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d e P E R N A M B U C O - Recife, domingo, 4 de maio de 2014 DIARIOd vida urbana IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
O mundo real de quem precisa caminhar todos os dias pelas calçadas da Região Metropolitana do Recife está a anosluz do mínimo de razoabilidade. Isso significa ignorar um universo de cerca de 1,5 milhão de pessoas que precisam se deslocar a pé todos os dias. Um público que permanece à margem das políticas públicas e nem é conhecido dentro de sua totalidade, já que a última pesquisa de origem e destino da RMR é de 1997, sendo atualizada em 2008 sem pesquisa de campo. O pedestre sequer é lembrado como elemento primário do sistema viário e é obrigado a andar por calçadas precárias, por vezes inexistentes, ou ainda obstruídas e sem conexão entre os caminhos. Não se vislumbra o que deveria ser um dever de casa básico para a ocupação dos espaços urbanos. E muito menos do que deveria ser um caminhar seguro e confortável. Mas no contrafluxo das adversidades surgem a cada dia mais pessoas que optam pela caminhada de casa para o trabalho e, com isso, passam a ter um novo olhar da cidade.
“
Trabalho em casa, vou ao bar da esquina e namoro em casa. Isso tudo é imobilidade” Eva Duarte, Duarte, jor jornalis nalista ta
FOTOS: JO CALAZANS/ESP DP/DA PRESS
Eva Duarte tenta atravessar a PE-15 em um trecho da via onde não existe faixa de pedestre ou semáforo
O mundo real de quem anda a pé TÂNIA PASSOS taniapassos.pe@dabr.com.br
A
saga da jornalista Eva Duarte, 43 anos, se repete duas a três vezes por semana pelas calçadas quase inexistentes da PE15, em Olinda, um dos principais trechos do futuro corredor Norte/Sul do BRT (Bus Rapid Transit). Enquanto viadutos e estações se descortinam ao longo do corredor, as calçadas ainda não receberam nenhum tipo de tratamento para atender com o mínimo de dignidade o pedestre. Não é preciso percorrer grandes distâncias para se descobrir tudo o que não deveria acontecer na área do passeio. O trecho de 500 metros entre a Rua Romeu Jacobina de Figueiredo, em Ouro Preto, Olinda, onde ela mora, até a parada de ônibus, é um exemplo. Mesmo percorrendo o trecho
mais de uma vez por semana, ela não deixa de se indignar uma única vez. E chega a interpelar os outros pedestres no meio do caminho, provocando reações. A vontade, que não é só dela, é de criar um movimento de conscientização pelos direitos do pedestre. “So-
E m um trecho de Em 500 metros, ela enfrenta todo tipo de problemas mos a minhoca da cadeia alimentar do trânsito”, desabafa. Eva fala com conhecimento de causa. No percurso que costuma fazer, passa por buracos de obras onde deveria haver calçada, se equilibra no meio-fio meio-fio por ausência do passeio, salta para se livrar de
trechos alagados e ainda passa por uma área coberta de vegetação, que mais parece uma trilha. Depois de enfrentar esse trecho, Eva finalment finalmente chega a um quarteirão com calçada. Deveria ser memelhor, mas não é. Em trecho curto, ela passa por um lixão em plena área do passeio e se esquiva de duas oficinas que usam o espaço como extensão dos seus negócios. Para chegar à parada de ônibus, ela ainda atravessa a pista sem faixa de pedestre. À noite, a situação se agrava. “A iluminação é péssima e se torna mais perigoso fazer esse percurso”, diz. Sem muita esperança de que a situação mude a curto prazo, ela decidiu adotar um esquema que a permite sair o menos possível. “Trabalho em casa, faço faculdade à distância, vou para o bar da esquina e namoro em casa. Mas isso tudo é, na verdade, imobilidade”, criticou.
No percurso, a calçada serve de extensão de oficinas e desaparece no meio de um matagal
De quem quem é a ob obri riggação ação?? A quem quem cabe a responsabilida responsabilida-de da manutenção manutenção dos passeios? Não há consenso sobre sobre a respos respostta. Há quem quem defenda defenda que que o responsá responsá-vel é o proprietário proprietário do imóvel, imóvel, cocomo deter determina mina a legislação do Re Recife. cif e. Mas há especialist especialistas que que enentendem que que é do poder público, uma vez vez que que os pedestr pedestres, es, segunsegundo o Código de Trânsit Trânsitoo Brasilei Brasilei-ro, integ integrram o sist sistema viário de trânsito. trânsit o. O problema problema esbarr esbarra em quem vai vai pagar pagar a conta. conta. Par araa a especialist especialista em acessibiacessibilidade e arquit arquitet etaa Ângela Ângela Cunha a reponsabilidade reponsabilidade é do poder púpúblico. “Do contrário o passeio vivi-
ra uma colcha colcha de ret retalhos”, alhos”, diz. “O poder público faz faz a calçada, e o proprietário pr oprietário cuida da manuten manuten-ção, como em ocorr ocorre em qualq qualquer uer lugar lug ar do mundo”, ressalt ressaltou. ou. Evel Ev elyne yne Labanca, president presidentee do Institut Ins titutoo da Cidade Pelópidas Pelópidas Silv Silvei ei-ra, órgão órgão de planejamento planejamento do Re Recife, cif e, defende defende um compar compartilhamen tilhamen-to de responsabilidades. responsabilidades. “A “A legislalegislação precisa precisa ser re revis vistta, mas o mais impor im porttant antee é a conscientização, ininclusivee do proprietário clusiv proprietário do lote”. lote”. Par araa a PE-1 PE-15, o projet projetoo do gogover erno no do est estado ainda não saiu do papel. Ele pre prevê a req requalif ualifica ica-ção dos passeios entre entre a Rua JoaJoa-
quim Nabuco, Nabuco, próximo ao 7º Gac Regiment egimentoo de Olinda até o Ter Ter-minal de Abr Abreu eu e Lima, em um trec tr echo ho de 11 11,5 km. As calçadas serão em concret concreto. o. Nos locais de acesso de veículos veículos aos lotes lotes hav haverá rebaix rebaixament amentoo do meio-fio, meio-f io, com ram rampas pas atendendo atendendo às normas normas de acessibilidade e ocuocupando, no máximo, um ter terço ço da largur lar guraa das calçadas, facilit facilitando ando o deslocamento deslocamento dos pedestr pedestres. es. Um Um paraíso, par aíso, que que Eva Eva só acredit acreditaa ven ven-do. Segundo a Secret Secretaria aria das CiCidades, o projet projetoo está está em fase fase de licitação. licit ação. A data data de início das obras obr as não foi foi infor informado. mado.
Entulhoss também atrapalham Entulho atrapalham a caminhada caminhada
mais + saibamais Perfi erfill do pedes pedestr tree na Região Metr Metropo opollitana do Reci Reciffe Fonte: Prefeitur eituraa de Recif Recifee, Secr ecretaria etaria das Cidades Cidades, Guia de Cons Construção trução de Calçadas da ONG Soluçõe Soluçõess par paraa Cidades Cidades e dados dados da pes pesquis quisaa Orig Origem/D em/Deestino
1,5
milhão
de pes pessoas se se deslocam deslocam por dia na RMR, segundo o Plano Diretor Diretor de 2008 2008
Tempo médio gas gasto to por pes pessoa, diariamente diariamente,, em cada tipo de deslocamento deslocamento,, de acor acordo do com a pesquis pesquisa a de Orig Origem em e De Destino 43 minutos minutos de ônibus 28 minutos minutos de transport transportee individual 16 minutos minutos a pé
Em 19 1972
19% do doss
deslocament desloc amento os eram er am a pé Em 199 19977 doss 24% do desloc de slocament amento os eram er am a pé
vida urbana C5 IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
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Um novo olhar sobre a cidade ALICE DE SOUZA Alicesouza.pe@dabr.com.br
A
decisão da economista Cláudia Coutinho, 46 anos, e do analista de sistemas Laírton Almeida, 43, de voltar a pé do trabalho foi imposta pelo desgaste enfrentado diariamente no trânsito. De carro, levavam 40 minutos para percorrer um trecho de 4,1 quilômetros, além de sofrerem com o estresse e os engarrafamentos constantes entre o bairro do Rosarinho, onde moram, e a região central da cidade, onde trabalham. Há três anos, essa rotina virou passado. Sair da empresa no fim da tarde desde então significa promoção da saúde, sensação de bem-estar, convívio social e a redescoberta da capital pernambucana. Ver um colega chegar de tênis e mochila foi o que motivou Laír-
ton a sugerir à esposa a caminhada como alternativa de mobilidade. Juntos, resolveram fazer um teste. A diferença no tempo não foi tão grande, cerca de 10 minutos a mais, em média. Mas chegar em casa com disposição para outras atividades e a mente tranquila foi determinante para a mudança nos hábitos do casal. O trajeto entre a residência e o trabalho é percorrido no começo da noite. A estratégia é escolher caminhos distintos e manter a disposição para as surpresas escondidas nas ruas e avenidas. Durante as andanças, já encontraram velhos conhecidos e até o estímulo que faltava para realizar desejos antigos. Laírton achou no caminho a escola de música onde hoje aprende a tocar violino, na Rua do Fulitos, e uma loja de turo, nos Af Aflit instrumentos nas Graças. Cláu-
FOTOS: ROBERTO RAMOS/DP/D.A.PRESS
dia se encantou com um café na Rua Amélia e descobriu a primeira igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima do Recife, dentro das instalações do antigo colégio Nóbrega. Quando a paisagem salta aos olhos, eles não hesitam em parar para fazer fotografias. “O horizonte é ampliado e a cidade começa a ser observada de outro jeito. Recife é repleta
de história, e dentro de um coletivo ou carro eu não percebia muitos detalhes”, diz Cláudia, que é alagoana e aproveita a caminhada para fazer turismo também. Com o marido, ela brinca de escolher um carro para acompanhar durante o percurso. Quase sempre o automóvel fica para trás, preso em algum congestionamento.
O engenheiro de software Glauco Pires, 22, vai a pé ao trabalho há um mês. Incentivado pela namorada, intercala a prática com aulas de tênis. A caminhada foi ponto e partida para ele redescobrir a cidade. “Um dos primeiros monumentos que prestei atenção foi o Tortura Nunca Mais. Fotografei e pesquisei na internet sobre a obra”, disse.
A economista Cláudia Coutinho e o analista de sistemas Laírton Almeida voltam a pé do trabalho há três anos
Prefeitura investe R$ 20 mi O Recife tem 25 milhões de metros quadrados de calçadas com tamanho médio de 2,5 metros de largura. Atualmente, a prefeitura investe R$ 20 milhões para qualificação de 30 km de passeios em frente a equipamentos públicos. O restante, cerca de 9.970 km, depende dos cuidados dos donos dos imóveis, como é previsto em legislação. A falta de cuidados, no entanto, resulta em trechos com calçadas esburacadas e cheia de obstáculos, que interferem na caminhada de pessoas como a economista Cláudia Coutinho e o analista de
O casal escolhe caminhos distintos nas suas caminhadas para conhecer lugares diferentes
sistemas Laírton Almeida. “Falase no conceito de cidade inteligente, mas o pedestre é neglicenciado. Andar em algumas ruas é inviável”, diz a economista. Corredores de pedestres são fundamentais, segundo o professor do Departamento de Engenharia da UFPEedaUnicapMaurícioPina,para garantir da mobilidade. “É necessário identif identificar icar onde há demanda e dar condições de deslocamento”, explica. Essas condições, afirma, estão atreladas ao planejamento territorial e ao controle urbano. “Não é preciso criar ruas para pedestres, mas passeios lar-
Laírton e Cláudia gostam de fazer pausas no caminho gos, sombreados, acessíveis, sem obstáculos e contínuos. Dessa forma, há incentivo ao deslocamento a pé”, explicou o arquiteto e urbanista César Barros, que cita a orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, como modelo. Atualmente, a Prefeitura do Recife estuda formas de incen-
tivar proprietários a garantir qualidade nos passeios. “Dentro de 30 dias devemos fechar a normativa de incentivo para a substituição de muros por grades que ao mesmo tempo façam recuos, se necessário”, adiantou a presidente do Instituto Pelópidas Silveira, Evelyne Labanca. SILVINO SIL VINO/DP /DP
Prin rincípios cípios de uma calça calçada da ideal ideal Sombr ombre eamento: utilização utiliz ação de árvor árvorees par paraa amenizar ameniz ar os os ef efeit eito os do sol sol
Acessiblidade: aceesso a deficient ac deficientees, crianças,, ido crianças idossos e adulto adultos
Ser erviço viços: s: evitar instalação instalação de obsstáculo ob táculoss na faix faixaa de pas passsag agem em Tamanho: não se se limitar ao mínimo de 1,20 1,20 m
Mobiliário urbano de grande porte (banca de revista) devem estar a 15 m do eixo da esquina
Árvor Árv ore es: Mudas com com 2,30 m de altura altura máxima. A veg egetação etação es escolhida dev deve ter ter altura altura máxima de 6 m quando adulta
Mobiliário urbano urbano de pequeno e médio porte (telef (telefone público públic o ou caixa caixa de corr correio eioss) devvem es de estar a 5 m do eixo eix o da es esquina
Ramp ampa a de reb rebaix aixamento amento par ara a ace acessibilidade: 1,20 1,2 0 m de largur larguraa
O br braas e inv investim timen entos tos PE--15 PE 11,5 km de pas passseio eioss serão serão requalific requalificado adoss com calçadas calçadas em concr concret eto o Trecho em licitação par para a melhoria das calçadas do corr corredor edor Norte/Sul Norte/Sul 7º Gac Regiment Regimento o de Olinda até o Terminal de Integr Integração ação de Olinda
Faix aixaa de de serviço serviço
(instalação de hidrant (instalação hidrantees, árvor árv orees e pos postes): 0,75 cm de largur larguraa mínima
Faix aixaa livr livree
(paraa circulação (par circulação): ): 1,2 1,20 0 m de largur lar guraa mínima admissív admissível el e 1,50 m de largur larguraa mínima rec ecomendada omendada
Faix aixaa de de ac acess esso o: (acesso aos (ace aos imóveis imóveis)) sem largur larguraa mínima
Invvestimento da In Prefeitur eitura a do Recif Recife e R$ 20 20 milhões milhões es estão sendo inv investido tidoss em melhorias de 30 km de pas passseio eioss