Caderno Brusque 153 anos

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Costurando a Hist贸ria pelos

Caminhos da Moda Fragmentos da Hist贸ria

da Moda e

do T锚xtil em

Brusque

CADERNO ESPECIAL BRUSQUE 153 ANOS

BRUSQUE, 2 DE AGOSTO DE 2013

Hanna ou Hansi von Schoenebeck, segunda esposa de Carlos Renaux Arquivo Maria Luiza Renaux


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EDITORIAL

Sumário

Fragmentos da História da moda e do Têxtil em Brusque O fenômeno moda instiga curiosidades, constrói sentidos, provoca sensações de poder, contribui para a co construção de identid identidades e deixa fortes marcas registradas no tempo. Essas marc marcas, ou esses elementos históricos, serão deli delineados nas próximas p páginas, permitindo que você, leitor, possa fa fazer um passeio pela h história da moda e d do têxtil em Brusqu Brusque. Conhecer a gên gênese do fenômeno mo moda na cidade, passea passear pelo “Vale europe europeu brasileiro” em plena Époque, Belle É perceber o espírito e empre-

endedor dos pioneiros da indústria têxtil, reviver momentos únicos dos Anos Dourados e, por fim, compreender melhor a identidade da cidade que é envolvida pelo têxtil e pela moda, são alguns dos temas que irão permear a sua leitura. Por alguns instantes, entre na história para conhecer um pouco do visual e do pensamento daquelas pessoas que hoje retratam livros de histórias, lápides e identificam ruas, clubes e colégios. Reviva momentos mágicos que embalaram a sua juventude. Que tempo bom, hein? Parece que tudo era diferente. E era! Pois moda não é só vestuário. É também comportamento. Então, vamos reviver aqueles tempos. Porque naqueles tempos sim! Naqueles tempos...

Costurando a História pelos caminhos da Moda Edinéia Pereira da Silva Betta Famílias Renaux, Bauer e Krieger: reflexos de Moda na Belle Époque brusquense Cintia dos Reis Ferreira Raízes francesas e polonesas na indústria têxtil brusquense Amanda Augusta Riffel Daniela da Silva Arina Blun Alfaitaria elegante (Krieger), pioneira na indústria do vestuário em Brusque Raiany Teodoro Mendes Dos corredores das fábricas de tecidos às passarelas da moda: primeiro Desfile de Moda em Brusque Jeniffer Margaret Barbosa Morgana Bittencourt

Brusque: Capital Nacional do turismo de compras ou Polo da Pronta Entrega Amanda Augusta Riffel Nathália Coelho Vestidos com liberdade: Imagens da moda em Brusque nos anos setenta Danubia Gonçalves Sindicatos Arthur Timm Organizações e Escolas de Moda e Têxtil Edinéia Pereira da Silva Betta Pesquisas do Perfil do Empresário do Setor Têxtil Sidnei Gripa Sérgio Gamba Wallace Nóbrega Loppo Osnir José Merísio Edival Batista Monn Moda e Produções Sustentáveis Tamily Roedel

Concursos de Beleza em Brusque Natanna Betinelli

As transformações políticas e econômicas no Brasil na década de 1990: reflexos na Indústria Têxtil Carina Gottardi Imhof

Discretas e na moda: Norma Schaefer, a mulher mais elegante da década de 1960 Amábile da Silva

Moda e têxtil em Brusque: privilégio, orgulho e saudade dos tempos de outrora Edinéia Pereira da Silva Betta

Edinéia Pereira da Silva Betta

Edinéia Pereira da Silva Betta

Diretor

Diagramação

Cláudio José Schlindwein

Diego Sestrem Djoni Paul Richter

Editor-Executivo Elton Souza editor@municipiomais.com.br

Subeditora

Números desta edição Tiragem: 11.000 Páginas: 48

Lucimara Cardozo lucimara.cardozo@municipiomais.com.br

Fragmentos da História da Moda e do Têxtil em Brusque / Edineia Pereira da Silva Betta (organizadora). – Brusque: Editora Município Dia a Dia, 2013. 48 p., Il. colorido, 38cm.

Comercial comercial@municipiomais.com.br

Projeto Gráfico Diego Sestrem

Formada em História pela Unifebe, especialista em História Cultural pela Facel, mestre em História pela PUC RS e doutoranda em História Social pela PUC SP, onde pesquisa História da Moda no Sul do Brasil. Atualmente, é professora e coordenadora do Curso de Design de Moda da Unifebe, responsável pelo Laboratório de História da Instituição e atua como professora do Senai-Brusque.

Rua Felipe Schmidt, 31 - sl. 01 Centro - Brusque - SC Fone: (47) 3351-1980 www.municipiomais.com.br

Obra coletiva desenvolvida pelos acadêmicos dos cursos de Design de Moda e Tecnologia em Produção Têxtil do Centro Universitário de Brusque – Unifebe. 1. Moda-História. 2. Brusque. I. Betta, Edinéia Pereira da Silva. II. Título. CDD 391.009 Ficha catalográfica elaborada por Angela Sikorski Santos - CRB 14/836


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Costurando a História pelos caminhos da Moda Edinéia Pereira da Silva Betta

Os primeiros tempos A intensa imigração europeia para o Brasil, sobretudo para o Sul do país, na segunda metade do século 19, promoveu um expressivo desenvolvimento cultural e econômico. Brusque integra esse cenário, foi uma das primeiras colônias alemãs de Santa Catarina, mas que, posteriormente, forma um mosaico de histórias e culturas, quando recebe imigrantes de outras nacionalidades. Conhecemos a tradicional história da fundação da cidade a partir daquele 4 de agosto de 1860, quando aqui chegou a primeira leva de imigrantes europeus sob o comando do Barão Maximilian von Schneeburg. Mas, quem eram esses imigrantes? Como eles se vestiam e se comportavam? Infelizmente, as descrições que se têm deles da chegada são apenas textuais, mas extremamente importantes para compor a história da moda e do têxtil brusquense. O primeiro documento que temos da cidade de Brusque são os escritos do diretor da Colônia, Barão de Schneeburg, de 1860, que cuidadosamente relatava dados quantitativos e alguns elementos sociais do local. Entre eles, registrou o primeiro tecelão e alfaiate, Augusto Höfelmann e João José Scharfenberg, que chegaram com a primeira leva em 1860. Em 1863, já eram oito o número de alfaiates. Na primeira Exposição da Sociedade Agrícola Colonial, evento no qual eram expostos e premiados produtos desenvolvidos na Colônia, em 1872, já era possível observar os produtos que envolviam a moda. Entre arroz, açúcar e farinha de mandioca haviam flores artificiais, quadros bordados, chapéus de palha de milho, pentes, calçados, meias, mantas bordadas e outros, descritos como trabalhos de senhoras, inclusive muitos deles premiados.

Entre revistas e retratos, a moda permeava Brusque no século 19 O constante contato com a Europa colocou a cidade em situação privilegiada. Diversos produtos tinham que ser importados. Entre eles, as fazendas, como eram chamados os tecidos e os aviamentos, que vinham acompanhados de cartões postais, revistas de moda e cartas. O que permitia que os modelos cozidos (confeccionados) na colônia se aproximassem daqueles que estavam na moda na Europa, no período. As principais revistas alemãs que traziam informações sobre moda encontradas nos Arquivos Históricos da região são Die Modenwelt de Berlim e Victoria – Illustrierte Muster und Modezeitung, também de Berlim. Além de outras francesas, portuguesas e inglesas.

Referência Relatório da Colônia Itajahy - 1860. CABRAL, Osvaldo Rodrigues. Subsídios para o estudo de uma colônia nos tempos do Império. Brusque: edição da Sociedade Amigos de Brusque, comemorativa do 1º Centenário de fundação da Colônia, 1960.

Die Modenwelt de Berlim- 1872


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Retratos da moda FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Revistas de Moda do século 19

FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Wilhem Tech e Emília Krieger Filhas: Mathilde e Emília

Referência COSGRAVE, Bronwyn. História da Indumentária e da Moda. Amadora, Portugal: Editoria Gustavo Gili SL, 2012. NERO, Ciro del. Com ou sem a folha da parreira: a curiosa história da moda. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2007.

As crianças e as adolescentes trazem vários elementos semelhantes àqueles publicados na Revista Delineator. A gola dos vestidos com listras na barra, a padronagem xadrez, a cintura marcada e o comprimento dos vestidos são facilmente identificados

FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

FOTO REVISTA DELINEATOR - 1898

Emília Krieger - século 19

FOTO LABORATÓRIO DE HISTÓRIA – UNIFEBE

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moda é efêmera. Nasce, vive rapidamente, dá frutos de beleza e morre. Um dia nasce inteira ou, geralmente em partes. Porém, por meio das imagens congeladas pelos retratos fotográficos é possível conhecer um pouco da moda de cada período. E, a partir das fotografias de famílias é possível fazer um comparativo com o vestuário em voga ilustrados nas revistas e observar que a moda esteve presente na colônia já nos primeiros tempos. A partir de meados do século 19, a sociedade europeia aderiu a segunda fase da Era Vitoriana (período que levou este nome em virtude da conhecida Rainha Vitória, da Inglaterra), no qual as roupas tornaram-se mais sóbrias, a partir da morte do príncipe Albert, da Inglaterra, quando a rainha opta por usar preto permanentemente. As mulheres subiram seus decotes e passaram a usar a cor escura em seus vestidos. De acordo com o período era a cor mais digna para as mulheres. As senhoras tinham cuidado na escolha dos seus modelos. Embora escuros, como recomendava o período, os detalhes eram minuciosamente selecionados. A cintura era marcada, os recortes valorizavam discretamente a silhueta, e as saias com babados, algumas vezes pregueados, como ensinavam as revistas. Inclusive, as folhas de moldes trazidas por algumas revistas atuais, não são novidades deste século, já eram cadernos especiais de revistas do século 19.

João Luiz Gonzaga e família – século 19


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Dândi

Franz Sallenthien

em Brusque Retrato de George Beau Brummell

Os homens em Brusque também tinham cuidado com o visual. Estavam sempre alinhados e sérios, já que no período, a atenção se voltava para as mulheres. A moda para os homens estava atrelada ao comportamento. O século 19 foi o período de ascensão para a burguesia, que se destacava, uma vez que mais e mais pessoas se dedicavam ao comércio e às fábricas. Nesse período, o homem era o ser pensante, personagem principal da sociedade, por isso não cabia muitos acessórios. Enquanto a mulher ousava no quesito indumentária. Alguns livros dizem que a mulher nesse período era apenas um bibelô. No entanto, em pesquisas na “Casa de Brusque” foi encontrado um homem que merece destaque. Entre mais de três mil fotografias daquele arquivo, há o registro de um típico Dândi em Brusque, Franz Sallenthien, proprietário de uma serraria no bairro Águas Claras, na segunda metade do século 19. Embora não seja possível visualizar todo o corpo, o retrato aponta para nítidas diferenças dos demais homens, no que se refere ao visual. A postura, o olhar, o corte de cabelo, a gola caseada, o colete e a gravata borboleta são elementos distintos daqueles retratados até então. O que demonstra que a cidade era de fato envolvida com a moda. Dândi é aquele que constitui outra aristocracia, não mais baseada no nascimento, na origem nobre, mas na escolha sofisticada dos trajes e em

todo o universo estético que o cerca. Eram os snobs - sem nobreza, porém muito bem-vestidos. O dandismo foi um movimento que buscava refinar o vestuário masculino. Para um Dândi, a roupa tinha que ser impecável, pois vestir-se significa a busca pela perfeição. Os poucos acessórios incluíam botões de latão no casaco de tecido e relógio de ouro preso por uma corrente. Raspavam a barba, os cabelos eram curtos, e as camisas alvejadas.

No Brasil, um dos mais conhecidos era Alberto Santos Dumont, que se vestia perfeitamente.

Referência COSGRAVE, Bronwyn. História da Indumentária e da Moda. Amadora, Portugal: Editoria Gustavo Gili SL, 2012.


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Famílias Renaux, Bauer e Krieger: reflexos de Moda na Belle Époque brusquense Cintia dos Reis Ferreira O período da Belle Époque foi marcado por significativas transformações econômicas, sociais e principalmente culturais, o que resultou em novos hábitos. Teve suas raízes na Europa, porém, logo tomou o Novo Mundo. Era a chegada democrática do glamour a todas as classes. O período colocou o corpo feminino em evidência, trazendo mulheres delicadas, femininas, conservadoras e ao mesmo tempo sensuais. Porém, uma sensualidade sugerida, já que a exigência social era a de uma mulher casta, coberta da cabeça aos pés. Assim, podemos definir a época mais bela da história da Moda, que foi do final do século 19, ao início do século seguinte. Nesse período, Brusque respirava novos ares. O Brasil vivenciava um dos maiores fatos da sua história. Chegara a República! A Europa refletia seus usos e costumes em diferentes lugares, incluindo o Brasil. Se Brusque já sofria influência, a partir daquele momento a situação seria mais intensa. E realmente foi! Entre os colonos e diversas profissões, os vendeiros eram os que mais obtinham sucesso na colônia. Eram os grandes responsáveis pela economia. Segundo a historiadora Maria Luiza Renaux, nos arredores de Brusque, as vendas que mais se destacavam eram Krieger, Buettner, Bauer e Renaux. Viagens para a Europa, ainda que de navios, era uma realidade entre os comerciantes de Brusque. Nos escritos em alemão de Mathilde Bauer, em seu diário de 1889, é possível reviver a Europa daquele período. Mathilde viajou para lá com seus familiares e amigos. Na ocasião, fez compras na Alemanha, visitou parentes e passeou pela Exposição Universal em Paris, onde visualizou a famosa Torre Eiffel.

Escritos do Diário de Mathilde Bauer: Chegada em Hamburgo a 25 de Julho.

Referências NERO, Ciro del. Com ou sem a folha da parreira: a curiosa história da moda. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2007. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições Universais: Espetáculo da Modernidade do Século XIX. São Paulo: Editora HUCITEC, 1997.

“Chegada em Hamburgo (Carlos Renaux viajou no mesmo navio) em 25 de Julho. Visita à casa de negócios de Brehm e Fontes Meynberg, há mais tempo em negócios com o pai de “Tata” Bauer, João Bauer. Quarta-feira, 14 de Agosto, chegada em Paris. Dia seguinte, roteiro: Arco do Triunfo; - Campo de Marte, onde, no momento, ocorria a Exposição Mundial e onde podiam avistar a já tornada famosa Torre Eiffel; [...] A construção mais bela da exposição é decididamente o Palácio da Indústria.. (Em Paris, moraram na casa do tio Viktor. Ficaram até o dia 28 de Agosto, onde ainda por mais vezes visitaram a Exposição Mundial. Daí, para Luxembrugo). (...) De Paris, foram por algumas cidades menores, para visitar parentes, a Aachen, Krefeld - indústria da seda, bem importante e por isso João Bauer já a visitara antes. Também desta vez João Bauer tinha que liquidar várias oportunidades de negócios, daí terem ficado dois dias na cidade. Sexta-feira, 6 de Setembro, de Krefeld para Hamburgo: Ida à casa de Meyenberg e compras na casa comercial do Sr. Braun. Domingo, 8 de Setembro: Missa e ida com o Sr. Meyenberg e esposa ao local da exposição – Hamburg Gewerb und Industrie Ausstellung. Meisterschopfungen der Kunst gewerbes; Lá viram die „Erzeugnisse“ der Elfenbein v. Juta Industrie, der Herren v. Damen Confection; Noutra ala: os produtos da Grande Exposição – indústria; (...) No dia seguinte, o Pai ocupado principalmente em fazer compras na casa comercial do Sr. Braun. (...) No dia seguinte, compras novamente. Domingo à noite, teatro com o Sr. Renaux. De 16 a 18 de Setembro, preparo da bagagem e colocação a bordo, das compras. Dia 19, embarque, quinta-feira. (Tradução Maria Luiza Renaux) Embora tivessem realizado alguns passeios, natural, dada a proporção da viagem, a ocupação maior era com os negócios. Em Hamburgo fica claro o objetivo das visitas, que incluía o setor têxtil, já que os escritos relatam empresas do setor de confecções e indústrias de tecidos, como a der Elfenbein v. Juta Industrie, der Herren v. Damen Confection.”


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Chapéu: acessório desejado pelas mulheres da Belle Époque ARQUIVO MARIA LUIZA RENAUX

Cartão postal de Mathilde Hundt

MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Além das cartas, encomendas e revistas, os cartões postais ilustrados eram frequentemente esperados por aqueles que viajavam. Criado em 1860, pelo então imperador Austro-Hungaro, os postais foram intensamente utilizados. O cartão foi enviado de São Paulo em 27 de março de 1911, endereçado à senhora Mathilde Hundt e retrata o vestuário do período de forma vívida. O vestuário feminino desse período destacava a cintura comprimida pelo espartilho, as mangas eram infladas em volume, as saias caíam, roçando o chão, acompanhadas de babados e rendas em geral, em tons claros, e os bordados eram diversificados. Era o período da mulher sensual, porém coberta. Os homens com cabelos aparados, em alguns momentos deixando seus chapéus de lado. Embora rosto barbeado fosse mais popular, bigodes encerados, com as pontas viradas para cima, suíças como as do imperador alemão, eram muito copiados por admiradores, e as roupas seguiam um estilo elegante, porém sóbrias. Como retrata Otto Gruber na imagem ao lado. Cabe uma atenção especial ao colarinho, trazidos nesse período pelas revistas de moda francesas. O casal retratado traz fortes elementos da moda do período. Entre eles, um se destaca entre os demais - o chapéu. Os chapéus eram de fato o objeto de desejo por excelência, os modelos variavam conforme a idade, estado civil, condição social e hora do dia. O acessório não podia faltar nas mulheres que desejavam seguir a moda. “A preocupação com o chapéu será uma constante da Belle Époque. [...] de abas largas e chatas as capelinhas se enchem de fitas, flores ou suntuosas plumas de avestruz. Construções que requerem, para fixá-las nos penteados fofos, compridos alfinetes pontudos, preciosos como joias” (BAUDOT, 2002, p. 52).

Otto Gruber e Elsa Krieger

RENAUX, 1995

Hanna também traz o acessório feminino mais desejado Hanna ou Hansi von Schoenebeck, atriz que casase com Carlos Renaux (segundo casamento). Morou em Brusque de novembro de 1912 a dezembro de 1917, depois, devido a uma doença muda-se para Holanda com o esposo.

Referências BAUDOT, François. Moda do século. São Paulo: Cosac Naify, 2002. BOUCHER, François. História do vestuário no ocidente. São Paulo, 2012. NERY, Marie Louise. A evolução da indumentária: subsídio para criação de figurino. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2003. RENAUX, Maria Luiza. O outro lado da História: o papel da mulher no Vale do Itajaí 1850-1950. Blumenau: Ed. Da FURB, 1995. SEVENKO, Nicolau. História da vida privada no Brasil. Companhia das letras. São Paulo,1998. ¹ Mathilde Hundt fazia parte da família Bauer, que troca de sobrenome após se casar. Mudou-se para Itajaí e veio a falecer em 1955.

Hansi von Schoenebeck


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Piqueniques em Brusque

Referências BRAGA, João. História da moda. São Paulo. 2004. NERO, Ciro del. Com ou sem a folha da parreira: a curiosa história da moda. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2007. POLLINI, Denise. Breve história da moda. São Paulo. 2007. RENAUX, Maria Luiza. O outro lado da História: o papel da mulher no Vale do Itajaí 1850-1950. Blumenau: Ed. Da FURB, 1995.

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FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

s piqueniques eram realizados com frequência na região no início do século 20. A fotografia ao lado traz a reunião das famílias Renaux e Bauer. De acordo com o arquivo, a imagem é da década de 1920. É possível perceber a semelhança da indumentária feminina das mulheres retratadas, com aquelas utilizadas na Belle Époque. Embora o período tenha se dado até 1914, no Brasil, ela prosperou uma rica sociedade burguesa, e atravessa a Primeira Guerra Mundial. A fotografia traz da direita para esquerda, o gaiteiro Erwin Hasse, Otto Renaux, Guilherme Krieger, (assinalados por alguém que desejava destacá-los) Augusto Bauer e Carlos Renaux, respectivamente. As mulheres e crianças sem identificação, porém, há indícios de que sejam das referidas famílias, já que na época era comum elas se reunirem em piqueniques. O ambiente natural estava em evidên-

Piquenique Famílias Renaux e Bauer – 1926

Piquenique realizado entre as famílias Renaux e Bauer em Brusque cia. Eram verdadeiras festas ao ar livre! “As famílias brusquenses mesclavam-se com outras da mesma origem e de mesma atividade na região e novas alianças iam-se compondo dentro de um clima descontraído, onde a própria vigilância sobre rapazes e moças era menor, favorecendo os casamentos.” (RENAUX, 1995, p.188).

A moda seguiu com suas mudanças e logo são percebidos os reflexos na Brusque dos anos 1920 e 1930 A Belle Époque entra para a história e uma nova estética surge. Agora, é a vez de roupas mais leves. A Primeira Guerra Mundial condiciona as pessoas à repensarem a Belle Époque. Com isso, é natural que a indumentária ganhe novos contornos. As mulheres, em virtude da guerra, assumem diversos trabalhos, que antes eram exclusivamente desempenhados por homens. Elas, então, precisam de roupas funcionais, e os longos vestidos se tornam inviáveis. A silhueta passa a ser tubular, a cintura, os quadris e os seios não são mais evidenciados. São usadas cintas que igualam a silhueta e o comprimento começa a subir. Pela primeira vez, as mulheres cortam os cabelos curtos e passam a usar chapéus extremamente pequenos. Características possíveis de identificar na imagem ao lado.

Revistas de Moda do período da Belle Époque


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Raízes francesas e polonesas na indústria têxtil brusquense A intensa imigração europeia promoveu um expressivo desenvolvimento cultural e econômico na região de Brusque. Inicialmente, a população afixada neste local se dedicou à agricultura. Porém, com a chegada de tecelões emigrados da Polônia, a arte de tecer foi iniciada na colônia. Vindos de Lodz, os primeiros tecelões

ARQUIVO MA

RIA LUIZA REN

AUX

ARQUIVO MARIA LUIZA RENAUX

Amanda Augusta Riffel Daniela da Silva Arina Blun

esperavam aplicar-se na agricultura, porém, notaram que as terras a eles disponibilizadas eram montanhosas e impróprias para lavoura. Assim, logo iniciaram seus trabalhos em teares domésticos e vendiam seus produtos aos comerciantes locais - o que podemos considerar como raízes da indústria têxtil em Brusque. A primeira iniciativa de indústria propriamente dita ocorreu por meio do empresário João Bauer, conhecido vendeiro do fim do século 19. Nessa ocasião, no entanto, o empreendimento têxtil não prosseguiu e foi em 1892, por iniciativa de outro vendeiro – Carlos Renaux, que a tecelagem industrial veio a se consolidar em Brusque. Hospedaria e residência de Louis Renaux e Sophie Ludin, na Europa

Tecelões emigrados da Polônia MUSEU

Tear doméstico construído em Brusque no início do século 20

Carlos Renaux E ARQU

IVO HIST

ÓRICO DO

VALE DO

ITAJAÍ M

IRIM “C

ASA DE

BRUSQU

E”

Karl Cristian Renaux, conhecido como Carlos Renaux, nasceu em 16 de março de 1861, na cidade de Loerrach, Grão-Ducado de Baden, Alemanhã. Seus pais eram descendentes de franceses, da cidade de Damvillers. Carlos era um jovem inteligente e com visão empreendedora. Procedente de uma família proprietária de hospedaria no Vale do Wiese – onde se desenvolvera a indústria têxtil - e com escolaridade de nível médio trouxe para o Brasil diploma que certificava que trabalhara em um banco de sua cidade natal. Carlos Renaux deixou o Grão-Ducato de Baden em 1882, aos 22 anos, e dirigiu-se inicialmente a Blumenau, onde foi acolhido por imigrantes alemães. Seu primeiro emprego foi de caixeiro no negócio de Theador Lueders, em Salto Weissbach. Após se casar com Selma Wagner, filha de um próspero colono da região, mudou-se para Brusque, onde passou a gerenciar um comércio.

Carlos Renaux

Resumo indicativo da obra RENAUX, Maria Luiza. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. 2 Ed. Florianópolis: Instituto Carl Hoepcke, 2010.


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Fábrica de Tecidos Carlos Renaux MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Os investimentos na Fábrica de Carlos Renaux foram constantes. Em 1900, a empresa comprou uma fiação, a primeira de Santa Catarina, e Brusque ficou conhecida como “Berço da Fiação Catarinense”. Para complementar a produção, uma tinturaria foi instalada na fábrica. Embora, inicialmente, o tingimento fosse bastante rudimentar, esse setor contri-

buiu para o desenvolvimento de novos produtos. Mais tarde, a Fábrica Carlos Renaux importou uma caldeira a vapor alimentada por lenha. Finalmente, em 1913, por meio de uma pequena usina construída em Guabiruba Sul, foi instalada a energia elétrica em Brusque, o que contribuiu significativamente para o aumento na produção de tecidos. MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Fábrica de Tecidos Carlos Renaux

A

pós dez anos de atividades no Brasil, com o apoio financeiro de alguns comerciantes, contando com o conhecimento dos tecelões de Lodz e investimentos estrangeiros, Carlos Renaux iniciou o seu maior empreendimento - a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Os teares funcionaram pela primeira vez em 11 de março de 1892. O trabalho na fábrica iniciou com cer-

ca de oito teares manuais, funcionando junto a sua venda. Mais tarde, foram adquiridos da Inglaterra 30 teares manuais usados. E, com o passar do tempo, outros mecanizados foram comprados. As primeiras produções eram simples e se destinavam especialmente para o consumo da colônia. No entanto, de extrema importância para uma época na qual a importação era difícil.

MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

ARQUIVO MARIA LUIZA RENAUX

Primeira tinturaria da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux

Primeiros colaboradores da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux: (sentados) Carlos Renaux e o mestre-tecelão Carl Petermann; (em pé da esquerda para direita) Otto Renaux, Gustavo Schloesser, Von Czeckus, Gustavo Walter Bueckmann e Max Rau

Resumo indicativo da obra RENAUX, Maria Luiza. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. 2ª Ed. Florianópolis: Instituto Carl Hoepcke, 2010.

Fiação da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S.A., no bairro Limoeiro, inaugurada em 1950


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Fábrica E. von

Buettner & Cia E

FOTO WWW.BUETTNER.COM.BR

m 1898 foi instalada em Brusque a segunda fábrica do ramo têxtil, a conhecida Buettner, que contribuiu significativamente para a economia da cidade. A empresa constituiu-se a partir das habilidades domésticas da esposa e da nora de Eduardo von Buettner, que se dedicavam à produção de aventais e toalhas bordadas. Para a consolidação da empresa, o filho Edgar von Buettner foi para a Alemanha aprender a técnica do bordado. No retorno, em sociedade com sua mãe Albertina Burow, a fábrica teve início. Com duas máquinas a pedal, bordavam em ponto corrente alguns artigos como sombrinhas, pelerines, mosquiteiros e, especialmente, cortinas de filó. Em 1918, a empresa passou a fornecer cortinas para o Palácio do Catete, na capital da República, e para residências oficiais dos governadores. Após a Primeira Guerra Mundial, a empresa implementou suas produções e adquiriu dois teares, a fim de dedicar-se também ao ramo da tecelagem. Os investimentos foram contínuos e, no decorrer dos anos, a empresa tornou-se uma das maiores do país, iniciando suas exportações na década de 1970, e comportando fiação, tecelagem, estamparia e tinturaria de fios.

FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Referências RENAUX, Maria Luiza. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. 2 Ed. Florianópolis: Instituto Carl Hoepcke, 2010. Histórico. Disponível em: <http:// www.buettner.com.br/hp/index. php?interna=paginas&pagi_id=1.> Acesso em 20 de jul. 2012.

Unidades da Fábrica E. von Buettner & Cia na rua João Bauer (acima), Centro, e rua Edgar von Buettner, bairro Batêas


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Fábrica de Tecidos

G. Schlösser & Filhos MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Companhia Industrial Schlösser S.A., vista do alto da rua Francisco Cervi, Centro

Companhia Industrial Schlösser S.A. no cruzamento das avenidas Primeiro de Maio com Getúlio Vargas

Referências

MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Gustavo Schlösser veio da Polônia em 1896, com o intuito de dedicar-se à lavoura, atividade que não conseguiu desenvolver em seu país. Para ele, a indústria seria apenas uma forma de juntar economias para comprar sua propriedade. Foi contratado por Carlos Renaux para desempenhar a função de técnico na Fábrica de Tecidos, onde trabalhou por 15 anos. Em 1911, os filhos Hugo e Adolfo, tecelões que também trabalharam na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Gustavo Schlösser inaugurou a própria Fábrica de Tecidos, a G. Schlösser & Filhos. Inicialmente, contaram com dois teares manuais, um deles de jacquard, para a produção de toalhas de mesa e rosto, que eram vendidas aos também comerciantes Renaux, Bauer e Buettner. Em 1914, após a chegada da energia elétrica em Brusque, a empresa importou oito teares da Saxônia. Mais tarde, em 1924, inaugurou sua própria tinturaria e, em 1938, uma moderna fiação foi adquirida, passando a fabricar os fios para o próprio consumo. Logo, o parque fabril da G. Schlösser & Filhos contou com fiação, tecelagem, tinturaria, estamparia e acabamento, contribuindo significativamente para a economia da cidade. Em 1938, de G. Schlösser & Filhos, a empresa passou a se chamar Companhia Industrial Schlösser S.A. Após a instalação das pioneiras fábricas do setor têxtil em Brusque, outras foram surgindo. Já na década de 1950, Brusque contava com grandes empresas fornecedoras de tecidos. E a cidade seguiu criando tecidos e histórias...

RENAUX, Maria Luiza. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o modelo catarinense de desenvolvimento. 2 Ed. Florianópolis: Instituto Carl Hoepcke, 2010. Histórico. Disponível em: <http://www. schlosser.com. br/site/hp/index. php?secao=1.> Acesso em 20 de jul. 2012.


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Alfaitaria Elegante (Krieger): pioneira na indústria do vestuário em Brusque FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Raiany Teodoro Mendes

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Alfaiataria Krieger foi a pioneira na indústria de confecções. Fundada em 1898, iniciou sob a denominação de Alfaiataria Elegante e com o passar dos anos se tornou uma conhecida confecção. A empresa atuou durante 101 anos, ficando na memória de muitos. A família Krieger foi sinônimo de prosperidade desde os primeiros tempos. Iniciaram como vendeiros e logo se tornaram conhecidos em toda a região. Assim como muitos imigrantes que em Brusque se instalaram, a família Krieger chega à colônia em 1861, logo com as primeiras levas europeias. Vindos de Odenburg, na Alemanha, Karl Krieger, casado com Caroline Krieger, chegou à colônia com quatro filhos, nascidos também na Alemanha, entre eles Jakob Carl, que chega com dez anos. Tempos depois, Jakob casa-se em Brusque e tem dez filhos, entre eles, Gustav Phipp ou Gustavo Krieger, como ficou conhecido (Krieger, 2004). Gustavo nasceu em 26 de janeiro de 1878, com apenas quatro anos perdeu a mãe e aos quatorze anos perdeu também o pai. Criado por uma tia, esta o envia para Desterro, atual Florianópolis, para aprender o ofício de alfaiate, profissão relevante para a colônia (KRIEGER, 1972). Gustavo aprende todos os segredos da profissão e ao retornar a Brusque, em 1898, inicia como profissional, abrindo seu próprio negócio, a Alfaitaria Elegante. Segundo Guinter Krieger, neto de Gustavo Krieger, no local eram desenvolvidos ternos sob medida. Gustavo Krieger se tornou conhecido pela perfeição na confecção de ternos, como cita Murilo Krieger, no livro Centenário de nascimento: Gustavo Krieger, de Débora Krieger: “Sempre atendia os fregueses da melhor maneira possível. Além de fi-

Casarão Krieger Ano 1900-1905 - Centro de Brusque. A edificação é a primeira do lado direito da imagem, sendo possível perceber a imponência do prédio, em relação as demais construções já no início do século 20

gurinos europeus, por meio dos quais se entrava em contato com a moda do continente distante, ali se contava com um bom papo. E um papo gostoso já era apreciado naqueles tempos. A fama da qualidade dos serviços era tamanha que Carlos Renaux, Cônsul do Brasil em Baden-Baden, encomendava-lhe seus ternos, quando tinha à disposição os serviços de alfaiates europeus. E lá ia o trabalho de Gustavo para o outro lado do mar.” (1972, p. 5) A Alfaiataria Elegante foi a primeira

do gênero no município, apesar de haver alguns alfaiates na colônia, o novo empreendimento foi um sucesso. O crescimento da alfaiataria foi visível, segundo relatos de Guinter Krieger: “Primeiramente, a Alfaiataria Elegante ficava situada em um prédio em frente da antiga Caixa Econômica Federal, depois passou para um prédio da Renaux, onde hoje fica a praça Barão Schneeburg, e mais tarde compraram um prédio em frente da praça onde teve que passar por uma grande reforma. A

arquitetura era considerada uma das melhores e mais bonitas do fim do século 19 na cidade.

Referências KRIEGER, Carmelo. Aldo Krieger: Histórias contadas por Carmelo Krieger. Florianópolis: Copyright, 2004. KRIEGER, Débora. Centenário de nascimento: Gustavo Krieger. Brusque: Edição de Brusque, 1972.


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Loja Irmãos Krieger:

de pai para filhos MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

Gustavo Krieger casou-se e teve dezessete filhos, todos aprenderam o ofício do pai, porém, dois deles, Axel e Nilo deram continuidade ao projeto de Gustavo Krieger. Axel se dedicou à gestão, cuidou da administração da empresa, e Nilo seguiu a profissão de alfaiate e tornou-se também conhecido por suas produções. Em 1946, no dia 28 de março, os irmãos Axel e Nilo investem na alfaiataria e inauguram a Irmãos Krieger. Além da confecção de ternos, os irmãos investem em um mix de produtos, que complementavam o negócio. De acordo com Guinter Krieger, que também trabalhou na empresa, os produtos eram camisas, meias, gravatas, inclusive louças finas e chapéus. Os responsáveis pela criação, inicialmente, eram os próprios proprietários, Sueli Krieger Bado, filha de Axel, conta que Adelaide, esposa de Gustavo Krieger, foi por muitos anos a modista da empresa. “Minha avó não era só, ou apenas uma costureira, ela era modista, fazia roupas para as madames da época, como: Renaux, Buettner, Schlösser entre outras personalidades femininas”. Axel, o administrador, também contribuía para as criações. Segundo Guido Krieger, “ele inventou um colarinho turbenizado, que era duro como plástico e que fez o maior sucesso nas camisas sociais naquela época”. Sueli Krieger Bado complementa, “Tio Nilo era o responsável pelos moldes, mas lembro-me que meu pai também fazia os moldes da confecção, e sempre me questionei, pois meu pai entendia muito de moldes, não sei como, pois tirando minha avó, que ensinou o que ela sabia, ninguém nunca mais o ensinou nada. Eles compravam os figurinos, assim tinham inspiração para desenvolver as peças.” Os figurinos narrados são as revistas internacionais. Atualmente muitas das revistas estão no acervo do Instituto

Loja Irmãos Krieger Aldo Krieger, um museu da cidade que guarda os documentos da família. De acordo com Carmelo Krieger, responsável pelo museu, esses figurinos vinham da Europa, na sua maioria da Alemanha. Inclusive no período da Segunda Guerra Mundial, muitos deles foram jogados no lixo ou queimados. Porém, a paixão pela profissão fez com que os proprietários selecionassem os melhores e envolvessem várias vezes em plásticos e tecidos para protege-los e enterrá-los. Passada a guerra, as revistas (figurinos) foram desenterradas e utilizadas novamente.

De acordo com Beatriz Mafra, a confecção era destaque em toda a região, e todos gostariam de trabalhar lá. Ainda jovem teve a oportunidade de entrar na empresa. Iniciou como auxiliar e, posteriormente, aprendeu a costurar. Segundo ela, a empresa tinha um setor de aprendizagem, onde oferecia cursos de aperfeiçoamento, que preparava os funcionários. Aos poucos foi crescendo com a empresa e tornou-se uma das primeiras estilistas da cidade, chegando a viajar para fazer pesquisas. Aliás, a empresa foi a primeira na ci-

dade a fazer viagens com o objetivo de pesquisar moda. Segundo Mafra, a Krieger era o trabalho, a escola e também uma família. A Irmãos Krieger foi uma empresa de grande potencial, por muitos anos contribuiu e fez história na cidade de Brusque. Proporcionou o nascimento de diversas confecções na cidade, pois serviu de escola para muitos. E, apesar da diversidade de empreendimentos em Brusque, a Irmãos Krieger permanece como referência de qualidade em confecção de ternos mesmo nos dias atuais.


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Máquina de costura: A moda brusquense estava de comum acordo com a moda apresentada no país em diferentes aspectos. Jornais locais traziam encartes especiais de importantes periódicos nacionais, como Moda e Bordado, que pertencia à mesma editora do Anuário das Senhoras, e que em 16 de outubro de 1954 chegava às mulheres brusquenses por meio do jornal O Rebate de Brusque, com o seguinte enunciado, “Moda e Bordado, a revista-figurino das modistas e costureiras de todo o Brasil. Vestidos para todas as horas. Um modelo para cada gosto. Últimas criações dos costureiros de Paris. [...] Conselho de beleza”. Além das importantes revistas, a cidade promovia cursos de moda às mulheres, como o Curso de Corte e Creation, que era anunciado no jornal em 2 de junho de 1951. As propagandas eram intensas e ofereciam todas as ferramentas necessárias para a confecção do próprio vestuário. Aliás, nessa época dificilmente havia uma mulher que não tinha a própria máquina de costura. E, claro! As lojas favoreciam a compra. A Casa do Rádio, importante loja do período, já parcelava seus produtos. Anúncios de Personal Style já contribuíam para a atualização da moda local. Em 15 de setembro de 1961 o jornal O Município publicava, “Consultas de Beleza de Elizabeth Arden”. Era a moda permeando o universo feminino em Brusque

objeto de desejo das mulheres dos anos 50 e 60 JORNAL MUNICÍPIO


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Dos corredores das fábricas de tecidos às passarelas da moda: Os anos 50 ficaram mundialmente conhecidos por suas significativas transformações. Receberam, assim, a terminologia de Anos Dourados. Os desfiles de moda foram importantes eventos no período. As empresas brusquenses iniciaram um forte investimento em suas produções, já fazendo uso do marketing como elemento de propagação. Além de propagandas em jornais e revistas, as empresas organizaram eventos de destaque. Um dos primeiros foram os desfiles de moda, que iniciaram em 1952, se tornaram grandes acontecimentos para a moda local. O evento foi realizado no Clube Atlético Carlos Renaux, considerado da alta sociedade brusquense e responsável pelo primeiro time de futebol de Santa Catarina. Em 1952 o público conheceu as primeiras modelos da cidade, filhas de associados e algumas funcionárias das próprias fábricas. De acordo com o livro escrito por Antônio Heil e Eloy Koch, o evento foi um sucesso. “[...] numa demonstração da pujança da produção têxtil brusquense, exibidos com rara graça e elegância por um grupo de senhorinhas filhas de associados (do Clube). A sra. Annie Rickert Bauer foi quem tudo idealizou e dirigiu. Os 42 modelos foram apresentados pelas seguintes senhoritas: Alice Schaefer, Arlete Becker, Janete Bernardes, Lilian Niebuhr, Lilly A. Aichinger, Maria Lucia Mayworne, Maria Luiza Wendhausen, Marlene Schaefer, Nyrma Diegoli, Odete M. Schaefer, Ruth Mosimann, Ruth Renaux, Zenaide Rodrigues e Zita Flores”. (HEIL; KOCH, 1960, p. 89). As empresas participantes foram: Fábrica de Tecidos Renaux S/A; Indústrias Texteis Renaux S/A, do mesmo grupo da anterior; Cia Ind. Schlösser S/A; Buettner Com. Ind. S/A; Ind. Tec.-Loureiro Bauer & Cia. Ltda; Tecelagem Santa Luzia S/A; Tecelagem São Luiz Ltda. e Mesteiral Tecelagem Ltda. O evento ecoou em Santa Catarina. Jornais e revistas deram ênfase ao assunto, destacando a iniciativa do acontecimento. O desfile re-

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Jeniffer Margaret Barbosa Morgana Bittencourt

ARQUIVOMUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

primeiro Desfile de Moda em Brusque

Odete Maria Schaefer – Primeiro Desfile de moda de Brusque – 1952

Referências CALLAN, Georgina O`Hara. Enciclopédia da moda: de 1840 a década de 90. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. HEIL, Antônio; KOCH, Eloy. Clube Atlético Carlos Renaux: ex SportClub Brusquense. O vovô do futebol catarinense. Santa Catarina, 1960.

Ruth Renaux - Primeiro Desfile de moda de Brusque – 1952. Foto Capa da Revista O Vale do Itajaí

sultou em considerável repercussão e contou com a presença de ilustres convidados, dentre eles, o governador do Estado de Santa Catarina, Irineu Borhausen; presidente da Assembleia, deputado Protógenes Vieira; deputado Celso Ramos Branco; prefeito de Brusque, Mário Olinger, e o prefeito de Florianópolis, Paulo Fontes. A revista O Vale do Itajaí publicou onze páginas ilustradas e comentadas, afirmando que “somente um termo pode exprimir o que foi o espetáculo proporcionado pelas indústrias de Brusque, com o desfile de modas, com os tecidos confeccionados pelas firmas deste importante parque industrial catarinense: maravilhoso.” (O Vale do Itajaí, 1952, p.02). O desfile foi promovido por empresas têxteis, que tinham como objetivo apresentar suas coleções de tecidos, porém, criaram trajes de acordo com a moda vigente. Os modelos em voga no período eram “New Look” de Christian Dior. Os modelos eram compostos por saias amplas quase até os tornozelos, cinturas bem marcadas e ombros naturais. Era a volta da mulher feminina e elegante, também na Brusque dos anos cinquenta. O primeiro desfile foi filmado, e os originais encontram-se sob a guarda do museu Instituto Aldo Krieger. No Brasil, a profissão de modelos vivos em desfiles de moda, tem início na década de 1940, a partir da fundação da Casa Canadá, uma casa de moda feminina, fundada em 1928, no Rio de Janeiro, que se tornou a primeira Maison de luxo do país, que realiza o primeiro desfile no país, em 1944.


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Exposição Nacional da Indústria

e I Festa do Tecido

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pós o sucesso dos desfiles, a exemplo dos grandes centros urbanos, os brusquenses ousaram e organizaram uma grande feira da indústria. A primeira aconteceu em 1960 e mobilizou não somente indústrias da própria cidade, mas também da região. O ano de 1960 foi um marco para história da cidade, que na ocasião completava cem anos. De acordo com o documentário em vídeo lançado após as comemorações do centenário de Brusque, a exposição foi um sucesso. Realizada no Parque do Centenário, o evento foi organizado pela empresa Promoções Centenário Ltda, de Cyro Gevaerd. Mais tarde, em 1965, foi organizada uma feira exclusiva para o setor têxtil, a Iª Festa do Tecido, que também mobilizou a cidade com desfiles de moda. E, assim, as feiras e desfiles viravam moda em Brusque.

Narração do vídeo do centenário

Referência Aqui são apresentados os vestidos que também surgem nos anos 50 e abrangem também parte dos anos 60, que foram os vestidos na linha H (tubinho), linha Y (ombros mais largos) e a linha A (trapézio). São os famosos vestidos “evasê” FOTO HOTEL MARAMBAIA

FOTO MUSEU E ARQUIVO HISTÓRICO DO VALE DO ITAJAÍ MIRIM “CASA DE BRUSQUE”

FLEMING, Francisco. 1º Centenário de Brusque. América Filmes. Cine amplo. Fita Cassete. 14 min. 1960.

Abertura da 1ª Festa dos Tecidos em Brusque.

Balneário Camboriú 1960-1970

Os trajes de banho também se fizeram presentes neste desfile. A medida que as praias recebiam mais e mais banhistas, havia a necessidade da criação de diferentes modelos deste traje específico

“Chega o senhor governador do Estado com sua comitiva, o senhor prefeito municipal e altas autoridades. O Dr. Guilherme Renaux faz o discurso da inauguração, e o senhor Heriberto Hülse, desata a fita simbólica no recinto da Exposição. Logo na entrada impressiona os visitantes o estande da renomada firma local – a Fábrica de Tecidos Carlos Renaux Sociedade Anônima. No ramo têxtil conta a Firma Carlos Renaux com duas fiações, três tecelagens, uma tinturaria, e uma secção de acabamento moderna, três fecularias, além de distribuidores de produtos marítimos e dezenas de lojas. Vemos igualmente na entrada do pavilhão outro belo estande. (...) A empresa iniciou com um capital de 600 mil cruzeiros, atingindo atualmente um capital de 90 milhões de cruzeiro. Pioneira no Brasil na fabricação de tecidos de cortinas e decorações, a produção anual da Indústria Têxtil Renaux é de dois milhões.(...) Aqui o atraente estande da Companhia Industrial Schlösser S.A. A Companhia Têxtil Industrial Karsten, de Blumenau, trouxe um estande muito bonito. A simpática firma Irmãos Krieger também tem o seu estande nessa grande mostra.(...) As cores alegres dos tecidos chamou a atenção do mundo feminino”. (FLEMING, 1960).


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Concursos de beleza em Brusque Natanna Betinelli

O

s concursos de beleza causaram impacto para a comunidade. A cidade projetava a beleza brusquense, colocando em evidência suas jovens mulheres em concursos. Em 1955, foi realizado o primeiro concurso de Miss Santa Catarina, em Florianópolis, quando a primeira miss de Brusque, Carolina Josefina Ba-

ckes, alcança o segundo lugar no Estado. Em 1956, foi realizado em Brusque o segundo concurso de Miss Santa Catarina, evento que marcou a comunidade e foi considerado “o maior acontecimento social brusquense”. No ano de 1976, uma brusquense é eleita Miss Santa Catarina, a srta. Édina Siemsen, em concurso realizado em Blumenau. Édina participou do Miss Brasil, em Brasília, e ficou entre

as oito finalistas. Havia uma diversidade de concursos, porém, os mais realizados em Brusque eram de Miss Estudante, na época realizados pela União Estudantil Brusquense, e Miss Indústria, organizado pelas fábricas. A partir das fotografias dos concursos de beleza do período é possível observar os reflexos das misses escolhidas em nível nacional, sobre aquelas escolhidas em Brus-

que. Assim como a escolha do cenário. A cidade, também, a partir dos concursos de beleza, seguia as tendências de moda nacional. As jovens mulheres apareciam com frequência com seus curtos cabelos e rostos angelicais, ditando moda e beleza. As imagens apresentavam modelos de feminilidade e juventude, frequentemente publicadas nos jornais influenciando a moda local.

Miss Brasil 1957, Terezinha Morango

Rainha dos Estudantes 1957 - Lia Mendes

Miss Universo, 1963 - Ieda Maria Vargas

MIRIAN SCHAEFER FEDELI

1º Concurso de Miss Santa Catarina realizado em Florianópolis A brusquense Carolina Josefina Backes, alcançou o segundo lugar (número 13) A partir da imagem é possível observar a elegância da jovem brusquense


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INFORME PUBLICITÁRIO

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Amábile da Silva

O

s anos sessenta registraram um período de significativas transformações. O momento era de romper com as tradições. Os jovens passam a ser o centro das atenções, pois desejam mudanças. Em 1964, o país foi palco da ditadura militar, e os jovens, se engajavam, lançando um comportamento pouco visto antes. O país vivenciava o início dos novos tempos. Enquanto as bibliografias trazem os anos sessenta como o período do jovem, em Brusque, o jornal O Município, principal meio de comunicação da cidade, destaca em suas páginas senhoras bem-vestidas, lançando “as mais elegantes da cidade”. As senhoras brusquenses eram sinônimos de moda, e não estavam envolvidas com o período revolucionário do vestuário, apontado por alguns autores. Porém, não se descarta a hipótese da juventude brusquense, que não aparecia nos jornais, estarem atuando de acordo as características do período.

Referência POLLINI, Denise. Breve história da moda. São Paulo. 2007

ARQUIVO NORMA SCHAEFER

Discreta e na moda: Norma Schaefer, a mulher mais elegante da década de 1960 A imagem selecionada, de 24 de dezembro de 1965, vem acompanhada do seguinte texto: “Sra. José Germano (Norma Schaefer). Um nome que representa a elegância da mulher brusquense, Norma, dona de personalidade marcante e bom gosto é uma dama verdadeiramente elegante. Este ano, foi “patronesse” das debutantes e o fez em grande estilo. Seus trajes são extremamente de bom gosto e em outras cidades sua elegância é sempre notada.” Norma é esposa de Germano Schaefer, vereador entre 1963 e 1969, que posteriormente foi eleito prefeito. Por inúmeras vezes foi notícia no jornal, antes mesmo do esposo ser eleito. Em 1960, o jornal dizia, “dia 15, receberá os parabéns pelo seu natalício, a elegante Sra. José Germano Schaefer. A Norma, que é das mais elegantes de nossa cidade, esta coluna almeja constante felicidade”. E, em 1961, a notícia é mais enfática “Dona Norma possui grande dose de charme e é uma das ditadoras da moda em nossa sociedade”. O vestuário sofisticado e clássico, atrelado a pose que, discretamente, não olha diretamente para a câmera posicionando as mãos de maneira muito peculiar, remete a uma mulher preocupada com sua elegante postura. Realmente uma legítima mulher elegante! A palavra elegante estava em evidência e remetia às mulheres que seguiam a moda. Porém, não só em Brusque, como em todo o Brasil. Dener Pamplona de Abreu, um dos grandes estilistas brasileiros da década de sessenta, criador da Casa Canadá, era sucesso no país. Em 1963, Dener, tornou estilista oficial da primeira dama do Brasil, Teresa Goulart, que foi eleita a mulher mais elegante do país (POLLINI, 2005).


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ãos Krieger Propaganda das Irm

Vestidos com liberdade:

Imagens da moda em

Brusque nos anos setenta ARQUIVO PARTICULAR DE UM DOS RETRATADOS

“A roupa clássica – mostrando toda a categoria da roupa Krieger, este é o novo manequim que as confecções Krieger contrataram para as futuras promoções da firma”. A matéria é destaque no referido jornal, que segue dizendo, “em todo o estado catarinense e fora dele, os elegantes estão se vestindo com os modelos que orgulham a Cidade dos Tecidos na moda atualizada. Com pinta internacional, é bom salientar”. Era chique “Paletó” Xadrez! ARQUIVO JOSÉ CARLOS SCHMITZ

Casamento de Adolfo Maçaneiro Rita Maçaneiro realizado no Clube Guarani, em Brusque, em 1978

Jovens de Brusque e Nova Trento, na década de 1970 (o grupo solicitou não ser identificado)

Danubia Gonçalves

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fim da década de 1970 chegou com um impasse, os jovens que tinham projeto de mudar o mundo perceberam que não era tão simples, pois entravam em conflito com o sistema ditatorial, que estava abusando do seu poder, praticando os

mais absurdos atos contra aqueles que fossem contra suas iniciativas. Sendo assim, os jovens iniciam um movimento estético, que permeou a década, buscando elementos que compunham o ideário “paz e amor” dos hippies, num momento extremamente conturbado. Esse movimento serviu como pano de fundo e camuflou os acontecimen-

tos da época. A identidade agora é outra, traziam um visual diferenciado, como calça boca-de-sino, camisas ou “paletó” xadrezes (ou os dois), multiestampas, cabelos longos, batas indianas etc. As produções de moda das lojas Irmãos Krieger influenciavam os homens em Brusque.

José Carlos Schmitz, advogado e professor em Brusque, é o terceiro da direita para a esquerda. Segundo ele, “se você não está na moda, fica alheio ao grupo que está envolvido. Sempre tive a preocupação de me vestir de acordo com ela. Até os dias atuais, quando vou mandar fazer um terno, procuro saber o que está se usando, se é com três botões, corte italiano etc. Acho interessante, faz com que a pessoa se sinta bem. A pessoa bem vestida aparenta melhor”. Schmitz, lembra com saudades da sua juventude, quando cita os lugares que frequentava. Afinal, moda também é comportamento! “Gostava muito do barzinho da Caixa D’água, do bar Beira Rio, onde hoje está localizado o hotel. Íamos muito aos Bailes do Chope, no Guabirubense, no Guarani e Santos Dumont. Ouvia Roberto e Erasmo Carlos, mas gostava mesmo era de músicas sertanejas como, Tonico e Tinoco, Jacó e Jacozinho, Abel e Caim e muito outros. Em 1975, meu pai comprou uma Brasília bordô, foi um sucesso! Nos divertíamos mais do que os jovens de hoje. Não tinha tanta tecnologia, havia mais contato humano. Era muito melhor!”


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Brusque: Capital Nacional do turismo de Compras ou Polo da Pronta Entrega Madalena ainda relembra os tempos em que aquele local era o centro das atenções dos lojistas. Inicialmente, as pessoas iam até sua casa pedindo que ela costurasse vestidos, sutiãs etc. Mais tarde, seu marido, Ezaulino Roux, já falecido, fundou a confecção. Na época em que o bairro Azambuja era o centro de compras de Brusque, a confecção de dona Madalena chegou a receber dois ônibus em uma só hora, atendendo com quatro

balconistas. Hoje, porém, segundo Dona Madalena, o movimento na região e na confecção decaiu devido ao surgimento de novos shoppings na cidade. Atualmente, dona Madalena, com 80 anos de idade, e seu filho ainda administram a confecção, e é responsável pela compra de materiais, pagamentos e outras atividades na empresa. Após o sucesso da rua Azambuja nos anos 80, foi a vez de outras regiões da

cidade despontarem com seus centros de vendas. Eram muitos os ônibus vindos de outras cidades catarinenses e até de outros estados. As lojas, localizadas nas ruas, já não davam conta de recebê-los, a infraestrutura era carente, o momento era propício para reorganizar esse sucesso repentino do setor de confecções em Brusque. Assim sendo, feiras e shoppings foram fundados em diferentes locais da cidade.

Rua Azambuja

FOTO AMANDA AUGUSTA RIFFEL

FOTO FAN PAGE “FOTOS ANTIGAS DE BRUSQUE”

indústria têxtil impulsionou a economia brusquense, mas foi a partir da década de 1980, que se viu uma quantidade significativa de pequenas confecções surgirem na cidade. Muitos dos funcionários das grandes fábricas de tecidos deixavam a indústria para iniciar seu próprio negócio. Brusque transforma-se na Capital Nacional do Turismos de Compras ou Polo da Pronta Entrega. A cidade iniciou com um grande shopping ao “céu aberto”, localizado na rua Azambuja. De acordo com o empresário Luciano Hang, diretor-presidente da Havan, que também iniciou trabalhando na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, “As confecções na rua Azambuja iniciaram com as sobras de tecidos das fábricas. Elas proporcionaram o nascimento deste novo segmento: o da confecção. As fábricas davam fardos de restos e retalhos e isso foi sendo distribuído entre as famílias, que tinham a oportunidade de transformar em peças prontas, logo o setor foi crescendo. Porém, o grande diferencial mesmo foi o momento em que surgem as primeiras malharias, pois este é um setor rápido.” Os jornais traziam matérias citando o novo fenômeno do deslocamento econômico – de funcionário a empresário. “Quando o operário Euzalino Roux deixou o seu emprego de fiandeiro na fábrica Buettner S.A. Indústria e Comércio, para registrar em 1974, a primeira confecção da região da rua Azambuja, não imaginava que estava iniciando um dos mais importantes polos de turismo de compra do Sul do País.” (Jornal Gazeta Mercantil de 29 de agosto de 1994) A matéria apresenta o primeiro operário se deslocando dentro do mesmo setor, saindo da indústria de tecidos para confecção. O jornal complementava com a situação atual da década de 1990, quando informava que já eram 22 centros comerciais com 1,5 mil lojas de confecções por atacado no sistema de pronta entrega. As primeiras excursões vieram entre 1978 e 1980, e ali fizeram suas compras. Aqueles primeiros fregueses, voltaram como guias, atraindo cada vez mais pessoas. A Confecção Roux ainda está localizada em Brusque, no mesmo bairro. Dona

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Dona Madalena Roux em sua confecção na rua Azambuja


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As transformações políticas e econômicas no Brasil na década de 1990: reflexos na indústria têxtil Carina Gottardi Imhof a década de 1990, o Brasil passa por macro transformações políticas e econômicas, tendo pela frente enormes desafios, dentre eles, um dos mais temidos por todos, a inflação, que assombra grande parte dos brasileiros. Um processo chamado de redemocratização, vai reformulando a história do Brasil, medidas vão sendo tomadas para tentar amenizar o problema gerado pela alta inflação que existia no Brasil, que teve marcas recordes na década anterior. A indústria têxtil brasileira neste mesmo período, ou seja, até 1990, possui um ambiente considerado favorável para sua atividade. Veja alguns fatores que levam a esta condição: Volumes de estoque - em um ambiente inflacionário, ter volumes em estoques, de insumos e produtos acabados, poderia ser considerado algo muito positivo para uma empresa, fator gerador de lucros. Afinal, a cada mês os preços dos produtos aumenta e que foi produzido por um valor X, será vendido por um outro valor, que poderá ser bem maior que o previsto inicialmente. Concorrência – este fator também é favorável, a indústria têxtil brasileira neste período não sofria com a concorrência externa, as importações eram barradas por tarifas alfandegárias que impediam a entrada de produtos vindos de outros países. Assim, nossa indústria tinha uma concorrência mais leal. A concorrência que existia era basicamente de outras indústrias nacionais que competiam em mesmo nível, pois, as regras eram as mesmas para todas elas. As mudanças políticas e econômicas no país vão acontecendo ao longo da década de 1990, com o então governo Fernando Collor que vence as eleições no ano de 1989. Com o novo governo, ocorreu o lançamento de alguns pacotes econômicos visando especialmente a redução da inflação. Uma das medidas mais conhecidas e que afeta diretamente a indústria têxtil, é a chamada “abertura comercial abrangente”. A partir daquele momento, as importações são facilitadas e o cenário onde atua a indústria têxtil brasileira vai se alterando drasticamente, é um processo que não pode ser percebido imediatamente, mas, ao longo dos anos terá reflexos altamente desastrosos para a indústria. A abertura comercial, não será uma ação exclusiva do governo Collor, ela é uma tendência mundial, com a globalização da econômica, o ponto central da globalização é a integração dos mercados numa “aldeia global”. A diminuição das barreiras comer-

N

DAVID T. SILVA - ARQUIVO MDD - 3/7/2013

ciais, fará surgir um novo modelo comercial no Brasil focado nas importações. A produção industrial, dará lugar também a simples comercialização de produtos. Ao se analisar a tabela, pode-se comparar o desempenho positivo e negativo da balança comercial brasileira no segmento têxtil. Quando realizada a comparação, se pode perceber que a partir do ano de 1995, o saldo da balança comercial do segmento têxtil começa a ficar desfavorável. Isso significa que o Brasil está importando (comprando de outros países) mais do que exportando (vendendo para outros países). O país passa a ser invadido por produtos de vários segmentos, vindos especialmente da Ásia. Mas, o que recebe destaque é o têxtil, com produtos têxteis e de confecção acabada. As tarifas de importações caíram pela metade o que favoreceu imensamente esse quadro. A estabilização da moeda já no final dos anos 90, é também um dos fatores favo-

ráveis às importações, acirrando ainda mais a concorrência interna. Não houve concomitante a abertura comercial um plano de política comercial que abrangesse os diversos setores da indústria. As empresas do segmento têxteis, visando um melhor desempenho produtivo, para poder enfrentar a concorrência, realizam investimentos tecnológicos nesse período, talvez não na proporção necessária, mas repercute em algum resultado. Além do investimento tecnológico no parque fabril, outras frentes careciam de esforços inovativos, dentre

elas podemos citar: o setor organizacional, produto e, especialmente, gestão. O que não ocorreu em algumas indústrias. A grande dificuldade para esta readequação ao mercado está diretamente ligada ao modo de agir dessas empresas perante o mercado, elas possuem culturas pré estabelecidas que precisariam ser mudadas, mas esse processo é lento e gradual, quando conseguido. Pode-se chamar essas empresas de “sistemáticas” num modo de se posicionar, o que as torna mais sensíveis às adversidades externas, ou seja, alheias à ela, e isso em algum momento pode ser fatal.

Comércio exterior brasileiro (em US$) Ano

Exportação

Importações

Saldo

1980

916 mil

120 mil

796 mil

1995

1,441 milhão

2,291 milhões

- 850 mil

2000

1,222 milhão

1,606 milhão

- 384 mil

2007

2,4 bilhões

3 bilhões

(-644) milhões

Fonte: ABIT e MDCI/Aliceweb 2008


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FOTO ARQUIVO/UNIFEBE

Organizações e Escolas de Moda e Têxtil Edinéia Pereira da Silva Betta

A

moda tem sido uma preocupação para a cidade. Organizações como a Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque (AMPEBr), Convention & Visitors Bureau de Brusque, Associação Comercial e Industrial de Brusque (ACIBr), Sindicatos e Instituições Educacionais, tem trabalhado muito para manter esse sistema de moda. Os cursos preparatórios iniciaram junto com a indústria têxtil. Dentro das próprias fábricas, em casa e, posteriormente, em instituições especializadas. O saber era passado e repassado de geração em geração. Técnicos, modistas e costureiras vinham do exterior para ensinar. A partir de 1957, o Senai instalou-se em Brusque, para atender inicialmente o setor têxtil e, posteriormente, foram criados diferentes cursos voltados ao vestuário e à moda. Atualmente, a cidade conta com quatro cursos de nível técnico em moda, têxtil e vestuário e três de nível superior, que estão realizando desfiles, convênios, palestras e cursos de extensão. Estão realmente proporcionando formação e colocando a moda em movimento na cidade. Em 2012, o Curso de Design de Moda do Centro Universitário de Brusque (Unifebe) realizou um curso de Moda com módulos em Paris. Os acadêmicos tiveram a oportunidade de estudar no Instituto Francês de Moda, além de ter aulas ao ar livre na cidade berço da moda. Atualmente, dos 25 acadêmicos que participaram, 30% se destacaram dentro das empresas e já estão liderando setores de desenvolvimento. No próximo ano, os acadêmicos irão para Nova York, Milão e Paris.

Acadêmicos em frente da Loja Chanel – Paris

Acadêmicos em frente da Torre Eiffel – Paris


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Sidnei Gripa Sérgio Gamba Wallace Nóbrega Loppo Osnir José Merísio Edival Batista Monn

Pesquisa do perfil do empresário do setor têxtil Pesquisa em andamento realizada pelos acadêmicos do Curso Superior de Tecnologia em Produção Têxtil do Centro Universitário de Brusque (Unifebe),

em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) identifica perfil parcial dos empresários do setor têxtil de Brusque e Região.

A pesquisa aponta para uma predominância do sexo masculino à frente das organizações, porém, com um percentual relativamente significativo para o sexo feminino, que deve

Idade dos empresários

Formação técnica na área têxtil

40% 34%

35% 28%

30%

90% 78%

80% 70% 60%

22%

25% 20% 16% 15%

50%

Não

40%

Sim

30%

10%

20%

5%

10%

0%

0% 21-30 anos

31-40 anos

41-50 anos

22%

Acima 50 anos

Idade em que abriu a empresa

Sexo dos empresários 90%

crescer até o término da pesquisa no fim de 2013. Outro dado muito interessante é que 66% dos atuais administradores das empresas estão com idade inferior a 50 anos.

84%

80%

6%

70%

9%

19%

abaixo de 21

60% 50%

Masculino

40%

Feminino

30% 20% 10% 0%

16%

de 21 a 30 de 31 a 40 38%

28%

de 41 a 50 acima de 50


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| ESPECIAL 153 ANOS DE BRUSQUE | SEXTA-FEIRA, 2 DE AGOSTO DE 2013 Dando destaque ao perfil empreendedor nato da região, podemos observar que a falta de formação técnica na área têxtil não foi obstáculo para a abertura do negócio. A baixa faixa etária também não

representou impedimentos, tendo em vista que quase 50% dos novos negócios foram criados por empreendedores com idade inferior a 30 anos e quase que na totalidade com recursos próprios.

Número de empresas pesquisadas por ramo de atividades Reciclagem

90%

Tecido Plano

7%

70%

Malharia

36% 2%

Felpa

7%

Confecção

27%

Comércio/representação Beneficiamento

10%

A pesquisa também revela, até o momento, uma maior concentração das empresas na cidade de Brusque, seguida pela cidade de Guabiruba. Dentre os segmentos, destaca-

15%

50%

Não Familiar

40%

Familiar 19%

20%

11% 5%

60%

30%

7%

0%

81%

80%

2%

Fiação

com empresas sólidas, já que 78% das empresas pesquisadas estão a mais de 5 anos no mercado, ou seja, passaram a fase crítica que vai até o segundo ano de operação, onde, boa parte das empresas não sobrevivem.

Caracterização da empresa

0%

Serigrafia

Importante polo têxtil nacional, na região também há uma grande concentração de micro e pequenas empresas. Em torno de 79% dos empreendimentos, mostra a força e a importância do pequeno empresário. O setor está constituído

10%

20%

25%

30%

35%

40%

0%

-se o aparecimento maciço das empresas de malharia, e confecção, apontando para uma mudança no perfil histórico da região, focado na tecelagem plana e de felpa.

Geração que administra a empresa

Tempo de atividade da empresa

Segunda

24%

acima de 15 anos

Primeira

31%

76% de 11 a 15 anos

25%

de 6 a 10 anos

22%

até 5 anos

22% 0%

5%

10%

15%

20%

25%

0%

30%

35%

Porte empresarial, segundo número de funcionários Segundo dados do Sebrae (2011) no Brasil anualmente são criados em torno de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais. Deste total, mais de 99% é micro e pequenas empresas e empreendedores individuais (EI). A sobrevivência desses empreendimentos é de fundamental importância para o sucesso econômico do país.

20%

40%

Em virtude da colonização da região, precebe-se que as organizações são quase todas familiares e, em 76% das organizações, a adminitração está na mão da primeira geração, ou seja,

Porte Microempresa (MPE)

60%

80%

dos fundadores da empresa. Este dado nos remete a uma reflexão, pois, empresas sólidas da região passaram por grandes dificuldades na transição para segunda geração.

Indústria

Agropecuária, comércio e serviços

Até 19

Até 9

Pequena empresa (PE)

De 20 a 99

De 10 a 49

Média empresa (MDE)

De 100 a 499

De 50 a 99

Grande empresa (GE)

Acima de 499

Acima de 99

Fonte: SEBRAE (2010, p. 20).


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Moda e produções

sustentáveis

ARQUIVO ELSA DE MARCHI

Traje de época desenvolvido por Elsa de Marchi com resíduos têxteis

Tamily Roedel os dias de hoje há uma preocupação maior com a natureza, principalmente em relação aos problemas ambientais que o planeta vem enfrentando. Os produtos ecológicos ou eco-produtos são aqueles produzidos sem agredir o ambiente, com matérias-primas renováveis ou produtos não renováveis, mas que são reaproveitados ou reciclados, ou que tenham impacto reduzido durante o seu processo de fabricação. Com o cuidado na produção e descarte dos resíduos, é relevante citar que em Brusque, temos bons exemplos como a empresa Benetex Reciclagem Têxtil Ltda., que tem contribuído com a produção de desfibrados coloridos, a partir de fibras têxteis regeneradas; e a Benefios Reciclagem Têxtil Ltda.; juntas contribuem, maximizando o aproveitamento dos recursos, reduzindo gastos e desperdícios, oti-

N

mizando o espaço físico, reduzindo e prevenindo acidentes e melhorando as relações humanas. Vale ainda destacar que a Benetex possui a certificação ISO 14001, assegurando que a empresa tenha um sistema de gestão ambiental que engloba uma série de procedimentos e sistemáticas que visam assegurar o atendimento à legislação vigente, identificando os aspectos de suas atividades, produtos e serviços e controlando os respectivos impactos ambientais, garantindo o controle operacional de seus processos, a fim de conservar o meio ambiente e buscar sempre a melhoria do desempenho ambiental. A moda também pode ser expressada por meio de uma dimensão social, na qual se inclui um trabalho de uma empresa ou artesão em uma comunidade, respeitando-se a cultura e estilos de uma certa região; combater a confecção a partir de peles de animais, ou não apoiar o trabalho escravo.

Observa-se que é mais comum associar a moda ao reaproveitamento de tecidos, ou pela produção de peças recicladas. Mas o conceito pode ser explorado de maneira ainda mais ampla, as peças produzidas podem ser atemporais, ou seja, aquelas que podem ser usadas em diferentes coleções, apesar de sempre se ter uma tendência à mudança. O conceito abordado aqui, é a do slowfashion, as peças podem unir criatividade, elegância e estilo a qualquer momento, sem que o consumidor precise estar adquirindo bens em quantidades excessivas. Infelizmente, alguns produtos que trazem o conceito de sustentabilidade, ainda possuem um valor agregado no processo de fabricação, tendo um preço elevado. Mas vale a pena apoiar, afinal, empresas que reutilizam e reciclam resíduos, evitam que restos sejam jogados em terrenos baldios ou superlotem os aterros.


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Sindicatos Arthur Timm

SINTRIVEST Criado no final da década de 1970, com o nome de Associação dos Profissionais nas Indústrias do Vestuário de Brusque e Guabiruba, tinha como principal objetivo garantir benefícios aos trabalhadores do setor, na maioria, funcionários da antiga Krieger S/A. Com necessidades de uma maior atuação, em 1982 foi transformado em sindicato por meio da concessão da carta sindical, nomeando como Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Brusque e Guabiruba. Teve papel principal na defesa dos trabalhadores na falência das empresas: Krieger (1998) e Bordados Appel (2006). Em 2002, teve sua nomenclatura alterada, passando a se chamar: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário, Bordados, Couro, Calçados e Similares de Brusque e Guabiruba. Fundação: outubro de 1982 Filiados: cerca de 5.500 Atual presidente: Marli Leandro Onde: Avenida Arno Carlos Gracher, 323

SINDMESTRE A disposição dos cargos que atualmente encontramos nas nossas indústrias é um pouco diferente das de algumas décadas atrás. Cargos que, hoje, se equivalem a supervisores e encarregados, já foram denominados mestres e contramestres, tendo um peso um pouco diferenciado. Neste quadro e não sendo vistos como trabalhadores pelos demais operários do setor têxtil, foi criada em 1961, a Associação Profissional dos Mestres e Contramestres na Indústria de Fiação e Tecelagem de Brusque, preenchendo, assim, a lacuna existente da representatividade desses trabalhadores. Com o passar dos anos e com o avanço da modernização industrial, viu-se a necessidade de abrangir um maior número de filiados e adotou-se a denominação SINDMESTRE – Sindicato dos Mestres, Contramestres, Técnicos Têxteis, Pessoal de Escritório, ocupantes de cargos de chefia, das indústrias de fiação tecelagem, malharia, tinturaria e assemelhados de Brusque e região, e abrange as cidades de Brusque, Nova Trento, Guabiruba, Botuverá, Canelinha, São João Batista e Tijucas. Atualmente, o sindicado conta com aproximadamente 1.200 filiados ativos e 500 aposentados, e tem na presidência, Valdírio Vanolli. Fundação: 1961 Filiados: 1.200 ativos e 500 aposentados Atual presidente: Valdírio Vanolli Onde: Rua Arthur Kistenmacher, 96 – Azambuja

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SINTRAFITE O sindicado mais antigo de Brusque tem sua fundação datada no ano de 1933, época quando os trabalhadores começavam abrir os olhos para os direitos trabalhistas e despertava o desejo de remuneração digna e melhores condições de trabalho. De lá pra cá, de geração em geração, o sindicato se faz presente, apresentando notórias ações, dentre elas as manifestações de agosto de 1984, quando foi alcançado 25% de reajuste salarial e em novembro de 1986, que após três dias de paralisações foram alcançados 20% de reajuste. Atualmente, o sindicato oferece serviços assistenciais como: odontologia, clínico geral, pediatra, ginecologista, cardiologista e ultrassonografia, além de atuar juridicamente na falência das centenárias Buettner S/A, Companhia Industrial Schösser e Têxtil Renaux, em prol da classe operária. Conta com cerca 12 mil filiados e tem como presidente Anibal Boettger, que há 16 anos está à frente do sindicato. Fundação: 1933 Filiados: 12 mil Atual presidente: Anibal Boettger Onde: Rua Tiradentes, 35 – Bairro Primeiro de Maio

ACIBr A preocupação com o desenvolvimento local e o espírito empreendedor são marcas do povo brusquense. O reflexo dessas qualidades é cada vez mais apresentado em organizações que não se preocupam apenas em buscar o melhor, mas o crescimento e fortalecimento das relações, gerando benefícios, promovendo uma melhoria individual e coletiva por meio do associativismo, e o mais importante, de uma forma sustentável. E uma das organizações que se encaixam dentro deste conceito é a Associação Empresarial de Brusque – ACIBr, entidade dinâmica e atuante, considerada por lideranças políticas e empresariais como uma das mais importantes do Estado. Sua fundação data de 1934, quando um grupo de empresários buscava uma entidade que representasse seus interesses e respaldasse suas reivindicações. De lá pra cá essa força só aumentou, tornando sinônimo de progresso e ponto de referência para atender às necessidades da classe empresarial e da comunidade como um todo. A ACIBr tem como atual presidente o industrial Edemar Fischer, e conta com cerca de 650 empresas em seu quadro associativo. Fundação: 2 de outubro de 1934 Filiados: aproximadamente 650 empresas Atual presidente: Edemar Fischer Onde: Rua Pedro Werner, 180 – 3º andar CESCB

SIFITEC

O Sindicato das Indústrias do Vestuário de Brusque nasceu da associação de alguns empresários, na data de 29 de março 1983, sendo tal associação presidida por Guinter Krieger. Em 1985 foi reconhecido o pedido de transformação como entidade sindical, abrangendo os municípios de Brusque, Botuverá, Guabiruba e Nova Trento. Atualmente, o SINDIVEST representa mais de mil empresas da região, sendo presidido por Rita de Cássia Conti, a qual está à frente da entidade desde de outubro de 2012. O Sindicato Patronal está situado no Centro Empresarial, Social e Cultural de Brusque. Fundação: 1983 Filiados: aproximadamente 1 mil empresas Atual presidente: Rita de Cássia Conti Onde: Rua Pedro Werner, 180 – 3º andar CESCB

O Sindicato Patronal Têxtil, SIFITEC - Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem, Malharia e Tinturaria de Brusque, Botuverá e Guabiruba - nasceu da associação das empresas Carlos Renaux S.A, E.V. Buettner & Cia, Cia Industrial Schlosser, Otto Schaefer, Indústrias Renaux S.A. e Cia Industrial Tricot S.A., no ano 1937. Em sua trajetória, consta a contribuição para a fundação da FIESC – Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, no ano de 1950. Atualmente, o SIFITEC conta com 400 empresas em sua base de filiados, sendo presidido por Marcus Schlösser, a qual está à frente da entidade desde 22 de março de 2010. Localiza-se no Centro Empresarial, Social e Cultural de Brusque, onde realiza reuniões mensais com membros que compõem o RH das empresas associadas, reuniões mensais de Diretoria, Assessoria Jurídica, além de convênio firmado com o Sistema FIESC, no qual diversos serviços estão disponibilizados. Fundação: 1937 Filiados: 400 empresas Atual presidente: Marcus Schlösser Onde: Rua Pedro Werner, 180 – 3º andar CESCB

BRUSQUE CONVENTION & VISITORS BUREAU

AMPEBr

Fundado em 2011, o Brusque Covention & Visitors Bureau é uma associação civil que abrange os municípios de Brusque, Guabiruba, Botuverá e Nova Trento. Tem como objetivo a captação de eventos para esses municípios, fomentando a economia em diversos setores como: hoteleiro, restaurantes, turismo de lazer e compras. O ponto de partida e principal precursor do Brusque CVB foi o Projeto Polo Fashion que tem como objetivo a união dos shoppings de pronta entrega tornando Brusque um dos melhores destinos de compras no atacado do Brasil. Atualmente, o Brusque Convention & Visitors Bureau tem como presidente, Marcelo Francisco Maestri, localiza-se na rua Felipe Schmidt e conta com aproximadamente 270 empresas associadas. Fundação: 2011 Filiados: aproximadamente 270 empresas Atual presidente: Marcelo Francisco Maestri Onde: Rua Felipe Schmidt, 172, sala 602 – Bairro São Luiz.

A Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque - AMPEBr, foi criada em 1990, com o nome AICA – Associação da Indústria e Comércio de Azambuja. Teve sua nomenclatura alterada em 1997, ano em que passou a ter ligação com a FAMPESC (Federação das Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina). Desde 2000, promove três vezes ao ano a Pronegócio (Rodada de Negócios) que eleva o nome de Brusque em referencial têxtil em nível nacional e mundial, além de movimentar a economia da nossa cidade. Nas últimas duas rodadas, o número total de peças negociadas atingiu a marca de 2,7 milhões peças vendidas. Conta com aproximadamente 260 empresas associadas, além de um showroom permanente. Na presidência da associação, Luiz Carlos Rosin executa seu terceiro mandato. Fundação: 1990 Filiados: aproximadamente 260 empresas Atual presidente: Luiz Carlos Rosin Onde: Azambuja, 214 – 3º andar

SINDIVEST


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Moda e têxtil em Brusque:

privilégio, orgulho e saudade dos tempos de outrora Edinéia Pereira da Silva Betta O levantamento de dados acerca das atuais empresas têxteis presentes no território de Brusque e seus arredores, surpreende inclusive quem conhece a sua história, pois são dados pouco di-

vulgados. O que se percebe e ouve-se falar no dia a dia são confirmados a partir dos dados seguintes. Brusque realmente é modelo de desenvolvimento, pois envolve o setor têxtil como um todo.

Número de empresas pesquisadas por ramo têxtil/vestuário de Brusque

Gráfico elaborado a partir de pesquisas realizadas por Cínara Kohler e Arina Blum

LABORATÓRIO DE HISTÓRIA – UNIFEBE/ FOTÓGRAFO ROBSON SOUZA SANTOS


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LABORATÓRIO DE HISTÓRIA – UNIFEBE/ FOTÓGRAFO ROBSON SOUZA SANTOS

Como diria Georges Didi-Huberman “ O que vemos é diferente do que nos olha” De fato! Muitas vezes não percebemos o rico lugar em que moramos.

O mundo da moda já reconhece a qualidade dos nossos produtos Alexandre Herchcovitch, conhecido estilista brasileiro, utiliza e elogia os tecidos da cidade, “Já conhecia o trabalho da RenauxView há tempo, e pude comprovar que a performance final do produto na passarela é muito boa”. E acrescenta,“o país está num momento muito especial para a moda, e hoje não há como falar de moda no Brasil sem falar de Santa Ca-

tarina”. Certamente se refere a nossa cidade. A RenauxView é presença em algumas das importantes coleções de moda brasileira como, Cavalera, V.ROM - do Estilista Alexandre Herchcovitch; Priscila Darolt, Gloria Coelho, Carlota Joakina, Ronaldo Fraga, Fernanda Iamamoto, entre outros. Fonte: www.renauxview.com

Você vive na “Cidade dos tecidos” “Berço da fiação catarinense” “Capital nacional da pronta entrega”

Sinta orgulho, pois você é privilegiado! As pioneiras indústrias têxteis em Brusque fecharam suas portas, mas proporcionaram a abertura da sua pequena/grande empresa ou do local que você trabalha. Sim! Foram elas que proporcionaram conhecimento e experiência para o seu pai, avô, bisavô, vizinho, patrão e talvez até pra você! Foram elas que praticamente seguraram firme a economia da cidade por 121 anos. Parabéns Fábrica de Tecidos Carlos Renaux, Fábrica de Tecidos G. Schlösser & Filhos e Fábrica E. Von Buettner & Cia!

Vocês fizeram Brusque e ainda nos deixaram a maior herança: o espírito empreendedor, a experiência e muitas pequenas, médias e grandes empresas para que seguíssemos com nosso trabalho! Certamente não é fácil ver fotos. Máquinas que trabalharam dias e noites, sustentaram tantas famílias, hoje são sinônimos de saudades para aqueles que ali trabalharam, mas também de orgulho! Orgulho por ser parte dessa história! Em nome de todos os brusquenses e migrantes que aqui se instalaram, muito obrigada! LABORATÓRIO DE HISTÓRIA – UNIFEBE/ FOTÓGRAFO ROBSON SOUZA SANTOS

Em nome da Unifebe agradecemos ao Jornal Município Dia a Dia pela atenção, respeito e dedicação que sempre teve com a nossa história. Nossas pesquisas estão apenas no início, certamente há muitas histórias a serem registradas. Se você tem fotos antigas, histórias, documentos da nossa cidade e tiver interesse em doar para o nosso acervo, entrem em contato, que vamos até a sua casa. Para nós será uma satisfação estudar e registrar a sua história. Caso tenha encontrado algum dado que não esteja de acordo com a sua memória, teremos prazer em corrigir. Nosso interesse é preservar a real história.

Atenciosamente Edinéia Pereira da Silva Betta

labhistoria@unifebe.edu.br

Parte dos documentos utilizados pertencem à historiadora Maria Luiza Renaux, que, cuidadosamente preserva a memória do Vale do Itajaí, especialmente Brusque; Laboratório de História da Unifebe. E, acervo do Museu e Arquivo Histórico do Vale do Itajaí Mirim “Casa de Brusque”, que conserva cuidadosamente, embora quase que sem recursos, importantes documentos históricos da cidade. Atualmente a entidade é mantida por uma associação. Ajude a manter a nossa história viva! Visite e contribua com o museu. Assim preservamos nosso patrimônio.


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