Por várias razões, o escritor Mário Braga (Coimbra, 1921) é um caso singular no universo literário neo-realista. Autor de uma obra expressa em diversos géneros, é ainda hoje sobretudo reconhecido como contista de mérito inquestionável. (…) Ao longo do seu percurso literário foi apurando uma forma de escrever simples, directa e incisiva, que introduziu alguma novidade na tradição do conto rústico português. O ruralismo da Beira Interior converte-se rapidamente no ambiente privilegiado da 1ª fase da sua carreira, dando aos seus textos, no entanto, uma expressão de universalidade comum a outros escritores neo-realistas. Já na fase de maturidade, não só a cidade surge mais amiúde, como dedica mais atenção à designada “análise dialéctica do eu”, sem abandonar, porém, as preocupações de carácter social. A crónica e o texto político preenchem a sua última fase de produção literária, menos dedicada, por isso, à prática da ficção. (David Santos)