Na busca da conservação Pesquisas buscam melhores condições para a conservação de acervos do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG). Ambiente amazônico pode ser de imenso risco para as coleções científicas. Júlio Matos, Agência Museu Goeldi
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m condições climáticas tropicais, a incidência de agentes que desequilibram ambientes favorece a rápida e contínua deterioração de materiais acondicionados de forma inadequada.
Informativo do Museu Paraense Emílio Goeldi
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Para acervos científicos, essas condições ambientais oferecem um risco ainda maior.
Mas foi detectado acúmulo de sujidades que por sua natureza química podem criar condições para o aparecimento da “Doença de Byne”. Com a pesquisa foi possível concluir que a reserva técnica de paleontologia do Museu Goeldi atualmente atende a sua função de conservadora do patrimônio fossilífero da Amazônia, mantendo condições adequadas ao armazenamento de fósseis carbonáticos.
A coleção de paleoinvertebrados do Museu Goeldi é composta por mais de cinco mil exemplares fósseis de diferentes unidades geológicas da Amazônia. Analisar o espaço de armazenamento de itens se faz necessário para a identificação com princípios da Conservação Preventiva. Conservação Preventiva - Conjunto de ações indiretas é executada em acervos museológicos para a preservação do acervo e para a proteção do patrimônio por meio da adequação do ambiente. A conservação preventiva como é conhecida a prática diminui os efeitos de agentes de degradação. Mas para conservar é preciso estudar e encontrar formas adequadas a cada ambiente. Em “A conservação preventiva da coleção de paleoinvertebrados do Museu Goeldi”, Doriene Trindade analisou microambientes encontrados na coleção, que por estarem isolados do meio externo apresentam características distintas. Testes de monitoramento de temperatura foram realizados durantes dois meses. Os resultados apontaram para a estabilidade do microclima do acervo de paleoinvertebrados. Tal condição favorece a preservação dos fósseis, já que evita reações químicas que deterioram itens da coleção.
Reação que deteriora - Mais de 70 por cento da coleção de paleontologia do MPEG é composto por exemplares da Formação Pirabas, unidade geológica das mais estudadas no Norte do Brasil e representativa de ambiente marinho. Amostras de material coletado no ambiente de armazenamento desses itens apresentam carbonato de cálcio (CaCO3), que favorece ataques da “Doença de Byne”, ácido corrosivo resultante da reação entre o carbonato de cálcio com vapores ácidos. Essa reação forma sais que dão aspecto de emboloramento ao fóssil, causando a perda de caracteres originais. Christiane Godinho Santos, do curso de Museologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), bolsista de iniciação científica, trabalha sob a orientação da pesquisadora da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo e desenvolveu pesquisa de “Diagnóstico de conservação preventiva: a Doença de Byne e os fósseis da coleção de paleontologia do Museu Goeldi”. Para o trabalho foram analisados o macro e o médio ambiente do acervo, com atenção especial às condições estruturais, detectando sujidades e fazendo análise do mobiliário, da climatização e da superfície dos fósseis. Segundo resultados do trabalho de Christiane Santos não foi detectada cristalização em itens da coleção e o ambiente climático mostrou média de temperatura e umidade relativa adequadas, -23,64°C e 51% respectivamente, padrões considerados seguros segundo os parâmetros da Conservação Preventiva.
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Coleções são a origem de muitas informações e se prestam à compreensão da evolução e dos padrões de distribuição geográfica de espécies. A Palinoteca com mais de 8 mil amostras de grãos de pólen tem importante valor histórico para a Ciência na Amazônia. Hoje informatizada, representa acesso a dados relacionados da botânica regional.
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Pag. 4 e 5
Vida em ossos Coleção osteológica preserva esqueletos completos de animais raros, identifica novos táxons e incorpora novas espécies. Os esqueletos são fonte de informação para as espécies que representam e para outras espécies que ainda precisam ser catalogadas. Alunos de iniciação científica aprendem ao mesmo tempo em que enriquecem a coleção com a supervisão da curadora, Dra. Heloísa Santos.
Pag. 2 e 3
Sue Costa
Ainda como parte da análise foi atestado que o mobiliário de aço inoxidável e esmaltado que compõe o ambiente do acervo é adequado já que não libera gases prejudiciais aos itens de coleção.
Formação e treinamento de jovens pesquisadores na Palinologia
Woltaire Masaki
Resultados
Analisar as condições físicas e ambientais de armazenamento e conservação dos espécimes pertencentes à coleção de paleoinvertebrados do Museu Goeldi, a partir dos seus microambientes, foi tarefa da bolsista Doriene Monteiro Trindade, aluna do curso de Museologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), orientada pela pesquisadora Heloísa Maria Moraes Santos da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) do MPEG.
Ana Christina Rio Dias
Jovens pesquisadoras da área da paleontologia e bolsistas de Iniciação Científica do Museu Goeldi desenvolvem trabalhos para descobrir as condições mais adequadas de conservação dos itens da coleção de fósseis do Museu.
Ensinando paleontologia Trabalho de campo seleciona fósseis em áreas da Formação Pirabas e constrói uma coleção didática como forma de aproximar estudantes do campo de conhecimento da Paleontologia e desmistificá-lo. Pag. 6 e 7
Woltaire Masaki
Ossos reveladores: vulnerabilidade e preservação A ciência dos ossos mostra quem é quem e permite comparar espécies. Em coleções museológicas, a preservação está garantida. Silvia de Souza Leão, Agência Museu Goeldi
ode parecer estranho na primeira leitura, mas Osteologia é a ciência que estuda os ossos de espécimes e permite estabelecer a comparação anatômica. O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), desde 1896, organiza o acervo de valiosos exemplares e hoje, passados quase 120 anos, possui documentados e preservados esqueletos completos, de exemplares vulneráveis o que, no processo de contínuo enriquecimento dos acervos institucionais, é um componente essencial para o treinamento de novos talentos, como é o caso de Felipe S'thiago Freitas Leite, que durante sua pesquisa acabou por encontrar dois novos táxons para a Coleção Osteológica associada ao Laboratório de Paleontologia do Museu.
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Ossos de Atelocynus microtis, ou como é comumente conhecido cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas ou raposa-de-orelhas-pequenas
Vida nos esqueletos: as coleções osteológicas do Museu Goeldi Esqueletos completos e incompletos auxiliam na identificação de grupos animais que habitaram e diversificaram a região amazônica.
Detalhe de Agouti paca, a paca
Silvia de Souza Leão, Agência Museu Goeldi Dentre os exemplares recebidos em doação, 18 têm o esqueleto completo. Gato Maracajá (Leopardus wiedii), Jaguatirica (Leopardus pardalis), Peixe-Boi amazônico (Trichechus inunguis) e Poraquê (Eletrophorus electricus) são alguns dos exemplos. Esse material disponível é essencial para a organização dos táxons em ordem, gênero ou espécie. Segundo Heloisa Santos, curadora das Coleções de Paleontologia, a identificação em nível mais específico nem sempre é possível quando não se dispõe de crânio e/ou mandíbula. “Daí termos identificações em nível de gênero e mesmo de ordem”.
através do estudo de ossos coletados em campo que paleontólogos trabalham, não só para pesquisar e produzir conhecimento sobre tempos idos da vida no Planeta, mas também para enriquecer acervos com exemplares os mais variados encontrados na natureza. Identificar, catalogar e publicar os últimos exemplares osteológicos doados ao Laboratório de Paleontologia do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), que aguardavam tratamento curatorial e determinação taxonômica, para serem armazenados definitivamente na Coleção Osteológica. Esse foi o trabalho desenvolvido por Felipe S'thiago Freitas Leite, orientando de Heloisa Santos, curadora das Coleções de Paleontologia e de Minerais e Rochas do Goeldi, e defendido durante o XX Seminário de Iniciação Científica (PIBIC), em 2012.
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O trabalho de identificação e catalogação de exemplares da Coleção Osteológica do Laboratório de Paleontologia do Museu Goeldi constitui etapa indispensável para os estudos desenvolvidos nessa área no Museu. Como resultado do trabalho de iniciação científica, Felipe identificou sete exemplares de mamíferos e dois novos táxons - unidade de sistema de classificação de seres vivos, seja reino, família, gênero ou espécie. Um táxon foi determinado em nível subfamiliar, enquanto os demais o foram em nível específico. Destes, duas novas espécies foram acrescentadas à coleção.
A Coleção Osteológica está organizada na Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) do Museu Goeldi junto com as coleções de Paleovertebrados, Paleoinvertebrados, Paleobotânica e Microfósseis. Essas coleções são parte das atividades científicas e acadêmicas já que fornecem informações seguras sobre adaptações específicas como sustentação, postura e o modo de locomoção.
Para a orientadora do trabalho, Dra. Heloísa Santos, o acréscimo desses dois novos táxons representa um “enriquecimento de material disponível para comparações com fósseis e para outros estudos desenvolvidos com auxílio da osteologia”. O material estudado consta de 11 exemplares representados por esqueletos completos, incompletos e de crânio e mandíbula isolados. Segundo a pesquisadora do Goeldi, o conhecimento osteológico fornece diversos tipos de informações que auxiliam na determinação de relações de parentesco. “Os ossos podem ser utilizados para obter informações relacionadas ao modo de vida do animal, preferências de ambiente e alimentares, considerando-se a morfologia dentária”, explica. Governo do Brasil Presidente da República Dilma Vana Roussef Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antônio Raupp Museu Paraense Emílio Goeldi Diretor Nilson Gabas Júnior
Serviço de Comunicação Social Lilian Bayma de Amorim
Editora Jimena Felipe Beltrão, 728 DRT-PA
Edição Agência Museu Goeldi Serviço de Comunicação Social do Museu Paraense Emílio Goeldi Av. Magalhães Barata, 376, 66040-170 Belém - PA – Brasil Tel.: + 55 91 3219-3312
Diagramação e arte final Antonieta Mendonça Kamila Nascimento Silvia de Souza Leão
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação Ulisses Galatti
Fotografias Ana Christina Rio Dias Sue Costa Woltaire Masaki
Coordenador de Comunicação e Extensão Wanda Okada
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Participaram desta edição Alice Martins, Antônio Fausto Júlio Matos, Lilian Bayma e Silvia de Souza Leão
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Osso de Preguiça real (Choloepus didactylus)
Detalhe de esqueleto de tamanduá (Tetradactyla)
Fotos: Woltaire Masaki
Novos fósseis e fósseis catalogados Para lembrar como essas descobertas contribuem para diversas áreas de estudo, Heloisa ressalta que, na Paleontologia, por exemplo, os fósseis catalogados ajudam na identificação de outros fósseis encontrados. Pela comparação com esqueletos recentes se processa a identificação de um ou outro osso. “Na Zoologia, a osteologia auxilia na determinação de afinidades entre grupos. Já na Zooarqueozologia é possível determinar a alimentação dos homens antigos, enquanto que na Botânica se pode cruzar informações com base na dentição dos grupos estudados”, esclarece a pesquisadora.
Coluna dorsal da sucuri verde (Eunectes murinus)
Particularmente para a Paleontologia, a coleção osteológica auxilia a identificação de grupos animais que habitaram a região amazônica, mais especialmente aqueles que deixaram representantes na fauna atual. Por exemplo, as preguiças que hoje vemos em árvores são representantes de um grupo extinto de grandes preguiças terrícolas, ou seja, que andavam no chão.
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Informatização e reconhecimento Coleção de grãos de pólen do Museu Goeldi contribui para melhor compreensão sobre espécies da botânica Júlio Matos, Agência Museu Goeldi
ma coleção científica de grãos de pólen, os quais são catalogados, identificados e preservados em acervo depositado em herbários, denomina-se palinoteca.
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VP, corte ótico
O Museu Paraense Emílio Goeldi, por meio de sua coordenação de Botânica, mantém uma palinoteca, cuja recente informatização foi tema do trabalho de pesquisa do Estudante de Engenharia Ambiental da Universidade do Estado do Pará e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Braz José de Castro Filho. As coleções científicas são fontes potenciais de informações que permitem melhor compreensão acerca da evolução e dos padrões de distribuição geográfica das espécies. A palinoteca do Museu Goeldi tem importante valor histórico para a instituição e representa além da informatização dos dados palinológicos, a conservação do patrimônio genético vegetal.
coordenadora de Botânica do MPEG, Dra. Léa Maria Medeiros Carreira. O trabalho do estudante recebeu ainda Menção Honrosa no XX Seminário do PIBIC do Museu Goeldi, como reconhecimento a um dos melhores projetos apresentados. O estudo de grãos de pólen, ou palinologia, tem contribuído com diversas áreas de conhecimento, como: a caracterização da origem botânica e geográfica de produtos das abelhas – mel, pólen etc. – melitopalinologia; as polinoses, alergias causadas por concentração de pólen na atmosfera, e a reconstituição de floras pretéritas, ou paleoecologia. Pesquisas sobre pólen na Amazônia datam da década de 1960 e se concentram em instituições como o Museu Goeldi, graças ao empenho da pesquisadora Dra. Léa Carreira e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA, de Manaus. A palinoteca do Goeldi apresenta espécies frequentes principalmente da Amazônia Legal, mas podem ser encontradas também espécies de outras áreas do Brasil e da América Latina. A primeira etapa da pesquisa de Braz José Filho se iniciou com o conhecimento dos dados catalogados, desde 1981, no livro de registros. As informações obtidas foram então atualizadas de acordo com as bases de dados da Flora do Brasil de 2012 e do MOBOT, Missouri Botanical Garden, referência em assuntos relacionados à botânica.
O projeto de pesquisa de Braz José Filho, apresentado no XX Seminário de Iniciação Científica do Museu Goeldi, recebeu o nome de “Informatização da Palinoteca do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém-PA: Contribuição ao Reconhecimento da Flora e dos Ecossistemas Amazônicos e ExtraAmazônicos”.
O jovem pesquisador, em seu trabalho, mostrou que as lâminas de pólen recente que já foram incorporadas ao acervo estão sendo submetidas à renovação de etiquetas padronizadas, as quais apresentam o nome científico, a família, o número do herbário, o número da palinoteca e a data de preparação.
O trabalho foi orientado pela professora Flávia Cristina Araújo Lucas, do Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado do Pará, e pela pesquisadora do Ministério da Ciência e Tecnologia e
Para facilitar ainda mais a consulta, a disposição das lâminas no laminário obedece a ordem alfabética de famílias, gênero e espécies. Até então foram geradas novas etiquetas para 3200 lâminas. Tal padronização já alcança em média de 40% da
palinoteca. Conforme o trabalho salientou, a Família Fabaceae, uma das maiores famílias da botânica, da qual fazem parte as leguminosas, é a família mais representativa da coleção, com cerca de 700 espécies, referentes a 140 gêneros. VP, corte ótico Flávia Lucas elenca duas categorias de status de conservação das espécies que integram a palinoteca: as “Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção” e a “Lista de Espécies da Flora Brasileira com Deficiência de Dados. Do primeiro status enquadra-se a espécie Convolvulaceae/ Ipomoea cavalcantei D. Austin - Convolvulaceae / Ipomoea carajasensis D.F. Austin; já a espécie Fabaceae/ Bowdichia nitida Spruce ex Benth. - Fabaceae/ Centrosema carajasense Cavalcante aparece na lista daquelas com deficiência de dados. De acordo com a professora Flávia Lucas o nome popular de tais espécies varia de acordo com as regiões onde são coletadas, sendo, portanto, melhor tratá-las por meio do nome científico. Segundo a professora Flávia, na palinoteca do Goeldi estão preservadas em lâminas permanentes uma amostra da planta que além do seu valor científico, por serem disponibilizados dados morfológicos e geográficos, apresenta valor histórico por representar um registro da biodiversidade ao logo dos anos. “Muitas espécies nela contidas foram coletadas por grandes botânicos da Amazônia”, revela. Fotos: Anna Christina Rio Dias
Reprodução de imagens de grãos de pólen catalogadas e depositadas na palinoteca do Museu Goeldi
O acervo da Palinoteca do Museu Goeldi O programa Excel do software Office foi utilizado para a digitação das informações, cujos resultados foram em seguida transferidos para o software BRAHMS. A sigla, do inglês Botanical Research and Herbarium Management Systems, dá nome ao software de banco de dados para pesquisa em botânica e gerenciamento de herbários criado pela Universidade de Oxford, Inglaterra. O BRAHMS é o sistema adotado pela maioria dos herbários brasileiros, incluindo os amazônicos.
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Atualmente a palinoteca em questão consta de aproximadamente 8700 lâminas de pólen, das quais são contabilizadas mais de 1700 espécies, distribuídas em 114 famílias e 530 gêneros. De acordo com a professora e orientadora do trabalho, Flávia Lucas, foram inseridos no BRAHMS 1740 amostras dos itens total da coleção, porém o banco de dados ainda não foi gerado pois ainda se está a trabalhar na inserção de novos materiais.
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Ainda segundo informações da professora, o acervo não está disponível on line até o momento em respeito à política de coleção da instituição que não autoriza a socialização em rede de qualquer das suas coleções. “O Museu Goeldi ainda não está inscrito no CRIA, Centro de Referência da Informação Ambiental, que divulga coleções científicas de diversas instituições no país”.
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Sue Costa
Museu reúne fósseis em coleção didática Intuito da instituição é aproximar e desmistificar a Paleontologia entre estudantes de ensino fundamental e médio das escolas de Belém. Iniciativa integra projeto de iniciação científica que foi buscar alunas no curso de Museologia da UFPA. Antonio Fausto, Agência Museu Goeldi
Coleções científicas e a mediação museológica Antonio Fausto, Agência Museu Goeldi ma das feições da mediação museológica que aproxima, no caso do Museu Goeldi, a sociedade do conhecimento científico, as coleções científicas são constituídas a partir de coletas feitas em viagens dos pesquisadores a campo. Campo que, no caso dos estudos paleontológicos desenvolvidos no MPEG, compreende tanto as famosas praias do município de Salinópolis, no Pará, a exemplo do Atalaia e do Farol Velho, e áreas do nordeste paraense que são alvo de exploração mineral, como a mina B17, situada no município de Capanema e explorada pela empresa Cibrasa S/A.
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A retirada de camadas de solo para se alcançar o minério revela rochas cheias de fósseis ou altamente fossilíferas, como chamam os especialistas, a exemplo da paleontóloga Sue Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA). São esses fósseis que, coletados pela equipe de paleontólogos do Goeldi e da UFPA, alimentam a coleção didática, não sem antes abastecer a coleção de paleontologia do Museu, a qual contribui diretamente para o progresso da ciência feita na secular instituição. “Em geral, faz-se uma visão do paleontólogo em campo, quebrando a rocha para retirar o osso”, afirma Sue, “mas nem sempre é assim”. Segundo a pesquisadora, há ocasiões em que é necessário levar um pedaço de rocha para o laboratório, onde ela fica imersa em ácido para se desmanchar e, posteriormente, ser peneirada. “O material que fica retido na peneira, ou nas diferentes peneiras – pois usamos vários intervalos de aberturas – será seco em estufa”, relata a pesquisadora. Catalogação e identificação de ictiólitos - Tudo isso, segundo ela, para viabilizar a triagem desse material, grão por grão, num microscópio. Utilizada desde 2004 no Museu, essa técnica deve fazer dobrar os quatro mil microdentes de peixes já catalogados na coleção paleontológica do MPEG. “Procurar, no laboratório, o que não conseguimos enxergar a olho nu: é basicamente nisso que consiste a técnica”, argumenta Sue. Entra, aí, outro importante projeto desenvolvido no Goeldi, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic): “Catalogação de Ictiólitos da Coleção de Paleontologia do Museu Paraense Emílio Goeldi”, encabeçado por Christiane Santos, aluna de Museologia da UFPA, assim como Bruna Antunes. Ictiólitos são fragmentos microscópicos de esqueletos de peixes e compõem o objeto de estudo de Christiane, que desenvolve em seu trabalho de iniciação científica novas práticas de curadoria de coleção para armazenamento e catalogação do material. Um dos exemplos desse trabalho são as fichas catalográficas contendo dados importantes para a identificação temporal e espacial desses fósseis e imagens individuais dos microdentes nelas retratados. “Atualmente, temos no acervo material do Cretáceo (135-65 m.a) e do Mioceno Inferior (25-22 m.a)”, destaca Sue Costa. De acordo com a professora, o trabalho realizado por Christiane torna o acervo científico de Paleontologia do Goeldi “mais funcional e, principalmente, seguro”, tanto do ponto de vista físico, quanto químico, uma vez que utiliza somente materiais que obedecem padrões de conservação preventiva museológica.
Sue Costa
Heranças de um passado remoto Para ser considerado fóssil, o registro precisa ter mais de 11 mil anos de existência. Pouco mais de 950 desses vestígios de animais vertebrados e invertebrados compõem, atualmente, a Coleção Didática Paleontológica do MPEG. Conchas, caracóis, ouriços-domar e peixes-boi marinhos estão representados no acervo, que contém, ainda, amostras de dentes de tubarões e espinhos de peixes que viveram na Terra há milhões de anos.
Costela de peixe boi marinho
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Cerca de 90% desse acervo foi coletado na região do estado do Pará, que integra a chamada Formação Pirabas, área representativa do momento em que o Oceano Atlântico entrou no continente americano, em especial na região norte. “Isso fez com que parte do nosso estado, hoje emersa, estivesse embaixo d'água”, relata Sue Costa. Segundo ela, os limites do mar chegaram até a região do nordeste paraense onde hoje está situado o município de Mãe do Rio. A Formação Pirabas corresponde, hoje, à área compreendida entre o litoral dos EUA e o litoral norte do Brasil, de fauna e ambientes semelhantes em eras geológicas do passado.
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iência da curiosidade. É, geralmente, esse o status atribuído à Paleontologia pelos professores dos ensinos fundamental e médio da rede pública de educação. Conhecida por estudar fósseis animais e vegetais, essa ciência vai muito além, já que é fundamental para compreender a evolução dos ecossistemas do planeta.
Sue Costa
Das praias às áreas de mineração, é vasto o campo de coleta dos fósseis integrantes não só da coleção didática do Museu Goeldi, mas, também, da coleção científica
A Paleontologia é muito mais do que os tópicos de curiosidades pelos quais é abordada na mídia em geral, principalmente a televisiva. E isso o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) pretende mostrar às crianças e adolescentes da rede pública de ensino de Belém (PA) por meio do projeto de iniciação científica “Catalogação de fósseis da Coleção Didática do Museu Paraense Emílio Goeldi”. Graças ao projeto, desenvolvido na Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) do Museu, está nascendo uma Coleção Didática Paleontológica no MPEG com o intuito de fazer dos fósseis um instrumento de aproximação dessa ciência com estudantes, mas, sobretudo, entre professores. Parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), o projeto, segundo uma das orientadoras, a paleontóloga Sue Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA), já conta com uma vantagem no que depender da receptividade dos alunos. Alunos, mas também professores - “A maioria deles já tem contato com a Paleontologia por meio de vídeos e filmes”, afirma. O próximo passo, diz a pesquisadora, é trabalhar essa disciplina junto aos professores. Essa é a tarefa da bolsista Bruna de Campos Antunes, estudante de Museologia, da UFPA. Na empreitada, ela também conta com a orientação da paleontóloga Lourdes Ruivo, da CCTE/MPEG. Bruna trabalha na elaboração de kits didáticos paleontológicos em duas escolas do entorno do Campus de Pesquisa do MPEG, no bairro da Terra Firme, com o intuito de auxiliar os professores no emprego dos fósseis da Coleção Didática do Museu em sala de aula. “Percebemos em oficinas as dificuldades que eles têm em adequar esse material ao conteúdo ministrado em sala de aula”, conta Sue Costa. Segundo a paleontóloga, é uma aproximação que ficará ainda mais fácil quando esses professores perceberem que a Paleontologia é disciplinachave no estudo da evolução dos ecossistemas, bem como para a indústria, a produção de petróleo ou em jazidas de minérios. “É fundamental não só apresentar o fóssil para os alunos, mas contextualizá-lo, sob o risco de que todo esse material seja encarado pelos jovens como meros objetos de curiosidade”, argumenta a pesquisadora da UFPA.
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Divulgação científica Com o trabalho desenvolvido pelo Goeldi junto aos professores, a Ciência se aproxima da sociedade em seu cotidiano e desmistifica o conhecimento produzido no âmbito da instituição de pesquisa mais antiga da Amazônia, o Museu. Começar pelas escolas pode se mostrar uma estratégia eficaz. Assim como as tradicionais exposições museológicas chegam ao público, o estabelecimento de uma coleção didática voltada à Paleontologia é mais um dos esforços educativos empreendidos pelo MPEG. A Coleção, no entanto, funciona numa lógica inversa à daquelas mostras: não é o público que vai ao Museu para contemplar e atribuir significado ao que vê, mas o objeto de conhecimento que sai do gabinete para ser apropriado pelo público estudantil. Essa é apenas mais uma das feições de um trabalho de divulgação científica em que o Goeldi é pioneiro na Amazônia. De acordo com Sue Costa, os eventos educativos realizados pelo Museu Emílio Goeldi em todo o estado do Pará são o principal meio de divulgação do acervo de fósseis disponibilizado para escolas públicas e particulares na Coleção Didática Paleontológica. Ela cita como exemplo os domingos no Parque com mostras ao ar livre, as atividades do projeto “Museu de Portas Abertas” e a já tradicional Olimpíada de Caxiuanã, realizada anualmente na Floresta Nacional de Caxiuanã, no Marajó, onde o Goeldi mantém uma estação científica há 20 anos. A aceitação por parte dos alunos é sempre muito boa, segundo a pesquisadora. Já os professores têm se mostrado desanimados, devido à falta de experiência em utilizar esse conteúdo na sala de aula. É uma parte dessa lacuna de conhecimento que o Goeldi procura preencher por meio dos kits didáticos e de oficinas.
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