Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja

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[ FICHA TÉCNICA ]

TERRAS DE ANTUÃ REVISTA DE PUBLICAÇÃO ANUAL Nº9 | ANO 9 | NOVEMBRO DE 2015

DIRETORA Rosa Maria Rodrigues EDITOR Câmara Municipal de Estarreja IMPRESSÃO E ACABAMENTO Rebelo - Artes Gráficas Ldª | Estarreja TIRAGEM 500 Exemplares IMAGEM DE CAPA Casa Museu Egas Moniz Arq. Ernesto Korrodi (fotografia cedida pelo Arquivo Distrital de Leiria - PT/ADLRA/PSS/NC/B/001) PROJETO GRÁFICO Câmara Municipal de Estarreja | GCRPT ISBN DEPÓSITO LEGAL

Os artigos publicados neste número são da responsabilidade científica e ética dos seus autores bem com o respeito pelo acordo ortográfico em vigor.


[ SUMÁRIO ] E VÃO NOVE... Diamantino Sabina

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EDITORIAL Rosa Maria Rodrigues

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PINTORES DE EMBARCAÇÕES LAGUNARES Ana Maria Lopes

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150 ANOS DEDICADOS À MÚSICA, OS EXECUTANTES DA BANDA BINGRE CANELENSE DESDE A SUA FUNDAÇÃO Ana Paula Almeida

37

CARNAVAL DE ESTARREJA: DAS COMEMORAÇÕES POPULARES ÀS BATALHAS DAS FLORES Andreia Tavares

67

DR. MANUEL FIGUEIREDO. MÉDICO DE LARGO SENTIDO HUMANO António Augusto Silva

79

A OBRA RETABULAR DA IGREJA DE SÃO PEDRO DE PARDILHÓ António Cruz Leandro e Maria Clara de Paiva Vide Marques

84

PATRIMÓNIO - LUGAR DE MEMÓRIA E DE IDENTIDADE Carla Ferreira

98

O DESEMBARGADOR DR. JOSÉ HOMEM CORRÊA TELLES Delfim Bismarck Ferreira

112

CONTRIBUTO PARA UM INVENTÁRIO HISTÓRICO DA COLETIVIDADE CONCELHIA “O CENTRO” - CENTRO RECREATIVO DE ESTARREJA CRE NA CELEBRAÇÃO DO SEU 105º ANIVERSÁRIO José Fernando Correia

119

MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO. OS PAINÉIS DOS BARCOS MOLICEIROS José Gurgo e Cirne

140

A LEITURA PÚBLICA EM ESTARREJA Juliana Cunha

147

A PRIMEIRA REFERÊNCIA ESCRITA A SALREU (1076/1106) Marco Pereira

157

FRENTE LAGUNAR DE ESTARREJA E OS SEUS TESOUROS Norberto Monteiro

166

JORNAL “ O CONCELHO DE ESTARREJA”: 1901 - 2014 DO SÓTÃO PARA O MUNDO DIGITAL Norvinda Leite

181


BANDA VISCONDE DE SALREU, 1 DE OUTUBRO DE 1925 - 1 DE OUTUBRO DE 2015 DO PASSADO AO PRESENTE: UM SÓ CAMINHO, A MESMA ENTREGA À MÚSICA E À ARTE DE BEM FAZER Raquel Maria Rodrigues de Jesus

195

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE ESTARREJA 80 ANOS AO SERVÇO DO CONCELHO DE ESTARREJA Rosa de Fátima Figueiredo

211

CASA MUSEU EGAS MONIZ - RECANTOS DO MARINHEIRO Rosa Maria Rodrigues

237

ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA: UM PERCURSO COM MEIO SÉCULO Teresa Bagão

250

EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1898 Teresa Cruz Tubby e Valter Santos

270

CINE-TEATRO DE ESTARREJA 65 ANOS DE HISTÓRIAS E MEMÓRIAS João Carlos Alegria

301

SAUDADES

305

REVISTAS TERRAS DO ANTUÃ

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

E VÃO NOVE...

Diamantino Sabina*

Já são nove as edições da Terras de Antuã e muito se tem escrito sobre este nobre povo à beira “Antuã” plantado. O certo é que não vamos parar tão cedo, pois ainda há muito mais a escrever. Espero não ver esta boa prática histórica e literária esvair-se com o tempo. Enquanto me couber a decisão vos garanto que não acontecerá. Não sei contudo é se o formato em papel subsistirá. Em breve tudo poderá ser digital e a versão X do Terras de Antuã não tardará por certo. O n.º 15 ou o 22, estará disponível para Android ou iPhone? Hoje já só basta querer. Sinais dos tempos! Fizemo-lo agora com o Jornal O Concelho de Estarreja, motivo pelo qual fomos referenciados pela Agência de Modernização Administrativa como exemplo de boas práticas autárquicas! Digitalizamos todo o acervo deste mensário e disponibilizamo-lo on-line para quem quiser, de forma simples e intuitiva, consultar onze décadas de história local. É que estamos a falar no Jornal mais antigo de Estarreja. 114 anos! Parabéns ao Concelho de Estarreja! Com esta edição vimos de novo dar conta da riqueza deste nosso Concelho. Somos povo marinhão com forte tradição nas embarcações que engalanam a nossa Ria. Nisso não falhamos e a brejeirice também não pode faltar, sempre presente nos coloridos cagaréus das bateiras e dos barcos moliceiros! Na capa a Casa Museu Egas Moniz. Que grande é o orgulho! Ainda há semanas nos associamos à comunidade médica, celebrando a memória do nosso Nobel com a instituição do Prémio Egas Moniz para a Neurorradiologia. Associamo-nos à prestigiada Sociedade Portuguesa da Neurorradiologia e o resultado foi de todo convincente e proveitoso. Em breve passam 90 anos da descoberta da Angiografia Cerebral (ainda hoje prática corrente), tudo levando a crer que nesse ano ocorrerá em Estarreja o Congresso Nacional de Neurorradiologia! Muito obrigado aos historiadores, curiosos, escritores que colaboraram nesta nona edição! Muito obrigado aos que têm vindo a colaborar nas demais. A coletânea vai engrossando e o interesse aguçando. Temos motivos para nos sentirmos vaidosos com os contos e histórias deste povo e tradições que tanto gostamos de dar a conhecer! Viva o povo de Estarreja, viva a Terras de Antuã!

* Presidente da Câmara Municipal de Estarreja

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EDITORIAL

Rosa Maria Rodrigues Volvidos nove anos desde a primeira apresentação das Terras de Antuã, estamos conscientes do papel que esta publicação encerra para o perpetuar da historiografia local, no incentivo à investigação e publicação de novas temáticas, bem como ao registo escrito de momentos e “pedaços de história”, que senão perdidos, ficariam esquecidos e não fariam parte da nossa memória coletiva e consequentemente apagados nas gerações vindouras. Os temas apresentados nesta edição das Terras de Antuã, diversificados no seu conteúdo, mas dentro da mesma linha de continuidade que tem vindo a ser apresentada, privilegia as efemérides ligadas ao associativismo concelhio, às manifestações de carater cultural, personalidades, historiografia medieval, arte e iconografia religiosa, construção naval, emigração, educação, património edificado e de natureza, património imaterial e documental, bem como se reforça no capítulo das Saudades, a comemoração dos 65 anos da construção do Cineteatro de Estarreja seu percurso, vicissitudes e a sua afirmação como polo cultural de excelência. Porque se homenageia nesta revista Terras de Antuã, o Associativismo Concelhio, apresentamos o nosso agradecimento silencioso a todos os dirigentes, sócios e anónimos que durante décadas trabalharam abnegadamente para a edificação de um património material e imaterial que nos enriquece e fortalece enquanto território, bem como demonstra claramente o papel que este desempenha na construção, consolidação e dinamização do tecido social. Este número de Terras de Antuã apresenta na capa a Casa Museu Egas Moniz, outrora designada Casa do Marinheiro e que este ano comemora um século da sua reconstrução, segundo um projeto do arquiteto Ernesto Korrodi. É inequivocamente um notável exemplar arquitetónico do Concelho de Estarreja, ao mesmo tempo que assume, uma linguagem de perenidade com a individualidade que nela viveu largas temporadas e que desejou que esta se transformasse na Nossa Casa, onde o Belo e o intimismo nos permitem revisitar o Homem nos seus gostos e predileções. A todos os que contribuíram para a concretização desta publicação de Terras de Antuã, o nosso muito Obrigado.



TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

PINTORES DE EMBARCAÇÕES LAGUNARES Ana Maria Lopes * Há uns meses largos, um conceituado amigo, enviou-me um e-mail, acompanhado deste postal, tentando sondar-me sobre o que eu pensava sobre a origem da decoração dos moliceiros.

Foto 1 - Postal, início séc.XX

Bem, pensei duas vezes – eu, ele e as origens da decoração –, noutras situações em que já me tinham posto a mesma questão e respondi-lhe. Quanto ao postal em causa, que me enviou, e quanto à possível data do início das pinturas, transmito-lhe o que me parece. Lá ser postal, é, dos princípios do século XX, anos 20/30, pois já tive um, datado, nas mãos, que digitalizei. Imagino que as proas teriam começado a ser pintadas lá por fins do século XIX, como as cangas, por influência da ostentação que a classe rural demonstrou, nessa época.

*Ana Maria Lopes, licenciada em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra (1965). Diversos cursos e formações posteriores. Desde muito jovem, revelou grande interesse pelos assuntos marítimos e lagunares. Na década de 90, foi Directora do Museu Marítimo e Regional de Ílhavo. Ex-membro da CTC do Museu de Marinha e Vice-presidente dos Amigos do MMI, até à actualidade. Dentre os diversos livros publicados, destacam-se o Vocabulário Marítimo Português e o Problema dos Mediterraneísmos, edição da UC, 1975, Faina Maior – A Pesca do Bacalhau nos Mares da Terra Nova, Quetzal, Lisboa, 1996, Moliceiros – A Memória da Ria, 2ª edição revista e aumentada, da Editora Âncora, 2012, Regresso ao Litoral – Embarcações Tradicionais Portuguesas, Edições Culturais de Marinha, 2008 e Uma Janela para o Sal (em co-autoria), 2015, Alêtheia Editores, Lisboa. Blog - http://marintimidades.blogspot.com

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ANA MARIA LOPES

Com maior ou menor grau de flexibilidade, mais ou menos de acordo com «a escola» do pintor e o seu grau de sensibilidade, todos os painéis sobrantes estão dentro dos cânones da pintura de moliceiros: motivo central, sublinhado por uma legenda e emoldurado por frisos geometrizados. Na retina, ficam as cores puras e luminosas: o amarelo, o verde, o azul, o vermelho, o branco e o preto; as gamas intermédias aparecem só num ou noutro pormenor. Tem-se evoluído muito, neste aspecto, vamos passando a referir. Este conjunto de cores é igualmente usado noutros artefactos locais – as cangas vareiras. Foi a decoração do moliceiro que influenciou a da canga? Ou, pelo contrário, a da canga que influenciou o moliceiro? Segundo nosso entender e o de outros1 estudiosos, ambos reflectem a opulência económica da classe dos lavradores muito ligada ao poder político local, nos séculos XVIII e XIX. Pela vibração cromática, pelos contornos bem marcados, por um figurativismo de planos frontais, pela ingenuidade, pela adaptação do desenho à superfície, pelo recurso a temas do quotidiano, os painéis dos moliceiros constituem exemplos belíssimos de pintura «naïf» concordantes com as quatro legendas sistemáticas plenas de graça2. Parece-me que ninguém sabe muito bem e que ninguém se lembra de ter visto um moliceiro da zona Norte com os painéis por pintar. Esporadicamente, no caso desse postal, parece-me, e de uma ou outra imagem que colhi, surgiam alguns, muito poucos moliceiros, sem decoração. Creio que eram muitos, demoravam a pintar, o dinheiro não seria muito à farta, a actividade do junco e do moliço eram extremamente abundantes e os donos dos barcos não tinham tempo de as suspender. Quando comecei em pesquisas, pelos anos setenta do século XX, ainda o constatei, mas não com esta dimensão. Não fazia ideia.

Foto 2 - Barcadas de junco

1 - Senos da Fonseca, Embarcações que Tiveram Berço na Laguna. p. 164, Porto, 2011. 2 - Ana Maria Lopes, Moliceiros – A Memória da Ria, 2ª edição. Âncora Editora, Lisboa, 2012.

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Não sei se fica completamente esclarecido, caro Amigo, mas data, data, ninguém sabe – referi. Constata-se, ao longo do século XX, que os painéis decorados foram aumentando de tamanho e ganhando em minudência. Se na realidade o moliceiro é de uma beleza, leveza e agilidade estonteantes, as decorações dos painéis, aos tempos em que comecei a pesquisar, envolveram-me de tal modo, dado que ainda havia uns resquícios de concepção de pintores de diferentes sensibilidades e até gerações. Daí que, este ano, ao pensar no costumado artigo para a Revista Terras de Antuã, nº 9, da Câmara Municipal de Estarreja, por que não dedicar mais tempo e texto aos ditos decoradores, pois, se assim não acontecer, as suas pinturas e os seus nomes ou já foram ou virão a ser engolidos pelas águas. Tenho pena de já não ter conhecido painéis de construtores com quem ainda falei, mas, recolherei os dados possíveis e tenho conseguido obter mais conjecturas e algumas certezas. Relativamente à pintura do barco, temos a referir que, inicialmente, o costado era amarelado, devido ao uso do pez louro, mas nas amanhações (reparações para manutenção) anuais, passava a ser embreado (coberto de breu), o que melhorava a sua resistência. Os que ainda restam estão a ser pintados a tintas que imitam o pez louro. «Nenhum dos barcos da larga família etnográfica e longa ascendência tem a graça e o valor pictórico do moliceiro da ria de Aveiro».3 À proa e a ré, a bombordo e a estibordo, o moliceiro apresenta quatro painéis, com espantosas cercaduras policromas, flores e ramalhetes pintados em cores berrantes e estilizações bizarras, cheias de ingenuidade ou ingénuas de malícia. Para além da harmonia de linhas que fazem do moliceiro uma embarcação muito «sui generis», o seu grande encanto reside na decoração que ostenta. É o barco mais ricamente decorado e mais decorativo.4 Citando, de novo, Luís Chaves – «Os barcos vestem-se como se vestiram os corpos. E se enfeitaram, guarneceram (…) nos barcos, como nos vestidos, há faixas coloridas, paralelas ou não, grades ou xadrezes, barras, flores estilizadas ou realistas, emblemas, etc. O princípio do revestimento é o mesmo.» Barcos havia ao longo do nosso litoral que ostentavam ou por embelezamento ou superstição alguns signos pictóricos interessantes: pinturas de olhos, cruzes, emblemas, pequenas figuras, etc. Aqueles cuja decoração atingiu uma maior superfície e grande beleza foram os varinos do Tejo, seguidos dos botes e das canoas. Mas, os moliceiros com as suas quatro iluminuras de uma diversificação estonteante fizeram da ria de Aveiro uma galeria de arte fluida, em que todos estes elementos estéticos foram mergulhando. Há quem considere a proa, pelo seu formato, a parte monumental do barco, já que a diferença da construção limita, a ré, o espaço para decorações. No entanto, é na ré que por vezes surgem os mais sugestivos desenhos e legendas mais espirituosas, talvez para compensar em expressão o que reduz em espaço. Hoje, não é bem, bem, assim, porque o espaço decorativo de ré tem aumentado bastante.

3 - Luís Chaves, Os Transportes Populares em Portugal – carros e barcos. FNAT. Gabinete de Etnografia, Lisboa, 1958. 4 - Nem sempre assim foi. Há provas imagéticas de que as primeiras decorações, mais incipientes, terão aparecido apenas em finais do século XIX.

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Normalmente, o olhar do observador é levado para o centro do painel onde o motivo central aparece livremente ou limitado por um círculo, uma fechadura, por uma «casa» ou ainda por cortinados encimados pela coroa real. Utilizavam-se mais os círculos e cortinados à proa e as fechaduras e «casas» a ré. O espaço central dos painéis era sempre acabado de preencher com arabescos ou com um motivo floral: flor, vaso geometrizado ou ramo mais ou menos esguio. À medida que se aproximam da periferia, as decorações tornam-se mais geometrizadas, terminando por três tipos de frisos estilizados. Estes conseguem-se através de uma combinação diferente de traços sobre um padrão comum, formado por círculos de dois tamanhos, desenhados sobre uma linha recta.

Foto 3 - Cercadura marítima

Dois deles lembram o roliço das conchas, o terceiro, talvez inspirado pelo movimento das águas intercalado com fragmentos de moliço, é normalmente preferido para a zona que vai dos golfiões à bica da proa, esta, sempre de cor vermelha. Feita a homenagem aos elementos marítimos, o elemento rural não podia faltar – são as flores campestres, simples e estilizadas, repetidas ou alternadas, que servem de motivo inspirador. A ornamentação marítima, geometrizada, tem sido muito mais conservadora.

Foto 4 - Cercadura campestre

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A campestre, fruto de uma busca de perfeccionismo e originalidade de alguns pintores, foi evoluindo e assim acontece até aos dias de hoje. O espaço central do painel ocupa lugar privilegiado, pois é aí que os artistas têm expressado ao longo dos tempos um vasto repertório de imagens e acontecimentos. A decoração do barco também tem evoluído. E, de figuras simples enquadradas por contornos, o motivo passou a ocupar toda a área, tendo vindo a pormenorizar-se o cenário. Mas vamos, então, aos pintores que registei, tendo contactado ainda com alguns deles, com entusiasmo. Nomes, nomes e referências…? Todos foram homens que contribuíram para o encanto da ria, cada um a seu tempo e a seu modo.

PINTORES DE MOLICEIROS Vou tentar dar uma panorâmica de quem têm sido os pintores de moliceiros ao longo do século XX, século XXI. Anteriormente, é impossível fazer qualquer espécie de recolha. Não havia imagens, fotografias, nem postais e, de boca em boca, os dados foram-se perdendo. Com tantos artistas populares, teria sido inviável conseguir depoimentos de todos. Em meados dos anos 80, falei com aqueles que, sendo marcos, me permitiram uma visão geral do que se tem passado com a pintura dos moliceiros. Entretanto, com o interesse, com a compra de postais em alfarrabistas, com o desenvolvimento técnico informático, com as redes sociais, fui tendo acesso a outros dados que fui acolhendo e coleccionando. Os barcos saíam prontos dos estaleiros5. Duas situações se verificavam: ou eram pintados pelos próprios mestres ou por um pintor habilidoso exterior ao funcionamento do estaleiro, que vinha executar esse serviço. Dentre a primeira situação será de citar o famoso construtor da Murtosa, Mestre Joaquim Raimundo (1909-2005). As suas pinturas eram muito apreciadas e pena é que não houvesse meios técnicos que as permitissem reter com rigor para a posteridade. Surgiam então as primeiras fotos a cores, entre amadores, quando o Ti Raimundo abandonou o ofício. E a mim, própria, começaram-me a chegar algumas, poucas, imagens a preto e branco, por agora, mas de que tinha a certeza, pela fonte ou legenda, que tinham sido pintadas pelo próprio mestre, com a ajuda de um dos filhos.

5 - À data da última regata da ria, Torreira/Aveiro, 2015, havia, 10 moliceiros tradicionais, de tamanho normal, tendo concorrido sete. Já mais um passou para os canais de Aveiro.

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Foto 5 - M.tre JOAQUIM RAIMUNDO. A8962M

O Ti Joaquim Raimundo começava por lixar as zonas pictóricas dos painéis, emassá-las e pintá-las com alvaiade. Depois deste estar seco, riscava directamente os desenhos a lápis com o auxílio de uma régua, de um compasso e de um pauzinho. Começava pelas «acercaduras» (frisos), dando o nome de «mochos» às que fazia desde os golfiões até à bica. À proa, usava quase sempre dois desenhos, tendo um dos painéis o nome do construtor e o outro, o local e a data da construção.

Foto 6 - «MURTOSA. 7/6/1951» A8962M

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À popa, só colocava um motivo envolvido por um enquadramento. Utilizou pouco o buraco de fechadura; preferia «a casa», o círculo e o cortinado com coroa. Normalmente, os donos não davam sugestões; ele pintava directamente no barco aquilo que lhe vinha à ideia, gostando de variar muito os desenhos, principalmente os de ré. Utilizava bastante os motivos religiosos (Imaculada Conceição, S. João Baptista, os Santos Populares) e os motivos regionais campestres. Para «os dezeres» (legendas) que eram conforme os desenhos, já aceitava algumas sugestões, principalmente da mulher, que, de espírito azougado e vivaço, gostava das mais picantes: «Esta vai segada», «Não me toques que me desafinas», «Não me fujas amor», etc.Também o sogro, que era cantador popular, lhe sugeriu alguns dísticos. As tintas de que se servia eram todas em pó, «em terrão»; tinha de as moer para depois lhes misturar óleo, secante líquido e aguarrás. De tintas produzidas a partir de produtos naturais, não se recorda e tintas de lata (esmalte) nunca chegou a usar. Servia-se das cores vivas e para obter alguns tons, fazia misturas, mas poucas, em «caqueirinhos» e latinhas. O pai também pintava os seus próprios moliceiros, mas assim que apanhou os filhos a pintarem, deixou. Tinha que estar muito concentrado nas pinturas, mas chegava quase a fazer os quatro painéis num dia. Na sua casa, ainda havia vestígios desse ambiente através de três desenhos existentes na porta e na parede da adega.

Foto 7 - Na sua adega, nos anos 80…

Para as legendas, usava letra de forma, separava as palavras com intervalos e calculava mais ou menos a sua disposição. Mestre era «em breve» (abreviado) – dizia ele. Apesar de não ter instrução, preocupava-se com os acentos e não gostava de dar erros.

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Foto 8 - Proa de moliceiro, na Costa Nova, no final dos anos 50

Veio-me às mãos este postal da Costa Nova com proa de moliceiro, talvez até o A 8962 M, de que não identifico nem o pintor nem legenda. Mas, a Costa Nova, com uma draga ao longe, barcos à vela, e em segundo plano uma bateira caçadeira de recreio, a Maria Irene, que tão bem conheci!!! Fascinou-me. E não deixei de o postar aqui. Por volta da mesma época, também, o Mestre José Agostinho Henriques Miranda, conhecido pelo Ti Preguiça (1910-1996) (Monte-Murtosa) no seu estaleiro, «se safava para as pinturas com os seus empregados». Explicou-me ele: – «Com bom ou fraco jeito, não chamava ninguém. Primeiro fazia uns desenhos nuns papéis, depois colocava em cima e por riba, copiava. À proa, de um lado era a coroa do rei e uma figura qualquer e do outro era um cavalo e outra figura. À ré, eram motivos variados». Foi deste jeito simples que o Ti Preguiça recordou a pintura dos seus barcos, que já não fazia desde os anos 50. Os painéis, através de uma ou outra imagem que pude observar, não tinham, de facto, a graça e a perfeição dos do Mestre Raimundo. Noutro dia, «pesquei» esta imagem que teria sido do Ti Preguiça, pois a sua marca de leme era aquela mesmo, triângulos encaixados, em sentido oposto, a verde e vermelho.

Foto 9 - FLOR DOS VIVEIROS, no Bico. Final dos anos 50

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O Ti Agostinho Tavares (1922-1996), construtor de Pardilhó, em cujo estaleiro assisti a algumas construções, também pintou bastantes embarcações. Desde muito jovem, começou a ajudar o pai nas pinturas e, mais tarde, um dos filhos, muito habilidoso, que veio a emigrar, ajudou-o a ele. «Tudo muito mal feito, como eu sabia...» – achava o Mestre. Mas desenrascava-se.

Foto 10 - Com a figura equestre, a legenda teria sido a identificação do Mestre

Começava também por afagar, emassar e aplicar o aparelho de alvaiade, mais tarde substituído pela subcapa. Recordou algumas das tintas usadas há anos. Riscava directamente o que lhe vinha à cabeça, utilizando com frequência figuras em círculos. Acontecimentos políticos não o influenciavam, retratava cenas simples do dia-a-dia. Dada a sua falta de instrução, não tinha um conhecimento perfeito da ortografia nem do uso de acentos, mas achava que os erros até davam graça às legendas. Ingénuos os desenhos do Mestre Agostinho. Henrique Lavoura, em cujo estaleiro em Pardilhó, assisti a algumas construções, não era perito nas decorações e foi recorrendo a pintores exteriores ao serviço do seu estaleiro. Por volta dos anos 60, já que alguns artistas locais tinham emigrado, mandou vir um tal Zé da Lota de Sarilhos Pequenos, por intermédio de um seu irmão, Jaime Costa, construtor naval no mesmo local. Este Zé da Lota, antigo pintor de varinos do Tejo, rápido e habilidoso, ficou conhecido em Pardilhó e deixou marcas do seu traço em alguns barcos da nossa região, bem como em dois quadros da tasca da mulher do Lavoura.

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Foto 11 - Cenas lagunares

Foto 12 - Cenas ribatejanas

Noutras alturas, o Lavoura viu-se obrigado a recorrer à habilidade de alguns dos seus aprendizes, dentre os quais destacou Joaquim Godinho (Farelo) (n. em 1936), que ainda foi pintando mais uns painéis durante uns bons anos, mas de que nada mais soube, a partir dos anos 90. Os seus painéis caracterizavamse por uma brejeirice muito «sui generis» e pessoal, sendo inconfundíveis, no seu conjunto.

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Foto 13 - QUE LINDA FRANGA EU ENCONTREI. Anos 80

Nesta segunda situação de decoração, em que o construtor não era o decorador, houve o recurso a pintores amadores, profissionais de outro ofício, exteriores ao trabalho de estaleiro e que eram contratados pelos mestres barqueiros. Estão neste caso, e por ordem cronológica, António Tavares de Almeida (o Soeco Velho), o filho, José Soeco (1897-1988), de Avanca, e Avelino Lopes de Matos (1909-1990), de Pardilhó, já falecidos e todos situados numa linha muito tradicional. Do primeiro, famoso jugueiro, ficaram-nos alguns originais, através das réplicas de nove painéis também expostos no Museu Marítimo de Ílhavo, bem como da proa de moliceiro assinada, decorados em 1934.

Foto 14 - A FAMA AO LONGE TOA. 1934

Foto 15 - BÃO INDO QUE EU CA BOU. 1934

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Do segundo, também jugueiro de Avanca, tive notícia que se deslocava frequentemente até 1932 (ano em que emigrou para o Brasil), a Pardilhó, Bunheiro, Murtosa e Salreu, para pintar barcos. Após o regresso, em 1942, dedicou-se exclusivamente à arte das cangas. Mais recentemente, aí pelos anos oitenta, não podemos esquecer a intervenção de Joaquim Tavares dos Santos, de alcunha, Ruivo, (n. em 1944), nos moliceiros. Fazia parte de uma equipa de construção volante, ao ar livre, dirigida pelo Mestre Manuel Joaquim Henriques (Raimundo), (1923-2011),do Bunheiro.

Foto 16 - ESTÁ AQUI, MAS NÃO É P’RA TI

Além disso, tinha um moliceiro para uso próprio, em que apanhava moliço e junco, sempre decorado por ele, com uns painéis fora de série – bonitos, brejeiros e com um toque pessoal especial. No que ele se distinguiu mesmo, ainda agora, até 2014, foi na execução de cangas vareiras, presentemente, apenas com efeito decorativo. É um jugueiro famoso, arte que aprendeu com seu pai.

Foto 17 - Joaquim (Ruivo) e as suas cangas. 2012

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Com Avelino Lopes de Matos, de alcunha, Marcela, de Pardilhó, homem afável, falei demoradamente e mais tarde tive oportunidade de observar a sua técnica de elaboração, quando em Setembro de 1986 e 87 pintou moliceiros. Entrevistei-o: AML – Então, Sr. Avelino, quando vai pintar um barco, quem é que lhe costuma falar? AM – É o construtor. AML – Isto se o barco é novo e está no estaleiro. Se os painéis são remodelados, onde são feitos? AM – Na ribeira, por exemplo. AML – Nesse caso, quem contacta consigo? AM – Quando um barco é antigo, é o próprio proprietário que me vem falar. AML – Tem pintado barcos para que estaleiros? AM – Ultimamente, tenho pintado no estaleiro do Henrique Lavoura e agora começo a pintar também para o Felisberto Amador. AM – Há um outro que constrói, o Tavares, mas tem um pintor da Torreira. Esse Tavares sabe pintar também, mas já não está muito disposto a fazê-lo. AML – Já pinta há muito tempo? AM – Estou com 76 anos e com 10 comecei a ajudar o meu avô materno, que tinha um estaleiro ali no lugar do Salgueiro e também era pintor de barcos. Tinha 12 anos quando ele faleceu e deixou um barco para acabar. O meu pai, que não era construtor, acabou-o e fui eu que o pintei. Comecei logo a riscar... AML – Alguma vez aprendeu a pintar? AM – Não. Havia um tipo que era de Avanca, o José Soeco, que vinha pintar. Via-o sempre e criei gosto por isso. Comecei a substituí-lo, quando ele estava apertado com o serviço. Quando tinha 14, 15 anos (por volta de 1925) pintava cerca de 20 barcos por ano. Foto 18 - Com ajudante, pois já via muito mal AML – Fazia disso profissão? AM – Não, era marceneiro e o meu patrão não me dispensava com boa vontade. AML – Nessa altura, que tempo demorava a pintar um barco? AM – Chegava a fazê-lo num dia; agora, demoro mais. O último levou-me dia e meio e não fui eu sozinho, tive um ajudante. A vista já não ajuda e a mão também já me treme... AML – Quanto leva pela pintura? AM – Levo 1.500$00 por dia. O construtor fornece-me as tintas e eu levo os meus materiais: brochas, pincéis, régua e compasso. AML – Quantos painéis fez na sua vida? AM – Milhares. Milhares talvez não, mas umas boas centenas. Emigrei em 48 para a Venezuela e regressei em 64. Quando voltei, ainda havia barcos, mas muito menos. AML – Os barcos têm mais umas pinturas. Quais são? AM – No barrote, pinto umas riscas ou umas rodelas de cores. A porta leva uma roda em branco com uma estrela de cinco bicos, um sinaimão. Os golfiões são a cara de um namoro e dos golfiões até à bica, faço um vaso com um raminho.

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AML – Alguém lhe dá uma sugestão para os desenhos? AM – Os construtores quase nunca têm ideias; o próprio proprietário é que diz: faça a Nossa Senhora daqui ou de acolá... dois namorados, dois a bailar o folclore ou uma peixeira, etc. Se não dão indicações, faço aquilo que me vem à ideia. AML – O que lhe costuma vir à ideia? AML – Coisas simples, ao estilo antigo: os lavradores com charruas, com carros de bois, com uma sachola às costas, a roçarem junco, etc. Não gosto de pintar coisas que atingem política, nem ao moderno. AML – E os dizeres, como é que surgem? AM – Imagino-os depois dos desenhos ou então até peço a opinião a alguma pessoa que eu entenda que tem capacidade. Na ré de um barco que pintei há uns anos, pus uma padeira, porque passou por lá uma de bicicleta. Aí lembrei-me das padeiras antigas e fiz-lhe uma canastra à cabeça. Pus-lhe à frente dela um rapaz que lhe pede: «Quero do teu pão». Para terem piada, têm que ser um bocadinho picantes, sobretudo os da ré. À proa, boto o nome do construtor. AML – Para a escolha dos desenhos, tem sofrido alguma influência de elementos que conheça, tais como postais, livros, Foto 19 - No estaleiro do Felisberto Amador calendários, etc? AM – Há pessoas que trazem uns desenhos, uns santos, o S. Paio, a Nossa Senhora da BoaViagem e eu faço a cópia mais ou menos. Depois boto lá por baixo os dezeres. AML – Livros, não utiliza? AM – Não utilizo livros nenhuns. AML – E a televisão tem influência sobre os desenhos que pinta? AM – Uma vez, aproveitei a ideia dum rancho folclórico, só. AML – Depois de pensado o desenho (por sugestão do dono ou da sua cabeça), pinta logo directamente no barco ou faz algum esboço? AM – Risco directamente com o lápis e depois com as tintas é que completo. E dantes, quando pintava sozinho, fazia com a brocha muita coisa que evitava o risco. Como agora demoro mais, os mestres dão-me sempre ajudantes; tenho que riscar mais, tenho que lhes dar as indicações e marcar com tinta por onde eles têm de pintar. AML – Como pinta há muitos anos, sente que houve alguma evolução na sua técnica? AM – A pintura dantes não era feita com as tintas de esmalte de hoje. Eram em pó azul, verde, vermelho, amarelo, branco e preto. Havia o verde-Paris e o verde-loureiro, o amarelo-canário e o amarelo-laranja. Botava-lhe óleo, secante e aguarrás, de maneira à tinta correr e não escorrer. AML – Mistura cores para fazer outros tons? AM – Para fazer um azul mais claro ou um cor-de-rosa, misturo um pouco de branco. Chamam-se meiastintas ou meias-cores, mas uso-as pouco. AML – Agora com as tintas de esmalte, se precisa de compor tintas, como é que faz? AM – Arranjo uma lata vazia, vou vendo e vou provando numa tábua que não serve. AML – Sempre utilizou o mesmo tipo de pincéis? AM – Os antigos eram melhores do que agora, eram de outro cabelo mais natural. Levo mais do que seis brochas, quando vou pintar barcos, e os biquinhos de pardal.

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AML – O que são biquinhos de pardal? AM – São pincéis muito fininhos, com cabelo de javali usados para «assombrar» (sombrear), quer dizer, contornar a preto o que é preciso. AML – Quanto aos desenhos, acha que também sofreu alguma evolução? AM – O meu programa é sempre mais a pender ao antigo que ao moderno; vou buscar coisas que pintei há 30 e 40 anos, pois há patrões que preferem as coisas antigas. AML – Há motivos mais próprios para proas? AM – Sim, figuras de cavaleiros, reis, poetas, campinos, envoltos num círculo ou num cortinado. AML – E para rés? AM – Peixeiras, padeiras, pescadores de cangalhas, pares, militares dentro de um buraco de fechadura. AML – Já se preocupou em ensinar alguém a pintar? AM – Já andei atrás de alguns que têm jeito para a brocha, mas para fazerem o sombreamento, não são capazes. AML – Nas legendas, que tipo de letra usa? AM – Letra maiúscula. AML – Como separa as palavras? AM – Normalmente, com um pontozinho; também há quem ponha um traço, mas eu prefiro o ponto. AML – Preocupa-se com os acentos das palavras ou com os sinais de pontuação (interrogação e exclamação)? AM – Escrevo como sei e aos pontos e aos acentos não ligo. AML – Já tem acontecido só reformar o painel e mudar-lhe apenas a legenda? AM – Já. Eu, às vezes, é que até digo que mais vale retocar e avivar, porque dá menos trabalho e fica mais barato. E então só mudo a legenda para variar um pouco.

Foto 20 - Figura equestre, à proa

Vendo decorar um moliceiro, pude melhor apreciar todas as fases da pintura. O Ti Avelino chegou e riscou directamente sobre o aparelho já dado, primeiro as «acercaduras em volta» e depois os motivos centrais que já trazia mais ou menos na ideia. Para a execução do friso floral, dividiu o espaço aproximadamente em quadrados com régua e depois fez a olho, à brocha, pois nem sequer riscava – dizia Foto 21 - Motivo inserido em buraco de fechadura que é uma «acercadura em azulejo». Os restantes frisos eram riscados geometricamente com o auxílio do compasso. Procedia de igual modo para todos os painéis da embarcação. Começava por dar a cor de carne (que compunha com branco, vermelho e um pouco de amarelo), nos locais adequados e na base das legendas. Seguidamente, aplicava o amarelo em todos os sítios do barco onde devia levar: painéis,

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florões, etc., procedendo de igual modo com todas as cores. Para adiantar o serviço, ia marcando as cores com a própria tinta, nos espaços que o ajudante iria cobrir. Ao amarelo, seguia-se o verde, o vermelho e o azul; a ordem de aplicação de cores tinha muita importância, porque a mais escura ia tapar qualquer imperfeição na mais clara. Aplicadas estas, o Ti Avelino começava a sombrear, ou seja contornar certos desenhos a preto bem como fazer ligeiras decorações com singelos arabescos e tracinhos. Para tremer menos, com uma mão segurava a outra. O preto dava um grande realce à imagem. Os dizeres iam-se pensando e concluíam a obra. Com ele nasceram e renasceram algumas das mais belas, coloridas, ingénuas, expressivas, espirituosas e criativas decorações. Hoje, não sobra, para recordação, nenhuma embarcação, decorada ao jeito deste artista popular,6 excepto um moliceiro existente em Douarnenez, nos anos 90, se é que ainda existe.

Foto 22 - MUSÉE DU BATEAU. DOUARNENEZ

Também na Gafanha da Encarnação houve pintores populares de moliceiros, que lhes reformularam as pinturas sempre que necessário. Foi o caso do Ti Adelino Graça, por alcunha o Ameixa, que fez, até ao Verão de 1988, a travessia de passageiros na barca da passagem, entre a Gafanha da Encarnação e a Costa Nova. Mas o Ti Adelino (1911-1990), como ele me confessou, nasceu num moliceiro, começou a gatinhar nas painas da proa e por lá foi vivendo com uma irmã até aos sete anos. Mais tarde, passou a ter barco próprio, até que se desfez do último em proveito do Museu de Marinha de Lisboa, em 1979. Tinha sido construído em 1964 pelo Mestre Henrique Lavoura. Eis um painel de proa, por ele decorado:

6 - Creio que apenas existem estas imagens e as muitas, salvaguardadas no livro de Ana Maria Lopes, Moliceiros – A Memória da Ria.

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Foto 23 - A482M. C.ta NOVA-ADELINO-GRAÇA(AMEIXA)

Outro marco na história da pintura dos moliceiros foi «o pintor de horas vagas» Jacinto Vieira da Silva (1939-1987), natural da Torreira, morador em Sto. Amaro, Estarreja. Bem conhecido das gentes ribeirinhas por Jacinto ou (Jacintro) Lavadeiro, sofreu uma morte prematura, que a todos emocionou. Foi um artista, um apaixonado pela decoração das embarcações, ultrapassando já um pouco a ingenuidade e primitivismo de outros pintores. Foi mais além, diversificou imenso as cercaduras, recriou desenhos já existentes e a temática por ele utilizada surtiu de uma variedade imensa. Enquanto os artistas de que até agora falei foram mais tradicionais, mais puros, o Jacinto foi mais elaborado, mais sofisticado, sendo todo o seu trabalho previamente pensado e repensado, não só a nível iconográfico como gráfico. Está-se longe da cópia repetida de uma tradição ancestral. Na utilização das cores principais, garridas e fortes, na preparação das zonas do barco a pintar, na utensilagem de que se serviu (régua, compasso, brochas e pincéis), foi idêntico aos outros, mas há aspectos fulcrais que foi modificando. Os mais ingénuos riscavam directamente no barco, enquanto ele fazia sempre rigorosos esboços.

Foto 24 - Utilizando os tais esboços

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Os outros utilizavam poucas misturas de tintas; ele recorria com muita frequência à composição, servindo-se já de uma gama de tons muito diversificada. A sua temática, porque utilizava fontes de inspiração diversas, é variadíssima. Nas legendas, evitava sempre o erro ortográfico e preocupava-se com o aspecto gráfico, manifestando um gosto especial por frases mais longas do que as habituais. Os outros pintores demoram um a dois dias a decorar um barco, mas ele, porque o fazia com toda a minúcia, levava seis a sete. Utilizava muito pouco os enquadramentos (círculo, buraco de fechadura, etc.), porque gostava de aproveitar ao máximo todo o espaço que o painel lhe proporcionava, chegando mesmo a aumentar a superfície pictórica do painel de ré, que, por esse motivo, preferia pintar. Chegou a andar ao moliço com familiares e foi com 16 anos que pintou pela primeira vez o barco de um irmão. Ninguém o ensinou a pintar, mas já desde mocito revelara, na escola primária, esse gosto que foi cultivando pela vida fora. Pintou durante trinta anos e apesar de emigrado entre 1964 e 1974, não deixava de decorar barcos, sempre que vinha a férias. Normalmente era contactado pelos próprios donos dos moliceiros para a sua decoração, porque – afirmava ele – não gostavam das pinturas que traziam dos estaleiros. Os proprietários raramente manifestavam os seus gostos, pois tinham uma confiança total no pintor. O que ele escolhesse seria o melhor, tanto na pintura, como na legenda. Pintava com prazer e adorava ver desfilar os seus painéis no dia de S. Paio. Em conversa com vários moliceiros da zona, verifiquei que havia um grande apreço em relação à arte do Jacinto. Achavam que o Avelino Marcela não tinha a mesma qualidade e já estava a passar de moda. Inversamente, também havia um ou outro proprietário, que pensava que o seu barco havia de ser sempre pintado pelo Ti Avelino. Também um factor económico pesava na escolha do artista. Quando o barco era novo, se o proprietário se sujeitasse às pinturas do estaleiro, nada pagava a mais, pois faziam parte do contrato. Se tivesse preferência pela decoração do Jacinto, teria de lhe pagar cerca de 20.000$00 (100€), em 1986, fora as tintas gastas. Se se tratasse só de uma renovação de painéis, toda a despesa seria por conta do próprio dono. Por vezes, havia vontade de os reformular, mas a quantia já era um pouco avultada. Do Avelino Marcela, não há modelos, não há cópias, não há material observável, ao passo que em casa do Jacinto o ambiente que se respirava era todo ele testemunho da sua paixão. Quando um dia lá me levou, fiquei sensibilizada, não só pela quantidade de esboços de possíveis painéis, que tinha numa mala, como pelas faixas e cercaduras que lhe adornavam a casa. Vivia «num barco», na sua imaginação. Vejamos:

Foto 25 - Cercadura e florão redondo, como base de lâmpada

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Foi com grande surpresa que pude analisar os esboços de decorações existentes em moliceiros e não raro descobrir a fonte de inspiração original. Inspirava-se em livros, postais, jornais, revistas, calendários, cartazes publicitários. Sempre que via um desenho de que gostava, ampliava-o e esboçava-o em papel vegetal, para estar pronto a aplicar. E o seu processo de ampliação baseava-se num sistema de escala: ora dividia o papel em quadrados numerados, ora desenhava em papel quadriculado. Creio que a sua vastíssima galeria de figurantes se podia integrar numa dicotomia regionalista e não regionalista. E parece-me que o Jacinto, na temática regionalista, quer campesina, quer piscatória, era bastante mais original e criativo.Teria sido a evolução de uma sociedade tradicional para o mundo moderno? Nos temas não regionalistas, quase tudo tinha lugar: cenas de amor, de cavalos, de «cowboys», de touradas, moças em biquini a par do gosto pelo castelo de Guimarães, pelos meninos da Mocidade Portuguesa, pelas cenas evocadoras da guerra de África, pelas cenas religiosas e pelas figuras históricas, ilustres, estas bem mais dentro da linha genuína da imagística de painéis. Mostrou-se um pouco irreverente ao ir contra o costume de não pintar num dos lados da proa a figura equestre que simbolizava o construtor. Por um lado, se o fizesse tinha um painel a menos para diversificar e achava que o mestre barqueiro já tinha no leme a sigla que o individualizava. Se o construtor também era o pintor como no caso do Joaquim Raimundo, Agostinho Tavares e outros, estava de acordo, mas, caso contrário, não concordava. Quanto a motivos mais próprios para proas ou para rés, não mostrou uma diferença muito especial, salvo a do condicionamento do desenho pelo espaço. «Para certos motivos, a proa não tem espaço, já a ré tem a cara mais larga» – referiu ele. Para além das legendas sérias, há as maliciosas, picantes, que dão mais sabor ao conjunto. Achava que deviam estar de acordo com o desenho e não tinha preferência pelas mais humorísticas para a popa. Elaborava-as cuidadosamente, prevendo até duas ou três hipóteses para a mesma decoração. Forneceu-me igualmente uma listagem de legendas, umas já utilizadas, outras não, umas de sua autoria, outras já antigas, vindas de geração em geração. Nos últimos barcos que repintou em 1986, a par de cenas amorosas mais arrojadas, reviveu painéis mais antigos. Em fins de Agosto de 1986, inícios de Setembro, antes do S. Paio, procurei a oportunidade de ver o Jacinto pintar. Sobre a cara7 branca da embarcação, começou por decalcar ou riscar as cercaduras. Também iniciava a aplicação das cores pelo amarelo, por ser mais claro, a que se seguia o verde, o vermelho e o azul.

7 - Dá-se o nome de caras à zona pictórica dos painéis, quer à proa, quer a ré.

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Foto 26 - A pintar as cercaduras

Aplicadas as cores fortes nas cercaduras, passava a fazer a marcação do motivo central, através do decalque de um esboço em papel vegetal, previamente elaborado. Só riscava o desenho essencial, porque o fundo que chegava a ser bem pormenorizado, já dependia da inspiração do momento. Aplicava as cores fortes pela mesma ordem, mas depois já compunha uma boa dezena de tonalidades diferentes. Chegou a altura de aplicar o preto, de sombrear os desenhos e de escrever as legendas. Eram os retoques finais. Foi com grande mágoa que soube que Jacinto Vieira da Silva, vítima de doença grave, falecera em Março de 1987, com 48 anos. Alguns dos melhores painéis que lhe saíram das mãos, nos anos 70:8

Fotos 27 e 28 - «DESCULPA, QUE EU TENHO SEDE!»

«AINDA SOU UM MOLICEIRO DE FAMA»

8 - Muitos mais estão registados no livro de Ana Maria Lopes, Moliceiros – A Memória da Ria.

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O panorama dos pintores da Ria estava complicado: confinava-se a dois artistas, o Jacinto e o Avelino, que com a sua avançada idade e pouca vista, quase já não pintava e que acabaria por falecer também em 1990. Durante alguns anos estes dois artistas dividiram o essencial do trabalho da laguna. Como substituí-los? O que fazer? Era um impasse e tornava-se difícil renovar os painéis. Em 1987, vimos aparecer novos artistas locais como Salvador Belo, da Torreira, que pintou o primeiro barco nesse ano, com motivos folclóricos relativos ao rancho da Marinha de Ovar, por opção do dono, o Manuel Cachaço, das Quintas. Utilizou a fotografia como modelo, legendas meramente informativas e desconhecia os motivos adequados para as cercaduras, que resultaram algo empobrecidas.

Foto 29 - Painel de proa decorado por Salvador Belo. 1987

Em 1989, teve o ensejo de pintar outros barcos: cercaduras mais elaboradas, motivos mais livres e diversificados, maior criatividade na escolha das legendas.

Foto 30 - Salvador Belo pintava em 1989

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Não deu, no entanto, continuidade ao trabalho. Por acaso, noutro dia reencontrámo-nos, ao fim de quase 30 anos, na Torreira. Dedicado às artes do tresmalho, não mais pintou e entregouse às fainas da pesca, numa cuidada bateira caçadeira. Quer um, quer outro, lembrávamo-nos exactamente das mesmas ocorrências, que recordámos com alguma nostalgia.

Foto 31 - Salvador Belo. Torreira. 2015

Em 1989, Domingos Fernando Rodrigues Valente (n. em 1971), das Quintas do Norte, surgiu como «pintor de domingo» com um primeiro trabalho que agradou. Deixou de estudar e, então empregado, pintou algumas embarcações nestes últimos anos, em horas de lazer. Bastante habilidoso, ora desenhava livremente ora utilizava o papel vegetal como auxiliar e inspirava-se, por vezes, em livros da instrução primária ou catecismos. Tentou seguir a tradição – referiu – escolhia um cavalo, um tema religioso, um tema típico e um tema livre.

Foto 32 - Domingos Valente, em 1989

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Aproveitava integralmente o espaço do painel a que conferia grande pormenor gráfico, mas nem sempre respeitava o tradicionalismo das cercaduras. Pintara, no Verão de 1996, dois barcos, por cerca de 45.000$00 (225 €) cada, fora as tintas. Não foi dando grande continuidade ao trabalho9. Também em 1990, apareceu José Manuel de Oliveira (n. em 1969), Monte, Murtosa, que já pintara, à época, uma boa dúzia de moliceiros.

Foto 33 - José Manuel Oliveira, em 1990

Com alguma formação artística, começou por pintar um barco que muito pouco tinha a ver com a ingenuidade característica da iconografia da embarcação. Alertado pelo júri das Festas da Ria, simplificou a imagística, pelo que veio a beneficiar. Pela facilidade com que desenhava, traçava directamente no painel, aproveitava-o integralmente e preocupou-se em conhecer as cercaduras tradicionais e as siglas de construtor. Debutante em 1990, deu sequência à sua actividade. Formador durante uns anos nos estaleiros da AMIRIA, continuou a ser chamado para decorar as embarcações construídas pelo Mestre António Esteves e as reconstruídas pelo Mestre Felisberto Amador, em Pardilhó, outras pertencentes a instituições (Câmaras, Juntas de Freguesia, PT Inovação, etc.), a própria embarcação do Mestre Zé Rito, naTorreira, e outras. Artista por conta própria, faz exposições de quadros, na região, com alguma frequência. Defende e pratica a mesma linha pictórica com que iniciou, vai acompanhando nos seus painéis os eventos que se vão sucedendo, usando igualmente os temas de carácter religioso, patriótico, histórico, humorístico, satírico, político, pondo praticamente de lado, o painel, à proa, dedicado ao mestre-construtor. Ele próprio refere que hoje em dia os painéis são de um humor muito mais picante, muito menos velado, num forte complemento entre desenho e legenda. Tem vaidade no seu trabalho, fá-lo com gosto e orgulha-se dos muitos prémios que lhe têm sido atribuídos nos Concursos de Painéis das festas lagunares. Presentemente, o proprietário que quiser saborear o seu moliceiro com uma decoração do Zé Manel, assim é conhecido, terá que desembolsar entre 450 a 500 €, acrescidos do valor das tintas.

9 - Actualmente (2015), tive conhecimento que deixou mesmo de pintar.

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Foto 34 - O Zé Manel a pintar, em 2014

Foto 35 - Um dos últimos painéis do Zé Manel. 2015

Como a vida não está fácil e algumas pessoas terão, porventura, dificuldades em lhe pagar, surgem, por vezes, alguns familiares habilidosos do proprietário que lá «desenrascam» a decoração do barco. Também artistas «no feminino» surgiram: Susana Lopes da Melra, Florinda Lamego e outras, provavelmente. Presenciei ainda, um caso ou outro, esporádico, de artistas com preparação específica, como uma professora de Educação Visual do Ensino Básico de Oliveira de Azeméis, Marisa Carvas, que tive a oportunidade de ouvir. Pareceu-me que não seria a melhor maneira de enveredar para a decoração de moliceiros. A par destes jovens artistas, mais cultos, mais elaborados, menos tradicionais, foi-se recorrendo com bastante frequência à ingenuidade maliciosa e ao analfabetismo de Joaquim Esteves Godinho10 (Farelo), (n. em 1936), Pardilhó, a que já aludi, cujos painéis demonstravam uma graça e um sabor muito característicos. E assim se foi remodelando, a galeria flutuante que ainda vai sendo a nossa Ria, com os moliceiros tradicionais a serem cada vez menos (cerca de sete exemplares)11. Perdoem-me todos aqueles artistas populares com quem eventualmente não contactei ou de quem não me chegaram ecos. É este o panorama actual da iconografia lagunar, no século XX. Não é tão linear como na época de 50 a 80, nem tão simples e ingénuo como em décadas anteriores. E o que acontecerá, a partir de agora (2015), no século XXI?

10 - É pena, ainda tentei contactá-lo em 2010, que o Joaquim Godinho (Farelo), de Pardilhó, talvez pela idade um pouco avançada, já não tenha mais pintado aqueles painéis toscos, garridos, picarescos e atraentes que pintava. Em 2015, informaram-me mesmo que já havia falecido. 11 - Relativamente aos «barcos» que circulam em passeios turísticos no Canal Central de Aveiro, não teço qualquer espécie de considerações.

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Depois de ter explanado o que tinha chegado até mim, sobre decoração de moliceiros, uma palavrinha apenas para a decoração da maior embarcação da laguna, de que vi a última construção no Mestre Esteves, em Pardilhó, em 2001, para exibição no Museu Marítimo de Ílhavo. Ao contrário do moliceiro, revela uma grande sobriedade na pintura, nas suas caras brancas, à proa e a ré, a bombordo e a estibordo. Embeleza-as uma suave decoração, um elemento floral singelo, duas bandeirinhas cruzadas, ou, menos frequentemente, uma pequena âncora. Interiormente, são as antepararas de ré e do castelo da proa que se apresentam mais pujantemente decoradas.

Foto 36 - Dois dos últimos mercantéis. Aveiro. Anos 70.

As ditas bateiras caçadeiras de pesca sobressaem pelo seu garridismo, liso, mantendo, apenas, as caras da proa, brancas. Aquelas que já exigem alguma arte pictórica, são as chinchorras, de que se mantém na Torreira, uma boa dezena. Chinchorras ou bateiras de bicas são de uma policromia esfusiante, listadas, decoradas à proa, com figuras humanas simples, santidades, sereias, animais ou emblemas desportivos, envolvidos por pequenos círculos.

Foto 37 - Zé Manel repinta a chinchorra Santa Luzia. Pardilhó, 2013

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ANA MARIA LOPES

Para maior garridismo e embelezamento, ostentam, consoante o brio do dono, uma cruz ou santidade envolvida, por ramo de flores campestres, na bica da proa.

Foto 38 - Bica de uma chinchorra. Torreira, 2003

Créditos Fotográficos: Comandante António Bento: 2, 27, 28 Paulo Godinho: 3,4, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 24, 26, 29, 30, 32, 33 Paulo Horta Carinha: 5, 6, 9 Postais: 1,8, 22, 36 Autora: todas as restantes fotografias

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150 ANOS DEDICADOS À MUSICA, OS EXECUTANTES DA BANDA BINGRE CANELENSE DESDE A SUA FUNDAÇÃO Ana Paula Almeida*

Músico: Adjetivo 1 - Relativo à música = Musical Substantivo masculino 2 - Indivíduo que sabe Tocar um instrumento musical = Instrumentista 3 - Membro de uma orquestra ou filarmónica 4 - [Informal] Indivíduo que tem muita lábia

Filarmónica: Substantivo feminino 1 - Banda musical. 2 - Sociedade musical.

Filarmónico: Adjetivo 1- Que é amigo da música ou da harmonia Substantivo masculino 2 - Figura da filarmónica

José Marques Rego e Santos e Manuel Marques Rego e Santos Foto tirada na Senhora do Socorro em 1964

Música: Substantivo feminino 1- Organização de sons com intenções estéticas, artísticas ou lúdicas, variáveis de acordo com o autor, com a zona geográfica, com a época, etc 2 - Arte e técnica de combinar os sons de forma melodiosa 3 - Composição ou obra musical 4 - Execução de uma peça musical 5 - Conjunto de músicos. = Banda, Filarmónica, Orquestra 6 - Notação ou registo de uma peça musical 7 - Papel ou livro que contém notações musicais. = Partitura 8 - Sequência de sons cuja cadência ou ritmo lembram uma melodia 9 - [Informal, Figurado] Choradeira, lamúria 10 - [Informal] Lábia, manha

* Sócia número 1086 da Sociedade Recreativa e Musical Bingre Canelense, é Presidente de Direção desde fevereiro de 2013, tendo sido reeleita na Assembleia Geral de 13 de março de 2015.

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ANA PAULA ALMEIDA

De facto, uma banda filarmónica é feita de “amigos da música ou da harmonia”, por vezes “com muita lábia”, que com grande dedicação se entregam à “arte e técnica de combinar os sons de forma melodiosa”. Estes “indivíduos que sabem tocar um instrumento musical”, vão dando corpo à filarmónica, conjugando harmoniosamente os sons dos vários instrumentos que integram os naipes que a compõem. Pelo seu talento musical e pelo seu carisma pessoal, todos os executantes da banda, nos merecem o devido reconhecimento e agradecimento, pelo contributo deixado. É preciso olhar para as pessoas. Afinal, a história é uma construção que traz em si as marcas daqueles que dela fazem parte. Com este trabalho pretende-se, a partir dos registos existentes e dos depoimentos recolhidos, elencar os músicos executantes que ao longo dos seus 150 anos de história, fizeram e fazem, da Banda Bingre Canelense, uma referência no panorama nacional da música filarmónica. Considerando que os primeiros livros de atas remontam ao ano de 1932 e que existem diversos períodos em que não foram exaradas em ata as deliberações e assuntos tratados pela Direção da coletividade, é elevada a probabilidade de este trabalho se encontrar incompleto, omitindo os nomes de alguns executantes que por ventura tenham iniciado o finalizado o seu percurso durante esta fase. Igualmente, poderá haver duplicação de registos, devido ao facto de muitas vezes os músicos serem identificados pelas suas alcunhas, ou mesmo, pela existência de músicos com igual primeiro e último nome, o que não permite fazer a sua devida distinção. Mesmo assim, entendo valer a pena correr este risco, aguardando por posteriores contributos que me ajudem a corrigir ou completar as lacunas que agora possam existir no trabalho aqui apresentado.

Sociedade Musical União Canelense | 15 de agosto de 1933 Identificação dos músicos efetuada pelo Sr. Teodoro Pires Belas 1.ª Fila (em baixo), da esquerda para a direita: Manuel Valente (“Manuel Nora”); António Rêgo; Alfredo Gomes da Luz; Augusto Ribeiro Valente; Arménio Rodrigues Resende; Maestro José Redondo; António Falcão; Inácio Ferreira da Silva; José de Oliveira Crespo; Manuel Lopes; José Domingues de Andrade; 2.ª Fila (ao meio), da esquerda para a direita: João “Brasileiro”; Manuel Dias Valente; António Rodrigues Resende; Manuel Augusto Castro Valente; Manuel “Tuna”; Gabriel Tavares Catarino; António Máximo da Cunha; António Dias Valente; Floriano Tavares Catarino; José Tavares Catarino; 3.ª Fila (em cima), da esquerda para a direita: Artur Sá (“Artur do Roxico”); Guilherme Domingues de Sá; António Máximo da Cunha (“Rexiquito”); Manuel da Silva “Barreira”; Américo Domingues de Sá; Manuel Domingues de Sá; Manuel Rodrigues Resende; Abel Rodrigues Figueiredo; Lopes (“cunhado de Artur Sá”); Zeferino Lopes; Ernesto Catarino.

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Nome Abel Cruz Abel Aristides Dias Cavada

Instrumento

Admissão

Idade

Saída

(?)

(?)

(?)

(?)

Trompete

21-12-1987

16

1989

Apontamentos “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Demitiu-se em 1989” – Ficha de Inscrição “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Abel Domingues das Neves

Tuba

10-06-1937

14

1996

“Declarada aberta a sessão pelo Senhor Presidente, este revelou aos presentes que a Banda estava em desmoronamento, devido a políticas externas, completamente alheias à coletividade, o que todos muito lamentaram. O Senhor Abel das Neves, sócio executante de primeiro plano, por desavenças com o nosso tesoureiro Senhor Manuel Dias de Andrade, havia declarado que na sociedade não podiam permanecer estes dois indivíduos, tendo portanto um de se retirar. Foram empregados todos os esforços para que os dois continuassem como anteriormente, o que foi rejeitado pelo dito Abel das Neves. Em seguida foram feitas apreciações de um, como bom executante, do outro como bom administrador e trabalhador incansável para com a sociedade, do que resultou o tesoureiro, Senhor Manuel Dias de Andrade, pedir a sua demissão” – Livro de Atas, Sessão Extraordinária de 30/07/1953 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Deixou de comparecer aos serviços da banda, sem oficialmente informar a Direção ou o Diretor Musical, sendo considerado desvinculado da banda de música, a partir de Setembro de 1996” – Ficha de Inscrição

Abel Rodrigues Figueiredo

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(?)

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(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1953” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Abel Gonçalves

Saxofone Soprano

(?)

(?)

(?)

“Todos os presentes a esta reunião, se congratularam pela entrada voluntária do Sócio executante Senhor Alcides Rêgo, que há anos tinha deixado de fazer parte da nossa Banda, enfileirando agora de novo com os seus camaradas, a tocar Sax Soprano, na falta do Senhor Abel Gonçalves que embarcou para aVenezuela” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 31/03/1963

[ 39 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Alcides Rêgo

Saxofone Soprano

(?)

(?)

(?)

“Foi autorizada a compra do fardamento do Senhor Manuel DiasValente, o qual por motivo de doença deixou de fazer parte da Banda, vendendo a farda à sociedade pela importância de setecentos escudos (700$00) para ir ser entregue ao Senhor Alcides Rêgo que depois de estar fora da Banda cerca de seis anos, voltou agora a prestar o seu concurso, como executante, atendendo ao nosso apelo para voltar a fazer parte da coletividade que lhe serviu de escola durante os seus primeiros anos de musica” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/07/1962 “Todos os presentes a esta reunião, se congratularam pela entrada voluntária do Sócio executante Senhor Alcides Rêgo, que há anos tinha deixado de fazer parte da nossa Banda, enfileirando agora de novo com os seus camaradas, a tocar Sax Soprano, na falta do Senhor Abel Gonçalves que embarcou para aVenezuela” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 31/03/1963

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Alfredo Gomes da Luz

Bombardino

(?)

(?)

(?)

“Foi também resolvido a Direção ir procurar os sócios executantes Senhores Alfredo Gomes da Luz e José Andrade, que procuram afastar-se do efetivo da Banda; o primeiro por atingir uma idade avançada e falta de vista e o segundo devido ao seu modo de vida não lhe permitir acompanhar a Sociedade, indo a Direção procurar convence-los a que continuem fazendo parte da Banda, pois a sua saída nesta altura se sentiria muito devido ao seu reduzido número de executantes que é de vinte e cinco” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 02/11/1942 “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Álvaro Andrade Aguiar

Saxofone Alto

(?)

(?)

(?) “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Amândio Rodrigues Pires

Saxofone Tenor

13-06-1938

17

(?)

Amândio Rodrigues Rego

Clarinete

03-09-1976

13

1989

[ 40 ]

“Pelo ex-executante da Banda, senhor Amândio Pires, foi-nos devolvido o instrumento que se encontrava ainda em seu poder e era pertença desta Sociedade. Quanto ao dele, que se encontra em nosso poder, vai ser reparado para depois ser entregue” – Livro de Atas, Ata mº 183, 29/12/1994 “Demitiu-se em 1989” - Ficha de Inscrição


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Amândio Simões Pinto

Cornetim

(?)

(?)

(?)

“(...) o sócio executante Amândio Simões Pinto, lhe deu conhecimento de que lhe haviam furtado o cornetim que tinha em seu poder para se exercitar e que era pertença da Sociedade. Reconhecendo o referido sócio a obrigação de indemnizar a Sociedade do prejuízo, consoante for deliberado pela Direção, propunha no entanto, que lhe fosse permitido fazê-lo oferecendo o bombardino ou barítono de que é dono e senhor e que, no entender dele, tem mais valor e é necessário à Banda” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 02/04/1939 “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Américo Domingues de Sá

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Oboé

25-12-2007

10

(...)

Flauta Transversal

25-12-2011

13

(...)

Ana Filipa Simões Moutinho

Clarinete

25-12-2014

12

(...)

Ana Francisca de Ferreira Simões Pinto

Clarinete

25-11-2012

9

(...)

Ana Isabel Cascais Pinto

Oboé

25-12-2007

10

(...)

Ana Lúcia da Silva Costeira

Fagote

25-12-2007

12

(...)

“1º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2013, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

Ana Luísa Fernandes Arteiro

Flauta Transversal

25-12-2011

11

(...)

“2º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2013, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

Ana Margarida Andrade Pereira

Clarinete

25-12-2014

12

(...)

Ana Raquel Dias Castro

Flauta Transversal

2007

(?)

2012

Ana Rita Pires Batista

Trombone

25-12-2010

14

(...)

Ana Catarina Rodrigues Aguiar

Ana Cláudia Neves Aguiar

Ana Sofia de Almeida Maia

Oboé

25-12-2007

10

(...)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “1º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2012, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

“Foi distinguida pelo seu contributo como executante, durante a Direção do Dr. Alcides Sá Esteves, no Concerto de Natal” “1º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2013, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

[ 41 ]


ANA PAULA ALMEIDA

André Miguel Ribeiro da Silva

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Andreia da Silva Andrade

Flauta Transversal

21-12-1995

11

(…)

“É monitora da Escola de Música, assegurando as turmas de Iniciação Musical e Flauta”

Andreia Filipa Santos Silva

Clarinete

25-12-2013

10

(…)

Angelina Maria dos Santos Rodrigues

Flauta Transversal

14-12-1986

13

(…)

“Foram as primeiras mulheres a integrar a banda de música” “Solista B – Flauta – Orquestra Sinfónica do Porto” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

António Augusto da Silva (António Camilo)

Bombardino

Abril de 1945

18

(?)

António Augusto de Oliveira Andrade

Clarinete

(?)

(?)

(?)

António Aurélio Rodrigues da Conceição

Fliscorne

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

António Cavada (?)

“António Camilo expôs a sua situação, dizendo que por impossibilidades físicas não podia continuar na Banda. Foi assumido pelo Maestro, que devido às suas dificuldades de movimentação, era dispensado das arruadas, participando apenas nos concertos. Referido pelo Maestro, que a mesma situação se aplicava ao músico Justino Silva” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Aos dois melhores alunos da escola de música, meninos António Augusto de Oliveira Andrade (...) foram igualmente entregues prémios” – Jornal de Estarreja, 10/06/1975

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1954” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

António da Silva Cristóvão

Percussão

21-12-1935

15

-

“Faleceu em 26/05/1992” – Ficha de Inscrição “Faleceu ao serviço da banda, em palco, nas festividades de São Filipe, em Estarreja”

António da Silva Pinto (António Justino)

Clarinete

(?)

(?)

(?)

António da Silva Pires

Clarinete

(?)

(?)

(?)

[ 42 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

António Dias Valente (António Macinhata)

Saxofone Tenor

(?)

(?)

(?)

António Domingues da Silva Andrade

Clarinete

(?)

(?)

2014

António Domingues de Oliveira (Falcão)

(?)

(?)

(?)

(?)

“O número de executantes foi aumentado com o regresso dos Srs. António DiasValente (Macinhata)” – Jornal de Estarreja, 10/06/1972 “Banda da Guarda Nacional Republicana” “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

António Domingues Rego de Andrade

(?)

(?)

(?)

(?)

“Aberta a sessão sob a presidência do primeiro, entrou-se na ordem do dia, que foi a comunicação do Presidente de que o sócio executante António Domingues Rego de Andrade havia falecido no hospital de Coimbra, na madrugada de hoje” – Livro de Atas, Sessão Extraordinária de 24/12/1948

António Domingos Pinto Valente (Esgueirão)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

António Fernando Pereira Resende

Requinta

21-12-1985

15

1989

“Demitiu-se em 25/12/1989” - Ficha de Inscrição “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

António Gouveia

Cornetim

(?)

(?)

(?)

“Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saída de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: (...) António Gouveia, Ernesto da Cruz e Arménio Resende, Cornetins” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964

António Jorge Tavares Valente

Trompa

21-12-1990

14

1999

“Terceiro: Apresentou por escrito o pedido de demissão da Banda, o músico António Jorge Tavares Valente, por não ter possibilidades de assistir a todos os ensaios e não estar disposto a admitir “bocas” de alguns colegas” – Livro de Atas, Ata nº 368, 20/10/1999

António Manuel da Conceição Simões Pinto

Clarinete

18-04-1982

15

1990

“Demitiu-se em 1990” - Ficha de Inscrição

[na página seguinte] Extrato da ata da Sessão Ordinária de 01 de abril de 1962 que regista os nomes dos sócios executantes por naipes

[ 43 ]



TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Nome

Instrumento

Admissão

Idade

Saída

Apontamentos

António Manuel dos Santos Figueiredo

Clarinete

08-05-1988

14

(?)

“Terceiro: O músico António Santos Figueiredo, escreveu pedindo a sua demissão, cujo teor se acabou por lêr e foi aceite. Fez entrega do instrumento e desculpou-se dizendo que não tinha tempo para vir aos ensaios, visto estar empregado num café, e por vezes ter turnos à noite” – Livro de Atas, Ata nº 324, 25/06/1998

António Manuel Sá Correia

Clarinete

(?)

(?)

(?)

(?)

“Pediram demissão de sócios os Srs. Antonio Martins Dias Andrade e Antonio Domingos da Cruz, sem apresentarem qualquer justificação” – Livro de Atas, Ata nº 4, 14/05/1976

António Martins Dias Andrade

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

António Máximo da Cunha

Saxofone Alto

(?)

(?)

(?)

“4º - Tomar as medidas necessárias para que o Senhor Antonio Máximo, vindo há pouco da Venezuela, volte a fazer parte da nossa Banda como executante. Para este fim o Sr. Presidente nomeou os executantes Senhores Artur Sá e Guilherme Sá, de irem a casa do dito Máximo e diretamente tratarem do assunto” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 31/03/1954 “Depois o Senhor Presidente felicitou e agradeceu aos senhores Artur Sá e Guilherme Sá, por terem conseguido o regresso do Senhor Antonio Máximo para colaborador artístico da nossa Banda, visto este já se encontrar no seu efectivo desde meados de Abril findo” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 11/07/1954 “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

António Máximo da Cunha (Rexiquito)

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“ (...) este instrumento foi entregue ao sócio executante António Máximo da Cunha (sobrinho) (Rochiquito) para o mesmo o pagar conforme for podendo” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 28/02/1941 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

António Melo

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saída de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: António Melo, Clarinete” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964

[ 45 ]


ANA PAULA ALMEIDA

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Foi mais resolvido mandar ajeitar um fardamento da Sociedade, para o executante António Rêgo, há pouco vindo daVenezuela e que se compromete ajudar, como sócio executante a Banda, enquanto cá estiver” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 30/04/1959

António Nunes Rego

Bombardino

21-12-1936

16

1996

“Segundo: Pediu a sua demissão de músico, o executante Sr. António Rêgo, derivado à sua elevada idade” – Livro de Atas, Ata nº 257, 11/11/1996 “Por motivos de saúde, devidamente justificados, deixou de fazer parte da banda de música a partir de Dezembro de 1996” – Ficha de Inscrição “De reconhecido talento musical, muitos o lembram por ser bastante distraído, ao ponto de, durante uma procissão, sair da formação, quando o grupo seguiu o caminho fazendo uma curva, e ele continuou sempre em frente” – Depoimento de colegas da banda

António R. Andrade (?) António Rêgo

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Clarinete Baixo (?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

António Rodrigues

Clarinete

(?)

(?)

(?)

António Rodrigues Cavada

Cornetim

10-04-1950

19

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

António Rodrigues Resende

(?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

António Salgado (?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

António Simões Domingues de Aguiar

(?)

(?)

(?)

(?)

António Tavares Costeira

Tuba

21-12-1974

15

(...)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

“António Costeira, falando como elemento da Banda, expôs aos presentes, o que já não era desconhecido, que devido à sua atividade profissional, era obrigado a algumas ausências, pois uma semana por mês, se encontra de Prevenção à Manutenção da Fabrica onde trabalha. Fez referência à necessidade de reformulação de alguns instrumentos musicais” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Integra a Comissão de Honra das Comemorações dos 150 anos da Banda Bingre Canelense, na qualidade de ex-presidente da coletividade”

[ 46 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

António Tavares Costeira

Tuba

15

(...)

“O número de executantes foi aumentado com o regresso dos Srs. (...) António Tavares da Silva Cristóvão” – Jornal de Estarreja, 10/06/1972

António Tavares da Silva Cristôvão

Percussão

02-04-1970

25

2014

“António Cristôvão, falou da necessidade de mais um elemento na Bateria, de modo a estar garantida a situação em caso de impossibilidade dele” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

Arlindo Martins Dias de Andrade

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - À data identificado como cornetim - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Arménio de Almeida Resende

Trombone

21-12-1959

16

-

“Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saída de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: (...) António Gouveia, Ernesto da Cruz e Arménio Resende, Cornetins” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964 “Faleceu em 2008 durante a procissão de Castelo do Neiva” “Os aprendizes (...) e Arménio Pinho (Pintor) já começaram a tocar em festas. E com a inclusão destes, ficamos com 43 executantes” - Jornal de Estarreja, 10/06/1972

Arménio Jacinto Soares Pinto

Clarinete

02-04-1971

11

2000

“(...) pela boa colaboração no ensino dos alunos da nossa escola de música” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 09/12/1988 “Segundo: Apresentou-se nesta reunião, o músico, Sr. Arménio Soares Pinto, pedindo a sua demissão, em virtude de incompatibilidades pessoais, com as actividades da Banda, fazendo ao mesmo tempo, entrega do instrumento que tinha ao seu serviço” – Livro de Atas, Ata nº 398, 19/10/2000

Arménio José Oliveira Soares

Clarinete

21-12-1990

10

1999

“Arménio Soares informou a sua demissão, pois é incompatível a sua continuidade na Banda, devido à sua ocupação de tempo, entre estudo, trabalho e treinos de andebol” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Terceiro: Recebido o instrumento do músico Arménio José Oliveira Soares, que se havia demitido” – Livro de Atas, Ata nº 375, 19/01/2000

[ 47 ]


ANA PAULA ALMEIDA

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” Arménio Rodrigues Resende

Trombone

(?)

(?)

(?)

“Para essa comissão foram nomeados os seguintes sócios executantes Artur Sá, Guilherme Sá e Armenio Rodrigues que aceitaram e vão tratar do assunto” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 02/04/1961 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Armindo (?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

(?)

(?)

(?)

(?)

Trompa

02-02-1974

16

(...)

Armindo José da Silva Marques

Flauta Transversal

21-12-1972

12

(...)

“Foi músico militar, da Força Aérea Portuguesa”

Armindo Rebelo

Percussão

(?)

(?)

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Armindo Figueiredo da Silva Saramago

“Entrada: Festa de Gulpilhares 1974” – Ficha de Inscrição Arnaldo da Silva Pires

Trompa

1974

12

1992

“Pedido de demissão do executante musical Arnaldo da Pires, que ficou para apreciação” – Livro de Atas, Ata nº 107, 17/07/1992 “De acordo com o teor da ata nº 249 de 26/08/96, deixou de fazer parte da banda de música, nessa data” – Ficha de Inscrição

Artur José Valente Pereira

Clarinete

12-04-1987

15

1996

“Quarto: Nesta reunião apresentou-se o músico Artur Pereira para fazer entrega do seu instrumento” – Livro de Atas, Ata nº 249, 26/08/1996 “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1953”

Artur Sá (Artur do Roxico)

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Artur Simões Domingues de Aguiar

Saxofone Tenor

(?)

(?)

(?)

Augusto Ribeiro Valente

Trombone (?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Augusto Rebelo

Aurélio Lourenço da Silva Rego

Saxofone Tenor

21-12-1969

15

-

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

“Sexto: Que se convide o executante da Banda Aurelio Rêgo para organizar o cortejo para a festa” - Livro de Atas, Ata nº 14, 24/03/1981 “Faleceu em 2001” - Ficha de Inscrição

[ 48 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Bárbara Margarida Maia Lima

Trompete

25-12-2009

13

(...)

Bárbara Patrícia Martins Alves

Flauta Transversal

25-12-2009

12

(...)

Bartolomeu Dias da Silva

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Beatriz Aguiar da Silva Pinto

Trompete

(?)

(?)

(?)

Beatriz Sofia Garrido Cardoso

Clarinete

25-12-2014

11

(...)

Flauta Transversal

25-12-2009

14

(...)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Carla Daniela Martins Costeira

Saxofone Alto

25-12-2007

11

(…)

“2º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2012, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

Bruno Miguel Rodrigues Martins Pereira Cabique (?)

Carla Sofia Ramos Silva

Percussão

25-05-1987

16

(?)

Carlos Alberto da Cruz Vicente

Fliscorne

1982

16

1989

Carlos Eduardo Silva Saramago

Trompa

25-12-2001

12

(?)

Carlos José Almeida Luz

Carlos Manuel Marques Sá

Saxofone Alto

(?)

(?)

(...)

Percussão

25-12-2011

18

(...)

Carlos Manuel Pinto Esteves

Bombardino

21-12-1989

15

(...)

Carolina Reis Izquierdo

Flauta Transversal

(?)

(?)

(?)

“Demitiu-se em 1989” - Ficha de Inscrição “Foi distinguido em 2013 pelo seu contributo como executante, durante o Concerto de Natal da Banda” “É monitor da Escola de Música, assegurando a turma de Guitarra” “Fez-se, por escrito, uma declaração, a pedido do nosso músico Carlos Manuel Pinto Esteves, a identifica-lo como executante da nossa Banda” – Livro de Atas, Ata nº 132, 19/03/1993

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Casimiro Augusto de Almeida Valente

Clarinete

10-04-1950

15

2004

“CasimiroValente, informou aos presentes não ser a sua intenção continuar como Tesoureiro da Sociedade, a partir das próximas eleições. Avisou que a sua permanência na Banda era só até ao final do próximo ano” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Por motivos de saúde devidamente justificados saiu da banda no final da época de 2004” – Ficha de Inscrição “Contra-maestro da banda desde 2000, é igualmente monitor da Escola de Música, assegurando as aulas de solfejo” “Foi músico militar, da Força Aérea Portuguesa”

Casimiro Manuel de Aguiar Valente

Clarinete Baixo

15-08-1977

17

(...)

Catarina Alexandra Morais Almeida

Saxofone Alto

25-12-2008

11

(...)

Clarinete

21-12-2012

17

(...)

Cátia Sofia Santos Melo

[ 49 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Celestino António Valente de Figueiredo

Celina Maria Sousa Pinto

Saxofone Alto

Clarinete

14-04-1987

21-12-1994

15

13

(...)

“Oitavo: Foram propostos para a Comissão Organizadora, para manter um Regulamento Interno na Banda, os seguintes componentes: Músicos: Isabel Cristina Neves, Marisa GomesValente, Nelson Aguiar, Celestino Figueiredo e José Pais Ferreira” – Livro de Atas, Ata nº 370, 03/11/99

(?)

“Celina Pinto informou não querer continuar na Bateria, continuando apenas em Clarinete, pois disse não querer deixar ficar mal o naipe, se pensar em deixar a Banda. No entanto afirmou que pensa andar até ao final da próxima época” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

César da Cruz

Trombone

(?)

(?)

(?)

Cláudio Miguel Pais Ferreira

“Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saída de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: (…) César da Cruz,Trombone” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964

Trombone

21-12-1998

12

(?)

Cláudio Miguel Rodriguez Matos

Bombardino

25-12-2001

13

(…)

Cristiano Rafael Silva Rios

Percussão

2014

(?)

(?)

Dalila da Conceição de Bastos Pereira Resende

Clarinete

14-12-1986

19

(?)

Daniel Alexandre de Almeida Garrido

Clarinete

25-12-2011

(?)

(...)

Daniela Filipa Rodrigues Pereira

Trompete

25-12-2009

13

(...)

“Foram as primeiras mulheres a integrar a banda de música”

“Foi distinguida em 2011 pelo seu contributo como executante, durante o Concerto de Natal da Banda”

Daniela Neves Aguiar

Clarinete

25-12-2003

10

(...)

David José Ferreira de Matos Leite

Trompa

(?)

(?)

(?)

David Manuel Sá Tavares Castro

Trompete

21-12-1990

13

(?)

“Deixou a banda por motivos de emigração” - Ficha de Inscrição

Elba Maria Rodrigues Figueiredo

Trompete

21-12-2010

10

(…)

“É monitora da Escola de Música, assegurando uma das turmas de Clarinete”

“Pediu a demissão por escrito, à Direção, invocando razões de ordem pessoal. Demissão aceite em Novembro de 1998” – Ficha de Inscrição Élder António de Oliveira Matos

Trombone

21-12-1993

14

(...)

“Quarto: Apresentou por carta o seu pedido de demissão de músico, Élder António de Oliveira Matos, justificando a sua decisão.Verbalmente foram apresentados, por outros músicos o mesmo pedido, aguardando o façam por escrito” – Livro de Atas, Ata nº 331, 29/10/1998 “Readmitido em 2000” – Ficha de Inscrição

[ 50 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Emídio António Pinto da Silva Ernesto Catarino

Ernesto Cruz Aguiar

Percussão

18-04-1982

17

(...)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Saxofone Barítono

20-12-1979

19

(...)

“Há a atribuir este ano duas medalhas aos músicos: Ernesto Aguiar e Nelson Aguiar pelos seus quinze anos de executantes na banda” – Livro de Atas, Ata nº 150, 12/04/1994 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Ernesto da Cruz

Cornetim

(?)

(?)

(?)

Eugénio Tavares

Trombone

(?)

(?)

(?)

Fagote

25-12-2000

11

(...)

Trompete

(?)

(?)

2011

Fábio Miguel Silva Andrade Fábio Ricardo da Silva Andrade

“Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saida de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: (...) António Gouveia, Ernesto da Cruz e Arménio Resende, Cornetins” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Fotografia da Banda Bingre Canelense, Foto Lisboa 1972

[ 51 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Fernando Artur Rainho Valente

Requinta

21-12-1959

14

2000

Fernando Augusto das Neves Valente

Trombone

21-12-1974

18

(...)

Fernando Carlos Raimundo Valente (Belga)

[ 52 ]

Saxofone Alto

(?)

(?)

(?)

“Requinta, FernandoValente” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Antes de se entrar na ordem do dia, foram trocadas impressões a cerca do movimento da Banda e todos lamentamos o facto da saída de seis elementos para o serviço militar, os quais nos fazem grande falta, e são: (...) Fernando Rainho, Requinta” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964 “Ao primeiro dia do mês de Dezembro de mil novecentos e setenta e oito, reuniu a Direção da Banda Bingre conjuntamente com os executantes da Banda, em virtude de dias antes ter sido apreciada uma exposição verbal do seu director musical, Sr. Fernando Artur Rainho Valente, em que manifestou total descontentamento pela frequente falta aos ensaios de alguns elementos que, segundo disse, tornava infrutífero o seu trabalho e que por isso punha à disposição da direcção a missão que lhe estava atribuída. Entretanto condicionou esta medida, se lhe fossem dadas garantias por esses elementos, de futuramente terem assiduidade aos ensaios. Em vista do acima exposto, o Presidente da Direcção, Sr. Fernando DiasValente, desenvolveu pormenorizadamente o motivo da reunião geral e da grave crise que poderia resultar para a Banda, com a saída do seu chefe. Responsabilizou os executantes faltosos por esse facto.Todos os elementos se comprometeram a cumprir, pelo que o diretor musical, retirou o seu pedido de demissão” – Livro de Atas,Ata nº 91, 01/12/1978 “Por unanimidade, foi deliberado em reunião de Direção, a ideia de condecorar, como nosso Sócio de Mérito, o nosso Diretor Musical, como sócio, como músico e como regente, ficando agora esta deliberação, para aprovação da Assembleia Geral, a realizar no próximo dia trinta e um de Março” – Livro de Atas, Ata nº 190, 16/02/1995 “Ficou deliberado nesta reunião, fazer-se a oferta, quando da festa de aniversário da Banda, ao Diretor Musical, juntamente com o diploma de Sócio de Mérito, uma salva de prata, como gratidão pelos serviços prestados” – Livro de Atas,Ata nº 198, 13/04/1995 “Terceiro: Foi com mágoa que recebemos o pedido de demissão do maestro da Banda, Sr. Fernando Rainho. Por ele foi comunicado aos músicos, em primeiro lugar, durante o último serviço que fez, informando depois o Presidente da Direcção da Banda, Sr. José Manuel Rodrigues Andrade” – Livro de Atas, Ata nº 396, 05/10/2000

“FernandoValente foi um personagem que marcou a sua época, a sua região, o seu instrumento. Dos primeiros saxofonistas da era “moderna” do saxofone português (...)Valente desenvolveu com uma paixão muito especial o ensino do instrumento (...). FernandoValente deixou-nos trágica e prematuramente mas deixou também atrás de si um trabalho cujos frutos ainda hoje se fazem notar e de que o desenvolvimento que o instrumento denota na região a sul do Porto (Aveiro) é um exemplo” – 5ª feira, 18 de junho, Blogue Oh não! Mais um blogue sobre jazz !!!


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Inácio Ferreira da Silva

(?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Figueiredo (?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Filipe Alexandre Morais Almeida

Trompa

25-12-2008

Flávia Alexandra Martins Alves

Clarinete

25-12-2005

(?)

(...)

(...)

Flávia Cristina Cruz Silva

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Floriano Domingues Pires

Contrabaixo

20-12-1979

15

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Floriano Tavares Catarino

“ (...) foi em primeiro lugar a comunicação do Senhor António da Silva Rêgo, de que o sócio executante, caixa, Floriano Tavares Catarino, havia falecido repentinamente na madrugada da noite de oito para nove, e que o seu funeral se realiza em dez” – Livro de Atas, Sessão Extraordinária de 09/11/1958

Percussão

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

Francisco Reis Izquierdo

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Francisco Xavier Rodrigues Silva Marques

Percussão

(?)

(?)

(...)

Gabriel Alexandre Santos Silva

Bombardino

2008

13

(…)

Gabriel Tavares Catarino

Fliscorne

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Francisco (?)

Gouveia (?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” Guilherme Domingues de Sá

Clarinete

21-12-1930

13

1993

“Compareceu nesta reunião o Sr. Guilherme de Sá, pedindo a sua demissão de músico por motivos de falta de saúde, no entanto sempre que puder aparecerá, e dará a sua ajuda” – Livro de Atas, Ata nº 142, 05/11/1993 “Devoções S.Tomé em 17/12/1995” - Ficha de Inscrição

Hélder Manuel Domingues Baptista Morais

Saxofone Tenor

21-12-1995

14

(?)

Helena Raquel Rodrigues Batista Santos

Clarinete

21-12-2005

12

2013

“Hélder Morais, informou que não pode estar presente aos ensaios, pois estuda de dia e tem emprego entre as 21 horas e as 5 da manhã. Referiu que se houvessem ensaios aos sábados, poderia estar presente” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

[ 53 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Heléne Rose Pereira Ventrimponte

Clarinete

25-12-2007

12

(?)

Irina Silva Luz

Trompa

25-12-2011

(?)

(...)

“Oitavo: Foram propostos para a Comissão Organizadora, para manter um Regulamento Interno na Banda, os seguintes componentes: Músicos: Isabel Cristina Neves, Marisa Gomes Valente, Nelson Aguiar, Celestino Figueiredo e José Pais Ferreira” - Livro de Atas, Ata nº 370, 03/11/1999

Isabel Cristina Santos das Neves

Clarinete

21-12-1997

17

(?)

Joana Rita de Oliveira Aguiar

Clarinete

(?)

(?)

(?)

João António Salsa Nunes de Quadros

Fliscorne

04-05-1982

14

1990

João Barelas (?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

João “Brasileiro”

(?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

João Bruno Nogueira Pereira

Trompete

25-12-2007

10

(...)

“3º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2013, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas”

João Carlos Nascimento Oliveira

Trombone

(?)

(?)

(...)

João Filipe Rego Costa

Tuba

21-12-1999

11

(?)

Saxofone Tenor

(?)

(?)

(...)

João Paulo Fonseca Pereira

“Demitiu-se em 1990” - Ficha de Inscrição

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” Joaquim Ismael Domingues Afonso

Saxofone Alto

1942

16

2002

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Por motivos justificados saiu da banda em 2002” – Ficha de Inscrição “Foi apresentada uma carta pedindo a demissão da Banda, pelo executante Jorge Manuel Ribeiro Almeida, a qual foi aceite pela Direcção, com pesar” – Livro de Atas, Ata nº 217, 07/12/1995

Jorge Manuel Ribeiro de Almeida

Saxofone Alto

12-04-1987

14

1995

“Quinto: Foram os músicos e directores da Banda em geral, convidados pelo ex-executante da Banda, Jorge Manuel Ribeiro de Almeida, para o convívio da sua despedida de solteiro, que terá lugar no dia seis deste mês. Ser-lhe-ão oferecidos dois galhardetes assinados pelos Directores e pelos músicos” – Livro de Atas, Ata nº 244, 01/07/1996 “Terceiro: Ficou decidido nesta reunião oferecer uma salva de prata, ao ex-executante da Banda, Jorge Manuel Ribeiro Almeida, quando do seu casamento, que se realizará no dia três de Agosto próximo” – Livro de Atas, Ata nº 245, 08/07/1996 “Demitiu-se em Outubro de 1995 por motivos profissionais” – Ficha de Inscrição

[ 54 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Jorge Miguel Cascais Pinto

Saxofone Alto

(?)

(?)

2014

José Alexandre Figueiredo Pires

Saxofone Tenor

21-12-1993

14

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

José Domingues de Andrade

Contrabaixo

(?)

(?)

(?)

“Foi também resolvido a Direcção ir procurar os sócios executantes Senhores Alfredo Gomes da Luz e José Andrade, que procuram afastar-se do efectivo da Banda; o primeiro por atingir uma idade avançada e falta de vista e o segundo devido ao seu modo de vida não lhe permitir acompanhar a Sociedade, indo a Direcção procurar convence-los a que continuem fazendo parte da Banda, pois a sua saída nesta altura se sentiria muito devido ao seu reduzido número de executantes que é de vinte e cinco” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 02/11/1942 “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

José Augusto

José de Oliveira Crespo

José de Pinho

José Domingues da Silva Andrade

José Domingues Gouveia

Saxofone Soprano

(?)

(?)

Clarinete

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

(?)

“ Foi resolvido expulsar da Sociedade o músico José de Pinho pelas suas irregularidades. Entregou o instrumento que tinha em seu poder e que pertencia à Banda” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 28/02/1941

(?)

“Pela primeira vez, foi atribuído um pequeno prémio monetário ao melhor aluno da nossa escola de música, tendo sido contemplado o menino José Domingues da Silva Andrade, que, tendo somente 10 anos de idade, se tem revelado um bom aluno e demonstrado boa vontade para aprender, não faltando às aulas, e sendo o que melhor se comportou durante o ano” – Jornal de Estarreja, 25/06/1975

(?)

“Os aprendizes José Domingues Gouveia (...) já começaram a tocar em festas. E com a inclusão destes, ficamos com 43 executantes” – Jornal de Estarreja, 10/06/1972 “Pediu a demissão por escrito, à Direção, invocando razões de ordem pessoal. Demissão aceite em Novembro de 1998” – Ficha de Inscrição

José Gabriel de Oliveira Tavares

Clarinete

08-04-1990

15

(?)

“Terceiro: Pediu demissão o músico José Gabriel, cujo motivo que apresentou foi o de não poder conjugar a sua vida particular com os ensaios da Banda e portanto não poder ser assíduo como era seu desejo” - Livro de Atas, Ata nº 334, 26/11/1998 “Readmitido em 2000” – Ficha de Inscrição

[ 55 ]


ANA PAULA ALMEIDA

José Gouveia

Trompa

(?)

(?)

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “José Pais fez referência a naipes com número de elementos reduzido” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Oitavo: Foram propostos para a Comissão Organizadora, para manter um Regulamento Interno na Banda, os seguintes componentes: Músicos: Isabel Cristina Neves, Marisa GomesValente, Nelson Aguiar, Celestino Figueiredo e José Pais Ferreira” – Livro de Atas, Ata nº 370, 03/11/1999

José Manuel Pais Ferreira

Clarinete

14-04-1987

12

2015

José Manuel Santos Neves

Tuba

21-12-1998

14

(...)

José Marques Rêgo e Santos

Fliscorne

1963

11

1965

José Pereira Salgado

Trompete

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

Trompete

25-12-2014

12

(...)

(?)

(?)

(?)

(?)

José Pintor (?) José Pedro Santos Melo José Rego (?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

José Tavares Catarino

Percussão

(?)

(?)

(?)

“A seguir, damos poderes ao Secretário da Direcção para procurar um caixa e um chefe de pancadaria para fazer a festa do S. Martinho em Salreu, pois o seu irmão José Tavares Catarino declarou-nos que não ia a festa: - Insistimos com êle, fazendo-lhe ver a situação em que deixava tôdos os restantes camaradas; mas, este, declarou que não tinha coragem para ir fazer a festa” – Livro de Atas, Sessão Extraordinária de 09/11/1958 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Justino Rodrigues da Silva

Contrabaixo

10-04-1950

14

2000

“António Camilo expôs a sua situação, dizendo que por impossibilidades físicas não podia continuar na Banda. Foi assumido pelo Maestro, que devido às suas dificuldades de movimentação, era dispensado das arruadas, participando apenas nos concertos. Referido pelo Maestro, que a mesma situação se aplicava ao músico Justino Silva” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Por motivos de saúde devidamente justificados saiu da banda em 2000” – Ficha de Inscrição “Integrou a Comissão de Honra das Comemorações dos 150 anos da Banda Bingre Canelense, na qualidade de ex-músico com mais anos de serviço à banda, tendo falecido em Junho de 2014”

[ 56 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Leonel Batista de Oliveira

Clarinete

16-09-1954

17

(?)

“C - Aprovar a compra de um clarinete da Marca “Couesnon” novo, para o sócio executante Leonel Oliveira, pela importância de (1,800$00) mil e oitocentos escudos, à Casa Castanheira do Porto” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 03/04/1960 “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Entrei em Anha do Minho” – Ficha de Inscrição

Lopes (Cunhado do Artur Sá)

Saxofone Alto

(?)

(?)

(?)

Lucinda Margarida Oliveira Loura

Saxofone Tenor

(?)

(?)

2014

(?)

(?)

(?)

(?)

Trompa

21-12-1969

14

(?)

Manuel Andrade Manuel Armindo Rodrigues Valente Manuel Augusto Castro Valente

Cornetim

(?)

(?)

(?)

Manuel Augusto da Silva Andrade

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Manuel Augusto da Silva Pinto (Manuel Justino)

Trombone

21-12-1957

17

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1954” “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “(...) tomado conhecimento de que chegou do nosso ultramar por acabar de prestar a sua missão como militar, o sócio executante Manuel Justino, bem como chegará por estes dias da mesma missão Manuel Belarmino, os quais voltam para a Banda” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964 “Manuel Pinto, informou que só participará mais um ano na Banda” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

Manuel Augusto de Oliveira Valente

Saxofone Soprano

(?)

(?)

(?)

Manuel Augusto Dias Cavada

Trompete

21-12-1987

18

1989

Manuel Augusto Figueiredo Almeida

Percussão

05-11-1993

23

(?)

“Demitiu-se em 1989” - Ficha de Inscrição “Foram admitidos ao serviço da Banda os músicos: Silvino Ferreira de Sá e Manuel Augusto F. Almeida, começando desde já os seus ensaios” – Livro de Atas, Ata nº 142, 05/11/1993

Manuel Augusto Martins Dias de Andrade “Faleceu em 16/07/2005” – Ficha de Inscrição Manuel Augusto Tavares da Silva Cristôvão

Bombardino

21-12-1974

15

-

“Quando ingressou na banda tocava trompa. Passou depois pelo bombardino e trombone. Devido ao seu precoce falecimento não conseguiu concretizar o seu desejo de vir a tocar trompete” – Depoimento de colegas da banda

[ 57 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Manuel Belarmino

Manuel da Cruz Gomes

Manuel da Silva (Barreira)

(?)

(?)

(?)

(?)

Tuba

21-12-1982

15

(...)

(?)

(?)

(?)

(?)

“(...) tomado conhecimento de que chegou do nosso ultramar por acabar de prestar a sua missão como militar, o sócio executante Manuel Justino, bem como chegará por estes dias da mesma missão Manuel Belarmino, os quais voltam para a Banda” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 20/01/1964 “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “ Depois foi por este mesmo Artur Sá transmitido aos restantes corpos gerentes de que o ex-sócio executante Manuel Neves, já ausente naVenezuela, tinha antes de embarcar, feito oferta do seu trombone à sociedade, pelo que este instrumento passou a ser propriedade da Banda desde Julho do corrente ano” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 02/10/1955

Manuel da Silva Neves

Trombone

1946

18

1996

“Numas devoções para a Festa da Senhora da Saúde, que se realizaram à segunda-feira, em grupo decidiram que passariam a tocar com “a fralda de fora”, coisa que não agradou ao Manuel Neves, que se recusou a alinhar na brincadeira. Foi “desfraldado” contra à sua vontade, voltando para casa com uma camisa rota e um trombone amolgado” – Depoimento de colegas da banda “Por motivos de saúde, devidamente justificados, deixou de fazer parte da banda de música em Maio de 1996” – Ficha de Inscrição

Manuel da Silva Pires

Clarinete

28-12-1967

15

(...)

“A primeira festa que fiz foi na Costa Nova, em honra de Nossa Senhora da Saúde, a 20-09-1967. Regente: Luís Lourenço Pestana Porto” – Ficha de Inscrição

Manuel Dias da Silva

Trompa

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Manuel Dias Valente (Manuel Macinhata)

[ 58 ]

Cornetim

(?)

(?)

1962

“Foi autorizada a compra do fardamento do Senhor Manuel DiasValente, o qual por motivo de doença deixou de fazer parte da Banda, vendendo a farda à sociedade pela importância de setecentos escudos (700$00) para ir ser entregue ao Senhor Alcides Rêgo que depois de estar fora da Banda cerca de seis anos, voltou agora a prestar o seu concurso, como executante, atendendo ao nosso apelo para voltar a fazer parte da colectividade que lhe serviu de escola durante os seus primeiros anos de musica” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/07/1962


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Manuel Domingues da Silva Andrade

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Analisado o pedido de demissão de Manuel Domingues da Silva Andrade, ficou em suspenso” Livro de Atas, Ata nº 3, 07/05/1976

Manuel Domingues de Sá

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Manuel Fernando Domingues Esteves

Percussão

28-05-1970

18

2004

Manuel Gabriel Aguiar de Figueiredo

Fliscorne

(?)

(?)

(?)

Manuel José Aguiar Santos

(?)

(?)

(?)

(?)

Manuel Laudelino da Silva

Percussão

21-12-1951

17

(...)

“Canelas, 1837 – 1934. Sócio fundador” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” - Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Integra a Comissão de Honra das Comemorações dos 150 anos da Banda Bingre Canelense, na qualidade de músico com mais anos de serviço” “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Manuel Lopes

Saxofone Barítono

(?)

(?)

(?)

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Quarto: Registe-se que a família do falecido Manuel Lopes ofereceu vinte mil escudos, pela participação da Banda no funeral do mesmo, que em tempos foi também aqui executante, antes de ter emigrado” – Livro de Atas, Ata nº 254, 21/10/1996

Manuel Marques Rêgo e Santos

Fliscorne

1963

13

1965

Manuel Valente (Manuel Nora)

(?)

(?)

(?)

(?)

Saxofone Tenor

31-05-1971

17

2000

Manuel Oliveira Bracinha

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962

Manuel Pinto

Trompa

(?)

(?)

1962

Manuel Rodrigues Resende

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Por último apareceu o sócio executante Manuel Pinto, que fez entrega do fardamento que se lhe havia dsitribuído, em regime de aluguer, pagando por cada dia que o vestia a importancia de (5$00) cinco escudos para efeitos de desvalorização que lhe eram descontados nos repartes e apresentou as suas despedidas, por ir embarcar para a França deixando desde esta data de fazer parte da Banda” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 09/10/1962 “Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

[ 59 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Manuel “Tuna”

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Manuel Valente

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1953”

M. Rodrigues (?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

Márcia Daniela da Silva Marques

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Marco Filipe da Silva Valente

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Maria Teresa Nogueira Pereira

Clarinete

25-12-2012

9

(...)

Maria Teresa Valente Andrade

Clarinete

21-12-1994

12

(?)

Mariana Almeida Marques

Clarinete

25-12-2014

10

(...)

Mariana da Silva Marques

Clarinete

25-12-2014

13

(...)

Mário Pedro Queirós Coutinho

Trompete

21-12-1990

12

1998

“Demitiu-se da banda em Novembro de 1998” – Ficha de Inscrição “Oitavo: Foram propostos para a Comissão Organizadora, para manter um Regulamento Interno na Banda, os seguintes componentes: Músicos: Isabel Cristina Neves, Marisa Gomes Valente, Nelson Aguiar, Celestino Figueiredo e José Pais Ferreira” – Livro de Atas, Ata nº 370, 03/11/1999

Marisa Gomes Valente

Clarinete

21-12-1997

17

(?)

Miguel Alexandre Oliveira Varum

Trompa

25-12-2014

10

(...)

Percussão

02-05-2010

(?)

(...)

Trompa

25-12-2008

11

(...)

Miguel Pereira

Trombone

(?)

(?)

(?)

Nelson Daniel Pinto Valente

Trompete

21-12-1998

17

(?)

Nelson Filipe Figueiredo Pires

Trombone

21-12-1997

13

(?)

Miguel António Barbosa Rodrigues Miguel Lopes Rego

[ 60 ]

“É monitor da Escola de Música, assegurando a turma de Trompa”


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“Há a atribuir este ano duas medalhas aos músicos: Ernesto Aguiar e Nelson Aguiar pelos seus quinze anos de executantes na banda” - Livro de Atas, Ata nº 150, 12/04/1994

Nelson Manuel Cruz Aguiar

Clarinete e Requinta

20-12-1979

13

(...)

“Nelson Aguiar, usou da palavra, dizendo que deveria ser marcada hora de início e hora de fim dos ensaios. Afirmou que não há ninguém que goste mais da Banda do que os próprios músicos. Referiu a necessidade de se estipular regras internas de funcionamento da Banda. Salientou que nessas regras deve estar incluída a Escola de Música (...) Nelson Aguiar, propôs regime de ensaios para Terças e Sábados. Sábados para toda a Banda, Terças Feiras, para naipes” - Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999 “Oitavo: Foram propostos para a Comissão Organizadora, para manter um Regulamento Interno na Banda, os seguintes componentes: Músicos: Isabel Cristina Neves, Marisa Gomes Valente, Nelson Aguiar, Celestino Figueiredo e José Pais Ferreira” - Livro de Atas, Ata nº 370, 03/11/1999 “Terceiro: Depois de várias deligências para contractar novo maestro, resolveu-se optar por um elemento da Banda, o qual se dignou a aceitar, o qual é Sr. Nelson Aguiar” - Livro de Atas, Ata nº 397, 12/02/2000 “Aos dois melhores alunos da escola de música, meninos (...) e Nelson Rodrigues de Andrade foram igualmente entregues prémios” – Jornal de Estarreja, 10/06/1975

Nelson Rodrigues Andrade

Bombardino

03-09-1975

11

2014

“Nelson Andrade usou da palavra, afirmando que durante o ano houveram casos mais graves de ausências a serviços, de que no S. Miguel em Fermelã. Propôs que para situações de contratação de serviços com antecedência reduzida, deveria ser feita auscultação à Banda (...) Nelson Andrade, questionou sobre a possibilidade da realização de ensaios aos sábados” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

Nuno Dinis Tavares Costeira

Trombone

20-01-1991

16

(?)

“Adquiriu-se um trombone de varas Conn nº 13444350, ao executante Nuno Costeira, pela quantia de noventa mil escudos, preço de custo em mil novecentos e noventa e três” – Livro de Atas, Ata nº 201, 04/05/1995

Patrícia da Silva de Sousa

Percussão

28-12-2000

24

(?)

[na página seguinte] Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1953”

[ 61 ]



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Nome

Instrumento

Admissão

Idade

Saída

Apontamentos

Paula Alexandra Almeida Coutinho

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Paula Cristina Ribeiro da Silva

Trompete

21-12-1991

16

(...)

Paula Cristina Tavares Melo

Trompete

21-12-1997

16

2014

1998

“Saiu da banda em 1998 por incompatibilidades profissionais” – Ficha de Inscrição

Paulo Reinaldo Cruz Vicente

Paulo Ricardo Gomes Almeida Paulo Rogério Silva Saramago

Clarinete

14-12-1986

11

Trompete

25-12-2002

(?)

(...)

Trompa

25-12-2001

12

(?)

“Foi distinguido pelo seu contributo como executante, durante o Concerto de Natal da Banda” “É monitor da Escola de Música, assegurando a turma de Trompete” “Demitiu-se em 24 de março de 1995. Readmitido em 12 de maio de 1996” – Ficha de Inscrição “Pediu demissão, por carta, e fez entrega do instrumento que tinha em seu poder e era pertença da Banda, o músico Pedro Emanuel Figueiredo Rêgo, a qual foi aceite” – Livro de Atas, Ata nº 196, 30/03/1995

Pedro Emanuel Figueiredo e Rego

Saxofone Alto

08-04-1990

15

(?)

“Quarto: Registe-se que o Sr. Pedro Emanuel Figueiredo Rêgo, executante da Banda e que se tinha demitido por carta de vinte e quatro de Março de mil novecentos e noventa e cinco, informando o motivo por que o fazia, veio ontem dia doze, dia do encerramento dos festejos do aniversário da Banda, pedir a sua admissão, como músico. Lá diz o ditado, o bom filho à casa torna” – Livro de Atas, Ata nº 237, 13/05/1996

Pedro Filipe Fontoura Ribeiro

Saxofone Alto

25-11-2011

(?)

(...)

Pedro Filipe Pires Matos Correia

Clarinete

08-04-1990

13

(?)

Pedro Miguel Almeida Coutinho

Trompete

(?)

(?)

(?)

Rafael Rodrigues Aguiar

Percussão

25-12-2012

9

(...)

Raquel Silva Ribeiro

Saxofone Tenor

21-12-2005

13

(...)

Saxofone Alto

25-12-2011

11

(...)

Ricardo Augusto Ferreira Rosas

“3º Lugar no Prémio Juventude, ano de 2013, na categoria música, promovido pela Junta de Freguesia de Canelas” Ricardo Rafael Oliveira Neves

Trombone

02-05-2010

(?)

(...)

“Foi distinguido em 2014 pelo seu contributo como executante, em prol da colectividade, durante o Concerto de Natal da Banda” “É monitor da Escola de Música, assegurando a turma de Trombone”

[ 63 ]


ANA PAULA ALMEIDA

Rodolfo Belarmino Pinto Domingues

Saxofone Tenor

08-04-1990

20

(?)

Rosa Isabel Monteiro Lopes

Clarinete

25-12-2001

16

(...)

“É monitora da Escola de Música, assegurando as turmas de Formação Musical e Clarinete” “Autora do novo logotipo da Banda Bingre Canelense, aprovado em Assembleia Geral de 2014”

Rúben Miguel Rodrigues Rosa

Trompete

25-12-2014

11

(...)

Rui Miguel Gomes Almeida

Trompete

25-12-2008

9

(...)

Salvino Alexandre Andrade Aguiar

Trompete

(?)

(?)

(?)

Trompa

25-12-2014

11

(...)

Saxofone Alto

(?)

(?)

(?)

2000

“Antes do início da Reunião, o Maestro informou a Direcção, que o elemento da Banda, Sandra Costa, o tinha contactado, justificando a sua ausência aos ensaios, informando-o que até Dezembro, tem horário no trabalho incompatível com os mesmos” Livros de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

Samuel José Valente Rodrigues Sandra Isabel Lopes Valente

Sandra Maria Rego Costa

Saxofone Alto

21-12-1993

15

“Terceiro: O elemento musical desta Banda, Sandra Costa, fez entrega do instrumento, alegando indisponibilidade temporária por ter outros afazeres” - Livro de Atas, Ata nº 385, 04/05/2000 Sandro André Nunes Andrade

Percussão

21-12-1998

13

(...)

Sara Inês da Costa Sá

Clarinete

25-12-2007

12

(...)

Saúl Martins de Sá Sérgio de Sousa Andrade Sérgio Lourenço Sérgio Machado Meira

“Foi distinguido pelo seu contributo como executante, em prol da colectividade, durante o Concerto de Natal da Banda” “Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944”

(?)

(?)

(?)

(?)

Saxofone Alto

21-12-1998

12

2005

Tuba

(?)

(?)

(?)

Percussão

(?)

(?)

(?)

Tuba

21-12-1993

13

(?)

“Sérgio Ribeiro, informou que vai passar a faltar aos ensaios, pois vai estudar na Universidade de Castelo Branco e, que também não poderá participar em alguns serviços, devido à necessidade de deslocação ao Domingo para a referida cidade, isto durante o ano lectivo escolar” – Livro de Atas, Ata nº 366, 09/10/1999

Sílvia de Vasconcelos Martins e Rego

Saxofone Soprano

(?)

(?)

(?)

Silvino Batista

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Sérgio Ribeiro de Almeida

Silvino Ferreira Sá

Contrabaixo

05-11-1993

43

1995

“São estes os elementos que compõem a nossa Banda na presente época” – Livro de Atas, Sessão Ordinária de 01/04/1962 “Foram admitidos ao serviço da Banda os músicos: Silvino Ferreira de Sá e Manuel Augusto F. Almeida, começando desde já os seus ensaios” – Livro de Atas, Ata nº 142, 05/11/1993 “Faleceu em 21/10/1995” - Ficha de Inscrição

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Sónia Andreia Marques Valente

Clarinete

(?)

(?)

(?)

Stephanie Martins

Saxofone Soprano

(?)

(?)

(?)

Stephen Joseph Martins

Trombone

(?)

(?)

(...)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1944” “Era um Homem à frente no seu tempo. Não fazia da música a sua profissão, mas a música esteve sempre na sua vida ... era musico amador, no sentido mais puro da palavra: amava a música e não vivia sem ela. Não tinha uma licenciatura em música, nem um mestrado, nem um doutoramento, nem acesso à internet onde se pode ouvir tudo e mais alguma coisa (...) contudo conhecia Tchaikowsky, as óperas deVerdi, de Puccini, e trauteava de cor o grande solo do clarinete da “Tosca”... e os seus olhos brilhavam como a música ... assim como quando falava com orgulho do Pai, que foi maestro e chegou a ir a Paris tentar a sua sorte, assim como quando falava da neta, que levou a sério esta coisa da música que ele sempre amou! Foi um Homem à frente no seu tempo, pois com quase 80 anos ouvia um Schostakovitch com o entusiasmo de um miúdo quando experimenta um jogo novo na consola, ouvia um Mahler com a felicidade de quem fica com a alma preenchida por se deixar levar por uma música “estratosférica” que a maioria dos comuns mortais nunca conseguirá atingir.Tive a felicidade de lhe poder proporcionar alguns momentos que sei, lhe trouxeram uma alegria que não se consegue medir, daquela que chega ao coração e nos aquece a alma, e nos faz arrepiar e sentir que estamos vivos, que não existimos apenas. Esse Homem é o meu Avô Teodoro, que tanto me inspirou, me ensinou, e que, tenho a certeza, estaria amanha a ouvir Mahler na Casa da Música, com o maior prazer e felicidade! Agora que já não está connosco fisicamente, estará lá, comigo, no meu pensamento, como uma suave recordação” – Texto de Angelina Rodrigues (Neta, Solista da Orquestra Sinfónica do Porto)

Teodoro Pires Belas

Fliscorne

13-12-1938

13

(?)

Tiago José Fontoura Ribeiro

Trompete

02-05-2010

(?)

(...)

Contrabaixo

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

(?)

“Livro dos repartes aos Sócios da Banda Bingre Canelense do ano de 1954”

Clarinete

(?)

(?)

(?)

“Os aprendizes (...)Virgílio Cruz Figueiredo (...) já começaram a tocar em festas. E com a inclusão destes, ficamos com 43 executantes” – Jornal de Estarreja, 10/06/1972

(?)

(?)

(?)

(?)

“Fotografia da Sociedade União Canelense de 15 de Agosto de 1933”

Valdemar Rodrigues Andrade Vicente (?)

Virgílio Cruz Figueiredo

Zeferino Lopes

[na página seguinte] Extrato da Ata da Sessão Extraordinária de 09 de Outubro de 1999

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

CARNAVAL DE ESTARREJA: DAS COMEMORAÇÕES POPULARES ÀS BATALHAS DAS FLORES Andreia Tavares* Introdução1 Ao longo das últimas três décadas Estarreja tem-se afirmado no panorama nacional como terra de Carnaval, numa vertente que tem ganho pujança em termos sociais e culturais, envolvendo milhares de participantes anualmente. Mas a história do Carnaval de Estarreja remonta ao início do Século XX, onde de forma tímida saíam para a rua críticas sociais, num lavar de alma dos pobres, contrastando com os bailaricos da sociedade estarrejense, luxo que só a alguns era permitido. São esses primeiros momentos, da criação de raízes, que pretendemos abordar ao longo das próximas páginas. Os primeiros entrudos documentados no concelho que, então, ia de Fermelã àTorreira, remontam aos verdes anos de 1900. É a partir deste ponto que irei aflorar as origens do Carnaval de Estarreja. O objectivo é chegar apenas à Batalha das Flores, primeiros grandes momentos de organização popular, dos anos de 1928 e 1929, deixando para mais tarde uma possível análise ao renascimento do Carnaval já na década de 60. Realço, no entanto, que é uma matéria que urge recolher, aproveitando a memória viva das gentes que se dedicaram ao rejuvenescimento desta tradição pagã concelhia. 1.1 - As primeiras referências As primeiras referências históricas à Batalha das Flores remontam a 18972. “O Jornal de Estarreja”, de 21 de Fevereiro, dá conta da não realização da festa devido ao mau tempo: …parece que não se realiza, no domingo gordo, a falada batalha de flores, que pena temos disso. A Batalha das Flores em Estarreja, não só era uma surpresa agradável para o nosso povo, mas uma coisa nova na vila. Parece que o mau tempo fez desanimar os cavalheiros e as damas que promoveram a batalha. Por este excerto podemos perceber que a Batalha das Flores era uma novidade no concelho, dado que seria uma “surpresa agradável para o povo”, como também era “uma coisa nova na vila”, sendo a iniciativa promovida por “cavalheiros e damas que promoveram a batalha”. Em 1903 surgem novas referências aos festejos do carnaval, quer com o desfile da Batalha das Flores, quer com os bailes populares, como relata “O Jornal de Estarreja”, de 26 de Fevereiro:

* Jornalista e Solicitadora; autora do livro “Bombeiros Voluntários de Estarreja: 90 anos” 1 - Cumpre-me fazer um agradecimento especial ao Sr. António Augusto Silva que não teve pejo em ceder o material que tinha recolhido sobre a temática para que fosse possível estudar mais profundamente as origens do Carnaval de Estarreja e enriquecer esta pesquisa; 2 - In “Memórias do Carnaval” Tema do Mês “Fevereiro de 1996”, edição Câmara Municipal de Estarreja, informação que não conseguimos confirmar n’O Jornal de Estarreja indicado por o mesmo não se encontrar disponível na Biblioteca do Porto, na Biblioteca da Universidade de Coimbra, nem na Biblioteca Nacional;

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ANDREIA TAVARES

Correu animadíssimo e sem qualquer nota desagradante este Carnaval na vila. A mocidade estarrejense de todas as classes, por todos os modos concorreu para que o entrudo dest’anno fosse um dos mais divertidos dos últimos tempos, em que as folganças têm decaído. O dia conservou-se formosíssimo de uma temperatura primaveril. No clube houve bailes de gala aos quais concorreu o que há de mais digno no “high-life” desta vila. Pelas ruas apareceram bastantes mascaras com graça. Houve uma Batalha de Flores que muito animou a terra habituada a este género. Uma das partes mais belas dos divertimentos entrudescos desse ano foi constituído pelos repetidos e simpáticos bailes das nossas tricaninhas, de espirito alegre e reinadio. São mui formosas e contentes as nossas tricaninhas… à roda, à roda entoando essas músicas populares que nos encantam: Subi ao Céu Pedi a Deus Oh meu bem, por ti Quem tanto ama D’Amor s’imflama D’amor sorri Manganão e Manganão e Manganão Oh, ditoso manganão! Um abraço, um abraço isso sim Um beijinho, não ma tiras não… De salientar que em 1903 houve uma “Batalha de Flores que muito animou a terra habituada a este género”, pelo que podemos depreender que entre 1897 e esta data já outras iniciativas da mesma natureza se tinham vindo a realizar no concelho, sem no entanto termos conseguido identificar quais. Dina Sebastião, no âmbito do Mestrado em História Contemporânea da Universidade de Coimbra, estudou esta temática3: À semelhança de todo o país, em Estarreja “também os conselhos da igreja, as leis, as autoridades e a pretendida civilização têm tratado de evitar esses males. Infelizmente, porém, muito pouco têm conseguido, porque muita gente entende que o Entrudo lhe dá o direito para faltar a tudo o que é respeitável e sério. Por isso, raras vezes passam os dias carnavalescos sem incidentes graves e sérios.”4 Esta crítica surge no mesmo artigo, depois de uma grande abordagem religiosa ao sentido do Carnaval, o que através da análise de outras crónicas com abordagem cristã sobre o assunto, nos sugere que o jornal tem uma tendência religiosa. O repúdio por este tipo de Carnaval é comum ao congénere, que olha de soslaio os foliões, porque “a felicidade nem sempre anda junta ao bulício e à opulência (…). Olhemo-la de longe no nosso recato humilde aldeão e deixemos que a folia passe.”5 (…)

3 - Sebastião, Dina, “Carnaval de Estarreja A Batalha pela Civilização”, Seminário Sociedade e Vida Quotidiana; Mestrado em História Contemporânea: Economia, Sociedade e Relações Internacionais - FLUC, 2006/2007; 4 - “O Jornal de Estarreja”, de 19 de Fevereiro de 1903; 5 - “Concelho de Estarreja”, de 21 de Fevereiro de 1903;

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Como se vê, a festança de barulhos e algazarras inundava a vila. “Vinham da Murtosa, os mascarados”, localidade que era, à época, uma freguesia de Estarreja e actualmente concelho. A deslocação para a vila mais próxima vai ao encontro do carácter nacional do Entrudo, uma festa de comunidade local, mas que, por vezes, se estende às localidades vizinhas. Os foliões lá levavam o Bonitezas “o lazarento e pustuloso para o Monte Pedral, porque ali na Saltôa lhe foi proibido repousar eternamente.” Descobrimos quem era o Bonitezas: trata-se da personalização do Entrudo, que vai a enterrar. Pela descrição do artigo do jornal não é dado a perceber o aspecto do protagonista, mas “tal personalização, na maioria dos casos, é antropomórfica e opera-se por meio de um boneco de palha – o palhaço”.

In “Concelho de Estarreja”, de 21 de Fevereiro de 1903 In “Concelho de Estarreja”, de 5 de Fevereiro de 1910 >

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ANDREIA TAVARES

Em 1911 volta a Batalha das Flores em força, desta feita em Pardilhó, como podemos ler no trabalho realizado por Dina Sebastião6: Uma forte tentativa de civilizar o Carnaval aconteceu em 1911, com a introdução da Batalha das Flores em Pardilhó, freguesia do concelho, organizada pelo Clube Pardilhoense, que tinha como presidente António Joaquim de Rezende,“que tomou a resolução de promover as festas carnavalescas em harmonia com o que se fazia em outras terras do país.” Está inerente ao evento o conceito civilizador “dos carros engalanados e figuras exóticas que fazem rir a bandeiras despregadas este nosso bom povo, habituado apenas a ver uns mascarados sem graça e sem educação.” Esta é uma recordação do ano transacto, 1911, quando o Entrudo tomou “um carácter civilizador.” A iniciativa repete-se em 1912, “com seis carros que se incorporaram no cortejo, todos eles artisticamente ornamentados, e de muitas bicicletas (…), todos enfeitados de flores e serpentinas.” Também aqui a iniciativa voltou a não se repetir nos anos seguintes. As expressões civilizadoras do Carnaval continuam com o que já havia sido iniciado em Estarreja, com os bailes, as récitas e o teatro. A folia começa a privilegiar o espaço fechado, fica mais comedida e organizada.

In “Concelho de Estarreja” de 24 de Fevereiro de 1912

6 - Sebastião, Dina, “Carnaval de Estarreja A Batalha pela Civilização”, já citado;

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Alberto Souto, com a necessidade de regulamentar os divertimentos carnavalescos e com o intuito de impedir espectáculos menos dignos, proibiu expressamente “nas rua da Vila de Estarreja e em todo o concelho o arremeço de laranjas, ovos, pós, bombas, areia, tremoços e de todos os materiais contundentes ou repugnantes que possam estragar os fatos, sujar ou magoar os transeuntes”. Com a publicação de uma missiva em “O Jornal de Estarreja”, de 25 de Fevereiro de 1911, o administrador do concelho vai mais longe ao proibir também a “exibição de mascaradas, costumes, hábitos, cenas ou objectos que ofendam a moral”. Na tentativa de conter o exagero dos festejos, Alberto Souto proibiu a abertura das tabernas do concelho além das 9 horas da noite. “Quer dentro daVila, quer em todo o concelho, o indivíduo ou indivíduos que ferirem, maltratarem, ofenderem ou por alguma forma incomodarem ou prejudicarem outrem com os seus divertimentos carnavalescos”, ficavam sujeitos a prestar contas perante a administração concelhia e a ser presentes a tribunal. 1.2 - A Batalha das Flores A Batalha das Flores volta à sede do concelho em 1912, pelas mãos de José de Souza, numa versão nocturna do desfile. A iniciativa teve o apoio monetário dos irmãos Leite, emigrantes abastados residentes no Brasil. O jornal “O Povo da Murtosa”, de 19 de Fevereiro, traz uma pequena referência sobre a festa realizada no centro daVila, destacando que “de muitas janelas desciam nuvens de flores a que correspondiam com intrepidez os fornecimentos dos carros, alguns dos quais apareceram artisticamente enfeitados”. O jornal salientou a charrete do Dr. Ernesto Carrão, ornamentada com crisântemos verdes e amarelos, e o automóvel do Sr. Ângelo Leite, engalanada com rosas e verdura. O mesmo jornal faz ainda referência à programação de uma noite de marchas luminosas após o carnaval, também da autoria de José de Souza, sendo a primeira iniciativa do género no concelho que “deve ser d’um efeito deslumbrante, o que nos faz crer, pela adesão de sócios que já se conta. Todas as casas por onde a marcha luminosa deve passar prometeram iluminar as suas fachadas, o que sem dúvida irá aumentar o brilho que a estas festas pretende dar o Sr. José Gustavo de Souza”.

In “O Povo da Murtosa”, de 19 de Fevereiro de 1912

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ANDREIA TAVARES

Mas o carnaval de 1912 não se fez apenas de Batalha das Flores. Os bailes também marcaram presença na folia desse ano. O referido jornal faz eco das festas vividas na Murtosa: Por aqui, sem originalidade embora, o carnaval, deu bem sinal de si que existia, ao contrário do que em outros anos tem acontecido. Salientaram-se d’entre todos os divertimentos os bailes promovidos por vários grupos, primando n’elles a garridice e gosto dos trajes de costumes que, com franqueza, puseram mais uma vez em destaque a beleza das mulheres da nossa terra e com ela… muita cabeça a andar à roda (…) Na Praça de Pardelhas apareceram na terça-feira os mesmos divertimentos do costume como – jogo do pau, dança dos ditos, desafios, modas populares, vira etc. etc., aparecendo também alguns mascarados. Por Estarreja, para além da Batalha das Flores promovida por José de Souza, “o Grémio e o Club rivalizaram no brilhantismo das suas soirées, fizeram das noites de domingo e terça-feira duas esplendidas noites que chamaram aquela vila grande número de pessoas que de fora vieram n’elas tomar parte”.

In “O Povo da Murtosa”, de 19 de Fevereiro de 1912

Em 1914 novas notícias da Batalha das Flores promovida, novamente, por José de Souza, desta feita acompanhado por Tenente Ferreira. A iniciativa fez eco no jornal “O Povo da Murtosa”, de 28 de Fevereiro de 1914, realçando que esteve tempo agreste e de chuva no domingo e na terça-feira de carnaval, o que afastou os foliões do centro da Vila, bem como a participação de um número elevado de carros alegóricos. O cronista termina da seguinte forma a análise aos festejos desse ano: De resto, tanto no domingo como na terça-feira, mal se exibiram meia dúzia de mascarados por estas lamacentas ruas, sujas, pelintras, com uns esgares de riso parvo de dementes, causando antes tristeza pela insipidez que denotavam, que alegria franca aqueles que vendo-os e achando-lhe uma graça não inspiravam, fingiam divertir-se com tal cegada. Já uma semana antes o “Concelho de Estarreja”, de 21 de Fevereiro, lamentava que se estivesse a perder a tradição dos festejos de carnaval, sendo certo de que não saberiam a programação da Batalha das Flores: A não ser os estoiros das bombas e das bichas de rabiar que por aí são lançadas ao transeunte que passa pelas ruas e largos da povoação, nada mais está indicando a aproximação dos três dias de folia

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carnavalesca que em outros tempos se assinalavam pelo ruidoso eco das suas danças e picarescos gestos das suas mascaras. (…) A civilização deu um golpe de morte no folião de outras eras, não consentindo que ele volte a aparecer-nos com o caracter desonesto e indecente com que se apresentava no meio duma sociedade culta. Certo é que em 1914 o Centro Recreativo de Estarreja e o Club Pardilhoense voltam a promover bailes de carnaval a que ocorrem centenas de participantes. O ano de 1915 não é de grandes festanças carnavalescas. O “Concelho de Estarreja”, de 13 de Fevereiro, relata o espírito da região e as dificuldades que atravessavam as famílias em pela I Grande Guerra Mundial: As condições em que actualmente vivem todas as classes sociais deste país, mas muito especialmente as classes produtoras, que atravessam uma crise gravíssima, sem trabalho e com géneros de primeira necessidade por um preço elevado (…) não tendo alegria alguma para brinquedos e folganças. 1.3 - Os grandes anos de 1928 e 1929 Após uma década de comemorações do Entrudo que podemos considerar mornas, em que apenas os bailes de carnaval faziam cumprir a tradição, os anos de 1928 e 1929 marcam o renascer de uma tradição muito apreciada pela sociedade estarrejense: a Batalha das Flores. João de Pinho, José Oliveira Marques, Manoel Ferreira, António José Valente e Luciano Villar foram os grandes impulsionadores da iniciativa que trouxe às ruas da Vila milhares de visitantes, para ver os 30 carros alegóricos desfilantes. “O Jornal de Estarreja”, de 23 de Fevereiro de 1928, faz um relato extensivo dos acontecimentos desse ano: No domingo, muito antes da hora marcada para a saída do cortejo do largo da Estação, já se notava pela vida um extraordinário movimento de forasteiros, que carros, automóveis, camionetas e os comboios trouxeram até nós, vindo de todas as freguesias em redor, assim como de Aveiro, Ovar, Ílhavo, Espinho, Esmoriz, S. João da Madeira, etc. Eram 4 horas – tinha chegado o comboio que “conduzira a Rainha do Carnaval” – quando o clamoroso cortejo se pôs em movimento. (…) A vastíssima praça regorgitava de gente, duma turba entusiasmada e deslumbrada e todas as janelas dos prédios se viam ocupadas por inúmeras pessoas. (…) Regressado o cortejo da Rua do Jornal de Estarreja principiou a ferir-se na Praça Francisco Barbosa numa luta tremenda, em que se utilizavam flores, serpentinas, confettis e lança-perfumes e que atingiu um entusiasmo delirante. De facto, a nossa principal e encantadora Praça a todos deu a impressão de um estupendo campo de batalha, onde se combatia com um furor vizinho da loucura… Assim decorreu também a batalha de terça-feira, talvez ainda com maior animação, reunindo-se igualmente na Praça alguns milhares de pessoas. Se só para Ovar foram vendidos, na estação do caminho-deferro, 400 bilhetes, aproximadamente. Gostámos muito do carro apresentado pelo Sr. José de Oliveira Marques. Figurava um grande vapor a que nada, absolutamente nada, faltava. Admiravelmente delineado, produzia um efeito brilhante que era

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completado pela sua tripulação, toda rigorosamente equipada a azul e branco, e que era constituída pelo menino José Nunes de Miranda, magnífico na ponte de comando, pelos Srs. Oliveira Marques e Francisco Ribeiro e por quatro interessantíssimas meninas. Encantador de delicadeza e de graça, o carro da Corbeille, onde se admiravam autênticas “flores” da nossa terra, irradiando frescura e perfume à sua volta. De lindíssimo efeito o carro do Sr. Carlos Mortágua, que representava, com muita arte e perfeição, um pagode chinês. Mencionaremos ainda o carro da Fábrica Antuã – altaneiro castelo feudal, guarnecidos pelos Srs. António Mortágua, José Luís de Oliveira, António Marques de Oliveira e Silva e António Leite que envergavam vistosos uniformes de guerreiros medievais; o do Sr. Esteves de Oliveira, fortaleza russa, duma felicíssima concepção; o “Arraial Minhoto” singularmente expressivo e alegre; o carro da Rainha do Carnaval, pelo luxo e bom gosto de tudo o que a constituía; muito interessante Cisne, conduzindo um palreiro grupo de crianças; e ainda o Moinho da Fábrica Marques Rodrigues; o carro Costa & Silva, de Avanca, de reclamo ao vinho Condestável; as Caravelas, uma delas vinda da Murtosa com uma encantadora tripulação; a Casa de Campo, da Fábrica Cunha; o espirituoso carro reclamo de móveis e louças da Casa Ferreira, e os carros dos Srs. AlbertoVilhegras e Dr. Maia e Silva. Muitos outros carros, da vila e de fora, tomaram parte nas batalhas, entre os quais um de Aveiro, de formosas “pierretts” e o da “Vacum”, e todos eles se apresentaram graciosamente decorados, alguns com originalidade. (…) A filarmónica dos Bombeiros Voluntários de Estarreja deu apreciável concurso às festas, que a todos deixou gratas recordações. Referindo que nas noites de domingo e terça-feira houve grandiosos bailes no “Grémio” e no “Centro Recreativo”, que estiveram animadíssimos, prolongando-se até de manhã. Concluímos por afirmar que o Carnaval de Estarreja marcou como um grande acontecimento em todo o distrito”. Desses festejos chegaram até nós chegaram as primeiras fotografias conhecidas da Batalha das Flores, datadas de 19287:

7 - Imagens cedidas por D.ª Aida Vilar e D.ª Florinda

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ANDREIA TAVARES

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O ano de 1929 voltou a trazer ao centro da Vila de Estarreja uma multidão. Os preparativos começaram ainda em 1928, com uma reunião promovida nas instalações do Centro Recreativo de Estarreja, encontro esse promovido por António Valente, João de Pinho, Luciano Vilar, J. O. Marques e Manoel Ferreira. O envolvimento da população e das casas comerciais do concelho foi notório, chegando a ser, inclusive, lançado o primeiro cartaz de promoção da iniciativa, num apelo à participação popular do carnaval de 10 e 12 de Fevereiro.

“O Jornal de Estarreja”, de 17 de Fevereiro de 1929, relata os acontecimentos da seguinte forma: Marcaram mais uma vez as Festas do Carnaval de Estarreja. E honra seja à Comissão que as iniciou e a todos aqueles que para elas contribuíram pecuniariamente ou com o seu concurso de carros, etc. (…) Na terça-feira, meninas vestidas à vianesa distribuíram centenas de lindos “lencinhos” de papel (recordação do Jornal). (…) O vasto largo da praça, coalhado de gente, teve n’esses dias um aspecto grandioso. As lutas de serpentinas “confetti”, flores e lança-perfumes, não podiam ser mais animados, chegando a de terça-feira ao delírio. (…) Um nosso colega de Aveiro diz: “Fomos a Estarreja. E lá vimos e lá presenciámos, e assistimos aos divertimentos da mocidade de bom gosto desenrolados todos à volta da grande praça onde desfilaram carros de lindíssimo efeito e onde apareceram os mais formosos rostos femininos da terra. Sim senhor. De um carnaval assim gosta-se. Um carnaval assim gosta-se. Um carnaval assim deve deixar – e deixa – indeléveis recordações, profundas saudades”.

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ANDREIA TAVARES

O ano de 1929 foi rico em entusiasmo folião, como se pôde constatar pelo suplemento especial publicado junto com o “O Jornal de Estarreja” que saiu para as bancas a 10 de Fevereiro: duas páginas inteiramente dedicadas à sátira social e política da região. A Câmara Municipal, o Centro Recreativo de Estarreja, Marques Sardinha, Maria Barbuda, são apenas alguns dos exemplos da crítica social espelhada no jornal. Os finais dos anos 20 são também os finais das grandes festas das Batalhas das Flores. Logo em 1931 o “Concelho de Estarreja” dá nota que “passa insipido e sem manifestações ruidosas o Carnaval de 1931. A situação penosa porque passam todas as classes não é de molde a imprimir ao folião de antigas eras aquele entusiasmo que o caracterizava”.

Extractos do suplemento especial publicado em “O Jornal de Estarreja”, de 10 de Fevereiro de 1929

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DR. MANUEL FIGUEIREDO MÉDICO DE LARGO SENTIDO HUMANO

António Augusto Silva*

Devo começar por referir que, para além do merecimento que a vida e obra do Dr. Figueiredo tem para Estarreja, temos eu, os meus Pais e Padrinhos - já falecidos – uma enorme dívida de gratidão pelo médico e pelo homem; ainda eu não nascera e já ele valera – infelizmente sem sucesso - aos meus Pais com a doença que um meu irmão teve e que o vitimou. Sei que tudo fez, sem qualquer benefício ou recompensa económica, e tenho testemunhos que essa foi uma constante na sua actividade clínica de 47 anos em Estarreja. Neste pequeno trabalho biográfico vou separar a emoção da realidade; e espero consegui-lo. Manuel Luiz da Costa Figueiredo nasceu em Belém do Pará (Brasil), a 24/7/1904 filho de pai português (da Lousã) e de mãe brasileira. Com 8 anos veio para Portugal e fez os estudos em Coimbra, ingressando aí na Universidade, onde se formou em Medicina, em 1930.

Dr. Manuel Figueiredo (foto de colecção particular)

*Investigador - autodidata - sobre a história de Estarreja e Murtosa

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ANTÓNIO AUGUSTO SILVA

Desde muito jovem esteve ligado à Maçonaria, talvez iniciado em 1920, na Loja “Revolta de Coimbra”, por onde passaram entre outros Vitorino Nemésio, Branquinho da Fonseca, António Macedo e Mário Cal Brandão; foi aí formando a sua personalidade. Também desses tempos vem a sua forte actividade política e a presença nos movimentos estudantis que marcaram a Universidade de Coimbra após a ditadura implantada em 1928. Signatário do manifesto “Delenda Cartago” (Cartago deve ser destruída) de forte crítica à Academia e ao Poder, vê ser-lhe fixada residência em Estarreja. Porquê aqui? Não se sabe. Cá chegado, em Fevereiro de 19311, abre consultório num edifício do topo sul da Praça Francisco Barbosa e em Salreu no Largo da Igreja; posteriormente alarga as consultas às Freguesias de Canelas e Fermelã. No entanto, mesmo em Estarreja, a sua actividade era controlada pelos Serviços de Informação. Em Maio desse ano o Administrador do Concelho de Estarreja informa a Polícia de Informações do Governo Civil de Coimbra que o Dr. Figueiredo se irá deslocar a Coimbra a acompanhar um doente (isto para que sejam tomadas as devidas providências...). Nesse mesmo mês são enviados para cá – com residência fixa -, e para a casa do Dr. Figueiredo, os estudantes Mário Cal Brandão, Marques da Costa e o académico José Júlio Pimenta, todos seus conhecidos de Coimbra e protagonistas do Movimento Reviralhista. Cal Brandão fugiria de Estarreja em Julho para o exílio na Galiza e, muitos anos depois, viria a ser fundador do Partido Socialista. Maçon assumido, procurou estender à nossa Vila essa actividade e nesse ano de 1931 fundou – ou ajudou a fundar - o “Triângulo 304”, que em 1934 daria lugar à Loja “Silêncio e Combate”, de que pouco mais se sabe. Em 1933 casa com Albertina Soares Pinho, oriunda de uma importante família local. Em Maio de 1934 nasce a sua primeira e única filha, Maria Manuela. A sua vida em Estarreja está estabilizada, embora carregando sempre o ónus da orientação política, contrária à ditadura do Estado Novo. Veja-se que em Novembro de 1934, tem mandado de captura emitido pelo Delegado do Porto da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado; será por casualidade que Salazar tenha feito nessas semanas uma remodelação ministerial e convocado eleições para a Assembleia Nacional a ter lugar em Dezembro e era necessário neutralizar alguns adversários? Também não se sabe. Mas o Médico nunca deixou de privilegiar a sua principal vocação e em Junho de a em Pardilhó2, onde atendia em horário estabelecido às 2ªs, 4ªs e 6ªs. Ou seja, depois de 4 anos de vida em Estarreja, o seu prestígio estava consolidado em grande parte do Concelho e tinha já raízes familiares que o ligavam à terra. Durante alguns anos acumulou o trabalho particular com o serviço no Hospital Visconde de Salreu, que seria obrigado a deixar por pressões políticas. A este Hospital regressaria muitos anos depois; fica como curiosidade o facto de na véspera do seu falecimento ter feito serviço nocturno...

1 - Jornal de Estarreja 15/02/1931 2 - O Povo de Pardilhó 06/07/1935

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Em 19393, muda o seu Consultório para uma casa na AvenidaVisconde de Salreu, ao tempo o coração comercial do centro da Vila, que anos depois daria lugar à Casa de Saúde que muitos ainda recordam. Mas a política nunca deixou de estar presente no seu dia-a-dia, embora essa “militância” lhe tenha causado muitos dissabores com as influentes personalidades locais ligadas ao Estado Novo, que tudo fizeram para o denegrir, quer em termos profissionais quer pessoais. Em 1943 é criado o MUNAF (Movimento de Unidade Antifascista), a que logo adere; a este segue-se em Outubro de 1945 o MUD (Movimento de Unidade Democrática) a quem também o Dr. Figueiredo diz presente. Nesta fase, o regime de Salazar teve alguns anos sem promover eleições; pelo que só em 1949 temos uma eleição para Presidente da República, em que a oposição se apresenta com um candidato credível, o General Norton de Matos.As dificuldades que este enfrentou – e a possibilidade de fraude no processo eleitoral – levam-no à desistência a poucos dias do acto eleitoral. O Dr. Figueiredo esteve na primeira linha de apoio ao General, que chegou a dormir na sua casa quando de passagens pela região.

Foto de 1947, publicada no Jornal de Estarreja, de 25/09/1954

Neste tempo, aquela simples casa de consulta da Avenida, tinha dado lugar a um espaço com novos meios de diagnóstico, tratamento e cirurgia com um moderno bloco operatório e internamento, que passou a chamar-se Casa de Saúde de Estarreja; aqui vinham operar os maiores cirurgiões de Coimbra da época, entre eles, o Prof. Dr. José Bacalhau. Não sabendo precisar a data da fundação da Casa de Saúde, pelo menos podemos indicar o ano 1947 como o da sua afirmação local/regional4. São frequentes nos jornais Concelhios as notícias de operações realizadas na Casa de Saúde e até a referência à proveniência dos pacientes. Sendo já um clínico/cirurgião reconhecido, não deixa de se actualizar e, em Setembro de 1951, viaja por Espanha, França e Itália em visita de estudo e conhecimento. No ano seguinte repete a viagem, mas agora pelo Brasil, seu País natal e onde tem diversos familiares também conceituados na Medicina e no meio Universitário de Belém.

3 - Jornal de Estarreja 21/12/1939 4 - Revista Turismo nº74 – Set/Out 1947

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ANTÓNIO AUGUSTO SILVA

No entanto, as suas principais paixões, a Medicina e a Casa de Saúde, não o conseguiram afastar da vertente de intervenção cívica que há anos o alimentava e tantos transtornos lhe tinha causado. Assim, em 1951, deu a cara pela candidatura presidencial do Almirante Quintão Meireles (que também desistiu antes do acto eleitoral); estas eleições foram vencidas pelo General Craveiro Lopes. Em Novembro de 1953, integra a lista de deputados da Oposição por Aveiro, onde também está o Dr. Alberto Vidal, de Salreu; nestas eleições, a Oposição só consegue formar lista em alguns distritos e a derrota é estrondosa5. A Oposição Democrática não desistiu e, em 1957, é formada nova lista distrital para a Assembleia Nacional; na primeira versão anunciada, aparece o Dr. Figueiredo, mas depois o seu nome já não faz parte da definitiva. No ano seguinte, 1958, lá o vemos na frente dos apoiantes de Aveiro à candidatura do General Humberto Delgado, em comícios realizados na região, que galvanizaram multidões e, todos sabemos, ter sido o grande momento dos opositores a Salazar. Esta terá sido a sua última intervenção na política, embora nunca deixando de ser Republicano e Antifascista. Com o 25 de Abril não aderiu a qualquer formação partidária, celebrando sempre o 5 de Outubro e integrando uma Comissão Cívica Independente, que reunia em Aveiro.

Com o pintor Martinez Rubio e o Dr. Madureira (Acervo da Casa-Museu Solheiro Madureira)

Dr. Figueiredo tem também outras facetas interessantes, tais como ser apreciador de arte e promover acção social, que certamente não desmerecem das anteriores. Senão vejamos: tendo sido clínico dum jovem pardilhoense, sapateiro, encontrou nele uma fantástica vocação artística e encomendou-lhe o seu busto em madeira, depois colocado na entrada da Casa de Saúde e promoveu que ele tivesse acesso a escolas e técnicas capazes de desenvolver a sua arte; falamos de Brito Mesquita que, infelizmente, desapareceu cedo demais para a sua inteligência. Ao longo dos anos foi reunindo obras de arte para a sua casa e, por vezes, ajuda o seu amigo Dr. António Madureira a reunir a colecção que hoje podemos ver na Casa Museu Marieta Solheiro Madureira. Na pintura foi

5 - O Concelho de Estarreja 14/11/1953

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também amigo do pintor espanhol Fernando Martinez Rubio. Na área social promoveu a instalação de um dispensário antituberculoso, que não pôde concretizar; mais tarde, com o Dr. Henrique Souto e outros, fundou a Casa dos Pobres de Estarreja, que teve muita relevância no Concelho. Em 1961, foi um dos fundadores do Rotary Clube de Estarreja, de que foi o 1º Presidente, repetindo o mandato no seguinte ano.Também aqui encontramos o amigo Dr. António Madureira nesta iniciativa. Deixou o Movimento Rotário tempo depois e só muitos anos mais tarde o veremos noutro movimento social/cultural: em 1973 é fundador do Núcleo de Estarreja do Elos Clube da Comunidade Lusíada, contando com a presença – entre outros - dos amigos António Madureira, Henrique Souto, Fernando Pinho Vilar, Manuel Nogueira Nunes, Carlos Pinto de Sousa e Boaventura Pereira de Melo. Neste movimento, e numa reunião festiva em Dezembro de 1978 que se realizava no Restaurante Moderno, sentiu-se mal e foi conduzido para casa, onde faleceu no dia seguinte, dia 10 de Dezembro de 1978. A Câmara Municipal de Estarreja homenageou-o com a atribuição do seu nome a um arruamento junto à sua casa. Foi de toda a justiça.

Com o Dr. Madureira, numa reunião do Rotary Clube de Estarreja (Acervo da Casa-Museu Solheiro Madureira)

Na homenagem que o Elos Clube promoveu em Maio de 1980, coube ao Dr. António Madureira o elogio póstumo, do qual retiro algumas frases que julgo bem definirem o Dr. Manuel Figueiredo6: (…) Ele foi talvez um dos últimos médicos rurais policlínicos deste País; dotado duma extraordinária visão clínica rápida e penetrante”; “a sua grandeza não estava no que sabia – mas no bem que fazia”; “tolerante ao máximo para com todas as opiniões, generoso para com todas as faltas, pronto a ouvir e admirar”; “jamais as nossas relações foram sequer perturbadas por ideais políticos ou religiosos, aqui e além divergentes”. “Deste mesmo discurso, deixo-vos aqui um excerto que julgo definir da melhor maneira quem foi o Dr. Figueiredo: “... Se o homem é a medida de todas as coisas, isto é, se é ele que cria essa medida, bem poderá dizer-se que o Dr. Manuel de Figueiredo conseguiu o milagre de espalhar à sua volta, à volta de nós todos e de todos os seus semelhantes que com ele tiveram o privilégio de privar, a medida da sua própria vida, encantadora e pura, tal como o destino a fez.” 6 - Jornal de Estarreja 10/5/1980

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ANTÓNIO CRUZ LEANDRO | MARIA CLARA DE PAIVA VIDE MARQUES

A OBRA RETABULAR DA IGREJA DE SÃO PEDRO DE PARDILHÓ António Cruz Leandro* Maria Clara de PaivaVide Marques** O presente trabalho incide essencialmente sobre os móveis retabulares da Igreja Matriz de São Pedro de Pardilhó, mais propriamente sobre a sua análise estético-artística, na medida em que este campo ainda está mal estudado no concelho de Estarreja, entre muitos outros, e mesmo na região diocesana de Aveiro. Prende-se este facto, por um lado, com a existência de um estudo nacional bastante abrangente, devido essencialmente ao pioneiro Robert Chester Smith e continuado por outros historiadores como Domingos Pinho Brandão e Flávio Gonçalves ou outros ainda mais recentes, tais como Natália Marinho Ferreira-Alves, Francisco Lameira, Maria Luísa Reis Lima ou Fátima Eusébio, entre outros. Porém, contemplam uma visão generalista, integralista e até um pouco elitista, pois é dado destaque principalmente às grandes obras de cariz nacional.

A Terra Marinhoa na baixa Idade Média Retirado de Marco Pereira – A Terra Marinhoa na Idade Média – primeiras referências escritas Em http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/06/terra-marinhoa-na-idade-media-primeiras.html

*Professor **Museóloga

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Por outro lado, a talha de cariz local, realizada muitas vezes com recurso a mão-de-obra contratada próxima do sítio de encomenda, e a talha de estética tardia tem sido votada um pouco ao abandono por não se enquadrar nos grandes quadros sinópticos estéticos nacionais ou internacionais, ambos limitados cronologicamente. A inversão, ou melhor, o acompanhamento paralelo deste processo fica dividendo de uma história mais analítica – a história local – que tem sido realizada por diversos estudos de “anónimos”, mas ilustres, historiadores locais, os quais têm contribuído de sobremaneira para um conhecimento mais profícuo da história e estética local e até para uma reapreciação das cimentadas análises da história e estética geral nacional. O lugar de Pardilhó já existia na Idade Média, surgindo muitas vezes integrada na denominação de Terra Marinhoa1, tendo sido citado num documento medieval com uma referência cronológica de cerca de meados do século XIV2. Esta Terra Marinhoa estava, em termos económicos, essencialmente ligada ao mar e ao recorte de então do Rio Vouga e da sua foz, tendo um povoamento muito disperso e pouco numeroso3. Contudo, muito provavelmente nos inícios do segundo quartel da centúria de mil e seiscentos já teria sido criada a paróquia, pois em 1638 deu-se início à construção da igreja4, possivelmente fruto da ampliação de uma antiga capela já existente. No Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Aveiro, António Nogueira Gonçalves não dispensa muita atenção a esta atual vila, confirmando apenas o que já acima foi dito, pois segundo este autor “a zona de Pardilhó começou a ter personalidade na primeira metade do séc. XVII”5. Esta mesma – pouca – atenção foi dada ao atual templo religioso da paróquia de São Pedro por aquele historiador, pois apenas afirma que “o actual edifício data de 1812 e todo o seu estilo manifesta uma obra de construtores rurais do séc. XIX, inspirados nos modelos da região, sem pureza de formas”6, não se alongando muito mais, quer na descrição e análise do exterior, como também do interior, deixando transparecer não existir neste templo obras de alguma importância ou qualidade artística. Conquanto, Marco Pereira complementa aquela data de reedificação do espaço religioso restaurado porque afirma que”… celebrou-se pela primeira vez com dois baptismos no dia de S. Pedro de 1835”7, ou seja, a 29 de junho.

1 - Esta designação abrangia uma zona mais extensa, a qual integrava também outros lugares tais como: Bunheiro, Pardelhas e Veiros. Para uma melhor explicitação consultar: Pereira, Marco – A Terra Marinhoa na Idade Média. Estarreja: Junta de Freguesia de Veiros; 2010, p. 28 ou http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/06/terra-marinhoa-na-idademedia-primeiras.html. 2 - A informação do documento ao qual nos reportamos está citado e devidamente explorado em Pereira, Marco – A Terra Marinhoa na Idade Média. Estarreja: Junta de Freguesia de Veiros; 2010, pp. 48-50, tendo sido já anteriormente referenciado por Miguel de Oliveira, quer n’ O Povo de Pardilhó, em 1939, quer em Ovar na Idade Média. Retirado de http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2013/09/a-terra-marinhoa-na-idade-media-actual.html da autoria de Marco Pereira. 3 - Para um esclarecimento mais cabal deste assunto consultar Pereira, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, in Terras de Antuã. Histórias e memórias do concelho de Estarreja. N.º 8. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja; 2014, pp. 158-159. 4 - Pereira, Marco – Correio do Vouga. N.º 4022; Aveiro: Diocese de Aveiro; 25 de abril de 2012; p. 4. Retirado de http:// historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/05/historia-da-igreja-em-pardilho.html da autoria de Marco Pereira. 5 - Gonçalves, António Nogueira – Inventário Artístico de Portugal (versão em CD). CD II, Distrito de Aveiro, Zona nordeste, Estarreja – Pardilhó, p. 1. Coordenação de António Valdemar, Vítor Serrão, Luís Calado, Paulo Pereira e outros. Lisboa: Coedição de ANBA e IPPAR; 2000. 6 - Gonçalves, António Nogueira – Inventário Artístico de Portugal (versão em CD). CD II, Distrito de Aveiro, Zona nordeste, Estarreja – Pardilhó – Igreja Paroquial, p. 1. 7 - Pereira, Marco – Correio do Vouga. N.º 4022; Aveiro: Diocese de Aveiro; 25 de abril de 2012; p. 4. Retirado de http:// historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/05/historia-da-igreja-em-pardilho.html da autoria de Marco Pereira

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Igreja Matriz de São Pedro de Pardilhó

A par destas parcas, mas preciosas, informações poderemos obter mais algumas nas Memórias Paroquiais de Pardilhó e de Avanca de 1758, ainda que a escrita da primeira não seja de fácil leitura, não só pelo desenho caligráfico do cura, como também pelo estado de conservação, pois apresenta várias manchas de tinta. No entanto, para além da nossa leitura, arrimámo-nos de uma obra de extrema importância neste campo da autoria de Américo Oliveira e Filomeno Silva8. Na resposta ao inquérito geral, o cura escreve: … Ao primeiro Interrogatorio informo que esta freguesia fica na Provincia da Beira baixa, e he do bispado do Porto, da Comarca Eclesiastica da feira eSecular deEsgueira, do termo da vila de Estarreja e pertence a freguesia Matriz de Sancta Marinha de Avanca9. Seguidamente, o mesmo prelado afirma que a Igreja Matriz de Pardilhó é da comenda da Ordem de Cristo e reafirma que é filial da Igreja Matriz de Santa Marinha de Avanca10. Esta última informação é igualmente registada na Memória Paroquial de Avanca, na qual é firmado que …a freguesia de São Pedro de Pardilhó a deSão Matheus do Bunheiro ambas Filiães desta Matriz… e ambas sitas bem dentro do Termo da mencionadaVilla de Estarrêja11. No mesmo documento o pároco da Igreja Matriz de Avanca faz menção de esclarecer que …hé Reitor, easim se nômea na Constituição do

8 - Oliveira, Américo e Silva, Filomeno – Estarreja e Murtosa nas memórias Paroquiais de 1758. Estarreja: Fundação Soalheiro Madureira; 2009, pp. 137-138. 9 - Oliveira, Américo e Silva, Filomeno – Estarreja e Murtosa nas memórias Paroquiais de 1758. p. 137. Original em ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fl. 537. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4241118 10 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fl. 537. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4241118 11 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fl. 780. Compulsado online: http://digitarq.arquivos. pt/viewer?id=4239093

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Bispado no catálogo, ou lista das Igrejas desta sua comarca…12, acrescentando logo adiante … que não só o hé desta Matriz; porém eParocho principal, ePadroeiro das suas duas Filiães São Matheus do Bunheiro, eSão Pedro de Pardilhó13. Para além de todos os benefícios eclesiásticos e, consequentes, financeiros a que tem direito sobre as duas matrizes filiais é, ainda, o próprio Reitor de Avanca que nomeia os curas para aquelas duas paróquias, como se pode inferir da leitura deste documento14. Através da Memória Paroquial de Pardilhó, ficamos a saber que à época aquela freguesia possuía …Quatro Sentos eSetenta eDous vizinhos…15, o que, comparativamente com, por exemplo, Avanca, a qual tinha novecentos e trinta e sete vizinhos16, com a Murtosa que Tem esta freguezia sette centos e cincoenta fogos pouco mais ou menos…17 ou, ainda, com Toda Esta freguesia de Esgueira tem quinhentos cincoenta equatro vizinhos…18, ou, também, com AveiroVilla Nobre, enotável, fundação antiguíssima… dentro doSeu próprio recinto, outo centos setenta edois vizinhos…19, não poderemos afirmar que Pardilhó, em 1758, tivesse muito menos população, tendo em conta a sua localização, a sua frugal importância administrativa e os seus recursos económicos. No concernente ao templo e a outras questões religiosas e de devoção de Pardilhó, para além daquelas informações que estão insertas na Memória Paroquial de Avanca nada mais é explicitado ou descrito, mas, em contrapartida, a Memória Paroquial de Pardilhó fornece-nos mais algumas informações, ainda que não sejam muito significativas, nem tão descritivas como as de Avanca, pois ficamos com a sensação que o cura foi extremamente poupado nas informações e descrições respondidas comparativamente com outros documentos similares, tais como os de Esgueira, Avanca, Murtosa e Aveiro, entre outros. De qualquer forma, ficamos a saber que em 1758 existiam três confrarias na Igreja Matriz, sendo elas dedicadas a São Pedro, a São Miguel das Almas e ao Santo Nome de Jesus e fiéis de Deus20. No mesmo sentido naquele documento é escrito que a igreja possui três altares, a saber: o principal dedicado à comenda da Ordem de Cristo e os outros dois mais pequenos têm como oragos, um, Nossa Senhora do Rosário e, o outro, o Espírito Santo21. Mais nenhuma informação nos é fornecida relativamente a estes móveis retabulares.

12 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fl. 788. Compulsado online: http://digitarq.arquivos. pt/viewer?id=4239093 13 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fl. 788. Compulsado online: http://digitarq.arquivos. pt/viewer?id=4239093 14 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fls. 788-789. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4239093 15 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fl. 537. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4241118 16 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fl. 788. Compulsado online: http://digitarq.arquivos. pt/viewer?id=4239093 17 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Murtosa, vol. 25, n.º 266, fl. 1956. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4240913 18 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Esgueira, vol. 14, n.º58, fl.413. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4239956 19 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Aveiro, vol. 5, n.º 44, fl. 799. Compulsado online: http://digitarq.arquivos. pt/viewer?id=4239097 20 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fl. 537. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4241118 21 - ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fl. 537. Compulsado online: http://digitarq. arquivos.pt/viewer?id=4241118

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Memória Paroquial de Pardilhó de 1758, vol. 27, n.º 85, fls 536-537

Atualmente encontramos cinco retábulos e Nogueira Gonçalves afirma que são todos “… de inspiração nos temas setecentista”22, todavia, isto não quer dizer que tenham sido executados mesmo durante o século XVIII, nem tampouco em simultâneo. O certo é que apresentam uma composição conjuntural estética claramente filiada a um rococó final, ou tardio, já cruzando com alguns elementos ornamentais de desenho mais classicizante. O retábulo-mor é, sem qualquer dúvida, o espécime que de mais perto segue o estilo rocaille, quer a nível estrutural quer ao nível da composição.Este móvel sacro está dividido longitudinalmente em quatro elementos: sotobanco, banco, corpo e remate; em termos transversais reparte-se em três: largas ilhargas, dois pares de colunas e a grande tribuna. O sotobanco e o banco apresentam uma estrutura precisamente igual, constituídos ambos por vários pedestais já de composição clássica. Se atentarmos especificamente nos pedestais que suportam as colunas verificamos que são de linhas retas e cada face é preenchida por uma leve, serena e racional grinalda de folhas e flores. Esta decoração repete-se ao longo de todo o sotobanco e banco, distribuída de forma extremamente ritmada e monótona. A centralizar o citado sotobanco destaca-se a mesa de altar

22 - Gonçalves, António Nogueira – Inventário Artístico de Portugal (versão em CD). CD II, Distrito de Aveiro, Zona nordeste, Estarreja – Pardilhó – Igreja Paroquial, p. 1

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em forma de urna invertida, a qual está decorada ao centro com as letras IHS envoltas numa coroa de folhas. Sob esta coroa espargem-se duas folhas de palma colocadas em sentido oposto uma à outra; sobre a coroa desenlaça-se um elegante laço constituído por folhas e flores de matriz clássica. A marcar a ornamentação da mesa de altar, na zona superior, estende-se uma harmoniosa e leve grinalda de folhas. O banco do retábulo imita uma predela (elemento muito evidenciado até ao maneirismo e que regressa com o mesmo destaque na talha neoclássica) e as várias faces dos elementos são decoradas com os já descritos desenhos florais. Sobre a mesa de altar, na linha transversal do banco, mesmo ao centro de todo o conjunto, assenta o sacrário de estrutura arquitetónica protegido por um dossel ondulante, do qual descaem pequenas e primaveris grinaldas de folhas e malmequeres imitando um lambrequim. Este elemento protetor faz lembrar estéticas barrocas anteriores, ainda que nestas antecessoras correntes estilísticas fosse utilizado um verdadeiro lambrequim.

Retábulo –mor dedicado a São Pedro

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Sotobanco e banco com a mesa de altar e o Sacrário

Ainda assim, toda a estrutura é movimentada e ondulante, com um claro avanço das colunas, sendo que uma está mais à frente que o seu par. Este desenho compositivo permite, por um lado, destacar as colunas, por outro, conferir uma acentuada evidência da boca da tribuna, a qual tem um desenho dinâmico, especialmente na parte superior que se alonga e invade o remate, mas principalmente promover um jogo de volumes com avanços e recuos caraterísticos da retabulária rocaille. Esta ondulação que também já se encontrava na arte ao tempo de D. João V. Assim, as colunas direcionam o olhar dos crentes para a grande tribuna23 num belo movimento côncavo. Estas colunas, postas uma à frente da outra num sentido diagonal, de fuste liso e com capitel compósito, são divididas no terço inferior dos outros dois por uma linha em relevo, a qual segura em ligeira suspensão uma levíssima grinalda de folhas e flores. Aqueles elementos estruturais de escoramento são ainda policromados com tonalidades de fingidos marmoreados. As largas ilhargas que acompanham a altura de todo o conjunto, desde o sotobanco até ao corpo retabular, apresentam uma forma concavada e são finalizadas por uma linha de capitéis compósitos dourados, à imagem dos já descritos nas colunas, de pouca plasticidade e que prosseguem por trás das mesmas colunas, sendo aquela sequência apenas interrompida pela grandiosa tribuna. Sobre esta linha de capitéis eleva-se o entablamento movimentado e denticulado que segue o jogo de volumes conferido pelas colunas. Sobre este último elemento levantam-se os fragmentos

23 - A tribuna atualmente está preenchida por uma grande pintura ligada à temática do patrono do templo – São Pedro a ser escolhido por Cristo para primeiro Papa, acompanhado pelos restantes apóstolos sobre a supervisão d’ O Olho de Deus: um olho no centro de um triângulo que simboliza a Santíssima Trindade envolto numa Glória Solar ladeada por querubins e anjos.

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de um entablamento contracurvado, mais precisamente os acrotérios laterais também estes denticulados, caraterística típica da retabulária e da arquitetura do rococó português. Ainda sobre aqueles fragmentos de frontão alteiam-se dois clássicos vasos de cada lado na sequência da linha das colunas. O remate, como já foi referido, é rasgado pela boca da tribuna que se ergue em elegantes e suaves ondulações contracurvadas para terminar em semicírculo. Sobre esta linha, criteriosamente ao centro, destaca-se a simbólica iconográfica de São Pedro como primeiro Papa da Igreja de Cristo: duas chaves cruzadas em forma de X abençoadas pela mitra papal. A ladear estes símbolos, entre os supracitados acrotérios laterais e a linha da boca da tribuna, desenvolvem-se uns graciosos enrolamentos vegetalistas de claro desenho já de influência clássica. A coroar todo o remate eleva-se uma linha com um frontão circular denticulado com as linhas dos acrotérios laterais alongadas. Sobre todo este conjunto abra-se um destacado e esbelto festão de flores e malmequeres de talhe classicizante.

Parte do corpo, das colunas e remate do retábulo-mor

Quanto aos restantes quatro retábulos, dois laterais e dois colaterais, são todos iguais, quer no respeitante à estrutura, quer à composição, quer aos desenhos aplicados, pelo que apenas faremos a descrição de um. A única diferença que se constata é ao nível do desenho inserto na porta de cada sacrário, em que cada qual tem a sua simbólica. O retábulo colateral do lado Evangelho é consagrado a Nossa Senhora do Rosário, enquanto o do lado da Epístola é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Por seu turno, o móvel retabular lateral do Evangelho é devotado a Nossa Senhora de Fátima e o oposto, do lado da Epístola, é abnegado a São José.

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Retábulo colateral da Epístola dedicado ao Sagrado Coração de Jesus

A estrutura destes retábulos é precisamente a tipificada para os retábulos laterais por Francisco Lameira24, pois apresentam uma planta reta ou plana, de corpo único com uma coluna de cada lado e constituídos longitudinalmente por sotobanco, banco, corpo e remate. É uma estrutura corrente e comum que se encontram nas igrejas da diocese de Aveiro e também ao longo do país, mas também nos deparamos com estruturas similares em pequenas capelas devocionais. Assim, todo o conjunto assenta num pequeno embasamento com imitações de mármore esverdeado, à semelhança do que também está no retábulo principal. O sotobanco é constituído por ilhargas em forma de altos pedestais, os quais estão postos numa linha diagonal com a face virada para o exterior. Esta composição é seguida no banco, na disposição das colunas e até no entablamento, o que lhe confere algum movimento, procurando distanciar-se da estrutura textualmente plana, conforme os espécimes típicos, como são os casos dos retábulos laterais e colaterais da Igreja

24 - Lameira, Francisco Ildefonso – “A talha do Mosteiro de Santa Maria de Belém”. in Jerónimos. Quatro séculos de pintura (catálogo da exposição, vol. I), coordenação de Anísio Franco, Isabel Cruz Almeida e al. Lisboa: SEC/IPPAR; 1992, pp. 98-107, com especial incidência na p. 106.

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Matriz de Veiros25. Nas faces destes pedestais elevam-se frágeis elementos vegetalistas e florais, terminando em espiga de milho. Ao centro destaca-se a mesa de altar em forma de urna invertida com suaves linhas ondulantes. A cimalha da mesa de altar é ornada por dentes de leão em relevo. O centro da mesa de altar é animado por uma argola da qual se espargem, para cada lado, um ondulado caule com diversas flores com coroa entreaberta. O banco apresenta o mesmo movimento que o sotobanco, estando os pedestais que escoram as colunas também postos na diagonal. A restante linha do banco, formando uma espécie de predela, está dividida em quatro faces num ligeiro jogo de avanços e recuos, centralizando o sacrário.Todas as faces são animadas com finos elementos vegetalistas e florais, mas de desenho um pouco rígido, denotando falta de liberdade e ausência de realismo em favor do preenchimento racional do espaço. Como já ficou acima dito, cada sacrário tem o seu próprio desenho. Deste modo, o sacrário do retábulo de Nossa Senhora do Rosário tem uma roda dentada, na qual o dente superior central é o desenho da Cruz; o oposto, do Sagrado Coração de Jesus, apresenta um entrelaçado vegetalista com flores, uvas, espigas de milho e folhas de parra; o retábulo de Nossa Senhora de Fátima possui na porta a insígnia AM que simboliza Avé Maria; por último, o sacrário do móvel dedicado a São José expõe uma Cruz de três braços transversais estilizada, pois termina em forma de coroa floral fechada, sendo os braços metamorfoseados em folhas descaidamente onduladas. Esta Cruz simboliza a “… a hierarquia eclesiástica, correspondendo à tiara papal, ao chapéu cardinalício e à mitra episcopal”26.

Banco e sacrário do retábulo lateral da Epístola consagrado a São José

25 - Marques, Maria Clara de Paiva Vide e Leandro, António Cruz – “Retábulos da Igreja Paroquial de São Bartolomeu de Veiros”. in Terras de Antuã. N.º 7. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja; 2013, pp. 99-108. 26 - Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain – Dicionário dos símbolos. Lisboa: Editorial Teorema; 1994, subverbo CRUZ, p. 246.

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O corpo retabular é centrado pelas colunas marmoreadas de fuste liso com capitel compósito. O terço inferior é dividido por uma linha em relevo da qual se suspende, com profunda ligeireza, um panejamento enrolado como se fossem pequenas sanefas e cortinas, mas não apresentando a cenografia e o teatralismo que a época barroca nos habituou, dirigindo-nos, assim, para uma gramática mais clássica. Pelos dois terços superiores, de maneira helicoidal, enrola-se languidamente uma linha de folhas, rosas e malmequeres de forma meticulosa e com profunda harmonia até ao capitel. Entre as colunas e a boca da tribuna apresentam-se os lisos intercolúnios que sustêm uma peanha e um dossel de forma a abrigar uma santa imagem. Ao centro abre-se a boca da tribuna de linhas retas, mas terminando em semicírculo com ligeira ondulação no início do remate. A boca da tribuna eleva-se de modo a interromper o liso entablamento denticulado, o qual comparticipa do mesmo movimento lateral conferido pelas colunas. Na continuação da linha das colunas e sobre o entablamento erguem-se dois vasos em tudo semelhantes aos já referenciados no retábulo-mor.

Retábulo colateral do Evangelho dedicado a Nossa Senhora do Rosário

Sobre todo o entablamento arroja-se o remate do conjunto, constituído por fragmentos arquitetónicos: das ilhargas para o centro desenvolvem-se as partes inferiores de aletas, as quais, à medida que se elevam, misturam-se com os fragmentos laterais, sem acrotérios, de um frontão ondulado, vazado ao centro e interrompido na coroação dando lugar a linhas cornucopiais, entre as quais emana um festão de largas folhas de matiz classicizante.Todo o restante remate é animado por linhas vegetalistas e florais dependuradas. Este tipo de remate é muito comum na retabulária lateral, mormente na de cariz local já na transição da estética rococó para a neoclássica, muita desta tendo sido realizada já na centúria de oitocentos.

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Obviamente que em todos os retábulos sente-se ainda a presença da influência rocaille, fundamentalmente no principal pela sua estrutura dinâmica e movimentada, pelo jogo de volumes, pela composição do remate com diversos fragmentos de frontões, pela utilização dos acrotérios laterais de um frontão contracurvado e, também, pela pujança que emana do próprio remate, que a par da grande boca da tribuna centram o auge de toda a estrutura. Contudo, a linguagem ornamental, a disposição metódica, ritmada e racional dos elementos, a falta de volumetria e plasticidades no talhe, dirigem-nos já para novos processos decorativos classicizantes próprios do último quartel do século XVIII e ainda princípios do século seguinte.

Remate do retábulo lateral do Evangelho consagrado a Nossa Senhora de Fátima

Mesmo nos restantes quatro móveis religiosos a disposição das colunas, o fuste animado por uma linha helicoidal floral e o remate constituído por diversos elementos arquitetónicos fazemnos pensar nas composições rococós de cariz local e regional, mas a sua estruturação já quase totalmente plana, a disposição dos restantes elementos compositivos, a rigidez da boca da tribuna e fundamentalmente os elementos ornamentais que animam as diversas faces de todos os elementos pensados de forma muito racional, ritmada, repetitiva e monótona e falta de volumetria e plasticidade demonstram, por um lado, claramente a influência da mentalidade artística do neoclassicismo, mas, por outro, a execução por mestres locais que não dominando uma lata diversidade de desenhos, iconografia e simbólica procuraram embelezar e doar ao espaço sagrado, através destes móveis religiosos, uma fácies espiritualizante, sacra e simultaneamente moderna. Deste modo, estamos em crer que os três retábulos referidos na Memória Paroquial de 1758 de Pardilhó não correspondem a nenhum dos espécimes que hoje encontramos neste tempo dedicado a São Pedro, porque naquele ano o rococó ainda era embrionário e desconhecido em muitos locais mais afastados dos grandes centros de produção; porque, também, a gramática decorativa aplicada já demonstra, pelo que ficou acima descrito e afirmado, a influência neoclássica, a qual só poderia fazer sentir-se nesta região após sensivelmente 1780. Contudo, cremos que o principal retábulo terá sido construído ainda no século XVIII, numa época em que nos grandes centros produtores tínhamos a vigência clara do estilo neoclássico. Quanto aos restantes, como acima demonstrámos, foram executados posteriormente ao principal e com

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alguma probabilidade já no século XIX já com muito mais influência neoclássica e com uma qualidade, estrutural, compositiva e decorativa, inferior ao primeiro. De qualquer maneira, são excelentes exemplos da devoção da população local e da procura de acompanhamento das estéticas nacionais, não se podendo enquadrar, como explicámos logo no início, na mesma cronologia, mas compreendendo todos os cambiantes para as produções locais. Assim, o que já foi afirmado uma vez para o revivalismo barroco, poder-se-á aplicar nestas produções locais em que a persistência de elementos de épocas anteriores vão perdurando nas subsequentes: “é preciso, então, colocar entre parênteses o centro e a cronologia e fixar a análise e a investigação na excentricidade que estes elementos barrocos [e o mesmo acontecendo para outras estéticas] poderão provocar na comunidade onde foram concebidos porque desta forma não perdem o seu carater original, devidamente focalizado, e se normalizam no seu contexto”27. BIBLIOGRAFIA FONTES ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Avanca, vol. 5, n.º 40, fls. 779-792. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4239093 ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Aveiro, vol. 5, n.º 44, fls. 799-820. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4239097 ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Esgueira, vol. 14, n.º58, fls. 413-420. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4239956 ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Murtosa, vol. 25, n.º 266, fls. 1955-1976. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4240913 ANTT – Memórias Paroquiais de 1758 – Pardilhó, vol. 27, n.º 85, fls. 537-538. Compulsado online: http://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4241118 OBRAS Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain – Dicionário dos símbolos. Lisboa: Editorial Teorema; 1994. Gonçalves, António Nogueira – Inventário Artístico de Portugal (versão em CD). CD II, Distrito de Aveiro, Zona nordeste, Estarreja – Pardilhó. Coordenação de António Valdemar, Vítor Serrão, Luís Calado, Paulo Pereira e outros. Lisboa: Coedição de ANBA e IPPAR; 2000. Lameira, Francisco Ildefonso – “A talha do Mosteiro de Santa Maria de Belém”. in Jerónimos. Qua tro séculos de pintura (catálogo da exposição, vol. I), coordenação de Anísio Franco, Isabel Cruz Almeida e al. Lisboa: SEC/IPPAR; 1992. Lameira, Francisco Ildefonso – “O retábulo em Portugal – das origens ao declínio”. Promotória Monográfica – História da Arte. Revista do Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve, n.º1. Faro: Departamento de História, Arqueologia e Pa trimónio da Universidade do Algarve e Centro de História de Arte da Universidade de Évora, 2005.

27 - Leandro, António e Pereira, Luís Miguel – “Barroco tardio: revivalismo estético ou persistência da memória coletiva?”. In Actas do IV Congresso Histórico de Guimarães – Do absolutismo ao liberalismo. Guimarães. Câmara Municipal de Guimarães: 2008, p. 336.

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Leandro, António e Pereira, Luís Miguel – “Barroco tardio: revivalismo estético ou persistência da memória coletiva?”. In Actas do IV Congresso Histórico de Guimarães – Do absolu tismo ao liberalismo. Guimarães. Câmara Municipal de Guimarães: 2008. Marques, Maria Clara de Paiva Vide e Leandro, António Cruz – “Retábulos da Igreja Paroquial de São Bartolomeu de Veiros”. in Terras de Antuã Histórias e memórias do concelho de Estar reja. N.º 7. Estarreja: Câmara Municipal de Estarreja; 2013. Oliveira, Américo e Silva, Filomeno – Estarreja e Murtosa nas memórias Paroquiais de 1758. Estar reja: Fundação Soalheiro Madureira; 2009. Pereira, Marco – A Terra Marinhoa na Idade Média. Estarreja: Junta de Freguesia de Veiros; 2010. Pereira, Marco – “História da Igreja de Pardilhó”. n Correio do Vouga. N.º 4022; Aveiro: Diocese de Aveiro; 25 de abril de 2012. Pereira, Marco – História do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó. Estarreja: Centro Paroquial de Assistência de Pardilhó; 2012. Pereira, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”. in Terras de Antuã. Histórias e memórias do concelho de Estarreja. N.º 8. Estarreja: Câmara Municipal de Estar reja; 2014. Robert C. Smith – A Talha em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1963. Réau, Louis – Iconografía del arte cristiano. Iconografía de la Biblia. Nuevo Testamento, 1956. NETGRAFIA http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/06/terra-marinhoa-na-idade-media-primeiras.html da autoria de Marco Pereira. http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2013/09/a-terra-marinhoa-na-idade-media-actual.html da autoria de Marco Pereira. http://historia-estarreja-murtosa.blogspot.pt/2012/05/historia-da-igreja-em-pardilho.html da autoria de Marco Pereira.

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CARLA FERREIRA

PATRIMÓNIO - LUGAR DE MEMÓRIA E DE IDENTIDADE Carla Ferreira* Na aliança entre os conceitos de memória, de identidade e de património, invoca-se o contributo da Revolução Francesa que se manifestou na importância dada às obras e aos monumentos materiais que deveriam, através do tempo, ser a expressão máxima da identidade nacional com a qual todos os franceses se identificassem (Rodrigues, 2005 & Peralta, 2000). A belle époque burguesa durante o século XVIII bem como o novo modelo político resultante da revolução francesa de 1789 “exportou, manu militari, por meio da figura de Napoleão Bonaparte, para todo o mundo os novos modos de vida materiais e espirituais determinados pela burguesia” (Barbosa, 2003, p. 89). Sendo assim, será o “codex jurídico napoleónico […] destinado a regular, segundo o diapasão burguês, as novas relações entre os indivíduos e entre os povos e o patrimônio filosófico iluminista que, amealhado no século anterior, tornou-se o paradigma universalizado dos tempos modernos” (Barbosa, 2003, p. 89). Apesar de cada país o ter adaptado ao seu contexto histórico, daqui se importou o modelo que será, inclusive, a base para o Património da Humanidade (Camargo, 2005). No entanto, de acordo com Enne (2004, p. 5), “o que se entende por comunidade e identidade são construções simbólicas, resultantes de interacções e conflitos, e não realidades dadas e cristalizadas”. Por sua vez, Smith (1991, p. 28) identifica cinco aspetos fundamentais da identidade nacional: “um território histórico ou terra de origem; mitos e memórias históricas comuns; uma cultura de massas pública comum; direitos e deveres legais comuns a todos os membros e uma economia comum, com mobilidade territorial para os membros”. Martins (2007, p. 46) reconhece a identidade no diálogo, na troca, na preservação da memória, “quando se integra num contexto de diversas pertenças e quando serve para caracterizar o que somos e o que nos distingue dos outros”. Porém, segundo Lourenço (1992), “há uma espécie de vazio de identidades reais, constituído pelo somatório dessas identidades […] locais ou particulares, que é compensado a nível simbólico com o sentimento duma identidade simbólica que repousa […] em referentes de ordem mítica, em mitos fundadores [ou] criados pela própria história” (Silva & Jorge, 1993, p. 38). Para Choay (2005, p. 25), “a aventura da humanidade funda-se na e alimenta-se da memória do passado mental e material, sempre diferente, das diferentes civilizações que tiveram necessariamente de se apropriar dele para poderem superá-lo e transformá-lo conforme as suas identidades respectivas”. Vários autores defendiam que no fim do Século XX e no princípio do Século XXI “estaríamos assistindo a um ‘boom da memória’ […] em que a perda de referências tradicionais acionaria uma preocupação hiperbólica com a preservação do passado e mesmo com a sua reinvenção” (Enne, 2004, p. 3), assumindo-se como uma referência fundamental na produção de identidades sociais e culturais. Neste sentido, Pais (1999, pp. 128-129) afirma que os “vestígios do passado que organizam em torno de si identidades de lugares que só ganham sentido na sua expressão mais sentimental […]

* Investigadora na Universidade de Aveiro

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testemunhos de uma História que emerge no presente como cratera do passado. Vestígios que perderam o seu conteúdo [mas] reanimam-se logo que são recuperados”. A memória, individual ou colectiva, “é sempre uma construção do presente, de um presente em permanente fuga para o passado e para o futuro, essas duas figuras do abismo da consciência” (Jorge, 2005, p. 52). Já Enne (2004, p. 7) defende que ancorar a “construção de memórias sociais [a] registos do passado local também funciona como alicerce para a manutenção de identidades onde essas se apresentem como ameaçadas pela desconstrução”. Assim, “produziu-se lugares de patrimônio urbano para construir a identidade escolhendo uma história, que se torna a história, a da cidade ou do bairro: história inventada, reinventada ou exumada, depois mostrada, em torno da qual se organiza, em todos os sentidos da palavra, a ‘circulação’” (Hartog, 2006, p. 268). Hollerbach (2009, p. 138) admite que “a memória seja fruto de uma construção, daí a necessidade de lugares de memória – como os museus, por exemplo”. Esta “explosão museológica” possui efeitos perversos: “o anterior modelo dos visitantes enquanto cidadãos transforma-se num modelo de visitantes enquanto consumidores, que passam a ocupar o cerne de todas as actividades museológicas, uma alteração que veio provocar uma situação de crise no que concerne ao papel dos objectos e das colecções nas actividades desenvolvidas pelos museus, conduzindo a uma redefinição das suas funções tradicionais” (Anico, 2005, p. 82). Ideia também defendida por Lipovetsky & Serroy (2010). Branco (1992), a respeito da memória sugere que “nós temos de reflectir em torno da memória e da sua construção; no fundo, ou estamos a reflectir em torno da memória e da sua construção ou estamos evidentemente a tentar reconstruir, ou refazer, ou adquirir, uma nova memória” (Silva & Jorge, 1993, p. 63). Por outro lado, é de ressalvar o papel proeminente das Organizações não-governamentais (ONG’s), dos movimentos ecológicos, das associações regionais e locais, dos projetos de criação e promoção turísticas no resgate e (re)construção das identidades sociais e culturais. Para Smith (1991, p. 177), “na esfera cultural, a identidade […] revela-se em toda uma variedade de pressuposições e de mitos, de valores e de memórias, bem como na linguagem, nas leis, em instituições e cerimónias”. Porém, “a revolução electro-telemática, hoje promovida por uma forma inédita e radical do capitalismo, põe em questão e em perigo a identidade do género humano, ou por outras palavras, da nossa condição de seres vivos dotados de palavra, ou ainda o nosso estatuto antropológico” (Choay, 2005, p. 28). Na verdade, a memória colectiva “é uma questão política” (Jorge, 2005), dependente de regras, negociações, cosmogónica (Pollak, 1989). De facto, tomar a vocação para a diferenciação do ser humano defendida por Choay (2005), onde o elemento mediador e institucionalizado é o próprio corpo, leva-o a aceitar e a tentar salvaguardar a diversidade que daí advém da relação com o(s) outro(s), com o ambiente material e imaterial, numa tentativa de manter viva a memória e, consequentemente, a identidade pessoal e social. É precisamente esse papel de mediador que a revolução electro-telemática vem pôr em questão, promovendo, em contrapartida, “próteses cada vez mais eficientes que tendem a pôr de parte o corpo mediador [e] a reduzi-lo ao estatuto de consumo” (Choay, 2005, p. 32). Tal acarreta consequências desastrosas para a própria espécie humana: “enfraquecimento da memória orgânica e viva, pela amnésia que daí resulta e que conduz à prótetização do mundo que nos rodeia e à inversão do processo de construção das sociedades humanas” (Choay, 2005, p. 36). O que caracteriza, em geral, a nossa sociedade é a fragmentação não só do tempo, do espaço, da produção, das experiências, mas sobretudo das vivências, logo das identidades (individuas e coletivas), em constante “deslize” e aceleração, nesta imposição pós-moderna ditada pelo consumo insatisfeito e exacerbado (Jorge,

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CARLA FERREIRA

2005 & Pollak, 1989). Rodrigues (2011, p. 6), por sua vez, refere que a permanente insatisfação, a procura incessante do que é inovação “está a liquidificar a memória e a solidez dos valores que ela preserva, e, consequentemente, a derruir os fundamentos de instituições da modernidade, criando uma volatilidade”. Esta consequente perda de valores de referência, marcada pelo quase divinizado individualismo de tudo consumir também tem os seus reflexos no património, sob a forma de colecionismo que serve de roupagem a um processo de construção identitária (Jorge, 2005 & Pollak, 1989). Todavia, Enne (2004, p. 9) propõe que “o passado poderia ser pensado não só como marco para a construção do presente, mas como fundação de um futuro que se deseja construir”. Memória, lembrança e identidade são-lhe então sinónimos, “caracterizada pela afectividade, pelo discurso que comemora um fato caro a determinado grupo social ou comunidade […]; busca tornar viva a memória de algo importante e identitário socialmente” (Meneses, 2004, p. 31). Para Jorge (2003), o que define o património enquanto herança cultural é a imaterialidade do objeto, isto é, daquilo que ele representa para além da sua tangibilidade física. Por outras palavras, na contemporaneidade, o património como valor de memória, projeta, no presente, uma imagem imaterial do passado, das nossas origens, que se constitui em significados. Significados estes, cujos objetos revestem a sua materialidade como suporte temporal conferido por nós. Os objetos físicos são suporte de uma herança que pertence ao domínio espiritual (o que exprimem), imaterial, à memória individual e/ou coletiva. Porém, Meneses (2004) alerta que a sua particularidade memorial tem vindo a ser substituída, desde o Renascimento, pela exaltação da beleza e a sua (re)construção é fruto das tendências do tempo presente. Hartog (2006, p. 265), por sua vez, defende que “o património se impôs como a categoria dominante, englobante, senão devorante, em todo o caso evidente, da vida cultural e das políticas públicas”, onde a memória e o património são “indícios, sintomas também de nossa relação com o tempo – formas de traduzir, refratar, seguir, contrariar a ordem do tempo”. Já Jorge (2003, p. 12) defende que “sem memória não seria sequer possível conceptualizar o património, essa herança que vem obviamente de trás, do que nos precedeu e que justifica aquilo que somos”. Este sentimento de identidade, num determinado espaço e tempo, resulta de um imaginário coletivo a partir de um passado, real ou imaginário, onde se fixaram os modelos socialmente aceites e que dão sentido às imagens que, atualmente, se nos apresentam. A função memorial é substituída pelo humanismo presente na capacidade que o ser humano tem de criar, onde a “memória, a partir desse humanismo que persiste no tempo, vai ter, cada vez mais, mediadores não monumentais como a imprensa, a fotografia e as memórias electrónicas” (Meneses, 2004, p. 32). Por outro lado, as suas características individualistas e individualizadas conferem à memória novas formas de mediação, por exemplo, para Barthes, a fotografia “documenta uma história mas ressuscita um passado” (Meneses, 2004, p. 32). Palavra-chave dos anos 80 do século XX, a identidade assume-se como símbolo da memória e do património, circunscrevendo-se “mais ao que somos, sem sabê-lo, ou mesmo sem ter podido saber […] com suas exigências de conservação, de reabilitação e de comemoração” (Hartog, 2006, p. 266). Esta posição entre a “amnésia e a vontade de nada esquecer” (Hartog, 2006, p. 271) provoca, no presente, um urgente imediatismo memorial do passado, dado que este “atrai mais do que a história; a presença do passado, a evocação e a emoção predominam sobre a tomada de distância e a mediação. Enfim, este patrimônio é ele mesmo trabalhado pela aceleração: é

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preciso fazer rápido antes que seja muito tarde […] e o hoje tenha desaparecido completamente” (Hartog, 2006, p. 272). Mas será que todos os vestígios do passado são considerados património? De acordo com Peralta (2000), ao património herdado também está subjacente uma ideia de posse de algo de valor, mediante uma escolha cultural, logo de carácter relativo e flutuante no tempo e no espaço. Esta construção social (Peralta, 2000 & Prats, 1997) cunha em determinados objetos um sentimento coletivo de identidade, através de um processo simbólico que os legitima social e culturalmente. Para Peralta (2000, p. 219), o que determina o conceito de património “é a sua capacidade de representar simbolicamente uma identidade”, que nos mantém em relação com o passado e nos transmite igualmente um sentimento de pertença que nos diferencia dos demais, logo de estabilidade. Neste sentido, a “atribuição de sentido às práticas culturais permite associar elementos e acontecimentos da realidade social concreta e faz com que os sujeitos sociais construam o próprio sentido da sua identidade social” (Veloso, 2006, p. 451). O conceito de identidade é, assim, multidimensional e o seu sentimento “é um poderoso meio para definir e posicionar pessoas individuais no mundo, através do prisma da personalidade colectiva e da sua cultura distinta […] que nos permite saber ‘quem somos’ no mundo […], ‘redescobrimo-nos’ a nós próprios, a ‘pessoa autêntica’ ” (Smith, 1991, p. 31). Porém, Veloso (2006, p. 440), alerta para o risco de se transformar o património em “coisificação” ou “objetificação”, na dimensão da memória, “como se fosse uma ideia abstrata a pairar sobre as consciências individuais, o que resultaria numa percepção atomizada e estática dos indivíduos – seres apartados de sua consciência colectiva”. Durante o século XIX intensificou-se a criação de patrimónios nacionais cujo objetivo era a criação de referenciais comuns, num mesmo território, unificando-os em torno de interesses e tradições comuns que se sobrepuseram às memórias regionais e particulares (Rodrigues, 2005). Assim, com função unificadora, o património assumiu um cunho social e político. Ora, apesar da diversidade existente, património também era sinónimo de exclusão. No entanto, a noção de património está condicionada pelas conceções que cada época tem no âmbito do quê, quem, para quem, onde, como, porquê e de que forma. Em suma, a noção de património altera-se consoante as circunstâncias da época. Consequentemente, estas discussões sobre património serão intensificadas no século XX com encontros, convenções, conferências das quais resultam inúmeros documentos para salvaguarda e proteção do património. Proteger o legado do passado é estabelecer elos de ligação entre o passado e o futuro, contribuindo, no resgate da memória, para a afirmação de identidade na formação de grupos. A este propósito, Ruskin (1977) atribuía à arquitetura do passado um papel predominante no resgate da memória que, sendo património material edificado, facilita não só a sua recordação mas também o enriquecimento do património imaterial, pelo que assume extrema importância a relação entre a conservação e a inovação (Choay, 2005).

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1 - O Património arquitetónico de Estarreja: Casas, Palacetes, Quintas e Monumentos Património edificado, edifícios isolados ou conjuntos homogéneos, que refletem aspetos arquitetónicos significativos da época em que foram concretizados ou mesmo com características próprias da época de conceção, que constituem realizações notáveis. Consoante o seu valor relativo, os bens podem ser classificados como de Imóvel de Interesse Nacional (com a designação de Monumento Nacional), Imóvel de Interesse Público ou de Imóvel de Interesse Municipal (classificação camarária). A) As Casas de ‘Brasileiro de Torna-Viagem’ Com origem no emigrante português que faz fortuna no Brasil, o “brasileiro” regressa à sua terra natal, onde constrói residência, adquire propriedades, cria indústrias, contribui para a construção de obras de arte, dinamiza e participa na vida social e política. Segundo Monteiro (2000, p. 107), “a casa do ‘Brasileiro de Torna-Viagem’ constitui uma das representações mais evidentes do retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais”. Assim, o ‘brasileiro’ assume o papel principal no período que vai desde 1850 (século XIX) até à década de 20 do século XX, tendo tido uma forte influência na arquitetura local, com “um modelo onde pontuam influências da casa colonial victoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revitalismo de cariz italiano” (Braga, 1986, p. 7). Com maior incidência principalmente no norte do País, nomeadamente no Porto, a casa de ‘brasileiro’, especialmente a figura do ‘brasileiro’ foi votada à sátira popular. Aliás Eça de Queirós (1978, p. 87-89), na obra Uma Campanha Alegre, faz alusão ao ‘brasileiro’ deste modo: “(o português que emigrou para o Brasil e que voltou rico do Brasil) [e que] é entre nós o tipo […] grosso, trigueiro, com tons de chocolate, pança ricaça, joanetes nos pés, colete e grilhão de oiro, […] vozinha adocicada […] é o senhor de todos os prédios grotescamente sarapintados”. Para Braga (1986, p. 7), “as inovações arquitectónicas e decorativas da casa do brasileiro representarão, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias”. Em Estarreja podemos observar alguns exemplares destas construções, nomeadamente nas ruas da Devesa (Fermelã) e do Visconde de Salreu (Salreu), por exemplo. (Também há exemplares em Avanca).

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Imagem 1. Casa de ‘brasileiro’ (Fermelã) Fonte: CF, 2011

Localizado na Rua da Devesa, n.º 30, em Fermelã, o imóvel, datado de 1938, possui uma fachada constituída por seis vãos e revestida a azulejo policromo. Os motivos decorativos presentes na fachada são de inspiração vegetalista (flores e folhas), predominando as cores vivas como o amarelo, o azul, o vermelho e o verde que denotam bem a influência tropical. Além deste revestimento possui também um painel de azulejos representando uma capela de Samora Correia. O edifício é sobrepujado por uma balaustrada e sob a porta principal encontrase inscrito o monograma “J.D.R.”. O imóvel foi restaurado em 2011, tendo sido alteradas as portadas das janelas e a da porta bem como construído um anexo no telhado.

Imagem 2. Palacete Rosa (Salreu) Fonte: CF, 2011

Localizado na Rua do Visconde de Salreu, em Salreu, este imóvel insere-se também na tipologia das casas de ‘brasileiro’. Desdobra-se em dois corpos distintos, um assumindo a forma de torreão. O edifício possui um friso ornamentado com azulejos representando motivos florais. As janelas possuem beirais e a entrada no edifício faz-se através de uma loggia1. O ferro forjado dos portões, um painel de azulejos na fachada e as varandas em pedra rematam a decoração do edifício. 1 - Loggia é um elemento arquitetónico aberto inteiramente ou em um dos lados como uma galeria ou pórtico coberto e, normalmente, sustentado por colunas e arcos. Foi muito difundida na arquitetura italiana, sobretudo durante o século XVII.

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B) Casa dos Morgados de Santo António da Praça (Casa Municipal da Cultura)

Imagem 3. Casa dos Morgados de Santo António da Praça (Beduído) Fonte: CF, 2011

Edifício datado do século XVIII e património municipal desde 1981. Como refere Ferreira (2009, p. 43), “foi ao longo de cerca de dois séculos e meio, uma das casas que albergou uma das mais ilustres e nobres famílias de todo o concelho de Estarreja e da região de Aveiro”, a família Soares de Albergaria. No entanto, ainda de acordo com Ferreira (2009), onze foram os seus proprietários, para além de residência dos Morgados de Santo António da Praça (família Soares de Albergaria). A esta casa estava anexa a Capela de Santo António que conservava um baixorelevo com as antigas armas dos fundadores. Foi adquirida pela Câmara Municipal em 1881. Em 1972, a casa foi adquirida pela Câmara Municipal e adaptada a Casa Municipal da Cultura. C) Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira (Fundação Solheiro Madureira)

Imagem 4. Casa-Museu Solheiro Madureira (Beduído) Fonte: CF, 2011

Após o falecimento de sua esposa, D. Marieta Solheiro Madureira, em maio de 1985, o Dr. António Madureira, em sua homenagem, decidiu adaptar a sua residência a CasaMuseu. Pretensão que seria concretizada em maio de 1988 com a abertura das suas portas [ 104 ]


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ao público. Em nome do amor pela sua esposa, o Dr. António Madureira viria a perpetuar os apelidos do casal na constituição da Fundação Solheiro Madureira. O edifício data da década de 40 (século XX) e foi projectado pela A.R.S. – Arquitectura (Porto) para residência dos fundadores do museu. A Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira engloba um vasto conjunto de obras de arte que foram adquiridas ao longo de mais de cinquenta anos e que contempla uma colecção de pintura, destacando-se as obras de Rivera, Didacus, Calvert, Martinez Rúbio, João Carlos, Josefa de Óbidos, entre outros; arte sacra; mobiliário; cerâmica; prataria e outros objectos diversos. No período de julho de 1999 a abril de 2001 foi alvo de obras de adaptação a espaço museológico. D) Casa-Museu Egas Moniz (Câmara Municipal de Estarreja) ou Casa do Marinheiro

Imagem 5. Casa-Museu Egas Moniz (Avanca) Fonte: CF, 2011

Transformada em Casa-Museu Egas Moniz em 1968, a Casa do Marinheiro data do século XVIII. Viu nascer o Professor Egas Moniz, Prémio Nobel da Medicina (1949) pelos trabalhos sobre a Angiografia e Leucotomia. Em 1915, a casa foi alvo de obras de beneficiação, cujo projeto esteve a cargo do Arquiteto Ernesto Korrodi, ao estilo Arte Nova, que a ampliou, conferindolhe um cariz de antiga casa solarenga do século XVIII. Sem descendentes diretos, o casal Egas Moniz manifestou o desejo de que nela se criasse um Museu Regional com o mesmo nome e que seria realidade em julho de 1968. A Casa-Museu foi integrada no património do Município de Estarreja a 23 de maio de 1985, extinguindo-se nesta data a Fundação Egas Moniz. Engloba um vasto conjunto de obras de arte que foram adquiridas e colecionadas ao longo de vários anos como, por exemplo, peças de porcelana da Companhia das Índias, Cantão, Saxe, Sèvres, entre outras. Na coleção de pintura, destacam-se as obras de Carlos Reis, João Reis, Falcão Trigoso, Eduarda Lapa, José Malhôa, Abel Salazar, entre outros; para além, da gravura; de exemplares de vidro e cristais portugueses (Vista Alegre e Marinha Grande) e cristais de Bacará; ourivesaria; tapeçaria; mobiliário (estilo D. José, D. João V, D. Maria, Luís XVI, Império, Holandês e Charão) e outros objetos diversos. Por outro lado, possui uma Secção Científica com objetos relacionados

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com as suas descobertas científicas no âmbito da medicina. A Casa-Museu Egas Moniz possui um Centro de Documentação e alberga ainda um dos Pólos de Leitura da Biblioteca Municipal. Foi classificada de IIP – Imóvel de Interesse Público de acordo com o Decreto n.º 67/97, DR 301 de 31 de dezembro de 1997. E) Casa dos Leites (atual Biblioteca Municipal, Câmara Municipal de Estarreja)

Imagem 6. Casa dos Leites (atual Biblioteca Municipal) (Beduído) Fonte: CF, 2011

Inicialmente destinada a habitação da família dos Leites, este edifício apalaçado data do início do século XX. Em 1931 albergou o Colégio Dr. Egas Moniz, posteriormente a Casa do Pessoal da Quimigal e, a 23 de janeiro de 1995, a Câmara aprova a compra do edifício. Desde outubro de 2004 alberga a Biblioteca Municipal, tendo sido recuperado e reconvertido para o efeito, mantendo a fachada original. F) Cine-Teatro de Estarreja (Câmara Municipal de Estarreja)

Imagem 7. Cine-Teatro de Estarreja (Beduído) Fonte: CF, 2011

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Inaugurado em 1950, com a projeção do filme As Aventuras do Príncipe Charlie, o Cine-Teatro foi também palco de apresentações de Teatro e Revista, sempre com adesão do público. Nele pisaram grandes nomes do teatro português como Vasco Santana e Maria de Matos, bem como a Companhia de Teatro Sá da Bandeira do Porto. Porém, a partir da década de 70 foi votado ao esquecimento, pelo que, nos anos 90 encerrou as suas portas. Em 1994 foi adquirido pela Câmara Municipal que após requalificação (auditório principal, camarins e foyers renovados, e ainda uma nova sala (no próprio palco do auditório e com bancada periscópica), uma cafetaria/café-concerto, e áreas de serviço (produção, técnicos, etc.) reabriu a 18 de junho de 2005. Foi classificado como IM - Interesse Municipal com o Decreto n.º 67/97, DR n.º 301, de 31-12-1997. G) Edifício dos Paços do Concelho (Câmara Municipal de Estarreja)

Imagem 8. Edifício dos Paços do Concelho (Beduído) Fonte: CF, 2011

Edifício de finais do século XIX foi inaugurado a 5 de janeiro de 1906.Teve como grande impulsionador Francisco Barbosa de Sottomayor (presidente de Estarreja entre 1885 e 1916, com interregnos). H) Casa de S. José do Outeiro de Paredes e Capela

Imagem 9. Casa de S. José do Outeiro de Paredes e Capela (Avanca) Fonte: CF, 2011

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Sede de um Morgadio com o mesmo nome é uma casa solarenga dos Viscondes de Baçar. Daqui partiam os caminhos em direção a Válega e Ovar. De estilo barroco, data do terceiro quartel do século XVIII. São de salientar as cantarias das janelas, os fustes e as cruzes da capela. Classificada como IIP – Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 28/82, DR 47 de 26 de fevereiro de 1982. I) Casa de Francisco Maria de Oliveira Simões

Imagem 10. Casa de Francisco Maria de Oliveira Simões (Salreu) Fonte: CF, 2011

Obra representativa de Arte Nova é uma habitação unifamiliar de dois pisos que data do início do século XX, sendo projetada por Silva Rocha. Foi classificada por despacho de Sua Excelência, o Ministro da Cultura, de 18 de março de 1997 e classificada como IIP - Imóvel de Interesse Público de acordo com o DLNº42/02 de 19 de fevereiro - I Série-B. J) Casa da Areosa

Imagem 11. Casa da Areosa (Beduído) Fonte: CF, 2011

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Edifício composto pela casa, capela, cruzeiro e portal, situada próximo da Igreja Paroquial de Beduído que data de meados do século XVIII mas que foi objeto de sucessivas alterações ao longo dos tempos. A fachada deste edifício setecentista dispõe-se em dois andares de linhas sóbrias. Na porta principal encontra-se um brasão de armas. A capela particular, de plano retangular, guarda um retábulo de madeira ao estilo D. João V. K) Casa do Calvário

Imagem 12. Casa do Calvário (Canelas) Fonte: CF, 2011

Na zona centro do povoado, ergue-se este exemplar setecentista do século XIX. Possui capela. L) Quinta da Fonte ou Quinta da Sr.ª das Dores

Imagem 13. Quinta da Fonte ou Quinta da Sr.ª das Dores (Canelas) Fonte: CF, 2011

Também conhecida como Quinta de Cima, do Taborda ou do Morgado. É uma casa brasonada que na frontaria da sua capela ostenta o brasão esquartelado de Figueiredo e Carvalhos. Data de finais do século XVII e princípios do século XVIII.

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M) Outros imóveis, monumentos e conjuntos de interesse local Avanca Casa da Aldeia, na Rua da Aldeia; Casa das Chousas ou 2.ª da Aldeia, na Rua da Aldeia; Casa das Chousinhas ou 3.ª da Aldeia, na Rua da Aldeia; Casa do Sobreiro ou de S. Vicente de Paula, a Poente da EN 109; Casa dos Bitos ou 1.ª Casa de Arcã, a Poente da EN 109; 2.ª Casa de Arcã, a Poente da EN 109; Casa do Telhado, junto à EN 109 (demolida); Casa de S. Bernardo, da Congosta ou da Areia, no sítio da Areia; Casas de ‘Brasileiro’, na EN 109; Casa do Mato e Capela de N. Sr.ª do Carmo, no sítio do Mato; Estação Ferroviária, azulejos do século XX com motivos regionais; Cruzeiro, entre a Igreja e a Capela de Santo António, guarda de antigo pedestal de forma pançada com coluna datada de 1796; Monumento a Egas Moniz, edificado em 1950. Beduído Casa da Quinta da Costa (Lugar de Santiago); Quinta Themudo Barata; Casa do Cruzeiro, no lugar de S. Tiago; Palacete da Quimigal; Conjunto Edificado Envolvente à Praça Francisco Barbosa; Conjunto Edificado na Avenida Visconde de Salreu; Monumento aos Mortos da 1.ª Grande Guerra (Largo dos Combatentes da Grande Guerra), inaugurado a 17 de junho de 1922. Canelas Quinta do Espinhal, no sítio do Espinhal; Habitações na Rua do Campo da Cruz. Fermelã Habitações na Rua da Oliveira; Habitações na Rua da Devesa; Casa da Barroca e Capela de S. José; Conjunto Edificado no sítio da Ventosa. Salreu Casa Grande - Solar do Ferraz, no lugar do Couto; Casa do Couto, no lugar do Couto; Casa do Mato, no lugar do Couto; Casa do Visconde e Jardins, na EN 1-12 (estilo Casa de ‘Brasileiro’); Escola das Laceiras; Habitações na EN 109; Habitações na Rua de Adou; Hospital Visconde de Salreu (1936); Chafariz do Hospital (1934). Veiros Casa da Quinta do Padre. Compartilhada coletivamente, “a tradição cultural é fruto de uma tessitura muito complexa que os indivíduos tecem com base em elementos da história, da memória e do cotidiano” (Veloso, 2006, p. 451). Atualmente, para além de fornecer conhecimentos sobre o passado, “os remanescentes […] de cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva ou individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepção de um conjunto de elementos comuns, que fornecem sentido de grupo e compõem a identidade coletiva” (Rodrigues, 2005, p. 17). Assim, o jogo memória/ esquecimento, vencido pelos grupos sociais dominantes, resulta na imposição da sua memória sob toda a sociedade. Logo, a memória social coletiva aflora historicidade, baseada na valorização que cada sociedade dá ao passado; relações políticas, possibilidades de exercício cívico, ainda que sejam condições mutáveis no tempo e no espaço. Esta memória terá tão mais significado quanto mais

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apelar ao mundo afetivo e particular dos sujeitos, cuja fantasia e nostalgia, talhadas pelas sensações, trarão, de novo, ao presente, o passado. Este, edificado sobre memórias particulares e coletivas (re) compõem a relação entre presente e passado, numa espécie de equilíbrio emocional. Porém, se a maioria dos membros de uma sociedade desconhece, aparentemente, aquilo que é o seu património, o seu legado do passado, ou não são capazes de o reconhecer, mesmo estando eventualmente na sua presença, mas simultaneamente, é sua herdeira, como assegurar a sobrevivência dessa identidade?

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

O DESEMBARGADOR Dr. JOSÉ HOMEM CORRÊA TELLES Delfim Bismarck Ferreira* Nasceu em 10 de Maio de 1780 no lugar de Casal de Maçãs, em Santiago de Besteiros, concelho de Tondela, filho do Dr. Luís Francisco Corrêa, bacharel em Cânones pela Universidade de Coimbra, magistrado, natural de Vila Cova, Torre Deita, e de sua mulher D. Mariana Rosa de Oliveira Teles, natural de Santiago de Besteiros, neto paterno do Dr. Domingos Francisco Corrêa, natural do lugar do Fial, São Miguel do Outeiro, e de sua mulher D. Bernarda Luísa Pereira, natural de Torre Deita, moradores em Vila Cova, e neto materno do Dr. Manuel Homem da Paixão, natural do lugar de Molelos, e de sua mulher D. Helena Jacinta de Oliveira, natural do lugar da Portela, ambos da freguesia de Santiago de Besteiros. Foi baptizado a 18 de Maio de 1780 na igreja paroquial de Santiago de Besteiros, pelo Vigário Bernardo Botelho de Magalhães e Cunha, tendo por padrinhos, os tios paternos Dr. Manuel Homem Telles e D. Maria Corrêa, do lugar de Vila Cova, tocando por ela o Dr. Jacob Ferreira.1 Referido algumas vezes como José Homem Corrêa Telles do Carmo, foi educado pelo tio paterno, Padre João Corrêa, cursou humanidades em Viseu, tendo aos quinze anos (1795)2 ingressando na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se formou em Cânones (por volta de 1800). Começou por exercer advocacia em Tondela, e mais tarde (por volta de 1805), à semelhança de seus irmãos Luís3 e Manuel4, leu no Desembargo do Paço5.

Assinatura do Dr. José Homem Corrêa Telles6

Seguiu então a magistratura, exercendo como juiz de fora na Figueira da Foz (1805-1818). Neste período, terá tido um importante papel ao dificultar o abastecimento e a acção das tropas francesas invasoras na chamada 3.ª Invasão, existindo no Arquivo Histórico Militar uma relação dos recibos e vales verificados pelo doutor juiz de fora, José Homem Corrêa Telles, quem contem os géneros fornecidos à tropa francesa nos meses de Maio de Junho de 1812 na vila da * Historiador. 1 - ADVIS, Livro Paroquial de Santiago de Besteiros, n.º 9, Baptismos, fls. s.n. 2 - CASTRO, Z. O, vol. II, 2002, pp. 809-812. 3 - IAN/TT, Leitura de Bacharéis, Luís, m. 13, n.º 10 (1775). 4 - IAN/TT, Leitura de Bacharéis, Manuel, m. 59, n.º 46 (1823). 5 - O processo de Leitura de Bacharéis do Dr. José Homem Corrêa Telles encontra-se junto ao de seu irmão Manuel, e refere que era descendente de pessoas que sempre se tratarão de sua Fazenda, e a ley a Nobreza, lavradores (IAN/TT, Leitura de Bacharéis, Manuel, m. 59, n.º 46 (1823). 6 - ACA, Carta do Dr. José Homem Corrêa Telles para o António Mourão Botelho. Col. do autor.

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Figueira da Foz e Buarcos por José Dolbelk, negociante na mesma e eleito pela câmara para o dito fornecimento. Aí existem ainda mais cinco documentos do seu punho, referentes ao período que vai de 12 de Agosto a 11 de Setembro de 1818. Depois da Figueira da Foz, Corrêa Telles foi nomeado provedor de Viseu (1818-1821). Casou a 12 de Agosto de 1819 em Beduído, Estarreja7, representado pelo Dr. António Joaquim da Silva Pereira Couto, então Corregedor de Viseu, com D. Maria Emília Tavares Fontinha, filha do Alf. José Joaquim Marques de Pinho e de sua mulher D. Maria Luísa Marques Tavares, de Estarreja.

Carta do Dr. José Homem Corrêa Telles para o Cap.-mor António Mourão Botelho8, de Angeja, datada de Estarreja, 5 de Maio de [>1817-<1823], sobre questões jurídicas (foros)9

7 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 14, Misto, fls. 126v.-127v. 8 - António Mourão Botelho (7.º avô do autor), nasceu em Angeja, onde foi baptizado em 18 de Janeiro de 1723 (ADAVR, Livro Paroquial de Angeja, n.º 6, Baptismos, fl. 120 v.), foi proprietário e capitão-mor de Angeja. 9 - ACA, Carta do Dr. José Homem Corrêa Telles para o Cap.-mor António Mourão Botelho. Col. do autor.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

No Elogio Histórico de (…) Correia Telles,Viriato Faria Blanc defende que, dos cargos exercidos, o único que constituiu uma recompensa política foi o de provedor de Viseu, já que a oposição de Corrêa Telles aos franceses ter-lhe-ia valido o reconhecimento de Wellesley. No início de 1821 foi eleito pela primeira vez deputado, pelo círculo da Beira, para as Cortes Constituintes, fazendo juramento e tomando posse em Fevereiro de 1821, passando nesse mesmo ano a corregedor cível de Lisboa. Durante esse tempo, viveu em Lisboa, na Rua do Arco, n.º 57, onde habitava também o seu colega de bancada Correia de Seabra, salientando-se ambos pelas posições moderadas na Assembleia. Pertenceu às comissões da Agricultura (1821) e de Legislação (1821) e nas votações nominais defendeu a existência de duas câmaras, o veto suspensivo e a existência do Conselho de Estado. Apoiou a expulsão do reino dos que não jurassem a Constituição, defendendo paralelamente a existência de censura prévia. No primeiro congresso, Corrêa Telles, fez declarações de voto no sentido de não ser atribuída às câmaras a fiscalização da repartição dos impostos directos (…) (1822), bem como sobre o artigo adicional à reforma dos forais (…) “se reduzão a metade os foros e ou pensões estabelecidos nos foraes (…) em consequência do domínio que pelos mesmos forais tinham os senhorios que os estabeleceram”. Não se lhe conhecem intervenções parlamentares no cartismo, no entanto integrou a comissão de Instrução, bem como a do Código Civil e Criminal.10 Em 1822 redigiu um Código Civil que ofereceu a D. João VI, o qual viria a ser editado apenas em 1835. Em 1826 foi reeleito para o cargo de deputado às Cortes. Mas a partir de 1827, fixa-se em Estarreja, uma vez que a partir de Dezembro de 1827 passa a exercer o cargo de superintendente das obras da Barra de Aveiro, com o predicamento de desembargador ordinário da Relação e Casa do Porto11. Em 1830 publica o Manual do Tabellião ou ensaio de jurisprudência eurematica. Entretanto, a sua vida sobre um revés, falecendo D. Maria Emília a 11 de Outubro de 1831 no lugar de S. Tiago de Beduído, Estarreja, onde foi sepultada na igreja paroquial na sepultura de pedra mais negra no dia 1312. Por Estarreja se iria manter Corrêa Telles até cerca de 1835. É precisamente neste ano que é editado o Código Civil acima citado, sob a designação de Digesto Portuguez ou tratado dos modos de adquirir a propriedade, de a gozar e administrar. Esta obra conciliaria o que de melhor havia na antiga legislação portuguesa com as novas ideias. Permitiu aos irmãos mais novos a continuação dos estudos. Teriam sido, aliás, estas circunstâncias familiares que um estudo sobre “prazos de vidas e prazos perpétuos ou fateusins”, referisse o deputado como exemplo da injusta situação vivida então em Portugal (Merêa, 1941). Para se defender destas acusações e relativizar os “princípios” defendidos pela maioria dos liberais, que se propunham acabar com os “restos do passado feudal”, pondo fim aos prazos em vida, Corrêa Telles escreveu o estudo Será ou não conveniente reduzir a prazos fateuzins perpétuos todos os prazos de nomeação em vida?, opondo-se ao projecto-lei de Soares de Azevedo a 8 de Abril de 1835. Em 1836 volta a ser eleito deputado às Cortes, regressando a Lisboa.

10 - CASTRO, Z. O., vol. II, 2002, pp. 809-812. 11 - IDEM, Ibidem. 12 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 15, Misto, fls. 195v-196.

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Manual do Tabelilião, editado em 183013

Digesto Portuguez, segunda edição de 184014

Em 1842, publica o Manual de Processo Civil, que consignava a reforma judiciária. Por fim, a Doutrina das Acções Acomodada ao Foro de Portugal e o Comentário à Lei das Hipotecas. Foi reeleito, uma vez mais, deputado às Cortes em 184715, mas pouco depois, o Dr. José Homem Corrêa Telles viria a falecer 3 de Julho de 1849 em Beduído, Estarreja, onde foi sepultado no dia 4 no adro da igreja de Beduído, ao canto da Capela da Senhora das Dores. Trasladou-se o cadáver para o novo jazigo no dia 25 de Abril de 185016. Do seu casamento com D. Maria Emília, nasceria uma filha, de nome Mariana Rosa Corrêa Telles, proprietária, nascida em 1823 em Beduído, que veio a faleceu solteira e sem geração a 26 de Junho de 1901 em Beduído, Estarreja.17 “A família era conhecida por ser tão nobre de sangue como pela ciência das leis”. Consultado em assuntos de natureza jurídica, Corrêa Telles era referido pela sua “memória tenacíssima, tacto particular nas questões forences (…)”. Segundo os amigos, o exercício da advocacia era uma paixão para Corrêa Telles, exercendo-a, várias vezes, gratuitamente.18

13 - Col. do autor. 14 - Col. do autor. 15 - CASTRO, Z. O., vol. II, 2002, pp. 809-812. 16 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 43, Óbitos, fl. 28. 17 - ADAVR, Livro Paroquial de Beduído, n.º 106, Óbitos, fls. 6-6v., reg. n.º 27. 18 - CASTRO, Z. O., vol. II, 2002, pp. 809-812.

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

Estátua do Dr. José Homem Corrêa Telles existente no Tribunal Judicial de Viseu19

Casa dos Corrêa Telles, em Beduído, Estarreja – Século XIX Demolida em 201220

A casa onde viveu e faleceu era conhecida pela sua notável biblioteca. Situada na Rua Desembargador Corrêa Telles, apresenta características de ter sido edificada no final do século XVIII ou início do XIX. Aqui residiu o célebre jurisconsulto Dr. José Homem Corrêa Telles, e a descendência de seu irmão Dr. Manuel Homem Corrêa Telles.

19 - Fotografia gentilmente cedida por seu sobrinho-trineto Prof. Doutor Martim de Albuquerque. 20 - Foi pedida a sua classificação como Imóvel de Valor Cultural Municipal, pela ADERAV, a 17 de Julho de 2003 (AAVV, 2003, p. 157), classificação essa que nunca foi efetuada pela Câmara Municipal de Estarreja.

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Mausoléu onde repousa o Desembargador Corrêa Telles, no cemitério paroquial de Beduído, Estarreja

AQUI JAZ O DESEMBARGADOR JOZE HOMEM CORREA TELLES Nasceo em S. Thiago de Besteiros 10 de Maio de 1780 Morreu em Estarreja a 3 de Julho de 1849

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DELFIM BISMARCK FERREIRA

Placa toponímica em azulejos, com o seu nome (com grafia actualizada) na rua em que viveu, em Estarreja. Cerâmica do Outeiro, Águeda (1960)

BIBLIOGRAFIA Manuscrita ACA – Arquivo da “Casa do Agro”, Albergaria-a-Velha, col. do autor Carta do Dr. José Homem Corrêa Telles para o António Mourão Botelho ADAVR – Arquivo Distrital de Aveiro: Livros Paroquiais de Beduído – Estarreja ADVIS – Arquivo Distrital de Viseu Livros Paroquiais de Santiago de Besteiros IAN/TT – Instituto de Arquivos Nacionais / Torre do Tombo Leitura de Bacharéis Impressa AAVV, Patrimónios, Aveiro, ADERAV – Associação para o Estudo e Defesa do património Natural e Cultural da Região de Aveiro, n.º 3, Ano XXIV, II Série, 2003. CASTRO, Osório de Castro (Org.), Dicionário do Vintismo e do primeiro Cartismo (1821-1823 e 1826-1828), Lisboa, Assembleia da República/Edições Afrontamento, 2 volumes, 2002. MATOS, Lourenço Correia de, “Origens e Percursos Sociais dos Constituintes de 1821-22”, Revista Lusófona de Genealogia e Heráldica, n.º 1, Ano 1, 2006.

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CONTRIBUTO PARA UM INVENTÁRIO HISTÓRICO DA COLETIVIDADE CONCELHIA “O CENTRO” - CENTRO RECREATIVO DE ESTARREJA - CRE, NA CELEBRAÇÃO DO SEU 105º ANIVERSÁRIO José Fernando Correia* E poderá ter sido assim que tudo começou … “ Chegava ao fim um quente Domingo de verão, dez dias passados sobre o início do mês de Julho da primeira década do Século XX. Reinava então D. Manuel II, mas não iriam sequer passar três meses até que a República viesse substituir a quase milenar monarquia que governara o País durante aproximadamente oito séculos. Ventos de mudança histórica e social começavam pois já a levantar brisa nesse final de tarde e mansamente atravessavam a PraçaVasco da Gama, bem no centro de Estarreja, na esteira dos passos de um grupo de moradores e vizinhos locais que, calma e lentamente, se vão dirigindo para uma casa alugada num espaço a nordeste dessa Praça, quase no limite nascente da rua dos Mortáguas e no enfiamento em direção à rua das Amoreiras. São 47 ao todo e acabaram à pouco de bater no relógio da Câmara as 6 horas da tarde. Chegam trazidos por diversos motivos. Uns sabem ao que vão e querem fundar uma associação que permita a entrada a um estrato social emergente, de comerciantes e funcionários públicos, até então marginalizados por uma elite burguesa e aristocrática. Outros ainda vão arrastados pela curiosidade de um anúncio saído no dia anterior no “Jornal de Estarreja”, que noticiava: “Novo Club - um grupo de rapazes da nossa villa anda empenhado na formação d´um novo Club, tendo jáa, ao que nos consta, capital bastante para a sua instituição. É uma medida que nos apraz noticiar, porque da formação do novo Club não advêm senão benefícios, representando para a villa um melhoramento apreciável. A fim de se apreciarem os Estatutos e nomeação dos corpos gerentes, convidam-se todos os sócios fundadores do novo Club a comparecer no próximo domingo, 10 do corrente, pelas 6 e meia horas da tarde, na casa do Ex.mo sr. dr. Henrique Souto, sita na rua dos Mortáguas, d´esta villa ” Na sua maioria terão acabado de merendar com as famílias no único dia de descanso que a semana lhes deixou. Outros, nem por isso, pois terão passado a tarde nas margens do Antuã, nadando ou pescando, e uns quantos batendo umas cartas com os amigos, numa casa de pasto daVila. Mas todos vão ter de aguentar até à ceia para dar mais algum aconchego ao estômago. A causa, porém, parece justificar o sacrifício …

* José Fernando F. Correia nasceu em Novelas, Penafiel, mas logo à saída da Escola Primária vem viver para Estarreja na onda migratória industrial que assolou esta região no final dos anos cinquenta do século passado. Sessenta anos passados sobre essa chegada, sente-se um filho adotivo bem tratado e um Estarrejense agradecido à terra que lhe deu novas raízes e oportunidades. Casado com a sua namorada desde os bancos do Colégio, também ela filha de migrantes industriais vindos do norte, é um orgulhoso pai da Patricia e da Gilda. Com uma vida profissional exercida sempre no Concelho, procura retribuir o que Estarreja lhe deu e dá, participando nas formas em que poder ser útil na vida comunitária e associativa, e procurando saber mais sobre o passado, as gentes e as memórias destas “ Terras de Antuã”.É desta forma que assume a presidência do Centro Recreativo de Estarreja, sucedendo ao malogrado Nelson Agra, amigo que havia exercido esse cargo durante os anteriores vinte anos, no espirito dessa amizade antiga e na gratidão a uma Coletividade que tanto lhe deu e a tantos outros de tantas gerações, num histórico e intenso percurso de utilidade comunitária, de que aqui se pretende dar um resumo.”

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JOSÉ FERNANDO CORREIA

Nessa caminhada, um deles leva sobraçando um solene e grosso livro de linhas, com capa dura de cartão e lombada de carneira, enquanto segura na outra mão um estojo de escrita. Vão entrando, uma meia dúzia mais ligeira ou fisicamente mais necessitada, senta-se nas poucas cadeiras existentes, e os restantes vão ficando de pé olhando para a mesa a que se sentam dois deles. O tal senhor do livro de linhas e capa de cartão, que de forma calma e ar de treinada disciplina abre e, molhando o bico da pena no tinteiro, com caligrafia de artista começa a escrever: “ Aos dez dias do mês de Julho de mil novecentos e dez, pelas sete horas da tarde, presentes em casa alugada para o Centro Recreativo de Estarreja, se reuniram os identificados presentes.” E passa a registar o nome dos presentes. Chama-se este informal secretário Cândido da Costa Mortágua, que terminada a tarefa, dá a palavra ao seu companheiro de Mesa, Arnaldo Cândido Duarte da Silva,“para explicar o fim daquela reunião”. Levanta-se o Arnaldo e solenemente pronuncia: “Está aberta a Sessão para a constituição do Centro, e proponho para a presidência dos trabalhos António Maria Dias da Silva, que conjuntamente com o Cândido Mortágua e o Arthur Braga, constituam a primeira Mesa. Postos de seguida à discussão, os Estatutos são retocados aqui e ali e por fim aprovados por unanimidade e aclamação. Cumprimentam-se todos os presentes com visível satisfação e esperança no futuro da vida da comunidade local, agora enriquecida com aquela iniciativa. São agora quase nove da noite e o Sol acabou de se pôr, mergulhando num mar não muito distante para algumas horas de descanso. Também estes fundadores vão saindo em pequenos grupos, mergulhando no crepúsculo desse final de tarde de verão, uns atravessando a Praça, outros descendo a Avenida para a Estação, outros ainda virando para Norte na Rua daVila. Atrás deles ficava história feita. Acabava de ser fundado o “Centro Recreativo de Estarreja.” Introdução Historiar o percurso da Coletividade “Centro Recreativo de Estarreja”, que a partir daqui designaremos apenas pela forma como sempre foi mais conhecido e referenciado de “ O Centro” é, de alguma forma, historiar a vida do centro urbano da Vila/Cidade de Estarreja no seu último século de vida, mais em concreto a partir de 10 de Julho de 1910, quando a coletividade é fundada. Instalado a partir daí em diversas Sedes, nunca o Centro se afastou mais do que um raio de cem metros do edifício dos Paços do Concelho e da sua “ Praça Maior” onde sempre se albergou, cresceu e viveu. Coletividade pensada como alternativa de resposta social a um status mais elitista então vigente, cresceu e maturou-se num clima de contestação ao imobilismo e conservadorismo. Por via dessa irreverência associativa, viveu e sofreu lutas internas e externas, que inevitavelmente deixaram indisfarçáveis cicatrizes e que fizeram do Centro uma das mais resilientes Coletividades Concelhias. Nascido em tempos de agonia do sistema monárquico, cresce com as sucessivas crises da jovem República, sofrendo ainda lactante as dores da primeira das grandes guerras mundiais. É como jovem coletividade adolescente que se afirma num contexto social e político do Estado Novo, vendo algumas das suas iniciativas perturbadas pela censura de novas ideias e limitadas liberdades nos seus projetos, ao passo que se despedia de muitos dos seus jovens associados que partiam, uns para destinos migratórios à procura de novas oportunidades de trabalho e de vida (curioso como a história se repete…), outros para teatros de uma guerra colonial longa e longínqua.

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Quando chega a Revolução de Abril e toda a agitação social, política e cultural que lhe advém, é o Centro uma Coletividade madura e experiente, com alicerces na vida local que se virão a revelar fundamentais na sua capacidade de resistência, combatividade e sobrevivência, competências que lhe viriam a ser determinantes para resistir às vicissitudes que se apresentaram. Vítima de um contencioso de contornos vincadamente políticos, o Centro é logo no início da década de oitenta desalojado de uma Sede recentemente por si recuperada e dignificada, e passado à condição de sem abrigo e muito próximo da “clandestinidade” associativa. São mais de dez anos de combate judicial e de vontades em confronto, numa proporção de um “David Centro” contra um “Golias autárquico”. Mas também aqui, e felizmente, a história repetiu-se. Ganha esta causa, o Centro renasce numa nova Sede, e procura retomar as possíveis atividades, numa adaptação aos novos tempos e às novas realidades. Coletividade madura, o Centro apresenta-se agora exibindo, mais do que esperadas e justificadas rugas, pequenas cicatrizes de quem lutou e viveu. Durante estes mais de 100 anos passados, viveu períodos de esplendor e de penumbra, de casa cheia e de solidão, habitou palacetes e aboletou-se como um qualquer sem abrigo. Mas soube sempre fazê-lo digno e vertical, vivendo e sobrevivendo, temperando gerações e gravando memórias coletivas. E de tal forma o fez, em quantidade e diversidade, que a maior dificuldade em historiar o seu percurso é o de estabelecer qual o melhor fio condutor para contar essa sua vida. Se o descritivo das suas atividades e realizações, se o relato das crises e ressurgimentos, se o da mera sequência cronológica. Nesta dificuldade de opção, a escolha foi no sentido da simplicidade linear da fita do tempo, com o desfiar ao longo da sua mais que centenária existência, dos marcos que resultaram na sua história e das estórias que deixaram marcas, introduzindo, quando se pense oportuno, extratos de documentação histórica que possam dar mais realidade e substância ao que tiver sido descrito. Igualmente como opção, dedica-se mais espaço às décadas iniciais, por se entender terem sido tempos mais pioneiros e de maior diversidade social e cultural relativamente aqueles que mais proximamente vivemos. Dir-se-ia que, um pouco à imagem de muitas outras questões sociais, culturais e mesmo económicas do nosso espaço histórico do século XX enquanto povo e país, haverá uma época e um Centro antes e depois da revolução sócio-política de Abril de 74, que alteraram práticas e rotinas associativas. O passado mais recente está mais latente e vivo, em factos e personagens, necessitando portanto de menor espaço e linhas para se manter atual e entendível aos olhos do presente. Compreender-se-á pois a atração pelo recuperar de memórias já sem voz, mas apenas vivas por fotos e documentos, e que tornam a sua descrição mais espraiada pelo prazer da patine dos tempos que não vivemos e que surgem enriquecidos pela fertilidade da imaginação: como terá sido viver naqueles ritmos, naquelas regras, naqueles ambientes?… Comecemos, pois.

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1910 – 1920 A Fundação do CRE – No princípio foi assim; As Sedes; O Teatro Amador; A Guerra… A 10 de Julho de 1910, o Centro Recreativo de Estarreja – CRE, é fundado em Beduído, Freguesia sede de um Concelho de Estarreja, então com diferentes fronteiras geográficas e administrativas daquelas que tem hoje, por 47 Estarrejenses por nascimento ou por coração, tal como consta da histórica Acta nº 1 da Sessão preparatória então celebrada, que de seguida se transcreve respeitando a ortografia original: “ Aos dez dias do mês de Julho de mil novecentos e dez, pelas sete horas da tarde, presentes em casa alugada para o Centro Recreativo de Estarreja, os sócios do mesmo António Maria Dias da Silva, Manuel Valente de Almeida e Silva, José Maria de Pinho, Luís Marques Cabilhas, Ezequiel da Silva Pinho, Francisco da Silva Miranda, José Gonçalves de Carvalho, António Maria Leite, Manuel Rodrigues Santos Silva, José Maria Dias da Silva, Carlos da Costa Mortágua, Manuel Soares Ferreira, António Baptista Pinho, Manuel Maria da Costa Mortágua, António da Silva, Custódio Simões Fernandes, João Marques Cabilhas, Francisco José Bandeira, Amílcar Sande Botte, Cândido da Costa Mortágua, António d´Almeida Pessoa, José Maria Ventura, João Marques Tavares, José Maria d´Oliveira, António Maria de Matos, Arnaldo Cândido Duarte da Silva, António Pimenta Rey, Augusto José Ferreira, Albano Luíz Nunes, António Joaquim da Cunha, José Soares da Silva, Joaquim Marques Cabilhas Júnior, Manoel da Silva Nordeste, José Marques d´Oliveira e Silva, Rodrigo Leite d´Azevedo, Caetano d´Azevedo Pereira, Carlos Alberto da Costa, António da Silva Pedroso, Francisco Alves Martins, Arthur Braga, faltando por motivos justificados os sócios António Maria d´Oliveira, Francisco d´Oliveira Marques, José Rodrigues da Costa, João da Costa Rodrigues, Joaquim Maria Bandeira,Vasco Marques Valente e Francisco Alves Martins; tomou palavra o sócio Arnaldo Cândido Duarte da Silva, para explicar o fim d´aquella reunião, sendo logo após escolhida, por aclamação a mesa provisória destinada a dirigir os trabalhos da sessão, recahindo essa escolha nos sócios António Maria Dias da Silva, como Presidente; Cândido da Costa Mortágua e Arthur Braga como secretários, os quais tomaram imediatamente os lugares previamente designados para tal fim. Em seguida mandou o Presidente que o primeiro Secretário, cândido da Costa Mortágua lesse os estatutos que dois dos sócios haviam confeccionado, o que o mesmo Secretário fez, com voz clara de modo a ser por todos houvida. Aprovados os estatutos com ligeiras alterações foi proposto, também por aclamação, que uma Comissão composta pelo Presidente da mesa, António Maria Dias da Silva, e dos sócios João Marques Tavares, Francisco da Silva Miranda e Arthur Braga, fosse encarregada de promover a completa instalação do “Centro”e autorizada a adquirir o mobiliário e tudo o mais que fosse preciso para este fim, e ainda a convocar uma Assembleia Geral dos sócio fundadores quando o julgassem oportuno para dar conta dos seus trabalhos; que interinamente fosse nomeado o sócio José Maria Dias da Silva como tesoureiro, com poderes para satisfazer as importâncias que a Comissão encarregada da instalação precisa para esse fim, mediante recibos devidamente autorizados pelo presidente da referida Comissão; que na Acta fosse exarado um voto de louvor aos sócios Manuel Valente d´Almeida e Silva e Arnaldo Cândido Duarte da Silva por elaborarem os estatutos, e bem assim um voto de agradecimento ao Exmo. Senhor Francisco d´Almeida Eça por os coadjuvar nesse trabalho. E não havendo mais nada a tratar, o Presidente, encerrando a sessão disse que uma nova sessão se devia efetuar em dia que previamente fará anunciar, a fim de serem eleitos os corpos gerentes, propondo ao mesmo tempo, que todos os sócios presentes assignassem esta Acta para se lhe dar inteira execução, o que foi votado por aclamação.” Seguiam-se as assinaturas.

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Embora se encontrem por vezes referidos outros nomes como sendo de fundadores do Centro, o facto é que apenas os acima listados, são os que constam dessa Acta primeira do livro nº 1 do CRE, como se poderá constatar da cópia que se evidencia de tal documento.

Extrato da Cópia da Acta nº1, onde se veem algumas das assinaturas dos Sócios Fundadores.

Dando um pouco mais de atenção aos nomes desses homens, que há mais de um século decidiram empreender a constituição daquela que é uma das mais antigas agremiações do Concelho de Estarreja com fins Recreativos, Culturais e Desportivos (sendo apenas ultrapassada em antiguidade por duas Bandas Filarmónicas, a Banda Bingre Canelense e a Banda de Pardilhó), encontram-se nessa listagem apelidos identificativos de várias famílias locais, hoje já nas suas terceira e quarta gerações. O “Centro” terá pois nascido como uma resposta social a uma outra coletividade então existente, o “Club de Estarreja”, a qual agregava a chamada “aristocracia local”, constituída por famílias tradicionais de linhagem de sangue ou de influência social, bem como alguns funcionários de estatuto administrativo e judicial mais elevado. Sobre esse “Club”, que ainda viria a ter a designação posterior de “Grémio de Estarreja” e acabou por vir a ser extinto em 1930, é curiosa a descrição de um detalhe que dele faz Augusto Marques de Oliveira e Silva: “… o Grémio exibia na varanda da casa que ocupava, (onde esteve depois a sede de Legião Portuguesa e hoje é o 1º andar da ourivesaria Cristal), uma tabuleta, muito chic e presumida, com uma legenda em francês: “Au Rendez vous Elegant”. Pois então, francesismo era fino …”

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Assumindo-se assim como uma oposição frontal a esta coletividade, a génese do “Centro” tem lugar no seio da pequena e média burguesia do centro urbano da Vila, apoiando-se essencialmente nos emergentes comerciantes e empresários e funcionalismo público intermédio, constituindose à época aquilo a que hoje se chamaria “a classe média”. Após a sua fundação formal a 10 de Julho de 1910, só no abrir do ano seguinte, no seu primeiro dia de Janeiro, uma Assembleia Geral aprova a sua instalação numa Sede Social, arrendada com o valor mensal de dez mil réis e acordada por um período de dez anos.

A 1ª Sede terá estado alojada nesta casa, propriedade de um dos Sócios fundadores, António da Costa Mortágua, e aí terá permanecido pouco mais de 3 anos. Mais tarde nesta mesma casa, funcionou durante muitos anos, o Salão Evangélico de Estarreja.

Ficava essa primeira Sede instalada num imóvel de propriedade de um dos fundadores, o António da Costa Mortágua, ao fundo da antiga praça do peixe, e onde depois e durante muitos anos iria funcionar um Salão Evangélico. Hoje em dia essa casa ainda lá está, na Rua Dr. Souto Alves, com a sua fachada em azulejos de desenho geométrico em tons de azul-escuro e castanho, e a inscrição “1911 Villa Costa”, de onde desde logo se infere o nome da família sua proprietária e a data da conclusão do imóvel, precisamente a mesma em que o Centro ali inicia a sua atividade, o que faz deduzir que terá ido ocupar uma casa novinha a estrear. Entretanto, a Comissão Instaladora havia já adquirido mobiliário e outros equipamentos necessários ao funcionamento da associação, recorrendo para isso à realização de quermesses para angariação de fundos (então, como agora e sempre, o dinheiro era escasso e havia que trabalhar criativamente para o conseguir…)

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Chega-se a Fevereiro e no seu dia 19 é empossada a primeira Direção do Centro, a qual tem como presidente Arnaldo Cândido Duarte da Silva, e nos restantes lugares da Direção Cândido da Costa Mortágua, Tomaz António Domingues, António Joaquim da Cunha e Carlos da Costa Mortágua, que logo na sua posse delibera continuar a apetrechar a Sede e, decisão ainda mais importante e demonstrativa do entusiasmo existente, marca a data de 27 de Fevereiro para a realização do formal “Baile de Inauguração”. Chegada essa noite, inicia-se com este primeiro evento social e lúdico da vida do Centro, ao abrigo de um conjunto de normas a praticar, sendo, como curiosidade referir algumas delas: Festas e Bailes não se poderiam prolongar para além da meia noite; Proibida a venda de bebidas alcoólicas, excepto cerveja e refrigerantes, justificando: “porque não se podia tolerar que tal costume, impróprio da garantia ao respeito e consideração devida a esta Associação, que mais se criou para a educação, do que para nela se haverem e efeito aqueles e outros exemplos que só servem para degenerar a sociedade” Logo no mês seguinte, a 22 de Março, realiza-se uma cerimónia na Sede, na presença de todos os Corpos Gerentes e a maioria dos Sócios e outros convidados, para a entrega da primeira bandeira do Centro, numa oferta do sócio Manuel da Costa Mortágua. Em retribuição, a coletividade coloca na Sede um retrato (supõe-se que seria uma fotografia que na época se designava vulgarmente por retrato) do sócio ofertante. Fazem-se vários discursos, sendo Francisco da Silva Miranda, Arthur Braga, Francisco Bandeira e António Maria Leite os principais oradores. Tudo parece correr bem e investimentos em apetrechos e equipamentos são feitos: comprase uma bancada para os teatros, explora-se um animatógrafo para exibição de películas da recente 7ª Arte, fazem-se frequentes bailes e são levados a cena espetáculos de teatro e variedades, conduzidos na sua maioria pelo ator Alfredo Santos. Os anos começam a passar e o de 1913 parece trazer com ele, na sua terminação associada a uma superstição aziaga, algum azar. Em Abril desse ano, é recebida uma carta do senhorio da Sede, que reagindo mal a uma sugestão de abaixamento da renda acordada, decide rescindir o contrato de arrendamento. Gera-se um conflito entre as partes, convoca-se uma Assembleia Geral, da qual sai no essencial, a decisão de se procurar uma outra casa para instalação da Sede do “Centro”. E a meio do ano, uma Assembleia Geral informa os sócios de que se havia conseguido uma Sede provisória, em casa localizada na PraçaVasco da Gama (como então se chamava a atual Praça Francisco Barbosa), por cima da Farmácia Leite e graciosamente cedida pelo seu arrendatário, o Senhor Manuel Maria Leite, e com a prévia anuência da proprietária do prédio, a Senhora Dona Maria Emília Branco de Melo, mas com as condições de ser guardado o máximo silêncio e respeito, tendo sido previamente ouvido o vizinho do lado, o senhor Filipe Themudo. Era uma solução provisória, pois com tantas limitações de silêncio e quietude, as atividades do “Centro” ficavam fortemente limitadas. Esta foi, embora por apenas poucos meses, a segunda Sede do “Centro”, pois logo no início de 1914 é celebrado contrato de arrendamento, pelo valor de uma renda anual de cinquenta e cinco escudos, de uma casa situada na Rua 5 de Outubro (a data da implantação da República que havia ocorrido pouco mais de três anos antes e hoje com o topónimo de Rua Dr. Souto Alves), no andar superior do armazém da firma J. M. Tavares & Cª. Ltd., e de propriedade do sócio Tomaz António Domingues. Esse imóvel, situado em frente dos atuais espaços comerciais da Foto Fascínio e Agência de Viagens Turvela, hoje já demolido, foi mais tarde também Sede da Banda Municipal de Estarreja. E durante os seguintes vinte e três anos, esta permaneceria como a terceira Sede do “Centro”. Começa a partir daqui, com melhores e maiores instalações, a evidenciar-se uma íntima ligação entre o CRE e várias formas de representação teatral. A primeira referência que se encontra dessa ligação é logo em 1914, com o aparecimento do “Grupo Dramático Luz e Esperança”, composto por

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sócios e amigos do “Centro”, onde pontificam Alexandre da Siva Miranda, Manuel Lourenço, José Teixeira, Pedro Marques, Américo Pereira, Manuel Garrido, Fernando da Silva, Deolinda Miranda, Alberto de Oliveira, Margarida da Silva Viana, Margarida Emília Mendes e José O. Marques. Este elenco, que tinha nas funções de “ponto” Francisco Miranda, na “caracterização” Manuel Andrade e na “Direcção musical” Manuel Pedro Calado, levam à cena, quase de rajada, os seguintes programas: em Abril a comédia ”Educação inglesa”, a cançoneta “Descarrilar”, o monólogo “O Incêndio”, e as peças “A Fonte do Operário” e “Os Três Sacristas”, para logo de seguida em Maio voltarem com a comédia “Conspiração”, o drama ”Maldição” e as cançonetas “Ai Cheliques, Chiques, Chiques” e “”Revisor do Comboio”. Não descansam, e chegado Junho é a vez do drama “Veterano da Liberdade” e da comédia “Morrer para ter dinheiro”. Ligeira pausa de dois meses, para no findar do Verão, voltar à cena em Setembro, com o drama em 3 actos “ Um erro judicial” e a comédia “Os dois Sacristas”. Regressam em Fevereiro de 1915, com um espetáculo de Carnaval (era expressamente assim referido no Cartaz, no que terá sido uma das primeiras, se não a primeira organização pública festiva associada ao Carnaval realizada em Estarreja), com as comédias em 1 ato “Doido por conveniência”, “Morrer para ter dinheiro” e “Pouca vergonha”, com os preços de 250 reis por cadeira e 150 reis por geral. Deste inventário de cartazes e peças produzidas e representadas, ressaltam algumas possíveis conclusões que nos arriscamos a avançar: - A prolífera produção do Grupo, que colocava em cena quase que um espetáculo por mês, seria indicador de grande entusiasmo e de audiências garantidas; - a diversidade dos estilos e conteúdos de cada programa, incluindo no mesmo reportório comédia, drama, monólogos e números musicais, seguramente que estaria na linha do que era uso e gosto na época de apresentar em casas de espetáculos e saraus privados: e finalmente, o cessar súbito de tão frenética atividade (só se voltará a obter registo de nova manifestação teatral em 1923, como adiante se verá), sugere-nos que a explicação mais lógica para este interregno terá sido a da eclosão a 24 de Julho desse ano de 1914 da Primeira Grande Guerra e os anos que se seguiram de enormes dificuldades, dramas e traumas pessoais e familiares, sendo que o contexto nacional com as convulsões sociais e políticas dos primeiros anos da República também não ajudavam ao aparecimento de espíritos disponíveis para atividades lúdicas e cénicas.

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1920 – 1930 O Piano; A Batalha das Flores e as Raízes do Carnaval Terminada a década anterior, convulsionada pelo conflito bélico e pelas constantes perturbações e instabilidade interna, fortemente abalada com o assassinato de Sidónio Pais em Dezembro de 1918, a atividade do Centro nesse período não pode deixar de se ressentir de toda esse envolvência, até que em Maio de 1923, se volta a ter conhecimento de um ressurgimento, com o agora designado “Grupo Cénico do CRE”, a disponibilizar-se para uma Récita de angariação de fundos, em conjunto com o Orfeão de Estarreja e a favor da constituição da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja. Os bilhetes para o sarau são postos à venda nas barbearias José Pinto de Sousa, Casa Pessoa e Casa Andrade e ainda no estabelecimento de António Ferreira. A representação teatral vem a ter lugar a 3 de Junho desse ano, num sarau no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com a apresentação das peças “O Primeiro beijo” e “Mater Dolorosa”, ambas de Júlio Dantas, e “Pobreza, Miséria e Cª”, de Eduardo Coelho, sendo todas elas de 1 só ato e tendo como elenco Ernesto Oliveira e Silva, João António Gaspar, Maria José de Miranda, Margarida Mendes, António Marques Oliveira e Silva, José Correia e Alexandre Miranda. O Salão Nobre apresentou-se repleto e a representação foi um tremendo êxito, tendo em particular a atuação da Margarida Mendes (proprietária da Pensão Tota, sogra de José Bernardino Ferreira Pinto que cerca de trinta anos mais tarde seria um dos principais interpretes da revista “Nada de Confusões”, no papel do compére brasileiro Roque de Pepino), na peça “Mater Dolorosa”, ter sido reconhecida pela imprensa nacional, com um artigo no “Comércio do Porto” de tal modo elogioso, que provocou mesmo uma carta do próprio autor da peça, o grande escritor e dramaturgo Júlio Dantas, elogiando a sua brilhante interpretação e “dando-lhe os parabéns pela forma natural, objectiva e brilhante como tinha interpretado o papel da personagem principal…”. Desse Sarau resultou o lucro líquido de 460$00 (quatrocentos e sessenta escudos) que foram entregues ao presidente da Comissão Organizadora da Misericórdia de Estarreja, Dr. José Marques Pereira Barata. O Centro vai-se assim estabilizando e pressente a necessidade de invadir outras áreas da cultura e do recreio. A Música, sempre ligada à produção cénica e que tinha já no Concelho uma atividade estimada e pujante, leva a que em 1923 a Direção em funções avance para a possibilidade de compra de um piano, o que se terá processado mais ou menos assim: Decisão tomada, é feito um plano e no despertar da manhã de 2 de Fevereiro, bem cedinho, juntam-se na gare da Estação da CP, os três sócios que haviam sido indigitados pela Direção para irem ao Porto ver de um piano para o Centro. Está frio e vem uma morrinha do lado do Esteiro, mas o comboio correio de Aveiro para o Porto não se atrasa muito e sobe-se a bordo. Espera-se mais um bocadinho para que a máquina acabe de meter água para a caldeira, o chefe da estação levanta a bandeira, toca a corneta de latão e grita:“Partida!”. E aí vão eles, em carruagem de 3ª para poupar uns tostões, sacolejando nos bancos de madeira até São Bento, onde chegam hora e meia depois.Visitam as casas de música que tinham sido faladas como aquelas que eram mais importantes e acabam por estar de acordo com o modelo a propor para aquisição, um piano vertical de garantida categoria. Durante todo o dia só pararam para comer uma bucha ali perto de Cedofeita e regressam no tranvia do final da tarde. Quando chegam a Estarreja já é noite e está ainda mais frio que de manhã. Sobem os três a avenida da Estação, batendo as botas no chão de macadame, que se não lhes aquece os pés frios vai aquecendo os corações cheios de uma certeza: levaram a “carta a Garcia” e carregam muitas novidades para serem discutidas e decididas.Trazem também, no bolso de um deles, o orçamento para tudo que é preciso mais as contas do que se gastou em bilhetes de comboio e elétrico e os três almocitos, o que apesar dos cuidados

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frugais ainda levou tudo a uma despesa de 32$10 (trinta e dois escudos e dez centavos). Quase duas semanas se passam a discutir o piano, não tanto o modelo que foi fácil acordar, mas sim como arranjar dinheiro para o pagar. Que o piano é necessário, ninguém discorda, é essencial para se avançar com as aulas de música, récitas, festas e peças musicais. Mas o mais complicado é arranjar o capital. Porém na noite de 14 de Fevereiro sai “fumo branco”. O sócio Francisco Miranda, pai de Alexandre Miranda que mais tarde será também um dos pilares do Centro e seu sócio de Mérito, abona os necessários 7.000$00 (sete mil escudos) para comprar o tão desejado instrumento, através de um empréstimo a ser pago a um juro de cerca de 5%. Faz-se o prudente seguro para o transporte do piano desde o Porto, o que ainda leva mais 27$31 do depauperado cofre, e finalmente, a 11 de Maio chega o piano à estação da CP. Lá se gastam mais 20$00 para o transporte, que é feito em carro de bois até á Sede, onde por fim se instala. Depois foi só afiná-lo… e pagá-lo, o que ainda levou 3 anos a ser feito, honrando o compromisso assumido com o sócio que possibilitou a sua aquisição. A fechar esta década, dois sócios do “Centro”, José de Oliveira Marques, moço destemido e de rara iniciativa e que a morte arrebataria nos seus 30 anos, coadjuvado pelo experiente e sabedor João Fortunato de Pinho, que era ao tempo o Tesoureiro de Finanças do Concelho de Estarreja, decidem promovem por ocasião do Carnaval de 1928 e 1929, duas espetaculares “batalhas de flores”, num recuperação do que havia sido feito em 1912, então patrocinado pelos três irmãos Leite, Joaquim, Ângelo e João António, filhos do professor Agostinho Leite que dá hoje o nome ao troço da EN109 que vai desde a “garagem dos Amarais” até ao cruzamento da “Adega Sport”. Esses irmãos, que haviam feito fortuna na cidade do Pará - Brasil, com uma empresa ligada ao negócio da extração da borracha, custearam esse cortejo que era constituído por carros de tração cavalar, e apenas dois automóveis, os únicos da vila e precisamente de propriedade desses irmãos Leite. Na recuperação de 1928 e 1929 dessas paradas de rua por ocasião do entrudo, e que tiveram grande e justificada repercussão a nível local e distrital, em conjunto com bailes em associações como o Centro e que se iam organizando nessa quadra, terá estado a génese de um espírito carnavalesco que mais à frente foi espreitando em bailes nos Bombeiros, que na década de sessenta eram já pujantes eventos, e em “assaltos” particulares, como então se chamavam aos bailes que se faziam em casa de voluntários anfitriões que se fingiam “surpreendidos” pela entrada em casa de mascarados carnavalescos, no fermento da saída para a rua de pequenos grupos de foliões de alguns lugares da vila (Outeiro da Marinha, Paço, …), até ao consolidar no virar do século do verdadeiro Carnaval de Estarreja, hoje um dos mais significativos e estruturados do país. Mas pelo que se sabe e conhece de documentos e testemunhos, essas “batalhas de flores” estarão historicamente ligadas como uma das principais “causas remotas” dos atuais festejos carnavalescos. 1930 – 1940 Nova Sede-O Palacete deValdemouro; Um dos mais relevantes factos para o futuro do Centro e de toda a sua história, terá sido a resolução em 25 de Janeiro de 1937, de se chegar a acordo com o Senhor Visconde de Valdemouro e Morgadio de Vagos, proprietário nessa época de quase todos os prédios que constituíam o quarteirão delimitado nos seus vértices pela Capela de Sto António, a rua do Cine Teatro (e hoje apropriadamente identificada com o topónimo de Rua Visconde de Valdemouro), a Caixa Geral dos Depósitos e o seu palacete do Século XVIII (hoje Casa da Cultura Municipal mas nessa altura já mais conhecido como a “Casa da Praça”), para a futura instalação da Sede do Centro.

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É nesta casa que o Centro Recreativo vai viver durante alguns meses, tendo desistido desta casa por dificuldades financeiras. Mas logo mais à frente, em 1941, vai voltar de novo e em definitivo à Casa da Praça, e aí manter-se durante as décadas seguintes (até ao seu desalojamento coercivo em 1981, mas isso serão contas do rosário da década de oitenta, de que se falará quando lá chegarmos …, ), sendo todos esses anos marcantes de vida associativa, convívio social, cultural e recreativo, plenos de dramas e alegrias, sucessos e dificuldades, decadência e ressurgimento. 1940 – 1950 Uma década de muito e bom Teatro; Grandes Festas e grandes Bailes Após essas vicissitudes iniciais entre senhorio e inquilino vividas entre os anos 1937 e 1941, a década praticamente começa com o Centro a celebrar a 1 de Julho de 1941, um novo contrato de arrendamento do 1º andar e logradouro do magnífico Palacete deValdemouro/“Casa da Praça”, com a renda mensal de 200$00 escudos (1 euro) por mês, e para celebrar tal ato, renovando uma vocação pelo teatro amador que sempre esteve viva nas primeira décadas da sua vida, o Grupo Cénico leva à cena na comemoração da reabertura da nova Sede, as peças “Nada”, “No Conservatório” e “Inglês e Francês”, ensaiadas por José Dias Simões, então Chefe das Finanças, e que teve como atores os estarrejenses Palmira Góis, Irene Góis, Lucília Ferreira, Clotilde Celeste da Graça e Sousa, Maria Isabel Reis, Maria José Ferreira, Artur Cunha, Alberto Marques Vidal, Aníbal Dias, Carlos Augusto da Graça e Sousa, João Góis, José Mendonça, Joaquim da Silva Mendonça, António Nunes Miranda, Manuel de Almeida Lima, Manuel Góis, Aníbal Vidal e Amílcar Vidal. Nos intervalos das peças foram cantados números musicais por Mimi Iglésias e o acompanhamento musical teve o desempenho de Joaquim Calado, Luís Calado, Joaquim Pinho e Firmino Ferreira Amador.

Este palacete, conhecido como “A Casa da Praça”, foi a mais carismática Sede do Centro e à qual se associam as suas mais doiradas memórias e a realização de grandiosos festejos e eventos. Foi daqui que o centro foi desalojado no dia 13 de Agosto de 1981.

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Quatro anos depois, em 1945, e relançada a Europa para uma recente paz após seis anos de um cataclismo bélico que a deixou com profundas cicatrizes, regressa nova récita com fins de angariação de fundos para o recente Clube Desportivo de Estarreja, com a comédia “Papy”, a opereta “Flor da Aldeia” e variedades com fados e canções. Para além dos já anteriormente referidos interpretes, juntam-se agora os nomes de Joaquim Tavares, Glória Tavares, Eduarda Tavares, Lucília Tavares, José Bernardino Ferreira Pinto, Pedro Vilhena, João Crespo dos Santos, Augusto Coutinho, Luis Vilhena, Carlos Pindo de Sousa e Júlio Santos. Seguem-se em anos próximos novas peças e a entrada de novos intervenientes, como Afonso Moura, Maria Adelaide Monteiro, Homero Coutinho e Luciano Vilar. Em todas estas peças era “ponto” Alberto Augusto Figueiredo Vidal, que do fundo da sua caixa na boca de cena, fazia todos os papéis, transmitindo aos intérpretes o que haviam de dizer e fazer em palco. Para além destas representações e dos seus ensaios e preparação, que envolviam e ocupavam a juventude da Vila, o Centro realizava grandes Bailes, com afamadas orquestras, como a de “Fausto Neves”, a “Vista Alegre”, a “Internacional” de Vagos, a de “Resende Dias” ou a “Palácio” de Espinho, onde se dançavam valsas e tangos, pontificando sempre como bailarino requestado pelos seus dotes em pista, o Francisco Vilhegas, de alcunha o “Chico das Pegas ou das moças”. E dançava-se sem parar até ao amanhecer … Mas entre estes anos da década de 40, a Segunda Grande Guerra foi, independente da neutralidade do país e da sua não participação direta no conflito, um elemento de permanente impacto, discussão e preocupação da sociedade portuguesa. E por isso será talvez pertinente recordar uma descrição feita por um dos seus associados, Luís Vilhena, de como o Centro era o local onde se vivia a dia a dia essa atualidade do conflito. Reporta ele: ”A guerra que há muito assolava a Europa, estava prestes a findar. No Centro Recreativo, um grupo de sócios rodeava o velho rádio de elegante cimeira, postado sobre o balcão de uma lareira numa confortável sala, com as amplas janelas escancaradas sobre um pequeno pátio, recebendo a aragem de uma morna tarde de primavera. O forro verde das mesas de jogo servia de apoio aos cotovelos dos habituais jogadores, no momento mais interessados nas noticias que a Emissora Nacional divulgava, comentando os lances e os reflexos da guerra. A tarde caía e no Centro Recreativo os sócios continuavam firmes, ouvidos pregados na rádio, aguardando a notícia do término da guerra. E ela veio! Logo um brado explodiu daquele grupo, que de imediato se levantou de braços erguidos e repetindo emocionadamente: Viva!Viva!Viva! Elucidativo, de como o Centro era a de facto a “centralidade” da vida da Comunidade e dos seus diversos interesses… 1950 – 1960 A Revista “Nada de Confusões”; O aparecimento daTelevisão e o “altar” que lhe é consagrado. - A década de cinquenta abre com a inauguração no centro da Vila de duas unidades que alteram a sua face de oferta de serviços à população: o Hotel Miranda e o novo Cine Teatro de Estarreja, este a 12 de Março de 1950. Para celebrar a inauguração dessa nova e polivalente Casa de Espetáculos, é preparada e ensaiada durante largos meses, uma revista de costumes, musical, e com o objetivo de angariar receitas para o Clube Desportivo de Estarreja-CDE, que havia sido fundado cinco anos antes. Essa revista, que recebeu o título de “Nada de Confusões”, embora sendo de organização do CDE, tem como o

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verdadeiro suporte os elementos que haviam constituído o Grupo Cénico de Centro e as suas tradições teatrais, é levada à cena pela primeira vez no dia 1 de Abril desse mesmo ano. Desse revista, cuja dimensão e impacto local e regional poderão constituir-se como um verdadeiro “caso de estudo”, a merecer trabalho de investigação e descrição específica, poder-se-á, e dever-se-á contudo, dizer algo mais detalhado porquanto ela foi mais um dos marcos culturais na vida estarrejense que foi chancelada pelo Centro. A comprová-lo, o facto de grande parte do acervo fotográfico e documental dessa revista, ter sido deixado ao Centro, por herança dos herdeiros, e no cumprimento da sua vontade, de um dos seus grandes mentores e realizadores, Alexandre da Silva Miranda, um grande Sócio do Centro e um grande sócio e fundador do CDE, a quem deixamos aqui esta referência como homenagem pelo seu fervor associativo, amor e empenho nas coletividades da sua terra. A Revista “Nada de Confusões”, terá sido talvez o maior espetáculo de teatro de génese local na história de Estarreja, e fica aqui como pública homenagem o conteúdo do seu programa e a listagem dos seus intérpretes, tal como constava dos cartazes da época:

“NADA DE CONFUSÕES” REVISTA - FANTASIA DE COSTUMES REGIONAIS Em 2 Actos e 20 Quadros Director Artístico e Poema: MANUEL CRAVEIRO JÚNIOR Direcção Musical: MARIA AMÉLIA SIMÕES DIAS Músicas de: MARIA AMÉLIA SIMÕES DIAS; AMADEU SANTOS; M. CRAVEIRO JÚNIOR Encenação: ALEXANDRE MIRANDA Coreografia: MANUEL SÍLVIO Guarda Roupa: ATELIERS PAIVA – Lisboa Cenários e Maquetas: M. CUNHA e SILVA (do Teatro Apolo-Lisboa) Contra Regra: JOSÉ MENDONÇA Cortinas: Arranjo de A. MORTÁGUA e JOSÉ MENDONÇA Caracterizador: ÂNGELO SIMÕES CHUVA Ponto: ADALBERTO LOPES Electricista: ANTÓNIO FERREIRA Maquinista: JOÃO FRANCISCO da SILVA BAILADOS e COROS Senhoras: Aida Martins Marques, Ana Rosa de Almeida, Clarinda da Anunciação Gomes Oliveira, Conceição Ramos, Dulce LinharesVidal, Dulce Sá Rodrigues, Esmeralda Tavares Rodrigues, Gertrudes Marques da Silva, Glória Ramos, Guilhermina Ferreira, Irene Pinheiro Góis, Maria Alice Marques Teixeira, Maria EmíliaVieira, Maria Estelina Agra, Maria Inêz Gomes de Oliveira, Maria José Ferreira, Maria de Lourdes Lopes, Maria de Lourdes Tavares Rodrigues, Maria Lucília Ramos, Maria Natalina de Almeida, Margarida de Sousa, Mariana Moutela, Odalela de Santa Helena Bandeira eVera Martins Marques. Cavalheiros: Afonso Almeida Eça, Alberto LinharesVidal, Carlos Tavares, Guilherme Pontes, Hernâni Santos, João Crespo dos Santos, José Maria Lopes da Silva, José Mendonça, Luiz Simão Rebelo Leite de Sousa e Nelson Horta. Tendo a seguinte Distribuição de cenas:

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1º ACTO: 1º - Apresentação; 2º - Praça de Estarreja; 3º - Canados; 4º - Canção das Fontes; 5º Reclamistas e Aldrabões; 6º - Esplanada do Cine Teatro; 7º - Canção do Marinheiro; 8º - Tricanas e Guitarradas; 9º - O que o Brasil tem!; 10º - Carta d´além Mar; 11º - Do Valor e da Saudade; 12º - Mondadeiras 2º ACTO: 13º - Vira Varino; 14º - Á Beira Mar; 15º - Noite de Luar na Ria; 16º - Canteirinhos de Beleza; 17º - Romaria de S. Paio; 18º - Murtosa e Cinturinhas; 19º - Regresso à Praça; 20º Homenagem aos Desportos E tendo nas interpretações, José Bernardino Ferreira Pinto (ROQUE de PEPINO) e José Ferreira Horta (ZÉ PENADO), como Compéres, Edwiges Gondim da Fonseca com “Canção do Marinheiro”; “Amapola”;“Carta d´Além Mar;“Noite de Luar na Ria” e “ Cantarinhas”; Maria Emília Vieira, em Mulher de Veiros; Maria José Ferreira: “Canados” e “Canteirinhos de Beleza”; Maria de Lourdes Lopes, em “ Serrana” e “Velhinha da Praia”; Irene Góis em “Canção das Fontes”; “O que o Brasil tem”; “Mondadeiras” e “Romaria”; Odalela Magno Bandeira em “Groom da Esplanada”; Lucília Horta em “Romeira”; Aida Martins Marques em “ViraVarino”; Dulce Vidal, em “Turista”; João Crespo dos Santos com “Serrano - Aldrabão” e “Romaria de S. Paio”; Vera Martins Marques em “Goiabada”; Clarinda Gomes Oliveira em “Arroz Dôce”; António Augusto Fernandes como “Romeiro”; Artur M. de Matos com “Tricanas e Guitarradas” e “ViraVarino”; Artur Cunha em “DoValor e da Saudade”; Luiz Vilhena com “ Reclamista” e “Carlos Meneres”; Alberto Vidal em “Ciclista” - Em 1957 começavam as emissões da Televisão no País, e os serões familiares ou em coletivo, nunca mais voltarão a ser os mesmos. O Centro, atento e acompanhando sempre ao tendências culturais e lúdicas de cada época, compra um televisor, um luxo a que nesses primórdios televisivos poucos tinham acesso, e instala-o em cima de um pedestal, qual “altar de templo” virado para uma assembleia de cadeiras, com espaço no Salão de Festas, sala onde hoje se fazem as exposições de pintura na Casa da Cultura Municipal. Eram noites de coletivo entretenimento e em particular ficaram famosas as noites de sextas-feiras, quando o Concurso “Quem sabe, sabe”, apresentado por Artur Agostinho e Gina Esteves, esgotava as dezenas de lugares sentados e onde todos viviam e torciam pelas respostas dos concorrentes. Mas lentamente os preços dos aparelhos foram-se “democratizando” e em poucos anos o culto do “altar televisivo” transferiu-se dos salões das coletividades para as salas de estar, quartos e cozinhas de cada lar. Mas essas noites de então foram momentos de inesquecível partilha coletiva, humana, cultural e recreativa, perante um novo mundo que nos entrava, literalmente, “pelos olhos adentro” … 1960 – 1970 Meio Século de vida – o Cinquentenário; As Récitas musicais; Novo Emblema e nova Bandeira; Surgem nuvens escuras sobre o Centro: Serviço militar obrigatório e Guerra Colonial; Emigração; - Em 1960, ano das Comemorações do seu Cinquentenário – Bodas de Ouro do CRE, registaram-se as associadas celebrações, de que se podem destacar mais em detalhe, a 18 de Abril uma palestra literária pelo pardilhoense José Bento de Almeida e Silva, no Salão da Sede e sob o

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tema “A Literatura e a Cultura Popular”. A 24 do mesmo mês, um Recital Infantil, com os alunos de Canto e Música da professora Augusta do Céu Calado, sendo que alguns desses “pequenos executantes”, como eram referidos nos relatos dessa época, são hoje vetustos cidadãos e cidadãs, na sua maioria já jubilados, mas dos quais se deve deixar aqui a referência nominal da época, para memória futura: no Piano, Ana Maria Santos Silva; Maria Helena Tavares Valente; Maria Albertina Tavares Valente; Maria Teresa da Cunha e Castro; Adélia Fernanda Duarte de Oliveira; Maria de Lurdes Cabral Mendonça; Maria Guilhermina Céu Calado; Maria Rosa Mieiro; Elizabeth Matos de Almeida; Maria Amália N. de Carvalho; Maria Manuela Santos Silva; Sérgio Miguel da Cunha e Castro; António Manuel Lopes Rodrigues. No Violino, António Joaquim da Costa Mortágua e no Canto, Maria de Lurdes C. Oliveira; Maria Teresa da Cunha e Castro; Maria Guilhermina C. Calado e Sérgio Miguel da Cunha e Castro Estas récitas, por jovens executantes musicais em diversos instrumentos e de canto, tiveram durante esta década a sua ocorrência anual, em pequenos saraus onde se exibiam os conhecimentos adquiridos por esses jovens nas lições da professora Céu Calado.

Como parte ainda das celebrações do Cinquentenário, a Direção aprova um novo distintivo/ logotipo de Centro, da autoria do sócio e dirigente Joaquim Arnaldo da Silva Mendonça, que apresenta as iniciais C.R.E. sobre um fundo triangular, em cuja base se sobrepõe um ramo de carvalho, traduzindo o significado de “Força e Glória”. Será neste ponto interessante referir que até essa data de 1960, em que este emblema foi produzido e adotado como o oficial da coletividade, e que ainda hoje se encontra em vigor, o Centro tinha um outro emblema, que se pode encontrar em documentos e impressos das décadas de trinta e quarenta do século passado, e que apresentava um surpreendente desenho de modernidade e efeito visual, a fazer lembrar o emblema do Real Madrid e o logotipo da Câmara Municipal de Estarreja, com as iniciais CME e que se pode ver no antigo fontanário municipal que ainda se encontra na Praça da Táxis, no topo Norte da Francisco Barbosa. Esse anterior emblema do Centro, com as iniciais CRE a azul-escuro sobre fundo branco, podem ser observadas numa cópia de um documento e na sua versão digitalizada, que não resistimos a reproduzir aqui. É adquirida uma bandeira de tecido vermelho, com os dizeres C. R. Estarreja em amarelo dourado, para ser hasteada em dias festivos. No período de 1969 a 1974 não houve elaboração de Atas da Direção, pelo que não existem registos dos Corpos Diretivos desse período, que sabemos terem sido anos de grande dificuldade por razões de ausência da maioria da juventude da terra, hipotecada a um serviço militar obrigatório que a afastava durante cerca de quatro anos, ou em prestação de estudos universitários, nessa época limitados a Porto, Coimbra e Lisboa. Uma outra fração dessa faixa

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etária estava em contínuo processo migratório para França, Brasil, Venezuela e América do Norte. Mas a contínua degradação das instalações da Sede, não contribuíam para uma auto estima associativa que pusesse ordem, organização e dinâmica na vida do Centro, e com a degradação das instalações, mirravam as atividades culturais e recreativas e quase tudo se limitava a uma sala de ocupação com meia dúzia de sócios entretidos em jogos de cartas. 1970 – 1980 Ventos de mudança começam a soprar; As instalações da Sede à beira da ruína; A Comissão Reorganizadora; Abril de 74; Novos Estatutos e novas atividades A década de setenta inicia-se com este panorama de degradação de instalações e de conservação geral da Sede, onde vão “desaparecendo” equipamentos, móveis, espelhos, candeeiros, …, e quase a fechar o ano de 1973, no dia 29 de Dezembro, um grupo de sócios liderados por António Maria Ferreira e Alberto Linhares Vidal, altamente preocupados com este deslizar para o abismo, solicita a Alexandre Miranda, na condição de último presidente eleito da Assembleia Geral, que convoque uma reunião de sócios para tentar dar uma resposta a esses graves problemas de degradação das condições de habitabilidade do Centro, onde chovia em várias salas, os tetos caiam aos bocados e o estado geral era muito próximo da ruína absoluta. Dessa Assembleia sai uma Comissão Reorganizadora com a seguinte composição: José de Oliveira e Silva, António Maria Ferreira, Adalberto Lopes de Melo, Alberto Augusto Linhares Vidal e José Eugénio de Oliveira Miranda. A estes nomes viriam logo no dia imediato, aquando da primeira reunião dessa Comissão, a ser acrescentados os de Alcino Francisco Monteiro, João de Pinho Amaral, Carlos Pinto de Sousa, José Manuel de Sousa Costa, António Manuel Lopes Rodrigues, Carlos Alberto Teixeira Valente, António Marques de Oliveira e Silva e João Pinto Amaral. Com a constituição desta Comissão Reorganizadora, quase premonitória da Junta de Salvação Nacional que surgiria no país poucos meses a seguir, inicia-se logo nessa noite o trabalho com a abertura do livro de Atas e primeira reunião. Logo outra na noite seguinte, um pequeno intervalo para a passagem de ano de 73 para 74, e no primeiro dia desse ano, nova reunião. Este afã era um claro e inequívoco indicador do empenho, preocupação e sentido de urgência de salvar o Centro da sua ruína e quase inevitável desaparecimento. Reanima-se em novas e variadas frentes a vida da Coletividade e surge como evidência dessa seiva que flui, a Publicação do 1º Boletim Informativo e Cultural, em Fevereiro de 1974, que tem como capa o desenho da carismática frontaria da Sede do Centro. Abril aproximava-se… Mas os tempos são de “Revolução”. O 25 de Abril de 1974 coincide com esta nova fase da vida e da recuperação do Centro, que não fica imune às grandes transformações políticas e

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sociais que a sociedade portuguesa começa a viver. Por muito isentos que os seus Estatutos sejam nas vivências religiosas e politicas das atividades da coletividade, esta é constituída por pessoas que vivem tempos e exposições a novos e dramáticos acontecimentos. As solicitações e descobertas são imensas e contínuas, e as divisões e arregimentações inevitáveis. Formam-se grupos e fações externas que impactam internamente. Vivem-se ardentes “comícios” comunitários no exterior e quentes assembleias no interior. Numa das mais concorridas Assembleias Eleitorais da sua história, chegam a estar presentes 131 sócios votantes para decidir a linha dirigente a conduzir o Centro nestes novos tempos. Acaba por prevalecer a orientação da anterior Comissão Reorganizadora, que vinha fazendo um extraordinário trabalho de investimento e recuperação da Sede e do seu património de equipamentos, e apesar das diferenças “ideológicas” então existentes entre os associados, o reconhecimento pelo trabalho feito e uma grande maioria mais preocupada com a coletividade do que com os seus “umbigos partidários”, apoiam esses dirigentes e a continuidade do seu louvável trabalho. É neste ambiente de alguma efervescência que se celebra o 66º Aniversário, tendo para a sua Sessão Comemorativa sido convidado a presidir o sócio António Marques de Oliveira e Silva, que havia sido o Presidente da Câmara na data do 25 de Abril, que não podendo estar presente por motivos de saúde, delega em Carlos Pinto de Sousa a leitura de um texto, revelando muito do passado histórico do Centro. Descreveu então esse sócio, um dos mais antigos e dedicados ao Centro. Decorrente da reorganização necessária á atualização do Centro às novas realidades, a Comissão Reorganizadora inicia, com o apoio de vários associados, entre os quais teve maior empenho e participação o recente licenciado em Direito António Joaquim da Costa Mortágua, descendente da família de alguns dos fundadores do Centro, a revisão, discussão, aprovação e publicação de novos Estatutos, o que acontece em 1976 e ainda hoje se encontram em vigor. Decorrente dessa alteração, é igualmente revisto e publicado o Regulamento Geral Interno, documento esse que se manteve até à sua atualização em 2015. Nesse mesmo ano de 1976 é criado, por empenho e iniciativa da associada Lizete Vidal, o Teatro Infantil do CRE, que passa a ser conhecido por TICRE, e são distinguidos, como Sócio de Mérito Alexandre da Silva Miranda e, como Sócio Honorário Francisco Marques Garrido. Três anos após ter tomado a gestão dos destinos do Centro, a Comissão Reorganizadora produziu um extraordinário trabalho no restauro do interior da Sede, recuperando e melhorando as instalações, mas igualmente desenvolvendo a base social da coletividade, sendo indicador desse esforço o número de sócios, que no ano de 1973 era de cerca de 50 e que ao findar de 1976 se cifrava já em 337! Mas esta aceleração trouxe consigo algumas consequentes e inevitáveis dores de crescimento, e a catadupa de entrada de tantos associados, que nalguns casos chegou a ser de 50 num só mês, originou desequilíbrios e desentendimentos comportamentais, que numa época de libertação de amarras de pensamento e de efervescente calda ideológica, eram frequentes e de difícil gestão e controle. A Comissão, agora já sob o formato estatutário de Direção nuns Órgãos Sociais democraticamente eleitos, vai ser obrigada a disciplinar essa frequência, adotar maior prudência na entrada de associados e a preparar medidas mais extremas, que acabam por mais tarde levar ao encerramento da Sala de Jogos de cartas, uma das mais antigas tradições associativas e de ponto de convívio que o Centro proporcionava. Durante todas as anteriores décadas da sua existência, jogos de cartas como o Solo, a Lôba, a Lerpa, a Sueca, o King, o Bridge, o Poker, …, foram jogados noite adentro na sua sala de jogos, que funcionava como uma das mais importantes das suas fontes de receita através do “baratos” que eram cobrados pela utilização de cada mesa e de cada jogador.

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1980 – 1990s Tempos de “tempestade”; Do “palacete” à condição de” sem abrigo”; Inicia-se uma batalha judicial; No primeiro ano desta década, que virá a marcar o Centro, os seus Sócios e o seu futuro de forma indelével, é convidado o seu proeminente sócio, dirigente e figura de relevo da vida associativa de Estarreja sob várias formas e em diversas frentes, Alexandre Miranda, que como presidente da Assembleia Geral que havia dirigido em difíceis sessões, era íntimo conhecedor das convulsões internas que se vinham vivendo desde 1974, refere-se a esse período, deste modo e nas suas próprias palavras na alocução que fez aquando da celebração do 70º aniversário da coletividade: “… por imperativo de consciência, não poderia, de forma alguma, deixar de focar aqui as inúmeras dificuldades que, na qualidade de Presidente da Assembleia Geral se me depararam no caminho difícil e agreste que fui obrigado a percorrer, para levar a bom termo o propósito de assegurar ao Centro a sua estabilidade social e orgânica, Houve más compreensões, juízos errados, demagogia, insensatez, …., mas no final o que se pretende é um Centro sem embriaguez de mando, sem poder político e explorações partidárias, como consagram os seus Estatutos. Os actos que se praticam devem ser conciliados com a actual liberdade de cada ser humano, através dos caminhos da própria liberdade” . Destas palavras não restam dúvidas de como terá sido difícil a delicada gestão de sensibilidades e ideologias que se descobriam e deflagravam nesses anos da jovem e inexperiente democracia nascida seis anos antes. Foi um trabalho no mínimo “complicado”, aquele que Alexandre Miranda teve de fazer, usando para tal toda a sua experiência de vida, sentido democrático e capital de respeito e credibilidade que detinha na comunidade. Mas deste processo convulsivo ficaram irremediáveis feridas, umas mais fundas e abertas do que outras, mas todas deixando “cicatrizes” para o futuro, que pouco depois viria a manifestar-se em forma de contencioso com a autarquia, que havia iniciado um ano antes um processo de expropriação por utilidade pública do imóvel sede arrendado desde 1941 pelo Centro, e que e coletividade desde logo rejeita, fazendo com que esta década venha para sempre a ficar marcada pela data de 13 de Agosto de 1981, quando o CRE é despejado dessa sua Sede, os seus bens removidos para armazéns da Câmara, tudo isto no meio de um aparato policial, para fazer cumprir a decisão do tribunal. Era o princípio de uma batalha jurídica, entre o CRE e a CME, iniciada formalmente a 13 de Outubro de 1983 e que iria durar 11 anos, durante os quais a defesa dos interesses do Centro esteve confiada ao advogado Alberto Vilaça. A descrição desta luta judicial pela defesa dos direitos de Centro justificará por si só um mais vasto, detalhado e compreensivo documento que aborde todas as incidências legais e os extraordinários esforços que a Comissão Reorganizadora desenvolveu durante esse período, quase na “clandestinidade” de uma coletividade sem Sede, usando a rua como palco e uma enorme alma como força motriz. Diremos aqui que tal luta foi esgrimida com desigualdade de recursos e meios, em que ao Centro coube o papel de um David associativo perante um Golias autárquico, luta essa que só veio a terminar quase a meio da década seguinte. A partir desta data, o Centro fica “na rua” e passa a reunir em salas cedidas por coletividades que se solidarizam com a situação que se regista, como a Casa do Pessoal da Quimigal, outras vezes em estabelecimentos como o Café Cristal ou o Café Miranda, mas a maior parte das vezes em casa ou nos escritórios de trabalho dos seus dirigentes. E é nestas condições, que logo nesse ano, em Outubro, o Centro organiza o “ 1º Encontro das Coletividades” e provas de Atletismo nos

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arruamentos adjacentes da praça, como uma “prova de vida” e uma chama de crença na razão e no futuro que nunca se irá apagar. 1990 – 2000 Cumpre-se o Direito, que não a Justiça; Novo abrigo, nova Sede, novo Centro A 27 de Setembro de 1994 é publicado o Acórdão e sentença final do Supremo Tribunal de Justiça, que no essencial dava razão ao pleito apresentado pelo Centro, determinando a condenação da Câmara de Estarreja ao pagamento de uma verba indemnizatória de 16.560 contos. Perante esta decisão judicial, seguem-se negociações com a Câmara, então sob a presidência de Vladimiro Neves da Silva, sendo que a autarquia não dispunha de tal verba para o seu imediato pagamento. São tentados acordos alternativos, defendendo o Centro sempre a posição do seu regresso à “Casa da Praça”, com ocupação do 1º andar e parcial do rés-do-chão, ou, alternativamente, a cedência de um terreno para construção de uma Sede. Não se consegue acordo e a Câmara, após avanços e recuos, opta pelo pagamento da indemnização fixada e o Centro sai à procura de um espaço para se aboletar, procurando manter a sua histórica centralidade. Localiza um antigo edifício, situado no limite Sul da Praça Francisco Barbosa, e após significativas obras de restauro suportadas por sua conta, o Centro Recreativo de Estarreja instala a 2 de Março de 1996, a sua nova e atual sede, 15 anos depois de ter sido desalojado pela Câmara Municipal de Estarreja, da sua anterior sede na “Casa da Praça”. Logo no ano seguinte celebra já em casa própria o seu 87º aniversário, com romagem ao cemitério de Beduído para homenagear sócios falecidos, jantar de associados, seguindo-se no Salão Nobre da Sede uma atuação musical. O Centro continuava vivo e recomendava-se. 2000 – 2010 Obtêm-se a figura de Utilidade Pública A abrir o novo milénio, a 31 de Agosto de 2000, é obtida a Declaração de Pessoa Coletiva de Utilidade Pública, nos termos do DL nº 460/77 de 7 de Novembro, em Diploma assinado pelo então Primeiro Ministro António Guterres, concluindo-se assim um burocrático processo que demorou 3 anos a conseguir, e que consagrou a Coletividade com essa importante distinção. 2010 – 2020 Celebra-se o Centenário; Infortúnios e Esperanças; AVida continua… A 10 de Julho de 2010 celebra o CRE o seu 1º Centenário. Esta efeméride e a associada longevidade, merecem-lhe parabéns recebidos de muitos lados e várias distinções, de que se relevam o Diploma de Mérito Associativo pela Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto, a condecoração honorífica da

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Medalha de Mérito Distrital, pelo Governo Civil de Aveiro, e a atribuição da Medalha de Mérito Municipal, pela Câmara de Estarreja. Mas passados quatro anos, sofre o Centro mais um duro golpe, com o desaparecimento do seu Presidente da Direção nos últimos vinte anos, Nelson Domingos Moutela de Almeida Agra. É - lhe prestada nesse mesmo ano, no decurso das celebrações do 104º Aniversário do Centro, uma sentida homenagem, onde para além de diversos e emocionados discursos de familiares, amigos, Direção, Assembleia Geral e Presidência da Câmara, foi descerrado um retrato a carvão do homenageado, oferta e autoria do mestre pintor e monitor do atelier de pintura do CRE, José Oliveira. No ano seguinte, uma Assembleia Geral de Sócios do Centro, atribui por unanimidade e aclamação, infelizmente a título póstumo, a categoria de Sócio de Mérito a Nelson Agra, tendo nesse ato de reconhecimento a companhia de dois outros sócios distinguidos, seus grandes amigos e companheiros de trabalhos e lutas do Centro, Alberto Linhares Vidal e Lizete Vidal. Um pouco mais tarde, a meio desse mesmo ano de 2015, o Município de Estarreja, na pública cerimónia do seu dia, agracia Nelson Agra com a Medalha de Mérito Municipal, tendo nessa cerimónia como companheiro igualmente homenageado, um seu antigo condiscípulo e amigo, Carlos Tavares. Se pudesse ter estado fisicamente presente, Nelson Agra teria gostado da companhia e apreciado o reconhecimento da sua terra, pela sua cidadania e associativismo, como atleta, como sócio, como dirigente, como o Estarrejense que dizia, ao seu estilo “alto e bom som”, que Estarreja era a “melhor terra do Mundo”. E eis-nos agora, celebrado já o seu 105º Aniversário, ver o Centro a manter a luta permanente pela continuidade da sua afirmação como um organismo vivo, aglutinador de respeitáveis memórias passadas, catalisador de necessárias formações e ocupações presentes e potenciador de indispensáveis esperanças futuras. Parafraseando e adaptando, será justificado dizer que “… não herdamos o Centro dos nossos Sócios e antepassados, mas tomamo-lo emprestado para gerir em favor dos nossos Sócios e conterrâneos do Futuro”. Terminamos da forma que nos parece ser a mais adequada, numa homenagem aos primórdios do Centro e ao seu permanente espírito associativo e solidário, com as duas seguintes palavras, que eram utilizadas como forma de encerramento na correspondência interna e externa que se produzia no Centro nas décadas de vinte e de trinta do Século passado: Saúde e Fraternidade! Notas complementares: Para além da sua história própria e “pessoal” como Coletividade, o trajeto do Centro fazse também de todo um outro conjunto de atos administrativos, de gestão, de solidariedade, de partilha e parcerias comunitárias, numa ação dinâmica e interventiva na formação social e associativa de todo o Concelho, promovendo, apoiando e participando na génese, formação e consolidação de muitas outras Instituições e Coletividades. Sem se pretender ser exaustivo na sua indicação, deixamos de seguidas algumas notas, de atos e homens que intervieram nesses processos que se vieram a constituir como parte integrante da história passada, presente e de base futura, deste Concelho de Estarreja: o CRE esteve assim na base da formação dos Bombeiros Voluntários de Estarreja; do Hospital Visconde de Salreu; do Estarreja Sport Club, mais tarde Clube Desportivo de Estarreja; da Escola José Alberto de Oliveira Canelas, em Porto de Baixo, Salreu; do Dispensário Anti Tuberculoso, mais tarde Casa dos Pobres de Estarreja e da ASE, Associação de Solidariedade de Estarreja

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Anexo: Lista de Presidentes da Direção do CRE e anos de mandato António Maria Dias da Silva: 1910; Vasco Marques Valente: 1911; Joao Soares de Oliveira: 1912; Arthur Braga: 1913; Antonio Augusto Pinto Victor: 1916 – 1919; Jose Marques de Oliveira e Silva 1913 - 1917 - 1921 – 1924; Manuel Rodrigues Santos Silva: 1918; Amilcar Botte: 1920; Arnaldo Sá dos Reis: 1922- 1923 – 1926 – 1928 – 1929 – 1940; Carlos Mortágua:1923; Manuel Soares Ferreira: 1925 – 1939; Antonio Ricardo Bento: 1927 – 1930; Manuel Maria Esteves de Oliveira: 1931; Jose Maria Ventura: 1932 – 1933; Vasco Rodrigues Pais: 1934 – 1935 – 1941 a 1943 – 1945 – 1950 a 1952; Armindo Soares Ferreira: 1937; Alberto Augusto de Figueiredo Vidal: 1944 – 1947 – 1948; Eduardo Costa: 1946 – 1951; Alfredo Jorge Soeiro Meneres Barbosa: 1949; António Costa: 1953; Aníbal Dias: 1954; António Marques de Oliveira e Silva: 1960/1961; Joaquim Arnaldo da Silva Mendonça: 1962 a 1967; Jaime Rodrigues Gonçalves: 1968; José Eugénio de Oliveira Miranda: 1969; António Maria Ferreira: 1977 a 1986; Duarte Esmeraldo Drummond: 1986 a 1994; Nelson Agra: 1994 a 2014; José Fernando Ferraz Correia: 2014 a 2016

Fontes de apoio e consulta na elaboração deste trabalho: - Livros de Atas de Assembleias Gerais, de Reuniões de Direção e de Reuniões da Comissão Reorganizadora do Centro Recreativo de Estarreja; - Documentação vária existente nos arquivos do CRE; - Recortes da Imprensa local, designadamente do “Jornal de Estarreja” e “O Concelho de Estarreja”, e artigos nesses jornais da autoria de António Augusto Silva e de Luís Vilhena; - Texto da autoria do Sr. Alexandre Miranda, aquando da sua Palestra proferida na celebração do 70º Aniversário do “Centro”; - Texto da comunicação de António Marques de Oliveira e Silva, na Sessão Comemorativa do 66º aniversário do CRE; - Testemunhos pessoais de Sócios do CRE; - Experiência e vivências pessoais de episódios da Vida do Centro, a partir da década de 1960

Estarreja, Julho de 2015 Atual Sócio nº 7 do CRE José Fernando Ferraz Correia

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JOSÉ GURGO E CIRNE

MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO1 OS PAINÉIS DOS BARCOS MOLICEIROS José Gurgo e Cirne*

EM BUSCA DO TEMPO ESQUECIDO Notícias do Improvável Teófilo Braga, em O povo português nos seus costumes, crenças e tradições, publicado em 1885,2 inclui uma referência aos painéis dos moliceiros: “Na ria de Aveiro usam-se os barcos moliceiros, «construções obesas, de proa e ré contraídas e que servem para o transporte das algas impropriamente chamadas moliço, pois que elas não podem servir para as palhoças e constituem apenas um riquíssimo adubo para a agricultura, etc. – Estes barcos aparecem na sua feira (25 de Março)3 sarapintados na popa e proa com pessoas reais e animais disformes»”(idem, 1984: 135).

*Licenciado em Antropologia e Serviço Social, pós-graduado em família e Sistemas Sociais, mestre em Antropologia Social e Cultural, doutorando em Antropologia. 1 - O presente trabalho corresponde à transcrição, ligeiramente aumentada e actualizada, de um subcapítulo extraído da dissertação de mestrado em Antropologia Social e Cultural, concluído no Departamento de Ciências da Vida da FCT da Universidade de Coimbra em 2012. 2 - A edição por nós consultada refere esta data. No entanto, Rocha Madahil afirma que a sua publicação ocorreu em 1886 (cf. Madahil, 1947: 265). 3 - “A feira de Aveiro, que no reinado de D. Duarte se realizava entre 1 e 8 de Maio, passa, por ordem de D. Manuel, a ter início no primeiro dia de Março. Como «Feira de Março» chega até aos nossos dias, embora só sobrevivesse mercê da sua renovação; a partir de 1937 tornou-se feira de exposição e divertimentos” (Gaspar, 1986: 24-25).

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Segundo Clara Sarmento (2008), “Teófilo Braga socorre-se de um artigo de Carlos Faria, «Folhetim», publicado em Povo Português: Folha Republicana da Beira Baixa, entre 1882 e 1884, e que constitui a mais antiga referência escrita até agora localizada à decoração pictórica do moliceiro” (idem: 264). Também Rocha Madahil (1947) nos informa que “em 30 de Maio de 1896 o Campeão das Províncias, bis-semanário local de honrosas tradições, insere no seu nº 4574, uma carta4 dirigida ao Il.mº Sr. Barão de Cadoro5 acerca de uma exposição alusiva à Ria de Aveiro”.6 E acrescenta: “Firma-a e data-a de 22 de Maio o nome dum estudioso de elevado critério, que, sem ser natural de Aveiro, aos problemas marítimos locais dedicou, repetidas vezes, labor verdadeiramente científico e altamente construtivo: o engenheiro dos serviços hidráulicos, Melo de Matos”7 (idem: 247). Pelo que mais nos informa, o Barão de Cadoro encarregou Melo de Matos da “honrosa missão de organizar um programa para uma exposição dos produtos da ria de Aveiro”. O que este corrobora na introdução à proposta do referido programa, que chegou a circular em opúsculo e que aquele transcreve de seguida: “Em carta de 22 de Maio último expus ao Exm.º Sr. Barão de Cadoro as vantagens que adviriam para a ria de Aveiro e regiões a ela adjacentes se se pusesse em prática a ideia, aventada por sua Exa., referente a uma exposição, por meio da qual se desse a conhecer a ria de Aveiro em todas as suas manifestações” (idem: 251). Ficamos assim a saber, pelo que nos diz o próprio Melo de Matos, que a secção fluvial do Ginásio Aveirense, adoptando as suas propostas para a execução de tal ideia, iria tentar realizar aquele certame e até já tinha nomeado uma comissão para o efeito. Do seu programa constavam sete itens, o segundo dos quais dedicado à colheita de moliço, onde são referidos “exemplares das pinturas ornamentais dos barcos moliceiros”.8 Tudo isto nos parece ser sinal de que a apanha do moliço estava em grande actividade. Com efeito, pouco antes da publicação da referida obra de Teófilo Braga, a Câmara Municipal de Estarreja, na sua Sessão Extraordinária do dia 11 de Julho de 1878, viu-se na necessidade de actualizar o seu código de posturas,9 o qual, no seu Capítulo XVI, também contemplou a Ria, ribeiras, esteiros e cais, estabelecendo o seguinte: “Artigo 112º. É proibido:

4 - “Leite de Vasconcelos conheceu a carta, que, a pág. 22 do 2º volume da sua Etnografia Portuguesa, classifica, parcimoniosamente, como sempre usava em referências a trabalhos alheios, de mui curiosa” (Madahil, 1947: 265). 5 - Rocha Madahil identifica-o apenas como “aveirense de nascimento (1849-1917), romancista e jornalista” (cf. Rocha Madahil, 1947: 248). Trata-se de Carlos de Faria e Melo, agraciado por D. Carlos com o título de 1º Barão de Cadoro (vide artigo publicado em TA, 2013 [7], pp: 65-70). 6 - Estava-se naquele que João Leal classifica como “o segundo grande período de desenvolvimento da antropologia portuguesa” (Leal, 2000: 32). “É também desse período que datam as primeiras incursões museológicas da etnografia e da antropologia portuguesas. Em 1896, Adolfo Coelho propõe a realização de uma exposição etnográfica em Lisboa, por ocasião do 4º centenário da viagem de Vasco da Gama à Índia, cujo programa será publicado no ensaio «Exposição Etnográfica Portuguesa. Portugal e lhas Adjacentes»” (idem: 33). A essa exposição também já se referia, curiosamente em idênticos termos, o próprio Rocha Madahil: “É desse mesmo ano a primeira tentativa séria de compreensão e isolamento da Etnografia no quadro das ciências, que em Portugal se regista; provocou o seu aparecimento a celebração do centenário do descobrimento da Índia, projectada para o ano imediato, e subscreveu-a o professor F. Adolfo Coelho” (Madahil, 1947: 246). 7 - Vide nosso artigo publicado em TA, 2013 (7), pp: 65-70. 8 - Note-se, porém, que esta exposição nunca chegou a realizar-se. 9 - Cf. Estado actual das pescas em Portugal (Silva, 1891: 460).

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1º Apanhar moliço na ria desde 24 de Junho até ao dia 31 de Julho inclusive, excepto os arrolados, sob pena de 3:000 a 6:000 réis; 2º Usar na apanha dos moliços de outros instrumentos que não sejam os ancinhos, na forma do antigo costume, sob a mesma pena do número antecedente. (…) & Único. Às pessoas que não são do concelho é sempre proibido apanhar moliço na área dele sem a competente licença da Câmara, pela qual pagarão 6:000 réis por ano e por cada barco, sob pena de 12:000 réis, e a licença será concedida com as restrições indicadas nos nºs 1º e 2º deste artigo”. Porém, a actividade da apanha do moliço afigura-se-nos ser mais antiga. Utilizando barcos como os que ainda conhecemos ou outros de igual ou diferente tamanho, podemos fazê-la recuar seguramente ao início do século XIX. Com efeito, Augusto Filipe Simões, em carta de 1873, dirigida a um amigo não identificado, escreve o seguinte: “No princípio deste século reputara-se de tal necessidade cobrir a costa de pinheiros, que por decreto de 2 de Julho de 1802 se mandou lançar por dez anos o imposto de 40 réis nos barcos maiores e o de 20 nos barcos menores carregados com moliço extraído do fundo da ria. O produto deste imposto haveria de aplicar-se para a sementeira de penisco pelas areias do litoral, e, sobejando algum dinheiro, empregar-se-ia no melhoramento das pescarias, na cultura das amoreiras e criação do bicho-da-seda ou no estabelecimento de alguma fábrica de fiar algodão ou linho. Ignoro se este decreto tão acertado, tão interessante à agricultura e à indústria, chegaria a ter execução. Se a teve, foi decerto por muito pouco tempo” (Simões, 1975: 29-30). Ao mencionado decreto alude também Ana Maria Lopes (1997), embora atribuindo a sua referência a João Vieira Rezende (1944), que, segundo a própria, o evocou na sua Monografia da Gafanha. O mais provável porém é que este também tenha tido acesso à carta citada, pois nada acrescenta à informação de Augusto Filipe Simões, parecendo limitar-se a transcrevê-la: “Um decreto de 2 de Julho de 1802 lançou o imposto de 40 réis aos barcos maiores carregados com moliço e 20 réis aos barcos menores” (Rezende in Lopes, 1997: 157). A mesma Ana Maria Lopes, citando entretanto Luís de Magalhães, em trabalho a que não tivemos acesso,10 deplora que o costume a que este se refere – “nas romarias fluviais as velas ricas têm bordados interessantes, quase todos multicores e feitos por meio da aplicação de estofos diversos ao pano da vela: umas armas reais, uma cruz, um vaso com flores, etc.” – já não se observe. No entanto, reproduz um pormenor de uma vela festiva existente no Museu Marítimo de Ílhavo onde é perfeitamente visível a data de 1816 nela inscrita (Lopes, 1997: 54). E podemos afoitamente fazer recuar ainda mais a actividade da apanha do moliço pelo menos até meados do século XVIII.11 Com efeito, o reitor da freguesia de Avanca, António de Oliveira Fraião, em resposta a um inquérito elaborado pelo Pe. Luís Cardoso,12 da Congregação do Oratório e académico do número da Academia Real da História Portuguesa, diz o seguinte: 10 - “Os barcos da ria de Aveiro”, Luís de Magalhães, in Portugália, II (I), 1905-1908 (NA). 11 - Cf. Pilon (s/d:4): “Ainsi les algues présentes dans le moliçe n’ont pu se développer dans l´eau de la Ria que lorsque celleci étai saumâtre, cést-à-dire lorsque les deux cordons dunaires se son étendus jusqu’à faire de la Ria un millieu quasiment distint de la mer, au début du XVIIIème siecle”. A ser assim, quanto a nós, o argumento pouco colhe: como explicar a continuação da apanha do moliço após a reabertura da barra e também a sua recolha anteriormente ao encerramento da mesma? (Vd. Nota 22, onde se comprova que duzentos anos antes já se usavam adubos, “segundo o costume da terra”.) 12 - O aviso que manda remeter o inquérito aos bispos das dioceses é de 18 de Janeiro de 1758 e foi assinado pelo então Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, para que os párocos enviassem “novas descripções das freguesias com aquellas escrupulosas miudezas, que lhe [s] dizem respeito” (Oliveira et al., 2009: 18).

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“Descobrem-se porém mais do mesmo bispado (…) a célebre ria, ou braço do mar, denominado rio de Aveiro: as arenosas praias do oceano, e deste quanto pode alcançar a vista, a imensidade de embarcações de todas as espécies e lotes, já de negócio, já de guerra, assim nacionais como de todas as nações estrangeiras, que sulcam e transitam do norte para o sul (…); e a cópia sem número de barcos que vadeiam a dita ria ou chamado rio das muitas freguesias, que pelos muitos canais, que aqui chamam esteiros, que delas para as tais se encaminham a procurar a extracção dos seus agraços, ou musgos que nomeiam moliços, e de juncos das marinhas das suas margens, que somente desta freguesia são mais de trezentos para a cultura das terras que muitas desta freguesia com eles produzem tanto que dão três novidades no ano além de outro tanto número de barcos de pescadores das mesmas,13 que o navegam, e não ao rio Vouga porque a este somente os que vão a conduzir os vinhos chamados de Anadia” (Fraião in Silva; Oliveira, 2009: 97). Respondendo ao mesmo questionário, também o cura da freguesia de Veiros, José Afonso, disse o seguinte: “Rio não há nesta terra só sim um regato, que corre no tempo de inverno que se ajunta das inundações das chuvas, e dura enquanto chove, e tem duas casas de moinhos, que moem enquanto duram as chuvas, cujo princípio vem de uma lagoa chamada Lagoas na mesma freguesia, e depois dos ditos moinhos, se espalha pelas terras a criar ervas. Mais tem esta freguesia feito por arte um rio de água quieta, que se recolhe ao rio de Aveiro coisa de um quarto de légua, por donde se servem os barcos pequenos a tirar moliços” (Afonso in Silva; Oliveira, 2009: 145). Descontando talvez algum exagero por parte do reverendo reitor de Avanca quanto à fertilidade das terras da sua freguesia e também ao número de barcos nela existentes (tenha-se presente que a mesma possuía, como ainda hoje, apenas uma ribeira, chamada do Mourão), fica no entanto o testemunho de que já então se fazia a apanha do moliço na ria. A menos que, ao que parece, quanto à cópia de barcos, no número deles incluísse também, ao que parece, os das freguesias vizinhas, designadamente as suas filiais de Bunheiro e Pardilhó, que nela tinham estado incorporadas, esta, de início, como simples lugar daquela (cf. Sousa in Cunha, 1965: 55). Também nas referidas Memórias paroquiais de 1758, o vigário de S. Cristóvão da vila d’ Ovar,14 freguesia que então se estendia até Mira15, João Bernardino Leite de Sousa, informava o seguinte: “Duas léguas distante da Igreja Matriz, no sítio chamado Torreira em Areal, que medeia entre o mar, e o Rio d’ Aveiro, se acha a capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso com três Altares; no mor está a Imagem da mesma Senhora no colateral da parte direita a Imagem de S. Paio, ou Pelágio, a quem procura muito a devoção dos fiéis por Advogado contra as Maleitas; no da parte esquerda a de S. Lázaro” (Sousa in Costa, 1968:207).

13 - Exactamente meio século depois, Isidoro Francisco Guimarães, oficial da Marinha, remetia ao Ministro da Guerra, D. Miguel Pereira Forjaz Coutinho, uma Memória sobre a nova barra d’Aveiro aberta em 3 d’Abril de 1808”onde se lê: “A Ria tem uma prodigiosa quantidade de barcos de pescaria: o seu número é certamente de 3 mil e cada barco tem pelo menos 6 homens: há alguns que fazem a pescaria em alto mar, porém estes não excedem certamente a 25, porém cada barco tem perto de 80 homens” (Guimarães in Pimenta, 1942: 168). 14 - Dela era donatário o Senhor Infante D. Pedro, em virtude de o condado da Feira, ao qual pertencia, ter sido integrado na Casa do Infantado após a morte, em 15 de Janeiro de 1700, do 8º e último conde, D. Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Meneses e Silva (cf. Costa, 1968: 215). 15 - “Apenas sob o Liberalismo, por decreto de 1855, as zonas da faixa costeira das actuais freguesias de S. Jacinto (…) e da Torreira, foram integradas, respectivamente nas da Vera Cruz e da Murtosa e, portanto, nos concelhos de Aveiro e Estarreja” (cf. Costa, 1968: 212). Cunha (1994: 45) dá no entanto como certa a data de 1835, ano em que “a faixa litoral em que hoje assenta a freguesia da Torreira foi incorporada no concelho de Estarreja”.

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E acrescenta o referido vigário: “Cinco léguas distante da Igreja Matriz, e três para diante da referida capela do Bom Sucesso, no mesmo Areal, que medeia entre o mar, e o Rio, se acha outra capela com a Invocação de Nossa Senhora das Areias. (…) (id:207). Em um dos anos de 1743 ou 1744 apareceu defronte da mesma capela antiga uma Imagem trazida em uma rede de arrasto, que no mar lançaram uns pescadores; os quais logo principiaram de aclamar a Imagem com o nome de S. Jacinto foi colocada na mesma capela, e Altar da Senhora e daqui vem o chamarem hoje muitos à dita capela a de S. Jacinto (id:207-208). Quanto às solenidades realizadas nessas capelas16, respondendo ao quesito catorze do inquérito que esteve na base das Memórias paroquiais que temos vindo a seguir, o mesmo vigário esclarece: “Em cada uma das referidas capelas, nos dias próprios das suas invocações, em que os moradores fazem as suas festas há romagem; porém as de maior concurso são = (…). Nos dias = 25 = 26 = e 27 = do mês de Julho de cada ano; nos quais se celebram as três festas nas sobreditas duas capelas do Bom Sucesso, e Areias; a saber a 25 a de S. Jacinto // a 26 // a da Senhora das Areias // a 27 // da Senhora do Bom Sucesso; em cujos dias não têm número os luzidos, e vistosos barcos,17 que ocupam o Rio,18 nem as pessoas, que enchem os Arraiais. Pouco menos numeroso é o concurso nos dias sete e oito do mês de Setembro19, em que na capela da Senhora do Bom Sucesso se celebram as festas de S. Lázaro, e S. Paio”20 (id:208). Luís Melgar Valero (2002:176-77) atribui contudo o dia oito de Setembro aos festejos da Natividade de Nossa Senhora. E, por sua vez, o Padre António Cordeiro, contemporâneo da época descrita, na sua História insulana, publicada em 1717, escrevendo sobre a “venerável, prodigiosa e beatíssima” Margarida de Chaves, da Ilha de S. Miguel, nos Açores, também o confirma: “Da virgem nossa Senhora era tão devota, que tomando-a por valia, para que Deus lhe revelasse quando havia de morrer, e lhe alcançasse que fosse em dia de alguma festa da Senhora, foi-lhe revelado que dali a três anos morreria; e assim sucedeu, três anos depois, e no dia do nascimento daVirgem Santíssima, em oito de Setembro” (id, 1981:225). Mas quanto a Veiros, recuando ainda mais, embora sem qualquer referência à actividade da apanha do moliço, podemos constatar que aquele “rio de água quieta” já existia em meados do século XVII. De facto, nas “Posturas que os oficiais da Câmara e homens da governança fizeram para este ano de 1645”, pode ler-se o seguinte: “Acordaram que toda a pessoa da freguesia de veiros que não for abrir a Ribeira do dito lugar sendo o pregão lançado pague quinhentos réis” (Costa, 1969: 21).

16 - “São as sobreditas duas capelas mui úteis aos povos; porque além de muita gente, que em todos os Domingos, e dias santos ali concorre de romagem: desde o Espírito santo até o mês de Novembro de cada ano, dão exercício a sua pesca do Mar os moradores d’ Ovar no sítio da Torreira; e os moradores de Ílhavo no sítio das Areias” (Sousa in Costa, 1968:208). Cunha (1995: 9) afirma porém que “A ideia dos pescadores do Furadouro descendo para a Torreira, no decurso do século XVIII (…), é desvanecimento sem base e não verdade histórica.” 17 - Atente-se nos adjectivo usados para caracterizar os barcos – “luzidos” e “vistosos” –, o que indicia, como defendemos, não apenas a utilização de adereços festivos (cf. Lopes, 1997: 54, acima referida), mas também de elementos pictóricos. 18 - Por contraste, em artigo recentemente publicado, Lopes (2014:135) refere-se aos moliceiros usando já o pretérito imperfeito. E explica tal opção, em nota de rodapé: “A alternância entre o uso do verbo no passado e no presente tem a ver com a existência actual de meia dúzia de embarcações que ainda se exibem em regatas ou passeiam turistas, em ria aberta, à vela, sofrendo pequenas alterações”. 19 - Paio ou Pelágio (26 de Junho), natural de Tui, foi mártir e viveu no século X (cf. Tavares, 2001:118). 20 - Curioso é que, não mais que um século passado, a romaria de S. Paio acabou por suplantar qualquer uma das outras. Com a criação do concelho da Murtosa, em 29 de Outubro de 1926, e a elevação da Torreira a freguesia, em 30 do mesmo mês (cf. Cunha, 1995: 75), o dia da festividade em honra de S. Paio acabaria mesmo por ascender, mais tarde, à categoria de feriado municipal.

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A confirmar também a importância do dito lugar está a excepção de que aos habitantes do mesmo fez mercê D. Manuel I quando, ao conceder o foral à antiga vila de Antuã (Estarreja), em 15 de Novembro de 1519, determinou o seguinte: “E quanto à gaiosa conteúda nos prazos antigos, de que se paga uma porca, ou uma ovelha, ou cabra, declaramos que a paga ou escolha dela será no pagador, qual delas ele antes quiser, posto que até aqui de outra maneira se pagasse. E a dita gaiosa nem lutuosa se não pagará no lugar deVeiros, do dito concelho, pela antiga liberdade e privilégio que disso tem” (in Cunha, 1972: 28). Por último, segundo nos dá conta Ferreira Neves, retrocedendo mais de uma centena de anos e de acordo com um traslado feito num livro manuscrito do século XVIII, já em 1524, na carta de aforamento perpétuo da Ilha do Trovisco, mais tarde denominada Ilha do Posso, situada na ria de Aveiro, propriedade de D. Jorge de Lencastre21, filho bastardo de D. João II, duque de Coimbra e senhor da vila de Aveiro, pode ler-se o seguinte: “… e por ser em evidente proveito das rendas da dita vila nós por esta nossa carta lhe aforamos e damos de foro a dita Ilha do Trovisco (…) com condição que a aproveite o dito Simão Henriques (…) e ela aproveitada a traga sempre bem corrigida e reparada de todas as coisas que necessárias lhe forem (…) e com condição que as tragam [ele e seus herdeiros] bem aproveitadas, melhoradas, e não pejoradas, e lhe lancem os adubos22 necessários segundo o costume da terra…” (Neves, 1969: 89)

21 - A Casa de Aveiro foi instituída por D. Manuel I no ano de 1500, na pessoa de D. Jorge de Lencastre (cf. Neves, 1972: 5). O seu filho primogénito, D. João de Lencastre, é que foi o 1º duque de Aveiro, título concedido ainda em vida de seu pai por D. João III, em 1547, embora sem lhe passar carta. Esta foi-lhe depois outorgada por D. Sebastião, em 30 de Agosto de 1557. Por isso, o título de duque de Aveiro é independente do senhorio ou administração da Casa de Aveiro (idem: 15). 22 - Estes adubos – ademais usados “segundo o costume da terra” – é uma expressão corrente em vários textos para designar o moliço.

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BIBLIOGRAFIA Braga, Teófilo. 1994. O povo português nos seus costumes, crenças e tradições. 2ª edição (Vol. I). Lisboa, Publicações D. Quixote. Código de Posturas Municipais do Concelho de Estarreja. 1878. Sessão Extraordinária do Dia 11 de Julho. Estarreja, C.M.E. Cordeiro, Pe. António. 1981. História insulana das ilhas a Portugal sujeitas no oceano ocidental. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. Costa, Eduardo. 1968. “Memórias paroquiais do séc. XVIII – freguesia de S. Cristóvão de Ovar, in Arquivo do distrito de Aveiro, vol. XXXIX, pp: 204-214. Costa, Eduardo Alberto. 1969. “Antigas posturas da câmara de Estarreja”, in Aveiro e o seu distrito, nº 8, pp: 21-25. Cunha, José Tavares Afonso e. 1965. Notas marinhoas (Vol. I). Murtosa, Livraria Ramos. , José Tavares Afonso e. 1972. Notas marinhoas (Vol. II). S/l, Edição do Autor. , José Tavares Afonso e. 1984. Notas marinhoas (Vol. III), S/l, Edição do Autor. , José Tavares Afonso e. 1994. Notas marinhoas (Vol. IV). S/l, Edição do Autor. , José Tavares Afonso e. 1995. Notas marinhoas (Vol. V). S/l, Edição do Autor. Gaspar, Jorge. 1986. As feiras de gado na Beira Litoral. 2ª edição. Lisboa, Livros Horizonte. Leal, João. 2000. Etnografias portuguesas (1870-1970): cultura popular e identidade nacional. Difel, Lisboa. Lopes, Ana Maria. 1997. Moliceiros: a memória da Ria. Lisboa, Quetzal Editores. Madahil, António Gomes da Rocha. 1947. “A exposição alusiva à ria de Aveiro projectada em 1896 pelo barão de Cadoro e pelo engenheiro Melo de Matos”, in Arquivo do distrito de Aveiro. Aveiro, Vol. XIII, pp: 245-266. Neves, F. Ferreira. 1969. “O aforamento perpétuo da Ilha do Trovisco ou do Posso na ria de Aveiro, no ano de 1524”, in Arquivo do distrito de Aveiro. Aveiro, Vol. XXXV, pp: 81-99. , 1972. A casa e o ducado de Aveiro: sua origem, evolução e extinção. Aveiro, separata da revista “Arquivo do distrito de Aveiro”. Oliveira, Américo; Silva, Filomeno. 2009. Estarreja e Murtosa nas memórias paroquiais de 1758. Fundação Solheiro Madureira, Estarreja. Pilon, Mathilde. s/d. Les moliceiros, bateaux porteurs de la mémoite e de lídentité fluvio-maritime de la Ria d’Aveiro (Portugal). (Disponível em www.citcem.org). Pimenta, Belisário. 1942. “A barra de Aveiro em 1809” in Arquivo do distrito de Aveiro, Vol. VIII, pp: 161-173. Sarmento, Clara, 2008. Cultura popular portuguesa: práticas, discursos e representações. Porto, Edições Afrontamento. Silva, A. A. Baldaque da. 1891. Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa, Imprensa Nacional. Simões, Augusto Filipe. 1975. “Cartas relativas a Aveiro”, in Arquivo do distrito de Aveiro, nº 161, pp: 23-34. Tavares, Jorge Campos. 2001. Dicionário de santos. 3ª edição (revista). Porto, Lello Editores. Valero, Luis T. Melgar. 2002. Os santos de cada dia. Lisboa, Editorial Estampa. .

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A LEITURA PÚBLICA EM ESTARREJA

Juliana Cunha *

A leitura pública surgiu em Estarreja há mais de meio século. No final do ano de 1963, Estarreja recebia a biblioteca fixa da Gulbenkian n.º 53 e com ela a emancipação da leitura pública no Concelho. Com o contributo da Fundação Calouste Gulbenkian, mais precisamente a política sectorial desenvolvida pelo Serviço de Bibliotecas Itinerantes (SBI)1, redenominado Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas em 1983 (SBIF) e mais tarde Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura em 1993 (SBAL), surgiram em Portugal as Bibliotecas Públicas como hoje as conhecemos, com leitura gratuita para todos, estantes em livre acesso, consultas presenciais e empréstimos domiciliários. Esta instituição privada prestou ao país um serviço inestimável, tendo sido no domínio da leitura pública o único apoio às populações durante décadas. No contexto de uma ditadura obscurantista como a do Estado Novo, a acção da Fundação Calouste Gulbenkian foi fundamental para a consagração da leitura pública até à assunção pelo Estado de uma “Rede de Bibliotecas Municipais”, em 1987.2 A Fundação Calouste Gulbenkian, instituição Portuguesa de direito privado e utilidade pública, foi criada por disposição testamentária de Calouste Sarkis Gulbenkian3 e os seus estatutos foram aprovados pelo Estado Português a 18 de Julho de 1956. A leitura pública oferecida pela Gulbenkian obedeceu a delicados compromissos, designadamente quanto ao público privilegiado e à oferta bibliográfica, aspectos essenciais dum serviço bibliotecário. Devido à expansão demográfica, industrial e económica do concelho de Estarreja, justificouse o pedido e a concessão de uma “biblioteca popular municipal”. Das diligências efectuadas junto da Fundação Calouste Gulbenkian no sentido de se obter a sua colaboração na criação de uma biblioteca, resultou a anuência e o apoio da instituição a tal iniciativa, tendo ficado assente que a biblioteca seria instalada, nos primeiros tempos do seu funcionamento, em sala própria do edifício dos Paços do Concelho; a Fundação dotaria a referida biblioteca com um número de livros suficiente ao funcionamento diário e regular da mesma e fornecia todo o mobiliário indispensável à sua instalação; seriam encargos da Câmara os respeitantes ao pessoal e outros resultantes da instalação, exceptuando o relativo a mobiliário.4

* Licenciada em Ciências da Informação Arquivística e Biblioteconómica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; Técnica da Biblioteca Municipal de Estarreja. 1 Serviço criado em 1958 pela Fundação Calouste Gulbenkian para apoio à leitura pública em Portugal, iniciou-se o projecto com as Bibliotecas Itinerantes. 2 - MELO, Daniel – As Bibliotecas da Fundação Gulbenkian e a leitura pública em Portugal (1957-1987). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2005, pág. 65. 3 - Calouste Sarkis Gulbenkian nasceu em Üsküdar, Istambul, a 23 de Março de 1869 e faleceu a 20 de Julho de 1955 em Lisboa. 4 - Acta da reunião ordinária da Câmara Municipal do Concelho de Estarreja celebrada no dia 27 de Junho de 1963, Livro n.º 51, pág. 175-176.

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Aprovadas por unanimidade as condições da Fundação Calouste Gulbenkian para a criação de uma biblioteca fixa em Estarreja, e após conversações entre as duas entidades, ficou acordado o seguinte: o primeiro lote de livros seria enviado brevemente à Câmara Municipal, a fim de poder dar-se aos serviços a orientação necessária; os livros seriam cedidos a título de empréstimo, sendo conveniente que lhes fossem destinadas estantes adequadas; o funcionário da biblioteca deveria acatar as diretrizes e métodos de trabalho pré-definidas; os inspectores da Fundação tinham o direito de fiscalizar e de ser informados de tudo o que se relacionasse com a leitura dos livros.5 Aos encarregados das bibliotecas, a Fundação Calouste Gulbenkian atribuía e incumbia várias tarefas e responsabilidades, sendo a mais importante a orientação da leitura. “A função principal do encarregado é orientar a leitura, em cada caso particular, com a maior atenção e solicitude, de maneira que a acção da biblioteca corresponda aos fins educativos, culturais ou simplesmente recreativos para que foi criada.” 6 Ainda que todos os leitores tivessem acesso livre às estantes, os encarregados das bibliotecas deviam orientá-los na escolha dos livros, assim como verificar se os documentos que escolheram eram acessíveis ao seu grau de cultura e desenvolvimento intelectual. Além disso, os encarregados deviam assegurar que os empréstimos de livros compreendiam a maior variedade possível (de autores, assuntos e áreas). Era também conveniente que os encarregados aconselhassem os leitores a ter preferência por autores portugueses. Neste sentido, as bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian seriam doravante abastecidas com um grande número de exemplares de livros de autores portugueses. “O grande número de títulos não permite que todos figurem nas prateleiras a que os leitores têm acesso…”; “As obras novas serão postas à disposição do público o mais rapidamente possível, o que poderá ser necessário retirar das estantes alguns títulos antigos, menos procurados. Mas isto sem prejuízo das obras principais de autores portugueses que devem figurar permanentemente na biblioteca.”7 A esta circular, juntou-se uma lista de obras de autores portugueses para “verificação diária” na biblioteca. Os “Lusíadas”, de Luís de Camões; “Folhas caídas”, de Almeida Garrett; “Os simples”, de Guerra Junqueiro; “Sonetos”, de Florbela Espanca; “A queda de um anjo”, de Camilo Castelo Branco; “Os Maias”, de Eça de Queirós; “As pupilas do Senhor Reitor”, de Júlio Dinis, entre outros grandes nomes da literatura Portuguesa são exemplos de obras de autores portugueses que deveriam figurar permanentemente nas bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian e que constam da lista anexa. A literatura foi uma grande área disciplinar a que a Fundação Calouste Gulbenkian dedicou especial atenção, constatando-se que representava mais de metade do seu fundo, ainda que também contemplasse todas as áreas. O primeiro catálogo das bibliotecas da Fundação foi publicamente divulgado em 1960, e já contemplava todas as classes da CDU.8 Os documentos das bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian eram organizados nas estantes por Classificação Decimal Universal, no entanto, obedeciam também a uma grelha de classificação de livros definida previamente por Branquinho da Fonseca9 e que obrigava a uma complexa distribuição dos livros por grupos etários (crianças, adolescentes e adultos), e por grau de dificuldade de leitura/interpretação (muito fácil, fácil ou difícil).

5 - Acta da reunião da Câmara Municipal do Concelho de Estarreja celebrada no dia 26 de Setembro de 1963, Livro n.º 52, pág. 44-45. 6 - Circular n.º 140 da F.C.G, de 16/07/1971. 7 - Circular da F.C.G. de 6/03/1967. 8 - A Classificação Decimal Universal (CDU) é um sistema de classificação documental. 9 - António José Branquinho da Fonseca (1905-1974) foi o primeiro director (1958-1974) do Serviço de Bibliotecas da F.C.G.

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A estas escalas correspondia uma sinalética própria, que se materializava na colagem na lombada do livro duma etiqueta colorida numa certa posição (no topo, no meio, ou em baixo), definindo a cor ou combinação de cores a classe ou subclasse da CDU e a posição da etiqueta o grau de dificuldade (de baixo para cima).10 Por exemplo, para as crianças e adolescentes existia uma cor específica, o verde, que ascendia de posição na lombada do livro à medida que aumentava a idade aconselhada. O projecto bibliotecário da Fundação Calouste Gulbenkian tinha implícito que o público-alvo era aquele que não tinha acesso à leitura, à informação e à cultura, por essa razão, este era inicialmente um projecto de educação popular pós-escolar. No entanto, apesar de terem sido projectadas para um público adulto, foi o público mais jovem quem beneficiou com a criação das bibliotecas da Fundação.

1 - Notícia do Jornal O Concelho de Estarreja “Uma biblioteca pública em Estarreja”, 22 de Dezembro de 1962, pág. 6.

A Biblioteca fixa n.º 53 da F.C.G. em Estarreja No dia 15 de Dezembro de 1963, Estarreja inaugurou a biblioteca fixa n.º 53 da Fundação Calouste Gulbenkian, criando deste modo, o início da leitura pública no Concelho. Um serviço público e gratuito para todos, com acesso à informação, ao conhecimento, e à cultura. A biblioteca ficou instalada em duas salas no rés-do-chão dos Paços do Concelho. Uma das salas continha as estantes dos livros e serviços, a outra sala era de leitura, com mesas próprias e iluminação individual.

10 - MELO, Daniel – Leitura e leitores nas bibliotecas da Fundação Gulbenkian (1957-1987). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2004, pág. 20.

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A Biblioteca começou por estar aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 18 às 20 horas, mas logo houve uma pequena mudança de horário, devido “a sugestão da Fundação e o interesse dos leitores, antecipando trinta minutos às horas de abertura e fecho,”11 ficando deste modo a funcionar das 17:30 às 19:30. Inaugurada com cerca de 2.000 volumes, a biblioteca ficou sob a responsabilidade de Mário dos Reis de Castro Pires Corte Real12, encarregado da biblioteca fixa n.º 53 da Fundação Calouste Gulbenkian durante mais de duas décadas. Filho de Augusto Álvaro Castro Pires Corte Real e de Maria José Reis Gancho Corte Real, o primeiro encarregado da biblioteca era natural de Santiago do Cacém, mas residente em Salreu. “Solteiro, maior, lavrador…”13, era um homem culto e letrado, assim como seriam todos os escolhidos para encarregados das bibliotecas da Gulbenkian. Os estarrejenses tinham à sua disposição uma biblioteca pública com leitura gratuita, estantes em livre acesso, consultas presenciais e empréstimos domiciliários.Todos os munícipes poderiam frequentar a Biblioteca e inscreverem-se como leitores, para requisitarem documentos. Desde o início que o projecto bibliotecário da Fundação Calouste Gulbenkian previa a possibilidade dos leitores solicitarem o empréstimo de obras que as suas bibliotecas não possuíam, justificando devidamente por escrito o seu pedido, o que foi uma inovação no país. Para tal, no início de 1963 foi criada a Biblioteca Central de Empréstimo (BCE), na sede, que serviria para guardar os livros solicitados.

2 - Notícia do Jornal O Concelho de Estarreja - “Inaugurada a Biblioteca”, 21 de Dezembro de 1963, pág. 3.

11 - Acta da reunião da Câmara Municipal do Concelho de Estarreja celebrada no dia 27 de Dezembro de 1963, Livro n.º 52, pág. 110. 12 - Mário dos Reis de Castro Pires Corte Real nasceu a 20/09/1916 e faleceu a 19/05/2006. Está sepultado em Salreu. 13 - Acta da reunião da Câmara Municipal do Concelho de Estarreja celebrada no dia 3 de Outubro de 1963, Livro n.º 52, pág. 50.

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3 – Mário dos Reis de Castro Pires Corte Real, primeiro encarregado da Biblioteca fixa n.º 53 da F.C.G.14

4 – Placa identificativa da Biblioteca fixa n.º 53 da F.C.G.15

Mensalmente, os encarregados das bibliotecas da F.C.G. teriam de preencher e enviar à sede mapas estatísticos de leitura de acordo com o número de requisições dos leitores atendidos e dos livros emprestados.

5 - Primeiro mapa estatístico de leitura da Biblioteca fixa n.º 53, ano de 1963.

14 - Foto gentilmente cedida pelo Eng. Adolfo Vidal. 15 - Foto Juliana Cunha.

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No primeiro mapa estatístico de leitura, pode verificar-se que no dia da abertura foram atendidos 91 leitores. Houve também 95 leitores inscritos, entre crianças (até 11 anos, inclusive), adolescentes (12 a 16 anos) e adultos (desde 17 anos, inclusive). Relativamente à classificação, verifica-se que a classe 8 (Língua, Linguística e Literatura) foram as áreas mais consultadas/ requisitadas. Constata-se igualmente que no total do mês de Dezembro foram atendidos 317 leitores e inscritos 190, entre crianças, adolescentes e adultos. Quanto aos documentos consultados/requisitados contabilizou-se no total 1224 volumes. Em Fevereiro de 1964, num breve inquérito do jornal O Concelho de Estarreja junto das casas de livros, constata-se que com a abertura da biblioteca, aumentaram também as vendas. Dois anos após a abertura (Dezembro de 1965), o fundo bibliográfico da biblioteca fixa n.º 53 já era constituído por 4726 obras e estavam inscritos 1060 leitores.16 Os leitores inscritos teriam de cumprir as normas da biblioteca e devolver os livros nas devidas condições e atempadamente. Caso não o fizessem, seriam avisados através do envio de postais de aviso ou de outras formas mais directas. Caso um leitor perdesse ou danificasse um livro, teria de o repor à biblioteca, no entanto, se comprovasse dificuldades económicas, a Fundação absolvia essa incumbência. Todos os documentos poderiam ser requisitados, à excepção de dicionários, enciclopédias e obras de valor elevado. Para ir de encontro às necessidades e interesses culturais dos leitores, e para tentar chegar a um maior número de pessoas possível, a F.C.G. junto ou através das autarquias locais solicitava que fossem colocados nas localidades onde estavam instaladas as bibliotecas fixas, cartazes com o respectivo horário de funcionamento e placas assinalando a sua localização, bem como o recurso à imprensa ou à radio locais para que tais elementos informativos fossem do generalizado conhecimento das populações. A F.C.G. preocupava-se com a imagem de cada biblioteca, assim como a adequada inserção na vida da comunidade. Defendia igualmente que para além de uma bom relacionamento com o público, teria de existir uma estreita articulação com as entidades autárquicas, a fim de se obter um serviço de qualidade. De forma a uniformizar o serviço de todas as bibliotecas e de assegurar o bom funcionamento, era frequente a F.C.G. enviar circulares com instruções regulamentares e linhas de orientação gerais. Recorde-se que em 1994 existiam 150 bibliotecas fixas no Continente, e 29 nos Açores e Madeira.

16 - Mapa estatístico de leitura da biblioteca, ano de 1965. (Arquivo Municipal de Estarreja, fundo da Biblioteca da F.C.G.).

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Depois de cerca de duas décadas a funcionar no edifício dos Paços do Concelho, a biblioteca fixa n.º 53 passou a estar instalada no edifício da “Casa Municipal da Cultura”, após o mesmo ter ficado na posse da Câmara Municipal a 13 de Agosto de 1981. A Fundação Calouste Gulbenkian continuava a apoiar as suas bibliotecas, enriquecendo o fundo bibliográfico com monografias e publicações periódicas, assim como reforçando as actividades de promoção da leitura e dos livros, realizando exposições, encontros e debates. Foram igualmente enfatizadas a animação da leitura e a difusão cultural. Com um horário alargado (recorde-se que inicialmente só funcionava duas horas por dia), com um fundo bibliográfico actualizado e com actividades de promoção da leitura e do livro, os estarrejenses continuavam a ter à disposição esta valência cultural.

6 - Notícia do Jornal O Concelho de Estarreja – “Biblioteca”, 22 Fevereiro de 1964, pág. 6.

7 – Fotografia da biblioteca da F.C.G. no edifício da Casa da Cultura.17 17 - Fonte: Arquivo Municipal de Estarreja. (Fotografia sem data, presume-se finais da década de 80, princípios da década de 90).

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8 – Exemplo de um cartão de leitor da biblioteca da F.C.G.

9 – Frente e verso de uma ficha bibliográfica da biblioteca da F.C.G.

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O fim da Biblioteca fixa n.º 53 da F.C.G. e o início da Biblioteca Municipal Em 2002, devido à extinção do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura (SBAL) e à reestruturação dos serviços da Fundação Calouste Gulbenkian, todo o espólio bibliográfico da biblioteca fixa n.º 53 foi doado à Câmara Municipal, assim como a sua administração.18 A doação contemplou mais de 15.000 mil obras, o que significou que durante 39 anos de serviço público, a Fundação Calouste Gulbenkian foi aumentando e actualizando o fundo bibliográfico da biblioteca de Estarreja. A oferta bibliográfica da F.C.G. evoluiu ao longo do tempo, e a ruptura entre a ditadura e a democracia foi operante, permitindo libertar a leitura para novos públicos e temáticas. A edificação de uma estrutura de leitura pública em Portugal foi obra pioneira da Fundação Calouste Gulbenkian. Apesar do contexto político adverso da altura, com um estado avesso a responsabilidades na promoção cultural, a F.C.G. soube usar o seu estatuto de autonomia suficiente para colmatar as graves lacunas existentes no sector da leitura pública. Grande parte do sucesso da F.C.G. deveu-se às articulações com as instituições, sobretudo municípios. A acção da F.C.G. foi fundamental para a consagração da leitura pública dos estarrejenses em particular, e dos Portugueses no geral. Após tantos anos de serviço público, havia a necessidade de continuar com esta boa política de promoção da leitura e da cultura, oferecendo aos estarrejenses uma nova biblioteca. No dia 9 de Outubro de 2004 foi inaugurada a nova biblioteca Municipal de Estarreja, integrada na Rede Pública de Bibliotecas Municipais, resultante do contrato programa celebrado entre o IPLB19 e a Câmara Municipal de Estarreja. Instalada no centro da Cidade no palacete “Casa dos Leites”, o novo edifício cultural apresentava-se convidativo e moderno. Numa primeira fase, cerca de 25 mil obras foram colocadas à disposição dos estarrejenses, para além de outros serviços, como a consulta de publicações periódicas, o acesso à internet, o serviço de referência ou as atividades culturais. A nova Biblioteca surgiu com a finalidade de promover a educação, a cultura, o lazer e a informação em todos os tipos de suporte, de modo gratuito e universal. A Biblioteca Municipal é um centro de informação e conhecimento, acessível a todos os seus utilizadores. Com onze anos de serviço prestado à comunidade, a Biblioteca Municipal continua a ser uma valência cultural para o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo. A Biblioteca Municipal é hoje um espaço multicultural e cívico, com um papel activo na sociedade. Além de ser um lugar de aprendizagem, é também um lugar para se estar e conviver. Actualmente, uma biblioteca necessita de estar constantemente a cativar novos públicos. A versatilidade da biblioteca municipal é fundamental para o seu futuro, tendo necessidade de ocupar o seu espaço no quotidiano dos seus leitores, não se limitando à área do seu edifício. Há mais de meio século que a biblioteca pública surgiu no concelho de Estarreja, tendo sempre como missão principal consolidar e alargar os hábitos de leitura dos estarrejenses, desde a primeira infância. Passados mais de cinquenta anos, e ainda que hoje haja um novo paradigma de bibliotecas públicas, adequado ao século em que vivemos, com novas tecnologias, novas formas de leitura, informação em constante actualização e leitores mais exigentes, a missão primordial continua a ser a mesma: promover e incentivar a leitura.

18 - Acta n.º 29 da reunião ordinária da Câmara Municipal do Concelho de Estarreja celebrada no dia 3 de Dezembro de 2002, pág. 8. 19 - IPLB, Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.

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Referências Bibliográficas ARQUIVO MUNICIPAL DE ESTARREJA Livro das Actas da Câmara Municipal de Estarreja, Livro n.º 50 (12/04/1962 a 22/11/1962); Livro n.º 51 (22/11/1962 a 22/07/1963); Livro n.º 52 (22/07/1963 a 16/04/1964). ARQUIVO MUNICIPAL DE ESTARREJA Fundo documental da Biblioteca da Fundação Calouste Gulbenkian. Estarreja, 1963-2002. FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN Serviço de bibliotecas e apoio à leitura. Lisboa: F.C.G., 1994. MELO, Daniel As bibliotecas da Fundação Gulbenkian e a leitura pública em Portugal (1957-1987). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2005. MELO, Daniel Leitura e leitores nas Bibliotecas da Fundação Gulbenkian (1957-1987). Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 2004. NUNES, Henrique Barreto Bibliotecas para a vida: literacia, conhecimento, cidadania. Braga: Biblioteca Pública; Lisboa: Colibri; Évora: Universidade de Évora, 2007. NUNES, Henrique Barreto Da biblioteca ao leitor: estudos sobre a leitura pública em Portugal. 2ª edição. Braga: Autores de Braga, 1998. O CONCELHO DE ESTARREJA Biblioteca, in O Concelho de Estarreja, 22 de Fevereiro de 1964, pág. 6. O CONCELHO DE ESTARREJA Inaugurada a biblioteca, in O Concelho de Estarreja, 21 de Dezembro de 1963, pág. 3. O CONCELHO DE ESTARREJA Nova Biblioteca Municipal entrou em funcionamento, in O Concelho de Estarreja, Ano XCIV, n.º 4025, de 24 de Outubro de 2004, pág. 9. O CONCELHO DE ESTARREJA Uma biblioteca pública em Estarreja, in O Concelho de Estarreja, 22 de Dezembro de 1962, pág. 6. SÁ, Vitor de As bibliotecas, o público e a cultura: um inquérito necessário. Lisboa: Livros Horizonte, cop. 1983.

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A PRIMEIRA REFERÊNCIA ESCRITA A SALREU (1076/1106) Marco Pereira* A actual freguesia de Salreu tem o seu nome pela primeira vez escrito num documento que lhe é exclusivamente dedicado. Na verdade são dois documentos, mais ou menos similares no seu conteúdo, mas com datas diferentes: uma inscrição no Livro Preto da Sé de Coimbra (1076)1, e um pergaminho autónomo do Cabido da Sé de Coimbra (1106)2. Um será a cópia do outro, não sendo claro qual deles possui a data correcta, como aliás já concluiu um investigador local3. Aparte da polémica da data, com uma significativa diferença de 30 anos, existe um contexto de época do nosso país que é preciso notar. O fim do século X ficou marcado pela destruição causada por Almançor e consequente recuo temporário da fronteira cristã, o que no início do século XI facilitou o começo de arbitrariedades de seculares nos bens das igrejas4. Durante o século X e principalmente no século XI produziram-se diversos documentos, que constituem as primeiras referências escritas a algumas das actuais freguesias e lugares do concelho de Estarreja e terras vizinhas. A fronteira cristã foi-se dilatando e a reconquista definitiva de Coimbra ocorreu em 1064. Para trás ficavam as terras recém-reconquistadas aos muçulmanos, boa parte das quais nas mãos de presores, que em muitos casos as transmitiram hereditariamente aos seus sucessores. Entre os protagonistas cristãos da Reconquista corria ainda o sangue e a memória da ascendência goda, proveniente dos antigos reinos Visigodo e Suevo. É pois sem surpresa que sejam frequentemente de origem germânica os nomes de pessoas documentados deste período. No caso em análise quatro herdadores da villa de Sarleu devolveram à igreja local, dedicada a S. Martinho, os passais que até então possuíram. Levantam-se aqui várias questões, às quais importa dar alguma atenção. Primeiro notar que herdadores são proprietários rurais, cuja posse da terra foi obtida por herança. Em segundo lugar a restituição dos passais pelo grupo sugere que sejam também os padroeiros da igreja, sendo este padroado obtido por sucessão hereditária. Em terceiro, o nome da localidade que é Sarleu e não Salreu. Enfim os nomes de origem germânica dos herdadores (Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares), que são apenas quatro e destes só três partilhando o mesmo patronímico (Soares = filhos de Soeiro), talvez todos netos dalgum presor que obteve a aquisição originária das terras que eles agora possuíam. Parte destas questões merece uma resposta autónoma, atento o seu particularismo medieval, que ajude a compreender em toda a sua dimensão o conteúdo do documento, com a mais antiga referência escrita a Salreu. É o que se passa com o topónimo, primitivamente grafado Sarleu, e com a noção do que são passais, herdadores, e herdeiros/naturais/padroeiros. Aproveitamos a oportunidade de se tratar de passais para referir brevemente os passais das restantes freguesias de Estarreja e Murtosa.

*Advogado com escritório em Estarreja 1 - ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36). 2 - ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31. 3 - LOPES PEREIRA, “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273. 4 - VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, p. 324 (Igreja).

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MARCO PEREIRA

TOPÓNIMO SALREU A generalidade das primeiras menções escritas a Salreu, lugar e freguesia do actual concelho de Estarreja, registam o topónimo como Sarleu (passais em 1076/1106, rol de igrejas em 12201238, doação do couto de Antuã em 1257, aforamento e Inquirições em 1284, referência à paróquia em 1279), com excepção para as Inquirições de 12205. É fantasiosa a etimologia francamente divulgada do Sal-a-Reu, proposta por Rocha e Cunha6. J. M. Piel defendeu tratar-se Salreu de um antropónimo de origem germânica, de *Sala-redu(s)7, que no genitivo daria *Salaredi, no que concordou José Pedro Machado8. Contudo a explicação peca por não atentar à primitiva forma escrita do topónimo, trocando o R e o L, para o que apontou A. de Almeida Fernandes. Este autor manteve a teoria da origem germânica, porém filiando-a em sarwa «armas» + lews «paz»9. Neste entendimento, aliás linguisticamente bem fundamentado, Salreu terá sido no início o nome (de origem germânica) de um possessor rural, da época do domínio godo ou da Reconquista, tornado topónimo quando aplicado às suas terras, no genitivo, com o sentido de posse. O nome dessa propriedade rural, ou villa, sobrepôs-se às vizinhas, seja pela sua maior importância ou por nela se situar a igreja da região. PASSAIS Passal é a designação atribuída a uma parcela de terreno, em redor de todas as igrejas paroquiais, cuja existência em Portugal está documentada desde o fim do século IX e terminou com a Primeira República, que confiscou estes terrenos à Igreja. Um primeiro raio de 12 passos em torno da igreja correspondia ao adro actual, com cemitério. Do limite deste círculo media-se um segundo raio, de 72 passos, para terrenos de cultivo destinados ao sustento dos párocos e do culto. Constituíam-se pois de 84 passos de raio os passaes, ou dextros como também se chamaram primitivamente, gozando este espaço da imunidade eclesiástica. «O nome dextri, adjectivo qualificativo de passus, indica que os passos se contavam com o pé direito e que se tratava de passos romanos ou duplos, equivalentes a dois passos simples. O passo romano continha cinco pés ou cinco pés e meio, de 28 centímetros cada pé. No sistema métrico decimal, cada passus dextros media 1,40 a 1,54 metros, podendo arredondar-se para metro e meio. Assim, os 84 passos davam uma circunferência de uns 126 m. de raio, e, portanto, uma superfície de uns 19.960 m2, quase dois hectares. Embora os documentos dêem a entender que o círculo de 12 passos e o de 72 formavam um todo de 84 passos de raio, é natural que, muitas vezes, o terreno equivalente aos 72 passos ficasse a certa distância, em terras equivalentes em extensão e qualidade às abrangidas pelos 72 passos de raio»10.

5 - PEREIRA, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã, VIII, 2014, pp. 157-194. 6 - DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III – Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 563. 7 - PIEL, J. M. – Os nomes germânicos na toponímia portuguesa, separata do Boletim de Filologia, tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258. 8 - MACHADO, José Pedro, Diccionário Onomástico Etimológico de Língua Portuguesa, 2.ª ed., 1993, p. 1299 (Salreu). 9 - FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Portuguesa (Exame a um Dicionário), Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1999, p. 529. 10 - COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343.

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PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA Na sequência da Lei da Separação do Estado das Igrejas (1911) procedeu-se ao inventário dos bens cultuais em todas as freguesias. Os passais acabariam confiscados pelo Estado, podendo os terrenos ser utilizados para fins de interesse público, arrendados ou alienados, revertendo para a Fazenda Nacional os lucros que pudessem proporcionar. O fim da posse eclesiástica deixou rasto escrito, consultável no Arquivo Corrente do Ministério das Finanças, e também online11. Registamse apenas algumas referências respeitantes aos passais das freguesias de Estarreja e Murtosa: 1) Avanca – Notícia de 1891 localiza o passal (remanescente) junto à Residência Paroquial, confrontando com o Norte do adro da igreja12. Após o inventário de 191113, o Ministério das Finanças procedeu à venda da Residência e passal, por arrematação pública que teve lugar em Lisboa em 15 de Dezembro de 191914. O passal voltou mais tarde a ser alienado pela Nestlé15. 2) Beduído – No inventário de 1911 consta que a igreja de Beduído confrontava com o passal a Norte, Este e Oeste, e com o cemitério a Sul16. A rua que fica a Norte da igreja tem hoje a designação de Rua do Passal. 3) Canelas – O passal de Canelas acabou incorporado na Fazenda Nacional em 1924/192517. 4) Fermelã – Inclui-se no inventário de 1911 o passal de Fermelã18. 5) Pardilhó – Situava-se o passal, ou o que dele restava, pouco a Norte da antiga igreja, no lugar do Agro, como ficou registado no inventário de 191119 e em notícia de 191820. 6) Salreu – Conhecem-se sucessivas notícias do passal, datadas de 1911, 1920-1924 e 195821. O topónimo ainda é utilizado, no fundo da Rua de S. Martinho, zona da antiga igreja22. 7) Veiros – Alude-se ao passal de Veiros em 192323. 8) Bunheiro – Encontra-se o passal no inventário de 1911 e em documentos de 1917 e 1924193924. 9) Monte – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1932. 10) Murtosa – O passal da Murtosa está documentado em 1911, 1914, 1923 e 1944-194625. 11) Pardelhas – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1939. 12) Torreira – Não existiu passal pois a paróquia só foi criada em 1928. Enfim uma notícia de 1912 alude ao arrendamento dos passais de Beduído, Pardilhó, Murtosa e Salreu, estando então por arrematar Fermelã e Bunheiro26.

11 - Consulte-se, a este respeito: CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas e capelas das paróquias dos concelhos de Estarreja e Murtosa – Parte I”, Terras de Antuã, IV, 2010, pp. 55-100. 12 - BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação da República, 18361910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142. 13 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 57. 14 - A Notícia, n.º 11, 12.10.1919, p. 2; AVoz de Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1. 15 - CARDOSO, Carlos – Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, Câmara Municipal de Estarreja, 2000 (1.ª ed. de 1961), p. 55. 16 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 60. 17 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 70. 18 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 71. 19 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., p. 74. 20 - PEREIRA, Marco – História do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó, Centro Paroquial de Assistência da Freguesia de Pardilhó, 2012, p. 23. 21 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 77, 82, 83. 22 - PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37.

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HERDADORES Os vilãos herdadores aparecem nos séculos XIII e XIV, não nobres mas descendentes dos presores da Reconquista e de pequenos proprietários moçárabes, dos quais teriam herdado os alódios, ou seja, eram possuidores livres de terras. Podiam no entanto ter de pagar géneros e prestar serviços pessoais ao rei. Uns exploravam directamente as suas terras, outros cediamnas à exploração. Também se podiam chamar herdadores aqueles que detinham o domínio útil sobre uma parcela de terra, aforada com prazo perpétuo, transmitindo-se por isso hereditária e perpetuamente o seu direito. Em qualquer caso trata-se de pequenos proprietários, tendo origem entre os mais ricos destes os cavaleiros-vilãos. Distinguem-se dos vilãos reguengueiros, que eram simples arrendatários dos reguengos (terras régias). Com herdador relaciona-se herdade (hereditas), com o significado de bem de raiz nos séculos IX a XV, o mesmo que casal, quinta, herdamento, prédio rústico, granja, propriedade e aldeia. HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS Durante o século XI e princípio do século XII as igrejas eram geralmente património de leigos, descendentes dos respectivos fundadores ou dotadores. Estes descendentes tomavam a designação de herdeiros, naturais ou padroeiros27. Como bem patrimonial que eram, as igrejas transmitiam-se hereditariamente e podiam ser alienadas, sem intervenção da jurisdição eclesiástica28. Os abusos dos herdeiros sobre o património eclesiástico motivaram freio régio, a partir de 126129. BIBLIOGRAFIA 1. FONTES ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36) – A.D. 1076 ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31 – A.D. 1106 Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos Particulares, AD 1101-1115, Academia Portuguesa da História, Lisboa, 1940, doc. n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31)

23 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 87 e 97. 24 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 88, 91 e 92. 25 - CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas…”, cit., pp. 87, 94, 97 e 98. 26 - O Povo da Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1. 27 - VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram…, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327 (Igreja). 28 - GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III, p. 337. 29 - CASTRO, Armando de – “Padroeiros”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512.

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Livro Preto: Cartulário da Sé de Coimbra. Apres., introd., not. e bibliog. Manuel Augusto Rodrigues; pref. critérios transcrição e aparatos críticos Avelino de Jesus da Costa. Ed. crítica. Coimbra: Arquivo da Universidade de Coimbra, 1999 Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc. n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra) “Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, ed. Miguel de Oliveira, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra; transcrição e tradução) 2. ESTUDOS LOPES PEREIRA – “Couto e julgado de Antuã”, Arquivo do Distrito de Aveiro, XII, 1946, p. 273 PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6 OLIVEIRA, Miguel de – “Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 320-327 (Igreja) 2.1. TOPÓNIMO SALREU DIONISIO, Sant’Anna (apresentação e notas) – Guia de Portugal, 3.º ed., vol. III – Tomo 1 – Beira. Beira Litoral, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, p. 563 FERNANDES, A. de Almeida – “Toponímia”, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, XXXII, p. 72 FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Portuguesa (Exame a um Dicionário), Arouca Associação para a Defesa da Cultura Arouquense 1999, p. 529 MACHADO, José Pedro, Diccionário Onomástico Etimológico de Língua Portuguesa, 2.ª ed., 1993, p. 1299 (Salreu) PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6 PEREIRA, Marco – “Os actuais concelhos de Estarreja e Murtosa no século XIII”, Terras de Antuã, VIII, 2014, pp. 157-194 PIEL, J. M. – Os nomes germânicos na toponímia portuguesa, separata do Boletim de Filologia, tomo II e ss., 1936, pp. 196, 257, 258 2.2. PASSAIS COSTA, Américo – Diccionario chorographico de Portugal continental e insular, Livr. Civilização, vol. II, 1930, p. 456 (Angeja) COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr.António deVasconcelos, 1959, pp. 342-343 FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia Arouquense, Arouca, Associação para a Defesa da Cultura Arouquense, 1995 (Passal)

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FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia do concelho de S. João da Pesqueira, Arouca, Associação da Defesa do Património Arouquense, 2003, p. 159 (Passal) OLIVEIRA, Miguel de – As paróquias rurais portuguesas: sua origem e fundação, União Gráfica, 1950, pp. 101-102 VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 193 (Dextros), 467-468 (Passaes), 468 (Passal) 2.3. PASSAIS DAS FREGUESIAS DE ESTARREJA E MURTOSA BISMARCK FERREIRA, Delfim, e CORREIA, Telma – Avanca e os seus autarcas até à implantação da República, 1836-1910, Junta de Freguesia de Avanca, 2010, p. 142 CÁLÃO, Hugo – “Os inventários das igrejas e capelas das paróquias dos concelhos de Estarreja e Murtosa – Parte I”, Terras de Antuã, IV, 2010, pp. 55-100 CARDOSO, Carlos – Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca, Câmara Municipal de Estarreja, 2000 (1.ª ed. de 1961), p. 55 A Notícia, n.º 11, 12.10.1919, p. 2 PEREIRA, Marco – Salreu – Património Construído, Junta de Freguesia de Salreu, 2009, pp. 4-6, 37 PEREIRA, Marco – História do Centro Paroquial e da Paróquia de Pardilhó, Centro Paroquial de Assistência da Freguesia de Pardilhó, 2012, p. 23 O Povo da Murtosa, n.º 372, 26.10.1912, p. 1 AVoz de Estarreja, n.º 14 (34), 9.12.1919, p. 1 2.4. HERDADORES ALMEIDA, Fortunato de – História de Portugal, 1.ª ed., I, Coimbra, Imprensa Académica, 1899, p. 389 OLIVEIRA, Miguel de – “Inquirições de D. Afonso III na Terra de Santa Maria”, Lusitânia Sacra, Tomo VII, 1964/66, p. 98 OLIVEIRA MARQUES, A. H. de – “Herdadores”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, III, pp. 213-214 SAMPAIO, Alberto – Estudos Históricos e Económicos – As Vilas do Norte de Portugal, Lisboa, Editorial Veja, 1979, pp. 127 e 146 SOUSA, Gonçalo António Tavares de – Exame da questão sobre os foros do Convento de Arouca no Concelho de Estarreja, Porto, Typ. de J. L. de Souza, s/d (c. 1850), p. 9 VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 226 (Erdador), 309-312 (Herdade), 312 (Herdador) 2.5. HERDEIROS, NATURAIS OU PADROEIROS CASTRO, Armando de – “Padroados”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, p. 511

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CASTRO, Armando de – “Padroeiros”, Dicionário de História de Portugal, dirig. por Joel Serrão, IV, pp. 511-512 COSTA, Avelino Jesus da, O bispo D. Pedro e a organização da arquidiocese de Braga, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959, pp. 342-343 GAMA BARROS, Henrique da – História da Administração Pública em Portugal nos séculos XII a XV, 2.º ed. (dirig. por Torquato de Sousa Soares), 11 vols., 1945-1956, vol. III, p. 337 SANTOS, Cândido Augusto Dias dos – O Censual da Mitra do Porto: subsídios para o estudo da diocese nas vésperas do Concílio de Trento, Câmara Municipal do Porto, 1973, p. 100, nota 121 VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de – Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram, 2.ª ed., vol. II, Lisboa, A. J. Fernandes Lopes, 1865, pp. 313 (Herdeiros), 320-327 (Igreja), 436-437 (Natural)

ANEXOS DOC. 1 S. L. ERA 1114 (A.D. 1076), MÊS DE FEVEREIRO Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares e Ero Soares, herdeiros da vila de Salreu, confirmam e restituem o passal que circundava a igreja de S. Martinho daquela villa. Confirmatjio e integitas passalium de ecclĩa scĩ martini de sárleo . In dĩ nomine. Nos hereditatores de uilla sarleo. scilic& gundisaluus soariz. et menendus oseuiz. et alius gundisaluus soariz. atque erus suariz. quj usque hodie tenuimus passales de ecclĩa scĩ martini inter nos. modo pac& nobis omnibus prenñatis. ut reintegraremus illam illam (sic) ecclĩam de octuaginta et. IIorII. passibus per omnem circuitum. ut sint semper ad profectum eiusdem ecclĩe. et clĩco ibi commoranti cunctis temporibus. pro remissione nȓorum peccatorum. et pro amore scĩ martini. Si uº ex hinc aliqui ex nobis supªnnatis uoluerimus hos passales ab illa ecclĩa iure abstollê. et hoc factȗ infringere. ut pariat. ccc. soldos illo clĩco qui ibi moratus fuĩt. uel qi suã uocem pulsauerit de parte de illo episcopo. et insuper incidat in pristinã excõmunicatjonê. Facta reintegratjoĩs carta mense februario. Era. mª. cª. xª. iiiªi. Nos omnes prennatj (sic) hanc cartam coram idoneos testes roborauimus + + + + Gundisaluus diaconus confirmo. Martinus prior confirmo. Fernandus gunsaluiz testis. Frogia abba confirmo. Fernandus ermigiz testis. Jhoannes presbiter confirmo. Gunsaluus gutierriz testis. Dnĩcus presbiter confirmo. Pelagius esarkiz testis. Petrus presbiter confirmo. Jvlianus presbiter Notuit. Menendus archidiaconus confirmo . Livro Preto da Sé de Coimbra, vol. 1, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977, doc. n.º 103, pp. 150-151 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)

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MARCO PEREIRA

DOC. 2 1106, FEVEREIRO. – Gonçalo Soares e outros restituem à igreja de S. Martinho de Salreu (c. Estarreja) uma cêrca de oitenta e quatro «passais» T.T. – Sé de Coimbra, m. II, doc. 31, or. vis. trans. In Dei nomine. Nos hereditatores de uilla de Sarleo, scilicet Gundisaluus Suariz et Menendus Oseuiz et alius Gundisaluus Suariz atque Erus Suariz qui usque hodie tenuimus passales de ecclesia Sancti Martini inter nos modo placet nobis omnibus prenominatis ut redintegraremus illam ecclesiam de octuaginta et IIII.or passibus per omni circuitu (per omni circuitu entrelinhado) ut sint semper ad profectum eiusdem ecclesie et clerico ibi commoranti cunctis temporibus pro remissione nostrum peccatorum et pro amore Sancti Martini. Si uero ex hinc uni ex nobis prenominati uoluerint hos passales ab illa ecclesia iure abstollere et hoc factum infringere ut pariet trecentos solidos illo clerico qui ibi moratus fuerit uel qui suam uocem pulsauerit de parte de illo episcopo et insuper incidat in pristinam excomunikatjonem. Facta redintegratjonis carta mense Februario Era M.C.X˘.IIII. Nos omnes prenominati hanc cartam coram idoneos testes roboramus + + + +. Gundisaluus Gutterriz ts., Pelagius Ezrakiz ts. – Fernandus Guaziniz ts., Fernandus Ermigiz ts. – Martinus prior conf., Frogia aba conf., Iohannes presbiter conf., Dominicus presbiter conf. – Petrus presbiter conf., Menendus archidiaconus conf., Gundisaluus diaconus conf. Iulianus presbiter notuit. Documentos Medievais Portugueses, ed. Rui Pinto de Azevedo, vol. 3, Documentos Particulares, AD 1101-1115, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940, doc. n.º 208, pp. 179-180 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31) DOC. 3 TRADUÇÃO Confirmação e entrega dos passais da igreja de S. Martinho de Sarleo (por Salreu). Em nome de Deus. Nós, os herdadores da vila de Sarleo, a saber, Gonçalo Soares, Mendo Oseviz, outro Gonçalo Soares, e Ero Soares, que até hoje condividimos a posse dos passais da igreja de S. Martinho: apraz-nos agora a todos os sobreditos reintegrarmos essa igreja de 84 passos a toda a volta para que sempre sirvam de logradouro à mesma igreja e ao clérigo nela residente, por todo o tempo, em remissão de nossos pecados e por amor de S. Martinho. Porém, se desde agora alguns de nós acima nomeados quiser subtrair ao direito dessa igreja estes passais e infringir esta resolução, pague 300 soldos ao clérigo que nela morar ou a quem o representar da parte do bispo, e incorra ainda na antiga excomunhão. Fez-se esta carta de reintegração no mês de Fevereiro de 1114 (ano de 1076).Todos nós acima nomeados confirmamos esta carta perante testemunhas idóneas. Martinho, prior, confirmo; Frógia, abade, confirmo; João, presbítero, confirmo; Onerico, presbítero, confirmo; Pedro, presbítero, confirmo; Mendo, arcediago, confirmo; Gonçalo, diácono, confirmo. Fernando Gonçalves, testemunha; Fernando Ermiges, testemunha; Gonçalo Guterres, testemunha; Pelágio Ezarkiz, testemunha. Julião, presbítero, o notou. “Passais da igreja de Salreu no ano de 1076”, ed. Miguel de Oliveira, Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. II, n.º 6, 1936, pp. 129-130 (ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra)

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1076, FEVEREIRO – Restituição dos passais de S. Martinho de Salreu. ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Lv. 6, fl. 49v – Livro Preto da Sé de Coimbra (antiga Colecção Costa Basto, n.º 36)

1106, FEVEREIRO – Restituição dos passais de S. Martinho de Salreu. ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, Documentos particulares, 1.ª incorporação, mç. 2, doc. 31

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NORBERTO MONTEIRO

FRENTE LAGUNAR DE ESTARREJA E OS SEUS TESOUROS Norberto Monteiro* Estarreja, terra bela e anfíbia que mantém uma relação visceral com o meio aquático, nos tempos mais primitivos cresceu com o mar a seus pés e com o passar dos séculos à beira Ria ficou. Para percebemos a natureza de toda a frente lagunar do concelho, assim como a importância do binómio Natureza-Homem, proponho uma sintetizada viagem no tempo até à origem da Ria de Aveiro.

Foto aérea com vista sobre o rio Antuã, Ria de Aveiro e mar

A Ria de Aveiro é uma laguna relativamente recente, tendo a sua formação começado há cerca de mil anos com uma restinga que se foi estendendo de Espinho para sul. Através da seguinte figura conseguimos visualizar as sucessivas migrações da instável barra, desde o séc. XII até ao séc. XVIII. A tendência natural e galopante para os sedimentos arrastados colmatarem o canal de comunicação com o mar, promoveu a criação de embocaduras artificiais desde os finais do séc. XVI. O regime de marés, vital para a salubridade da região, estava constantemente em cheque, dificultando a renovação das águas e tornando-as insalubres. A permanente e intensa acumulação de areias, mais forte que os esforços do homem para manter a ligação ao mar, conduziu ao fecho do canal provocando uma autêntica catástrofe natural, propagando epidemias e malária. As atividades associadas à exploração dos recursos naturais da Ria mergulharam numa crise profunda, sobretudo desde a segunda metade do séc. XVIII até à abertura definitiva da barra em 1808.

* Licenciatura e Mestrado em Engenharia do Ambiente pela Universidade de Aveiro. Coordenador do BioRia.

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O registo do número de navios para a pesca de bacalhau passou de 150 no séc. XVI, para 5 entre 1736 e 1740 e 0 entre 1745 e 1750, ilustrando as dificuldades de navegação (Sampaio, 1966). A impossibilidade de dar escoamento às águas, originou violentas cheias provocado a paralisação da atividade agrícola e a destruição de salinas. Foram tempos de miséria como se descreve no seguinte excerto: “as terras lavradas estão fora de estado de cultura; os prados submergidos; as salinas todas cobertas; morre o gado que vive das ervas, adoece muita gente em Aveiro e na Marinha; e alguns médicos dizem que o peixe que vai pastando plantas que são aquáticas e que apodrecem debaixo de água, vem a ser muito nocível […]; já ninguém em Aveiro quis comprar peixe da Ria” 1 Em 1808, após várias tentativas, a Barra foi aberta artificialmente na mesma localização que ocupa nos dias de hoje. No dia 3 de Abril de 1808, aquando da abertura da barra, o Engenheiro responsável por essa obra exaltou: “rapazes, mulheres, tudo trabalha, tudo ganha dinheiro e andam fartos. Então não é isto Bonito?!” Com a comunicação com o mar reposta, a região começou aos poucos a recuperar, apesar de se terem registado muitos episódios dramáticos entre o homem e natureza para evitar o entupimento do canal. É certo que esta luta se perpetuará no tempo, porém com as obras já realizadas na boca da barra e com os recursos tecnológicos disponíveis o homem tem a facilidade de potenciar o porto comercial, e ao mesmo tempo tem, ou devia ter, a responsabilidade de preservar um ecossistema único e sensível como é a Ria de Aveiro.

Diferentes localizações da Barra de Aveiro (adaptado de Lamy 2001)

1 - memória de 1807, Amorim 2008

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Paralelamente a este período no território de Estarreja a preciosa terra foi sendo moldada de forma engenhosa pelo homem, que desde cedo aqui se fixou atraído pelos excelentes recursos naturais. Segundo estudos arqueológicos a ocupação deste território remonta ao período do Neolítico (séculos V a III a.C.), e no séc. X existiam pequenos povoados dedicados a agricultura e pastorícia. Mais tarde no séc. XIII, pequenas aldeias distribuídas pela região para além da atividade agrícola dedicavam-se à exploração salineira e piscatória. Com a chegada do caminhode-ferro em 1862, ocorreu com naturalidade uma mudança de paradigma, perdendo a navegação da Ria significativa importância, que se atestava até então com o facto de Estarreja ser o segundo maior porto de sal, só suplantado por Aveiro.

Estação do Caminho de Ferro, Bilhete Postal em circulação em 1911, Editores José de Matos & Fos. - Paulo Horta Carinha, coleção do acervo familiar

Descarga de Sal no Esteiro de Estarreja

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Este passado não muito longínquo evidência o que Charles Darwin nos ensinou. A Seleção Natural aplicada aos seres vivos, mas também às atividades tradicionais da própria Ria. A natureza selvagem associada à formação da laguna que o homem a muito custo tem vindo a moldar implicou sempre mudanças sucessivas no ambiente, estando nos dias de hoje evidente que a adaptação nem sempre foi conseguida, conduzindo à extinção: Safra; Porto de sal; Palheiros; Faina; Salinas; Praias de junco; Lugre; Galrichos; Sertela; Marés de Moliço; Bota-abaixo; Amanhação; Junta de bois; Marinhas de arroz; … Vocabulário este que ao ritmo das marés da Ria tem ficado submerso, dando lugar a palavras que estão à tona atualmente, mas que para os mais antigos seriam certamente imprensáveis: BioRia; ObservaRia; Birdwatching; BioRace; Turismo de Natureza; Pacopar; Adubos químicos; Eucaliptais; Crescimento verde; Ecoturismo; Aquaculturas; Stand Up Padle; … “O tempo passa a correr”, expressão muito comum e usada com frequência, contudo arrisco dizer que o avanço tecnológico leva a crer que o tempo passa a voar, à velocidade da luz. “Durante muitos anos, durante muitos séculos as mudanças de hábitos, de horizontes, de tanta e tanta coisa, eram lentas, atravessavam a vida de gerações e agora são galopantes, devastadoras de pessoas, de animais e de plantas, precipitando espécies para a extinção. Este ritmo de vida, mais que desfigurar rostos e paisagens, desfigura almas como se as calamidades acontecessem naturalmente.” 2

2 - Sérgio Paulo Silva – “Salreu, uma aldeia em papel de arroz”

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Vamos olhar agora para alguns Tesouros da Ria… Moliceiro Verdadeiro ex-líbris da Ria de Aveiro, assumiu grande protagonismo no séc. XIX, sobretudo após abertura da barra em 1808. Embarcação adaptada à Ria e aos seus canais, caracterizada pelo fundo chato e pouco calado, tinha como missão a apanha do Moliço, precioso conjunto de plantas aquáticas que alavancou a agricultura de toda a laguna, funcionando como fertilizante natural. Este fruto da Ria, colhido pelos moliceiros tinha o dom da fertilidade, transformando solos arenosos improdutivos em solos de grande produtividade.

“Mulher de Salreu – Mulheres do meu País”, descarga de moliço no cais de Salreu

No início do séc. XX existiam cerca de 1500 moliceiros, mas ao longo das seguintes décadas devido às alterações socioeconómicas, ao aparecimento dos adubos químicos de fácil utilização, à diminuição da área de distribuição do moliço e ainda poluição das águas, conduziram à extinção da atividade de apanha do moliço.

Esteiro de Estarreja Bilhete Postal em circulação em 1933 - Paulo Horta Carinha, coleção do acervo familiar

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A perda desta atividade resultou na eutrofização das águas e acumulação de matéria orgânica no leito da Ria que em conjunto com a elevada deposição de sedimentos, resultou na asfixia dos canais pelo forte processo de assoreamento provocado. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e, quem diria, que estas embarcações de trabalho do passado seriam hoje barcos de turismo e lazer? Continuam a cintilar na Ria pouco mais de uma dezena de moliceiros tradicionais, preparados para navegar à vela e que habitualmente participam nas regatas da Ria, no entanto são várias as embarcações (18 moliceiros e 5 mercantéis) que apesar de descaracterizadas e muitas com a proa cortada, fazem as delícias dos turistas com as suas cores garridas deixando espelhados rastos coloridos no canal central de Aveiro, numa atividade obrigatória para quem vem conhecer a região. Pontualmente alguns canais do Concelho de Estarreja presenteiam as águas e os visitantes com passeios de moliceiro. É uma atividade que apesar da requalificação de alguns canais ainda não oferece condições atrativas de investimento para a sua prática devido ao forte assoreamento destes braços da Ria. Já lá vai o tempo em que Pardilhó era a “capital” da construção naval, local onde foi instalada a Sede do Sindicato Nacional dos Carpinteiros Navais do Distrito de Aveiro (1937-1977). Os Mestres de Pardilhó com o seu conhecimento e competência reinavam em estaleiros espalhados por todo o país, desde Viana do Castelo até ao Algarve, assumindo funções preponderantes nesta arte de esculpir a madeira. Embarcações de grande porte nasciam em Pardilhó e a Ria oferecia condições de navegabilidade: “Mas a nossa terra não construía só varinos, fragatas, mercantéis, moliceiros, barcos-do-mar e bateras de caça-e-pesca. Também fabricávamos navios bacalhoeiros. Num estaleiro improvisado no Nascinho, a fim de se aproveitar águas de mais fundo calado, os empresários de maior possibilidades da época formaram uma sociedade anônima, e construíram um navio lugre. Construção, montagem, armadores, e tudo de Pardilhó. Partiu o navio para a terra nova, para os nossos tradicionais pesqueiros de bacalhau. No fim da temporada voltou o navio abarrotado de peixe. Nesse ano, houve muita fartura de pescado. Pois bem: deram pelo produto um preço tão baixo, que os empresários, e com eles a nossa aldeia, quase que faliram. Ficamos ressentidos por muito tempo.” 3 Quem sabe se num futuro próximo estes barcos não voltam à ribalta? Haja condições para tal, porque turistas não faltam…

Passeio de Moliceiro nas Ribeiras de Pardilhó - ObservaRia 2015 Birdwatching Fair

3 - Esboço da História Contemporânea de Pardilhó, O Almocreve da Ti Rendeira - CBAG Editora Rio de Janeiro 1981

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Enguia É incontornável que se trata de uma imagem de marca da Ria de Aveiro, devido à abundancia com que ocorreu na laguna e pelo seu potencial gastronómico. A Enguia-europeia (Anguilla anguilla) é um peixe catádromo, que cresce em rios e desova no mar. Após desovar no Mar dos Sargaços, local no globo com condições únicas por manter uma temperatura elevada a grande profundidade, termina o ciclo de vida com a morte das adultas, enquanto as enguias jovens (larvas) iniciam uma longa maratona pelas correntes do Atlântico até chegarem à Ria de Aveiro (Costa Europeia). A viagem continua até alcançarem os rios onde permanecem vários anos, e após algumas transformações (Enguia-vidro – Enguia-amarela – Enguia-prateada) ficam novamente aptas para regressar à água salgada, realizando a travessia do Atlântico até ao Mar dos Sargaços. Outrora a pesca da Enguia foi muito importante, evidenciada pela existência de uma indústria de conservas na Murtosa (Comur). No início da década de 80 os pescadores conseguiam capturar por embarcação até 100kg de Enguias por noite, e naquele tempo existiam muitas embarcações que pescavam 6 dias por semana. Agora são poucas as embarcações e apesar de pescarem apenas 3 dias por semana, atingem no máximo 10kg4. Esta clara diminuição populacional registou nas décadas de 80 e 90 um decréscimo de 90%5.

“Lavagem do Galricho” “Preparando a Sertela” Ria de Aveiro – Barcos e Artes de Pesca, Fotografias de Eduardo Manuel Lamy Laranjeira

Espécie cada vez menos abundante devido a um conjunto de fatores, onde se destaca a captura intensiva na sua fase inicial de desenvolvimento (enguia de vidro - meixão), a construção de barragens e açudes, a sensibilidade a poluentes químicos e alterações climáticas que têm mudado o curso das correntes marítimas o que dificulta a migração da espécie.

4 - Estudo do Grupo de Ação Costeira da Região de Aveiro (GAC-RA) “Enguias na Ria de Aveiro: um ex-libris a preservar: biologia, sanidade e pescas” 5 - Dekker 2003 – Livro Vermelho dos Vertebrados

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O aumento acentuado da amplitude de marés na Ria de Aveiro impulsionado pelas obras de aprofundamento do canal na boca da barra tem afetado diretamente a espécie, sobretudo pelo aumento da salinidade da água, forte erosão que destrói as margens, substrato, e arrasta sedimentos que provocam um intenso processo de assoreamento nos canais periféricos, expondo o leito na baixa-mar. A Enguia tem sido um barómetro da atividade humana, evidenciando que se nada for feito para inverter esta tendência, daqui por poucas décadas será no estado selvagem só mais uma recordação da Ria. Bocage É uma pérola da Ria que podemos encontrar no Baixo Vouga Lagunar (BVL). Mosaico rural, raro e genuíno, este é um ecossistema criado pelo homem em perfeita sintonia com a natureza. Devido à abundância de água doce e salgada foi necessário criar um sistema que permitisse dar condições para a prática agrícola. Em redor dos campos de reduzidas dimensões foram abertas valas que sustentadas por sebes vivas, possibilitaram uma maior gestão da água doce e um controlo da entrada de água salgada. A irrigação é assegurada por um sistema de rega tradicional de motas e comportas que permitem extrair o excesso de água no inverno e melhor distribuir a água para rega no verão.

Reconhecidamente é um dos locais mais férteis do país por ter sido formado com solos aluvionares e enriquecido organicamente com a vegetação aquática da Ria, o moliço. Predominam as culturas temporárias como as pastagens, milho, arroz, pequenas áreas florestais e pousios. A riqueza faunística e florística desta paisagem humanizada é incalculável. As sebes que delimitam os terrenos são constituídas por espécies autóctones e são o abrigo de muitos animais.

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Os labirintos formados pelas valas dão refúgio e alimento a uma das espécies mais emblemáticas da Ria, a Lontra (Lutra lutra). Um estudo científico sobre a Lontra realizado em 1998 apontava o núcleo do BVL como o mais numeroso e estável da Ria de Aveiro, apresentando uma das maiores densidades da espécie em Portugal e na Europa6. Os Percursos BioRia são um autêntico laboratório vivo do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, que através de uma parceria estabelecida em 2009 com o Município de Estarreja tem desenvolvido dezenas de estudos científicos. Os resultados têm superado as espectativas e atestam o potencial natural da Região, em especial na área de terrenos de estrutura Bocage.

Lontra numa vala entre terrenos de estrutura Bocage - estudo científico da Universidade de Aveiro com recurso a armadilhagem fotográfica noturna

O avanço da intrusão salina, a idade avançada dos agricultores, a falta de manutenção dos sistemas de drenagem e o facto do dique que foi iniciado nos anos 80 não ter sido concluído, são os principais fatores de abandono destas preciosas parcelas agrícolas. Como consequência o mosaico de culturas é cada vez menor, perdendo expressão as temporárias, em detrimento das pastagens para produção de carne de bovino, onde se distingue a Raça Marinhoa. Espécie autóctone, que pela sua robustez e resistência foi essencial nas tarefas agrícolas em terrenos pesados, tendo sido registados 24.000 exemplares na década de 40. A Marinhoa tem neste momento o estatuto de extremamente ameaçada, com pouco mais de 2400 exemplares, das quais apenas 1200 são reprodutoras. É uma marca de qualidade da região, como se constata pelo selo de produto de qualidade e denominação de origem protegida7.

6 - Distribuição e Ecologia Trófica da Lontra na Ria de Aveiro, Gomes N.H.F. 1998 – Universidade do Porto 7 - Informação cedida pela Associação de Criadores da Raça Marinhoa.

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Vaca Marinhoa com a sua cria em terreno de estrutura Bocage

Com a perspetiva num futuro próximo de se concluir a obra do dique, fica salvaguardada uma das maiores ameaças a este ecossistema, a entrada de água salgada. O homem terá assim meios ao seu alcance para controlar a dinâmica entre água doce e salgada, bem como uma acrescida responsabilidade de gestão no sentido de preservar este mosaico único que alberga imensas espécies importantes. Arrozais Ao longo das últimas décadas a área de arrozais tem diminuído drasticamente, correndo seriamente o risco de extinção. Atualmente a mancha mais representativa situa-se entre o Esteiro de Salreu e o Rio Antuã, ocupando aproximadamente 70 hectares. Apenas uma família assegura o cultivo nesta área, obtendo um rendimento de duas-três toneladas por hectare, alegando que há cerca de 20 anos nos mesmos hectares o rendimento era mais do dobro. Em Canelas, na margem sul do Rio Jardim, nas imediações do último quilómetro antes da foz, 13 proprietários, cada um com a sua parcela (entre os 500 e 13000 m²) produzem arroz praticamente para consumo próprio. Só o cultivo rápido e mecanizado justifica ainda a subsistência de arrozais no Baixo Vouga Lagunar, considerando a reduzida rentabilidade deste cereal a latitudes altas, sendo este o local mais a norte de Portugal onde se encontra. Antigamente, no tempo em que não existiam máquinas no apoio à orizicultura, o arroz era semeado em viveiros onde houvesse abundância de água, como por exemplo na proximidade de regueiras e nascentes. A transplantação era um processo demorado e penoso que ocorria nos meses de Abril e Maio, período em que a planta do arroz era colocada no terreno de forma

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ordenada, pé por pé, tarefa realizada por mulheres de “sol a sol”. Quando as mãos não eram suficientes vinham mulheres de terras vizinhas para ajudar no processo que se prolongava no tempo, uma vez que sem recurso a herbicidas as ervas daninhas tinham que ser mondadas e mais tarde, nos meses de Setembro e Outubro era realizada a ceifa. Estas tarefas desenvolvidas pelas mulheres tinham graves repercussões na saúde, sobretudo quando faziam a monda, porque estavam o dia inteiro com água até aos joelhos em terrenos lamacentos, onde abundavam imensos mosquitos e sanguessugas.

“apanhadela de arroz” “Mulher de Salreu – Mulheres do meu País”, fotografias de Júlio Vidal

As “marinhas de arroz” ocupavam praticamente todos os palmos de terra disponíveis a poente da linha do caminho-de-ferro e assumiam nesse tempo um papel preponderante no desenvolvimento económico do concelho. Para a história ficou a existência de uma fábrica de descasque na Quinta do Visconde, onde operou no mesmo local uma fábrica de lacticínios produzindo o afamado “Queijo de Salreu”, rotulado com a coroa do Visconde. Uma estação hidroelétrica que surgiu do aproveitamento de antigos moinhos na margem da Quinta da Costa, foi um grande marco na evolução de Estarreja, potenciando as águas do Rio Antuã com uma pequena barragem a montante da Ponte Velha, na famosa “turbina”, que fornecia energia a Estarreja, e que é nos dias de hoje um dos locais mais recordados com carinho e saudade por muitos.

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Turbina no Rio Antuã, Bilhete Postal em circulação em 25 de Novembro de 1917 Paulo Horta Carinha, coleção do acervo familiar

Nos anos 20 foi instalada a Fábrica de Descasque de Arroz junto à estação da CP de Estarreja, alimentada pela central hidroelétrica. As décadas seguintes foram um sucesso, contudo a gradual mecanização das grandes explorações do Sado,Tejo e Mondego, assim como a impossibilidade de competir com as condições naturais mais favoráveis destas regiões, caracterizadas por temperaturas mais amenas e águas mais quentes, foram aos poucos minando o mercado, provocando uma natural desvalorização dos arrozais de Salreu. A emigração e as novas oportunidades de emprego associadas à industrialização acentuaram ainda mais o declínio da orizicultura, que ficou patente na perda de fulgor da Fábrica de Descasque já na década de 70. Caniçais e juncais começaram a tomar conta da paisagem, ganhando terreno aos arrozais. A intrusão de água salgada e a praga dos lagostins provocaram nova vaga de abandono, verificando-se atualmente um volume de produção praticamente residual comparado com os anos prósperos do século passado. Com as obras de conclusão do dique no horizonte, selando os terrenos da entrada de água salgada, surge uma réstia de esperança para os arrozais de Salreu e Canelas. Alavancado pelo Turismo que cresce de ano para ano e ainda pelas suas propriedades biológicas, este arroz do Baixo Vouga tem potencial para se tornar uma marca de qualidade diferenciadora da região. BioRia A importância económica da frente ribeirinha de Estarreja nomeadamente das atividades dependentes da Ria de Aveiro, começaram a perder força com a chegada do caminho-de-ferro que deixou para segundo plano as “autoestradas” navegáveis da laguna. Este declínio acentuou-se sobretudo na segunda metade do séc. XX com o abandono de atividades tais como a apanha do moliço, transporte de sal, pesca da enguia e cultivo de arroz. O reflexo destas mudanças que o tempo foi evidenciando, ficou visível no avançado estado de degradação a que chegaram várias linhas de água, Esteiros, Ribeiros e caminhos de serventia agrícola.

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O desafio de reavivar as raízes culturais de Estarreja que estavam cada vez mais esquecidas e assoreadas, foi conseguido através do BioRia, Projecto pioneiro de conservação da natureza e biodiversidade da Câmara Municipal de Estarreja. Conhecer para aprender a valorizar e conservar foram as linhas orientadoras deste Projecto, que através da requalificação de zonas ambientalmente degradadas, permitiu a criação de uma Rede de Percursos Pedestres e Cicláveis em contacto direto com a Natureza. O primeiro, num total de oito Percursos, foi o de Salreu, implementado em 2005. De 2009 a 2013 foram implementados os restantes trilhos abrangendo todas as freguesias do Concelho, que se complementam devido às diferentes distâncias em relação à Ria, formando em conjunto um mosaico harmonioso de importantes habitats. Ao longo dos percursos os visitantes encontram estruturas de apoio, tais como bancos, torres de observação, alpendres, mesas e placares informativos com preciosas informações sobre a fauna, flora e atividades tradicionais. Durante todo o ano são realizadas centenas de visitas guiadas, a pé, de bicicleta, em veículo elétrico, assim como promovidas diversas atividades de sensibilização ambiental, desportivas e recreativas. Todas têm como denominador comum a transmissão aos visitantes e turistas da importante herança do passado resultante da relação homem-natureza, uma vez que só interpretando o que aconteceu ao longo dos últimos séculos se consegue perceber como chegamos a este rendilhado de habitats esculpidos pelo homem. Esta informação genética permite-nos aceitar e valorizar as conversões realizadas: Os moliceiros são agora embarcações turísticas; as marinhas de arroz deram origem de forma espontânea a caniçais, que são o berço de inúmeras espécies de aves em perigo, com destaque para a Garça-vermelha, tornando Salreu um dos melhores locais na Europa para praticar Birdwatching; Antigos palheiros são requalificados e dão origem a locais de apoio ao turismo de natureza; Os arrozais existentes são o palco de eleição para detetar aves, por serem um dos locais preferenciais para procura de alimento; A caça com armas de fogo em Salreu deu lugar à caça com máquinas fotográficas e telescópios, considerando que este é um lugar de eleição para paragem de muitas aves raras nos seus percursos de migração; Os carros de bois que circulavam nos caminhos do BVL deram lugar a passeios de veículo elétrico e charrete; terrenos, valas e caminhos utilizados no usufruto agrícola dão lugar a corridas de obstáculos naturais.

De caçadeiras na mão a exibir as peças de caça Sónia Rodrigues, foto do acervo familiar

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Curso de Fotografia de Aves nos Percursos - BioRia


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Carros de bois a carregar moliço no Esteiro de Salreu

Visita guiada de veículo elétrico ao Percurso de Salreu - BioRia

Antigos palheiros em Salreu foto de Alberto Figueiredo

Antigo palheiro requalificado pelo Município de Estarreja

onde em Salreu existiam arrozais a perder de vista, encontramos agora uma das mais importantes manchas de caniçal para a avifauna a nível Europeu

Ninho de Garça-vermelha no caniçal de Salreu com um juvenil

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NORBERTO MONTEIRO

Caminhos de água nos arrozais

BioRace Challenge - passagem por vala

Cada vez mais visitantes usufruem destas novas potencialidades do seculo XXI, e prova disso são os registos de visitas no Centro de Interpretação Ambiental de abril a setembro, que passou de 7.000 visitantes em 2010 para 23.000 em 2015. Para estes números contribuem vários prémios e distinções ao nível regional, nacional e internacional que foram atribuídos ao longo dos últimos anos nas áreas do Turismo e Ambiente. A título de curiosidade, em 2010 os Percursos BioRia inseridos no BVL foram eleitos um dos 10 melhores locais a nível mundial na categoria “Dez passeios com natureza dentro” pelo anexo especial FUGAS do Jornal o Público. BioRia é hoje uma marca forte que conseguiu valorizar e dar a conhecer uma basta área que estava votada ao abandono. Por ser o coração da biodiversidade da Ria de Aveiro, é cada vez mais uma imagem de marca da Região, dando a Estarreja um rótulo de excelência, deixando cada vez mais assoreada a imagem de uma terra com uma indústria pesada e poluente. Imagino, daqui por uns anos, a frente ribeirinha de Estarreja totalmente requalificada e de braços abertos para a Ria, com antigos palheiros reaproveitados para o turismo, oferecendo mais e melhores condições para receber os visitantes, assim como espaços-museu que imortalizem as nossas atividades tradicionais e identidade cultural. O Turismo é a garantia do nosso futuro e uma das garantias da preservação da laguna. Ainda estamos a tempo de inverter a tendência negativa de extinção da Ria nas suas mais diversas formas.Tenho esperança que a Ria não seja só um Porto Comercial, caracterizado pela existência de um canal cada vez mais profundo na boca da barra, que aniquila os canais periféricos e pouco profundos, e onde só haverá espaço para grandes navios e, quem sabe, até cruzeiros, ficando sem espaço as modestas, mas típicas bateiras. Os Tesouros da Ria começam na água do mar, percorrem o canal principal da laguna, contornam os meandros que vão ficando cada vez mais estreitos e terminam o seu percurso quando as águas chegam aos cais, onde as gentes da nossa terra as acolhem, mostram e recordam, com assumido orgulho, as suas raízes.

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JORNAL “O CONCELHO DE ESTARREJA”: 1901 - 2014. DO SOTÃO PARA O MUNDO DIGITAL Norvinda Leite* “A nossa humilde e singela homenagem a todos os que, com tamanha grandeza, edificaram tão grandiosa obra há 114 anos atrás. Que saibamos nós, os atuais continuadores, merecer o mesmo apreço, a mesma dignidade e estima, que herdamos destes nossos grandes heróis”. José Amaral Martins O presente texto pretende apresentar de forma sucinta o desenvolvimento de todo o processo que levou ao tratamento, conservação, inventariação e digitalização da coleção do jornal “O Concelho de Estarreja”, datados de 1901 a 2014, em suporte papel à guarda da Câmara Municipal de Estarreja. Trata-se da recuperação de um jornal com um importante papel na construção da história da zona marinhoa dos tempos modernos e que se encontrava em elevado estado de degradação. Substitui muitas outras fontes primárias de informação que, pelos mais variados motivos, se perderam no tempo e sem as quais não conseguimos resposta a muitas das nossas dúvidas. Contar a história de Estarreja ou da Murtosa sem o recurso a esta importante fonte documental não faz sentido, é uma história inacabada, incompleta. Sem descorar as pequenas informações, nele se encontram noticiados os principais e os grandes factos da vida desta comunidade, que fizeram os marcos e que delinearam os destinos deste território. Foi influenciado pelas políticas do seu tempo, mas, acima de tudo, influenciador de condutas, de atitudes, de políticas, espaço de debate, de gritos de alerta, de promoção e divulgação de informação à comunidade mais simples e sedenta de saber. Um espaço de conhecimento da vida desta terra. É por este e muitos outros motivos, que se tornou inevitável a necessidade de o salvar e transformar na “bíblia”, de estudo da história de Estarreja. Coube-nos a nós, Arquivo Municipal, a tarefa e o privilégio, de recuperar este importante acervo documental, fonte inesgotável de informação. Esperamos que o resultado final corresponda às espectativas dos seus utilizadores.

* Arquivista do Arquivo Municipal de Estarreja. Apresenta as atividades realizadas no processo de recuperação e disponibilização pública da coleção de jornais do jornal “O concelho de Estarreja”, trabalho realizado com a colaboração de um grupo de elementos que ao longo de três anos se esforçou para que este projeto fosse concretizado e que ao final referenciamos.

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NORVINDA LEITE

Breve Historial da vida do Jornal

Cabeçalho do primeiro número do jornal “O Concelho de Estarreja”

Em 10 de outubro de 1901, tendo como suporte a então já prestigiada figura do Dr. Egas Moniz, líder local do Partido Progressista, surge em Pardilhó a publicação do Semanário “O Concelho de Estarreja”, tendo como editor José Maria Valente d’Almeida. Em 1902, João Manuel de Saavedra Guedes passa a ser o seu redator e administrador, cargo que ocupou até 1919, altura em que passou a ser quinzenário independente. Ainda no mesmo ano, passa a ser novamente semanário com o subtítulo “Semanário Politico e Noticioso” ano em que faleceu Saavedra Guedes. Após o seu falecimento em 1920, a administração do jornal passa para Agostinho Ferreira Matos, sendo diretor e editor José Ruela Ramos. O jornal nesse mesmo ano teve outros diretores, mas por pouco tempo, Armando Freire e José Maria Tavares. Agostinho de Matos torna-se editor, redator e administrador do jornal “O concelho de Estarreja”, até 1926. A partir daqui a administração do jornal passa para Maria Matos, (filha de Agostinho Matos), que ao mesmo tempo desempenha a tarefa de tipógrafa. Em janeiro de 1927, devido à freguesia de Pardilhó ter sido administrativamente integrada no concelho de Ovar, o jornal vê-se obrigado a alterar a sua designação e passa a chamar-se “ O Povo de Pardilhó”, com o subtítulo de “Semanário Defensor dos Interesses de Pardilhó e da Região Ribeirinha”. Dois anos depois, Pardilhó volta a ser integrado no concelho de Estarreja, mas o jornal, no entanto, mantém ainda a designação de “O Povo de Pardilhó” até 1941. Em 1931 a administração do Jornal passa a ser de Vitorino José de Almeida e Sousa, marido de Maria Matos. O Padre Ismael Ferreira Almeida e Matos, membro da família, frequentador desde muito cedo daquele meio e grande impulsionador do jornal, assume a direção em 1939 e em janeiro de 1942 o jornal retoma ao seu título inicial de “O Concelho de Estarreja”. Em 1944, Jaime Ferreira da Silva assume a direção até 1962, altura em que o cargo é entregue a Casimiro da Silva Tavares. Em 1964 o jornal passa para a posse de José da Silva Mota, genro de Vitorino José de Sousa, mantendo-se este ainda como editor e administrador. Em 1976, Casimiro Tavares deixa a direção ao fim de 14 anos e José da Silva Mota convida para diretor José Martins da Silva, que vinha sendo colaborador do jornal desde 1970 e redator desde 1974. José Martins da Silva assume a direção, pondo como condição desempenhar o cargo como diretor interino, até aceitar definitivamente a missão como diretor e chefe de redação em 1978. Em 1986, com a morte de José da Silva Mota o jornal passa a debater-se com dificuldades. Porém, [ 182 ]


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a viúva, Domingas Mota, decide-se a dar continuidade ao jornal com a colaboração de José Martins da Silva, tendo como objetivo alcançar os 100 anos de publicação. Atingido esse objetivo em 2001, o jornal continua a resistir, e bem, embora com algumas dificuldades, mas com a meta de manter os estarrejenses informados, um ano de cada vez1. Após a morte de Domingas Mota em 2005, o jornal passa para a posse dos herdeiros, sendo que estes conferem ao filho João Mota a representação legal do jornal. Após a morte de José Martins da Silva em 2010, assume a direção José Amaral Martins cargo que ocupou neste jornal até agosto de 2015. A outubro de 2015, a convite dos proprietários, pelo grande contributo jornalístico e apego afectivo a este jornal ao longo de toda a vida, assume a direcção José Eduardo Matos, presidente da câmara de Estarreja à data da celebração do Protocolo de Depósito do Jornal no Arquivo Municipal, e grande impulsionador da sua recuperação e salvaguarda. Subscrevendo as palavras proferidas pelo já saudoso José Amaral Martins, na sinalização de mais um aniversário do jornal, podemos concluir que, “ao longo destes longos anos, o jornal cruzou ventos e tempestades, calmaria e tranquilidade. É isso que faz dele aquilo que ele é: uma parede cheia de azulejos, que, individualmente, contam o facto histórico do momento, mas que, no seu todo, faz um painel de história, rica nos seus pormenores e extensa na sua imensidão de saber e de testemunho. Ao lermos alguns excertos, testemunhos de antigos diretores, ficamos fascinados pela força, pela coragem, pela dignidade com que o jornal, levado pela mão dos seus executantes, sempre singrou ao logo de todos esses anos”2. O Depósito da colecção de jornais no Arquivo Municipal de Estarreja Sendo o Jornal “O Concelho de Estarreja” um periódico que se tem destacado ao longo de mais de um século pela sua qualidade de informação, pelos ilustres correspondentes, que para ele contribuíam, com artigos de excelente qualidade, pelas temáticas que abordam, o jornal tornou-se um canal de comunicação e uma das fontes de informação histórica, cultural e social de grande referência, relativa ao concelho de Estarreja e municípios limítrofes. Daí a sua grande procura por parte de investigadores e curiosos. A direção do jornal tinha por tradição reservar os exemplares dos jornais que não conseguia vender além dos que tinha de conservar por imposição legal. No entanto, não conseguiu manter ao longo dos anos uma organização desses mesmos jornais. Conforme a saída dos jornais, guardava mais ou menos exemplares. Os jornais foram-se amontoando e chegou a uma altura que se tornava difícil aos interessados encontrar o que quer que fosse. Como o jornal sempre sobreviveu com parcos recursos, tornava-se impossível aos proprietários conseguir meios para dar o devido tratamento ao jornal, conscientes de que seria necessária uma intervenção séria e urgente no jornal, sob pena de se perder. Com início do funcionamento do Arquivo Municipal de Estarreja e a aprovação do Regulamento do Arquivo prevê-se no art.º. 23, o seguinte: “A Câmara Municipal de Estarreja, através

1 - In: Jornal “o Concelho de Estarreja” nº 4112 de 20/10/2001, “Breves Registos para a História de um Jornal”, p.7. 2 - In: jornal “O Concelho de Estarreja” nº 4183, de 23/10/2007, “O Nosso Obrigado”, p.1.

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do seu Arquivo Municipal, deve também intervir fora do seu espaço institucional, incorporando, por compra, doação ou depósito, fundos arquivísticos de natureza diversa, provenientes de entidades públicas ou privadas, em qualquer tipo de suporte (papel, filme, banda magnética, registo eletrónico, etc.) que tenham interesse para a salvaguarda e conhecimento da memória cultural e coletiva do concelho”3. Com base neste artigo, são conferidas ao Arquivo Municipal competências para atuar neste âmbito. O lançamento Revista “Terras de Antuã” veio proporcionar um momento de debate aos munícipes mais atentos às questões da salvaguarda do património local e é lançado o alerta para a importância histórica do jornal “O concelho de Estarreja” e para o estado de degradação em que se encontravam. Este alerta dos munícipes e a consciência de que o Arquivo Municipal seria único que o poderia “salvar”, levou a que a Câmara Municipal iniciasse conversações com os seus proprietários, no sentido de se conseguir uma forma de salvaguarda e divulgação de tão importante acervo documental. Dessas conversações resultou o Protocolo entre a Câmara Municipal e os proprietários do Jornal “O Concelho de Estarreja” celebrado a 16/12/2011, que na sua cláusula 1ª refere o seguinte: pelo presente, entregam todo o seu arquivo documental, a título de Depósito, nos termos do artigo 1185º, do Código Civil, por um período de 30 anos, eventualmente renovável por igual prazo, para tratamento arquivístico, digitalização, conservação e divulgação, à representada pelo segundo outorgante, toda a Colecção de Jornais, que possuem, publicada pelo jornal “O Concelho de Estarreja”, em suporte papel, cujas datas extremas se situam entre dez de outubro do ano mil novecentos e um e trinta e um de dezembro do ano dois mil e onze e seguintes.

Assinatura do protocolo pelo então presidente da Câmara, José Eduardo de Matos e o representante dos proprietários do jornal, João Mota

A partir daqui o Arquivo Municipal entra em ação e dá início aos trabalhos de transferência de todos os jornais acumulados para os depósitos do Arquivo Municipal, no total de 20 caixotes de documentação e dois cadernos, passando a responsabilidade e tarefa de todo o seu tratamento físico e intelectual a ser deste Serviço.

3 - In: Regulamento do Arquivo Municipal de Estarreja, artº 23.

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Os caixotes dos jornais enviados para o Arquivo Municipal

1ª Fase - O Tratamento Físico

Pré-seleção dos itens em melhor estado de conservação

Diagnóstico e avaliação do estado físico Chegados ao Arquivo Municipal, foi realizada uma pré-seleção e expurgo dos jornais que se encontravam em elevado estado de degradação e sem qualquer hipótese de recuperação do conteúdo informativo, salvaguardando a existência de exemplares do mesmo número. Como podemos ver pelas imagens abaixo, havia jornais em elevado estado de degradação pelos mais variados motivos.

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Fase de expurgo dos jornais

Jornais com a tinta em decomposição

Jornais destruídos pelos insetos

Jornais destruídos pelos roedores

Os restantes jornais em melhor estado foram acomodados em caixas de dimensões apropriadas e com sistema de circulação de ar, evitando a aceleração da sua degradação, pois são impressos em papel reciclado, o que lhes confere um prazo de duração quase efémero.

Separação e arquivamento de jornais em melhor estado

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Limpeza Mecânica A limpeza mecânica de dezenas de milhares de jornais requer muita sensibilidade e a utilização de equipamento próprio, tanto para proteção individual, como para a remoção do pó dos jornais, para não se deteriorarem ainda mais os jornais, já de si bastante frágeis. Foram aspirados das partículas maiores e depois limpos manualmente para remover todas as poeiras ainda existentes.

Limpeza mecânica dos jornais

Triagem e a Seleção Aquando da limpeza mecânica os jornais foram já agrupados em maços por ordem cronológica, uma vez que em muitos casos haviam vários exemplares do mesmo número. Feita essa ordenação prévia, foram selecionados os dois exemplares de cada número do jornal que se encontravam em melhor estado de conservação e criadas duas coleções de jornais. A primeira, mais completa, para arquivo e memória futura. A segunda, com os números dos jornais que foi possível recuperarmos, para acesso e consulta do público, de forma a evitar-se o uso da colecção principal. Só em casos extremos é que será consultada a colecção principal. Os jornais foram arquivados em maços por ordem cronológica, correspondendo cada maço a um ano civil e acomodados em caixas de polipropileno próprias para este tipo de materiais e identificadas com os números e as datas extremas dos jornais. Foram também sinalizados os números que faltam.

Seleção e inventariação dos jornais

Os jornais já devidamente arquivados

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2ª Fase: Tratamento Técnico Inventariação Feita a ordenação manual deu-se então início à inventariação de todos os itens de ambas as coleções numa base de dados. Os campos de identificação necessários à caraterização física e intelectual de cada item – Metadados da Informação - foram os seguintes: Número de ordem, Ano de Edição, Data, Número do Item, Número de Páginas, Estado de Conservação e Informações Adicionais, relacionadas com o estado físico do jornal ou falhas mecanográficas. Sinalizamos e deixamos em aberto os campos para os itens que faltam, no total de 59 jornais na 1ª coleção e 264 na 2ª coleção, para completarmos numa eventual aquisição da reprodução dos que faltam.

Folha de recolha de dados do inventário dos jornais

Digitalização do Jornal O passo seguinte foi a digitalização da primeira coleção de jornais, a mais completa. Por ser necessário o recurso de profissionais especializados neste tipo de trabalhos e economicamente mais vantajoso, o trabalho de digitalização dos jornais foi realizado com recurso a uma prestação de serviços. Procedeu-se a um processo de contratação de serviços, sendo a empresa vencedora do procedimento de contratação deste serviço a DotPixel, especializada em trabalhos de digitalização e tratamento de informação digital. No processo de digitalização foi exigido à empresa prestadora do serviço o cumprimento das normas e procedimentos necessários à conservação, segurança e integridade dos documentos físicos e à qualidade das imagens digitais.

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Processo de desvincagem e alisamento de jornais4

Foram previamente realizados os procedimentos de alisamento e desvincagem dos jornais, de forma a não serem visíveis no documento digital. Dada a existência de documentos com pontas dobradas, vincos e rasgos no papel, muitas vezes ocultando informação, foi necessário proceder ao “alisamento” dos mesmos, salvaguardando sempre a integridade do documento. Este foi um processo delicado, pois em muitos casos os documentos apresentavam-se frágeis e em estado de conservação degradado pelo tempo e pelas condições a que estiveram sujeito.

Aspeto de um jornal desvincado5

4 - Imagens fornecidas por DotPixel. 5 - Imagens fornecidas por DotPixel.

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O processo de digitalização foi feito em Scanner Planetário, que não danifica o documento, seguindo o processo apresentado como nos mostram as imagens abaixo, e a captura das imagens sempre feito de uma forma eficiente. No programa de captura (Batch Scan Wizard) foi feita a captura, o primeiro controlo de qualidade, a ordenação e inserção das imagens. Quando necessário é feita nova digitalização. Depois da captura, o jornal é novamente arquivado e são processadas as imagens digitais através das ferramentas informáticas da empresa.

Método de digitalização dos jornais em Scanner Planetário6

Software de digitalização e tratamento da qualidade das imagens7

6 - Idem 7 - Idem

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De cada jornal digitalizado foram criados 5 tipos de ficheiros: formato TIF - alta resolução, para arquivo histórico e de conservação permanente; formatos JPG e PNG – para efeitos de tratamento e edição de imagem; formato PDFA - cores - para consulta e disponibilização ao público no Arquivo e formato PDFA - preto e branco, baixa resolução - para disponibilização via WEB. A cada imagem digital foram também associados os metadados da informação, ou seja a informação útil relativa a cada item. Os jornais digitalizados encontram-se armazenados na aplicação informática GEAD e ainda em dois discos externos que serão arquivados em espaços físicos diferentes por questões de segurança. Um será considerado a matriz digital e outro para utilização sempre que necessário e fundamentadamente. Aos proprietários do Jornal foi entregue uma cópia de todos os jornais digitalizados, tal como previsto também em protocolo, bem como os dados relativos ao Inventário. 3ª Fase: Disponibilização Digital dos Jornais Tendo os jornais sido já todos digitalizados, no total de 4 200 números de jornais, 20 788 páginas, 1.23 TB de informação digital, datada de 1901 a 2014, e feito o controlo da qualidade, passamos para a fase final de todo o trabalho estabelecido no Protocolo. A descrição arquivística e disponibilização pública dos jornais em formato digital. A descrição dos jornais é feita na aplicação de gestão documental do Arquivo Municipal, GEAD - com a descrição dos campos previstos nas Normas de Descrição Arquivísticas em vigor para este tipo de documentos, (ISAD-G), associamos o Elemento Multimédia ao registo correspondente, ou seja a imagem digitalizada do jornal em formato PDFA a cores. Caso as pesquisas se tornem demasiado lentas e difíceis de aceder às imagens teremos de substituir o formato da imagem por outro mais leve. A pesquisa dos jornais através da aplicação GEAD permitem filtrar a informação por todos os campos de descrição facilitando assim a tarefa dos utilizadores e aceder rapidamente ao jornal pretendido. A nível de pesquisa de conteúdos informativos, o formato PDFA permite a localização de termos, tal como num PDF nado-digital, documento de Word, ou outro motor de busca de informação digital. Para isso, basta abrir o ficheiro e clicar em Localizar, escrever uma palavrachave do tema que se pretende investigar e serão localizadas todas as ocorrências desse termo naquele jornal. Permite ainda a visualização do jornal em ecrã completo, permitindo virar a página tal com se de um jornal em papel se tratasse. Para os mais tradicionalistas torna-se mais prático. A disponibilização pública neste momento poderá ser feita no Arquivo Municipal ou via Net, através da página da Câmara Municipal de Estarreja. Neste momento demos por concluído o compromisso assumido no âmbito do protocolo de Depósito do Jornal “O Concelho de Estarreja” no Arquivo Municipal. Iremos, sempre que necessário, proceder aos devidos ajustes e manutenção da coleção dos jornais tanto em suporte físico como em digital. Iremos também fazer um apelo à comunidade local para caso tenham em sua posse alguns dos itens que faltem, para os cederem ou emprestarem ao Arquivo Municipal para digitalização, no sentido de completarmos o mais possível a coleção.

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Software de Gestão Documental GEAD

Alguns dos leitores do jornal no Arquivo Municipal

Exposição “Notícias do Carnaval de Estarreja”

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Exposição “Riscos a Lápis Vermelho”

A partir de finais de 2012, o Jornal “ O Concelho de Estarreja” encontra-se acessível ao público, em suporte papel no Arquivo Municipal de Estarreja. Desde então até hoje, foram já realizadas 150 consultas aos jornais, nas mais diversas áreas, além de muitas exposições temáticas realizadas, com base em informações nele publicadas. O período de pesquisa estende-se de 1901 a 2014. E num par de dias é possível percorrer 113 anos de informação. Com a disponibilização digital do Jornal “O Concelho de Estarreja”, os leitores deste jornal passarão a ser o mundo e a partir de todo do mundo. São diversificadas as áreas de interesse e as temáticas de pesquisa no jornal, referenciamos apenas os temas mais abordados: História dos Bombeiros Voluntários de Estarreja; Biografia do Padre Ismael Matos; A Banda Visconde de Salreu; Banda Bingre Canelense; O Carnaval de Estarreja; Memórias da I Grande Guerra Mundial; Censura em Portugal; O Cineteatro de Estarreja; A autonomia Administrativa da Murtosa; Pardilhó no concelho de Ovar… Enfim, um verdadeiro manancial de história, de cultura e de conhecimento, que ao longo de décadas e tantas dificuldades, um punhado de “heróis” conseguiu levar em frente, e preservar até hoje. É a todos aqueles que valorizaram e que fizeram deste jornal uma forma de luta pelo bem comum, em especial por todos os que contribuíram para que se mantivesse vivo ao longo destes 114 anos, que dedicamos o todo o nosso esforço.

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NORVINDA LEITE

Equipa Técnica: Coordenação dos Trabalhos Norvinda Leite (SARQ)1 Triagem e Seleção Norvinda Leite (SARQ); Maria Salazar (SARQ); Triana Sousa (SARQ) Limpeza Mecânica José Silva (CMEM2); Alice Matos (CMEM); Conceição Freitas (CMEM); Flávia Alves (Bolseiro3) Rui Filipe Ferreira (Bolseiro); Luís Filipe Valente (Bolseiro) Recenseamento Norvinda Leite (SARQ); Andreia Susana (IEFP4); Fernanda Matos (IEFP); Elizabeth Marques (IEFP) Digitalização DotPixel Supervisão das Imagens Norvinda Leite (SARQ); Luís Luzes (SIT5) Disponibilização Digital Sónia Campos (Estagiária); Sérgio Gomes (SIT)

1 - Setor de Arquivo 2 - Casa Museu Egas Moniz 3 - Bolseiro em Trabalho de Voluntariado 4 - Instituto de Emprego e Formação Profissional 5 - Setor de Informática e Telecomunicações

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BANDA VISCONDE DE SALREU, 1 DE OUTUBRO DE 1925 - 1 DE OUTUBRO DE 2015 DO PASSADO AO PRESENTE : UM SÓ CAMINHO, A MESMA ENTREGA À MÚSICA E À ARTE DE BEM FAZER Raquel Maria Rodrigues de Jesus* INTRODUÇÃO A curta distância de vermos reunidos uma série interessantíssima de documentos, fotos, histórias, percursos de Festas, depoimentos, etc, que nos irão permitir editar o Livro de Vida desta quase secular Instituição, e que para o efeito, muito têm contribuído a Dra Andreia Tavares, o António Augusto Silva, A D.Rosa (Israel) entre outros, fazemos breves apontamentos do que tem sido este percurso e os Pilares sobre os quais assentam os Fundamentos da BVS. Sobre o passado respondem as Obras e os Testemunhos que vão sendo passados e que as sucessivas gerações continuam, numa espécie de hereditariedade musical, que não se perde, antes se aperfeiçoa e projecta, como legítima sucessora dos que ousaram e venceram. Pesada Herança e Responsabilidade esta, que hoje nos é confiada, e que procuramos manter e desenvolver, com projectos inovadores, colaboradores motivados e participativos, um Maestro criativo e apoiado, assente num trabalho sério, responsável, que nos dignifica e nos permite encarar os novos tempos com renovada esperança e optimismo. É pois o Presente, sinal inequívoco e pleno de realizações culturais, excelente nível Técnico e com um Futuro Promissor, berço de novos desafios, promessa de continuidade na diversidade cultural e na obtenção da excelência a nível do Ensino da Música e de Execução, abrindo e orientando perspectivas de futuro na área da música. Muito devemos a quem iniciou esta gigante caminhada, muito devemos a quem a continuou e continua no presente. Aos Corpos Sociais da Banda pelo árduo trabalho e pelo rumo firme que imprime. À Escola de Música, aos Monitores: Luciano Mortágua, Elisabete Aguiar, Pedro Silva, Jonathan Silva, Rafael Abranches, Fábio Freitas, Gonçalo Amorim e ao seu Director Prof Sérgio Miguel Valente. À Orquestra Juvenil da BVS – Direcção Sérgio Valente Ao Orfeão da BVS, Fundado e Dirigido pelo Maestro Afonso Alves À Banda Visconde de Salreu, Dirigida pelo Maestro Afonso Alves Um GRANDE OBRIGADO por tudo o que representais para a Instituição. Ao nosso Benemérito e Mentor Sr. António de Oliveira Rodrigues “ o Zagala” pela Grandiosa Obra que nos deixou – A Sede da BVS. Aos Amigos, Sócios, Sócios de Mérito e Beneméritos que o ajudaram nesta Magnifica Construção. Aos nossos Grandes Beneméritos, a Família do Senhor Visconde de Salreu, pela ajuda preciosa que nos dão nos dias de hoje e que nos permite ir vivendo com dignidade, dentro das muitas dificuldades com que nos deparamos no dia-a-dia. Aos Pais e Familiares dos Músicos que disponibilizam o tempo necessário para o enriquecimento curricular dos seus educandos, trazendo-os até nós.

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RAQUEL MARIA RODRIGUES DE JESUS

Foto de 1895

BREVE HISTORIAL Lê-se na “ Certidão de Nascimento” da BVS, a data do seu Nascimento: 1 de Outubro de 1925. Mas esta Fundação Oficial, definitiva, assente na vontade e determinação de uns tantos amantes de música, arrasta seguramente memórias de outros projectos com o mesmo fito, que por razões que desconhecemos não vingaram, mas que agora sabemos ter existido. E a sustentar esta ideia, transcrevemos parcialmente esta notícia: “ No ano de 1856, foi fundada uma sociedade musical em Salreu, sob regência de João Castão, e outra na Murtosa, sob regência de Agostinho António Leite. Estas músicas vieram ocupar o lugar de outra que vagamente se dizia do concelho de Estarreja e era dirigida por Francisco Joaquim Leite, irmão de Agostinho António…..” notas Marinhoas, Vol II, pag. 33 e 34 Volvidos 39 anos, em 1895, existe uma foto que se diz ser da “ Antiga Música de Salreu” (2) É difícil situá-la geograficamente, pese algumas opiniões de que será ou Ribeira de Fráguas ou Vale de Cambra. Não seriam muitos os Executantes, mas dada a importância e a relevância da época em ficar “no retrato”, temos razões para crer que estariam todos os elementos. As Mulheres que se vêm seriam as “carregadoras dos instrumentos” e poderiam ser familiares ou não. De resto, há uma delas que mantém a canastra à cabeça, cujo conteúdo, muito provavelmente seria a refeição, uma vez que os instrumentos já se encontravam junto aos distintos músicos… Não sabemos concretamente o que se passou entre essas duas datas. Porém, temos conhecimento da Formação de uma Banda em Estarreja, em 1858 e que se denominava “ Filarmónica Estarrejense” a que alguns se referiam como sendo a Banda dos Leites,

* [página anterior] Sócia nº 277 da Banda Visconde de Salreu, faz parte dos seus Órgãos Sociais desde 1997, sendo Vice-Presidente até Abril de 2005. Assume a Presidência a partir dessa data em mandatos de 2 anos, cuja reeleição ocorreu este ano e até 2017

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o que nos leva a uma conclusão: A primeira a existir foi a Banda de Estarreja, que deu muito provavelmente o lugar à de Salreu - os músicos deveriam ser comuns às duas – e esta situação deve ter-se mantido até finais do Sec. XVIIII, uma vez que em 15 de Setembro de 1907, aquando da Inauguração das Escolas Domingos Joaquim da Silva, Visconde de Salreu, as duas Bandas de Música presentes, foram a União Estarrejense e a de S.Tiago de Riba de Ul, o que assegura que a Banda de Salreu já teria sido extinta ou integrada na de Estarreja, uma vez que há registos de que antes da Fundação Oficial da Visconde de Salreu, a Banda de Estarreja chegou a denominar-se Banda de Salreu e Estarreja entre outros nomes. Chegamos a 1925, e aqui tudo se clarifica, e muito provavelmente os Fundadores, mais maduros e experientes, cientes do sonho a realizar, não vacilaram, enchendo o peito de Fé e tendo como Patrono, o Grande Benemérito da Freguesia de Salreu – Visconde de Salreu, deram Vida, Alma e Nome à nossa Banda Visconde de Salreu! Das dificuldades - todas passaram! - eram tempos difíceis, a maior parte dos habitantes de Salreu, sobreviviam da agricultura, outros emigraram tendo como destino principal o Brasil, não só pela língua, mas e sobretudo pelo exemplo daqueles que o haviam já feito e tinham vencido na Vida, neste particular o Visconde teria sido um significativo exemplo pela fortuna alcançada. Do ponto de vista cultural, Salreu, nada tinha, e apesar do esforço do Visconde em dotar a sua Terra com uma Majestosa e Imponente Escola Primária, que tinha inclusive Ensino Nocturno para Trabalhadores, que a não podiam frequentar no período diurno, uma grande parte da população era analfabeta! É difícil imaginar, nestas circunstâncias, as dificuldades que os Fundadores da Banda encontraram...! Apesar de se constatar, através das fotos da época, que a Banda era composta por alguns Executantes que já deveriam ter alguma formação e experiência, vemos também muitos miúdos que terão começado na Escola de Música da Banda, constituída para o efeito e cujas aulas seriam asseguradas por músicos mais velhos e pelo próprio Maestro, o primeiro da BVS – Pedro Calado! E o que nos chega aos dias de hoje, é que seria uma Figura interessante, culto, e com uma criatividade, pioneira e invulgar, e de quem temos alguma informação. Em Maio de 1927, a Banda apresenta-se pela primeira vez ao público, afirmando-se com a determinação de quem quer vencer e convencer!

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Foto de 192 ..?

Foto de 1932. Homenagem da BVS ao Ilustre Salreense Visconde de Salreu. Busto que ainda se encontra no Largo da Igreja de Salreu e que lá foi colocado por esta Instituição.

Foto de 1929

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E o caminho estava traçado e o futuro haveria de fazer justiça ao grande passo destemido que poucos deram para a satisfação e orgulho de muitos. O aperfeiçoamento técnico e artístico foi-se tornando uma regra de ouro, que nos dias de hoje é constantemente cultivado e superado. Em 25/3/1939, o Jornal “ O Povo de Pardilhó” referia-se à BVS nestes termos … “ Há bastante satisfação nesta freguesia pelo facto desta Banda se achar inscrita no Certame de Bandas Civis do Distrito. Esta manifestação de arte musical será levada a efeito em 15 de Abril próximo, em Aveiro”. E no mesmo jornal “ Seguiu no Sábado para Aveiro, esta apreciada Banda de Música, sob a direcção artística do distinto Chefe da Música, snr Capitão Manuel Lourenço da Cunha… “ Foi uma jornada verdadeiramente gloriosa para a Banda Visconde de Salreu, que conseguiu arrebatar o primeiro prémio - 500$00. O facto causou júbilo na nossa terra, que passou horas de vibrante entusiasmo.” …” foram interpretadas duas obras : a primeira “Abertura Sinfónica nº7” de Pereira dos Santos, escrita expressamente para o concurso, a segunda escolhida entre o repertório da Banda “ Il Regente” sinfonia da Ópera de Mercadante “. Em Junho de 1946 o Jornal “ O Concelho de Estarreja” refere-se-lhe nestes termos …” Esta excelente Banda de Música sob a Direcção Artística do Snr Capitão Cunha tem recebido inúmeros convites para abrilhantar importantes festas em diversas partes do país, tendo já firmado muitos contractos “.

(contracto)

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Em 1958, sob a Regência de Artur Pinheiro (mais de 25 Anos ao Serviço da Banda), estará presente no Concurso de Bandas da Câmara Municipal da Maia, voltando a arrecadar o Primeiro Lugar! Em julho de 1955, foi publicado um artigo no Jornal “ o Concelho de Estarreja”, pelo Jornalista Viriato Luso, que é uma “preciosidade” pela descrição absolutamente apaixonada com que descreve esse famoso confronto musical entre a BVS e a Banda de Pardilhó. O titulo não poderia ser mais sugestivo : “ Artístico, brioso e impressionante duelo entre duas Bandas de Música que honram o Concelho de Estarreja”. Transcrevemos algumas partes : “ …Como por milagre, as primeiras notas da imortal e gloriosa ópera de Mascagni, soaram suaves, cristalinas, puras, no coreto da Banda de Salreu… “ E mais adiante depois da intervenção da Banda de Pardilhó, … “ Mas já o Regente da Visconde de Salreu se ergue para a resposta a este primeiro ataque. É mais magro e mais nervoso, mais agitado, parecendo que traz fogo na alma; às vezes estes regentes, estes maestros e directores fazem milagres, conseguem galvanizar os executantes e o auditório. A um sinal enérgico da sua batuta, a banda rompe, respondendo com outro passodoble, daqueles que o público dos arraiais gosta, e que fazem aquecer os bailarinos e ferver as raparigas… Logo nos primeiros compassos percebemos estar a ouvir uma banda experimentada, colectivamente consciente, bem ensaiada e possuidora de óptimos e muito treinados elementos…” A propósito da famosa SINFONIA “ ALDA”, que foi durante largos anos e que ainda hoje é recordada como o “cartão de apresentação e de respeito musical” que a BVS incutia, diz Viriato Luso …” .. Esta caixa de surpresas num arraial de Adro, em luta aberta, mas leal, honesta e limpa, tem um sabor bem lusitano, bem português, bem popular…. Durante a execução desta Sinfonia, a nossa impressão radicou-se acerca da Banda executante, a Visconde de Salreu: é uma boa, excelente e grande Banda de música, com bom e e bem ensaiado reportório e com regência fogosa, nervosa, insatisfeita, ansiosa de corrigir, de melhorar, de constante e persistente aperfeiçoamento. “ E é com o mesmo espirito Filarmónico a que nos entregamos, para que a Banda Visconde de Salreu, atravesse o tempo e os tempos, permanecendo eternamente Jovem, com a entrada de sangue novo que a fará RE(viver) para lá da memória presente.

Foto de 1952, Póvoa do Varzim

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1952

Nota: O Músico sem o Boné, era António Oliveira e Silva, dos muitos que a BVS ajudou a formar e que fizeram da Música a sua principal actividade, a quem se referiu o Jornal “ O Concelho de Estarreja em 18 de Janeiro de 1962 …” Regressou há dias de Itália onde foi em viagem de aperfeiçoamento de Estudos, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkien, o Salreense António Oliveira e Silva, músico de 1ª classe na Orquestra da Emissora Nacional…”

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1956 – Cortejo de Angariação de Fundos para a construção da Residência Paroquial de Salreu

1960 – Senhora da Agonia – Viana do Castelo

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1988 - Na foto o Grande Benemérito da Construção da Sede da BVS - Sr. António Oliveira Rodrigues “ Zagala” Banda sob a Regência do Maestro António Ferreira da Silva.

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PATRIMÓNIO O nosso Edificio-Sede é de facto uma construção imponente, com capacidade para acolher diversas actividades de índole artística, recreativa e social, constituindo assim um verdadeiro centro de arte e cultura. Muito utilizado e valorizado pela Banda que lá realiza espectáculos multifacetados e de alto contributo para a divulgação da Arte em geral, tendo sempre na base a Música. Muito solicitado, principalmente o Salão Nobre, dá apoio a diversas Instituições e Colectividades do Concelho que o utilizam graciosamente. A um Homem se deve a iniciativa da construção da Sede, ao envolver os seus conterrâneos Emigrantes, principalmente daVenezuela, que muito ajudaram a que se levantasse a magnífica Obra que nos legaram. António de Oliveira Rodrigues, o Mentor e Grande Benemérito, agraciado pela Câmara Municipal de Estarreja, com a Medalha de Prata de Mérito, por significativos e relevantes serviços prestados à comunidade, neste particular, a uma Instituição a quem ele doou parte da sua fortuna e que testemunhou em Vida, o apreço e reconhecimento pelo Bem que praticou! A ESTRUTURA DA BANDA ESCOLA DE MÚSICA Foi reorganizada acerca de 30 Anos, pelo grande obreiro e a própria “alma” da Escola – o Sr José Santos. Homem de uma dedicação exemplar, disciplinado, competente, a quem a Banda muito deve, e que formou músicos que ainda hoje servem o Corpo Activo da BVS, e outros que pela excelência da sua Formação, se encontram hoje nas melhores Orquestras do mundo. No presente, e há um pouco mais de dez anos, está a Escola entregue a antigos alunos do Mestre! Passando a ter mais valências e pessoal docente preparado que responde às necessidades actuais que uma Banda com expectativas de crescimento exige. Tem a Escola cerca de 55 Alunos com idades compreendidas entre entre os 6 e os 13 anos, a quem são ministradas aulas de Formação Musical e Técnica de Instrumento e que são a fonte de novos executantes para a Banda, razão pela qual o ensino é GRATUITO! Os respectivos Monitores têm Formação complementar do Conservatório de Música, tendo o seu Director Sérgio Miguel Valente, Formação Superior em Música (Coimbra). Desde 2009 que o Instituto Inglês ABRSM (Associated Board of the Royal Schools of Music) certifica anualmente os alunos da Escola de Música da BVS, através de exames, e cujos resultados têm sido extraordinários, atestando a excelência de preparação a que são sujeitos. ORQUESTRA JUVENIL DA BVS Restruturada em 2000, tem cerca de 40 Jovens Executantes e que funciona também como uma plataforma de inclusão dos alunos da Escola de Música, preparando-os para a entrada na Banda. É seu Maestro o também Músico Sérgio Valente. ORFEÃO DA BVS Fundado em 2012 pelo Maestro Afonso Alves que também o Dirige e apesar da sua curta existência tem tido grande actividade com apreciáveis convites de participação em Encontros de Coros um pouco por todo o País. Gravou o seu 1º CD em 2013.

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A BANDA FILARMÓNICA Com 90 Anos de Existência contínua é composta por cerca de 74 Executantes (Femininos e Masculinos) com uma média de idades inferior a 20 anos. A 1ª Mulher a integrar uma Filarmónica no Concelho de Estarreja, na circunstância a BVS, foi a Isabel Fernandes SilvaValente, oficialmente já como executante em 1978, nas Festas de Santo António em Estarreja. Com um passado glorioso que acabamos de resumir, tem a partir de 2005, ano em que o Maestro/Compositor Afonso Alves assumiu a Direcção Técnica Musical da BVS, explorado e apresentado projectos inovadores (em paralelo com a actividade Filarmónica), dos quais destacamos: - 2 Concertos com o Tenor Carlos Guilherme e Coros (cerca de 300 pessoas em palco) - 4 Festivais da Canção apresentados no CTE - 3 Musicais Originais com Música composta pelo Maestro Afonso Alves e Libreto de Raquel de Jesus; 2 foram apresentados no CTE e 1 na Sede da BVS. - 2 Concertos de Música Ligeira: 1 Com o cantor Miguel Oliveira e outro com o cantor Bruno Henriques. - Musical “ A Paixão de Cristo “ - Musical “ Pedro e Inês “ - Musical “ A Padeira de Aljubarrota - Requiem de Mozart com Transcrição para Banda de Afonso Alves (a 1ª vez que uma Banda Filarmónica executa a Obra) - Tributo ao Fado, com Banda, Guitarra, Viola e Fadistas Amadores - Concerto Coral Sinfónico apresentado no Parque Municipal do Antuã com Banda e 400 Coralistas dos Distritos de Aveiro e Porto. - 5 Concertos Barrocos e Românticos apresentados na Casa museu Egas Moniz e nos Jardins do Palacete doVisconde de Salreu, com Banda, Ballet Clássico, Ballet Contemporâneo e Grupos Poéticos. - 3 Concertos com os Três Rios (Vitorino Salomé, Carlos Tavares e Manuel Rebelo) apresentados no CTE, no Casino do Estoril e na Casa da Música do Porto Acrescentamos a tudo isto as Festas e Romarias em que participamos um pouco por todo o País, principalmente no Verão. Resumindo a nossa História de Vida: A Banda Visconde de Salreu é uma Associação sem fins lucrativos, fundada em 1925, reconhecida como Pessoa Colectiva de Utilidade Pública em 27/11/1985, publicado no Diário da República, II Série, de 12/12/1985 e Isenta de IRC por Despacho nº 10070/2008, publicado no Diário da República, II Série de 07/04/2008. Reconhecida pelos Serviços Prestados à Comunidade foi-lhe atribuída em 13/06/2005 a Medalha de Prata de Mérito Municipal, pela Câmara Municipal de Estarreja. Tem como objecto a realização de Actividades Culturais e Recreativas, a Manutenção da Banda de Música e da Escola de Aprendizagem Musical (Artº 2º dos Estatutos, publicados em Diário da República, III Série de 01/10/1984.

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GALERIA DE FOTOS

4º Concerto Barroco – Sede Com o Estúdio de Dança de Margarida Valle

TRIBUTO AO FADO Gratos Momentos vividos no palco do CTE, com a BVS e Amigos. Fantásticos Arranjos do Maestro Afonso Alves, Excelentes Vozes Amadoras, Magnifica interpretação da BVS.

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Mega Concerto Coral-Sinfónico – Parque do Antuã, 7 de Julho de 2012 BVS e 350 Coralistas dos Distritos de Aveiro e Porto. Direcção e Arranjos do Maestro Afonso Alves

Concerto no Casino do Estoril – Nov 2014 BVS e os Três Rios - Carlos Tavares, Vitorino e Manuel Rebelo e o Grupo Coral da Senhora do Monte (Salreu) c/ alguns elementos do Orfeão da BVS.

Concerto na Casa da Música – Porto Espectáculo a favor da Mama Help. Lotação esgotada – cerca de 1200 Pessoas Dezembro de 2014

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Comédia Musical – A Padeira de Aljubarrota – 2013 versão 2 O 3º Musical Original da BVS (Afonso Alves / R.Jesus) Memoráveis momentos….

Orquestra Juvenil da BVS – Direcção Sérgio Miguel Valente 2º Encontro de Orquestras

Orfeão da BVS, Fundado e Dirigido pelo Maestro Afonso Alves (Maio de 2011)

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Foto 3º Festival da Canção BVS (2008) CTE

Das muitas Festas do contexto Filarmónico em que a BVS representa o Concelho de Estarreja! Triana. Romaria ao Senhor dos Aflitos. Uma Festa que começa às 8H00 da manhã e termina às 2H00 do dia seguinte.

Foto de Família - Aniversário BVS 2014 Tributo ao Saudoso Amigo Padre Carlos Martins. Fica a Memória de um Grande Homem, de um Pastor exemplar que nos deixa muitas saudades. Gratificantes as breves horas de convívio que valem uma Vida inteira, nos 3 anos em que fez o favor de Celebrar a Missa de Aniversário da BVS. As duas primeiras na quinta do Senhor Visconde de Salreu e a última na nossa Sede.

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SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE ESTARREJA 80 ANOS AO SERVIÇO DO CONCELHO DE ESTARREJA Rosa de Fátima Figueiredo* Foi com muito gosto que acedi ao honroso convite feito pela Diretora da Revista Terras do Antuã, Dr.ª Rosa Maria Rodrigues, em escrever sobre a Misericórdia de Estarreja. Escreveu-se muito sobre esta nobre Instituição, figuras Ilustres Estarrejenses falaram dela com inegável carinho. Para mim é um desafio deixar para os vindouros um testemunho nestes 80 anos de existência desta prestigiada Instituição. E o que é uma Misericórdia? A palavra misericórdia significa piedade, perdão, ajuda. Etimologicamente quer dizer coração compassivo. A palavra misericórdia deriva do latim (misereo + cor) aponta para o amor cordial ou compaixão. É o coração que se compadece e age quando provocado pela desgraça alheia, o coração como órgão e símbolo de afectividade, e não como órgão principal de circulação de sangue. Na sua essência, as Misericórdias são irmandades constituídas por um conjunto de pessoas que por isso mesmo se designam por “irmãos” e não por sócios os quais contribuem voluntariamente, com bens, com meios, serviços e donativos de várias espécies em favor dos que mais precisam nomeadamente daqueles que pertencem a determinada área territorial. Também as Santas Casas das Misericórdias são Instituições com caraterísticas próprias, que nasceram do preceito cristão de caridade, expresso nas 14 obras de bem-fazer, e que são: SETE CORPORAIS Dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos e SETE ESPIRITUAIS Dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo, rogar a Deus por vivos e defuntos As Misericórdias não são associações cívicas nem organizações políticas, nem grupos culturais, nem passatempos, nem trazem vantagem económica para os que nelas mantêm viva a chama do amor pelo próximo e da utilidade pública. Não servem para satisfazer vaidades pessoais, não favorecem amigos, não premeiam interesses, apenas exigem sacrifícios, e todavia há mais de 500 anos que as Misericórdias se mantêm e cada vez é mais o papel assistencial que desempenham.

*Licenciada em Direito, na Universidade Católica, Porto, possui o Curso de Especialização Interdisciplinar em Direito das Crianças, da mesma Universidade. Advogada em Estarreja, desde 1986. Entrou para a Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, em 1987. É Provedora da mesma instituição desde 30/11/1996. Foi membro do Secretariado Regional das Misericórdias do distrito de Aveiro, em 2001-2002.

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

O espírito de misericórdia converte-se em ação organizada, à maneira das instituições medievais, pela primeira vez em Florença no ano da graça de 1244, por iniciativa de S. Pedro Mártir. Em Portugal, por iniciativa da ilustríssima e mui católica Senhora, a Rainha D. Leonor, viúva do Rei D. João II, senhora de grande fortuna e protetora de letrados e artistas, foi fundada a primeira Misericórdia em Lisboa, corria o ano de 1498. No entanto, por carta régia de 14/03/1499 dirigida a Vereadores, Procuradores, Fidalgos, Cavaleiros e Homens Bons, o rei D. Manuel I recomenda a criação de Misericórdias em todas as cidades, vilas e lugares principais do reino. Estas Instituições sobreviveram a períodos conturbados da nossa história sendo o último a nacionalização dos seus hospitais entre os anos de 1974-1976. As Misericórdias procuram novos rumos de ação, têm uma capacidade enorme de se adequarem às novas realidades sociais com que se deparam, modernizam a sua gestão, empregam técnicos especializados e gerem grandes equipamentos sociais. Tudo isto sem terem rompido totalmente com a sua cultura histórica e com a ideologia do “ato misericordioso”. As Misericórdias são obras do espírito cristão, ao mesmo tempo que manifestam o humanismo português. Poder-se-á questionar depois de tantos séculos passados, se há razão de ser para que as Misericórdias existam, e será que são necessárias nos tempos de hoje e de amanhã? As obras de Misericórdia são de, e para todos os tempos “Pobres sempre os tereis convosco”. É por eles que as Misericórdias existem, elas são indispensáveis, para os excluídos e marginalizados física e moralmente, para os desempregados, para os doentes, para os sem-abrigo, para os sós, os abandonados, para os velhos, para os jovens que se afundam na dor e no sofrimento da droga, para as crianças abandonadas à sua sorte. É nesta miséria que está a génese das Misericórdias. As Misericórdias têm já por mérito próprio o seu lugar no futuro, pois são pioneiras de um ecumenismo de solidariedade e que hoje se diria de “globalização do amor”. Numa sociedade cada vez mais individualista e de competição desenfreada, em que a maioria das vezes os valores humanos e de justiça são espezinhados, nunca como hoje o espírito de misericórdia daquele grupo de Homens Bons e de “Boa Fama” foi tão atual e tão importante. Tanto o Estado, como a sociedade não vão de encontro às grandes necessidades da população e assim as Misericórdias vão alargando o seu campo de atuação. É que as Misericórdias estão onde o Estado não está, ou está deficiente. A Misericórdia põe amor e está vocacionada para o Homem. Só o Homem tem alma, sente, ri, chora e ama e pode ajudar com uma simples palavra de carinho. O Estado o que faz é por obrigação, por interesses políticos ou quaisquer outros, nada faz por misericórdia. A Misericórdia dá apoio na medida em que cada um de nós se entregar. A Misericórdia de Estarreja nasceu juridicamente há 80 anos. No entanto, o embrião da mesma surge alguns anos antes com as necessidades de saúde e bem-estar do povo do concelho de Estarreja e junto de uma alma generosa – o Padre Donaciano de Abreu Freire. O grande sonho do Padre Donaciano quando chegou a Estarreja era a construção de um hospital. Após a inauguração das obras de reconstrução da Igreja de São Tiago de Beduído por causa de um incêndio, o Padre Donaciano através de artigos nos jornais “A Voz de Estarreja e Jornal de Estarreja” inicia uma verdadeira cruzada pela criação de uma Misericórdia/Hospital e Asilo. O dia 21 de Janeiro de 1923, foi o agendado para o despoletar desta campanha. Escrevia

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o Padre Donaciano em carta dirigida ao diretor do “Jornal de Estarreja” nesse dia “Bendita a hora em que nesta vila, sobre uma travesseira alvadia de linho regional fiado e tecido pelas benfazejas mãos das mulheres de Estarreja, sob a ternura do seu olhar, repouse e adormeça a primeira cabeça desgraçada e revolta de um órfão de toda a ternura”. Foram estas palavras que bateram fundo em muitos corações e despertaram mentes adormecidas. “Há ideias que nascem imortais como os heróis”. A ideia de uma Misericórdia, no concelho de Estarreja, é uma delas! “Ela pegou-se a muitos corações como uma epidemia, porque sendo para a defesa dos mais fracos pontos da cidade humana, é o instinto da mesma espécie humana que a reclama”. Era então a Misericórdia “Hospital Asilo do concelho”, uma ideia em gestação, um ideal a atingir. Os jornais continuavam a fazer eco do sonho. Em Abril de 1923 é realizada uma magna assembleia onde estão presentes Homens Bons do concelho e é constituída a Grande Comissão Pró-Hospital, com 151 nomes, da qual salientamos o Dr. Egas Moniz, mais tarde Prémio Nobel da Medicina e o grande Jurista que foi o Doutor Manuel Andrade.

É lido o projeto de Estatutos elaborado pelos advogados, Dr. Oliveira Pinto e Dr. Guilherme Souto:

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

São constituídos os núcleos executivos para as diversas freguesias do concelho de Estarreja e para a Murtosa, cujas reuniões se foram sucedendo; as senhoras organizaram festas de caridade, os irmãos surgiram em catadupa, pessoas anónimas foram deixando na bandeja da caridade a sua oferta, as associações “Centro Recreativo de Estarreja”, e o seu grupo cénico e o então Orfeão de Estarreja promoveram espetáculos. Mas as coisas começaram a correr mal, a situação de saúde do Padre Donaciano agravou-se e o sonho esmoreceu. Mas o Padre Donaciano, no dia 15 de Janeiro de 1926, com a alma cheia de fé e com uma determinação imparável, juntamente com o Padre Albino Martins, Pároco de Salreu, em vésperas do Visconde de Salreu ir para o Brasil, bateram-lhe à porta. O Visconde ouviu a exposição do Padre Donaciano e de imediato disse-lhe “Adquiram o terreno por minha conta e por minha conta construirei o Hospital – Asilo”. Era a grande e boa nova! É então que em 20/10/1926 é feito o assentamento da primeira pedra. A obra projectada pelo arquiteto Manuel Júnior foi crescendo, não como o Visconde de Salreu desejou, pois as obras só terminaram em 1935, em virtude da grande crise económica que afetou o Brasil naquela época. O Visconde de Salreu foi o construtor da obra de que alguém dizia “a dedicação de um só Homem, se substituiu a obrigação de todos, realizando instantaneamente uma obra que levaria séculos, desonerando a consciência do seu Povo do encargo de uma assistência que nunca havia organizado. O Visconde de Salreu resgatou o concelho de Estarreja do opróbrio da ferocidade egoísta e do atraso da caridade inorgânica”.

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

SALREU Uma das mais importantes freguezias do concelho de Estarreja HOSPITAL VISCONDE DE SALREU UMA INSTITUIÇÃO MODELAR Milhares de contos cedidos generosamente em favor das classes desprotegidas

Não tenho na minha modesta pena expressões suficientemente eloquentes e intensamente vibrantes que possam traduzir-me a contento da minha consciência, a impressão profunda e o sentimento comovido com que acabo de percorrer as fundações de tão grandioso empreendimento altruista como é o Hospital Visconde de Salreu em Estarreja. Iniciativa de tamanha abnegação, gesto benemerente de tão potente envergadura, caridade tão modelar e tão excelsa, talento tão privilegiado de Fazer o Bem por Bem Fazer tal como ali tão praticamente, me patenteia em tão monumental apotheose da Caridade christã, não é tarefa facil de descrever, nem emprehendimento facil de cumprir. Domingos Joaquim da Silva – Visconde de Salreu – pela força do seu trabalho probo, activo, persistente e modelarmente honrado, ao fim de largos annos de nunca cansada energia n’essa labuta indomita de vencer na vida, consegue triumphar, accumular uma grande fortuna, conquistada à força de tanto potente esforço dia a dia, hora a hora amealhada pela estranha potencia do seu braço forte de luctador, pela energia indomita da sua intelligencia pelo credito potentoso da sua honestidade, durante longos annos de dura e rija lucta pela vida, onde alcançou finalmente o triumpho dos Fortes e tendo vencido plenamente e tendo triumphado em toda a linha, após 57 annos de dura acção attingiu por fim o seu ideal de luctador, quando tantos sahem vencidos pela sorte, ou pela morte, e já em pleno triumpho, tendo ao seu alcance tudo quanto apetecera o Visconde de Salreu ainda não ficou satisfeito, nem o seu grande coração se contentou em saber-se feliz e fazer felizes todos os seus, opulentamente confortados na vida, ricos de alegria e bem-estar, da alegria intensa que da a plena consciencia do dever cumprido… Não, o Visconde de Salreu, archi-millionario, poderosamente opulento, absolutamente triumphando, ainda ambicionava alguma coisa, ainda apetecia alguma coisa ao seu bondosissimo coração, alguma coisa ainda faltava para a coroação plena e completa da sua victoria na vida! E a sua grande alma para ficar completamente satisfeita e o seu grande coração para se sentir completamente contente, ao que aspirava ainda? À satisfação, ao conforto, à consolação do seu semelhante d’aquelles que no meio da lucta fraquejaram, d’aquelles que a Fortuna não bafejou, d’aquelles que foram vencidos, d’aquelles, talvez, que nunca tiveram meios para luctar, nem armas para vencer, d’aquelles a quem a miseria tolheu, a desgraça entorpeceu, a doença aniquilou. E o Visconde de Salreu, archi-millionario e poderosamente feliz em pleno triumpho da sua lucta, gosando todos os confortos e satisfações que o seu probo, intenso e ininterrupto trabalho lhe doou, pensava ainda para ser completamente feliz, no conforto do pobre, no consolo do desgraçado, na assistencia ao doente e desamparado na vida; a sua perfeita consciência de homem de bem, a sua pura alma de grande altruista e o seu coração insatisfeito, segredaram a sua intelligencia lucida que a sua grande obra não estava concluída, antes tinha de começar por ventura, e mister era ainda trabalhar e muito, luctar ainda e muito vencer sempre não por si e para si, mas pelos pobres e para os pobres! E o Visconde de Salreu não descansou ao cabo de 57 annos de lucta, não se sentiu fatigado ao

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termo do seu triumpho, antes ainda e sempre animoso e novo e forte de animo, confiado nas suas poderosissimas faculdades de trabalho, creou obra nova e… começou ou continuou a trabalhar pelos outros e só para os outros, n’esta admiravel cruzada de Bem Fazer, dedicando o melhor do seu esforço, o melhor do seu carinho e o melhor da sua fortuna. Pela sua terra, e pelo seu patrício foi o lemma da nova cruzada austera. Ao seu espirito esclarecido impunha-se a impreterível necessidade de prover à instrucção, à educação, à cultura da mocidade da sua terra, e logo n’uma dadiva de generosissimo millionario, foi offerecido ao Governo do seu paiz, a modelar escola Domingos Joaquim da Silva em Salreu, vasto estabelecimento escolar cuja gravura publicamos, onde, toda a mocidade de Salreu poderia instruir-se, educar-se, civilisar-se. Foi inaugurada e entregue ao Governo n’uma festa memoravel, no meio do mais intenso jubilo regional a 29 de Junho de 1907. Tendo doado ao seu concelho o mais modelar estabelecimento de ensino que possue a provincia, não parou ainda aqui, não cançou, não arrefeceu a imensa caridade d’este benemerito espirito altruista; antes pareceu ter creado novos incitamentos, energias novas, o grande talento de Bem Fazer a grande e bemdicta ancia da sua generosidade. Logo pensou tambem nos pobres, nos doentes, nos desventurados e vá de construir-lhes um palacio para assistir às suas doenças, acolher as suas miserias, consolar as suas desgraças. E deu ordem para se construir o monumental hospital Visconde de Salreu. Escolhido e não expropriando, - mas comprado a pezo de ouro, - o terreno mais adequado a esse fim e d’onde se disfructa o mais soberbo horizonte para todos os lados para onde se estenda a vista, logo encarregou o grande architecto Norte Junior, a quem já confiara a importantíssima construcção dos seus predios na Avenida da Liberdade, em Lisboa, fachadas bellas de predios citadinos que lhe mereceram o premio Valmôr. Um projecto sumptuoso, verdadeiramente monumental na generosidade da concepção e na belleza da construcção logo foi apresentado pelo grande animador de pedra que é Norte Junior. Nas gravuras que publico abaixo pela gentilissima deferencia da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Estarreja, que aprovou o projecto a 27 de Outubro de 1926 está a fazer um anno, os leitores poderão fazer ideia da sua magnificencia e sumptuosidade. A fachada monumental é da mais exigente harmonia e belleza de linhas e toda a planta competentissimamente elaborada, dentro da mais modelar tecnica, aliada ao mais requintado bom-gosto. Exposta ao norte, na melhor orientação e mais benefica, olhando carinhosamente a villa de Estarreja na sua fachada principal, com 56 metros, abrem-se 14 amplas janellas e 3 portas monumentaes. A este corpo vem ligar-se 3 outros corpos de edifício perfeitamente isolados uns dos outros por amplos jardins de 28m de comprido. Ao do lado norte fica instalada a enfermaria para homens, muito vasta com 28m por 9m possuindo 22 janelas rasgadas por onde o sol e o ar entram a flux, e tendo logar para 24 camas fixas, podendo, em caso de necessidade, colocarem-se mais 12 camas; remata este corpo nos extremos com quartos amplos e espaçosos onde se destinam as rouparias, quartos de banho, W. C. e lavatorios modelares. No identico corpo do edifício do lado sul fica installada a enfermaria para as mulheres, absolutamente identica, em tudo à enfermaria dos homens comportando portanto as duas enfermarias logares para 58 camas.

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No corpo central, isolado das duas enfermarias por dois amplos jardins de 28m de comprido por 12m de largo, fica a Capela do Hospital, sumptuosa de imponencia e bom-gosto que abre as suas portas para o vasto Hall de 27m de comprido por 7 de largo para onde tambem comunicam no extremo direito as portas das casas de operações asepticas, absolutamente fornecidas de tudo quanto a cirurgia moderna exige, tendo anexa a sala de operações septicas, a sala dos pensos, com seus laboratorios e o mais modelar conforto moderno, e no extremo esquerdo a sala de radiographia, ligada à sua camara escura, tendo todas estas salas 6,35 por 4,20. Do vasto Hall se passa para o largo Atrio de Entrada do Hospital com 6 por 5, de onde se abre, à esquerda para a casa da consulta, casa de pensos, e medico, e à direita, sala da Administração, pharmacia e laboratorio, dando todas estas divisões para o Vestibulo da entrada do Hospital. Do Hall partem dois largos corredores para os extremos do lado norte e sul onde ficam frigorífico, e vasta cosinha com 8 por 6 e suas quatro entradas independentes installados, de cada lado 4 quartos particulares, para a hospitalização de ricos, tendo anexos tudo quanto o conforto moderno recomenda. Situado entre as duas enfermarias e separado dellas pelos jardins; bem como do corpo central, ficam as instalações amplissimas para o refeitorio, para vestiário, rouparia, dispensa,. Todo este andar, nos seus 4 corpos differentes, assenta sobre uma cave de 3,60 de alto, caixa de ar absolutamente estanque, que isola todas as paredes do edifício do contacto pernicioso da humidade da terra e dos seus alicerces, isolamento em cimento-concreto pelos mais aperfeiçoados processos da moderna architetura. O primeiro andar que assenta apenas sobre o corpo central, tem cerca de 20 divisões e sendo confortavelmente dividido, destina-se à residencia do Director do Hospital e de sua família. Assentou-se a primeira pedra d’este explendido Hospital, n’uma grande festa regional em que todas as honras foram prestadas e tão benemerente bemfeitor da sua terra, estando presentes o generoso doador Visconde de Salreu, o Ministro do Interior representado pelo comandante sr. Monteiro, toda a Comissão Administrativa da Camara Municipal, entidades officiaes do concelho, figuras gradas da villa, muito povo em constante enthusiasmo, e satisfação. Iniciaram-se os trabalhos a 27 de Setembro de 1926. Espera-se que seja inaugurado dentro de 2 annos. Que mais palavras acrescentar, leitores, apóz esta descripção e a documentação pelas gravuras d’este grandioso gesto benemerente? Á alma nobre à consciência recta ao espírito de justiça e à admiração respeitosa dos meus leitores deixo o culto de profundo respeito e acatamento e de intensa admiração a prestar ao imediato cidadão, honesto, generoso e benemerito que é Domingos Joaquim da Silva,Visconde de Salreu, rogando a Deus que em sua infinita bondade, consinta que sobre a sua cabeça veneranda, como sobre a de todos que lhe são queridos, chovam bençãos e felicidades, como tem jus quem tão generosa, tão largamente, tão abnegadamente, tanto Bem sabe fazer ao seu semelhante. Para terminar direi ainda que o Pae do Visconde de Salreu, era um modesto proprietario e negociante em Salreu, sendo porém o mais nobre e digno exemplo de quanto pode e consegue o extremoso amor paternal por seus filhos, subministrando-lhes, à custa, Deus sabe de quantos sacrifícios, uma honrada educação, os indispensaveis estudos, e pelo seu exemplo, a melhor pureza de princípios, continuada e estimulada em bom incitamento. Foi Pae de 9 filhos, de entre os quaes 3 senhoras. D. Maria, D. Violante e D. Margarida, já fallecidas; com seus modestos recursos conseguiu crear a todos 9, educar, encaminhar carinhosamente pela vida fóra, orientando-os no indeclinável caminho do dever, creando uma

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pleiade de honrados trabalhadores, conseguindo por fim fazer de todos, cidadãos dignissimos, valores intelectuaes, actividades modelares e muito prestaveis ao seu Paiz, a dentro dos moldes de perfeitos homens de bem. O actual Visconde de Salreu é o altruista iminente que reparte hoje a sua bella fortuna, pela pobreza da sua terra natal. O dr. Joaquim da Silva, formando-se em medicina é o iminente medico que exerce no concelho de Estarreja o seu sacerdocio. O dr. Severiano José da Silva, formado tambem em medicina, é a bem conhecida actividade industrial do meio trabalhador do Porto, accumulando as suas funcções profissionaes, com as de Director da importante Companhia Carris de Ferro do Porto. Antonio da Silva era um muito distincto engenheiro e architecto, já falecido, que por Estarreja, Oliveira de Azemeis, Apolia, Aguda, Carreiros e Porto deixou, bem marcados, padrões da sua muita competencia. Francisco da Silva, foi um importantissimo commerciante e industrial na cidade de Jaguarão, no Estado do Rio Grande do Sul. Manoel da Silva, é outro importantissimo commerciate nos Estados Unidos do Brazil. Todos elles modelares exemplos de quanto pode o trabalho incansavel, foram e são dignos herdeiros de um nome muito honrado, cujo brazão foi o trabalho em campo de honra e teve por timbre a energia indomita da raça, e os que são vivos, são hoje – quem são, - porque acima de tudo, seu pae exemplarmente os soube encaminhar no trilho do dever, transmitir-lhe a fé no trabalho, a honra na vida a energia na alma. Por isso é que, eu não extranhei, que nos olhos do venerando benemerito que é o Visconde de Salreu brilhassem lagrimas de carinho e saudade ao contemplar e apontar-me, em logar de honra em sua casa, que soube construir abraçando a antiga residencia de seu pae, na sala, um quadro photographico primoroso de execução artística de Emilio Biel, onde o seu muito affecto fez reunir os retratos de seus progenitores rodeados de todos os seus filhos, na mais tocante homenagem de carinho e de saudade do seu grande amôr filial.1 No dia 12 de Março de 1935, chegaram as primeiras Irmãs de Caridade, as Irmãs Franciscanas de Calais. Nesse mesmo dia, as portas do Hospital são abertas aos visitantes. Palavras de profundo reconhecimento e agradecimento são escritas no livro de honra dos visitantes.

1 - J.P.M 2 Correio da Manhã” 15.11.1927, p.5

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A OBRA DE UM GRANDE BENEMERITO VISITA AO HOSPITAL VISCONDE DE SALREU Em vesperas de inauguração – As nossas impressões “Não vamos fazer a biographia do grande beneméritoVisconde de Salreu, porque de há muito é conhecida. Modesto e humilde trabalhador, durante muitos anos no Brazil, sempre com o pensamento na sua terra natal, conseguiu dotal-a com duas monumentais escolas que são o orgulho dêste concelho. Agora vai ser coroada a sua grande obra benemérita com a erecção de um hospital considerado por todos os visitantes como um dos melhores do nosso paiz. E pena foi que a situação financeira do Brazil não permitisse ainda que os desejos do grande bemfeitor fossem satisfeitos, inaugurando por completo todo o edificio nobre e limitando se a inaugurar provisóriamente o hospital no pavilhão que era destinado a asylo, isto emquanto a situação financeira do Brasil não melhorar. Como é sabido, é no Brasil que o sr.Visconde de Salreu tem a principal parte da sua fortuna e emquanto não vierem melhores dias para aquela nação amiga – o Hospital Visconde de Salreu tem que se limitar à instalação provisoria. Vamos narrar aos nossos leitores a impressão que colhemos da nossa ultima visita às magnificas instalações e que principiaremos pela do hospital provisório que em breve vae ser inaugurado com todo o luzimento, constando-nos que vão ser convidados o sr. Ministro do Interior e as principaes autoridades e agremiações de todo o districto. A Camara Municipal effectua uma sessão solene, inaugurando n’essa ocasião o retrato do grande benemerito no salão nobre da Camara. Este retrato esteve em exposição no salão da Camara Municipal do Porto e foi muito admirado! É trabalho valioso e foi executado n’aquela cidade por um grande artista. *** O hospital provisorio, que vae ser inaugurado, é instalado num lindo pavilhão, rodeado de jardins, vendose no átrio a estátua do Visconde, oferta do pessoal da sua fábrica no Rio de Janeiro, sendo o busto em cobre e tendo nos angulos do pedestal, que é em pau santo, os nomes de todos os offerentes, cravados a ouro e que são em numero de 180. No mesmo átrio vê-se um telephone para todas as secções e serviços de incendios. À entrada e de cada lado admiram-se duas belas enfermarias, sendo uma para cada sexo. As camas, que se intervalam dumas para outras com grande espaço, são muito fôfas, tendo os colchões em arame e as almofadas em lã. Cobrem-nas lindas colchas brancas. Cada doente tem à cabeceira uma chamada elèctrica para o quarto da enfermeira, sendo marcado o numero da cama do doente e que se repercute num quadro afixado à entrada, vendo-se com facilidade qual o doente que precisa de soccorro da enfermeira. Aos lados de cada cama há um bello tapete, mesa de cabeceira em esmalte, com bacio e escarrador tambem esmaltados e uma cadeira com fundo e costas de lona. Ao fundo da enfermaria admira-se uma instalação destinada a lavatorios, tendo cada doente um bello lavatorio em esmalte e que fornece aguas quente e fria. Aos lados estão instaladas duas bellas casas de banho com uma tina esmaltada cada e tambem para águas quente e fria. Fronteiras ás casas de banho estão as retretes com autoclismo e bidet. O refeitorio é grande e alegre, rodeado de janelas que deitam para o jardim.Tem 5 boas mesas de madeira do Brasil. A despensa, que fica próxima, tem grandes prateleiras e contém fina loiça da fábrica de Sacavem, com bellos serviços marcados com o brazão de visconde, aproximadamente 350 peças. A cosinha, onde se admira um bello fogão, é adornada com grandes prateleiras onde se acomoda todo o trem de cosinha que é em alumínio.Vê-se tambem uma valiosa caldeira de aquecimento, etc. É tambem instalada neste pavilhão a sala destinada a operações, vendo-se já algum material cirúrgico, cama de mòlas giratória, mesa de curativos com tampa de vidro, balde de pensos, etc.

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O chão é todo em litolizo, producto alemão. Emfim, todas as secções são modelares, amplas e soalheiras, com muita higiene e conforto. O serviço de enfermagem foi confiado a irmãs franciscanas, pertencentes à casa mãe com séde em Calais (França). A superiora já esteve em diversos hospitaes franceses durante annos e são todas de nacionalidade portuguesa. Há trez mezes que fazem serviço n’este Hospital e empregam-se a confeccionar roupas para os doentes e acessòrios da capella, pequeno e elegante templo a que adiante nos referiremos. * Depois de terminada a nossa visita ao magnifico pavilhão que vae ser inaugurado, fomos vêr o edificio principal que está completo na sua construção, mas faltando-lhe ainda parte do seu recheio que deve orçar por centenas de contos. No átrio vêem-se espaço nas salas destinadas a operações, consultas externas, tratamentos, pensos, Raios X diatermia, raios ultravioletas; administração; capella, oito bellos quartos particuláres com lavatorios para aguas quente e fria e tendo todos chaufage; duas grandes enfermarias que comportam 48 doentes; quartos de enfermeiros; quartos de banho com agua quente, fria, misturada a duches; farmacia com laboratorio; retretes com autoclismo, etc. No andar nobre admiram-se belos quartos todos com janela, lavatorios com aguas quente e fria e chaufage, salão destinado às juntas médicas, bela residência do médico, com salas, quartos, casa de jantar e cosinha, despensas, etc., etc. Nas caves há a secção destinada à fabricação do pão, tendo masseira e fôrno. Admira-se tambem um grande salão destinado a celeiro geral, com 16 tulhas, despensas, etc. Os refeitorios, que estão situados entre o hall e a cosinha, são em numero de três, muito alegres e rodeados de janelas que deitam para os jardins, vendo-se já nêles mesas, cadeiras e aparadores, tudo em madeira do Brasil. A cosinha, que é muito espaçosa, contem um grande fogão alemão com quatro belas marmitas, movidas a vapor, dois lavadouros e grandes mesas. À entrada do monumental edificio chamou-nos a attenção um belo monumento erigido aoVisconde de Salreu, tendo o pedestal em fino marmore e o busto em cobre e tambem no mesmo local uns «paneaux» em azulejo, sendo um representativo da velha redidência da familia doVisconde e na qual êle nasceu no ano de 1854, outro da residencia actual e mais dois com as belas escolas mandadas construir por êste grande benemerito e oferecidas ao Estado. * A capella fica situada no edificio nobre, em frente ao portão principal, tendo na sua frente um átrio que comporta mais de 500 pessoas. O orago d’esta capella é Santa Luzia, cuja imagem, secular, tem sido sempre venerada por toda a familia do sr.Visconde. Está no seu lugar de honra, isto é, na capella mór, vendo-se por baixo o sacrário. Aos lados da banqueta estão duas pequenas imagens do Sagrádo coração de Jesus e Nossa Senhora da Conceição. Ao centro da capella admira-se um belo lustre com lampadas electricas em numero de 10. As paredes da capella, na parte inferior, são adornadas com as imagens em azulejo de Nossa Senhora do Rosario; nome da mãe do Visconde; S. Joaquim, nome do pae; S. Domingos, nome do Visconde; S.Tiago, nome do patrono da freguesia de Estarreja; S. Martinho, nome do patrono da freguesia de Salreu, em cujos terrenos està situado o Hospital, e Santa Luzia, imagem de muita devoção da familia. Tem sacristia, com grande mesa de gavetões para guardar os paramentos, que já estão no hospital, com as côres de todos os ritos, indumentària artística e valiosa, e nesses gavetões são guardados tambem todos os objectos do culto, alguns de alto valor. * Depois de sairmos maravilhados com o que tinhamos visto, dirigimo-nos a uma grande correnteza de casas situadas nos jardins e que são destinadas aos empregados e onde se admiram belas salas e quartos no 1.º andar. Nas lojas estão instalados os maquinismos, tendo màquinas de burnir, de lavar, de barrella, de desinfecção e de enxugar, uma caldeira geral e duas caldeiras de chaufage. Nestas mesmas lojas estão instalados o lavadouro, garage, oficinas de carpinteiro, casa da guarda, etc.

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Consultamos o relogio e vimos que a nossa visita era já prolongada, aproximadamente levàmos duas horas em todo o percurso e o nosso amavel cicerone, percebendo que imaginavamos que nada mais havia de admirar, chamounos mais a atenção para um outro pavilhão destinado a doenças contagiosas e que ainda não está mobilado e tambem para um outro destinado a operações e casa mortuária e que está montado com todos os requisitos modernos. Depois fômos vêr o pombal, capoeiras e curraes, admirando belos exemplares e que já estão destinados à alimentação dos doentes. Os jardins, o pomar e as hortas que dominam todas […].”2 A obra estava concluída, mas não havia entidade a quem entregar a sua administração, é a 04/10/1935 que é feita a leitura, discussão e a aprovação dos Estatutos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja e é nomeada a primeira Mesa Administrativa, em que era Provedor o Visconde de Salreu, Domingos Joaquim da Silva, e o Vice-provedor o Padre Donaciano de Abreu Freire.

2 - Jornal de Estarreja, nº 2414 de 25.06.1935, pp 1-4

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Passados alguns meses, o Visconde de Salreu fez doação, em 27/03/1936, à Santa Casa da Misericórdia de Estarreja, do prédio sito no lugar da Agra, freguesia de Salreu. Compreendendo vários edifícios com a designação de Hospital Visconde de Salreu-Asilo Viscondessa de Salreu, vários pavilhões, lavandaria, casa mortuária, terrenos anexos, jardins, pomares, hortas e todo o seu recheio.

Doação que fez o Ex.mo Sr. Domingos Joaquim da Silva,Visconde de Salreu, à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Concelho de Estarreja, em 27 de Março de 1936

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No dia vinte e sete do mês de março de mil novecentos trinta e seis, na Praça Francisco Barbosa, daVila e comarca de Estarreja e no edificio dos Paços do Concelho, aonde vim expressamente rogado para o efeito deste acto, aqui perante mim notário com esritório situado nesta mesma Praça, Manoel Tavares d’Oliveira Lacerda e as testemunhas idoneas adeante nomeadas e no fim assinadas, compareceram: como primeiro outorgante, na qualidade de doador o Excelentissimo Domingos Joaquim da Silva –Visconde de Salreu, casado, capitalista digoVisconde de Salreu, morador no logar das Laceiras, da freguesia de Salreu, casado mediante o regimen de separação de bens com a Excelentissima Senhora Dona Maria Nunes da Fonseca, de ocupação domestica, moradora no mesmo logar e freguesia, que tambem está presente e acompanha o mesmo primeiro outorgante; e como segundos outorgantes os Excelentissimos Senhores Padre Donaciano da Silva Bastos de Abreu Freire, solteiro, maior, proprietário e parocho da freguesia de Beduido, morador no logar de Santiago, Joaquim Marques Freire, funcionario publico aposentado, morador nestaVila, casado, Adelino Dias Costa, casado, industrial, morador no logar de Lombão, da freguesia de Avanca, José Nunes Antão, casado proprietário, morador nestaVila, Padre Urbano Augusto RodriguesValente, solteiro, maior, proprietario e parocho da freguesia de Salreu e morador no logar do Couto, da mesma freguesia de Salreu, Padre João Rodrigues MarquesValente, solteiro, maior, proprietário, morador no logar da Cavada, da freguesia dita de Salreu, na qualidade de membros efectivos da mesa administrativa da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Concelho de Estarreja, qualidade essa que provaram com uma certidão da acta em que foi feita a sua nomeação, passada pelo aecretario da mêsa administrativa da dita Irmandade Joaquim Marques Freire no dia vinte e quatro do corrente mes e ano, a qual vou arquivar, assim como vou arquivar outra certidão passada no mesmo dia pelo dito secretario donde constam as condições em que é feita a doação a efectuar pela presente escritura e em que foi dada à mesma mesa administrativa, pela Assembleia Geral,autorização para aceitar a doação e outorgar e assinar a respectiva escritura.Todos os outorgantes são desta comarca e concelho e do meu conhecimento pessoal, cuja identidade por isso reconheço, do que dou fé. E pelo primeiro outorgante o Excelentissimo Senhor Domingos Joaquim da Silva,Visconde de Salreu, perante mim e as testemunhas foi declarado que de entre os bens proprios dele mesmo primeiro outorgante existe um predio, sito no logar da Agra, da freguesia de Salreu, que comprehende várias edificações com a designação de “HospitalVisconde de Salreu”, “AsiloViscondessa de Salreu”, Pavilhões, lav digoViscondeça de Salreu, e tambem pavilhões, lavandarias, casa mortuaria e outras com terrenos anexos e jardins, pomares e hortas, tudo murado, a confinar do norte com herdeira de Dona Maria do Carmo de Moura Coutinho d’Almeida d’Eça e José Maria Bandeira Ferraz, do sul com Joaquim Afonso da Silva e com caminho, do nascente com herdeiros de Antonio d’Oliveira e Silva e outros e do poente com estrada, o qual está inscrito sob o artigo seis centos oitenta e um da respectiva caderneta de avaliação de prédios urbanos e sob os artigos da matriz rustica mil quinhentos trinta e nove, mil quinhentos e quarenta, mil quinhentos quarenta e um e mil quinhentos quarenta e dois e ainda faz parte dos inscritos na mesma matriz rustica sob os artigos mil quinhentos e trinta, mil quinhentos trinta e um, mil quinhentos trinta e dois, mil quinhentos trinta e oito, mil quinhentos quarenta e quatro, mil quinhentos quarenta e cinco e mil quinhentos quarenta e seis, conforme consta de uma certidão passada na Repartição de Finanças deste concelho pelo aspirante Manoel Marques no dia vinte e quatro do corrente mes e ano que tambem hade ser arquivada para os devidos efeitos e já está descrita na Conservatória desta comarca no livro B oitenta e tres, a folhas cincoenta e quatro verso, sob o numero trinta e um mil oito centos cincoenta e oito. Que, pela presente escritura e pela força da sua quota disponivel faz doação à Irmandade da Sata Casa da Misericórdia do Concelho de Estarreja, representada pelos segundos outorgantes como membros efectivos da sua mêsa administrativa, do designado e confrontado predio com todos os seus edificios, terrenos anexos e tambem com o seu recheio, doação esta que fica sugeita às seguintes condições: Primeira – Destinar-se-hão os respectivos edificios ao internamento e tratamento de individuos pobres dos dois sexos quer por doença quer por senilidade, conservando o Hospital a designação de “HospitalVisconde de Salreu”, e o Asilo a designação de “AsiloViscondessa de Salreu”, devendo sempre ser mantido o funcionamento dos mesmos em harmonia com os recursos financeiros da Irmandade. Segunda – A admissão de doentes aos quartos particulares será remunerada e em harmonia com o regulamento interno a elaborar.Terceira – O doador terá sempre o direito de dispor de cinco camas em cada enfermaria do hospital e de seis logares no Asilo para os pobres que entender, bastando para isso uma simples guia assinada pelo doador, que ficará arquivada na Secretaria. Quarta – Na admissão aos quartos particulares do Hospital terão sempre preferência o doador e os seus herdeiros directos. Quinta – A nomeação do director clinico do Hospital será feita de accôrdo com o doador. Sexta – A enfermagem, bem como os serviços internos, serão desempenhados por religiosas e haverá um capelão para o serviço do

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culto na Capela Privativa do Hospital, sendo possivel, e se as condições financeiras o permitirem. Setima – Considerarse-ha nula a presente doação se não for cumprida qualquer das condições estipuladas, revertendo os bens em favor dos herdeiros diretos do doador que procurarão dar finalidade ao pensamento do mesmo. Por ultimo ainda declarou mais o primeiro outorgante doador que é da sua vontade e nisso pôe o seu maior empenho, em que todos os parochos e medicos do concelho de Estarreja, seja qual fôr o seu credo politico ou a sua confissão religiosa e no ambito das suas respectivas actividades colaborem com a Misericórdia no sentido e na certêza de que debaixo das têlhas dos Hospital e Asilo, que, com tanto carinho levantou, e que acaba de doar, todos os pobres do seu concelho com necessidade de animo e tratamento tenham o seu logar. Não será de aconselhar qualquer restrição ou politica. Politica a havê-la, só uma:A do Bem. Entende ele doador ser esta condição de primaria importancia para que, de modo algum, seja o seu alto pensamento desvirtuado. E pela Excelentissima Senhora Dona Maria Nunes da Fonseca foi dito tambem que de accôrdo com o primeiro outorgante seu marido, presta o seu consentimento e dá autorisação, tanto quanto necessaria seja, para a validade da doação pelo digo doação para que o mesmo seu marido acaba de fazer pela presente escritura; e nestes termos ele primeiro outorgante doador demite-se de todo o dominio, direito, acção e posse que até agora tem tido no predio doado e tudo cede e transfere à entidade donataria. Por todos os mencionados segundos outrorgantes foi dito que perante o acontecimento de tão beneficiente doação digo de tão munificente doação a aceitam para a Irmandade que representam com o mais profundo reconhecimento, empenhando-se por corresponder aos altos fins e sugestões do benemerito doador, acrescentando que esta aceitação é feita independentemente de autorisação governamental por disso estar dispensada nos termos do disposto no artigo quatorze, do decreto numero quinze mil oito centos e nove com referencia no artigo quinto do decreto numero oito mil dosentos desenove publicado no Diario do Governo de vinte e nove de junho de mil nove centos vinte e dois. De como todos assim o disseram e outorgaram e aceitaram dou fé, digo mil nove centos vinte e dois. Por todos os outorgantes foi declarado que somente para efeitos fiscaes dão o valor de quinhentos mil escudos à doação que acaba de ser feita pela presente escritura. De como todos assim o disseram, outorgaram e aceitaram, dou fé. Foram testemunhas presentes neste acto os Excelentissimos Senhores Doutores Licinio Elisio de Abreu Freire e Aleixo Pereira Patinha, ambos casados, medicos, moradores nestaVila, meus conhecidos, cuja identidade por isso verifiquei, os quaes me afirmaram a sanidade de espirito do primeiro outorgante doador em virtude de não terem duvidas algumas sobre a integridade das suas faculdades mentaes, assim como eu notario tambem as não tenho, e vão assinar comigo notario e com todos os outorgantes, depois desta ser por mim lida e explicada em voz alta aos outorgantes, na presença simultanea destes e do digo destes, das testemunhas e de outras pessôas que estão presentes e tambem vão assinar.As impressões digitaes dos outorgantes hãode ser apostas a seguir pela ordem em que eles se acham mencionados nesta escritura. Resalvo as duas rasuras na palavra que diz “Viscondessa”, a linhas desoito, na folha sete verso, e a linha doze, na folha oito verso. Domingos Joaquim da Silva,Visconde de Salreu Maria Nunes da Fonseca P.e Donaciano da Silva Bastos de Abreu Freire Jaoquim Marques Freire Adelino Dias Costa José Nunes Antão P.e Urbano Augusto RodriguesValente P.e João Rodrigues MarquesValente Licínio Elísio de Abreu Freire Aleixo Pereira Patinha Por mim e em nome do Jornal de Estarreja AlvaroVaz de Sá Pereira e Castro Manuel Rodrigues Gomes O Notário Manuel Tavares d’Oliveira Lacerda3 3 - Arquivo Distrital de Aveiro, Notários de Estarreja, Lv. 312 – Actos e Contratos, Not. Manuel Tavares de Oliveira Lacerda, fls. 6v-11.

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E assim iniciava a Misericórdia de Estarreja o seu caminho de bem-fazer e de trabalho voluntário com afinco, através das suas valências de Hospital, Asilo, Pavilhão de Doenças Infecto-Contagiosas, Casa da Maternidade, Ninho dos Pequeninos, obra de proteção às crianças, Dispensário Antituberculoso, Pavilhão Abrigo antituberculoso, Dispensário de Higiene Materno-Infantil, Jardim-Escola cuja orientação administrativa e pedagógica passa em 3/10/1966 para a Associação de Jardim Escola João de Deus. Pela Misericórdia passaram grandes beneméritos eternizados no bronze nas placas do Hospital, médicos de bom coração, despojados de interesses materiais.

MISERICÓRDIA DO CONCELHO DE ESTARREJA IRMÃOS BENEMÉRITOS

MISERICÓRDIA DO CONCELHO DE ESTARREJA IRMÃOS BENEMÉRITOS

Benfeitores Anónimos Visconde e Viscondessa de Salreu António Joaquim de Rezende e Espôsa Prof. Doutor Bissaya Barreto Comendador Adelino Dias Costa Padre Donaciano de Abreu Freire Carlos Marques Rodrigues Dr. Manuel Santos Reis Joaquim Nunes da Fonseca e Silva Maria Matilde de Vasconcelos e Silva Emília Marques Valente João Carlos de Assis Pereira de Melo Francisco Rodrigues de Oliveira Manuel Rodrigues de Oliveira Anunciação Valente dos Anjos Manuel Maria M. Rodrigues Amaro Amoníaco Português, S.A.R.L.

Custódio da Costa Rodrigues Dr. Albino D. de Sá Dr. Licínio E. Abreu Freire Dr. José Oliveira e Silva Dr. Aleixo P. Patinha Dr. A. Duarte de Oliveira Dr. Manuel Gomes Dr. José Fernando O. Silva Dr. Manuel Figueiredo Dr. Jaime Ferreira da Silva Mons. M. Amador Fidalgo Padre Manuel Figueir Comendador Francisco M. Garrido Júlio Narciso Neves Caetano Rodrigues de Pinho Manuel Tavares da Silva Maria do Céu Miranda de Oliveira União Beneficente Visconde de Salreu Dr. Casimiro da Silva Tavares

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Em 1975, dá-se a estatização do hospital, a fase mais visível da Misericórdia com o desaparecimento de vária documentação. Mas novos desafios apareceram. Em 1981 começa a funcionar o Lar de 3ª idade, que hoje acolhe 52 internados.

Entrada do Lar de Idosos e Centro de Dia

Em 1987, a Misericórdia passa a ter uma nova valência - o Centro de Dia, que contempla 20 idosos. Em 1991, cria-se o Serviço de Apoio Domiciliário, inicialmente abrangendo 15 utentes, hoje com 74 utentes em todas as freguesias do concelho de Estarreja.

SAD – Serviço de Apoio Domiciliário

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Em 1993 é inaugurado o Centro Social da Teixugueira, em terreno que foi cedido pela Câmara Municipal de Estarreja, com o projeto custeado pela mesma onde atualmente desenvolvem-se as valências de creche (42 crianças) e pré-escolar (60 crianças).

Infantário-Creche

Criaram-se os ATL´S do Barreiro de Além e de Veiros, mas que entretanto foram encerrados devido às novas políticas de educação com adoção das atividades extra curriculares após o período lectivo, e a sua fraca sustentabilidade. A Misericórdia trilhou também os rumos da formação pessoal e profissional desenvolvendo um número apreciável e considerável de programas e projectos sempre vocacionados para os mais frágeis e excluídos da sociedade. Lançou-se em projetos educativos inovadores no âmbito do programa de luta contra a pobreza com o Big-Clube e o Andanças, do qual mantém o primeiro, onde procura formar jovens oriundos de meios desfavorecidos enquanto cidadãos e pessoas devidamente integradas na sociedade que as rodeia.

Interior do apartamento onde funciona a valência do Big Clube

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

A sua última valência foi a cantina social nos tempos de grande crise que atravessamos foram já milhares as refeições servidas aqueles que pouco ou nada têm. A última grande obra física na Misericórdia foi a reconstrução da antiga Casa dos Pobres, que sofreu profundas obras de requalificação e onde hoje funcionam os serviços administrativos e financeiros da instituição e é aí que a Misericórdia tem a sua Sede.

Sede da Misericórdia

Como todas as Misericórdias, a Misericórdia de Estarreja tem o seu património imobiliário, que não é grande, comparativamente com outras instituições, pois não é prática atual das gentes de Estarreja deixarem algum imóvel à Misericórdia. No entanto é no património imaterial que a Misericórdia de Estarreja é de uma riqueza extraordinária. Desde logo, os pilares em que a mesma se alicerçou, o Padre Donaciano de Abreu Freire e o Visconde de Salreu, duas figuras incontornáveis na génese da Misericórdia,

Padre Donaciano Abreu Freire

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Visconde de Salreu


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Um insuflou-lhe a alma, o outro construiu a obra, nos homens e mulheres voluntários por missão e vocação, que ao longo destes 80 anos sem nada receberem em material se dedicaram de alma, e coração aquela que acolhe a todos e onde a única política que se conhece é a do Bem.Ali não se pergunta a quem vem pedir auxílio qual a religião que professa ou o credo político com que simpatiza ou está filiado. A obra de uma Santa Casa é conseguir dar esperança a quem a não tem e agir de acordo com as obras de misericórdia, para que o materialismo, não sobreponha ao humanismo. A história da misericórdia é acima de tudo história de pessoas, para pessoas. A Misericórdia de Estarreja também não é rica em termos de Arte Sacra ou religiosa. A capela do Lar de Idosos é de muita simplicidade, existindo 3 imagens de santos: Nossa Sr.ª da Conceição, S. Francisco e S. José. O Hospital Visconde de Salreu tem uma capela cuja invocação é a Santa Luzia, santa de grande devoção por parte da família do Visconde e uma imagem do Sagrado Coração de Jesus ao centro e ainda outra de Nossa Senhora da Conceição, além dos azulejos que revestem a capela representarem outros santos. A 1.ª celebração teve lugar em 1936 e foi presidida pelo Padre Donaciano de Abreu Freire, então Vice-Provedor da Santa Casa da Misericórdia Estarreja. Falemos ainda de uma tradição que hoje se perdeu, mas que em outros tempos já longínquos eram costume generoso “os cortejos de oferendas” organizados pelas várias freguesias que tinham como fim a angariação de donativos para a sustentação dos encargos com o Hospital e Asilo.

Cortejo de angariação de fundos para a Misericórdia de Estarreja, s/d.

Durante anos houve a realização destas manifestações de ajuda e amor ao próximo, verdadeiramente genuínas e de sabor popular. Por altura da inauguração em 27/12/1953, das obras da alteração no asilo da 3ª idade da Misericórdia, de novas instalações do departamento Antituberculose, do Pavilhão de Doenças Infecto-Contagiosas no Hospital e bloco cirúrgico, era Provedor o Dr. Assis Pereira de Melo foi realizado o maior cortejo de oferendas de todas as freguesias do concelho de Estarreja, até então realizado, onde estiveram presentes autoridades governamentais e entidades civis e religiosas do distrito e do concelho.

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

PROVEDORIA DO DR. JOÃO ASSIS PEREIRA DE MELO Projectadas as obras da remodelação e serviços, Hospital, bloco cirúrgico, novas enfermarias, quartos, adaptação do edifício a Lar de Idosos, Dispensário Anti-Tuberculoso, reconstrução do edifício onde hoje funciona o Centro de Saúde, para Pavilhão de doenças infecto-contagiosas, que relevantes serviços prestou durante o tempo que durou a epidemia e estavam esgotadas no Centro do País as possibilidades de internamento nos Sanatórios. A influência no Governo, a sua grande amizade com o Sub-Secretário de Estado da Assistência Social, Dr. José Guilherme de Melo e Castro, a sua persistência, pressionando e implorando a toda a hora, conseguiu os meios necessários para erguer tão grandiosa obra. E como nas horas difíceis dos lutadores surge sempre um milagre, dessa vez pela mão do actual Visconde de Salreu, uma dádiva de algumas centenas de contos. Foram estas obras inauguradas em 27 de Dezembro de 1953, com a realização do maior cortejo de oferendas, de todas as freguesias do concelho até então realizado e estiveram presentes membros do Governo, Autoridades religiosas e civis do Distrito e do Concelho.4 As populações e gentes de Estarreja reviam-se no seu hospital com todos os serviços que prestava e que satisfazia tão grandemente aqueles que o procuravam. Hospital e Misericórdia eram uma única entidade. A Misericórdia de Estarreja como irmandade que é, o seu símbolo é a sua bandeira.

Bandeira da Misericórdia de Estarreja

4 - Arlindo Cunha (Excerto de discurso proferido por ocasião da entrega do diploma de Irmão Honorário da Misericórdia de Estarreja, 1999).

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A bandeira é um retângulo com fundo em branco, tendo de um lado uma caveira com uma cruz sobre a cabeça e por baixo 2 tíbias passadas em aspas, e do outro lado as 5 quinas e os 7 castelos, as armas de Portugal / Escudo do Rei de Portugal. A cruz simboliza sustento e conforto a doentes e desprotegidos. A caveira com as 2 tíbias símbolo de morte, para a qual a Misericórdia proporciona conforto espiritual. As armas de Portugal simbolizam o caráter Nacional das Misericórdias. As folhas de acanto que os envolvem representam o esforço, a dedicação e a sabedoria daqueles que trabalham em prol dos mais desfavorecidos. Nas cores, o azul simboliza a probidade, integridade e o zelo permanente garantindo a eficácia. A cor amarela simboliza a nobreza de alma e a firmeza no agir. A cor prata simboliza a humildade e a esperança de melhor servir. O reconhecimento à Misericórdia pelos serviços prestados em prol da comunidade Estarrejense, ocorreu em 13/06/2010, quando foi agraciada com a medalha de Mérito Municipal.

Medalha de Mérito Municipal, 13 de junho de 2010

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ROSA DE FÁTIMA FIGUEIREDO

A identidade da Misericórdia de Estarreja contínua intocável, o espírito que presidiu à sua criação, continua bem patente nos tempos de hoje. As Misericórdias têm uma especificidade muito particular no seu campo de atuação quer assistencial, quer cultural e no seu relacionamento em geral com a sociedade. Na sua atuação, as Misericórdias têm pois, de respeitar, não só os princípios próprios da justiça, imposta pela lei, mas devem sobretudo nortear-se pelas exigências mais profundas do amor misericordioso pois só esta entrega nos pode levar a dar àqueles que mais sofrem, no corpo e na alma, a âncora de que precisam. As irmandades da Misericórdia quer por natureza, quer por origem são instituições civis e com vocação canónica, elas continuam a ter um duplo papel de agentes de bem-estar temporal e de bem-estar espiritual das comunidades onde estão inseridas. Pobreza não é só falta de dinheiro, de rendimentos, pobreza é também falta de educação, de acesso a serviços de saúde, de habitação, de cultura, de emprego, de formação profissional, no fundo de um mínimo de qualidade de vida. Pobreza é solidão e tem muitas vezes a ver com incapacidade para gerir recursos. As Misericórdias estão em todos estes campos de ação e inovam, possibilitando que os mais desfavorecidos tenham a sua oportunidade de vida, são agentes no desenvolvimento local e desenvolvimento social. As Misericórdias são atualmente instituições de economia social As Misericórdias são o símbolo vivo de harmonia, tolerância e liberdade e a Misericórdia de Estarreja não é exceção e irá continuar a ser uma âncora de esperança para as gentes de Estarreja, sobretudo na fase mais frágil e desprotegidas das suas vidas. Fazer bem a quem precisa tal como há 80 anos, este é o nosso compromisso!

Bibliografia História da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja – Marco Pereira Livro de Atas e Boletins da Misericórdia de Estarreja O Padre Donaciano de Abreu Freire – O Homem e o Padre do Seu Tempo – IV Biografia – Filipe de Figueiredo

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CASA MUSEU EGAS MONIZ RECANTOS DO MARINHEIRO Rosa Maria Rodrigues*

Tudo se passa em torno da Casa do Marinheiro - ali todos se juntavam em dias festivos; templo da confraternização e harmonia em que sempre viveu a minha gente…. A Casa do Marinheiro tem sido e é o nosso apetecido refúgio de férias de Agosto e Setembro, mansão de repouso em que as horas passam na companhia de futilidades, no relato das peripécias da lavoura, nas contrariedades do tempo e nas novidades da vida daqueles que nos cercam. Nesta casa as evocações surgem de todos os lados. Não é apenas a nossa vida que passa, outras seguem connosco o mesmo caminho. Não as vemos, mas sentimo-las. São partes afetivas de um bloco sentimental que somos a representação mais real por ser consciente, mas que não ofusca a memória dos que deixaram de existir. O Marinheiro tem raízes fundas no coração desfeito dos que aqui viveram e naquele que ainda pulsa por vós, na devoção que a todos tributa. Recordações da Casa que é de todos vivei comigo, não me abandoneis! Sois o meu enlevo, trago-vos sempre a meu lado… Egas Moniz - A Nossa Casa

*Licenciada em História. Diretora da Casa Museu Egas Moniz, com investigação e trabalhos publicados na temática Moniziana.

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ROSA MARIA RODRIGUES

A Casa Museu Egas Moniz,1 designada de «Casa do Marinheiro»2, incluindo a propriedade que a integra, resiste ao devir do tempo desde os finais do século XVIII. No entanto a Casa que hoje conhecemos, encerra um passado de vicissitudes amargas, recordações de uma infância partilhada entre o chilrear da passarada, brigas de quintal, a caça aos passaritos, buscas de ninhos, as traquinices no Gonde e os primeiros anseios de liberdade.

A singeleza da Lucianinha ou a irreverência do irmão Miguel que sempre consigo partilhava a desobediência às ordens paternas, mas também podemos olhar para um passado sempre presente e percecionar vivências, reinventar espaços, sentir o sussurrar da azáfama frenética dos dias de festa, e viajar no passado sempre presente, a que esta sempre nos transporta. Recantos fazem a história e contam “estórias”, que hoje nos orgulhamos de partilhar, vivenciar e vivificar senão não seria possível perceber a vontade do casal Egas Moniz …Em certa altura para salvar da ruína a Casa do Marinheiro, mandámos ali fazer um chalet quase nos alicerces da antiga vivenda, pois não queria perder o seu local exacto.3… Citando ainda Egas Moniz…A actual Casa do Marinheiro foi reconstruída, aproveitando todo o perímetro da velha edificação, depois aumentada para Sul dando frente para a estrada que, da estação, segue para o Mourão e Pardilhó. A entrada do antigo prédio era do Norte, do lado oposto.Ainda me lembro de não haver estrada….4(…) Estava no meu quarto ano de Medicina quando me faltou o meu tio abade (…) deixou-me a Casa do Marinheiro entre os seus haveres: Ninho abençoado, que recorda todo este passado familiar e onde decorrera a vida inteira ao lado da minha carinhosa Mulher que tanto se afeiçoou á terra onde nasci. Foi sempre o nosso melhor refúgio no redemoinhar de alegrias e contrariedades da vida.5

1 - Classificada com Imóvel de interesse público por Decreto nº 67/97, DR. I série –B, nº 301 de 31-12-1997 e abrangida pela ZEP( zona especial de proteção), por Portaria nº 577/ 2011, Dr. 2ª série, nº 110 de 07-06- 2011 e património do Município de Estarreja por despacho ministerial de 23 de maio de 1985. 2 - Segundo texto na Revista Arquitectura Portuguesa de 1918 (março) refere o seguinte”…Casa que parece ter pertencido em tempos muito remotos, a algum desses intrépidos marítimos do tempo das descobertas”. 3 - MONIZ, Egas, A Nossa Casa, Paulino Ferreira, Filhos, Lda Lisboa, P. 371. 4 - Aveiro e o seu Distrito, nº 18, 1974, p.14. 5 - Idem, p. 17.

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Projeto de ampliação da Vivenda Rústica em Avanca pertencente a Egas Moniz – Ernesto Korrodi

O projeto da habitação do casal Egas Moniz permitiu a Ernesto Korrodi6 conceber uma das suas obras significativas, numa fase da carreira que oscilava “entre uma Arte Nova7 mediata, decorativa ou mais vincadamente funcional, e um programa de habitação doméstica, mais tradicional e com alguma influência da polémica da Casa Portuguesa”8 mas onde a conceção do projeto como um todo coerente, bem como a adequação do ornamento à estrutura, nunca deixou de estar presente como uma marca da modernidade do arquiteto suíço.

6 - Ernesto Korrodi (Nasceu em Zurique 1870 e faleceu em Leiria em 1944). A sua presença em Portugal iniciou-se em 1885, em Braga onde lecionou na Escola Industrial, durante alguns anos, período que o próprio considerou para se orientar no meio oficial. Docente na Escola de Desenho e Escola Industrial Domingos Sequeira, manteve o seu interesse pela arquitetura religiosa e militar medieval. A partir de 1897, Korrodi começou a trabalhar como arquiteto dando início a uma produção profícua que se estendeu por projetos de habitação de rendimento, edifícios públicos, sedes de Banco Nacional Ultramarino e do Banco de Portugal até palacetes para famílias abastadas, como é o caso da recuperação da Casa do Marinheiro. 7 - Estilo artístico ornamental (também conhecido por Art Nouveau e Jugendstil, entre outros nomes) que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América entre cerca de 1860 e 1910. A estética da Arte Nova constitui uma tentativa de modernidade e de criar um estilo livre das imitações históricas que tinham caracterizado o século XIX. Afirma-se principalmente no campo decorativo, empregando curvas e contracurvas, excêntricas e assimétricas, e estilizações florais. É visível na arquitetura, no desenho de interiores, na joalharia, no desenho em vidro e na ilustração. Entre os seus principais cultores encontram-se William Morris, Antoni Gaudí, Charles Rennie Mackintosh, Henry Clemens van de Velde, Gustav Klimt e René Lalique. 8 - Costa, Lúcilia Verdelho da, Ernesto Korrodi 1889-1944. Arquitectura, ensino e restauro de património, Editorial Estampa, 1997, p.284.

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ROSA MARIA RODRIGUES

Projeto de ampliação (exterior) da Vivenda Rústica em Avanca pertencente a Egas Moniz – Ernesto Korrodi

Este soube aliar com mestria a historicidade e romantismo do espaço com a personalidade e estatuto social dos proprietários que, não duvido, tenha em muito influenciado todo o traçado da casa nomeadamente a articulação entre a unidade dos espaços, quer interiores quer exteriores, onde a sumptuosidade se aliou à comodidade e o bom gosto à funcionalidade, sendo que o tratamento da fachada é depurado e estilizado, ganhado ritmo e volumetria, marcando por isso a sua presença física e imaterial. As varandas e alpendres de linhas ondulantes, assimétricas e estilizadas, remetem para a organização racional dos espaços, bem como é evidente a autonomia volumétrica do edifício, com os seus telhados independentes e de alturas variáveis. De acordo com os estudos de Lucília Verdelho da Costa, o solar de Egas Moniz pauta-se por uma arquitetura de volumes claros, inspirando-se “nos valores estruturais da arquitetura renascentista de tradição solarenga”.9

9 - Costa, Lúcilia Verdelho da, Ernesto Korrodi 1889-1944. Arquitectura, ensino e restauro de património, Editorial Estampa, 1997.

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A fachada principal é antecedida por um muro com portão, que nos reporta para os portões solarengos. A cantaria combina em perfeição com a alvenaria. Este conjunto é rematado em curva D. João V, com beirado em telha portuguesa, abrindo-se para um pátio, e exibindo o brasão dos Resendes, Abreus, Freires e Pereiras.

Por oposição, o alçado posterior tem diante de si um jardim de grandes dimensões, definindo um espaço doméstico voltado sobre si próprio, onde a quinta ganha uma maior amplitude e se manifesta com um referencial de infância que Egas Moniz quis que prevalecesse e dominasse o espaço. Da entrada principal que se abre por um pequeno pórtico, formado por arco abatido suportado por duas colunas, tendo no fecho um escudete com festões D. João V convergem e divergem os diferentes espaços, onde se afirma o “espaço social”, que se reúne em uníssono na escadaria para o andar superior que remetendo para o “espaço intimo”, com clara abertura para o exterior que proporciona uma luminosidade ondulante e cadente quase nostálgica, que encaminha para o sossego e meditação.

Planta da Casa do Marinheiro Ernesto Korrodi

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ROSA MARIA RODRIGUES

A este propósito um artigo de 1918, de uma revista da especialidade10, que cita esta construção refere: Num deles rasga-se uma ampla e bem proporcionada «bow – Window» de vão triplo, apanhando os dois andares, tendo contudo a cimalha inferior à edificação, o que lhe dá um recorte gracioso. Estas janelas, de importação inglesa, como o nome indica, se bem que nada tenham de comum com a nossa arquitectura tradicional, rustica e urbana, quer em simples casas quer em solares grandiosos, são de tal maneira práticas e agradáveis (…), mas também pelo conforto que oferecem para o repouso, que podem, sem sombra de hesitação, serem empregadas entre nós com ézito absoluto (…). No outro corpo abrem-se duas janelas em cada andar, tendo as do piso superior, sacadas defendidas com grades de desenho simples mas elegante.

10 - A arquitectura Portuguesa, ano XI, nº3, 4, 1918, p.11 -12.

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O Concelho de Estarreja de 16 de Setembro de 1916

O torreão lateral é simples e alpendre dá acesso à cozinha onde se completa a tradicionalidade da arquitetura portuguesa, e se destaca um painel de azulejo da autoria de José Maria Pereira Cão.11

Azulejo da autoria de Pereira Cão – 1917

11 - Pereira Cão – 1841-1921.Pintor genérico, decorador e cenógrafo, cultivando, o ornato e as flores, onde é exímio, e a pintura cerâmica, especialmente os azulejos. Conhecendo e praticando todos os géneros e processos, antigos ou modernos da pintura decorativa dos edifícios, interior ou exterior, como o fresco, temperas diversas, a óleo, aguarela, etc., pode considerar-se, pelo menos, o nosso derradeiro pintor frescante e o maior dos pintores-decoradores que ficaram do século passado.

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ROSA MARIA RODRIGUES

Os trabalhos da Casa do Marinheiro foram dirigidos por um Padre de Avanca, António Maria de Pinho,12 ficando a decoração interior, revestimento das paredes e mobiliário a cargo do antiquário Álvaro Pinto de Miranda, da Granja.13

Anúncio14

12 - Nasceu em Avanca a 9 de Maio de 1864 e faleceu a 14 de Janeiro de 1943. Paralelamente às atividades sacerdotais foi Vereador, Presidente da Câmara Municipal de Estarreja e Presidente da Junta de Paróquia de Avanca. 13 - Álvaro Pinto de Miranda - 1864-1927. Projetista amador, decorador e antiquário. 14 - Gente Lusa : Arquivo de Letras e Artes / dir. lit. Carlos de Morais e Zacarias Correia. Granja: António Reis, 1916-. Série 01, n.º 01 (Jan. 1916) - Cota: G-201-D bpmvng

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No alçado lateral onde a horizontalidade está marcadamente presente exibe-se um painel de azulejos com desenho de Jorge Colaço,15 que se inspira nos versos quinto e sexto da estância XXIV do canto V de Os Lusíadas e que será igualmente o Ex-libris16 de Egas Moniz, onde um marinheiro num cesto da gávea observa o mar numa atitude de explorar, de dominar, de conseguir, em suma, de descobrir. Este verso camoniano17 funciona como lema, onde a expressão marinheiro assume um tríplice significado. Em primeiro lugar pela expressão marinheiro que aponta para um período da de referência fulcral na história de Portugal. Em segundo lugar, pela curiosidade de sabermos que a casa da sua infância em Avanca, reconstruída pelo próprio segundo projeto arquitetónico de Ernesto Korrodi, era conhecida pelo nome de Casa do Marinheiro. Por fim, porque Egas Moniz se identificava com um marinheiro. Corajoso, inovador, irreverente e também questionável, tal qual como aqueles marinheiros que durante tanto tempo defrontaram ventos, marés, sede, fome, doença, saudade e tantas outras carências - os tais que, com coragem, mas provavelmente também com discórdias, pessoais ou institucionais desbravaram novos trilhos e novo conhecimento, que confluíram numa notável herança histórica, cultural e científica.

15 - Jorge Colaço – Marrocos 1868 - Oeiras 1942. 16 - Expressão que designa a legenda, a divisa ou o sinal que usam principalmente alguns bibliófilos e escritores nas obras que possuem e escrevem. 17 - Numa entrevista de Egas Moniz à Revista internacional de 15 de Dezembro de 1949, Egas Moniz afirma que a figura da história de Portugal que mais admira é Luís de Camões.

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ROSA MARIA RODRIGUES

Quando da Eterea gauea hum marinheiro Prompto coa vista, terra, terra, brada

A Arte é um fenómeno social. Fabrica-se um objeto com determinado fim, decora-se logo para que agrade, para que mereça o aplauso dos que dele tenham que servir-se. A Arte é a grande dominadora da sentimentalidade. Sublima-a despindo de aspectos grosseiros, a elevá-la em arroubos de imaginação, até às vagas regiões do sonho e da fantasia. Egas Moniz

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Não foram sonhos, nem tão pouco fantasias. Foi a relação de funcionalidade e comodidade que presidiu ao princípio basilar deste espaço. Egas Moniz quis, que ao calcorrearmos os mais pequenos e insignificantes recônditos espaços desta “sua” ou melhor “ Nossa Casa”, interpretássemos sensações ou melhor, redescobríssemos esta mensagem que sempre o norteou….As grandes escolas de artes plásticas são os Museus. Quisera um em cada cidade em cada vila e em cada aldeia para que o povo se elevasse na comunhão espiritual do Belo. Percorrer estas salas é recordar um trabalho sereno que hoje desconhecemos, é sublimar, na admiração destes quadros a sentimentalidade estonteante da hora presente é instruir-se, é educar-se é olhar sobranceiro a vida de forma a poder divisar nela o que ela tem de mais encantador – A Arte.18 O ambiente desta Casa vive das sensações. Quando a porta se abre, sente-se na penumbra de um feixe de luz que teima em fazer-nos companhia, um delicadíssimo bom gosto, intuição artística, um equilíbrio perfeito na decoração geral e um sem número de mil e uma pequeninas coisas que fazem deste espaço o retrato da personalidade dos que a habitaram.

Biblioteca

Os museus e as bibliotecas essas fontes de água pura, jorrando ensinamentos, são, na verdade, a maior herança, aquela herança que perdura. Egas Moniz

18 - Museu Regional de Aveiro, sessão de arte, 16 de janeiro de 1916, p. 64.

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ROSA MARIA RODRIGUES

A harmonia assume um papel preponderante, e consequentemente dão ao espirito do visitante, a certeza de que nada de banal se encontra no espaço. Sempre que percorro estas salas equilibradamente ordenadas num ambiente de sublimado gosto, onde nada foi deixado ao acaso, consigo percecionar os gostos, sentir paz na comunhão com o Belo que sempre norteou as suas vivências. Sinto a presença do seu criador e consigo facilmente deleitar-me com o requinte, raridade, beleza, antiguidade e minúcia das coleções expostas. Inúmeras vezes olho atentamente para algumas coleções e mentalmente revejo um documento como que deixado ao acaso onde Egas Moniz, relata as peripécias da sua aquisição quando estas eram igualmente “apetecidas” por outros colecionadores, nomeadamente Guerra Junqueiro e José Relvas.

Ora não se compreende a educação mesmo rudimentar de um povo, desde que ela ande alheada da Arte. Egas Moniz

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Por vezes e dada a heterogeneidade das coleções que passam pela cerâmica, vidro, ourivesaria, pintura, aguarela, gravura entre tantas outras não é difícil perceber o seu gosto tão eclético, pois subjacente está o Homem amante do Belo, em que tudo acontece em torno da beleza física, objetiva e espiritual, por forma a colmatar a frieza da investigação científica. A arte é pois o expoente máximo dessa incessante procura, pois proporcionou-lhe o regalo espiritual necessário, o equilíbrio mental único, e era a uma panaceia para atenuar a crueldade e frieza de um quotidiano por vezes cruel, senão não se compreenderia este pensamento do Génio”… Os médicos carecem da arte e os que a sentem acabam por prestar-lhe o culto da sua atenção, dando-lhe as horas vagas do seu labor profissional, elevando o espírito nas asas irisadas do devaneio e fantasia….” Deixou-nos neste espaço ou melhor neste “legado de Amor” um motivo, uma razão de ser para através dela, olharmos o nosso passado, compreendermos um pouco da nossa história e consequentemente nos orgulharmos dela. Disseminados pela Casa Museu, encontramos fragmentos da vida do Homem que no convívio diário com a Arte se deleitava com a beleza policromática das porcelanas, admirava a quietude de uma pintura naturalista, o movimento silábico da poesia “If ”, de Rudyard Kipling, uma qualquer escultura de Maurício de Almeida19, ou simplesmente o conjunto de uma vida, onde se estabeleceram diálogos íntimos, profundos e por isso vivos. Todo este vivificante espólio, de forma subtil quase impercetível, desprendem-nos da vida, têm a magia de centralizar em si a nossa atenção, cativando-nos, seduzindo-nos, transportandonos ao seu criador permitindo por isso um diálogo, um reencontro, uma evocação e uma homenagem à sua vida e obra, onde o Belo e a Arte, porque constantes, são Perenes.

19 - Maurício de Almeida nasceu em Pardilhó em1897 e faleceu em Paris em 1923.

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TERESA BAGÃO

ESCOLA SECUNDÁRIA DE ESTARREJA: UM PERCURSO COM MEIO SÉCULO Teresa Bagão* O passado é, portanto, uma dimensão permanente da consciência humana, uma componente obrigatória das instituições, valores e outros elementos constitutivos da sociedade humana. Eric Hobsbawm (2010). Escritos sobre a História. 1. QUISEMOS A ESCOLA EM ESTARREJA – DE 1960 A 1967 Estávamos na década de 60 e as páginas d’ O Jornal de Estarreja concediam especial importância – sempre com destaque de primeira página – àquela que passaria a ser uma questão urgente: a abertura de uma escola pública de ensino técnico na vila de Estarreja, sentida como necessária para facultar a cada vez mais jovens estarrejenses a prossecução de estudos na sua própria terra, sobretudo com uma vertente profissional e técnica. Liceus, escolas industriais ou escolas comerciais concentravam-se em Ovar ou em Aveiro, pontuando nesta vila e seus arredores unicamente as escolas do ensino primário e o ensino “liceal” particular. Aos editores e a alguns colaboradores d’ O Jornal de Estarreja, refletindo certamente as aspirações de tantos outros, não é alheia a importância da abertura de uma escola de ensino técnico1 para o progresso do seu concelho (“carecemos, cada vez mais, de técnicos, como matéria prima indispensável para essa valorização [industrial do nosso país]”2), sendo esta mencionada pela

* Professora de Português do quadro da Escola Secundária de Estarreja (Agrupamento de Escolas de Estarreja). O texto ora apresentado é uma versão adaptada e desenvolvida do original publicado em formato tripartido na revista Preia-Mar. Revista da Escola Secundária de Estarreja, números 1, 2 e 3. Agradeço reconhecidamente aos senhores Ernesto Inácio e Mário Rui Oliveira a disponibilização de documentos aqui reproduzidos, cujos créditos são identificados. As restantes imagens de documentos foram fotografadas pela autora do artigo. A imagem 14 com o interior do Polivalente (em 2007) foi retirada de http://www.cm-estarreja.pt/newstext.php?id=4424. Sobre a reprodução de notícias de O Jornal de Estarreja, ver nota 2. Agradeço, igualmente, os dados facultados pela professora Graciete Oliveira, bem como a leitura atenta e as correções das professoras Manuela Ressurreição e Anabela Amorim. 1 - De acordo com o Decreto n.º 37029, de 25 de agosto de 1948, no que diz respeito ao “Estatuto do Ensino Profissional, Industrial e Comercial”, Parte I, Capítulo I, o artigo 2.º permite esclarecer a classificação: “a) Escolas técnicas elementares, destinadas a ministrar exclusivamente o ensino das matérias do ciclo preparatório; b) Escolas industriais, destinadas a ministrar, associado ou não ao ciclo preparatório, o ensino de todos ou de alguns dos seguintes cursos industriais: complementares de aprendizagem, de formação profissional, de aperfeiçoamento e de mestrança (…); c) Escolas comerciais, destinadas a ministrar, associado ou não ao ciclo preparatório, o ensino de todos ou de alguns dos seguintes cursos comerciais: complementares de aprendizagem, de formação profissional e de aperfeiçoamento, ou ainda o curso especial de habilitação para o ingresso nos institutos comerciais; d) Escolas industriais e comerciais, destinadas a ministrar o ensino mencionado nas duas alíneas anteriores.” Manuel Alambre dos Santos (1964). Ensino Técnico Profissional. Legislação Coordenada e Anotada. 2.ª edição, revista e atualizada. Lisboa:Tipografia da União Gráfica, p. 40. 2 - O Jornal de Estarreja, n.º 3141, 25 de maio de 1963, p. 1. (assinado “X”). A reprodução dos excertos de O Jornal de Estarreja foi efetuada pelos serviços de documentação da Biblioteca Pública Municipal do Porto, e a sua republicação autorizada. A consulta das coleções completas (relativas às décadas de 1960, 1970 e 1980) foi efetuada nessa biblioteca.

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primeira vez na edição de 10 de setembro de 1962 e pela terceira vez numa carta ao diretor do jornal, publicada a 25 de junho de 1963, cujo registo é marcado pelo evidente tom de desafio e de provocação, pela defesa de interesses regionais, apresentando a abertura desse estabelecimento de ensino como uma causa, um “esboçado movimento” que urge defender. Ainda neste ano, o tema é defendido acaloradamente nas páginas do periódico em seis momentos diferentes, que visam tornar mais acesa a campanha “por uma escola técnica em Estarreja”, iniciativa local que vai agitando as opiniões e se justifica porque a vila “é hoje sede de indústrias de relevante importância, quando este concelho e comarca totalizam uma população de mais de três dezenas de milhares de habitantes, muitos dos quais se vêem impedidos de dar a seus filhos instrução além da primária”3. Em breve, o apelo far-se-ia ouvir. Em 1964, com o empenho pessoal do presidente da autarquia, Dr. Fernando Elísio Pinto Gomes, o desejo de muitos estarrejenses começa a adquirir contornos mais nítidos. É o próprio presidente que se desloca a Lisboa, para comunicar oficialmente esse pedido, o qual em seis meses obtém resposta favorável4. Em maio de 1965, temos já informação mais precisa acerca do assunto (imagem 1) e, no mês seguinte, sabemos que, “após projecto apresentado pela Junta de Construções do Ensino Técnico e Secundário”, começavam “os trabalhos de adaptação da antiga Casa da Fontinha”, levados a efeito pelo Município, em “regime de administração directa”.

IMAGEM 1 - O Jornal de Estarreja, 25 de maio de 1965, p. 1 [página seguinte] IMAGEM 2 - O Jornal de Estarreja, 10 de dezembro de 1965, p. 1 3 - Ibidem. 4 - O entusiasmo não poderia deixar de contagiar as páginas do jornal, que noticia o mérito do empenho e dos esforços do Presidente da Câmara. Também o jornal O Concelho de Estarreja, de Pardilhó, disponibiliza esta informação aos leitores, não poupando elogios ao autarca (Cf. Ano LXIII, números 3158 e 3180, 15 de fevereiro e 18 de julho de 1964). A consulta da coleção de O Concelho de Estarreja foi gentilmente possibilitada pelo Sr. João Mota, proprietário do jornal.

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Como se pode ler na notícia, a existência da escola pública, para os níveis de ensino em causa, é encarada como a solução “para o seu progresso [de Estarreja], para o seu futuro, que o mesmo è dizer, das suas novas gerações, com o que folgam muito legitimamente todos os estarrejenses dignos e conscientes.” A inauguração da Secção com o 1.º Ciclo, prevista para o ano letivo seguinte5, seria antecipada. Data de 7 de agosto de 1965 o despacho do Ministro da Educação Nacional, Galvão Telles, para a criação da Secção de Estarreja da Escola Industrial de Ovar. No Liceu de Ovar, era diretor o Dr. José Amador. Para a Secção de Estarreja foi nomeado como diretor o Dr. Edgar Leovigildo Rodrigues (professor da Escola Técnica de Viseu). Em dezembro desse ano, anunciava-se, finalmente, que “a Escola Industrial de Estarreja está em funcionamento” (imagem 2). Alguns aspetos negativos, neste processo, são denunciados, sobretudo as precárias condições materiais destacadas pelo jornalista em artigo do periódico estarrejense, as quais merecem a resposta do diretor José Amador, no número seguinte: “O mobiliário não faltaria se a secção abrisse, sómente, para o próximo ano lectivo 1966/ 67, como estava previsto. A Direcção-Geral tinha um ano à frente para fazer o apetrechamento necessário (…)”6; na continuação da transcrição deste ofício, surge novo comentário do jornalista, que esclarece: “Descreviase apenas a situação de carência em que funciona a Escola, acrescentando-se, logo em seguida, sabermos que a Comissão de Reapetrechamento das Escolas Superiores e Secundárias, DESDE SETEMBRO, «tem feito encomendas de todo o material necessário, a vários fabricantes, os quais, porém, ainda não executaram os pedidos.» Esta a razão apontada, e única verdadeira”7. Eventualmente, o assunto deve ter mobilizado alguma opinião pública, se bem que o jornal apenas o retome cinco meses depois, em maio de 1966, dando destaque a duas empresas beneméritas que patrocinam material escolar (sobretudo mobiliário), o que evidencia a relação de proximidade e cooperação entre o tecido empresarial de Estarreja e a escola, desde que esta abriu as suas portas aos alunos do concelho (imagem 3). 5 - O Jornal de Estarreja, n.º 3190, 10 de junho de 1965, p. 1. 6 - Idem, n.º 3203, 25 de dezembro de 1965, p. 1. 7 - Ibidem, p. 6.

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IMAGEM 3 - O Jornal de Estarreja, 25 de maio de 1966, p. 1

Entretanto, o periódico anuncia o início do segundo ano de atividade da Secção de Estarreja, não sem antes nomear o corpo docente em exercício no ano que então chegava ao fim. Para além do diretor, Dr. Edgar Leovigildo Rodrigues, que assegurara Matemática e Ciências GeográficoNaturais, lecionaram Maria José Arandas de Araújo (Língua e História Pátria), Miguel Henriques de Sousa Barbosa (Matemática e Desenho)8, Maria Florbela Rodrigues da Silva (Desenho e Ciências Geográfico-Naturais), Fernando Martins da Silva (Mestre de Trabalhos Manuais), Padre João Mónica da Rocha (Religião e Moral), Augusta do Céu Calado (Canto Coral)9 e Dora Laranjeira Maia (Trabalhos Manuais), contando na secretaria com a funcionária D. Eulália10 e com o encarregado Luís Gonzaga Valente de Sousa. Destacam-se, ainda, algumas atividades de complemento curricular: “esteve patente ao público a exposição de Trabalhos Manuais dos alunos, de que foi professor o sr. Fernando Martins da Silva, que foi também o instrutor do Centro n.º 4, ala 2, da Mocidade Portuguesa, em ambas as actividades com assinalado relevo. Durante o ano, os alunos mantiveram os seguintes jornais de turma: 1.ª turma, «Andorinhas»; 2.ª turma, «Malmequer»; 3.ª turma, «A Borboleta»; 4.ª turma, «Moliceiro»; 5.ª turma, «O Pacóvio»; e 6.ª turma, «O Papagaio».”11

8 - Miguel Henriques de Sousa Barbosa foi professor das disciplinas de Matemática e de Desenho (e não de Ciências GeográficoNaturais, como noticiado pelo jornal). O erro foi detetado pelo próprio, a quem agradeço a atenção e o pronto esclarecimento. 9 - Idem, n.º 3219, 25 de agosto de 1966, p. 1. 10 - Os dois últimos nomes foram gentilmente facultados pela Sr.ª Professora Florbela Pinho, que me alertou para a sua ausência nas páginas d’O Jornal de Estarreja. Remeto para a consulta dos números 1, 2 e 3 da revista Preia-Mar, em que são reproduzidos documentos pessoais cedidos por antigos professores e alunos, testemunho dos primeiros tempos de funcionamento da Secção de Estarreja da Escola Industrial de Ovar. 11 - O Jornal de Estarreja, n.º 3219, 25 de agosto de 1966, p. 2.

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No que diz respeito aos alunos que inauguraram a escola no ano letivo de 1965-1966, reconhecemos, também, que fazem parte da “história, que há-de vir a ser feita, para elucidação dos vindouros, do primeiro estabelecimento de ensino secundário oficial [isto é, público] criado nesta vila e seu concelho”12, pelo que destaco dois documentos: a notícia publicada no número de 10 de setembro de 1966 (imagem 4) e a fotografia com um grupo de alunos com data de 1966 (imagem 4.1). IMAGEM 4 - O Jornal de Estarreja, 10 de setembro de 1966 Relação das primeiras turmas

12 - Idem, n.º 3220, 10 de setembro de 1966, p. 3.

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IMAGEM 4.1 - Na entrada do palacete da Fontinha O diretor Edgar Leovigildo Rodrigues e um grupo de alunos (1966) (fotografia cedida por Mário Rui Oliveira)

IMAGENS 4.2. E 4.3 - Escola Industrial de Estarreja Entrada principal e traseira da Casa da Fontinha (1968-1969) (fotografias cedidas por Ernesto Inácio) IMAGEM 5 - O Jornal de Estarreja, 10 de outubro de 1966, p.1

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Outros testemunhos estão a ser publicados na revista escolar Preia-Mar, muito devido ao interesse, ao entusiasmo e à generosidade de alguns desses ex-alunos e ex-professores13. Precisamente porque fazem parte dessa história, recordemos os testemunhos de dois alunos que inauguraram a escola em 1965-1966, aqui em discurso direto: Este curso [Formação Feminina] era para meninas, além de termos as disciplinas habituais, também aprendíamos economia doméstica (como gerir os vencimen­tos, cozinhar, tratar das tarefas domésticas, entre outras coisas), noções de higiene, cuidar de bebés, costura. Aprendíamos a ser mães, mulheres, tudo!, além de uma profissão! Como aprendíamos costura, todos os anos fazíamos um enxoval para bebé e oferecíamos a uma ou duas famílias carenciadas, na nossa festa de Natal. (…) Havia o recreio dos ra­pazes e o recreio das rapari­gas, havia o toque dos ra­pazes e o toque das raparigas, nós não nos juntávamos nos corredores. Havia sempre alguém a vigiar para não existirem misturas, se algum rapaz era apanhado a espreitar, já “apanhava”! (…) [As relações entre professores e alunos] eram muito boas, de respeito mútuo, eram diferentes de agora, existia um pouco mais de distância entre os alunos e o professor. Nós sabíamos que o professor era quem sabia e quem mandava, fazíamos tudo o que ele dizia. Existia muito respeito mas, ao mes­mo tempo, uma grande cumplicidade entre o aluno e o profes­sor. Como a nossa escola era pequenina, com poucos alunos, permitia-nos muitas coisas!14 Não existiam essas actividades [extracurriculares] como hoje em dia, apenas a Mocidade Portuguesa [Legião Portuguesa], que era obrigatório frequentarmos. Na Mocidade Portuguesa, aprendíamos a manusear armas e mesmo aspectos da vida militar. Enquanto as meninas aprendiam a cuidar da casa, a nós era-nos ensinada a vida militar. Não existiam viagens de estudo, nem actividades organizadas pelos professores. Nem sequer eram feitas exposições com os nossos trabalhos, para além daquelas no final do ano, com os nossos trabalhos manuais. No final do curso, houve uma excursão, em dias diferentes para rapazes e raparigas, totalmente separados. (…) A escola não tinha condições, até tínhamos aulas no sótão do edifício. Não havia móveis, só tínhamos uma cadeira, ajoelhávamo-nos para escrever e voltávamos a sentar-nos. Mas isto foi nos primeiros tempos da escola, depois passaram a existir mais alguns móveis. (…) Naquela altura era tudo muito duro e hoje, se eu tivesse continuado mais anos na escola, tinha ido mais longe. Antigamente, chegávamos ao 5.º ou 6.º ano e acabava a escola, tínhamos de ir trabalhar, não tínhamos hipóteses de prosseguir. Por isso, hoje vocês têm é de aproveitar todas essas oportunidades. 15

13 - Menciono, aqui, dois núcleos associativos fundamentais para a preservação das memórias vivas das escolas de Estarreja: os Antigos Alunos, Professores e Funcionários da Escola Industrial de Estarreja e a Associação dos Antigos Alunos do Colégio Dom Egas Moniz e da Escola Secundária de Estarreja. 14 - Marta Guimarães e Filipa Pereira, “Memórias de 1965”. Entrevista a Isabel Estrela. Preia-Mar. 1, 2009-2010. pp. 28-30. 15 - Marta Guimarães e Filipa Pereira, “Da oficina para o ateliê - entrevista com Joakin Pereyra”. Preia-Mar. 2, 2010-2011. pp. 26-28.

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Nos três anos seguintes, o jornal estarrejense descontinuou o interesse por este estabelecimento de ensino, como vivamente demonstrara antes, datando da edição de outubro de 1966 o último alerta aos leitores e à população para as circunstâncias relativas ao funcionamento do segundo ano letivo (imagem 5). A leitura das notícias e dos artigos de opinião dedicados a esta “causa” nos anos de 1963 a 1966 permite-nos compreender a importância que a escola pública de ensino técnico assumiu para um núcleo de cidadãos empenhados na sua abertura, bem como traçar este percurso inicial da Secção de Estarreja da Escola Industrial de Ovar, de que é herdeira a Escola Secundária de Estarreja. 2. E A ESCOLA QUE QUISEMOS CRESCEU – ENTRE 1968 E 1973 Os anos letivos de 1969-70 a 1972-73 correspondem a uma fase de consolidação e crescimento da instituição, ainda a funcionar nas instalações iniciais, cuja precariedade continua a ser denunciada e as necessárias melhorias são persistentemente reivindicadas. Estamos no final do ano letivo de 1968- 69, que assinala um dos momentos decisivos na definição da autonomia da Secção de Estarreja da Escola Industrial de Ovar, que, em 1965-66, abrira as portas a 122 alunos distribuídos por seis turmas (duas femininas e quatro masculinas), com os cursos de Formação Feminina e Eletromecânico. E esse momento decisivo é noticiado n’ O Jornal de Estarreja: “Aquela Secção passa, a partir do dia 1 de Agosto, a ter existência como Escola independente, mercê do despacho ministerial de há meses, de que demos conta oportunamente”. Designar-se-á, a partir dessa data, por “Escola Industrial de Estarreja”.16 Na mesma notícia, surge também incluída uma referência à “Escola Preparatória Professor Egas Moniz, que funcionou, este último ano letivo, pela primeira vez” com essa designação. Ficamos ainda a saber que o primeiro diretor da Secção, Edgar Leovigildo Rodrigues, fora substituído, pelo que “ambas as Escolas funcionaram no ano lectivo findo sob a proficiente direcção do subdirector Sr. Arquitecto Manuel Carlos Pinto Cabral”. As atividades letivas terminavam, mais uma vez, com a exposição de desenhos, pinturas, trabalhos manuais e artísticos dos alunos. IMAGEM 6 - O Jornal de Estarreja, 10 de setembro de 1969, p. 1

16 - O Jornal de Estarreja, n.º 3289, 25 de julho de 1969, p. 1.

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Em momento posterior, numa extensa notícia de primeira página, um jornalista efetua um breve historial do trajeto de cinco anos da instituição, tecendo elogios à atuação do presidente da Câmara Fernando Elísio Pinto Gomes, que agira em prol da abertura da escola em Estarreja. O diretor José Amador delineava, entretanto, a inclusão do Curso Geral de Comércio e do “Curso de Aperfeiçoamento (nocturno) Electro-Mecânico, destinado a maiores de 14 anos”, na oferta educativa da EIE (imagem 6). À semelhança do que foi possível detetar em notícias publicadas no jornal em anos anteriores, também agora o brio e o orgulho da “sociedade civil” se manifestam e são evocados a propósito da comparação da situação da vila com a de outras localidades mais bem servidas em termos de oferta educativa, pelo que Estarreja não poderia ficar a perder, evidenciando-se o apelo ao compromisso dos responsáveis pela mudança: “a população conta com os esforços dos responsáveis, que falharão se os não empenharem”17. Ao longo dos anos, a escola pública em Portugal tem sido sujeita a constantes alterações na sua designação, na dos cursos e ciclos. Ontem como hoje (mas mais acentuadamente em períodos recentes), a rápida mudança quase não permite assimilar essa terminologia específica. Nesse sentido, compreendemos os esclarecimentos que os autores das notícias vão transmitindo: “abrangendo conjuntamente os antigos 1.os ciclos, agora unificados, do Ensino Liceal e do Ensino Técnico” ou “a Escola Técnica desta Vila (nome com que vulgarmente se designam as Escolas Preparatórias Prof. Egas Moniz e Industrial de Estarreja)”. Seguindo o desígnio da política educativa salazarista, a Escola Industrial de Estarreja integra as celebrações do “Dia da Mocidade” (imagem 7), em dezembro de 1969.

IMAGEM 7 - O Jornal de Estarreja, 10 de dezembro de 1969, p. 1 17 - Idem, n.º 3292, 10 de setembro de 1969.

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Ao ler a informação desta última notícia, logo detetamos as bases do triplo culto da pátria, do corpo e da alma, respetivamente patente nos símbolos da nacionalidade e nas palestras sobre Camões/ Restauração da Independência de 1640 (patriotismo histórico-literário), no “festival gimnodesportivo”, na missa que obriga à presença de toda a comunidade escolar. Depois de um percurso escolar bem-sucedido, os finalistas da EIE empenharam-se na organização da merecida festa de despedida, que foi divulgada no jornal, e que integrava baile (imagem 8), torneio de tiro aos pratos, récita no cineteatro na noite de 9 de junho, um passeio de quatro dias a Lisboa e ao sul, exposição de trabalhos ao público18.

IMAGEM 8 - Cartaz convite para o Baile de Finalistas do Curso 1965-1970 (imagem cedida por Ernesto Inácio)

No mês seguinte, o leitor fica a saber que a presença do “Sr. Ministro da Educação Nacional em Estarreja”, Veiga Simão, acompanhado do subsecretário da Administração Escolar, Mendes de Almeida, que tivera lugar no dia 5 de julho, permitiria que duas reivindicações urgentes da EIE chegassem diretamente ao seu conhecimento – e de imediato ganham terreno: a criação do “curso de Aperfeiçoamento Electromecânico” (noturno) obtém “deferimento imediato”, ficando garantida a análise da viabilidade do curso Geral de Comércio. Contudo, essa análise seria francamente breve e eficaz, na medida em que se noticia, no fim de agosto, a concretização da criação do referido curso geral, em ambos os regimes diurno e nocturno: “Assim se continua a valorizar a Escola de Estarreja, que passa a dispor de três cursos de formação, número com que mais frequentemente são dotadas as chamadas Escolas Técnicas do País”, ficando também mais bem providas “as chamadas «forças vivas» da terra e da zona geográfica por ela servida”19. O curso de Comércio é, por conseguinte, a segunda área de formação mais antiga em funcionamento na nossa escola, contando já com 30 anos de existência. Há que assinalar, igualmente, as três décadas com que conta o ensino noturno neste mesmo estabelecimento de

18 - Idem, n.º 3305, 25 de março de 1970; n.º 3311, 25 de junho de 1970. 19 - Idem, n.º 3316, 10 de outubro de 1970, p. 1.

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ensino, que – não o esqueçamos – celebra 50 anos de atividade ao serviço da educação pública e gratuita em Estarreja, paulatinamente mais universal, de acordo com as reformas anteriores e posteriores a abril de 1974. O problema das instalações e dos equipamentos escolares é preocupação constante e, já na década de 70, o diretor da escola, Joaquim Manuel Pinto Monteiro, teria igualmente de o debelar: Além da Escola Industrial e Comercial, continua a funcionar em Estarreja a Escola Preparatória Prof. Egas Moniz, destinada ao ensino do Ciclo Preparatório, dos dois primeiros anos do Ensino Secundário (comuns, como se sabe, no Ensino Liceal e no Ensino Técnico), a qual, apesar de ter instalações contíguas [ou seja, na Quinta da Fontinha], é independente da primeira, pensando a Câmara Municipal em facultar um terreno na Arrotinha para a instalação dos respetivos pavilhões (pré-fabricados).20 Mas são animadoras as informações no início do ano letivo 1970-71 acerca das infraestruturas próprias que o município conseguira para a melhoria do funcionamento do ensino, ao nível das instalações (imagem 9). Depois de um ano e meio de silêncio relativo a um tema tão frequentemente noticiado nas suas páginas, a Escola Industrial de Estarreja só regressa na edição de 25 de maio de 1972. Tratase, agora, de mobilizar esforços para dar o próximo passo no seu crescimento, desta feita como “estabelecimento liceal em Estarreja”. Um dos condicionalismos a ultrapassar, e que obsta a este desígnio local, é a inexistência de instalações adequadas. A importância que se atribui à abertura de um liceu na vila, nem que seja em “pavilhões pré-fabricados, em terreno de que o Município possa dispor”, orienta dois artigos publicados no jornal, mantendo-se a pressão sobre a Câmara Municipal para que leve a cabo essa missão. Denunciam-se, inclusivamente, as vozes dissonantes com expressivo vocabulário, o “«ódio aos diplomados» que em tempos já se viu invocado em letra de forma” ou “a ultra-criminosa alegação de «não ser necessária»”, e entende-se que é imperioso “poupar a Estarreja mais uma situação de inferioridade perante os outros concelhos já beneficiados com a regalia” 21. IMAGEM 9 - O Jornal de Estarreja, 25 de outubro de 1970, p. 1

20 - Idem. 21 - Idem, n.º 3358, 10 de junho de 1972, p.1; n.º 3359, 25 de junho de 1972, p.1.

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Para o ano letivo de 1972-73, no momento das matrículas, anunciava-se uma oferta formativa renovada (imagem 10).

IMAGEM 10 - O Jornal de Estarreja, 25 de julho de 1972

Em maio de 197322, ainda se lamenta que a abertura do tão desejado Liceu permaneça adiada desde o ano anterior devido à persistente e aparentemente insolúvel falta de infraestruturas adequadas, portanto, “por não se ter solucionado a tempo o problema da sua instalação”. Só no período das férias escolares, em agosto, se anunciava, enfim, a boa-nova, com um exclamativo e exultante “Finalmente! (…) o funcionamento do Liceu no próximo ano lectivo. Motivo de regosijo para todos quantos viviam o problema, a nossa terra está de parabéns por haver sido, finalmente, contemplada com esse elemento de valorização cultural.” 23 Ficamos, assim, a um passo da Escola Secundária e de outras batalhas que terão de enfrentar o ensino e a escola pública. 3. ENTRE LICEU E ESCOLA SECUNDÁRIA – DE 1973 A 1982 1973, ante-véspera da Revolução dos Cravos.As páginas d’ O Jornal de Estarreja continuam a dar destaque a questões relacionadas com a Escola Técnica, agora designada por Escola Secundária. No final desse ano, entre outras notícias, evidencia-se uma reflexão sobre “O Ensino em

22 - A Escola Industrial de Estarreja fica arredada das páginas do periódico local durante cerca de nove meses, até à edição de 25 de abril de 1973 (n.º 3379), quando se lê a notícia do falecimento do diretor José Amador. 23 - O Jornal de Estarreja, n.º 3386, 10 de agosto de 1973, p.1.

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Estarreja” com o sugestivo título “Na Batalha da Educação”, metáfora expressiva do sucessivo alargamento do número de estabelecimentos escolares públicos “no sentido da cobertura geral do Pais em todos os sectores do Ensino”24. Começavam a tomar forma o Ensino Básico Geral, os oito anos de escolaridade obrigatória e a implantação de uma universidade na cidade de Aveiro. Em breve, o antigo 7.º ano do liceu passaria a ter diferente designação, na múltipla sucessão de nomenclaturas que iria seguir-se (até ao atualíssimo Ensino Básico – dividido em três ciclos – e Ensino Secundário). Em Estarreja, interessava reiterar a necessidade da implementação de um Liceu público, constante reivindicação inscrita nas páginas do jornal. Em outubro desse ano, os estarrejenses puderam, finalmente, celebrar o início do funcionamento da recém-designada “Escola Secundária de Estarreja”. As infraestruturas continuavam, no entanto, a obrigar à dispersão de professores e de centenas de alunos por dois edifícios, consoante integrassem a “Secção do Ensino Liceal e a Secção do Ensino Técnico, a primeira funcionando com 330 alunos, nas instalações do externato [mais concretamente, “nas instalações do antigo externato, adquiridas pelo Estado”], e também o Curso Geral de Administração e Comércio, e a segunda, com os vários cursos e uma frequência superior a 500 alunos, no edifício e pavilhões onde tem funcionado a Escola Industrial e Comercial”. Confuso quotidiano de uma escola? Sem dúvida. Um novo diretor assumia funções, na secundária, o “professor efectivo do 10.º grupo sr. dr. Jaime Valente de Matos, que já o vinha desempenhando interinamente”25. Entretanto, os leitores terão de aguardar oito meses até à próxima notícia sobre questões relacionadas com a escola. Assim, é em junho e em outubro de 1974 que algumas ocorrências merecem a atenção dos articulistas deste periódico. Cerca de dois meses depois da Revolução de 25 de Abril, o meio estudantil de Estarreja refletia convulsões sociais e políticas inerentes à deposição do regime e ao Processo Revolucionário em Curso. É um período que, seguramente, faz parte da memória de muitos alunos, professores, funcionários e auxiliares, testemunhas diretas que nos entusiasmam com acalorados relatos desses meses de transição, ao relembrar essa “agitação estudantil, manifestada em sucessivas reuniões e ainda na rua”, o saneamento do diretor, o afastamento de professores, as reivindicações de alunas e de alunos, ou as eleições do órgão de gestão provisório26. O arranque do ano letivo 1974-75 parece ser atribulado, sobretudo devido aos problemas decorrentes da constante “dispersão das instalações, distribuídas por três edifícios, com precariedade de acomodação para os alunos e de normal vigilância nos tempos em falta, pela redução de pessoal auxiliar”, acrescentando-se, ainda, a falta de colocação de professores. Estas circunstâncias “levaram a assembleia de docentes, ouvido o Sr. Governador Civil do Distrito, a suspender as aulas” até à nomeação dos docentes em falta, decisão esta anulada em reunião posterior, de 6 de dezembro, onde se delibera pelo recomeço das aulas a 9 de dezembro27. Quinze dias depois, na primeira página, denuncia-se e repudia-se a intromissão em assuntos escolares

24 - O Jornal de Estarreja, n.º 3388, 10 de setembro de 1973, p. 1. 25 - Idem, n.º 3390, 10 de outubro de 1973, p. 1. 26 - A Comissão Diretiva provisória é constituída pelos seguintes elementos: subdiretoras Palmira Oliveira Belo e Maria de Lourdes Soares de Oliveira; pelos professores, Eugénio Domingues, Maria Filomena Camacho, Maria Selda Gouveia, Carlos Faustino; pelos alunos dos cursos, Mário Jorge Noutel Fontes, Alexandrina Maria Sousa, Paulo Avelino Amaral, Gaspar Abel Sousa Brás, Ivone Maria de Jesus, Júlia Ribeiro Bragança, Maria da Conceição Martins Nunes, Elmano de Almeida Sacadura Bote e Artur Marques Carvalho; pelos funcionários, Luís António dos Santos Melro (chefe da Secretaria) e Jaime Ribeiro Boléu. (O Jornal de Estarreja, n.º 3406, 10 de junho de 1974, p. 1 e 3). 27 - O Jornal de Estarreja, n.º 3418, 10 de dezembro de 1974, p. 1.

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e as coações externas a que teriam sido sujeitos os elementos da Comissão de Gestão da secundária. Os meses seguintes continuam atribulados, pelo que conduzem, em fevereiro, à demissão dessa mesma comissão que, embora tendo sido eleita, recusa manter-se em funções; e é neste contexto que assume a gestão da escola o próprio diretor do jornal, Eduardo Alberto Costa28. De viva voz, na primeira pessoa, nenhum destes protagonistas, docentes ou alunos, transforma o jornal local em tribuna. Mesmo em período de férias escolares, há quem não desista de relembrar – e de reivindicar – melhores condições para o ensino público em Estarreja, a fim de que a população escolar se fixe na vila, não se vendo obrigada a deslocar-se para outras localidades à procura de um curso adequado, para prosseguir estudos. Não se esquece, ainda, o tecido industrial local, que obrigaria a repensar a oferta educativa ao nível de cursos na área da Química. Com o fim da censura do Estado Novo, autores malditos podem, enfim, ser lidos e representados, chegando aos palcos do teatro escolar na Escola Secundária de Estarreja por um grupo de alunos do Curso Complementar, sob orientação do Prof. José Ilídio Pires, com a peça de Bertold Brecht, «A Excepção e a Regra». À semelhança do que se pode ler em notícias publicadas em edições anteriores, também o ano letivo de 1974-75 encerraria com a reiterada denúncia das deficitárias infraestruturas, incapazes de dar resposta a uma população estudantil em constante crescimento, a precisar de mais diversificada oferta educativa no concelho, logo, de instalações mais capazes de corresponder às necessidades inerentes à abertura de mais cursos. Para o ano letivo de 1975-76, de novo se dispersariam alunos e professores por três edifícios, para as aulas dos cursos diurnos e noturnos, incluindo os cursos gerais e complementar do liceu (imagem 11).

IMAGEM 11 - O Jornal de Estarreja, 10 de outubro de 1975

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TERESA BAGÃO

Depois do início das aulas, ainda faltava ao Ministério da Educação e Investigação Científica colocar mais de vinte professores, de modo a suprir as necessidades das “turmas dos cursos nocturnos e as dos cursos diurnos: gerais do Liceu, Formação Feminina, Mecânica, Electricidade e Administração e Comércio e Complementar do Liceu”29. Na transição para o regime democrático, a situação de “Crise Escolar” é analisada pelo professor Jaime Vilar, sobretudo ao nível da colocação de professores e do caos legislativo30, mas também se debruça sobre a necessidade de preparar as pessoas para as mudanças, que terão de ser graduais. É ainda no decurso deste ano letivo que, com as reformas ao nível do Ensino Secundário, se introduz o 8.º ano de escolaridade. Entretanto, os meses passam sem se resolver a premente questão do número insuficiente de professores, num quadro que continua deficitário, forçando ao eventual adiamento do início do ano letivo seguinte. Aliás, como não houve professores de várias disciplinas durante todo esse ano, em várias turmas, prepara-se o funcionamento de cursos intensivos (de frequência facultativa) para estes alunos, abrangendo as disciplinas de Português, Francês, Matemática e Físico-Química, tendo em vista a necessária preparação para os exames de setembro31. Em 1982, anunciou-se a longamente reivindicada e ansiosamente desejada construção de uma nova escola (imagem 12), que viria pôr termo à dispersão da comunidade escolar por instalações precárias e mal apetrechadas.

IMAGEM 12 - Os fabulosos 40 000 m2 - custaria 75 mil contos… (O Jornal de Estarreja, 10 de outubro de 1982)

28 - Idem, n.º 3423, 25 de fevereiro de 1975. 29 - Idem, n.º 3439, 25 de outubro de 1975, p. 3. 30 - Idem, n.º 3441, 25 de novembro de 1975, p. 1 e 3. 31 - Idem, n.º 3457, 25 de julho de 1976, p. 1.

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IMAGENS13.1, 13.2 e 13.3 Cartões de estudantes (documentos cedidos pelos próprios)

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TERESA BAGÃO

De certo modo, o incêndio que deflagrou na Fontinha, no “chamado Edifício n.º 2”32, durante a madrugada de 13 de janeiro de 1985, veio apressar as mudanças. Sobre a ocorrência do fogo, registo o testemunho de uma das professoras da Secção de Estarreja: Era a Casa da Fontinha que estava a arder. Aquela notícia, para mim como certamente para muitos outros, soou como um toque de finados. A Nossa Escola, embora velhinha e devoluta, tinha-se mantido de pé e com a sua postura de velha senhora “afidalgada”. Até àquele dia em que nos deixou. Foi preciso fazer o luto. Tínhamos convivido com ela, conhecíamo-la muito bem, acolhera-nos no seu seio.33 Face à perda irremediável de instalações escolares, o secundário transitou para o complexo novo, embora não estivesse concluído, faltando um bloco de aulas e oficinas técnico-profissionais e espaços exteriores, o que levou à manutenção das oficinas da Fontinha. Entretanto, o ensino preparatório transitou dos pavilhões prefabricados da Arrotinha para o edifício do “liceu”. A ausência de acessos à nova escola quase aconselharia a “professores e alunos o uso de galochas, pois as chuvas transformarão em autêntico lamaçal toda aquela zona” 34. 4. O PERCURSO CONTINUA Nos anos 90 e nos primeiros anos de 2000, a história da ESE foi vivida e acompanhada por um número de alunos e de professores cada vez maior, em cursos diurnos e noturnos, envolvendo a população em idade escolar e centenas de adultos. Ao longo dos anos, a oferta educativa diversificou-se e adaptou-se, “continuando a ESE a apostar, forte­mente, na diversificação formativa, que desse resposta à diversidade de interesses e necessidades de uma popula­ção cada vez mais heterogénea. (…) A formação diversificada, ajustada, por um lado, às necessidades dos alunos mas garantindo, por outro lado, a quali­dade que o tecido empresarial exigia, foi sempre a aposta da Escola Secundária de Estarreja.”35 Aliás, o que marca esta escola é a sua constante abertura à inovação e à diversificação, não esquecendo, entre tantos outros exemplos, que foi em agosto de 1996 que o conselho diretivo “decidiu integrar o diminuto grupo de escolas que avançou para a criação de turmas de «9.º+1».”36 Para além disso, em 2003, foi igualmente das primeiras escolas do país a acolher uma nova estrutura criada pelo Ministério especificamente para adultos, o Centro RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), posteriormente substituído pelo CNO-Antuã (Centro de Novas Oportunidades do Antuã). Em 1997, a prática do desporto e da educação física beneficiou significativamente com a construção do pavilhão desportivo, que entrou em funcionamento no final de 1997 (ano letivo 1997-1998).

32 - Idem, n.º 3614, 15 de janeiro de 1985, p. 1-2. 33 - Maria Florbela Rodrigues da Silva Pinho, “O fogo”. Preia-Mar. 2, 2010-2011. p. 35. 34 - O Jornal de Estarreja, n.º 3621, agosto de 1985, p. 2 e 9. 35 - Graciete Oliveira, “Uma escola para todos”, Preia-Mar. 1. 2009-2010. p. 66. 36 - Idem.

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IMAGEM 14 (14.1 a 14.5) - O duradouro edifício da ESE dos anos 80

Por seu turno, em 2006, a melhoria dos espaços exteriores conseguiu-se com a construção de dois anfiteatros ao ar livre e respetiva sala de apoio, nas traseiras do recinto escolar, na zona que confina com o CDE (Clube Desportivo de Estarreja). No dia da inauguração deste espaço, 9 de junho de 2006, a comunidade escolar assistiu a um programa de atividades artísticas e lúdicas, da responsabilidade de alunos e professores da escola. À noite, decorreu a exibição da peça “A paixão de Prometeu”, interpretada pelos alunos do Curso Tecnológico de Ação Social. Em 2009, integrando o plano de modernização do parque escolar definido pela tutela, o edifício “trintão” foi objeto de profundas obras de remodelação. Durante dois anos de obras e com a necessária instalação de praticamente todos os serviços escolares em contentores provisórios, alunos, professores e funcionários viram alguns dos antigos espaços ser demolidos ou esventrados, para que novas paredes e construções surgissem (imagem 15).

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TERESA BAGÃO

IMAGEM 15 - E quando o velho se transformou em novo… (fotografia de Luís Miguel Oliveira Santos)

Assim, no ano letivo de 2011-2012, assistimos à inauguração das novas instalações da Escola Secundária de Estarreja (projeto do arquiteto José Manuel Soares). O edifício central, que acolhia os serviços administrativos, o polivalente, a cantina e a sala de professores, desapareceu e foi criado o atual bloco da entrada principal, cujo acesso exige a descida da monumental escadaria-anfiteatro. Aos blocos A, B, C e D acrescentou-se, no local do antigo setor das três salas de prefabricado, um novo bloco de raiz – o bloco E -, agora com salas de aula e anfiteatro. O bloco das oficinas de mecânica (bloco D) sofreu uma remodelação total, sendo acrescentado um andar. A zona dos anfiteatros exteriores, entretanto terraplanada, desapareceu. Os espaços ajardinados também mudaram a face exterior do antigo recinto (imagem 16).

IMAGEM 16 - Novas faces

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Atualmente, a Escola Secundária de Estarreja é escola-sede do Agrupamento de Escolas de Estarreja, que inclui oito estabelecimentos de ensino: Escola Secundária de Estarreja, Escola EB 2/3 Prof. Dr. Egas Moniz, Escola EB 2/3 Padre Donaciano de Abreu Freire e, na educação PréEscolar e 1.º Ciclo do Ensino Básico, Escola Básica da Congosta, Escola Básica do Mato, Escola Básica de Cabeças, Escola Básica de Pinheiro, Escola Básica Visconde de Salreu. Não se pretende dar por concluídas, apenas nestas breves páginas, a construção e a preservação da memória desta instituição. Este artigo quer ser apenas uma aproximação a cinco décadas do trajeto de uma escola, de alguns dos seus atores e de vicissitudes por que passou este espaço escolar (físico e humano) que se institui como universo dinâmico e marcante, que contribuiu – e continua a contribuir – para a formação de muitas gerações de jovens, mas que desde cedo acolheu igualmente os adultos que sempre procuraram melhorar as suas qualificações. Em plena vivência do regime democrático, estão garantidas as infraestruturas para outras tantas décadas – embora nunca deixando de se reivindicar melhores condições para continuar a garantir o melhor nível de ensino e de formação para todos. Fica em aberto o espaço para a anotação e a narração de outras circunstâncias relativas aos seus 50 anos de percurso, as quais certamente envolverão muitos testemunhos pessoais em discurso direto… Mas esses serão outros capítulos desta história.

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

EMIGRAÇÃO ESTARREJENSE NO ANO DE 1898 Teresa Cruz *eValter Santos** “Se mais mundo houvera lá chegara”, assim escrevia Camões motivado pelos feitos da expansão portuguesa. Participou em várias expedições militares e andou pelo mundo durante dezassete anos. As viagens levaram-no a Ceuta, China, Goa, Índia, Macau, Marrocos, Moçambique, Molucas, entre outras paragens. É nessa altura que escreve a sua grande obra: “Os Lusíadas”, narrando factos heróicos, em particular a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Como muitos emigrantes teve de se adaptar ao local de destino e de se sujeitar às leis em vigor, sofrendo também vicissitudes e misérias. A vida, como ele a descrevia num dos seus versos “pelo mundo em pedaços repartida”, é o que sentiam e sentem aqueles que deixaram ou ainda deixam a sua Pátria à procura de condições melhores de subsistência. As façanhas dos navegadores e exploradores portugueses dão-nos um conhecimento preciso dos percursos dos descobrimentos e que permitiu o conhecimento da geografia do mundo. Toda esta epopeia levou ao movimento de pessoas e bens, assim como às relações comerciais, deixando marcas da sua presença. Entre 1418 e 1419, João Gonçalo Zarco e Tristão Vaz Teixeira desembarcaram na Ilha da Madeira; em 1427, Diogo de Silves teria descoberto as primeiras ilhas dos Açores; Em 1434, Gil Eanes ultrapassou o Cabo Bojador; em 1444, deu-se a chegada ao Rio Senegal; em 1446 os portugueses chegaram à costa da Guiné; em 1456, algumas ilhas de Cabo Verde foram descobertas e em 1460, Diogo Gomes e António de Nola descobriram outras; em 1470, João de Santarém e Pedro Escobar chegaram a S.Tomé e Príncipe e encontraram-na inabitada; em 1472, João Vaz Corte-Real descobriu a Terra Nova; em 1473, Lopo Gonçalves passou o equador; em 1483 Diogo Cão chegou ao Rio Zaire e no ano seguinte a Angola; em 1486, Bartolomeu Dias chegou ao Cabo da Boa Esperança; em 1497, Vasco da Gama iniciou a sua viagem chegando a Moçambique e a Calcutá no ano seguinte; em 1500, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil; em 1509, os portugueses chegaram a Malaca; em 1515, chegaram a Timor. Macau foi alugada aos Portugueses, pelo Império Chinês, em 1557.

* Investigadora, autora das obras Quinta e Casa da Botica, Banda de Música de S. João da Madeira 1860/2005; co-autora da obra A Misericórdia da Vila de Cucujães, 1937 – 2012 e Cucugianis 2015 ** Investigador e jornalista, autor da obra Cucujães Antigo e Moderno; co-autor da obra A Misericórdia da Vila de Cucujães, 1937-2012 e Cucugianis 2015

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

E, nesse ano de 1898, foram governadores em: Angola – António Duarte Ramada Curto (1897-1900); Cabo Verde – João Cesário de Lacerda (1898-1900) ; Guiné – Álvaro Herculano da Cunha (1897-1898); Albano Mendes de Magalhães Ramalho (1898-1899); Índia Portuguesa – Joaquim José Machado (1897-1900); Macau – Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo (1897-1900); Moçambique – Baltasar Freire Cabral (1897-1898); Carlos Alberto Schultz Xavier (1898); Álvaro António Ferreira (1898-1900); São Tomé e Príncipe – Joaquim da Graça Correia e Lança (1897-1899); Timor – José Celestino da Silva (1896-1908). Apesar dos portugueses se terem espalhado pelo mundo que descobriram, a emigração teve maior incidência nas Terras de Vera Cruz. A 1 de Março de 1898, Manuel Ferraz de Campos Salles é eleito presidente, mas só toma posse a 15 de Novembro, substituindo Prudente de Morais. A 20 de Maio foi inaugurado o Club de Regatas Vasco da Gama, no Rio de Janeiro (começou por ser um Clube de Remo e dezassete anos depois passou também a ser um Clube de Futebol). E, no mesmo dia, em Portugal foi inaugurado o Aquário Vasco da Gama, numa cerimónia pomposa com a presença da Família Real. Comemorava-se, também o 4º centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia. Entre 1896 e 1897, o Rei D. Carlos, nas suas campanhas oceanográficas foi recolhendo amostras e com elas realizou uma exposição de carácter zoológico, presente na inauguração do Aquário acima referido. Hoje o mundo está todo descoberto e, mesmo com condições melhores de vida, a emigração continua. Teresa Cruz Tubby

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

AVANCA NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

Albino da Silva Maio, solteiro

27

Analfabeto, comerciante

Manuel Joaquim de Magalhães e de Maria Dias

Albino Rodrigues, casado

23

Sabia escrever, trabalhador

José Rodrigues Borges e de Delfina Maria

Ana Paes da Silva, solteira

39

Sabia escrever, criada de servir

[Viaja na companhia do seu patrão, José dos Santos Pimpão, viúvo] Henrique António da Silva e de Joaquina da Silva Petiz

António António de Oliveira, casado

26

Sabia escrever, proprietário

José de Oliveira e de Maria Joana Pereira

António de Oliveira, casado

42

Sabia escrever, trabalhador

José Joaquim de Oliveira e de Ana Maria de Jesus

09-08-1898, Pará Brasil, nº 2402, L.11 16-09-1898, Pará Brasil, nº 14, L.12 26-03-1898 Pelotas, Brasil nº 1886, L.11 19-11-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 708, L.12 19-02-1898, Pará Brasil, nº 1696, L.11 29-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 502, L.12 17-03-1898 Pelotas, Brasil nº 1841, L.11 05-08-1898, Pará Brasil, nº 2372, L.11 17-03-1898 Pelotas, Brasil nº 1841, L.11 24-05-1898, Pará Brasil, nº 2086 26-03-1898 Pelotas, Brasil nº 1884, L.11 29-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 507, L.12

António Valente, casado com Maria José Martins Augusto José de Oliveira, solteiro Beatriz Valente Martins, solteira

72

Sabia escrever, proprietário

Filho de outro António Valente e de Joana de Jesus

21

Analfabeto, lavrador

Francisco José de Oliveira e de Josefa Maria de Jesus

18

Sabia escrever, doméstica

António Valente e de Maria José Martins

Domingos

13

Analfabeto

Manuel António Marques Cabeça, casado

Francisco de Azevedo, solteiro

23

Analfabeto, lavrador

António de Azevedo e de Albina de Jesus

41

Sabia escrever, lavrador

Manuel Dias e de Bernarda de Jesus

31

Sabia escrever, proprietário

Francisco António da Silva e de Maria Clementina de Lemos Teixeira

19-11-1898 Rio de Janeiro Brasil nº 708, L.12

22

Sabia escrever, lavrador

António Esteves da Silva e de Maria Rodrigues da Silva

09-08-1898, Pará Brasil, nº 2403, L.11

Francisco Joaquim Dias, casado Henrique António da Silva, casado com Joaquina da Silva Petiz. Levaram os filhos Maria Clementina e António. João Esteves da Silva, solteiro

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

05-08-1898, Pará Brasil, nº 2375, L.11 26-03-1898, Pelotas Brasil, nº 1885, L.11

João José Jorge de Oliveira, solteiro

29

Sabia escrever, lavrador

José Jorge do Marco e de Maria Joaquina de Oliveira

João Maria da Rocha, casado

35

Sabia escrever, carpinteiro

António Joaquim da Rocha e de Ana Dias da Fonseca

32

Sabia escrever, proprietária

52

Sabia escrever, negociante

Exposto na freguesia de Avanca

José Maria Alves, casado

23

Sabia escrever, lavrador

Domingos Alves e de Ana Maria Alves

José Maria da Rocha, solteiro

10

Sabia escrever

João Maria da Rocha, casado

José Maria Marques dos Santos, solteiro

24

Sabia escrever, lavrador

António Marques dos Santos e de Rosa de Matos

Joaquina Maria, solteira

11

Analfabeta

Manuel António Marques Cabeça, casado

José de Bastos, solteiro

22

Sabia escrever, lavrador

José António de Bastos e de Ana Maria

Manuel António de Bastos, solteiro

30

Sabia escrever, lavrador

José António de Bastos e de Ana Maria

17-10-1898, Pará Brasil, nº 346, L.12

Manuel António Marques Cabeça, casado

56

Analfabeto, lavrador

Manuel Marques e de Maria Rosa da Silva

24-05-1898 Pará, Brasil nº 2086, L.11

Manuel da Silva Brilhante Pereira de Melo, casado

47

Sabia escrever, lavrador

António da Silva Brilhante e de Maria Pereira de Melo

Manuel da Silva Maio, solteiro

13

Analfabeto

Manuel Joaquim de Magalhães e de Maria Dias

Manuel Joaquim da Silva Valente, solteiro

26

Sabia escrever, carpinteiro

Maria Tavares, solteira

24-01-1898, Rio Grande do Sul, Brasil, nº 1604, L.11

Manuel Maria Marques, solteiro

25

Sabia escrever, proprietário

Manuel Marques e de Maria de Matos

26-03-1898, Pelotas Brasil, nº 1883, L.11

Joaquina da Silva Petiz, casada com Henrique António da Silva José dos Santos Pimpão, viúvo. Levou Ana Paes da Silva

19-11-1898 Rio de Janeiro Brasil nº 708, L.12 26-03-1898 Pelotas, Brasil nº 1886, L.11 24-11-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 748, L.12 26-03-1898, Pelotas Brasil, nº 1885, L.11 14-04-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1944, L.11 24-05-1898, Pará Brasil, nº 2086, L.11 17-10-1898, Pará Brasil, nº 347, L.12

29-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 506, L.12 09-08-1898, Pará Brasil, nº 2402, L.11

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Manuel Marques, solteiro Manuel Marques, solteiro

33 33

Sabia escrever, agricultor Sabia escrever, agricultor

José Marques e de Teresa de Oliveira José Marques e de Teresa de Oliveira Henrique António da Silva e de Joaquina da Silva Petiz

Maria Clementina Maria José Martins, casada com António Valente

53

Analfabeta, doméstica

08-02-1898, Baía Brasil, nº 1665, L.11 25-02-1898, Baía Brasil, nº 1725, L.11 19-11-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 708, L.12 17-03-1898 Pelotas Brasil nº 1841, L.11

BEDUÍDO NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

Ana Marcolina de Pontes Leite, casada com Ângelo Amador Leite. Levaram seu filho Ângelo

24

Sabia escrever, comerciante

Ângelo

2

Ângelo Amador Leite, casado com Ana Marcolina de Pontes Leite

32

António da Silva, casado

03-10-1898 Pará, Brasil nº 206, L.12 Ângelo Amador Leite e de Ana Marcolina de Pontes Leite

03-10-1898 Pará, Brasil nº 206, L.12

Sabia escrever, comerciante

Agostinho António Leite e de Maria Joaquina

03-10-1898 Pará, Brasil nº 206, L.12

38

Sabia escrever, lavrador

Francisco da Silva e de Bernarda Marques de Oliveira

04-03-1898, Pelotas Brasil, nº 1785, L.11

António da Silva Moutela, casado

31

Sabia escrever, lavrador

Caetano da Silva Moutela e de Ana Lopes

28-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 496, L.12

António José Schade, solteiro

18

Sabia escrever, telegrafista

Exposto na freguesia de Beduído, Estarreja, mas residente em Albergaria-a-Velha

04-06-1898 Benguela, Angola nº 2112, L.11

Brizida Marques de Oliveira, casada. Levou os filhos Manuel e Maria

35

Analfabeta, jornaleira

José Soares e de Ana Marques

04-11-1898 Pelotas, Brasil nº 533, L.12

Damásia

6

Criada de Ângelo Amador Leite

Emílio Valente da Costa, solteiro

17

Sabia escrever, empregado de comércio

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03-10-1898 Pará, Brasil nº 206, L.12 Rodrigo Marques dos Santos e de Clementina Valente da Costa

22-07-1898 S. Tomé e Príncipe nº 2303, L.11


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Francisco António da Silva

15

Estudante

Francisco Joaquim Plácido, solteiro

13

Estudante

Joana Leite, solteira

33

Analfabeta, costureira

Joaquim de Oliveira, casado

26

Sabia escrever, trabalhador

Joaquim de Oliveira Marques, solteiro

26

Sabia escrever, negociante

José da Silva Condeço, 25 casado

Analfabeto, carpinteiro

07-10-1898, Pará, Brasil, nº 247, L.12 13-09-1898 Luís Avelino Plácido Rio de Janeiro, Brasil, e de Maria Rosa da Silva nº 2619, L.11 13-10-1898, Manuel Leite de Azevedo e de Pará, Brasil, Maria Marques Couta nº 322, L.12 19-12-1898, Manuel de Oliveira Rio Grande do Sul, e de Francisca Marques Brasil, nº 922, L.12 04-11-1898, Manuel de Oliveira Marques Rio de Janeiro, Brasil e de Ana da Conceição nº 534, L.12 27-10-1898, Joana da Silva, Pará, Brasil, solteira nº 479, L.12 07-10-1898, Manuel de Oliveira Pará, Brasil, e de Maria da Silva nº 251, L.12 07-10-1898, José Nunes Barbosa e de Maria da Cunha de Figueiredo Pará, Brasil, nº 250, L.12 João António da Silva e de Caetana Marques Casalinha

José Maria de Oliveira, casado

31

Analfabeto, serrador

José Nunes Barbosa Júnior, casado

25

Sabia escrever, lavrador

Manuel

6

Manuel António de Almeida, casado

38

Analfabeto, lavrador

Domingos de Almeida e de Maria Joaquina da Silva e Sousa

Manuel Marques, casado

39

Sabia escrever, sapateiro

Ana da Silva

Maria

8

Brizida Marques de Oliveira, casada

Maria Adelina

11

Mariana de Jesus, solteira

Mariana de Jesus, solteira. Levou a sua filha Maria Adelina

34

Sabia escrever, costureira

António José Gaspar e de Joaquina Mendes da Fonseca

16-11-1898 Manaus, Brasil nº 664, L.12

Tomé dos Santos, casado

43

Analfabeto, lavrador

Francisco dos Santos e de Ana Marques

26-10-1898, Pará, Brasil, nº 446, L.12

Vasco da Silva Graça, solteiro

25

Sabia escrever, comerciante

Manuel José da Graça e de Margarida da Silva

10-06-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 2133, L.11

Brizida Marques de Oliveira, casada

04-11-1898, Pelotas, Brasil, nº 533, L.12 04-11-1898, Pelotas, Brasil, nº 532, L.12 07-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 452, L.12 04-11-1898, Pelotas, Brasil, nº 533, L.12 16-11-1898, Manaus, Brasil, nº 664, L.12

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TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

BUNHEIRO NOME

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

Abílio José Marques Ramos

13

Sabia escrever, caixeiro

Júlio César Marques de Oliveira e de Ana Maria Ferreira

Adelino

3

Agostinho André Marinho

10

Sabia escrever

Domingos André Martinho e de Joana da Silva

45

Sabia escrever, alfaiate

Bernardo Valente e de Ana dos Santos

Agostinho dos Santos, casado. Levou seus filhos Manuel e Isaac Ana Rosa da Silva Sousa, casada com Joaquim Maria Rodrigues Cirne

ESCOLARIDADE

Joana Maria Rodrigues, casada

04-10-1898 Pará, Brasil nº 217, L.12

22

António Joaquim Esteves, solteiro

27

Analfabeto, lavrador

Manuel Joaquim Esteves e de Joana Maria Tavares

António Joaquim da Silva Tavares, casado

36

Sabia escrever, carpinteiro

António Joaquim da Silva e de Mariana da Silva

Augusto José de Matos Caravela, casado; 36 nasceu na Murtosa mas vivia no Bunheiro

Sabia escrever, pescador

António Carvalho Pescador e de Ana Teresa Rendeiro

Caetano

9

Joana Maria Rodrigues, casada

meses

Custódio Tavares de Figueiredo, casado

31

Sabia escrever, lavrador

João Valentim de Figueiredo e de Antónia da Silva Peneiras

Domingos da Silva Valente, solteiro

22

Analfabeto, lavrador

Manuel Joaquim da Silva Valente e de Ana Rosa da Silva Reverenda

Domingos Manuel Lopes Pereira, casado

27

Sabia escrever, lavrador

Manuel António Lopes Pereira e de Maria Rodrigues Cirne

Francisco António Fernandes Vilarinho, casado

31

Sabia escrever, alfaiate

Manuel Fernandes Vilarinho e de Mónica Oliveira

Francisco José Lopes de Almeida, casado

39

Sabia escrever, proprietário

João José Lopes e de Joana Maria Pereira

[ 276 ]

27-09-1898, Pará, Brasil, nº 122, L.12 05-10-1898, Pará, Brasil, nº 225, L.12 27-09-1898, Pará, Brasil, nº 126, L.12 03-10-1898 Pará, Brasil nº 200, L.12

04-10-1898, Pará, Brasil, nº 219, L.12 29-09-1898 Pará, Brasil nº 155, L.12 12-08-1898 Pará, Brasil nº 2421, L.11 05-10-1898, Pará, Brasil, nº 225, L.12 01-12-1898, Pará, Brasil, nº 798, L.12 19-04-1898 Pará, Brasil nº 1981, L.11 29-08-1898 Pará, Brasil nº 2511, L.11 03-10-1898 Pará, Brasil nº 202, L.12 09-12-1898 Pernambuco, Brasil nº 873, L.12


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Sabia escrever, alfaiate

Francisco Peres e de Delfina da Silva

04-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 218, L.12 03-10-1898, Pará, Brasil, nº 200, L.12

Gonçalo Peres, casado

23

Isaac

7

Joana Maria Rodrigues, casada. Levou os filhos José, Adelino e Caetano

30

Analfabeta, jornaleira

Francisco Peres e de Delfina da Silva

João Bernardo da Silva, casado

51

Analfabeto, jornaleiro

Manuel Nunes da Silva e de Isabel Antónia Lopes

João da Silva, solteiro

22

Sabia escrever, lavrador

Mateus António da Silva e de Domingas da Silva Sousa de Oliveira

João Lopes de Sousa, solteiro

22

Analfabeto, lavrador

Manuel Joaquim Lopes de Sousa e de Ana Ermelinda da Silva

João Maria Pereira, casado

33

Analfabeto, pescador

Joaquim Pereira e de Ana da Silva

João Pedro de Sousa, solteiro

40

Sabia escrever, negociante

Manuel da Silva e Sousa e de Maria Rosália de Matos

João Pedro Jorge de Oliveira, casado

25

Analfabeto, carpinteiro

Domingos Manuel Jorge de Oliveira e de Rachel Maria Pereira

João Valentim Tavares de Figueiredo, casado

34

Sabia escrever, lavrador

José António Tavares e de Maria Antónia da Silva

Joaquim da Silva

12

Analfabeto, jornaleiro

José Maria da Silva e de Maria Joana Tavares

05-10-1898, Pará, Brasil, nº 226, L.12

Joaquim Manuel Afonso Cirne, casado

27

Sabia escrever, trabalhador

Mateus António Tavares Branco e de Ana Maria da Silva

01-12-1898 Pará, Brasil nº 799, L.12

Joaquim Manuel de Oliveira, casado

32

Analfabeto, jornaleiro

João José da Silva e de Maria Caetana de Oliveira

06-10-1898, Pará, Brasil, nº 233, L.12

Joaquim Manuel Tavares Branco, solteiro

22

Sabia escrever, lavrador

Domingos Manuel Fernandes Ruela e de Maria Luísa Tavares Rebimbas

29-08-1898 Pará, Brasil nº 2509, L.11

Joaquim Nunes da Silva, casado

32

Analfabeto, trabalhador

Francisco José Nunes da Fonseca e de Maria Antónia da Silva

01-12-1898, Pará, Brasil, nº 800, L.12

Agostinho dos Santos, casado

05-10-1898 Pará, Brasil nº 225, L.12 14-09-1898, Pará, Brasil, nº 2638, L.11 06-10-1898 Pará, Brasil nº 241, L.12 31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1001, L.12 28-10-1898, Pará, Brasil, nº 497, L.12 29-09-1898, Pará, Brasil, nº 156, L.12 19-11-1898 Pará, Brasil nº 711, L.12 06-09-1898 Pará, Brasil nº 2564, L.11

[ 277 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Joaquim Maria Rodrigues Cirne, casado com Ana Rosa da Silva Sousa

25

José

7

José António Lopes da Silva, casado

30

Analfabeto, jornaleiro

José Manuel da Silva e de Ana Joaquina

José de Resende, casado

36

Analfabeto, alfaiate

Joaquim José de Resende e de Rosa da Silva

José Manuel de Oliveira, viúvo

62

Sabia escrever, carpinteiro

João Manuel de Oliveira e de Maria Joana dos Santos

José Manuel de Oliveira Moura, solteiro

36

Sabia escrever, negociante

Manuel José de Oliveira e de Mariana Joaquina Rodrigues

José Maria da Cunha, casado

45

Analfabeto, mercantel

José António da Cunha e de Domingas Luísa Tavares Rebimbas

José Maria da Silva Filipe, casado

23

Analfabeto, moliceiro

José Domingues Filipe e de Maria Antónia Amador

José Maria de Oliveira, casado

28

Sabia escrever, carpinteiro

José Manuel de Oliveira e de Joana Maria Nunes Pereira

José Maria Dias Pereira, casado

38

Sabia escrever, negociante

Mateus António Dias Pereira e de Maria Luísa Rodrigues

José Maria Jorge de Oliveira, casado com Umbelina Rosa Ferreira da Costa

24

Analfabeto, jornaleiro

José Maria Nunes dos Santos

13

Sabia escrever

Rodrigo Luís Nunes e de Maria Joaquina dos Santos

José Maria Tavares Branco, solteiro

23

Sabia escrever, lavrador

Domingos Manuel Fernandes Ruela e de Maria Luísa Tavares Rebimbas

José Maria Tavares Rebimbas, casado

35

Analfabeto, carpinteiro

Maria Rosa Tavares

José Nunes de Bastos, solteiro

18

Sabia escrever, padeiro

Joaquim Nunes de Bastos e de Maria Luísa da Silva

[ 278 ]

Sabia escrever, lavrador

Albano José Roiz Cirne e de Maria Rosália da Silva Joana Maria Rodrigues, casada

Gonçalo António Fernandes e de Maria Antónia Rodrigues

04-10-1898 Pará, Brasil nº 217, L.12 05-10-1898, Pará, Brasil, nº 225 L.12 14-09-1898, Pará, Brasil, nº 2639, L.11 05-12-1898, Pará, Brasil, nº 825, L.12 05-08-1898, Pará, Brasil, nº 2374, L.11 10-10-1898 Pará, Brasil nº 288, L.12 29-01-1898 Pará, Brasil nº 1622, L.11 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2616, L.11 05-08-1898, Pará, Brasil, nº 2376, L.11 18-10-1898, Pará, Brasil, nº 358, L.12 18-10-1898 Pará, Brasil nº 371, L.12 19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1987, L.11 29-08-1898 Pará, Brasil nº 2510, L.11 06-10-1898, Pará, Brasil, nº 246, L.12 19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1980, L.11


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

José Nunes Ferreira, casado nasceu em Pardilhó, mas vivia no Bunheiro

37

Sabia escrever, padeiro

João Pedro da Silva, casado

29

Analfabeto, jornaleiro

João José da Silva e de Maria Caetana de Oliveira

José Pedro da Silva Tavares, solteiro

18

Sabia escrever, estudante

António Maria Lopes da Silva e de Ermelinda Maria Pinto da Cunha

Lázaro da Silva, solteiro

23

Analfabeto, lavrador

António Joaquim da Silva e de Mariana da Silva Ruela

Ludovina Tavares de Sousa, casada

22

Sabia escrever, costureira

Inácio Tavares Grelo e de Virgínia Dias de Sousa

Manuel

11

Manuel Adão Nunes da Silva, casado

24

Sabia escrever, negociante

Domingos Nunes da Silva e de Domingas da Silva Pataca

Manuel Agostinho da Silva Esteves, casado

29

Analfabeto, mercantel

João Agostinho da Silva Esteves e de Maria Luísa da Silva Valente

Manuel Gonçalves Jarreta, solteiro

30

Analfabeto, trabalhador

José António Gonçalves e de Maria Luísa Rodrigues

Manuel Joaquim da Silva Valente, solteiro

25

Analfabeto, lavrador

Manuel Joaquim da Silva Valente e de Ana Rosa da Silva Reverendo

Manuel Joaquim José de Oliveira, solteiro

29

Sabia escrever, lavrador

Domingos Manuel Jorge de Oliveira e de Rachel Maria Pereira

Manuel Joaquim Pereira, casado

37

Analfabeto, mercantel

Manuel José Pereira e de Maria Joana Antão dos Santos

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1986, L.11

Manuel Lopes da Silva, casado

25

Analfabeto, lavrador

Manuel Maria Lopes da Silva e de Ana Joaquina Rodrigues

30-9-1898, Pará, Brasil, nº 175, L.12

Manuel Maria da Costa, casado

34

Analfabeto, marítimo

Manuel José da Costa e de Cristina Lopes

14-09-1898, Pará, Brasil, nº 2627, L.11

Manuel Maria Marques, casado

34

Analfabeto, jornaleiro

Domingos Marques da Silva e de Verónica Joaquina da Silva

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1989, L.11

João Nunes Ferreira e de Maria Joaquina Nunes Ferreira

Agostinho dos Santos, casado

19-04-1898 Pará, Brasil nº 1984, L.11 06-10-1898 Pará, Brasil nº 243, L.12 14-09-1898 Pará, Brasil nº 2629, L.11 20-10-1898, Pará, Brasil, nº 381, L.12 03-10-1898, Pará, Brasil, nº 201, L.12 03-10-1898, Pará, Brasil, nº 200, L.12 23-08-1898, Pará, Brasil, nº 2467, L.11 08-10-1898 Pará, Brasil nº 265, L.12 18-10-1898, Pará, Brasil, nº 359, L.12 14-09-1898 Pará, Brasil nº 2637, L.11 19-11-1898 Pará, Brasil nº 710, L.12

[ 279 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Manuel Maria Pais da Silva Júnior

15

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel Maria Pais da Silva e de Isabel Agostinha Roiz Amador

Manuel Maria Pereira

13

Sabia escrever, mercantel

Domingos José Pereira e de Maria Luísa do Mato

Manuel Rodrigues da Silva, solteiro

23

Analfabeto, lavrador

Manuel Agostinho Rodrigues da Silva e de Ana Joaquina André Vaz

Umbelinha Rosa Ferreira da Costa, casada com José Maria Jorge de Oliveira

32

Analfabeta, jornaleira

06-10-1898, Pará, Brasil, nº 242, L.12 07-10-1898, Pará, Brasil, nº 257, L.12 29-09-1898 Pará, Brasil nº 157, Lvº12 18-10-1898 Pará, Brasil nº 371, L.12

CANELAS NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

Ernesto Augusto de Araújo e Melo

13

Sabia escrever

João Evangelista de Araújo e Melo e de Maria Domingues Valente

Filipe de Almeida, casado

34

Sabia escrever, negociante

José de Almeida e de Mariana Rodrigues

Florindo Lopes, solteiro

24

Analfabeto, jornaleiro

José Lopes e de Fernanda Joaquina de Jesus

Francisco Maria Godinho Taborda, solteiro

42

Sabia escrever, comerciante

Manuel António de Castro e de Teresa Elvira de Figueiredo

13-10-1898 Pará, Brasil nº 311, L.12

João Evangelista de Araújo, solteiro. Vivia em Valmaior, Albergaria-a-Velha

24

Sabia escrever, lavrador

Manuel Rodrigues Pinto e de Maria Madalena Alves de Araújo

08-10-1898 Pará, Brasil nº 262, L.12

José da Silva Cristóvão, casado com Maria Pires de Figueiredo

46

Sabia escrever, proprietário

António da Silva e de Joana Clara

01-12-1898 Pará, Brasil nº 795, L.12

Manuel José da Silva, casado

34

Analfabeto, lavrador

Pelágio José da Silva e de Ana Domingues de Andrade

02-11-1898, Pará, Brasil, nº 519, L.12

Maria Pires de Figueiredo, casada com José da Silva Cristóvão

50

Sabia escrever, proprietária

[ 280 ]

30-9-1898 Pará, Brasil nº 163, L.12 19-01-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1580, L.11 03-01-1898, Baía, Brasil, nº 1493, L.11

01-12-1898 Pará, Brasil nº 795, L.12


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

FERMELÃ NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

António Augusto Tavares, solteiro

23

Sabia escrever, proprietário

António José Tavares e de Maria Joaquina dos Santos

José Marques Loureiro, solteiro

26

Analfabeto, trabalhador

Francisco Marques Loureiro e de Joana da Silva Cabique

João Baptista de Sousa, casado

30

Analfabeto, jornaleiro

Maria Baptista Ribeira, solteira

Julião Dias Álvaro, solteiro

33

Sabia escrever, proprietário

António Francisco Álvaro e de Maria Marques de Oliveira

18-04-1898, Pará, Brasil, nº 1969, L.11 18-03-1898, Pará, Brasil, nº 1851, L.11 18-04-1898, Pará, Brasil, nº 1970, L.11 03-03-1898, Pará, Brasil, nº 1774, L.11

MURTOSA NOME

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

Abílio José Cardoso da Cunha, solteiro

20

Sabia escrever, pescador

Manuel Mateus Cardoso da Cunha e de Maria Rosália Valente

01-07-1898 Pará, Brasil nº 2190, L.11

Agostinho de Matos, solteiro

22

Sabia escrever, alfaiate

Agostinho de Matos e de Ana da Silva

14-10-1898, Pará, Brasil, nº 329, L.12

Agostinho José da Cruz, casado

32

Analfabeto, pescador

Manuel António da Cruz e de Isabel Maria

23-06-1898, Pará, Brasil, nº 2152, L.11

Agostinho José Roiz, casado

23

Sabia escrever, calafate

Luís Tavares Rebimbas e de Maria Rosália Henriques

13-10-1898, Pará, Brasil, nº 309, L.12

50

Analfabeto, calafate

Francisco Fernandes de Oliveira e de Maria Teresa Soares

27-09-1898 Pará, Brasil nº 124, L.12

Alfredo da Silva Valente

12

Sabia escrever

José Maria da Silva Valente e de Maria Joaquina

06-08-1898, Manaus, Brasil, nº 2382, L.11

Amália Tavares, casada

20

Sabia escrever, costureira

Francisco Tomé e de Ana Antónia

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1991, L.11

Ângelo António Cascais

13

Sabia escrever

Filipe José Cascais, casado

14-05-1898, Pará, Brasil, nº 2077, L.11

Agostinho Raimundo Fernandes de Oliveira, casado

ESCOLARIDADE

[ 281 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

15-12-1898, Pará, Brasil, nº 904, L.12 08-10-1898 Pará, Brasil nº 268, L.12 01-10-1898, Pará, Brasil, nº 180, L.12

Aniceto Bernardo Vaz, casado

33

Analfabeto, pescador

Francisco Vaz da Silva e de Maria José da Silva

António Augusto Marques Caseiro, casado

28

Analfabeto, marítimo

Pedro Marques Caseiro e de Joaquina Rosa da Cunha

António Augusto Pereira, solteiro

21

Analfabeto, pescador

Venâncio Augusto Pereira e de Domingas Luísa Pereira

António Dias Pereira, casado. Nasceu no Bunheiro, mas vivia na Murtosa

31

Sabia escrever, sapateiro

Mateus António Dias Pereira e de Maria Luísa Rodrigues

António Emílio da Silva Pataca, solteiro

22

Sabia escrever, pescador

Manuel João da Silva Pataca e de Domingas Luísa

António Joaquim Afonso da Silva, solteiro

22

Sabia escrever, lavrador

Francisco Maria da Silva e de Ana Rosa Henriques

António Joaquim da Cruz Vaz, solteiro

13

Sabia escrever, estudante

Manuel Joaquim Vaz da Cruz e de Maria Caetana

António Joaquim da Silva Barbosa, solteiro

25

Analfabeto, lavrador

Francisco António da Silva Barbosa e de Isabel Maria da Silva Barbosa

21-10-1898 Pará, Brasil nº 398, L.12

António Joaquim da Silva Padinha, casado com Teresa Maria. Levaram seus filhos: Manuel, Virgínia e Palmira

44

Sabia escrever, pescador

Domingos José da Silva e de Maria Rosália da Silva

07-12-1898 Pará, Brasil nº 871, L.12

António Joaquim Fernandes Ruela, solteiro

31

Sabia escrever, pescador

Manuel João Fernandes Ruela e de Maria Joaquina dos Santos

15-12-1898 Pará, Brasil nº 904, L.12

António Joaquim Ferreira, casado

22

Analfabeto, negociante

Vicente Ferreira e de Maria do Carmo

17-10-1898, Pará, Brasil, nº 355, L.12

António Joaquim Pereira de Pinho, solteiro

24

Sabia escrever, mercantel

José Maria Pereira de Pinho e de Maria Francisca

05-10-1898 Pará, Brasil nº 229, L.12

António Joaquim Vieira, casado

29

Sabia escrever, carpinteiro

João António de Oliveira e de Domingas da Saúde Valente de Almeida

23-11-1898 Pará, Brasil nº 745, L.12

António José Amador

12

Sabia escrever

João Agostinho Amador e de Rosália de Jesus

01-10-1898, Pará, Brasil, nº 187, L.12

[ 282 ]

15-07-1898 S. Paulo, Brasil nº 2273, L.11 02-09-1898 Pará, Brasil nº 2540, L.11 03-01-1898 Pará, Brasil nº 1495, L.11 21-10-1898, Pará, Brasil, nº 394, L.12


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

António José da Cruz, casado

56

Analfabeto, marítimo

Jacinto José da Cruz e de Apolónia Maria de Oliveira

21-10-1898, Pará, Brasil, nº 393, L.12

António José de Matos, solteiro

27

Sabia escrever, pescador

António Joaquim de Matos e de Ana Joaquina

18-10-1898, Pará, Brasil, nº 370, L.12

António José Rebelo, solteiro

22

Analfabeto, moliceiro

Francisco Tomé Rebelo dos Santos e de Ana Antónia Tavares

01-03-1898, Pará, Brasil, nº 1764, L.11

António Manuel Fernandes, casado

33

Analfabeto, moliceiro

João José Fernandes Rendeiro e de Apolónia Maria Carrada

10-9-1898, Pará, Brasil, nº 2595, L.11

António Maria Brandão, casado

27

Analfabeto, pescador

António Rodrigues Brandão e de Maria Joaquina Amador

14-09-1898, Pará, Brasil, nº 2, L.12

António Maria da Silva, casado

27

Analfabeto, pescador

Gonçalo António da Silva e de Ana Luísa da Silva

10-02-1898, Pará, Brasil, nº 1668, L.11

António Maria de Oliveira, solteiro

19

Sabia escrever, calafate

Francisco António de Oliveira e de Maria Rosália Freire

14-12-1898, Pará, Brasil, nº 903, L.12

António Maria de Oliveira, solteiro

26

Sabia escrever, marítimo

Joaquim José de Oliveira e de Maria Luísa Esteves da Cruz

31-10-1898, Pará, Brasil, nº 515, L.12

António Maria de Oliveira, casado

28

Analfabeto, marítimo

Domingos José de Oliveira e de Teresa Maria

António Maria de Pinho, casado

21

Sabia escrever, mercantel

João Eusébio de Pinho e de Apolónia Maria da Silva

António Maria de Resende, casado

29

Sabia escrever, serralheiro

José Manuel de Resende e de Maria Matilde de Oliveira

António Maria Fernandes Rendeiro, casado

29

Sabia escrever, pescador

Domingos Fernandes Rendeiro e de Maria Luísa

António Maria Nunes da Silva, casado

54

Analfabeto, mercantel

Manuel José Nunes da Silva e de Maria Luísa de Pinho

António Maria Soares Belo

11

Sabia escrever

Domingos José Soares Belo, casado

António Maria Vaz, solteiro

18

Sabia escrever, pescador

João José Vaz e de Domingas Maria

01-09-1898, Pará, Brasil, nº 2525, L.11 01-10-1898, Pará, Brasil, nº 185, L.12 16 -02- 1898, Pará, Brasil, nº 1683, L.11 31-10-1898 Pará, Brasil Nº 515, L.12 20-09-1898 Pará, Brasil nº 57, L.12 28-01-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1613, L.11 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2610, L.11

[ 283 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

António Maria Vieira, solteiro

22

Sabia escrever, mercantel

Gonçalo António Vieira e de Joana Maria Afonso

04-10-1898, Pará, Brasil, nº 220, L.12

António Maria Vieira, casado

31

Sabia escrever, negociante

António Joaquim Vieira e de Isabel Maria de Oliveira

15-11-1898, Pará, Brasil, nº 644, L.12

António Tavares, casado

28

Analfabeto, pescador

Venâncio António Tavares e de Apolónia Maria

13-08-1898, Pará, Brasil, nº 2428, L.11

Bartolo José Vieira, solteiro

21

Sabia escrever, almocreve

Tomás Maria Vieira, o “Marreco” e de Ana Rosa Rebela

04-10-1898, Pará, Brasil, nº 221, L.12

Bernardo José Ribeiro dos Santos, casado

36

Analfabeto, pescador

Manuel Caetano Rebelo dos Santos e de Maria Ana Fidalga

23-06-1898 Pará, Brasil nº 2153, L.11

David José de Pinho, casado

28

Analfabeto, pescador

Ventura José de Pinho e de Maria Rosa da Silva

David José Dias Rendeiro, casado

24

Sabia escrever, negociante

Gonçalo Dias Rendeiro e de Maria de Jesus - MURTOSA

Domingas Joaquina, casada, a morar em Esgueira

34

Analfabeta, jornaleira

Luísa Pulga

Domingos António Torres, casado

33

Analfabeto, pescador

Francisco Joaquim e de Luísa

27-12-1898, Pará, Brasil, nº 972, L.12

Domingos António Vaz da Silva, solteiro

17

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel José Vaz da Silva e de Maria do Carmo

20-12-1898 Pará, Brasil nº 931, L.12

Domingos António Vaz da Silva Pisco, casado

25

Analfabeto, pescador

Francisco Vaz e de Maria José da Silva

07-11-1898 Pará, Brasil nº 563, L.12

Domingos António Vieira, casado

39

Analfabeto, pescador

Domingos Antão Vieira e de Rosália Maria

07-12-1898, Pará, Brasil, nº 869, L.12

Domingos Baptista Cascais, casado

29

Sabia escrever, marítimo

Domingos Luís Cascais e de Maria Joaquina da Silva

10-10-1898, Pará, Brasil, nº 292, L.12

Domingos Joaquim de Matos, casado

34

Analfabeto, pescador

Manuel José de Matos e de Ana de Jesus

25-07-1898, Pará, Brasil, nº 2319, L.11

Domingos José de Matos, viúvo

42

Analfabeto, pescador

Sebastião José de Matos e de Ana Clara de Matos

14-09-1898, Pará, Brasil, nº 2636, L.11

[ 284 ]

18-07-1898, Pará, Brasil, nº 2286, L.11 27-10-1898, Pará, Brasil, nº 480, L.12 14-01-1898 Pará, Brasil nº 1566, L.11


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

22-10-1898 Pará, Brasil nº 409, L.12 28-01-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1613, L.11 20-08-1898, Pará, Brasil, nº 2456, L.11 15-02-1898, Pará, Brasil, nº 1680, L.11 19-04-1898 Pará, Brasil nº 1978, L.11 14-05-1898, Pará, Brasil, nº 2077, L.11 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2607, L.11 25-10-1898, Pará, Brasil, nº 442, L.12 10-11-1898, Pará, Brasil, nº 577, L.12

Domingos José de Matos Caravela, viúvo

30

Analfabeto, pescador

José Bernardo de Matos Caravela e de Maria Rosa de Miranda

Domingos José Soares Belo, casado

46

Sabia escrever, negociante

Manuel José Soares Belo e de Maria Rosaria da Cunha

Domingos Luís Cascais, casado

62

Analfabeto, mercantel

Gonçalo António Cascais e de Maria Joaquina Carvalha

Domingos Luís Tavares, solteiro

23

Sabia escrever, carpinteiro

Maria Luísa Mansa (falecida)

Filipe José da Silva Cascais, casado

31

Sabia escrever, lavrador

Remígio António da Silva Cascais e de Apolinária Maria Fernandes Ruela

Filipe José Cascais, casado

58

Analfabeto, pescador

Gonçalo José Cascais e de Maria Joaquina Regateira

Francisco António da Silva, solteiro

27

Sabia escrever, trabalhador

Manuel José da Silva e de Mariana Teresa da Silva

Francisco António de Pinho, casado

21

Sabia escrever, mercantel

Manuel José de Pinho e de Maria José da Conceição

Francisco António de Resende, casado

51

Sabia escrever, carpinteiro

José Manuel de Resende e de Maria Matilde de Resende

24

Analfabeto, pescador

Francisco Nunes Pereira e de Maria Josefa da Silva

05-09-1898 Pará, Brasil nº 2562, L.11

27

Sabia escrever, mercantel

José Vicente Henriques e de Ana Emília de Oliveira

5-11-1898 Pará, Brasil nº 543, L.12

Francisco de Paula da Silva Fidalgo, solteiro

24

Analfabeto, moleiro

Manuel José da Silva Fidalgo e de Maria Rosália da Cunha

22-09-1898 Pará, Brasil nº 75, L.12

Francisco Joaquim Rodrigues Pardal, solteiro

19

Sabia escrever, pescador

Vicente Ferreira Rodrigues Pardal e de Maria do Carmo

17-12-1898 Pará, Brasil nº 917, L.12

Francisco José Marques, solteiro

10

Sabia escrever,

João Maria Marques e de Maria Antónia Pereira

21-10-1898, Pará, Brasil, nº 400, L.12

Francisco Maria Caneira, casado

25

Analfabeto, moliceiro

António Joaquim Caneira e de Domingas Antónia Valente

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1992, L.11

Francisco António Nunes Pereira, casado com Maria Rosália da Silva Francisco da Representação Henriques, solteiro

[ 285 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

21-05- 1898, Pará, Brasil, nº 2081, L.11 11-08-1898, Pará, Brasil, nº 2407, L.11 10-09-1898, Pará ,Brasil, nº 2597, L.11 10-10-1898, Pará, Brasil, nº 293, L.12 05-08-1898, Pará, Brasil, nº 2373, L.11 06-09-1898 Pará, Brasil nº 2568, L.11

Francisco Maria da Silva, casado

38

Analfabeto, pescador

Miguel José da Silva Freire e de Maria Rosaria da Silva

Francisco Maria de Matos, casado

28

Analfabeto, carpinteiro

Manuel Joaquim de Matos e de Rosa Bernarda

Gonçalo António Barbosa, casado

34

Sabia escrever, pescador

Manuel João Barbosa e de Teresa Maria

Gonçalo António Cravo, casado

30

Sabia escrever, marítimo

Francisco José da Silva e de Ana Joaquina da Silva

Gonçalo António da Silva, casado

36

Analfabeto, pescador

João José da Silva e de Maria Rosália Lopes

Gonçalo António da Silva Pataca, solteiro

21

Analfabeto, pescador

António José da Silva Pataca e de Apolónia Maria da Silva

Gonçalo António de Matos, viúvo

34

Analfabeto, pescador

Sebastião José de Matos e de Ana Clara de Matos

03-09-1898, Pará, Brasil, nº 2544, L.11

Gonçalo António Pereira, casado

32

Analfabeto, pescador

Lázaro José Pereira e de Maia Luísa Almeida

07-12-1898, Pará, Brasil, nº 870, L.12

Gonçalo António Pereira, casado

43

Analfabeto, marítimo

Francisco António Pereira e de Maria Rosaria de Miranda

03-01-1898, Pará Brasil, nº 1496, L.11 e a 24-10-1898 nº 433, L.12

João Agostinho da Silva, solteiro

29

Analfabeto, carpinteiro

António Joaquim da Silva e de Joana Maria

25-10-1898, Pará, Brasil, nº 443, L.12

João Agostinho de Miranda, casado

37

Analfabeto, catraeiro

António Joaquim de Miranda e de Ana Ribeiro

12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2611, L.11

Analfabeto, negociante

Sebastião José de Oliveira e de Maria Ana Lopes de Miranda

06-10-1898 Pará, Brasil nº 232, L.12

João Agostinho de Oliveira, casado com Maria Joaquina Lopes de Oliveira

34

João Bernardo Rebelo, solteiro

26

Analfabeto, pescador

Gonçalo António Rebelo e de Ana Rosa da Silva

22-10-1898, Pará Brasil, nº 403, L.12

João José Amador, solteiro

37

Analfabeto, marítimo

Francisco António Amador e de Mariana de Lemos

13-10-1898, Pará, Brasil, nº 321, L.12

[ 286 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

20-10-1898, Pará, Brasil, nº 380, L.12 14-10-1898, Pará, Brasil, nº 328, L.12 20-08-1898, Pará, Brasil, nº 2457, L.11 12-09-1898 Pará, Brasil nº 2614, L.11 06-08-1898, Pará, Brasil, nº 2381, L.11 24-09-1898, Pará, Brasil, nº 88, L.12 01-09-1898, Pará, Brasil, nº 2527, L.11 04-04-1898 Pará, Brasil nº 1912, L.11

João José Cravo, casado

38

Analfabeto, pescador

Jerónimo Esteves da Silva e de Maria Luísa da Silva

João José da Silva Lopes, casado

31

Sabia escrever, carpinteiro

Maria Lopes da Silva

João José de Oliveira, casado

41

Analfabeto, moliceiro

João José de Oliveira e de Perpétua Maria da Silva

João José Fernandes Rendeiro de Matos, casado

33

Analfabeto, pescador

Francisco António de Matos e de Joana Margarida da Cunha

João José Rodrigues, solteiro

28

Analfabeto, pescador

Venâncio António Rodrigues Pardal e de Maria Delfina

João Manuel Soares Coimbra, casado

27

Analfabeto, mercantel

Manuel Joaquim Soares Coimbra e de Maria Rosa da Silva

João Maria, casado

33

Analfabeto, carpinteiro

José Maria Marques e de Maria Inácia

João Maria Bernardo da Silva, casado

21

Analfabeto, pescador

João Bernardo da Silva «o Lázaro» e de Mariana da Silva

João Maria da Silva Vagueiro, casado

29

Analfabeto, pescador

José Manuel da Silva Vagueiro e de Miquelina Rosa

30-06-1898, Pará, Brasil, nº 2187, L.11

João Maria de Pinho

10

Estudante

Manuel José de Pinho e de Maria José da Silva

01-10-1898, Pará, Brasil, nº 181, L.12

João Maria Dias da Silva, solteiro

18

Sabia escrever, empregado comercial

Bernardo Vaz da Silva e de Apolónia Fernandes Ruela

26-09-1898 Pará, Brasil nº 109, L.12

João Maria Rebelo dos Santos, casado

29

Analfabeto, moliceiro

Manuel Luís Rebelo dos Santos e de Apolónia Rosa de Oliveira

20-08-1898, Pará, Brasil, nº 2454, L.11

João Maria Roiz Brandão, casado

27

Analfabeto, pescador

Manuel António Brandão e de Mariana Rosa

01-09-1898, Pará, Brasil, nº 2529, L.11

João Maria Soares

18

Analfabeto, pescador

João Pedro Soares e de Maria Rosália Barbosa

16-09-1898, Pará, Brasil, nº 11, L.12

João Maria Tilhão, casado

23

Analfabeto, barqueiro

Manuel José Tilhão e de Domingas de Jesus

21-10-1898, Pará, Brasil, nº 396, L.12

[ 287 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

16-09-1898, Pará, Brasil, nº 7, L.12 08-10-1898, Pará, Brasil, nº 267, L.12 24-9-1898, Pará, Brasil, nº 90, L.12 17-12-1898 Pará, Brasil nº 920, L.12 13-01-1898 Pará, Brasil nº 1549, L.11 21-01-1898, Pará, Brasil, nº 1589, L.11 20-08-1898 Pará, Brasil nº 2455, L.11

João Pedro da Silva, solteiro

25

Analfabeto, pescador

João Bernardo da Silva e de Mariana Zorga

João Pedro Marques Caseiro, casado

24

Analfabeto, marítimo

João Caetano Marques Caseiro e de Angélica Ludovina

João Pedro Tavares da Silva, casado

33

Sabia escrever, proprietário

Gonçalo Tavares da Silva e de Isabel Maria

Joaquim Elias Vaz da Silva Pisco, casado

23

Analfabeto, marítimo

Bernardo Vaz da Silva Pisco e de Apolónia Fernandes Ruela

Joaquim Manuel Amador Ligeiro, casado

42

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel José Amador Ligeiro e de Maria Rosália da Silva

Joaquim Manuel Cascais, casado

40

Analfabeto, pescador

Gonçalo António Cascais e de Maria Grazina

Joaquim Manuel Nunes da Silva, casado

34

Analfabeto, mercantel

Manuel Joaquim Nunes da Silva e de Maria Delfina Vieira

Joaquim Manuel Soares Belo, casado

30

Analfabeto, pescador

Mateus António Belo e de Rosa Joana da Silva

27-09-1898, Pará, Brasil, nº 133, L.12

Joaquim Maria da Cunha, casado

27

Sabia escrever, pescador

Manuel José da Cunha e de Mariana da Silva

01-07-1898, Pará, Brasil, nº 2191, L.11

Joaquim Maria da Silva, casado

31

Sabia escrever, marítimo

Mateus António da Silva e de Maria Rosaria Vieira

29-11-1898, Pará, Brasil, nº 787, L.12

Joaquim Maria da Silva Loureiro, casado

56

Analfabeto, jornaleiro

António Joaquim da Silva e de Ana Maria Lopes

27-10-1898 Pará, Brasil nº 486, L.12

José António da Fonseca, casado

31

Analfabeto, pescador

João José da Fonseca e de Isabel Antónia de Miranda

19-08-1898, Pará, Brasil, nº 2449, L.11

Joaquim Maria de Pinho, solteiro

20

Sabia escrever, mercantel

Rodrigo José de Pinho e de Maria Rosa Fernandes Ruela

03-08-1898, Pará, Brasil, nº 2357, L.11

Joaquim Maria Fernandes Rendeiro, casado

24

Analfabeto, pescador

António Fernandes Rendeiro e de Emília de Jesus

30-09-1898 Pará, Brasil nº 172, L.12

Joaquim Maria Ferreirinha, solteiro

20

Analfabeto, pescador

António Roiz Brandão e de Maria Joaquina Mansa

13-10-1898, Pará, Brasil, nº 323, L.12

[ 288 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

20-10-1898, Pará, Brasil, nº 379, L.12 05-11-1898, Pará, Brasil, nº 545, L.12 21-10-1898, Pará, Brasil, nº 399, L.12 17-08-1898, Pará, Brasil, nº 2439, L.11 07-02-1898, Pará, Brasil, nº 1663, L.11 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2605, L.11 27-09-1898 Pará, Brasil, nº 125, L.12 10-09-1898, Pará, Brasil, nº 2596, L.11

Joaquim Maria Fidalgo, solteiro

23

Sabia escrever, lavrador

José António Fidalgo e de Maria Luísa Valente

Joaquim Maria Marques

18

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel Joaquim da Silva Novo

José António da Silva, casado

46

Analfabeto, catraeiro

Manuel Joaquim da Silva e de Joana Maria de Oliveira

José António da Silva Rangel, casado

30

Sabia escrever, pescador

João Pedro da Silva Rangel e de Rosa Antónia Ferreira

José Fernandes de Matos, solteiro

20

Analfabeto, pescador

João Pedro Fernandes “o Solote” e de Maria Rosália

José Luís Gonçalves Rebelo, solteiro

21

Sabia escrever, pescador

Possidónio Gonçalves Rebelo e de Maria Joana

José Manuel Barroqueiro, casado

37

Analfabeto, jornaleiro

João Pedro Largo e de Isabel Moreira

José Manuel da Silva, casado

32

Analfabeto, moliceiro

Francisco José da Silva e de Maria Rosália da Silva

José Manuel da Silva Pitta, casado

26

Analfabeto, escritor

David José da Silva Pita e de Maria Ana

10-02-1898, Pará, Brasil, nº 1669, L.11

José Manuel de Oliveira, solteiro

16

Escreve, marítimo

Joaquim José de Oliveira e de Maria Luísa Esteves da Cruz

29-11-1898, Pará, Brasil, nº 786, L.12

José Manuel de Oliveira, solteiro

21

Analfabeto, carpinteiro

Manuel Maria de Oliveira e de Joana Maria da Silva

05-10-1898, Pará, Brasil, nº 227, L.12

José Manuel Fernandes Chipelo, solteiro

17

Analfabeto, almocreve

José Maria Fernandes Chipelo e de Maria Ana da Silva

03-12-1898 Pará, Brasil nº 818, L.12

José Manuel Nunes Calçado, casado

32

Analfabeto, moliceiro

Valentim José Nunes Calçado e de Rosa Maria de Campos

30-06-1898, Pará, Brasil, nº 2185, L.11

José Manuel Soares Carinha, casado

33

Analfabeto, mercantel

Manuel Joaquim Soares Carinha e de Ana Rosa da Silva

06-09-1898, Pará, Brasil, nº 2565, L.11

José Maria da Cruz, casado

25

Sabia escrever, pescador

Policarpo José da Cruz e de Rosália Maria da Cunha

03-10-1898, Pará, Brasil, nº 198, L.12

[ 289 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

José Maria da Fonseca, 38 casado

Analfabeto, pescador

João José da Fonseca e de Isabel Antónia de Miranda

José Maria da Silva Reverendo, solteiro

23

Analfabeto, moliceiro

Joaquim Maria da Silva Reverendo e de Rosa Cristina Fidalga

José Maria Dias Cascais, casado

26

Analfabeto, pescador

Manuel Joaquim Dias Cascais e de Ana da Silva Lopes

José Maria Fernandes, solteiro

30

Sabia escrever, pescador

José Maria Fernandes Rendeiro, solteiro

21

Analfabeto, moliceiro

José Maria Pereira, casado

28

Sabia escrever, marítimo

Domingos António Lopes Pereira e de Maria Clara Rodrigues

José Maria Pereira, casado

36

Analfabeto, pescador

Mariana Pereira, solteira

José Maria Vieira, casado

33

Analfabeto, negociante

Joaquim Calisto e de Maria Teresa

José Marques, casado. Nasceu no Bunheiro mas vivia na Murtosa

30

Analfabeto, pescador

João José Marques e de Maria Luísa Tavares

José Nunes da Silva, casado

30

Analfabeto, mercantel

Manuel Joaquim Nunes da Silva e de Maria Delfina Vieira

Lázaro Fernandes Rendeiro, solteiro

28

Sabia escrever, pescador

Francisco Fernandes Rendeiro e de Joana Marques da Cunha

Manuel

14

Manuel Augusto Afonso Lopes, solteiro

20

Manuel Augusto de Matos, casado

25

Manuel Ferreira Rendeiro, casado

[ 290 ]

31

Manuel José Fernandes de Oliveira e de Maria Luís da Silva João Bernardes Fernandes Rendeiro e de Maria Luísa Ribeira

24-08-1898, Pará, Brasil, nº 2473, L.11 06-10-1898 Pará, Brasil nº 230, L.12 13-08-1898, Pará, Brasil, nº 2426, L.11 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2604, L.11 25-10-1898 Pará, Brasil nº 446, L.12 17-09-1898, Pará, Brasil, nº 31, L.12 29-11-1898, Pará Brasil, nº 785, L.12 26-11-1898, Manaus, Brasil, nº 768, L.12 01-09-1898 Pará, Brasil nº 2528, L.11 18-11-1898, Pará, Brasil, nº 692, L.12 12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2615, L.11

António Joaquim da Silva Padinha e de Teresa Maria

07-12-1898, Pará, Brasil, nº 871, L.12

Analfabeto, negociante

João Agostinho Afonso Lopes e de Maria Teresa de Pinho

15-11-1898 Pará, Brasil nº 643, L.12

Sabia escrever, pescador

João Pedro de Matos e de Margarida Rosa

10-10-1898, Pará, Brasil, nº 29, L.12

Sabia escrever, negociante

Manuel Dias Fernandes Rendeiro e de Domingas Joaquina da Silva

23-03-1898, Pará, Brasil, nº 1865, L.11


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Manuel Francisco Fernandes Rendeiro, casado

31

Manuel João da Costa, 33 casado

Sabia escrever, negociante

José Joaquim Fernandes Rendeiro e de Maria Rosália da Silva

Analfabeto, pescador

Joaquim José da Costa e de Mariana da Silva

Manuel João Fernandes Rendeiro, casado

25

Analfabeto, mercantel

João Fernandes Rendeiro e de Maria Augusta da Silva

Manuel João Fidalgo, solteiro

33

Sabia escrever, marítimo

Manuel Luís Fidalgo e de Mariana de Jesus Barbosa

Manuel Joaquim, viúvo

44

Analfabeto, pescador

Lino António e de Catarina Maria

Manuel Joaquim da Cunha, casado

38

Analfabeto, marítimo

António Joaquim da Cunha e de Ana Joaquina

Manuel Joaquim da Silva Novo, casado. Levou o filho Joaquim Maria Marques

43

Sabia escrever, carpinteiro

Joaquim Manuel e de Rosa Joana

Manuel Joaquim de Oliveira, casado

37

Sabia escrever, pescador

Ventura José da Silva e de Rosália Maria de Oliveira

Sabia escrever, mercantel

António Maria Soares Carinha, «o Campeiro» e de Maria Luísa Rebelo

Manuel Joaquim Soares Carinha, solteiro

21

07-02-1898 Pará, Brasil nº 1662, L.11 01-03-1898, Pará, Brasil, nº 1763, L.11 08-10-1898 Pará, Brasil nº 266, L.12 25-10-1898, Pará, Brasil, nº 445, L.12 04-10-1898, Pará, Brasil, nº 208, L.12 13-01-1898, Pará, Brasil, nº 1551, L.11 05-11-1898 Pará, Brasil nº 545, L.12 23-09-1898, Pará, Brasil, nº 84, L.12 17-09-1898 Pará, Brasil nº 26, L.12 28-03-1898, Pará, Brasil, nº 1888, L.11 06-10-1898, Pará, Brasil, nº 231, L.12 03-08-1898, Pará, Brasil, nº 2361, L.11

Manuel Joaquim Tavares, solteiro

25

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel Luís Tavares e de Maria Rosa

Manuel Joaquim Valente, solteiro

19

Analfabeto, moliceiro

Manuel Valente e de Maria Caetana Valente

Manuel José Afonso Lopes, solteiro

22

Analfabeto, mercantel

João Agostinho Afonso Lopes e de Maria Teresa de Pinho

Manuel José da Cruz, casado

28

Analfabeto, pescador

Manuel Luís da Cruz e de Maria Luísa de Oliveira

12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2612, L.11

Manuel José da Silva, casado

34

Analfabeto, pescador

Miguel José da Silva e de Maria Luísa da Silva

16-09-1898, Pará, Brasil, nº 8, L.12

Manuel José da Silva Barbosa, casado

39

Analfabeto, lavrador

Domingos José da Silva Barbosa e de Ana Delfina Neves

21-10-1898 Pará, Brasil, nº 395, L.12

[ 291 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2613, L.11 19-04-1898 Pará, Brasil nº 1979, L.11 22-08-1898, Pará, Brasil, nº 2458, L.11 01-10-1898, Pará, Brasil, nº 186, L.12 20-10-1898, Pará, Brasil, nº 382, L.12 3-09-1898, Pará, Brasil, nº 2545, L.11 06-08-1898 Manaus, Brasil nº 2383, L.11 21-11-1898, Pará, Brasil, nº 723, L.12 17-09-1898, Pará, Brasil, nº 25, L.12 24-09-1898 Pará, Brasil, nº 89, L.12

Manuel José da Cruz, casado

31

Analfabeto, pescador

António José da Cruz e de Rosa Luísa Tavares

Manuel José da Silva Cascais, casado

38

Sabia escrever, proprietário

Remigio António da Silva Cascais e de Apolinária Maria Fernandes Ruela

Manuel José de Matos, casado

31

Analfabeto, moliceiro

Gaspar José de Matos e de Maria José da Silva

Manuel José de Pinho, solteiro

26

Sabia escrever, mercantel

José Pereira de Pinho e de Francisca Maria de Azevedo

Manuel José Fidalgo, solteiro

28

Sabia escrever, lavrador

José António Fidalgo e de Maria Luísa Valente

Manuel José Marques, casado

28

Analfabeto, pescador

Bernardo António Marques e de Ana Rosa

Manuel José Nunes, solteiro

26

Sabia escrever, carpinteiro

Agostinho António Nunes Calçado e de Rosália Antónia da Silva

Manuel José Padinha, casado

21

Analfabeto, moliceiro

Domingos António Padinha e de Maria Luísa da Silva

Manuel José Soares da Silva, solteiro

23

Analfabeto, pescador

António Joaquim Soares da Silva e de Apolónia Maria da Silva

Manuel José Vaz, casado

30

Sabia escrever, lavrador

João António Vaz e de Maria José de Oliveira

Manuel Luís da Silva, casado

37

Analfabeto, pescador

Joaquim António da Silva e de Maria Luísa da Silva

12-09-1898, Pará, Brasil, nº 2609, L.11

Manuel Luís de Miranda, casado

23

Sabia escrever, serralheiro

Manuel José de Miranda e de Maria Teresa de Oliveira

13-09-1898, Pará, Brasil, nº 2624, L.11

Manuel Luís Fidalgo, casado

29

Analfabeto, carpinteiro

Gonçalo António da Silva Fidalgo e de Rosa Francisca da Cunha

13-01-1898 Pará, Brasil nº 1550, L.11

Manuel Luís Nunes, casado

45

Analfabeto, pescador

António Joaquim Nunes e de Maria Rosália

21-10-1898, Pará, Brasil, nº 392, L.12

Manuel Luís Pita, casado

41

Analfabeto, pescador

António Joaquim Pinto e de Maria Joaquina

24-09-1898, Pará, Brasil, nº 87, L.12

[ 292 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

30-07-1898, Pará, Brasil, nº 2343, L.11 20-12-1898, Pará, Brasil, nº 932, L.12 04-06-1898, Pará, Brasil, nº 2110, L.11 07-11-1898, Pará, Brasil, nº 552, L.12 14-09-1898 Pará, Brasil nº 1, L.12 08-10-1898 Pará, Brasil nº 260, L.12 13-10-1898, Pará, Brasil, nº 313, L.12 24-01-1898 Pará, Brasil nº 1603, L.11 27-08-1898, Pará, Brasil, nº 2495, L.11

Manuel Luís Pereira

13

Sabia escrever

Miguel José Pereira, casado

Manuel Maná Henriques, solteiro

23

Sabia escrever, mercantel

José Vicente Henriques e de Ana Emília de Oliveira

Manuel Maria, solteiro

26

Analfabeto, pescador

Agostinho Bernardo e de Joana Rosa

Manuel Maria da Silva, casado

23

Analfabeto, carpinteiro

Joaquim Maria Lopes Pereira e de Maria Agostinha da Silva

Manuel Maria Evaristo da Cunha, casado

23

Analfabeto, pescador

Manuel Evaristo da Cunha e de Maria José Nunes

Manuel Maria Nunes de Azevedo, solteiro

29

Sabia escrever, negociante

Gonçalo António Nunes de Azevedo e de Josefa Maria da Silva

Manuel Maria Rebelo, solteiro

26

Analfabeto, moliceiro

Domingos Luís Rebelo e de Ana Rosa da Silva

Manuel Maria Rebelo Sebolão, solteiro

26

Sabia escrever, lavrador

José António Rebelo Sebolão e de Rosa Joana da Silva

Manuel Maria Rendeiro, solteiro

22

Sabia escrever, pescador

Manuel José Rendeiro e de Maria Rosália da Silva

Manuel Maria Saldiva, solteiro

19

Analfabeto, lavrador

Domingos José da Silva e de Mariana Mendes Ruela Valente

31-08-1898, Pará, Brasil, nº 2522, L.11

Manuel Maria Sardo, solteiro

26

Sabia escrever, lavrador

Manuel Joaquim Sardo e de Madalena Antónia da Silva

21-10-1898, Pará, Brasil, nº 397, L.12

Manuel Maria Tavares, casado

29

Analfabeto, pescador

Venâncio António Tavares e de Apolónia Maria

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1990, L.11

Manuel Rebelo, solteiro

22

Analfabeto, pescador

Agostinho José Rebelo e de Maria Rosália da Silva

13-10-1898, Pará, Brasil, nº 312, L.12

Manuel Tavares, casado

33

Analfabeto, pescador

Venâncio António Tavares e de Apolónia Rebela

14-09-1898, Pará, Brasil, nº 3, L.12

Manuel Tavares de Sousa, solteiro

26

Sabia escrever, lavrador

Manuel José Tavares de Sousa e de Maria de Jesus

27-08-1898, Pará, Brasil, nº 2496, L.11

[ 293 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Maria Joaquina, casada com João Agostinho de Oliveira

32

Maria Quitéria da Silva, casada

25

Analfabeta, governanta de casa

José Manuel da Silva e de Maria Bernarda

Maria Rosália da Silva, casada com Francisco 25 António Nunes Pereira

Analfabeta, doméstica

Martinho José Tavares, 36 casado

Analfabeto, pescador

Manuel José Tavares Baldaia e de Maria Vitória da Silva

06-10-1898 Pará, Brasil nº 232, L.12 25-05-1898 S. Paulo, Brasil nº 2089, L.11 05-09-1898 Pará, Brasil nº 2562, L.11 27-12-1898, Pará, Brasil, nº 971, L.12 20-09-1898, Pará, Brasil, nº 56, L.12 05-10-1898, Pará, Brasil, nº 228, L.12 23-07-1898, Pará, Brasil, nº 2306, L.11 03-09-1898, Pará, Brasil, nº 2543, L.11 08-10-1898, Manaus, Brasil, nº 279, L.12 25-10-1898, Pará, Brasil, nº 444, L.12

Mateus António da Silva, solteiro

24

Analfabeto, pescador

Joaquim Manuel da Silva e de Inês Maria

Mateus António Soares Belo, viúvo

54

Sabia escrever, comerciante

Domingos Fernandes Rendeiro e de Domingas Valente de Almeida

Miguel José de Matos, casado

27

Analfabeto, pescador

Manuel José de Matos e de Ana Vitória

Miguel Joaquim Marques, casado

27

Sabia escrever, pescador

Bernardo António Marques e de Ana Rosa

Miguel José Amador, solteiro

20

Analfabeto, cocheiro

Marcelino José Amador e de Rosália Maria da Silva

Miguel José Belo, casado

46

Analfabeto, pescador

Silvestre Belo e de Rosália Rangel - MURTOSA

Miguel José Pereira, casado

37

Analfabeto, pescador

Francisco António Pereira e de Maria Rosália de Miranda

30-06-1898, Pará, Brasil, nº 2343, L.11

Palmira

18

António Joaquim da silva Padinha e de Teresa Maria

07-12-1898, Pará, Brasil, nº 871, L.12

meses

Pedro José da Silva, solteiro

20

Analfabeto, lavrador

Gonçalo António da Silva e de Rosa Francisca

03-10-1898, Pará, Brasil, nº 199, L.12

Rodrigo António da Silva, casado

39

Sabia escrever, trabalhador

Manuel Luís da Silva e de Ana Antónia da Silva

16-09-1898, Pará, Brasil, nº 12, L.12

Rodrigo José da Cunha, casado

28

Sabia escrever, pescador

António Joaquim da Cunha e de Ana Maria da Silva

21-07-1898, Pará, Brasil, nº 2297, L.11

[ 294 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Sebastião João Fernandes de Oliveira, casado

51

Sabia escrever, proprietário

António Joaquim Fernandes Rendeiro e de Agostinha Maria

Sebastião José Evangelho, casado

23

Analfabeto, pescador

Miguel José Evangelho e de Domingas da Silva Paiva

Sebastião José Marques, solteiro

48

Sabia escrever, sapateiro

António Joaquim Marques da Silva e de Isabel Maria

Sebastião Paiva, casado

28

Analfabeto, pescador

Manuel João Paiva e de Maria José

Sabia escrever, lavrador

Manuel Rebelo Sebolão e de Apolónia Maria da Silva

18

Analfabeto, moliceiro

Lázaro António Fernandes Rendeiro e de Maria Agostinha

Ventura José Baptista, casado

39

Analfabeto, pescador

João José Vieira e de Isabel de Campos

Ventura José Vieira, casado

19

Sabia escrever, pescador

João José Vieira e de Ana Marcelina

Virgínia

3

Silvério Filipe Cascais, 34 casado Teresa Maria, casada com António da Silva Padinha Valentim José Fernandes Rendeiro, solteiro

35

António Joaquim da Silva Padinha e Teresa Maria

11-10-1898 Pará, Brasil, nº 295, L.12 22-11-1898, Pará, Brasil, nº 736, L.12 09-09-1898, Pará, Brasil, nº 2579, L.11 09-12-1898, Manaus, Brasil, nº 882, L.12 24-09-1898 Pará, Brasil, nº 91, L.12 07-12-1898 Pará, Brasil nº 871, L.12 30-06-1898 Pará, Brasil nº 2186, L.11 23-12-1898, Pará, Brasil, nº 944, L.12 16-09-1898, Pará, Brasil, nº 10, L.12 07-12-1898, Pará, Brasil, nº 871, L.12

PARDILHÓ NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

António Joaquim Rebelo dos Santos, casado

35

Analfabeto, pescador

João Agostinho Rebelo dos Santos e de Vicência Maria

21-07-1898 Pará, Brasil nº 2302, L.11

António Lopes de Pinho

12

Sabia escrever

António José de Pinho e de Maria Joana Lopes

19-04-1898, Pará Brasil, nº 1982, L.11

António Maria Teixeira de Pinho, casado

30

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel António Teixeira e de Maria de Pinho

08-09-1898 Pará, Brasil nº 2575, L.11

António Rodrigues de Matos, casado

28

Analfabeto, carpinteiro

José Bernardo de Matos e de Rosa da Silva

08-09-1898, Pará Brasil, nº 2574, L.11

[ 295 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

12-08-1898 Benguela, Angola nº 2408, L.11 21-11-1898, Pará, Brasil, nº 720, L.12 04-07-1898 Pará, Brasil nº 2198, L.11 24-10-1898, Pará, Brasil, nº 435, L.12 21-11-1898, Pará, Brasil, nº 719, L.12 25-08-1898, Pará, Brasil, nº 2480, L.11 31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1000, L.12

Artur de Almeida Baptista, casado

21

Sabia escrever, padeiro

Bernardo Valente de Almeida e de Maria José Lopes Baptista

Augusto Marques Ramos, solteiro

20

Analfabeto, lavrador

Francisco Lopes Ramos

Domingos Pereira Tavares, casado. Vivia em Ovar

30

Sabia escrever, negociante

Manuel António da Silva Tavares e de Ludovina da Silva Pereira

Gaspar de Matos

13

Sabia escrever

Agostinho de Matos e de Ana da Silva

Guilherme de Matos, solteiro

21

Sabia escrever, carpinteiro

José Bernardo de Matos e de Rosa da Silva

João António de Oliveira, casado

31

Sabia escrever, serrador

Manuel de Oliveira e de Maria Luísa Marques

João Maria da Silva de Matos

12

Sabia escrever

José Maria da Silva Matos

Joaquim de Matos, solteiro

21

Sabia escrever, carpinteiro

António de Matos e de Joaquina Valente de Almeida

27-07-1898, Manaus, Brasil, nº 2329, L.11

Joaquim de Resende, casado

27

Analfabeto, lavrador

Manuel de Resende e de Maria Joaquina da Silva

25-02-1898, Pará, Brasil, nº 1734, L.11

Joaquim Lopes Ramos, solteiro

21

Sabia escrever, calafate

António Joaquim Lopes Ramos e de Joana Maria da Silva

21-11-1898, Pará, Brasil, nº 721, L.12

Joaquim Maria Pereira Valente, casado

50

Analfabeto, lavrador

Fernando Luís Pereira Valente e de Mariana de Jesus Pinto

31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1004, L.12

José Joaquim Rebelo, casado

29

Analfabeto, pescador

José António Rebelo e de Ana Teresa

21-04-1898, Pará, Brasil, nº 2013, L.11

José Maria da Silva de Matos, casado. Levou seu filho João

43

Analfabeto, lavrador

Manuel Brás da Silva e de Ana Valente

31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1000, L.12

Leonardo Nunes Pereira, casado

25

Analfabeto, jornaleiro

Salvador Nunes Pereira e de Engrácia Maria dos Santos

13-10-1898, Pará, Brasil, nº 324, L.12

Luciano Valente Teixeira

13

Sabia escrever

Manuel Valente Teixeira, casado

19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1988, L.11

[ 296 ]


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Ludovina Ferreira de Jesus, viúva

52

Analfabeta, engomadeira

Manuel Rodrigues e de Ana Rosa Ferreira

Manuel António, casado

28

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel António da Silva e de Ludovina Pereira da Silva

Manuel António Carrelhas, solteiro

26

Analfabeto, lavrador

Manuel da Silva Carrelhas e de Mariana Valente

Manuel António da Silva

12

Analfabeto

José Luís Lopes dos Santos e de Domingas Joaquina da Silva

25

Analfabeto, jornaleiro

Bernardo Maria e de Maria Luísa

24

Sabia escrever, negociante

Bernardo Maria Valente de Almeida e de Maria José Lopes Baptista

Manuel António Tavares, casado Manuel de Almeida Baptista, solteiro

Analfabeto, moliceiro

Manuel Joaquim Pereira Valente, casado

46

Fernando Luís Pereira Valente e de Mariana de Jesus Pinto

Manuel Luís de Matos

13

Sabia escrever, sapateiro

Joaquim de Matos e de Joana Lopes

Manuel Maria da Fonseca e Costa, casado

24

Analfabeto, calafate

Manuel Maria da Fonseca e Costa e de Maria Joaquina da Silva Vigária

Manuel Valente Teixeira, casado

41

Sabia escrever, negociante

João Valente e de Mariana Valente

Rosa Valente de Almeida, solteira

17

Sabia escrever, costureira

Manuel José da Silva e de Maria Valente de Almeida

Simão António Conde, solteiro

21

Sabia escrever, negociante

João José Conde e de Ana Luísa de Oliveira

07-03-1898, Manaus, Brasil, nº 1799, L.11 19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1983, L.11 19-04-1898, Pará, Brasil, nº 1985, L.11 14-10-1898, Pará, Brasil, nº 330, L.12 31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 999, L.12 20-08-1898 Benguela, Angola nº 2451, L.11 31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 1002, L.12 17-08-1898 Benguela, Angola nº 2435, L.11 31-12-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 997, L.12 19-04-1898, Pará Brasil, nº 1988, L.11 07-03-1898, Manaus, Brasil, nº 1800, L.11 23-04-1898, Pará, Brasil, nº 2018, L.11

[ 297 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

SALREU NOME

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

Abel António da Fonseca

17

Sabia escrever, alfaiate

António Luís da Fonseca e de Maria Genoveva Bandeira

Ana da Costa, casada com José Rebelo da Silva

32

Sabia escrever, doméstica

Ricardo José Bandeira e de Joana Rodrigues

António da Silva, casado

55

Sabia escrever, carpinteiro

Manuel da Silva e de Maria Fernandes

António Maria Bandeira, solteiro

21

Sabia escrever, jornaleiro

Ricardo José Bandeira e de Joana Rodrigues

António Marques da Silva, casado

25

Sabia escrever, lavrador

Manuel Marques e de Rosa Marques

António Marques da Silva, solteiro

26

Sabia escrever, proprietário

João Marques Sardoeiro e de Maria Rosa Valente de Almeida

António Pinto de Azevedo

13

Sabia escrever, carpinteiro

Francisco de Azevedo e de Margarida de Oliveira

António Rodrigues de Oliveira, solteiro

24

Sabia escrever, lavrador

Francisco Rodrigues de Oliveira e de Ana Maria Nunes

António Rodrigues de Pinho Júnior, casado

27

Analfabeto, trabalhador

António Rodrigues de Pinho e de Maria do Rosário

Francisco de Oliveira Simões

12

Sabia escrever, estudante

Francisco Maria Simões e de Ana Rosa de Oliveira Rodrigues

Francisco Maria Bandeira, solteiro

19

Sabia escrever, carpinteiro

Ricardo José Bandeira e de Joana Rodrigues Simões Moura

22-07-1898 S. Tomé e Príncipe nº 2304, L.11

Francisco Marques Pereira, solteiro

46

Sabia escrever, negociante

Joaquim Marques dos Santos e de Ana Rosa Pereira

10-02-1898, Pará, Brasil, nº 1631, L.11

27

Sabia escrever, proprietário

José Fortunato de Quadros Corte Real e de Maria Cândida Vilhegas Pereira de Melo

07-11-1898 Lourenço Marques, Moçambique nº 564, L.12

João Marques da Silva, 23 solteiro

Sabia escrever, sapateiro

João Marques da Silva e de Maria Rosa Valente de Almeida

07 -07-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 2236, L.11

Guilherme de Quadros Corte Real, solteiro

[ 298 ]

ESCOLARIDADE

03-10-1898, Pará, Brasil, nº 203, L.12 11-01-1898 Baía, Brasil nº 1534, L.11 02-12-1898, Pará, Brasil, nº 803, L.12 11-02-1898, Pará, Brasil, nº 1670, L.11 06-12-1898, Pará, Brasil, nº 846, L.12 10-12-1898, Pará, Brasil, nº 883, L.12 03-10-1898, Pará, Brasil, nº 207, L.12 14-09-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 2631, L.11 02-12-1898 Pará, Brasil nº 802 L.12 17-08-1898, Pará, Brasil, nº 2438, L.11


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Joaquim Marques da Silva, casado

28

Sabia escrever, lavrador

João Marques Sardoeiro e de Maria Rosa Valente

José Maria Valente, solteiro

26

Sabia escrever, lavrador

Manuel Valente e de Ana Marques

José Rebelo da Silva, casado com Ana da Costa

33

Sabia escrever, carpinteiro

Joaquim da Silva Rebelo e de Maria da Silva

José Tavares, casado

43

Analfabeto, lavrador

Manuel Correia Valente e de Maria Tavares

Manuel da Silva Tavares

12

Estudante

João Maria Tavares e de Maria da Silva

Manuel Joaquim Afonso da Silva, solteiro

39

Sabia escrever, proprietário

Domingos Afonso da Silva e de Ana de Almeida

Manuel Maria da Silva Pinho, casado

31

Sabia escrever, Serrador

Joaquim Maria da Silva Pinho e de Maria Helena Valente

Manuel Nunes da Silva, casado

45

Analfabeto, jornaleiro

Manuel da Silva Nunes e de Ana Marques

Manuel Teixeira de Andrade, casado

36

Analfabeto, lavrador

António Teixeira de Andrade e de Josefa de Oliveira

16-07-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 2284, L.11 07-07-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº2236, L.11 11-01-1898 Baía, Brasil nº 1534, L.11 07-12-1898, Pará, Brasil, nº 865, L.12 11-10-1898, Pará, Brasil, nº 294, L.12 11-10-1898 Pará, Brasil nº 299, L.12 21-07-1898, Pará, Brasil, nº 2299, L.11 07-12-1898, Pará, Brasil, nº 864, L.12 14-09-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 2628, L.11

VEIROS NOME

ESCOLARIDADE

FILIAÇÃO

DATA, DESTINO,

E ESTADO CIVIL

IDADE

E PROFISSÃO

E OBSERVAÇÕES

Nº DE PASSAPORTE E LIVRO

38

Sabia escrever, lavrador

Mateus António Tavares da Fonseca e de Maria Joaquina da Silva

24

Sabia escrever, lavrador

Joaquim Fonseca Ramos e de Cecília Rosa de Jesus

23

Sabia escrever, carpinteiro

José António Pereira e de Maria José da Fonseca

Sabia escrever, comerciante

José Maria Afonso da Silva e de Maria João da Silva

Sabia escrever, jornaleiro

Matias José Lopes e de Maria Joaquina Antão

Agostinho Tavares da Fonseca, casado António José da Fonseca Ramos, casado António Pereira, solteiro Evaristo José Afonso Rosa, solteiro João Maria Lopes, solteiro

29 24

10-11-1898 Pará, Brasil nº 579, L.12 07-11-1898, Pará, Brasil nº 551, L.12 03-03-1898, Pará, Brasil, nº 1773, L.11 12-10-1898, Rio de Janeiro, Brasil nº 306, L.12 25-02-1898, Pará, Brasil, nº 1735, L.11

[ 299 ]


TERESA CRUZ TUBBY | VALTER SANTOS

Joaquim Fonseca Ramos Júnior, solteiro

22

Sabia escrever, alfaiate

Joaquim Fonseca Ramos e de Cecília Rosa de Jesus

Joaquim Maria Andrade

11

Analfabeto

Manuel António de Andrade e de Maria Augusta da Fonseca

José Agostinho Henriques, casado

34

Sabia escrever, carpinteiro

Agostinho José Henriques e de Maria Josefa da Silva

José Maria Pereira de Sousa, casado

32

Analfabeto, alfaiate

Manuel Joaquim Valente e de Luísa Agostinha Pereira de Sousa

Manuel Joaquim Afonso da Silva, casado

46

Sabia escrever, alfaiate

João José Afonso da Silva e de Cecília Rosa da Silva

Miguel Pereira, solteiro

21

Analfabeto, alfaiate

José António Pereira e de Maria José da Fonseca

[ 300 ]

07-11-1898 Pará, Brasil nº 550, L.12 13-09-1898, Pará, Brasil, nº 2625, L.11 27-09-1898, Pará, Brasil, nº 123, L.12 07-10-1898, Pará, Brasil, nº 248, L.12 14-11-1898 Pará, Brasil nº 629, L.12 27-12-1898, Pará, Brasil, nº 973, L.12


TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

CINE- TEATRO DE ESTARREJA 65 ANOS DE HISTÓRIAS E MEMÓRIAS João Alegria*

No caminho do desenvolvimento das comunidades há espaços e equipamentos que se vão construindo e marcam pontos de encontro e vivências que estabelecem novas relações sociais. Acompanhando os sinais dos tempos, surgem os desafios que exigem respostas para que a vida das pessoas vá usufruindo desses novos ventos e se torne bem mais preenchida. As novas dinâmicas, impulsionadas pelo alargamento do tempo de lazer, vão criando necessidades e atividades que se dirigem a um uso e consumo cada vez mais alargado. Nasce daí a democratização da cultura que desafia à criação de novos equipamentos sociais e culturais, como espaços de convívio, na consolidação da relação de identidade e referência urbana nas localidades onde se inserem. É neste contexto que surge em Estarreja a grande “casa da cultura” que desde há 65 anos tem marcado a vida dos estarrejenses e continua a ser referência no panorama cultural local, regional e nacional. A construção deste emblemático edifício, inaugurado em 12 de março de 1950, impulsionou o desenvolvimento local, representando o progresso e marcando, pela sua implantação, um contexto urbanístico. O projeto foi do arquiteto Raul Rodrigues Lima (1909-1979), encomendado pela Empresa Cinematográfica Aveirense Lda., também proprietária do Cine-Teatro Avenida, em Aveiro. Na memória descritiva do projeto, o próprio arquiteto escreveu, em 1945, que “pretende-se com esta obra, fazer uma construção nacional e regionalista”.1

* Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Estarreja 1 - Citado por CONSTANTINO, Susana, “Os Cine-Teatros no Distrito de Aveiro: Materialização de um programa em Rodrigues Lima”, Terras do Antuã – Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja, nº 5, p. 197, Câmara Municipal de Estarreja, 2011.

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JOÃO ALEGRIA

Expressando uma grande monumentalidade, o edifício marca a identidade da própria sociedade. “A sala de espetáculos, com uma lotação de 890 espetadores, é composta por plateia e balcão, não sendo evidente qualquer estratificação social”.2 Grandes momentos marcaram a vida deste novo edifício. A inauguração é assinalada com o filme “As Aventuras do Príncipe Charlie”. No dia 1 de abril de 1950 o teatro de revista estreia-se no novo palco. O espetáculo inaugural da revista de costumes regionais “Nada de Confusões”, encenada por Alexandre Miranda, é levada à cena por um grupo de atores amadores estarrejenses, na sequência da “já grande tradição teatral” que Estarreja tinha, como descreve António Augusto no seu trabalho “Achegas para a história do teatro em Estarreja – A Revista “Nada de Confusões””.3 Para poder subir ao palco, lá veio a prévia autorização da Censura que no dia 21 de março de 1950 decide que a Revista “NADA DE CONFUSÕES” é “aprovada com cortes” - a “Revista Fantazia de Costumes Regionais Em 2 actos e 18 Quadros Originais de Manuel Craveiro Junior – A levar a cena, em estreia, em 1 de Abril de 1950 no CINE-TEATRO DE ESTARREJA”, com uma curiosa anotação: “Contém 35 páginas e foi aprovada pela Comissão de Censura Com Cortes nas páginas nº 2, 4, 7, 11,12, 13, 17, 25, 27, 28 e 33. Em 21-3-1950”.4 A 3ª apresentação a 8 de abril teve o “significado especial de se homenagear o insigne Prof. Dr. Egas Moniz e deste modo a Secção Cultural do CDE, associar-se ao reconhecimento que todo o País dedicava ao ilustre cientista pela entrega do Prémio Nobel. De novo lotação esgotada e mais uma vez uma grande atuação. Deste espetáculo poderá realçar-se a componente política própria dos discursos das homenagens, aqui aproveitando um dos poucos momentos que nesse tempo era permitido à oposição do regime. No seu discurso de agradecimento o Dr. Egas Moniz, que entendera o alcance da intervenção do Dr. Manuel Figueiredo, usa de forma elegante o título da revista para agradecer e dizer “nada de confusões”…5 A peça que teve 12 atuações, com apresentações em Aveiro e na Murtosa, marcou um período de grande atividade e de grande prestígio com a crítica especializada a tecer grandes elogios e a considerar que este “espetáculo de amadores” pode ser visto em qualquer parte. “Alguns dos lindos cenários feitos para essa Revista duraram até ao encerramento da casa já nos anos 90. As condições que o Cine Teatro de Estarreja (CTE) oferecia bem como um público interessado, fizeram com que nesse primeiro ano viessem até cá a Companhia de Teatro Variedades de Lisboa (com Vasco Santana e Maria Matos) e, ainda, a Companhia de Teatro do Sá da Bandeira (Porto)”.6 Posteriormente, outas peças com atores profissionais de renome passaram pelo palco do CTE. É disso exemplo a comédia “Vamos contar mentiras”, com Raul Solnado “que comanda um grande elenco de estrelas populares”7, em 9 de fevereiro de 1964. Também o cinema contribuiu para a nova sala de espetáculos se tornar uma referência na região, atraindo grandes enchentes. José Sá, projecionista no CTE durante 42 anos recorda que

2 - Felino, Ana Isabel Pinto de Oliveira, Prova final de Licenciatura em Arquitectura “OS CINEMAS EM PORTUGAL. A interpretação de um arquitecto: Raul Rodrigues Lima”, Universidade de Coimbra, 2010. 3 - Jornal “O Concelho de Estarreja”, nº 4025, de 15 de novembro de 1994, pág. 8; nº 4026, de 15 de dezembro de 1994, pág. 12; nº 4027, de 15 de janeiro de 1995, pág. 10. 4 - Fac-simile Presidência do Conselho – Inspecção dos Espectáculos – Censura, Registo 4014 em 14/3/1950 5 - Jornal “O Concelho de Estarreja”, nº 4026, de 15 de dezembro de 1994, pág. 12. 6 - Silva, António Augusto, junho de 2005, http://www.cineteatroestarreja.com/espaco.php?s=passado 7 - Cartaz da Comédia “Vamos contar mentiras”, 1964.

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“vinha pessoal de Ovar ver cinema aqui, de Oliveira de Azeméis e até de Aveiro, que já tinha dois cinemas Havia uma camioneta que trazia também pessoas de Pardilhó e da Murtosa de propósito para virem ao cinema. A qualidade de imagem atraía pessoas de todo o lado”8 O cinema também sofreu o poder da censura. José Sá testemunha que as bobines chegavam ao CTE com bocados de filme colados uns aos outros e refere que “não tinha interesse, não tinha sequência nenhuma, mas a malta gostava, batia palmas. Era uma autêntica romaria”.9 Muitos filmes de grandes êxitos passaram pelo ecrã do CTE. O cartaz das duas sessões do filme “As Pupilas do Sr. Reitor”, no Dia de Natal de 1967, “o filme português que mais prémios obteve!”10, é disso exemplo. “Durante muitos anos o CTE foi palco de grandes espetáculos de Teatro e Revista bem como de exibições cinematográficas. A profunda transformação do modo de vida da sociedade, ocorrida a partir da década de 70 e a reformulação do conceito inerente às salas de espetáculo foram, lentamente, afastando a população deste edifício”.11 No início dos anos 1990, a situação dos teatros e cineteatros espalhados pelo país era pouco melhor do que decadente. A necessidade de obras de manutenção, bem como adequação do espaço às exigências dos novos públicos levou ao encerramento do CTE em 1992. Seguiu-se a tentativa da sua aquisição pela Igreja Universal do Reino de Deus, tal como vinha a fazer em muitos Teatros e Cine-Teatros do País. Mas em 1994, a Câmara Municipal de Estarreja adquire o CTE, mantendo a sua propriedade e gestão até ao momento. Em 1997, o Ministério da Cultura classifica o Cine-Teatro de Estarreja como Imóvel de Valor Concelhio pela sua relevância arquitetónica12 Em 2001 arrancaram as obras de remodelação que mantêm a configuração geral do edifício, surgindo apenas algumas alterações de modo a responder às necessidades atuais e proporcionar melhor conforto. 2005-201513 O CTE reabriu portas em 2005 com o propósito de se afirmar como um espaço dinâmico e versátil, capaz de albergar diferentes projetos artísticos numa oferta ampla, democrática e descentralizada para todos. Artistas, companhias, produtoras, associações e públicos voltaram a ter em Estarreja um ponto de encontro e diálogo, com todos os confortos tecnológicos, infraestruturais e humanos. Num investimento global de 2,4 milhões de euros, incluindo a empreitada de construção civil e equipamento, o novo CTE passou a ter capacidade para 508 lugares divididos entre plateia (312 lugares) e balcão (196 lugares), dos quais 6 destinam-se a pessoas com mobilidade reduzida. O edifício alberga um palco de 230 metros quadrados, sub palco destinado ao armazenamento de equipamento técnico e cénico com uma sala anexa (onde atualmente decorre o serviço de babysitting), camarins individuais e coletivos, sala de produção, reggie, bilheteira, bengaleiro, cafetaria e espaço de Café-Concerto, sala de projeção, escritório, elevadores e sanitários.

8 - Entrevista a José Sá, pulicada em www.cineteatroestarreja.com, em 12 de março de 2015. 9 - Entrevista a José Sá, pulicada em www.cineteatroestarreja.com, em 12 de março de 2015. 10 - Cartaz do filme “As Pupilas do Sr. Reitor”, 1967 11 - Silva, António Augusto, junho de 2005, http://www.cineteatroestarreja.com/espaco.php?s=passado 12 - Decreto-Lei nº 67/97, de 31 de dezembro, Diário da República nº 301/97, I-Série-B. 13 - Revista 10 ANOS CTE, Município de Estarreja 2015, págs 7-24.

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JOÃO ALEGRIA

Moderno, apetecível e atraente, a 18 de junho de 2005 a Orquestra do Norte estreou o novo palco e deu o pontapé de saída para um projeto artístico com programação própria regular. A inauguração contou com a presença de Isabel Pires de Lima, então Ministra da Cultura. A principal sala de espetáculos estarrejenses recuperou o fôlego do concelho, tanto pelas relações com as coletividades locais, agora apetrechadas com um auditório devidamente equipado, como pela circulação artística e cultural que voltou a conhecer. Neste primeiro semestre de atividade o cinema teve uma forte presença no calendário cultural do espaço, com72% da ocupação dedicada à exibição de filmes, com projeção de fita de 35mm. Logo em 2005, o espaço Café-Concerto - espaço Bar CTE como era então designado – mostrou-se um lugar alternativo a incluir na agenda programática. Com uma lotação reduzida e serviço de cafeteria, este espaço permitia outro conceito de consumo cultural, mais próximo e informal na relação entre públicos e artista e com propostas emergentes. Toques de Caramulo foi a primeira banda a subir ao 1º andar do CTE, a 18 de novembro. Esse ano foi ainda marcado pelo acolhimento do Estarrejazz – Festival de Jazz de Estarreja. Apesar dos encontros dedicados ao universo jazzístico já acontecerem noutros palcos, a 1ª edição no CTE foi em 2005, permitindo muscular o certame e dar-lhe dimensão, hoje uma marca da programação, materializado na Big Band Estarrejazz. Em 10 anos14 de atividade contínua, mais de 275 mil espetadores circularam pelos vários espaços do CTE, ao longo de 3083 eventos, 2944 no auditório e 139 no Café-Concerto. Realizaram-se 1091 eventos promovidos pelas coletividades locais, 894 sessões de cinema, 498 concertos, 496 atividades de artes performativas e 363 eventos no âmbito do Laboratório de Aprendizagem Criativa/Projeto Educativo. Só no último ano, de 18 de junho de 2014 a 18 de junho de 2015, o CTE registou um aumento de 35,85% dos públicos, face ao período homólogo do ano anterior. Em média, o número de espetadores cresce 8% por cada ano de exercício cultural. No último ano, por força dos investimentos no Cinema Digital e no Sistema de Som, as sessões de cinema tiveram uma grande afluência de públicos. Além de representar 21% do número de espetadores alcançado na última temporada, a entrada do sistema digital de projeção de filmes levou a um aumento exponencial na procura das sessões de cinema do CTE, verificando-se um crescimento na ordem dos 266% (quase quadruplicou). De setembro 2013 a julho 2014, o cinema conseguiu 1916 espectadores em 53 sessões, ao passo que, de setembro 2014 a julho 2015 os valores chegam aos 7011 espetadores em 56 sessões de cinema. Ao longo destes 10 anos o CTE tem-se consolidado como uma marca cultural, não só do concelho e da região como também do país, e é hoje referenciado como um dos pontos de passagem dos grandes nomes da música, da dança e do teatro. O CTE é um equipamento cultural municipal com programação própria regular nas diferentes áreas artísticas – música, teatro, dança, novo circo, cinema. O espaço assume um papel de relevo na estratégia cultural do Município, tendo, pela sua estrutura, uma importância evidente no trabalho de captação e formação de públicos. O CTE reforça Estarreja no mapa cultural nacional e são cada vez mais as cidades médias que revelam capacidade de uma apropriação justa das suas iniciativas, fomentadas na cultura como um motor de desenvolvimento integrado e sustentado, transversal a todos os setores da sociedade.

14 - De 18 de junho de 2005 a 18 de junho de 2015

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MUNICÍPIO DE ESTARREJA

[ N.º1 | Ano I | 2007 ] SUMÁRIO: HOJE, POR ONTEM, PARA AMANHÃ, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: EM SALREU, A “CASA DO SANTO” OU “A CASA DO FERRAZ”, Amaro Neves; O PATRIMÓNIO NAVAL NA FREGUESIA DE PARDILHÓ, Andreia Vidal Leite; CARTOFILIA ESTARREJENSE – A 1.ª metade do século XX, António Augusto Silva; DIVAGAÇÕES A PROPÓSITO DE UM VELHO RETRATO – Rostos da Fontinha, António Pedro de Sottomayor; MOINHOS E MOLEIROS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Armando Carvalho Ferreira; A INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NA CAPELA DE SANTO AMARO, Beduído – Estarreja, Carlos A. Brochado de Almeida e Pedro Brochado de Almeida; OS REGEDORES DAS FREGUESIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Delfim Bismarck Ferreira; UMA FAMÍLIA DE ESTARREJA – Notas genealógicas sobre o ramo materno da família de D. Frei Caetano Brandão, Bispo do Pará e Arcebispo Primaz de Braga, Francisco M. Ponces de Serpa Brandão; HISTÓRIA DO ENSINO PRIMÁRIO NO CONCELHO DE ESTARREJA, Marco Pereira; O COUTO DE ANTUÃ E AVANCA NO FINAL DA IDADE MÉDIA – O impacto da crise dos séculos XIV e XV segundo três cartas de sentença, Rafael Marques Vigário; A IMPORTÂNCIA DA REDE VIÁRIA NA ESTRUTURAÇÃO DA DIOCESE VISIGÓTICA DE COIMBRA: Antuane como uma das suas paróquias, Sónia Filipe; SAUDADES. [ N.º2 | Ano II | 2008 ] SUMÁRIO: COMO É RICA A NOSSA HISTÓRIA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: O BISPO DE COCHIM – Alguns apontamentos para o seu conhecimento, António Augusto Silva; LEITURA DE FEIRA E NÃO SÓ, António de Pinho Nunes; ESTARREJA NA IDADE MÉDIA – Documentação dos séculos X a XIII, Delfim Bismarck Ferreira; O LIVRO DE EXCOMUNGADOS E LEMBRANÇAS DA IGREJA DE SÃO MIGUEL DE FERMELÃ, Hugo Calão; OS MEUS ANTEPASSADOS DE ESTARREJA, José Manuel Nunes Liberato; O ASSOCIATIVISMO AGRÁRIO NA SUB-REGIÃO DE AVEIRO (1854-1923) – Contributo para o seu estudo, Manuel Ferreira Rodrigues; MONARQUIA DO NORTE [ou Traulitânia] – Ocupação monárquica de Estarreja (24.1.1919-11.21919), Marco Pereira; O ESTÁBULO DA IGREJA PAROQUIAL DE BEDUÍDO, Maria Clara Paiva Vide Marques; LIVROS PAROQUIAIS DE AVANCA – Uma fonte por explorar, Maria Palmira da Silva Gomes; BANDA BINGRE CANELENSE: PELA MÚSICA HÁ 140 ANOS, Teresa Bagão; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES ENTRE OS ANOS DE 1900 E 1905, Valter Santos; SAUDADES, ADENDAS E CORRECÇÕES: Novos Subsídios para a História da Capela de Santo António, Marco Pereira. [ N.º3 | Ano III | 2009 ] SUMÁRIO: A AVANTURA CONINUA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: JORNAIS E JORNALISTAS NA TERRA DA MADEIRA ATÉ 1925, António Augusto Silva; A CONSTRUÇÃO NAVAL NO NORTE DA RIA DE AVEIRO: DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO CONCELHO DE ESTARREJA AO BICO DA MURTOSA, António Vítor N. de Carvalho; CASA DOS MORGADOS DE SANTO ANTÓNIO DA PRAÇA, EM ESTARREJA, Delfim Bismarck Ferreira; A CHEGADA DA ENERGIA ELÉCTRICA AO CONCELHO DE ESTARREJA: 1925-1930 – BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS, Diana Cunha & Susana Temudo Silva; EPISÓDIO DA VIDA PLOÍTICA DE HÁ CEM ANOS, José Augusto Tavares Gurgo e Cirne; INVASÕES FRANCESAS NOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira; AS CONVERSAS COM A TIA ROSA, Margarida Castro; RETÁBULO DA CAPELA DE SANTA BÁRBARA EM BEDUÍDO, Maria Clara Paiva Vide Marques; MANUEL FIRMINO D’ALMEIDA MAIA (1824-1897), Maria Manuel de Vilhena Barbosa; EGAS MONIZ – O PRÉMIO NOBEL, Rosa Maria Rodrigues; FAMILIARES DO SANTO OFÍCIO RELACIONADOS COM ESTARREJA, Teresa Cruz Tubby; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES ENTRE OS ANOS DE 1882 E 1887, Valter Santos; SAUDADES. [ N.º4 | Ano IV | 2010 ] SUMÁRIO: CEM ANOS DA REPÚBLICA E MAIS DE MONARQUIA, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: ALBERTO FERREIRA VIDAL – Notável Estarrejense, António Augusto Silva; EGAS MONIZ, das origens telúricas à celebração internacional, António Macieira Coelho; “MULTIPLICAR OS PEIXES E POUPÁ-LOS QUANDO SE REPRODUZEM…” – O debute parlamentar de um filho de Estarreja, António Pedro de Sottomayor; O “RESTAURO” DA BANDEIRA DA MONARQUIA – Tratamento de Conservação e Restauro da bandeira da Câmara Municipal de Estarreja, Eva Armindo; OS INVENTÁRIOS DAS IGREJAS E CAPELAS DAS PARÓQUIAS DOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Hugo Calão; OS ÚLTIMOS TEMPOS DA MONARQUIA E A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, com as suas consequências em Estarreja, de acordo com as memórias de Francisco de Moura Coutinho de Almeida d’Eça, Luís Augusto Eça de Matos; NOTAS PARA A HISTÓRIA DA PRIMEIRA REPÚBLICA NO DISTRITO DE AVEIRO: Alberto Souto administrador do concelho de Estarreja, Luís Souto de Miranda; DA COBERTURA DE COLMO À TELHA DE FONTELA, Marco Pereira; SÃO MIGUEL ARCANJO – PADROEIRO DE FERMELÃ, Maria Clara Paiva Vide Marques; OS CAMINHOS DA CIRES – o seu 50.º aniversário, Maria Elvira Callapez; DOMINGOS JOAQUIM DA SILVA, Visconde de Salreu (1854-1936) – Parte I, Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva; INTERVENÇÃO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DA PEDRA DE ARMAS DO BISPO DE COCHIM, Patrícia Mestre Marques de Carvalho; RECUPERAÇÃO DOS MOINHOS DE MEIAS – Quinta do Marinheiro, Casa-Museu Egas Moniz, Ricardo Matos, Luís Loureiro e Nuno Matos; AVANCA – DOS ÚLTIMOS ANOS DA MONARQUIA ATÉ À IMPLEMENTAÇÃO DA REPÚBLICA, Telma Marília Assunção Correia; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (1888-1892), Valter Santos; SAUDADES, ADENDAS E RECTIFICAÇÕES.

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[ N.º5 | Ano V | 2011 ] SUMÁRIO: NÃO REFORMAMOS A HISTÓRIA!, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: A SAGA DO NAVIO MARIA DAS FLORES, O Lugre Maria das Flores – o bota-abaixo, Ana Maria Lopes; CAETANO FERREIRA – Notável Estarrejense, jornalista errante e viajante, António Augusto Silva; PASSADO PATRIMÓNIO E FUTURO – Primeiros elementos para uma carta arqueológica do concelho de Estarreja, António Manuel S. P. Silva & Gabriel Rocha Pereira; CASA DO OUTEIRO DE PAREDES EM AVANCA, Delfim Bismarck Ferreira e Maria Palmira da Silva Gomes; A ARQUEOLOGIA NA REDE PRIMÁRIA DE TRANSPORTE DE GÁS: A passagem pelo distrito de Aveiro, João Muralha; O FUNDADOR DE ESTARREJA, Joaquim Lagoeiro; ORIGEM DA CASA DO COUTO, SALREU, ESTARREJA, Jorge Barbosa Montenegro; CONSELHEIRO FRANCISCO LOURENÇO DE ALMEIDA – Participante na transição da Monarquia Absoluta para a Monarquia Liberal, na primeira metade do século XIX, Marco Pereira; OS VALENTES DE ALMEIDA DE PARDILHÓ, Maria HelenaValente Pinto; AS ELITES LOCAIS E SUA INFLUÊNCIA NOS FINS DO SÉCULO XIX E PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX – UM EXEMPLO: Domingos Joaquim da Silva, Visconde de Salreu (1854-1936) – Parte II, Maria de Jesus Sousa de Oliveira e Silva; AFORAMENTOS DE SANTO AMARO, TORREIRA E OUTROS (1780 a 1950) – PROCESSOS EM ARQUIVO, Norvinda Leite; O PAPEL DAS MULHERES NA VIDA DE EGAS MONIZ, Rosa Maria Rodrigues; OS CINETRATOS NO DISTRITO DE AVEIRO – Materialização de um programa em Rodrigues Lima, Susana Constantino; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (18931894), Valter Santos e Teresa Cruz; SAUDADES; NOTAS SOLTAS: ORDENANÇAS E MILÍCIAS NO CONCELHO DE ESTARREJA (1866); ARQUITECTURA NA FEIRA DE SANTO AMARO; ADENDAS E RECTIFICAÇÕES [N.º6 | Ano VI | 2012 ] SUMÁRIO: A IMPORTÂNCIA DO RITUAL, José Eduardo de Matos; EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira; ARTIGOS: EMBARCAÇÕES TRADICIONAIS DE CANELAS, Ana Maria Lopes; Dr. TAVARES DA SILVA – Figura incontornável do Desporto Nacional do séc. XX, António Augusto Silva; O PATRIMÓNIO CINÉFILO DO CONCELHO DE ESTARREJA, António Costa Valente; O CASTRO DE SALREU (ESTARREJA): RESULTADOS DA PRIMEIRA CAMPANHA DE ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS, António Manuel S. P. Silva, Gabriel R. Pereira & Paulo A. P. Lemos; ANTÓNIO MOTA GODINHO MADUREIRA – Um esboço biográfico, Delfim Bismarck Ferreira; MIGRAÇÕES ARQUITECTÓNICAS – O popular e o histórico na hora de Francisco Farinhas, Domingos Tavares; O PATRIMÓNIO E O SEU PAPEL CULTURAL NO CONTEXTO LOCAL E REGIONAL, José Mattoso; FÁBRICAS DE LACTICÍNIOS NOS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira; SACRÁRIOS DAS IGREJAS PAROQUIAIS DO CONCELHO DE ESTARREJA, Maria Clara Vide Marques; ESTARREJA – Sua origem como topónimo, Maurício António Fernandes; O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES (1895), Teresa Cruz Tubby e Valter Santos; SAUDADES; NOTAS SOLTAS: ESTARREJA E AS SUAS ACTUAIS FREGUESIAS (1853); CONCELHO DE ESTARREJA (1875); ESTADO ACTUAL DA INDÚSTRIA CERÂMICA (1905); ESTARREJA (1912); ANTUÃ: Paróquia Sueva; 8 DIAS DE “LIBERDADE” … CONDICIONADA; REVISTAS TERRAS DE ANTUÃ. [ N.º7 | Ano VII | 2013 ] SUMÁRIO: EU SOU QUE SEI, José Eduardo de Matos, A HISTÓRIA VAI-SE FAZENDO, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Delfim Bismarck Ferreira, ARTIGOS: HENRIQUE LAVOURA – construtor naval de nomeada, Ana Maria Lucas, CÓNEGO REBELO DOS ANJOS – Capelão de militares e Civis, António Augusto Silva, O CÓNEGO BARBOSA E O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO, António Pedro Sotto Mayor, O VINCULO DA CASA DO COUTO EM SALREU (1755), Delfim Bismarck Ferreira, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO – os Painéis dos Barcos Moliceiros, José Gurgo e Cirne, INVENTÁRIO DO ESPÓLIO DE CONSTRUÇÃO NAVAL DO MESTRE HENRIQUE LAVOURA – PARDILHÓ, Juliana Cunha, REVOLTAS POPULARES EM ESTARREJA E MURTOSA, Marco Pereira, FRANCISCO MARQUES RODRIGUES, Maria Almira de Oliveira Rodrigues Barata e Manuel Oliveira Rodrigues, RETÁBULOS DA IGREJA DE SÃO BARTOLOMEU DE VEIROS, Maria Clara Vide Marques e António Cruz Leandro, OS ELEITOS DA CÂMARA DE ESTARREJA REFERÊNCIAS NAS ATAS DE 1860-1910,Norvinda Leite, NOTA SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DE UMA PEÇA ARQUEOLÓGICA DE VALE CASTANHEIRO, SALREU, Paulo Morgado, MEMÓRIAS DA CONSTRUÇÃO NAVAL, Sérgio Paulo Silva, A EMIGRAÇÃO NO CONCELHO DE ESTARREJA (1896), Teresa Cruz eValter Ramos, SAUDADES, REVISTAS “ TERRAS DE ANTUÔ [ N.º8 | Ano VIII | 2014 ] SUMÁRIO. VIAJE COMIGO POR TERRAS DE ANTUÃ, Diamantino Sabina, EDITORIAL, Rosa Maria Rodrigues, ARTIGOS: AS DESCOBERTAS DE EGAS MONIZ E O SEU CONTEXTO HISTÓRICO, Álvaro Macieira Coelho, A CONSTRUÇÃO NAVAL LAGUNAR E A MUSEOLOGIA – Mestre Esteves – Pardilhó Ana Maria Lopes, OS 90 ANOS DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE ESTARREJA, Andreia Tavares, PATRIMÓNIO MUSICAL DE ESTARREJA – Um contributo, António Augusto Silva, A FAMÍLIA BANDEIRA EM ESTARREJA E SALREU DESDE O SÉCULO XVIII, Delfim Bismarck Ferreira, MEMÓRIAS DO QUOTIDIANO – Os Painéis dos Barcos Moliceiros, José Gurgo e Cirne, CRÓNICAS DE UM PASSADO PRESENTE – Alguns apontamentos para o estudo geral deste Concelho de Estarreja, José Teixeira Valente, OS ACTUAIS CONCELHOS DE ESTARREJA E MURTOSA NO SÉCULO XIII, Marco Pereira, PINTURAS DEVOCIONAIS DOS ALTARES- MORES DO CONCELHO DE ESTARREJA, Maria Clara Paiva Vide Marques e Sylvie Ferreira, FRANCISCO AUGUSTO DA SILVA ROCHA E A CASA DE FRANCISCO MARIA SIMÕES - Um novo padrão de Beleza, Maria João Fernandes, OS ELEITOS DA CÃMARA MUNICIPAL DE ESTARREJA – REFERÊNCIAS NAS ATAS (CONT) – 1910-2013, Norvinda Leite, DEAMBULANDO PELAS RUAS, Sérgio Paulo Silva, O CONCELHO DE ESTARREJA E OS SEUS EMIGRANTES – ANO DE 1897 TRILHOS DOS AMAZONAS, Teresa Cruz e Valter Santos, SAUDADES - OS 50 ANOS DO MERCADO MUNICIPAL DE ESTARREJA João Alegria REVISTAS “TERRAS DE ANTUÔ

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