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“O Fado Não Está Em Crise, Tem Épocas…!”
Manuel de Almeida, Revista “Maria” de 01/04/1987
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Vale a pena um pouco de história, quando o carácter e o esforço dos homens deixam para a posteridade Obra realizada que perdurará a favor da comunidade. É o caso do Sr. Manuel Simões que, por vontade expressa, deixou aos vindouros a sua Fundação, sob a directriz e devoção da sua sobrinha Sra. D. Rosa Amélia Piegudo. Deixou também outro sonho – em Sintra instalar O Museu Dona Maria Teresa de Noronha (Maria Teresa do Carmo de Noronha Guimarães Serôdio – -1918-1993)
Manuel Simões (1917-2008) era natural de Pedrógão Grande. Torna-se empresário em 1934. Em 1947, em Espanha, encontrou discos de 78 rpm de Hermínia Silva e Irene Isidro, entre outros, nunca comercializados entre nós. A sua inteligência e vitalidade empresarial levam-no, na década de 1950, a inaugurar em Vila Franca de Xira a sua própria fábrica de discos. Assim nasceu a etiqueta “Estoril” e para ela gravaram grandes nomes como Maria de Lourdes Resende, Tristão da Silva, Berta Cardoso, Maria José da Guia, Alfredo Marceneiro, Anita Guerreiro, Manuel Fernandes, Argentina Santos, o Maestro Belo Marques e Manuel de Almeida. Na década de 1960 abre a Discoteca do Carmo (Rua do Carmo Lisboa) que mais tarde vem a encerrar dando lugar à Discoteca Amália (Rua do Ouro, Lisboa). Com a criatividade de sempre, coloca um “calhambeque” na Rua do Carmo, lançando para o éter os sons do Fado que tanto preservou, defendeu e amou. Bem-haja!
Etiqueta “Continental”, S. Paulo, Brasil.
Lado A – “Dias de Feira da Ladra”
(M – Alfredo Correeiro / L – Gabriel de Oliveira) e “As Minhas Penas”
(
M – Pedro Rodrigues / L – Gabriel de Oliveira).
Lado B – “Longe de Ti”
(M – Martinho D’ Assunção / L – Manuel de Almeida e “Fado Pechincha”
(M – João do Carmo Noronha/ Popular).
Disco EP, etiqueta “Rapsódia” . “Voltar atrás”, letra de J. Freitas / música e interpretação de Manuel de Almeida.
“Fado e Toiros”, letra e música de Manuel de Almeida.
“Confissão Fadista”
L – Manuel de Almeida
/M – Martinho D’ Assunção (pai).
Gravação etiqueta “Imavox”. Inclui uma letra de Silva Ferreira com música de Manuel de Almeida.
“São Horas”, letra de Artur Ribeiro / música e interpretação de Manuel de Almeida. Este disco inclui ainda o “Fado Ronda”, com letra e interpretação de Manuel de Almeida / música de Carlos Gonçalves. Etiqueta “Alvorada” (Rádio Triunfo, Porto),
EP editado pela etiqueta “Alvorada”.
EP Editado pela etiqueta “Alvorada”, incluindo ainda a interpretação e autoria de Manuel de Almeida para o tema “Lá vem ela rua fora” com música de Pedro Rodrigues.
EP Etiqueta “Alvorada”.
Manuel de Almeida partilha este EP, para a etiqueta “Alvorada”, com três senhoras de grande qualidade vocal e popularidade. Nada as confundia. As cançonetistas Maria de Lourdes Resende e Maria Clara e a Fadista Ada de Castro.
Etiqueta “Estúdio”.
Etiqueta “Estúdio”.
Etiqueta “Estúdio”.
Falar de Manuel de Almeida não é difícil.
O meu amigo Manuel de Almeida sabia fazer amigos. O seu bom humor, a sua alegria de estar na vida e a sua honestidade para com os amigos, faziam deste grande homem e grande fadista, não só o “desejável” amigo, mas também um dos maiores intérpretes do Fado da sua geração.
Conheci-o antes de iniciar a minha vida de editor de discos e proprietário da Etiqueta “Estúdio”. Admirei o seu estilo muito próprio. Inimitável. Cantava o Fado Corrido e o Triplicado como ninguém. Quem sabe cantar, sabe do que estou a falar. Ainda hoje alguns o tentam imitar, sem conseguirem!
Era o que se pode afirmar um verdadeiro “estilista” do Fado. Como se impunha. Para alem do Fado, que amava intensamente, o “Manel” confessava ter mais outros três amores: A sua querida filha; andar de bicicleta e o “seu” Sporting!
Não resisto a contar uma atitude que o Manel teve e que muito me marcou.
Numa das minhas noites fadistas – eram 2 horas da manhã – fui até ao Restaurante “Lisboa à Noite” onde ele estava a actuar. A casa estava para fechar, tinham saído os últimos fregueses e eu, preparei-me para não entrar.
Mas, o Manuel – meu querido amigo – não deixou. Convidou-me a ficar e cantou apenas para mim três fados com a mesma garra da sua alma fadista como se a casa estive repleta (como era hábito!).
Foi a mais sentida e das melhores noites de Fado que vivi.
Ainda hoje lhe reconheço o gesto e o bendigo.
Por tudo e tanto, Obrigada Manel!
Emídio Mateus Editor/ Produtor Musical Lisboa, Abril, 2017
EP editado pela etiqueta “Alfabeta”. Lado A: “Agora que nada somos”, letra de Artur Ribeiro / música de Adelino dos Santos; “É certamente o meu Fado”, letra de M. Crisantina / música de Adelino dos Santos – Lado B: “Que seria de mim”, letra e música de Artur Ribeiro; “As nossas vidas”, letra de Artur Ribeiro / música de Manuel de Almeida.
Manuel de Almeida afirma: ” Trabalho intensamente desde há três décadas para que falem sempre de mim com carinho (…) estive muito tempo sem gravar, não por falta de convites (…) não me sinto a contento nas gravações, prefiro actuar ao vivo para o público (…)”.
Entrevista obtida no Restaurante “Lisboa à Noite”, Bairro Alto. Jornal “Barricada” de 23/10/1980. (Desconhecem-se os autores do texto e da foto).