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Em Serra Talhada, chuva alivia seca, mas traz transtorno

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Recife I 1º de abril de 2014 I terça-feira

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Temporal para Serra Talhada

SERTÃO Chuva de 68 mm do fim de semana alagou ruas, invadiu casas e deixou 78 famílias desabrigadas em pelo menos seis bairros O açude de Cachoeira II, com capacidade para 21 milhões de metros cúbicos de água, está com quase 7 milhões. “A previsão é de uma safra boa este ano”, acredita.

Fotos: Divulgação

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costumado aos transtornos causados pela seca, o município de Serra Talhada, no Sertão do Pajeú, a 415 quilômetros do Recife, está em situação de emergência devido aos prejuízos deixados pela chuva que devastou a cidade no último fim de semana. Em apenas 15 minutos no sábado, choveu o equivalente a 68 milímetros, o suficiente para inundar ruas, invadir casas e deixar 78 famílias desabrigadas em pelo menos seis bairros. A destruição contrasta com a esperança trazida pela água. Em outros municípios sertanejos, a chuva chegou como alento para amenizar os danos causados por três anos seguidos de uma das piores secas da história. O prefeito Luciano Duque decretou estado de emergência por 90 dias por conta do temporal que atingiu a área urbana de Serra Talhada. Equipes da Defesa Civil e das Secretarias de Saúde, Ação Social, Serviços Públicos e Obras estão realizando um diagnóstico dos danos causados. A prefeitura vai promover a desobstrução de canais e esgotos, a desinfecção de casas e a distribuição de vacinas e medicamentos. Os bairros afetados foram Ipsep, Várzea, São Cristóvão, Mutirão, AABB e Centro. “Tivemos uma tromba d’água e a chuva caiu num espaço de tempo muito curto, provocando inundações. Serra Talhada cresceu de maneira desordenada, com muitas construções em áreas de córregos, e a tempestade levou tudo”, afirmou Duque. Os desabrigados estão nas casas de parentes e amigos. Quem morava em imóveis que desabaram ou estão condenados serão incluídos no aluguel social.

Apesar das últimas chuvas, a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) avalia que o cenário para o Sertão não é animador. Abril é o último mês chuvoso do ano na região e a precipitação registrada não foi suficiente para compensar os problemas ocasionados pela seca de 2011 para cá. Sete municípios tiveram menos de 15% da chuva esperada para março: Arcoverde, Belém de São Francisco, Cabrobó, Ibimirim, Jatobá, Lagoa Grande e Sertânia. Apenas cinco cidades superaram a média histórica: Flores, Custódia, Floresta, Mirandiba e Santa Terezinha. “Os anos de 2012 e 2013 foram de seca intensa. Este ano está sendo de recuperação, mas as chuvas ainda estão, de uma maneira geral, abaixo da média e insuficientes para encher os reservatórios. A situação é melhor, mas não chega a ser animadora. A seca é uma realidade com a qual vamos ter que conviver até o ano que vem, pelo menos”, observou o meteorologista Fabiano Prestelo, da Sala de Situação da Apac. O gerente de Monitoramento e Mudanças Climáticas da Apac, Patrice Oliveira, lembrou que é entre janeiro e abril que chove 85% do esperado para o ano inteiro. “O Sertão está menos ruim, mas ainda não podemos dizer que está tranquilo”, ponderou. O Boletim do Monitoramento dos Reservatórios aponta que 13 açudes do Estado estão em colapso, dos quais quatro zerados.

ALÍVIO

Outras partes do Sertão tiveram motivos para comemorar. Em Flores, também no Pajeú, choveu 76 milímetros na sextafeira e 67 no dia seguinte – no acumulado de março foram 262 milímetros, 54% acima da média histórica de 170. “Deu uma melhorada. Distribuímos 9 mil quilos de milho e 3 mil de feijão para o pessoal plantar e achamos que vai dar para o agricultor ter uma renda. Não amenizou totalmente, mas pelo menos teremos uma seca verde”, disse o secretário municipal de Agricultura, Rubens de Oliveira Braz. A comunidade de Alto Pedro de Souza ficou ilhada após o Riacho da Velha transbordar. Salgueiro também teve chuva, com 50 milímetros no sábado e a mesma quantidade anteontem, na zona urbana. “Em quase 80% da área rural, não choveu o suficiente para recuperar os açudes”, explicou a secretária de Agricultura, Maria Aparecida de Souza. É o mesmo cenário verificado em São José do Egito: “Foi chuva a noite toda de domingo. Deu até trovão. Ainda não foi suficiente, mas ajuda”, contou a comerciante Marília Madalena Miranda. Araripina, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Betânia e Calumbi foram outras cidades que registraram chuva no fim de semana. Em Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba, choveu mais de 200 milímetros, o suficiente para gerar estragos.

Precipitação muda pouco a realidade

PREJUÍZOS A água inundou as ruas de Serra Talhada, causando inúmeros transtornos para a população. O prefeito Luciano Duque decretou estado de emergência

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Previsões de um futuro sombrio

MUDANÇAS CLIMÁTICAS A ONU faz o alerta: se as emissões de gás carbônico não diminuírem, haverá mais seca, enchentes e fome

A fome poderá ser especialmente severa nos países tropicais e subtropicais. A Amazônia é um dos ecossistemas que mais poderão ser prejudicados, juntos com os polos, os pequenos Estados insulares no Pacífico e os litorais marítimos de todos os continentes. Nas Américas do Sul e Central, os desafios são a escassez de água em áreas semiáridas, as inundações em zonas urbanas superpovoadas, a queda da produção alimentar e de sua qualidade e a propagação de doenças transmitidas por mosquitos. As cidades latino-americanas devem se preparar para modificar seus planos de urbanismo e de tratamento de água. A produção agrícola deverá se adaptar aos períodos de seca, ou de grandes chuvas, com grãos mais resistentes. As zonas de mata virgem de-

verão manter afastada a pressão dos assentamentos humanos. O documento é resultado de intensas deliberações entre centenas de cientistas desde que a comunidade internacional aprovou a criação do IPCC em 1988.

Alexandre Gondim/JC Imagem

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OKOHAMA (Japão) – O aumento das emissões de CO2 elevará durante este século os riscos de conflitos, fome, enchentes e migrações, informa o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado ontem. Se não se conseguir estancar as emissões dos gases causadores do efeito estufa, o custo pode chegar a bilhões de dólares em danos a ecossistemas e a propriedades, além da necessidade de se criar sistemas de proteção dessas mudanças.

TENTATIVA

A edição anterior, de 2007, valeu ao IPCC o Prêmio Nobel da Paz, mas seu sucesso e visibilidade não conseguiram mobilizar as consciências o suficiente. A reunião internacional de Copenhague, em 2009, que se dedicaria a obter um pacto contra a mudança climática, foi um estrondoso fracasso. Esse novo documento, publicado em Yokohama, em Tóquio, após cinco dias de reuniões, detalha de forma mais extensa o alcance do problema, que se acelerou a partir do século 20. As temperaturas vão subir entre 0,3ºC e 4,8ºC neste século, o que se soma ao 0,7ºC calculado desde o início da Revolução Industrial. Além disso, o nível dos mares aumentará entre 26 e 82 centímetros até 2100. A alta das temperaturas reduzirá o crescimento econômico mundial entre 0,2% e 2% ao ano. Nesse sentido, o IPCC reivindica um pacto mundial até o final de 2015 para limitar esse aumento a até 2ºC no século atual.

DURA REALIDADE Estudo diz que semiárido brasileiro sofrerá ainda mais com escassez de água

Europa pede redução de emissões BRUXELAS – A comissária europeia da Ação pelo Clima, Connie Hedegaard, advertiu hoje que não se pode suspender as alterações climáticas e pediu aos parceiros internacionais que atuem urgentemente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Apertar o botão ‘adiar’; não funciona quando se trata do clima”, disse ela, em comunicado, após conhecer os resultados do relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Alterações Climáticas (IPCC). O documento alerta para o aumento do risco de secas, inundações e incêndios florestais na Europa devido aos efeitos das alterações climáticas, tanto a curto quanto a médio prazo. “Mais conhecimento é sempre bom, mas mais ação seria ainda melhor”, lembrou Connie. A comissária disse ainda que a União Europeia prepara a adoção de um objetivo “ambicioso” de redução em 40% das emissões de gases de efeito de estufa até 2030, em relação aos níveis de 1990. Ela espera que a meta seja adotada até ao fim deste ano, após a aprovação pelos EstadosMembros e pelo Parlamento europeu.


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