Território das trocas
o mercado público e a apropriação coletiva da cidade
Naomi Esther Weinberg
orientadores Abilio Guerra e Angelo Cecco Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie São Paulo, julho 2019
Agradecimentos Agradeço primeiramente a D’us por estar claramente presente em todas as etapas da minha vida. Aos meus queridos orientadores, que superaram todas as minhas expectativas para esse ano. Obrigada por tornarem este processo do TFG extremamente prazeroso. Abilio Guerra por sempre transmitir seu vasto conhecimento, enriquecendo a minha formação profissional e instigando a minha curiosidade sobre o mundo. Angelo Cecco pelo carinho, paciência e atenção, sempre me incentivando e encorajando a encarar novos desafios e atingir o máximo do meu potencial. Às amigas Jennifer, Fernanda, Noelly, Giulia e Denise pela amizade, pela convivência intensa e por me ensinarem tanto diariamente. À Gleice pela incrível parceria e companheirismo deste último ano. Obrigada por sempre estar ao meu lado. Às amigas Karina, Marina C., Marina R., Sofia, Stéfany, Esther, Gabi e Debora pelo apoio. Principalmente Hanna por ter me ajudado e botado a mão na massa diversas vezes. Aos meus queridos pais pelo amor e apoio incondicional. Por me proporcionarem a maravilhosa oportunidade dessa formação, e o incentivo para estudar algo que amo. Sem o suporte de vocês nada disso seria possível.
sumรกrio
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INTRODUÇÃO
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TERRITÓRIO
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TROCAS
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LUGAR O local O partido O edifício
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bibliografia
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lista de imagens
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O caminhar O vazio Individualidades
Origem Espaço das trocas Sentidos
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introdução Historicamente o comércio, e o mercado público como seu maior templo, sempre foi algo maior do que a simples troca entre objetos mediada pela moeda, pois sempre cumpriu o papel significativo na relação dos homens entre si e do homem com o meio urbano. A arquitetura constrói espaços que abrigam o sentimento de pertencimento e de estar em casa. Ela constrói lugares. O mercado público é um dos equipamentos que configura do espaço urbano; ele é uma concretização pela arquitetura do desejo coletivo de apropriação da cidade. Independente de posições e classes sociais, os mercados públicos e as feiras livres são acessíveis a toda a população, onde nesse espaço acontecem diversas interações socioculturais. O mercado quando inserido no contexto urbano respeitando as características sociais existentes pode passar a ser ponto chave para a interação dentro do bairro. A relação da troca com a cidade é uma forma de apropriação do espaço, que acontece não somente no edifício do mercado em si, mas também em toda a região do largo da Santa Cecília, onde o projeto atua como um dos principais equipamentos que articulam a região. O primeiro capítulo descreve o território, aborda a escala macro, a cidade como um todo, tendo como principal instrumento de pesquisa o “caminhar”, que pode ser uma das ferramentas essenciais para conhecer o espaço e a cidade. O segundo capítulo se relaciona com a arte de “parar”, da escala local, do gregário, do local específico, dos sentidos estimulados pelo território e do mercado como o espaço que abriga acontecimentos. O terceiro e último capítulo descreve o projeto, mostra como este nos aspectos arquitetônico-urbanístico, mas também do uso. Ele resulta da junção dos dois primeiros capítulos, do “caminhar” e do “parar”, do território e dos seus significados. É esta junção que transforma o projeto em ambiente humano, o espaço em lugar, onde a arquitetura se consagra no uso e na apropriação.
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territรณrio
Por enquanto, o Lugar – não importa sua dimensão – é, espontaneamente, a sede da resistência, às vezes involuntária, da sociedade civil, mas é possível pensar em elevar esse movimento a desígnios mais amplos e escalas mais altas. Para isso é indispensável insistir na necessidade de um conhecimento sistemático da realidade, mediante o tratamento analítico do território, interrogando-o a propósito de sua própria constituição no momento histórico atual. Milton Santos, A natureza do espaço, p. 174
o CAMINHAR Andar pela cidade e observar a vida urbana é uma experiência única e complexa, principalmente para um arquiteto, onde o simples caminhar é uma forma de identificar o sítio corporalmente. O ato de caminhar, andar e vagar é uma ferramenta de configuração da paisagem, e é essencial para a nossa interação com a cidade e para compreende-la também. Somente interagindo diretamente com o território que observaremos detalhes específicos e cotidianos, que uma distância maior – ou a uma velocidade maior do que a do caminhar – não poderiam ser identificados. Francesco Careri em seu texto “Do navegar e do parar” fala sobre como saber usar as relações que foram construídas ao longo do caminho, ao longo do percurso na cidade, podem nos beneficiar na hora de compreender melhor o território, de uma forma que só os que nele habitam realmente o enxergam de uma forma genuína. Essa compreensão do território é uma ferramenta crucial para projeto. É necessário para o arquiteto compreender da melhor maneira possível o território para assim poder projeta-lo da melhor forma. “o andar é tão importante quanto o parar [...] a possibilidade de parar e conhecer de perto outros territórios e outras gentes”. 1 A arte de parar é o contraposto para o divagar. O ancorar, parar, significa entrar em contato com o próximo e lidar com o outro, com o estrangeiro e com o diferente. O divagar pode ser desbravar o desconhecido, porém somente quando paramos que realmente entramos em contato com o outro, e assim podemos torná-lo conhecido. Novas leituras do espaço podem ser feitas quando estamos em um território desconhecido, onde é importante saber a conduta de comportamento adequado, como se aproximar e entrar em contato com o outro. Diferentes culturas têm diferentes condutas de comportamento, diferentes morais de como devemos nos comportar ao abordar outras pessoas. Isso seria essencial ferramenta para a compreensão do território, pois só entrando em contato 12
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CARERI, Francesco. Do navegar e do parar, p. 33.
com o desconhecido que podemos aprender sobre aquela cultura local específica. “Essas pessoas criaram uma rede efetiva de informações: conhecem-se à distância de quilômetros. Eles são as fontes principais para o conhecimento dos lugares, são os verdadeiros guias do território. Têm pleno controle dele, conhecem-no em todas as suas dobras, traçam nele os percursos”. 2 A principal fonte de informações sobre o território vem sempre das pessoas que nele habitam. São essas que podemos nos levar a um diagnóstico da área mais preciso. A identificação das pessoas com o território leva a um sentimento de pertencimento, e este sentimento leva à zeladoria da cidade por aqueles que nela habitam. O cuidar e preservar da cidade é uma forma de apropriação coletiva do espaço, algo que o projeto de intervenção do mercado visa seguir. Diante dessa experiência do caminhar que foi escolhido o Largo de Santa Cecília como o território para estudo deste trabalho. Vagando e vivenciando a área que se despertou uma certa curiosidade para entender melhor este centro tão pulsante dentro do bairro de Santa Cecília, localizado na região central de capital paulista. 2
CARERI, Francesco. Arquipélago Stalker, p. 16. (1) Largo de Santa Cecília
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(2) Largo de Santa CecĂlia
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(3) Largo de Santa CecĂlia
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(4) Cartografia da regiĂŁo de Santa CecĂlia
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o vazio Em “Arquipélago Stalker”, Careri compara a cidade com um arquipélago, onde as construções seriam as ilhas e o mar o vazio. Ele se ramifica em diferentes escalas, no meio da cidade, se conectando e formando um sistema de vazios. Assim podemos observar a importância do vazio e ao projetá-lo devemos sempre manter em mente a cautela de não o congestionar. Os vazios da cidade nem sempre devem ser ocupados de forma física; construímos o cheio, porém vivenciamos o vazio.
(5) Cheios x Vazios - Santa Cecília
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TERRENOS POTENCIAL (6) Terrenos vagos em Santa Cecília
“Aquelas áreas esquecidas que formam o negativo da cidade contemporânea, que contêm em si mesmas a dupla essência de refugo e de recurso. Lugares difíceis de serem compreendidos e, consequentemente, de serem projetados. Isso pelo fato de eles não possuírem uma localização no presente, de não conhecerem as linguagens do contemporâneo”. 3 O vazio nem sempre quer dizer ausência. Assim como Careri, Sola-Morales reflete sobre os espaços residuais na cidade e os denomina de Terrain Vague, caracterizando-os como um espaço as vezes impreciso, obsoleto e improdutivo. A nossa noção sobre o vazio se relaciona com a ausência, porém Ignasi Sola-Morales mostra que o terreno vago não necessariamente é vazio, ele pode ter significado. Esses espaços trazem consigo memória, história e passado, ele é carregado de valores e simbolismos, afetos e significados. Portanto, eles carregam um potencial de dualidade ao se associar com a memória do passado e com as necessidades da realidade atual. 3
CARERI, Francesco. Arquipélago Stalker, p. 15.
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(7) Terreno de projeto
(8) Terrain Vague
“Nossas grandes cidades estão povoadas por este tipo de territórios. Áreas abandonadas pela indústria, pelas ferrovias, pelos portos; áreas abandonadas como consequência da violência, o recesso da atividade residencial ou comercial, do deterioração do edificado”. 4 4
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SOLA-MORALES, Ignasi. Presente y futuros. La arquitectura en las ciudades, p. 23.
O Terrain Vague é um espaço vago de caráter improdutivo, como um terreno de miolo de quadra, lotes vazios em meio as empenas dos vizinhos que geram uma diversidade de possibilidades para ocupação desses territórios. Estes terrenos vagos resultam nos melhores lugares de sua identidade, pelo seu encontro do presente com o passado. O pensamento moderno tem horror ao vazio; como era visto como um incômodo, acabou sendo negligenciado. Na cidade contemporânea é necessário lidar com os lugares abandonados, com esse negativo da cidade; somente enfrentando-os podemos projetar e propor soluções para esses tais espaços. Nas áreas centrais de São Paulo, onde se observa uma certa consolidação do uso do espaço, o vazio urbano ganha extrema relevância.
(9) Terreno de projeto
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diagramas de estudo
(10) Cheios x Vazios
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(11) Edificaçþes principais
(12) Fluxos
(13) Entorno imediato
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individualidades Toda obra de arte sai do homem como imaginação e deve voltar para o homem como emoção e intelecção. Do ponto de vista da assistência, a emoção na arte ou na arquitetura é a reação provocada pela obra no observador; do ponto de vista do artista criador, trata-se de controlar estratégias que provoquem determinadas descargas de emoções e significados.5 Assim como a tragédia grega perseguia a identificação da plateia com o personagem trágico, a arquitetura também busca provocar reações em seus usuários. Uma das formas de se avaliar uma obra é observar a reação que ela causa no público; e quanto mais esta reação for consonante com o programa edificado, melhor a arquitetura. Em uma igreja se deve sentir elevação espiritual, em uma residência, conforto e tranquilidade... “A dimensão poética da arquitetura é uma qualidade mental, e a essência artística e mental da arquitetura emerge na experiência individual da obra”. 6 A arquitetura busca se expandir para dentro do observador, e assim ela se consagra, dentro das individualidades.7 As diversas interpretações que podemos ter sobre a arquitetura é devido à pluralidade que encontramos nas individualidades; cada um absorve a obra de uma maneira diferente, gerando inúmeras interpretações sobre o mesmo objeto. Neste campo do encontro com a arquitetura, cada pessoa interpreta a obra de modos diferentes, por isso resulta-se em diversos significados. “Esse intercâmbio é necessariamente uma troca: quando entro em um espaço, o espaço entra em mim, minha experiência e minha autocompreensão”. 8 A arte está carregada de intuição e através dela o arquiteto tem a capacidade de manipular diversos sentimentos dentro do observador. A intuição é algo que vem de dentro para fora, ela é uma forma de refletir sobre conhecimentos que já estão internalizados dentro de nós, e também ativa a nossa capacidade de se conectar com outras pessoas.
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PALLASMAA, Juhani. A arquitetura como experiência. PALLASMAA, Juhani. A arquitetura como experiência, p. 104. Idem, ibidem. Idem, ibidem, p. 107.
Assim nossos espaços podem ser projetados como dispositivos programados para ativar e produzir sensações. Trata-se de projetar lugares como mecanismo ativadores de convivência da população, que possa abrigar a diversidade e pluralidade social, estimulando a convivência entre os diferentes, amenizando a barreira cultural entre classes. A arquitetura cidadã acredita na sociedade democrática e na cidade para todos. “A arquitetura também ativa e reforça nosso senso de identidade, uma vez que sua experiência é sempre individual e única. A arquitetura parece sempre estar se dirigindo a cada um de nós individualmente. Além disso, se sou incapaz de projetar significado a meu encontro com um lugar, espaço ou prédio, realmente não há arquitetura, apenas a construção física dos ambientes”. 9 A capacidade de dar significado a um ambiente mediante a criação de lugares específicos parte da formação de memórias e laços com o espaço. Segundo Christian Norberg-Schulz, pode se afirmar que o lugar vai muito além de uma simples ideia de localização, é também uma criação do indivíduo, onde se concentram espaços em que o indivíduo se interioriza, conformando um estado mais profundo àquele espaço. Um lugar é um fenômeno qualitativo por que tem valores diversificados de acordo com o pensamento de cada indivíduo, conectado as nossas individualidades. 9
PALLASMAA, Juhani. A arquitetura como experiência, p. 113.
(14) Largo de Santa Cecília - comércio de rua
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(15) Largo de Santa Cecília - Camelôs
”O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”.10
No lugar, o espaço que era genérico passa a ter uma identidade única, adensado de significados humanos. O espaço transforma-se em lugar quando é habitado, no sentido de que o habitar pode ser considerado também como a concepção de um sentimento de pertencimento, tanto individual como coletivo, sentimento de apropriação do espaço, e de nos sentirmos em casa. Tudo isto está relacionado com a memória, com os afetos e sensibilidades que a memória individual e coletiva carrega em relação ao espaço. Nos apropriamos dessas informações, relacionadas aos sentimentos que estão conectados ao lugar, influenciadas pela cultura, comunicação, afetos e sensibilidade, para assim conseguir projetar abrigos fraternais para as pessoas. 26
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NORBERG-SCHULZ, Christian. O fenômeno do lugar.
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trocas
Para trocar era preciso acontecer o encontro. E é dessa necessidade que vai nascer o lugar do mercado. Heliana Comin Vargas, Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comércio, 2001, p. 95
Origem O mercado público como local de apropriação coletiva da cidade pode ser observado desde os primeiros mercados, a ágora na Grécia antiga, os bazaars no Oriente médio e os fóruns romanos. Historicamente os mercados sempre foram um participante fundamental da composição da dinâmica do espaço urbano. Desde o começo das civilizações o mercado foi se consolidando como um espaço econômico e social, onde o comércio foi criando uma maior interação com a cidade. Da antiguidade Bazaar A palavra bazaar, que se origina no árabe, significa mercadoria, elemento que caracteriza o espaço de trocas. O comércio no oriente médio é considerado uma profissão de grande valor, assim os bazares são praticamente um monumento público de grande relevância em suas cidades. O bazar é a parte essencial da sociedade islâmica e do seu dia a dia. A distinção entre interno e externo, público e privado, é a essência para entender a estrutura da cidade oriental e também a do bazar. 11 11
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VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário, p. 106.
(25) Mercado de cobre, Cairo, 1871.
(26) Bazar Turco, Turquia, 1854.
“o bazar sempre foi considerado um lugar neutro para encontro de grupos opostos.” 12 Nos bazares temos a convivência de todas as diferentes classes sociais, convivência harmônica que buscamos possibilitar através da arquitetura. Mesmo com diferenças de opiniões e de influências políticas, os bazares proporcionavam um ambiente harmonioso para a convivência de todos e para a troca de ideias, informações e opiniões, por mais diversas que elas sejam. Assim mostrando como o mercado é um lugar que também pode conseguir quebrar a barreira de classes. “Não apenas mercadorias são negociadas no bazar, as opiniões também. Daí sua grande influência na política. É uma verdadeira bolsa de valores em que a reputação é formada com regras estritas de comportamento e sanções.” A prática de pechinchar os preços era comum nos bazares, às vezes gerando um certo alvoroço que aumenta o burburinho e a carga de informações, uma característica muito típica dos mercados. “Quando você entra em um bazar, seus sentidos são assaltados por milhares de odores dos mais variados dos condimentos, seus olhos perdem-se num colorido infinito e seus ouvidos são preenchidos por um burburinho que se completa por sons das ofertas anunciadas em alto e bom tom”. 13 12 13
VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário, p. 107. Idem, ibidem, p. 109.
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O mercado sempre foi um espaço carregado de informações, sempre com um certo alvoroço, alta carga sonora, incentivo visual pela vivacidade das cores do seu interior, e também do cheiro, sempre muito forte, de comidas, especiarias, temperos etc. Cada mercado específico pode ter seu cheiro característico. Algumas características típicas dos bazares se dão devido a sua localização no oriente médio. As interferências características do local, como as tempestades de areia e os ventos quentes, levam o bazar a se voltar para seu interior, abrindo pátios internos, onde a área de comércio e de encontro ficam protegidas pelas edificações ao redor.
(27) Mercado Carmel, Tel Aviv, Israel.
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Ágora A ágora na Grécia antiga era um ponto principal da cidade, que inicialmente surge como um espaço com funções comerciais e de encontro público, e gradualmente foi se tornando um centro de atividades cívicas. Ao redor de seu espaço foi se agregando edifícios, isolando a ágora do entorno urbano, e assim muitas vezes conformando este espaço em formato “U”, onde colunatas com lojas rodeavam o vazio central. A ágora também era descrita como um espaço barulhento e colorido, onde os cidadãos se encontravam para discutir política ou apenas para interagir socialmente.
(28) Ilustração da antiga Ágora grega.
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Fóruns Os fóruns romanos combinavam atividades comerciais, religiosas e políticas. Eram edificações monumentais caracterizadas como os principais centros urbanos do império romano, que abrigavam diversas funções, tais como o mercado, o senado e a justiça, e a basílica. O espaço do mercado era público e descoberto, em oposição às edificações que abrigavam os restantes usos. O mercado dentro do fórum era um local que não servia somente para o comércio, mas também como uma forma de conector dos espaços públicos que o cercava.
(29) Ilustração do antigo Fórum romano.
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Do contemporâneo O Mercado de Jerusalém O mercado de Jerusalém é um dos maiores mercados de Israel, onde há comércio varejista de gênero alimentício, restaurantes e bares. Este mercado se tornou um dos maiores pontos culturais e sociais de Jerusalém desde o estabelecimento de usos noturnos para este espaço, e também devido a sua rica variedade de cultura e culinária milenar. Com um ar de feira, ele é estruturado através de uma rede de ruas e vielas conectadas entre si, como podemos observar na figura 30.
(30) Mapa das ruas do mercado de Jerusalém.
O conceito de mercado diuturno parte da ideia que os mercados como equipamentos públicos possam incentivar uma nova articulação para a vida noturna de uma região abrigando usos diuturnos, mesmo após o encerramento das atividades comerciais de feira. Assim como observado no mercado de Jerusalém, Israel, onde a partir do momento em que foram estabelecidos comércios e atividades noturnas, como bares, restaurantes e shows de rua a região do entorno do mercado passou a ter uma nova dinâmica de cidade no período noturno, com um maior fluxo de pedestres, maior sentimento de segurança, novas permanências e novos encontros de pessoas e culturas.
(31) Mercado de Jerusalém.
(32) Mercado de Jerusalém.
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(33) Mercado de JerusalĂŠm.
espaço das trocas O comércio sempre teve uma relação simbiótica com a cidade, onde ele pode ser a causa de certas centralidades, gerando um fluxo de pessoas e bens materiais. A origem do mercado nasce com a necessidade do encontro de pessoas para realizar as trocas de bens. Assim o mercado se torna um espaço público que incentiva a arte de ir ao encontro de pessoas, o contato, a troca não somente de coisas materiais, como também uma troca de informações e conhecimentos. “A arte de ir ao encontro de alguém produz conhecimento recíproco entre as pessoas que se movem em nosso novo mundo e nos ajuda a imaginar, com elas, uma outra maneira de habitá-lo”. 14 O mercado e também as feiras livres se tornam pontos de distração e divertimento. Esses locais sempre possuíram um papel muito importante, que vai além da sua atividade econômica, também atingindo importância na vida social. “Imagine que para a troca se realizar é necessário o encontro. E a troca não será, apenas, de mercadorias. Ideias, palavras, experiências e sensações fazem parte do encanto...” 15 A troca como atividade social faz parte desta dinâmica encontrada nos mercados, onde se observa também a permuta de experiências e ideias. Independente de posições e classes sociais, os mercados públicos e as feiras livres são acessíveis a toda a população, onde nesse lugar acontecem diversas interações socioculturais, abrindo espaço para uma integração da sociedade e também uma forma de apropriação coletiva da cidade. A troca também vai ter um significado importante em relação a necessidade de abastecimento da população, principalmente nas regiões urbanas, onde se tem uma dinâmica diferente da população rural autossuficiente.
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CARERI, Francesco. Caminhar e parar, p. 34. VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário, p. 11.
(34) Feira de rua - Santa CecĂlia
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Ela é uma atividade que nasce com o homem e para acontecer a troca era necessário acontecer o encontro entre os homens, assim, é a partir dessa necessidade que vai nascer o lugar do mercado. 16 “A origem do mercado está, portanto, no ponto de encontro de fluxos de indivíduos que traziam seus excedentes de produção para a troca, normalmente localizados em pontos equidistantes dos diversos centros de produção. O fato de serem espaços abertos e públicos imprimia-lhes uma condição de neutralidade territorial e de segurança no ato da troca que acontecia no momento em que as mercadorias eram entregues”. 17 Seguindo no raciocínio que o mercado pode abrigar muito mais do que só o comércio de mercadorias, pode-se implantar em projeto de mercado usos que proporcionam divertimento e lazer. Assim, esse passa a ter um papel muito importante na vida social da comunidade, algo que vai além da atividade econômica. “Espaço público, por excelência, é o lugar onde uma pessoa pode estar sozinha sem dar a impressão de estar solitária”. 18 O mercado como espaço público busca trazer uma sensação convidativa, a sensação de participar da vida da cidade e do cotidiano dela também, que tenha livre acesso a todos os cidadãos, independentemente de sua condição social, que todos tenham a possibilidade de interagir livremente com o espaço. Dando a característica “hiperpopular” ao mercado. 16 17 18
VARGAS, Heliana Comin. Espaço terciário. Idem, ibidem, p. 95. Idem, ibidem, p. 98.
(35) Merca Carmel, Te Israel
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ado el Aviv,
sentidos “Quando ali penetro, convoco todas as lembranças que quero. Algumas se apresentam de imediato, outras só após uma busca mais demorada, como se devessem ser extraídas de receptáculos mais recônditos. Outras irrompem em turbilhão”. Santo Agostinho, Confissões, p. 95 Em Confissões, Santo Agostinho faz uma leitura poética sobre o que chama de “palácios da memória”, uma espécie de receptáculo de nossas lembranças e pensamentos dos mais diversos tipos. Defende a ideia de que o aparecimento de tais memórias está diretamente ligado a nossos sentidos e percepções, e que através desses podemos tomar consciência de nossas individualidades e de nosso lugar no mundo. A soma de tais experiências, que a todo momento nos faz lembrar de quem somos, explica o porquê de termos julgamentos tão díspares do que teriam outras pessoas, quando somos colocados frente às mesmas situações. Sendo as percepções de tanta importância para a criação de memórias, podemos pensar em como lugares que constantemente estimulam nosso sentidos, podem potencializar a conexão entre o usuário e o espaço. “Ali se conservam também, distintas em espécies, as sensações que aí penetraram cada qual por sua porta: a luz, as cores, as formas dos corpos, pelos olhos; toda espécie de sons, pelos ouvidos; todos os odores, pelas narinas; todos os sabores, pela boca; enfim, pelo tato de todo o corpo, o duro e o brando, o quente e o frio, o suave e o áspero, o pesado e o leve, quer extrínseco, como intrínseco ao corpo. A memória armazena tudo isso em seus vastos recessos, em suas secretas e inefáveis sinuosidades, para lembrá-lo e trazê-lo à luz conforme a necessidade. Todas essas imagens entram na memória por suas respectivas portas, sendo ali armazenadas”. 19 19
SANTO AGOSTINHO. Confissões, p. 95.
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No mercado esses estímulos ocorrem de diversas formas, seja pelos gritos efusivos dos comerciantes, pelo burburinho dos diálogos cotidianos e banais, pelas cores vibrantes e chamativas dos alimentos, pela diversidade de sabores das especiarias ou também pelo cheiro intenso de um prato pronto para ser degustado. Em nossos palácios nostálgicos ficarão armazenadas memórias geradas por tais sensações, a espera apenas de serem reativadas por futuros estímulos.
“Nesse caso seria como um som que se ouve e passa, como a voz que deixa no ouvido um rastro, que permite que a lembremos, como se ainda soasse embora já não soe; ou como o perfume que, ao passar e desvanecer-se no ar, atinge o olfato e grava sua imagem na memória, imagem que a lembrança reproduz; ou como o alimento, que perde o sabor no estomago, mas o conserva na memória; ou como um corpo que se sente pelo tato e que, ausente, é imaginado pela memória. Todas essas realidades não nos penetram a memória, mas tão somente são captadas as suas imagens com maravilhosa rapidez, e dispostas, digamos, em compartimentos admiráveis, de onde são extraídas pelo milagre da lembrança”. 20
“Com efeito: os olhos dizem: “Se são coloridas, fomos nós que as transmitimos.” – Os ouvidos dizem: “Se eram sonoras, foram por nós comunicadas”. – As narinas dizem: “Se tinham cheiro, passaram por aqui”. – E o gosto diz: “Se não têm sabor, nada me perguntem”. – O tato declara: “Se não são corpóreas, eu não as toquei, e portanto não poderia revelá-las”. 21 20 21
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SANTO AGOSTINHO. Confissões, p. 96. Idem, ibidem, p. 97.
tato
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lugar
É evidente que o lugar faz parte da existência. Então, o que se quer dizer com a palavra “lugar”? É claro que nos referimos a algo mais do que uma localização abstrata. Pensamos numa totalidade constituída de coisas concretas que possuem substância material, forma, textura e cor. Juntas, essas coisas determinam uma “qualidade ambiental” que é a essência do lugar. Christian Norberg-Schulz ,O fenômeno do lugar, p. 444
o local A intervenção proposta parte da intenção de construir um equipamento articulador para o território da Santa Cecília, localizada na região central da capital paulista, sempre visando conectar a arquitetura com a cidade. A proposta para o Mercado tem o intuito de integrar o bairro e todo o Largo de Santa Cecília, intervindo e atuando em um espaço residual da área, pretendendo ressignificar este local a partir de um equipamento que atue como conector dos espaços públicos da região. O vazio encontrado no miolo de quadra favorece uma excelente situação para intervenção e modificação no meio de uma cidade consolidada. “A necessidade de encontro para a realização da troca vai levar a atividade comercial a procurar os lugares mais propícios a esse encontro, os quais coincidem com o cruzamento de fluxos de pessoas ou com locais onde as demais atividades sociais acontecem...” 22 A escolha do terreno para a implementação do mercado se justifica através da dinâmica da região de Santa Cecília, onde há um fluxo intenso de pessoas no largo, que se soma ao fluxo gerado pela estação de metrô, e às atividades sociais que acontecem no largo graças à igreja e ao comércio da região. Todos estes fatores geram uma situação de lugar propício para o encontro que o mercado proporciona. O terreno de intervenção desse projeto é um terreno vago de miolo de quadra, com acessos pelas ruas Frederico Abranches e Largo Santa Cecília. Este vazio no meio da quadra é similar a uma clareira no meio natural, onde o cheio são as árvores do entorno e a clareira é o vazio. Neste terreno temos um vazio central que é formado pelo seu entorno edificado e murado. 22
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VARGAS, Heloisa Comin. Espaço terciário, p. 20.
(50) Leitura da รกrea.
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(51) Empe
(52) Largo
(53) Vila de casas
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(54) Muros
enas
o
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O projeto parte de uma abordagem com foco para a escala local, a escala do bairro e a escala gregária do pedestre, mas também levando em consideração a escala da cidade, suas dinâmicas e seus fluxos. O mercado, quando inserido no contexto urbano respeitando as características sociais existentes e os fatores urbanísticos, pode passar a ser um equipamento de articulação dentro do bairro, mesmo sendo um mercado de pequeno porte. Portanto, foram estabelecidas algumas diretrizes principais para o projeto, onde o mercado como conector de espaços públicos serve como chave para potencializar a convivência em sociedade. O mercado também visa ser um equipamento articulador do território, sendo central para a região pulsante do Largo de Santa Cecília, projetando além do lote. A constante transformação do espaço requer um programa de usos flexível, abrindo campo para múltiplas possibilidades de transformação, onde o mercado não se limita ao comércio, gerando um espaço também social. Uma das formas que um projeto arquitetônico pode contribuir para a cidade é proporcionar o encurtamento das distâncias dentro da cidade. Assim, a proximidade do terreno do projeto do mercado à estação de metrô Santa Cecília facilita o acesso do indivíduo ao transporte coletivo, que também tem uma ligação direta com a vivência do Largo Santa Cecília.
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biciclet
lombofaixa travessia em nível
iluminação 66
tário
permeabilidade
lazer áreas de leitura e descanso
praça retirada dos gradis
calçada alargamento e paginação de piso
convivência espaços de permanência e convivência
implantação largo de santa cecília
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Planta perspectivada do projeto para o Largo de Santa cecĂlia.
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Programa O programa do projeto foi definido a partir de estudos da região, onde foram observadas suas necessidades, e também a partir das necessidades básicas que um mercado necessita. Programas como o apoio ao morador de rua e o camelódromo surgiram como uma resposta das necessidades da região, já as partes como restaurantes, bares, praça de mercado e de alimentação fazem parte do conjunto do mercado.
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o partido O processo de planejar e projetar a cidade deve considerar duas questões importantes e entrelaçadas: os espaços e programas de uso na escala urbana e na escala do edifício. Para projetar na escala urbana deve-se levar em consideração o espaço público, não só como lugar de transição, mas também como local de permanência. Um espaço que possibilite encontros, trocas de informações e experiências, e interação social. Uma cidade viva é aquela onde as pessoas passam parte de seu tempo nas ruas e em espaços públicos, usando os espaços e equipamentos públicos, onde um cidadão interage com outras pessoas com as quais compartilha todos esses espaços, criando laços sociais e laços com os próprios lugares. Uma maior permeabilidade da cidade ofertada às pessoas, através de aberturas, caminhos e passagens, proporciona também o encurtamento de distâncias dentro da cidade, facilita o caminhar e prioriza o pedestre, que se beneficia de uma maior fruição psicológica ao percorrer as quadras. Tais pressupostos e preocupações se refletem na escolha do terreno, um miolo de quadra, que se torna uma base e um ponto de partida para o projeto. Para a implantação do mercado foi estabelecida uma série de parâmetros com o intuito de responder às necessidades do projeto. Sempre visando a qualificação dos espaços internos e externos, e principalmente a interação da edificação do mercado com o entorno, projetando além do lote.
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ão
se ra, se da ra, lazio ca-
MIOLO DE QUADRA Vazio no meio da quadra, cercado por muros altos e empenas cegas.
num as ernoao ea da de n-
er ona accião ia, go gial do de
TÉRREO LIVRE Facilidade de acesso, da fruição da quadra e do caminhar do pedestre. Térreo que permite uma fluidez urbana.
2 BLOCOS Divisão do mercado em dois blocos principais para proporcionar um vazio central , trazendo iluminação e ventilação natural a praça central.
Projetar a partir de um térreo pensado como extensão da cidade visa manter um local livre, que permita a fluidez urbana, com prioridade para os pedestres e para o caminhar, facilitando ao extremo os acessos aos espaços internos. Toma-se como partido construir no térreo uma vida urbana rica em relações sociais e de permanência, procurando restaurá-lo como lugar seguro a qualquer momento do dia. Para isso é implantado uma nova proposta de vida urbana noturna, com programas de usos diuturnos, que favorecem a sensação de segurança no espaço por proporcionar um fluxo de pessoas 24 horas por dia.
PRAÇA CENTRAL TÉRREO FLUIDO USOS DIUTURNOS/ Gerar uma área de permanênMaior flexibilidade para os proPERMANÊNCIAS meio daPara manter da quadra eO a fluidez o volume docomo lugar cia no quadra, ondeaé fruição gramas do térreo. desenhono térreo, Restaurar o térreo mercado, que é a parte mais densa programa, foi dividido emadois blocos possível no térreo construir prioriza os do pedestres e a sua seguro qualquer momento do umade vida urbanamonolíticas rica em permanência. dia.nível Programas formas que “flutuam” elevados em relação ao da rua,com usos diurelações sociais. turnos favorecem a sensação proporcionando um vazio central que traz iluminação e ventilação natural para de segurança no espaço.
o centro da quadra. A partir deste vazio central é gerada uma praça meio nível abaixo do térreo, onde surge um local de permanência, restaurando a ideia de construir a vida urbana, rica em relações sociais, dentro dos lotes, em continuidade das calçadas. Assim, determinando um espaço de encontros, sem uso preciso, para a apropriação dos circulantes da cidade.
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o edifício Acessos Os acessos ao projeto se dão a partir do Largo de Santa Cecília e pela Rua Frederico Abranches. No primeiro acesso, devido ao intenso fluxo de pessoas na região do largo e do eixo pulsante que é a rua Dona Veridiana, abarrotada de camelôs e vendedores ambulantes, foi implantado um camelódromo, espaço livre no térreo para abrigar estes comércios de rua durante o período do dia. A laje sobre o camelódromo é utilizadas para bares, que se apropriam do espaço livre no térreo no período noturno.
(59) Mercat dels Encants, Barcelona. Neste projeto encontra-se uma situação parecida com os camelôs da rua Dona Veridiana.
Os camelôs encontrados ao longo da rua Dona Veridiana e no Largo de Santa Cecília são comércios que podem ser considerados como “espaços varejistas não planejados, que acontecem pelas ruas, procurando servir e ao mesmo tempo usufruir da existência de consumidores”23, que por ali passam diariamente, e fazem parte do fluxo de pessoas da região. A segunda entrada, na rua Frederico Abranches, por ter um fluxo menor é aonde se encontra o acesso ao estacionamento e áreas técnicas, como as docas de descarga das mercadorias. Além disso, nesta entrada há quiosques, que podem abrigar diversos tipos de comércio alimentício que também funcionem no período noturno. 23
VARGAS, Heliana Comin. Op. cit., p. 97.
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Hortas verticais Em ambas a ativação de percepção do projeto acontece através das hortas verticais em rampa, que inicialmente foram introduzidas no projeto como formas de tratar as empenas nas quais fazem divisa com o terreno de miolo de quadra. Por as duas estarem localizadas próximas aos acessos do projeto, elas se tornam uma forma de capturar a atenção dos passantes em meio às suas rotinas corriqueiras, despertando curiosidade e seduzindo os pedestres a adentrarem o edifício. Esta peça do complexo do mercado, por ser uma horta comunitária de uso público, é uma forma de gentileza para a cidade.
(60) Galeria Nova Barão. Estudo da situação de empenas.
(61) Galeria Nova Barão. Estudo da situação de empenas.
Apoio ao morador de rua
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O apoio ao morador de rua surge da necessidade de criar um espaço que possa dar suporte para as pessoas em situação de rua da região. O volume se encontra ao lado do camelódromo, implantado em seu próprio canto, porém sem isolá-lo completamente do resto do projeto, evitando uma segregação social e espacial. Este espaço abriga em seu térreo um refeitório, e no primeiro pavimento, vestiários.
Fachada Largo de Santa CecĂlia
Hortas verticais em rampa
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corte aa
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Lajes de mercado Há três formas de acessar o espaço do mercado: através das hortas em rampas na entrada da Frederico Abranches, pela escada e elevador próximos a entrada do Largo, e pelo núcleo central de circulação vertical através do hall de acesso no meio da quadra. Com pouca interferência de pilares, as lajes do mercado concedem amplitude espacial para a circulação tanto das mercadorias quanto dos consumidores. No primeiro pavimento encontramos diferentes disposições de layout, que abrigam bancadas e módulos de boxes para as diferentes necessidades de comércio. O desencontro das lajes do bloco A e bloco B foi intencionado para criar uma dinâmica espacial, onde este desnível pode ampliar a visibilidade dos diferentes espaços dentro do mercado, possibilitando a arquitetura como experiência. A praça de alimentação esta localizada no segundo pavimento do bloco B do mercado, com módulos para abrigar diferentes variedades de comércio alimentício. A área de mesas se estende para as passarelas que conectam com a outra laje do segundo pavimento, que contém mais uma série de boxes de mercado. Logo acima da praça de alimentação se encontra a claraboia, que provê este amplo espaço de iluminação natural, e também conecta visualmente um local central no miolo da quadra com o seu entorno existente. Estrutura A estrutura é mista, composta por pilares de concreto, com vãos entre eles que variam de 9m a 20m, vigas metálicas de aço, e a materialidade do edifício é composta predominantemente por metal, encontrados nos brises e guarda corpos, concreto nas lajes e vidro em algumas vedações.
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Mercado - Bloco A
Praça de alimentação
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1. acesso subsolo 2. acesso hortas verticais 3. quiosques 4. hall mercado 5. bar/restaurante 6. praรงa 7. refeitรณrio apoio 8. camelodramo
5
5 4
3
2 1
80
6
7
8
planta tĂŠrreo 81
1. hortas verticais 2. mercado 3. w.c. 4. vestiรกrios apoio 5. bares
3
2
2
1
82
4 2
1
5
planta 1ยบ pavimento 83
1. hortas verticais 2. mercado 3. w.c. 4. praça de alimentação
3 2
2
4
1
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1
planta 2ยบ pavimento 85
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planta cobertura 87
4
3
5
6
2 1
planta subsolo 1. câmaras frias 2. docas 3. estacionamento 4. área técnica 5. vestiários funcionários 6. restaurante
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Restaurante
Fachada Frederico Abranches
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fachada frederico abranches
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fachada largo de santa cecĂlia
corte dd
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corte ee
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isomĂŠtrica hortas verticais
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corte bb
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corte cc
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Fachadas Para impedir a incidência direta do sol no interior do complexo, foram adotados brises para vedar as faces do bloco do mercado; em alguns lugares são móveis, em outros, fixos. Para as duas faces externas do bloco utiliza-se lâminas verticais de 3m X 9m, de pé direito duplo, que encobrem os dois pavimentos do mercado, buscando uma forma que obtenha sensação de unidade ao volume quando visto da parte externa. Já as faces internas do bloco, onde se encontram as passarelas que conectam as lajes de mercado através do vão central do projeto, foram parcialmente vedadas por um brise fixo horizontal de 3m x 1m fixado na chapa metálica em “L” superior, que serve como arremate da laje com as vigas. Este brise interno tem apenas 1m de altura justamente para complementar a ideia do vazio central no projeto, proporcionando amplitude espacial e visual nesta área onde se encontram as passarelas como forma de conexão do espaço. Os brises são compostos por chapas perfuradas de aço cortén, coladas em uma estrutura tubular de aço. A perfuração das chapas se dá pela importância da presença de iluminação natural dentro do mercado, sem a incidência direta dos raios solares nas mercadorias.
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brises móveis em chapa metálica perfurada de aço corten, estruturada por perfil tubular metálico. alocados em três trilhos possibilitando a dinâmica da fachada brises fixos em chapa metálica perfurada de aço corten, estruturada por perfil tubular metálico
lajes em steel deck, com preenchimento de concreto, em placas de 2,5m para acompanhara a estrutura
forro em chapa metálica perfurada orsometal
detalhe fachada
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detalhe brise
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detalhe passarela
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Em todos os seus diferentes espaços, o mercado buscou sempre estabelecer uma conexão entre o interno e o externo, os espaços públicos que chegam além do lote, e os espaços intermediários que fazem a transição para a edificação do mercado. Mesmo com um programa fragmentado, buscou-se usar estratégias para criar um complexo que atendesse a todos, onde o projeto atua como um dos principais equipamentos que articulam a região.
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Laje Mercado
Passarelas
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Praรงa Central
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lista de imagens (1 - 24) Acervo pessoal (25) https://en.wikipedia.org/wiki/Bazaar#/media/File:Edward_Angelo_Goodall_Copper_market_Cairo_1871.jpg (26) https://en.wikipedia.org/wiki/Bazaar#/media/File:Preziosi_-_A_Turkish_Bazaar_1854.jpg (27) Acervo pessoal (28) http://thesanzala.com/2018/04/08/espaco-publico-a-praca/ (29) https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%ADcio_(Roma)#/media/File:Forum_Comitium.jpg (30) https://www.itraveljerusalem.com (31, 32) Acervo Pessoal (33) por Karina Haifaz (34) Acervo pessoal (35-37) por Karina Haifaz (38,39) Acervo Pessoal (40 - 42) por Karina Haifaz (43 - 58) Acervo pessoal (59) https://www.archdaily.com/453829/mercat-encants-b720-fermin-vazquez-arquitectos (60) http://superminimaps.com/sampa-galleries-sao-paulo/ (61) https://www.guiadasemana.com.br/sao-paulo/compras/estabelecimento/ galeria-nova-barao As demais imagens, desenhos e diagramas deste trabalho foram fotografadas e produzidas pela autora.
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