CesĂĄrio Verde
O sentimento dum ocidental
Mylène da Silva
Escola Artística António Arroio 2013/2014
Cesário Verde
O sentimento dum ocidental
Mylène da Silva
Nº19
11ºK
Índice Introdução............................................................................................................. p.7 Biografia................................................................................................................ p.8 Influências............................................................................................................. p.9 Sentimento dum Ocidental.................................................................................... p.10 Ave Marias................................................................................................. p.10 Noite Fechada............................................................................................ p.13
Ao Gás....................................................................................................... p.14
Horas Mortas............................................................................................. p.17
Temática............................................................................................................... p.19 Análise Formal...................................................................................................... p.20 Bibliografia............................................................................................................ p.23
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Introdução Cesário Verde, um poeta do séc XIX, representou uma estética moderna poética que apenas foi reconhecida depois da sua morte. Influenciado pelo Realismo, Parnasianismo e pelo Impressionismo, mostrou um interesse em relatar e criticar as mudanças que ocorriam na cidade de Lisboa. O século XIX foi um século da revolução industrial, do êxodo das pessoas do campo para a cidade, de grandes transformações em Portugal. O poeta não é indeferente à classe operária, à mão-de-obra explorada e ao ambiente em que se vivia na cidade de Lisboa. Esse sentimento é-nos transmitido pelos seus poemas através de grandes descrições e sinestesias. O poema ‘‘O sentimento dum ocidental’’ foi publicado em 1880 num jornal, como comemoração do terceiro centenário da morte de Luís de Camões. Cesário Verde pretendeu mostrar o estado em que a cidade de Lisboa estava, que em comparação com o seu passado glorioso parecia somente o ‘‘cadáver de uma cidade’’. As ruas lisboetas ao pôr do sol, à noite e de madrugada transmitem a realidade do poeta, uma realidade asfixiante e opressiva. Neste trabalho, ilustrado com desenhos originais, será apresentada a biografia de Cesário Verde e a análise formal e temática do seu poema ‘‘O sentimento dum ocidental’’.
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Biografia
José Joaquim Cesário Verde nasceu a 25 de Fevereiro de 1855, em Lisboa, o primeiro filho numa família de origem italiana. O seu pai, José Anastácio Verde era dono de uma loja de ferrragens e possuía uma quinta nos arredores da cidade, e a sua mãe era Maria Piedade dos Santos Verde. Devido a um surto de peste a família mudou-se para o campo de 1857 a 1865. Este contacto com o campo deu a Cesário verde uma grande paixão pela natureza, que é evidente em grande parte dos seus poemas. O poeta teve uma infância feliz, apesar da sua irmã Júlia ter morrido de tuberculose, Cesário canaliza a sua dor na poesia ao tratar dos doentes, muitas vezes descritos como mulheres belas e inocentes. Em 1873 começou a frequentar o Curso Superior de Letras, mas desistiu antes de completar os seus exames. Foi aí que conheceu Silva Pinto, que se tornaria um grande amigo, e que recolheu e publicou postumamente os seus poemas. Nesse mesmo ano publicou o seu primeiro poema no jornal ‘’Diário de Notícias’’. Durante a sua vida dedicou-se à mesma profissão do seu pai, apenas se virando para a poesia durante os seus tempos livres. Em 1874 recebeu uma crítica de Ramalho Ortigão, sobre o seu poema ‘’Escplêndido’’, que comentou que ‘’Cesário Verde deveria mostra-se mais Cesário e menos Verde’’. Em 1877 o poeta começou a mostrar sintomas de tuberculose, a doença que havia matado a sua irmã, mãe e irmão. Durante os seus últimos anos de vida mudou-se para o campo, onde o seu interesse na escrita diminuiu. Cesário Verde faleceu a 19 de Julho de 1886. Até ao fim da sua vida publicou cerca de quarenta poemas. Em 1887 Silva Pinto organizou e publicou uma compilação de poemas de Cesário, ‘’O livro de Cesário Verde’’.
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Influências
Realismo A maneira de expor a realidade e ao mesmo tempo criticá-la, expondo todos os defeitos e problemas, normalmente da sociedade, com os seus vícios e injustiças. Pretende mostrar o que está de errado para alertar quem lê, a mudar e a reagir perante os erros que cometem.
Naturalismo
Procura a representação exacta e objectiva da realidade exterior, mas não se limitando a observar e expor os acontecimentos, como o realismo, é necessário provar cientificamente o comportamento das pessoas (determinadas pela hereditariedade, pelo seu ambiente e pelo momento), da sociedade e mostrar os seus padrões. Assim o romance adquire um valor social e científico.
Parnasianismo
O parnasianismo procura a pureza e a beleza da arte, volta-se para a realidade exterior, directamente
observável. Aborda temas do quotidiano, e descreve-os como são observados de uma maneira fotográfica, sem dar opinião, ou deixar transparecer sentimentos.Para tal, socorre-se das sinestesias, pois, apelando aos sentidos e não só descreve, mas consegue envolver o leitor no cenário.
Impressionismo
Para além de nos descrever a realidade envolvente, o poeta transeunte deixa também transparecer as emoções que lhe são suscitadas. Com particular interesse ao real concreto, a pormenores mínimos desde que lhe sirvam para excitar e transmitir percepções sensoriais.
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Sentimento dum Ocidental
I Ave Marias Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda! De um couraçado inglês vogam os escaleres; E em terra num tinir de louças e talheres Flamejam, ao jantar alguns hotéis da moda.
O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba; E os edifícios, com as chaminés, e a turba Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Num trem de praça arengam dois dentistas; Um trôpego arlequim braceja numas andas; Os querubins do lar flutuam nas varandas; Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
Batem carros de aluguer, ao fundo, Levando à via-férrea os que se vão. Felizes! Ocorrem-me em revista, exposições, países: Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!
Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas.
Semelham-se a gaiolas, com viveiros, As edificações somente emadeiradas: Como morcegos, ao cair das badaladas, Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.
Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
Voltam os calafates, aos magotes, De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos, Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
Descalças! Nas descargas de carvão, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro aonde miam gatas, E o peixe podre gera os focos de infecção!
E evoco, então, as crónicas navais: Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado! Singram soberbas naus que eu não verei jamais!
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II Noite Fechada Toca-se às grades, nas cadeias. Som Que mortifica e deixa umas loucuras mansas! O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças, Bem raramente encerra uma mulher de <<dom>>!
E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, Nesta acumulação de corpos enfezados; Sombrios e espectrais recolhem os soldados; Inflama-se um palácio em face de um casebre.
E eu desconfio, até, de um aneurisma Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes; À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes, Chora-me o coração que se enche e que se abisma.
Partem patrulhas de cavalaria Dos arcos dos quartéis que foram já conventos: Idade Média! A pé, outras, a passos lentos, Derramam-se por toda a capital, que esfria. Triste cidade! Eu temo que me avives Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes, Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes, Curvadas a sorrir às montras dos ourives.
A espaços, iluminam-se os andares, E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos Alastram em lençol os seus reflexos brancos; E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.
E mais: as costureiras, as floristas Descem dos magasins, causam-me sobressaltos; Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos E muitas delas são comparsas ou coristas.
Duas igrejas, num saudoso largo, Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero: Nelas esfumo um ermo inquisidor severo, Assim que pela História eu me aventuro e alargo.
E eu, de luneta de uma lente só, Eu acho sempre assunto a quadros revoltados: Entro na brasserie; às mesas de emigrados, Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
Na parte que abateu no terremoto, Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas; Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas, E os sinos dum tanger monástico e devoto. Mas, num recinto público e vulgar, Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras, Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras, Um épico doutrora ascende, num pilar!
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III Ao Gás E saio. A noite pesa, esmaga. Nos Passeios de lajedo arrastam-se as impuras. Ó moles hospitais! Sai das embocaduras Um sopro que arripia os ombros quase nus.
Que grande cobra, a lúbrica pessoa, Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! Sua excelência atrai, magnética, entre luxo, Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso Ver círios laterais, ver filas de capelas, Com santos e fiéis, andores, ramos, velas, Em uma catedral de um comprimento imenso.
E aquela velha, de bandós! Por vezes, A sua trai^ne imita um leque antigo, aberto, Nas barras verticais, a duas tintas. Perto, Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.
As burguesinhas do Catolicismo Resvalam pelo chão minado pelos canos; E lembram-me, ao chorar doente dos pianos, As freiras que os jejuns matavam de histerismo.
Desdobram-se tecidos estrangeiros; Plantas ornamentais secam nos mostradores; Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores, E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Num cutileiro, de avental, ao torno, Um forjador maneja um malho, rubramente; E de uma padaria exala-se, inda quente, Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
E eu que medito um livro que exacerbe, Quisera que o real e a análise mo dessem; Casas de confecções e modas resplandecem; Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.
<<Dó da miséria!... Compaixão de mim!...>> E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-me esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de Latim!
Longas descidas! Não poder pintar Com versos magistrais, salubres e sinceros, A esguia difusão dos vossos reverberos, E a vossa palidez romântica e lunar!
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IV Horas Mortas O tecto fundo de oxigénio, de ar, Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras; Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras, Enleva-me a quimera azul de transmigrar.
Mas se vivemos, os emparedados, Sem árvores, no vale escuro das muralhas!... Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.
Por baixo, que portões! Que arruamentos! Um parafuso cai nas lajes, às escuras: Colocam-se taipais, rangem as fechaduras, E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.
E nestes nebulosos corredores Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas; Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas, Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.
E eu sigo, como as linhas de uma pauta A dupla correnteza augusta das fachadas; Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas, As notas pastoris de uma longínqua flauta.
Eu não receio, todavia, os roubos; Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes; E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes, Amareladamente, os cães parecem lobos.
Se eu não morresse, nunca! E eternamente Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas! Esqueço-me a prever castíssimas esposas, Que aninhem em mansões de vidro transparente!
E os guardas, que revistam as escadas, Caminham de lanterna e servem de chaveiros; Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros, Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
Ó nossos filhoes! Que de sonhos ágeis, Pousando, vos trarão a nitidez às vidas! Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas, Numas habitações translúcidas e frágeis.
E, enorme, nesta massa irregular De prédios sepulcrais, com dimensões de montes, A Dor humana busca os amplos horizontes, E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
Ah! Como a raça ruiva do porvir, E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes, Nós vamos explorar todos os continentes E pelas vastidões aquáticas seguir!
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Temática O poema de ‘’Sentimento dum ocidental’’ trata sempre o tema da cidade, deambulando por ela a diferentes horas da noite, horas canónicas. Está dividida em quatro partes: Ave-Maria, Noite Fechada, Ao Gás e Horas Mortas. À medida que anoitece na cidade de Lisboa, Cesário Verde descreve as diferentes profissões que aparecem, os diferentes tipos de pessoa, os ambientes e as sensações que tudo à sua volta lhe causa. Identifica-se com a cidade, andando à deriva pelas ruas e becos; revive memórias, faz reflexões, compara os seus estados de espírito com o que encontra, realça-se o enjoo, a perturbação, a monotonia e sofre uma opressão que lhe provoca um desejo absurdo de sofrer: ao anoitecer, ruas soturnas e melancólicas, com sombras. Como realista, Cesário mostra todas as transformações económicas, sociais, culturais que acontecem na cidade de Lisboa no final do século XIX. Estas transformações e sociedade são alvo de crítica devido à arrogância e à exploração que a burguesia tem em relação ao povo. Num contexto de revolução industrial, um novo tipo de trabalho surge, para além dos antigos pedreiros, carpinteiros, calceteiros, ferreiros, os operários começam a trabalhar nas fábricas. O poeta não se mostra indiferente ao operariado, pessoas que trabalhavam de sol a sol, viviam uma vida degradante e miserável, criticando aqueles que viviam do trabalho do operariado, levando uma vida de ócio e prazer, luxuosa e tranquilamente. Quanto à imagem da mulher, o poeta utiliza-a como crítica social e para mostrar os contrastes entre as diferentes classes sociais dentro do sexo feminino: as freiras e as burguesas, as velhas aristocratas, entre outras.
Ave Marias: descreve as pessoas a sair do trabalho e a voltar para casa. São referidas várias profissões, como carpinteiros, calafates, dentistas e as varinas. Noite Fechada: descreve os diferentes edifícios que fazem parte da cidade a iluminar-se, as igrejas, as tascas... Ao Gás: compara os diferentes tipos de mulher, ou seja, as burguesas, as prostitutas, as velhas e as sedutoras, que contrastam entre si. Horas Mortas: o poeta, ao mesmo tempo que deambula pela cidade, começa a deambular pela sua imaginação e pelas profundezas da sua consciência.
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Análise Formal Os quatro poemas de ‘’Sentimento dum Ocidental’’ têm um número consistente de versos por estrofe, sendo estas sempre quadras. Também se repete o onze como número de estrofes em todos os poemas. Ao longo da obra a rima é constante, interpolada e emparelhada
Métrica dos dois últimos versos de cada poema E a/pi/nham/-se /num /bair/ro a/on/de/ mi/am /gatas, E o/ pei/xe /po/dre/ ge/ra os/ fo/cos/ de/ in/fe/cção!
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En|tro| na| bras|se|rie;| às| me|sas| de| e|mi|gra|dos, Ao| ri|so e| à |cru|a |luz |jo|ga|-se o| do|mi|nó.
13 13
Pe|de|-me es|mo|la um| ho|men|zi|nho i|do|so, Meu| ve|lho| pro|fes|sor| nas| au|las| de| La|tim!
10 12
A| Dor |hu|ma|na |bus|ca os| am|plos| ho|ri|zon|tes, E| tem |ma|rés|, de| fel|, co|mo um |si|nis|tro| mar!
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Figuras de estilo mais usadas Assíndeto ‘’ Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!’’ Transporte ‘’Ou que borrifa as estrelas; e a poeira / Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.’’ Comparação ‘’ Semelham-se a gaiolas, com viveiros / As edificações somente emadeiradas’’ Metáfora ‘’ E a Lua lembra o circo e os jogos malabares’’ Sinestesia ‘’Ao chorar doente dos pianos’’ Hipálage ‘’Um cheiro salutar e honesto’’ Adjectivação ‘’ Um forjador maneja um malho, rubramente’’ Enumeração ‘’ E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes’’
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Esquema rimático das duas últimas estrofes de cada poema Ave Maria Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas.
A B B A
Descalças! Nas descargas de carvão, Desde manhã à noite, a bordo das fragatas; E apinham-se num bairro aonde miam gatas, E o peixe podre gera os focos de infecção!
C D D C
Noite Fechada E mais: as costureiras, as floristas Descem dos magasins, causam-me sobressaltos; Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos E muitas delas são comparsas ou coristas.
A B B A
E eu, de luneta de uma lente só, Eu acho sempre assunto a quadros revoltados: Entro na brasserie; às mesas de emigrados, Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.
C D D C
Ao gás Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.
A B B A
Dó da miséria!... Compaixão de mim!... E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-me esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de Latim!
C D D C
Horas mortas E os guardas, que revistam as escadas, Caminham de lanterna e servem de chaveiros; Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros, Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.
A B B A
E, enorme, nesta massa irregular C De prédios sepulcrais, com dimensões de montes, D A Dor humana busca os amplos horizontes, D E tem marés, de fel, como um sinistro mar! C
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Bibliografia
http://portugues12ano.blogspot.pt/2007/12/biografia-cesrio-verde.html http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/port/verde.htm http://www.escolavirtual.pt/assets/conteudos/downloads/11por/11por2908pdf01.fh11.pdf?width=965&height=600 http://jbo.no.sapo.pt/cesario/cesario_bio_main.htm http://www.poetryinternationalweb.net/pi/site/poet/item/14821/11/Cesario-Verde http://www.infopedia.pt/$cesario-verde
Sites visitados até 24/05/2014
SILVA, Pedro; CARDOSO, Elsa; MOREIRA, Maria, ‘’Expressões 11’’, Porto Editora, 1ªedição, 2012 MEXIA, Pedro, ‘’Um Cesário documental’’, in Ípsilon (Público), 9 de novembro de 2007 (com supressões)
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