Palácio do Infantado-uma casa com história

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Palรกcio do Infantado

uma casa com Histรณria



FICHA TÉCNICA Catálogo da Exposição “PALÁCIO DO INFANTADO, uma casa com história” Exposição patente na galeria de exposições do Palácio do Infantado de Agosto de 2016 a março de 2017

Coordenação Geral Cris na Gonçalves e Joaquim Salvador Divisão Municipal de Cultura, Educação, Turismo, Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Benavente

Textos Aníbal Ferreira e Cris na Gonçalves Fotografias Museu Municipal de Benavente, Arquivo Fotográfico Coleções par culares Design Gráfico Ribamarke ng Sandra Figueiras Impressão Gráfica Central de Almeirim Novembro 2016


Palรกcio do Infantado

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Palácio do Infantado

uma casa com História

O Palácio do Infantado foi também o Palácio de D. Miguel e ainda o Palácio da Companhia, é sem dúvida o edi cio de maior relevo em Samora Correia quando nos referimos ao património histórico e arquitetónico, mas o seu significado ultrapassa largamente esta dimensão, assumindo-se como uma referência na iden dade de Samora Correia. A Exposição “Palácio do Infantado, uma casa com história”, pretende levar-nos através das vivências e das histórias deste edi cio desde o século XVIII até hoje. Foi casa de campo da família real, beneficiando de alguma proximidade a Lisboa, para repouso de nobres que se deslocavam para as caçadas. Mais tarde, esta residência aristocrata adaptou-se a uma nova função, passando a espaço de trabalho enquanto sede da Companhia das Lezírias. Posteriormente, foram aqui instaladas residências permanentes de alguns trabalhadores da Companhia. Mas para as gentes de Samora correia, o edi cio encerrava em si mistérios, nunca se abrindo ao exterior e, as portas fechadas, sugeriam sempre histórias e encantos. Cerca das 17,30 horas do dia 16 de novembro de 1976, um fumo intenso vinha anunciar a tragédia. Os samorenses acorreram e viram as chamas que devoraram o seu Palácio. “O Palácio está a arder!!!...” O dia seguinte terá sido marcado por olhares pesados perante a destruição e iniciou-se aqui uma longa espera pelo desejo de o ver recuperado. Por fim, no dia 25 de abril de 1998, as portas abriram-se a todos. Hoje, o Palácio é por excelência uma casa de todas as histórias, um espaço pleno de vida, de criação e de cultura.

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do Palácio e da Casa do Infantado

O Palácio do Infantado surge integrado na Sereníssima Casa do Infantado, criada pelo rei D. João IV, em 11 de agosto de 1654. Esta ins tuição nha como obje vo garan r o rendimento para os filhos segundos do rei e, neste sen do, reunia vilas, lugares, castelos, terras, onde entre muitas, se destacava a vila de Samora Correia. O gosto real pelas caçadas transforma esta região num local privilegiado para as deslocações periódicas da família real. O Infante D. Francisco de Bragança (1691-1742), filho do Rei D. Pedro I I, que revelou desde cedo um temperamento algo tempestuoso evidenciando uma grande vontade de ascender ao trono, encontrou nesta região o seu local de eleição. Gostava do campo e das caçadas e terá sido neste período que surgiu em Samora Correia uma construção de maior relevo, que se apresentava num único piso com uma área de implantação maior do que o atual quarteirão e que seria fronteira à igreja, onde o Infante passava a maior parte do ano. Ao longo do século XVIII, o edi cio sofreu alterações acentuadas sugerindo que na segunda metade do século foi objeto de uma profunda intervenção, transformando-o numa construção de dois pisos, mais sólida e de caracterís cas nobres. O Palácio do Infantado adquiriu maior expressão e encontramos mesmo a referência de que no Paço Real de Samora Correia, em 1787, foram colocados azulejos des nados ao Palácio de Queluz pelo Mestre Azulejador da Casa do infantado.

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de D. Miguel ao liberalismo Com D. Miguel (1802-1866) a Casa do Infantado tem o seu apogeu e é neste período que Samora Correia adquire maior significado em detrimento dos paços de Salvaterra de Magos e de Almeirim. A corte dirige maior atenção para esta vila, chegando D. Miguel a ser designado, entre muitos outros tulos, de Senhor de Samora Correia. No Palácio do Infantado permanecia longas temporadas em que se dedicava à caça aos gamos e veados nas charnecas do Infantado Com a vitória dos liberais em Portugal, D. Miguel foi obrigado a assinar a sua sentença de exílio (26 de Maio de 1834), na Convenção de Évora Monte. Após a saída de D. Miguel do país e a ex nção da Casa do Infantado, por decreto de D. Pedro IV, em 1834, os bens do infante são transferidos para a Fazenda Real, passando o palácio para a dependência direta de D. Maria II (1819 – 1853) que também o u lizou como “estância de lazer”.

da Companhia das Lezírias do Tejo e do Sado No dia 3 de Novembro de 1835, D. Maria II, por um Decreto assinado pelos Duques de Saldanha e Palmela autorizou a venda em hasta pública das Lezírias Nacionais do Tejo e Sado, que pertenciam à ex nta Casa do Infantado, pelo valor de 2 mil contos de réis num total de 48.000 hectares. As Lezírias seriam vendidas a uma Companhia denominada na proposta de compra – Lezírias Nacionais do Tejo e Comporta, encabeçada por uma direção única composta pelo Conde de Farrobo, Visconde das Picoas, José Bento de Araújo, José Xavier Mouzinho da Silveira e José Pereira Palha. Esta ficou conhecida como a Companhia das

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Lezírias do Tejo e Sado, que acabaria mais tarde por adquirir o palácio do Infantado onde instalou uma das suas sedes. O edi cio permaneceu, exclusivamente, como sede da Companhia das Lezírias mais de cem anos, apresentando-se sempre como o Palácio da Companhia e assumindo um marcado simbolismo local. Após a nacionalização da Companhia das Lezírias, depois do 25 de abril de 1974, o edi cio passa a integrar a Biblioteca fixa N.º 2 da Fundação Calouste Gulbenkian e ainda a residência de alguns empregados da Companhia.


do terramoto de 1909 O sismo de 23 de Abril de 1909, é considerado o mais devastador em Portugal con nental no século XX, destruindo quase por completo os aglomerados de Benavente, Samora Correia e Santo Estêvão. Com uma magnitude es mada de 6,7 graus na escala de Richter, o sismo de Abril de 1909 provocou no concelho de Benavente cerca de 40 mortos e 70 feridos, balanço que só não foi mais dramá co porque, à hora em que ocorreu, 17:05h, a grande maioria da população estava ainda a trabalhar nos campos. O Palácio do Infantado resis u ao violento abalo, sendo no entanto evidentes os danos provocados na estrutura obrigando a uma intervenção posterior.


da Biblioteca Fixa N.º 2 da Fundação Calouste Gulbenkian Carlos Gaspar, incansável impulsionador de a vidades culturais na terra, sobretudo junto das camadas etárias mais jovens, consegue trazer para Samora Correia a primeira Biblioteca Fixa do país. No dia 22 de maio de 1960 é inaugurada a “Biblioteca Fixa nº 2 da Fundação Calouste Gulbenkian” que funcionou nas an gas instalações da Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS), na Praça da República. Como o espaço era exíguo e de pouca acessibilidade, Gaspar consegue, através de contactos com a administração da Companhia, que a biblioteca se instale no Palácio durante o ano de 1975. Aí, permanece, até ao incêndio de 1976. Por funcionar no piso térreo e com a pronta ajuda da população, foi possível salvar pra camente todos os livros antes de serem consumidos pelas chamas. Pouco tempo depois, a biblioteca reabre num an go espaço adaptado, pertencente à Companhia das Lezírias, na Rua Elias Garcia.

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do violento incêndio o palácio está a arder O dia 16 de novembro de 1976 permanece ainda na memória cole va de muitos samorenses. Ao final da tarde, por volta das 17h30, um violento incêndio destruiu todo o interior do palácio da Companhia das Lezírias. Apesar do esforço de diversas corporações de Bombeiros da região (Benavente, Salvaterra de Magos, Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos, Alenquer, Coruche, Alcochete e Mon jo) no combate às chamas durante mais de seis horas, perderam-se para sempre importantes valores de madeira, azulejos, pinturas e grande parte dos arquivos da empresa perante o olhar impotente da população que no Largo acompanhava a tragédia. Já de madrugada, os bombeiros de Benavente encerraram a “operação de rescaldo”. Os pomposos salões que acolheram nobres em festanças ou em pernoitas durante as temporadas de caça na região e que, no século XIX, foram adaptados pela Administração da Companhia em escritórios, salas de reuniões, arquivos e casas de função, deixaram de exis r para sempre. Embora sem o brilho anterior, a fachada resis u, amputada das suas portas e janelas, reclamando o seu lugar na Praça e guardando nos escombros mais de dois séculos de memórias!...

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da recuperação Quase vinte anos depois do incêndio, em 1994, através de parceria com a Câmara Municipal de Benavente, deram-se início às obras de reconstrução do Palácio do Infantado. Os trabalhos foram assumidos pela autarquia em regime de “administração direta”, respeitando as condições previamente estabelecidas com a Companhia das Lezírias. Em 1998, abre finalmente as suas portas à população, no dia 25 de abril. A fachada foi recuperada, conservando o desenho original, composta de paredes lisas rasgadas apenas por inúmeras janelas, sendo as do primeiro piso janelas de sacada com varandas e está classificada como Imóvel de Interesse Municipal. 16|


Gaiola Pombalina O edi cio apresenta uma técnica constru va inovadora que veio a assumir a designação de “gaiola pombalina”. Com feito, este método constru vo de caracterís cas an ssísmicas surgiu na reconstrução da Baixa Pombalina, após o devastador terramoto de 1755. Como qualquer boa solução caracteriza-se pela u lização de materiais facilmente disponíveis, designadamente a madeira, a cal e as argamassas bastardas, criando uma estrutura flexível e ao mesmo tempo bastante sólida e resistente. As madeiras dispostas em cruz mantêm-se visíveis como resultado da opção do projeto de recuperação do palácio.

O Mirante O Palácio do Infantado nha na cumeada do telhado, no lado norte do corpo principal, um mirante. Este po de elemento arquitetónico era bastante frequente nas casas ou solares de maior expressão, sugerindo que serviria como local de contacto visual dos trabalhos agrícolas e das cheias periódicas que inundavam os campos. O violento incêndio que devastou o edi cio em 1976, fez ruir toda a sua estrutura interna e, naturalmente, o mirante. Posteriormente, quando da intervenção de requalificação o projeto não previu a reconstrução deste elemento.

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O jardim O quarteirão de implantação do Palácio incorpora no seu extremo sul um pequeno jardim de Fresco. Estas estruturas picas das casas senhoriais, apresenta-se aqui numa escala reduzida não deixando, no entanto, de integrar os elementos caracterizadores: espaço encerrado com portadas gradeadas abertas ao exterior, um pequeno lago e vegetação disposta de acordo com a pologia do Jardim Francês.

A praça Na praça em frente do Palácio a vida acontecia. Aqui se localizavam os edi cios de maior referência e por aqui se decidia a vida poli ca, económica, social, religiosa e também cultural de Samora Correia. Limitada pelo Palácio e pela Igreja Matriz, a esta praça afluía diariamente centenas de pessoas nos afazeres do seu quo diano. E, muitas são as vivências que podemos registar, foi mercado de venda de produtos locais, praça de jorna para contratação de trabalhadores, lugar onde o capataz procedia ao pagamento dos trabalhadores rurais, ponto de encontro para dois dedos de conversa à sombra das amoreiras e ainda onde se vinha beber um copo no quiosque, espaço de brincadeira para o peão e para o berlinde. E foi sempre, por excelência, a praça das fes vidades locais onde aconteciam os arraiais, os casamentos e ba zados, as fogueiras de S. João e as Festas Tradicionais. Assinalamos ainda uma dimensão cultural, onde aconteciam manhãs de pintura, projeções de cinema, música e teatro e ainda onde se podia requisitar um livro na Biblioteca. Hoje, con nua a despertar o encanto dos samorenses e de quem nos visita, assumindo igualmente um papel central na vida de Samora Correia.

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novembro . 2016



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