A escalada do homem - j bronowski (livro completo)

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A m agnífica série de treze program as de televisão d a BBC, A E scalada d o H o m e m , realizada pelo Dr. Bronowski, traçou nosso surgim ento quer com o es­ pécie, quer com o artífices de nosso am ­ biente e nosso futuro. O livro escrito a partir desses program as trata d a histó­ ria d a ciência, m as da ciência no seu sentido m ais abrangente. Invenções, des­ de os utensílios de pedra até a geom e­ tria, do arco até a teoria d a relativida­ de, surgem com o expressões da capaci­ dade específica do hom em para enten­ der e controlar a natureza. O Dr. Jacob Bronowski nasceu na Polônia em 1908 e m orreu em 1974. Sua fam ília havia se estabelecido n a Ingla­ terra e ele se educou na Universidade de Cam bridge. Além de cientista renom ado, foi au ­ tor de vários livros e de program as de rádio sobre Artes. Também escreveu pe­ ças para rádio, um a das quais conquis­ tou o Ita lia P rize. O Dr. Bronowski era Fellow honorário do Jesus College, em Cam bridge. Em 1964 passou a viver e trabalhar nos Es­ tados U nidos, n a qualidade de S e n io r ■ F ellow e D iretor do Council for Biology in H um an Affairs, no Salk Institute for Biological Studies, San Diego, California.


A ESCALADA DO HOMEM



A

ESCALADA DO HOMEM TRADUÇÃO: NÚBIO NEGRÁO

1. BRO N O W SKI M a rtin s Fo n tes

São Paulo — 1992


Título original:

THE ASCENT OF MAN © Copyright by Science Horizons Inc., 1973 © Copyright by Livraria Martins Fontes Editora Ltda., através de acordo com the British Broadcasting Corporation, para a presente edição 3.“ edição brasileira: abril de 1992 Produção gráfica: Geraldo Alves Composição: Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Capa: Alexandre Martins Fontes Impressão e acabamento:

Gráfica Brasiliana

Dados Inlernaciunais de Calalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bronowski, Jacob, 1908-1974. A escalada do homem / J. Bronowski : tradução de Núbio Negrão. — São Paulo : Martins Fontes, 1992. ISBN 85-336-0059-9 I. Ciência — Filosofia 2. Ciência — História 3. Homem I. Titulo. 92-0767 CDD-501 índices para catálogo sistemático:

I. Ciência : Filosofia 501

Todos os direitos para o Brasil reservados à

LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LTDA. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 — Tel.: 239-3677 01325 — São Paulo — SP — Brasil


SUMÁRIO

Prefácio........................................ .......................................... 13 Capítulo 1 —AbaL'(o dos Anjos.......................................... 19

Adaptação animal - A alternativa humana - Início na Africa - O dom da antevisão - Evolução da cabeça - O mosaico do homem - As culturas do caçador - A través das glaciações - Culturas transumânticas: os lapões Imaginação na arte rupestre.

Capítulo 2 —As Colheitas Sazonais................................... 59

O passo da evolução cultural - Culturas nómades: os bakhtiari - Primórdios da agricultura: o trigo - Jericó - Região dos tremores de tetra - Tecnologia na aldeia - A roda - Domesticação de animais: o cavalo - Jogos de guera: Buz Kashi - Civilização sedentária.

Capítulo 3 —A Textura da Pedra....................................... 91

O Novo Mundo - Evidência de migrações na distribuição dos grupos sanguíneos - As ações de moldar e de juntar - Estrutura e hierarquia - A cidade: Machu Picchu - Arquitetura de ângulos retos: Paestum - O arco romano: Segóvia A aventura gótica: Rheims - A arquitetura como ciência - A imagem oculta: de Michelangelo a Moore - O prazer de construir - A estrutura oculta à visão.

Capítulo 4 —A Estrutura Invisível..................................... 123

Fogo, o elemento transformador - Extração de metais: cobre - A estrutura das ligas metálicas - A obra de arte no bronze - Do fe r o ao aço: a espada japonesa - Ouro - O incorruptível - A teoria alquímica do homem e da natureza - Paracelsus e o surgimento da química - Fogo e ar: Joseph Priestley - Antoine Lavoisier: combinações podem ser quantificadas - Teoria atómica de John Dalton.

Capítulo 5 — A Música das Esferas.................................... 155

A linguagem dos números - A chave à harmonia: Pitágoras - O triângulo retângulo - Euclides e Ptolomeu em Alexandria - Ascensão do Islamismo Números arábicos - O Alhambra: padrões de espaços - Simetrias nos cristais Alhazen - Movimento no tempo, a nova dinâmica - A matemática da trans• formação.

Capítulo 6

O Mensageiro Sideral.................................... 189

Capítulo 7

O Relógio Majestoso.................................... 221

O ciclo das estações - A falta de um mapa dos céus: a Ilha de Páscoa - O sistema ptolomaico no relógio de de Dondi - Copérnico: o Sol no crntro - O telescópio - Galileo inaugura o método científico - Proibição ao sistema de Copérnico - Dialogo sobre os dois sistemas - A Inquisição - A retrataçda de Galileo - A revolução científica se desloca para o norte.

Leis de Kepler - O centro do mundo - A s i novações de Isaac Newton: os fluxi°ns _ A descoberta do espectro - A gravitação e o Principia - O ditador intelectual _ O desafio em sátiras - O espaço absoluto segundo Newton - O tempo absoluto - Albert Einstein - O viajante leva consigo seus próprios espaço e tempo - A relatividade é confirmada - A nova f il owfia.


Capítulo 8 — Em Busca de Poder....................................... 259

A Revolução Inglesa - Tecnologia doméstica: James Brindley - A revolta contra os privilégios - Fígaro - Benjamin Franklin e a Revolução Americana - Os novos homens: os mestres ferreiros - A nova concepção: Wedgwood e a Sociedade Lunar - A fábrica em movimento - A nova preocupação: energia A cornucópia de invenções - A unidade da natureza.

Capítulo 9 — Os Degraus da Criação.................................. 291

Os naturalistas - Charles Darwin - Alfred Waliace - O impacto da América do Sul - A multiplicidade de espécies - Wallace perde sua coleção - Concepção da Seleção Natural - A rnntinuidade da evolução - Louis Pasteur: dextrogiros, levogiros - Constantes químicas na evolução - A origem da vida - A s quatro bases - Seriam possíveis outras formas de vida?

Capítulo 10 — Um Mundo Dentro do Mundo................... 321

O cubo do sal - Seus elementos - O jogo da paciência de Mendeleiev - A tabela periódica - J. J. Thomson: o átomo dividido - A estrutura na nova arte - A estrutura do átomo: Rutherford e Niels Bohr - O ciclo de vida de uma teoria - O núcleo dividido - Os neutrinos: Chadwick eFermi -Evolução dos elementos - Estatística, a segunda lei - Estabilidade estratificada - Imitando a física da natureza - Ludwig Boltzmann: o átomo é uma realidade.

Capítulo 11 — Conhecimento ou Certeza.......................... 353

Não há conhecimento absoluto - O espectro de radiações invisíveis - O refina­ mento dos detalhes - Gauss e a idéia da incerteza - A subestrutura da realidade: Max Bom - O Principio da Incerteza de Heisenberg - O Princípio da Tolerância: Leo Szilard - A ciência é humana.

Capítulo 12 — Geração Após Geração.............................. 379

A voz da insurreição - O naturalista hortelão: Gregor Mendel - Genética da ervilha - Esquecimento instantâneo - O modelo tudo-ou-nada da hereditarie• dade - O mágico número dois: sexo - O modelo do ADN de Crick e Watson Replicação e crescimento - Clonação de formas idênticas - Seleção sexual na diversidade humana.

Capítulo 13 — A Longa Infância....................................... 411

Homem. o solitário social - Especificidade humana - Desenvolvimento especí­ fico do cérebro - Habilidade da mão - As áreas da faia - O postergar de decisões - A mente no papel de instrumento de preparação - Democracia do intelecto - A imaginação moral - O cérebro e o computador: John von Neumann - A estratégia dos valores - O conhecimento é o nosso destino - O compromisso do homem.

Bibliografia............................................................................. 440 índice Remissivo.................................................................... 443

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ÍNDICE DAS ILUSTRAÇÕES 1 Dança da desova do grunion (National Geographic). 18. 2 Exercício de perspectiva do Renascimento gera­ do no computador e espiral do ADN. 2. 3, 21. 3 lmpala (Ed Ross) 22. Manada de Topi (Simoll Trevor. Bntce Colemall LtcL). 23. 4 O leito do Omo (Yves Coppens), 25. 5 Chifres moderno e fóssil de nyala. Musée de I'Homme, Paris (Yves Coppens), 27. 6 Crânio da criança de Taung, Universidade de Witwatersrand, Johannesburg (Alull R. Hughes, com permissão do prof. P. V. Tobias), 28. 7 Ossos de dedos e do polegar do A ustralopithecus (M ar Waldron), 28. 8 Criança de quatorze meses de idade (Geny Cranham), 30, 31,32, 33. 9 Saltador de salto-com-vara em ação (Geny Cranham), 34, 35. 10 Imagem gráfica de computador dos estágios da evolução da cabeça, 36, 37. 11 Machado de pedra aqueu (Lee Boltin), 39. 12 Grupo de índios caçadores wayana (Cornell Capa, Magnum), 42,43.

13 Um lemurídeo moderno (EdRoss), 44. O esqueleto de um galago (Jonathan Kingdon, cortesia da Academic Press), 45. 14 Harpão magdaleniano de chifre de rena, Ashmolean Museum, Oxford, 46. Ponteira decorada, National Gallery of Art, Washington (Hugo Obermaier), 47. Pintura em rocha (Erwin O. Christensen, por cortesia de Bonanza Books), 47.

15 Manadas de renas dos lapões, 1900 (Norsk Folkemuseum, Oslo), 48, 49. 16 Mulher lapã (Norsk Folkemuseum, Oslo), 51. Manada de renas selvagens (Gunnar Ronn), 51. 17 Lapões em marcha, desenhos de Johan Turi, 1910 (Norsk Folkemuseum, Oslo), 52, 53. 18 Bisão deitado, Altamira (Michael Holford), 54, 55.

19 Contornos de uma mão, Santander (Achile B.

Welder), 57. 20-21 Migração da primavera dos bakhtiari (Anthony Howardpara a Daily Telegraph Colour Library), 58,62,63. 22 Foice curvada, Ashmolean Museum, 65. 23 Variedades de trigo, nova e antiga (Tony Evans, Marcel Sire), 66,67.

24 Trigo selvagem, de Jaubert e Spach, Plantas Ori­ entais (British Museum, NaturalHistory), 68,69. 25 Objetos do sítio de Jericó: tijolo de barro seco,

British Museum; amantes de quartzo, Ashmolean Museum; crânio decorado, Ashmolean Museum, 70, 71.

A torre de Jericó (Dave Brinicombe), 71. 26 Carpinteiro. Museu Nacional, Copenhagem; pino de cerâmica decorada, forno de padeiro, brinque­ do grego, velho com uma prensa de vinho, todos do British Museum, Londres, 72, 73. 27 Arando com bois ajoujados, Museo Civico, Bologna (C. M. Duon), 74, 75. 28 Modelo de cobre de um carro de guerra, Museu de Bagdá (Oriental Institute, University o f

Chicago), 76. 29 Carpinteiros trabalhando com torno-de-arco (índia Office Library), 78. 30 Cavalaria mongol e tropa cruzando rio, do Jamial-Tawarikh (Edinburgh University Libra­ ry), 78. 31 Pintura de vaso grego, British Museum, Londres (Raynon Raikes), 83. 32 Buz Kashi, Afganistão (DavidStock), 84, 85. 33 Dedicação a Oljeitu Khan em um manuscrito do 34 35 36 37

Alcorão, British Museum, Londres, 86. O túmulo de Oljeitu Khan (DaveBrinicombe), 87. Página de rosto da Europa de William Blake (John Freeman), 90. “A Casa Branca”, Canyon de CheUy, Arizona, em 1873 (T. H. O'Sullivan), 93. Pote pueblo em forma de coruja, British Museum, Londres (C. M. Dixon), 94. Pote pueblo, Museu da Universidade do Colora­ do, Boulder, 95. Construção inca em Machu Picchu (H. Ubbeloh-

de Doering), 97. Machu Picchu (Georg Gerster, John Hillelson Agency), 98, 99. 38 Quipu inca, Museum of Mankind, Londres (Raynon Raikes), 100, 101. 39 Templo de Poseidon, Paestum (Cario Bevilacqua), 102, 103.

40 Modelos fotoelásticos mostrando tensão nos ar­ cos (Sharples Photomechanics Ltd.), 105. 41 “EI Puente dei Diablo." Segóvia (A. F. Kersting), 106, 107. 42 A Grande Mesquita, Córdoba (A. F. Kersting), 107.

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43 Nave e aléia, Catedral de Rheims (Wim Swaan), 108. 44 Pedreiros trabalhando, 13.0 século, do Livro de Saint Alban (The Board of Trinity College, Du­ blin), 110. 45 Arcobotante, Catedral de Rheims (Wim Swaan), 111. 46 Desenho de Nervi para o Palazzetto dei Sport, Roma (Cement and Concreíe Association, Lon­ dres), 112, 113. 47 “Brutus” de Michelangelo, Bargello, Florença (Scala), 114. 48 Moore, “Knife-edge-Two-piece”, coleção parti­ cular (Henry Moore), 117. 49 Mosaico da Watts Towers, Los Angeles (Roberí Graní), 119. Watts Towers (Charles Eames), 120, 121. 50 De la Tour, “Le Souffleur á la Lampe”, Musée des Beaux-Arts, Dijon (Giraudon), 122. Fénix de Conrad Lycosthenes, Prodigiorum ac Ostentorum (Biblioteca de Pinturas de Roma), 124. 51 Adelgaçamento de um arame de cobre. (The Briíish Non-Fe"ous Metais Association) , 125. 52 Jarra de vinho em forma de coruja, Victoria and Albert Museum, Londres (RaynonRaikes), 127. 53 SiAo de bronze fundido, Victoria and Albert Museum, Londres (Raynon Raikes/, 128, 129. 54 A forja de urna espada (National Geographic), 130, 131. 55 Marcas de resfriamento em urna espada do Século XIX, Victoria and Albert Museum, Londres (Raynon Raikes), 132, 133. Estampa, em bloco de madeira, deumSamurai (H. Roger-Viollet), 133. 56 Máscara de um rei aqueu, Museu Arqueológico Nacional, Atenas (C. M. Dixon), 135. Moeda de Creso, Museu Britânico, Londres (Michael Holford), 135. Onça mochica, Coleção Mojico Gallo, Lima (Michael Hoford), 135. Escudo peitoral de um chefe africano, Victoria and Albert Museum, Londres (Raynon Raikes), 135. Receptor de entrada central em uma calculadora de bolso (Paul Brier/y), 135. 57 Saleiro esculpido por Cellini, Kunsthistorisches Museum, Viena, 137. Gargalheira irlandesa, Museu Nacional da Irlanda, 137. 58 A fornalha do corpo, por Paracelsus (The Well­ come Trusíees), 138.

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Terra, ar e fogo, por Paracelsus (S. Karger), 138, 139. A Teoria Alquímica da Natureza: de Limbourg, “L'homme anatomique”, de Les Tres Riches Heures, Musée Condé, Chantilly (Giraudon), 139. Entalhe em madeira de Paracelsus, Opus Chyrurgieum (The Wellcome Trustees), 140, 141. Paracelsus, atrib. a Quentin Metsys, Louvre, Paris, 143. Joseph Priestley, por Ellen Sharples, National Portrait Gallery, Londres, 145. Reconstrução do experimento de Lavoisier (Paul Buerly e Michael Freeman, por cortesia de Charles Moore, Science Museum, Londres), 146, 147. Gigantesca lente de aquecimento de Lavoisier (Science Museum, Londres), 150. John Dalton, por J. Stephenson (Science Mu­ seum, Londres), 150. Símbolos para os elementos de Dalton (Science Museum, Londres), 152. Gravura de Thomas Bewick (British Museum), 153. Cordas vibrantes (Charles Taylor), 154. Harpista cego, Rijksmuseum, Leiden, 156. Fragmentos da mão de um harpista, Ashmolean Museum, Oxford, 157. A prova pitagórica (John Webb) , 159. Urna versão árabe do teorema de Pitágoras (British Museum), 161. Gravura chinesa do teorema de Pitágoras (British Museum), 161. Página da tradução de Euclides por Adelard de Bath (British Museum), 163. Ilustração de um manuscrito provençal do Século XIV (British Museum), 164, 165. Astrolábio islâmico, Museum of the History of Science, Oxford, 166. Astrolábio gótico, Museum of the History of Science, Oxford, 166. Computador astrológico de cobre, British Mu­ seum, Londres, 167. Extraído de Kushyar ibn Labban (University of Wisconsin Press), 168. A Serra Nevada e o Alhambra, Granada (Wim Swaan, Camera Press), 170. Galeria dos músicos e banhos do harém no Alhambra (Mas), 171. Cristais naturais (Institute o f Geological Scien­ ces), 174, 175. Alfonso, o Sábio, ditando para Scholars, El Es­ coriai (Michael Holford), 176, 177.


76 Afresco de Florença, c. 1350, Orfanotrofio dei Bigallo, Florença (Scala), 178. 77 Cone de raios de Alhazen, do Opticae TheSilurus Alhazeni (British Museum). 179. 78 Carpaccio, “Santa Ürsula e seu Pretendente”, Accademia, Veneza (Osvaldo Bohn), 180. 79 Desenho de Dürer de um nu reclinado. Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz Kupferstichkabinett, Berlim, 181. Dürer, Diagrama da construção de urna elipse, do Unterweisung der Messung, 181. 80 Dürer, “A Adoração dos Magos”, Uffízi, Flo­ rença (Scala), 182. Ucelío, “A Enchente”, S. Maria Novelía, Flo­ rença (Scala), 183. Ucello, Análise da perspectiva de uma taça, Gabinetto Disegni, Florença (Scala), 183. 81 Da Vinci, desenho da trajetória de balas de mor­ teiro, Biblioteca Ambrosiana, Milão, 184, 185. Gotas de água (Oskar Kreisel). 184, 185. 82 Semente de pinheiro (Marcel Sire); pétala de rosa (Cambridge ScientificInstruments); concha (British Museum. Natural History); margarida (Marcel Sire), 186. 83 Trajetória de partículas subatômicas (Paul Brierly), 187.

84 Peça “Q” do altar, Copan (British Museum). 188. 85 As trajetórias dos planetas (Aldus Books), 190. Os movimentos de Mercúrio, Vênus, Marte, Jú­ piter e Saturno (Erich Lessing, Magnum), 191. 86 Estátuas da Ilha da Páscoa (Camera Press), 192, 193. 87 Páginas do manuscrito de de Dondi (MS Laud. Misc. 620, ff. 87v-88, BodleianLibrary, Oxford), 194. 195. Reconstrução do relógio astronômico de de Dondi, Smithsonian Institution, Washington, 195. As faces do relógio (Wellcome Trustees). 196. 88 Nicolaus Copernicus (Polish Cultural Institute, Londres), 197. Páginas do De Revolutionibus Orbium Coelestium, 197. 89 De Barbari, entalhe em madeira de Veneza (de­ talhe), British Museum, Londres (John Freeman), 199. 90 Galileo Galilei, por Octavio Leoni, Biblioteca Maruceliana, Florença, (Scala), 199. 91 Balança hidrostática, Museu da Ciência, Florença (Scala), 200. Telescópio de GaWeo, Museu de História da Ci­ ência, Florença, 201.

92 Mural em um ático emRoma (Umberto Galeasi), 203. 93 Desenhos das fases da Lua, por Galilelo, Biblio­ teca Nacional, Florença (Scala), 202. 94 Páginas-título dos trabalhos de GaWeo, 204, 205. 95 O autor no Vaticano (DavidPeterson), 207. 96 Bernini, Urbano VIII, Galeria Nacional, Roma (de Antonis), 206. 97 Sacchi, Um teto no PaUazzo Barberini, Roma (de Antonis), 210. 98 Guache de Urbano VIII, coleção particular, (WarbugInstitute). 212. 99 Mural em uma casa particular em Roma (Umber­ to Galeasi), 215. 100 O documento no julgamento de GaWeo, Biblio­ teca do Vaticano, 217. 101 A Terra vista da Lua (NASA), 219. 102 Wright of Derby, “The Orrery” (planetário me­ cânico), Derby Museum e Art Gallery, 220. 103 A Mansão de Woolsthorpe (RoyalSociety), 223. 104 Isaac Newton em 1689, por Godfrey Kneller, coleção particular (Mansell Collection), 225. 105 Desenho do Trinity College, feito por Wren (The

Warden and Fellows o f Ali Souls College, Oxford), 228, 229. 106 Experimentos ópticos de Newton de 1672 (Paul Brierly), 230, 231.

107 Isaac Newton em 1702, por Godfrey Kneller, National Portrait Gallery, Londres, 232. 108 Carta de Halley a Newton de 29 de junho de 1686 (King's College Library, Cambridge), 232. 109 Busto de Isaac Newton, por John Rysbrack, Victoria and Albert Museum, Londres (Crown Copyright), 235. 110 Caricatura satirizando a teoria da gravidade de Newton (British Museum), 237. 111 Rysbrack, baixo-relevo do monumento de Newton, Abadia de Westminster (A. F. Kersting), 238, 239. 112 Gráfico gerado por computador da inversão de uma esfera, 240, 241. 113 Griffier, Vista geral de Greenwich (Dept. Environment, Crown Copyright), 241. 114 O primeiro marcador de tempo marítimo de John Harrison, National Maritime Museum, Londres, 243. 115 Detalhe do Teto Pintado, Royal Naval College, Greenwich (Dept. o f Environment, Crown Co­ pyright), 242. Ilustrações de um manual de navegação (Bri­ tish Museum), 243.


116 Torre do relógio de Berna (Dave Brinicombe), 244. Marcador de tempo n.0 4 de John Harrison, Science Museum, Londres, 244, 245. 117 Albert Einstein em 1905 (Trustees o f the Estate 135 ofA lbert Einstein), 245.

118 Einstein aos 14 anos (Einstein Trustees), 246. 119 Aplicação para patente em 1904 (Amt fiir 136 137 GeistigesEigentum, Berna), 248, 249. 120 A Teoria da Relatividade, desenho de Nigel 138 Holmes, 250, 251. 121 Artigo de Einstein de 1905, 252. Anotações no quadro-negro feitas por Einstein 139

Josiah Wedgwood, por George Stubbs, Wedg­ wood Museum, Stoke-on-Trent, 279. Token estampado com a máquina a vapor de Watt (Birmingham City Museum), 280. Apólice de seguro de trabalho mostrando a Soho Foundry de Boulton e Watt (Birmingham Assay Office). 281. Interior de um casebre de 1896 (RTHPL), 281. Uma mina, c. 1790, Walker Art Gallery, Liverpool,283. O Zoetrópio (Science Museum); plataforma de elevação; mobília de quarto dobrável, 284, 285. Richard Trevithick, Science Museum, Londres,

287. (Museum o f the History o f Science, Oxford), 140 A queda d'água de Solanches, ChaqlOnix (Dave 252, 253. Brinicombe), 289. 122 Albert Einstein e Niels Botr em 1933 (Einstein 141 Árvore florida na floresta (Michael Freeman), Trustees), 256, 257. 290. 123 Hill, “O Viaduto da Amêndoa” (detalhe), Muse­ um ofTransport, Glasgow (Rupert Roddam), 258. 142 Alfred Russel Wallace (por cortesia de Mrs. D. Wallace), 292. 124 Uma das primeiras fotografias da vida doméstica Charles Darwin, 292. rural, da Vistas da Inglaterra de Grundy, Diagramas de um manual de caça de besouros (RTI/PL), 261. 125 Aqueduto de Telford junto à Pont-Cysyltau (British Museum), 294. (Peter Carmichael, Reflex), 263. 143 Pinturas de pássaros de Darwin, por John Gould 126 Caricatura de uma reunião de acionistas feita (British Museum, Natural History), 295. por Cruikshank (Eric de More), 264. 144 Um alagado no Amazonas (Michael Freeman), James Brindley (Science Museum), 264. 297.

Wedgwood, Medalhão do Duque de Bridgewater, National Portrait Gallery, Londres, 265. 127 As mãos do escritor e mecanismos em um autô­ mato de Jacquet-Droz. Museu Histórico, Neuchâtel, 266. Retrato de Jacquard tecido em seda, Science Museum, Londres, 266. Cruikshank, “Naldi em Figaro”, Victoria and Albert Museum, Londres, 267. 128 Benjamin Franklin coloca uma coroa na cabeça de Mirabeau, Burndy Library, Norwalk, Conn., 129

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145 Um tucano de bico vermelho, urubus e uma rã arborícola (MichaelFreeman), 298, 299. 146 Garoto índio akawaio (Michael Freeman), 301. 147 Gravura de índios fueguinos, in Nanatives o f the Surveying Voyages o f HMS Adventure and Beagle, 302, 303. Fotografia antiga de um fueguino (Royal Geographic Society), 303. 148 Escritório de Darwin na Downe House (Country Life, por cortesia de Sir Hedley Atkins), 305.

149 Darwin nos seus últimos dias, fotografado em Downe (Mansell Collection), 306. Benjamin Franklin, por Joseph Duplessis, 150 Mimetismo protetivo em uma espécie de borbo­ leta (Michael Freeman), 307. Natural Portrait Gallery, Londres, 270. Um pára-raios, Franklin Institute, Philadelphia, 151 Caricatura de Darwin, tirada do “Hornet”, 308. Wallace em 1805 (British Museum, Natural His­ 271. tory), 309. Tom Paine satirizado (British Museum), 273. Um token (vale) de Wilkinson, British Museum, 152 Laboratório de Pasteur (Snark International), 310. Londres, 274. A pequena ponte de Coalbrookdale (Michael 153 Caldo de uva em fermentação (PaulBrierly), 311. 154 Pasteur com um amigo em 1864 (Institut Pas­ Holford), 275. teur), 312. Louça de Wedgwood (Wedgwood), 276. Uma página de anotações de Pasteur sobre o Pirômetro de Wedgwood (Wedgwood), 277. estudo dos cristais (Bibliothèque Nationale, Padrões de jasper de Wedgwood para testes de cor e de brilho (Wedgwood), 278. Paris), 312. 268,269.


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Modelos de madeira de Pasteur dos cristais de tartarato, Institut Pasteur, Paris. 313. Leslie Orgel com Robert Sanchez (Jon Brenneis) 315. Detector de proteína (David Paterson), 319. A formação da adenina (D. K. Miller, Salk Institu te) , 318. Niels Bohr e Albert Einstein em 1933 (Einstein TTrustees), 320. Cristais cúbicos do sal de cozinha (Instiwte o f Geological Sciences), 322. Dmitri Mendeleiev em seus últimos anos (Novosti Press Agency), 323. Um dos primeiros esquemas da Tabela Periódica de Mendeleiev (por cortesia do prof. J. W. Van Spronsen), 325. Mendeleiev em Manchester (Manchester Literary and Philosophical Society), 326, 327. A primeira Solvay Conference, 1911 (Benjamin Couprie), 328. A quinta Solvay Conference, 1927 (Benjamin Couprie), 329. Seurat, “Moça com Esponja de Pó” (detalhes), Courtald Institute, Londres, 330, 331. Baila, “Planeta Mercúrio passando diante do Sol”, Museu Nacional de Arte Moderna, Paris, 332, Boccioni, “Dinamismo de um Ciclista”, coleção particular, 333. Ernest Rutherford (Cavendish Laboratory), 335. Espectro do Hidrogênio e estrutura do átomo, 338. H. G. J. Moseley em 1910 (Museum o f History ofScience, Oxford), 339. Reator de alto fluxo, Oak Ridge, Tenn. (Oak Ridge National Laboratory), 342. O Sol (Culgoora Solar Observatory e CSIRO, Austrália), 344. Mancha solar (Jay Pasachoff,, Big Bear Solar Ob­ servatory, Calif) , 345. Torre exponencial grafite-urânio (Argonne Na­ tional Laboratory), 346. Enrico Fermi em 1947 (Argonne National Labo­ ratory), 346. Ludwig Boltzmann (DavidPaterson), 348. A Grande Nebulosa M42 de Orion (University ofNewcastle-upon-Tyne), 350. Stephan Borgrajewicz, por Feliks Topolskk 352. Fotografia de radar do aeroporto de Londres (Decca), 354. Átomos de Tório (Dept. o f Metalhvrgy) , 355.

177 Placa original de raios X de Rontgen (Deutsches Museum, Munique, 356. 178 Padrão de difração de raios X de um cristal de ADN (Prof. 11 H. F. Wilkins, Kings College, Londres), 357. 179 Karl Friedrich Gauss (Staastsbibliothek, Berlim), 359. 180 Max Bom em 1924, 361. 181 Garota com o ganso, Gottingen (David Paterson), 363. 182 Coleção de crânios de Blumenbach, Gottingen (Hans Wilder, Werbe-Foto), 366. 183 Leo Szilard (Argonne National Laboratory), 369. 184 Carta dos cientistas ao Presidente Roosevelt

(Argonne National Laboratory, por cortesia da Franklin D. Roosevelt Library), 371. 185 Ruínas de Hiroshima (Shumkichi Kikichi, John Hillelson Agency), 372, 373.

186 O autor em Auschwitz, extraído do filme da BBC,375. 187 O crematório de Auschwitz (Elliot Erwitt, Magnum), 376,377. 188 Apresentação do pavão (S. C. Bisserot, Bruce Coleman Ltd.), 378. 189 Gregor Mendel em 1865 (DavidPaterson), 381. 190 Os caracteres analisados por Mendel, pintura de Margaret Stones, 382. Uma página de cálculos das anotações de Mendel (DavidPaterson), 383. 191 Microfotografia eletrônica de pólen de ervilha (British Museum, Natural History), 384. 192 Ovulos de ervilha (Marcel Sire), 386, 387. 193 Corte de elefantes e de cormorants (Black Star/ Eric Hosking), 389. 194 Cromossomos grandes de células da casca da cebola (Brian Bracegirdle), 391. 195 Seqüência gráfica gerada em computador da espiral dupla do ADN, 392. 196 Estágios do desenvolvimento de um embrião de galinha dentro do ovo (Oxford Scientific Films, Bruce Coleman Ltd.), 394. 197 Rainha e abelhas obreiras (Ed Ross), 397. 198 Axolotles (Indiana University), 398; desenho de Scan Milne, 399. 199 Andrea Pisano, “A Criação da Mulher”, Campanile dei Duomo, Florença (Alinari), 401. 200 Células de Spirogyra (ArthurM. Siegelman),402. 201 Gorilas (George Schaller, Bntce Coleman Ltd.), 403. 202 Van Eyck, “Retrato dos Arnolfinis” (detalhe) National Gallery,Londres, 405.


203 Chagall, “O Casamento” Galeria Tretyakov, Moscou (Novosti Press Agency), 407. 204 Cientistas e suas mulheres. James e Elizabeth Watson (Waggaman/Ward); Louis e Marie Pasteur (/nsritut Pasteur),' Marie e Pierre Curie (Royal /nstitution); Albert e Elsa Einstein (RTHPL); Ludwig e Henrietta Boltzmann (Boltzmann Trustees); Niels e Margrethe Bohr (Danish Radio); Max e Hedwig Bom; Jolm e Klara von Neumann (Associated Press). 408, 409. 205 Da Vinci, “A Madona das Rochas”, Louvre, Paris (Scala), 410. 206 Os doze discípulos, cruz do século IX, Moone, Co. Kildare (Belzeaux-Zodiaque), 413. 207 Da Vinci, “Criança no Útero”, Royal Library, Windsor (Por graciosa permissão de S. M A Rainha), 414. 208 O autor em sua casa com o molde de Taung (D. K. Miller, Salk Institute). 415. 209 Dürer, “Auto-Retrato”, Lehrman CoUection. Nova Iorque, 417.

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210 A corte do pombo de colar preto, desenhado por Maurice Wilson, 418. Daniel Lehrman (D. K. Mil/er, Salk Institute). 419. 211 O autor com seu neto (Tony Evans). 420. 212 A zona motora do córtex do cérebro humano, desenhado por Nigel Holmes, 422. 213 Uzbeki pai e filho (David Stock). 426. 214 Desiderius Erasmus. por Quentin Metsys, Galeria Nacional, Roma (Anderson-Giraudon). 427. 215 Um trabalho de Erasmus e a Anatomia de Vesalius, 428. 216 A cidade velha de Jerusalém (Georg Gersta, John Hi/lelson Agency). 430, 431. 217 John von Neumann (Charles Eames), 433. Página de anotações de Neumann (Charles Eames). 432, 433. 218 O jogo da Morra, desenhado por Nigel Holmes, 434. 219 Página de rosto de Songs o[ Experience. de William Blake (British Museum). 439.


PREFACIO

O primeiro esboço da A E sc a la d a d o H o m e m foi escrito em julho de 1969 e as últimas cenas filmadas em dezembro de 1972. Um empreendimento de tal monta, embora maravilhosamente gratificante, não pode ser realizado como uma simples distração. Assim, eu precisava estar seguro de poder manter com prazer o tono intelectual e físico que sua continuidade exigia; por exemplo, tive de postergar pesquisas já iniciadas. Diante disso, tentarei explicar a razão pela qual assumi a responsabilidade desse trabalho. Os últimos vinte anos assistiram a uma mudança no escopo da Ciência; o foco da atenção se deslocou das ciências físicas para as ciências da vida, resultando daí uma preocupação cada vez maior com o estudo da individualidade. Mas o espectador interessado dificilmente consegue perceber nessa transição os efeitos duradou­ ros que poderão ser inscritos na imagem do homem que a ciência molda. Mesmo a mim, matemático com formação em Física, eles teriam passado despercebidos se, num dado momento de minha existência, não tivesse sido envolvido em uma série feliz de eventos que me levaram para o mundo das ciências da vida. Dessa maneira, senti-me em débito com a fortuna que me fez entrar em contato, no transcorrer de uma só vida, com dois campos fecundos da atividade científica; e como não consegui determinar a quem a dívida tinha de ser paga, concebi A E sc a la d a d o H o m e m como gra­ tidão à minha boa sorte. No convite da B r itis h B r o a d c a s tin g C o r p o r a tio n a mim endere­ çado havia a sugestão de que realizasse uma série de programas de televisão mostrando o desenvolvimento científico à semelhança da série apresentada por Lorde Clark em C iv iliza ç ã o . A televisão constitui um admirável meio para exposição, por diversas razões: imediata e marcante aos olhos, capaz de levar ao espectador, ao vivo, os lugares onde os processos são descritos, e suficiente­ mente coloquial, de modo a dar a consciência de se estar tratando não com meros fatos mas sim com gente em ação. Este último aspecto é, para mim, o mais importante, e aquele que acabou me compelindo a traçar uma biografia pessoal de idéias na forma de ensaios para a televisão. O problema se reduz ao fato de que o conhecimento em geral, e a ciência em particular, não consiste em abstrações, mas em idéias de homens concretos, desde os seus primórdios até seus idiossincráticos modelos hodiernos. Portanto, 13


A Escalada do Homem os conceitos subjacentes ao desvendamento da natureza devem ser mostrados como surgindo muito cedo nas culturas mais simples, a partir do exercício de faculdades básicas e específicas do homem. Além disso, o desenvolvimento da ciência, que vai agregando aqueles conceitos em conjunções cada vez mais complexas, deve ser mostrado como uma produção igualmente humana; as desco­ bertas são efetuadas por homens e não apenas por mentes, estando, dessa forma, impregnadas de individualismos. Se a televisão não for usada, para tornar concretos esses pensamentos, estaríamos desperdiçando-a. A revelação de idéias é, em qualquer circunstância, um empreen­ dimento íntimo e pessoal, e isso nos situa na seara comum à televisão e ao livro impresso. Contrastando com uma conferência ou com uma película cinematográfica, a televisão não se endereça a multi­ dões. Dirige-se a duas ou três pessoas reunidas em uma sala, como numa conversa - uma espécie de monólogo, na maioria das vezes, tal como o livro; conversa, porém, despretensiosa e socrática. Para mim, que estou absorvido nos aspectos filosóficos do conhecimento, é essa a maior vantagem da televisão, que pode tornar-se uma força intelectual tão persuasiva quanto o livro. O livro impresso goza de um grau de liberdade adicional: diferente do discurso falado, ele não está inexoravelmente atado à marcha progressiva do tempo. O leitor pode fazer pausas e refletir, voltar páginas e cotejar argumentos, comparar fatos e, em geral, examinar detalhes das provas apresentadas, coisas que o espectador ou o ouvinte não podem fazer. Assim, aproveitando os benefícios daquela maneira mais calma de ocupar a mente, sempre que pude, passei para o papel aquüo que ia dizendo em primeira mão através do vídeo. O que era dito tinha sempre exigido um grande volume de pesquisas, que revelavam muitas associações e peculiaridades, de modo que seria pena não registrá-las na forma de livro. Minha ten­ dência natural era de fazer mais, incluindo no texto escrito as informações pormenorizadas das fontes e das citações utilizadas; entretanto, se assim procedesse, o livro iria interessar ao estudioso, e não ao público leitor. Ao redigir o texto usado na televisão mantive o estilo coloquial por duas razões: em primeiro lugar, queria preservar a espontanei­ dade dos pensamentos do discurso, algo de que tentei não descurar ao longo de toda a série (a mesma razão me levou a escolher ir a lugares tão novos para mim quanto para o espectador). Em segundo 14 lugar, e mais importante, queria guardar a espontaneidade da


Prefácio exposição. Um argumento falado é informal e heurístico; ele se dirige ao coração do problema, e mostra o que há de novo e crucial; dá as indicações e o caminho para sua eventual solução que, embora simplificadora, não deixa de estar logicamente correta. Esta forma de argumentação filosófica é o alicerce da ciência, e, para mim, nada deveria obscurecê-la. A matéria abarcada nesses ensaios é, na verdade, mais ampla do que o campo coberto pela ciência, e não os teria chamado A Escalada do Homem se não tivesse tido em mente incluir alguns outros degraus de nossa evolução cultural. Minha ambição aqui foi a mesma que norteou meus outros livros, tanto de literatura como de ciência: criaruma füosofia global para o século vinte. Como eles, estes ensaios encerram mais uma filosofia do que uma história, uma filosofia da natureza mais do que da ciência. O contexto deles é uma versão contemporânea daquilo que se costumava chamar Filosofia Natural. Em minha maneira de ver, nossas mentes estão hoje muito mais aptas a conceber uma filosofia natural do que estiveram as mentes humanas nos últimos trezentos anos. Os fundamentos dessa abertura vamos encontrá-los nas descobertas recentes da biologia humana, impressoras de uma nova direção ao pensamento científico - do deslocamento do geral para o individual - inaugurada pela primeira vez desde que o Renascimento abriu as portas ao mundo natural. Sem humanismo não pode haver filosofia, nem mesmo ciência decente. Essa afirmação básica, espero, está manifesta neste livro. Pois, para mim, o entendimento da natureza tem sua finalidade dirigida ao entendimento da natureza humana, e da condição humana enquanto natural. A oportunidade de apresentar uma visão da natureza nestas séries constituiu tanto uma experiência como uma aventura, e estou grato àqueles que a tornaram possível. Minha primeira dívida é com o Salk Institute for Biological Studies, que há longo tempo vem financiando meus estudos sobre a especificidade huma­ na, proporcionando-me um ano sabático para a filmagem dos programas. Sou grato também à British Broadcasting Corporation e suas associadas, e a Aubrey Singer, em particular, que inventou o tema e insistiucomigo durante dois anos até conseguir convencer-me. A relação daqueles que colaboraram nos programas é tão longa que decidi dedicar-lhes uma página à parte, podendo, assim, a^adecer-Ihes em conjunto; foi um prazer tê-los como companherros de trabalho. Contudo, não posso deixar de fazer uma menção 15


A Escalada do Homem àqueles que encabeçam essa lista, Adrian Malone e Dick Gilling, cujas idéias imaginativas transubstanciaram a palavra em carne e sangue. Duas colaboradoras minhas neste trabalho fizeram muito mais do que o ofício exigia - são elas Josephine Gladstone e Sylvia Fitzgerald - ; é uma felicidade poder agradecer-lhes aqui a longa dedicação. Josephine Gladstone encarregou-se de todas as pesquisas exigidas pela série desde 1969 e Sylvia Fitzgerald auxiliou-me no planejamento e na preparação dos scripts em cada um dos estágios sucessivos. Eu não poderia ter tido colegas mais estimulantes. J. B.

L a jo lla , Califórnia A gosto de 1973.

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A ESCALADA DO HOMEM Editor da Série: Adrian Malone Produtor: Richard Gilling Equipe de Produção: Mick Jackson David John Kennard David Paterson Assistentes de Produção: Jane Callander Betty J owitt Lucy Castley Philippa Copp Fotografia: Nat Crosby John Else John McGlashan Som: Dave Brinicombe Mike Billing John Tellick Patrick Jeffery John Gatland Peter Rann Editores do Filme: Roy Fry Paul Carter Jim Latham John Campbell



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1 Milhões de anos de evolução moldaram o grunion de maneira que ele confonna e ajusta perfeitamente seu comportamento ao ritmo das marés.

Dança do desova do primavera do grunion, praias de La folia na costa do Califórnia.

ABAIXO DOS ANJOS O homem é uma criatura singular. Possui um conjunto de dons que o torna único entre os animais: diferentemente destes, não é apenas uma peça na paisagem, mas um agente que a transforma. Este animal ubiqüitário, usando seu corpo e sua mente na investigação da natureza, construiu seu lar em todos os continentes, mas, na reali­ dade, não pertence a nenhum lugar determinado. Conta-se que, em 1769, os espanhóis que, atravessando o conti­ nente, chegaram à costa do Pacífico encontraram, na Califórnia, indígenas que lhes diziam virem os peixes, na lua cheia, dançar na areia das praias. E isso é verdade; uma espécie local de peixes, o grunion (Leurestes Tenuis) deposita seus ovos na areia além da linha da preamar média. As fêmeas se enterram, elas próprias, na areia, ficando apenas suas cabeças para fora, enquanto os machos girando em torno delas vão fertilizando os ovos, à medida que estes vão sendo postos. A lua cheia é importante, porque, assim, os ovos dispõem do tempo necessário para uma incubação tranqüila na areia, até que, de nove a dez dias depois, nova preamar igualmente alta arrasta para o mar os peixi:1.h o s recém-saídos. Qualquer região do mundo está repleta dessas adaptações belas e precisas, através das quais os animais se integram em seus ambientes, como os dentes de duas engrenagens. O ouriço, em seu longo sono, espera pela primavera e, então, ativa seu metabolismo para a exis­ tência desperta. Os beija-flores golpeiam o ar e mergulham seus bicos afilados nas flores pendentes. Borboletas mimetizam folhas, e mesmo criaturas nocivas, a fim de ludibriar seus predadores. Em seu vai-e-vem perseverante e monótono a toupeira escava túneis como se fosse um dispositivo mecânico. Assim, milhões de anos de evolução moldaram o grunion de maneira que ele conforma e ajusta perfeitamente seu comporta­ mento ao ritmo das marés. Mas a natureza - ou seja, a evolução biológica - não moldou o homem de modo que ele se ajuste a nenhum ambiente em particular. Pelo contrário, comparado ao grunion, ele vem ao mundo trazendo um equipamento de sobre­ vivência muito rudimentar; no entanto - e esse é o paradoxo da condição humana - essa desproteção propicia-lhe a adaptação a todos os ambientes. Entre a multidão de animais que ao nosso redor brinca, voa, escava e nada, o homem é o único que não está encer­ rado em seu habitat. Sua imaginação, sua razão, sua sutileza 19


A Escalada do Homem emocional e robustez, representam condições fundamentais que lhe permitem transformar o meio antes de o aceitar como tal. E a série de invenções através das quais, de tempos em tempos, o homem reconstituiu seu habitat, se configura em um tipo diferente de evolução —não mais biológica, mas,sim, cultural. A essa esplêndida seqüência de picos culturais eu chamo A Escalada do Homem. A palavra escalada é aqui usada com um significado preciso. O homem se diferencia dentre os outros animais por seus dons de imaginação. Seus planos, invenções e descobertas surgem de uma combinação de diferentes talentos, e suas descobertas se tornam mais elaboradas e penetrantes à medida que aprende a combiná-las em formas mais complexas e intrincadas. Dessa maneira, descobertas tecnológicas, científicas e artísticas de diferentes épocas e de diferentes culturas exprimem, no seu desenrolar, conjunções cada vez mais ricas e mais íntimas de faculdades humanas, tecendo a treliça ascendente de seus dons. É claro que nos sentimos tentados —o cientista mais fortemente — a esperar que as conquistas mais originais da mente sejam as mais recentes. Na verdade, muitos trabalhos modernos nos causam orgulho. Pensem na descoberta do código genético, na espiral do ADN ou nos trabalhos avançados sobre faculdades especiais do cérebro humano. Pensem na intuição filosófica que examinou a Teoria da Relatividade ou do microcomportamento da matéria no interior do átomo. Contudo, o admirarmos nossos sucessos somente, como se eles não tivessem um passado (e um futuro assegurado), redundaria em uma caricatura do conhecimento. Isto porque as conquistas huma­ 2 nas, e as científicas em particular, não são um museu de obras Cada época exibe acabadas. Representam, sim, um progresso no qual os primeiros um ponto de inflexão, uma nova experimentos dos alquimistas e a requintada aritmética que os maneira ver e astrônomos Maias da América Central inventaram sozinhos, inde­ arirmar adecoerência do mundo. pendentemente do Velho Mundo, preenchem um papel formativo. Exercício Os trabalhos em pedra de Machu Picchu nos Andes e a geometria renascentista de como desenhar um do Alhambra na Espanha mourisca se nos apresentam como exce­ cálice em lentes exemplares de arte decorativa. Entretanto, se não forçarmos perspectiva ea nossa apreciação um pouco além desse ponto, deixaremos de rotação da espiral ADN, a base entender a originalidade das duas culturas que deram origem a domolecular da esses trabalhos. Em seus respectivos tempos, representam elabora­ hereditariedade, mostrada através de ções tão espetaculares e importantes para seus povos quanto a um terminal de 20 arquitetura do ADN para nós. computador.



3

As savanas secas tomararn-se uma armadilha tanto no tempo como no espaço.

Impala. Manada de Topi.

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A Escalada do Homem Cada época exibe um ponto de inflexão, uma nova maneira de ver e afirmar a coerência do mundo. Isto se estampa na imutabili­ dade das estátuas da Ilha da Páscoa e dos relógios medievais da Europa que, por um momento, pareceram dizer a última palavra sobre os céus, e para sempre. Quando uma cultura é transformada por uma nova conceituação, ou da natureza ou do homem, ela tenta eternizar a visão alcançada naquele momento. Mas, retrospectiva­ 4 é uma área mente, vemos que nossa atenção é igualmente atraída pelas conti- Esta possível para a nuidades - pensamentos que passam e ressurgem de uma civilização origem do homem. de para outra. Para a química moderna, nada foi mais surpreendente Extensão camada nos do que a obtenção de ligas metálicas com propriedades novas; essa barnancos do leito Omo: o nivel técnica foi descoberta depois do nascimento de Cristo, na América doinferior data do Sul, e, muito antes, na Ásia. Conceitualmente, tanto a quebra de quatro milhões como a fissão do átomo derivam de uma descoberta levada a cabo de anos. Restos hominideos na pré-história: pedras ou qualquer matéria apresentam planos de deprimitivos clivagem que permitem a obtenção de diferentes peças e rearranjos encontradossãoentre que em novas combinações. Invenções biológicas foram conseguidas camadas datam de muito igualmente cedo pelo homem: a agricultura - a domesticação do mais de dois trigo selvagem, por exemplo - e a idéia improvável de amansar e, milhões de anos. então, usar o cavalo como animal de sela. Ao seguir os pontos de inflexão e as continuidades da cultura, obedecerei a uma ordem geral, que não é estritamente cronológica, porque o meu interesse é a história da mente humana, revelada pelo “desdobramento” dos seus diferentes talentos. Idéias serão relacio­ nadas, as científicas particularmente, às suas origens, nos dons de que a natureza proveu o homem. Minha apresentação reflete um fascínio de longos anos pela capacidade das idéias do homem exprimirem aquilo que há de essencialmente humano em sua natureza. Assim, estes programas ou ensaios se constituem em um passeio através da história intelectual, uma vista pessoal aos pontos mais altos do aprimoramento humano. O homem ascende através da descoberta da plenitude de seus próprios dons (seus talentos ou faculdades), e nessa trajetória suas criações são monumentos aos estágios do seu entendimento da natureza e do eu —monuments ofanageing intelect, nas palavras do poeta W. B. Yeats. -

por onde se deveria começar? Pela Criação — pela criação do próprio homem. Charles Darwin abriu o caminho, em 1859, com A Origem das Espécies, que foi seguida, em 1871, por A Descen­ 24 dência do Homem. Atualmente tem-se como quase certo a origem

—t


Abaixo dos Anjos do homem na África, perto do equador. Sua evolução deve ter-se iniciado nas savanas que se estendem do norte do Quênia ao sudoeste da Etiópia, nas proximidades do lago Rudolf. Este lago ocupa uma longa faixa na direção norte-sul, paralela ao Great Rift Valley, rodeado, há mais de quatro milhões de anos, por uma espessa camada de sedimento, depositado na bacia do que outrora havia sido um lago muito maior. A maior parte de suas águas vêm do serpenteante e pachorrento Orno. Eis aqui uma região possível para o aparecimento do homem: o vale do rio Orno, na Etiópia, nos arredores do lago Rudolf. As histórias antigas costumavam localizar a criação do homem em uma idade de ouro, tendo como fundo um cenário maravilhoso e legendário. Segundo o que diz o Gênese, eu estaria aqui no Jardim do Éden. E é claro que isto não é o Jardim do Éden. Entretanto, é aqui o umbigo do mundo, o berço do homem, aqui no Rift Valley oriental africano, junto ao equador. O terreno acidentado da bacia do rio Orno, a erosão, o delta infértil, registram o passado histórico do homem. Ora, se isto algum dia foi o Jardim do Éden, há milhões de anos q ue secou.


A Escalada do Homem Escolhi este lugar por sua estrutura excepcional. Neste vale Os5 animais nos foram-se acumulando, nos últimos quatro milhões de anos, camada surpreendem pelo após camada, lava entremeada com enormes placas de piçarra e fato de terem tão pouco. lama. O profundo depósito foi formando, em épocas diferentes, um mudado Chifres de um estrato após o outro, visivelmente separados, deacordo com a idade: nyaia moderno e de fóssil da bacia quatro milhões de anos, três milhões de anos, mais de dois mühões doum Omo. Os de anos, um pouco menos de dois milhões de anos. E, então, o chifres fósseis datam de mais de Rift Valley os ergueu por uma ponta de modo que agora formam dois mühões um mapa do tempo, estendendo-se na distância e no passado. Esses de anos. registros do tempo - as camadas - que normalmente jazem enter­ radas, erguem-se formando os penhascos das margens do Orno, dispostos como varetas de um leque. Esses penhascos são os estratos em pé: no primeiro plano, o fundo, com seus quatro milhões de anos; logo em seguida, uma camada vizinha, com mais de três milhões de anos. Os restos de uma criatura semelhante ao homem aparecem um pouco além, acompanhados por restosde animais que lhe foram contemporâneos. Os fósseis animais nos intrigam, uma vez que constatamos terem eles mudado tão pouco. Quando, nos escombros de dois milhões de anos de idade, encontramos um fóssil de uma criatura destinada a tornar-se o homem, surpreendemo-nos com as diferenças marcan­ tes entre esse esqueleto e o nosso - no desenvolvimento do crânio, por exemplo. Assim, é natural que esperássemos terem os animais da savana mudado igualmente. Mas os fósseis africanos mostram que isso não é verdade. Considere o antílope Topi. O ancestral do homem que caçou o ancestral dele reconheceria o Topi moderno imediatamente; o mesmo não ocorreria em relação ao seu próprio descendente, fosse ele preto ou branco. Contudo, não foi a caça por si só (ou qualquer outra atividade isolada) a causa da transformação do homem. Entre os animais, o predador mudou tão pouco quanto a presa.. O gato ainda é forte na perseguição e o pardal ainda é ligeiro no vôo; ambos perpetuaram as mesmas relações entre suas espécies. A evolução humana começou quando o clima africano se tornou seco: os lagos desapareceram, a floresta se atrofiou na forma de savana. Evidentemente, foi bom que o ancestral do homem não estivesse bem-adaptado a essas condições climáticas. Por quê? Porque o meio cobra um preço para a sobrevivência do mais apto; ele o aprisiona. Animais que se adap­ taram à savana seca, como foi o caso da zebra, ficaram aí confinados 26 no tempo e no espaço; praticamente não evoluíram. O animal mais



A Escalada do Homem graciosamente adaptado de todos esses é certamente a gazela. de Grant; contudo, seus lindos saltos não conseguiram tirá-la da savana. Foi numa paisagem africana árida como a do Omo que o homem firmou os pés na terra pela primeira vez. Esta pode parecer uma maneira um tanto quanto prosaica de iniciar a Escalada do Homem;

Como foi realmente a vida daquela criança de Taung, podemos apenas imaginar; entretanto, para mim, ela se constitui no fato primordial de onde toda a aventura humana se desenvolveu. Crânio da Criança de Taung.

entretanto, ela é crucial. Há dois milhões de anos o primeiro ances­ tral do homem firmou-se sobre um par de pés que é quase idêntico ao do homem moderno. O fato é que, ao firmar os pés na terra e andar na posição ereta, o homem assumiu um compromisso com um novo tipo de integração de vida, e daí, também, de seus membros. Concentraremos nossa atenção na cabeça, é claro, uma vez que, de todos os órgãos humanos, ela sofreu as transformações mais importantes. Ao contrário das partes moles, a cabeça deixa um ótimo fóssil, que, embora não tão informativo quanto gostaríamos que fosse a respeito do cérebro, permite uma boa avaliação do seu tamanho. Nos últimos anos foram encontrados, no sul da África, fósseis de crânios cujo estudo permitiu determinar a estrutura característica da cabeça, quando ela se tornou homínida. A figura 6 mostra um espécime de dois milhões de anos. É um crânio histó28 rico, encontrado ao sul do equador, em uma localidade chamada

7

O ancestral do homem tinha o polegar curto e, portanto, era incapaz de atos manipulatórios delicados.

Espécimes de ossos de um dedo e do polegar de um Australopithecus, encontrados nas camadas inferiores do leito do Olduvai. superpostos sobre os ossos da nião de um homem moderno .


Abaixo dos Anjos Taung, e, portanto, não em Orno, pelo anatomista Raymond Dart. Trata-se de uma criança entre cinco e seis anos de idade e, como se pode ver, embora a face esteja completa, parte do crânio, infeliz­ mente, está faltando. Como primeiro achado de seu tipo, em 1924, ele se constituiu em um quebra-cabeça, aceito com grande reserva, a despeito do trabalho pioneiro de Dart. Entretanto, Dart logo reconheceu duas características. Uma é que a orientação do Foramen magnum (isto é, a abertura no crânio que dá passagem à medula espinal) indicava tratar-se de uma criança capaz de manter sua cabeça na posição ereta. E essa é uma caracte­ rística humana, pois, nos macacos e nos antropóides, a cabeça pende para a frente em relação à espinha, não se mantendo verti­ calmente. A outra, é dada pelos dentes. Os dentes são sempre bons informantes. Neste caso são pequenos, quadrados - os dentes-de-leite de uma criança - e, portanto, muito diferentes dos ameaça­ dores caninos dos antropóides. Isto significa que essa criatura usava muito mais as mãos do que a boca para partir seus alimentos. Os dentes também revelam especialização para mastigar carne, carne crua; assim, esse manipulador certamente também era capaz de fabricar ferramentas, tais como pontas de lança e facas de pedra para caçar e dividir a carne. Dart deu-lhe o nome de Australopithecus. Esse nome não me agrada; significa Antropóide do Sul, simplesmente, mas é impreci­ so, na medida em que designa uma criatura africana recém-liberta de sua condição de macaco antropóide. De minha parte, suspeito de um certo bairrismo na escolha de Dart; ele nasceu na Austrália. Transcorridos dez anos vários outros crânios foram encontrados — crânios de adultos, agora - e somente em 1950 se esclareceu substancialmente a história do Australopithecus. Começou na África do Sul, moveu-se para o norte, na Garganta de Olduvai da Tanzânia, e, mais recentemente, os mais importantes achados de fósseis e artefatos se deram na bacia do lago Rudolf. Essa história representou uma das coqueluches científicas do século. Em todo o seu desenrolar é tão excitante quanto as descobertas da Física antes de 1940, e as da Biologia desde 1950; é, também, igualmente compensadora, pois esclareceu as origens de nossa natureza humana. De minha parte, estou pessoalmente ligado a essa criança Australopithecus. Em 1950, quando ainda pairavam sérias dúvidas sobre sua humanidade, foram-me solicitados alguns cálculos mate­ máticos. Minha tarefa seria a de tentar encontrar um índice que representasse a correlação entre tamanho e forma dos dentes da 29


A Escalada do Homem criança de Taung, de tal forma a tornar possível diferenciá-los dos dentes dos antropóides. Eu jamais havia tocado em um crânio fóssil e, muito menos, era especialista em dentes. Mas o mister se cumpriu; e, neste momento, revivo o impacto da emoção em mim suscitada por esse trabalho. Tendo dedicado toda uma vida à elaboração de cálculos abstratos sobre as formas das coisas, de repente, com mais de quarenta anos de idade, surpreendi meu conhecimento como se fosse um feixe de luz se projetando mühões de anos para trás, e iluminando a história do homem. Foi extra­ ordinário! A partir daquele momento entreguei-me totalmente ao pensa­ mento de como o homem chegou ao que é: os trabalhos científicos que realizei, a literatura escrita desde então, e esta série de progra­ mas tiveram todos a mesma intenção. Quais foram os caminhos percorridos pelos hominídeos até o homem: destro, observador, racional, apaixonado, capaz de trabalhar em sua mente os símbolos da linguagem e da matemática, criar a arte e a geometria, a poesia e a ciência? Como, em sua escalada, partindo do animal que era, acabou por atingir esse alto grau de indagação sobre a natureza, essa atração pelo conhecimento, do qual estes ensaios são exem­ plos? Como foi realmente a vida daquela criança de Taung, pode­ mos apenas imaginar; entretanto, para mim, ela se constitui no fato primordial a partir de onde toda a aventura humana se desen­ volveu. A criança, o ser humano, é um mosaico de animal e anjo. Por exemplo, ainda no útero, um reflexo é a causa do pontapé do feto - toda mãe sabe disso - , o que é comum a todos os vertebra­ dos. O reflexo é inato, mas se constitui na condição necessária para


Abaixo dos Anjos o desenvolvimento de atos mais elaborados, os quais têm de ser pra­ ticados para se tornarem automáticos. Aos onze meses aparece uma urgência para que o bebê engatinhe. Esse ato suscita outros movimentos e, assim, se formam e se consolidam novas vias neurais no cérebro (especialmente no cerebelo, onde são integrados ação muscular e equilíbrio), formando um repertório de movimentos sutis e complexos, que se tornam uma segunda natureza para ele. Assim, o cerebelo assume o comando. Agora, tudo o que a mente consciente tem de fazer é dar uma ordem. E, aos quatorze meses, a ordem é “Ande!”. A criança assumiu a condição humana de andar ereta. Cada ação humana retém pelo menos parte de sua origem animal; seríamos criaturas frias e solitárias se tivéssemos sido separados dessa corrente sangüínea de vida. Contudo, é justo que se tente distingui-las: quais as características físicas que o homem deve ter em comum com os animais, e quais as características que o tornam diferente? Tome-se qualquer exemplo, quantomais explícito melhor — digamos, a ação simples de um atleta ao correr e saltar. O corre­ dor ouve o tiro e sua resposta de partida é a mesma da de fuga de uma gazela. A freqüência cardíaca aumenta; ao atingir a velocidade máxima o coração estará bombeando cinco vezes mais sangue do que normalmente, e noventa por cento dele se destina aos músculos. Agora ele precisa de noventa litros de ar por minuto, a fim de oxi­ genar seu sangue na medida das necessidades dos músculos.


A Escalada do Homem O aumento explosivo da velocidade do sangue e da tomada de ar pode ser visualizado na forma de calor, através de fotografias com filme sensível ao infravermelho. (As bandas azuis ou claras são as mais quentes e as vermelhas ou escuras as menos quentes.) O rubor que pode ser visto, e que é analisado pela câmera de infravermelho, é um subproduto sinalizador do limite da ação muscular. A ação química principal consiste na obtenção de energia por parte dos músculos através da queima de açúcares; mas, três-quartos dessa energia é perdida sob a forma de calor. Há, ainda, um outro limite, tanto para o corredor como para a gazela, o qual é mais estrito. A uma tal velocidade, a queima química nos músculos é muito rápida para ser completa. Os subprodutos dessa queima incompleta, o ácido

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A criança assumiu a condição humana de andar ereta.

Criança de catorze meses de idade começando a andar.



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Abaixo dos Anjos lático principalmente, acabam invadindo a corrente sangüínea. Essa é a causa da fadiga e do bloqueio da ação muscular, removíveis apenas pela ação do oxigênio. Até aqui nada há que distinga o atleta da gazela - tudo isso, de uma forma ou de outra, compõe o metabolismo normal de um animal em fuga. Mas, uma diferença é cardinal: o corredor não está fugindo. O tiro desencadeador de sua corrida veio do revólver do juiz e ele sente, deliberadamente, não medo, mas, sim, exaltação. O corredor age como uma criança brincando; suas ações são uma aventura em liberdade, e o único propósito de ter chegado a esse estado ofegante é o de explorar o limite de sua própria força.

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Não sendo um exercício d ^^d o ao presente, as ações do atleta se apresentam como que destituídas de objetividade. Mas, acontece que sua mente se fixa no futuro, e seu objetivo é aprimorar sua habüidade; assim, em sua imaginação, da um salto no futuro.

Atleta no clír^K da ação de saltar. Fotografia com infravermelho da cabeça e do torso de um atleta fatigado.


A Escalada do Homem Certamente há diferenças físicas entre o homem e os outros animais, e mesmo entre o homem e os macacos antropóides. N° salto-com-vara o atleta a segura numa pega que nenhum antropóide pode igualar. No entanto, essa diferença é secundária comparada àquela representada pelo fato do atleta ser um adulto cujo com­ portamento não é determinado pelo seu ambiente imediato, como seriam as ações de outros animais. Não sendo um exercício dirigido ao presente, as ações do atleta se apresentam como que totalmente destituídas de objetividade. Mas acontece que sua mente se fixa no futuro, e seu objetivo é aprimorar sua habilidade; assim, em sua imaginação, dá um salto no futuro. As posturas desse atleta representam uma cápsula de habilidades humanas: a pega da mão, o arqueamento do pé, os músculos do ombro e do quadril - a própria vara, na qual energia é armazenada e liberada, à semelhança de um arco disparando uma flecha. O ponto culminante desse complexo é represe'l1 tado pelo planejamen­ to, isto é, a habilidade de escolher um objetivo futuro e manter-a atenção fixa no mesmo, rigorosamente. O desenvolvimento do atleta revela um planejamento continuado; a invenção da vara, em um extremo, e a concentração mental de antes do salto, no outro, atestam sua humanidade. A cabeça representa mais do que uma imagem simbólica do homem; é a sede do planejamento e, assim, a mola propulsora da evolução cultural. Portanto, ao me propor a traçar a escalada do homem a partir de suas origens animalescas, minha intenção tem de se concentrar na evolução da cabeça e do crânio. Infelizmente, dos cinqüenta milhões de anos ou mais de que vamos tratar, apenas seis ou sete crânios podem ser tomados como marcos dessa evolução. Escondidos nos registros fósseis, muitas outras etapas intermediárias devem estar à espera de quem as encontre. Até que isso aconteça temos de nos contentar com uma reconstrução conjectural do passado, de modo a preencher os vazios entre os fósseis conhecidos. O computador se apresenta como o melhor instrumento no sentido de calcular transições geométricas de crânio para crânio; para determinar continuidades basta apresentar os crânios ao computador que os ordena e nos mostra, na tela, essa seqüência. C°mecemos há cinqüenta milhões de anos atrás com um pequeno arborícola, um lemuróide; esse nome, para os romanos, designava 36 o espírito dos mortos. Este fóssil, encontrado em depósitos

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A cabeça é a mola que im­ pulsiona a evolução cultural.

Gráfico dos estágios da evolução da cabeça, obtido através de computador.


Abaixo dos Anjos calcários dos arredores de Paris, pertence à família Adapis dos lemuróides. Virando-se o crânio de cabeça para baixo pode-se ver a localização bem posterior do Foramen magnum — nesta criatura, portanto, a cabeça pende da espinha, em vez de ser sustentada por ela. É bastante provável que sua alimentação incluísse tanto frutas como insetos; ele exibe mais dentes do que os trinta e dois da maioria dos primatas atuais. O fóssil lemuróide apresenta marcas essenciais dos primatas, isto é, a família dos macacos, dos antropóides e do homem. A análise de peças do esqueleto nos permite saber que ele tem unhas, e não garras. O polegar se opõe, pelo menos em parte, à palma da mão. E, em seu crânio, duas marcas revelam os primórdios do homem. O focinho é curto; os olhos são grandes e bem separados. Isso indica que a seleção favoreceu a visão em detrimento da olfação. As órbitas ainda são um pouco lateralizadas, mas, compa­ rados aos olhos de outros insetívoras, os do lemuróide começaram a se mover para o centro, aumentando o campo de visão estereos­ cópica. Notam-se, também, pequenos sinais de desenvolvimento evolutivo no sentido da estrutura requintada da face humana: o homem começou a partir daí. Em números redondos, isso aconteceu há cinqüenta milhões de ã.nos. Nos vinte milhões de anos seguintes, na linha que leva aos macacos, surge um ramo colateral na direção dos antropóides e do homem. Há trinta milhões de anos a próxima criatura na linha principal é representada por um crânio fóssil encontrado no Faium no Egito e denominado Aegyptopithecus. Exibe um focinho mais curto do que o do lemuróide, seus dentes são mais próximos dos dos antropóides e é mais corpulento - contudo, ainda vive em árvores. Entretanto, daqui para a frente os ancestrais dos antro­ póides e do homem vão realizar no solo pelo menos uma parte de suas atividades. Dez milhões de anos depois, ou seja, há vinte milhões de anos, encontramos no leste da África, na Europa e na Ásia o que já se poderia chamar macacos antropóides. Um achado clássico de Louis Leakey, dignificado pelo nome de Procônsul, aponta para a existência de pelo menos mais um gênero bastante disseminado, o Dryopithecus. (O nome Procônsul é um gracejo antropológico; foi dado, em 1931, com a intenção de sugerir tratar-se de um ancestral de um famoso chimpanzé do zoológico de Londres, cujo apelido era Cônsul.) O cérebro é bem maior e os olhos se colocam em posição para visão estereoscópica completa. Esses desenvolvimentos 37


A Escalada do Homem mostram o sentido da transformação da linha principal antr°póide-homem. Mas, presumivelmente, essa linha já havia dado outra colateral, e, no tocante à evolução do homem, aquela criatura ocupa essa colateral - a linha dos antropóides. Os dentes revelam tratar-se de um antropóide, uma vez que grandes caninos cerram a mandíbula de uma forma não-humana. Diferenças nos dentes sinalizam a separação da linha em direção ao homem. O prenuncio nos é dado pelo Ramapithecus, encontrado no Quênia e na índia. Esta criatura tem quatorze milhões de anos, e dela possuímos apenas uns fragmentos da mandíbula. Mas, está claro serem os dentes alinhados e mais humanos. Evidentemente estamos próximos de uma bifurcação da árvore evolucionária e isso é atestado pela ausência dos grandes caninos dos antropóides e pela menor proeminência da face; um tanto quanto ousadamente, os antropologistas colocam o Ramapithecus entre os hominídeos. Há, agora, uma descontinuidade dos registros fósseis de dez milhões de anos. Inevitavelmente, essa falha esconde a parte mais interessan­ te da história, qual seja, a da separação definitiva da linha homínida daquela dos antropóides modernos. Entretanto, registros inequívo­ cos ainda não foram encontrados a esse respeito. Assim, há cinco milhões de anos, encontraríamos parentes próximos do homem. Um primo do homem, em uma linha colateral à nossa, é o vege­ tariano Australopithecus. O Australopithecus robustus é semelhante ao homem e sua linhagem termina aí; simplesmente extinguiu-se. Novamente são os dentes o testemunho deseus hábitos alimentares, e a evidência é bastante direta: os dentes apresentam ranhuras devido à ação dos abrasivos mastigados juntamente com as raízes que comia. Na linha do homem, seu primo é menos corpulento —o que é evidente pelas mandíbulas — e, provavelmente, carnívoro. Nada mais próximo dele pode ser apresentado como sendo, na antiga denominação, o “elo perdido”. O Australopithecus africanus, representado por uma fêmea adulta, acha-se entre um numero de crânios fósseis encontrados em Steikfontain no Transvaal, e em outros locais da África. A criança de Taung, com a qual começ amos, teria, se tivesse crescido, se tornando um adulto como essa fêmea: completamente ereta, andando, e com um cérebro de certa forma maior, pesando entre quinhentos e setecentos e cinqüenta gramas. 38 Isso representa mais ou menos o peso do de um antropóide grande

11 O uso continuado

da mesma ferramenta por tão longo tempo dá uma mostra da força dessa invenção. Qualquer animal deixa sinais do que foi; mas só o homem deixa as marcas de sua inventividade.



A Escalada do Homem atual; mas essa criatura era baixa, medindo por volta de um metro e vinte. Na realidade, achados recentes de Richard Leakey sugerem que, há dois milhões de anos, o cérebro seria até mesmo maior. Com seus grandes cérebros, os ancestrais do homem chegaram a duas importantes invenções, das quais uma deixou evidências observáveis, e a outra, pelo menos, dedutíveis. Vejamos as obser­ váveis em primeiro lugar. Há dois milhões de anos o Australopithecus fabricou ferramentas rudimentares, conseguindo lâminas cortantes mediante a aplicação de simples golpes entre duas pedras. No milhão- de anos seguinte o homem não inovou essa técnica. A invenção fundamental havia sido feita: o ato proposital de preparar e guardar uma pedra para utilização futura. Através desse passe de habilidade e antecipação, ato simbólico da desco­ berta do futuro, ele cortou as amarras com as quais o ambiente ata todas as outras criaturas. O uso continuado da mesma ferramenta por tão longo tempo dá uma mostra da sua força. Era segura mantendo a parte romba contra a palma das mãos (essa pega era firme porque, embora esses ancestrais do homem apresentassem polegares curtos, estes estavam em completa oposição aos outros detlos). Tratava-se, certamente, de ferramenta de comedor de carne, destinada a golpear e cortar. A outra invenção é social, e chegamos a ela por meio de uma aritmética mais sutil. Os crânios e esqueletos dos Australopithecus, encontrados agora em número relativamente grande, mostram que a maioria deles morreu antes de completar vinte anos. Isso significa que devia haver muitos órfãos. Uma vez que o Australopithecus devia ter uma infância prolongada, como é o caso de todos os primatas, aos dez anos, digamos, os sobreviventes eram todos crianças. Dessa maneira, alguma forma de organização social deveria se encarregar dos cuidados com as crianças, sua adoção (se fosse o caso), sua integração na comunidade e, de uma forma geral, sua educação. Eis aí um grande passo na evolução cultural. Em que ponto teriam os precursores do homem se tornado verdadeiramente humanos? Essa questão é delicada posto que tais mudanças não se dão do dia para a noite. Seria tolice tentar fazê-las parecer mais bem-demarcadas do que o foram na realidade - fixar uma transição abrupta ou argumentar em torno de nomes. Nós ainda não éramos homens há dois milhões de anos. Mas, há um milhão de anos, já o éramos, e aqui aparece o primeiro represen40 tante do Homo - o Homo erectus. Este se espalhou para muito


Abaixo dos Anjos além da África. O achado clássico do Homo erectus se deu na China. Trata-se do homem de Pequim, o qual, com seus quatrocentos mil anos de história, é a prmieira criatura a fazer uso do fogo. As transformações sofridas pelo Homo erectus até chegar ao homem atual foram substanciais nesse milhão de anos, mas, com­ paradas às anteriores, podem ser consideradas graduais. O sucessor mais conhecido foi encontrado na Alemanha; outro fóssil clássico é representado pelo homem de Neanderthal, portador de um cérebro com mil e trezentos gramas, tão grande quanto o do homem moderno. Provavelmente algumas linhagens de homens de Nean­ derthal se extinguiram; mas, aparentemente, uma linhagem do Oriente Médio foi a precursora direta do Homo sapiens. Em um determinado momento, há cerca de um milhão de anos, o homem conseguiu realizar uma mudança qualitativa em suas ferramentas — presumivelmente isso indica um refinamento bioló­ gico da mão nesse período e, principalmente, das estruturas nervosas que controlam o uso da mão. A criatura mais requintada (biológica e culturalmente) dos últimos quinhentos mil anos era já capaz de ir muito além do simples copiar o ato do lascador de pedra anterior ao Australopithecus. Suas ferramentas requereram uma manipula­ ção muito mais refinada, tanto no fabrico como no uso. O domínio de técnicas refinadas como essas e o uso do fogo não foram fenômenos isolados. Ao contrário, devemos ter sempre em mente que o conteúdo real da evolução (tanto biológica como cultural) consiste na elaboração de novos padrões de comporta­ mento. Na ausência de fósseis comportamentais, não nos resta senão buscar correlatos, em ossos e dentes. Mesmo para as criaturas às quais pertencem, ossos e dentes não são muito interessantes em si mesmos; representam equipamentos para a ação — eles nos interessam na medida em que, como equipamentos, revelam as ações para as quais foram destinados, e alterações em suas estrutu­ ras atestam mudanças comportamentais e de utilizaçã°. Assim, podemos inferir que as transformações do homem durante sua evolução não se deram aos blocos. A articulação da mandíbula de um primata no crânio de outro não é a forma de reconstruir a estrutura física do homem —essa concepção é muito ingênua para adquirir foro de verdade, e só pode acabar como no blefe do crânio de Piltdown. Qualquer ani mal, e o homem especial­ mente, é uma estrutura altamente integrada, e mudanças comportamentais alteram todas as partes harmoniosamente. A evolução do cérebro, da mão, dos olhos, dos pés, dos dentes, enfim, de toda 41


A Escalada do Homem a figura humana, compôs um mosaico de dons especiais —e, em um certo sentido, cada um destes capítulos representa ensaios sobre alguns desses dons especiais do homem. Eles fizeram do homem o que ele é, mais rápido na evolução e mais plástico no comportamento do que qualquer outro animal. Diferentemente de outras criaturas (alguns insetos, por exemplo) que permaneceram imutáveis por cinco, dez ou mesmo cinqüenta milhões de anos, nessa escala de tempo ele mudou a ponto de não mais se reconhecer nos seus ancestrais. O homem não é a mais imponente das criaturas. Mesmo antes dos mamíferos, os dinossauros eram colossais. Mas, dele é o que nenhum outro animal possui: uma tal conjunção de faculdades que, ela apenas, em mais de três bilhões de anos de vida, se constituiu no substrato para o aparecimento da criatividade. Qualquer animal deixa sinais do que foi; mas só o homem deixa as marcas de sua inventividade. Ao longo do quase inimaginável espaço de tempo de cinqüenta milhões de anos, variações nos hábitos alimentares são importantes para uma espécie em transformação. Nos primeiros estágios da linha que levou ao homem, encontramos criaturas de olhos ágeis e dedos delicados, comedores de frutas e insetos, que se assemelham aos lemuróides. Antropóides e hominídeos primitivos, do Aegyptopithecus e Procônsul ao pesado Australopithecus, são tidos como basicamente vegetarianos. Mas o Australopithecus ágil quebrou esse hábito milenar. No Homo erectus, no homem de Neanderthal e no Homo sapiens persite a dieta onívora. Do ancestral e ágil Australopithecus em diante, a família do homem passou a comer carne: pequenos ani­ mais de início, e grandes animais posteriormente. A carne apresenta uma maior concentração de proteínas do que os vegetais, e sua ingestão diminui a dois-terços tanto a quantidade como o tempo gasto em alimentação. As conseqüências para a evolução do homem foram enormes. Ele passou a dispor de mais tempo livre, e assim a poder dedicá-lo ao desenvolvimento de formas mais indiretas de obtenção de fontes de alimentos (grandes animais, por exemplo), que a fome e a força bruta combinadas não haviam realizado. Evidentemente, tal fato colaborou no aparecimento (por seleção natural) da tendência de todos os primatas interporem um intervalo de tempo aos processos cerebrais que medeiam estímulo e resposta, até que isso se consolidasse na habilidade estritamente 42 humana de pospor a satisfação de uma necessidade.


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A caça é uma atividade comunal, na qual o abate representa o clímax, mas apenas isto.

Gnipo de índios wayana caçadores do Amazonas durante uma refeição coletiva antes da caça.



A b a ix o dos A n |o s

S n tr e ta n t o , o c fe ito m a rc a n te de u m a e s tra te g ia in d ire ta d o a p e r fe lç o a m e nt o d a o b te n ç ã o de c o m id a é o d e a tiv a r a in te ra ­ ção so ial e a c o m u n ic a ç ã o . U m a c ria tu ra le n ta c o m o o h o m e m p o d e d ef ro n ta r, p e rse g u ir e e n c u rra la r u m an im al d e g ran d e p o rte das s a v a n a s a d a p ta d o à fu g a, s o m e n te q u a n d o tra b a lh a em c o o ­ p e ra ç ã o c o m o u tro s . A caça re q u e r p la n e ja m e n to c o n s c ie n te e c o m u n ic a ç â o p o r m e io de lin g u a g e m , assim c o m o o uso de ar ­ m a esp eciais. N a rea lid a d e , a lin g u a g e m , n a fo rm a em q u e a u tillz a m o s , g u a rd a s e m e lh a n ç a c o m as c a ra c te rís tic a s d e u m p la n o d e c a ç a d a , n a q u a l (d ife re n te m e n te d o s a n im a is), n o s in s tru ím o s m u tu a m e n te a tra v é s de s e n te n ç a s c o n tru íd a s p e lo in te rc â m b io d e u n id a d e s m ó v eis. A c a ç a é u m a a tiv id a d e c o m u n a l, n a q u al o a b a te re p re s e n ta o c lím a x , m as a p e n a s isto .

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As criatura mais primilivas na sequência que levou ao homem eram comedores de insetos ou frutas, de olhos ágeis e dedo delicados como os lemuróides.

Lemuróide moderno de Madagascar e esqueleto de um gólago da África Ocidental, parente próximo do lemuróide. (Note-se a estrutura da mão e das unhas.;

A caç a n ã o p o d e p r o v e r u m a p o p u la ç ã o em c re s c im e n to em u m lo c al c irc u n s c rito ; a d e n s id a d e d e m o g rá fic a p o ssív el p a ra a so ­ b re v iv ê n c ia n as sav an as n ã o ia além d e d u as p esso a s p o r d o is e m e io q u ilô m e tr o s q u a d ra d o s . A essa d e n s id a d e , a su p e rfíc ie t o ­ tal d a te r r a seria s u fic ie n te ap en as p a ra a lim e n ta r a p o p u la ç ã o a tu a l d a C a lifó rn ia , d e c e rc a d e v in te m ilh õ e s, m as n ã o a p o p u ­ lação d a G rã -B re ta n h a . P a ra os c a ç a d o re s, a e sc o lh a e ra im p la c á ­ vel: o u a fo m e o u o n o m a d is m o , A ssim , eles c o b rira m d istâ n c ia s p ro d ig io sa s. H á u m m ilh ã o de a n o s e sta v a m n o n o rte d a Á frica. H á se te c e n to s m il an o s o u m es­ m o a n te s , a tin g ira m Ja v a . P o r v o lta de q u a tr o c e n to s m il a n o s a trá s h a v ia m -se e p a lh a d o d e tal fo rm a a a lc a n ç a r a C h in a , ao n o r te , e a E u ro p a , a o este. E ssa in a c re d itá v e l e x p lo sã o m ig ra tó ­ ria d is p e rs o u a m p la m e n te a esp écie h u m a n a , a d e s p e ito d o fa to d e la c o n ta r n o s seu s p rim ó rd io s c o m um n ú m e ro p e q u e n o de in d iv íd u o s — um m ilh ã o , ta lv e z . A in d a m ais te m e rá ria fo i a m ig ra ç ã o p a ra o N o r te ju s ta m e n te q u a n d o a re g iã o e ta v a se to r n a n d o g elad a. N e ssa e ra o g elo c ° m o q u e b r o ta v a d a te rra , O c lim a d o N o r te h a v ia sid o te m p e ra ­ d o d u r a n te e ra s im e m o ria is — lite ra lm e n te , p o r v árias ce n te n a s d e m ilh õ e s d e an o s. M e s m o a ssim , an tes d o H o m o e re c tu s se es­ ta b e le c e r n a C h in a e n o n o r te d a E u ro p a , teve in íc io u m a seq ü ê n c ia d e trê s g laciaçõ es. A p r im e ira já h a v ia a m a in a d o h á q u a tro c e n to s m il a n o s, é p o ca em q u e o h o m e m de P e q u im v iv ia em c a v e rn as. N ã o é de to d o s u rp r e e n d e n te e n c o n tr a r, p ela p rim e ira v ez, o u so d o fo go nessas h ab ita ç õ e s. O g elo se m o v e u p a ra o Sul e se re tra iu trê s v ezes,

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A Escalada do Homem mudando o terreno em cada deslocamento correspondente. As maiores crostas de gelo continham tamanha quantidade de água que chegou a causar o abaixamento de cento e vinte metros no nível dos oceanos. Após a segunda glaciação aparece o homem de Neanderthal, há uns duzentos mil anos, que, com seu enorme cérebro, vai-se tornar importante na última glaciação. Durante a glaciação mais recente, dentro dos últimos cem ou cinqüenta mil anos, é que se começa a reconhecer traços distintos de diferentes culturas humanas. É quando são encontradas ferra­ mentas elaboradas, sugerindo a prática de formas requintadas de caça: o lançador de flecha, por exemplo, e um bastão que devia servir para retificar outras ferramentas; o arpão farpado; e, é claro, as ferramentas do artesão da pedra, necessárias para a fabricação das armas de caça. É claro que, à semelhança do que ocorre atualmente, naquela época as invenções podiam ser raras, mas se espalhavam rapida­ mente através de uma cultura. Por exemplo, o arpão foi inventado pelos caçadores magdalenianos do sul da Europa há quinze mil anos atrás. No início, os arpões magdalenianos eram lisos; logo após já ostentam uma única fileira de farpas e, no fim do período, quando houve o florescimento da arte das cavernas, apresentam-se comple­ tos, com duas fileiras de farpas. Os caçadores do Magdaleniano tinham o hábito de decorar suas ferramentas feitas de ossos, e o exame do estilo dos desenhos permite determinar precisamente o período e a localização geográfica de origem do artefato. De uma certa forma, representam fósseis que, em progressão ordenada, recontam a evolução cultural. O homem sobreviveu ao duro teste das glaciações porque sua flexibilidade mental permitiu a valorização de invenções e a incor­ poração delas à propriedade comunal. Evidentemente, as glaciações marcaram profundamente a forma davida humana. Elas forçaram-na a depender menos de plantas e mais dos animais. Os rigores da caçada nas margens do gelo também influenciaram as estratégias. Tornou-se menos atraente defrontar animais isolados, por maiores que fossem. Uma melhor alternativa era oferecida pela perseguição de manadas e, para não perdê-las, aprender como antecipar seus hábitos, acabando mesmo por adotá-Ios, incluindo, entre eles, suas migrações. Esta adaptação é muito peculiar. É a vida sem paradeiro certo, a transumância. O novo estilo de vida conserva algumas 46 características da caça, pois ainda se trata de uma perseguição (mas,


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Progressão de fósseis que reconstroem a evolução cultural do homem.

Arpão magdaleniano de chifre de rena. As farpas no arpão mudaram de uma única fileira para duas fileiras durante a última glaciação. Ponteira perfurada e decorada com cabeças de corças, Santander, Espanha. Pintura rupestre representando a caça de rena, Caverna de Los Caballos, Castellon, Grota de Valtorta, leste da Espanha. A invenção do arco e da flexa se deu ao fim da última glaciação.


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A Escalada do Homem onde os caminhos e o passo são determinados pelo animalde abate) e prenuncia algumas do pastoreio, umavez que o rebanho é vigiad° como se fosse um estoque móvel de alimento. Hábitos transumantes sobrevivem hoje como fósseis culturais ° único povo ainda vivendo dessa maneira é constituído pelos lapões do extremo norte da Escandinávia, os quais, como acontecia durante as glaciações, continuam seguindo os rebanhos de renas. Os ancestrais dos lapões devem ter atingido o norte a partir da região das cavernas franco-cantábricas dos Pireneus, ao acompa­ nharem as renas de doze mil anos atrás, quando a última crosta de gelo se retraiu do sul da Europa. Esse estilo de vida, atualmente em extinção, reúne trinta mü almas e trezentas mil renas. Em sua migração, os rebanhos cruzam fiordes, de uma pastagem gelada de liquens para outra, tendo os lapões ao seu encalço. Mas os lapões não são pastores; eles não controlam as renas, pois nunca as domes­ ticaram; simplesmente acompanharam os movimentos do rebanho. A despeito do fato dos rebanhos de renas ainda serem selvagens, os lapões, da mesma forma que outras culturas, descobriram meios de controlar animais individualmente: por exemplo, eles castram alguns machos a fim de torná-los mais dóceis e serem usados como animais de tração. É um relacionamento estranho. Os lapões são inteiramente dependentes das renas —comem a carne, meio quilo por cabeça, por dia; usam os tendões, os pêlos, os couros e os ossos; bebem o leite e utilizam os chifres também. Contudo, os lapões são mais livres do que as renas, pois sua adaptação é cultural e não biológica. Essa adaptação, isto é, o estilo de vida transumante através de uma superfície gelada, é uma escolha que pode ser mudada; não é irreversível como o são as mutações biológicas. Uma adaptação biológica implica uma forma inata de comporta­ mento, enquanto que uma cultura representa um comportamento aprendido —uma preferência que, à semelhança de outras invenções, foi adotada por toda uma sociedade. Aí se encontra a diferença fundamental entre adaptações cultu­ rais e biológicas; e ambas podem ser demonstradas nos lapões. A construção de tendas com peles de renas é uma adaptação que os lapões podem mudar amanhã —a maioria deles já o fez. Por outro lado, os lapões, ou linhas humanas ancestrais deles, também sofreram algumas adaptações biológicas. Estas, no Homo sapiens, não foram de grande monta; somos uma espécie bastante homogênea 48 porque nos espalhamos rapidamente para todos os cantos do globo,

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Contam trinta mi* pessoas e seu , modo de vida esta em extinção. Lapões em um ncampamento em Finnmark, 1900.



A Escalada do Homem a partir de um único centro. Entretanto, como sabemos, há algumas diferenças biológicas entre grupos humanos. Damos-lhes o nome de diferenças raciais, significando não poderem ser alteradas mediante simples mudanças de hábitos ou de habitats. A cor da pele é um exemplo. Mas, por que os lapões são brancos? O homem começou com pele escura; os raios solares sintetizam vitamina D na pele e, assim sendo, na África, uma pele clara sintetizaria dema­ siadamente. Mas, ao Norte, o homem precisa de toda a energia solar que possa penetrar em sua pele a fim de sintetizar uma quantidade de vitamina D suficiente para suprir seu metabolismo. Assim, a seleção natural favoreceu aqueles com peles mais claras. As diferenças biológicas entre diferentes comunidades são medi­ das nessa escala modesta. Os lapões não subsistem por adaptação biológica, mas sim, pela inventividade: pelo uso imaginativo dos hábitos das renas e de todos os seus produtos; por torná-las animais de tração e pela criação de artefatos e do trenó. A sobrevivência no gelo não dependeu apenas da cor da pele; não só os lapões, mas todos os homens atravessaram as glaciações às custas de uma invenção suprema —o fogo. O fogo é o símbolo do lar, e ao tempo em que o Homo sapiens começou a deixar as marcas de suas mãos nas cavernas, há trinta mil anos passados, a caverna era o lar. Ao longo de pelo menos um milhão de anos, o homem, por formas relativamente bem evidentes, obteve seu alimento ou como forrageador ou como caçador. Esse imenso período de pré-história, muito mais longo do que qualquer história registrada, quase não nos deixou monumentos. Somente no seu final, às margens da camada de gelo européia, vamos encon­ trar em cavernas, como a de Altamira (e em outras localidades na Espanha e no sul da França), testemunhos do que ocupava a mente do caçador. Vemos aí a trama do seu mundo e suas preocupações. As pinturas rupestres de há vinte mil anos imortalizaram um momento dessa cultura, sua base universal representada pelo 16 lapa sueca conhecimento, adquirido pelo caçador, do animal que lhe fornecia Mulher com seus filhos alimento, e o qual tinha de enfrentar. durante uma migração de verão A princípio se nos afigura estranho o aparecimento relativamente para as ilhas tardio e a raridade das pinturas rupestres, uma arte tão vívida já na costeiras da 1925, sua primeira manifestação. Por que não há tantos monumentos da Noruega, e manada de imaginação visual do homem como os há de suas invenções? Con­ renas selvagens em uma tudo, ao refletirmos sobre esse fato, o que mais nos surpreende confinada pastagem de 50 não é o pequeno número de tais monumentos, mas, sim, a própria inverno.



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Vida transumante em uma paisagem de gelo.

Desenhada pelo lapão Johan Turi como ilustração de sua história escrita sobre a vida de seu povo. Os animais de carga se movem em fila ao longo do rebanho. O líder da manada é puxado por um homem usando esquis.



A Escalada do Homem existencia dos mesmos. O homem é um animal franzino, lent°, desajeitado, inerme, que em sua evolução teve de inventar a atiradeira, a pedra de fogo, a faca, a lança. Mas por que, ainda nessa primitividade, teve de acrescentar àssuas invenções científin^ essenciais como tais à sua sobrevivência, uma produção artística que nos confunde: decorações com formas animais? Acima de tudo, qual a razão por que, embora vivendo em cavernas, não decorou seu lar, mas escolheu lugares escuros, secretos, remotos e inacessíveis para aí registrar os produtos de sua imaginaçã°? Nesses locais o animal se tornava um ente mágico, é a resposta óbvia. Não se duvida de sua exatidão; mas, magia é apenas uma palavra, e não constitui resposta. Por si mesma, magia nada explica. Ela permite inferir-se que o homem acreditava possuir algum poder; Mas que forma de poder? Ainda hoje gostaríamos de saber que poder os caçadores acreditavam emanar daquelas pinturas de animais. Posso apenas dar-lhes minha opinião pessoal. O poder lá expresso pela primeira vez é o poder da antecipação: a imaginação do futuro. Através dessas pinturas o caçador não só se familiarizava com os perigos da caça, mas também podia antecipar as situações a serem enfrentadas. Quando, pela primeira vez, um caçador era levado até esses lugares secretos e obscuros, e a luz projetava-se bruscamente naquelas figuras, ele via o bisão a ser enfrentado, o veado em carreira, a investida do javali. E o jovem caçador sentia-se tão sozi­ nho diante deles como em uma caçada real. Era a iniciação ao medo; a postura com a lança tinha de ser aprendida, e o temor dominado. O pintor imortalizara o momento do medo, e o caçador o vivia através das pinturas. A arte rupestre, tal qual um lampejo histórico, recria o modo de vida do caçador; através dela descortinamos o passado. Mas, para aqueles que a criaram, foi mais uma fresta para olhar o futuro. Em qualquer direção, essas pinturas são uma espécie de telescópio para a imaginação: eles dirigem a mente do percebido ao inferido e à conjectura. Na verdade, a ação sugerida em uma pintura é isso mesmo: por mais elegante que seja, uma tela significa alguma coisa aos olhos somente na medida em que a mente é capaz de completá-la em forma e movimento, uma realidade por inferência, onde a imaginação substitui a sensação. Arte e ciência são ações exclusivamente humanas, fora do alcance de qualquer outro animal. E uma e outra derivam de uma só facul­ 54 dade humana: a habilidade de enxergar no futuro, de antecipar um

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Em cavernas como a de Altamira encontramos registros daquilo que dominava a mente do homem caçador. Para mim, o poder aqui expresso pela primeira vez é o poder da antecipação: a imaginação projetada no futuro.

Bisão deitado.



A Escalada do Homem acontecimento e planejar a ação adequadamente, representando-o para nós mesmos em imagens projetadas ou dentro de nossas cabeças, ou em um quadrado de luz nas paredes escuras de uma caverna, ou, ainda, no vídeo de uma televisão. Nós também estamos olhando através do telescópio da imagina­ ção; a imaginação é um telescópio no tempo e o que vemos é uma experiência no passado. O homem que pintou essas figuras e os homens que ali estavam presentes olhavam para uma experiência no futuro. Eles olharam na linha da escalada do homem porque o que chamamos evolução cultural é, essencialmente, o crescimento e a expansão contínua da imaginação humana. Os homens que fabricaram as armas e aqueles que pintaram as figuras estavam realizando a mesma coisa - antecipando um evento futuro de tal maneira como apenas o homem é capaz, isto é, realizando o futuro nopresente. Muitos são os dons exclusivamente humanos; mas, no centro de todos eles, constituindo a raiz que dá força a todo conhecimento, jaz a capacidade de tirar conclusões que levam do visto ao não-visto, que levam a mente através do tempo e do espaço e que levam ao reconhecimento de um passado, um degrau na escalada para o presente. A mensagem das mãos impressas em todos os recônditos dessas cavernas é inequívoca: “Esta é minha marca. Eu sou o homem”.

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Nas cavernas, a mão impressa diz: “Esta é minha marca. Eu sou o homem". Pintura de uma mão , El Castillo, Santander, Espanha.




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20 civilização está comprimido em alguns milhares de anos.

O brotamento da

Migração da primavera dos bakhtiari, Montes Zagros, Pérsia.

AS COLHEITAS SAZONAIS

A história do homem é dividida em períodos desiguais. Inicia-se com sua evolução biológica: todos os degraus que nos separam de nossos ancestrais antropóides. Degraus que se estenderam por milhões de anos. Segue-se a história cultural: o longo fermentar da civilização que nos separa de umas poucas tribos de caçadores sobreviventes na África ou dos forrageadores da Austrália. E todo este segundo período, este hiato cultural, se comprime em alguns milhares de anos. Data de cerca de doze mil anos - um pouco mais de dez mil anos, mas certamente, muito menos de vinte mil anos. No que se segue estarei sempre me referindo a esses doze mil anos que encerram toda a escalada do homem até nós, como nos concebemos. Contudo, é tão grande a diferença entre esses dois números, isto é, entre as escalas biológica e cultural, que não posso deixar o assunto sem antes tecer alguns comentários retrospectivos. Foram necessários pelo menos dois milhões de anos a fim do homem se transformar, do ser pequeno e escuro com uma pedra na mão (Australophitecus da África Central), na sua forma moderna (Homo sapiens). Este é o passo da evolução biológica - a despeito da evolução do homem ter sido mais rápida do que a de qualquer outro animal. Entretanto, em muito menos de vinte mil anos o Homo sapiens se tornou a criatura que hoje aspiramos ser: artista e cientista, construtor de cidades e planejador do futuro, leitor e viajante, explorador audaz do fato natural e das emoções humanas, muito mais rico em experiência e mais ousado na imaginação do que qualquer outro de nossos ancestrais. Este é o passo da evolução cultural; uma vez em marcha ela segue segundo o quociente daquela dois números, pelo menos cem vezes mais rapidamente d° que a evolução biológica. Uma vez em marcha: esta é a frase crucial. Por que as trans­ formações culturais que levaram o homem a se tornar o senhor da terra iniciaram-se tão recentemente? Em todas as partes do mundo atingidas pelo homem de vinte mil anos atrás seu com­ portamento era de forrageador e caçador, sua técnica mais avançada sendo a de ligar-se a um rebanho em movimento, como os lapões fazem ainda hoje. Há dez mil anos isso havia mudado, surgindo, em algumas regiões, a domesticação de

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A Escalada do Homem animais e o cultivo de algumas plantas. E este é o ponto de partida da civilização. É extraordinário pensar que apenas os últimos doze mil anos assistiram ao nascimento da civilização. Deve ter havido uma grande explosão por volta de 10000 a.C. - e houve mesmo. Mas, esta foi uma explosão silenciosa, mar­ cando o final da última glaciação. Podemos ter uma idéia dela e, mesmo, por assim dizer, fare­ já-la em algumas regiões glaciais. Na Islândia, a primavera se renova a cada ano; mas, em um certo período, ela se perpetuava na Europa e na Ásia, quando o gelo se retraiu. E o homem, que havia passado por provações incríveis, pois, vindo da África, tinha vagueado para o norte nos últimos milhões de anos e lutado através das glaciações, repentinamente, viu os campos floridos, e os animais à sua volta; aí, então, iniciou um tipo de vida diferente. Comumente ela é chamada “revolução agrícola”. Mas eu a considero muito mais ampla; uma revolução biológica. Numa sucessão indeterminada o cultivo de plantas foi entremeado com a domesticação de animais. E, subjacente a isso, a conscientização do homem de se ter imposto como senhor de seu ambiente, no aspecto mais importante, não simplesmente físico, mas, sim, no nível das coisas viventes — plantas e animais. Uma revolução cultural igualmente poderosa deriva desses acontecimentos. Agora se tornara possível —mais que isso, se tornara necessário — o sedentarismo. Após um milhão de anos de andanças ele chega à escolha crucial: abandonar o nomadismo e tornar-se aldeão. Temos o registro antropológico de um povo que assim se' decidiu: o documento é a Bíblia, o Velho Testamento. Eu acredito que a base da história civilizada se apóia nessa decisão, uma vez que apenas uns poucos sobreviventes existem daqueles que não optaram. Ainda há algumas tribos nômades, empreen­ dendo longas viagens transumantes de pastagem em pastagem: os bakhtiari na Pérsia, por exemplo. Acompanhando-se e parti­ cipando da vida de uma dessas tribos, chega-se ao entendimento da impossibilidade do nomadismo originar civilização. Tudo na vida nômade é imemorial. Os bakhtiari sempre viajaram sozinhos, quase ocultos. À semelhança de outros nômades, eles se consideram uma única família, descendentes de um único fundador. (Da mesma forma os judeus se autodenominavam 60 filhos de Israel ou de Jaco.) Os bakhtiari derivam seu nome do


A s C o lh e ita s S a zo n a is

de Bakhtyar, um pastor legendário do tempo dos mongóis. A lenda de suas origens, contada por eles mesmos, começa assim: E o pai de nosso povo, o homem das colinas, Bakhtyar, surgiu, em tempos remotos, dos redutos das montanhas do sul. Suas sementes foram tão numerosas quanto as pedras das montanhas, e seu povo prosperou.

O eco bíblico soa repetidamente à medida que a história se desenrola. O patriarca Jacó possuía duas esposas, e para cada uma delas havia trabalhado sete anos como pastor. Atente para o patriarca dos bakhtiari: A primeira esposa de Bakhtyar gerou sete filhos, pais das sete linhagens irmãs de nosso povo. Sua segunda esposa gerou quatro filhos. E, para não dispersarmos nossos rebanhos e nossas tendas, nossos filhos tomarão como esposas as flhas dos irmãos dos seus pais.

Da mesma forma que para os filhos de Israel, os rebanhos eram de suma importância; em nenhum momento o contador da história (ou o conselheiro nupcial) os afasta de sua mente. Anteriormente a 10000 a.c. os nômades costumavam seguir as reses selvagens nas suas migrações naturais. Mas ovelhas e cabras não apresentam migração natural. A domesticação destas se deu por volta de dez mil anos - antes delas, apenas o cão era seguidor de acampamentos. A domesticação enfraqueceu os instintos naturais delas, e o homem teve de assumir a responsa­ bilidade de guiá-las. A função das mulheres em tribos nômades é definida precisa­ mente. Acima de tudo estão encarregadas da produção de filhos machos - o aumento do número de fêmeas representa um infortúnio imediato, uma vez que, a longo prazo, isso é uma ameaça de desastre. Além disso, suas obrigações incluem a pre­ paração de alimentos e vestuário. Por exemplo, entre os bakhtiari, as mulheres fazem o pão - da maneira como é descrito na Bíblia, assando bolos não fermentados em pedras aquecidas. Mas as meninas e as mulheres não os comem antes que os homens o tenham feito. Da mesma forma que a dos homens, a vida das mulheres gira em torno do rebanho. Elas ordenham, fabricam coalhada seca espremendo o coalho por meio de uma pele de cabra montada em uma armação primitiva de madeira.

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A Escalada do Homem São possuidores de uma tecnologia simples, capaz de ser trans­ portada nas mudanças diárias. A simplicidade romântica é mera questão de sobrevivência. Tudo tem de ser leve a fun de ser transportado, montado cada tarde e desmontado cada manhã. O fabrico de fios de lã pelas mulheres, usando métodos muito simples e antigos, é para consumo imediato, isto é, reparos essenciais durante a viagem, nada mais que isso. Na vida nômade normal não é possível fabricar objetos que não sejam utilizáveis a curto prazo. De outra forma não poderiam ser carregados. De fato, os bakhtiari não os fabricam. Se necessi­ tam de potes de metal, estes são barganhados em vilas ou em acampamentos ciganos. Pregos, estribos, brinquedos, sininhos para crianças, tudo isso é obtido através de trocas fora da tribo. A vida dos bakhtiari é muito limitada para propiciar tempo para desenvolvimento de habilidade ou especialização. Na movimen­ tação constante não há tempo para inovações. Entre a parada da tarde e o reinício da caminhada pela manhã, os instrumentos, os pensamentos e mesmo as canções são sempre os mesmos. Apenas os velhos hábitos permanecem. A ambição do filho é ser igual ao É uma vida sem contrastes. Cada noite é o fim de um dia igual ao anterior e cada manhã inicia um dia igual ao anterior. Ao romper do dia um único pensamento ocupa as mentes de todos: Conseguiremos levar o rebanho através do próximo despenhadeiro? Haverá um dia em que se terá que passar pelo desfiladeiro mais alto. É o passo de Zakedu, a três mil e seiscentos metros, no Zagros, que o rebanho tem de atravessar ou contornar em seus pontos mais elevados. A tribo não pode parar, novas pasta­ gens precisam ser alcançadas todos os dias, pois em tais altitudes elas se esgotam em um único dia. Cada ano, ao partir, os bakhtiari cruzam seis cadeias de mon­ tanhas e, depois, voltam pelo mesmo percurso. Atravessam neve e torrentes da primavera. Em apenas um aspecto suas vidas dife­ rem daquela de dez mil anos atrás; os nômades daquela época viajavam a pé, carregando suas bagagens às costas, mas os bakhtiari possuem animais de carga - cavalos, jumentos, mulas que foram sendo domesticados desde aquela época. Nada mais em suas vidas é novo. Nem memorável. Os nômades não têm monumentos, nem mesmo túmulos para os mortos (onde foram enterrados Bakhtyar, ou mesmo Jacó?). Os únicos amontoados 62 de pedras são construídos com a finalidade de sinalizar o cami-


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Tribos nômades ainda realizam longas viagens transumânticas, indo de uma pastagem para outra. Possuem apenas uma tecnologia simples, que pode ser transportada em suas viagens diárias, de um lugar para outro.

Rebanhos de carneiros e cabras empreendendo a migração da primavera e uma anciã bakhtiari frabricando fios de Iõ.


A Escalada do Homem nho em lugares tais como o Passo das Mulheres, local traiçoeiro, mas melhor para os animais do que os desfiladeiros mais altos. A migração da primavera dos bakhtiari é uma aventura heróica, embora eles não sejam tão heróicos quanto estóicos. A resigna­ ção vem do fato da aventura não levar a nada. As próprias pastagens de verão se apresentam como apenas outro local de parada - diferentemente dos filhos de Israel, para eles não há terra prometida. O cabeça da família trabalha sete anos, tal qual Jacó, para conseguir um rebanho de cinqüenta ovelhas e cabras. Dez delas serão perdidas durante a migração, se as coisas correrem bem. Na pior das hipóteses quase a metade não chegará ao fim. Esses são os agravantes da vida nômade - ano após ano. Apesar disso tudo, ao fim da jornada não restará senão uma imensa, tradicional, resignação. Quem poderá dizer, em um ano qualquer, se o ancião poderá, após ter cruzado todos os passos, se submeter ao teste final: a travessia do rio Bazuft? Três meses de degelo engrossam a cor­ renteza. Os homens, as mulheres, os animais de carga e o rebanho estão exaustos. Durante todo um dia o rebanho é carregado através do rio. Ainda, este é o dia do teste. Hoje os rapazes se tornam homens porque a sobrevivência do rebanho e da família depende de suas forças. Cruzar o Bazuft é como cruzar o Jordão; é o batismo da virilidade. Para os jovens é a vida que renasce. Para os velhos - para os velhos ela se extingue. O que acontece com os velhos que não conseguem cruzar o último rio? Nada. Eles ficam para trás para morrer. Somente o cão aparenta surpresa ao ver um homem abandonado. O homem aceita o costume nômade; ele chegou ao fim de suajornada, e o fim não é lugar algum. O passo mais importante na escalada do homem é a mudança do nomadismo para a agricultura de aldeia. O que tornou isso possível? Um ato de vontade por parte do homem, seguramente; mas, com ele, um ato estranho e secreto da natureza. Ao final das glaciações, no desabrochar da nova vegetação, aparece uma espécie híbrida de trigo no Oriente Médio. Isso aconteceu em diversos lugares; e um deles, típico, é o oásis de Jericó. Jericó é mais antiga do que a agricultura. O primeiro povo a chegar aqui e a se estabelecer ao redor da fonte incrustada 64 nesta região desolada veio para colher trigo nativo, pois, então,


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A população que prúnetro chegou a Jericó colhia trigo, mas não sabia como plantá-lo. Esses homens fabricaram ferramentas para a colheita silvestre.

Alfanje curvo, 4.o milênio a. C., Israel. As lâminas dos alfanjes de pedra eram fixadas com a ajuda de betume em cabos de ossos.

ainda não sabiam como plantá-lo. Sabemos disso pelo fato de esses homens terem desenvolvido ferramentas para a colheita do trigo silvestre, e tal fato representou um adiantamento extraordinário. Eles fizeram foices de pedra que sobreviveram; foram aí encon­ tradas em 1930, em escavações levadas a cabo por John Gastang. A lâmina dessa foice primitiva deve ter sido encaixada em peça de chifre de gazela ou de osso. Não há sobrevivente, entretanto, quer no topo das colinas ou em suas fraldas, da variedade de trigo selvagem colhida pelos habitantes primitivos:' Mas as gramíneas que ainda podemos encontrar nesse local devem se parecer muito com o trigo que esse povo apanhava aos maços e cortava, iniciando o movimento de serrar com a foice que os agricultores vêm repetindo nesses últimos dez mil anos. Essa se constituiu na civilização pré-agrícola natufiana. E, evidentemente, não poderia durar, mas estava às portas de se tornar agricultura. Isso aconteceu também em Jericó, logo em seguida. A disseminação da agricultura no Velho Mundo se deveu, quase que certamente, ao aparecimento de duas formas de trigo com espigas grandes e muitas sementes. Antes de 8000 a.C. o trigo não era a planta luxuriante que hoje conhecemos; era apenas uma entre as muitas gramíneas espalhadas por todo o Oriente Médio. Por algum acidente genético o trigo silvestre se cruzou com uma grama de bode qualquer, resultando daí um híbrido fértil. Acidente desse tipo deve ter acontecido muitas vezes na explosão vegetal que se deu após a última glaciação. Em termos de maquinaria genética que determina o crescimento, houve a combinação de quatorze cromossomos do trigo süvestre com os quatorze cromossomos do capim de bode produzindo o Emmer com vinte e oito cromossomos. Isto é que torna o Emmer muito mais polpudo. O híbrido se espalhou naturalmente pelo fato de, estando as sementes envolvidas pela palha, poderem ser facilmente carregadas pelo vento.

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A implantação da agricultura em todo o Velho Mundo se deveu quase que certamente à ocorrência de duas formas híbridas de trigo. Trigo emmer em casca e trigo de pão descascado; espiga de trigo maduro;

e, a palha sendo removida do grão.


A Escalada do Homem O aparecimento de um híbrido fértil é uma raridade vegetal, mas não é fato único; porém, a história da rica vida vegetal que seguiu a glaciação torna-se muito mais surpreendente. Aconteceu um segundo acidente genético que provavelmente se deveu ao fato de o Emmer já ser cultivado. Este se cruzou novamente com outro capim de bode produzindo um híbrido com quarenta e dois cromossomos, o trigo de nossos pães. Esse cruzamento, por si só, já era bastante improvável, mas hoje sabemos que o trigo atual só se tornou fértil em razão de uma mutação genética específica em um cromossomo. Contudo, há ainda um evento mais estranho. Esse híbrido ostenta agora uma linda espiga, mas esta jamais se espalhará por ação do vento, posto que, muito compacta, não se debulha. Mas, se a espiga for quebrada, as hastes se soltam e os grãos caem exatamente onde cresceram. Permitam-me lembrá-los de que isto não ocorria com o trigo silvestre, nem com o Emmer. Nestas formas primitivas a espiga é muito mais aberta e, ao se quebrar, tem-se efeito distinto - os grãos voam com o vento. O trigo de pão perdeu essa característica. De repente, homem e planta se encontram. O homem tem no trigo o seu sustento e o trigo, no homem, um meio de se propagar. Sem ajuda o trigo de pão não se multiplica; assim, a vida de cada um, do homem e da planta, depende uma da outra. É um verdadeiro conto de fadas genético, como se o despertar da civilização tivesse visto a luz com as bênçãos do abade Gregor Mendel. Conjunções bem-sucedidas de eventos naturais e humanos inau­ guraram a agricultura. No Velho Mundo isso aconteceu há dez mil anos, no Crescente Fértil do Oriente Médio. Mas, certamente, não foi um evento isolado. É mais do que provável que a agricul­ tura tenha surgido independentemente no Novo Mundo - ou assim acreditamos, baseados na evidência atual de que o milho dependeu do homem tanto quanto o trigo. No Oriente Médio a agricultura se espalhou aqui e ali ao longo de suas colinas, das quais a elevação do Mar Morto até a Judéia (os arredores de Jericó), representa, na melhor das hipóteses, um exemplo típico e nada mais do que isso. Literalmente, a agricultura assistiu a vários começos no Crescente Fértil, alguns deles anteriores a 68 Jericó.

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Antes de 8000 a.C. o trigo era apenas umas das muitas variedades de gramíneas süvestres. Trigo silvestre, Triticum monococcum.


As Colheitas Sazonais Entretanto, Jerico exibe vanas características que a tornam historicamente ímpar, conferindo-lhe um status simbólico próprio. Diferentemente de outras povoações esquecidas, ela é monumental, mais velha que a Bíblia, camada sobre camada de história, uma verdadeira cidade. A antiga cidade de Jericó, com água potável, era um oásis à beira do deserto; sua fonte, já existente em tempos pré-históricos, continua jorrando na moderna cidade de hoje. Água e trigo encontraram-se aqui e, assim, aqui se iniciou a civilização do homem. Para aqui também chegaram os beduínos vindos do deserto com suas faces escuras e veladas, olhando cobiçosamente o novo estilo de vida. Esta foi a razão por que Josué conduziu por aqui as tribos de Israel em sua caminhada para a Terra Prometida —trigo e água faziam a civilização: encerram a promessa de uma terra donde brotam leite e mel. Água e trigo transformaram aquela encosta desolada na primeira cidade do mundo. Jericó foi transformada repentinamente. Os povos que a ela chegaram logo se tornaram objeto de inveja dos vizinhos, de tal forma que ela teve de ser protegida; assim, Jericó foi cercada por muros e sua torre de espreita data de nove mil anos. A base da torre mede nove metros de largura por quase essa medida de profundidade. Subindo os degraus da escavação, contornando a torre, camada após camada de civilização vai se revelando: o homem antigo da era pré-cerâmica, o próximo homem da era pré-cerâmica, o aparecimento da cerâmica há sete mil anos; cobre antigo, bronze antigo, bronze m édio. Cada uma dessas civilizações chegou, conquistou Jericó, enterrou-a e construiu por cima. Assim, de certa maneira, a torre não se encontra a treze metros e meio abaixo do solo, mas a essa profundidade de civilizações acumuladas. Jericó representa um microcosmo de história. Outros locais serão encontrados nos próximos anos (alguns muito importante já exástem agora) e isso vai mudar a imagem dos primórdi° s da civilização. Ainda assim, estar aqui neste lugar, contemplando as reminiscências da escalada do homem, confere-nos um poder proÇundo, tanto ao raciocínio quanto à emoção. Quaimojovem, pensava na supremacia do homem como uma consequencia de seu domínio do ambiente físico. Agora aprendemas que tal supremacia vem do entendimento e da manipulação do meio vivente. Não foi de outra maneira que o homem começou no 69


A Escalada do Homem Crescente Fértil, ao pôr suas mãos nas plantas e nos animais, aprendendo a viver com eles, transformando o mundo às suas necessidades. Ao redescobrir a torre nos anos cinqüenta, Kathleen Kenyon encontrou-a vazia; para mim essa escada tem o significado de uma raiz axial, de um olheiro de entrada para as bases rochosas da civilização. E esta base sólida da civilização são os seres viventes, não o mundo físico. Por volta de 6000 a.C., Jericó era um grande agrupamento agrícola. Na estimativa de Kathleen Kenyon contava três mil habitantes e, dentro de suas muralhas, estendia-se por cerca de quatro hectares. As mulheres moíam trigo utilizando pesados implementos de pedra que caracterizavam hábitos de uma comunidade sedentária. Os homens moldavam barro para o fabrico de tijolos, que estão entre os primeiros a serem conheci­ dos. As impressões dos polegares dos oleiros arnda podem ser observadas. Tanto o homem como o trigo de pão estão agora fixados em seus lugares. Uma comunidade sedentária também estabelece diferente tipo de relação com seus mortos. Dos habitantes deJericó restaram alguns crânios que eram preservados e cobertos com elaboradas decorações. Não se conhece a razão dessa prática, que talvez fosse um ato de reverência. Agora, nenhuma pessoa educada sob a influência do Antigo Testamento, como é o meu caso, pode deixar Jericó sem formu­ lar duas perguntas: Josué realmente destruiu esta cidade? E, terá ocorrido o desabamento das muralhas? Essas são as perguntas gue atraem gente a este local e que o tornam uma lenda viva. Jericó 25 , é, monumental, A primeira pergunta a resposta é fácil: Sim. As tribos de Israel mais antiga do que a lutavam para aniquilar o Crescente Fértil que se estende ao longo Bíblia, uma de da costa do Mediterrâneo, bordeja as montanhas da Anatólia e superposição camadas de história, uma cidade.

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Do sítio de Jericó: tijolo de bano seco; entalhe de amantes em quartzita; crânio decorado com massa e incrustado com conchas. A tone de espreita de Jericó. Construída de pedra trabalhada e pré•7000 a. C. A grade modema cobre a parte oca central no interior da tone.



A Escalada do Homem

desce na direção do Tigre e Eufrates. E Jericó era uma posição 26 cornucópia de estratégica, bloqueando o acesso às montanhas da Judéia e às Uma terras férteis do Mediterrâneo. Assim, a cidade tinha de ser objetos pequenos e sutis, tão importantes conquistada, o que aconteceu por volta de 1400 a.c. - há cerca para a escalada do de três mil e trezentos a três mil e quatrocentos anos. Como a homem como equipamento história bíblica não foi escrita senão, talvez, até 700 a.c., o qualquer física nuclear. registro literário data de pelo menos dois mü e seiscentos anos. daCarpinteiro trabalhando Mas, e as muralhas, realmente desmoronaram? Não sabemos. uma peça de madeira uma sena. Grego, Nenhum indício arqueológico neste local sugere ter havido uma com 6.0 século a.C. Prego queda abrupta e simultânea, em um só dia, de um conjunto de recoberto por cerâmica, sumeriano, 2400 a.C. paredes. Entretanto, isso certamente aconteceu em diferentes Forno assar com pão épocas, e várias vezes. Em um período da era do bronze, um dentro.deModelo de Ilhas gregas, mesmo segmento da fortaleza foi reconstruído pelo menos cerâmica. 7.0 século a. C. dezesseis vezes. Note-se que esta é uma região de tremores de Brinquedo grego um terra. Ainda hoje os abalos são diários aqui; em um século ocor­ representando macaco amassando rem quatro grandes terremotos. Apenas nos últimos anos azeitonas em um chegamos a um entendimento do porquê dessa alta freqüência almofariz. Ancião com uma prensa de vinho. de abalos sísmicos ao longo deste vale. O Mar Vermelho e o Mar Modelo em tenacota, 72 Morto se alinham em continuação ao Rift Valley Oriental período romano.


As Colheitas Sazonais

africano. Aqui, duas das plataformas que carregam os continentes, flutuando nas camadas mais densas da terra, são contíguas. Ao longo desta depressão, os encontros das plataformas produzem, na superfície da terra, ecos dos choques ocorridos nas profundi­ dades. Como resultado disso, os terremotos sempre ocorrem ao longo do eixo do Mar Morto. Em minha opinião isso explica a recorrência de tantos müagres naturais nas descrições bíblicas: inundações, desaparecimento das águas do Mar Vermelho ou do Jordão e a queda das muralhas de Jericó. A Bíblia é uma história curiosa, em parte folclórica, em parte documentária. A história é, evidentemente, contada pelos vence­ dores, e os israelitas ao irromperem nesta região se tornaram os depositários da história. A Bíblia é a história de um povo que teve de optar, e o fez, abandonando o nomadismo pastoral pela agricultura tribal. Agricultura e pecuária parecem-me atividades elementares, mas, note-se que o alfanje natufiano é uma indicação de que elas não permanecem estáticas. Cada estágio da domesticação de plantas 73


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Dê-me uma alavanca e eu alimentarei a Terra.

Arando com bois ajoujados, Egito.

e de animais requer invenções, as quais surgem como inovações técnicas e acabam dando fundamento a princípios científica. Os instrumentos básicos da mente-de-dedos-ágeis estão espalha­ dos, despercebidos, em todas as povoações, em qualquer lugar do mundo. Formam uma cornucópia de artefatos modest°s e despretensiosos, mas tão engenhosa, e, em um sentido profundo, tão importante na escalada do homem, como qualquer equi­ pamento da física nuclear: a agulha, a sovela, o jarro, o braseiro, a pá, o prego e o parafuso, a linha, a laçada, o tear, o arreio, o anzol, o botão, o sapato —poder-se-ia enumerar uma centena em um fôlego só. A riqueza deriva da interação entre invenções; a cultura é uma multiplicadora de invenções, na qual o surgi­ mento de um novo artefato aperfeiçoa e amplia o poder dos outros. A agricultura sedentária gera a tecnologia básica para o desen­ volvimento da física e de toda a ciência. Isso pode ser ilustrado estudando o aperfeiçoamento do alfanje. Observados superficial­ mente não há diferenças evidentes entre o alfanje de há dez mü anos, usado pelos forrageadores, e o de há nove mil anos, quando o trigo já era cultivado. Mas examinemo-los mais atentamente. O usado na ceifa do trigo de cultivo apresenta o fio serrilhado: isto porque se o trigo é golpeado os grãos caem no solo, mas se as hastes são cuidadosamente serradas os grãos permanecem nas espigas. Desde aí os alfanjes de segar trigo têm sido construídos dessa maneira — na minha infância, durante a Primeira Guerra Mundial, o alfanje curvo ainda era a ferramenta usada na ceifa do trigo. Tais aquisições tecnológicas e seus conhecimentos físicos subjacentes nos chegam de tantas partes da vida agrícola que, até, somos tentados a ponderar se não seriam as idéias a descobrirem os homens, em vez do contrário. A invenção mais poderosa da agricultura é, sem dúvida, o arado. Uma lâmina sulcando a terra, essa é nossa concepção do arado. A lâmina, por si só, é uma invenção mecânica antiga e importante. Entretanto, o arado é mais do que isso, e esse mais é fundamental: é uma alavanca que revolve o solo, e nesse sentido uma das primeiras aplicações desse princípio. Muito tempo depois, quando Arquimedes explicava o princípio da alavanca aos gregos, afirmou que com um ponto de apoio e uma alavanca moveria a Terra. Mas, milhares de anos antes, o agricultor do Oriente Médio já havia dito: “Dê-me uma alavanca e eu alimen­ 74 tarei a Terra”.


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A roda e o eixo representam a raiz dupla da qual nascem as invenções.

Modelo de cobre de um carro de guerra. Mesopotâmia. c. 2800 a. C. Mosaico romano exibindo um carro com rodas sólidas.

Mencionei acima o fato da agricultura ter sido inventada, pelo menos uma vez mais, muito mais tarde, na América. Mas o arado e a roda não o foram, uma vez que dependem de animais de tração. E o passo seguinte no desenvolvimento da agricultura do Oriente Médio foi justamente a domesticação de animais de tiro. Não tendo ensaiado esse passo biológico, o Novo Mundo ficou para trás, no nível do semeio de vara e da trouxa às costas; nem mesmo chegaram perto da roda do oleiro. A existência da roda foi atestada, pela primeira vez, antes de 3000 a.c., no que agora é chamado Sul da Rússia. Esses primeiros achados consistem em sólidas rodas de madeira ligadas a platafor­ mas mais antigas, usadas para arrastar cargas, transformada assim em um carro. Daqui para a frente a roda e o eixo tornam-se os pivôs de crescimento de todas as invenções. Por exemplo: aparece um instrumento para moer o trigo, usando para tal as forças naturais: primeiro animais e depois o vento e a água. A roda se torna o modelo de todos os movimentos de rotação, a norma de explanação e o símbolo supra-humano de poder, nas ciências e nas artes. O Sol é uma biga, o próprio céu é uma roda, desde os tempos em que os babilônios e gregos mapearam o movimento do firmamento estrelado. Para a ciência moderna o movimento natu­ ral (movimento não perturbado) segue uma trajetória retilínea; mas para a ciência grega o movimento natural (isto é, inerente à natureza), e portanto perfeito, seguia a trajetória do círculo. Ao tempo em que Josué ameaçava Jericó, por volta de 1400 a.c., os engenheiros mecânicos da Suméria e da Assíria adapta­ ram a roda à forma de polia de puxar água. Ao mesmo tempo desenvolveram grandes projetos de irrigação. Suas torres de ele­ vação ainda sobrevivem tais quais pontos de exclamação na paisagem da Pérsia. Elas atingem noventa metros de profundi­ dade, onde alcançam os qanats ou rede de canais subterrâneos, em um nível em que o lençol de água natural está protegido da evaporação. Três mil anos após sua construção as mulheres da vila de Khuzistan ainda obtêm dos qanats as quotas de água que lhes vão permitir levar a cabo os mesmos afazeres domésticos das antigas comunidades. Os qanats são construções que representam o produto.de uma civilização urbana e, portanto, subentendem a existência de leis regulando os direitos de uso da água, de posse da terra e outras relações sociais. Em uma comunidade agrícola (as grandes fazen­ das coletivas da Suméria, por exemplo), o sentido da lei tem 77


A Escalada do Homem

caráter diferente daquele de uma lei nômade sobre o roubo de cabras e ovelhas. Agora, a estrutura social é mantida através de leis dirigidas a assuntos que afetam a comunidade como um todo: o acesso à terra, a concessão e o controle do direito de uso da água, o direito de usar e trocar aquelas preciosas construções das quais dependem as colheitas sazonais. A esta altura o artesão já conquistou o status de inventor. Ao incorporar princípios mecânicos básicos em ferramentas elabo­ radas cria, de fato, as precursoras das máquinas. Exemplos destas são tradicionais no Oriente Médio. O torno-de-arco, por exemplo, usa um esquema clássico de transformação de movimento linear em rotatório. A engenhosidade do esquema consiste no enrolar um cordão em um tambor e amarrar suas pontas às extremidades de uma espécie de arco de violino. A peça de madeira a ser trabalhada é fixada ao tambor que gira de acordo com os movimentos ritmados do arco, enquanto a madeira é cortada com o auxílio de um formão. O instrumento data de alguns milhares de anos, mas eu o vi sendo usado por ciganos, no fabrico 78 de pernas de cadeiras, em um bosque inglês em 1945.


As Colheitas Sazonais 29 0 torno-de-arco representa um dos esquemas clássicos no sentido de transformar um movimento linear emrotatório.

Carpiiifeiros de meados do século dezenove. trabalhando com torno-de-arco. índia Central.

A máquina c um dispositivo que aproveita o poder da natureza. Isto c verdade tanto para o simplcrrimo fuso usado pelas mulheres bakhtiari, como para o histórico primeiro reator nuclear e toda a sua progênic. Contudo, à medida que a máquina foi utilizando fontes de energia cada vez mais poderosas, ela foi-se desvin­ culando de sua utilidade natural. Como, em sua forma atual, a máquina passou a representar uma ameaça para nós? O fulcro dessa questão está na escala do poder que a máquina pode gerar. Coloquemos o problema em forma de alternativas: o poder da máquina está dentro da escala de trabalho para a qual foi designada ou, então, c aquele tão desproporcional a ponto dela poder dominar o usuário e distorcer sua utiiidade? Assim enunciada, a questão tem suas origens em um passado longínquo; tudo começou quando o homem disciplinou uma força muito maior que a sua própria: a força animal. Toda máquina c uma espécie de animal de tiro —mesmo o reator nuclear. Ela aumenta o rendimento que o homem vem obtendo da natureza desde os primórdios da agricultura. Portanto, cada máquina reaviva o dilema original: a produção de energia responde à demanda da sua utilização específica, ou sua disponibilidade excede os limites da sua utilização construtiva? O conflito dessas escalas de poder já estava presente na gênese da história humana. A agricultura representa uma parte da revolução biológica; a do­ mesticação e o treino de animais, a outra. A domesticação se desenvolve em uma seqüência ordenada. O cão foi o primeiro, talvez mesmo antes de 10000 a.C. Depois vieram os animais de abate, começando pelas cabras e ovelhas. Seguiram-se os animais de carga, representados por espécies de jumentos selvagens. Os animais aumentam a produção muito além do que consomem. Mas isso é verdadeiro apenas na medida em que os animais permanecem modestamente nas funções produtivas a eles desti­ nadas, isto é, como servos no trabalho agrícola. À primeira vista não era esperado que os animais domésticos representassem, eles mesmos, uma ameaça às reservas de grãos, essencial à sobrevivência de uma comunidade sedentária. Isso c surpreendente porque são justamente o boi e o jumento que permitiram acumular essas reservas. (O Velho Testamento reco­ menda cuidadosamente que lhes sejam dispensados bons tratos; por exemplo, proíbe ao camponês atrelar boi e jumento a um mesmo arado, uma vez que esses animais trabalham em passos


A Escalada do Homem 30 hordas móveis , diferentes.) Mas, em torno de cinco mü anos atrás surge um As outro animal de tração - o cavalo. Este último é desproporcio­ transformaram a da nalmente mais rápido, mais forte e mais dominador do que todos organização os seus antecessores. E, daqui para a frente, vai se constituir na batalha. Cavalaria mongol de Jami’al-Tawarikh, ameaça aos estoques alimentares da comunidade. "A História do Tal qual o boi, o cavalo começou puxando carros de rodas - Conquistador mas, logo ganhou em esplendor ao ser atrelado a charretes nas Mundo ", do completada em paradas reais. Então, mais ou menos em 2000 a.c., o homem 1306 por aprendeu como montá-lo. No seu tempo essa invenção deve ter Rashida.C.alDin, vizir escriba junto à parecido tão surpreendente quanto a das máquinas voadoras. eOljeitu Inicialmente o cavalo era um animal pequeno e, como o lhama Tropas Khan. atravessando um rio durante a da América do Sul, não agüentava carregar um homem em seu invasão lombo por muito tempo. Portanto, foi preciso desenvolver uma Índia. mongol da variedade maior e mais robusta. O uso regular do animal de sela começa em tribos nômades criadoras de cavalos. Eram homens da Ásia Central, Pérsia, Afganistão e além; no Ocidente eram chamados citas, denominação coletiva para uma criatura desco­ nhecida e aterrorizadora, um fenômeno da natureza. Note-se que, para o espectador, o cavaleiro é mais do que um homem: ele olha altaneiro para os outros e se movimenta com um poder impressionante, deixando à margem o mundo vivente. Tendo domado plantas e animais para seu uso, ao montar o cavalo o homem realizou muito mais do que um simples gesto, ele esta­ beleceu um símbolo de domínio sobre toda a criação. Em tempos históricos temos um exemplo desse fato representado pelo pavor e desconcerto causado nos exércitos do Peru pelos cavaleiros espanhóis que os conquistaram em 1532. Assim, muito antes, os citas haviam representado esse terror, vencendo os povos ainda desconhecedores da técnica de montar. Para os gregos o cavaleiro cita era uma só criatura (sintetizando homem e cavalo), e daí surge a lenda do centauro. Na verdade, aquele outro híbrido humano da imaginação grega, o sátiro, era, originalmente, não meio bode, mas, sim, meio cavalo; tão profundo foi o impacto do tropel dessas criaturas vindas do Leste. Não nos é possível, hoje, reconstruir o terror que o cavalo montado imprimiu, em sua primeira aparição, nos povos do Oriente Médio e do Leste Europeu. Há aí uma diferença de escala que só pode ser comparada à chegada dos tanques na Polônia em 1939, arrasando tudo que encontravam pela frente. De minha parte, acredito que a importância do cavalo na história européia 80 tem sido subestimada. Em um certo sentido, a guerra como uma


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A Escalada do Homem 31 atividade nômade foi iniciada com o cavalo. Essa foi a contribui­ Ao cavaleiros ção dos hunos, depois dos frígios e, ainda depois dos mongóis, citas,verososgregos até atingir um clímax muito mais tarde sob a égide de Genghis tomaram cavalo e cavaleiro como Khan. As hordas móveis transformaram particularmente a orga­ fonnando um ser nização da batalha. Eles concebiam a estratégia de guerra de único; a partir desse é que forma diferente - uma estratégia semelhante a disputas ou jogos fato inventaram a lenda guerreiros; e como os guerreiros gostam de jogar! do centauro. Vaso grego A estratégia das hordas móveis depende de manobras, de co­ decorado, a.C. municações rápidas, e de deslocamentos táticos estudados, os Centauros c.560 e uma quais podem ser organizados em diferentes seqüências, mantendo formação armada. a surpresa dos ataques. Os resquícios dessa prática permanecem representados nos jogos bíblicos de origem asiática, ainda hoje apreciados, como o xadrez e o pólo. Para os vitoriosos a estratégia de guerra é sempre tomada como uma espécie dejogo. Ainda hoje é praticado no Afganistão um jogo, o Buz Kashi, que tem suas origens nas competições eqüestres introduzidas pelos mongóis. Os homens que participam do jogo do Buz Kashi são profissio­ nais - o que significa que são empregados, e tanto eles como os cavalos são treinados e mantidos unicamente para as glórias da vitória. Em grandes ocasiões cerca de trezentos homens, de dife­ rentes tribos, participavam da competição;já fazia vinte ou trinta anos que isso não acontecia, até que nós organizamos uma. Os participantes do Buz Kashi não formam equipes. A finali­ dade da competição não é confrontar grupos, mas, sim, consagrar um campeão. Há campeões famosos do passado que são reveren­ ciados. O presidente desta competição foi um campeão no passado. Ao presidente compete transmitir as ordens através de um imediato, que pode ser um beneficiário do jogo, embora menos importante. Esperaríamos ver uma bola, mas, fazendo as vezes dela, o que encontramos é um bezerro decapitado. (Essa brincadeira macabra diz alguma coisa a respeito do caráter do jogo: é como se os cavaleiros estivessem se divertindo com o alimento dos camponeses.) A carcaça pesa uns vinte quilos, e deve ser arrebatada e defendida contra as investidas dos outros, à medida que é levada através de dois estágios. O primeiro consiste em levar a carcaça até a haste de uma bandeira às margens do campo e contorná-la. O estágio crucial é a volta; constantemente assediado, o cavaleiro tem de atingir o gol, que é um círculo marcado no centro do campo, bem no meio da confusão. O jogo é ganho quando o primeiro gol é marcado, assim, não 82 há tréguas. fito não chega a ser um evento esportivo;asregras não



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Ainda hoje é praticado no Afganistão um jogo, o Buz Kashi, que tem suas origens nas competições eqüestres introduzidas pelos mongóis.



A Escalada do Homem tocam em lealdade e respeito entre competidores. As táticas são li essencialmente mongóis; uma disciplina de truques: o aspecto surpreendente desse jogo foi o mesmo que confundiu os exércitos inimigos dos mongóis; aquilo que mais parece um tropel bárbaro e indisciplinado é, na realidade, cheio de manobras e termina em um repente, quando o vencedor dispara desimpedido para o círculo central. Tem-se a impressão de que o envolvimento emocional, toda a excitação, vem da platéia e não chega a atingir os cavaleiros. Estes se mostram atentos mas frios; cavalgam de forma brilhante mas rude, e estão absorvidos não nojogo mas, sim, na vitória. Termi­ nado o jogo, o campeão se deixa envolver pela excitação geral. Ele . deve solicitar a confirmação do gol ao presidente, uma vez que, mesmo nessa confusão, o esquecimento dessa atitude cavalhei­ resca pode invalidar o gol. Felizmente o presidente confirma o resultado. O Buz Kashi é um jogo guerreiro. O que o torna eletrizante é a ética eqüestre: cavalgar como num passe de guerra. Expressa a cultura monomaníaca da conquista; o predador se portando como herói porque ele cavalga o redemoinho. Mas o vento é vazio. Cavalo ou tanque, Genghis Khan ou Hitler ou Stalin só podem existir montados no trabalho de outros homens. Em seu papel histórico de guerreiro o nômade ainda é um anacronismo, 33 e pior que isso, em um mundo que descobriu, nos últimos doze Platô de Sultaniyeh mil anos, ser a civilização uma obra de povos sedentários. na Pérsia, alto, Subjacente a toda a extensão deste ensaio esteve sempre presente o conflito entre nomadismo e sedentarismo como estilos de vida. Assim, à guisa de epitáfio, seria apropriado irmos até o alto, inós­ pito e castigado pelo vento platô de Sultaniyeh na Pérsia onde se frustrou a última tentativa da dinastia mongol de Genghis Khan de consolidar a supremacia da vida nômade. Deve-se notar que a invenção da agricultura há doze mil anos, por si só, nem estabe­ leceu e nem confirmou a vida sedentária. Ao contrário, a domes­ ticação de animais, que foi um produto da agricultura, contribuiu para revigorar a economia nômade: a domesticação de cabras e ovelhas e depois, mas principalmente, a domesticação do cavalo. Este animal deu a base do poder às hostes mongóis de Genghis Khan, e possibilitou a organização para conquistar a China, os 86 Estados islâmicos e chegar às portas da Europa Central.

castigado pelo vento e inóspito, onde se frustrou a última tentativa de se estabelecer a supremacia do modo devida nômade.

Túmulo de Oljeitu Khan, quinto na linhagem de Genghis Khan, governador das terras persas de 1304 a 1316 sob o império mongol. A página mostrada é uma dedicatória a Oljeitu em um manuscrito do Alcorão, datado de 1310.



A Escalada do Homem Genghis Khan era um nômade e inventor de uma poderosa máquina de guerra —essa conjunção pode esclarecer muita coisa sobre as origens da guerra na história humana. É claro que pode­ mos cerrar os olhos à história e ir especular sobre algum instinto animal como responsável pela gênese desses conflitos: como se nós, à semelhança do tigre, ainda tivéssemos de matar para viver ou, tal qual o sabiá-laranjeira, defender o território do ninho. Mas a guerra, a guerra organizada, não é um instinto humano. Ela representa muito mais uma forma altamente organizada de coope­ ração para o roubo. E essa forma de roubo se iniciou há dez mil anos quando os agricultores acumularam reservas de alimentos, e os nômades assomaram do deserto com o objetivo de conseguir aquilo que, por eles mesmos, não podiam produzir. Evidência para isso encontramos nas muralhas de Jericó e em sua torre pré-histórica. Esse foi o começo da guerra. Genghis Khan e sua dinastia mongol trouxeram até o nosso milênio a pilhagem como meio de vida. De 1200 e 1300 d.C. viu-se a última tentativa de se estabelecer o domínio do salteador que nada produz sobre o camponês que não tinha para onde fugir. Em seu modo irresponsável, o nômade vinha apropriar-se das reservas acumuladas da agricultura. Entretanto, a tentativa falhou. Falhou principalmente porque os mongóis nada puderam fazer senão assimilar os costumes dos povos por eles conquistados. Tendo dominado os muçulmanos, eles próprios se converteram ao islamismo. Acabaram por se estabelecer em comunidades porque a pilhagem, a guerra, não são estados permanentes que possam ser mantidos. É fato que os ossos de Genghis Khan ainda foram espalhados entre seus seguidores através dos campos. Mas seu neto, Kublai Khan, já era um construtor e monarca estabelecido na China; vocês se lembram do poema de Coleridge; Em Xanadu, de fato, Kublai Khan Majestosa mansão mandou construir.

O quinto dos sucessores de Genghis Khan foi o sultão Oljeitu, que veio a este tenebroso planalto pérsico a fim de construir uma nova cidade-capital, Sultaniyeh; o que resta de seu próprio mausoléu foi, mais tarde, modelo para grande parte da arquite­ tura islâmica. Oljeitu era um monarca liberal e para cá trouxe 88 homens de todas as partes do mundo. Era inicialmente cristão,


As Colheitas Sazonais tornou-se budista e, mais tarde, maometano e tentou, realmente, criar as condições para que sua corte fosse internafional. Essa foi uma contribuição importante dos nômades para a civilização; recolheram culturas dos quatro cantos do mundo, juntaram-nas, misturaram-nas e então, mandaram-nas de volta para fertilizar a terra. A ironia da derradeira proposição dos nômades mongóis para o poder está no fato de, ao morrer, Oljeitu ser conhecido como Oljeitu, o Construtor. A agricultura e o modo de vida por ela criado formavam agora um degrau sólido da escalada do homem, instalando uma nova forma de harmonia entre os homens, que iria frutificar no futuro: a organização urbana.

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A

DA PEDRA Na mão Tomou o compasso dourado, da fábrica Eterna de Deus, para circunscrever O Universo, e todas as coisas criadas: Uma ponta pousou, e a outra girou À volta da vasta escuridão profunda, E disse: eis a tua extensão, os teus limites, Seja esta a tua Circunferência, Ó Mundo. Milton, Paraíso Perdido, Livro VII

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John Milton descreveu, e William Blake desenhou, a formação da Terra por ^ único movimento rápido do Compaso de

Deus.

AqtUilela de Wil m Blake de 1794 para o frontispício de

Europa, uma profecia.

John Milton descreveu e William Blake desenhou a formação da Terra por um único movimento rápido do Compasso de Deus. Mas essa é uma imagem excessivamente estática dos processos naturais. A existência da Terra data de mais de quatro bilhões de anos. Ao longo desse tempo ela tem sido plasmada e transfor­ mada por dois tipos de ações. Forças ocultas no interior da terra têm consolidado as camadas, elevado e deslocado as massas rochosas. Na superfície, a erosão da neve, da chuva, da tempes­ tade, dos rios e dos oceanos, o sol e o vento, esculpiram a arquitetura natural. O homem também acabou se tornando arquiteto do seu meio ambiente, mas ele não comanda forças tão poderosas quanto as da natureza. Seu método tem sido seletivo: uma abordagem intelectual na qual a ação depende do entendimento. Eu escolhi acompanhar sua história tomando por base as culturas do Novo Mundo, que são mais recentes do que as da Europa e da Ásia. Meu primeiro ensaio teve como objeto a África Equatorial, porque foi aí que o homem começou; e o segundo ensaio sobre o Oriente Médio, porque aqui nasceu a civilização. Entretanto, agora, já é tempo de lembrar ter o homem alcançado outros continentes em sua longa caminhada através da Terra. O Canyon de Chelly que, sem interrupção, desde o nascimento de Cristo, tem sido habitado por uma tribo de índios após °utra, mostra os mais antigos vestígios da presença humana na América do Norte. Na frase espirituosa de Sir Thomas Browne: “Enquanto na A mérica os caçadores estão acordados, na Pérsia, já passaram pelo primeiro sono”. Por volta do nascimento de Cristo os 91


A Escalada do Homem caçadores estavam se preparando para a agricultura no Canyon de Chelly, ensaiando os mesmos passos já percorridos no Cres­ cente Fértil do Oriente Médio, ao longo da escalada do homem. Qual a razão do grande atraso para o início da civilização no Novo Mundo em relação ao Velho? Evidentemente porque o homem chegou mais tarde ao Novo Mundo. Chegou antes da invenção do barco; o que implica uma travessia por terra, através dos estreitos de Bering, quando estes ainda formavam uma extensa ponte de terra durante a última glaciação. Indícios glaciológicos apontam dois períodos possíveis para a caminhada do homem, desde os promontórios do extremo leste do velho Mundo, para além da Sibéria, até a desolação rochosa do Oeste do Alaska, no Novo. Um período entre 28000 a.c. e 23000 a.C., e o outro entre 14000 a.c. e 10000 a.C. Depois disso, as torrentes do degelo da última glaciação novamente elevaram o nível do mar uma centena de metros, fechando, assim, a porta às migrações para o Novo Mundo. Dessa maneira, o homem veio da Ásia para a América entre trinta e dez mil anos atrás, e essa transferência não se deu, necessariamente, de uma só vez. Há sinais arqueológicos (locais pré-históricos e ferramentas) de que duas correntes distintas de cultura chegaram à América, Além disso, e parece-me ainda mais significativo, há indícios biológicos sutis, mas persuasivos, que só posso interpretar como significando que o homem veio em duas pequenas migrações sucessivas. As tribos indígenas das Américas do Norte e do Sul não são portadoras de todos os grupos sangüíneos encontrados em outras populações. Esse inesperado capricho biológico pode revelar-nos algo sobre a ascendência dessas tribos. A natureza da transmissão genética dos grupos sangüíneos é tal que, anali­ sada em uma grande população, pode fornecer dados sobre o passado genético. A ausência total do grupo sanguíneo A em uma população implica, com certeza quase absoluta, a não- 35 Canyon de -existência de ancestrais portadores desse grupo sangüíneo; o OCheUy mesmo acontece em relação ao grupo sangüíneo B. Na América ^Arizonanoé um vale isto é o que de fato acontece. As tribos das Américas Central e secretivo e do Sul (do Amazonas, dos Andes e da Terra do Fogo) pertencem Fotografio de T. H. inteiramente ao grupo sangüíneo O; o mesmo acontece com Sullivan de 1873 ruínas pueblas, algumas tribos da América do Norte. Outras tribos, entre elas dedenominada 92 os sioux, os chippewa e os pueblos, são portadoras de grupo “A Casa Branca”.


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A Escalada do Homem sanguíneo O, com uma mescla de dez a quinze por cento de grupo sangüíneo A. Em resumo, a evidência é a de que não há grupo sangüíneo B representado na América, como acontece em outras partes do mundo. Nas Américas Central e do Sul toda a população indígena original é do grupo sangüíneo O. Na América do Norte estão representados os grupos sangüíneos O e A. Não me ocorre nenhuma outra forma sensata de interpretar esses achados, a não ser supondo uma primeira migração de um grupo modesto e aparentado (todos de grupo sangüíneo O) que, chegando à América se multiplicou, espalhando-se em direção ao Sul. Uma segunda migração, ainda de pequenos grupos, mas, agora, de portadores de grupos sangüíneos A somente, ou de A e O. Estes últimos se fixaram na América do Norte apenas, e, por assim dizer, seriam mais recentes. A agricultura do Canyon de Chelly reflete essa chegada tardia. Embora o müho já fosse cultivado há muito tempo nas Américas Central e do Sul, aqui ele só aparece no início da era cristã. O povo é muito despojado, não tem casas e vive em cavernas. Por volta de 500 d.C. aparece a cerâmica. As choças eram cavadas nas paredes das cavernas, tendo por cobertura tetos de barro moldado ou de adobe. Até cerca do ano 1000 d.e. o Canyon permaneceu imutável nesse estágio, quando a grande civilização pueblo chega com os tijolos de pedra. Note-se que estou traçando uma nítida linha separando a arqui­ tetura baseada na moldagem e aquela resultante de ajustamento de partes distintas. Essa distinção pode parecer simplória, entre casa de barro e casa de tijolo de pedra. Na realidade isso repre­ senta uma diferença intelectual fundamental, e não apenas tecnológica. Sempre que o homem a conseguiu, essa distinção representou o mais importante passo na sua evolução: trata-se aqui de diferenciar a ação manipulatória da mão da sua capacidade de dividir e analisar partes de um todo. Tomar uma quantidade de barro e moldá-lo na forma de uma bola, de uma estátua, de uma caneca ou de uma choupana, parece-nos a coisa mais natural do mundo. À primeira vista poderíamos pensar que esse molde foi tirado de uma forma da natureza. Entretanto, isso não é verdade. O molde veio do homem. O pote não representa senão a concavidade da mão em 94 concha; a choupana reflete a ação modeladora do homem. E a

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A Natureza esconde seus segredos ao homem quando ele lhe impõe essas formas cálidas, roliças, femininas e artísticas.

Pote pueblo em forma de coruja. Período cesteiro, século VIII. Pote pueblo, século VIU.


A Textura da Pedra natureza esconde seus segredos ao homem quando ele lhe impõe essas formas cálidas, roliças, femininas e artísticas. Nada mais é refletido do que a forma da própria mão. Uma outra ação da mão humana é diferente e oposta. Acontece quando ela racha madeira ou quebra pedra; essas ações (com ajuda de ferramentas) exploram além da aparência superficial das coisas e, portanto, se tornam instrumentos de descobertas. Há um grande avanço intelectual no ato de rachar um pedaço de madeira ou de rocha, desnudando à análise a forma que a natureza lhes havia imposto. Os pueblos deram esse passo nos penhascos de rocha vermelha que se elevam a trezentos metros nas construções do Arizona. Os estratos tabulares ali estavam para serem cortados e os blocos foram assentados em planos semelhantes àqueles do Canyon de Chelly. Desde tempos remotos o homem vinha trabalhando diferentes tipos de rocha no fabrico de ferramentas. Algumas vezes a rocha tinha uma textura natural; algumas vezes o ferramenteiro, apren­ dendo a maneira exata de golpear a pedra, criava as linhas de clivagem. A idéia deve ter surgido, em primeiro lugar, do trabalho de rachar madeira, porque esta tem uma estrutura visivelmente fácil de ser aberta no sentido longitudinal das fibras, mas difícil de lascar no sentido transversal. Assim, a partir desse modesto começo, o homem é agraciado com uma visão reveladora das leis da composição das estruturas. A mão já não mais se impõe às formas das coisas. Pelo contrário, ela se torna um instrumento que à descoberta alia o prazer, no qual a ferramenta transcende o seu uso imediato, penetrando e arrancando do material os segredos das qualidades que estavam ocultos no seu bojo. À semelhança do lapidador que trabalha o cristal, descobrimos as leis secretas da natureza na estrutura interna da matéria. A descoberta de uma ordem subjacente à estrutura da matéria se constitui no conceito humano básico para posteriores explorações da natureza. A arquitetura das coisas revela uma estrutura sob a aparência, uma textura que, quando desnudada, torna possível isolar as diferentes conformações naturais e reagrupá-las em múltiplas combinações. Na escalada do homem isto representa para mim o passo que marca o início da ciência teórica. Tal aqui­ sição é pertinente tanto à maneira pela qual o homem concebe sua própria comunidade como ao seu conceito da natureza. 95


A Escalada do Homem 37 Nós, seres humanos, somos agrupados em famílias, as famílias Ruas em grupos de parentesco, os grupos de parentesco em clãs, os cidadedeuma que nenhum de nós clãs em tribos e as tribos em nações. O senso de hierarquia, de jamais em uma uma pirâmide na qual uma camada se superpõe à outra, manifes­ culturaviu, que ta-se no modo como olhamos a natureza. As partículas elemen­ desapareceu. sem tares formam núcleos, os núcleos se agrupam em átomos, os Junções argamassa e faces átomos em moléculas, estas em bases amídicas e as bases dirigem almofadadas caracterizam as a combinação de ácidos aminados que, por sua vez, se combinam construções para formar proteínas. Encontramos de novo, na natureza, algo pedra incas. de que parece corresponder profundamente à maneira pela qual Página seguinte: Machu Picchu, Vale nossas relações sociais nos congregam. Urubamba, Andes O Canyon de Chel1y é uma espécie de microcosmo de culturas, Orientais, Peru. montanhoso e seu clímax foi atingido quando os pueblos construíram as aoO pico fundo, Huayna grandes estruturas, pouco depois do ano 1000 d.C. Elas repre­ Picchu alcança 4.500 sentam, não apenas um tremendo conhecimento da natureza do metros. trabalho com a pedra, mas, também, de relações humanas; tanto aqui como em outras localidades, os pueblos construíram cidades em miniatura. As habitações nos penhascos às vezes se sobrepu­ nham em cinco ou seis andares, os pisos superiores apresentando recessos em relação aos inferiores. O bloco frontal acompanhava o plano do penhasco, mas os fundos se insinuavam para dentro da rocha. Esses grandes complexos arquitetônicos chegavam a atingir uma área construída de dez a quinze mil metros quadrados, abrigando quatrocentos ou mais aposentos. Pedras constroem paredes, paredes constroem casas, casas formam ruas e ruas, cidades. Uma cidade é pedra e gente; mas não é apenas pedras empilhadas e gente amontoada. Na passagem da vila para a cidade surge uma nova organização comunal, baseada na divisão de trabalho e em hierarquias de comando. Ao andarmos pelas ruas de uma cidade desconhecida, de uma cultura extinta, essa noção aflora claramente. Na América do Sul, nas partes mais elevadas dos Andes, Machu Picchu se encima a dois mil e quinhentos metros de altura. Foi construída no auge do Império Inca, por volta de 1500 (quase exatamente ao tempo em que Colombo tocava as Índias Ociden­ tais), quando o planejamento urbano representava uma de suas maiores conquistas. Ao conquistar e saquear o Peru em 1532, os espanhóis, por assim dizer, não tomaram conhecimento de Machu Picchu e suas cidades irmãs. Passaram, então, quatrocentos 96 anos de esquecimento até que, no inverno de 1911, Hiram





A Escalada do Homem Bingham, um jovem arqueólogo da Universidade de Yale, tro­ peçou em suas ruínas. Os séculos de abandono a haviam despo­ jado a ponto de parecer restos de um esqueleto. Mas esse esqueleto de cidade contém a estrutura fundamental de toda a civilização urbana, em todas as eras e em todos os cantos do mundo. / Uma cidade pressupõe a existência de uma infra-estrutura de t terra que lhe garanta a subsistência através de uma rica produção agrícola; assim, a infra-estrutura visível da civilização inca era o cultivo de terraços. É claro que atualmente esses terraços raspados nada mais produzem senão capim; mas, aqui, já se cultivou a batata (que é nativa do Peru) e o milho, que agora nativo, tinha sido trazido do norte. Além disso, como esta era uma cidade destinada a cerimônias, certamente muitas especiarias tropicais eram cultivadas para a estada dos incas que para aqui acorriam. Entre elas está a coca, uma espécie de erva inebriante que só à aristocracia inca era permitido mascar e da qual extraímos a cocaína. O coração de uma cultura em terraços é o sistema de irrigação. E isso foi desenvolvido pelos impérios pré-incaico e inca; ele percorre os terraços através de canais, aquedutos e profundas ravinas, em direção ao Pacífico, pelo deserto afora, fazendo-o florescer. O solo é tão fértil quanto o do Crescente Fértil e, portanto, a sua produtividade dependia do controle sobre a fonte de água. Assim, aqui no Peru, a civilização inca foi cons­ truída sob a égide do controle da irrigação. Um sistema de irrigação que se estende por todo um império requer uma forte autoridade central. Foi assim na Mesopotâmia. Foi assim no Egito. Foi assim no Império Inca. Isso significa que esta cidade e todas as cidades da região possuem uma base de comunicação invisível por meio da qual a autoridade podia estar presente e audível em toda parte, de modo a enviar ordens do centro para a periferia e receber informações no sentido inverso. Três invenções sustentaram a organização autoritária: as estradas, as pontes (numa região selvagem como esta), as mensagens. Ao inca elas chegavam e dele elas irradiavam. Esses são os laços que mantêm a ligação de qualquer cidade com outra, mas, aqui, nesta 38 As mensagens cidade, notamos, imediatamente, a existência de diferenças. chegavam Em um grande império, estradas, pontes e mensagens consti­ sob a formaao deinca tuem sempre invenções avançadas, posto que, uma vez interrom­ dados numéricos em pidas, a autoridade se desorganiza e desaparece - em tempos marcados pedaços de cordões 100 modernos elas têm sido os alvos preferidos dos revolucionários. chamados quipus.


A Textura da Pedra Sabemos que os incas dispensavam grandes cuidados a elas. Entretanto, nas estradas não havia carros, sob as pontes não se notavam arcos e as mensagens não eram escritas. A cultura incaica ainda não tinha feito essas descobertas no ano 1500. Essas são as razões por que a civilização na América se iniciou com um atraso de alguns milhares de anos, e foi conquistada antes de poder realizar todas as invenções do Velho Mundo. É estranho o fato de uma civilização capaz de transportar enormes blocos de rocha para construções, rolando-as sobre toras de madeira, não ter inventado a roda; nós nos esquecemos de que o fundamental a respeito da roda é o eixo fixo. Além disso, também é de se estranhar a construção de pontes suspensas sem o auxílio de arcos. Mas, mais estranhável ainda, é a existência de uma civilização que mantinha cuidadosos registros de infor­ mações numéricas e, no entanto, não chegou a escrevê-las - o inca era tão analfabeto quanto os mais pobres dos seus cidadãos ou os aventureiros espanhóis que os destruíram. As mensagens chegavam ao inca sob a forma de dados numé­ ricos marcados em pedaços de cordões chamados quipus. O quipu registra apenas números (na forma de nós, em um arranjo semelhante ao nosso sistema decimal) e eu, sendo matemático, sinceramente gostaria de poder dizer que os números são um simbolismo tão humano e informativo quanto as palavras; mas eles não o são. Os números que descreviam a vida de um homem no Peru eram coletados em uma espécie de cartão perfurado ao reverso, um cartão de computador em braille, organizado sob a forma de nós em um barbante. Quando casava, seu cordão era ajuntado a um outro chicote familiar. Todo tipo de coisas pertencentes aos exércitos incas ou estocados em seus silos e despensas eram registradas nos quipus. O fato é que o Peru já personificava a terrificante metrópole do futuro, o armazém de memória no qual o Império organiza os atas de cada cidadão, mantém-no, atribui-lhe tarefas, e registra tudo impessoalmente, através de números. Era uma estrutura social extremamente fechada. Cada um tinha seu lugar; cada um recebia sua subsistência; e cada um camponês, artesão ou soldado - trabalhava para um homem, o Inca supremo. Este, era o chefe civil do Estado e também a encarnação religiosa da divindade. Os artesãos que graciosamente esculpiram a pedra a fim de representar a aliança simbólica entre o Sol e seu deus e rei, o Inca, trabalhavam para o Inca. 101


A Escalada do Homem Assim sendo, tratava-se, necessariamente, de um império 39 acabamento dos extraordinariamente frágil. Em menos de cem anos, a partir de No gregos estão 1438, os incas conquistaram quatro mil e oitocentos quüômetros templos presentes os ângulos e os pórticos de costa, em quase toda a extensão entre o Pacífico e os Andes. retos quadrados. A despeito disso, em 1532, um aventureiro espanhol semi-anal­ Templo de Poseidon Paestum, ao sul fabeto, Francisco Pizarro, cavalgou para o Peru com não mais dano Itália. A do que sessenta e dois terríveis cavalos e cento e sessenta soldados sobreposição de colunas é um a pé, e, da noite para o dia, conquistou o grande império. Como? artifício dar Simplesmente capturando o Inca e, assim, decapitando a pirâmi­ leveza à para estru tura. de. A partir desse momento o império ruiu, e as cidades, as lindas cidades, se quedaram inermes à mercê dos pilhadores de ouro e dos abutres.


A Textura da Pedra Mas, certamente, a cidade representa mais do que uma autori­ dade central. O que é uma cidade? Uma cidade é povo. Uma cidade tem vida. Representa uma comunidade sustentada por uma infra-estrutura agrícola, mas muito mais rica do que uma vila, a tal ponto que pode prover todas as categorias de artesãos e torná-los especialistas em suas profissões. Os especialistas desapareceram, suas obras foram destruídas. Os construtores de Machu Picchu - o ferreiro, o artesão de cobre, o tecelão, o oleiro - foram roubados. Os tecidos apodreceram, o bronze pereceu e o ouro foi levado. O que restou foi o trabalho dos pedreiros, o lindo artesanato dos homens que construíram a cidade - pois a cidade nasceu das mãos dos artesãos e não da


A Escalada do Homem dos incas. Mas é natural que, se você trabalha para o Inca (ou As40 limitações físicas para qualquer outro homem), as idiossincrasias dele dirijam seus da pedra não atos, e você nada inventa. No ocaso do império, esses homens puderam ser superadas senão ainda utilizavam os dormentes; eles não chegaram a inventar a através arcada. J:,sta é a medida do atraso entre o Novo e o velho Mundo, invenção.de uma nova Modelos uma vez que esse é exatamente o ponto atingido dois mil anos fotoelásticos antes pelos gregos, que aí também pararam. mostrando linhas No Sul da Itália, Paestum foi uma colônia grega cujos templos são mais antigos do que o Partenon: cerca de 500 a.c. Seu rio foi-se sedimentando, e hoje monótonas bacias de sal separam-no do mar. Mas sua glória ainda é espetacular. A despeito de ter sido saqueada pelos piratas sarracenos no século IX e pelos cruzados no XI, Paestum, em ruínas, é uma das maravilhas da arquitetura grega. Paestum é contemporânea ao surgimento da matemática grega; exilado, Pitágoras ensinou em Crotona, uma outra colônia grega não muito longe daqui. À semelhança da matemática peruana de dois mil anos mais tarde, no acabamento dos templos gregos estão presentes os ângulos retos e os pórticos quadrados. Os gregos também não inventaram a arcada, e, dessa maneira, seus templos são avenidas congestionadas de pilares. A aparência de amplidão surge com as ruínas, mas, na realidade, são monumentos com pouco espaço de circulação. Isto se deve ao fato de a ampliação se dar pela adição de travessas retas e, neste caso, cada vão é limitado pelo comprimento da viga e pelo peso que ela pode suportar. Tendo-se uma viga apoiada em duas colunas, a análise compu­ tacional mostra que a tensão na viga aumenta à medida que afastamos uma coluna da outra. Quanto mais longa for a viga, maior será a compressão que seu peso produz na face superior e maior a tensão na face inferior. E pedra suporta pouca tensão; as colunas não se partem porque são comprimidas, mas as vigas se partem quando a tensão se torna demasiada. É a face inferior que arrebenta primeiro, a não ser que as colunas sejam mantidas bem próximas. A engenhosidade dos gregos se manifestava no sentido de tornarem a construção mais leve, por exemplo, superpondo colunas. Mas isso era apenas um artifício; fundamentalmente, as 104 limitações físicas da pedra não podiam ser superadas senão por

de igual tensão nas colunas^com^ -travessa e nos arcos. A tensôo aumenta abruptamente na face interna dil travessa. N o arco a tensôo é distribuída de maneira mais uniforme.



A Escalada do Homem uma nova invenção. Tendo-se em conta a fascinação grega pela geometria, o fato deles não terem concebido o arco é curioso. Acontece, porém, que o arco é uma invenção da engenharia, e, assim, apropriadamente, foi a invenção de uma cultura muito mais plebéia do que as do Peru e da Grécia. O aqueduto de Segóvia na Espanha foi construído pelos romanos, por volta do ano 100 de nossa era, sob o reinado do imperador Trajano. Canaliza as águas do Rio Frio, que desce de suas nascentes na Sierra, numa distância de dezesseis quilômetros. O aqueduto corta o vale numa extensão de uns oitocentos metros, com mais de uma centena de arcos com pilares sobrepostos, feitos de blocos toscos de granito lascado, assentados sem argamassa ou cimento. Suas proporções colossais de tal forma impressiona­ ram os cidadãos espanhóis e mouriscos de eras posteriores, e também mais supersticiosas, que hoje é alcunhado El Puente dei Diablo. A prodigalidade e o esplendor dessa estrutura podem parecer desproporcionais para uma simples rede de água. Entretanto, esquecemos os enormes problemas de uma civilização urbana, dada a facilidade com que obtemos água pelo simples abrir de uma torneira. Mas, qualquer cultura avançada, que concentra os melhores de seus homens nas cidades, depende do tipo de facili­ dades e organização representadas pelo aqueduto romano de Segóvia. A invenção romana do arco não apareceu primeiramente em pedra, mas, sim, em uma forma de concreto moldado. Estrutu­ ralmente, o arco é um método de ampliar o vão, de modo a não sobrecarregar o centro mais do que as extremidades; a tensão se distribui de forma mais homogênea. Ainda mais, o arco pode ser montado a partir de partes separadas: os blocos de pedra que a carga vai comprimindo. Nesse sentido, o arco representa um triunfo do método de dividir as formas naturais e recombiná-las em novos arranjos mais poderosos. Os arcos romanos são sempre semicirculares; chegaram a uma forma matemática que funcionava bem e não se inclinaram a inová-la. O círculo ainda permaneceu como a base da construção do arco, mesmo quando os árabes o utilizaram na produção em massa de suas obras arquitetônicas. Tal fato é evidente na arqui­ 106 tetura religiosã dos mosteiros árabes: por exemplo, na grande

41 O arco é_ a descoberta de uma cultura pragmática e plebéia.

"EI Puente dei Diablo”, aqueduto de Segóvia.


42 , O círculo permaneceu a base do arco nas constrHções em massa dos países árabes.

A Grande Mesquita, Córdoba.



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A decisão de construir as catedrais dependia do consenso dos cidadãos de uma localidade, os quais conf iavam as obras a pedreiros locais.

Nave e aléia da (Catedral de Rheims.

mesquita de Córdoba, também na Espanha, construída em 785, depois da conquista árabe. Embora seja uma estrutura muito mais espaçosa que o Paestum grego, aparentemente se defrontou com dificuldades semelhantes; isto é, a grande quantidade de blocos isolados que não podiam ser dispensados, a não ser por uma nova invenção. Descobertas teóricas com conseqüências radicais são rapidamente reconhecidas como originais e revolucionárias. Mas, descobertas práticas, mesmo quando se tornam de grande alcance, freqüentemente se apresentam como mais modestas e menos memoráveis. Assim, a inovação estrutural que veio remover as limitações do arco romano chegou, provavelmente de fora da Europa, quase que clandestinamente. A invenção se constitui em uma nova forma de arco baseada não mais no círculo, mas, sim, na elipse. Embora pareça uma modificação de somenos importância, seu impacto na articulação das construções foi espetacular. Eviden­ temente, um arco pontiagudo e mais alto permite a ampliação do espaço e melhor iluminação. Entretanto, a contribuição mais importante do arco gótico foi a de uma nova concepção no apro­ veitamento do espaço interno, como se pode ver na Catedral de Rheims. As paredes são liberadas da carga, e assim podem ostentar janelas e vitrais; o efeito do conjunto é o de uma gaiola suspensa pelas arcadas do teto, uma vez que o esqueleto é externo. John Ruskin descreve admiravelmente o efeito do arco gótico. As construções egípcias e gregas, na sua maior parte, se mantêm devido ao próprio peso e massa, cada bloco segurando o adjacente; mas, nas abóbadas góticas e suas ornamentações, há uma solidez semelhante ao esqueleto ósseo de um membro ou às fibras de uma árvore; uma tensão elástica e comunicação de força de parte a parte e, também, uma deliberada expressão do conjunto em cada linha visível do prédio.

Entre todos os monumentos da audácia humana nenhum pode ser comparado a essas torres de ornamentação e vidro que bro­ taram ao norte da Europa antes do ano 1200. A construção desses gigantescos e imponentes monstros representa um enorme feito da previsão humana - ou, mais apropriadamente, eu diria que, tendo sido construídos na ausência de conhecimentos matemáticos capazes de calcular as forças neles envolvidas, são obras da intuição humana. É claro que isso não aconteceu sem 109


A Escalada do Homem ter havido erros e mesmo consideráveis fracassos. Mas o que o matemático deve notar em relação às catedrais góticas é o fato de, a partir de uma intuição fecunda, haver um desenvolvimento tão harmonioso e racional a partir de cada uma das experiências com as estruturas sucessivas. A decisão de construir as catedrais dependia do consenso dos cidadãos de uma localidade, os quais confiavam as obras a pedreiros locais. Elas não guardam nenhuma relação com a arquitetura utilitária da época, mas as improvisações que tais obras exigiam multiplicavam-se em invenções de toda sorte. No 44 que diz respeito à mecânica, o desenho havia trocado o arco Os pedreiros consigo semicircular romano pelo arco gótico, pontiagudo e elevado, de carregavam um conjunto de tal forma que as tensões se distribuem através dos arcos para ferramentas leves. vertical era pontos no exterior da construção. No século XII surgiu o semi- Amantida com o -arco, outra inovação revolucionária que introduziu o arcobo- auxilio de uma tante. Neste, a tensão se distribui na coluna, da mesma forma linha-de-prumo e a não por que se distribui em meu braço, quando levanto a mão e empurro horizontal meio de um nível contra a parede, como se a estivesse apoiando - onde não há de bolha, mas, sim, através de uma tensão não há necessidade de tijolos. Nenhum princípio básico linha-de-prumo em arquitetura foi acrescentado a esse realismo, até a invenção atada a um ângulo reto. do aço e dos prédios de cimento armado. Pedreiros Tem-se a impressão de que os homens que conceberam essas trabalhando, elevadas construções estavam alucinados pelo recém-descoberto século XIII. domínio da força na pedra. De que outra forma se pode explicar a proposição de construir abóbadas de 40 e 45 metros de altura, em uma época em que não havia meios de se calcular a distribui­ ção de forças? Pois bem, a cúpula de 45 metros - construída em Beauvais, a menos de cento e cinqüenta quilômetros de Rheims — ruiu. Mais cedo ou mais tarde, os seus construtores inevitavelmente tinham que deparar com algum tipo de desastre. Há um limite físico para o tamanho, mesmo em se tratando de catedrais. E este aconteceu com o desmoronamento do teta de Beauvais, em 1284, apenas alguns anos após ter sido terminada. A partir daí, a aventura gótica tornou-se mais modesta, e nenhuma outra estrutura tão alta foi projetada. (Contudo, a planta empírica 45 pode ter sido correta; provavelmente o solo de Beauvais não era A tensão é aliviada das paredes e a suficientemente firme e cedeu sob o peso da estrutura.) Mas, em construção fica Rheims, a cúpula de 40 metros manteve-se firme, e desde 1250 como que uma tem-se constituído em um centro artístico da Europa. gaiola suspensã a partir da abóbada. O arco, as escoras, a abóbada (que é uma espécie de arco de Arcobotante, 110 rotação) ainda não constituem a última etapa de nossa capacidade Catedral de Rheims.



A Escalada do Homem

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A abóbada é uma espécie de arco em rotação.

Desenho de Pier Luigi Nervi para o Palazzetto dello Sport, Roma.

de modificar a textura da natureza emnosso proveito. Mas o que nos espera deve ter uma tessitura mais delicada, devemos olhar para os limites dos próprios materiais. É como se a arquitetura acompanhasse a física na sua mudança de enfoque, isto é, indo examinar a matéria no seu nível microscópico. De fato, moder­ namente o problema não é tanto o de projetar uma estrutura a partir dos materiais disponíveis, mas, sim, o de projetar os materiais para uma determinada estrutura. Os pedreiros traziam em suas cabeças um estoque, não tanto de formas como de idéias, que se desenvolvia com a experiência, à medida que se deslocavam de uma obra para a outra. Suas bagagens incluíam conjuntos de ferramentas leves. Os compassos serviam para marcar as formas ovais das abóbadas e os círculos as rosáceas das janelas. Intersecções eram determinadas com o uso de compassos de calibre, podendo assim alinhar as peças de modo a ajustá-las para a reprodução de padrões. Verticais e horizontais eram obtidas com o auxílio da régua em T que, à semelhança da matemática grega, utilizava o ângulo reto (veja-se pág. 157). Isto é, a vertical era alinhada por meio de um prumo, e para a horizontal, emvez de nível de bolha, usava-se outra linha de prumo perpendicular à vertical. Os construtores itinerantes constituíam uma aristocracia inte­ lectual (à semelhança dos relojoeiros de quinhentos anos mais tarde) e, certos de encontrarem trabalho e de serem bem recebi­ dos, deslocavam-se para todos os cantos da Europa. Já no século XIV esses homens se auto-intitulavam freemasons (pedreiros livres). A habilidade de suas mãos e de suas mentes passou a representar tanto um mistério como uma tradição, uma congre­ gação secreta de conhecimentos que se manteve à margem do formalismo estéril do ensino magistral oferecido pelas universi­ dades. No século XVII, quando o trabalho dos freemasons já estava minguando, eles passaram a admitir membros honorários, os quais gostavam de atribuir ao tempo da construção das pirâmides as origens dessa atividade. Na realidade, essa lenda não os enaltecia, uma vez que as pirâmides foram construídas dispondo-se de uma geometria muito mais primitiva do que a das catedrais. Há alguma coisa na visão geométrica que é universal. Quero explicar por que me interesso pelas belas obras arquitetônicas 112 —tais como a Catedral de Rheims. O que tem a ver a arquitetura


A Textura da Pedra com a ciência? Particularmente, o que tem ela a ver com a ciência da maneira como concebíamos esta, no ínico deste século, quando a ciência era toda números - o coeficiente de expansão deste metal, a freqüência daquele oscilador? O ponto que desejo destacar é o de que nosso conceito de ciência, atualmente, no final do século XX, mudou radicalmente. Agora vemos a ciência como uma maneira de descrever e explicar as estruturas subjacentes às coisas; assim, palavras tais como estrutura, padrão, plano, arranjo, arquitetura nos ocorrem constantemente em toda tentativa de descrição. Por coincidência, esse problema tem acompanhado toda a minha vida, e me proporcionado um prazer especial; desde a infância tenho trabalhado com matemática geométrica. Entretanto, isso já não é mais uma questão de preferência pessoal ou profissional, porque é essa a linguagem hodierna do discurso científico. Falamos sobre as formas de combinação dos cristais, da maneira como partículas elementares formam átomos - e, acima de tudo, falamos sobre as partes constituintes da matéria viva. No ano passado, a estrutura helicoidal do ADN passou a representar a imagem viva da ciência. Essa mesma vida se reflete na trama imaginosa daqueles arcos. Mas, afinal, qual o feito dessa gente que construiu esta catedral e outras semelhantes a ela? Simplesmente tomaram uma pilha de pedras sem vida, que não é uma catedral, e a transformaram numa obra de arte ao explorar as forças naturais da gravidade, da maneira pela qual os blocos de pedra se assentam naturalmente nos planos de construção, a brilhante invenção dos arcobotantes, do arco, enfim, e assim por diante. A estrutura por eles criada se desenvolveu a partir da análise da natureza para atingir uma síntese majestosa. O mesmo tipo de homem que hoje se inte­ ressa pela arquitetura da natureza foi o artífice dessa obra de oitocentos anos passados. Há um dom humano que é só de^ do homem, entre todos os outros animais, e esse dom se mostra por toda parte na arte gótica: o imenso prazer do exercício e aprimoramento de suas próprias habilidades. Um clichê popular da Filosofia diz que a ciência é análise pura ou, reducionismo, como o que separa as listras do arco-Íris; e arte, síntese pura, reconstruindo o arco-Íris. Tal concepção não é ver­ dadeira. Toda imaginação começa a partir de uma análise da natu­ reza. Michelangelo disse-o vivamente, por implicação, em suas



A Textura da Pedra esculturas (° que é particularmente claro em suas obras inacaba­ das) e, explicitamente em seus sonetos sobre o ato da Criação. “Quando o que em nós é divino tenta Moldar uma face, cérebro e mão se unem Para dar, de um modelo fugidio, Vida à pedra através da energia livre da arte.”

Cérebro e mão unidos”: o material toma forma através da mão e assim prenuncia o escopo do trabalho para o cérebro. O escufl tanto quanto o pedreiro, perscruta a forma no seio da natureza onde, para ele, elajá se encontra perfeita. Esse princípio é uma constante. “O melhor dos artistas nem pensou em mostrar Aquilo que a pedra bruta sob a carapaça Esconde: a magia do mármore quebrar É mister da mão, que o cérebro realiza.”

Ao tempo em que Michelangelo esculpiu a çabeça de Brutus outros homens extraíam o mármore para ele. Mas o artista iniciou sua vida como escavador de mármore em Carrara, e sentia que o martelo em suas mãos, tanto agora como antes, tateava na pedra à procura de formas nela escondidas. Agora, os escavadores de mármore trabalham em Carrara para os escultores modernos que aí chegam — Marino Marini, Jacques Lipchitz e Henry Moore. Descrevendo seus próprios trabalhos, eles não são tão poéticos quanto Michelangelo, mas o sentimento é o mesmo. As reflexões de Henry Moore são particularmente relevantes, uma vez que se dirigem ao gênio de Carrara.

4/ “A m^da do mármore quebrar é mister da mão, que o cérebro realiza.”

Cabeça de Brutus, Michelangelo, Museu Borgello, Florença.

No princípio, como um jovem escultor, não podia pagar por pedras caras, de modo que as obtinha revirando os estoques até encontrar o que era chamado “bloco de descarte”. A partir daí, então, tinha de pensar de modo semelhante ao que Michelangelo talvez fizesse, que consistia em esperar até surgir uma idéia adequada para a forma da pedra, e essa idéia era vista no próprio bloco.

É claro que não se deve entender literalmente que o que o escultor imagina e esculpe já se encontra escondido no bloco. Contudo, a metáfora revela a verdade sobre a relação da desco­ berta existente entre o homem e a natureza; e é característico o fato de filósofos da ciência (Leibniz, em particular) terem usado

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A Escalada do Homem

A48mão é_ a llâmina afiada da mente.

"Knife-edge-two-piece’’ de Henry Moore, 1962.

a mesma metáfora da mente instigada por um veio no mármore. Em um certo sentido, tudo o que descobrimos já existia: uma figura esculpida e uma lei natural estão ambas escondidas na matéria virgem. Em outro sentido, o que o homem descobre é descoberto por ele; não teria exatamente a mesma forma nas mãos de um outro - nem a figura esculpida, nem a lei natural se apresentariam como cópias idênticas, quando produzidas por duas mentes diferentes, em duas épocas distintas. Descoberta é uma relação recíproca de análise e síntese. Como análise, investiga o existente; mas, então, como síntese, rearranja as partes de tal maneira que a criação mental transcende os limites, o esqueleto, mostrados pela natureza. A escultura é uma arte sensual (os esquimós fazem pequenas esculturas que não se destinam a ser olhadas e, sim, manipula­ das). Assim, deve parecer estranho o fato de eu tomar como modelo para a ciência, usualmente tida como atividade abstrata e fria, as ações físicas, alegres, da escultura e da arquitetura. E o fato é que isso está correto. Temos de aprender que o conheci­ mento do mundo nos é revelado através da ação, e não da contemplação. A mão é mais importante do que o olho. Não pertencemos às civilizações resignadas e contemplativas do Extremo Oriente ou da Idade Média, para as quais o mundo tinha apenas de ser visto e pensado, e não praticavam nenhuma forma de ciência do modo como a concebemos. Nós somos ativos; e entendemos (veja-se pág. 417), como algo mais impor­ tante do que um mero acidente simbólico durante a evolução do homem, que a mão orienta o subseqüente desenvolvimento do cérebro. Hoje encontramos ferramentas construídas por homens antes de se tornarem homens. Em 1778, Benjamin Franklin chamou o homem de “animal fabricante de ferramen­ tas”, o que é correto. Descrevi a mão usando uma ferramenta como instrumento de descoberta; esse é o tema deste ensaio. Observamos o fato cada vez que uma criança aprende a ajustar a mão à ferramenta — amarrar os sapatos, enfiar uma agulha, soltar um papagaio ou soprar um apito. A ação prática implica uma outra, que é o prazer pela própria ação — na manipulação que se aperfeiçoa, o aperfeiçoamento ocorre pelo prazer que causa. No fundo, isso responde por toda obra de arte, e científica também: nossa 116 apreciação poética sobre o que os seres humanos fazem existe



A Escalada do Homem porque eles são capazes de fazer. E a maior exaltação que vem 49 disso é porque o uso poético encerra, em última instância, o Monumentos construídos por um significado mais profundo. Mesmo na pré-história o homem ho!Ilem cujos equipamentos construía ferramentas com corte mais afiado do que era neces­ científicos sário. O corte mais fino, por sua vez, destinou a ferramenta a melhores donãoqueeram os dos pedreiros um uso mais delicado, um refinamento prático e uma extensão góticos. de uso para a qual a ferramenta não havia sido construída. Watts Towers, Los Henry Moore chama de The Knife Edge a esta escultura. A Angeles. de um mão é a lâmina cortante da mente. Civilização não é uma Detalhes mosaico com coleção de artefatos acabados mas, sim, a elaboração de processos. impressões de e (à Enfim, a escalada do homem é representada pelo refinamento ferramentas página seguinte) da mão em ação. as torres. O incentivo mais poderoso na escalada do homem é o prazer que ele extrai de sua própria habilidade. Compraz-se com aquilo que faz bem e, obtendo esse resultado, delicia-se em aperfeiçoá-lo. Vê-se isso na ciência. Vê-se também na magnificência das escul­ turas e construções humanas, no carinho, na exuberância, na audácia. Os monumentos pretendem homenagear reis e religiões, heróis, dogmas, mas, ao final, o que realmente homenageiam são os construtores. Assim, a grande arquitetura religiosa de cada civilização exprime a identificação do indivíduo com a espécie humana. Chamá-Ia de veneração aos ancestrais, como na China, é pouco. A questão é que o monumento fala em nome dos mortos para os vivos e, assim, estabelece um sentido de permanência que é uma visão caracteristicamente humana: o conceito de que a vida humana forma uma continuidade que transcende e flui através do indivíduo. O homem sepultado a cavalo ou venerado em seu navio Sutton Hoo torna-se, nos monumentos de pedras de eras subseqüentes, um arauto da crença de que há uma entidade chamada humanidade, da qual cada um de nós é um representante —na vida e na morte. Não poderia terminar este ensaio sem falar de meus monu­ mentos favoritos, construídos por um homem tão pobremente equipado quanto os pedreiros góticos. Trata-se das Watts Towers de Los Angeles, construídas pelo italiano Simon Rodia. Este veio da Itália para os Estados Unidos com a idade de doze anos. Então, aos quarenta e dois anos, depois de ter trabalhado como pedreiro e mestre de obras, decidiu construir em seu quintal 118 essas tremendas estruturas, usando tela de galinheiro, pedaços



A Escalada do Homem de dormentes, hastes de aço, cimento, conchas, cacos de vidro e, é claro, azulejos — enfim, tudo o que encontrasse ou que os garotos da vizinhança pudessem trazer. Passaram-se trinta e três anos até o término da construção. Ninguém o auxiliou, princi­ palmente porque, em suas próprias palavras, “na maior parte do tempo eu mesmo não estava certo do que iria fazer”. A obra se completa em 1954 e ele contava setenta e cinco anos. Então, doou a casa, o jardim e as torres a um vizinho e, simplesmente, abandonou tudo. O que Simon Rodia pensava a respeito de sua obra foi assim expresso: “Eu tinha em mente realizar alguma coisa grande. E o fiz. A gente tem de ser ou muito bom ou muito ruim para ser lembrado”. Ele aprendeu sua engenharia empiricamente, à medida que ia fazendo, e extraía prazer de sua realização. Como era de se esperar, o Departamento Municipal de Obras considerou que as torres não apresentavam segurança e conseqüentemente, em 1959, realizaram nelas os testes adequados. Esta é a torre que o Departamento tentou pôr abaixo. Para minha felicidade não se conseguiu o intento. Assim, as Watts Towers sobreviveram; o trabalho das mãos de Simon Rodia, um monumento no século XX a nos reportar à habilidade simples, feliz e fundamental da qual se originaram todos os nossos conhecimentos das leis da mecânica. A ferramenta que amplia a mão humana é igualmente um ins­ trumento de visão. Revela a estrutura das coisas e permite sejam elas rearranjadas em novas e imaginativas combinações. Mas, é claro, a estrutura revelada não é a única existente no mundo. Sob ela há uma outra estrutura mais delicada. Assim, a etapa seguinte na escalada do homem vai consistir na descoberta de uma ferramenta que permite expor a estrutura invisível da matéria.

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A ESTRU^TURA INVISÍVEL E c°m o fogo que o ferreiro subjuga o ferr0 Em limpa à imagem de seu pensament0: Sem o fogo como pode o artista dar Ao ouro sua imaculada pureza de cor. Nem a fênix fabulosa reviveria Sem se queimar. Michelangelo, Soneto 59 Tudo o que o fogo produz é alquimia, quer na retorta, quer no fogão da cozinha. Paracelsus

Há mistério e fascínio na relação entre o homem e o fogo, o único dos quatro elementos dos gregos que não admite habitante animal (nem mesmo a salamandra). As ciências físicas modernas se dedicam muito à estrutura fina e invisível da matéria, e esta é revelada em primeira mão pela lâmina afiada desse instrumento que é o fogo. Embora essa maneira de análise de processos práti­ cos (extração de sais e metais, por exemplo) tenha se iniciado há milhares de anos, ela certamente se afirmou pela magia que emana do próprio fogo: a crença alquímica de que substâncias podem ser transformadas de maneiras imprevisíveis. É essa qualidade luminosa que parece fazer do fogo uma fonte de vida e uma coisa vivente a nos levar através do mundo oculto e misterioso das entranhas da matéria. Muitas receitas antigas expressam essa idéia. Agora a substância do cinabre se apresenta de tal forma que quanto mais é aquecido, mais admiráveis são as suas sublimações. O cinabre se faz mercúrio, e através de uma série de outras sublimações, volta, novamente, a ser cinabre. Dessa forma, ele permite que o homem se beneficie da vida eterna.

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A misteriosa qualidade que parece fazer do fogo uma fonte de vida.

"Le Soulfleur à la Lampe " por Georges de la Tour.

Em toda a parte, da China à Espanha, essa é a experiência clássica com que os alquimistas da Idade Média arrancavam admiração de todos aqueles que a presenciavam. Eles tomavam o pigmento vermelho, cinabre, que é sulfeto de mercúrio, e aqueciam-no. O aquecimento elimina o enxofre e deixa uma magnífica pérola do metal líquido, mercúrio prateado para espanto e admiração do espectador. Ao ser aquecido em presença do ar , o mercúrio se oxida e se transforma, não em cinabre 123


A Escalada do Homem (como ensinava a receita), mas em um óxido de mercúrio, igual­ mente vermelho. Entretanto, a receita não era de todo errada; o óxido pode transformar-se novamente em mercúrio, de vermelho para prateado, e o mercúrio em seu óxido, de prateado para vermelho, sempre pela ação do fogo. O experimento não apresenta grande importância em si mesmo, embora acontecesse que os alquimistas de antes de 1500 d.C. considerassem o enxofre e o mercúrio como os dois elementos dos quais o Universo era composto. Mas, em todo caso, ele mostra uma coisa importante: o fogo sempre foi considerado um ele­ mento de transformação, e nunca de destruição. Essa tem sido a magia do fogo. Lembro-me de Aldous Huxley, conversando longamente comigo durante toda uma noite, suas mãos claras suspensas junto ao fogo, dizendo: “Este é o que transforma. Estas são as lendas que o mostram. Acima de tudo, a lenda da Fênix que renasce do fogo, e vive, vez por outra, geração após geração”. O fogo é a imagem da juventude e do sangue, a cor simbólica do rubi e do cinabre, e do ocre e da hematita, com as quais os homens se pintavam em cerimoniais. Quando, segundo a mitologia grega, Prometeu trouxe o fogo ao homem, deu-lhe vida e tornou-o semideus — por essa razão Prometeu foi punido pelos deuses. Pensamos que, de uma maneira mais prática, o fogo foi conhecido pelo homem primitivo há quatrocentos mil anos. Esse fato implica o conhecimento do fogo pelo Homo erectus; como já enfatizei, há certamente vestígios dele nas cavernas do homem de Pequim. Desde essa época, toda cultura usou o fogo, embora não esteja claro se todas elas sabiam como fazer fogo; os pigmeus (tribo descoberta em tempos históricos, habitantes da floresta tropical das ühas Andaman, ao sul de Burma) não possuem tecnologia para fazer fogo, de forma que dispensam os maiores cuidados alimentando os fogos surgidos espontaneamente. De maneira geral, diferentes culturas têm usado o fogo para finalidades semelhantes: aquecer, afugentar predadores, limpar terreno, e levar a cabo as transformações comezinhas do dia a dia — cozinhar, secar e endurecer madeira, aquecer e partir pedras. Contudo, é claro que a grande transformação plasmadora de nossa civilização é muito mais penetrante: é o uso do fogo reve­ lando uma classe inteiramente nova de materiais, os metais. Este 124 constitui um dos altíssimos degraus, um salto na escalada do

51 Submetido à. tensão o cobre, na forma de arame, por exemplo, começa imediatamente a se adelgaçar.

O adelgaçamento de um arame de cobre ocorre por deslizamento interno dos cristais, antes de aparecer o ponto de fratura. Magnificação de 15 x.


A Estrutura Invisível homem, o qual se emparelha à invenção mestra das ferramentas de pedra, posto ter ela surgido da descoberta de ser o fogo uma ferramenta muito mais sutil na tarefa de dividir a matéria. A física é a faca que separa a textura da natureza; o fogo, a espada fla­ mejante, na pedra, corta além da estrutura visível. Há quase dez mil anos, logo depois do estabelecimento de comunidades sedentárias na agricultura, no Oriente Médio, o homem já usava o cobre. Mas a utilização dos metais não se generalizou senão após terem-se encontrado processos sistemá­ ticos de extraí-los. Como sabemos agora, a extração de metais de suas escórias iniciou-se há mais de sete mil anos , na Pérsia, e no Afganistão, por volta do ano 5000 a.C. No U:ício, peru'as verdes de malaquita eram colocadas diretamentc no fogo e delas fluía o metal vermelho do cobre —uma feliz coincidência, posto que o cobre se desprende a uma temperatura relativamente baixa. Os homens reconheciam o cobre porque esse metal era encontradiço na superfície, em blocos e, nesta forma, vinha sendo martelado e moldado por mais de dois mil anos. O Novo Mundo também trabalhava o cobre, e já o fundia pelo tempo de Cristo, mas parou por aí. Apenas no Velho Mundo o metal chegou a se constituir no esqueleto da vida civilizada. De repente, a gama de controles exercidos pelo homem aumentou imensamente. Tem agora em suas mãos um material que pode ser moldado, estirado, amassado, fundido em moldes; o qual pode ser transformado em ferramenta, ornamento ou utensílio; e, além de tudo, pode ser novamente atirado ao fogo e reaproveitado. A sua única desvantagem: o cobre é um metal mole. Sob tensão oferece pequena resistência. Isso é devido ao fato como outros metais puros, o cobre ser formado de camadas de cristais. Os átomos do metal se dispõem em arranjos regulares nas camadas, as quais deslizam umas em relação às °utras até ° ponto de ruptura. Quando um arame de cobre estirado começa a se adelgaçar (isto é, desenvolvendo pontos de fraqueza), não é tanto por uma falha na sua tensão, mas, sim peta deslizamento interno. É claro que o trabalhador do cobre não pensava dessa há seis mil anos atrás. Ele enfrentava um problema mais isto é, o cobre não se prestava ao fabrico de instrumentos de corte. Por um curto período de tempo a escalada do homem se manteve na expectativa da etapa seguinte: conseguk um metal duro com borda cortante. Se isso podesugeril-umaimportanciamuito grande


A Escalada do Homem para um avanço tecnológico, vejamos como foi bela e paradoxal a descoberta da etapa seguinte. Considerado em um contexto moderno, o que deveria ser feito nessa etapa seguinte parece óbvio. Como já foi dito, o cobre, na sua forma metálica pura, é mole porque seus cristais se dispõem em planos paralelos que deslizam facilmente uns em relação aos outros. (Pode-se endurecê-lo um pouco molhando-o, de forma que, ao quebrarem-se os cristais maiores, a estrutura se torna mais compacta.) Assim, se conseguirmos introduzir alguma coisa áspera nos cristais, tal manobra pode impedir o deslizamento das camadas e endurecer o metal. Evidentemente, em se tratando do nível fino de estrutura ao qual estou me referindo, a coisa áspera tem de ser uma outra espécie de átomo substituindo átomos de cobre nos cristais. Temos de conseguir uma liga cujos cristais sejam mais rígidos porque os átomos de suas estruturas não são todos da mesma espécie. Esta é a abordagem moderna; apenas nos últimos cinqüenta anos é que viemos a entender serem as propriedades especiais das ligas metálicas atribuíveis às suas estruturas atômicas. No entanto, por sorte ou por experimento, os antigos forjadores encontraram a solução: adicionando ao cobre um outro metal ainda mais mole, o estanho, consegue-se uma liga mais dura e mais durável que qualquer um dos dois - o bronze. O golpe de sorte talvez venha do fato de que, no Velho Mundo, os minérios de cobre e de estanho sejam encontrados nas mesmas localidades. Por outro lado, qualquer metal puro é mais fraco e muitas impu­ rezas têm o efeito de torná-lo mais rígido. A função do estanho nessa liga nada tem de especial;representa uma propriedade geral de adicionar ao material puro um tipo de abrasivo atômico — pontos de grande coeficiente de atrito que aderem às malhas do cristal, impedindo os deslizamentos. Esforcei-me para dar uma descrição científica da natureza do bronze porque ela constitui uma descoberta maravilhosa. Maravi­ lhosa, também, como uma revelação para aqueles que a manipu­ 52 lam, do potencial criado e suscitado por um novo procedimento. Vasos para vinho - em O trabalho no bronze atingiu sua refinação máxima na China. epartealimento ornamentais e Certamente o bronze chegou aí através do Oriente Médio, aonde em parte divinos. para vinho foi descoberto em 3800 a.C. O auge da era do bronze na China naVasoforma de coruja. coincide com o início da civilização chinesa, na forma que a Bronze chinês, 126 concebemos —a dinastia de Shang, antes de 1500 a.C. 800 a.C.



A Escalada do Homem A dinastia Shang governou um grupo de domínios feudais no vale do Rio Amarelo, e, pela primeira vez, criou uma forma de cultura e estado unitário na China. Em todos os sentidos trata-se de um período formativo, quando a cerâmica também se desen­ volve e a escrita se estabelece (é a caligrafia, tanto na cerâmica como no bronze, que nos surpreende). Os objetos de bronze do período alto foram feitos com uma tal preocupação oriental do detalhe que, em si mesmos, são fascinantes. Os chineses construíam os moldes para os objetos de bronze fundido colando cintas de argila em torno de um cerne de cerâ­ mica. Como essas cintas ainda podem ser encontradas, podemos determinar a seqüência do procedimento: a preparação do cerne central, o entalhamento dos desenhos e, particularmente, as inscrições nas cintas apostas ao bloco central. Nesses moldes as cintas constituem a face externa, a qual é cozida de modo a poder receber o metal fundido. Podemos mesmo acompanhar a prepa­ ração tradicional do bronze. As proporções de cobre e estanho usadas pelos chineses são quase exatas. Bronze pode ser obtido a partir de qualquer proporção de estanho, entre cinco e vinte por cento, adicionado ao cobre. Os melhores objetos de bronze Shang contêm quinze por cento de estanho, e nesses a fidelidade da reprodução é perfeita. Nessa proporção, o bronze é cerca de três vezes mais duro do que o cobre. Os bronzes Shang são objetos litúrgicos, divinos. Para a China, eles representaram objetos monumentais de adoração, equiva­ lentes na Europa a Stonehenge, constituída na mesma época. Daqui para a frente o bronze se torna matéria-prima para todos os propósitos, um verdadeiro plástico do seu tempo. Encontra­ mos-lhe essa qualidade universal tanto na Europa como na Ásia. Entretanto, no clímax do artesanato chinês, o bronze é porta­ dor de um significado mais rico. O encanto desses trabalhos chineses, vasos para vinho e comida - em parte decorativos e em parte divinos - está no fato deles constituírem uma arte brotada espontaneamente a partir de suas habilidades tecnológi­ cas. O artífice é orientado e dirigido pelo material; na forma e no relevo o desenho flui com o processo. A beleza criada, a maestria revelada, nascem da devoção ao ofício. O conteúdo científico dessas técnicas clássicas é bem definido. Com a descoberta de que o fogo funde metais aparece no seu 128 devido tempo a descoberta mais sutil: ele pode fundi-los conjun-

O53trabalho no bronze atingiu sua expressão mais requintada naChina.

Sino de bronze fundido, 800 a.C. Detalhe da caligrafia inscrita no topo do sino.



54 Aforja da espada, como acontecia com toda a metalurgia antiga, obedece a um ritual.

Mestre cuteleiro Getsu em seu trabalho. O tempero e o polimento da lâmina Ê levado a cabo na oficina do Templo de Nara, Japão.


A Estrutura Invisível tamente, surgindo ligas que ostentam novas propriedades. E isto vale igualmente para o ferro e para o cobre. Na realidade, o paralelismo da história da utilização dos dois metais se revela em todos os estágios. O ferro também foi primeiramente usado em sua forma natural; ferro bruto chega à superfície da Terra por meio de meteoros, razão pela qual seu nome sumeriano é “metal dos céus”. Quando o minério de ferro foi fundido mais tarde , o metal pôde ser reconhecido, uma vez que já havia sido usado. Os índios da América do Norte utilizavam ferro de meteoro, mas não chegaram a fundir o minério. Dada a maior dificuldade da extração do ferro a partir de seu minério, a fundição desse metal se constitui em invento posterior ao do cobre. A primeira evidência positiva de seu uso prático é representada por um fragmento de ferramenta cravada em umas das Pirâmides; isso lhe confere uma idade anterior a 2500 a.C. Entretanto, o uso generalizado do ferro se iniciou com os hititas, nos arredores do Mar Negro, por volta de 1500 a.C. —justamente ao tempo dos mais finos bronzes da China, tempo, também, de Stonehenge. Da mesma forma que a importância do cobre se deveu à obtenção de uma liga, o bronze, a importância do ferro marcou época com o aparecimento do aço. Por volta de 1000 a.C., em quinhentos anos portanto, o aço é produzido na Índia, e as mara­ vilhosas propriedades dos diferentes tipos de aço passam a ser conhecidas. No entanto, o aço permaneceu como um material para usos especiais, e de certa forma raro, até muito recentemente. Há apenas duzentos anos a indústria de aço de Sheffield ainda era modesta e atrasada, a tal ponto de o quaker Benjamin Huntsman, necessitando uma mola de relógio de precisão, ter-se visto na contingência, ele próprio, de se tornar metalúrgico e descobrir como fazer o aço de que necessitava. Uma vez que dirigi minha atenção para o Extremo Oriente quando quis ilustrar o aperfeiçoamento do bronze, tomarei agora um exemplo oriental de como evoluíram as técnicas de produção dos diferentes tipos de aço. Para mim, o auge dessas técnicas foi atingido com a confecção da espada pelos japoneses, a qual, de uma forma ou de outra, vem se continuando desde 800 d.C. A forja da espada, como acontecia com toda a metalurgia antiga, obedece a um ritual, mas há uma razão evidente para isso. Quando não se tem linguagem escrita ou mesmo nada próximo do que se 131


A Escalada do Homem podería chamar uma fórmula química, um cerimonial estrito fixa exatamente a seqüência das operações, de modo a tornar possível sua reprodução sem alterações indesejáveis. Assim, há uma forma de reverência, de sucessão apostólica, através da qual uma geração dá graças e transmite os materiais à seguinte, abençoa o fogo, e abençoa o cuteleiro. O homem fazendo a espada da foto porta o título de “Monumento Cultural Vivente” formalmente atribuído aos mestres proeminentes das artes antigas pelo governo japonês. Seu nome é Getsu. E, em um sentido profissional, considera-se descendente direto de Masamune, que aperfeiçoou o processo no século XIII —a fim de ajudar a repelir os mongóis. Ou pelo menos assim reza a tradição; certamente, sob o comando de Kublai Khan, neto de Genghis Khan, os mongóis devem ter repetidamente tentado invadir o Japão, a partir de suas bases na China. O ferro é uma descoberta mais recente do que o cobre porque em todos os estágios ele requer maior aquecimento —na fusão, na moldagem e, obviamente, no processamento de sua liga, o aço. (O ponto de fusão do ferro está em torno de 1500oC, quase 500oC mais alto do que o do cobre.) Além disso, tanto no. tratamento pelo calor como na sua reação com elementos adicio­ nados, o aço é material infinitamente mais caprichoso do que o bronze. O aço é produzido pela adição ao ferro de pequenas quantidades de carbono, usualmente menos de um por cento, e variações nesta determinam as suas propriedades especiais. O processo envolvido na fabricação da espada ilustra a neces­ sidade do controle delicado do carbono e do aquecimento, no sentido de se obter um objeto de aço perfeitamente adequado às finalidades de sua utilização. Mesmo a parte de aço do cabo não se consegue simplesmente, uma vez que a espada tem de combinar duas propriedades diferentes e incompatíveis dos materiais. Tem de ser flexível, mas, ao mesmo tempo, dura. No mesmo objeto essas duas propriedades só podem ser combinadas quando ele é constituído pelajustaposição de camadas. O método para se obter o cabo consiste em, após tê-lo aparado, dobrá-lo sobre si mesmo inúmeras vezes, conseguindo, assim, a justaposição de muitas superfícies internas. Em sua técnica, Getsu dobra o cabo quinze vezes. Isso significa que se tem aí 215 camadas de aço, bem mais do que trinta mil. Cada camada tem de ser ligada à adjacente, a qual apresenta diferentes propriedades. É como se ele estivesse 132 querendo combinar a flexibilidade da borracha com a dureza do

55 As duas propriedades são finalmente combinadas no acabamento da espada.

Marcas de água em uma espada feita por Nobuhide, no século XIX. para o Imperador Meiji.


A Estrutura Invisível vidro. Enfim, a espada é um imenso sanduíche dessas duas propriedades. No último estágio a espada é recoberta com argila em camadas de diferentes espessuras, de modo que ao ser aquecida, e então mergulhada na água, o arrefecimento não seja uniforme. Neste momento final, a temperatura do aço tem de ser avaliada exata­ mente, e isso é conseguido através de longa prática, ao ponto de se perceber a espada resplandecendo nas cores do sol matinal, o que, nesta civilização, dispensa métodos mais objetivos de medida. A favor destes artesãos, tenho de relatar o uso generali­ zado da determinação de matizes de cores na fabricação de aço na Europa: ainda no século XVIII,o estágio preciso para temperar o aço era quando ele se tornava amarelo-palha, ou púrpura, ou azul, de acordo com o tipo de aço desejado. O auge, não tanto da encenação mas da química, está no arre­ fecimento, que endurece a espada e confere as diferentes propriedades às suas partes. Cristais de diferentes formas e tama­ nhos são produzidos por diferentes gradações de resfriamento: cristais grandes e suaves no cerne flexível da espada, e pequenos e denteados no fio cortante. As propriedades da borracha e do vidro são finalmente fundidas na espada, e reveladas na aparên­ cia da sua superfície — um brilho de seda furta-cor altamente valorizado pelos japoneses. Entretanto, o teste da espada, o teste de uma técnica empírica, o teste de uma teoria científica se resume no seguinte: ela funciona? Pode ela cortar o corpo h umano segundo o formalismo descrito no ritual? Os talhos tradicionais são mapeados tão cuidadosamente quanto os cortes de carne em livros de culinária: “Talho número dois — o O-jo-dan”. Nos dias de hoje o corpo humano é substituído por um boneco de palha, no que tange ao teste da espada. Tempos houve, entretanto, em q ue a espada era testada literalmente, isto é, na execução de prisioneiros. A espada era a arma dos Samurais. Com ela, sobreviveram a intermináveis guerras civis que dividiram o Japão a partir do século XII. Esses homens estavam pejados de delicados objetos de metal: a armadura flexível construída com fitas de aço, os arreios das montarias, os estribos. No entanto, os Samurais eram totalmente ignorantes em relação às técnicas através das quais esses objetos eram feitos. À semelhança dos cavaleiros de outras culturas, eles viviam pela força, mas, mesmo para suas armas, dependiam da habilidade de aldeãos, os quais eram, alternada-


A Escalada do Homem mente, protegidos e roubados pelos Samurais. Estes acabaram-se O56ouro se constitui transformando em um bando de mercenários que vendiam seus no prêmio universal em todos os países, serviços a peso de ouro. em todas as culturas, em todas as eras. Nosso entendimento de como o mundo material é organizado a eOuro grego: máscara partir de unidades elementares vem de duas fontes. Uma delas já de um rei aqueu, um túmulo em foi comentada e constitui o desenvolvimento de técnicas de deMicenas, obtenção de metais úteis e suas ligas. A outra é a alquimia, e e$ta 16.0 século a.C. moeda apresenta características diferentes. Trabalha em pequena escala, doOuroReipersa: Creso, não é dirigida a objeto de uso diário, e se insere em um corpo de século VII. Ouro peruano: teoria especulativa. Por razões obscuras, mas não acidentais, a Mochica alquimia ocupou-se muito com outro metal, o ouro, que é virtu­ estampadopuma, com desenhos de almente inútil. Contudo, o ouro tem fascinado tanto as sociedades serpentes humanas que seria perversidade minha não tentar apontar as cabeças. de duas Ouro africano: propriedades que lhe deram poder simbólico. escudo peitoral de O ouro se constitui no prêmio universal em todos os países, um Chefe, impresso em todas as culturas e em todas as eras. Uma coleção representa­ com padrões de de cacau, tiva de objetos de ouro pode ser lida tal qual uma crônica da semente Ghana, século XIX. civilização. Rosário de ouro esmaltado, século XVI, inglês. Broche Ouro moderno: central de representando uma serpente de ouro, 400 a.c., grego. Coroa tripla receptor entrada, de ouro de Abuna, século XVII, abissiniana. Bracelete de ouro minicalculador de bolso Concorde. em forma de cobre, romano antigo. Vasos rituais de ouro aqui- Edinburgh, século menídeo, século VI a.C., persa. Tigela de beber de ouro Malik, XX. século VIII a.c., persa. Cabeças de boi de ouro.. . Faca cerimonial de ouro, Chimu, Pré-inca, peruano, século IX. . . Saleiro de ouro esculpido, Benvenuto Cellini, estatuetas do século XVI, encomendadas pelo rei Francisco I. Cellini registrou as palavras de seu patrão francês a respeito de sua obra: Quando expus o trabalho perante o rei, ele perdeu o fôlego, maravilhado; não conseguia tirar os olhos da peça. Então, exclamou cheio de admiração: “ Isto é cem vezes mais divino do que eu jamais poderia ter pensado! Que ser extraordinário é o homem!”

Os espanhóis saquearam o Peru por seu ouro, o qual a aristo­ cracia inca coletava como nós colecionaríamos selos, com um toque de Midas. Ouro da avareza. Ouro do esplendor, ouro do adorno, ouro da reverência, ouro do poder, ouro sacrificial, ouro da vivificação, ouro da ternura, ouro do barbarismo, ouro da volúpia. . . Os chineses descobriram a qualidade que torna esse metal irresistível. Assim falou Ko-Hung: “Ouro amarelo, mesmo 134 fundido uma centena de vezes, nunca se deteriora”. Através dessa


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A Escalada do Homem 57 frase tomamos conhecimento de uma propriedade física que Ouro torna o ouro singular, a qual pode ser testada ou experimentada saleirorenascentista: de ouro moldado e na prática, e demonstrada em teoria. esmaltado, feito por É fácil ver que o homem encarregado da feitura de artefatos de ouro não era um simples artesão, mas sim um artista. Igualmente importante, mas menos fácil de reconhecer é que o homem encarregado da experimentação com o ouro também era mais do que um simples técnico. Para ele, o ouro era um elemento científico. Dominar uma técnica é útil; mas como qualquer outra habilidade, o que lhe dá força e importância é sua posição em um esquema natural geral - numa teoria. Os homens que tentaram e refinaram o ouro colocaram a descoberto uma teoria da natureza: uma teoria pela qual, embora o ouro seja único, ele pode ser obtido de outros elementos. Essa é a razão pela qual grande parte da antigüidade despendeu seu tempo e engenhosidade elaborando maneiras de testar a pureza do ouro. No início do século XVII Francis Bacon definiu a questão claramente. O ouro apresenta essas naturezas —grandeza do peso, intimidade de partes, fIxação, maleabilidade ou maciez, imunidade à ferrugem, cor ou tintura amarela. Se alguém conseguir fazer um metal com todas essas propriedades, deixemos que os homens discutam se se trata ou não de ouro.

Entre os vários testes clássicos de pureza do ouro, um deles apresenta mais visivelmente suas propriedades diagnosticas. Tra­ ta-se do teste pela cupelação. Um pote de cinza de osso, o cadinho (cupel), é aquecido em fornalha a uma temperatura muito mais alta do que a do ponto de fusão do ouro puro. Colocado no cadinho, o ouro contaminado por escória se funde. (O ouro apresenta ponto de fusão bastante baixo, pouco acima de 1000°C, quase igual ao do cobre.) O que acontece então é que a escória se desprende do ouro e é absorvida nas paredes do cadinho: assim, repentinamente, acontece a separação visível, como se fosse entre a impureza do mundo e a pureza oculta do ouro. O sonho dos alquimistas de fabricar ouro sintético tinha que passar pelo teste concreto da sobrevivência da pérola de ouro no fundo do cadinho. A capacidade do ouro resistir ao que erachamado degeneração (e nós a chamaríamos ataque químico) era ímpar, e, portanto, 136 valiosa. e diagnóstica. Implicava, também, um poderoso simbolis-

Benvenuto Cellini, representando Netuno e Vênus, oferecido ao Rei Francisco I da França, 1543. Ouro irlandês: gargalheira de ouro. C. Clare, século IX.



A Escalada do Homem mo, explícito mesmo nas fórmulas mais antigas. A primeira referência escrita à alquimia data de dois mil anos e é chinesa. Relata um método de obtenção de ouro e seu uso para prolongar a vida. Para nós, essa é uma conjunção extraordinária. Em nossa civüização o ouro é precioso pela sua raridade; mas para os alquimistas de todo o mundo o ouro era precioso por ser incor­ ruptível. Nenhum ácido ou álcali conhecido naquele tempo o atacava. Essa, aliás, era a maneira pela qual o ourives do imperador atestava a pureza do ouro; o tratamento com ácido era muito menos laborioso do que o da cupelação. Em um tempo em que a vida era considerada (e para a maioria o era de fato) solitária, pobre, desagradável, brutal e curta, o ouro representava para o alquimista a centelha eterna no corpo huma­ no. A procura da fórmula para conseguir ouro e o elixir da vida era uma só. O ouro simboliza a imortalidade —mas devo dizer que para o alquimista não era símbolo, mas, sim, a expressão, a materialização da incorruptibilidade, nos mundos físico e vivente. Assim, ao tentar a transmutação de metais básicos em ouro, o alquimista buscava, com a ajuda do fogo, transformar o corrup­ tível no incorruptível; tentava extrair a qualidade de permanência a partir do cotidiano. E tal empresa era afim da busca da eterna juventude: todas as poções destmadas a combater o mal da velhice contjnhai1J. ouro, ouro metálico como mgrediente essencial, e uma recomendação para que fosse bebida em taça de ouro, para prolongar a vida. A alquimia representa muito mais do que um simples conjunto de truques ou uma crença vaga em uma magia benigna. Desde seus primórdios se constitui em uma teoria de como o mundo se relaciona com a vida humana. Em uma era em que não se fazia distinção clara entre substância e processo, e elemento e ação, os elementos alquímicos eram também aspectos da personalidade humana — da mesma forma que os quatro elementos dos gregos representavam humoresque o temperamento humano combmava. Portanto, subjacente ao trabalho deles havia uma teoriaprofunda: derivada micialmente das idéias gregas sobre os quatro elementos, evoluiu na Idade Média tomando uma forma nova e muito importante. Para o alquimista havia uma afinidade entre o microcosmo do corpo humano e o macrocosmo representado pela natureza. Um 138 vulcão era uma chaleira emgrande escala; uma tempestade seguida


A Estrutura Invisível 58 O Universo e o corpo são feitos dos mesmos materiais ou princípios ou elementos.

Representação da fornalha do corpo, segundo desenho de Paracelsus, com uma régua para o estudo do urina no diagnóstico de doenças, retirado de "Aurora Thesaurusque philosophorum ”, Basiléia, 1577. Desenho de Paracelsus representando os três elementos, tetra, ar e fogo. A cotrespondência de formas anatômicas e astronômicas segundo a teoria alquimista do natureza.

de chuva torrencial equivalia a um acesso de choro. Sob essas analogias superficiais jaz um conceito mais profundo: o de que o Universo e o corpo são feitos dos mesmos materiais, ou princípios, ou elementos. Havia dois desses princípios para o alquimista. Um era o mercúrio, representando tudo que fosse denso e per­ manente. O outro era o enxofre, representando tudo o que fosse inflamável e fugaz. Todos os corpos materiais, incluindo o corpo humano, eram feitos a partir desses dois princípios, e também podiam ser refeitos a partir deles. Por exemplo, os alquimistas acreditavam que todos os metais cresciam no seio da terra a partir do mercúrio e do enxofre, da mesma forma que os ossos crescem no embrião a partir de um ovo. Para eles essa analogia 'díini5. iiirgo.f.iiMromiis. ímirftigiíi tríw.\ mtuiuo inaftinumii. antmcjlu ■

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A Escalada do Homem era concreta e ainda permanece no simbolismo da medicina de hoje. Ainda usamos o símbolo alquímico do cobre para a fêmea, isto é, o que é tenro: Vênus; para o homem o símbolo alquímico do ferro, isto é, o que é duro: Marte. Hoje, isso tudo pode parecer uma teoria infantil, uma mistura de fábulas e falsas comparações. Entretanto, nossa química irá parecer infantil daqui a quinhentos anos. Toda teoria se apóia em algum tipo de analogia e, mais cedo ou mais tarde, a teoria falha porque a analogia se mostra falsa. No seu tempo, uma teoria auxilia a solução dos problemas cotidianos. E todos os problemas médicos permaneceram insolúveis até cerca de 1500 devido à crença de que as curas deviam vir ou de plantas ou de animais — um tipo de vitalismo incapaz de admitir o pensamento de que os elementos químicos do corpo são iguais aos outros, confinando, assim, a medicina à procura de curas por ervas. Então, os alquimistas introduzem o uso de minerais na medicina. O sal, por exemplo. foi uma substância chave nessa virada conceituai, e um teórico da alquimia elevou-o à categoria de terceiro elemento. Esse mesmo homem desenvolveu um método de cura bastante característico para uma moléstia que se alastrava por toda a Europa por volta de 1500, o flagelo da sífilis, até então desconhecida. Ainda não sabemos de onde a sífilis apareceu. Pode ter sido trazida através dos marinheiros que acompanharam Colombo; ou ter-se expandido a partir do Oriente durante a conquista mongol, ou simplesmente não era, antes dessa época, reconhecida como entidade mórbida isolada. Mas a sua cura veio a depender do uso do mais poderoso elemento alquímico, o mercúrio. O homem que fez essa descoberta é um marco na transição da velha alquimia para a nova, a caminho da química moderna: iatroquímica. bioquímica, a química da vida. O seu descobridor batalhou na Europa durante o século XVI. O lugar, Basiléia, na Suíça. O ano, 1527. Há instantes na escalada do homem em que ele emerge do país das sombras dos conhecimentos secretos e anônimos para um novo sistema de descobertas públicas e pessoais. Para simbolizar esse passo, escolhi um homem batizado com o nome de Aureolus Phillipus Theophrastus Bombastus von Hohenheirn. Felizmente ele próprio escolheu para si o nome mais compacto de Paracelsus, a fim de tornar pública sua discordância em relação a Celsus e 140 °utros autores que, embora mortos há mais de mil anos, ainda

59 Omédico se comportava como umerudito, academicamente treinado emantigos textos, administrava tratamentos ao pobre doente por intermédio de um assistente, que nada mais fazia do que aplicar passivamente as instruções recebidas. Três médicos em conferência, enquanto a perna de um paciente é amputada. Entalhe em madeira, retirado de um tra balho sobre prática cirúrgica. Frankfurt, 1465.


A Estrutura Invisível eram considerados autoridades através de seus textos médicos amplamente difundidos na Idade Média européia. Em 1500 os trabalhos dos autores clássicos ainda eram tidos e aceitos como fonte de sabedoria inspirada em uma época de ouro da medicina, das ciências e das artes também. Paracelsus nasceu perto de Zurique em 1493 e morreu jovem, com apenas quarenta e oito anos, em 1541, em Salzburg. Sua atividade era uma perpétua ameaça a tudo que fosse acadêmico: por exemplo, foi o primeiro homem a reconhecer uma moléstia industrial. Na corajosa batalha travada por Paracelsus contra as idéias tradicionais e a prática da medicina de seu tempo, contam­ -se episódios tanto grotescos como ternos. Sua cabeça era fonte perpétua de teorias, muitas das quais contraditórias, a maioria delas ultrajantes. Portador de um caráter indomável, picaresco, rabelaisiano, bebia com estudantes, dava em cima de mulheres, viajava muitíssimo através do Velho Mundo, e, até recentemente, figurou na história da ciência como um charlatão. Mas isso ele certamente nunca o foi. Era um homem dispersivo, mas profun­ damente genial. Acontece que Paracelsus era o que hoje chamaríamos de uma figura. Descobrimos nele, talvez pela primeira vez, de uma forma por assim dizer transparente, que uma descoberta científica flui a partir de uma personalidade e é vivificada na medida em que a identificamos com o homem que a trouxe à luz. Paracelsus era um homem prático, entendia a importância do diagnóstico correto no tratamento de um paciente (ele próprío era um exce­ lente propedeuta) e a aplicação direta do remédio pelo próprio doutor. Ele quebrou a tradição do médico se comportar como um erudito, academicamente treinado em antigos textos, admi­ nistrando tratamentos ao pobre doente por intermédio de um assistente que nada mais fazia senão aplicar passivamente as instruções recebidas. “Não pode haver cirurgião onde não haja também um médico”, escreveu Paracelsus. “Quando o médico não consegue ser também um cirurgião, ele não passa de um ídolo, mera pintura de um macaco.” Tal aforismo não conquistou as boas graças de seus rivais, mas atraiu para sio interesse de outras mentes independentes da época da Reforma. Assim, aconteceu dele ter sido trazido a Basileia para gozar um único ano de triunfo em sua desastrada carreira mundana. Nessa cidade, no ano de 1527, o emmente protestante c editor humanista J ohann Frobenius padecia de seríssima 141


A Escalada do Homem infecção na perna, a ponto dela estar para ser amputada. Em desespero, apelou para amigos do novo movimento, os quais lhe enviaram Paracelsus. Este enxotou os acadêmicos do quarto do paciente e salvou-lhe a perna, efetuando uma cura que ecoou por toda a Europa. De Erasmo ele recebeu as seguintes palavras: “Do país dos mortos trouxestes de volta Frobenius, a quem pertence metade de minha vida”. Não constitui apenas uma coincidência o fato de idéias novas e iconoclásticas em medicina e na terapêutica química terem aparecido ligadas, no tempo e no espaço, à Reforma iniciada por Lutero em 1517. Basiléia era o foco desse momento histórico. Aqui havia florescido o humanismo, mesmo antes da Reforma. A universidade mantinha uma tradição democrática, que tornou possível ao Conselho Municipal conceder licença e garantir a Paracelsus o direito de aí ensinar, a despeito dele ser olhado de esguelha pelos seus colegas. A família Frobenius editava livros, entre eles os de Erasmo de Roterdã, espalhando a nova concepção por todos os lugares e sobre todos os campos do conhecimento. Um vento de mudança sacudia a Europa, muito mais forte talvez que a própria reformulação religiosa e política iniciada por Lutero. Aproximava-se o ano que se tornaria o seu símbolo, 1543. Neste ano foram publicados três livros que mudaram a mentalidade da Europa: o atlas anatômico de Andreas Vesalius; a primeira tradução, do grego, da matemática e da física de Arquimedes; e o livro de Nicolau Copernicus, Das Revoluções do Orbe Celeste que, ao colocar o Sol no centro do céu, iniciou o que hoje conhecemos como Revolução Científica. Toda essa batalha entre o passado e o futuro foi resumida profeticamente por um simples ato realizado em Basiléia. Para­ celsus atirou à tradicional fogueira dos estudantes um exemplar do livro de Avicena, um clássico texto de medicina do discípulo árabe de Aristóteles. Há um simbolismo oculto naquele gesto junto à fogueira de meio-verão que tentarei trazer para o presente. O fogo é o ele­ mento alquímico com o qual o homem penetra profundamente na estrutura da matéria. Então, seria o próprio fogo uma forma de matéria? Tomando essa asserção como verdadeira, teríamos de lhe atribuir toda sorte de impossíveis propriedades — tais como, ser ele mais leve do que nada. Ainda em 1730, duzentos 142 anos depois de Paracelsus, os químicos tentaram, com a teoria

60 Paracelsus era portador de um caráter indomável, picaresco, rabelaisiano.

Retrato de Paracelsus, atribuído a Quentin Metsys.


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A Escalada do Homem de flogisto, vestir o fogo com uma última roupagem material. Entretanto, viu-se que a substância flogística, da mesma forma que o princípio vital, não podia ser demonstrada - o fogo não é matéria, e a vida não é matéria. O fogo é um processo, transfor­ mação e mudança, através do qual elementos materiais são reagrupados em novas combinações. A natureza das reações químicas só pôde ser entendida quando o fogo foi compreendido como um processo. Aquele gesto de Paracelsus dizia: “A ciência não pode ficar presa ao passado. Nunca existiu uma Idade de Ouro”. Duzentos e cinqüenta anos depois do tempo de Paracelsus, um novo ele­ mento foi descoberto, o oxigênio, o que propiciou a explicação da natureza do fogo e arrancou a química do atoleiro da Idade Média. O fato insólito em relação a essa descoberta é que Joseph Priestley não estudava a natureza do fogo quando descobriu o oxigênio; sua inquirição se dirigia a um outro elemento dos gregos, o ar, invisível e onipresente. Quase tudo do que resta do laboratório de Joseph Priestley encontra-se na Smithsonian Institution em Washington, capital dos Estados Unidos. Mas, estando aí, está deslocado. Esse equi­ pamento deveria ser exposto em Birmingham, na Inglaterra, o centro da Revolução Industrial, onde Priestley realizou a maior parte de seu esplêndido trabalho. E por que, então, esse desloca­ mento? Porque em 1791 uma corja expulsou Priestley de Birmingham. Este evento é um outro exemplo característico do conflito entre originalidade e tradição. Em 1761, aos vinte e oito anos, Priestley foi convidado a lecionar línguas modernas em uma das universidades dissidentes (ele era unitariano) as quais se ofereciam àqueles estudantes discordantes da orientação das universidades controladas pela Igreja da Inglaterra. Dentro de um ano, entusias­ mado com as conferências sobre ciências de um colega seu, começou a escrever um livro sobre eletricidade; e, esse foi o primeiro passonocaminhoque o levou à experimentação química. Tornou-se, também, admirador da Revolução Americana (Benjamin Franklin o havia encorajado) e, mais tarde, da Revo­ lução Francesa. Por essa razão^o segundo aniversário da queda da Bastilha, cidadãos leais à realeza atearam fogo ao laboratório que Priestley descreveu como um dos mais cuidadosamente equipados da Europa. Emigrou, então, para a América mas não 144 foi bem recebido. Apenas seus pares intelectuais o apreciavam;

61 Priestley era um homem difícil, irascível, frio, preciso, afetado e puritano.

Joseph Priestley, desenhado pela senhora Ellen Sharples em 1794, ao tempo em que viveu na América, depois de sua casa e laboratório terem sido destruídos por uma corja de fanáticos em Birmingham.



62

Lavoisier repetiu um experimento de Priestiey que consistia emquase uma caricatura deumdos experimentos clássicos da alquimia.

O cadinho alquimico continha glóbulos puros do líquido prat eado do mercúrio sublimado a partir de cinábrio. Reconstrução, utilizando equipamento moderno, do experimento de Lavoisier. E mostrado o estágio seguinte do experimento no qual o mercúrio é aquecido na presença de oxigênio. A baixo: mercúrio em um frasco. Na página oposta: o mercúrio aquecido se combina com oxigênio. O volume do oxigênio absorvido é medido pela queda na coluna de líquido. O equipamento completo: o experimento é, então, revertido mediante a continuação do aquecimento do óxido de mercúrio.

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A Escalada do Homem já Presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson assim se dirigiu a Priestley: “A sua é uma das poucas vidas preciosas para a humanidade”. Eu gostaria de dizer-lhes que a turba que destruiu a casa de Priestley em Birmingham destroçou o sonho de um belo homem, amável e encantador. Mas receio que isso não seja verdade. Não creio que Priestley fosse amável, não mais do que Paracelsus. Minha suspeita é de que se tratava de um homem difícil, irascível, frio, preciso, afetado e puritano. Mas a escalada do homem não é feita por gente amável. É feita por pessoas que têm duas quali­ dades: grande integridade e, pelo menos, um pouco de genialida­ de. Priestley reunia as duas. Sua descoberta consistiu em mostrar que o ar não era uma substância elementar: compunham-no vários gases, entre os quais o oxigênio —chamado por ele “ar desflogisticado” —este sendo essencial para a vida dos animais. Priestley era um bom experimentador, de modo que avançou cautelosamente em várias etapas. No dia primeiro de agosto de 1774 conseguiu isolar um pouco de oxigênio e, maravilhado, observou o.intenso brilho de uma chama queimando nele. Em outubro do mesmo ano, foi a Paris onde comunicou seu achado a Lavoisier e outros. Entre­ tanto, só aconteceu depois de seu retorno, no dia 8 de março de 1775, dele ter a idéia de manter um camundongo no oxigênio e, em seguida, verificar como era fácil a respiração em uma atmos­ fera desse gás. Um ou dois dias depois escreve uma deliciosa carta na qual comunica a Franklin que “Até esta data, apenas dois camundongos e eu próprio tivemos o privilégio de respirá-lo”. Também é de Priestley a observação dequeas plantas eliminam oxigênio quando üuminadas pelo sol, contribuindo, assim, para a t.ULp('l,i manutenção da vida animal. Nos cem anos seguintes constatou-se Dr;ssEiv d" fdeiume tdiumm. pó/' .AfV" de Rt*nu tie-ifi-tl de.um H li tratar-se de fenômeno crucial; o reino animal não teria existido jitusota.) iif)'I(1on,ri.Uir DE / ■ " ; se as plantas não tivessem produzido oxigênio. Mas, no fim da La. MunJitrea. ède co/í década de 1770 ninguém ainda havia pensado nesse assunto. A importância fundamental da descoberta do oxigênio atingiu sua exata dimensão graças à mente clara e revolucionária de Antoine Lavoisier (o qualfoi executado pela Revolução Francesa). Lavoisier repetiu um experimento de Priestley que consistia em quase uma caricatura de um dos experimentos clássicos da alquimia, já descrito acima (p. 123) neste ensaio. Os dois homens 148 aqueceram o óxido vermelho de mercúrio, usando uma lente de


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O aquecimento usando lente de aumento estava na moda naquela época,

A gravura mostra a gigantesca lente de aquecimento construída por Lavoisier, para a Academia Real de Ciências, nos arredores de Paris, em 1 777..


64 “Ao que se sabe, nenhum homem conseguiu dividir o átomo.” Retrato de John Dalton.

aumento para focalizar energia solar (que estava na moda naquela época), dentro de um recipiente no qual podiam ver o gás sendo formado e coletá-lo. O gás era o oxigênio e a demonstração era qualitativa. Entretanto, para Lavoisier, tal evento se constituiu na imediata sugestão de que a decomposição química era quantificável. A idéia era simples e radical; realizar o experimento alquímico nos dois sentidos e, então, medir exatamente as quantidades permutadas. Primeiramente, em um sentido direto: queimar mercúrio (de modo que ele absorva oxigênio) e medir exatamente a quantidade de oxigênio gasta no vaso selado, entre o início e o fim da queima. Em seguida, o processo é revertido: toma-se o óxido de mercúrio obtido, aquecendo-o vigorosamente de forma que liberte novamente o oxigênio. O mercúrio é deixado no fundo, o oxigênio flui para dentro de um vaso, e a questão crucial é: “Mas, quanto?” Exatamente a quantidade gasta anteriormente. De repente, o processo se revela como na realidade ele é, nada mais do que o acoplamento e o desacoplamento de quantidades 150 fixas de duas substâncias. Essências, princípios, flogistos, todos


A Estrutura Invisível desaparecem. Dois elementos concretos, oxigenio e mercUio, foram realmente demonstrados como podendo se combinar e descombinar. Pode parecer desvario querermos, partindo do processo primitivo dos primeiros forjadores do cobre e das especulações mágicas dos alquimistas, atingir a idéia mais poderosa da ciência moderna: a idéia do átomo. No entanto, o caminho, o caminho daqueles que pisam em brasas, é direto. Apenas um degrau se interpõe entre a noção de elemento químico quantificada por Lavoisier e sua expressão em termos atômicos pelo filho de um artesão em tece­ lagem de Cumberland, ao noroeste da Inglaterra, na fronteira com a Escócia, John Dalton. Depois do fogo, do enxofre e do mercúrio em chamas, era inevitável que o clímax da história acabasse por acontecer na fria umidade de Manchester. Aqui, entre 1803 e 1808, um mestre-escola quaker chamado John Dalton transformou o vago conhecimento das combinações químicas, ainda que iluminado brilhantemente por Lavoisier, e isto de uma hora para a outra, no preciso conceito moderno da teoria atômica. Foi um tempo de descobertas espetaculares na química —naqueles cinco anos, dez novos elementos foram encontrados; ainda assim, o interesse de Dalton estava muito longe de tudo isso. Para dizer a verdade, ele era, por assim dizer, um homem apagado. (Cego para cores, ele era de fato, e o defeito genético de confundir vermelho com verde, que ele descreveu a partir de si mesmo, foi chamado, desde então, “daltonismo”.) Dalton era homem de hábitos regulares. Todas as tardes de quintas-feiras andava até os arredores para jogar criket. Além disso, as coisas que prendiam seu interesse eram aquelas encon­ tradas no campo e que ainda caracterizam a paisagem de Man­ chester: água, gás dos pântanos, dióxido de carbono. Dalton dirigiu a si próprio questões muito concretas a respeito de como os elementos se combinavam em peso. Por que razão, sendo a água composta de oxigênio e hidrogênio, sempre acontece das mesmas quantidades desses elementos se combinarem a fim de produzir uma certa quantidade de água? Por que razão isso acontece na formação do dióxido de carbono, do metano? Por que essas constâncias de peso? Dalton passou todo o verão de 1803 trabalhando nessas ques­ tões. Seu relato é o seguinte: “O inquérito sobre os pesos relativos 151


A Escalada do Homem das partículas elementares é, até onde vai meu conhecimento, inteiramente novo. Ultimamente tenho prosseguido nesse inqué­ rito com inusitado sucesso”. A partir daí, chegou à conclusão de que, sim, a antiga teoria atômica dos gregos, de há muito abandonada, era verdadeira. Mas o átomo não é apenas uma abstração; em um sentido físico ele possui um peso que carac­ teriza este ou aquele elemento. Os átomos de um elemento (Dalton chamava-os “partículas essenciais ou elementares”) são todos iguais e diferentes das do átomo de um outro elemento; e, fisicamente, essa diferença se manifesta na diferença entre os respectivos pesos. “Eu entenderia a existência de um número considerável do que se deveria propriamente chamar partículas elementares, as quaisjamais se metamorfoseassem umaemoutra.” Em 1805, Dalton publica, pela primeira vez, suas idéias sobre a teoria atômica que, resumidamente, exprimia o seguinte: se uma quantidade mínima de carbono, um átomo, se combina para formar dióxido de carbono, ela o faz, invariavelmente, com uma determinada quantidade de oxigênio —dois átomos de oxigênio.

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Se água se torma com dois átomos de oxigênio, cada um com­ binando com a quantidade necessária de hidrogênio, teremos uma molécula de água a partir de um átomo de oxigênio e outra molécula de água a partir de outro átomo de oxigênio.

Os pesos estão corretos: o peso de oxigênio que produz uma molécula de dióxido de carbono irá produzir duas moléculas de água. E para um composto que não apresenta oxigênio em sua molécula, estariam os pesos igualmente corretos? Para o gás dos pântanos ou metano, por exemplo, resultante da combinação direta do carbono com o hidrogênio, estariam corretos os pesos? Sim, exatamente. Removendo-se os dois átomos de oxigênio de uma única molécula de dióxido de carbono e os dois átomos de oxigênio de duas moléculas de água, o equilíbrio é perfeito: têm-se as quantidades corretas de hidrogênio e de carbono para formar 152 metano.

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A Estru tura Invis ível

0 -0 0^0 As quantidades, expressas em peso, dos diferentes elementos que se combinam entre si, exprimem, através de suas constâncias, um esquema subjacente à combinação entre seus átomos. A aritmética exata dos átomos faz da teoria química a base fundamental da moderna teoria atômica. Esta se constitui na primeira lição penetrante, a emergir de toda aquela multitude de especulações sobre o ouro, o cobre e a alquimia, vindo alcançar seu cume com Dalton. Uma outra lição se dirige à questão do método científico. Dalton era homem de hábitos regulares. Durante cinqüenta e sete anos, todos os dias, percorria os arredores de Manchester medindo a quantidade de precipitação de água e a temperatura - empresa particularmente monótona, em se tratando desse clima. Mas desse enorme volume de dados nada brotou. Entretanto, naquela busca, nascida de uma pergunta quase infantil sobre o significado dos pesos que entram na composição de algumas moléculas simples - naquela busca, encontrou a moderna teoria atômica. Tal é a essência da ciência: faze uma pergunta impertinente e estarás no caminho de receber uma resposta pertinente.



A MÚSICA DAS ESFERAS

66 Pitágoras encontrou uma relação fundamental entre harmonia musical e matemática. Corda vibrando na

nota fundomental. Com o nó no meio a corda vibra em uma nota uma oitava mais alta. O nó sendo deslocado, para um terço do comprimento, a cardo irá tocar a um quinto acima; com um quarto do comprimento, irá tocar a um quarto, uma oitava mais alto; a um quinto do comprimento, um terço mais alto.

A matemática é, sob muitos aspectos, a mais elaborada e requin­ tada das ciências - ou pelo menos a mim me parece, sendo eu matemático. Assim, a despeito do prazer, há um certo constran­ gimento em minha tentativa de descrever os progressos da matemática, na medida em que esta tem sido objeto de tanta especulação humana: uma escada tanto para o pensamento místico como para o racional, na escalada intelectual do homem, Entretanto, alguns conceitos têm de figurar, necessariamente, em qualquer exposição sobre o que a matemática representa: a idéia lógica de prova, a idéia empírica das leis exatas da natureza (de espaço, particularmente), a emergência do conceito de operações, e a evolução, dentro da matemática, da descrição estática para a descrição dinâmica da natureza. Esses conceitos constituem o tema deste ensaio. Mesmo povos muito primitivos possuem um sistema numérico; podem não saber contar além de quatro, mas sabem que dois de uma espécie mais dois da mesma espécie perfazem quatro, não apenas algumas vezes, mas, sempre. A partir desse passo funda­ mental, muitas culturas desenvolveram sistemas numéricos próprios, freqüentemente na forma de uma linguagem escrita, com convenções semelhantes. Os babilônios, os maias e o povo da índia, por exemplo, inventaram essencialmente a mesma maneira de escrever grandes números, organizando-os na seqüência de dígitos por nós utilizada, isso apesar desses povos terem existido isolados uns dos outros, no espaço e no temp°. Dessa maneira, não irei encontrar nem um local, nem um momento histórico para o qual possa apontar e dizer “A aritmé­ tica começa aqui, agora”. Contar e falar são duas atividades identificadas em todos os povos, em todas as épocas. A aritmética, como a linguagem, começa como lenda. Mas as matemátik^ no sentido que lhe emprestamos, raciocínio com números, é matéria diferente. Assim, na esperança de maiores esclarecimentos sobre a origem destas, isto é, do encontro entre lenda e história, velejei até a Ilha de Samos. Em tempos lendários, Samos era o centro da adoração grega da deusa Hera, a Rainha dos Céus, esposa legítima (e ciumenta) de Zeus. O que resta de seu templo, o Heraion, data do século 155


A Escalada do Homem VI antes de Cristo. Por essa época, em torno de 580 a.C., nasceu em Samos o primeiro gênio e fundador da matemática grega, Pitágoras. Em seu tempo a ilha foi tomada por um tirano, Polícrates. E a tradição conta que, antes de fugir, Pitágoras ensinou, oculto em uma caverna branca da montanha, ainda hoje mostrada àquele que queira acreditar. Samos é uma ilha mágica. No ar sente-se o mar, as árvores, a música. Muitas outras das ilhas gregas seriam palco apropriado para The Tempest, mas, para mim, esta é a ilha de Próspero, a praia onde o acadêmico se transformou no mágico. Pode ser que também Pitágoras fosse uma espécie de mágico para seus segui­ dores; ele não ensinou ser a natureza comandada pelos números? Há uma harmonia, disse ele, uma unidade em sua variedade, e uma linguagem apropriada: os números são a linguagem da natureza. Pitágoras encontrou uma relação básica entre harmonia musical e matemática. A história dessa descoberta tal qual uma lenda popular está envolta em mistério, mas a descoberta em si foi precisa. Uma única corda, ao vibrar, produz ■uma nota básica. Os harmônicos dessa nota são produzidos por cordas obtidas por divisões daquela corda em números exatos de partes: exatamente duas, três, quatro partes, e assim por diante. No caso do ponto fixo da corda, o nó, não coincidir com uma dessas divisões, o som será distoante. Ao se deslocar o nó ao longo da corda, as notas harmônicas são reconhecidas quando aquelas divisões são atingidas. Comecemos com a corda inteira: essa é a nota básica. Movamos o nó para o ponto médio: essa é a oitava acima dela. Movamos o nó a um terço do comprimento: essa é a quinta acima dela. Movamos, agora, o nó para um quarto do comprimento: essa é a quarta ou outra oitava acima. E, ao movermos o nó, para um ponto a um quinto ao longo do comprimento, esta será (a qual Pitágoras não alcançou) a terça maior acima. Pitágoras descobriu serem as notas cujos respectivos sons agradam aos ouvidos —aos ouvidos ocidentais —aquelas obtidas por divisões da corda por números inteiros. Aos pitagóricos essa descoberta adquiriu o significado de uma força mística. O acordo entre natureza e números era tão perfeito, a ponto deles se per­ suadirem de que, não apenas os sons naturais, mas todas as suas dimensões características, deveriam ser números representando 156 harmonias. Por exemplo, Pitágoras ou seus seguidores acredita-


A Música das Esferas vam ser possível calcular as órbitas dos corpos celestes (condu­ zidos ao redor da Terra em esferas de cristal, segundo a concepção grega) relacionando-as aos intervalos musicais. Para eles, todas as regularidades naturais eram musicais. Assim, os movimentos celestes representavam a música das esferas. Essas idéias conferiram a Pitágoras uma posição de vidente na filosofia, quase um líder religioso, cujos seguidores formavam uma seita secreta, e talvez revolucionária. É provável que muitos dos seguidores mais tardios de Pitágoras fossem escravos; acredi­ tavam na transmigração das almas, o que poderia representar uma maneira de garantir a esperança de uma vida mais feliz após a morte. Embora venha falando sobre a linguagem dos números, que é a aritmética, em meu último exemplo foram referidas as esferas celestes, as quais representam formas geométricas. A transição não é acidental. A natureza se nos apresenta através de formas: uma onda, um cristal, o corpo humano, e compete a nós sentir e encontrar as relações numéricas nelas contidas. Pitágoras foi um pioneiro no estudo das correspondências numéricas da geometria, e tendo sido essa minha escolha dentro das matemá­ ticas, acho pertinente analisar o que ele fez nesse campo. Pitágoras havia provado que o mundo dos sons é governado por números exatos. Assim, dirigiu sua pesquisa no sentido de verificar se o mesmo ocorria no mundo das imagens visuais. E nisso há um feito extraordinário. Olho ao meu redor: aqui estou nesta paisagem grega, colorida e maravilhosa, entre formas rústicas naturais e grotões órficos e o mar. Onde, sob este lindo caos, poderia ser encontrada uma estrutura simples, numérica? A questão nos reporta às mais primitivas constantes de nossa percepção das leis naturais. Para encontrar a resposta é claro que devemos partir de dados universais da experiência. Há duas experiências nas quais nosso mundo visual se baseia: a gravidade é vertical e o horizonte é ortogonal à primeira. Essa c°njunçã°, esse cruzamento de linhas no campo visual fixa a natureza do ângulo reto; assim, se eu girasse esse ângdo reto sensorial (o sentido de “para baixo” e o sentido de “para oü lados”) quatro vezes, voltaria ao cruzamento da gravidade com o horizonte. O ângulo reto é definido por essa operaçao em quatro estágios, e, através dela, diferenciado de qualquer outro 157 ângulo arbitrário.


A Escalada do Homem Então, no mundo visual, na imagem do plano vertical que nos é apresentada pelos nossos olhos, um ângulo reto é definido por sua rotação em quatro estágios sobre si mesmo. A mesma defini­ ção é válida para o plano horizontal percebido, no qual, na realidade, nos movemos. Considerem esse mundo, o mundo da Terra plana dos mapas e dos pontos cardeais. Nele me encontro olhando através dos estreitos, de Samos para a Ásia Menor, na direção Sul. Tomo um sarrafo triangular e aponto-o naquela direção: sul (com o sarrafo triangular pretendo ilustrar as quatro rotações sucessivas do ângulo reto). Girando o sarrafo, de um ângulo reto, ele irá apontar para o oeste; mais uma rotação de um ângulo reto e estará apontando para o norte; numa terceira, o ponto apontado será leste; e, na quarta, e última volta, a apon­ tar para o sul, para a Ásia Menor, nosso ponto de partida. Não somente o mundo natural de nossa percepção, mas tam­ bém o mundo por nós construído, obedece a essas relações. Tem sido assim desde os tempos em que os babilônios construíram os Jardins Suspensos, e mesmo antes, no tempo da construção das pirâmides pelos egípcios. Em um sentido prático, essas cul­ turas já tinham conhecimento de um arranjo quadrado de construção, no qual as relações numéricas revelavam e formavam ângulos retos. Os babilônios conheciam muitas delas, talvez centenas dessas fórmulas, por volta de 2000 a.C. Os indianos e os egípcios conheciam algumas. Parece que estes últimos quase sempre usavam o arranjo quadrado, como os lados do triângulo constituídos de três, quatro ou cinco unidades. Não foi senão por volta de 550 a.c., que Pitágoras recuperou esse conhecimento do mundo dos fatos empíricos para o universo daquilo que hoje chamaríamos de prova. Isto é, ele formulou a pergunta: “De que maneira os números que representam o triângulo dos construtores derivam do fato de um ângulo reto ser aquele que tem de ser girado quatro vezes para voltar a apontar na mesma direção?”. Sua prova, imaginamos, era mais ou menos a seguinte (não é aquela que aparece nos livros escolares). Os quatro pontos cardeais —Sul, Oeste, Norte e Leste —, dos triângulos que formam os cruzamentos na bússola, representam os cantos de um quadrado. Deslizo os quatro triângulos de tal modo que o lado mais longo de cada um coincide com o ponto cardeal formado pela justaposição ao vizinho. Assim, acabei por construir um quadrado cujos lados são iguais ao maior lado do triângulo reto 158 —a hipotenusa. A fim de que se possa melhor identificar a área

67

Pitágoras elevou esse conhecimento do mundo dos fatos empíricos para o mundo do que agora chamamos de prova.

A prova pitagórica, descrita no texto, de que, em um triângulo retângulo, o quadrado do hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos outros dois lados.



A Escalada do Homem interna, formada por aquilo que não lhe pertence, vou preencher o pequeno quadrado interno com outro pedaço de sarrafo. (Faço uso de sarrafos porque muitas de suas formas, em Roma e no Oriente, derivam desse tipo de casamento entre relações matemá­ ticas e pensamento sobre a natureza.) Temos, então, um quadrado pela hipotenusa e, é claro, por meio de cálculos, podemos relacioná-lo aos quadrados através dos lados menores. Mas essa operação iria ocultar a estrutura natural da figura. Nenhum cálculo é necessário; podemos dis­ pensá-lo. Uma pequena brincadeira, dessas apreciadas por crianças e matemáticos, revelará muito mais do que cálculos. Transponham-se dois triângulos para novas posições. Assim. Mova-se o triângulo que apontava para o sul, de modo que seu lado mais longo se justaponha ao lado correspondente do triân­ gulo que apontava para o norte. Repita-se a mesma operação com os triângulos que apontavam, respectivamente, para o leste e para o oeste. Dessa maneira construímos uma figura em forma de L, com a mesma área (evidentemente, uma vez que composta das mesmas peças), em cujos lados podemos identificar de pronto os lados menores do triângulo reto. Vejamos um meio de visualizar a composição da figura em forma de L: isto se consegue colocan­ do-se uma divisão ao nível superior do segmento horizontal do L. E então? Não fica claramente demarcado, na parte superior, um quadrado com lado igual ao lado menor do triângulo? E a parte inferior, não forma um quadrado, incluindo o ângulo reto, com lado igual ao lado maior do triângulo? Dessa forma, Pitágoras provou um teorema geral, válido não apenas para o triângulo 3:4 :5 egípcio ou para um dos triângulos babilônicos, mas para qualquer triângulo que contenha um ângulo reto. Isto é, desde que um triângulo contenha um ângulo reto, o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos (ou lados menores do triângulo). Por exemplo, lados na proporção 3:4:5 formam um triângulo retângulo uma vez que 52 = 5x5 = 25 = 16 + 9 = 4x4 + 3x3 = 42 + 32. O mesmo acontece com os triângulos encontrados pelos babilônicos, tanto o simples 8:15:17, como o inacreditável 3367:3456:4825 o que não deixa a menor dúvida em relação ao 160 fato deles terem sido ótimos em aritmética.

68 Pitágoras provou um teorema geral não apenas para o triângulo 3:4:5 dos egípcios ou qualquer outro triângulo particular dos babilônios, mas, sim, para qualquer triângulo que contiver um ângulo reto.

Página de uma versão árabe do ano 1258 e uma impressão chinesa do teorema, associada à história da China pelo contemporâneo de Pitágoras, Chou Pei.


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Até hoje o teorema de Pitágoras permanece sendo o teorema simples mais importante de toda a matemática. Embora ousada, essa afirmação não é extravagante. Pitágoras estabeleceu a carac­ terização do espaço no qual nos movemos e, também, pela primeira vez, traduziu-a em números. E a adequação dos números descreve as leis exatas que unem o Universo. De fato, os números componentes do triângulo retângulo foram propostos para servirem de mensagens intergalácticas como uma forma de sondarmos a existência de vida racional em outros mundos. Na forma em que o demonstrei, o teorema de Pitágoras escla­ rece a simetria do espaço plano; o ângulo reto é o elemento da simetria que divide o plano quatro vezes. Se o espaço plano apresentasse outro tipo de simetria, o teorema não seria verda­ deiro; a verdade estaria em alguma outra relação entre os lados de outros triângulos particulares. E, note-se, o espaço é parte fundamental da natureza, tanto quanto o é a matéria, mesmo sendo (como o ar) invisível; nessa dimensão está a essência da geometria. A simetria não representa apenas uma sofisticação descritiva; à semelhança de outros pensamentos pitagóricos, ela busca a harmonia da natureza. 161


A Escalada do Homem Em agradecimento à inspiração, depois de provar o grande teorema, Pitágoras ofereceu uma centena de bois às Musas. For um gesto ao mesmo tempo de orgulho e humildade, equivalente ao sentimento experimentado por todo cientista ao ver os números se encaixarem e murmurar: “Eis aí um caminho, uma chave para desvendar a estrutura da natureza”. Pitágoras era tanto um filósofo como uma espécie de líder religioso para seus seguidores. Nele também havia qualquer coisa de influência asiática, que pervaga toda a cultura grega, e que tendemos a não levar em conta. Para nós, a Grécia é parte do Ocidente; mas .Samos, no extremo da Grécia clássica, fica a dois quilômetros da costa da Ásia Menor. Daqui fluiu grande parte dos pensamentos inspiradores da Grécia; nos séculos seguintes eles se refletiram de volta para a Ásia, muito antes de chegarem à Europa Ocidental. O conhecimento realiza viagens prodigiosas, de forma que o que a nós parece um salto no tempo se constituiu em uma demorada progressão de um local para outro, de cidade em cidade. Junta­ mente com suas mercadorias, as caravanas transportaram métodos de comércio de seus países —os pesos e as medidas, os métodos de contabüização —, assim, através da Ásia e do Norte da África, por onde quer que fossem, divulgavam técnicas e idéias. Como um exemplo entre muitos, a matemática de Pitágoras não chegou até nós diretamente. Ela incendiou a imaginação dos gregos, mas foi numa cidade do Nilo, Alexandria, onde recebeu a forma de um sistema ordenado. O responsável por esse feito foi, nada menos, do que o famoso Euclides que, provavelmente, chegou a Alexandria por volta de 300 a.C. Euclides evidentemente pertencia à tradição pitagórica. Conta­ -se, certa feita, que ao ser questionado por um ouvinte a respeito do uso prático de um teorema, teria ele respondido, desdenhosamente, dirigindo-se ao seu escravo: “Ele quer ter lucro com o conhecimento; dê-lhe uma moeda”. Essa frase provavelmente foi adaptada a partir de um moto da fraternidade pitagórica, o qual pode ser livremente traduzido por “Um diagrama e um degrau, nunca um diagrama e um tostão”. “Um degrau” sendo degrau de conhecimento ou o que chamei Escalada do Homem. O impacto de Euclides como modelo de raciocínio matemático foi fortíssimo e duradouro. Seu livro Elementos de Geometria 162 foi copiado e traduzido muito mais do que qualquer outro livro,

69 Os Elementos de Geometria foram, até os tempos modernos, traduzidos e copiados mais do que qualquer outro livro, comexceção da Bíblia.

Página da tradução de Euclides, feita no século XII por Adelard de Bath e desde então reiteradamente copiada. Esta cópÜl foi feita na Itália, nos fins do século XV.


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A Escalada do Homem com exceção da Bíblia. Minhas primeiras noções de matemática, aprendi-as com um homem que ainda citava os teoremas da geometria pelos números a eles atribuídos por Euclides; esse modo de referência era o adotado no passado, sendo comum há cinqüenta anos atrás. Quando, por volta de 1680, John Aubrey escreveu seu relato sobre como, já à meia-idade, Thomas Hobbes “se apaixonou” pela geometria, e daí pela filosofia, explica o acontecimento pelo fato de Hobbes ter encontrado, “na biblio­ teca de um cavalheiro, os Elementos de Euclides aberto no 47 Element Libri / ”. A proposição 47 do Livro 1 dos Elementos de Euclides é o famoso teorema de Pitágoras. A outra ciência praticada em Alexandria, nos séculos próxi­ mos ao nascimento de Cristo, era a astronomia. Mais uma vez podemos descobrir o tecido da história nas malhas da lenda: quando a Bíblia afirma que três sábios seguiram uma estrela até Belém, na narrativa distinguimos o eco de uma era em que os homens de conhecimento observavam as estrelas. O segredo dos céus, procurado pelos sábios da antigüidade, foi desvendado pelo grego Claudius Ptolomeu, em Alexandria, cerca do ano 150 de nossa era. Seu trabalho chegou à Europa através de textos árabes, uma vez que as edições manuscritas do original grego se perderam, algumas na pilhagem da grande biblioteca de Alexandria, por fanáticos cristãos, no ano 389, outras nas guerras e invasões que agitaram o Mediterrâneo Leste durante a Idade Média. O modelo celeste construído por Ptolomeu é maravilhosa­ mente complexo, mas parte de uma analogia simples. A Lua gira em torno da Terra, obviamente; assim, para Ptolomeu, nada mais evidente do que considerar que o Sol e os outros planetas fizessem o mesmo. (Para os antigos, o Sol e a Lua eram planetas.) A forma perfeita de movimento para os gregos era o movimento circular; assim, Ptolomeu fez com que seus planetas girassem em círculos. Hoje, consideramos esse esquema de ciclos e epiciclos ingênuo e artificial. Entretanto, o sistema constituía uma invenção igualmente bela e funcional, tendo se tornado objeto de fé, para árabes e cristãos, por toda a Idade Média. Sobreviveu mil e quatrocentos anos, portanto, muito mais tempo do que qualquer teoria moderna pode aspirar, sem sofrer modificações radicais. Torna-se pertinente, nesta altura, fazer algumas reflexões sobre as razões que levaram a astronomia a um desenvolvimento 164 tão precoce e elaborado, de forma a se firmar como arquétipo

70 Osistema ptolomaico era construído a partir de círculos, ao longo dos quais o tempo transcorria uniforme e imperturbavelmente.

Ilustração tirada de um manuscrito provençal do século IV. Os anjos giram manivelas que movem uma esfera celeste ao redor da Tetra.


A Música das Esferas das clencias físicas. Por si próprias, as estrelas devem ser os objetos com a menor probabilidade de despertar a curiosidade humana. O corpo humano deveria ter sido um candidato muito mais natural como objeto de investigação sistemática. Então, p°r que a astronomia avançou, como ciência, na frente da medicina? Por que a própria medicina se voltou para as estrelas em busca de presságios, a fim de determinar condições favoráveis ou desfavoráveis para a vida do paciente? - e não seria o apelo à astrologia uma abdicação da medicina como ciência? Em minha opinião isso se deveu ao fato de se terem tornado possíveis cálculos sobre os movimentos das estrelas, a partir de tempos rem°tos (talvez 3000 a.c. na Babilônia), e daí assentado as bases para a matemática. A preponderância da astronomia se estabele­ ceu por ser possível tratá-la matematicamente; assim, os pro­ gressos da física, e, mais recentemente, os da biologia, se ligam à procura de formulações de suas leis, de tal forma que possam ser arranjadas em modelos matemáticos. Muito freqüentemente, a vulgarização de uma idéia depende de um novo impulso. O aparecimento do islamismo, seiscentos anos depois de Cristo, foi um novo e poderoso impulso. Iniciou-se como um movimento local, ainda incerto de seu destino, mas, depois da conquista de Meca por Maomé, no ano 630, atingiu toda a parte Sul do mundo daquela época, como se fosse uma tempestade. Em uma centena de anos o islamismo capturou Alexandria, estabeleceu uma fabulosa cidade de conhecimento em Bagdá, e estendeu suas fronteiras para além de Isfahan, na Pérsia. No ano 730, o império maometano englobava desde a Espanha e sul da França até as fronteiras da China e da índia: um império de força e beleza, enquanto a Europa permanecia mergulhada na escuridão da Idade Média. Essa religião prosélita assimilava com avidez cleptomaníaca a ciência dos povos conquistados. Ao mesmo tempo, propiciava a liberação de atividades artesanais simples, locais, que de há muito vinham sendo desdenhadas. Por exemplo, as primeiras mesquitas abobadadas foram constru ídas com equipamentos não mais requintados do que o conjunto de esquadros dos pedreiros ainda hoje em uso. O Masjid-i-J omi (Mesquita da Sexta-feira), em Isfahan, representa um dos monumentos dos primórdios do islamismo. Em centros como esse, os conhecimentos gregos e orientais eram reverenciados, absorvidos e d iv e ^ t^ ^ s . 165


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Em Maomé havia a convicção firme de que o Islamismo não deveria se tornar uma religião de milagres; no seu conteúdo intelectual se afirmou como padrão de contemplação e análise. Os escritores maometanos despersonalizaram e formalizaram o divino; o misticismo islâmico não é sangue e vinho, carne e pão, mas, sim, um êxtase imaterial. Alá é a luz dos céus e da terra. Sua luz pode ser comparada ao nicho que abriga uma lâmpada, a lâmpada no interior de um cristal de radiação estelar, luz sobre luz. Nos templos que Alá escolheu para serem construídos, para que seu nome seja reverenciado, os homens que a Ele dão graças de manhã e à noite são homens cuja atenção nem comércio nem lucro podem desviar de Sua lembrança.

Uma das invenções gregas elaborada e divulgada pelo islamismo foi o astrolábio. Como dispositivo de observação ele é primitivo; mede apenas a elevação do sol ou de uma estrela, e mesmo isso grosseiramente. Mas, pela combinação dessa observação simplista com um ou mais mapas de estrelas, o astrolábio também permitia a elaboração de um esquema computacional capaz de determinar latitudes, horas do nascer e pôr do sol, horas de orações, e a direção da Meca para o viajante. Sobre o mapa estelar, o astrolá­ bio era decorado com detalhes religiosos e astrológicos, para maior conforto místico, evidentemente. Durante longo tempo o astrolábio foi o relógio de bolso e a régua de cálculo do mundo. As instruções para usar o astrolábio, escritas em 1391 pelo poeta Geoffrey Chaucer, e, endereçadas ao seu filho, foram copiadas das de um astrônomo árabe do 166 século VIII.

O71astrolábio representava o relógio de bolso e a régua de cálculo do mundo. Face de um astrolábio islâmico do século IX, de Toledo. Face posterior de um astrolábio gótico de 1390, do tipo descrito por Chaucer. Computador astrológico de cobre. Baghdad, 1241.



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C a lifa d o

são

p o n te ir o s

a p resen ta -se c o m o

de que

fe ito

não

d e lic ia n d o -se os

m u ito

para

testem u n h o

de

B agdá,

n o

séc u lo

p o d ero sa s, c o n sistin d o

fin s p r o g n ó s tic o s ;

de

n o en tan to,

d a h a b ilid a d e m e c â n ic a d a q u e le s

q u e o c o n stru íra m h á sete c e n to s a n o s, b e m

c o m o d a a p a ix o n a n te

a tra çã o q u e os n ú m ero s ex e r c ia m sob re suas m en tes. A in o v a ç ã o iso la d a m a is im p o r ta n te o fe r e c id a p e la sa g a c id a d e , irriq u ietu d e

e

escrever os

to le r â n c ia

núm eros. N a

d o

pensador

árabe

E u rop a, a n o taçã o

fo i a

m a n eira

de

a d o ta d a a in d a era a

r o m a n a , n a q u a l o s n ú m e r o s sã o e sc r ito s p o r sim p le s a d iç ã o d e p a rtes in d ep en d en tes: p o r e x e m p lo , 1 8 2 5 é esc r ito M D C C C X X V , p o rq u e rep resen ta a so m a d e M 1 00

+

1 00

+

100,

X

+

X

=

= 10

1 00 0, D +

10

=

e V

500, C + = 5 .

O

C +

C =

isla m ism o a

s u b s titu iu p e la n o t a ç ã o d e c im a l q u e u s a m o s , e p o r isso é c h a m a d a n o taçã o d u z id o

“ a rá b ica ” . À

m argem

de u m

m a n u sc r ito á ra b e (rep ro ­

a b a ix o ) o s n ú m e r o s n a lin h a su p e r io r s ã o

se'escrev er

1 82 5,

os

n ú m e r o s seria m

18

e 25. Para

a lin h a d o s ju s ta m e n te

na

fo r m a q u e a í a p a recem , u m a v ez q u e o im p o r ta n te , n essa n o ta ç ã o , é a p o siçã o e m

que

o n ú m e r o a p a r e c e n a se q ü ê n c ia , sin a liz a n d o

m ilh a r e s, c e n te n a s , d e z e n a s e u n id a d e s. E n treta n to , e m p ela

p o siç ã o

v a z ia s. A para

o

em

n o taçã o zero

u m

q u e a m a g n itu d e é sin a liz a d a

de

se

p o d er d isp o r d e p o siç õ e s

a rá b ica e x ig iu a in v e n ç ã o d o zero . O s ím b o lo

ocorre

duas vezes

seg u in te , p a r ec e n d o -se c ifra

siste m a e m

se q ü ê n c ia ,

b a sta n te

n essa co m

p á g in a , e

m u ito

m a is

na

a n o s s a . A s p a la v r a s z e r o e o

sã o á lg e b ra ,

a lm a n a q u e , e z é n ite e u m a d ú z ia d e o u tra s u sa d a s em

m a te m á tic a

são

de

o rig em

árabe, d o m esm o

m o d o

que

e a str o n o m ia . O siste m a d e c im a l fo i tra zid o d a ín d ia p e lo s ára b es, por

v o lta

d o

an o

7 50 ,

m as

esse

n ã o se e sta b e le c e u

na E uropa

se n ã o q u in h e n to s a n o s d e p o is.

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168

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N o manuscrito ilustrado à esquerda vê-se que, já muito cedo, aparecem os números de 1 a 9. Estes são lidos da direita para a esquerda.


A Música das Esferas A grande extensã° do Império Mourisco talvez seja a responsáVel por ele ter-se tornado uma espécie de bazar do conhecimento, cujos intelectuais incluíam desde os heréticos cristãos nestorianos do Oriente, até os judeus infiéis do Ocidente. Havia, também, uma qualidade na religião islâmica, a qual, embora empenhada em converter as pessoas, jamais desprezava o conhe­ cimento delas. A leste, a cidade persa de Isfahan é o seu monu­ mento. A oeste, ainda sobrevive o Alhambra , no sul da Espanha, como exemplo de um de seus mais extraordinários postos avançados. Visto do exterior, o Alhambra aparece como uma fortaleza quadrada, bruta, sem a menor indicação de se tratar de uma construção árabe. Por dentro, vê-se não se tratar de uma fortaleza, mas, sim, de um palácio, e de um palácio deliberadamente planejado para representar, na terra, as delicadezas do céu. O Alhambra é uma construção tardia. Tem a lassidão de um império em declínio, que perdeu o espírito aventureiro e se julga estável. A religião da meditação torna-se sensual e acomodada. Ela ressoa com a música da água, cujas frases sinuosas permeiam todas as melodias árabes, mas se encaixam perfeitamente na escala pitagórica. Cada recanto ecoa a memória de um sonho, no qual o sultão flutua (pois já não andava mais —era carregado). Alhambra se pretende uma réplica do Paraíso descrito no Alcorão. Abençoada seja a recompensa daqueles que trabalham pacientemente e confiantes em Alá. Aqueles que abraçam a verdadeira fé e produzem boas obras serão hóspedes eternos das mansões do Paraíso, onde rios correrão aos seus pés. . . e honrados serão nos jardins das delícias, na maciez das almofadas. De uma fonte uma taça será passada entre eles, límpida, delicio­ sa, àqueles que bebem. . . Suas esposas, em macias almofadas verdes, e em lindos tapetes, teclinar-se-ão.

O Alhambra representa o último e mais curioso monumento da civüização árabe na Europa. Aqui governou o último rei mourisco até 1492, ao tempo em que Isabel de Espanha financiava a aventura de Colombo. Forma uma colméia de quadras e apo­ sentos, e a Sala de las Camas é o recanto mais secreto do palácio. Para aqui se dirigiam as donzelas do harém, onde, depois do banho, se reclinavam nuas. Músicos cegos tocavam na galeria, e os eunucos se agitavam à volta. O sultão contemplava altaneiro, até enviar uma maçã, a mensagem de sua escolha, àquela que seria sua companheira da noite. 169


72 Visto de fora o Alhambra é uma fortaleza quadrada, brutal.

Vista da Sena Nevada e do Alhambra em Granada.

O73Alhambra representa o último e mais requintado monumento da civilização árabe na Europa. Galeria dos músicos e sala de banhos do harém.


♦♦♦♦<


A Escalada do Homem Em uma civilização ocidental, um aposento desse tipo estaria certamente decorado de maravilhosas pinturas eróticas de formas femininas. Mas, aqui, não. A representação do corpo humano era proibida ao maometano. Mesmo o estudo da anatomia era proibi­ do, o que acabou sendo um fator de atraso na ciência muçulmana. Assim, a decoração se vale de cores, mas em desenhos de formas geométricas extraordinariamente simples. Na civilização árabe, o artista e o matemático se confundem. E isso, reafirmo, se deu literalmente. Os padrões do desenho representam o resultado final da exploração, pelos árabes, das sutilezas e simetrias do espaço; do espaço plano, bidimensional, daquilo que agora cha­ mamos plano euclidiano, cuja caracterização coubera a Pitágoras. Dentre uma grande riqueza de padrões, escolhi começar por um que é simples, mas representativo. Neste, um par de formas, uma horizontal e escura e a outra vertical e clara, se repete e se imbrica. As simetrias óbvias são representadas por translações (isto é, deslocamentos paralelos do padrão) ou reflexões, tanto verticais como horizontais. Mas há um ponto mais delicado que deve ser notado. Os árabes preferiam desenhos nos quais as formas claras e escuras do padrão fossem idênticas. Assim sendo, desconheçam as cores por um momento e vejam que, através da rotação de um ângulo reto, uma forma escura ocupa o lugar de uma clara. Continuando a rotação no mesmo sentido, acabamos, após três passos, voltando à posição inicial; mas, observemos, também, que todo o padrão obedece ao mesmo sentido de rotação, de tal forma que cada figura acaba ocupando a posição de qualquer outra, independentemente da distância dos centros de rotação em que se encontrem.

1 72


A Música das Esferas Tanto a reflexão na linha horizontal como na vertical apre­ sentam pares simétricos dos padrões coloridos. Mas, ignorando as cores, vemos que a simetria é quádrupla. Esta aparece impondo-se uma rotação, em etapas de ângulos retos repetidos quatro vezes, que é uma operação semelhante àquela por mim utüizada na demonstração do teorema de Pitágoras; dessa maneira, os padrões não coloridos equivalem, em simetria, ao quadrado pitagórico. Vejamos, agora, um padrão muito mais sutil. Esses triângulos, em forma de catavento, e apresentados em quatro cores, mostram apenas um tipo puro de simetria em duas direções. O padrão passa a ocupar posições idênticas, quando deslocado horizontal ou verticalmente. A forma de catavento não é irrelevante. É incomum encontrar sistemas simétricos que não permitam refle­ xões. Entretanto, esses triângulos em forma de catavento não o são, não se pode refletir uma figura sem torná-la sua imagem especular. Suponhamos, agora, que as cores desapareceram e o verde, o amarelo, o preto e o azul-real passem a ser identificados apenas como triângulos escuros e claros. Ainda assim, permanece uma simetria de rotação. Fixemos nossa atenção em um ponto de junção: aí há confluência de seis triângulos, alternando-se escuros e claros. Um triângulo escuro pode ser rodado para a posição dos triângulos escuros seguintes, voltando, na terceira vez, a ocupar sua posição original - essa simetria tripla roda todo o padrão. Na realidade, as simetrias possíveis não param aí. Desconhe­ cendo as cores por completo aparece uma outra rotação possível,

173


A Escalada do Homem fazendo-se um triângulo escuro ocupar o lugar de um claro, uma vez que são idênticos em suas formas. Esta operação de rotação levando de um escuro a um claro vairevelar uma simetria sêxtupIa que também gira todo o padrão. Este padrão de simetria nós conhecemos bem - é o apresentado pelos cristais de neve. A esta altura, o não-matemático tem o direito de perguntar: “E daí?”. É essa a preocupação principal da matemática? Será que os professores árabes e os matemáticos modernos gastam seu tempo com essa espécie de jogo elegante? A resposta é, talvez, inesperada: Bem, não se trata propriamente de um jogo. Ele nos coloca face a face com algo difícil de lembrar, isto é, que vivemos em um tipo especial de espaço — tridimensional, plano —cujas propriedades são inextrincáveis. Assim, procurando saber que operações podem reverter um padrão de figuras de volta a ele mesmo, estamos no caminho da descoberta das leis invisíveis que governam nosso espaço. E este comporta apenas alguns tipos de simetria, tanto para os desenhos feitos pelo homem como para as regularidades que a própria natureza impõe às suas estru­ turas atômicas fundamentais. As estruturas que, por assim dizer, simbolizam os padrões naturais de espaço são representadas pelos cristais. Quando se olha para um exemplar que jamais foi tocado pela mão humana — por exemplo, um cristal da Islândia — experimenta-se uma inesperada surpresa ao perceber não ser intuitiva a noção de que suas faces sejam regulares. Mesmo o fato de suas faces serem planas não é intuitivo. Assim são os cristais; estamos habituados com o fato de eles serem regulares. Mas, por quê? Não foi o homem quem os criou e sim a natureza. A superfície plana é a forma pela qual os átomos se juntam uns aos outros. O espaço impõe a superfície plana e a regularidade à natureza com a mesma irrevocabilidade com que deu simetria aos motivos mouriscos por mim analisados. Tomemos um belo cubo de pirita. Ou o que, para mim, é o mais interessante de todos os cristais, o octaedro da fluorita (o cristal de diamante tem esta mesma forma). Suas simetrias são imposições do espaço no qual vivemos — as três dimensões, a superfície plana na qual nos movimentamos —, e nenhuma agre­ gação de átomos pode-se desviar dessa lei crucial da natureza. À semelhança das unidades componentes de um padrão, no cristal 174 os átomos se empilham em todas as direções. Dessa maneira,

74 Simetrias impostas pela natureza do espaço emque vivemos.

Cristais naturais de jluorita púrpura, rombóides da Islând ia e cubos de pirita.



A Escalada do Homem imitando o que vimos para o padrão, o cristal tem de apresentar uma forma que possa ser entendida ou replicada indefinidamente . Por essa razão as faces de um cristal apresentam apenas algumas formas definidas; isto porque os padrões de simetria têm de ser mantidos. Por exemplo, as únicas rotações possíveis para turnos completos se compõem de repetição de dois e de quatro, de três e de seis, e só. Repetições de cinco nunca aparecem. Não se consegue agregar átomos de modo a formarem triângulos que se ajustem, cinco de cada vez, mantendo uma regularidade espacial. Pensar sobre as formas desses padrões, esgotando na prática as possibilidades de simetria espacial (pelo menos em duas di­ mensões) , foi o grande feito da matemática árabe. E seu propósito é maravilhoso, a despeito de seus mil anos. O rei, as mulheres nuas, os eunucos e os músicos cegos compunham um esplêndido padrão formal no qual se podia atingir a perfeição na exploração do que existia, sem pretensões de buscar nenhuma inovação. Aqui não há nada de novo na matemática, porque nada de novo há no pensamento humano, até que a escalada do homem arranque em busca de uma nova dinâmica. A cristandade começou a ressurgir no norte da Espanha por volta do ano 1000 em focos de resistência jamais conquistados pelos mouros, como a vila de Santilhana e outras localidades espalhadas na faixa costeira. Aqui, a religião estava arraigada às coisas simples da vida do campo — o boi, o jumento, o Cordeiro de Deus — imagens animais eram inconcebíveis na adoração muçulmana — mas muito mais que imagens animais se permitiam representar o Filho de Deus na forma de uma criança. A mãe desta criança era uma mulher depositária de adoração pessoal. Ao ser carregada em procissão, a Virgem compõe um universo diferente de visão: não mais de padrões abstratos mas, sim, de vida exuberantemente expressiva. Na reconquista da Espanha pela cristandade, as fronteiras foram palco da luta mais intrigante. Mouros, cristãos e também judeus se mesclaram em uma extraordinária cultura tecida de diferentes credos. Em 1085 Toledo foi por algum tempo o centro de tal cultura. A cidade de Toledo se constituiu no porto de entrada para a Europa cristã de todos os clássicos recolhidos pelos árabes da Grécia, do Oriente Médio e da Ásia. Para nós a Itália representa o berço do Renascimento. No 176 entanto, sua conceituação vamos encontrá-la na Espanha, no

75 A famosa escola de tradutores de Toledo.

Ilustração de Alfonso, o Sábio, fazendo um ditado para acadêmicos.


século XII, simbolizada e expressa nos trabalhos da famosa escola de tradutores de Toledo, onde os textos antigos eram vertidos do grego (que a Europa havia esquecido), através do árabe e do hebraico, para o latim. Entre outros avanços intelectuais, em Toledo foram compostas algumas séries de tabelas astronômicas na forma de uma enciclopédia da posição das estrelas. As tabelas são cristãs, mas a numeração é arábica, fato esse que caracteriza a cidade e a época, ainda hoje se nos apresentando reconhecida­ mente atuais. Geraldo de Cremona foi o mais famoso dos tradutores de Toledo, e o mais brilhante também. Veio da Itália especialmente em busca de uma cópia do Almagesto, o livro de astronomia de Ptolomeu, mas acabou permanecendo na cidade e traduzindo Arquimedes, Hipócrates, Galeno, Euclides - os clássicos da ciência grega. Contudo, para mim, a tradução mais importante e gue acabou tendo uma influência duradoura não foi a de um grego. Isso tem a ver com meu interesse pela percepção de objetos no espaço. Aliás, este é um assunto sobre o qual os gregos se equivocaram redondamente. Mas tal fato foi compreendido, pela primeira vez, por volta do ano 1000, como produto do trabalho de um matemático excêntrico, ao qual chamamos Alhazen, a única mente realmente científica produzida pela 177


Is praoftenfisjteremos ciVmlum, ne*,& dubuenwr hter-;c.Sit ergn . mQilineam dq: & fitdbztju^ Cc compar libi m prima figura: & (itnilitci perô.ciera circuli ( p u u p u ] &ílr J >- s (per jd u) &circulus, quem f»cit h d q in refle«»tur:&: eritarcus, quc,n tneníuraiW 6: quiauierqueíubtenditang lumreSu punâis b.f.redcftcnturduo punéb linea n imllgo u. Et exirahatnus u: u perpcndii (pcriipi] &dinue: lIdirdccntram:ki: ncamzueinduobuspunftís: fquia pun altiasellpunA:", u, cx prima fecct z, c: &-firarcuszo e: &. continuemus dz. cxtrahamus cxtracirculuin: &; à d Icin í ■ dine dq facíamusllrcum tfJ: Iccabiterg lincis d -z., dei nt. k: &.contiQuemus t k: ereo fincam d q io L Quia ergo h d cít péf . _j -j,:. ;pffr fuperficicmcirculi: uferqo» Jns hdr.hdkeritreftus: [petjdll] &tu fuperficies hdt, h d k faciet infuperficie li lircufum [per ith.ifpha:r.'&arcos,qtt urduas lineu h d,dt entequalis m u i, inierduaslincas h d, d u í ;? eitinterduas liDeas h ki&utreqoe ídecttzquali* lincçd o [perijdi,] í-yo arcusíuntliuiufmodi, quod íecundum angulossqu.Jeídüo dcmontlratumell q S'J &duz lince ■: (pertfdi.] Erg duin teftímago eÁitIsgoe. Ei i nez d t,d q. dkf"ciit:tqualcs; &1ínc*<J de Cunt xquales: cm ^.5 ?fp j]proportí( cJz, Gcut proportio q <. "d d 0 ,&íicut m kd ad d e . ScJ pr poníoqd add o, utin figurarprxccdint;s numeri J prtollcDi orpropurtione ■ . ; i tiodt ad d 2 cltinaior,.limiliterkd ad d e. It'quales,&duçlioe* ' I. dkíuntII'qudei neatkequidi(bMzc {pcrzp6:ellemn psdcadJz.ficutdkad’«/e:&peri 7 ^S'.8' 't.d,fickeaded.JErgo [pcríp6-iKpfJ proportio dtad d 2 ,&kdad o Iti ad J u. Ergo proponioldad d j linea n d [per io ps.J Ergon eft inter l,u. ; go imago lineczue rcttz,eft lineainnfí ■ eficonucI'l. Ex quibus patet, quôdlin• quibuflÍamCtibuS.

H

76

Em um afresco de Florença, pintado por volta de 1350, não há nenhuma intenção de perspectiva, porque o pintor se pensava registrando as coisas não da maneira como elas se apresentavam, mas como elas eram.


dfinonft'ation< in,ne multiplic^ntur Se U* in fccund.. ú^un a bg: Seccncrum d: &:nru.ha. ,nafi);ura: &J o) xqums d o in pnma iig,uta:&d q d q pcfptndiculartin íl.per Tu­ bi in prima tu,-;• j Anguluscr;ohd qenirctn.s: .ci-ü e.":'t!f, u i t ex quibus to.-nia punflof'Ulh o, u J,d q, 1tq u^is arcu» ii gin pnmo circulo: [puH p duobuspundis illius U'ct;$,compuibusduobu$ n a luperfcic circuliabg.Tuperiineam j 4 üd;>K dohcia&Dus arcum circuJi: fecabit ergo b-

• ^r :1' 0 F'o n '"*? r dadd «vítpu line:a ídclt maior :í l >ma;ou.:&duo punda r,k lun rimagmesz.e. Er , p-uvih, tnk: Sellnca, quzttanfirperbxcptrnth. concawa quo.ndoqueuideturconucxain

77 ^Alhazen foi o primeiro a reconhecer que vemos um objeto porque cada ponto do mesmo dirige e reflete um raio de luz para dentro de nossos olhos. O conceito de um cone de raios do objeto para os olhos vai-se constituir no fundamento da perspectiva.

A Música das Esferas cultura árabe. Os gregos pensavam que a luz ia dos olhos para o objeto. Alhazen foi o primeiro a reconhecer que a visão de um objeto se deve à reflexão e direcionamento, para os olhos, de raios de luz incidindo em cada ponto do mesmo objeto. A conceituação grega não permitia explicar a mudança de forma aparente de um objeto; de minha mão, por exemplo, quando em movimento. Na explanação de Alhazen, fica perfeitamente esclarecido que o cone de raios emergentes do contorno e da forma de minhas mãos diminui de diâmetro à medida que o afasto dos olhos de um observador. Aproximando minha mão dos olhos desse mesmo observador, o cone de raios, entrando nos olhos dele, aumenta de diâmetro, subentendendo, dessa maneira, um ângulo maior. E isso, e apenas isso, dá conta da diferença de tamanho percebida. A noção é tão incrivelmente simples que é de se admirar como os cientistas não lhe deram atenção (Roger Bacon foi uma exceção) durante seiscentos anos. Entretanto, artistas levaram-na em conta muito antes, e o fize­ ram de uma forma prática. A idéia do cone de raios que vai do objeto para o olho se constitui no fundamento da perspectiva. E a perspectiva é a nova idéia que revivifica a matemática. A perspectiva foi incorporada à arte no norte da Itália, em Florença e Veneza, no século XV. Na Biblioteca do Vaticano há uma cópia manuscrita de uma tradução da Optica de Alhazen, anotada por Lorenzo Ghiberti, autor da famosa perspectiva em bronze das portas do Batistério de Florença. Mas este não foi o pioneiro da perspectiva - Filippo Brunelleschi é um candidato mais provável - e, na realidade, pode-se identificar um número deles, a tal ponto de formarem uma escola de Perspectivi. Era uma escola de pensadores, uma vez que se propunham, não apenas imprimir vida às suas figuras, mas, também, criar a impressão de seus movimentos no espaço. O movimento se apresenta evidente, mesmo em uma rápida confrontação de um trabalho de um dos Perspectivi com outro, anterior a eles. A “Santa Ursula” de Carpaccio, representando uma figura feminina se afastando de um porto veneziano vaga­ mente delineado, foi pintada em 1495. O efeito pretendido é o de dar uma terceira dimensão ao espaço visual, à semelhança da nova profundidade e dimensão das harmonias então recentemente introduzidas na música européia. Mas o efeito buscado não era tanto profundidade como movimento. Na música e na pintura, os habitantes possuem mobilidade. Acima de tudo, temos a 179


A Escalada do Homem impressão de que os olhos do pintor estão em movimento contínuo. Examinemos, agora, um afresco florentino pintado há uma centena de anos anteriormente, por volta de 1350. Reproduz uma visão da cidade, tomada de fora dos muros, o pintor olhando ingenuamente por cima destes e dos telhados, como se fossem dispostos em andaimes. Entretanto, esse quadro não reflete uma habilidade ou falta dela, mas, sim, uma intenção. A perspectiva não é considerada, porque o pintor se pensa a si próprio como um reprodutor das coisas como elas são, e não como elas parecem ser: uma visão do olho de Deus, um mapa da verdade eterna. O pintor da perspectiva é portador de uma intenção diferente. Qualquer visão absoluta ou abstrata é deHberadamente afastada.

78 Opintor da perspectiva é imbuído de uma intenção diferente. A pintura e seus habitantes são móveis. '"Santa Orsula e

seu pretendente despedindo-se de seus pais” de Vittorio Carpaccio. Academ ia, Veneza, 1495.


A M ú sica d as E sfera s

o

r e p r ° d u z id o n ã o é u m lu g a r , m a s u m m o m e n t o , e u m m o m e n t 0

fu g az: u m isso

p o n t o d e v ista n o te m p o , m a is d o q u e n o e sp a ç o . T u d o

fo i c o n q u ista d o

e q u ip a m e n to trad o

p e lo

en tão

a rtista

a tra v és d e m é to d o s e x a to s, m a te m á tic o s. O u tiliz a d o f o i c u id a d o s a m e n t e d e s c r ito e ilu s­

a le m ã o

A lb rech t

D ürer,

que

foi à

Itá lia e m

1 5 0 6 a fim d e a p r e n d e r a “ a rte sec r e ta d a p e r s p e c tiv a ” . O p r ó p r io D ü rer

fix o u

u m

m o m en to

v e r e m o s o a rtista e m ter in te r r o m p id o

no

tem p o ;

se

r e c r ia r m o s

sua c e n a ,

b u s c a d o m o m e n t o d r a m á tic o . E le p o d e r ia

m a is c e d o su a in s p e ç ã o à v o lta d o m o d e lo . U m

m o m e n to

m a is ta r d e p o d e r ia

ser fix a d o

n a te la . M a s, a c o n t e c e

ig u a lm e n te ter sid o e sc o lh id o p a ra q u e e le d e c id iu a b r ir o s o lh o s ,

tal q u a l o d ia fr a g m a d e u m a c â m e r a , e isso c o m p r e e n siv e lm e n te ,

79 Dürer ftxou um momento no tempo.

‘‘Interponha uma tela de malhas de fios entre seus olhos e o modelo nu a ser representado e desenhe os quadros conespondentes no papel. Coloque uma marca na tela de modo que sirva como ponto fixo de referêncla." Esta é a maneira pela qual da Vinci descreve o uso de uma tela semelhante a esta. Diagrama da construção de uma elipse por Dürer.

n o

in sta n te

ex a to

em

que

o m o d elo

se m o stro u

p o r in teiro . A

p e r s p e c tiv a n ã o r e p r e s e n ta a p e n a s u m p o n t o d e v ista ; n a q u ilo q u e to c a a o p in to r é u m N o s

p r im ó rd io s

u m a grade co m o

tr a b a lh o a tiv o e c o n tín u o . da

p ersp ectiv a c o stu m a v a -se

usar u m

v iso r e

a ju d a p a r a fix a r o m o m e n t o n a te la . O e q u ip a ­

m e n t o d e o b se r v a ç ã o v in h a d a a str o n o m ia , e o p a p e l q u a d r ic u la d o n o

qual

a u x ilia r

a da

cen a

D ü r e r se d e lic ia asno, o

era

d esen h ad a

m a te m á tic a . são

T o d o s

os

h o je,

d e ta lh e s

u m

n a tu ra is

d isp o sitiv o nos

q u a is

e x p r e ssõ e s d a d in â m ic a d o te m p o : o b o i e o

c o r a d o ju v e n il n a fa c e

d o s M agos.

c o n stitu i,

d a V irg em . A

te la é A

O s três sá b io s d o L este e n c o n tr a r a m

A d o ra çã o

a e strela , e e sta

a n u n c ia v a o n a s c im e n to d o te m p o . A

taça ,

e n sin o

n o

cen tro

d a p in tu r a d e D ü rer, era u m a p e ç a -c h a v e n o

d a p e r sp e c tiv a . P o r e x e m p lo , t e m o s a a n á lise d e U c c e llo

so b r e as m a n e ira s d e se ver e d e sen h a r u m a taça; h o je, p o d e m o s e n tr e g a r e ssa ta r e fa a u m c o m p u ta d o r . M a s o a rtista d a p e r sp e c tiv a

181


80

O boi e o asno, o rosado ju v en il na fa c e da V irgem .

Dürer: "A Adoração dos Magos", (detalhe). Uffizi, Florença.


’* • Um momento como um risco no espaço.

"A Enchente’’, de Paolo Uccello e sua análise em perspectiva de um cálice.


81

A tra jetó ria d e u m p r o jétil. . . s e q u ê n c ia n a f o r m a ç ã o d e u m a g o ta de líq u id o . •

Desenho Vincidedizsumatrajetórias de balas morteiro. Formaçãodeedaquediz gota de água sobdeaação dagravidade. trabalhava intensamente; seus olhos giravam tal qual uma mesa giratória, a fim de explorar a forma cambiante do objeto, a elongação dos círculos em elipses e, então, apanhar um instante no tempo, na forma de uma pincelada no espaço. Analisar as variações dos movimentos de um objeto, como eu posso fazer com a ajuda de um computador, era uma atividade totalmente estranha às mentes dos gregos e dos muçulmanos. Estes procuravam sempre o imóvel, o estático, um mundo intemporal de perfeita ordem. Para eles, a forma perfeita era representada pelo círculo. O movimento tinha de progredir, suave e uniformemente, em círculo; aí estava a harmonia das esferas. Essa é a razão pela qual, no sistema de Ptolomeu, as órbitas eram circulares, pois, assim, o tempo podia transcorrer uniforme e imperturbavelmente. Acontece, porém, não existirem movi­ mentos uniformes no mundo real. Velocidade e direção variam a cada instante, de modo que só puderam ser analisadas quando se criou uma matemática na qual o tempo era uma variável. Este problema pode ser teórico tratando-se dos céus, mas é prático e de aplicação imediata na terra - na trajetória de um projétil, no crescimento explosivo de uma planta, no simples cair de uma gota de líquido, passando por variações abruptas de tamanho e direção. A Renascença não dispunha de equipamento capaz de fazer parar, de instante a instante, a imagem de uma cena em movimento. Mas a Renascença havia conquistado o equipamento intelectual: o olho penetrante do pintor e a lógica do matemático. Dessa maneira, depois do ano 1600, Johannes Kepler se con­ venceu de que o movimento de um planeta não é nem circular nem uniforme. A órbita é uma elipse que o planeta percorre em velocidades variáveis. Isso significava que a velha matemática dos padrões estáticosjá não era mais suficiente; nem a matemática do movimento uniforme. Havia a necessidade de uma matemática capaz de definir e operar com movimentos instantâneos. A matemática do movimento instantâneo foi inventada por duas mentes privilegiadas do fim do século XVII - Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz. A nós nos parece tão familiar que tendemos a considerar o tempo como um elemento natural na descrição da natureza; mas isso não foi sempre assim. Foram eles que criaram a idéia de tangente, a idéia de aceleração, a idéia de inclinação, a idéia de infinitesimal, de diferencial. Há 184 uma palavra, já agora esquecida, mas que representa a melhor


u



A Música das Esferas 82 Ocrescimento explosivo de uma planta.

Um cone de pinheiro, a superfíc ie de uma pétala de rosa, uma concha e uma margarida.

83 Amatemática se transforma em uma maneira dinâmica de pensamento, e esse fato constitui um dos grandes passos na escalada do homem.

Curva gerada por computador da trajetória de partículas subatômicas.

descrição para aquele fluxo de tempo o qual Newton fez parar como que com um golpe de guilhotina: Fluxions. Este era o nome dado por Newton ao que, depois de Leibniz, passou a ser chamado cálculo diferencial. Considerá-lo sob o aspecto de apenas mais uma técnica avançada equivaleria a não entender o seu significado real. Com ele a matemática se torna uma maneira dinâmica de pensamento, e essa conquista representa um enorme salto mental na escalada do homem. O conceito técnico subja­ cente a toda a sua aplicação é, por estranho que isso possa parecer, o de um deslocamento infinitesimal; e o avanço intelec­ tual consistiu em se ter atribuído um rigoroso significado ao mesmo. Mas podemos deixar o conceito técnico aos profissionais, e nos contentarmos em chamá-la matemática das variações. As leis da natureza têm sido sempre formuladas através de números, desde que Pitágoras os considerou a linguagem da na­ tureza. Entretanto, agorajá se tornava necessário que a linguagem da natureza incluísse números capazes de descrever o tempo. As leis naturais tornam-se leis do movimento, e a própria natureza já não é mais uma seqüência de quadros estáticos, mas, sim, um processo em movimento.



o

84

O ritu a l m a ia era o b sessivo em rela çã o à p a ssa g em d o te m p o , e essa preocupação d o m in a v a sua a stro n o m ia .

Peça “Q " do altar Copan comemorando o encontro de astrônomos maias para corrigir a diferença de tempo entre os dois calendários maias. N o topo estão registradas as datas das luas novas do século VIII. A data do encontro aparece entre as cabeças dos astrônomos.

MENSAGEIRO SIDERAL

Em um sen tid° modemo,a primeira ciência a aflorar da civilização mediterrânea foi a astronomia. Podemos ir da matemática para a astronomia quase que diretamente porque, afinal de contas, a astronomia se desenvolveu primeiro, e tornou-se modelo para as outras ciências, justamente por ter sido possível expressá-la atra­ vés de números exatos. E isso não é uma idiossincrasia minha. Mas certamente, uma idiossincrasia poderá ser identificada no fato de eu começar a exposição do drama da primeira ciência mediterrânea pela sua manifestação no Novo Mundo. Rudimentos de astronomia existem em todas as culturas, de forma que podemos inferir fazerem parte das preocupações de todos os povos primitivos do mundo. Uma das razões se mostra claramente. A astronomia é um conhecimento importante para nos guiar através dos ciclos das estações — por exemplo, pelo movimento aparente do sol. Dessa maneira, o homem pode fixar uma época de plantio, de colheita, de rodízio do rebanho, e assim por diante. Portanto, todas as culturas sedentárias acabaram por desenvolver um calendário para orientar seus planos. Tal aconte­ ceu no Novo Mundo, da mesma forma que nas bacias fluviais da Babilônia e do Egito. Podemos tomar a civilização maia como exemplo. Considerada a mais avançada das culturas americanas, floresceu, antes do ano 1000 d.C., no istmo da América Central, entre os oceanos Atlân­ tico e Pacífico. Os maias possuíam uma linguagem escrita, conhecimentos de engenharia e artes originais. Seus templos, construídos em forma de pirâmides íngremes, abrigavam alguns astrônomos; de um grupo deles nos ficaram os retratos gravados em um amplo altar de pedra. O altar foi erigido em comemoração a um antigo congresso astronômico que teve lugar no ano 776. Dezesseis matemáticos aqui se reuniram, nesse famoso centro da cultura maia, a cidade sagrada de Copan, na América Central. O sistema aritmético maia era mais adiantado do que o euro­ peu; por exemplo, eles já tinham um símbolo para o zero. Eram excelentes matemáticos; contudo, não chegaram a mapear os movimentos das estrelas, a não ser os mais simples. Por outro lado, seus rituais revelavam uma preocupação obsessiva com a passagem do tempo, refletindo-se na astronomia, na poesia e nas 189 lendas.


A Escalada do Homem

Q u a n d o a g ra n d e c o n fe r ê n c ia r eu n iu -se e m C o p a n o s sa c e r d o te s a s tr ô n o m o s m a ia s e sta v a m e m d ific u ld a d e . P o d e r ia m o s su p o r q u e a co n v o c a ç ã o d esses h o m e n s d e c o n h e c im e n to , rep resen ta n tes d e d ife r e n te s c e n tr o s , te r ia o c o r r id o p a r a a d is c u s s ã o d e u m p r o b le m a real de observação so lu c io n a r u m

-

m as, não. O con gresso foi co n v o c a d o para

p r o b le m a d e c á lc u lo a r itm é tic o q u e , d e h á m u ito s

a n o s, v in h a p r e o c u p a n d o o s g u a r d iã e s d o c a le n d á r io . H a v ia d o is c a le n d á r io s; u m d en tes;

e le s

sag ra d o e o u tro p ro fa n o , n ã o to ta lm e n te c o in c i­

d espenderam

tod a

a

sua

e n g e n h o sid a d e

ten tan d o

im p e d ir o d e s c o m p a s s o e n tr e e le s. O s a s t r ô n o m o s m a ia s p o s s u ía m a p e n a s a lg u m a s regra s in g ê n u a s p a ra seg u ir o s m o v im e n to s p la n e ­ tá rio s, e n e n h u m

c o n c e ito geral so b re o s seu s m e c a n ism o s. P ara

e le s, a a s t r o n o m ia e ra u m a c iê n c ia fo r m a l, u m

m e io d e m a n ter a

c o r r e ç ã o d o c a le n d á r io . E fo i isso q u e se fe z n a q u e le a n o d e 7 7 6 , q u an d o

os

d e leg a d o s

o rg u lh o sa m e n te

posaram

para

serem

re­

trata d os. M as a a str o n o m ia n ã o se esg o ta c o m

o c a le n d á r io . U m

o u tro uso,

e m b o r a n ã o u n iv ersa l, p o d e ser id e n tific a d o e n tr e o s p o v o s p r i­ m itiv o s.

O s

p o d em

m o v im en to s

se r v ir

m a r ítim o ,

de

que

r e fe r ê n c ia . N o

g u ia

não

p od e

V e lh o

dos

ao

a stros

no

v ia ja n te , co n ta r

céu

com

ou tro

tip o

de

v ia ja n te p o n to

co m o

u m

d e o r ie n ta r v ia g e n s p o r terra o u p o r m a r. S e m

d a a str o n o m ia

é

de

N o v o M u n d o , a té o n d e

sa b e r , a a s tr o n o m ia n ã o fo i u tiliz a d a

c ie n tífic o

tam b ém

ao

M u n d o , esta era a im p o rtâ n cia d a a str o n o ­

m ia p ara o n a v e g a d o r m e d ite r r â n e o . N o p o d em o s

n o tu rn o

p r in c ip a lm e n te

rea lm en te

im p o ssív e l

a

o rien ta çã o

m e io

a a ju d a

a tra v és

de

lo n g a s d istâ n c ia s, o u m e s m o d e s e n v o lv e r q u a lq u e r tip o d e te o r ia sobre

a

form a

da

Terra,

in c lu in d o

terrestres e m a r ítim o s. C o lo m b o

seus

a cid en tes

d isp u n h a

de

um a

g e o g r á fic o s a str o n o m ia

a n tiq u a d a e r ú stic a p a ra n o ss a s m e n te s , q u a n d o v e le jo u te n ta n d o a tin g ir o o u t r o la d o era

m u ito

M u n d o

m enor

d o

do

que

tiv e ss e p e n s a d o

sa íd o

à

procura

en fu n o u

do

n a r e a lid a d e é. M e s m o a ssim , o N o v o

su a s v ela s

q u e a T e r r a fo sse r e d o n d a e n u n c a tiv e sse V e lh o

ao

red or

M u n d o. da

F oi

Terra

a str o n o m ia n ã o rep r e se n ta n e m

in v en çã o . E n treta n to ,

190

p o r e x e m p lo , p a ra e le , a T e r r a

fo i d e sco b e r to . N ã o é m e r o a cid en te q u e o N o v o M u n d o

nunca

A

m u ndo:

m en to

e

da

p od e

m e n ta lid a d e

ser u m

o

para

V elh o

M u n d o

d e sco b r ir

o

N o v o.

o c u m e d a c iê n c ia , n e m teste d o

su b jacen tes

a

um a

que da

p e r fil d o

tem p era­

cu ltu ra .

D esde

os

te m p o s d o s g reg os, o s n a v eg a d o res m ed iterrâ n eo s era m im b u íd o s

85 R ep resentação dos céus m o v en d o -se em torn o de u m eix o , e o e ix o era a Terra redon da.

Odiagrama mostraa traje­ tória perconida pelos planetasquandoobservados apartir do Terra. A teoria ptolomaica tentou explicar essas observações. A foto­ grafiamostraos movimen­ tos de Mercúrio, Vênus, MtlTte, Júpiter e Saturno registrados por meio de exposição prolongado no Planetário de Munique.



86 A

U m p a r a íso terrestre n ã o se c o n s t r ó i a tr a v é s d e u m a v azia rep etiçã o .

E sca lad a d o H o m e m

Umafileira de cabeças escul­ pidas em pedrajunto àBaía de Moais, Ilha diJPáscoa. de u m — o

tip o e sp e c ia l d e c o g ita ç ã o , o n d e a a v e n tu r a se u n ia à ló g ic a

e m p ír ic o

a o ra cio n a l -

em

u m a fo r m a u n ific a d a d e in q u ir i­

çã o . T a l n ã o se d eu n o N o v o M u n d o . E n tã o o N o v o M u n d o n ã o co n trib u iu c o m É

n e n h u m a in v en çã o ?

c la r o q u e c o n tr ib u iu . M e s m o u m a c u ltu r a p r im itiv a c o m o a d a

Ilh a d a P á s c o a r e a liz o u u m a g r a n d e in v e n ç ã o , r e p r e s e n ta d a p e la e sc u ltu r a d e e stá tu a s g ig a n te sc a s e u n ifo r m e s . N a d a d e s e m e lh a n te e x iste n o resto d o m u n d o , d e fo rm a q u e, c o m o sem p re a co n tece, as

in d a g a çõ es

m a is

d isp a ra ta d a s

e

irr e le v a n te s

aparecem

em

r e la ç ã o a e la s. P o r q u e fo r a m d is p o s ta s d e s s a fo r m a ? C o m o fo r a m tran sp o rtad a s? C o m o en con tra m ?

M as

fo ra m

esses

h en g e, q u e d a ta d e u m a tou

c o lo c a d a s n o s lo c a is o n d e a g o r a se

p r o b le m a s

n ã o sã o s ig n ific a tiv o s. S to n e -

c iv iliz a ç ã o m u ito

m a io r e s d if ic u ld a d e s p a r a s e e r ig ir ; o

A veb u ry

m a is a n tig a , a p r e s e n ­ m esm o

e m u ito s o u tro s m o n u m e n to s. O

p r im itiv a s

ach am

seus

c a m in h o s,

a co n tece

co m

fa to é q u e as cu ltu ra s

passo

a

passo,

a tra v és

de

e n o r m e s e m p r e e n d im e n to s c o m u n itá rio s. Por

que

c r ític a

a

D ió g e n e s

razão

se

fora m

endereçar

em

observando

a

i g u a i s ?. E s t a

fe ita s

to d a s

essas

está tu as.

s e u s b a rris, o lh a n d o o c é u o

estã o

co m

é a p ergu n ta e la s,

tal q u a l

seu s o lh o s v a z io s,

S o l e as estrela s p a ssa r e m so b r e su a s c a b eç a s, se m

a m e n o r in te n ç ã o d e p e lo m e n o s ten ta r e n te n d ê -lo s. Q u a n d o , n o d o m in g o

de

P áscoa

ilh a ,

foi

d e scr ita

e la

de

1 77 2,

co m o

os

um a

h o la n d e se s

d esco b rira m

r é p lic a

p a ra íso

C o n tu d o , isso n ã o p o d e ser v erd a d e. U m

d o

na

p a r a íso terrestre n ã o se

c o n s t r ó i p e la r e p e tiç ã o d e s s a s fig u r a s v a z ia s , c o m o se f o s s e m im a g e m

do

chegar

e

v a iv é m

p a rtir

de

u m

sem pre

a n im a l e n ja u la d o ,

dos

m esm os

p o n tos.

im ó v e is , e ssa s fig u r a s c o n g e la d a s d e u m d o

r o lo ,

rep resen ta m

p r im e ir o

passo

na

u m a

e sc a la d a

m a n ifesta o in su cesso

c iv iliz a ç ã o do

essa terra.

a

E ssas

film e q u e que

não

c o n h e c im e n to

um a

m o n o to n ia

de

exp ressões

ch eg a a o fim

ch egou

a dar o

r a cio n a l.

A í

se

d a s c u ltu r a s d o N o v o M u n d o , m o r ta s e m

su a s p r ó p r ia s er a s g la cia is s im b ó lic a s. A

Ilh a

da

P á sc o a d ista u n s m il e q u in h e n to s q u ilô m e tr o s d a

ilh a h a b it a d a m a is p r ó x im a , a ilh a d e P itc a ir n , a o e s te . A ilh a

m a is

m etro s

a

p r ó x im a

fic a

leste ,

ilh a s

as

o u tra

a c e r c a d e d o is m il e q u in h e n to s q u ilô ­ de

Juan

F ernandez,

on d e,

em

170 4,

A le x a n d e r S e lk ir k , o R o b in s o n C r u so e , e n c a lh o u . D is tâ n c ia s d essa ord em tip o 1 92

não

p od em

de m o d elo

ser v e n cid a s a n ã o ser q u e se d isp o n h a d e u m

dos céus ou

q u a l as rota s p o ssa m

da

p o siçã o

d a s e strela s, a tr a v é s d o

ser traça d as. D e q u e m a n eira o s h a b ita n te s



A Escalada do Homem

da

Ilh a

da

P áscoa

freq ü en tem en te

acabaram

ch egan d o

fo r m u la d a . A

a té

e la

é u m a p ergu n ta

r e sp o s ta é ó b v ia , e s o b r e e la n ã o

se p o d e a lim e n ta r a m e n o r d ú v id a : p o r a c id e n te . M a s, e n tã o , p o r que

não

c o n se g u ir a m

p lesm en te

por n ã o

v o lta r para o

con h ecerem

lu g a r d e o n d e v ie r a m ? S i m ­

o s m o v i m e n t o s d a s e s t r e la s , os'

q u a is te r ia m p e r m itid o r e tr a ç a r e m su a s r o ta s. E

por

E strela

que

não?

U m a

P o la r n o c é u

tâ n cia

p elo

das

razões

está

na

a u sên cia

d e

um a

d o h e m is f é r io su l. S a b e m o s d e s u a i m p o r ­

papel que

d e s e m p e n h a n a m ig r a ç ã o d a s aves. T a lv ez

isso ta m b é m e x p liq u e p o r q u e a m a io r ia d a s m ig r a ç õ e s d o s p á ssa ro s se d ê n o h e m is f é r io n o r te e n ã o n o su l. A

a u sê n c ia

para

o

de

u m a

h em isfério

A m é r ic a

E stre la P o la r

su l,

C e n tr a l,

o

m as

não

M é x ic o ,

n u n c a d e se n v o lv e r a m

e

p od e

para tod a

tod o um a

ter s id o sig n ific a tiv a o

N o v o

série

de

M u n d o. lu g a res

A

que

u m a a str o n o m ia , fic a m a c im a d o E q u a d o r .

O q u e h a v ia d e e r r a d o a í? N in g u é m s a b e . A c r e d it o q u e e le s n ã o d isp u n h a m v e lh o

d a q u e la

M u n d o

q u ed o

no

im a g e m

-

N o v o

grande

a roda. A M u ndo.

d in â m ic a ,

tão

E n treta n to ,

n o

v e lh o

co m u m de u m M u n d o,

no

b rin ­ sua

d o m in a v a a p o e sia e a c iê n c ia ; tu d o e n c o n tr a v a n e la seu

fu n d a m en to . A co n cep çã o e ix o

im a g e m

r o d a n u n c a p a sso u a lé m

in sp ir o u C r istó v ã o

cen tro

da

id é ia

era

d os céu s m o v en d o -se em to rn o de u m

C o lo m b o

em

a e sfe r ic id a d e

fo r n e c id o a p ista c o m

su a a ven tu ra d e 1 4 9 2 , e o

da

T erra. O s

gregos

h a v ia m

su a s e str e la s d e e sfe r a s fix a s a p r o d u z ir e m

m ú s ic a à m e d id a q u e g ir a v a m . R o d a s n o in te r io r d e r o d a s. A s s im era

o s is te m a d e P to lo m e u , u m a e x p lic a ç ã o a d e q u a d a p o r m a is

d e m il a n o s. M a is v e lh o

de

cem

anos

a n tes

da

p a rtid a

d e C ristó v ã o

M u n d o tin h a sid o c a p a z d e p r o d u z ir u m

C o lo m b o ,

o

e x c e le n te r e ló g io

d o s céu s. S eu c o n str u to r f o i G io v a n n i d e D o n d i, e o tr a b a lh o fo i r e a liz a d o e m

Pádua em

1 35 0. A

obra lev o u

d e z e sse is a n o s p ara

ser c o m p le ta d a e, in fe liz m e n te , o m o d e lo o rig in a l n ã o fo i c o n s e r ­ v ad o . E n tr e ta n to , v a len d o -se d e seu s d e sen h o s, fo i p o ssív e l r e c o n s­ tr u ir e s s e m a r a v ilh o s o m o d e l o se en co n tra e x p o sto O

m o d e lo

n h o sid a d e

rep resen ta

m e c â n ic a ;

d a a s tr o n o m ia c lá ssic a , q u e h o je

n o S m ith s o n ia n I n stitu tio n d e W a sh in g to n . é

m u it o m a is d o q u e u m a p e ç a d e e n g ea c r ista liz a ç ã o

in te le c tu a l d a s id é ia s d e

A r istó te le s, d e P to lo m e u , e d e to d o s o s g reg o s. A tr a v é s d o r e ló g io de D e 194

D o n d i v isu a liz a m o s su a s c o n c e p ç õ e s d e c o m o o s p la n e ta s

se c o m p o r ta v a m

q u a n d o v is to s a p a rtir d a T e rra . A q u i se d istin -


O Mensageiro Sideral

g u ia m o

se te p la n e tas - o u a ssim o s a n tig o s p e n sa v a m , u m a v e z q u e

So1 era c o n ta d o

r eló g io

en tre

é p o rta d o r de

o s p la n eta s d a T erra. D e ssa

sete

faces o u m o stra d o res, e em

d e la s c o r r e u m p la n e ta . A tr a je tó r ia d o p la n e ta e m

m a n eira , o cada u m a

seu m o stra d or

é (a p r o x im a d a m e n te ) a tr a je tó r ia o b s e r v a d a a p a r tir d a T e r r a —

87

O m ^ r n f i c o r eló g io d o s céu s estrelad o s.

Reconstrução do relógio astronômico de Giovanni de Dondi de PddUl, e uma cópia tardia, datada do século XV, de duas páginas do manuscrito de De Dondi, mostrando o mecanismo do relógio.


A Escalada do Homem

o r e ló g io é q u a se tã o p r e c iso q u a n to o e r a a o b se r v a ç ã o n o te m p o em

q u e fo i c o n s t r u íd o . Q u a n d o a tr a je tó r ia a p a r e n te e r a c ir c u la r ,

e la a s s im

se m o str a v a n a fa c e d o r e ló g io ;

tal r e p r e se n ta ç ã o

não

c o n s titu ía d ific u ld a d e . E n tr e ta n to , q u a n d o a tr a je tó r ia a p a r e n te d o

p la n eta era ex cên trica , D e D o n d i la n ç o u m ã o d e u m a c o m b i­

nação

de

c ír c u lo s

c o m b in a ç ã o

de

os

q u a is

r e p r o d u z ia m

os

e p ic ic lo s

c ír c u lo s g ir a n d o d e n tr o d e c ír c u lo s)

(isto é, a ou

seja, as

ó r b ita s p la n e tá r ia s d e sc r ita s p o r P to lo m e u . E n tã o, em co m o

p r im e ir o lu g a r , o S o l: u m a tr a je tó r ia c ir c u la r , a s s im

lh e s p a recia . A

seg u n d a fa ce a p resen ta M arte: n o te -se q u e

seu m o v im e n to d ep en d e de u m

m e c a n is m o d e r e lo jo a r ia m o v e n d o

u m a r o d a n o in ter io r d e o u tra . E m c o m p le x id a d e d en tro

de

co m o que

de rod as d en tro

rod as. D e p o is v e m

se g u id a J ú p ite r :

a L ua -

D e D o n d i a rep resen to u .

e la é v e r d a d e ir a m e n te u m

u m a m a io r

d e rod as. E n tã o , S a tu rn o: Seu

rodas

é in teressa n te a m a n eira

m o str a d o r é sim p le s, p o sto

p la n e ta d a T e r r a , e su a tr a je tó r ia

é c ir c u la r . F in a lm e n t e , v a m o s e n c o n tr a r o s m o s tr a d o r e s d e d o is p la n e ta s q u e

se in te r p õ e m

e n tr e n ó s e o S o l: M e r c ú r io e V ê n u s .

E a q u i, m a is u m a v e z , a fig u r a se r e p e te :

a r o d a q u e tran sp o rta

V ê n u s g ir a n o in te r io r d e o u tr a h ip o té tic a r o d a m a io r . A

con cep çã o

im p r e ssio n a lh a r

a in d a

m a is

n a sc im e n to

in tele c tu a l

é

m a r a v ilh o sa ;

sua

c o m p le x id a d e

m a s isso serv e a p e n a s a o p r o p ó s ito d e n o s m a ra v i­

de

com

o

fa to d e os gregos, n ã o

C risto ,

n o

ano

de

1 50 ,

m u ito

terem

d e p o is d o

sid o

capazes

de

c o n c e b e r e dar u m a fo r m u la ç ã o m a te m á tic a a essa su r p r e en d e n te co n stru çã o . M as, m e sm o U m

d en te, sete ao e

a ssim , e la a p r e s e n ta u m a im p e r fe iç ã o .

d eta lh e ap en as: p ara ca d a p la n eta h á u m m o str a d o r in d e p e n ­

não

sete.

tod o

E ssa

-

e os céus só p o d em

m a q u in a ria

ter

u m a m a q u in a ria ,

ú n ica só fo i e n c o n tr a d a

em

1 54 3,

q u a n d o C o p érn ico c o lo c o u o S o l n o cen tro d os céu s. N ico la u lectu a l

C o p é r n ico era u m

h u m a n ista , n a sc id o n a P o lô n ia e m

m e d ic in a la ç ã o

c lé r ig o , e m in e n te

e d istin g u id o in te ­

1 4 7 3 . E stu d ou

leis e

n a Itá lia , a s s e s s o r o u o g o v e r n o d e seu p a ís n a r e f o r m u :

m o n etá ria

c a le n d á r io . d ed ica d o s

p e lo à

e, a p e d id o m en o s

p r o p o siç ã o

d o P ap a, co la b o r o u

v in te

e

c in c o

m od ern a

de

anos que

de

na reform a d o sua

v id a

a N a tu reza

fora m

d e v ia

s im p le s . P o r q u e as tr a je tó r ia s d o s p la n e ta s se a p r e s e n ta v a m c o m p lic a d a s? E m

sua

resp o sta

a tr ib u i a

c o m p le x id a d e

ao

ser tão fato

d e o lh a r m o s o s p la n e ta s d o lu g a r o n d e n o s e n c o n tr a m o s, isto é, 196

d a T erra. À

s e m e lh a n ç a d o q u e fiz e r a m o s p io n e ir o s d a p e r sp e c-

Faces do relógio de DeDondi mostrando os movimentos do Sol, de Marte e de Vênus.


O Mensageiro Sideral

tiv a , C o p é r n ic o d e c id iu o lh á -lo s a p a rtir d e u m b o a s r a z õ e s r e n a sc e n tista s, m u ito

o u tr o lo c a l. H a v ia

m a is e m o c io n a is d o

que

in te ­

le c tu a is, p a ra q u e o d o u r a d o S o l fo s s e o lu ga r e sc o lh id o .

No meio de tudo está entronizado o Sol. Poderia haver, nesse templo mara­ vilhoso, melhor localização de onde ele pudesse iluminar tudo ao mesmo tempo? Ele é chamado com razão A Lâmpada, A Mente, O Senhor do Universo: Hermes Trismegistus o chamadeDeus Visível; Electra,de Sófocles, chama-o O que tudo vê. Dessa maneira, vemos que o Sol se mantém como que no seu trono real, governando seus filhos - os planetas - que giram em torno dele. S a b em o s

q u e C o p é r n ico

h a v ia p e n s a d o já h á lo n g o te m p o e m

c o lo c a r o S o l n o c e n tr o d o U n iv e r s o . É p r o v á v e l q u e su a p r im e ir a ten ta tiv a , 88

Copérnico colocou o Sol no centro dos céus em 1543.

O jovem Nicolau Copérnico em Tomn, Polônia.

ten h a

os

sid o

d e lin e a m e n to s

escrita

m en te

em

um a

torn o

de

se n tiu

segu ro

céus,

a

ção ” m as n o

d e

tem

dar

ao

receb eu

o

(A

ter

c o m p leta d o

r e lig io sa s.

d os seten ta

n om e

esq uem a, an os

de

F o i apenas em

a n os, q u e C o p é r n ico se

su a d e scr iç ã o m a te m á tic a d o s de

D e

R e v o lu tio n ib u s

O rb iu m

R e v o lu ç ã o d a s Ó r b ita s C e le ste s), o n d e u m

u m a co n o ta çã o que nada tem

em

seu

n ã o p o d e r ia ser fe ita le v ia n a ­

c o n v u lsõ e s p ú b lic o

de

q u a ren ta

siste m a

o S o l c o m o c e n t r o . ( A t u a lm e n t e , a p a la v r a “ r e v o lu ­

n ão

a co n teceu

que

m esm o

c ó p ia

de

qual

isso

tem p o

ép o ca

1 5 4 3 , já p r ó x im o

u n itá rio te m

De Revolutionibus Orbium Coelestium.

n ã o -m a te m á tic o s

de

id a d e . E n tr e ta n to , essa p r o p o s iç ã o

C o e le stiu m

^Duaspáginas do

a n tes

ano.

este

a ver co m

a c id e n ta lm e n te .

tó p ic o

Sua

a a str o n o m ia ,

o rig em

s e lig a a o

se d e s e n v o lv e u .) C o p é r n ic o m o r r e u

C o n ta -se q u e a p en as u m

v e z e le p ô d e v er u m a

d e s e u liv r o , e e s t a te r ia s id o p o s ta e m

suas m ã o sjá e m

seu

leito d e m o r te .

^ .

toar Vtnu* m-wcocai» rcdoámr. btuum -----------— -..m relida boi. ia cmm io hoc

j

j |

do^xnn pa**ri.Hi«nImluam^^ ocrtm.Müjiuc

ccr<c.mrmpLuu>,cu>m»iOtuilaoc proprWTa»&rrgrtílta ép« pirai nuimmSaturno.flt mvtor quim ui NUnc u mrfu»nu

tot inVoim q.. co Qooda^..nntimrl^^' ln Nbm,OCInV(^ncn,qul,n_ M^^o.P^^ra ^quGds.cwi um Ioocib aatrwilllJiíauKdu^tgli^r «gnicadl* Q.aewtorIlAacadmlMÍ&rocnI«.qu ionUvm«Ún»> I..^Qu6d<lXcmruhilnnliiiipptmni 116..^--&n ^^j> c<lIRUAmm,qu*f.-du ural ntotui nua Im piAldjnrnidiftjcoiJt hibcia llquasn, ulm q<MHoonaanpJicu £#ttau«,t0j^Mfilinni>ii>OpiK>t.^^M^tai (ufvrao min,,,",s.U^tdfinna n iira,/CI>DOdku dkutrrah>m»u Joallhui^ia ladvcom

nui,ljpcáR.flf Jloim anyA prOpcnqummi On: Mrre.quifn

iccrwdil«TTOn»W i ptíiHOc

ín»[iouI meliorilocopo unctenxumfímul poún iQ^mW^cquidm» noo mnndi,« I » I!lreflomo o* ^i.Iupcolb{lQunqoa,"",CollorrgiHSotKr>dmn^ra •govem gaA xm v A n rá n fm fa n rib im .T d lu a o u o ^ ctunlmc & (■ ;;:! AnflOTctadc::*^1* n^wunO L ^Ul.Conopo1

1 |

incrrcnua ti nemme».

omnmooponaajmiirtrt. Pnmum quem diun*u " W * —■

iGrnuuocri.d.d otODItqora,IrunJK dui ^nonllÜl..uid^cmdl^M,lnucanlaú&"u^^^^» Ij*w®

197


A Escalada do Homem

O su r g im e n to e x p lo siv o d a R e n a s c e n ç a — n a r e lig iã o , n a sa r te s, n a lite r a tu r a , n a m ú sic a e n a s c iê n c ia s m a te m á tic a s — r e p r e s e n to u u m a c o lisã o fro n ta l c o m n ós, a c o e x istê n c ia d e P to lo m e u c o m C o n tu d o , ord em

aos

a to ta lid a d e d o s iste m a m e d ie v a l. P ara

d a m e c â n ic a

d e A r istó te le s e d a a str o n o m ia

o siste m a m e d ie v a l p a r ec e a p e n a s u m

co n tem p o râ n eo s

de

C o p é r n ico

a cid en te.

e la s e x p r i m i a m

a

n a tu ra l e v isív e l d o m u n d o . A ro d a , o s ím b o lo g r e g o p ara

o m o v im e n to p e r fe ito , h a v ia se to r n a d o u m r íg id o

com o

o

d e u s p e tr ific a d o , tã o

c a le n d á r io m a ia o u a s fig u r a s d e p e d r a d a I lh a d a

P áscoa. M esm o

co m

os

não

p o d ia

C o p é r n ico

p la n e ta s

(cou b e a u m

tr a b a lh a n d o

em

era essa

c ír c u lo s,

o

siste m a

de

n atu ral p ara as m e n te s

c ie n tista m a is jo v e m , J o h a n n e s K e p ler ,

Praga, m o stra r ser e m

n o p ú lp ito .

P ara e le s a r o d a era o s c é u s, e se u s h a b ita n te s tin h a m

d e g ir a r e m

da

d e c id id o u m

p reocu p ação

do

as ó rb ita s e líp tic a s ). M a s ou

to rn o

a

em

ser to m a d o c o m o

d essa ép o ca não

g ir a n d o

h o m em

na rua

T erra. T a l era o a to d e fé, c o m o q u e o siste m a d e P to lo m e u

se a Igreja h o u v e s se

n ã o tiv e sse s id o a o b r a d e

g r e g o le v a n tin o , m a s, sim , d a p r ó p r ia M a g n ific ê n c ia C e le ste .

M as, n este

a ssu n to, p o d e-se

ver

c la r a m e n te

q u e a c o n tr o v é r sia

in ter e ssa m e n o s à d o u tr in a d o q u e a a u to r id a d e . A s s im , s e te n ta an os

m a is ta rd e, e m

V en eza, v am o s

en con tra r

u m a

cab eça na

q u a l e s te p r o b le m a se m a te r ia liz o u . N o

a n o d e 1 5 6 4 n a sc e r a m d o is g ra n d e s h o m e n s : W illia m S h a k e s-

p e a r e n a I n g la te r r a e G a lile o G a lile i n a Itá lia . A o a b o r d a r o t e m a d o

p od er em

m an d o

V en eza e em râneo

su a ép o ca , S h a k esp ea re o faz, p o r d u a s v ezes, to ­

c o m o ce n á r io a R e p ú b lic a d e V e n e z a : e m O te lo . Isto se d ev e a o fa to d e, em

a in d a se c o n stitu ir n o

cen tro

d o

O M erca do r d e

1 6 0 0 , o M ed iter­

m u n d o

e V en eza n o seu

e ix o . A

lib e r d a d e d e c r ia ç ã o p e r m itid a a q u i a tr a ía o s m a is a m b i­

c io so s:

m ercadores,

aco n tece

a v e n tu r e ir o s,

in tele c tu a is,

e

a ssim

com o

a in d a h o je , u m a m u ltid ã o d e a rtista s e a r te s ã o s c o n g e s ­

tio n a v a su a s ruas. O s v en ez ia n o s era m co n sid era d o s u m la d o . V e n e z a

p o v o d isc r e to e d issim u ­

era o q u e se p o d e r ia c h a m a r u m

p o r to -liv r e , e n v o l­

v id a n a q u e la a tm o s fe r a d e c o n s p ir a ç ã o d a s c id a d e s n e u tr a s; c o m o a co n tece que,

em

en trego u 198

em

R om a.

em

L isb o a

1 59 2,

u m

e T ânger fa lso

de

b e n feito r

n ossos ilu d iu

d ia s. F o i G io rd a n o

à I n q u is iç ã o p a ra ser q u e im a d o , o ito

em

V en eza

B runo e o

a n o s m a is ta r d e ,

89 Em 1600 o M ed iterrân eo era o centro do m u n d o e V e n ez a o seu coração.

Detalhes de um entalhe em madeira representando Veneza, por Jacopo de'Barbari, dotado de 1500.


90

.

G a W e o era b a ix o , r e ta c o , um h o m e m a tivo de c a b e lo s ruivos.

Retrato de Galileo, realizado oito anos antes de seu julgamento, por Ociavio Leone.


A Escalada do Homem

E n tr e ta n to , o s v e n e z ia n o s e r a m p r á tic o s. E m P isa , G a lile o h a v ia tr a b a lh a d o p r o fu n d a m e n te e m m a té r ia fu n d a m e n ta lp a r a a c iê n c ia , m as o que

certam en te

a tr a iu a a te n ç ã o d o s v e n e z ia n o s , q u a n d o

o c o n tr a ta r a m p a r a e n sin a r m a te m á tic a e m

P á d u a , fo i seu ta le n to

p a r a in v e n ç õ e s p rá tica s. A lg u m a s d ela s a in d a s o b r e v iv e m

na c o le ­

ç ã o h istó r ic a d a A c c a d e m ia C im e n to d e F lo r e n ç a , e s ã o e la b o ra d a s tan to na co n cep çã o o

a p a r e lh o

líq u id o s,

com o

d e v id r o

n a e x e c u ç ã o . E n tr e e la s e n c o n t r a m o s

c o n v o lu to

se m e lh a n te

ao

para

a

term ô m etro ,

m e d id a e

a

da exp an são

de

b a la n ç a h id r o s tá tic a ,

b a s e a d a n o p r in c íp io d e A r q u im e d e s , d e s tin a d a a a v a lia r a d e n s i­ d a d e d e o b je to s p r e c io so s. H á , ta m b é m , u m G a lile o

deu

o

p arece m u ito

n o m e co m

é q u e isso rev ela o

de

in str u m e n to a o q u al

“ B ú s so la M ilita r ” q u e, n a r e a lid a d e , se

u m a r é g u a d e c á lc u lo . O in te r e ssa n te n o c a so tin o c o m e r c ia l d esse

c ie n tista , p o is o in str u ­

m e n t o era fa b r ic a d o e v e n d id o e m su a p r ó p r ia o fic in a , e o m a n u a l d e in str u ç ã o p a ra u so d e su a “ B ú sso la M ilita r ” fo i u m a d e su a s p r im e ir a s p u b lic a ç õ e s . O s v e n e z ia n o s o a d m ir a v a m p o r isso . E ssa u tiliz a ç ã o

p rá tica

acord o com S en d o e sc o lh a

c o n h e c im e n to

c ie n tífic o

esta va

b em

de

c o m o era, a R e p ú b lic a d e V e n e z a fo i o lo ca l n a tu ra l d e para

a

in v en ta d a p o r teceu

d o

a ín d o le d eles.

em

c o m e r c ia liz a ç ã o d e u m

tip o p r im itiv o

d e lu n eta

u n s fa b rica n tes d e ó c u lo s d e F la n d res. Isso a c o n ­

1 6 0 8 . M a s a m e sm a R e p ú b lic a d e V e n e z a

se r v iç o , n a p e s s o a d e G a lile o , u m

tin h a a seu

c ie n tista e m a te m á tic o im e n s a ­

m e n te m a is p o d e r o s o d o q u e q u a lq u e r o u tr o d o n o r te d a E u r o p a . À

sua

m en te

p r iv ile g ia d a

p u b lic id a d e , d e carregou a fim

tod o

e le

a lia v a

g osto

e

h a b ilid a d e

para

a

tal f o r m a q u e , q u a n d o c o n s t r u iu seu t e le s c ó p io , o S e n a d o V e n e z ia n o p a ra o t o p o d o C a m p a n á r io ,

d e e x ib ir o in str u m e n to .

G a lile o era b a ix o , r e ta c o , a tiv o , o s te n ta n d o u m a c a b ele ir a v er ­ m e lh a e m u ito m a is filh o s d o q u e u m

s o lte ir ã o se d e v ia p e r m itir .

C o n ta va

q u a ren ta e c in c o a n o s d e id a d e q u a n d o o u v iu

in v en çã o

d o s fla m e n g o s , e iss o o e le tr iz o u . E m

e le r e c r io u

o in str u m e n to , fa b rica n d o e m

o b se r v a ç ã o c a p a z d e u m a a m p lia ç ã o v a le

m a is

ou

m en o s a um

bom

fa la r d a

u m a ú n ica n o ite

seg u id a u m

o b jeto de

d e três v ez e s — o q u e e q u i­

b in ó c u lo

d e óp era. E n treta n to ,

a n te s d e su a d e m o n s tr a ç ã o n o C a m p a n á r io d e V e n e z a e le já h a v ia e le v a d o

o

p o d er d e a m p lia ç ã o

de seu

in str u m e n to

para o ito

ou

d e z v e z e s — o q u e e q u iv a le a u m v er d a d e iro te le s c ó p io . A ssim , n o a lto d o C a m p a n á r io , d e o n d e 2 00

tr in ta

q u ilô m e tr o s

de

o h o r iz o n te se d e sc o r tin a v a a u n s

d istâ n c ia ,

os

n a v io s

n ão

p o d ia m

ser

Um instrumento do tipo que Galileo fabricava: uma delicada balança hidrostática destinada a medir a densidade de objetos preciosos, e baseada no princípio de Arquimedes.


91 G a lileo a u m e n to u o poder de m a g n ifica çã o para o ito o u d ez vezes, o b te n d o , dessa m a n eira , u m v erd a d eiro telescó p io .

Otelescópio provavelmente mostrado por Galileo à Signoria em 1609.

ob servad os

no

m ar

c o m o

tam b ém

e q u iv a le n te

a

duas

horas

de

seg u id o s

navegação.

E

por

um a

isso

v a lia

d istâ n c ia u m

b om

d in h e ir o p ara o s n e g o c ia n te s d o R ia lto . E m

carta

d a tad a

de

29

de a go sto

esses even to s ao seu cu n h a d o em

de

1 6 0 9 , G a lile o d escrev e

F lo r e n ç a :


Como você já deve saber, há uns dois meses espalhou-se a notícia de que, em Flandres, foi apresentada ao Conde M aurício uma luneta construída de tal maneira que objetos muito distantes parecem, através dela, muito pró­ ximos, de modo que um homem a uns três quilômetros pode ser visto distintamente. Essa possibilidade me pareceu tão maravilhosa que tomou conta de meus pensamentos; para mim, o efeito só poderia ser baseado na ciência da perspectiva, o que me deu matéria para pensar sobre os meios de sua fabricação; estes, fmalmente, os encontrei, e a qualidade do meu instru­ mento supera de muito aquela atribuída ao construído pelos flamengos. A notícia de que eu havia construído um se espalhou por Veneza, e há seis dias atrás fui convocado pela Signoria, a quem eu o deveria demonstrar em companhia de todo o Senado, para infinita surpresa de todos eles; e houve numerosos cavalheiros e senadores que, embora de idade avançada, subiram por mais de uma vez as escadarias do campanário mais alto de Veneza a fun de observarem as velas no mar aberto e os navios tão distantes que, se se aproximassem a toda velocidade do porto, seriam precisas duas horas ou mais para serem vistos sem o aux í lo de minha luneta. De fato, o efeito do instrumento é o de representar um objeto, por exemplo, que esteja a trinta quilômetros de distância, como se estivesse a apenas cinco. G a lile o

é

o

c r ia d o r

d o

m éto d o

c i e n t í f i c o fo1

odern o.

E

92 O b rin q u ed o de F la n d res a c a b o u se tran sform an d o em u m in stru m en to de p e sq u isa.

Mural do ático da casa de um membro daSociedade Lineana de Roma, mostrando a moda da observação através de telescópio que a demonstração de Galileo desencadeou.

iss o e le

r e a liz o u seis m e s e s a p ó s o tr iu n fo n o C a m p a n á r io , o q u a l te r ia sid o o b a sta n te

p ara q u a lq u e r o u tra p e sso a . A

e le o c o r r e u a id é ia d e 93 “ A co n tem p la çã o do corpo da Lua o ferece u m a das v ista s m a is lin d a s e d elicio sa s.”

Pinturas de Galileo, representando as fases da Lua, vista através de seu telescópio de 1610.


Ifíàf

JV''5 • [ 1T* •/ ^

ri : ■ r -|'- TP 'Tifci,


A Escalada do Homem

q u e o b r in q u e d o fla m e n g o p o d ia , n ã o só ser tr a n sfo r m a d o e m in str u m e n to m en te de

para

o rig in a l

p e sq u isa .

tr in ta

O

e en tão

a

navegação

m a r ítim a ,

m as,

p ara su a é p o c a , ig u a lm e n te p o d e r d e a m p lia ç ã o d o

em

u m

e isto era to ta l­ u m

te le sc ó p io

in stru m en to

.

VAT

fo i e le v a d o a

Q J A T V O i. H U M i s , • m

e

p u b lic a ç ã o

setem b ro

de

dos

1 6 0 9

e

resu lta d o s. m arço

de

Isso 1 6 1 0 ,

tu d o d a ta

f o i r e a liz a d o da

fkksncfmi tít-•* 1

R T I O F L O R ! N TINO girjO.r <£lí.ll|-_ .

v e z , se c o n s u m o u d e fo r m a c o m p le ta a q u ilo q u e c h a m a m o s c iê n ­ c ia

5

fcil| pi ■; < r»«iar *-r-_K.

'

C A I 11, [ o " G A L Í l V o

d ir ig id o às e strela s. D e s sa m a n e ir a , p e la p r im e ir a

c ia a p lic a d a : c o n s tr u ç ã o d o e q u ip a m e n t o , r e a liz a ç ã o d a e x p e r iê n ­

sqt cixr.\>èvniTi iLT\~

•.V

•i

e

d

i c

e

a

s í

d

e

N'VM VPANOOS ÍJECKEVir

r

.

a

en tre

p u b lic a ç ã o , e m

V e n e z a , d e s e u e s p lê n d id o liv ro S id e r e u s N u n c iu s ( O M e n s a g e ir o S id era l),

que

a p resen ta va

um

r e la to

ilu str a d o

r e c e n te s, o b se r v a ç õ e s a str o n ô m ic a s. V e ja m o s o

de

suas,

en tão

q u e e le d iz:

[Eu tenho visto] miríades de estrelas, as quais jamais foram vistas antes, que ultrapassam em número as anteriorm ente observadas, em mais de dez vezes. Entretanto, aquilo que provocaria a maior admiração e q u e de fato, me levou a chamar a atenção de todos os astrônomos e filósofos, é que descobri quatro planetas, nem conhecidos, nem observados por nenhum dos astrô­ nomos que me precederam. E sses eram b ém

o s sa té lite s d e J ú p ite r . O

M e n sa g e iro S id e ra l ta m ­

c o n t a c o m o f o i q u e e le d ir ig iu o t e le s c ó p io e m d ir e ç ã o à L u a .

G a lile o fo i o p r im e ir o h o m e m a p u b lic a r m a p a s s o b r e a L u a . N ó s p o s s u ím o s s u a s a q u a r e la s o rig in a is.

O

e m b a ix a d o r o

b ritâ n ico ju n to

à

corte d o D u q u e

de V en eza

s e g u in te r e la to a o s s e u s s u p e r io r e s n a In g la terra , n o

d ia d a p u b lic a ç ã o d e O M e n s a g e ir o S id e ra l: O professor de matemática em Pádua . . . descobriu quatro novos planetas girando em torno da esfera de Júpiter, além de muitas outras estrelas fixas desconhecidas; da mesma forma. . . que a Lua não é esférica, mas portadora de muitas proeminêricias . . . O autor está destinado a se tornar ou excessi­ vamente famoso ou excessivamente ridículo. Pelo próximo navio Sua Nobreza irá receber, como um presente de minha parte, um desses instru­ mentos [ópticos], na versão aperfeiçoada por esse homem. A 2 04

n o tíc ia era sen sa c io n a l. S e u p r e stíg io f o i e le v a d o m u ito m a is

a lto d o

que q u an d o

IN FIRENZE, Apprfo CoíimoCiumi. M DCXII. C« ii SufmtH, 1ST O R IA E DI M O ST R A Z IO N I E LORO AC C I OE NT I

É uma visão linda e deliciosa contemplar o corpo da lua. . . (Ela) certamente não possui uma superfície lisa e polida, mas, sim, acidentada e irregular, e, justam ente como a superfície da própria terra, mostra grandes protuberâncias por toda parte, fendas profundas e sinuosidades. escreveu

D I S C O R .S O A L S E R E N ÍSSIM O D O N C O S I M O II GRAN ove,," Dl TOSCANA ntornosllc cofeche Srmno iii sulacquj»o ehc mquclb fi muon°no» Df G A L l l E O G A L Í L E I Elltdefa,t MalcmtútodttiuMrdtpm* J oAl.Z2.oA StRENISSIM.A.

d o tr iu n fo ju n to à c o m u n id a d e d e c o m e r c i-

COMfRESE IN TRÉ LBTTEKB SCR/TTí M A R C O V E L S E R I LINCEO DVVMVIRO D' A VGVSTA C A L IL EO:f:C A U L E I LIN C E O


O Mensageiro Sideral O BSER \'AT. S I D E R E A E O1,"

-O

*

Occ.

Sk Hi occidatalioti m1ior. ambz timm v..Ide con. jpiiur, ai: fp lendiJx: vtraquõI' Jiftjbat j louc Lrupit.. pritmsduobus. remi quoquc SteJJula app.rcrcfpirbor,), tcrcu pnus minim:-coulpc.:.la. qux ex parte oricnu.li louem feri: uogcbat, CTacque admoduIIi c»gua. Omncs fuCTunr in cadcm rcâa, &- Iccuodutii Eaypncx tonguuitiium coordinat.l'. Die Jccimatcrcu primum j me: quacuor con!p(\.C(;!: fuc::unt:;'tdIul;r in hic aúloucmcoDiflirutionc. E-ant tres o cudm uls, & voa oncntllis. ImcJQi promuc O íl

Q .« ,

O:c.

ro/bm cooftiiac^nt, media cnim occidéntium ('lulalumà rc.:t"a bcptcoaioDCmvafus drf^feb.lt. Abcu t oiicatlior louc: mioua duo: rc:l.Jq^u.um,& louis i o e r c j p c J m C f G n ^ l x \"ruus nmum mi□ uti. br.Uc omncscandan przlct\:rcb.nt nu-nnudmi:iD .itli.ct oi^uam . lua^Jlilimr r.unen ajn t,jc c ilUno magnicuJi ú Dic dcor.j'Iu;lrtu nubiiOlJ. tuit th."f1)p c n .u . DicJecimaquiuu, hou tcitu 10 proximc dcpih fucruDt hlbitudioc quulOl' St^^ 3d l o u c : .

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OtL

n l.jugo. Í|J_.jrci

O

* • *

*

occiJrn^t.ak-somDes: ac eaJcm proxi.m rcâj Iinca d:lpo5(Xj qu.J: I(1 1 D tatU. ;i. touc oUD.lc^tll p.l^ U ..a

94

“ O p ro fesso r de m a te m á tic a de P ádua d esco b riu quatro n o v o s p la n eta s g ira n d o e m to r n o da esfera de J ú p ite r .” O M en sa g eiro S id eral,

Página de mostrando a posição das órbitas das luas de Júpiter. Páginas de rosto de algumas das obras cientificas pu blicadas por Galileo entre 1606 e 1630 em Veneza, Pádua, Fiorença e Roma. "II Saggiatore ” foi dedicado ao Papa Urbano VIII.

antes. Contudo, a acolhida não foi totalmente favorável , uma vez que a observação de Galüeo vinha mostrar que o sistem a ptolomaico simplesmente não mais podia ser defendido. A poderosa intuição de Copérnico havia-se provado correta, e agora aparecia à luz clara, revelada. Da mesma forma como aconteceu com muitos outros resultados científicos mais recentes, aquele não foi absolutamente do agrado das autoridades do seu tempo. Galileo imaginou que bastava mostrar que Copérnico estava certo, e todo mundo o ouviria. Esse foi seu primeiro erro: a má avaliação das intenções de outras pessoas, a todo passo comum aos cientistas. Imaginou, também, ser agora sua reputação sufi­ cientemente bem estabelecida de modo a lhe permitir retornar à sua Florença natal, abandonando, assim, a estéril atividade didática em Pádua, a sobrecarga que ela lhe trazia e, com isso, a proteção, essencialmente anticlerical, de sua segura República de Veneza. Este foi seu segundo erro, aliás, fatal. Os sucessos da Reforma Protestante no século XVI instigaram a [greja Católica Romana a organizar uma Contra-Reforma feroz. A reação contra Lutero alcançava seu auge; na Europa, a luta era pela autoridade. A Guerra dos Trinta Anos começou em 1618. Em 1622 a Igreja instituiu o movimento para a propagação da fé, que é de onde a palavra propaganda se originou. Católicos e protestantes estavam envolvidos naquilo que hoje chamaríamos guerra-fria, na qual —se pelo menos GaWeo tivesse percebido! — não havia contemplação para com homens, fossem eles grandes ou pequenos. O julgamento era bastante simples, de ambos os lados; quem não concorda conosco é um herege. Mesmo um intérprete da fé tão desprendido como o Cardeal Beíarmino havia considerado as especulações astronômicas de Giordano Bruno intoleráveis, a ponto de mandá-lo para a fogueira. A Igreja repre­ sentava um grande poder temporal e naqueles tempos amargos estava envolvida em uma luta em que todos os meios eram justi­ ficados pelo fim —a ética do estado policial. A mim me parece estranha a inocência de Galileo a respeito do mundo da política, inocência essa que se tornou mais desas­ trosa por ter, confiante em sua própria sagacidade, pensado em poder ludibriá-lo. Ao longo de vinte anos ou mais, ele trilhou um caminho que o levou inevitavelmente à sua condenação. Não foi fácil vencê-lo; mas, desde o inicio, não podia pairar a menor dúvida de que Galüeo seria silenciado, pois o desacordo entre ele 205


e

as a u to r id a d e s era a b so lu to .

E la s a c r e d ita v a m

no

d o m ín io

da

fé; G a lile o , n a p e r su a sã o d a v erd a d e. O

ch o q u e

dad es,

v eio

en tre a

p r i n c íp i o s e, e v i d e n t e m e n t e , e n t r e p e r s o n a li ­

p ú b lic o

d u ra n te seu ju lg a m e n to

em

1 6 3 3 . E n tre­

ta n to , t o d o j u lg a m e n t o p o lít ic o é p r e c e d id o d e u m a lo n g a h istó r ia secreta , 2 0 6

travad a

tr a n c a fia d a

nos

nos

b a stid o res

A r q u iv o s

que,

S ecretos

d o

n este

caso,

V a tic a n o .

se

en co n tra

N o

m e io

de


O Mensageiro Sideral

to d o s esses corred ores d e d o cu m en to s qual

o

V a tic a n o

m a n tém

a q u ilo

há um

cofre m o d esto n o

q u e é c o n sid era d o

d o cu m en to

c r u c ia l. A q u i, p o r e x e m p lo , se e n c o n tr a o p e d id o d e lic e n ç a p a ra o d iv ó r cio d e H e n r iq u e V III -

a recusa d o q u al tro u x e a R efo rm a

à In g la te r r a , te r m in a n d o , a ssim , as lig a ç õ e s d e sta ju lg a m e n to p o is

a

com

R om a. O

d e G io r d a n o B ru n o n ão d e ix o u m u ito s d o c u m e n to s,

m a io r

p a rte f o i d e str u íd a ;

m as o

q u e resto u

ta m b ém

se

e n c o n t r a a q u i. O

m o m e n to

em

q u e G a lile o

a lc a n ç a v a seu

in fo rm a çõ es

se c r e ta s v in d a s a

tad as

e le

co n tra

ap resen tad as em

p eran te o

F lo r e n ç a

e

S a cro C o lé g io

1611,

tr iu n fo e m

V en eza,

R o m a eram

apresen­

d a I n q u isiç ã o . P ro v a s

d o c u m e n t o s m a is a n tig o s , q u e n ã o p e r te n c e m

a

te r sid o o C a r d e a l B e la r m in o o in stig a d o r

d o s in q u é r ito s c o n tr a e le . O u tr o s r e la to s sã o a r q u iv a d o s n o s a n o s 1 6 1 3 ,

1 6 1 4

m ara.

Por

e

1 6 1 5 . P o r e s ta é p o c a , o p r ó p r io G a lile o já s e a la r ­

s u a liv re in ic ia tiv a se d ir ig e a R o m a , a fim

p e r su a d ir a m ig o s e n tr e o s c a r d e a is, n o s e n tid o p r o íb a m

liv re , é a s e g u in te :

96 E m 1623 um cardeal in telectu al f o i e leito Papa: M a ffe o B arb erini.

severa.

E n treta n to , fo rm a l

d e ten tar

de q u e estes n ão

o sistem a d e C o p é r n ic o .

Oautor nos Arquivos Secretos do Vaticano, examinando os documentos do julgamento de Galileo.

Busto do Papa recém-eleitopelo escultor e arquiteto que ele mais estimava, GianlorenzoBemini, e quem já havia iniciado trabalhos do decoração da Catedral de São Pedro em 1626.

1 6 3 3 . A s surpresas

lo g o a o se c o n sta ta r as d a ta s d o s d o c u m e n to s. E m

e ste s a rq u iv o s, in d ic a m 95 H á u m cofre m o d esto no qual o V a tica n o guarda a q u eles d o c u m e n to s co n sid era d o s cru cia is.

G a lile o G a lile i, n ã o p o d e r ia

o u tr o lo ca l. O ju lg a m e n to se d e u e m

co m eça m n o

1 1 8 1 , P ro c e sso s c o n tra

C o d ex

esta r em

ch ega

aparece

tard e.

E m

rascunhada

fev ereiro no

C o d ex

de e,

1 61 6 em

a

sen ten ça

um a

trad u ção

Proposições a serem proibidas: que o Sol é imóvel no centro do Universo; que a Terra não esteja no centro dos céus e não seja imóvel, mas se mova com dois tipos de movimentos. A p aren tem en te, E m

tod o

G a lile o

caso

não

sofreu

n en h u m

tip o

de censu ra

fo i c h a m a d o p e lo p o d e r o s o C a r d e a l B e la r ­

m in o , q u e d o c u m e n t a e m ca rta o fa to d e G a lile o ter-se c o n v e n c id o de

n ão

d efen d er

o

S iste m a

P la n etá r io

de

C o p é r n ico

-

m as

o

d o c u m e n t o p á ra a í. I n fe liz m e n te , há u m

o u tr o d o c u m e n t o r eg is­

tra d o

o q u a l o ju lg a m e n to vai

q u e esten d e esse a ssu n to, e sobre

se b a sea r. M a s isto a c o n te c e u d e z e s s e te a n o s d e p o is . N esse

m e io

t e m p o , G a lile o r e to r n a a F lo r e n ç a im a g in a n d o ter

a p r e n d id o d u a s co isa s. A

p r im e ir a é a d e q u e o te m p o d e d e fe n d e r

C o p é r n ic o p u b lic a m e n te a in d a n ã o h a v ia c h e g a d o . A s e g u n d a é a de

q u e

esse

tem p o

c h e g a r ia .

S eu

acerto

se

lim ito u

à

p r im e ir a

207


A Escalada do Homem

p r o p o siç ã o . D e

q u a lq u e r fo r m a , e sp e r o u

seu

te m p o a té q u e u m

c a r d e a l in te le c tu a l se e le g e u P a p a : M a ffe o B a rb erin i. O

e v e n to a c o n te c e u e m 1 6 2 3 , q u a n d o M a ffe o B a rb erin i se to r n o u

o P a p a U r b a n o V III. O n o v o P a p a era a m a n te d a s a rtes. A p r e c ia ­ d o r d a m ú sic a , e n c o m e n d o u a o c o m p o s ito r G r e g ó r io A lle g r i u m M iserere

para

e x c lu siv o

do

nove

vozes

V a tic a n o .

q u e , m u ito

A m an te

da

tem p o

d e p o is, to r n o u -se

a r q u ite tu r a , d e se ja v a tr a n s­

fo rm a r S ã o P e d r o n o p o n to c en tra l d e R o m a . A ssim , o e sc u lto r e a r q u ite to G ia n lo r e n z o B e r n in i fo i e n c a r r e g a d o d e c o m p le ta r o s in ter io r e s d a B a sílic a d e S ã o P e d r o ; o lo n g o B a ld a c c h in o (d o sse l d o

tro n o

p a p a l)

p o r e le

desen hado

é a ú n ic a a d iç ã o

d e v a lo r à

o b r a o r ig in a l d e M ic h e la n g e lo . Q u a n d o m a is j o v e m , o p a p a in t e ­ le c tu a l era d a d o a escrev er p o e sia ; u m d e seu s s o n e to s f o i d e d ic a d o a o s e sc r ito s a str o n ô m ic o s d e G a lile o , e m

to m

d e c u m p r im e n to .

U r b a n o V III tin h a -se a si p r ó p r io n a c o n ta d e u m

in o v a d o r . D e

q u a lq u e r fo r m a , era p o ss u id o r d e u m a m e n te c o n fia n te , se b e m q u e o r ig in a lm e n te im p a c ie n te :

Sei melhor do que todos os cardeais juntos! Um decreto de um Papa vivo vale mais do que todos os decretos de uma centena de Papas mortos, d isse p e r e m p tó r io . E n tr e ta n to , c o m o P a p a , B a rb e rin i fo i s im p le s ­ m en te

g ro tesco :

in co n sta n te

em

a lh e ia s. C h e g o u

d a d o a o n e p o tism o , ex tra v a g a n te, d o m in a d o r , seus

p r o p ó sito s,

e

to ta lm e n te

surdo

às id é ia s

a o p o n to d e ord en ar a m a ta n ça d e to d o s os pás­

sa r o s d o s ja r d in s d o V a t ic a n o s o b a a le g a ç ã o d e q u e e ssa s c r ia tu r a s o p ertu rb a va m . O tim ista , G a lile o v e io a R o m a e m

1 62 4, e em

ja r d in s e n tr e te v e seis lo n g a s c o n v e r sa s c o m E ra

sua

m enos,

esp eran ça fiz e sse

que

v ista

d iv u lg a ç ã o d a c o n c e p ç ã o U rb ano

V III

não

esp eranças de a in ten çã o n uassem

se

o

grossa

Papa ao

in telectu a l d ecreto

p a sse io s p e lo s

o P a p a r e c é m -e le ito .

de

a n u la sse 1 6 1 6

ou,

p e lo

p r o ib in d o

a

d e m u n d o d e C o p é r n ic o . N a r e a lid a d e ,

com oveu.

M as

G a lile o

a in d a

a lim e n ta v a

e o s d ig n itá rio s d a c o r te p a p a l e sp e r a v a m -

ser

d o P a p a d e ix a r q u e a s n o v a s id é ia s c ie n tífic a s se in si­

s ile n c io sa m e n te n a Igreja, a té q u e , im p e r c e p tiv e lm e n te ,

su b stitu ísse m

as v elh a s c o n c e p ç õ e s. A fin a l d e c o n ta s, e ssa tin h a

s id o a fo r m a p e la q u a l id é ia s p a g ã s c o m o a s d e A r is tó te le s e P to lo m e u

a c a b a r a m f a z e n d o p a r te d a D o u t r in a C ristã . A s s im s e n d o ,

G a lile o p a s s o u a c o n ta r o P a p a e n tr e seu s a lia d o s 2 08

lim ite s, é

c la r o , d a s r e sp o n s a b ilid a d e s q u e o

d en tro d o s

cargo im p u n h a - ,


O Mensageiro Sideral

a té

que

a h o r a d a v er d a d e c h e g o u . A s p r e v isõ e s d o sá b io m o str a ­

ram -se p r o fu n d a m e n te in fu n d a d a s. D esd e

o

in íc io

seus

p o n tos

de

ir r e c o n c iliá v e is. P a ra G a lile o u m a

v ista

eram

in tele c tu a lm e n te

te o r ia s ó a d q u ir ia fo r o d e v e r ­

d a d e q u a n d o testa d a c o n tr a a n a tu reza .

Penso que discussões sobre problemas da Física devem tomar como ponto de partida não a autoridade de passagens das Escrituras, mas, sim, experi­ ências sensíveis e suas necessárias demonstrações. . . Deus não é revelado com menor excelência nos atos da Natureza do que nas afirmações sagradas da Bíblia. P a ra U r b a n o V III o s d e s íg n io s d e D e u s d isp e n s a v a m q u a lq u e r tip o de

te s te , e is s o , e le in sistia , d e v ia fig u r a r n o liv r o d e G a lile o .

Seria uma irreverência extravagante permitir a qualquer um se dar ao luxo de lim itar ou confinar o poder e a sabedoria Divmas ao saber de conjecturas pessoais. T a l e stip u la ç ã o era p a r tic u la r m e n te q u erid a a o P apa. C o m

e fe ito ,

b lo q u e a v a a G a lile o a p o ssib ilid a d e d e e x p r im ir q u a lq u e r c o n c lu ­ sã o d e fin id a (m e s m o a c o n c lu s ã o n eg a tiv a d e q u e P to lo m e u esta v a errad o ), u m a v ez

que

D eu s

U n iv e r s o a tr a v é s d e m ila g r e s , liv re d o r e s p e ito

governar o

s e m p r e a c a b a r ia p o r in frin g ir o d ir e ito d e

às leis n a tu r a is. A hora da verdade ch ego u em m en te

im p r im iu

1 6 3 2 , a n o n o q u a l G a lile o fin a l­

s e u liv r o : D is c u r s o s s o b r e o s G r a n d e s S is te m a s

d o M u n d o . U r b a n o V III c o n sid e r o u -se in su lta d o g r o sse ir a m e n te .

Seu Galileo aventurou-se a amealhar matéria indevida, cuja importância torna extremamente perigoso qualquer debate sobre a mesma em nossos dias, a ssim

se ex p re sso u em

c a r ta d ir ig id a a o e m b a ix a d o r to s c a n o , d a ­

tad a d e 4 d e s e te m b r o d a q u e le a n o . N o m e s m o m ês v e io a o r d e m fa ta l:

Sua Santidade encarrega o Inquisidor junto a Florença de informar Galileo, em nome do Santo Ofício, que ele deve comparecer o mais brevemente possível, no decurso do mês de outubro, a Roma, perante o Comissário-Geral do Santo Ofício. O

Papa,

o

a m ig o

p e sso a lm e n te

M a ffeo

nas m ãos d o

B a rb erin i,

U rb an o

S a n to o fíc io

V III,

en trego u -o

d a In q u isiç ã o , p r o c e sso

irr e v e r sív e l. A

S a n ta

In q u isiç ã o

R o m a n a

e

U n iv e r sa l

tin h a su a s in sta la ç õ e s

n o m o s t e i r o d o m i n i c a n o d e S a n t a M a r ia S o p r a M in e r v a , e a li e r a m ju lg a d o s

to d o s a q u e le s c u ja fid e lid a d e

fo sse

q u e stio n a d a . H a v ia

209



O Mensageiro Sideral

sid o

c r ia d a

p e l°

e s c o r a r a lu ta

Papa

co n tra

P a u lo

III

em

1 54 2

co m

a fin a lid a d e d e

a p r o p a g a ç ã o d as D o u tr in a s R e fo r m ista s e,

e s p e c ia lm e n te , “ c o n tr a a d e p r a v a ç ã o h e r é tic a d e to d a a C o m u n i d a d e C ristã ” . A

p a rtir d e 1 5 7 1 a d q u ir iu t a m b é m o p o d e r d e j u lg a r

as d o u tr in a s e sc r ita s, te n d o , e n tã o , in s titu íd o o I n d e x d e L iv ro s P r o ib id o s. O liz a d o s u m

em

jú r i. O

reg u la m e n to

p ro cessu a l era estrito e e x a to . F o r m a ­

1 5 8 8 , esta va m

lo n g e d e seg u ir o s p r o c e d im e n to s d e

p r isio n e ir o n ã o tin h a a c e sso a o c o n te ú d o d a a c u sa ç ã o

c o n tr a e le ; t a m b é m

n ã o tin h a d ir e ito à d e fe sa c o n stitu íd a .

N o j u lg a m e n t o d e G a lile o fig u r a v a m d e z ju íz e s , to d o s c a r d e a is e

tod os

Papa.

d o m in ic a n o s.

O

ju lg a m en to

In q u isiç ã o . O p r é d io

U m

sa lã o

foi

d eles era irm ã o e o u tr o c o n d u z id o

o n d e G a lile o

p elo

so b r in h o

C o m issá rio

fo i ju lg a d o

do

G eral

da

fa z p a rte, h o je, d o

d o s C o r r e io s d e R o m a , m a s p o d e m o s ter u m a id é ia d e sse

a m b ien te em

1 6 3 3 : u m a sa la d e r e u n iõ e s fa n ta s m a g ó r ic a , e m

um

c lu b e p a ra c a v a lh e iro s. P o d em o s essa

tra ça r p e r fe ita m e n te a tr a je tó r ia q u e le v o u G a lile o a

p assagem .

In ic io u -se

a ja r d in a d a s e m que

este

não

C o p é r n ico . ano

d o

n o vo

G a lile o

c o m eço u

en vered ou

Um dos tetos do Palazzo Barberini, pintado em 1629-33 por Andrea Sacchi. Os temas alegóricos ilustram uma passagemdil S a b ed oria de S a l o m ã o . As tranqüilas servas da Sabedoria estão identificadils pelas constelações. No seio da Sabedoria pode ser distinguida a timidiJ face do Sol.

m u la v a

ob jeçõ es

à

te o r ia ,

as

1 6 2 4 . E s ta v a c la r o

p ú b lic a d a s d o u tr in a s d e

p o r u m a v ia a lte r n a tiv a ; n o ita lia n o , o s D iá lo g o s s o b r e

a escrever, e m

o s G ra n d es S istem a s d o M u n d o , 97 C o m o Papa, B a rb erin i m o str o u sua fa c e barroca: descarad am en te n e p ó tic o , extravagan te, d o m in a d o r , in stá vel em seus p lan o s.

Papa em

iria p e r m itir a d is c u s s ã o

M as

seg u in te

n a q u e la s c a m in h a d a s a tr a v é s d e a lé ia s

c o m p a n h ia

n o s q u a is u m

q u a is

eram

in ter lo c u to r fo r ­

r e sp o n d id a s

por

d o is

o u t r o s , m a s m u it o m a is in te lig e n te s e sa g a z e s. T a l era, a té

certo

C o p érn ico

não

to d o

c o m o

c la r o

por ano, e em que

p o n to , n e c e ssá r io , u m a v ez q u e a te o r ia d e

p o d ia

ser a p r e e n d id a

in tu itiv a m e n te .

p o d e r ia a T e r r a g ir a r e m

to rn o

d e seu

p r ó p r io e ix o

N ão

é de

torn o d o S o l u m a vez um a vez

p o r d ia , sem

tu d o e m su a s u p e r fíc ie fo s s e a r r e m e ssa d o a tra v és d o s e sp a ç o s.

T a m b ém pode

n ã o é fá cü c o n ce b er c o m o u m

m a n ter u m a

p e so c a in d o d e u m a torre

tr a je tó r ia v er tic a l e m

u m a T erra em

A s r e sp o s ta s a ta is o b je ç õ e s G a lile o as d e u , p o r a ssim n o m e

de

ja m a is

n o s d e v e r ía m o s e sq u e c er : G a lile o d e s a fio u a san ta a u to r i­

dade

C o p é r n ico ,

d efen d en d o

h o m e m

m o rto

u m a

de

m u ito

te o r ia

que

d e sa p a recid o .

D e

rota ção . d izer, e m u m a c o isa

n ã o era su a, m a s, sim , d e u m

h á lo n g o te m p o , s im p le s m e n te p o r q u e a cr e d ita v a

n a v e r d a d e n ela c o n tid a . C o n tu d o , seu

liv r o

a fa v o r d e G a lile o , n o ta m o s q u e a o lo n g o d e to d o o

p a ir a

a q u e le

sen tid o

c ie n tífic o

q u e já e s ta v a e v id e n te

n a s u a j u v e n tu d e , e m P isa , q u a n d o , a o c o n te m p la r o s m o v im e n t o s

211


de

um

p ê n d u lo , a c o m p a n h o u -o s p a lp a n d o

os b a tim en to s d e seu

p r ó p r io p u lso . É a p e r c e p ç ã o d e q u e a s leis v ig e n te s a q u i n a te r r a se e ste n d e m ta l.

Sua

a o u n iv e r s o in fin ito , a tr a v e s sa n d o a s e sfe r a s d e c r is­

p r o p o siç ã o a firm a ser e m

d e u m a só n a tu reza as força s

d o s c é u s e d a terra; a ssim , as e x p e r iê n c ia s m e c â n ic a s r e a liz a d a s aqui nos dão

in fo r m a ç õ e s so b r e as estrela s. A o

d ir ig ir s e u t e le s ­

c ó p io p a ra a L u a, p ara J ú p ite r e p a ra as m a n c h a s so la res, d e str u iu a id e o lo g ia c lá ssica b a se a d a n a p e r fe iç ã o e im u ta b ilid a d e d o s c é u s; tam b ém

estes, à sem e lh a n ç a d a T erra, fo r a m

c o lo c a d o s à su je iç ã o

d a lei d a tr a n s fo r m a ç ã o . O liv ro fo i t e r m in a d o e m

1 6 3 0 , m a s n ã o fo i fá cil o b te r lic e n ç a

p ara su a p u b lic a ç ã o . O s c e n so r e s se m o str a v a m que

b en ev o len tes, o

d e p o u c o a d ia n ta v a , u m a v ez q u e fo r ç a s p o d e r o s a s se o p u ­

nham

ao

liv ro .

m en o s

do

que

E n treta n to ,

G a lile o

q u a tro Im p rim a tu r,

acab ou e o liv ro

c o n se g u in d o

não

fo i p u b lic a d o , e m

F lo r e n ç a , n o in íc io d e 1 6 3 2 . O su c e sso in sta n tâ n e o d a p u b lic a ç ã o se r e v e lo u u m d esa stre in sta n tâ n e o p ara G a lü e o . D e R o m a v eio a ordem : su sp en d am na

r e a lid a d e já

dar co n ta tad as dos do

de

fora m seten ta

a im p ressã o . R e c o lh a m

h a v ia m

seu

se

G a lile o

tem

que

d e ir a R o m a

a to . N e n h u m a d a s d e s c u lp a s p o r e le a p r e s e n ­

co n sid era d a s a n os), su a

G rão -D u q u e

esg ota d o .

to d a s as c ó p ia s -

da

r e le v a n te s:

e n fe r m id a d e

T oscana,

nada

sua

(q u e

id a d e

(agora

era rea l), a

a d ia n to u .

E le

tem

p erto

p ro teçã o de

ir a

R om a. E v id e n te m e n te , o P a p a se se n tia p r o fu n d a m e n te o fe n d id o c o m a p u b lic a ç ã o d o liv ro . P e lo m e n o s u m a p a s s a g e m s o b r e a q u a l e le h a v ia in s is tid o p a r tic u la r m e n te a li e s ta v a e x p líc it a , m a s , n o d iá ­

212

lo g o , A

d e fe n d id a

C o m issã o

por

um a

P r e p a r a tó r ia

personagem para

ir r ita n te m e n te sim p ló r ia .

o ju lg a m e n to

d iz isso , p r e to

no

98

E ram d ez ju ízes. U m d eles ^ m ã o e o u tro sob rin h o d o Papa.

Guache de Urbano VIII dando bênçãos. Seu irmãoAntonio seguraa velapara ele. Oterceiro cardeal é seu sobrinho Francesco, o qual se absteve de votar no julgamento de Galileo.


O Mensageiro Sideral

branco:

a estip u la çã o

p o r m im

c ita d a , tã o

p o s t a “ in b o c c a d i u n s c i o c c o ” G a lile o

h a v ia c h a m a d o

to m a d o

S im p lic iu s

sen d o, o

in su lto

o d e fe n so r d a tra d içã o a q u e m

co m o

u m a

ca rica tu ra

de

era d ir e to . P a ra e le , G a lile o

m o d o , a

12

Papa, foi

“ S im p lic iu s” . P o d e ser q u e o P ap a ten h a

seu s p r ó p r io s c e n so r e s o h a v ia m D esse

q u e r id a d o

si

m esm o;

a ssim

h a v ia tr a p a c e a d o e

tr a íd o .

d e a b r il d e

1 6 3 3 , G a lile o fo i tra zid o a essa

sa la o n d e , s e n ta d o j u n t o a u m a m e s a , r e s p o n d e u às p e r g u n ta s d o In q u isid o r . A s p e r g u n ta s e r a m fo r m u la d a s c o r te s m e n te , d e a c o r d o com

a

a tm o sfera

L a tim , n a te r c e ir a liv r o ? P o r

in tele c tu a l

que

pessoa. C o m o

r e in a v a

na

I n q u isiç ã o

em

e le c h e g o u a R o m a ? É e ste se u

q u e r a z ã o o h a v ia e s c r ito ? D o q u e tr a ta o liv ro ? T o d a s

essas p ergu n tas eram

esp era d a s, e G a lile o p r e te n d ia d e fe n d e r seu

liv ro . M a s, e n t ã o , e is q u e s u r g e u m a p e r g u n ta in e s p e r a d a .

Inquisidor: Havia ele estado em Roma, precisamente no ano de 1616, e

com que propósito?

Galileo: Estive em Roma no ano de 1616 em função do fato de ter ouvido

dúvidas expressas a respeito das opiniões de Nicolau Copérnico; assim, pretendia saber que interpretação seria adequada manter-se. Inquisidor: Deixemos que ele mesmo relate o que foi decidido e lhe foi dado a conhecer nessa ocasião. Galileo: No mês de fevereiro de 1616, o Cardeal Belarmino me assegurou que aceitar a opinião de Copérnico como um fato provado ia de encontro às Sagradas Escrituras. Portanto, não podia nem ser aceita e nem defendida; mas poderia ser utilizada como hipótese. Como prova disso, tenho um cer­ tificado do Cardeal Belarmino, datado de 26 de maio de 1616. Inquisidor: Haveria algum outro preceito que lhe havia sido esclarecido então? Galileo: Não me lembro de mais nada que me tenha sido dito ou de mim exigido. Inquisidor: Se a ele fosse dito que, na presença de testemunhas, lhe foi recomendado não albergar ou defender a dita opinião, ou ensiná-la de qual­ quer maneira, seria ele capaz de se lembrar? Galileo: Lembro-me de que a instrução era para que eu nem albergasse nem defendesse a dita opinião. Os outros dois quesitos: nem ensinar e nem considerá-la de nenhuma forma não estão explícitos no certificado no qual baseio minha afirmação. Inquisidor: Após ter ficado ciente do preceito acima citado, procurou ele obter permissão para escrever o livro? Galileo: Eu não pedi autorização para escrever este livro, simplesmente porque não me considerava desobedecendo as instruções recebidas. Inquisidor: Ao solicitar permissão para a impressão do livro, revelou ele a ordem da Sagrada Congregação sobre o que acabamos de falar? Galileo: Nada disse ao buscar autorização para publicar, uma vez que no livro nem alberguei, nem defendi a dita opinião.

213


A Escalada do Homem

G a lile o p o ss u ía u m b iç ã o

d ele

a lb e r g a r

d o c u m e n to n o q u a l e sta v a e x p r e ssa a p r o i­ ou

d efen d er

sig n ific a v a , p o r a ss im d iz er , u m b iç ã o

im p o sta

a

tod o

a

teo ria

de

C o p é r n ico ,

o que

fa to c o m p r o v a d o . E ra u m a p r o i­

c a tó lic o

d a q u e le

tem p o .

A

In q u isiç ã o

a r g u m e n ta h a v er u m d o c u m e n t o p r o ib in d o a G a lile o , e a G a lile o so m en te, form a não

e n sin a r

sob

q u a lq u e r fo r m a

isto

é,

m esm o

de d isc u ssã o , e sp e c u la ç ã o o u m e r a h ip ó te se . A

se v ia

n a o b r ig a ç ã o d e a p r e se n ta r tal d o c u m e n t o ;

fa zia p a rte d a s reg ra s d o ju lg a m e n to . E n tr e ta n to , o e x iste -

sob

a

In q u isiç ã o isso n ã o

d o cu m en to

e n c o n tra -se n o s A r q u iv o s S e c r e to s, e é m a n ife s ta m e n te

u m a fa lsific a ç ã o -

o u , m a is c o n d e s c e n d e n te m e n te , u m

rascunho

de a n o ta çõ es sobre u m p reten so en co n tro , o qual foi n egad o. N ã o c o n t é m a a ss in a tu r a d o C a r d e a l B e la r m in o . N ã o traz a s s in a tu r a d e te ste m u n h a s. N ã o é a ssin a d o p o r escriv ã o . E , p r in c ip a lm e n te , n ã o m o s tr a a a ssin a tu r a d e G a lile o , c o m o p r o v a d e le o te r r e c e b id o . N ã o m ã o

n o s .p a r e c e

de

estra n h o

m anobras

o

fato

d e a In q u isiç ã o ter la n ç a d o

leg a lista s g ir a n d o

em

to rn o

de

irr e le v â n c ia s

c o m o “ a lb e r g a r o u d e f e n d e r ” , o u “ e n sin a r s o b q u a lq u e r f o r m a ” , e, a lé m dade

d isso , ter-se e s c o r a d o e m

seria

q u e stio n a d a

em

u m

d o c u m e n to cu ja a u te n tic i­

q u a lq u e r

tip o

de

fó ru m ? S im ,

é

e s tr a n h o , m a s , n a r e a lid a d e , n a d a m a is se p o d e r ia fa z e r . O liv r o já h a v ia s id o p u b lic a d o , e c o m m a d o

co m o

esta va , o

Papa

o aval d e m u ito s c e n so r e s. C o n s u ­ p o d ia fa z e r d e s c e r su a ira s o b r e

os

c e n s o r e s — a rru in a r, p o r e x e m p lo , s e u p r ó p r io S e c r e tá r io p o r te r s id o fa v o r á v e l a G a lile o . E n tr e ta n to , p a r a c o n d e n a r o liv r o , n e s ta a ltu r a , a lg u m a . ju s tific a tiv a p ú b lic a , e d e g r a n d e e f e it o , tin h a d e ser e n c o n tr a d a . E fo i. P e r m a n e c e u n o I n d e x p o r c e r c a d e d u z e n to s anos, E ssa

sob

a a le g a ç ã o d e: A t o s F a lto s o s C o m e tid o s p o r G a lile o .

a razão

p ela

qual o ju lg a m e n to

e v ito u

en trar e m

q u a lq u e r

tip o d e d isc u ssã o su b sta n c ia l o u so b r e o liv r o o u so b r e C o p é r n ic o , e

se

in c lin o u

para

a co n sid era çã o

de

fó r m u la s

G a lile o tin h a d e ser a p r e se n ta d o c o m o u m em

e

d o cu m en to s.

tr a p a c e ir o d e lib e r a d o

r e la ç ã o a o s c e n so r e s, a g in d o n ã o só d e m a n e ir a c o n te s ta tó r ia

m a s, ta m b ém , d eson esta. Para

n ossa

su rp resa , a c o r te n ã o se reu n iu

n o va m en te;

o ju lg a ­

m e n t o t e r m in o u a í. I s to é , G a lile o fo i tr a z id o m a is d u a s v e z e s a o sa lã o , m a s a p e n a s p a ra p resta r te s te m u n h o e m s u a p r ó p r ia d e fe sa ; en tretan to , n en h u m a

214

fo i la v ra d o e m sid id a

p elo

o u tr a p e r g u n ta lh e fo i d ir ig id a . O

vere d ito

u m a sessão da C on g reg a çã o d o S a n to O fício pre­

Papa. O

c ie n tista d issid e n te

tin h a d e ser h u m ilh a d o ;

99 N o sja rd in s, o o tim ista G a lileo e n t r e t e v e seis con versas c o m o P a p a recém -eleito .

Mural representando um passeio de um Cardealjunto à Fonte de Tritão, construída por Bemini. O Cardeal lê uma passagem do Texto Sagrado para um acadêmico penitente. Este mural, em uma residência particular emRoma, deve datar de um período entre 1620 e 1630, quando o resultado da defesa de Galileo da teoria de Copérnico ainda não era conhecido.


v


A Escalada do Homem

não só em

a çã o m as, tam b ém , em

retra ta r; a e le d e v ia m

in te n ç ã o . G a lile o tin h a d e se

ser m o str a d o s os in str u m e n to s d e to rtu ra

c o m o se a in te n ç ã o fo sse a d e u sá -lo s. O sig n ific a d o d e u m in ic ia d o

sua

ca rreira

testem u n h o ao

m esm o,

de

u m

tal tr a ta m e n to p a ra u m com o

m é d ic o

co n tem p o râ n eo

pode

h o m em

ser

que, ten d o

so b r e v iv e u . T r a ta -se d e w illia m

q u e h a v ia

a q u ila ta d o

p e lo

sid o s u b m e tid o

L ith g o w , u m

in g lê s

to r tu r a d o p e la In q u isiç ã o E sp a n h o la .

Fui trazido para uma plataforma de madeira e colocado sobre a mesma. Esta era formada pela justaposição de três pranchas maciças, nos vãos entre as quais minhas pernas foram presas, sendo os tornozelos atados por meio de cordas. Ao girarem as alavancas, a força exercida sobre meus joelhos contra as duas pranchas acabou arrebentando todos os ligamentos de minhas pernas, ao mesmo tempo que minhas rótulas eram esmagadas. Meus olhos se esbugalharam, minha boca espumava e exsudava, meus dentes batiam como baquetas rufando sobre tambores. Meus lábios tremiam, meus gemidos eram veementes, e sangue brotava de meus braços, dos tendões arrebentados das mãos e dos joelhos. Ao ser aliviado dessa dor cruciante, fui depositado no solo, sem que cessasse a constante injunção: “Confesse! Confesse!” . G a lile o n ã o fo i to r tu r a d o ; a p e n a s fo i a m e a ç a d o , p o r d u a s v ezes. S u a im a g in a ç ã o

p o d ia se en carreg ar d o resto . T a l era o o b je tiv o

d o ju lg a m e n to ,

m o stra r

eram m en te

216

im u n e s

ao

p rocesso

a

h om en s

de

im a g in a ç ã o

p r im á r io , irr e v e r sív e l, d o

a n im a l. M a s e le já h a v ia c o n c o r d a d o

em

q u e e le s n ã o m ed o

pura­

se retrata r.

Eu, Galileo Galilei, fIlho do falecido Vicenzo GaWei, florentino, com setenta anos de idade, arrolado pessoalmente diante deste tribunal, de joelhos perante os mais Eminentes e Reverendos Senhores Cardeais, Inquisidores Gerais contra a depravação herética por toda a República Cristã, tendo diante de meus olhos e tocando com minhas mãos os Santos Evangelhos, juro ter sempre acreditado, acreditando agora, e com a ajuda de Deus irei acreditar no futuro, em tudo o que é admitido, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Entretanto, uma vez que uma injunção foi judicialmente sentenciada à minha pessoa por este Santo Ofício, no sentido de que eu deva, de uma vez por todas, abandonar a opi­ nião falsa de que o Sol seja o centro do mundo e imóvel, e de que a Terra não seja o centro do mundo e se mova, e de não poder sustentar, defender ou ensinar, sob qualquer forma que seja, verbalmente ou por escrito, a dita doutrina e, ainda, que eu, mesmo após ter sido notificado de ser a dita doutrina contrária às Santas Escrituras, tenha escrito e feito publicar um livro no qual essa doutrina, de antemão condenada, é, não só discutida, como, também, fortalecida com argumentos de grande coerência em favor da mesma, sem, no entanto, apresentar nenhuma solução para os mesmos; e, assim, por esta causa eu tenha sido pronunciado pelo Santo Ofício como altamente suspeito de heresia, isto é, de ter sustentado e acreditado ser o Sol o centro do mundo e imóvel, e não ser a Terra o centro e se mover.

100 O ju lg a m e n to evitou entrar para con sid erações im p o rta n tes, tan to so b re o liv ro c o m o sobre C o p érn ico , in clin an d o -se a m a n ip u la r fó r m u la s e d ocu m en tos.

O documento no qual a Inquisição baseou sua acusação contra Galileo. Pretensamente registra uma proibição imposta a Galileo aos 26 de fevereiro de 1616 na presença do Cardeal Belarmino e outras testemunhas, mas não está assinado por eles. Galileo exibiu uma carta bem mais liberal, escrita e assinada por Belarmino em 26 de maio de 1616.


O Mensageiro Sideral Portanto, desejoso de remover das mentes de Vossas Eminências, e de todos os fiéis cristãos, esta forte suspeita, razoavelmente concebida contra mim, com sinceridade no coração e inquebrantável fé eu abjuro, rejeito e detesto os erros e heresias acima mencionados e, de modo geral, qualquer outro erro ou seita de qualquer espécie contrários aos ditames da Santa Igreja; e juro nunca mais dizer ou inferir, verbalmente ou por escrito, qual­ quer coisa que dê ensejo para que novamente se levante tal suspeita em relação a mim; e, além disso, se vier a tomar conhecimento de algum herege, ou pessoa suspeita de heresia, eu a denunciarei ao Santo Ofício, ou ao In­ quisidor ordinário do lugar onde quer que me encontre. Da mesma forma juro, e prom eto observar e cumprir todas as penitências que foram ou serão impostas à minha pessoa pelo Santo Ofício. E, na eventualidade de eu vir a desobedecer (que Deus não mo permita!) a qualquer uma dessas promessas, protestos e juram entos, submeto-me a todas as dores e penalidades impostas e promulgadas nos cânones sagrados e outras constituições, gerais e parti­ culares, contra tais delinquentes. Assim, valha-me Deus, e estes seus sagrados mandamentos que toco com minhas mãos. Eu, o dito Galileo Galilei, tendo abjurado, jurado, prometido e me sub­ metido na forma acima exposta; e, em testemunho da verdade, tenho por bem, com minhas próprias mãos, subscrever o presente documento de minha abjuração, e lê-lo em voz alta, palavra por palavra, em Roma, no Convento de Minerva, neste vigésimo-segundo dia de junho de 1633. Eu, Galileo GaWei abjurei da forma acima exposta com minhas próprias mãos. I

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A Escalada do Homem

G a lile o p erto

fo i co n fin a d o

de

n eceu

d o u tr in a en tre

s u a v ila e m

F lo r e n ç a , s o b estrita p risã o d o m ic ilia r. O

im p la c á v e l.

sequer

p e lo resto d a v id a e m

A b so lu ta m e n te

p r o ib id a

fa la r os

co m

não

p o d ia

nada

d e v ia

ser

O

r e su lta d o d isso

c ie n tista s c a tó lic o s d a í p o r d ia n te . O

co n tem p o râ n eo

de

G a lile o ,

Papa p erm a­ p u b lic a d o . A

ser d isc u tid a . G a lile o

p ro testa n tes.

R en é

A r c e tr i,

não

p o d e r ia

fo i o silê n c io

m a is im p o r ta n te

D esca rtes, in terro m p eu

suas

p u b lic a ç õ e s n a F r a n ç a e, fin a lm e n te , tr a n sfe r iu -se p a r a a S u é c ia . G a lile o que

h a v ia

d e c id id o

o ju lg a m e n to

h a v ia

r e a liz a r

N o v a s C iê n c ia s, as q u a is e r a m não

das

estrela s,

m as

o

liv ro v e r sa n d o

a

m a té r ia

aqui da

deses de

1 6 3 6 , isto é, três a n o s a p ó s o ju lg a m e n to ,

p u b lic á -lo , n ã o fo s s e m

L eyd en , que

G a lile o

sobre

terra . O

a n c iã o d e se te n ta e d o is a n o s. E v id e n te m e n te

c o n se g u id o ép o ca

c o isa . E sc r e v e r ia o liv r o

e n te n d id a s p o r e le c o m o a física ,

in teressa n d o

liv ro f o i t e r m in a d o e m por u m

um a

in terro m p id o :

n ã o te r ia

o s p r é stim o s d e a lg u n s h o la n ­

o im p r im ir a m d o is a n o s m a is ta rd e. N e ssa

esta va

co m p leta m en te

cego.

E m

u m

r e la to

so b r e si m e s m o :

Ai de mim!. . . Galileo, seu devoto amigo e servo, há um mês se encontra total e incuravelmente cego; de maneira que este céu, esta terra, este uni­ verso, os quais através de minhas notáveis observações e claras demonstrações foram expandidos uma centena, ou melhor, um milhar de vezes além dos limites universalmente admitidos pelos sábios de todas as eras precedentes, se encontram, agora, para mim, confinados aos limites de minhas próprias sensações corporais. E n tre jo v em que

a q u e le s

p o eta

seria

o

que

v isita r a m

in g lês J o h n

G aW eo

M ilto n ,

em

preparando

A rcetri um

fig u r a v a

o

p o e m a é p ico

tr a b a lh o d e su a v id a . Ir o n ic a m e n te , q u a n d o M ilto n

se e n tr e g o u à c o m p o s iç ã o d e s e u g ra n d e p o e m a , tr in ta a n o s m a is ta r d e , e le

tam b ém

estava c o m p le ta m e n te ceg o , e d e p e n d e n te d e

seu s filh o s p ara te r m in á -lo . N o

fim

de

sua

v id a , M ilto n

se

id e n tific o u

a S an são, San são

e n tr e o s filiste u s,

Cego em Gaza, junto ao Mó com escravos,

o s q u a is d e s t r u ír a m o im p é r io filis te u n o m o m e n t o d e su a m o r t e . T a l fo i o d e s t in o d e G a lile o , c o n tr a su a p r ó p r ia v o n ta d e . A c o n se q ü ê n c ia

d o ju lg a m e n to

v a m en te,

a

fren te,

R e v o lu ç ã o

a

E uropa. A o n eiro 218

em

tr a d iç ã o

c ie n tífic a C ie n tífic a

m orrer em

sua

p r ó p r ia

e d a p risã o fo i a d e te r m in a r , d e fin iti­ d o se

M ed iterrâ n eo . tran sfere

para

D aq u i o

N o rte

1 6 4 2 , G a lile o a in d a era m a n tid o casa. N o

In g la terra , n a sc ia Isa a c N e w t o n .

d ia d e N a ta l d o

para

m esm o

a da

p r isio ­ ano, na

101 “ O U n iv e r s o se e n c o n tr a agora, para m im , co n fin a d o aos lim ites d e m in h a s p r ó p r ia s sen sa ç õ e s corp o rais. ”

A TerravistadaLua.




7

O RELOGIO MAJESTOSO A o

escrever

as

p á g in a s

in tr o d u tó r ia s

G ra n d es S iste m a s d o M u n d o , em em

de

D iá lo g o s

seu

sobre

os

1 6 3 0 , G a lile o c h a m o u a a te n ç ã o ,

d u a s o p o r tu n id a d e s , p a ra o p e r ig o q u e a c iê n c ia (e o c o m é r c io )

ita lia n o s N o rte. q u em

co rria m

Sua

de serem

p ro fecia

su p erad os por seu s con co rren tes d o

fo i a b so lu ta m e n te v erd a d eira . O

h o m em

a

d a v a a te n ç ã o p a rticu la r era J o h a n n e s K e p ler , o a s tr ô n o m o ,

q u e ch eg o u a Praga em

1 6 0 0 , a o s v in te e o ito a n o s, e a í v iv e u se u s

anos

m a is

S u a s tr ê s leis tr a n s fo r m a r a m

geral

d o

p r o d u tiv o s.

Sol

e

dos

p la n eta s

d e C o p é r n ico

em

u m a

a d e scr iç ã o fo r m u la ç ã o

m a t e m á t ic a p r e c isa . E m

p r im e ir o lu g a r, K e p le r m o s tr a q u e a ó r b ita d e u m

p la n e ta

é a p e n a s a p r o x im a d a m e n t e c ir c u la r ; tr a ta -se d e u m a e lip s e n a q u a l o

S o l se en c o n tra

segu n d o

lu g a r,

con sta n te; u n in d o

o

o

lig e ir a m e n te e x c ê n tr ic o e m

u m

que

p la n eta é

p la n eta a o

a d o S o l. E, e m

não

con sta n te

é

se

a v elo c id a d e

d os foco s. E m em

co m

v elo cid a d e q u e a lin h a

S o l v a rre a á rea e x is te n te e n tr e su a ó r b ita e

te r c e ir o lu g a r, o t e m p o g a s to p o r u m d e te r m in a d o

p la n e ta p a r a p e r c o r r e r su a p r ó p r ia ó r b ita c o m

u m

m o v im en ta

-

seu

an o -

a u m en ta

a s u a d is tâ n c ia (m é d ia ) d o S o l, d e m a n e ir a b a s ta n te p r e c isa .

E sse era o esta d o d e co isa s p o r o ca siã o d o n a sc im e n to d e Isaac N ew to n em

1 6 4 2 , n o d ia d e N a ta l. K e p ler h a v ia fa le c id o há d o z e

a n o s e G a lile o n o a n o p r e se n te . N ã o s ó a a str o n o m ia , m a s a c iê n ­ c ia p e r m a n e c ia

n o lim b o :

esp era va -se u m a n o v a m e n te c a p a z d e

d iv isa r o d e g r a u fu n d a m e n ta l e n tr e o tr a b a lh o p io n e ir o d a s d e scr i­ ç õ e s d o p a ss a d o e o d in a m is m o d a s e x p la n a ç õ e s c a u sa is d o fu tu r o . Por

v o lta

liz a d o

Novas idéias e novos princípios agora começam a se impor.

O n eiy" por Joseph Wright de Derby. "The

ano

1 6 5 0 ,

o

cen tro

d e g ra v id a d e d o

t r a n s f e r id o d a I tá lia

cau sa

ó b v ia p o d ia

c ia is

d o

m u n d o

ser e n c o n tr a d a de

en tão ,

para a

na m u d an ça

a ca rretad a

m u n d o

E uropa d o

p e lo

c iv i­

N o rte. A

das rota s c o m e r­ d esco b r im e n to

e

e x p lo r a ç ã o

d a A m é r ic a . O

M e d it e r r â n e o já h a v ia d e ix a d o d e ser

o

n o m e

o

que

seu

c a m in h o 1 02

d o

h a v ia -se

se

im p lic a ,

d e slo c o u

para

m e io o

c a m in h o

N o rte,

d o

co m o

m u n d°. °

G a lile o

m e io

p rev ir^

à s

m arg e n s d o A tlâ n tic o . A c o m p a n h a n d o a n o v a fo r m a d e c o i ^ d d ^ s u r g iu u m a n o v a v is ã o p o lític a , e n q u a n t o a Itá lia e o M e d ite r r â n e o p erm an eceram Id é ia s n ações

p r e so s às su a s a risto cra cia s.

novas

en tregu es

H o la n d a . A

e

n o vo s ao

p r in c íp io s

m e r c a n tilism o

In g la te r r a ia -se t o r n a n d o

agora

se

m a r itim o :

d e s e n v o lv ia m a

|n g la te r r a

nas e a

r e p u b lic a n a e p u r ita n a . O s

221


A Escalada do Homem h o la n d e se s su r g ir a m n o M a r d o N o r te a fim b a ix a s

da

In g la terra ;

fir m e . U m

p â n tan o s

fora m

d e d r e n a r e m as terras

tran sform ad o s

em

terra

e sp ír ito d e in d e p e n d ê n c ia to m a v a c o r p o n as p la n íc ie s

e n a n e b lin a d e L in c o ln sh ir e , o n d e O liv e r C r o m w e ll r e c r u to u seu s I r o n s id e s .

E m

1 6 5 0

a

In g la terra

era

u m a

r e p ú b lic a

que

h a v ia

corta d o a ca b eça d e seu m o n a rca . O

n a sc im e n to

W o o lsth o rp e; de

p o u co

en tregu e

de

N ew to n

teve

lu g a r

na

casa

de

tem p o

sua

m ãe

v o lto u

aos cu id a d o s d e u m a

u m a c r ia n ç a s e m am ad o. N ã o

a

se

se c a s o u ;

parece n u n ca

que

se

e la b o ra

em

casar

e

o

sem p re tev e m e d o e le )

p eq u en o

foi

q u e n u n ca foi

ter c o n s e g u id o d e m o n s t r a r

co n ta to

c o n tr á r io , as c o n q u ista s d e N e w t o n sasse

em

la r, m a s n ã o tin h a a s e g u r a n ç a q u e o s p a is d ã o .

e n tu sia sm o q u e to r n a o su c e sso u m

sa m en to ,

m ãe,

d as a v ó s. E le n ã o era e x a ta m e n te

P o r to d a a su a v id a d e ix a a im p ressã o d e a lg u é m o

sua

s e u p a i h a v ia m o r r id o a lg u n s m e s e s a n te s . D e n tr o

r esu lta d o n a tu ra l d o p e n ­ co m

o u tra s p esso a s. P elo

fora m

to d a s so litá r ia s, e e le

q u e o u tr o s lh a s r o u b a sse m c o m o (ta lv e z p e n ­

tin h a m -lh e

rou b ad o

a

m ãe.

D e

su a v id a , e n q u a n to

fr e q ü e n to u a e s c o la p rim á ria e o s p r im e ir o s a n o s d a u n iv e r s id a d e , q u a se n a d a se sabe. O s

d o is a n o s q u e se seg u ir a m

os a n o s d a P este, 1 6 6 5 e le

perm an eceu

esta va de

em

e

à graduação

de N e w to n

casa. S u a

m ã e p e r d e u o se g u n d o m a r id o e

d e v o lta a W o o lsth o r p e . N e ste lo ca l, d e sco b r iu

ouro:

fora m

1 6 6 6 ; a u n iv e r sid a d e e sta n d o fe c h a d a , sua m in a

a m a te m á tic a . A g o r a q u e seu s c a d e r n o s d e a n o ta ç õ e s

fo r a m lid o s, p o d e -se c o n sta ta r q u e N e w to n n ã o r e c e b e u u m b o m e n sin o

in ic ia l

m a te m á tic a . o s jlu x io n s ,

e

tev e

D a í,

que

p a r tiu

apren der para

so z in h o

d esco b ertas

a m a io r p a rte o r ig in a is.

da

In ven to u

que' h o je c o n h e c e m o s p o r c á lc u lo . N e w t o n m a n te v e

o s jlu x io n s c o m o a rm a secreta ; su a s d e s c o b e r ta s e r a m a lc a n ç a d a s g ra ça s à u tiliz a ç ã o d e les, m a s o s r e su lta d o s e r a m

tr a n sc r ito s e m

m a te m á tic a c o n v e n c io n a l. N este

m esm o

u n iv ersa l, da L ua em d eroso

lo c a l N e w t o n

testa n d o -a to rn o

con ceb eu

im e d ia ta m e n te

da T erra. A

no

a id é ia c á lc u lo

L u a rep resen ta va u m

p a r a e le . S e e la s e g u e s u a ó r b ita d e v id o

T e r r a e x e r c e s o b r e e la , e n t ã o m a ç ã ) a tira d a c o m

da d o

a Lua é co m o

g ra v ita ç ã o m o v im en to

sím b o lo p o ­

à a tra çã o q u e a

u m a b o la

m u it a fo r ç a — e m b o r a t e n d a a c a ir e m

(ou

u m a

d ireçã o

à T erra , v a i tã o r á p id o q u e c o n s ta n te m e n te p e r d e o a lv o — m o v i­ m en ta -se e m 2 22

c ír c u lo s p o r q u e

a T erra é red on d a. Q u a l d ev e ser a

m a g n itu d e d a fo r ç a d e a tra çã o ?


1 03

1665 e 1666 foram os anos da Peste, e, a Universidade estando fechada, Newton permaneceu em casa.

A casa em W o o lsth o r p e . D esen h o d o c o m e ç o d o s é c u lo X V III, fe ito p o r W i ll ia m S t u k e l e y , d a casa da m ã e d e • N e w to n .

Deduzi serem as forças que mantêm os planetas em suas órbitas a recíproca do quadrado das distâncias entre os centros em torno dos quais eles giram; assim, comparei a força requerida para manter a Lua em sua órbita com a força da gravidade na superfície da Terra; encontrei-as quase coincidentes. A

su b e stim a

de

seu s p r ó p r io s d a d o s é u m a d a s c a r a c te r ístic a s d e

N ew to n ;

s e u s p r im e ir o s c á lc u lo s a p r o x im a d o s , n a r e a lid a d e , fo r ­

n eceram

v a lo res

p r a tic a m e n te

ex a tos

d o

p e r ío d o

lu n a r , isto é,

2 7 í4 d ia s. Q u a n d o os d a d o s se e n c a ix a m

co m

tal p e r fe iç ã o , fic a -se s a b e n ­

d o , à se m e lh a n ç a d o q u e o co rreu c o m na n a tu reza

foi d esv en d a d o

P itá g o ra s, q u e u m

e está seg u r o , a o a lc a n c e

segredo

das m ãos.

U m a lei u n iv e r s a l r e g e o m a j e s t o s o r e ló g io d o c é u , n o q u a l o m o ­ v im e n to correta

da

L ua

é

tiv e sse sid o

n a tu reza

u m

even to

d esp ejasse em

E n treta n to ,

sen do

h a r m o n io so .

É co m o

in tro d u z id a n a fech a d u ra

se a ch a v e

e, a o ser g ir a d a , a

n ú m e r o s a c o n fir m a ç ã o d e su a estru tu ra .

N ew to n

q u em

era,

esses

dados

não

fora m

p u b lic a d o s. D e d o

v o lta a C a m b rid g e, e m

T r in ity

C o lle g e . D o is

1 6 6 7 , N ew to n

a n o s d e p o is o

foi n o m e a d o /e íío w

seu p r o fe sso r se d e m itiu

d a c a d e ir a d e m a te m á tic a . P o d e ser q u e isso n ã o ten h a sid o fe ito e x p lic ita m e n te resu lta d o

foi

em o

fav or

m esm o

de -

N ew to n ,

N ew to n

co m o

o cu p o u

se

pensava,

m as o

e ss e lu g a r. C o n ta v a ,

e n tã o , v in te e seis a n o s. A

p r im e ir a p u b lic a ç ã o d e N e w t o n

fo i s o b r e ó p tic a . E s ta fo i c o n ­

c e b id a , c o m o

to d a s a s su as g r a n d e s id é ia s, “ n o s a n o s d a P e ste d e

1 6 6 5

p orque,

e

1 6 6 6 ,

c a p a c id a d e d u ra n te

u m

de

n e sse s d ia s, e u

in v en çã o ” . Q u a n d o

cu rto

esp aço

n o T r in ity C o lle g e , e m

de

a

esta va P este

tem p o , d e ix o u

C a m b rid g e.

n o v ig o r d e m in h a abrandou,

N ew ton ,

s u a c a s a p a r a v iv er

223


A Escalada do Homem

D e

certa fo r m a p a rece-n o s in só lito o fa to d o m estre d a e x p la ­

nação d o

um

tr a b a lh o

lu z . E n tr e ta n to , d u a s r a z õ e s o ju s tific a m . E m

u n iv e r s o m a te r ia l in ic ia r su a c a r r e ir a c o m

p r im e ir o

sobre

a

lu g a r ,

n ã o esq u eça m o s esta rm o s em

v id a n o m a r, n o ocu p avam

com

u m

m u n d o

d o m in a d o

p ela

q u a l to d a s as m e n te s b r ilh a n te s d a In g la terra se o s p r o b le m a s su sc ita d o s p ela n a v e g a ç ã o m a r ítim a .

H o m e n s c o m o N e w t o n n ã o se in ter e ssa r ia m p o r p e sq u isa té c n ic a , n a tu r a lm e n te ; e s s a seria u m a m a n e ir a m u it o in g ê n u a d e e x p lic a r se u in teresse ven do em a liá s,

p e lo a ssu n to . H o m e n s c o m o esses a ca b a m

a s s u n to s s o b r e o s q u a is o s g r a n d e s m e s tr e s d is c u te m

co m o

tem p o s.

se en v o l­

O

sem pre

tem

te le sc ó p io

a co n te c id o c o m

se

c o n stitu ía

em

os jov en s de p r o b le m a

to d o s os

im p o rta n te

n a q u e le te m p o ; a ss im , a o p o lir as le n te s p a ra a c o n s tr u ç ã o d e s e u p r ó p r io

te le sc ó p io , N e w to n to m o u c o n sc iê n c ia d o p r o b le m a d a s

c o r e s n a lu z b ra n ca. M a s, é c la r o q u e, s u b ja c e n te a essa , v a m o s e n c o n tr a r o u tr a r a z ã o m u ito

m a is fu n d a m e n ta l. O s p r o b le m a s fís ic o s s e m p r e r e su lta m

d e in te r a ç õ e s d e e n e r g ia e m a té r ia . A lu z n o s p e r m ite v er a m a t é ­ ria ; e t o m a m o s c o n h e c i m e n t o

d a lu z p o r q u e e la é in te r c e p ta d a

p o r m a té r ia . E sse p e n s a m e n to c o n s titu i o m u n d o d e to d o g r a n d e fís ic o , p o is e le s s a b e m ser im p o s s ív e l a p r o fu n d a r o c o n h e c im e n to d e u m a , iso la d a m e n te d a o u tra . E m

1 66 6

N ew to n

c o m e ç o u a p en sa r so b r e a ca u sa d a s fran jas

c o lo r id a s n as b o rd a s d a s le n te s, a n a lisa n d o esse e fe ito a tra v és d e sim u la ç õ e s c o m

o a u x ílio d e p rism a s. T o d a b o r d a d e le n te c o n s ­

titu i u m

p eq u en o

c o lo rid a

A r istó te le s. fen ô m en o ,

era

p rism a , e o fa to d e ste d isp o sitiv o fo r n e c e r lu z

c o n h e c id o ,

p e lo

m en os,

desde

os

tem p o s

de

Ig u a lm e n te v elh a era a e x p lic a ç ã o d isp o n ív e l p ara o u m a

vez

que

a

q u a lid a d e

da

lu z

não

era a n a lisa d a .

A s s im , a ce ita v a -se q u e a lu z b ra n ca , a o a tr a v e ssa r v id r o s d e e s p e s ­ su r a s c r e sc e n te s , p r o d u z ia e m s u a s b o r d a s a fila d a s, d e v id o ta m b é m a u m

p ro cesso d e e scu recim en to

p r o g r e ssiv o , lu z e s d e c o r e s v er ­

m e lh a , v e r d e , a z u l, e a ss im p o r d ia n te . I n g e n u id a d e s im p le s m e n te m a r a v ü h o sa , p o s to q u e , n a d a e x p lic a n d o , s o a p la u sív e l. C o n tu d o , p e r m a n e c ia

in e x p lic a d o

u m

fa to ó b v io , p a r a o q u a l N e w t o n já

h a v ia c h a m a d o a a te n ç ã o , fa to q u e se r e v e lo u c o m p le ta m e n te n o m o m en to a u x ílio

de

em um

q u e e le , r e str in g in d o u m a n tep a ro

p o rta d o r d e

esse fe ix e a tra v essa sse s e u p rism a . O lu z 2 24

so la r

num a

in c id e n te

form a

segu n d o

a lo n g a d a .

fe ix e um

d e lu z so la r c o m

o r ifíc io , fe z c o m

resu lta d o

o

que

fo i o seg u in te : a

u m a c o n fig u r a ç ã o c ir c u la r , e m e r g e

O ra,

que

o

esp ectro

se

a p resen ta va

104 N ew to n em C am b rid ge.

Retrato de Isaac Newton com sua cabeleira natural, pintado em Cambridge por Godfrey Kneller em 1689.



A Escalada do Homem

a lo n g a d o e r a s a b id o h á p e lo m e n o s u m m ilh a r d e a n o s , a q u a lq u e r u m

qu e

se

tiv e sse

d ad o

ao

tra b a lh o

de

o b se r v á -lo .

A co n tece,

e n tr e ta n to , q u e é p r e c iso a p a r e c e r u m a m e n te p o d e r o s a c o m o a de N ew to n e x p lica r

o

que

se d is p o n h a a q u e b r a r a c a b e ç a

ó b v io .

E

n ã o se m o d ific a e sim

A ssim

de

q u e a lu z p o d e ser fisic a m e n te sep a ra d a .

E ssa id é ia fo i fu n d a m e n ta lm e n te tífic a , se n d o

n a ten ta tiv a

o ó b v io , s e g u n d o e le m o s tr o u , é q u e a lu z o rig in a l na e x p la n a ç ã o c ie n ­

p r a tic a m e n te in a c e ssív e l a o s seu s c o n te m p o r â n e o s .

se n d o , a c o m e ç a r p o r R o b e r t H o o k e , p r a tic a m e n te físic o s

d e to d a s as te n d ê n c ia s reu n ira m

a rg u m en to s co n tra a n o v a c o n ­

c e p ç ã o . E ssa p o lê m ic a e s te n d e u -s e a tal p o n t o , q u e N e w t o n a ssim exp ressou

seu

a b o r r e c im e n to

em

u m a c a r ta d ir ig id a a L e ib n iz :

Eu fui de tal forma perseguido por discussões suscitadas pela publicação de minha teoria sobre a luz, que não posso senão culpar minha própria impru­ dência em abandonar uma bênção tão substancial como a minha quietude, em troca de uma corrida no encalço de uma sombra. A tod a

p a rtir

dessa

é p o c a , e le

form a d e d eb a te -

passou

m o rm en te

a recu sar term in a n te m e n te co m

arg u m en tad o res c o m o

H o o k e . S e u liv r o s o b r e ó p t ic a s ó fo i p u b lic a d o e m

1 7 0 4 , tim a n o

a p ó s a m o r te d e H o o k e , e a v iso u o p r e sid e n tè d a R o y a l S o c ie ty :

É minha intenção não atender a solicitações de nenhuma espécie sobre questões de Filosofia; assim, espero que você não leve a mal o fato de eu não me afastar nunca dessa resolução. M as, que

m elh o r

N ew to n

seria

com eçar

se ex p resse

com

p elo

co m eço

e, p o r ta n to , d e ix a r

su a s p r ó p r ia s p a la v r a s. N o

an o de

1666

obtive um prisma triangular de vidro, a fim de com ele tentar reproduzir

os Fenôm enos das Cores. De modo a poder realizar o experimento, havia

2 26

escurecido meu quarto, feito em uma das folhas da janela um pequeno orifício que deixasse passar uma quantidade conveniente de raios do Sol, colocando o prisma na entrada da luz, de forma que esta pudesse ser refratada na parede oposta. Inicialmente, esse arranjo propiciou-me um divertimento agradável, dado pela contemplação das cores vivas e intensas produzidas dessa forma; mas, depois de um certo tempo, forçando-me a examiná-las mais seriamente, notei, para minha surpresa, uma forma oblonga na disposição das cores. Entretanto, se fôssemos interpretar o fenômeno de acordo com as leis aceitas da Refração, a forma obtida tinha de ser circular. Além disso eu vi. . . que a luz na extremidade de uma das bordas da Imagem sofria Refração de maior magnitude do que na outra extremidade. Assim, a verdadeira causa da extinção daquela Imagem não podia ser outra senão a da existência de Raios de L u z diferentem ente refratáveis, os quais, independentemente de qualquer diferença em suas respectivas incidências,


O Relógio Majestoso eram, de acordo com seus graus de refratabilidade, transmitidos a diferentes partes da parede. O

a lo n g a m e n to

sep aração

e

d o

e s p e c tr o e sta v a e x p lic a d o ; era c a u sa d o p ela

d iv erg ên cia

d os

ra io s

lu m in o so s

co m p o n en tes

das

d iferen tes cores.

Então coloquei um outro Prisma. . . de modo que a luz. . . pudesse passar através dele também, e ser refratada uma vez mais, antes de atingir a parede. Feito isto, tom ando o primeiro Prisma em minha mão, imprimi a ele movi­ mentos lentos, alternados, em torno de seu Eixo, de maneira a permitir que as diferentes partes da Imagem. . . sucessivamente passassem através dele . . . e eu pudesse observar em que lugares na parede o segundo Prisma as refratava. Quando qualquer tipo de Raio podia ser nitidamente separado dos outros, sua cor era obstinadamente mantida, a despeito de tudo que eu tentasse fazer no sentido de alterá-la. E ssa

d em o n stração

fosse

a lu z m o d ific a d a p e lo v id r o , o s e g u n d o p r ism a d e v er ia p r o ­

a rru in a v a

a

co n cep çã o

tr a d ic io n a l;

d u z ir n o v a s c o r e s, p o r e x e m p lo , tr a n sfo r m a r v e r m e lh o e m

a ssim , verde

o u a z u l. N e w t o n o c h a m o u d e e x p e r im e n t o c r ític o ; u m a v e z q u e as c o r e s sã o sep a r a d a s p ela r e fr a ç ã o , n ã o p o d e m

m a is ser a lte r a d a s.

Eu a refratei com auxilio de Prismas, e a refleti usando corpos que, à luz do di , se apresentavam de outras cores; interceptei-a com o fUme colorido de Ar retido entre duas placas de vidro; fi-la transmitir através de Meios coloridos, e através de Meios irradiados com outros tipos de Raios, e várias outras manipulações até desistir. Nenhuma dessas manobras foi capaz de alterar a cor originalmente escolhida. Mas a composição mais surpreendente e maravilhosa foi a da Brancura. Não há nenhum tipo de Raio que, isoladamente, possa exibi-la. Ela é sempre composta e, para se manifestar, é preciso que se componham todas as assim chamadas Cores primárias, misturadas em proporções adequadas. Com freqüência pude contemplar, em estado de admiração, que fazendo-se con­ vergir todas as Cores produzidas pelo Prisma, recombinando-as portanto, reproduzia-se luz, inteira e completamente branca. Assim, do acima exposto, resulta que a Brancura é a cor ordinária da L uz; porque Luz é um agregado confuso de toda sorte de Raios de diferentes Cores, adquiridas na medida em que são indiscriminadamente emitidos a partir das diferentes partes de corpos luminosos. E ssa sid o um

ca rta f o i d ir ig id a à R o y a l S o c ie ty , lo g o a p ó s N e w t o n ter

e le ito n ovo

um

de seus m em b ro s, em

1 6 7 2 . E le h a v ia -se r e v e la d o

tip o d e e x p e r im e n ta d o r , q u e sa b ia c o m o fo r m u la r u m a

te o r ia e te stá -la e x a u s tiv a m e n te c o n tr a a lte r n a tiv a s p o ss ív e is . T a l c o n q u is ta lh e era cara, m o tiv o e sp e c ia l d e o rg u lh o .

227


A Escalada do Homem Um naturalista dificilmente esperaria ver a ciência dessas cores ser formulada matematicamente, mas, no entanto, eu arriscaria afirmar que ela é portadora de tanta certeza quanto sepode encontrarem qualquer outra parte da Óptica. O na

ren om e

de N ew to n

U n iv e r sid a d e ;

d a q u e le m u n d o lh a d o

u m a

ia -se a fir m a n d o , co n sciên cia

tan to

da

m e tr o p o lita n o , c o m o

cor

em

L ondres co m o

parece

tom ar

co n ta

se o e s p e c tr o tiv e sse e s p a ­

su a s lu z e s p ela s se d a s e e sp ec ia r ia s tra z id a s à c a p ita l p e lo s

m ercadores. A p a le ta d o s p in to r e s se e n r iq u e c e , su r g e u m a p r e fe r ê n c ia p e lo s o b je to s v iv a m e n te c o lo r id o s d o O r ie n te , e o e m p r e g o d e m u ita s p a la v r a s d e s ig n a n d o

cores

torn o u -se

co m u m .

I sto se m o s tr a c la ­

r a m e n te n a p o esia d a é p o c a . A le x a n d r e P o p e , q u e c o n ta v a d e z e s ­ se is a n o s q u a n d o N e w t o n p u b lic o u s u a O p tic k s , e r a p o e ta m u it o m e n o s se n su a l d o q u e S h a k e sp e a r e , c o n tu d o , a q u e le u sa d e três a em

q u a tr o v e z e s m a is p a la v r a s p a r a d e s ig n a r c o r e s d o um a

fr e q ü ê n c ia

d ez v e z e s m a io r . C o m o

q u e este, e

e x e m p lo , v eja m o s a

d e scr iç ã o de P o p e d os p e ix e s d o T â m isa ,

A Perca de olhos brilhantes e nadadeiras de púrpura de Tiro, A Enguia prateada rolando em espumas brilhantes, A Carpa amarela, com escamas salpicadas de ouro, Céleres Trutas, decorando o quadro com seus matizes de carmeSlm. q u e seria in e x p lic á v e l, a n ã o ser c o m o u m e x e r c íc io s o b r e as c o r e s . Ser

fa m ò so

na

m etró p o le

sig n ific a v a , in e v ita v e lm e n te , n o v a s

c o n tr o v é r sia s. O s r e su lta d o s c o n fid e n c ia d o s a c ie n tista s lo n d r in o s

22 8

105 N o P á tio d c N cv ille a g ra n d e b ib lio teca W ren estava sen d o con stru íd a.

Desenho de Wren da biblioteca do Trinity College.


O Relógio Majestoso atrav és de cartas alcan çav am g ran d e circu lação . Foi assim que co m e ç o u , d ep o is de 1676, u m a longa e am arga d isp u ta com G o tttrie d W ilhelm L eibniz so bre qu em teria a p rio rid ad e na in­ v en ção do cálcu lo d iferen cial. N ew to n não q u eria acred itar que L eib n iz, tam b ém g ran d e m a te m á tic o , pudesse ter co n ceb id o so zin h o esse cálcu lo. N ew to n p en so u em se a p o se n ta r d e fin itiv a m en te d a vida cien ­ tífic a , re tiran d o -se p ara seu m o ste iro em T rin ity . O G reat C o u rt era su fic ie n te m e n te esp aço so e co n fo rtáv el p ara um sc h o la r a b a sta d o ; ele d isp u n h a de seu p e q u e n o la b o ra tó rio e de um jard im p rivativ o . A g ran d e b ib lio teca de W ren estava sendo c o n stru íd a em N eville. N ew to n c o n trib u iu com q u a re n ta libras. Parecia que ele en carav a a p o ssib ilid ad e de levar u m a vida acadêm ica ex clu si­ v a m e n te v o lta d a p ara estu d o s de interesse p articu lar. E n tre ta n to , a sua im p o rtâ n c ia era de tal o rd em q u e, d ia n te de um a recusa de m arcar p resen ça e n tre os cien tistas de L o nd res, estes iam até C am b rid g e ap resen tar-lh e suas idéias. N e w to n c o n ceb eu a idéia da g rav itação universal d u ran te o ano da Peste de 1 6 6 6 , e usou-a com g ran d e sucesso na ex p licação do m o v im e n to da L ua em to rn o da T erra. Parece e x tra o rd in á rio que d u ra n te os q u ase v in te an o s q ue se seguiram ele não tivesse feito p ra tic a m e n te n e n h u m a te n ta tiv a p ara p u b licar q u alq u er coisa so b re o p ro b le m a m aio r a resp eito d o m o v im en to da T erra em to rn o do Sol. As razõ es desse b lo q u eio não são claras, m as os fato s são cristalin o s. N o ano de 1684 surgiu em L o n d res um a

r —im 229


106

“Obtive um prisma triangular de vidro.''Cinco dos experimentos ópticos de Newton, de 1672: “Coloquei meu Prisma à entrada da luz, de tal forma que ela pudesse ser refratada na parede oposta.” “Então coloquei um outro Prisma. . . de modo que a luz. . . pudesse passar através dele também, e ser refratada uma vez mais, antes de atingir a parede. Feito isto, tomando o primeiro Prisma em minha mão, imprimi a ele movimentos lentos, alternados, em tomo de seu Eixo, de maneira a permitir que as diferentes partes da imagem., . sucessivamente passassem através dele.. . e eu pudesse observar em que lugares na parede o segundo Prisma as refratava.”

“Quando qualquer tipo de Raio podia ser nitidamente separado dos outros, sua cor era obstinadamente mantida.”

"Tenho transmitido [luz] através de Meios coloridos e extinguido das mais diferentes maneiras; mesmo assim jamais consegui obter nenhuma outra cor a partir dela.”

“Com freqüência pude contemplar, em estado de admiração, que fazendo-se convergir todas as Cores produzidas pelo Prisma, recombinando-as portanto, reproduzia-se luz, inteira e completamente branca.”



107 N e w to n na Casa da M oeda.

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» '1 / Í ' / « ;

k

Retrato de Newton usando peruca longa, de maneira que assimo viu Godfrey Kneller em 1702. 108 N e w t o n lev o u três a n os, de 1 6 8 4 a 1 6 8 7 , para escrever a d em o n stra çã o com p leta . H a lley a n im o u , in cen tiv o u e até m e s m o fin a n c io u o s

Principia. Carta deHalley aIsaac Newton quando este ameaçouabandonaro livro, vendo-se coagido areco­ nhecer algum mérito em Robert Hooke, escrita em 29 de junho de 1686. "Senhor, eu volto alhe implorarque não deixe se tomar tãofortemente de ressentimentos aponto de nos privardo seu terceiro livro. Com sua aprovação quanto aos tipos e o papel, eu passarei a pressionar vigorosamente parao termos editado. "


O Relógio Majestoso

c o n tr o v é r sia o jov em

e n v o lv e n d o S ir C h r is to p h e r W ren , R o b e r t H o o k e e

a strô n o m o E d m o n d

H a lle y , em

fu n çã o

d a q u a l H a lley

fo i a té C a m b r id g e , à p ro cu ra d e N e w to n . D e p o is d e e sta r e m ju n t o s p o r a lg u m te m p o , o d o u to r [H a lle y ] p e r g u n to u q u a l era a o p in iã o d e le a re sp e ito d a fo r m a d a cu rva d escrita p e lo s p la n eta s, s u p o n d o q u e a fo r ç a d e a tra çã o e m d ir eç ã o ao S o l fo sse a r e c íp r o c a d o q u a d r a d o d a s d is tâ n c ia s e n tr e e le s. S ir Isa a c r e s p o n d e u p r o n t a m e n t e q u e se tr a ta r ia d e u m a e lip se . O d o u to r , t o m a d o d e a le g r ia e a d m ir a ç ã o , q u is sa b e r c o m o é q u e e le s a b ia . “ P o r q u e ” , d is s e ele , “ e u a c a l c u le i ” . D i a n t e d is s o , o D r . H a l l e y q u is v e r s e u s c á l c u l o s i m e d i a t a m e n t e . Sir I s a a c p r o c u r o u - o s e n t r e seu s p a p é is, m a s s e m n e n h u m su cesso , fic a n d o , e n tr e ta n to , a p r o m e ssa d e q u e e le s lh e s e r ia m r e m e tid o s lo g o q u e f o s s e m e n c o n tr a d o s . N ew to n

lev o u

m o n stra çã o

qu e

m o u , in c e n tiv o u P epys, em

na

três a n o s , d e fic o u

1 68 4

tã o lo n g a

a 1 6 8 7 , para escrever a d e­ o s P r in c ip ia . H a lle y a n i­

c o m o

e a té m e s m o f in a n c i o u o s P r in c ip ia q u e S a m u e l

q u a lid a d e

de

p resid en te

R o y a l S o c ie ty ,

da

a ceito u

168 7. C o m o u m

s is te m a d o m u n d o é c la r o q u e c a u s o u s e n sa ç ã o d e sd e

o m o m e n t o d a p u b lic a ç ã o . R e p r e s e n ta u m a d e s c r iç ã o m a r a v ilh o sa d o

m u n d o su b o r d in a d o a u m

m a is d o

que

ú n i c o c o n j u n t o d e leis. M a s, m u it o

isso , e sta b e le c e

u m

c ie n tífic o . P e n s a m o s a c iê n c ia séries

de

p r o p o siç õ e s,

um as

m arco

c o m o

após

na e v o lu ç ã o

d o m éto d o

se fosse a a p resen ta çã o de

as o u tr a s, to d a s d e r iv a d a s d a

m a t e m á t ic a d e E u c lid e s . E isso é v e r d a d e . E n tr e ta n to , fo i s o m e n te após N ew to n tan d o

c ie n tífic o E

as ter tr a n sfo r m a d o em

p r o p r ie d a d e s n o

d in â m ic a s

r e a lm e n te a d q u ir iu liv ro

en con tra m o s

a v a n ça r d e p o is

à

um

siste m a físic o , e m p r e s­

m a te m á tic a ,

o r ig o r q u e

os

o

m éto d o

h oje c o n h e c e m o s.

e m p e c ilh o s

d o s u c e sso d a e x p lic a ç ã o

que

que

o

im p ed ia m

de

s o b r e a ó rb ita d a L u a .

P o r e x e m p lo , esto u ce r to d e q u e u m a ra zã o forte fo i rep resen ta d a p elo

fato

d ele

p r o b le m a

p a r tíc u la ? ” .

E m

d o s, tra ta n d o tece

q u e

sen d o tid a

os

p o d e r e n c o n tra r u m a so lu çã o razo áv el para o na S e c ç ã o

12:

W o o lsth o r p e ,

“ C o m o u m a e sfe r a a tra i u m a

h a v ia

fe ito

c á lc u lo s

a T erra e a L u a c o m o se fo ssem a stros

(o

Sol

e

os

p la n e ta s)

são

a p r o x im a ­

p a rtícu la s. A c o n ­ en orm es

esferas;

a ssim , p o d e r ia a a tr a ç ã o g r a v ita c io n a l e n tr e e le s ser a d m i­

c o m o

(r ev elo u -se do

não

d iscu tid o

d e v id a

a tra çã o

de

seus

cen tro s? S im ,

m as

apenas

ir o n ic a m e n te ) para o c a so d e a tra çõ es q u e fic a m

q u ad rad o

im e n sa s

à

das

d istâ n c ia s.

d ific u ld a d e s

q u e

e le

esta r p r o n to p ara p u b lic a ç ã o .

P or

teve

se de

p od e

ter

en fren tar

um a

id é ia

a n tes

d o

fora das liv ro

233


A Escalada do Homem

A o ser p ressio n ad o a re sp o n d e r q u estõ es tais co m o : “ V o cê n ã o re sp o n d e u ao p o rq u ê d a a ç ã o d a g rav id ad e” , “ V ocê n ão ex p lico u co m o u m a ação p o d e ser e x ercid a à d istâ n c ia ” , ou m esm o , “ V ocê n ão ex p lico u p o r q u e os raios de luz se c o m p o rta m dessa m an ei­ r a ” , sua resp o sta era sem pre nos m esm os term o s: “ E u n ão elab o ro h ip ó te se s” . P ara ele essa frase significava: “E u n ão m e envolvo em esp ecu laçõ es m etafísicas. U m a lei fo i d escrita, e a p a rtir dela eu d ed u z o fe n ô m e n o s” . Isso c o rresp o n d e e x a ta m e n te ao que ele havia d ito em seu tra ta d o so bre ó p tic a , e era e x a ta m e n te aq u ilo q u e n ão p o d ia ser e n te n d id o pelos seus c o n te m p o râ n e o s, isto é, u m a ab o rd ag em d iferen te d o s p ro b lem as d a ó p tica. P o r o u tro lad o , tivesse sid o ele u m h o m em sim ples, m u ito te i­ m o so e terra-a-terra, tu d o isso seria facilm en te explicável. M as vou m o strar-lh es q u e esse n ão e ra o caso. N e w to n era, n a v erd ad e, p o ssu id o r de u m te m p e ra m e n to d o s m ais e x tra o rd in a ria m e n te im previsíveis. P raticav a a alq uim ia. E m segredo, escreveu v o lu m es im ensos so b re o L iv ro da R evelação. E stava co n v en cid o de q u e a lei d o inverso dos q u a d ra d o sjá p o d ia ser e n c o n tra d a n o s trab alh o s de P itágoras. O ca rá te r in escru táv el de N ew to n se ex p rim e de m an eira ex tra o rd in á ria n o fato desse h o m em — q u e em segredo vivia im erso em esp ecu laçõ es m etafísicas e m ísticas — te r o to p e te de d izer em p ú b lico : “ E u não elab o ro h ip ó te se s” . N o seu P re lú ­ d io , W illiam W o rd sw o rth e n c o n tro u um a frase felicíssim a N e w to n , c o m seu p rism a e su a f a c e silen cio sa

234

que o d efin e p erfeitam e n te. N o e n ta n to , su a im agem p ú b lica revelava g rande sucesso. É claro q u e N ew to n não co nseguia p ro m o ç ã o na U n iv ersid ad e, m as isso se p ren d ia ao fa to d ele ser u m U n ita ria n , n ão ac e ita n d o a d o u trin a d a T rin d ad e, a q u al, na v erd ad e, se c o n s titu ía em um 109 p o n to sensível p ara to d o s os cien tistas de seu te m p o . P o rta n to , E m s e u s e s c r i t o s n ão p o d e ria chegar a P a sto r, e ta p a necessária p ara galgar o p o sto nÍ nã toi me roas ,t ãNoe w t o n de M estre de u m C olégio U n iv ersitário. D essa m an eira, em 1696 a r r o g a n t e c o m o e m ele se tran sferiu p ara L o n d res, ligando-se à C asa d a M oeda, d a ts ãu oa pf roesqt uü re an tpe ú eb l i c a , q u al acab o u sen d o p resid en te. D ep o is d a m o rte d e H o o k e ele d i v e r s a m e n t e representada. a c e ito u a p resid ên cia da R o y a l S o c ie ty em 1 7 03 . E m 17 05 fo i Diferentes ângulos sagrado par d o rein o pela R a in h a A na. A o m o rre r, em 1 7 2 7 , já do busto em terracota deNewton d o m in av a co m p le ta m e n te o a m b ien te in te le c tu a l de L o n d res. O que se/1ilu de g a ro to p ro v in cian o ascen d eu na vida. modeloparaJohn E m sua h istó ria h á, p ara m im , u m p o n to triste: ju lg a d o pelos Rysbrack construir o monumento na p ad rõ es d o século X V III ele, sem d ú v id a, alcan ço u g ran d e sucesso Abadia de social, m as, seg u nd o os seus p ró p rio s p ad rõ es, ach o que n ão . Westminster.



A Escalada do Homem

In fe liz m e n te , P oder

a

fim

de

C o n stitu íd o ,

se

torn ar

a ssim ilo u

os

u m

d ita d o r n o s c o n se lh o s d o

c r ité r io s

d a q u e la

s o c ie d a d e

e

c o n s id e r o u tal s it u a ç ã o u m a c o n q u is t a p e s s o a l. U m

d ita d o r

in tele c tu a l

não

é

u m a

fig u r a

a g r a d á v e l, m e s m o

q u a n d o te n h a o rig e n s h u m ild e s. C o n tu d o , e m ín tim o s N e w to n

s e u s e sc r ito s m a is

n ã o se m o s tr a a fig u r a a rr o g a n te , tã o fr e q ü e n te

e d iv ersa m en te rep resen ta d a e m

su a v id a p ú b lic a .

Explicar toda a natureza é uma tarefa m uito difícil para um homem ou mesmo para uma era. Muito melhor é fazer um pouco com segurança, dei­ xando o resto para outros que venham depois de você, do que tentar tudo de uma só vez. E m

um a

m as em

o u tra u m

passagem ,

m a is

fa m o sa ,

e le d iz a m e s m a

c o isa ,

c o n te x t o m a is c o m p a ssiv o .

Não sei que tipo de imagem o mundo faz de mim; mas, eu me sinto como se tivesse sido apenas um garoto brincando à beira do mar, contente em achar aqui uma pedrinha mais lisa, ali uma concha mais atraente do que de ordinário, tendo sempre diante de mim, ainda por descobrir, o grande oceano da verdade. A os

seten ta

r e a liz a v a

anos

m u ito

p resid ia u m a R o y a l S o c ie ty

N ew to n p o u co

tr a b a lh o

c ie n tífic o

de

v a lo r.

G e o r g e s, a In g la terra e sta v a m u ito m a is p r e o c u p a d a c o m (estes era m e com vam

se

S o b

os

d in h e ir o

o s a n o s d a E x a lta ç ã o d o s M a res d o S u l), c o m

p o lític a

e sc â n d a lo s. N o s c a fé s, á g e is h o m e n s d e n e g ó c io s o r g a n iz a ­ c o m p a n h ia s

a

fim

de

e sc r ito r e s r id ic u la r iza v a m em

onde

p a rte

e x p lo ra r e m

in v e n ç õ e s

o s c ie n tista s, e m

fic tíc ia s.

O s

p a rte p o r d e s p e ito e

p o r m o t iv o s p o lít ic o s , u m a v e z q u e N e w t o n era fig u r a

im p o rta n te d o g ov ern o. N o in v e r n o d e

1 7 1 3

u m

g r u p o d e esc r ito r e s d o P a r tid o C o n ­

serv a d o r (e n tã o T o ry ) c o n stitu iu m o rte

la r m e n te

no

P a lá c io d e

da m on arca, D r. J o h n n om e as

co m u n id a d e V ia g e n s

d e que

governo em o

S t. J a m e s , s o b

cu ltu ra is

c ie n tífic a G u lliv e r , m a is

da

época.

em

p a tr o c ín io

d o

regu­

m é d ic o

b ro to u

tard e

das

a ju d a ra m

1 71 7

a o m is te r d e r id ic u la r iza r

O

por J on a th an

T h e B e g g a r ’s O p e r a ( A

assessoraram

o

A r b u th n o t. E ssa so c ie d a d e , q u e a d o to u o

d e S c r ib le r u s C lu b , se e n tr e g o u

a g rem ia çõ es

T o r ie s

u m a s o c ie d a d e lite r á r ia . A t é a

d a R a in h a A n a , n o v e r ã o s e g u in te , e le s se r e u n ia m

a ta q u e

d ir ig id o

S w ift n o

d iscu ssõ es John

G ray

co n tra a

te r c e ir o liv ro d as

desse em

grupo. sua

E sses

sá tir a

do

Ó p e r a d o s M e n d ig o s ) t a m b é m

a o e sc r e v e r a p e ç a T h re e H o u rs A fte r

M a r r ia g e ( T r ê s H o r a s A p ó s o C a s a m e n to ) . N e s t a , o a lv o d a s á tir a 2 36

é

rep resen ta d o

por u m

c ie n tista id o s o , c h e io

d e p o m p a , o sten -

110 A nós soa c o m o irrev erên cia u m a sátira a N e w t o n fe ita p o r seus co n tem p o râ n eo s.

Caricatura contemporânea satirizando a gravitação de Newton.



A Escalada do Homem

ta n d o

o

n o m e

de

D r.

F o ssile .

A b a ix o

p a ss a g e n s n a s q u a is c o n tr a c e n a m P lo tw e ll

r e p r o d u z im o s

o D r. F o ssile e u m

que, n o m o m e n to , en tretém

u m

a lg u m a s

a v e n tu r e ir o ,

caso a m oro so

co m

a

d o n a d a casa.

Fossile: Prometí minha “pedrinha” a Lady Longfort. A pobre senhora está

prestes a abortar, mas acho que isso irá impedir. Ah! Quem está aqui! Não me agrada o aspecto do sujeito. Em todo caso não serei demasiadamente severo. P lotw ell: Illustrissime domine, huc adveni Fossile: Illustrissime domine - non usus sum loquere Latinam - se você não falar inglês não poderemos entreter nenhuma conversação verbal. Plotw ell: Eu poder falar só um pouco englese. Eu tenho ouvido muito do fama do grande luminário de todos os artes e ciências, o ilustrado doutor Fossile. Eu gostar de fazer comutações (como dizer isso?). E troca alguns de meus coisas por alguns de seus coisas. N a tu ra lm en te,

o

p r im e ir o

tó p ic o

da

b r in c a d e ir a g ir a e m

to rn o

d a a lq u im ia ; o ja r g ã o é b a sta n te p r e c iso a o lo n g o d e to d o o te x to .

Fossile: Por favor, meu senhor, qual a sua universidade? Plotw ell: O famosa universidade de Cracow. . . Fossile: . . .mas de que arte Arcana o senhor é mestre? Plotw ell: Vê aqui, senhor, este caixa de rapé. Fossile: Caixa de rapé.

238

111 “ £ m elh o r fazer u m p o u c o c o m certeza, e d eixa r o resto para os outros q u e virão d e p o is d e n ó s, d o q u e tentar exp lica r tu d o .” P u t t i r e a liz a n d o e x p e r im e n to s c o m o te le s c ó p io d e N e w to n , seu u n iv e r s o , s e u s p ris m a s , su a s m o e d a s e s u a fo r n a lh a . B a ix o ^ r e le v o d e R ysb rack d o m o n u m e n to a N e w to n na A b a d ia d e W e s tm in s te r .


O Relógio Majestoso P lotw ell: Certo. Caixa de rapé. Este ser o verdadeiro ouro. Fossile: Mas, afinal, o que isso significa? P lotw ell: Significar? Eu fazer aquele ouro eu mesmo, do chumbo do grande

Igreja de Cracow.

Fossile: Através de que operações? P lotw ell: Por calcinação; reverberação; purificação; sublimação; amalgama-

ção; precipitação; volatilização.

Fossile: O senhor deveria ser mais cuida<k>so em suas afirmações. A volati­

lização do ouro não é um processo óbvio. . .

P lotw ell: Eu não precisar ensinar o ilustroso Dr. Fossile que todo metal não

ser senão ouro ainda verde.

Fossile: O senhor se expressou tal qual um filósofo. No entanto, ainda acho

que o parlamento deveria exarar um ato proibindo a mineração do chumbo, assim como a derrubada de árvores jovens.

E m

s e g u id a , r e fe r ê n c ia s c ie n t íf ic a s s ã o d e s p e ja d a s r á p id a s e m a l-

d o sa m en te: n h o so

o s p r o b le m a s e m

d a d ete r m in a ç ã o

fo co

se referem

das la titu d e s

ao

tra b a lh o e sp i­

n o o c e a n o , à in v e n ç ã o d o s

flu x io n s o u c á lc u lo d ife r e n c ia l.

Fossile: No m om ento não estou disposto para experimentações. P lotw ell: O senhor mexe com latitudes? Fossile: Eu não me ocupo com impossibilidades. Apenas procuro o grande

elixir.

239


A Escalada do Homem Plotw ell: O que pensar o senhor sobre o novo m étodo dos fluxions? Possile: Não conheço nenhum outro a não ser através do mercúrio. Plotw ell: Há, há, mim dizer flu x io n s de quantidade. Possile: A maior quantidade jamais vista por mim foram três quartos por

dia.

Plotw ell: Haver algum segredo em hidrologia, zoologia, minerologia, hi­

dráulica, acústicas, pneumáticas, logaritimia, sobre o qual querer você saber?

Possile: Estão todos fora de meu campo de interesse.

A n ó s p a r e c e u m a g r a n d e ir r e v e r ê n c ia e ss a sá tir a a N e w t o n ; m e s m o u m a c r ític a séria p o r p a r te d e s e u s c o n t e m p o r â n e o s o p a r e c e r ia . O fa to é q u e to d a te o r ia , p o r m a is m a je sto sa q u e seja, s u b e n te n d e su p o siç õ e s

ab ertas

à

co n testa çã o

e,

na

r e a lid a d e ,

terão

s u b stitu íd a s n o te m p o d e v id o . A c o n te c e u o m e s m o c o m de

N ew to n ,

fen ôm en o s

a

d e sp e ito

de

sua

n a tu ra is. N e w t o n

m a r a v ilh o sa

de

ser

a teo ria

a p r o x im a ç ã o

dos

c o n fe s s o u -o . A s u p o s iç ã o p rim á ria

d e N e w to n , e n u n c ia d a d e sd e o in íc io , fo i a seg u in te : “ C o n sid e r o o

esp aço

co m o

esp aço sem pre

sen d o

a b so lu to ” . C o m

isso

q u eria

d izer

ser

o

p la n o e in fin ito , d a fo r m a q u e o e n te n d e m o s e m

n o ss a p r ó p r ia v iz in h a n ç a . D e s d e o in íc io , e ssa s u p o s iç ã o f o i c r iti­ cada

por

L e ib n iz ,

e

sequer provável em

correta m en te.

A fin a l

n o ssa e x p e r iê n c ia

m o s h a b itu a d o s a v iv er e m

u m

de

c o n ta s , e la

não é

o r d in á r ia . E m b o r a e s te ja ­

e sp a ç o p la n o , b a sta o lh a r m o s a o

la rg o p a ra n o s c o n v e n c e r m o s d e n o sso erro . A

T e r r a é e sfé r ic a ; a ssim , u m

p od e

ser

m ira d o

por

d o is

p o n to lo c a liz a d o n o P ó lo N o r te

ob servad ores

co lo ca d o s

na

lin h a d o

E q u a d o r , m a s se p a r a d o s p o r g r a n d e d istâ n c ia , e o s d o is a fir m a r e m estar

o lh a n d o

para u m

em

d ir e ç ã o N o r te . T a l a rr a n jo seria in c o n c e b ív e l

h a b ita n te d e u m a

terra p la n a , o u p a r a q u a lq u e r p e s so a

a cred ita n d o

que

a su p e r fíc ie

d a T erra. D e ssa m a n eira , N e w to n e sta v a se c o m p o r ­

tan d o

co m o

um

a p la n u ra d e su a v iz in h a n ç a se e ste n d e p o r to d a h a b ita n te

de

u m a

terra

p la n a

em

u m a e sc a la

c ó s m ic a : v ia ja n d o a tr a v é s d o U n iv e r so , te n d o a tr e n a e m

um a das

m ã o s e o r e ló g io d e b o lso n a o u tra , m a p e a n d o o e sp a ç o c o m o se este

fosse,

fora,

sem e lh a n te

ao

p e r c e b id o

a q u i.

N e c e ssa r ia ­

m e n te , tal s u p o s iç ã o n ã o é v er d a d e ira . N ão

se trata m e s m o

de o

esp aço

ser u n ifo r m e m e n te

esférico

— is t o é, q u e d e v a ter u m a d e t e r m in a d a c u r v a tu r a . P o d e a c o n t e c e r d ele se r a r q u e a d o o u o n d u la d o . A e x istê n c ia d e lo c a is d e d e p r e ssã o n o

e s p a ç o é p o s s ív e l, p a r a e le s d e s liz a n d o c o r p o s e m

m a io r p r o ­

p o r ç ã o d o q u e p a ra o u tr o s. É c la r o , e n tr e ta n to , q u e o s m o v im e n 2 40

/---------- A

to s d o s c o r p o s c e le ste s d e v e m

perm anecer os m esm o s

— n ossas

l----------li


O Relógio Majestoso

u m tip o d e e sp a ç o con ten d o zon as d e estreitam en to.

Gráficogerado em computador mostrando a inversão de uma esfera afim de produzir uma curvatura negativa.

e x p la n a ç õ e s têm de ser c o e re n te s co m a m an eira pela q u al eles se no s a p re se n ta m . M as, p ara cad a co n c e p ç ã o há u m a ex p lan ação a d e q u a d a . E n tã o , seg u n d o o ú ltim o caso co n sid era d o , a L ua e os p la n e ta s o b e d e c e ria m leis g eo m étricas e n ão gravitacionais. N aq u ele te m p o to d a s essas co n sid era çõ es eram especu laçõ es fu tu ra s e, m esm o q u a n d o fo rm u lad as, a m a te m á tic a da ép o ca não o ferec ia co n d iç õ e s p ara lhes d ar tra ta m e n to fo rm al. N o e n ta n to , às m e n tes in q u irid o ra s e filo só ficas, n ão tin h a passado d e sp e r­ c e b id o o fa to de q u e, ao e ste n d e r o esp aço co m o se fo ra u m a g rad e a b so lu ta , N e w to n havia d a d o u m a sim p licid ad e irreal à p e rc e p ç ã o das coisas. C o n tra s ta n d o co m esse m u n d o de idéias, L eibn iz havia p ro n u n c ia d o as p alav ras p ro féticas: “ Para m im , esp aço , da m esm a fo rm a q u e te m p o , são en tid ad es p u ram e n te re la tiv a s’ . O te m p o é um o u tro a b so lu to no sistem a n ew to n ian o . O te m p o é

113 O m a rin h eiro e m u m a p ra ia r e m o t a p o d ia com p a ra r su as leitu ras das estrela s c o m a q u ela s d e G reen w ich .

Vista panorâmica de Greenwich, pintada em 1750 por R. Griffier.

fu n d a m e n ta l no m a p e a m e n to dos céus: em p rim eiro lugar, não sab em o s a que d istân cia as estrelas se e n c o n tra m de nós, sabem os ap en as o m o m e n to que elas p assam pelo nosso cam po de visão. D essa m a n e ira , p ara a p erfe iço ar os co n h e c im e n to s m a rítim o s, d o is in s tru m e n to s e ra m fu n d am en tais: o telescó p io e o relógio. O a p e rfe iç o a m e n to do s telescó p io s veio em p rim eiro lugar, e ag o ra já se e n c o n tra v a m in stalad o s no O b serv ató rio R eal de G reen w ich . O u b iq ü itá rio R o b e rt H o o k e o havia p lan ejad o ao te m p o em que ele e Sir C h risto p h e r W ren re c o n stru ía m L o nd res d ep o is d o G ra n d e In cên d io . De ag o ra em d ia n te o m arin h eiro , ao fix ar sua p o sição — la titu d e e lo n g itu d e — em um local d ista n te da te rra , p o d ia co m p arar su as leitu ras das estrelas com a q u elas de G reen w ich . O m e rid ian o de G reen w ich torna-se, e n tã o , um m arco fix o no m u n d o te m p e stu o so de q u alq u er m a rin h e iro : o m e rid ian o e o T em p o M édio de G reen w ich .



O Relógio Majestoso

E m

se g u id a o r e ló g io tin h a d e ser a p e r fe iç o a d o , d e fo r m a a ser

u m a a ju d a n a d e te r m in a ç ã o d e p o siç õ e s. E sse in str u m e n to to r n a ­ -se

o

p r o b le m a

da

ép oca,

um a

v e z q u e , a fim

d e se u tü iza rem

p r a tic a m e n te as te o r ia s d e N e w t o n p a ra a n a v e g a ç ã o m a r ítim a , era im p e r io s o o d e s e n v o lv im e n to d e u m r e ló g io c a p a z d e m a rca r h o r a c e r ta n o s n a v io s. O p r in c íp io é b a sta n te sim p le s. D e s d e q u e o S o l c o m p leta

o se u c ic lo e m

cada

d os

u m

3 6 0

to r n o d a T erra e m v in te e q u a tr o h o ras,

graus

de

la titu d e

ocu p a

q u atro

m in u to s

te m p o . A ssim , u m m a r in h e ir o c o m p a r a n d o m e io -d ia e m (a

p o siç ã o

m a is e le v a d a

do

S o l) c o m

m eio -d ia

de

se u n a v io

m arcado

em

um

r e ló g io q u e m a n t e n h a a h o r a d e G r e e n w ic h , p o d e r á fic a r s a b e n d o que

cada

c o lo c a m 114 O s relo jo eiro s d e en tão eram aristocratas en tre o s trab alh ad ores.

Primeiro mafcador de tempo marítimo de John Harrison.

O

q u a tro u m

de

g ov ern o o fereceu u m

cador m e io

de

tem p o

grau, em

tal p r ê m io (a d e J o h n cada

m in u to s

vez

d ife r e n ç a e n tr e as d u a s leitu r a s o

grau a fa sta d o d o m e r id ia n o d e G r e e n w ic h . que

p r ê m io d e v in te m il lib r a s p a r a o m a r ­

p r o v a ss e su a p r e c isã o , c o m

u m a v ia g e m

acen d eu

erro m ín im o de

d e seis s e m a n a s . E v id e n te m e n te , u m

a c o m p e tiç ã o

e n tr e o s r e lo jo e ir o s lo n d r in o s

H a rr iso n , p o r e x e m p lo ) o s q u a is c o n s tr u ía m m a is

en gen h osos,

ten tan d o

com pensar,

por

r e ló g io s m e io

da

c o m b in a ç ã o d e p ê n d u lo s, o s d istú r b io s c a u sa d o s p e lo s m o v im e n ­ 115 U m n a vio é u m a esp écie d e m o d elo de u m a estrela.

Manual de Navegação roubado ao grande impressor holandês Blaeu de Amsterdam por John Joynson “dwelling at the Waterside by the OldBridge at the sign of the SeaMappes". Vêem-se navegadores trabalhando com seus mapas enquanto a frota holandesa levanta âncoras. O Astrônomo real John Flamsteed e seus assistentes enquanto se ocupam de observações. Pintura no teto do Royal Naval College, Greenwich.

to s d o s n a v io s. E sses

p r o b le m a s

té c n ic o s

deram

o rig e m

in v e n ç õ e s e c r ia r a m a p r e o c u p a ç ã o c o m

a

u m a

e x p lo sã o

de

a m e d id a d o te m p o , q u e

v e io a d o m in a r a c iê n c ia e a v id a c o tid ia n a a té n o s s o s d ia s. N a r e a ­ lid a d e , u m n a v io p o d e ser c o m p a r a d o a u m a estr e la . D e q u e m a n e i­ ra u m a estrela se d e slo c a o u m

tem p o

g asto

em

n o esp a ço e c o m o p o d e m o s d e term in a r

suas d e slo c a ç õ e s? O

n a v io se a p r e se n ta

co m o

p o n t o d e p a r tid a p a r a se p e n sa r n a r e la tiv id a d e d o te m p ° .

243


A Escalada do Homem O s r e lo jo e ir o s d e ssa é p o c a p a ssa r a m a fo r m a r a e lite d o s tra b a ­ lh a d o r e s, à s e m e lh a n ç a d a c o n fr a r ia d o s p e d r e ir o s d a Id a d e M é d ia . O

m a rca p a sso a m a rra d o e m to r n o d e n o sso s p u lso s, o d ita d o r d o s

te m p o s m o d e r n o s, fo i; d e s d e a Id a d e M éd ia , e m b o r a , n e sta é p o c a , d e in ter e sse a p e n a s d ile ta n te , u m

s o n h o in trig a n te , q u e e stim u la

a h a b ilid a d e d o s a r te s ã o s. N e s s e s d ia s, p o r é m , o r e lo jo e ir o p r e t e n ­ d ia , n ã o

p r o p r ia m e n te a c o m p a n h a r as h o r a s d o d ia , m a s, sim , o

m o v im e n to d as estrela s d o c é u . O

u n iv e r so d e N e w t o n m a n te v e s e u tiq u e -ta q u e in in te r r u p to p o r

c e r c a d e d u z e n to s a n o s. V ie ss e seu fa n ta sm a à S u íç a , e m q u a lq u e r tem p o

a n tes

u n ísso n o , em

de

1 90 0,

to d o s

os

r e ló g io s

c a n ta r ia m

a le lu ia , e m

seu lo u v o r. E n tr e ta n to , lo g o a p ó s 1 9 0 0 , e m

B erna,

116 O un iverso de N e w to n m anteve seu tiq u e -ta q u e in in terru p to p o r cerca de d u zen to s anos. V iesse seu fa n ta sm a à S u íça , e m q u a lq u er tem p o antes de 1 9 0 0 , tod os os r e ló g io s ca n ta ria m a lelu ia , e m u n ís s o n o , e m seu lou v or. L u z e tem po com eçaram a se d issociar ju stam en te por volta dessa ép o ca .

244

Torredo relógio de Berna.


O Relógio Majestoso a u n s d u z e n to s m e tr o s d a a n tig a to rre d o r e ló g io , su rg e o jo v e m q ue,

em

tem p o ,

v a i tir a r m u i t o

d o

e n tu sia sm o

d a q u e la a le lu ia :

A lb e r t E in ste in . L uz

e tem p o

d essa ép oca. E m

com eçara m

a se d isso cia r, e x a ta m e n te p o r v o lta

1 8 8 1 A lb e r t M ic h e ls o n r e a liz o u u m

(r e p e tid o p o ste r io r m e n te c o m

ex p erim en to

a c o la b o r a ç ã o d e E d w a r d M o r le y ),

n o q u a l, p r o je ta n d o fe ix e s lu m in o s o s e m d ife r e n te s d ir e ç õ e s, te v e a esto n tea n te m o v im e n to s

su r p r e sa d e v e r ific a r q u e , in d e p e n d e n t e m e n t e d o s im p resso s

ao

a p a r e lh o ,

m e sm a v elo c id a d e . E sse fa to leis

a

lu z

m a n tin h a

da

física , q u e , e m

a

n ã o p o d ia ser e s p e r a d o a p a rtir d a s

d e N e w t o n , e, d e ssa m a n e ir a , fo i a q u e le

coração

sem pre

1 9 0 0 , co m eço u

p r im e ir o

ru íd o

a provocar u m

no

certo

p â n ic o n o s c ie n tista s d e e n tã o .

Omarcadorde tempo n.° 4 premiadode John Harrison.

117 S e u trab a lh o c o m o fu n cio n á rio d o E scritório de P aten tes da S u íça.

Albert Einstein junto à sua mesa de trabalho no Escritório de Patentes em Berna, 1905

245



1 18 " C o m o se m e a p resen taria o m u n d o se eu p u d e s s e via ja r e m u m raio d e lu z ? ”

O

R e ló g io M a jesto so

Albert Einstein aos catorze anos. N ã o desse E m

se sabe ao ce r to o q u a n to o jo v e m p r o b le m a , u m a v ez

tod o

caso, ao

tem p o

E in ste in

esta va a par

q u e n ã o era e stu d a n te m u ito a p lic a d o . d e su a ch ega d a a B erna, su a m en te de

a d o le s c e n te d e h á m u ito h a v ia p la n te a d o p a ra si m e s m a a q u e s tã o de

co m o

seria n o ssa c o n c e p ç ã o

d o

m u n d o

se e la fo s s e e n c a r a d a

d o p o n t o d e v ista d a lu z. A r e sp o s ta a e ssa p e r g u n ta é r e p le ta d e p a r a d o x o s, o q u e a to r n a m trin ca d a .

E, co m o a co n tece com

t o d o p a r a d o x o , o m a is d ifíc il

não

é e x p lic á -lo , m a s, sim , c o n c e b ê -lo . A g e n ia lid a d e d e h o m e n s

ta is

c o m o

N ew to n

p ergu n tas

e

E in stein

tran sp a ren tes,

tem

a í sua

b ase;

m as,

cu jas

in o cen tes,

e le s fo r m u la m resp o sta s

são

c a ta str ó fic a s. O p o e ta W illia m C o w p e r c h a m o u a N e w t o n o “ s á b io in fa n til” , te n d o m en te

v elm e n te

a

sobre u m a E in stein a ssim ,

em

c o n ta e ss a q u a lid a d e , q u e d e s c r e v e p e r fe ita -

o ar d e su rp resa em face

sem pre

vou

su b so lo

que

v ia g e m

r e la ç ã o a o m u n d o , m a r c a n d o in d e le -

co n h ecem o s

em

u m

de

E in ste in . Q u e r e le fa la sse

ra io d e lu z o u

u m a q u ed a no esp aço,

ilu str a v a e ss e s p r in c íp io s c o m

arrancar

d a torre

u m a

d o

p á g in a

r e ló g io

ao

seu

e tom a n d o

lin d o s e x e m p lo s ;

liv ro ,

d ir ig in d o -m e

ao

o m esm o b on d e d o qual

se s e r v ia t o d o s o s d ia s p a r a c h e g a r a o s e u tr a b a lh o , o n d e era fu n ­ c io n á rio d o E scritó rio d e P a te n te s d a S u íç a . O

p en sam en to

o

seg u in te:

v ia ja r e m

u m

se a fa sta n d o de em

lu z q u e u m a

qu e

ocorreu

“ C o m o

se m e

à m e n te d o a d o le sc e n te E in ste in fo i a p resen ta ria o

ra io d e lu z ? ” . S u p o n h a m d a q u e la

u sam os

p o siçã o .

torre

do

r e ló g io , m o n t a d o

para en x erg á -lo . O E u, o

m u n d o

se eu

pudesse

o c a so d e ste b o n d e estar r e ló g io

n o

m e s m o r a io

e sta r ia c o n g e la d o

b o n d e, esta c a ix a ca v a lg a n d o

o ra io d e

lu z , e s t a r ía m o s f ix o s n o t e m p o . O t e m p o te r ia d e p a rar. A n a lis e m o s e ssa p r o p o s iç ã o m a is p o r m e n o r iz a d a m e n te . S u p o ­ n h a m o s q u e o r e ló g io q u e e stá fic a n d o p a ra trás m a r q u e m e io -d ia , q u a n d o

eu

p a r to . A g o r a , e u e sta r ia v ia ja n d o à v e lo c id a d e d a lu z ,

a 2 9 7 .6 0 0 q u ilô m e tr o s d e d istâ n c ia d e le; isso to m a r ia u m s e g u n d o d e te m p o . E n tr e ta n to , o r e ló g io , c o m o o v ejo , a in d a m a r c a “ m e io ­ -d ia ” , u m a v ez q u e o fe ix e d e lu z e eu n o s a fa s ta m o s ju n ta m e n te d o r e ló g io . D a m e s m a fo r m a q u e p a ra o r e ló g io , a c o n te c e c o m

o

u n iv e r so d e n tr o d o b o n d e : a o m e m a n te r à v e lo c id a d e d a lu z fic o in d ife r e n te o u in d e p e n d e n te d a p a ssa g em

d o tem p o .

E sse p a r a d o x o é ex tr a o r d in á rio , m a s v a m o s d eix a r d e la d o su as im p lic a ç õ e s, o u o u tra s c o m

as q u a is E in ste in e sta v a p r e o c u p a d o .

247


A Escalada do Homem

C o n cen trem o -n os, d e lu z , o n ific a r

p orém ,

em

u m

p o n to:

a o v ia ja r e m

u m

ra io

t e m p o d e ix a d e te r s ig n ific a d o p a r a m im . Isso d e v e sig ­

que,

ao

m e

a p r o x im a r d a v e lo c id a d e

d a lu z

(o

sim u la r a q u i n e ste b o n d e ), esta rei fic a n d o s o z in h o e m

que vou

m eu c o m ­

p a r tim e n to d e te m p o e e sp a ç o , e p r o g r e ssiv a m e n te m e a fa s ta n d o d a s n o r m a s d a q u ilo q u e m e cerca. E sse s p a r a d o x o s r e v e la m ó b v io :

não

d iferen tes fic a m ,

e,

um

u n iv ersa l.

as e x p e r iê n c ia s a ssim ,

p ercep ções

d o is p o n to s c la r a m e n te . U m

tem p o

d a q u e le s

para cad a u m

d en tro

d este

O

o u tro

que

v ia ja m

de nós em

b on d e

são

é

d eles é

m a is su til: e

são

d a q u e le s q u e

seu c a m in h o . M in h a s

coeren tes:

as leis p o r m im

d esco b ertas em

r e la ç ã o a o te m p o , d istâ n c ia , v e lo c id a d e , m a s sa e ‘ 1 1 9 Para d izer a fo r ç a s e r ã o ig u a is às d e q u a lq u e r o u tr o o b s e r v a d o r . M a s o s v a lo r e s v erd a d e, a m a io ria n u m é r ic o s p o r m im a tr ib u íd o s a o te m p o , à d istâ n c ia , e a ss im p o r d o s p ed id os de d ia n te , n ã o serã o o s m e s m o s ig u a lm e n te a tr ib u íd o s p o r p a rte d e registro se n os apresentam agora u m o b se r v a d o r q u e p e r m a n e c e n a ca lça d a . c o m o bastante E sse é o c e r n e d o P r in c íp io d a R e la tiv id a d e . E n tr e ta n to , a í fic a id io ta s. u m a q u estão to s, o

seu e o

ó b v ia :

B em , e o q u e m a n tém

m e u , lig a d o s? A

passagem

in fo r m a ç ã o q u e n o s u n e. E ssa ta m b é m

n o sso s c o m p a rtim en ­ d a lu z: a lu z ca rreg a a

é a ra zã o p ela q u a l o fa to

e x p e r im e n ta l c r u c ia l v in h a d e s n o r te a n d o a s p e s so a s d e s d e 1 8 8 1 : q u an d o

tro ca m o s

sin a is, d e s c o b r im o s q u e

n ã o m ed im o s

tem p o

d u r a n te a p e r m u ta d e in fo r m a ç õ e s ; te m o s s e m p r e o m e s m o v a lo r p a ra a v e lo c id a d e d a lu z . A s s im s e n d o , t e m p o , e sp a ç o e m a s s a tê m d e ser d ifer e n te s p a ra c a d a u m

d e n ó s, p o r q u e as leis d e le s e x tr a Í ­

d as d e v e m ser c o n siste n te s, ta n to p ara m im a q u i d e n tr o d o b o n d e , co m o

para o h o m e m

lá f o r a n a c a l ç a d a -

m a n ten d o , en tretan to ,

o m e s m o v a lo r p a r a a v e lo c id a d e d a lu z . A

lu z e a s o u tr a s r a d ia ç õ e s s ã o s in a is q u e se e s p a lh a m a p a rtir

de u m não

even to , c o m o

h aven d o

se fo ssem

nen h u m a

o n d u la ç õ e s a tra v és d o U n iv e r so ,

p o ssib ilid a d e

de

in fo r m a ç ã o

d a q u e le

e v e n to tr a fe g a r a u m a v e lo c id a d e m a io r . A lu z o u a s o n d a s d e r á d io e o s ra io s X sã o v e íc u lo s d e m e n sa g e n s p o r e x c e lê n c ia , e fo r m a m u m a r e d e b á s ic a d e in fo r m a ç õ e s , a s q u a is m a n t ê m

in te r lig a d o o

u n iv erso

e n v ia d a

m a te r ia l.

M esm o

que

a m en sagem

a

ser

seja

sim p le s m e n te te m p o , n ã o p o d e m o s o b tê-la , in d o d e u m lo c a l p a ra o u tr o , m a is r a p id a m e n te

d o

que

a lu z o u

a o n d a d e r á d io q u e a

tr a n sp o r ta . N ã o há te m p o u n iv ersa l p a ra o m u n d o , n e n h u m e m itid o

248

g io s,

está

d a lu z .

sin a l

a p a rtir d e G r e e n w ic h , p a r a q u e a c e r t e m o s n o s s o s r e ló ­ isen to

de

su a lig a ç ã o in e x tr in c á v e l c o m

a v elo cid a d e

Pedido de registro de patente de 1904.


O Relógio Majestoso

N e sta d ic o to m ia , u m a d essa s m a n ifesta ç õ e s te m d ia l. N o te -s e q u e a tr a je tó r ia d e u m que

a tr a je tó r ia d e u m

p r o jé til)

servador casual e ao h o m e m

n ã o se a p r e s e n ta ig u a l a u m

q u e o d isp a ro u . A

na

tr a je tó r ia

ta m b ém

parecerá

o b ­

tr a je tó r ia p a r e c e r á

m a is lo n g a a o e s p e c ta d o r ; e, a ssim , o t e m p o e m nece

d e ser p rim o r­

ra io d e lu z (d a m e s m a fo r m a

q u e a lu z p e r m a ­

m a is lo n g o

p a r a e le , p o s t o

q u e e le to m a o m e s m o v a lo r p a ra a v e lo c id a d e d a lu z . Isso é rea l? S im . N o s s o s c o n h e c im e n to s a tu a is s o b r e p r o c e s s o s c ó s m ic o s e a tô m ic o s n o s a u to r iz a a d izer q u e , p ara g ra n d e s v e lo ­ c id a d e s,

o

fen ô m en o

ocorre.

v elo c id a d e

ig u a l à m e ta d e

m in u to s

u m

de

e

p o u co

Se

eu

e stiv e sse

v ia ja n d o

a u m a

d a v e lo c id a d e d a lu z , e n tã o , n o s três

m a is m a r c a d o s e m

m eu

r e ló g io , a v ia g e m

b o n d e d e E in s te in p a r ec e r ia m e io m in u t o m a is lo n g a p a ra u m

h o m e m

o b se r v a n d o -o d a ca lça d a .

T o m e m o s , agora, a v elo cid a d e d o

b onde

co m o

se n d o ig u a l à

d a lu z , p a ra v er o q u e a c o n te c e . O e fe ito d a r e la tiv id a d e fa z c o m q u e as co isa s m u d e m vadas

não

p arecem c io s

são

su a s a p a r ê n c ia s. (A s v a r ia ç õ e s d e c o r o b se r ­

d e v id a s

à

r e la tiv id a d e .)

en vergar para d en tro

p arecem

se

a p r o x im a r

dos

e d ifíc io s

dos no

o u tro s.

M in h a

v ia g e m

é

p la n o h o r iz o n ta l p a r e c e m

m a s a s a ltu r a s p e r m a n e c e m a s m e s m a s . A u t o m ó v e is

e p essoas a p resen ta m a lto s. A lé m

to p o s

e p a r a a fr e n te . O s p r ó p r io s e d ifí­ uns

h o r iz o n t a l , e, p o r t a n t o , d is t â n c ia s m a is cu rta s;

O s

d isto r çõ e s n esse m e s m o p a d rão : e streito s e

d isso , o q u e é v er d a d e ir o p ara m im q u e e sto u o lh a n d o

p ara fora , ta m b é m

o é a o h o m e m o lh a n d o p ara d en tro . O m u n d o

de

A lic e

r e la tiv id a d e

observador

de o

b o n d e

n o

P a ís

co m o

d a s M a r a v ilh a s é s im é t r i c o . O

se

e ste tiv e sse s id o

c o m p r im id o :

fin o e a lto . E v id e n te m e n te ,

essa

se

co n stitu i

em

u m a v isã o

d o

m u n d o

c o m p le ta m e n te d ifer e n te d a q u e la d a d e N e w to n . P ara este, e sp a ç o e

tem p o

fo rm a v a m

even to s d o

m u n d o

u m a

tu rb á v el. S u a v is ã o d o ao

observador,

estru tu ra

a b so lu ta ,

m a te r ia l se s u c e d ia m

em

d en tro

da qual os

um a ord em

im p er­

m u n d o era se m e lh a n te à d e D eu s: im u tá v el

in d ep en d en te

de sua

p o siçã o e d o

m e io

a tra v és

d o q u a l e le se d e s lo c a . P o r o u t r o la d o , E in s te in o lh a o m u n d o c o m os o lh o s

do

servador

e

ob servação -

h o m e m , isto d o

tip o

e

é, v a r ia d e p e n d e n d o d a p o s iç ã o d o o b ­

q u a lid a d e

d os

d e slo c a m e n to s

d u ra n te

a

p o r ta n to , in flu e n c ia d o p e lo te m p o e p ela v e lo c id a d e .

E e ssa r e la tiv id a d e n ã o p o d e d e sa p a r e ce r . N ã o p o d e m o s c o n h e c e r o m u n d o c o m o e le é e m si m e s m o ; c o n s e g u im o s a p e n a s c o m p a r a r a s d ife r e n te s m a n e ir a s p e la s q u a is e le se a p r e s e n ta a m im

e a você,

249


120 N ão há

t e m p o u n i v e r s a l p a r a o m u n d o , n e n h u m s in a l d e G r e e n w i c h a t r a v é s d o q u a l p o s s a m o s a c e r ta r n o s s o s r e ló g i o s s e m q u e a v e l o c i d a d e d a lu z e s t e j a i n e x t r i n c a v e l m e n t e lig a d a a ele.

O observador na calçada vê o bonde parado àesquerda semnenhuma distorção. Ele vê os

c= f


dois outros bondes altos e finos porque estes viajamaaltas velocidades. Um bonde apresenta-se azul por estar se movendo em direção ao observador, e o outro avermelhado porque se afasta dele; mas estes efeitos não são devidos à relatividade. Oobservador no bonde parado vê as casas sem distorção. No bonde em movimento ele as vê altas e finas.


3. Z u r E le k tr o d y n a m ik b ew eyter Kbih'per; von Â. E i n s t e in . DaS die Elektr°dyDamik Maxwells — wie dieselbe gegenwSrtig aufgefaBt tu werdea pflegt — in ihrer Aoweoduiig au! bewegl:« KOrper tu Asymmetrien (Qhrt, weiche deu Phãnomenen Dicht anzuhafteo acheinao, íat bekanot. Man denke z. B. au die elektrodyoamische Weehaelwirkung zwiachen eioem Magneten and einem Leiter. Das beobachthare PhâDomeD hlingt bier d u ab von der Relativbewegung von Leiter und Magnet, wllhrend nach der Qblichen A^^usung die heiden Filie, daB der eine oder der andare dieser Kõrper der bewegte sei, atreng \'ooeÍDander zn trenoeo aind. Bewegt aich Dll.m.lich der Magnet und ruht der Leiter, so entateht in der Umgebnng des MagDeten ein elelrtrisches Feld voo gewissem Energieverte, weichea an den Orten, —o aich Teiie des Leitera befinden, einen SUom erzeugt. Ruht aber der Magnet und bewegt aicb der Leiter, so enUtebt in der Umgebung des Magneten kein elektriaches Feld, dagegen im Leiter eine eiektromotoriache Kraft, welcher an sich keine Energia entapricht, die aber — Gieichheit der Relati,beweguDg hei den beiden ins Aoge gefa8ten FlI.Hen 'l'orausgesetzt — zo elektrischen Strõmen voq derselben Grõ8e und demselben Verlaufe Veranlaaaung gibt, wie im ereten Faiie die elektriachen Krilfte. Beiapiele Ihnlicher Art, sowie die mi81ungenen Versuche, eine Bewegnng der Erde relati, zom ,,Licbtmedium“ zu kon statieren, fü.hreD za der Vermutung, daB dem Begriffe der ahsoiuten Riibe oicht nur in der Mechanik, aondera auch 10 der Eiektrodyna.mik keine Eigenschaften der Erscheinungen enU sprechen, sondern daS vielmehr fllr alie Koordinstensysteme, ílir weiche die mechanischen Gleichungen gelten, auch die gleichen elektrodynamischen und optischen Gesetze geilen, wie diea für die Grõ8en erster Ordnung bereita erwiesen ist. Wir wollen dieae Vermntung (deren Inbalt im folgenden ,,Prinzip der RelativitAt“ genannt werden wird) zur Voraussetzung erhehen und auBerdem die mit ihm nur scheinbar un'l'ertriigliche a tra v és

de

b on d e

p erm u ta

e você em

de

121 N o d ecu rso de sua v id a E in stein lig o u lu z a te m p o e tem p o a esp aço; e n e r g ia a m a téria , m a té r ia a e sp a ç o e espaço a gra vitaçã o.

Ogrande trabalho de 1905. Oquadro^negro usado por Einstein na segunda das três conferências sobre relatividade proferidas em Oxford em 1931.

in fo r m a ç ã o

su a ca d eira n ã o

e n tr e n ó s d o is. E u

em

m eu

te m o s n e n h u m a p o ssib ilid a d e

d e c o m u n g a r u m a v i s ã o d i v i n a , i n s t a n t â n e a , <do m u n d o d o s e v e n ­ tos

-

esta m o s

o u tro . N o te-se d ela

não

lim ita d o s a c o m u n ic a r n o ssa s im p r e ssõ e s u m q u e a c o m u n ic a ç ã o

p o d em o s

d isso cia r

ao

n ã o se dá in sta n ta n e a m e n te ;

o a tra so e x p e r im e n ta d o

por to d o s

o s s m a is , tr a fe g a n d o à v e lo c id a d e d a lu z . C o n tu d o , o b o n d e n ã o a tin g iu a v e lo c id a d e d a lu z ; a o c o n tr á r io , e le

parou,

E in stein

ca lm a m e n te ,

em

fren te

d o

E scritó rio

de

P a ten tes.

d e sce u , c u m p r iu su a jo r n a d a d e tr a b a lh o e, c o m o a c o n ­

te c ia fr e q ü e n te m e n te , à s a íd a d á u m a p a ssa d a p e lo C a fé B o llw e r k . O

tra b a lh o n o

d izer

a

parecem

E scritó rio

verdade, bem

v ista s

d e P a te n te s n ã o era m u ito d ifíc il. P a ra agora,

a

m a io r

id io ta s: r e g istr o d e u m

g ard a d e p ressã o ; reg istro d e u m

p a rte

das

s o lic ita ç õ e s

tip o a p e r fe iç o a d o d e e sp in ­

c o n tr o la d o r d e c o r r e n te a lte r ­

n a d a , a o s q u a is E in s te in a p u n h a a o b s e r v a ç ã o su c in ta : “ I n c o r r e to , im p r e c iso e c o n fu s o ” . A s ta r d e s , n o C a fé B o llw e r k , e le iria d is c u tir u m p o u c o d e fís ic a com

seu s co leg a s, e n q u a n to b e b ia c a fé e fu m a v a c h a ru to s. E n tr e ­

tan to, sem p re foi u m cerne

dos

seres h u m a n o s em en tre

h o m em

p r o b le m a s, c o m o

si? Q u e

tip o s

in tro sp e ctiv o , in d o d ir e ta m e n te a o p o r e x e m p lo :

“ D e

q u e m a n e ira os

g er a l, e n ã o a p e n a s o s f ís ic o s , se c o m u n i c a m d e sin a is e n v ia m o s u n s a o s o u tr o s ?

C o m o

o

c o n h e c i m e n t o é a d q u ir id o ? ’’. N e s s a s p e r g u n t a s e n c o n t r a m a s a tr i­ lh a seg u id a em 2 52

to d o s o s seu s escrito s; p éta la s a rra n ca d a s u m a a

u m a co m o os véu s que nos separam

d o co ra çã o d o c o n h e c im e n to .


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A Escalada do Homem

A ssim , o m a g n ífic o a rtig o d e 1 9 0 5 n ã o tr a ta a p e n a s d a lu z o u , s e u t ít u lo d iz : E le tr o d in â m ic a d o s C o r p o s e m

co m o

E le c o n tin u a e m de

que

en erg ia

u m

M o v im e n to .

p ó s-escrito d o m e s m o a n o c o m

e m a ssa sã o e q u iv a le n te s:

a a firm a çã o

E = m c 2 . Para nós, é

d ig n o d e n o ta q u e a p r im e ir a e x p lic a ç ã o d a r e la tiv id a d e d e v e s s e in sta n ta n ea m en te

a ca rretar a p red içã o

p rá tica e d e v a sta d o r a d a

en erg ia a tô m ic a . P ara E in ste in , era a p en a s u m o en ten d im en to

m e io d e a lc a n ça r

d a u n id a d e d o m u n d o ; a e x e m p lo d e N e w to n e

o u t r o s p e n s a d o r e s c i e n t í f i c o s , e le e r a , n o f u n d o , u m

u n ita ria n o .

T a l v isã o se estrib a e m u m a p r o fu n d a in tu iç ã o so b r e o s e n tid o d o s processos

n a tu ra is, p a r tic u la r m e n te

n a s r e la ç õ e s e n tr e h o m e m ,

c o n h e c im e n to e n a tu reza . A físic a n ã o s e c o m p õ e d e e v e n to s m a s sim

d e o b se r v a ç õ e s . M u ito s a n o s d e p o is e le a ssim

d ir ig in d o -se

ao

m eu

a m ig o

L eo

fe liz e s d e m in h a v id a . N in g u é m

S z ila rd :

“ F oram

se ex p resso u , o s a n o s m a is

esp erava q u e eu p u sesse o v o s de

o u r o ” . N a r e a lid a d e e le m a n te v e a q u a lid a d e d e su a p r o le : e fe ito s q u â n tic o s , r e la tiv id a d e g e r a l, te o r ia d o s c a m p o s . C o m co n fir m a ç ã o

dos

p r im e ir o s

su a s p re d içõ e s. E m v id a d e ,

que

o

tra b a lh o s

de

E in stein

e la v e io a

e a m esse de

1 9 1 5 e le p r e d isse , n a T e o r ia G e r a l d a R e la ti­

cam p o

g ra v ita cio n a l

nas

p r o x im id a d e s

d o

Sol

c a u sa r ia a d e fle x ã o d e u m r a io d e lu z — c o m o se fo s s e u m a d isto r ­ ç ã o d o e s p a ç o . D u a s e x p e d iç õ e s d a R o y a l S o c ie ty , u m a a o B ra sil e

o u tra

à

costa

o este

da

Á fr ic a , te s ta r a m

a p rev isã o

d u ra n te

a

e c lip se d e 2 9 d e m a io d e 1 9 1 9 . S e g u n d o r e la to d o p r ó p r io A r th u r E d d in g to n , en ca rreg a d o d a e x p e d iç ã o

a fr ic a n a , as p r im e ir a s m e ­

d id a s e f e t u a d a s a p a r tir d a s fo to g r a fia s lá o b t id a s p e r m a n e c e r a m em

sua

m e m ó r ia ,

fix a n d o

o

m o m en to

m a is im p o r ta n te d e su a

v id a . M e m b r o s d a R o y a l S o c ie ty s o fr e g a m e n te p a ss a v a m a n o t íc ia d e u n s p a ra o s o u tr o s; E d d in g to n , p o r te le g r a m a , a o m a te m á tic o L ittle w o o d , e este, e m

u m a n o ta a p r e ssa d a , a B e r tr a n d R u sse l,

Caro Russel: A teoria de Einstein foi totalmente confirmada. O deslocamento previsto era de 1”’72 e o observado foi de 1” -75 ± 0,06. Do seu, J.E.L. A na

r e la tiv id a d e a d q u ir ia fo r o s d e u m g er a l.

M esm o m en te

=

m c 2

acabou

a q u e stã o a resp eito iso la d a p o r u m

E in ste in 2 54

E

a ssim

h a v ia d e s c r ito u m

sen d o

fa to , n a teo ria e sp ec ia l e

co n firm a d a , e v id e n te m e n te .

d o s r e ló g io s se a tr a sa n d o d izer d e stin o

e x p er im e n to , e m

c o m o o m e io id ea l p a ra testa r o e fe ito .

fo i fin a l­

in e x o rá v el. E m to m

1 90 5

q uase jo co so ,


O Relógio Majestoso Se tivermos dois relógios sincronizados em A, sendo que um deles se move em curva cerrada à velocidade constante v até seu retorno a A, desloca­ m ento esse que supomos ter gasto o tempo de t segundos, então este relógio ao chegar a A se atrasou em xh t (v/c)2 segundos em relação ao relógio que permaneceu estacionário. Daí concluímos que um relógio fixo junto ao Equador terrestre andará mais lentamente, por uma pequena fração, do que um relógio idêntico mas fixo junto a um dos pólos da Terra. E in stein m o rre u em 1 9 5 5 , c in q ü e n ta anos ap ó s a p u b licação do artigo de 1 9 05 . Mas ag o ra o te m p o p o d ia ser m ed id o com a p re­ cisão de m il m ilio n ésim o s de seg u n d o ; e, p o rta n to , já era possível pensar-se na e stra n h a p ro p o siç ã o de “ D ois h o m en s na T erra, um n o P ó lo N o rte e o u tro n o E q u ad o r. E ste ú ltim o está se d eslo can d o m ais ra p id a m e n te d o q u e seu c o m p a n h e iro n o Pólo N o rte; assim , seu reló g io p erd erá a c o rrid a ” . As coisas se co n firm aram ex a ta ­ m e n te d essa m an eira. O e x p e rim e n to fo i lev ad o a ca b o p o r um jo v em ch am ad o H. J. H ay em H arw ell. Im ag in o u a T e rra a c h a ta d a na fo rm a de um d isco , de m o d o q u e o P ó lo N o rte estivesse n o c e n tro e o E q u a d o r na b eirad a. C o lo co u u m reló g io ra d io a tiv o n o c e n tro e o u tro na b o rd a d o d isco e pôs este a girar. Esses relógios m edem tem p o p o r p ro c e sso e s ta tís tic o , c o n ta n d o o n ú m ero de d esin teg raçõ es dos á to m o s rad io ativ o s. O resu ltad o fo i o p revisto: o relógio da b o rd a d o disco de H ay se a tra so u em relação ao d o c en tro . E isso é v erd ad eiro p ara q u a lq u e r disco q u e gire, o u m esm o p ara q u al­ q u e r toca-d isco s. A ssim , n este m o m e n to , em q u a lq u e r disco de v itro la que esteja sen d o to c ad o , o c e n tro está en v elh ecen d o , em cad a rev o lu ç ão , m ais d ep ressa d o que a p eriferia. A c o n trib u iç ã o de E in stein fo i m u ito m ais filo só fica d o que m a­ te m á tic a . S eu g ên io co n sistiu em e n c o n tra r idéias filosóficas que p e rm itia m re in te rp re ta r a ex p eriên cia p rática. Sua ab o rd ag em da N a tu re z a não era do p o n to de vista de D eus, m as, sim , a de um guia, isto é, de um h o m em im erso no e m a ra n h a d o dos fen ô m en o s n atu rais, que acre d itav a e x istir um p a d rã o visível na o rg an ização d o s m esm o s, passível de ser e n c o n tra d o desde que fosse b u scad o sem p re c o n c e ito s. N o seu O M u n d o c o m o o V ejo ele escreveu: Nós nos esquecemos das propriedades do mundo das experiências respon­ sáveis pela formação de conceitos (pré-científicos); assim, é com grande difi­ culdade que representamos o mundo da experiência para nós mesmos, se não contamos com a concorrência de interpretações conceituais firmemente estabelecidas. Uma outra dificuldade é apresentada pela nossa linguagem, compelida a trabalhar com palavras as quais são inseparavelmente ligadas àqueles conceitos primitivos. Tais são os obstáculos encontrados ao tentar­ mos descrever a natureza essencial dos conceitos pré-científicos de espaço.

255


122 " B asta d e d izer a D eus o que E le d ev e fa z e r .” A lb e r t E in s te in e N ie ls B o h r n a S o lv e y C o n feren ce de 1933.

A Escalada do Homem

N o d e c u r s o d e su a v id a E in stein

lig o u lu z a te m p o e te m p o a

e sp a ç o ; e n e r g ia a m a té r ia , m a té r ia a e s p a ç o e e s p a ç o a g ra v ita ç ã o . A o

fim

b rir

d e su a v id a a in d a tr a b a lh a v a n o s e n tid o d e te n ta r d e s c o ­

a

u n id a d e su b ja c e n te à g ra v ita çã o e às fo r ç a s m a n ife sta d a s

n a e le tr ic id a d e e n o sua

a tiv id a d e,

jan d o nos

m a g n e tism o . L e m b ro -m e

d ele n e ssa fa se d e

n a S e n a te H o u s e e m

lec io n a n d o

C a m b rid g e, tra­

seu v elh o su é ter e c a lç a n d o p a n tu fa s, s e m

co lo ca r

forças,

b em

a

par

co m o

d o

tip o

das

de

r e la ç õ e s

d ific u ld a d e s

m eia s, te n ta n d o

q u e h a v ia e n tr e a q u e la s

q u e v in h a e n c o n tr a n d o

em

e sta b e le c ê -la s. O su é ter , as p a n tu fa s, a o je r iz a p a ra c o m n ã o c a r a c te r iz a v a m

n o s o c o r r ia à m e m ó r ia u m tos

m eia s e su sp en só rio s

u m a a fe ta ç ã o . A n te s , a o v ê -lo a ssim a rtig o d e fé d e w illia m

trajad o,

B la k e: “ M a ld i­

s u s p e n s ó r io s ; a b e n ç o a d o r e la x a m e n t o ” . E le se a ju sta v a m a l

a, e m a l c o m p r e e n d ia , o su c e sso m u n d a n o , a r e sp e ita b ilid a d e e o c o n f o r m i s m o ; a m a io r p a r te d a s v e z e s e le n ã o t in h a a m e n o r n o ç ã o d o

q u e se esp era va d e u m

h o m em

e m in e n te c o m o e le . O d ia v a a

g u erra , a c r u e ld a d e e a h ip o crisia ; m a s, a c im a d e tu d o , o d o g m a lh e era in to le r á v e l — n o te -s e q u e ó d io para

e x p rim ir

a rep u lsã o

e

é u m a

p a la v r a im p r ó p r ia

tr is te z a p o r e le e x p e r im e n ta d a s e m

r e la ç ã o a e ssa s c o isa s, u m a v e z q u e

o p r ó p r io ó d io era, s e g u n d o

en te n d ia , u m a fo r m a d e d o g m a . R e c u so u -se a ser p resid en te d o E s ta d o d e Israel s o b a a le g a ç ã o d e n ã o sa b er trata r d o s p r o b le m a s h u m a n o s ; c r ité r io m o d e s to

q u e, a d ota d o

por o u tr o s c a n d id a to s

à p r e sid ê n c ia , d e ix a ria m u ito p o u c o s e le g ív e is. F a la r

sobre

a

e sc a la d a

d o

h o m em

na presen ça de N e w to n

E in ste in c h e g a a ser u m a im p e r tin ê n c ia : e le s c a m in h a m fossem

d euses.

T esta m en to . m en to :

D os

d o is, N e w t o n

E in stein

é

m a is

de

u m a

se u m

deus. A d ora va

d a d os” , “ D eu s ch egou

rep resen ta

o

p ersonagem

h u m a n o , c o m p a s s iv o , irr a d ia n d o e n o r m e

e le a n a tu r e z a é v is ta c o m o sen ça

um a

lh e

não d ir ig ir

é

fa la r

deus d o

V e lh o

d o N o v o T esta ­ s im p a tia . P a ra

ser h u m a n o estiv esse n a p re­ sobre

m a lic io so ” , a

a seg u in te

e

c o m o se

tal

D eu s:

“ D eu s n ão jo g a

p o n to

que

observação:

“ B a sta

N ie ls de

B ohr

d izer

a

D e u s o q u e E le d e v e f a z e r ” , q u e , a b e m d a v e r d a d e , n ã o f o i m u it o ju sta . E in ste in m en te

256

era h o m e m

c a p a z d e fo r m u la r q u e s tõ e s e x tr e m a ­

sim p le s, m o s tr a n d o a tra v és d e su a v id a e d e se u tr a b a lh o

que, quando

as r e sp o sta s sã o ig u a lm e n te

o p en sam en to d e D eu s.

sim p le s, e n tã o o u v e -se




8

EM BUSCA DE PODER R e v o lu ç õ e s n ã o sã o c a p r ic h o s d o d e s tin o e sim

r e a liz a ç õ e s d e h o ­

m e n s ; a lg u m a s v e z e s d e h o m e n s s o litá r io s , g en ia is. M a s as g r a n d e s r e v o lu ç õ e s com u n s

d o

cu jas

séc u lo

X V III

força s

essa fo rça esta va

fora m

p o d em

ser

a p lic a d a s

a tr ib u íd a s

n u m a

baseada' na c o n v icçã o

a

m esm a

h o m en s

d ireçã o ;

e

d e q u e c a d a ser h u m a n o

é s e n h o r d e su a p r ó p r ia sa lv a çã o . A tu a lm e n te , a r e sp o n s a b ilid a d e so c ia l d a c iê n c ia e stá im p líc ita em

su as p r o p o s iç õ e s . E n tr e ta n to , essa id é ia e sta v a c o m p le ta m e n te

a u s e n t e d as c o g it a ç õ e s d e N e w t o n o u d e G a lile o . P a ra e le s, c iê n c ia rep resen ta va

u m a

ú n ic a fu n ç ã o

form a

era a de

em p r e e n d im e n to In d u stria l. A

d e o r g a n iz a ç ã o d o c o n h e c im e n to , e su a

e x p o r a v e r d a d e . A id é ia d e c iê n c ia c o m o

so c ia l

é

recen te,

su rg id a

com

a

R e v o lu ç ã o

su rp resa q u e e x p e r im e n ta m o s a o n ã o en co n tra r esse

s e n tid o so c ia l a n te r io r m e n te , d e c e r ta fo r m a se p r e n d e a o fa to d e e s ta r m o s p r o p e n s o s a o lh a r a R e v o lu ç ã o

In d u stria l c o m o

a c u l­

m in â n c ia d e u m a é p o c a áu rea. C o n tu d o , m en to

de

a

tran sform açã o u m a

R e v o lu ç ã o

tr ía d e

iso la d a :

so lid á r ia :

e a R e v o lu ç ã o

co m

r e v o lu ç õ e s

se

form a

em

um

encadea-

por v o lta d e 1 7 6 0 . E n ã o fo i u m a

e la , d u a s o u tr a s r e v o lu ç õ e s fo r m a m

a R e v o lu ç ã o A m e r ic a n a , in ic ia d a e m

F r a n c e sa , in ic ia d a

q u a d o am arrar em duas

In d u stria l

m u d a n ç a s in ic ia d a s

um

em

1789. P ode

177 5

p arecer in a d e ­

m e s m o p a c o te u m a r e v o lu ç ã o in d u str ia l e

p o lític a s;

m as,

na

verdade,

tod as

três

foram

r e v o lu ç õ e s so c ia is. A R e v o lu ç ã o In d u str ia l n ã o fo i s e n ã o a m a n e ir a 123 A m arca p ecu lia rm en te in glesa da R e v o lu ç ã o In d u strial é d a d a p elas suas r a íz e s p ro vin cia n as. " V ia d u to d a A m ê n d o a ”, p in ta d o em 1844 p o r D a v id O c ta v iu s H iU , q u e p o s te r io r m e n te se to r n o u u m d o s p io n e ir o s d o fo to & a fa ; m o s tr a a p o n te d e s tin a d o a s u p o r ta r a e s tr a d o d e f e r r o E d in b u r g h -G la s g o w .

in g le sa

de

p rocessar

tran sform açõ es

so c ia is;

ch a m o -a

de

R evo­

lu ç ã o In g lesa . O q u e a to r n a in g le sa ? O b v ia m e n te te v e s e u in íc io n a In g la terra , n a ç ã o q u e já lid e r a v a a in d ú str ia m a n u fa tu r e ir a . in íc io ,

se

c a r a c te r iz a v a

R ev o lu çã o

In d u str ia l

por nasce

ser

um a

nas

E esta, em

seu

a tiv id a d e c a se ir a ; a ss im , a

v ila s.

Seus

p ro m o to res

fora m

artesão s:

m o le ir o s , r e lo jo e ir o s , c o n s t r u t o r e s d e c a n a is, fe r r e ir o s.

A

p e c u lia r m e n te

m arca

in g lesa

da R ev o lu çã o

In d u stria l é d a d a

p o r su as r a íz e s p r o v in c ia n a s. D u ran te

a

p r im e ir a

m eta d e

d o

séc u lo

X V III,

na

v elh ice

de

N e w t o n , e n o d e c lín io d a R o y a l S o c ie ty , a In g la terra se a b a s te c e u na

ú ltim a

r in o

de

c io ,

a

flo r a d a d a in d ú str ia p r o v in c ia l e n o c o m é r c io u ltr a m a ­

m e r c a d o r e s a v e n tu r e ir o s. c o m p e tiç ã o

c r escia .

A o

A fim

flo r a d a e s tio lo u . N o c o m é r ­ d o

séc u lo

as

n e c e ssid a d e s

259


1 2 4 O s tr a b a lh a d o r e s v iv ia m n a p o b r e z a e n o o b scu ra n tism o . A s p r im e ir a s f o to g r a fia s d a v id a lU r a l c a u s a r a m c h o q u e . E la s n e g a v a m to d o o id ílio d a lU s tic id a d e .

A Escalada do Homem

in d u stria is e r a m

p rem en tes. A

já era im p r o d u tiv a . E m e

o r g a n iz a ç ã o

fa m ilia r d o

tra b a lh o

d u a s g e r a ç õ e s, m a is o u m e n o s e n tr e 1 7 6 0

1 8 2 0 , m u d a r a m -se a s n o r m a s c o m u n s d a a d m in istr a ç ã o in d u s­

tr ia l.

A n ter io r m e n te

a

a o s tra b a lh a d o r e s e m

1 76 0,

os

p ro d u tos eram

en com en d a d os

su a s p r ó p r ia s ca sa s. P o r v o lta

tr a b a lh a d o r e s já h a v ia m

sid o

de 1 8 2 0 , os

tr a z id o s p a ra as fá b rica s, o n d e su a

a tiv id a d e era su p e r v isio n a d a . S o n h o s , s o n h o s n o s s o s so b r e a v id a id ílic a d o

cam p o

X V III,

p o r O liv e r G o ld -

u m

sm ith , e m

p a r a íso

p erd id o ,

1 7 7 0 , na obra A

co m o

o

d e scr ito

d o sécu lo

V ila D e s e r t a .

Auburn, a mais encantadora vila da planura onde se alegra o campônio com saúde e fartura. Feliz aquele que coroa, à sombra dessa vila, A faina da juventude com velhice tranqüila. E sse q u a d r o era u m a farsa. G e o r g e C r a b b e , s e n d o e le p r ó p r io u m p a sto r p r o v in c ia l e, p o r ta n to , c o m

u m c o n h e c im e n to d e p r im e ir a

m ã o d a v id a d o s h a b ita n te s d o s v ila r e jo s, e x p r e s s o u -s e a c r e m e n te , em

u m a r e s p o s ta r e a lista , n a f o r m a d e u m

p a rece a in d ig n a ç ã o

p o e m a n o q u a l tran s­

p o r e le e x p e r im e n t a d a a o

deparar co m

ta is

d isto r çõ e s ro m â n tica s.

Pois é, as Musas cantam felizes camponeses Porque nunca experimentaram os seus revezes. Vencidos pelo trabalho e prostrados sob a dura sina Quem se comove com a estéril bajulação de uma rima? O não

cam p o

e r a lu g a r d e tr a b a lh o d e s o l a so l, m a s o c a m p o n ê s

d esfru ta v a

de su a lu z e sim

das so m b ra s da p o b reza . A s in o ­

v a ç õ e s p r o g r e ssista s d o tr a b a lh o a g r íc o la e r a m im e m o r ia is , c o m o o m o in h o , já a n tig o n a é p o c a d e C h a u c e r (p o e ta in g lê s d o sé c u lo X II). E a R e v o lu ç ã o In d u stria l c o m e ç o u c o m m o le ir o s

seria m

B r in d le y

d e S ta ffo r d sh ir e n a sc e u e m

rejo e, e m

os

e n g en h e ir o s

d os

essa s m á q u in a s; o s

tem p os

v in d o u r o s. J a m e s

u m a fa m ília p o b r e d o v ila ­

1 7 3 3 , a o s d e z e s s e te a n o s , in ic io u su a ca rreira c o n s e r ­

ta n d o ro d a s d e m o in h o . A s c o n tr ib u iç õ e s d e B r in d le y fo r a m

p rá tica s: a p r im o r a m e n to

e a u m e n t o d a p o t ê n c i a d a r o d a d ’á g u a , q u e f o i a p r i m e i r a m á q u i n a a ser u tiliz a d a c o m n a scen te.

260

pedras

de

Por

u m a v a r ie d a d e d e p r o p ó s ito s p e la in d ú str ia

e x e m p lo ,

tr itu r a ç ã o ,

as

B r in d le y q u a is

m e n to d a in d ú str ia d e lo u ça s.

a p e rfe iç o o u

c o n tr ib u ír a m

a

q u a lid a d e

para o

das

d e sen v o lv i­



A Escalada do Homem

A in d a m a io r .

a ssim ,

A

água

em

1 75 0,

h a v ia -se

p a ir a v a

no

c o n v e r tid o

ar u m

o u tro

n o e le m e n to

m ° v im e n t°

p o r e x c e lê n c ia

d a e n g e n h a r ia , e h o m e n s ta is c o m o B r in d le y e s ta v a m por

e la .

Por

ca n a is. N ã o

tod o

o

cam p o

era ap en as u m a

e la o u jo r r a v a o u

fo n te d e força , era u m a n o v a o n d a

d e m o v im e n to . J a m e s B r in d le y tru ção

de

ca n a is,

o u

fa sc in a d o s

co rria a tra v és d e

foi um

p io n e ir o na arte d a c o n s ­

“ navegação” , co m o

era

en tão

cham ada.

(T r a b a lh a d o r e s e m p r e g a d o s n a a b e rtu ra d e v a le ta s o u c a n a is a in d a h o j e s ã o c h a m a d o s n a v ie s , e i s s o p o r q u e B r in d le y n ã o c o n s e g u i a p r o n u n c ia r a p a la v r a n a v ig a to r . ) B r in d le y ,

por

in ic ia tiv a

c o m e ç a d o a fazer u m d ad os em

p r ó p r ia ,

lev a n ta m e n to

d e sin te r e ssa d a m e n te ,

h a v ia

d a s v ia s h íd r ic a s , c o le t a n d o

su a s a n d a n ç a s o b r ig a tó r ia s, a o p e r c o r r e r o s p r o je to s d e

e n g en h a r ia d e m o in h o s e m in e r a ç ã o . A c o n te c e , e n tã o , q u e , certa fe ita , o D u q u e

d e B r id g e w a te r o en ca rreg a d a c o n str u ç ã o d e u m

can al a ser u tiliz a d o p ara o a té

a c id a d e n a sc e n te

co m o

se

p od e

tra n sp o rte d e carv ão , d e su as m in a s

d e M a n ch ester. F o i u m

co n sta ta r

p ela

M e r c ú r io d e M a n c h e s te r e m

d escriçã o

dada

p r o je to arro jad o , em

u m a carta a o

1763.

U l t im a m e n t e t e n h o c o n t e m p la d o a s m a r a v ilh a s a rtific ia is d e L o n d r e s e as m a r a v ilh a s n a tu ra is d o P e a k , m a s n e n h u m a d a s d u a s m e d e u ta n to p r a z e r c o m o a c o n te m p la ç ã o d o s c a n a is d e n a v e g a ç ã o d o D u q u e d e B r id g e w a te r . O seu id e a liz a d o r e c o n str u to r, o e n g e n h o s o Sr. B rin d le y , d e tal m a n e ira a p e r fe iç o o u essa arte, q u e n ã o p o d e m o s d e ix a r d e n o s su r p r e en d e r c o m o s r e su lta d o s. E m B a r to n B rid g e e le c o n s tr u iu u m ca n a l n a v e g á v e l s u s p e n s o n o ar, à a ltu r a d o s to p o s d as árvores. E n q u a n to in sp e c io n a v a o s ca n a is e m u m esta d o de p ra zero sa a d m ira çã o , q u a tro e m b a r c a ç õ e s p a ssara m p o r m im n o e sp a ç o d e três m in u to s, d u a s d e la s e n g a ta d a s u m a à o u tra , e p u x a d a s p o r u m a p a relh a d e cav alos, m a r c h a n d o n o c a n te ir o às m a r g e n s d o can al, p a ra o n d e , a m u it o c u s to m e a v e n tu r e i. . . a a n d a r, u m a v e z q u e q u a se p e r d i o e q u ilíb r io a o c o n te m p la r o c a u d a lo s o r io Irw e ll c o r r e n d o s o b m e u s p és. N a ju n ç ã o d o C o r n e b r o o k e c o m o can al d o D u q u e . . . cerca d e u m a m ilh a d e M an ch ester, os agen tes d o D u q u e c o n stru íra m u m d e sem b a rca d o u ro on d e v en d em carvão a a c e sta . . . N o p r ó x i m o v e r ã o e le s p la n e ja m estar e n tr e g a n d o e m (M a n c h e ste r ).

três pences e m eio

Em

seg u id a ,

B r in d le y

L iv e r p o o l, em na

u m

con stru çã o

exten são

de

de

se

en trego u

à

lig a ç ã o

de

M a n ch ester

a

p r o je to a in d a m a is a r r o ja d o , q u e se d e s d o b r o u quase

seiscen to s

ca n a is, c o n s titu in d o

e c in q ü e n ta u m a

rede

que

q u ilô m e tr o s d e c o b ria

tod a

a

In g la terra . N a c r ia ç ã o d o siste m a in g lê s d e c a n a is d e s ta c a m -se d o is a s p e c to s

262

típ ic o s d a R e v o lu ç ã o In d u stria l. O p r im e ir o m o s tr a q u e o s h o m e n s r e sp o n sá v e is p e la r e v o lu ç ã o e r a m e m in e n te m e n te p r á tic o s . C o m o

125 O s can ais eram artérias de com u n icaçã o: não eram con stru íd os para b a r co s d e lazer, m a s, sim , para barcaças. Era u m c o m é r c io p ro v in cia l

Aqueduto junto à Pont-Cysyltau, que sustenta o canal de Llangollen sobre o vale do rio Dee. Desenhado por Thomas Telford em 1 795.


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....« r r f

íiiiiíd iiiiiiH

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'

.«fímPlTin


I !


Em Busca de Poder

B r in d le y , n ã o e r a m en tã o

p o d e r ia

m u it o in s t r u íd o s e, a liá s, a e s c o la tal c o m o era em b o tar

a

c r ia tiv id a d e .

L e g a lm e n te , a e sc o la

e le m e n ta r s ó e s ta v a a u to r iz a d a a e n s in a r a s m a té r ia s c lá ssica s, q u e eram

seu

o b jetiv o

o rig in a l.

D a

m esm a

form a,

a s u n iv e r sid a d e s

(h a v ia a p e n a s d u a s: O x fo r d e C a m b r id g e ) p o u c a a te n ç ã o d isp e n ­ savam

a estu d os m o d ern o s o u

m e s m o c ie n tífic o s , a lé m

de serem

fe c h a d a s a o s n ã o -a d e p to s d a Igreja d a In g la terra . O M e d a lh ã o d o D u q u e d e B r id g e w a te r , p o r J o s ia h W edgw ood.

segu n d o

asp ecto

é n o rtea d o

as n o v a s in v e n ç õ e s eram tav am

a rtéria s

de

p ela c o n s ta ta ç ã o d e q u e to d a s

para u so

c o m u n ic a ç ã o :

im e d ia to . O s ca n a is r e p r e se n ­ esta v a fo ra d e seu s p r o p ó sito s

s e r v ir e m d e le it o p a r a b a r c o s d e la z e r . A lé m eram

d e stin a d a s a o

tran sp o rte

de

d isso , as b a rca ça s n ã o

o b jeto s de

lu x o , m a s , sim , d e

p o te s , p a n e la s, te c id o s , c o r d a s, e n fim , to d a s as c o isa s o rd in a r ia ­ m en te

com p rad as

fatu ra d a s

n os

a fa sta d a s

de

n o v arejo

v ila r e jo s, L on d res,

p elo

agora

p o v o . E ssa s co isa s e r a m

tom an d o

e sta b e le c e n d o ,

m a n u ­

p r o p o r ç õ e s d e c id a d e s,

dessa

m a n eira ,

um a rede

d o c o m é r c io p r o v in c ia l. N a

In g la terra a te c n o lo g ia

era u tü iz a d a n o in terio r, e m

tod os os

q u a d r a n te s d o p a ís , m a s in d e p e n d e n te d a c a p ita l. T a l fa to e x p lic a p o r q u e a te c n o lo g ia n ã o h a v ia s e n sib iliz a d o o s s o m b r io s r e c ô n d i­ tos

d a s c o r te s e u r o p é ia s.

eram sos)

tão na

Por e x e m p lo , o s fra n ceses e o s su íç o s

in telig e n te s q u a n to

fa b rica çã o d e

o s in g le se s (e m u it o m a is e n g e n h o ­

b r in q u e d o s c ie n tífic o s;

m a s in te lig ê n c ia e

e n g e n h o s id a d e g a sta s na s o fis tic a d a a rte r e lo jo e ir a fo ra m

d esp en ­

d id a s

c lie n te s

na

m o n ta gem

a b astad o s o u

da

de

b rin q u e d o s

para

d iv ersã o

de

fa m ília rea l. O s a u t ô m a t o s , n o s q u a is g a s ta v a m

a n o s d e tr a b a lh o , a in d a h o je c o n s t itu e m m o d e lo s d e c o o r d e n a ç ã o de 126 A á g u a j o r r a v a e se esp alh ava por tod o o cam p o . C a r ic a tu ra f e i t a p o r G e o r g e C r u ik s h a n k r e p r e s e n ta n d o u m a r e u n iã o d e a c io n is ta s d u r a n te o boom de c o n s tr u ç ã o d e c a n a is n o fin a l d o s é c u lo X V III. J a m es B r in d le y , o e n g e n h e ir o a u to d id a ta , 1 7 7 0 .

m o v im e n to s

d os

m a is

r eq u in ta d o s

de

que

se

tem

c o n h e c i­

m e n to . O s fran ceses fora m

o s in v e n to r es da a u to m a ç ã o :

isto é,

d a

u m a eta p a , u m a se q ü ê n c ia d e

m o v i­

id é ia

d e

m en to s,

fazer c o m

c o n tr o le

a

que

seg u in te .

M esm o

o

c o n tr o le

m o d ern o

de

m á q u in a s p o r m e io d e c a r t õ e s p e r f u r a d o s já h a v ia s id o in v e n t a d o por J osep h sed a

de

A n tes m o v ia m

ta m b ém

v o lta

de

de

1 8 0 0 , p ara u so n o s teares d e

lim ita d o a esse e m p r e g o

d a r e v o lu ç ã o , h a b ilid a d e s r e q u in ta d a s c o m o

de

lu x o .

essas p ro ­

r e lo jo e ir o P ierre C a r o n , in v e n ­

n o v o tip o d e m e c a n is m o d e b a la n c e a m e n to p a ra r e ló g io

agrad ou

p o n to

por

os h o m en s na França. O

ta n d o u m que

Jacquard,

L y on , p erm a n ecen d o

à

R a in h a

torn a r-se

M a r ia

o C on d e

p o ssu id o r d e

o u tro s

A n to n ie ta , de

prosp erou

B ea u m a rch a is.

na

corte

E ste h o m e m

a

era

ta le n to s , m u s ic a is e lite r á r io s, p o r

265



Em

B u s c a de P o d e r

e x e m p lo . É d e su a a u to ria a peça n a q u al M o z a rt b aseo u a ó p e ra A s b o d a s d e F íg a ro . E m b o ra u m a c o m é d ia p o ssa p a re c e r u m a f o n te im p ro v á v e l d e o n d e se e x tra ia m fa to s d a h is tó ria so cial, as in trig a s e x p o sta s n a q u e la p eça, e as g e ra d a s e m to r n o d ela, d ã o u m a idéia d o tip o d e o c u p a ç ã o a q u e se e n tre g a v a m os ta le n to s d as c o rte s e u ro p é ia s . À p rim e ira v ista, A s b o d a s d e F íg a ro é u m a p e ç a fran ce sa p a ­ ra m a rio n e te s , re p le ta de secretas m a q u in a ç õ e s, m as, n a re a li­ d a d e , r e p r e s e n ta u m s in a l p r e c u r s o r d a te m p e s ta d e re v o lu c io n á ria . B e a u m a rc h a is p o ssu ía u m fa ro p o lític o a p u ra ­ d o , c a p a z d e p e rc e b e r o q u e e stav a se n d o c o z in h a d o , de fo rm a q u e p r o c u r o u c o m e r co m c o lh e r de c a b o lo n g o . E ra testa-defe rro de v á rio s m in is tro s reais em u m a v aried ad e de tran saçõ es, e n tre elas, a v e n d a secreta de a rm a s ao s re v o lu c io n á rio s a m e ri­ c a n o s em lu ta c o n tr a os ingleses. A o s o lh o s d o R ei, ele p o d e ­ ría estar re p re s e n ta n d o u m p a p e l de M a q u iav el, cujas m a q u in a ç õ e s p o lític a s n ã o p assav am de a rtig o de e x p o rta ç ã o . E n tr e ta n to , B e a u m a rc h a is e ra m u ito m ais sen sív el e a s tu to , e re a lm e n te s e n tia a c h e g a d a da re v o lu ç ã o . A ssim , a m en sag em tra n s m itid a a tra v é s d o serviçal F íg a ro é re v o lu c io n á ria . Signor Naldi no pape/ de B rav o , S ig n o r P a d ro n e — Fígaro. Estampa de teatro, A g o r a e s t o u c o m e ç a n d o a e n t e n d e r t o d o esse m is té r io , feita por George Cruikshank in ten çõ es. O R ei o n o m e ia E m b a ix a d o r em L on d res, eu para o ' TheStage”, em 1818.

e p e r c e b e r suas g e n e r o sa s o acom panho com o m en­ sag eiro, e m in h a S u sa n a c o m o a ssesso ra c o n fid e n c ia l. N ã o . M a c a c o s m e m o r d a m

127 O s franceses e s u íç o s d e s p e n d e r a m in t e l ig ê n c ia e e n g e n h o s id a d e na fa b r i c a ç ã o d e m e c a n is m o s d e r e lo j o a r ia p a r a c lie n te s a b a s t a d o s o u d a fam ília real.

A utomatos construídos por pai e fi/ho Jacquet-Dro;; em 1774; eram apreciados pelas cortes reais do mundo todo. A mão do escritor e mecanismos. Até m esm o o m o d ern o c o n tr o le de m á q u i n a s a tr a v é s de c a r t õ e s p e r f u r a d o s foi c o n c e b id o p o r J o s e p h M a r ie J ac q u a r d , e m t o r n o d e 1 80 0, e u s a d o n o s te ares d e s e d a de Lyon.

Jacquard, retrato tecido em seda cinza em um de seus teares. Os cartões de Jacquard, mostrados no detalhe, dividem as 400 fi/eiras de pinos em padrões oré-programados.

se ela f o r -

F íg aro n ã o c o n co r d a .

A fa m o s a á ria d e M o z a rt, “ C o n d e , m e u C o n d e z in h o , vo cê p o d e ir d a n ç a n d o , m a s q u e m faz a m ú s ic a so u eu ” (S e v u o l b a lla re , S ig n o r C o n tin o ...) é u m a am eaça. N a s p alav ras de B eau ­ m a rc h a is ela ap a re c e assim : N ã o , m e u s e n h o r C o n d e , o s e n h o r n ã o p o d e fica r c o m ela , n ã o p o d e . P o r q u e o s e n h o r é u m g r a n d e fid a lg o , p e n s a ser u m g r a n d e g ê n io . N o b r e z a , r iq u e z a , h o n r a ­ r ia s , e m o l u m e n t o s ! T u d o i s s o t o r n a u m h o m e m t ã o o r g u l h o s o ! O q u e ° s e n h o r f e z p a r a a d q u i r i r t a n t o s p r i v i l é g i o s ? D e u - s e a o t r a b a l h o d e n a s c e i% n a d a m a i s . F o r a isso , o se n h o r é u m tip o b a sta n te o rd in á rio . Irr o m p e u u m d eb a te p u b lic o sob re a n a tu reza da f o r ^ n ^ e , c o m o n ã o é n e­ cessá rio p o s s u ir a coisa a fim d e d iscu tir s o b r e a m e s m a , e s ta n d o , na r e a lid a d e, s e m to stã o , e screv i a r e sp e ito d o d in h e ir o e d e su a a p lic a ç ã o . Im e d ia ta m e n te , e n c o n t r e i - m e c o n t e m p l a n d o . . . a p o n t e l e v a d i ç a d e u m a p r i s ã o ... B o b a g e n s i m p r e s ­ sas s ã o p e r ig o s a s a p e n a s e m p a íses o n d e a liv re c ir c u la ç ã o é c o n tr o la d a ; s e m o d i­ r e it o d e c r í t i c a , r e c o n h e c i m e n t o e a p r o v a ç õ e s p e r d e m o v a | o r .

T a is e ra m os s u b te rr â n e o s d a a tm o s fe ra c ° rte sã d a so c ie d a d e f ra n c esa, tã o fo rm a l q u a n to o s ja rd in s d o C h âteau de V ü la n d ry.


A

E s c a la d a do H o m e m

128

O filho da natureza vindo da floresta, Benjamin Franklin

coloca a coroa da liberdade: na cabeça de Mirabeau,

A tu a lm e n te p a re c e in c o n c e b ív e l q u e a c e n a d o ja rd im d e A s b o d a s d e F íg a ro , a á ria n a q u a l F íg a ro se re fe re ao seu s e n h o r

c o m o “ S ig n o r C o n t in o ” , C o n d e z in h o , te n h a sid o c o n s id e ra ­ d a re v o lu c io n á ria . M as é p re c is o n ã o e s q u e c e r a ép o c a em q u e foi escrita. B e au m arc h a is te rm in o u de escrev er a p e ç a em 1780. M ais q u a tr o a n o s de lu ta s c o n tr a u m a m u ltid ã o d e c e n s o re s (e n tre eles o p r ó p r io L uís X V I) fo ra m n e c e ssá rio s p a ra tê-la re p re s e n ta d a . A e n c e n a ç ã o e s c a n d a liz o u a E u ro p a . P a ra p o , d e r a p re se n tá -la em V ie n a , M o z a rt a tr a n s fo rm o u em ó p e ra . M o z a rt c o n ta v a e n tã o trin ta an o s; e ra 1786. T rê s an o s m ais ta rd e , 1789 — a R e v o lu ç ã o F ra n c e sa . A q u e d a de L u ís X V I e su a d e c a p ita ç ã o te ria m sid o c a u sa ­ das p o r As b o d a s d e F íg a r o ? É c la ro q u e n ão ! A s á tira n ã o é d in a m ite so cial. M as é u m te r m ô m e tr o so cial: m o s tra q u e u m n o v o tip o d e h o m e m e stá b a te n d o à p o rta . O q u e le v o u N a 1 p o le ã o a c o n s id e ra r o ú ltim o a to d a p eça c o m o “ a re v o lu ç ã o e m a ç ã o ” ? F o i o p r ó p r io B e a u m a rc h a is q u e , n a p e sso a de F í­ g a ro , a p o n ta p a ra o C o n d e e e x clam a : “ P o rq u e o s e n h o r p er-, te n c e à a lta n o b re z a , o s e n h o r se p e n sa um g ê n io . A su a m a io r re a liz a ç ã o n ã o foi se n ã o a d e n a s c e r” . B e a u m a rc h a is re p re s e n ta v a u m a a ris to c ra c ia d ife re n te — a dos tra b a lh a d o re s de ta le n to : os re lo jo e iro s d e su a é p o c a , os p e d re iro s d o p assad o , os tip ó g ra fo s . P o r q u e ra z ã o M o z a rt se e n tu s ia s m o u p e la peça? O a r d o r re v o lu c io n á rio re p re s e n ta d o p elo m o v im e n to m a ç ô n ic o ao qual estav a filia d o , e p o r ele g lo rific a d o n ’ A F la u ta M á g ic a . (A M a ç o n a ria e ra , e n tã o , u m a so c ie d a d e s e c re ta em ascen são , c o m te n d ê n c ia s lib e ra is e an ticlericais, o q u e c u s to u ao s a m ig o s de M o z a rt, p o rq u e su a fi­ liação e ra c o n h e c id a , g ra n d e d ific u ld a d e e m tr a z e r u m p a d re p a ra ju n to de seu le ito d e m o rte em 1791.) N o te -s e q u e o m aç o m m ais e m in e n te d a q u e la é p o c a e ra o tip ó g ra fo B e n ja m rn F ra n k lin , em issário a m e ric a n o ju n to à c o rte de L u ís X V I, q u a n ­ d o A s b o d a s d e F íg a ro fo i e n c e n a d a p e la p rim e ira v ez. E ele, m a is d o q u e q u a lq u e r o u tr o , re p re s e n ta a q u e la c a te g o ria d e h o m e n s p ro g ressistas, ten azes, c o n fia n te s, p e rsiste n te s, re s p o n ­ sáv eis p ela c o n s tru ç ã o d a n o v a era. E m p rim e iro lugar, B en jam in F ra n k lin tin h a u m a tre m e n d a s o rte. Q u a n to ia a p resen tar suas credenciais à C o rte F ran cesa em 1778, a p e ru c a e as ro u p a s p ro to c o la re s e ra m p e q u e n a s d em a is p a ra ele. A rro ja d a m e n te a p resen to u -se d e cab eça d esco b erta, e foi im ediata268 m e n te ac la m a d o c o m o o filh o d a n a tu re z a v in d o d a flo re sta .



129 B e n ja m in F r a n k lin r e p r e se n ta a q u ela c a teg o ria d e h o m e n s p ro gressistas, te n a z e s , c o n fia n te s , p ersisten tes, r e sp o n så v e is p ela c o n str u ç ã o da n o v a era. B e n ja m in F r a n k lin . p o r J o s e p h D u p le s s is , p in t a d o e m P a r is e m 1 7 7 8 .


Em Busca de Poder

T o d a s as su a s a ç õ e s tr a z ia m só

c o n tr o la

sua

m en te,

R i c h a r d ’s A l t n a n a c k ,

co m o

a esta m p a de u m sabe

c o m o

h o m em

que nã0 P oor

e x p r e ssá -la . S e u

p u b lic a d o a n u a lm e n te , c o n té m

a m a té r ia ­

-p r im a p a ra o s fu tu r o s p r o v é r b io s : “ F o m e n ã o c o n h e c e p ã o r u im ” . “ Se você

q u iser sa b er o

v a lo r d o d in h e ir o , te n te p e d i-lo e m p r e s ­

ta d o .” A r e s p e ito d e su a p u b lic a ç ã o , F r a n k lin e sc r e v e u :

M eu Almanaque foi publicado pela primeira vez em 1732. . . empreendh mento por mim continuado durante cerca de 25 anos. . . Pretendi mantê-l0 tão interessante quanto útil, o que aparentemente foi conseguido, a julgar pela aceitação e conseqüente lucro obtidos; perto de dez mil exemplares eram vendidos anualmente. . . praticamente todas as comunidades da pro­ víncia o conheciam. Era o veículo adequado à transmissão de instruções ao povo que não comprava nenhum outro livro além desse. A os

c é tic o s

o ca siã o

foi

h id r o g ê n io , “ Q ual

a

em

de

o

b a sta n te

a

sem pre

F ez,

u tilid a d e a

n o

de

um

an o bebê

das novas

su b id a

d o

1 78 3),

in v e n ç õ e s

p r im e ir o F r a n k lin

recém -n a scid o ? ” . S eu

b a lã o

(a de

resp o n d ia : caráter se

o tim ista , terra-a -terra, p ie d o s o e m e m o ­

p o n to

d e ser n o v a m e n te

r e p e tid o , n o sé c u lo

c ie n tista m a io r , M ic h a e l F a r a d a y . F r a n k lin e sta ­

a ten to

exp ressos.

à

d u ra n te

n essa resp o sta :

seg u in te, p o r u m va

r e la ç ã o

P a r is,

u tilid a d e

ex p rim e rável

em

p r o p ic ia d a

à

m a n eira

para

seu

p ela

p r ó p r io

qual uso, o

os

p en sam en tos

p r im e ir o

par de

eram len tes

b ifo c a is , se r r a n d o su a s le n te s p ela m e ta d e , p o r q u e n ã o c o n se g u ia e n te n d e r o fran cês n a co rte a n ã o ser q u e a co m p a n h a sse a ex p res­ sã o fa cia l d e q u e m H o m en s

d o

m en to

ra cio n a l.

g u id a s

d u ra n te

tip o s

de

fa la v a .

tip o

de

F r a n k lin

são

a p a ix o n a d o s

p e lo c o n h e c i­

I n v e n ta r ia n d o a m o n ta n h a d e r e a liz a ç õ e s c o n s e ­ sua

v id a , e sp a lh a d a s

im p ressã o , c o n sta ta m o s

em

p a n fle to s,

ca rica tu ra s,

a a m p lid ã o e a r iq u e za d e su a

m e n t e c r ia d o r a . A d iv e r s ã o c ie n tífic a d a m o d a era a e le tr ic id a d e . F r a n k lin era b r in c a lh ã o (se n d o m e s m o im p e r tin e n te ), m a s to m o u a sér io a e le tr ic id a d e , r e c o n h e c e n d o -^ c o m o P ropôs em

175 2.

fim ? —

u m a

fo r ç a n a tu ra l.

q u e o ra io d o tr o v ã o era d e v id o à e le tr ic id a d e e o p r o v o u Q ue

e x p e d ie n te

sim p le sm e n te

u m

h o m em

d ep en d u ran d o

co m o

u m a

e le u sa ria p a ra tal

c h a v e e lé tr ic a e m

um

p a p a g a io e m p i n a d o d u r a n t e u m a t e m p e s t a d e . S e n d o ele F r a n k lin , a so r te lh e fo i b e n é v o la : o e x p e r im e n to n ã o o m a to u , m a s a p en a s à q u e le s q u e m e no,

este

p á ra -ra io .

ten ta ra m fo i lo g o

r e p e ti-lo . E v id e n te m e n te , p r o v a d ° ° f e n ô ­ tran sform ad o

C o n tr ib u iu

ta m b ém

em

co m

u m a in v e n ç ã o p r á tica — o im p o r ta n te

e sc la r e c im e n to

271


A Escalada do Homem

p ara a te o r ia d a e le tr ic id a d e , n o s e n tid o d e m o str a r su a u n ifo r ­ m id a d e, d e sm e n tin d o

a c r e n ç a d a e x istê n c ia d e d o is flu id o s.

P o d e m o s o b serv a r m a is u m a v e z , a p r o p ó s ito d a in v e n ç ã o d o p á ra -ra io s,

que

in esp era d o s.

a

h istó r ia

so c ia l

p od e

F r a n k lin r a c io c in o u

se

escon d er

correta m en te

que

em

lu g a r es

o p á ra -ra io s

seria m a is e fic ie n te se tiv e ss e a p o n t a a g u d a . I sso f o i c o n t e s t a d o p o r a lg u n s c ie n tista s fa v o r á v e is a u m a p o n ta esfé r ic a ; e a R o y a l S o c ie ty d a In g la terra fo i e n c a r r e g a d a d e ssa a rb itr a g e m . E n tr e ta n ­ to,

a

q u estão

fo i r e so lv id a e m

m a is e m in e n te :

O

in stâ n c ia m a is p rim á ria , e m b o r a

R e i G e o r g e III, fu r io s o c o m

a r e v o lu ç ã o a m e ­

r ic a n a , o r d e n o u q u e a s p o n ta s d o s p á r a -r a io s d o s e d ifíc io s r e a is fossem

esférica s.

In te rfe r ê n c ia s

p o lític a s

na

c iê n c ia

são

quase

s e m p r e tr á g ic a s: e sse e p is ó d io c ô m ic o r iv a liz a c o m a q u e le d e s c r ito em

A s

V ia g e n s d e G u lliv e r s o b r e a g u e r r a e n t r e o s “ d o is g r a n d e s

I m p é r io s d e L illip u t e B le fu s c u ” p o r q u e b r a r e m

o s o v o s, n o café

d a m a n h ã , u n s p ela p o n ta lo n g a , o u tr o s p e la r o m b a . F r a n k lin e seu s a m ig o s v iv ia m m en te

em

m ãos;

para

in ten so . p o lític o ,

seus

p en sam en tos

e le s,

E ram

en ten d er

h o m en s

quer

e,

a c iê n c ia ; e la e sta v a c o n s t a n t e ­ m a is

freq ü en tem en te,

a n a tu reza

so c iá v eis:

im p r im in d o

era

u m

F r a n k lin

p a p e l-m o e d a ,

em

suas

p ra zer p rá tico e

a g ia quer

sem pre

co m o

e d ita n d o

seus

in te r m in á v e is e e sp ir itu o so s p a n fle to s. E su a p o lític a era tã o d ireta q u a n to

seu s e x p e r im e n to s. E lim in o u

o s flo r e io s d a a b ertu ra d a

D e c la r a ç ã o d a In d e p e n d ê n c ia , to r n a n d o -a u m a a fir m a ç ã o sim p le s d e c o n fia n ç a : “ E n t e n d e m o s e ss a s v e r d a d e s c o m o a u to -e v id e n te s , q u e to d o s o s h o m e n s sã o c r ia d o s ig u a is” . A o e c lo d ir a g u erra e n tr e o s r e v o lu c io n á r io s a m e r ic a n o s e a In g la terra , e sc r e v e u a b e r ta m e n ­ te a u m

p o lít ic o in g lê s, q u e tiv e r a p o r a m ig o , a s s e g u in te s p a la v r a s

fla m e ja n te s:

Vocês começaram a incendiar nossas cidades. Reparem em suas mãos: elas estão manchadas com sangue de parentes seus. A s

irr a d ia ç õ e s

v er m e lh a s

n a In g la terra , a im a g e m Joh n

W e sle y

e

na

d o

b ra seiro

in c a n d e sc e n te

torn a m -se,

d a n o v a era — p resen te n o s ser m ã o s d e

fo rn a lh a

d os

céus

da R e v o lu ç ã o

In d u stria l,

c o m o d a p a isa g e m fla m e ja n te d e A b b e y d a le e m Y o r k sh ir e , c e n tr o p io n e ir o n o s n o v o s p r o ce sso s d e fa b rica çã o d e ferro e d e a ço . O s s e n h o r e s d a in d ú str ia e r a m o s m e s tr e s-fe r r e ir o s : fig u r a s p o d e r o s a s , quase

272

so b ren a tu ra is,

d e m o n ía c a s

que,

com

razão,

d avam

aos

g o v e r n a n te s a im p r e ssã o d e q u e a cr e d ita v a m r e a lm e n te q u e to d o s os h o m en s nascem

ig u a is. O s tr a b a lh a d o r e s n o

n o rte

e n o o este

130

T o m P a in e, u m con testad or na A m érica e na In glaterra, p ro ta g on ista d e O s D ir e ito s d o H om em . P a in e f o i s a tir iz a d o p o r J a m e s G illr a y p o r te n ta r v e s tir a B r ita n n ia c o m a in d u m e n tá r ia d a R e v o lu ç ã o F ran cesa. (O p a i d e P a in e tin h a s id o fa b r ic a n te d e c o r p e te s d e T h e tfo r d em N o r fo lk .)



A Escalada do Homem

já n ã o e r a m la v ra d o res, fo r m a v a m a g o r a u m a c o m u n id a d e in d u s ­ tr ia l. T i n h a m m en tes,

o

de

ser p a g o s e m

govern o

cen tral

em

m o ed a e não L ondres

em

esp écie; en tre-

d e sco n h e c ia

o

se n tid o

d e ssa tr a n sfo r m a ç ã o . R e c u sa v a -se , p o r e x e m p lo , a c u n h a r m a io r q u a n tid a d e d e m o e d a s, d e m o d o q u e m estres-ferreiro s c o m o J o h n W ü k in so n

p assaram

a c u n h a r s u a s p r ó p r ia s m o e d a s - v a le sa la r ia is,

tra zen d o

im p ressa s

L ondres:

ser ia isso

dade

in v e n ç õ e s r a d ic a is se o r ig in a m e m

que

p r im e ir o m o d e lo

n ela s

suas

fa c e s p le b é ia s. O

in d íc io d e u m

a la r m e c h e g a a

131 M estres-ferreiros com o John W ilk in so n cu n h a va m seu s p ró p rio s vales salariais, e sta m p a n d o n eles su as fa c e s p leb éia s. T o k e n d e W i lk in s o n , 1788.

c o m p lô . M as não é m e n o s ver­ c é r e b r o s r a d ic a is. O

d e estru tu ra d e ferro p ara p o n te s, e x ib id o e m

L o n d res, foi p r o p o sto p or T o m

P a in e , c o n te s ta d o r n a A m é r ic a e

n a In g la te r r a e p r o ta g o n is ta d e O s D ir e ito s d o H o m e m . N esse

Ín terim , o ferro fu n d id o e sta v a s e n d o u s a d o d e m a n e ir a

r e v o lu c io n á r ia c o n str u iu de que

o

p o r m estres-ferreiro s

p r im e ir o

barco

ferro e m

J oh n

W ilk in so n . E ste

1 7 8 7 , v a n g lo r ia n d o -se

n e le seria c a r r e g a d o s e u c a ix ã o q u a n d o m o r r e ss e . N a v e r ­

d ad e, fo i en terrad o e m gou

de

com o

sob

co n stru ir,

u m a

p on te

em

1 77 9,

c a ix ã o d e ferro e m

de nos

1 8 0 8 , e o barco nave­

ferro a q u a l W ilk in so n arredores

a in d a h o je a p o n te é c h a m a d a

da

h a v ia a ju d a d o a

c id a d e la

Iro n b rid g e

(P o n te

de

S h ro p sh ire;

d e F erro ).

M a s, c h e g o u a a r q u ite tu r a d o fe r r o a r iv a liz a r a a r q u ite tu r a d a s C a ted ra is? S im .

E ssa

ép o ca

fo i h e r ó ic a . T h o m a s T e lfo r d

isso , a o a m p lia r a p a is a g e m c o m

se n tiu

ferro . N a s c id o p a sto r d e o v e lh a s

e p o b r e , tr a b a lh o u d e p o is c o m o p e d r e ir o d ia r ista e, p o r in ic ia tiv a

1 32 O s m o n u m e n to s da R e v o lu ç ã o In d u strial osten tam um a g ra n d io sid a d e rom ana, um a g ra n d io sid a d e r e p u b lica n a . A p eq u e n a p o n te ju n to à C o a lb r o o k d a le , a p r im e ir a g r a n d e e x te n s ã o d e fe rr o a s e r e rig id a s o b r e o S evern , e n tre 1 7 7 5 e 1 779.


Em Busca de Poder p r ó p r ia , to r n o u -s e e n g e n h e ir o p o eta s. O

d e e str a d a s e ca n a is, e a m ig o d o s

g ra n d e a q u e d u to q u e s u ste n ta o c a n a l L la n g o lle n so b r e

o r io D e e , p o r e le c o n s t r u íd o , a te s ta s u a m a e str ia n o u s o d o fe r r o fu n d id o em e x ib e m

um a

larga e sc a la . O s m o n u m e n t o s d a R e v o lu ç ã o In d u stria l g r a n d io sid a d e

r o m a n a , g r a n d io s id a d e r e p u b lic a n a .



Em Busca de Poder

O s co n stru to res

da

R ev o lu çã o

p e rtu rb á v eis h o m e n s senão u m

o

p r ó p r io

In d u stria l sã o p in ta d o s c o m o im ­

de n e g ó c io , se m

in ter e sse .

n e n h u m a o u tra m o tiv a ç ã o

C erta m en te,

isso n ã o é c o r r e to . P or

la d o , p o r q u e m u ito s d eles e r a m in v e n to r es q u e en tra ra m para

o s n e g ó c io s p o r e s s a v ia , e p o r o u t r o la d o p o r q u e a m a io r ia d e le s n ã o p e r te n c ia à Ig reja d a I n g la te r r a e, s im , a u m a tr a d iç ã o p u r ita n a d o

tip o

U n it a r ia n o o u sim ila r . J o h n W ilk in s o n e s ta v a s o b a fo r te

in flu ê n c ia q u ím ic o

de

seu

cu n h a d o

Josep h

P riesd ey , qu e

se to r n o u

um

fa m o s o , m a s era, a n te s d e tu d o , M in istro U n ita r ia n o e

p r o v a v e lm e n te

p io n e ir o

d o

p r in c íp io

“ m a io r

fe lic id a d e

para o

m a io r n ú m e r o ” . P riesd ey

por

J o sia h

Josep h

W ed g w o od .

P o is

brado

co m o

a

o

a risto cra cia

o ca siõ es,

fa b rica n te e

r ea leza ,

q u a n d o

fa b ric o u u m decoradas

sua

para

era

c o n se lh e ir o

W ed g w o od

c ie n tífic o

de

é h a b itu a lm e n te le m ­

d e m a r a v ilh o s o s ser v iç o s d e lo u ç a p a ra o

r e c e b ia

co n ju n to

vez

b em ,

q u e e le r e a lm e n te en com en d a s.

d e lo u ç a

C a ta rin a

Por

fez, m as e m e x e m p lo ,

raras

em

1774

d e c e r c a d e m ü p e ç a s r ic a m e n te

a G r a n d e , d a R ú ssia , q u e c u s to u d u a s

m il lib r a s — e n o r m e q u a n tia d e d in h e ir o p a r a a é p o c a . E n tr e ta n to , a

base

d a q u e le s

crea m w a re; P ir ô m e tr o d e J o s ia h W e d g w o o d , q u e lh e v a le u a e le iç ã o p a r a F e l l o w d a S o c ie d a d e R e a l d e L o n d res.

c in q ü e n ta C a ta rin a qu e

o

o b jeto s

sem lib r a s,

c e r â m ic a

o rd in á r ia ,

a d e c o r a ç ã o , as m il p e ç a s c u sta r ia m

m en o s de

com

a G ran de,

torn o u

de

as

m as

fam oso

m esa

era

m esm as sem

os

form as

crom os

e próspero

não

a rg ila b r a n c a p a r a c e r â m ic a , d e u s o p o d ia C o m

com p rar o

essas

tem p o ,

peças

fo i isto

por

que

sua

e

q u a lid a d e

id ílic o s.

das

era p o r c e la n a e sim

co m u m . O

cerca de u m

tran sform ou

as

de

crea m w are

O

h o m em

s h illin g

u m a

das ruas

cada um a.

c o z in h a s d a c la sse

tr a b a lh a d o r a d a R e v o lu ç ã o In d u stria l. W e d g w o o d

era u m

h o m e m

p r o fis s ã o , é c la r o , e t a m b é m p u d essem

a p erfeiço a r

t e m p eratu ra d e sliza n te m o v ia . A 133 O crea m w a re que torn o u W e d g w o o d fam oso tra n sfo n n o u as cozin h a s da classe tr a b a lh a d o r a na R ev o lu çã o Industrial. L o u ça d e cerca de 1780.

no

sua

in ter io r

ex tra o rd in á rio : em

a rte.

do

in v e n tiv o , e m

sua

to d a s as té c n ic a s c ie n t íf ic a q u e In ven to u

u m

m e io

de

m ed ir a

fo r n o , u s a n d o u m a e s p é c ie d e e sc a la

por exp an são , na qual um a

p e ç a -te ste d e c e r â m ic a se

m e d iç ã o d e a lta s te m p e r a tu r a s era u m

p r o b le m a a n tig °

e d e d ifíc il s o lu ç ã o q u e in ter e ssa v a s o b r e m a n e ir a as in d ú s tr ia d e m e ta l e c e r â m ic a ;

p o rta n to

(d en tro

d o

co n tex to

d a é p o c a ), foi

j u s t a a e le iç ã o d e W e d g w o o d p a ra a R o y a l S o c ie ty . J o s ia h W e d g w o o d

n ão

e ra e x c e ç ã o , h a v ia d e z en a s d e h o m e n s

c o m o e le . N a r e a lid a d e , fa z ia p a r te d e u m h o m e n s, a S o c ie d a d e era u m

a g lo m er a d o

de

L unar de

gru p o de cerca de d o ze

B ir m in g h a m

(B ir m m g h a m

d istr ito s in d u stria is), a ssim

a in d a

ch am ad a por

277



Em Busca de Poder

e le s

p r ó p r io s

c h e ia .

Para

d e v id o

ao

h o m en s

fato

c o m o

de

os

en con tro s

W ed g w o od ,

que

se

darem

v in h a m

n a lu a

de

lu ga res

r e la tiv a m e n te a fa sta d o s d e B ir m in g h a m , essa era u m a m e d id a d e s e g u r a n ç a , p o is

p o d ia m

c r u z a r e str a d a s d e so la d a s, p e r ig o sa s,.e m

n o ite s escu ra s. N o da

en ta n to , W ed g w o o d

reg iã o :

J am es

essa d istin ç ã o

W att

m á q u in a

para

n ã o e r a o in d u s tr ia l m a is im p o r ta n t e c a b ia a M a tth e w

B irm in g h a m

a v a p o r. B o u lto n

p orq u e

B o u lto n , q u e tr o u x e

p o d e r ia m

co n stru ir

a

adorava con versar sobre m éto d o s de

m e d id a ; d iz ia q u e a n a tu r e z a o

h a v ia d e s tin a d o à e n g e n h a r ia a o

fa z ê -lo n a sc e r n o a n o d e 1 7 2 8 , s e n d o e sse o n ú m e r o d e p o le g a d a s W edgw ood, p o r G e o rg e S tu b b s .

c ú b ica s em

u m

im p o r ta n te sen d o b riu

p é c ú b ic o . A m e d ic in a ta m b é m

n a q u e le

gru po,

p o sto

c o n se g u id o s n esse c a m p o . O o

u so

d os

d ig itá lic o s

em

ocu pava u m

lu ga r

q u e g ra n d es a v a n ço s esta va m D r. W illia m W ith er in g d e s c o ­

B irm in g h a m . U m

o u tro

m éd ico ,

p e r te n c e n te à S o c ie d a d e L u n a r e cu ja fa m a p ersistiu , f o i E ra sm u s D a r w in , a v ô d e C h a rles D a r w in . O

o u tr o a v ô ? J o sia h W e d g w o o d .

S o c ie d a d e s ta is c o m o a S o c ie d a d e L u n a r r e p r e se n ta m o e sp ír ito d os

con stru to res

da

R e v o lu ç ã o

in g lê s) d e q u e e le s tin h a m e sp ír ito dade

e sse n c ia lm e n te

L unar

so fr ia

In d u stria l

(u m

e sp ír ito

m u ito

r e s p o n s a b ilid a d e s so c ia is. A o c h a m á -lo

in g lê s c o m e te -s e

grande

u m a in ju stiça ; a S o c ie ­

in flu ê n c ia

da

p a rte

de

B e n ja m in

F r a n k lin e d e o u t r o s a m e r ic a n o s a e la a s s o c ia d o s . O q u e a m a n t i­ nha

era

u m

a to

s im p le s d e fé:

u m a

b o a v id a c a r a c te r iz a -se p o r

a lg o m a is d o q u e d e c ê n c ia m a t e r ia l; m a s u m a b o a v id a d e v e e s ta r b a s e a d a n a d e c ê n c ia m a te r ia l. P a ssa ra m -se torn assem r e a lid a d e 134 J o sia h W e d g w o o d era um h o m em extraord in ário: in ven tivo , e m sua p ro fissã o, é cla ro , e ta m b ém em tod as as técn ica s cien tífica s q u e pudessem a p e rfe iç o a r su a arte. C u id a d o sa c o le ç ã o de p ad rõ es d e cores d e J o s ia h W edgw ood, 1 776.

cem

an os

r e a lid a d e p a r ec ia

p in tu r a

v ito r ia n a

rou p as

ín tim a s

tra n sfo rm açã o sim p les c o m o ja n ela s, vação a tu a is,

na

a té

que

o s id ea is d a S o c ie d a d e

In g la terra

lu g a r-co m u m , em de

u m

v id a

m esm o

cartã o

a lg o d ã o

na

v ito r ia n a . Q u a n d °

da

e

o

p o sta l. sabão

p o p u la ç ã o

essa s, e m a is, ca rv ã o

a lim e n to s

à

e sc o lh a ,

c ô m ic a , É

pobre.

em

tal q u a l

c ô m ic o

cau saram

L unar se ch eg ° ^

p e nsar

tão

a

um a q ue

p ro fu n d a

C o n t u d o , c o isa s

fo g ã o d e fe r r o v id r o n a s

sig n ific a r a m

um a

m a r a v ilh o sa e le ­

n o s p a d r õ e s d e v id a e d e s a ú d e . J u lg a d o s s e g u n d o c r ité r io s os

d istrito s

in d u str ia is

eram

fa v e la s,

m as

p ara

a q u eles

e g resso s d e p a lh o ç a s, u m a

casa r e p r e se n ta v a lib e r ta ç ã o d a f o m e ,

d a

e la

su j e ira

e

das

o p o r tu n id a d e s. O

d oen ças;

o ferecia

q u a r to d e d o r m ir c o m

u m a

in fin id a d e d e n o v a s

u m

t e x t o r e lig io so p e n ­

d u rad o na p ared e p o d e n os p arecer en g ra çad o o u m e sm o p a té tic o ,

2 7 9


A Escalada do Homem

m as

para

a

p r im e ir a cam a

d o n a-d e-ca sa

da

c la sse

tra b a lh a d o ra

rep resen ta va a

e x p e r iê n c ia d e v id a p riv a d a d e c e n te . P r o v a v e lm e n te , a

co m

estra d o

de

ferro

sa lv o u

m a is m u lh e r e s d e in fe c ç õ e s

p u e r p e r a is d o q u e a m a la p r e ta d o d o u to r , p o r si só , u m a in o v a ­ ção m é d ic a d a ép o ca . E sse s b e n e fíc io s v ie r a m

co m o

c o n se q ü ê n c ia d a p ro d u ç ã o

em

Token de uma fábrica, mostrando a máquina a vapor de Watt, 1786.

m a s s a d a s fá b ric a s. E o s is te m a fa b ril e r a h o r r e n d o ; o s m a n u a is e sc o la r e s o de

descrevem

o u tro s

siste m a s

c o r r e ta m e n te . M a s o h o r rív el fo i h e r d a d o

tr a d ic io n a is.

A s m in a s e o fic in a s e r a m

in sa ­

lu b r e s, s u p e r lo ta d a s e tir â n ic a s, m u ito a n te s d a R e v o lu ç ã o I n d u s ­ tr ia l.

A s

m u ito

fá b ric a s

v ig en te

para com A

m in a s

r e sp e c tiv o s se

fosse

in d ú str ia s

m a n tiv era m

o

padrão,

de

p r o v in c ia is, d e d e s c a s o im p ie d o s o

a q u e le s q u e n e la tr a b a lh a v a m .

p o lu iç ã o

novo;

sim p le sm e n te

nas

cau sada e

p ela s

o fic in a s

a m b ien tes.

u m a

desgraça

fo r m a d e m a n ifesta çã o

fá b rica s

tam b ém

tr a d ic io n a lm e n te

P en sam os

em

m oderna,

m as

não

era

a ssu n to

degradavam

os

seus

p o lu iç ã o a m b ien ta l c o m o essa

é

ap en as u m a o u tra

d a só r d id a in d ife r e n ç a p a ra c o m

e a d e c ê n c ia , q u e n o s sé c u lo s p a ssa d o s c o n v id a v a m

a saúde

a P este para

su a v isita a n u a l.

!

E n tr e ta n to , o h o r rív el d a fá b rica fo i a in tr o d u ç ã o d e u m

i

d e o u tra o rd em : a su b o rd in a çã o d o h o m e m

m al

a o r itm o d as m á q u i­

n as. P ela p r im e ir a v e z , o s tr a b a lh a d o r e s e r a m c o n d u z id o s s o b as ordens de u m

r e ló g io im p e sso a l:

135 M a tth ew B o u lto n con stru iu u m a fáb rica lu x u o sa . "A qui eu vendo, m e u s e n h o r , a q u ilo que tod o o m u n d o deseja p o ssu ir p o tên c ia .”

A famosa Soho Foundry de Matthew Boulton e James Watt em Birmingham: "Da Arte, da Indústria e da Sociedade fluem Grandes Bênçãos”. Certificado de Seguro de Trabalho mostrando o prédio da fábrica.

p r im e ir o d a e n e r g ia h id r á u lic a ,

e d e p o is d a d o v a p o r . A n ó s n o s p a r e c e d e sv a r io (e e ra u m

desva-

rio ) o f a t o d e o s o p e r á r io s s e r e m i n t o x ic a d o s p e lo s c o n t í n u o s j a t o s de

vapor

das

c a ld e ir a s.

p e c a d o c a p ita l n ã o p r e g u iç a . A té

P reg av a-se

era m a is o v íc io

u m a ou

n ova

é tic a

a c r u e ld a d e

na

qual

o

m a s, sim , a

as e sc o la s d o m in ic a is a d v e r tia m as c r ia n ç a s d e q u e

S a tã

sem p r e e n co n tra m a le fíc io s P a ra m ã o s d e s o c u p a d a s re a liz a r e m . A

m u d a n ç a d a e sc a la d o t e m p o in tr o d u z id a p e la s fá b ric a s fo i

c r u e l e d e stru tiv a , m a s a m u d a n ç a d a e sc a la d e p o d e r a b r iu c a m i­ n h o para o fu tu ro . P o r e x e m p lo , o M a tth e w B o u lto n d a S o c ie d a d e L unar

c o n stru iu

tra b a lh o e m artesão s. tod o

o

E

u m a

fá b rica

m e ta l p o r e le foi aí que

lu x u o sa ,

u m a

vez

que

o

tip o

de

p r o d u z id o d e p e n d ia d a h a b ilid a d e d e

J a m es W att v e io

p o d er, a m á q u in a a v a p o r, ú n ico

c o n str u ir

o d eu s-so l de

lu ga r o n d e p o d e r ia e n ­

c o n tr a r p a d r õ e s d e p r e c isã o n e c e ssá r io s a o s a ju ste s d e seu in v e n to .

280

E m

177 6

a sso cia çã o

M atth ew

co m

B o u lto n e x u lta v a d e e n tu sia sm o

p e la su a

J a m e s W a tt. N e s s e m e s m o a n o d e c la r o u g ra n d i-

136 P assaram -se c e m a n o s a té q u e o s id eais d a S o c ie d a d e L u n a r se torn a ram rea lid a d e n a In glaterra v itorian a. Q u a n d o isso aconteceu, a realid a d e se apresentou co m o u m lu ga r-co m u m , cô m ic a m esm o .

Interior de um chalé em 1896.


'

«llUKbfl

./■ mu

|r JJ*> •.»)j i j o v :

\{

V a

im i!^ ü |su p u | i j y i n i u j

s\,

■ **.*3 »


1 37 . O n o v o con ceito da natureza c o m o fo n te d e en ergia c o lh e u -o s c o m o u m a tem p estad e. U m a f o r n a lh a , c e r c a d e 1 790.

A Escalada do Homem

lo q ü e n te m e n te a o b ió g r a fo J a m e s B o sw e ll: “ A q u i e u v e n d o , m e u se n h o r , a q u ilo L in d a frase! P o tê n c ia

que

to d o

o

m u n d o

d e seja p o ssu ir -

p o tê n c ia ” .

E v erd a d eira ta m b é m .

torn a -se u m a n o v a p r e o c u p a ç ã o , e m

u m a n o v a id é ia d a c iê n c ia . A

R ev o lu çã o

u m

c e r to sen tid o ,

In d u stria l, a r e v o lu ç ã o

in g le sa , rev e lo u -se u m a g ra n d e d e sc o b r id o r a d e fo n te s d e p o tê n ­ c ia .

F o n tes

de

en e r g ia

eram

buscadas

na

n a tu reza :

v e n to , so l,

á g u a , v a p o r , ca rv ã o . R e p e n tin a m e n te u m a p e r g u n ta se c o n cretiza : P o r q u e r a z ã o to d a s e la s f a z e m a m e s m a c o isa ? Q u e r e la ç ã o e x is t e en tre

e la s,

en tão ? E ssa

a n terio rm en te.

A té

p e r g u n ta ja m a is

aqui a

c iê n c ia

h a v ia

h a v ia -se

sid o

fo r m u la d a

p reocu p ad o

c o m

a

n a tu reza , m as a p en a s e x p lo r a n d o sua c o n stitu iç ã o . M a s, a g o ra , a co n cep çã o

m od ern a

de

se p o d e r tra n sfo rm a r a n a tu reza , a fim

d e e x tr a ir d ela e n e r g ia , e m u d a r u m a f o r m a d e e n e r g ia e m a tin g ia

as

fr o n te ir a s

to r n o u -s e c la r o q u e m ável C a rn o t,

em

ou tra s,

o

p en sam en to

c ie n tífic o .

E m

o u tra ,

p a rticu la r,

ca lo r era u m a fo r m a d e e n e r g ia , tra n sfo r-

segu n d o

e n g en h e ir o

p rop orções

fix a s.

fran cês, e x a m in a n d o

as

E m

1 8 2 4 ,

m á q u in a s

Sadi

a vapor,

t r a t a d o s o b r e o q u e e le c h a m o u la p u is s a n c e m o tr ic e

escreveu u m d u fe u ,

d o

n o q u al fo i fu n d a d a , e m

e ssê n c ia , a c iê n c ia d a te r m o d i­

n â m ic a — a d in â m ic a d o ca lo r. E n e r g ia h a v ia -se to r n a d o c o n c e it o c ie n tífic o fu n d a m e n ta l p a ra a c iê n c ia ; a ssim , a in d a g a ç ã o p r in c ip a l da

c iê n c ia

p assa

a ser

sobre

a

u n id a d e

da n a tu reza , d a q u al a

e n erg ia c o n stitu i o cern e. E ssa

in d a g a ç ã o

n ossa, v am o s isso

se

não

a tin g ia

e n c o n tr á -la

p assa, o

que

apenas

ig u a lm e n te

esta va

p o eta s

ro m â n tic o s

c iê n c ia .

a co n tecen d o

m e n to d a p o esia r o m â n tic a , e m os

a

estar

Para

surpresa

n a s a rtes. E n q u a n to n a lite r a tu r a ? O

tu d o su rg i­

to rn o d e 1 8 0 0 . M as c o m o p o d ia m in teressa d o s

na

in d u str ia liz a ç ã o ?

M u ito sim p le sm e n te : o n o v o c o n c e ito d a n a tu r e za c o m o fo n te d e e n erg ia

c o lh eu -o s

adoravam em O

tal q u a l

te m p e s ta d e . E les s im p le s m e n te

a p a la v r a “ t e m p e s t a d e ” , c o m

fr a se s ta is c o m o S tu r m c lím a x

u m a

a c o n o ta ç ã o d e e n erg ia ,

u n d D ra n g, “ tem p esta d e e im p u lso ” .

d e R im e o f th e A n c ie n t M a r in e r ( R im a s d o

V e lh o M a ­

r in h e ir o ) d e S a m u e l T a y lo r C o le r id g e é c o n s e g u id o la n ç a n d o m ã o d e u m a tem p esta d e

q u e b r a n d o u m a c a lm a m o r tiç a e lib e r ta n d o

a v id a n o v a m e n te .

Os ares, de repente, se animaram! Flâmulas de fogo, às centenas, brilhavam como que agitadas de cá pra lá! De cá pra lá, acendendo e apagando, Pálidas estrelas também dançavam.



138 D essa m a n eira fo i p ro d u zid a u m a p a rafern ália d e id éia s ex cên trica s p ara entreter as tardes de s á b a d o d a s fa m ília s d a s cla sses trab a lh ad o ras.

Ozootrópico; uma plataforma elevadiça; e uma mobília retrátil para quarto de dormir.


O v e n to fo r te n ã o a tin g iu o b a rco , N o e n ta n to , o b a r co , agora, se m o v ia ' S o b o s r e l â m p a g o s e à luz d a lu a , O g e m id o d o s m o r to s se o u via.

lu sta m e n te p o r essa ép o ca, 1799, um jo v em filó so fo alem ão, F ricd rich von S chelling, in au g u ro u um a nova fo rm a de filosofia que crio u raízes p ro fu n d a s na A lem an h a, N a tu r p h ilo s o p h ie — filo so fia da n atu reza. A través de C oleridge ela chegou à Ingla­ terra, to rn a n d o -se , assim , c o n h ecid a pelos L a k e P o e ts (p o etas do D istrito de L ake) e pelos W edgw oods, am igos e tam b ém p a tro ­ nos do p o e ta , u m a vez gue lhe d estinavam um estip ên d io an u al. P o etas e p in to re s fo ram rap id am en te envolvidos pela idéia de q u e a n a tu re z a é u m a fo n te de poder, cujas d iferen tes form as n ad a m ais são d o q u e d ife re n te s m an ifestaçõ es de um a única fo rça c e n tra l, isto é, a energia. E n ão ap en as a n atu reza. A poesia ro m â n tic a se afirm a com clareza m erid ian a de um a energia divina ou, pelo m enos, n atural. A R e v o lu ç ã o In d u strial c rio u lib erd ad e (na prática) para que, q u e re n d o , os h o m en s p udessem realizar aq u ilo que clam ava por se ex p ressar dc d e n tro deles m esm os — tal co n c e ito era in co n ce­ b ív el u m a c e n te n a de an o s an tes. A ssim , o p en sam en to ro m â n tico in sp iro u aq u eles h o m en s a tra n sfo rm a re m suas liberdades indivi­ d u ais em um n o v o se n tid o , cm um a p erso n alid ad e n atural. W illiam B lake, o m aio r d o s p o etas ro m â n tico s, d efin iu esse p o n to m a g istralm en te: “ E nergia é P razer E te rn o ” . A palavra-chave é “ p ra z e r” e o co n ceito -ch av e é “ lib eração " um s e n tim e n to dc alegria, um d irc ito h u m an o . N atu ralm en te, os h o m e n s da lin h a dc fren te da ép o ca ex p ressaram esse im p u lso em inv en çõ es, p ro d u z in d o u m a in fin id ad e dc idéias ex cên tricas p ara aleg rar as tard es de sáb ad o das fam ílias trab alh ad o ras. (A p a rtir d e e n tã o , a m aio ria dos p ed id o s de reg istro d e p aten tcs, a b a rro ta n d o os escritó rio s de p a te n te s, beiram a insan id ad e, c o m o a c o n te c e co m seus p ró p rio s au tores.) P o d eriam o s pavi­ m e n ta r u m a avenida, in d o d aq u i até a Lua, com tais lou cu ras; e isso seria tã o in ú til ou tão en g en h o so q u a n to chegar até o satélite. V eja-se, p o r e x em p lo , a idéia d o z o o tró p ic o , q ue consiste em um ta m b o r circu lar p ara a an im açã o de um q u a d ro cô m ico v ito rian o , p o r m eio de g rav u ras p ro je ta d a s su cessivam ente em um visor. E q u ase tão d iv e rtid o c o m o u m a sessão de cin em a, tra n sm itin d o a m ensagem de fo rm a b a sta n te d ircta . Ou a o rq u e stra au to m á tic a ,

285


A Escalada do Homem

co m

a v an ta gem

g ro sse ir o , s e m

de u m

r e p e r tó r io restrito . T u d o isto e m

q u a lq u e r to q u e d e b o m

pac° te

g o sto , m a s c o n se g u in d °

se im p o r . P ara c a d a in v e n ç ã o su p é r flu a d e u s o d o m é s tic o -

c° m °

a d o c o r ta d o r d e le g u m e s — h á u m a o u tra , e x tra o rd in á ria , c o m o a

d o

te le fo n e .

d ev eria m o s

F in a lm en te,

co lo ca r

a

fech a n d o

m á q u in a

a

a v en id a

r e p r e se n ta tiv a

d os

da

prazeres,

e ssê n c ia

da

m a q u in a ria : a q u e n ã o faz a b so lu ta m e n te n a d a! O s

h o m en s

r e sp o n sá v e is p e la s in v e n ç õ e s tr e slo u c a d a s e p ela s

d e g ra n d e v a lo r v ê m

do m esm o

a estra d a d e ferro, in v en çã o

c a ld o d e c u ltu r a . C o n s id e r e m o s

d erra d eira d a R e v o lu ç ã o In d u stria l;

le m b r e m -se q u e esta se in ic io u c o m

a c o n s tr u ç ã o d e ca n a is. P o is

b e m , a e stra d a d e ferro to r n o u -s e r e a lid a d e p ela a ç ã o d e R ic h a r d T r e v ith ic k ,

o r ig in a r ia m e n te

fo r tíssim o , lu ta d o r

de

fe r r e ir o e m

lu ta -liv re , fe z

C o rn w a le; este h o m e m

da

m á q u in a

a vapor u m a

u n id a d e m ó v e l d e p o tên c ia a o tra n sfo rm a r o in v e n to d e W a tt e m u m a

m á q u in a

cen d o

u m a

d e a lta p r e s s ã o . F o i u m

rede

a rteria l d e

a to v iv ific a n te , e sta b e le ­

c o m u n ic a ç ã o

em

u m

m u n d o

cu jo

c o r a ç ã o p a s s o u a s e r a In g la terra . E sta m o s a p en a s a m e io

curso da

b e m , p o is te m o s m u ito

a d iz e r s o b r e e la , q u e fe z o m u n d o m a is

r ic o ,

m en or

e,

p ela

p r im e ir a

R ev o lu çã o

vez,

nosso.

In d u stria l;

e, a in d a

L ite r a lm e n te ,

nosso

m u n d o , o m u n d o de to d o s nós. E m

seus

água, a

p r im ó r d io s, q u a n d o a in d a d e p e n d e n te

R e v o lu ç ã o

v id a s o u

In d u stria l

m e io s d e v id a e r a m

v o lu ç õ e s o sã o

foi cru el para

co m

d o

poder da

a q u e le s cu ja s

p o r e la u ltr a p a ss a d o s. T o d a s as r e ­

— faz p a rte d e su as n a tu reza s, u m a v ez q u e , p o r

d e fin iç ã o , as r e v o lu ç õ e s v ã o m u ito d ep ressa p a ra a q u e le s a tin g id o s por

e la s.

C o n tu d o ,

a ca b o u -se

torn a n d o

um a

r e v o lu ç ã o

so c ia l,

e s ta b e le c e n d o a ig u a ld a d e so c ia l, a ig u a ld a d e d e d ir e ito s, e, p rin ­ c ip a lm e n te , a ig u a ld a d e in te le c tu a l, d a s q u a is to d o s n o s b e n e fi­ c ia m o s.

O n d e

e sta r ia

u m

h o m em

co m o

eu

ou

co m o

v o c ê , se

tiv é ss e m o s n a sc id o a n te s d e 1 8 0 0 ? C o m o a in d a e s ta m o s v iv e n d o no

b o jo

da

R e v o lu çã o

In d u stria l

é-n os

d ifíc il

ver

im p lic a ç õ e s , m a s , s o b r e e la , o f u t u r o d irá te r s id o u m sa lto

m e s m o , n a e sc a la d a d o h o m e m , tã o im p o r ta n te

foi a R en a scen ça . A

R e n a sc e n ç a e sta b e le c e u

c la r o

suas

p asso, u m q u a n to

o

a d ig n id a d e d o h o ­

m e m . A R e v o lu ç ã o In d u stria l e sta b e le c e u a u n id a d e d a n a tu r e za . M o ld o u -se d e v id o à a tiv id a d e d e c ie n tista s e p o e ta s r o m â n tic o s

286

q u e v i r a m o v e n t o , o m a r , o s c u r s o s d ’á g u a , o v a p o r c o m o c r i a ç ã o d o ca lo r d o so l, e o

p r ó p r io c a lo r c o m o

u m a fo r m a d e e n erg ia .

139 R ic h a rd T revith ick tran sform ou a m á q u in a a vapor em u m a u n id ad e m óvel de p o tên cia .


Em Busca de Poder M u ito s to d o s

h o m en s pensaram os

r e la ç õ e s

o u tro s, -

J am es

foi

so b r e isso , m a s, u m

o resp o n sá v el p e lo

P resco tt J o u le ,

de

d e le s, m a is d o q u e

e sta b e le c im e n to

M a n ch ester.

dessas

N a scid o

em

1 8 1 8 , a p a rtir d o s v in te a n o s d e d ic o u su a v id a à e x p e r im e n ta ç ã o in tr in c a d a e d e ta lh a d a d a d e te r m in a ç ã o d o e q u iv a le n te m e c â n ic o


A Escalada do Homem

do

ca lo r

— isto

é,

do

e sta b e le c im e n to

da p ro p orçã o exa ta em

q u e a en erg ia m e c â n ic a se tr a n sfo r m a e m u m

em p reen d im en to

u m

tan to

q u a n to

c a lo r. P a r e c e n d o e sse a ca d ê m ic o

e c a n sa tiv o ,

p r e fir o c o n ta r u m a h istó r ia e n g r a ç a d a a s e u r e sp e ito . N o v e r ã o d e 1 8 4 7 , o j o v e m W illia m T h o m p s o n m en te

se to r n o u

b ritâ n ica ) esta v a c a m in h a n d o c a v a lh eiro

b ritâ n ico

esta r

B la n c. A í e n c o n tr o u

-

en co n tra r n o s A lp es? gando

u m

enorm e

-

e q u em

v isita

sua

(m a is

do

a tin g ia o s 2 6 0

e

acom p an h ad o,

q u e a águ a, c a in d o u m

lu a -d e -m el, v ia

encarregar

C h a m o n ix

ao

M ont

à

p eq u en a

u m a c a rru a g em . J o u le s e m p r e q u is de

2 6 0

m etro s,

grau F a h ren h eit. A ssim , a p r o ­

u m a

ou

o p o r tu n id a d e

d e ju stific a r

a

m e n o s p ela m e s m a r a z ã o q u e lev a

ca sa is a m e r ic a n o s a v isita r e m se

de

u m in g lês e x c ê n tr ic o : J a m e s J o u le , carre­

d em o n strar

a C h a m o n ix

-

p o d e r ia u m a c a v a le ir o b r itâ n ic o

term ô m etro

a u m en ta sua tem p era tu ra e m v eita n d o

e o n d e , n o s A lp e s, p o d e r ia u m

andando?

d istâ n c ia , p o r s u a e sp o s a e m fervo rosam en te

(q u e p o ste r io r ­

o g ra n d e L o r d K e lv in , a p r im a -d o n a d a c iê n c ia

N ia g a ra F aU s) e d e ix a r a n a tu r e z a

ex p er im e n to .

A

queda

d ’á g u a

era

m e tr o s , m a s e le se c o n te n ta r ia c o m

id e a l.

N ão

a e le v a ç ã o d e

a p en a s m e io grau F a h r e n h e it. A títu lo d e in fo r m a ç ã o , p o ss o d izer q u e e le — e v id e n t e m e n t e

— n ã o fo i b em -su ced id o ; n a q u ed a , as

c o lu n a s d e á g u a se q u eb ra m

e e sp ir r a m m u ito , to r n a n d o im p o s ­

sív e l a m e d id a . A

a n ed ota

tr ic id a d e s

do

não

ca v a lh e iro b r itâ n ic o le v a n d o a sério su a s e x c e n ­ é

irr e le v a n te .

A

esses

h om en s

d evem os

a v isã o

r o m â n tic a d a n a tu reza ; o M o v im e n to R o m â n tic o d a p o esia seg u iu su a s p eg a d a s. C o n s ta ta m o s isso e m tam b ém )

em

m ú sic o s

W ord sw orth

que

a

vez:

da

a v isã o

e sp ír ito , m en te

porque

ta is

m a n ifesta çã o

n a tu reza

se n tid a

a u n id a d e

u m

co m o

G o e th e (q u e era c ie n tista B eeth ov en .

c la r a

M as

se rev elo u

co m o

u m a

foi

com

p e la p r im e ir a

n ova

v ib r a çã o d o

d a n a tu r e za é a p r e e n d id a im e d ia ta ­

p e lo c o r a ç ã o e p e la m e n te . W o r d sw o r th h a v ia a tr a v e ssa d o

o s A lp es cesa.

e

em

E m

1 7 9 0 , a tr a íd o a o C o n tin e n te p ela R e v o lu ç ã o F r a n ­

179 8,

em

T in te r n

A b b ey,

e le se e x p r im iu

m elh o r d o

q u e q u a lq u e r o u tr o p o d e r ia ter c o n se g u id o . A n a tu r e za era. . . Para m im , tu d o em tu d o — n ã o co n sig o saber O q u e e n tã o eu era. A s o n o r id a d e d a cata rata M e e n v o lv ia corn o urna p a ix ã o . “ P ara m im , n a tu r e za era tu d o d izê-lo

tão

b em ,

m as

o

que

em

tu d o .” J o u le ja m a is c h e g o u a

d isse:

“O s

p od erosos

n a tu r e z a s ã o in d e s tr u tív e is ” sig n ific a a m e s m a co isa .

a gen tes

da

140 “ O s grandes a gentes da n atureza são in d e str u tív e is.” Q u e d a d ’á g u a d e S o lla n c h e s , C h a m o n ix .


(



^

OS DEGRAUS DA CRIAÇÃO A

teo ria d a e v o lu ç ã o p ela se le ç ã o n a tu ra l fo i p r o p o sta na d é c a d a

de

1 8 5 0 ,

in d ep en d en tem en te,

por

d o is

h om en s.

U m

d eles

C h a r le s D a r w in ; o o u tro A lfr e d R u ss e l W a lla c e . A m b o s era m tad ores eram

de

um a

certa

n a tu r a lista s.

U n iv e r sid a d e próspero

de

form a çã o

D a r w in

d o u to r , d e c id iu

por­

c ie n tífic a , m a s, p o r in c lin a ç ã o ,

freq ü en to u

E d in b u rg h

foi

por

o

d o is

fa zer d ele

curso

anos,

u m

de

a té

m e d ic in a

que

seu

da

p a i,

o

sacerd ote, m a n d a n d o-o

p a ra C a m b r id g e . W a lla ce v in h a d e fa m ília p o b r e ; te n d o a b a n d o ­ n a d o a e s c o la a o s q u a to r z e a n o s, fr e q ü e n to u m a is ta r d e c u r so s n o s In stitu to s p ara T ra b a lh a d o res

d e L o n d r e s e L e ic e ste r , e n q u a n to

a p r e n d iz d e a g r im e n su r a o u m e str e -e sc o la . O

fa to é q u e há d u a s tr a d içõ es d e e x p la n a ç ã o sem p re m a r c h a n ­

d o la d o a la d o n a e s c a la d a d o h o m e m . U m a in te r e s sa à a n á lise d a estru tu ra d o

m u n d o. A

o u tra , a o estu d o

d o s p r o c e s s o s d a v id a :

su a fr a g ilid a d e , su a d iv e r sid a d e , a r e c o r r ê n c ia d o s c ic lo s, d e s d e o n a scim en to teo ria

a té

a v id a era u m O

a

in d iv íd u o s

e

das

esp écies. C o m

d a s c iê n c ia s d a v id a , q u e a s c o lo c a e m

d iferen te

d e ta lh e

d os

a

e ss a s d u a s tr a d iç õ e s se e n c o n t r a m ; a té e n t ã o

p a r a d o x o in so lú v e l.

p arad oxo

g o r ia

m o rte

da e v o lu ç ã o

da

das

c iê n c ia s

físic a s,

é

u m a cate­

en con tra d o

em

cada

d a n a tu reza . E stá à n o ssa v o lta n o s p á ssaro s, nas árvores,

n a g ra m a , n o s ca ra m u jo s, e n fim , e m e x p r im i-lo

a ssim :

p ressão, são

tão

as

to d a c r ia tu r a v iv e n te . P o ss o

m a n if e s t a ç õ e s d a v id a , su a s fo r m a s d e

d iv ersa s q u e d e v e m

co n ter e m

ex ­

g r a n d e e sc a la u m

e le m e n t o a c id e n ta l. M a s, p o r o u tr o la d o , a n a tu r e z a d a v id a é tã o u n ifo r m e

que

deve

esta r d e te r m in a d a p o r m u ita s n e c e ssid a d e s.

D e s sa m a n e ira , n ã o é d e su r p r e e n d e r o fa to d a b io lo g ia , d a fo r m a que

h o je

sé c u lo s saros, 141 O paradoxo das c iê n c ia s d a v id a se apresenta e m cad a m a n ifestaçã o da natureza. UTrIil ú n i c a á r v o r e f l o r i d a e m uTrIil flo r e s ta d e v e g e ta ç ã o e x u b e r a n te . M a n a u s , B r a s il .

a e n t e n d e m o s , s ó ter a p a r e c id o c o m X V III e X IX :

c lé r ig o s,

c a m po.

S o u

In g la terra fato

d o u tores,

o s n a tu r a lista s d o s

ca m p o , o b servad ores de pás­

sen hores

em

fé r ia s

em

te n ta d o a c h a m á -lo s sim p le sm e n te

v ito r ia n a ” , p o r q u e

d a teo ria

h o m en s

a m an tes d o

não

p od e

ter

suas

casas

de

“ ca v a lh eiro s d a

sid o

m er°

acas°

°

d a e v o lu ç ã o ter s id o c o n c e b id a d u a s v e z e ^ p o r d o is

v iv e n d o

ao

m esm o

tem p o

e

na

m esm a

c u ltu ra

a

c u ltu r a d a R a in h a V itó r ia d a In g la terra . C h a r le s D a r w in

c o n ta v a v in te e p o u c o s a n o s q u a n im

o

A lm ira n -

t a d o d e c i d i u e n v ia r u m n a v i o c h a m a d o B e a g le c o m a f in a lid a d e d e m a p e a r a s c o s ta s d a A m é r ic a d o S u l; a e le c o u b e o c a r g o n ã o -r e m u -

291


I . !.


O s D e g r a u s da C r ia ç ã o

142 A teoria da e v o lu çã o fo i co n ceb id a duas vezes, p o r d o is h o m en s v iv en d o na m esm a época, e na m e s m a cu ltu ra. A lfr e d R u sse l W a lla c e a o s t r i n t a an os. C h a r le s D a r w in .

nerad o

de

n a tu r a lista .

in d ic a ç ã o d e h a v ia

se

seu

torn ad o

fora

fe ito a tra v és d e u m a

p ro fesso r d e b o tâ n ic a e m

O

c o n v ite

C a m b rid g e, d e q u e m

a m ig o , e m b o r a

lh e

d u ra n te esse p e r ío d o

estiv esse

m u it o m a is in te r e s sa d o e m c o le c io n a r b e s o u r o s d o q u e e m p la n ta s. D a r e i u m a p ro v a d e m e u z e lo : c e r to d ia , p u x a n d o a c a sc a d e u m a v elh a árv ore, v e n d o d o is b e s o u r o s raros, seg u r e i-o s u m e m ca d a m ã o; en tã o , vi u m te r c e ir o , d ife r e n te d o s o u tr o s d o is, q u e e u n ã o q u eria p erd er d e fo r m a a lg u m a ; a ssim , n ã o titu b e e i e m g u a rd a r u m d eles e m m in h a b o c a . S eu

e o c a p i t ã o d o B e a g le n ã o t o le r a v a a

pai se o p ô s à v ia g e m

form a

de seu

fav or

e

e le

n a r iz , m a s o fo i.

O

B e a g le

avô W ed g w o od lev a n to u

suas

se e m p e n h o u âncoras

no

em

d ia

seu

27

de

d ezem b ro de 1 83 1. O s c in c o h a v ia

sid o

an os passados n o u m

a p recia d o r

e

n a v io o tr a n sfo r m a r a m . A té e n tã o observador

a ten to

de

p ássaros, de

flo r e s, d a v id a d o c a m p o ; m a s, a A m é r ic a d o S u l fe z c o m a titu d e

e x p lo d isse

c o n v e n c id o seg u em

de

que

n ele

em

q u a n d o

form a

d e p a ix ã o . V o lto u

iso la d a s u m a s d a s o u tra s as e sp é c ie s

d ife r e n te s d ir e ç õ e s; as e sp é c ie s n ã o sã o im u tá v e is. E n tr e ­

tan to, n ã o

lh e o c o r r ia n e n h u m

m e c a n is m o q u e p u d e s se rev e la r a

ca u sa d essa d ifer e n c ia ç ã o . E stá v a m o s em D o is

q u e essa para casa

an os

m a is ta r d e e le e n c o n tr o u

para a e v o lu ç ã o

183 6. u m a e x p lic a ç ã o

d as e sp éc ie s, m a s r e lu to u e m

p o ssív e l

p u b lic á -la s. T a lv e z

n ã o tiv e sse c h e g a d o a fa z ê -lo e m to d a su a v id a se u m o u tr o h o m e m , d iferen te

d ele,

não

tiv e sse

seg u id o

q u ase

as

m esm a s etap a s de

e x p e r iê n c ia e p e n s a m e n t o , e c h e g a d o à m e s m a teo ria . E s te h o m e m é

a

p erson agem

e s q u e c id a , e m b o r a v ita l, n a te o r ia d a e v o lu ç ã o

p e la s e le ç ã o n a tu ra l. Seu

n o m e era A lfr e d R u ss e l W a lla ce, u m

u m a

fa m ília

d ic k e n se n ia n a

tão c ô m ic a

g ig a n te d e h o m e m q u a n to

a d e D a rw in

e m p e r tig a d a . À q u e le t e m p o , 1 8 3 6 , W a l1 a ce era u m a d o le sc ê n c ia ; n a sc id o e m jo v em

d o

g aroto em

com era sua

1 8 2 3 , era, p o r ta n t o , q u a to r z e a n o s m a is

q u e D a r w in . M e sm o

n e s ta é p o c a a v id a d e W a l1 a ce n ã o

e r a n a d a fá c il. S e m e u p a i tiv e s s e s id o m o d e r a d a m e n t e r ico . . . to d a m in h a v id a teria sid o d ife r e n te , e, e m b o r a p u d e s s e , s e m d ú v id a , ter d e d ic a d o a lg u m a a te n ç ã o à c iê n c ia , c o n s id e r o p o u c o p r o v á v e l q u e tiv e ss e sid o t e n t a d o a e m p r e e n d e r . . . u m a v ia g e m a flo r e sta s, q u a se q u e to ta lm e n te d e s c o n h e c id a s , d o A m a z o n a s, a fim d e o b se r v a r a n a tu r e z a e lev a r a v id a d e u m c o le c io n a d o r . E s s e é o r e la t o d e W a l1 a ce s o b r e o s p r im e ir o s t e m p o s d e su a v id a , q u a n d o tin h a d e g a n h á -la n a s p r o v ín c ia s in g le sa s. A d o t o u a p ro fis-


A Escalada do Homem

í■

s ã o d e a g r im e n so r , p a r a a q u a l n ã o era e x ig id a fo r m a ç ã o u n iv e r sitá ­ r ia , p o d e n d o a p r e n d ê - la c o m s e u ir m ã o . E s t e m o r r e u e m u m

r esfria d o

c o n tr a íd o

a o v o lta r p a ra c a sa e m

1 8 4 6 de

um a carruagem

a b erta , d e p o is d e ter p a r tic ip a d o d a r e u n iã o d e u m

c o m itê d a C o ­

m issã o R ea l so b r e d isp u ta s e n tr e c o m p a n h ia s d e e str a d a s d e ferro . E v id e n te m e n te , v iv ia m se

in te r e ssa n d o

por

L e ic e ste r e n c o n tr o u u m m a s m u ito

u m a v id a a o a r liv re , e W a lla c e a c a b o u

p la n ta s

e in se to s. E n q u a n to

tra b a lh a v a e m

o u tr o h o m e m c o m o s m e s m o s in teresses,

m a is in s tr u íd o d o

q u e e le . S e u a m ig o s u r p r e e n d e u -o

f a z e n d o - o v e r q u e , a d e s p e it o d e te r c o l e t a d o v á r ia s c e n t e n a s d e esp écies

de

b esouros,

h a v ia

m u ita s

a in d a

a

serem

d esco b ertas.

S e m e fo sse p e r g u n ta d o a n tes q u a n ta s esp écies d e b e s o u r o s p o d e r ía m ser en con trad as em

u m d istr ito p e r t o d e u m a c id a d e , e u p r o v a v e lm e n t e te r ia

a rrisca d o d izer c in q ü e n ta . . . m a s a g o ra h a v ia a p r e n d id o . . . q u e d e n tr o d e

D ia g r a m a r e tir a d o de um m anual de caça d e b e so u ro d e 1 8 4 0 , s e m e lh a n te à q u e l e q u e W a lla c e e B a te s te r ia m u sa d o e m su as e x c u r s õ e s d e c o le ta e m L e ic e ste r e S u l d e G a le s .

u m r a io d e d e z m ilh a s h a v ia m ilh a r e s d elas. F o i u m a r e v e la ç ã o p a ra W a lla c e , e isso d e fin iu su a v id a e a d e seu a m ig o . E ste

era H en ry

B a te s , m a is ta r d e f a m o s o p e lo s seu s tra ­

b a lh o s s o b r e m im e tis m o e m E n trem en tes, o jo v em

in seto s.

t in h a d e ir t r a b a l h a n d o p a r a v iv e r . F e l i z ­

m e n te , a é p o c a era fa v o r á v e l p a ra a a g r im e n su r a , d e v id o à e x p a n ­ sã o d a s estra d a s d e ferro d a d é c a d a d e 1 8 4 0 . W a lla ce f o i c o n tr a ta ­ d o p a ra fa zer o le v a n ta m e n to d e u m a p o s s ív e l r o ta p a ra u m a lin h a n o V a le N e a th n o S u l d e G a le s. E le era u m té c n ic o c o n s c ie n c io s o , c o m o seu ir m ã o h a v ia sid o , e c o m o e r a m to d o s o s v ito r ia n o s , m a s lo g o p e r c e b e u ser u m lev a n ta m en to s era m

p e ã o n o jo g o d o s p o d e r o so s. A m a io r ia d o s r e a liz a d o s c o m

a fin a lid a d e d e ju s tific a r e m

d ir e ito s d e p r o p r ie d a d e c o n tr a in v e stid a s d e r o u b o p o r p a rte d e o u tr o b a r ã o d e e str a d a d e fe r r o . W a lla c e c a lc u la r a q u e a p e n a s u m d é c im o

d a s lin h a s

lev a n ta d a s

n a q u e le

a n o p o d e r ia m ja m a is ser

c o n str u íd a s. A

p a isa g e m c a m p e str e d e G a le s era u m a d e líc ia p a ra u m

r a lista d e fim d e fim

d e s e m a n a , tã o fe liz e m su a c iê n c ia c o m o u m

de sem an a em

p in to r

su a a rte. A g o r a W a lla ce o b se r v a v a e c o le ­

c io n a v a p a ra si m e s m o , c a d a v e z m a is e n tu s ia s m a d o c o m dade

n a tu ­

da n a tu reza , q u e g u a rd o u a fe tu o sa m e n te

a v a r ie ­

n a m e m ó r ia

por

to d a a su a v id a . M e s m o q u a n d o tín h a m o s m u ito tra b a lh o , m e u s d o m in g o s e r a m to ta lm e n te liv res, e in t e g r a lm e n t e u s a d o s e m l o n g a s c a m in h a d a s n a s m o n t a n h a s c o m m in h a c a ix a d e co leta r, a q u a l v o lta v a sem p r e r e p le ta d e te so u r o s. . . A esse 2 94

t e m p o d e s c o b r i a a leg ria q u e a d e s c o b e r t a d e u m a n o v a f o r m a d e v id a p r o -

143 E le retorn o u con ven cid o de que as e sp é c ie s se d iferen ciam q u a n d o iso la d a s u m a s das outras. I lu s tr a ç õ e s d e J o h n G o u ld d e p á ssa ro s c o le ta d o s p o r D a r w in e m d i f e r e n t e s i lh a s d e G a lá p a g o s , e p o r e s te p u b lic a d a s e m seu r e to r n o e m 1 83 6, co m o The Z o o lo g y o f the V o y a g e o f H .M .S . B ea g le.

-


6 &


A Escalada do Homem p icia a o a m a n te d a n a tu r e za , q u a se ig u a l a o s a r r e b a ta m e n to s d ° s s e n tid o s q u e e x p e r i m e n t e i a c a d a c a p t u r a d e u m a n o v a b o r b o l e t a n o A m i z ° n as. E m

u m

d e s e u s fin s d e se m a n a , W a lla ce e n c o n tr o u u m a c a v er n a

na qual u m

r io c o r r ia s u b te r r â n e o e d e c id iu

n o ite . E ra c o m o

a c a m p a r a li a q u e la

u m a p rep a ra çã o in c o n s c ie n te p a ra u m a v id a d e

e x p lo r a d o r . Q u e r ía m o s e x p e r im e n ta r p o r u m a v ez o q u e seria d o r m ir a o rele n to e sem ca m a , c o m a p e n a s o q u e a n a tu r e za p u d e sse p ro v e r . . . P e n s o q u e , p r o p o sit a d a m e n t e , t ín h a m o s e v it a d o q u a lq u e r tip o d e p r e p a r a ç ã o , d e f o r m a q u e era c o m o se, a c id e n ta lm e n te , tiv é sse m o s d e e sc o lh e r u m lo c a l e m u m p a ís d e s c o n h e c id o , sen d o c o m p e lid o s a d o rm ir a í m e s m o . N a r e a lid a d e , e le p o u c o d o r m iu n e s s a o c a siã o . A os

v in te

e c in c o a n o s W a lla ce d e c id iu

d ed ica r-se in te ir a m e n te

a o n a tu r a lis m o . E ra u m a e str a n h a p r o fissã o v ito r ia n a . S ig n ific a v a g a n h a r a v id a c o le ta n d o d en d o -os nhava.

a

m u seus

A ssim ,

co n ju n to

de

os

e

d o is

e sp éc im e s e m

c o le c io n a d o r e s se

a sso cia ra m

1 0 0 lib r a s. V e le ja r a m

p a íse s e str a n g e ir o s e v e n ­ in g leses. B a te s o a c o m p a ­ em

1 84 8

co m

um

c a p ita l

e n tã o a té a A m é r ic a d o S u l,

s u b in d o c e r c a d e m il m ilh a s p e lo A m a z o n a s a c im a , a té M a n a u s, na d e sem b o c a d u r a d o R io N eg ro. E m b o r a a n te s n ã o tiv e sse id o m a is lo n g e d o q u e G a le s, W a lla c e não

se

d e ix o u

em b a sb a ca r p elo e x ó tic o ;

desde o

que

d esem b a rca ram , seu s co m e n tá r io s fo ra m

m o m en to

em

c la r o s e se g u r o s. A

r e s p e ito d a s a v e s d e r a p in a , p o r e x e m p lo , s e u s p e n s a m e n t o s e s tã o r e g is tr a d o s n a s N a r r a tiv e o fT r a v e ls o n th e A m a z o n a n d R io N e g r o (N a r r a tiv a s

d e

V ia g e n s a o

A m a zo n a s

e R io N e g r o ), p u b lic a d a s

c in c o a n o s d e p o is. O s u r u b u s p r e to s c o m u n s era m a b u n d a n te s, e p o r isso o a ijm e n to era esc a sso p a ra eles, o q u e o s o b rig a v a a c o m e r fr u to s d e p a lm e ir a s n a s flo r e s ta s q u a n ­ d o n a d a m a is c o n se g u ia m . E s to u c o n v e n c id o , p o r o b s e r v a ç õ e s r e p e tid a s, q u e as a v e s d e r a p in a se v a le m in te ir a m e n te d a v isã o , e n ã o d o o lfa to , q u a n d o b u s c a m a lim e n to . O s

d o is

a m ig o s

se

separaram

em

M a n a u s, W a lla ce e m p r e e n ­

d e n d o a s u b id a d o R io N e g r o . P r o c u r a v a lu g a res a in d a n ã o m u ito e x p lo r a d o s p o r n a tu r a lista s; p a r a g a n h a r a v id a c o m o n a tu r a lista se

v ia

C o m o

o b r ig a d o

a

co leta r e sp éc ie s n o v a s o u , p elo

m e n o s , raras.

o r io h a v ia tr a n s b o r d a d o d e v id o à s c h u v a s , W a lla c e e s e u s

ín d io s p u d e r a m le v a r a c a n o a a té a flo r e sta . O s g a lh o s d a s á rv o r e s p e n d ia m com

quase

toca n d o

a água. D e

in íc io , W a lla ce se e sp a n to u

a e s c u r id ã o a li r e in a n te , m a s t a m b é m

m a r a v ilh o u -se c o m

a

r ic a v a r ie d a d e d a flo r e sta , o q u e o le v o u a e s p e c u la r s o b r e c o m o e la se a p r e se n ta r ia se v ista d o a lto .

144 In evitav elm en te, en tre a fain a e o s p ra zeres d a flo resta , a m ente aguda de W allace c o m e ç o u a fla m eja r c o m u m a in trig a n te p ergu nta. C o m o p o d eria ter su rgid o to d a e ssa v a ried a d e? R a íz e s c o n to r c id a s e m u m a la g o a no A m a zo n as.



145

T ã o s em elh a n tes na a p a r ê n c i a e, con tu d o, tão d iferen tes n o s d etalh es. U m tu c a n o d e b ic o v e r m e lh o , u r u b u s e u m a r ã a r b o r íc o la .

I

I



A Escalada do Homem

O q u e p o d e m o s d iz er c o m ju stiça a resp eito d a v eg e ta ç ã o trop ical é q u e há u m n ú m e r o m u ito m a io r d e e sp éc ie s, e u m a m a io r v a r ie d a d e d e fo r m a s, d o q u e nas z o n a s tem p era d as. T a lv e z n e n h u m a o u tr a r e g iã o d o m u n d o c o n te n h a tal q u a n tid a d e d e m a ­ téria v e g e ta l e m su a s u p e r fíc ie c o m o o v a le d o A m a z o n a s . T o d a a su a e x te n s ã o , e x c e to e m p e q u e n a s p o r çõ e s, é c o b er ta p o r flo resta a n tiq ü íssim a , a lta e d e n s a , a m a is e x t e n s a e c o n t í n u a n a f a c e d a T e r r a . O e s p le n d o r d e ssa flo resta só p o d e r ia ser a p r e c ia d o e m su a p le n itu d e se se v ia ja sse e m u m b a lã o , a c im a d e s u a s u p e r f íc ie su p e r io r , o n d u la n t e e f lo ­ rid a : ta l r e g a lo t a l v e z e s t e j a r e s e r v a d o a o v ia j a n t e d e u m a é p o c a v i n d o u r a . E m seu p r im e ir o c o n ta to c o m um

u m a a ld e ia in d íg e n a e x p e r im e n ta

m isto d e e x c ita ç ã o e m e d o , m a s, c o m o sem p re a co n te c ia c o m

W a lla ce, s e u ú ltim o s e n tim e n to é d e p ra zer. A . . . m a is in e sp e r a d a s e n s a ç ã o d e su rp resa e s a tisfa ç ã o f o i a d e c o n v iv e r c o m h o m e n s v iv e n d o e m esta d o n atu ral - selv a g en s a b so lu ta m e n te n ã o -c o n ta m in a d o s! . . . O cu p a v a m -se d e tra b a lh o s e p ra zeres q u e n a d a tin h a m a ver c o m o s d o h o m e m b r a n c o ; a n d a v a m d e s p r e o c u p a d o s c o m o s e n h o r e s liv re s d a flo r e sta o n d e h a b ita v a m e . . . n ã o n o s d e d ic a v a m a m e n o r a te n ç ã o , a n ó s estra n geiros d e u m a raça d iferen te. E m c a d a p o r m e n o r e r a m o rig in a is e a u to -s u fic ie n te s , tal c o m o o s a n im a is s e lv a g en s d a s flo r e sta s, a b s o lu ta m e n te in d e p e n d e n te s d a c iv iliz a ç ã o , v iv e n d o su a s v id a s à s u a p r ó p r ia m a n e ir a , d a m e s m a f o r m a q u e v in h a m f a z e n d o atra vés d e in c o n tá v e is g e r a ç õ e s a n te s d a A m é r ic a ter sid o d e s c o b e r ta . A co n teceu tiv o s

que

que

o s ín d io s a ca b a ra m

te m ív e is.

A ssim ,

W a lla ce

sen d o

os

m u ito

in tro d u z iu

m a is p resta na

tarefa

de

c o leta r e sp éc im e s. D u r a n t e m in h a e s ta d a a q u i (q u a r e n ta d ias) c o n s e g u i p e lo m e n o s q u a r e n ta e sp é c ie s d e b o r b o le ta s, to d a s n o v a s p a ra m im , a lé m d e c o n sid e r á v e l c o le ç ã o d e o u tr a s c la sses. U m d ia f o i tr a z id o a té m im u m c u r io s o ja c a r e z in h o d e u m a e s p é c ie rara, a p r e s e n ta n d o n u m e r o s a s p r o tu b e r â n c ia s e tu b é r c u lo s c ô n ic o s (C a im a g ib b u s ), d o q u a l tirei a p e l e e e m b a l s a m e i , p a r a a e s t u p e f a ç ã o d o s í n d i o s , m e i a d ú z i a d o s q u a is a c o m p a n h a r a m a te n t a m e n t e to d a a o p e r a ç ã o . I n e v ita v e lm e n te , e n tr e a fa in a e o s p ra zeres d a flo r e sta , a m e n te aguda

de

W a lla ce

g u n ta. C o m o lh a n te

n o

co m eço u

p o d e r ia

esq uem a

a fla m e ja r c o m

ter s u r g id o

b á sico , m a s tã o m u tá v e l e m

s e m e lh a n ç a d o q u e h a v ia a c o n t e c id o c o m in tr ig a d o c o m e,

co m o

a ex istên cia

D a rw in ,

u m a

in trig a n te

per­

to d a essa v a r ie d a d e , tã o s e m e ­ seu s d eta lh es? À

D a r w in , W a lla ce e sta v a

d e d ife r e n ç a s e n tr e e s p é c ie s v iz in h a s,

co m eço u

a

procurar

u m a

e x p lic a ç ã o

para

ta n ta s d ifer e n ç a s d e d e s e n v o lv im e n to s . N ã o h á n a d a d e m a is in te r e s sa n te e in s tr u tiv o n a h istó r ia n a tu r a l d o q u e o 3 0 0

e s tu d o da d istr ib u iç ã o g e o g r á fic a d o s a n im a is.


146 Os ín d io s eram m u ito m a is p resta tiv os d o q u e tem íveis. M e n in o a k a w a io c o r ta n d o fo lh a s d e u m a p a lm e ir a , N o r te d o A m a z o n a s .

L o c a is d i s t a n d o n ã o m a is q u e c in q ü e n t a o u c e m m ilh a s a b r ig a m e s p é c ie s de in seto s e aves en co n tra d a s em gum a

fro n teira

d e fin in d o

o

u m , m a s n ã o n o o u t r o . D e v e h a v e r a l­

te r r itó r io

de

d istr ib u iç ã o

de

cada

esp écie;

a lg u m a p e c u l ia r id a d e e x t e r i o r d e m a r c a n d o a lin h a q u e n ã o d e v e ser c r u ­ zada. P r o b le m a s d e g e o g r a fia s e m p r e o a tr a ír a m . M a is ta r d e , tr a b a lh a n ­ d o n o a r q u ip é la g o d e M á la g a , f o i c a p a z d e m o s tr a r a p r o v e n iê n c ia a siá tica d o s a n im a is ilh a s

a

leste :

m a n tém

a

d a s ilh a s a o e s te , e a u str a lia n a , d a q u e le s d as

lin h a

o n om e de

d iv id in d o

esses

d o is

g ru p am en tos

a in d a

L in h a d e W a lla ce.

W a lla ce era o b se r v a d o r tã o a r g u to d o s h o m e n s c o m o d a n a tu ­ reza,

e

co m

o

m esm o

in teresse v o lta d o

renças. E m u m a era em

p a ra a o rig em

d as d ife ­

q u e o s v ito r ia n o s a p u n h a m a d e n o m in a ç ã o

“ s e lv a g e m ” à p o p u la ç ã o d o A m a z o n a s , e le m a n ife sta v a u m a rara sim p a tia e la s ten h a

em

r e la ç ã o às su a s c u ltu r a s. C o m p r e e n d e u

sig n ific a v a m sid o

o

lin g u a g e m ,

p r im e ir o

in v en çõ es

a se a p erceb er

do

e

costu m es.

fato

o que E le

para ta lv ez

d e q u e a d istâ n c ia

c u ltu r a l e n tr e a c iv iliz a ç ã o d e les e a n o ssa é m u ito m e n o r d o g u e se p e n sa c o m u m e n te . D e p o is d e le c o n c e b e r o p r in c íp io d a sele ç ã o n a tu ra l isso

lh e

pareceu

não

s o m e n te v erd a d eiro , m a s b io lo g ic a ­

m e n te ó b v io . A

s e le ç ã o n a tu r a l p o d e r ia a p e n a s ter d o ta d o o h o m e m

selv a g em c o m u m

c é r e b r o a lg u n s g r a u s su p e r io r es a o d o m a c a c o a n tr o p ó id e , e n q u a n to , na

301


A Escalada do Homem

rea lid a d e, e le é u m p o u q u in h o in fer io r a o d e u m filó s o fo . C o m o n o s s o a d v e n to , p a sso u a existir u m ser n o q u a l a q u e la fo r ç a su til p o r n ó s c h a m a d a “ m e n t e ” to r n o u -se d e im p o r tâ n c ia m u ito m a io r d o q u e a m era estru tu ra corp o ral. H a v ia d e v o ta m e n to

em

seu in teresse e m

r e la ç ã o a o s ín d io s , o

q u e o le v o u a e sc r e v e r u m a n a r ra tiv a id ílic a s o b r e a v id a n a a ld e ia d e T a v ita , o n d e este v e e m irro m p e e m

p o esia -

1 8 5 1 . N e sse p o n to o d iá r io d e W a lla ce

o u m elh o r, e m

versos.

H á u m a a ld e ia ín d ia ; a to d a v o lta , A so m b r ia , e te r n a flo r e sta s e m lim ite s e sp a lh a S u a r a m a g e m v a ria d a . A q u i d e p a ssag em , ú n ico h o m e m b ra n co E n tr e , ta lv ez, d u a s c e n te n a s d e a lm a s v iv en tes. C a d a d ia u m a tarefa os o cu p a . A g o r a v ão A fr o n ta r a o r g u lh o s a flo r e sta , o u e m c a n o a s, C o m s e u a n z ó is, fle c h a s e a rc o s a p a n h a r p e ix e s ; U m .. esteira d e fo lh a s d e p a lm e ir a dá P r o te ç ã o c o n tr a te m p e s ta d e s in v ern a is e c h u v a . M u lh e r e s d e sen ter r a m r a íz e s d e m a n d io c a Q u e d e p o is d e m u ita la b u ta se tr a n sfo r m a m e m p ã o . T o d a s se b a n h a m , m a n h ã s e tard es, n as co r r e n te s, B r in c a n d o c o m o se fo s s e m sereia s n as o n d a s m a ru lh a n tes. A s c r ia n ç a s p e q u e n a s a n d a m n u as. M en in o s e h o m e n s u sa m u m co rd ã o apenas. Q u e p razer c o n te m p la r esses c o r p o s nus! P e r n a s b e m fe ita s, p e le m a c ia , lu z id ia e b r o n z e a d a , M o v im e n t o s c h e io s d e g ra ç a e v ig o r; V e n d o - o s c o r r e r , g r ita r e salta r, N a d a n d o e m er g u lh a n d o n a co rren teza , T e n h o p e n a d o s m e n in o s in g leses, A s p e r n a s á g e is p resa s e m r o u p a s a p erta d a s. E m u ito m a is p e n a te n h o das m e n in a s d e cin tu ra , tó r a x e b u s to c o n fin a d o s n o in str u m e n to d e tortu ra q u e é o co r p e te ! E u b e m q u e seria ín d io a q u i, c o n t e n t e A caçar e pescar na m in h a can oa,

302

V e n d o m e u s filh o s c r e sc e r e m q u a is p o tr o s selv a g en s d e c o r p o sa d io e e s p ír ito tr a n q ü ilo , R ic o s s e m r iq u e za s e fe liz e s s e m o u r o !


O s D e g r a u s da C ria çã o

M u ito

d iferen te

foi

o

D a r w in a o en trar em

se n tim e n to

co n ta to c o m

ex p erim en ta d o

por

C h a rles

ín d io s su l-a m e r ic a n o s. O s n a ti­

v o s d a T erra d o F o g o h o r r o r iz a r a m -n o : essa im p r e ss ã o é reg istra d a em

su a s p r ó p r ia s p a la v r a s e n o s d e s e n h o s d e s e u liv r o T h e

o f th e B e a g le ( V ia g e m d o

c lim a

fia s d o

V oyage

d o B e a g le ). E v i d e n t e m e n t e , a i n c le m c n c i a

in flu e n c io u o s c o s tu m e s d o s fu e g u in o s, m a s as fo to g r a ­

séc u lo

X IX

não con seg u em

m o s tr a r n e le s a b e stia lid a d e

d e scr ita p o r D a r w in . E m su a v ia g e m d e v o lta D a r w in p u b lic o u u m p a n fle to

em

co la b o r a çã o

com

o c a p i t ã o d o B e a g le , c o m

a fin a li­

d a d e de, na C id a d e d o C a b o , a p ro v a r o tra b a lh o d e se n v o lv id o p or m is s io n á r io s e m p e n h a d o s n a t r a n s fo r m a ç ã o d a v id a d o s se lv a g e n s. D ep o is

de

ter v iv id o

q u a tr o a n o s na b a c ia d o A m a z o n a s W a lla c e

e m p a c o to u su a c o le ç ã o e v o lto u

para casa.

F e b r e e t r e m o r e s m e a ta c a r a m n o v a m e n t e , d e m o d o q u e p a sse i v á r io s d ias e m g r a n d e d e s c o n f o r t o . C h o v ia q u a s e in in t e r r u p t a m e n t e ; a ssim , c u id a r d a s m in h a s n u m e r o s a s a v es e a n im a is era u m g ra n d e a b o r r e c im e n to , d a d o o e s ta d o s u p e r lo ta d o da c a n o a , e a im p o ss ib ilid a d e d e lim p á -lo s a p ro p ria d a ­ m e n te e n q u a n to ch o v ia . M o rtes o co rria m

to d o s o s d ia s, e e u q u ise r a n a d a

147

D arw in fic o u h orrorizad o q u a n d o en con trou os h a b ita n tes da Tierra dei F u e g o . G ra vu ra d e u m fu e g u in o j u n to d e su a c h o ç a . E le t e m u m a fie ir a d e p e ix e s n a m ã o e e s tá u san d o um a cap a d e g u a n a c o , su a ú n ic a p r o te ç ã o c o n tr a o s v e n t o s d e s s a s p r a ia s ú m i d o s e in c le m e n te s . D esen h a da p e lo p red ecesso r de F itz r o y , C a p itã o P . P a r k e r K in g . F o to g r a fia a n tig a d e u m fu e g u in o e x p e r im e n ta n d o u m c ig a n o à b o r d o d o n a v io b a l e e i r o , M o resb y S o u n d , T ie n a d e i F u e g o .

303


A Escalada do Homem

m a is te r a v e r c o m ele s, m a s , d e s d e q u e o s h a v ia t o m a d o s o b m e u s c u id a d o ^ d e c id i p reserv á-los. D e u m a c e n te n a d e a n im a is q u e e u h a v ia c o m p r a d o o u g a n h ° , r e sta v a m a p e n a s trin ta e q u a tr o . A

v ia g e m d e v o lta fo i d esa stra d a d e sd e o in íc io . A

m á sorte s e m ­

p r e a c o m p a n h o u W a lla ce. N o d ia 10 d e ju n h o p a r tim o s [d e M a n a u s], in ic ia n d o , para m im , u m a v ia g e m d e s a fo r tu n a d a ; lo g o a o su b ir a b o r d o , a p ó s ter d ito a d e u s a o s m e u s a m ig o s, vi q u e m e u tu c a n o tin h a d e sa p a r e cid o . S e m ser n o ta d o , ele d e v e ter c a íd o p a ra fora d o b a rco e se a fo g a d o . S u a e sc o lh a d o n a v io ta m b é m f o i d a s m a is in fe liz e s; a ca rg a era c o n stitu íd a

de

resin a

in fla m á v e l e, três se m a n a s d e p o is , a 6 d e

a g o sto , se in c e n d io u . D e s c i a té à ca b in a , a go ra s u fo c a n te d e c a lo r e fu m a ç a , a v er o q u e p o d e r ia ser sa lv o . P e g u e i m e u r e ló g io e u m a p e q u e n a c a ix a d e z in c o c o n t e n d o a lg u ­ m a s ca m isa s e d o is v elh o s c a d e r n o s d e a n o ta ç õ e s , q u e c o n tin h a m d e s e n h o s d e p la n ta s e a n im a is, e, c o m e le s , m e a rr e m e sse i p a ra o c o n v é s . M u ita s r o u p a s e u m g ra n d e p o r ta -fó lio c o m d e s e n h o s e e sq u e m a s p e r m a n e c e r a m e m m e u catre, m a s n ã o te n te i d escer p ara recu p erá-los, to m a d o q u e m e e n c o n tr e i d e tal a p a tia , a té h o je in c o m p r e e n s ív e l p a ra m im . O c a p itã o a c a b o u m a n d a n d o to d o s p ara o s b o te s , e le m e s m o d e ix a n d o o n a v io e m ú l t im o lu ga r. C o m q u e d e s v e lo e u h a via c u id a d o d e c a d a u m d o s in s e to s ra ro s o u c u r io ­ sos d e m in h a c o le ç ã o ! Q u a n ta s vezes, m e sm o q u a n d o q u a se in u tiliz a d o p e lo s tr e m o r e s , h a v ia m e a r r a sta d o a tr a v é s d a flo r e s ta , p a r a lá ser r e c o m p e n ­ s a d o c o m u m a n o v a esp éc ie ! Q u a n to s lu ga res, ja m a is to c a d o s p o r p é s e u r o p e u s a n ã o ser o s m e u s, p e r m a n e c ia m n o s r e c ô n d ito s d e m in h a m e m ó r ia , lig a d o s q u e fica ra m a o s raros p á ssaro s e in se to s d e m in h a c o le ç ã o ! E a g o ra , t u d o p e r d id o ; n e n h u m e s p é c im e p a ra ilu stra r a s terras d e s c o ­ n h e c id a s q u e p e r c o r r i o u e v o c a r as c e n a s silv estres p r e se n cia d a s! E n tr e ta n to , c o m p r e e n d ia a in u tilid a d e d e s s a tr iste z a , d e m o d o q u e te n te i e s q u e c e r o p a ssa d o e m e o cu p a r das coisa s no seu e sta d o d e ex istê n c ia . D a m e s m a fo r m a q u e D a r w in , A lfr e d W a lla ce r e to r n o u d o s tr ó ­ p ic o s

c o n v e n c id o

n ú c le o

com u m ,

de

que

as e sp écies

d iv e r g e m

e p e r p lex o q u a n to ao

a

p a rtir d e

u m

p o r q u ê d a s d iv erg ên cia s.

M a s o q u e W a lla ce n ã o sa b ia era o fa to d e D a r w in já ter e n c o n ­ trad o

a

e x p lic a ç ã o

d o is

an os

d e p o is

v ia g e m n o B e a g le . D a r w i n r e la ta q u e , e m P o p u la tio n M a lth u s

(E n s a io

(“ para

se

so b re

P o p u la ç ã o )

de

ter

retorn a d o

de

sua

1 8 3 8 , len d o o E ssa y o n d o

R everen d o

T h o m a s

d istr a ir ” , e n fa tiz a D a r w in , in d ic a n d o , a ssim ,

n ã o ser e ssa o b r a p a r te d e su a s leitu r a s sér ia s), fo i s u r p r e e n d id o por 3 04

um

p en sam en to

exp resso

no

tr a b a lh o . M a lth u s d iz ia q u e a

p o p u la ç ã o c r e sc e m a is r a p id a m e n te d o q u e a s fo n te s d e a lim e n to .

148 “ A c a b e i d e term in ar o m a n u scrito de m in h a teoria das esp écies” , escreveu em 5 de ju lh o de 1844, em D ow ne. C a n t o d a s a la d e e s tu d o s d e D a r w in n a D o w n H o u se . U m r e tr a to d o a v ô E r a s m u s e s tá d ep en d u ra d o à d ir e i ta d a ja n e la , a o II1 d o d a c a d e i r a d e r o d a s d e D a r w in .


S e isso

era v e r d a d e , e n tã o

si a fim

d e g a r a n tir s u a s r e s p e c tiv a s s o b r e v iv ê n c ia s: a ss im , a n a tu ­

reza

deve

a g ir

na

o s a n im a is tin h a m

q u a lid a d e d e

u m a

fo r ç a sele tiv a , m a ta n d o

m a is fr a c o s, e fo r m a n d o n o v a s e sp é c ie s c o m m a is se a d a p ta m “ A q u i,

d e c o m p e tir en tre os

o s so b r e v iv e n te s q u e

a o m e io .

fin a lm e n te ,

en con tra va

eu

u m a

teo ria

sobre

a qual

p o d ia tr a b a lh a r ” , c o m e n ta D a rw in . E ra d e se esp era r q u e , c h e g a d o a e s s a c o n c l u s ã o , ele

passasse

im e d ia ta m e n te

a o tr a b a lh o , e sc r e ­

v e n d o , fa z e n d o c o n fe r ê n c ia s . M a s e le n ã o fe z n a d a d isso . P o r c in c o a n o s D a r w in n e m em

1 8 4 2

e c in c o

m e s m o r eg istro u su a te o r ia e m

é que escreveu u m

p a p e l. S o m e n t e

p r im e ir o r a s c u n h o , a lá p is, d e tr in ta

p á g in a s; e, d o is a n o s m a is ta r d e , o e s te n d e u a d u z e n ta s e

tr in ta p á g in a s, a g o r a à tin ta . E ste m a n u s c r ito fo i p o r e le g u a r d a d o , ju n ta m en te com

a lg u m

d in h e ir o e in str u ç õ es para q u e su a esp o sa

o p u b lic a sse , n o c a s o d e le m o rrer. “ T e r m in e i o m a n u s c r ito d e lin e a n d o m in h a teo ria d a s e sp é c ie s ” , e sc r e v e u -lh e ,

em

1 8 4 4 , esta n d o em

u m a

carta

fo rm a l,

d a tad a

de

5

de ju lh o

de

D o w n e , e prossegue:

P o rta n to , escrev o para, n o

c a s o d e ser a c o m e t i d o d e m o r t e s ú b it a , fica r

c o m o m e u p e d id o m a is s o le n e e ú lt im o , a o q u a l, e s to u c e r to , v o c ê c o n s id e ­ rará c o m o se fo s s e p a rte d e m e u t e s t a m e n t o leg a l, q u e seja d e s tin a d a a im p o r tâ n c ia d e 4 0 0 lib r a s para c o b r ir d e s p e s a s c o m

a p u b lic a ç ã o e, a in d a ,

q u e v o c ê se o c u p e d a d iv u lg a ç ã o , p e s so a lm e n te o u c o m a a ju d a d e H en sle ig h

3 05


A Escalada do Homem

(W e d g w o o d ). É m e u d e s e jo q u e e s te m a n u s c r ito seja e n tr e g u e a u m a p e s so a c o m p e t e n t e , b e m c o m o e ss a s o m a e m d in h e ir o p a r a q u e o m a n u s c r it o seja co rrig id o e a m p lia d o . E m r e la ç ã o a e d ito r e s , M r. (C h a r le s) L y e ll seria a m e lh o r e s c o lh a , n o c a s o d e le v ir a a c e ita r ; a c r e d i t o q u e e le a c h a r á o t r a b a l h o a g r a d á v e l, a o m e s m o t e m p o q u e terá o p o r tu n id a d e d e to m a r c o n h e c im e n to d e a lg u n s fa to s n o v o s. O D r. U o s e p h D a lto n ) H o o k e r seria , ta m b é m , m u ito b o m . D a rw in

n o s d á a im p r e ssã o d e ter p r e fe r id o v er o tr a b a lh o p u ­

b lic a d o a p ó s su a m o r te , d e sd e q u e a p r io r id a d e lh e fo s s e a sse g u ­ rada. u m

N ão

resta d ú v id a d e q u e era u m

h om em

p e r fe ita m e n te

ca rá ter e str a n h o . R e v e la

co n scien te

d o fato de

estar d iz e n d o

a lg o p r o fu n d a m e n te c h o c a n te p a ra o p ú b lic o (m a is c h o c a n te a in ­ d a p a r a s u a e s p o s a ), e, a té c e r to p o n t o , c h o c a n t e p a r a e le m e s m o . A h ip o c o n d r ia (e m b o r a tiv e sse c o m o d e s c u lp a a lg u m a s in fe c ç õ e s c o n tr a íd a s

nos

tró p ico s),

os

v id r o s

r e c lu sa e d e c e r ta fo r m a s u fo c a n te os

c o c h ilo s

d eb a te

v e sp e r tin o s,

p ú b lic o :

de

r e m é d io s, a

a tm o sfera

d e su a ca sa e sa la d e e s tu d o ,

a r e lu tâ n c ia

tu d o isso c o m p õ e

em

escrever, a recu sa

ao

o q u a d r o h u m a n o d e a lg u é m

1 49 D a rw in n o s dá a im p r e s s ã o d e ter p referid o v er o trab a lh o p u b lica d o ap ós sua m orte, desde que a p r io r id a d e lh e fosse assegurada. C h a r le s D a r w in n o s s e u s ú l t i m o s d ia s , d e u m a fo to g r a fia tir a d a e m D o w n e .

q u e n ã o q u eria e n fr e n ta r o s o u tro s. N o

jov em

W a lla ce, e v id e n te m e n te , n e n h u m a

en con tra va m la n ço u

g u a r id a .

A

im p etu o sa m en te

d e sp e ito em

de

d ireçã o

to d a s ao

d essa s in ib iç õ e s

as a d v e r sid a d e s

E x trem o

O r ie n te

se em

1 8 5 4 , v ia ja n d o , n o s o ito a n o s s e g u in te s, p o r t o d o o a r q u ip é la g o M a la io

em

busca

de

esp écim es

da

v id a

selv a g em

para

serem

v e n d id o s n a In g la terra . A g o r a já se c o n v e n c e r a d e q u e as e s p é c ie s n ão

eram

w h ic h L ei qu e d ia n te

im u tá v e is:

has te m “a

em

r e g u la te d

1855

p u b lic a

th e I n tr o d u c tio n

r e g u la d o a I n tr o d u ç ã o q u estão

de

co m o

as

en sa io O n

u m

o f N ew

th e L a w

S p e c ie s (S o b r e a

d e N o v a s E s p é c ie s ). D a í e m

e sp écies

v a r ia v a m ,

ra ra m en te

abandonava m eu p en sa m en to ” . E m ilh a

fev e r e ir o d e 1 8 5 8 e n c o n tra v a -se e n fe r m o e m

v u lc â n ic a

d a s M o lu c a s , Ilh a T e r n a te

d o

u m a p eq u en a

co n ju n to

d a s Ilh a s

S p ic e , en tre N o v a G u in é e B o rn é u . S u a feb re in te r m ite n te , c o m c a lo r e s e ca la frio s a lte r n a n d o -se , to r n a v a e s p a s m ó d ic o s se u s p e n ­ s a m e n to s . E a q u i, e m

u m a n o ite d e feb re, le m b r o u -se d o m e s m o

liv ro d e M a lth u s e a m e s m a e x p lic a ç ã o r e la m p e jo u e m ig u a l a o q u e h a v ia a c o n t e c id o c o m

306

O correu -m e so b r e v iv em ? b revive. A c o in im ig o s, o s

sua m en te,

D a r w in .

fazer a seg u in te p ergu n ta: P o r q u e a lg u n s m o r r e m e o u tr o s E a r e s p o s ta f o i c la ra : n o c o n j u n t o , o m a is b e m - e q u ip a d o s o ­ m e t id o s p o r d o e n ç a s , o s m a is s a d io s r e siste m ; p e r se g u id o s p o r m a is fo r te s, o s m a is á g e is, o s m a is e sp e r to s; p e la fo m e , o s m e -

1 50 H e n r y B a tes r ea lizo u im p o r ta n te s estu d os sobre m im etism o nos in seto s. M im e tism o p r o te tiv o e m u m a e s p é c ie d e b o r b o le ta . A pequ en a D ism o rp h ia d o A m a z o n a s é c o m id a p e lo s p á ssa ro s, m as m im e tiz a trê s e s p é c ie s d ife r e n te s q u e s ã o r e je ita d a s p o r e le s . A e s p é c i e D i s m o r p h i a e stá m o s tr a d a n a c o lu n a d a d ir e ita : d e c im a p a r a b a ix o , D ism o rp h ia a m p h ion e egaena, D ism o rp h ia th eon e e D is m o r p h ia orise. A s e s p é c ie s m im e tiz a d a s p o r e la s s ã o M e c h a n i ti s , O lerea e X a n th o cleis.



A Escalada do Homem

lh o r e s c a ç a d o r e s o u a q u e le s c o m m e lh o r c a p a c id a d e d ig e stiv a , e a ssim p o r d ia n te. E n tã o e u p e r c e b i im e d ia ta m e n te q u e a in te r m in á v e l v a r ia b ilid a d e d e to d a s as c o is a s v iv e n te s fo r n e c ia o m a te r ia l a tr a v é s d o q u a l, p e la s im p le s e lim in a ç ã o d o s m e n o s a d a p ta d o s às c o n d iç õ e s v ig en tes, a p e n a s o s m a is e q u ip a d o s d a v a m c o n tin u id a d e à raça. A li, n a q u e le m e s m o m o m e n t o , a id é ia d a s o b r e v iv ê n c ia d o m a is b e m -d o ta d o se r e v e lo u à m in h a m e n te . Q u a n t o m a is p e n sa v a s o b r e o a ss u n to m a is m e c o n v e n c ia d e q u e h a via, fin a lm e n te , e n c o n tr a d o a lei n a tu ral h á ta n to t e m p o p r o cu r a d a , a tra vés da q u a l p o d ia reso lv er o p r o b le m a d a O r ig e m d a s E s p é c ie s. . . A n s io s a m e n te esp erei p e lo té r m in o d o a c e s so d e feb re, a im i d e q u e p u d e s se to m a r a lg u m a s n o ta s para ser e m u sa d a s n a e la b o ra ç ã o d e u m fu tu r o trab a lh o so b re esse a s s u n to . N a m e s m a ta r d e e u o fiz, c a b a lm e n te , e n a s d u a s ta r d e s s u b s e q ü e n te s esc r e v i-o c u id a d o s a m e n te , c o m o in tu ito d e e n v iá -lo s a D a r w in , a p r o v e i­ ta n d o a m a la p o s t a l q u e p a rtiria d e n t r o d e u m o u d o is d ias. W a lla ce

sa b ia d o in ter e sse d e D a r w in p e lo a ss u n to e su g eriu q u e

esse m o stra sse o

tr a b a lh o a L y e ll, n o c a s o d e s te v er n e le a lg u m

v a lo r. Q u a tr o m e se s d e p o is, e m o

tr a b a lh o d e W a lla ce e m

sem

saber o q u e

18 d e ju n h o d e 1 8 5 8 , D a rw in r eceb eu na D o w n H o u se. F ic o u

se u e scritó rio

fa zer. D u r a n te v in te a n o s e le h a v ia c u id a d o s a ­

m e n t e a c u m u la d o fa to s a fa v o r d e su a te o r ia , e e is q u e ta l q u a l u m r a io , c a i e m su a m e s a u m tr a b a lh o so b r e o q u a l e le la c o n ic a m e n te e s c r e v e u n o m e s m o d ia : J a m a is v i t a m a n h a c o in c id ê n c ia ; se W a lla c e tiv esse c o n h e c i m e n t o d e m e u M S . (m a n u s c r ito ) e m 1 8 4 2 , ele n ã o p o d e r ia ter fe ito m e lh o r r e s u m o d o m esm o! E n treta n to , co n tra v a . acesso

a

a m ig o s

L y ell p a rtes

e

r e so lv e r a m H ooker,

d o

que

tra b a lh o

a u sê n c ia d o s d o is -

o d ile m a e m por

d ele,

essa

q u e D a rw in

é p o c a já

p r o v id e n c ia r a m

W aU ace e D a rw in -

u m

se e n ­

tin h a m

tid o

para que, na

tr a b a lh o d e c a d a u m

fo sse lid o , n o m ê s se g u in te , e m u m a r e u n iã o d a S o c ie d a d e L in e a n a . O s tra b a lh o s n ã o D a r w in segu n d o O r ig e m

sen tiu -se d escriçã o

provocaram

forçad o de

d a s E s p é c ie s

c o n stitu iu e m

a

a m e n o r a g ita çã o . N o

to m a r

D a rw in ,

u m a

“gen eroso

fo i escrita . S u a

a titu d e. e

en tan to,

W a lla c e

era,

n o b r e ” . A ssim , a

p u b lic a ç ã o ,

em

1 8 5 9 ,

se

se n sa ç ã o im e d ia ta e su c e sso d e v e n d a g e m .

A teo ria d a e v o lu ç ã o p ela se le ç ã o n a tu ra l fo i, s e m

a m e n o r d ú v id a ,

a in o v a ç ã o c ie n tífic a d e m a io r im p o r tâ n c ia d o s é c u lo X I X . P a ssa d a 3 08

to d a a o n d a d e c o m e n tá r io s jo c o s o s p o r e la su sc ita d a , o m im d o


Os Degraus da Criação

151 Passada to d a a onda de com en tários jo c o so s p o r ela s u s c it a d a , o m u n d o d os seres v iv o s fic o u diferen te. C a ric a tu ra d e C h a rle s D a r w in n o “H o r n e t ", 2 2 d e m a rço d e 1 8 7 1 .

d o s ser e s v iv o s

fic o u

d ifer e n te ,

porque

agora era u m

m u n d o em

m o v im e n t o . A c r ia ç ã o n ã o é e stá tic a , v a r ia n o te m p o , e m c o n tra ste com se

o s p r o c e s s o s f ís i c o s . H á d e z m i l h õ e s d e a n o s o m u n d o f í s ic o

a p resen ta va

m esm as.

tal

M as

o

qual

o c o n h e c e m o s h o je , e s u a s leis e r a m

m u n d o

dos

seres

v iv o s

não

era

o

m esm o;

as por

e x e m p lo , h á d e z m ilh õ e s d e a n o s n ã o h a v ia seres h u m a n o s c a p a z es d e d isc u ti-lo . D ife r e n te m e n te q u er g en er a liz a ç ã o a e v o lu ç ã o

é o

em

d o

que

ocorre co m

b io lo g ia r e p r e se n ta u m

a gen te

a f ís ic a , q u a l­

co rte n o tem po; e

c r ia d o r d a o r ig in a lid a d e e d a n o v id a d e n o

U n iv e r so . A ssim desd e

sen do,

cada

u m

de

nós

traça

sua

p r ó p r ia c o n s tr u ç ã o

o s p r o c e s s o s e v o lu c io n á r io s p r im o r d ia is d o a p a r e c im e n to

d a v id a . D a r w i n , é c la r o , e W a l l a c e e x a m i n a r a m c o m p o r t a m e n t o s, m ed ira m

e s q u e le to s n a s fo r m a s a g o ra a p r e se n ta d a s, e fó sseis nas

fo r m a s q u e tin h a m , a fim r id a F o to g r a fia d e W a l/a c e a d m i r a n d o um Erem urus rob u stu s flo r id o , e m seu ja r d im , e m 1 9 0 5 .

por

v ocê

e

por

d e r e c o n s tr u ir o s p o n t o s d a v ia p e r c o r ­

m im .

E n treta n to ,

com p o rta m en to ,

ossos,

fó s s e is já r e p r e s e n t a m f o r m a s c o m p l e x a s d e m a n if e s t a ç ã o d e v id a , o r g a n iz a d a s

a p a rtir d a c o m b in a ç ã o

sim p le s, q u e m e ir a s co m

d ev em

u n id a d es

d e u n id a d e s m e n o r e s , m a is

ser m a is a n tig a s. C o m o

d e v er ia m

sim p le s? P r e s u m iv e lm e n te

ser a s p ri­

m o lé c u la s

sim p le s

m a n e ir a q u e , a o p r o c u r a r m o s v islu m b r a r a o r ig e m

co m u m

c a r a c te r ís tic a s d e v id a .

D e

d a v id a , h o je

tem o s

estru tu ra q u ím ic a m o m e n to p a r tir

em

de

o lh a r , a in d a m a is p r o fu n d a m e n te , p a r a a

c o m u m

m eu

a to d o s

dedo,

v eio ,

nós. O

a tra v és

sa n g u e, flu in d o n este

d e m ilh õ e s d e etap a s, a

d as m o lé c u la s p r im o r d ia is c a p a z e s d e se r e p r o d u z ir e m

ao

lo n g o d e m a is d e três b ilh õ e s d e a n o s. T a l é o c o n c e ito d e e v o lu ç ã o em se

s u a f o r m a c o n t e m p o r â n e a . O s p r o c e s s o s a tr a v é s d o s q u a is e la d e se n v o lv e

n em da

d ep en d em ,

D a r w in , n e m estru tu ra

em

p a rte,

d a h e r e d ita r ie d a d e

(a q u a l

W a lla c e c o m p r e e n d e r a m ) e, t a m b é m , e m p a r te ,

q u ím ica

(a q u a l, n o v a m e n t e , e r a f e u d o

d a c iê n c ia

fr a n c e s a , e n ã o d e n a tu r a lista s b r itâ n ic o s ). A s e x p lic a ç õ e s e m a n a m c o n j u n t a m e n t e a p a r tir d e d if e r e n t e s c a m p o s , m a s t e n d o e n t r e e la s um

p o n to e m c o m u m . R e p re se n ta m a sesp écies sep ara n d o-se u m as

das o u tras em

e stá g io s su c e ssiv o s — im p lic a ç ã o

n e c e ssá r ia a o se

a c e ita r a t e o r ia d a e v o lu ç ã o . A s s im , a p a rtir d e s s e m o m e n t o , n ã o ^rn;:tis e r a p o s s í v e l a c r e d i t a r

n a p o s s ib ilid a d e d a v id a ser r e c r i ^ ^

d e n o v o , a q u a lq u e r m o m e n to . A

im p lic a ç ã o

a n im a is

da

teo ria

apareceram

da

d e p o is

e v o lu ç ã o

d e

q u e

a lg u m a s

d e o u tra s era co n te sta d a

e sp écies

p o r a lg u n s

3 09


-


Os Degraus da Criação 152 A p ed id o d o Im perador da França, foi encarregado de estudar a s ca u sa s das d ificu ld a d es q u e v in h a m s e n d o exp erim en ta d as c o m a ferm entação do v in h o . L a b o r a tó r io d e P a ste u r .

d e seus c r ític o s c o m o

So1, ag in d o

m u n d on gos p os;

c ita ç õ e s d a B íb lia . A lg u n s a c r e d ita v a m

so b r e a la m a

p o d ia m

d o

b ro ta r e sp o n ta n e a m e n te

e, o b v ia m e n t e , v a r e je ir a s se o r ig in a v a m

L arvas

d e v ia m

form a,

c o m o

ser c r ia d a s n o p o d e r ia m

que

N ilo , p o d ia g era r c r o c o d ilo s. C ad e m o n te s d e tra­ d e ca rn e estragad a.

in ter io r d e m a çã s -

fo sse d e ou tra

ter e n tr a d o ? T o d a s e ss a s c r ia tu r a s e r a m

s u p o sta s su r g ir em e s p o n ta n e a m e n te , sem o c o n c u r so d e p ro g en ia . A s

fá b u la s tr a ta n d o d e c r ia tu r a s g e r a d a s e s p o n ta n e a m e n te sã o

a n tiq ü íssim a s, ter

e

c la r a m e n te

1 8 6 0 .

A

a in d a a c r e d ita d a s , a d e s p e ito d e ex p o sto

m a io r

p a rte

a

d o

fa lá cia seu

dessa

tra b a lh o

c r e n d ic e

L o u is P a steu r na

d écad a

de

f o i r e a liz a d o n a casa n o

J u ra fr a n c ê s o n d e h a v ia v iv id o d u r a n te su a in fâ n c ia , e p ara a q u a l a d o r a v a v o lta r t o d o s o s a n o s. E le já h a v ia tr a b a lh a d o e m

ferm en ­

ta ç ã o a n tes d isso , p a r tic u la r m e n te so b r e a fe r m e n ta ç ã o

d o leite

(a p a la v r a “ p a s te u r iz a ç ã o ” n o s fa z le m b r a r d isso ). M a s, e m e le

v iv ia

q u a n d o

o

auge

d e

seu

fo i en ca rreg a d o , a p e d id o

d o

cau sa s d as d ific u ld a d e s q u e v in h a m

Im p erad or, d e estu d ar as

sen d o e x p er im e n ta d a s c o m

ferm en ta çã o

d o v in h o . O

N o te-se

p o r -ir o n ia , a q u e le s f o r a m

que,

1863,

p o d e r c r ia tiv o (c o n ta v a q u a r e n ta a n o s)

p r o b le m a

fo i r e so lv id o e m

a

d o is a n o s .

d o is d o s m e lh o re s a n o s

p ara a p r o d u ç ã o d e v in h o ; a té h o je, a safra d e 1 8 6 4 é c o n sid e r a d a

I

c o m o sem “ O lh e

r iv a l.

v in h o

é u m

co n ferem

n a n tes n esse n ism o s

o c e a n o d e o r g a n is m o s ” d isse P a steu r. “ A lg u n s

v id a e o u tr o s o d e s t r o e m .” D o is p o n to s sã o fu lm i­ p en sam en to. O

c a p a z e s d e v iv er n a a u s ê n c ia d e o x ig ê n io . N a q u e le t e m p o

isso era a p e n a s u m m as, co m 153 A çú car d e uva fe rm e n ta n d o n a p re sen ça d e fu n g o s.

p r im e ir o d á c o n h e c im e n to d e o rg a ­

a b o r r e c im e n to

p ara o s p r o d u to r e s d e v in h o ,

o t e m p o , se to r n o u m a is im p o r ta n te p a ra a c o m p r e e n s ã o

d a o rig e m

d a v id a , s im p le s m e n te

T erra n ão

d isp u n h a

p orq u e, em

d e o x ig ê n io . O

seu s p r im ó rd io s, a

se g u n d o p o n to a testa o fa to

d e q u e P a steu r d isp u n h a d e u m a té c n ic a p o d e r o sa , ca p a z d e id e n ­ tific a r a

presen ça

v in te a n o s

tin h a

de

tr a ç o s d e v id a n o

fic a d o

in terio r d e líq u id o s. A o s

c o n h e c id o p o r ter m o str a d o a e x istê n c ia

d e m o lé c u la s p o r ta d o r a s d e fo r m a s c a r a c te r ístic a s. E, d e s d e e n tã o , a c u m u la r a in d íc io s n o s e n tid o d e m o str a r q u e isso se d e v ia às su a s o r ig e n s , a p a rtir d e p r o c e s s o s v ita is. E ssa d e s c o b e r t a p a s s o u a ter u m

sig n ific a d o

tic o , q u e

não

tão

p r o fu n d o , e a té h o je d e certa fo r m a e n ig m á ­

p o d em o s

d eix a r

d e ir a t é o l a b o r a t ó r i o d e P a s t e u r

e rev e r se u p r ó p r io r e la to . Q u a l seria a m e lh o r c o m p a r a ç ã o p a ra d ar c o n ta d o q u e a c o n te c e c o m ° Vin h a ç o n o in terio r da cu b a ? M assa de p ã o d e ix a d a crescer, a z e d a m e n to d o

311


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Os Degraus da Criação

leite se tr a n sfo r m a n d o e m co a lh a d a , o u o a p o d r e c im e n to d e fo lh a s m o r ta s se tr a n s fo r m a n d o e m h ú m u s? D e v o c o n fe s sa r q u e m in h a s p e sq u isa s tê m sid o , d e s d e lo n g a

d a ta, d o m in a d a s p ela id é ia d e q u e as estru tu ra s das

s u b s tâ n c ia s , t o m a d a s d o p o n t o d e v ista d e s u a s c o n fo r m a ç õ e s lev o g ir a e d e x tr o g ir a (se t u d o m a is fo r ig u a l), d e s e m p e n h a m p a p el im p o r ta n t e n as m a is Í n t im a s leis d a o r g a n iz a ç ã o d o s s e r e s v iv o s, in t e r e s s a n d o a o s r e c ô n d it o s m a is o b s c u r o s d e su a s fIsio lo g ia s. D e x t r o g ir o , le v o g ir o ; e s s e f o i o v e io fé r til s e g u id o p o r P a s te u r em

su a s p e s q u is a s s o b r e a v id a . O m u n d o e stá r e p le to d e e x e m p lo s

d e estru tu ra s q u e cu la res

u m as

se a p resen ta m

das

o u tra s, o n d e

aos pares, c o m o as

im a g en s e sp e ­

p r o p r ie d a d e s

de

um a

d ela s,

e s q u e r d a , s ã o d ife r e n te s d a o u tr a , d ir e ita . S a c a r r o lh a p a ra a d ir eita e sa c a r r o lh a

para a esq uerda;

cara m u jo s co m

e sp ir a is p a ra a e s ­

q u e r d a o u p a ra a d ireita . A c im a d e tu d o , as d u a s m ã o s ; c a d a u m a e sp elh a a im a g e m

d a ou tra , m as n ã o p o d e m

ser in te r c a m b iá v e is.

M e s m o n o te m p o d e P a steu r se sa b ia d a o c o r r ê n c ia d o fe n ô m e n o em

a lg u n s

c r ista is, cu ja s

e sp e c u la r e s, d e u m

são

a rra n jad as se g u n d o im a g e n s

para ou tro .

P a steu r co n stru iu

m o d e lo s d e m a d e ir a d e s se s c r ista is (era h a ­

b ilid o so

com

m o d elo s

in telectu a is. N a

à

de

n o çã o

faces

as m ã o s e e x ím io d e se n h ista ), q u e e r a m so b r e tu d o que

e sp e c u la r e s d e

p r im e ir a fa se d e su a s p e sq u isa s c h e g o u

h a v ia m o lé c u la s cu ja s e str u tu r a s e r a m

o u tra s;

im a g en s

a ss im , se isso er a v e r d a d e p a ra o s c r ista is,

e sse a rra n jo d ife r e n te d e v ia im p lic a r d ife r e n te s p r o p r ie d a d e s p ara 154 D ex tro g iro , lev og iro ; essa fo i a im p o r ta n te pista seg u id a p o r P asteur n o e s tu d o d a vid a . M o d e lo s d e m a d e ir a d o s c r is ta is d e x tr o g ir o e le v o g iro d o ta r ta r a to , f e i t o s p o r P a ste u r . P á g in a o p o s t a : P a ste u r c o m u m a m ig o d o J u r a , a o te m p o q u e in v e s tig a v a a fe r m e n ta ç ã o d o v in h o e m 1 8 6 4 . P á g in a c r u c i a l d o p r o to c o lo d e P a ste u r s o b r e a e s tr u tu r a d o s c r i s t a is , 1 8 4 7 .

as

m o lé c u la s ta m b é m . E

isso d e v ia ser d e m o n s tr á v e l a tr a v é s d o

co m p o rta m en to

d a s m o lé c u la s, e m

e x e m p lo , se e m

um a

so lu ç ã o

s itu a ç õ e s d e d issim e tria . P o r

se fiz e r a tra v essa r u m

fe ix e d e lu z

p o l a r i z a d a ( i s t o é , a s s i m é t r i c a ) , a s m o l é c u l a s d e u m t i p o ( d i g a m o s, as d ex tro g ira s) riz a d a

para

d ev em

im p o r u m a ro ta çã o

esq uerda.

U m a

to d o s de u m

m e sm o

tip o , irá se c o m p o r ta r a ss im e tr ic a m e n te e m

r e la ç ã o a u m

ra io

lu z a ssim é tr ic o

o b tid o

so lu ç ã o

de

d o p la n o d a lu z p o l a ­ c r ista ix

de

a

p or m e io d e u m

p o la r íim e t r ° . A o

se g irar o d isc o d e p o la r iz a ç ã o , a s o lu ç ã o a p a r e c e r á e scu ra e c la r a , e e s c u r a e c la r a n o v a m e n t e . O fa t o im p o r ta n te é q u e s o lu ç õ e s q u ím ic a s d e c é lu la s v iv a s se c o m p o rta m ap resen ta

d a m e s m a m a n e ir a . A in d a n ã o s a b e m o s p o r q u e a v id a

essa estra n h a

p r o p r ie d a d e ;

m a s essa p r o p r ie d a d e e sta ­

b e le c e

q u e a v id a é p o r ta d o r a d e c a r a c te r ís tic a s q u í m ica s e s p e c í­

fic a s ,

m a n tid a s

p r im e ir a

d u ra n te

v ez, P a steu r lig o u

e str u tu ra q u ím ic a . A

to d o

o

p rocesso

da

e v o lu ç ã o .

to d a s a s f o r m a s d e v id a a u m

P e la

tip o d e

p a rtir d e s se p o d e r o s o p e n s a m e n to s e g u e-se

q u e p o d e m o s lig a r a e v o lu ç ã o à q u í i m c a .

313


A Escalada do Homem

314

A teoria da evolução deixou de ser um campo de batalha. Isto porque as evidências a seu favor são hoje muito mais ricas e variadas do que eram na época deDarwin eWallace. E aevidência mais interessante e moderna é fornecida pela química de nosso corpo. Vejamos um exemplo prático: sou capaz de mover minha mão neste momento porque os músculos contêm uma reserva de oxigênio, aí mantida graças àexistência deuma proteína chamada mioglobina, composta de cento ecinqüenta ácidos aminados. Este número é o mesmo em mim e em todos os animais possuidores de mioglobina, embora os ácidos aminados possam apresentar pequenas diferenças. Entre a minha e a do chimpanzé há apenas uma diferença emumácido aminado; entre a minha e a do musa­ ranho (que é um primata primitivo) há várias diferenças entre os ácidos aminados; e, enfim, entre a minha e a do carneiro ou do camundongo, o número de diferenças aumenta. A medida da distância evolucionária entre mim e os outros mamíferos é dada pelo número de diferenças entre os ácidos aminados. É evidente que devemos buscar o processo evolucionário da vida na estruturação das moléculas químicas. E essa estruturação deve ter começado nas matérias que ferviam na Terra em forma­ ção. Para falar sensatamente sobre o início da vida devemos adotar uma atitude bastante realista. A pergunta a ser formulada é histórica. Como eram a superfície da Terra e sua atmosfera há quatro bilhões de anos, antes do aparecimento da vida? Muito bem, temos uma resposta aproximada. A atmosfera era expelida a partir do interior da Terra, e, portanto, devia ser se­ melhante à vigente nas imediações de um vulcão em atividade uma mistura de vapor, nitrogênio, metano, amônia e outros gases redutores, assim como umpouco de dióxido de carbono. Um gás não está presente: nãohá oxigênio livre. Este pormenor é crucial, uma vez que o oxigênio é produzido pelas plantas e não existia em sua forma livre antes do aparecimento da vida. Fracamente solúveis no oceano, esses gases formavam uma atmosfera redutora. Como, então, reagiriam sob a ação de raios, descargas elétricas e, particularmente, sob a ação da luz ultravio­ leta - a qual ocupa lugar de importância em qualquer teoria da vida, uma vez que pode penetrar na ausência de oxigênio -? Essa pergunta foi respondida nos Estados Unidos, na década de 1950, por meio deumelegante experimento realizado por Stanley Miller. Tendo colocado a atmosfera em um frasco - metano, amôni^ água eassimp°r diante —passou a, dia após dia, aquecê-

1 55 O s á c id o s a m in ad o s sã o as unid ad es e l e m e n t a r e s d a v ida. L e s lie O rg e l e R o b e rt Sanchez o bservam um a d e sc a rg a e lé tr ic a e m u m a p a r e lh o n o I n s t i t u t o S a lk . N o f r a s c o d e M i ll e r a p a r e c e m r u ía h o m ú n c u lo s , m a s, s im , á c id o s a m in a d o s .



A Escalada do Homem

-la e s u b m e t ê - la a d e s c a r g a s e lé t r ic a s ( s i m u l a n d o r a io s ) e a o u t r a s fo r ç a s v io le n ta s. A

m istu ra

torn o u -se

m a is e scu ra . P o r q u ê ? N o s

te ste s p ô d e -se m o str a r q u e á c id o s a m in a d o s h a v ia m -se fo r m a d o n o

seu

in terio r.

avanço,

um a

E ssa

vez que

v e r ific a ç ã o

se

c o n stitu iu

em

u m

grande

o s á c id o s a m in a d o s sã o o s tijo lo s c o m

q u a is a v id a é c o n s tr u íd a . A

os

p a rtir d e le s a s p r o te ín a s s ã o f o r m a ­

d a s , e e s ta s s ã o c o n s t itu in t e s d e to d a s a s c o is a s v iv a s. A té h á p o u c o s a n o s a trá s p e n s á v a m o s q u e a v id a s ó p o d e r ia ter-se in ic ia d o s o b c o n d iç õ e s d e a q u e c im e n to , v a p o r e s e d e sca r g a s e lé ­ tr ic a s.

A o s

a lg u n s

c ie n tista s

ig u a lm e n te

p o u co s, en tretan to , que

poderosas:

o u tro isto

foi

tip o

fic a n d o

de

c la r o

c o n d iç õ e s

é, a p resen ça

na

m en te

extrem as

d e g elo . É

u m

de

eram pensa­

m e n to e str a n h o ; m a s o g e lo a p r e se n ta d u a s p r o p r ie d a d e s m u ito in ter e ssa n te s p a ra a fo r m a ç ã o d e m o lé c u la s sim p le s, b á sica s. E m p r im e ir o

lu g a r, o

p r o c e s so d e r e sfr ia m e n to c o n c e n tr a m a te r ia l,

q u e, n o in íc io d o s te m p o s, d e v ia se a p r ese n ta r s o b fo r m a b a sta n te d ilu íd a

n o ocean o. E , em

estru tu ra

c r ista lin a

q ü ên cia s

de

do

s e g u n d o lu g a r, p o d e a c o n te c e r q u e a

g elo

torn e

m o lé c u la s , as q u a is

p o ssív e l a o r g a n iz a ç ã o são

certam en te

d e se-

im p o rta n tes a

c a d a e s tá g io d a v id a . S eja

co m o

for,

L eslie

O rg el r e a liz o u

u m a

série d e e le g a n te s

e x p e r im e n to s d o s q u a is d e s c r e v e r e i o m a is s im p le s . T o m o u a lg u n s dos

c o n s titu in te s fu n d a m e n ta is o s q u a is d e v ia m

na a tm o sfera da T erra e m

d ia is: o á c id o c ia n íd r ic o é u m preparar

um a

d u ra n te

v á r io s

co n cen tra d o sob

a

so lu ç ã o

estar p resen tes

q u a lq u e r e stá g io d o s te m p o s p r im o r ­ d eles; a a m ô n ia é o u tr o . D e p o is d e

d ü u íd a

d ia s. C o m o

era em p u rra d o

d esses com p o n en tes,

resu lta d o

ob servou

que

c o n g e lo u -a o

m a te r ia l

para a su p e r fíc ie , a í p e r m a n e c e n d o

f o r m a d e m in ú s c u lo s ic e b e r g s e a p r e s e n ç a d e c o lo r a ç ã o ,

a in d a q u e p á lid a , r e v e la n d o a fo r m a ç ã o A lg u n s á c id o s a m in a d o s, se m

d e m o lé c u la s o r g â n ic a s.

d ú v id a ; m a s , p r in c ip a lm e n te , O r g e l

c o n sta to u a fo r m a ç ã o d e u m d o s q u a tro c o n stitu in te s fu n d a m e n ­ ta is d o a lf a b e to g e n é t ic o , d o q u a l d e p e n d e m

to d o s os p rocessos

v ita is. H a v ia s in t e t iz a d o a d e n in a , u m a d a s q u a tr o b a s e s d o A D N (v. p á g. 3 9 0 ) . A s s im , é p o s s ív e l q u e o a lf a b e to d a v id a n o A D N se ten h a

fo r m a d o n essas c o n d iç õ e s, e n ã o , c o m o se p en sa v a , e m

c o n d iç õ e s tro p ica is. O 3 1 6

p r o b le m a d a o rig em

d a v id a g ir a e m

to rn o , n ã o d as m o lé c u la s

m a is c o m p le x a s , m a s , s im , d a s m a is s im p le s , c a p a z e s d e se r e p r o -


Os Degraus da Criação

d u z ir em .

A

c a p a c id a d e

da

m esm a

m o lé c u la é a c a r a c te r ís tic a d a v id a ; e a q u e s tã o d a o r ig e m

d a v id a

é, p o r t a n t o , a q u e s t ã o fic a d a s n o s ter

sid o

o rig em

de

form a d a s

c ó p ia s

a tiv a s

d e se s a b e r se as m o lé c u la s b á sica s id e n ti­

tra b a lh o s d a

da

r e p r o d u z ir

p resen te g era çã o

a tra v és

v id a , s a b e m o s

de

p rocessos

m u ito b em

d e b ió lo g o s p o d e r ia m n a tu r a is. A

r esp eito

da

o q u e esta m o s procu rando:

m o l é c u l a s s im p le s , e l e m e n t a r e s , ta is q u a is a s a s s im c h a m a d a s b a s e s (a d e n in a , tim in a , g u a n in a , c ito s in a ) c o m p o n e n t e s d a s e sp ir a is d o A D N , as q u a is se r e p r o d u z e m q u a lq u e r

c é lu la .

O

a si p r ó p r ia s d u r a n te a d iv isã o d e

c u r so su b se q ü e n te , a tra vés d o

n ism o s

to rn a ra m -se

tip o

p r o b le m a , o e sta tístic o :

de

m a is

e

m a is

qual os orga­

c o m p le x o s , en v o lv e

um

o u tro

isto é, a e v o lu ç ã o d a c o m p le x i­

d a d e p o r m e io d e p r o c e s so s e sta tístic o s. É ju sto fora m

que

se p erg u n te

se as m o lé c u la s a u to m u ltip lic a d o r a s

fo r m a d a s m u ita s v e z e s, e m

d ife r e n te s lo ca is. E ssa q u e stã o

só p o d e ser r e sp o n d id a p o r in fer ê n c ia s b a sea d a s e m in ter p re ta ç õ e s fo r n e c id a s

por

A tu a lm e n te , as q u a tro

bases

ta r ie d a d e b a ctéria ten d o

em ao

em

esses

in d íc io s

c o lh id o s

a v id a é c o n tr o la d a do cada

u m a

e le fa n te ;

os

aos

seres

v iv o s

a tu a is.

A D N . E la s e n c e r r a m a s m e n s a g e n s d a h e r e d i­ d o

de

tod as

ú n ic o s

as c r ia tu r a s

c o n h e c id a s;

v ír u s à r o sa . U m a c o n c lu s ã o

v ista a u n ifo r m id a d e

são

ju n to

p o r u m a s p o u c a s m o lé c u la s -

arran jos

d o

da

p o ssív e l,

a lf a b e to d a v id a , é a d e q u e

a tô m ic o s

capazes

de

m a n te r a se-

q ü ê n c ia d e a u to -r e p r o d u ç ã o . C o n t u d o , h á a p e n a s a lg u n s b ió lo g o s fa v o rá v eis a e ss a h ip ó te se . A

m a io r ia

o u tro s

p refere

a rran jos

m en te

seria m

pensar

que

a n a tu r e z a seja c a p a z d e in v e n ta r

a u to m u ltip lic a d o r e s;

as

p o ssib ilid a d e s

segura­

m a io r e s d o q u e as q u a tr o m e n c io n a d a s. S e isso fo r

c o r r e to , e n t ã o , a r a z ã o p e la q u a l a v id a , tal c o m o a c o n h e c e m o s , é d ir ig id a te c e u

b a ses, é q u e s im p le sm e n te a c o n ­

p ela s m e s m a s q u a tr o

d a v id a

ter c o m e ç a d o

com

e la s. S o b e s s a in te r p r e ta ç ã o , a s

b a se s sã o p r o v a d e q u e a v id a só c o m e ç o u u m a v ez . D e p o is d isso , q u a n d o su rg ia q u a lq u e r o u tr o

a r r a n jo , n ã o c o n s e g u ia lig a r -se às

fo r m a s d e v id a já e x is te n te s . E v id e n te m e n te , n in g u é m

m a is p e n s a

q u e a v id a a in d a e ste ja s e n d o c r ia d a d o n a d a a q u i n a T erra. A

b io lo g ia

um a da A

teve

cen ten a

teo ria o u tra

de c o m o

de

a fortu n a

d e d esco b rir, n o e sp a ç o

de

tem p o

a n o s , d u a s g r a n d e s id é ia s fe c u n d a s. U m a

d a e v o lu ç ã o

de

foi a

p e la s e le ç ã o n a tu ra l, d e D a r w in e W a lla ce.

fo i a d e sc o b e r ta , p o r p a rte d e n o sso s c o n te m p o r â n e o s , e x p r e ssa r o s c ic lo s d a v id a n u m a fó r m u la q u ím ic a q u e

o s v in c u la à n a tu r e z a c o m o u m

tod o.

317


A Escalada do Homem

S e r ia m a s su b stâ n c ia s, p r e se n te s a q u i n a T erra , e n q u a n to a v id a se

fo r m a v a , e x c lu siv a s d e n o ss o

p la n eta ? C o s tu m á v a m o s

q u e sim , m a s o s in d íc io s m a is r e c e n te s m o s tr a m ú ltim o s

anos

tem -se

en con tra d o ,

nos

pensar

o c o n tr á r io . N o s

esp aços

in te r e ste la r e s,

tr a ç o s e sp ec tr a is d e m o lé c u la s , as q u a is p e n s á v a m o s ja m a is p o d e ­ rem -se

form ar

n essas

fr íg id a s

reg iõ es:

á cid o

-a c e tile n o , fo r m a ld e íd o . N ã o

se su sp eita v a

c u la s

q u e ap on ta

e x istir

fora

da T erra, o

p o d er-se m a n ifesta r e m a u to r iza

a supor

que

c ia n íd r ic o ,

p udessem

c ia n o -

ta is m o lé ­

p a ra o fa to d e a v id a

c o m e ç o s e fo r m a s v a r ia d a s, m a s n ã o n o s a v id a d e s c o b e r ta e m

o u tr o s p la n eta s (se

156 S e r ia m p ecu lia res apenas à Terra as su b stân cias aqui p resen tes q u a n d o a v id a com eçou? D is p o s itiv o c o m p o n ta d a p ro v a para te s ta r a p o s s ív e l p resen ça d e s u b s tâ n c ia s o rg â n ic a s e m u m a a te r r iz a g e m s e re n a e m M a rte .

ta l c h e g a r a a c o n te c e r ) te n h a se g u id o o s m e s m o s e stá g io s e v o lu c io n á r io s d a n o ssa . N ã o é m e s m o n e c e ssá r io q u e a r e c o n h e ç a m o s n a q u a lid a d e d e v id a c o m o tal -

318

o u q u e e la n o s r e c o n h e ç a .

157 O m a teria l con cen tra d o é em p u r ra d o para a su p e r fíc ie s o b a form a de m in ú scu lo s ic e b e rg s. F o rm a çã o d e a d e n in a a p a r tir d e u m a s o lu ç ã o c o n g e la d a d e c ia n e to e a m ó n ia .




10

M^UNDO DE^NTRO DO MUNDO

U M

H á, na

n a tu reza , sete

de cores.

f o r m a s b á s ic a s d e c r ista is e u m a m u lt id ã o

F orm as sem pre

guras n o

esp aço

e le m e n to s

co m o

fa sc in a r a m

fu n d a m e n ta is

que

o s c r ista is n a tu r a is e x p r e s s a m

d o s

á to m o s em

os

E m

para

os gregos, os

term o s m o d ern o s ta m b ém

co m p õ em ;

fa m ília s. E

m a té r ia ;

d o ta d o s d e fo r m a , à se m e lh a n ç a

só lid o s

á to m o s

reg u la res.

eram

dos

que

o s h o m e n s , t a n t o c o m o fi­

d escriçõ es da

é verdade

a lg u m a c o isa so b r e o a rra n jo

isso

a u x ilia

a

c la ssific a ç ã o

dos

d isto se o c u p a a F ís ic a d e n o ss o séc u lo ,

o s c r ista is r e p r e se n ta n d o a p o r ta d e e n tr a d a p a ra esse m u n d o . E n tre

tod a

sim p le s, ser u m

a v a r ie d a d e d o s c r ista is, o m a is m o d e s t o é o c u b o

in c o lo r ,

d o sal d e

co zin h a ; m a s n e m

p o r isso d e ix a d e

d o s m a is im p o r ta n te s. H á c e r c a d e m il a n o s o sal te m

e x tr a íd o a n tig a

da grande

c a p ita l

estru tu ra s séc u lo

de

m in a

p o lo n e sa ,

onde

m a d eira

m á q u in a s

X V II. O

e

a lq u im ista

em

su a s v ia g e n s

na

a lq u im ia ,

d o

h o m e m

c ia l

para

em

por

a in d a

são

con servadas

tr a c io n a d a s

P a ra celsu s d e v e

por

a lg u m a s

c a v a lo s

ter p a ssa d o

do

por aqui

d ir e ç ã o a o leste . A e le se d e v e u m a in o v a ç ã o

a firm a r

que

en tre o s e le m e n to s

e d a n a tu reza o sal tem

a

sid o

d e sal d e W ie lic z k a , p e r to d e C r a c ó v ia ,

com p o n en tes

d e ser c o n ta d o . O sal é e ssen ­

v id a e to d a s as c u ltu r a s s e m p r e lh e a tr ib u ír a m

um a

q u a lid a d e sim b ó lic a . À s e m e lh a n ç a d o s r o m a n o s , a in d a c h a m a m o s “ sa lá r io ” à q u a n tia sig n ifiq u e

d e d in h e ir o

“ d in h e ir o

d o

sa l” .

paga a u m N o

O r ie n te

h o m e m , e m b o r a isso M é d io

as

barganhas

a in d a s ã o s e la d a s c o m sa l, à m a n e ir a d o q u e é c h a m a d o , n o V e lh o T esta m en to , “ u m P a ra celsu s erro u tid o

m o d ern o

e c lo r o . O

acord o co m em

d o

só d io

u m

p o n to : o sal n ã o é u m

term o . é u m

sal é para se m p r e ” .

É co m p o sto

e le m e n to n o sen ­

p o r d o is e le m e n to s: só d io

m e ta l b r a n c o , e fe r v e sc e n te , e o c lo r o , u m

gás a m a r e la d o , v e n e n o s o ; m a s o in ter e ssa n te é q u e, d a u n iã o d o s d o is, re su lta só d io 158 0 m o d elo d o á to m o p recisa v a d e u m n o vo r efin a m en to . N ie ls B o h r e A l b e r t E in s te in a n c fa n d o n a s ru a s d e B r u x e la s , o u tu b r o d e 1 9 3 3 .

e

o

um a

c lo r o

estru tu ra

p erten cem

fa m ília

ap resen ta

la r e s: o

só d io

e stá v el, o sal c o m u m .

A lé m

d isso , o

a fa m ília s q u ím ic a s d ifer e n te s. C a d a

u m a gradação

ord en ada

d e p r o p r ie d a d e s sim i­

p e r te n c e à fa m ília d o s m e ta is a lc a lin o s e o c lo r o à

d o s h a lo g ê n io s a tiv o s . O s c r ista is p e r m a n e c e m

im u tá v e is, q u a d r a ­

dos

e

da

são

troca d os

tran sp a ren tes,

p e r fe ita m e n te

uns

à m e d id a q u e

p e lo s

ou tro s.

Por

m em b ros

m esm a

e x e m p lo , o só d io

fa m ília pode

ser

s u b stitu íd o p e lo p o tá ssio , d a n d o , a g o ra , o c lo r e to

321


A Escalada do Homem 159 O q u e d eten n in a o agrupam ento dos elem en to s em fa m ília s? C u b o n a tu r a l d o c r is ta l d o sa l d e c o z in h a ( c lo r e to d e s ó d io ), in d is tin g u ív e l d e o u tr o s s a is h a lo g e n a d o s d e m e t a i s a lc a l in o s .

de

p o tá ssio .

e le m e n to

Ig u a lm e n te ,

irm ã o ,

o

o

brom o,

c lo r o p o d e ser s u b stitu íd o d ando

o

b ro m eto

p elo seu

d e só d io .

A in d a

p o d e m o s, e v id e n te m e n te , p r o ce d er a u m a d u p la troca: flu o r e to d e lítio , n o q u al o s ó d io é su b stitu íd o p e lo

lítio

e o c lo r o p e lo

flú o r . M e s m o a s s im , o s c r ista is m a n t ê m a m e s m a a p a r ê n c ia v isu a l. .O N a

q u e d e te r m in a o a g r u p a m e n to d o s e le m e n to s e m década

so lu çã o

de

para

1 8 6 0 esse

tod o

m u n d o

p r o b le m a ,

e

fa m ília s?

coçava a cabeça à procura de v á r io s

c ie n tista s

acabaram

por

a p resen ta r s o lu ç õ e s b a sta n te c o in c id e n te s. E n tr e ta n to , a r e sp o sta tr iu n fa l fo i d a d a p o r u m j o v e m r u sso c h a m a d o D m itr i I v a n o v ic h M e n d e le ie v , o q u a l h a v ia v isita d o a m in a d e W ie lic z k a e m C o n ta va ,

e n tã o , v in te e c in c o

anos, sen d o

1 85 9.

p o b r e , tra b a lh a d o r e

b r ilh a n te . C a ç u la d e u m a fa m ília d e p e lo m e n o s q u a to r z e ir m ã o s, tin h a

sid o

p a r a e le u m

o

q u e r id in h o

de

sua

m ãe

v iú v a

que,

a m b ic io n a n d o

fu tu r o ilu str e, e n c a m in h o u -o p ara a c iê n c ia .

M e n d e le ie v n ã o se d istin g u ia a p e n a s p e lo g ê n io , m a s, ta m b é m , por um a

p a ix ã o g e n u ín a p e lo s e le m e n to s. F e z d e les se u s a m ig o s

p esso a is, c o n h e c ia c a d a c a p ric h o e p o r m e n o r d e seu s c o m p o r ta ­ m e n to s . O s e le m e n to s só se d istin g u ia m e n tr e si p o r u m a p r o p r ie ­ d a d e b á sica , a q u e la o r ig in a lm e n te p r o p o s ta p o r J o h n D a lto n e m 1 8 0 5 : c a d a e le m e n to é c a r a c te r iz a d o p o r u m co m o 3 2 2

é q u e as p r o p r ie d a d e s q u e o s to r n a m

r e n te s d e c o r r ia m

p e so a tô m ic o . M as, s e m e lh a n te s o u d ife-

d esse ú n ico d a d o co n sta n te o u p a râm etro ? F o i


Um Mundo Dentro do Mundo

nessa

q u estão

escrito

que

M e n d e le ie v

em p en h o u

o n o m e d o s e le m e n to s e m

seu

ta len to .

T en d o

c a r tõ e s, o r g a n iz a v a -o s e m

um a

e s p é c i e d e j o g o q u e s e u s a m i g o s c h a m a v a m P a c iê n c ia . N o s seus cartõ es escreveu tam b ém tos,

d isp o n d o -o s

em

d ecrescen te, co n fo rm e fazer c o m

o s p eso s a tô m ic o s d o s e le m e n ­

c o lu n a s v ertica is,

em

ord em

fo sse o ca so . R e a lm e n te

crescen te o u

n ã o sa b ia o q u e

o m a is le v e , o H id r o g ê n io ; a ssim , d e ix o u - o fo r a d e se u

esq u em a. O

p r ó x im o , na o rd em

d o s p e s o s a tô m ic o s , era o H é lio ,

m a s M e n d e le ie v n ã o p o d ia sa b e r d e le , u m a v e z q u e a in d a n ã o tin h a sid o id e n tific a d o n a fa c e d a T erra -

a in d a b e m , p o r q u e , d e o u tr a

fo r m a , te r ia f ic a d o v a g u e a n d o s o z in h o a té q u e se u s ir m ã o s fo s s e m d e s c o b e r to s m u ito t e m p o d e p o is. D e s s a m a n e ir a , M e n d e le ie v e n c a b e ç o u su a p r im e ir a c o lu n a c o m o e le m e n to L ítio , u m (o

e le m e n to

B e r ílio , e n tã o

160

m a is o

d o s m e ta is a lc a ló id e s. A ssim , fic o u o L ítio

lev e

d e p o is

d o

H id r o g ê n io ),

em

seg u id a

o

B o r o , s e g u in d o -s e o s e le m e n t o s m a is fa m ü ia r e s:

C a r b o n o , N itr o g ê n io , O x ig ê n io

e, p o r fim , o sé tim o d e su a c o lu ­

na,

dos

o

F lú o r.

A in d a

na

ord em

pesos

a tô m ico s,

o

p ró x im o

M e n d e le ie v se distin gu ia n ão apenas por seu g ên io , m as, ta m b é m , pela su a p a ix ã o p elo s elem en to s. D m itr i I v a n o v ic h M e n d e le ie v .

323


A Escalada do Homem

e le m e n to é o S ó d io , e c o m o e ste a p r ese n ta v a a lg u m a s a fin id a d e s co m

o L ítio , M e n d e le ie v d e c id iu in ic ia r c o m e le u m a n o v a c o lu n a ,

p a r a lela à p r im e ir a . N e s ta , e n c a d e a v a m -s e u m a sér ie d e e le m e n t o s fa m ilia r e s: M a g n é s io , A lu m ín io ,S ilíc io , F ó s f o r o , E n x o f r e e C lo r o . E

e is

de

que,

sete

n o va m en te,

c o n stitu e m

e le m e n to s, se n d o

que

o

u m a

o u tra c o lu n a c o m p le ta

ú ltim o ,

o

C lo ro ,

se

a lin h a n a

m e s m a fila h o r iz o n ta l d o F lú o r. E v id e n te m e n te ,

h á a lg u m a c o isa n a se q ü ê n c ia d o s p e s o s a tô ­

m ic o s , n ã o a p e n a s a c id e n ta l, m a s s is te m á tic a . N a te r c e ir a c o lu n a v a m o s e n c o n tr a r n o v a m e n te a m e s m a o rg a n iz a ç ã o . O s e le m e n to s que

se se g u e m

ao

C lo ro , n a

o rd em

dos

p esos a tô m ic o s, são o

P o t á s s io e d e p o is o C á lc io . A s s im , a té a q u i, a p r im e ir a fila c o n t é m

í ,. L ■! M

[

M

g

í

s ?

I

M

l__! 1 ) (Si I )

j ^

í^ \ o ^ f i ^

|

Cta /J S

j s

o B e r ílio , o M a g n é s io e o C á lc io , to d o s m e ta is c o m

a f i n i d a d e s f a m il ia r e s. O a rra n jo

M

o S ó d io e o P o tá ssio , to d o s m e ta is a lc a lin o s; e a s e g u n d a

fila c o n té m 3 24

|

faz

se n tid o :

fa to é q u e a d isp o siç ã o h o r iz o n ta l n esse

agrupa

e le m e n to s

de u m a m esm a

fa m ília .

J o g o d a P a c iê n c ia d e M e n d e le ie v . A s c a r ta s e s tã o a rr a n ja d a s n a o r d e m d os pesos a tô m ic o s : o s e le m e n to s se agru pam em fa m ü ia s .


Um Mundo Dentro do Mundo

M e n d e le ie v h a v ia d e s c o b e r to o u , p e lo m e n o s , e n c o n tr a d o in d íc io s

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V Í» _

um a

*’H

v .T í

a tô m ic o s,

cada

sete

A té este p o n to , o

e sq u e m a d e M e n d e le ie v p o d e ser a c o m p a n h a d o

sem

e

d ific u ld a d e ,

a ssim

e le

•» 94»

b em

n ão ,

a té

o

tin h a

ch egarm os

in e v ita v elm e n te , su rge o m en te? P orq u e,

161 A seq ü ên cia d o s pesos a tô m ic o s n ã o é a cid en ta l, m a s, sim , sis tem á tic a . U m a d a s p r im e ir a s v e rs õ e s d a T a b e la P e r ió d ic a d e M e n d e /e ie v , d e 1869.

en tre o s e le m e n to s. O r­

pesos

d im e n t o , as fa m ília s se r ã o e n c o n tr a d a s n o s a rra n jos h o r iz o n ta is.

p e r fe ita m e n te

.*= * íL í t ■«»■ '••*-

Í # r V V 1I

resp ectiv o s

o r g a n iz a d o e m

1 8 7 1 , d o is

a n o s d e p o is d e te r a p r im e ir a id é ia n e sse s e n tid o . T u d o se a ju sta

; . «Tf sa& Ê ü /i^

ch a v e m a te m á tic a

seus

da, m a n te n d o a se q ü ê n c ia d o s p e so s a tó m ic o s. U sa n d o esse p r o ce ­

ç tS B T S

£ Z \\

de

p e lo s

e s tá g io s c o n s t it u e m u m a c o lu n a v e r tic a l, in ic ia n d o o u tr a e m seg u is

^-s> <*4* <*■• i» -»-•* A»**^** A.OL ,t-*o- *

d a e x istên cia d en a n d o-o s

c o m o

p r im e ir o

se

v iu

à

te r c e ir a

c o lu n a

-

en tão ,

p r o b le m a . P o r q u e in e v ita v el­

para o caso

d o H é lio , M e n d e le ie v

d is p u n h a d e to d o s o s e le m e n to s . D o s n o v e n ta e d o is, a p e n a s

sessen ta

e três e r a m

c o n h e c id o s ; d e ssa fo r m a , m a is c e d o o u m a is

ta r d e te r ia m d e a p a r e c e r as fa lh a s. E u m a d ela s a p a r e c e u ju s ta m e n ­ te o n d e

h a v ía m o s p a rad o -

D isse

n o te r c e ir o lu g a r d a te r c e ir a c o lu n a .

q u e M e n d e le ie v h a v ia id e n tific a d o

fo r m a a b r e v ia d a d e e x p r e s sã o m id á v el e m

seu

M e n d e le ie v

en con tro u -se

escon d e

r a c io c ín io . N o

um a

fa lh a , m a s e ssa

o q u e h a v ia d e m a is fo r ­

te r c e ir o lu g a r d a te r c e ir a c o lu n a

fren te

à

fren te c o m

u m a d ific u ld a d e ,

r e so lv e n d o -a a tra v és d e

u m a in te r p r e ta ç ã o

e le m e n to .

se d e v e u a o fa to d e o p r ó x im o e le m e n to

E ssa e sc o lh a

c o n h e c id o , que d o

o

o

T itâ n io , sim p le sm e n te

c o lo c a r ia m

A lu m ín io . ‘ O

d o,

na m esm a

fa m ília

d e q u e a li fa lta v a u m

n ã o e x ib ir as p r o p r ie d a d e s (fila h o r iz o n ta l)

d o

B oro e

e le m e n to a o cu p a r essa p o siçã o não é c o n h e c i­

m as

q u a n d o

o

for,

seu

T itâ n io .

A ssim ,

d e ix a n d o

p eso

a tó m ic o

essa

p o siç ã o

o

c o lo ca rá

ab erta ,

o

a n tes d o

T itâ n io

se

a lin h a , n a q u a r ta fila , c o m

o s e le m e n to s d e su a fa m ília : C a r b o n o

e

fo i

S ilíc io .”

N a

r e a lid a d e

isso

q u e

a co n teceu

n o

esq u em a

b á sico . A

co n cep çã o

ração

d a s fa lh a s o u

c ie n tífic a .

E m

e le m e n to s a u se n te s fo i u m a in sp i­

term o s

p rá tico s

F r a n c is B a c o n h a v ia fo r m u la d o e m

exp ressava

a q u ilo

que

t e r m o s g er a is h á m u it o t e m p o

a trá s, o u seja , q u e n o v a s a p lic a ç õ e s d e u m a lei n a tu r a l p o d e m p ro p ostas

ou

d a d e , M e n d e le ie v m a is

su til

filó so fo s

nas h a v ia m

d em o n stro u

m ã os

de

u m

su p o sto .

E m

ser a in d u ç ã o u m c ie n tista c iê n c ia

m e n t e s e g u in d o u m a p r o g r e ss ã o lin e a r p ara

os

ser

in d u z id a s a p a r tir d a s a n tig a s c o n h e c id a s . N a v e r ­

d esco n h ecid o s.

e stiv é sse m o s d ia n te

M a is

de u m

d o

que

p ro cesso m u ito

d o

que

não

m a r c h a m o s sim p le s­

B acon

e

o u tro s

d os ev en to s c o n h e c idos

isso , tr a b a lh a n d o

p o m o

se

p r o b le m a d e p a la v r a s c r u z a d a s , s e g im

325


A Escalada do Homem

m o s d u a s p ro gressõ es in d e p e n d e n te s n a p ro cu ra d o p o n to o n d e e la s se in t e r c e p t a m :

aí é qu e d evem

ser e n c o n tr a d o s o s e s c o n d e ­

r ijo s d o s e v e n t o s d e s c o n h e c id o s . M e n d e le ie v s e g u iu a p r o g r e s s ã o d o s p e so s a tô m ic o s n a s c o lu n a s e a d a fa m ília d e a fin id a d e s n as h o r iz o n ta is, a fim

d e id e n tific a r o s e le m e n to s fa lta n te s n a s in te r ­

cep ções.

a ssim , c o n s e g u iu

a lé m

A g in d o

e la b o ra r

p red içõ es

p rá tica s,

d e to r n a r e x p líc it o (o q u e a in d a h o je é m a l c o m p r e e n d id o )

o u s o d o p r o c e s so in d u tiv o n o r a c io c ín io c ie n tífic o . M u ito b e m :

o s p o n to s d e m a io r in teresse e stã o r e p r e se n ta d o s

p e la s fa lh a s e x is te n te s n a s te r c e ir a e q u a r ta c o lu n a s. E m b o r a eu n ã o p r e te n d a c o n tin u a r n o p r o c e sso d e c o n str u ç ã o d a ta b ela a lé m d e s se p o n t o , g o sta r ia d e c h a m a r a a te n ç ã o p a ra o fa to d e q u e , se c o n ta r m o s as fa lh a s e s e g u ir m o s a d ia n te , a c o lu n a te r m in a o n d e d ev eria ,

no

B rom o,

na

fa m ília

d o s h a lo g ê n io s. H a v ia u m

n ú m e r o d e fa lh a s e M e n d e le ie v a p o n to u tr ê s d ela s. À nos

r e fe r im o s:

d u as esta va m M e n d e le ie v que

as

a

da

te r c e ir a

co lu n a

na

te r c e ir a

certo

p r im e ir a já

fila . A s o u tr a s

n a q u a r ta c o lu n a , te r c e ir a e q u a r ta fila s. S o b r e e la s

p r o fe tiz o u

preenchessem ,

que, u m a vez

d esco b erto s, os e le m e n to s

a p r ese n ta ria m

n ão

os p eso s a tô m ic o s

c o r r e sp o n d e n tes às su as p o siç õ e s n as co lu n a s, m a s, ta m b é m , a fi­ n id a d e s f a m ilia r e s à s s u a s p o s i ç õ e s n a s fila s. P o r e x e m p lo , a p r e v isã o m a is fa m o s a d e M e n d e le ie v , e a ú ltim a a

ser

co n firm a d a ,

fo i a r e la tiv a à te r c e ir a -

o qu e

e le c h a m o u

E k a -silíc io . E le e n u n c io u as p r o p r ie d a d e s d e sse e le m e n t o e str a n h o

I

i

e im p o r ta n te , q u e só v in te a n o s d e p o is fo i d e s c o b e r to n a A le m a ­ n h a ; n o n o m e d a d o a esse e le m e n t o n ã o fic o u sin a l d e h o m e n a g e m a M e n d e le ie v , p o is se c h a m o u G e ir m â n io . P a r t in d o de

que

o

“ E k a -silíc io

a p resen ta ria

d o p r in c íp io

p r o p r ie d a d e s in ter m e d iá r ia s

e n tr e o S ilíc io e o Z in c o ” p r e d isse q u e seria 5 ,5 v e z e s m a is p e s a d o d o q u e a água: e isso v e rific o u -se ser co rreto . T a m b é m d e te r m in o u que

seu

m en te

ó x id o correto .

se r ia 4 ,7 E a ssim

v e z e s m a is p e s a d o d o q u e a á g u a ; ig u a l­ p o r d ia n te, em

r e la ç ã o às p r o p r ie d a d e s

q u ím ic a s e o u tras. E ssas na

p r e v isõ e s

R ú ssia :

o

torn a ram

lá e le n ã o e r a u m

fa m o so

p or tod a

p a rte -

p r o fe ta , m a s , sim , u m

ex ceto

h o m e m

de

id é ia s lib e r a is, e o T sa r n ã o g o s ta v a d isso . A d e s c o b e r ta p o s te r io r , na

326

In g la terra ,

d e t o d a u m a n o v a fila d e e le m e n t o s , c o m e ç a n d o

co m

o H é lio , N e ô n io , A r g ô n io , a m p lio u seu tr iu n fo . N ã o c o n s e ­

g u iu

se e le g e r p a ra a A c a d e m ia R u ss a d e C iê n c ia s, m a s, n o r e sto

d o m u n d o , seu n o m e p a sso u a ter u m

se n tid o m á g ic o .


162

M en d eleiev era f a m o s o n o m u n d o in te ir o - e x c e t o n a R Ăş ssia . F o to g r a fia e m g r u p o tir a d a e m u m a d a s v is ita s d e M e n d e le ie v a M a n c h e s te r . M e n d e le ie v a p a r e c e n o c e n t r o d a f o t o g r a f ia , J a m e s P r e s c o t t J o u le a p a r e c e e m p ĂŠ n a e x tr e m id a d e d ir e ita .


163

A q u i se d á a a b ertu ra d a g ra n d e era. N e s te s d ias a fís ic a se tra n sfo r m a n ° g ra n d e tr a b a lh o d e arte c o le tiv a d o s é c u lo v in te. D u a s c o n fe r ê n c ia s d o s r e s p o n s á v e is p e la n o v a F ís ic a A tô m ic a :

P r im e ir a S o lv a y C o n f e r e n c e d e 1 9 1 1 . S e n ta d o s , à e s q u e r d a , a p a r e c e m R u t h e r f o r d n o s e g u n d o e J . J . T h o m s o n n o q u a r t o lu g a r . E i n s t e i n é o d é c i m o p r im e ir o e M a r ie C u r ie a d é c im a s é tim a , a p a r ti r d a e s q u e r d a , n a file ir a e m p é .

328


F o to g r a f i o . d a q u i n t a c o n f e r ê n c i a - d e 1 9 2 7 . E i n s t e i n e M a r i e C u r i e p a s sa ra m p a r a a f il e ir a d a f r e n t e ( e le e s tá n o c e n t r o e e la é a te r c e ir a a p a r ti r d a e s q u e r d a ). A n o v a g e r a ç ã o o c u p a a f i l e i r a d e trá s. L o u is d e B r o g lie , M a x B o m e N ie ls B o h r s ã o o s ú ltim o s tr ê s à d ir e ita n a s e g u n d a f ile ir a , e n q u a n to q u e S c h r o d in g e r é o s e x to a p a r tir d a e s q u e r d a e H e is e n b e r g o te r c e ir o a p a r tir d a d ir e ita , a m b o s n a ú ltim a f ile ir a .

329


A Escalada do Homem

Q u e

o

padrão

su b ja c e n te a o arra n jo d o s á to m o s era n u m é r ic o ,

e sta v a fo r a d e d ú v id a . C o n t u d o , is s o n ã o e n c e r r a a h istó r ia ; a lg u ­ m a

c o is a d e v ia e sta r f a lta n d o . N ã o te r ia s e n t id o a lg u m a c r e d ita r

que

to d a s

as p r o p r ie d a d e s

dos

e le m e n to s

esteja m

co n tid a s e m

u m

n ú m e r o , o p e s o a tô m ic o : o q u e e s tá e s c o n d id o a í? O

u m

á to m o p o d e ser a m e d id a d e su a c o m p le x id a d e . S e a ssim

e le d e v e m a

de

p eso de for,

o cu lta r u m a o r g a n iz a ç ã o estr u tu r a l in ter n a , a lg u m a fo r ­ co erên cia

m en to s.

física , r e sp o n sá v e l p ela s p r o p r ie d a d e s

d os e le ­

E n tr e ta n to , essa id é ia era in c o n c e b ív e l, n a m e d id a e m

q u e se a cr e d ita v a n a in d iv isib ilid a d e d o á to m o . D essa

m a n eira , a

tr a b a lh a n d o e m

d esco b erta

C a m b rid g e e m

do

e lé tr o n

c o n c e p ç õ e s física s. S im , o á t o m o t e m in d iv isív e l u m a

com o

seu

p e q u e n íssim a

n o m e

p a rte

de

grego sua

por

J. J. T h o m s o n ,

1 8 9 7 , ca u sa u m a r ev ira v o lta n a s p a rtes c o n stitu in te s; n ã o é

im p lic a . O m assa

ou

e lé tr o n r e p r e se n ta

peso, m as é um

dos

se u s c o m p o n e n t e s r ea is, p o r ta d o r d e u m a ca rg a e lé tr ic a u n itá ria . C a d a e le m e n to á to m o .

A in d a

é c a r a c te r iz a d o p e lo m a is,

os

nú m ero

de

e lé tr o n s e m

se u s n ú m e r o s s ã o e x a ta m e n te ig u a is a o

n ú m e r o d o lo c a l, n a ta b ela d e M e n d e le ie v , o c u p a d o e le m e n to

seu

p o r a q u e le

q u a n d o o H id r o g ê n io e o H é lio sã o c o lo c a d o s n o p r i­

m e ir o e n o s e g u n d o lo c a l, r e sp e c tiv a m e n te . Isto é, o L ítio p o ssu i três e lé tr o n s, o B e r ílio q u a tr o , o B o r o c in c o , e a ssim p o r d ia n te , a té o

|

é

fim

d a ta b ela . O lo c a l d a ta b ela o c u p a d o p o r u m

ch am ad o

seu

n ú m ero

a tô m ic o , agora

co m

e le m e n to

fo r o d e r e a lid a d e

fís ic a d e n tr o d o á to m o — d a d a p e lo n ú m e r o d e e lé tr o n s. A ê n fa se

i

se tr a n sfe r ia d o p e s o a tô m ic o p a ra o n ú m e r o a t ô m ic o , o q u e s ig ­ n ific a , n a e ss ê n c ia , p a ra a e str u tu r a a tô m ic a . A

físic a m o d e r n a n a sc e u c o m

e ssa c o n q u ista in telectu a l. U m a

g r a n d e é p o c a se in ic ia . N e s t e s a n o s , a fís ic a r e ú n e a m a io r s o m a d e tr a b a lh o c o le tiv o d a c iê n c ia — n ã o , m u it o m a is d o q u e isso : o g ra n d e tr a b a lh o a r tístic o c o le tiv o d o sé c u lo X X . D ig o “ tra b a lh o d e a r te ” p o r q u e a n o ç ã o d e q u e h á u m a e stru tu ra su b jacen te, u m

m u n d o d en tro d o m u n d o d o á to m o , ca p to u im e ­

d ia ta m e n te a im a g in a ç ã o d o s a rtista s. A

a rte p o ste r io r a 1 9 0 0 é

d ife r e n te d e to d a a arte q u e a p r e c e d e u , c o m o p o d e ser c o n s t a t a d o em

q u a lq u e r p in to r o rig in a l d a é p o c a : e m

e x e m p lo , C ic lis ta . A 3 30

n o

A s

F o rça s

d e

u m a R u a

ou

U m b e r to B o c c io n i, p o r n o D in a m is m o

d e u m

arte m o d e r n a e a físic a m o d e r n a n a sc e r a m a o m e s m o

te m p o , p o r q u e a m e s m a id é ia lh es d e u o rig em .


164 O p i n t o r v i s i ve l m e n t e d i v i d e e r e c o n s t r ó i o m u n d o e m u m a m e s m a t e l a P o d e -s e s e g u i r seu p e n s a m e n to e n q u a n t o ele faz iss o . 1 ' e se seguir D e ta lh e d e m o v e m c o m E s p o n j a d e P Ó " d e G e o r g e s S e u r a t, p in ta d o e m 18 8 6 D is tr ib u in d o a s u m u s e m u m m o ü c n c o d e p e q u e n o s p o n t o s c o lo r id o s S e u r a t p r e t e n d rn a u m e n t a r a l u m i n o s i d a d e d o q U a d r o .

A

p a r tir d a O p tic k s d e N e w t o n

c o lo r id a d a s co isa s. O

séc u lo

X X

resses. A se m e lh a n ç a d o q u e fa z e m ram

a

buscar

o s o sso s p o r b a ix o

p ro fu n d a s, q u e, d e u m

o b jeto

en g aja d os

d en tro

ou

de u m

na

a n á lise

o s p in to r e s d esco b rira m m u d ou

o

o b jeto

a face

d e seu s in te ­

o s ra io s X d e R o n tg e n , p a ssa ­ d a p e le , e a s e str u tu r a s só lid a s

para fora , su p o rta m

a fo rm a tota l de

c o r p o . P in to r e s ta is c o m o J u a n G r is e s tã o da

estru tu ra ,

tan to

em

se

trata n d o

de

f o r m a s n a tu r a is e m N a tu r e z a M o r ta , c o m o d o c o r p o h u m a n o e m P i e r r o t.

331


A Escalada do Homem

O s

p in to r e s

c u b ista s,

p o r e x e m p lo ,

o b v ia m e n te

n a s f o r m a s d o s c r ista is. N e la s e le s v ê e m co n stru íd o C a sa s e m p in to u

em

p in tu ra

a fo r m a d e u m v ila r e jo

A s D o n z e la s d e A v ig n o n . N o

c u b ista ,

P a b lo

para

d isso c ia d a

a

P ica sso

g eo m etria

em

form as

sua

g r u p o d e m u lh e r e s, c o m o P ic a sso as -

a

seu

sim p le s

D a n ie l-H e n r y K a h n w e ile r — d e s v ia a a t e n ç ã o n o m ia

in sp ir a m

u m a en costa, co m o o fez G eorg es B raq ue em

L ’E s t a q u e , o u u m

em

se

su b jacen te.

m a te m á tic a s,

A e,

fam oso c o m eço da face,

R e tr a to

o

d e

d a p e le e d a fisio ­

cab eça

fo i r e so lv id a

e

e n tã o , r e c o n str u íd a , e m

u m a r e c r ia ç ã o , d e d e n tr o p a ra fo ra . E ssa n o v a p ro cu ra d a e stru tu ra o c u lta é m a r c a n te n o s p in to r e s da

E u ro p a d o N orte:

um a

p a isa g e m

fa v o r ito em

dos

u m

F ra n z M arc, p o r e x e m p lo , a o rep resen ta r C o is a

n a tu ral e m c ie n tista s)

C a v a lo

o

na

cu b ista

fo i com prad a

F lo r e s ta ; e

Jean

tam b ém

(este

c u ja M u lh e r

M e tz in g e r ,

p o r N ie ls B o h r p ara a c o le ç ã o

de

q u a d ros d e su a casa em C o p en h a ge. E x iste m

duas

e scrito

d iferen ça s

c ie n tífic o .

d iv id e o

m u n d o

A

em

n ítid a s

p r im e ir a

é

en tre que

um a na

obra

de

obra. de

a rte e u m

a rte

o

p in to r

p ed a ços e o reco m p õ e n o va m en te, em

u m a

m e s m a te la . A s e g u n d a é d a d a p e lo f a t o d e p o d e r m o s a c o m p a n h a r seus

p en sam en tos

en q u a n to

tra b a lh a .

(P o r

e x e m p lo ,

G eorges

S eu ra t d isp o n d o p e q u e n a s m a n c h a s d e d ifer e n te s c o r e s a té ch eg a r ao e fe ito

tota l em

J o vem

co m

E s p o n ja

d e P ó ou em

O B ic o .) O

e sc r ito c ie n tífic o é d e fic ie n te n essa s d u a s a trib u iç õ e s. F r e q ü e n te m en te

é

apenas

a n a lític o ;

e, q u a se in v a r ia v e lm e n te , e s c o n d e

p rocesso d o p en sam en to em E s c o lh i fa la r s o b r e u m B ohr, N u n ca

sua lin g u a g e m

o

im p esso a l.

d o s p a is d a f ís ic a d o s é c u lo X X , N ie ls

p o r q u e e le era u m

a rtista c o n s u m a d o n e sse s d o is a sp e c to s.

tin h a r e sp o s ta s p r o n ta s. S u a s a u la s e r a m

s e m p r e in ic ia d a s

p e la frase in tr o d u tó r ia : “ C a d a s e n te n ç a m in h a d e v e ser in te r p r e ­ tad a p or v o cês n ã o c o m o

u m a a fir m a tiv a , m a s, sim , c o m o

u m a

p e r g u n ta ” . S e u q u e s tio n a m e n to e r a d ir ig id o à e str u tu r a d o m u n ­ do,

e

a in d a

a q u e le s esta va

quebrando

que

co m

en tran d o o

m u n d o

e le em em

tra b a lh a v a m , m o ç o s

o u v e lh o s (e le

seu s seten ta a n os), ta m b é m p ed aços, rep en san d o -o

e

esta va m

torn a n d o

a

r e c o n str u í-lo . A o s v in te a n o s d e id a d e B o h r fo i tra b a lh a r c o m

332

J. J. T h o m s o n

e o

a n tig o e stu d a n te d e ste , E r n e st R u th e r fo r d , o q u a l, p o r v o lta

de

1 9 1 0 , era o m a is im p o r ta n te fís ic o e x p e r im e n ta l d o m u n d o .

(T an to

T h o m so n

c o m o

R u th erfo rd

h a v ia m

sid o

in d u z id o s

à

165 O s p in tores fu tu rista s esco lh era m tem a s q u e estavam ocu p an d o a m en te d o s físico s. E m s e u m a n i f e s t o eles afirm a m : “ o b jeto s e m m o v i m e n t o se m u ltip lica m e sofrem d istorções sem elh a n tes as das v ib ra çõ es propagando-se atra vés d o e s p a ç o ” , 1912. U m b e r to B o c c io n i: "D i n a m i s m o d e u m C ic lis ta ", d e 1 9 1 3 ( a c i m a ) . B a ila : " P la n e ta M e r c ú r io P a s s a n d o D ia n t e d o S o l" .


Um Mundo Dentro do Mundo

ca rreira c ie n tífic a

p e lo s d e s e jo s d e s u a s r e s p e c tiv a s m ã e s v iu v a s ,

tal q u a l h a v ia s id o p ro fesso r ju n to p ro p osto

à

o c a s o d e M e n d e le ie v .) R u th e r fo r d era e n tã o U n iv e r sid a d e

u m

n ovo

m o d e lo

p r a tic a m e n te

tod a

a

ou

cerne um a

a ce ito c iê n c ia :

sem e lh a n te s

co n cep çã o

fato de, em G a lile o

m assa

co n cen tra d a

no em

c e n tr a l, e o s e lé tr o n s g ir a n d o e m

m o v im e n to s Era

d e M a n ch ester. E m

para o á to m o ,

aos

b r ilh a n te

dos

p la n eta s

1911

h a v ia

qual rep resen ta va u m

n ú c le o p esa d o

ó rb ita s a o red o r, e m em

r e la ç ã o

ao

S o l.

— e u m a b e la iro n ia d a h istó r ia o

três c e n te n a s d e a n o s , a id é ia u ltr a ja n te d e C o p é r n ic o ,

e N ew to n

ter-se a fir m a d o

c o m o o m o d e lo m a is c o m u m ,

p o r q u a lq u e r c ie n tista . Isso a c o n te c e fr e q ü e n te m e n te e m a teo ria

in a c e itá v e l d e u m a é p o c a to rn a -se u m a im a g e m

c o tid ia n a para su as su cesso ra s.


A Escalada do Homem

E n treta n to , n e m Se

o

á to m o

fosse

tu d o

ia b e m

co m

e str u tu r a , seria r e sp o n s á v e l p e lo u m a

o m o d e lo

d e R u th erfo rd .

u m a p e q u e n a m á q u in a , e n tã o

p e q u e n íssim a

m á q u in a ,

fa to d ele

nessas

o

q ue, em

n unca parar -

c o n d iç õ e s

sua

sen do

r e p r e se n ta r ia

o

ú n ic o e x e m p lo c o n h e c id o de m o v im e n to p e r p é tu o ? O s p la n eta s, à m ed id a q u e p erco rrem

su a s ó rb ita s, p e r d e m

su as ó rb ita s se to r n a m c a d a v e z m e n o r e s p r e z ív e l,

e n e r g ia , e, a ssim ,

u m a q u a n tid a d e d e s­

se co n sid era d a d e a n o para a n o, m a s q u e, fa ta lm e n te ,

o s le v a r á a ir d e e n c o n t r o a o S o l. D e s s a m a n e ir a , s e o s e lé t r o n s se c o m p o r ta r e m

à s e m e lh a n ç a d o s p la n e ta s, e le s se p r o je ta r ã o n o

n ú c le o , d o n d e se c o n c lu i q u e a lg u m a c o isa d e v e esta r im p e d in d o a p erd a co n tín u a

d e en erg ia p o r p a r te d o s e lé tr o n s. T a l c o n s id e ­

r a ç ã o r e q u e r ia a e x istê n c ia d e u m

n o v o p r in c íp io fís ic o c a p a z d e

lim ita r a v a lo r e s fix o s a e n e r g ia p e r d id a p o r u m

e lé tr o n . E s sa seria

a ú n ic a

u n id a d e

m a n eira d e a ceita r u m a

q u e m a n tiv e sse o s e lé tr o n s e m N a

busca

dessa

m e d id a , u m a

u n id a d e , N ie ls

B ohr

fo i e n c o n tr á -la

tra b a lh o p u b lic a d o p o r M a x P la n ck e m trad o , u m a tam b ém

deve

p e c tiv a , essa nheceu que

co m o

se

em

um

1 9 0 0 . P la n c k h a v ia m o s ­

d e z e n a d e a n o s an tes, q u e e m

m a té r ia se a p r e se n ta e m

d e fin id a ,

ó r b ita s d e d im e n s õ e s in v a r iá v e is.

u m

m u n d o no qual a

fo r m a d e p e d a ç o s o u p a c o te s, a en erg ia

ap resen tar

em

p a cotes

o u q u a n ta . E m

retros­

id é ia n ã o n o s p a r e c e e str a n h a . M a s P la n c k a r e c o ­ r e v o lu c io n á r ia d e sd e o

d ia e m

que a con ceb eu , o

é ilu s t r a d o p o r e le te r c o n v i d a d o s e u p e q u e n o f il h o p a r a u m

d e s se s p a ss e io s p r o fe s so r a is, t ã o fa m ilia r e s a to d o s o s a c a d ê m ic o s d o

m u n d o,

ocorreu

e, d u ra n te

u m a

id é ia

o

tão

q u a l, a s s im

r e v o lu c io n á r ia

se e

exp ressou: tão

grande

“ H o je co m o

m e a de

N e w to n ” . E era m esm o. É

c la r o

que

agora, em

e sta v a fa c ilita d a . E m e, na

u m

certo

sen tid o , a

tarefa

o u tr a , o q u a n tu m . O

B ohr

q u e h a v ia d e tã o m a r a v ilh o so n o tra ­

b a lh o d e u m jo v e m c ie n tista d e v in te e sete a n o s, e m os

de

u m a d a s m ã o s tin h a o á to m o d e R u th e r fo r d

d o is e sa ir-se c o m

a im a g e m

m od ern a d o

1 9 1 3 ju n ta r

á to m o ? N a d a m a is

d o q u e a m a r a v ilh o sa e x p lic ita ç ã o d e u m p r o c e sso d e p e n sa m e n to : n a d a m a is d o q u e u m i d é i a d e ir b u s c a r o co n tra d o : qual seu

esfo rço

dado

d e sín te se . A lé m

n o lu g a r e x a t o

on d e

d isso , ta m b é m e le p o d ia

a

ser e n ­

n a im p r e ss ã o d ig ita l d o á to m o , n o e s p e c tr o a tra v és d o com p o rta m en to

se fa z v isív e l p a ra n ó s , q u a n d o o lh a d o

d e fora .

334

A do

m a r a v ilh o sa á to m o

id é ia

de

B ohr

foi ju sta m en te

essa. O

in te r io r

é in v isív e l, m a s h á u m a ja n e la p o r o n d e se o lh a r , u m a

166 Por volta de 1 9 1 0 E rnest R u th erford era o físic o e x p e r im e n ta l m a is im p o rta n te d o m undo. R u th e r fo r d d e p o is d e su ceder J J . T h om son no L a b o r a tó r io C a v e n d ish , C a m b r id g e .



A Escalada do Homem

ja n ela tem

de

v id r o

co lo rid o :

o esp ectro

d o á to m o . C a d a e le m e n to

seu p r ó p r io e s p e c tr o , o q u a l n ã o se a p r e se n ta c o n tín u o c o m o

a q u e le um a

d e scr ito p o r N e w to n

série

de

fa ix a s

ou

p ara a lu z b ra n ca , m a s , sim , m o str a

bandas

b r ilh a n te s

c a r a c te r ístic a s.

Por

e x e m p lo , o H id r o g ê n io a p r e s e n ta tr ê s b a n d a s m u it o v iv a s n o s e u e s p e c tr o v isív e l: u m a b a n d a v e r m e lh a , u m a b a n d a a z u l-e sv e r d e a d a e u m a b a n d a a zu l. B o h r e x p lic o u o s ig n ific a d o d e c a d a u m a d e la s co m o

sen do

ú n ic o

e lé tr o n ,

o r e su lta d o d a lib e r a ç ã o d e e n e r g ia p o r p a r te d e u m q u an d o

este

sa lta

de

u m a

ó r b ita

extern a

para

o u tra s m a is in tern a s. N e n h u m a e n e r g ia é lib e r a d a p e lo e lé tr o n d o á to m o d e H id r o ­ g ê n io

se e le p e r m a n e c e r n a m e s m a

ó rb ita . E n tr e ta n to , to d a v e z

q u e e le sa lta r d e u m a ó r b ita e x te r n a p a r a o u tr a ó r b ita in te r n a , a d ife r e n ç a d e e n e r g ia e n tr e as d u a s será lib e r a d a so b em issã o

de

q u a n tu m

u m

de

lu z.

b ilh õ e s d e á to m o s se m a n ife s ta m u m a

banda

c a r a c te r ístic a

d o

A s

em issõ es

a form a de

sim u ltâ n e a s

de

n a q u ilo q u e e n x e r g a m o s c o m o

H id r o g ê n io .

A

b a n d a

v e r m e lh a

é

p r o d u z id a p o r sa lto s e le tr ô n ic o s d a te r c e ir a ó r b ita para a s e g u n d a ; e

a

banda

a z u l-e sv e r d e a d a

q u an d o

o

e lé tr o n

sa lta

da

q u a rta

ó rb ita p ara a seg u n d a . O

a rtig o

c u le s

de

(S o b re

a

th e C o n s titu tio n

B ohr: O n

C o n s titu iç ã o

d o s Á to m o s

n o u -se

um

c lá ssico

agora,

tão

m a te m a tic a m e n te

N ew ton .

C o n tu d o ,

im e d ia ta m e n te . in c lu ía

o

A

o f A to m s a n d M o le e d a s M o lé c u la s ) to r ­

estru tu ra

d eterm in a d a p r in c íp io

com o

d o

á to m o

o

u n iv erso

a d ic io n a l

era, de

q u a n tu m .

d o

N ie ls B o h r a ca b a ra d e c o n str u ir u m

m u n d o n o in ter io r d o á to m o ,

avançando

para

a

físic a

p e r m a n e c id o , retorn o u n ovo

seu

a C openhage. A

lu g a r

In stitu to

do

tem p o

a lé m

de on d e

p o r d o is sé c u lo s, d e p o is d e N e w to n .

onde

tr iu n fo ,

D in a m a r c a e r a s e u la r n o v a m e n t e , u m

tr a b a lh a r.

N ie ls B o h r , e m

e la h a v ia

E m

E m

1 9 2 0

C openhage.

c o n stru íra m

E ste

torn o u -se

para e le um

o

cen tro

p r o c u r a d o p o r jo v e n s d a E u r o p a , A m é r ic a e O r ie n te , o n d e p o d ia m d isc u tir a fís ic a d o s q u a n ta . W e r n e r H e is e n b e r g e r a u m

freq ü en -

ta d o r a s s íd u o , e a li m e s m o f o i in c it a d o a d e s e n v o lv e r a lg u m a s d e su a s id é ia s f u n d a m e n ta is : B o h r j a m a is p e r m itia a a lg u é m nar em

R e c o n stru ir á to m o lh a m 3 36

e sta c io ­

u m a id é ia in a c a b a d a .

as e sta p a s d a h istó r ia d a c o n fir m a ç ã o d o m o d e lo d o

d e B o h r é u m a ta r e fa in te r e s sa n te u m a v e z q u e e la s e s p e ­ a r e c a p itu la ç ã o d o c ic lo

d e v id a d e q u a lq u e r te o r ia c ie n tí-

fic a . E m p r im e ir o lu g a r v e m o a r tig o . N e s te , r e s u lta d o s c o n h e c id o s


Um Mundo Dentro do Mundo são utilizados na validação do modelo; assim, mostra-se que o espectro do Hidrogênio em particular possui bandas, de há muito conhecidas, cujas posições correspondem a transições quânticas do elétron de uma órbita para outra. A etapa seguinte consiste em estender aquela confirmação a um novo fenômeno: neste caso, as bandas no espectro de energia mais alta dos raios X, embora invisíveis ao olho, são igualmente formadas por saltos de elétrons. Este trabalho estava sendo de­ senvolvido no laboratório de Rutherford em 1913, e acabou fornecendo lindos resultados, confirmando fielmente as previsões de Bohr. O responsável pelo trabalho foi Henry Moseley, então, contando vinte e sete anos, mas cuja carreira brilhante foi inter­ rompida por sua morte no malfadado ataque britânico aGallipoli em 1915 —essa campanha ceifou, indiretamente, outras vidas jovens e promissoras, entre elas a do poeta Rupert Brooke. À semelhança do trabalho de Mendeleiev, o de Moseley também apontava para a existência de alguns elementos desconhecidos, e um deles foi descoberto no laboratório de Bohr, recebendo o nome de Háfnio, em homenagem a Copenhage, através de sua denominação latina. A descoberta foi anunciada, a propósito, por Bohr, no discurso de recebimento do Prêmio Nobel em 1922. O tema do discurso é memorável, uma vez que, nele, Bohr descreve pormenorizadamente aquilo que, quase poeticamente, foi por ele mesmo resumido em outra ocasião: a maneira pela qual o conceito do quantum tinha le v a d o g r a d u a lm e n te a u m a c la ss ific a ç ã o sistem á tic a d o s tip o s d e lig a çõ es esta c io n á r ia s d e q u a lq u e r e lé tr o n e m

u m á t o m o , o f e r e c e n d o , a ssim , u m a

e x p la n a ç ã o c o m p le t a d a s n o tá v e is r e la ç õ e s en tr e as p r o p r ie d a d e s física s e q u ím ic a s d o s e le m e n to s , d a m a n e ir a c o m o e le s a p a r e c e m na fa m o s a ta b ela p e r ió d ic a d e M e n d e le ie v . U m a ta l in te r p r e ta ç ã o d a s p r o p r ie d a d e s d a m a té r ia su rgiu

com o

a r e a liz a ç ã o , u ltr a p a ssa n d o

os sonhos

d o s p ita g ó rico s, d o

a n t i g o id e a l d e p o d e r r e d u z ir a f o r m u l a ç ã o d a s leis d a n a t u r e z a a c o n s i d e ­ raçõ es d e n ú m e r o s puros.

Entretanto, neste mesmo momento, quando tudo parecia deslizar suavemente, sente-se, de chofre, que a teoria de Bohr se encontra, como mais cedo ou mais tarde acontece com qualquer teoria, no limite daquilo que pode realizar. Começa a emperrar em algumas fraquezas, uma espécie de dor reumatica. E esse estado de coisas nos revela claramente que de forma nenhuma tinha sido resolvido o problema real da estrutura do átomo.

337


/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

/

167 O in terior do á t o m o é invisível, m as há um a j a n e l a , u m a jan ela d e vid ro colorid o: o e s p e c t r o d o átom o. O e s p e c tr o d o gás H id r o g ê n io ; ban das in te r p r e ta d a s p o r N ie ls B o h r c o m o s e n d o d e v id a s a s a lto s d e e lé tr o n s d e u m a ó r b i t a p a r a o u tr a , 1913. L o u i s d e B r o g lie i n t e r p r e t o u e ss a s ondas com o sen d o bandas de o n d a s r e s s o n a n te s , n a s q u a i s a s ó r b ita s s ã o lu g a re s o n d e n ú m e r o s in te ir o s , e x a to s , d e o n d a s c ir c u n d a m o n ú c le o .


168 H . G. J . M o s e l e y , q u a n d o e stu d a n te , n o s la b o r a tó r io s d e q u ím ic a e m O x fo rd , 1 9 1 0 .

A p e n a s a c a s c a h a v ia s id o p a rtid a . M a s, d e n tr o d a ca sca , o á to m o se rev ela u m

ovo, com

g e m a , o n ú c le o ; e, m e s m o o n ú c le o , tin h a

a p en a s c o m e ç a d o a ser e n ten d id o .

N ie ls B o h r era p e s s o a a fe ita à c o n te m p la ç ã o e a o la zer. A o g a n h a r o P r ê m io po.

S eu

N o b e l g a sto u o d in h e ir o c o m p r a n d o u m a casa n o c a m ­ g osto

p e la s a rtes in c lu ía a p o e sia . D e certa fe ita , d isse a

H e ise n b e r g :

“ A o

usada c o m o

em

in ter e ssa d o

em

c o n sid e r a r o s á to m o s , a lin g u a g e m descrever

E sse é u m

p en sa m en to

lin g u a g e m

n ão

a ssim

é. A lé m

só p o d e ser

p o esia . T a m b é m o p o e ta n ã o está , n em

está d o

fato s,

m as,

in esp era d o : e m

d escreven d o

sim ,

em

c r ia r

d e lo n g e , im a g en s” .

se trata n d o d e á to m o s, a

fa to s, m a s, c r ia n d o im a g e n s. E

m u n d o v isív e l está sem p r e

o im a g in á r io , lite -

3 39


A Escalada do Homem

ra lm e n te : se

fa la r

u m j o g o d e im a g en s. N ã o h á n e n h u m a o u tr a fo r m a d e

sobre

o

m u n d o

in v isív e l -

na

n a tu reza ,

na

arte

e

na

c iê n c ia . A o

cruzarm os

m u n d o u m a

a

ca n cela

d o

á to m o ,

n o q u a l n o sso s sen tid o s n ã o

nova

a r q u ite tu r a ,

u m a

en con tra m o -n o s em

um

n o s p o d e m v a ler. A li e x is te

m a n eira

de

o rg a n iz a r

as c o isa s, a

q u a l n ã o p o d e m o s c o n h e c e r : a p e n a s te n ta m o s a p r ee n d ê -la a tra v és d e a n a lo g ia s, n o v a m e n te

u m

q u itetu ra is sã o ca lca d a s n o porque

esse

p a la v r a s.

é

A o

o

ú n ico

a to

d a im a g in a ç ã o . A s im a g e n s a r­

m u n d o

m u n d o

c o n c r e to d e n o sso s se n tid o s,

p a ssív e l d e d e s c r iç ã o a tr a v é s d e

d escrev er o m u n d o in v isív e l se m p r e a c a b a m o s e m

m e tá fo r a s, se m e lh a n ç a s to m a d a s d e e m p r é s tim o a o m u n d o m a is a m p lo d o s o lh o s, d o s o u v id o s e d o ta to . D esd e

que

d esco b rim o s n ã o ser e m

o s á to m o s o s tijo lo s c o m

o s q u a is a m a té r ia se c o n s tr ó i, só n o s r e sta fa z e r m o d e lo s m o s ­ tran d o

a m a n e ir a p e la q u a l e sse s tijo lo s se a g r u p a m

co n ju n to .

M o d e lo s

c o n stitu iç ã o

da

p reten d em

m o stra r,

a tra v és

de

e agem

em

a n a lo g ia s, a

m a té r ia . A s s im , a o te sta r o s m o d e lo s t e m o s d e

fr a g m e n ta r a m a té r ia , c o m o se fô s s e m o s la p id a d o r e s d e d ia m a n te em

b u s c a d a e s tr u tu r a d o c r ista l. A

e sc a la d a d o h o m e m

cada

a n á lise : A o

se c o n str ó i n u m a

d e

ser

a n á lise

m o stra d a

in d iv isív e l,

o

esse m o d e lo

m a is a

n ú cleo .

M as,

um

do

certo

d o

á to m o , restava u m

p or v o lta de

1 9 3 0

cen tro

co n sta to u -se q u e

p r e c isa v a s e r r e v isto . N o c e n tr o d o á to m o , o n ú c le o

fin d a r d o s e x t o

b r a ic o s

esfo rço d e

p ro fu n d a , m u n d o s d e n tr o d e m u n d o s.

d iv isib ü id a d e

ta m p o u c o rep resen ta va o

N o

su c e ssã o d e sín te se s

v e z m a is r ic a s, m a s c a d a d e g r a u r e p r e s e n t a u m

V e lh o n ú m ero

fr a g m e n to ú ltim o d a r e a lid a d e .

d ia d a C r ia ç ã o , d iz e m

os co m en tad ores

T esta m en to , D eu s p resen teo u

o h o m em

d e fe r r a m e n ta s, q u e lh e c o n fe r ia m

he­ com

o poder de

c r ia r t a m b é m . S e e s s e s c o m e n t a d o r e s p u d e s s e m r e a p a r e c e r h o j e , e le s d ir ia m : “ E D e u s c r io u o n e u t r in o ” . E i-Ia , a q u ie m O a f e R id g e , n o T e n n e s s e e , a c in tilâ n c ia a zu l, a te s ta n d o a e x is tê n c ia

do n eu ­

tr in o :

quadro

o

d ed o

v isív e l d e D e u s t o c a n d o

d e M ic h e la n g e lo , n ã o c o m N ão. em

Eu

193 0.

não vou N esta

a le n to , m a s c o m

retroced er ta n to

ép o ca

A d ão, co m o

o

n ú c le o

no

d o

n o

poder.

'

te m p o . C o m e c e m o s já

á to m o

a in d a

p a recia

tão

in v u ln e r á v e l c o m o o á to m o p a r ec e r a o u tro r a . A d ific u ld a d e e sta v a em 3 4 0

não

se c o n se g u ir u m a d iv isã o e lé tr ic a d o n ú c le o : o s n ú m e r o s

sim p le s m e n te

n ã o

se

a ju sta v a m . O

n ú c le o

é

p o rta d o r

de

u m a


Um Mundo Dentro do Mundo

ca rg a p o sitiv a ao

n ú m ero

(e q u ilib r a n d o -se

com

o s e lé tr o n s d o á t o m o ) ig u a l

a tô m ic o . C o n tu d o , a m assa d o n ú c le o n ã o é u m

m ú l­

t ip lo c o n s t a n t e d a c a r g a : v a r ia d e s d e ' a i g u a ld a d e ( n o H i d r o g ê n i o ) a m u ito

m a is d o

p esad o s).

T al

que

fato

d u a s v e z e s o v a lo r d a ca rg a (n o s e le m e n to s

era

esta v a c o n v e n c id o

in e x p lic á v e l,

d o

u m a

fa to d e a m a té r ia

vez

que

to d o

m u n d o

só p o d er ser c o n str u íd a

a p a rtir d a e le tr ic id a d e . D e v e m o s a J a m e s C h a d w ic k a d e s tr u iç ã o d e s s a id é ia a rr a ig a d a na m en te d o is

d o s físic o s, q u a n d o , e m

tip o s

de

p a rtícu la s

na

1 9 3 2 ,

c o m p o siçã o

p ro v o u a e x istê n c ia de d o

n ú cleo :

o

p ró to n ,

e le tr ic a m e n te p o sitiv o , e o n ê u tr o n , p a r tíc u la d e stitu íd a d e carga e lé tr ic a . A s m a s sa s d e s sa s d u a s p a r tíc u la s s ã o q u a s e ig u a is, n o m i ­ n a lm e n te g ên io .

ig u a is (a p r o x im a d a m e n t e )

A p enas,

o

n ú c le o

sen d o form ad o por u m P o rtan to , o m en ta ,

um a

n ú c le o s

dos

de

á to m o s,

m as

m o d ern o , o p u la çã o

ch am a

sem

im p o n d o

h o m e m

dessa

nova

p eso

se o fe r e c ia c o m o

não

o

u m

a lq u ím ic a ,

p o r ta d o r d e c a r g a e lé tr ic a , p o d ia e lé tr ic a s,

ao

H id r o g ê n io

a tô m ico

d o H id r o ­

co n tém

n êu tron s,

p ró to n so m en te.

n êu tro n esp écie

d o

porque,

ser p ro jeta d o

p e r ig o

a lte r a ç õ e s

não

sen d o

de en con tro aos

de

provocar

p ertu rb a çõ es

nos

m esm os.

O

q u e m a io r v a n ta g e m

a lq u im ista

c o n se g u iu c o m

arm a, está rep resen ta d o

F e r m i, tr a b a lh a n d o e m

n o v o tip o d e ferra ­

na

a m a n i­

fig u r a d e E n r ic o

R om a.

E n r ic o F e r m i era u m a c r ia tu r a p e c u lia r . C o n h e c i-o m u ito m a is ta rd e p o r q u e , c o m o é sa b id o , e m M u sso lin i, B e r lim

1 9 3 4 R o m a esta va nas m ã o s de

n a s d e H itle r , e h o m e n s c o m o e u n ã o iria m

m eter n essas p aragen s. E n treta n to , a o Io r q u e , fiq u e i in trig a d o : era o h o m e m o lh o s

h a v ia m

v isto

-

bem ,

ta lv ez o

v ê-lo m a is ta r d e e m

se

N ova

m a is in te lig e n te q u e m e u s m a is in te lig e n te , c o m

u m a

ú n ic a e x c e ç ã o . E ra só lid o , p e q u e n o , p o d e r o s o , p e n e tr a n te , m u ito i n f o r m a l , e s e m p r e s e n h o r d e si, t u d o c o n t r o l a n d o e m c la r a , d a n d o

F e r m i d isp a ro u ao

seu

n êu tro n s em

a lc a n c e , e a fá b u la

d ade em g arm en te

p ara fora

em

tr a n s m u ta ç ã o se t ° rn ° u u m a rea li­

ch a m a d o

de

u m

ser v isto s

d o rea to r, u m a v e z q u e se serv ia d e u m

v u l­

r e a t o r d e '.‘ p i s c i n a ” , p o r q u e a v e l o c i d a d e d o s

n ê u tr o n s era d im in u íd a t r a t a -s e

da

to d o s o s e le m e n to s q u e e sta v a m

su a s m ã o s . O s n ê u tr o n s u s a d o s p o r e le p o d e m

e s p ir r a n d o

su a m e n te

a im p ressã o d e p o d er en x erg ar n o fu n d o d as co isa s.

R ea tar

p ela á g u a . M a s e u d a rei o n o m e co rreto : de

Isó top o

O a k R id g e , n o T e n n e s s e e .

de

A lto

F lu x o , d e se n v o lv id o

341



Um Mundo Dentro do Mundo

A

tra n sm u ta çã o , está

N o

en ta n to ,

para

c la r o , era

um a

m in h a , a c o n tr ib u iç ã o ab ertu ra

do

c a m in h o

m en te

u m

com

son h o

a c a le n ta d o h á era s.

te n d ê n c ia s teó rica s c o m o

a

m a is e stim u la n te d a d é c a d a d e 1 9 3 0 fo i a à e v o lu ç ã o d a n a tu r e z a . E x p lic o e sta frase.

C o m e c e i e sta e ta p a c ita n d o o d ia d a C r ia ç ã o , e o fa rei n o v a m e n te . P or o n d e

p r in c ip io ? O

a trá s, e m

1 6 5 0 , a fir m o u ter sid o o U n iv e r so c r ia d o n o a n o 4 0 0 4

a .C .

E n tr in c h e ir a d o

n in g u ém

o

a rc e b isp o J a m e s U ssh er, h á m u ito te m p o

co m o

esta va

n o

d o gm a

e

na

ig n o r â n c ia ,

c o n t e s t o u ; o u e le o u o u t r o c lé r ig o q u a lq u e r s a b ia m o

a n o , o d ia d o m ê s , o d ia d a s e m a n a e a h o r a , d o s q u a is , a fo r tu n a d a m en te, m e n eceu

e sq u e c i. M as o e n ig m a d a id a d e d o m u n d o p e r m a ­

in d e c ifr a d o ,

co n q u a n to

e

c o m

e le

u m

p a r a d o x o , a té

se a d m itisse a id a d e d a T erra e m

o

sécu lo X X :

m ilh õ e s e m ilh õ e s

d e a n o s , n ã o se c o n s e g u ia c o n c e b e r q u a l fo sse a fo n te d e en erg ia d o S o l e d e o u tr a s estr e la s, q u e o s m a n tê m a tiv o s h á ta n to te m p o . T in h a -se , é c la r o , a e q u a ç ã o

d e E in stein

m o stra n d o q u e a p erda

d e m a té r ia p r o d u z ia e n e r g ia . E a m a té r ia , c o m o era reo r g a n iz a d a ? M u ito b e m : e ssa é r e a lm e n te a q u e s tã o e sse n c ia l so b r e a en erg ia e fo i a p o rta

do

c o n h e c im e n t o a b e r ta p ela d e s c o b e r ta d e C h a d -

w ic k . T r a b a lh a n d o n a U n iv e r sid a d e C o m e U , H a n s B e th e e x p lic o u , p e la p r im e ir a v e z , e m d o H id r o g ê n io em

1 9 3 9 , em

te r m o s p r e c iso s, a tr a n s fo r m a ç ã o

H é lio n o in te r io r d o S o l. A tr a v é s d ela , a p e r d a

de m assa escoa

p a ra n ó s s o b a fo r m a d e u m a d á d iv a p r e c io sa d e

e n erg ia . É

p a ix ã o

c o m

q u e fa lo so b r e esse a ssu n to , p o r q u e , para

m im , ele é p o r t a d o r d a q u a lid a d e , n ã o d a m e m ó r ia , m a s d a e x ­ p e r iê n c ia . A c o m o

o

e x p la n a ç ã o d e H a n s B e th e se m e a p r e se n ta tã o v ív id a

d ia d e

m eu

c a sa m e n to , e as etap as su b se q ü e n te ^ c ° m °

as d o s n a s c im e n to s d e m e u s filh o s. Isto p o r q u e , n o s a n o s s e g u in ­ tes, t o m a m o s c o n h e c im e n to que

(e f in a lm e n t e

c o n s id e r o a a n á lise d e fin itiv a , e m

e s t r e la s, h á p r o c e s s o s e m

c o n fir m a d o , n a q u Uo

1 95 7) de q u ^

em

to d a s as

c u r so r e sp o n sá v e is p ela c o n str u ç ã o , u m

a p ó s o u tr o , d e á to m o s d e e str u tu r a s c a d a v e z m a is c o m p le x a s . A p r ó p r ia m a t é r ia e v o lu i. A

p a la v r a fo i c u n h a d a p o r D a r w in e p ela

b io lo g ia , m a s f o i e la q u e t r a n s f o r m o u a f ísic a d o s m e u s d ia s. 169 A lu m in escên cia azul q u e in d ic a a presen ça d e neu trin os. R e a to r d e A lto F l u x o e m O a k R id g e , T en n essee, E U A .

A

p r im e ir a

etap a

na

e v o lu ç ã o

e s tr e la s jo v e n s , ta is c o m o

o

dos

e le m e n to s

S o l. É a p a ssa g e m

tran scorre nas

d o H id r o g ên io a o

H é lio , r e q u e r e n d o o g r a n d e c a lo r in te r io r; a q u Üo q u e o b s e r v a m o s n a s u p e r fíc ie d o S o l sã o a p e n a s te m p e s ta d e s p r o d u z id a s p c* essa a tiv id a d e. (O

H é lio

fo i id e n tific a d o

p ela

p r im e ir a v e z a tr a v é s d e

u m a b a n d a e sp ec tr a l o b se r v a d a d u ra n te o e c lip se d o So1 d e 1 8 6 8 ; d a í a r a z ã o p e la q u a l f o i c h a m a d o h e liu m , p o is n e s s a é p o c a a in d a


A Escalada do Homem

n ã o era c o n h e c id o tem p o s

em

n a T e r r a .)

tem p o s,

é

a

p esad o , d a n d o o rig em a u m L en ta m en te, en tão ,

se

o

E fe tiv a m e n te , o q u e a c o n te c e , d e

fu são

de

d o is

á to m o s

H id r o g ê n io

d e H é lio

ap en as. A í,

n ú c le o d e H é lio .

S o l acab ará c o n stitu íd o

tran sform ará

de

em

u m a

e strela

m a is

q u en te,

on d e

os

n ú c le o s irã o c o lid ir e fo r m a r á to m o s m a is p e s a d o s. O C a r b o n o , p or e x e m p lo , é fo rm a d o e m d e H é lio c o lid e m

em

m en or d o q u e u m

u m a estrela se m p r e q u e três n ú c le o s

u m p o n to , d e n tr o d e u m in ter v a lo d e te m p o

m ilio n é sim o d e u m

m ilio n é sim o d e seg u n d o .

T o d o á t o m o d e C a r b o n o p r e s e n te n o c o r p o d e q u a lq u e r c r ia tu r a é fo rm a d o

c o m o r e su lta d o d essa c o lisã o tã o fa n ta stic a m e n te im ­

p ro v á v el. E n x ofre

D e p o is e

d o

o u tro s

C arbono

e le m e n to s

são m a is

e stá v e is s ã o a q u e le s q u e o c u p a m

form ad os

O x ig ên io ,

pesados. O s

S ü íc io ,

e le m e n to s

m a is

p o s iç õ e s m a is c e n tr a is n a ta b ela

d e M e n d e le ie v , a p r o x im a d a m e n te en tr e

o F e r r o e a P ra ta. C o n ­

tu d o , o p r o c e sso d e fo r m a ç ã o d o s e le m e n to s v a im u it o a lé m d eles. P o r q u e ra zã o a n a tu r e za in ter r o m p e e m u m p o n to a fo r m a ç ã o d e e le m e n to s , se e le s s ã o c o n s tr u íd o s u n s e m Por que

seg u id a a o s o u tro s?

te m o s a p e n a s n o v e n ta e d o is e le m e n to s , o ú ltim o s e n d o

rep resen ta d o p elo

U r â n io ? E v id e n te m e n te , s ó p o d e m o s r e so lv e r

essa q u e stã o se p u d e r m o s c o n stru ir e le m e n to s a lé m d o U r â n io , e p ro v a r q u e , a o se to r n a r e m m a io r e s, o s e le m e n to s se to r n a m co m p lex o s

e

ten d em

a

se

quebrar em

m a is

frag m en to s. E n treta n to ,

a o p r o c e d e r m o s d e ssa m a n e ira , n ã o só ir e m o s p r o d u z ir e le m e n to s n o v o s, m a s, ta m b é m , fa zer a lg u m a c o isa p o te n c ia lm e n te e x p lo s i­ va. O

e le m e n to

h istó r ic o

P lu tô n io ,

R e a to r G r a fite

c o n se g u id o

por F erm i no

p r im e ir o e

(n ó s o c h a m á v a m o s a “ P ilh a ” n a q u e le s

v e lh o s te m p o s c o lo q u ia is), fo i o e le m e n to fe ito p e lo h o m e m d em o n strou m en to um

ao

g ên io

tr ib u to

e le m e n to ,

isso ao

ao

m u n d o in teiro . E m

p a r te , e le é u m

de

F e r m i;

p e n sá -lo

deus

q u an d o

das

m a s p r e fir o

trevas,

p en so

nas

P lu tã o ,

q u a ren ta

que

com o

deu

seu

m il p e sso a s

que

m o n u ­ se fosse

n o m e

m ortas

ao em

N a g a sa k i, so b a a çã o d a b o m b a d e p lu tô n io a í d esp eja d a . E s ta m o s em

u m

o u tro

m en to

tem p o

rev eren cia

d a h istó r ia d o m u n d o , e m

u m

grande h o m em

q u e um

m o n u ­

e m u ito s m o r to s, c o n ju n ­

ta m en te. N esta

344

a ltu r a ,

ten h o

e x p lic a r

um a

m en to s

esteja m

de

retorn ar

c o n tr a d içã o sen d o

à

h istó r ic a

fo rm a d o s

m in a lá

de

W ie lic z k a

in ic ia d a .

a fim

de

E m b o r a o s e le ­

con sta n tem en te

nas

estrela s,

1 70 A p ró p ria m a té r ia e vo lu i. O Sol e um a m a n c h a s o la r .




Um Mundo Dcntro do Mundo

c o stu m á v a m o s

pensar

no

U n iv e r so

sob

u m

processo

co n tín u o

d e d esga ste. P or q u ê? O u c o m o ? A

id é ia d o

d esga ste

d o U n iv e r so v e m

d a sua co m p a ra çã o co m

a s m á q u in a s o r d in á r ia s. T o d a m á q u in a c o n s o m e m a is e n e r g ia d o q u e fo r n e c e . U m a p a r te d ela é g a sta e m a tr ito , e a o u tra p elo u so. E m

a lg u m a s m á q u in a s , m a is r e q u in ta d a s d o q u e a s a n tig a s e n g r e ­

n a g e n s d e m a d e ir a d e W ie lic z k a , as p erd a s se d ã o , n e c e ssa r ia m e n ­ te, p o r o u tra s fo rm a s 171 0 h istó rico p rim eiro r e a to r de g ra fite. P i lh a e x p o n e n c i a l d e g r a f i t e - U r â n io , d e s e n v o lv id a p e l o g ru p o so b a o r ie n ta ç ã o d e E n r ic o F e r m i, e q u e e n tro u e m o p e r a ç ã o em 2 d e d eze m b ro d e 1 94 2, em um cam po de squash, W est S ta n d s, S ta g g F ie ld , U n iv e r s id a d e d e C h ic a g o .

p o r e x e m p lo , a tra v és d e a m o r te c e d o r e s

e a tr a v é s d e r a d ia d o r e s. T o d o s

esses sã o m e io s a tra v és d o

q u a is

h á d e g r a d a ç ã o d e en erg ia . E x iste sem p r e u m a q u a n tid a d e in a c e s­ sív e l d e e n e r g ia se

p erd e in e x o r a v e lm e n te , sem E m

de

n a q u a l, p a ra to d a e n e r g ia fo r n e c id a , u m a p a r te p o ssib ilid a d e d e re c u p e r a ç ã o .

1 8 5 0 , R u d o lf C la u siu s o r g a n iz o u esse p r o b le m a n a fo r m a

u m

p r in c íp io

e le m e n ta r . P a ra e le h a v ia en e r g ia d isp o n ív e l e

e n e r g ia r e sid u a l in a c e ssív e l. A e sta ú ltim a c h a m o u e n tr o p ia e fo r ­ m u lo u

a fa m o sa

S egu n d a

L e i d a T e r m o d in â m ic a : a e n tr o p ia

au­

m e n ta c o n tin u a m e n te . N o U n iv e r so , o ca lo r d ren a para u m a e sp é ­ c ie

d e la g o d a ig u a ld a d e , d e o n d e n ã o p o d e m a is ser r e c u p e r a d o . C em

a n o s a trá s, e ssa era u m a

a in d a era c o n s id e r a d o ser u m ser

c o n sid e r a d o

c o m o

sen d o

b e la id é ia , u m a v e z q u e o c a lo r

flu id o . M a s c a lo r já n ã o m a is p o d ia m a is

m e s m o d o q u e a v id a . C a lo r é u m A ssim ,

foi

L u d w ig

B o ltz m a n n ,

id é ia b r ilh a n te m e n te , d a n d o o

q ue

o c orre

em

u m a

m a te r ia l

do

que

o

fo g o , o u

m o v im e n to casu al d os á to m o s. na

Á u str ia , q u e m

apreendeu

a

a ela o p o d e r d e i n t e r p r e t a ç ã o s o b r e

m á q u in a

co m u m ,

em

um a

m á q u in a . a

v a p o r , e n o U n iv e r so . Q u a n d o a um

e n e r g ia é d e g ra d a d a , d isse B o ltz m a n n , o á to m o p assa

esta d o

d e m a io r d e s o r d e n a ç ã o , e a e n tr o p ia é u m a m e d id a

d e s s a d e s o r d e m : e s s a f o i a c o n c e p ç ã o p r o fu n d a g e r a d a p e la n o v a 172 M a is u m a v e z n a histó ria d o m undo um m on u m en to reveren cia u m grande h o m e m e m u ito s m o r to s , con ju n tam en te. F e rm i (se g u n d o à d ir e ita ) n o d e s c e tr a m e n to d a p la c a c o m e m o r a t i v a d a p r i m e i r a fis s ã o n u c le a r c o n tr o la d a , 2 de dezem bro d e 1 9 4 7.

in te r p re ta ç ã o d e B o ltz m a n n . E stra n h a m e n te , a d e so r d e m m ed id a ;

rep resen ta

a

p ro b a b ü id a d e

de u m

p ° d e ser

e s ta d o p a r ticu la r —

a q u i d e fin id o c o m o o n ú m e r o d e m a n e ir a s c a p a z e s d e ser o r g a n iz a ­ d o

a p a rtir d e seu s á to m o s . A r e la ç ã o fo i d e fin id a p r e c is a m e n te , S = K lo g W ;

S , a e n tr o p ia , é r e p r e s e n ta d a c o m o rit m o u m a

sen d o

p r o p o rc io n a l a o lo g a ­

d e W , a p r o b a b ilid a d e d e u m d e te r m in a d o e sta d o (K sen d o c o n sta n te

d e p r o p o r c io n a lid a d e , a g o ra c h a m a d a c o n sta n te

d e B o ltz m a n n ). E v id e n te m en te, os esta d o s

d e s o r d e n a d o s sã o m u ito m a is p r o ­

v á v e is d o q u e o s e s ta d o s o r d e n a d o s , d e s d e q u e q u a lq u e r c o n ju n t o

'4 7


A E s c a la d a do H o m e m

ao acaso d e á to m o s será d e so rd e n a d o ; assim , d e m a n e ira g eral, q u a lq u e r a rra n jo o rd e n a d o te n d e a se d e so rg a n iz a r. M as “ de m a n e ira g e ra l” n ã o sig n ifica “ s e m p re ” . N ã o é v e rd a d e q u e os sistem as o rd e n a d o s te n d a m c o n tin u a m e n te a se d e so rg a n iz a r. É u m a lei estatística, p o s tu la n d o q u e a o rd e m te n d e a d e sa p a re ­ cer; m as, a estatística n u n c a a firm a “ s e m p re ” . A e sta tístic a p e r­ m ite a fo rm a ç ã o de sistem as o rd e n a d o s em alg um as ilh as d o U n iv e rs o (aqui n a T e rra , e m v o cê, e m m im , n as estrelas, em to d a s o rte de lugares) e n q u a n to a d eso rd em d á c o n ta d o restan te . A c o n c e p ç ã o é lin d a , m as a in d a fa lta u m a q u e stã o a ser re s o l­ vida. Se é v e rd a d e q u e fo i a p ro b a b ilid a d e q u e n o s p e rm itiu e x istir, n ã o p o d e ria ela s e r tã o b a ix a a p o n to d e n ã o te rm o s o d ire ito à ex istên cia? A s p esso as p re o c u p a d a s c o m essa q u e s tã o fo rm u la m -n a d a 173 m a n e ira q u e se segue. C o n sid e re -se o c o n ju n to d e to d o s os Ld euvdewmigo s Boo ltzfa mtoa nden , oa áquem m o ser á to m o s q u e n e ste m o m e n to e stã o c o n s titu in d o n o ss o c o rp o . t ã o real para nós c o m otonosso S e ria in c riv e lm e n te im p ro v á v e l eles v ire m to d o s a este lo c al p r ó p r io m u n d o . de Boltzmann em seu e, n e ste in s ta n te , fo rm a re m m e u c o rp o . R e a lm e n te , se as c o i­ Busto túmulo em Viena. sas se p assassem d essa m a n e ira n ã o se ria ap e n a s im p ro v á v e l — s e ria v irtu a lm e n te im p o ssív e l. E n tre ta n to , a n a tu re z a n ã o age d essa fo rm a . O s á to m o s fo r ­ m a m m o lécu las, as m o lécu las fo rm a m bases, as bases d irig e m a fo rm a ç ã o d e ácid o s a m in a d o s, os ácid o s a m in a d o s fo rm a m as p ro te ín a s , e estas se o rg a n iz a m n a fo rm a ç ã o de célu las. A s célu las d ã o e x istê n c ia ao s a n im ais m ais sim p le s e m p rim e iro lu g ar, em seg u id a ao s m ais c o m p le x o s , e, assim p o r d ia n te , e ta ­ p a ap ó s etap a. A s u n id a d e s estáv eis, c o m p o n d o um n ív el o u e s tra to , c o n s titu e m m a té ria -p rim a p a ra e n c o n tro s o casio n ais, d a n d o o rig e m a co n fig u ra ç õ e s m ais c o m p le x a s, alg u m as das qu ais tê m a o p o rtu n id a d e de ser estáveis. A ssim , desde q u e reste u m p o te n c ia l de e stab ilid a d e a in d a n ão c o n c re tiz a d o , a m a n i­ festação de u m e v e n to o c a sio n a lm e n te te m o u tr a f o rm a c o m o se e x p rim ir. A ev o lu ç ã o re p re s e n ta u m a escalad a q u e vai d o sim p les p a ra o c o m p lex o , d eg rau p o r deg rau , to d o s eles estáveis. C o m o esse é m eu c a m p o de tra b a lh o , te n h o u m n o m e p a ra o p ro cesso: c h am o -o E sta b ilid a d e E stra tific a d a . A v id a su rg iu a tra ­ vés dele, em passos le n to s, m as s u b in d o c o n tin u a m e n te os d e­ g rau s d a c o m p le x id a d e — os q u ais c o n s titu e m o p ro b le m a e a m a n e ira de p ro g re d ir essenciais d a e v o lu çã o . E, ag o ra, sab em o s q u e tal é v e rd a d e , n ã o só p a ra a v id a, m as, ta m b é m , p a ra a 348 m a té ria . Se as estrelas tiv essem de fo rm a r u m e le m e n to p e sa d o


Um

M u n d o D e n tro do M u n d o

c o m o o F e r r o , o u o u tr o m a is p e sa d o a in d a c o m o o U râ n io , p e la c o m b in a ç ã o in s ta n tâ n e a d e to d a s as su as p a rte s , isso seria v ir tu a lm e n te im p o s sív e l. M as n ã o . U m a e s tre la fo rm a H é lio a p a r tir d e H id r o g ê n io ; e n tã o , e m u m o u tr o e stá g io , e m u m a e s tre la d ife re n te , o H é lio se c o m b in a n a fo rm a ç ã o de C a r b o ­ n o , d e O x ig ê n io e d o s o u tr o s e le m e n to s m ais p esad o s; e as­ sim p o r d ia n te , estág io ap ó s estág io , até a fo rm a ç ã o d o s n o v e n ta e d o is e le m e n to s n a tu ra is . N ã o p o d e m o s r e p r o d u z ir in te ira m e n te os p ro c e sso s estela res p o r q u e n ão d is p o m o s d as e le v a d íssim a s te m p e ra tu ra s n e c e s­ sá ria s à fu s ã o d a m a io ria d o s e le m e n to s , m as já c o m e ç a m o s a firm a r o s p és n o p r im e ir o d e g ra u d a escad a: c o n s e g u im o s o b te r H é lio a p a r tir d o H id r o g ê n io . E m o u tr o s e to r d e O a k R id g e te n ta -se a fu sã o d o H id r o g ê n io . E v id e n te m e n te , n ã o é fácil re c ria r a te m p e ra tu ra d e d e n tro d o S o l — s u p e rio r a d ez m ilh õ e s d e graus c e n tíg ra d o s. A in d a m ais d ifícil é c o n s e g u ir u m tip o d e m a te ria l cap az de s o b re v iv e r a u m a tal te m p e ra tu ra , m a n te n d o -a p o r u m a fra ç ã o de se g u n d o q u e se­ ja. N ã o h á esse tip o de m a te ria l; u m c o n tin e n te p a ra u m gás n es­ se e sta d o v io le n to só p o d e te r a fo rm a de u m a a rm a d ilh a m a g n é tic a . E e sta d á o rig e m a u m n o v o tip o de física: a F ísica d o s P lasm as. E s tim u la , sim , e é im p o rta n te p o r se tra ta r d a física d a n a tu re z a . P o r u m a v e z , p e lo m e n o s, os re a rra n jo s realizad o s p e lo h o m e m n ã o v ão c o n tr a a n a tu re z a , m as, sim , re p ro d u z e m o m e s m o c a m in h o p o r ela seg u id o , n o Sol e nas estrelas. T e r m in o este en saio c o n tra s ta n d o im o rta lid a d e e m o rtalid a d e . A física d o sécu lo v in te é um tra b a lh o im o rta l. A im ag in ação h u ­ m a n a e m seu tra b a lh o c o m u n itá rio jam ais p ro d u z iu m o n u m e n ­ to q u e a igualasse, n em as P irâm id e s, n em a I lía d a , n em as baladas e n e m as ca te d ra is. O s h o m e n s resp o n sáv eis, uns ap ó s os o u tro s , p o r essa c o n c e p ç ã o são os h e ró is p io n e iro s de n o ssa era. M en d eleiev a rr u m a n d o o s cartõ es; J. J. T h o m s o n d e rru b a n d o a cren ça g reg a d a in d iv isib ilid a d e d o áto m o ; R u th e rfo rd tra n s fo rm a n d o -o em u m sistem a p la n e tá rio ; e N ie ls B o h r o ferec en d o c o n d içõ es p a­ ra q u e o m o d e lo fu n cio n asse. C h a d w ic k d e sc o b rin d o o n ê u tro n e F e rm i u s a n d o -o p a ra a b ir e tra n s fo rm a r o n ú cle o . E, à fre n te de to d o s eles, o s ic o n o c la sta s: M ax P la n c k , qu e d eu à e n e rg ia u m a c a ra c te rís tic a a tô m ic a , à s e m e lh a n ç a d a m a té ria ; e L u d w ig B o ltz m a n n , a q u e m d e v e m o s, m ais d o q u e a q u a lq u e r o u tro , o fa to de o á to m o — o m u n d o n o in te rio r d o m u n d o — se 349



Um Mundo Dentro do Mundo 174 U m a estrela f o r m a H élio a p artir d e H id rog ên io ; d e p o is, em u m ou tro estágio, e m u rn a o u tra estrela, os á to m o s d e H élio se c o m b i n a m form and o C a rb o n o, O x ig ên io , e os e le m e n to s m a is pesados. A G ra n de N e b u lo s a M 4 2 e m O r ío n , fo to g r a fa d a a tr a v é s d o te le s c ó p io d e 2 0 0 " d e M o n te P a lo m a r . A n e b u lo s a e s tá a 1 5 0 0 a n o s -lu z e m u ita s e s tr e la s v a r iá v e is t ê m s id o o b s e r v a d a s fo r m a n d o -s e a p a r tir d e H id r o g ê n io i n te r e s t e l a r .

to r n a r tã o r e a l p a ra n ó s c o m o tã o r e a l é o n o ss o p r ó p r io m u n d o . Q u em em

p o d e r ia

im a g in a r q u e c h e g á s s e m o s tã o lo n g e , se, a in d a

1 9 0 0 , era tr a v a d a u m a b a ta lh a , d ig a m o s , d e m o r te , e n tr e p a rti­

d á r io s d a r e a lid a d e e d a irr e a lid a d e d o á to m o . O g r a n d e filó s o fo a le m ã o

E rnst M ach

g rande

q u ím ic o

v ir a d a

d o

d ad os

teó r ic o s

h o m e m

d iz ia :

w ilh e lm

séc u lo , u m

foi

não

tem

O stw a ld .

h o m e m

N o

m esm o

o

fez o

e n ta n to , n a q u e la c r ític a

m a n tev e-se co n v icto , b a sea d o em

fu n d a m e n ta is,

L u d w ig

r e a lid a d e . O

da

B o ltz m a n n , a o

r e a lid a d e pé

de

d o

cu jo

á to m o . tú m u lo

eu

E ste lh e

ren d o h o m en a gem . B o ltz m a n n

era

ira sc ív e l,

ex tra o rd in á rio ,

d ifíc il,

u m

d o s p ri­

m e ir o s seg u id o r e s d e D a r w in , b r ig u e n to e en ca n ta d o r, e tu d o o m a is q u e q u a lq u e r ser h u m a n o d e v er ia ser. A e sc a la d a d o h o m e m o sc ilo u

em

u m

tên u e

u m a v e z q u e , tiv e sse m lh a

n a q u e le s

e q u ilíb r io

in tele c tu a l n a q u e le m o m e n to ,

a s d o u tr in a s- a n ti-a tô m ic a s v e n c id o a b a ta ­

d ia s, n o s s o

p r o g r e s s o te r ia s id o a tr a s a d o d e m u ita s

d é c a d a s o u , ta lv e z , d e c e n te n a s d e a n o s. N ã o a p e n a s o a v a n ç o d a físic a

te r ia

sid o c o r ta d o , p o is a b io lo g ia d e p e n d e

fu n d a m e n ta l­

m en te d essa co n cep çã o . B o ltz m a n n a q u e la tin d o -se

apenas

p a ix ã o . E m

a rg u m en tou ? N ã o .

E le

v iv e u

e

m orreu

1 9 0 6 , a o s se s s e n ta e d o is a n o s d e id a d e , s e n ­

so litá rio e d e r r o ta d o , n o e x a t o m o m e n t o e m

qu e a d o u ­

t r in a a t ô m i c a ia v e n c e r a d is p u t a , a v a lio u m a l e p e n s o u t u d o e s ta r p e r d id o . S u ic id o u -se . R e s to u su a fó r m u la , u m a e te r n a h o m e n a g e m à su a in te lig ê n c ia , S = K lo g W , gravada em N ã o

se u tú m u lo .

ten h o,

de

m in h a ,

n en h u m a

frase

que

p o ssa fazer ju s à

frase c o m p a c ta , d e

p e n e tr a n te b e le z a d e B o ltz m a n n ; a ssim , c ita ­

rei o p o e ta W illia m

B la k e , d a n d o o s v e r so s in ic ia is d e s e u A u g u rie s

o f I n n o c e n c e ( A u g ú r io s d a I n o c ê n c ia ): V er o M u n d o e m u m G r ã o d e A reia E u m C é u e m u m a F lo r S ilv e str e T o m a r o In fin ito e m su a m ã o E a E te r n id a d e e m u m a hora.

351



11

CONHECIMENTO OU CERTEZA

U m

d o s o b jetiv o s

das c iê n c ia s física s era o d e dar u m a d e scr iç ã o

e x a ta d o m u n d o m a te r ia l. A c o n q u is ta d a físic a d o s é c u lo X X

foi

m o str a r q u e esse o b je tiv o é in a tin g ív el. T o m e-se E stou

u m

o b jeto

o u v in d o

u m a

p e la s fa c e s d e u m “ E u

d ir ia q u e

b a sta n te

h o m em

e le

con creto

co m o

a face h u m a n a .

m u lh e r c e g a , e n q u a n t o e la c o r r e s e u s d e d o s d e sco n h e c id o , p en sa n d o e m

v o z a lta :

é i d o s o . P e n s o , o b v i a m e n t e , n ã o ser e le in g lê s .

S u a fa c e é m a is a r r e d o n d a d a d o q u e a d a m a io r ia d a d o s in g leses. D ir ia m e s m o se r e le e u r o p e u ; e a té m a is: d o L e s te d a E u r o p a . A s lin h a s

de

seu

rosto

parecem

d e s o fr im e n to . A

p r in c íp io

pensei

trata r-se d e c ic a tr iz e s. N ã o é u m a fa c e fe liz ” . O

rosto

lo n ê s. N a a rtista

p o lo n ê s

so m en te

1 75

e le

um a

o s d eta lh es d e

cada

p od e

ser v isto se g u n d o a c o n c e p ç ã o d o

F e lik s T o p o ls k i.

retratam

d e lin e ia que

era o d e S te p h a n B o rg r a je w ic z , q u e , c o m o e u , era p o ­ fig u r a

S a b e m o s q u e essa s p in tu ra s n ã o

fa ce c o m o tal fo r m a

tam b ém que

a a n a lisa m ; o a rtista

p a rece o s estar to c a n d o ; e

lin h a a d ic io n a d a r e fo r ç a o r e tr a to , sem

nunca chegar a

te r m in á -lo . N ó s o a c e it a m o s c o m o o m é t o d o d o a rtista . M as

a

físic a

ta m b ém

ch ego u

ao

p o n to

d e m o stra r ser esse o

ú n ic o m é t o d o d e c o n h e c im e n to . N ã o há c o n h e c im e n to a b so lu to . E o s d e fe n s o r e s d e ste, q u e r c ie n tista s, q u e r d o g m á tic o s , n a d a m a is fazem

d o q u e a b r ir a p o r ta à tr a g é d ia . T o d a in f o r m a ç ã o é im p e r ­

fe ita . A s s im , d e v e m o s tr a tá -la c o m h u m an a

e é o

h u m ild a d e ; essa é a c o n d iç ã o

p o s tu la d o d a F ísic a Q u â n tic a . E sta a fir m a ç ã o n ã o

é r e tó r ic a : d e v e ser t o m a d a a o p é d a letra . O b se r v e m o s esse ro sto su b m e tid o à ca d a fa ix a d e to d o o e sp ec tr o e le tr o m a g n é tic o .

O

p o n to

ao

qual q u ero

chegar

é

este:

quão

m in u c io s o e q u ã o e x a to é o d eta lh e d esse ro sto , q u e p o d e m o s ver c o m

os m e lh o re s in stru m en to s d o m u n d o — m e sm o q u e fosse u m

in str u m e n to p e r fe ito se é q u e p o d e m o s c o n ce b ê-lo ? A lé m 175 O s retratos m a is e x p lo ra m a f a c e d o que a fIx a m . R e tr a to d e S te p h a n B o r g r a je w ic z , p o r F e lik s T o p o ls k i, L o n d res, 1 9 7 2 .

de

lu z

d isso , v er o s d e ta lh e s n ã o e stá c o n fin a d o a v ê-lo s a tra v és v isív e l.

E m

um a

v ib r a ç ã o

para

d e m o n str á -lo

1 8 6 7

J a m e s C lerk

in d ic a r a m

v isív e l, d o v e r m e lh o de

ex istir

o u tra s.

a o v io le ta , é s o m e n te

o u m e n o s isso , n o c o n t ín u o te c la d o

M a x w e ll

propôs

ser a lu z

e le tr o m a g n é tic a , e as e q u a ç õ e s p o r e le m o n ta d a s O

u m a

esp ectro

de

o ita v a , o u

lu z m a is

d a s r a d ia ç õ e s in v isív e is. H á t o d o u m

in fo r m a ç ã o , d esd e

o s c o m p r im e n t o s m a is lo n g o s d a s

3 53


A Escalada do Homem

o n d a s d e r á d io (n o ta s g ra v e s), a té o s c o m p r im e n t o s d e o n d a m a is c u r to s d o s r a io s X (n o ta s m a is a g u d a s). V a m o s ilu m in a r u m a fa c e h u m an a co m

ca d a u m a dessas on d as.

A s o n d a s m a is lo n g a s d o e s p e c tr o

in v isív e l sã o r e p r e se n ta d a s

p e la s o n d a s d e r á d io , c u ja e x is tê n c ia f o i p r o v a d a h á c e r c a d e c e m anos,

em

1 88 8,

por

M a x w e ll. S e n d o

H e in r ic h

H ertz,

c o n firm a n d o

a

teo ria

de

as m a is lo n g a s sã o , t a m b é m , as m a is g ro sse ir a s.

U m a v a rred u ra d e rad ar, tr a b a lh a n d o c o m tros, n ã o acu sa rá o r o sto , a n ã o

ser q u e

o n d a s d e a lg u n s m e ­

se trate d e u m

rosto de

a lg u n s m e tr o s d e la rg u ra , c o m o o s d a s e sc u ltu r a s m e x ic a n a s . S o ­ m en te

q u an d o

u s a m o s o n d a s m a is cu rta s é q u e v a m o s p e r c e b e r

a lg u m

d e ta lh e

n e ssa c a b e ç a g ig a n te sc a :

se a o n d a

fo r in ferio r a

o relh a s.

no

das

u m

m etro ,

r á d io ,

de

as

a lg u n s

E

p r a tica m en te

c e n tím e tr o s,

d etectam os

lim ite o

ondas de

p r im e ir o

traço

de

u m a fig u r a h u m a n a a o la d o d a e s tá tu a . E m de

seg u id a , o lh a m o s a fa ce, a fa c e d o h o m e m , a g o r a , a tra v és

u m a

câm era

c o m p r im e n to in fr a v e r m e lh o s. m o

W illia m

zava seu

sen sív e l

de

onda

à

banda

m en or

E stes fo ra m

do

seg u in te que

u m

d esco b ertos em

de

r a d ia ç õ e s,

m ilím e tr o ,

os

co m r a io s

1 8 0 0 p e lo a str ô n o ­

H ersch el, a o n o ta r o ca lo r p r o d u z id o q u a n d o fo c a li­

te le sc ó p io

p ara a lé m

d a lu z v er m e lh a : o s ra io s in fra v er ­

m e lh o s s ã o r a io s d e ca lo r. A c h a p a d a c â m e r a tr a n s la d a a im a g e m dos

354

r a io s

in fra v er m e lh o s

para

a

lu z v is ív e l s e g u n d o

um

c ó d ig o

176 Q u ã o fin o s e q u ã o e x a to s são o s d etalh es que p o d e m o s ver c o m o s m elh o res in stru m en tos do m undo? F o to g r a fia , p o r m e io d e ra d a r, d o A e r o p o r to d e L o n d res.


C o n h e c im e n to ou C erteza

u m

ta n to a r b itr á r io :

os

m a is

fr io s

em

o s ra io s m a is q u e n te s a p a r e c e m

v e r m e lh o

ou

sim p le sm e n te

p e r c e b e r o s a c id e n te s m a is s a lie n te s d a n a r iz

-

N ão

v em o s, ta m b ém , a n u v em

h á d ú v id a

de

que

lim ite s

azul e

P od em os

face: o s o lh o s, a b o c a , o

d e v a p o r s a in d o d a s n a r in a s.

a p r e n d e m o s a lg u m a s c o isa s n o v a s so b r e a

fa ce h u m a n a , m as isso s e m N o s

em

escuro.

in ferio res

n en h u m de

seu

d eta lh e.

c o m p r im e n to

d e

onda,

a lg u n s

c e n té s im o s d e m ilím e tr o o u m e n o s , h á u m a tra n siçã o g ra d u a l d o in fr a v e r m e lh o

p a ra o e s p e c tr o v isív e l. O

film e a g o ra u sa d o é s e n ­

s ív e l a a m b o s , e a fa c e a d q u ir e v id a . N ã o é m a is a p e n a s a f a c e d e u m

h o m em ,

m as,

sim ,

d o

h o m em

que

con h ecem os:

S tep h a n

B o r g r a je w ic z . A lu z b r a n c a o r ev ela v is iv e lm e n te a o o lh o e m d e ta lh e s: a p e n u ­ g e m , o s p o r o s d a fa c e , u m a p e q u e n a m a n c h a a q u i, u m a v e ia z in h a a ii. A on d a

lu z

b ra n ca é fo r m a d a d e u m a m istu ra d e c o m p r im e n to d e

d o v e r m e lh o , d o la r a n ja , d o a m a r e lo , d o v e r d e , d o a z u l e,

fm a lm e n te , d o

v io le ta , as o n d a s v isív e is m a is cu rta s. O s d e ta lh e s

d e v e r ia m a p a r e c e r m a is f in a m e n t e q u a n d o o b s e r v a d o s a tr a v é s d e lu z v io le ta d o q u e q u a n d o a tr a v é s d e lu z v e r m e lh a , m a s, n a p r á tic a , d e n tr o d e m a is o u m e n o s u m a o ita v a , n ã o h á g ra n d e s d ife r e n ç a s. O a

p in to r a n a lisa a fa c e , iso la su a s p a rtes, sep a ra as c o r e s, a m p lia im a g e m .

usar u m

A ssim ,

p o d em o s

m icro scó p io

p ergu n tar:

N ão

d e v er ia o c ie n tista

p a r a iso la r e a n a lisa r o s tr a ç o s m a is d e lic a ­

d o s? S im , d ev eria . E n tr e ta n to , d e v e m o s ter p r e se n te q u e e m b o r a o

m ic r o sc ó p io

d eta lh e

a m p lie a im a g e m

é d e te r m in a d a p e lo

m a n eira , p a ra p o d em

ele

não

a m e lh o ra : a n itid e z d o

c o m p r im e n to

d e o n d a d a lu z. D e s sa

q u a lq u e r c o m p r im e n t o d e o n d a , o s r a io s d e lu z só

ser in te r c e p ta d o s p o r o b je to s m a is o u m e n o s d a s m e s m a s

d im e n s õ e s d o c o m p r im e n t o d e o n d a d o s ra io s; u m

o b jeto m en or

s im p le s m e n te n ã o p r o d u z ir á so m b r a . U m a M ic r o fo to g r a fia d a s u p e r fíc ie d a p e le h u m a n a , 5 0 x . M ic r o fo to g r a fia d e u m c o r te d e p e le h u m a n a , m o s tr a n d o g lâ n d u la s seb á cea s, 2 0 0 x . O m ic r o s c ó p io d e r a io s u ltr a v io le ta s o lh a p a r a d e n tr o d a c é lu la a o n í v e l d os cro m o ssom o s. Á to m o s d e T ó rio .

a m p lia ç ã o

de

m a is

de

d u zen ta s

ú n ic a c é lu la

d a p e le, q u a n d o

o b ter

d e ta lh e , p r e c is a m o s d e lu z

de

m a io r

onda.

O

p r ó x im o

c o m p r im e n to nos

-

n o sso s o lh o s

vezes

com

p od e

iso la r u m a

lu z b r a n c a . M a s, p ara

d e m e n o r c o m p r im e n to

p a s s o seria , e n tã o , a lu z u ltr a v io le ta , c o m

de on d a

m a is c u r to

o lh a d a

de

um

m ilio n é sim o

d e m ilím e tr o o u m e ­

p a ra m a is d e d e z v e z e s d o q u e a lu z v isív e l. S e

fo ssem

cap azes de enxergar co m

lu z u ltra v io le ta , o

q u e v e r ía m o s seria u m a p a is a g e m fa n ta s m a g ó r ic a d e flu o r e sc ê n c ia . O

m icro scó p io

trem elu zen te,

de o

lu z

in ter io r

u ltr a v io le ta da

c é lu la ,

o lh a ,

a tra vés

a m p lia d a

de

u m a

lu z

d e três m il e q u i-

355


A Escalada do Homem

n h en tas v ezes,

ao

n ív el d o s c r o m o s so m o s. M a s esse é o

lim ite :

n e n h u m a lu z irá v er o s g e n e s d e n t r o d o s c r o m o s s o m o s . U m a

vez

en cu rtar

m a is,

o

q u eren d o

c o m p r im e n to

ir m a is

de

onda:

p ro fu n d a m en te, o

p ró x im o

são

E n treta n to , estes são tã o p en etra n tes, a p o n to ser fo c a liz a d o s p o r n e n h u m tr u ir u m em

d e ta lh es

c r â n io

os

de

r a io s X .

de não p od erem

tip o d e m a te r ia l; n ã o se p o d e c o n s ­

m ic r o s c ó p io d e r a io s X . A s s im , t e m o s d e n o s c o n te n ta r

p r o je tá -lo s

os

tem o s

em

u m a

face

d ep en d em ,

sob

a

p ele

-

por

o b ter de

u m a

sua

e x e m p lo , v e m o s

que

h o m em

n atu reza u m

aqui p ela

da

K onrad R o n tg en

m e d ic in a .

A

em

corp o

1 89 5;

ser v iç o

w ü h e lm

o

a c h a d o d a físic a q u e p a r ec ia ter s id o d e s tin a d o ao

por

e scru tin a r

o

h a v ia

g ra n d e in te r e sse a o s r a io s X im e d ia ta m e n te a p ó s te r e m

u m

d e

o

som bra; V em o s

co n fe r iu esta va

c a p a c id a d e

de

os

d esco b ertos

E sta

esp écie

p en etraçã o.

p erd id o sid o

d en tes.

e

agora,

d esco b erta d eu

a R o n tg en

ar d e b e n é v o la fig u r a p a te r n a l e o p r im e ir o P r ê m io N o b e l e m

190 1. A lg u m a s v ezes, u m

fe liz a c a so n o s le v a a u m

resu lta d o in e sp e ­

r a d o q u a n d o , p o r in fer ê n c ia , d e s c o b r im o s a lg o q u e n ã o p o d e ser v isto

d ir e ta m e n te . O s ra io s X

n ão m o stra m

os á to m o s, u m a vez

q u e e ste s s ã o a in d a m u ito p e q u e n o s p a ra p r o d u z ir s o m b r a s , m e s ­ m o so b esse d im in u to c o m p r im e n to d e o n d a . C o n tu d o , p o d e m o s m ap ear os á to m o s, em

u m

c r ista l, p o r q u e s e u s e s p a ç a m e n t o s s ã o

reg u la res, d e m a n e ir a q u e o s ra io s X p r o d u z ir ã o u m p a d r ã o reg u la r de

ondas,

a

p a rtir

das

q u a is

a p o siç ã o

d os á to m o s o b stru to res

p o d e ser in ferid a . E ste é o p a d r ã o d o s á to m o s e m

u m a e sp ir a l d o

A D N : rep resen ta u m retra to d e u m g en e. O m é to d o fo i in v e n ta d o em

1 9 1 2

por M ax von

e n g e n h o sid a d e ,

um a

L a u e, e co n sistiu

vez

que

em

u m

g o lp e d u p lo d e

fo i a p r im e ir a p r o v a d a r e a lid a d e

d o s á to m o s, e, ta m b é m , a p r im e ir a p r o v a d a n a tu r e z a e le tr o m a g ­ n é tic a d o s ra io s X . A in d a p o d e m o s d a r m a is u m

p a sso n esse se n tid o

e chegar ao

m ic r o s c ó p io e le tr ô n ic o , o n d e o s ra io s sã o d e tal m a n e ir a c o n c e n ­ trad os, a p o n to ou

de

d e n ã o m a is p o d e r m o s d iz er se tra ta r d e o n d a s

p a rtícu la s. O s

e lé tr o n s sã o d isp a r a d o s c o n tr a u m

o b jeto

d e m a n e ira a traçar o s c o n to r n o s d e ste , à s e m e lh a n ç a d o q u e fa z um

a tira d o r d e fa ca s e m

por esse m é to d o cu la r. N o co m o 3 5 6

fo i u m

um

en ta n to , a im a g em

a co n tece

co m

as

c ir c o . O m e n o r o b je to id e n tific a d o

á to m o faca s

iso la d o

d e T ó rio . Isso é e sp eta ­

in d e fin id a c o n fir m a o fa to d e q u e , d e lin e a n d o

a

fig u r a d a j o v e m

d o

c ir c o , m e s m o o s e lé tr o n s m a is d u r o s n ã o p r o d u z ir ã o u m a im a g e m

177 A ex p lo ra çã o d o corpo h u m a n o a t r a v é s d o s r aios X se in ic io u tã o p ro n to R o n t g e n o s descob riu . C h a p a o r ig in a l d e R o n tg e n m o stra n d o u m h o m em c o m seu s s a p a to s e ch aves n o s b o l s o s t r a s e i r o s d a s calças.


178

O s raios X f o r m a i u m p a d r ã o reg u la r d e fra n ja s, através d o q u a l a p o s i ç ã o d o s á t o m o s i n t e r c e p t a d o s p o d e ser in ferid a. P a d rã o d e d ifr a ç ã o d e r a io s X p a s s a n d o a tr a v é s d e u m c rista l d e A D N .


A Escalada do Homem

n ítid a . A

im a g em

p e r fe ita

p e r m a n e c e a in d a tã o d ista n te c o m o a

d a s e s tr e la s m a is r e m o t a s . N este

p o n to

n o s d efro n ta m o s

d a m en ta l d o

face a fa c e c o m

o p arad oxo fu n ­

c o n h e c im e n to . A n o a p ó s a n o d iv isa m o s in str u m e n ­

to s m a is p r e c is o s a fim d e o b se r v a r a n a tu r e z a c o m m a io r p r e c is ã o , m a s, a o e x a m in a r m o s as im a g e n s o b tid a s fic a m o s d e c e p c io n a d o s a o co n sta ta r serem

e la s a in d a m u it o

sen sação

de

in certeza

co m o

e stiv éssem o s

se

que

a

é

tão

p e rseg u in d o

in fin ito n o m o m e n to m e s m o em O

p arad oxo

e sc a la

d o c o n h e c im e n to

a tô m ica ;

in d e fin id a s, tr a z e n d o -n o s a grande um

c o m o

o b jeto

sem pre

que

fo i. É

fog e para o

q u e o a v ista m o s. n ã o está c o n fin a d o à d im in u ta

p e lo c o n tr á r io , e stá ta m b é m

p resen te

n a e sc a la

d o h o m e m , e m e s m o n a d a s estrela s. V a m o s c o lo c á -lo n o c o n t e x t o d e u m o b se r v a tó r io a str o n ô m ic o . O o b se r v a tó rio d e K arl F r ie d r ic h G au ss

em

G o ttin g en

in stru m en to s

foi c o n str u íd o

a str o n ô m ic o s

têm

em

sid o

1 80 7. D esd e

n a r m o s a p o s iç ã o d e u m a e s tr e la , tal c o m o q u ele

tem p o

en tão , os

a p erfeiço a d o s. A o

e x a m i­

fo i d e te r m in a d a n a ­

e a g o ra , te m o s a im p r e ssã o d e e sta r m o s c h e g a n d o

p e r to d e d e te r m in a r e x a t a m e n t e o n d e e la se e n c o n tr a . E n t r e t a n to , a o c o m p a r a r m o s n o ssa s p r ó p r ia s o b s e r v a ç õ e s in d iv id u a is n o ta m o s , co m

p e sa r , q u e e la s n ã o c o in c id e m ; e s p e r á v a m o s e lim in a r o s e r r o s

h u m a n o s e ser m o s, n ó s m e s m o s, d o ta d o s d a V is ã o D iv in a ; m a s o fa to é q u e não há o b serv a çã o sem c ia é v á lid a ta n to g u an d o

quando

o lh a m o s u m a

e r r o . E , n o t e - s e , tal c o n t i n g ê n ­

o b se r v a m o s e strela s o u á to m o s , c o m o

face h u m a n a , o u

q u an d o

o u v im o s co n ta r

o q u e o o u tr o fa lo u . G au ss

recon h eceu

esse

fa to c o m

a q u e le g ê n io

m aravü h oso e

b r in c a lh ã o q u e sem p r e o a c o m p a n h o u a té sua m o r te , a o s o ite n ta a n o s d e i d a d e . C o n t a n d o a p e n a s d e z o i t o a n o s , a o v ir p a r a G o t t i n gen, em o

1 7 9 5 , a fim d e in g ressa r n a u n iv e r s id a d e ,já h a v ia r e so lv id o

p r o b le m a

d a m e lh o r e stim a tiv a p a ra u m a série d e o b s e r v a ç õ e s

p o r ta d o r a s d e erro s in ter n o s. S e u r a c io c ín io d e e n tã o era o m e s ­ m o q u e o s e sta tístic o s c o n tin u a m A o o lh a r p a ra u m a e strela , u m

u tiliz a n d o h o je. o b serv a d o r sab e ex istirem

m ú l­

tip la s c a u sa s d e e r r o s. D e s s a m a n e ir a , e le a n o ta v á r ia s o b s e r v a ç õ e s na

esp eran ça

e stim a tiv a

da

de,

n a tu ra lm en te,

p o siçã o

da

estrela

en con tra r, —

o

n a m é d ia , a m e lh o r

cen tro

da

d isp ersã o

dos

p o n to s . A té a q u i, o ó b v io . E n tr e ta n to , G a u s s f o i a lé m , e p e r g u n ­

358

t o u q u a l s e r ia o s ig n if ic a d o d e ta l d is p e r s ã o . O r e s u lt a d o a p a r e c e u n a fo r m a d o g u e h o je é c o n h e c id o c o m o cu rv a g a u ssia n a , n a q u a l

179 O paradoxo do co n h ecim en to não está co n fm a d o à m in ú sc u la esca la a tô m ica ; ao co n trá rio , ele é ig u a lm en te m a n i f e s t o n a esca la do hom em , e m e sm o das estrelas. K a r l F r ie d r ic h G a u ss. A C u r v a d e G a u ss.



A Escalada do Homem

a

d isp e r sã o

curva. A

é

rep resen ta d a

p e lo

d esv io ,

o u

esp a lh a m e n to ,

da

p a rtir d a í v e i o u m a id é ia d e lo n g o a lc a n c e : a d is p e r s ã o

rep resen ta u m a área d e in certeza , u m a v e z q u e n ã o p o d e m o s esta r c e r to s d e q u e a p o siç ã o real esteja lo c a liz a d a n o c e n tr o . T u d o o p o d e m o s d iz e r é q u e a p o s iç ã o se e n c o n tr a n a á re a d e in c e r ­

que

te z a , á re a e sta p a ss ív e l d e ser c a lc u la d a a p a rtir d a d is p e r s ã o d a s o b s e r v a ç õ e s in d iv id u a is. P o r ta d o r d e s sa v is ã o su til d o c o n h e c im e n t o h u m a n o , G a u ss se s e n tia p a r tic u la r m e n te irrita d o c o m

a q u e le s filó s o fo s q u e a fir m a ­

vam

p o ssu ir u m

a ce sso a o c o n h e c im e n to m u it o m a is p e r fe ito d o

que

o

p ela o b se r v a ç ã o . D e n tr e m u ito s e x e m p lo s e s c o ­

fo rn ecid o

lh erei a p e n a s

um .

H á

u m

filó so fo

q u e m , d ev o co n fessa r, d e te sto em

ch am ad o

F r ie d r ic h

esp ecia l, m a s c o m

H eg el, a

c e r to sen ti­

m e n to d e fe lic id a d e p o r c o n sta ta r ser esse s e n tim e n to c o m u m de u m u m a

grande h o m em tese, p ro va n d o

c o m o G auss. E m q ue, em b ora

ao

1 8 0 0 H eg el a p resen to u

a d e fin iç ã o d e

p la n eta

ten h a

m u d a d o d e sd e o s A n tig o s, a in d a p o d e r ia m ex istir , filo s o fic a m e n te , s o m e n te se te p la n e ta s. O r a b e m , n ã o a p e n a s G a u s s sa b ia r e sp o n d e r a isso ; S h a k e sp e a r e já h a v ia r e s p o n d id o h á m u it o te m p o . N a m a ­ r a v ilh o sa p a ss a g e m

d o R ei Lear, o n d e, q u em

m a is p o d e r ia d iz er ,

s e n ã o o B o b o , d ir ig in d o -se a o R e i: “ A r a z ã o p o r q u e a s s e te e s tr e ­ la s n ã o s ã o m a is d o q u e s e te é u m a r a z ã o g o z a d a ” . O

R ei acena

a s tu ta m e n te e d iz: “ P o r q u e e la s n ã o s ã o o i t o ” . E o B o b o r e p lic a : “ S im , isso m e s m o , e v o c ê d a r ia u m d a r ia . N o tem p o

ó tim o b u fã o ” . H egel ta m b ém

d ia p r im e ir o d e ja n e ir o d e

para

secar

a

tin ta

da

1 8 0 1 , a n tes d e

d isserta çã o

de

ter h a v id o

H eg el,

u m

o ita v o

p la n e ta f o i d e sc o b e r to — o p la n eta C eres. A h istó r ia e stá r e p le ta d e iro n ia s. N a c u r v a d e G a u ss e sta v a e s c o n ­ d id a

u m a

b o m b a -r e ló g io , q u e e x p lo d iu

d e sco b r irm o s tr in c a v e lm e n te

que

não

lig a d o s

ap ós a sua m o rte, a d o

te m o s v isã o d iv in a . O s erro s e stã o in e x à

n a tu reza

d o

c o n h e c im e n to

Ir o n ic a m e n te , e ssa d e s c o b e r ta fo i fe ita e m

h u m an o.

G õ ttin g en .

A s c id a d e s u n iv e r sitá r ia s a n tig a s s ã o m a r a v ilh o s a m e n te p a r e c i­ d a s e n t r e si. G õ t t i n g e n é s e m e l h a n t e à C a m b r i d g e d a I n g l a t e r r a ou

à Y a le d o s E sta d o s U n id o s: m u ito p r o v in c ia n a s, a fa sta d a s d a s

r o ta s p a ra q u a lq u e r o u tr o lu g a r — n in g u é m

se d ir ig e a e ssa s p a r a ­

g en s esta g n a d a s a n ã o ser p ara d esfru ta r d a c o m p a n h ia d e p r o fe s ­ sores. M as o s p ro fesso res estã o

certos d e o c u p a r e m

o cen tro d o

m u n d o . A q u i, h á u m a in s c r iç ã o n o R a th s k e lle r , o n d e se lê , “ E x tr a 3 6 0

G õ ttin g en

n on

est v ita ” , “ F o r a d e G õ ttin g e n n ã o h á v id a ” . E ste

1 80 M ax Bom . B o m c o m s e u filh o e m G õ ttin g e n , em 1 9 2 4 , a p ó s te r s id o in d ic a d o p a ra a c á te d r a d e F ís ic a T e ó ric a ju n to à U n iv e r s id a d e d e G õ ttin g e n . E le f o i e x o n e ra d o d e seu c a rg o e m 2 6 d e a b r il de 1933.


!


A Escalada do Homem

ep ig ra m a , o u

d ev eria c h a m á -lo e p itá fio , n ã o é le v a d o tã o a sério

p e lo s e stu d a n te s c o m o o é p e lo s p ro fesso res. O s ím b o lo d a U n iv e r sid a d e é r e p r e se n ta d o p e la e stá tu a d e ferro n a p o r ta d o R a th s k e lle r , d e u m a m e n in a c o m estu d an te tem M eca,

a

um

ganso, que cada

d e b eija r e m su a g r a d u a ç ã o . A U n iv e r s id a d e é u m a

qual os

estu d an tes

b uscam

co m

a lg o m e n o s d o q u e a

p e r fe ita fé. E é im p o r ta n te q u e o s e stu d a n te s seja m u m a c e r ta ir r e v e r ê n c ia e m

im b u íd o s de

s e u s e stu d o s ; e le s n ã o e s tã o a q u i p a ra

a d o ra r, e, sim , p a r a q u e s tio n a r o q u e é c o n h e c id o . À s e m e lh a n ç a d e to d a c id a d e u n iv e r sitá r ia , G o tt in g e n t e m

suas

lo n g a s a la m e d a s q u e sã o c e n á r io s p ara as c a m in h a d a s q u e o s p r o ­ fessores fa zem tu d a n tes

d e p o is d o a lm o ç o , às v e z e s a c o m p a n h a d o s d e e s­

e x tá tic o s, q u a n d o a g ra cia d o s c o m

co n v ite.

N o

p assad o, G o ttin g en

deve

ter

a d e fe r ê n c ia sid o

de u m

p a ch orren ta . A s

p e q u e n a s c id a d e s u n iv e r sitá r ia s a le m ã s s ã o a n te r io r e s à u n ific a ç ã o d o

p a ís

(G o ttin g en ,

q u an d o

a in d a

Senhor

por

e x e m p lo ,

de

foi

fu n d a d a

por

H a n o v e r ), e , a ssim , e x ib e m

G eorge u m

II,

ar d e

b u r o c r a c ia lo c a l. M e s m o d e p o is d e te r m in a d o o d o m ín io m ilita r c o

K a ise r te r a b d ic a d o e m

1 9 1 8 , e la s c o n tin u a r a m m a is c o n f o r ­

m ista s d o q u e as u n iv e r sid a d e s d e fo r a d a A le m a n h a . A lig a ç ã o e n tr e G o ttin g e n e o m u n d o e x te r io r era fe ita a tra v és d e u m a e s tr a d a d e fe r r o . P o r e ss a v ia c h e g a v a m B e r lim ,

e

o s v isita n te s d e

d e o u tr a s c id a d e s, a n sio s o s p o r tr o c a r id é ia s s o b r e as

q u e stõ e s m o m e n to sa s d a físic a q u e e stiv e sse m a g ita n d o o m u n d o lá fo r a . E m v id a n o

G o ttin g e n , c o stu m a v a -se d izer q u e a c iê n c ia g a n h a v a

trem

p a ra B e r lim , u m a v e z q u e a q u i era o n d e a s p e s so a s

a r g u m e n ta v a m , e r a m q u e s tio n a d a s , e tin h a m n o v a s id é ia s. E o n d e n o v a s id é ia s e r a m c o n te s ta d a s ta m b é m . N o s a n o s d a P rim eira G u e r r a M u n d ia l a c iê n c ia e m co m o

em

G o ttin g en ,

tod a

p a rte, era d o m in a d a p ela R e la tiv id a d e . M a s, n o

ap ós-gu erra, e m

1 9 2 1 , a C á ted ra d e F ísic a fo i o c u p a d a p o r M a x

B o m

o q u a l, c o m

co m u n id a d e B o m

se u s se m in á r io s, p a sso u

d o s físic o s a tô m ic o s.

a a tr a ir a a t e n ç ã o

da

in teressa n te n o ta r q u e M a x

fo i g u in d a d o à c á te d r a q u a n d o c o n ta v a já p e r to d e q u a r e n ta

a n o s , fa t o in c o m u m , p o is q u e , d e m a n e ir a g er a l, o s f ís ic o s r e a li­ zam

seu s m e lh o r e s tr a b a lh o s a n te s d o s tr in ta a n o s (m a te m á tic o s

a in d a m a is c e d o e b ió lo g o s ta lv e z u m tan to,

B o m

era

d o tad o

de

u m

p o u c o m a is ta r d e ). E n tr e ­

ex tra o rd in á rio

d o m

so crá tico ,

m u ito p e sso a l. A tr a ía o s jo v e n s , e stim u la v a -o s , e as id é ia s d is c u ti­

362

d a s e c o n te s ta d a s e n tr e e le s c o n s titu ír a m

o m e lh o r d o seu trab a­

lh o .

qual

D en tre

um a

m u ltid ã o

de

n om es,

d eles

d ev eria

eu

181 E les estão aqui n ã o para reveren ciar o q u e já é c o n h e c i d o , m a s, sim , para q u estio n á -lo . A fo n te d e b ro n ze d a m e n in a c o m o gan so, P raça d o M ercado de G o ttin g e n .



A Escalada do Homem

e sc o lh e r ? W ern er H e ise n b e r g , o b v ia m e n te , q u e r e a liz o u a q u i, c o m B o m , o seu cou

um a

m e lh o r

tr a b a lh o . Q u a n d o

E r w in S c h r o d in g e r p u b li­

fo r m a d ife r e n te d e físic a a tô m ic a b á sica , fo i ta m b é m

aqui on d e

ocorreu

o p r in c ip a l d e b a te , a tr a in d o g e n te d e t o d o o

m u n d o. P od e

parecer

in a d eq u a d o

fa la r

n e sse s te r m o s so b r e u m a a ti­

v id a d e q u e m a is p a r ec e b r o ta r c o m o r e su lta d o d e v ig ília s n o tu r n a s à lu z m o r tiç a d e la m p iõ e s . A s s im , te r ia m e s m o a f ís ic a d a d é c a d a dos

20 c o n sistid o e m

tes? S im ,

co n sistiu .

a r g u m e n to s , se m in á r io s, d isc u ssõ e s e d e b a ­ E

a in d a

c o n siste.

A s

pessoas

que

a q u i se

r e u n ia m , as p e s so a s q u e a in d a se r e ú n e m e m seu s la b o r a tó r io s , s ó d ã o se u s tr a b a lh o s p o r te r m in a d o s q u a n d o c o n s e g u e m e x p r e ssá -lo s em

fo r m u la ç õ e s m a te m á tic a s. C o m e ç a m

m as

c o n ce itu a is.

O s

e lé tr o n s e d o r e sto P ensem tem p o.

no

O s

e n ig m a s

te n ta n d o r e so lv e r e n ig ­

d as p a r tíc u la s su b a tô m ic a s -

q u eb ra -cab eça q u e

p r o fe sso r e s a té

o e lé tr o n r e p r e se n ta v a n a q u e le

d iz ia m

b r in c a n d o (d e v id o à m a n e ira

p e la q u a l o s h o r á r io s d a s u n iv e r s id a d e s sã o o r g a n iz a d o s ) seg u n d a s, q u a rta s e se x ta s o s e lé tr o n s se c o m p o r ta v a m fo ssem ondas

dos

r e p r e se n ta m e n ig m a s m e n ta is.

que às

c o m o se

p a r tíc u la s e às terças, q u in ta s e sá b a d o s, c o m o se fo s s e m e le tr o m a g n é tic a s. C o m o

se p o d e r ia m

c o n c ilia r e sse s d o is

a s p e c to s , to m a d o s à e sc a la m u ito m a is a m p la d o m u n d o e x te r io r , e

socad os

nesse

m u n d o

lilip u tia n o

do

in ter io r

d o

á to m o ? O s

a r g u m e n to s e e s p e c u la ç õ e s d e e n tã o g ir a v a m n e sse tip o d e r o d a . A

fim

sim ,

d e r e so lv ê -lo s e r a m in sp ir a ç ã o ,

L em b ro -m e

d e

n e cessá rio s n ã o a p e n a s c á lc u lo s, m a s,

im a g in a ç ã o u m a

-

m e ta físic a ,

frase d e M a x

se

vocês

q u iserem .

B o m , u sa d a p o r e le q u a n d o ,

m u ito s a n o s m a is ta r d e ,v e io p a r a a In g la terra , e q u e e stá reg istr a d a em

su a a u to b io g r a fia : “ E s to u c o n v e n c id o d e q u e físic a te ó r ic a é,

n a r e a lid a d e , filo s o fia ” . M ax

B o m

en ten d ia q u e

as n o v a s id é ia s d a fís ic a e r a m

en d ere­

ça d a s a u m a v isã o d ife r e n te d a r e a lid a d e . O m u n d o n ã o é im u tá ­ v el, n ã o c o n s is t e e m

u m

a rran jo fix o d e o b je to s e x te r n o s, e n ã o

p o d e ser in te ir a m e n te sep a r a d o d a p e r c e p ç ã o q u e te m o s d e le. E le se tr a n s fo r m a s o b n o s s o o lh a r , e le in te r a g e c o n o s c o , e o c o n h e c i­ m e n t o d aí d e r iv a d o te m

d e ser p o r n ó s in te r p r e ta d o . N ã o h á m e io

p o ssív e l d e tr o c a r in fo r m a ç õ e s se m a c o n c o r r ê n c ia d e ju lg a m e n ­ tos.

S e r ia

o

e lé tr o n

u m a

m o d e lo de B oh r, m a s em u m 3 6 4

p a rtícu la ? C o m p o r ta -s e

co m o

tal n o

1 9 2 4 , d e B r o g lie (fig u r a 1 6 7 ) c o n s tr u iu

lin d o m o d e lo d e o n d a s , n o q u a l as ó r b ita s e s tã o r e p r e se n ta d a s

p o r p o siçõ es o n d e t o d o u m

n ú m ero e x a to d e o n d as se co n cen tra m


Conhecimento ou Certeza

em

to r n o d o n ú c le o . M a x B o m

qual cada em

u m

im a g in o u u m

d eles esta v a p reso

co n ju n to ,

c o n stitu ía m

tr e m d e e lé tr o n s n o

a u m a m a n iv ela , d e fo r m a q u e,

u m a sér ie d e cu rv a s g a u ssia n a s, u m a

o n d a d e p r o b a b ilid a d e s. U m a n o v a c o n c e p ç ã o esta v a se n d o g era ­ da

n o

trem

p ara B e r lim

e n as c a m in h a d a s p ro fesso ra is p e lo s b o s ­

q u e s d e G o ttin g e n : q u a isq u e r q u e fo s s e m ta is

a

p a rtir

d e lic a d a s

das

m a is

q u a is

o

m u n d o

se

as u n id a d es fu n d a m e n ­

co n stru ía ,

e la s

eram

fu g id ia s, m a is lé p id a s d o q u e a q u ilo

g u im o s a p a n h a r

m a is

que con se­

n a r ed e d e ca ça r b o r b o le ta s d e n o sso s se n tid o s.

T o d a s e ssa s c a m in h a d a s p e lo s b o s q u e s e c o n v e r s a ç õ e s a tin g ir a m u m

c lím a x em

u m a

n ova

1 9 2 7 . N o in íc io d esse a n o W ern er H e ise n b e r g d eu

c a r a c te r iz a ç ã o

a o e lé tr o n . S im , trata -se d e u m a p a r tí­

c u la , d is s e e le , m a s u m a p a r tíc u la c a p a z d e tr a n sm itir a p e n a s u m a q u a n tid a d e o n d e

e la

lim ita d a

de

se en c o n tra

con seg u e

in fo rm a çã o .

n este

Isto

é, p o d e -se e sp ec ific a r

in sta n te , m a s, a o

se d e slo c a r , n ã o se

im p o r a e la v e lo c id a d e e d ir e ç ã o e s p e c íf ic a s . O u , p o s t o

d e o u tr a fo r m a , se in s is tim o s e m d isp a r á -la a v e lo c id a d e e d ir e ç ã o d e te r m in a d a s, p o n to

de

torn a -se

H e ise n b e r g da qual o

to rn o u -a e lé tr o n

d izer

a ju s ta m

e sp e c ific a r

p a r tid a , e, c o n s e q ü e n te m e n te , seu

E ssa c a r a c te r iz a ç ã o

quer

im p o ssív e l

por

tal

form a

p ro fu n d a a o e x e m p lo , a

p o n to

seu

de chegada.

p a r e c e r m u it o g ro sse ir a . M a s n ã o é. fa z ê -la p r e c isa . A

é p o r ta d o r é lim ita d a

q ue,

de

q u a n tu m .

p o d e

exa tam en te

sua

esta rem

em

sua

c o n fin a d a s

to ta lid a d e . e

v elo cid a d e

in fo rm a çã o

p ela

Isto

p o siçã o se

sua

to le r â n c ia

do

A í e stá a id é ia p r o fu n d a : u m a d a s g r a n d e s id é ia s c ie n ­

tífic a s , n ã o s ó d o s é c u lo X X , m a s , d a h istó r ia d a c iê n c ia . A

essa

fo r m u la ç ã o

In certeza . d o

E m

u m

H e ise n b e r g

d ia a d ia . S a b e m o s

seja

exa to.

Se

u m

d eu

o

n o m e

de

c e r to se n tid o , rep resen ta u m não

p od erm os

o b jeto

(u m a

tiv e sse d e ser s e m p r e e x a ta m e n te

p ed ir a o

face o

m u n d o para que

c o n h e c id a ,

m esm o

P r in c íp io d a

só lid o p r in c íp io por

e x e m p lo )

para q u e o p u d ésse­

m o s r e c o n h e c e r , n ã o seria p o s s ív e l id e n tific a r u m a m e s m a p e s so a d e u m d ia p a ra o o u tr o . R e c o n h e c e m o s o m e s m o o b je to e m ren tes

o ca siõ es

p erm a n ece

p orq u e

ex a ta m en te

v elm en te

se m e lh a n te s

en tra

ju lg a m e n to

D essa

u m

m a n eira ,

even to , com

e le

n em

certeza,

o

m esm o ;

porque

as c o isa s p e r m a n e c e m

to lera -

N o

o

m esm o a to

d o r e c o n h ec im e n to

— u m a á rea d e to lerâ n cia

js

é, c o m

e

o u d e in c er te z a .

d e H e ise n b e r g p o stu la

even to s

d ife ­

não

si m e s m a s.

p r in c íp io

m esm o isto

o a

p erm an ece

a tô m ic o s,

to lerâ n cia

zero.

A

p o d e

que n en h u m ser

d e scr ito

p r o fu n d id a d e

do

365


> f ' ’»'r 7> » *■ r * i - T f f > /D*T ■í |


Conhecimento ou Certeza

182

Por volta de 1 8 0 0 B lu m e n b a c h h avia reu n id o u m a coleção d e crân ios, c o n se g u id o s atra vés d e cavalh eiros c o m o s q u a is se corresp on d ia e m tod a a E u ro p a . C o le ç ã o d e c r â n i o s d e B lu m e n b a c h , D e p a r ta m e n to d e A n a to m ia , U n iv e r s id a d e d e G ò ttin g e n .

p rin c íp io se dev eu ao fa to de H eisenberg ter p o d id o especificar o grau de to le râ n c ia que p o d e ser alcan çad o . E a u n id ad e de m e d id a é d ad a pelo q u a n t u m de M ax P lanck. No m u n d o d o á to ­ m o , a área de in c e rte z a é sem p re m ap ead a através do q u a n t u m . C o n tu d o , P rin c íp io d a In c e rte z a é u m n o m e infeliz. Em ciência e fo ra d ela n ão estam o s in c erto s: m e ra m e n te n o sso c o n h ecim en to está c o n fin a d o d e n tro de u m a c e rta to lerâ n c ia. P o rta n to , deveria ser ch a m a d o P rin c íp io da T o lerân cia, e esta m in h a pro p osição im p lica dois sen tid o s. O p rim eiro , um p rin c íp io de engenharia. A ciên cia tem p ro g red id o d eg rau após degrau, o em p reen d im en to m ais b e m -su ce d id o na escalada d o h o m em , p o rq u e ela co m p re­ e n d e u ser a tro c a de in fo rm a ç ã o e n tre o h o m em e a n a tu re z a , e d o s h o m en s e n tre si, p o ssív el so m en te se se trab alh a d en tro de u m a c e rta m arg em de to lerâ n c ia. O seg u nd o sen tid o é afetiv o, e in te re ssa ao m u n d o real. T o d o c o n h e c im e n to , to d a inform ação e n tre seres h u m a n o s só p o d e ser neg o ciada to le ra n te m e n te . T al assertiv a é v erd ad eira, quer se tra te de ciência, de lite ra tu ra , de relig ião , de p o lític a e m esm o de q u a lq u e r fo rm a de p en sam en to q u e p re te n d a ser dogm a. A g ran d e trag éd ia d o m eu te m p o e do de vocês co n sistiu ju s ta m e n te n o fato de q u e, e n q u a n to aq u i em G o ttin g e n os cien tistas estav am a p u ra n d o ao m áxim o o P rin cí­ pio da T o lerân cia , se esq u eceram do m u n d o à sua v o lta e não p erceb eram esta r a to le râ n c ia sendo d estro ç ad a, a p o n to de não m ais p o d e r ser rep ara d a . N uvens so m b rias co b riam o céu d a E u ro p a. M as G o ttin g e n tin h a u m a nuvem p a rtic u la r, en so m b rean d o -a há u m a cen ten a de anos. P o r v o lta de 1 8 0 0 J o h an n F ried rich B lu m enb ach orga­ n iz o u u m a co leção de crân io s, co n seg u id o s através de cavalheiros e m in e n te s esp alh a d o s p o r to d a a E u ro p a e com os quais se c ° rre s p o n d ia . N o tra b a lh o de B lu m enb ach não havia n e n h u m a su g e s tã o de q u e aq u eles crân io s iriam d a r su p o rte a u m a divisão ra c ista d a h u m a n id a d e , e m b o ra ele usasse m edidas a n a tô m icas com a fin alid ad e de classificar as d ife re n te s fam ílias h u m an as. De q u a lq u e r fo rm a, a p a rtir d a m o rte de B lu m e n b ach em 1 8 4 ° , a c o le ç ã o f oi se a m p lia n d o até se to rn a r o cerne da te o ria racista p an g erm â n ica, sa n c io n a d a p elo P a rtid o N acio n al-S o cialista q u a n ­ do este to m o u o p o d e r. O a p a re c im e n to de H itler em 1 9 3 3 p ro v o c o u , q u ase que da n o ite p ara o dia, o e sface lam en to de to d a a tra d ição acad êm ica ale m ã. A gora, o tre m p ara B erlim sim b o lizav a fu ga. A E u ro p a já n ão e ra m ais u m lug ar h o sp ita le iro à im ag in a ção - e não apenas

367


à im a g in a ç ã o c ie n tífic a . T o d a u m a c o n c e p ç ã o d e c u ltu r a b a tia e m r e tir a d a : a c o n c e p ç ã o

d e q u e o c o n h e c im e n to h u m a n o é p esso al

e r e sp o n sá v e l, u m a a v e n tu r a s e m lim ite s às fr o n te ir a s d a in c er te z a . C erro u -se

a co rtin a

do

silên cio , c o m o

h a v ia a c o n te c id o

d e p o is

d a c o n d e n a ç ã o d e G a lile o . O s g ra n d e s h o m e n s fu g ir a m , m a s p a ra u m

m u n d o

am eaçado.

M ax

B o m .

E rw in

S c h r o d in g e r .

A lb ert

E in stein . S ig m u n d F r e u d . T h o m a s M a n n . B e r to lt B r e c h t. A r tu r o T o s c a n in i. B r u n o W a lter. M a r c C h a g a ll. E n r ic o F e r m i. L e o S z ila r d , chegando

fin a lm e n te ,

d e p o is d e m u ito s a n os, a o

I n s titu to S a lk

n a C a lifó r n ia . O

P r in c íp io

da

In certeza o u , em

T o le r â n c ia , c o n sa g r o u que

to d o

de um a vez

c o n h e c im e n to

é

m in h a versão, O

P r in c íp io d a

p or to d a s o e n te n d im e n to de

lim ita d o .

Iro n ica m en te,

ao

m esm o

te m p o q u e e ste e sta v a se n d o fo r m u la d o , a v o lu m a v a -se so b o ju g o d e H itle r n a A le m a n h a , e d e o u tr o s tir a n o s e m su a co n tra p a rtid a :

o u tro s

p a íse s, a

o p r in c íp io d a m o n s tr u o s a ce r te z a . A n a lisa d a

r e t r o s p e c t iv a m e n t e , a d é c a d a d o s 3 0 irá s e a p r e s e n t a r à s g e r a ç õ e s fu tu ras c o m o u m

p a lc o o n d e se c o n fr o n ta r a m d u a s cu ltu ra s: u m a

é a q u e la so b r e a q u a l v e n h o d isc o r r e n d o , a e sc a la d a d o h o m e m , e a o u tra , a d a c r e n ç a d e sp ó tic a d a p o sse d a c e r te z a a b so lu ta . E n tr e ta n to , to d a s e ssa s a b str a ç õ e s p r e c isa m

ser c o lo c a d a s em

te r m o s c o n c r e to s, e e u lh e s d a r ei v id a n a fo r m a d e u m a p e r so n a ­ lid a d e .

L eo

ano

su a v id a , m u ita s d e m in h a s ta r d e s fo r a m

de

S z ila r d

as v iv ia

su a c o m p a n h ia , à d isc u ssã o 3 68

tó r io n o I n s titu to S a lk .

in ten sa m e n te ,

e,

d u ra n te

o ú ltim o

d ed ica d a s, e m

d a q u e la s a b str a ç õ e s, e m

seu lab o ra-


183 A E u ro p a já n ã o era m a is u m a hospedeira da im ag in açã o. L e o S z ila r d (à e sq u e rd a ). E n r ic o F e r m i

L eo

S z ila r d

era h ú n g a ro , m as

n a A lem a n h a . E m sobre

o

v id a a c a d ê m ic a tr a n s c o r r e u

q u e a tu a lm e n te se c o n h e c e c o m o T eo ria d a In fo rm a çã o ,

trata n d o M as,

sua

1 9 2 9 h a v ia p u b lic a d o u m im p o r ta n te tr a b a lh o

das

nessa

r e la ç õ e s

ép oca,

en tre

S z ila rd

c o n h e c im e n to , n a tu reza e h o m e m . já

esta va

co n v e n c id o

de

que

H itler

c h e g a r ia a o p o d e r e a g u e r r a seria in e v itá v e l, d e fo r m a q u e , d e s d e e n tã o , m a n te v e d u a s m a la s p r o n ta s e m

s e u q u a r to e, e m

1 9 3 3 , e le

a s f e c h o u e a s le v o u p a ra a In g la terra . E m

setem b ro

r e u n iã o

de

1 9 3 3 , L o r d e R u th e r fo r d , d ir ig in d o -se a u m a

d a A sso c ia ç ã o

b re a v ia b ilid a d e d e

B r itâ n ica , e x p r e s s o u

a lg u m a s d ú v id a s s o ­

u tiliz a ç ã o d a en e r g ia a tô m ic a . M a s a c o n te c e

q u e L e o S z ila r d p e r te n c ia ju s ta m e n te à q u e la e s p é c ie d e c ie n tista , ta lv ez d etesta

à q u e le

tip o

de

h o m em

in q u ie to

p a r tic u la r m e n te q u a n d o e m itid a p o r u m e le

se

por

e le

m os

d e c id iu

a pensar sobre

m e s m o , n a q u e la

o

b em -h u m o rad o ,

que

c o le g a e m in e n te . A ssim ,

p r o b le m a . A

m a n eira

h istó r ia é c o n ta d a

q u e to d o s n ó s q u e o c o n h e c ía ­

p o d e m o s im a g in a r p e r fe ita m e n te . E sta v a v iv e n d o n o S tr a n d

P a la c e H o te l — e le a d o r a v a v iv e r e m d o

e

q u a lq u e r t ip o d e a fir m a ç ã o c o n t e n d o a p a la v r a “ n u n c a ” ,

em

d ireçã o

S o u th a m p to n

ao

H o sp ita l

R ow

parou

B a rt, d ia n te

h o té is . C e r to d ia , c a m in h a n ­ on d e d o

ú n ic a p a r te d a h istó r ia a q u a l c o n sid e r o n o t íc ia d e S z ila r d ter r e s p e ita d o u m m esm o

d o

sin a l te r m u d a d o

a

de

q u e, se u m

id é ia

tra b a lh a v a , a o c h eg a r a

sin a l v e r m e lh o .

(E sta

é

a

im p r o v á v e l: j a m a is tiv e

sin a l v e r m e lh o .) E n t ã o , a n t e s

p a ra v e r d e , o c o r r e u -lh e c la r a m e n te

á to m o

fo sse a tin g id o

por u m

n êu tro n

e,

r o m p e n d o - s e , lib e r a s s e d o is á t o m o s , o q u e e s ta r ia o c o r r e n d o seria u m a

reação

em

c a d eia .

D ia n te

d isso , e screv eu

as e sp ec ific a ç õ e s

369


A Escalada do Homem

p a r a u m a p a te n te , n a q u a l a p a r e c ia o te r m o “ r e a ç ã o e m r e g istra d a e m

c a d eia ” ,

1934.

A g o ra , d e s v e n d a r e m o s u m a fa c e ta d a p e r so n a lid a d e d e S z ila rd que, em b ora co m u m

a m u ito s c ie n tista s d a q u e la é p o c a , n ele

exp ressava

c la r a e

de

p a ten te, em

form a

g rita n te.

Q u e r ia

m a n ter

secreta

se a

u m a ten ta tiv a d e im p ed ir o u so in d e v id o d e d e sc o b e r ­

tas c ie n tífic a s. A s s im

o fez, c o n fia n d o -a à g u a r d a d o A lm ir a n ta d o

B r itâ n ico , d e fo r m a q u e só f o i p u b lic a d a d e p o is d a g u erra . E n trem en tes, A

184 F i n a lm e n t e , S zila rd esc r e v e u u m a carta, q u e E in stein a ssin o u , e a e n v io u ao P resid en te R oosevelt. T e x to d a c a r ta d e 2 d e a g o sto d e 1 9 3 9 a o P r e s id e n te d o s E s t a d o s U n id o s .

a g u e rr a se to r n a v a c a d a v ez m a is a m e a ç a d o r a .

m a r c h a d o p r o g r e sso d a F ísic a N u c le a r e a m a r c h a d e H itler

avançavam q u e

h o je

passo

a p asso, eta p a co b rin d o

ten d em o s

a n os esq uecer. N o

e sc r e v e u a J o lio t-C u r ie p e r g u n ta n d o p u b lic a ç ã o .

E stava

ten ta n d o

etap a , d e u m a

in íc io

d e

form a

1 9 3 9 , S z ila rd

se era p o ss ív e l p r o ib ir u m a

im p ed ir

a

p u b lic a ç ã o d o

tr a b a lh o

d e F e r m i. M a s, e m a g o s t o d e 1 9 3 9 , e le e s c r e v e u u m a c a r ta a q u a l E in stein

a ssin o u

e

e n v io u

(a p r o x im a d a m e n te ):

“A

in ev itá v el. F ic a a ca rg o d o tis ta s d e v e m

ao

P r e sid e n te

E n e r g ia

N u c le a r

Sr. P r e sid e n te

R o o sev elt, está

a q u i. A

d izen d o guerra é

d e c id ir o q u e o s c ie n ­

fazer a esse r e sp e ito ” .

E n t r e t a n t o , S z ila r d n ã o p a r o u a í. E m

1 9 4 5 , a g u erra e u r o p é ia

já te n d o s id o g a n h a , sa b e n d o a im in ê n c ia d o u so d a b o m b a a tô ­ m ic a s o b r e o J a p ã o , e le p r o te s to u q u a n to p ô d e . E s c r e v ia m e m o ­ r a n d o s a trá s d e m e m o r a n d o s . U m a o P r e sid e n te do

à

m o rte

dos m em oran d os, en d ereçad o

R o o se v e lt, só n ã o c h e g o u a o seu d e stin a tá r io d e v i­ d este

no

m esm o

tem p o

em

que

S z ila rd

o

esta va

r e d ig in d o . S z ila rd lu ta v a p a ra q u e a b o m b a fo s s e te sta d a a b e r ta ­ m en te

p eran te

o s ja p o n e s e s e u m a a ssistên c ia in te r n a c io n a l, d e

m o d o q u e o g o v e r n o ja p o n ê s c o n h e c e sse seu p o d e r d e d e str u iç ã o e se r e n d e sse , a n te s d o p o v o ser sa c r ific a d o . C o m o dade

dos

t o d o s s a b e m , S z ila r d fa lh o u , e c o m c ie n tista s.

fe ito . A b a n d o n o u

F ez

o

que

u m

e le t o d a a c o m u n i­

h o m em

a físic a e se in te r e sso u

ín te g r o

d e v e r ia ter

p ela b io lo g ia

— e essa

fo i a r a z ã o q u e o t r o u x e a o I n s titu to S a lk — , c o n v e n c e n d o o u t r o s a

fazerem

c in q ü e n ta

o

m esm o.

A

físic a

anos, e tam b ém

tin h a

sid o

a

p a ix ã o d o s ú ltim o s

a o b ra -p rim a d essa é p o c a . C o n tu d o ,

sa b ía m o s, a go ra , e sta r m a d u r o o te m p o d e trazer a o e n te n d im e n to d a v id a , d a v id a h u m a n a e m p a rticu la r, a m e s m a u n id a d e d e m e n te q u e h a v ía m o s c o n fe r id o a o e n te n d im e n to d o m u n d o físic o . A

p r im e ir a b o m b a a tô m ic a fo i d e to n a d a e m

H ir o sh im a n o d ia

6 d e a g o sto d e 1 9 4 5 , às 8 e 1 5 d a m a n h ã . P o u c o d e p o is d e m in h a 3 7 0

v o lta d e H ir o sh im a , o u v ia lg u é m d iz er , n a p r e s e n ç a d e S z ila r d , ser

185 P ágin a seg u in te: "É u m a tragéd ia para a h u m a n id a d e.” R u ín a s d e H iro sh im a .


Al.bert BinetelD Old Orove !1.d. Uaeeau Point Peoonio, Long Ieland Auguet 2nd, 1939 F.D. Rooeevelt. P reslJ ent of the United S ta tes . i'Thite House Washington, D.C.

Sone recent l'ork by E.Fernl and L. Szila rd, whlch hae been oommunicatea. to rne ln m:uiuscript, leade me to expect that the element uranlum 'CIay be turned into a new and itnportant eource of energy ln the lm•ae':liate fu ture. Certain aspeots of the e ltu a tlo n which hae arisen seem to c a l l for ..atchfulnese and. i f necessary. quick action on the part o f the Adrninlstratlon. I b e l íe v e therefore that i t le oy eluty to brins: to your a tte n tlo n the follo" 7 in,; fa c ts and recolVlendatione: In the couree of the l a s t fou!" rnonths l t hae been nado probable . through the ";ork o!" J o l lo t in -:o"rance o.s '\"I'ell o.e "erml and Szila rd ln "o.erica - that i t mo.y become p o ss ib le to set up a nuclear chein reaction in a l a r g e mase of uranium,by which vast OPIounts of power and lar ge quanti t i e s o!" new radiura-like elemente \Vould be generated. Uo'IV lt appeare almost c e r ta in that t h i s could. be achieved in the immedlate future. n u e new phenonenon would aleo lead to th e conetruction o f bomba, anel l t is con ceivable - though !!Iuch l e s s certain - that extreraely powerf u l bombe of a new type mo.y thue be con etructed. A ein gle bol!lb of thie t.ype. carriecl by boat and exploded in a port. might very well deetroy the whole jJort together 1'J itb eooe of the surrounding te r r lto r y . Howey,er, such bo!:bs o ig h t very w e l l prove to be too heavy for traneportation by a ir .

rbe Unlted Statee h a s only very ooor oree o f uranlum lu moderate q u a o t l t le e . There ie eome good ore ln Canada and tbe tormer Czecboelo vUla , w b li e tb e o o e t important eource o f uranlum ie Belgian Congo. Io vlew oC thia eitu a tio n you may thln.k i t (leeirable to bave aome pe^roanent con tact maintained between tbe Adminietration and the grouo o f p h y e lc le te worklng on chaln reactlons ln <Az:terlca. One poeeible way o f a cble viog tbie mi.Jht be fo r you to entruet r.lth thie t u k a pereon 1t"ho b.c.s your confidence and who could perhaoe e e n e in an l n o f f l c i a l c ap ac lty . Hie taek r.tl.;ht conpriee the follo wing: a) to approacb Oove^rtl.l!lent Departrnenta, keep them informed of the furthcr dcvelopment, and put fornard recotMIendatlone for Covernrnent aotion, ,;1vino; p a rticular a tt e n t i o n to th e problem of eecuring o. eupply of uranium ore f o r tbe United Statee; b) to epeed uc the experimental v/ork ,TJbich is at preeent belng car-. ried on 1'J ltbln the lim i t e of the budcrets of Univeraity labo rato riee, by p ro vil.lni funde, l f sueh funda be required. through h is contacte witb p r iv a te persons wbo are w i ll in g to ma.ke eon trlbutione fo r thie cause. and perha?e a ls o by obtalnln.; the co-operation of induetrio l laborat.orlee whicb have the neceesary equlpment. I underetand t M t Gemany M s actually stooped the eale of uraniuo from tbe Czechoslovakian nines which ebe M e taken over. That ebe ehould have taken euch early Ilction might perhape be underetood on tbe ground that tbe eon of the German Under-Secretary of State, von "ReizB.i.cker, is attached to the K aieer-'V ilhelm -Institut in Berlin where some of tbe AlDerlcan work on uranlum ie now being repeated. Youre very t r u ly • (Albert Einstein)


'Ü&ff '«■ *** [ f Lu

i

1



A Escalada do Homem

a q u ilo u m a tr a g é d ia p a ra o s c ie n tista s, o fa to d e s u a s d e s c o b e r ta s s e r e m u s a d a s p a ra a d e str u iç ã o . “ É a tr a g é d ia d a h u m a n id a d e ” r e ­ p lic o u S z ila r d , a u to r iz a d o c o m o n e n h u m o u t r o p a r a ta l d e s a b a fo . O d ile m a h u m a n o se d iv id e e m de q u e o

d u a s p a rtes. U m a d e la s é a c r e n ç a

fim ju stific a o s m e io s. É a filo s o fia d o s a p e r ta d o r e s d e

b o tõ e s , d o s d e lib e r a d a m e n te su r d o s a o s o fr im e n to m o n stro

d a m á q u in a d a guerra. A

h um ano: ou

o

d ogm a que

u m a c iv iliz a ç ã o e m

q u e gerou

o

o u tra , é a tra içã o d o e sp ír ito

186 “ E u lh e im p lo ro , p elas en tra n h a s d e C risto , e m p en sar p elo m en o s na p o ssib ilid ad e d e v o c ê p o d e r estar e r ra d o .” O a u to r ju n to à la g o a d o c a m p o d e c o n c e n tr a ç ã o d e A u s c h w itz .

o b tu ra a m en te e tran sform a u m a n a ção u m

re g im e n to

de fan tasm a s — fan tasm a s

o b e d ie n te s, o u fa n ta sm a s to rtu ra d o s. D iz -se q u e a c iê n c ia a ca b a rá p o r d e su m a n iz a r as p e sso a s, tr a n s­ fo rm a n d o -a s em T o m e

sim p le s n ú m e r o s. Isso é fa lso , tr a g ic a m e n te fa lso .

cu id a d o . V ê-se a q u i o c a m p o

d e co n cen tra çã o e o crem a ­

tó r io d e A u sc h w itz . N e ste lo c a l é q u e as p esso a s era m m adas

em

núm eros.

E sta

la g o a

recebeu

tran sfor­

as descargas c o n te n d o

as c in za s d e u n s q u a tr o m ilh õ e s d e p e sso a s. E n ã o fo i u m a o b r a d o g á s. F o i o b r a d a a rr o g â n c ia . F o i fe ito p e lo d o g m a . F o i fe ito p ela ig n o r â n c ia . Q u a n d o as p e sso a s a c r e d ita m esta r p o ss u íd a s d o c o n h e c im e n to

a b so lu to , s e m

n e n h u m a b a se n a r e a lid a d e , e la s se

c o m p o r ta m d e ssa m a n eira . Isto é o q u e o h o m e m

r e a liz a q u a n d o

p r e te n d e ter a c iê n c ia d e d e u s e s. A

c iê n c ia

m an o.

s e n tim o s

por

ju lg a m e n to so a l.

A

nos

en con tra m o s

a n tec ip a çã o

à b eira d o

a q u ilo

qu e

é

seja m o s

u m

tr ib u to

fa lív e is.

C r o m w e ll:

“E u

N o

lh e

à q u ilo fim ,

h u ­

c o n h e c id o , sem p re

p o d e ser esp era d o . T o d o

N a q u a lid a d e

que

p o d em o s

a s p a la v r a s

im p lo r o , p e la s

p e n s e p e lo m e n o s n a p o ssib ilid a d e L eo

e sse n c ia lm e n te

c ie n tífic o se e q u ilib r a n a s m a r g e n s d o e r r o , e é p e s ­

c iê n c ia

em bora O liv e r

é u m a fo rm a de c o n h e c im e n to

Sem p re

con h ecer,

fora m

d ita s

en tran h as

por

d e C risto ,

d e v o c ê p o d e r esta r e r r a d o ” .

d e c ie n tista , o m e u

dever para co m

m e u a m ig o

S zü a rd ; n a q u a lid a d e d e ser h u m a n o , o m e u d e v e r p a ra c o m

o s m u ito s m e m b r o s d e m in h a fa m ília , m o r to s a q u i em A u sc h w itz , é esta r a q u i à b e ir a d e sta la g o a , c o m o so b r e v iv e n te e te s te m u n h a . D ev em o s

nos

curar

d o

p ru rid o

d o

c o n h e c im e n to

e

d o

poder

a b s o lu to s . T e m o s d e e lim in a r a d istâ n c ia e n tr e o a p erta r o b o tã o e o a to h u m a n o . T e m o s d e en trar e m

co n ta to co m

as pessoas.

187 P ágina segu in te: C r e m a tó r io d e A u s c h w itz , o n d e p esso a s era m tr a n s fo r m a d a s em n ú m eros.






GERAÇÃO APÓS GERAÇÃO

12

N o s é c u lo X l X a c id a d e d e V ie n a era a c a p ita l d e u m a lb e r g a v a e m lín g u a s. A

su a s fr o n te ir a s u m

im p é r io q u e

grande n ú m ero de n ações e de

E r a u m c e n t r o f a m o s o d a m ú sic a , d a lite r a tu r a e d a s a rtes.

C iê n c ia

c iê n c ia s

era

o lh a d a

co m

b io ló g ic a s e m

su sp eita

na

con servad ora

V ien a , as

p a r ticu la r. E n tr e ta n to , in e sp e r a d a m e n te ,

a Á u str ia se to r n a se m e n te ir a p a ra u m a id é ia c ie n tífic a (n o c a m p o d a b io lo g ia ) q u e se to r n o u r e v o lu c io n á r ia . A v e lh a U n iv e r sid a d e d e V ie n a d e u a o fu n d a d o r d a g en ética , e, p o rta n to ,

de

tod as

a s c iê n c ia s

m od ern as

da

v id a ,

o

reverendo

G r e g o r M e n d e l, to d a a p o u c a e d u c a ç ã o u n iv e r sitá r ia q u e e le p o s ­ su ía . C h e g o u a q u i e m e a lib erd a d e

u m a é p o c a q u a n d o se d e f r o n ta v a m a tir a n ia

de p en sam en to. E m

1 8 4 8 , lo g o a p ó s su a ch ega d a ,

d o is jo v e n s a c a b a v a m d e p u b lic a r , n a L o n d r e s d ista n te , u m

m a n i­

f e s t o e s c r ito e m a le m ã o , q u e c o m e ç a v a c o m a s e g u in te frase: “ E in G esp en st g eth u m

E u r o p a ” , “ u m e sp ec tr o está r o n d a n d o a E u r o ­

p a ” , o esp ectro d o co m u n ism o . E v id e n te m e n te ,

K arl M arx

F r ie d r ic h

O

E n g e ls n ã o c r ia r a m C o m u n is ta ;

v o z . A v o z d a in su r r e içã o . O v en d a v a l d e d e s c o n te n ta ­

fev ereiro segu em . lu ta

de

1 8 4 8

A ssim ,

co n tra

Im p é r io suas

e le s

q u e v a r r ia a E u r o p a e r a d ir ig id o c o n tr a o s B o u r b o n s , o s

H a b s b u r g o s e o s g o v e r n o s d e m a n e ir a g er a l, e m

e

m as

a

lh e

m en to

co m

M a n ife s to

na

deram

E u rop a

e

r e v o lu ç ã o

a

P a r is

em

en tra

m arço

p o líc ia

A u stría co ,

à

b ases. M e ttern ich

em

de

na

e b u liç ã o

1 8 4 8

Praça

s e m e lh a n ç a

h ou ve

e

to d a p a rte. E m V ie n a e B e r lim

a

p r o te sto s estu d a n tis

d a U n iv e r sid a d e e m

V ien a . O

de ta n to s ou tro s, trem eu

em

se d e m itiu e fu g iu p a r a L o n d r e s. O I m p e ­

rad or a b d ic o u . 188 0 sexo produz d iversid a d e, e a d iversid a d e é a p ro p u lso ra da e v o lu çã o . D o is é o n ú m ero m á g ico . Por essa razão a seleção sex u a l e o cortejam ento são a lta m en te d esen v o lv id o s n a s d iferen tes esp éc ie s. A p r e s e n ta ç ã o d o pavão.

I m p e r a d o r e s se v ã o m a s o s im p é r io s fic a m . O n o v o Im p e r a d o r , F ranz

J osef,

a u to cra ta a té d u ra n te J o sef em burgos,

era

u m

que

jov em

de

d e z o ito

anos

o im p é r io in stá v el a c a b o u

que

a P r im e ir a G u e r r a M u n d ia l. A in d a m e m in h a tin h a

r e in o u

co m o

p o r se d e sm a n te la r lem b ro d e F ran z

in fâ n cia ; d a m e sm a m a n e ira q u e to d o s o s H a b s­

o lo n g o lá b io in fe r io r e a s b o c h e c h a s c a íd a s, ig u a is

à s d o s re is e s p a n h ó is p in t a d o s p o r V e lá s q u e z , h o je r e c o n h e c id a s c o m o tra ço g e n é tic o d o m in a n te . ao

tr o n o , to d o s o s d isc u r so s p a trio ta s

se c a la r a m ; a a d e sã o a o jo v e m

F ranz J o sef ten d o

su b id o

I m p e r a d o r f o i to ta l. N a q u e le m e s-


A Escalada do Homem

m o

m o m en to

d ireçã o

a e sc a la d a d o

com

a

chegada

de

h o m em

estava to m a n d o

G regor

M end el

à

u m a

n ova

U n iv e r sid a d e

de

V ie n a . N a s c id o J o h a n n M e n d e l e filh o d e c a m p o n e se s ; G r e g o r fo i o

n o m e

que recebeu

V ien a , fa lta

fu g in d o de

um a

tr a b a lh o ,

da

a o s e t o r n a r m o n g e , l o g o a n t e s d e v ir p a r a p en ú ria

educação.

e le

nunca

e

N a

das

fru stra çõ es

m a n eira

ab an d on ou

p ela

seus

a ca rretad a s

qual

h á b ito s

c o n d u z iu de

p ela seu

cam p on ês,

ja m a is se c o m p o r t o u c o m o p r o fe s so r o u c a v a lh e ir o n a tu r a lista , à se m e lh a n ç a d e

seu s c o n te m p o r â n e o s in g leses: era u m

n a tu r a lista

h o rtelã o . M e n d e l se to r n o u o u m

e n v io u

m onge

à procura de ed u cação, e seu abade

à U n iv e r sid a d e d e V ie n a

a fim

d e q u e e le

c o n se g u isse

d ip lo m a fo r m a l d e p r o fe sso r . E n tr e ta n to , era n e r v o so e e sta v a

lo n g e

de

se rev e la r u m

estu d an te

in te lig e n te . O

r e la tó r io d e seu

e x a m in a d o r d iz ia q u e a e le “ fa lta v a m e n t e n d im e n t o e a n e c e s s á ­ r ia c la r e z a d e c o n h e c i m e n t o s ” . F o i r e p r o v a d o . O c a m p o n ê s t o r ­ nado m on ge a n o n im a to

não de

tin h a

u m

e sc o lh a s e n ã o se r e c o lh e r n o v a m e n te n o

m o ste ir o

em

B rno, na

M o r á v ia ,

a tu a lm en te

1 8 5 3 , M en d el co n ta v a

tr in ta e u m

p a rte d a T c h e c o slo v á q u ia . A o

retorn ar d e

a n o s e era u m

V ien a , e m

fracasso. A O r d e m

A u g u stin ia n a d e S ã o T o m á s d e

B rn o , q u e o h a v ia e n v ia d o a V ie n a , era d e d ic a d a a o tr a b a lh o e d u ­ c a c io n a l.

A o

in stru íssem

govern o

a u str ía c o

in teressa v a

d e le s m a is se a sse m e lh a à d e u m a o r d e m de um

os

m on ges

b ib lio te c a

de educadores do que à

m o s te ir o . D e n tr o d essa s c ir c u n stâ n c ia s é q u e M e n d e l h a v ia

fa lh a d o

em

o b te r su a q u a lific a ç ã o

tin h a d e se d e c id ir : fessor

que

o s jo v e n s in te lig e n te s d o c a m p e sin a to . A

fraca ssad o

n esta , fa lo u

ou

ou

d e p r o fe sso r . A ssim , M e n d e l

p assar o r e sto de su a v id a c o m o u m o

q u ê? . . . D e c id iu -se

p ro­

fin a lm e n te ; m a s,

m u ito m a is a lto o g a r o to c h a m a d o H a n sl p e lo s seu s

a m ig o s d a s fa z e n d a s, o jo v e m J o h a n n , c a m p o n ê s, d o q u e o m o n g e G r e g o r . V o lt o u seu s p e n s a m e n t o s p a r a a q u ilo q u e h a v ia a p r e n d i­ d o

n a v id a d o c a m p o e se m p r e o tin h a fa sc in a d o : as p la n ta s. E m

V ie n a fora in flu e n c ia d o p e lo ú n ic o

b ió lo g o

d e v a lo r q u e

ja m a is h a v ia e n c o n tr a d o , F r a n z U n g e r , o q u a l a b o r d a v a o p r o b le ­ m a d a h e r e d ita r ie d a d e e ssê n c ia s

d e u m a fo r m a p rá tica , c o n c r e ta : n a d a d e

e sp ir itu a is, n a d a

de

forças

v ita is, a tin h a -s e

a o s fato s.

M e n d e l, e n tã o , p a s s o u a d e d ic a r su a v id a a e x p e r im e n to s p r á tic o s em

380

b io lo g ia , e n q u a n to

n o m o steiro . U m a

d e c isã o o u sa d a , silen ­

c io sa e secreta , p e n s o eu , u m a v e z q u e o b isp o lo c a l n e m p e r m itia a o s m o n g e s o e n s in o d e b io lo g ia .

m esm o

189 G regor M endel silen cio sa m en te im p rim iu u m a nova d ir eç ã o à e sca la d a do hom em . M endel em 1865.




Geração Após Geração

M e n d e l in ic io u seu s e x p e r im e n to s fo r m a is d o is o u três a n o s a p ó s ter r e to r n a d o d e V ie n a , d ig a m o s, e m d iz

ter tr a b a lh a d o

d u ra n te

o ito

1 85 6. E m

anos. A

su a c o m u n ic a ç ã o

p la n ta p o r e le e sc o lh id a

m u it o c u id a d o s a m e n te f o i a e r v ilh a -d e -c h e ir o . N e s ta s , s e le c io n o u sete

ca ra cteres

para com p a ra ção :

m e n te , e a ssim ta lo

form a

da

sem en te, cor da se­

p o r d ia n te , e n c e r r a n d o s u a lista c o m

b a ix o . E ste

ú ltim o

cará ter é o

ta lo a lto e

q u e e s c o lh i a fim

de nos ser­

v ir d e e x e m p l o : a lt o e b a i x o . F arem os

u m

ex p erim en to

M e n d e l. C o m e c e m o s lh en d o 190

Tudo égenética moderna, essencialmente como se tivesse sido feita hoje, mas r^^ada há cem anos por um desconhecido. P á g in a d e c á l c u l o s s o b r e as o bservaçõ es d e cam p o d e M e n d e l e m seu s o ito a n o s d e e x p e r im e n ta ç ã o c o m e r v i lh a s . A p r a n c h a à p á g in a o p o s ta m o s tr a c a r a c te r e s a n a lis a ­ d o s p o r M e n d e l e m seu tr a b a lh o e m 1 8 6 6 . E l e n o to u d if e r e n ç a s n a s s e m e n te s m a d u r a s d e e r v i lh a s : r e d o n d a s o u en ru ga da s q u a n d o m a d u ­ ras, a m a r e la s o u v e r d e s n as vagen s a m a d u re c e n d o ; c o lo r a ç ã o c in z a o u b r a n c a c o r r e la c io n a v a m ^ s e c o m flo r e s m a lv a o u b r a n c a s já n o in íc io d o c ic lo d e d e s e n v o lv im e n to d a p la n ta . C r u z o u p l a n t a s p o r ta d o r a s d e v a g e n s g o d a s e a b e rta s e c o n s • tr ita s e f e c h a d a s e v a g e n s v e rd e s e a m a r e la s q u a n d o a in d a n ã o m a d u r a s ; ta m b é m p la n ta s c o m flo r e s a o lo n g o d o c a u le e n a p o n te ir a s o m e n te . N e s ta p r a n c h a a s v a r ie d a ­ d e s a lta e b a ix a p o d e m s e r id e n tific a d a s p e la s d is tâ n c ia s e n tr e o s n ó s n o s c a u le s . M e n d e l b a s e o u su as le is n e s se s s e te c a r a c te re s .

r

seg u in d o

p o r fazer u m

ex a ta m en te os passos de

h íb r id o d e a lto e b a ix o , e s c o ­

as p la n ta s-m ã e s d a fo r m a e sp e c ific a d a p o r M e n d e l:

Em experimentos com esse caráter, a fim de se discriminar, com segurança, os talos longos de seis a sete pés foram sempre cruzados com os baixos de Y. pé a ly, pés. Para que

as p la n ta s b a ix a s n ã o se fe r tiliz e m

e m a sc u la m o s . A ssim

a si m e s m a s, n ó s as

e la s s e r ã o in s e m in a d a s a r tific ia lm e n te p e la s

p la n ta s a lta s. O

p r o c e s so d e fe r tiliz a ç ã o s e g u e seu cu rso . O s tu b o s p o lín ic o s

crescem ao

a p a r tir d o s ó v u lo s . O s n ú c le o s p o lín ic o s (e q u iv a le n te s

esp erm a

a lc a n ç a m ção

dos

a n im a is)

os ó v u lo s

d escem

d o m esm o

n o r m a l d e q u a lq u e r

a tra v és d o s tu b o s p o lín ic o s e

m o d o

qu e aco n tece

n a fe r tiliz a ­

e r v ilh a . A s p la n ta s d ã o v a g e n s , as q u a is ,

é c la r o , a in d a n ã o r e v e la m su a s c a r a c te r ístic a s. A s

e r v ilh a s

o b tid a s

d e se n v o lv im e n to s,

a

das

vagens

p r in c íp io ,

são

são

agora

p la n ta d a s.

in d istin g u ív e is

de

ou tra

e r v ilh a -d e -c h e ir o . E n tr e ta n to , e m b o r a r e p r e se n te m

d u to

d e

m en te

apenas

a

p r im e ir a

crescid a s já serã o

tarie d a d e , su ste n ta d a te m po

d e p o is. A

ticas d e u m d os

geração

u m

por

o pro­

qu an d o

to ta l­

d a q u e la

é p o c a e d e m u ito

tr a d ic io n a l era d e q u e as c a r a c t m V

h íb r id o rep resen ta v a m

p a is. M e n d e l tin h a

h íb r id o s,

te s te d a id é ia tr a d ic io n a l d a h e r e d i­

b o tâ n ico s

con cep çã o

de

Seus

q u a lq u e r

u m a m é d ia d a s c a r a c te r ís tica s

p o n t o d e v ista c o m p le t a m e n t e d i f e i m ^

e m e s m o u m a teo ria q u e o ju s tifica v a . ^ P ara M e n d e l, u m m e s m o cará ter era r e g u la d o p o r d uas p a r U cu la s (h o je c o m

n ó s as c h a m a m o s g en es). C a d a p la n ta -m ã e co n tr ib u i

u m a p a r tíc u la . S e as d u a s p a r tíc u la s ° u g en es fo r e m

tes, u m a

será

d o m in a n te

e a o u tr a r e c e ssiv a . O

p la n ta s a lta s e b a ix a s er a u m ficar

o

p r im e ir o

v a lo r d e s s a a s s e r t iv a . E

co m o

teste e ^

no

d ifer e n ­

cruza m en to se n tid o

tam b ém

vocês

de

d e v eri­ p od em

v e r ific a r a p r im e ir a g e r a ç ã o d o s h íb r id o s; q u a n d o c r e s c id o s s ã o to d o s a lto s . N a lin g u a g e m

d a g e n é tic a m o d e r n a , o ca rá ter a lto é

383


■ <*U,

I


Geração Após Geração

d o m in a n te a ltu r a

sobre

o

O s h íb r id o s n ã o

b a ix o .

seg u in d o

seg u in te:

M e n d e l.

o b t e r e m o s a s e g u n d a g e r a ç ã o , a in d a

F e r tiliz a m o s o s h íb r id o s, m a s , d esta v ez, c o m

p r ó p r io s p ó le n s. D e ix a m o s

fo rm a r as v ag en s, p la n ta m o s as

s e m e n t e s e e is a s e g u n d a g e r a ç ã o . C e r t a m e n t e dade;

a m a io r ia é a lta , m a s

fraçã o p a r tir

a p resen ta m

m é d i a e n t r e a s d e s e u s p a is: t o d o s s ã o p la n ta s d e ta lo a l t o .

A gora, a etap a seus

ca rá ter

do

to ta l

do

de

p a lp ite

um a

não

há u n ifo r m i­

m in o r ia s ig n ific a n te é b a ix a . A

p la n ta s b a ix a s d ev eria

poder

ser c a lc u la d a a

d e M e n d e l a r e sp e ito d a h e r e d ita r ie d a d e ; p o sto

q u e , se e le e s tiv e s s e c e r t o , n a p r im e ir a g e r a ç ã o c a d a h íb r id o seria c o m p o sto em

u m

de u m

g en e d o m in a n te e u m

cru zam en to

d en tre

m eira

geração,

d o is

a ssim ,

de

q u a tro

cada

gen es

g en e r e c e ssiv o . P o r ta n to ,

c a d a q u a t r o e n tr e o s h íb r id o s d a p ri­ r e c e ssiv o s

p la n ta s

u m a

d e v ia m d ev eria

ter-se ju n ta d o , ser

b a ix a .

e,

E é isso

m e s m o o q u e a c o n te c e : n a s e g u n d a g era çã o , d e ca d a q u a tr o p la n ­ ta s u m a é b a ix a e tr ê s s ã o a lta s. E s sa é a f a m o s a r e la ç ã o a s s o c ia d a ao

n o m e

d e M e n d e l; u m

a razão, um a

em

q u atro o u u m

p a ra três, e c o m

tod a

v e z q u e , v e ja m o s o r e la to d a d o p o r e le m e s m o :

D e u m to ta l d e 1 0 6 4 p la n ta s, e m 7 8 7 c a s o s o ta lo era a lto , e e m 2 7 7 , b a ix o . D a í u m a re la ç ã o m ú tu a d e 2 ,8 4 p a ra 1. . . S e o s r e su lta d o s a c u m u la d o s d e t o d o s o s e x p e r i m e n t o s f o r e m c o n s id e r a d o s , e n t ã o se e n c o n tr a , c o m o n o c a s o d e o u tr a s fo r m a s c o m c a r a c te r e s d o m in a n te s e r e c e ssiv o s, u m a rela çã o m é d ia d e 2 ,9 8 p a r a 1 o u d e 3 p a ra 1. A g o r a p a r e c e c la r o q u e o s h íb r id o s fo r m a m s e m e n te s p o r ta d o r a s d e u m o u d e o u t r o d o s d o i s c a r a c t e r e s d i f e r e n c i a d o r e s , e, d e s s a s , a m e t a d e irá n o v a m e n te d e s e n v o lv e r a fo r m a h íb r id a , e n q u a n to a o u tra m e ta d e gera p la n ta s q u e p e r m a n e c e m c o n sta n te s e r e c e b e m o s caracteres d o m in a n te s o u r e c e s s iv o s [ r e s p e c t i v a m e n t e ] e m n ú m e r o s ig u a is. M e n d e l p u b lic o u seu s resu lta d o s em

1 8 6 6 n a R e v is ta d a S o c ie d a d e

d e H is tó r ia N a tu r a l d e B m o e r e c e b e u in s t a n t â n e o e sq u e c in ie n t o . N in g u é m ten d o

se im p o r to u . N in g u é m

e s c r ito

c a m p o , c o m o

a

sem

que

sa b er

M en d el

d o

tiv e sse

d iv u lg a ç ã o

de

r e a lid a d e ,

ele

sid o

d e

c o n h e c id a . in e sp era d a

u m

N a g e li, n o t a m o s esta va

c ie n tista

a tin g ir

v id a

teria

fo rça d o

p u b lic a n d o -o s e m

os

a re­

c ie n tista s d o e x te r io r e n v ia n d o m e io

d e s c o n h e c id o , p u b li c a n d o e m

E n treta n to , na

p erm an eceu

E v id e n te m e n te , se

p r o fissio n a l, m en o s

tra b a lh o . M e s m °

q u e este

fa la n d o .

tra b a lh o , m a s esse era u m u m

seu

ta n to p o m p osa n esse

b r itâ n ic a s, lid a s p o r b o t a n ic o s c b ió lo g o s . N a

ten to u

c ó p ias d e seu trata n d o

K arl

M end el

d e seu s resu lta d o s, p e lo

v ista s fr a n c e s a s o u 191 O processo da fertiliza çã o se g u e seu p ró p rio c u r so . M ic r o fo to g r a jla e le tr ô n ic a d e p o l e m d e e r v ilh a ^ d e -c h e ir o .

en ten d eu

a u m a fig u r a e m in e n t e , e u m

de

n este M e n d e l:

m o m en to é e le ito

i n e f k ie n te e m u m a r e ^ ta

a c o n tece

a b a im

de seu

um a

se

des­ co isa

m o steiro .

385


A E sca la d a d o H o m e m

A p lan ta d esen v o lv e vagen s q u e a in da n ã o revelam seu s caracteres. Ó v u lo s d e e r v ilh a n 0 in te r io r d e v a g en s.

E , p e lo r e s to d e s e u s d ia s, le v o u a c a b o su a s o b r ig a ç õ e s c o m

u m

z e lo im p e c á v e l, r a ia n d o n o p e r fe c c io n is m o n e u r ó tic o . E m

su a ca rta a N a g eli e x p r e s so u o

e x p er im e n to s a n im a l q u e a c a le n to u

de

cru zam en to

tin h a

à

em

d isp o siçã o

a esp erança

d esejo

d e p a ssa r a r e a liz a r

a n im a is. M a s o ú n ic o

eram

a b e lh a s

-

tip o

de

M en d el sem pre

d e p o d e r e ste n d e r seu s e s tu d o s a o r e in o

a n im a l. A s s im , s e n d o M e n d e l, e le era p o s s u id o r d e u m a e sp lê n d id a m istu r a d e fo r tu n a in te le c tu a l e m á s o r te n a p rá tica . S u a s a b e lh a s h íb r id a s

deram

ex c e le n te

m el;

m as,

por

o u tro

la d o , era m

tão

fe r o z e s q u e fer r o a r a m to d o m u n d o n u m a á rea d e v á r io s q u ilô m e ­ tr o s e tiv e r a m d e ser d e str u íd a s. M end el m o ste ir o

parece

g io sa . A lé m g em

ter sid o

m u ito

m a is

c o n tr a im p o s to s o fic ia is d o

z e lo so

que em

na

d efesa de seu

s u a lid e r a n ç a r e li­

d isso , h á in d íc io s d e le ter sid o c o n sid e r a d o p e r so n a ­

su sp eita

p ela

P o líc ia S e c r e ta d o Im p e r a d o r . N a

cabeça

do

a b a d e h a v ia g r a n d e p e s o d e id é ia s p e sso a is. O

e n ig m a d a p e r so n a lid a d e d e M e n d e l é p u r a m e n te in te le c tu a l.

N in g u é m que

os

em

sua

p o d e r ia ter c o n c e b id o a q u e le s e x p e r im e n to s, a n ã o ser r esu lta d o s m en te.

esp erados

U m a

estiv essem

tal a fir m a ç ã o

darei provas con cretas em

c la r a m e n te

p od e

d e lin e a d o s

p a recer estran h a, m a s

se u fav or.

E m p r im e ir o lu g a r , u m p o n t o p r á tic o . M e n d e l s e le c io n o u e n tr e a s e r v ilh a s s e te versu s

ta lo

r e a lid a d e ,

sete

p o ssív e l testa r por

d ifer e n ç a s a ser e m

b a ix o ,

genes

e

a ssim

pares sete

de

por

te sta d a s, ta is c o m o

crom ossom os,

d iferen tes

lo c a liz a d o s

em

ta lo a lto

d ia n te . A s e r v ilh a s p o s s u e m , n a tip o s

sete

de

de

m a n eira

cara cteres

d ifer e n te s

q u e n ela s é tr a n sm itid o s

crom osso m o s,

m as

a c o n te c e ser e sse o n ú m e r o m á x im o d e ca ra cteres q u e p o d e r ia ter s id o s e le c io n a d o . N ã o se p o d e r ia testa r o it o d ife r e n te s c a r a c te r e s sem

q u e d o is g e n e s e stiv e sse m lo c a liz a d o s e m u m

som o, a in d a

e,

h a v ia

m esm o

m esm o crom os­

p o r ta n to , lig a d o s, p e lo m e n o s p a r c ia lm e n te . N in g u é m p en sad o

p en sad o

em

em

gen es

ou

crom ossom os,

em

lig á -lo s.

N in g u ém

ao

tem p o

em

ser

d e stin a d o

que

h a v ia

M en d el

r e a liz a v a seu s e x p e r im e n to s . C o n ven h am os cargo

de

abade

que de u m

sorte. M en d el d ev e p e r im e n to s

a lg u é m

a n tes

possa

m o steiro , m a s n in g u é m

por

p od e

D eu s

ao

te r a q u e la

ter r e a liz a d o m u it a s o b s e r v a ç õ e s e a lg u n s e x ­ de

p la n eja r

o

tr a b a lh o

fo rm a l,

ta lv ez

co m

a

in t e n ç ã o d e in tr ig a r e c o n v e n c e r a si p r ó p r io d e q u e a s s e t e q u a li3 8 6

dades o u

ca ra cteres e r a m tu d o a q u ilo q u e p o d e r ia ser le v a d o e m


Geração Após Geração co n ta .

N isso

ic e b e rg

som os

cap azes

de, em

um

r e la n c e , id e n tific a r u m

d e m e n te o c u lto n a sile n c io sa fa c e d e M e n d e l, d o q u a l se

a p r ..se n to u

flu tu a n d o

e ex p o sto

fe ito . C a d a

p á g in a

m a n u s c r ito o rev ela

b rico ,

os

do

c á lc u lo s

g en étic a

e sta tístic o s, a

m od ern a,

co m o

anos, por u m

-

o s im b o lis m o a lg é ­

da

e x p o siç ã o ;

se

tiv e sse

tu d o

é

sid o escrito

d e sco n h ecid o .

d e s c o n h e c id o q u e h a v ia tid o u m a in sp ir a ç ã o fu n d a m e n ta l:

o s ca ra cteres se sep a ra m deI o co n ceb eu en tre

c la r e z a

e sse n c ia lm e n te

h o je, m a s r e a liz a d o h á c e m U m

à v isã o a p e n a s a p u b lic a ç ã o , o

em

s e g u n d o u m a lei d e tu d o -o u -n a d a . M en -

u m a é p o c a n a q u a l se co n sid era v a a x io m á tic o

o s b i ó l o g o s a f u s ã o d e c a r a c te r ís tic a s d o s p a is n a m a n if e s ­

taçã o

dessas

im p o ssív e l cará ter

m esm as

supor

r e c e ssiv o ,

sim p le sm e n te

a

c a r a c te r ístic a s e v e n tu a lid a d e

apenas

n ão

os

de

p od em os

v ia m

por

na

p r o le .

nunca

e sp e c u la r

esta rem

É

p ra tica m en te

ter a p a r e c id o que

os

co n v e n c id o s

um

c r ia d o r e s de

que

a

h e r e d ita r ie d a d e se tr a n sm itia p o r p r o m e d ia ç ã o . A fin a l, o n d e fo i M e n d e l b u sca r o m o d e lo d o tip o tu d o -o u -n a d a p a ra a h e r e d ita r ie d a d e ? E u p e n s o sab er, m a s, e v id e n te m e n te , n ã o t e n h o m e io s d e o lh a r d e n tr o d a c a b e ç a d ele. E n tr e ta n to , o m o d e lo e x is t e (e e x is t iu d e s d e t e m p o s im e m o r ia is ) e é t ã o ó b v io q u e ta lv e z n en h u m

c ie n tista

m o n g e , sim . O lh õ e s

lh e

desse

m o d e lo

é o

a ten çã o :

m as,

um a

sex o . A n im a is tê m

c r ia n ç a o u

um

c o p u la d o p o r m i­

d e a n o s , e, n o e n t a n t o , m a c h o s e f ê m e a s d a m e s m a e s p é c ie

ja m a is

p r o d u z ir a m

p ro d u zem a c am a

m o n stro s

se x u a is,

ou

h e r m a fr o d ita s:

o u m a c h o , o u fê m e a . H o m e n s e m u lh e r e s tê m

desde

há cerca de u m

p rod u zem

-

sim p le s

p od eroso

e

e le s

id o para

m ilh ã o d e a n o s , p e lo m e n o s ; e e le s

o q u ê ? O u h o m e n s , o u m u lh e r e s. U m ta l m o d e lo tã o de

tr a n sm itir c a r a c te r ístic a s d e u m a fo r m a

t u d o -o u -n a d a d e v e ter c h a m a d o a a te n ç ã o d e M e n d e l, d e m a n e ira que u m

o s e x p e r im e n to s e o s r a c io c ín io s se lh e a p r ese n ta ra m c o m o t o d o c o e r e n te , p e r fe ito s já e m

P e n so q u e o s m o n g e s sa b ia m g o sta va m

su as gên eses.

d isso . P e n s o ta m b é m q u e e les n ã °

d o tr a b a lh o d e M e n d e l; e o b isp o q u e a p r e s e n to u r e se r ­

v a s a o s e x p e r im e n to s d e h ib r id a ç ã o c e r ta m e n te n ã o o s a p r o v a v a A

e le s

n ão

a g ra d a v a o in ter e sse d e M e n d e l p ela N o v a

d e m a n eira n e n h u m a — p o r D a rw in , p o r e x e m p l^

B io lo g ia ,

lid o e a p r ec ia ­

d o p o r M e n d e l. P or o u tr o la d o , o s r e v o lu c io n á r io s tc h e c o s e seu s a m ig o s,

qu e

sem pre

en con tra va m

m o s t e ir o , o a d m i r a v a m e d o is a n o s , e m

a

p ro teçã o

d o abade em

seu

in c o n d ic io n a lm e n te . M o rreu a o s sessen m

1 8 8 4 . N o seu fu n eral o gran d e c o m p o sito r tc h e c o

L e o s J an á ce k to co u órgão em

sua h o m en a g em ;m a s o n o v o abade

387


A Escalada do Homem

e le ito

p e lo s

m on ges

perm aneceram

q u e im o u

tod os

o s e scrito s d e M e n d e l q u e

n o m o ste ir o .

O g r a n d e e x p e r im e n to d e M e n d e l fic o u e sq u e c id o p o r m a is d e tr in ta a n o s , a té ser d e s c o b e r to (p o r v á r io s c ie n tista s in d e p e n d e n ­ tem en te) e fe ito ,

em

1 90 0.

P o rtan to ,

suas

d esco b ertas

p erten cem , em

a e ste sé c u lo , q u a n d o , d e rep en te, o e stu d o d a g en étic a

g e r m in o u a p a rtir d eles. C o m ecem o s ro la n d o tem p o

p elo

com eço.

A

v id a n e s te p la n e ta v e m

p o r três b ilh õ e s d e a n o s o u os

o r g a n ism o s

se

m a is. E m

r e p r o d u z ir a m

por

d o is

se d e sen ­

terços d esse

d iv isã o

c e lu la r . A

d iv isã o p r o d u z , v ia d e regra , p r o le s id ê n tic a s, n o v a s fo r m a s a p a ­ recen d o

m u ito

g er a l,

e v o lu ç ã o

a

o r g a n ism o s

a

rara m en te,

a tra v és

c a m in h o u

a p resen ta rem

de

m u ito

m u tações.

reprod ução

p r o v á v e l, as a lg a s v e r d e s . I ss o se d e u

sexual

O s

no

p r im e ir o s

fo ra m ,

há m en o s de u m

a n o s. A r e p r o d u ç ã o s e x u a l a p a r e c e p r im e ir o e m em

P o rtan to ,

len ta m e n te .

parece

b ilh ã o d e

v eg eta is e d e p o is

a n im a is. D e s d e e n tã o o se u s u c e s s o a to r n o u u m a n o r m a b io ­

ló g ic a , d e tal fo r m a

q u e, p o r e x e m p lo , d e fin im o s d u a s e sp écies

c o m o s e n d o d iferen tes q u a n d o seu s r e p r e se n ta n te s n ã o se cru za m . O s e x o p r o d u z d iv e r sid a d e , e a d iv e r sid a d e é a m o la p r o p u ls o r a d a e v o lu ç ã o . A a c e le r a ç ã o d a e v o lu ç ã o é r e sp o n sá v e l p ela e x is tê n ­ c ia a tu a l d e u m a e s to n te a n te v a r ie d a d e d e fo r m a s , c o r e s , e c o m ­ p o r ta m e n to s d a s e sp écies. A s bros de um a T u d o

isso

d ifer e n ç a s in d iv id u a is e n tr e m e m ­

m e sm a e sp écie ta m b é m

se

m a n ifesto u

d e v id o

d ev em

à

a e la ser im p u ta d a s .

e m e r g ê n c ia

de

d o is

sexos.

A ssim , p o d e m o s v er, n a g e n e r a liz a ç ã o d a s e x u a lid a d e p o r t o d o o m u n d o b io ló g ic o , u m a p ro v a d e q u e as e sp éc ie s se a d a p ta m

a u m

n o v o a m b ie n te a tra v és d a s e le ç ã o . S e as m u d a n ç a s r e su lta n te s d a a d ap ta ção e sp éc ie seria ,

ao

a m b ie n te

p u d essem

sim p le sm e n te ,

L am arck

por

p a rte

n ecessá rio .

h a v ia p r o p o s to

N o

esse m o d o

s o lit á r io d e h e r a n ç a ; m a s , s e e le u m

de

u m

in d iv íd u o

de

um a

ser tr a n sm itid a s h e r e d ita r ia m e n te , o s e x o n ã o fin a l

do

sécu lo

in g ê n u o , p o r a ssim

X V III d izer, e

e x istiss e , a d iv isã o c e lu la r seria

v e íc u lo m u it o m a is a p r o p r ia d o . D o is rep resen ta o n ú m e r o

sele ç ã o

m á g ic o . E ssa é a r a z ã o p ela q u a l a

se x u a l e o n a m o r o são a lta m e n te d e se n v o lv id o s e m

d ife ­

r e n te s e sp é c ie s, c h e g a n d o à fo r m a n a d a m e n o s d o q u e e sp eta c u la r da d o pavão. E tam b ém ta m en to a n im a l. 3 8 8

sele ç ã o

sexual Se

o

se

n o s escla rece a razã o p o r q u e o c o m p o r ­

a ju sta

g r u n io n

tão

tiv e sse

p r e c isa m e n te se

a d ap ta d o

sem

ao o

a m b ie n te

do

con cu rso

da

n a tu r a l, p o r q u e iria e le s e d a r a o t r a b a lh o d e d a n ç a r n a s


193

A a celeraçã o na ev o lu çã o é agora responsável por um a tr e m e n d a v aried a d e na f o r m a , na co lo ra çã o e n o com p o rta m en to das esp éc ie s. T u d o isso fo i p o ssív el graças à em erg ên cia de d o is s e x o s . C o rte e n tre e le fa n te s e c o r m o r a n te s te r r e s tr e s .


A Escalada do Homem

p r a ia s d a C a lifó r n ia a fim d e s in c r o n iz a r a in c u b a ç ã o c o m

as fases

d a L ua? P ara esse e p ara to d o s os o u tro s tru q u es d a a d a p ta ç ã o , o s e x o seria d is p e n s á v e l. O

s e x o , p o r si só , r e p r e s e n t a u m a m a n e ir a

d e se le c io n a r n a tu r a lm e n te n ã o b rig a m

o

m a is a d a p ta d o . O s c e r v o s m a c h o s

para m a ta r, m as a p e n a s para e sta b e le c e r seu s d ir eito s

n a e sc o lh a d as fê m e a s. A m u ltip lic id a d e d e fo rm a s, c o r e s e c o m p o r ta m e n to s n o s in d i­ v íd u o s e nas e sp é c ie s é p r o d u z id o p ela c o m b in a ç ã o d e g e n e s, da m a n e ira p r o p o s ta p o r M e n d e l. D e u m

p o n t o d e v ista p u r a m e n te

m e c â n ic o os g en es e stã o in cru sta d o s a o lo n g o d o s c r o m o sso m o s, os

q u a is

s ó sã o v is ív e is d u r a n te a d iv isã o c e lu la r . E n tr e ta n to , a

q u e stã o im p o r ta n te a se estu d a r n ã o é a d a m a n e ira p e la q u a l o s g e n e s e s t ã o a r r a n j a d o s ; a q u e s t ã o m o d e r n a é: c o m o e l e s a g e m ? O s g en es sã o c o m p o s to s p o r á cid o s n u c lé ic o s, e a í é o n d e se v ai e n ­ co n tra r a a çã o . A m a n e ir a p ela q u a l a m e n s a g e m d a h e r e d ita r ie d a d e é p a ssa d a d e u m a g era ção para o u tra fo i d esco b erta e m

1 9 5 3 , e se c o n stitu i na

ob ra d e a v en tu ra c ie n tífic a d o séc u lo X X . A c r e d ito q u e a tram a se in ic io u

n o

o u to n o

de

1 95 1, q u an d o u m jov em

d e u n s v in te e

p o u c o s a n o s, J a m e s W a tso n , c h e g a a C a m b rid g e e se a sso cia a u m h o m em

de

d e c ifr a r e m m en te o

tr in ta

e

c in c o

a estru tu ra

d o

a n o s , F r a n c is á cid o

C rick ,

no

tr a b a lh o

de

d e s o x ir ib o n u c lé ic o , a b r e v ia d a ­

A D N . N o s a n o s p r e c e d e n te s tin h a s id o d e m o n s t r a d o q u e

A D N , isto é, o á cid o e n c o n tra d o

carregava

as

m ensagens

q u ím ic a s

n a p a rte c e n tr a l d a s c é lu la s, da

h e r e d ita r ie d a d e ,

de

u m a

g er a ç ã o p ara o u tra . O s p e sq u isa d o r e s d e C a m b r id g e , e o u tr o s tã o d ista n te s

com o

o s d a C a lifó r n ia , e sta v a m

face a fa ce c o m

duas

q u e s tõ e s . Q u a l é a c o m p o s iç ã o q u ím ic a ? E q u a l é a a rq u ite tu r a ? A são

p ergu n ta “ q u al é a c o m p o siçã o as

p a rtes

agru p a m

com p o n en tes

gerando

as

d o

d iferen tes

á cid o ? ” . M as isso já era m u ito

q u ím ic a ? ” s ig n ific a “ q u a is

A D N ,

e

d e q u e m a n e ir a e la s se

v a r ie d a d e s b em

de

m o lé c u la s

d esse

c o n h e c id o . E sta v a c la r o q u e

o A D N

era c o m p o sto

esta rem

p r e se n te s p o r r a z õ e s e str u tu r a is) e q u a tr o p e q u e n a s m o ­

léc u la s

e sp e c ífic a s

pequenas,

a tim in a

ou

d e a ç ú c a r e s, fo s fa to s (h a v ia c e r te z a d e s te s bases.

D uas

d estas

são

m o lé c u la s

e a c ito sin a , n a s q u a is á to m o s

m u ito

de C arb on o,

d e N itr o g ê n io , d e O x ig ê n io e d e H id r o g ê n io e stã o a rra n jad os e m u m a

estru tu ra

h e x a g o n a l.

A s

ou tra s

m a io r e s, a g u a n in a e a a d e n in a , e m 3 9 0

duas

são

m o lé c u la s

b em

c a d a u m a d a s q u a is á to m o s

d a q u e le s m e s m o s e le m e n to s e stã o a rra n ja d o s e m

estru tu ra s h ex a -

1 94 O s g e n e s se a lin h a m a o lo n g o dos crom ossom os, q u e se to rn a m v isív eis q u a n d o a c élu la e stá se d iv id in d o . C ro m o ssom o s g ig a n te s d e c é lu la s d a c a s c a d e c e b o la .


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m a -


A Escalada do Homem

g o n a i s e p e n t a g o n a i s l ig a d a s e n t r e si. E m e str u tu r a is

é

co m u m

pequenas por u m a m p lia d a , fo rm a s,

rep resen ta r-se

q u a lq u e r

u m a

das

b ases

s im p le s h e x á g o n o , e a s m a io r e s p o r u m a fig u r a

ch am an d o,

m u ito

n o ta ç õ e s d e tr a b a lh o s

m a is

dessa d o

m a n eira ,

que

para

a

a ten çã o

os

á to m o s

para dos

as

suas

e le m e n to s

com p o n en tes. E

a

a r q u ite tu r a ? C o m

esta

p ergu n ta

se

q u eria

saber

de

que

fo r m a as b a se s se d isp u n h a m n o A D N , d e m o d o a to rn a r p o ssív e l a exp ressão

d as d ifer e n te s m e n sa g e n s g en étic a s. Isso p o r q u e , d a

m esm a form a que u m d e tijo lo s, o A D N

p réd io n ã o é s im p le s m e n te u m

n ã o d e v ia ser u m

a m on toa d o

sim p le s a m o n to a d o d e b a ses.

O q u e , e n tã o , lh e c o n fe r ia su a e str u tu r a e, p o r ta n to , su a fu n ç ã o ? P or e s s a é p o c a já se sa b ia q u e o A D N

era fo rm a d o p or u m a m o lé ­

c u la d e c a d e ia lo n g a , lin e a r , m a s u m e sp éc ie

d e c r ista l o r g â n ic o

tar-se c o m o

que em

ta n to q u a n to r íg id a -

um a

- , a lé m d e h a v er in d íc io s d e a p r ese n ­

h é lic e (o u

e sp ir a l). M a s, q u a n ta s h é lic e s e m

p a r a lelo ? U m a , d u a s, três, q u a tr o ? A s o p in iõ e s e s ta v a m d iv id id a s em

d o is c a m p o s p r in c ip a is: o d a h é lic e d u p la e o d a h é lic e tr íp lic e .

E n tã o, em

1 9 5 2 , L in u s P a u lin g , o g r a n d e g ê n io d a q u ím ic a e s tr u ­

tu ra l, p r o p õ e , n a e sq u e le to

C a lifó r n ia ,

u m

m o d e lo

d e h é lic e

tr íp lic e . A o

d e a çú ca res e fo sfa to s se a g reg a v a m as b a ses e m

to d a s

as d ir e ç õ e s. O a r tig o d e P a u lin g c h e g o u a C a m b r id g e e m

fev ereiro

de

q u e a lg o

1 9 5 3 , e lo g o d e in íc io C rick e W a tso n

perceberam

e sta v a e rra d o n ele. P o d e ter sid o u m

m e r o d e s a b a fo o u p o d e ter h a v id o u m

d e p e r v e r sid a d e m a lic io sa n a d e c is ã o a b r u p ta d e J im

toq u e

W atson em

fa v o r d a h é lic e d u p la . D e p o is d e u m a v isita a L o n d r e s , a o t e m p o e m q u e eu reto rn a ra à U n iv e rsid a d e e p u la ra o p o r tã o d o s fu n d o s , já h a v ia d e c id id o c o n str u ir m o d e lo s d e c a d e ia s d u p la s. F r a n c is tin h a d e a ce d e r . M e s m o s e n d o fís ic o , sa b ia q u e o b je to s b io lo g ic a m e n te im p o r ta n te s sem p re a p a recem a os pares. M a is im p o r ta n te a in d a , e le e C r ic k c o m e ç a r a m a p r o c u r a r p o r u m a e str u tu r a c u jo e s q u e le to se o r g a n iz a sse e x te r io r m e n te : u m a e s p é ­ c ie d e e sc a d a e m os

co rrim ã o s.

e sp ir a l, c o m A

os açú cares e o s fosfato s fo rm a n d o

ex p er im e n ta ç ã o

se

d e sen r o la v a

co m

grande

d ific u ld a d e ; u sa r a m -se fo r m a s e sp e c ia lm e n te m o n ta d a s a f im testar c o m o que, após u m

as b a ses se a ju sta v a m

de

a o s d e g r a u s d o m o d e l o . E e is

e n o rm e erro, o m o d e lo m o str o u -se a u to -ev id en te.

O lh e i e m e c e r tifiq u e i n ã o se trata r d e F r a n c is; e n tã o , c o n tin u e i a tr o c a r as 3 9 2

p o s iç õ e s d a s b a s e s e m v á r ia s o u tr a s p o s s ib ilid a d e s d e e m p a r e lh a m e n t o . D e


Geração Após Geração

r e p e n t e , p e r c e b i q u e u m p a r d e a d e n in a -tir n in a , u n id a s e n tr e si p o r d u a s p o n te s d e H id r o g ê n io , era id ê n tic o à fo r m a d o par g u a n in a -c ito sin a . C la ro :

em

cada

degrau

d e v ia esta r p r e se n te u m a b a se p e q u e n a e

u m a b a s e g r a n d e . E n t r e t a n to , n ã o ser v ia q u a lq u e r b a s e g r a n d e . A tim in a tin h a d e ser e m p a r e lh a d a c o m a a d e n in a ; m a s, e m c ito sin a , o seu aos

pares,

par tin h a

nos

q u a is

P o rtan to , o um a

escada

a

m o d e lo

em

de

presen ça

de

um a

d a m o lé c u la

d e t e r m i n a a d a o u tra.

de A D N

é rep resen ta d o por

e sp ir a l. U m a e sp ir a l a s c e n d e n d o n o s e n t id o a n ti­

-h o r á r io , n a q u a l as e sp ir a s s ã o d o m esm a

se te n d o

ser a g u a n in a . A s b a se s se o r g a n iz a m

d istâ n c ia e n tr e

si e g ir a m

m esm o

tam an h o, gu ard am

m a n ten d o

a

as m e s m a s r e la ç õ e s

— tr in ta e seis g r a u s e n tr e a s e sp ir a s su c e ssiv a s. S e tiv e r m o s u m a c ito sin a u m a

na

e x tr e m id a d e

g u a n in a

na o u tra ;

d e u m a e sp ir a , e n t ã o v a m o s e n c o n tr a r o

m esm o

a co n tecen d o

para o

o u tro par

d e b a ses. E ssa o r g a n iz a ç ã o im p lic a o fa to d e q u e ca d a m e ta d e d a e sp ir a l

é

p o rta d o ra

da

m en sagem

co m p leta ,

a

o u tra sen d o , de

u m a certa m a n eira , r e d u n d a n te . C o n stru am os

a

m o lé c u la

E sq u e m a tic a m e n te nas

e x tr e m id a d e s

m a n têm

é

u m

co m

par

a

de

rep resen ta m

a ju d a

bases;

as

de as

um lin h a s

p o n tes

de

com p u ta d or. p on tü h ad as

H id r o g ê n io

que

a s d u a s b a se s u n id a s . C o m e ç a r e m o s a p a rtir d a p o s iç ã o

te r m in a l e p r o s s e g u ir e m o s a p a rtir d a í. A g o r a a a r q u iv a r e m o s n a p a r te in fer io r d a fig u r a d a e sq u e r d a d o c o m p u ta d o r , o n d e ir e m o s co n stru ir

a

m o lé c u la

c o m p leta

d o

A D N ,

lite r a lm e n te ,

degrau

por degrau. E is u m s e g u n d o p a r; p o d e s e r ta n to d o m e s m o tip o d o p r im e ir o , c o m o d o tip o o p o s t o ; e esta r à fa c e d e q u a lq u e r u m

d eles. V a m o s

c o lo c á - lo s o b r e o p r im e ir o p a r e im p o r -lh e u m g ir o d e tr in ta e seis graus. 195 O A D N é um a esp ira l q u e s e e n r o la à direita, n a q u al cad a esp ira é d o m esm o tam an h o e guarda u m â n gu lo in v a riá v el d e 36 g ra u s e m r e la ç ã o às outras. G rá f c o g era d o em c o m p u ta d o r do s e q ü ê n c la d a s u n id a d e s c o m p o n e n te s do h é lic e d u p la do AD N .

i

V a m o s

e a ssim

r e p e tir as m e s m a s o p e r a ç õ e s c o m

te r c e ir o par,

p o r d ia n te.

E ssa s e sp ir a s r e p r e s e n ta m etap a

u m

por

etap a ,

fa b rica r. O

gen e

que

u m

c ó d ig o

que

irá d i z e r à s c é lu l a s ,

p r o te ín a s n e c e ss á r ia s à v id a e la s te r ã o d e

se fo r m a d ia n te d e n o sso s o lh o s, e o s c o r r im ã o s

d e a ç ú c a r e s e fo s fa to s , d e c a d a la d o , m a n t ê m

r íg id a a e sc a d a e m

e sp ir a l. A

gene, um

m o lé c u la

em

a ç ã o , e as e sp ir a s s ã o fu n çã o. N o d ia

ao

N a tu r e

estru tu ra

d o

A D N ,

d e z o ito

A D N

c u m

g ene em

o s d e g r a u s a tr a v é s d o s q u a is e le e x e r c e su a

2 d e a b r il d e

m etera m apenas

e sp ir a l d o

o u m

m eses.

1 9 5 3 J a m e s W a ts o n e F r a n c is C rick s u b ­ a rtig o

no

tra b a lh o M as

qual

se e n c o n tra d escrita essa

d o q u a l se h a v ia m

v eja m o s

as

p a la v r a s

o cu p ad o por de

Jacques

3 93



Geração Após Geração 196 O A D N em ação. E s tá g io s d o d e s e n v o lv im e n to d e u m e m b r iã o d e n tr o d e u m o v o . A ilu s tr a ç ã o d o t o p o m o s tr a u m e s tá g io p r e c o c e , a s e g u in te u m e m b r iã o d e q u a tr o d ia s e a s o u tr a s d u a s e s tá g io s s u b s e q ü e n te s .

M o n o d ,

d o

In stitu to

P a steu r

de

P a ris

e

do

In stitu to

S a lk

na

C a lifó r n ia : o

in v a r ia n te b io ló g ic o fu n d a m e n ta l é o A D N . E ssa é a ra zã o p e la q u a l a

d e f m i ç ã ° d e g e n e d a d a p o r M e n d e l c o m o s e n d o o p o r ta d o r in v a r iá v e l d o s tra ç o s h e r e d itá r io s, su a id e n tific a ç ã o q u ím ic a p o r A v e r y (e c o n fir m a d a p o r H e r s h e y ) e a e lu c id a ç ã o p o r W a t s o n e C r ic k d a b a s e r e p lic a tiv a in v a r iá v e l de sua estru tura, rep resen ta m , sem im p o rta n tes

da

b io lo g ia .

a m e n o r d ú v id a , as d e s c o b e r ta s m a is

E v id e n te m en te

t e o ria d a s e le ç ã o n a tu r a l, m a s s e m

te m o s d e a crescen tar a essas a

n o s e s q u e c e r m o s d e q u e a v a lid a ç ã o ,

b e m c o m o a sig n ific a ç ã o real d e sta ú ltim a fo r a m e sta b e le c id a s p o r a q u e la s d e s c o b e r t a s p o s t e r i o r e s a ela . O

m o d e lo

d o

q u e, m esm o v id a . Q u a n d o C ada

base

ten ce.

A D N

lev a n a tu r a lm e n te a o p r o c e s s o d e r e p lic a ç ã o

a n tes d o u m a

a p a r e c im e n to

c é lu la o

sex o , era fu n d a m en ta l à

se d iv id e , a s d u a s e sp ir a is se se p a r a m .

d e te r m in a a p o siç ã o

E ste rep resen ta

d o

p o n to

da

0

l:ltra n o

p a r a o q u a l e la p e r ­

d e r e d u n d â n c ia

n a h é lic e d u p la :

c a d a m e ta d e e n c e r r a to d a a m e n s a g e m d e in str u ç õ e s, e, na d iv isã o c e lu la r , d o is

o

m esm o

rev ela

a

gene

é r e p r o d u z id o . A q u i, o

m a n e ira a tra v és d a q u a l u m a

n ú m e r o m á g ic o

c é lu la

tr a n sm ite su a

id e n t id a d e g e n é t ic a a o se d iv id ir . A e sp ir a l d o A D N n ã o é u m u m

m ó b ile

p rocesso

m o n u m e n t o . E la é u m a in str u ç ã o ,

v iv e n te a d iz e r às c é lu la s c o m o d e v e m lev a r a c a b o o

d a v id a , e ta p a p o r e ta p a . A v id a s e g u e u m

as e sp ir a s d a e sp ir a l d o

A D N

na qual os even to s d evem as e sp ir a s s e g u in d o

c a le n d á r io , e

c o d ific a m

e sin a liz a m

a se q ü ê n c ia

a co n tecer. A

m a q u in a r ia

d a c é lu l a lê

u m a o r d e m , u m a a p ó s o u tra . U m a seq ü ê n c ia

d e tr ê s e sp ir a s a g e c o m o sin a l p a ra q u e a c é lu la fa b r iq u e u m a m in a d o . ord em

C o m o

os

á cid o s

a m in a d o s

d e te r m in a d a , e le s se a lin h a m

são

sin te tiz a d o s

e se u n e m

á cid o

em

um a

fo rm a n d o p ro teí­

n a s d e n tr o d a s c é lu la s. E as p r o te ín a s sã o o s a g e n te s e as u n id a d e s d e c o n s t r u ç ã o d a v id a n o in te r io r d a c é lu la . C a d a u m a d a s c é lu la s d o c o r p o é p o r ta d o r a d e to d o o p o te n c ia l para do

gerar

o

a n im a l in teir o , c o m

c ia lm e n te ,

rep resen ta m

m e tad e

n ú m ero

p e lo

ex ceçã o

d o

e sp er m a to z ó id e

e

ó v u lo . O e sp e r m a to z ó id e e o ó v u lo são in c o m p le to s; e, e sse n ­ d o

m a n eira

p ela

m eta d e:

são p o rta d o res de

to ta l d e g e n e s. Q u a n d o o ó v u lo é fe r tiliz a d o

e sp erm a to zó id e,

pares, da

c é lu la s os

genes de cada

u m

d eles se ju n ta m

em

p rev ista p o r M e n d e l, e a to ta lid a d e d a s in fo r ­

m a ç õ es

é

n o va m en te

recuperada.

ta m b ém

é

um a

co m p leta ,

c é lu la

e,

A ssim ,

o

ó v u lo

p o rta n to , u m

fe r tiliz a d o

m o d e lo

para

q u a lq u e r c é lu la d o c o r p o , u m a v e z q u e to d a c é lu la se d e r iv a d e le

3 95


A Escalada do Homem

p o r d iv isã o , s e n d o id ê n tic o s o s s e u s m a te r ia is g e n é tic o s . A

sem e­

lh a n ç a d o e m b r iã o d e g a lin h a , o a n im a l p o s s u i a h e r a n ç a d o ó v u lo fe r tiliz a d o p o r t o d a a s u a v id a . A

m ed id a q u e

c ia m .

A o

lo n g o

o e m b r iã o se d e s e n v o lv e , as c é lu la s se d ife r e n ­ d a fissu r a p r im á r ia a p a r e c e m

o s p r im ó rd io s d o

s is te m a n e r v o s o . A c ú m u lo s c e lu la r e s d e a m b o s o s la d o s ir ã o fo r ­ m ar

o

e sq u e le to .

A s

c é lu la s

se

e sp ec ia liz a m :

c é lu la s

nervosas,

c é lu la s m u sc u la r e s , te c id o c o n e c tiv o (o s lig a m e n to s e o s te n d õ e s ), c é lu la s s a n g ü ín e a s , c é lu la s v a sc u la r e s. A s c é lu la s se e s p e c ia liz a m por

terem

a ce ito as in str u ç õ e s c o n tid a s n o A D N , n o s e n tid o d e

sin te tiz a r e m tip o

em

ação.

r e c é m -n a sc id o já

a co p la m en to A

d a q u e le

d e c é lu la e d e n e n h u m a o u tra . T a is fe n ô m e n o s r e p r e s e n ta m

o A D N O

as p r o te ín a s a d eq u a d a s a o fu n c io n a m e n to

c r ia n ç a

é

u m

in d iv íd u o

a p a rtir d o n a sc im e n to . O

d o s g e n e s d o s p a is c o n s t i t u i a f o n t e d a d iv e r s id a d e .

herda

d on s

tan to

d o

pai co m o

da

m ãe,

e

o

acaso

c o m b in o u e ss e s d o n s e m a rr a n jo s n o v o s e o rig in a is. M a s a c r ia n ç a não

é u m a p r isio n e ir a d e s u a h e r a n ç a ; e la m a n t é m

g en ética

sua heran ça

n a fo r m a d e u m a n o v a c r ia ç ã o q u e se m a n ife s ta r á p o r

in flu ê n c ia d e a ç õ e s fu tu ra s. A

c r ia n ç a é u m

in d iv íd u o . A a b e lh a n ã o o é, p o r q u e o z a n g ã o

é u m a u n id a d e d e u m a sér ie d e c ó p ia s id ê n tic a s. E m u m a c o lm é ia , a ra in h a é a ú n ic a a b e lh a se cru za c o m por

e la ,

f ê m e a fé r til. Q u a n d o , e m

guardados;

en q u a n to

o

e sp er m a to z ó id e ju n ta m e n te c o m d ar o rig e m

a

um a

la d o , lib e r a r u m se fo rm a r u m

o b reira

ó v u lo

-

zan gão u m

m orre.

lib e r a r u m

u m a a b e lh a fê m e a . S e , p o r

N e sse p a r a íso d o da

o u tro

d e e sp er m a to z ó id e , vai

u m a a b e lh a m a c h o , e m

im u tá v e l, a a v en tu ra

A o

d e seu s ó v u lo s, a ra in h a v a i

d esacom p an h ad o

zan gão -

c o n c e p ç ã o -v ir g e m . lea l e

p le n o ar, e la

o za n g ã o , o s esp er m a to z ó id e s d este são m a n tid o s

u m a esp écie d e

to ta lita r ism o , e te r n a m e n te

d iv e r sid a d e

foi

e x c lu íd a ;

e

é

a

d iv e r s id a d e a fo r ç a q u e im p e le a e v o lu ç ã o n o s a n im a is m a is d e ­ se n v o lv id o s e n o h o m e m . U m

m u n d o tã o r íg id o q u a n t o o d a s a b e lh a s p o d e r ia s e r c r ia d o

e n tr e a n im a is s u p e r io r e s, m e s m o e n tr e h o m e n s , p e lo p r o c e s s o d a c lo n a ç ã o :

isto é, g e r a n d o u m a c o lô n ia o u c lo n e d e a n im a is id ê n ­

tic o s a p a rtir d e c é lu la s d e u m ú n ic o p r o g e n ito r . C o m e c e m o s c o m u m a p o p u la ç ã o h e te r o g ê n e a d e u m

a n fíb io , o a x o lo tle . S u p o n h a ­

m o s q u e n o s tiv é sse m o s d e c id id o p o r u m 3 96

tip o , o a x o lo tle m a n -

c h a d o . A ssim , to m a m o s a lg u n s o v o s d e u m a fê m e a m a n c h a d a e

197 E m tod a colm éia a rain h a é a ú n ic a f ê m e a fértil. A b e l h a r a in h a c ir c u n d a d a p o r s u a s f ilh a s o b r e ir a s . P u sa A g r ic u ltu r a l R e s e a r c h I n s titu te , ín d ia .



198 Um mundo regim en ta d o, cada a x o lo tle sen do u m a c ó p ia id ên tica d o o u tro , e cada um u m p a r to d e v irgem . A f ig u r a d o t o p o à e sq u e r d a m o s tr a u m ó v u lo n ã o -fe r tiliz a d o s e n d o e x tr a íd o d e u m a a x o lo tle b ra n ca . A s e g u n d a fig u r a m o s tr a u m a m ic r o p ip e ta in tr o d u z in d o u m a (d e um n ú m ero d e c é lu la s id ê n tic a s ) c é lu la d e a x o lo tl e m anchado em u m ó v u lo . a p ó s a rem oção d e se u n ú c le o . A te r c e ir a f ig u r a m o s tr a u m c lo n e d e v á r io s ó v u lo s n o s p r im e ir o s e s tá g io s d e d iv is ã o . e a ú ltim a f ig u r a m o s tr a c lo n e s d e a x o lo tle s d e trê s m e s e s d e id a d e . A ilu s tr a ç ã o à d ir e ita é um a com paração d ia g r a m á tic a d e d ife r e n ç a s d e p o p u la ç õ e s c lo n a d a s e n o r m a is d e a x o lo tle s . O s a x o lo tle s c lo n a d o s s ã o c ó p ia s id ê n tic a s d e su a p r o g e n ito r a m anchada. U m c r u z a m e n to m a n c h a d o -b ra n c o p r o d u z p r o g e n ia m ista n a s g e r a ç õ e s s e g u in te s .



A Escalada do Homem

c r ia m o s

u m

sep aram os p orção

d e stin a d o

c é lu la s

a

que

ser

m an ch ad o.

E m

ser

d e q u a lq u e r

p od em

tir a d a s

seg u id a

d o e m b r iã o , u m a v e z q u e , q u a isq u e r q u e seja m , a p r e s e n ­

tarão o d u zir

e m b riã o a lg u m a s

m esm o

u m

c ó d ig o g e n é tic o , e c a d a c é lu la é c a p a z d e r e p r o ­

a n im a l

co m p leto

-

n o sso

p r o c e d im e n to

V a m o s c r ia r a n im a is id ê n t ic o s , u m c e ssita m o s d e u m a q u a lq u e r

a x o lo tle

m a tr iz o n d e as c é lu la s p o s s a m ser v ir á

-

o

provará.

a p a rtir d e c a d a c é lu la . N e ­

poderá

ser

um a

se m u ltip lic a r :

branca. T o m a m o s

ó v u lo s n ã o -fe r tiliz a d o s d a m a tr iz e d e s tr u ím o s o n ú c le o d e c a d a u m ; d e n tr o d eles in tr o d u z im o s u m a d a s c é lu la s id ê n tic a s iso la d a s d o

d oad or

m an ch ad o

do

c lo n e .

O s

o v o s a g o ra d a rã o o rig em

a

a x o lo tle s m a n ch a d o s. O

c lo n e

d e o v o s id ê n tic o s, c o n se g u id o s a tr a v é s d e sse p r o c e d i­

m e n to , sã o d eix a d o s crescer to d o s a o m e sm o se d iv id e n o m e s m o m o m e n to

-

tem p o . C ada

o vo

d iv id e-se u m a , d u a s v e z e s e c o n ­

tin u a a se d iv id ir . T u d o is s o é n o r m a l, e x a t a m e n t e

ig u a l a o q u e

a co n tece

a d iv isã o d e

co m

q u a lq u e r

ovo.

N o

está g io

seg u in te,

c é lu la s in d iv id u a is já n ã o é m a is v isív e l. C a d a o v o se tr a n s fo r m o u em

u m a e sp éc ie

d e b o la d e t ê n is e c o m e ç a a s e v ira r n o a v e s s o -

o u , m a is e x a t a m e n t e , a v ir a r a p a r te d e f o r a p a r a d e n t r o . T o d o s os

ovo s

m esm o

a in d a a

estã o

fim

de

sin c r o n iz a d o s. C a d a

form ar

u m

a n im a l,

o v o se d o b r a s o b r e si

se m p r e sin c r o n iz a d o :

u m

m u n d o r e g im e n ta d o n o q u a l as u n id a d e s o b e d e c e m id e n tic a m e n te a ca d a c o m a n d o , e m m o m e n to s id ê n tic o s, e x c e to (c o m o p o d e m o s ver)

u m

m en te

in feliz tem os

que

u m

foi e x c lu íd o

c lo n e

de

e vai fic a n d o

a x o lo tle s

p a ra trás. F in a l­

in d iv id u a is, c a d a u m

c ó p ia id ê n tic a d o p r o g e n ito r , e c a d a u m d e le s u m

d e les

p a r to d e v ir g e m ,

co m o n o caso d o zangão. D e v e r ia m o s

nós

fazer

c lo n e s

de

seres

h u m a n o s — c ó p ia s d e

u m a lin d a m ã e , ta lv e z , o u d e u m p a i in te lig e n te ? É c la r o q u e n ã o . M in h a o p in iã o é d e q u e a d iv e r s id a d e é o a le n to d a v id a , e ja m a is d e v e m o s a b a n d o n á -la e m fa v o r d e q u a lq u e r o u tro e x p e d ie n te q u e a tr a ia

nossa

g en étic a . A isso

c o m o d id a d e

— m esm o

que

seja n o s s a c o m o d id a d e

c lo n a ç ã o r e p r e se n ta a e sta b ilid a d e d e u m a

vai co n tra

to d a a c o r r e n te d a c r ia ç ã o

a cim a d e tu d o . A e v o lu ç ã o te m

se u s fu n d a m e n to s n a v a r ie d a d e e

c r ia d i v e r s id a d e ; e e n t r e t o d o s o s a n im a i s o h o m e m tiv o

porque

é

d ep o sitá rio

e

form a, e

— d a c r ia ç ã o h u m a n a

exp ressa

é o m a is c r ia ­

o m a is a m p lo

cabedal da

v a r ie d a d e . Q u a lq u e r te n ta tiv a d e n o s to r n a r u n ifo r m e s b io ló g ic a , e m o c io n a l o u in te le c tu a lm e n te , é u m a tr a iç ã o à te n d ê n c ia e v o lu 4 0 0

tiv a q u e n o s c o l o c o u e m

se u á p ic e .


1 99 E va é c lo n a d a a pa rtir de u m a co stela d e A d ã o . "A C r ia ç ã o d a M u lh e r" , p o r A n d r e a P isa n o .

C o n t u d o , há u m a s in g u la r id a d e n o s m ito s d a c r ia ç ã o d a s c u ltu r a s h u m a n a s, o s q u a is p a r e c e m O

sex o

é estra n h a m en te

t o d o s se r e fe r ir a u m

c lo n e a n cestra l.

s u p r im id o n a s h istó r ia s a n tig a s s o b r e a s

o r ig e n s . E v a é c lo n a d a a p a rtir d e u m a c o s te la d e A d ã o , e o s p a r to s d e v ir g e n s s ã o v a lo r iz a d o s d e p r e fe r ê n c ia . F e liz m e n te n ã o e s ta m o s r e d u z id o s a c ó p ia s id ê n tic a s. N a e s p é ­ c ie h u m a n a o s e x o é a lta m e n te d e s e n v o lv id o . A

fê m e a é r e c e p tiv a

a t o d o t e m p o , n u n c a d e ix a d e ter s e io s , q u e t o m a m seleçã o n id a d e;

se x u a l. A ou

p e lo

m a ç ã d e E v a , p o r a ssim m e n o s a in c ita a essa

p a r te a tiv a n a

d izer, fe r tiliz a a h u m a ­

p reocu p ação

im e m o r ia l.

O b v ia m e n te , o s e x o r e p r e se n ta u m a c a r a c te r ístic a m u ito e s p e ­ c ia l p a r a o s s e r e s h u m a n o s ; in e r e n t e a e le e x is t e u m a c a r a c te r ís tic a p a rticu la r. M as, t o m e m o s

u m

c r ité r io s im p le s , terra-a -terra, p ara

401


2 0 0 O sexo com o in stru m en to b io ló g ico foi i n v e n t a d o p e l a s a lg as. C é l u l a s d a a lg a v e r d e S p ir o g y r a n o p ro c e s so d e fu sã o . A n c e s t r a i s d e s s a a lg a m a n ife s ta r a m a p r im e ir a e v id ê n c ia d e c é lu la s q u e s e fu n d e m a fim d e p r o d u z ir u m ó v u lo fé r til.

201 O d im o rfism o sexual é d isc r e to na esp écie hum ana. O g o r ila m a c h o a d u lto ch eg a a p esa r d u a s v e z e s m a is d o q u e su a c o m p a n h e ir a .


Â


A Escalada do Homem

ju lg á -lo : s o m o s a ú n ic a e sp é c ie n a q u a l a fê m e a a p r e s e n ta o r g a s m o , p o r m a is e str a n h o q u e iss o p o ss a p a recer. T a l e x c e ç ã o in d ic a q u e , d e m o d o g er a l, h á m u it o m e n o s d ife r e n ç a s e n tr e h o m e m e m u lh e r (n o

se n tid o b io ló g ic o e n o c o m p o r ta m e n to se x u a l) d o q u e en tre

m a ch o

e fê m e a n a s o u tra s esp écies. E m b o r a e ssa a fir m a ç ã o

d e s p r o p o s ita d a , p a ra o g o r ila o u

soe

o c h im p a n z é , e sp écies ta m b é m

e x ib in d o g r a n d e s d ife r e n ç a s e n tr e m a c h o e f ê m e a , e la seria ó b v ia . E m

lin g u a g e m b io ló g ic a , o d im o r fism o s e x u a l é p e q u e n o n a e sp é ­

c ie h u m a n a . D e v ía m o s parar p o r a q u i c o m E n treta n to ,

u m

p o n to

na

n o ssa s e sp e c u la ç õ e s b io ló g ic a s.

fr o n te ir a e n tr e b io lo g ia e c u ltu r a

q u e r e a lm e n t e s u b lin h a a s im e tr ia d o c o m p o r t a m e n t o s e x u a l; d ir ia m esm o

ser

e le

m a rcan te.

E

é

ó b v io .

S o m o s

a

ú n ica

esp écie

a

c o p u la r fa c e a fa c e , e isso é g e n e r a liz a d o e m to d a s a s c u ltu r a s . E m m in h a

m en te

ta l p rá tica e x p r e s sa a e x is tê n c ia d e u m a ig u a ld a d e

geral q u e fo i e c o n tin u a sen d o im p o r ta n te n a e v o lu ç ã o d o h o m e m . E u a situ a r ia a o t e m p o d o A u s tr a lo p ith e c u s e d o s p r im e ir o s fa b r i­ ca n tes d e ferram en tas. Por

que

d ig o

isso ? B e m , c o n c o r d o

q u e a lg o m a is te m

d e ser

e sc la r e c id o . T e m o s d e e x p lic a r a r a p id e z d a e v o lu ç ã o h u m a n a a o lo n g o

de

u m

esp aço

de

tem p o

d e, d ig a m o s, n o

m á x im o

c in c o

m ilh õ e s d e a n o s . E la fo i te r r iv e lm e n te r á p id a . A s e le ç ã o n a tu r a l s im p le s m e n te n ã o a tu a a ssim tã o r a p id a m e n te n a s o u tra s e sp é c ie s a n im a is.

N ó s, h o m in íd e o s, d e v em o s ter e n c o n tr a d o u m a fo rm a

d e s e le ç ã o q u e n o s é p a r tic u la r ; e n e s te c a s o , a e s c o lh a ó b v ia seria a seleçã o

sex u a l. A tu a lm e n te , já p o d e m o s

q u e as m u lh e r e s se c a sa m m en te

com

d isp o r d e in d íc io s d e

h o m e n s q u e lh es s ã o in te le c tu a l­

a fin s , e, é c la r o , o c o n tr á r io

tam b ém

p r e fe r ê n c ia te n d o -se in ic ia d o h á m a is d e u m

se dá. E sse tip o de m ilh ã o d e a n o s p o d e

sig n ific a r q u e a s e le ç ã o d e h a b ilid a d e s s e m p r e f o i im p o r ta n te p a ra am b os os sexos. A cred ito

m esm o

to r n a r a m á g e is c o m

que

tão

lo g o

os

precursores

suas m ãos, e co m eça ra m

tas, e in te lig e n te s c o m

do

h o m em

se

a fa b rica r fe r r a m e n ­

seu s cérebros, a p o n to de p o d erem

p la n e­

já -la s, o á g il e o in te lig e n te d e s fr u ta r a m v a n ta g e n s se le tiv a s. E ste s eram

c a p a z e s d e m a n te r m a io r n ú m e r o d e

c ô n ju g e s e filh o s e m

m elh o res c o n d iç õ e s d e a lim e n ta ç ã o d o q u e o s o u tro s. A dar cré­ d ito à m in h a h ip ó te s e , e la fo r n e c e r ia u m a e x p lic a ç ã o p a r a a r a p i­ dez

404

da

e v o lu ç ã o h u m a n a ; e s ta te r ia s id o

e sp éc im e s sid o

d o m in a d a

p o r a q u e le s

d e d e d o s á g e is e p e n s a m e n to r á p id o , o s q u a is te r ia m

r e sp o n sá v e is

p ela

a celera çã o

observada

no

caso

da

n ossa

2 02 “ P o is se o a m o r corre e m m istérios n a a lm a , o c o r p o a in d a é su a f o n t e .” A s m ãos de G io v a n n i A r n o lfin i, c o m e r c ia n te d e L u c c a , e d e s u a n o iv a , G io v a n n a C e n a m i filh a d e u m c o m e r c ia n te e s ta b e le c id o e m P a ris - , p in ta d o e m 1 4 3 4 p o r Jan van E yck.



A Escalada do Homem

e sp écie. U m

tal fa to r ta m b é m

ç ã o b io ló g ic a , o h o m e m

cu ltu ra l, su a h a b ilid a d e n o m en ta

co m u n itá rio .

d isp en sa d o à

m o stra q u e, m e s m o e m

su a e v o lu ­

fo i su tilm e n te o r ie n ta d o p o r seu ta le n to

A

fa b ric o d e fe r r a m e n ta s e n o p la n eja -

m eu

ver, isso

está e x p r e s so

no

c u id a d o

p o r t o d a s a s c u ltu r a s a o s p r o b le m a s r e la tiv o s a o c lã e

co m u n id a d e

e, o

q u e é p r ó p r io só d a s c u ltu r a s h u m a n a s , a o s

arra n jos, p r o p ic ia n d o o q u e r e v e la d o r a m e n te se c o s tu m a ch a m a r de u m Ê

b o m

c la r o

par. que

se

esse

tiv e sse sid o

o ú n ic o

n o ssa e v o lu ç ã o te r ía m o s d e ser m u ito

fa to r in flu e n c ia n d o

m a is h o m o g ê n e o s d o q u e

s o m o s n a r e a lid a d e . E n tã o , a o q u e se d ev eria a tr ib u ir a m a n u t e n ­ ção

d a v a r ie d a d e e n tr e o s seres h u m a n o s ? E sse p o n t o

co m

tem

a ver

a cu ltu ra . E m to d a s as su a s e x p r e s sõ e s h á sa lv a g u a rd a s g a r a n ­

tin d o

ap reservação

d a v a r ie d a d e . A

m a is e v id e n t e d e t o d a s ela s

é r e p r e se n ta d a p ela p r o ib iç ã o u n iv e r sa l d o in c e s to (p a ra o c id a d ã o c o m u m d o

- m a s n e m s e m p r e a p lic á v e l à s fa m ília s r ea is). A p r o ib iç ã o

in c esto

s ó fa z s e n t id o se e la fo i d e s ig n a d a a f im

d e ev ita r a

d o m in a ç ã o das fê m e a s p e lo s m a c h o s id o so s, c o m o a c o n te c e (d ig a ­ m o s) n o s m a c a c o s a n tr o p ó id e s. N a

preocu pação

m a ch o

co m o

da

fo r ç a e v o lu tiv a

co m

a e sc o lh a

fêm ea ,

m a is

do

par, ta n to

por

eu id e n tifico a c o n tin u a ç ã o

p a rte

do

d o eco

da

p o d e r o sa , a tra v és d a q u a l e v o lu ím o s . T o d a

a q u e la tern u ra , a p r o r r o g a ç ã o d a h o r a d o c a s a m e n to e n c o n tr a d iç a em

to d a s

as

a trib u ím o s T raços

c u ltu ra s,

ao

u n iv ersa is

sig n ific a tiv o s. a ten çã o

sem

são

a

exp ressão

d e sco b r im e n to que

N ossa

de

p erm eia m esp écie

p a ra lelo s

por

é nós

da

im p o rtâ n cia

q u a lid a d e s to d a s

o c u lta s

as cu ltu ra s

cu ltu ra l;

são

a ssim , a c r e d ito

d ed ica d a

à

e sc o lh a

que

n o

par.

raros

e

que

a

sexual

nos

a ju d o u a m o ld á -la . A

m a io r

p a rte

da

lite r a tu r a

m u n d ia l, é d e v o ta d a a o

m u n d ia l, a

tem a d o h o m em

m a io r

p a rte

d a arte

e n c o n tr a n d o a m u lh e r ,

d e c r ia n ç a s a a d u lto s. N o s s a te n d ê n c ia é a d e to m a r ta l p r e o c u p a ­ ção

co m o

u m

p r o b le m a d e a tr a ç ã o sex u a l q u e n ã o req u er e x p li­

cação. Para m im

isso é u m

e r r o . A o c o n tr á r io , e la e x p r im e o fa t o

m a is p r o fu n d o d e s e r m o s in c o m u m e n te

z e lo so s n a e sc o lh a , n ã o

d e q u e m ir e m o s lev a r p a r a a c a m a , m a s , sim , d e c o m q u e g e r a r e m o s n o s s a p r o le . O s e x o f o i i n v e n t a d o p a r a se r v ir n a q u a lid a d e d e u m in str u m e n to co m o

406

b io ló g ic o

p e la s

in str u m e n to u sa d o

(d ig a m o s)

a lg a s v e r d e s . C o n t u d o ,

n a e sc a la d a d o h o m e m , e q u e é fu n d a ­

m e n ta l à su a e v o lu ç ã o cu ltu ra l, o s e x o fo i in v e n ta d o p e lo p r ó p r io h om em .

203 U m a exp ressão da igu a ld a d e g en era liza d a que te m sid o im p o rta n te na e v o lu çã o d o h o m e m , e universal e m to d a s as cu ltu ras. “ O C a s a m e n to " d e M a r e C h a g a ll.


Geração Após Geração

A m o r e sp ir itu a l e a m o r em

u m

p o em a

de

J o h n

carnal são

D o n n e;

in se p a r á v e is. Isso e stá d ito

e le o

ch a m o u

Ê x ta s e ), e d a s o it e n t a lin h a s e u e x tr a í o ito . A ssim , c a la d o s, p e r m a n e c ía m o s N a m e s m a a titu d e , o d ia to d o . M a s, a i, p o r t a n t o t e m p o , n o s s o s c o r p o s , P o r q u e r e tê -lo s a ssim tã o d ista n tes? E ste Ê x ta se d esfaz a a m b igü id ad e (d is s e m o s ) e n o s rev ela o q u e a m a m o s . O s m is t é r io s d o a m o r c r e s c e m n a a lm a M a s é o c o r p o o liv ro e m q u e se tr a d u z e m .

T h e E x ta s ie ( O


J a m e s e E l iz a b e th W a ts o n , t r ĂŞ s h o r a s a n te s d o c a s a m e n to , n a c a sa d o a u to r e m L a J o lia , C a lifĂł r n ia , 1 9 6 8 .

M a r ie C u r ie e s e u m a r id o P ie rr e .

L o u is P a s te u r d ita n d o p a ra su a e s p o s a M a r ie , e m u m a ca sa d e fĂŠ r ia s e m P o r t G is q u e t, em 1865.


Ludwig Boltzmann com sua esposa Henrietta em 1875.

M a x B o m , su a e s p o s a H e d w ig e o filh o d o c a s a l e m fé ria s e m u m a p r a ia , 1 9 2 5 .

204

A p r e o c u p a ç ã o c o m a e sco lh a d o côn ju ge, tan to p or p a rte d o h o m e m c o m o da m u lh er, m e p a r e c e ser a c o n tin u a ç ã o d o e c o d a p o d e r o s a fo r ç a seletiv a q u e n o s f e z evo lu ir. J o h n v o n N e u m a n n e s u a e s p o s a K la r a , 1 9 5 4 .



13

A LONGA INFÂNCIA In ic io da

este

m a is

m eu

a n tig a

ú ltim o

e n s a io n a Islâ n d ia p e lo fa to d e ser a se d e

d e m o c r a c ia

d o N o rte

da E uropa. N o

a n fite a tr o

n a tu r a l d e T h in g v e llir , q u e ja m a is r e c e b e u q u a lq u e r tip o d e c o n s ­ tr u ç ã o , t o d o a n o r e u n ia -s e o A llth in g d a Islâ n d ia (to d a a c o m u n i­ dade

d o s n ó r d ic o s da

Islâ n d ia ), a fim

d e fa z e r e r e c e b e r leis. T a l

p rá tica

d a ta d e 9 0 0 d .C ., a n te s d a c h e g a d a d o c r is tia n is m o , a u m

tem p o

em

q u e a C h in a a in d a era u m

g ra n d e im p é r io , e a E u ro p a

o e s p ó lio d a s q u e r e la s e n tr e p r in c ip a d o s e b a r õ e s rap aces. T e m o s de

con cord ar

ter

sid o

esse

um

co m eço

ex tra o rd in á rio

para

a

p rá tica d e m o c r á tic a . E n treta n to , b ru m oso a n tig o

e

a lg o

de

in c le m e n te .

m a is

E u

o

d o n o , foi c o n d e n a d o

d eiro , m a s u m

e x tra o rd in á rio

e sc o lh i

porque

sobre o

este

lu g a r

fa zen d eiro , seu

p o r ter m o r t o n ã o u m

o u tro fazen ­

e sc r a v o . E isso é im p o r ta n te , u m a v ez q u e s a b e m o s

q u e e m c u ltu r a s escra v a g ista s a ju s tiç a r a r a m e n te era tã o im p a rcia l. C o n tu d o ,

a ju stiç a

c u ltu r a s. É h o m e m

c o m o

tem

está

u n iv ersa lm en te

se e la f o s s e

lid a d e

so c ia l. u m

p resen te

N en h u m

a n im a l o u

em

to d a s as

co rd a estica d a so b re a q u a l o

d e a n d a r e q u ilib r a n d o , d e u m

fa zer su a s a sp ira çõ es e, d o d ile m a :

um a

la d o , o d e se jo d e sa tis­

o u tro , a o b e d iê n c ia à su a r esp o n sa b i­

o u tro

a n im a l

é so c ia l o u

tem

de

en fren tar

um

tal

é so litá r io . A p e n a s o h o m e m

a sp ira a ser as d u a s c o isa s a o m e s m o te m p o , u m

s o litá r io so c ia l.

P a ra m im , e ssa é u m a c a r a c te r ís tic a b io ló g ic a s u i g e n e r is , c o n s t i­ tu in d o

o

tip o

de

p r o b le m a

q u e m e en v o lv e n o e stu d o d a e sp eci­

fic id a d e h u m a n a , e o q u a l pre te n d o d iscu tir. P en sa r n a ju s tiç a c o m o r e p r e se n ta n d o u m a p a rte d o e q u ip a m e n to b io ló g ic o

d o

h o m em

p od e

en tan to, fo i exa tam en te b io lo g ia ,

e,

desde

o

o

ser

ch o ca n te,

p en sam en to

in íc io , m e

de

certa

form a.

N o

q ue. m e le v o u d a físic a à

fez c o m p r e e n d e r

q u e a v id a

do

h o m e m , s e u la r, é o lu g a r a d e q u a d o p a ra se e s tu d a r su a s in g u la r i­ 2 05 A cim a de tu d o , n o s s a ci^ vilizaçã o adora o sím b o lo d a cria n ça. D a V i n c i : “A M adona das R o c h a s ”. L o u v r e , P a ris .

d a d e b io ló g ic a . T ra d ic io n a lm e n te , um a

é

n a tu r a l q u e a b io lo g ia seja a b o r d a d a

m a n e ira d i f e r e n t e : i s t o é , a s e m e l h a n ç a e n t r e o h o m e m

a n i m a is é

que

d .C ., C lá u d io

a d o m in a . H á m u ito

de e os

t e m p o , lá p e lo s id o s d e 2 0 0

G a le n o , o g ra n d e a u to r c lá ssico d a m e d ic in a , e stu ­

d o u , p or e x e m p lo , o a n te b r a ç o d o h o m e m . E c o m o o fez? D isse ­ c a n d o o a n te b r a ço d e u m m a c a c o a n tr o p ó id e . T a l fo i a a b o r d a g e m

411


A Escalada do Homem

in ic ia l, e n e c e ssá r ia , u s a n d o -s e in d íc io s c o lh id o s e m a n im a is m u ito a n tes d a teo ria d a e v o lu ç ã o tê -lo s ju stific a d o . A ssim , m e s m o n o s d ia s d e h o je, o m a r a v ilh o so

tra b a lh o d e K o n r a d L o r e n z so b r e o

c o m p o r ta m e n to a n im a l n o s in d u z , n a tu r a lm e n te , a b u sc a r p o n to s c o m u n s e n t r e o p a t o , o tig r e e o h o m e m ; o u , d a m e s m a f o r m a , o s estu d o s de d iz em

B . F . S k in n er c o m

o p o m b o e o r a to . T o d o s e le s n o s

a lg u m a c o isa a r e sp e ito d o h o m e m , m a s n ã o

d iz er tu d o . N ã o m em

não

p a tos

p o d em

nos

p o d e r ia ser d e o u tr a m a n e ira , p o r q u e , se o h o ­

tiv e sse

esta r ia m

a lg u m a s q u a lid a d e s q u e lh e fo s s e m

fazen d o

c o n ferên cia s

sobre

L oren z

ú n ica s, o s e

os

rato s

e sc r e v e n d o tr a b a lh o s so b r e S k in n er. M a s, n ã o fiq u e m o s a tir a n d o a e s m o . O c a v a lo e o c a v a le ir o tê m em

co m u m

m u ita s

c r ia tu r a h u m a n a u m

e x e m p lo

c r ia d o

para

c a r a c te r ístic a s

que m o n ta

m u ito

N ão

vez q u e o

há n en h u m

n o s d eterm in e

E n treta n to ,

é

a

o c a v a lo e n ã o o c o n tr á r io . E e ste é

a p ro p ria d o , u m a

ca v a lg a r.

cérebro que

a n a tô m ica s.

c ir c u ito

a m on tar u m

h o m em

não

d en tro de

foi

n osso

ca v a lo . A n d a r a c a v a lo

é u m a in v e n ç ã o c o m p a r a tiv a m e n te r e c e n te , d a ta d e h á m e n o s d e c in c o

m il a n o s.

N o

en tan to,

su a in flu ê n c ia e m

n o ssa estru tu ra

so c ia l f o i im e n sa . A

p la stic id a d e

essa

p rá tica .

do

E ssa

com p o rta m en to

p la stic id a d e

é

que

h u m an o

torn ou

n o s c a r a c te r iz a e m

p o ssív e l n ossas

in s titu iç õ e s s o c ia is , é c la r o , m a s , p a r a m im , e la se e n c o n t r a s o b r e ­ tu d o

nos

liv ro s,

porque

p erm a n en te

dos

a sse m e lh a m

à m em ó ria

h o m em e

B la k e,

I n o c ê n c ia )

no

fin a l

com p o rta m en to C o m o p o d e r ia e u

sim p le s? E scr e v i u m o f M a n (A d e p o is d e e x a tid ã o can d o

u m

412

o

p ro d u to

m eus

p a is:

m im

to ta l

e

e le s se

Isaac N e w to n , o g ra n d e

a R o y a l S o c ie ty , n o in íc io d o s é c u lo X V II I do

S on gs

m esm o

o f In n ocen ce

séc u lo .

E les

m en te, e a m b o s são o

costu m a m

(C a n ç õ e s

rep resen ta m que

da d o is

os b ió lo g o s

d e n o m in a r “ e sp éc ie -e sp e c ífic a ” .

e x p o r e sse p r o b le m a d e u m a m a n e ir a m a is liv r o r e c e n te m e n te

in titu la d o T h e I d e n tity

I d e n tid a d e d o H o m e m ). S ó v i a c a p a d a e d iç ã o in g le sa o liv ro im p r e ss o . N o e n ta n to , o a rtista a p r e e n d e u c o m o q u e estava e m

m in h a m e n te , a o c o m p o r a ca p a c o lo ­

d esen h o d o cérebro ju n ta m en te co m

sob re o o u tro . E m A

de

escrevendo

a sp ectos de u m a m esm a d o

rep resen ta m

in teresses d a m e n te h u m a n a . Para

d o m in a n d o

W illia m

estes

sin g u la r id a d e

d o

a M o n a L is a , u m

su a c o m p o s iç ã o , m o s tr o u o q u e o liv r o d iz ia . h o m em

está n o fa to , n ã o

d ele ser c a p a z d e

fa z e r c iê n c ia o u d e r e a liz a r tr a b a lh o s a r tís tic o s , m a s , s im , d a c iê n ­ c ia e d a a rte d e s e r e m e x p r e s s õ e s d e su a m a r a v ü h o s a p la s tic id a d e

2 06 Apenas o hom em a sp ira ser as d u a s coisas ao m e sm o tem po - um s o litá r io socia l. O s d o z e d is c íp u lo s , d e um a cru z d e g r a n ito d o s é c u lo IX , em M oone, C o u ty K ild a r e , E ir e .


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A Longa Infância 207 O cérebro e o r e c é m - n a s c id o se situ a m e x a t a m e n t e o n d e a p la stic id a d e do com p ortam en to h u m a n o p rin cip ia. A n o ta ç õ e s a n a tô m ic a s s o b re o fe to h u m a n o p o r L e o n a r d o d a V i n c i.

m e n ta l. p lo ;

por

N este

co n tex to

a M o n a L is a

q ue,

a fin a l d e

co n ta s, e m

rep resen ta u m que

co n sistiu

o

b o m

e x e m ­

tra b a lh o d a

m a io r

p a r te d a v id a d e d a V in c i? D e s e n h a r e s tu d o s a n a tô m ic o s ,

co m o

n o

R eal em

caso da

c r ia n ç a n o ú te r o m a te r n o , e x p o s t o n a C o le ç ã o

W in d so r .

É

no

c é r e b r o e n a c r ia n ç a q u e se in ic ia a p la s ­

tic id a d e d o c o m p o r ta m e n to h u m a n o . D en tre cara:

as

um

co isa s q u e m o ld e

p ossu o

há u m a

que m e

é p a rticu la rm en te

d o c r â n io d e u m a c r ia n ç a d e há d o is m ilh õ e s d e

a n o s , a c r ia n ç a d e T a u n g (v. p á g in a 2 9 ) . É c la r o q u e n ã o se tr a ta exa tam cn tc

208 O h o m e m é esp ecial n ã o p o r q u e ele fa z c iên cia, e e le é esp ecial n ã o p o rq u e f a z arte, m a s, sim , p o rq u e c iê n c ia e arte são ig u a lm en te exp ressõ es de sua m a ra v ilh o sa p la sticid a d e m e n ta l. O a u to r e m s u a ca sa c o m u m m o ld e d o c râ n io d a c r ia n ç a d e Taung. U m e x e m p Ú lr d e s e u liv r o " T h e I d e n t i t y o fM a n " é v is to so b re a m esa . L a f o lia , C a lifó r n ia , 1973.

dc

um a

c r ia n ç a .

N o

e n t a n t o , s e e la

— eu

sem pre a

415


A Escalada do Homem

c o n s id e r o u m a m e n in a — tiv e sse v iv id o sid o u m bro

o s u fic ie n te , p o d e r ia ter

d e m e u s a n cestra is. O q u e d ife r e n c ia s e u p e q u e n o c é r e ­

do

m eu? O

tam an h o,

se p e n s a r m o s d e fo r m a s im p lific a d a .

E s s e c é r e b r o , se e la tiv e ss e c h e g a d o à m a tu r id a d e , iria p e s a r e m to r n o d e m e io

q u ü o , ao passo q u e m eu

céreb ro h u m a n o m é d io

a tu a l p esa p o u c o m e n o s d e u m q u ilo e m e io . M as ra is,

não

esp erem

sobre

m esm o

a

que

eu

con d u ção

sobre

os

fa la r s o b r e

u n id ir e c io n a l

cérebros

a n tig o s

e

nas os

as estru tu ras fib ra s

neu-

nervosas,

recen tes,

porque

ou

esses

t o d o s s ã o p o n t o s q u e n o s u n e m a o s o u tr o s a n im a is. F a la r e i, sim , a resp eito

d o

cérebro,

m as

n a q u ilo

que

o

torn a

e sp e c ífic o

da

c r ia tu r a h u m a n a . U m a

p r im e ir a p e r g u n ta su rg e in e v ita v e lm e n te :

m a n o é u m c o m p u ta d o r a p erfeiço a d o c o m p lex o ?

O s a rtista s e m

co m o

esp écie

u m a

B ron o w sk i sím b o lo s que

os

de

( R e tr a to e sp ec tr a is

e

a rtista s tê m

con cep çã o

não

p a rticu la r te n d e m

com p u ta d or.

d o

D r. de

A ssim ,

B r o n o w s k i),

com p u ta ção ,

o cérebro h u ­

c o m p u ta d o r m a is a pensar n o céreb ro P o r tr a it o f D r.

no

Terry

D u rh am

re v ela n d o

a

in c lu i

con cep çã o

d o c é r e b r o d o s c ie n tista s. C e r ta m e n te , essa

é correta . F o sse

o cérebro u m

e sta r ia s o m e n te le v a n d o a c a b o u m m in a d a s e e m

ou u m

c o m p u t a d o r , e le

c o n ju n to d e a çõ e s p ré-d eter-

u m a s e q ü ê n c ia in fle x ív el.

À g u isa d e e x e m p lo , c o n sid e r e m o s o e x c e le n te e stu d o d o c o m ­ p o rta m en to

a n im a l, d e s c r ito n a o b r a d o

m e u a m ig o D a n

Lehr-

p o m b o (r in g -d o v e ). D e s d e q u e o

m a n , so b re o a ca sa la m en to n o

m a c h o a rru lh e e se in c lin e d e u m a m a n e ira a p r o p r ia d a , a fê m e a e x p lo d e

em

e x c ita ç ã o , se c r e ta n d o h o r m ô n io s e r e a liz a n d o u m a

se q ü ê n c ia c o m p le ta d e c o m p o r ta m e n to s, q u e le v a m à c o n str u ç ã o de u m

n in h o p e r fe ito . A s a ç õ e s d ela sã o e x a ta s n o s d e ta lh e s e n a

ord em , em b ora n ão ten h a m esses

p o m b o s

ja m a is d e u a

a e la u m

co n stru ir

c o n str u ir co m

nunca

u m

c o isa

s id o a p r e n d id a s e s e ja m in v a r iá v e is;

m u d am

o

seu

com p o rta m en to .

N in g u é m

c o n ju n to d e m a te r ia is p a r a q u e a p r e n d e ss e

n in h o .

N o

n en h u m a

en tan to, se

em

o

h o m em

nunca

chegará a

c r ia n ç a n ã o a p r e n d e r a b r in c a r

b lo c o s . D a í su rg ira m o P a r te n o n e o T a j-M a h a l, a c ú p u la d e

S u lta n iy eh

e as T o rres d e W atts, o M a c h u P icch u e o P e n tá g o n o .

N ã o s o m o s c o m p u ta d o r e s se g u in d o ro tin a s im p ressa s n a in fâ n ­ c ia . S e f ô s s e m o s u m aprender, cérebro. 4 1 6

e

n o sso

A ssim ,

tip o d e m á q u in a , s e r ía m o s u m a m á q u in a d e a p r e n d iz a d o se fa ria e m

v em os

que

o

cérebro

fez

á rea s e sp e c ífic a s d o m a is

do

qu e apenas

a u m e n ta r d e d u a s o u três v e z e s o seu ta m a n h o d u r a n te a e v o lu ç ã o .


2 09 A penas o h om em é capaz de um a p e r fe ita o p o s iç ã o e n tr e p o le g a r e in d ica d o r. A lb r e c h t D ü rer, “ A u t o - R e t r a t o "".

S eu

crescim en to

c o n tr o le há

se d e u

c o n tr o le

da

áreas m u ito e sp e c ífic a s: o n d e está o

p rev isã o e d o

v o cês q u e as ex a m in em T o m e m o s a m ã o m em

em

das m ã o s , p o r e x e m p lo , o n d e a fa la é c o n tr o la d a , o n d e

em

p la n e ja m e n to

d a s a çõ e s. P ed irei a

u m a por um a.

p r im e ir o

co m eça , certam en te, co m

lu g a r. A

e v o lu ç ã o

recen te

do h o ­

o a v a n ça d o d e se n v o lv im e n to d a

m ã o , e a sele ç ã o d e u m cér e b r o o q u a l é p a r ticu la rm en te a d a p ta d o à c a p a c id a d e m a n ip u la tó r ia d e se n v o lv id a . E sse p ra zer, n ó s o se n ­ tim o s n a s a ç õ e s q u e p r a tic a m o s , d e tal fo r m a q u e a m ã o se to r n o u o g r a n d e s ím b o lo p a r a o a rtista : a s m ã o s d o B u d h a , p o r e x e m p lo , tr a n sm itin d o

aos

h o m en s

o

d o m

d a h u m a n id a d e

em

u m

gesto

c a lm o , e x p r im in d o a a u sê n c ia d o m e d o . T a m b é m , p a ra o c ie u tista , reserva dedos.

u m

g esto

esp ecia l:

p o d em o s

op or o

B e m , m a s os a n tro p ó id e s o fa z e m

p o le g a r a o s o u tr o s

ig u a lm e n te . N ã o ig u a l­

m e n te . A o p o s iç ã o p e r fe ita d o p o le g a r c o n tr a o d e d o in d ic a d o r é u m a c a r a c te r ís tic a ú n ic a d o h o m e m . E e sse a to p o d e ser r e a liz a d o p o rq u e há n o céreb ro u m a área tã o gran d e q u e só p od erei d escre­ v ê-la

da

seg u in te

a lo ca d a a o

m a n eira :

m a is

m a té r ia

c in z e n ta

cerebral

c o n tr o le d o p o le g a r d o q u e a r e serv a d a a o c o n tr o le d o

tóra x e d o a b d o m e ju n to s. L em b ro -m e sobre

o

m a is d e

b erço q u a tro

de

m in h a

d e m in h a o u

c in c o

a d m ira çã o ,

de jo v em

p r im e ir a filh a , q u a n d o

p a i,

debruçado

e la c o n ta v a n ã o

d ia s. P e n sa v a : “ E s se s d e d in h o s m a r a v i-

417



2 1 0 A fêm ea ex p lo d e em excitam en to, en tão e la realiza u m a seq u ê n c ia d e a to s q u e lev a m à con stru ção de um n in h o p erfeito . A pom b a tece seu n in h o a u tom atica m en te. D u ran te a corte e a con stru ção do n in h o o m a ch o é um a fon te de e s t ím u lo s v isu a is e a u d itiv o s. D a n ie l L e h rm a n e m u m a a u la s o b r e o c o m p o r ta m e n to sex u a l d o p o m b o , m in is tr a d o n o I n s titu to S a lk e m fe v e r e ir o d e 1 9 6 7


f c ü £ * t >*''{* « P » > ^ t >' i * F * 11

N%

M

j -ÍP Sy


A Longa Infância

lh o s o s , p e r fe ito s e m u m

m ilh ã o

c a d a ju n ta , a té as u n h a s. N e m

d e a n o s d e p r á tic a e u

o s te r ia p la n e ja d o c o m

d e ta lh e ” . M as, n o e n ta n to , fo ra m ex a ta m en te u m que

g a stei, u m

m ã o

m ilh ã o

se m e d essem tan to

m ilh ã o d e a n o s

d e a n o s q u e g a sto u a h u m a n id a d e , para a

c h e g a r a d ir ig ir o c é r e b r o , o c é r e b r o r e tr o a lim e n ta r a m ã o e

a m b o s

a lc a n ça r e m

o co rren d o em

o

p resen te

e stá g io

d e e v o lu ç ã o . E

tu d o

isso

u m a reg iã o m u ito e sp e c ífic a d o c é reb ro . T o d o s os

m o v im e n to s d a m ã o sã o c o n tr o la d o s e sse n c ia lm e n te p o r u m a p a r­ te d o c é r e b r o q u e p o d e ser id e n tifica d a p e r to d o to p o d a ca b eç a . T o m e m o s

a go ra u m a o u tr a área, e sp e c ific a m e n te h u m a n a e n ã o

en con tra d a

em

n en h u m a

o u tr a e s p é c ie a n im a l: a d o c o n tr o le d a

fa la . T a l c o n tr o le e s tá lo c a liz a d o e m d o

cérebro h u m an o ;

um a

d u a s á rea s in ter c o n e c ta d a s

d ela s p r ó x im a a o c e n tr o d a a u d iç ã o e

a o u tr a m a is à fr e n te d e s ta e p a ra c im a , n o p ó lo fr o n ta l. E sta r ia m seus m e c a n ism o s p ré-esta m p a d o s em em

u m

seu s c ir c u ito s n e u r a is? S im ,

c e r t o s e n tid o , u m a v e z q u e se o s c e n tr o s d a fa la fo r e m

lesa d o s, essa a tiv id a d e se

to r n a im p o s s ív e l. C o n t u d o , e la te m

de

s e r a p r e n d id a , n ã o ? É c la r o q u e sim . E s to u fa la n d o in g lê s, lín g u a que

só v im

a a p r e n d e r a o s tr e z e a n o s ; m a s e u n ã o p o d e r ia fa la r

in g lê s se a n te s n ã o tiv e ss e a p r e n d id o u m a lin g u a g e m . S e u m a c r i­ a n ç a f o r d e ix a d a s e m a p r e n d e r a fa la r a té o s tr e z e a n o s, e n t ã o e la será

p ra tic a m e n te

in c a p a z

d e a p r e n d e r q u a lq u e r lin g u a g e m . E u

fa lo in g lê s p o r ter a p r e n d id o p o lo n ê s a o s d o is a n o s. E m b o r a te n h a e s q u e c i d o p r a t i c a m e n t e t u d o d o p o l o n ê s , a p r e n d i u m a lin g u a g e m . O

m esm o

a co n tece com

o u tro s d o n s q u e o céreb ro h u m a n o tem

a p o te n c ia lid a d e d e a p ren d er. A s á r e a s d a fa la s ã o sin g u la r e s e m p e c u lia r

ao

a p resen ta

V o cês

sim e tr ia e n tr e

p ro v a d isso 211 A m enos que a cria n ça a p ren d a a a ju sta r c o n ju n to s d e b lo c o s , o ser h u m a n o n ã o será ca p a z d e con stru ir co isa a lg u m a . O a u to r e m G r a n tc h e s te r , C a m b r id g e , c o m seu n e to D a n ie l B r u n o J a r d in e .

h o m em .

o

ta m b ém

é c o n tr o la d a

h o m em

é

u m a o u tra m a n eira , q u e é q u e

o

cérebro

h u m a n o

não

as su as d u as m e ta d e s o u h em isfério s. A

n o s é fa m ilia r , p o s t o

a n im a is, la d o

sab em

q u e, d ifer e n te m e n te d e o u tro s

m a rcad a m en te por apenas um

d estro o u

can h oto . A

fa la

h e m is fé r io c en tra l, m a s o

n ã o v a r ia . Q u e r s e j a m o s d e s tr o s o u c a n h o t o s o c o n t r o le d a

fa la se lo c a liz a q u a se q u e e x c lu s iv a m e n te n o h e m is fé r io e s q u e r d o . H á e x c e ç õ e s , é c la r o , d a m e s m a fo r m a q u e a lg u m a s p e s so a s tê m seus

corações

lo c a liz a d o s

n o

la d o

d ir eito , m a s as e x c e ç õ e s sã o

rara s: a s á rea s d e fa la p o d e m , a ssim , ser c o n s id e r a d a s c o m o e s ta n ­ d o n a m e t a d e e s q u e r d a d o c é r e b r o . E o q u e e sta r ia n a s á rea s c o r ­ resp o n d en tes c o m

da

m eta d e

d ireita ? A té

agora

a in d a

não

áabem os

p r e c isã o . N ã o s a b e m o s e x a ta m e n te q u a l é a fu n ç ã o das á rea s

421



A Longa Infância

cereb ra is n o

d o

h e m isfé r io

h em isfé r io

tr a n sfo rm a ria m r e tin a

d o

m e n sio n a l. S e

E n treta n to ,

a im a g em

o lh o

em

um a

ela s

b id im e n sio n a l d o m u n d o p ro jeta d a na

im a g em

a lin g u a g e m

com

p r o fu n d id a d e , is to é, tr id i­

é ta m b ém

m in h a m a n eira d e ver, u m a fo r m a d e o rg a n iz a r

su a s p a r te s, o u c o n s tr u í-lo p o r c o m b in a ç ã o d e p a la ­

vras, c o m o se e sta s fo s s e m

im a g e n s m ó v eis.

A

o r g a n iz a ç ã o d a e x p e r iê n c ia a tin g e u m lo n g o a lc a n ce n o h o m e m ,

e

seus

m e c a n ism o s

h u m an a m em 2 1 2 A e v o lu çã o recen te do hom em com eça com o d esen v o lv im en to precoce da m ão e de u m cérebro p a rticu larm en te ad ap tad o a com andar a a tiv id a d e m a n ip u la tó ria da m ã o . C o n sid e r e ^ e e m seg u id a u m a área e sp ecifica m en te hum ana que não e x is te e m q u a lq u e r o u tro cérebro d e a n im a l: a á re a d a fala. E sta se lo c a liz a e m d u a s áreas in tercon ectad as do cérebro hum ano; u m a ju n to a o cen tro da a u d içã o e a o u tra m a is a n terion n en te, n o lo b o fro n ta l. D ia g r a m a d o á re a m o to r a d o c é r e b r o h u m a n o , m o s tr a n d o a p r e d o m in â n c ia d o s á re a s r e s p o n s á v e is p e la a tiv id o d e m a n ip u la tó r ia d o s m ã o s e a s á reas d e W e m ic k e e d e B r o c a - á re a s d o fa la - , n o h e m is fé r io esq u erd o .

h á in d ic a ç õ e s d e q u e

isso fo r c o r r e to , e n tã o , e m

e sta r ia c la r o q u e o m u n d o em

d ir e ito , c o r r e s p o n d e n t e s à s á r e a s d a fa la

esq u erd o.

d o

n a te r c e ir a á re a d e e s p e c ific id a d e

o r g a n iz a ç ã o

d a a tiv id a d e s u p e r io r d o h o ­

se lo c a liz a n o s lo b o s fr o n ta is e p r é -fr o n ta is. E u , ig u a lm e n te

a to d o s

o s o u tr o s h o m e n s , te n h o a fr o n te a lta e a testa a r r e d o n ­

dada, o T au n g

q u e

n ós dá u m

p r e te n s o ar in te le c tu a l. M a s a c r ia n ç a d e

n ã o a p r e s e n ta essa c a r a c te r ístic a . S e u c r â n io n ã o p o d e ser

c o n fu n d id o c o m u m

se a lo ja m

cérebro. A

grande

o d e u m a c r ia n ç a q u e m o r r e u e se fo s s iliz o u ; h á

co n tra ste

en tre

os

d o is, e v id e n te

n a fro n te cu rta e

in c lin a d a d o fó ssil. E x a ta m e n te , q u a l é e n tã o a fu n ç ã o d esses g ra n d es lo b o s fro n ­ ta is? E la s p o d e m

se r v á r ia s, m a s n e n h u m a d e la s m u it o e s p e c íf ic a

o u im p o r t a n t e s p o r si s ó . E la s n o s p e r m it e m p la n e ja r a ç õ e s fu tu r a s e esp era r p o r r e c o m p e n sa s. E x p e r im e n to s lin d o s fo r a m

r e a liz a d o s

por

W a lter H u n te r s o b r e e ssa c a p a c id a d e d e r e sp o s ta r e ta r d a d a ,

em

to rn o

J acob sen to m a v a

de

1 9 1 0 , o s q u a is fo r a m

na d écad a u m a

de

1 9 3 0 . O

recom p en sa

r e fin a d o s p o ste r io r m e n te p o r

que

q u a lq u e r ,

H u n ter m o stra v a

fe z fo i o seg u in te : ao

a n im a l, e, e m

se g u id a , a e sc o n d ia . O s r e su lta d o s e n c o n tr a d o s n o a n im a l p r e d i­ leto

d o s la b o r a tó rio s, o rato , fo ra m

pensa

típ ic o s. M o str a d a a r e c o m ­

p o ste r io r m e n te e sc o n d id a , q u a n d o lib e r to , im e d ia ta m e n te

e le a e n c o n tr a s e m d ific u ld a d e . E n tr e ta n to , se o r a to fo r m a n tid o esp eran d o

por

a lg u n s m in u to s , e n tã o

e le

n ã o sa b erá e sc o lh er o

c a m in h o q u e o lev a ria à r e c o m p e n s a . E v id e n te m e n te , c r ia n ç a s a g e m d ife r e n te m e n te . H u n te r r e a liz o u o

m esm o

tip o

d e ex p erim en to

m e s m o , se c r ia n ç a s d e c in c o

com

ou

c r ia n ç a s, e o r e su lta d o era o

seis a n o s e s p e r a s s e m

a lg u n s m i­

n u to s, m e ia h o ra o u m e s m o u m a h o ra. U m a das g arota s d o e x p e ­ r im e n to en q u a n to

de

H u n ter,

d e ix a v a

v á r io s m in u to s

q u e

e le

tran scorrer

de con versa

ten ta v a o

tem p o

en treter

co m

h istó r ia s,

program ad o,

d e p o is d e

fez a seg u in te o b serv a çã o : “ S a b e, eu

a c h o q u e v o c ê está a p en a s te n ta n d o m e fazer e sq u e c er ” .

423


A Escalada do Homem

A h a b ü id a d e d e p la n eja r a ç õ e s n o fu tu r o , p a r a as q u a is a r e c o m ­ p e n sa e stá m u ito d ista n c ia d a n o te m p o , a p a r e c e c o m o e la b o r a ç ã o d a resp o sta retard a d a, e o s so c ió lo g o s a c h a m a m

“ p o sterga m en to

d a g r a tific a ç ã o ” . T r a ta -se d e u m a c a r a c te r ístic a fu n d a m e n ta l d o cérebro h u m an o , sem nos

o u tro s

a n im a is,

n en h u m a

não

e q u iv a le n te , m e s m o

ru d im en ta r,

ser a q u e le s m a is a v a n ç a d o s n a lin h a

e v o lu tiv a ; é o c a s o d o s n o s s o s p r im o s, o s p r im a ta s n ã o -h u m a n o s. E sse d e s e n v o lv im e n to h u m a n o s ig n ific a q u e n o ss a e d u c a ç ã o p r e ­ coce

tem

que

esto u

a d ia r o

a ver d e

processo

c o n h e c im e n to s, a fir m a ç ã o

fato c o m

d iv e r g in d o

u m

o a d ia n ta m e n to d e d e c isõ e s. N o t e m

p o u co

d o s s o c ió lo g o s . N ó s te m o s d e

d e to m a r d e c isõ e s, d e m o d o a fim

p od e

lh es

de

nos

prepararm os

parecer

a p o d e r a cu m u la r

para o

su rp reen d en te;

no

fu tu ro . E ssa en tan to,

e la

e n cerra o sig n ific a d o d a in fâ n c ia , d a a d o le sc ê n c ia e ta m b é m

da

ju v en tu d e. D e s e jo , a g o ra , dar u m a g ra n d e ê n fa se , d ra m a tiza r m e s m o , a o a d ia m e n to d e d e c is õ e s — e e ste te r m o t e m

d e ser to m a d o e m

seu

s e n t id o lite r a l. Q u a l é o m a io r d r a m a d a l ín g u a in g le s a ? É H a m le t. E a p eça , d o q u e tra ta ? C o n ta a h istó r ia d e u m j o v e m

— u m g aroto

— e n f r e n t a n d o a p r im e ir a g r a n d e d e c is ã o d e su a v id a . U m a d e c i­ são a lé m

d e su a c a p a c id a d e : m a ta r o a s s a s s in o d e seu p a i. D e n a d a

a d ia n ta a in stig a ç ã o d o E s p e c tr o : “ V in g a n ç a ! V in g a n ç a !” . O fa to é q u e H a m le t, s e n d o a d o le s c e n te , a in d a n ã o a d q u ir ir a m a tu r id a d e . I n te le c tu a l e e m o c io n a lm e n t e a in d a n ã o e s t a v a m a d u r o p a r a p o d e r r e a liz a r o a to q u e d e le se e x ig ia . A p e ç a to d a é u m a s e q ü ê n c ia s e m fim

de

a d ia m e n to s

de

d e c isõ es,

en q u a n to

H a m le t lu ta c o n sig o

m esm o. O

p o n to

a lto d a p e ç a v a m o s e n c o n tr á -lo n o m e io d o te r c e ir o

a to . H a m le t o b se r v a o

R ei e n q u a n to este reza. A

d isp o siçã o d o

c e n á r io é d e ix a d a d e ta l fo r m a in d e fin id a q u e e le p o d e r ia m e s m o o u v ir as p r e c e s d o

R e i, e n e la s a c o n fis s ã o d o c r im e . E o q u e d iz

H a m le t? “ S im , a go ra te n h o d e fa zê-lo — p r o n to !” M a s n ã o o faz; sim p le sm e n te em

n ã o está p rep a rad o para u m

su a a d o le sc ê n c ia . A ssim , n o

a to

fin a l d a p e ç a , H a m le t é a ssa ssi­

n a d o . E n tr e ta n to , a tr a g é d ia n ã o e stá n a m o r te n o

fa to

d essa m a g n itu d e d e H a m le t; está

d e e le m o r r e r e x a t a m e n t e n o m o m e n t o e m

q u e está p re­

p a r a d o p a r a s e t o r n a r u m g r a n d e r e i. N o h o m e m , o céreb ro, a n tes d e ser u m d e ser u m 4 2 4

in str u m e n to d e a çã o, te m

in str u m e n to d e p rep a ra çã o . N e sse p r o c e sso sã o en v o l-

v id a s á rea s b a sta n te e s p e c ífic a s ; p o r e x e m p lo , o s lo b o s fr o n ta is


A Longa Infância

n ão p o d em é o

ter s o fr id o le s õ e s . E n tr e ta n to , m u it o m a is im p o r ta n te

lo n g o p e r ío d o d e p r e p a r a ç ã o tr a n sc o r r id o d u r a n te a in fâ n cia

d a e sp éc ie h u m a n a . E m

lin g u a g e m

c ie n tífic a s o m o s n e o tê n ic o s ; is to é, a in d a g u a r ­

d a m o s c a r a c te r ístic a s e m b r io n á r ia s a o n a scer. E ssa c a r a c te r ístic a ta lv e z seja a r e sp o n s á v e l p e lo fa to d e n o ss a c iv iliz a ç ã o , n o ss a c iv i­ liz a ç ã o

c ie n t íf ic a , p r e fe r ir , s o b r e

c r ia n ç a .

N o ta m o s

m en in o

p in ta d o

essa

to d o s

ten d ên cia

os o u tro s, o sím b o lo da

desde

a R en ascen ça:

o C risto

p o r R a fa e l e r e c r ia d o p o r B la ise P a sc a l; o j o v e m

M o z a r t e G a u ss; as c r ia n ç a s d e J e a n -J a c q u e s R o u s s e a u e C h a rles D ick en s. h a v ia para

Q ue

ou tra s

p assado m u ito

S u l, n o

p ela

c iv iliz a ç õ e s m in h a

p u d essem

cabeça;

lo n g e, sa in d o

m as

ser d ifer e n te s ja m a is

a co n teceu

de

d a C a lifó r n ia e n a v e g a n d o

eu

v ia ja r

n a d ir eç ã o

P a c íf ic o , a té e n c o n t r a r a I lh a d a P á s c o a , e a q u i ser s u r ­

p r e e n d id o p o r u m a d ife r e n ç a h istó r ic a . É

m u ito

fr eq ü en te a in v en çã o

v isio n á r io s:

d e u to p ia s p o r p a r te d e a lg u n s

P la tã o , S ir T h o m a s M o r e , H . G . W e lls. N e s s a s , a c a le n ­

ta -se a e sp e r a n ç a d e q u e a im a g e m h e r ó ic a d u r e , c o m o d isse H itler, por

m ilh a r e s d e a n o s. M a s, n a r e a lid a d e , as im a g e n s h e r ó ic a s a c a ­

b am

m a is se a s s e m e lh a n d o à s fig u r a s r ú stic a s, in e r m e s d a s fa c e s

a n c e s tr a is d a s e s tá tu a s d a Ilh a d a P á s c o a — v e ja m q u e e la s a té se parecem

com

sen tação

não

g ic a m e n te

M u sso lin i!

M e s m o e m te r m o s b io ló g ic o s essa r ep re­

retra ta a e ssê n c ia d a p e r so n a lid a d e h u m a n a . B io lo ­

o

ser h u m a n o

é m u tá v e l, se n sív e l, p lá stic o , a d a p ta d o

a d ife r e n te s a m b ie n te s , e n ã o e s tá tic o . A v e r d a d e ir a v isã o d o ser h u m a n o

está rep resen ta d a

no

m istério

d a in fâ n c ia , n a V ir g e m

e

o M e n in o , na S a g r a d a F a m ília . Q u a n d o g aroto , em de

sábado,

m in h a a d o le sc ê n c ia , c o stu m a v a , n as ta rd es

a n d a r d a E x tr e m id a d e L este d e L o n d r e s a té o M u se u

B r itâ n ic o , s o m e n te p a ra c o n te m p la r o ú n ic o e x e m p la r d e e stá tu a da

Ilh a d a P á s c o a

q u e, d e a lg u m a fo rm a , a ca b a ra d e n tr o d o M u ­

seu . A ssim , v o c ê s p o d e m

a v a lia r m e u

in t c r e s s e

p o r e ssa s a n tig a s

fa c e s a n c e s tr a is. N o e n t a n t o , n o fin a l d a s c o n ta s , to d a s e la s ju n ta s n ão

ch egam

E m b ora

a ter o ten h a

v a lo r d a fa c e r e c h o n c h u d a

m e

d esv ia d o

c o n sid e r a ç õ es a re sp e ito C o n sid e r e m ,

por

p ela

e v o lu ç ã o

a té

M eu

cérebro

pesa

da

e x e m p lo ,

n osso

de

c r ia n ç a .

fazer essas

Ilh a d a P á s c o a , o fiz c o m

p r o p ó sito .

in v e stim e n to

en orm e

c h e g a r a p r o d u z ir o c é r e b r o cerca

de u m a

a ssu n to ao

o

d o

d e sp e n d id o

d e u m a c r ia n ç a .

m il tr e z e n ta s e c in q ü e n ta g ra m a s e

m e u c o r p o c e r c a d e p e lo m e n o s c in q ü e n t a v e z e s m a is d o q u e isso . E n treta n to , a o nascer, m eu c o r p o era u m

m e r o a p ê n d ic e d a ca b e-

425


A Escalada do Homem ça; p e sa v a a p e n a s c in c o o u seis v e z e s m a is d o q u e o c é r e b r o . E s se en orm e

p o te n c ia l

tem

sid o

g r o sse ir a m e n te

n e g lig e n c ia d o

p ela

m a io r p a r te d a h istó r ia d a s c iv iliz a ç õ e s. N a r e a lid a d e , a in fâ n c ia m a is

lo n g a

tem

s id o

d estas

m esm as,

d as c iv ü iz a ç õ e s, te n ta n d o

a p r e n d e r o sig n ific a d o d a q u e la . D e

m o d o g er a l, à s c r ia n ç a s te m -s e p e d id o q u e i m it e m

m e n te a im a g em

sim p le s­

d o s a d u lto s . V ia j a m o s c o m o s b a k h tia r i d a P é r sia

e n q u a n to r e a liz a v a m a m ig r a ç ã o d a p r im a v e r a . E les se a s s e m e lh a m , tan to q u a n to

seria p o s s ív è l, a q u a lq u e r o u t r o p o v o s o b r e v iv e n te

d e v id a n ô m a d e

em

ex tin ç ã o , e m

c o s tu m e s v ig e n te s h á d e z m il

a n o s p a ssa d o s. O f e n ô m e n o e stá c la r a m e n te p r e se n te e m

to d a s as

m a n ife s ta ç õ e s d essa c iv iliz a ç ã o u ltra p a ssa d a : a im a g e m d o a d u lto b r ilh a n d o n o s o lh o s d a s c r ia n ç a s. A s m e n in a s s ã o p e q u e n a s m ã e s em

d e s e n v o lv im e n to . O s m e n in o s se c o m p o r t a m tal e q u a l p e q u e ­

n o s p a s to r e s . M e s m o e m su a s m a n e ir a s d e a n d a r c o p ia m a d o s p a is.

213

A im a g e m d o a d u lto b rilh a n o s o lh o s d a s cria n ças; e la s c o p ia m a té suas m a n eira s d e andar. U z b e k i, p a i e filh o , d u r a n te u m in te r v a lo d o B u z K a sh i, n a p la n íc ie d e M o z a r -i-S h a r if n o A fg a n istã o .


A Longa Infância

A

H istó ria , e v id e n te m e n te , n ã o se c o n g e lo u

en tre

o

n o p e r ío d o m ed ia n o

n o m a d is m o e o R e n a s c im e n to . A e sc a la d a d o h o m e m ja ­

m a is se in te r r o m p e u . N o e n ta n to , a e sc a la d a d o j o v e m , a e sc a la d a d o ta le n to , a e sc a la d a d a im a g in a ç ã o ; e sta s sim , fo r a m , p o r m u ita s v e z e s , r e p r im id a s n a q u e le in ter v a lo . G randes

c iv iliz a ç õ e s e x istir a m , c e r ta m e n te . N ã o

seria e u

que

iria d e n e g r ir a s c iv iliz a ç õ e s d o E g it o , d a C h in a , d a í n d ia , e m e s m o da

E u r o p a n a I d a d e M é d ia . C o n tu d o , to d a s e la s fa lh a r a m

p o n to: lim it a r a m tam

em

u m

a lib erd a d e d e im a g in a ç ã o d o sjo v e n s . R e p r e se n ­

c u ltu r a s e stá tic a s, c u ltu r a s d e m in o r ia s. E stá tic a s p o r q u e o

filh o

im ita v a

ín fim a

p a rte

o

pai e e ste o a v ô . D e m in o r ia s p o r q u e a p e n a s u m a

d o

ta len to

to ta l

da

h u m a n id a d e era a p r o v e ita d o ;

a p r e n d e r a ler, a p r e n d e r a e sc r e v e r , a p r e n d e r u m a o u tr a lín g u a , e e n t ã o su b ir a m o r o s a e sc a la d a d a p r o m o ç ã o . N a I d a d e M é d ia a e sc a d a d a p r o m o ç ã o p a ssa v a p e la Igreja; n ã o h a v ia N o

ou tro

c a m in h o

à e sc o lh a d e u m jo v e m

in te lig e n te e p o b r e .

fin a l d a e s c a d a , n o ú l t im o d e g r a u , h a v ia s e m p r e a r e c o m e n d a ­

ção

da im a g e m

d o

íc o n e d a d iv in d a d e : “ A g o r a a tin g iste o d e r r a ­

d e iro m a n d a m e n to : n ã o q u e stio n a r á s” . E rasm o

de R o te r d a m , p or e x e m p lo , v en d o -se ó rfã o em

1 48 0,

te v e d e s e p r e p a r a r p a r a a c a r r e ir a e c le s iá stic a . O s r itu a is d e e n t ã o eram

tã o lin d o s c o m o o sã o a tu a lm e n te . O

ter to m a d o

2 14 P ara E r a s m u s, a v id a de m o n g e era um a p o rta de ferro fech ad a ao c o n h e c im e n to . S ó d e p o is d e ler o s clá ssico s é q u e o m u n d o se a b riu p a ra ele. D e s id e r iu s E r a s m u s : r e tr a to d e Q u e n tin M e ts y s , 1 5 3 0 , G a le r ia N a c io n a l , R om a.

p a rte

na co m o v en te

M issa C u m

p r ó p r io E r a sm o d e v e G iu b ila te d o s é c u lo

427


A N D R E aE v e s a l i i m S H l H k i l l , S C H O L AH inv «J.. o ram I 'm u n ia- prolclT oru/uorum dc H u n u iii corporu. fábrica librorum E P l T O M E.

L r. c: T O R 1.

A

B A 5 I L E AE.

X I V , a q u a l e u a ssisti e m u m a ig r e ja a in d a m a is a n tig a , S a n P ie tr o , em

G r o p in a . E n tr e ta n to , p ara E r a sm o , a v id a d e m o n g e era c o m o

que p o is

um a

p o rta d e ferro fech a d a a o c o n h e c im e n to . S o m e n te d e ­

de, d esob ed ecen d o

m u n d o

as o r d e n s, ter lid o o s c lá ss ic o s é q u e

se r e v e lo u a e le . “ U m

o

h e r é tic o e sc r e v e u esta s c o isa s p ara

h e r é t ic o s ” d iss e e le , “ n o e n t a n t o , e la s r e v e la m ju s tiç a , s a n tid a d e , verd ad e” . E eu m al p osso m e

c o n te r d e d izer “ S a n to S ó c r a te s,

orai p or m im !” . E rasm o terra

co m

fe z d u a s a m iz a d e s só lid a s e d u r a d o u r a s, u m a n a In g la ­ S ir T h o m a s

M ore,

e

a

ou tra

na

S u íça

com

Joh an n

F r o b e n iu s. D e M o r e , r e c e b e u a q u ilo q u e e u m e s m o r e c e b i q u a n d o ch egu ei à m en tes

In g la te r r a :

c iv iliz a d a s.

o

C o m

sen tim e n to F ro b en iu s,

d o p ra zer d e c o n v iv er c o m apren deu

o

sig n ific a d o d o

p o d e r d o liv r o im p r e s s o . F r o b e n iu s e s u a f a m ília e r a m 4 2 8

e d ito r e s d o s c lá ss ic o s e m

os grandes

1 5 0 0 , in c lu in d o c lá ss ic o s d a m e d ic in a .


A Longa Infância

2 15 A d em o cracia d o in telecto apareceu c o m o livro im presso. A felicid a d e d a p a ix ã o d o im p r e s s o r se revela tã o p o d e r o s a quan to o c o n h e c im e n to . U m tr a b a lh o d e E rasm u s e a A n a to m ia d e V e s a l iu s , a m b o s im p r e s s o s n a B a s i lé i a .

S u a e d iç ã o d o s tra b a lh o s de H ip ó c r a te s é, em

m in h a o p in iã o , u m

d o s liv ro s m a is lin d o s ja m a is im p r e ss o , n o q u a l a fe lic id a d e d a p a i­ x ã o d o im p r e sso r se rev ela tã o p o d e r o s a q u a n to o c o n h e c im e n to . O

qu e

s ig n ific a m

e s s e s tr ê s h o m e n s e s e u s liv ro s?

d e H ip ó c r a te s , a U to p ia

lh o s

E rasm o ? P ara m im

-

o s trab a ­

d e M o r e e O E lo g io d a L o u c u r a d e

rep resen ta m

a d e m o c r a c ia d o in tele c to ; e essa

é a r a z ã o p e la q u a l E r a s m o , F r o b e n iu s e S ir T h o m a s M o r e p e r m a ­ n ecem

em

m in h a m e n te c o m o m a r c o s g ig a n te sc o s d e ssa é p o c a . A

d e m o cra cia

do

in tele c to

p r o b le m a s p o r das

nossas

M ore?

a g ita çõ es

P orque

foi gerada

e la c r ia d o s e m

co m

o

liv ro im p r e s s o , e o s

1 5 0 0 p e r siste m a in d a h o je na b a se

e stu d a n tis.

Por

seu rei o c o n sid e r o u

u m

que

m orreu

S ir T h o m a s

d e te n to r d o p o d er. M as,

a fin a l, q u a l era a a sp ir a ç ã o d e M o r e , e a d e E r a sm o o u a d e q u a l­ q u er in tele c to forte, sen ã o a d e

O

c o n flito

perde

no

en tre

a

tem p o .

q u a n d o , v in d o

lid e r a n ç a

Q uão

ser u m

g u a r d iã o d a in teg r id a d e ?

in telectu a l e

a n tig o

e

am argo

a a u to r id a d e c iv il se e le

se

m e

ap resen to u

d e J e r ic ó , p e la m e s m a e str a d a tr ilh a d a p o r J esu s,

d iv isei, n o h o r iz o n te , o s p r im e ir o ss in a is d e J e r u sa lé m , d a m e s m a form a

que

deve

ter a c o n te c id o

a E le n o c a m in h o d e su a m o r te .

M o r te , p o r q u e J e s u s era e n tã o o líd e r in te le c tu a l e m o r a l d e seu p o v o , m as en fren tan d o u m a

r e lig iã o

se

torn a ra

p o d e r c o n s titu íd o d e tal m a n e ira q u e

apenas

u m

in str u m e n to

d o governo.

E ssa

c r ise d e c is ó r ia f o i r e it e r a d a m e n t e o p r o b le m a c e n tr a l n a v id a d o s líd e r e s:

S ó cra tes em

A te n a s ; J o n a th a n S w ift n a Irla n d a , lu ta n d o

e n tr e a p ie d a d e e a a m b iç ã o ; M a h a tm a G a n d h i n a Ín d ia ; e A lb e r t E in s te in a o r e c u s a r a p r e s id ê n c ia d o E s t a d o d e Isra el. M e n c io n o o n o m e d e E in s te in d e lib e r a d a m e n t e p o r q u e e le er a u m

c ie n tista , e e ste s c o n s titu e m

X X . E sse fato gera u m

a lid e r a n ç a in te le c tu a l d o sé c u lo

p r o b le m a g ra ve, p o r q u e a c iê n c ia ta m b é m

é u m a fo n te d e p o d e r q u e c a m in h a p r ó x im a a o g o v e r n o , e a q u a l este

te n ta d o m in a r . M a s, se a c iê n c ia se p e r m itir c a m in h a r n e ssa

d ireçã o , as a sp ir a ç õ es d o sécu lo X X v ã o se esb o r o a r e m

u m a farsa

d e c in is m o s. N ã o n o s d e v e m o s p e r m itir a lim e n ta r n e n h u m a c r e n ­ ça, u m a v e z q u e c r e n ç a a lg u m a p o d e ser c o n str u íd a n e ste sé c u lo , a n ão

ser q u e

e ste ja b a se a d a n a c iê n c ia , n a fo r m a d e u m

rec o n h ec im e n to

d a p e c u lia r id a d e

d o n s e r e a liz a ç õ e s. h erd a r a im a g in a ç ã o

A

c iê n c ia m o ra l;

su a s c r e n ç a s e su a c iê n c ia .

não

tá cito

h u m a n a , e n o o rg u lh o d e seu s cab e h erdar a T erra, m a s, sun,

p o is, s e m

isso , p e r e c e r ã o o h o m e m , 4 29



216

O c o n n i t o e n t r e a lid e r a n ç a in t e le c t u a l e a a u t o r id a d e se p e r d e n o te m p o . Q u ã o a n tig o e a m a r g o ele se m e a p r e se n to u q u a n d o , v in d o d e J r r ic ó , p ela m e s m a e str a d a trilh ad a p o r J esu s, d iv ise i, n o h o r iz o n t e , o s n r im e ir o s sin a is d e J er u sa lÊ m . V i .t u p a n o r â m i c a d a c i d a d e v e l h a d e J e r u s a l Ê m , I s r a e l .


A Escalada do Homem

D e v o tra z e r essa s id é ia s p a ra u m a r e a lid a d e c o n c r e ta , e, p a r a m im , o h o m e m

q u e m e lh o r as p e r so n ific a é J o h n v o n N e u m a n n . F ilh o

d e u m a fa m ília ju d ia h ú n g a ra , n a sc e u e m cem

1 9 0 3 . S e tiv e sse n a s c id o

a n o s a n te s, ja m a is te r ía m o s o u v id o fa la r n e le ; p o is te r ia p a s ­

s a d o su a v id a fa z e n d o

o q u e fe z seu p a i e o a v ô a n tes d e ste, isto

é, te c e n d o c o m e n tá r io s r a b ín ic o s so b r e o d o g m a . E m v e z d iss o , f o i u m a c r ia n ç a p r o d íg io d a m a te m á tic a , “ J o h n n y ” , a té o fim

d e s e u s d ia s. E m su a a d o le s c ê n c ia j á e sc r e v ia a r tig o s

m a te m á tic o s.

A n tes

r e a liz a d o

o

de

co m p leta r

v in te

e

c in c o

g ra n d e tr a b a lh o n o s d o is c a m p o s d o

anos

tin h a

c o n h e c im e n to

q u e o to rn a ra m fa m o so . O s d o is a ss u n to s e stã o r e la c io n a d o s, a c h o e u , c o m lú d ic a s o u jo g o s . N o te m

a tiv id a d es

q u e , e m u m c e r to s e n tid o , to d a a c iê n c ia ,

to d o r a c io c ín io h u m a n o , é u m a fo r m a d e b rin q u ed o . O r a c io c ín io a b stra to é u m a n e o tín e a

d o in te le c to , a tra v és d a q u a l o h o m e m

se c a p a c ita a c o n tin u a r le v a n d o a c a b o a tiv id a d e s d e stitu íd a s d e fin a lid a d e im e d ia ta (o s o u tr o s a n im a is b r in c a m a p e n a s e n q u a n to jo v e n s ), a fim

d e se p rep a rar n a s estr a té g ia s d e lo n g o a lc a n c e e

n o p la n eja m en to . T r a b a lh e i c o m

J oh n n y

v o n N e u m a n n n a In g la terra , d u r a n te a

S e g u n d a G u e r r a M u n d ia l. F o i n o in ter io r d e u m

táx i em

L ondres

q u e e le m e

fa lo u p e la p r im e ir a v e z s o b r e s u a T e o r ia d o s J o g o s —

esse era u m

d o s seu s lo c a is fa v o r ito s p a ra d isc u ssõ e s so b r e m a te ­

m á tic a . S e n d o se

r e fe r ia

à

u m

e n tu s ia sta d o x a d r e z lo g o lh e p e r g u n te i se e le

te o r ia

dos jog os

a fin s à q u e la m o d a lid a d e . M a s su a

r e s p o s ta fo i n e g a tiv a . “ N ã o ” , d is s e e le . “ O x a d r e z n ã o é u m j o g o . O

x a d r e z é u m a fo r m a b e m -d efin id a d e c o m p u ta ç ã o . V o c ê p o d e

n ã o ser ca p a z d e en co n tra r a so lu ç ã o co rreta , m a s, te o r ic a m e n te , sem p re h á u m a so lu ç ã o , u m p r o c e d im e n to c o r r e to p a ra ca d a p o si­ ç ã o .” A g o r a , “ jo g o s r e a is” , c o n tin u o u , “ e m

n a d a se a s s e m e lh a m

a isso . A v id a rea l n ã o é c o m o n o x a d r e z . A v id a rea l c o n s is te e m b le fe s, e m

p e q u e n a s tá tica s d e d e s p is ta m e n to , e m

p r ó p r io

q u e

p r ó x im o

o

o

p a rceiro

m o v im en to . É

está

esse o

p en san d o

p ergu n tar a si

sob re q u a l será n o sso

tip o d e jo g o

sobre o

q u al m in h a

teo ria se in ter e ssa ” . S e u liv ro tr a ta e x a t a m e n t e d e s se a s s u n to . N ã o d e ix a d e s e r u m tan to q u a n to o

títu lo

estra n h o en co n tra r e m

u m

liv r o v o lu m o s o

e sério

T h e o r y o f G a m e s a n d E c o n o m ic B e h a v io r ( T e o r ia d o s

J o g o s e C o m p o r ta m e n to E c o n ô m ic o ), e n o q u a l d e p a r a m o s c o m u m 4 3 2

c a p ítu lo

ch am ad o

“ P o k e r e B le f e ” . S u r p r e e n d e n te e d esa n i-

m a d o r , m o r m e n te p o r estar c o b e r to d e e q u a ç õ e s q u e lh e c o n fe r e

217 O h o m e m q u e para m im p erso n ifica esses p ro b lem a s: John von N eum ann. P á g in a s d e su a s a n o ta ç õ e s p e s s o a is .


A Longa Infância

u m a

a p a rên cia

p o m p o sa .

A p a r ê n c ia

a p e n a s , p o is a m a te m a tic a

n ã o é u m a a tiv id a d e p o m p o s a , m e n o s a in d a q u a n d o nas m ã o s d e u m a

m en te

J o h n n y

ex tra o rd in a ria m en te

von

in tele c tu a l p eso

r á p id a e p e n e tr a n te c o m o a d e

N e u m a n n . A s p á g in a s são que

se

d e sen v o lv e

das eq u a çõ es

nada

p erco rrid a s p or u m

tal q u a l u m a m e lo d ia , e m

m a is r e p r e s e n ta

do

tem a que

o

q u e a o rq u estra çã o

d e fu n d o , n o s to n s m a is g ra v es. N o s ú ltim o s a n o s d e su a v id a J o h n a ssu n to id é ia

d e u m a m a n eira

c r ia tiv a . T e n d o -s e

v o n N e u m a n n trato u esse

q u e c o n sid e r o ser a su a seg u n d a g ra n d e co n sc ien tiz a d o

d a im p o rtâ n cia

te c n o ló ­

g ic a q u e o s c o m p u t a d o r e s ir ia m a d q u ir ir , n ã o d e s c u id o u d e a p o n ­ tar

c la r a m e n te

q u ão

d iferen tes

sã o as s itu a ç õ e s e n fr e n ta d a s n a

v id a rea l d a q u e la s s im u la d a s n o s c o m p u ta d o r e s , e x a ta m e n te p o r ­ que

a e la s n ã o

se p o d e

im p o r as s o lu ç õ e s p r e c isa s d o x a d r e z o u

d o s c á lc u lo s d e e n g en h a r ia . U sa r e i m e u s p r ó p r io s te r m o s n a d e sc r iç ã o d o tr a b a lh o d e J o h n v o n

N e u m a n n , e m v e z d e m e v a ler d e su a lin g u a g e m

té c n ic a . E le

fa z ia u m a c la r a d is tin ç ã o e n tr e tá tic a s a c u r to p r a z o e e str a té g ia s ousadas

a

lo n g o

prazo.

A s

tá tic a s

p od em

ser c a lc u la d a s e x a ta ­

m e n te , m a s as estra tég ia s n ã o . O su c e sso m a te m á tic o e c o n c e itu a i de J o h n n y

fo i ju s ta m e n te o d e m o str a r q u e , a d e s p e ito d isso , h á

m a n e ir a s d e se p la n e ja r a s m e lh o r e s e str a té g ia s . O

s e u m a r a v ilh o s o liv r o T h e C o m p u te r a n d th e B r a in ( O C o m ­

p u ta d o r e o C é r e b r o ) fo i e s c r ito n o ú lt im o a n o d e su a v id a ; e r a m a s S illim a n

L e c tu r e s q u e d e v e r ia ter p r o fe r id o , m a s e sta v a m u ito

d o e n te p a ra fa z ê -la s e m sen d o

1 9 5 6 . N e la s, o c é r e b r o é a n a lisa d o c o m o

p o ssu id o r d e u m a lin g u a g e m , n a q u a l as a tiv id a d e s d e su as

d ifer e n te s p a rtes (d o c é reb ro ) tê m zadas,

de

tal

form a

qu e

apareça

d e ser in ter lig a d a s e h a r m o n i­ u m

p la n o , u m

p r o ce d im e n to ,

in te g r a n d o u m m a je sto so c o n c e r to d e v id a — n a s c iê n c ia s h u m a n a s r e c e b e r ia o n o m e d e s iste m a d e v a lo res. N a

p e r so n a lid a d e

de J oh n n y

tu o s o e sin g u la r . F o i o h o m e m e x c e ç õ e s. E ra, ta m b ém , u m é u m

h o m e m

rep resen to u q u an d o

que u m a

von

N e u m a n n h a v ia a lg o d e a fe ­

m a is in te lig e n te q u e c o n h e c i, s e m

g ê n io , n a m e d id a e m

qu e u m

gê in °

te v e d u a s g r a n d e s id é ia s. S u a m o r te e m

195 7

grande

fetta

tr a g é d ia

para

to d o s

n ó s. C erta

tr a b a lh á v a m o s ju n to s d u ra n te a g u erra , e n fr e n ta m o s u m

p r o b le m a , m a s su a r e sp o sta f o i im e d ia ta : e le , “ v o c ê n ã o está v e n d o . O

“ A h, não, n ^ "

d isse

seu tip o d e v isu a liz a ç ã o m e n ta l n ã o

4 3 3


T eo ria d os J o g o s: o J o g o de D e d o s C h a m a d o M orra O jo g o co m o

r e q u e r d o is jo g a d o r e s e, n a su a v er sã o m a is sim p le s, se d e se n r o la d a m a n e ir a se g u e . O s m o v im e n to s d o s d o is jo g a d o r e s sã o

sim u ltâ n e o s. C a d a u m

m o stra o u u m

o u d o is d e d o s, a o m e s m o te m p o q u e a d iv in h a se se u c o m p a n h e ir o e stá m o s tr a n d o u m o u d o is d e d o s. N o c a so d o s d o is a ce r ta r e m o u erra rem n e n h u m a d iv in h a c e r to e o o u tr o n ã o , este te m

ganha. Se u m

d o s jo g a d o res

d e p a g a r ta n ta s fic h a s q u a n to fo r o n ú m e r o

tota l d o s d e d o s m o stra d o s. A s s im , c a d a jo g a d o r p o d e g a n h a r d e q u a tr o m a n eira s:

(a >

T

z

]

1 S

S e a d iv in h a certo

e seu c o m p a n h e ir o

3

erra; a m a n eira

'

O

2

(a) g a n h a r á d u a s fic h a s ; a s m a n e ir a s

(b ) e (c ), tr ê s fic h a s; e a m a n e ir a (d ), q u a tr o fic h a s. O jo g o é e q u ita tiv o , m a s u m jo g a d o r q u e c o n h e ç a a estra tég ia c o r r e ta g a n h a r á ( t o m sorte, d en tro d a m é d ia ) sem p re c o n tr a o u tr o q u e n ã o a c o n h e ç a . A co n siste e m

estra tég ia c o r r e ta

ig n o r a r a s m a n e ir a s (a) e (d ), e jo g a r a s m a n e ir a s (b ) e (c) n a r e la ç ã o d e

7 :5 . Isto é, a estra tég ia c o r r e ta c o n siste e m , a c a d a 1 2 c h a m a d a s,

7 vezes

5 vezes

em

em

m é d ia

m éd ia

U m jo g a d o r q u e jo g u e p o r p a l­ p ite te m p o u c a p r o b a b ilid a d e d e d e sco b r ir e ssa estra tég ia .

A m a te m á tic a n ecessá ria p a ra e n c o n tr a r a m e lh o r estra tég ia é u m

ta n to q u a n to

c o m p lic a d a . E n tr e ta n to , n ã o é d ifíc il v er ific a r q u e a e str a té g ia é e fe tiv a , d e ix a n d o q u e o o p o n e n t e s e v a lh a d a s m a n e ir a s (a ), (b ), (c) o u (d ). E x em p lific a n d o , das 12 cham adas

r f i b i n / w

E m

e le g a n h a rá 7 v ez e s,

g a n h a rá 5 v ezes

e m m é d ia , m a s ga­ nhará apenas 2 fic h a s c a d a v e z ; e n ­ q u an to em

em

cad a 12, e

4 fic h a s e m

a certa m o u

um a das vezes;

cada

a m b o s er­

m as p erd erá 7

cada

ram e n e­

v e z e s 3 fic h a s d e ca d a v ez -

n h u m a fi­

n o v a m en te p erfazen d o u m a

ch a m u dará

p e r d a m é d ia d e 1 fic h a e m

de m ãos.

cad a 12 ch am ad as.

su a p e rd a será,

m é d ia , d e 1 fic h a e m

em ou am bos

cada 12

c h ia d a s perderá 5 vezes, e e m u m a d ela s 3 fic h a s -

m é d ia e le

cada 12

cham adas.

C o m u m e n te , a M o rra é jo g a d a e m u m a v er sã o m a is c o m p le x a , n a q u a l c a d a j o g a d o r c h a m a e m o stra

1, 2 o u

a g o ra c o n siste

em

u m a

m istu ra d e

3 d e d o s. A s regras sã o sem e lh a n te s, e ta m b é m f

j

a m e lh o r e stratég ia , q u e

y r " A

M orra

tam b ém

pode

ser jo g a d a

q u a tr o d e d o s d e c a d a la d o , o u c o m

com

a té

q u a lq u e r

n ú m e r o m a io r c o n v e n c io n a d o p e lo s p a rceiro s.


A Longa Infância

2 1 8 A v id a real co n siste e m b lefes, em p e q u e n a s táticas d e d e sp ista m e n to , e m p erg u n ta r a si p ró p r io o q u e o o u tro está p e n sa n d o so b r e q u a l será nosso p ró xim o m o v im en to . M o rra é u m jo g o e le g a n te e e x c ita n te e, ta m b é m , b a s ta n te r e c o m e n d a v e l. Ã s e m e lh a n ç a d e o u tr o s jo g o s r e a lis ta s , q u e c o n tê m e le m e n to s d e s o r te e d e a d iv in h a ç ã o , n ã o h á n e n h u m m é to d o q u e g r a n ia a v itó r ia . A t e o r ia d o s jo g o s d e vo n N e u t^ r r m a p e n a s p e r m it e a e s c o lh a d a m e lh o r e s t r a t ^ i q u e, a lo n g o p ra zo e c o m s o r te m e d ia n a , p o d e le v a r a o su cesso.

lh e

p e r m ite

fo to g r a fia

ver

de

desaparece

isto

u m a

correta m en te.

e x p lo sã o

id e n tic a m e n te ,

o

P en se a b stra ta m en te. N esta

c o e fic ie n te

d ifer e n c ia l p rim á rio

v ista

é

em

d isso

que

o

c o e fic ie n te

d ifer e n c ia l se c u n d á r io se to r n a v isív e l” . C o m o e le o b s e r v o u , e s s a n ã o é m in h a m a n e ir a d e p e n s a r . C o n ­ tu d o , d e ix e i-o v o lta r p ara L o n d res.

E u fu i p ara m e u la b o ra tó rio

no

n o ite

cam p o .

T ra b a lh ei

in ten sa m en te

a d en tro . P o r v o lta d a

m e ia -n o ite h a v ia c h e g a d o à r e sp o s ta q u e e le q u eria . B e m , J o h n v o n N e u m a n n s e m p r e se d e ita v a m u ito ta r d e , a ssim , e u fu i c o m p r e e n ­ siv o e só o a c o r d e i d e p o is d a s d e z h o r a s d a m a n h ã . A t e n d e u m in h a ch am ad a

te le fô n ic a

“J o h n n y , v o cê

a in d a

na

cam a

está a b so lu ta m e n te

de

seu

h o tel.

E u

lh e d isse:

c e r to ” . S u a resp o sta ? “ V o c ê

m e a c o r d a tã o c e d o a ssim s ó p a ra c o n fir m a r q u e e s to u c e r to ? P o r fav or, esp ere a té q u e eu c o m e ta u m

erro” .

E m b o r a isso p o ssa so a r c o m o v a id a d e, n ã o o era. R e p re se n ta , s im , u m a d e fin iç ã o rea l d a m a n e ir a p e la q u a l c o n d u z ia s u a r id a . N o e n t a n t o , e la e n c e r r a

a lg o

q u e

m e

fa z lem b r a r d e c o m o seu s ú lti­

m o s a n o s d e v id a fo r a m d e sp e r d iç a d o s. N ã o te r m in o u o g ra n d e tra­ b a lh o q u e , d e p o is d e su a m o r te , te m sid o m u ito d ifíc il d e c o n tin u ­ ar. E

a razão

m esm o

d isso e stá n o fa to d e le ter p a r a d o d e p er g u n ta r a si

so b r e a m a n e ira d a s o u tra s p e sso a s v er e m

la tin a m e n te , fo i-se a sso b e r b a n d o

a s c o isa s. P a u -

d e tr a b a lh o e n c o m e n d a d o p o r

fir m a s p a r tic u la r e s, p e la in d ú str ia e p e lo g o v e r n o . E r a m a tiv id a d e s q u e o situ a v a m

n o c e n tr o d o p o d er, m a s q u e, d e n e n h u m a m a n e i­

ra lh e a c r e s c e n ta v a m c o n h e c im e n to s o u in tim id a d e c o m as p e sso a s — as q u a is, a in d a h o je , n ã o d e c ifr a r a m a m e n s a g e m d e su a p r o p o s i­ ç ã o s o b r e o q u e fa z e r d a m a te m á tic a d a v id a h u m a n a e d a m e n te . J o h n n y

v on

N eu m a n n era u m

a m a n te d a a risto cra cia d o in te ­

le c to . M a s e ss a c r e n ç a s ó p o d e d e str u ir a c iv iliz a ç ã o n a fo r m a q u e a c o n c e b e m o s . S e tiv e r m o s d e o p ta r, q u e seja m o s u m a d e m o c r a c ia d o in te le c to . N ã o p o d e m o s n o s d ar a o lu x o d e p erecer d e v id o a o d ista n c ia m e n to en tre o p o v o e o g o v ern o , en tre o p o v o e o p o d er, que

se

c o n stitu iu

n o

fa to r

d ete r m in a n te

d o

fraca sso, ta n to d a

c iv iliz a ç ã o e g íp c ia , c o m o d a b a b ilô n ic a , e d a r o m a n a , ig u a lm e n te . E sse

d ista n c ia m e n to

se o

c o n h e c im e n to

p essoas tras;

de

sem

só p o d e ser e v ita d o , só p o d e ser e lim in a d o , p e r m a n e c e r n o s la r e s e n a s c a b e ç a s d a q u e la s

n en h u m a

form a

p o d e r d e c isó rio .

a m b iç ã o

n en h u m a

d e ex ercer c o n tr o le so b re as o u ­

deverá

ser

e n tr o n iz a d a

n o

cen tro

do

435


A Escalada do Homem

N ã o

d eix a

m u n d o

de

ser

u m a

dura

liç ã o .

d ir ig id o p o r e sp ec ia lista s:

ch a m a m o s

u m a

s o c ie d a d e

A fin a l d e c o n ta s, e ste é u m

m a s n ã o r e p r e se n ta e le o q u e

c ie n tífic a ? N ã o ,

n ã o rep resen ta . E m

u m a s o c ie d a d e c ie n tífic a o p a p e l d o e sp e c ia lista c o n siste e m fa s ta is c o m o

fazer c o m

tare­

q u e as in sta la ç õ e s e lé tr ic a s fu n c io n e m .

E n t r e t a n to , c a b e a v o c ê , c a b e a m im , s a b e r c o m o a N a tu r e z a f u n ­ c io n a , e d e q u e fo r m a (p o r e x e m p lo ) a e le tr ic id a d e é u m a d e su a s e x p r e ssõ e s n a lu z e e m

m eu cérebro.

N ó s n ã o p r o g r e d im o s n a s o lu ç ã o d o p r o b le m a d a v id a e d a m e n ­ te q u e , p o r u m N eu m an n .

te m p o , se c o n stitu iu n a p r e o c u p a ç ã o d e J o h n v o n

Será

p o ssív e l e n c o n tr a r fu n d a m e n to s fe liz e s p a ra as

fo rm a s d e c o m p o r ta m e n to s q u e ju lg a m o s co n v e n ie n te s para o h o ­ m em

g lo b a l o u a s o c ie d a d e r e a liz a d a ? V im o s q u e o c o m p o r t a m e n ­

to h u m a n o é c a r a c te r iz a d o p o r u m tó r io

para

o

d esen cad ea m en to

lo n g o a tra so in ter n o , p rep a ra ­

de

ações.

A

a tiv id a d e b io ló g ic a

su b ja c e n te a essa in ércia se e ste n d e u a o lo n g o d e to d a a p r o lo n g a ­ d a in fâ n c ia e a le n ta m a tu r a ç ã o d o h o m e m . M as, o c o n str a n g im e n ­ t o d a a ç ã o n o h o m e m t e m s ig n if ic a d o m a is a m p lo . N o s s a m a tu r id a ­ d e, n o ssa r e sp o n sa b ilid a d e e n o ssa h u m a n id a d e sã o m e d ia d a s p o r v a lo r e s, in te r p r e ta d o s p o r

m im

co m o

sen d o

e stra tég ia s g lo b a is,

a tr a v é s d a s q u a is e q u ilib r a m o s o s e fe ito s d e im p u ls o s c o n flita n te s . N ã o

é v e r d a d e q u e c o n d u z im o s n o ssa s v id a s à s e m e lh a n ç a d e u m

program a u m a A o

c o m p u ta c io n a l

tal a b o r d a g e m c o n tr á r io ,

os

d e tal fo r m a

p r o b le m a s

m o ld e m o s

o rien ta m . E la b o r a m o s

para so lu ç ã o n ossa

d e p r o b le m a s. S e g u in d o

d a v id a se t o r n a m

con d u ta

in so lú v e is.

so b re p r in c íp io s q u e a

e str a té g ia s é tic a s o u

siste m a s d e v a lo r e s,

q u e as reco m p en sa s a cu rto p ra zo seja m p esad a s na

b a la n ç a d o o b je tiv o fin a l, d a s s a tis fa ç õ e s a lo n g o p r a z o . R e a lm e n te , m en to .

A

esta m o s

e sc a la d a

d o

em

u m

h o m em

m a r a v ilh o so

lim ia r

está

o sc ila n d o

sem pre

d o

g a n g o r r a . A o e le v a r o p é , n a e s p e r a n ç a d e g a lg a r m a is u m

co n h eci­ em

u m a

degrau,

h á se m p r e u m a se n sa ç ã o d e in c e r te z a q u a n to a se e sse m o v im e n to n o s lev a r á r e a lm e n te p a ra fr e n te . E o q u e t e m o s p e la fr e n te ? P e lo m e n o s a ta r e fa d e o r g a n iz a r t u d o a q u ilo q u e já a p r e n d e m o s , e m físic a e e m

b io lo g ia , n o s e n tid o d e u m

e n te n d im e n to d a situ a ç ã o

a q u e c h e g a m o s: e n fim , n o q u e é o h o m e m . O

c o n h e c im e n to

n ã o se c o n stitu i e m

u m

b orrad or d e fato s. A c i­

m a d e tu d o é u m a r e sp o n sa b ilid a d e p ela in teg r id a d e d o q u e so m o s, p r im a r ia m e n te d a q u ilo q u e s o m o s e n q u a n t o c r ia tu r a s é tic a s. M a s, 4 3 6

u m a in te g r id a d e e sc la r e c id a n ã o p o d e , d e m a n e ir a n e n h u m a , p er-


A Longa Infância

m i tir q u e o u t r a s p e s s o a s d ir ija m o s d e s t in o s d o m u n d o e n q u a n t o n ó s m e s m o s c o n tin u a m o s a n o s n o rtea r p o r u m a c o lc h a d e reta ­ lh o s de

p r e c e ito s m o r a is, e x tr a íd o s d e c r e n ç a s a b so lu ta s. A í está

a q u estã o

r e a lm e n te c r u c ia l d o s n o s s o s d ia s. P o d e -se c o n sid e r a r

d isp e n sá v e l a co n se lh a r as p e sso a s a a p r e n d e r e m

e q u a ç õ e s d ifer e n ­

c ia is o u a se g u ir c u r s o s d e e le tr ô n ic a o u d e p r o g r a m a ç ã o d e c o m ­ p u ta d or. ch ega d o

N o ao

en ta n to ,

se

d aqui a

e n te n d im e n to

c in q ü e n ta

an os

não

se

tiv e r

d a s o r ig e n s d o h o m e m , su a h istó r ia ,

se u p r o g r e sso , e se isso n ã o c o n stitu ir m a té r ia c o m u m

a q u a lq u e r

liv ro e sc o la r , n ó s s im p le s m e n te d e ix a r e m o s d e ex istir. A

m a té r ia

c u r r ic u la r d o s liv ro s e s c o la r e s d e a m a n h ã será te c id a n a a v e n tu r a d e h o je; e n essa a ven tu ra é q u e e sta m o s en g aja d os. A c o n te m p la ç ã o d e sta n o ssa p a isa g e m o c id e n ta l a tu a l m e ca rre­ g a d e p r o fu n d a tr iste z a , n a m e d id a e m d e term in a çã o , u m para

on d e?

m en te

Para

p ro fu n d o s,

se n tim e n to o

Z en ta is

B u d ism o ; c o m o

que d etecto u m a perda de

d e fu ga d o c o n h e c im e n to “ N ão

fu ga

p a ra q u e s tio n a m e n to s fa lsa ­ sería m o s, n o

fu n d o , apenas

um a

e sp é c ie a n im a l? ” ; p ara p e r c e p ç õ e s e x tra -sen so ria is e m isté ­

r io s.

E ssa s p a isa g e n s n ã o

fa zem

p a rte d o

e s ta m o s a p to s a p erco rrer, se a isso ao

c o n h e c im e n to

n a tu reza , n o O

h o m em .

n o s d e v o ta r m o s : o q u e lev a

S o m o s o e x p e r im e n to sin g u la r d a

s e n tid o d e p r o v a r q u e a in te lig ê n c ia r a c io n a l é m a is

r ic a e fr u tífe r a d o tin o .

d o

c a m in h o o q u a l agora

que

o

r e fle x o . O

a u to c o n h e c im e n to ,

c o n h e c im e n to

reu n in d o

fin a lm e n te

é n osso a

des­

e x p e r iê n c ia

d as a rtes e as e x p la n a ç õ e s d a c iê n c ia , n o s esp era à n o ssa fren te. E ssa s c o n sid e r a ç õ e s p essim ista s so b re u m liz a ç ã o

o cid e n ta l p o d e m

p a recer in só lita s n o

r e tr a im e n to d a c iv i­ co n tex to

d a v isã o

e s s e n c ia lm e n te o tim is ta q u e te n h o a d o ta d o e m r e la ç ã o à e sc a la d a d o h o m em ;

m e u e n t u s ia s m o te r ia a r r e f e c id o n e s ta a ltu r a ? É c la r o

que

n ã o . A e sc a la d a d o h o m e m

que

p r o ssig a

em pu rrada

p ela

co n tin u a rá . M as n ã o se p reten d a c iv ü iz a ç ã o

o cid en ta l

da

m a n eira

c o m o e la h o je se e n c o n t r a . N e s t e m o m e n t o e s ta m o s s e n d o a v a lia ­ d o s n a b a la n ç a . S e d e sistir m o s, se m p r e h a verá u m

d eg ra u seg u in te

— m a s n ã o ser á p is a d o p o r n ó s. N ã o r e c e b e m o s n e n h u m a g a r a n tia q u e n ã o t e n h a s id o f o r n e c id a à A ssír ia , a o E g ito e a R o m a . T a m ­ bém

esta m o s esp eran d o

n o s torn a r o

p a ssa d o d e a lg u é m , e n ã o ,

n ecessa ria m en te, n o sso fu tu ro . R e p r e s e n ta m o s u m a c iv iliz a ç ã o c ie n tífic a : e is s o sig n ific a u m a c iv iliz a ç ã o n a q u a l o c o n h e c im e n t o e s u a in te g r id a d e s ã o c r u c ia is. C iê n c ia é a p e n a s a p a la v r a la tin a p a ra d e sig n a r c o n h e c im e n to . S e n ã o g a lg a r m o s o p r ó x im o d eg ra u , isso será fe ito p o r o u tr o s p o v o s,

4 3 7


A Escalada do Homem

d a Á fr ic a , d a C h in a . D e v e r ia e u m en te? N ão, n ão em m u dar sua cor. N o m e

n u tr iu ,

q u em

to m a r e ssa e v e n tu a lid a d e tr iste ­

si m e sm a . A

h u m a n id a d e

tem

o d ireito d e

e n ta n to , lig a d o c o m o e s to u à c iv iliz a ç ã o q u e

e u r e a lm e n te m e sen tir ia in fin ita m e n te

a In g la terra fo r m o u , a q u e m

e la e n s in o u

tr iste . E u , a

su a lín g u a e su a

to le r â n c ia e e n t u s ia s m o p e la b u s c a in te le c tu a l, c e r t a m e n t e fic a r ia m u ito

d e so la d o

(c o m o v o c ê s ta m b é m ) se, d a q u i a u n s c e m

S h ak esp eare e N e w to n fo ssem

anos,

c o n sid e r a d o s fó sseis h istó r ic o s n a

e sc a la d a d o h o m e m , à s e m e lh a n ç a d o q u e a c o n te c e c o m

H o m ero

e E u c lid e s. In ic ie i e sta série n o v a le d o O m o , n a Á fr ic a O r ie n ta l, e a q u i r e to r ­ n o p o r q u e a lg o q u e a c o n te c e u n e ste lu g a r p e r m a n e c e u e m

m in h a

m e n te d e s d e a q u e le p r im e ir o e n c o n tr o . N a m a n h ã d o d ia e m éram os

para dar

série, u m

in íc io

p eq u en o

à

o rg a n iz a ç ã o

d o

p r im e ir o c a p ítu lo

que da

a v iã o d e c o lo u d e n o ssa p ista le v a n d o a b o r d o

o c a m e ra m a n e o té c n ic o d e s o m , m a s, s e g u n d o s a p ó s ter su b id o , o a v iã o c a iu . M ila g r o sa m e n te , o

p ilo to e o s d o is o u tro s h o m e n s

s a ír a m ile so s. N a tu r a lm e n te , esse e v e n to m a u a g o u r a d o m e m a r c o u p r o fu n ­ d a m e n te . N o m o m e n to e m q u e m e p rep arava p ara fazer o p a ssad o d e sfila r , o

p resen te

in sin u a

so rra teira m en te su a m ã o

n a p á g in a

e sc r ita d a h istó r ia e d iz: “ É a q u i. É a g o r a ” . H istó r ia n ã o s ã o e v e n ­ to s , m a s, sim , p e sso a s. A lé m d ando; é o o a to o

h o m em

in sta n tâ n e o

d isso , n ã o sã o p e sso a s a p en a s r e c o r ­

v iv en d o seu p a ssa d o n o

p resen te. H istó ria é

d e d e c is ã o d o p ilo to , q u e c r ista liz a e m

c o n h e c im e n to , to d a a c iê n c ia , tu d o

a q u ilo

que

si t o d o

fo i a p r e n d id o

d esd e o su rg im en to d o h o m e m . P e r m a n e c e m o s in a tiv o s p o r d o is d ia s à e sp e r a d e o u tr o a v iã o . N esse

in terv a lo ,

em

con versa

co m

d e lic a d a m e n te , m a s , ta lv e z , s e m que

a lg u m

d isse:

o c a m e ra m a n , p e r g u n te i-lh e

m u ito

ta to , se e le n ã o p r e fe r ia

o u tr o r e a liz a sse a film a g e m

aérea. A o resp o n d er-m e,

“ T en h o

p e n s a d o n iss o . V o u s e n tir m e d o d e su b ir a m a n h ã ,

m a s e u v o u fa zer a film a g e m . E sse é m e u d e v e r ” . E stam o s to d o s co m m ed o — de n ossa p resu n ção, de n o sso fu tu ­ r o , d o m u n d o . T a l é a n a tu r e za d a im a g in a ç ã o h u m a n a . C o n tu d o , c a d a h o m e m , c a d a c iv iliz a ç ã o , fo i p a ra a fr e n te e m r a z ã o d e seu e n g a ja m e n to n a q u ilo q u e h a v ia d e c id id o r e a liz a r . O c o m p r o m is s o p essoal de u m

h o m e m

co m

seu o fíc io , o c o m p r o m is so in tele c tu a l

e o c o m p r o m is s o e m o c io n a l, u n id o s e m u m só p r o p ó s ito , fiz e r a m 4 3 8

a E sca la d a d o H o m e m .

2 19 O co n h e c im e n to n ã o é u m borrador d e fa to s esparsos. A cim a de tu d o é resp o n sá v el pela in teg r id a d e d o q u e som os, m orm en te do que som os e n q u a n t o cria tu ras ética s. O c o m p ro m isso pessoal de um h o m e m c o m seu o fíc io , o co m p ro m isso in telectu a l e o co m p ro m isso e m o c io n a l, u n id os em u m só p ro p ó sito , fiz e r a m a E scalad a do H om em . P á g in a d e r o s to d e "C anções da E x p e r iê n c ia " d e W i ll ia m B l a k e .



BIBUOG^RAFIA c a p ít u l o UM C a m p b e l l , B e r n a r d G . , H u m a n E v o l u i i o n : A n I n t r o d u c t i o n t o M a n ’s A d a p ta tio m , A ld in e P u b lish in g C o m p a n y , C h ic a g o , 1 9 6 6 , e H e in e m a n n E d u c a tio n a l, L o n d r e s, 1 9 6 7 ; “ C o n c e p tu a l P ro gress in P h y sic a l A n t r o p o lo g y : F o s s i l M a n ” , A n n u a l R e v i e w o f A n t r o p o l o g y , I, p p . 2 7 - 5 4 , 1 9 7 2 . C la r c k , W ilfr id E d w a r d L e G r o s , T h e A n te c e d e n ts o f M a n , E d in b u r g h U n iv er sity Press, 1 9 5 9 . H o w e lls , W illia m , e d ito r , I d e a s o n H u m a n E v o lu tio n : S e le c te d E s s a y s , 1 9 4 9 ­ -1 9 6 1 , H arvard U n iv e rsity Press, 1 9 6 2 . L e a k e y , L o u is S . B ., O ld u v a i G o r g e , 1 9 5 1 - 6 1 , 3 v o ls ., C a m b r i d g e U n iv e r s it y P ress, 1 9 6 5 -7 1 . L e a k e y , R ic h a r d E . F ., “ E v id e n c e fo r a n A d v a n c e d P lio -P le is to c e n e H o m in id f r o m E a s t R u d o l f , K e n y a ” , N a tu r e , 2 4 2 , p p . 4 4 7 - 5 0 , 1 3 d e a b r il d e 1 9 7 3 . L e e , R ic h a r d B ., e I r v e n D e V o r e , e d ito r e s , M a n th e H u n te r , A l d i n e P u b ­ lish in g C o m p a n y , C h ic a g o , 1 9 6 8 .

C A PÍT U L O D O IS K e n y o n , K a t h le e n M ., D ig g in g u p J e r ic h o , E r n e s t B e n n , L o n d r e s , e F r e d e r ic k A . Praeger, N o v a Iorque, 1 9 5 7 . K im b er, G o rd o n , e R . S. A th w a l, “ A R e a sse ssm e n t o f th e C o u rse o f E v o lu t io n o f W h e a t ” , P r o c e e d in g s o f th e N a tio n a l A c a d e m y o f S c ie n c e s , 6 9 , n .o 4 , p p . 9 1 2 - 1 5 , a b r il d e 1 9 7 2 . P ig g o tt, S tu a r t, A n c ie n t E u r o p e : F r o m th e B e g in n in g s o f A g r ic u ltu r e to C la s s ic a l A n t iq u it y , E d i n b u r g h U n iv e r s it y P r e s s e A l d i n e P u b lis h in g C o m p a n y , C h ic a g o , 1 9 6 5 . S c o t t , J . P ., “ E v o l u t io n a n d D o m e s t ic a t io n o f th e D o g ” , p p . 2 4 3 - 7 5 in B io lo g y , 2, e d ita d o p o r T h e o d o s iu s D o b z h a n s k y , M a x K . H ech t, e C. S teere, A p p le to n -C e n tu r y -C r o fts, N o v a Io rq u e, 1 9 6 8 . Y o u n g , J . Z ., A n I n tr o d u c tio n t o th e S tu d y o f M a n , O x f o r d U n iv e r s ity P ress, 1 9 7 1 .

William

C A PÍT U L O T R Ê S G i m p e l , J e a n , L e s B â tis s e u r s d e C a th é d r a le s , E d i t io n s d u S e u il, P a r is, 1 9 5 8 . H e m m in g , J o h n , T h e C o n q u e s t o f th e In c a s, M a c m illa n , L o n d r e s, 1 9 7 0 . L o r e n z , K o n r a d , O n A g g r e s s io n , M e t h u e n , L o n d r e s , 1 9 6 6 . M o u ra n t, A rth u r E rn est, A d a C . K o p e c e K a zim iera D o m a n ie w s k a -S o b c z a k , T h e A B O B lo o d G r o u p s ; c o m p r e h e m iv e ta b le s a n d m a p s o f w o r ld d is tr ib u tio n , B la c k w e ll S c ie n t if ic P u b lic a t io n s , O x f o r d , 1 9 5 8 . R o b e r ts o n , D o n a ld S ., H a n d b o o k o f G r e e k a n d R o m a n A r c h ite c tu r e , C a m ­ b rid g e U n iv e r sity P ress, 2 .a e d iç ã o , 1 9 4 3 . W i l l e y , G o r d o n R . , A n I n t r o d u c t i o n t o A m e r i c a n A r c h a e o l o g y , V o l . I, N o r t h a n d M id d le A m e r ic a , P r e n tic e -H a ll, N e w J e r s e y , 1 9 6 6 .

4 4o

C A PÍT U L O Q U A T R O D a lto n , J o h n , A N e w S y s te m o f C h e m ic a l P h ilo s o p h y , 2 v o ls., R . B ic k e r sta ff e G . W ilso n , L o n d r e s, 1 8 0 8 - 2 7 . D e b u s , A lle n G ., “ A l c h e m y ” , D ic tio n a r y o f th e H is to r y o f I d e a s , C h a r le s S c r ib n e r , N o v a Io r q u e , 1 9 7 3 . N e e d h a m , J o s e p h , S c ie n c e a n d C iv iliz a tio n in C h in a , 1 -4 , C a m b r i d g e U n i ­ v er sity P ress, 1 9 5 4 -7 1 . P a g e l , W a l t e r , P a r a c e ls u s . A n I n t r o d u c t i o n t o P h il o s o p h ic a l M e d i c in e in th e E r a o f th e R e n a is s a n c e , S. K a rg e r , B a s e l e N o v a I o r q u e , 1 9 5 8 . S m it h , C y r il S t a n le y , A H is to r y o f M e ta llo g r a p h y , U n iv e r s it y o f C h ic a g o P ress, 1 9 6 0 .


C A P ÍT U L O C IN C O H e a t h , T h o m a s L ., A M a n u a l o f G r e e k M a th e m a tic s , 7 v o l s ., C l a r e n d o n P ress, O x fo r d , 1 9 3 1 ; D o v e r P u b lic a tio n s, 1 9 6 7 . M ie li, A l d o , L a S c ie n c e A r a b e , E . J . B rill, L e id e n , 1 9 6 6 . N e u g e b a u e r , O t t o E d u a r d , T h e E x a c t S c i e n c e s in A n t i q u i t y , B r o w n U n iv er sity P ress, 2 .a e d iç ã o , 1 9 5 7 ; D o v e r P u b lic a tio n s, 1 9 6 9 . W ey l, H e r m a n n , S y m m e tr y , P r in c e to n U n iv e rsity P ress, 1 9 5 2 . W h ite , J o h n , T h e B irth a n d R e b ir th o f P ic to r ia l S p a c e , F a b e r , 1 9 6 7 . C A P IT U L O SE IS D r a k e , S t ^ m a n , G a lile o S tu d ie s , U n iv e r s it y o f M ic h ig a n P r e s s , 1 9 7 0 . G e b l e r , K a r l v o n , G a lile o G a lile i u n d d ie R o m is c h e C u r ie , V e r l a g d e r J . G . G o tta 's c h e n B u c h h a n d lu n g , S tu ttg a rt, 1 8 7 6 . K u h n , T h o m a s S ., T h e C o p e m ic a n R e v o lu tio n , H a rv a r d U n iv e r s ity P ress, 1957. T h o m p s o n , J o h n E r ic S id n e y , M a y a H is to r y a n d R e lig io n , U n iv e r s it y o f O k la h o m a P ress, 1 9 7 0 . C A PÍT U L O SE T E E in s t e in , A lb e r t, “ A u t o b i o g r a p h i c a l N o t e s ” in A lb e r t E in s te in : P h ilo s o p h e r -S c ie n tis t, e d it a d o p o r P a u l A r t h u r S c h ilp p , C a m b r id g e U n iv e r s ity P ress, 2 .a ed içã o , 1 9 5 2 . H o f f m a n , B a n e s h , e H e le n D u k a s , A lb e r t E in s te in , V ik in g P r e ss, 1 9 7 2 . L e ib n iz , G o t t f r i e d W ilh e lm , N o v a M e th o d u s p r o M a x im is e tM in im is , L e ip zig , 1 6 8 4 . N e w t o n , I s a a c , I s a a c N e w t o n P h ilo s o p h ia e N a tu r a lis P r in c ip ia M a th e m a tic a , L o n d r e s , 1 6 8 7 , e d ita d o p o r A le x a n d r e K o y r é e L B e r n a r d C o h e n , 2 v o ls., C a m b rid g e U n iv e rsity P ress, 3 .a e d iç ã o , 1 9 7 2 . C A P ÍT U L O O IT O A s h t o n , T . S ., T h e I n d u s tr ia l R e v o l u t i o n 1 7 6 0 - 1 8 3 0 , O x f o r d U n i v e r s i t y P ress, 1 9 4 8 . C r o w t h e r , J . G ., B r itis h S c ie n tis ts o f th e 1 9 th C e n tu r y , 2 v o ls ., P e lic a n , 1 94 0-1 . H o b s b a w m , E . J ., T h e A g e o f R e v o lu tio n : E u r o p e 1 7 8 9 -1 8 4 8 , W e id e n fe ld & N ic o ls o n , 1 9 6 2 ; N e w A m e r ic a n L ib rary , 1 9 6 5 . S c h o f ie l d , R o b e r t E ., T h e L u n a r S o c ie ty o f B irm in g h a m , O x f o r d U n iv e r s ity Press, 1 9 6 3 . S m il e s , S a m u e l , L iv e s o f th e E n g in e e r s , 1 -3 , J o h n M u r r a y , 1 8 6 1 ; r e im p ., D a v id & C h a rles, 1 9 6 8 . C A PÍT U L O N O V E D a r w i n , F r a n c is , T h e L if e a n d L e tte r s o f C h a r le s D a r w in , J o h n M u r r a y , 1887. D u b o s , R e n é J u le s , L o u is P a s te u r , G o lla n c z , 1 9 5 1 . M a lt h u s , T h o m a s R o b e r t , A n E s s a y o n th e P r in c ip ie o f P o p u la tio n , a s it a ffe c ts th e F u tu r e I m p r o v e m e n t o f S o c ie ty , J. J o h n s o n , L o n d r e s , 1 7 9 8 . S a n c h e s , R o b e r t, J a m e s F erris e L e slie E. O rgel, “ C o n d itio n s fo r p u r in e s y n t h e s is : D id p r e b io t ic s y n t h e s is o c c u r a t l o w t e m p e r a t u r e s ? ” , S c ie n c e , 1 5 3 , pp. 7 2 -3 , ju lh o de 1 9 6 6 . W a l l a c e , A l f r e d R u s s e l , T r a v e is o n t h e A m a z o n a n d R i o N e g r o , W ith a n A c c o u n t o f t h e N a tiv e T r ib e s , a n d O b s e r v a tio n s o n th e C lim a te , G e o lo g y , a n d N a tu r a l H is to r y o f th e A m a z o n V a lle y , W a r d , L o c k , 1 8 5 3 .

441


C A PÍT U L O D E Z B r o d a , E n g e lb e r t, L u d w ig B o ltz m a n n , F r a n z D e u tic k e , V ie n a , 1 9 5 5 . B r o n o w s k i, J ., “ N e w C o n c e p t s in t h e E v o l u t io n o f C o m p l e x i t y ” , S y n th e s e , 2 1 , n .° 2, pp. 2 2 8 -4 6 , j u n h o d e 1 9 7 0 . B u r b id g e , E . M a rg a ret, G e o ffr e y R . B u r b id g e , W illia m A . F o w le r , e F r e d H o y l e , “ S y n t h e s is o f th e E l e m e n t s in S t a r s ” , R e v ie w s o f M o d e m P h y s ic s , 2 9 , n .° 4, pp. 5 4 7 -6 5 0 , o u tu b ro de 1 9 5 7 . S e g r è , E m í l io , E n r ic o F e r m i: P h y s ic is t, U n iv e r s it y o f C h ic a g o P r e s s , 1 9 7 0 . S p r o n s e n , J . W . v a n , T h e P e r io d ic S y s te m o f C h e m ic a l E le m e n ts : A H is to r y o f th e F ir s t H u n d r e d Y e a r s , E lse v ie r , A m s t e r d a m , 1 9 6 9 . C A PÍT U L O O N Z E B l u m e n b a c h , J o h a n n F r ie d r ic h , D e g e n e r is h u m a n i v a r ie ta te n a tiv a , A . V a n d e n h o e c k , G o ttin g en , 1 7 7 5 . G illis p ie , C h a r l e s C ., T h e E d g e o f O b je c t iv i ty : A n E s s a y in th e H is to r y o f S c ie n tific Id e a s, P r in c e to n U n iv e r s ity P ress, 1 9 6 0 . H e ise n b e r g , W ern er, “ U b e r d e n a n sc h a u lic h e n In h alt d er q u a n te n th e o r e tis c h e n K i n e m a t ik u n d M e c h a n i k ” , Z e its c h r if t f ü r P h y s ik , 4 3 , p. 1 7 2 , 1927. S z íla rd , L e o , “ R e m in is c e n c e s ” , e d ita d o p o r G e r tr u d W eiss S z ila rd & K a t h le e n R . W in s o r in P e r s p e c tiv e s in A m e r ic a n H is to r y , II, 1 9 6 8 . C A PÍT U L O D O Z E B r ig g s, R o b e r t W . e T h o m a s J . K in g , from B l a s t u l a C e l l s i n t o E n u c l e a t e d F r o g s ’E g g s ” , P r o c e e d i n g s th e N a tio n a l A c a d e m y o f S c ie n c e s , 3 8 , p p . 4 5 5 - 6 3 , 1 9 5 2 . F is h e r , R o n a ld A ., T h e G e n e tic a l T h e o r y o f N a tu r a l S e le c tio n , C la r e n d o n P ress, O x fo r d , 1 9 3 0 . O lb y , R o b e r t C ., T h e O r ig in s o f M e n d e lis m , C o n s t a b le , 1 9 6 6 . S o o r o d in g e r , E r w in , W h a t is L ife ? , C a m b r id g e U n iv e r s it y P r e s s, 1 9 4 4 ; n o v a e d ., 1 9 6 7 . W a t s o n , J a m e s D ., T h e D o u b le H e lix , A t h e n e u m , e W e id e n f e l d & N i c o l s o n , 1968. C A PÍT U L O T R E Z E B r a ith w a ite , R . B ., T h e o r y o f G a m e s a s a to o l f o r th e M o ra l P h ilo s o p h e r , C a m b r id g e U n iv e r s ity P ress, 1 9 5 5 . B r o n o w s k i, J ., “ H u m a n a n d A n im a l L a n g u a g e s ” , p p . 3 7 4 - 9 5 , in T o H o n o r R o m a n J a k o b s o n , 1 ., M o u t o n & C o . , H a i a , 1 9 6 7 . E c c le s , J o h n C ., e d i t o r , B r a in a n d t h e U n ity o f C o n s c io u s E x p e r ie n c e , S p r in g er-V erla g , 1 9 6 5 . G reg o ry , R ich a rd , T h e ln te llig e n tE y e , W eid en feld & N ic o lso n , 1 9 7 0 . N e u m a n n , J o h n v o n , e O sk a r M o r g e n ste r n , T h e o ry o f G a m e s a n d E c o n o m ic B e h a v io r , P r i n c e t o n U n iv e r s it y P r e ss, 1 9 4 3 . W o o l d r id g e , D e a n E ., T h e M a c h in e r y o f t h e B r a in , M c G r a w - H ill, 1 9 6 3 .

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^ÍNDICE REMISSIVO O s n ú m e r o s e m n eg rito se referem às ilu stra çõ es A b b o y d a le , C o m p le x o In d u strial, Y o rk sh ire, 2 7 2 A b elh a s, m e c a n is m o s d e rep ro d u ­ ç ã o nas, 1 9 7 , 3 8 6 , 3 9 6 , 4 0 0 A b óbada, Invenção da, 46, 88, 11O , 1 1 2 , 165 Á cid o D eso x ir ib o n u c lé ic o (A D N ), 2, 2 0 , 178, 1 9 5 , 1 12, 3 1 7 ,3 5 6 , 3 9 0 -3 9 5 A ç o , fab ricaçã o d o , 1 3 1 -1 3 3 A c ú stic a e M ú sica, h istó ria da, 6 6 , 156, 157, 169, 176, 179, 379 A d a p is p a r is ie n s is e A d a p is m a g n u s, 3 7 A d a p ta ç õ e s , a n im a l, 19, 4 8 ; h o ­ m em , 48 v. t b . E v o l u ç ã o c u l t u r a l A d ela rd d e B a th (sé c u lo X II), 6 9 A e g y p to p ith e c u s z e u x is, 1 0 , 3 7 , 4 2 Á frica, 5 6 , 5 9 , 4 3 7 ; h o m e m na, 25-29 A g ressão , T eorias d a , 3 7 0 4 ; c o m o ^ in stin to n o h o m e m , 88 Á g u a , c o m o fo n te de p o tên cia , 2 6 0 -2 6 2 ; estru tu ra a tô n ú ca , 1 52; estrutura da g o ta , 8 1 A lav a n ca, p rin cíp io da, 2 7 ,7 4 ,1 1 8 A lcorã o, 3 3 , 1 6 6 , 1 6 9 A f o n s o X , o S á b io , R e i d e C a stela e L eón (1221-84), 75, 176 A lg a , v e r d e , 3 8 8 , 4 0 6 ; S p ir o g y r a , 200 A lh a m b ra , o , G ran ad a, E sp an h a , 7 2 , 7 3 , 20, 1 69 -7 6 A l h a z e n ( a b u - ’A l i A l H a s e n i b n A l - H a y t h a n ) (d. 1 0 3 8 ) , 5 , 1 7 9 ; O p tic a e T h e s a u ru s A lh a z e n i, 7 7 A legri, G reg ó rio ( 1 5 8 2 - 1 6 5 2 ) , 2 0 8 A lq u im ia, 2 0 , 1 2 3 , 1 3 3 , 1 3 4 , 136 , 138, 142, 150, 152, 238, 239, 3 2 1 ,3 4 1 , 343 A m a z o n a s , R i o , P e r u e B ra sil, 4 2 , 9 2 , 2 9 4 , 3 0 1 , 3 0 3 , 3 0 6 ; flo res­ tas d o , B ra sil, 1 4 1 , 1 4 4 , 1 4 5 ; e x ­ p e d iç ã o d e B a te s e W a lla c e às, 296 A m e r ín d io s , trib o s, 4 5 , 9 1 - 9 4 ; d a C a lifó rn ia , 1 9 ; T ierra d e i F u e g o , 147, 3 0 3 ; u so d o ferro p e lo s , 1 31 A n a to m ia , estu d o da, 1 4 2 , 1 7 2 , 2 0 7 ,4 1 2 v. t b . V e s a l i u s A n n e , rain h a d a In glaterra ( 1 6 6 5 ­ -17 14 ), 2 3 4 , 236 A q u e d u to r o m a n o , S eg ó v ia , 4 1 , 1 0 4 ,1 0 6

Ar, com p o siçã o d o , 148 A ra d o , in ven çã o d o, 2 7 , 7 4 , 7 9 A rb uthot, J o h n (1 6 6 7 -1 7 3 5 ), 236 A rco, e v o lu çã o do, 1 0 3 -1 1 0 A r is tó te le s ( 3 8 4 - 3 2 2 a .C .), 1 4 2 , 194, 197, 208, 224 A r q u i m e d e s (c. 2 8 7 - 2 1 2 a .C .), 7 4 , 1 7 7 , 2 0 0 ; O p era , 7 4 , 1 4 2 , 2 0 0 A str o n o n ú a , c iên cia da, 8 4 , 1 6 4 , 165, 177, 181, 189, 2 18 , 2 4 0 ­ -25 4, 3 5 8 -3 6 0 A tleta, 9, 31-36 A tô n ú c a , estrutura, 2 4 , 9 6 , 1 74 , 1 7 6 , 3 30 ; con cep ção d e B o h r da, 167, 3 36 -3 3 8; con cep ção de D a lto n d a, 1 51 ; c o n ce p çã o d e M en d eleiev da, 3 2 3 -3 2 6 ;c o n c e p ção d e R u th erford da, 334 A u b r e y , J o h n ( 1 6 2 6 - 1 6 9 4 ) , B r ie f L iv e s , 1 6 4 A u s c h w itz (O stw ie c im ), P o lô n ia , 186, 1 8 7 ,3 7 4 A u tô m a to Jacq u et-D roz, 127 A u s t r a l o p i t h e c u s a fr ic a n u s , tb . c o ­ n h e c i d o c o m o H o m o tr a n s v a a le n s is , 1 0 , 2 9 , 3 8 , 5 9 , 4 0 1 A u s tr a lo p ith e c u s r o b u s tu s , 1 0 , 3 8 , 42 A u tôrn atos, 1 27 , 1 3 8 , 2 6 5 , 2 6 7 , 286, 3 7 4 ,4 1 6 ,4 3 6 A v e b u r y R in g , In glaterra, 1 9 2 A v e r y , O sw a ld ( 1 8 7 7 -1 9 5 5 ), 3 9 3 A v ic e n a ( A b u -A li a l-H asa in ib n A b id u la h ib n S in a ) (9 8 0 -1 0 3 7 ), 142 B a b i l ô n i a , v. C i v i l i z a ç ã o s u m e r i a n a B a co n , F ra n cis ( 1 5 6 1 - 1 6 2 6 ) , 1 3 6 , 3 25 -3 2 6 B acon , R o g er, V isco n d e d e St. A lb a n s (1 2 1 4 -1 2 9 4 ), 1 79 B a k h tia ri, s u d o e s t e d a P érsia , 2 0 , 2 1 ,6 0 ,6 1 ,6 2 ,6 3 ,6 4 , 7 8 ,4 2 5 B a lística , 8 1 , 1 8 4 , 2 4 9 B a ila, G i a c o m o ( 1 8 7 1 - 1 9 5 8 ) , O P la n e ta M e r c ú r io p a s s a n d o d ia n ­ t e d o S o l, 1 6 5 B arb ari, J a c o p o d e , 8 9 B a r b e r i n i , M a f f e o , v. U r b a n o V I I I B a te s, H e n r y W alter (1 8 2 5 -1 8 9 2 ), 294, 296, 306 B e a u m a r c h a i s , C o n d e d e , v. C a r o n , P ierre A u g u s tin B eau va is, C a te d r a l, F r a n ç a , 1 1 0 B e b ê h u m a n o , 8, 3 1 ; r e fle x o de, 31 B e e th o v e n , L u d w ig van ( 1 7 7 0 ­ -18 27 ), 2 88 B el^ arn ú n o, c a r d e a l R o b e r t o ( 1 5 4 2 ­ -16 21 ), 205 , 2 07 , 2 1 3 , 214, 216

B esouro, caça, 143, 293, 294 B e m in i, G ian loren zo (1 5 9 8 -1 6 8 0 ), 96, 99, 207, 208, 214 B eth e, H an s A lb rech t (1 9 0 6 ), 3 4 3 ­ -344 B íb lia , A , 2 5 , 6 0 - 7 0 , 7 2 , 7 3 , 7 9 , 1 6 2 -1 6 4 , 2 0 9 , 2 3 4 , 2 5 6 , 3 0 9 , 341 B in g h a m , H ira m (1 8 7 5 -1 9 5 6 ), 9 6 B io lo g ia , 6 0 -7 9 , 1 6 5 , 3 0 8 , 3 1 , 3 1 7 , 3 7 9 -4 0 9 , 4 1 1 ,4 3 6 ;d iv e r sid a d e d a v i d a , 2 9 1 ; h u m a n a , v. E v o lu ç ã o cu ltu ral B ioq u ín ú ca, 1 40 , 154, 1 5 5 , 3 1 4 , v. tb . á c i d o d e s o x ir i b o n u c l é ic o (A D N ), estrutura d a s red es d e cristais e p r o te ín a s B i r m in g h a m , I n g la te r r a , c e n t r o in­ te le c tu a l, 2 7 7 - 2 7 9 ; a p ed reja m e n t o da casa d e P r ie stle y e m , 144 B isã o, P in tu ra p a le o lític a d o, 18 B la k e , W illia m ( 1 7 5 7 - 1 8 2 7 ) , 9 0 , 9 1 , 2 5 6 , 2 8 5 ; A u g u r ie s o f ln n o c e n c e , 3 5 1; E u r o p e , A P r o p h e c y , 3 4 ; S o n g s o f E x p e r ie n c e , 2 1 9 ; S o n g s o fI n n o c e n c e , 4 1 2 B lu m e n b a c h , J o h a n n F ried rich ( 1 7 5 2 - 1 8 4 0 ) , co leçã o d e crânios, G O ttin gen , 1 8 2 , 3 6 7 B o ccio n i, U m b e r to (1 8 8 2 -1 9 1 6 ), A s F o rça s d e u m a R u a , 3 3 2 ; D in a m is m o d e u m C ic lis ta , 1 6 5 , 332 B o h r , N ie ls H e n r ik D a v id ( 1 8 8 5 ­ -1 9 6 2 ), 122, 158, 1 6 3 ,2 0 4 ,3 3 2 , 3 3 4 - 3 4 0 ; O n th e C o n s titu tio n o f A t o m s a n d M o le c u le s , 3 3 7 B o ltzm a n n , L u d w ig (1 8 4 4 -1 9 0 6 ), 1 7 3 , 2 0 4 , 3 47 -3 5 1 B o rg ra jew icz, S te p h a n ( 1 9 1 0 ) , 175, 353, 355 B o m , M ax (1 8 8 2 -1 9 7 0 ), 1 6 3 ,1 8 0 , 204, 329, 3 60 -3 6 2, 364, 367, 409 B o sw e ll, J a m e s ( 1 7 4 0 - 1 7 9 5 ) , L ife o f Joh n son , 280 B o u lto n , M a tth e w (1 7 2 8 -1 8 0 9 ), 135, 277, 280 B o u rb o n , F a m flia R eal d o s , F ra n ­ ça, 2 6 7 , 2 6 8 , 3 7 9 Braque, G eorges (18 8 2 -1 9 6 3 ), H o u s e s a t L 'E s ta q u e , 3 3 2 B recht, B ertolt (1 8 9 8 -1 9 5 6 ), 3 6 7 B rid gew a ter, F ra n cis E g erto n , 3 9 D u q u e d e (17 36 -18 0 3), 126, 262, 265 B rin d ley , J a m es (1 7 1 6 -1 7 7 2 ), 126, 260, 262, 265

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B ro g ü e, L o u is V icto r, P r ín c ip e d e (1892), 163, 338, 364 B ron ow sk i, J acob (1 9 0 8 -1 9 7 4 ), T h e fd e n tity o f M an , 4 1 2 , 4 1 5 B r o n z e , 1 3 1 ; calig rafia n o , 5 3 , 1 2 8 ; té c n ic a d e m o d e la r o , 1 2 7 ; d e sco b e r ta d o , O rien te M é d io , 126; bronzes de Shang e de C hou, 5 2 , 126 B rooke, R upert (18 87 -19 1 5), 337 B r o w n e , S ir T h o m a s ( 1 6 0 5 - 1 6 8 2 ) , T h e G a r d e n o f C y r u s , 91 B ru n ellesch i, F ilip p o ( 1 3 7 9 - 1 4 4 6 ) , 179 B runo, G iord a n o (1 5 4 8 -1 6 0 0 ), 198, 205, 207 B r u tu s, M a r c u s J u n iu s (c. 8 5 - 4 2 a. C .), 1 1 3 B u d h a , G a u ^ m a , P r ín ç ip e S iddh a r th a ( 5 6 3 - 4 8 3 a .C ), 4 1 7 B u d ism o , n o Im p é r io M o n g o l, 8 8 , 4 1 7 ,4 3 7 B u z K a sh i, jo g o d o A fg a n istã o , 3 2 ,2 1 3 , 82-86, 4 26 C a lcu la d or, h istó r ic o e m o d e r n o , 5 6 ,7 1 ,9 1 ,1 6 6 , 1 6 8 ,2 0 0 C á lc u lo ,o , I 8 4 - 1 8 7 ,2 2 2 ,2 2 8 , 2 3 9 C a n a l, 2 6 2 -2 6 5 ; L la n g o lle n , V r o n , G a le s, 1 2 5 ; M a n ch ester a W orsley, 2 6 2 C a n y o n d e C h elly , M o n u m e n to N a cio n a l, A rizo n a , 3 5 , 9 1 -9 6 Carbono, 344, 390 C arn ot, N ic o la s L éon ard Sadi ( 1 7 9 6 - 1 8 3 2 ) , L a P u is s a n c e M o tr ic e d u F e u , 2 8 2 C a r o n , Pierre A u g u s tin , c o n d e de B eau m a rch ais (1 7 3 2 -1 7 9 9 ), 2 6 5 , 2 6 7 - 2 6 8 ; A s B o d a s d e F ig a ro , 2 6 5 , 2 6 7 ,2 6 8 C arp accio, V itto re (c. 1 4 5 0 -1 5 2 2 ), S a n to Ü rsu fa , 7 8 , 1 7 9 C arrara, m á r m o r e , Itá lia , 1 1 5 C a rro ll, L e w is (C h a r le s L u t w id g e D o d g s o n ) ( 1 8 3 2 - 1 8 9 8 ) , A lic e n o P a í s d a s M a r a v il h a s , 2 4 9 C a ta r in a II, A G r a n d e , im p e r a tr iz d a R ú ssia ( 1 7 2 9 - 1 7 9 6 ) , 2 7 7 C a v a lo , c o m o a n im a l de tra çã o , 8 0 ; d o m estica çã o do, 86; n o P e r u , 1 0 1; a m a n sa m e n to para m o n ta ria , 24, 8 0 ,4 1 2 ; c a v a leiro s, 8 2 - 8 4 , 1 3 3 C a v er n a s d e A ltallÚ ra, S a n ta n d e r , E spanha, 18, 50-56 C ellin i, B e n v e n u t o ( 1 5 0 0 - 1 5 7 1 ) , 5 7 ; M e m ó r ia s d e B e n v e n u to C e llin i, 1 3 4 , 1 3 6 C e lsu s A u reliu s, 1 4 0 C en ta u ro , len d a grega do, 8 0 C érebro, 31, 4 0 4 , 4 1 2 -4 2 4 , 436 ; e lo co m o çã o , 2 0 , 31;

ev o lu çã o do - h u m a n o , 3 6 , 4 0 , 4 2-46; r ela çõ es c o m a m ã o , 4 2 , 2 1 2 , 113, 115, 116 C h a d w ic k , S ir J a m e s ( 1 8 9 1 - 1 9 7 4 ) , 341, 343, 351 C h agall, M arc ( 1 8 8 7 ) , 3 6 7 ; O C a s a m e n to , 2 0 3 C h a u c e r , G e o f f r e y (c . 1 3 4 0 - 1 4 0 0 ) , T r a ta d o s o b r e o A s tr o lá b io , 1 6 6 , 260 C h in a , 4 1 1 , 4 2 6 , 4 3 7 ; alq u illÚ a n a, 1 3 6 ; ad oração d o ancestral na, 1 1 8 ; m a te m á tic a na, 6 8 ; D in astia S h a n g na, 1 26 C id a d e, o rg an iza çã o d a, 8 8 , 8 9 , 100, 102 C ivilizaçã o su m eria n a , 7 7 , 1 0 0 , 155, 158, 160, 1 8 9 ,4 3 5 ,4 3 7 C lau siu s, R u d o l f J u liu s E m a n n e l (18 22 -18 8 8), 347 C o b r e , 1 2 6 , 1 5 0 , 1 8 2 ; n a P érsia A n tig a, 1 2 5 ; n o I m p é r io In ca , 1 0 2 ; p o n t o d e fu s ã o , 1 3 2 ; a d elg a ç a m e n to d o aram e estirado, 51 C ó d igo , 20 C o lerid ge, S a m u e l T a y lo r ( 1 7 7 2 ­ - 1 8 3 4 ) , K u b la i K h a n , 8 8 ; R im e o f th e A n c ie n t M a rin e r, 2 8 2 C o lo m b o , C ristóvão (1 4 5 1 -1 5 0 6 ), 96, 140, 169, 190, 194 C o m p o r ta m e n to a n im a l, e stu d o s do, 210, 4 1 2 ,4 1 6 C o p ém io o , N icolau (1 4 7 3 -1 5 4 3 ), 8 8 , 1 96 -1 9 8, 2 0 4 -2 1 6 , 2 2 1 ,3 3 4 ; D e r e v o lu tio n ib u s o r b iu m , c o e le s tiu m , 8 8 , 1 4 2 , 1 9 7 C ó rd o b a, G ran d e M esquita, E sp a ­ nha, 4 2, 106 C o w p e r , W illia m ( 1 7 3 1 - 1 8 0 0 ) , 2 4 7 C rab b le, G e o rg e ( 1 7 5 4 - 1 8 3 2 ) , 2 6 0 C r e s c im e n to , an álise m a te m á tic a d o , 8 2 , 1 9 4 , 1 84 -1 8 7 C r e sc e n te F értil, 6 8 , 7 0 , 9 1, 9 2 , 100 C rick , F ra n cis H . C o m p t o n (1 9 1 6 ) , 3 90 -3 9 3 C risto, J esu s, 2 4 , 9 1 , 9 4 , 1 2 5 , 1 5 5 , 1 6 4 -1 6 5 , 196, 4 2 5 ,4 2 9 C r o m w e ll, O liv er ( 1 5 9 9 - 1 6 5 8 ) , 222, 374 C rista l, 3 2 1 - 3 3 2 , 3 5 6 ; d a T a b e la P eriódica d e E lem e n to s , 1 5 9 , 3 2 1 -3 3 0 ; d e m eta is, 1 2 5 , 1 2 6 , 1 3 3 ; d e pirita, d e flu o r ita , d ia ­ m a n t e , cristal d a Islâ n d ia , 7 4 , 1 7 4 ; v. t b . A c i d o D e s o x i r i b o n u c lé ic o ( A D N ) C ru ik sh an k , G e o r g e ( 1 7 9 2 - 1 8 7 8 ) , G ra v u ra s S a tír ic a s , 1 2 6 , 1 2 7 C u ltu ra d o s c a ç a d o r e s m a g d a le n ia nos, 1 1 ,4 6 C u rie, M a r ie S k l o d o w s k a ( 1 8 6 7 -

-1934), 163, 2 04 D a lto n , J o h n ( 1 7 6 6 -1 8 4 4 ), 6 4 ,6 5 , 1 50 -1 5 3, 322 D art, R a y m o n d (1 8 9 3 ), 2 9 D a r w in , C h arles R o b e r t ( 1 8 0 9 ­ 82), 2 4 , 1 4 2 , 1 5 1 , 245, 2 7 9 , 2 91 , 3 01 -3 0 9, 313, 317, 344 , 351, 387; D o w n e H ouse, 148, 149, 306; c o r r e s p o n d ê n c ia c o m A . R . W allace, 3 0 8 ; V ia g e m d e u m N a tu r a lis ta , 1 4 3 , 293, 303; A D e s c e n d ê n c ia d o H o m e m , 2 4 ; A O rig em d a s E s p é c ie s, 2 4 , 3 0 8 D a rw in , E rasm u s (1 7 3 1 -1 8 0 2 ), 148, 279, 304 D e fo e , D a n iel (1 6 6 1 ? - 1 7 3 1 ), R o b in so n C ru so e, 1 9 2 D e m o c r a c ia , Ideal da, 2 7 4 , 3 7 9 , 3 8 6 ,3 9 0 ,4 1 1 ,4 2 8 ,4 3 5 -4 3 7 D en tes, h u m a n o s, ev o lu çã o d o s, 29, 3 8 ,4 1 D escartes, R en é (1 5 9 6 -1 6 5 0 ), 2 1 8 D e sco b erta cien tífica , 2 0 , 26, 29, 94, 9 5, 1 12 , 115, 141, 1 5 3 ,2 0 2 , 236 D e se n v o lv im e n to em b rio ló g ico , 2 0 7 , 4 2 4 ; n o g ru n io n , 1 9, 1 3 9 ; n a g alin h a , 1 9 6 , 3 9 5 D e s lo c a m e n to . co n tin e n ta l, teoria dO, 7 2 , 9 1 D ic k e n s , C h arles ( 1 8 1 2 - 1 8 7 0 ) , 4 2 4 D ióx id o de carbono, 1 5 1 ,1 5 2 , 314 D o m e s tic a ç ã o d o s a n im ais, 2 1 , 2 7 , 2 4 ,6 0 ,7 7 ,7 9 , 86 ■ D o n d i, G iov an n i de (1 3 1 8 -1 3 8 9 ), 8 7 , 1 94 -1 9 6 D onne, John (1572-1631), The E x ta s ie , 4 0 6 D r y o p i t h e c u s a f i i c a n u s , v. P r o c o n s u l a fr ic a n u s , D r y o p it h e c u s f o n ta n i, D r y o p it h e c u s in d ic iu s e D r y p o ti h e c u s s iv a le n s is , 1 0 , 3 7 , 38 D u p le s sis, J o s e p h S ., R e tr a to d e B e n ja m in F r a n k lin , 1 2 9 D ürer, A lb rech t (1 4 7 1 -1 5 2 8 ), A A d o r a ç ã o d o s M a g o s, 80, 1 8 1 ; T r a ta d o d a P e r s p e c tiv a , 7 9 , 1 8 3 ; A u to -r e tr a to , 2 0 9 D u r h a m , T e r r y ( 1 9 3 0 ) , R e tr a to d o D r. B r o n o w s k i, 4 1 6 E d d i n g t o n , S ir A r t h u r S t a n le y (1882 -19 4 4), 254 E g ito , A n tig o , 1 0 0 ,1 5 9 , 1 6 0 , 1 8 9 , 4 2 6 ,4 3 5 ,4 3 7 E in stein , A lb ert (1 8 7 9 -1 9 5 5 ), 1 17 , 118, 122, 158, 163, 204, 245­ -256, 321 , 3 28 -3 2 9, 343, 367, 3 7 0 - 3 7 1 , 4 0 8 , 4 2 9 ; E le tr o d in â m ic a d o s c o r p o s e m m o v im e n ­ to , 1 2 1 , 2 5 4 , 2 5 5 ; O M u n d o


c o m o o v e jo , 2 5 5 , 2 5 6 E lem en to s q u ím ico s, 1 3 3 , 134, 146, 151, 3 4 3 -3 4 9 ; con cep ção grega d o s, 1 2 3 , 1 4 4 ; T a b e la P e ­ rió d ica d o s, 1 6 1 , 3 2 3 -3 2 6 E létro n s, 1 6 7 , 2 6 4 , 3 3 0 , 3 3 4 , 3 3 6 ,3 6 2 E n g e l s , F r i e d r i c h ( 1 8 2 0 - 1 8 9 5 ) , v. M a r x , K arl H e in r ic h E n g en h aria, 1 3 5 , 1 0 4 , 1 8 9 , 2 6 0 , 2 7 7 -2 8 0 , 2 8 6 ,4 3 6 E n tr o p ia , te o r ia física d a , 3 4 7 , 3 4 8 -3 5 1 E n x o fr e , 1 2 4 , 3 4 4 ; s u lfeto s de m ercÚ Iio, 1 2 3 , 1 3 8 -1 3 9 E ra sm u s, D e s id er iu s (c. 1 4 6 6 ­ 1 53 6), 2 1 4 , 2 15 , 1 41 , 142; O E lo g io d a L o u c u r a , 4 2 7 , 4 2 9 E sp ecificid a d e h u m a n a , 1 9 ,2 9 - 3 1 , 4 2 , 5 6, 113, 118, 4 0 0 -4 0 7 , 4 1 6 -4 2 4 E spaço, m ed id a d o , 1 55 , 176, 1 80 -1 8 7, 2 4 0 , 2 4 1 ,2 5 6 E spada jap on esa, 5 4 , 131 , 132, m arcas d e resfria m en to n a , 5 5 , 133 E sp ectro , de in fo rm a çã o , 3 5 3 -3 6 4 ; d a lu z, 1 0 6 , 2 2 4 , 2 4 9 ; d e m o l é ­ cu las o rg â n ic a s n a s estrelas, 3 1 8 ; a tô m ico , 1 67 , 3 3 6 -3 3 9 E s q u im ó , escu ltu ra, 1 15 E sta b ilid a d e E stra tifica d a , teoria da, 3 44 -3 4 9 E s ta tístic a , a n á lise, 3 4 8 , 3 5 8 , 360 E s te r e o tip ia e m crista is, 1 5 4 , 1 7 3 , 313; n o h o m em , 3 1 1 ,4 2 1 E stre ito d e B e r in g , A la sc a , E U A , 92 E u clid es, 1 6 2 -1 6 4 , 1 7 7 , 2 3 3 , 4 3 7 ; E le m e n to s d e G e o m e tr ia , 6 9 E v o lu ç ã o , b io ló g ica , 1 9, 4 8 , 5 9, 2 93 -3 0 8, 317 , 4 0 0 , 4 1 1 , 4 2 1 ; p o r seleçã o n a tu ral, 4 2 , 5 0 , 5 9 , 388; por seleção sex u a l n o h o m e m , 4 00 -4 0 6 ; cu ltu ral, 2 0 , 3 6 , 4 0 , 4 8 , 5 6 , 5 9 , 60; d a m a téria , 3 0 9 , 3 4 4 ; v. t b . C é r e b r o e D e n t e s E y c k , J a n v a n (c. 1 3 9 0 -1 4 4 1 ) , R e ­ tr a to d o s A m o lf in is , 2 0 2 F a rad ay , M ich ael ( 1 7 9 1 -1 8 6 7 ), 271 F erm en tação, 155, 3 1 1 , 3 1 4 , 316 F erm i, E n rico (1 9 0 1 - 1 9 5 4 ) , 171, 172, 1 8 3 , 341, 3 43 -3 4 7, 351, 367, 369, 370 F e r n a n d o I, i m p e r a d o r d a Á u s t r i a (1793-1876), 376 F erram entas, 11, 2 9 , 4 0 , 4 1 , 4 6 , 6 5 ,9 5 , 1 10, 116, 1 18, 1 5 8 ,3 7 0

F erro, uso p o r a m erín d io s, 131; trab a lh o d o , para fab ricaçã o d e aço, 132 F ís ic a , h istó ria d a , 1 1 0 , 1 2 5 , 1 6 5 , 2 21 -2 5 6, 3 2 1 -3 7 4 ,4 1 1 ,4 3 6 F ísica a tô m ic a , 2 4 , 3 2 8 - 3 5 1 , 3 5 3 ­ -37 0 F itz.roy , R o b e r t ( 1 8 0 5 - 1 8 6 5 ) , 3 0 3 F lam steed , J oh n (1 6 4 6 -1 7 1 9 ), 2 43 F o g o , c o m o a n alisad o r, 1 2 5 , 1 4 2 ; c o m o p r o ce sso , 1 4 2 ; c o m o p u ri­ fic a d o r, 1 2 3 , 1 3 8 ; n a Id ad e da Pedra, 4 1 , 5 0 ; len das d o , 1 2 4 F o ra m e n m a g n u m , b a se d o crânio, 29, 37 F r a n c i s c o I, r e i d a F r a n ç a ( 1 4 9 4 ­ -15 47 ), 1 3 4 ,1 3 6 F ra n k lin , B en ja m in ( 1 7 0 6 - 1 7 9 0 ) , 1 2 8 , 1 2 9 , 1 1 6 , 1 4 4 , 1 4 8 , 26&-2 7 2 ; P o o r R ic h a r d 's A lm a n a c k , 2 6 8 ; r a s c u n h o d a D e c la r a ç ã o d a In d e p e n d ê n c ia , 2 7 2 , 2 7 9 F r a n z J o s e f I, i m p e r a d o r d a Á u s ­ tria ( 1 8 3 0 - 1 9 1 6 ) , 3 7 9 , 3 8 6 F reu d , S ig m u n d (1856-1939), 367 F r o b e n iu s , J o h a n n (c. 1 4 6 0 - 1 5 2 7 ) , 1 4 1 ,4 2 9 G a le n o , C lá u d io (c. 1 3 0 -2 0 0 ) , 1 7 7 , 411 G a lile o , G a lilei ( 1 5 6 4 - 1 6 4 2 ) , 9 0 , 9 1, 9 3 , 9 4 , 1 98 -2 1 8, 259, 334, 3 6 7 ; D iá lo g o s o b r e o s g r a n d e s s is te m a s d o m u n d o , 2 0 9 , 2 1 1 , 2 1 2 , 2 2 1 ; v. I n d e x ; O m e n s a g e i ­ r o e s te la r ( S id e r iu s N u n c iu s ), 2 0 4 -2 0 5 ; ju lg a m e n to de, 2 0 5 , 2 1 2 - 2 1 7 , 3 3 4 ; D u a s n o v a s c iê n cw s, 2 1 8 G a n d h i, M a h a tm a (1 8 6 9 -1 9 4 8 ), 429 G arstan g, J o h n (1 8 7 6 -1 9 5 6 ), 65 G ás d o s P ân tan os (m eta n o ), 1 51 , 314 G a u s s , K arl F r ie d r ic h (1777­ 1 85 5), 179, 3 5 8 -3 6 0 , 4 2 4 ; Cur­ va d e G auss, 3 5 8 , 3 6 4 G ay, John (1 6 8 5 -1 7 3 2 ), T h e B egg a r 's O p e r a , 2 3 6 - 2 4 0 ; T h r e e H o u r s a f te r M a n la g e , 2 3 6 G a zela , de G ran t, 3, 28, 32, 3 5 -3 6 G e n é t ic a , h istó ria d a s id éia s d e M e n d e l s o b r e a, 3 8 0 - 3 9 0 ; d o a x o lo tle , 198, 3 9 6 -3 9 9 ; da ce­ g u e ir a d e cores, 1 5 1 ; d o láb io d o s H a b s b u r g o s , 3 7 9 ; d a erv ilh a , 1 9 0 , 3 8 1 -3 8 8 ; d a co r da p ele n o h o m e m , 2 6 ; d o trig o , 6 5 G e n g h i s K h a n (1 1 6 2 - 1 2 2 7 ) , 8 0 , 82, 86-88, 132 G eo lo g ia , 2 5 , 2 6 , 91 G c o r g e I I, r e i d a I n g l a t e r r a ( 1 6 8 3 ­ 1760). 3 62

G e o r g e III, rei d a In g la te r r a ( 1 7 3 8 ­ 182 0), 271 G e ra ld o d e C r e m o n a (c. 1 1 1 4 ­ -11 87 ), 177 G e r m â n io , id en tifica çã o d o , 3 26 G etsu , artesão na fab ricação d e es­ pada, 5 4 , 1 31 -1 3 3 G h ib erti, L o ren zo (1 3 7 8 -1 4 5 5 ), 179 G illary, J a m e s ( 1 7 5 7 - 1 8 1 5 ) , 1 30 G o e th e , J o h a n n W olfga n g von (1749-1832), 288 G o ld s m i t h , O liv er ( 1 7 2 8 - 1 7 7 4 ) , A V ila d e s e r t a , 2 6 0 G récia , c iê n c ia e cu ltu ra na, 7 4 , 7 7, 112 , 134, 1 5 5 -1 6 2 , 177, 321 , 351 G riffier, R o b e r t ( 1 6 8 8 - 1 7 6 0 ? ) , 113 G r is , J u a n ( 1 8 8 7 - 1 9 2 7 ) , N a tu r e z a M o r ta , P ie r r o t, 3 3 2 G r u n i o n , 1, 1 9 , 3 8 8 G ru p o s sa n g ü ín eo s, h u m a n o , N o ­ vo M u n d o, 9 2 , 94 G ru ta d e O ld u va i, T a n z â n ia , 29 G u i l h e r m e II, K a is e r d a A l e m a n h a (1859 -19 4 1), 362 H á fn io , iso la m en to d o e le m e n to , 337 H a lley , Edm ond (16 56 -17 4 2), 232 -2 3 3 H a ló g e n o s, m eta is, 1 5 9 , 3 2 1 , 322 H arp ão m a g d a len ia n o , 14, 4 6 H arrison, J o h n ( 1 6 9 3 - 1 7 7 6 ) , 1 14 , 116, 2 4 1 -2 4 5 H a y , H . J. ( 1 9 3 0 ) , 2 5 5 H e g e l, G e o r g W ilh e lm F ried rich (1 7 70 -18 3 1), 360 H eisen b erg, W ern er ( 1 9 0 1 ) , 1 6 3 , 337, 340, 362, 364, 365 H élio , 3 2 2 , 3 3 0 , 3 4 3 , 3 4 4 , 3 4 9 H e n r iq u e V III, rei d a In glaterra (1491-1547), 207 H ersch el, S irW illiam (1 7 3 8 - 1 8 2 2 ) , 354 H ersh ey , A lfred D a y (1 9 0 8 ), 3 9 3 H er tz , H ein rich R u d o lf ( 1 8 5 7 ­ -1894), 354 H id ro g ên io , 1 6 7 , 3 2 2 , 3 3 0 , 3 36 , 337 , 3 4 1 ,3 4 3 , 349, 390 H i ll , D a v i d O c t a v i u s ( 1 8 0 2 - 1 8 7 0 ) , V w d u to d a A m ê n d o a , 1 2 3 H ip ó c r a te s (c. 4 6 0 - 3 7 7 a .C .), 1 7 7 , 429 H iro sh im a , J a p ã o , 1 8 5 , 3 7 0 H itler, A d o lf ( 1 8 8 9 - 1 9 4 5 ) , 8 6 , 343, 3 6 7 -3 6 9 ,4 2 5 H ob b es, T h o m a s (1 5 8 8 -1 6 7 9 ), 164 H o m e r o (c. 7 0 0 a .C .), 4 3 7 ; A l/la d a , 3 4 9 H o m o e r e c tu s , 1 0 , 1 1 , 4 0 , 4 1 , 4 2 , 4 5 , 124

445


H o m o s a p ie n s , 1 0 , 4 1 , 4 2 , 4 8 , 5 0 , 59 H o m o tra n sv a a le n sis, v . A u s tr a lo p it h e c u s a fr ic a n u s H o ok e, Robert (1 6 3 5 -1 7 0 3 ), 226, 2 32 -2 3 4, 241 H o o k e r , S ir J o s e p h D a lt o n ( 1 8 1 7 ­ -1911), 3 06 , 308 H u n ter, W alter (1 8 8 9 - 1 9 5 4 ) , 4 2 3 H u n tsm a n , B e n ja m in (1 7 0 4 -1 7 7 6 ), 131 H u x ley , A ld o u s L eon ard (1 8 9 4 ­ -1963), 124 Iatro q u ím ica , 1 3 8 , 1 40 Ilha d a P á s c o a , 8 6 , 1 9 2 , 1 9 8 , 4 2 5 Im a gin açã o, 3 6 , 4 0 , 4 8 , 5 0 , 5 4 , 56, 91, 94, 95, 340, 364, 365, 4 3 2 ,4 3 8 Im p é r io In ca , 9 6 , 1 0 0 , 1 0 1 , 1 0 2 , 1 0 3 , 1 0 6 ; trab alh o e m o u ro d o , 5 6, 134 Im p ério M o n g o l, 3 0 , 6 1 , 80, 8 4 , , 8 8 ; in vasão d o J a p ã o , 1 3 2 , 1 4 0 ; táticas d e c h o q u e d o , 8 2 In certeza , p rin c íp io d a , 3 5 6 -3 6 7 Index, 100, 2 07 , 216 ín d ia , sistem a s m a t e m á t ic o s da, 155 fn d ios d o A m a zo n a s, 3 0 0 , 3 0 2 , 3 0 5 ; trib o w a y a n a , 1 2 , 1 4 6 Indução, 20, 6 9 ,9 4 , 95, 106, 115, 120, 3 25 , 326, 334, 336, 340; a fala c o m o , 4 2 3 In fo r m a ç ã o , im p erfeiçã o da, 3 5 3 ­ -37 4 In q u isiçã o , R o m a , 2 0 9 , 2 1 4 , 2 1 7 ; o C o n selh o d a - E sp an h o la , 1 9 8 ,2 0 7 ,2 1 1 ,2 1 3 , 2 1 4 ,2 1 6 I n s t r u m e n t o s , c ie n t í f ic o s , d e G a lile o , 91 ; m o d e r n o s , 1 7 6 , 35 3 -3 5 6 Iron b rid ge G o r g e ,S h r o p s h ir e , 2 7 2 Irrigação, 7 7 , 1 0 0 I sa b e l I, r a in h a d e C a s te la e L e ó n (14 51 -15 0 4), 169 I sfa h a n , Irã, M e s q u it a d a S e x ta feira , 1 6 5 , 1 6 9 Islân d ia, 4 1 1 J a c o b s e n , C a rly le F. ( 1 9 0 2 ) , 4 2 3 J a c q u a r d , J o s e p h M a rie ( 1 7 5 2 ­ -1834), 127, 265 Janácek, L eos (18 54 -19 2 8), 387 Jefferson , T h o m a s (1 7 4 3 -1 8 2 6 ), 144 J e r ic ó , Israel, 2 5 , 6 4 , 6 5 , 6 8 , 6 9 , 7 0 ,4 3 1 J e r u s a lé m , Israel, 2 1 6 , 4 2 9 , 4 3 1 J og os: b o lich e, 1 51 ; x ad rez, 8 2 , 4 3 3 ; in fa n tis, 2 0 8 , 1 6 0 ; d e azar, 2 1 8 , 4 3 5 ; m a tem á tico s, 1 58 , 1 7 4 ; p a ciên cia, 3 2 3 -3 2 5 ; p o d er, 2 9 4 ; T e o r i a d o s , 4 3 2 , 4 3 3 ; v. tb . B u z K a sh i J o g o s d e guerra e estratégias, 3 0 ,

86

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8 0 ,8 2 ,8 6 ,8 8 ,2 0 5 ,2 6 5 ,3 7 0 J o l i o t - C u r i e , F red eric ( 1 9 0 0 ­ -1958), 369. J ou le, J a m es P rescott (1 8 1 8 -1 8 8 9 ), 162, 286, 288 K elv in , W illia m T h o m s o n , p r im e i­ ro barão (1 8 2 4 -1 9 0 7 ), 288 K e n y o n , K a th leen M a r y (l9 0 6 ), 70 K ep ler, J o h a n n es (1 5 7 1 -1 6 3 0 ), 184 , 1 9 8 ,2 2 1 K n e lle r , S ir G o d f r e y ( 1 6 4 6 - 1 7 2 3 ) , R e tr a to d e S ir Isa a c N e w to n , 104, 107 K o - H u n g (c . 2 6 0 - 3 4 0 ) , P a o - p 'n T zu , 134 K u b l a i K h a n (c . 1 2 1 5 - 1 2 9 4 ) , 8 8 , 132 L a m a rck , J ea n B a p tiste ( 1 7 4 4 ­ -18 29 ), 388 L a p ões, 15, 16, 1 7 ,4 8 ,5 9 Laue, M ax von (1 8 7 9 -1 9 6 0 ), 356 L a vo isier, A n t o i n e L a u r e n t ( 1 7 4 3 ­ -1 7 9 4 ), 6 2 ,6 3 , 146, 1 48 -1 5 0 L ea k ey , L o u is S e y m o u r B a zett (1903-72), 37 L e a k e y , R ich a rd (1 9 3 7 ), 4 0 L e ã o X , P a p a (G io v a n n i d e M ed ici) ( 1 4 7 5 - 1 5 2 1 ) , 1 9 6 L eh rm a n , D a n iel S a n ford ( 1 9 1 9 ­ -1972), 2 1 0 ,4 1 6 , 4 19 L ei, c ó d ig o s d e , 7 7 ; d e p r o p o r ç õ e s c o n sta n te s, 1 5 2 ; d a g ravitação, 2 3 3 , 2 3 4 ; da natureza, 155; dos m o v im e n t o s p la n etá rio s, 2 2 1 ; da term o d in â m ica , 2 8 2 , 3 4 7 L eib n iz, G o ttfr ie d W ilh elm , B aron von (1 6 4 6 -1 7 1 6 ), 1 1 5 ,1 8 4 , 226, 2 2 9 , 2 4 0 -2 4 1 . L em u ró id e, 10, 1 3, 3 7 , 45 L eon ard o da V in ci (1 4 5 2 -1 5 1 9 ), 1 8 1 , 4 1 2 ; C r ia n ç a n o ú t e r o , 2 0 7 ; T r a je tó r ia d a s b a la s d e m o r te ir o , 1; M a d o n a d a s ro ch a s, 2 0 5 ; M o n a L is a , 4 1 2 L e o n e , O c ta v io ( 1 5 8 7 - 1 6 3 0 ) , R e ­ t r a t o d e G a l i l e o G a li l e i , 9 0 L igas m e tá lic a s , 1 3 3 ; b r o n z e , 1 2 8 ; ferro, 1 3 1 ; z in co , 126 L inguagem , 3 0 ,4 5 , 1 3 1 , 2 5 6 , 3 0 I, 332 , 374 , 4 21 ; dos núm eros, 155, 156 L ip ch itz, J a cq u es ( 1 8 9 1 ) , 1 15 L ith g o w , W illia m (o u L in lith g o w ) ( 1 5 8 2 - 1 6 4 5 ) , T h e T o ta l! D is c o u rs e o f th e R a r e A d v e n tu r e s a n d P a in fu l! P e r e g r in a tio n s o f L o n g N in e te e n e Y ea res, 2 1 6 L ittlew o od , Joh n E d en sor (1 8 8 5 ), 254 L o n g itu d e , c á lcu lo s d a , 2 3 9 L o re n z, K o n r a d Z ach arias ( 1 9 0 3 ) , 412

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Lua, 9 3, 164, 196, 204, 2 22 , 233, 388 L u í s X V I , r e i d a F r a ii.,-a ( 1 7 5 4 1793), 265, 2 67 , 268 L u t e r o , M a rtin h o ( 1 4 8 8 - 1 5 4 6 ) , 142, 205 L uz, 1 79 -1 8 1, 2 24 -2 2 8 , 247, 248 -256, 353, 355 L y e ll, S ir C h a r le s ( 1 7 9 7 - 1 8 7 5 ) T h e P r i n c i p i e s <>f G e o l o g y , 3 0 6 , 308 M a c a c o a n t r o p ó i d e , c o m p a r a . >■ ao h o m e m , 2 9, 36, 5 9 , 3 0 2 , 4 0 0 , 4 1 1 ,4 1 7 ,4 2 3 M ach, E rnst (1 8 3 8 -1 9 1 6 ), 351 M a c h u P i c c h u , c id a d e i n c a d .', P e ­ ru, 3 7 , 2 0 , 9 6 - 1 0 3 , 4 1 6 M a ç o n s , t r a b a l h o d o s , 4 4 , 1 o 9 ., 110, 112, 113, 2 4 4 ,2 6 8 , 274 M a ia s, 2 0 , 1 5 5 , 1 8 9 , 1 9 0 - 1 9 8 ; o s a strôn om os, 20 M a lth u s, T h o m a s R o b e r t ( 1 7 6 6 ­ 1 8 3 4 ) , E n s a io s o b r e a P o p u la ­ ção H um ana, 305, 306 M ann, Thom as (1875-1955), 367 M a o m é ( 5 7 0 - 6 3 2 ) , 1 6 5 , 1 6 6 ; v. t b . A lcorã o M a r c , F r a n z ( 1 8 8 0 - 1 9 1 6 ) , D e e r iii a F o r e s t, 3 3 2 M a ria A n t o n i e t a , r a in h a d a FranÇ J (17 55 -17 9 3), 265 M a rin i, M a rin o ( 1 9 0 1 ) , 1 1 5 M a r x , K arl H e in r ic h ( 1 8 1 8 - 1 8 8 3 ) , O M a n ife s to d o P a r tid o C o m u ­ n ista , 3 7 9 M a s a m u n e (c . 1 2 6 4 - 1 3 4 3 ) , C u te le ir o d e e s p a d a ja p o n ê s , 1 3 2 M a te m á tic a , histó ria da, 3 0 , 1 0 6 , 1 0 9 , 1 1 2 , 1 6 1 , 1 5 5 -1 8 7 , 1 89 , 2 21 -2 2 3, 2 3 3 , 3 62 -3 6 9 M a téria , e s tr u tu r a d a , 1 2 3 , 1 6 1 ; in te r c e p ç ã o d a lu z, 2 2 4 , 2 4 8 , 2 4 9 , 3 53 -3 7 3 M a x w ell, J a m e s C le r k (1 8 3 1 -1 8 7 9 ), 353 , 354 M eca , H ed ja z, A r á b ia S a u d ita , 165 1 6 6 ,3 6 0 M eiji, im p e r a d o r d o J a p ã o ( 1 8 6 7 ­ 1 91 2), 132 M en d el, G rego r J o h a n n ( 1 8 2 2 ­ 84), 6 8 , 189, 1 9 0 ,3 7 9 -3 9 0 ,3 9 3 , 3 9 5 ; V e rs u c h e ü b e r P fla n z e n h v b rid e n , 3 8 5 M en d eleiev , D m itri Iva n ov ich 1 83 4 -1 9 0 7 ), 160, 162, 3 22 -3 3 0, 334, 3 3 7 ,3 3 9 ,3 4 4 ,3 4 9 M ercú rio, su b lim a çã o d o , 1 3 8 , 1 3 9 ; q u ím ic a d o , 1 2 4 ; n a C h in a A n tig a , 1 2 3 ; n o s e x p e r im e n to s d e L a vo isier, 1 4 8 , 1 5 0 M e t a is , lig as d e , 2 4 , 7 2 ; p r im e ir o uso d o , 5 4 , 6 2 , 69, 1 23 , 125, 131


Metsys, Quentm (c. 1466-1530), R e t r a t o d e E r a s m u s . 214;Retrat o d e P a r a c e l s u s , 60 Mettemich, príncipe Klemens Wenzel Nepomuk Lothar von (1773-1859), 379 Metzínger, Jean (1883-1956), M u ­ lh e r a c a v a lo , 3 3 2 Michelangelo, Buonarroti (1475­ -1564); B r u t u s , 47, 113-115, 123, 208; A f r e s c o s n a C a p e l a S i s t i n a , 341; S o n e t o s , 115, 123 Michelson, Albert Abrxiiani (1852­ -1931), 247 Migração de aves, 194 Milho, cultivo no Novo Mundo, 68, 94, 100 Miller, Stanley (1930), 314 Milton, John (1608-1674), Paradise Lost, 34, 91; Sanson Agonistes, 218 Mirabeau, Honoré Gabriel Riquetti (1749-1791), 268 Monod, Jacques Lucien (1910), Chance and Necessity, 393 Moore, Henry (1898), 115, 116; Knife-edge-Two-piece, 48, More, Sir Thomas (1478-1535), 425; Utopla, 425 Morley, Edward Williams (1833­ -1923), 247 Moseley, Henry Gwyn-Jeffreys (1887-1915), 168, 337-339 Mozart, Wolfgang Amadeus (1756­ -1791), 424; A Flauta Mágica, 268; As Bodas de Ffgaro, 265­ -268 Mussolini, Benito (1883-1945), 341,425 Nágeli, Karl Wilhelm von (1817­ -1891), 385-386 Napoleão I (Bonaparte) (1769­ -1821), 268 Napoleão III, imperador da Fran­ ça (1808-1873), 311 Navegação, 115, 192, 194, 224, 239, 241, 243, 262 Neanderthal, homem de, 41, 42, 46 Nervi, Pier Luigi (1891), Palaze((o dello Sport, Roma, 46 Neumann, Johnvon (1903-1957), 204, 217, 432-436; Teorla dos logos e Comportamento Econô­ mico, 432, 433; O Computador e o Cérebro, 433 Nêutron, 341, 351, 369 Newton, Sir Isaac (1642-1727), 109, 184, 218, 221-243, 254, 259, 332, 334, 336, 337, 412, 437; e cálculo, 184, 222, 223, 233; em Cambridge, 104, 223,

224, 233; na Casa da Moeda, 107, 111, 234, 236; em Woolsthorpe, 218, 221-223, 233; in­ teresses do oculto em, 234; tra­ balho no Optika, 106, 111, 223­ 228, 332; trabalho nosPrincipla, 108,233 Nicolau II, tzar da Rússia (1868­ -1918), 326 Nomadismo, 21, 60, 61, 62, 63, 64,69, 86, 162, 165 Números, evolução dos sistemas modernos, 168, 177 Oak Ridge National Laboratory, Tennessee, 169, 341-34 3, 349 Observatório de Greenwich, 113, 115, 241,243, 249 Oljeitu Khan, 33, 80, 86, 88 Orno, Vale, Etiópia, 4, 25, 26, 28, 29,438 Orgel, Leslie Eleazer (1927), 155, 314,316 Ostwald, William (1853-1932), 351 O'Sullivan, T. H. (1840-1882), Fotografia de Paisagem, 35 Ouro, 56,57, 103, 123, 134, 136, 138, 152, 239 Oxigênio, descoberta do, 148, 150; no ar, 148; no sangue, 32; no ADN, 390; na atmosfera primiti­ va, 314; no Universo, 344; óxidos de mercúrio, 123; teoria do flogisto, 142, 150 Padrões de Pastilhas, simetria dos, 160, 172-174 Paestum, Sul da Itália, 39, 104-106 Paine, Thomas (1737-1809), 130, 27 2; Os Direitos do Homem, 272, 273 Paracelsus, Aweolus Philipus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541), 58,59, 60, 123, 139-144, 321 Pascal, Blaise (1623-1662), 424 Pasteur, Louis (1822-1895), 152, 154, 204, 311-313 Paulo III, Papa (1468-1549), 209 Pauling, Linus (1901), 392 Pedra, forma na, 47, 115, 354;na arquitetura, 96; Inca, 109 Pepys, Samuel (1633-1703), 233 Perspectiva, estudos da, 76, 77, 78, 79, 80, 179-184, 196 Peso Atómico, 324, 325, 330 Peste, A, 222,223,229, 280 Picasso, Pablo (1881-1973), Les Demoiselles dAvignon, Retrato de Daniel-Henry Kahnweiler, 332 Pirâmides, 112, 131, 158, 349 Pisano, Andrea (c. 1290-1348),A Crlafão da Mulher, 199 Pitágoras (c. 570-500 a.C.), 66, 67,

68, 104, 155-162, 172, 173, 187, 223, 234; Teorema, 156­ -162, 173, 339 Pizarro, Francisco (c. 1470-1541), 101 Planck, Max Karl Ernst Ludwig (1858-1947), 336, 351,365 Planetas, trajetórias dos, 85, 102, 165, 156, 157, 164, 165, 194, 196, 197, 204, 211, 221, 244, 318, 334, 351, 358, 360 Platão (428-348 a.C), 425 Polícrates, 156 Pope, Alexander (1688-1744), Li­ nes Writter in Windsor-Forest, 228 Previsão humana, 36, 54, 56, 65, 113, 369, 370, 416, 423-425, 435,436 Priestley, Joseph (1733-1804), 61, 144-148,274,277 Proconsul africanus, tb. conheci­ do como Dryopithecus africanus, 10, 36, 38,42 Proteína, estrutura da, 76, 348; adenina na, 157, 316, 318; evo­ lução da, 316; na hemoglobina, 309; na mioglobina, 314; v. tb. ácido desoxiribonucléico (ADN) Ptolomeu, Cláudio, 70, 164, 184, 194, 196-198, 204, 208, 209; A lmagesto, 177 Pueblo, tribo dos, Arizona, 36, 92-96 Qanats, Khuzistan, 77 Química, 131, 133, 139-140, 144, 317, 321-330 Quipu, 38, 100, 101 Raios X, 177, 178,248,332,344, 355 Ramapithecus pun/abicus, 10, 38 Raphael, Santi (1483-1520), 425 Rashid al-Din, lamial-rawarikh, 30, 80 Reforma, A, e A Contra-Reforma, 141, 142, 205, 206, 207, 221, 222 Renascimento, 177-184,197,208, 286; deslocamento para o Norte da Europa, 221,424, 425,426 República Veneziana, 90, 198-205 Resposta retardada, 218,435,436 Revolução biológica, A, 24, 59, 60,66,79 Revoluções, Industrial, 124, 137, 259-288; científica, 218, 221; do século XVII, 221, 222; do século XVIII, 144, 148, 259­ -272; do século XIX, 379 Rheims, Catedral, França, 43, 45, 109-112 Rift Valley, África Oriental, 25, 26, 72

447


R oda, e e ix o , 2 8 , 7 7 ; c o m o m o d e ­ lo e m c o s m o lo g ia , 7 7 ; in v e n ç ã o da, 7 4 , 7 6 , 1 0 1 , 1 9 4 , 1 9 8 ; d 'ág u a, 2 6 0 R o d ia , S im o n (1 8 7 9 -1 9 6 5 ), 118- 1 2 1 ; T h e W a tts f o w e r s , 4 9 , 1 2 1 R o m a A n tig a , c u ltu r a e a rq u ite­ tura de, 1 0 9 , 1 1 0 , 1 6 0 , 2 7 4 , 4 3 5 ,4 3 7 R o n tg e n , W ilh elm K o n ra d ( 1 8 4 3 ­ -1923), 177, 332 , 356 R o o s e v e lt, F ra n k lin D e la n o ( 1 8 8 2 ­ -1945), 184, 370 R o u ssea u , Jean-Jacques (1 7 1 2 ­ 1 778), 4 2 4 R u d o lf, L a g o , Q u ên ia e E tió p ia, 2 5 ,2 6 ,2 8 ,2 9 R u sk in , J o h n (1 8 1 9 -1 9 0 0 ), T h e S to n e s o f V e n ic e , 1 0 9 R u sse ll, B ertran d ( 1 8 7 2 -1 9 7 0 ), 2 5 4 R u th e r fo r d , E rn est, P rim eiro B a ­ rão (1 8 7 1 -1 9 3 7 ), 1 6 3 , 1 66 , 3 2 8 , 3 34 -3 3 7, 3 5 1 , 3 6 9 R y s b r a c k , J o h n M ic h a e l ( 1 6 9 3 ?- 1 7 7 0 ) , M o n u m e n to a Isa a c N e w t o n , A b a d i a d e W e s tm i n s te r , 1 0 9 , 1 1 1 S a cch i, A n d rea (1 5 9 9 -1 6 6 1 ), 9 7 , 211 S a lk In stitu te for B io lo g ic a l S tu d ies, S a n D ie g o , C a lifórn ia , 2 1 0 , 367, 370, 3 9 3 ,4 1 9 Sanchez, Robert (19 38 ), 155, 314 S ch ellin g , F ried erich W ilh elm Jos e p h v o n ( 1 7 7 5 - 1 8 5 4 ) , N a tu r p h ilo s o p h ie , 2 8 2 , 2 8 5 S ch r o d in g e r , E r w in ( 1 8 8 7 - 1 9 6 1 ) , 329, 362, 367 S elk irk , A le x a n d e r ( 1 6 7 6 - 1 7 2 1 ) , 192 Seurat, G eorges (1 8 5 9 -1 8 9 1 ), J o v e m c o m E s p o n ja d e P ó , L e B ec, 164, 332 S h a k e s p e a r e , W illia m ( 1 5 6 4 - 1 6 1 6 ) , 1 9 8 , 2 2 8 , 4 3 7 ; H a m le t, 4 2 4 ; O R e i L e a r, 3 6 0 ; O te lo , 1 9 8 ; O M erca d o r d e V en eza, 1 98 ; A T e m p e sta d e , 1 5 6 S h a rp les, E U en (c. 1 7 9 0 ) , R e tr a to d e J o s e p h P r ie s tle y , 6 1 S im etria , e stu d o s d a , 8 2 , 1 6 0 , 161, 1 72 -1 7 6 S k in n er, Burrhus F red eric (1 9 0 4 ), 412 , S o c ie d a d e s c ie n tífic a s: A c a d e m ia d e C iên cia s, S. P etersb u rgo , 3 3 0 ; A ca d em ia C im en to , R o m a , 198; B ritish A s s o c ia t io n for th e A d va n cem en t o f S cien ce, 368; 448 L in c e a n S o c ie t y , R o m a , 9 2 ; L in-

n ean S o ciety , L o n d res, 3 0 8 ; L u ­ nar S o c ie ty o f B irm in g h a m , 2 7 7 ­ -2 8 0 ; M a n ch ester L itera ry and P h ilo so p h ica l S o c ie ty , 1 5 0 -1 5 3 ; N atural H isto ry S o c ie ty , B rno, 3 8 5 ; R o y a l S o c ie ty o f L o n d o n , 2 2 6 ,2 2 7 ,2 3 3 ,2 5 4 ,4 1 2 S ó c r a te s ( 4 7 0 - 3 9 9 a .C .), 3 6 2 , 4 2 7 , 429 S ó f o c l e s ( c . 4 9 6 - 4 0 6 a .C .), E le c tra , 197 S o l, 1 7 0 , 2 2 4 ,2 4 3 , 3 4 4 , 3 4 9 S ta lin , J o s e p h ( 1 8 7 9 - 1 9 5 3 ) , 86 Stubbs, G eorge (1 7 2 4 -1 8 0 6 ), R e ­ tr a to d e J o s ia h W e d g w o o d , 1 3 4 , 279 S tu k e le y , W illia m ( 1 6 8 7 - 1 7 6 5 ) , 103 S u l t a n i y e h , P érsia , 3 3 , 8 6 - 8 8 , 4 1 6 S u tto n H o o , enterro d e , 1 1 8 S w ift, J o n a th a n (1 6 6 7 -1 7 4 5 ), 4 2 9 ; V ia g e n s d e G u lliv e r , 2 3 6 , 2 7 1 , 364 S zila rd , L e o ( 1 8 8 9 - 1 9 6 4 ) , 1 8 3 , 184, 2 5 4 , 3 67 -3 7 4 T a u n g , crân io d e , 2 0 8 , 2 9 , 3 0 , 3 8 , 4 1 5 ,4 2 3 T elescó p io , 9 1 , 9 2 , 2 0 0 - 2 0 4 ,2 1 1 , 224, 241 T elfo rd , T h o m a s ( 1 7 5 7 - 1 8 3 4 ) , A q u e d u to d e L la n g o llen , 1 2 5 , 274 T e m p o , m ed id a d o , 1 8 0 -1 8 7 , 1 89 , 222, 240, 241, 243, 257 T h o m s o n , S ir J o s e p h J o h n ( 1 8 5 6 ­ -1940), 163, 166, 330, 334, 349 T o lerân cia, p r in c íp io d a, 3 5 6 -3 6 7 T o p i, 3, 26 T o p o lsk i, F e!ik s (1 9 0 7 -), 175, 353 T orn o-de-arco, 2 9 , 79 T o sca n in i, A rtu ro (1 8 6 7 -1 9 5 7 ), 368 T o u r, G eorges d e la (1 5 9 3 -1 6 5 2 ), L e s S o u f f l e u r à la L a m p e , 5 0 T r a ç ã o , a n im a is d e , B a k h tia ri, 7 7 , 7 9 ; an alog ia c o m a m á q u in a , 7 9 ; renas c o m o , 17, 5 0 , 5 2 T rajan o, M arcus U lp iu s, im p era ­ dor de R o m a (98 -1 1 7 ), 106 T ran sum ante, 2 1 ,4 6 - 5 0 , 60 T r e v ith ic k , R ich a rd ( 1 7 7 1 - 1 8 3 3 ) , 1 3 9 ,2 8 5 -2 8 7 T rig o, 2 2 , 2 4 , 6 4 , 6 5 , 6 7 , 6 8 , 7 0 T rism eg istu s, H e r m e s, 1 9 7 Turi, J o h a n , A u to b io g r a fia d e u m Lapao, 17, 52, 53 U c c e llo , P a o lo (c. 1 3 9 6 - 1 4 7 5 ) , A n álise d a P ersp ectiv a, 2, 8 0 ; A E n c h e n te , 8 0 . 1 81

Unger, Franz (1 8 0 0 -1 8 7 0 ), 3 80 U rb an o V III, P apa, M a ffeo B arberin i ( 1 5 6 8 - 1 6 4 4 ) , 9 6 , 9 8 , 2 0 5 , 2 07 -2 1 8 U ssher, J am es, A rceb isp o d e Arm agh (1581-1656), 343 V a tic a n o , O , 2 0 7 , 2 0 8 ; A rq u iv o s s e c r e t o s , 9 5 , 2 1 4 ; v. t b . I n d e x V elásq u ez, D iego R o d rig u es de S ilva y (1599-1660), 379 V e sa liu s, A n d r e a s ( 1 5 1 4 - 1 5 6 4 ) , 2 1 5 ; D e H u m a n i C o r p o r is F a ­ b ric a , 1 4 2 V itó ria , rain h a d a In glaterra ( 1 8 1 9 ­ -19 01 ), 291 V id a , o rigem da, 1 5 5 , 3 0 9 , 3 8 8 ; id en tifica çã o d e, 3 1 8 W a lla ce,A lfred R u ss e l(1 8 2 3 1913), 142, 151, 2 9 1 -3 0 9 , 313, 3 1 7 ; o o m e ç o d a v id a d e, 2 9 3 ­ - 2 9 4 ; L in h a d e W allace, A u stra l á s i a , 3 0 I , 3 0 6 ; N a r r a t i v a d il s V ia g e n s p e l o A m a z o n a s e R i o N eg ro , 2 9 6 -3 0 4 ; S o b re a L ei q u e te m r e g u la d o a I n tr o d u ç ã o d e N o v a s E s p é c ie s , 3 0 6 W alter, B r u n o ( 1 8 7 6 - 1 9 5 2 ) , 3 6 7 W atson , Jam es D e w e y (1 9 2 8 ), 2 0 4 ; A D u p la H é lic e , 3 9 0 - 3 9 3 W att, J am es (1 7 3 6 -1 8 1 9 ), 1 3 5 , 2 7 7 ,2 8 0 W atts T o w e r s, L o s A n g e les, 4 9 , 1 1 8 -1 2 1 ,4 1 6 W e d g w o o d , H en sleig h (18 03 ­ -1891), 306 W e d g w o o d , J o sia h ( 1 7 3 0 - 1 7 9 5 ) , 1 2 6 , 1 3 3 , 1 3 4 , 2 7 7 - 2 7 9 , 2 8 2 ; v. tb . S o c i e d a d e s C i e n t í f i c a s : S o ­ c ied a d e L unar e D arw in W eUs, H er b e r t G e o r g e ( 1 8 6 6 ­ -1946), 425 W esley, J o h n (1 7 0 3 -1 7 9 1 ), 2 7 2 W ie lic z k a , M in a s d e S a l, p e r to d e C ra có v ia , P o lô n ia, 3 2 1 - 3 2 2 , 3 4 7 W ilk in so n , J o h n ( 1 7 2 8 - 1 8 0 8 ) , 1 3 1 ,2 7 2 ,2 7 4 W ith er in g . W illia m ( 1 7 4 1 - 1 7 9 9 ) , 279 W o r d sw o r th , W illia m ( 1 7 7 0 -1 8 5 0 ), O P r e lú d io , 2 3 4 ; T in te r n A b b e y , 288 W o tto n , S ir H e n r y (1 5 6 8 -1 6 3 9 ), 204 W r e n , S ir C h r is to p h e r ( 1 6 3 2 ­ 1723), 105, 2 2 8 ,2 2 9 ,2 4 1 W rig h t, J o s e p h ( 1 7 3 4 - 1 7 9 7 ) , T h e O rrery, 102 Y e a ts, W illia m B u tler ( 1 8 6 5 - 1 9 3 9 ) , S a ilin g t o B y z a n tiu m , 2 4


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