DIARIOdeP ER NA M BUCO Teatro
Maria do Caritó na reabertura do Guararapes
A peça é do dramaturgo pernambucano Newton Moreno e será encenada amanhã e domingo na reabertura do teatro que foi reformado. Confira entrevista com Lília Cabral (foto), protagonista do espetáculo. VIVER E1 GUGA MELGAR/DIVULGAÇÃO
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DIARIOdePERNAMBUCO - Recife, sexta-feira, 14 de março de 2014
Editor-executivo: Paulo Goethe Editor: Tiago Barbosa Editores assistentes: Diogo Carvalho, Raquel Lima e Tatiana Meira
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Prometida a São Djalminha
Lília Cabral traz ao Teatro Guararapes a comédia Maria do Caritó, que já foi vista por mais de 100 mil pessoas
ISABELLE BARROS isabellebarros.pe@dabr.com.br
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ma mulher de aproximadamente 50 anos que não deixa de ter fé no mundo, nas pessoas e no amor, por piores que sejam os obstáculos para conseguir realizar seus sonhos. Esta é Maria, protagonista defendida pela atriz Lília Cabral no espetáculo cômico Maria do Caritó, que tem duas apresentações no Teatro Guararapes amanhã, às 21h, e no domingo, às 18h30. A peça, inspirada no legado do circo-teatro, foi escrita pelo dramaturgo pernambucano Newton Moreno e ganhou Prêmio Shell em 2010 na categoria melhor direção, com João Fonseca. Na encenação, a personagem principal nasce em um parto difícil, no qual sua mãe morre, e o pai faz uma promessa: se ela sobreviver, vai virar uma beata ofertada a São Djalminha, e is-
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MARIA EDUARDA BIONE/ESP.DP/D.A PRESS
Montagem fala de mulher que não pode realizar o sonho de casar so significa que ela não poderá se casar. Ironicamente, esse é o maior sonho de Maria, que é vista como santa pelos moradores da cidade onde vive. A chegada do circo é, na visão da personagem, o passaporte para a felicidade, mas a realidade prova não ser tão simples assim. O espetáculo foi visto por mais de 100 mil pessoas no eixo RioSão Paulo e começa no Recife a sua turnê por quatro cidades nordestinas, devido a um pedido especial de Moreno, nascido no Recife e radicado em São Paulo desde os anos 1990, onde se formou ator e, depois, iniciou uma bem-sucedida carreira de dramaturgo. Esta também é a
primeira passagem de Lília pela capital pernambucana desde o ano 2000, e uma das suas últimas viagens antes da interrupção da turnê para que a atriz comece a gravar, em abril, sua participação na próxima novela das 21h, Falso brilhante. Além de Lília, o elenco conta também com Dani Barros, Eduardo Reyes, Fernando Neves
entrevista >> Lília Cabral O que te levou a pedir um texto a Newton Moreno?
Newton faz parte do coletivo Os Fofos Encenam junto com alguns amigos meus, como o Fernando Neves e a Silvia Poggetti. Fui assistindo às peças do grupo e nos aproximamos naturalmente. Ele tem um carinho enorme com o ser humano e uma poesia brasileira impressionante, que também tem um apelo universal. Nenhum personagem tem a função de apenas entrar e sair de cena.
Em que medida esse reencontro influenciou o andamento da peça?
Conheço Fernando Neves e Sílvia Poggetti há 35 anos, em São Paulo, e tivemos um grupo de teatro juntos. Eu fui morar no Rio e eles ficaram por lá, mas nunca deixamos de
nos ver. Cada um dos atores do espetáculo colocou um pouco de sua história de vida na composição dos personagens, e isso incluiu, para mim, lembrar desses momentos do passado, quando convivia com Fernando e Silvia mais intensamente. Passamos para o público a felicidade de estarmos juntos em cena. Qual a maior motivação da sua personagem?
O que move a Maria e todos os outros personagens é a fé. Ela é uma pessoa pura e tem um olhar de inocência profana, de sempre acreditar que encontraria o seu amor. Maria é muito iludida pelo pai e com as pessoas ao seu redor, mas, ao mesmo tempo, ela tem um coração muito bondoso e acredita muito nas pessoas.
e Silvia Poggetti. Na peça, os atores também cantam e tocam instrumentos, além de se revezarem em vários personagens, entre eles o coronel, verdadeiro manipulador da fama de santa de Maria, Dona Cosma, beata que acredita na santidade de Maria do Caritó e atribui a ela o milagre de fazer sua galinha voltar a botar ovos.
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Ela é uma pessoa pura e tem um olhar de inocência profana”
SERVIÇO Espetáculo Maria do Caritó Quando: Amanhã, às 21h e domingo, às 18h30 Onde: Teatro Guararapes Centro de Convenções, s/n, Olinda Ingresso: R$ 40 e R$ 20 (meia) balcão; R$ 100 e R$ 50 (meia) plateia A e R$ 80 e R$ 40 (meia) - plateia B Informações: 3182-8020
entrevista >> Newton Moreno Como foi a criação dessa obra, já que ela partiu de uma encomenda de Lilia Cabral?
Antes dela, Marieta Severo já havia me pedido um texto - a peça As centenárias, também com Andréa Beltrão no elenco. Tanto Marieta quanto Lilia me deixaram livre para que eu trabalhasse com o meu próprio imaginário. Lilia é também uma mulher com um poder de comunicação muito grande, com um repertório muito contemporâneo. Ela queria fazer um reencontro entre atores que contracenaram com ela anos atrás, então tive a ideia de cruzar a história de Maria com a de uma trupe circense.
Quais foram as referências que você tomou emprestadas para compor o universo da peça?
As beatas que cruzaram o meu caminho, o interior de Pernambuco e o Sertão do Cariri são matrizes das quais não me dissociei. O grande tema da peça era o amor, e o acordo que tive com o diretor foi o de tirar alguns dos números circenses que estavam previstos no início dos ensaios. Também quis trabalhar com a religiosidade do povo brasileiro e, para mim, Maria é uma representação de como essa religiosidade pode ser abusada. Atualmente, você é um dos dramaturgos pernambu-
canos mais prestigiados no país, junto com João Falcão. Como lida com esse sucesso na carreira?
João Falcão é uma referência para mim, mas, da minha parte, o que sei é que quero me arriscar sempre. É isso o que nos mantém vivos. Ainda me considero na adolescência da dramaturgia, pois trabalhava como ator e meu primeiro texto para teatro foi escrito em 2001. Sou autodidata e me sinto ainda em formação. Não consigo falar com clareza de um estilo, mas o que procuro é a sofisticação do popular. A maioria dos meus textos têm um cenário intencionalmente menos litorâneo, menos cosmopolita.
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