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opinião JC www.jconline.com.br

q editorial

O saneamento espera Roberto C. Tavares

O

saneamento costuma ocupar o noticiário sempre em tom de calamidade. O assunto, raras vezes, é aprofundado a ponto de ser compreendido em sua integralidade. Com a discussão tão enterrada quanto as tubulações de água e esgoto, a sociedade pouco sabe a respeito da realidade do setor e os porquês de enfrentarmos os desafios e as limitações de hoje. Estamos falando aqui de um dos patinhos feios da infraestrutura. Obras que ficam escondidas debaixo da terra foram relegadas, durante décadas, não apenas pelos gestores, mas pela sociedade, que nunca exigiu que um serviço tão básico fosse alçado à condição de prioritário. A falta de planejamento urbano, a favelização, o crescimento desordenado, a burocracia para o financiamento do setor, a multiplicidade de legislações e normas que afetam a rotina das concessionárias são deixados em segundo plano, quando deveriam ser encarados com primazia. É, em parte, pelo desconhecimento dessas questões que a sociedade reage de forma inflamada ao se deparar com as estatísticas sobre cobertura de esgotamento sanitário nas grandes cidades. Tal reação é endossada pelas explicações que são sempre as mesmas: ou não tem projeto, ou está em andamento, ou a obra está em curso e por aí vai. Toda a responsabilidade é cobrada da operadora. Mas há um questionamento que, apesar de importante, quase nunca é feito: as causas reais estão sendo enfrentadas? Nesse ponto, não intencionamos que sejam elencadas as soluções para o problema naquela cidade, mas

as que serão satisfatórias para que o setor dê uma guinada e estabeleça metas audaciosas para mudar esse cenário em todo o Brasil. As companhias estaduais de saneamento conhecem bem a realidade do setor, operam redes que foram projetadas há quase um século e convivem com as incertezas do investimento, das diversas regulações, das questões ambientais, da falta de planejamento, dos surtos de crescimento, dos impostos excessivos, das crises energéticas, da insegurança jurídica e muito mais. Com o encargo de operar e manter os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário em quase 4 mil municípios, atendendo cerca de 80% da população brasileira, as companhias estaduais decidiram reservar 2014 para exigir que o saneamento entre em definitivo na pauta política nacional. Não podemos nos contentar com os avanços da última década que, apesar de reconhecidos, não são suficientes. As necessidades de infraestrutura não se resolvem da noite para o dia e não podemos mais aceitar paliativos. Precisamos enfrentar cada um dos gargalos institucionais que impedem o crescimento do setor e o amplo atendimento da população. Por ser eleitoral, 2014 é um ano de debates e de promessas. Vamos provocar essa discussão e torcer para que a resposta ao título deste artigo seja de que é agora a hora e a vez do saneamento, em nome do presente e do futuro do País. k Roberto C. Tavares é presidente da Compesa


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