in Encontro de Gerações. N.º5, 1998. MADUREIRA, António/Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira. Aveiro: Lusitânia, 1990. [ 74 ]


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TAVARES RESENDE DA CASA DE S. BERNARDO DA CONGOSTA EM AVANCA, ESTARREJA, AVEIRO Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes* INTRODUÇÃO Este artigo debruça-se sobre o estudo da família Tavares Resende da Casa de S. Bernardo da Congosta em Avanca, Estarreja, Aveiro, já abordada em diversos autores como: Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso - Subsídios para uma monografia histórica e descritiva da freguesia de Avanca, Porto: [s.n.], 1961; António de Souza Brandão - A Ascendência Avancanense do Professor Egas Moniz, Porto: Livraria Esquina, 2004; e Maurício Antonino Fernandes - Valentes da Silva, de Avança e Terra da Feira, in Raízes & Memórias n.º 22 (2006), n.º 25 (2008) e n.º 27 (2010). Inicia-se este trabalho com Baltasar de Resende ( -1672), que seria oriundo segundo a tradição familiar do Paço de Resende, junto ao Mosteiro de S.ta Maria de Cárquere em Resende, Viseu, que casou em 1652 com Isabel da Silva (1624-1685), bisneta por varonia de Valentim Pires Resende (c. 1520- ), Fidalgo de Cota de Armas (carta de 9-7-1548, escudo de armas de Valentes). Deste casal foram filhos: 1º Manuel de Resende Fragoso (1658-1716), Juiz e Capitão de Ordenanças do concelho de Estarreja, Aveiro (1698), casado com Teresa Valente (1653-1712), descendente dos Tavares, “gente nobre e da mais principal” do lugar de Terçoso, freguesia de Rossas, Arouca, Aveiro, ascendentes de José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos (1867-1955), General, Governador-Geral da Província de Angola (1912-1915) e Alto-Comissário da República na Colónia de Angola (1920-1923), Ministro das Colónias (1915) e da Guerra (1915-1917), Presidente do Ministério interino (em 1917 e 1918), Embaixador de Portugal em Londres (19241926), etc. e de Manuel Peixoto Martins Mendes Norton (1875-1967), Capitão de Mar-e-Guerra (1930), Comandante-Chefe das forças navais estacionadas no Tejo (1926), Comandante interino da Divisão Naval do Atlântico Sul e da Corveta Afonso de Albuquerque (1906-1907), Presidente do Tribunal Militar da Marinha (1931), Comandante da Escola de Artilharia Naval e da Fragata D. Fernando (1934-1935), Comandante dos Serviços Auxiliares da Marinha (1930-1934), etc.; e 2ª Maria de Resende (c. 1653- ), do lugar do Freixieiro, casada em Avanca, Estarreja, Aveiro a 5-21670 com Gregório da Silva Godinho (1649-1695), o Novo, ascendentes de António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955), Nobel da Medicina em 1949, Professor Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (1911), Ministro dos Negócios Estrangeiros (de 8-10-1918 a 23-12-1918), Embaixador de Portugal em Madrid (1917), etc. Da descendência do casal - Manuel de Resende Fragoso e de Teresa Valente, provém diversos membros que se destacaram no Exército e como oficiais de milícias no distrito de Aveiro, como seja seu filho Diogo Tavares de Resende (c.1695-1763), Capitão de Ordenanças de Pardilhó,

* Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2005), Licenciatura em História pela Universidade Autónoma de Lisboa “Luís de Camões” (1990), Curso de Especialização em Ciências Documentais, na opção de Documentação e Biblioteca pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1998-2000), bibliotecário e documentalista do sector audiovisual.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Estarreja, Aveiro (1718), instituidor e Senhor da Casa de S. Bernardo da Congosta em Avanca, Estarreja, Aveiro (em 1748), autor do manuscrito “Tratado do principio da Casa do Matto da freguesia de Vanca”, também dito “Geração dos Valentes, Sylvas e Oliveyras”, 1739; seus netos António Tavares de Resende (1719-1784), Alferes (1757) e Capitão de Ordenanças de S.ta Maria de Avanca, Estarreja, Aveiro (1762) e Capitão de Ordenanças de S. Martinho de Salreu, Estarreja, Aveiro (1760-1767); Manuel Resende Fragoso ou Tavares Resende (1722- ), Alferes (1773) e Capitão de Ordenanças de Pardilhó, Estarreja, Aveiro (1774); João Roberto Tavares de Resende (1728-1810), Alferes (em 1776) e Capitão de Ordenanças de Avanca, Estarreja (1785); Francisco José Tavares de Resende (1730-1775), Alferes; Marcelo António Tavares de Resende (1735-1817), Capitão; e seu bisneto Francisco Joaquim Pereira de Resende (1751-1831), Capitão de Ordenanças de S. Simão do Bunheiro, Estarreja, Aveiro (1790), Fidalgo de Cota de Armas (a 7-1-1780, escudo esquartelado: 1º as armas dos Tavares; 2º as armas dos Resendes; 3º as armas dos Valentes; e 4º as armas dos Fonsecas). Por último, apresenta-se uma árvore genealógica com o parentesco entre o Nobel da Medicina António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955) e o General José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos (1867-1955) e o Capitão de Mar-e-Guerra Manuel Peixoto Martins Mendes Norton (1875-1967). Fidalgos de Cota de Armas (em 9-7-1548, escudo de armas de Valentes e 7-1-1780, escudo esquartelado: 1º Tavares; 2º Resendes; 3º Valentes; e 4º Fonsecas). Senhores da Casa e Quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro (antes de 1560) e Senhores da Casa de S. Bernardo da Congosta em Avanca, Estarreja, Aveiro (em 1748).

Mosteiro de S.ta Maria de Cárquere em Resende, Viseu, in http://purl.pt/93/1/iconografia/ ilustre_casa/pp5071a_p325/pp5071a_p325_3.jpg e Rota do Românico, http://www. rotadoromanico.com/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/MosteirodeSantaMariadeCarquere. aspx?galeria=Fotografias&regiao=Resende&monumento=Mosteiro%20de%20Santa%20Maria%20de%20 C%c3%a1rquere&categoria=&TabNumber=0&valor=/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/ MosteirodeSantaMariadeCarquere.aspx&guid={20EC404A-90B9-423B-BC14-0BED9F81AD36}

I - BALTASAR DE RESENDE, que seria segundo a tradição de família, oriundo da Quinta do Paço, em Resende, junto ao Mosteiro de S.ta Maria de Cárquere em Resende, Viseu, senhorio que fora de D. Egas Moniz de Ribadouro, de quem descendiam os Resendes; havia enviuvado em 20-5-1651 de sua primeira mulher Rufina Dias.1 * em S. Cristóvão de Ovar, Aveiro, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 9-3-1672

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Armas Resende (Baião Resende, fl. 62, TIF. 139, in João de Cró - Livro do Armeiro-Mor [manuscrito iluminado], 1509 e Baião Resende, fl. 12, TIF. 34, in António Godinho - Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas [manuscrito iluminado], 1521-1541)

= 2ª vez em Avanca, Estarreja, Aveiro a 16-4-1652 com D. Isabel da Silva, * no lugar do Freixeiro, Avanca, Estarreja, Aveiro, tendo sido baptizada a 2-7-1624, † em -7-1685, filha de Valentim da Silva, o Velho, * cerca de 1585, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 19-8-1651 e de Maria de Oliveira «cotinha de uma mão», por causa de seu tio, o Abade de Romariz, que lhe deu uma negra chamada Isabel para a servir, a qual por sua morte deixou a negra forma (com quem casou em Pedregais de Avanca em 1616, conforme escritura feita em 21-11-1616)2; neta paterna de Rodrigo João da Silva (que era irmão de Afonso da Silva, do Carvalhal de Degarei em Válega, Ovar, Aveiro)3 e de Isabel Valente, * cerca de 1560, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 6-6-1620 (com quem casou na capela de S.to André de Avanca, Estarreja, Aveiro em 1584); por esta sua avó paterna Isabel Valente é bisneta de Valentim Pires Valente, Capitão-mor de Esgueira no distrito de Aveiro, Fidalgo de Cota de Armas (por carta passada a 9-7-1548, escudo de armas de Valentes, em campo de vermelho, um leão de ouro rompante com três fachas de azul; timbre, um leão como o do escudo; paquife das cores e metais do escudo; diferença uma brica de prata com um crescente

1 - cf. Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso - Subsídios para uma monografia histórica e descritiva da freguesia de Avanca, Porto: [s.n.], 1961, p. 86 e António de Souza Brandão - A Ascendência Avancanense do Professor Egas Moniz, Porto: Livraria Esquina, 2004, pp. 15-16. 2 - cf. Era filha de André João, da Ramada e de Catarina Gil Godinha (irmã do padre André Godinho, Abade de Romariz, Feira, Aveiro); neta paterna de Domingos de Oliveira e de Domingas Mateus, do lugar de Pedregais, onde viveram, in M. Antonino Fernandes - Valentes da Silva, de Avança e Terra da Feira, in Raízes & Memórias n.º 22, Dezembro de 2006, Massamá: Produção Gráfica - Intermor Lda, 2006, p. 111. 3 - cf. Era filho de João Anes da Silva, do lugar de Carvalhal de Degarei em Válega, Ovar, Aveiro e de Isabel Anes; neto paterno de Afonso Gomes da Silva, de Vila Maior, Feira, Aveiro e de Joana Pires (filha de Pedro Enes e de Maria Martins, senhores do Casal de Degarei em Válega, Ovar, Aveiro), in M. Antonino Fernandes - Valentes da Silva, de Avança e Terra da Feira, in Raízes & Memórias n.º 22, op. cit., p. 111.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

de vermelho)4, Senhor da Casa e Quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro e tronco dos Valentes, que foi para Avanca fingindo ser alfaiate e raptou no lugar do Pinheiro, Avanca por volta de 1500, Brites André, a Furtada, filha de Diogo Gil, lavrador digno e honrado e de Margarida André, levando-a para Talhadas; porém depois compondo-se com o sogro, foi com ela para Avanca, casou-se e foi morar para a quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca; casou 2ª vez com Isabel Fernandes de Pinho «dos Chocos deVeiros», como eram conhecidos e designados a gente «da mais principal do concelho de Antoam», * em Várzea, Arouca, Aveiro cerca de 1520 (que era irmã do Capitão Domingos Fernandes, o Choquo).5

Armas Valente (Valente, fl. fl. 89, TIF. 194, in João de Cró - Livro do Armeiro-Mor [manuscrito iluminado], 1509 e Valente, fl. 19, TIF. 46, in António Godinho - Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas [manuscrito iluminado], 1521-1541)

4 - cf. O Valentim Pires Valente era filho de Dinis Pires Valente, morador na Quinta da Sela, em S. Miguel de Urrô, Arouca, Aveiro, * cerca de 1520 e de Joana Luísa de Távora (filha de Luís Mendes de Távora e de Joana Malafaia); neto paterno de Valentim Afonso Valente, * cerca de 1480 e de Guiomar Correia de Azevedo (filha de Lopo Vaz Correia e de Margarida Lopes; neta materna de Rui Lopes e de Hermenegilda de Sousa); bisneto paterno de Dinis Pires Valente, * cerca de 1440 e de Catarina Martins [de Almeida]; trisneto paterno de Garcia Afonso Valente, que viveu nobremente como Fidalgo, dizendo-se descendente de Gonçalo Oveques, fundador do Mosteiro de Cete, * cerca de 1400 e de Leonor Bernardes; 4º neto de Martim Afonso Valente, Alcaide-mor de Lisboa, 4º Senhor do Morgado da Póvoa e Senhor do Reguengo de Oeiras e de Violante Afonso Azambuja (filha de Mestre João das Leis, Doutor em Leis, Conselheiro dos Reis D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando, 4º Senhor do Morgado de S. Lourenço em Lisboa e de Constança Afonso); toda esta informação vem citada na carta de brasão de armas de Valentim Pires Valente em 9-7-1548, mas também no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, título 44 e em Manuel José da Costa Felgueiras Gayo - Nobiliário das famílias de Portugal, Vol. X, Tomo XXVIII, 3ª edição, Braga: Edições Carvalhos de Basto, 1992, título Valentes § 1 n.º 1 (Gonçalo Oveques) a n.º 9 (Martim Afonso Valente), p. 29 e Raízes & Memórias n.º 22, op. cit., pp. 110-111 e Nuno Gonçalo Pereira Borrego, Segismundo Pinto, pref. - Cartas de brasão de armas, vol. II, Lisboa: Guarda-Mór, 2003, pp. 342-343. 5 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 9, 11, 14-16 e Raízes & Memórias n.º 22, op. cit., pp. 111-112.

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Filhos: 1(II) Maria de Resende, que segue no § 1 de EGAS MONIZ 2 (II) Rafael de Resende, * em Avanca, Estarreja, Aveiro, tendo sido baptizado a 10-6-1655 3 (II) Manuel de Resende Fragoso, que segue. 4 (II) João de Resende Fragoso, que emigrou para o Brasil, * em Avanca, Estarreja, Aveiro, tendo sido baptizado a 28-6-1661. II - MANUEL DE RESENDE FRAGOSO, Capitão de Ordenanças e Juiz do concelho de Estarreja (1698), residiu primeiro na Casa de N. S.ra do Carmo do Mato e a partir de -10-1708 na quinta da Zangarinheira em Avanca, Estarreja, Aveiro, onde viveu até morrer.6 * em Avanca, Estarreja, Aveiro, tendo sido baptizado a 13-4-1658, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 13 ou 15-10-1716 = na igreja de S.to André de Avanca, Estarreja, Aveiro a 3-4-1683 com sua parente Teresa Valente, Senhora da parte sul da quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 19-1-1653, † na quinta da Zangarinheira em Avanca, Estarreja, Aveiro a 31-5-1712, filha de Francisco Tavares, do lugar de Terçoso, freguesia de Rossas, Arouca, Aveiro, * cerca de 1620 e de Cecília Valente, herdou a parte sul da quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro, após a morte de seus pais, * Casa do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro cerca de 1620 (com quem casou em Avança por dote de 6-3-1645, no tabelião antigo do concelho de Antuã, Diogo da Cunha); neta paterna de Diogo Tavares, gente nobre e da mais principal do vale de Arouca7, * cerca de 1595 e de Mécia de Paiva, * cerca de 1595; neta materna de Rodrigo Valente, Juiz do concelho de Antuã (1616) e herdeiro da parte sul da quinta do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro e de Maria da Silva, do Carvalhal de Degarei, Válega, Ovar, Aveiro (com quem casou em Válega, Ovar, Aveiro a -31589), filha de Afonso da Silva, o Velho e de Joana Dias, do Carvalhal de Degarei,Válega, Ovar, Aveiro; por seu avô materno Rodrigo Valente é bisneta paterna de Diogo Valente, Capitão da

6 - cf. Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., p. 86 e M. Antonino Fernandes - Valentes da Silva, in Raízes & Memórias n.º 27, Dezembro de 2010, Lisboa: Dislivro, 2010, § 8 Silva Valente, da quinta da Zangarinheira e do Brasil, pp. 276-277 e § 8/b Tavares Valente, de Avança, p. 280. 7 - cf. Estes Tavares, segundo Maurício Antonino Fernandes, eram provenientes dos Tavares de Arouca, descendentes do Morgado de Cela, de Francisco Tavares, Capitão-mor e de Diogo Malafaia Mascarenhas, in Raízes & Memórias n.º 27, Dezembro de 2010, Lisboa: Dislivro, 2010, § 8 Silva Valente, da quinta da Zangarinheira e do Brasil, pp. 276-277 e § 8/b Tavares Valente, de Avança, p. 280. Existe um Francisco Tavares de Pinho, Familiar do S.to Ofício (por carta de 24-12-1627), Sargento-mor de Ordenanças de Arouca, Aveiro, morador no lugar de Terçoso, Rossas, Arouca, Aveiro, * em Rossas, Arouca cerca de 1600, Aveiro, filho de Jerónimo Tavares, rendeiro e mercador rico e de Jerónima de Pinho, naturais e moradores em Rossas; neto paterno de Francisco Tavares, escudeiro, que foi viver para Arouca e de Maria João (filha de João de Pinho e de Catarina Gomes, naturais de Rossas), naturais do casal de Chave, freguesia de S.ta Eulália de Chave, Arouca, Aveiro; bisneto paterno de Pantaleão Pires, lavrador honrado do casal do Barilleiro, junto à igreja matriz de Sandim, Feira, Aveiro (hoje Vila Nova de Gaia, Porto) e de Branca Tavares (in Jorge Hugo Pires de Lima - O distrito de Aveiro nas habilitações do Santo Ofício - Letra F, Aveiro, 1964, pp. 80-81; Fernando Abrunhosa de Brito - As Doze Portas de Gerações de Arouca: 1500-1800, Porto: IGH-Instituto de Genealogia e Heráldica da Universidade Lusíada do Porto, 2006, pp. 33, 152, 576-581 e Cristóvão Alão de Morais - Pedatura Lusitana (Nobiliário de Famílias de Portugal), Tomo III,Volume II, Porto: Livraria Fernando Machado, 1945, p. 330). Provavelmente o Diogo Tavares, * cerca de 1595, será irmão ou primo direito do Francisco Tavares de Pinho, Familiar do S.to Ofício (por carta de 24-12-1627), * em Rossas, Arouca cerca de 1600.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Companhia de Ordenanças de Avanca, Pardilhó, Bunheiro e Murtosa, no antigo concelho de Antuã (por eleição de 23-12-1571), sendo Capitão-mor Gomes de Paiva, Juiz do concelho de Antuã (em 1572, 1578 e 1585), Senhor das Quintas do Mato e do Casal da Zangarinheira em Avanca, Estarreja, Aveiro, foreiro do mosteiro de Arouca (por prazo de 1601) e do Vilar em Válega, Ovar, Aveiro, «homem grave, de grande nome e respeito»; que manteve casa com todo o adereço de armas brancas, teve machos de serviço, cavalos e bestas de carga e muitos criados; interveio activamente, juntamente com o Capitão-mor Gomes de Paiva, nas alterações políticas, ocorridas por morte do Cardeal Rei D. Henrique, assentando praça à sua custa no Porto; era tal o respeito e confiança depositada nele, que em 1608, serviu de fiador, perante o Rei, Condessa da Feira, D. Maria de Gusmão e de sua filha D. Joana Forjaz, mulher de D. Manuel Pimentel, para poderem tomar conta do Condado na ausência do conde D. João Pereira, que fora para a Índia, como Vice-Rei, etc., † em Avanca, Estarreja, Aveiro a -1-1617 (sendo sepultado dentro da igreja de S.to André de Avanca, Estarreja, Aveiro, onde teve campa com inscrição que dizia “Sepultura de DiogoValente e de seos herdeiros”) e de Branca Dias (com quem casou em 26-5-1565), filha de João Anes, de Vilarinho, Válega, Ovar, Aveiro e de [F.] Dias, gente rica e muito nobre dos Silvas antigos; trisneta paterna do citado Valentim Pires Valente, Capitão-mor de Esgueira no distrito de Aveiro, Fidalgo de Cota de Armas (por carta passada a 9-71548, com armas de Valentes), etc. e de Isabel Fernandes de Pinho.8

Armas Tavares (Tavares, fl. 71, TIF. 157, in João de Cró - Livro do Armeiro-Mor [manuscrito iluminado], 1509 e Tavares fl. 15, TIF. 37, in António Godinho - Livro da Nobreza e Perfeiçam das Armas [manuscrito iluminado], 1521-1541)

8 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., p. 17, Raízes & Memórias n.º 22, op. cit., pp. 112-113, Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., pp. 74-76, 80 e M. [Maurício] Antonino Fernandes - Valentes da Silva, in Raízes & Memórias n.º 27, Dezembro de 2010, Lisboa: Dislivro, 2010, § 8 Silva Valente, da quinta da Zangarinheira e do Brasil, pp. 276-277 e § 8/b Tavares Valente, de Avança, p. 280. 10 - cf. Para ele e seus irmãos consulte-se: Raízes & Memórias n.º 27, Dezembro de 2010, Lisboa: Dislivro, 2010, § 8/b Tavares Valente, de Avança, p. 280-281.

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Filhos: 1(III) Manuel 2 (III) Brizida Joana Tavares de Resende Valente, Senhora da parte sul da quinta de N. S.ra do Carmo do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro, que herdou de sua mãe, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 31-5-1686, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 6-1-1757. = em Avanca, Estarreja, Aveiro a 3 ou 23-2-1714 com Manuel Antão Pereira, Capitão, * em Veiros, Estarreja, Aveiro, filho de Manuel Pereira e de Domingas de Oliveira, do lugar das Olas de Veiros, Estarreja, Aveiro. 3 (III) Manuel, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 28-2-1684, † aí em 4-5-1696 4 (III) Bernarda Maria Tavares de Resende, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 12-7-1690 = em Angeja em 1717 com António Nunes, da rua do Pinheiro, † a 25-9-1750, com geração.9 5 (III) Diogo Tavares Resende, que segue.

Casa e capela de S. Bernardo da Congosta em Avanca, Estarreja, Aveiro, in SIPA / Sistema de Informação para o Património Arquitectónico, Paulo Dórdio - Casa da Areia / Casa de S. Bernardo / Casa da Congosta, Portugal, Aveiro, Estarreja, Avanca, in https://web.archive.org/web/20160305045813/http://www. monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=654

III - DIOGO TAVARES DE RESENDE, Capitão de Ordenanças de Pardilhó, Estarreja, Aveiro (1718), sendo substituído por António José Pereira Tavares de Resende a 18-8-1763, Notário Apostólico (em -1-1744) e Juiz de Estarreja (em 1730, 1738 e 1756), Senhor da Casa de S. Bernardo da Congosta em Avanca, Estarreja, Aveiro, cuja quinta encapelou à ermida do mesmo nome, que erigiu no antigo largo do Souto em 1748; na capela de S. Bernardo, foi colocada a sua imagem no altar e foi dita a 1ª missa a 20-8-1748; autor do “Tratado do principio da Casa do Matto da freguesia de Vanca - Geração dos Valentes, Sylvas e Oliveyras”; foi destinado de início para a vida eclesiástica, obtendo o grau para ordens menores em S.ta Luzia em 1710; exerceu o hábito clerical pelo período de 3 anos, tirando a sua inquirição de genere no bispado de Lamego; depois da morte de seus pais (1712 e 1716) e de “ter acomodado” as suas irmãs, desistiu do estado de clérigo e decidiu-se casar em 1717; a sua naturalidade não se encontra no livro dos baptizados, mas sim na Câmara Eclesiástica do Porto, junto aos autos da sua inquirição de vita et moribus, quando tomou ordens menores e na inquirição de genere de seu filho António.10 10 - cf. Nuno Gonçalo Pereira Borrego - As Ordenanças e as Milícias em Portugal: Subsídios para o seu estudo, Volume I, Lisboa, 2006, p. 263, Diogo Tavares de Resende - “Tratado do principio da Casa do Matto da freguesia de Vanca”, também dito “Geração dos Valentes, Sylvas e Oliveyras” [manuscrito], 1739, que tinha no anterrosto, o escudo dos Valentes-leão rompante,

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

* cerca de 1695, † na Congosta de Avanca, Estarreja, Aveiro a 21-1-1763 (sendo sepultado na igreja paroquial de Avanca) = em Avanca, Estarreja, Aveiro a 1-8-1717 com D. Maria Joana Gomes da Silva Godinho, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 7-4-1699, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 15-12-1771 (sendo sepultada na igreja paroquial de Avanca)11, filha de Geraldo da Silva Figueira, † no lugar de Moussol, Avanca, Estarreja, Aveiro a 15-10-1717 e de Maria da Silva, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 30-10-173712; neta paterna de Gregório da Silva Godinho, o Velho, do lugar de Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro e de Maria Figueira (com quem casou nas Laceiras de S. Martinho de Salreu, Estarreja, Aveiro), † na Congosta de Avanca a 4-2-1693, filha do Capitão Domingos João e de Andresa Figueira, a Velha; bisneta paterna de André Godinho, Juiz do Concelho de Antuã (em 1625)13; em -4-1625, foi fiador com sua mulher de Valentim da Silva, o Velho, de Pedregais e de Baltasar de Resende, do Freixieiro, pela renda dos dízimos de Válega, Ovar, Aveiro, estabelecida pelo cabido do Porto por 2 anos, na importância de 263.000 réis cada um, na nota de André Pinheiro, tabelião do dito concelho e de Isabel da Silva Valente (com casou na Casa do Mato em Avanca, Estarreja, Aveiro), filha de Diogo Valente, Capitão duma Companhia de Ordenanças do concelho de Antuã (por eleição de 23-12-1571), Senhor das Quintas do Mato e da Zangarinheira em Avanca, Estarreja, Aveiro e do Casal do Vilar em Válega, Ovar, Aveiro, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a -1-1617 e de Domingas da Silva (irmã do reverendo Henrique Dias, vigário de Albergaria-a-Velha e de Valmaior e de Afonso Dias, que morreu em África em 1587), † em -5-1599, filha de Afonso da Silva, o Velho e de Joana Dias, do Carvalhal de Degarei, Válega, Ovar, Aveiro.14 Filhos: 1 (IV) António Tavares de Resende, que segue. 2 (IV) Reverendo Sebastião Marcelino Tavares de Resende, tomou ordens de epístola a 19-12-1750, de evangelho e missa pelas têmperas de S. Mateus e lhas deu o Arcebispo de Lacedómia em Lisboa a 16-9-1751; disse missa nova na capela de S. Bernardo em Avança, feita por seu pai a 23-1-1752, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 20-1-1721, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 30-7-1798.15

Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., p. 71, 86, 115-116; Raízes & Memórias n.º 25, Dezembro de 2008, Lisboa: Dislivro, 2008, § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, pp. 218-219 e Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Óbitos (1755-1780), TIF. 476, fl. 466 v.º. 11 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, pp. 218-219 e Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Óbitos (1755-1780), TIF. 515, fl. 466 v.º. 12 - cf. Era filha de Domingos da Silva e de Isabel André; neta paterna de André Gomes, de S. Mateus do Bunheiro, Estarreja, Aveiro e de Mónica da Silva, de Arada de Avanca, Estarreja, Aveiro; neta materna de António André e de Maria Dias, da Ramada, Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 218. 13 - cf. Era filho de Brás André e de Maria de Oliveira, irmã de André Godinho, Abade de Romariz, e de Catarina Gil Godinho, mulher de André João da Ramada, por serem filhos de Domingos de Oliveira e de Maria Mateus, de Pedregais de Avanca. 14 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 17-18, Raízes & Memórias n.º 22, pp. 113-114 e M. [Maurício] Antonino Fernandes - Valentes da Silva, in Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 Pinho Godinho e Pinho Brandão, de Avanca, p. 209, § 4/d Antão da Silva, de Pardilhó, p. 216, § 4/g Resende Fragoso, do Freixieiro, p. 216 e 225 e § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 218. 15 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 219.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

3 (IV) Manuel Resende Fragoso ou Tavares de Resende, Alferes (1773) e Capitão de Ordenanças de Pardilhó, Estarreja, Aveiro, por morte de José Pereira Tavares de Resende (em 25-8-1774), * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 20-10-172216 = em Avanca Estarreja, Aveiro a 25-4-1773 com Adnana Antónia da Silva, * em Avanca Estarreja, Aveiro, filha de Manuel de Almeida Brandão e de Isabel Antónia da Silva, sem geração. 4 (IV) Luzia, * em Avanca, Estarreja, Aveiro em 1724.17 5 (IV) João Roberto Tavares de Resende, Alferes (em 1776) e Capitão de Ordenanças de Avanca, Estarreja, Aveiro, que vagou por morte de Manuel Lourenço (em 27-7-1785); tomou ordens menores em Lugo a 18-12-1750, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 26-3-1728, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 7-5-181018 = em Avanca Estarreja, Aveiro a 11-2-1776 com Bernarda Maria de Resende, filha de Francisco de Pinho e de Perpétua de Resende, com geração. 6 (IV) Francisco José Tavares de Resende, Alferes, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 4-11730, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 25-12-177519 = em S. Simão do Bunheiro, Estarreja, Aveiro com Maria Lopes, com geração. 7 (IV) D. Maria Caetana do Espírito Santo Resende, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 224-1733, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 23-1-178620 = 1ª vez em 1756 com Manuel José Valente, filho de Custódio Valente de Matos e de Joana Pereira da Silva, do lugar do Portobrejo, sem geração. = 2ª vez em Avanca Estarreja,Aveiro a 1-1-1776 com António Jacinto Soares de Magalhães, filho de Manuel Soares de Magalhães e de D. Mariana Rosa de Menezes, da freguesia de S. Cristóvão da Macinhata do Vouga, Águeda, Aveiro, sem geração. 8 (IV) Marcelo António Tavares de Resende, Capitão, tomou ordens menores em Viseu a 17-12-1751, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 30-10-1735, † na quinta da Zangarinheira em Avanca, Estarreja, Aveiro a 9-5-181721 = em S. Martinho de Gândara, Oliveira de Azeméis, Aveiro a 11-8-1766 com D. Maria Teresa de Pinho Soeiro Cabral, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 4-3-1798, filha de João Caetano Pereira da Rocha e de Bernarda da Fonseca, com geração. 9 (IV) D. Joana Maria do Rosário, † menina em Avanca, Estarreja22 10 (IV) Diogo Luís, † menino em Avanca, Estarreja23 11 (IV) D. Caetana Antónia Josefa de Resende, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 17-41746, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 21-8-1832 = em Avanca, Estarreja, Aveiro com Agostinho Nunes Tavares de Resende, * em Angeja, filho de António Nunes e de Bernarda Maria Tavares de Resende, sem geração.24 16 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 219 e Nuno Gonçalo Pereira Borrego, op. cit., p. 263. 17 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 219. 18 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, pp. 219-220 e Nuno Gonçalo Pereira Borrego, op. cit., p. 262; e Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., pp. 86-87. 19 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 220. 20 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., p. 220. 21 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, pp. 220-221; e Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., p. 87. 22 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., p. 221. 23 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221. 24 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Avanca, Estarreja, Aveiro e igreja paroquial de Avanca, in Junta de freguesia de Avanca, in http://www.jf-avanca.pt/history

IV - ANTÓNIO TAVARES DE RESENDE, Alferes (1757) e Capitão de Ordenanças de S.ta Maria de Avanca, Estarreja, Aveiro (em 19-4-1762), por morte de Manuel António Pereira e Capitão de Ordenanças de S. Martinho de Salreu, Estarreja, Aveiro (de 24-3-1760 a 1-6-1767), vago por morte de João Pereira de Macedo Pinho; destinado à vida eclesiástica, tomou ordens menores, como se verifica na inquirição de genere (citada por seu pai); no entanto abandonou o estado clerical para se casar em 1749; foi sepultado na igreja paroquial de Avanca e fez testamento solene em que pediu, que fosse amortalhado no hábito de S.to António e que os ofícios de acompanhamento seriam ao arbítrio de seus herdeiros; determinou no testamento que por sua alma se mandassem dizer 400 missas, pela de sua mulher e de seus pais 200 missas, pelos seus avós, cunhado, cunhada e sogros e Purgatório 20 missas; deixava ainda às confrarias do Sacramento e do Rosário 500 réis a cada uma; e que se repartissem aos pobres 8 alqueires de milho no dia do seu falecimento; e que se desse a Joana Francisca do Sobreiro, 2 alqueires de milho.25 * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 10-2-1719, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 6-11-1784 = em Avanca, Estarreja, Aveiro a 18-6-1749 com Joana Maria de PinhoValente da Fonseca, foi sepultada na igreja paroquial de Avanca e fez testamento solene em que determinou que fosse amortalhada no hábito de freira e acompanhada com todos os padres de comenda e que estes satisfizesse os 3 ofícios solenes; determinou no testamento que por sua alma se mandassem dizer 600 missas, pela de seu irmão o padre Carlos da Silva, 250 missas, pela de seu irmão António, pais 100 missas, etc., * em Avanca, Estarreja, Aveiro, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 16-12-1780, filha de Manuel Valente da Fonseca e de Maria Pinho da Silva, do lugar de Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro26

25 - cf. Nuno Gonçalo Pereira Borrego, op. cit., pp. 262 e 264 e Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 177, fl. 175 v.º e Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Óbitos (1774-1787), fl. 238 e 238 v.º; e Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., pp. 86-87. 27 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 177, fl. 175 e 176 v.º e Óbitos (17741787), fl. 203 e 203 v.º.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Teve também uma ligação com Josefa Simões, * em Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro c. 1750.27 Filhos do casamento: 1 (V) Ana Maria Teresa Joana, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 11-6-175028 2 (V) Francisco Joaquim Pereira de Resende, Capitão de Ordenanças de S. Simão do Bunheiro, Estarreja, Aveiro, que vagou por morte de António Marques de Oliveira (em 197-1790), Fidalgo de Cota de Armas (carta de brasão de armas de D. Maria I de 7-1-1780, escudo esquartelado: 1º quartel as armas dos Tavares, que são em campo de ouro, cinco estrelas vermelhas de seis raios cada uma; 2º quartel as armas dos Resendes, em campo de ouro, duas cabras de negro passantes gotadas do dito metal; 3º quartel as armas dos Valentes, que são em campo vermelho, um leão de ouro fachada de três fachas de azul; e 4º quartel as armas dos Fonsecas, em campo de ouro, cinco estrelas de vermelho de cinco raios postas em fautor; elmo de prata guarnecido de ouro; paquife do metal e cores das armas; timbre dos Tavares, que é um cavalo de vermelho nascente com freio e rédeas de ouro; e por diferença uma brica de azul com farpão de prata), herdeiro de João Pereira de Andrade, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 8-101751, † no Sobreiro, Avanca, Estarreja, Aveiro em 1831, sem geração.29 3 (V) Joaquim, irmão gémeo do anterior, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 8-10-175130 4 (V) Ana Maria, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 9-4-175331 5 (V) Reverendo António Carlos de Resende, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 16-2-1755, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 29-9-181932 6 (V) Maria Caetana de Resende, * no lugar de Arca em Avanca, Estarreja, Aveiro a 14-4175733 = em Estarreja, Aveiro com o Capitão António Marques de Oliveira e Silva, * em Avanca,

27 - cf. Consultando-se os registos paroquiais de Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro de 1744 a 1758, apenas encontramos quatro Josefas: 1º Josefa, * em Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro a 29-1-1747, filha de Francisco dos Santos e de Maria da Trindade; 2º Josefa, * em Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro a 19-3-1750, filha de Florência, solteira; 3º Josefa, * em Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro a 8-9-1752, filha de Domingos Dias e de Marcela Marques; 4º Josefa, * em Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro a 25-8-1754, filha de Filipe Ferreira e de Domingas da Silva, Registos Paroquiais, Cucujães, Oliveira de Azeméis, Aveiro, Baptismos (1742-1767), TIF. 50, 69, 92 e 113. Parece pelo atrás referido que a Josefa Simões, deverá ser filha presumivelmente da Florência, solteira. 28 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 80, fl. 79) e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221. 29 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 95, fl. 92 v.º e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221; Visconde Sanches de Baena - Archivo heráldico - genealogico, 2ª edição, [Braga: s.n.], 1991 (Braga: -- Barbosa & Xavier), n.º 782, p. 196 e ANTT, Cartório da Nobreza, Livro 2, fl. 216; Nuno Gonçalo Pereira Borrego, op. cit., p. 492. As armas da família Tavares e Resende provém de seu pai, as armas dos Valentes de seu pai e mãe e a dos Fonsecas de sua mãe, referindo na carta em relação a esta última na descrição cinco estrelas de vermelho de cinco raios, quando deveria dizer sete raios. 30 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 96, fl. 93 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221. 31 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 128, fl. 124 v.º e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221. 32 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Casamentos (1742-1755), TIF. 128, fl. 149 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221 33 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Baptismos (1755-1780), TIF. 30, fl. 28 V.º e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 221.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Estarreja, Aveiro, filho do Capitão Lopo Marques de Oliveira e de Jerónima da Silva Valente, com geração. 7 (V) Manuel Joaquim, * em Avanca, Estarreja, Aveiro, † em menino34 8 (V) Joana Rosa, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 18-4-1763, † em menina35 Filhas naturais: 9 (V) D. Ana Rosa Tavares de Resende, que segue. 10 (V) D. Mariana Simões de Resende, sem mais notícia36 11 (V) D. Ana Miquelina de Resende, sem mais notícia37 V - D. ANA ROSA TAVARES DE RESENDE, no seu assento de casamento privado e secreto na casa do despacho da Confraria do Santíssimo Sacramento da igreja de S.to Ildefonso, Porto a 8-6-1794, vem como filha de pais incógnitos e criada pela Roda da S.ta Casa da Misericórdia do Porto pela ama Maria da Conceição, mulher de Dâmaso Monteiro, da freguesia de S.to André de Varzea da Ovelha, Gouveia de Riba Tâmega; contudo na certidão de baptismo de seu filho Tomás em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo, nascido a 21-8-1804, já vem como Ana Rosa de Resende, natural de S.ta Marinha de Avança, Estarreja, Aveiro, bispado do Porto, «filha de António Tavares de Resende e de Josefa Simões», naturais de S.ta Marinha de Avança, Estarreja, Aveiro, bispado do Porto; foi recolhida no convento de Monchique no Porto, dedicado a educação da nobreza, estando encaminhada para a vida religiosa como freira; no entanto, enamorou-se de Andrew Warren Norton, casando com o mesmo em 1794, desistindo assim do estado eclesiástico, ficando ainda os contraentes obrigados a educar os filhos na religião Católica Romana.38 * em Avanca, Estarreja, Aveiro em 1777, † em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 13-5-1842

34 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222. 35 - cf. Registos Paroquiais, Avanca, Estarreja, Aveiro, Baptismos (1755-1780), TIF. 118, fl. 115 V.º e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222. 36 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222. 37 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222. 38 - cf. Em relação ao seu assento de casamento de 8-6-1794 consulte-se: Registos Paroquiais, Porto, S.to Ildefonso, Casamentos 21 (1793-1795), TIF. 765-766, fl. 49 e 49 v.º, em relação ao assento de baptismo de seu filho Tomás a 218-1804, consulte-se Registos Paroquiais, S.ta Maria Maior, Viana do Castelo, Baptismos 14 (1803-1808), TIF. 240, fl. 34; Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222. A ascendência da Ana Rosa Tavares Resende até seus bisavós Manuel de Resende Fragoso (1658-1716), Capitão de Ordenanças e Juiz do concelho de Estarreja (1698) e Teresa Valente (1653- ), vem também citada na monografia de sua bisneta Rita Norton de Matos - A Família Norton de Matos: Aspecto Político e Social duma Família Portuguesa, Ponte de Lima, 1953, pp. 20-23. 40 - cf. Manuel Artur Norton - Representantes (Os) Consulares nos Portos de Viana e Caminha, in Arquivo do Alto Minho: Repositório de Estudos e Documentos Regionais, XXII Volume, II da 3ª Série,Tomo Único,Viana, 1977, pp. 45 e 48; ANTT, MNE, Maço 49, Livro 58, fls. 124v-125 e 137-137v; ANTT, Junta do Comércio, Requerimento sobre Naturalizações e Casos de Consulta, Maço 239, n.º 311, Requerimento de naturalização de Lisboa a 5-11-1807; Manuel Artur Norton «The Nortons of Viana», in The British Historical Society of Portugal: Thirteenth Annual Report and Review 1986, Lisboa, 1986, pp. 91-92; «Uma Família Inglesa em Viana do Castelo: Os Norton de Dartmouth», de Nuno Miguel Marques BarataFigueira e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, in Raízes & Memórias n.º 31, Dezembro de 2014, Lisboa: Produção Gráfica - Tipografia Lobão, 2015, pp. 24-25; ADB, S.ta Maria Maior em Viana do Castelo, Livro de Nascimentos n.º 18, f. 98v; e ADP, Porto, S.to Ildefonso, Livro de Casamentos n.º 5, fls. 49-49 v.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Andrew Warren Norton (1777- )

= privada e secretamente na casa do despacho da Confraria do Santíssimo Sacramento da igreja de S.to Ildefonso, Porto a 8-6-1794 («por graça especialíssima de S. Santidade subdelegada pello Senhor Nuncio deste Reyno» no pároco de S.to Ildefonso, António Leite Pereira de Melo «na disparidade de Religião sendo o contrahente protestante e a contrahente Católica Romana») com Andrew Warren Norton, 2º Cônsul-Deputado do Reino Unido em Viana do Castelo (carta patente de 3-6-1809 e por carta de confirmação do palácio do Governo de 6-6-1809), em Caminha e em Esposende (por cartas patentes de Lisboa de 20-5-1811); veio para Portugal, nos finais do século XVIII, como mercador de vinhos e de bacalhau; viveu primeiro no Porto, na rua dos Ingleses, paróquia de S. Nicolau, e mais tarde mudou-se para Viana do Castelo e morou na Casa Amarela; foi baptizado na paróquia de S. Petrúquio da vila de Dartmouth a 4-11-1771 e mais tarde converteuse ao catolicismo, tendo sido baptizado na Capela de N. S.ra da Agonia e registado na de S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 12-6-1806; naturalizou-se português, jurou termo de vassalagem em Lisboa, por procuração, no Porto, de 31-10-1807 e obteve a sua cidadania a 6-11-1807; tomou parte activa na política portuguesa (influente político liberal em Viana do Castelo, quando a 4-61822 a cidade de Viana se pronunciou a favor do movimento contra D. Miguel, quis assinar um manifesto público ao mesmo e como consequência, teve de sair às pressas da cidade); etc.39, * em S. Petrúquio, Dartmouth, Devon, Inglaterra, sendo baptizado a 4-11-1771, † em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo cerca de 1841 (?), filho de Andrew Norton, Oficial da Marinha Mercante inglesa, * na paróquia de S. Petrúquio, Dartmouth, Devon, Inglaterra a 2-3-1747 e de Joan Warren, * na vila de Totnes, tendo sido baptizada a 29-9-1748 (com quem se casou na vila de Totnes, no distrito de South Hams a 5-5-1770).

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Rua Nova dos Ingleses (atual rua Infante D Henrique), litografia de James Forrester, à direita; pormenor da litografia com John T. Quillaman n.º 1 (à esquerda), Robert Warren Norton n.º 2 (ao centro) e Andrew Warren Norton n.º 3 (à direita)

Filhos: 1 (VI) Maria José Tavares de Resende Norton * em S. Pedro de Miragaia, Porto a 4-11-1800, sendo baptizada a 16-11, † no Rio de Janeiro, Brasil a 26-8-1875 (sendo sepultada no cemitério de S. Francisco de Paula de Catumbi) = em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 26-11-1825, com Luís Queirol Murat, Agente Consular dos Estados Unidos da América em Viana do Castelo (por carta patente de 28-3-1826 e carta de confirmação do Palácio da Ajuda de 18-5-1826), Cavaleiro da Ordem de Cristo (24-71840), que emigrou com sua mulher para o Brasil em 1829, * em S. Pedro de Miragaia, Porto a 24-11-1799, † no Rio de Janeiro, Brasil a 23-1-1863, filho de Félix Lourenço Queirol, * em S. Pedro de Miragaia, Porto e de Isabel Murat, * em S. Nicolau, Porto, com geração no Brasil.40 2 (VI) Joana Tavares de Resende Norton, † a 13-4-1863 = com Manuel José Ferreira, da freguesia de Vitorino de Piães, município de Ponte de Lima, com geração.41

40 - cf. Manuel Artur Norton - Representantes (Os) Consulares nos Portos de Viana e Caminha, in Arquivo do Alto Minho: Repositório de Estudos e Documentos Regionais, XXII Volume, II da 3ª Série, Tomo Único, Viana, 1977, pp. 48 e 58; e ANTT, MNE, Maço 49, Livro 59, f. 207 e Livro 63, ff. 6-6 v. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222; Nuno Miguel Marques Barata-Figueira e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, op. cit., pp. 27-28; Eliana Quintella Linhares - A descendência de Luiz Queriol Murat e de Maria José Tavares de Resende, 2006, pp. 10 e 64, Registos Paroquiais, Porto, S. Pedro de Miragaia, Baptismos 13 (1791-1802), TIF. 167, fl. 159 v.º, e Registos Paroquiais, Viana do Castelo, S.ta Maria Maior, Casamentos 10 (1815-1829), TIF. 1077, fl. 80. 41 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 222; e Nuno Miguel Marques Barata-Figueira e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, op. cit., pp. 27-28.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Tomás Norton (1804-1860) e Rosa Guilhermina Henriqueta Pereira de Castro Gordon (1806- )

3 (VI) Tomás Norton, Bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, FidalgoCavaleiro da Casa Real (tomado de novo), com 1$600 réis de moradia por mês e 1 alqueire de cevada por dia (a 22-4-1840), Comendador da Ordem de N. S.ra da Conceição de Vila Viçosa (a 26-2-1840), Juiz Desembargador do Tribunal da Relação do Porto (1845), Vogal dos Tribunais Militares, etc., liberal por ascendência e pela formação do seu espírito, foi vintista desde os seus anos de universidade; foi uma das figuras proeminentes dos liberais no Minho pelos seus princípios e cultura. Derrotadas as forças liberais, retirou-se com seu cunhado, José Mendes Ribeiro e com o pai deste, para a Galiza, seguindo dali os três para a Inglaterra; quando morreu, tinha uma grande e valiosa livraria, que foi salva principalmente em virtude da acção do rei D. Pedro V, a quem se deve a incorporação da sua maior parte na Real Biblioteca da Ajuda.42 * em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 21-8-1804, † a 15-5-1860. = a 10-6-1839, com D. Guilhermina Henriqueta Pereira de Castro, * em 1805, filha de William Gordon e de Antónia Henriqueta Pereira de Castro, com geração. 4 (VI) Rita de Cássia Tavares de Resende Norton, que segue.

42 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 223 e Rita Norton de Matos, op. cit., pp. 69-73; Nuno Miguel Marques Barata-Figueira e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, op. cit., pp. 25-26; e Nuno Gonçalo Pereira Borrego - Mordomia-mor da Casa Real: Foros e Ofícios (1755-1910, Tomo II, Lisboa. Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas Lda, 2007, p. 239.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Rita de Cássia Tavares de Resende Norton (1808-1875) e José Mendes Ribeiro (1802-1887), reprodução duma miniatura

VI - RITA DE CÁSSIA TAVARES DE RESENDE NORTON, que teve um papel fundamental na revolução da «Maria da Fonte» em Viana do Castelo em 1846, evitando a morte de dezenas de simpatizantes de Costa Cabral. Oliveira Martins faz referências a este episódio e relata «Viana, proclamada a Junta, ficara sem a tropa: os cartistas aproveitaram. Expulsaram da praça o inimigo e fortificaram-se.Veio em milhares o povo dos campos dar um assalto e a cidade capitulou: na refrega ficara morto o tenente que a defendia. Os camponeses enfurecidos - eram quatro mil - pediam vinganças e mortes, exigindo as chaves do castelo (onde o velho governador reformado prendera os mais comprometidos), mas o homem prudente, perdera as chaves a tempo, enfurecendo ainda mais a turba com o seu ardil. Começavam os tiros, preparavam-se os machados, ia começar o assalto, o arrombamento e a matança inevitável, quando uma piedosa senhora teve uma ideia abençoada.Viu-se aparecer no meio das ondas do povo em fúria uma procissão de padres de cruz alçada, caminhando solenemente cantando “Benedictus! Benedictus! Dominus Deus, Israel! E os minhotos, sobressaltados, paravam, escutavam, como tocados por um milagre [...]».43 Dizia Rodrigo da Fonseca Magalhães, que quando se tratava da política de Viana do Castelo, era Rita de Cássia que o orientava; no seu assento de baptismo vem com os avós maternos incógnitos, só rectificada na certidão de baptismo de seu irmão Tomás em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo, nascido a 21-81804, onde já vem a mãe como «filha de António Tavares de Resende e de Josefa Simões», naturais de S.ta Marinha de Avança, Estarreja, Aveiro, bispado do Porto.44

43 - cf. Joaquim de Oliveira Martins - Portugal Contemporâneo, Lisboa, Guimarães Editores, 1986, pp. 174-175 e Nuno Miguel Marques Barata-Figueira e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, op. cit., pp. 29-32. 44 - cf. Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4 / e Silva Figueira de Avanca e Tavares de Resende Norton, p. 223 e assento de batismo de seu irmão Tomás a 21-8-1804, consulte-se: Registos Paroquiais, Massarelos, Porto, Baptismos 7 (1800-1823), TIF. 71, fl. 126 e Registos Paroquiais, S.ta Maria Maior, Viana do Castelo, Baptismos 14 (1803-1808), TIF. 240, fl. 34.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

* em Massarelos, Porto a 10-12-1808, † em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 13-1-1875. = em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 20-12-1826, com José Mendes Ribeiro, ViceCônsul do Reino Unido em Viana do Castelo (carta de confirmação do Palácio de Mafra de 5-91851), Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo (entre 1882 e 1885), Procurador à Junta-Geral do Distrito (1878), Secretário-Geral do Governo Civil de Viana do Castelo (18701879), chefe do Partido Regenerador na dita vila, Contador da Fazenda, 1º Proprietário do Mosteiro de S.ta Maria de Refoios do Lima em Ponte de Lima, etc. Esforçado liberal, emigrou para a Inglaterra com o pai e o sogro, tendo daí embarcado para a ilha Terceira (Açores) em -31829. Foi ferido durante o cerco do Porto, no reconhecimento de Valongo, no dia 22-7-1832, e entrou em todas as sortidas e acções, que houve entre os exércitos liberal e absolutista, desde o desembarque no Mindelo, etc. Comprou, em 1842, o Mosteiro de S.ta Maria de Refoios do Lima, na sequência da estatização e posterior venda dos bens das ordens religiosas, que ficou na família durante sessenta anos. Eram íntimas as suas relações com Rodrigo da Fonseca Magalhães (17871858), Ministro do Reino, um dos mais notáveis políticos liberais dos primeiros sessenta anos do século XIX, que muitas vezes vinha a Viana do Castelo, e encarregava-o de importantes missões, juntamente com sua mulher que, dizia ele, se completavam em questões políticas45, * em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 28-12-1802, † na Casa Amarela, Viana do Castelo a 4-9-1887, filho de Domingos Mendes Ribeiro, Coronel, Capitão da 1ª Companhia de Ordenanças de Viana do Castelo (em 15-1-1796)46, que vagou por morte de José Pedro Aguiar Mourão, Capitão da 3ª Companhia de Milícias de Viana do Castelo (decreto de 21-10-1807), Major de Voluntários de Viana do Castelo (1826), Major-Comandante do Batalhão de Voluntários n.º 21, Comandante do Corpo de Voluntários de Angra do Heroísmo e de Portugal (ordem de 29-3-1830), Director do Depósito de Paisanos, Presidente da Comissão Central de Donativos do Porto (em 1832), Comandante interino do Batalhão Provisório de S.ta Catarina (1833), Director da Alfândega de Viana do Castelo (decreto de 19-5-1840), e encarregue, provisoriamente, da administração e arrecadação do imposto de 6% sobre os lucros dos pescadores na cidade do Porto e portos fiscais inerentes, por decreto de 14-2-1844, e juramento de 1-3-1844, etc., * em Viana do Castelo a 17-2-177147, † de vómito preto a 20-3-1851 e de D. Ana Ventura Leonor dos Santos, * em N. S.ra de Monserrate, Viana do Castelo a 9-2-1775, † em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 8-10-1843 (filha de José António dos Santos, Capitão de Infantaria, natural da vila da Moimenta da Beira, bispado de Lamego, e de D. Joaquina Josefa); neto paterno de José Mendes Ribeiro, proprietário, * em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo a 29-2-1740, tendo sido baptizado a 7-348

45 - cf. Manuel Artur Norton - Representantes (Os) Consulares nos Portos de Viana e Caminha, in Arquivo do Alto Minho: Repositório de Estudos e Documentos Regionais, XXII Volume, II da 3ª Série, Tomo Único, Viana, 1977, p. 51; MNE, Arquivo Geral, Códice 406, Livro de Patentes e Cônsules n.º 3 (1841-1852), fl. 158 v; e Rita Norton de Matos, op. cit., pp. 53-54 e 59-61. A varonia da família Norton - Mendes Ribeiro, donde descendem Mendes Norton e o General Norton de Matos - era oriunda de Amarante e descendia por varonia de António Ribeiro, natural da aldeia do Arco, na freguesia de S. João da Folhada, município do Marco de Canaveses, distrito do Porto, e de Domingas Mendes, da aldeia do Arrabalde, que viveram no século XVI. 46 - cf. Nuno Gonçalo Pereira Borrego, op. cit., p. 397. 47 - cf. Arquivo Distrital de Viana do Castelo, Paróquia de S.ta Maria Maior, Baptismos 12 (1770-1780), f. 5; Rita Norton de Matos, op. cit., pp. 53-54 e 58-59; Simão José da Luz Soriano - História do Cerco do Porto, Tomo VII, Porto: A. Leite Guimarães, 1889-1890, p. 142; e Notícias de Viana de 26-5-1957, Apontamentos para a História do Alto Minho, «Os Voluntários de D. Pedro IV». 48 - cf. Arquivo Distrital de Viana do Castelo, PT/ADVCT/PRQ/PVCT43/001, S.ta Maria Maior, colegiada da igreja matriz, Viana do Castelo, comarca de Valença, arcebispado de Braga, Baptismos 7 (1740-1747), 1740, TIF. 890. Era irmão

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

e de Maria Rosenda de Santiago (filha de António da Costa Pinheiro e de Jerónima Maria); bisneto paterno de João Mendes Ribeiro, soldado infante da Companhia do Capitão D. Pedro José de Noronha, * em S. Simão de Gouveia, Amarante, Porto a 14-10-171649 e de Josefa Maria da Costa, * em N. S.ra de Monserrate, Viana do Castelo (com quem se casou em S.ta Maria Maior, colegiada da igreja matriz, Viana do Castelo, comarca de Valença, arcebispado de Braga, a 11-5-173950), filha de Domingos da Costa e de Luísa Francisca; trineto de Veríssimo Mendes Ribeiro (filho natural), * em S. Simão de Gouveia, Amarante, Porto a 12-7-168951 e de Luísa Pinheiro (com quem se casou em S. Simão de Gouveia, Amarante, Porto a 4-5-171252), filha natural de Manuel Pinheiro e de Catarina Cerqueira; tetraneto de António Ribeiro, * aldeia do Arco, S. João da Folhada, Marco de Canaveses, Porto e de Domingas Mendes, natural da aldeia do Arrabalde, S. Simão, Amarante, Porto, com geração.

§ 1 de EGAS MONIZ II - MARIA DE RESENDE, do lugar do Freixieiro.53 * cerca de 1653 = em Avanca, Estarreja, Aveiro a 5-2-1670 com Gregório da Silva Godinho, o Novo, * no lugar do lugar de Moussol, Avanca, Estarreja, Aveiro, sendo baptizado a 11-11-1649, † antes de -10-1695, filho de Gregório da Silva Godinho, o Velho, no lugar do lugar de Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro e de Maria Figueira (com quem casou nas Laceiras de S. Martinho de Salreu, Estarreja, Aveiro), † na Congosta de Avança, Estarreja, Aveiro a 4-2-1693, filha do Capitão Domingos João e de Andresa Figueira, a Velha. Filhos: 1 (III) Maria de Resende Figueira, que segue. 2 (III) Gregório, Δ em Avança, Estarreja, Aveiro a 29-11-167154

de João Mendes Ribeiro, que nasceu em S.ta Maria Maior, Viana do Castelo, a 27-6-1742, in Arquivo Distrital de Viana do Castelo, PT/ADVCT/PRQ/PVCT43/001, S.ta Maria Maior, colegiada da igreja matriz, Viana do Castelo, comarca de Valença, arcebispado de Braga, Baptismos 3 (1622-1663), 1742, TIF. 939 49 - cf. Arquivo Distrital do Porto, S. Simão de Gouveia, Baptismos 2 (1701-1727), 1716, TIF. 809. 50 - cf. Arquivo Distrital de Viana do Castelo, PT/ADVCT/PRQ/PVCT43/002, S.ta Maria Maior, colegiada da igreja matriz, Viana do Castelo, comarca de Valença, arcebispado de Braga, Casamentos 5 (1738-1747), 1739, TIF. 303. 51 - cf. Arquivo Distrital do Porto, S. Simão de Gouveia, Baptismos 1 (1645-1702), 1689, TIF. 696. No assento de casamento vem apenas a sua mãe, Domingas Mendes, solteira, e padrinho de baptismo o pai, António Ribeiro, casado, morador na aldeia do Arco, na freguesia de S. João da Folhada, município do Marco de Canavezes, distrito do Porto. A sua filiação paterna apenas consta no seu casamento em S. Simão de Gouveia a 4-5-1712. 52 - cf. Arquivo Distrital do Porto, S. Simão de Gouveia, Casamentos 2 (1702-1727), 1712, TIF. 854. Veríssimo Mendes Ribeiro, depois de viúvo, casou-se em segundas núpcias, em S. Simão de Gouveia, Amarante, Porto, a 11-7-1731, com Brígida Ribeiro, filha de João Ribeiro e de Joana Fernandes, in Arquivo Distrital do Porto, S. Simão de Gouveia, Casamentos 3 (1727-1742), 1731, TIF. 983. 53 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 17-18 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/g Resende Fragoso, do Freixieiro, p. 225. 54 - cf. Para ele e seus irmãos consulte-se António de Souza Brandão, op. cit., pp. 18-19 e e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/g Resende Fragoso, do Freixieiro, p. 225.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

3 (III) Diogo, Δ em Avança, Estarreja, Aveiro a 5-5-1673 4 (III) Manuel, Δ em Avança, Estarreja, Aveiro a 22-11-1676, † solteiro 5 (III) Teresa de Resende, * em Avança, Estarreja, Aveiro a 28-11-1681 = em Avança, Estarreja, Aveiro a 24-4-1700 com Bernardo Pereira da Rocha, filho de Manuel Antão Pereira, Capitão e de Antónia Dias da Rocha, moradores no Rego de Arada, com geração. 6 (III) João de Resende Fragoso, Abade da igreja de S.ta Maria de Mós, Pico de Regalados, Braga e Comissário do S.to Ofício da Inquisição de Coimbra (por provisão de Coimbra de 12-21728), * em Avança, Estarreja, Aveiro a 24-4-1684 7 (III) Isabel da Silva Resende, * em Avança, Estarreja, Aveiro a 14-4/10-1687 = em Avança, Estarreja, Aveiro a 24-3-1708 com Baltasar Lopes, filho de Estêvão Vaz e de Isabel Lopes, com geração. 8 (III) Gregório, segundo do nome, Δ em Avança, Estarreja, Aveiro a 2-4-1691 III - MARIA DE RESENDE FIGUEIRA * no lugar de Areia ou Moussol, Avanca, Estarreja, Aveiro, sendo baptizada a 11-12-1670 = em Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro a 6-9-1698 com Jorge Nunes Valente, * em Avanca, Estarreja, Aveiro, sendo baptizado a 29-4-1668, filho de Domingos Belchior e de Antónia Adão, moradores no lugar de Arca; neto paterno de Belchior André e de Maria Valente; neto materno de Jorge Nunes, de Vilarinho de Válega, Ovar, Aveiro.55 Filhos: 1 (IV) João de Resende Fragoso, Alferes da Companhia do capitão Manuel Antão Pereira, do Mato e Capitão da Murtosa, Estarreja, Aveiro, * em Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro a 31-8-1701, † em Estarreja, Aveiro a 13-11-1771 = em Avanca, Estarreja, Aveiro com Jacinta Valente de Oliveira, † na Casa de S. José do Outeiro de Paredes, filha de Miguel de Oliveira, de Beduíno e de Maria da Silva, do lugar de Outeiro de Paredes, com geração.56 2 (IV) Maria Perpétua de Resende Valente, que segue. IV - MARIA PERPÉTUA DE RESENDE VALENTE57 * em Arcã, Avanca, Estarreja, Aveiro a 2-6-1704 = em Avanca, Estarreja, Aveiro ou Vilarinho de Válega, Ovar, Aveiro a 14-2-1735 com Francisco de Pinho Valente, * Vilarinho de Válega, Ovar, Aveiro, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 2-12-1756, com todos os sacramentos e sem testamento, filho de Domingos de Pinho e de Domingas Nunes, de Válega, Ovar, Aveiro.

55 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 19-20 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/g Resende Fragoso, do Freixieiro, p. 225; e Carlos Alfredo Resende dos Santos Cardoso, op. cit., pp. 93-94. 56 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 20-21. 57 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 21-22 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 225-226.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

Filhos: 1 (V) Maria Micaela de Resende = em Vilarinho de Válega, Ovar, Aveiro com Sebastião Pereira da Silva Moutinho, filho de Manuel Pereira da Silva e de Maria Moutinho, do lugar da Figueirinha da Espartidoura, com geração.58 2 (V) João [José] de Pinho de Resende Valente, que segue. 3 (V) Francisco Caetano, de alcunha o “Perna Gorda”. 4 (V) Bernarda Maria de Resende Valente, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 2-2-1743, † em Congosta de Avanca, Estarreja, Aveiro a 7-9-1794 = em Avanca, Estarreja, Aveiro a 11-2-1776 com João Roberto Tavares de Resende, Alferes (em 1776) e Capitão de Ordenanças de Avanca, Estarreja, Aveiro, que vagou por morte de Manuel Lourenço (em 27-7-1785); tomou ordens menores em Lugo a 18-12-1750, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 26-3-1728, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a 7-5-1810, filho de Diogo Tavares de Resende, Capitão de Ordenanças de Pardilhó, Estarreja, Aveiro (1718), sendo substituído por António José Pereira Tavares de Resende a 18-8-1763, Notário Apostólico (em -1-1744) e Juiz de Estarreja (em 1730, 1738 e 1756), Senhor da Casa de S. Bernardo da Congosta e de Maria Joana Gomes da Silva Godinho, com geração.59

Casa do Outeiro em Avanca, Estarreja, Aveiro (Casa Museu Egas Moniz)

V - JOÃO [JOSÉ] DE PINHO DE RESENDE VALENTE, o Cancela, Senhor da Casa de S. José do Outeiro de Paredes em Avanca, Estarreja, Aveiro.60 * em Areia, Avanca, Estarreja, Aveiro a 27-7-1738 = 2ª vez em Avanca, Estarreja, Aveiro a 26-11-1788 com Ana Joaquina de Sá de Abreu Freire, * no lugar de Trás-do-Rio, Avanca, Estarreja, Aveiro a 30-11-1757, † em Avanca, Estarreja, Aveiro a

58 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., p. 22; para ela e seus irmãos consulte-se Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/g Resende Fragoso, do Freixieiro, p. 226. 59 - cf. António de Sousa Brandão, pp. 22-23 60 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 23-24 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, pp. 225-226.

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29-3-1834, filha de Custódio Pais Valente, do lugar da Congosta e de Jerónima Bernarda de Abreu Freire, moradores em Trás-do-Rio, Avanca, Estarreja, Aveiro; neta paterna de Francisco Gomes e de Bernarda Valente, do lugar de Portobrejo; neta materna de António Lourenço de Abreu Freire e de Bernarda Maria Pereira da Rocha, de Pardilhó. Filhos: 1 (VI) João de Resende Valente de Sá e Abreu Freire, Familiar do S.to Ofício (carta de 23-3-1810), Fidalgo da Casa Real, Sargento-mor (a 21-10-1829) e Capitão-mor da vila de Estarreja (por mercê de D. Miguel I de 23-3-1831 ou 13-4-1831), 4º Administrador do vínculo do Outeiro em Avanca, Estarreja, Aveiro. * no lugar de Areia de Gonde, Avanca, Estarreja, Aveiro a 30-12-1789, † em Avança, Estarreja, Aveiro a 13-11-1856 = em S. Pedro de Castelões,Vale de Cambra, Aveiro a 2-11-1815 com D. Margarida Miquelina Tavares de Almeida, * a 9-1-1792, † a 24-10-1854, irmã do 1º Visconde de Baçar e filha de Tomás António Tavares de Almeida e Oliveira, da Casa de Baçar em Castelões de Cambra, Capitão-mor de Vale de Cambra e de D. Ana Maria de Jesus Martins, com geração.61 2 (VI) António de Pinho de Resende de Abreu Freire, que segue 3 (VI) José de Resende Valente de Abreu Freire, Capitão de Milícias em Oliveira de Azeméis, Aveiro; agraciado a 26-10-1823, com a medalha da Restauração dos Direitos da Realeza de Ouro, morador no lugar do Telhado em Avanca. * no lugar da Congosta, Avanca, Estarreja, Aveiro a 9-3-1794, † na quinta do Telhado, Avanca, Estarreja, Aveiro a 15-9-1868, com geração extinta.62 = com Maria Joaquina de Bastos, de quem teve numerosos filhos, todos falecidos solteiros e sem descendentes.

António de Pinho de Resende de Abreu Freire (1792/3-1862), Tenente-Coronel e Comandante do Regimento de Caçadores n.º 8 (Casa Museu Egas Moniz) 61 - cf. António de Sousa Brandão, pp. 24-26 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 227. 62 - cf. António de Sousa Brandão, p. 24-25 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 228.

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LUÍS MIGUEL PULIDO GARCIA CARDOSO DE MENEZES

VI - ANTÓNIO DE PINHO DE RESENDE DE ABREU FREIRE, Tenente-Coronel e Comandante do Regimento de Caçadores n.º 8 (em 7-3-1834), Major (a 1-1-1834), Capitão (a 23-11-1851), Tenente de Caçadores n.º 4 (a 22-6-1821), Alferes (a 15-12-1814) e Cadete no Batalhão de Caçadores n.º 11 na Vila da Feira, onde assentou praça.63 * na Quinta do Marinheiro em Avanca, Estarreja, Aveiro em 5-10-1792/3, † aí em 13-5-1862 (sendo sepultado no cemitério de Arouca, Aveiro).64 = em Santiago de Penamacor a 13-12-1816 com D. Brites Inácia de Pina Botelho, * em Santiago de Penamacor, † a 20-9-1876, filha de Vicente Ferreira de Pina, Sargento-Ajudante e de D. Ana Marcelino Botelho, da freguesia de Santiago de Penamacor. Filhos: 1 (VII) Augusto de Pina Resende de Abreu Freire, Alferes, † em Lobão, solteiro. 2 (VII) D. Maria Lúcia, † na quinta do Marinheiro em Avanca, Estarreja, Aveiro a 4-1-1856 3 (VII) Miguel Maria, * em Avanca, Estarreja, Aveiro a 1-4-1822, sendo baptizado a 24-5, tendo como padrinho o Infante D. Miguel 4 (VII) Fernando de Pina de Resende Abreu Freire, que segue. 5 (VII) Caetano de Pina Resende Abreu Sá Freire, Prior em Sesimbra e Abade de Pardilhó, * em Idanha-a-Nova, Castelo Branco, † em Pardilhó, Estarreja, Aveiro em 1900 6 (VII) João António de Pina Resende Abreu Sá Freire, Contador da Comarca e Escrivão da câmara municipal de Estarreja, † em Lobão, solteiro.

Fernando de Pina de Resende Abreu Freire (1828-1890), Senhor da Casa e Quinta do Marinheiro em Avanca, Estarreja, Aveiro e com D. Maria do Rosário de Oliveira e Sousa (1840-1896) (Casa Museu Egas Moniz)

VII - FERNANDO DE PINA DE RESENDE ABREU FREIRE, Senhor da Casa e Quinta do Marinheiro em Avanca, Estarreja, Aveiro.65 63 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 26-27 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 227. 64 - cf. António de Sousa Brandão, pp. 26-27. 65 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., pp. 27-28 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 227; e António de Sousa Brandão, pp. 27-28.

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* em N. S.ra da Conceição, Idanha-a-Nova, Castelo Branco a 15-4-1828, † em Lourenço Marques, Moçambique a 29-4-1890 = na igreja matriz de S. Martinho de Salreu, Estarreja, Aveiro a 22-6-1870 com D. Maria do Rosário de Oliveira e Sousa, * em Vilarinho do Bairro, Anadia, Aveiro a 19-6-1840, † em Pardilhó, Estarreja, Aveiro a 19-11-1896, filha de Rafael de Almeida e Sousa, caudilho liberal, * em Alcofra e de D. Joana Pereira da Conceição ou de Oliveira; neta paterna de Daniel Joaquim Henriques e de Maria do Rosário, moradores na quinta do Carril em Alcofra, Vouzela; neta materna de José Pereira e de Maria da Conceição, moradores em Vilarinho do Bairro, Anadia, Aveiro. Filhos: 1 (VIII) António Joaquim, † menino 2 (VIII) D. Lucinda Augusta, † em 1887, solteira, com 16 anos de idade 3 (VIII) António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, que segue. 4 (VIII) Miguel Maria de Abreu Freire, emigrou para Moçambique com seu pai, † em Moçambique, com 17 anos de idade.

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955), Nobel da Medicina em 1949, Professor Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Casa Museu Egas Moniz)

VIII - ANTÓNIO CAETANO DE ABREU FREIRE EGAS MONIZ, Nobel da Medicina em 1949, Professor Catedrático de Neurologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (1911), Ministro dos Negócios Estrangeiros (de 8-10-1918 a 13-3-1919), Embaixador de Portugal em Madrid (1917), Grã-Cruz da O. da Benemerência (5-10-1928) e Grã-Cruz da O. Militar de Santiago-e-Espada (a 3-3-1945); foi fundador do Partido Republicano Centrista, dissidência do Partido Evolucionista; apoiou o regime de Sidónio Pais, durante o qual exerceu as funções de Embaixador de Portugal em Madrid (1917) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1918-1919); autor de várias publicações: Alterações anátomo-patológicas na difteria, Coimbra, 1900; A vida sexual (fisiologia e patologia), 19 edições, Coimbra, 1901; A neurologia na guerra, Lisboa, 1917; Um ano de política, Lisboa, 1920; Júlio Diniz e a sua obra, 6 edições, Lisboa,

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1924; O Padre Faria na história do hipnotismo, Lisboa, 1925; Diagnostic des tumeurs cérébrales et épreuve de l’encéphalographie artérielle, Paris, 1931; L’angiographie cérébrale, ses applications et résultats en anatomic, physiologie te clinique, Paris, 1934; Tentatives opératoires dans le traitement de certaines psychoses, Paris, 1936; La leucotomie préfrontale. Traitement chirurgical de certaines psychoses,Turim, 1937; Clinica dell’angiografia cerebrale,Turim, 1938; Die cerebrale Arteriographie und Phlebographie, Berlin, 1940; Ao lado da medicina, Lisboa, 1940; Trombosis y otras obstrucciones de las carótidas, Barcelona, 1941; História das cartas de jogar, Lisboa, 1942; Como cheguei a realizar a leucotomia pré-frontal, Lisboa, 1948; Die präfrontale Leukotomie, Archiv für Psychiatrie und Nervenkrankheiten, 1949.66 * na Quinta do Marinheiro em Vilarinho do Bairro, Avanca, Estarreja, Aveiro em 29-11-1874, † aí em 13-12-1955 = em 7-2-1901 com D. Elvira de Macedo Dias, de Canas de Sabugosa, * Sacramento, Rio de Janeiro, Brasil a 14-7-1884, filha de José Joaquim Dias e de D. Matilde Flora, sem geração.

Certidão de nascimento de António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz (1874-1955)

66 - cf. António de Souza Brandão, op. cit., p. 31 e Raízes & Memórias n.º 25, op. cit., § 4/h Resendes de Abreu Freire, p. 227; e António de Sousa Brandão, p. 30 e A.H. Oliveira Marques, coord., Paulo Guinote, Pedro Teixeira Mesquita, João José Alves Dias - Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), Lisboa, Assembleia da República-Edições Afrontamento, 2000, pp, 307-308.

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Anexo Valente/ Resende

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Bibliografia -BAENA, Visconde Sanches de - Archivo heráldico - genealogico, 2ª edição, [Braga: s.n.], 1991 (Braga: -- Barbosa & Xavier), n.º 782 -BARATA-FIGUEIRA, Nuno Miguel Marques e Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes «Uma Família Inglesa em Viana do Castelo: Os Norton de Dartmouth», in Raízes & Memórias n.º 31, Dezembro de 2014, Lisboa: Produção Gráfica - Tipografia Lobão, 2015 -BORREGO, Nuno Gonçalo Pereira, Segismundo Pinto, pref. - Cartas de brasão de armas, vol. II, Lisboa: Guarda-Mór, 2003 Idem - Mordomia-mor da Casa Real: Foros e Ofícios (1755-1910, Tomo II, Lisboa. Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas Lda, 2007 Idem - As Ordenanças e as Milícias em Portugal: Subsídios para o seu estudo,Volume I, Lisboa, 2006 -BRANDÃO, António de Souza - A Ascendência Avancanense do Professor Egas Moniz, Porto: Livraria Esquina, 2004 -BRITO, Fernando Abrunhosa de - As Doze Portas de Gerações de Arouca: 1500-1800, Porto: IGH-Instituto de Genealogia e Heráldica da Universidade Lusíada do Porto, 2006 -CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos - Subsídios para uma monografia histórica e descritiva da freguesia de Avanca, Porto: [s.n.], 1961 -FERNANDES, M. Antonino - Valentes da Silva, de Avança e Terra da Feira, in Raízes & Memórias n.º 22, Dezembro de 2006, Massamá: Produção Gráfica - Intermor Lda, 2006 Idem,Valentes da Silva, in Raízes & Memórias n.º 25, Dezembro de 2008, Lisboa: Dislivro, 2008 Idem, Valentes da Silva, in Raízes & Memórias n.º 27, Dezembro de 2010, Lisboa: Dislivro, 2010 -GAYO, Manuel José da Costa Felgueiras - Nobiliário das famílias de Portugal, Vol. X, Tomo XXVIII, 3ª edição, Braga: Edições Carvalhos de Basto, 1992 -LIMA, Jorge Hugo Pires de - O distrito de Aveiro nas habilitações do Santo Ofício - Letra F,Aveiro, 1964 -LINHARES, Eliana Quintella - A descendência de Luiz Queriol Murat e de Maria José Tavares de Resende, 2006 -MARQUES, A.H. Oliveira, coord., Paulo Guinote, Pedro Teixeira Mesquita, João José Alves Dias - Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), Lisboa, Assembleia da RepúblicaEdições Afrontamento, 2000

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-MARTINS, Joaquim de Oliveira - Portugal Contemporâneo, Lisboa, Guimarães Editores, 1986 -MATOS, Rita Norton de - A Família Norton de Matos: Aspecto Político e Social duma Família Portuguesa, Ponte de Lima, 1953 -MORAIS, Cristóvão Alão de - Pedatura Lusitana (Nobiliário de Famílias de Portugal), Tomo III, Volume II, Porto: Livraria Fernando Machado, 1945 -NORTON, Manuel Artur - «The Nortons of Viana», in The British Historical Society of Portugal: Thirteenth Annual Report and Review 1986, Lisboa, 1986 -NORTON, Manuel Artur - Representantes (Os) Consulares nos Portos de Viana e Caminha, in Arquivo do Alto Minho: Repositório de Estudos e Documentos Regionais, XXII Volume, II da 3ª Série, Tomo Único, Viana, 1977 -RESENDE, Diogo Tavares de - “Tratado do principio da Casa do Matto da freguesia de Vanca”, também dito “Geração dos Valentes, Sylvas e Oliveyras” [manuscrito], 1739 -SORIANO, Simão José da Luz - História do Cerco do Porto, Tomo VII, Porto: A. Leite Guimarães, 1889-1890

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OS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA (1914-1918) Marco Pereira*

INTRODUÇÃO Apesar de terem ocorrido combates na África portuguesa desde 1914, a entrada oficial de Portugal na Primeira Grande Guerra só aconteceu quando a Alemanha declarou guerra ao nosso país, em 9 de Março de 1916. A declaração de guerra alemã surgiu na sequência do aprisionamento dos navios alemães e austríacos ancorados em Portugal, por solicitação da GrãBretanha ao governo português. Razões políticas, de ordem interna e externa, pesaram para a decisão da entrada portuguesa na guerra, em particular a afirmação internacional do jovem regime republicano. Mas principalmente estava em causa a defesa das possessões coloniais portuguesas, cobiçadas pela Alemanha. Aquando da entrada oficial de Portugal na guerra o seu desenlace era incerto, uma vez que ainda participava do lado da Tríplice Entente o Império Russo (retirando-se depois), a Itália só mais tarde mudou de posição (da Tríplice Aliança para a Tríplice Entente) e os Estados Unidos da América entraram na guerra posteriormente (também enquadrados na Tríplice Entente). Entretanto foi preciso esperar até 30 de Janeiro de 1917 para que embarcassem no Tejo, em três vapores britânicos, as primeiras tropas portuguesas destinadas ao palco de guerra europeu, do designado Corpo Expedicionário Português (CEP). Os três vapores britânicos chegaram ao porto francês de Brest três dias depois, em 2 de Fevereiro de 1917, de onde os militares seguiram por terra para a frente de guerra na Flandres francesa, aonde chegaram em 8 de Fevereiro de 1917. Um segundo contingente do CEP partiu do Tejo para França em 23 de Fevereiro de 1917, onde aliás seguia o pardilhoense José Ferreira da Costa, de quem aqui se transcreve o testemunho que teve o cuidado de deixar registado. O maior desastre português na guerra ocorreu em 9 de Abril de 1918, a Batalha de La Lys, na qual não temos confirmação de ter morrido algum militar originário dos concelhos de Estarreja ou Murtosa. Porém sabemos ter sido feito prisioneiro um soldado natural da freguesia de Veiros, como consta numa notícia da imprensa local na época, que aqui se arrola juntamente com dois testemunhos directos de combatentes. Oficialmente a guerra terminou para Portugal em 11 de Novembro de 1918 e no fim desse ano o estarrejense Egas Moniz foi o primeiro presidente da Delegação Portuguesa à Conferência de Paz, em Paris. Sobre os trabalhos diplomáticos em que tomou parte, prestou Egas Moniz desenvolvido depoimento no seu livro Um Ano de Política, que embora seja de grande interesse para o estudo da guerra na sua globalidade não se enquadra na mera perspectiva local que aqui se pretende dar. Outros aspectos indirectamente relacionados com a guerra ficam por abordar, do que são exemplos na terra de origem a falta de subsistências e a gripe espanhola, ou pneumónica.

Advogado com escritório em Estarreja

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MARCO PEREIRA

Feitas as contas, nem sempre coincidentes, terão sido mobilizados cerca de 105 mil portugueses para o esforço de guerra, dos quais morreram mais de 7700. A participação portuguesa registou-se em Angola (1914-1915), Moçambique (1914-1918) e França (19171918). Interessa sobretudo referir os acontecimentos da frente europeia, para onde foram mandados rapazes na sua maioria jovens, analfabetos, simples e pobres, que seguiram para o desconhecido como carneiros para o matadouro. Aí sofreram adversidades várias, sendo de notar o frio, a chuva e o cansaço provocado pela falta de substituição. Tudo deixou sequelas para a vida dos sobreviventes, no corpo e na mente. O objectivo geral do presente trabalho consiste na análise da participação de militares oriundos dos concelhos de Estarreja e Murtosa na Primeira Grande Guerra. Para tanto procurouse contabilizar e identificar combatentes e mortos oriundos dos dois concelhos, apresentar testemunhos directos de combatentes sobre a sua experiência de guerra, enfim identificar monumentos e nomes de arruamentos evocativos da participação local na guerra. A pesquisa centrou-se em fontes e bibliografia, identificadas na bibliografia final, incluindo manuscritos, folhetos, fotografias, postais, periódicos locais, monografias e recursos disponíveis on-line, inclusive arquivísticos. Um dos principais recursos, ou talvez mesmo o principal, foi o opúsculo de Egas Moniz intitulado DoValor e da Saudade. Aí o autor inseriu o seu discurso, quase poético, proferido aquando da inauguração em Estarreja do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, em 17 de Junho de 1922. Conjuntamente foram dadas à estampa ilustrações de Silva Rocha e os nomes dos mortos na guerra naturais do concelho de Estarreja, que então incluía o actual da Murtosa, com alguns dados de cada um. 1. COMBATENTES Entre os combatentes na Primeira Grande Guerra não mortos, naturais dos concelhos de Estarreja e Murtosa, contam-se alguns nomes que merecem referência mais circunstanciada, seja por se terem tornado mais tarde personalidades de destaque local, seja por se conhecer a seu respeito informações mais profundas da guerra. Numa monografia da freguesia de Avanca1 enumeram-se 10 combatentes em França e outros tantos em Moçambique originários da freguesia, além de um morto em França e outro em África. Entre eles conta-se o Pe. Manuel Garrido, de quem já foi escrita uma breve referência biográfica2, e que antes de se ordenar combateu na guerra em Moçambique, tendo inclusivamente sido condecorado. No entanto as personalidades de Avanca de maior relevo que combateram na guerra, por sinal também em Moçambique, são o Comendador Adelino Dias Costa e o Tenente-Coronel Ricardo Vaz Monteiro. Ricardo Vaz Monteiro nasceu em Chaves (1891) mas veio a casar em Avanca, na Quinta de S. Bernardo. Seguiu como Tenente ou Alferes para o Niassa (Moçambique), onde permaneceu entre 1917-1919. Com ele e sob suas ordens viajou o Sargento Adelino Dias

1 - CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos, Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, 2.ª ed., Câmara Municipal de Estarreja, 2000, pp. 135-136. 2 - PEREIRA, Marco, História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, 2010, pp. 78-79.

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Costa. Ambos os homens nutriram desde então uma forte amizade mútua, que durou até à morte dos dois em 1976, por sinal no mesmo dia3. Aliás Ricardo Vaz Monteiro viria mesmo a dirigir a fundação Benjamim Dias Costa, Instituição de Solidariedade fundada pelo industrial Comendador Adelino Dias Costa. Da freguesia de Pardilhó foi um dos combatentes José Ferreira da Costa (José Lavoura), que deixou testemunho manuscrito da sua passagem pela guerra em França, o qual adiante se transcreve. Era natural de Salreu José Gomes da Luz, entrevistado por um jornal local em 1924 sobre a sua experiência na guerra, conforme adiante também se transcreve. Da mesma freguesia de Salreu, o Pe. António Rebelo dos Anjos4, um dos capelães do CEP, aliás presente numa fotografia onde constam estes capelães, que constituíram uma condescendência da República anti-católica. Entre os oficiais destaca-se a presença do então Capitão de Infantaria Joaquim Maria de Oliveira Simões, figura ilustre da Casa de Arte Nova, no centro da freguesia. Outro jornal local fez uma breve referência a mais um soldado de Salreu, morador na Rua Nova5. Ainda outra notícia da imprensa local, de 1918, faz menção a três soldados de Salreu em França, um morto e dois prisioneiros dos alemães6. Foi aprisionado pelas forças alemãs, aquando da Batalha de La Lys, Artur Marques Salgado, de Veiros, ocasionando uma notícia na imprensa local que adiante se inclui entre os testemunhos. Na monografia do Monte (Murtosa) de Manuel Olívio Rocha7 identificam-se combatentes (bem como suas mazelas) e mortos naturais desta freguesia. Um dos militares naturais da freguesia da Murtosa foi João Carlos Vaz da Cunha, que era um novo médico em 1916. Conhece-se também o testemunho da experiência de guerra em Moçambique do combatente murtoseiro Gonçalo Maria Pereira8. O Arquivo Histórico Militar disponibiliza online (http://arqhist.exercito.pt [Código de referência: PT/AHM/DIV/1/35ª]) os nomes dos combatentes portugueses, com a indicação das patentes, freguesias de naturalidade e alguns Boletins Individuais de militares do CEP (19141918) digitalizados. Recorrendo aos dados disponibilizados pelo Arquivo Histórico Militar os responsáveis pelo blog GenealogiaFB realizaram um inventário em formato Microsoft Excel, aliás muito meritório trabalho, que nos permite com facilidade identificar um ou mais combatentes, por exemplo pelo nome ou localidade de origem. Vejam-se a este respeito as duas seguintes publicações: 1) GenealogiaFB, “Boletins Individuais de militares do CEP - Oficiais & Equiparados”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 05.05.2015]; 2) GenealogiaFB, “Boletins Individuais de militares do CEP - Sargentos & Praças”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 12.05.2015].

3O Concelho de Estarreja, n.º 3654, 31.8.1974, pp. 1-3; CE, n.º 3757, 11.11.1976, pp. 1 e 5. 4 - CIRNE, Pe. Manuel, Padre Ruela Pombo, ed. Autor, 1989, p. 33. 5 - Ecos do Antuã, n.º 39, 30.6.1918, p. 2. 6 - O Jornal de Estarreja, n.º 1604, 7.7.1918, p. 3. 7 - ROCHA, Manuel Olívio - Santo António do Monte. Bodas de Ouro. Ed. Paróquia de Santo António do Monte, 1982, pp. 17-18 8 - Progresso da Murtosa, n.º 53, 16.8.1930, p. 8.

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MARCO PEREIRA

Fig. 1 - Joaquim Maria de Oliveira Simões, oficial natural de Salreu, 1921 (cortesia do Dr. Silvério Tomaz Pinaz).

Figs. 2 e 3 - Francisco Israel de Oliveira Horta, combatente em África natural da Murtosa, s/d (cortesia do Dr. Paulo Horta Carinha).

Fig. 4 - Capelães militares portugueses na Grande Guerra, onde consta o salreense Pe. António Rebelo dos Anjos (primeiro da esquerda), 1918 (http://portugal1914.org - consultado em 11.05.2015).

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2. MORTOS Na Primeira Grande Guerra morreram 56 homens, 34 naturais do actual concelho de Estarreja e 21 do da Murtosa, mais um de origem desconhecida. O número é impressionante, mais se considerarmos que a maioria morreu em menos de dois anos e se fizermos a comparação com a Guerra Colonial, que se prolongou de 1961 a 1974. De acordo com a Liga dos Combatentes na Guerra Colonial faleceram 24 homens naturais dos dois concelhos, 13 de Estarreja e 11 da Murtosa. Um dos mortos em França era irmão do bunheirense ilustre Pe. Ruela Pombo, a quem se refere em pormenor e com fotografia o Pe. Manuel Cirne9. De seu nome António Augusto Guedes Ruela Valente, nasceu em 1895 e seguiu para França em 1917, no CEP, exercendo na guerra funções de telegrafista. Não regressou a Portugal, tendo morrido de uma apendicite aguda em Dezembro de 1918. Na Monografia do Monte (Murtosa) de Manuel Olívio Rocha10 referem-se dois mortos desta freguesia: Joaquim Manuel de Matos e Manuel João (Sardo). Existe outro caso menos conhecido e de dúbia identificação. No cemitério do Mindelo (Ilha de São Vicente, Cabo Verde) encontram-se sepultados 19 militares portugueses, do Exército e da Armada, cujas campas estão datadas entre 1917 e 1918. Um dos militares do exército tem o nome de Anastácio, Soldado n.º 93 da 9.ª Companhia de Infantaria [do Regimento de Infantaria nº 24, Aveiro ?]. Tinha 22 anos quando faleceu, de causa desconhecida, em 17 de Janeiro de 1917, sendo natural de Pondilho (possivelmente Pardilhó) e filho de Joaquim Rachado e Maria Luiza11. Em diversas fontes se podem recolher os nomes dos mortos na guerra, por exemplo de forma incompleta nas seguintes: 1) PEIXOTO, Paula, “Relação nominal dos soldados portugueses mortos na 1.ª Guerra Mundial”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 23.08.2014]; 1b) “Relação nominal dos soldados portugueses mortos na 1.ª Guerra Mundial” (PDF), 1921, In Arquivo Digital - Ministério das Finanças - http://purl.sgmf.pt [Código de referência: PT/ACMF/DGCP/16/006]; 2) Portugal 1914-1918 - http://www.portugal1914.org. É possível encontrar listas completas de mortos na guerra nas duas seguintes fontes, tendo sido aqui utilizada a segunda como instrumento de trabalho: 1) Memorial aos mortos na Grande Guerra - http://www.memorialvirtual.defesa.pt; 2) EGAS MONIZ, DoValor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922, pp. 13-25. Enfim há notícias das pensões de sangue pagas aos familiares dos mortos na guerra, disponibilizadas online pela Secretaria Geral do Ministério das Finanças.

9 - CIRNE, Pe. Manuel, Padre Ruela Pombo, ed. Autor, 1989, pp. 30-33, 240. 10 - ROCHA, Manuel Olívio - Santo António do Monte. Bodas de Ouro. Ed. Paróquia de Santo António do Monte, 1982, pp. 17-18. 11 - Cabo Verde na Grande Guerra - http://www.momentosdehistoria.com/MH_02_07_Marinha.htm [consultado em 11.05.2015].

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MARCO PEREIRA

Avanca Beduído Canelas Fermelã Pardilhó Salreu Veiros Bunheiro Monte Murtosa Torreira Desconhecido Total Estarreja Total Murtosa Total ambos concelhos

1916

1917

1918

1919

Totais

1 1 1 1 1 2 3 5

2 2 2 1 5 1 7 1 3 13 11 24

2 4 2 3 3 2 3 4 1 16 7 24

1 1 1 3 0 3

5 8 5 1 8 4 3 11 2 8 1 34 21 56

FONTE: EGAS MONIZ, Do Valor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922, pp. 13-25.

3. TESTEMUNHOS 3.1. DIÁRIO DE GUERRA DE JOSÉ FERREIRA DA COSTA, DE PARDILHÓ «França, 26 - 2 - 917 Saída de Aveiro no dia 23 de Fevereiro de 1917, em caminho-de-ferro, com partida às 1h30 e chegada a Lisboa às 14h00 Partimos para França neste mesmo dia, perto das 18h00. No segundo dia de viagem o Vapor teve um acidente. Fomos surpreendidos por um grande choque, já ia a noite alta, às 2h00 da madrugada. Soou o alarme no Vapor, todos colocaram os cintos de salvação e dirigiram-se do porão para o convés. Alguns momentos depois verificou-se ter acontecido um simples encontro do Destroyer e que estávamos livres de perigo, às ordens do comandante. O resto da viagem decorreu sem novidade. Chegámos a Brest, cidade francesa, às 12h00 do dia 26 de Fevereiro. Ali permanecemos três dias dentro do Vapor, esperando o comboio até ao dia 28 de Fevereiro. Quando chegou o comboio embarcámos em direcção a Aise (?), tendo a viagem emorado 3 dias e 3 noites. Desembarcámos em Hise (?) às 1h30 da noite, no dia 4 de Março, e daí seguimos em marcha até Erny-Saint-Julien [departamento de Pas-de-Calais]. A neve era tanta que até escorregávamos. Demos entrada no primeiro alojamento às 8h00 do dia 4 de Março, estafados, muito carregados, suados e muito desanimados. Ali começámos a repartirmo-nos pelas casas onde havíamos de dormir e permanecemos na localidade todo o mês de Março. Continuámos em instrução debaixo de forte neve, que caía sobre nós.

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No dia 29 de Março mudámos de acantonamento, para a freguesia de Arbeles (?), tendo a viagem demorado 4 horas debaixo de muita chuva, protegidos por capas de borracha e chapéus de ferro, em marcha forçada que durou até às 18h00. Quando chegámos esperava-nos a Secção de Quartéis, para atribuir-nos alojamentos, nos quais permanecemos todo o mês de Abril.

Fig. 5 - Diário de Guerra de José Ferreira da Costa, natural de Pardilhó.

No dia 2 começou a cair neve, que continuou por mais 4 dias. Por isso ficámos ali parados, entretendo-nos uns com os outros, e quando arrefecíamos íamos para a cozinha do dono da casa, que nos estimava muito, e ficávamos sentados em cadeiras ao redor do fogão. O dono da casa estimava-nos como se fossemos seus filhos, não nos faltando com nada, quer o belo café, quer o bierre à custa dos francos. O frio abrandou por alguns dias e começámos a ver o belo sol, que já nos parecia Abril. Continuámos a fazer marchas forçadas, estando o nosso Batalhão em pé de guerra, acompanhado da respectiva música três dias por semana, com outros três dias de instrução de esgrima inglesa, que muito nos custava devido ao frio. Mas mesmo assim púnhamos todos em mangas de camisa, já não havia frio que nos chegasse. Aos domingos tínhamos limpeza de roupas e o resto do dia descansávamos. Tínhamos então a missa na igreja da freguesia e sermão de tarde, mas o sermão não entendíamos. Mal entravamos na igreja deitávamos os olhos no padre e começávamos a rir, por não compreendermos o que ele dizia. Tínhamos então o padre português para nós. Isto tudo no mês de Abril.

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MARCO PEREIRA

Fig. 6 - Diário de Guerra de José Ferreira da Costa, natural de Pardilhó.

Chegámos ao dia 27 de Abril prontos de instrução e capazes de tudo quanto de nós fosse preciso. Partimos nesse dia a caminho do Front, no que gastámos três dias de marcha, dormindo sempre em casa habitadas, até chegamos à cidade de Laventie [departamento de Pas-de-Calais], no dia 30 de Abril. Começámos então a ver a cidade destruída pelos inimigos. Muitos dos meus companheiros choraram ao ver uma bela igreja e muitas casas destruídas pelos canhões. Foi então que, ao darmos ali entrada, já debaixo de fogo, eram 16h00, começámos a ver e conhecer o que é a guerra. Ficámos ali acantonados, para descansar, até ao outro dia. E a 1 de Maio, às 7h00, começámos a dar entrada nas trincheiras, por Secções, debaixo de fogo de artilharia. Para ali entrámos muitos homens, sem nunca mais sabermos de ninguém a não ser dos do nosso pelotão. Passámos a noite de 2 para 3 de Maio nas trincheiras, debaixo e à frente do inimigo. Foram só dois dias e duas noites para conhecermos o sector que tínhamos que ocupar. Depois retirámo-nos para a retaguarda, para descansar durante 18 dias e findarmos a nossa preparação. No dia 27 de Maio partiu todo o batalhão para o Front, para render os homens que estavam nessa frente.Tínhamos de defender aquela posição, continuando 6 dentro e 6 fora, durante quatro meses iniciados em Maio. Eu só resisti até ao dia 2 de Julho, regressando depois ferido para o primeiro hospital, onde estive a recuperar de operação até ao dia 18 de Agosto, findando de me curar e sofrendo muitas dores. Fui proposto a uma junta e fiquei apurado para Pioneiro, seguindo a missão que me foi destinada e com a qual me encontro hoje, 19 de Novembro de 1917.»

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+ «Despedida de Portugal Tão triste que foi!... Da minha Pátria parti aos 21 anos de idade! Parti para França, perdi toda a mocidade!. Fui obrigado a abandonar a minha família, os meus amigos e a minha terra. Perdi todo o gozo que tinha! Parti para a guerra! Deixei pai, mãe e toda a família a chorar! Suspirei por todas as pessoas que me amavam! Passo todos os momentos a lembrar o meu tempo passado! Hoje vivo [na guerra] na escuridão por tudo eu ter abandonado» Diário de Guerra de José Ferreira da Costa, ou José Lavoura (n. 25.12.1895), de Pardilhó, que partiu para combater na Primeira Grande Guerra em 1917, com 21 anos de idade (adaptado).

3.2. ENTREVISTA A JOSÉ GOMES DA LUZ, DE SALREU «O barco onde eu ia foi bombardeado pelos submarinos, noute alta […] no golfo de Biscaia. O comandante era inglez e o barco tinha sido aprisionado aos alemães. Parece-me que era o 59. Não me lembro. Parece que era. Assim que começaram a bombardear o comandante proibiu que acendessem luz no convés. O barco ia ás escuras. A metralha passava-lhe por cima que era uma coisa de meter medo. Eu encosteime a uma amarra sem fazer caso. Com’assim! Ia se p’rá guerra ou não? Não tardou que o barco fosse alvejado. Foi o diabo. Aquilo foi um inferno. Já metia água dentro. Eu sabia que d’ali não passava. O comandante mandou nos vestir os colêtes de naufragos. As bombas de bordo trabalham para escoar o porão. E ouça lá meu Senhor: olhe que nós não comimos nada durante um dia e uma noite. Por Deus chegamos a Brest, cheios de fome. No porto senhoras e homens atiravam-nos pão. Nós agarravamos o pão como a canalha agarra os confeitos na Pascoa. Fig. 7 - Entrevista a José Gomes da Luz, natural de Salreu, em 1924.

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Se o Senhor visse… Mas lá chegamos. O comandante dava hurras aos aliados e chorava como uma creança. As senhoras tambem. As musicas tocavam a Portuguesa. Eu animei-me mais e disse comigo: Isto aqui é já a guerra, pelo visto… e passei deante daquela gente a comer pão com força… […] Depois marchamos logo para as 1.as linhas. Estive 7 dias a comer pão e agua. Passei 14 noutes encostado a uma arvore porque as barracas de campanha estavam todas cheias. Olhe: duma vez arranjei uma barraca e, como estava a chover arranjei tambem umas tábuas para não me deitar na terra molhada, mas, como de noute choveu muito, eu acordei todo molhadinho e a tremer como varas verdes. De manhãzinha levantei-me e d’ahi a horas os alemães principiaram a bombardear com intensidade. Fomos felizes porque os afastamos e ainda arranjemos latas de bolacha intactas que eles deixaram. Nas panelas de rancho não lhe toquemos porque Deus me livre estava tudo envenenado… Com a fome comimos a bolacha toda. Os mortos eram ás pilhas. Eu não me importava já… […] [Daí fomos para] Silest. N’uma noute, os alemães destruiram as linhas ferreas onde eu estava. Um general inglez abeirou-se de mim e, a chorar, disse-me que visse se podia salvar cinco comboios de passageiros que ali estavam. Chamei os meus colegas. Principiamos a trabalhar. Aquilo foi já. Mandei fechar as covas, que os aeroplanos tinham feito com torpedos, com carvão, principiei logo a ligar as linhas, e d’ahi a 65 minutos os comboios passavam. O general inglêz abraçou me e disse-me: - Se não fosses tu, nós ficavamos todos aqui desbaratados. Pediu-me o nome, o numero, etc. Ao outro dia era condecorado. É que a frente estava sem tropas e aqueles comboios transportaram-na. […] Os alemães avançavam em nossa direcção. Era preciso destruir as linhas ferreas, por onde eles deviam conduzir a tropa. O bombardeio era uma coisa que não sei bem como… não faz ideia… era por demaes. Debaixo de fogo, marchei para destruir as linhas por onde eles haviam de passar. Emquanto tive ganas para o fazer… foi dar-lhe; evitei que o boche avançasse. Fui novamente condecorado.» Biografia e entrevista a José Gomes da Luz (com retrato), publicada no jornal Povo de Estarreja, n.º 21, 16.11.1924, pp. 1-3. José Gomes da Luz era natural do lugar do Mato, freguesia de Salreu (1891). Iniciou vida militar em 1911, em exercício nos caminhos-de-ferro desde 1913. Embarcou para França no CEP em 21 de Abril de 1917, sendo promovido a 1.º cabo-chefe em 1 de Dezembro de 1917. Na guerra exerceu trabalho ferroviário, do que levava experiência como militar ferroviário em Portugal. Recebeu várias condecorações militares portuguesas e uma belga. Regressou a Portugal doente em 1 de Maio de 1919, devido ao frio e à chuva, não podendo trabalhar.

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3.3. NOTÍCIA DO APRISIONAMENTO DE ARTUR MARQUES SALGADO, DE VEIROS

Fig. 8 - Notícia do aprisionamento de Artur Marques Beirão, de Veiros, na Batalha de La Lys. O Jornal de Estarreja, n.º 1600, 9.6.1918, p. 3

Por ocasião da Batalha de La Lys (9 de Abril de 1918) foi aprisionado Artur Marques Salgado, soldado natural de Veiros. Havia concluído o curso do Magistério Primário quando foi chamado a ingressar na carreira militar, alcançando o posto de 2.º Sargento, com que seguiu para França em 24 de Fevereiro de 1917. Aí alcançou, aos 23 anos, a patente de Alferes.

4. LUGARES DE MEMÓRIA Conhecem-se informações diversas sobre a participação de naturais dos concelhos de Estarreja e Murtosa na Primeira Grande Guerra. É designadamente possível realizar uma lista dos combatentes (mais de 350) e outra dos mortos (56) naturais dos dois concelhos, com dados individuais. São dados susceptíveis de satisfazer diversos interesses, por exemplo no campo da genealogia ou da didáctica da história. Por outro lado alguns combatentes deixaram-nos testemunhos escritos, que ajudam a reconstituir o drama da guerra. É de admitir que haja ainda mais testemunhos e objectos com a mesma utilidade, à guarda de descendentes de antigos militares, esperando o conhecimento público. Finalmente, por todo o país se ergueram monumentos de homenagem aos combatentes portugueses mortos na Grande Guerra. Estarreja e Murtosa não constituem excepção, possuindo nos seus monumentos gravados os nomes dos militares locais que tombaram em defesa da pátria. No caso de Estarreja, uma vez que o monumento data de 1922, inscreveram-se os nomes dos mortos dos dois concelhos, pois a Murtosa só foi elevada à categoria de concelho em 1926.

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4.1. ARRUAMENTOS Dentro dos actuais concelhos de Estarreja e Murtosa existem três nomes de arruamentos que evocam a Primeira Grande Guerra: 1) Largo dos Heróis da Grande Guerra, no centro de Estarreja, onde se encontra o monumento respectivo; 2) Praça dos Combatentes da Grande Guerra, junto à igreja da Murtosa, onde também se encontra o monumento respectivo; 3) Rua 9 de Abril, na Murtosa, com referência ao aniversário da Batalha de La Lys, ocorrida em 1918.

4.2. MONUMENTO AOS HEROIS DA GRANDE GUERRA (ESTARREJA) Sobre a inauguração em Estarreja de um monumento aos Heróis da Grande Guerra informamnos Egas Moniz12, um flyer da época13 e alguns jornais locais, coevos14 e mais recentes15. No início de 1922 um grupo de cidadãos terá sugerido à Câmara Municipal de Estarreja a criação de um monumento aos Heróis da Grande Guerra, naturais do concelho, a instalar na praça central da então vila. A Câmara Municipal aceitou a sugestão mas procurou fontes alternativas de financiamento. Com efeito, deliberou que as juntas de freguesia do concelho contribuíssem para os custos, além do que escreveu a diversas personalidades do concelho ausentes, solicitando fundos, as quais pelo menos em parte corresponderam ao solicitado. A certa altura previu-se a inauguração do monumento para as festas de Santo António, com a presença da banda de Música da GNR de Lisboa. Na verdade a inauguração ocorreu em 17 de Junho de 1922, às 9h00, conforme consta no edital subscrito pelo então Administrador do Concelho, Manuel de Andrade, futuro Lente de Direito na Universidade de Coimbra. Na cerimónia inaugural proferiu Egas Moniz um discurso apaixonado, que a Câmara Municipal fez publicar num opúsculo, onde constam também as identificações dos naturais do concelho mortos na guerra. No programa de inauguração desse dia incluiu-se ainda um Sarau Artístico, produzido pelo Orfeon, Banda e Grupo Dramático de Albergaria-a-Velha. Este espectáculo teve lugar nos Paços do Concelho de Estarreja, revertendo as receitas do mesmo em favor do embelezar o largo do monumento. Em 1990 realizaram-se trabalhos de mudança no monumento, tendo-se então encontrado documentos enterrados junto do mesmo.

12 - EGAS MONIZ, DoValor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922. 13 - Homenagem aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Estarreja, Monumento Inaugurado na Sède daVila no dia 17 de Junho de 22, Tip. Cyrne (Flyer). 14 - O Jornal de Estarreja, n.º 1790, 28.04.1922, p. 1; JE, n.º 1798, 17.6.1922, pp. 1-2 (ver também números anteriores e seguintes); O Concelho de Estarreja, n.º 1052, 10.6.1922, p. 1; AVoz de Estarreja, n.º 127, 3.6.1922, p. 2; VE, n.º 128, 10.6.1922, p. 2. 15 - O Jornal de Estarreja, n.º 3694, 30.5.1990, p. 1; O Concelho de Estarreja, n.º 4056, 10.6.1997, p. 1, e ss. (conjunto de artigos da autoria de António Augusto Silva).

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4.3. MONUMENTO AOS HEROIS DA GRANDE GUERRA (MURTOSA) Constituiu-se na Murtosa uma comissão e realizou-se subscrição pública para a construção de um Monumento aos Heróis da Grande Guerra, autónomo do já existente em Estarreja, que veio a ser inaugurado em 9 de Abril de 1929, dia de aniversário da Batalha de La Lys. Na inauguração estiveram presentes D. António Augusto Meireles, Bispo-Coadjutor do Porto16, e o Coronel Gama Lobo, comandante do Regimento de Infantaria 19, possivelmente um dos militares que participaram da ocupação monárquica de Estarreja durante a chamada Monarquia do Norte, em 1919. Sobre a inauguração escreveram-se desenvolvidas notícias na imprensa local17, inclusive um artigo da autoria do escritor Norberto de Araújo18. Conhecem-se também fotografias do acontecimento, a do postal aqui reproduzido e as publicadas em dois jornais19 e numa monografia local20. É possível que não tenha sido alheia à implantação do monumento a delegação da Murtosa da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, que se sabe ter existido pela mesma altura21.

Fig. 9 - Gravura do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, em Estarreja, inserida no livro de Egas Moniz, Do Valor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922.

16 - ROCHA, Manuel Olívio - Santo António do Monte. Bodas de Ouro. Ed. Paróquia de Santo António do Monte, 1982, p. 39 17 - O Concelho da Murtosa, n.º 111, 20.1.1929, p. 2; CM, n.º 121, 31.3.19 29, p. 1; CM, n.º 123, 14.4.1929, p. 1. 18 - O Concelho da Murtosa, n.º 124, 21.4.1929, p. 1. 19 - Novidades, 7.9.1936, p. 1; O Progresso da Murtosa, 53, 16.8.1930, p. 9. 20 - RAMOS, Alexandra Farela, Murtosa Fotomemória II, Ed. Autora, 2005, p. 56. 21 - O Concelho da Murtosa, n.º 151, 27.10.1929, p. 3.

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MARCO PEREIRA

Fig. 10 - Flyer distribuído em 1922, com o programa da inauguração do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, em Estarreja.

Fig. 11 - Postal alusivo à inauguração do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, na Murtosa, em 1929 (cortesia do Dr. Paulo Horta Carinha).

Fontes e Bibliografia A) MANUSCRITOS Diário de Guerra de José Ferreira da Costa (n. 25.12.1895), de Pardilhó (hoje pertencente a familiares), que partiu para combater na Primeira Grande Guerra com 21 anos de idade (adaptado) B) FONTES IMPRESSAS Homenagem aos Mortos da Grande Guerra do Concelho de Estarreja, Monumento Inaugurado na Sède da Vila no dia 17 de Junho de 22, Tip. Cyrne (Flyer) C) ICONOGRAFIA 3 postais do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, Estarreja, s/d (col. do autor) 1 postal do Monumento aos Heróis da Grande Guerra, Murtosa, s/d (cortesia do Dr. Paulo horta Carinha) 1 fotografia de Joaquim Maria de Oliveira Simões, oficial natural de Salreu, 1921 (cortesia do Dr. Silvério Tomaz Pinaz) 1 fotografia de capelães militares portugueses na Grande Guerra, onde consta o salreense Pe. António Rebelo dos Anjos, 1918 (http://portugal1914.org - consultado em 11.05.2015) 2 fotografias de Francisco Israel de Oliveira Horta, combatente em África natural da Murtosa, s/d (cortesia do Dr. Paulo Horta Carinha)

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D) PERIÓDICOS O Concelho de Estarreja, n.º 1052, 10.6.1922, p. 1; CE, n.º 3654, 31.8.1974, pp. 1-3; CE, n.º 3757, 11.11.1976, pp. 1 e 5; CE, n.º 4056, 10.6.1997, p. 1 O Concelho da Murtosa, n.º 111, 20.1.1929, p. 2; CM, n.º 121, 31.3.1929, p. 1; CM, n.º 123, 14.4.1929, p. 1; CM, n.º 124, 21.4.1929, p. 1; CM, n.º 151, 27.10.1929, p. 3 Ecos do Antuã, n.º 39, 30.6.1918, p. 2 O Jornal de Estarreja, n.º 1600, 9.6.1918, p. 3; JE, n.º 1604, 7.7.1918, p. 3; JE, n.º 1790, 28.04.1922, p. 1; JE, n.º 1798, 17.6.1922, pp. 1-2; JE, n.º 3694, 30.5.1990, p. 1 Novidades, 7.9.1936, p. 1 Povo de Estarreja, n.º 21, 16.11.1924, pp. 1-3 O Progresso da Murtosa, n.º 53, 16.8.1930, pp. 8-9 AVoz de Estarreja, n.º 127, 3.6.1922, p. 2; VE, n.º 128, 10.6.1922, p. 2 E) MONOGRAFIAS CARDOSO, Carlos Alfredo Resende dos Santos, Subsídos para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, 2.ª ed., Câmara Municipal de Estarreja, 2000, pp. 135-136 CIRNE, Pe. Manuel, Padre Ruela Pombo, ed. Autor, 1989, p. 30-33, 240 EGAS MONIZ, Um Ano de Política, Lisboa, Portugal/Brasil, 1919 EGAS MONIZ, DoValor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922 PEREIRA, Marco, História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, 2010, pp. 78-79 RAMOS, Alexandra Farela, Murtosa Fotomemória II, Ed. Autora, 2005, p. 56 ROCHA, Manuel Olívio - Santo António do Monte. Bodas de Ouro. Ed. Paróquia de Santo António do Monte, 1982, pp. 17-18, 39 F) INTERNET Arquivo Histórico Militar - http://arqhist.exercito.pt [Código de referência: PT/AHM/ DIV/1/35ª] [consultado em 11.05.2015] GenealogiaFB, “Boletins Individuais de militares do CEP - Oficiais & Equiparados”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 05.05.2015]; GenealogiaFB, “Boletins Individuais de militares do CEP - Sargentos & Praças”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 12.05.2015]. “Relação nominal dos soldados portugueses mortos na 1.ª Guerra Mundial” (PDF), 1921, In Arquivo Digital - Ministério das Finanças - http://purl.sgmf.pt [Código de referência: PT/ACMF/ DGCP/16/006] [consultado em 11.05.2015] PEIXOTO, Paula, “Relação nominal dos soldados portugueses mortos na 1.ª Guerra Mundial”, In GenealogiaFB - http://genealogiafb.blogspot.pt [publicado em 23.08.2014] Memorial aos mortos na Grande Guerra - http://www.memorialvirtual.defesa.pt [consultado em 11.05.2015] Portugal 1914-1918 - http://www.portugal1914.org [consultado em 11.05.2015] Cabo Verde na Grande Guerra - http://www.momentosdehistoria.com/MH_02_07_Marinha. htm [consultado em 11.05.2015] ANEXOS 1 - Soldados do concelho de Estarreja (abrangendo o da Murtosa), mortos em combate ou de doenças contraídas em campanha, em França e em África, durante a Grande Guerra. [ 117 ]


MARCO PEREIRA

N.º Nome

Filiação

1

Adelino Maria Henriques

José Agostinho Henriques e Isabel Maria da Silva

2

Firmino Marques

António Marques e Maria Josefa Marques

3

Joaquim Manuel de Matos

António Joaquim de Matos e Maria da Natividade

4

João Esteves

António Lourenço Esteves e Miquelina Antónia Tavares

5

Manuel Luís Lopes

Manuel Maria Lopes e Maria Victória

6

Agostinho Maria de Pinho

Manuel Maria de Pinho e Isabel Maria da Silva

7

Anastácio de Matos

Joaquim Maria de Matos e Maria Luísa Lopes

8

António Nunes Beirão de Almeida

Manuel Nunes Beirão de Almeida e Maria de Almeida

9

António Lopes

Joaquim da Silva Lopes e Rosa da Silva Tavares

10

António da Silva Cavado

Manuel Rodrigues da Silva Cavado e Maria Rosa Dias de Oliveira

11

António da Silva

José da Silva e Maria Marques Couto

12

António Valente

Manuel António Valente e Maria de Oliveira

13

Bártolo Joaquim Farinhas

Gonçalo António da Silva Farinhas e Maria José Valente de Almeida

14

Firmino da Silva Pataca

Clementina da Silva Pataça

15

Floriano Gomes da Luz

José Maria da Luz e Gracinda Augusta Neves

16

Francisco Maria da Silva

Manuel José da Silva e Maria José Marques

17

Francisco dos Anjos

Maria dos Anjos

18

João Tavares

João Maria Tavares e Caridade de Jesus

19

Joaquim Maria da Silva

João Agostinho da Silva e Maria Antónia Antão de Souza

20

Joaquim Tavares

Caetano Joaquim Tavares e Joaquina Marques Pires

21

José Maria de Matos

Cândido José de Matos e Maria Francisca da Silva Covas

22

José Maria Ruivo

Manuel António Tavares Ruivo e Maria José Tavares Branco

23

Lázaro da Silva de Matos

Constantino da Silva de Matos e Ana Rosa da Silva Esteves

24

Manuel António Afonso e Cunha

Domingos António Afonso e Cunha e Maria Rosa Tavares

25

Manuel Augusto de Aguiar

José Maria Rodrigues de Aguiar e Joaquina Rodrigues da Cruz

26

Manuel Fernandes Choupelo

Joaquim Maria Fernandes Choupelo e Maria da Silva

27

Manuel João

Manuel José Vieira e Maria Augusta

28

Manuel Lopes Valente

José Maria Lopes Valente e Maria de Jesus Valente de Almeida

29

Manuel Pinho

Francisco António Pinho e Joana Lopes Valente Canhôto

30

Alberto Padinha

Manuel Maria da Silva Padinha e Maria José de Miranda

31

Alfredo da Costa

Manuel Pereira da Costa e Maria José da Silva

32

Américo da Silva

Joaquim António da Silva e Ana Rodrigues

33

António Ferreira

Joana Ferreira

34

António Fragoso

José da Silva Fregoso e Ludovina Valente de Matos

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Residência

Identificação Militar

Alistamento

Óbito

Fontes

Veiros, Fonte de Baixo

Soldado n.º 298 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1913

14.12.1916

1

Beduído, Santo Amaro

n.º 172 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1915

02.10.1916

1

Murtosa, Monte

n.º 103 da 3.ª Companhia de Ponteneiros

15.01.1915

05.11.1916

1

Bunheiro, Touregas

n.º 213 da 12.ª Companhia de Infantaria 24

13.01.1915

16.10.1916

1

Murtosa, Ribeiro

n.º 234 da 10ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1913

14.06.1916

1

Bunheiro, Agro

n.º 238 da 12.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1915

16.05.1917

1

Pardilhó, Curval

n.º 93 da 9.ª Companhia de Infanatria 24

13.01.1913

18.01.1917

1

Fermelã, Corredoura

n..º 388 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

17.05.1913

15.10.1917

1

Avanca, Seixo

n.º 37 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

12.05.1915

26.06.1917

1

Canelas, Rua da Fonte

n.º 354 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

12.05.1915

26.06.1917

1

Beduído, Outeiro do Coval

n.º 373 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1915

28.07.1917

1

Pardilhó, Monte de Baixo

n.º 75 da 11.ª Companhia de Infantaria 24

15.01.1913

25.08.1917

1

Murtosa, Ribeiro

n.º 85 da 4.ª Companhia de Ponteiros

14.01.1915

30.01.1917

1

Pardilhó

2.º Cabo n.º 171 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1915

28.06.1917

1

Salreu, Rua de S. Martinho

Soldado n.º 116 da 2.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1912

14.09.1917

1

Murtosa, Ribeiro

n.º 365 da 12.ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1914

16.02.1917

1

Avanca, Valada

n.º 156 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

15.01.1913

02.09.1917

1

Murtosa, Pardelhas

n.º 102 da 3.ª Companhia de Ponteneiros

15.01.1915

11.03.1917

1

Bunheiro, S. Simão

2.º Cabo n.º 316 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1913

16.04.1917

1

Beduído, Barreiro d’Além

Soldado n.º 385 da 2.ª Companhia de Infantaria 24

12.01.1916

23.05.1917

1

Bunheiro, S. Simão

n.º 365 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1913

12.04.1917

1

Bunheiro, Celeiro

n.º 356 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1913

21.04.1917

1

Bunheiro, Breja de Baixo

n.º 113 da 9.ª Companhia de Infantaria 24

13.01.1914

27.02.1917

1

Bunheiro, Breja de Baixo

n.º 67 da 9.ª Companhia de Infanatria 24

13.01.1914

14.05.1917

1

Canelas, Picoto

n.º 269 da 11.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1913

17.06.1917

1

Bunheiro, Outeiro Alto

n.º 333 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

12.01.1914

17.11.1917

1

Murtosa, Monte

n.º 383 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1912

07.10.1917

1

Pardilhó, Celeiro

n.º 137 da 9.ª Compaanhia de Infantaria 24

12.05.1914

19.08.1917

1

Pardilhó

n.º 66 da 11.ª Companhia de Infanatria 24

13.05.1912

20.07.1917

1

Murtosa

n.º 105 da 3.ª Companhia de Ponteneiros

15.01.1915

12.02.1918

1

Murtosa

n.º 581 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1912

12.03.1918

1

Pardilhó, Curval

n.º 135 da 1.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1912

12.03.1918

1

Salreu, Casal

n.º 306 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1914

14.10.1918

1

Pardilhó, Monte de Cima

n.º 48 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1912

09.10.1918

1

[ 119 ]


MARCO PEREIRA

N.º Nome

Filiação

35

António Maria Bracinha

António Tavares Bracina e Maria Rosa de Almeida

36

António Ruela Valente

João Guedes Ruela Valente e Custódia Tavares Cirne

37

Domingos Loureiro

Maria Pereira Loureiro

38

Domingos Maria de Oliveira

José Joaquim Fernandes de Oliveira e Rosária de Oliveira

39

Domingos Pereira de Matos

Francisco Pereira de Matos e Maria Custódia Marques

40

Gonçalo António de Pinho

José Augusto de Pinho e Maria Joaquina da Silva

41

João Agostinho Bandeira

José Agostinho da Silva Bandeira e Maria Joaquina da Silva

42

João Lopes dos Santos

Joaquim Lírio Lopes dos Santos e Ana Rosa da Silva

43

Joaquim Rodrigues de Pinho

João Rodrigues de Pinho e Ana Marques

44

Manuel José Lirão

Joaquim da Silva Lirão e Maria da Silva

45

Manuel José dos Santos

António Joaquim dos Santos

46

Manuel Maria de Oliveira e Silva

José Manuel de Oliveira e Silva (o Cigano) e Ana José Marques

47

Manuel Maria da Silva

José Maria da Silva e Ana Maria Marques de Azevedo

48

Manuel de Oliveira Calado

Manuel Pedro Fernandes de Oliveira e Maria Emília Valente

49

Manuel Rezende

José Rezende e Ana Maria Rodrigues

50

Mário da Silva

Manuel da Silva Junior e Maria de Jesus Pinheiro

51

Roberto Pinto

Joaquim Dias Pinto e Maria Rosa Domingues

52

Rodrigo Rodrigues Martins

Manuel Rodrigues Martins e Ana Maria Valente de Almeida

53

Tercio Roiz de Almeida

Manuel Roiz de Almeida e Mariana Marques

54

Américo de Quadros

Maria Amália de Quadros

55

José dos Santos

José Maria Dias dos Santos e Elisa Maria de Jesus

56

Manuel Maria Veira

Manuel da Silva Vieira e Maria Augusta

FONTES: 1 - EGAS MONIZ, Do Valor e da Saudade, Câmara Municipal de Estarreja, 1922

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Residência

Identificação Militar

Alistamento

Óbito

Fontes

Canelas

1.º Cabo n.º 598 da 2.ª Companhia de Infantaria 31

17.06.1916

12.03.1918

1

Bunheiro, S. Silvestre

Soldado n.º 289 da 2.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1916

15.11.1918

1

Avanca, Água Levada

n.º 414 da 8.ª Bateria de Artilharia 2

09.07.1914

14.12.1918

1

Murtosa, Pardelhas

1.º Cabo n.º 545 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

13.01.1915

13.03.1918

1

Avanca, Submoinhos

Soldado n.º 214 da 3.ª Companhia de Infantaria 23

12.04.1917

23.10.1918

1

Veiros, Santa Luzia

n.º 415 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1916

13.03.1918

1

Veiros, Cabeças

n.º 200 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

14.05.1916

19.10.1918

1

Bunheiro, Casal

n.º 183 da 4.ª Companhia de Ponteneiros

14.01.1916

30.04.1918

1

Beduído, Campo

n.º 467 da 2.ª Companhia de Infantaria 24

15.05.1916

26.06.1918

1

Murtosa

n.º 363 da 10.ª Companhia de Infantaria 24

13.05.1916

13.05.1918

1

Bunheiro

n.º 974 da 5.ª Bateria de Artilharia Montada

09.07.1914

20.04.1918

1

?

n.º 203 da 3.ª Companhia de Infantaria 23

12.04.1917

18.10.1918

1

Beduído, Póvoa de Cima

n.º 312 do 1.º Batalhão de Infantaria 35

17.06.1916

13.03.1918

1

Beduído, Outeiro da Marinha

n.º 356 da 1.ª Companhia de Infantaria 24

07.01.1916

18.09.1918

1

Salreu

n.º 312 da 2.ª Companhia de Infantaria 24

14.01.1916

19.01.1918

1

Beduído, Póvoa de Cima

n.º 514 da 1.ª Companhia de Infantaria 6

17.06.1916

06.09.1918

1

Canelas, Rua da Fonte

n.º 483 da 1.ª companhia de Infantaria 24

14.01.1916

10.01.1918

1

Pardilhó, Monte de Cima

n.º 472 da 3.ª Companhia de Infantaria 24

15.05.1916

07.08.1918

1

Salreu, Carapinheira

1.º Cabo n.º 49 de Sapadores Mineiros

21.08.1913

27.11.1918

1

Canelas, Rua Direita

2.º Sargento n.º 218 da 3.ª Companhia de Infantaria 23

15.04.1917

07.05.1918

1

Avanca, Sardinha

1.º Cabo n.º 310 do 5.º Grupo de Administração Militar

09.07.1914

05.03.1919

1

Beduído

Soldado n.º 542 da 4.ª Companhia de Infantaria 24

18.12.1916

03.04.1919

1

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ANTÓNIO CRUZ LEANDRO | LUÍS ALBERTO CASIMIRO | MARIA CLARA DE PAIVA VIDE MARQUES

ESCULTURA DEVOCIONAL NA IGREJA MATRIZ DE AVANCA1 António Cruz Leandro* Luís Alberto Casimiro** Maria Clara de PaivaVide Marques*** A igreja paroquial de Avanca, da invocação a Santa Marinha, é uma construção do século XVIII, edificada em substituição da matriz anterior que ruiu em 1724, tendo a capela de Santo António que lhe fica próxima, servido de matriz no decurso das obras2. Iniciada a sua construção, no mesmo local, no dia 15 de outubro do ano de 1727, para ela foi determinante a ação do reitor António de Oliveira Fraião, pároco de Avanca. O templo, do qual se encontrava apenas concluído o corpo, feito a expensas do povo, foi inaugurado em 24 de fevereiro de 1749. A construção da capela-mor, cuja obra dependia do padroeiro, a Comenda de Cristo e, portanto, feita a expensas do Comendador, foi edificada posteriormente, como o confirmam as informações sobre a igreja dadas em 1 de maio de 1758 pelo pároco memorialista, António Oliveira Frazão, que, então, ainda se encontrava à frente dos destinos desta paróquia e cuja descrição da mesma é bastante pormenorizada, abordando as múltiplas questões do Inquérito com rigor e desenvolvimento: (…) se acha já acábado o corpo della, com hum nobre frontispicio acompanhádo de duas torres quasi quadradas (…), com as suas quatro capéllas (…) já ornadas de retábolos à moderna; cada hum similhante ào que lhe corresponde no sitio, não só na obra, e forma da madeira, e talha; mas também na da pintura, e dourádo fingindo nos lizos várias cores de pédras mármores, e a talha douráda, com sinco imagens grandes novas, e admiráveis assim na esculptúra, como na encarnação, e estofo, por insignes esculptôes, e pintores portoênses, e são a do Spirito Sancto parte que representa as imagens de todas as três Divinas Pessoas; a de Nossa Senhora do Rosario; a da padroeira Santa Marinha, a do Archánjo São Miguel e a do Senhor morto no tûmulo, proporcionadas á grandeza das capéllas, e seus retabólos: e que na accommodação das imagens quis a freguesia variar a ordem, com que estavam nos altares da igreja velha, e que eu na dicta informação segui cuiándo variaria. (…) Agóra porém como na capélla colateral da parte do evangêlho fizérão capélla para o Santissimo Sacramento, por não haver capélla môr, a que ainda se não tem dado principio, em cima do sacrário se colocou pro interim a imagem da santa padroeira, no do lado do corpo da mesma parte a do Spirito Sancto; na collaterál da bânda da epístola a de Nossa Senhora do Rosario; e na do corpo da igreja, e do lado da mesma bânda a do Sancto Christo Crucificádo, e a de São Miguel, e ainda não se mandarão fazer as mais, porque em cada retábolo tem dous nichos das partes, fóra o thrôno do mey3.

1 - Agradecemos ao reitor de Avanca, padre José Henriques, e ao vigário de Avanca, padre Manuel Augusto Marques Oliveira as informações prestadas. * Licenciado em História de Arte e Mestre em Património e Turismo. Professor ** Licenciado em Artes Plásticas – Pintura e Doutorado em História de Arte pela FLUP. Investigador do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória» *** Licenciada em Ciências Históricas e Pós-graduada em Museologia. Museóloga 2 - SILVA, Cónego António Bernardo da (Coord.) – Relatório do Movimento Religioso na Diocese do Porto – Ano de 1922-23. Porto: Tipografia Porto Medico, 1924, p. 110. 3 - OLIVEIRA, Américo; SILVA, Filomeno – Estarreja e Murtosa nas «Memórias Paroquiais de 1758». Estarreja: Fundação Soalheiro Madureira, 2009, pp. 101-102.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

O conjunto das quatro estruturas retabulares, bem como as cinco imagens, acima referidas, conservam-se ainda hoje no interior da igreja. Todavia, atualmente a imagem de Santa Marinha, como padroeira, posiciona-se no retábulo-mor do lado do Evangelho, uma vez que na disposição das imagens no interior dos templos ao orago, porque encerra um simbolismo especial e uma identidade com o templo, é reservado um lugar de honra e destaque, por norma no lado direito do retábulo, correspondente ao lado direito da igreja, também ele o mais digno, sendo também ao orago dedicada a principal festividade da paróquia. Por sua vez, as imagens de São Miguel Arcanjo e Nossa Senhora do Rosário repousam sobre as peanhas laterais do retábulo colateral esquerdo. A imagem da Santíssima Trindade figura aposta no nicho do retábulo lateral esquerdo da nave. A imagem do Senhor Morto encontra-se guardada na sacristia, sendo somente exposta ao público no decurso da Semana Santo, em conformidade com as celebrações decorrentes desse tempo litúrgico que integram as cerimónias da Morte e Paixão de Cristo, nomeadamente a Procissão do Enterro do Senhor. Em relação aos retábulos, os colaterais e os laterais, são obra do mestre entalhador portuense, José Martins Tinoco, morador na Rua Direita, da freguesia de Santo Ildefonso, extramuros, da cidade do Porto, a quem foram adjudicados em 17 de setembro de 1746, pelo preço de trezentos mil réis, satisfeito em três pagamentos. Na escritura do contrato, interveio pelo juiz da igreja, como procurador, o Capitão Diogo Tavares de Resende, com procuração passada, dois dias antes, a 15 de setembro, que se encontra transcrita na escritura. José Martins Tinoco devia dar a obra feita e acabada, «com todo o primor da arte», até ao dia de São João Batista (24 de junho) de 1747, de acordo com as plantas feitas e os apontamentos que lhe foram entregues. O mestre entalhador apresentou como fiador e principal pagador nesta obra, o conhecido entalhador e arquiteto, Miguel Francisco da Silva, conforme escritura de obrigação e fiança4,, razão pela qual D. Domingos de Pinho Brandão na sua obra sobre a talha dourada na diocese do Porto coloca a hipótese de Miguel Francisco da Silva ser o autor das plantas destes retábulos5. Belíssimos móveis retabulares testemunham já a sintaxe do figurino ornamental rococó, evidente em alguns assimétricos concheados conjugados com outros elementos estruturais arquitetónicos que, apesar de se apresentarem já mais libertos e menos académicos (a ausência de colunas, as pilastras simples e de fraco volume, a desmaterialização de elementos pela linguagem ornamental), ainda pertencem à fase final do barroco joanino, podendo, assim, considerar-se retábulos de transição, sendo, todavia, mais presente a linguagem estética do rococó nos retábulos laterais6. É inegável o importante e preponderante papel das imagens, através da representação figurativa e simbólica das narrativas sagradas ou dos princípios morais e espirituais associados à vida cristã, como instrumento de transmissão da Fé e instrução dos crentes. A imagem aparece como um modo de expressão para manifestar ao exterior um desejo de comunicação de uma experiência e de uma mensagem a outras pessoas7, podendo mesmo afirmar-se que desde os primórdios, o Cristianismo pretendeu por intermédio das imagens explicar o ininteligível. Com

4 - ADP [Arquivo Distrital do Porto] – Po 9, 3.ª série, n.º 68, fls. 51v-52v., cf. BRANDÃO, D. Domingos de Pinho – Obra de Talha Dourada, Ensamblagem e Pintura na Cidade e na diocese do Porto, Porto: Diocese do Porto, Subsídios para o seu estudo, documentação, III, 1726 a 1750, pp. 501-504. 5 - BRANDÃO, D. Domingos de Pinho – Obra de Talha Dourada, Ensamblagem e Pintura na Cidade e na diocese do Porto, pp. 501-504. 6 - LEANDRO, António Cruz; MARQUES, Maria Clara de Paiva Vide – FÉ E ESPLENDOR | A Arte Retabular das Igrejas Paroquiais do Concelho de Estarreja. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja, 2016, pp. 20 e 33-40. 7 - AZEVEDO, Carlos A. Moreira - O lugar da simbólica cristã no Inventário Cultural. In INVENTÁRIO, que futuro? Porto: Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, 2000, p. 10.

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ANTÓNIO CRUZ LEANDRO | LUÍS ALBERTO CASIMIRO | MARIA CLARA DE PAIVA VIDE MARQUES

origem nas representações artísticas de imperadores do Baixo-Império, a devoção das imagens na história do cristianismo teve início por volta do século V, ganhando um forte impulso na centúria seguinte. Desde os primeiros séculos, a Igreja de Roma tratou de criar as bases da iconografia cristã, sem, contudo, privar a liberdade de criação dos artistas estabelecendo, também, desde o início, uma relação entre palavra e imagem. De acordo com a tradição da Igreja e, sobretudo, com as ideias defendidas pelo Papa Gregório I, as imagens de devoção cristã têm três funções específicas: aedificatio e instructio, intendere, a suscitação do sentimento de compunctio e também de ornamentação da casa de Deus. E, foi também seguindo o pensamento de Gregório de Nissa: “A imagem é um livro portador de linguagem” (Gregório de Nissa), que a Igreja utilizou as imagens na transmissão de sua doutrina ao grosso iletrado da população, que através das representações de cenas retiradas da Bíblia, apreendia os fundamentos da Fé e os exemplos a seguir. Esta posição gerou alguns conflitos no decurso dos séculos, como seja a crise iconoclástica do século VIII, que durou até o ano de 843. Nesse período foi realizado o II Concílio Ecuménico de Nicéia (787), que praticamente definiu a posição da Igreja Católica com relação às imagens. Mas será no século XIII, por obra do dominicano São Tomás de Aquino, ao comentar as Sentenças de Pedro Lombardo, que o pensamento da Igreja sobre a arte ficará definido. São Tomás assinalou três causas para justificar a presença das imagens: a instrução do povo que, não sabendo ler, era ensinado pela visão, a complementaridade da visão para a escuta da pregação sobre os mistérios da fé e a capacidade das imagens para recordar o amor de Deus e o exemplo dos Santos. Está, assim, patente, o poder catequético das imagens na arte medieval8. No século XVI, a Igreja precisou de intervir novamente nesta questão das imagens. Efectivamente, depois da Reforma Protestante deu-se uma rutura na tradição iconográfica, pelo que em meados da centúria de quinhentos a Igreja começou a reagir, tendo o Concílio de Trento sido a resposta organizada (1545-1563). Em relação às imagens, e à representação iconográfica em geral, este concílio reafirmou o que se havia decidido no II Concílio Niceno, subordinando a arte ao dogma, voltando-a à propagação da fé católica. Na famosa sessão XXV, dias 3 e 4 de dezembro de 1563, discutiu-se o tema da arte e o objetivo principal era claro: a Igreja desejava uma arte digna para contribuir para a defesa da fé católica diante dos desvios da Reforma, já que se queria uma arte essencialmente religiosa. Voltou-se a valorizar a importância didática das imagens. Lançaram-se as bases para a confeção de novos tratados iconográficos. Uma série de tratadistas estipulam o que é correto ou não, segundo o ponto de vista da Igreja: Giovanni Andrea Gilio, São Carlos Borromeu, Johannes Molanus, Gabiele Paleotti, Borghini e Bartolomeo Ammanati, entre outros. Assim se explica o auge extraordinário que teve a imagem na época barroca e que fixou uma série de convenções iconográficas, estabelecidas por clérigos e monges, especialmente por jesuítas em colaboração com os artistas. Tanto as vestes das personagens, como os gestos dramáticos e os efeitos de luz estão em relação com a devoção às imagens. Tornam-se veículos de elevação espiritual. À função primordialmente pedagógica das imagens religiosas em épocas anteriores, agora junta-se a promoção de sentimentos para assinalar o amor à virtude e à penitência9. Esta função que as imagens adquirem, de instrução das narrativas sagradas e de estabelecimento de uma relação devota com a Igreja Triunfante, é reabilitada, em grande medida, após o Concílio de Trento, com as determinações Contrarreformistas, como reação aos movimentos da Reforma 8 - Ibidem, p. 14. 9 - Ibidem.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Protestante. A função didática das imagens cristãs na comunicação e ensino dos fundamentos da doutrina cristã, tornou-se a principal motivação da produção de iconografia e imaginária cristã10. Desde o útimo terço do século XIX entrou em crise a representação iconográfica, como se entendia tradicionalmente11. Contudo, no essencial, a Igreja Católica não mudou sua posição favorável às imagens, sendo raras as suas intervenções após o Concílio de Trento, continuando a arte a manter a sua função na comunicação e ensino dos fundamentos da doutrina cristã12. Por isso, ainda hoje a Igreja Católica Apostólica Romana mantém o costume de decorar os seus templos com imagens de Cristo, da Virgem e dos Santos, como nos revela o Cânone 1188 do código do Direito Canónico: Mantenha-se a praxe de propor imagens sagradas nas igrejas, para a veneração dos fiéis; entretanto, sejam expostas em número moderado e na devida ordem, a fim de que não se desperte a admiração no povo cristão, nem se dê motivo a uma admiração menos correta.

AS ESCULTURAS DEVOCIONAIS

SANTA MARINHA Entre os oragos que suscitam dúvidas quanto à sua existência histórica e dificuldades numa correta identificação, datação e uniformidade iconográfica, temos Santa Marinha. Na paróquia de Avanca, de que é titular, Santa Marinha é festejada a 18 de julho, o que indica tratar-se de

10 - Ibidem. 11 - Ibidem. 12 - Um excelente exemplo foi a CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AOS ARTÍSTAS escrita no final do século passado.

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ANTÓNIO CRUZ LEANDRO | LUÍS ALBERTO CASIMIRO | MARIA CLARA DE PAIVA VIDE MARQUES

Santa Marinha de Braga, virgem e mártir. Não há qualquer documento, com valor histórico, sobre a vida desta santa. O Martirológio Romano faz a sua comemoração no dia 18 de julho. Os jesuítas, denominados “Bolandistas”13 afirmam que foi martirizada perto de Orense. De acordo com a narrativa da sua vida, de quem não temos notícias concretas, por volta do ano de 120 governava a cidade de Braga Lúcio Caio Atílio Severo, casado com Cálcia, que dá à luz nove filhas gémeas. Aterrada com este facto Cálcia pede à aia, Cita, para que as afogasse no rio Este. Como a aia era cristã, pegou nas meninas e levou-as a Santo Ovídio, bispo de Braga, para que fossem batizadas. Este batiza-as e dá-lhes os nomes de: Genebra, Vitória, Eufémia, Marinha, Marciana, Germana, Basília, Quitéria e Liberata, entregando-as a famílias cristãs. As meninas, distribuídas por várias famílias, foram educadas até à adolescência. O pai acabaria por reconhecê-las como filhas e fez tudo para que abjurassem a fé cristã e casassem com mancebos pagãos. Perante a renitência das gémeas, que tinham feito voto de virgindade, o pai irou-se, expulsando-as de casa. Todas acabaram por serem martirizadas 14. O monge beneditino de Pombeiro, Fr. Bento da Ascensão, publicou em 1722 uma das mais interessantes criações da imaginação popular sobre hagiografia. Refere-se ele ao nascimento e vida de nove irmãs, das quais uma era Marinha. Segundo o publicado por este monge, cerca do ano de 120 d. C. nasceram em Braga, filhas de Lúcio Caio Atílio Severo, Régulo da província romana de Braga e de D. Cálcia Lúcia, nove gémeas. Para se subtrair às sátiras do mundo e à indignação de seu marido, Cálcia concebe a infernal resolução de mandar afogar as meninas, sem exceptuar nenhuma. Comunica o seu execrando projecto à única pessoa que lhe tinha assistido ao parto, Cita, a devota donzela e cristã oculta, depois de a obrigar a guardar o mais rigoroso segredo, e ordenalhe que faça primeiro divulgar a notícia, de que ela tivera um infeliz insucesso no parto, e que, após o recolhimento da família, aproveitando o escuro da noite, saísse do paço e fosse mergulhar as nove meninas, num dos poços do rio Este. …Chegando ao conhecimento destas angélicas meninas o perigo a que tinham estado expostas, quem eram, e qual fora o seu admirável nascimento e a bárbara determinação de sua ímpia mãe, de entregá-las à morte em tempo que apenas entravam na vida, e do modo como Deus, pela sua Divina Providência, as livrara da morte, não só do corpo mas também da alma, por meio do sagrado Baptismo; em agradecimento de tão grandes benefícios, resolveram estas gloriosas virgens, estas santas irmãs, deixar de todo o mundo e habitar juntas na mesma casa, como em clausura, para assim melhor servirem e agradarem a Deus, resistirem com maior fortaleza aos seus inimigos, e crescerem mais na virtude e na castidade com os exemplos umas das outras… Abrasadas estas santas meninas no fogo do amor divino, cada qual por si, e umas na presença das outras, fizeram todas voto de castidade, consagrando a sua virginal pureza àquele soberano Senhor, que as fizera nascer dum tão milagroso parto, e depois de nascidas as livrara da morte, que sua mãe lhes mandara dar, criando-as e sustentando-as até ali, com providência tão particular… Esta foi a criação e a virtuosa vida destas nove irmãs, nos arrabaldes de Braga, onde viveram nove ou dez anos, e com tanta perfeição, como se já estivessem no céu… e finalmente todas cheias de fervorosos desejos de passarem a gozar da presença do seu Divino Esposo, por meio da ilustre palma do martírio, e para o conseguirem dirigiam ao céu fervorosas súplicas. Estas foram atendidas e os seus desejos satisfeitos. Foi por esta ocasião, que se levantou uma cruel e terrível perseguição renovando-se o cruel edito já principiado por Nero, cujo fim era extinguir totalmente do mundo o 13 - Foram designados por “Bolandistas” os jesuítas que deram seguimento ao trabalho de compilação dos dados sobre os santos católicos iniciado pelo sacerdote jesuíta Jean Bolland (1596-1665). Este gigantesco trabalho de recompilação deu origem à obra Acta Sanctorum que possui dezenas de volumes. 14 - Cf. LEITE, José, S. J. (org.) – Santos de cada dia. 4ª ed. Braga: Editorial A. O., 2003, vol. II, p. 160-165- sacerdote Jean Bolland

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

adorável nome de Jesus Cristo em Braga… Logo que este decreto chegou às mãos do Régulo de Braga, mandou-o publicar em todas as cidades do seu domínio… dirigiram-se à casa onde viviam as nove irmãs, e encontrando esta santa comunidade de virgens, certificados de que elas eram cristãs, as levaram presas à presença do Régulo… Com muita alegria caminhavam as santas meninas ansiosas por serem apresentadas no tribunal, para serem julgadas e sentenciadas pelo Régulo, seu pai. Este, apesar de ainda as não reconhecer como suas filhas… lhes fez diferentes perguntas relativas à sua pátria, país e religião que professavam e se estavam resolvidas a dar comprimento ao que mandavam os Imperadores, adorando os deuses… Santa Genebra tomou a palavra e respondeu em nome de todas: A nossa pátria, senhor, é a cidade de Braga; se desejais saber donde descendemos, podeis acreditar que nas nossas veias circula o sangue da principal nobreza desta província; pois que todas somos tuas filhas e de CáIcia tua consorte. Enquanto à religião que professamos sabe que todas adoramos Jesus Cristo, filho de Deus vivo, com quem nos desposamos pelo Baptismo; e que todas estamos resolvidas e prontas a dar o sangue das próprias veias pela confissão do seu santo nome, ainda à custa dos maiores tormentos… e concluiu dizendo: Aqui estamos na tua presença; dispõe de nós como melhor te parecer... Não há termos com que se possa explicar a impressão que esta notícia produziu no coração do Régulo Bracarense... Suspende logo o acto judicial, e manda retirar os ministros, ficando só com as meninas e com Cita, que as acompanhava. Tira-lhes dos pulsos as algemas e conduzindo-as ao interior rio palácio, chama Cálcia, sua mulher, e conta-lhe tudo o que ouvira a Genebra. Cálcia fica cheia de confusão e de medo... Abraçam, uma por uma, as ternas meninas, cobrem-nas de beijos, empregam toda a autoridade e arte para as persuadir que, abjurando o Cristianismo, adorassem os ídolos... Ponderou-lhes a alta qualidade dos seus ascendentes, a abundância das riquezas, o amor e desvelo com que procurariam, para cada uma dignos esposos… Porém as nove meninas, com uma firmeza e constância inabalável, desprezaram todas as promessas, e permaneceram firmes na sua resolução. Vendo o Régulo frustrados todos os esforços… encheu-se de indignação, e parecendo-lhe que acabariam com ameaças, o que não podiam as carícias paternais, começou a prometer martírios, jurando pelos seus deuses que lhes tiraria a vida, à força dos tormentos mais esquisitos... Serenou Cálcia estas furiosas iras de Atílio, e conseguiu dele, a poder de rogos, que se lhes desse algum tempo para considerarem aquilo que deviam escolher, esperando que, como meninas, tomariam outra resolução… e de comum acordo as deixaram sós encerradas num dos salões do seu palácio. Depois que seus pais se retiraram, as nove meninas, prostradas ante a presença do Altíssimo, lhe suplicaram com toda a candura de suas almas angélicas, que lhes inspirasse o modo como haviam de dirigir os seus passos no caminho da vida, e lhes desse constância e fortaleza, para nunca anuírem a tão detestáveis proposições; nem temerem a morte, que por instantes as esperava. As suas preces foram prontamente ouvidas e as fervorosas súplicas favoravelmente despachadas. Lá por entre a escuridão da noite uma brilhante claridade vem iluminar aquela prisão; desce um anjo do Senhor, que vem confortar as suas fiéis esposas naquela tribulação, e, depois de lhes fazer conhecer o perigo, em que estão, de apóstatas da religião santa, lhes intima da parte de Deus a ordem de fugirem, quanto antes, daquela casa, e de seguir cada uma a direcção que o Senhor lhes inspirar. O mesmo anjo, que lhes intimou a ordem do céu, lhes facilitou a saída do palácio, sem que alguém desse conta da ausência delas. Caminharam todas juntas por algum tempo, por entre as trevas e silêncio da noite, até que assentaram entre si apartarem-se umas das outras, e antes de darem mutuamente o abraço da despedida, santa Liberata, levantando as mãos e os olhos ao céu, proferiu a seguinte súplica: Senhor meu Jesus Cristo, que permitistes, nascêssemos todas num dia, e, livrando-nos do trânsito da morte, nos destes nova vida da graça, pedimos-vos, Senhor, pela vossa divina misericórdia, e pelo eterno e incomparável amor com que nos amastes, sejais, meu Deus servido, levar-nos todas ao descanso eterno, e não consintais, meu bom Jesus, que se apartem do caminho da glória aquelas que tão unidas foram enquanto viveram na terra. Todas com o mesmo espírito e com a mesma fé responderam:

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Ámen. Deram os últimos abraços umas às outras, em sinal de recíproco amor, e como quem se despedia para se não tornar a ver na vida mortal, se despediram as angélicas meninas, dirigindo-se cada uma para onde o divino Esposo as encaminhou, e apesar dos esforços empregados pelo pai e pelos domésticos e vizinhos, que foram logo à procura delas, apenas puderam apanhar Santa Quitéria, com algumas pessoas que a acompanhavam, todas as mais conseguiram evadir-se para diferentes terras. Santa Marinha foi encaminhada pelo divino Espírito para a Galiza. Ai, depois de ter servido a uma lavradeira perto da cidade de Orense, foi depois perseguida por ser cristã. Primeiramente a açoitaram até lhe dilacerarem as carnes. Em seguida foi descarnada com pentes de ferro. Depois encarcerada numa escura masmorra, sendo aí visitada e curada por um anjo. Queimaram-lhe depois as costas e os peitos com ferros em brasa, e prendendo-a de pés e mãos a lançaram num tanque de água donde saindo milagrosamente livre foi metida em uma fornalha embravecida com chamas, as quais, separando-se para os lados, nem sequer a tocaram levemente. Foi por isso degolada em Águas Santas, perto da cidade de Orense, na Galiza, onde El-rei D. Afonso o Magno, mandou edificar numa igreja dedicada ao seu culto15. A fornalha com chamas fortes para onde foi lançada converteu-se num dos seus atributos, A escultura de vulto da matriz de Avanca executada na primeira metade do século XVIII, por um hábil artista da Escola do Porto, conforme nos diz a Memória Paroquial de Avanca de 1758, representa Santa Marinha como jovem, de pé e frontal, com o rosto emoldurado por cabelos castanhos que caem em longas madeixas sobre as costas e são ornados por coroa. Tem o rosto de feições alongadas e faces rosadas, a boca pequena e os olhos amendoados, de olhar expressivo e penitente dirigido em frente, que conferem ao seu semblante uma expressão jovem e de vivacidade e, simultaneamente, de forte sensibilidade e alguma fragilidade. Veste túnica de tons azuis ornada, através de um excelente trabalho de estofado polícromo, com motivos florais e dourados, de ampla gola policroma presa, no centro, por florão dourado. A túnica, naturalmente, cobre-a até aos pés, sendo trabalhada em pregueado ondulante, em linhas ligeiramente oblíquas e intercala pregas mais bojudas com outras menos adensas. Os panejamentos conferem um perfil graciosamente arredondado, que corta um pouco a acentuada verticalidade, sem retirar a frontalidade e a leveza do imobilismo da imagem. Colocado sobre os ombros enverga um manto vermelho que se entrelaça no seu braço direito, com fímbria dourada, que caindo sobre os braços, desce até pés, deixando a descoberto a túnica. Também o manto mostra um exímio trabalho de estofado de elementos vegetalistas dourados a par de pontilhismo. Na mão direita mostra uma folha de palma, símbolo da sua pureza e virgindade e a seus pés ostenta a fornalha, símbolo do seu martírio. A mão esquerda segura fortemente contra o seu ombro um livro, demonstrando a sua dedicação em prol das Sagradas Escrituras. Pela sua jovialidade, leveza, delicada expressividade, harmonia entre sensibilidade e perseverança, os traços finos do rosto e das mãos de dedos esguios, o pescoço altaneiro e o trabalho de estofado e pontilhado, no qual se conjuga a policromia de tonalidades azuis, rosas e carmins com dourados, conferindo uma nova alegria cromática, leva-nos a pensar que esta obra terá sido realizada em finais da primeira metade do século XVIII, verificando-se já caraterísticas da imagética rococó.

15 - Retirado de www. bcdp.org. - Santa Marinha, 18 de julho.

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SANTÍSSIMA TRINDADE (TRINDADE TRIUNFANTE) A dificuldade em transpor para a arte o dogma de um Deus Trino e Uno tornou escassas até ao século XII as representações deste Mistério de Fé na arte. O desenvolvimento de uma imagem trinitária fiel ao dogma, simples para os crentes e unanimemente aceite por todos os homens da Igreja foi um processo lento, iniciado nos primeiros séculos do Cristianismo e ainda debatido nos alvores da Idade Moderna. Fazer uma imagem adequada ao dogma trinitário não era uma questão simples, posto que apresentava dúvidas e suscitava debates16. Era difícil dar expressão ao dogma de Deus trino e uno, à Trindade na unidade da natureza17, pelo que a dificuldade do tema justifica a escassez destas imagens e a diversidade e evolução da sua representação, tendo a arte cristã experimentado múltiplas formas para traduzir plasticamente o conceito de três pessoas num só Deus, recorrendo quer a símbolos geométricos ou outros, quer optando, sobretudo, por figurações antropomórficas. Nas primeiras, entre as formas simbólicas de representação artística deste mistério de fé encontram-se o “uso do simbolismo geométrico, particularmente, do círculo e do triângulo18”. Contudo, estas concepções através dos simbolismos, eram artisticamente insuficientes para a representação trinitária, o que levou à necessidade da criação de figurações antropomórficas, também designadas por triândricas, que consistem na representação em que as três Pessoas da Trindade, ou pelo menos, duas delas, o Pai e o Filho, surgem com semblante humano. As primeiras representações começaram a afirmar-se por volta dos séculos X-XI, destacando-se de entre os 16 - HERNANDO, Irene González – Trinidad Trono de Gracia o Trindad Vertical. PDF consultado a 18 de junho de 2017 em https://www.ucm.es/data/cont/media/www/pag-41507/Trinidad_Trono_Gracia_IRENE_GONZALEZ_2010. pdf e BOESPFLUG, François e ZALUSKA, Yolanta - Le dogme trinitaire et l’essor de son iconographie en Occident de l’époque carolingienne au IVe Concile du Latran (1215). PDF consultado a 20 de junho de 2017 em http://www.persee.fr/docAsPDF/ ccmed_0007-9731_1994_num_37_147_2591.pdf 17 - AZEVEDO, Carlos A. Moreia – Iconografia da Trindade na Diocese do Porto, p. 3. 18 - MARTINS, Fausto Sanches – Iconografia do Mistério da Santíssima Trindade, p. 19

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vários tipos desta iconografia as figurações ocidentais da Trindade Tricéfala ou Trindade Trifronte, à maneira da mitologia grega e celta. Se bem que no sentido estrito da palavra a Trindade Tricéfala faça referência a uma figuração que apresenta três cabeças e a Trindade Trifronte à que deve possuir três rostos adjacentes, os dois termos podem ser considerados sinónimos e utilizar-se indistintamente para referir esta tipologia iconográfica. Sendo ambas variantes de uma mesma tipologia iconográfica, surgem representadas quer de corpo inteiro ou quer apenas em busto. No entanto, concretamente, a Trindade Tricéfala apresenta três cabeças independentes que emergem de um só corpo, enquanto a Trifronte é formada por um só corpo e uma só cabeça, possuindo esta três rostos adjacentes, que geralmente apresentam quatro olhos, três narizes e três bocas. Esta figuração insiste na igualdade entre as três hipóstases, donde a identidade perfeita entre Pai, Filho e Espírito Santo, que chegam a compartilhar o mesmo corpo19. O papa Urbano VIII condenou, definitivamente, a representação do Vultus Trifons, através da bula de 11 de agosto de 1628, condenação que veio posteriormente a ser confirmada, em 1745, pelo papa Bento XIV, através da bula Sollicitudini nostrae20. A partir das condenações lançadas sobre as representações trifrontes, a arte ocidental fixou-se nas Trindades Horizontais e Verticais, com a representação de Deus Pai e Deus Filho sob a forma humana e o Espírito Santo, sob a forma de pomba. Como fórmula trinitária plenamente aceite pela Igreja terá ampla projecção, sendo aconselhada na Idade Média como a mais idónea para a representação deste dogma. Assim o determinou e estabeleceu uma bula do papa Bento XIV (1740-1758): As imagens da Santíssima Trindade que são aprovadas e permitidas são aquelas que representam a Deus Pai debaixo do aspecto de um ancião, segundo Daniel (7,9): «Antiquus Dierum siedit» (O Antigo dos Dias); o Filho unigénito, Cristo, sem lugar a dúvidas Deus e Homem (ao mesmo tempo); e entre ambos o Espírito Santo sob a foram de pomba21. Entre estas representações temos a Trindade Vertical, numa alusão à disposição em altura dastrês Pessoas, que é também chamada Trono da Graça, nome de origem bíblica, associado à Epístola de S. Paulo aos Hebreus 4, 16 e atribuído pela historiografia alemã de finais do século XIX22. Apresentando afinidades entre si, nestas interpretações Deus Pai surge entronizado, como

19 - HERNANDO, Irene González – Trinidad Trono de Gracia o Trindad Vertical. PDF consultado a 18 de junho de 2017 em https://www.ucm.es/data/cont/media/www/pag-41507/Trinidad_Trono_Gracia_IRENE_GONZALEZ_2010. pdf e BOESPFLUG, François e ZALUSKA, Yolanta - Le dogme trinitaire et l’essor de son iconographie en Occident de l’époque carolingienne au IVe Concile du Latran (1215). PDF consultado a 20 de junho de 2017 em http://www.persee.fr/docAsPDF/ ccmed_0007-9731_1994_num_37_147_2591.pdf 20 - AZEVEDO, Carlos A. Moreia – Iconografia da Trindade na Diocese do Porto, pp. 4-5; HERNANDO, Irene González – Trinidad Trono de Gracia o Trindad Vertical. PDF consultado a 18 de junho de 2017 em https://www.ucm.es/data/cont/ media/www/pag-41507/Trinidad_Trono_Gracia_IRENE_GONZALEZ_2010.pdf; MARTINS, Fausto Sanches – Iconografia do Mistério da Santíssima Trindade, p. 19. 21 - O texto original, citado por Louis Réau, diz: “Imagines S.S. Trinitatis communiter approbatae et tuto permittendae illae sunt, quae personam Dei Patris exhibent in forma viri senis, desumpta ex Daniele (7,9): Antiquus Dierum sedit; in ejus autem sinu unigenitum ipsius Filium Christum videlicet Deum et hominem et inter utrosque Paraclitum Spiritum Sanctum in specie columbae”, cf. HERNANDO, Irene González – Trinidad Trono de Gracia o TrindadVertical. PDF consultado a 18 de junho de 2017 em https://www.ucm.es/data/cont/media/www/pag-41507/Trinidad_Trono_Gracia_IRENE_GONZALEZ_2010.pdf 22 - O termo «Trono da Graça» (Thronum Gratiae) é de procedência bíblica, sendo empregue nas Sagradas Escrituras para se referir a Cristo, que se compadece das fraquezas humanas e a brinda com a Sua misericórdia. O historiador alemão KRAUS, F. X. (1897): Geschichte der christlichen Kunst, Fribourg-en-Brisgau, vol. LII/1, p. 390, recupera este termo para o aplicar à iconografia trinitária mencionada. A partir daí popularizou-se entre os historiadores, cf. HERNANDO, Irene González – Trinidad Trono de Gracia o Trindad Vertical, 2010, consultado em 18 de Junho de 2014, disponível em https:// www.ucm.es/data/cont/media/www/pag 41507/Trinidad_Trono_Gracia_IRENE_GONZALEZ_2010.pdf

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um ancião barbado, com ricas vestes e coroado. Sustenta nas mãos a cruz com o Filho crucificado, que apresenta como sinal de Graça. Entre ambos, aparece o Espírito Santo, sob a forma zoomórfica de pomba, figura sob cuja aparência se manifestou o Espírito Santo, no Baptismo de Cristo, que é a predileta e usualmente usada na representação da Santíssima Trindade. Inseridas nas figurações antropomórficas, surgem também no Ocidente, sobretudo em representações pictóricas, aTrindade Horizontal, que apresenta as figuras do Pai e do Filho, colocados lado a lado e ao mesmo nível, equidistantes do Espírito Santo que se encontra no centro, figurando o Pai como um venerável ancião, o Filho como o Ressuscitado, mostrando o Seu gorioso corpo, e o Espírito Santo mantendo a sua forma de Pomba. Esta fórmula, aprovada pelas orientações emanadas do Concílio de Trento (1545 a 1563), teve larga fortuna e prolongou-se no tempo até aos nossos dias23. Constituindo um grupo escultórico agregado da figuração da Santíssima Trindade, a imagem da matriz de Avanca integra-se na fórmula iconográfica da Trindade Horizontal, sob a variante iconográfica denominada Trindade Triunfante. Esculpida na passagem do primeiro para o segundo quartel do século XVIII, a imagem patenteia uma qualidade plástica e uma proximidade no tratamento que a aproxima aos modelos produzidos no período do barroco joanino, nas oficinas portuenses e revela a qualidade do artista que a executou. Em madeira dourada, e alguma ligeira policromia estofada nos panejamentos, representa sentados, lado a lado sobre nuvens, o Pai, que figura como o Ancião dos Dias, o Filho, que se apresenta como o Cristo Ressuscitado e, entre eles, a pomba, representativa do Espírito Santo, envolta num resplendor. Envoltos num resplendor radiante, de raios setiformes, figuram à direita do observador o Pai e, no lado oposto, o Filho, sentados sobre densa formação de nuvens, de onde emergem cabeças de anjos, que é flanqueada por dois joviais putti, cobertos apenas por um panejamento esvoaçante e olhar voltado em contemplação para a Trindade Celeste. Assumindo um olhar de contemplação semelhante, as figuras do Pai e do Filho surgem em majestade e frontais, com a cabeça expressivamente inclinada para o centro, para onde convergem o olhar. Deus Pai figura como ancião, de rosto enquadrado por longas barbas e cabelo comprido, trabalhados em ondeado de modelação vigorosa. As feições são serenas e de traços finos, com a boca bem delineada, maças do rosto salientes e nariz afilado. Veste túnica, cingida por cordão à cintura, ricamente estofada com motivos fitomórficos e debruada a ouro, que cai num jogo de pregueado movimentado que se entrecruza junta à orla, e que habilmente modelado indicia a leveza do tecido. Enverga ainda um manto igualmente com decoração de denso padrão de ramagens em estofado, que passando sobre o antebraço esquerdo atravessa a imagem, em vincadas pregas ritmadas. O Pai Celeste, Criador de todas as coisas, tem o braço esquerdo elevado pois deveria sustentar outro atributo, eventualmente, um cetro e o direito decaído, com a mão pousada sobre o globo terrestre. Cristo, Verbo Eterno, surge com o rosto de feições jovens, enquadrado por cabelos a cair sobre as costas e os ombros em madeixas ondeadas e barba bifurcada. Com um semblante semelhante ao Pai, possui nariz afilado, maças do rosto salientes e boca bem delineada. Sinal da Sua realeza e da Sua ressurreição, enverga um amplo manto, de decoração vegetalista estofada, que trabalhado em pregueado ondulante envolve com elegância o Seu glorioso corpo, onde são visíveis, nas mãos e nos pés, as marcas deixadas pelos cravos da crucifixão. Com o braço direito 23 - AZEVEDO, Carlos A. Moreira – Iconografia do Espírito Santo: da experiência variada de uma presença às fórmulas figurativas. In SERRÃO, José Vicente (Direcção) – Em Nome do Espírito Santo – História de um Culto. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Janeiro de 2004, p. 131.

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elevado acima do nível da cabeça, sustenta na mão uma cruz latina, de longa haste, como sinal da sua morte redentora enquanto a esquerda repousa sobre o peito. A separar as duas figuras divinas encontra-se um volumoso globo como símbolo do triunfo da ação redentora que libertou o mundo da escravidão do pecado. O conjunto apoia-se sobre um aglomerado de nuvens que se desenvolvem em intensas espirais. Ao centro, entre as duas figuras e num plano elevado, encontra-se o Espírito Santo que, numa representação preferida pelos artistas ao longo dos tempos, surge na sua figuração zoomórfica sob a forma pomba. A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, figura em posição frontal, com amplas asas abertas e cauda em leque, trabalhadas com o sentido de proporção próprio da imagética de setecentos, envolto por teoria de anjos e nuvens, e cercado por resplendor de raios. O grupo escultórico torna-se, assim, um conjunto muito equilibrado, de composição com vincada simetria, denotando uma harmonia entre a representação corpórea e a aura espiritual e devocional que emanam. O grupo encontra-se envolvido por um magnífico resplendor em forma de mandorla. Deste modo se realiza o devido destaque à representação do triunfo da Trindade, obtido pela Paixão morte redentora de Jesus sobre a cruz e a sua Ressurreição, aspetos devidamente assinalados. Toda a escultura se encontra talhada em madeira dourada, cor própria da divindade, com um ligeiro estofado nos panejamentos que comungam da leveza das figuras. Apesar de ser a obra mais antiga das versadas neste nosso artigo, patenteia uma grande qualidade e as próprias figuras mostram uma representação muito delicada, afastando-se das figuras bonachas e dos rechonchudos meninos muitas vezes encontradas neste período.

NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO Escultura de vulto pleno da Virgem com o Menino Jesus ao colo, sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário. Recebeu este título devido à visão do frade dominicano Alain de la Roche, a qual a relatou na obra intitulada De Utilitate Psalterii Mariae (1470). Aquele frade visionou a

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aparição da Virgem a São Domingos de Gusmão, em 1208, na Igreja de Prouille, na qual a Virgem lhe entrega o seu rosário, a que São Domingos chamou «coroa de rosas de Nossa Senhora» e a este atributo atribuiu a vitória sobre a heresia dos albigenses24. Assim, a ampla expansão do seu culto deve-se à influência dos dominicanos, nomeadamente a Jacques Sprenger, prior do convento de Colónia, que instituiu a primeira Confraria do Rosário, em 1475, sendo aprovada três anos mais tarde por Bula pontifícia. Os dominicanos tornaram-na uma das suas principais devoções, tornandose obrigatória a existência de uma capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário em cada convento, e as Confrarias do Saltério muto contribuíram para a sua expansão, bem como a influência do Papa Pio V que atribuiu ao Arcanjo Miguel e à Virgem do Rosário o milagre da vitória dos Cristãos contra os turcos otomanos no Oeste da Europa na Batalha de Lepanto (1571)25. Tal como as restantes esculturas em análise, a qualidade e caraterísticas formais permitem-nos a sua atribuição a um dos conceituados mestres da escola do Porto, como aliás o refere o pároco memorialista. De pé, a Virgem surge sobre nuvens decoradas com uma teoria de cabeças de anjos de asas policromas que A olham diretamente. Com a perna direita fletida e o corpo em torção envolvido pelo exuberante movimento do pregueado das vestes, primorosamente estofadas de forma a imitarem têxteis da época, luxuosamente ornados, como as sedas, conferem-lhe o dinamismo que marca as representações imagéticas desta época. A cabeça, coroada, apresenta-se descoberta, ligeiramente inclinada para a esquerda e emoldurada por longa cabeleira trabalhada em fortes madeixas, que caem sobre as costas. O rosto inclinado para a sua esquerda, sobre um alongado pescoço, de feições expressivas, exibe o realismo caraterística das imagens que já apresentam uma linguagem rocaille, nele se destacando uma delicadeza, refinamento e uma candura que o olhar ternamente dirigido ao Menino acentua. Os dedos esguios, abertos e delicados conferem aquelas caraterísticas estéticas. Sobre a cabeça possui uma coroa real, metálica, fechada, com quatro hastes e rematada por uma cruz. Veste túnica comprida, salientada a dourado, ricamente decorada com estofado de folhagem e motivos florais policromos, que cai em pregueado leve, delicado e ondulante sobre os pés, conferindo um movimento de enlevo à imagem. Lançado sobre as costas, enverga um manto azul, contornado com fímbria dourado e decorado com estofado com folhas e flores a ouro, que estruturado em pregueados sobrepostos releva um movimento agitado e esvoaçante. Cobrindo parcialmente o corpo, o manto entrelaça-se sobre os braços, com as pontas presas. A Virgem apoia-se sobre um aglomerado de nuvens de formato esférico, das quais sobressaem três cabeças de anjos cujas asas apresentam duas cores correspondentes às mais altas ordens angélicas: o vermelho dos serafins e o azul dos querubins. Os anjos erguem a cabeça para o alto em direção das personagens conduzindo deste modo o olhar do observador para as duas personagens principais. Por sua vez, o menino Jesus, apoiado nos braços de sua mãe, voltado para o seu rosto e segurando ternamente nas suas vestes e está representado despido, caraterística que acentua a sua natureza humana. Possui cabelos dourados e, sobrepujando a cabeça, um resplendor metálico de forma circular, ornamentado com uma gema vermelha, ao centro. As figuras encontramse corretamente proporcionadas e apresentam carnações corretas e cores vivas. Um olhar de 24 - RÉAU, Loius – Iconografía del Arte Cristiano. Iconografía de los Santos. 2ª ed. Barcelona: Ediciones del Serbal, 2000. Tomo 2/Vol. 3, p. 394-398. 25 - ZANON, Darlei – Devoções a Nossa Senhora. História e orações de 325 títulos marianos. Lisboa: Paulus Editora, 2009, p. 307 e LEANDRO, António Cruz – “Trilhos do Património. O retábulo-mor da Igreja Paroquial de São Simão de Oiã: elementos iconográficos”. Jornal da Bairrada, Ano LXVI, nº 2421 de 3 de agosto de 2017, p. 31.

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ternura perpassa entre a Mãe e o Filho, caraterística humana que o artista procurou salientar ao mesmo tempo que a atitude da Virgem indica aos fiéis que o seu Filho deve ser o centro da fé dos crentes sendo ela, sob a invocação de Senhora do Rosário, apenas o caminho para Jesus. Um longo terço do Rosário, rematado por crucifixo, pende das mãos da Virgem, constituindo o principal atributo desta iconografia.

ARCANJO SÃO MIGUEL De uma inúmera corte de anjos, sete arcanjos distinguem-se de forma individual por partilharem a Glória de Deus e entrarem na Sua presença, sendo identificados por um nome acabado em el – Deus, bem como por atributos e funções específicas. Destes, destacaram-se por surgirem nomeados em episódios centrais da Bíblia, São Miguel, São Gabriel e São Rafael, que, sendo os únicos arcanjos reconhecidos pela Igreja, assumiram uma maior importância devocional e, em consequência, na sua representação artística. O Arcanjo Miguel, cuja relevância teologal e devocional é logo sugerida no significado do seu nome “Quem como Deus” (Quis ut Deus?), destacase pelas múltiplas e extraordinárias funções que lhe são conferidas e que determinam, também, as suas variantes iconográficas. É o grande defensor da Fé, “Príncipe das Milícias Celestes” e vencedor de Satanás e dos anjos rebeldes, e a sua popularidade, adquirida ao longo dos séculos, é devido também ao papel que desempenha no juízo particular das almas, pesando-as. É ainda tido como guardião do Paraíso e defensor e condutor das almas. Todas estas funções aumenta o seu destaque, principalmente, a partir do século XVII pela arte religiosa da Contra-Reforma, particularmente nesta última função. Na ausência de mais informações relacionadas com a encomenda da imagem, para além das acima referidas, o que se destaca desde logo neste São Miguel é a qualidade escultórica, indicativa de um artista erudito, e o seu acentuado barroquismo, presente na forma como é

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trabalhada a figura, de proporções harmoniosas, com linhas contrastantes e angulosas conferidas pelas posições dos braços em relação à linha corporal, no jogo dinâmico das vestes com os panejamentos bastante agitados, a requintada modelação e o contraste de emoções emanadas por São Miguel e a sua própria ação e entre as oposta expressividade do diabo e do arcanjo . Representado em pleno equilíbrio, o Arcanjo eleva-se em pose vincadamente arqueada sobre a figura do Demónio, mantendo recuado o pé direito, em contraposto à perna esquerda fletida e em avanço, conferindo uma torsão ao corpo, acentuada pela inclinação da cabeça para o lado esquerdo. O rosto sereno, de feições jovens delicadas, é emoldurado por farta cabeleira ondulada, parcialmente oculta pelo exuberante elmo de plumas inclinadas. Enquadrado por amplas asas abertas, ostenta na cabeça um elmo de três plumas e veste o traje de guerreiro nesta representação composto por túnica curta sobre a qual enverga couraça, o traje que lhe será mais comum após o período Maneirista e comum no período Barroco. O traje é enriquecido por uma gramática decorativa diversificada de refinados ornatos a ouro, e pela plasticidade, fortes pragueados e dinamismo dos panejamentos, que conferem a ideia de movimento agitado típica do Barroco, através de um profuso estofado de policromia diversa e luxuriante. Nos pés calça botas fechadas, usuais nas suas primeiras representações, até finais do primeiro quartel de setecentos26. Evidenciando simbolicamente a luta do Bem contra o Mal, o comandante das milícias celestes, tem o braço direito erguido empunhando na mão uma espada, pronta a desferir o golpe no Demónio, apesar de nem dirigir o olhar ao Demónio, modelo iconográfico que obteve sucesso em obras mais eruditas, em substituição da popular lança. Na mão esquerda, São Miguel segura a balança, atributo que vindo do Românico e do Gótico com um sentido escatológico, se mantém até aos nossos dias, embora desde o Renascimento e particularmente durante o período Barroco, investida de um novo sentido alusivo ao juízo individual e não à consumação dos tempos. É o destaque da função de Miguel como aquele que pesa as almas, para avaliar se são dignas de entrar no reino celeste, em detrimento da sua função de condutor e guia das almas. O jovem mensageiro celeste, cujo semblante deixa transparecer a tranquilidade e o sorrido dos íntegros, pisa o Demónio cuja figura deitada sob os seus pés, não se apresenta como um monstro hediondo, mas com um caráter mais humanizado muito embora com asas de morcego e cauda de réptil, contribuindo assim, para o identificar com o dragão combatido por São Miguel tal como é descrito no livro do Apocalipse. Contrapondo as carnações rosadas de São Miguel, Satanás possui a pele muito escura, indicando que pertence às regiões sombrias das profundezas terrestres. A parte inferior do corpo com pernas e pés de bode, reproduz a dos sátiros da iconografia pagã, a qual originou precisamente grande número de representações do Demónio. Esta iconografia, vinda do Renascimento, vai-se manter no período barroco, no qual coexistem as duas representações, inclinando-se a tradição erudita para um demónio antropomórfico e a tradição popular para um demónio animalesco, o que demonstra uma vez mais a qualidade da imagem da matriz de Avanca, com um sentido estético mais evidente do barroco joanino.

26 - Cf. CAMPOS, Adalgisa Arantes – “São Miguel, as Almas do Purgatório e as balanças: iconografia e veneração na Época Moderna”, in Memorandum 7. outubro de 2004, pp. 102-127. Retirado em 23/ 03/ 2010, do World Wide Web: http:// www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos07/campos01.htm

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CRISTO MORTO A escultura de Cristo morto, tal como as outras imagens em apreço, foi produzida na primeira metade do século XVIII por um artista que sabemos ser da Escola do Porto, como é referido nas Memórias Paroquiais onde see diz serem estas esculturas obra de “insignes esculptôres, e pintores portoênses”. O Cristo Morto é uma escultura de vulto pleno em madeira dourada e policromada, sendo uma imagem processional usada na procissão do Enterro do Senhor, a última manifestação do ciclo narrativo da Paixão e Morte do Senhor, a qual ainda atualmente se realiza nesta paróquia. É o único período em que a imagem sai ao olhar público, encontrando-se guardada durante o resto do ano litúrgico. Iconograficamente, a imagem representa Cristo morto, apresentado o corpo distendido sobre um esquife, após o descimento da cruz e pronto para ser sepultado. Vinda dos primórdios da Idade Média, a tradição da procissão do Enterro do Senhor, deve-se a práticas fúnebres e meditações místicas de origem bizantina, que se intensificaram a partir do século XIII por influência franciscana. A imagem, executada para integrar esta manifestação de Fé católica, é uma peça de excelente escultura saída das mãos de hábeis artistas, onde são visíveis os atributos necessários à encenação da morte, nas marcas deixadas pelos maus tratos infligidos no decurso das dolorosas horas dos Passos da Paixão. Na imagem, Cristo figura com a cabeça coberta por longa cabeleira e rosto com carnação de tonalidades pálidas, marcado pelos sulcos provocados pela coroação de espinhos e pelas marcas dos padecimentos a que foi sujeito. Tem os olhos fechados e os lábios pintados numa tonalidade escura, conformando a Sua morte. No corpo, de tratamento anatómico cuidado, apenas coberto por perizónio branco, trabalhado em amplo e requintado pregueado, salientam-se as chagas e feridas das quais escorre abundante sangue, que acentuam o dramatismo do momento e apelam ao sofrimento de Cristo, próprio do momento. As mãos e os pés estão marcados pelos cravos com os quais foi pregado à cruz. O pragueado do único elemento aposto ao corpo falecido, o trabalho do rosto denotando um amplo sofrimento e a precisão da marca das chagas bem acompanhadas pelo sangue derramado pela humanidade demonstram a caraterística típica do barroco joanino dos sentimentos exacerbados sejam eles de alegria ou tristeza ou, neste caso, de profundas sevícias físicas, morais e espirituais.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

FORAL DE ANTUÃ: DOCUMENTOS AUTÊNTICOS QUE O TROUXERAM ATÉ HOJE Norvinda Leite * Nota Introdutória: A história dos municípios e a história das instituições religiosas vem-se cruzando ao longo dos tempos. As suas atividades fundem-se e confundem-se, e não podemos compreender umas sem antes procurarmos a compreensão das outras. A maioria delas evoluiu intrinsecamente ligadas. E a história do concelho de Estarreja dá-nos prova disso. Aproximamo-nos a passos largos dos 500 anos da atribuição do Foral Manuelino ao concelho de Antuã. O Concelho de Antuã, foi também uma das terras a quem D. Manuel I, em 15 de novembro de 1519, concedeu privilégios, tanto aos seus moradores, como aos seus senhorios, nesta caso o Mosteiro de Arouca, livrando-os de feudos e vassalagens senhoriais, cimentando normas comunitárias baseadas no equilíbrio, na justiça e na paridade a que todos tinham direito1. O propósito de tal seria fazer valer e cumprir o que nele estava estabelecido, funcionando com eficácia de lei. As Cartas de Foral eram, por regra, escritas em três exemplares, um para Arquivo da Torre de Tombo, que servia como balança em casos de abusos e deturpações dos demais, outro para o senhorio beneficiário dos privilégios e o outro para a Câmara do concelho a que dizia respeito o referido Foral. Desconhecemos o paradeiro de qualquer um dos três exemplares originais que foram manuscritos. De forma que, na falta deles, resta-nos apoiar-nos nos documentos que ao longo dos tempos os transcreveram e lhes dão fé. Localizamos dois documentos autênticos que transcrevem o Foral de Antuã, e são estes que aqui vamos apresentar também de forma transcrita. Apresentamos os dois documentos porque, em cada um deles, encontramos especificidades que, dependendo das áreas de estudo, poderá haver interesse analisar. Pretendemos com isto promover a sua divulgação pública e, ao mesmo tempo, incentivar a comunidade à sua análise e estudo, para melhor compreensão da verdade histórica deste espaço. Será, por certo, e caminhando na mesma linha de atuação que temos vindo a seguir com a publicação de artigos nesta ilustre revista, mais uma peça, esta crucial, para juntar ao já tão composto, puzzle da nossa história. Por certo também, daqui a dois anos, celebraremos o meio milénio do grande marco da nossa histórica e, com orgulho, já com um conhecimento mais profundo do seu conteúdo.

* Arquivista. Licenciada em Estudos Europeus, Pós Graduada em Ciências Documentais - Variante Arquivos. Autora de vários artigos publicados nesta Revista divulgadores de fontes que documentam a história de Estarreja. 1 - Os Forais do Burgo e de Arouca. Filomeno Silva. Pág. 9.

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Doc.1] - Foral do lugar e concelho D’Antuã do Mosteiro d´Arouca dado pelas Inquirições

Ilustração 1- Primeira página do documento

Transcrição da Fonte Documental: [fol.243, col.b)] Foral do lugar e concelho D’Antuaã do mosteiro daRouca dado pellas Inquirjções. Dom Manuel e Etc. Mostrase pollas ditas Inquirjções que particularmente mandamos justificar com as partes que no dicto lugar terra e concelho tem o dito moesteiro casaaes antigamente aforados a foro certo de pam e outros foros segundo sam declarados em seus emprazamentos aos quaes casaaes sam apropiados e lemitados suas terras e serventias assy de pam vynho casas ortas e outras cousas segundo sempre teveram e estam em posse. E assym mandamos que ao diante ussem sem outra mudança nem em novaçam assy dos ditos foros das novidades como das lutosas e gayosas segundo for declarado nos ditos prazos. ¶ E por quamto allem das terras limitadas aos dictos casaães no dito concelho se mostra aver outras terras e matos maninhos que nam Jaziam nas demarcações dos dictos casaães dos quães se pagavam hy octavo sempre das novidades que nelles os dictos caseiros e moradores colhyam sem mais outra estimaçam nem obrigaçam salvo quando assy os lavravam sem embargo da qual posse o mosteiro per suas abade// [fol. 243v, col a)] sas e mordomos os quis obrigar e obrigou a fazerem prazos em vidas dos ditos maninhos por cousa certa da qual cousa os moradores do dito concelho se nos agravarom dizendo que estando na dita posse posse os forçaram della.

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E pois os casaees principais da dita terra eram e sam todos dantigamente aforados em fatiota a cousa certa menos Rezam seria fazerem prazos em vida dos maninhos que sempre romperam e pagavam doctavo como dito he pella qual Rezam avemos per bem e mandamos que os ditos prazos que sam asy feitos em vidas nam ajam efeitos e sejam nenhuns e tornem a pagar oytavo como dantes pagavam asy dos matos bravos como das lezíras quando se lavrarem. E queremdo as partes per seu prazer tomar os ditos prazos em [fatiota] segundo sam os outros originaaees da dita terra. Decraramos que os possam fazer. E isto sem nenhuma apressam, nem constrangimento que lhe seia nisso feyto. E quando cada huns dos ditos prazos se quiserem vender ou transmudar seram requeridos os mordomos do dito mosteiro se os querem pollo preço. E nam os querendo se pagará ao dicto Mosteiro a quorentena do dito preço pollo vendedor ou comprador segundo se as partes concertarem. E quanto a gayosa contheuda nos prazos antigos de que se paga huma porca ou huma ovelha ou cabra decraremos que apaga ou escolha della será no pa// [fol. 243v, col b)] gador qual dellas elle ante quiser posto que atee qui doutra maneira se pagase. ¶ E adita gayosa nem lutosa se nam pagara no lugar de veiros do dito concelho polla antiga liberdade e prjvilegio que disso tem. 3 E tem mais o dicto moesteiro na dita terra moendas aforadas por particulares prazos segundo ao diante pagaraão como atee quy pagavam sem outra mudamça. E de Casaaes do belido da see do porto e de paços de sousa que sam no dicto concelho a alem de pagarem a seus senhorios e igreijas o que lhe sam obrigados pagarem ysso mesmo o direyto que estam em costume de pagar do montado ao dito moesteiro em nome del Rey e de quem o tem. ¶4 As pensooeens dos tabaliaaees se pagam em aveiro segundo pagam os tabaliaaees comarcaãos. 5 Tem mais o dito mosteiro por dereito Reall o gado do vento segundo nosas ordenaçoões com declaracam que apessoa a cujo poder for ter o gado a venha screver dahy a oyto dias com a pessoa que pera ysso sera ordenada so pena de lhe seer demandado de furto. 6 A pena darma he do merinho apresentado pollo moesteiro de três em três atee nove e inleyto pollo comcelho a qual pena se levara se a demandar a três dias. $ Duzentos Reaães e a arma perdida com esta decraraçam que a dita pena se nam levara quando algumas pessoas a punha// [fol. 244, col. a)] rem espada ou qualquer outra arma e etc. Todo o mais deste capitollo atee ho fin delle e asy a portagem per causas contodollos capitollos e adiçooes e decraraçoões atee o fim do capitollo da pena do foral he este lugar dantoaã como no lugar damgeia dada em anosa cidade devora aos xv dias do mês de novembro de mil e quinhentos e dezanove. Vai scrito o original em dazaseys folhas e meya comcertado por mym fernam de pina. 2

1519 NOVEMBRO, 15 - Évora – Dom Manuel I concede Carta de Foral ao lugar e concelho de Antuã do mosteiro de Arouca. B) Arquivo Nacional Torre do Tombo | Leitura Nova | Livro 47, Livro dos Forais Novos da Estremadura. FL 243, 243V, 244 - Escrita Gótica Libraria. Pergaminho. Iluminado. 2 - À Margem direita “Casa da Igreja” 3 - À Margem direita “Moendas” 4 - À Margem direita ”Taballiaães” 5 - À Margem direita “O Vento” 6 - À Margem direita “ Pena Darma”.

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[Doc. 2] - Treslado Autentico do Foral dado ao concelho de Antuã e Estarreja por D. Manuel I

Ilustração 2- Capa do Documento

Transcrição da Fonte Documental: [fl.1r] Dom Pedro por graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em Africa, Senhor da Guiné e da Conquista, navegação, comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da India, etc. Faço saber, que por parte do Procurador Geral da Ordem de São Bernardo, me foi apresentada huma sua petição do theor seguinte: - Diz o Procurador Geral da Ordem de S. Bernardo, que para bem de sua justiça, lhe são necessários da Torre do Tombo os treslados de algumas doações, privilégios, e outros papeis tocantes aos conventos de sua Religiam, assy de Religiozos, como Religiozas: Pede a Vossa Majestade lhe faça Merçê mandar passar provizam para da Torre do Tombo se darem ao suplicante os traslados que apontar de quaisquer doações, privilégios, e outros documentos pertencentes aos Mosteiros dos Religiozos, e Religiozas de sua congregação e receberá merce, a qual petição sendo vista por mim no meu Desembargo do Paço fui servido deferirlhe mandandolhe passar a provisão nella pedida, de que outros sy o Treslado he o seguinte:

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- Dom Pedro por graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em [fl.1v] África, Senhor da Guiné etc, mando a vos Guarda Mor da Torre do Tombo, que deis ao Procurador Geral da Ordem de São Bernardo, contendo na petição atras escrita, os treslados dos papeis, de que nella faz menção, os quais lhes dareis na forma das provisões passadas para se darem semelhantes treslados. E pagou de novos direitos trinta reis, que se carregarão ao Thesoureiro deles, a folhas duas verso do livro primeiro de sua receita, e se registou o conhecimento em forma no livro primeiro do registo geral, a folhas duas verso. El Rey Nosso Senhor o Mandou pelos Doutores João Lamprea de Vargas, e Diogo Marchão Themudo, ambos do seu conselho e seus desembargadores do Paço André Rodrigues da Silva a fes em Lisboa a seis de julho de mil seiscentos e noventa e quatro. Joseph Fagundes Bezerra a fes escrever, a qual provisão sendo passada pella chancelaria foi apresentada ao Guarda Mor da Torre do Tombo e em virtude della se buscarão os livros do mesmo Archivo, e no que tem por titulo: Livro dos Foares Novos da Comarqua da Estremadura, que está na casa da coroa a folhas duzentos [fl.2r] duzentos e quarenta e três está a carta de Foral do Lugar e conselho de Antoaa, apontada e pedida pelo dito Procurador Geral da Ordem de São Bernardo do theor seguinte: “Foral do lugar e Conselho Dantoaa do Mosteiro Daroouca dado pellas Inquirições. Dom Manuel per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves, daquem e dalem mar em África Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Comércio de Itiópia, Arábia, Persia e da India [etc]. A quantos esta nossa Carta de Foral dado ao Lugar e Conselho Dantoaâ do Mosteiro Darouca virem fazemos saber que nos vendo como o officio do Rey não he outra couza senão reger bem e governar seus súbditos em justiça e igualdade a qual não he somente dar a cada hum o que seu for, mas ainda não deixar adquirir nem levar, nem tomar a ninguém senão o que a cada hum diretamente pertença, visto isso mesmo como o Rey he obrigado por o carrego que tem nas couzas em que sabe seus vassalos recebem aggravos e males lhes colher e tirar posto que polos danificados [se querendo] não seja querendo nós satisfazer no que a nos for possível com o que somos obrigados, vindo a [fl.2v] a nossa noticia que assim na nossa Cidade de Lisboa, como em muitos lugares de nossos regnos e senhorios por serem os foraes que tinhão de mui longos tempos, e os nomes das moedas e intrinsico valor dellas se nom conheciam, e por assim nom poderem ser entendidos assim por muitos deles estarem em latim e outros em linguagem antiga e desacostumada se levava e pagava por eles o que verdadeiramente se não devia pagar, e querendo tudo se remediar com toda a clareza e verdade se faça mandamos trazer todollos foraes da cidades, villas e lugares de nossos Regnos e outras escripturas e tombos porque nossas rendas se arrecadão, e entregar em nossa Corte ao Doutor Ruy Botto ao nosso Conselho e nosso Chanceller Mor, e ao doutor Joam façanha do nosso desembargo, e mandamos vir com os ditos foraes e escripturas, inquirições e autos que em todollos sobreditos lugares mandamos publicamente tirar do modo e maneira em que se os ditos nosso direitos e rendas tiravão, e de como as [sohiam] dantes recadar juntados para isso os Conselhos, e assim as pessoas que os taes direitos pagavam ou de nos tinhão, pera todos verem as ditas justificações e exame, e peras cada hum por sua parte alegar o que quisesse e mandamos [fl.3r], mandamos buscar nossos tombos e recadações antigas, e em outras partes onde nos pareceo que alguma cousa se poderia sobre este caso achar que pera declaração e dos ditos foraes podesse aproveitar, e assim mandamos ver per direito algumas dúvidas que nos parecerão necessárias se verem primeiramente aserca dos ditos forais e direitos reais, as quais mandamos ver por todollos Desembargadores, e Letrados dambas as nossas cazas da Supplicação e do Cível e as sobreditas duvidas forão por eles todos determinadas

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e per nos aprovadas e assinadas por bem das quais todalas pessoas de nossos Regnos e semelhantes dereitos e couzas levarão Foral judicialmente ouvidos com nossos povos perante o ditto Chanceller Mor, e Diogo Pinheiro Vigário de Thomar, e administrador perpetuum do Mosteiro de Crasto Davelans, e João Pires das Cuberturas Cavaleiro da Ordem Davis, e Comendador de Santa Maria da Villa, na Villa de Montemor o Novo e de Santiago Dalfayates doctores in utro que jure, e per o Lecenciado Ruy da Graâ do nosso Desembrago, e Desembargadores dos Aggravos em a nossa caza da suplicação e per eles foram determinadas as duvidas [fl.3v] duvidas que em cada hum Lugar e Foral havia por bem das ditas determinações e por huma declaração que mandamos fazer aserca da valia das moedas per a qual mandamos vir de cada huma das comarcas de nossos Regnos hum Procurador por toda a Comarca os quaes procuradores foram juntos em a nossa Corte, e em a nossa presença presente alguns grandes de nossos Regnos e Prelados deles, e com os do nosso Conselho e Letrados, determinamos acerca das ditas moedas o que se por ellas devia e haja de pagar, segundo na Ley que sobre isso fizemos claramente he conteudo, e visto assim o Foral verdadeiro e antigo do ditto lugar e conselho dado pelas inquirições, e vistos os ditos exames e diligencias e determinações assima declaradas achamos que nossa rendas e direitos se devem de pagar e arrecadar no sobredito lugar e conselho na forma e maneyra que adiante neste foral vai declarado, no qual posto que algumas cousas vão em alguma maneyra diferençadas na paga dellas mesmas por respeito dos Lugares donde vem, isto se fez porque por muy antigo tempo se achou que sempre se assim arrecadarão no dito lugar [fl.4r] Lugar e Conselho sem nenhuma contradição do se ao diante segue. Mostrase pollas ditas Inquirições que particularmente, mandamos justificar com as partes que no Ditto Lugar terra e Concelho tem o dito Moesteiro casaaes antigamente aforados a foro certo de pam e outros foros segundo sam declarados em seus emprazamentos aos quaes casaaes sam apropiados e lemitados suas terras e serventias assy de pam vynho casas ortas e outras cousas segundo sempre teveram e estam em posse. E assy, mandamos que ao diante ussem sem outra mudança nem em novaçam assy dos ditos foros das novidades como das lutosas e gayosas segundo for declarado nos ditos prazos. E por quamto allem das terras limitadas aos dictos casaães no dito concelho se mostra aver outras terras e matos maninhos que nam Jaziam nas demarcações dos dictos casaães dos quães se pagavam hy octavo sempre das novidades que nelles os dictos caseiros e moradores colhyam sem mais outra estimaçam nem obrigaçam salvo quando assy os lavravam sem embargo da qual posse o mosteiro per suas abadeças e Mordomos os quis obrigar, e obrigou a fazerem [fl.4v] prazos em vidas dos ditos maninhos por cousa certa da qual cousa os moradores do ditto conselho se nos aggravarom dizendo que estando na dita posse os forçaram della, e pois os casaees principais da dita terra eram, e sam todos dantigamente aforados em fatiota a couza certa menos Rezam seria fazerem prazos em vida dos maninhos, que sempre romperam e pagavam doctavo como ditto he polla qual Rezam havemos por bem e mandamos que os dittos prazos que sam assy feitos em vidas nam hajam efeitos, e sejam nenhuns, e tornem a pagar oytavo como dantes pagavam, assy dos matos bravos como das Lezíras quando se lavrarem, e querendo as partes per seu prazer tomar os ditos prazos em fatiota segundo sam os outros originaes da ditta terra Decraramos que os possam fazer, e isto sem nenhuma apressam nem constrangimento que lhe seja nisso feyto. E quando cada huns dos ditos prazos, se quiserem vender, ou transmudar seram requeridos os Mordomos do dito Moesteiro se os querem pollo preço, e nam os querendo se pagará ao dicto Moesteiro a quorentena do dito preço pollo vendedor ou comprador [fl.5r], segundo se as partes concertarem.

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E quanto a gayosa contheuda nos prazos antigos de que se paga huma porca ou huma ovelha, ou cabra decraramos que a paga, ou escolha della será no pagador qual dellas elle ante quizer, posto que ate qui doutra maneira se pagase. E a ditta gayosa, nem lutosa se nam pagará no lugar de Veiros do dito concelho polla antiga liberdade e privilegio que disso tem. 7 E tem mais o ditto Moesteiro na ditta terra moendas aforadas per particulares prazos segundo ao diante pagarão como ateequi pagaram sem outra mudança. 8 E os Casaaes do Belido da See do Porto, e de Paços de Souza que sam no ditto Conselho aalem de pagarem a seus senhorios e Igrejas o que lhe sam obrigados pagaram isso mesmo o direyto que estam em costume de pagar do montado ao dito Moesteiro em nome del Rey, e de quem o tem. 9 As pensoens dos tabaliaaees se pagam em Aveiro, segundo pagam os Tabaliaaes comarcãos. 10 E tem mais o ditto Moesteiro por direito Real o gado do vento, segundo nossas ordenações, com declaraçam que a pessoa [fl.5v] a cujo poder for ter o gado a venha escrever dahi a oito dias com a pessoa que pera isso será ordenada sopena de lhe seer demandado de furto. 11 A pena darma he do Meirinho apresentado pollo Moesteiro de tres em tres atee nove, e inleito pollo Conselho, a qual pena se levará se a demandar a três dias, convem a saber Duzentos Reaães, e a arma perdida com esta decraraçam convem a saber que a dita pena se nam levará quando algumas pessoas apunharem espada, ou qualquer outra arma sem a tirar, nem os que sem prepozito em [seixa] nova tomarem pao ou pedra, posto que com ela fação mal e posto que de propósito as tomem se nom fizerem mal com ellas, nom pagarão, nem a pagará moço de quinze anos; e di pera baixo, nem mulher de qualquer idade nem os que castigando sua mulher e filhos, e escravos tirarem sangue, nem os que sem arma tirarem sangue com bofetada, ou punhada, nem quem em defendimento do seu corpo, ou por apartar e estremar outros em arroido tirarem armas, posto que com ellas tirem sangue, nem escravo de qualquer idade que sem ferro tirar sangue. 12 Decraramos primeiramente que os vizinhos e [fl.6r] e moradores da ditta terra Dantoaã atras decrarados sejam isentos e escuzos de pagarem portagem de todallas couzas que comprarem e venderem huns aos outros na ditta terra de qualquer calidade e nome que sejam, e assy o seram de quaesquer cousas que comprarem aos homens de fora de qualquer sorte e maneyra que seja pera seus uzos, e somente pagarão portagem de quaisquer couzas que venderem aos homens de fora, e assy a pagaram das couzas que comprarem aos ditos homens de fora pera tornar a vender, e a paga das taes couzas se fará segundo adiante neste titulo de portagem particularmente vai decrarado. 13 De todo trigo, centeyo, cevada, milho, paynço, aveia, e de farinha de cada um deles, e assy de cal, ou de sal, ou de vinho, ou de vinagre, e linhaça, e de qualquer fruta verde, entrando melões e hortaliça, e assy de pescado ou marisco se pagara por carga mayor convem a saber cavalar ou muar de cada huma das dittas couzas hum real de seis ceptis o real, e por carga menor que é dasno meyo real, e por costal que um homem pode trazer às costas dois ceptis e di pera baixo em qualquer cantidade em que venderem se pagará hum ceptil, e outro tanto se pagará [fl.6v] pagará quando se tira pera fora; porem quem das dittas couzas, ou de cada uma dellas

7 - À Margem direita “Moendas”. 8 - À Margem direita “Casa da Igreja”. 9 - À Margem direita ”Taballiães” 10 -À Margem direita “O Vento” 11 - À Margem Esquerda “ Pena darma”. 12 - À Margem Esquerda “ titulo da Portagem”. 13 - À Margem Direita “De pam, cal, sal, vinho e vinagre fruta verde e hortaliça”

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comprar, e tirar pera fora pera seu uzo, e nom pera vender couza que nam chegue a meio real de portagem segundo os sobreditos preços dessa tal não pagara portagem nem o farã saber. E posto que mais se nam decrare adiante neste Foral a carga mayor nem menor decraramos que sempre a primeira adiçam e assento de cada huma das ditas couzas he de besta maior sem mais decrarar convém a saber pollo preço que nessa primeira será posto que se entenda logo sem hi mais decrarar, que o meyo preço dessa carga será de besta menor, e o quarto de ditto preço per conseguinte será do ditto costal, e quando as dittas couzas, ou outros vierem ou forem em carros ou carretas, pagarseha por cada huma dellas duas cargas mayores, segundo o preço de que forem, e quando cada huma das cargas deste Foral se nam venderem todas começandose a vender, pagarseha dellas soldo à [altura] segundo venderem, e nam do que ficou por vender. 14 Aqual portagem se nam pagará de todo pam cozido, queijadas, biscoits, farelos, nem dovos, nem de leite, nem de couzas delle que [fl.7r] que sejam sem sal, nem de prata lavrada nem de vides, nem de canas, nem de carqueja, tojo, palha, vassoiras, nem de pedra, nem de barro, nem de lenha, nem derva, nem das couzas que se comprarem da Villa pera o termo, nem do termo pera a Villa, posto que sejam para vender, assy vizinhos como estrangeiros, nem das cousas que trouxerem ou levarem pera alguma armada nossa, ou feita per nossa mandada, nem dos mantimentos que os caminhantes comprarem e levarem pera sy, e pera suas bestas, nem dos gados que vierem pastar a alguns lugares passando nem estando, salvo daqueles que hy somente venderem, dos quaes então pagarão pelas Leys e preços deste Foral. E decraramos que as ditas cousas de que assy mandamos que se nam pague portagem se nam he de fazer saber. 15 A qual portagem isso mesmo se nam pagará de caza movida assy indo como vindo, nem nenhum outro direito per qualquer nome que o possam chamar, salvo se com a ditta casa movida levarem couzas para vender porque das tais couzas pagarão portagem onde as somente ouverem de vender segundo as conthias que neste Foral vam decraradas, e nam doutra maneira. [Fl.7v]. Passagens Nem se pagará de nenhumas mercadorias que ao ditto Lugar, Conselho e terra vierem ou forem de passagem pera outra parte assy de noite, como de dia, e a quaesquer horas, nem serão obrigados de o fazer saber, nem em correrão por isso em nenhuma penna, posto que hy descarreguem e pouzem, e se hy ouverem mais de estar, que o outro dia todo, por alguma couza, então o farão saber dy por diante posto que nom hajam de vender. 16 Nem pagarão a ditta portagem os que levarem os fruitos dos seus bens moves ou de raíz, ou levarem as rendas e fruitos de quaisquer outros bens que truxerem darendamento, ou de renda, nem das couzas que a algumas pessoas forem dadas em pagamento de suas tenças, cazamentos, mercês, ou mantimentos, posto que as levem pera vender. 17 E Pagarsehá mais de cada cabeça de gaada vacum assy grande como pequena hum real, e de porco meyo real, e de carneiro, e de todo o outro gado meudo dous ceptis e de besta cavalar, ou muar dous reaes, e da besta asnal hum real. 18 E do escravo ou escrava ainda que seja, parida, seis reaes, e se forrar, dará o dízimo da valia de sua alforria porque se resgatou, ou [fl.8r] ou forrou. 14 - À margem esquerda: “ Cousas de que nam se pagam portagem” 15 - À margem Direita: “Caza movida” 16 - À Margem Esquerda: “Novidades de bens pera fora.” 17 - À Margem esquerda: “Gaados e bestas” 18 - À Margem esquerda: “Escravos”

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E pagarseha mais de carga mayor de todollos panos de lãa, linho, seda e e algudam de qualquer sorte que sejam assy delegados, como grossos; e assy de carga de laa, ou de linho fiados, oitos reaes, e se a laa, ou linho forem em cabelo pagarão quatro reaes por carga. 20 E os ditos oito reaes se pagarão de toda coirama cortida, e assy do calçado, e de todallas obras delle, e outro tanto de carga dos coiros vacaris cortidos, e por cortir, e por qualquer coiro da ditta coirama dous ceptis, que se nom contar em carga. 21 E outros oito reaes por carga maior dazeite, cera, mel, sevo, unto, queijos secos, manteiga salgada, pez, rezina, breu, sabam, alcatram. 22 E outro tanto por peles de coellho, ou coradeiras, e de qualquer outra pelitaria, e forros. 23 E da ditta maneira de oito reaes a carga mayor se levará e pagará por todallas marcarias, especiarias, buticarias, e tinturas, e assy por todallas suas semelhantes. 24 E outro tanto se pagará por toda a carga de estanho, e por todollos outros metaes, e obras de cada hum delles, da qual sorte que sejam. 25 E do ferro em barra, ou em maçuquo e de [fl 8v] de qualquer obra delle grossa, quatro reaes por carga mayor, e se for limada, e estanhada ou envirnizada, pagará oito reais com as outras dos metaes de sima. E quem da dittas couzas, ou de cada huma dellas comprar e levar pera seu uso, e nam pera vender nom pagará portagem nom passando de costal de que se hajam de pagar dous reaes de portagem, que há de ser duas arrovas e meya, levando a carga mayor deste Foral em dez arrovas e a menor em cinco, e o costal per este respeito nas ditas duas arrovas e a menor em sinco, e o costal per este respeito nas ditas duas arrovas e meya. 26 E pagarsehá mais por carga mayor destas outras couzas, a tres reaes por carga mayor de toda fruita sequa, convém a saber, castanhas e nozes verdes e sequas e dameixas passadas, amêndoas, pinhaês por britar, e avellans bolotas, mostarda, lentilhas, e todollos outros legumes secos, e das outras cargas a esse respeito, e assy de cebollas secas e alhos, porque os verdes pagarão com a fruita verde hum real e de caqua, e çumagre pagarão os três reaes, como estoutros de sima. 27 E por carga maior de qualquer telha, ou tijolo, ou outra obra e louça de barro ainda que seja vidrada, e do Regno, e de fora delle pagarão os ditos três reaes [Fl.9r]. 28 E outros três reais por carga de todallas arcas, e de toda a louça e obra de paao lavrada, e por lavrar, e outro tanto por todallas couzas feitas desparto, palma, ou junco, assy grossas, como delgadas, e assy de tábua ou funcho29. 30 E os que trouxerem mercadorias pera vender se no próprio lugar onde (quiserem vender, se no próprio lugar, digo) quiserem vender ouver Rendeiros da portagem ou officiaes della 19

19 - À Margem esquerda: “Panos finos”. 20 - À Margem Direita: “Coirama e calçadura” 21 - À Margem Direita: “Azeite mel e semelhantes” 22 - À Margem Direita: “Pellitaria” 23 - À Margem Direita: “Marçaria, especiaria e semelhante” 24 - À Margem Direita: “Metais” 25 - À Margem Direita: “ferro em barra?” 26 - À Margem esquerda: “Fruita verde e sequa e legumes” 27 - À Margem esquerda: “telha e tijolo e obra de barro” 28 - À Margem Direita: “Cousas de paao” 29 - À Margem Direita: “Palma esparto e semelhantes” 30 - À Margem Direita: “Entrada por terra”

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fazelo ham saber, ou as levarão à praça, ou açougue do ditto lugar, ou nos Recios, e saídas delle, qual mais quiserem, sem nenhuma penna, he se hi nam ouver rendeiro, nem praça descarreguem livremente onde quiserem, sem nenhuma penna contanto nam venham sem notificar ao requeredor se hi o houver, ou ao Juis ou Vintaneiro se hi se puder achar, e se hy nenhum deles ouver, nem se puderem então achar notifiquem no a duas testemunhas, ou a huma se hy mais nom houver, e a cada hum deles pagarão o ditto direito de portagem, que per este foral mandamos pagar sem nenhuma mais cautela, nem penna, e nam o fazendo assy, descaminharão e perderão as mercadorias somente de que assy nom pagarem o dito direito da portagem, e nam outras nenhumas, nem as bestas, nem carros [fl.9v], carros nem outras couzas em que as levarem, ou acharem, e posto que hy haja rendeiro no tal lugar, ou praça se chegarem porem depois do sol posto, nom faram saber, mas descarregaram onde quiserem contanto que o outro dia atee meyo diia o notifiquem aos officiaes da ditta portagem primeiro que vendam sol a ditta penna, e se nom ouverem de vender, e forem de caminho, nom seram obrigados a nenhuma das ditas recadaçoês segundo no titolo da passagem fica decrarado. 31 E os que comprarem couzas pera tirar pera fora de que se deva de pagar portagem podellas ham comprar livremente sem nenhuma obrigação nem diligencia, e somente ante que as tirem pera fora do tal lugar e termo arrecadarão com os officiaes a que pertencer sob a ditta penna de descaminhado e os privilegiados da dita portagem posto que nom ajam de pagar nom seram escuzos destas deligencias destes dous capítulos atras das entradas e saídas como ditto he sob a ditta penna. 32 E as pessoas Eclesiasticas de todollos Mosteiros, assy domens, como de mulheres que fazem votto, e assy os beneficiados dordens me [fl.10r] menores, posto que as nam tenham que vivem como crérigos, e por taes forem havidos, todollos sobreditos sam isentos, e privilegiados de pagarem nemhuma portagem, usagem, nem costumagem per qualquer nome que a possam chamar assy das couzas que venderem de seus bens e benefícios, como da que trouxerem, ou levarem pera seus uzos, ou de seus benefícios e cazas e familiares de qualquer calidade que sejam. E assy o seram as Cidades Villas e Lugares de nossos reguns, que tem privilegio de a nom pagarem convem a saber a cidade de Lisboa, e Gaya do Porto, Povoa de Varzim, Guimaraes, Braga, Barcellos, Ponte de Lima, Viana de Lima, Caminha, Villanova de Cerveira, Vallença, Monção, Crasto Leboreiro, Miranda, Bragança, Freixo, o Azinhoso, Mogadouro, Anciaês, Chaves, Monforte de Ryo Lince, Montalegre, Crasto Vicente, a cidade da Guarda, Formello, Pinhel, Castel Rodrigo, Almeyda, Castelmendo,Vilarmayor, Sabugal, Sortella, Covilham, Monsanto, Portallegre, [Marvão], [Arronches], Campomayor, Fronteira, Monforte, Vilaviçosa, Elvas, Olivença, A cidade Devora, Montemor o Novo, Monçarás, Beja, Moura, Noudal, [Fl.10v], Noudal, Almodouvar, Odemira. E assy seram privilegiados quaisquer pessoas outras, ou lugares que nossos privilégios teverem e os mostrarem, ou o trelado delle em pubrica forma além dos acima contheudos. E assy o serão os vezinhos do ditto lugar conselho e termo escusos da ditta portagem no mesmo lugar e terra, nem seram obrigados de fazerem saber de ida, nem de vinda com as decrarações atras no começo da portagem. E as pessoas dos ditos lugares priviligiados nom tirarão mais atrelado de seus privilégios nem no trazerão somente tirarão certidão feita pollo escrivam da Câmara e com o sello do Conselho como sam vizinho daquele lugar, e posto que haja duvida nas ditas sertidões se sam verdeiras,

31 - À Margem esquerda: “Saída per terra” 32 - À Margem esquerda: “privilegiados”

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ou daqueles que as aprezentão, poder lhes ham sobre isso dar juramento, sem os mais de terem posto que se diga que nam sam verdadeiras, e se depois se provar que eram falças, perderá o escrivão que a fez o offício, e degradado dous anos pera Çeita, e a parte perderá em dobro as cousas de que assy enganou e sobnegou à portagem, a metade pera nossa camara, e a outra pera a ditta portagem dos quaes privilégios uzarão as pessoas nelles contheudas pelas ditas certidoês, posto [fl.11] posto, que nam se vam com suas mercadorias nem mandem suas procurações contanto que aquellas pessoas que as levarem jurem que a ditta certidão he verdadeira, e que as taes mercadorias são daqueles cuja he a certidão que apresentarão. 33 E qualquer pessoa que for contra este nosso Foral levando mais direitos dos aqui nomeados, ou levando destes mayores contyas das aqui decraradas o havemos por degradado por hum anno fora da Villa e Termo e mais pague da cadea trinta reaes por hum de todo o que assy mais levar pera a parte a que os levou, e se a nom quizer levar seja a metade pera quem acuzar, e a outra pera os Cativos e damos poder a qualquer justiça onde acontecer assy juízes como vintaneiros,34 ou quadrilheiros, sem mais processo nem ordem de Juizo sumariamente sabida a verdade condenem os culpados no dito cazo de degredo e assim do dinheiro ate contia de dois mil reaes sem apelação nem agravo, e sem disso poder conhecer almoxarife nem contador, nem outro oficial nosso nem da nossa fazenda em cazo que ahi haja, e se o senhorio dos dittos direitos o ditto Foral quebrantar per si ou per outrem, seja logo suspenso deles e da jurisdição do ditto lugar e conselho tiver [fl. 11v], tiver enquanto nossa merce for mais as pessoas que em seu nome, ou por elle o fizerem encorrerem nas ditas pennas, e os almoxarifes escrivaês, e officiaes dos ditos direitos que assy nom cumprirem, perdem logo os ditos officios, e nam haveram mais outros e por tanto mandamos que todallas cousas contheudas neste Foral que nos poemos por Ley se cumpram pera sempre do theor do qual mandamos fazer três, hum deles pera a Camara do ditto Lugar e Conselho e terra, e outro pera os Senhorios dos ditos direitos, e outra pera a nossa Torre do Tombo, pera em todo o tempo se poder tirar qualquer duvida, que sobre isso possa sobrevir. Dada em a nossa Cidade Devora aos quinze dias do mês de novembro de mil quinhentos35 e dezanove vai escrito o original em dezasseis folhas e meia consertado por mim Fernam de Pina”. E não dizia mais o registo da ditta Carta de Foral que aqui foi tresladado com as mesmas margens que no ditto livro está de letra vermelha na mesma forma que aqui vão escritas nesta carta a pedimento do ditto Procurador Geral da Ordem de São Bernardo, que lhe mandei dar nesta com o sello de minhas armas a quem se dará tanta fé e crédito como ao registo do ditto livro [fl.12] livro donde foi tirada e com elle consertada. Dada nesta corte e cidade de Lisboa aos sette dias do mês de fevereyro. El Rey nosso Senhor o mandou pollo Doutor Antonio da Cunha Pinheyro Desembargador da Casa da Suplicação, que por seu especial decreto serve de Guarda Mor da Torre do Tombo. Antonio Pimenta do Valle a fes. Anno do nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil seiscentos noventa e sinco. E vay escrita em doze meyas folhas de papel com esta. 33 - À Margem Direita: “Penna do Foral” 34 - Segue-se mancha no papel que torna parte do texto ilegível e à margem direita a transcrição desse texto ilegível: “ou quadrilheiros, [que] sem mais processo nem ordem de Juizo sumariamente sabida a verdade condenem os culpados no dito cazo de degredo e assim do dinheiro ate contia de dois mil reaes etc.” 35 - Segue-se mancha no papel que torna parte do texto ilegível e à margem direita transcrição desse texto ilegivel: “e dezanove vai escrito o original em dezasseis folhas e meia consertado por mim Fernam de Pina. E não dizia mais o registo da ditta Carta de Foral que aqui foi tresladado com as mesmas margens que no ditto livro estão, etc.”

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NORVINDA LEITE

Pedro [Memme] do [Estaço] a fez escrever. [Assinatura ilegível]. [Contém selo chapa de papel]. E com busca mil quinhentos e oitenta reaes. E de copiar trezentos e setenta reaes. [Texto ilegível] [Fl12v] Posto em Correição d’Estarreja em 27 de janeiro de 1733. [Assinaturas ilegíveis.] 1695 FEVEREIRO, 07, Lisboa – El Rei Dom Pedro concede Treslado Autêntico do Foral de Antuã dado por D. Manuel I, por petição do Procurador Geral da Ordem de São Bernardo, que a faz escrever Antonio da Cunha Pinheyro, Desembargador e Guarda Mor da Torre do Tombo. B ) Arquivo Nacional da Torre do Tombo| Fundo do Mosteiro de Santa Maria de Arouca | Livro 107. Processada, c. selo chapa de papel, Bom.

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Principais regras seguidas na transcrição a) Transcrição do documento em linha contínua, separando os fólios anotando entre parêntesis retos os correspondentes ao número do fólio de rosto [fl…r] e folio de verso [fl…v]; b) No caso de o texto se encontrar em colunas nos folios: col. a) e col.b). c) Respeito pela ortografia do texto, mantendo exatamente maiúsculas e minúsculas, acentuação e parágrafos, mas reunindo as silabas ou letras de uma mesma palavra que se encontrassem separadas; d) Colocação entre [...] de tudo o que teria sido interpretado pelo transcritor ou acrescentando ao texto original. e) Colocação em nota de todo o texto escrito à margem. f) Desdobramento de abreviaturas sem sublinhar a palavra abreviada.

Referências de Apoio: a) Fontes primárias: - Arquivo Nacional Torre do Tombo | Leitura Nova | Livro 47, Livro dos Forais Novos da Estremadura. FL 243, 243V, 244 - Escrita Gótica Librária. Pergaminho. Iluminado. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo| Fundo do Mosteiro de Santa Maria de Arouca | Livro 107, Treslado Autentico do Foral dado ao concelho de Antuã e Estarreja por D. Manuel I, 1695. b) Fontes secundárias: - COSTA, Avelino Jesus da/ Normas Gerais de Transcrição e Publicação de Documentos e Textos Medievais e Modernos. Coimbra: Faculdade de letras da Universidade de Coimbra- Instituto de paleografia e Diplomática. 1993. DL 6462/93. - MADUREIRA, António Dias/ O Homem e o Espaço no Foral de Alvarenga. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 2004. ISBN972-9474-44-3. - SANTOS, Maria José Azevedo, VELOSO, Maria Teresa/Pergaminhos do Instituto de Paleografia (Séc. XII-XVIII). Coimbra: Centro de História da Universidade de Coimbra. 1983. - SILVA, Filomeno Amaro Soares da/ Os Forais do Burgo e de Arouca: as cartas de Coutos do Mosteiro de Arouca. Arouca: Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1994. ISBN 972-9474-08-7. DL 85127/94.

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SÉRGIO PAULO SILVA

UMA CARTA Sérgio Paulo Silva*

Rosa Maria Minha Prezada Amiga: Quando as Terras do Antuã apareceram, num artiguelho de jornal, saudei a iniciativa por quanto se revestia de interesse para o Concelho, já pela preservação do seu passado, já pela importância da divulgação do barro em que nos moldámos, em que nos continuamos a moldar. Entretanto, os números foram-se sucedendo sem que eu desse melhor contributo que a sua leitura. Por não ter sido convidado a colaborar? Não. Porque o fui e, mesmo que o não tivesse sido, sempre essa porta esteve franqueada a todos. A razão tem só a ver com o facto de eu não ter formação académica, de ser demasiado difuso e não apetecer o cibo da pesquisa histórica à galinha de campo que sempre fui... Terras do Antuã tem primado, deverá sempre primar, pela qualidade, mesmo que isso possa, no futuro, obrigar a eventual redução de páginas ou até questionar a periocidade. Entendendo-o, como nada tinha que aportasse, deixei-me estar na sombra, mudo e quedo. Há dois anos, perante a insistência do Dr. Delfim, cedi trabalhos antigos, coisas desvaliosas de que há muito tinha desistido, na vaga esperança de que, num dia a haver, pudessem (ou possam) servir a estudiosos da construção naval, dos nossos barcos e artífices. O ano passado fui surdo aos seus apelos porque se agigantaram as razões atrás expostas. Nenhuma farpela, ou requintada albarda andaluza, fará de mim doutor. Apesar de ambos o sabermos, a sua insistência, a veemência dos trunfos com que amistosamente me ameaçou, encurralaram-me na capoeira da amizade e vaticinaram-me o tacho onde a cabidela teria o adubo do meu gasganete. Mas eu quero voltar, rapidamente, a ciscar nos meus terreiros vastos, onde não haja arames farpados nem muros eriçados de vidros, ainda que fique mais exposto às raposas e demais vadiagem enfarpelada. E, enfim, cá estou na desobriga pascal. Já sem milho velho na caixa que me acuda, que me pudesse acudir, demorei-me a olhar em torno na esperança de topar mourão a que me atracasse para esta que será a minha última colaboração no vosso meritório projecto (se, porventura quiser usar o remendo nos fundilhos...). Não o vendo, deixei-me andar à róla já só confiado na força e na santidade das marés. E foi assim que há dias, conduzindo e trazendo por companhia o rádio do carro, no momento sintonizado na Antena 1, que promovia um cantor (não retive o nome) que divulgava, com as suas cançonetas, a viola campaniça, ouvi isto: Tenho saudades do tempo Em que um homem aprendia A ganhar o seu sustento Na terra onde nascia *Autor Estarrejense

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O cantor, enlevado, fazia disto refrão e malhava nele até à exaustão. E, algures, deverá sentirse um peru! Eu é que não gostei, como não gosto de idênticas teses que circulam por aí nas redes sociais, endeusando tempos a que ninguém quer retornar. Saudades, só do futuro...como escrevia o José Gomes Ferreira. Mas, aqui para nós, eu também detesto frases feitas, parangonas, tiradas a puxar a salva de canhão...Prefiro amendoins bem torrados... Enfim, manias de quem, pela idade, sabe para o que servem as cascas... A musiquinha teve, aos meus ouvidos, o odor a bafio e a uma naftalina carcomida por mais de cinquenta anos. Porque eu sou, por mor dos meus pecados, exactamente desses anos, anos que me trazem à memória um concelho de Estarreja mais rural que industrial, anos em que os homens aprendiam a ganhar o seu sustento dentro do círculo familiar. Desses anos em que não havia fogões de gaz, frigoríficos, tractores, televisão...desses anos em que veio até nós, em comissão de serviço, o engenheiro Rocha Soares.Veio da casa-mãe, no Barreiro, para o Amoníaco Português (hoje Quimigal, e, salvo erro para montar o sector da Anilina) e por certo já traria conhecimento da modernização da agricultura, quanto bastasse para lhe terem interessado diferenças, motivos para a sua câmara fotográfica. Ao tempo – finais dos anos cinquenta, década de sessenta – as famílias agrícolas, digamos assim, iam-se dissolvendo rapidamente. A agricultura era um não acabar de sacrifícios que não compensavam, que não tinham retorno financeiro que se pudesse trincar no final de cada mês a ver se era ouro de lei. Um lugar no Amoníaco ou na Celulose, de Cacia, era uma benção por quem todos rezavam. E emigração ( Brasil, Venezuela, EUA...) contribuía, como, de resto, a Nestlé, a emergente Cires e outras janelas menores, para a fuga de braços e... começava a aventura francesa. Os que não tinham aptidões (tenhamos presente que a percentagem de analfabetos e iletrados era enorme, tenhamos presente a condição da Mulher) ou os que por infortúnios ou teimosias ficavam encurralados, tinham na agricultura o derradeiro abrigo de sustento. Num ápice mas um pouco desapercebidamente, tornámo-nos um concelho industrial mas onde a ruralidade se respirava por todos os cantos e esquinas. E de tal modo assim era que eram numerosos os servidores que trabalhavam por todas as empresas mencionadas, sobretudo os de turno, que nas horas sobrantes, melhor em dias de folga, continuavam o amanho de terras e quintais. Recordo-me que muitos dos terrenos productivos – e quase me atrevo a dizer os melhores, os que estavam melhor situados, que dispunham de água – pertenciam a titulares abastados, não raro com profissões liberais, que os alugavam a quem, se já estava com a corda no pescoço, mais enforcado ficava. As colheitas, sempre dependentes dos caprichos do tempo, eram, na sua quase totalidade, a moeda de troca que se oficiava pelo S. Miguel. Se tiver curiosidade, vá ver o que escrevi sobre isso no meu livro do arroz: uma mulher, com seis filhos a cargo, das terras que fazia aproveitava feijões e couves, entregando todo o cereal ao dono... Quero lembrar-lhe pormenores que os estarrejenses esqueceram ou não interpretam no seu profundo significado quando repostos em cortejos de mercado antigo. Meu pai, advogado, defendeu em tribunal muitos patrícios que eram apanhados a roubar pinhas ou caruma, ou prendiam mal uma rês para que ela arrancasse a estaca, se soltasse e fosse pastar à leira do vizinho... Nas casas abastadas, como nas mais carenciadas, cozinhava-se a lenha e carvão. Fácil é perceber que os pinhais estavam limpos e não havia incêndios. Essa saudade, a dessas tempos, eu compreendo-a...Quero também lembrar-lhe outra coisa que também anotei algures, o dito angustiado da mulher do mestre Joaquim Raimundo, com uma vida bem sucedida – um filho na América com avião particular.... – e desafogada na velhice. Mas, no começo, tinha recebido dos pais, como prenda de casamento, uma bezêrra que, ao cabo de alguns meses, teve que vender: “

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SÉRGIO PAULO SILVA

eu nem nas valetas arranjava pasto e não queria ter o animal a passar fome. Nunca mais esqueci aquela vaca...”. Dá que pensar e revela bem o ambiente daqueles anos. Podíamos aqui falar de moinhos, das sementes que se usavam para fazer pão, caprichosamente guardadas de uns anos para os outros. Hoje já não há a qualidade das sementes de milho que então se usavam, embora as nossas terras ostentem vastas milheiradas. São pormenores. Como a maneira de criar os animais, fossem galinhas ou porcos, a qualidade do que se comia, o que as famílias consumiam. Já me fartei de escrever sobre isso e já me sinto fastidioso que baste. Num outro escrito (o choro das videiras) falei sobre o vinho que se consumia entre nós, das latadas que faziam sombra nos pátios e nos poços, onde as vacas trabalhavam, que demarcavam propriedades, dos inúmeros alambiques que destilavam outono fora... Se envelhecer é criar mundo por dentro, como dizia o Assis Pacheco, eu há muito que estou velho, carregado de mundo... Sim, podíamos aqui falar de imensas coisas. Mas vai já longa a paveia com que pretendi erguer cabanal onde me refugiasse. A indústria e a emigração retiraram braços à agricultura que, entretanto, colmatava as falhas modernizando-se, mecanizando-se. Chegaram, com a resistência e o aparvalhamento iniciais, os primeiros tractores. Numa hora faziam o que uma junta não fazia num dia: adeus vacas, adeus bois, adeus carros e carroças, adeus feira de Stº Amaro, adeus vidas de avós e bisavós, suas prácticas, seus costumes, suas crenças, sua cultura ancestral. Hoje, nestes dias que vivemos, temos a chamada indústria pesada. Às citadas, outras fábricas se juntaram, muitas pequenas e médias empresas, e muitos serviços, e muitas superfícies comerciais. Tornámo-nos num concelho industrial? Sei que convivemos com a pequena agricultura, que permanece, que perdura. Mas tenho conhecimento de que na minha freguesia as pessoas dão as suas terras de graça aos lavradores que ainda restam só para que não fiquem a maninho e as silvas se apossem. E vou observando como os filhos daqueles vão acertando o passo pela mesma pauta já que não há filho de lavrador que não vá estudar sendo cada vez mais raros os que não enjeitam o modo de vida dos seus maiores, gerações que se sucedem aprendendo a ganhar o sustento em universidades e não no redil que a tal musiquinha salazarenta bendizia. Portanto, minha velha amiga, industria e agricultura continuam, entre nós, a conviver de perto como o lobo e as ovelhas, fazendo com que – para melhor ou para pior – se vá redefinindo constantemente o que somos. As velhas lareiras onde se queimavam raízes e se cozinhava em panelas de ferro, deram lugar a vistosos e práticos fogões que funcionam a gaz canalizado. Casas vestidas de azulejos ou com simpáticos varandins vão sendo demolidas e vão florescendo pelas ruas estranhas arquitecturas de caixotes envidraçados... - E não tens saudades? Claro, certamente que sim, sobretudo porque tenho memória, até de sabores e aromas. Mas devo reconhecer que a vida ganhou outra qualidade. Hoje não há quem não tenha um frigorífico, uma arca congeladora, como já não haverá quem divida as sardinhas salgadas, à ceia, com os filhos... Daí a elaborar uma resposta académica sobre o rosto que temos, o que teremos, o que terão os vindouros, é que vai um bojador intransponível para mim. Chame, minha Amiga, a terreiro sociólogos, historiadores, gente dessa, com formação e voluntarismo. Eu mais não posso que, com o suporte das fotografias que lhe deixo, aflorar caminhos feitos, tão sómente para que se percebam algumas diferenças, se valorize, ou não, ao que chegámos e para que lado pendem os pratos da balança. Com admiração e afecto fica a saudação amiga do Sérgio.

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1 - Esta fotografia foi-me cedida pelo neto (António Vaz de Oliveira) do homem que está na bateira e que era da Murtosa. Reconhece-se o coração de Aveiro, sítio agora de turistas e moliceiros desfigurados e com propulsão a motor. Mas...a bateira era à vela. Motores, a haver, só para ricos extravagantes. Ao tempo a Ria não estava assoreada como está hoje e era proeza temerária ir da Murtosa para Aveiro numa bateira à vela... Na bateira percebem-se melões / melancias, productos da terra que o homem ia vender à capital. Por esses tempos, por toda a Murtosa, por Veiros, por Pardilhó, os lavradores produziam toneladas de melões e de melancias, que guardavam dia e noite, e arriscavam assim a vida para vender as colheitas. Quando retornassem às suas Ribeiras, que lucros trariam no bolso?

2 - Um tractor a carregar moliço. Fotografia dos arquivos da Foto- Guedes que tantas vezes fotografou carros e carroças a carregar marés. Mas isto era novidade: um tractor! – coisa de merecer uma fotografia...

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SÉRGIO PAULO SILVA

3 - Fotografia dum desfile do chamado Mercado Antigo, das festas de Stº António, em Estarreja. E sim, sim, era assim que homens de Pardilhó ganhavam migalhos, vendendo pinhas. À casa de meus pais, em Salreu, chegavam muitos burros carregados como este. As pinhas abertas eram guardadas numa cave que hoje é um salão. As fechadas eram postas ao sol e fartavam os pombos de pinhão. Depois, umas e outras alimentavam o fogão onde se aquecia água e se cozinhavam as refeições. Todos os dias...

4 - Um burrinho gândara fora. Apesar da fotografia ser de má qualidade, nota-se que as árvores são pinheiros, sem um único eucalipto. O desgraçado vai carregado de caruma, carrego suficiente para fazer uma meda. A mulher vestida de negro – sempre de negro... – vai atrás, com os sapatos com que nasceu...

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5 - Fotografia que tirei na Cavada, Salreu. De apreciar: o jugo e o carrego. Meçam-no com os olhos, na largura e na altura. As casas dos lavradores tinham portões largos e altos, quer dizer, a agricultura influenciava a arquitectura.

6 - Depois da terra lavrada, era necessário expurgá-la de sobrantes e alisar o terreno. Tarefa que se fazia com uma grade. Reparem na mulher: vai de pernas abertas e na mão esquerda tem uma corda. De vez em quando, quando o matrafão já estorvava, firmava-se a perna da frente e dava-se um puxão à corda, para que o lixo ficasse enquanto o gado prosseguia. Um dia, fazendo este serviço, a perna direita escorregou-me em bosta fresca caída na grade. Felizmente as vacas estancaram à ordem... (fotografia do precioso arquivo da Guedes, Murtosa)

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7 - Corre por aí um dito: mais vale uma mão inchada que uma enxada nas mãos! Hoje, abeirando-me dos setenta, nos meus quintais ainda me valho dessas ásperas canetas e sei bem o que a anedota significa. A foto (dos arquivos da Foto-Guedes, Murtosa) mostra, não um quintal mas terreno aberto, largo... A pilha é de moliço. Poucos anos depois seria substituído por adubo. Entretanto, nos terrenos de Estarreja, havia espaços onde as vacas ou tractores não chegavam e deviam ser aproveitados. As terras delimitavam-se por sebes mas, sobretudo, por latadas. E era sob as latadas que se semeavam couves e favas. Mas era à força de enxada e, nas altas de Salreu, como nas altas de Canelas, a terra não era macia, arenosa, como nas Póvoas, ou em Pardilhó, ou Veiros. Talvez que quem tivesse a sorte de ter uma mão inchada.....

8 - O rapaz guia as vacas que levam cofinhos. Vai descalço e as calças que veste evidenciam segunda vida.... (Fotografia do Engº Rocha Soares) numa Estarreja que já tinha a fidalguia da Indústria.

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9 - Um pai e dois filhos, como os viu a objectiva do Engº Rocha Soares. A moça, já quase mulher, leva, calçados, os sapatos que herdou do pai...

10 - O fazer da meda, captada pelo Engº Rocha Soares, percebendo-se, atrás, um cabanal feito com canoulos de milho. Para idênticos fins, hoje fazem-se telheiros de betão e ferro.

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SÉRGIO PAULO SILVA

11 - O ceifar do azevém e as bonecas de palha (fotografia do Engº Rocha Soares) algures, nos nossos campos. Às bonecas sucederam-se os fardos. Aos fardos os grandes rolos, envoltos em filme, onde o feno fermenta para, assim, ser servido ao gado.

12 - Outra fotografia do Engº Rocha Soares onde se percebe a pequena propriedade pela latada. Ao fundo um poço. O semeador vai depositando o milho, tirado por dois moços, por certo irmãos, que cumprem o papel de gado. Todos os figurantes vão descalços.

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13 - Canseiras agrícolas surpreendidas pela objectiva do Engº Rocha Soares. A mim parece-me Pardilhó, ali para os lados do Nancinho...

14 - Esta foto foi-me cedida pelo Museu – CM Aveiro e, desde o primeiro instante em que a vi, pensei em Veiros, freguesia outrora reconhecida pela intensa produção de cebolas, e também célebre pelo fabrico de esteiras. E ambas as coisas estão aqui: cebolas em grande quantidade e esteiras. Os mercantéis aportavam à Ribeira de Veiros e iam até ao Canal de S. Roque, Aveiro, onde a fotografia foi captada. Nestes nossos tempos as cebolas vêm de Espanha, com preços acessíveis, em camiões de 24 toneladas. Constantemente.

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TERESA CRUZ TUBBY

JOAQUIM MARIA LEITE Teresa Cruz Tubby* Joaquim Maria Leite nasceu a 13 de Março de 1860, na Murtosa, filho de Agostinho António Leite, professor primário e músico e de Maria Joaquina da Cruz ou Amador. Foi o terceiro dos oito filhos que o casal teve. Ainda criança, sua família mudou-se para Estarreja, onde aprendeu as suas primeiras letras e a música com seu pai.

Registo de Nascimento de Joaquim1

A aspiração a um futuro melhor levou-o, no ano de 1882, a atravessar o Atlântico até às terras de Vera Cruz. Como tantos emigrantes, Joaquim estabeleceu-se em Belém do Pará. Bem-sucedidos, Joaquim e seu irmão Ângelo, compraram terrenos na sua terra natal e decidiram construir uma casa no centro de Estarreja, no local onde se situava a sua casa paterna. Obra de grande vulto, é um palacete em estilo neo-clássico (…)de construção cuidada, embelezada pela sua imponente fachada de oito vãos, sendo os do andar superior em sacada com pequenos frontões triangulares. É,

* Investigadora, historiadora, autora das obras Quinta e Casa da Botica, Banda de Música de S. João da Madeira 1860/2005; co-autora da obra A Misericórdia da Vila de Cucujães, 1937 – 2012. 1 - Murtosa, Livro Paroquial nº 32, reg. nº 87.

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por isso, de notar o tratamento dos alçados e em especial, da fachada em cantaria de granito, demarcando toda a fenestração, cornijas, cunhais, etc. A porta principal apresenta duas pilastras em cantaria. Interiormente era de destacar a riqueza de execução de tetos e pavimentos, estes últimos em madeiras exóticas diretamente importadas do Brasil2. O pavimento era semelhante ao da Bolsa, do Porto. Todos os compartimentos tinham água quente e fria e respectivos aquecedores. Este soberbo edifício ficou concluído em 1904 e residência dos mesmos e suas famílias aquando de visitas à terra que os viu crescer. Apesar da crise da borracha ter afectado, em parte, a situação económica de Joaquim, não foi esse o motivo da venda da Casa nem a perda da sua fortuna, pois a sua situação de comerciante abastado, capitalista e possuidor de propriedades e terrenos manteve-se até à sua morte.

A 1ª fotografia3 mostra-nos a casa e seu gradeamento e na 2ª com algumas modificações4.

O imóvel foi vendido, a 09 de Setembro de 1921, ao Dr. Joaquim Duarte Silva, advogado, de Aveiro. Pelo palacete e pelo terreno com pinhal na costa da Torreira, que confrontava do Norte com João António Leite, do Sul com a mata de S. Jacinto, do nascente com a Ria e do poente com areias públicas, num total de 6.900$00. Os irmãos Leite fizeram-se representar neste acto pelo seu procurador e irmão João António Leite. Mais tarde, a “Casa dos Leites” foi vendida a José Fortunato Ferreira de Pinho e sua esposa Preciosa Nunes da Silva. Desde essa época, a casa teve diversos usos: - Em 1919 serviu de quartel militar durante a revolução da Traulitânea5; - Em 1931, instalou-se o externato Egas Moniz, que aí permaneceu até 1960; - Seguiu-se a Casa do Pessoal dos Trabalhadores do Amoníaco Português. A Casa começou a sofrer a falta de manutenção e conservação. A Câmara Municipal de Estarreja adquiriu o imóvel em 18-12-1995 pela quantia de 55 milhões de escudos aos herdeiros de José 2 - http://estarreja.bibliopolis.info/A-Biblioteca/Sobre-a-Biblioteca 3 - Autor desconhecido. Copiado da Internet com esta identificação: 105537_107500339335026_1000002251808424_7 6839_5483384_n[1]. 4 - Foto de Fernando Vilarinho. Ver: http://www.cardapio.pt/bibliotecas/dir/d/aveiro/c/estarreja/p-18005/bibliotecamunicipal-de-estarreja/ 5 - A revolução durou 25 dias. Os trauliteiros monárquicos, a fim de restaurarem a monarquia, perseguiram os republicanos. A batalha decisiva deu-se a 11 de Fevereiro com a victória dos republicanos.

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Fortunato, representado por seu filho Jaime Fernando Nunes de Pinho e sua mulher Maria Carminda Brilhante da Silva e com procuração de sua cunhada Zilda de Castro, viúva que ficou de Fortunato Nunes de Pinho e filhos, Maria de Castro e Pinho, solteira e José de Castro e Pinho, casado, residentes em S. Paulo, Brasil. Após renovação, é hoje a Biblioteca Municipal. Para a sua adaptação foi necessária a demolição total do interior, com excepção das paredes-mestras e escadarias.

Aspectos da demolição do interior da casa6

A inauguração deu-se a 9 de Outubro de 2004, na presença de José Luís Arnaut, Ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional, do então presidente da Câmara, José Eduardo Matos e do secretário de Estado dos Bens Culturais, José Amaral Lopes, entre outros.

Biblioteca Municipal de Estarreja7

Belém teve um desenvolvimento muito grande devido à produção e comercialização da borracha. Em 1870 só tinha dois distritos, com ruas apertadas e comerciais. A partir dessa

6 - Autor desconhecido. Copiado da Internet com esta identificação: 21680_107500362668357_1000002251808424_768 40_3867663_n[1] e 217272_107500389335021_1000002251808424_76841_1360420_n[1]. 7 - http://estarreja.bibliopolis.info/portals/15/Galerias/A%20Biblioteca/Fotos%20do%20Edif%C3%ADcio/Biblioteca_Municipal.JPG

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data surgiram mais dois distritos correspondentes às paróquias de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro e da Santíssima Trindade. Construíram ruas largas, avenidas de paralelepípedos, redes de esgoto, palacetes e sobrados, local para onde as famílias abastadas se mudavam, saindo dos bairros mais antigos. Seguiram-se mais dois distritos. «Em 1876, antes do boom provocado pela indústria automobilística, Henry Wickham, um colecionador inglês, disfarçadamente, levou para sua terra sementes de seringueira que, após melhoradas, foram plantadas no Ceilão. Já no ano de 1900 saía para o mercado a primeira partida de borracha dos plantios nacionais asiáticos. Era a concorrência que surgia e que, num crescimento fulminante, viria a liquidar com o monopólio brasileiro.»8

Registo de passaporte de Joaquim Maria Leite

Em 1882, Belém já estava muito desenvolvida e, nesse ano, foi fundado o Corpo dos Bombeiros, com equipamentos considerados modernos para a época. A nova cidade tinha boulevards, quiosques, teatro cafés, sendo o Café da Paz, o lugar predilecto para discussões políticas. O bonde eléctrico foi introduzido e plantadas árvores nas orlas das vias. Uma cidade muito desenvolvida e em constante expansão, muito diferente do lugar de onde partiu. Joaquim inseriu-se na sociedade belenense e envolveu-se em instituições de carácter económico. Conheceu António José Martins9, barão de Monte Córdova10, com duas firmas estabelecidas no Pará. A primeira desintegrou-se e a segunda era de consignação e comissão de 8 - NETO, Miranda, O Dilema da Amazónia, Edições CEJUP, pp. 39, 40. 9 - António nasceu em 1831, em Santo Tirso. Chegou ao Pará em Janeiro de 1856, trabalhou como caixeiro e estabeleceu-se em 1864. O barão faleceu na sua terra natal, em 1907. 10 - ATT, Registo Geral de Mercês, D. Luís I. livro 46, p. 46.

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mercadorias, da qual Joaquim Maria Leite fazia parte. Começou a sua vida profissional como empregado nessa casa comercial, denominada «Martins & Cª», passando de guarda-livros, a sócio e mais tarde proprietário e director da firma Leite & Companhia. De Agosto a Dezembro de 1890 foi director do mês do Clube Euterpe11. Fez parte do Club Philarmonico Paraense e actuou num concerto promovido por essa associação de amadores, no prédio nº 9, à rua João Balby. Executou com Joana Costa - Variações sobre o Carnaval de Veneza, solo para piston; com Domingos M. Godinho, Raymundo Costa, Joaquim G. Costa e Joana Costa – Paisagens campestres, quinteto para piano, violino I e II, flauta e cornet à piston; e com V. Gomes – Guido e Ginevra, solo para piston e outras peças com a orquestra12. Em Março de 1891 casou civilmente com Maria Ursulina Pontes13. Em 1894 a empresa, liderada por Joaquim e denominada Leite & Cª nasceu. Assim apareceu a notícia14:

Pelo falecimento de João Pontes de Franco, ocorrido em Estarreja, foi mandada celebrar uma missa na Sé de Belém, no dia 12 de Junho de 1895. Os abaixo assinados pediram às pessoas do seu conhecimento para assistirem à dita missa: Ana Umbelina de Pontes, mãe, ausente; Cândido de Pontes Franco, irmão, ausente; Cândida Nogueira de Pontes, tia, ausente; e os sobrinhos: Maria Ursulina de Pontes Leite, Ana Ursulina de Pontes Leite, Francisco Pontes Franco, ausente, Custódio Pontes Franco, ausente, Joaquim Maria Leite e Ângelo Amador Leite15.

11 - A República, nº 166, de 11-09-1890. 12 - O Democrata, Órgão do Partido Republicano Democrata, nº 55, de 08-03-1890. 13 - A República, nº 318, de 17-03-1891. 14 - Correio Paraense, nº 587, de 10-05-1894. 15 - Diário de Notícias (RJ), nº 129, de 09-06-1895.

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A 20 de Fevereiro de 1896, houve eleições para os corpos gerentes. Joaquim foi nomeado um dos suplentes da Directoria16. «A Equitativa dos Estados-Unidos do Brasil, subordinando a direcção dos seus negócios a tão conspícuos cavalheiros, não podia oferecer maior garantia moral de seriedade aos seus associados. Esta simpática sociedade oferece, para referências, no Estado do Pará os seguintes Exmos Srs: - Joaquim Maria Leite, da firma Leite & C (…)»17. O grande impulsionar e exemplo de vida comercial foi, sem dúvida, o barão de Monte Córdova. Após anos de trabalho, lado a lado, separaram-se dessa sociedade mercantil, contudo, continuaram sócios noutros negócios, e noticiaram o evento da seguinte maneira: «Ao Commercio - LEITE & Cª, fazem publico que nesta data dissolveram a sociedade mercantil que tinham na praça do Pará, retirando-se o socio sr. Barão de Monte Cordova embolsado de capital e lucros, assumindo a responsabilidade do activo e passivo os outros sócios, os quaes continuam com a mesma firma. Pará, 31 de Julho de 1896 – P. p. so sr. Barão de Monte Cordova,Visconde de São Domingos; Joaquim Maria Leite; p. p. Constantino José Martins, Ângelo Amador Leite18». A 13 de Abril de 1897 houve uma reunião no escritório da Companhia de Seguros Previdente para se tratar da criação de mais uma companhia de seguros de vida, em Belém com a denominação de Companhia União Paraense, com o capital de 1.500 000$000, dividido em acções de 100$000 cada uma. Foi considerado incorporador, entre outros, Joaquim Maria Leite19. A 29 de Maio ficou definitivamente constituída e na eleição, Joaquim Maria foi eleito para o Conselho Fiscal20. A Firma Leite & Cª fez mais uma remodelação21:

A 1 de Maio, Joaquim e Ângelo fizeram renascer a Leite & Companhia. Joaquim continuava no mundo dos negócios e encontramo-lo, no ano de 1898, como suplente na directoria do Banco de Belém.22 16 - Folha do Norte, nº 52, de 21-02-1896. 17 - Folha do Norte, nº 199, de 17-07-1896. 18 - Folha do Norte, nº 218, 05-08-1896. 19 - Folha do Norte nº 469, de 14-04-1897. 20 - Folha do Norte, nº 515, de 30-05-1897. 21 - Diário de Notícias (RJ), nº 98, de 02-05-1897. 22 - O Pará, nº 70, de 22-02-1898.

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Neste ano pagou de décima pela sua casa, cita no nº 13, Rua Arciprestes Manuel Teodoro, a quantia de 75$00023. Joaquim entrou para a Associação Comercial do Pará, outrora conhecida por Praça do Comércio e esteve na 1ª reunião no ano de 1899. Fez parte do conselho deliberativo de várias directorias dessa instituição. Nomeado director da semana, da Companhia de Seguros Comercial, por diversas vezes24:

A firma também possuía, também, vapores25 e lanchas para movimento dos produtos comerciais e pessoas. Nesse ano de 1899, Joaquim tinha várias propriedades, entre elas, uma na Rua Arcipreste Manuel Teodoro, nº13, onde residia e outra no Largo de S. José, nº 1. Pela primeira pagava a décima urbana no valor de 75$000 e pela segunda, 21$60026. Joaquim decidiu naturalizar-se brasileiro e o evento ocorreu a 5 de Agosto de 1899.

Registo de naturalização de Joaquim Maria Leite

23 - O Pará, nº 107, de 10-04-1898. 24 - A Republica: Orgão do Club Republicano (PA) nº 188, de 10-10-1899 e nº 195 de 18-10-1899. 25 - Navio “Porto de Moz” (1898), depois “Iracema”, adquirido de Marques Braga & Cia. Em 1906/1907 foi proprietário do “Eurico”. 26 - O Pará, nº 398, de 27-03-1899.

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«Na semana de 14 a 19 de Agosto de 1899, estiveram de serviço, os directores Joaquim Maria Leite e Domingos José Ferreira, da Companhia de Seguros Comercial do Pará.»27 A convivência de Joaquim na vida paraense estava já muito estabelecida. Era convidado para eventos de grande importância e de pessoas com peso na sociedade. Aquando da chegada, a 3 de Setembro, dos Srs. Bispo Diocesano, Arcebispo da Baía e do Rio de Janeiro, Bispos de Petrópolis, Amazonas e Pará, vindos da Europa a bordo do vapor italiano «Rio Amazonas», formou-se uma grande comissão de comerciantes, para receber as dignidades, composta pelos Srs: senador José Marques Braga, comendador António José de Pinho, tenente-coronel José C. Brazil Montenegro, barão de Cametá, Joaquim Maria Leite, António Pedro Martins, Joaquim Gomes Nogueira, António Rodrigues Alves, José Furtado de Mendonça Sobrinho, comendador Luís da Silveira Azevedo, Darlindo Rocha, Francisco Joaquim Pereira, Franklin C. de Albuquerque, comendador Joaquim da Silva Vidinha, coronel Agostinho Monteiro Gonçalves de Oliveira, João Borges Alves, Agostinho José Fernandes, Manuel Bento Vieira Júnior, António dos Santos Cardoso, José Augusto Correia, Adriano dos Santos Sobrinho, Pedro C. Boulhosa, Joaquim da Cunha Muniz, comendador José Francisco Monteiro, Baltasar Moreira Bessa, João Ventura Ferreira, Viriato Lopes David, major Félix Paraense, Manuel Elpídio de Andrade, coronel João Moreira Costa, José Gonçalves Sampaio, José Leite Chermont, Benjamim Lamarão, coronel Joaquim Taveira Lobato, comendador Joaquim António de Amorim, Manuel Pacheco Borges, António de Assis Vasconcelos, Joaquim Luís da Cunha Cerqueira, António Rodrigues Vieira, Wenceslau B. Martins, João Tavares Heitor, Luís Furtado de Mendonça, coronel Coroliano Jucá, Manoel José Teixeira, entre outros. Esta comissão pediu aos colegas de classe, bem como aos consignatários das embarcações, a fineza de fazerem embandeirar as fachadas de suas casas, estabelecimentos, os trapiches e suas embarcações. O governador do estado e intendente municipal, bem como as altas autoridades, representantes do clero, comissão de comércio e imprensa embarcaram no navio «Capitanea», pela ponte do trapiche da Recebedoria, às 7 da manhã. A flotilha foi composta por vapores, lanchas e um paquete. No dia seguinte foi celebrado o solene TeDeum, em acção de graças, na catedral da cidade, às 8 da manhã28. Em Setembro, entre os dias 16 e 19, foi novamente director de semana da Companhia de Seguros Comercial do Pará29. «Junta Comercial – Sessão de 21-09-1899 – Á hora regimental reuniu-se a Junta sob a presidência do senador Marque Braga, secretariado pelo Dr. Passos Miranda Filho, tendo comparecido os Srs. Deputados Inácio Nogueira, Coutinho Júnior e Bricio da Costa. Depois da aprovação da acta da sessão anterior passouse ao expediente que constou do seguinte: - De Joaquim Maria Leite pedindo arquivamento para os distratos sociais da firma Leite & Cª. – Deferido»30.

27 - O Pará, nº 514, de 19-08-1899. 28 - O Pará, nº 525, de 01-09-1899. 29 - O Pará, nº 537, de 15-09-1899. 30 - O Pará, nº 542, de 21-09-1899.

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Em 1900 aparece novamente como director da Companhia de Seguros Comercial juntamente com Serafim Francisco Pereira31, cargo que mantém por bastante tempo. Em 1902 encontramos a seguinte notícia: «Na segunda-feira, chegou a Lisboa, no vapor «Madeirense», o Sr. Joaquim Maria Leite, irmão do nosso amigo Manoel Maria Leite, chefe da antiga e importante Casa Comercial fundada no Pará pelo snr. Barão de Monte Córdova»32. Joaquim foi a Santo Tirso encontrar-se com o Barão.

Viagem de João António Leite33

Em 1904, Plácido de Castro, um dos heróis da revolução acreana, adquiriu o seringal «Capatará» e tinha como vendedora a firma Leite & Cª34. No mesmo ano, o novo cônsul português no Pará, Sr. Adelino Ferreira, vindo da América do Norte no paquete «Dominic», foi cumprimentado por uma comissão que também o acompanhou a terra, usando, por isso, o vapor «Eurico», que o Sr. Ângelo Leite tinha posto à disposição. O cônsul ficou hospedado na casa do Sr. Joaquim Maria Leite, que se encontrava em Portugal. No dia 3 de Julho foi-lhe oferecido um almoço por um grupo de portugueses, na residência de Joaquim, tendo comparecido os Srs. Ângelo Amador Leite, Joaquim Victorino de Oliveira, presidente da Real Sociedade Portuguesa Beneficente, Domingos Pires Barreira, presidente do Grémio Literário Português, comendadores Manuel Augusto Marques, Manuel Pereira Dias e Joaquim António de Amorim, José Maria Borges de Lima, Joaquim A. Lopes Martins, Francisco José Dias, representando o visconde de S. Domingos, João Carlos da Cunha Cerqueira, Aníbal Porto, José Gonçalves Sampaio, Abel de Carvalho, João Tavares Heitor, Dr. Luís Soares, Francisco Araújo, José Correia de Araújo, Fernando de Oliveira Marques e Joaquim Esteves de Carvalho. Ao dessert o Sr. Consul brindou o Sr. Joaquim Maria Leite e ex.ma família, respondendo em agradecimento o Sr. Ângelo Leite35. Nesse ano de 1904, Joaquim e a esposa passaram mais de meio ano em Portugal para ajudar na recuperação da saúde de sua consorte, a qual tinha ido a Paris para tratamento. Regressaram ao Brasil em Novembro, a bordo do navio «Ambrose».

31 - O Jornal, Belém do Pará, Ano I, nº 14, de 30-09-1900. 32 - Jornal de Santo Tirso, nº 18, de 04-09-1902. 33 - Campeão das Províncias, nº 5505, de 06-12-1905. 34 - www.pnd.org.br/acre.htm. 35 - Jornal da Murtosa, de 06-08-1904.

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Em 1905, fazia parte do conselho deliberativo da Associação Comercial do Pará36. Em Outubro do mesmo ano veio com sua esposa a Portugal e apadrinharam Altino, filho de sua Irmã Maria Cândida.

Assinaturas de Joaquim e de Maria Ursulina no registo de baptismo de Altino37

Em 1907, o Barão de Monte Córdova faleceu e um jornal assim noticiou a sua morte: «O extincto contava 70 annos de edade e fora, por muitos anos, comerciante nesta capital, sendo chefe da extincta Firma Martins & Cª, hoje sucedida pela de Leite & Cª»38. O Barão de Monte Córdova fez seu testamento e Joaquim foi o seu primeiro inventariante. Desse testamento extraímos o seguinte: «Tive negócios de importação e de exportação, sob a razão social de Martins & Companhia, cuja firma subsiste para certas liquidações de pouca valia. Hoje tenho sociedade com Joaquim Maria Leite, casado, português, sob a razão de Leite & Companhia para o negócio de comissões do interior. Os meus haveres constam do meu capital nessa firma, hoje constituída e de papéis de crédito, como acções de bancos e companhias e de bens de raiz nesta cidade e em Portugal; os haveres particulares nesta ficam hoje entregues ao dito meu sócio Leite a guardar títulos e tudo mais, nos cofres da nossa firma»39. A expansão do seu negócio levou-o até Delaware, nos Estados Unidos, onde registou a sua firma como Leite & Company, Incorporated. Para facilitar as relações comerciais com o Brasil, conseguiu autorização para a mesma ter representação no Brasil, oficializada por decreto. Secretaria de Informação Legislativa DECRETO N. 7.568 - DE 25 DE SETEMBRO DE 1909 «Concede autorização á «Leite & Company, Incorporated» para funccionar na Republica. O Presidente da Republica dos Estados Unidos do Brazil, attendendo ao que requereu a Leite & Company, Incorporated, devidamente representada, DECRETA: Artigo unico. E’ concedida autorização á Leite &, Company, Incorporated, para funccionar na Republica com os estatutos que apresentou, mediante as clausulas que a este acompanham, assignadas pelo Ministro de Estado da Agricultura, Industria e Commercio e ficando a mesma sociedade obrigada a cumprir as formalidades exigidas pela legislação em vigor. Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1909, 88º da Independencia e 21º da Republica. 36 - Estado do Pará, nº 62, ano de 1906. 37 - PT-ADAVR-PETR02-1-114_m0108. 38 - Jornal Folha do Norte, nº 3295, de 13-01-1907. 39 - Centro de Memória da Amazônia. Fundo: Cartório Odon Rhossard, Ano 1907, Inventário de José António Martins. Testamento transcrito a partir do Inventário. O património foi avaliado em 406:366$020.

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NILO PEÇANHA. Nós abaixo assignados tendo por objecto, organizamos uma corporação para os fins abaixo especificados, de accôrdo e na fôrma do disposto em uma lei do Estado de Delaware, intitulado «An act providing Géneral Corporation Law». (Acto estabelecendo uma lei sobre corporações em geral) approvada em 10 de março de 1899, bem como nas emendas e outros actos supplementares da citada lei, pelo presente certificamos o seguinte: 1º, o nome da corporação é Leite & Company, Incorporated; 2º, a séde da corporação será na cidade de Dover, Condado de Kent, no Estado de Delaware. O seu agente residente será James M.Satterfield; 3º, a natureza da corporação e os objectos e fins de que pretende ella tratar, promover ou explorar, são os seguintes: 1) comprar, vender e negociar em carvão, madeira, oleo, gaz e borracha, e gerir e explorar usinas de oleo, gaz, electricidade e outras para fornecer luz e força, e produzir, desenvolver, transmittir, distribuir, comprar e vender força e luz de toda a sorte e qualidade; a) adquirir por compra ou por outro titulo qualquer os negocios anteriormente e na presente data tratados pelos Srs. Joaquim M. Leite e Angelo A. Leite, constituidos em firma; sob a razão social de Leite & Comp. com sua sede de negocios na cidade do Pará, Estados Unidos do Brazil, e bem assim, a freguezia, stock negociavel, accessorios, contas escripturadas, creditos em vigor, contractos por ultimar e ordens; e todos e quaesquer outros bens moveis, direitos, privilegios e lucros actualmente auferidos e de que gozarem os mesmos negocios pagal-os com titulos desta corporação ou de outra fórma»40. Além destas condições, a companhia usufruía de, muitas outras, vantajosas para o seu negócio, tais como importação e exportação, construir, comprar ou arrendar, manter e explorar estradas de ferro, movidas a vapor ou electricidade, bem como linhas telegráficas e telefónicas; manter e explorar vapores e navios de toda a natureza, ter negócio de transporte de passageiros e de carga, explorar, manter ou gerir canais, docas, pontes, reservatórios, estações terminais e estradas para vagons e caminhos; explorar propriedades agrícolas, minerais, matas de carvão, óleo, gás e terras com plantações de borracha; fabricar, produzir e vender artigos de todo o género e espécie de produtos pela companhia. «O sello da corporação, salvo qualquer resolução em contrario por parte da directoria, e emquanto tal não houver, será de forma circular, com as palavras Leite & Company, lncorporated, Delaware, U. S. A. 1909. (…) Lucian W. Jenney e Adolph D. Ensmenger, devidamente juramentados, depuzeram e declararam que são respectivamente presidente e secretario da Leite & Company Incorporated, corporação devidamente organizada e existente por força das leis do Estado de Delaware, Estados Unidos da America. (…) Lucian W. Jenney e Adolph D. Ensmenger, devidamente juramentados, declararam e disseram cada um de per si: que o alludido Lucian W. Jenney é o presidente e o mencionado Adolph D. Ensmenger e o secretario e thesoureiro da Leite & Company Incorporated, corporação devidamente organizada e com existencia legal, nos termos da legislação do Estado de Delaware, Estados Unidos da America; que os nomes e residencias dos subscriptores originaes do capitalacções e o numero de acções subscriptas por cada um delles são as seguintes41:

40 - Diário Oficial da União - Seção 1 - 26/9/1909, Página 6976 (Publicação Original). 41 - http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=57968&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB

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Nome

Residência

Accções ordinarias

Armand Batta 131 Sherman Ave. Nova York, cidade de Nova York........................... John Bento Palmeira 5 th Avenue, Brooklyn cidade de Nova York................................... Adolph D. Ensmenger 233 Sheridian Ave. Brooklyn cidade de Nova York............................ Lucian W. Jenney 324 West 83 rd St. Cidade de Nova York....................................... Carlos F. Hermandez 638 Prospect BI, Brooklyn cidade de Nova York..............................

5 5 6 9 6

31 Este anúncio era constante nos jornais:

A notícia que segue relata a um período posterior e o director já não era o mesmo: «Leite & Cia. Incorporated - Esta importante firma aviadora, com sede social em Dover, Delaware, Estados Unidos da América do Norte, foi fundada em 1909. Possui a firma uma filial em Nova York e uma sucursal no Pará, estabelecida à Travessa de S. Matheus. O comércio da firma consiste na exportação de gêneros e mercadorias para o interior da Amazônia, donde recebe borracha, que geralmente vende na praça de Belém. Para o transporte de suas cargas, possui a companhia dois vapores. O presidente da companhia é o sr. Adelino A. Ferreira, que também é presidente da Companhia de Seguros Comercial, com sede em Belém»42.

Seringueiro recolhendo latex.43

42 - http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g43c.htm. 43 - https://noamazonaseassim.com.br/tudo-sobre-o-ciclo-da-borracha-dos-primordios-ate-1920/

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Mais uma vinda a Portugal e que foi noticiada da seguinte maneira44: «Chegou há dias de regresso do Brazil, á sua elegante casa de Estarreja o abastado capitalista snr. Joaquim Leite, natural d’aquella villa. Possuidor de uma avultada fortuna que conquistou pela sua intelligencia e trabalho em terras da América, o sr. Joaquim Leite impõe-se á consideração e estima de todos pela honradez do seu caracter, prendendo e captivando pela modéstia do seu porte, pela lhaneza do seu trato e maneiras distinctas que o tornam deveras sympsthico. Admiradores das bellas qualidades que o distinguem, cumprimentamo-lo no seu regresso, estimando sinceramente que a sua viagem corresse sem incidentes desagradáveis, e que entre sua família, amigos e conterrâneos elle passe tranquillo e socegado, os dias que consagra a repouso e a descanço na pátria querida que altamente o estima e que muito se orgulha de o ter por filho». Em 1909, em Portugal, Joaquim e Ângelo decidiram comprar um carro. Dois anos mais tarde, Joaquim teve um acidente. O incidente foi assim relatado na imprensa local: «Quando há dias o Sr. Joaquim Maria Leite, importante capitalista de Estarreja, acompanhado de sua família seguia pelas ruas do Porto, no seu elegante automóvel sofreu um grande desgosto que bastante o contrariou. O automóvel atropelou uma pobre mulher que teve morte instantânea. Preso o chauffeur averiguou-se que ele não fora o culpado, sendo posto em liberdade. Não só lamentamos o triste acontecimento como sentimos o desgosto por que passou o Sr. Joaquim Maria Leite»45. Em Janeiro de 1911, Joaquim e seu irmão João viajaram para o Acre, em 1ª classe, no vapor Iracema.46

Transcrevemos um extracto de uma notícia sobre a firma Leite & Company Incorporated que apareceu num jornal em Abril de 1911: «(…)-Também o solicitador Mello Filho acusou, por parte de seu constituinte, comandante Thomaz João Tavares, a citação feita a Leite & Companhia Incorporated, na pessôa dos seus representantes Adelino A. Ferreira, director-presidente dessa companhia, J. Gonçalves, secretário e José Oscar de Avellar, director-gerente, para na audiência de hontem verem propor-se contra a referida companhia uma acção ordinária, para pagamento da somma de 7:151$280, juros e custas, conforme os dizeres da petição inicial e dos documentos que a instruiram e verem assignar-se-lhes o praso da lei, dentro do qual deverão apresentar contestação á acção, sob as penas da lei. (…)»47. 44 - Concelho de Estarreja, nº 451, de 21-05-1910. 45 - Concelho de Estarreja, nº 528, de 18-11-1911. 46 - Folha do Acre, nº 23, de 05-02-1911. 47 - Estado do Pará, nº 18, de 27-04-1911.

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No mesmo ano, a firma Leite & Companhia adquiriu uma lancha: «Aos Srs. Leite & Companhia, Incorporated, foi expedida, pela capitania do porto, a 2ª via de registo da lancha «Dias», de sua propriedade, visto se ter extraviado o primeiro»48.

O ciclo da borracha teve o seu apogeu entre 1879 e 1912, um grande período para a história económica e social do Brasil. Foi na floresta amazónica que a extracção da borracha se desenvolveu. Durante muitos anos a borracha natural, produto exclusivo da Amazónia, gerou grandes lucros e conquistou um lugar de destaque tanto na América como na Europa. A situação geográfica da cidade de Belém, pertíssimo do litoral, desfrutava de bastantes residências de seringalistas, instituições e bancos. Uma cidade avançada no seu tempo, pois além da luz eléctrica, já existia um sistema de esgotos, eléctricos, avenidas e habitações luxuosas. Manaus usufruía das mesmas condições. A moeda do negócio era a libra esterlina que circulava nessas duas cidades. Todo o negócio tinha seus percalços e levou Joaquim ao Tribunal Superior, não sabemos, contudo, o desfacho 49:

Apelações

Tudo corria bem até que a concorrência vinda da Ásia, principalmente do Bornéu, Java, Malásia e Sumatra, geridas por empresas holandesas e inglesas abalaram os alicerces da economia brasileira. A produção da borracha sintética e a falta de apoio governamental, com programas de desenvolvimento e protecção aos produtores, fizeram com que a extracção amazonense entrasse em crise definitiva. Em 1912, a participação do falecimento da sua primeira esposa50, levou os comerciantes da região a fazer um luto de dois dias. A notícia do seu passamento apareceu assim nos jornais: 48 - Estado do Pará, nº 88, de 06-07-1911. 49 - Estado do Pará, nº 18, de 27-04-1911 e nº 158 de 14-11-1911. 50 - Estado do Pará, nº 552, de 14-10-1912 e nº 554 de 17-10-1912.

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Participação de falecimento

O Jornal “Povo da Murtosa” na sua edição de 9 de Novembro, transcreveu da “Capital” do Pará o seguinte: “Em sua residência, 13, à rua Arcipreste Manuel Theodoro, n’esta capital, falleceu hontem, ás 5 horas da tarde, sendo sepultada hoje ás 4 horas, no cemitério Santa Izabel, a ex.ma snrª D. Ursulina de Pontes Leite, virtuosa e distincta esposa do sr. Joaquim Maria Leite, um dos grandes accionistas e directores da Leite and Company Incorporated e da Companhia de Seguros Comeercial, na praça de Belém. Uma das salas da espaçosa vivenda fôra transformada em camara ardente. Num riquíssimo athaude de veludo recamado de ouro, com alças de prata maciças, sobre uma eça de apuradas linhas architetonicas, repousava no ultimo sonno o corpo da bondosa e caritativa extincta. Quatro brandões e outras tantas piras de prata ardiam ladeando o ataúde, sobre a alcatifa de veludo de seda preta e roxa que revestia o soalho de todo o aposento. Ao fundo d’este, á cabeceira do custoso esquife, erguia-se na severidade das colgaduras luctuosas um altar sustero, onde um crucifixo artisticamente cinzelado era iluminado pelas chamas oscilantes de lívidos tocheiros. Os mortaes despojos da distincta morta eram velados por muitos parentes, amigos e por seis irmãos da Sociedade Portugueza Beneficente, onde a morta de hontem era consideravelmente bemquista e da qual foi por largos anos director seu lacrimoso consorte o sr. Joaquim Maria Leite. O serviço religioso que obdeceu rigorosamente ao ritual catholico romano, esteve a cargo dos revs. Padres Celso Monteiro, vigário de Curralinho e Manuel Rodrigues Cyrne, amigo intimo dos irmãos Leites. O sahimento, que se realisou ás 4 horas da tarde, no carro de 1ª classe da Ordem 3ª de S. Francisco da Penitencia, já era irmã e proctectora a falecida, foi feito da camara ardente ao coche fúnebre por irmãos daquellapia instituição. Do athaude pendiam muitíssimas corôas da mais apurada execução. Associando-nos com verdadeiro pezar á dor da família enlutada,reiteramos-lhe as nossas sentidas condolências”. O falecimento da sua primeira esposa e a crise que se seguiu foram eventos desanimadores na vida de Joaquim. Aos poucos deixou de visitar a sua terra natal e resolveu vender alguns bens que

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tinha adquirido em Portugal, continuando, contudo, com os seus negócios no Brasil e na América. O Imposto predial que Joaquim pagou no ano de 1913 por um térreo, na Travessa de São Mateus foi de 120$000 e um sobrado na mesma travessa, de 750$00051. Neste mesmo ano, na Associação Comercial, foi feita uma reunião, para se organizar um Congresso e pedir ao Sr. Governador do Estado uma diminuição dos impostos estaduais, federais e municipais e da regulamentação do preparo da borracha e diminuição de impostos e leis protectoras da borracha, pedindo que o imposto de $150 fosse reduzido para $90 e abolição do imposto inter-municipal sobre os géneros alimentícios; e a todas as empresas de navegação da Amazónia e proprietários de vapores particulares, transporte gratuito aos delegados do Congresso, amostras de borracha, aparelhos para sua fabricação e outros objectos. Circulares foram enviadas e Joaquim também as recebeu52. A 24 de Maio, do dito ano, mandou celebrar uma missa por alma de sua mãe, falecida recentemente em Estarreja. À Sé compareceram vários amigos íntimos e no fim da cerimónia Joaquim, Ângelo e João receberam abraços de condolência53. No ano de 1914 pagou de imposto predial, por um térreo, na Avenida de S. João, 240$00054, e um telheiro, no ano de 1915, na N. Nunes de Morais, 129$13055. No ano de 1917 pagou, por dois sobrados, nºs 67 e 69, na Avenida Padre Eutychio, as quantias de 120$000 e de 600$00056 e por um térreo na Travessa de São Pedro, 96$00057. Em 1916, no Amazonas, foi padrinho de casamento da noiva Maria Oceandra de Figueiredo com o Dr. L. Freitas, juiz substituto da capital. Neste evento fez-se representar por seu irmão Ângelo e esposa58. Acontecimentos no Acre em 1917 que envolveram Joaquim e a sua firma. Edital de intimação de protesto O Dr. Affonso Maria de Oliveira Penteado, juiz Federal em exercício na Secção do Território de Acre, etc. Faz saber aos que virem o presente edital, ou dele notícia tiverem que por parte de Leite & Company Incorporated, me foi dirigida a petição do teor seguinte: «Da Leite & Company Incorporated, sociedade anónima com sede social em Dover, Estado Delaware, República dos Estados Unidos da América do Norte, devidamente autorizada a funcionar no Brasil, estabelecida com sucursal na praça do Pará, sucessora de Leite & Companhia, comerciantes da mesma praça, por seu procurador abaixo assinado (instrumento anexo), que por escritura pública de primeiro de Maio de mil novecentos e nove, lavrada nas notas do Tabelião Francisco Liberato Bezerra Borges, da Comarca de Floriano Peixoto, Estado do Amazonas, Raymundo Cândido Falcão, 51 - Estado do Pará, nº 622, de 28-12-1912. 52 - Estado do Pará, nº 752, de 13-05-1913. 53 - Estado do Pará, nº 774, de 25-05-1913. 54 - Estado do Pará, nº 994, de 31-12-1913. 55 - Estado do Pará, nº 1285, de 19-10-1914. 56 - Estado do Pará, nº 2061, de 05-12-1916. 57 - Estado do Pará, nº 2300, de 26-08-1917. 58 - Estado do Pará, nº 1982, de 18-09-1916.

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brasileiro, comerciante, domiciliado que foi em “Novo Axioma”, da dita Comarca de Floriano Peixoto, fez dação em pagamento, em favor de Leite & Companhia, hoje substituídos pelo suplicante, entre outros bens o seguinte: “A posse mansa e pacífica das terras de propriedade do Governo Federal, do lugar denominado “São José do Abunã, situadas à margem esquerda do Igarapé do mesmo nome, afluente do Rio Abunã, no segundoTermo da Comarca de Rio Branco, Departamento do Acre, terras que se acham trabalhadas e cultivadas em toda a sua extensão compreendida dentro dos seguintes limites: - Pela frente, com o aludido Igarapé; pelo lado de cima com o seringal “Perpétuo Socorro”, propriedade de Dom Roberto Medina (hoje propriedade de Raymundo Dias de Carvalho);pelo lado de baixo comValério Alves e pelos fundos com terras de Carneiro & Irmão, contendo trezentas estradas de seringueiras e outras benfeitorias; Que pela citada escritura, o transmitente constituiu os adquirentes seus procuradores em causa própria, para uso dos direitos inerentes à propriedade transferida, como melhor conviesse; Que a posse supra referida, aquele Raymundo Cândido Falcão, edificou e consolidou pela exploração e ocupação primitiva de terras devolutas no decurso dos anos de mil novecentos e um a mil novecentos e quatro, e desde então, pelo mesmo e seus sucessores, há sido gozada e desfrutada, mansa e pacificamente, com cultura efectiva e moradia habitual, sem turbação e contestação de pessoa alguma: - Que em dias de Agosto deste ano, a suplicante, por seu representante geral na zona do Acre, senhor Joaquim Maria Leite, recebeu uma carta do Agrimensor Deocleciano Coelho de Souza, com data de 7 e outra do senhor José Candeira, com data de 8 do mesmo mês, avisando de que ia, por aquele, ser feita a demarcação do seringal de que este se diz proprietário denominado actualmente “Nova Califórnia”, o qual fazendo frente para cartas, a suplicante, por seu dito representante, indicou e autorizou o senhor António Augusto da Rocha, para assistir a essa pretendida demarcação; - Que, a despeito desse aviso e indicação, na ausência do aludido senhor António Augusto da Rocha, procedeu, aquele Agrimensor e pessoal às ordens do referido José Candeira, abertura de picadas ou travessões abrangendo uma grande área das terras supra mencionadas “São José do Abunã”, com benfeitorias constantes de cento e vinte estradas de seringueiras, mais ou menos, abertas e cultivadas e onde trabalham mais de trinta extractores de goma elástica, quinze barracas de madeira de lei, cobertas de palha, um barracão também de madeira de lei no centro conhecido com a denominação de “Novo Horizonte”, roçados, plantações de árvores frutíferas, campos, varadouros, pontes e outras; - Que, nas condições expostas, quer a suplicante, amparada no dispositivo do art. 390 do Reg. 737 de 1850, e para ressalva de seus direitos, protestar, como protesta, conservar-se na posse das terras indicadas,“São José do Abunã”, e no pleno domínio das benfeitorias nelas existentes e de sua legítima propriedade, e contra a aludida demarcação, actos de turbação ou esbulho que venham a ser feitos à já indicada propriedade, e por perdas e danos do acto ou actos resultantes, e assim P. e Requer aVossa Excelência se digne de mandar tomar por termo o seu protesto, sendo dele pessoalmente intimados os referidos José Candeira e Agrimensor Deocleciano Coelho de Souza, e por meio de editais com o prazo legal a quem de direito for e interessar possa, dando-se de tudo ciência ao Dr. Procurador da República do Território, e afinal, ficando traslado para em todo o tempo constar, sejam os autos entregues a suplicante para deles usar como lhe convier. Para o efeito da taxa judiciária avalia-se o presente em três contos de reis. Neste termos, E. R. Deferimento, Rio Branco, cinco de Novembro de 1917, (assinado)Virgílio Esteves de Lima». (Estava devidamente selada por verba, em falta de estampilha do selo adesivo, na importância de mil e duzentos reis). Em cuja petição exarei o seguinte despacho: «A. tome-se por termo, fazendo-se as intimações requeridas e cientificando-se ao Doutor Procurador da República. Rio Branco, 5 de Novembro de 1917 – Penteado. – Em comprimento deste despacho foi tomado o seguinte:Termo de protesto.Aos cinco dias do mês de Novembro de mil novecentos e dezassete, nesta cidade de Rio Branco, sede da Justiça Federal do Território do Acre, em meu cartório, compareceuVirgílio Esteves de Lima, morador em Floriano Peixoto, Estado do Amazonas, advogado, reconhecido das duas testemunhas abaixo assinadas, por ele foi dito que, na forma de sua petição de folhas duas, que fica fazendo parte integrante deste termo, e na qualidade de procurador de Leite & Company Incorporated, conforme instrumento publico retro, protestava como efectivamente protestado o tem por todo o conteúdo da referida petição, para todos os efeitos de direito. E, de como assim o disse e pediu-me lhe tomasse

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o seu termo de protesto, que é o presente, o que lhe li e por achá-lo conforme assina com as testemunhas presentes que também ouviram ler; do que dou fé, Eu Marcelino A. Saraiva, Escrivão Federal o escrevi. –Virgílio Esteves de Lima, Francisco de Souza Júnior e António Rebelo. – Em cumprimento do mesmo despacho passou-se p presente edital, com o prazo de noventa dias, por meio do qual ficam intimados os interessados e quem de direito for, de todo o conteúdo da petição e termo de protesto acima transcritos, para todos os efeitos de direito. Do que para contar passou o presente e mais dois de igual teor que serão afixados na forma da Lei. Dado e passado nesta cidade de Rio Branco, Capital do Departamento do Alto Acre e sede da Justiça Federal do Território do Acre, aos cinco dias do mês de Novembro de 1917. – Eu, Marcelino A. Saraiva, Escrivão Federal o escrevi. – (A) Afonso Maria de Oliveira Penteado. – Está conforme o original»59. No ano de 1918, pagou, de imposto predial, por um térreo, na Travessa de São João, nº 84, a quantia de 96$000.60 Em 1920, aquando de um visita a Rio Branco61, ficamos a saber que tinha o título de comendador:

Em Setembro de 1921 Joaquim e Ângelo vendem a “Casa dos Leites”, como era assim conhecida, em Estarreja. Uma outra viagem a Rio Branco62:

A 13 de Outubro de 1921 Joaquim viajou, em 1ª classe, no «Bello Horizonte», vapor da Amazon River, para o Pará63. A crise da borracha, que durante alguns anos, estragou muitos negócios devido à concorrência, estabilizou-se e no ano de 1927, mais duas fábricas nacionais para o fabrico de produtos de borracha e extracção de óleos, lubrificantes e essenciais foram construídas no Pará64. A vida profissional de Joaquim levou-o a fazer muitas viagens à vasta região acreana65.

59 - Folha do Acre, Ano VIII, nº 214, de 29-11-1917, p. 3. 60 - Estado do Pará, nº 2300, de 28-08-1917. 61 - Folha do Acre, Ano X, nº 306, de 27-03-1920, p. 2. 62 - Folha do Acre, Ano XI, nº 355, de 14-04-1921, p. 2. 63 - Estado do Pará, nº 3800, de 15-10-1921. 64 - A Folha do Acre, nº 586, de 28-08-1927. 65 - Folha do Acre, Ano XVI, nº 586, de 28-08-1927, p. 4.

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Em 1929, Joaquim moveu uma acção contra um inquilino seu: «Joaquim locara um imóvel a Josephino e pedia, através de processo judicial de n. º 4098/1929, que o contrato fosse cancelado e o imóvel devolvido. O principal argumento utilizado pelo advogado do litigante,Alfredo de Freitas, era de que o locatário do imóvel não cumpria as normas sanitárias definidas pela Diretoria de Higiene, expondo assim os frequentadores do espaço, que funcionava como um café, ao risco de sofrerem danos a saúde devido a deficiências na assepsia. Na exposição de motivos de Alfredo de Freitas, que consta nas folhas dois e três do processo, encontramos a seguinte justificativa para respaldar o pedido de cancelamento do contrato de locação: “O supplicado vem fazendo mal uso da casa, conservando-a em completo estado de desasseio não mandando, sequer, fazer as communs baldeações no soalho, o que levou o medico encarregado da direção do Serviço Sanitario Municipal a necessidade de determinar medidas reclamadas a bem da hygiene e da saude publica. A solicitação da Diretoria de Higiene, datada de 05 de junho de1929, foi incorporada ao processo, como importante prova do “desasseio” em que o espaço encontrava-se. A intimação feita a Josephino, datada de 05 de junho de 1929, tinha o seguinte teor: “Fica intimado a fazer dentro do prazo de oito dias, na mesma casa, os trabalhos que se descrimina a bem da Hygiene: - Conservar tampados os depósitos d’agua; remover as caixas e latas existentes na sentina e desinfetá-la diariamente; escaldar as xicaras todas as vezes que tiver de servir o freguez; pintar o balcão e limpeza geral na casa; sob as penas da Lei no caso de desobediencia.” Como contra-argumento, o Dr. Flaviano Flávio Baptista de Melo, advogado de defesa do réu, valeu-se, também, do discurso higienista, partindo de uma análise comparativa entre a forma como se encontrava a casa antes de ser alugada e como estava no momento, após as reformulações feitas pelo locatário. “Ninguem poderá contestar que o mesmo prédio quando foi alugado ao réu, era um depósito de couros, pelles de borracha e muitas outras immundices. A sentina não tinha fossa, servido as fezes humanas de alimentação as aves domesticas da vizinhança. Hoje porém existem na mesma casa, todos os preceitos de hygiene feitos pelo réu.” Mas parece-me, que o grande trunfo da defesa foi o facto de Josephino sublocar uma parte do imóvel ao médico hygienista Sebastião de Melo que, além de montar no espaço seu consultório, ainda utilizava-se dos mesmos espaços que os demais frequentadores para fazer suas necessidades fisiológicas. Na defesa elaborada pelo advogado Flaviano Flavio, contida nas páginas quatro e cinco do processo, encontra-se a seguinte linha de argumentação: “No alludido prédio, tem o seu consultório e serve-se dos aparelhos, digo - serve-se dos mesmos aparelhos necessários às necessidades phisiologicas o distinto médico higienista Dr. Sebastião de Melo. O argumento da defesa influenciou sobremaneira a decisão tomada pelo juiz, Dr. José Hermano de Vasconcelos, que não tinha como classificar como insalubre um espaço onde funcionava o consultório de um médico higienista. Não sei então se foi por conveniência, mas o processo foi arquivado»66. No ano de 1931 Joaquim pagou de imposto predial pela sua moradia na Rua H. Luís Alves a quantia de 240$000. Essa propriedade ainda estava alugada a Josephino Pereira Leal, onde mantinha seu comércio e outra propriedade, na Rua C. Matos, pela qual pagou 168$000, alugada ao Coronel Virgílio Esteves de Lima67.

66 - SOUZA, Sérgio Roberto Gomes, Fábulas da Modernidade no Acre: A Utopia Modernista de Hugo Carneiro na Década de 1920. Tribunal de Justiça do Território do Acre, processo n.º 4098 de Junho de 1929. 67 - O Acre, nº 85, de 29-03-1931. Os mesmos pagamentos foram feitos no ano seguinte.

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A vida de Joaquim, embora com altos e baixos, devido à crise da borracha, não o levou à falência. O grande património que possuía foi roubado, no dia a seguir ao seu falecimento, ocorrido a 1302-1932, por um sócio e familiar, que entrou em sua casa e levou todos os pertences de valor, tais como lustres, móveis, joias e principalmente escrituras e documentos de posses. Este familiar nem se importou pelo facto de Joaquim ter dois filhos menores, que ficaram órfãos e desamparados68.

Registo de falecimento de Joaquim Maria Leite

Após meio século de permanência no Brasil, Joaquim partiu da vida. O seu passamento foi assim relatado: «Belém – Acaba de falecer o antigo comerciante Joaquim Maria Leite, que nessa região manteve vultosas transações comerciais como sócio da firma Leite & Companhia Incorporated»69. Após as exéquias fúnebres Joaquim foi sepultado no cemitério de Santa Isabel, em Belém. Em Junho de 1932 saiu no Mapa dos Lançamentos do Imposto de Indústria e Profissão e Adicional Taxa Hospitalar, relativo ao 1º e 2º semestres do exercício de 1932, no Rio Acre e seus afluentes, a quantia a pagar por Joaquim, pelo seringal «Novo Encanto», na margem do Iquirí, de 51 a 100 estradas, 60$000 de imposto e taxa hospitalar de 3$000.70 Em 1935, Virgílio Esteves de Lima pede à Directoria de Higiene uma visita sanitária à casa dos herdeiros de Joaquim à Rua 17 de Novembro71. O Seringal Novo Encanto pagou de imposto e taxa hospitalar a quantia de 42$00072. 68 - A sua 2ª esposa já tinha falecido e os filhos foram criados por uma governanta, até certa altura. Contado assim por um descendente directo da família. Joaquim já estava viúvo quando faleceu. 69 - O Acre, 02-03-1932, p. 6 70 - O Acre, nº 135, de 05-06-1932. 71 - O Acre, nº 289, de 11-08-1935. 72 - O Acre, nº 269, de 24-03-1935.

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TERESA CRUZ TUBBY

Em 1936 o imposto predial foi de rs. 172$000, taxa sanitária rs. 48$000, taxa de domicílio rs. 19$200, taxa hospitalar r. 12$00073. Até 1940 a Leite & Companhia Incorporated tinha sucursais em Andirá, Perpétuo Socorro, S, João do Iquirí, Triunfo, Vila Rica e o seringal Novo Encanto continuava nas mãos dos “herdeiros”, mas não nas dos descendentes. A autorização dada a Joaquim a 25-09-1909 continuava activa no ano de 199174. E no ano de 1991, a Leite & Company com negócios de lacticínios75:

JOAQUIM MARIA LEITE E SEUS FAMILIARES AMARO DE OLIVEIRA, casou com ANTÓNIA JOÃO, natural de Romariz. Foram pais de: - ISIDORO DE OLIVEIRA, natural de Romariz, casou a 08-02-170176, em S. João da Madeira com MARIA LEITE, natural de S. João da Madeira, filha de António Gomes e de Ana Francisca, do lugar de Santo António e moradores no lugar das Vendas; foram testemunhas do casamento o Capitão Estevão Leite, João Teixeira e o Padre António d´Afonseca da Cunha. Foram pais de: 73 - O Acre, nº 325, de 19-04-1936. 74 -http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/Legislacao.nsf/viwTodos/CCF34629756654CA032569FA0046FEA7?Open document 75 - http://legis.senado.gov.br/legislacao/DetalhaDocumento.action?id=57968 76 - S. João da Madeira, Livro Paroquial nº 2, p. 127v.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

- MANUEL GOMES LEITE, nascido a 05-08-170477, em S. João da Madeira. Casou a 1202-173278 com CUSTÓDIA MARIA TERESA DE FONTES, natural de Santiago de Lourosa e moradora no dito lugar de S. João da Madeira, filha de Custódio de Carvalho, natural de Lourinhal, Barcelos e de Teresa Maria Coelha de Fontes, natural de Lourosa. Foram pais de: - JOÃO GOMES LEITE, nascido a 25-03-174679, no lugar das Vendas, em S. João da Madeira. Casou a 17-11-177280, em Mosteiró, Feira, com ROSA MARIA DIAS, natural de Mosteiró, filha de António Dias e de Isabel Antónia, do lugar do Monte de Santo André, da mesma freguesia; neta paterna de Manuel Dias e de Sebastiana Manuel, moradores no lugar da Gandarinha, Couto de Cucujães; neta materna de Manuel de Matos e de Isabel de Matos, moradores que foram no lugar do Monte. Foram pais de: - JOÃO ANTÓNIO DIAS GOMES LEITE, nascido a 20-05-178281, em Ovar. Casou a 01-04180882, na Igreja Paroquial de S. Cristóvão de Ovar com MARIA CÂNDIDA ASCENÇÃO ou ASSUMPÇÃO, nascida a 26-03-178883, em Ovar, filha de Manuel José da Ascenção/Assumpção e de Maria Joana Tavares de Pinho, moradores no Bairro de S. Tomé, neta paterna do Alferes José de Oliveira Brito e de Joana Maria de Assumpção, da Rua da Praça; neta materna de Francisco Tavares e de Maria de Pinho, do lugar dos Carvalhos, Avanca. Foram pais de: - AGOSTINHO ANTÓNIO LEITE, professor primário na freguesia de Beduído, nascido a 14-04-183184, na Rua de S. Tomé, em Ovar e falecido a 27-12-1905, na Casa do Agro, em Estarreja. Casou a 26-08-185685, na Murtosa, com MARIA JOAQUINA DA CRUZ ou AMADOR, nascida a 13-01-183286, na Murtosa e falecida a 26-09-187487, em Pardelhas; filha de João António Amador e de Rosália Maria da Silva, de Pardelhas; neta paterna de Manuel André Amador e de ;aria Rosa da Cruz; neta materna de Domingos Fernandes Rebelo e de Maria Joana da Silva. Casou, pela 2ª vez, a 22-05-187888, em Beduído com sua cunhada ANTÓNIA JOAQUINA DA CRUZ, nascida a 02-11-184289. Agostinho foi professor e músico. Fundou a “Música Estarregense” e regeu-a durante muitos anos; fez composições e tocava violino. Foram pais de: Filhos do 1º casamento: - AMÁLIA LEITE, nascida a 14-10-185690 na Murtosa e falecida em 1940. - JÚLIA DO CARMO, nascida a 01-06-185891 em Pardelhas e falecida a 12-11-186092, no mesmo lugar.

77 - S. João da Madeira, Livro Paroquial nº 3, p. 16v. 78 - Lourosa, Livro Paroquial nº 3, p. 173. 79 - S. João da Madeira, Livro Paroquial nº 5, pp. 23, 23v. 80 - Vila da Feira, Livro Paroquial nº 3, pp. 153v, 154. 81 - Ovar, Livro Paroquial nº 30, pp. 64v, 65. 82 - Ovar, Livro de Casamentos nº 87, pp. 25, 25v. 83 - Ovar, Livro Paroquial nº 35, pp. 147v, 148. 84 - Ovar, Livro Paroquial nº 52, p. 168v. 85 - Murtosa, Livro Paroquial nº 55, p. 189. 86 - Murtosa, Livro Paroquial nº 26, p8v. 87 - Murtosa, Livro de Óbitos nº 95, reg. 165. 88 - Estarreja, Livro Paroquial nº 38, reg. 8. 89 - Murtosa, Livro Paroquial nº 28, p. 88v. 90 - Murtosa, Livro Paroquial nº 31, p. 84. 91 - Murtosa, Livro Paroquial nº 31, p. 170v. 92 - Murtosa, Livro de Óbitos nº 81, reg. 133.

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TERESA CRUZ TUBBY

- JOAQUIM MARIA LEITE, nascido a 13-03-186093, na Murtosa e falecido a 13-02-1932, em Belém do Pará, Brasil. Foi baptizado na Igreja Paroquial de Santa Maria da Murtosa, concelho de Estarreja, pelo Padre Manuel Joaquim Valente de Almeida, aos 20 do mesmo mês e ano; foram seus padrinhos, Bernardino António Leite, solteiro, boticário, de Pardelhas e Antónia, solteira, costureira. Segue. - JÚLIA DO CARMO LEITE, a 2ª deste nome, nascida a 24-03-186294, na Murtosa e falecida a 07-02-194795, no mesmo lugar. - ÂNGELO AMADOR LEITE, nascido a 26-06-186696, em S. Tiago de Beduído e falecido a 11-11-1931, em Belém do Pará. - JOÃO ANTÓNIO AMADOR LEITE, nascido a 07-01-186997, em S. Tiago de Beduído e falecido a 15-12-1941, no mesmo lugar. - MANUEL MARIA LEITE, nascido a 12-04-187198, em S. Tiago de Beduído e falecido a 0601-1948, no mesmo lugar. - AGOSTINHO ANTÓNIO AMADOR LEITE, nascido a 22-09-187499, na Murtosa e falecido a 26-09-1874100, no mesmo lugar. Filha do 2º casamento: - MARIA CÂNDIDA LEITE, nascida a 21-04-1880101, na Murtosa e falecida a 12-09-1967102, em S. Tiago de Beduído. JOAQUIM MARIA LEITE casou em Março de 1891 com MARIA URSULINA PONTES, falecida a 13-10-1912, no Pará. Sem descendência. Casou com ELISA SOBREIRA CARDOSO, filha de Raimundo Pires Cardoso e de Ana Sobreira. Foram pais de: - SANDOVAL AUGUSTO LEITE, nascido a 15-04-1924. Segue. - SINVAL JOAQUIM MARIA LEITE103 - SANDOVAL AUGUSTO LEITE, comandante, profissional dos mais capacitados da aviação civil brasileira. Casou com MARIA CRISTINA HOYOS FERNANDES, nascida a 16-09-1923, fal 23-10-2006. Foram pais de: - MARIA LEILANY LEITE, nascida a 01-09-1945. - LUANA FERNANDES LEITE, nascida a 24-10-1946 - ELISA FERNANDES LEITE, nascida a 14-02-1949, no Rio de Janeiro e falecida a 20-011993, no mesmo lugar. Segue

93 - Murtosa, Livro Paroquial nº 32, reg, 87 94 - Murtosa, Livro Paroquial nº 34, reg. 94. 95 - Idem. 96 - Murtosa, Livro Paroquial nº 25, reg. 48. 97 - Murtosa, Livro Paroquial nº 25, p. 221. 98 - Estarreja, Livro Paroquial nº 26, p. 38. 99 - Estarreja, Livro Paroquial nº 46, reg. 270. 100 - Estarreja, Livro de Óbitos nº 95, reg. 166. 101 - Murtosa, Livro Paroquial nº 52, reg. 159. 102 - Idem. 103 - As únicas notícias que encontramos foram as seguintes: Emancipação: Requerente, Sinval Joaquim Maria Leite – D. A. Sim, designando o escrivão dia e hora desimpedidos, com assistência da tutora e do Dr. C. dos órfãos – Jornal “O Liberal”, nº 277, de 20-10-1947 e “Emancipação (…) renovem-se as diligências para o dia 7 de Novembro entrante às 10,30 horas” – Jornal “O Liberal”, nº 302, de 19-11-1947.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

- FÁBIO AUGUSTO FERNANDES LEITE, falecido com 6 anos de idade. - MARIA LEILANY LEITE casou com BRAZ CHEDIAK; casou, pela 2ª vez, com OSWALDO CALDEIRA e foram pais de: Filho do 1º casamento: - YASSIR CHEDIAK, nasceu a 12 de Abril. Filho do 2º casamento: JOÃO BERNARDO FERNANDES CALDEIRA YASSIR CHEDIAK casou com LUANA HENRIQUE e foram pais de: - MATHEUS HENRIQUE CHEDIAK ELISA FERNANDES LEITE casou com LUIZ ANTÓNIO BASTOS ONETO, nascido a 8-81944, falecido a 13-03-2003. Foram pais de: - JULIANA LEITE HOYOS FERNANDES ONETO, nascida a 04-05-1977; gémea. - CAROLINA HOYOS FERNANDES ONETO, gémea - JULIANA LEITE HOYOS FERNANDES ONETO casou com MARCELO e foram pais de: - LAURA

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1906 Teresa Cruz Tubby* Valter Santos** Para muitos estarrejenses, a esperança de uma vida melhor, rodeada pela “lenda da fortuna” regressando à Pátria com os bolsos cheios de dinheiro, enquanto medida realizável para ultrapassar as dificuldades económicas foi factor que esteve na base da emigração para o Brasil. Saindo de um meio rural, após semanas de viagem em condições horrendas1, chegavam às Terras de Vera Cruz e deparavam-se com um ambiente totalmente diferente daquele a que estavam habituados. À chegada dos barcos2 estavam engajadores à procura de mão-de-obra para trabalhar tanto no comércio local como em alguma fazenda. Iam de comboio para outra terra e podiam ficar até uma semana na hospedaria dos imigrantes, onde outros engajadores os procuravam. Os que já tinham família ou carta de chamada tinham menos dificuldades, mas a maioria ia sem saber o que os esperava. No destino eram coagidos a assinar um contracto ou aceitar o que lhe ofereciam e toda a despesa gasta com a viagem, que os imigrantes deduziam que era gratuita, era descontada nos salários que recebiam. Isto é, começavam a trabalhar com uma dívida a pagar. Alguns foram bem-sucedidos e regressavam à Pátria endinheirados, e proporcionaram um forte impacto nas estruturas de carácter social e económico do concelho, com construções, melhoramentos e movimentos associativos. Muitos outros recusavam-se a retomar à terra natal pelo insucesso obtido e pela vergonha de chegar com as mãos a abanar. Alguns também eram expatriados. A “lenda da fortuna” tornou-se, para muitos, um pesadelo. A vida em Portugal, também, não proporcionava condições de vida favoráveis. A 19 de Maio, João Franco foi nomeado chefe de governo, substituindo Hintze Ribeiro, e instalou-se um regime ditatorial, enquanto que o Brasil, ficou marcado pelos seguintes acontecimentos: – O alistamento militar passa a ser obrigatório para os brasileiros que estavam a completar 18 anos. Esta medida também se aplicou aos filhos de portugueses nascidos no Brasil e aos naturalizados. – Afonso Augusto Moreira Pena foi eleito presidente do Brasil (15-11-1906 – 14-06-1909, data de seu falecimento, aos 61 anos de idade). – Em Novembro foi criada a Brazil Railway Company, empresa ferroviária brasileira. – A 29 de Dezembro o presidente sancionou um decreto que criou o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. – A produção cafezeira atingiu o seu auge, com uma produção de cerca de 20 milhões de sacas, excedendo em cerca de 4 milhões o consumo mundial. Assim se deu esta primeira grande crise. Para solucionar este problema, o Estado resolveu comprar o excedente da produção, o que garantia o lucro dos cafeicultores. Essa situação levou a que se fixasse um preço mínimo para cada saca e um pedido de empréstimo no exterior de cerca de 15 milhões de libras esterlinas para tirar o excesso de * Investigadora e historiadora. ** Investigador e jornalista. 1 - Principalmente para a maioria que viajava em 3ª classe. 2 - Geralmente chegavam ao Porto de Santos.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

café de três estados, sendo eles Minas Gerais, S. Paulo e Rio de Janeiro. – Foi proibido o surgimento de novas lavouras de café. A dívida externa entre 1901 e 1906 rondou os 340 milhões de dólares, subindo no ano seguinte para 444 milhões. Empréstimos que continuaram por vários anos3. Apesar da crise do café o império da borracha estava a aumentar, assim como a mão-de-obra necessária. Empregos havia, mas as condições nem sempre eram as melhores para quem tinha de trabalhar nos meios rurais. Nos locais mais desenvolvidos, os que sabiam ler e escrever, por vezes, conseguiam arranjar empregos como caixeiros. Só no Rio de Janeiro, no ano de 1906, residiam 132 529 portugueses.

Embarque de café no Porto de Santos4

Antiga estação D. Pedro, Rio de Janeiro, em 19065

Rua do Catete, Rio de Janeiro6

3 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Produ%C3%A7%C3%A3o_de_caf%C3%A9_no_Brasil 4 - http://stravaganzastravaganza.blogspot.pt/2011/08/como-era-o-brasil-entre-1900-e-1910.html 5 - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/49/c9/92/49c992ae7f920611256e759318672955.jpg 6 - https://br.pinterest.com/pin/573364596285304821/

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Rio de Janeiro7

AVANCA Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Albino Pereira de Almeida

25

Lavrador

Albino Vicente, cº

39

Jornaleiro

Adelino de Oliveira e Costa

24

Sabia escrever, caixeiro

Adelino Dias da Costa

13

Sabia escrever, lavrador

António Augusto da Silva

21

Sabia escrever, lavrador

António da Silva Resende, cº António Joaquim Pereira, cº António José Correia, cº

44

Sabia escrever

25

Sabia escrever, lavrador

44

Sabia escrever

António Maria da Silva Tavares

13

Sabia escrever

Data, destino e nº de passaporte 12-10-1906, Pará, nº 811 19-12-1906, Pará, nº 1500 24-08-1906, Pelotas, nº 298 16-11-1906, Pará, nº 1200 14-08-1906, Pará, nº 251 09-06-1906, Pará, nº 2534 19-12-1906, Pará, nº 1511 28-12-1906, Manaus, nº 1577 22-12-1906, Pelotas, nº 1540

Filiação Domingos Pereira de Almeida e Maria Marques António Valente e Ana Maria

Joaquim de Oliveira e Maria Joaquina de Matos António Augusto Dias da Costa e Joaquina Gomes Manuel Marques Cabeça e Maria da Silva António da Silva Resende e Maria Proprietário Pereira Valente António Pereira e Maria do Patrocínio da Silva Isidoro José e Proprietário. Levou Inocência Maria sua mer Maria Rosália Valente Lopes Francisco da Silva Tavares e Ana Valente

7 - http://lixeiradonarigas.blogspot.pt/2009/01/raras-fotografias-do-rio-de-janeiro.html

[ 188 ]

Notas


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

António Maria de Almeida Maia

31

Lavrador

António Maria Dias de Matos

20

Lavrador

António Maria Rodrigues

21

Sabia escrever, lavrador

António Maria Valente de Matos

20

Sabia escrever, carpinteiro

António Valente da Fonseca, cº

32

Sabia escrever, carpinteiro

Augusto Calisto Gomes, cº

24

Trabalhador

Augusto Soares, cº

32

Bernardino Marques

28

Caetano Dias Rodrigues, cº Domingos Pereira da Silva, cº Domingos Soares de Resende

31 34 23

19-12-1906, Pará, nº 1503 03-03-1906, Pará, nº 1699 18-01-1906, Pará, nº 1322 24-08-1906, Pelotas, nº297 20-04-1906, Pará, nº 2157 30-04-1906, Pará, nº 2256

27-11-1906, Rio de Janeiro, nº 1319 17-02-1906, Sabia escrever, lavrador Pará, nº 1562 27-09-1906, Lavrador Rio de Janeiro, nº 624 20-11-1906, Lavrador Rio de Janeiro, nº 1253 27-08-1906, Sabia escrever, Rio Grande do Sul, jornaleiro nº 313 12-10-1906, Sabia escrever Pará, nº 826 19-12-1906, Lavrador Pará, nº 1504 22-12-1906, Sabia escrever, lavrador Pelotas, nº 1545 Lavrador

Elisa Pia Teixeira Valentim, cª Firmino Teófilo Pereira Almeida Francisco Assis de Bastos Calisto

21

Francisco Marques de Melo

13

Sabia escrever

12-10-1906, Pará, nº 838

João da Silva Lopes

21

Jornaleiro

03-03-1906, Pará, nº 1698

21

20

Manuel Pereira de Almeida e Rosa Marques Manuel Dias de Matos e Ana Rosa Valente Martinho João Rodrigues e Ana Pereira da Conceição António Dias de Matos e Albina Pereira de Pinho José Valente da Fonseca e Maria Valente José gomes e Ana Rosa Pereira, conhecida por Rosa Pereira Jerónimo Soares e Joana Dias da Costa Manuel Marques e Maria de Jesus Francisco Dias e Albina Rodrigues Francisco Pereira da Silva e Joana de Azevedo Joaquim Soares e Ana de Jesus Manuel Valentim e Maria Augusta de Jesus Domingos Pereira de Almeida e Maria Marques Francisco de Bastos Calisto e Maria Marques de Jesus Manuel António Irmão de Joaquim Marques Cabeça e Maria Marques Maria Pereira de Cabeça Melo Manuel José Lopes e Maria Joana Valente

[ 189 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

João Gomes

51

Sabia escrever, trabalhador

Joaquim Alexandrino Martins

21

Sabia escrever, lavrador

Joaquim Maria Pereira

20

Trabalhador

Joaquim Maria Marques Cabeça

19

José António Dias dos 25 Santos

Lavrador Sabia escrever, carpinteiro

José Maria da Silva, cº

37

Sabia escrever, alfaiate

José Maria Pereira

23

Lavrador

José Maria Pereira Rodrigues

20

Carpinteiro

Manuel António Domingues

16

Sabia escrever, caixeiro

Manuel Augusto de Pinho Victor, cº

23

Sabia escrever, carpinteiro

03-05-1906, Pará, nº 2286 03-04-1906, Rio de Janeiro, nº 2019 12-10-1906, Pará, nº 825 12-10-1906, Pará, nº 829 28-12-1906, Pará, nº 1582 31-08-1906, Rio de Janeiro, nº 331 28-03-1906, Pará, nº 1965 22-12-1906, Pelotas, nº 1541

José Gomes e Joana da Silva Joaquim Martins e Custódia da Silva Petiz José Gomes Calisto e Ana Rosa Pereira Manuel António Marques Cabeça e Irmão de Francisco Maria Pereira de Marques de Melo Melo Caetano Dias dos Santos e Rosa de Jesus António da Silva e Marcelina Rosa Ferreira José Maria Pereira e Maria Custódia da Silva Manuel Pereira Rodrigues e Ana Henriques de Almeida

04-10-1906, António Domingues Pará, e Rosa Maria de nº 708 Jesus 17-03-1906, Rio de Janeiro, nº Ana de Jesus 1853 24-08-1906, Pelotas, nº 296

Bernardo Maria Soares da Costa e Caetana Emília Valente

Manuel Augusto Soares da Costa

11

Sabia escrever, lavrador

Manuel da Rocha e Silva

23

Lavrador

Manuel da Silva Tavares Afonso

21

Sabia escrever, lavrador

17-02-1906, Pará, nº 1561

António José Tavares e Joana Adôa da Silva

Manuel de Almeida Pinho

28

Sabia escrever, empregado de comércio

20-09-1906, Pará, nº 532

António de Almeida e Maria de Pinho

Manuel de Pinho Fragoso

20

Jornaleiro

03-03-1906, Pará, nº 1700

Joaquim de Pinho Fragoso e Maria Joana Valente

[ 190 ]

17-03-1906, João Valente da Rio de Janeiro, nº Rocha e Rosa Maria 1852 da Silva


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Manuel Maria Ferreira

25

Manuel Maria Marques

21

Manuel Maria Marques de Matos

20

Manuel Maria Pires, cº

25

Manuel Marques Cabeça

28

Manuel Pereira, cº

29

Manuel Pereira Martins

36

Manuel Valente, cº

22

Maria Rosália Lopes, cª

38

Patrício Ferreira Dias, cº

32

Teófilo Cândido de Matos

20

Tomás Maria Marques, cº

32

12-10-1906, Pará, nº 827 21-04-1906, Lavrador Rio de Janeiro, nº 2187 15-12-1906, Jornaleiro Rio Grande do Sul, nº 1485 25-01-1906, Sabia escrever, lavrador Pará, nº 1379 18-05-1906, Sabia escrever, lavrador Pará, nº 2372 28-12-1906, Jornaleiro Pará, nº 1581 03-04-1906, Sabia escrever, Rio de Janeiro, comerciante nº 2022 28-06-1906, Sabia escrever, pedreiro Rio de Janeiro, nº 2610 28-12-1906, Sabia escrever Manaus, nº 1577 17-03-1906, Sabia escrever, Rio de Janeiro, jornaleiro nº 1854 22-12-1906, Sabia escrever, Pelotas, carpinteiro nº 1539 14-12-1906, Lavrador Rio Grande do Sul, nº 1475 Sabia escrever, trabalhador

Ana Maria, sª Francisco Marques e Mariana Duarte António Marques de Matos e Ana Maria de Jesus José da Silva Pires e Maria de Jesus Manuel Marques Cabeça e Maria de Jesus Romão Pereira e Joana de Pinho Manuel Pereira Martins e Ana Maria Pereira de Jesus João Valente e Antónia Maria Foi com seu mdo António José Correia Bernardina, sª Joana de Matos, sª Vicente Marques e Margarida Teles

BEDUÍDO Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Agostinho José da Silva, cº

46

Sabia escrever, carpinteiro

António de Oliveira Marques, cº

29

Sabia escrever, comerciante

Data, destino e nº de passaporte 22-01-1906, Pará, nº 1351 20-02-1580, Pará, nº 1580

Filiação

Notas

Ana Pereira, sª

Levou sua mer Maria Marques Couto

Manuel de Oliveira Marques e Ana da Conceição

[ 191 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

António Maria da Silva Coelho, cº António Marques Alegria António Marques de Oliveira, cº Augusto de Melo Vilhegas

17-11-1906, Rio de Janeiro, nº 1220 23-10-1906, 32 Coelheiro Luanda, Angola, nº 950 22-01-1906, 26 Jornaleiro Pará, nº 1348 19-11-1906, Sabia escrever, 18 Pará, empregado do comércio nº 1227 36

Sabia escrever, alfaiate

Bernardino da Silva Castão

13

Estudante

João António Leite, vº

27

Sabia escrever

José da Silva Saramago

18

Sabia escrever, alfaiate

José Leite de Azevedo 25

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel Augusto da Silva Graça, vº

40

Sabia escrever, comerciante

Manuel Domingues de Melo

25

Lavrador

Manuel Maria da Silva, cº

40

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel Maria Tavares de Azevedo, cº

27

Lavrador

Manuel Rodrigues Garrido, cº

35

Maria Marques Couto, cª

45

Tomé dos Santos, cº

51

[ 192 ]

Sabia escrever, lavrador

António Coelho da Silva e Antónia Maria da Cunha Manuel Marques Alegria Manuel Pereira e Maria Marques

08-10-1906, Pará, nº 939 17-11-1906, Rio de Janeiro, nº 1219 01-12-1906, Rio de Janeiro, nº 1387

Nazaro de Melo Vilhegas e Raquel Valente Pereira Artur Augusto Castão e Maria Agostinha Lopes da Silva Agostinho António Leite e Maria Joaquina Amador Tomé da Silva Saramago e Maria Generosa da Silva Joaquim Leite de Azevedo e Joana Maria da Silva

18-04-1906, Manaus, nº 2131

Manuel José da Graça e Margarida da Silva

14-09-1906, Pará, nº 464 28-11-1906, Rio de Janeiro, nº 1341 11-10-1906, Pará, nº 789

Manuel Domingues de Melo e Luzia Marques Joaquim José da Silva e Maria Marques Francisco Tavares de Azevedo e Ana da Silva

22-01-1906, Pará, nº 1350

Joaquim Rodrigues Garrido e Maria Rodrigues de Oliveira

11-12-1906, Pará, nº 1459

22-01-1906, Pará, nº 1351 Lavrador

28-11-1906, Rio de Janeiro, nº 1340

Foi com seu mdo Agostinho José da Silva Francisco dos Santos e Ana Marques


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

BUNHEIRO Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Data, destino e nº de passaporte 21-02-1906, Pará, nº 1592

Filiação

José Manuel Tavares Branco e Joana Nasceu a 04-12-1875 Maria da Silva Tavares Bernardo da Silva Irmão de António Garrido e Domingas Joaquim da Silva Rodrigues Amador Garrido José Agostinho da Silva Monteiro e Apolónia de Jesus Domingos António de Oliveira e Maria Custódia da Silva Bernardo da Silva Irmão de Albano da Garrido e Domingas Silva Garrido da Silva Amador

Agostinho Maria Tavares Branco, cº

30

Sabia escrever

Albano da Silva Garrido

21

Lavrador

Ambrósio Agostinho Carvalho dos Santos, cº

31

Sabia escrever, padeiro

António de Oliveira, cº

29

Lavrador

30

Sabia escrever Lavrador

34

Sabia escrever comerciante

20-02-1906, Pará, nº 1585

César Augusto Ferreira Matoso e Justina da Silva

39

Pescador

03-01-1906, Pará, nº 1196

Manuel José Gonçalves e Domingas Maria

António Maria Rodrigues

26

Sabia escrever carpinteiro

22-11-1906, Pará, nº 1274

Germano José Vidal Rodrigues Cirne e Inácia Maria Tavares

António Maria Tavares Rebimbas, cº

28

Sabia escrever carpinteiro

06-07-1906, Rio de Janeiro, nº 27

José António Tavares Rebimbas e Antónia da Silva

Sabia escrever 20 empregado do comércio

07-12-1906, Pará, nº 1435

José Maria Tavares Rebimbas e Domingas Antónia da Silva Valente

Artur Rilhó

32

Sabia escrever moliceiro

18-09-1906, Pará, nº 510

Mariana Rilhó, sª

Domingos da Silva Valente, cº

30

Lavrador

22-08-1906, Pará, nº 283

Manuel Joaquim da Silva e Ana Rosa da Silva Reverenda

Domingos José da Silva, cº

25

Jornaleiro

20-10-1906, Pará, nº 926

Domingos Mateus Afonso e Antónia da Silva

António Joaquim da Silva Garrido, cº António Lourenço Ferreira Matoso, cº António Maria Gonçalves dos Santos, cº

António Tavares Rebimbas

24-01-1906, Pará, nº 1373 02-07-1906, Manaus, nº 2026 11-09-1906, Pará, nº 432 24-01-1906, Pará, nº 1375

Notas

[ 193 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

João Augusto Rodrigues, cº Joaquim Augusto Vieira Joaquim da Silva Reverendo, cº

35 25 38

José Gonçalves Jarreta

26

José Maria da Silva Pinto, cº

42

Júlio de Resende

13

Manuel da Silva Frôxo

20

Manuel de Matos Calado, cº Manuel José Silva, cº Manuel Mateus da Silva, cº

28

25 39

04-05-1906, António Joaquim Manaus, Rodrigues e Maria nº 2287 Joana de Oliveira 03-03-1906, Pará, António Maria Lavrador nº 1697 e a 17-10- Nunes e Luísa de 1906, Pará, nº 877 Oliveira Barbosa Marcelino da Silva 11-09-1906, Pará, Lavrador Reverendo e Ana nº 433 Maria da Silva João Agostinho 24-01-1906, Pará, Gonçalves Jarreta e Lavrador nº 1374 Maria Luísa da Silva Domingos Manuel 12-12-1906, Pará, Sabia escrever Pinto e Rosa Maria nº 1461 da Silva Francisco António 19-09-1906, Pelotas, Estudante de Resende e Joana nº 516 Maria de Oliveira António José da 17-03-1906, Pará, Silva e Antónia Lavrador nº 1859 Miquelina Fernandes da Silva Manuel José de 10-03-1906, Pará, Matos Calado e Sabia escrever, pescador nº 1790 Maria de Jesus Tavares de Matos Pedro José da Silva 19-12-1906, Pará, Lavrador e Isabel Antónia de nº 1512 Sousa Sabia escrever, lavrador

Jornaleiro

20-11-1906, Pará, nº 1251

Vivia em Veiros

Proprietário

Vivia em Veiros

Rosa da Silva, sª

CANELAS Nome e estado civil António Domingues da Silva António Domingues Pinto António Maria da Silva Baltazar, cº

[ 194 ]

Idade 28 27

35

Escolaridade e profissão

Data, destino e nº Filiação de passaporte 03-09-1906, António Domingues Lavrador Amazonas, da Silva e Ana nº 351 Joaquina da Silva 30-01-1906, João Domingues Sabia escrever, lavrador Pará, Pinto e Ana nº 1433 Rodrigues da Cruz Sabia escrever, carpinteiro

14-04-1906, Pará, nº 2117

Notas

Mateus da Silva Irmão de Manuel da Baltazar e Rosa de Silva Baltazar Oliveira


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

António Maria da Silva Pinto

23

Sabia escrever lavrador

António Simões

24

Sabia escrever, lavrador

Celestino da Silva Cascais

12

Sabia escrever

César Augusto Daniel Domingues Piqueira, cº João Maria Godinho Taborda Joaquim Esteves de Sousa

23-01-1906, Pará, nº 1359 01-08-1906, Manaus, nº 177 25-08-1906, Luanda, Angola, nº 308

Joaquim da Silva Pinto e Maria Dias Valente João Simões e Rosária Domingues Pinto António da Silva Cascais e Rosa Augusta da Conceição

10-03-1906, Foi com sua avó Mª Pará, Madalena de Araújo nº 1797 25-08-1906, Manuel Domingues Lourenço Marques, Piqueira e Ana Rosa Proprietário 38 Sabia escrever Moçambique, Rodrigues nº 309 Manuel António 30-10-1906, de Castro e Teresa Sabia escrever, 41 Pará, Elvira Godinho empregado do comércio nº 1059 Taborda 10

23

Sabia escrever, padeiro

14-12-1906, Pará, nº 1473

José Esteves de Sousa e Ana Dias de Aguiar Joaquim Tavares Ferreira e Silva e Rosa Pires de Figueiredo

José Joaquim Tavares Ferreira e Silva

21

Lavrador

24-02-1906, Pará, nº 1638

José Marques Dias

42

Sabia escrever

01-08-1906, Manaus, nº 176

Manuel Marques Dias e Margarida Marques

Lavrador

04-09-1906, Manaus, nº 366

António Rodrigues Pinto e Maria Pires Esteves

27

Sabia escrever, lavrador

30-07-1906, Pará, nº 167

Mateus da Silva Baltazar e Rosa de Oliveira

34

Sabia escrever, lavrador

11-12-1906, Pará, nº 1457

António Domingues de Andrade e Maria Domingues de Sá Manuel Joaquim Alves de Araújo e Levou seu neto César Ana Joaquina da Augusto Silva José Pires Aldeia e Maria Domingues Baptista

José Rodrigues Pinto, 48 cº Manuel da Silva Baltazar, cº Manuel Domingues de Andrade, cº Maria Madalena de Araújo, vª

52

Lavradeira

10-03-1906, Pará, nº 1797

Tibério Pires

23

Sabia escrever, padeiro

15-12-1906, Pará, nº 1486

Proprietário

Irmão de António Maria da Silva Baltazar

[ 195 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Valentim Tavares da Silva

33

Sabia escrever

22-01-1906, Pará, nº 1358

António Tavares da Silva e Joana Rodrigues da Cruz

Proprietário

Filiação

Notas

FERMELÃ Nome e estado civil António Augusto Baptista Beirão

Idade 20

Escolaridade e profissão

Data, destino e nº de passaporte 16-01-1906, Sabia escrever, lavrador Pelotas, nº 1291 05-01-1906, Lavrador Pará, nº 1235

António Dias Sábio

20

António Esteves de Sá Pires Júnior, cº

30

Sabia escrever, pinteiro

António José Tavares dos Santos

42

Sabia escrever, comerciante

António Marques de Oliveira

27

Sabia escrever, lavrador

António Mateus de Moraes, cº

51

Sabia escrever, lavrador

Diamantino Marques de Oliveira, cº

25

Domingos Rodrigues da Silva, cº

28

Elias Baptista Ribeiro, 31 cº Francisco Simões dos Reis, cº

Sabia escrever, lavrador

Trabalhador

26

Sabia escrever, jornaleiro

João Alves Marques, cº

27

Sabia escrever, comerciante

João Dias Sábio, cº

53

Lavrador

[ 196 ]

Manuel Baptista Beirão e Joaquina Maria dos Santos José Dias Sábio e Ana Lopes de Jesus

27-11-1906, Pará, nº 1344

António Esteves de Sá Pires e Francisca Maria de Jesus

13-01-1906, Pará, nº 1279 02-08-1906, Pará, nº 182 05-12-1906, Pará, nº 1401

António José Tavares e Maria Joaquina dos Santos Joaquim Marques de Oliveira e Ana Esteves de Sá Joaquim Mateus de Moraes e Maria de Sá Baptista

31-10-1906, Pará, nº 1068

José Joaquim de Oliveira e Mariana Alexandrina da Conceição

21-04-1906, Pará, nº 2178

José Rodrigues da Nasceu a 19-11-1877 Silva e Maria Alves

26-10-1906, Pará, nº 1010 20-11-1906, Pará, nº 1345 22-02-1906, Pernambuco, nº 1596 21-11-1906, Pará, nº 1291

Proprietário

Maria Baptista Ribeira, sª Maria Ribeiro, sª José Marques Alves Levou sua mer Maria e Joana da Silva do Carmo Ferreira Baptista Ramos António Dias Sábio e Maria Pires Beiroa


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

João dos Santos Capeleiro

27

João Ferreira de Paiva 22 Joaquim Dias Larangeira, cº Joaquim Pires Martins, cº

24

29

António Maria dos Nasceu a 17-031878, irmão de Santos Capeleiro Lavrador Manuel dos Santos e Maria Dias Capeleiro Capeleiro 21-04-1906, Joaquim Ferreira Sabia escrever, pedreiro Rio de Janeiro, nº de Paiva e de Joana 2177 Rosa José António Dias 17-08-1906, Larangeira e Maria Sabia escrever, lavrador Pará, Rosa de Almeida nº 261 Baptista de Resende 23-03-1906, José Pires Martins e Sabia escrever, lavrador Pará, Antónia Maria nº 1917 24-03-1906. Pará, nº 1947

12

Sabia escrever

31-10-1906, Pará, nº 1069

Francisco António Moutão e Ana Esteves de Oliveira

28

Sabia escrever, lavrador

27-11-1906, Pará, nº 1349

José de Almeida Navalhas e Joana Ribeiro Baptista

31

Sabia escrever, lavrador

Manuel de Sousa Beirão

26

Sabia escrever, lavrador

Manuel de Sousa Miguel, cº

27

Sabia escrever, padeiro

27-11-1906, nº 1350

Manuel de Sousa Miguel Júnior

13

Sabia escrever

30-04-1906, Pernambuco, nº 2260

Manuel dos Santos Capeleiro, cº

22

Sabia escrever, lavrador

08-03-1906, Pará, nº 1738

Manuel Joaquim da Costa

23

Sabia escrever, sapateiro

Manuel Ribeiro de Sousa

35

Padeiro

Maria do Carmo Ferreira Ramos, cª

23

Sabia escrever

Paulo Marques de Campos

12

Sabia escrever

José António Moutão José de Almeida Navalhas Júnior, cº Manuel António de Sá Pires, cº

23-01-1906, Pernambuco, nº 2199 21-04-1906, Pernambuco, nº 2190

29-11-1906, Pará, nº 1348 13-01-1906, Pará, nº 1280 22-02-1906, Pernambuco, nº 1596 06-08-1906, Pará, nº 221

Manuel Esteves de Sá Pires e Ana Dias Capeleira Joaquim de Sousa Miguel e Ana Maria de Jesus Francisco de Sousa Miguel e Ana de Jesus Manuel de Sousa Miguel e Maria Rosa dos Santos António Maria dos Santos Capeleiro Irmão de João dos e Maria Dias Santos Capeleiro Capeleiro António Joaquim da Costa e Maria Pires Rebelo Maria de Sousa, sª Foi com seu mdo João Alves Marques Manuel Marques de Campos e Felismina Augusta dos Santos

[ 197 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

MURTOSA Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Adelino José Cascais, cº

40

Pescador

Agostinho José de Oliveira

26

Sabia escrever, comerciante

Agostinho José de Pinho, cº

34

Pescador

29-12-1906, Pará, nº 1599

Manuel Joaquim de Pinho e Apolónia Maria

Alfredo José Rendeiro

25

Sabia escrever, comerciante

25-01-1906, Pará, nº 1387

Rodrigues Fernandes Rendeiro e Maria Rosa Rendeiro

Américo Maria da Silva

21

Sabia escrever, pescador

António Augusto da Silva

21

Sabia escrever, lavrador

19

Sabia escrever, mercantel

30

Sabia escrever

52

Sabia escrever, pescador

33

Pescador

39

Sabia escrever, pescador

31

Sabia escrever, mercantel

26

Pescador

17

Pescador

António Augusto Nunes de Oliveira António Joaquim Afonso da Silva, cº António Joaquim da Silva, cº António Joaquim das Neves, cº António Joaquim Fernandes Ruela António Joaquim Pereira de Pinho António Joaquim Soares dos Santos António José Barbosa

[ 198 ]

Data, destino e nº Filiação de passaporte 03-03-1906, Gonçalo José Cascais Manaus, Pescador e Maria nº 1703 Joaquina Joaquim José de 28-07-1906, Oliveira e Maria Manaus, Luísa Esteves da nº 161 Cruz

22-01-1906, Pará, nº 1349 14-08-1906, Pará, nº 251 06-11-1906, Pará, nº 1119 23-02-1906, Pará, nº 1605 14-07-1906, Pará, nº 66 22-12-1906, Manaus, nº 1537 10-07-1906, Pará, nº 42 03-01-1906, Pará, nº 1198 19-01-1906, Pará, nº 1334 19-02-1906, Pará, nº 1569

Notas

José Maria da Silva e Joaquina Maria Silva Manuel Marques Cabeça e Maria da Silva António Joaquim de Oliveira e Ana Maria de Oliveira Francisco Maria da Silva e Rosa Henriques Domingos José da Silva e Maria Rosária da Silva José Joaquim Soares dos Santos e Maria das Neves Manuel João Fernandes Ruela e Maria Joaquina dos Santos José Maria Pereira de Pinho e Maria Francisca José Pedro Soares dos Santos e Ana Joaquina Rangel Gonçalo António Barbosa e Maria de Jesus

Proprietário


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

António José da Cruz, cº

64

Marítimo

António José da Silva, 49 vº

Marítimo

António José Soares dos Santos, cº

33

Sabia escrever, comerciante

António Maria, cº

27

Pescador

António Maria Brandão, cº António Maria da Cunha, cº António Maria da Silva, cº

34

Pescador

41

Lavrador

38

Pescador

António Maria de Oliveira

26

Sabia escrever, calafate

António Maria de Oliveira, cº António Maria de Paiva, cº António Maria de Resende, cº António Maria dos Santos, cº António Maria Esteves, cº

33 Sabia escrever, marítimo

28

Pescador

37

Sabia escrever, serralheiro

27

Pescador

35

Pescador

16-08-1906, Pará, nº 254 16-11-1906, Pará, nº 1210 30-06-1906, Pará, nº 2616 19-07-1906, Pará, nº 89 12-06-1906, Pará, nº 2547 13-02-1906, Pará, nº 1522 21-06-1906, Pará, nº 2575 17-07-1906, Manaus, nº 81 03-01-1906, Pará, nº 1200 21-12-1906, Pará, nº 1325 02-11-1906, Pará, nº 1072 06-02-1906, Pará, nº 1464 13-02-1906, Pará, nº 1521

Jacinto José da Cruz e Apolónia Maria de Oliveira Bento José da Silva e Ana Antónia Pedro José dos Santos e de Ana Joaquim Filipe José e Rosa Maria António Rodrigues Brandão e Maria Joaquina Amadora António José da Cunha e Ana Joaquina David José da Silva Pita e Maria Ana Francisco António de Oliveira e Maria Rosália Freire Joaquim José de Oliveira e Maria Luísa Esteves da Cruz Manuel José de Paiva e Prudência Maria José Manuel de Resende e Maria Matildes de Oliveira Gonçalo António dos Santos e Maria Rosália de Oliveira Manuel José Esteves e Ana Joaquina da Silva

António Maria Regateiro, cº

32 Sabia escrever, marítimo

13-08-1906, Pará, nº 247

Francisco José da Silva Regateiro e Maria Antónia

Carlos da Silva Arrojado, cº

33

Jornaleiro

19-10-1906, Pará, nº 906

André da Silva Arrojado e Mariana da Silva

Daniel dos Santos Rodrigues, cº

29

Sabia escrever, comerciante

01-12-1906, Pará, nº 1377

José Manuel Rodrigues e Rosa Maria

[ 199 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

David José de Campos, cº

34

Pescador

David José Fernandes

23

Marítimo

Domingos António da Silva

22

Pescador

Domingos António Pereira da Silva

22

Pescador

Domingos José de Matos

35

Comerciante

33

Sabia escrever, pescador

31

Sabia escrever, moliceiro

26

Lavrador

20

Pescador

Domingos José de Matos Caravela, cº Domingos Luís Rebelo, cº Domingos Maria Tavares de Sousa Eduardo Joaquim Vieira Filipe José da Silva Júnior Francisco António da Costa, cº Francisco António de Matos, cº

32

Sabia escrever, pescador

27

Sabia escrever, pescador

35

Sabia escrever, pescador

Francisco António Luxo

20

Pescador

Francisco da Representação Henriques de Sousa, cº

35 Sabia escrever, marítimo

Francisco José da Silva

28

Pescador

Francisco Maria Carreira, cº

33

Marítimo

[ 200 ]

20-01-1906, Pará, nº 1338 22-09-1906, Manaus, nº 577 19-07-1906, Pará, nº 98 18-09-1906, Pará, nº 509 19-10-1906, Manaus, nº 904

Manuel Joaquim de Campos e Mariana Soares José António Fernandes e Maria José de Oliveira Francisco António da Silva e Maria Rosália da Silva Manuel José Pereira da Silva e Maria Ana Fidalga José Joaquim de Matos e Maria Ermelinda

29-12-1906, Pará, nº 1588

Venâncio António Matos Caravela e Apolónia Amador

12-03-1906, Pará, nº 1811 12-04-1906, Pará, nº 2107 03-03-1906, Pará, nº 1694 25-07-1906, Pará, nº 131 19-01-1906, Pará, nº 1331 29-08-1906, Pará, nº 325 23-10-1906, Pará, nº 947

Custódio José Rebelo e Teresa Maria da Silva Manuel José Tavares de Sousa e Maria José Tavares David Gonçalves Vieira e Ana Margarida Filipe José da Silva e Ana Margarida de Almeida António José da Costa e Maria Luísa da Silva João Pedro de Matos e Maria Rosália Martinha Manuel Maria da Silva e Maria Rosália da Silva

18-10-1906, Pará, nº 903

José Vicente Henriques e Ana Emília de Oliveira

24-12-1906, Pará, nº 1550 09-06-1906, Pará, nº 2531

Manuel Joaquim da Silva e Ana Antónia da Silva António Joaquim Carreira e Domingas Antónia Valente

Levou seu filho Manuel Joaquim Campos


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Francisco Maria da Cunha, cº Francisco Maria da Silva, cº Francisco Maria Nunes Pereira Francisco Maria Sardo, cº Gonçalo António Amador, vº Gonçalo António da Cunha, cº Gonçalo António da Silva, cº Gonçalo António da Silva Conde Gonçalo António Pereira, cº

30

Pescador

29

Moliceiro

17

Pescador

35

Sabia escrever, lavrador

47

17-09-1906, Pará, nº 487 23-03-1906, Pará, nº 1915 02-08-1906, Pará, nº 192 31-03-1906, Pará, nº 2002 04-08-1906, Pará, nº 213 04-01-1906, Pará, nº 1214 19-07-1906, Pará, nº 97 29-10-1906, Pará, nº 1048 14-04-1906, Pará, nº 2113 20-09-1905, Pará, nº 524 17-07-1906, Pará, nº 79 04-01-1906, Pará, nº 1225 24-09-1906, Pará, nº 592 11-10-1906, Pará, nº 804

Pedro da Cunha e Apolónia Maria de Matos Manuel José da Silva e Maria Florinda Manuel Joaquim Nunes Pereira e Ana Agostinho Vaz Manuel Joaquim Sardo e Madalena Antónia da Silva Marcelino Amador e Maria Rosália da Silva António Joaquim da Cunha e Ana Joaquina de Oliveira

51

Lavrador

42

Pescador

20

Pescador

50

Marítimo

23

Sabia escrever, pescador

26

Pescador

22

Lavrador

45

Catraeiro

20

Sabia escrever, alfaiate

João Agostinho Quinta

34

Lavrador

03-12-1906, Pará, nº 1392

José Joaquim Afonso e Isabel Antónia

João Agostinho Soares, cº

33

Pescador

06-03-1906, Pará, nº 1730

Manuel Joaquim Soares e Rosa Antónia

Henrique de Matos Caravela Jacinto António Pereira, cº João Agostinho Barbosa, cº João Agostinho de Miranda, vº João Agostinho Lopes Soares, cº

Proprietário

João José da Silva e Maria Rosália Lopes José Manuel da Silva Conde e Maria Rosália Mala Francisco António Pereira e Maria Rosália de Miranda João José de Matos Caravela e Maria José da Silva João Pedro Pereira e Maria José Ligura Manuel Joaquim Barbosa e Maria Luísa de Oliveira António Joaquim de Miranda e Ana Ribeiro Francisco Joaquim Lopes e Domingas Antónia de Oliveira

[ 201 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

João Caetano Afonso de Oliveira

29

Comerciante

João Eusébio de Pinho, cº

25

Sabia escrever, comerciante

João José de Oliveira, 48 cº

Moliceiro

João Maria Caneira, cº

30

Marítimo

João Maria da Silva, cº

31

Moliceiro

40

Moliceiro

João Maria Marques da Silva, cº João Maria Rebelo dos Santos, cº João Maria Soares Carinha, cº João Maria Vieira Calisto, cº João Pedro Garganta da Cunha, cº João Pedro Vigário, cº Joaquim António de Matos Caravela Joaquim Bernardo Amador, cº Joaquim Manuel Cascais, cº

48

Pescador

Joaquim Manuel de Resende

36

Sabia escrever, pinteiro

Joaquim Manuel Rebelo, cº

31

Pescador

[ 202 ]

26

Pescador

33

Mercantel

33

Alquilador

35

Marítimo

27

Pescador

25

Sabia escrever, pescador

30 Sabia escrever, marítimo

19-01-1906, Pará, nº 1337 03-01-1906, Pará, nº 1199 22-08-1906, Pará, nº 284 16-07-1906, Manaus, nº 76 11-06-1906, Manaus, nº 2546 18-12-1906, Pará, nº 1492

João Afonso de Oliveira e Domingas da S. Valente Francisco António de Pinho e Brízida Maria João José de Oliveira Irmão de Manuel e Perpétua Maria Joaquim de Oliveira da Silva António Joaquim Caneira e Domingas Antónia Agostinho António da Silva e Maria Rosália da Silva Manuel José Marques da Silva e Maria José

28-09-1906, Pará, nº 639

Francisco Tomé Levou sua mer Maria Rebelo dos Santos e Adelina Nunes Vidal Ana Antónia Tavares e filho Paulo

18-01-1906, Pará, nº 1321 14-08-1906, Pará, nº 252 16-11-1906, Pará, nº 1211 14-04-1906, Pará, nº 2112 31-01-1906, Pará, nº 1445

Manuel José Soares Carinha e Ana Rosa da Silva Calisto Vieira e Maria Teresa da Silva João Garganta da Cunha e Ana Luísa da Silva Joaquim Manuel Vigário e Ana Antónia Bandeira Venâncio António de Matos Caravela e Apolónia Marcelina

17-11-1906, Pará, nº 1223

Francisco António Amador e Maria João de Campos

10-11-1906, Pará, nº 1153 02-05-1906, Manaus, nº 2276 12-06-1906, Pará, nº 2548

Gonçalo António Levou seu filho Cascais e Maria Manuel José Cascais Joaquina António Pereira de Resende e Maria Inocência Joaquim Manuel Rebelo e Maria Luísa Vaz


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Joaquim Manuel Soares Belo, cº Joaquim Manuel Soares Vida, cº Joaquim Manuel Vieira, cº

12-06-1906, Pará, nº 2550

Manuel José Soares Belo e de Mariana da Silva

20-01-1906, Pará, nº 1341 11-12-1906, Pará, nº 1442 02-05-1906, Manaus, nº 2777 24-12-1906, Pará, nº 1552 14-04-1906, Pará, nº 2115

Domingos José Soares Vida e Ana Rebelo Joaquim Calisto Vieira e Maria Teresa da Silva José Maria Barbosa e Ana Rodrigues das Neves

26

Moliceiro

46

Pescador

31

Sabia escrever, moliceiro

Joaquim Maria Barbosa

27

Sabia escrever, pescador

Joaquim Maria de Matos, cº

23

Pescador

Joaquim Maria de Miranda

12

Sabia escrever

Joaquim Maria Fernandes Rendeiro

20

Sabia escrever, mercantel

31-12-1906, Pará, nº 1607

Joaquim Maria Fernandes Rendeiro, cº

36

Sabia escrever

29-10-1906, Pará, nº 1032

Joaquim Maria Lopes Ramos

22

Pescador

Joaquim Maria Rodrigues Valente

28

Lavrador

Joaquim Maria Tavares da Cunha

20

Alfaiate

20-10-1906, Pará, nº 927

Moliceiro

19-09-1906, Pará, nº 514

Manuel José da Silva e Maria Florinda

José António da Silva, 38 cº

18-10-1906, Pará, nº 894 19-10-1906, Pará, nº 910

António José de Matos e Maria Joana Domingos António de Miranda e Ana José da Silva José Maria Fernandes Rendeiro e Maria Rosa de Oliveira José Joaquim Fernandes Rendeiro e Maria Rosália da Silva Manuel José Lopes Ramos e Ana Teresa Barbosa António Rodrigues Valente e Maria Antónia Nunes Manuel Vicente Tavares da Cunha e Maria Luísa de Oliveira

José António Neno

21

Pescador

03-01-1906, Pará, nº 1206

Luís António Neno e Joana Rosa

José Joaquim Rebelo, cº

36

Pescador

21-06-1906, Pará, nº 2577

José António Rebelo Levou seu fº Manuel e Ana Teresa Maria Rebelo

José Luís Gonçalves Rebelo, cº

27

Sabia escrever, pescador

16-06-1906, Manaus, nº 2560

Possidónio Gonçalves Rebelo e Maria Joana

[ 203 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

José Manuel da Silva Pita, cº José Manuel de Oliveira, cº

35

Pescador

27

Pescador

José Manuel Soares Carinha

22

Mercantel

José Maria da Cruz Pita, cº

28

Sabia escrever, pescador

21-04-1906, Pará, nº 2182 08-02-1906, Pará, nº 1475 06-08-1906, Pará, nº 220 18-10-1906, Pará, nº 895 19-09-1906, Pará, nº 513

David José da Silva Pita e Maria Ana Gonçalo António de Oliveira e Isabel Maria Manuel Domingos Carinha e Maria Ludovina Manuel Luís da Cruz e Mariana da Cruz Joaquim José Fernandes Rendeiro e Apolónia Maria Fernandes Carrada Venâncio Rodrigues Pardal e Maria Delfina Rodrigues Domingos José Pereira e Teresa Maria da Silva André Vicente Rebelo e Maurícia da Apresentação Reverenda Joaquim Maria da Silva Reverendo e Rosa Cristina Fidalga

José Maria Fernandes Rendeiro, cº

36

Pescador

José Maria Pardal

33

Sabia escrever, pescador

José Maria Pereira, cº

34

Pescador

José Maria Rebelo, cº

27

Sabia escrever, pescador

16-04-1906, Pará, nº 2118

José Maria Reverendo, cº

30

Lavrador

21-02-1906, Pará, nº 1590

40

Mercantel

05-11-1906, Pará, nº 1104

Manuel Joaquim Soares Carinha e Ana Rosa da Silva

09-06-1906, Pará, nº 2538 01-12-1906, Pará, nº 1388 12-06-1906, Pará, nº 2549 04-01-1906, Pará, nº 1226

José Joaquim Soares dos Santos e Maria das Neves Pedro António Pereira e Mariana da Cruz

José Maria Soares Carinha, cº José Maria Soares dos Santos, cº

39 Sabia escrever, marítimo

Júlio Pereira

22

Pescador

Lázaro Pereira, cº

28

Pescador

Manuel António Alípio, cº

36

Pescador

Manuel Augusto Fernandes Chipelo

[ 204 ]

20

Alfaiate

29-10-1906, Pará, nº 1046 19-09-1906, Pará, nº 515

19-10-1906, Pará, nº 905

José Maria Pereira e Maria Custódia Manuel Alípio e Ana Rosa de Oliveira Manuel José Fernandes Chipelo e Rosa Bernarda da Costa


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

14-12-1906, Pará, nº 1477 17-11-1906, Pará, nº 1212 21-09-1906, Pará, nº 541 23-05-1906, Pará, nº 2414 03-01-1906, Pará, nº 1207 12-06-1906, Pará, nº 2552 21-04-1906, Pará, nº 2183 20-01-1906, Pará, nº 1338 19-07-1906, Pará, nº 99

Manuel Augusto Luxo

22

Pescador

Manuel Augusto Rodrigues Brandão

24

Pescador

Manuel de Jesus, cº

34

Sabia escrever, pescador

Manuel Fernandes de Oliveira

21

Sabia escrever, calafate

Manuel Francisco Caetano Marques, cº

28

Pescador

Manuel João Cravo

45

Sabia escrever

Manuel João Nunes de Azevedo, cº

39

Pescador

Manuel Joaquim Campos

13

Sabia escrever

Manuel Joaquim da Silva Jato, cº

39

Sabia escrever, pescador

37

Pescador

34

Lavrador

28

Moliceiro

21

Pescador

31

Marítimo

40

Moliceiros

17-01-1906, Pará, nº 1296

31

Pescador

23-02-1906, Pará, nº 1604

Manuel Joaquim da Silva Rangel, cº Manuel Joaquim de Oliveira, cº Manuel Joaquim dos Santos, cº Manuel Joaquim Esteves de Miranda Manuel Joaquim Louvado, cº Manuel Joaquim Rebelo dos Santos, cº Manuel Joaquim Soares da Silva, cº

Manuel Maria Luxo e Maria do Rosário António Rodrigues Brandão e Maria Joaquina Mansa Mateus António da Silva e Rosa Joana da Silva Agostinho Fernandes de Oliveira e Maria José Henriques João Caetano Marques e Angélica Ludovina Francisco José da Silva Pescador e Ana Joaquina João Nunes de Azevedo e Joaquina Rosa da Silva David José de Campos, cº

Proprietário

Foi com seu pai

António Joaquim da Silva e Maria Joaquina da Silva

04-06-1906, Pará, nº 2509

Manuel José da Silva Rangel e Rosa Joana de Oliveira

22-08-1906, Pará, nº 285 09-06-1906, Pará, nº 2533 14-02-1906, Pará, nº 1538 18-12-1906, Pará, nº 1497

João José de Oliveira Irmão de João José e Perpétua Maria de Oliveira da Silva António Joaquim dos Santos e Maria Rosália da Silva Manuel Esteves de Miranda e Ana Joaquina Domingos António Louvado e Joana Rosa Vaz Manuel Luís Rebelo dos Santos e Apolónia Rosa de Oliveira António Joaquim Soares da Silva e Apolónia Maria

[ 205 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Manuel José Branco

32 Sabia escrever, marítimo

Manuel José Cascais

16

Sabia escrever

Manuel José da Cruz, 36 cº

Sabia escrever, comerciante

Manuel José de Matos, cº Manuel José de Matos, cº

36

Sabia escrever, pescador

38

Marítimo

Manuel José de Oliveira

24

Lavrador

Manuel José Fernandes Rendeiro

12

Sabia escrever

Manuel José Lopes Júnior, cº Manuel José Nunes, cº Manuel José Pereira, cº

32 Sabia escrever, marítimo

03-01-1906, Pará, nº 1197 10-11-1906, Pará, nº 1153 05-07-1906, Pará, nº 13 21-08-1906, Pará, nº 277 14-07-1906, Manaus, nº 67 24-12-1906, Pará, nº 1553 21-12-1906, Pará, nº 1527 29-12-1906, Pará, nº 1602

Manuel João da Silva Branco e Ana da Silva Pereira Joaquim Manuel Cascais, cº António José da Cruz e Maria Luísa da Silva Sebastião José de Matos e Ana Clara de Matos Gaspar José de Matos e Maria José da Silva Joaquim Augusto de Oliveira e Maria Luísa de Oliveira Gonçalo Francisco Fernandes Rendeiro e Ana Luísa Vaz Manuel José Lopes e Domingas de Jesus

33

Sabia escrever, carpinteiro

29-12-1906, Pará, nº 1603

Agostinho António Nunes Calçado e Rosália Antónia da Silva

28

Pescador

23-03-1906, Pará, nº 1914

Gonçalo António Pereira, o «Agua Luza» e Ana Rosa

18-09-1906, Pará, nº 505

António Joaquim Soares da Silva e Apolónia Maria da Silva

Manuel José Soares da Silva

29

Pescador

Manuel José Tavares, cº

29

Sabia escrever, alfaiate

17-04-1906, Manuel Luís Tavares Vivia em Esgueira, Rio de Janeiro, nº da Silva e Ana Aveiro 2124 Antónia Vieira

28 Sabia escrever, marítimo

29-12-1906, Pará, nº 1586

Manuel José Rodrigues Vieira e Ana de Jesus Marques

Manuel José Vieira, cº

43

Pescador

11-12-1906, Pará, nº 1456

Feliciano José Vieira e Maria Ana da Silva

Manuel Luís Afonso, cº

40

Comerciante

12-03-1906, Pará, nº 1803

João Agostinho Afonso e Maria José

Manuel José Vieira

[ 206 ]

Foi com seu pai


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Manuel Luís Alves Valente, cº Manuel Luís de Miranda, cº

49

Sabia escrever, negociante

32

Sabia escrever, serralheiro

Manuel Luís Pereira, cº

21

Sabia escrever, negociante

Manuel Luís Pereira, cº

41

Negociante

Manuel Luís Soares, cº

27

Sabia escrever, pescador

Manuel Maria

11

Sabia escrever

Manuel Maria da Cruz, cº

36

Pescador

Manuel Maria da Silva, cº

27

Marítimo

Manuel Maria de Paiva

12

Sabia escrever

21

Pescador

22

Sabia escrever, pescador

Manuel Maria Luxo, cº

42

Pescador

Manuel Maria Neno, cº

31

Marítimo

Manuel Maria de Pinho, cº Manuel Maria Fernandes Ruela

Manuel Maria Rebelo 12

21-08-1906, Pará, nº 275 17-11-1906, Pará, nº 1213 20-10-1906, Pará, nº 918 14-04-1906, Pará, nº 2114 15-05-1906, Pará, nº 2351 22-08-1906, Pará, nº 282 22-12-1906, Manaus, nº 1536 03-01-1906, Pará, nº 1208 12-09-1906, Pará, nº 442 06-03-1906, Pará, nº 1734 23-03-1906, Pará, nº 1909 22-01-1906, Pará, nº 1344 23-02-1906, Pará, nº 1607

Domingos António Alves Valente e Mariana Rosa Fidalga Manuel José de Miranda e Maria Teresa de Oliveira Miguel José Pereira e Ana Felizarda Francisco António Pereira e Maria Rosália de Miranda Manuel José Soares, o «David» e Mariana da Silva Foi com seu tio Manuel Maria Soares Seitil Manuel José da Cruz e Maria Matilde Domingos José da Silva e Mariana Guedes Gonçalo António de Matos e Cristina Maria António Maria de Pinho e Maria Rosália Amador Joaquim Fernandes Ruela e Maria José de Pinho Possidónio Branco e Maria Jacinta Gonçalo António de Oliveira e Isabel Maria

Sabia escrever

21-06-1906, Pará, nº 2577

José Joaquim Rebelo, cº

Manuel Maria Rebelo Sebolão, cº

33

Sabia escrever, lavrador

31-03-1906, Pará, nº 2001

José António Rebelo Sebolão e Rosa Joana da Silva

Manuel Maria Rodrigues Baptista, cº

36

Moliceiro

21-09-1906, Pará, nº 542

Manuel José Rodrigues Baptista e Rosa Maria da Silva

Foi com seu pai

[ 207 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Manuel Maria Rodrigues Brandão

27

Manuel Maria Soares, 37 cº Manuel Maria Soares Carinha, cº Manuel Maria Soares Seitil, cº Manuel Matias Soares Carinha, cº Manuel Simões Carrêlho, cº Maria Adelina Nunes Vidal, cª

Sabia escrever, moliceiro Marítimo

Manuel José Soares e Maria da Silva

17-01-1906, Pará, nº 1304 17-07-1906, Pará, nº 80 20-10-1906, Pará, nº 916

2

28-09-1906, Pará, nº 639

João Maria Rebelo dos Santos e Maria Foi com seus pais Adelina Nunes Vidal

23 Sabia escrever, marítimo

12-07-1906, Pará, nº 52

António Joaquim da Silva e Mariana Rosa

29-12-1906, Pará, nº 1589

José Rodrigues Troia e Ana José

Marítimo

36

Pescador

29

Pescador

27

Padeiro

26 27

Lavradeira

Martinho José Tavares, cº

43

Pescador

Mateus António de Oliveira, cº

30

Sabia escrever

Miguel José da Cruz, cº

46

Pescador

Miguel José Pereira

29

Pescador

Miguel José Pereira

44

Pescador

Paulo

Sebastião Maria Troia, 25 cº

[ 208 ]

Domingos Luís Rodrigues Brandão e Caetana Ludovina

Agostinho Soares Carinha e Maria Luísa Lopes José Manuel Soares Levou seu sobrinho Seitil e Maria José Manuel Maria da Silva Manuel João Soares Carinha e Maria José Valente de Almeida Manuel Simões Carrêlho e Joaquina Rosa Foi com seu mdo João Maria Rebelo dos Santos e filho Paulo Francisco Coelho Rosa e Margarida de Jesus José Tavares Baldaia e Maria Victória da Silva Domingos de Oliveira Vieira e Proprietário. Vivia no Maria Joana de Bunheiro Pinho Manuel José da Cruz e Maria Luísa da Silva Joaquim António Pereira e Margarida Rosa Francisco António Pereira e Maria Rosália de Miranda

34

Maria Rosa

Pedro José da Silva, cº

24-12-1906, Pará, nº 1549 04-06-1906, Pará, nº 2508 24-12-1906, Pará, nº 1551 22-08-1906, Pará, nº 282 09-01-1906, Pará, nº 1251 25-10-1906, Pará, nº 976 28-09-1906, Pará, nº 639 04-01-1906, Pará, nº 1222 04-01-1906, Pará, nº 1211

Sabia escrever, mercantel

29-12-1906, Pará, nº 1587


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Tomás Vieira

27

Ventura José Baptista, 46 cº Ventura José Gonçalves Rebelo

20

Ventura José Vieira, cº

26

05-03-1906, Rio de Janeiro, nº 1705 22-09-1906, Pará, nº 566

Sabia escrever, actor Pescador

Manuel José Vieira e Silva e Ana Rodrigues João José Vieira e Isabel de Campos

Pescador

19-01-1906, Manaus, nº 1335

Posidónio Gonçalves Rebelo e Maria Joaquina Gonçalves Ruela

Sabia escrever, pescador

12-07-1906, Pará, nº 46

João José Vieira e Ana Marcelina

PARDILHÓ Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Abílio Pereira Patinha, cº

26

Ferreiro

Albino Rodrigues

23

Sabia escrever, moliceiro

Adelino da Silva e Pinho, cº

27

Sabia escrever, carpinteiro

36

Sabia escrever, lavrador

17-03-1906, Pará, nº 1855

Manuel de Pinho e Ana Valente de Almeida

56

Carpinteiro

24-08-1906, Rio de Janeiro, nº299

Manuel Joaquim da Fonseca e Maria Valente Almeida

Nasceu a 24-11-1849

António Joaquim Rodrigues, cº

27

Carpinteiro

19-02-1906, Pará, nº 1570

Lourenço Rodrigues e Maria Joaquina Ferreira

Vivia em Ovar

António Joaquim Valente de Almeida

12

Sabia escrever

02-10-1906, Rio de Janeiro, nº 670

23

Sabia escrever, comerciante

18-01-1906, Pará, nº 1323

António de Pinho, cº António Joaquim da Fonseca, cº

António Joaquim Valente de Almeida

Data, destino e nº Filiação de passaporte 14-03-1906, Francisco Pereira Pará, Patinha e Ludovina nº 1818 Lopes Domingos 13-07-1906, Rodrigues e Pará, Margarida Valente de nº 57 Almeida 03-10-1906, Pará, Ana Joaquina, sª nº 702

Notas

José Manuel da Silva Irmão de Carlos e Ludovina Rosa Alberto dos Santos Valente de Almeida Silva António Joaquim Valente de Almeida e Joana de Assumpção Matos

[ 209 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

António Maria da Silva de Matos, vº

53

Trabalhador

02-10-1906, Rio de Janeiro, nº 664

António Maria Valente de Almeida, cº

34

Sabia escrever, fogueiro

01-09-1906, Manaus, nº 343

António Maria Vaz, cº

39

Sabia escrever, lavrador

António Valente de Almeida, cº

27

Moliceiro

Artur de Almeida Baptista, cº

29

Sabia escrever, comerciante

Carlos Alberto dos Santos Silva

11

Estudante

Francisco Nunes Ferreira

19

Sabia escrever

Guilherme Valente Teixeira

28

Sabia escrever, serralheiro

07-09-1906, Rio de Janeiro, nº 398

Manuel Maria Valente Teixeira e Joana Maria Lopes Ramos

Joaquim

11

Sabia escrever

14-07-1906, Manaus, nº 65

António Maria Vaz, cº

Moliceiro

24-001-1906, Pará, nº 1376

Manuel António Valente de Almeida e Maria Caetana da Silva Paulino da Silva de Matos e Ana Joaquina Valente de Almeida

Joaquim António Valente de Almeida

22

14-07-1906, Manaus, nº 65 24-01-1906, Pará, nº 1368 10-09-1906, Pará, nº 418 02-10-1906, Rio de Janeiro, nº 669 04-10-1906, Pará, nº 707

João da Silva de Matos e Mariana Valente António Joaquim Vivia em Ribeira de Valente de Almeida e Fráguas Ana Joaquina Valente de Almeida Manuel Vaz e Maria Joana da Silva

Manuel António Valente e Maria Caetana da Silva Bernardo Maria Valente de Almeida e Maria José Lopes Baptista José Manuel da Silva Irmão de António e Ludovina Rosa Joaquim Valente de Valente de Almeida Almeida Joaquim Nunes Ferreira e Maria José Pereira de Sousa

Joaquim da Silva Matos

18

Lavrador

02-03-1906, Pará, nº 1671

Joaquim de Resende, vº

35

Lavrador

17-03-1906, Pará, nº 1858

Manuel de Resende e Maria Joaquina da Silva

Joaquim Lopes Conde, cº

38

Lavrador

17-10-1906, Pará, nº 867

Manuel Lopes Conde e Ana Rosa de Pinho

Joaquim Maria Ferreira Amador, cº

33

Sabia escrever, calafate

12-01-1906, Pará, nº 1268

Joaquim Ferreira do Couto e Domingas Amador

[ 210 ]

Levou seu filho Joaquim

Foi com seu pai


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Joaquim Nunes, cº

26

Joaquim Rodrigues Salgueirão, 31 cº

Sabia escrever

Lavrador

09-10-1906, Pará, nº 755 17-03-1906, Pará, nº 1857

Bernardo Nunes da Silva e Mariana Nunes Manuel António da Silva e Domingas Marques da Silva

Joaquim Valente de Almeida, cº

41

Sabia escrever, padeiro

02-10-1906, Rio de Janeiro, nº 666

Manuel Valente de Almeida e Ana Valente

Joaquim Rodrigues Couto, cº

34

Moliceiro

10-12-1906, Manaus, nº 1441

Manuel Joaquim Rodrigues e Ana Rosa Pereira

José Maria da Silva de Matos, 49 cº

Lavrador

27-12-1906, Pará, nº 1562

Manuel Brás da Silva de Matos e Ana Valente

Julião António da Silva Valente, cº

38

Jornaleiro

03-11-1906, Manaus, nº 1094

José da Silva Valente e Ana Valente

Júlio Amador

31

Sabia escrever, comerciante

27-03-1906, Manaus, nº 1956

João Maria Amador e Ana Rosa Valente Teixeira

Júlio da Silva Godinho

13

17-03-1906, Pará, nº 1862

José da Silva Godinho e Joana da Silva

Manuel António de Bastos

38

Sabia escrever, padeiro

13-02-1906, Manaus, nº 1523

Manuel Lourenço da Silva Carrêlha e Ana Rodrigues

Manuel da Silva Lopes, cº

32

Moliceiro

03-11-1906, Pará, nº 1093

António Lopes Lagoeira e Joana Maria Tavares

Manuel Joaquim Valente de Almeida, cº

31

Mercantel

02-10-1906, Pará, nº 677

Luís Valente de Almeida e Isabel Maria da Silva

Manuel Nunes de Matos, cº

31

Sabia escrever, carpinteiro

13-10-1906, Pará, nº 842

Manuel Nunes de Matos e Rosa Valente de Almeida

Manuel Nunes Pereira

23

Lavrador

17-03-1906, Pará, nº 1863

Manuel Nunes Pereira e Ana Rosa Valente de Almeida

Manuel Valente de Almeida

24

Sabia escrever, carpinteiro

13-10-1906, Pará, nº 844

José da Fonseca e Maria Albina Valente de Almeida

12-10-1906, Pará, nº 812

Joaquim Maria Pereira Valente e Joana Maria da Silva Pereira

Pedro Maria da Silva

24

Proprietário

Vivia na Murtosa

[ 211 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

SALREU Nome e estado civil

Idade

Escolaridade e profissão

Afonso Bandeira

12

Estudante

António Augusto Félix de Almeida, cº

35

Sabia escrever, carpinteiro

António da Silva, cº

34

Sabia escrever, trabalhador

António Rebelo dos Anjos

20

Sabia escrever, lavrador

Artur Ferreira de Pinho

24

Sabia escrever, padeiro

Beatriz

15

Domingos Afonso da Silva

28

Lavrador

Data, destino e nº Filiação de passaporte 11-12-1906, Joaquim Maria Pará, Bandeira e Maria nº 1458 Valente de Almeida 28-05-1906, António Félix de S. Tomé e Príncipe, Almeida e Joana da nº 2443 Conceição Ferreira 30-03-1906, Pará, nº 1985 21-09-1906, Pará, nº 545 27-01-1906, Luanda, Angola, nº 1414

José da Silva Canastreiro e Maria da Silva Joaquim Rebelo dos Anjos e Maria do Rosário Valente Francisco Ferreira de Pinho e Maria Marques

Irmão de Manuel Rebelo dos Anjos

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Filipe da Silva Rebelo e Emília Rosa Alves

Foi com seus pais e irmãos Maria, Manuel e Mª das Dores

13-01-1906, Pará, nº 1274

Domingos Afonso da Silva e Ana de Almeida

Irmão de Manuel António Afonso

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Levou seu filho Joaquim da Silva Canastreiro

Foi com seu mdo Filipe e fos Maria, Beatriz, Manuel e Mª das Dores Proprietário. Levou José da Silva Rebelo sua mer Emília e e fos Maria, Beatriz, Maria Marques Manuel e Mª das Dores Alexandre José Bandeira e Margarida Valente

Emília Rosa Alves, cª

39

Filipe da Silva Rebelo, cº

39

Sabia escrever

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Filipe José Bandeira, cº

46

Sabia escrever, jornaleiro

28-02-1906, Pará, nº 1648

Caetano António de Azevedo e Ana Maria Rodrigues de Sousa

Francisco António de Azevedo

40

Trabalhador

27-03-1906, Pará, nº 1961

Ildefonso Ferreira Vidal

32

Sabia escrever

20-02-1906, Pará, nº 1582

João Ferreira Vidal e Maria José Afonso da Silveira

João dos Santos, cº

46

Sabia escrever, lavrador

02-10-1906, Manaus, nº 681

Francisco dos Santos Conde e Ana de Magalhães

[ 212 ]

Notas

Proprietário


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

30-04-1904, Pará, nº 2261

Manuel Rodrigues e Ana Marques

30-03-1906, Pará, nº 1985

António da Silva, cº

Sabia escrever, trabalhador

03-08-1906, Pará, nº 205

José Valente Pires e Ana Rodrigues Nova

13

Sabia escrever

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Filipe da Silva Rebelo e Emília Rosa Alves

31

Sabia escrever, lavrador

13-01-1906, Pará, nº 1271 24-01-1906, Pará, nº 1377

João Rodrigues, cº

64

Joaquim da Silva Canastreiro

12

José Valente Pires

26

Manuel Manuel António Afonso

Lavrador

Foi com seu pai

Foi com seus pais e irmãs Maria, Beatriz e Mª das Dores

Domingos Afonso Irmão de Domingos da Silva e Ana de Afonso da Silva Almeida Manuel da Silva Fontinha e Margarida de Oliveira

Manuel da Silva Fontinha, cº

28

Sabia escrever, Lavrador

Manuel da Silva Oliveira, cº

49

Sabia escrever, lavrador

Manuel Maria da Silva Tavares

20

Sabia escrever, caixeiro

Manuel Marques de Almeida

28

Lavrador

24-01-1906, Pará, nº 1364

Francisco Marques de Almeida e Joana de Oliveira Soares

Manuel Rebelo dos Anjos

22

Sabia escrever, lavrador

02-10-1906, Pará, nº 680

Joaquim Rebelo dos Irmão de António Anjos e Maria do Rebelo dos Anjos Rosário Valente

Margarida Tavares Valente, cª

56

11-04-1906, Pará, nº 2096

Manuel Joaquim Valente e Maria Tavares

Maria

18

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Filipe da Silva Rebelo e Emília Rosa Alves

Maria das Dores

12

20-12-1906, Manaus, nº 1514

Filipe da Silva Foi com seus pais e Rebelo e Emília irmãos Maria, Beatriz Rosa Alves e Manuel

Ventura da Silva, cº

26

24-02-1906, Pará, nº 1635 23-03-1906, Pará, nº 1913

24-02-1906, Sabia escrever lavrador Rio Grande do Sul, nº 1637

João da Silva e Custódia de Oliveira João Maria Tavares e Maria da Silva

Foi com seus pais e irmãos Beatriz, Manuel e Mª das Dores

Tomé da Silva e Carolina Valente

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

VEIROS Nome e estado civil António Joaquim Afonso da Rosa António José da Fonseca, cº

Idade 30 27

António José Valente

23

Augusto Pereira, cº

26

Francisco Nunes Guiomar, cº

21

Escolaridade e profissão

Data, destino e nº Filiação de passaporte 03-03-1906, José Maria Afonso da Sabia escrever, lavrador América do Norte, Silva e de Maria João nº 1701 da Silva 25-05-1906, Manuel José da Sabia escrever, alfaiate Pará, Fonseca e Maria nº 2431 Custódia da Silva 18-07-1906, Luís António Valente Carpinteiro S. Tomé e Príncipe, e Maria Luísa nº83 Marques de Oliveira 10-07-1906, José António Pereira Carpinteiro Pará, e Maria José da nº 40 Fonseca Manuel Nunes 17-10-1906, Guiomar e Teresa Alfaiate Pará, Maria da Silva nº 878 Brandão 20-11-1906, José Maria de Pinho Alfaiate Pará, e Maria José da Silva nº 1250 05-09-1906, João José Esteves Trabalhador Manaus, de Miranda e Maria nº 380 Josefa da Silva 04-08-1906, Manuel Maria de Carpinteiro Pará, Oliveira e Joana nº 212 Maria da Silva 20-11-1906, Constantino José de Alfaiate Pará, Pinho e Inocência nº 1255 Maria da Fonseca 22-11-1906, António Lívio Sabia escrever Pará, Rodrigues e Maria carpinteiro nº 1275 João da Silva Manuel Joaquim 21-02-1906, Valente e Luísa Alfaiate Pará, Agostinha Pereira de nº 1591 Sousa 20-08-1906, Manuel Rodrigues Sabia escrever, padeiro Pará, de Oliveira e Maria nº 271 Agostinha Henriques

João Baptista de Pinho, cº Joaquim Maria Esteves de Miranda José Manuel de Oliveira, cº

22

José Maria de Pinho, cº

43

José Maria Lívio Rodrigues, cº

29

José Maria Pereira de Sousa, cº

37

José Maria Rodrigues de Oliveira, cº

31

Lauro Valente de Almeida

13

Sabia escrever, caixeiro

25-05-1905, Pará, nº 2430

Manuel Valente de Almeida e Isabel Maria da Silva

36

Sabia escrever, carpinteiro

22-09-1906, Pará, nº 580

Joaquim Maria Lopes Pereira e Maria Agostinha da Silva

Manuel Agostinho da Silva Ruivo, cº

[ 214 ]

21

29

Notas


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Manuel José da Fonseca, cº

69

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel José Afonso

21

Sabia escrever, mercantel

Miguel Valente de Almeida, cº

37

Sabia escrever

Manuel Joaquim da 24-11-1906, Pará, Silva e Maria Luísa nº 1282 da Fonseca António José Nunes 04-01-1906, Pará, Afonso e Maria nº 1210 Agostinha da Silva Joaquim Manuel 03-08-1906, Pará, Valente de Almeida nº 208 e Isabel Joaquina da Silva

Proprietário

cª, cº - casada/o fº, fos - filho, filhos Mª - Maria mdo - marido mer - mulher nº - número sª - solteira vª, vº - viúva/o

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SAUDADES | ROSA MARIA RODRIGUES

EGAS MONIZ - UM PERCURSO 90 ANOS DA ANGIOGRAFIA CEREBRAL (1927-2017) Rosa Maria Rodrigues*

A ânsia de concorrer para aumentar o património científico desde início me seduziu. Ideia vaga e imprecisa, mas guia constante dos meus passos, ainda então vacilantes…Quem se dedica a problemas da Investigação científica anda alheado do mundo, preso à sua vida…Tudo se reduz a obter novas aquisições científicas a bem da humanidade sofredora… A persistência que um grande mestre considerou a virtude dos modestos, é luz que a todos deve guiar. Sem trabalho aturado, tudo é estéril. Egas Moniz Na invenção da Angiografia1, Egas Moniz soube com rigor delinear um trabalho de investigação, procurar o fio condutor, seriar as experiências, indo paulatinamente e persistentemente estabelecendo a técnica, para com rigor interpretar os resultados obtidos e catapultar os mesmos, para que hoje possamos reconhecer, que esta técnica lhe está conceptualmente ligada. Após ter sido galardoado com o Prémio Nobel (27 de Outubro de 1949),Pacheco e Silva2 evoca, desta forma, a tenacidade e genialidade de Egas Moniz, pelo que podemos afirmar de forma inequívoca que é, uma figura de referência na história da Radiologia e em particular da Neurorradiologia pois foi o primeiro a mostrar a possibilidade da visualização detalhada e não invasiva dos vasos do cérebro humano in vivo. … Preocupado constantemente com a vantagem de se obter para o cérebro um meio que permitisse a exata localização dos tumores cerebrais, Egas Moniz trocava ideias a respeito com os outros investigadores,

* Licenciada em História. Diretora da Casa Museu Egas Moniz, com investigação e trabalhos publicados na temática Moniziana 1 - Segundo Ana Mafalda Reis (SPNR) esta, pode ser considerada como o primeiro estudo funcional cerebral no homem, a técnica de imagem em tempo real de visualização dos vasos intracranianos, através da injeção direta de produto de contraste na artéria da carótida interna. 2 - SILVA, A.C. Pacheco - Egas Moniz, Separata da Revista Anhembi, São Paulo,1956, p.8 a 10

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

sobretudo com Sicard3 e Marinesco4, com os quais privava mais de perto, mostrando o valor que teria um método capaz de permitir um diagnóstico preciso da sede de um tumor cerebral. A ideia apoderava-se do espírito de Egas Moniz que, segundo suas próprias palavras: “vivia atormentado pelo desejo de alcançar o fim, isto é, um método de visibilidade vascular para a localização dos tumores cerebrais, que haviam, pensava eu, perturbar a arquitetura normal da arteriografia cerebral. E nessas lucubrações andei desde 1924 até aos últimos meses de 1926. A ideia de injetar substâncias estranhas na carótida interna causava - lhe justificado receio. Era indispensável encontrar uma substância opaca ao Raio X que ao mesmo tempo fosse inócua e, ao ser introduzida na circulação cerebral, tornasse visíveis os vasos cerebrais. Recorreu para isso aos sais de bromo e de lítio, administrando- os em grandes doses por via bucal. Preocupado em não prejudicar aqueles sobres os quais realizava as a suas experiencias, escolheu epiléticos que se poderiam até beneficiar com o uso daquelas substancias frequentemente empregadas no seu tratamento. Negativos foram os resultados. Às provas radiológicas os vasos não se mostravam opacos.Após numerosas e pacientes experiencias em animais, sobretudo no cão, e em seguida a uma serie imensa de averiguações cadavéricas, tendo chegado a resultados promissores, uma grande pausa na realização do trabalho realizado se fazia necessária, antes do grande e decisivo passo- a aplicação dos elementos colhidos ao homem. Após várias modificações na técnica e o emprego de varias diluições, Egas Moniz escolheu um jovem de vinte anos, já cego, com um grande tumor na hipófise, para injetar- lhe uma solução de iodeto de sódio na carótida. O doente nada sofreu com a intervenção…” E naquele momento, Egas Moniz, sente um dos maiores deslumbramentos da sua vida, que relata primorosamente e que nos permite percecionar a trajetória, as vicissitudes e o regozijo de ter contribuído para alcançar algo novo, para a evolução da Ciência. “…Eduardo Coelho5, que estava na câmara escura, apenas viu as artérias, veio gritar-nos: -Eureka! Eureka! Todos os que assistíamos à prova exultámos de satisfação. Tinha-se alcançado o objetivo em que empenhámos a atividade e a concentração de muitos meses.Víamo-nos compensados, pelo menos em parte, das torturas e desgostos que fomos tendo no caminho percorrido. Mais de uma vez nos sentimos a ponto de naufragar no empreendimento, especialmente quando, quase no final, tivemos um insucesso.Tudo vem a flux morosamente, nos trabalhos biológicos e, mais ainda, no campo das aplicações clínicas. Estas são as palavras de Egas Moniz (Avanca 1874 - Lisboa 1955) que, com emoção recordou, nas Confidências de um Investigador Científico, o momento em que realizou a primeira angiografia cerebral e acrescenta…Naquela hora inesquecível, nessa tarde de 28 de junho de 19276, todas as atenções se concentravam no exame da primeira arteriografia. E recordávamos com satisfação o trabalho despendido, no alheamento de qualquer outra atividade mental; a condensação do pensar constante na realização dum programa preestabelecido que acabávamos de conseguir. No filme viam-se os vasos cerebrais, mas deformados, devido à presença do tumor. A carótida interna estava projetada para a frente, desfeito o sifão, tão nitidamente marcado nas arteriografias cadavéricas normais; o grupo sílvico deslocado na origem para a parte superior, mas podendo seguir-se, no seu percurso, as artérias que 3 - Jean Athanase Sicard (23.06.1872 – 28.01.1929) Neurologista francês conhecido por introduzir o contraste iodado lipiodol na radiologia 4 - Georges Marinesco (23.02.1864 – 15.05.1938) Médico romeno, fundador da Escola de Neurologia naquele país. 5 - Eduardo Carneiro de Araújo Coelho (07.09.1896 - 10.07.1974) Cardiologista e professor universitário português. Em 1922, terminou o curso de Medicina pela Universidade de Lisboa e, no ano seguinte, doutorou-se, com 20 valores, com a tese” Das Relações do Estado Cerebral com o Estado Mental”, onde defendeu, de acordo com casos neurológicos, a relação entre o sistema nervoso e os fenómenos psíquicos como solução para o problema mente-corpo. Os conhecimentos adquiridos ao longo da sua colaboração em várias clínicas escolares, entre as quais a de neurologia, com a cooperação do Professor Egas Moniz, serviram de base para este trabalho. 6 - Por ocasião da comemoração 90º Aniversário da Angiografia Cerebral (28.06.2017) foi inaugurada na Casa Museu Egas Moniz, uma escultura a Egas Moniz da autoria de Albano Martins em cerimónia promovida pela Câmara Municipal de Estarreja.

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SAUDADES | ROSA MARIA RODRIGUES

os constituem.Também as artérias cerebrais frontais, da parte externa do hemisfério, estavam bastante visíveis. Era mais do que uma promessa, era uma realidade feliz. Desde aquele momento e depois do sucesso obtido, tínhamos a certeza - já não era presunção - de que se podiam ver as artérias cerebrais e notar as deformações produzidas pelas neoplasias intracranianas, podendo assim fazer a sua localização, o que devia concorrer para impulsionar a cirurgia cerebral, objetivo último do nosso estudo. Egas Moniz tinha a consciência dos trilhos a percorrer, de forma e por forma a tornar e transformar, a sua invenção conhecida e reconhecida, sabia o que fazer e como fazer de forma calculada, prudente, meticulosa e persistente, mas igualmente reveladora de uma inigualável convicção no método e na amplitude do mesmo. Recorda Egas Moniz: Colhida a primeira arteriografia,achei necessário dar-lhe publicidade internacional, a fim de tomar a prioridade, que, em assuntos desta natureza, não deve ser menosprezada. Coligi todos os elementos e anunciei à Sociedade de Neurologia, de Paris, uma comunicação a realizar na sessão de 7 de Julho, subordinada ao título «A encefalografia arterial, sua importância na localização dos tumores cerebrais. Lima7 e eu vivíamos nesse momento a satisfação de um triunfo que nos parecia ainda o resto de um pesadelo, em que perpassavam laivos de tragédia e cruéis decepções, mas que finalmente se desvaneceram à luz duma nova aquisição científica.Tínhamos conquistado um pouco do desconhecido, aspiração suprema dos homens que trabalham e lutam no campo da investigação. Em Julho de 1928, o Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) acolhe Egas Moniz, apresenta a técnica da angiografia em diferentes Faculdades e Sociedades Médicas e é aclamado sócio honorário da Sociedade de Medicina e Cirurgia Paulista. A partir daqui, a técnica e a sua aplicabilidade é praticada de forma sistemática por todo o mundo. Sobre este tema, entre 1927 e 1937, Egas Moniz escreveu cento e vinte seis artigos em várias línguas, sendo que alguns abordavam o mesmo assunto, nunca descurando a participação dos seus colaboradores. Soube com firmeza e tenacidade divulgar e perpetuar a técnica. Assim nos relata Egas Moniz: Em 1931 publiquei em Paris, na Casa Masson, o primeiro volume sobre «Diagnóstico dos tumores cerebrais e a prova encefalografia arterial»8 Este volume está valorizado com um prefácio do Mestre José Babisnki,9 já ao tempo, afastado do seu Hospital, campo de acção duma admirável actuação neurológica, donde dimanaram notáveis e imorredoiras descobertas… De muito me valeram as suas palavras as suas palavras de encorajamento, no início, perante os ataques que sentia em torno, no meu país e indiferença de muitos, no meio internacional10.

7 - Egas Moniz desenvolve esta técnica em colaboração com Pedro Manuel de Almeida Lima (16.01.1903 – 04.12.1985) foi um neurocirurgião que dirigiu o serviço de Neurologia e no seu mandato transitou do velho Hospital de Santa Marta para o de Santa Maria (a partir de 1940). Também a ele se deve a criação do Centro de Estudos Egas Moniz. Como docente da Faculdade de Medicina de Lisboa com inúmeros trabalhos publicados são de destacar como principais «Contribuição para o estudo da circulação dos tumores intracranianos» (1938), «Tumores medulares» (1943), «Cerebral angiography» (1950), «Tratamento cirúrgico dos estados parkinsónicos» (1959), «Aspectos angiográficos dos chamados espasmos das artérias cerebrais» (1962) e «O sistema dos motoneurones gama» (1963). 8 - Nesta obra e entre outras, publica em 1934 «L’ angiographie cérébrale. Ses applications et résultats en anatomie, physiologie et clinique», em que Egas Moniz demonstrou bem o trabalho moroso e persistente que teve de empreender com verdadeiro denodo e tenacidade e onde descreve a anatomia normal das artérias e veias cerebrais.Por essa razão opta pela designação de Angiografia cerebral. 9 - Joseph Babinski (17.11.1857- 29.10.1932) foi um neurologista francês de etnia polaca. Reconhecido pela descrição em 1896 do sinal de Babinski, um reflexo plantar patológico indicativo de dano do trato corticoespinhal 10 - Aquando da Última Lição recordava o Mestre: Honrou-me com um prefácio de grande elegância literária, o notável neurologista JOSEPH BABINSKI. Palavras amigas e de encorajamento, compensadoras de muitas amarguras e noites de insónia. Foi, creio, o seu último trabalho e o volume com essa colaboração vale muito pela centelha do seu espirito e, para mim, mas ainda pelo carinho da sua estima.

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Concomitantemente assiste-se à criação da Escola Portuguesa de Angiografia representada por conceituados investigadores, que na senda de Egas Moniz e Almeida Lima desenvolveram outras técnicas. Destaca-se Reynaldo dos Santos11 (arteriografia dos membros e aortografia), Fausto Lopo de Carvalho12 (Angiopneumografia), Hernani Monteiro (Linfoangiografia )13 Cid dos Santos (flebografia)14. Esta técnica vai igualmente permitir a Norman Dott15, em 1933 operar o primeiro aneurisma cerebral com o conhecimento prévio das suas características. Aquando da invenção desta técnica o que Egas Moniz não previu é que esta e segundo Pedro de Melo Freitas16 viria a ser útil não só no diagnóstico, mas também no tratamento de doenças. De facto, a angiografia cerebral permaneceu como procedimento médico diagnóstico executado por neurorradiologistas em todo o mundo e é aplicada na emboliação de aneurismas, de malformações arteriovenosas e no tratamento do ACV em fase aguda, permitindo salvar vidas humanas em número cada vez mais significativo. Pelo que e assim se vê também a influência e o contributo de Egas Moniz, volvidos já sessenta e seis anos desde o seu desaparecimento, em 1955. Com a devida distância temporal, torna-se mais fácil perceber o muito que o médico português fez com tão pouco, numa época marcada por condições técnicas. Atualmente, a Angiografia Cerebral17 beneficia de equipamentos de Raio-x mais sofisticados, cateteres de melhor qualidade e produtos de contraste menos nocivos e com maior opacificação dos vasos. Mas na base, o procedimento pensado e desenvolvido por Egas Moniz mantémse, o que faz dele um visionário da Medicina, que merece ser relembrado e homenageado. No dia em que completou 70 anos (29.11.1944) às 11 horas18, decorreu a Última Lição, no anfiteatro de Fisiologia, onde Egas Moniz, nas suas palavras demonstra que o caminho percorrido deixou marcas indeléveis que a história haveria de avaliar e perpetuar. Oiçamos Egas Moniz… Ao levantar-me para abandonar esta sala, a vida professoral e a clínica hospitalar,- apartamento duma existência de lutas e canseiras, de entusiasmos, decepções e também de intimas satisfações, as mais altas e mais nobres da minha existência, em conquista de terreno ao desconhecido, - sinto que alguma coisa fica do que sou, neste ambiente e na evolução da atividade neurológica… e agora ao despedir-me ouso rematar: Esforcei-me por bem cumprir o meu dever. No ano em que se comemora o 90º aniversário da 1ª da Angiografia Cerebral19, perpetua-se no tempo a memória de um Estarrejense, que soube granjear um lugar de destaque na história da Humanidade. Para quem não conviveu de perto com Egas Moniz, a leitura da sua vasta bibliografia, a consulta do espólio documental que legou, pormenores esparsos deixados ao acaso ou talvez não, permitem ajuizar acerca das características da sua personalidade e da metodologia científica adotada20, que nos permitem parafrasear a inscrição do monumento erigido em sua homenagem na sua terra natal21: AQUI VIU NOVA LUZ A HUMANIDADE. 11 - Reynaldo dos Santos (3.12.1880.06.05.1970) Médico, escritor e historiador português. Licenciado em Medicina em 1903 pela Faculdade de Medicina de Lisboa, foi nomeado Professor de Cirurgia e Urologia em 1907 12 - Fausto Lopo de Carvalho (15.05.1890 – 23-05.1970) Médico e professor. 13 - Hernâni Monteiro (18.05.1891 – 16.11.1963) Médico, professor e escritor. 14 - João Cid dos Santos (05.08.1907 – 04.11.1975) médico, investigador e professor. 15 - Norman Dott (26.08.1897 – 10.12.1973) 16 - Integra o Conselho Consultivo/ Curador da Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia, assim como à Secção de História da Medicina e o Fórum da Esclerose Múltipla. 17 - Pela Angiografia Cerebral Egas Moniz conseguiu o reconhecimento internacional, incluindo o prémio da Universidade de Oslo com que foi distinguido em Setembro de 1945. 18 - Hora habitual das suas aulas, só que nesse dia com mais assistência, desde antigos condiscípulos, colaboradores e alunos, representantes das diferentes Universidades e setores da vida cultural e política. 19 - Pela invenção da Angiografia, Egas Moniz é proposto ao Prémio Nobel em 1928,1933, 1937 e 1944. 20 - Segundo Eduardo Coelho, Egas Moniz não foi o cultor de uma ciência desumanizada. Na investigação científica punha em evidência o homem que a vivia e o homem que dela havia de beneficiar. 21 - Inaugurado a 24 de setembro de 1950 da autoria de David Cristo.

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SAUDADES | ROSA MARIA RODRIGUES

Conferência de Egas Moniz na Faculdade de Medicina de Lisboa na presença de um doente depois de uma arteriografia cerebral (1927)

Diário de Lisboa 13.07.1927

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< Século 08.07.1927 Diário de Lisboa 23.07.1927

Hospital da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo após a realização da segunda angiografia cerebral no Brasil, realizada por José Ayres Neto sob a orientação de Egas Moniz em 17 de Agosto de 1928

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SAUDADES | ROSA MARIA RODRIGUES

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Egas Moniz cumprimentado António Flores que lhe sucede na cátedra

Página da Agenda pessoal de 29.11.1944 > < A Milésima angiografia - 16.04.1942 (oferecida a Egas Moniz pelos seus colaboradores: António Flores, Lídia Manso Preto, Romão Loff, Luís Pacheco, Pedro Manuel Almeida Lima, Gama Imaginário, Acácio Cruz e Silva, Maria João d’ Almeida Lima e Beatriz Pinheiro dos Santos)

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SAUDADES | ROSA MARIA RODRIGUES

Sessão de homenagem promovida pela Câmara Municipal de Estarreja, pela Jubilação de Egas Moniz

O Prof. Dr. Egas Moniz, que no seu campo, é uma grande, uma extraordinária figura internacional, cujos trabalhos estão a ser seguidos com desvelada atenção nos mais reputados meios científicos, recebeu ontem uma nova e desvanecedora consagração. O Ministro da Noruega, sr. Fr. Jakhellen, entregou-lhe o prémio que a Universidade de Oslo decidiu conceder-lhe pelos seus trabalhos sobre a angiografia cerebral, honra que pela primeira vez bafeja a ciência portuguesa e a nossa investigação científica. Excerto de notícia do Jornal «O Século» de 14 de Fevereiro de 1946

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Prémio Egas Moniz em Neurorradiologia Instituído em 2015, entre o Município de Estarreja e Sociedade Portuguesa de Neurorradiologia, atribuído com caráter bienal a individualidades ou instituições que se tenham destacado por trabalho científico relevante desenvolvido ou pela emancipação da neurorradiologia portuguesa e sua afirmação no mundo, desenvolvendo assim os ideais e conceitos básicos subjacentes ao trabalho investigacional do patrono do Prémio Escultura a Egas Moniz (Casa Museu Egas Moniz), da autoria de Albano Martins e inaugurada no dia 28.06.2017

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[ N.º1 | Ano I | 2007 ] SUMÁRIO: HOJE, POR ONTEM, PARA AMANHÃ, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: EM SALREU, A “CASA DO SANTO” OU “A CASA DO FERRAZ”, Amaro Neves; O PATRIMÓNIO NAVAL NA FREGUESIA DE PARDILHÓ, Andreia Vidal Leite; CARTOFILIA ESTARREJENSE - A 1.ª metade do século XX, António Augusto Silva; DIVAGAÇÕES A PROPÓSITO DE UM VELHO RETRATO - Rostos da Fontinha, António Pedro de Sottomayor; MOINHOS E MOLEIROS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Armando Carvalho Ferreira; A INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NA CAPELA DE SANTO AMARO, Beduído - Estarreja, Carlos A. Brochado de Almeida e Pedro Brochado de Almeida; OS REGEDORES DAS FREGUESIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Delfim Bismarck Ferreira; UMA FAMÍLIA DE ESTARREJA - Notas genealógicas sobre o ramo materno da família de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará e Arcebispo Primaz de Braga, Francisco M. Ponces de Serpa Brandão; HISTÓRIA DO ENSINO PRIMÁRIO NO CONCELHO DE ESTARREJA, Marco Pereira; O COUTO DE ANTUÃ E AVANCA NO FINAL DA IDADE MÉDIA - O impacto da crise dos séculos XIV e XV segundo três cartas de sentença, Rafael Marques Vigário; A IMPORTÂNCIA DA REDE VIÁRIA NA ESTRUTURAÇÃO DA DIOCESE VISIGÓTICA DE COIMBRA: Antuane como uma das suas paróquias, Sónia Filipe; SAUDADES. [ N.º2 | Ano II | 2008 ] SUMÁRIO: COMO É RICA A NOSSA HISTÓRIA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: O BISPO DE COCHIM - Alguns apontamentos para o seu conhecimento, António Augusto Silva; LEITURA DE FEIRA E NÃO SÓ, António de Pinho Nunes; ESTARREJA NA IDADE MÉDIA - Documentação dos séculos X a XIII, Delfim Bismarck Ferreira; O LIVRO DE EXCOMUNGADOS E LEMBRANÇAS DA IGREJA DE SÃO MIGUEL DE FERMELÃ, Hugo Calão; OS MEUS ANTEPASSADOS DE ESTARREJA, José Manuel Nunes Liberato; O ASSOCIATIVISMO AGRÁRIO NA SUB-REGIÃO DE AVEIRO (1854-1923) - Contributo para o seu estudo, Manuel Ferreira Rodrigues; MONARQUIA DO NORTE [ou Traulitânia] - Ocupação monárquica de Estarreja (24.1.1919-11.21919), Marco Pereira; O ESTÁBULO DA IGREJA PAROQUIAL DE BEDUÍDO, Maria Clara Paiva Vide Marques; LIVROS PAROQUIAIS DE AVANCA - Uma fonte por explorar, Maria Palmira da Silva Gomes; BANDA BINGRE CANELENSE: PELA MÚSICA HÁ 140 ANOS, Teresa Bagão; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES ENTRE OS ANOS DE 1900 E 1905, Valter Santos; SAUDADES, ADENDAS E CORRECÇÕES: Novos Subsídios para a História da Capela de Santo António, Marco Pereira. [ N.º3 | Ano III | 2009 ] SUMÁRIO: A AVANTURA CONINUA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: JORNAIS E JORNALISTAS NA TERRA DA MADEIRA ATÉ 1925, António Augusto Silva; A CONSTRUÇÃO NAVAL NO NORTE DA RIA DE AVEIRO: DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CONCELHO DE ESTARREJA AO BICO DA MURTOSA, António Vítor N. de Carvalho; CASA DOS MORGADOS DE SANTO ANTÓNIO DA PRAÇA, EM ESTARREJA, Delfim Bismarck Ferreira; A CHEGADA DA ENERGIA ELÉCTRICA AO CONCELHO DE ESTARREJA: 1925-1930 - BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS, Diana Cunha & Susana Temudo Silva; EPISÓDIO DA VIDA PLOÍTICA DE HÁ CEM ANOS, José Augusto Tavares Gurgo e Cirne; INVASÕES FRANCESAS NOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira; AS CONVERSAS COM A TIA ROSA, Margarida Castro; RETÁBULO DA CAPELA DE SANTA BÁRBARA EM BEDUÍDO, Maria Clara PaivaVide Marques; MANUEL FIRMINO D’ALMEIDA MAIA (1824-1897), Maria Manuel de Vilhena Barbosa; EGAS MONIZ - O PRÉMIO NOBEL, Rosa Maria Rodrigues; FAMILIARES DO SANTO OFÍCIO RELACIONADOS COM ESTARREJA, Teresa Cruz Tubby; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES ENTRE OS ANOS DE 1882 E 1887, Valter Santos; SAUDADES.

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MUNICÍPIO DE ESTARREJA

[ N.º4 | Ano IV | 2010 ] SUMÁRIO: CEM ANOS DA REPÚBLICA E MAIS DE MONARQUIA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: ALBERTO FERREIRA VIDAL - Notável Estarrejense, António Augusto Silva; EGAS MONIZ, das origens telúricas à celebração internacional, António Macieira Coelho; “MULTIPLICAR OS PEIXES E POUPÁ-LOS QUANDO SE REPRODUZEM…” - O debute parlamentar de um filho de Estarreja, António Pedro de Sottomayor; O “RESTAURO” DA BANDEIRA DA MONARQUIA - Tratamento de Conservação e Restauro da bandeira da Câmara Municipal de Estarreja, Eva Armindo; OS INVENTÁRIOS DAS IGREJAS E CAPELAS DAS PARÓQUIAS DOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Hugo Calão; OS ÚLTIMOS TEMPOS DA MONARQUIA E A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, com as suas consequências em Estarreja, de acordo com as memórias de Francisco de Moura Coutinho de Almeida d’Eça, Luís Augusto Eça de Matos; NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA NO DISTRITO DE AVEIRO: Alberto Souto administrador do concelho de Estarreja, Luís Souto de Miranda; DA COBERTURA DE COLMO À TELHA DE FONTELA, Marco Pereira; SÃO MIGUEL ARCANJO - PADROEIRO DE FERMELÃ, Maria Clara Paiva Vide Marques; OS CAMINHOS DA CIRES - o seu 50.º aniversário, Maria Elvira Callapez; DOMINGOS JOAQUIM DA SILVA, Visconde de Salreu (1854-1936) - Parte I, Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva; INTERVENÇÃO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DA PEDRA DE ARMAS DO BISPO DE COCHIM, Patrícia Mestre Marques de Carvalho; RECUPERAÇÃO DOS MOINHOS DE MEIAS - Quinta do Marinheiro, Casa-Museu Egas Moniz, Ricardo Matos, Luís Loureiro e Nuno Matos; AVANCA - DOS ÚLTIMOS ANOS DA MONARQUIA ATÉ À IMPLEMENTAÇÃO DA REPÚBLICA, Telma Marília Assunção Correia; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (1888-1892), Valter Santos; SAUDADES, ADENDAS E RECTIFICAÇÕES. [ N.º5 | Ano V | 2011 ] SUMÁRIO: NÃO REFORMAMOS A HISTÓRIA!, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira;ARTIGOS:A SAGA DO NAVIO MARIA DAS FLORES, O Lugre Maria das Flores - o bota-abaixo, Ana Maria Lopes; CAETANO FERREIRA - Notável Estarrejense, jornalista errante e viajante, António Augusto Silva; PASSADO PATRIMÓNIO E FUTURO - Primeiros elementos para uma carta arqueológica do concelho de Estarreja, António Manuel S. P. Silva & Gabriel Rocha Pereira; CASA DO OUTEIRO DE PAREDES EM AVANCA, Delfim Bismarck Ferreira e Maria Palmira da Silva Gomes; A ARQUEOLOGIA NA REDE PRIMÁRIA DE TRANSPORTE DE GÁS: A passagem pelo distrito de Aveiro, João Muralha; O FUNDADOR DE ESTARREJA, Joaquim Lagoeiro; ORIGEM DA CASA DO COUTO, SALREU, ESTARREJA, Jorge Barbosa Montenegro; CONSELHEIRO FRANCISCO LOURENÇO DE ALMEIDA - Participante na transição da Monarquia Absoluta para a Monarquia Liberal, na primeira metade do século XIX, Marco Pereira; OS VALENTES DE ALMEIDA DE PARDILHÓ, Maria Helena Valente Pinto; AS ELITES LOCAIS E SUA INFLUÊNCIA NOS FINS DO SÉCULO XIX E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX - UM EXEMPLO: Domingos Joaquim da Silva, Visconde de Salreu (1854-1936) - Parte II, Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva; AFORAMENTOS DE SANTO AMARO, TORREIRA E OUTROS (1780 a 1950) - PROCESSOS EM ARQUIVO, Norvinda Leite; O PAPEL DAS MULHERES NA VIDA DE EGAS MONIZ, Rosa Maria Rodrigues; OS CINETRATOS NO DISTRITO DE AVEIRO - Materialização de um programa em Rodrigues Lima, Susana Constantino; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (1893-1894), Valter Santos e Teresa Cruz; SAUDADES; NOTAS SOLTAS: ORDENANÇAS E MILÍCIAS NO CONCELHO DE ESTARREJA (1866); ARQUITECTURA NA FEIRA DE SANTO AMARO; ADENDAS E RECTIFICAÇÕES [N.º6 | Ano VI | 2012 ] SUMÁRIO: A IMPORTÂNCIA DO RITUAL, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS DE CANELAS, Ana Maria Lopes; Dr. TAVARES DA SILVA - Figura incontornável do Desporto Nacional do séc. XX, António Augusto Silva; O PATRIMÓNIO CINÉFILO DO CONCELHO DE ESTARREJA, António Costa Valente; O CASTRO DE SALREU (ESTARREJA): RESULTADOS DA PRIMEIRA CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS, António Manuel S. P. Silva, Gabriel R. Pereira & Paulo A. P. Lemos; ANTÓNIO MOTA GODINHO MADUREIRA - Um esboço biográfico, Delfim Bismarck Ferreira; MIGRAÇÕES ARQUITECTÓNICAS - O popular e o histórico na hora de Francisco Farinhas, Domingos Tavares; O PATRIMÓNIO E O SEU PAPEL CULTURAL NO CONTEXTO LOCAL E REGIONAL, José Mattoso; FÁBRICAS DE LACTICÍNIOS NOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira; SACRÁRIOS DAS IGREJAS PAROQUIAIS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Maria Clara Vide Marques; ESTARREJA - Sua origem como topónimo, Maurício António Fernandes; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (1895), Teresa Cruz Tubby e Valter Santos; SAUDADES; NOTAS SOLTAS: ESTARREJA E AS SUAS ACTUAIS FREGUESIAS (1853); CONCELHO DE ESTARREJA (1875); ESTADO ACTUAL DA INDÚSTRIA CERÂMICA (1905); ESTARREJA (1912); ANTUÃ: Paróquia Sueva; 8 DIAS DE “LIBERDADE” … CONDICIONADA; REVISTAS TERRAS DE ANTUÃ.

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

[ N.º7 | Ano VII | 2013 ] SUMÁRIO: EU SOU QUE SEI, José Eduardo de Matos, A HISTÓRIA VAISE FAZENDO, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira, ARTIGOS: HENRIQUE LAVOURA - construtor naval de nomeada, Ana Maria Lucas, CÓNEGO REBELO DOS ANJOS Capelão de militares e Civis, António Augusto Silva, O CÓNEGO BARBOSA E O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO, António Pedro Sotto Mayor, O VINCULO DA CASA DO COUTO EM SALREU (1755), Delfim Bismarck Ferreira, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO - os Painéis dos Barcos Moliceiros, José Gurgo e Cirne, INVENTÁRIO DO ESPÓLIO DE CONSTRUÇÃO NAVAL DO MESTRE HENRIQUE LAVOURA - PARDILHÓ, Juliana Cunha, REVOLTAS POPULARES EM ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira, FRANCISCO MARQUES RODRIGUES, Maria Almira de Oliveira Rodrigues Barata e Manuel Oliveira Rodrigues, RETÁBULOS DA IGREJA DE SÃO BARTOLOMEU DE VEIROS, Maria Clara Vide Marques e António Cruz Leandro, OS ELEITOS DA CÂMARA DE ESTARREJA REFERÊNCIAS NAS ATAS DE 1860-1910,Norvinda Leite, NOTA SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DE UMA PEÇA ARQUEOLÓGICA DE VALE CASTANHEIRO, SALREU, Paulo Morgado, MEMÓRIAS DA CONSTRUÇÃO NAVAL, Sérgio Paulo Silva, A EMIGRAÇÃO NO CONCELHO DE ESTARREJA (1896), Teresa Cruz e Valter Ramos, SAUDADES, REVISTAS “ TERRAS DE ANTUÔ [ N.º8 | Ano VIII | 2014 ] SUMÁRIO. VIAJE COMIGO POR TERRAS DE ANTUÃ, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Rosa Maria Rodrigues, ARTIGOS: AS DESCOBERTAS DE EGAS MONIZ E O SEU CONTEXTO HISTÓRICO, Álvaro Macieira Coelho, A CONSTRUÇÃO NAVAL LAGUNAR E A MUSEOLOGIA - Mestre Esteves - Pardilhó Ana Maria Lopes, OS 90 ANOS DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ESTARREJA, Andreia Tavares, PATRIMÓNIO MUSICAL DE ESTARREJA - Um contributo, António Augusto Silva, A FAMÍLIA BANDEIRA EM ESTARREJA E SALREU DESDE O SÉCULO XVIII, Delfim Bismarck Ferreira, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO - Os Painéis dos Barcos Moliceiros, José Gurgo e Cirne, CRÓNICAS DE UM PASSADO PRESENTE - Alguns apontamentos para o estudo geral deste Concelho de Estarreja, José Teixeira Valente, OS ACTUAIS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA NO SÉCULO XIII, Marco Pereira, PINTURAS DEVOCIONAIS DOS ALTARES- MORES DO CONCELHO DE ESTARREJA, Maria Clara Paiva Vide Marques e Sylvie Ferreira, FRANCISCO AUGUSTO DA SILVA ROCHA E A CASA DE FRANCISCO MARIA SIMÕES - Um novo padrão de Beleza, Maria João Fernandes, OS ELEITOS DA CÃMARA MUNICIPAL DE ESTARREJA - REFERÊNCIAS NAS ATAS (CONT) - 19102013, Norvinda Leite, DEAMBULANDO PELAS RUAS, Sérgio Paulo Silva, O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES - ANO DE 1897 TRILHOS DOS AMAZONAS, Teresa Cruz e Valter Santos, SAUDADES - OS 50 ANOS DO MERCADO MUNICIPAL DE ESTARREJA João Alegria REVISTAS “TERRAS DE ANTUÔ [ N.º9 | Ano IX | 2015 ] SUMÁRIO, E VÃO NOVE, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Rosa Maria Rodrigues, PINTORES DE EMBARCAÇÕES LAGUNARES, Ana Maria Lopes, 150 ANOS DEDICADOS À MÚSICA, OS EXECUTANTES DA BANDA BINGRE CANELENSE DESDE A SUA FUNDAÇÃO, Ana Paula Almeida, CARNAVAL DE ESTARREJA: DAS COMEMORAÇÕIES POPULARES ÀS BATALHAS DAS FLORES, Andreia Tavares, DR. MANUEL FIGUEIREDO. MÉDICO DE LARGO SENTIDO HUMANO, António Augusto Silva, A OBRARETABULAR DA IGREJA DE SÃO PEDRO DE PARDILHÓ, António Cruz Leandro e Maria Clara de Paiva Vide Marques, PATRIMÓNIO - LUGAR DE MEMÓRIA E DE IDENTIDADE, Carla Ferreira, O DESEMBRAGADOR DR. JOSÉ HOMEM CORRÊA TELES, Delfim Bismarck Ferreira, CONTRIBUTO PARA UM INVENTÁRIO HISTÓRICO DA COLETIVIDADE CONCELHIA” O CENTRO” - CENTRO RECREATIVO DE ESTARREJA CRE NA CELEBERAÇÃO DOS 105ºANIVERSÁRIO, José Fernando Correia, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO. OS PAINÉIS DOS BARCOS MOLICEIROS, José Gurgo e Cirne, A LEITURA PÚBLICA EM ESTARREJA, Juliana Cunha, PRIMEIRA REFERÊNCIA ESCRITA A SALREU (1076/1106), Marco Pereira, FRENTE LAGUNAR DE ESTARREJA E OS SEUS TESOUROS, Norberto Monteiro, JORNAL “ O CONCELHO DE ESTARREJA” 1901-2014 DO SOTÃO PARA O MUNDO DIGITAL, Norvinda Leite, BANDA VISCONDE DE SALREU, 1 DE OUTUBRO DE 1925-1 DE OUTUBRO DE 2015 DO PASSADO AO PRESENTE UM SÓ CAMINHO, A MESMA ENTREGA À MÚSICA E À ARTE DE BEM FAZER, Raquel Maria Rodrigues de Jesus, SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE ESTARREJA 80 ANOS AO SERVIÇO DO CONCELHO DE ESTARREJA, Rosa de Fátima Figueiredo, CASA MUSEU EGAS MONIZ - RECANTOS DO MARINHEIRO, Rosa Maria Rodrigues, ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA: UM PERCURSO COM MEIO SÉCULO, Teresa Bagão, EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1898, Teresa Cruz Tubby e Valter Santos, SAUDADES - CINE TEATRO DE ESTARREJA 65 ANOS DE HISTÓRIAS E MEMÓRIAS, João Carlos Alegria

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MUNICÍPIO DE ESTARREJA

[ N.º10 | Ano X | 2016 | A NOSSA CASA BRANCA, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Rosa Maria Rodrigues, ROTA LAGUNARES, Ana Maria Lopes, CARNAVAL DE ESTARREJA:1930 A 1974, Andreia Tavares, RANCHO FOLCLÓRICO DE VEIROS - AS PRIMEIRAS DANÇAS: 1939-1947, António Augusto Silva, TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS EM 2016 NO CRASTO DE SALREU ESTARREJA - BREVE NOTÍCIA António Manuel Silva, Gabriel R. Pereira, Paulo P. Lemos e Sara Almeida e Silva, A PEDRA DE ARMAS DA CASA DA FONTINHA, EM BEDUÍDO, ESTARREJA, Delfim Bismarck Ferreira, CASAS COM TORRE, Domingos Tavares, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO - OS PAINEIS DOS BARCOS MOLICEIROS José Gurgo e Cirne, A BIBLIOTECA PRIVADA DE EGAS MONIZ - CASA DO MARINHEIRO EM AVANCA, Juliana Cunha, O VÍNCULO DA CAPELA DE S. SIMÃO DO BUNHEIRO NO CONCELHO DE ESTARREJA, DISTRITO DE AVEIRO, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes, PESOS E MEDIDAS NA HISTÓRIA DE ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira, PINTURAS DE MILAGRES, HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE ESPERANÇA E FÉ…, Maria Clara de Paiva Vide Marques e António Cruz Leandro, EDIFÍCIO DOS PAÇOS DO CONCELHO DE ESTARREJA - UM PERCURSO PELAS FONTES DE 120 ANOS DE HISTÓRIA, Norvinda Leite, UM OUTRO OLHAR SOBRE O PATRIMÓNIO EDIFICADO DA ANTIGA FREGUESIA DE BEDUÍDO: A TERRA COMO FORMA DE CONSTRUÇÃO Susana Temudo e Diana Cunha Santos EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1899, Teresa Cruz Tubby e Valter Santos SAUDADES - NOS 20 ANOS DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE AVANCA, António Costa Valente e Rita Capucho

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

AUTORES

TA 1

TA 2

TA 3

TA 4

TA 5

TA 6

TA 7

Alvaro Macieira Coelho Amaro Neves

TA 8 X

X

Ana Maria Lopes

X

X

X

X

Ana Paula Almeida Andreia Vidal Leite

X

António Augusto Silva

X

X

X

X

X

António Costa Valente

X

X

X

X

X

X

X

X

X

António de Pinho Nunes

X

X

X

X

X

X

X X

X

António Vítor N. Carvalho

X

X X

Carla Ferreira

X

Carlos A. Brochado de Almeida

X

Delfim Bismarck Ferreira

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Diana Cunha

X

X

X

X

X

X

X

X

Domingos Tavares Eva Armindo

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X X

Gabriel Rocha Pereira

X X

X

João Alegria

X

João Muralha

X

Joaquim Lagoeiro

X

José Fernando Correia

X

X

Jorge Barbosa Montenegro

X

José Gurgo e Cirne José Manuel Nunes Liberato

X

X

António Manuel S. P. Silva

Hugo Cálão

X

X X

António Macieira Coelho

Francisco M. Pontes de Serpa Brandão

X

X

X

António Cruz Leandro

Armando Carvalho Ferreira

X X

Andreia Tavares

António Pedro de Sottomayor

TA 9 TA 10 TA 11

X

X

X

X

José Mattoso

X

José Teixeira Valente

X

Juliana Cunha

X

Luís Alberto Casimiro

X X

Luís Augusto Eça de Matos

X

Luís Loureiro

X

[ 231 ]


MUNICÍPIO DE ESTARREJA

AUTORES

TA 1

TA 2

TA 3

TA 4

TA 5

TA 6

TA 7

TA 8

TA 9 TA 10 TA 11

Luís Cardoso Menezes Luís Souto de Miranda Manuel Ferreira Rodrigues

X X

X

Margarida Castro

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

X

Maria Almira de Oliveira Rodrigues Barata

X

Maria Clara Vide

X

X

Maria Elvira Callpez

X X

Maria Helena Valente Pinho

X

Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva

X

X

Maria João Fernandes

X

Maria Manuel de Vilhena Barbosa

X

Maria Palmira da Silva Gomes

X

X

Maurício Antonino Fernandes

X

Norberto Monteiro

X

Norvinda Leite

X

Nuno Matos

X

X

X

X

Paula A. P. Lemos

X

Paulo Morgado

X

Patrícia Mestre Marques de Carvalho

X

Pedro Brochado de Almeida

X

Rafael Marques Vigário

X

Raquel Rodrigues de Jesus

X

Ricardo Montes

X

Rita Capucho

X

Rosa Figueiredo

X

Rosa Maria Rodrigues

X

X

X

Sara Almeida e Silva X

Sylvie Ferreira X X

Telma Marília Assunção Correia

X X

X

Teresa Cruz Tubby

[ 232 ]

X

X

Susana Temudo Silva

Valter Santos

X

X

X

Susana Constantino

Teresa Bagão

X X

Sérgio Paulo Silva Sónia Filipe

X

X

Manuel de Oliveira Rodrigues Marco Pereira

X X

X X

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