Noel Rosa, o gago apaixonado é um projeto gráfico de carácter acadêmico, como parte do projeto integrado do primeiro semestre de 2017. Diagramado por Lux Design, grupo composto de alunos do terceiro semestre do curso de Design Gráfico, da Faculdade das Américas (2017). João Victor Alves Costa - 014138 Leonardo Girardi Figueiredo - 013827 Nara Adriani de Souza - 013062 Pérsio Nunes Assis - 020583 As ilustrações foram feitas por João Victor Alves Costa - 014138 Nara Adriani de Souza - 013062
As canções reproduzidas neste livro foram retiradas de CHEDIACK, Almir. Songbook Noel Rosa. vol. 1, 2 e 3. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1991. A entrevista trata de um texto fictício, redigido por Sérgio Cabral e publicado no jornal O Pasquim, nº 201. Rio de Janeiro, 8 a 14 de maio de 1973, p. 15 e disponível em: <https://blogln.ning.com/profiles/blogs/entrevista-postuma-com-noel>. E na discografia completa do artista, intitulada Noel pela primeira vez. Rio de Janeiro: MEC/Funarte, 2000.
A biografia e a lista de discos, livros e filmes foram retiradas das seguintes fontes: https://www.ebiografia.com/noel_rosa/ http://dicionariompb.com.br/noel-rosa/biografia
Curso Tecnológico em Design Gráfico da Faculdade das Américas Rua Augusta, 973, São Paulo, SP, 01305-100, (11) 3257-4088
Biografia Entrevista
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MĂşsicas -15-
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Discos
Filmes -43-
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Livros Para ter acesso ao material digital, aproxime seu aparelho com um leitor de QR-Code instalado. Aguarde o fim da leitura e desfrute da obra de Noel Rosa.
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Biografia Noel
de Medeiros Rosa nasceu em Vila Isabel, Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1910. Foi um sambista, cantor, compositor, bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro no “asfalto”, ou seja, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época, fato de grande importância, não só o samba, mas a história da música popular brasileira. Noel nasceu de um parto difícil em que o uso do fórceps pelo médico provocou-lhe um afundamento da mandíbula que o marcou por toda a vida. Criado no bairro carioca de Vila Isabel, filho do comerciante Manuel Garcia de Medeiros Rosa e
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da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional Colégio São Bento de 1923 a 1928. Aprendeu, ainda adolescente, a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música. Logo, passou ao violão e cedo tornou-se figura conhecida da boemia carioca. Entrou para a Faculdade de Medicina, mas a vida de artista foi mais atraente. Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre eles o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro (o Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Em 1929, Noel arriscou as suas primeiras composições, como “Minha viola” e “Toada do céu”, ambas gravadas por ele mesmo.
Mas foi em 1930 que o sucesso chegou, com o lançamento de “Com que roupa?”, samba bem humorado que sobreviveu décadas e é um clássico do cancioneiro da música brasileira. Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano, com uma sequência de canções que primam pelo humor e pela veia crítica. Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, seu parceiro em “Positivismo”, o considerava o “rei das letras”. Noel também foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem humorados, que renderam bons legados para a música brasileira. Incluindo clássicos de Noel como “Feitiço da vila” e “Palpite infeliz”. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida. Noel compôs 259 músicas com mais de 50 parceiros. Dentre suas canções, destacam-se: “Adeus”, “Até amanhã”, “Cem mil reis”, “Fita amarela”, “Filosofia”, “Conversa de botequim”, “O X do pro-
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blema”, “O orvalho vem caindo”, “Pra que mentir” e “Último desejo”. Noel teve ao mesmo tempo algumas namoradas. Casando-se em 1934 com Lindaura, era apaixonado por Ceci, a dama de um cabaré. Passou os anos seguintes travando um batalha contra a tuberculose. A boemia, porém, nunca deixou de ser um atrativo irresistível para Noel, que entre viagens para cidades mais altas em função do clima mais puro, sempre voltava para o samba, a bebida e o cigarro. Mudou-se para Belo Horizonte, trabalhou na Rádio Mineira e entrou em contato com compositores amigos da noite, como Rômulo Pais, recaindo sempre na boemia. De volta ao Rio, jurou estar curado. Faleceu em sua casa no bairro de Vila Isabel no dia 4 de maio de 1937, aos 26 anos, em consequência da doença que o perseguia desde sempre. Mesmo após sua morte, Noel Rosa continua sendo lembrado e retratado. Na literatura, dois livros são de grande importância para estudar Noel, como: No Tempo de
Noel Rosa, escrita pelo amigo Almirante, e a essencial Noel Rosa: Uma Biografia de João Máximo e Carlos Didier. Noel Rosa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Chico Buarque no filme O mandarim (1995) e Rafael Raposo no filme Noel - Poeta da Vila (2006). Curtas-metragens, Com Que Roupa? (1997), Vamo Falá do Norte (1929), O Cantor de Samba (1929), documentários como Noel Por Noel (1978) e Isto É Noel Rosa (1991). Antes de ser tema de filmes, a música de Noel Rosa esteve presente em inúmeros filmes brasileiros. Mesmo enquanto ainda era vivo: na comédia musical Alô, Alô, Carnaval, de Adhemar Gonzaga (1936), duas marchas de carnaval de Noel Rosa estavam em sua trilha sonora: Pierrot Apaixonado e Não Resta a Menor Dúvida.
Outros filmes de destaque com músicas de Noel Rosa em sua trilha sonora foram os realizados por Carlos Alberto Prates Correia, em Perdida (1975), a gravação original de Quem Dá Mais? (1932), na voz do próprio Noel Rosa e Em Cabaret Mineiro (1980). Sua vida foi objeto de um drama de Plínio Marcos, O Poeta da Vila e seus Amores, encenado no Teatro Popular do Sesi, com mais de dois anos ininterruptos em cartaz. Em 2010, cem anos depois do seu nascimento, o GRES Unidos de Vila Isabel, escola de samba sediada na Zona Norte do Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel, levou Noel Rosa como seu enredo do carnaval de 2010. Fez-se um desfile em sua homenagem, com o samba intitulado Noel: A Presença do “Poeta da Vila”, de autoria do compositor Martinho da Vila.
No mesmo ano, compôs seis músicas, para o filme Cidade-Mulher, de Humberto Mauro.
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Entrevista póstuma com Noel Rosa Entrevista feita por Sérgio Cabral, em 1973, para o jornal O Pasquim.
“Trinta e seis anos depois de sua morte (morreu dia 4 de maio de 1937), procurei Noel Rosa para uma entrevista. – Eu não tenho nada a dizer. O que você quiser saber está na minha obra – disse ele modestamente. O resultado foi esta entrevista. Se não estiver boa, não ponham a culpa exclusivamente no repórter. Afinal, o entrevistado não dá entrevista há, pelo menos, 36 anos”. (Sérgio Cabral).
O PASQUIM – Você é um cara
cheio de problemas de saúde, não saía dos bares, bebendo a noite inteira, batendo papo, etc. NOEL ROSA - Saber sofrer é uma arte. E pondo a modéstia de parte, eu sei sofrer. Então você sofreu pra burro. Mesmo assim não cansei de viver. Mas as mulheres de vez em quando, te faziam sofrer mais ainda. Quem sofreu mais do que eu não nasceu. Uma das suas mulheres foi até
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visitá-lo, quando você esteve doente. Mas você estava fora. Por que ela foi lá? Porque pretendia somente saber qual era o dia que eu deixaria de viver. Você sofreu várias decepções mas continuou amando. Nunca se deve jurar não mais amar a ninguém. Quer dizer que você não tem nada contra o amor. Quem fala mal do amor não sabe a vida gozar. Mas você, de vez em quando, fala mal da mulher.
A mulher mente brincando e, às vezes, brinca mentindo. Explica isso melhor. Quando ri está chorando e quando chora está sorrindo. Você sabe se a Betty Friedman o conhecesse teria uma imensa bronca de você que é contra a mulher trabalhando. Todo cargo masculino, seja grande ou pequenino, hoje em dia é pra mulher. Mas o que é que atrapalha isso, Noel? E por causa dos palhaços ela esquece que tem braços. Nem cozinhar ela quer. Mas os direitos são iguais. Os direitos são iguais, mas até nos tribunais a mulher faz o que quer. Então não são tão iguais assim. Pois o homem já nasceu dando a costela à mulher. Essa história não é bem assim, não. É preciso discutir. Mas não quero discussão. Da discussão sai a razão. Mas às vezes sai pancada.
“
Nunca se deve jurar não amar mais a ninguém.
Você gosta mesmo é de samba, não é? O mundo é um samba em que eu danço sem nunca sair do meu trilho. Você acha mesmo o samba um troço importante? Exprime dois terços do Rio de Janeiro. Tenho de samba, querem voar mais alto. Mas quem voa em grande altura leva sempre grande queda. Não fale assim, Noel, os caras podem se chatear. O que eu falo é bem pensado. Não receio escaramuça. E que aceite a carapuça quem se sente melindrado. Assim como você está falando, o que é que quer que eles pensem de você? Que entre nós o páreo é duro.
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Mas vão acabar seus inimigos. Meus inimigos, que hoje falam mal de mim, vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim. Pelo que vejo, não se pode falar mal do samba perto de você. O samba é a corda e eu sou a caçamba. Você não tem medo de ninguém? Sou independente como se vê. Independente? Está rico? Não consigo ter nem pra gastar. Ou seja: está durão. Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar ficando nu. Meu paletó virou estopa e eu nem sei mais com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou. Você não vai porque está com medo dos malandros do samba. Não tenho medo de bamba. Na roda do samba, eu sou bacharel. Como é que é esse negócio de bacharel? Quando me formei no samba recebi uma medalha.
A polícia em todo canto proibiu a batucada. Eu vou pra Vila onde a polícia é camarada. O samba em Vila Isabel é de noite ou de dia? O sol da Vila é triste. Samba não assiste porque a gente implora: “Sol, pelo amor de Deus, não venha agora que as morenas vão logo embora”. Mas tem mais samba em outros lugares, Noel. Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz. E a Vila, como é que fica nisso? A Vila não quer abafar ninguém. Só quer mostrar que faz samba também. Conforme você disse, o samba exprime dois terços do Rio de Janeiro. Mas tenho que dizer: modéstia à parte, meus senhores, eu sou da Vila. Assim não pode, Noel. Com esta banca é melhor a gente acabar a entrevista. Ofereço meu auxílio. Passe bem, vá pela sombra.
Vive em tudo que é samba, não é?
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Está me mandando embora, Noel? Não mandei você embora porque sou benevolente. Sabe que se você dissesse isso para certos jornalistas, eles entenderiam como um desafio para briga? De lutas não entendo abacate. Ué, eu soube que você já lutou profissionalmente. Cheguei até ser contratado para subir em um tablado para vencer um campeão. E daí, venceu? Mas a empresa, pra evitar assassinato, rasgou logo o meu contrato, quando me viu sem roupão. E como é que você se vira com esses valentões? No século do progresso, o revólver teve ingresso para acabar com a valentia. Você sabe que o Josué Montello... Escreve sal com c cedilha. Pois é. Ele agora é da Academia Brasileira de Letras, junto com a Pedro Calmon. Desta vez, juntou-se a fome com a vontade de comer.
Mas eles tem prestígio por aí, numa certa roda. Vassouras nos salões da sociedade. Você não frequenta essa roda, não é? Você pode crer que a palmeira do Mangue não vive em Copacabana. Vamos falar mal das pessoas. E o Roberto Campos, hem? Que é também brasileiro. E em três lotes vendeu o Brasil inteiro. Sabe que andaram pixando você sob o pretexto de que você é bom de letra mas não de música? Sendo as notas sete apenas, mais eu não posso inventar. Bem, Noel, vamos acabar a entrevista. Adeus. Adeus é pra quem deixa a vida. Três palavras vou gritar por despedida: até amanhã, até já, até logo.
Está me mandando embora, Está me mandando embora, Utilize o código ao lado para ler a entrevista no ambiente digital.
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As respostas de NOEL ROSA estão contidas nos seguintes sambas: “Eu sei sofrer” – samba (1937) / (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Boêmios da Cidade. VICTOR (34.176A) – abr/1937.
“Com que Roupa?” – samba (1936) / (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Bando Regional. PARLOPHON (13.245A) – set/1930.
“Só pode ser você” (ILUSTRE VISITA) – samba (1935) / (Noel Rosa – Vadico), com Aracy de Almeida e Conjunto Regional RCAVictor. VICTOR (34.152A) – ago/1936.
“Eu vou pra Vila” – samba (1930) / (Noel Rosa), com Almirante e Bando de Tangarás. PARLOPHON (13.256B) – jan/1931.
“Provei” – samba (1936) / (Noel Rosa – Vadico), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422A) – nov/1936. “Nuvem que passou” – samba (1932) / (Noel Rosa), com Francisco Alves e Orquestra Copacabana. ODEON (10.927B) – jul/1932. “Você vai se quiser” – samba (1936) / (Noel Rosa), com Noel Rosa, Marília Batista e Conjunto Regional de Benedito Lacerda. ODEON (11.422B) – nov/1936. “É preciso discutir” – samba (1931) / (Noel Rosa), com Francisco Alves, Mário Reis e Orquestra Copacabana. ODEON (10.905A) – novembro/1931. “Até amanhã” – samba (1932) / (Noel Rosa), com João Petra de Barros e Gente Boa. ODEON (10.950B) – out/1932. “Quem dá mais?” (LEILÃO DO BRASIL) – samba humorístico (1930) / (Noel Rosa), com Noel Rosa e Orquestra Copacabana. ODEON (10.931A) – jul/1932. “Vitória” – samba (1932) / (Noel Rosa - Romualdo Peixoto [Nanô]), com Sílvio Caldas, Francisco Alves e Os Diabos do Céu. VICTOR (33.657A) – jul/1932. “Fita amarela” – samba (1932) / (Noel Rosa), com Francisco Alves, Mário Reis e Orquestra Odeon. ODEON (10.961A) – dez/1932. “O X do problema” – samba (1936) / (Noel Rosa), com Aracy de Almeida e Conjunto Regional RCAVictor. VICTOR ( 34.099A) – set/1936.
“Feitiço da Vila” (FESTIÇO SEM FAROFA) – samba (1934) / (Noel Rosa – Vadico), com João Petra de Barros e Orquestra Odeon. ODEON (11.175A) – out/1934. “Boa viagem” – samba (1934) / (Noel Rosa – Ismael Silva), com Aurora Miranda e Orquestra Odeon. ODEON (11.187B) – dez/1934. “Tarzan”(O FILHO DO ALFAIATE) – samba-choro (1936) / (Noel Rosa – Vadico), com Almirante e Conjunto Regional RCAVictor. VICTOR (34.086A) – ago/1936. “Cidade mulher” – marcha (1936) / (Noel Rosa), com Orlando Silva e Conjunto Regional RCAVictor. VICTOR (30.085B) – jul/1936. “A.E.I.O.U.” – marcha colegial (1931) / (Noel Rosa - Lamartine Babo), com Lamartine Babo e Grupo do Canhoto e Coro. VICTOR (33.503A) – nov/1931. “Onde está a honestidade?” – samba (1933) / (Noel Rosa – Francisco Alves), com Noel Rosa e Turma da Vila. ODEON (10.989A) – mar/1933. “Mais um samba popular” – samba (1934) / (Noel Rosa – Vadico), com Ana Cristina e Conjunto de Luís Bittencourt. SINTER (345) – 1954. Fontes: Jornal O Pasquim – nº 201. Rio de Janeiro, 8 a 14 de maio de 1973, p. 15. Noel pela primeira vez. MEC/FUNARTE/2000. Discografia completa.
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Músicas
Não tem tradução ( 1933 )
História
Um dos sambas com mais ufanismo presente da safra de Noel, “Não tem tradução” é, praticamente, uma previsão acertadíssima do que viria a acontecer em um futuro não tão distante e que já ocorria, de forma ainda um pouco tímida, na época de Noel. Era a sobreposição de culturas exteriores sobre a cultura nacional. Noel com João Nogueira e acompanhamento instrumental, com desta-
que do conjunto Nosso Samba e de Paulo Moura ao clarinete. Orquestração e regência de Geraldo Vespar. Desde seu primeiro registro, em 1933, “Não tem tradução” foi gravado inúmeras outras vezes, por interpretes dos mais diversos estilos. Em 1975 foi a vez de João Nogueira, magnificamente respaldado por músicos do gabarito de Geraldo Vespar e Paulo Moura.
Letra
O cinema falado é o grande culpado da transformação Dessa gente que pensa que um barracão prende mais que o xadrez Lá no morro, seu eu fizer uma falseta A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês A gíria que o nosso morro criou Bem cedo a cidade aceitou e usou Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote Na gafieira dançando o Fox-Trote Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia é brasileiro, já passou de português Amor lá no morro é amor pra chuchu A gíria do samba não tem I love you E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny Só pode ser conversa de telefone
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Rapaz folgado ( 1933 )
História
A briga entre Noel Rosa e Wilson
Batista é uma das desavenças mais conhecidas da música brasileira. Certa vez, Wilson compôs uma canção chamada “Lenço no pescoço”. Nela, falava e exaltava a figura do
malandro. Noel, já ressentido com Wilson, que teve um caso com uma morena na qual o poeta da Vila estava de olho, revidou com “Rapaz folgado”. Assim, começou a briga entre os dois.
Letra
Deixa de arrastar o teu tamanco Pois tamanco nunca foi sandália E tira do pescoço o lenço branco Compra sapato e gravata Joga fora esta navalha que te atrapalha Com chapéu do lado deste rata Da polícia quero que escapes Fazendo um samba-canção Já te dei papel e lápis Arranja um amor e um violão Malandro é palavra derrotista Que só serve pra tirar Todo o valor do sambista Proponho ao povo civilizado Não te chamar de malandro E sim de rapaz folgado
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Feitiço da vila ( 1934 )
História
Chateado, Wilson respondeu com “Mocinho da vila”, que foi considerada uma música muito fraca. Noel, então, ignorou a canção. Em seguida, lançou “Feitiço da vila” que não possuía nenhuma resposta direta ao samba de Wilson. Era apenas uma provocação, já que se tratava de uma exaltação ao bairro de Vila
Letra
Quem nasce lá na Vila Nem sequer vacila Ao abraçar o samba Que faz dançar os galhos Do arvoredo e faz a lua Nascer mais cedo
Isabel. A música acabou se tornando um enorme sucesso e, nesse momento, Batista viu a oportunidade perfeita para provocar o poeta da Vila. Lançou “Conversa fiada”, na qual falava que a Vila não era a perfeição retratada nos versos da música de Noel.
não vem agora que as morenas vão logo embora
Lá, em Vila Isabel Quem é bacharel Não tem medo de bamba São Paulo dá café Minas dá leite E a Vila Isabel dá samba A vila tem um feitiço sem farofa Sem vela e sem vintém Que nos faz bem Tendo nome de princesa Transformou o samba Num feitiço decente Que prende a gente O sol da Vila é triste Samba não assiste Porque a gente implora Sol, pelo amor de Deus - 21 -
Eu sei por onde passo Sei tudo o que faço Paixão não me aniquila Mas, tenho que dizer Modéstia à parte Meus senhores Eu sou da Vila! A Vila tem um feitiço sem farofa Sem vela e sem vintém Que nos faz bem Tendo nome de princesa Transformou o samba Num feitiço decente Que prende a gente
Palpite infeliz ( 1934 )
História
Noel, então, decidiu dar o golpe final. Escreveu “Palpite infeliz”, considerado um dos mais populares de sua obra e com uma composição, tanto de letra, quanto melodia, considerada perfeita. Wilson, então, tentou revidar com uma canção que foi um exemplo de falta de educação e noção.
Escreveu a péssima “Frankenstein da vila”. Alguns amigos de Noel até relataram que o viram chorar após ler a letra. Ao lado, a canção “Feitiço da vila”, maior sucesso oriundo da briga entre os dois.
Letra
Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz! Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz Que sempre souberam muito bem Que a Vila Não quer abafar ninguém, Só quer mostrar que faz samba também Fazer poema lá na Vila é um brinquedo Ao som do samba dança até o arvoredo Eu já chamei você pra ver Você não viu porque não quis Quem é você que não sabe o que diz?
A Vila é uma cidade independente Que tira samba mas não quer tirar patente Pra que ligar a quem não sabe Aonde tem o seu nariz? Quem é você que não sabe o que diz?
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Último desejo ( 1937 )
História
Já muito doente, com a tuberculose em estado extremamente avançado, Noel, aos 26 anos, viu a morte cada vez mais perto. Querendo homenagear Ceci, bailarina de cabaré e
sua grande paixão, o compositor da Vila escreveu “Último Desejo”, que viria a ser uma de suas últimas composições e, sem dúvidas, uma das mais belas.
Letra
Nosso amor que eu não esqueço E que teve o seu começo Numa festa de São João Morre hoje sem foguete Sem retrato e sem bilhete Sem luar, sem violão Perto de você me calo Tudo penso e nada falo Tenho medo de chorar Nunca mais quero o seu beijo Mas meu último desejo Você não pode negar Se alguma pessoa amiga Pedir que você lhe diga Se você me quer ou não Diga que você me adora Que você lamenta e chora A nossa separação Às pessoas que eu detesto Diga sempre que eu não presto Que meu lar é o botequim Que eu arruinei sua vida Que eu não mereço a comida Que você pagou pra mim
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Três apitos ( 1933 )
História
“Três apitos” foi feita num momento em que Noel estava perdidamente apaixonado por Clara, que trabalhava na fábrica de tecidos Confiança, em Vila Isabel. Ao fim do expediente da jovem moça, três estridentes apitos indicavam que era o momento de Noel se aproximar para tentar alguma aproximação.
Apesar da explicação acima ser a mais aceita, ainda corre a história
de que a música era para Josefina, operária de uma fábrica de botões. Quando questionado certa vez, Noel disse que a “qualquer operária no Brasil se encaixaria na canção”. Assim, continua o mistério.Essa música é acompanhada de um curto vídeo, mas de interpretação ímpar, de Chico Buarque cantando “Três apitos”.
Letra
Quando o apito da fábrica de tecidos Vem ferir os meus ouvidos Eu me lembro de você Mas você anda Sem dúvida bem zangada E está interessada Em fingir que não me vê
Sou do sereno Poeta muito soturno Vou virar guarda noturno E você sabe porque Mas você não sabe Que enquanto você faz pano Faço junto do piano Estes versos prá você
Você que atende ao apito De uma chaminé de barro Por que não atende ao grito tão aflito Da buzina do meu carro?
Nos meus olhos você vê Que eu sofro cruelmente Com ciúmes do gerente impertinente Que dá ordens a você
Você no inverno Sem meias vai pro trabalho Não faz fé com agasalho Nem no frio você crê Mas você é mesmo Artigo que não se imita Quando a fábrica apita Faz reclame de você
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Com que roupa? ( 1929 )
História
Várias histórias são atribuídas ao clássico “Com que roupa?”. Uma delas é simples: as pessoas estavam sofrendo com a crise de 1929 e o dinheiro para a roupa começava a ficar escasso. Porém, André Diniz e Juliana Lins, autores de um ensaio sobre o compositor da Vila, contam outra história possível. Certo dia, Noel, já com 20 anos e sem conseguir emplacar nenhum sucesso, resolveu fazer diferente e ficar em casa, agradando sua mãe, Dona Martha.
amigos de Noel, convidando-o para sair. Animado, Noel começou a revirar o armário a procura de uma boa roupa. Só que ele não contava com a audácia de sua mãe, que escondera, mais cedo, todas as vestimentas do filho. Noel, desesperado, saiu na janela e falou aos amigos: “Eu quero ir, pessoal! Mas com que roupa? Com que roupa eu vou?”. Noel não saiu de casa, mas teve a inspiração para seu primeiro sucesso como compositor.
Porém, um pouco mais tarde, a campainha tocou. Eram alguns
Letra
Agora vou mudar minha conduta Eu vou pra luta pois eu quero me aprumar Vou tratar você com a força bruta Pra poder me reabilitar Pois esta vida não está sopa E eu pergunto: com que roupa? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Agora eu não ando mais fagueiro Pois o dinheiro não é fácil de ganhar Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro Não consigo ter nem pra gastar
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Eu já corri de vento em popa Mas agora com que roupa? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Eu hoje estou pulando como sapo Pra ver se escapo desta praga de urubu Já estou coberto de farrapo Eu vou acabar ficando nu
Meu terno já virou estopa E eu nem sei mais com que roupa Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou?
Seu português agora deu o fora Já foi-se embora e levou seu capital Esqueceu quem tanto amou outrora Foi no Adamastor pra Portugal Pra se casar com uma cachopa Mas agora com que roupa? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou? Com que roupa que eu vou Pro samba que você me convidou?
Quando o samba acabou ( 1933 )
História N
oel Rosa com Mario Reis e acompanhamento de conjunto instrumental. Orquestração e regência de Lindolfo Gaya. Os inspirados versos de “Quando o samba acabou”, de 1933, contam o trá-
Letra
Lá no morro da Mangueira Bem em frente a ribanceira Uma cruz a gente vê Quem fincou foi a Rosinha Que é cabrocha de alta linha E nos olhos tem seu não sei que
Numa linda madrugada Ao voltar da batucada Pra dois malandros olhou a sorrir Ela foi se embora Os dois ficaram E depois se encontraram Pra conversar e discutir
gico amor de dois malandros pela mesma mulata cabrocha. Como grande parte das composições de Noel Rosa, este fez pouco sucesso na época de seu lançamento.
E como em toda façanha Sempre um perde e outro ganha Um dos dois parou de versejar E perdendo a doce amada Foi fumar na encruzilhada Passando horas em meditação Quando o sol raiou Foi encontrado Na ribanceira estirado Com um punhal no coração
Lá no morro Uma luz somente havia Era lua que tudo assistia Mas quando acabava o samba se escondia Na segunda batucada Disputando a namorada Foram os dois improvisar
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Lá no morro uma luz somente havia Era Sol quando o samba acabou De noite não houve lua ninguém cantou
Você vai se quiser ( 1936 )
História C
om Noel Rosa, Marília Batista e acompanhamento do regional de Benedito Lacerda. Umas das interpretes preferidas de Noel, ao lado de Aracy de Almeida,
Marília Batista fez, inclusive, uma série de gravações em dueto com o autor. “Você vai se quiser” foi composta para o carnaval de 1937, é um dos últimos feitos por Noel.
Letra
Você vai se quiser... Você vai se quiser... Não se deve obrigar a trabalhar, Mas não vai dizer depois Que você não tem vestido Que o jantar não dá pra dois Todo cargo masculino Desde o grande ao pequenino Hoje em dia é da mulher E por causa dos palhaços Ela esquece que tem braços Nem cozinhar ela quer Os direitos são iguais, Mas até nos tribunais A mulher faz o que quer Cada um que cate o seu Pois o homem já nasceu Dando a costela à mulher
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João ninguém ( 1935 )
História
O histórico registro de “João ninguém” não chegou a fazer sucesso na época.
1949, na voz de umas das divulgadoras mais expressivas da obra de Noel: Aracy de Almeida.
A composição só se tornaria conhecida do grande público a partir de
Letra
João Ninguém Que não é velho nem moço Come bastante no almoço Pra se esquecer do jantar... Num vão de escada Fez a sua moradia Sem pensar na gritaria Que vem do primeiro andar
João Ninguém Não trabalha e é dos tais Mas joga sem ter vintém E fuma Liberty Ovais Esse João nunca se expôs ao perigo Nunca teve um inimigo Nunca teve opinião
João Ninguém Não tem ideal na vida Além de casa e comida Tem seus amores também E muita gente que ostenta luxo e vaidade Não goza a felicidade Que goza João Ninguém! João Ninguém não trabalha um só minuto E vive sem ter vintém E anda a fumar charuto Esse João nunca se expôs ao perigo Nunca teve um inimigo Nunca teve opinião - 35 -
Discos Nova Música da Música Popular Brasileira Noel Rosa
01. Onde Está A Honestidade? 1975 / Noel Rosa / Beth Carvalho
1977 Abril Cultural
02. Quando O Samba Acabou 1933 / Noel Rosa / Mário Reis 03. Três Apitos 1965 / Noel Rosa / Maria Bethânia 04. Último Desejo 1938 / Noel Rosa / Aracy de Almeida 05. Palpite Infeliz 1950 / Noel Rosa / Aracy de Almeida 06. Você Vai Se Quiser 1937 / Noel Rosa / Marília Batista e Noel Rosa 07. Feitio De Oração 1933 / Noel Rosa / Francisco Alves 08. Conversa De Botequim 1970 / Noel Rosa e Vadico / Moreira da Silva
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Noel Rosa História da MPB, Grandes Compositores 1982 Abril Cultural
01. O orvalho vem caindo
05. Último desejo
1933 / Noel Rosa-Kid Pepe
1950 / Noel Rosa e Aracy de Almeida
02. João ninguém
06. Fita amarela
1935 / Noel Rosa e Regional
1955 / Noel Rosa, Aracy de Almeida,
Vadico e Orquestra
03. Você vai se quiser 1937 / Noel Rosa e Marília Batista
07. Feitio de oração
1961 / Noel Rosa, Vadico e
04. Feitiço da vila
Coral de Ouro Preto
1950 / Noel Rosa-Vadico e Aracy de Almeida
08. Conversa de botequim 1965 / Noel Rosa, Vadico e Moreira da Silva
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Coisas Nossas Noel Rosa
01. Mulher Indigesta
1999
02. Assim, sim! 03. É Peso 04. Fui Louco 05. Mentiras de Mulher 06. Agora 07. Prato Fundo 08. Mão No Remo (Iça a Vela) 09. Gago Apaixonado 10. Bom Elemento 11. Cidade Mulher 12. Cordiais Saudações 13. Adeus 14. Até Amanhã 15. Tarzan (o filho do alfaiate) 16. Cem Mil Réis 17. A.b. Surdo - Marcha Maluca 18. Ando Cismado 19. Palpite Infeliz
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Noel por Noel 2003
01. Cem Mil Réis
07. De Babado
02. Malandro Medroso
08. Mulata Fuzarqueira
03. Com Que Roupa?
09. Coração (Samba anatômico)
04. Seu Jacinto
10. João Ninguém
05. Quem Dá Mais?
11. Cordiais Saudações
06. Quem Não Dança
12. Conversa de Botequim
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Livros Noel Rosa Uma Biografia João Máximo e Carlos Digier Editora LGE, Edição 1 / 1990
Este
livro traz tudo sobre a vida de Noel Rosa. E não apenas sobre ele. O Rio de Janeiro e o Brasil do tempo, as rádios e os cafés, Francisco Alves, Carmem Miranda, os malandros, a zona do Mangue, o morro da Mangueira, a política do café-com-leite e a Revolução de 30. Além de todas as letras de Noel Rosa.
O jovem Noel Rosa Guga Domenico
Editora Nova Alexandria Edição 1 / 2003
Carregando o violão a figura franzina daquele rapaz cruzava as noites da Lapa e de Vila Isabel encantando a todos. Noel Rosa nome que é sinônimo de boa música brasileira protagoniza este romance biográfico assinado pelo escritor e músico Guca Domenico que narra os anos de formação e as passagens mais importantes da breve trajetória do ‘filósofo do samba’. - 41 -
Noel Rosa O Poeta do Samba e da Cidade
André Diniz
Editora Casa da Palavra Edição 1 / 2010
Em
comemoração ao centenário de nascimento de Noel Rosa, o livro de André Diniz retrata a música e a cidade na época desse genial cronista do cotidiano. Ilustrado e com acabamento especial, o livro vem com cd inédito, com os maiores sucessos de Noel.
Mestres da Música no Brasil Noel Rosa
André Diniz e Juliana Linz
Editora Moderna, Edição 1 / 2016
Poeta do samba, o carioca Noel Rosa é um dos compositores mais importantes da música brasileira. Sua obra é uma crônica cantada do Rio de Janeiro nos anos 1930, retratando a vida cotidiana, a modernidade do cinema, do automóvel, das fábricas. A paixão, a cidade (e a paixão pela cidade) não escaparam da sensibilidade de um compositor que viveu intensamente a sua arte.
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Filmes Principais Noel Poeta da Vila
Diretor Ricardo Van Steen Biografia / Drama - Nov/2007
Aos 17 anos Noel Rosa (Ra-
fael Raposo) é um jovem engraçado, que possui um defeito no queixo e gosta de improvisar quadras debochadas para os amigos. Noel estuda medicina e toca numa banda regional, com outros garotos do bairro. Noel gosta da companhia de operários, negros favelados e prostitutas, com quem rapidamente faz amizade. Até que um dia conhece Ismael Silva (Flávio Bauraqui), compositor que o desafia a compôr um samba. Noel usa uma paródia ao Hino Nacional para compôr “Com que roupa?”, que faz grande sucesso nas rádios de todo país. A partir de então ele se dedica de vez ao mundo do samba, mudando a história da música popular brasileira.
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O Mandarim
Diretor Júlio Bressane 1995
Utilizando-se
de parcos diálogos e principalmente da música e das imagens, o filme acompanha, no Rio de Janeiro, compositores de gerações contemporâneas interpretando metalinguisticamente papéis de sambistas de gerações passadas, numa digressão atemporal sobre a trajetória do cantor Mário Reis, pelas situações mais adversas do cotidiano da cidade.
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Morte e Vida
Noel rosa faleceu em
1937, devido sua saúde debilitada. Por mais que seu tempo havia chego naquele ano, seu dom contagiante acompanhou gerações e está presente até hoje em filmes, mini séries, livros, coletâneas, homenagens e etc, tornando-o mais vivo do que nunca. Para alguns a morte é uma tragédia, mas para outros é viver a vida realmente. Deixe viver sua tragetória neste mundo!