Manuel Mafra - Ceramista

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Imagem da Capa Inv. 1453 Cat. 108


Manuel Mafra 1829-1905: Mestre na Cerâmica das Caldas

Maio de 2009

MUSEU DA CERÂMICA

ministério da cultura instituto dos museus e da conservação museu da cerâmica caldas da rainha


EXPOSIÇÃO

CATÁLOGO

Comissariado Cristina Ramos e Horta

Coordenação Editorial Cristina Ramos e Horta Matilde Tomaz do Couto

Coordenação Cristina Ramos e Horta Matilde Tomaz do Couto Investigação Cristina Ramos e Horta Irene Loureiro Marta Pereira Apoio Técnico Fátima Ribeiro Filomena de Oliveira Gilhermina Costa Helena Conde Marta Pereira Apoio Museográfico Ademar Félix Aurora Almeida Diogo Garcia José Henrique Delgado José Pedro Fernandes Loudes Chumbo Conservação e Restauro Inês Martins Serviço Educativo Gilhermina Costa Teresa Leal Elaboração de vídeos Herculano Elias Paulo Tomás Promotores Instituto dos Museus e da Conservação, IP Museu da Cerâmica GAMC — Grupo dos Amigos do Museu da Cerâmica Câmara Municipal das Caldas da Rainha Patrocínios Millennium BCP Empresa das Águas do Oeste, SA Caixa Geral de Depósitos Thomaz dos Santos, Lda Mecenato Institucional

Textos Cristina Ramos e Horta Mário Tavares João Bonifácio Serra Margarida Elias Herculano Elias Fotobiografia Marta Pereira Irene Loureiro Pereira de Sá Catalogação Cristina Ramos e Horta Marta Pereira Guilhermina Costa Helena Conde Colaboração Gulhermina Costa Helena Conde Marta Pereira Fotografia Divisão de Documentação Fotográfica do IMC Coordenação: Vitória Mesquita e José Pessoa Fotógrafo: José Pessoa e Francisco Matias assistido de José An‑ tónio Monteiro Marta Pereira E & H Manners, London Musées d’Art et d’Histoire, Genève Coordenação Editorial Cristina Ramos e Horta Matilde Tomaz do Couto Revisão Cristina Ramos e Horta Matilde Tomaz do Couto Design Gráfico Joaquim António Silva Pré-impressão, impressão e acabamento: Textype — Artes Gráficas, Lda. © Instituto dos Museus e da Conservação, IP Museu da Cerâmica GAMC — Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica 1ª edição, Maio de 2009 Tiragem: 1000 exemplares ISBN Depósito Legal n.º

Museu da Cerâmica | Rua Ilídio Amado | Apartado 97 2504­‑910 Caldas da Rainha Tel 262840280 | Fax 262840281 | mceramica@ipmuseus.pt | www.ipmuseus.pt


AGRADECIMENTOS Cristina Morais Fernando José da Costa Francisco Vogado Hermínio Oliveira Inês Martins Isabel Alves João Maria Fereira Joe Berardo Jorge Ferreira Madalena Soares Mira Manuel Costa Pereira Manuel B. Leitão Margarida Taveira Maria de Jesus Monge Mariana Soares Mendes Mário Tavares Nuno Clode Paulo Machado Pedro Morais Cardoso Rafael Ribeiro Rita Salgado Roland Blaettler Vasco Duarte Silva Vasco Ribeiro Vítor Sebastião Zita Sotto Mayor Ateneu Comercial do Porto Cabral Moncada Leilões CENCAL — Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica Museu Ariana (Genève) Museu-Biblioteca da Casa de Bragança Museu José Malhoa Museu Francisco Tavares Proença Júnior Museu Municipal de Loures Museu Nacional de Arte Antiga Museu Nacional do Azulejo Museu Nacional Machado de Castro

ABREVIATURAS CMCR — Câmara Municipal das Caldas da Rainha c. — cerca MC — Museu da Cerâmica inv. — inventário MCGM — Manuel Cipriano Gomes Mafra MCG — Manuel Cipriano Gomes MNA — Museu Nacional do Azulejo MNAA — Museu Nacional de Arte Antiga MNMC — Museu Nacional Machado de Castro vol. — volume



ÍNDICE

Matilde Tomaz do Couto Apresentação

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Mário Tavares Mafra (MCGM): O Mestre que possibilitou Bordalo

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Cristina Ramos e Horta Manuel Mafra Revivalismo e inovação na Cerâmica Caldense do Século XIX

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João B. Serra Manuel Mafra e as Origens da Moderna Cerâmica das Caldas

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Mário Tavares M. C. G. Mafra, Paris, 1867

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Margarida Elias A Cerâmica de Manuel Cipriano Gomes nas Exposições Nacionais e Internacionais

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Herculano Elias Manuel Cipriano Gomes O Mafra: Genealogia, Principais Colaboradores e Técnicas

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Fotobiografia

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Catálogo

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Bibliografia


Apresentação Matilde Tomaz do Couto*


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ontemporâneo de Bordalo, mas antecedendo-o na chegada às Caldas, Manuel Mafra significa para a cerâmica local um decisivo avanço de inovação e de modernidade, quer no domínio técnico, quer formal. Um enorme salto de qualidade e estética irrompia na arte do barro nas Caldas, que assim lhe permite abandonar formulários mais arcaicos e incipientes e galgar fronteiras com mérito e reconhecimento. Manuel Mafra, o mais importante produtor local da época, pratica um estilo sem paralelo no país e introduz na cerâmica das Caldas uma paleta de cores variada e rica e novas técnicas de musgado e de verguinha. Pela qualidade e criatividade das peças que realiza, não só merece o apreço do Rei D. Fernando e o privilégio de «Fornecedor da Casa Real», como a produção da sua fábrica se impõe a nível internacional, exportando para o estrangeiro e sendo galar‑ doado com prémios em exposições na Europa e nas Américas. Revela-se ainda pioneiro no desenvolvimento duma marca, que contribui para conferir às Cal‑ das da Rainha identidade cerâmica. O conceituado ceramógrafo francês Auguste Demmin refere Manuel Mafra na sua obra monumental Histoire de la Céramique, Paris, publicada entre 1870 e 1875, atribuindo-lhe uma importância inédita, pois faz representar a «Escola Portuguesa» somente pela «Cerâmica de Caldas (Portugal)» e esta por duas peças da sua marca. Descreve-as da seguinte forma:

Prato redondo de 33 centímetros de diâmetro, em barro cozido vidrado, da fábrica ac‑ tual de Mafra de Caldas, em Portugal, e marcada M. MAFRA — CALDAS — PORTU‑ GAL — Nº 4 com uma âncora colocada no meio desta inscrição. É uma cerâmica no género das das fábricas de Normandia, dos séculos dezasseis e dezassete, conhecidas sob a falsa denominação de cerâmicas de Bernard Palissy. Lebre decorativa, em tamanho natural (36 por 65 centímetros), em barro cozido vi‑ drado, mesma proveniência do prato anterior. Esta peça é perfeitamente modelada e notável no que respeita à veracidade e natureza do animal. (Colecção do Autor.)

Uma reprodução de página inteira, em fototipia, acompanha as descrições nesta «Ceramografia universal».

* Directora do Museu da Cerâmica


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Com efeito, Auguste Demmin assimila Manuel Mafra mais directamente a uma afinidade normanda, pois, quanto às atribuições a Palissy, curiosamente defendia: Não existe nenhum sinal distintivo através do qual se possam reconhecer os produtos deste mestre, a quem se atribuem ordinariamente todas as cerâmicas da Escola rústica da Normandia, fabricadas durante o século dezasseis e dezassete. Palissy era mais eru‑ dito do que artista e conhecia pouco de modelação, como demonstram os onze moldes encontrados no forno de tijolos nas Tulherias, em 1865, e recolhidos por M. Lefuel, ar‑ quitecto-chefe, que os mandou reproduzir em gesso por M. Simoulard. São fetos ou grandes corpos de homens ornados com incrustações de conchas e tanto uns como outros são simples moldagens a partir do natural; os corpos de homens, moldados sobre corpos ao vivo, mostram mesmo as marcas das telas grosseiras com as quais Palissy recobrira as carnações, pois não era muito importante obter provas exactas; servia-se delas unicamente para as enfeitar com conchas, a fim de tornar agradáveis estas figuras em barro cozido e de grandes proporções, que os marinheiros fabricam em pequenas dimensões, com conchas verdadeiras, e que vendem nos portos de mar. Pode-se admitir que tudo o que é ornamento e precisa ser modelado pela mão dum artista não pode ser atribuído a este mestre, mas pertence na sua maioria às fábricas contemporâneas estabelecidas na Normandia, e as cerâmicas ditas rústicas, é necessário repeti-lo, não oferecem nenhum sinal, nenhuma particularidade, através dos quais se possa reconhe‑ cer que sejam feitas por Palissy.


Em cerca de três décadas Mafra destaca-se e precede Bordalo na adopção da vila das Caldas para a sua criação barrista, afinal o período de uma geração, que, de certa forma, prepara o terreno de actuação do segundo artista. E não se desmerecem na grandeza e importância relativa da sua intervenção, antes traçam linhas de continuidade. A Exposição «Manuel Mafra 1829-1905: Mestre na Cerâmica das Caldas» ocorre 25 Anos sobre a abertura do Museu da Cerâmica ao público — efemé‑ ride que aqui se deseja assinalar — e celebra o Dia Internacional dos Museus, enquanto se integra na Festa da Cerâmica 2009, evento de iniciativa do Mu‑ nicípio, dinamizador e motivador da Cidade em torno da sua identidade com esta arte do fogo. Exposição promovida em estreita parceria com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha e com o GAMC — Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica, agradece-se a colaboração efectiva e atenta assim obtida e a partilha sempre presente, com o empenho, entusiasmo e apoio que con‑ tribuiu de maneira decisiva para a criação de sinergias e a realização deste almejado desígnio. À Drª Cristina Ramos e Horta, comissária da exposição, e à equipa do Museu da Cerâmica agradece-se o esforço e conhecimento colo‑ cados na concretização do projecto desenvolvido nos últimos anos, com de‑ dicação, tenacidade e saber, com a capacidade de acreditar que dá corpo aos sonhos. Mas dificilmente se alcançaria este propósito sem o contributo de ins‑ tituições e coleccionadores particulares, que generosamente aceitaram ceder as peças do seu património, a quem se expressa todo o reconhecimento; a sua boa vontade e participação no projecto torna possível chegar a este momento de apresentação ao público da obra notável de Manuel Mafra, inserindo-o no lugar fundamental que lhe pertence na cerâmica das Caldas.

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Mafra (MCGM) O Mestre que possibilitou Bordalo Mรกrio Tavares*


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sta Exposição / Estudo sobre a obra do Ceramista Manuel Cipriano Gomes Mafra (que sucedeu a D. Maria dos Cacos, na sua oficina, em 1850) corresponde à concretização de um anseio de anos, da Direcção do Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica. Sempre acreditámos que Manuel Mafra fora a ponte de passagem, da tradi‑ ção, para a tradição/inovação, da Faiança Caldense — o salto do Oleiro para o Ceramista. Daí o nosso grande empenho em que este evento (que vos surpreenderá, positivamente, estamos certos) se efectivasse; mesmo que o Museu de Cerâ‑ mica não disponha actualmente, dos recursos mínimos — financeiros e logís‑ ticos, para tal efeito. Lutámos, para conseguir reunir alguns apoios e a exposição aí está, com carências, certamente, mas, com a dignidade exigível, para celebrar o Mestre — que possibilitou Bordalo. A inovação tecnológica e concepcional, que Mafra trouxe à Cerâmica Caldense é cada vez mais, inquestionável. Por isso, aqui deixamos o nosso muito obrigado a todos quantos, de algum modo, permitiram esta realização: À Câmara Municipal das Caldas da Rainha, ao Millennium BCP, às Águas do Oeste, à Caixa Geral de Depósitos, a Thomaz dos Santos, SA. Também, ao designer Joaquim António Silva (Quitó) e à Gráfica Textype, pela redução que fizeram nos custos dos seus trabalhos, agradecemos toda a boa vontade e a competência afirmadas. O nosso profundo agradecimento aos coleccionadores e às diversas entidades que nos cederam peças, tão importantes, para o enriquecimento desta mostra; À Dra. Cristina Ramos e Horta, agradecemos o esforço e a qualidade do trabalho desenvolvido, como Comissária da Exposição; Ao Dr. João B. Serra, Comissário da Festa da Cerâmica 2009, o nosso obri‑ gado pela prestimosa e sábia colaboração; Aos funcionários do Museu de Cerâmica, o reconhecimento, pela contri‑ buição em esforço suplementar, que lhes foi pedida e nunca regateada; Por fim, mas não por último — queremos agradecer o apoio solidário e competente, que sempre nos prodigalizou a Directora, Dra. Matilde Tomaz do Couto.

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* Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica


Manuel Mafra Revivalismo e Inovação na Cerâmica Caldense do Século XIX Cristina Ramos e Horta*


Além do estabelecimento [termas], Caldas é conhecida pelas suas louças artísticas desde tempo imemorial. Quando começou esta indústria? Ignora­‑se. Concerteza remonta há três séculos. Que sempre teve uma finalidade artística mais do que prática, prova­‑se por‑ que os pratos famosos não são para comer mas sim para enfeitar; as jarras estão tapadas no gargalo [cegados por el cuello], e só para fruteiras e outras peças [y usos], em que o ornato é importante, se empregam. O estilo destas faianças é sempre o de Bernardo de Palissy, o seu célebre prato do réptil constitui o modelo repetido e constante.1

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stas palavras do cronista espanhol F. Y. H. Giner de los Rios, por ocasião da sua visita a Caldas da Rainha, em 1888, são um testemunho que Cal‑ das da Rainha foi o local, em Portugal, a seguir a França (Tours e Paris), e Inglaterra (Minton) onde a influência do estilo da cerâmica de Bernard Palissy se manifestou. Devido ao seu carácter utilitário bem como ao fácil transporte a cerâmica foi sempre alvo de uma mobilidade geográfica que favoreceu recíprocas influ‑ ências nos produtos dos vários centros cerâmicos. A cerâmica artística caldense do século XIX apresenta, assim, afinida‑ des e interacções técnicas e estilísticas com a de outros centros cerâmicos, destacando­‑se Tours e Paris, em França e Minton, em Inglaterra, cujos cera‑ mistas recriaram, em meados do século XIX, a obra do ceramista francês da Renascença, Bernard Palissy. Competiu ao ceramista Manuel Cipriano Gomes, dito O Mafra, (por ser na‑ tural desta localidade) desenvolver em Caldas da Rainha uma notável obra ce‑ râmica, através da qual introduziu, nesse centro, as características da corrente europeia revivalista de meados do século XIX. O estudo da obra cerâmica de Manuel O Mafra implica, assim, abordar o contexto historicista e o interesse pelo Passado que, nessa altura, vigorava na Europa e tem reflexos na arquitectura, na literatura e no conjunto das artes. Na

* Conservadora Assessora Principal do Museu da Cerâmica. Doutoranda em História de Arte ULL.


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Bernard Palissy (1510-1590) Autor: Charles-Barthelemy-Jean Durupt, 1804-1838 Gravura de Tony Goutiere, 1808-1890 Dimensões originais: 23,5 x 14,3 cm Smithsonian Institution Libraries Digital Collection

área da cerâmica, a principal manifestação foi marcada pela recuperação da obra do ceramista da renascença Palissy pelos discípulos das escolas de Tours, especialmente pela primeira geração integrada por Charles Jean Avissau e Jo‑ seph Landais e de Paris com Georges Pull. O desejo de renovação próprio do renascimento traduzia uma necessidade íntima de regresso às origens que Palissy reflecte nas suas representações de um mundo natural e primordial, acentuado pela sua adesão à nova corrente religiosa — o calvinismo. Palissy nasceu em Agen, em 1510 e viajou muito durante a sua juventude o que lhe deu um vasto leque de conhecimentos que compensou largamen‑ te a falta de estudos clássicos. A partir de 1539, instalou­‑se em Saintes, perto do mar, trabalhando como pintor de vidro e como topógrafo, na região en‑ tre Saintes e o mar, próximo da localidade da Chapelle-des­‑Pots, terra rica em matérias primas2 cujo nome indica a vocação cerâmica local. Aí, Palissy iniciou a experimentação na cerâmica. Conhecendo perfeitamente a zona e familiarizando­‑se com os pequenos animais e espécies vegetais, ele escolheu, como suporte dos seus futuros trabalhos todos os animais que ele bem co‑ nhece, como lagartos, rãs, crustáceos e serpentes que representava geralmente sobre fundos aquáticos. Nesta altura, ligado ao emergente interesse pela natureza próprio do Renas‑ cimento, estava em voga a decoração das artes plásticas, sobretudo da ourive‑ saria e da gravação em madeira, com elementos da natureza e Palissy adoptou para a cerâmica esta técnica de moldar animais e plantas a partir do natural, à maneira dos ourives.3 Foi o ceramista francês mais conhecido naquela época e «o criador de ob‑ jectos de arte entre os mais bizarros e surpreendentes» (AMICO, p. 6). Palissy foi um verdadeiro homem da Renascença, não só um ceramista mas também pintor, filósofo, cientista e escritor. A maior parte das cerâmicas de Palissy co‑ nhecidas como «rusticas», são peças com formas de travessas e pratos, cuja su‑ perfície foi totalmente decorada de forma a assemelhar­‑se a pedra incrustada de conchas e de fósseis e que serve de fundo a uma variedade de plantas e de animais modelados a partir do natural. Palissy criou e desenvolveu um género de louça inovadora que anuncia a época moderna. Deixou­‑nos nos seus escritos4, dramáticas descrições dos es‑ forços que desenvolveu para obter as pastas e os vidrados a que aspirava, numa verdadeira obsessão que o acompanhou toda a vida e que tem a sua máxima expressão na famosa cena em que o ceramista queima a mobília da sua casa para manter o forno que cozia as peças, perante o desespero da família e que foi reproduzida em tela por Fragonard.5 Foi protegido pela nobreza, pela condestável Anne de Montmorency que lhe encomendou uma gruta rústica para o seu castelo em Ecouen (de que não restam vestígios) e por Catarina de Médicis que lhe encomendou, em 1565, a concepção e construção de uma grande gruta «em barro esmaltado» para o


jardim do Palácio das Tuilleries, a edificar perto do Louvre, trabalho que não foi concluído. Devido às suas convicções religiosas, (era militante Huguenote) Palissy foi perseguido durante a maior parte da sua vida e preso várias vezes. Apesar de ter sido protegido pela nobreza católica, sobretudo por Catarina de Médicis, acabou por morrer preso, na Bastilha. Sem ter sido reconhecido pelos seus contemporâneos, foi logo após a sua morte, envolto em lenda e referido como mártir, mas permanecendo esque‑ cido quase durante três séculos. Cerca de 1825-30 foi encontrada, por ocasião de escavações junto ao Louvre, uma parte da legendária gruta rústica feita por Palissy para Catarina de Médicis, Essa descoberta revelou diversos fragmentos das suas cerâmicas rústicas que permitiram vislumbrar a sua fantástica e bizarra arte cerâmica com ani‑ mais e plantas moldados e conferiu ao ceramista uma dimensão de destaque, sendo referido com o mesmo ênfase, tanto como mártir protestante como um mestre ceramista. No século XIX, ceramistas historicistas franceses, tais como Charles­‑Jean Avisseau (1796­‑1861) e Joseph Landais (1800­‑83), com um profundo sentido romântico imitaram o estilo de Palissy e fizeram e assinaram louças similares. Começara o movimento que conduzia à cerâmica artística moderna. Charles Jean Avisseau, nasceu em Tours, em 1796 e trabalhou com o pai (entalhador de pedra) numa oficina ligada á cerâmica. Mais tarde, trabalhou na fábrica do Barão de Bezeval, em Beaumont-les­‑Autels,6 especializando­‑se na pintura cerâmica. Conheceu a obra de Palissy através de peças da colecção do barão e sentiu uma profunda atracção por essas cerâmicas, bem como uma empatia com o autor. Avisseau era detentor de formação artística, tendo aprendido desenho na escola de Tours, antes de dirigir o seu atelier de pintura sobre faiança em Eure­ ‑et­‑Loir. «Em 1829, regressou a Tours, onde construiu o seu primeiro forno para consagrar a sua existência aos segredos da cerâmica»7. Passou anos a tentar recriar os vidrados das obras de Palissy, o que conse‑ guiu cerca de 1843 8, transmitindo essa inspiração a uma escola de seguidores em Tours e depois a uma dezena de outras escolas em França e noutros países da Europa. Marcava as suas peças com o seu nome e algumas vezes com o mo‑ nograma «AV» para as distinguir das do mestre da renascença. Na obra de Palissy, Avisseau encontrou a ilusão, tornada possível através de uma técnica de decoração e, sobretudo, através da cor. As suas peças ostentam assim esmaltes de cores sumptuosas que correspondem às necessidades plásti‑ cas e estéticas da representação de um mundo que alia o onirico a um realismo dramático «de uma natureza feroz e romântica (...) como é sonhada no século de Darwin»9. As cerâmicas deste ceramista foram apresentadas nas grandes exposições do século XIX, tais como a Grande Exposição da Agricultura e da Indústria, em

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Travessa Peixe Barro vidrado policromo Forma oval com aba Decoração relevada com peixes, enguias e mexilhões Escola francesa, século XIX 9 x 44 x 31 cm Colecção particular

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Paris, em 1849, a Grande Exposição de 1851, em Londres que internacionaliza Avisseau e a Exposição Universal em 1855 (nesta exposição assiste­‑se já à pre‑ sença de cerâmicas de tipo Palissy feitas em Inglaterra). Avisseau partilhou os seus conhecimentos com outros ceramistas atraídos por Tours, entre eles o seu cunhado Joseph Landais (1800­‑1883), hábil ceramis‑ ta, com quem trabalhou entre 1843 e 1846 e que também participou na Grande Exposição em Londres, em 1851, com belíssimas cerâmicas, embora não tão ricamente trabalhadas como as de Avisseau. Após a morte de Charles-Jean Avisseau, em 1861, os ceramistas de Tours mantiveram a sua tradição palissista e prosseguiram sob a orientação de Edou‑ ard, filho de Avisseau. Naquela altura, outras oficinas chamaram a si a influência de Palissy: em Paris, com Victor Barbizet (1895­‑1870), Georges Pull (1810­-1889) e Thomas Victor Sergent; em Beaune, em Limoges, em Agoulême, com Alfred Renoleau. Depois, o movimento ultrapassou as fronteiras francesas, atravessou o mar, até Inglaterra, com Herbert Minton e Leon Arnoux e os Pirinéus, até Portugal, com Manuel O Mafra e os ceramistas da sua Escola. As peças de cerâmica em estilo neopalissy, sobretudo de Avisseau, eram alvo de uma grande procura por parte de personagens de grande destaque, de que existe vasto registo com os nomes e cargos das personagens mais ilustres da Europa. Destacam­‑se, na listagem que nos revela Danielle Oger, no livro da Exposição sobre Avisseau: «Um Bestiaire Fantastique10, membros de famílias reais, como a rainha Victoria de Inglaterra que adquiriu uma grande bacia com peixes, S. M. O rei da Suécia e da Noruega adquiriu um centro de mesa renascença e membros da nobreza, como a baronesa Ch. de Rothschild que aquiriu um estudo de peixes, seguindo­‑se os nomes de inúmeros políticos,


altos dignitários e membros da alta burguesia europeia também aquisidores de cerâmicas. Existe a referência de peças adquiridas para Portugal: «M. Avisseau a fait en 1853 por M. Carolus résident du roi des Belges en Portugal, une coupe de style antique»11. Avisseau recebia com frequência encomendas, sobretudo de peças de gran‑ des dimensões e os seus preços eram bastante elevados. Ser proprietário de uma obra em estilo palissista do ceramista de Tours era um factor de prestígio na Europa do século XIX. Tratava­‑se de um autêntico comércio de luxo. Na época, a voga dos gabinetes de história natural inspirava a decoração dos salões aristocráticos e burgueses, chegando a suscitar comentários irónicos. «Sobre todas as mesas, as consolas, (...), armários e, em geral, sobre tudo o que apresentava uma superficie mais ou menos plana estava colocada uma multi‑ dão de objectos de formas barrocas e disparatadas», ironisa Théophile Gautier em 183312. Nas Caldas da Rainha, o «neo­palissysmo» teve em Manuel O Mafra o primeiro cultor, nos anos 60 e 70 do século XIX, a que se seguiram outros ceramistas como José Francisco de Sousa (praticamente contemporâneo de O Mafra) e José Alves Cunha (finais da década de 1860) que exportaram para Espanha, França, Inglaterra, Brasil e Estados Unidos. Estes ceramistas provocaram uma profunda mudança na cerâmica artística das Caldas da Rainha sucedendo e ultrapassando a laboração dos oleiros anó‑ nimos que durante séculos prevaleceu nesse centro. Esta fase teve início com a oleira Maria dos Cacos referida por José Queirós e Reynaldo dos Santos como oleira feirante e que anuncia essa mudança com as suas peças rústicas modeladas e moldadas com finalidade utilitária (palitei‑ ros, apitos, garrafas, e vasilhas em formas de animais ou de figuras humanas de estilo e técnica bastante diversificada) destinadas, sobretudo a serem vendidas em feiras. Igualmente atribuídas a Maria dos Cacos são as famosas garrafas Mulhe‑ res de Guitarra (ou com outros instrumentos musicais) e peças com formas de animais: macacos, leões, cães, etc., com a função de paliteiros, castiçais e apitos. Manuel Cipriano Gomes nasceu em Mafra, «em 1829, fruto do primeiro casamento de um obscuro oleiro da Saibreira»13 — e segundo refere Julieta Ferrão «fora para as Caldas como criado de estalagem»,14 e mais tarde foi tra‑ balhar com Maria dos Cacos, tornando­‑se o seu mais categorizado operário e sucedendo­‑lhe em 1853. Segundo refere o catálogo da Secção Portuguesa da Exposição de 1867 15 o es‑ tabelecimento de Mafra (Emmanuel­ Cypriano Gomes), em Caldas da Rainha que esteve representado nesse certame com 100 peças, foi fundado em 1857. Supomos assim que a oficina de Mafra, trespassada por Maria dos Cacos terá sido registada em 1857.

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Em 1860, Manuel Cipriano Gomes O Mafra abriu nova oficina situada na Rua do Jogo da Bolla n.os 20 e 23 e acompanharam­‑no, como refere Julieta Fer‑ rão, António Domingos dos Reis que se sabe que se mantém da anterior fábri‑ ca de Maria de Cacos e «traz para junto de si duas irmãs que residiam na terra da sua naturalidade, de nomes Mariana da Conceição Gomes e Luísa Gomes (...) que deixaram o seu nome ligado a uma das mais interessantes curiosidades que notabilizaram a cerâmica caldense, a ‘verguinha’»16. Sobre a «Fabrica de Manuel Cypriano Gomes Mafra» o Resumo do Inque‑ rito Industrial de 1881, Lisboa, publicado em 1883, faz a seguinte descrição: «A fabrica foi construida em 1860. Produz quinquilharias-phantasia»17. O trabalho na oficina era intenso, segundo refere o mesmo inquérito: «O trabalho é manual. Emprega 15 homens, cujos salarios regulam de 240 a 500 réis. No inverno há serões. O trabalho é de sol a sol»18. Manuel O Mafra deu continuidade, numa primeira fase que se calcula entre 1853 e 1860, à produção que se aproximava dos modelos de Maria dos Cacos, de carácter mais rústico e monocromo, mas evoluiu gradualmente para peças mais elaboradas, decorando­‑as com motivos florais aplicados em relevo e pro‑ duzindo modelos como as famosas e delicadas jarras de altar, os depósitos de aguardente chamados «S. Martinho», representando um homem sentado ou a cavalo sobre um barril (com afinidades com os Toby-Jugs ingleses), cangirões, pratos e travessas, ou suspensões com motivos de folhas, assumindo já uma função utilitária em compromisso com a decorativa. De acordo com Julieta Ferrão, a louça destinava­‑se à venda ambulante em feiras e mercados, locais onde adquiria «tudo o que era susceptível de ser re‑ produzido ou imitado na sua fábrica»19. Este comércio determinou uma troca de influências e explica a semelhança entre alguns modelos de Manuel O Mafra e peças do norte do país, nomeada‑ mente da Fábrica da Torrinha, em Gaia e de Barcelos. Manuel O Mafra foi o primeiro ceramista em Caldas a assinar as suas peças, tendo usado, ao longo do seu percurso, várias assinaturas e carimbos que per‑ mitem acompanhar a evolução da sua obra e definir uma cronologia para os vários grupos temáticos. As primeiras peças marcadas com as iniciais MCG e MCGM, consideradas como as primeiras assinaturas de Manuel Cipriano Gomes20, correspondem a paliteiros, castiçais, bem como a vários tipos de travessas e pratos em forma de folhas, em barro vermelho e com vidrados monocromos, normalmente casta‑ nho ou cor de mel de manganés ou verde de cobre. Estas peças, não obstante o carácter rústico, destacam­‑se pela qualidade téc‑ nica da modelação, dos vidrados e do desenho da decoração, de que são exem‑ plo o paliteiro macaco castanho escuro (cat. 14) bem como as folhas verdes de inspiração naturalista (cat. 7-8). O Inquérito de 1881, também nos dá indicações sobre as matérias primas: «Os barros empregados são os de Leiria e das Caldas, sós ou lotados para fa‑


bricos especiaes. Os melhores barros são os de Pombal, do sitio chamado dos Barracões. O preço do barro regula por 140 réis cada 15 kilogrammas, e o preço do transporte para as Caldas é de 240 réis por 900 kilogrammas»21. Em breve, O Mafra introduz uma nova marca nas suas peças formada por uma âncora inserida numa oval. Os modelos tornam­‑se cada vez mais requin‑ tados, afastando­‑se de uma matriz popular e assumindo características mais eruditas. Os vidrados das peças da sua primeira fase constam essenciamente das quatro cores habituais de Caldas: castanho, escuro ou de mel de manganés, verde cobre, amarelo ferro e menos usado o azul cobalto que vinham de Lisboa, segundo refere Joaquim de Vasconcelos «O chumbo e as drogas para a tinturaria vem do mercado de Lisboa»22. Os fundos de muitas das suas peças são cobertas por uma mistura de vidrados camurça e castanho que lembra os jaspeados de Palissy. O Mafra desenvolveu conhecimentos técnicos no estudo dos vidrados e in‑ troduziu uma paleta rica e variada — verde, azul, castanho, vermelho e ama‑ relo rebuçado; acrescentando também o uso de óxidos de chumbo, estanho e outros óxidos metálicos, atingindo cores e vidrados brilhantes e intensos. Um dos exemplos mais evidentes do uso da policromia é o par de jarrões policromos do Museu da Cerâmica (cat. 109). Paralelamente às peças de referência destinadas a compradores com mais posses, a oficina de Manuel O Mafra vendia, segundo consta no anúncio que

Travessa Lagarto Escola de Palissy Século XVII E. & H. Manners, London


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publicava no jornal local, «quinquilharia»23 como se comprova pela grande va‑ riedade de paliteiros, castiçais, caixas, pratinhos que produziu ao longo da sua carreira, sobretudo no período final. Uma das maiores dificuldades com que nos deparamos no estudo deste ce‑ ramista é a falta de conhecimento de documentação que permita seguir o seu percurso artístico, a evolução dos seus modelos e os principais compradores24. Referências esporádicas em catálogos e periódicos dão conhecimento da apre‑ sentação dos produtos da sua oficina em Exposições internacionais e do êxito que alcança, bem como da proximidade entre o ceramista e o rei D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, marido de D. Maria II. Este, deve ter conhecido O Mafra por ocasião de uma viagem ao Norte, feita em 1852, em que passou pelas Caldas, segundo refere José Teixeira na obra D. Fernando II O Rei Artista: «Sabemos da satisfação que a família real de‑ monstrou na visita das olarias das Caldas da Rainha, em 1852, quando viajava para o Norte. O príncipe real, D. Pedro V, lamentou contudo, que não pudes‑ sem ter visto formar como desejavam as figuras e os vasos mas não deixaram de comprar grande quantidade de peças. E o pai haveria de registar o modo como corria bem esta visita numa população que sentia a louça como sua. Ao virtuoso ceramista Cipriano Mafra dispensou sempre grande protecção, (...)»25. Outros autores, como Armando Lopes Silvano, referem o interesse de D. Fernando por Manuel O Mafra e pela cerâmica de Caldas «Quanto à louça (de Caldas) engrandece­‑a a immensa extracção, que tem, S. M. El­‑rei D. Fer‑ nando, d’ella tem feito grande acquisição e é enorme a exportação, os fabrican‑ tes teem sempre grandes encommendas para Espanha, França, Inglaterra, Bra‑ zil e outros pontos, prova este consumo que todos timbram em aperfeiçoar as suas obras pelo que são dignos dos maiores illogios; os principais fabricantes são os srs. Francisco Gomes de Avellar, Manuel Cypriano Gomes Mafra, José Alves Cunha, José de Souto Liso, e João Coelho Cesar (...)»26. A observação das peças de Manuel O Mafra permite­‑nos afirmar que este ceramista tinha acesso a modelos internacionais, tanto franceses, como ingle‑ ses, nos quais se inspirava. Destaca­‑se a travessa vidrada a amarelo ferro, com aplicações de animais, pertencente à colecção do Comendador Berardo, com uma forma oval irregular e o bordo com encordado que se aproxima muito de peças do próprio Palissy, o que nos surpreende dada a raridade das peças desse ceramista e à dificuldade de acesso às mesmas. Consideramos que o conhecimento destes modelos ficou decerto a dever­‑se, em parte, às viagens efectuadas por ocasião das várias Exposições Internacio‑ nais em que esteve presente: em 1867, participou, pela primeira vez, numa ex‑ posição Internacional, a de Paris. Em 1873, O Mafra voltou a apresentar louça das Caldas na Exposição Universal de Viena de Áustria (tendo recebido uma medalha de Mérito). Três anos depois, tornou a receber um prémio, desta vez na Exposição Universal de Filadélfia. Em 1878, foi premiado na Exposição In‑


ternacional de Paris, com uma medalha de prata. Em 1879, foi premiado, uma última vez, na Exposição Portuguesa do Rio de Janeiro (nesta Exposição Ma‑ nuel O Mafra recebeu com José Alves da Cunha 11 medalhas de prata)27. Acerca da representação caldense nesta exposição refere ainda a revista Ocidente: «A louça das Caldas destaca­‑se, como em todas as exposições antecedentes a que tem concorrido, pelo seu typo especial e cheio de originalidade, que lhe dá um logar á parte na cerâmica moderna, e a faz apetecida de toda a gente dotada de bom gosto». Nestas exposições seriam apresentadas peças dos neopalissistas franceses e ingleses, das escolas de Tours (Avisseau, Landais) de Paris, (Pull e Sergent — este activo em Paris entre 1870 e 1885) Minton, e outros, que devem ter im‑ pressionado Manuel O Mafra e alimentavam a sua imaginação e criatividade. Por outro lado, as idas frequentes à corte e o contacto com a colecção de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, bem como com Wenceslau Cifka e José Palha permitiu­‑lhe o acesso directo à cerâmica neopalissista, tanto a «rústica» como a influenciada pela majólica italiana. As cerâmicas de Avisseau e dos ceramistas contemporâneos eram muito procuradas e adquiridas por um número amplo de personalidades, como já referimos e de certeza que devem ter integrado a colecção de D. Fernando II. De várias formas, (incluindo mesmo o acesso a catálogos e revistas da épo‑ ca) Manuel O Mafra tinha acesso ao universo da cerâmica revivalista que se fazia em França e Inglaterra e que ele adaptava de acordo com o seu gosto e interpretação. Constitui exemplo o grupo escultórico que modelou e moldou em faiança, intitulado o Macaco e a Tartaruga28 e do qual são conhecidos três exemplares (sendo um pertença do Palácio da Ajuda, em depósito no Museu da Cerâmica e outros dois da colecção do Comendador Berardo). O Grupo é uma réplica de Majólica inglesa da Copeland and Sons, feita a partir de um modelo do francês Louis­‑Auguste Malempre (1825­‑1925) em Stoke­‑on­‑Trent, England, in 177029. Este grupo escultórico chamado originalmente Sloth and Mischief (Preguiça e malandrice) deve representar uma lenda proveniente do Oriente, talvez da Índia. Outra peça que constitui mais um testemunho da ligação entre o ceramista e o rei consorte é um paliteiro em forma de macaco com almofada na cabeça (de que existem três exemplares nesta Exposição), réplica em pequena dimensão de um par de bancos pertencentes a D. Fernando e atribuídos à Fábrica Roseira30. O interesse do soberano e o facto de ter proporcionado ao ceramista o con‑ tacto com as peças da sua importante colecção foi decisivo para a obra de Ma‑ nuel O Mafra, pois como refere o espanhol Giner de los Rios num capítulo so‑ bre cerâmica lusitana: «É difícil fazer a história da arte de trabalhar as «tierras cocidas» no reino vizinho. (...) Quando os tribunais decidirem se deve passar para a Nação o soberbo legado de peças cerâmicas que o defunto rei D. Fer‑ nando deixou à Condessa de Edla, poderão estudar­‑se todas as fases por que

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passaram as louças e porcelanas em Portugal. Porque entre as raras virtudes que adornavam o pai do actual monarca, tinha a de ser perito «expertíssimo» na matéria e famoso coleccionista (...)»31. A descrição feita por José Teixeira das obras da colecção de D. Fernando existentes no Palácio das Necessidades revela que o rei não só encomendava peças a Manuel O Mafra, como também fazia experiências em cerâmica na sua oficina. «No centro da sala, (Sala dos Vidros) um grande bufete (...) em cima havia quatro pratos de faiança, cozida na Fábrica das Caldas, e pintado por S.M.»32. «No cimo das estantes (descritas como Estante A) (...) mais duas terrinas cabeça de javali e uma cabeça de touro da mesma época e fabrico e, ainda outra em forma de repolho (...)»33. No ano de 1870 Manuel Cipriano Gomes passou a usar a coroa real na mar‑ ca, acrescentada a M. Mafra / Caldas / Portugal, autorizado pelo rei D. Fernan‑ do que o designou fornecedor da Casa Real e o convidava a frequentar a corte. Aí, o coleccionador Joaquim José Pereira Palha Faria de Lacerda (1817­‑1879), chefe de repartição do comércio e indústria, facultou­‑lhe alguns modelos da sua colecção. Travou contactos com artistas europeus que frequentavam a corte, em espe‑ cial Wenceslau Cifka, (n. 1811­ — artista natural de Tscheraditz, Boémia, esta‑ belecido em Lisboa) que reproduzia peças na Fábrica Constância e que esteve em contacto permanente com os grandes centros artísticos europeus nos quais se inspirou, nomeadamente na Majólica neo-renascentista. Manuel O Mafra foi imprimindo ao longo do seu percurso constantes ino‑ vações técnicas ao seu fabrico numa procura e experimentação que encontra semelhanças com os percursos apaixonados de Palissy e de Avisseau. A mani‑ pulação da cerâmica e a alquimia dos vidrados foram desenvolvidas de forma intensa e mesmo obsessiva. Foi na oficina de O Mafra que, em Caldas, se iniciaram as produções de peças em grandes dimensões, tais como: pratos ornamentais, talhas e outras, usando para a decoração o alto relevo e este ceramista foi o primeiro a aplicar técnicas decorativas conhecidas como o areado e o musgado. Manuel O Mafra «criou» assim uma cerâmica decorativa, caracterizada por motivos aplicados e relevados de grande realismo, — principalmente com ele‑ mentos animalistas: répteis e animais da fauna marítima; e vegetalistas, usando com frequência a técnica do «musgado»34. A sua obra, muito vasta, apresenta diversas temáticas e fontes de inspiração, de que podemos enunciar duas correntes principais, uma mais ligada à tradi‑ ção local, e outra de carácter historicista que por vezes se aproxima de forma impressionante dos modelos franceses e ingleses mais elaborados. Entre as suas peças mais marcantes assinalam­‑se aquelas que apresentam verdadeiras paisagens naturais com animais e motivos vegetais (répteis, crus‑ táceos, insectos), por vezes representando lutas sobre fundos musgados.


Estas cenas são verdadeiras recriações do neo-naturalismo rerenascentista e aproximam­‑se muito das obras de Palissy na preferência pelo tema do «drama natural». As composições que modela do mundo natural ostentam répteis, batráquios, peixes e insectos, com cenas em que os predadores disputam as presas, entre si, como as famosas lutas de répteis que fascinavam Palissy. Manuel O Mafra usava ainda na decoração de muitas das suas peças frutos, flores e elementos ligados à fauna marítima e terrestre locais, por vezes em composições muito imbricadas e cheias de movimento. Entre a sua vasta produção encontramos modelos recorrentes, como o tron‑ co de árvore (de inspiração francesa) e as folhas verdes de influência inglesa e algumas peças com sentido anedótico. Outras peças de grande impacto e que denotam uma habilidade e domínio técnico e artístico notáveis são os pratos e travessas com motivos de peixes e com fundos sugerindo ambientes aquáticos (cat. 68-76). Neste último tema destaca­‑se o prato muito raro de uma colecção particu‑ lar, com peixes aplicados sobre fundo azul cobalto e envolvidos numa rede de pesca segura por um prego35 (cat. 75). O investigador, Leonard Amico refere, na sua obra sobre Palissy e os seus continuadores, intitulada curiosamente À la recherche du Paradis Terrestre que quando se começa a extinguir o gosto pela cerâmica no estilo Palissy em Fran‑ ça e Inglaterra, mantinha­‑se a produção de uma fábrica em Portugal que até ao século XX continuava a produzir obras rústicas. Refere ainda que a produção de Caldas se distingue pela técnica do «mus‑ gado» e que as composições são constituídas por naturezas-mortas, em vez do drama natural, facto não totalmente coincidente com a realidade dada a quantidade de peças de O Mafra que representam cenas de predadores sobre fundos de musgados povoados dos mais diversos animais em composições que competem com a própria natureza pelo seu realismo. Palissy, paralelamente à sua característica cerâmica naturalista, cujas peças fi‑ caram conhecidas como «rustiques figulines»36 termo que ele próprio aplica nos seus escritos, ensaiou com êxito a técnica da Majólica italiana, realizando diversas peças neste estilo que também é recuperado pelo revivalismo do século XIX e atrai a arte de Manuel O Mafra e que está patente em diversas peças, como por exemplo a jarra Minerva (cat. 115). Esta terá sido uma encomenda de D. Fernando, «Das numerosas peças que D.Fernando lhe encomendava para o Paço das Necessidades e Castelo da Pena, em Sintra — onde ainda no ano de 1907 se encontravam — seria parte ou duplicata a jarra com dois cisnes substituindo as asas e nos lados, em re‑ levo e cores, respectivamente as armas reais portuguesas e figura de Minerva sobre o fundo roxo escorrido»37. No mesmo estilo destacamos o par de jarras com grifos formando as asas, também de uma colecção particular. Em 1887, Manuel O Mafra retirou­‑se da Fábrica e passou a direcção ao seu filho Eduardo Augusto Mafra, (1865­‑c. 1926). Manteve­‑se, no entanto, activo

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na vida social e política local e devido ao seu prestígio foi nomeado «Jurado» nas audiências, nos crimes de moedas, nos anos de 1888 a 1893 e, «conjunta‑ mente com outros homens foi membro do Grémio dos Artistas Caldenses, em actividade entre 1889 e 1892, e da Sociedade Dramática Caldense que edificou o 1.º Teatro da Vila»38. O filho, Eduardo Mafra, exerceu sucessivos cargos na Câmara, como Vere‑ ador, Vice-Presidente e Presidente da Câmara39, não podendo dedicar toda a atenção que necessitava à gestão cerâmica. Em 1897, Manuel O Mafra, com uma idade avançada, tentou fazer renascer a sua fábrica, mas sem êxito, dado que a mesma encerrou nesse ano. A sua obra foi reconhecida e elogiada pelos contemporâneos, como refere esta notícia sobre a cerâmica caldense «(...) o numero dos oleiros foi augmenta‑ do a pequena industria foi prosperando, até que o honrado e antigo industrial Manuel Cypriano Gomes Mafra começou a tornal­‑a conhecida e nomeada no paiz e muito principalmente no estrangeiro. Deve pois, a industria ceramica das Caldas, o seu primeiro engrandecimen‑ to a Manuel Mafra, foram os productos da sua fabrica que iniciaram o seu renome que caracterisaram a sua originalidade»40. Manuel O Mafra faleceu em Novembro de 1905, tendo sobrevivido a Borda‑ lo Pinheiro alguns meses. Este manifestou publicamente a grande admiração que sentia pelo ceramista. Palissy, Avisseau e Manuel O Mafra, não obstante a diferença temporal e geográfica, apresentam pontos comuns para além das afinidades estilísticas existentes nas suas obras. Detentores de uma boa formação na arte da cerâmi‑ ca, (desenvolveram a sua profissão em importantes centros cerâmicos) tinham uma educação clássica rudimentar e a sua origem era considerada humilde. Possuíam um autodidactismo marcante e um poder de observação que lhes permitia penetrar os segredos da natureza, o que lhes conferiu um carácter de uma assumida modernidade. Avisseau e O Mafra provinham de famílias de ceramistas, ou ligados à cerâ‑ mica e Palissy destacou­‑se como ceramista, além de se ter dedicado às ciências. Atraíram a atenção da realeza e da nobreza, (Palissy foi apoiado por Catarina de Médicis, Avisseau pelo Segundo Império e Mafra por D. Fernando II), facto que validava o seu génio, por um lado, e por outro lhes permitiu o acesso a um mundo erudito que assimilaram de forma muito pessoal e que transmitiram em obras cerâmicas imortais.


Anexo Catalogo dos Bens Mobiliários Existentes no Real Palácio das Necessidades pertencente á herança de Sua Magestade El­‑Rei o Sr. D. Fernando, Typographia Belenense, Lisboa, 1892. (Biblioteca Nacional) (Pág. 7) 281 e 282 — «Dois vasos em fórma de cabaça, faiança portuguesa.» (Pág. 14) 2019 a 2021 — «Uma terrina em forma de gallo, de faiança portugueza, uma terrina em forma de peixe, de faiança portugueza, (...).» (Pág. 20) 2147 — «Uma travessa com uma eiroz e mariscos em relevo, genero Pailissi [sic], (...) trabalho de W. Cifka.» 2157 e 2157 A — «Uma galinha de louça das Caldas e um cantaro representando uma cabeça de vitella, trabalho de W. Cifka.» (Pág. 36) 2046 a 2048 — «(...) um escarrador em fórma de rã, louça das Caldas da Rainha.» (Pág. 39) 2944 a 2947 — «(...) uma terrina em fórma de pato, de louça das Caldas, altura 0,42, um javali da mesma louça, comprimento 0,42.» (Pág. 41) 3047 e 3048 — «Duas figuras com suas misulas, de louça das Caldas, representando dois velhos de phantasia, e as misulas cabeças de cavallos, altura 0,44.» (Pág. 46) 3307 — «Um vaso e prato para flores, de faiança das Caldas, tendo o vaso de altura 0,37.» (Pág. 50) 3432 a 3436 — «(...) uma caixa para pó de arroz, em fórma de cabeça de cão, das Caldas, altura 0,15 (...).» (Pág. 54) 3594 — «Uma grande travessa de faiança, obra de W. Cifka, imitando Pallisi compri‑ mento 0,83.» (Pág. 58) 3689 — «Um grande cabaz com hortaliças, tres vasos para plantas, sendo um maior e dois mais pequenos, um grande boião com tampa, dois jarros e bacias com pintura ver‑ de, treze fructeiros em fórma de parra, duas garrafas em fórma de patos, dois pombos pusando sobre um rochedo, dois cavallos iguaes, uma lebre, um gato, um grande touro, um dito menor, um dito mais pequeno, um cherne, um pato com lagarto, dois porcos, seis jarros em fórma de peixes, uma caneca com tampa, uma dita sem tampa em fórma de pinha, um cinzeiro, uma caixa, dois fructeiros em fórma de peixes, dois pratos gran‑ des com peixes, dois pires com nozes, um dito com pão, um dito com azeitonas, dois ditos com peixinhos, um dito com castanhas do Maranhão, quatro manteigueiras em fórma de repolho, uma terina com prato idem, duas celhas com tampa e uns pratos, um grande alguidar, tudo de louça das Caldas da Rainha.» (Pág. 86) 4574 — «Sesenta e tres peças de faiança das Caldas da Rainha, comprehendendo fructeiro, pratos, vasos, jarros, e diversos pequenos objectos.» 4575 — «Um vaso com grynthilde nas azas, duas pequenas jarras com relevo, um pombo, um galheteiro, um boião com quatro azas, tudo de faiança de diversas fábricas (...).»

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Notas F. Y. H. Giner de los Rios, Portugal, Impresiones para Servir de Guía al Viajero, Ma‑ drid, Imprenta Popular, [1888?]. Capítulo sobre Caldas da Rainha: pp. 201­‑202

1

Bernard Palissy, in Amico, Leonard N., Bernard Palissy À La Recherche du Paradis Terrestre, Paris, Flammarion, 1996, p. 230.

De Mafra às Caldas, Museu de Cerâmica, 1999, p. 3. Aida de Sousa Dias e Rogério Machado, A Cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro, Lello & Irmão Editores, Porto, p. 30­‑35.

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2

O ourives de Nuremberg Wenzel Jamnitzer, entre outros, ornamentava peças em esta‑ nho com a moldagem feita do natural de pequenos animais, nos anos 1550­‑1560.

3

Entre os principais escritos de Palissy sobre cerâmica contam­‑se: Architecture et ordonnance de la grotte rustique de Monseigneur le duc de Montmorency, 1562 ; De L’Art de terre, de son utilité, des esmaux et du feu. ; Discours Admirables (1575).

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5

Esta cena foi representada em óleo sobre tela em 1829 por Alexandre-Evarist Frago‑ nard, Bernard Palissy et ses émules, Musée Nationale, Limoges p. 6.

6

Amico, Leonard N., Op. Cit, p. 192.

Un bestiaire fantastique, Avisseau et la faïence de Tours 1840­‑1910, 5 février-12 mai 2003, Exposição organizada pela Réunion des musées nationaux/Musée National Adrien­ ‑Dubouché, Limoges, et Musée des Beaux­ ‑Arts de Tours. Exposition organisée par la Réunion de musées nationaux / musée national Adrien-Dubouché, Limoges, et le musée des Beaux-Arts de Tours. Du 19 oc‑ tobre au 13 janvier 2003.

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Nesta altura Avisseau produz uma bacia que é adquirida por Brongniart, director da Fábrica de Sèvres para o Museu de Sèvres, por cem francos, o que o torna um artista de renome (Amico, Op. Cit., p. 193).

8

Classe 17 — Porcelanas, Faianças e outras Louças de Luxo 8 — Mafra (Emmanuel­‑Cypriano­‑Gomes), à Caldas da Rainha, Leiria. Faianças das Caldas, 100 peças. Estabelecimento fundado em 1857. Número de trabalhadores — 10. Fabricação anual — 1 conto 200,000 reis. «Il existe à Caldas, depuis longtemps, plu‑ sieurs fabriques de ces faiences Catalogue Spécial de <la Section> Portugaise à l’ Expo Universelle de Paris en 1867, Paris, Librairie Administrative de Paul Dupont, 1867. 15

Julieta Ferrão, Rafael Bordalo Pinheiro e a Faiança das Caldas, Edições Pátria, Gaia, 1983, p. 20.

16

Joaquim de Vasconcelos, Resumo do Inquerito Industrial de 1881, Lisboa, Imprensa Na‑ cional, 1883, p. 226.

17

Joaquim de Vasconcelos, op. cit.

18

Arthur de Sandão, Faiança Portuguesa, Sécs. XVIII e XIX, Vol. II, s/l, Livraria Civilização, 1985, p. 258.

19

20

Joaquim de Vasconcelos, op. cit., p. 206.

21

Idem, ibidem, p. 206.

22

«Fabrica de Louça das Caldas / de / Manuel Cypriano Gomes Mafra / Praça / Caldas da Rainha / Grande variedade de quin‑ quilherias, que / vende por preços resumi‑ dos. Executa­‑se com / promptidão todo e qualquer pedido que se lhe / faça, e com a maxima perfeição.» Anúncio publicado em O Democrito, 6 de Julho de 1884.

23

Un bestiaire fantastique, Avisseau et la faïence de Tours (1840­‑1910), Tours, Musées Réu‑ nis, difusion Seuil, 2003.

9

Danielle Oger, «Charles-Jean Avisseau: com‑ manditaires et destinataires (1840­‑1861)», Un bestiaire fantastique, Avisseau et la faïence de Tours (1840­‑1910), Tours, Musées Réu‑ nis, difusion Seuil, 2003, p. 33.

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11

Idem, ibidem, segundo Pitre-Chevalier no seu artigo sobre A Exposição de Londres «M. Avisseau a fait en 1853 por M. Carolus résident du roi des Belges en Portugal, une coupe de style antique», p. 33. Un bestiaire fantastique, Avisseau et la faïence de Tours, op. cit.

12

Manuel Gandra, 1999, citado por António Maria de Sousa, Manuel Cipriano Gomes,

13

Nicole Ballu Loureiro, Cerâmicas Antigas das Caldas e de Bordalo Pinheiro, 1884.

Ao contrário de Bernard Palissy e de Char‑ les-Jean Avisseau, cujas vidas e obras estão amplamente documentadas, tanto por au‑ tores contemporâneos e actuais como pelos escritos que eles próprios deixaram.

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25

José Teixeira, D. Fernando II, Rei Artista. Artista­‑Rei, Lisboa, Fundação da Casa Bra‑ gança, 1986, p. 185 (estas informação foram veiculadas, segundo refere José Teixeira, numa carta a Rodrigo da Fonseca Maga‑ lhães, de 19.IV.1852 da Colecção Almarjão). Armando Lopes Silvano, Noticia do que foi ontem e do que é hoje a vila das Caldas da

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Rainha, Lisboa, Typ. Minerva Central, 1883, p. 59. Occidente, 2.º anno, vol. II, n.º 44, 15 de Ou‑ tubro de 1879, p. 154.

27

Uma peça com este título aparece referida por José Teixeira, op. cit., p. 189, como atri‑ buída a Wenceslau Cifka.

28

Informação veiculada por Manuel Leitão que amavelmente nos deu a conhecer a imagem de peça similar numa revista es‑ pecializada. Posteriormente encontrámos a imagem de outra peça na revista Magazine Christie’s, Março de 1988.

29

«(...) conjunto de seis peças que pertenceu ao espólio de S. M. o Rei D. Fernando II de Saxe Coburgo e Gotha, marido de S. M. a Rainha D. Maria II. Faziam parte do espólio do Palácio das Necessidades e foram vendi‑ dos no Leilão de D. Fernando em 1892, onde têm os números de catálogo de 3040 a 3045, tendo sido vendidos por 45 mil reis» (Cata‑ logo de Leilão Cabral Moncada).

30

F. Y. H. Giner de los Rios, op. cit., p. 203.

31

Segundo um documento cedido pela Dra. Marta Pereira e compulsado no Arquivo do Paço Ducal de Vila Viçosa: (...) Sobre o mesmo bufete quatro peças de louça, pinta‑ das por S. M. duas são da fábrica do Mafra das Caldas da Rainha, com flores e folhas em relevo nos bordos e tendo no interior pintura a sépia, uma mulher montada num burro acompanhada por uma cabra — e o outro dois cães presos um ao outro — estas duas partes são assinadas por S. M. — e tem a data de 1882.» A mesma fonte refere ainda a existência na Biblioteca das seguintes pe‑ ças: 1166 — um prato de louça Palissy — 360.000. 1245 — 1247 — (...) e uma cabeça de javali faiança portuguesa — 80.000. 32

1669 — boi de louça das Caldas da Rainha (...) — 36.000. 1670 — uma terrina em forma de galinha faiança portuguesa com a marca de fabrico — 18.000. 1671 a 1680 — (...) leão de louça das Caldas da Rainha, uma figura montada numa pipa também de louça das Caldas duas jarras de faiança portuguesa altura 0,31, dois pratos faiança portuguesa — 30.000. 1682 a 1691 — uma cabeça faiança portugue‑ sa marcada com uma inscrição e o nome do fabricante, dois cavalos com (?) louça das Caldas da Rainha, uma prato, duas figuras de mulher — 30.000. 33 José Teixeira, D. Fernando II, Rei Artista. Artista­‑Rei, op. cit. Técnica obtida pelo recurso a um peneiro de rede fina, com o aperto do barro num dos lados da rede e retirado do outro lado com o auxílio de um canivete ou palheta.

34

Uma rede muito semelhante presa por um prego envolvendo peixes é aplicada por Rafael Bordalo Pinheiro em duas das suas peças mais famosas: o pote D. Maria Pia e o Prato Camacho.

35

Figuline, do latim figulus — oleiro.

36

Arthur de Sandão, op. cit., p. 256. Uma jarra que corresponde a esta descrição está patente nesta exposição e é pertença do Dr. Manuel Costa Pereira, existindo uma igual na colecção Luis Pinto Coelho, no Centro Cultural de Cascais. 37

Joaquim de Vasconcelos, Exposição de Cerâmica, Porto 1883, pp. 1-2.

38

Araújo, Margarida, De Mafra às Caldas, op. cit., p. 11.

39

Almanak Ilustrado, 1897.

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Manuel Mafra e as Origens da Moderna Cer창mica das Caldas Jo찾o B. Serra*


E

m Julho de 1881 deliberou o Governo presidido por Rodrigues Sampaio, com Hintze Ribeiro nas Obras Públicas, lançar um inquérito à situação da indústria portuguesa, com o objectivo de reunir informação para sus‑ tentar uma revisão do tratado de comércio com a França1. Os prazos de execução foram curtos e os resultados publicados no ano seguinte. O concelho das Caldas não enviou respostas aos questionários. Os delegados da Comissão de Inquérito (presidida por António Augusto de Aguiar) deslocaram­‑se então às Caldas para observarem directamente algumas unidades fabris. No sector cerâmico, visita‑ ram três2: José Alves Cunha, José Francisco de Sousa (por lapso figura no Inqué‑ rito com o nome de José Alves de Sousa) e Manuel Cipriano Gomes. No seu relatório, os delegados começam por salientar que as fábricas de louça das Caldas atravessam um bom momento, com as vendas em alta, no‑ meadamente para o estrangeiro. Algumas mostrariam até dificuldades em cor‑ responder a uma procura crescente. Do lado dos aspectos críticos, notaram o arcaísmo do sistema de financiamento, impreparação dos operários e limita‑ ções científicas e tecnológicas. Registam­‑se, pois, claros sinais de sucesso comercial da louça caldense, «não obstante estas imperfeições». O sucesso fica a dever­‑se a «um ramo da cerâmica que tem sido extremamente apreciado no estrangeiro, em todas as exposições a que tem concorrido. Referimo­‑nos ao «palissy» das Caldas» 3. Todos os testemunhos apontam Manuel Cipriano Gomes como o criador do «palissy» das Caldas, introduzindo na cerâmica caldense processos de fabrico e modelos naturalistas adaptados ou transpostos desse movimento europeu, seu contemporâneo, fundado na redescoberta artística e técnica de Bernard Palissy. Homem da renascença, Palissy (1510­‑1590) deixara à cerâmica um legado fei‑ to de intensa investigação e experimentação científica e técnica e de profunda

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* Professor da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha do Instituto Politécnico de Leiria. Membro do Institu‑ to de História Contemporânea da Facul‑ dade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.


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inovação no seu vocabulário artístico. Correndo o risco de uma simplificação, certamente excessiva, destaco três características principais do seu trabalho: a utilização de uma pasta porosa, de faiança4, o apuro dos vidrados e o recurso exclusivo à modelação como método decorativo. Os vidrados, factor decisivo da consistência das suas peças, variavam entre os azuis, os verdes, o castanho, o amarelo e o branco, sendo­‑lhe creditada a descoberta do «efeito jaspe», obtido através da sobreposição de vidrados. Os motivos decorativos dos seus pratos são todos eles moldados, sendo o molde obtido, nas peças naturalistas, a partir da fauna e da flora (folhas, répteis, peixes, insectos)5. No século XIX, a cerâmica de Bernard Palissy tornou­‑se objecto de culto, fascinando inúmeros ceramistas na Europa. A redescoberta deu­‑se primeira‑ mente em Tours, em 1843, quando Charles­‑Jean Avisseau (1795­‑1861) se depa‑ rou com uma travessa sobrevivente da actividade daquele visionário seiscen‑ tista. Em Palissy, Avisseau encontrou a ilusão, possível através de uma técnica de decoração e sobretudo através da cor. «A cor pode, em cerâmica, atingir um nível de qualidade tal que nos dá a ilusão do verdadeiro» foi a principal conclu‑ são resultante do contacto de Avisseau com as peças de Bernard Palissy6. E de imediato se propôs, com entusiasmo contagiante, aprofundar o conhecimento dessa obra, com ela estabelecendo um nexo de continuidade no seu trabalho cerâmico e no dos seus descendentes. Em breve, outras oficinas chamaram a si a influência de Palissy: em Paris, em Beaune, em Limoges, em Agoulême. Depois o movimento ultrapassou as fronteiras francesas, atravessou o mar, até Inglaterra, e os Pirinéus, até Portugal7. Trata­‑se de um movimento no qual se tem visto, em França, a origem da ce‑ râmica artística moderna. Matthias Waschek, por exemplo, aponta os esforços mal sucedidos de diversos ceramistas da primeira metade do século XIX para imporem os seus produtos a uma clientela rica e exigente. Para este historiador de arte foi «o culto votado a Bernard Palissy que permitiu, em primeiro lugar aos ceramistas de faiança e depois aos que trabalhavam em grés, fazerem­‑se aceitar como artistas e tornarem reconhecidas as suas produções como obras de arte»8. Conhece­‑se pouco da biografia de Manuel Cipriano Gomes e muitas das perguntas que se colocam a respeito da forma como conseguiu dominar os processos cerâmicos que a adopção do «palissy» implicava permanecem sem resposta9. Nasceu em 1829, na Saibreira, Mafra. Seu pai era oleiro de barro vermelho: o jovem Cipriano contactou pois com o processo cerâmico no am‑ biente familiar, pelo menos a partir dos 6 anos10. Em data que não é possível precisar, vem para as Caldas, empregando­‑se primeiro numa hospedaria, sen‑ do mais tarde admitido como servente na oficina de Maria dos Cacos. Em 1853, com apenas vinte e seis anos, adquire esta oficina. Sete anos mais tarde, funda a sua própria fábrica, no antigo Rossio da vila das Caldas, perto do edifício dos Paços do Concelho. Numa primeira fase, entre 1853 e 1860, Manuel Mafra (assim ficou conhe‑ cido, associando ao nome o topónimo de origem) terá exercido a actividade


cerâmica partindo dos modelos criados e popularizados por Maria dos Ca‑ cos11. Margarida Araújo notou, porém, que algumas peças evoluíram da mo‑ nocromia para a policromia (assim por exemplo, a garrafa em forma de mu‑ lher tocando guitarra totalmente vidrada a verde aparece agora com a saia e a guitarra amarelo mel, com a blusa verde, o chapéu e o avental e o peitilho a castanho)12. É, no entanto, a partir de 1860 que a cerâmica de Manuel Mafra ensaia uma aproximação às técnicas e referências artísticas do «palissy». Por essa altura terá tomado contacto com peças saídas das escolas francesas de continuadores do mestre renascentista. A tradição, mais uma vez registada por José Queirós, faz intervir neste processo um «amador», de nome José Palha, de facto um co‑ leccionador, que teria trazido de Paris as reproduções «que concorreram para que o oleiro decorasse os pratos e outras peças com os motivos e no estilo de «palissy», conservando­‑lhes porém, o carácter da olaria caldense»13. Também se aponta o papel do próprio Rei D. Fernando II, que, em 1870, lhe outorgaria a utilização do título de «Fornecedor da Casa Real». A protecção mecenática da Família Real foi certamente importante para a cerâmica calden‑ se da época e para Manuel Mafra em particular. Em 1852, numa visita ao Norte, a Rainha D. Maria II, D. Fernando de Saxe­ ‑Coburgo­‑Gotha, Rei­‑Consorte, e o filho mais velho de ambos, D. Pedro, pas‑ saram pelas Caldas e visitaram as suas olarias. O futuro rei D. Pedro V regista‑ ria no seu diário a satisfação que a todos deu essa visita, embora lamentasse o facto de não terem podido ver, como desejava, «formar as figuras e os vasos». Aproveitaram a ocasião para adquirir grande quantidade de peças, o que, como referiu o próprio D. Fernando em carta a Rodrigo da Fonseca Magalhães, data‑ da de 19 de Abril desse mesmo ano, muito agradou a uma população que sentia a louça como sua14. A visita da Família Real às Caldas, em 1852, e a atenção prestada à louça aqui produzida tiveram grande impacte local e criaram alguma euforia no meio cerâmico. Após décadas conturbadas, em que a produção mais elaborada dei‑ xara de poder contar com a regular procura das elites, obrigando os oleiros a escoar os seus produtos através das feiras, o acontecimento parecia de bom augúrio. Teria mesmo, como sugere Júlio César Machado, despertado um elan inovador, «um clarão de esperança» numa «louça boa, sólida, por vezes bonita e de uma duração digna dos antigos patriarcas», mas que «não tinha elegância, não tinha graça, era abrutada e geba, e não havia tirá­‑la dos moldes ronceiros e rançosos, dos canecos de vários feitios e aplicações, do paliteiro, cavalinho e boi»15. É nesse contexto que, como vimos, Manuel Cipriano entra, segundo a tradi‑ ção, no negócio da cerâmica. Exactamente no ano seguinte ao da visita régia. O apuro técnico que vai progressivamente logrando na formulação da pasta e dos vidrados, bem como o equilíbrio de composição, sobretudo nas peças de gran‑ des dimensões, aproximará Mafra do reconhecimento nacional e internacional.

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No acesso a esse mercado mais exigente é que o apoio de D. Fernando foi certa‑ mente importante. Segundo o seu biógrafo moderno, José Teixeira, D. Fernando «ao virtuoso ceramista Cipriano Mafra dispensou sempre grande protecção»16. As suas peças, sobretudo as que tem a marca posterior a 1870, estão em consonância com o vocabulário «palissy» em voga em França: os pratos onde os répteis se contorcem, as bilhas, potes e talhas pelos quais trepam animais ou em cujas superfícies se agitam plantas, as suspensões onde os crustáceos e peixes se deixaram adormecer. O ceramista atinge então a maturidade (entre os quarenta e os cinquenta anos). Nesse período muito fecundo (década de 1870 e primeira metade da de 80), Mafra desenvolve uma notável actividade; criando inúmeros modelos, integra as representações portuguesas de diversas exposições internacionais, onde aliás é premiado: Viena de Áustria (1873), Filadélfia (1876), Paris (1878), Rio de Janeiro (1879). Francisco Gomes de Amorim, numa crónica atrás referenciada, destinada a sublinhar o facto de a louça ser uma das «especialidades das Caldas» con‑ ta que «Em 1872, vindo aqui [às Caldas] com o meu velho amigo Agostinho de Almeida, fez­‑me ele presente de outras duas [...] jarras muito maiores que aquelas [duas jarras antigas em forma de cariátides], de estilo e desenho mo‑ derno, lindíssimas, e que ainda agora mesmo não se fazem melhores. Foram compradas na loja do Sr. Mafra, na Praça»17. Pela mesma altura está presente nas feiras de Belém, uma iniciativa a que também D. Fernando deu o seu estímulo, ao que parece por via da própria louça caldense que tanto estimava. Júlio César Machado viu nessa exposição­ ‑venda da cerâmica das Caldas em Lisboa uma viragem na «glória industrial das Caldas». Vale a pena recordar as suas notas a este respeito: «Com os anos e o adiantar da moda, a feira de Belém, libertando­‑se do acanhamento antigo, e alargando garridamente as suas proporções, pensou em atrair a visita de El­‑Rei D. Fernando; e, sabendo dos seus gostos de coleccionador, estabeleceu com louça das Caldas uma das suas melhores barracas18, havendo para esse fim pre‑ parado três moldes novos. A louça vendeu­‑se toda na primeira semana da fei‑ ra, a barraca encheu­‑se de novo, fizeram­‑se grandes encomendas, houve logo quem desse uns modelos e quem mandasse vir outros; El­‑Rei D. Fernando e a Condessa d’Edla protegeram em alta escala esta indústria e os fabricantes de louça das Caldas da Rainha viram enfim sorrir­‑lhes a deusa animadora e alegre a que o mundo chama felicidade»19. Entre outros dados preciosos, o texto de Júlio César Machado (a que adiante havemos de voltar) contém a informação de que os ceramistas caldenses fa‑ ziam peças por encomenda e com modelo fornecido pelo cliente. Esta é uma pista que importa reter para o entendimento dos percursos da cerâmica das Caldas desse tempo e posterior. Manuel Mafra revelou­‑se um imitador muito versátil da louça coetânea «palissy». Não dispondo da formação artística dos ceramistas franceses, e,


consequentemente, não antepondo o desenho à manufactura da peça, era um homem com sensibilidade artística20, com maestria técnica e com um notável conhecimento prático dos materiais e processos cerâmicos. Um conjunto de características que, aliás, encontraremos em muitos dos ceramistas caldenses, da sua época e das seguintes. Jamais deveremos esquecer que a longa perma‑ nência de uma tradição oficinal numa comunidade supõe um rol apreciável de saberes aperfeiçoados e transmitidos de geração em geração. Na empresa de Manuel Mafra boa parte dos oleiros era recrutada localmente. Avelino Belo exalta o papel que junto de Mafra teve José Domingos dos Reis, «o melhor ar‑ tista do seu tempo»21, enquanto Julieta Ferrão destaca Joaquim Cartaxo22. Vejamos agora em que aspectos é que a produção cerâmica dirigida por Manuel Mafra trouxe inovações. Mafra é o primeiro fabricante caldense que marca as suas peças. A princípio a marca é constituída pelas iniciais: MC.G (Manuel Cipriano Gomes), MCM (Manuel Cipriano Mafra). Em seguida, as iniciais MCGM (Manuel Cipriano Gomes Mafra) surgem distribuídas pelos campos definidos por uma âncora. Esta fórmula evolui para uma marca constituída por uma âncora, tendo na parte superior a inscrição M.Mafra e na inferior Caldas Portugal. Depois de 1870, quando D. Fernando o autoriza a usar o título de fornecedor da Casa Real, a âncora desaparece, dando lugar a uma coroa com a inscrição, por baixo, M.Mafra Caldas Portugal. Além de identificar o seu fabrico, Manuel Mafra identifica o centro cerâmi‑ co, Caldas da Rainha, e o país de origem, Portugal. Trata­‑se de uma inovação muito significativa, certamente associada à circunstância de a sua louça ter entrado no circuito exportador. De facto, esta menção é anterior aos prémios ganhos nas Exposições Internacionais, todos da década de 70. A segunda inovação, ainda neste capítulo da relação com o mercado, prende­ ‑se com o aspecto já focado de estarmos perante uma produção que, a par dos modelos propostos ao consumidor desconhecido, trabalha para encomendas e de acordo com modelos sugeridos pelo cliente. A fábrica de Mafra caracteriza­‑se pelo recurso, se não exclusivo, pelo menos dominante, a uma pasta de faiança23 (no que, uma vez mais se afasta da tradi‑ ção oleira donde proveio). Há uma quarta ordem de inovações que se reportam aos vidrados. Todos os autores insistem em apontar a evolução da monocromia da louça do tem‑ po Maria dos Cacos para a policromia. Mas, com Mafra, a paleta de cores dos vidrados ganhou uma variedade desconhecida até aí. Além do amarelado (camurça), e do verde esmeralda, utilizou o amarelo rebuçado, o azul­‑claro, o violeta, o branco, o vermelho de crómio, o amarelo canário transparente e o cinzento24. A intensidade do vidrado vai aumentando das peças da primeira fase para a segunda, em função do aprofundamento de conhecimentos e expe‑ riência adquiridos. O vidrado tem um papel central nesta cerâmica, não tanto, como na olaria tradicional, para obter impermeabilização e consistência da

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peça, mas para homogeneizar e uniformizar a composição, resultante de uma colagem de elementos de diferentes volumes e texturas. Finalmente, ainda no campo dos vidrados, há que salientar o efeito do escorrido, uma descoberta do «palissy» que Mafra utilizou com maestria. Em suma, no vidrado, como refe‑ re Marshall Katz, «os seus trabalhos comparam­‑se favoravelmente com o dos seus contemporâneos do resto do mundo»25. Vejamos agora o conjunto de inovações na técnica decorativa do «palissy». A louça das Caldas anterior a Mafra, tal como a podemos caracterizar, com os dados até agora disponíveis, não é uma louça pintada e em seguida vidrada, antes desenvolvendo o vidrado como meio de colorir as peças e a aplicação de elementos moldados como forma de completar a sua decoração. Sucede pois que Manuel Mafra se insere perfeitamente nesta tradição, na qual as inovações implicadas pela adopção do «palissy» se enquadram sem rupturas. Também o «palissy» recorre ao vidrado e às aplicações moldadas, técnicas com as quais se obtém uma louça de grande efeito, uma espécie de trompe l’oeil, a que Charles Lepierre chamou «louça de fantasia». Noutro ponto ainda, o «palissy» de Mafra é tributário da louça Maria dos Cacos: a figuração zoomórfica. A cerâmica fantasiada que sai da sua fábrica não é apenas o resultado de uma fauna e flora incrustadas nas formas oláricas, mas também um processo de transmutação, em que uma cobra toma a forma de um jarro, ou um lagarto se disfarça de frade para tomar a forma de um jarro. Marshall Katz, conhecedor muito experiente da cerâmica «palissy» de toda a Europa, aponta um elemento original das composições de Mafra: o musgo verde que cobre o fundo dos pratos e travessas ou a superfície dos jarros e no qual são incrustadas as conchas, os peixes, as rãs, as lagostas, as cobras e lagar‑ tos, a flora local26. O estilo «palissy» impõe o recurso mais frequente a formas não rodadas, a metodologias de conformação baseadas no molde. A oficina Maria dos Cacos tinha já avançado por esse caminho. Mafra terá utilizado já moldes em gesso, a par dos tradicionais moldes em madeira ou barro. Os oleiros recorriam fre‑ quentemente, para obterem o molde, ao próprio elemento da natureza, planta ou animal, sobre o qual comprimiam a pasta cerâmica. Este conjunto de inovações, que faz de Manuel Mafra o pioneiro e o motor de uma grande transformação do centro cerâmico caldense, rapidamente foi absorvido por outras oficinas da localidade. O Inquérito Industrial de 1881, registou, como atrás ficou dito, três empre‑ sas. As informações recolhidas sobre cada uma delas podem ser resumidas no quadro seguinte:


Nome

N.º de Forma de Proveniência operários trabalho das argilas

Manuel Cipriano Gomes Mafra

15

Manual

José Alves Cunha

10

Manual

José Francisco de Sousa

4

Manual

Mercados de consumo

Dificuldades apontadas

Leiria, Caldas Portugal, Brasil, Inglater‑ ra, E. Unidos Leiria, Caldas Portugal, Inglaterra

Capitais, forma‑ ção de mão­‑de­ ‑obra, modelos Capital

Leiria, Caldas Portugal, Inglaterra

(Sem indicação)

José Alves Cunha deve ter­‑se estabelecido no final da década de 1860, com uma fábrica que adquiriu ou herdou de António de Sousa Liso27. Nasceu por volta de 1849. É possível que este último tenha trabalhado com Maria dos Ca‑ cos e aquele com Manuel Mafra. De qualquer modo, a única peça da «Expo Caldas 77» identificada como fabrico de António de Sousa Liso é a composição de uma fonte com uma mulher sentada ao centro, enquadrada por cinco pe‑ quenos vasos decorados com motivos vegetalistas. Este tipo de composição foi igualmente produzido por Manuel Mafra (com variantes, nomeadamente com substituição dos vasos por potes com tampa). Katz considerou o trabalho de José Alves Cunha o de um émulo de Manuel Mafra («seria impossível distinguir muitos dos trabalhos de ambos, se não fos‑ se pelas respectivas marcas»28. As suas marcas gravadas levam a menção Cal‑ das Portugal ou Caldas da Rainha Portugal, o que constitui indicador de que as suas peças tinham escoamento para o estrangeiro. Assim aconteceu de facto, sendo as suas produções vendidas para Inglaterra. A terceira fábrica recenseada no Inquérito de 1881 foi a de José Francisco de Sousa. Mais velho cerca de cinco anos do que José Alves Cunha, estabeleceu­‑se por volta de 186029, tendo desenvolvido uma actividade continuada de excelen‑ te qualidade, igualmente exportada para Inglaterra. Katz considerou­‑o um dos melhores ceramistas do seu tempo30. A comparação com Mafra e Cunha não lhe é desfavorável. Há mesmo composições realizadas pelos três ceramistas, em que o tratamento dado por José Francisco de Sousa aos vidrados e à dispo‑ sição dos elementos relevados sai esteticamente beneficiado. Estas fábricas formam, à entrada da década de 1880, o núcleo central da pro‑ dução do «palissy» das Caldas. Em conjunto, empregam vinte e quatro operá‑ rios. Fixaram normas informais de produção, quanto às matérias primas e aos processos cerâmicos. Fixaram igualmente um conjunto apreciável de modelos, que vão desde os pratos e travessas até aos potes, jarras, jarros, castiçais, garra‑ fas, vasilhas para bebidas destiladas, etc, cuja composição obedece aos cânones do «palissy». Projectaram o centro cerâmico das Caldas no plano nacional, e, com as suas marcas, no plano exterior. Uma monografia local publicada em 1883, sublinha este êxito da louça cal‑ dense. «Quanto à louça engrandece­‑a a imensa extracção que tem — escreve o seu autor —, S. M. El­‑Rei D. Fernando dela tem feito grande aquisição e é

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Roland Blaettler, conservador do Museu Ariana, um museu de cerâmica e vidro integrado nos Museus de Arte e História de Genève, facultou-me amavelmente as imagens de uma magnífica colecção de peças de Mafra, presumivelmente adquiridas por um coleccionador, Gustave Revilliod, numa das exposições europeias a que aquele ceramista caldense se apresentou antes de 1890. Tais peças fazem desde esta última data parte das reservas do Museu.

Porco Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos castanho, verde; Alt 26,5 cm; larg 40 cm; prof 17,5 cm Marca: M MAFRA PORTUGAL (âncora) AR 06275 réserve Musée Ariana Cesto Cerca de 1880 Pasta cozida, engobe branco, vidrados coloridos castanho e verde; Alt 7,5 cm ; larg 39 cm ; prof 22,5 cm Sem assinatura nem marca AR 07909 réserve Musée Ariana 38 Cesto Cerca de 1880 Pasta cozida, vidrados coloridos castanho, verde, amarelo; Alt 5,5 cm; diam 22 cm Sem assinatura nem marca AR 07910 réserve Musée Ariana [ens] ari 3935 Paire Cesto Cerca de 1880 Pasta cozida, vidrados coloridos castanho, verde, amarelo; Alt 5 cm; diam 22 cm Sem assinatura nem marca AR 07911 réserve Musée Ariana [ens] ari 3935 Paire Prato Cerca de 1880 Pasta cozida, vidrado marmoreado castanho, decoração relevada; ornamentação vegetal: folha Alt 4 cm; diam 32 cm Marca de autor: M. Mafra (âncora) Caldas Portugal AR 07913 réserve Musée Ariana Prato Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica; ornamentação vegetal, peixe, conchas Alt 5,5 cm; diam 39 cm Marca de autor: M. MAFRA (âncora)/CALDAS/PORTUGAL AR 07914 réserve Musée Ariana


Prato Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica, vegetalizada; ornamentação animais e vegetais: sapo, cobra, insecto, folha; Alt 6 cm; diam 38,5 cm Marca de autor: M. Mafra Portugal (âncora) AR 07915 réserve Musée Ariana Vaca Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica; Alt 15 cm; larg 23,7 cm; prof 7,6 cm Marca de autor: M. Mafra Portugal (âncora) AR 07916 réserve Musée Ariana Papagaio Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica; alt 40,5 cm; diam 16,5 cm Marca de autor: M. Mafra Portugal (âncora) AR 07917 réserve Musée Ariana Terrina em forma de peixe Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica Alt 11,5 cm; larg 37,5 cm; prof 14,5 cm Marca de autor: M. Mafra Portugal (âncora) AR 07918 réserve Musée Ariana Caixa em forma de mulher com cabeça de galinha Cerca de 1880 Pasta cozida moldada, vidrados coloridos; forma zoomórfica e antropomórfica; Alt 22,5 cm; diam 15 cm Marca de autor: M. Mafra Portugal (âncora) numerado: No 1 AR 07919 exposé Musée Ariana (04) Suspensão cabeça de cão Cerca de 1880 Pasta branca cozida, vidrados coloridos; forma zoomórfica; AR 08142 réserve Musée Ariana

Suspensão cabeça de cão Cerca de 1880 Pasta branca cozida, vidrados coloridos; forma zoomórfica; AR 08143 réserve Musée Ariana

Prato Cerca de 1880 Pasta cozida, engobe camurça, aplicações moldadas, vidrados transparente e colorido verde Comp 39 cm; larg 30,1 cm; alt 3 cm Marca de fábrica (estampada): M. MAFRA/ (âncora)/CALDAS/PORTUGAL AR 11896 réserve Musée Ariana

© 1999, Musées d’art et d’histoire, para todas as fotografias.

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enorme a exportação, os fabricantes têm sempre grandes encomendas para Espanha, França, Inglaterra, Brasil e outros pontos; prova este consumo que todos timbram em aperfeiçoar as suas obras pelo que são dignos dos maiores elogios»31. E acrescenta dois nomes de fabricantes à lista do Inquérito: João Coelho César e Francisco Gomes de Avelar. Estas duas oficinas devem ter entrado em funcionamento em meados da dé‑ cada de 1870. João Coelho César teria então pouco mais de vinte anos e Fran‑ cisco Gomes de Avelar (Júnior) cerca de vinte e cinco. Dos exemplos anteriores retira­‑se, aliás, que a criação de unidades de produção «palissy» ocorre nas Caldas por iniciativa de ceramistas que terão entre vinte e vinte e cinco anos. De Gomes de Avelar conhecemos, dentro do género «palissy», excelentes trabalhos, com destaque para um serviço «tête à tête», que pode ser visto no Museu da Cerâmica. O mesmo motivo decorativo, cobras, símbolo de conti‑ nuidade e vida, encontramos noutras peças, designadamente jarras. A produção de Gomes de Avelar inclui ainda a verguinha, uma técnica de confecção de pratos, travessas, fruteiras, etc., imitando a cestaria tradicional, que foi desenvolvida pelas irmãs mais novas de Manuel Mafra. Uma delas, Luísa Mafra, trabalhou precisamente para Gomes de Avelar. Da sua pequena biblioteca de ceramista faziam parte tratados franceses, nomeadamente o do célebre Brongniart. Através deles, descobriu a fórmula do vidrado chamado azul de Sèvres, que acrescentou à paleta de Mafra. Não tem sido talvez suficientemente valorizado o facto de Gomes de Avelar ter também fabricado azulejos. Conhecem­‑se alguns exemplares que lhe são atribuídos. A confirmar­‑se esta hipótese, estaremos perante a primeira produ‑ ção de azulejos nas Caldas da Rainha. A biografia de Francisco Gomes de Avelar merece alguma atenção suple‑ mentar. Nascido por volta de 1850, em S. Martinho do Porto, mudou­‑se para as Caldas aos vinte anos, após casamento com a filha de um proprietário local. Além da cerâmica, a que se dedicou alguns anos mais tarde, fundando uma oficina junto à sua casa de habitação na Travessa da Rua Nova (hoje Travessa Rodrigo Berquó), Gomes de Avelar foi empregado dos caminhos de ferro, após a inauguração da linha do Oeste em 1887. Foi activista político e jornalista. Na política, foi um dos dirigentes locais do Partido Progressista (um Partido que parece ter contado com apoios no meio cerâmico — Manuel Mafra e José Alves Cunha foram apoiantes do Partido Progressista, fundado em 1876), tendo de‑ sempenhado funções por nomeação de Governos deste Partido: Administra‑ dor do Concelho nas Caldas da Rainha de 1890 a 1893 e em Alcobaça em 1898. Foi vereador substituto da Câmara Municipal das Caldas para o triénio 1878 a 1881. Como jornalista, cabe­‑lhe a posição ímpar de ter fundado o primeiro periódico caldense, em 1884, O Demócrito, de que se terão publicado apenas oito edições. Fundou em seguida O Caldense, um semanário que se publicou entre 1884 e 1894. Nele deixou patentes os seus dotes de escritor, tanto em pro‑ sa como em verso. Aí utilizou frequentemente o pseudónimo de Belisário, com


o qual também assinaria diversas colaborações na segunda série de O António Maria. Em 1896­‑1897 editou um quinzenário intitulado Os Cavacos das Caldas, cuja primeira página fora desenhada por Rafael Bordalo Pinheiro32. Com Francisco Gomes de Avelar ficam mais definidos os contornos do ce‑ ramista caldense de louça de fantasia. Enquanto fabricante, empregando ope‑ rários, ele aparece como um proprietário. Estabelece­‑se jovem e a sua notorie‑ dade é disputada pelos partidos. Na escala social local, integra cada vez mais os grupos de elite, tornando­‑se membro dos grupos de sociabilidade das camadas urbanas dirigentes. Pelos contactos externos, pelo respeito recebido das clien‑ telas exigentes, pelo reconhecimento do mérito artístico, este ceramista vê o seu estatuto distanciar­‑se cada vez mais do do oleiro de barro vermelho que não assina peças e que vende nos mercados e não em loja. Francisco Gomes de Avelar representa a chegada à cerâmica de um empre‑ sário com formação intelectual elevada (Manuel Mafra, note­‑se, era analfabe‑ to), que alia capacidade de inovação técnica a um gosto educado e saber artís‑ tico. Embora as suas raízes familiares se encontrem na região, é um ceramista que vem de fora das Caldas, ou seja, que não cresceu no meio oleiro local, nem tomou parte na transição de Maria dos Cacos para Manuel Mafra. Num certo sentido, ele também opera uma transição, precisamente para Rafael Bordalo Pinheiro, uma personalidade que aporta às Caldas vindo de outro ambiente, sem uma formação oleira específica, mas com uma formação artística de âm‑ bito mais geral e multidisciplinar. Foi aliás na oficina de Gomes de Avelar que, em 1884, Rafael Bordalo Pinheiro realizou algumas das experiências cerâmicas que antecedem a fundação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha33.

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Notas

Luisa Vieira da Silva, João Carlos Garcia, «O Inquérito Industrial de 1881: Nota sobre um Centenário», in Finisterra. Revista de Geografia, vol. XVI, nº 32, 1981, pp. 318­‑328.

10

Da tipologia fabril foram excluídas as ola‑ rias e as empresas cerâmicas com menos de 3 operários.

11

1

2

Inquérito Industrial de 1881. Inquérito Directo, 2ª Parte, Livro III, Lisboa, Imprensa Nacional, 1882.

3

A pasta das peças de Palissy é constituída por areia, argila e sílica nas proporções se‑ guintes: 67,5 % de sílica, 28,51% de alumina, 1,34% de cal, 2,65% de óxido de ferro. Cf. Alan Gibbon, Ceramiques de Bernard Palissy, Paris, 1986, p. 29.

4

Há registo da actividade de Cipriano Gomes (Pai) a partir de 1836. Cf. Manuel J. Gandra, A Cerâmica Tradicional de Mafra, Ericeira, 1999, p. 254.

Sem questionar a inegável vantagem que constitui a experiência familiar da olaria de Mafra, o Manuel Cipriano Gomes que a história da cerâmica valoriza é o que incor‑ pora os critérios e modos de fazer da olaria caldense. Margarida Araújo, «Manuel Mafra: o Cera‑ mista nas Caldas de Oitocentos», in Manuel Cipriano Gomes: de Mafra às Caldas e Volta, Catálogo, Mafra, 1999, p. 7­‑14.

12

José Queirós, op. cit. p. 144.

13

Cf. José Teixeira, D. Fernando II, Rei­‑Artista, Artista­‑Rei, Vila Viçosa, Fundação da Casa de Bragança, 1986, p. 227.

14

Idem, ibidem.

5

Guy Musculus e Danielle Orger no texto introdutório ao catálogo Un Bestiaire Fantastique: Avisseau et la Faïence de Tours (1840­‑1910), Paris, R. M. N., 2002. Trata­ ‑se de obra fundamental sobre a escola de Tours, elaborada para uma exposição ac‑ tualmente em Limoges, onde se reúnem textos de uma vasta equipa multidisciplinar coordenada pelos conservadores do Museu de Belas Artes de Tours e pela Directora do Museu Nacional Adrien­‑Dubouché de Li‑ moges.

6

42

Júlio César Machado, op. cit., p. 98.

15

Idem, ibidem.

16

Francisco Gomes de Amorim, idem, ibidem. Note­‑se, porém, que na transcrição que fez do texto de Gomes de Amorim, Fer‑ nando Correia omitiu algumas referências, nomeadamente a adjectivação das jarras «lindíssimas, e que ainda agora mesmo não se fazem melhores».

17

A «cubata das Caldas» não escaparia ao tra‑ ço de Rafael Bordalo Pinheiro e à sua pro‑ verbial ironia. No Folhetim intitulado «The artist king’s rifle, ou a travessia pela feira de Belém e praias», O António Maria, edição de 18 de Setembro de 1979, o artista refere­ ‑se aos «produtos indígenas e faianças de selvagens muito boas» à venda na barraca caldense, «demonstrando que estes povos usam palitos e panella tudo de barro ama‑ relo e verde».

18

Cf. Marshall P. Katz, Nineteenth­‑Century French Followers of Palissy. Pittsburgh, 1994.

7

Matthias Waschek, «Avisseau, le mythe de Palissy et la naissance de la céramique ar‑ tistique moderne» , in Un Bestiaire Fantastique: Avisseau et la Faïence de Tours (1840­‑1910), cit., p. 19.

8

Em 1999, o Museu de Cerâmica promoveu uma exposição reunindo cerca de meia cen‑ tena de peças de Manuel Cipriano Gomes. No texto de abertura do catálogo («Bernard Palissy e os seus continuadores — as influ‑ ências na cerâmica caldense»), o então Di‑ rector do Museu, António Maria de Sousa, lamentava o facto de «continuar na mais obscura ausência de documentação escrita ou iconográfica a biografia do oleiro». Pena foi que não tivesse aproveitado exactamente essa oportunidade da exposição para apro‑ fundar essa pesquisa.

9

Júlio César Machado, idem, ibidem.

19

20

Membro fundador da Sociedade Dramática Caldense, provavelmente nos anos 60, fazia parte do elenco habitual do teatro.

Texto publicado em O Defensor, edição de 10 de Outubro de 1915.

21

Entre os oleiros que foram contratados fora das Caldas, Julieta Ferrão aponta o nome de Joaquim Cartaxo (também neste caso o to‑ pónimo de origem se «colou» ao nome), que trabalhou para e com Manuel Mafra, tendo posteriormente trabalhado para Francisco Gomes de Avelar, Rafael Bordalo Pinheiro

22


e Eduardo Gonçalves Neves. Cf. Julieta Fer‑ rão, op. cit., 22­‑24. Cf. o texto elaborado pela equipa técnica do laboratório do Cencal, intitulado «Caracte‑ rísticas Técnicas e Processos de Fabrico», para o catálogo Manuel Cipriano Gomes: de Mafra às Caldas e Volta, cit., p. 15­‑16.

23

24

O tema dos vidrados será aprofundado no capítulo relativo a aspectos técnicos da lou‑ ça das Caldas.

Cunha, ela não deverá ter acontecido muito antes do ano de 1870. Marshall P. Katz, op. cit., p. 60.

28

José Queirós, op. cit., p. 144.

29

Marshall P. Katz, op. cit., p. 76.

30

Silvano Armando Lopes, Notícia do Que Foi Ontem e do Que É Hoje a Vila das Caldas da Rainha, Lisboa, 1883, p. 59.

31

Os dados biográficos de Gomes de Avelar foram por mim recolhidos e pela primei‑ ra vez publicados em «Caldas da Rainha, 1887­‑1927: tradição e modernidade» in Terra de Águas: Caldas da Rainha, História e Cultura, coord. de Luis Nuno Rodrigues, João B. Serra e Mário Tavares, Caldas da Rainha, Câmara Municipal, 1993, p. 455.

32

Cf. Marshall P. Katz, Cerâmica das Caldas da Rainha, cit., p. 28.

25

Marshall P. Katz, op. cit. p. 27.

26

Segundo apurou José Queirós, António de Sousa Liso teria fundado uma fábrica em 1865 na Rua do Jogo da Bola (actual Rua Almirante Cândido dos Reis). O Visconde de Sacavém, informante de Queirós, dá­‑a como tendo laborado entre 1855 e 1860, o que suscita dúvidas (José Queirós, op. cit, p. 144). Conhece­‑se a marca gravada que Sousa Liso utiliza nas suas peças e parece improvável que antes da década de 1860 esta forma de identificação da produção fosse corrente nas Caldas. Queirós não in‑ dica com precisão a data de transferência da fábrica, mas, tendo em atenção a idade de

27

Escreve a este propósito José Queirós (op. cit., p. 144­‑145): «Bordalo fez os seus primei‑ ros estudos de cores aplicados à faiança na fábrica de Gomes de Avelar, em 1884, sobre peças deste fabricante (...) que, além de en‑ saio de pintura, é, ao mesmo tempo, expe‑ riência de modelação». Queirós descreve um prato que lhe foi oferecido por Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro onde figuram na frente as iniciais R.B.P. e o ano de 1884 e, nas costas, a marca de Avelar e o nome Rafael Bordalo Pinheiro e a data, Maio de 1884.

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M. C. G. Mafra, Paris, 1867 Mรกrio Tavares*


Justificação Continua por explicar a pronta resposta do centro cerâmico de Caldas da Rainha ao estímulo artístico e técnico fornecido pelos grandes centros de produção europeia. António Maria de Sousa, in «Manuel Cipriano Gomes, de Mafra às Caldas e volta» Catálogo da Exposição, de 1999.

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A

proveitando a circunstância que se me ofereceu, pela revelação de al‑ guns números de O Conimbricense, do ano de 1867, que — dando notí‑ cias de Paris, sobre a participação portuguesa na Exposição Universal que, nesse ano, decorria na capital francesa ­—, se referiam, com algum relevo, à presença no certame do caldense Manuel Mafra e ao sucesso que estavam a obter os seus produtos, não quis deixar passar o ensejo de divulgar tão interessante novidade (?); procurando contribuir, desta forma, para uma desejável decifração ­— de quando e como o oleiro, que sucedera, em 1853, na oficina de D. Maria dos Cacos, se ia autonomizando e realizando a verdadeira revolução na cerâmica de‑ corativa local, que caracterizou a segunda metade do século XIX. Creio ser do maior interesse, para o melhor conhecimento do passado da nossa cerâmica, que se escreva sobre Manuel Mafra: mesmo que os contribu‑ tos sejam, tão só, pequenos contributos. É relevante, para a compreensão dos avanços tecnológicos que conseguiu e das fontes em que se inspirou, que a investigação prossiga: mesmo que as achegas sejam apenas de pequena monta. É da maior importância, para um saber mais aprofundado da memória da louça das Caldas, do período que vai de Mafra a Bordalo, que tudo se publique, mesmo que daí resultem, somente, escassos avanços. Todas essas incursões pela neblina do (des)conhecimento ­— quando globalizadas ­—, podem, algum dia, trazer a claridade tão desejada, de um saber mais certo, sobre um tempo

* Mestre em História Regional e Local, pela F.L.U.L.


riquíssimo para a história de uma arte, que marcou decisivamente a História das Caldas da Rainha. A Exposição Universal, que teve lugar na cidade de Paris, em 1867, tendo por tema a História do Trabalho, apresentou­‑se, julgo eu, como a primeira grande oportunidade, para artistas e produtores nacionais — após um longo período de extrema dificuldade politico­‑económica ­—, acederem ao conhecimento di‑ recto das correntes mais avançadas que se manifestavam por essa Europa. Muitos criadores portugueses — por seus próprios meios, ou utilizando subsídios institucionais —, se deslocaram a Paris, nessa Primavera de 1867. Não sei se Manuel Mafra lá esteve, pessoalmente. Talvez, tenha estado: quem sabe?! ... Certo é que, sendo este grande certame, em boa parte, uma consagração à produção artesanal — ao esforço dos homens, enquanto fazedores de artes, por certo lhe permitiu aceder — directa, ou por interpostos meios ­—, a uma apreciável quantidade de informação — técnica e artística. Vivia­‑se um tempo de revivalismos, em que, na cerâmica artística, a inspiração em Bernard Palissy ­— ceramista do renascimento francês, do século XVI ­—, informava o gosto de muitos criadores de faiança decorativa naturalista, no centro da Europa.

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Nota Preambular A Cerâmica Caldense, em 1853 A sua importância sócio­‑económica na vida local, verificada por um estudo publicado, no preciso ano em que Manuel Mafra iniciava a laboração — su‑ cedendo na oficina de D. Maria dos Cacos: D. António da Costa de Sousa de Macedo, em 1853, sendo Secretário­‑Geral do Governo Civil de Leiria1, promoveu a publicação de um estudo, que elabo‑ rou, sobre a «Estatística Administrativa do Distrito de Leiria», respeitante ao ano precedente (1852), onde tece comentários e relaciona dados da maior utilidade, para um conhecimento abrangente, da realidade sócio­‑económica do distrito, em geral, e das Caldas da Rainha, em particular — a meio do século XIX. Nesse estudo, o autor aborda, com apreciável detalhe, a fabricação da olaria caldense ­— no que concerne à sua projecção interna e externa, à produção e valor, aos salários auferidos e à consideração social que possuíam os artistas locais, do ramo. Nota D. António da Costa que, ao tempo, existiam nas Caldas 20 fábricas de louça; explicitando que «menciona, nesta classificação de fábricas, as oficinas de louça das Caldas, porque formam, na classe, uma excepção conhecida, ou, para melhor dizer, são, antes, uma espécie separada». Estas fábricas davam, emprego a 40 trabalhadores, que venciam um salário semanal, médio, de 240 réis. — Sendo, ao nível dos operários, dos que aufe‑ riam salários mais elevados.


Acrescentava, também, que, em 1852, se produziram, nas Caldas, 370 car‑ radas de louça; sendo o valor do produto fabricado de 2492$200 réis ­— que se exportava para diferentes locais, nomeadamente, para a Ilha da Madeira, pelo porto de S. Martinho. Mais afirmava D. António da Costa ­— «(que) as olarias das Caldas são aristocráticas, na sua classe, já pela riqueza maior que produzem, em comparação com os outros, e já por terem fama no país, pelos seus produtos».

Síntese Introdutória Manuel Mafra, no seu tempo: Manuel Cipriano Gomes «O Mafra», ficou a dever o seu apelido à terra onde nascera, em 1829. No ano de 1853, estabeleceu­‑se nas Caldas — na Rua do Jogo da Bola ­—, com oficina própria, que tomara de trespasse a D. Maria dos Cacos, onde servira, anos antes. Entre 1853 e 1887, apoiado pelas irmãs, pela mulher e pelo operário Antó‑ nio Domingos dos Reis, (diz­‑me o mestre Herculano Elias que, também, por Joaquim «Cartaxo» — oriundo da fábrica Viúva Lamego), Manuel Mafra de‑ senvolveu um intenso trabalho, fundamental para a afirmação da faiança das Caldas no contexto da produção nacional, em plena expansão, na segunda me‑ tade do século XIX2. Manuel Mafra começou por dar continuidade ao tipo de produção tradi‑ cional ­ — à qual procurou introduzir «melhoramentos», como afirmou ­ —, fabricando louça utilitária e decorativa, com formas humanas ou de animais; mas, a breve prazo, iniciaria a experiência de novos processos técnicos e or‑ namentais, que vieram revolucionar o gosto tradicional da faiança caldense. «No domínio do estilo, Manuel Mafra iniciou uma nova etapa, lançando no mercado uma gama de produtos que conquistaram rapidamente a clientela; (…) uma louça decorativa ­— rapidamente adoptada pelos seus parceiros ­—, e que engendrou uma separação progressiva entre os oleiros tradicionais e os ceramistas». «Foi este ceramista, sem dúvida, o primeiro promotor do renas‑ cimento da cerâmica das Caldas e o verdadeiro precursor de Rafael Bordalo Pinheiro»3. «Apesar de não dispor de meios mecanizados que lhe dessem suporte, Ma‑ nuel Mafra iria transformar definitivamente a indústria cerâmica das Caldas. (…) A decoração em alto relevo, o granito, o musgado, a verguinha e a policro‑ mia, foram técnicas por ele introduzidas»4. Pormenor inovador, que contribuiu, decisivamente, para que Caldas se tornasse uma referência no panorama da cerâmica portuguesa, com projec‑ ção internacional, foi o facto de Manuel Mafra ter optado, desde cedo, por marcar os produtos saídos da sua oficina. Ninguém, anteriormente, o tinha ainda feito.

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48 Jarra de altar MCM 1862 Colecção J. M. Ferreira

A Questão que se coloca Quando e de que maneira, o oleiro Manuel Mafra virou... o ceramista? Já muito se tem dito e, sobre o tema, aduzido as opiniões mais diversas, para a decifração do enigma: como e quando, acedeu Manuel Mafra ao conheci‑ mento tecnológico, que lhe permitiu produzir faiança policromada e releva‑ da; como, e através de quem, chegou o oleiro caldense ao conhecimento das formas de decoração palissiana em que se inspirou, para, a dentro da tradição local, promover uma autêntica revolução na cerâmica caldense? Conheço peças datadas dos anos ’60, de oitocentos, que me levam a concluir que, nesses anos, Manuel Mafra continuava a produzir dentro da linha tradi‑ cional caldense, que herdara de Maria dos Cacos, não obstante, com muito melhor qualidade. Coloco­‑me assim, uma vez mais, perante a crucial interrogação — como e quando aconteceu o salto qualitativo e inovador na fabricação do «Mafra»? Graças ao meu amigo, alfarrabista e bibliófilo, Hermínio de Oliveira, tomei conhecimento de uma colecção de O Conimbricense — bissemanário que se publicou em Coimbra, na segunda metade do século XIX5. Noticiava aquele periódico, a meio do ano de 1867, as incidências da participação portuguesa, na Exposição Universal de Paris; onde, para espanto meu (e releve­‑se­‑me a ig‑


norância, se tal facto já for do domínio dos especialistas), se destacava a muito elogiada e honrosa presença do caldense Manuel Mafra, naquele certame. Mafra (como também Wenceslau Cifka) tinha em Paris a sua representação, vendendo toda a produção (dizia o jornal), e atraindo sobre si as atenções da imprensa: não apenas a portuguesa, mas também a francesa, que dava as notí‑ cias de tão relevante acontecimento, para a economia europeia do tempo. Estou convicto de que o reconhecimento público, que Manuel Mafra rece‑ beu em Paris, poderá estar na origem do interesse que o Rei D. Fernando II e outros notáveis da época viriam a demonstrar pela original produção do oleiro das Caldas. Manuel Mafra poderá ter tido acesso, a partir de então, a uma soma consi‑ derável de conhecimentos — técnicas e modelos, que lhe permitiram realizar uma grande transformação na produção cerâmica caldense, de que Rafael Bor‑ dalo Pinheiro viria a beneficiar e, reconhecidamente, a engrandecer. A Exposição de Paris de 1867 constituiria, assim, a linha­‑fronteira entre a tradição e a tradição/inovação. A policromia e a decoração naturalista relevada — à Palissy, vão caracterizar o estilo de Manuel Mafra e dos oleiros/artistas cal‑ denses, seus contemporâneos, nos três últimos decénios do século dezanove.

A Exposição Universal de Paris, de 1867 Em 1867, Paris foi, pela segunda vez, escolhida para sede de uma Exposição Universal. À Exposição de Paris, a quinta, de uma série que se prolonga até aos nossos dias, concorreram 42 217 expositores; tendo o número de visitantes, atingido os 15 milhões! Portugal esteve presente, promovendo, para o efeito, a construção de um stand bem representativo do gosto exótico, então em voga, com uma decoração a reme‑ ter para o estilo orientalizante, desenhado pelo arquitecto francês Rimprin Mayor, pouco consentâneo, com a arquitectura nacional, que, aliás, desconhecia6. A Comissão Central, em Lisboa, escolhera, para o frontispício da obra, ins‑ talada dentro do Palácio do Campo de Marte, o género de arquitectura dos Jerónimos, recordando as descobertas e as conquistas dos tempos afortunados de D. Manuel I; «havendo quem sustente que (o nosso pavilhão) é o mais ele‑ gante de todos quantos se vêem na exposição»7.

A Exposição de 1867 tinha por tema «A História do Trabalho» «Um conjunto de preciosidades»: O Governo português fez transportar, para Paris, um conjunto de preciosi‑ dades, do nosso artesanato, que parece terem impressionado muito fortemen‑ te os numerosos visitantes; tendo os trabalhos de ourivesaria, paramentaria e

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iluminuras suscitado grande admiração. «Os objectos que expomos na galeria da história do trabalho, diz O Conimbricense de 1 de Junho, são causa de um verdadeiro triunfo para nós. Todos vêm admirar a Custódia de Belém, aquele primor de arte, mandado fazer com o primeiro ouro vindo da Índia, em paga‑ mento de tributo (…)»8. O núcleo da Cerâmica Portuguesa integrava — exemplares de Olaria Antiga das Caldas: «Alguns, mas poucos, exemplares de faianças antigas, que apresentamos, são aqui muito apreciados, querendo até alguns entendedores franceses roubar­‑nos a glória de serem feitos em Portugal, atribuindo­‑os à sua notável fábrica de Rou‑ en. Enfim, a nossa exposição de história do trabalho é das mais ricas e das mais artísticas; todos a consideram como a primeira, depois da francesa»9. Entre as peças escolhidas, para integrar a representação portuguesa, contam­ ‑se «dois vasos antigos das Caldas — um preto e outro verde e amarelo», segun‑ do diz O Leiriense, de 23 de Março de 1867, que transcreve do Diário de Notícias a «Relação dos objectos preciosos enviados à Exposição Universal de Paris»10.

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Manuel Mafra, em Paris — com destaque, entre os expositores de Cerâmica Portuguesa: O Conimbricense, de 30 de Abril de 1867 ­— transcrevendo do Jornal do Comércio, que, por sua vez, transcrevia do parisiense Constitutionnel ­—, falando da secção de cerâmica na Exposição Universal, diz o seguinte, acerca dessa parte da exposição portuguesa: «(…) A pouca distância destes azulejos (amos‑ tras dos famosos azulejos de que são revestidas as casas de Lisboa), estão ex‑ postos, pelo Sr. Mafra, pequenos objectos de faiança, que dão testemunho da grande habilidade dos modeladores das Caldas: os touros, especialmente, e o cavalo, dir­‑se­‑ia que são copiados das nossas melhores esculturas de animais, e têm indicados os seguintes preços: — um touro, 400 réis — um cavalo, 200 réis — um peixe, que pode servir de prato coberto, 120 réis — uma folha de videira, que serve de pratinho de conservas, ou de sobremesas, 40 réis. Estes algarismos parecerão exagerados; mas, se nos lembrarmos que 180 réis equivalem, aproxi‑ madamente, a um franco, acharemos que são baratos»11. Em 1 de Junho, o mesmo bissemanário de Coimbra, dando publicidade a uma carta remetida ao Comércio do Porto, sob o título — «Paris, 12 de Maio», voltava ao assunto: «Estão acabados os trabalhos dos júris de classe da Exposição Universal de Paris de 1867. (...) Ocupam distinto lugar entre os nosso produtos cerâmicos as porcelanas da Fábrica da Vista Alegre, de que é proprietário e director o Sr. Do‑ mingos Ferreira Pinto Basto. (…) Contemplam, aqui, os amadores, com bastante atenção, as imitações de faianças antigas dos Srs. Wenceslau Cifka e António


Luiz de Jesus. Sentimos que o Sr. Cifka não tivesse marcado preços nos objectos que expôs, e que, na realidade, estão muito bem feitos. (…) Os azulejos do Sr. Eugénio Roseira, de Lisboa, e os da Companhia Constância, distinguem­‑se mui‑ to, porque, à boa qualidade, reúnem a condição de modicidade do preço. Não podemos omitir o nome do Sr. João do Rio Júnior, do Porto ­— fábrica de Santo António, que exibe alguns produtos de gosto apurado.» «Que dizer da bonita exposição de louças das Caldas, feita pelo Sr. Manuel Cipriano Gomes Mafra? ­— Todos nós conhecemos aqueles pequenos objectos, a que nenhum valor damos, talvez por serem de tão baixos preços, e que têm contudo um cunho de originalidade tão pronunciado. Todos os produtos do Sr. Mafra estão vendidos, e se o décuplo mandasse, o décuplo se venderia. Estes e outros produtos cerâmicos, de preços excessiva‑ mente diminutos, têm sido muito gabados, e já mereceram menção especial em alguns artigos que a imprensa francesa tem publicado, sobre a nossa exposição. Folgamos em dar estas informações, que colhemos de boa fonte, e destroem a ideia, que muitos espíritos misantropos nutrem, de que no nosso país não há indústria»12.

Para concluir Não disponho de elementos que permitam conhecer de que forma Manuel Mafra se apresentou em Paris, integrando a representação portuguesa à Ex‑ posição Mundial de 1867. Aconteceu, por certo, de uma, de duas maneiras: a primeira — porque o tema do certame pretendia enaltecer o esforço criativo do homem através da sua História ­—, Mafra teria sido incentivado a participar, tendo em consideração o prestígio da olaria caldense ­— sendo ele, de entre todos, o mais notável; a segunda, ter­‑se­‑ia candidatado, deliberadamente, pela confiança e ambição que os seus recursos já lhe permitiam acalentar. O catálo‑ go da representação portuguesa não é esclarecedor. O que se sabe, é que Manuel Mafra se distinguia, por ser o mais empreende‑ dor de todos os oleiros caldenses: era o mais perfeito, o mais inovador, o mais ousado, dispondo já de reputação firmada13. Estou, porém, convicto ­— pelo que julgo saber, ou poder intuir —, que o «Mafra», dos anos ‘60, não tinha ultrapassado — na forma, os tradicionais paliteiro, cavalinho e boi, as bilhas de segredo e os aparelhos de uso doméstico e — na paleta das cores, se resumia, ainda, aos sabidos castanho ­— escuro ou melado, ao amarelo, ao verde e não mais. Mas, a qualidade da sua fabricação era distinta e prestigiada, dentro da tradição da olaria caldense. Pelo que se pode ler n’O Conimbricense, e é comummente aceite, a louça das Caldas era, internamente, pouco classificada e barata, obtendo, no entanto, apreciável su‑ cesso, ao apresentar­‑se nos mercados exteriores14. A Expo de Paris atraiu um número considerável de visitantes, de todo o mundo — entre eles, certamente, muitos portugueses que a ­— recentemente

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Oene James — Projet dun palais de cristal à Saint Cloud, vista interior, 1860/62. Caroline Mathieu — Les expositions universelles à Paris: architectures réelles ou utopiques. «O Camp­‑de­‑Mars transforma­‑se num fabuloso jardim com árvores de 40 anos, transplantadas, ornado de repuxos, ribeiras sinuosas, rochas e grutas. É, a partir de 1867, que se desenvolve uma ‘arquitectura de exposições’ — uma arquitectura do efémero».


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estabelecida ­— ligação ferroviária Lisboa — Paris já permitia realizar, muito mais facilmente15. Atrevo­‑me, por isso, a concluir, que a informação técnico­‑artística a que Manuel Mafra pôde aceder lhe terá chegado através desta ubérrima fonte de conhecimentos, que foi a sua participação no certame parisiense de 1867 — por certo a primeira que teve além fronteiras. Participação ampliada, pelo êxito obtido, que lhe acrescentaria, internamente, outras contribuições. Por outro lado, a renovada Feira da Luz que — desde o século XV ­—, tem lugar, no mês de Setembro, em Carnide, passou, nos derradeiros decénios de ‘oitocentos’, a dedicar maior importância à comercialização de cerâmica, co‑ locando Manuel Mafra — com destaque ­—, ao alcance do público lisboeta e, consequentemente, da observação do apaixonado coleccionador — o Rei con‑ sorte, D. Fernando II, e do seu cultivado séquito, bem pensante16. O prestígio alcançado na Exposição de 1867 permitiu a Manuel Cipriano Gomes impor­‑se e expor­‑se, com regularidade e êxito, nos mercados nacionais e internacionais. O bom acolhimento e a curiosidade que D. Fernando veio a dispensar à obra do original ceramista caldense (permitindo­‑lhe, a partir de 1870, usar na marca da sua louça a coroa régia — encimando, significativamente, a inscrição M.MAFRA CALDAS PORTUGAL ­—, e o indicativo de fornecedor da Casa Real), levou a que outras figuras do nacional meio cultural lhe fizessem chegar encomendas e modelos recomendados, que soube adaptar à tradição da faian‑ ça local; e, a partir daí, evoluir para novos processos tecnológicos e novas mo‑ delos de criação artística, passando à História das Artes Decorativas nacionais, como o «Palissy das Caldas». Aos anos de 1870, terá correspondido o período áureo da produção de Ma‑ nuel Cipriano Gomes Mafra. Nesse espaço de tempo, o grande Mestre cal‑ dense, estimulado, por certo, pelo seu patrono, o Rei artista, concorrerá a vá‑ rias Exposições Internacionais, onde será consagrado: Viena (1873), Filadélfia (1876), regressando a Paris (1878), Rio de Janeiro (1879). Ao expor­‑se com re‑ gularidade internacionalmente, viu crescer o prestígio, aumentar a produção, diversificar os mercados de exportação — não só para a Europa, mas também para os EE UU e Brasil. Entretanto, já em 1883, Silvano Armando Lopes, na sua ‘Notícia do que foi hontem e do que é hoje a Villa das Caldas da Rainha’17, referindo­‑se aos fa‑ bricantes e artistas que são dignos de elogios, aponta como o primeiro dos principais — já não Mafra — mas, Francisco Gomes de Avelar, em cuja oficina Rafael Bordalo iria realizar as suas primeiras incursões no mundo da cerâmi‑ ca. Avelar tinha, então, a colaboração do grande mestre Joaquim Pereira Neves «Cartaxo» considerado, pelos especialistas, o artífice de maior gabarito do pe‑ ríodo de passagem Mafra / Bordalo. «Cartaxo» integrará a Fábrica ‘dos Bordalos’, assim como o espólio do seu anterior empregador, quando este encerrar a actividade, ultrapassados já meados da década de 1890.


Notas D.A.C.S.M., nasceu, em Lisboa, em 1824. De famílias fidalgas, D. António da Costa, foi Ministro da Instrução Pública — o pri‑ meiro da história do constitucionalismo português (1870), integrando o último Go‑ verno presidido por Saldanha. Foi deputa‑ do, eleito por Leiria, numa candidatura «in‑ dependente»; cursou Direito, em Coimbra, tendo­‑se diplomado como bacharel, no ano de 1848. Após a Regeneração de 1851, foi nomeado Secretário­‑Geral do Distrito de Leiria, tendo fundado o jornal O Leiriense (1854) — que, julgo saber ter sido o primei‑ ro no distrito — e um Centro Promotor da Instrução Primária. Perfilhava um ideal de esquerda, convertida à Regeneração, e a crença nas virtudes das obras públicas e da instrução do povo. Definia­‑se como progressista, mas era admirador de Fontes Pereira de Melo. A sua obsessão pela alfabetização pública fez o seu grande prestígio. António Feliciano de Castilho considerou­‑o «o mais prestante promotor da Instrução Popular em Portugal». D. António da Costa acredi‑ tava na virtude da instrução, como forma de mobilização geral da sociedade, para o fundamento sólido do Estado Liberal. Pro‑ duziu literatura abundante sobre temática educativa, importante para a compreensão do seu tempo, e também escreveu belos textos sobre as Caldas da Rainha, terra que muito estimava.

1

Mário Tavares, com recurso a M. Filomena Mónica.

Mário Tavares, In Terra de Águas, AA.VV., C.M.C.R., 1993, p.255.

10

O Conimbricense, Nº. 2063, de 30 de Abril de 1867.

11

O Conimbricense, Nº. 2072, de 1 de Junho de 1867.

12

«(…) Em 1872, vindo aqui, com Agostinho de Almeida, fez­‑me ele presente de outras duas jarras, muito maiores do que aquelas, de estilo e desenho moderno, lindíssimas, e que ainda agora mesmo não se fazem me‑ lhores. Foram compradas na loja do Sr. Ma‑ fra, na Praça.»

13

«Outra Viagem às Caldas», Francisco Go‑ mes de Amorim, 1890; Fernando da S. Cor‑ reia, Pergaminhos das Caldas, P.H. Estudos e Documentos, p. 137. «...existe nesta região um ramo de cerâmica que tem sido extremamente apreciada no estrangeiro, em todas as exposições a que tem concorrido, referimo­‑nos ao Palissy das Caldas ...», João B. Serra, Cerâmica e Ceramistas Caldenses da segunda metade do século XIX, O Inquérito Industrial de 1881, CENCAL, C. da Rainha, 1987, p. 6.

14

«... o comboio chega a Elvas em 4 de Julho de 1863 e a Badajoz a 24 de Setembro, do mesmo ano; ficando deste modo Portugal ligado à rede espanhola.» — Carlos Frias de Lima, Pequena História dos Caminhos de Ferro em Portugal. APAC.

15

«Nas Caldas a banhos», 1882: «(…) Com os anos, a Feira de Belém, alargando gar‑ ridamente as suas proporções, pensou em atrair a visita de el­‑rei D. Fernando; e, sa‑ bendo dos seus gostos de coleccionador, estabeleceu com a loiça das Caldas uma das suas melhores barracas, havendo, para esse fim, preparado três moldes novos. A loiça vendeu­‑se toda na primeira semana de fei‑ ra, a barraca encheu­‑se de novo, fizeram­‑se grandes encomendas, houve logo quem desse uns modelos e quem mandasse vir outros; el­‑rei D. Fernando e a Condessa de Edla protegeram em alta escala esta indús‑ tria, e os fabricantes de loiça das Caldas da Rainha viram, enfim, sorrir­‑lhes a deusa animadora e alegre a que o mundo chama felicidade». in Jornal do Comércio, Lisboa, 27 de Agosto de 1882.

16

Loiça das Caldas, Colecção de Duarte Pinto Coelho, Catálogo, Fundação R.E.S.S., 1995.

2

Cerâmicas antigas das Caldas e de R. Bordalo Pinheiro, Catálogo; Nicole Ballu Loureiro, Junta de Turismo da Costa do Estoril e Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha, 1984.

3

Manuel Cipriano Gomes Mafra; De Mafra às Caldas e volta, António Maria de Sousa, Catálogo; Mafra, 1999.

4

O Conimbricense: periódico fundado em 1847, por Joaquim Martins de Carvalho, ac‑ tivista carbonário e maçon; foi preso, nesse mesmo ano, por estar implicado na Patu‑ leia.

5

José Mattoso, História de Portugal, V Vol., p. 681.

6

O Conimbricense, Nº. 2072, de 1 de Junho de 1867.

7

O Conimbricense, Idem, Ibidem.

8

O Conimbricense, Idem, Ibidem.

9

Silvano Armand Lopes, Notícia do que foi Hontem e do que é Hoje a Villa das C. da Rainha, Lisboa, Minerva Central, Abril, 1883, p. 62.

17

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A Cerâmica de Manuel Cipriano Gomes nas Exposições Nacionais e Internacionais Margarida Elias*


M

anuel Cipriano Gomes, dito «O Mafra», trabalhou inicialmente como operário servente na fábrica de Maria dos «Cacos», a qual tomou de trespasse em 1853, passando a empregar na marca da lou‑ ça as iniciais do seu nome1. De acordo com Julieta Ferrão, a louça destinava-se à venda ambulante em feiras e mercados, locais onde adquiria «tudo o que era susceptível de ser reproduzido ou imitado na sua fábrica». Com o tempo, a louça adquiriu grandes qualidades técnicas e industriais, antecedendo o traba‑ lho de Rafael Bordalo Pinheiro 2. Em 1867, Manuel Cipriano Gomes participou pela primeira vez, de acordo com o que pudemos apurar, numa exposição Internacional, a de Paris, subor‑ dinada ao tema de «O Trabalho». O catálogo da secção portuguesa, colocava a louça do ceramista no terceiro grupo (móveis e outros objectos destinados à habitação), classe 17 (porcelanas, faianças e outras louças de luxo). Mencionava que ele expunha cem peças de faianças das Caldas e referia que no seu estabe‑ lecimento trabalhavam dez operários. Observava-se ainda que existiam «(…) nas Caldas, desde há muito tempo, muitas fábricas destas faianças» 3. Porém, Cipriano Gomes não foi premiado e n’ O Leiriense, de 23 de Março de 1867, referia-se a presença na exposição de dois vasos antigos das Caldas, mas nada dizia acerca do ceramista4. Entretanto, nas décadas de setenta e noventa desenvolveu-se um «pequeno surto industrial» de cerâmica nas Caldas» 5. No ano de 1870 a situação de Ma‑ nuel Cipriano Gomes começou a melhorar. Passou a usar a coroa real na mar‑ ca da fábrica, depois do rei D. Fernando o ter designado fornecedor da Casa Real. A este propósito, devemos salientar as palavras que o Marquês de Valadar escreveu sobre D. Fernando, cerca de uma década depois. Após referir o co‑ nhecido apreço do rei pelo estudo e prática das artes, dizia que esse interesse

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* Doutoranda em História de Arte UNL.


«Exposição de Portugal» in L’Exposition Universelle de 1867 Illustrée, 10 de Outubro de 1867, capa.

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«(…) produzia n’elle outro sentimento superiormente generoso: a protecção dispensada aos artistas e aos operários (…)». Contava também que fora «(…) o Augusto Príncipe passar algum tempo ás Caldas da Rainha, ahi se lhe des‑ pertou o desejo de emprehender a pintura de ornato em pratos de louça (…). Mais tarde, (…) convidou-me o Senhor D. Fernando a entrar no seu gabinete de trabalho, no Paço das Necessidades, e a assistir á pintura de alguns pratos (…), ao mesmo tempo (…) principiou uma larga conversação comigo sobre a arte cerâmica (…)» 6. No ano de 1883, Silvano Lopes referia-se-se ao Rei D. Fernando como grande admirador da louça caldense 7. No Círculo das Caldas, lia-se que o Rei costumava visitar a fábrica de Cipriano Gomes quando passava temporadas nas Caldas da Rainha8. Terá sido por influência de D. Fernando, Wenceslau Cifka e José Palha que Mafra teve acesso à cerâmica de Palissy e começou a inspirar-se nos seus mo‑ delos. Segundo José Queirós, «(…) José Palha também influiu nalguns melho‑ ramentos por Mafra introduzidos nas suas faianças, e até se dá como certo que foram as reproduções de Palissy, trazidas de Paris por aquele amador, que con‑ correram para que o oleiro decorasse os pratos e outras peças com os motivos e no estilo de Palissy, conservando-lhes, porém, o carácter da olaria caldense9. Importa notar que, na época, esta ligação entre Manuel Cipriano Gomes e a cerâmica de estilo Palissy não foi notada. No ano de 1873, Mafra voltou a apresentar louça das Caldas na Exposição Universal de Viena de Áustria, dedicada ao tema «Evolução, Cultura e Econo‑ mia». De acordo com Fradesso da Silveira, comissário português da Exposição, ela apresentava, «(…) pelo seu programma, (…) um caracter excepcional, que a distinguia das anteriores», pois pretendia-se «(…) verificar o estado actual da civilisação moderna, e da economia nacional de todos os povos, favorecendo o seu desenvolvimento (...)»10. A comissão central portuguesa fora presidida pelo rei D. Fernando II e os artigos manufacturados portugueses foram apresenta‑ dos no Palácio da Indústria11. A cerâmica fazia parte do nono grupo (vidraria e indústria cerâmica), tendo Mafra recebido uma Medalha de Mérito. Havia sete tipos de recompensas, sendo a primeira o diploma de honra, a segunda a medalha pelo progresso e a terceira a medalha de mérito. O regulamento referia que a «(…) medalha de mérito pode ser dada aos expositores que fazem valer as suas pretensões pela qualidade e acabamento do trabalho, pela importância da produção, pela abertura a novos expedientes, pelo emprego de utensílios e de máquinas aperfeiçoadas e melhora‑ mento dos produtos»12. É relevante que mais nenhum ceramista português tenha recebido uma medalha superior à de mérito, mas «(…) Portugal viu, (…) a sua representação dignificada com um total de quatrocentas e trinta recompensas, sendo as mais expressivas (como habitualmente) no Grupo 4.º (…) - Substâncias alimentares e de consumo como produtos da industria»13. No ano de 1876, Manuel Cipriano Gomes tornou a receber um prémio, desta feita na Exposição Universal de Filadélfia, realizada sob a temática da «Ex‑


posição do Centenário – Aniversário da Declaração de Independência». No catálogo da secção portuguesa ele surgia com o número 72, dizendo-se que apresentava artesanato conhecido pela denominação de «Louça das Caldas». O catálogo mencionava que a sua fábrica empregava 19 homens, 7 mulheres e 6 crianças14. No Diário do Governo de 17 de Abril de 1877, na lista de expositores portugueses premiados em Filadélfia, aparece o nome de Manuel Mafra, mas não se discrimina a categoria do prémio15. Dois anos depois, em 1878, Cipriano Gomes foi novamente premiado, na Exposição Internacional de Paris, organizada com o tema da «Liberdade e En‑ tendimento». O Comité de Organização em Lisboa era presidido por D. Fer‑ nando. O rei nomeou para comissário técnico da 3.ª secção, que dizia respeito aos produtos industriais, mais especificamente mobiliário e acessórios, Antó‑ nio Augusto de Aguiar16. A cerâmica pertencia à classe 20 desse grupo e Mafra ficou com o número 41, tendo figurado com «faianças das Caldas»17. O comissário régio Visconde de Vila Maior realizou um longo relatório onde descreveu as vicissitudes pelas quais passou a organização desta exposição. Co‑ meçava por lembrar que «(…) reinou ao principio, e por muito tempo, grande hesitação entre os nossos industriaes e agricultores sobre se deviam ou não con‑ correr com os seus productos á exposição annunciada para 1878 (...)»18. Afirma‑ va que o «(…) o conselheiro Aguiar alcançou directamente em Lisboa vencer a repugnancia e a inercia de bastantes industriaes (…)»19. Acrescentava, por fim, que estes «(…) esforços e a boa vontade dos concorrentes, aindaque manifesta‑ da tardiamente, permitiu que se podesse organisar uma exposição da industria portuguesa, se não completa, pelo menos satisfactoria»20. Porém, o «(…) ano in‑ completo que mediou desde o convite dirigido em maio de 1877 aos expositores pelo conselho director, até á epocha da abertura da exposição de 1878, não era tempo de mais para completar todo o trabalho que requeria a boa organisação de uma exposição convenientemente veridica para demonstrar o estado da nos‑ sa industria e as nossas forças e meios de producção»21. A exposição abriu a 1 de Maio, estando a secção portuguesa parcialmente terminada22. No relatório descrevia-se o espaço que fora escolhido para a exposição, di‑ zendo-se que o «(…) grande palacio do Campo de Marte que devia encerrar a parte mais essencial da exposição, era um immenso quadrilatero, cuja planta podemos figurar dividida em tres grandes zonas longitudinaes. (...) a da direita pertencia ás secções estrangeiras, achando-se separada da zona media pela rua das nações, assim chamada porque n’esta se viam, formando um dos lados, as fachadas da architectura typica de cada paiz. Esta zona era dividida em bandas ou faxas transversaes de diversas larguras, que constituiam os espaços desti‑ nados a cada uma das secções estrangeiras»23. «Aquella que nos pertencia era a penultima, contando da grande galeria de honra ou da fachada principal do palacio em frente ao Trocadero (...)»24. Mencionava que a secção portuguesa era composta por três salas e um terreno livre25, tendo beneficiado de grande interesse por parte do público.

«Edifício Principal - Portugal» (Exposição de Filadélfia, 1876) in http://libwww.library.phila.gov

57


«Exposição Portuguesa do Rio de Janeiro em 1879» in O Occidente, n.º 44, 1879.

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Manuel Cipriano Gomes recebeu uma medalha de prata26. Na sua classe também estava José Francisco Liso, que ganhou uma medalha de bronze, pré‑ mio igual ao da Fábrica de Sacavém. W. Cifka apenas recebeu uma Menção Honrosa. Acima da medalha de prata existia a de ouro e o Diploma de Honra, mas ninguém da 20.ª classe, da secção portuguesa, os recebeu27. O júri da secção da cerâmica era presidido por M. Robert, administrador da Manufactura Nacional de Sèvres. Na introdução do relatório mencionava-se que a «(…) cerâmica figurou de maneira brilhante na Exposição (…)»28. Expli‑ citava-se que nas «(…) louças comuns (…) a dureza e a solidez estão à frente da decoração, enquanto nas louças de arte, é sobretudo o efeito decorativo que se procura»29, sendo de sobressair que «(…) o carácter distintivo e principal da Exposição de 1878, é a decoração, ou antes é o desenvolvimento de arte cerâ‑ mica no duplo ponto de vista da forma e da cor»30. O texto sobre as «Poteries Décoratives» era de Adrien Deboche, adminis‑ trador da União Central de Belas-Artes Aplicadas à Indústria, director de Be‑ las-Artes em Limoges e membro do comité de admissão. Ele referia que na cerâmica espanhola existia, «(…) assim como na louça comum de Portugal, uma fabricação ordinária isenta de arte, mas com uma ingenuidade que nos toca. Assim para Portugal, aplaudimos os esforços de Viúva Lamego, de Mafra de Lizo [sic], de Oliveira e de Mataldo (…)»31. Uma opinião menos benevolente era a subscrita por Clovis Lamarre e Geor‑ ges Lamy. Estes diziam que, em Portugal, a «(…) cerâmica moderna é menos artística: nenhuma harmonia na forma e na cor, os assuntos são muito mais excêntricos do que originais. São só peixes e animais com formas fantásticas, esfinges e sereias, tudo com cores vivas, mas mal fundidos e sem homogenei‑ dade. Um grande número de faianças deste género são expostas por M. J. F. de Souza Lizo, de Caldas da Rainha (Leiria), (n.º 44), por M. C. Gomes Mafra (n.º 47), e sobretudo por M. J. A. Cunha (n.º 39)». No entanto, os autores julgavam que a louça da Vista Alegre é que era conhecida por louça das Caldas da Rai‑ nha, o que talvez demonstre que não a tinham visto com muita atenção32. Entre a documentação encontrada sobre a participação portuguesa neste certame internacional, existe um Aperçu Statistique sur le Portugal et ses Colonies, onde se refere que a «(…) indústria cerâmica está bem desenvolvida e aperfeiçoada. Fabrica-se louça e faianças em todos os districtos, mas as loca‑ lidades que se distinguem mais nesta fabricação são: Caldas da Rainha, Estre‑ moz, Viana do Alentejo, Lisboa, Abrigada (...), Molelos (...) e Flor da Rosa»33. Em 1879, Cipriano Gomes foi premiado, uma última vez, pela sua participa‑ ção na Exposição Portuguesa do Rio de Janeiro. A Exposição de Cristais e Ce‑ râmica ficava na Sala D. Manuel34 e mereceu a atenção de um artigo n’ O Occidente. Neste se mencionava que a «(…) Louça das Caldas destaca-se, como em todas as exposições antecedentes a que tem concorrido, pelo seu typo especial e cheio de originalidade, que lhe dá um lugar á parte na cerâmica moderna, e a faz apetecida de toda a gente dotada de bom gosto (…)»35.


Ramalho Ortigão, num texto sobre Wenceslau Cifka, o qual ganhou uma medalha de ouro, escreveu que em «(...) Portugal, além da tradição nacional do fabrico de um esmalte magnífico, que tem dado ao verniz das louças das Caldas uma reputação europeia, há uma habilidade extraordinária para a olaria, habilidade indisciplinada pela ignorância do desenho, mas manifesta em muitos produtos de uma grande beleza, nos nossos antigos azulejos, nas faianças artísticas da antiga fábrica do Rato e ainda na moderna fabricação das Caldas»36. Ao que sabemos, Manuel Cipriano Gomes não voltou a participar em ex‑ posições internacionais. Na Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental, de 1882, foi exposta cerâmica das Caldas. N’ O Occidente dizia-se que «(...) Não devemos deixar de mencionar algumas das nossas faianças das Caldas, indus‑ tria já bem antiga e que tende a progredir»37. No ano de 1884 começou a trabalhar, na cerâmica, Rafael Bordalo Pinheiro, dando início a uma famosa fabricação de louça das Caldas. Em 1887, Cipriano Gomes abandonou a direcção da fábrica passando a dirigi-la o seu filho, o que resultou num decréscimo produtivo da mesma. Cerca de 1888, a «(…) fábrica mais importante das Caldas» era já «(…) dirigida pela família Bordallo Pi‑ nheiro (…)»38. Havia quem dissesse que «Raphael Bordallo Pinheiro tinha por Manuel Mafra uma grande predilecção, devida principalmente ao reconheci‑ mento dos serviços por este prestados á industria que, mais tarde, tão aper‑ feiçoada foi pelo grande artista»39. Em 1889 seria Bordalo o grande premiado, com a Legião de Honra, na Exposição de Paris. Em 1897, Manuel Mafra ainda fundou uma nova fábrica, mas sem suces‑ so, vindo a falecer em 1905 com 78 anos. Os jornais pouco se referiam a este homem, que tanto desenvolvera a louça das Caldas, recebendo prémios no estrangeiro. O Século apenas mencionava que ele fora «(...) um dos fundadores da tradicional louça das Caldas, chegando a ter uma importante fabrica com a qual muito honradamente ganhou uma fortuna regular»40. Na imprensa local o seu desaparecimento mereceu maior saudade. O Círculo das Caldas descreviao como um «(…) um homem» honradissimo e um trabalhador activo e muito intelligente, conseguindo elevar-se de modesto operario a um importante in‑ dustrial». «Foi elle quem n’esta villa fundou a industria ceramica e que a tornou conhecida no paiz e em muitos mercados estrangeiros (…)»41.

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Notas Reynaldo dos Santos, Oito Séculos de Arte Portuguesa, Vol. III, Lisboa, Empresa Na‑ cional de Publicidade, p. 100. A data exac‑ ta de fundação da fábrica parece difícil de apurar, pois o catálogo da Exposição de Pa‑ ris, de 1867, dava-a como tendo sido funda‑ da em 1857 (Catalogue Spécial de la Section Portuguaise à l’ Expo Universelle de Paris en 1867, Paris, Librairie Administrative de Paul Dupont, 1867) e o catálogo da Exposição de Filadélfia dava-a como fundada desde 1854 (International Exhibition, 1876 at Philadelphia. Portuguese Special Catalogue).

1

Arthur de Sandão, Faiança Portuguesa, Sécs. XVIII e XIX, Vol. II, s/l, Livraria Civilização, 1985, p. 258.

2

Catalogue Spécial de la Section Portuguaise à l’ Expo Universelle de Paris en 1867, Paris, Librairie Administrative de Paul Dupont, 1867.

Réglement général pour la participation des pays étrangers, pp. XXVIII e XXIX.

12

Maria Helena Duarte Souto Nunes, Arte, Tecnologia e Espectáculo: Portugal nas Grandes Exposições, 1851-1900, vol. I, Dissertação de Mestrado em História da Arte Contem‑ porânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 1999, p. 163.

13

International Exhibition, 1876 at Philadelphia. Portuguese Special Catalogue.

14

Diário do Governo, 17 de Abril de 1877, p. 678.

15

Visconde de Villa Maior, Relatorio acerca da Exposição Universal de Paris em 1878 pelo Commissario Regio Visconde de Villa Maior, Lisboa, Imprensa Nacional, 1879, p. 6.

16

3

Mário Tavares, «Aspectos do Quotidiano Caldense no Terceiro Quartel do Século XIX (Filtrados pela Imprensa de Leiria)», in Terra de Águas, Caldas da Rainha, História e Cultura, Câmara Municipal das Caldas da Rainha, 1993, p. 255.

Catalogue Spécial de la Section Portuguaise a L’Exposition Universelle de Paris, de 1878, Paris, Imprimerie Typographique de A. Pougin, 1878, p. LXXIII.

17

4

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5

João B. Serra, «Caldas da Rainha, 1887-1927: Expansão e Modernidade», Op. Cit., p. 383.

6

Marquês de Valladar, Elogio Histórico de Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Fernando II, na Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portugueses, em 24 de Outubro de 1886, Lisboa, 1886, pp. 10 a 12.

Silvano Armando Lopes, Noticia do que foi ontem e do que é hoje a vila das Caldas da Rainha, Lisboa, Typ. Minerva Central, 1883, p. 59.

7

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 5.

18

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 6.

19

20

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 11.

22

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 10.

23

24 25

26

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., pp. 25 a 42. Exposition Universelle Internationale de 1878 a Paris, Groupe III, Classe 20, Rapport sur la Céramique, par M. Victor de Luynes, Professeur au Conservatoire des Arts et Mé‑ tiers, Paris, Imprimerie Nationale, MDCC‑ CLXXXII, p. 2.

28

9

Joaquim H. Fradesso da Silveira, Relatorio do serviço do Commissariado Portuguez em Vienna de Austria na Exposição Universal de 1873 dirigido a Sua Magestade El-Rei o Senhor D. Luiz I / pelo Conselheiro Fradesso da Silveira, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874, p. 4 e seguintes.

11

Joaquim H. Fradesso da Silveira, Noticia da Exposição Universal de Vienna d’Austria em 1873, Bruxelles, Typ. E. Gueyot, 1873, pp. XXVIII, XXIX e seguintes.

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 38.

27

O Circulo das Caldas, 17 de Dezembro de 1905, p. 2.

10

Idem, Ibidem.

Idem, Ibidem.

8

José Queirós, Cerâmica Portuguesa e Outros Estudos, (1.ª ed. 1907), Lisboa, Editorial Pre‑ sença, 1987, p. 144.

Idem, Ibidem.

Visconde de Villa Maior, Op. Cit., p. 6 e 7.

21

Op. Cit., p. 3.

29

Op. Cit., p. 6.

30

Op. Cit., p. 98.

31

Le Portugal et l’ Exposition de 1878, Paris, Librairie Ch. Delagrave, 1878, p. 251.

32

Barão de Wildik, Aperçu Statistique, Économique et Administratif sur le Portugal et ses Colonies, Paris, Imprimerie Typographique de A. Pougin, 1878, p. 73.

33

Portugal nas Exposições Universais e Internacionais, 1851-1998, Catálogo da Exposição Icono-Bibliográfica, Câmara Municipal de

34


Santarém, Biblioteca Municipal Braam‑ camp Freire, 25/5-12/7/1998. R., «Exposição Portugueza no Rio de Janei‑ ro», O Occidente, n.º 44, 15/10/1879, p. 155.

35

Ramalho Ortigão, «Cifka», in Arte Portuguesa, Tomo III, Crítica e Polémica, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1947, pp. 47-51. Originalmente publicado no Diário de Notícias de 30/12/1879, pp. 50-51.

R., «Exposição Retrospectiva de Arte Or‑ namental em Lisboa», in O Occidente, n.º 156, de 21 de Abril de 1883, p. 95.

37

F. Y. H. Giner de los Rios, Portugal, Impresiones para Servir de Guía al Viajero, Ma‑ drid, Imprenta Popular, [1888?], p. 206.

38

36

O Circulo das Caldas, Op. Cit..

39

40

O Século, 12 de Dezembro de 1905, p. 4.

O Circulo das Caldas, Op. Cit..

41

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Manuel Cipriano Gomes O Mafra: Genealogia, Principais Colaboradores e TĂŠcnicas Herculano Elias*


Manuel Cipriano Gomes O Mafra Nasceu em 1829 na Saibreira — Mafra Faleceu em 1905 nas Caldas da Rainha Filho de Cipriano Gomes (Oleiro) e de Izidora Maria Neto de Manoel Gomes (Oleiro) e de Anna Dorothea As suas meias­‑irmãs, Mariana da Conceição Gomes e Luiza da Conceição Gomes são filhas do segundo casamento do pai com Maria da Conceição O casamento de Mariana com António Elias fundiu as duas famílias Mafra­ ‑Elias e deste casamento nasceu o ceramista Eduardo Mafra Elias

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Colaboradores Os principais colaboradores de Manuel Cipriano Gomes O Mafra, na sua oficina, foram: António Domingos Reis, membro da família Reis que veio de Coimbra para Alcobaça. Era Mestre forneiro e profundo conhecedor na enforna chaco‑ ta —vidrado e na cozedura dos fornos a lenha (Mato). Tinha um bom domínio das técnicas dos vidrados e da sua aplicação. A ele se deve, em parte, a policro‑ mia das peças de Manuel O Mafra. António Joasquim «O Roubado». Nasceu em Caldas da Rainha, foi cola‑ borador na fábrica de Francisco Gomes d’Avelar. Modelador e hábil na técnica da verguinha, ensina a mesma a Maria José (mulher de Manuel O Mafra). Joaquim Pereira Neves «Cartaxo». A ele se deve a técnica de fazer um mol‑ de em gesso. Terá assim revolucionado a indústria da cerâmica das Caldas da Rainha. Colaborou com as fábricas do Francisco Gomes do Avelar e de Manuel O Mafra. Em 1884, com o início da Fábrica de Faianças sob a direcção de Ra‑

* Mestre Ceramista


fael Bordalo Pinheiro, Cartaxo assumiu durante oito anos o cargo de Mestre de Faiança. Foi convidado por Costa Mota (Sobrinho) como formador dos operários para a reabertura da fábrica das faianças em 1908. 1909 — A convite da família Pinto Bastos da Quinta dos Bogalhos — Gaei‑ ras e com o seu genro Eduardo Mafra Elias produz estatuária religiosa no pe‑ ríodo de dezoito meses. Fixou­‑se definitivamente na fábrica da Abrigada com o seu filho António. Também este era um estudioso das pastas cerâmicas, que morreu aos quarenta anos quando muito se esperava do seu talento. O Mafra tem em Joaquim Cartaxo um dos mais preciosos colaboradores, melhorando a sua produção com a técnica dos moldes em gesso e também a pasta de faiança.

Técnicas e Processos de Fabrico das Faianças de Manuel O Mafra

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A Pasta Esta pasta foi produzida com barros locais que apresentavam uma cor creme­ ‑amarelada, após a cozedura e era preparada com o procedimento utilizado para a olaria. É uma faiança um pouco ferruginosa. A Conformação Os pratos foram conformados na roda de oleiro e também com moldes de gesso. As estatuetas, bichos e vasos, são executados em moldes de gesso por impressão de mãos e dedos. Os moldes para conformar as peças são compostos por «Tacelos» em nú‑ mero variável conforme a sua complexidade. Sobre cada parte do molde a pasta é comprimida com as mãos e os dedos de modo a adquirir todos os relevos do molde, sendo unidas todas as partes do molde com pasta líquida (lambugem). Após o tempo de secagem da pasta no molde, a peça é retirada do mesmo para se proceder à colagem de acessórios e o seu acabamento final retirando as «Costuras». A Decoração Era feita com vidrados plumbíferos. O vidrado transparente (camurça) é obtido na moagem de areia e zarcão e aplicado no interior das peças, quando da primeira cozedura (chacota). Em seguida as faianças eram decoradas com aplicação a pincel dos vidrados coloridos.


O branco era obtido com óxido de estanho, o amarelo com escamas de ferro, o verde com escamas de cobre, o castanho com óxido de manganês, o azul com óxido de cobalto, o vermelho com almagre. Estes coloramentos eram moídos em almofaris e misturados ao zarcão e à areia depois da sua moagem na «Atafona» com percentagem de 2 a 10 %. A Cozedura É feita em fornos a lenha à temperatura de 900-980º C. As peças eram enfornadas em caixas feitas de barro com areia e fragmentos de peças perdidas na primeira cozedura. As faianças eram colocadas em trempes a fim de evitar a colagem dos vidra‑ dos que eram muito fusíveis ao fundo das caixas. NOTA: aos interessados no conhecimento mais vasto destas técnicas con‑ sultar o livro: Herculano Elias, Técnicas Tradicionais da Cerâmica das Caldas da Rainha, Património Histórico — Grupo de Estudos, Colecção Testemu‑ nhos, (1996).

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Fotobiografia Marta Pereira e Irene Loureiro


1829

Manuel Cipriano Gomes Mafra nasceu em Saibreira, uma localidade de Mafra. Filho de um oleiro local de Mafra, Cipriano Gomes e de Izadora Maria. Escolheu Caldas da Rainha para sua residência, onde começou por tra‑ balhar como estalajadeiro.

1850 Começa a trabalhar como operário servente na fábrica de Maria dos Cacos. 1852 Tem o primeiro contacto com D. Fernando II, que visitou as olarias das Caldas da Rainha, aquando de uma viagem em familia ao Norte.

1853 Adquire por trespasse a fábrica de Maria dos Cacos. Acompanha­‑o no

trabalho sua esposa, Maria José, e as irmãs, Mariana da Conceição Gomes e Luísa Gomes. Estas iniciam­‑se na técnica da verguinha com António Joaquim Roubado e tornam­‑se especialistas.

1860 Funda a Fábrica no n.º 18 da praça D. Maria Pia (hoje praça da Repúbli‑

ca) a qual é anunciada como Fabrica de Louças das Caldas de Manuel Cypriano Gomes Mafra. Juntamente com outros membros da elite caldense dinamizou a Sociedade Dramática Caldense. No início da sua produção começa por assinar as suas peças — MCM. Pos‑ teriormente utiliza marcas gravadas na pasta das peças — MC.G, MCGM, M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (âncora).

1869 A 10 de Dezembro, falecimento de seu pai Cipriano Gomes, que lhe deixa de herança parte dos bens.

1870 Introduz nas suas obras as técnica da policromia e do musgado. Prote‑ gido pelo rei D. Fernando II frequenta a corte onde contacta com produções europeias da colecção do rei e do colecionador José Palha.

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Recebe autorização do rei para utilizar a coroa real associada à sua marca fabril ficando assim denominado «Fornecedor da Casa Real» e começa a marcar as suas peças com M.MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa).

1873 Inicio do período áureo das louças das Caldas: 1873 a 1885.

Participa na Exposição Internacional de Viena de Áustria, onde recebe uma medalha de mérito.

1876 Participa na Exposição Internacional de Filadélfia. Integra as listas do Partido Progressista.

1878 Participa na Exposição Internacional de Paris, em que recebe uma me‑ dalha de prata.

1879 Participa na Exposição Internacional do Rio de Janeiro, em que recebe uma medalha de prata.

1881

O Inquérito Industrial refere que a Fábrica de Manuel Cipriano Gomes Mafra «produz quinquilahrias — phantasia», que o trabalho é manual, empre‑ gando 15 homens, cujos salários rondam 240 a 500 réis, e que exporta para o Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. O mesmo inquérito refere­‑se a Manuel Mafra como «o Palissy das Caldas». 68

1884 A 6 de Julho, anuncia no jornal O Democrito. 1885 A unidade fabril entra em decadência no mesmo ano do falecimento do rei D. Fernando II e a consequente falta de apoio real à fábrica.

1887 Passa a direcção da fábrica ao seu filho Eduardo Mafra, passando este a assinar as peças da sua produção com a marca M.MAFRAFILHO/CALDASPORTUGAL (coroa).

1888

É nomeado jurado no Tribunal Civil, situação que se mantém até

1893.

1889 Fundador e sócio­‑gerente do Grémio dos Artistas Caldenses — basea‑ do no associativismo cultural.

1890 A 31 de Julho, anuncia no jornal O Caldense.

O Inquérito Industrial refere que a Fábrica de Manuel Mafra emprega 8 ope‑ rários e 2 aprendizes.

1891 Incêndio no prédio de Manuel Mafra onde se situa a fábrica. 1892 Integra como vogal uma comissão de recenseamento eleitoral. 1893 O jornal O Circulo das Caldas anuncia 1 de Janeiro que «Manuel Cy‑

priano Gomes Mafra & Filhos Fabrica de louça, premiada em differentes expo‑ sições». A 1 de Junho, anuncia no jornal O Circulo das Caldas. A 25 de Outubro é anunciado no jornal O Circulo das Caldas o falecimento do «sr. Cypriano Gomes Mafra, filho do nosso respeitavel amigo, sr. Manoel


Cypriano Gomes Mafra e irmão do nosso particular amigo e presado collega de redacção, sr. Eduardo Augusto Mafra.» 1897 Dada a incapacidade directiva e profissional do filho, monta uma nova fábrica na Rua Miguel Bombarda, mas não alcança o sucesso da primeira.

1900 Na sequência do leilão de 31 de Julho de 1890, Herculano Elias abre um estabelecimento com os elementos leiloados da Fábrica de Manuel Mafra.

1905 Morre a 11 de Dezembro com 76 anos.

69


CATÁLOGO


1

2

1 | Canjirão Data: 1864 (gravada) Barro vidrado a verde cobre, mel de manganés e branco de esta‑ nho. Peça rodada e moldada Forma bojuda, com boca circular e bico triangular. Gola alarga‑ da com nervura marcando a separação do bojo. MCG: iniciais gravadas no bojo da peça 18,5 x 22 x 18 cm MC inv. 2212    2 | Jarra de altar (de um par) Data: 1862 (gravada) Barro vidrado a castanho escuro de manganés. Peça moldada Forma bojuda e espalmada, gola estreita, boca aberta em leque, base circular. Decoração relevada com nervuras MCM (1862); iniciais gravadas na pasta 21 x 9,5 x 8 cm MC inv. 1507 Nota: o par desta peça pertence à colecção de J. M. Ferreira

71

3

3 | Paliteiro. Cavalo Barro vidrado a negro mate e branco. Peça modelada Forma de cavalo com uma pata levantada e orificios no dorso para a função de paliteiro. MCGM (âncora): iniciais gravadas na pasta 9 x 11 cm CMCR inv. 2067    4 | Paliteiro. Vaca Deitada s/d (c. 1860) Barro vidrado a negro. Peça modelada Forma de vaca deitada com orificios no dorso para a função de paliteiro MCG: iniciais gravadas na pasta 10,7 x 17 cm CMCR inv. 2068

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6

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7

5 | Prato s/d (c. 1860-70) Barro vidrado a verde cobre Peça de forma circular com bordo recortado Decoração levemente relevada com folhas de sobreiro em disposição radial a partir de roseta central MCGM — marca gravada no reverso da peça 4 x Ø 24 cm Colecção J. M. Ferreira    6 | Travessa. Folha s/d (c. 1860-70) Barro vidrado a verde cobre Peça modelada Forma de três folhas sobrepostas com nervuras acentua‑ das e unidas no topo pelo caule. MCGM — marca gravada na pasta 5 x 33 x 27,5 cm Colecção particular

7 | Par de Pratos. Parra s/d (c. 1860-70) Barro vidrado a verde cobre Peças modeladas e moldadas Forma de parras com o bordo recortado MCGM — marca gravada na pasta 2,5 x Ø 17 cm Colecção J. M. Ferreira


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8 | Prato Decorativo. Parras s/d (c. 1860-70) Barro vidrado a verde cobre Forma circular, côncava, com bordo recortado composta por folhas de videira sobrepostas e um ramo a servir de pega MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 5 x Ø 33,5 cm MC 3166    9 | Jarro com Tampa e Prato s/d (c. 1860-70) Barro vidrado monocromo a cor de mel de manganés Forma bojuda com pega e boca alargada, formando bico. Decoração relevada com ramos, frutos, folhas, pássaros e pequenos circulos MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 27 x 20 x 15 cm MC inv 1753 a 10 | Prato s/d (c. 1860-70) Barro vidrado a castanho mel de manganés Prato com aba recortada em gomos. Decoração levemen‑ te relevada com quadrículas, entrançado e motivos ve‑ getalistas. MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 3 x 20 x 18,5 cm MC inv. 1753 b

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11 | Paliteiro. Aguadeiro s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado, policromo a castanho mel manganés e camurça com escorridos. Peça modelada Figura masculina sentada numa pedra, inclinada e debruçada sobre o pé descalço Ao lado, um sapato, um barril e uma forma hexagonal com orifícios para a função de paliteiro. Tudo assente sobre base rectangular com cantor recortados. MCGM (âncora) — marca gravada na pasta. 19 x 17 x 13 cm MC inv. 1489 12 | Estatueta. Jurista s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado a camurça e castanho, verde e azul. Peça modelada e moldada Representação de figura masculina sentada a uma secretária com tinteiro e livros, um dos quais apresenta orificios para as penas. Assente sobre base rectangular com os cantos recortados, debruada com encordoado s/ marca: atr. Manuel O Mafra por comparação com peça semelhante marcada 18,5 x 13,5 x 15,5 cm Colecção J. M. Ferreira


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13 | Paliteiro. Cão s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado monocromo a castanho mel manganés Forma de cão sentado nas patas traseiras sobre base rec‑ tangular com um cesto na boca. Orificios na cabeça e nas costas para a função de paliteiro MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 13 x 11 x 6 cm MC inv. 1486 14 | Paliteiro. Macaco s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado a castanho escuro Forma de macaco, usando chapéu com penacho, com oríficios nas costas para a função de paliteiro MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 20 x 8 x 10 cm Colecção Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica 15 | Travessa. Peixes s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado a verde e camurça Forma de folha alongada com nervuras. Decoração rele‑ vada com peixes. Caule da folha forma a pega MCGM (âncora) — marca gravada 2,5 x 24 cm CMCR inv. 1425

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16 | Prato s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado a verde cobre. Peça rodada e modelada Forma circular com aba. Decoração levemente relevada com cercadura de ramos e folhas na aba. No centro, cír‑ culos concêntricos em tons de verde. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (âncora) — marca gravada na pasta 2 x Ø 13,2 cm MC inv. 142

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17 | Travessa. Folha de Couve s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado policromo a castanho mel de manganés, tons de verde com escorridos Peça modelada e moldada Forma de folha de couve com nervuras acentuadas no centro e ramo com função de pega. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 4,3 x 21,7 x 31,7 cm Colecção Paulo Machado

18 | Fruteira s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado policromo a verde e a magenta Peça de forma oval, com o bordo recortado e a pega cons‑ tituída por um ramo de videira. Decoração relevada com parras sobrepostas e cachos de uvas. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (âncora) — marca gravada 4,1 x 32,2 x 25,7 cm MC inv. 1125


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19 | Escarrador. Sapo s/d (c. 1860-70) Barro vidrado policromo a castanho, verde e camurça. Peça modelada Peça em forma de sapo com uma abertura concava, na parte superior, envolvida por uma cobra. Superficie relevada com pequenas contas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 12 (Coroa) — marca gravada na pasta 16,5 x 25 x 23 cm Colecção do Grupo dos Amigos do Museu de Cerâmica


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20 | Jarro s/d (post. 1870) Barro vidrado policromo a tons de castanho manganés, a verde cobre e a amarelo ferro. Peça moldada e modelada Forma bojuda com base circular e anel no gargalo. Asa em forma de tronco. Decoração relevada no bojo com ramos de videira, parras e cachos de uvas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 26,5 x Ø 19 cm Colecção J. M. Ferreira 21 | Jarro com Prato s/d (ant. 1870) Barro vidrado policromo a camurça, amarelo de ferro, verde de cobre, azul cobalto e castanho de manganés Peça de forma bojuda com bico e tampa trilobados com flor. Asa formada por troncos entrelaçados. Decoração levemente revelada com motivos vegetalistas e florais. Prato circular com aba e decoração similar. MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 29 x Ø 11,5 cm Colecção J. M. Ferreira 22 | Jarro com Tampa s/d (ant. 1870) Barro vidrado policromo a camurça, castanho-escuro e mel de manganés, verde cobre, vermelho. Peça modelada Peça de forma bojuda com boca e tampa trilobadas com flor. Asa formada por troncos entrelaçados. Decoração relevada com motivos vegetalistas enquadrando três me‑ dalhões com figuras sobre fundo camurça. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (âncora) — marca gravada na pasta 34,5 x 17,5 x 16 cm Colecção J. M. Ferreira

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23 23 | Charuteira. Cabeça Masculina s/d (c. 1970) Barro vidrado policromo a camurça, castanho, amarelo e verde. Peça modelada e moldada Forma de cabeça masculina, usando barba, bigode e ca‑ belo ondulado. Tampa circular, com oríficios na parte superior e decoração levemente relevada com motivos vegetalistas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (âncora) — marca gravada 7,5 x 17 x 12 cm Colecção J. M. Fereira Nota: esta peça representa supostamente o rei consorte D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha

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24 | Depósito. Homem sobre Barril s/d (1870-1887) Barro vidrado policromo a castanho manganés, amarelo, verde, azul Homem sentado sobre barril, segurando uma botija e um copo. Usa uma coroa de ramos de videira na cabeça, re‑ matada com cacho de uvas. Assente numa base em forma de urna com decoração vegetalista e uma carranca M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 37 x 21 x 15,7 cm MC inv. 1937 25 | Garrafa Antropomórfica s/d (1870-1887) Barro vidrado policromo a tons de castanho e mel de manganés, camurça e verde Peça com forma de mulher trajando saia comprida e avental e segurando nos braços uma guitarra. Asa forma‑ da pelo cabelo entrançado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 28,5 x 15 x 14,5 cm MC inv. 1969

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26 | Garrafa Antropomófica s/d (c. 1870-1887) Barro vidrado policromo a tons de castanho e mel de manganés, camurça e verde Forma de mulher, trajando saia comprida e avental e com guitarra nas mãos. Asa formada pelo cabelo entrançado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada 20,7 x 12 x 10,3 cm MC inv. 2983 27 | Garrafa Antropomórfica s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado policromo a castanho, verde, amarelo e camurça com escorridos Forma de mulher com guitarra nas mãos, usando saia aos gomos, blusa e avental . Asa formada pelo cabelo entrançado. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca carimbada na pasta 21,5 x 12 x 10,5 cm MC inv. 2984 28 | Garrafa Antropomórfica s/d (c. 1870-1887) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, verde, vermelho e camurça. Peça modelada e moldada Peça em forma de mulher com uma guitarra nas mãos. Traja saia comprida e uma camisa cintada e abotoada com gola. Asa formada pelo cabelo entrançado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca carimbada na pasta 24 x 14,5 x 13 cm Colecção Pedro Morais Cardoso 29 | Garrafa Antropormófica s/d (c. 1870-1887) Barro vidrado policromo a tons de castanho de manganés, verde, cobre, amarelo e camurça com escorridos Forma de mulher segurando uma viola com as mãos. Traja saia, avental com peitilho e blusa. Asa formada pelo cabelo en‑ trançado. M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa) — marca carimbada na pasta 20 x 14 cm MC inv. 419


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? 30 | Depósito. Touro s/d (c. 1860) Barro vidrado a tons de castanho e mel manganés Peça em forma de touro com uma guizeira ao pescoço. Assente sobre base rectangular limitada por encordoado. Apresenta dois orificios: um no pescoço e outro no cachaço MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 34 x 41,5 x 18 cm MC inv. 29 31 | Depósito. Touro s/d (c. 1870-1887) Barro vidrado a castanho escuro Peça com forma de touro assente sobre base oval. Orificios, um no cachaço que está tapado por uma flor que forma a rolha, e outro na parte inferior. M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 23 x 11x 26 cm MC inv. 999 32 | Peça Decorativa. Porco s/d (c. 1870-1887) Barro vidrado policromo a castanho-escuro, verde e amarelo.Modelada e moldada Peça com forma de porco apoiado nas patas traseiras, assente em base oval com decoração vegetalista: bolotas e folhas. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) Marca gravada na pasta 26,5 x 17,5 x 43 cm Colecção Paulo Machado

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33 | Prato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e verde sobre fundo camurça. Peça rodada e modelada Forma circular com aba. Decoração relevada com cerca‑ dura de motivos vegetalista M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 3,8 x Ø 22,8 cm MC 2436 34 | Travessa s/d (após 1870) Barro vidrado a camurça e verde Forma oval, com aba. Decoração relevada com ramos e folhas modelados e dispostos sobre a aba MCGM (âncora) — marca gravada na pasta 29 x 39 cm MJM inv. 56

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35 | Pires s/d (após 1870) Barro vidrado a castanho manganés, camurça e verde cobre Forma circular, côncavo. Decoração relevada com inci‑ sões e cercadura de parras modeladas na aba M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 2 x Ø 12,5 cm MC inv. 2896 36 | Prato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho manganés, camurça, verde e amarelo Forma circular com aba. Decoração relevada com cercadu‑ ra de folhagem e frutos na aba e motivo floral no centro M. MAFRA FILHO / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 4,5 x Ø 26 cm Colecção Fernando Costa

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37 | Cesto s/d (após 1870) Barro vidrado a camurça, verde, castanho e amarelo. Forma circular com aba. Decoração relevada com moti‑ vos vegetalistas e forais (folhas, flores e bolotas) no centro e em cercadura na aba. Friso entrançado na aba. M. MAFRA. / CALDAS / PORTUGAL (âncora) — mar‑ ca gravada na pasta 5,5 x Ø 23 cm MC inv. 3106 38 | Cesto. Verguinha Barro vidrado a camurça e castanho Peça em forma circular com aba recortada e quatro asas entrelaçadas. Encanastrado s/marca. Atr. Oficina Manuel O Mafra 8,5 x Ø 25 cm MC inv. 2137

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39 | Travessa. Peixe s/marca atr. Manuel O Mafra Barro vidrado a camurça, castanho escuro, cor de mel, verde, azul e magenta Peça com forma de peixe com aba elevada com encordo‑ ado. Decoração relevada, no interior, com répteis, insec‑ tos, conchas e buzios s/marca. Atr. Oficina de Manuel O Mafra 7 x 29,5 x 29 cm MC inv. 337 40 | Cesta. Verguinha Barro vidrado policromo castanho, vermelho, verde, amarelo e camurça. Técnica da verguinha Peça de forma oval modelada, formada por encanastrado com motivos florais ao centro. s/marca. Atr. Oficina de Manuel O Mafra 3,5 x 21 x 14,5 cm Colecção Dr. Mário Tavares

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41 | Jarra de Altar s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a camurça, castanho, verde, azul, amarelo Forma bojuda com base circular, boca espalmada formada por folhase aberta em leque. Decoração relevada numa face do bojo com reserva com ramo de flores. Dois meninos, sobre base musgada, formam as asas M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 17,3 x 5,3 x 9,8 cm MC 2185 42 | Jarra de Altar s/d (após 1870) Peça monocroma a castanho escuro manganés Forma bojuda, boca espalmada por folhas de acanto abertas em leque. Decoração relevada numa face do bojo com reserva com motivos vegetalistas. Dois meninos, sobre base musgada, formam as asas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 27,6 x 11,4 x 15,5 cm MC 2903 43 | Jarras de Altar (Par) s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, azul, verde, amarelo e camurça. Peças modeladas e moldadas Peças de forma bojuda, boca espalmada formada por folhas abertas em leque. Decoração relevada no bojo com motivos vegetalistas. Dois meninos sentados formam as asas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 28 x 15,5 x 10 cm Colecção J. M. Ferreira


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44 | Caixa com Tampa. Tabaqueira s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a verde escuro, castanho e mel, azul, verde, vermelho e camurça. Peça rodada e modelada Peça de forma cilíndrica com tampa. Decoração relevada com répteis e insectos sobre fundo de escorridos M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 12 x Ø 8 cm Colecção Mário Tavares

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45 | Caixa com Tampa. Tabaqueira s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel man‑ ganés, azul, verde, vermelho e camurça. Peça rodada, modelada Forma cilíndrica com tampa. Decoração relevada com répteis e insectos sobre fundo com escorridos. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — grava‑ da na pasta 16 x Ø 13 cm Colecção J. M. Ferreira 46 | Caixa com Tampa s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a camurça, e verde cobre Forma rectangular. Decoração relevada com motivos ve‑ getalistas no topo da tampa: folhas e bolotas. Faces late‑ rais com motivos repetidos em forma de pérola. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 6,5 x 10,5 x 6,5 cm MC nº de inv. 109 47 | Caixa. Abóbora s/d (após 1870) Barro vidrado a amarelo e castanho Forma esférica aos gomos com tampa. Pega formada pelo caule M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 9,5 x 10,5 cm Colecção Margarida Taveira

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48 | Caixa com Tampa. Carroça s/d (após 1870) Barro branco vidrado a camurça e castanho. Peça mol‑ dada Caixa com tampa em forma de carroça. Decoração rele‑ vada no topo da tampa com uma pá, uma picareta e um cantil M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 6,5 x 9,5 x 4,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 49 | Caixa com Tampa. Soldado com Tambor s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, azul, verde, amarelo e camurça. Peça modelada Forma de figura masculina trajada de soldado cujo corpo forma uma caixa e o busto constitui a tampa. Assente em base oval decorada com corneta, flechas, canhões e uma espada M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 23 x 22,5 x 17,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 50 | Jarro. Frade Lagarto s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a tons de castanho, verde, ver‑ melho e amarelo Forma de lagarto, usando hábito de frade com dois cor‑ dões e um capuz. As mãos postas em posição de rezar e a cabeça erguida com a boca aberta. Asa formada pela cauda do lagarto. s/marca. Atr. Manuel O Mafra 34 x 21,5 x 16 cm MC inv. 2038

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51 | Bule de Caça s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a camurça, tons de castanho de manganés e verde cobre. Forma bojuda com tampa e bico tubular. Asa formada por um galgo. Decoração relevada com motivos vegetalistas, animais e alusivos à caça s/marca. Atr. Manuel O Mafra 17 x 21,4 x 11 cm MC inv. 1759 52 | Jarro de Caça s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a tons de castanho de manga‑ nés e camurça, verde, azul e amarelo Jarro com tampa, bordo alongado e tampa trilobada. Asa formada por um galgo. Decoração relevada no bojo com animais e motivos alusivos à caça M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 33,1 x 27,5 x 18,5 cm MC inv. 2791 53 | Prato com Caça s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a verde de cobre, amarelo fer‑ rocascom escorridos Peça com forma circular, côncava Decoração com pato e narceja modelados e aplicados so‑ bre fundo policromo com escorridos M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 9,5 x 33,5 cm Colecção Berardo UID 104-1

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54 | Paliteiro. Cisne s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, verde, amarelo, ca‑ murça e branco Forma de cisne sobre base semi-esférica com musgado e folhas. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 10 x 9,5 x 6,4 cm MC inv. 1742 55 | Paliteiro s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, verde e amarelo Macaco agarrado a um tronco assente em base semi esfé‑ rica encimada por musgado. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 14,5 x 9 x 8,8 cm MC inv. 1741 56 | Castiçal. Macaco s/d (após 1870) Barro com vidrado policromo: verde, castanho e cor de mel . Peça moldada Peça em forma de tronco de sobreiro com um macaco agarrado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 17,5 x 10,5 x 9 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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57 | Paliteiro. Macaco s/d (c. 1860-1870) Barro vidrado policromo: azul, verde, cinzento, castanho mel e camurça peça moldada Forma de macaco sentado sobre base semi esférica, com uma banana na mão. Sustenta uma almofada na cabeça com diver‑ sos orifícios para a função de paliteiro. MCGM (âncora). Marca gravada na pasta 14 x Ø 9 cm Colecção particular 58 | Paliteiro. Macaco com Figo s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: azul, verde, castanho mel e camurça. Peça moldada Forma de macaco sentado sobre base semi esférica com um figo na mão. Sustenta uma almofada na cabeça com diversos orifícios para a função de paliteiro M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 13,5 x 10 x 8,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 59 | Paliteiro. Macaco com Banana Barro vidrado policromo: cinzento, azul, verde, castanho mel e camurça. Peça moldada Forma de macaco sentado sobre base semi esférica, segurando uma banana com a mão direita. Sustenta uma almofada na cabeça com diversos orifícios para dispor os palitos MCGM (ancora) — marca gravada na pasta 14 x Ø 9 cm Colecção Manuel Costa Pereira Estes tês paliteiros em forma de macaco são reprodução, em pequena dimensão, de um modelo de banco de que existia um conjunto de 6 no Palácio das Necessidades, pertencentes à colecção de D. Fernando II (ver texto Cristina R. Horta) Existe um banco semelhante na Casa Museu Veva de Lima

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60 | Paliteiro. Galo e Galinha s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, verde, vermelho e camurça Peça moldada Forma de galinha com um galo assentes em base semi esférica. O galo apresenta diversos orifícios para a função de paliteiro.M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (Co‑ roa) — marca gravada na pasta 7,5 x 7,5 x 5 cm Colecção particular 61 | Paliteiro. Rato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho, verde, laranja, ama‑ relo e camurça. Peça moldada Peça em forma de rato a roer uma saca, assente em base oval e estriada. No topo da saca orifícios para a função de paliteiro M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 6 x 11 x 7 cm Colecção J. M. Ferreira

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62 | Paliteiro. Barril s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e cor de mel. Peça moldada Forma de barril sobre base circular com oríficios na parte superior Marca: MCGM — marca gravada na pasta 9,5 x 11 x 7 cm Colecção Grupo de Amigos do Museu de Cerâmica 63 | Tinteiro s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, verde, vermelho, azul e camurça. Peça moldada Forma de rocha irregular com dois recipentes amovíveis M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 13,5 x 14 x 13,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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64 | Tinteiro s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, camurça, azul e verde Forma de barco com duas aberturas circulares na parte superior. Assente sobre uma base oval com filete em for‑ ma de corda e musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 7,5 x 18,3 x 7,3 cm MC inv. 2872 65 | Azeitoneira s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho mel, verde e camurça Peça formada por duas estruturas circulares decoradas com folhas de morangueiro e com um ramo de frutos no centro M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 3,5 x 15 x 7,5 cm Colecção particular

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66 | Peça Decorativa. Mulher de Saia s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho, verde e camurça. Peça modelada Forma de uma figura feminina flectida sobre um penico, trajando vestimenta de freira com saia levantada, assente em base oval M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 12 x 10 x 14,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 67 | Jarro Sobreiro s/d (após 1870) Barro vidrado policomo a castanho claro e mel, cinzento, verde, amarelo e camurça Peça em forma de tronco de sobreiro. Decoração com ra‑ mos e bolotas de sobreiro. Tampa circular M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca garvada na pasta 32,5 x 14,7 x 21 cm MC inv. 3154

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68 | Travessa s/d (após 1870) Barro vidrado a amarelo de ferro, verde cúprico, casta‑ nho, vermelho e camurça Peça com forma oval irregular com bordo encordoado. Decoração com grande lagosta modelada e aplicada so‑ bre folhas e rodeada de ouriços do mar, mexilhões e tufos de musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 12 x 39,5 x 47 cm Colecção Manuel B. Leitão 69 | Prato. Lagosta 1888 Barro vidrado policromo a castanho, verde, vermelho e camurça. Musgado Forma circular côncava. Decoração com grande lagosta no centro rodeada por um ouriço, mexilhões, ameijoas e berbigões, modelados e aplicados sobre fundo musgado. M. MAFRA/CALDAS/PORTUGAL (coroa) 1888 — mar‑ ca gravada na pasta 12,6 x Ø 41,2 cm MC inv. 1107 70 | Prato. Peixes s/d (após 1870) Peça policroma a castanho escuro e mel, azul, verde, amarelo e camurça. Musgado e escorridos Forma circular. Decoração relevada com elementos ani‑ malistas e vegetalistas: peixes, ouriço do mar, ameijoas aplicados sobre musgado. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 9,5 x Ø 31,5 cm MC 3162

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71 | Peça Decorativa. Lebre s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho manganés e camurça Peça de forma de lebre Superfície imitando a pelagem do animal M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) 21 x 56 x 16 cm Colecção particular 72 | Prato. Peixes s/d (após 1870) Barro vidrado policromo castanho de manganés, verde cobre, amarelo Peça de forma circular. Decoração relevada com peixes, enguias e pequenos tufos de musgado, modelados e apli‑ cados sobre fundo estriado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 10 x Ø 43 cm Colecção Berardo UID 104-4 73 | Prato. Peixes s/d (após 1870) Barro vidrado a camurça e tons de castanho de castanho, verde e amarelo Forma circular. Decoração relevada com peixes, ouriços do mar e mexilhões modelados e aplicados sobre mus‑ gado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 10 x Ø 30 cm Colecção Berardo UID 104-5

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74 | Prato com Motivos Marinhos s/d (após 1870) Peça policroma a castanho escuro e mel, azul, verde e ca‑ murça Forma circular com aba recortada. Decoração com mo‑ tivos marinhos: buzio, ameijoa, berbigão, ouriço e me‑ xilhão sobre musgado. Reverso da base com escorridos a castanho. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 6 x Ø 11,5 cm MC 3155 75 | Prato. Peixes s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho, azul, vermelho, ver‑ de e camurça Peça modelada Peça de forma circular. Decoração relevada com peixes e enguias envolvidos por rede de pesca encordoada, segura por um prego. Fundo azul cobalto e branco M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 11 x Ø 43 cm Colecção particular 76 | Prato. Peixes s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: camurça, castanho escuro e mel, cinzento, azul, verde. Peça rodada e modelada Peça de forma circular com aba. Decoração relevada com peixes, enguia, rã, insectos, conchas e folhas, aplicados sobre fundo castanho e camurça M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 9,5 x Ø 32 cm Colecção particular

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77 | Travessa. Peixe s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho, cinzento, azul, verde e camurça. Peça moldada Peça em forma de peixe alongada e concâva. Decoração incisa imitando o efeito de escamas, barbatanas e cauda estriadas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 6 x 44,5 x larg. 25,5 cm Colecção particular 78 | Terrina. Peixe Barro vidrado a camurça, verde cobre, castanho manganés e azul cobalto. Modelada e moldada Peça em forma de peixe alongada com tampa incorporada. Decoração com animais modelados e aplicados M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 11,5 x 16 x 39 cm Colecção Berardo UID 104-88


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79 | Bilha de Segredo s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: tons de castanho escuro e mel, camurça, azul, verde e amarelo, com escorridos Peça rodada e moldada Forma bojuda, gola alta e rendilhada. Boca debruada a musgado com cabeça de cobra com orificio para a saída do liquido Asas formadas por cobras que se prolongam no bojo. Decoração relevada com répteis aplicados sobre fundo com escorridos M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 27 x Ø 16 cm Colecção Manuel Costa Pereira 80 | Bilha de Segredo s/d Barro vidrado policromo a castanho de manganés, verde, azul e amarelo Forma bojuda, gola alta e rendilhada. Boca debruada a musgado com cabeça de cobra com orificio para a saída do liquido. Asas formadas por cobras que se estendem no bojo. Decoração relevada com répteis aplicados M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 34,5 x 20,3 x 20 cm MC inv. 1472


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81 | Jarro s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, amarelo, verde, vermelho e azul, com escorridos Forma bojuda com gola e bico alongado. Asa formada por duas cobras entrelaçadas. Decoração relevada com anéis e motivos vegetalistas e florais no bojo M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 31 x 18 x 18 cm Colecção Jorge dos Santos Alexandre 82 | Moringue s/d (após 1870) Barro vidrado policromo castanho escuro, verde, azul, amarelo e camurça com escorridos. Peça rodada e modelada. Forma bojuda com base circular, dois gargalos e a pega semi circular formada por dois golfinhos enlaçados. Decoração na parte superior do bojo com moldagem de elementos vegetalistas. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 30,5 x 27 x 17 cm Colecção Grupo de Amigos do Museu de Cerâmica


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83 | Prato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro, verde, ver‑ melho, azul e amarelo Forma circular, côncavo e com aba. Decoração relevada com um ramo formado por folhas, fetos e flores, com um laço. Aba com cercadura de óvulos. 2,2 x Ø 20,1 cm M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta MC inv. 1746 84 | Prato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, azul, verde e camurça Forma circular concava com aba. Decoração relevada com uma cena campestre. Aba com cercadura de óvulos. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) — marca gravada na pasta 3 x Ø 20,5 cm Colecção Pedro Morais Cardoso 85 | Prato s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, azul, verde e camurça. Peça moldada Forma circular concava com aba. Decoração relevada com cena campestre . Aba com cercadura de óvulos M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) marca gravada na pasta 3 x Ø 20,5 cm Colecção Pedro Morais Cardoso

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86 | Canjirão com Prato e Tampa s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, verde, azul e amarelo Forma bojuda com bico e tampa trilobadas. Asa formada por um lagarto. Decoração com répteis e insectos aplicados sobre musgado. Prato com mus‑ gados na aba. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca no jarro e no prato 34,7 x 18 x 18 cm MC inv. 2787

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87 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro, verde, cor de mel e camurça com areado. Peça rodada e modelada Prato de forma circular. Decoração relevada com répteis, insectos e um ninho com um lagarto, modelados e aplicados sobre fundo areado verde. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 8 (coroa) — marca gravada na pasta 6 x Ø 20 cm Colecção J. M. Ferreira 88 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro, verde, cor de mel e camurça musgado. Peça rodada e modelada Forma circular côncava com aba. Decoração relevada com rãs, lagartixa e salamandra sobre fundo musgado a verde MANUEL MAFRA /CALDAS/PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 5 x Ø 21,5 cm MC inv. 3138


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89 | Prato Decorativo. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo tons de verde, castanho, cin‑ zento, e amarelo Forma côncava, sem aba. Decoração relevada, com co‑ bras e lagartos em atitude de luta e insectos, sobre fundo musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na base 4 x Ø 26 cm MC 4059 90 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, azul, verde e camurça. Musgado. Peça rodada e modelada Peça de forma circular. Decoração com répteis, batrá‑ quios e insectos modelados e aplicados sobre fundo mus‑ gado. No centro duas cobras, em postura de luta M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 4 (coroa) — mar‑ ca gravada na pasta 9 x Ø 31 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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91 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, azul, verde e camurça. Peça rodada e modelada Prato de forma circular. Decoração com répteis, batrá‑ quios e insectos modelados e aplicados sobre fundo mus‑ gado. No centro duas cobras, em postura de luta. Marca: M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 6 (coroa) — marca gravada na pasta 7 x Ø 25,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 92 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, azul e verde. Peça rodada e modelada Forma circular concava. Decoração com vários répteis modelados e aplicados sobre fundo musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 8 (coroa) — mar‑ ca gravada na pasta 5,5 x Ø 20 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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93 | Prato. Répteis s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a verde, castanho escuro e mel. Peça rodada e moldada Forma circular concâva. Decoração relevada com vários répteis sobre musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 9 (coroa) — mar‑ ca gravada na pasta 5 x Ø 16,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira 94 | Prato. Répteis Barro vidrado policromo a verde, castanho escuro e mel. Peça rodada e modelada Forma circular concâva. Decoração relevada com lagar‑ to, sapo e salamandra aplicados sobre musgado. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 3,5 x Ø 16,5 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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95 | Prato. Répteis Barro vidrado policromo a verde e castanho. Escorridos e musgado. Peça moldada e modelada. Peça de forma circular concava. Decoração relevada com lagarto e duas cobras em postura de luta, junto a um ni‑ nho, sobre musgado. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) — carim‑ bada na pasta 11 x Ø 23 cm Colecção Maria Madalena Soares Mira 96 | Prato. Cobras Barro vidrado policromo a castanho, azul, verde, verme‑ lho e camurça. Peça rodada e modelada Forma circular com aba. Decoração relevada com ani‑ mais e motivos vegetalistas aplicados sobre fundo vidra‑ do a camurça e castanho, destacando-se uma cena de luta entre duas serpentes M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 7 x Ø 32,5 cm Colecção J. M. Ferreira

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97 | Floreira de Suspensão s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a camurça, verde, castanho, amarelo, azul. Areado Forma cónica com bordo alargado. Pega em forma de tronco entrelaçado. Decoração relevada com um pássaro sobre um ramo com duas dálias e três folhas; sobre fundo areado camurça M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) — carimbada na pasta 33 x 17,5 x 11,5 cm MC inv. 1933 98 | Floreira de Suspensão s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a verde, castanho, acinzentado, amarelo, azul. Musgado Forma cónica com bordo alargado. Pega representa um tronco entrelaçado. Decoração relevada com uma ave sobre o bordo virada para uma serpente que se aproxima do ninho com ovos. Fundo musgado verde. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) — carimbada na pasta 37,5 x 21,5 x 11,5 cm Colecção Manuel B. Leitão 99| Floreira de Suspensão s/d Barro vidrado a verde, castanho, cinzento, escorridos de acinzentado e verde. Forma cónica com bordo alargado. Pega formada por um tronco entrelaçado. Decoração relevada com pássaro, salamandra e caracol sobre musgado verde. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL, (coroa) — gravada na pasta 33 x 19 x 11,5 cm Colecção Manuel B. Leitão


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100| Travessa. Frutos s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho-escuro e mel, verde, amarelo e camurça. Peça moldada e modelada Forma oval formada por folhas de videira sobrepostas com um ramo enrolado a fazer de pega. Decoração relevadacom frutos e folhas modelados e aplicados. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 11 x 45 x 31 cm Colecção Pedro Morais Cardoso 101| Travessa. Frutos s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: tons de castanho escuro e mel, verde, vermelho e amarelo Peça modelada e moldada Forma de folhas de videira alongadas com ramo a fazer de pega. Decoração relevada com frutos variados e folhas aplicados M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 9 cm x 35 cm x 48 cm Colecção Paulo Machado 102| Prato. Frutos s/d (após 1870) Barro vidrado policromo e pintura a frio. Castanho escuro, camurça e mel, laranja, amarelo peça rodada e modelada Forma circular côncava. Decoração relevada com uma composição de frutos e folhas sobre fundo de escorridos. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / 6 (coroa) — marca gravada na pasta 8 x Ø 26 cm Colecção particular


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!!!!! 103| Prato. Flores Barro vidrado a camurça e castanho com musgado Peça de forma circular, côncava. Decoração com composição de flores e folhas aplicada sobre fundo musgado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL 7 com coroa — marca gravada na pasta 8,5 x 25 cm Colecção Berardo UID 104-111

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104| Jarro com Prato e Tampa s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho, verde e camurça Peça rodada e modelada. Peça de forma bojuda, boca e tampa trilobadas com mo‑ tivo floral. Asa em forma de tronco. Decoração com mo‑ tivos florais e vegetalistas aplicados sobre fundo areado M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta do prato e do jarro 34 x 27 x 24 cm Colecção J. M. Ferreira

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105| Caixa com Tampa. Ananás s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: castanho escuro e mel, verde e camurça. Peça modelada e moldada Peça em forma de ananás, com a tampa constituída pela folhagem do fruto M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 22,5 x Ø 12 cm Colecção Manuel Costa Pereira 106| Bule. Espiga s/d (após 1870) Barro vidrado policromo: verde, amarelo e camurça. Peça moldada Bule de forma bojuda com tampa. Decoração levemente relevada imitando a textura da espiga, com folhas sobre‑ postas no bojo. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 28 x 22 x 12 cm Colecção Manuel Costa Pereira

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107| Terrina. Cesto com Galinha s/d (após 1870) Barro vidrado a camurça, castanho manganés, amarelo, vermelho e verde Cesto de forma oval entrançado com tampa em forma de galinha chocando M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 25 x 21,5 x 28,5 cm Colecção Manuel B. Leitão 107| Jarrão s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, verde, azul e amarelo, com escorridos Forma bojuda com colo cilíndrico e boca alargada. Asas formadas por duas cobras que envolvem o bojo. Decoração com répteis, batráquios, insectos, motivos vegetalistas e florais aplicados. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 41 x 29 x 24 cm MC inv. 1473


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109| Jarra (par) s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, verde, azul e vermelho, com escorridos Forma de balaústre com boca alargada e recortada. Corpo com vários socalcos e anéis, sobre base circular. Decoração rele‑ vada com ramos, frutos e laços. Asas em forma de volutas recurvados M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 32,3 x 19,5 x 19 cm MC inv. 1967 /1968


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111 110| Jarra com Brazão Barro vidrado policromo a castanho escuro e mel, verde, azul e vermelho, com escorridos Forma bojuda com colo alto com caneluras e boca alargada e recortada. Asas em voluta recurvadas. Decoração relevada com motivos vegetalistas e nas duas faces do bojo um brazão encimado por coroa real e ladeado por dois grifos s/marca 60 x 40 cm MC 3094 Nota: Esta peça, ou semelhante, referida como pertencente ao sr. Conde de Mesquita, consta na obra de José Queirós, A Cerâmica Portuguesa, p. 169 111| Talha Barro vidrado a verde, azul, amarelo, vermelho, castanho com escorridos Forma de balaústre com asas em forma de volutas recurvadas. Gola e pé estreitos com canelado, anéis e um friso de folhas de acanto. Parte inferior do bojo com gomos. Decoração relevada no bojo com grinaldas e laços. Base quadrangular M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 100 x 42 x 52,5 cm MC inv. 2381


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112| Talha s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho, camurça, verde e amarelo, com escorridos Forma bojuda, com peanha e tampa. Na parte superior do bojo, duas cabeças de leão formam as pegas. Decoração relevada com répteis, borboletas, abelhas folhas e flores s/marca atr. Oficina Manuel O Mafra 81 x 50 cm MC inv. 1467 113| Talha s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a camurça e castanho, amarelo, verde e azul com escorridos Peça com forma bojuda, com tampa e peanha. Decoração relevada com motivos vegetalistase animalistas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 80 x 60 cm MJM inv. 108


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? 114| Tinteiro s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a tons de castanho, verde, amarelo Forma de trono com figura feminina sentada, rodeada de caixas com decoração relevada com motivos animais e vegetalistas s/marca 19,5 x 28,5 cm MNAA inv. 2699 a 2703 115| Jarra Minerva Barro vidrado policromo: castanho escuro, púrpura e mel, verde, amarelo e camurça com escorridos. Peça modelada e moldada Peça de forma bojuda sobre base circular. Decoração relevada com motivos vegetalistas, apresenta no bojo as armas reais portuguesas. No verso representação de Minerva ladeada de ramos de folha. Dois cisnes formam as asas M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL / (coroa) — marca gravada na pasta 45,5 x 35 x 25 cm Colecção Manuel Pereira 116| Mísulas. Águias (Par) s/d (após 1870) Barro vidrado policromo. Peça modelada e moldada Plataforma relevada com motivos vegetalistas, suportada por uma águia, segurando no bico um ramo de cerejas M. MAFRA /Caldas/Portugal (coroa) — marca gravada na pasta 35 x 22,5 x 23 cm MNMC inv. 9971; C1106: inv. 9970; C1107

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? 117 117| Jarras. Grifos (Par) s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a tons de castanho manganés e camurça, verde de cobre e amarelo. Peça modelada e moldada Forma bojuda com base circular, colo estreito e boca alargada. Decoração no bojo com uma cartela com a inscrição «Lembrança das Caldas», encimado por uma coroa real. Asas formadas por grifos 23 x 15 x11,5 cm M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta Colecção Vasco Duarte Silva 118| Grupo Escultórico. Macaco e Tartaruga s/d (após 1870) Barro vidrado policromo a castanho (escuro e mel) de manganés, acinzentado, verde cobre, azul e amarelo com escorridos Macaco sentado sobre uma tartaruga, segurando com as duas mãos a cauda que prende a cabeça da tartaruga. As‑ sente sobre base rectangular com cinco filetes no bordo.. M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa) — marca gravada na pasta 45 x 34 x 27,5 cm Depósito do Palácio Nacional da Ajuda Peça semelhante a uma do Copeland and Sons de 1877 Colecção Berardo UID 104-120 119| Terrina. Pata Faiança. Vidrado em tons de púrpura, castanho manga‑ nés, amarelo ferro, verde cobre e azul cobalto, sobre es‑ malte estanífero branco. Peça com forma de pata em pé sobre base oval com fo‑ lhas. Tampa incorporada na peça e superficie imitando a forma das penas 42 cm x 44,5 x 26.6 cm Marca: M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta Colecção Berardo UID 104-122 Peça muita semelhante a uma marcada Wenceslau Cifka com o n. 12 do catálogo Cika Obra Cerâmica MNA

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120| Fruteiro Arte Nova s/d (após 1870) Barro vidrado a azul e amarelo sobre fundo estanífero Peça em forma de folha irregular com nervuras a azul, acentuadas com amarelo sobre fundo branco. O pé da folha recurvado forma a pega M. MAFRA / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 9 x 25.5 x 30 cm Colecção Manuel B. Leitão


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121| Par de Jarras s/d (1887-1890) Barro vidrado policromo a castanho, cinzento, azul, verde e amarelo Pe莽a em forma de cornuc贸pia aos gomos, sustentada por grifo com asas abertas, agarrando uma serpente com as garras e o bico. Assente em base circular. M. MAFRA FILHO / CALDAS / PORTUGAL (coroa). Marca gravada na pasta 38 x 14,325,5 cm MC 2765/2766


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