Revista LaCreme 08

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EDITORIAL/

Caiu na rede é gente

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olaborar, em geral, costuma significar apenas o ato de ceder. Essa noção, no entanto, é apenas parcial, pois a existência contemporânea exige uma acepção mais efetiva: participação, compartilhamento. De fato, não há mais lugar para o trabalho isolado, para verdades e soluções absolutas e personalistas. Redes, tramas, circuitos são, por isso, figuras de linguagem cada vez mais frequentes nas instituições de ensino, no mundo corporativo, nos ambientes de gestão pública, na internet e no universo artístico. É uma questão de resgate da essência do humanismo. A LACRÈME, desde a sua primeira edição, ostenta como uma de suas diretrizes editoriais a necessidade de divulgar e/ou questionar iniciativas pautadas pelo princípio do trabalho colaborativo. Esta 8ª edição segue a premissa. O tema aparece com destaque, por exemplo, na entrevista com dois dirigentes do Poços de Caldas Convention & Visitors Bureau. A versão atual dessa organização propositiva surge renovada e disposta a interferir de fato na estrutura turística do município, mas ressalta que isso só atingirá o status de realidade se houver a efetiva participação de todos os segmentos interessados. Produzimos ainda uma reportagem sobre o Coletivo Corrente Cultural (assunto de nossa capa) e, de passagem, uma análise deste fenômeno mundial que só faz crescer. Neste caso, a relevância do conceito do trabalho participativo é categórica. De quebra, a LACRÈME ouviu a opinião de Pablo Capilé, gestor do Circuito Fora do Eixo e referência fundamental para todas as pessoas interessadas no desenvolvimento ou no fortalecimento das redes que têm garantido espaço para que jovens artistas e produtores cresçam e apareçam. Entre os colaboradores, as novidades são, desta vez, as presenças ilustres da poeta Alice Ruiz e do jornalista, músico, crítico de música, viajante inveterado e blogueiro (http://pilhanavitrola.blogspot.com) Vinícius Castelli. Alice enviou para publicação o poema É Duro Ter Coração Mole e Vinícius assina a deliciosa entrevista com Erasmo Carlos e a reportagem sobre um dos destinos turísticos recém-visitado, o Canadá. A LACRÈME sugere ainda, como opção de passeio, São Francisco Xavier, o bucólico distrito de São José dos Campos (SP). E já que a palavra é compartilhar, a LACRÈME conferiu e recomenda: a exposição dos fotógrafos Hans Günter Flieg, no Instituto Moreira Salles – Poços de Caldas, e Gil Sibin, na Livraria Papyrus de São João da Boa Vista (SP), e o novo livro de Chico Lopes, a novela O Estranho no Corredor (Editora 34). Boa leitura! Ricardo Ditchun e Valéria Cabrera, editores

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duro Por favor não me aperte tanto assim tenha cuidado, pega leve olha onde pisa isso é meu coração meu ganha-pão instrumento de trabalho, meio de vida, profissão meu arroz com feijão meu passaporte para qualquer parte para qualquer arte não machuque esse meu coração preciso dele para me levar a Marte sem sair do chão não me aperte não machuque tome cuidado eu vivo disso poesia, sonhos e outras canções sem emoção morro de fome sinto muito mas não há nada que eu possa fazer sem coração.

mole

ter coração

por Alice Ruiz

POESIA


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/ENTREVISTA: ANDRÉ CARNEIRO e THAÍS MARINELLI

Turismo reposicionado

· Thaís Marinelli e André Carneiro, diretora executiva e presidente do Poços de Caldas Convention & Visitors Bureau

texto Ricardo Ditchun foto Emília Ferraz

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dministradores públicos e empresários de qualquer parte do mundo sempre têm em mira a exploração do potencial turístico dos territórios, da cultura e dos interesses de que dispõem ou que se encontram sob suas respectivas responsabilidades. No âmbito da iniciativa privada, com maior ou menor grau de participação dos aparatos públicos, o Convention & Visitor Bureau é uma organização administrativa que tem se mostrado eficaz em várias regiões do planeta. A versão poços-caldense deste instrumento teve constituída, em 21 de setembro, a terceira diretoria de sua história. Com mandato de dois anos, o novo Poços de Caldas Convention & Visitors Bureau reúne 13 integrantes. Para apresentar o Bureau a seus leitores, a LACRÈME entrevistou o presidente e a diretora executiva, André Carneiro e Thaís Marinelli. Confira:


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LACRÈME – Qual é o objetivo principal desta diretoria do Poços de Caldas Convention & Visitors Bureau? THAÍS MARINELLI – Acho que o objetivo desta e das diretorias anteriores sempre foi o mesmo: promover a cidade. Hoje, porém, a situação é um pouco diferente. Todos os integrantes da nova diretoria são do meio empresarial e estão muito comprometidos com essa iniciativa de promover a cidade. A situação atual do município, em relação a sua vida cultural e de negócios, é outra diferença importante, pois estes segmentos se mostram mais receptivos ao Bureau e aos benefícios que ele pode trazer, inclusive os relacionados ao turismo de negócios. LACRÈME – O staff que vocês organizaram para o funcionamento desta gestão é suficiente? ANDRÉ CARNEIRO – Esta diretoria foi formada em uma reunião promovida (dia 21 de setembro) pela Secretaria de Turismo e Cultura, pela secretária Maria Lúcia Mosconi. Todo o trade turístico da cidade foi convidado, mas só compareceram algumas pessoas. Não foi a participação ideal para um tema tão sério. A primeira reunião motivou uma segunda, já com a presença de pessoas interessadas em formar uma nova diretoria, com todos os nomes e cargos. Quando me indicaram para ser presidente eu apenas ressaltei que gostaria que todas as pessoas da diretoria fossem extremamente atuantes, porque o trabalho é muito sério. É gostoso de ser feito, mas exige ajuda e dedicação. E deu certo. Os convites foram feitos e temos 13 pessoas extremamente atuantes na diretoria. Eu sempre digo que não existe um presidente, pois todos nós somos presidentes. LACRÈME – De que áreas são essas pessoas? ANDRÉ – Temos turismólogos e empresários dos segmentos de bares e restaurantes, promoção de eventos, hotelaria, propaganda e marketing, agência de turismo, casa noturna, turismo radical e um empresário que representa o turismo rural. A composição da diretoria é bem diversificada e, repito, todas essas pessoas possuem o mesmo objetivo. LACRÈME – A Prefeitura de Poços de Caldas, especificamente a Secretaria de Turismo e Cultura, participa como parceira?

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THAÍS – A Secretaria de Turismo e Cultura foi, desde o início, o principal incentivador para a formação de uma nova diretoria do Bureau. A Maria Lúcia Mosconi tem nos apoiado, inclusive cedendo o espaço da Secretaria para que o Bureau pudesse começar a formar sua estrutura numa sede provisória. Também tem ajudado muito ao fornecer informações sobre a cidade, por meio de seu inventário turístico. Esse apoio é fundamental. ANDRÉ – Posso citar um exemplo de nossa boa relação com a Secretaria. É sobre o pórtico na entrada da cidade. Apesar de bonito, está abandonado. Por isso, o Bureau consultou a Secretaria de Turismo e Cultura sobre a possibilidade de usar esse equipamento de forma periódica. Temos de lembrar que o pórtico é a primeira impressão que o turista tem quando chega à cidade e, hoje, quando se passa por lá, o que se vê é um lugar abandonado, com os vidros quebrados e sujo. LACRÈME – Qual são as ideias para o pórtico? THAÍS – Além de ponto de informações turísticas, nós pretendemos realizar alguns eventos para abordarmos os turistas que chegam à cidade. Faremos a apresentação, passaremos informações e entregaremos um mapa turístico. Além disso, o Bureau fará a promoção de seus mantenedores por meio da entrega de folders, folhetos, informações de descontos... A intenção é que o pórtico volte a ser usado a partir de janeiro de 2012, mas, se der tempo, no fim deste ano já gostaríamos de realizar uma primeira ação. LACRÉME – O Bureau já tem uma sede própria, ou ainda funciona na Secretaria de Turismo e Cultura? ANDRÉ – A fase da sede provisória já foi superada. Hoje, graças a uma parceria com o Paço das Águas Shopping, uma das empresas mantenedoras do Bureau, nossa sede tem como endereço, desde outubro, a sala número 22 do empreendimento. LACRÈME – Existe o risco de o Bureau ser contaminado por algum interesse político? ANDRÉ – De modo algum. O Bureau é uma associação sem fins lucrativos e apartidária. Queremos que o nosso trabalho seja contínuo e sabemos que, quando ocorrem mudanças de governo, muitas vezes alguns projetos interessantes são simplesmente arquivados. Além disso, o Bureau é uma organização


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/ENTREVISTA: ANDRÉ CARNEIRO e THAÍS MARINELLI

da iniciativa privada para a iniciativa privada. As representações públicas, claro, são muito bem-vindas como parceiras. THAÍS – É por isso que a criação de uma identidade visual forte da cidade, desenvolvida pelo Bureau, é importante. Somente assim ela poderá se perpetuar seja qual for o partido que esteja no poder. LACRÈME – Qual é a situação atual da busca por mantenedores? ANDRÉ – Nós começamos a buscar esses parceiros a partir do momento em que fizemos a reunião que resultou na formação da diretoria. E esse assunto, claro, faz parte da pauta de nossas reuniões semanais. Antes disso, da apresentação oficial para a cidade, tivemos de cumprir todas as exigências legais. A decisão de apresentar o Bureau foi marcada, por isso, para depois da posse, quando já tínhamos uma base bem formada. Uma coisa é apresentar a nova diretoria sem nenhuma ação, sem objetivo e sem sede. É por esse motivo que firmamos, por exemplo, parcerias com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), com a Acia (Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Poços de Caldas) e, possivelmente, com a FGV (Fundação Getúlio Vargas). O quadro de mantenedores já é de pelo menos 20 empresas e está em crescimento. Muita gente tem nos procurado para obter informações. LACRÈME – Quais segmentos são mais importantes para o desenvolvimento do objetivo principal do Bureau? ANDRÉ – É o turismo. Por meio da atuação do Bureau, o conjunto de benefícios que esse segmento pode trazer, de modo direto ou indireto, afetaria pelo menos outros 70. Entre os segmentos diretos impactados pelo turismo, a hotelaria é o mais importante. Se o nosso objetivo é trazer mais turistas para Poços de Caldas, essas pessoas precisam de locais para se hospedar. THAÍS – Além dos hotéis, os espaços para a realização de eventos também seriam afetados de modo positivo. LACRÈME – Quais espaços para eventos? A cidade ainda não tem, por exemplo, um centro de convenções. Que espaços poderiam ser aproveitados? ANDRÉ – Pensamos em espaços alternativos, outdoor, onde já são realizados alguns eventos e que poderiam ser adaptados para outras situações. Por exemplo, a área atrás do estádio (Estádio Municipal Dr. Ronaldo Junqueira, o Ronaldão). Não são ideais, mas, na falta de outros, é preciso pensar neles como

espaços possíveis. Também existem alguns hotéis que têm centros de convenções em suas estruturas, como o Monreale e o Palace. Há, ainda, o Cenacon, o Complexo Cultural da Urca, o Paço das Águas Shopping e, talvez para eventos selecionados, o Palace Casino, tão logo termine a reforma. THAÍS – Vale lembrar que existem espaços para eventos em empresas, que o Bureau irá procurar para que, talvez, também façam parte desse rol. ANDRÉ – Em relação ao centro de convenções de Poços de Caldas, projeto do sistema Expominas (coordenado pela Codemig – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais), é preciso destacar a importância fundamental desse espaço. Todos sabemos que Poços de Caldas perde vários eventos para outras cidades por falta de um espaço adequado. THAÍS – O Expominas permitiria que a cidade investisse na captação de eventos de grande porte. Temos capacidade para isso. A construção do Expominas seria um divisor de águas na situação do turismo de eventos de Poços de Caldas. LACRÉME – O Bureau está informado sobre o processo para o início das obras do centro de convenções? THAÍS – Ouvimos dizer que o processo está correndo e que as obras poderiam começar no fim de 2012. Mas não podemos garantir que isso vá ocorrer. LACRÈME – É possível afirmar que a construção do centro de convenções atrairia mais investimentos na área de turismo local, como, por exemplo, mais hotéis? ANDRÉ – É possível. Uma demanda crescente na área do turismo de negócios traria visitantes mais exigentes e, como consequência, a economia local teria de se preocupar mais com questões como qualificação de mão de obra, estrutura mais eficiente etc. THAÍS – Esse processo é cíclico. Uma coisa puxa a outra. A partir do momento em que houver mais turistas qualificados, o segmento de hotelaria seria obrigado a treinar seus funcionários. Os bares e restaurantes também teriam de agregar qualidade à prestação de seus serviços. Ou seja, tudo poderia ser melhor. O Bureau, assim, conseguiria atrair cada vez mais coisas boas para a cidade. LACRÈME – Como vocês avaliam hoje os atrativos turísticos de Poços, como o teleférico, as Thermas Antônio Carlos...? E a rede hoteleira? ANDRÉ – Poços possui uma rede hoteleira expressiva, comparável com a de cidades muitos maiores. Sabemos que existe a necessidade de algumas melhorias, mas o fato de termos vários hotéis é um ponto positivo para a cidade. THAÍS – O crescimento de Poços teve como base as águas termais, um valor


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turístico muito forte. Tudo foi construído em função das águas, mas, hoje, boa parte dos negócios não ocorre mais por causa desse atrativo. O Bureau entende que a importância desse valor deve ser retomada. É um objetivo nosso destacar esse atrativo turístico no roteiro. Temos de mostrar isso para as pessoas. ANDRÉ – Além disso, da importância das águas termais, o Bureau começará a analisar a cidade também a partir de outras perspectivas, que não sejam as mesmas de sempre. Temos de descobrir quais são os verdadeiros atrativos turísticos da cidade. O que hoje achamos que são atrativos ainda continuam sendo de fato? THAÍS – Eu entendo que o maior atrativo turístico da cidade é a própria cidade. Se você olhar o entorno, a vegetação, a beleza dessa cordilheira maravilhosa (Serra de São Domingos), o próprio turismo rural... Tudo isso possibilita que o município atraia um tipo de turista diferente, que nós ainda não estamos acostumados a receber. Poços possui atrações determinadas por sua geografia que até hoje não foram exploradas. LACRÈME – O que vocês destacariam? THAÍS – Atividades esportivas, que hoje estão em alta pelo fato de as pessoas buscarem cada vez mais os meios para usufruir a chamada qualidade de vida. Proporcionar de modo adequado eventos como caminhadas, ciclismo, vôo livre, que já é um forte atrativo... Poços de Caldas também é radical, mas muitas pessoas que praticam essas modalidades não vêm para cá porque não são atingidas por uma promoção adequada dessa geografia. Nosso entorno é muito bonito, as fazendas são maravilhosas, o turismo rural têm muito a oferecer e a crescer... Isso tudo forma um conjunto de atrativos turísticos que ainda é desconhecido da maioria. ANDRÉ – Eu percebo equívocos até mesmo em relação à comunicação que é feita sobre a cidade. Muito se fala do turismo de terceira idade, um tema que deve ser esquecido nos planos de comunicação do município. Quem é da terceira idade procura uma cidade segura, limpa, agradável e com clima ameno. Então, de forma natural, esse público vai continuar vindo para Poços. Precisamos concentrar esforços em outras possibilidades, nos outros públicos que podemos trazer para cá, em energias novas e em como deve ser a comunicação para esse novo grupo. THAÍS – Nós temos condições de receber todos os públicos. Os jovens, as famílias e os idosos. Ou seja, a cidade tem atrativos para abrigar todas essas pessoas, com bons restaurantes, hotéis e bares. Temos uma vida noturna agitada e passeios maravilhosos para se fazer durante o dia. LACRÈME – O funcionamento de um órgão como o Bureau sugere

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uma série de debates para se chegue a consensos como, por exemplo, qual seria a diretriz adequada para a divulgação eficaz da cidade fora da região. Como vocês planejam essas discussões? Como os parceiros do Bureau participarão? ANDRÉ – Até o fim deste ano finalizaremos e analisaremos a nossa estrutura. Sabemos que, quanto mais mantenedores, mais pessoas acreditarem e quiserem trabalhar conosco em benefício da cidade, em benefício do turismo, maior será a possibilidade de obter mudanças positivas. É importante, por isso, que as pessoas que ainda não sabem o que é o Bureau que nos procurem ou que façam uma pesquisa pela internet. Faz parte de nossas atribuições informarmos e apontarmos os benefícios que podem ser obtidos. LACRÈME – Como vocês pretendem fazer a divulgação disso tudo? É notório, por exemplo, que a Prefeitura, que a Secretaria de Turismo e Cultura, não possui material, nem mesmo um panfleto, que divulgue a cidade segundo padrões de comunicação e marketing contemporâneos. Vocês pretendem um contato mais direto com a imprensa nacional? ANDRÉ – Nossa primeira providência nesse sentido foi firmar uma parceria com uma agência de publicidade que já trabalha na elaboração desse material. Nosso planejamento para 2012 também prevê a participação do Bureau nas cinco principais feiras de turismo do Brasil. Para algumas vamos buscar parcerias com a iniciativa privada. Para outras teremos parceria com a Prefeitura, com a Secretaria de Turismo e Cultura. E, para essas ocasiões, já teremos em mãos o novo material de divulgação. Agora, além de realizarmos a divulgação institucional de Poços de Caldas durante as feiras de turismo, nós faremos um trabalho comercial para quem é mantenedor do Bureau. Venderemos nossos hotéis, nossos restaurantes... THAÍS – Vender a estrutura da cidade a qualquer interessado é o trabalho que precisa ser feito. Não adianta apenas instalar um banner bonitinho e falar para as pessoas visitarem Poços de Caldas. É preciso oferecer opções, ter pessoas capacitadas a abordar os participantes dessas feiras... O Bureau fará ainda um levantamento de todas as entidades de classe com as quais poderemos entrar em contato a partir de 2012. LACRÈME – Em termos práticos, durante essas feiras, que material será apresentado? Como será o layout? ANDRÉ – Existem várias possibilidades. Teremos o material básico, como folders e vídeos institucionais, e peças para que o Bureau se comunique de


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maneira criativa, com inteligência. Achamos interessante, por exemplo, produzir um mapa da cidade. O Bureau também já firmou uma parceria para a produção de um acervo fotográfico diferenciado, que mostre a cidade de modo criativo, diferente das imagens com as quais convivemos há 40, 50 anos. O Bureau é uma ferramenta de marketing a favor do destino. Pensamos em Poços de Caldas como uma empresa e no Bureau como uma agência de marketing. Vamos analisar, descobrir as possibilidades, ver a melhor maneira de vender, de atrair clientes. THAÍS – É por isso mesmo que o Bureau buscou profissionais capacitados a desenvolver o material adequado. Teremos um folder diferente, elegante, com várias perspectivas. O vídeo institucional será muito bonito e mostrará todas as possibilidades turísticas. Nosso site, que já está no ar, mas ainda em construção, é moderno, com informações atualizadas sobre os eventos que acontecem na cidade. O site foi pensado para os turistas e também para os moradores da cidade. Queremos oferecer um site que represente Poços com a qualidade que a cidade merece. ANDRÉ – Pense em todas as feiras que tiveram a participação da Secretaria de Turismo e Cultura. Qual o site que foi passado para os visitantes? Talvez o site da Prefeitura, que não é especializado em turismo. É por isso que decidimos elaborar um site que seja, no futuro, um espaço comercial que permita fazer reservas em hotéis parceiros, mesas em restaurantes mantenedores... LACRÈME – Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016. Vocês acreditam que esses eventos podem impactar de fato o turismo de Poços de Caldas? ANDRÉ – Nossa única certeza é que eles vão interferir muito no turismo nacional. Será um divisor de águas para o Brasil em termos de turismo e de profissionalização de todos os segmentos envolvidos. Em Poços, com a possibilidade da vinda de alguma equipe que ocuparia instalações de treinamento na cidade, não há dúvida que isso resultaria em um marketing gratuito. Se realmente for possível a vinda de alguma equipe, a cidade vai ter de se preparar de modo adequado. Não podemos perder oportunidades como essa. Mesmo que

não venha uma equipe, temos de estar atentos às mudanças que podem ocorrer apenas por causa dessa possibilidade. LACRÈME – Qual o posicionamento do Bureau sobre a melhoria ou construção de um novo aeroporto na cidade? THAÍS – Qualquer melhoria na estrutura de transporte, seja aéreo, rodoviário ou ferroviário, é sempre bem-vinda. ANDRÉ – Mas a construção do centro de convenções, num primeiro momento, é mais importante que um aeroporto. THAÍS – É importante dizer também que o Bureau não é um solucionador de problemas estruturais. O Bureau é um divulgador da cidade que pretende obter o maior número possível de parceiros e mantenedores. Nós colocamos em contato entidades de classe com pessoas ou instituições que podem solucionar problemas, mas nosso objetivo principal é promover o destino Poços de Caldas. Não podemos abraçar os problemas estruturais da cidade. LACRÈME – Como o Bureau é mantido? ANDRÉ – A manutenção é obtida de três maneiras. A primeira é por meio da mensalidade que os mantenedores repassam para o Bureau. A segunda é por meio da taxa de turismo. É uma taxa de R$ 1,20, facultativa, que cada turista paga para o hotel. Esse valor, depois, é repassado para o Bureau. O hotel não paga mensalidade, somente repassa a taxa que é paga pelo hóspede. Outra forma possível se dá por meio de recursos captados junto a empresas ou instâncias públicas com projetos de patrocínio. Mas, basicamente, são as mensalidades dos mantenedores e o repasse da taxa de turismo que custeiam o Bureau. O valor da mensalidade depende do segmento da empresa, podendo variar de R$ 50 a R$ 250. É um investimento irrisório quando comparado com os custos que seriam necessários para a divulgação dessas empresas por meio de ações tradicionais de propaganda e marketing. *Colaboraram Cynthia Spaggiari e Valéria Cabrera

POÇOS DE CALDAS CONVENTION & VISITORS BUREAU Presidente – André Carneiro · Vice-presidente – Lucas Decat · Diretora executiva – Thaís Marinelli · Membros efetivos – Sylvia Karina Franco, Siomara Bonafé Costa, Rafael Takassi Lima, Rodrigo Tavares Seguso, Cristina Mandaji e Edival Tavares da Silva · Conselho fiscal – Deborah Miguel Costa Lago, Ricardo Fonseca Oliveira, Roberta Monteiro de Oliveira e Antônio Manoel Villela de Carvalho Contatos e informações: Rua Junqueiras, 500, Paço das Águas Shopping, sala 22. Tel.: 35 9209-2313 www.conventionpocos.com


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/NEGÓCIOS

Shoppings já impactam comércio de Poços

· Shopping Poços de Caldas: previsão é aumentar as vendas em 30% neste Natal

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texto Valéria Cabrera fotos Fernanda Buga

comércio de Poços de Caldas apresenta novas provas de seu dinamismo. Desta vez, para incrementar o movimento natalino, os dois shoppings da cidade – Paço das Águas e Poços de Caldas – anunciaram novidades que ajudarão os consumidores da cidade e da região na hora de se decidirem pelas compras de fim de ano. O Paço das Águas Shopping comemora em dezembro um ano de atividades com o empreendimento completo. Em novembro foi inaugurada o Espaço de Alimentação, com os restaurantes Divino Fogão, que serve comida típica da fazenda, e o Le Bistrô, com refeições à la carte e que tem o crepe como carro-chefe. O centro comercial também ganhou, em novembro, o Samuel Coiffeur, que após 12 anos deixou o endereço da rua Rio de Janeiro. De acordo com Samuel de Aguiar Cinta, proprietário do salão, a mudança proporcionou mais praticidade para os clientes, já que o shopping está na região central da cidade e oferece um grande estacionamento, com boa oferta de vagas cobertas. “No aniversário de 28 anos do Samuel Coiffeur, presenteamos nossos clientes com um espaço elegante e moderno que se compara aos dos grandes centros”, afirma. Além de um salão com todos os procedimentos de beleza e estéticos, o Samuel Coiffeur também conta com um espaço indepen-


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· Paço das Águas Shopping: dois novos restaurantes e um salão de beleza

dente para atender crianças. O mix do Paço das Águas Shopping inclui ainda outras 12 lojas, uma cafeteria, uma doceria e um supermercado, além do Hotel Ibis, com 102 apartamentos, e uma Sala de Convenções que pode abrigar até 50 pessoas. Também já está disponibilizado para locação oito salas para consultórios médicos. “O Paço das Águas Shopping é um espaço completo, tanto para o turista quanto para as famílias de Poços de Caldas”, diz Manuel Otavio Lotufo, um dos representantes da família empreendedora. Expansão O Shopping Poços de Caldas também terá novidades neste Natal. Além de lojas que já abriram suas portas desde o começo de 2011, como Centauro e Zastras Brinquedos, quem visitar o centro de compras neste fim de ano terá à disposição pelo menos outras cinco opções: Magazine Luiza, Itapuã Calçados, VR Menswear, Vivo e Montana Grill. Com as novidades, o shopping espera aumentar as vendas em 30% em relação ao mesmo período do ano passado. “Desde que a AD Shopping começou a administrar o empreendimento, em maio de 2010, houve um aumento considerável nas vendas. Fechamos o ano passado, por exemplo,

com aumento de 21,89%, em relação a 2009”, conta Ilson Dutra, gerente de Marketing do shopping. Segundo ele, o motivo para esse número, bem acima dos 16% verificados pela Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), é a melhoria das instalações e o investimento em publicidade. Como exemplo, cita a contratação da atriz Paola Oliveira como garota-propaganda do empreendimento, escolhida após uma pesquisa realizada em grandes centros que a elegeu como a personalidade com quem as consumidoras mais se identificam no país. A decoração de Natal deste ano também promete atrair muitos visitantes. O tema é Um Sonho de Natal. “Será um presente para a cidade, uma decoração que envolve o uso de muita tecnologia”, explica Dutra. O Shopping Poços de Caldas foi inaugurado no dia 19 de maio de 2005 e sua primeira expansão ocorreu este ano, com um novo corredor ligando a C&A à praça de alimentação e que abriu espaço para oito lojas. O centro de compras recebe 350 mil pessoas por mês. De acordo com pesquisa realizada sobre o perfil do consumidor, 63% dos consumidores do shopping moram em Poços de Caldas; 72% do público são mulheres; 71% têm entre 19 e 45 anos; e 41% dos consumidores têm ensino superior ou pós-graduação.


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/GASTRONOMIA

& Mestiça

irresistível

texto e foto Ricardo Ditchun

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o Rio Grande do Sul ao Maranhão. Da Paraíba aos extremos do Amazonas e do Acre. Preparada com farinhas de mandioca ou de milho, a farofa é, no Brasil, de uma abrangência geográfica e social que chega a ser comovente. As origens deste prato também ajudam a revelar um pouco do enraizamento multicultural que nos constitui como nação. A divisão espacial dos jeitos de fazer a farofa, da incorporação de ingredientes distintivos e, claro, da opção pelo tipo de farinha que lhe serve de base é, por alto, a seguinte: nos brasis litorâneo e amazônico, farinha de mandioca; aqui entre nós, no Brasil das Gerais, farinha de milho. Preparar misturas de farinha de mandioca é tradição indígena que antecede, portanto, o desembarque europeu primevo. Depois, com a opção pela escravização dos negros, a farofa ganhou contornos do além-mar, africanos. O português agregou seus notáveis segredos e a iguaria se fez e tem sido feita assim, deliciosamente regionalizada, mestiçada, ou, como assertou o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, miscigenada. De mandioca ou de milho, a farofa nunca falta nas mesas mais, menos ou nem um pouco abastadas. Os modos de fazer aceitam, também em termos muito genéricos, a incorporação de três elementos básicos para a necessidade de umidificar as farinhas: água (farofa d’água), gorduras (azeites de oliva e de dendê, margarina, manteiga etc.) e molhos. Frutas, linguiça, torresmo, tanajura (a fêmea alada da saúva), mandioquinha, couve, ovos, pimentas, camarão, cebola, miúdos, legumes... São muitos os ingredientes usados, como base ou acessório, nas farofas de mandioca e de milho. A seguir, uma composição mineira devidamente miscigenada, com pertences para lá de entranhados e estimados pelas gentes das geraes (couve, linguiça de porco, ovos e cachaça), e outros mais, “exóticos”, legados pelo exercício cotidiano da convivência com os colonizadores portugueses, como as azeitonas pretas, e com os indígenas, caso da pimenta. Experimente fazer e descubra, talvez, que a farofa não precisa ser, necessariamente, apenas uma guarnição.

Farofa mineira Ingredientes (de 6 a 8 porções) 4 xícaras (chá) de farinha de milho em flocos 350 gramas de linguiça de porco (retire a pele e o excesso de gordura) 3 colheres (sopa) de margarina 4 colheres (sopa) de óleo de canola 2 cebolas médias cortadas em tiras finas 2 dentes de alho triturados 2 ovos cozidos amassados grosseiramente no garfo 2 cenouras médias raladas em lascas (ralador grosso) 100 gramas de couve picada 1 pimenta-dedo-de-moça picada e sem as sementes 1 cálice de cachaça mineira 12 azeitonas pretas pequenas, descaroçadas e picadas 12 azeitonas pretas pequenas inteiras sal açúcar

Modo de fazer Prepare todos os ingredientes conforme as recomendações. O sal é incorporado ao longo das etapas de preparo em pitadas. Tome cuidado para não exagerar na quantidade. Aqueça duas colheres de óleo de canola em uma panela funda e frite bem as linguiças. Junte a cachaça, refogue por um minuto e desligue o fogo. Reserve. Na mesma panela, com mais duas colheres de óleo, doure as cebolas com a pimenta-dedo-de-moça picada e os dentes de alho. Acrescente uma pitada de açúcar, um toque de sal, misture, desligue o fogo e reserve em outro prato. Ainda na mesma panela, derreta a margarina e junte, aos poucos e com muito cuidado, a farinha de milho. Deixe dourar, acrescente uma pitada de sal, mexa bem, desligue o fogo e mantenha a farinha na panela. Em uma vasilha, misture devagar a couve fatiada (crua), as cenouras raladas (cruas) e uma pitada de sal. Despeje essa mistura na panela da farinha e mexa devagar. Junte as azeitonas picadas, a mistura de cebolas e alho e as linguiças. Mexa devagar, tomando cuidado para quebrar o menos possível os flocos da farinha de milho. Misture, por fim, os ovos amassados. Acomode a farofa em uma vasilha rústica de pedra ou de cerâmica. Decore com as azeitonas inteiras e está pronto para servir. Obs.: A receita também fica excelente com maçã cortada em quadrados pequenos, nozes ou avelãs picadas, ingredientes que devem ser acrescentados na etapa da mistura da couve com as cenouras e os ovos.◄


GASTRONOMIA/

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· A secretária de Turismo e Cultura: “Quero regulamentar o uso do Palace Casino”


HORA DO CAFÉ/ LACRÈME

Os melhores de

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texto Valéria Cabrera fotos Reprodução

s cafés produzidos por Ana Maria Cagnani Leite, do Sítio Fundão, e por Marco Aurélio Flora, da Fazenda Cachoeirinha, foram os vencedores do 4º Concurso de Qualidade dos Cafés de Poços de Caldas, nas categorias Café Natural e Café Cereja Descascado, respectivamente. A cerimônia de premiação e o leilão dos cafés premiados ocorreu no auditório do Sesc (confira a relação dos três primeiros classificados em cada categoria nesta página). Os três melhores cafés de cada categoria foram oferecidos aos compradores, em leilão, pelo preço mínimo de R$ 540 (Café Natural) e R$ 560 (Café Cereja Descascado). A Bourbon adquiriu o café do Sítio Fundão por R$ 660 a saca e da Fazenda Cachoerinha por R$ 700 a saca. A novidade desta edição do concurso foi o Prêmio Destaque em Sustentabilidade, para incentivar os cafeicultores a investirem também em aspectos ambientais, sociais e culturais, com foco na preservação do meio ambiente. Dezoito propriedades foram classificadas como finalistas, mas em primeiro lugar ficou a Fazenda Barreiro, de propriedade de Francisco Otávio Lotufo. Todos os produtores que enviaram amostras receberam certificados de participação. O 4º Concurso de Qualidade dos Cafés de Poços de Caldas contou com 30 participantes. Vizinhos paulistas Produtores de Divinolândia e São Sebastião da Grama foram premiados no 10º Concurso Estadual de Qualidade do Café de São Paulo – Prêmio Aldir Alves Teixeira. O cafeicultor Célio Ferreira, do Sítio Bela Vista da Fumaça, de Divinolândia, que pertence à Associação dos Cafeicultores de Montanha de Divinolândia, ficou em 1º lugar na categoria Café Natural, com a nota 8,656. Na categoria Microlote, da qual participam apenas cafés de propriedades com até 10 hectares (considerando todas as culturas produzidas), o lote campeão foi o da cafeicultora Maria Aparecida Nascimento, do Sítio Samambaia, de São Sebastião da Grama, pertencente à Associação dos Produtores do Vale da Grama, com a nota 8,702. O café produzido por José Romeu Aith Favaro na Estância Tijuco Preto, em Tejupá, obteve a maior nota (9,086) entre todos os lotes que disputaram o concurso. O lote também ficou em primeiro lugar na categoria Café Descascado. Nacional O lote da Fazenda Rainha, de São Sebastião da Grama, foi o vencedor do 12º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil - Cup of Excellence 2011. O resultado foi divulgado no dia 18 de novembro. O café produzido na propriedade da família Marinho, da Rede Globo, recebeu 91,41 pontos de um júri internacional formado por importadores, torrefadores, baristas e donos de coffee-shops de empresas da América do Norte, Europa e Ásia. Este ano, 321 amostras de café foram inscritas, sendo que 124 tiveram nota mínima de 84 pontos e seguiram para a fase final da competição.

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Os tops de Poços Conheça os vencedores do 4º Concurso de Qualidade dos Cafés de Poços de Caldas Café Natural 1º) Ana Maria Cagnani Leite – Sítio Fundão – 84 pontos 2º) Francisco Otávio Lotufo – Fazenda Barreiro – 83,3 pontos 3º) Milton Prado – Sítio Prado – 83 pontos Café Cereja Descascado 1º) Marco Aurélio Flora – Fazenda Cachoeirinha – 85 pontos 2º) Francisco Otávio Lotufo – Fazenda Barreiro – 82 pontos 3º) Carlos Henrique Vieira – Fazenda Rio das Antas – 81,3 pontos


/HORA DO CAFÉ

Seminário O Centro do Comércio do Café de Minas Gerais promove nos dias 24 e 25 de novembro o 1º Seminário de Café. O evento pretende reunir produtores, exportadores e representantes de cooperativas para discussões sobre a produção do café no Estado, as exportações e o consumo mundial do produto. O seminário será no Theatro Capitólio, em Varginha. Mais informações pelo telefone 35 3214-2122 ou pelo e-mail secretaria@ cccmg.com.br

Internacional O XIX Seminário Internacional de Café de Santos já tem data e local confirmados. Será dias 9 e 10 de maio de 2012 no Guarujá. O evento é uma realização da Associação Comercial de Santos e de sua Câmara Setorial dos Exportadores de Café. Mais informações no site www.acs.org.br ou pelo telefone 13 3212-8200

Espressas

Agenda

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Novo comando - O mineiro Robério Oliveira Silva é o novo diretor-executivo da OIC (Organização Internacional do Café). A posse ocorreu no dia 1º de novembro. Robério afirma que sua prioridade será colocar a entidade de volta ao centro das discussões sobre a economia cafeeira mundial. Após ser eleito no fim de setembro, em Londres, Robério Silva falou sobre a importância de o Brasil ocupar o comando da organização, já que o país lidera a produção e a exportação de café e é o segundo mercado consumidor do mundo.

Saúde 1 - Mulheres que consomem de uma a cinco xícaras de café por dia podem reduzir em até 25% as chances de ter um infarto. E as que não bebem café podem até aumentar a possibilidade de sofrer um ataque cardíaco. É isso o que informa um novo estudo do Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia. Para chegar a esta conclusão foram analisadas informações de quase 35 mil mulheres entre 49 e 83 anos, num período de dez anos.

Saúde 2 - O consumo diário de café também reduz o risco de desenvolver basalioma, a forma de câncer de pele mais frequente, de acordo com estudo publicado em outubro nos Estados Unidos. Segundo os autores, as mulheres que bebem mais de três xícaras de café por dia têm reduzido em 20% o risco de ter a doença. O efeito nos homens é menor. O consumo da bebida reduz em 9% o risco de desenvolver câncer de pele.

Consumo - Uma pesquisa encomendada pela rede de cafeterias Dunkin Donuts listou as 15 profissões que mais consomem café. Os campeões são os cientistas e os técnicos de laboratório. Em seguida vêm profissionais de marketing e relações públicas, administradores de instituições de ensino, escritores e jornalistas e administradores de instituições de saúde. Realizada em agosto e setembro, a pesquisa ouviu 4,7 mil trabalhadores norte-americanos.

Cult Coffee

Descoberto na Abissínia (atual Etiópia), em meados do século 15, o café chegou ao Brasil em 1727. Entrou no país pelo estado do Pará, trazido da Guiana Francesa pelas mãos do sargento-mor Francisco de Melo Palheta que, a pretexto de resolver oficialmente questões de fronteiras, havia sido enviado ao país para conseguir mudas da planta. A missão foi difícil, já que as mudas de café eram inacessíveis a qualquer estrangeiro.

Em inglês, café é coffee. Em alemão, kaffee. Em italiano, caffé. Na França e na Espanha é como no Brasil, café. Já em Portugal, é chamado de bica. Isso porque, no início, a bebida não agradou. Então foi criado um slogan para atrair consumidores: “Beba Isso Com Açúcar”. A frase ficou tão conhecida que as iniciais (BICA) passaram a significar cafezinho por lá.

Tanto o café torrado como o café solúvel, tomados simples, praticamente não contêm calorias. Em uma xícara de café puro, sem açúcar e sem leite, há entre duas e cinco calorias. O café também apresenta alguns micronutrientes como a niacina (vitamina PP), importante para as funções metabólicas, e é rico em potássio.


HORA DO CAFÉ/ LACRÈME

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Muito além do cafezinho

Charlote

Ingredientes Para a musse 550 ml de creme de leite fresco 4 colheres (sopa) de pó de café 140 g de açúcar 5 gemas 2 ovos inteiros 300 g de chocolate amargo ou meio amargo em barra Para a charlote 15 g de manteiga para untar 15 g de açúcar para a forma 60 ml de água 69 g de açúcar 60 ml de café bem forte 30 biscoitos diplomata ou champanhe Lascas de chocolate para decorar Preparo 1 A musse de chocolate com café deve ser preparada de véspera. Leve o creme de leite ao fogo e espere levantar fervura. Fora do fogo, adicione o café, coe e espere esfriar. Coloque na geladeira. Bata o açúcar com as gemas e os ovos inteiros. Com uma faca serrilhada, pique o chocolate e o coloque em uma panela para derreter em banho-maria. Quando o chocolate estiver derretido, despeje em uma vasilha e deixe esfriar a 45ºC (controle com um termômetro de cozinha). Coloque uma vasilha vazia por 15 minutos na geladeira. No recipiente gelado, bata o creme de café. Adicione ¼ deste creme ao chocolate derretido frio. Misture devagar e, em seguida, acrescente o creme restante. Quando a mistura estiver homogênea, adicione a preparação de ovos e açúcar e mexa bem. Leve ao refrigerador. 2 Prepare a charlote. Unte e polvilhe com açúcar uma forma de charlote de 22 cm de diâmetro. Forre-a com papel manteiga. Coloque a água e o açúcar em uma panela, leve ao fogo e deixe levantar fervura. Fora do fogo, adicione o café forte. Misture e deixe esfriar. Embeba os biscoitos nesse café frio e arrume-os na forma, forrando o fundo e as laterais. Recheie com a musse e termine com uma camada de biscoitos embebidos. Deixe no refrigerador até o dia seguinte. 3 Na hora de servir, mergulhe o fundo da forma por alguns segundos em água quente. Coloque um prato sobre a forma e vire-a para desenformar a charlote. Retire o papel e decore com lascas de chocolate. Fonte: Larousse do Chocolate



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Canadá Sob a neve, o surpreendente

texto e fotos Vinícius Castelli

· Jasper National Park, destino para quem aprecia belezas naturais


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iajar pelo Canadá é invariavelmente uma experiência surpreendente. O cardápio turístico do país é tão vasto como sua área territorial, a segunda maior do mundo. Apesar da fama de ser um dos destinos turísticos mais gelados do planeta – o inverno, de dezembro a março, registra médias de -15 C –, esta nação da América do Norte oferece beleza peculiar em suas grandes cidades, como Toronto, capital da província de Ontário, ou em pequenos e encantadores lugarejos, como Whistler, Sun Peaks e Lake Louise. Para quem entende que apreciar a cozinha de raiz também é uma forma de se conhecer a essência de um lugar, os restaurantes canadenses exibem com orgulho seus pratos mais autênticos, como os que têm como base o salmão fresco, a deliciosa carne de búfalo e o tradicional melado de maple, feito a partir da folha símbolo do país e muito usado em panquecas e na produção de bolachas. O maple também é o ingrediente principal de algumas das saborosas cervejas locais. A impactante Toronto Toronto, destino mais visitado do Canadá, conta hoje com aproximadamente 5,5 milhões de habitantes em sua região metropolitana. A cidade, cujo nome significa lugar de encontro e plenitude, é separada dos Estados Unidos pelo Lago Ontário. Toronto é o típico local que impacta o visitante. E não só por seus números grandiosos: 3 milhões de árvores, 1,5 mil parques que, no inverno, são naturalmente decorados pelo branco da neve e por esquilos lépidos e dóceis, e 7 mil restaurantes espalhados pelos bairros. Toronto é multicultural. Basta caminhar por dois ou três quarteirões para reconhecer inúmeros idiomas falados não apenas por turistas. Toronto acolheu e acolhe estrangeiros de diversas partes do mundo e exibe, por isso, uma deliciosa mistura de tradições e culturas – entre línguas e dialetos, são 130 os falados pela população. Muito bem preparada para receber o visitante, Toronto cabe em qualquer bolso. Além de sua expressiva rede hoteleira – com opções que variam das luxuosas às mais simples –, a cidade também conta com diversos albergues da juventude, uma alternativa sempre econômica. Conhecidos fora do Brasil como hostels, os albergues são excelentes não só para jovens, mas para viajantes de qualquer idade que queiram gastar pouco e, mais importante, ter contato com gente de vários países.


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Na hora de se locomover, sobram facilidades. Bem planejada e com calçadas rebaixadas, Toronto possui, além de linhas de metrô, bondes que também circulam por todos os cantos. Mas a melhor e mais prazerosa forma de conhecer qualquer destino é caminhando. E não se preocupe com o frio. Botas adequadas para neve, luvas e um bom casaco resolvem esse problema na hora. Mas, ainda assim, caso o frio aperte pra valer, basta entrar em um dos muitos cafés, pedir um chocolate quente e encarar a próxima esquina. Entre os passeios sugeridos está o St. Lawrence Market, o mercado municipal. O local já foi penitenciária e sede da Prefeitura. Hoje é referência gastronômica, com seus comerciantes que vendem produtos importados e da província. Entre as iguarias estão os queijos e as frutas. A banca Carousel Bakery, propriedade dos irmãos Maurice e Robert Biancolin, é ótima e barata pedida para refeições rápidas. Uma dica: o sanduíche Peameal Bacon. Nas paredes estão fotos de várias estrelas do cinema, como Angelina Jolie, que já degustaram o lanche. O St. Lawrence também é um bom local para degustar e comprar os vinhos produzidos em Ontário. Para compras em geral, o Eaton Centre, shopping localizado na área central da cidade, é endereço certo. Com cerca de 250 lojas, entre elas a famosa casa de cosméticos MAC, o empreendimento tem teto de vidro e acesso pelo metrô. Uma vista para não esquecer Típico programa de turista, porém irresistível, é a CN Tower, cartão-postal de Toronto. Com 553,3 metros de altura, a torre de comunicações foi erguida em 1976 e oferece a mais bela vista da capital da província. Apreciar toda a grandiosidade da região e a beleza do Lago Ontário do alto da CN Tower é uma experiência memorável. O acesso é feito por meio de elevadores panorâmicos que vencem 342 metros em apenas 50 segundos. Frio na barriga é pouco! Outros elevadores dão conta da altura restante, até o Sky Pod. Na Queen Street West, o Trinity Bellwoods, um dos parques da cidade, é famoso por sua população de esquilos. Basta chegar perto de alguma árvore para que esses curiosos e simpáticos roedores se aproximem em busca de alguma gostosura ou de brincadeiras. Toronto, no inverno, é um destino prazeroso e cheio de charme. O jornalista viajou a convite da Comissão Canadense de Turismo


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Roteiro cult

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Maior cidade canadense, Toronto respira e exala cultura. Os encantadores e elegantes teatros instalados na King Street West, na Yonge Street e na Victoria Street são perfeitos para conferir montagens dramáticas e musicais. Entre museus e galerias de arte, são 125 endereços, caso do maior museu do país, o Royal Ontario. Outro programa interessante é a Casa Loma. Construído em 1914, a pedido do empresário Henry Pellatt (1859-1939), o castelo erguido em estilo medieval possui 98 quartos e hoje abriga um museu. Além dos belos jardins, vale apreciar a vista da região do alto de uma de suas torres. A Queen Street West é o endereço mais alternativo. Situada na região central, essa rua serve de palco para artistas independentes. Designers de moda exibem seus modelos ao lado de estúdios de tatuagem, restaurantes e cafés transados. É aqui, ainda, que fica o Four Seasons Centre, abrigo da Canadian Opera Company e do National Ballet of Canada. Amantes de música também podem se fartar na Queen Street West, principalmente se o objeto de desejo for o bom e velho disco de vinil. Diversas lojas especializadas no bolachão oferecem títulos das mais variadas vertentes, principalmente rock e blues. Em lojas como Criminal Records e Kops é possível encontrar discos lacrados – sim, eles consomem e produzem discos novos – e raridades por preços que surpreendem, para o bem. Reserve ao menos uma hora para se perder em uma dessas preciosas lojas.


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Programas mais ou menos radicais No Canadá, quando chega o inverno, o tom amarelado do outono canadense é logo substituído pelo branco quase absoluto. É quando as árvores, já sem folhas, são cobertas pela neve, proporcionando um cenário espetacular, onírico. Visitar a sedutora Whistler, situada na Costa Oeste do país, ou, quem sabe, apreciar os encantos da charmosa, aconchegante e montanhosa Sun Peaks, são programas suficientes para que a viagem já tenha sido válida. Beleza natural é o que não falta. Estradas e montanhas enfeitadas por grossas camadas de neve, cascatas e lagos congelados não são apenas motivos para a produção de belas fotos, mas situações que certamente permanecerão eternizadas na memória do viajante. Para quem já é fera no esqui, ou até mesmo para quem nunca experimentou, mas não vê a hora, as montanhas de várias regiões garantem essa e outras modalidades esportivas e oportunidades de passeios. Malhando no gelo Ligada a Vancouver pela Highway 99, Whistler, cidade com 10 mil habitantes situada na província de British Columbia, oferece ao visitante uma impecável infraestrutura de hotelaria e de alimentação. Além disso, o lugar tem vida cultural intensa e uma série de pubs para preencher a agenda noturna. Mas Whistler é, principalmente, um destino para amantes dos esportes de inverno. Arvorismo, a até 60 metros de altura, e trekking são opções menos radicais e que podem custar R$ 180 por pessoa. Mas vale o investimento. Esqui e snowboard são outras pratas da casa quando o assunto é Whistler. Para ter acesso à gôndola e ir ao topo das montanhas, para depois curtir as descidas pela neve, paga-se mais ou menos R$ 100. É possível alugar todo o equipamento, incluindo as roupas necessárias para a prática desses esportes. Caso seja necessário, o turista pode contratar o serviço de instrutores. Pequena e encantadora Sun Peaks também está localizada na província de British Columbia, a 50 quilômetros de Kamloops e a 407 quilômetros de Vancouver. Pequena, essa cidade encanta sem fazer força. A neve decora os telhados das construções, toma conta das poucas ruas e proporciona charmosos efeitos ao passeio. Além da ótima estação de esqui, o lugar possui uma bela opção de trilha pela neve. Basta alugar um par de snowshoes – calçado apropriado para a caminhada – e se deixar levar pela beleza. É possível fazer o passeio com ou sem guia. À noite, se for do gosto do viajante, conhecer parte dos pubs locais é um programa e tanto, além de uma boa oportunidade para provar as deliciosas cervejas canadenses. A região das Montanhas Rochosas, a cordilheira que se prolonga por 4,8 mil quilômetros, de Alberta, no oeste canadense, ao Novo México, no sudoeste dos Estados Unidos, também é um destino curioso. Em Jasper, por exemplo, a dica é visitar o Jasper National Park. Entre as espécies da fauna abrigadas no parque estão ursos e alces. Os lagos Patricia e Louise, congelados no inverno, são outras maravilhas naturais da região. Em Banff, cidade rodeada por picos nevados, os restaurantes e bares atraem turistas em busca de iguarias da cozinha local e internacional.

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É bom

saber

É preciso visto para entrar no Canadá. O pedido deve ser feito por meio de despachante. Mais informações sobre visto e documentação no site www.canadainternational.gc.ca A moeda é o dólar canadense. O real vale praticamente a metade da moeda canadense. É recomendável consultar o câmbio do dia. O País tem diferentes fusos horários. Com relação ao Brasil, a província de British Columbia tem seis horas a menos, Alberta quatro horas a menos e Ontário, três a menos. A gorjeta não está inclusa na conta, mas é costume dar, pois o trabalhador canadense conta com isso. O correto é calcular entre 10% e 15% do valor total da conta. Cartões de crédito são bem aceitos em todos os lugares, nas maiores e nas menores cidades. Mas é sempre bom ter alguns dólares canadenses no bolso. O código telefônico do Canadá é o 1. Não estranhe se não encontrar um cesto de lixo perto do vaso sanitário. O papel higiênico usado por lá é próprio para ser descartado, sem danos à natureza, dentro do vaso sanitário. Leve segunda pele de calça e de camisa para proteger do frio. Não se esqueça de providenciar meias próprias para caminhadas na neve. Botas e luvas adequadas também são indispensáveis. É possível encontrar tudo isso no Brasil em lojas especializadas.

A temperatura no inverno canadense pode variar muito dependendo da região. Na maioria dos lugares é abaixo de zero. Uma boa refeição em um restaurante de Toronto sai em média por CA$ 24. Boa pedida para jantar é o Kit Kat Italian Bar & Grill. O fettuccine zarina, com salmão, vodca e molho rosé. Endereço: 297 King St.W, Toronto, Ontário. Tel.: 1 416 977 4461. Mais informações: www.kitkattoronto.com Ainda em Toronto, o Carousel Bakery serve o famoso e premiado sanduíche Peameal Bacon (CA$ 6,50). Nos fins de semana, o lugar fica lotado. Endereço: 92 Front Street East. Mais informações: www.stlawrencemarket.com O metrô de Toronto oferece bilhetes que valem por um dia (CA$ 10) e bilhetes para uma semana (CA$ 36). O Tim Horton é uma grande rede alimentícia espalhada pelo país. Café, chocolate quente e cookies são as especialidades. Um café custa CA$ 1,30, mais ou menos. Bem localizado, o albergue Canadiana Backpapers Inn é boa dica para se hospedar na cidade sem gastar muito, mas o viajante precisa estar disposto a dividir o dormitório com outros turistas. No inverno, a diária, com café da manhã, sai por CA$ 29 e o pacote para uma semana custa CA$ 160. Os banheiros estão sempre limpos e, claro, oferecem chuveiro quente. Endereço: 42 Widmer St., Toronto, Ontario. Mais informações: www.canadianalodging.com


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· Instalações do Park Royal Hotels e Resorts em Acapulco, no México

texto Valéria Cabrera

M fotos Divulgação

uito difundido na Europa e nos Estados Unidos, o conceito de férias programadas (time-sharing ou tempo compartilhado), está em plena expansão no Brasil. Empresas europeias, americanas e mexicanas já estão no país há cerca de duas décadas promovendo essa forma de viajar nas férias, indicada para quem não quer preocupação na hora de planejar o tão merecido descanso e deseja diversidade de destinos. Quem adere ao sistema de férias programadas não compra um imóvel, mas sim o direito de usar um alojamento (apartamento, vila, bangalô etc.) por determinado período do ano. O tempo depende do pacote adquirido, que começa a partir de uma semana. Essas diárias ou créditos podem ser usados em qualquer dos hotéis ao redor do mundo associados ao grupo escolhido. No Brasil desde 2005, a mexicana Royal Holiday é uma empresa que atua no setor de férias programadas. Conta com mais de 80 mil famílias associadas, sendo 6 mil no Brasil, possui 180 destinos espalhados por 52 países, e uma linha de cruzeiros à disposição dos sócios. A Royal Holiday tem ainda uma rede

hoteleira própria, a Park Royal Hotels e Resorts, com oito empreendimentos no Caribe Mexicano e um em Porto Rico. Por enquanto, a Royal Holiday conta com escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Campinas, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Poços de Caldas está nos planos da empresa para o primeiro trimestre de 2012. Mas o interessado pode obter mais informações sobre o sistema fazendo um cadastro pela internet (www.royal-holiday.com.br). Um atendente irá entrar em contato por telefone. O associado Royal Holiday terá um assessor de férias que irá ajudá-lo a definir destino e período de viagem. De acordo com a diretora de marketing do grupo no país, Graziani Camargo, uma das maiores vantagens da companhia é proporcionar a seus sócios uma diversidade de roteiros e produtos. “Com total controle sobre seus créditos, ele escolhe local para onde quer viajar, decide por quanto tempo, em que hotel e com quantas pessoas vai se hospedar. Pode convidar amigos ou familiares e ter férias nos melhores hotéis, resorts, vilas, condomínios e cruzeiros pelo mundo todo, por muitos anos”, afirma. Uma das estratégias do grupo mexicano é dar total liberdade para o tempo e o uso dos créditos. Caso o sócio não os utilize, pode vendê-los ou alugá-los.◄


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/TURISMO

A natureza te abraça em

São Franc


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cisco Xavier

· A vila de São Francisco Xavier é ponto de partida para uma série de passeios mais ou menos radicais; à noite, bares e restaurantes são as melhores opções


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texto Valéria Cabrera

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fotos Ricardo Ditchun/Divulgação

braçado pela Serra da Mantiqueira, o distrito de São Francisco Xavier, localizado no município de São José dos Campos, interior de São Paulo, é um convite à contemplação da natureza. A beleza da Serra da Mantiqueira, entrecortada por cachoeiras, é de tirar o fôlego. De qualquer ponto que se olhe, quer o visitante esteja na vila ou nas redondezas, pode-se observar uma espetacular cadeia de montanhas com remanescentes de Mata Atlântica, local que serve de abrigo para o macaco muriqui, ou mono-carvoeiro, escolhido para simbolizar São Francisco Xavier. Muito procurada por seu genuíno clima de montanha, com temperaturas negativas em algumas noites de inverno, a vila atrai uma legião de turistas também nos meses mais quentes do ano. Esportes de aventura (mais informações na página ao lado) e a possibilidade de renovar as energias em dezenas de cachoeiras – boa parte delas com belas piscinas naturais – são os principais highlights de verão. Dia Em São Francisco, o dia é para ser aproveitado de fio a pavio. Levantar cedo, caprichar no café matinal e ganhar as trilhas são, quase sem variações,

as primeiras tarefas do visitante. Se a escolha for pelo banho de cachoeira, há diversas opções. A do Roncador, com 45 metros de altura, e a Pedro David, com 15 metros de altura em várias quedas e a única administrada pela Prefeitura, ficam perto da vila e são bastante conhecidas. Por isso, nos fins de semana, costumam ser muito procuradas. Diversas pousadas têm quedas-d’água em seus terrenos, além de uma série de trilhas para caminhadas. Noite Não procure agitação na noite de São Francisco – e muito menos espere algo parecido com as badaladas vizinhas Campos do Jordão (SP) e Monte Verde (MG). Apesar de ter sido descoberta pelo turismo, a vila ainda mantém as características de um pequeno povoado do interior. Perfeito para descansar a mente. As opções de bares e restaurantes são poucas, mas algumas esbanjam charme e qualidade em suas respectivas especialidades. É possível encontrar desde receitas sofisticadas que têm como base a truta – peixe aparentado do salmão e muito bem adaptado ao clima da Serra da Mantiqueira – até honestas e deliciosas pizzas. Outro produto cultivado na região e que, claro, é devidamente incorporado às práticas da culinária local, é o cogumelo. Vale conferir.

· Uma das oito cachoeiras abrigadas na área do Pouso do Rochedo, opção de hospedagem e de lazer no alto da Serra da Mantiqueira


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Aventure-se A prática de esportes radicais atrai turistas de todas as partes do país a São Francisco Xavier. Trekking, rapel, mountain bike, tirolesa e acqua ride estão entre as práticas mais procuradas. A vila possui apenas uma operadora de ecoturismo que funciona o ano todo. O CAT (Centro de Apoio ao Turista) fica na praça principal. No local, é possível agendar diversas atividades, desde o acqua ride até trilhas e expedições pela região. De acordo com seu proprietário, Auro Miragaia, o acqua ride é a pedida mais solicitada. Esporte genuinamente brasileiro, mas ainda desconhecido, ele é praticado com a pessoa deitada em um pequeno bote inflável. Ao deslizar pelas corredeiras, o praticante mantém braços e pernas na água para impor o ritmo, direção e, claro, arriscar manobras. As sensações são parecidas com as oferecidas, no mar, pelo bodyboard. “Os rios que cortam a região são perfeitos para essa prática, que pode ser feita em quatro níveis, da mais calma, para principiantes e crianças a partir de 10 anos, até a mais radical”, explica. Para agendar o acqua ride é necessário, no mínimo, dois praticantes. A aventura dura cerca de duas horas e custa R$ 70 por pessoa, o que inclui transporte de ida e volta (cidade-corredeira-cidade) e os equipamentos de segurança, como colete, capacete, luva e caneleira. O mesmo preço é cobrado pelo rapel, praticado em uma cachoeira de 35 metros. Há descontos para grupos de mais de quatro pessoas. O preço para usufruir das trilhas com o pessoal do CAT varia de acordo com a extensão e a duração. A Trilha Toca do Muriqui, de 6 quilômetros e que chega a um ponto com 1,5 mil metros de altitude, custa R$ 40. Já a travessia para Monte Verde, de 22 quilômetros e oito horas de duração, sai por R$ 70. Qualquer que seja a opção, a dica é chegar em São Francisco e agendar a aventura. Ou então fazer isso por telefone (12) 3926-1279 e (12) 9710-5534.

Relaxe Depois de subir e descer montanhas, nada melhor que relaxar, os músculos e a mente. No espaço Bruxinhas do Mato, os detalhes foram cuidadosamente planejados para o bem-estar. O cardápio de delícias inclui banhos de imersão com ervas e flores, massagens e escalda-pés. O banho, que dura 30 minutos, é preparado com ervas e flores colhidas nos jardins do espaço, um lugar cuja beleza é, por si, um convite à contemplação. “As plantas usadas dependem do tipo de banho que a pessoa escolhe: calmante, limpeza energética ou para aliviar dores musculares”, explica a proprietária, Adriana Alves Ferreira Faria. Para a imersão calmante, por exemplo, não faltam folhas de eucalipto e de manjericão. O sal grosso é incluído no banho de quem está com dores musculares. O ambiente que abriga as duas banheiras é todo de madeira, mas com uma parede de vidro que permite ao cliente (é possível compartilhar a experiência a dois) esquadrinhar a paisagem montanhosa enquanto relaxa envolto por água quente e um sem-número de ervas aromáticas e flores coloridas. O banho sai por R$ 90 (individual) ou R$ 160 (casal) e, acredite, vale cada centavo. Já a massagem corporal, também feita com produtos manipulados no local, custa R$ 100 e dura uma hora e dez minutos. O Bruxinhas do Mato fica a apenas dois quilômetros do centrinho da vila, na estrada do Machado, 1.305. Funciona de sexta-feira a domingo e em feriados prolongados, mas também agenda antecipadamente as suas opções de relaxamento para outros dias da semana (tels.: 12 3926-1364 e 12 9758-5278).


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Pousadas têm meio ambiente como aliado São muitas as opções de hospedagem em São Francisco Xavier. A maioria das pousadas está fora da vila, a partir de 5 quilômetros de distância e seguindo por estradas de terra em boas condições de tráfego. Cada uma apresenta suas peculiaridades, mas todas seguem a mesma filosofia: integração com a natureza e preservação do meio ambiente. Na Pousada Kolibri (www.pousadakolibri.com.br), um haras transformado em hospedaria há 10 anos, a ideia é oferecer ao hóspede a possibilidade de abandonar a rotina urbana e desfrutar da natureza. As acomodações não têm, por exemplo, televisão. “É um estilo europeu de hospedagem. Não tem luxo, mas é tudo muito bem-cuidado”, explica Glauco Costa, gerente da Kolibri. A pousada ocupa uma área de 20 alqueires a 6 quilômetros do Centro, sentido Joanópolis. Possui cinco chalés, com capacidade para até quatro pessoas. As instalações que antes serviam de baias para os cavalos foram adaptadas e agora abrigam duas suítes e quatro quartos. A propriedade possui uma trilha de três quilômetros e belas cachoeiras não muito altas, mas com várias piscinas naturais. Aceita animais. Os pacotes de fim de semana, de sexta-feira a domingo, com café da manhã (delicioso) para casal, variam de R$ 300 a R$ 600.

Requinte Tudo começou com um restaurante e um parque de aventura, com rapel, tirolesa e trilhas para caminhadas. Hoje, o Portal do Equilibrium (www.portaldoequilibrium.com.br) é uma das mais charmosas e requintadas pousadas de São Francisco Xavier. A arquitetura obedece ao princípio do tudo em nome do bem-estar do hóspede. A começar pelas suítes: camas confortáveis (king-size), lareira, ar-condicionado e banheiros com duas pias e dois chuveiros, além de secador de cabelos. Se a intenção for por mais conforto, três suítes contam com ofurôs com vista garantida para vales, bosques, fazendas... “Estou cumprindo minha missão que é proporcionar bem-estar às pessoas”, afirma Márcia Vero, proprietária da pousada. Há, ainda, uma suíte adaptada para deficientes. Aliás, todas as dependências do Portal possuem rampas de acesso para facilitar a locomoção de deficientes físicos. A paisagem é um atrativo à parte. O slogan, “Paraíso acima das nuvens”, traduz exatamente o que o hóspede pode presenciar em certas manhãs com neblina. Como está localizada no topo de uma montanha, as nuvens cobrem o vale e a visão que se tem da pousada é somente do topo dos morros, iluminados pelo sol. As diárias nos fins de semana variam de R$ 430 a R$ 750, e incluem café da manhã e almoço. Os hóspedes têm 20% de desconto nas atrações do Parque de Aventuras. Há ainda passeios de charretes para a garotada. A dica para quem optar por outra pousada em São Francisco é, pelo menos, conhecer o restaurante do Portal do Equilibrium. Abre aos sábados e domingos para não-hóspedes, ao preço de R$ 49 por pessoa. O serviço é self-service, com saladas preparadas com produtos orgânicos cultivados no local, e sobremesas regionais. Os pratos são feitos com esmero e notáveis conhecimentos culinários e de uso de temperos.


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A pioneira Há 37 anos, “seu” Antônio Vicente reconheceu a capacidade da região como destino turístico. Comprou uma área de 31 hectares onde só havia pasto, distante 9 quilômetros do Centro de São Francisco. Reflorestou e recuperou as minas de água que já haviam desaparecido por causa da ação do homem. Em seguida montou um camping e depois uma pousada, a Pouso do Rochedo (www.pousodorochedo.com.br). O local também é de contemplação da natureza. São sete quilômetros de trilhas que levam até o Mirante do Cruzeiro, a 2 mil metros de altura. Oito belas cachoeiras estão abrigadas no terreno da pousada e garantem um dia repleto de emoção, beleza, banhos e, claro, muitas fotos. A sequência de quedas-d’água também oferece várias piscinas e duchas naturais de águas transparentes. Nada interfere na sua qualidade, já que não há construções em seu percurso. Desfrutar esses recursos naturais não é exclusividade apenas dos hóspedes. Com uma taxa de R$ 10, o visitante pode fazer um passeio de quatro horas por trilhas e se esbaldar nas cachoeiras. Para hospedagem, a pousada conta com apartamentos, chalés e casas para grupos de até 10 pessoas. O pacote para fim de semana varia de acordo com a acomodação e a época do ano, com valores a partir de R$ 150.

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Você sabia?

O macaco muriqui, ou mono-carvoeiro, é o maior primata das Américas. Um macho adulto pode atingir até 15 quilos. Seu hábitat natural é a Mata Atlântica, desde o sul da Bahia até o norte do Paraná, em altitudes que vão dos 600 aos 1,8 mil metros. É um animal exclusivamente brasileiro e que corre grande risco de extinção devido à destruição de seus ambientes, à baixa taxa de reprodução e também à caça. Vive em bandos, em uma sociedade caracterizada pela harmonia, não havendo disputa pelo poder nem por parceiros. Por isso, o significado de seu nome, que, em tupi-guarani, significa “povo manso da floresta”. O muriqui é candidato a mascote dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil.


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educaçã

mod

· Daniela Marco Antonio Alvisi, especialista em arte-educação e nas amplas possibilidades estéticas das artes visuais


fotografia

família

arte

da

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história

SULFUROSOS DA GEMA/

documentário

roteiro

texto Valéria Cabrera foto Mity Eto

D

aniela Marco Antonio Alvisi é apaixonada pela memória de Poços de Caldas e, por isso, define-se como alguém “do século passado”. Não pense, porém, que a afinidade com a história faz de Dani, como é mais conhecida, uma pessoa conservadora. Inteligente, bonita e educada, ela está mais para o estilo “Gente fina, elegante e sincera / Com habilidade / Pra dizer mais sim / Do que não” (Lulu Santos, Tempos Modernos). Casada, e mãe de duas meninas, Dani atua como pedagoga, professora de história da arte, pesquisadora, roteirista, documentarista e fotógrafa. Também encontra tempo para estudar e praticar moda. “É difícil conseguir conciliar todas estas atividades, mas a gente sempre dá um jeitinho para fazer o que ama”, afirma. A explicação de Dani para o apego pela história da cidade onde nasceu e mora com sua família é: “Poços é única. Em nenhum outro lugar do mundo houve o advento das águas termais como aqui. Todos deveriam conhecer como a cidade surgiu e como ocorreu seu apogeu, entre as décadas de 1920 e 1940”. Especialista em arte-educação e nas amplas possibilidades estéticas das artes visuais, há dois anos Dani está à frente do Memória Arte e Cidade, grupo de pesquisa e produção cultural que resgata e difunde temas relacionados com o desenvolvimento histórico do município. O programa, mantido pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, tem revelado detalhes sobre a trajetória do jor-

nalista e fotógrafo Décio Alves de Moraes, hoje com 89 anos, também amante da história da cidade. “O trabalho é realizado por 18 pessoas, entre professores e alunos, e foi transformado em exposição itinerante para que estudantes de toda a cidade a conheçam”, explica Dani. Também foi feito um filme longa-metragem, a partir da visão do “senhor Décio”, como é conhecido. “Ainda este ano vamos publicar um livro”, conta a pesquisadora, que também pretende continuar com o projeto no próximo ano, mas com outro tema: Vila Cruz e Vila Nova, os dois bairros mais antigos da cidade. “Esse trabalho reúne todo o meu conhecimento, como arte-educadora, fotógrafa, roteirista e documentarista. E isso me fascina.” Em casa, mais envolvimento com história. Carros antigos é um hobby que divide com o marido, o engenheiro Eduardo Alvisi, vice-presidente do Clube do Automóvel Antigo de Poços de Caldas. Outra mania, conta, é visitar feiras de antiguidades, brechós e sebos. “São coisas que me fazem sofrer, pois simplesmente não consigo me controlar nesses locais (risos).” Um dos mais recentes projetos de Dani, que ainda chama de “sonho”, é montar um laboratório de revelação de fotografias em casa. “Isso é uma coisa que está acabando por causa da era digital. Mas faço parte de um movimento pró-analógico e já comprei até uma câmera para me familiarizar novamente com o processo.”◄


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/PSIU!

Deu branco por Fabio Riemenschneider *

A

folha insiste em permanecer em branco na tela do computador. Trata-se de um problema sério para quem vive do ofício de escrever, mas, ainda bem, esse não é exatamente o meu caso, embora, agora, enfrento o mesmo incômodo que um escriba profissional. Carlos Heitor Cony, escritor e jornalista que assina colunas quase diárias, já relatou sua experiência em dias em que isso ocorre. Para ele, o ideal é escrever, sem ter necessariamente um tema, e nem mesmo um plano para desenvolvê-lo. O assunto, assim, é secundário. Pensei em seguir tal recomendação, mas uma britadeira me impede de ir adiante por conta do barulho ensurdecedor e insistente do impacto entre o aço e o concreto. Isso me incomodou muito! Como me concentrar e produzir um texto com tal estrondo? E justo num dia em que não encontrava nada sobre o que escrever? As circunstâncias conspiravam contra. Como a vida é injusta! Será que tal situação não reflete nossos conflitos diários e nos trazem sofrimento e angustia? Quantas vezes nos sentimos impedidos de tomar atitudes por conta de situações alheias? A questão é: será que tais conjunturas são realmente alheias a nós, ou elas definem exatamente quem somos? Talvez a britadeira fosse conveniente naquele momento, pois ela “justificava” o branco da tela do computador. O problema, assim, deixava de ser m(eu) e passava a ser da britadeira. Pobre ferramenta! Tais devaneios me lembraram um teste psicológico em que são apresentados cartões com cenas de pessoas em situações angustiantes. Pede-se então ao sujeito que descreva o que ocorre na cena, o que houve antes e o que vai acontecer depois dela. Um dos cartões é branco e a recomendação é a mesma. O que responder

frente ao branco, ao vazio? Como será que resolvemos tais situações em nosso cotidiano? O vazio não nos permite o apego em imagens dadas, e a solução encontrada para dar conta do problema pode revelar nossa capacidade de lidar com o inesperado de modo criativo, ou nos mergulhar num poço de angústia e sofrimento. Quantas vezes, no dia a dia, nos deparamos com a situação de enfrentar brancos e vazios? E quais são as reações frente a ela? Às vezes abrimos concessões que vitimam a nós mesmos e que justificam nosso branco. Assim, o barulho e a resistência do concreto frente ao aço servem para aplacar algo que se refere a nós mesmos. Assim surgem nossas queixas. Quanto mais fragilizados e dependentes somos, mais tendemos a atribuir nossos fracassos a elementos externos; como se a situação nada tivesse a ver conosco. Podemos também criar condições para que as dificuldades e o branco sejam superados de forma pragmática ou criativa. Depende de nosso posicionamento frente ao problema. Friedrich Nietzsche (1844-1900), inquieto filósofo alemão, discute a moral como forma de impor valores sobre os outros. Quem propõe os valores tem postura ativa e criadora, submetendo-os àqueles que são passivos e submissos; os primeiros revelam o que o filósofo define como quem possui a moral do senhor e, os outros, valores da moral do escravo. Como agimos frente às situações que nos questionam valores e convicções? Deixamos a tela em branco no computador e a britadeira nos escravizar? Somos escravos ou senhores das nossas circunstâncias? Deixo o branco com vocês...◄ *Fabio Riemenschneider é psicólogo, professor universitário, conferencista, escritor, debatedor do Jornal do Sul de Minas e doutorando em Psicologia pela PUC-Campinas. É autor de Da Histeria... Para Além dos Sonhos (Editora Casa do Psicólogo, 2004).


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A doce/amarga

(pós)modernidade

O

texto Roberta Ecleide Kelly*

s tempos (pós)modernos, saturados de neoliberalismo, individualizantes, delimitam muitas das ações humanas atuais. Impõem a premência de não-escolher, articulando “ter para ser” como condição única de existência. Sei que estou chovendo no molhado, tecendo obviedades, mas lembremo-nos: o que está na cara está justamente no lugar do que jamais veremos – a cara! Vamos lá... Nesta brecha ou rachadura das agruras de conviver, o mercado de consumo anuncia: “seus problemas acabaram! Relacione-se com as coisas, mesmo quando forem humanas!” Do perfume ao carro, do celular ao crack, o consumismo prometido como solução, enganoso e sedutor, pelo contrário, abre mais ainda esta brecha e a sozinhez existencial dos humanos. Para o mercado de consumo, porém, produto de nossa busca permanente de alívio, esta é a certeza de mais consumo. Quem não quer ser feliz sem esforço? Tudo certo, então. Os objetos de consumo são inúmeros e coisificar as pessoas é uma ação fácil e infinda. O valor agregado (de felicidade, bem-estar e satisfação sem nenhum suor) permite a ilusão de que a escolha deste ou daquele objeto é decorrente das condições ou características do objeto. Nessa lógica, é desnecessário assumir a responsabilidade pela escolha. Se algo deu errado – o uso do produto ou o casamento – é por causa do objeto e não por causa de quem o escolheu. Uma sociedade, pautada em autoestima elevada, bem-estar perene e felicidade constante, produz pessoas insatisfeitas, intolerantes e desamparadas. Não me espanta que se vejam tantos sinais de barbárie – a desumanização – em que cada um briga por seus direitos e não tem dívidas nem compromisso com a coletividade. E as drogas, lícitas e ilícitas, tornam-se o melhor aperitivo de fuga e falsa distensão. Das drogas lícitas, apenas um comentário que ouvi de uma conversa alheia: “Você não toma fluoxetina? Você fuma? Bebe? Nossa! Você não quer ver a vida cor-de-rosa?” E a vida é cor-de-rosa? Para quem? Viver “num mar de rosas” implica em se espetar em um mar de espinhos... Voltando ao assunto. A dependência química não escolhe sexo, classe social, raça ou idade e após o primeiro gole/trago ninguém é capaz de prever o que acontecerá dali em diante. Nenhum dependente químico imaginou, no início

do consumo, que se tornaria um usuário compulsivo. Também jamais esperou colher as consequências da perda do controle, por vezes da sanidade e, quiçá, da dignidade. O encontro de adolescentes e jovens com o álcool e outras drogas psicoativas tem-se dado cada vez mais precocemente, alimentando e mantendo um universo de violência contra a vida. Antes, o encontro de crianças e adolescentes com os psicofármacos também tem sido precoce. Em especial, o uso do álcool denota comportamento ousado, descolado, livre... Porque são livres, “têm” de beber às sextas. Livre? Para moças e rapazes, o álcool é sinônimo de gente feliz, liberal, “prafrentex” como se dizia antigamente. As moças não sabem, talvez, como o álcool é devastador para as mulheres; e não deixa de ser danoso para os homens, claro. Por que isso acontece? Os adultos desconhecem os caminhos – chatos e difíceis – da educação dos jovens? Os jovens estão entediados com a vida? Jovens e adultos desaprenderam a labuta de dar sentido ao viver? Ou não sabem, mesmo? Simplesmente, final dos tempos? Use isso e seja aquilo! As propagandas sobre as drogas e os psicofármacos não passam na mídia, mas tocam no boca a boca, e são eficazes. Prometem esquecimento e sensações. Prometem adiamento da frustração. Como, então, as pessoas vão aprender a tolerar a frustração se qualquer coisa os traumatiza? Não tenho respostas. Um ditado velho e pontual diz: a vida só é dura para quem é mole. Precisamos, urgentemente, nos debruçar sobre o cotidiano das relações – que é o que realmente importa para os humanos. O leitor me dirá: mas você nos avisou que conviver é difícil.... É sim. Mas longe da convivência, nada há. Longe do outro, quem nos reconhecerá? Os jovens – e os adultos – precisam olhar para a efetividade da destruição causada pelo uso desmedido de tampões para o sofrimento psíquico. Este, sim, nosso constante companheiro, que paga fielmente com o crescimento e o aprendizado. Felicidade é construção, diária, em gotinhas minúsculas que colorem o dia cinzento das chatices inevitáveis... O que você prefere?◄ *Roberta Ecleide Kelly é psicanalista, doutora em Psicologia Clínica, pós-doutora em Filosofia da Educação, consultora do Centro Educacional Primeiro Espaço, coordenadora do NEPE (Núcleo de Estudos em Psicanálise e Educação). Informações sobre o NEPE (www.nucleodepsicanalise.com.br) com Roberta ou Fernanda, às quartas-feiras, das 13h às 18h, pelo tel.: 35 3721-4469


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MÚSICA/

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Erasmo Carlos completa 70 anos de vida, 50 deles dedicados à música. Nesta entrevista concedida para a LACRÈME, o eterno Tremendão fala sobre música, sexo, a relação com as novas gerações e a necessidade de “estar sempre atuante”

texto Vinícius Castelli fotos Divulgação

A

lém de muita experiência, ele carrega nas costas uma discografia de dar água na boca. Seu nome é um dos que melhor representa a jovem-guarda e, ao lado de Roberto Carlos, imortalizou uma parceria. Em 1985, o eterno roqueiro Erasmo Carlos subiu ao palco do festival Rock In Rio ao lado de monstros da música internacional e representou o rock brazuca. Conhecido carinhosamente como Tremendão, ele chega aos 70 anos de idade, 50 deles dedicados à música, e avisa que nem pensa em parar de trabalhar. O músico, que nunca cogitou viver do passado, atravessa gerações e tira novo disco na manga: Sexo (Coqueiro Verde, R$ 29,90). Numa conversa deliciosa com a LACRÈME, Erasmo afirma que vai muito bem, obrigado. LACRÈME – Mesmo depois de todos esses anos de estrada, e hoje com o mercado em baixa, você continua produzindo canções e sacando discos do bolso. O que significa lançar um disco nos dias atuais? ERASMO CARLOS – É minha vida, né. Podia viver do passado, da jovemguarda, dos sucessos como compositor. Mas não! Eu sou fascinado pelo novo. Eu quero sempre fazer coisas novas, estar sempre na ativa. Sempre procurando coisas novas. E usando também o que eu sei para que os outros aprendam. LACRÈME – É uma realização pessoal, então? ERASMO – É uma necessidade minha como pessoa. Sou compositor e, se eu não criar... Compositores compõem. Se não, eu viveria só do que já fiz. Tenho de fazer para me sentir vivo. Sempre ser útil, dar exemplo para os meus netos, para os meus filhos. A vida é assim.

LACRÈME – O álbum Sexo representa todo o seu conhecimento, aos 70 anos de idade, a respeito desse assunto? ERASMO – É a experiência, né, bicho! Você viveu, está vivendo uma vida inteira e pode falar dela do trono. Pode falar com autoridade. Usar a vivência como autoridade. É lógico que a minha forma mudou. Antigamente eu ia direto ao ponto principal, direto ao ponto turístico (risos). Hoje não. Hoje eu faço uma viagem, um tour antes. Visito a periferia, faço umas compras no camelô da esquina, viajo pelos montes, pelos vales, rios, pelas florestas da mulher até chegar ao Pão de Açúcar, que é o ponto turístico. As minhas noites, agora, duram mais. E é maravilhoso. Você aproveita muito mais.


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/MÚSICA

LACRÈME – Como surgiu a ideia de abordar esse tema no novo disco? ERASMO – Depois que gravei o disco Rock‘n’Roll, as pessoas me perguntavam: “E agora? Vem a trilogia Sexo, Drogas e Rock‘n’Roll?” E eu dizia que não, que trilogia é coisa dos anos 1960. Hoje, o mundo mudou, a realidade é outra. Agora, por que não sexo? O tema é fascinante. Então, parti para fazer sexo (risos). Daí, encomendei aos parceiros. Disse que o disco iria se chamar Sexo e que cada um imaginasse o que quisesse. Não era necessário mencionar a palavra sexo nas letras, mas falar sobre sexo. Cada parceiro entendeu perfeitamente. Mandei as músicas e cada um fez a sua letra, imaginou o sexo a seu modo. LACRÈME – E a parceria com Arnaldo Antunes? Tem funcionado bem, não é? ERASMO – É, a gente vem se conhecendo. Participei do DVD dele, o Ao Vivo Lá em Casa, e participei do programa dele da MTV. Nós nos encontramos por aí. Fizemos shows juntos em São Paulo e a parceria era mesmo inevitável. Da amizade vem vindo a parceria. A Adriana Calcanhoto também é minha amiga há muito tempo. Eu queria uma visão feminina sobre o tema e por isso encomendei uma letra para ela. Deve ser o que a mulher quer. LACRÈME – Ainda falando em parceria. Ainda faz parte de seus planos escrever e gravar músicas com o Roberto Carlos? ERASMO – Cara, nós gravamos juntos para o meu DVD, em julho, na minha festa de 50 anos de carreira, no Theatro Municipal (Rio de Janeiro). Teve participação do Roberto e da Marisa Monte. A gente faz o que aparecer, o que a vida for apresentando, mas ninguém planeja: “Vou fazer isso, ou vou fazer aquilo”. As coisas vão acontecendo. Não dá pra ter planos. De repente, você não pode realizar, a vida mudou. Então é melhor deixar as coisas irem acontecendo. Você fazendo e estando pronto para a vida. Assim, as coisas sempre vão aparecendo. LACRÈME – Como é trabalhar com pessoas muito mais novas, para quem você é referência? ERASMO – Ah, cara, você tem de esquecer que é referência. Eu tenho a capacidade de estar na idade que eu quiser. Fui acostumado com isso. Meus filhos são de idades diferentes, meus netos também, mas convivo com eles muito bem. Eu me transporto para a idade de cada um sem esperar que eles se transportem para a minha. E tenho me dado muito bem. Tenho a mesma linguagem. São pessoas que encontro a toda hora, com quem tenho amizade. Não faço música com parceiro que não conheço. É preciso que os parceiros tenham afinidade comigo. Eu aprendo muito assim. Com a arte dos outros eu enriqueço a minha.


MÚSICA/

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· Erasmo Carlos: “Eu me transporto para a idade de cada um sem esperar que eles se transportem até a minha”

LACRÈME – Sexo é atual, fresco, mas também traz um ar vintage, com toques psicodélicos! ERASMO – Tá certo. Liminha (produtor do álbum Sexo) é assim mesmo. Ele usa muito bem toda a sua experiência musical. O disco está com ligeiras influências da música indiana atual. Tem cítara... Ele está muito oriental, que é uma tendência que eu gosto. LACRÈME – Depois de Rock’n’Roll, lançado em 2009, dá para perceber que você vem ganhando, ou reconquistando, espaço. Como se estivesse renascendo. É isso mesmo? ERASMO – Pode ser. Minha gravadora, a Coqueiro Verde, não oferece jabaculê. Então, não tocamos na rádio, o que me força a ir por outros lados. Tenho de aproveitar as redes sociais, a internet e os shows. É o que nos resta para mostrar o trabalho, e isso dá uma garra muito grande para a minha equipe e para mim. Isso faz a gente estar atuante em todos os lugares. E tem funcionado, pois consigo mostrar para as novas gerações o meu trabalho – e graças a Deus eu tenho um bom trabalho antigo! A nova geração, ouvindo o antigo, assume como se fosse novo. Assim, tenho mostrado para a nova geração o que eu fui, mas também acho importante mostrar o que eu sou. Não adianta mostrar o que foi e não mostrar o que é. E eu sou eles amanhã! Posso ser, de repente, um exemplo que eles gostariam de ser quando ficarem mais velhos. Quem não gostaria de ter um pai ou um avô igual a mim? Um avô que conversa sobre sexo abertamente é um avô maravilhoso (risos). LACRÈME – Cinquenta anos de carreira. Você é, sem dúvida, um dos nomes mais importantes e respeitados da música brasileira. Dá orgulho? ERASMO – Dá sim. Fico muito orgulhoso, muito contente comigo. Isso vem desde os anos 1980. Com o pessoal do Kid Abelha, do Ultraje a Rigor, com Lulu Santos... Pessoas que sempre se declaram como fãs! Tem também algumas coisas que eu não gosto, com as quais me sinto mal. Por exemplo, quando me chamam de mestre. Coisas assim eu não curto, fico sem jeito. Depois vieram os caras do Skank, do Jota Quest, agora a Silvia Machete e o Kassin. Essa admiração pelo meu trabalho é uma coisa que vem vindo sempre, atravessando as gerações. Isso me envaidece e me enriquece muito. Me dá vontade de continuar fazendo música para mostrar a eles a minha evolução. Se eles gostaram do que eu fiz, quem sabe não passem a gostar do que eu faço agora. Estar sempre atuante e em contato com as coisas passou a ser uma missão, a fazer parte da minha forma de ser.◄


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/CULTURA

Poço texto Ricardo Ditchun fotos Sandra Ribeiro/Divulgação

Com o Circuito Fora do Eixo como exemplo, Coletivo Corrente Cultural ganha espaço, foco operacional e, cada vez mais, público

A

ideia não é nova, mas sua configuração contemporânea apresenta o maior grau de abrangência espacial e numérica da história. Espalhados por países de todas as partes do mundo, os coletivos culturais propõem soluções para que jovens artistas apartados (por imposições mercadológicas, políticas ou vontade própria) do mainstream possam desenvolver com razoável grau de autonomia os seus projetos. As vantagens atuais para que essa forma de atuação alternativa ocorra sem precedentes são proporcionadas pelo turbilhão comunicacional que caracteriza a internet. Por meio das conexões virais que moldam o funcionamento das redes sociais virtuais, ativistas culturais de toda ordem debatem, deliberam, trocam experiências e se agrupam segundo afinidades como padrões estéticos, linguagens artísticas e posicionamento político. No Brasil, o Circuito Fora do Eixo é, desde 2005, a referência mais poderosa para artistas e produtores que têm a atuação underground como norte. Surgido a partir de uma parceria entre produtores de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR), o FdE cresceu, conquistou o poder da autossustentabilidade, ganhou projeção nacional e internacional e tem sido fundamental para o fortalecimento dos princípios da economia solidária, inclusive com a criação de moeda complementar, o Cubo Card. Em Poços de Caldas, com o FdE como parâmetro, o coletivo Corrente Cultural iniciou suas atividades em 2009. Naquela época, cinco jovens decidiram realizar, em nível local, algo que fosse muito além de apenas reclamar da falta de oportunidades e de união. Pedro Cezar Carvalho de Moraes, coordenador de Planejamento do Corrente Cultural, afirma que, no começo, o coletivo se organizou em torno da linguagem musical. “O grupo adquiriu consistência organizacional em 2010, quando foi elaborado um organograma horizontal que hoje contempla os núcle-


os

indie CULTURA/ LACRÈME

também é

os Comunicação, Administração, Relacionamento, Planejamento, Verde (temas sociais e ambientais), Hip-hop, Teatro e Poéticas (verso, prosa, ficção, artes visuais etc.). Para a gestão das necessidades, foram adotadas tecnologias específicas (padrão FDETEC – Banco de Tecnologias do FdE). A equipe atual já soma 25 pessoas.” Diversidade O foco inicial de atuação foi a música, mas, cada vez mais, ganham espaço no Corrente artistas envolvidos com teatro, artes plásticas, dança, design, literatura e fotografia, além de jornalistas, técnicos de estúdio e de iluminação e produtores de eventos, shows e vídeos. Como resultado comum, em termos · Varal de Poesia, uma das iniciativas que o Coletivo Corrente Cultural desenvolve em áreas públicas de Poços de Caldas

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gerais, esses profissionais – ou aspirantes – têm aprendido importantes noções relacionadas com a autogestão de suas carreiras, com todas as etapas de trabalho presentes em suas atividades, com os mecanismos que resultam na obtenção de subsídios junto às instâncias públicas e privadas, com a divulgação dos resultados e, claro, com a importância de saber aproveitar a massa de conhecimento especializado reunida no próprio coletivo. Além de fazer bom uso das redes sociais, o Corrente adota ainda a ocupação de espaços públicos (praças, parques etc.) e privados como estratégia para difundir sua produção. Renan Moreira, coordenador de Comunicação do coletivo, explica: “Nossa política de ocupação é tranquila. Procuramos parcerias para o aproveitamento de lugares populares e privados. Desde junho, por exemplo, o


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/CULTURA

Evolução Em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Fortaleza, por exemplo, a produção de cinema independente pautada pelos padrões coletivos já superou boa parte dos questionamentos que direcionam seus rumos estéticos, dispõe de espectadores e, agora, vive o momento de produzir-distribuir-exibir para públicos maiores. A realização coletiva, nesses casos, tem evoluído e provocado o surgimento de soluções cooperadas para viabilizar a distribuição e a estreia de filmes no circuito comercial. O Corrente Cultural, ao que tudo indica, está no rumo certo. No mínimo, o coletivo poços-caldense já tem promovido uma significativa movimentação na agenda cultural da cidade. Recentemente (de 23 a 28 de novembro), por exemplo, realizou a segunda edição do Festival #VaiSuldeMinas, uma interessante miscelânea cultural com workshops, oficinas e debates – além de shows, desfile de moda e sarau de poesia – que têm a cena indie do município e da região como foco. Prato cheio para quem buscou diversão e informação, e também uma vitrine a ser apreciada por possíveis – e sempre necessários – apoiadores públicos e privados. Entre os apoiadores estão a unidade local do Sesc (Serviço Social do Comércio) e Rafael Takassi Lima, proprietário do New York Pub. Colaborar com os artistas jovens é, segundo ele, uma decisão fundamental para o futuro da música brasileira. “Se não for assim, como ficará a nova cena? Como os novos músicos poderão adquirir experiência e como eles poderão ousar em termos de criatividade? Seremos obrigados a apenas ouvir bandas cover? É preciso dar uma força, pois a carência de espaços é muito forte, na cidade e na região”, justifica Rafael. Na prática, o New York Pub reserva o terceiro domingo de cada mês para que seu palco seja ocupado por bandas indie. Do ponto de vista empresarial, Rafael afirma que os resultados econômicos têm sido favoráveis: “As noites das bandas independentes apresentam um faturamento igual a todas as outras. Além disso, a imagem da casa também sai fortalecida”.

Thiago Pagin

Corrente Cultural dispõe de uma sala do Shopping Poços de Caldas para expor fotografias, desenhos e telas. O acervo é renovado após um mês de exibição”. As belas alamedas da Praça Pedro Sanches e do Parque José Afonso Junqueira também servem de palco para apresentações de música e ações que têm o teatro e a literatura (saraus, varais de poesia etc.) como foco. Quando comparado aos coletivos que operam em grandes centros urbanos do Brasil, o de Poços de Caldas ainda atua com uma finalidade que é quase didática. Essa característica é comum em cidades cujas populações não têm contato com situações culturais alternativas, ou independentes, a famosa cena indie. Formar públicos, encontrar espaços para apresentações e, para algumas situações específicas, desatar o nó da distribuição são questões com as quais o Corrente certamente terá de lidar.


CULTURA/

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‘Estamos apenas no começo!’ Pablo Capilé é produtor cultural e articulador do Circuito Fora do Eixo e do PCult (Partido da Cultura), fórum suprapartidário (apesar do nome) que trabalha de forma permanente para garantir que a cultura seja tema central em todos os debates relacionados com os processos eleitorais realizados no Brasil. Capilé também é coordenador dos festivais Calango e Grito Rock e cofundador do Espaço Cubo, coletivo pioneiro no Brasil surgido em 2002, em Cuiabá (MT). Além disso, ajudou a articular a UniFDE (Universidade Livre Fora do Eixo), criada para sistematizar e difundir o conhecimento produzido pelo FdE, e a Associação Brasileira de Casas de Shows Independentes (Casas Associadas). Ele é, por tudo isso, o porta-voz mais procurado para comentar o fenômeno das organizações culturais coletivas. A LACRÈME, claro, ouviu Capilé.

LACRÈME – Os coletivos culturais são a melhor forma para que os artistas jovens consigam espaço para mostrar suas qualidades artísticas nos dias de hoje? PABLO CAPILÉ – O trabalho coletivo, conectado em rede, tem se mostrado uma estimulante nova forma de organizar as cadeias criativas das linguagens artísticas. Seja um novo escritor, uma nova banda ou um novo cineasta, o interessante é perceber como estas plataformas organizadas por coletivos aparecem como espaços de inovação, de formação de público e de debates para a construção de políticas que atendam a estes novos artistas e às novas formas de organização do trabalhador da cultura. LACRÈME – Quais características você ressalta no trabalho do artista contemporâneo? PABLO CAPILÉ – O artista, hoje, precisa estar conectado com o seu tempo histórico para compreender que o trabalho em rede, transversal, horizontal e formador depende exclusivamente dele e não mais de intermediadores que geriram (ainda gerem, mesmo tendo perdido força) a chamada “indústria cultural”: gravadoras de música, distribuidoras de filmes, editoras de livros... A nova economia da cultura passa diretamente pela relação entre artista e público, sendo que a própria noção de artista está sendo renovada e transformada. O artista não é mais aquele cara genial, isolado, com poderes sobrenaturais e que fala para meros mortais. A própria noção antropológica de cultura, conceituada e implementada em políticas públicas na gestão do Gilberto Gil no Ministério da Cultura (2003-2008), demonstraram a força vital da diversidade cultural brasileira. Essa perspectiva revela que cada ser é produtor de cultura, seja por meio da atuação em coletivos, nos pontos de cultura, na cultura

digital ou nas manifestações populares. Este tipo de estrutura organizacional na cultura, baseada nos arranjos produtivos/criativos locais, na sistematização de tecnologias sociais, na formação livre e nas moedas sociais criativas, é um caminho sem volta para um projeto de desenvolvimento sustentável da cultura brasileira. LACRÈME – Você acredita que organizações como os coletivos de cultura devem servir para artistas jovens, que apenas iniciam suas experiências criativas e profissionais? Com o passar do tempo seria natural que os mais experientes abrissem espaço para iniciantes e fossem se dedicar às suas carreiras em contato maior com o chamado mainstream? PABLO CAPILÉ – O que acontece hoje em dia é que esse chamado mainstream está cada vez mais transformado. Você ouviu recentemente que alguém ganhou um disco de ouro? Esta realidade não existe mais, mesmo que ainda haja grandes nomes da indústria. A tendência é cada vez mais artistas construindo e formando seus públicos, gerando sustentabilidade com shows e produtos vendidos durante essas apresentações. O novo artista está conectado em rede, na internet e na rua. Ele roda, circula e forma públicos em todos os cantos do Brasil. A realidade na Região Norte do país, por exemplo, com diversos festivais, turnês de bandas, coletivos organizando eventos e a pulsação criativa que existe no Pará, demonstra a nova geografia da cultura brasileira. A cultura digital, o trabalho em rede e o fomento de políticas públicas são a base desta fase deste novo artista que não tem mais um intermediador para colocá-lo nos espaços. No caso das bandas, elas próprias se gerenciam. São donas de seus processos criativos e os potencializam. São, ao mesmo tempo, artistas, produtores e articuladores políticos que cobram melhores condições de trabalho. E estamos apenas no começo!◄


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/STELIANAS

Author Magazine’s editor Deadline terça-feira próxima

3.500 caracteres sem caráter

por Stelio Marras*

Original Message From: Magazine’s editor To: Author Sent: Saturday, April 24, 2011 2:48 PM Subject: Deadline terça-feira próxima Caro autor, Cf combinado, aguardo seu texto para o fechamento da edição na próxima terça-feira. Vale lembrar que o texto não deve ultrapassar 3.500 caracteres. Att, O editor

Mensagem Original De: Author Para: Magazine’s editor Enviado em: Sábado, 24 de Abril de 2011, 9:32 PM Assunto: Re: Deadline terça-feira próxima Estimado editor: Devo confessar que só quando vi sua mensagem é que me dei conta de que em 3 dias tenho que enviar o texto. E confessar que fiquei muito apreensivo pelo prazo tão curto que agora me vejo no desafio de cumprir, e tb pelo limite dos 3.500 caracteres. Sei que eu já estava ciente de uma e outra coisa, conforme de fato tínhamos combinado desde o início, mas eis que subitamente, no curso do processo, é que passo a compreender o real desafio que implica escrever algo interessante (ou seja, capaz de interessar o seu leitor, capaz portanto de se colocar entre o autor e o leitor, relacionando um e outro em

torno de algum tema). E fazê-lo em pouco tempo e em poucas palavras. Perdoe estes meus apontamentos, aqui muito mais como desabafo do que qualquer outra coisa. Enfim, é apenas uma apreensão que quis compartilhar contigo. Seguirei matutando o problema. Abraços cordiais O autor

Original Message From: Magazine’s editor To: Author Sent: Monday, April 26, 2011 8:06 AM Subject: Re: Deadline terça-feira próxima Não menos estimado colaborador, Entendo a natureza de seu incômodo e por isso não irei permanecer insensível e simplesmente reiterar o meu papel protocolar, esse de voltar a lembrá-lo de que essas condições eram as já acertadas entre nós. Ao contrário, digo que me compadeço de sua aflição. Por outro lado – e aí não me resta alternativa senão assumir o meu referido papel, agora a minha aflição como editor –, devo lhe perguntar sobre como pretende encaminhar solução para o seu problema. Podemos meditar indefinidamente sobre a questão, mas nosso prazo, a qualquer despeito, se encerra mesmo nesta terça. Aguardo seu parecer e me despeço amistosamente, Att O editor

Mensagem Original De: Author Para: Magazine’s editor Enviado em: Segunda, 26 de Abril de 2011, 1:25 PM Assunto: Re: Deadline terça-feira próxima Caríssimo editor: Volto a me desculpar. Sim, o problema é estritamente comigo. Desabafei já nem sei bem por que. Talvez seja um modo de falar comigo mesmo através de vc. Eu quase te diria que meu drama é ecológico, esse de contribuir para o derramamento de palavras no mundo, sob o risco, tão grande, de seguir poluindo esse mesmo mundo. Será que não iremos nos afogar nesse mar profuso de palavras ao lado da quantidade de objetos produzidos para o nosso consumo profano? Quanta quinquilharia, quanta tagarelice, oh meu Deus! Drama de encarar perguntas que dirijo a mim mesmo, tais como: o que mesmo eu quero escrever a meus possíveis leitores? tenho eu algo a dizer que justifique minha querença? ou apenas escrevemos porque a profissão já nos obriga? Ou ainda: que algo a ser dito não caberia em 3.500 caracteres? será que escrevemos muito porque no fundo temos é pouco a dizer? Decerto que, se o leitor soubesse disso, me abandonaria já logo quando se deparasse com meu nome na página da revista. Ou quem sabe também se comiserasse comigo e, apenas por compaixão cristã, me seguisse até a última linha? Não sei e é provável que sigamos sem saber. Como as palavras, também os leitores são muitos. Concluo que resta me apoiar no indeterminado. Afetuoso abraço, O autor PS: Tratarei de pensar alguma solução para amanhã.

*Stelio Marras é professor de Antropologia do IEB-USP (Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo). É autor de A Propósito de Águas Virtuosas: Formação e Ocorrências de uma Estação Balneária no Brasil (Editora da UFMG, 2004).



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ARTIGO/

LACRÈME 59

Fé e ciência na questão ambiental por Ricardo Couceiro Bento*

Sempre que se discute o meio ambiente e os reflexos de atividades produtivas ao planeta, parece ser imposta uma opinião definitiva e, quando esta opinião é colocada em dúvida, os ataques dos ambientalistas não são poucos. A discussão passou a ser defendida como uma questão de fé e não mais de maneira científica baseada em fatos comprovados. Enumero, a seguir, algumas posições referenciadas que merecem consulta. Cabe, então, a reflexão: o que, do ponto de vista da sustentabilidade e do nosso estilo de vida, realmente atende aos interesses nacionais e ao planeta em geral? 1) Cada tonelada de carbono que é consumida resulta em 3,7 toneladas de CO2. Esta é apenas uma pequena fração (4%) das 770 Gigatoneladas de CO2 emitidas para a atmosfera a cada ano por processos naturais nos oceanos e continentes. (http://oco.jpl.nasa.gov/science/ ) 2) Nos últimos 14 anos, as temperaturas médias anuais do ar registradas na Estação Antártica Brasileira Com. Ferraz apresentaram tendência de queda, cerca de 0,6ºC por década. (http://antartica.cptec.inpe.br/~rantar/PDF/ Queda_Temp_Ferraz.pdf ) 3) Martin Weitzman, um economista e ambientalista da Universidade de Harvard, por meio de modelos e simulações, concluiu que “qualquer pequena variação nos modelos utilizados nas previsões catastróficas ambientais invalidam os resultados propalados e que a chance de que a temperatura do globo aumente a ponto de destruir o planeta como conhecemos é de cerca de 5%. (Weitzman,

Martin L., “On modeling and interpreting the economics of catastrophic climate change”, The Review of Economics ans Statistics, nº 1, fevereiro de 2009) 4) Os ruminantes do planeta são responsáveis por uma emissão de gases que provocam o efeito estufa que é cerca de 50% maior que a gerada por todo o setor de transportes. (Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO, Rome , 2006) 5) Para fabricar um automóvel Prius são necessários 33.117 kw/h de energia (em grande parte devido ao custo ambiental dos mais de 400 quilos de níquel presentes na bateria híbrida). É a energia equivalente a 34,5 anos de consumo de uma família de baixa renda do interior do Brasil. (Michellis Jr., Decio; Crônicas da Sustentabilidade, 2011) “Há dois tipos de ambientalista. O primeiro sonha com soluções amplas, inalcançáveis, cujo objetivo real não é promover o bem de ninguém nem do planeta, mas sim inflar o ego de seus criadores. O segundo é realista, segue o caminho conservador e reconhece que o que deve ser feito em prol do ambiente é difícil, atinge um número limitado de pessoas ou de lugares e exige sacrifícios reais. O problema é que a questão ambiental foi parar nas mãos erradas. A esquerda transformou a proteção do meio ambiente em uma causa, em um movimento que necessita de intervenções estatais, em um assunto no qual há culpados e vítimas. No caso, os culpados são os capitalistas e a vítima é o planeta. A esquerda adora o culto à vítima.” (Roger Scruton, filósofo inglês, na revista Veja, 21/09/2011)

· Estrutura de hotel em Poços de Caldas

*Ricardo Couceiro Bento é engenheiro civil, mestre em Habitação pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo), professor da PUC Minas do Curso de Arquitetura e Urbanismo, membro da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos) e membro do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto). bento@pocos-net.com.br 35 3721-1243


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/LITERATURA

Chico Lopes amplia seu universo de tensões

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· O escritor Chico Lopes lança O Estranho no Corredor em dezembro

texto e foto Ricardo Ditchun

hico Lopes alavanca seu repertório autoral com O Estranho no Corredor, livro que acaba de ser apresentado pela coleção Nova Prosa da Editora 34. É o primeiro trabalho de fôlego ampliado do escritor e jornalista que, até então, tem obtido destaque na cena contemporânea da literatura brasileira pela qualidade de três reuniões de contos: Nó de Sombras (Instituto Moreira Salles, 2000), Dobras da Noite (Instituto Moreira Salles, 2004) e Hóspedes do Vento (Nankin Editorial, 2010). Do ponto de vista técnico, O Estranho no Corredor é uma novela, gênero que ainda apresenta uma narrativa breve em relação ao romance, mas já suficiente para que Chico Lopes molde com maior conforto estilístico os abismos psicológicos que invariavelmente envolvem seus personagens. Também em relação à trilogia de contos, o livro novo satisfaz alguns desejos que se impõem ao fim da leitura de boa parte das histórias curtas do autor. Por exemplo, anseios de continuidade, de quero mais, e, como consequência, um incômodo, mas irresistível, mergulho no universo farto de tensões que acomete o cotidiano dos personagens. O Estranho no Corredor é dessa ordem. A ambientação é espessa e abafada. A exemplo da trilogia de contos, o escritor constrói uma espacialização marcada pela mesquinhez de seus habitantes. A paisagem, assim, ganha destaque quando se relaciona com o caráter adquirido, atávico ou hereditário dos agentes. É precisa, portanto, a aproximação que Alberto Martins, editor da 34, faz (na apresentação das orelhas) entre Chico Lopes, Graciliano Ramos e seu recorte expressionista, e Franz Kafka: “Conduzido com habilidade extrema, movendo-se entre presente e passado, seu discurso indireto livre salta fronteiras e precipita o leitor no rodamoinho de uma consciência atormentada, conferindo à narrativa um clima denso de filme noir com toques kafkianos e suspense de thriller metafísico, que se mantém da primeira à última página”. Chico Lopes concorda com Martins e explica que a existência outsider é, de fato, marcante em seu leque de possibilidades criativas: “Sempre me interessei por personagens de exceção e por situações de cidades pequenas ou de periferias das grandes cidades, talvez atraído pela concentração de ação e psicologia num microcosmo. Interesso-me tanto pelo ambiente quanto pela psicologia minuciosa e alucinatória, numa alternância entre abismos exteriores e interiores, e nunca descartei o elemento fantástico em minha obra, já que o realismo puro não me parece mais eficaz para dar conta do mundo terrível e complexo em que vivemos”. Para marcar a chegada do livro em Poços de Caldas, onde o paulista (de Novo Horizonte) Chico Lopes vive e trabalha desde 1991, haverá uma sessão de autógrafos no café da Galeria do Chalé Cristiano Osório – Instituto Moreira Salles (Rua Teresópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776). Será dia 4 de dezembro, das 16h às 19h. Em São Paulo, o lançamento ocorre dia 15 de dezembro, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073, Bela Vista, São Paulo. Tel.: 11 3170-4033).


LITERATURA/ LACRÈME

“ trecho

Ia pensando em que estaria implicado para que aquela massa de masculinidade hostil e precisa lhe mirasse os calcanhares. Nada. Em sua cidade, tinha uma vida pouco mais que insignificante, voltada para os discos, livros, revistas, os esporádicos concursos literários, tia Ema e a sua casa, andanças noturnas, ninguém que pudesse considerar um amigo, e nenhum inimigo que se deslocaria para tão longe para prejudicá-lo. Que diabo isso de alguém se interessar por ele, para mal ou bem? Tinha se esforçado, nessa nova vida, para ser a coisa mais sorrateira, microscópica, invisível que pudesse — sendo uma nulidade, suprimindo-se, correria menos riscos em meio a esses desconhecidos todos cujas intenções de vantagem imediata, de proveito o mais cômodo possível, eram evidentes demais, mesmo para ele, com tão pouca experiência de cidade maior. Ou era isso ou mal o olhavam, rapidamente lendo, por suas roupas, sapatos, óculos, jeito franzino, jamais impositivo, a valise simples, o uso de ônibus, que ele nada oferecia, nada era, não merecendo mais que o olhar casual e de passagem que se dá a um pé-rapado esmagado em atropelamento de esquina. O que o espantava era o número absurdo de gente, gente, gente, por toda parte gente, e a sensação de que, toda aquela gente junta, equivalia a nada ou ninguém — absoluta a desolação; um turbilhão tão promissor, reluzente, tantas oportunidades, gestos, rostos, e parecia, ainda assim, a sua cidade nos piores dias, nos mais vazios, quando vagava pela noite sem encontrar uma luz de boteco que fosse, nem mesmo um guarda-noturno a quem pedir fogo ou cigarro, se estivesse a nenhum.

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/ROTEIRO

anos de

40

Flieg

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texto Valéria Cabrera fotos Divulgação

uas novas exposições ocupam o Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas: Flieg: fotógrafo e Rogério Barbosa - Fronteira Movediça. As obras do alemão Hans Günter Flieg podem ser vistas no espaço do Centro Cultural. A mostra é uma retrospectiva do fotógrafo, que acompanhou o desenvolvimento industrial brasileiro por quatro décadas, de 1940 a 1980, além de ter documentado o design, a arquitetura e a publicidade do país. Entre as imagens expostas estão as que mostram instalações industriais de empresas como Willys-Overland, Mercedes-Benz e Marcas Famosas S/A, pioneiras da indústria automobilística no Brasil. Também podem ser vistas fotografias de estandes de grandes indústrias em feiras nacionais, como o da fábrica de calçados Clark, na Exposição Comemorativa do 4º Centenário de São Paulo, no Parque Ibirapuera, em 1954; e o estande da Mercedes-Benz do Brasil, na Exposição Internacional de Indústria e Comércio, no Pavilhão São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 1960. Nascido em Chemnitz, Alemanha, em 1923, Flieg mudou-se para São Paulo em 1939 com sua família. Em 1945 estabeleceu-se como fotógrafo profissional. Entre seus primeiros trabalhos estão imagens para o catálogo da Indústria Cristais Prado e o primeiro calendário fotográfico anual da Pirelli. No fim de 1951, atuou como fotógrafo oficial da primeira Bienal de Arte de São Paulo, realizada no MAM (Museu de Arte Moderna). Também trabalhou com fotojornalismo. Pintura e desenho O Chalé Cristiano Osório recebe a mostra Rogério Barbosa - Fronteira Movediça, uma retrospectiva com 50 telas feitas pelo autor nos últimos dez anos. O trabalho do artista plástico nascido em Pouso Alegre mescla a pintura com o desenho, que se afirma quase abstrato. Em alguns, Rogério usa matérias pouco convencionais na pintura, como verniz, asfalto e terra, que dissolve as arestas do desenho, mas sem descaracterizá-lo. A carreira artística de Rogério Barbosa começou aos 17 anos, quando decidiu estudar artes plásticas em São Paulo, na Escola Panamericana de Arte. Frequentou o ateliê de pintura do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), em oficinas ministradas pelos artistas Carlos Fajardo e Dudi Maia Rosa, que muito contribuíram para suas escolhas no campo da arte contemporânea. Participou de diversas exposições e salões, sendo a última individual na galeria Baró Senna, em São Paulo. FLIEG – Fotógrafo. Retrospectiva do fotógrafo alemão Hans Günter Flieg. No Centro Cultural do IMS (Instituto Moreira Salles) – Poços de Caldas. Rua Terezópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776. De terça a domingo, das 13h às 19h. Até 26 de fevereiro. Entrada e estacionamento gratuitos.

· Instalação da Usina de Incineração da Ponte Pequena (detalhe), em São Paulo, na década de 1960

ROGÉRIO BARBOSA – Fronteira Movediça. Retrospectiva dos trabalhos feitos nos últimos dez aos pelo artista plástico Rogério Barbosa. No Chalé Cristiano Osório do IMS (Instituto Moreira Salles) – Poços de Caldas. Rua Terezópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776. De terça a domingo, das 13h às 19h. Até 26 de fevereiro. Entrada e estacionamento gratuitos.


ROTEIRO/

texto Ricardo Ditchun fotos Gil Sibin/Divulgação

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Gil Sibin e o devir da fotografia

eroportos são equipamentos arquitetônicos que evocam em seus usuários o silêncio e o ensimesmamento. São um convite à introspecção, sobretudo quando utilizados por quem viaja por necessidade profissional. Estar em um aeroporto é sempre uma situação marcada pela transitoriedade, pela impermanência, pela iminência de partidas e chegadas, pela perspectiva não do agora, mas do futuro próximo ou, no caso das lembranças (boas, más ou indiferentes) de quem acabou de aterrissar, do passado. Em um aeroporto, em geral, vivemos um estranho não-estar. Para o fotógrafo Gil Sibin, de São João da Boa Vista (SP), a situação não é bem essa. Frequentador assíduo de aeroportos – a negócios, como empresário, ou a lazer –, ele tem desenvolvido uma interessante pesquisa relacionada ao tema. Uma fração deste trabalho poderá ser apreciada até 10 de dezembro na exposição Aeroportos - Céus Imaginários, em São João da Boa Vista. Por meio de enquadramentos notáveis, e invariavelmente sensíveis, o artista obtém resultados estéticos que dialogam com os princípios do concretismo. As imagens são, portanto, plenas de efeitos geométricos, e cada qual apresenta seu próprio grau de variação rítmica e complexidade abstracionista. A mostra, cuja curadoria é de Paulo Gallina, reúne 12 fotografias coloridas, ampliadas com refinados cuidados técnicos (impressão UV). “Para obter um tom de frieza que dialogasse com a sensação vivenciada nos aeroportos utilizei

chapas compostas por duas finas camadas de alumínio com núcleo maciço de polietileno de baixa densidade”, explica Sibin. Aeroportos - Céus Imaginários propõe uma instigante experiência sensorial de natureza gestáltica. Graças aos flagrantes eleitos pelo artista, o observador é convidado a perceber não só o emaranhado abstrativo (com maior ou menor intensidade de sutilezas orgânicas ou geométricas) projetado por arquitetos de diferentes partes do mundo, mas a relevância da presença humana para que ocorra o processo de fruição, além das improváveis conclusões que isso pode gerar. Permanecem abertas, consequentemente, as possibilidades simbólicas (acepção sociológica) de leitura das imagens segundo as referências culturais ou estéticas de cada espectador. Sibin alcança, assim, uma espécie de plenitude artística – para evitar o termo essência da arte – e se põe em harmonia com as vertentes contemporâneas da fotografia, as mesmas que, cada vez mais, miram os devires desta linguagem e deixam de lado o seu passado, a sua “função” documental. AEROPORTOS - CÉUS IMAGINÁRIOS – Individual com 12 fotografias de Gil Sibin. Curadoria de Paulo Gallina. No Espaço de Arte da Livraria Papyrus – Rua Getúlio Vargas, 307, Centro, São João da Boa Vista (SP). Tel.: 19 36234203. De segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; aos sábados, das 9h às 18h. Até 10 de dezembro de 2011. Entrada franca.

· Tel Aviv nº 1 (2008) é uma das fotos expostas em São João da Boa Vista


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Ben Harper

ROTEIRO BH/ LACRÈME

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m nova turnê pelo Brasil, em dezembro, o cantor e compositor californiano Ben Harper se apresenta em Belo Horizonte no dia 6 de dezembro – ele também canta em Porto Alegre (dia 3), Florianópolis (dia 4), Brasília (dia 7), São Paulo (dia 9) e Rio de Janeiro (dia 10). No show, sucessos já consagrados e músicas de seu mais recente disco, Give Till It’s Gone (EMI), que conta com a participação de Ringo Starr, o lendário baterista dos Beatles, em duas faixas. Com 17 anos de carreira, Ben Harper já faturou dois Grammy, vendeu mais de 10 milhões de discos e emplacou vários hits mundiais, incluindo Diamonds on the Inside, Steal my Kisses, Better Way, Waiting for You, Excuse Me Mr., Burn One Down, With My Two Own Hands e a versão de Sexual Healing. No Brasil, ficou mais conhecido do público depois da parceria com a cantora Vanessa da Mata na música Boa Sorte (Good Luck). Ativista de causas ambientais e humanitárias e ligado a diversas organizações não-governamentais, Ben Harper traduz toda sua filosofia de vida em suas canções numa mistura de rock, folk, blues e reggae. BEN HARPER – No Chevrolet Hall. Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, bairro Savassi, Belo Horizonte, Minas Gerais. Dia 6 de dezembro, às 22h. Ingressos: de R$ 140 a R$ 220 (varia de acordo com a data da compra e do local escolhido). Informações: 31 3209-8989.

Novidades em Inhotim Quem estiver em Belo Horizonte pode dar uma esticadinha até Brumadinho, cidade a 49 km da capital que abriga o Instituto Inhotim. O espaço tem novidades para o visitante. Em outubro, foram inaugurados trabalhos de Giuseppe Penone, Chris Brurden, Marilá Dardot e Marepe, artistas consagrados no cenário da arte contemporânea brasileira e mundial. As obras são permanentes e estão expostas ao ar livre. A obra Beehive Bunker é a terceira de Chris Burden instalada no instituto. O trabalho fica próximo à do artista italiano Giuseppe Penone, intitulada Elevazione, uma peça de bronze similar ao tronco de uma árvore, aparentemente sustentada por quatro verdadeiras árvores. As plantas reais vão crescer e englobar a escultura. Elevazione está montada em uma nova área de visitação do Inhotim, entre a Galeria Cosmococa e a obra Beam Drop. Também nas proximidades está A Origem da Obra de Arte da artista minei-

ra Marilá Dardot, formada por 1,5 mil vasos de cerâmica no formato das letras do alfabeto, sementes de plantas e material de jardinagem. O trabalho permite ao visitante do Inhotim o plantio desses vasos e a construção de palavras e frases num enorme campo gramado. A produção dos vasos contou com o trabalho de artesãos e ceramistas de Brumadinho. Em frente à Galeria Fonte está exposta a obra A Bica, do artista baiano Marepe. Numa singular referência à calha de uma casa, por onde se escorre a água da chuva, o trabalho de Marepe utiliza uma estrutura de metal para simular um percurso improvável e nada funcional de uma coleta de água. INSTITUTO INHOTIM – Rua B, 20, Brumadinho. De terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 17h30. Ingresso: R$ 20 (gratuito para crianças até 5 anos). Informações e visitas agendadas: 31 3227-0001.



ROTEIRO SP/

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O amor entre

mãe e filho

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m texto emocionante, com um toque de humor. Assim é Conversando com Mamãe, um espetáculo teatral que retrata o amor entre mãe e filho. Com Beatriz Segal e Herson Capri, a trama conta a história de Jaime, 50 anos, profissional bem-sucedido, casado e com dois filhos. Mas uma crise econômica desfaz seu mundo encantado. Desempregado, entra em conflito com a família e vê como única saída a venda do apartamento onde mora sua mãe. Essa simples possibilidade desencadeia inúmeras questões da vida de Jaime. Escrita pelo conceituado dramaturgo e diretor argentino Santiago Carlos Oves, a história virou filme em 2004, com adaptação e direção do próprio autor. Foi readaptada para o teatro pelo dramaturgo espanhol Jordí Galcerán e traduzida para essa montagem no Brasil por Pedro Freire. A direção da peça é de Susana Garcia. Conversando com Mamãe. No Teatro Folha, Shopping Pátio Higienópolis. Avenida Higienópolis, 618, terraço, bairro Higienópolis, São Paulo. Tel.: 11 38232323. Sexta, às 21h30; sábado, às 20h e 22h; e domingo, às 19h30. Até 18 de dezembro. Ingressos: R$ 50 e R$ 60 (sexta) e R$ 60 e R$ 70 (sábado e domingo). Vendas pelo site (www.conteudoteatral.com.br/teatrofolha) ou pelos telefones 11 3823-2737 e 11 3104-4885 (grupos e escolas).

· Beatriz Segal e Herson Capri

Vida e obra de

Oswald de Andrade Detalhes da vida e da obra do polêmico escritor Oswald de Andrade, criador da Semana de Arte de Moderna de 22, podem ser conhecidas na exposição Oswald de Andrade: o culpado de tudo, em cartaz no Museu da Língua Portuguesa. Com curadoria de José Miguel Wisnik, a mostra foi organizada de modo a reforçar o papel decisivo do escritor para a formação da cultura contemporânea, destacando a consistência de sua obra. A mostra, que ocupa inclusive o banheiro do prédio, contempla três dimensões de leitura – poética, histórico-biográfica, e filosófica –, que não se caracterizam como partes da exposição, mas como níveis de manifestação da vida-e-obra que se articulam de maneira inseparável no processo expositivo. Esta é a primeira vez que o museu realiza uma exposição sobre a vida e obra de um escritor paulista e paulistano. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. Na Sala de Exposições Temporárias do Museu da Língua Portuguesa. Praça da Luz, s/nº, Centro, São Paulo. Tel.: 11 3326-0775. De terça a domingo e feriados, das 10h às 18h. Até 30 de janeiro. Ingresso: R$ 6.


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VERVE/

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ruínas

A persistência das por Chico Lopes*

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uma certa altura dos anos 1980, principalmente depois que o filme Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore, se impôs, todo mundo passou a falar de velhos cinemas de suas cidades, que iam se extinguindo devido à queda de interesse pelas casas de exibição que era provocada pelos filmes em vídeo das locadoras e pela televisão. A decadência não se atenuou com o tempo, ao contrário, ficou mais cruel: os cinemas do passado viraram fantasmas, cuja persistência está condenada ao fluxo instável do saudosismo de cada um de nós. O fato é que, envelhecendo, passamos a frequentar mais certos espaços e situações do passado do que viver no presente, ou este se tinge de anacronismos de tal modo que já não sabemos, caminhando em algumas partes, se estamos ali ou nalgum outro lugar muito remoto, sensações contraditórias se misturam e ficamos como que pendulando entre agoras e outroras. E não há quem, mergulhando em si, não encontre algo para evocar das alegrias dos velhos cinemas. Meu fantasma particular, nesse aspecto, é o Cine Bandeirantes, de Novo Horizonte (SP). Nasci e vivi nessa cidade até os 39 anos, e comecei a frequentar esse cinema lá pelos inícios dos anos 1960, quando estava aos 10, 11 anos. Os cartazes, que eu nem entendia direito, traziam as caras de Doris Day, John Gavin, Sandra Dee, Joselito, Marisol, Sara Montiel, ídolos daqueles tempos. Confusamente, eu anotava títulos originais dos filmes, sem entender inglês, fascinado pelas cores, pela beleza das estrelas e a intimidante masculinidade dos astros – nada parecida com as dos reles moleques imberbes e virgens que éramos. Lembro-me que a música de abertura, quando o escuro propício se fazia e a expectativa se instalava, foi, por algum tempo, a da famosa trilha sonora de Se Meu Apartamento Falasse, composta por Adolf Deutsch, e depois a de Max Steiner para o filme Amores Clandestinos. Foi ali que virei cinéfilo, dependendo das programações incertas e de muito lixo colorido que eu venerava. Só muito tempo, já na juventude, depois de ter visto todas as gloriosas cafonices daqueles anos, foi que me dei conta de que o cinema podia ser uma coisa artística, quando, com um amigo, fui ver, no meio da semana – e acabamos sendo nós dois os únicos espectadores – um

enigmático filme em preto e branco chamado Quando Duas Mulheres Pecam. O filme era o Persona, de Bergman, que recebera essa versão infame como título no Brasil, e suas imagens me deixaram aturdido e fascinado. Dificilmente escapamos a lembranças como essas, pelo que tiveram de seminal. Tempos atrás, fui ao principal cinema de rua sobrevivente em Poços de Caldas. Havia pouca gente na sessão, umas cinco pessoas, e tudo estava num civilizadíssimo silêncio, com uma música neutra ao fundo. De repente, porém, nas paredes laterais começaram a se acender luzes de um azul-claro muito suave e, como que obedecendo a esse acender de luz após luz, outra música se ouviu. Achei-a de uma beleza tão calma e insinuante, de uma serenidade tão grandiosa, que fiquei possuído pela grandiosidade do momento – esse momento de expectativa de ver um filme daí a pouco, que qualquer cinéfilo tem como alguma coisa sempre sagrada, não importando os desapontamentos que terá. Eu parecia ter retornado ao passado do Bandeirantes, decididamente. Esqueci o filme, claro, mas a música ficou em minha cabeça e, consultando o rapaz que cuidava da projeção, soube que aquilo era o intermezzo romântico da Cavalleria Rusticana, de Mascagni. Não descansei enquanto não encontrei a música em CD, tempos depois. Não podia me trazer de volta as músicas preliminares do velho Bandeirantes, não era a mesma coisa, mas somos assim, sempre arrastados por ilusões preciosas demais do ponto de vista individual, não bem compreendidas pelos outros, que também têm as suas e uma idêntica dificuldade em fazê-las compreendidas. Saudosismo é um blefe delicioso, mas blefe. Saudades não mudarão o presente porque estamos amadurecidos o bastante para saber que são saudades, não mais. Mas, experientes, peritos em baixar a cabeça resignadamente para certas coisas que são mesmo irremediáveis, usamos a saudade como a resistência, a persistência, a deliberação de firmar e reconfirmar uma identidade que, quanto mais vivemos, mais é aprofundada. Não é cair no chavão melancólico e impotente do “recordar é viver novamente”. É o recordar para nos contentar com aquilo que somos e aprofundá-lo de tal modo que a verdadeira felicidade possível – a de sermos nós mesmos, e não outros, com todas nossas preciosas alucinações retrospectivas – nos inunde e justifique.◄ *Chico Lopes é escritor e jornalista. É autor de Nó de Sombras (2000), Dobras da Noite (2004), Hóspedes do Vento (2010) e O Estranho no Corredor (2011).


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/CRÔNICA

Zona de conforto: eu quero uma

texto Ricardo Ditchun

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e tempos em tempos surge uma aporrinhação qualquer que chega e se alastra feito político apregoando honestidade em época de eleição. Falo de uma nova receita de autoajuda. No caso, parece, trata-se justamente de outra dessas fórmulas motivacionais enervantes que é logo abraçada e, claro, nos é ofertada como remédio para a solução de uma série de males. Goela abaixo, claro, muita gente sucumbe. Outros, felizmente, cospem longe. Falo da zona de conforto, uma condição que, quando investigada fora do ambiente científico e dos consultórios médicos/psicológicos, convenhamos, é de apoquentar. Exemplos reais (que vivenciei ou me foram relatados):

Na agência de automóveis: O vendedor: Este carro vai tirar você da zona de conforto... Eu (brincando): Ué! (exclamaria Uai!, caso fosse mineiro) Então eu não quero! O Vendedor: Não! (risos) Eu estou falando desta marca, do conceito que a nossa montadora (oriental) inaugura no Brasil...

No cabeleireiro: Eu: É o de sempre mesmo. Máquina 2 dos lados, 3 aqui na frente... O cabeleireiro: Não, não. Desta vez eu quero tirar você dessa zona de conforto. Sugiro...

Sim, eu sei que a ideia subjacente é a necessidade de quebrar a monotonia, de enfrentar as dificuldades, de lembrar que as certezas podem virar incertezas, de buscar o crescimento (intelectual, espiritual e material), de experimentar, de aprender, de criar etc. O que incomoda, de fato, é a incorporação de um termo pomposo para florear situações que, admitamos, não passam de bobagens cotidianas. Além disso, jamais me esqueço, somos brasileiros! Enfrentamos – não faz muito tempo – processos inflacionários que nos obrigaram a trocar o real pelo surreal. Apesar disso, crescemos, estudamos, trabalhamos, geramos riquezas, construímos famílias, empresas e instituições públicas, consumimos bens, fomos a teatros, cinemas e estádios, aplaudimos shows, lemos livros, financiamos imóveis e automóveis... Conseguimos moldar os fundamentos de uma nação e de um horizonte democrático. Mais: sob os efeitos daquela maldita e estúpida situação econômica tivemos de suportar (por décadas!), muitas vezes sem égide qualquer, ditaduras militares patéticas, caso não tivessem sido sangrentas. O país melhorou? Certamente. Mas, ainda, convivemos com a corrupção (ativa e passiva) em todos os níveis de organização social e política. Parte significativa da população brasileira experimenta a barbárie e muito pouco se vê de concreto no sentido de transformar essa vergonha. Temos aprendido economia, política e cidadania a ferro e fogo. Existimos sob risco. Zona de conforto. Sinceramente, não posso afirmar que eu já tenha desfrutado dessa iguaria material/existencial. Vai ver, ela nem existe. Até certo ponto, concordo com o pré-socrático Heraclito (aquele, de Éfeso), que dizia que a permanência é ilusória e que somente a mudança é real. Mas, de uma coisa, eu sei: quando me flagrar temporariamente confortável, em muitos aspectos, vou tratar de me aninhar.◄

Na livraria: Eu: Vou levar este ( No País das Fadas, de H.G. Wells, Paulicéia, 1993). O vendedor: Sempre na zona de conforto, hein? Que tal... No trabalho (há alguns anos): O chefe: A reunião de hoje é para desestabilizar o cliente. Temos de arrancá-lo da zona de conforto. Eu (cá com meus botões, que não sou besta de perder o emprego): Mas será que ele (o cliente) não está bem lá, em sua zona de conforto, que, talvez, tenha sido construída com muito suor e que tem garantido lucratividade, prestígio etc. Outro dia, na televisão: O comentarista esportivo: Ouçam bem isso: o Corinthians está pecando por estar acomodado em sua zona de conforto (no caso, a liderança do Campeonato Brasileiro). Eu (cá com meus botões, que não sou besta de falar com aparelho de televisão): 1) Acomodado em zona de conforto não é tautologia? 2) Dá para imaginar um time de futebol em situação cômoda em qualquer um dos extremos da tabela do Campeonato Brasileiro, na área de rebaixamento ou em primeiro lugar?

Na fila de um cinema (segundo um amigo): A garota (falando alto para o namorado): Eu só quero ver quando você se descobrir fora da sua zona de conforto... Você se acomodou nesta nossa relação. O rapaz: Você pode, por favor, falar um pouco mais baixo.

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CADERNO

VERDE


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/CADERNO VERDE

Educação

ambiental

na prática

Texto Valéria Cabrera Fotos Ricardo Ditchun/Divulgação

M

ais de 325 mil mudas de árvores doadas e quase 100 mil visitantes em 18 anos. Esses números contam um pouco da história do Parque Ambiental Alcoa Poços de Caldas, um espaço inaugurado em maio de 1993 em uma área de 18 hectares na Zona Leste de Poços de Caldas e que, desde 1999, integra a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Retiro Branco, com área total de 207 hectares. O Parque Ambiental, mantido pela Alcoa Alumínio S.A., é um núcleo de referência em educação ambiental que recebe estudantes para visitação orientada. O objetivo é promover mudanças de comportamento, com orientação sobre a correta utilização dos recursos naturais e a consequente melhoria na qualidade de vida. São pelo menos quatro escolas toda semana, de Poços e também da região (confira informações sobre agendamento na página 76). Os alunos caminham por trilhas que estimulam a integração entre o homem e a natureza. Podem ver, na prática, conceitos transmitidos em sala de aula, conhecendo melhor a fauna e a flora do Planalto de Poços de Caldas. Também recebem informações sobre conservação do meio ambiente. São quatro trilhas destinadas a esse fim: Beija-Flor, Cedro, Sauá e Riacho, cada uma com aproximadamente 500 metros. “Essas trilhas de interpretação da natureza proporcionam uma maior interação com o meio ambiente”, explica o supervisor de Educação Ambiente e Sustentabilidade, Paulo Fernando Junqueira. Desde 1993, o parque recebe uma média de 5 mil visitantes por ano.

Na área está também uma quinta trilha em área reabilitada, com cerca de 300 metros de extensão, mais visitada por universitários que querem conhecer a metodologia empregada pela Alcoa para recuperar terrenos degradados pela extração de minério. No local pode ser avistada a flora nativa, como exemplares de Pau-Cigarra, Guatambu, Jacarandá, Capixingui, Manacá-da-serra, Cedro, Paineira, Ipês, Capororoca e Embaúba. Reflorestamento Todo estudante que visita o parque vai para casa com uma muda de árvore. “Depois de saber a importância da preservação, incentivamos esse estudante a plantar e cuidar de uma árvore”, conta Junqueira. Grande parte das mudas doadas é produzida no viveiro do parque, responsável também pela reprodução das espécies usadas em reabilitação de áreas degradadas. De acordo com Junqueira, antes de iniciar a mineração, mudas e sementes desta região são recolhidas para que depois a área seja reflorestada com as plantas nativas do local. As mudas para reflorestamento de antigas áreas de mineração não entram na contagem oficial de doações. Segundo Junqueira, a partir de 1993 até agosto deste ano foram doadas 325.289 mudas para a comunidade. Isso inclui também as parcerias com prefeituras e sitiantes. “Somos muito procurados para participar de projetos de recuperação ambiental”, afirma. Ainda este ano serão distribuídas mil mudas de araucárias para sitiantes, uma árvore ameaçada de extinção.


CADERNO VERDE/ LACRÈME

· Pavilhão do Parque Ambiental, construído em vidro e eucalipto tratado, onde são recebidos os visitantes

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76 LACRÈME

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Agende sua escola Para conhecer o Parque Ambiental Alcoa - Poços de Caldas, o professor ou responsável da escola deve agendar com antecedência. São três datas durante o ano letivo, em março, junho e setembro. O telefone para contato é 35 3713-2132. A visitação é aberta a todas as escolas públicas e particulares da região. O transporte para as escolas de Poços de Caldas é fornecido pelo Parque Ambiental gratuitamente. As visitas são feitas sempre às terças e quintas-feiras, das 8h30 às 11h, e das 13h30 às 16h, sempre uma escola por período. A idade mínima para a visita ao Parque Ambiental é de 6 anos. De acordo com o supervisor de Educação Ambiente e Sustentabilidade do Parque Ambiental, Paulo Fernando Junqueira, as escolas que agendam visitas são orientadas a preparar os alunos antes da atividade. É importante que os estudantes conheçam os objetivos do passeio, para que o ensino dentro da sala de aula seja alinhado à prática no local. Em março, antes de receber os estudantes, o Parque Ambiental fica aberto para grupos da comunidade. O agendamento deve ser feito no começo do ano.

· Estudantes de Caconde (SP), cidade vizinha a Poços de Caldas, visitam o Parque Ambiental Alcoa; abaixo, uma das colmeias espalhadas pela área de preservação


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A diversidade de fauna e flora na Reserva Nos 207 hectares da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Retiro Branco estão diferentes espécies da flora e da fauna do Brasil, algumas que constam de listas de espécies ameaçadas de extinção. A flora da reserva é bem diversificada. Já foram encontradas 257 diferentes tipos de plantas, algumas sobre risco, caso da canela-sassafrás e da araucária. Na área há registro de 23 espécies de anfíbios e 12 de répteis. Entre os anfíbios, cinco constam da Lista de Espécies Ameaçadas do Estado de Minas Gerais como “Vulnerável” (não existe nome popular para essas espécies). Nenhuma espécie de anfíbio encontrada na área está na lista nacional e nenhuma espécie de réptil está presente em alguma das listas vermelhas. Também já foram registradas 139 espécies de aves, sendo uma listada como ameaçada de extinção: Jacuaçu (Penelope obscura). Foram identificados ainda sete pequenos mamíferos, incluindo a jaguatirica. Confira abaixo algumas espécies da flora e da fauna encontradas na Reserva:

Flora

Canela-sassafrás (Ocotea odorífera) Árvore frondosa nativa do Brasil, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, com flores brancas aromáticas. A raiz e a casca também são aromáticas e medicinais, e a madeira é própria para construção civil e naval.

Pinheiro-brasileiro (Araucaria angustifólia) Também conhecida como pinheiro-do-paraná. Nativa do Brasil, entre Minas Gerais e Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul. Espécie quase extinta, que tem sua exploração controlada pelo Ibama. Sua semente, o pinhão, é utilizada na alimentação. Ipê-da-serra (Tabeluia alba) Árvore de flor amarela que ocorre nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e também na Argentina e Paraguai. É nativa do Planalto de Poços de Caldas. Sua altura fica entre 20 e 30 metros e o diâmetro de seu tronco entre 40 e 60 centímetros. Sua floração ocorre entre julho e setembro.

Mamíferos

Sauá (Callicebus personatus) Macaco com até 60 centímetros de comprimento, cauda longa, pelagem longa, macia e de coloração avermelhada, amarelada ou preta. Vive em grupos e alimenta-se basicamente de frutos. Sagui-da-serra (Callithrix aurita) Espécie endêmica da Mata Atlântica, com pelagem caracterizada por tons cinzentos, pardos e amarelados, com tom bege mais acentuado na cabeça. Vive em grupos que variam de tamanho entre cinco a 15 indivíduos com apenas uma fêmea reprodutiva. Jaguatirica (Leopardus pardalis) Mamífero da família dos felídeos encontrado entre o Sul dos Estados Unidos e o Norte da Argentina. Seu porte se assemelha a um cão de porte médio, com cerca de 80 centímetros de comprimento e aproximadamente 11 quilos. Pelagem com manchas pretas.

Aves

Pica-pau-rei (Campephilus robustus) Encontrado no Brasil, desde a Bahia até o Rio Grande do Sul, e também no Paraguai e na Argentina. Tem cerca de 36 centímetros de comprimento, cabeça e pescoço vermelhos e asas e cauda negras. É o maior pica-pau brasileiro. Jacuaçu (Penelope obscura) Ave com até 73 centímetros, plumagem verde-bronze escura, com dorso, pescoço e peito com pequenos frisos brancos e penas negras. Ocorre no Brasil, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Argentina.

Pavó (Pyroderus scutatus) Ave de grande porte, com até 46 centímetros de comprimento, encontrada em matas altas da Bahia ao Rio Grande do Sul, na região dos Andes, Venezuela e Guiana. O macho possui plumagem negra com garganta escarlate.


78 LACRÈME

/SAÚDE

Cuidado! Respirar pode ser perigoso

texto Valéria Cabrera foto Banco de imagens

A

poluição do ar causa a morte de pelo menos 2 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. A notícia alarmante foi divulgada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que fez um levantamento inédito sobre a qualidade do ar no planeta. Foram analisados dados de 1,1 mil cidades com mais de 100 mil habitantes de 91 países, inclusive o Brasil. A má qualidade do ar pode provocar graves problemas cardíacos e respiratórios. De acordo com informações da OMS, o estudo serve de alerta para os governantes, que devem aumentar os esforços para reduzir a poluição do ar e, consequentemente, o impacto que causa à saúde. O transporte é um dos principais responsáveis por esses índices. As nações emergentes da Ásia e da África estão entre as mais poluidoras. O Brasil, assim como outros países da América Latina, ocupa um posto intermediário, na 44ª posição. Isso significa que, na média, o brasileiro inala o dobro de partículas ruins que o estabelecido pela OMS como limite ideal, que é de 20 microgramas, ou seja, 20 milionésimos de grama por metro cúbico de ar. A situação mais preocupante é da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que ocupa a 144ª colocação entre as mais poluídas. A cada m³ de ar foram encontrados 64 microgramas de material particulado. Apesar de estar em melhor situação, a Região Metropolitana de São Paulo não pode comemorar. Seu índice de poluição é duas vezes maior que o recomendado pela entidade. Entre as cidades brasileiras, a região está melhor posicionada que Cubatão, na Baixada Santista, e Campinas. Já a Região Metropolitana de Belo Horizonte está no limite do ideal, com 20 microgramas. Apesar da classificação perigosa, a região é a que ostenta melhor posição entre as áreas metropolitanas brasileiras. Confira na página ao lado os maiores poluidores segundo o ranking da OMS. Poços de Caldas não foi incluída no estudo.


Colocação

48

Belo Horizonte (Brasil)

467º 20

Curitiba (Brasil)

360º 29

38 São Paulo (Brasil)

268º

39 Campinas (Brasil)

267º

Cubatão (Brasil)

204º

64 Rio de Janeiro (Brasil)

144º

Kanpur (Índia)

10º

Yasouj (Irã)

Gaborone (Botswana)

Peshawar (Paquistão)

Kermanshah (Irã)

Ludhiana (Índia) Quetta (Paquistão)

Sanandaj (Irã)

209

215

216

219

229

251

254

279

372

Cidade/país Taxa de poluição

Ulaanbaatar (Mongólia)

Ahwaz (Irã)

SAÚDE/ LACRÈME 79

Ranking da poluição



LACRÈME 81


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