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Recordar é Viver

RECORDAR É VIVER

Muge… Meu pequeno torrão Estás bem vincado Dentro do meu coração. Se o nosso querido jornal É um cantinho familiar Com os meus velhos conterrâneos Com saudade quero o passado recordar. É simples esta poesia Singeleza de coração Não tem sombra de categoria É somente recordação. À entrada da nossa terra Já quase esquecida Vê-se a velha ponte romana Pelas águas carcomida. No rio que corria ao lado Viam-se mulheres nas pedras a lavar Um campino que surgia gritando… Fujam mulheres… Os touros vão chegar; Fugia-se a toda a pressa Sem da roupa quase saber Do cimo do aterro contemplava-se Os corpulentos e negros touros a beber; Era chegado o inverno A cheia inundava o campo Era lamentável a situação Mas paisagem de beleza e encanto; Uma pequena e tosca barca Atravessava as águas barrentas O bater dos remos, parecia dizer Ao enrugado barqueiro: Porque te lamentas? Tem coragem… Deus cuidará de ti; Porque te atormentas?... Para suavizar a situação Logo mais, chega o carnaval Diziam os mais idosos Quem tem vontade de brincar Com tanto mal? Mas gente nova Dias de folia e brincadeira E no grande berço de madeira O bebé Patrício Ficou-nos na memória E de que maneira; Rapazes vinham para a rua As moças enfarinhar Elas fugiam gritando, Mãe… não os deixe entrar; Outras mais destemidas Vinham para a rua também Deixando-se enfarinhar; Era chegado o verão, Tempo das vindimas Canecos à cabeça das raparigas Enchiam de uva a dorna Cantando improvisadas cantigas; Saía a banda para a rua Estalavam foguetes no ar Crianças corriam felizes, contentes, Via-se também velhas mães chorar. Era dia de futebol Ouvia-se numa só voz de entusiasmo, Marosca passa a bola, Jarego ela está perto Chuta agora Cadete E era golo certo; era golo certo!... A Troupe Jazz os Trafulhas Grupo alegre e de bom som musical Havia um saxofone tenor Jamais houvera outro igual; A este Deus chamou; Ao Lar Celestial…

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Blusa azul, calça preta Ao pescoço lenço amarelo Foi a farda que estrearam Ao levantar do pano com entusiasmo A marcha dos foliões tocaram; Uma lágrima teimosa Caiu-me pelo rosto ao recordar A mocidade do meu tempo… Manuel Augusto, José António, Vital, e outro que não quero falar… Também as raparigas Manuela, M. Faria, Adélia E outras mais Passeávamos em grupo ao domingo Com nossos vestidos domingueiros E pensamentos iguais. 40 anos são passados E uma saudade Se deixa transparecer Recordar é viver.

J. M. L. G. - Paris

Ano V - Nº43 e 44 - O Mugense Abril - Maio de 1981

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