Revista Cultirsão

Page 1

Foto de Ava Sol em Unsplash

JUNHO DE 2020

cultirsão. + cultura + diversão

CULTURA NA QUARENTENA


Equipe Bruna Gabrielle

Fernanda Gomes

Marianna Bortolini

22 anos, mãe, graduanda em jornalismo e apaixonada pelo amor. Amor de amigo, de irmão, de mãe, de filho, de pet, de plantinhas. O que importa mesmo é ter amor.

Chocólatra, evangélica, mandona e apaixonada pela comunicação, com ênfase ao jornalismo e a produção. Além de fã de carteirinha de novelas mexicanas.

24 anos, sou estudante de jornalismo, cristã, apaixonada por literatura, cinema, teologia, história e jogos de tabuleiro.

Nathália de Souza

Suélen Miranda

Apaixonada por filmes de terror, séries, música, Stephen King e aventuras gastronômicas. Nas horas vagas sou estudante de Jornalismo e trabalho com marketing digital.

Jornalista, produtora de conteúdo e empreendedora. Apaixonada pelo universo das artes e artesã nas horas vagas.

Vitória Ohana

Empreendedora, jornalista por formação, apaixonada por comunicação e tudo que envolve Marketing, Branding e Gestão de Marcas.


Índice 04

EDITORIAL

05

AMOR E QUARENTENA

07 09 10

Edição

01

A Cultirsão é um espaço para o jornalismo opinativo e experimental, criado por um grupo de jornalista mulheres de Belo Horizonte.

Editora geral: Fernanda Gomes Editora assistente: Marianna Bortoline

ENSAIO SOBRE A PESTE

Revisoras: Bruna Gabrielle e Vitória Ohana Fotografia: Suellen Miranda

SÍNDROME AGUDA DE INFOXICAÇÃO

É VISCERAL E É EXTREMAMENTE CRUEL

Diagramadora: Fernanda Gomes Assessoria e redes sociais: Nathalia de Souza

@cultirsão.oficial @cultirsão

13

@revistacultirsão

CRIAR NA QUARENTENA

cultirsão@gmail.com


04

CULTIRSÃO

Editorial POR FERNANDA GOMES

Arte Canva - Ken Gascon

Teatros e cinemas fechados, shows cancelados, estreias de filmes adiadas. Imposto como medida necessária para diminuir a disseminação do novo coronavírus, o isolamento social prejudica gravemente o setor cultural de Belo Horizonte e do mundo. Apesar de todas as dificuldades, financeiras e emocionais, que a classe artística está passando, é ela que proporciona alívio e diversão a população durante esse período cheio de incerteza. Músicas, filmes, séries, novelas, livros e lives protagonizadas pelos mais variados artistas dos mais variados meios, estão sendo a companhia de muitos durante a quarentena. Principalmente para aqueles que, por algum motivo, estão enfrentando esse período sem a companhia física de outra pessoa.

Por isso, esta edição será completamente voltada para a importância da cultura durante o isolamento social. Antes de dar alguns spoilers sobre o que nossa equipe preparou, deixo a indicação da websérie documental A tirania da pequena coroa: COVID-19, disponível gratuitamente no YouTube. Idealizada e dirigida pelo jornalista Gustavo Girotto, a websérie, com seis capítulos lançados até o momento, aborda os desafios enfrentados por diversas áreas da sociedade. O quinto capítulo foi dedicado aos profissionais da cultura e contou com a participação do maestro oão Carlos Martins, dos atores Genézio de Barros, Odilon Wagner, Bárbara Bruno, Gabriel Miziara e Murilo Meola, e dos músicos Ana Salvagni, Fernando Negrão e Minoro Muriat.

Sem mais delongas, esta edição conta com charges de Bruna Gabrielle, onde ela retrata a importância do amor e das artes durante o confinamento. Para a criação das histórias, Bruna se inspirou no livro infantil Amoras, lançado em 2019 por Emicida. As obras estão nas páginas 05 e 06. Na página 07, pela primeira vez Marianna Bortolini se aventura no mundo das crônicas. Em Ensaio sobre a Peste, duas irmãs gêmeas debatem sobre qual gênero da literatura é o mais indicado para se ler durante uma pandemia, como a que o mundo está enfrentando agora. Está edição também conta com o artigo Síndrome Aguda de Infoxicação (pagina 09), de Vitória Ohana, onde ela aborda as consequências do excesso de informações divulgadas pela mídia, e as dificuldades e medos relacionados ao isolamento social e a pandemia. Já no artigo Criar na quarentena (página 13), Suellen Miranda aborda os benefícios da prática artística. A série Branco Sai, Preto Fica, e o documentário Eu não Sou seu Negro, estão na lista de obras que discutem o preconceito racial, criada por Nathália de Souza na página 12. Dando um basta nos spoilers, espero que gostem e não se esqueçam de comentar o que acharam em nossas redes sociais.


05

JORNALISMO OPINATIVO E EXPERIMENTAL

POR BRUNA GABRIELLE

ANETNERAUQ E ROMA

Sobre amor e quarentena é uma sequência de quadrinhos criada com o intuito de trazer esperança e conforto às pessoas que estão passando pelo isolamento.


06

CULTIRSÃO

POR BRUNA GABRIELLE

ANETNERAUQ E ROMA

Os quadrinhos dizem sobre companhia e formas de passar o tempo, sem ficar no tédio e na mesmice do dia a dia, além de falar sobre a saudade, que todos estamos sentindo de alguém.


Foto Andrea Piacquadio. Pexels

07

JORNALISMO OPINATIVO E EXPERIMENTAL

ENSAIO SOBRE A PESTE POR MARIANNA BORTOLINI

- É sério que você pegou esses livros para ler agora? - Que que tem? - Você deveria ler um romance ou coisa do tipo, para tirar as coisas ruins da cabeça e não colocar mais lendo esses livros. - Às vezes vou aprender como lidar com isso tudo que está acontecendo lendo esses livros. Livros são para isso, sabia? Para se colocar no lugar de outra pes… - Você já está no lugar dessas pessoas. - Você já leu por acaso algum desses livros? - E se já tiver lido e estou te alertando? - Pelo jeito não. Então me deixa quieta. Livros são para isso, para você refletir sobre algum assunto, ver como algumas pessoas lidam com ele e tirar dali algumas ideias do que fazer ou do que não fazer na sua vida. - Vá ler Orgulho e Preconceito e pensar no Senhor Darcy. Ou Romeu e Julieta, não esses livros! - Você sabe que eles morrem no final né? - A Elizabeth e o Darcy? Não, tá louca?! - Romeu e Julieta, idiota! Meu Deus… - Ah, é mesmo. Mas por amor e não doença. - Então, um livro sobre um casal suicida eu posso ler na pandemia, mas livros que realmente retratam pandemias, não? - É diferente. - Com certeza é diferente, Einstein. - Tá, não falo mais nada. - É tudo que eu quero. E alias, como você esqueceu que Romeu e Julieta morrem no final? Achei que isso era tudo que a maioria das pessoas sabem sobre a história. - Não, o que a maioria sabe é que Romeu é um bobo apaixonado. E eu só vi o filme. E há um tempão atrás, acho que foi até na escola. - Qual? O de 68? - Não, o do DiCaprio. Arte Canva


08

CULTIRSÃO

va Artes Can

- Ah, claro. - Para de ser esnobe! Você não é melhor por ver filmes cult e ler livros, sabia? Você quer ler essas drogas desses livros pra achar que entende de pandemia, mas você não sabe mais que ninguém aqui. - Olha, me desculpa se você achou esnobe, mas não foi minha intenção. Eu gosto dos dois tipos de filmes, o antigo e o novo. E você já me irritou o bastante hoje, não dava pra esperar uma resposta super educada. - Justo. Trégua? - Trégua. - Você sabe que porque somos irmãos gêmeos eu consigo ler sua mente, né? - Ah, é? E o que eu estou pensando, Xavier? - Por qual livro você vai começar. - Credo. Pior que eu tava mesmo pensando nisso. Será que não sei o que você está pensando porque você nunca está pensando em nada? - Como a gente pode ser gêmeos mas ser tão diferentes? - Ah, faz parte. A gente se parece por fora então tem que ser diferente por dentro. Se não o mundo explodiria. Enfim, pra falar a verdade, realmente não sei se devia estar lendo esses livros. - A Peste e Ensaio Sobre a Cegueira são clássicos, de qualquer forma você vai ler eles um dia. Se não ler agora, depois você lê, até com mais experiência, se é que me entende. - Sim. Acho que esses livros mais falam sobre a humanidade do que na peste em si. Essas histórias não são para nos assustar, mas nos fazer refletir em como temos vivido, a morte faz isso. A morte nos faz pensar na vida. - Você tá com medo? - Do que? - De tudo. - Um pouco. É assustador, mas ao mesmo tempo estamos fazendo parte da história, isso pode ser legal. - Acho que preferia ser uma das datas que passa despercebida pela história. - Estamos em 2020, 20 e 20, acho que já não passaria despercebido. De qualquer forma, a literatura ou todas as artes, é para vermos que não estamos sozinhos. Alguém passou por isso ou se sente como nós em algum lugar do mundo ou da história. Saber que a humanidade já passou por isso antes e sobreviveu, pode trazer esperança para alguém.


09

JORNALISMO OPINATIVO E EXPERIMENTAL

SÍNDROME

AGUDA

DE

INFOXICAÇÃO POR VITÓRIA OHANA Você acorda, lê as notícias, 40 mil mortos, 500 mil casos, o ministro pediu demissão, mais um homem negro morto, live às 19h, seja produtivo, call amanhã, faça exercícios, tenha uma rotina, não fique de pijamas o dia inteiro, haja normal. Além de lidar com as consequências de uma pandemia global, distanciamento social, mudanças drásticas nos hábitos de consumo e relacionamentos, as pessoas precisam lidar com outro mal: a infoxicação. O termo refere-se ao excesso de informação não processada que pode causar estresse, ansiedade e FOMO (fear of missing out). O excesso de conteúdos, dicas, lives, o que fazer, o que não fazer, notícias, análises, opiniões e comparações pode causar o efeito contrário do entretenimento, a culpa. Segundo a pesquisa Deus me Lives: intoxicação na Quarentena, organizada pelo Podcast Caos Corporativo, 76% dos entrevistados disseram sentir obrigação de "aproveitar ao máximo" o tempo livre na quarentena. O não fazer nada não é nem considerado. Você tem que ser produtivo, aproveitar esse tempo para resolver todas as suas pendências, fazer um curso, ler um livro, trabalhar, cuidar das crianças, cozinhar e maratonar todas as séries da Netflix. Por que não? Não estamos ocupados mesmo. É aí que entra o perigo. Não estamos em condições normais e nem em tempos normais. Há pessoas lá fora e aqui perto que perderam parentes, conhecidos, que estão preocupadas com os idosos e com os amigos indo trabalhar. Não existe normalidade neste momento. Existe medo, confusão, insegurança, perguntas e mais perguntas sem respostas. Será que, no fim disso tudo, ainda terei meu emprego? Quanto tempo mais conseguirei manter as crianças entretidas e fora da escola? Por quanto tempo mais ainda aguentaremos? Tudo o que você menos precisa fazer agora é sentir culpa. Aliás, você não precisa sentir nada. É permitido não sentir nada e não saber reagir. Não existe um manual ou guia para lidar com pandemias, partidas, crises ou momentos em que somos pegos desprevenidos. Aquele que o fizer estará sendo um desonesto.


10

CULTIRSÃO

É VISCERAL E É EXTREMAMENTE CRUEL POR NATHÁLIA SOUZA Em 28 de agosto de 1963, o ativista Martin Luther King proclamou o histórico discurso conhecido como I Have A Dream: “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele”. Eu sinto muito Sr, King. Já se passaram mais de 50 anos desde a sua fala e as coisas ainda não mudaram. Na verdade, essa é uma luta bem mais antiga, que vem desde as expansões marítimas e colonizadores, e perdura até os dias de hoje. Às vezes aparece de maneira escancarada, em outras de forma velada. A questão é que o racismo é um mal visceral que precisamos exterminar. Após o assassinato de George Floyd, as ruas dos Estados Unidos foram tomadas por protestos. O racismo voltou a ser pauta de discussão nas grandes mídias e o poder reacionário causado pela revolta se estendeu por diversos países. Afinal, o racismo acontece em todos os lugares. Mas já que estamos em um lugar em que falamos sobre cultura e arte, vamos abordar o racismo nesse meio? BLACKFACE

Houve um tempo em que atores negros não eram autorizados a subir nos palcos para performar. O motivo? A cor da pele. No século 19, o blackface era usado por atores brancos, principalmente nos Estados Unidos e Europa, que pintavam os corpos com tinta preta para representar de forma ridicularizada as pessoas negras, tudo para o entretenimento dos brancos. As representações ofensivas e estereotipadas eram performadas em espetáculos “humorísticos”, com enredo carregado de preconceito, exagero comportamental, ridicularização de sotaques e trejeitos. No século 20, quando os negros passaram a ter a oportunidade de apresentar, eram raros os atores que recebiam posição de destaque. Tudo bem que fizessem pequenas participações, mas se fosse algo importante e que exigisse aparência africana, o papel era concedido ao ator branco e o blackface era novamente aplicado. OCUPANDO LUGAR DE DESTAQUE

Felizmente hoje temos o privilégio de ter tantos artistas negros ocupando lugares de destaque no campo da arte. Na música, no teatro, cinema, televisão e literatura. De Nina Simone até Beyoncé. Nas telas passamos por Denzel Washington, Mahershala Ali, Lupita Nyong'o, Chiwetel Ejiofor e Viola Davis. Estes são apenas alguns dos grandes nomes consagrados em Hollywood.


11

JORNALISMO OPINATIVO E EXPERIMENTAL

O problema é que Hollywood ainda é preconceituosa. Por isso esses artistas precisam lutar o dobro para conquistar espaço. Após a falta de representatividade negra nas indicações de grandes premiações do cinema, o ator Michael B. Jordan (Creed, Pantera Negra, Fruitvale Station) anunciou que sua sua produtora adotará a chamada “Inclusion Rider”, uma cláusula contratural que exige que projetos audiovisuais tenham diversidade racial e de gênero em seu elenco e equipe. O ator e músico Jamie Foxx (Ray, Django Livre) contou que foi barrado da produção de um musical durante seus anos de faculdade por ser negro: “Eles precisavam de um tenor, e haviam me visto cantando em algum outro lugar. Então, na verdade, foi a produção do musical que veio até mim – mas eles não me deixaram entrar no palco, eu só podia cantar atrás das cortinas”. A atriz Taraji P. Henson (Empire, Estrelas Além do Tempo), compartilhou em sua biografia Around the Way Girl: A Memoir - que em Hollywood “há mais atrizes negras talentosas do que papéis inteligentes e bacanas para elas. Logo, a maioria de nós é obrigada a catar as migalhas, os papéis ruins, ou morrer de fome”. Os problemas com racismo na indústria cultural não acontecem apenas em Hollywood. Aqui no Brasil, atores negros também precisam batalhar para conquistar papéis de destaque em filmes ou nas populares telenovelas. E não para nessa dificuldade. Quando conquistam o destaque, ainda precisam enfrentar os ataques preconceituosos que sofrem nas redes sociais, como aconteceu com a atriz Taís Araújo após a publicação de uma foto para campanha publicitária.

Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do teatro Faap com o “Topo da Montanha”, um texto sobre ninguém menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor. Taís Araújo em desabafo no perfil do Instagram

Por essa razão devemos celebrar os trabalhos executados por esses artistas. Valorizar a entrega e o talento de pessoas que levaram anos e precisam se esforçar ao máximo para que sejam ouvidas e representadas no meio. Aqui está uma lista de filmes e documentários que abordam o racismo e que merecem um pouco da sua atenção:


12

CULTIRSÃO

FILMES SELMA: UMA LUTA PELA IGUALDADE

A história da luta de Martin Luther King Jr. para garantir o direito de voto dos afrodescendentes - uma campanha perigosa e aterrorizante que culminou na marcha épica de Selma a Montgomery, Alabama, e que estimulou a opinião pública norte-americana e convenceu o presidente Johnson a implementar a Lei dos Direitos de Voto em 1965. O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA

Starr Carter é uma adolescente negra que presencia o assassinato de Khalil, seu melhor amigo, por um policial branco. Ela é forçada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime. Mesmo sofrendo uma série de chantagens, ela está disposta a dizer a verdade pela honra de seu amigo, custe o que custar. FRUITVALE STATION: A ÚLTIMA PARADA

Oscar é um jovem carismático e muito próximo da família. Mas por ter se envolvido em problemas com a lei, passou um tempo na prisão. Agora, sem emprego e sem dinheiro, ele tenta se reerguer para sustentar a namorada e a filha deles. BRANCO SAI, PRETO FICA

Tiros em um baile de black music em Brasília ferem dois homens, que ficam marcados para sempre. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva.

DOCUMENTÁRIOS ª

A 13

EMENDA

Estudiosos, ativistas e políticos analisam a correlação entre a criminalização da população negra dos EUA e o boom do sistema prisional do país. EU NÃO SOU SEU NEGRO

O produtor Raoul Peck usa o livro inacabado de James Baldwin sobre o racismo nos EUA para examinar as questões raciais contemporâneas, com relatos sobre as vidas e assassinatos dos líderes ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. LA 92 - UM CRIME AMERICANO

Na primavera de 1991, Rodney King, um motorista negro, foi brutalmente espancado por quatro policiais brancos de Los Angeles. Os policiais foram inocentados. A cidade explodiu em motins que resultaram no pior conflito civil na história dos EUA. MENINO 23 – INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL

A partir da descoberta de tijolos marcados com suásticas nazistas em uma fazenda no interior de São Paulo, o filme acompanha a investigação do historiador Sidney Aguilar e a descoberta de um fato assustador: durante os anos 1930, 50 meninos negros e mulatos foram levados de um orfanato no Rio de Janeiro para a fazenda onde os tijolos foram encontrados.


13

JORNALISMO OPINATIVO E EXPERIMENTAL

CRIAR NA QUARENTENA POR SUÉLEN MIRANDA

Brasil, junho de 2020 e mais de 1 milhão de casos confirmados por coronavírus no país. Comércio abre comércio fecha. Crise política e econômica. Uma tsunami de lives. Uma chuva de posts de política, Bolsonaro, corrupção, racismo, vidas negras importam que se contrapõe ao “mantenha sua saúde mental” e o “ta tudo bem” para todas as situações. A cada dia uma nova situação aparece nos noticiários para fazer companhia aos números do COVID-19, parece que só uma pandemia já não é suficiente para muitas pessoas. Já são três meses de quarentena, no grupo da família do WhatsApp se discute a cura do coronavírus, minha mãe no almoço fala que viu naves no céu e eu estou aqui escrevendo para uma revista. O mundo parou ou pelo menos de certa forma esta se reiniciando. Várias teorias da conspiração e a humanidade sendo obrigada a aprender a viver novamente, a se adaptar as novas circunstancias. Em todas as áreas as pessoas estão se reinventando, afinal, o verbo reinventar se tornou a chave de sobrevivência deste período. O home office agora é a realidade de grande parte da população e em meio ao trabalho é preciso criar os filhos que não estão mais na escola, criar novos hábitos, criar novas formas de ganhar dinheiro, de estudar, de conviver, de se divertir e não pirar. Apenas os serviços considerados essenciais funcionam “normalmente”, os demais serviços simplesmente pararam ou precisaram criar alternativas para se manterem. Dentre os diversos setores existentes, o que destaco neste texto hoje é o das artes. Tenho enorme apreço e paixão por tudo que envolve arte em sua amplitude, seja música, dança, teatro, artes plásticas, artesanato... Considero que as artes são o que dá cor a nossa vida e nos trás um pouco de leveza e alegria no dia a dia. Infelizmente, grande parte desse setor demanda aglomeração de pessoas e sendo assim, surgiu as listas de lives de cantores que entre tantos aspectos um dos motivos era para entreter as pessoas. Artesãos inventaram novas formas de vender suas peças. Os museus começaram a fazer “visitações online” e agora peças teatrais irão fazer transmissão ao vivo. Simplesmente estamos em um novo mundo. Em janeiro deste ano, criei um projetinho no Instagram para os artesanatos em geral que criava há muito tempo, depois comecei a criar mandalas com a técnica de pontilhismo, nem imaginava o que estava por vir. A quarentena chegou e o trabalho que era apenas um hobbi se tornou uma terapia neste período. As mandalas que se tornaram tão conhecidas no mundo, mas mais pelo lado estético e decorativo, na verdade possui vários simbolismos e significados de acordo com as cores, formas e símbolos. A arte em geral tem vários estudos de que contribui para a saúde das pessoas. Para mim funcionou meio que como uma válvula de escape sem dúvida, além de empreender era algo que contribuía neste momento delicado. Claro, que não é a solução de todos os problemas, mas em meio aos dias em que levantar da cama e dar conta das inúmeras tarefas que tinha para desenvolver durante o dia (das quais muitas não consegui concluir) era extremamente difícil, essa atividade foi e ainda é, o que da um gás entre tantas situações.


JUNHO DE 2020


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.