EXPOSIÇÃO
ÁGUA DE
VIVER
ร GUA DE
VIVER Cuiabรก-MT, 2015
ÁGUA DE VIVER
Viviene Lozi Diretora Executiva do MAMT
A escassez de água no planeta, sua distribuição desigual e o uso desordenado dos recursos hídricos têm suscitado intenso debate sobre a necessidade de seu uso racional pelas populações do mundo todo. Ainda que o Brasil seja um país de natureza pujante, o que se vê são danos sem precedentes que chegam a afetar todo o sistema social e político, como a poluição não controlada que diminui a qualidade da água, aumento de custos em seu tratamento, diminuição da pesca e malefícios à saúde humana. Como um alerta, a arte pode ser um efetivo instrumento de conscientização, tomando como ponto de partida a beleza que se tem e os danos que se acumulam. E para retratar esse panorama é que o Museu de Arte de Mato Grosso convocou três dos mais importantes fotógrafos do Estado com reconhecimento nacional e internacional, para apresentar seus registros. A mostra coletiva intitulada “Água de Viver”, reúne 53 imagens de José Medeiros, Izan Peterle e Mario Friedlander e toma vários espaços do museu, em suportes e formas distintos. Os belos ou alarmantes cenários estão retratados também em adesivos, lonas e duas instalações. No projeto expográfico procuramos consolidar a criação em suportes e ambientes diferentes ora utilizando salas ora chão, teto, corredores, paredes de escadas e recepção, janelas e piscina na parte externa, interagindo com a energia do espaço de forma potente e marcante, integrados à exposição e, ao mesmo tempo, organizando os fluxos e segregando os ambientes necessários para obter a privacidade ou a neutralidade imprescindível para as obras fotográficas expostas. Izan Petterle nos apresenta em seu conjunto de fotografias os usos da água por pescadores, embarcações, animais, rituais, entre outros, revelando a rica diversidade do uso desse bem natural. Sua mostra traz 12 fotos em preto e branco clicadas em diversos lugares do Brasil, como Tocantins, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Alagoas e Maranhão.
Enquanto isso, José Medeiros apresenta em um primeiro momento o rio Cuiabá sendo degradado e poluído; representado por um mosaico de fotos que contém objetos que foram jogados no rio. Em um segundo momento, ele revela a água sendo utilizada de forma correta, e natural, por povos indígenas das etnias Ikpeng e Enawenê-Nawê, do Médio Xingu. Há também a fusão em técnica de sobreposição de fotos dos indígenas (Projeto Já Fui Floresta), com o rio Cuiabá poluído, possibilitando assim a visão de realidade e ilusão juntas em lugares inusitados, dando um sentido novo às imagens em superposição. Essa fusão provoca estranheza e beleza ao mesmo tempo ao juntar elementos puros que vivem em equilíbrio com a natureza em ambientes degradados pelo homem não indígena. No mesmo espaço, uma instalação que reúne objetos que foram jogados às margens e dentro do rio trazendo um efeito visual provocativo, desconfortável e meticuloso. As duas instalações (interna e externa) foram montadas propositalmente para causar a sensação de contato direto com a degradação da água e, ao mesmo tempo, conscientizar o público sobre a poluição dos rios. Já Mario Friedlander apresenta 22 fotografias aéreas da água na natureza ora em equilíbrio, ora em estado de degradação sobre os efeitos do garimpo no pantanal em Poconé (MT), desvio do curso de rios e o avanço do desmatamento sobre áreas naturais, entre outros. Suas fotografias, a maioria em plano aberto, trazem também uma peculiaridade da água em diversos lugares de nosso Brasil, como Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia, e em áreas de fronteira com o Paraguai e a Bolívia. A ideia da exposição foi motivada pela Semana Nacional de Museus que acontece anualmente para comemorar o Dia Internacional de Museus (18 de maio), quando os museus brasileiros são convidados pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) a desenvolver uma programação especial para essa data. O tema norteador dos eventos é proposto pelo Conselho Internacional de Museus (Icom). Neste ano, o tema Museus para Uma Sociedade Sustentável foi o escolhido. Com esta exposição, esperamos ser capazes de provocar reflexões sobre a importância de tratar esse recurso natural com o carinho e o respeito merecidos, considerando a água o sangue da vida. A curadoria é coletiva, conta com a participação dos três fotógrafos e da equipe do Museu de Arte de Mato Grosso. O Museu de Arte de Mato Grosso agradece aos apoiadores que acreditaram na realização deste projeto, como a CAB Cuiabá, a Plaenge, a Associação Casa de Guimarães, a Sala da Mulher da Assembleia Legislativa e a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso.
ÁGUAS DE VIDA
Tânia Arantes Coord. de Projetos do MAMT
A mostra é inédita: três grandes artistas da fotografia se unem para falar de um bem que será o mais caro da vida – a Água. Izan Petterle, José Medeiros e Mario Friedlander são, de longe, grandes mestres em retratos e fotografias da natureza. E, mais do que isso, são grandes apaixonados por ela, que imprimem em seu trabalho a delicadeza com que devemos tratá-la, o respeito que têm por ela, e a trajetória da luta (abusos X preservação) secular empreendida pelo homem, que na busca pela sobrevivência quase se esquece de sobreviver. ÁGUA DE VIVER é uma bela exposição que sugere mais: é um alerta, um sinal vermelho. É uma denúncia para os dias vindouros, que podem ser de escassez, de insalubridade, de angústias e buscas. Dias de água de colher..., dosada, a conta-gotas – água de pouco beber, água de pouco viver, água de não-sorrir. ÁGUA DE VIVER é um beliscão em todos nós: para que abramos os olhos, para que visualizemos o amanhã e o tornemos possível. É a fotografia do nosso presente. É a cara do nosso futuro. Podemos reconhecer nas fotos de Izan Petterle a paixão pelo movimento, esse que é fugaz, e que um olhar desavisado ou uma mão insegura seria incapaz de captar. Em Izan, o movimento é o próprio tempo que se gastou, que não voltou, que avassalou, que rompeu barreiras, que atravessou mundos. Sob seu olhar, a finitude da natureza, o passar das águas, seu esparramar, seu correr. Sob sua mão, o movimento que parou aqui e agora, no “é” da coisa, como também o enxergou Aldous Huxley. Vivências, experiências. Andanças. Mudanças. E o olhar sempre contemporâneo, sempre novo, captando futuros, registrando passados.
Em José Medeiros, encontramos a integração do ser humano com a natureza, significando Vida. Mas também significando destruição, algo autofágico: somos nós, seres humanos, nossos destruidores. E destruidores do outro também – e como maior exemplo, Medeiros reúne a alegria despretensiosa que os indígenas têm para com a vida e nos mostra como ela seria – ou como seria a nossa própria (e civilizada) alegria se nosso compromisso com a Vida fosse de igual valor – caso todos nós (indígenas, brancos, negros, amarelos) continuemos a romper as linhas tênues entre a Vida e a Morte. Sem alegrias, confusos e difusos, sem valores. Uma civilização distópica formada por imagens sobrepostas, superpostas, dispostas e impostas pelo próprio comportamento humano. Mario Friedlander acompanha a vida, em um roteiro cheio de culturas, tortuoso, líquido e sólido. É um roteiro do tudo – Natureza embrenhada no homem, homem embrenhado na Natureza, abusos e franquezas, águas tão profusas/profundas cercadas de vazios tão áridos e imensos. Assim, intenso e poético, é o trabalho deste artista. Sua natureza testemunha a Natureza. Em seu trabalho, o retrato de sua alma e de sua verdade. Friedlander reproduz o que crê. E também o que vê no seu roteiro de vida: devastações, plantações, belezas transcendentais, para além dos universos que vemos e conhecemos, agudas, que explodem nossos corações. Em montanhas, em planícies, em matas fechadas, em longas e duras caminhadas, Mario é o fotógrafo pictórico da Terra reproduzindo a natureza e traduzindo nessa reprodução sua sentimentalidade e alma. Aproveite os belos registros fotográficos – afinal, ÁGUA É.
Izan Petterle Alegrete-RS - 22/12/1956
Izan fotografa desde os 19 anos de idade, quando ainda cursava Medicina Veterinária, e hoje tem como profissão o fotojornalismo. Izan Petterle é um dos mais regulares e elogiados colaboradores da revista National Geographic Brasil, desde seu lançamento no país, em maio de 2000. O ineditismo e a riqueza de seu trabalho já lhe renderam uma indicação para o Prêmio Abril de Jornalismo 2001, categoria reportagem fotográfica, prêmio esse que já havia ganhado no ano anterior com trabalho publicado na revista Nova Escola. Além da National Geographic Brasil, Discovery Magazine e outros importantes meios editoriais, trabalha regularmente para importantes revistas de fotografia documental do exterior. Izan Petterle é um fotógrafo da brasilidade, um documentarista sensível e objetivo. Nos personagens que documenta, exalta suas raízes, fé, sentimentos. Eles ostentam a expressão e a vitalidade dos trópicos. Em 1981, mudou-se para Mato Grosso, e na década de 90 iniciou um projeto de documentação fotográfica para registrar a relação entre a singular população local e a natureza que a rodeia. Em suas imagens, tem retratado a vida dos Quilombos Pantaneiros e dos últimos índios canoeiros do Pantanal, da etnia Guató. Desde 97, Izan se dedica exclusivamente à fotografia, e tem em São Paulo sua agência e galeria de fotografias. Com mais de 8 grandes exposições pelo Brasil, EUA, Alemanha e Japão, Petterle tem também dois livros publicados pela Carlini&Caniato (editora mato-grossense): “Caubóis do Pantanal” e “Cuba de Che”. Desde 1999, o artista tem mais de 35 ensaios fotográficos publicados em revistas brasileiras, francesas, holandesas, inglesas e americanas. Izan rodou meio mundo para suas locações fotográficas: visitou e registrou, com seu olhar especial, Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Peru, Estados Unidos, Cuba, Alemanha e Japão. Por onde passou, registrou vivências e experiências – e a brasileira é uma das mais ricas com que ele nos pode presentear.
Untitled I Fotografia, 140x100 cm
Untitled II Fotografia, 140x100 cm
Untitled III FotograďŹ a, 140x100 cm
Untitled IV Fotografia, 90x60 cm
Untitled V Fotografia, 90x60 cm
Untitled VI FotograďŹ a, 40x50 cm
José Medeiros Campo Grande-MS - 09/01/1973
José Medeiros construiu seu trabalho a partir de Cuiabá (MT). Começou a fotografar aos 16 anos de idade e sempre demonstrou profundo interesse para com as manifestações culturais do ser humano em interação social e com a natureza. Sua linha visual é marcante e complexa, o que fica bem claro em seu primeiro livro: “O Pantanal de José Medeiros”, um projeto que retrata 11 anos de pesquisa fotográfica focada na vivência do homem no Pantanal. Em paralelo, desenvolve trabalhos com as questões indígenas, além da documentação dos povos. Por exemplo, há 17 anos desenvolve um convívio produtivo no Parque Nacional do Xingu (MT), junto à etnia Ikpeng, que resultará em seu próximo livro, e também desenvolve o projeto Olhar Indígena, que tem por objetivo a profissionalização de indígenas em fotografia. Por isso, sua missão fotográfica é estética e antropológica, marcada sempre pela postura questionadora e polêmica. Seu trabalho nos chama a refletir sobre as questões existenciais, seja pelo impacto visual, seja pela criatividade de suas exposições.
Já Fui Floresta Fotografia, 120x180 cm
Já Fui Floresta Fotografia, 40x50 cm
Já Fui Floresta Fotografia, 40x50 cm
Já Fui Floresta Fotografia, 40x50 cm
Já Fui Floresta Fotografia, 2,25x1,70 m
Já Fui Floresta Fotografia, 40x50 cm
Mario Friedlander Campinas-SP - 28/10/1960
Radicado em Mato Grosso desde o início da década de 80, tornou-se fotógrafo pelas paisagens que viu e pelas pessoas que conheceu por aqui. Foi capturado pela magia do lugar e captura fragmentos dos diversos mundos que ainda coexistem por aqui mesmo. Dedicou-se a conhecer e documentar a natureza e seus elementos e as populações e seus costumes, assim juntou muitas imagens dos modos de vida e sua riqueza material e imaterial. Mario Friedlander é especializado em documentações de Natureza, Arte Rupestre, Arqueologia, Espeleologia e Povos Tradicionais. Nos últimos anos tem se dedicado aos Quilombolas de Mato Grosso e à região da Fronteira com a Bolívia, desenvolveu e participou de muitos projetos Culturais e Científicos, principalmente expedições e levantamentos, realizou o primeiro trabalho sobre o Patrimônio Imaterial em Mato Grosso para o IPHAN (2001) descrevendo a Celebração da Festança de Vila Bela da Santíssima Trindade. Desenvolve ainda trabalhos em documentação através de vídeo digital, tendo cerca de 200 horas de acervo gravado sobre diversas manifestações culturais em muitas regiões de Mato Grosso. Durante quase duas décadas participou ativamente do Movimento Ambientalista Mato-grossense e ainda hoje mantém uma Reserva de Floresta Particular no Vale do Alto Jamacá, em Chapada de Guimarães, onde desenvolve ações em Ecoturismo através do "Quilombo do Alemão". Promoveu e participou de diversas exposições no Brasil e no exterior, das quais destacamos: Verde Lente - Fotógrafos Brasileiros e a Natureza (São Paulo,1997); Xavante - Os Ritos são para todos (São Paulo, 1996); Cerrado - Vastos Espaços (São Paulo, 1992); In Our Hands (Londres, 1991); Pantanal (São Paulo, 1989); Chapada Viva (São Paulo, 1989); Levante Centro-Oeste, Ruptura e Resistência (Brasília, 1987); Brasil Terra e Gente – 500 anos do Descobrimento (Nairobi-Kenia); Roteiro Poético do Imaginário das Bacias Fluviais Brasileiras (Brasília, 2014 / São Paulo, 2014-2015); Patrimônio Imaterial Mato-grossense (Cuiabá, 2011); Portal do Cerrado (Brasília, 2015). Tem fotografias publicadas em mais de 40 livros, dentre eles: Mato Grosso – Território de Imagens (Cuiabá, 2008); A grande viagem do governador: Luis de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres entre Lisboa, Rio, Goiás, Mato Grosso e Amazônia - 1771-1791, (2014), ganhador do Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica “Clarival do Prado Valladares” (2012); e Prata, São Francisco, Amazonas | União das Águas: Imaginário das Grandes Bacias Fluviais Brasileiras (Ministério da Cultura e União Química, São Paulo, 2013).
Vista aérea do rio Guaporé na região do Buritizal Grande, em Vila Bela da Santíssima Trindade-MT Fotografia, 180 x 120 cm
Vista aérea do Morro Chané, no Pantanal do rio Paraguai-MS Fotografia, 180 x 120 cm
Paisagem Pantaneira, ranchinho de palha inundado pelas águas da Baía de Chacororé, em Barão de Melgaço-MT Fotografia, 50 x 70 cm
Árvores secas, mortas e afogadas pelo reservatório da Usina de Santo Antônio no rio Madeira, em Rondônia Fotografia, 50 x 70 cm
Floresta de terra firme morrendo afogada no reservatório da Usina Jirau, em Rondônia Fotografia, 50 x 70 cm.
Arco-íris na queda da Cachoeira Utiarity em Campo Novo do Parecis-MT Fotografia, 50 x 70 cm
FICHA TÉCNICA Governo do Estado de Mato Grosso Governador do Estado Pedro Taques Secretário de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso Leandro Carvalho Secretária Adjunta de Cultura Regiane Berchiele Secretária Adjunta de Políticas Especiais Vivian Arruda Diretoria Executiva – Associação Casa de Guimarães Érika Abdala Eduardo Espíndola Fotógrafos Izan Petterle José Medeiros Mario Friedlander Museu de Arte de Mato Grosso Diretora Executiva Viviene Lozi Coordenação de Projetos Tânia Arantes Assessoria de Comunicação e imprensa Lidiane Barros Protásio de Morais Administrativo Bruno de Jesus Monitoria Joycy Ambrósio Fátima Maria da Silva Natália Nogueira Serviços Gerais Mara Rúbia Anderson Amorim Agradecimentos Especiais Maria Teresa Maluf Izaura Moreira de Alencar Ribeiro Antônio Carlos Ribas Dallalana Raquel Cavalcante Teixeira Marina Danielides
ÁGUA
Período da Exposição: 14/05 a 14/06/2015 Visitação: terça a domingo, das 9h às 17h Entrada gratuita
Endereço: Rua Barão de Melgaço, nº 3565, Centro, Cuiabá - MT
DE
(Antiga Residência dos Governadores de Mato Grosso) Telefone: (65) 3025-3221 Museu de Arte MT
VIVER Realização:
MUSEU DE ARTE DE MATO GROSSO
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