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TERÇA-FEIRA

Luz residencial sobe 17,5%

Celpe pediu 18,13%, mas Aneel concedeu reajuste médio de 15,9%, válido a partir de hoje. Consumidor residencial (exceto baixa renda) pagará 17,51% a mais. Para os demais clientes (indústria, comércio, etc), reajuste chega a 25,07% k economia 1


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economia Recife I 29 de abril de 2014 I terça-feira

Conta de luz sobe 17,5%. Veja o que muda

ENERGIA Percentual é referente ao cliente residencial (sem baixa renda). Para outras classes de consumo, índices são diferentes. Alta provocará inflação

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Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou ontem o aumento das tarifas da Celpe. Os consumidores residenciais (sem ser de baixa renda) terão uma alta de 17,51%. Entre os demais clientes, o aumento varia chegando ao máximo de 25,07% para as grandes indústrias e o menor percentual ficou em 14,33% para as empresas de médio porte (ver quadro ao lado). O reajuste, que tem efeitos em toda cadeira produtiva, começa a vigorar hoje. O reflexo médio que será percebido pelos consumidores será de 17,75%, segundo a Celpe ou de 15,99%, segundo a Aneel (cada uma divulgou um número ontem). Embora a agência tenha aprovado um índice alto, seu diretor-geral, Romeu Rufino, admitiu ser “um aumento preocupante.” O reajuste representa quase três vezes o índice oficial que mede a inflação do País, o IPCA, que ficou em 5,68% nos últimos 12 meses. Um consumidor residencial – que não seja de baixa renda – e apresente um consumo de 80 quilowatt-hora (kWh) por mês terá sua conta reajustada de R$ 33,99 para R$ 39,89, segundo cálculos da Celpe. Para calcular o novo valor da conta, o cliente deve multiplicar o novo valor do kWh pelo seu consumo. Ainda de acordo com os cálculos da Celpe, o cliente residencial de baixa renda com o mesmo consumo de 80 kWh por mês sairá de uma conta de R$ 12,44 para R$ 14,67. O consumo do baixa renda é subsidiado pelos demais clientes. A empresa tem 3,3 mi-

lhões de unidades consumidoras. Ainda sob o impacto da notícia, o presidente da Compesa, Roberto Tavares, afirmou que o aumento da conta de luz poderá trazer um novo reajuste de 1,2% na conta de água dos pernambucanos. A tarifa da Compesa teve um reajuste de 8,75% em março último. “O aumento da energia trará um impacto de R$ 18 milhões. Agora, ou diminuímos os investimentos com recursos próprios no qual seriam empregados R$ 100 milhões ou mandamos a informação para a Arpe avaliar, se é necessário um novo reajuste (da água)”, comentou. A tarifa da Compesa aumentou 8,75% em março último.

Grandes indústrias vão amargar o maior aumento: 25,07% O que mais puxou a alta na conta de luz foi a estiagem no Sudeste do País que fez o governo federal mandar as térmicas produzirem energia mais cara do que a gerada pelas hidrelétricas. Também entrou aí o fato de a Celpe ter adquirido energia no mercado livre (aquele em que a empresa escolhe a quem vai comprar a energia) que subiu muito com a pouca quantidade de água nos reservatórios das hidrelétricas. Resultado: a aquisição de energia gerou um acrés-

cimo de 19,5% nas contas da Celpe. Só esse item contribuiu em 11,22% para o atual reajuste. Os encargos setoriais também registraram um aumento de 12,06% na conta dos pernambucanos e está ligado ao pagamento da energia das térmicas. No entanto, o item teve um impacto de 0,69% no aumento. O atual reajuste fez desaparecer a redução média de 16% na conta dos brasileiros que entrou em vigor em janeiro do ano passado. Ainda na reunião, o diretor da Aneel, André Pepitone, argumentou que se as grandes hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte – no Norte do País – tivessem sido construídas com reservatórios seria possível postergar o uso das térmicas, quando houvesse uma condição desfavorável no Sudeste do País, como a que ocorreu este ano. As duas primeiras já estão em operação. Geralmente, os reservatórios do Norte do País apresentam os reservatórios cheios, quando os do Sudeste estão em baixa. A audiência que estabeleceu o aumento foi bastante tranquila. Durante o evento, o único presente que criticou o aumento foi o deputado federal Eduardo da Fonte (PP). “A Celpe vem piorando a qualidade do serviço, saindo da 4ª posição no ranking da Aneel para a 24ª”, citou o parlamentar. O ranking a que ele estava se referindo foi realizado pela Aneel entre as 33 distribuidoras que possuem o maior mercado. A Celpe tinha pedido um reajuste médio de 18,13%.

Empresários receberam o índice de reajuste na conta de energia elétrica com espanto e preocupação. Pelo reajuste tarifário aprovado ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a conta vai subir 18,13% para as pequenas indústrias, 14,33% para as médias e 25,07% para as grandes. Isso significa dizer que a elevação da tarifa vai atingir todo o parque industrial do Estado, integrado por 13 mil empresas. Já para os comerciantes, o aumento será de 17,34% e deverá ser repassado para os consumidores. “É um aumento absurdo. Não sei aonde a gente vai parar. Sabíamos que o reajuste seria alto, mas estávamos esperando algo entre 15% e 16%”, diz o vice-presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Ricardo Essinger. “O governo federal precisa reformular o modelo energético do País, sob pena de prejudicar o desenvolvimento do Nordeste. Mais do que linhas de financiamento como o Finor (operado pela Sudene), a região precisa de melhores condições de infraestrutura”, defende Essinger. O empresário afirma que o reajuste vai impactar

os custos das empresas e influenciar nos preços dos produtos ou nos planos de investimento. No caso de uma indústria de plástico, por exemplo, em que a energia representa 10% dos insumos de produção, o impacto no custo é de 1,7%. Representantes do setor de comércio e serviços acreditam que os preços ao consumidor precisarão ser elevados para garantir a margem de lucro. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), Eduardo Catão, lembra que os estabelecimentos são equipados com tem ar-condicionado, iluminação, alguns com escada rolante, o que a conta de luz corresponder muitas vezes a cerca de 5% das despesas totais. “O comércio terá elevação nos custos. É um aumento considerável e o lojista vai repassá-lo para o consumidor. Não podemos absorver gastos e trabalhar com uma margem de lucro muito apertada”, diz. O gerente da Super Útil – loja de artigos variados –, no Centro do Recife, Paulo Fernandes dos Santos, conta que gasta por mês cerca de R$ 800 com a conta de luz. Consideran-

do alta de 17%, o custo vai subir para R$ 933. “Vamos avaliar o primeiro mês, o efeito disso nas nossas despesas. É possível que a gente tenha que aumentar os preços”, comenta. Para o presidente da seccional pernambucana da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (AbraselPE), Núncio Natrielli, até junho, os valores no segmento devem subir mais de 10%. “Todos os meses temos aumento de quase tudo nos restaurantes. Um fornecedor de refrigerante aumentou um produto em 23% recentemente. Os preços dos frutos do mar subiram na Semana Santa e até agora não caíram.” O consultor da Fecomércio-PE Valdecir Monteiro é mais otimista. Para ele, inicialmente, a situação não é “tão drástica” para precisar repassar o reajuste para o consumidor, mas requer preocupação. Ele lembra que, além do aumento da conta de luz, a inflação atinge índices alarmantes, perto do teto da meta estipulada pelo governo federal, de 4,5% ao ano. “2014 é quadro de cautela. É o conjunto de fatores que podem fazer o preço subir, não o reajuste da Celpe por si só”, avalia.

Fotos: Guga Matos/JC Imagem

Impactos em todas as áreas

“ “ Esse aumento é um absurdo, sobretudo pelo fato de a presidente Dilma dizer que ia baixar o valor da conta há pouco tempo. Enquanto a energia sobe quase 20%, os aposentados recebem um aumento de 5%”, compara o funcionário público Marcos Brito, 52 anos, que mora no bairro da Várzea, no Recife, e paga uma média mensal de R$ 230

Sabemos que tudo aumenta e a energia elétrica não é diferente, mas essa taxa é muito alta. Moro somente com a minha esposa e pagamos uma média de R$ 130 por mês. Agora vamos ter que controlar os gastos para tentar diminuir o consumo”, diz o dentista Antônio Maurício, 68 anos, morador do bairro de Jardim Atlântico, em Olinda


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