cortes no tempo contínuo

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cortes no tempo contínuo a vida urbana como partido Nara Helena Diniz Boin

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie sob orientação da professora Dra Lizete Maria Rubano para obtenção de título de arquiteta e urbanista. São Paulo, Junho de 2016



“ – O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebêlo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.” Ítalo Calvino. As cidades invisíveis.



Para Hercy



agradecimentos Apesar de não querer me prolongar, quando um trabalho final de graduação se torna resultado de tudo aquilo em que se acredita e vivenciou nos últimos anos, é difícil ser breve. Todas as experiências, conversas, trocas e todos aqueles que passaram por mim foram fundamentais direta ou indiretamente para a conclusão desta etapa que não termina aqui, apenas se inicia. Agradeço à minha família, em especial à minha mãe, Kathia, por todas as oportunidades proporcionadas. Aos meus tios Andréa e Luís, pelo carinho e por instigarem o meu interesse por São Paulo. Aos meus avós pelo eterno apoio e incentivo. Ao meu irmão Felipe, pelas diferenças que nos complementam. Ao lar que ganhei aqui. Fernanda e Vanessa, por me relembrarem certos sentidos esquecidos no dia-a-dia. À Maria pela força e grande ajuda nessa etapa final, e, é claro, à todos os agregados que tornam a nossa casa um lugar ainda mais especial. À todos os amigos companheiros de formação que estiveram presentes desde o início compartilhando as angústias e alegrias, principalmente Luca, Alessandra, Camilla, Amanda, Mayara, Fernanda,


Giuliana, Eduardo, Luisa, Otavio, e aos que cruzei pelo caminho, Joana, Leemin, Raul, Dani, Fernando e Vitor. Aos velhos e bons amigos por entenderem a minha ausência tantas vezes, Natália, Bianca, Larissa, Guilherme, Marco Antônio, Lucas e Henrique. Aos primeiros chefes por me “criarem” da melhor maneira possível, Fábio e João. À todos os companheiros de trabalho nos escritórios Yuri Vital, FGMF e Isay Weinfeld, que me acompanharam esses anos, sempre acrescentando tanto. Às cidades onde vivi que me fizeram enxergar tantas possibilidades em meio à tanto caos, mostrando como sempre podemos transformar lugares em melhores, São Bernardo, São Paulo e sobretudo Madrid. Aos professores sempre pacientes, em especial Lizete, por dar forças aquilo em que acredito. À todas as pessoas que me inspiraram e se esforçam tanto por cidades melhores. Obrigada.



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início

alternativas

indeterminação

o centro e suas possibilidades

apropriações

sumário


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soluções

articulações

proposições

considerações finais referências bibliográficas



início Ter o privilegio de morar na região central de São Paulo nos últimos dois anos, permitiu viver a cidade de outra forma. Apesar de todos os problemas e todo o caos, pude aderir à minha rotina o transporte coletivo, a bicicleta e a caminhada, embora muitas vezes não ter sido uma tarefa fácil. Isso possibilitou uma vivência mais desacelerada da cidade, com mais reparo e atenção. Pude acompanhar de perto o dia a dia dos meus trajetos, que muitas vezes eram surpreendidos por interessantes intervenções em diferentes escalas. Acompanhar tentativas de ocupação do espaço público de forma cada vez mais forte e criativa por parte de coletivos e da população, instigaram uma inquietude - já fomentada pela faculdade de arquitetura e urbanismo - presente talvez, na maioria dos estudantes. Questionamentos e dúvidas sobre qual deve ser a nossa abordagem em relação à cidade, foram maturando e resultaram neste trabalho, que busca um embasamento teórico, mas tem como principal estruturação, as relações cotidianas entre pessoas e espaço urbano, contidas nas ruas e calçadas.

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Vista da Rua General Carneiro desde a Rua Boa Vista. Foto autoria prรณpria 18


A análise da cidade por meio dos modos de vida dentro dos estudos da arquitetura e urbanismo, vem sendo abordada desde a pós-modernidade e ganhando força na contemporaneidade. São diversos os autores que defendem uma revisão dos métodos conhecidos durante a ação projetual desses profissionais, se distanciando das certezas absolutas já conhecidas e, se aproximando de uma lógica guiada mais pela experimentação, participação e indeterminação, desdobrando-se consequentemente em novas exigências. Assim, o trabalho desenvolvido investiga ações realizadas para incorporar essa nova dinâmica, tanto por parte da população, como das gestões públicas nos últimos anos e, como o arquiteto e urbanista seria capaz de absorver as necessidades cotidianas em seu processo projetual. Não admitindo que exista um único caminho a ser seguido, como uma lógica rígida e linear, mas uma multiplicidade de alternativas como forma de experimentação de soluções, que possam ser desfeitas e refeitas e, assim, permitir novos caminhos.

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alternativas

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As discussões à respeito das novas formas de se pensar a cidade não são recentes. Após a década de cinquenta foram diversos os intelectuais e movimentos culturais que defenderam novas perspectivas de uso e de prospecção às cidades em oposição à vanguarda modernista, com seu sistema cartesiano. Este, derivado do zoneamento da cidade funcional, apesar de resultar em uma cidade “ordenada” e “higienizada”, gerava espaços urbanos mortos socialmente e espiritualmente. Até mesmo os três últimos congressos internacionais de arquitetura moderna na Europa em 1951, 53 e 561 já abordavam uma preocupação com uma cidade menos maquínica, mais humanizada e vivenciável, diferente dos anos anteriores destacando-se essa importante transformação do pensamento. Jane Jacobs reforça esse debate ainda mais em seu livro “Death and Life of Great American Cities” de 1961, instaurando novos princípios que veem a diversidade de usos e pessoas como a principal maneira de trazer vitalidade para os espaços, sendo a complexidade urbana a responsável por constituir 1 ORTEGOSA, Sandra Mara. Cidade e memória: do urbanismo “arrasa-quarteirão” à questão do lugar. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 112.07, Vitruvius, set. 2009 <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.112/30>.

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uma vida rica e densa de significados, ao contrário do urbanismo racional das cidades americanas até então. A obra de Jacobs chega ao Brasil após quarenta anos, com seu título traduzido apenas para “morte e vida das grandes cidades”. Talvez a omissão da especificidade norte americana das cidades analisadas se dá pelo motivo de que mesmo após tanto tempo, possui formulações e críticas ainda muito cabíveis principalmente em relação às cidades brasileiras, onde se inicia esse processo de transformação acerca do pensamento moderno mais tardiamente2. Segundo o autor Flávio Villaça, 1999, a história do planejamento urbano no Brasil é dividida em três períodos. O primeiro momento foi marcado pelos planos de melhoramento e embelezamento, herdeiros da forma urbana colonial. A segunda fase iniciada na década de 1930, que estende sua ideologia até hoje, possui uma visão de que os problemas que se manifestam nas cidades 2 SEGAWA, Hugo. Vida e morte de um grande livro. Resenhas Online, São Paulo, ano 01, n. 001.20, Vitruvius, jan. 2002 http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3259

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“a ação e o pensamento de Jacobs anunciaram uma grande onda de ativismo comunitário e uma grande irrupção de ativistas em todas as dimensões da vida política.” BERMAN, 1986, p.305.


Engarrafamento na Avenida Paulista 1981. Foto São Paulo Antiga

são causados pelo seu crescimento caótico e desorientado e, portanto, é indispensável para solucioná-los um planejamento segundo técnicas e métodos bem definidos. Atualmente, embora recente, transita-se para o terceiro período, marcadamente a partir dos anos 90, funcionando como uma reação ao segundo3. Começa-se aceitar que os problemas da cidade não devem ser diagnósticos técnicos, e sim observados como questões a serem enfrentadas e, assim, estudar possíveis soluções. Os planos deveriam ser feitos “de baixo para cima”, ou seja, seu surgimento seria através dos diálogos com a sociedade, depois elaborados e novamente debatidos, e não ao contrário. A experimentação aparece como a maneira desejável de desencadear novas possibilidades, averiguando os resultados desse processo. A partir de perspectivas pautadas na realidade e formulando hipóteses novas, a administração atual de São Paulo vem desenvolvendo, desde 2013, junto com a Secretaria de Desenvolvimento 3 VILLAÇA, F. “Uma Contribuição para a História do Planejamento Urbano no Brasil”. In: DEÁK, C.; SCHIFFER, S. O processo de urbanização no Brasil. São Paulo, Edusp, 1999.

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Urbano, o Gestão Urbana SP, uma plataforma que permite à população o acesso aos projetos em andamento, dados, leis, além de diversas ferramentas de participação digitais e presenciais em que é possível o envio de propostas, indicação de problemas e possíveis alternativas de soluções. Também foi efetivado o Conselho Municipal de Política Urbana, um órgão colegiado que tem por objetivo institucionalizar a participação da população nas decisões tomadas pelo poder público no que se refere às políticas de desenvolvimento urbano4. Composto por 26 membros representantes do poder público e 34 da sociedade civil, o Conselho consolida o conceito de gestão democrática no município5. Todos esses fatos demonstram cada vez mais a imprescindibilidade da junção entre sociedade e gestão pública para fazer da cidade um espaço de maior qualidade. O Novo Plano Diretor Estratégico, 2014, por exemplo, já é resultado em parte dessa nova dinâmica e teve, em todo o momento de sua concepção e revisão o processo participativo seja presencialmente, ou de forma digital, atingindo algo relevante na história 4 No Brasil, a Constituição Federal de 1988 institui as bases democráticas de participação da sociedade civil. 5

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Prefeitura de São Paulo <www.capital.sp.gov.br>

“Uma vez que o processo de urbanização é um dos principais canais de uso, o direito à cidade se configura pelo estabelecimento do controle democrático sobre a utilização dos excedentes na urbanização.” HARVEY, 2014, p.61.


“(...) há todo tipo de movimentos sociais urbanos em evidência buscando superar o isolamento e reconfigurar a cidade de modo que ela passe a apresentar uma imagem social diferente daquela que lhe foi dada pelos poderes dos empreiteiros (...) que só parece conceber o mundo em termos de negócios e empreendimentos. Até as administrações urbanas relativamente conservadoras estão procurando maneiras de empregar seus poderes para experimentar novas modalidades de produção do urbano e de democratizar a governança.” HARVEY, 2014, p.49.

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“O direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na cidade, mas é o direito de transformar a cidade em algo radicalmente diferente.” HARVEY, 2009, p.269.

Avenida Paulista no Rua Aberta ao domingo. Foto Catraca Livre

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das gestões. O que é importante ressaltar é que a maioria das ações da prefeitura são desdobramentos de apropriações já existentes, porém que ainda não são reconhecidas. O programa Rua Aberta é um exemplo, a administração atual junto com a participação de diversas secretarias realizou audiências públicas para debater, dar sugestões e fazer críticas ao programa que tem como objetivo o exercício do direito ao território, ampliando os espaços de lazer da capital paulista ao fechar para veículos motorizados diversas ruas aos domingos e feriados das 10 às 17 horas. A Avenida Paulista e o Minhocão fazem parte desse programa. Entretanto sua utilização por um grande número de pedestres, ciclistas, entre outros tipos de usuários aos finais de semana é muito anterior. Estes, por meio do uso intenso destes espaços da cidade, conseguiram atrair a atenção da gestão para essas questões que reconhecidas e apoiadas desencadearam uma abrangência e um significado muito maior. Aos domingos, ambos os espaços,

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Parque Minhocão. Festival Baixo Centro Foto Tiago Queiroz para Estadão

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assim como as outras vias abertas, tornam verdadeiros parques, mesmo não possuindo mobiliário e equipamentos urbanos adequados. O carnaval de rua seguiu a mesma linha e teve nesse ano de 2016, ao conquistar um maior apoio da administração municipal, um crescimento de 40% no número de pessoas participantes6. É claro que isso não é fruto apenas desse apoio, mas é evidente que uma melhor organização e divulgação por parte da administração potencializam esse crescimento. Os blocos percorrem diversos lugares da cidade em horários e dias diferentes, conectando uma multiplicidade de classes sociais, permitindo a descoberta de novas visões e lugares ainda desconhecidos pelos foliões. A virada cultural, também é outra forma de promover melhor uso dos espaços públicos da cidade. Evento anual promovido pela Secretaria Municipal de Cultura desde 2005, com a intenção de proporcionar vinte e quatro horas ininterruptas de eventos culturais variados por toda a cidade, além 6 EBC. Agência Brasil. Carnaval de rua em São Paulo confirmou anseio de ocupação de espaços públicos. Daniel Mello em 18.02.2016

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Vale do AnhangabaĂş na Virada Cultural 2014. Foto EBC

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Vale do Anhangabaú e Viaduto do Chá. A cidade é para Brincar, Basurama. Viirada Cultural 2013.

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de outras festas formadas por coletivos, já possui esse apoio do município e ocupa praças, parques e ruas principalmente da região central. Os espaços contínuos e indefinidos, além de fragmentados (pilotis, superquadras, conjuntos habitacionais do BNH), demonstraram que a força da experiência urbana nas ruas, no convívio do espaço público são capazes de alterar a atmosfera do lugar e diminuir a insegurança urbana. A partir dessa percepção, a própria população passou, através de uma participação ativa e criativa, encontrar meios de transformar os lugares em espaços que desejariam estar, como no Rua Aberta já citado, levando cangas, cadeiras de praia e até através de concursos, como o “Hackathon Paulista” promovido pela incubadora São Paulo Lab, propondo a concepção e construção de mobiliários urbanos portáteis que poderiam ser utilizados em todos os espaços da cidade7. As pessoas têm buscado qualificar a experiência da vida pública na cidade a partir de muitas iniciativas.

7 Hackathon Paulista <http://www.archdaily.com.br/ br/778648/hackathon-paulista-construcao-colaborativa-de-mobiliarios-urbanos-para-sao-paulo> acesado em 20.04.2016

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“o espaço deixa de ser objeto quando se transforma em espaço habitado, que passa a fazer parte da memória do lugar.” FONTES, 2013, p.55. Bloco Tarado Ni Você Carnaval de Rua 2015. Foto de divulgação

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Essa necessidade em apropriar-se do espaço público tem sido cada vez mais nítida e acarreta mudanças na relação do indivíduo com o lugar. Ocupar espaços inimagináveis na cidade, que antes eram evitados por medo ou pela impossibilidade de acesso do pedestre, retoma nas pessoas um sentimento de pertencimento, de vínculos pelo direito e pelo prazer de estarem juntas. É prazeroso poder usufruir com qualidade de espaços que são seus por direito – e a rua é um deles - e que foram por algum tempo – antes de serem engolidos por vias expressas e interesses imobiliários - muito utilizados. E essa maneira de uso, pela população, acaba se tornando a melhor – e muitas vezes a única – forma de motivar ações, chamando a atenção de agentes maiores, que têm a capacidade de transformar essas intervenções temporárias em permanências. Segundo Natália Garcia fundadora do projeto Cidade Para Pessoas, a maneira mais eficaz de realizar mudanças permanentes em uma cidade é através do que chamam de “hackear cidades”. Hackear uma cidade é perceber os problemas e as

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Cidades Para Pessoas resultado de um financiamento coletivo realizado pelo Catarse em 2011, apoiado por 276 pessoas atingindo 103% da meta.

projeto de investigação que interpreta e experimenta ideias para cidades mais humanas. Investigam a vida urbana em expedições por cidades do Brasil e do mundo usando como ferramentas a apuração jornalística e o desenho de observação. Interpretam suas descobertas traduzindo-as em narrativas com diversas linguagens – reportagens, diários ilustrados, vídeos, mapas, palestras, exposições, etc. E experimentam algumas dessas ideias na prática, em oficinas e protótipos de intervenções urbanas. Sua missão é criar narrativas que transformem o olhar das pessoas diante de suas cidades, criando repertório e oportunidades.

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potencialidades de um lugar específico, e através de uma ação criativa, sem necessidade de grandes gastos e projetos e, partir da transformação desses espaços, atrair a atenção do poder público e das pessoas8. Dessa forma, fica mais fácil a gestão do município incorporar essas ideias e ouvir a população. As certezas absolutas presentes nas propostas de “renovação urbana” e projetos da cidade vão sendo substituídas – embora ainda de forma inicial – por ideias mais flexíveis, que buscam as reais necessidades através da experimentação, presente na escala do pedestre e da rua. Um bom exemplo a ser observado a respeito dessa nova metodologia é a proposta Centro Aberto, realizada pela Gestão Urbana SP em 2014 no Largo São Francisco e no Paissandú em parceria com os escritórios Metro Arquitetos e Gehl Architects. Não se pretendia construir novos espaços, mas, sobretudo transformar as estruturas preexistentes, ativando o espaço público a partir da renovação 8 Cidades Para Pessoas <www.cidadesparapessoas. com> acessado em 20.04.2016

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Sessão de cinema no Largo São Francisco programa Centro Aberto. Foto Gestão Urbana SP

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Largo do PaissandĂş programa Centro Aberto. Foto GestĂŁo Urbana SP

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de suas formas de uso, discutidas em workshops e pesquisas realizadas entre diferentes profissionais e usuários. Também foi promovida uma programação de eventos pelo município, com shows, festas, sessões de cinemas, entre outras atividades9. O programa funcionou como projeto piloto, com intuito de testar novas soluções em escala 1:1 antes das alterações permanentes, o que possibilitou o diálogo com o público e o envolvimento da comunidade, ferramenta indispensável para se pensar no planejamento urbano nos dias atuais. Os largos durante meses foram ocupados por pessoas que por ali estudam, trabalham ou simplesmente passam, além daquelas atraídas por eventos que ali ocorreriam, revelando a potencialidade daqueles lugares até então subutilizados. Apenas a ocupação do espaço pela população já o transformou totalmente, confirmando a ideia de Jacobs de que as próprias pessoas e usos dão segurança à rua. A ação utilizada nesses programas difere do 9

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Centro Aberto. Prefeitura de São Paulo, Gestão Urbana


Etapas do programa Centro Aberto. Imagem GestĂŁo Urbana SP

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conhecido urbanismo tradicional. Essas novas maneiras de se pensar a cidade contemporânea buscam incorporar o dinamismo e a sua complexidade, entender um pouco a respeito das suas ações e processos de “planejamento” – se é que assim podemos chamar - que não seguem uma linha de raciocínio linear e finalista, mas estimulam um pensamento mais sensível e aberto às posssibilidades apontadas pelos usuários da cidade. O Centro Aberto, por exemplo, com seu caráter de experimentação como projeto piloto, segue totalmente a linha do chamado Urbanismo Temporário, defendido por Robert Temel, 2006. Em que afirma que ocupações temporárias são realizadas como ferramentas de potencialização, revelando novas possibilidades e escolhas de diferentes caminhos antes da tomada de decisões10. O programa aberto teve a aprovação de 90% dos usuários, dado levantado na etapa pós término da intervenção, em que se buscou analisar e comparar 10 TEMEL, Robert. “The temporary in the city.” In: HAYDN, Florian e TEMEL, Robert. Temporary urban spaces: concepts for the use of city spaces. Basel: Birkhãuser – Publishers for architecture, 2006.

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os resultados com dados anteriores para concluir quais seriam as alterações necessárias para sua melhoria para, somente depois, implementar permanentemente o projeto. Depois disso, partese para a seleção de novos espaços e ações estratégicas de transformação, que após cada experimentação se tornam mais completas. A base dessa formulação vem do Urbanismo Cotidiano (Everyday Urbanism) defendido por Margaret Crawford, 1999, que afirma que a apropriação e transformação pelos usuários são a melhor forma de acomodar as necessidades da vida cotidiana11. A cidade acaba sendo vivida mais pela experiência, muitas vezes à margem do desenho formal e dos planos oficiais, não existindo um urbanismo cotidiano universal, mas uma multiplicidade de respostas para lugares e tempos específicos, onde as soluções são modestas e em pequena escala, contidas em calçadas, praças ou em pequenos espaços. É a partir dessas soluções que se conclui as reais necessidades e, consequentemente a efetividade 11 CRAWFORD, Margaret. Everyday Urbanism. Nova York: Monacelli Press, 1999.

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das escolhas feitas, que por possuírem caráter temporário e não fechado como a lógica anterior, possam ser repensadas. Outro termo utilizado também decorrente do Urbanismo Cotidiano é o Urbanismo Tático formulado por Myke Lydon, 2010, em que são propostas ações de curta duração, baixo custo e microescala, realizadas com o objetivo de melhorar uma pequena parte da cidade, qualificando, assim, o ambiente urbano12. As intervenções são feitas de “baixo pra cima” e a população tem poder de escolha e tomada de decisão no espaço público, o que facilita a catalisação de mudanças em longo prazo, realizadas não somente por urbanistas, mas pela população local, através do engajamento social. A busca pela interação com o usuário é muito presente nos projetos realizados pelo coletivo Cidade Ativa. A intervenção Olhe o degrau, que teve seu inicio na rua Alves Guimarães na zona oeste de São Paulo e tem como objetivo transformar as 12 Tatical Urbanism acessado em 06.05.2016 <https:// issuu.com/streetplanscollaborative/docs/tactical_urbanism_vol_2_ final>

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Cidade Ativa é uma Organização Social sem fins lucrativos criada para fomentar a discussão sobre o impacto que o planejamento urbano e que a arquitetura das edificações exercem sobre estilos de vida e sobre saúde pública. Atua em torno de 4 ações principais: projetos, pesquisas, mobilização, disseminação;

Elabora propostas de intervenções físicas através de projetos de arquitetura urbanismo, formulação de diretrizes, estratégias e políticas que possam transformar espaços físicos e tornar o dia-a-dia nas cidades mais ativo. O projeto “Olhe o Degrau” foi um dos vencedores do concurso internacional Urban Urge Awards e recebeu menção honrosa no Prêmio Mobilidade Minuto, realizado pelo IVM. Entre suas principais ferramentas de pesquisa estão os painéis interativos e os “Safaris Urbanos”, que utilizam metodologia “Active Design: Shaping the Sidewalk Experience”.

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PainĂŠis Interativos como entrevistas indiretas na Avenida Paulista. Foto Cidade Ativa

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escadarias da cidade em lugares que as pessoas queiram permanecer, busca inicialmente criar painéis interativos que funcionam como entrevistas indiretas, através de elementos gráficos, como adesivos coloridos respondendo à questões locais. Gabriela Callejas, uma das responsáveis pelo coletivo, lembra da importância em entender o projeto como uma reação química, na qual o elemento catalisador são as pessoas, afirmando que o ato de projetar é fácil, difícil é mensurar como as pessoas vão interagir com a intervenção, e isso é o que a torna efetiva ou não13. A necessidade da participação social neste novo urbanismo também se comprova quando analisamos o que ocorreu na Operação Urbana Consorciada Faria Lima que englobava a execução de intervenção para requalificação do Largo da Batata iniciada em 2005, com o projeto do arquiteto Tito Livio Frascino, resultado de um concurso proposto pelo governo municipal em 2002. Após quase dez anos de obra, o largo foi entregue apenas com uma vasta esplanada sem a maior 13 Formiga.me acessado em 27.05.2016 <http://formiga.me/cidade-ativa-um-passo-a-passo-para-reformar-escadarias-da-cidade/>

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parte do mobiliário urbano e árvores propostas pela ideia vencedora. Não atendendo às necessidades da vizinhança, desde janeiro de 2014, os próprios moradores passaram a ocupá-lo de diferentes formas, seja através da construção de mobiliário urbano ou com a programação de eventos criados pelo grupo A Batata Precisa de Você. O Largo passou a ser um espaço de encontros e festas: todas as sextas feiras ocorrem atividades, desde conversas sobre a memória do local, jogos de rua a oficinas diversas, sendo palco até de um casamento! Essas iniciativas são propostas pelo grupo e também podem ser sugeridas por meio do site em que qualquer interessado pode se inscrever14. A Batata Precisa de Você transformou-se em um laboratório metropolitano de mobiliário urbano, servindo de exemplo para muitos outros grupos que tentam apropriar-se de outros espaços da cidade, além de transformar nosso repertório do que é possível existir em uma praça. A partir disso, a prefeitura admitiu a necessidade, e tem apoiado a maioria das 14 A Batata Precisa de Você. acessado em 15.04.2016 http://largodabatata.com.br/a-batata-precisa-de-voce/

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“A utilização não oficial de determinados espaços chama a atenção sobre o valor dos mesmos e os conduz a investimentos e melhorias mais formalizadas.” KRONENBURG, 2008.


A Batata Precisa de Você formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata e pessoas dispostas a transformá-lo em um espaço de estar e não apenas de passagem. O grupo vem fazendo essas ações regulares de ocupação do Largo e atividades de ativação desde janeiro de 2014, alcançando bons resultados de mobilização para a transformação do espaço. Seus objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. É um exercício de democracia em escala local, um movimento de cidadania e concretização social e urbana. Uma maneira que as pessoas têm de se manifestar, de maneira inteligente e propositiva, por melhorias imediatas nas suas condições. A Batata Precisa de Você se propõe a ter um canal aberto de diálogo com os gestores públicos e debater os processos de uma gestão compartilhada entre cidadãos, associações e poder público.

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“O exercício da cidadania, a construção da realidade do cidadão como agente transformador, é uma realidade mais fácil do que parece. As sextas-feiras na Batata demonstram como o simples fato de estar em espaço público regularmente o transforma.” SOBRAL, Laura em entrevista sobre a ocupação do Largo da Batata. Encontro as sextas-feiras no Largo da Batata A Batata Precisa de Você. Foto de divulgação

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“Os encontros são, em grande parte, organizados online, em um grupo aberto no Facebook. Para envolver moradores e frequentadores das proximidades do Largo, a regularidade das ocupações tem se mostrado muito importante, somando cada vez mais pessoas ao movimento e não restringindo a organização ao virtual. Embora a Internet ajude muito na mobilização, o engajamento e o ativismo se dão de forma presencial, nos encontros, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos tão valorizados por Léfèbvre.” Publicação sobre como são realizados os encontros d’ A Batata Precisa de Você.

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iniciativas do grupo, além de ter implantado alguns equipamentos, como por exemplo, um bicicletário. Outro grande responsável por essa transformação que vem ocorrendo no que diz respeito à apropriação da cidade pelas pessoas são as redes sociais. Podemos dizer que antes apenas o espaço físico possibilitava a interação. Com esse novo meio de comunicação foi criada uma nova camada em que as pessoas podem estar presentes em mais de um lugar ao mesmo tempo, e isso modifica diretamente a forma de produzir ações e transformar as relações com o próprio espaço físico. Se antes os espaços públicos de baixa qualidade significavam a quase inviabilização da interação social, atualmente ainda que isso seja um problema para a cidade, a transformação desses espaços se torna um desafio e são inúmeros os grupos que tomaram a causa para si e utilizam das redes para a divulgação desses espaços e das ações propostas. A plataforma para reclamações Cidadera, por exemplo, foi idealizada inicialmente como um serviço na internet para cidadãos exporem suas

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reclamações publicamente, principalmente aquelas que não foram atendidas por canais oficiais, possibilitando a criação de um mapa colaborativo dos problemas da cidade, que muitas vezes é utilizado por coletivos para solucioná-los, como o caso do projeto já citado Olhe o degrau, quando se expandiu a outras escadarias públicas da cidade. Com o aumento do número de reclamações as prefeituras começaram a entrar em contato, o que levou a equipe a elaborar uma ferramenta voltada para os órgãos municipais, possibilitando que os gestores tenham acesso aos detalhes da demanda incluindo relatos, fotos, localização, facilitando o trabalho das prefeituras, por possibilitar uma visão mais ampla dos problemas para uma tomada de decisão mais estratégica. Porém muitos teóricos analisam o avanço tecnológico das redes de comunicação aprimorado na década de 90 como algo negativo nas relações sociais. O filósofo Zygmunt Bauman, 2003, critica o aparecimento das redes como algo que desencadeia o desaparecimento das interações15, 15 BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos. Jorge Zahar Editor. 2003.

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“pensar o papel da cidade na cultura contemporânea envolve necessariamente uma leitura dessa cidade como parte integrante de um sistema comunicacional. Vai-se em direção não apenas à materialidade do urbano, às ruas, edifícios, cimento e pedras, mas às maneiras em como a cidade é representada, imaginada, negociada em um mapeamento mais amplo, mais fluido”. PRYSTHON, 2003.

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assim como Paul Virilio em “O Espaço Critíco”,1991, que afirma que o espaço público das relações interpessoais cederá lugar ao espaço privatizado, mediado por máquinas, em que não existirá diálogo, e sim uma conversação muda através do teclado, ou se sonora, sem alma, sem tato, sem o calor da presença16. É importante frisar que esses são riscos da dependência tecnológica que vem sendo criada, mas essas novas maneiras de se pensar a cidade que venho abordando até aqui vêm utilizando da melhor forma os meios de comunicação através das redes, tornando ainda mais eficazes as iniciativas e ações de apropriação do espaço público. As mídias acabaram se tornando a principal forma de propagação de informação, ganhando uma força cada vez maior para a transformação das cidades. Além da divulgação, os eventos do facebook possibilitam a participação de muitas pessoas em palestras, discussões, workshops, festas em experiências de apropriação do espaço público.

16 VIRILIO, Paul. A cidade superexposta. Espaço e debates, n. 33, ano XI. São Paulo, Neru, 1991, p. 10-17.

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Eventos do Facebook que ocorreram no espaço público >>


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“As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa. Dessa forma, os usuários podem assumir o controle da tecnologia como no caso da Internet. Há, por conseguinte, uma relação muito próxima entre os processos sociais de criação e manipulação de símbolos (a culltura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (as forças produtivas). Pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta de produção não apenas um elemento decisivo no sistema produtivo.” CASTELLS, 2000, p.58

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O compartilhamento de informações é um fator central de articulação entre iniciativas emergentes de projeto, como é o caso do Open Design17 e das práticas de muitos coletivos. À medida que esse sistema de articulação em rede cresce, ampliamse as possibilidades de reflexão e ação integrada. Não apenas a reflexão é articulada em rede, mas também as ações ganham um potencial de serem agenciadas coletivamente. Com a inteligência coletiva várias mentes sincronizadas podem debater juntas e ter um alcance maior. Criou-se através da internet uma forma de financiamento coletivo chamado crowdfunding que consiste na obtenção de capital para iniciativas de interesse coletivo através de múltiplas fontes de financiamento, normalmente pessoas físicas interessadas, e tudo isso pela internet. Plataformas como o Catarse já chegaram a 2 mil projetos financiados, graças a 241 mil pessoas que doaram 35 milhões de reais para suas campanhas desde 201118. Dentre as propostas existem diversas 17 projetos e ações na áera do design que permitam a livre participação nas mais diversas fases de criação utilizando e compartilhando informações publicamente, sendo as equipes compostas tanto por produtores multidisciplinares quanto por usuários que utilizam. 18

Blog

Catarse

<http://blog.catarse.me/category/da-

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iniciativas desde arquitetura à música, confirmando novamente o interesse cada vez maior da população por ações de âmbito coletivo. Como já citado anteriormente, o termo Hackear Cidades utiliza muito da comunicação por redes sociais para sua efetivação. Primeiro, por muitas vezes ser realizado através de financiamento coletivo, como é o caso de muitos projetos, como por exemplo, “Que ônibus passa aqui?”,eleito pelo jornal britânico The Guardian como a melhor ideia para cidades no desafio The World Cities Day Challenge19. Segundo, que hoje a internet se tornou a melhor maneira de atrair atenção das pessoas e consequentemente das gestões públicas. Atualmente quase todos estão conectados, a cidade é “vigiada” vinte quatro horas por dia, e a propagação de informação é veloz. Com o compartilhamento ficou muito simples atingir um numero enorme de pessoas em poucos segundos, tornando-se fácil a divulgação de um problema da cidade e de sua solução temporária realizada de forma criativa.

dos/> acessado em 18.03.2016. 19 Formiga.me http://formiga.me/shoot-the-shit-como-desencadear-microrrevolucoes-nas-ruas/> Acessado em 01.04.2016.

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Adesivo Que Ônibus Passa Aqui? colado em ponto de ônibus da Vila Madalena


Que Ônibus Passa Aqui? (2012) ideia

melhorar a informação disponível sobre as rotas que servem os pontos de ônibus; ação

criação de um adesivo para coletar essa informação de maneira colaborativa; lição

soluções provisórias já começam a agir sobre o problema; arrecadação de 352% da meta em um dia pelo crowdfunding Catarse.

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Dessa maneira, uma metrópole como São Paulo, com milhares de espaços mal resolvidos, tornase um enorme campo de experimentação para que esses lugares funcionem como interessantes plataformas para as pessoas atuarem de forma ativa, e que essas ações, por mais que sejam temporárias possam acarretar grandes mudanças deixando marcas permanentes. As novas discussões sobre o novo urbanismo que vem surgindo levam a diversas questões à respeito da função do arquiteto e urbanista na cidade contemporânea. Defendendo uma linha mais articulada às ações do cidadão do que planejada formalmente, guiada mais pelos usuários e suas experimentações do que pelos planos oficiais (pelos menos na escala do espaço cotidiano), começase a exigir um novo papel desses profissionais junto à população para soluções mais adequadas socialmente. Portanto cabe aos arquitetos e urbanistas o desafio de propiciar uma espécie de destino aberto aos seus projetos para absorver essa nova dinâmica,

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Roda de Capoeira no MinhocĂŁo ao domingo. Foto Maria FerrĂŠ

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criando oportunidades por meio de estruturassuporte, para que as pessoas, que deveriam ser a finalidade de qualquer proposta, sejam também responsáveis pelo seu destino. A não rigidez na definição dos usos dessas estruturas pressupõe a possibilidade de situações diversas e, assim a longa utilização do espaço. É preciso ressaltar que, para ocorrer uma efetiva transformação da cidade como todo, ter apenas a espontaneidade da apropriação da população como referência não é suficiente. É necessário também o apoio e a ação das gestões públicas,com visão abrangente, prospectiva, sem esquecer do papel imprescindível das disciplinas arquitetura e urbanismo, para que essas mudanças se tornem permanentes e ganhem uma maior dimensão e apoio, desdobrando-se em uma vida pública mais valorizada.

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“em vez de participar do processo de acelerar ainda mais a experiência do mundo a arquitetura deve diminuir a velocidade da experiência, parar o tempo e defender a vagarosidade natural e a diversidade da experiência”. PALLASMAA, 2013, p.154.

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“O espaço intermediário seria compreendido aqui como uma indefinição, um espaço aberto às significações entre espaços definidos, espaços estes que seriam os agentes catalisadores, motivadores dessas ações dos usuários, desses eventos, desses acontecimentos inesperados que surgiriam e permaneceriam sempre em processo, transitórios, jamais se firmando como atividade dominante que pudesse se transformar em uma convenção de uso, e onde o programa não seria determinado pelo arquiteto, mas mutável, estaria sempre sendo solicitado e conformado por essas ações. Nesse caso, o papel do arquiteto residiria na tentativa de promover uma interação-articulação entre o definido e o não definido, o desenho e o não desenho, as macroorganizações e setorizações espaciais e o engendramento de microssistemas programáticos, enfim, na criação de condições e situações espaciais para que esses eventos possam eclodir ou intensificar-se. O desafio residiria justamente na montagem dessas articulações.” GUATELLI, 2012 p.33.

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indeterminação

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“O dever da arquitetura e da arte é investigar ideais e novos modos de percepção e experiência, e, assim, abrir e alargar os limites do mundo em que vivemos.” PALLASMAA, 2013, p.154. Marquise do Ibirapuera. e suas múltiplas apropriações Foto Simone Prates

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Para materializar a importância e o desafio do arquiteto em propor espaços que possibilitem acompanhar as transformações da contemporaineidade, introduzo aqui dois exemplos de projetos – dentro de poucos - da cidade de São Paulo, que por não possuírem uma definição rígida de programa permitem diversas apropriações por parte dos usuários, mesmo que a intenção inicial do arquiteto tenha sido diferente do resultado gerado. A Marquise do Parque do Ibirapuera, 1954, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, por exemplo, com sua laje de 650 metros de comprimento e área de 26 mil metros quadrados, foi além da sua função de conexão entre os cinco principais edifícios do conjunto. Por configurar um enorme vazio sombreado, sem definição de uso, possibilita que skatistas, patinadores, malabaristas, feiras, entre outros, utilizem o espaço transformando-se em uma construção que não determina a ação humana, permitindo que haja uma apropriação social múltipla do espaço. Outro lugar que possui esse caráter, é a cobertura

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do Centro Cultural São Paulo, projeto de Eurico Prado Lopes e Luiz Telles,1982, que por sua longa extensão - outro grande vazio - permite uma enorme variedade de usos, como piqueniques, solário, shows e cinemas a céu aberto. Em ambos os casos, nota-se que estes lugares funcionam como suportes e chegam até parecer exagerados e desnecessários se considerado apenas suas funções de ligação ou cobertura, mas é justamente na condição de infraestrutura que se encontra a possibilidade de absorção de diversos tipos de manifestações. A função predominante de circulação acaba se associando a outras, não nomeáveis ligadas à permanência e ao encontro, o que potencializa a abertura do projeto, pois de algum modo preenchem os vetores de indeterminação deixados pelo arquiteto na intenção de amparar a imprevisibilidade da vida1. Estes lugares, assim como o Salão Caramelo da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo de Vilanova Artigas, 1961, são chamados 1 FRANCO, Fernando de Mello; et. al. São Paulo: redes e lugares. Representação brasileira na 10ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 077.02, Vitruvius, out. 2006 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/07.077/307>

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“(...) a importância do destino aberto do projeto urbano, em que o espaço físico está pensado de forma a criar oportunidades, por meio de suportes indefinidos, para que as pessoas, que deveriam ser a finalidade de todo e qualquer projeto, sejam as responsáveis pelo seu destino. O compromisso do arquiteto se junta ao da sociedade no intuito de promover a transformação do lugar.” FONTES, 2013, p.102

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Centro Cultural SĂŁo Paulo Foto Marcelo Katsuki, blog folha.

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“Uma tarefa de arquitetura não é um mero problema lógico ou racional que deve ser solucionado. No projeto de arquitetura, tanto o fim apropriado como o meio deve ser identificado e concretizado. Além de resolver problemas racionais e satisfazer requisitos funcionais, técnicos e de outras naturezas, sempre se espera que uma obra de arquitetura profunda evoque valores humanos, experimentais e existenciais que não podem ser prescritos.” PALLASMAA, 2013, p.111.

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“(...) o que vemos nessas obras é, em alguns momentos, uma quase ausência do arquiteto, principalmente se considerarmos o papel tradicional deste em um projeto, ou seja, aquele de solucionador de conflitos e problemas, organizador planejador, definidor ou propositor de caminhos e sentidos. Ausências capazes de produzir presenças, esses espaços do entre não apontam caminhos, não direcionam ou definem usos, mas ao contrário, possibilitam a abertura de caminhos, usos e ações imprevistas.” GUATELLI, 2012, p.63.

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pelo professor Igor Guatelli em seu livro ”Arquitetura dos Entre-lugares” (publicado pelo SENAC), 2012, de arquiteturas entre. Estas arquiteturas são aquelas que por serem livres de preconfigurações e programas definidos, possibilitam ir além dos limites impostos e gerar momentos de invenção por parte das pessoas, induzindo diferentes caminhos, sem defini-los. O próprio Centro Cultural São Paulo utiliza como slogan a frase “Aqui você pode” demonstrando a importância da utilização do espaço pelas pessoas para a concepção do lugar. Estes espaços “entre” são flexíveis quanto à escala, formato e possibilidades, funcionam como suportes para geração de acontecimentos, ou como o chamado Khôra2, termo utilizado por Jacques Derrida, 1995, um espaço significante capaz de adquirir os mais diversos e inesperados significados e, no instante seguinte, regressar à sua condição primeira, ou seja, a lugares neutros capazes de absorver diferentes sentidos e não apenas um único e definitivo. Aqui interpreta-se o neutro não como nulo, mas plural. 2 “uma região, um recptáculo, que passaria a ter uma forma a partir de interpretações externas, que deixariam nela a marca esquemática de sua impressão e de sua contribuição. Apesar disso, a Khôra jamais se deixaria sequer atingir ou tocar, e, sobretudo não se deixaria esgotar por esses tipos de tradução trópica ou interpretativa; a Khôra seria capaz de adquirir as mais diversas formas, mas ao mesmo tempo capaz de permanecer em sua condição original.” Derrida, 1995, p.19.

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Apesar de defender uma arquitetura como suporte de imprevistos, que receba seu significado a partir da sua apropriação, é importante ressaltar que o ato projetual é intencional e não deve apenas ser realizado à “espera de”, deve ser pensado e desejado durante todo o processo de construção da ideia e não apenas objetivando a finalidade/ necessidade a se resolver. E se não existe arquitetura sem programa, então este deveria estar sempre em processo, nunca completamente terminado ou constituído, podendo ser constantemente questionado, desfeito e refeito pelos próprios usuários. Além de que o disciplinamento dado pela lógica moderna gerou cidades propícias para o advento do novo, do completamente outro em relação ao anteriormente imaginado, o que já estaria abrigando uma função. Assim, se torna uma tarefa difícil por parte do arquiteto conseguir incorporar e prever em sua arquitetura tanta complexidade, em tempos que se transformam tão rapidamente, deixando perceptíveis suas intenções. As estratégias colocadas pelo projeto, ainda que bem elaboradas, podem não ser

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efetivadas, já que o espaço depende diretamente das ações dos usuários, de suas interferências nele.

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“Impõe-se considerar o espaço como território interdisciplinar de investigação, não porque seja objeto de estudo de várias áreas de conhecimento, mas porque sua complexidade demanda interpretações que decorrem da experiência humana tecida e tramada nas filigranas da vivência cotidiana (...)” FERRARA, 2002.

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o centro e suas possibilidades

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Maquete da área central realizada durante o processo de reconhecimento do território. Vale do Anhangabaú com Viaduto Santa Efigênia ao meio, colina histórica à esquerda e Viaduto do Chá ao fundo.

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Avenida São João década de 50 Foto Acervo Instituto Moreira Salles

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A região central de São Paulo é o principal alvo das novas formas de manifestações citadas,. Estas, buscam retomar o seu valor de centralidade e representação da sociedade. Mesmo sendo uma zona privilegiada devido à sua vida urbana e diversidade, com ampla oferta de emprego, comércio popular, transporte público e patrimônios históricos e culturais, o centro tem o seu potencial subutilizado. Segundo a autora Glória Alves em sua tese “O uso do centro da cidade de São Paulo e sua possibilidade de apropriação”, 1999, o centro possui formas e atividades que compõem a representação de cidade, abrigando usos tão múltiplos e diversos, sem deixar de ter espaços de referência, de duração, que permitem a criação de uma identidade para com a cidade. O centro comporta inúmeras possibilidades abertas pela vida urbana, o sentido da reunião, da concentração de pessoas e funções diversas, a potencialização do encontro das diferenças reunidas na cidade. No entanto, com a industrialização, ao longo da segunda metade do século XX, com o crescimento

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espraiado da cidade, surgiram novas centralidades, configurando-se uma cidade polinucleada, processo que, apesar de não tirar do centro tradicional o seu papel de protagonista, gerou ali uma perda de atividades e de população, desencadeando uma relativa desvalorização (pelo mercado) e menores investimentos públicos. Com o movimento de deslocamento das atividades econômicas para a avenida Paulista, depois para a Faria Lima e, finalmente, para a região da Berrini, o centro histórico da cidade tornou-se lugar de moradia de uma população empobrecida, que tem ali suas atividades. Assim, a área central não deixa de apresentar sua multifuncionalidade característica, não deixa de ser referência para toda a população da metrópole, mesmo que nem todos se dirijam a ela cotidianamente. Entretanto, pelo fato de o poder econômico ter se deslocado para outras áreas – e com ele as elites -, difundiu-se uma visão, encampada também pelo Estado, de que o centro histórico seja o lugar da violência, identificando-o com a

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Rua SĂŁo bento e seu movimento durante uma sextafeira. Foto autoria prĂłpria

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Apresentação na rua Barão de Itapetininga. Foto autoria própria

“O centro tradicional, enquanto foi centro da minoria – das burguesias –, era o centro da cidade. Hoje, ele é o centro da maioria popular. Justamente agora que o centro ‘velho’ é o centro da cidade – pois agora ele é o centro da maioria –, a ideologia dominante declara que a cidade tem um novo centro. É curioso. O centro novo, segundo a ideologia dominante, passa a ser o centro da minoria. É o processo de universalização do particular por parte da classe dominante. O ‘seu’ centro deve ser sempre o centro da cidade.” VILLAÇA, 1998, p.346

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relativa desvalorização e com o lugar de moradia e sobrevivência dos pobres. O autor Flávio Villaça, 1998, também faz uma referência à questão das transformações da região central, dizendo que o centro, quando ainda era o único da cidade, pertencia apenas a uma minoria, a burguesia, e justamente agora que o centro assume uma característica democrática, da maioria, ele se dissolve em diversas novas centralidades, passando a ser desvalorizado pelo mercado1. Porém, observa-se atualmente desde os anos 90 o retorno do aumento da taxa de crescimento da região central2, aliado à intensificação, como já observado, de ações eventuais que buscam reconquistar e prolongar o seu uso aos finais de semanas através de incentivos por parte de coletivos formados por artistas, arquitetos, designers, associações civis, população em geral com intervenções temporárias que tentam criar uma ruptura positiva no cotidiano. E também do poder público – mesmo que ainda de forma singela -, demonstrando que o centro 1

VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil, p. 346

2 História Demográfica do Município de São Paulo. Tabelas Taxas de Crescimento,por subprefeituras. acessado em 29.05.2016 <http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/tabelas/tx_cresc.php>

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vem passando por uma nova transformação, o que o torna uma grande potencialidade como área de investigação e experimentação, aparecendo a pequena intervenção na escala do pedestre como sendo uma maneira eficaz de mudança com intenção transformadora, no lugar de grandes projetos de revitalização que, comprovadamente, acabam por atingir a vida cotidiana das pessoas que usam o centro, restringindo o uso das classes empobrecidas e desencadeando uma elitização no acesso e uso do espaço (são conhecidas as experiências que retratam gentrificação desencadeada a partir de projetos de “revitalização” de áreas centrais). Os espaços públicos do centro, e mais especificamente as praças, sofreram um processo generalizado de deterioração como já observado com a perda da valorização imobiliária da região central. Algumas foram alvos de intervenções pelo Metrô, passando a ter um uso restrito como espaço de acesso às estações, outras tiveram algum tipo de intervenção viária, o que gerou uma dificuldade de usufruto. Apesar dessa

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realidade, observamos diversas intenções de apropriação, mesmo que de forma precária, das estruturas existentes. Aqui, busco investigar alguns espaços da região central, identificando, além das infraestruturas, principalmente os usos cotidianos e as eventualidades que ali ocorrem, que são os responsáveis pela dinâmica existente. Os dados quantitativos continuam sendo importantes como um dos componentes de método de análise, mas a utilização diária desses espaços, suas necessidades, improvisações, ambiguidades, incertezas e indeterminações se tornam fatores de extrema importância para a leitura do lugar, que deve ser feita com um olhar interdisciplinar devido à sua complexidade, sua multiplicidade de temporalidades superpostas. “Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam (...) Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço produzido pela prática do lugar constituído por um sistema de signos – um escrito” DE CERTAU, 1994, p. 202.

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Maquete da área central realizada durante o processo de reconhecimento do território. Escolha dos pontos de investigação. 95


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1

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1

praça da república

infraestruturas existentes ponto de ônibus metrô ciclofaixa banca escola informação turistíca wifi livre paraciclo

usos cotidianos permanência passagem A Praça da República possui intenso movimento devido aos acessos da estação do metrô, e um entorno de ruas comerciais. Também conta com um ponto de informação turística, a EMEI Armando de Arruda e a Secretária de Educação do Estado de São Paulo. A Feira da República, voltada principalmente para o artesanato, que ocorre aos domingos desde 1956, estendeu-se a novos dias da semana. A praça é também palco de diversas festas e shows, como por exemplo, na Virada Cultural 2016.

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mercado informal

usos eventuais feiras festas

apresentação de artistas de rua


2

infraestruturas existentes

praça dom josé gaspar

ciclofaixa banca wifi livre biblioteca comércio paraciclo

usos cotidianos permanência passagem comércio informal

usos eventuais feiras festas

A Praça Dom José Gaspar, próxima à Biblioteca Mario de Andrade, tem sua utilização diversificada, com o intenso movimento durante a semana devido às pessoas que ali trabalham, seja para ir à Galeria Metrópole utilizar seus serviços ou a praça, marcada pela presença de engraxates e vendedores ambulantes. Nos finais de semana os bares da praça como o Paribar garantem a sua utilização, promovendo festas e rodas de samba.

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3

praça ramos de azevedo

infraestruturas existentes ponto de ônibus ciclofaixa banca wifi livre teatro comércio paraciclo

usos cotidianos passagem permanência

3

São analisadas as calçadas em frente ao Teatro Municipal, palco de diversos tipos de manifestações, por exemplo, apresentações de artistas de rua que sempre reúnem uma grande plateia, formada pelos transeuntes que por ali passavam. Com intenso movimento durante o dia, possuem bancas de jornal, lojas e comércio informal.

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apresentação de artistas de rua

usos eventuais

comércio informal manifestações


Apresentação em frente ao Teatro Municipal pessoas utillizam a escada como arquibancada formando uma platéia. Foto autoria própria

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4

vale do anhangabaú / viaduto do chá

infraestruturas existentes wifi livre paraciclo metrô

usos cotidianos permanência passagem comércio informal

usos eventuais feiras festas manifestações

O viaduto do chá, principal ligação entre o centro novo e o velho, tem em seu percurso ambulantes, pessoas de passagem e outras admirando a vista do vale. O vale é utilizado como passagem e permanência e, eventualmente, como espaço para festas, shows, manifestações e feiras. Os edifícios do seu entorno imediato por não possuírem fachadas ativas, impossibilitam uma prolongação e diversificação do seu uso.

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shows apresentação de artistas de rua


Viaduto do chĂĄ e Vale do AnhangabĂş durante a semana. Foto autoria prĂłpria

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5

praça do patriarca

infraestruturas existentes ciclofaixa wifi livre igreja conexão ao vale paraciclo

usos cotidianos passagem permanência comércio informal apresentação de artistas de rua A praça que possui conexão com o Vale através da Galeria Prestes Maia, está quase sempre ocupada por artistas de rua fazendo apresentações ou barracas voltadas para venda de comidas, também eventualmente palco de festas e shows, como o Sampa Jazz Festival 2016. Seu entorno imediato é composto por lojas, a Prefeitura de São Paulo, Igreja Santo Antônio e a Residência Artística FAAP.

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usos eventuais festas feiras shows


Praรงa do Patriarca durante a semana. Foto autoria prรณpria

Sampa Jazz Festival 2016. Foto autoria prรณpria

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pateo do collegio

infraestruturas existentes wifi livre paraciclo ponto de ônibus ciclofaixa museu capela secretaria

usos cotidianos permanência passagem

usos eventuais O Pateo possui em seu entorno imediato o Museu do Padre Anchieta, a Igreja Beato Anchieta, a Biblioteca Padre Antonio Vieira, o Museu da Imagem de São Paulo e a Secretária da Justiça. O complexo criou o programa Vem Pro Pateo no Domingo, que organiza apresentações e atividades na praça. O wifi livre sp atrai muitas pessoas ao Pateo e suas proximidades.

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festas feiras apresentações


7

infraestruturas existentes

largo são bento

ponto de ônibus metrô ciclofaixa mosteiro posto policial wifi livre bicicleta compartilhada paraciclo

usos cotidianos passagem permanência apresentação de artistas de rua

usos eventuais feiras

comércio informal

A estação de metrô São Bento e a proximidade com a Rua 25 de março e a Rua Santa Efigênia faz com que o Largo possua um forte movimento. Também conta com o Mosteiro, Posto Policial e ponto de bicicleta compartilhada, um dos únicos no triângulo histórico. Sempre existem apresentações de artistas de rua e ambulantes que aproveitam do movimento.

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8

largo santa efigênia

infraestruturas existentes ciclofaixa igreja

usos cotidianos permanência passagem guia de lojas

usos eventuais comércio informal apresentação de artistas de rua

Principal centro de comércio de eletrônicos de São Paulo, garante intenso movimento durante o dia pelos clientes, eventualmente existem pontos no largo que funcionam como guias de lojas. Além disso, o Viaduto Santa Efigênia é uma das principais conexões entre centro novo e velho, assim, ambulantes e artistas de rua se aproveitam do grande fluxo de pessoas.

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9

infraestruturas existentes

largo do paissandú

ponto de ônibus ciclofaixa banca wifi livre igreja floricultura paraciclo brinquedos infantis

usos cotidianos passagem permanência

usos eventuais festas feiras shows

Cercada por pontos de ônibus que atendem 35 linhas, acaba tendo dificultada a aproximação do usuário com o largo. Conta com a Igreja Nossa Senhora do Rosário, floricultura, bancas e equipamentos propostos pelo programa Centro Aberto. Eventualmente ocorrem festas e feiras. O entorno imediato possui a Galeria Olido, Restaurantes e comércio.

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10

rua dom josé de barros

infraestruturas existentes comércio

usos cotidianos comércio informal passagem

usos eventuais apresentação de artistas de rua

A Rua Dom José de Barros, assim como as outras da proximidade são ruas comerciais, com lojas de diversos produtos, o comércio informal aproveita esse movimento e se instala ao meio delas. Ambulantes também são muito presentes, como também apresentações de artistas de rua.

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Comércio informal na Rua Dom José de Barros. Foto autoria própria

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Após a investigação desses espaços públicos da região central, foram identificadas formas de apropriações presentes nesses lugares que serão descritas e exemplificadas nas páginas seguintes e, transformadas em temáticas, ou seja, indicadores de possibilidades de uso. As propostas não se pretendem definitivas, mas abertas e mutáveis, que possam se modificar conforme as transformações da cidade e relacionarem-se. A partir dos espaços em destaque foram pensados estruturas e equipamentos que possibilitariam múltiplas interpretações de acordo com sua apropriação, não perdendo a vida urbana presente nestes vetores, mas potencializando-os ao absorvêlos. Se os usos cotidianos foram o ponto de partida para o desenvolvimento de uma proposta de intervenção, vale destacar que foi abordada a vida cotidiana segundo o autor Lefebvre, 1991, que a aponta como o campo ou domínio no qual a atividade criadora se projeta, sendo um pano de fundo de atividades que prepararam e possibilitam

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saltos criativos. E a intervenção seria o momento de ruptura em meio ao tempo contínuo revelando possibilidades transformadoras do cotidiano que incrementam a vida urbana.

“cotidiano (...) como um campo e uma renovação simultânea, uma etapa e um trampolim, um momento composto de momentos (necessidades, trabalho, diversão; produtos e obras; passividade e criatividade; meios e finalidade), interação dialética da qual seria impossível não partir para realizar o possível.” LEFEBVRE, 2004.p.15.

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Segundo Josep Ramoneda, p.176, 2008, as formas de apropriação espontâneas do espaço público são elementos de inconstância gerados pela própria cidade, em maior parte a margem das lógicas do poder e de produção, e que expressam novas formas de conflito e resistência. Também devem ser entendidas como indicativos de possíveis caminhos de transformação, por expressarem a vivacidade da cidade.

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apropriaçþes

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permanência Talvez o tema mais importante entre os seis, pois é ela a finalidade de quase todos os outros. É a permanência das pessoas em diferentes horários e dias da semana que garante a vitalidade dos lugares e consequentemente, a segurança urbana. A falta de mobiliários urbanos de qualidade no centro de São Paulo faz com que as pessoas se apropriem dos mais diversos elementos como forma de apoio – entre cercas e muretas –, devido à necessidade de espaços que sirvam como locais de espera, seja pela troca de turno daqueles que por ali trabalham, ou como momento de pausa dos transeuntes. O wifi livre implantado pela Prefeitura de São Paulo em diversos espaços públicos da região, também faz com que muitas pessoas, que utilizam o sistema, permaneçam nestes lugares por algum tempo, o que exige espaços com qualidade urbana. Buscou-se

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propor nas intervenções, não apenas o mobiliário em si, mas equipamentos que permitam prolongar essa permanência, além de atrair usuários em diferentes momentos, como por exemplo, o fornecimento de energia através de painéis fotovoltaicos para carregamento de aparelhos eletrônicos tão utilizados atualmente.


elemento

conjunto

Muretas e cercas utilizadas como bancos na regiĂŁo central. Fotos autoria prĂłpria e Maria FerrĂŠr

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Comércio informal nas ruas do centro e brechó no Minhocão. Foto autoria prórpria

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armazenagem O tema armazenagem foi incorporado às estruturas de diferentes formas. Com a forte presença na região central do comércio informal, estes componentes funcionariam como um espaço em que as mercadorias poderiam ser guardadas e expostas, podendo funcionar também como suportes para as feiras que ocorrem frequentemente, como por exemplo, o mercado de pulgas no Vale do Anhangabaú. Além de mercadorias, seria possível a armazenagem de livros e brinquedos, criando bibliotecas e brinquedotecas temporárias em meio à cidade.Também serviriam de estocagem da energia adquirida por meios renováveis possibilitando o uso durante todo o dia de aparelhos eletrônicos. Enquadram-se também os paraciclos e seus respectivos armários, tão importantes nestes lugares que estão conectados por ciclovias e são marcados pela ausência de equipamentos aos usuários que a percorrem.

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expositivo Assim como armazenagem, o expositivo se apresenta de diversas formas e muitas vezes poderia ser associado ao lúdico. O comerciante do mercado informal busca diferentes formas de expor suas mercadorias, e assim da mesma maneira que as pessoas utilizam muretas como bancos, eles as utilizam como expositores, além do próprio piso do passeio entre outros elementos. O artista de rua segue a mesma linha e faz da calçada o seu palco. A platéia são as pessoas que por ali transitam e se aglomeram ao seu redor para acompanhar a performance. Não é preciso caminhar muito pelo centro de São Paulo para encontrar rodas de pessoas obsevando atentamente mágicas ou danças. Aqui buscou-se da mesma forma criar estruturas que sugerem novas

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possibilidades de exposição de mercadorias, arte ou apresentações, com o intuito de não perder a intimidade que essas pequenas ações possuem com os pedestres por serem informais. O comerciante ou artista poderia se apropriar de diferentes maneiras das intervenções para expor seu trabalho. Também seria possível o uso de painéis informativos sobre o lugar, utilizando até iniciativas criadas por coletivos, como o Mapa Daqui que através da interação das pessoas possibilita não apenas a localização de pontos próximos importantes, mas a divulgação de lugares interessantes na região, permitindo um maior reconhecimento da área até por aqueles que estão ali todos os dias.


Fotos superiores: apresentações de artistas de rua. Foto Junior Lago/UOL

Projeto Mapa Daqui no Viaduto do Chá. Foto de divulgação

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Equipamento Extraordinário na Praça do Patriarca. Basurama. Foto de divulgação

Parque de Diversões Minhocão. Basurama Foto de divulgação

Projeto Arte na Rua com o grupo Esparrama, Foto Sissy Eiko/Globo

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lúdico Em meio ao caos urbano a maneira lúdica de intervir na cidade se torna provavelmente a forma mais criativa de chamar a atenção para os problemas da mesma. Ocupar os lugares da cidade de formas diferentes da convencional nos permite criar vínculos com o lugar e assim, um sentimento de pertencimento e identidade. Hackear as cidades, por exemplo, parte desse princípio. O coletivo espanhol basurama, já interviu de diversas formas em São Paulo demonstrando que não existem limites para a imaginação quando se pensa em ocupar a cidade. O projeto Parque de Diversões Minhocão, 2013, leva aos seus vizinhos, cansados de esperar pelo futuro do Minhocão, via elevada da região central, a o ocuparem de forma divertida, incorporando balanços pendurados nele. Dessa forma, o lúdico na proposta tenta ir além daquilo que se é imaginado em uma cidade, agregando balanços, escorregadores e formas divertidas de interação entre usuário e intervenção tornando-a ainda mais efetiva.

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conectivo Transposições sem qualidade e muitas vezes inexistentes é um dos problemas que afronta a maior parte dos paulistanos no seu dia-a-dia. Assim, busca-se através da intervenção uma forma mais agradável de solucioná-los, incorporando usos para que não funcionem apenas como simples conexões, permitindo permanências e experiências que prolongariam e estimulariam seu uso. As escadas também permitiriam subir nas intervenções, criando uma cota elevada que poderia servir de passagem e permanência, explorando interessantes maneiras de ligação entre o nível da rua e a nova cota. Esses lugares funcionariam como um distanciamento e ao mesmo tempo aproximação da vida urbana que ali ocorre, um momento de observação e reflexão.

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Escadaria Viaduto Santa Efigênia - Praça Pedro Lessa. Foto autoria própria

Escadaria Vale do Anhangabaú. Foto autoria própria

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Guia de Lojas no Largo Santa Efigênia. Foto autoria própria

Bases móveis de serviços da prefeitura na Praça da República. Foto autoria própria

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servidor Em diversos lugares da região central, observa-se bases móveis que fornecem diferentes serviços, como posto policial, informação turística, guia de lojas, food trucks e até suporte para eventos maiores, como cozinhas e banheiros químicos. Dessa forma, buscou-se criar dentro da estrutura um lugar fechado que poderia ser utilizado para absorver essas diferentes necessidades. Atendendo a diversas demandas e por ser a única parte fechada da intervenção, contaria com pontos de hidráulica qconectados com pontos da rua.

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Retorna-se então aos espaços investigados e são feitas porposiçõoes das temáticas que as intervenções poderiam incorporar de acordo com cada lugar. Como já dito anteriormente, apesar de nomeá-las e separá-las, os “indicadores de usos” podem se relacionar a mais de um lugar dependendo da interpretação e apropriação do usuário, que pode ser variada, possibilitando ainda mais absorver as complexas dinâmicas e rápidas transformações da vida contemporânea. Por exemplo, um lugar de permanência pode ser também um lugar expositivo, e vice-versa.

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1

praça da república

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praça dom josé gaspar

3

praça ramos de azevedo

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7

8

vale do anhangabaú praça do patriarca páteo do colégio largo são bento largo santa efigênia

9

largo do paissandú

10

rua dom josé de barros

permanência

armazenagem

expositivo

lúdico

conectivo

servidor

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“as invenções são produto da necessidade e não o contrário” SANTOS, Milton.

130


soluções

131


132


E como incorporar essa complexa dinâmica, permitindo diferentes interpretações e apropriações dos usuários? Retomando o início da segunda metade do século XX, em que a falta de correspondência entre as vanguardas na arquitetura e as necessidades e costumes dos usuários desencadeou uma série de discussões críticas e propositivas que buscavam, através de caminhos variados, superar o distanciamento entre o projeto e a sociedade em seu cotidiano, incorporando ao discurso arquitetônico terminologias até então rejeitadas pela lógica funcionalista, como a espontaneidade, a indeterminação e a participação, que conduzem os projetos rumo a novos horizontes de flexibilidade e adaptação. Busca-se observar como os projetos precursores dessa nova mentalidade, tentaram lidar com essas novas necessidades do pós-modernismo. O grupo inglês Archigram, utilizou a utopia e a indeterminação construtiva de megaconstruções móveis e adaptativas como alternativa aos novos desejos da sociedade; o arquiteto húngaro-francês Yona Friedman, com seu manifesto “arquitetura móvel”; o grupo italiano

133


Superestudio, através de estruturas utópicas e de programas abertos; e a da Internacional Situacionista, em que o arquiteto, Constant Nieuwenhuys, formulou uma possibilidade de ocupação territorial sobre uma malha em constante mutação, projetando a “Nova Babilônia”.

Archigram Instant City. 1969

134


Perspectiva Yona Friedman, Ville Spatiale 1964

135


Constant Nieuwenhuys, New Babylon. 1959

“(...) gosto mais dos elementos híbridos do que dos puros, mais dos que são fruto de acomodações do que dos limpos, distorcidos em vez dos diretos, ambíguos em vez de articulados (...) Sou mais favorável à vitalidade desordenada do que à unidade óbvia” Venturi, 2004, p.2.

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Apesar de utópicos é interessante notar nestes projetos a inclusão do corpo do indivíduo e da experiência no espaço físico através da adaptação, indeterminação e participação. É possível identificar resquícios de padrões que caracterizavam o pensamento moderno e a produção industrial, como a questão do módulo, embora utilizada de forma diversa da ideia de repetição. A estrutura modular foi um artifício organizacional muito explorado pelas abordagens sistêmicas da época na prática projetual. Através dela, os arquitetos investigavam matrizes estruturais enquanto mecanismos para explorar a variabilidade de usos, de arranjos formais e de novos sistemas de organização, além de novos procedimentos de construção mais descentralizados e destinados a criar maior envolvimento com os usuários. Os projetos assumem uma postura mais dinâmica, como de um organismo vivo condicionado pelo ambiente no qual habita, com programas variáveis e estruturas intercambiantes. Robert Venturi, 1966, um dos críticos da arquitetura moderna, aponta a importância da complexidade, da diversidade, do inesperado e não óbvio, reconhecendo espaços

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construídos ao longo da história, buscando articulações espaciais (e compositivas) mais dinâmicas. Seguindo os mesmos princípios, o arquiteto norte-americano Ken Isaacs, também foi um grande contribuinte para o desenvolvimento dessa nova vertente, elaborando um sistema construtivo modular chamado Living Structures, que permite ser construído pelos próprios usuários. Sua unidade é denominada de matrix, ou matrizes,um grid tridimensional que podem agregar múltiplas combinações funcionais para atender aos requisitos necessários, tanto de mobiliário quanto de construções externas. Essas matrizes podem se estender caso necessário e assim multiplicarem seu tamanho, recombinando-se. A partir dessas referências em como incorporar as dinâmicas de uma cidade em transformação, a proposta de projeto nasce com a intenção de valorizar a vida cotidiana e criar um suporte para ações eventuais. Surge da possibilidade de se fazer e desfazer ações, transformando a paisagem e implementando a complexidade do cenário da cidade. Os ensaios desenvolvidos por não possuírem definição programática, apenas

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Ken Isaacs, Living Cube, 1954.

139


Ken Isaacs, Beach Matrix, Connecticut, 1967

“já afirmei que a melhor comissão da estandartização do mundo é a própria natureza, mas na natureza a estandartização produz-se principalmente e quase exclusivamente nos elementos mais pequenos: as células. O resultado são milhões de combinações flexíveis nas quais não há lugar para o estereotipado. Outro resultado é a imensa riqueza e infinidade de formas que crescem organicamente. A uniformização em arquitetura deve seguir os mesmos passos.” Alvar Aalto p.64, 1978.

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possibilidades e oportunidades, funcionam como espaços ambíguos, de articulação entre cotidiano, eventos, usuários, ações e cidade e, ao mesmo tempo, de distanciamento e ruptura da rotina, como locais de respiro. Representam espaços de transição, com potencial para novos arranjos sociais e formas imaginativas. A rede de ensaios funcionaria como uma costura de microssituações, permitindo a experimentação de novas percepções possíveis do espaço público e, consequentemente, de cidade. Elas poderiam ser combinadas de diversas maneiras, formando múltiplos conjuntos que atenderiam as especificidades de cada lugar e tempo. Possível apenas por se tratar de um sistema construtivo préfabricado modular, capaz de atender as mudanças da contemporaneidade. Assim, para acompanhar essas transformações e explorar a variabilidade de usos é definido que o processo construtivo seria desenvolvido a partir do módulo. O módulo como divisor e construtor do espaço, vem da cultura oriental em que não se distingue espaço e tempo. Segundo Marcos Acayaba, 2007, na arquitetura, essa concepção

141


é traduzida em espaços não acabados, pois se o espaço é formado pelo tempo sempre continuará em movimento. Como, por exemplo, as casas tradicionais japonesas, que nunca se resumem a plantas com uma simples geometria, uma forma acabada, com um quadrado ou um retângulo, conformando formas irregulares e inacabadas. Para que o tempo possa ter o seu transcurso, o espaço deve permiti-lo. Essas necessidades trazem à tona o caráter da adaptação pela industrialização, que é respondida no projeto com a escolha de um sistema construtivo modular que permita montagens e desmontagens: para isso, concluiu-se adequado o sistema de andaimes tubulares metálicos, que possibilitam diversas combinações e extensões com suas peças já existentes. Afinal, os andaimes que sempre acompanharam as transformações e requalificações das cidades escorando edifícios poderiam facilmente ser realmente incorporados a essas mudanças, não apenas na construção de edificações, mas também de uma nova percepção de cidade. Além disso, o andaime possui a referência da escala humana e, a partir dela a que se pretender, fazendo a ligação entre a escala da cidade e o usuário.

142

Concepção da matriz


Temporary Scaffolding. Estrutura como Instalação de Arte no Memorie Urbane Festival | Junkculture, Milão, Itália

143


Adptable. Mรณvil. Construcciรณn econรดmica. Divisible. Desmontable. Ampliable. Autoconstrucciรณn. Flexible. Cambio de funciรณn. Amplio espacio. Construcciรณn sin costes. Trasladable. Independiente del lugar. Sistema abierto. Ecoconstrucciรณn. Planificaciรณn Flexible. Provisional Fraccionable. Reducible. Ampliable. Trasladable. Explotable. Cambiable. Capaz de ser cambiado. Rentalizable. Libertad de elecciรณn. Amplio. Crecedero. Construcciรณn suprimible. Planificaciรณn del tiempo. Frei Otto. Seminรกrio de Arquitetura Adaptรกvel. p.12

144


Peรงas utilizadas para o projeto. Sistema de andaime Allround Layher.

145


Mรณdulo

146


Porém, para essas estruturas se tornarem potencialidades, foi fundamental a junção entre arquitetura e design para a configuração de elementos que possibilitassem maior flexibilidade de uso. A flexibilidade só é permitida por se tratar de um sistema de montagem que pode adquirir diversas formas e se associar a diferentes elementos, como a matriz de Ken Isaacs. Assim, o projeto parte da união da observação das carências e capacidades locais já observadas e em como poderiam ser incorporadas a essas estruturas para catalisar ainda mais a apropriação do espaço, como um suporte à vida cotidiana e eventos que ocorrem na cidade, e que por possuírem caráter sistêmico permita sua reorganização em diferentes espaços. Partindo do princípio defendido pela autora Marta Bógea em sua tese “Cidade Errante” (publicada pelo SENAC, 2009), p.137, a cidade é um corpo em movimento necessitando de (re)organizações. O processo de criação dessa rede foi pensado para que se possa reproduzir de diversas formas e que essa estrutura possa adaptar-se aos diferentes pontos da região central – e até mesmo em toda a cidade - atendendo as mais variadas demandas.

147


A escolha do andaime como corpo estrutural proporciona a possibilidade da adaptação. Através de operações básicas da álgebra, como multiplicação, adição e subtração das peças, já é possível ter uma quantidade enorme de combinações. Aqui a multiplicação é compreendida como a repetição das peças do andaime, a adição como a soma dessas peças a elementos existentes, por exemplo, mobiliário urbano, e a subtração como os vazios que se pode criar a partir dos cheios gerados pela multiplicação. Essa adaptação pretendida em integrar elementos usuais do dia-a-dia em uma estrutura base, nos remete aos inventos presenciados na informalidade das ruas, já abordados aqui, como o uso de muretas e cercas como mobiliário, ou seja, a capacidade do homem em transformar o que o cerca para atender as suas necessidades. Na pesquisa “Rua dos Inventos: a arte da sobrevivência”, 2004, de Gabriela Pereira, essas relações da necessidade são identificadas em uma serie de artefatos, ou chamados por ela, de engenhos presentes nas cidades brasileiras, demonstrando como um objeto por meio da criatividade pode adquirir tantas

148


Inventos Ambulantes. Gabriela GusmĂŁo Pereira, 2004. Foto: Pereira, 2004, p. 63 e 73.

149


multiplicação

estrutura elemento elemento matriz com adição de elementos

+

conjunto conjunto

=

multiplicação

mesa

+

=

multiplicação

paraciclo e locker

+

=

multiplicação

expositor e armazenador

+

150

=

painel


multiplicação

+

=

multiplicação

balanço

+

=

multiplicação

escorregador

+

=

multiplicação

painel fotovoltaivo

+

=

gerador de energia cinética

151


repetição estrutura estrutura repetição repetição matriz por multiplicação

produto produto

x2

x9

x1

x2

x9

x1

x2

x9

multiplicação multiplicação multiplicação

x1

152


vazio estrutura diferença o vazio gerado pela subtração davazio matriz transformadodiferença em cheio estrutura vazio

-

subtração

matriz

=

vazio

-

=

variação

-

=

variação

153


outras funções, usos, definições e significado, permanecendo em muitos casos com a forma original. Dessa forma, torna-se claro que a intenção de elaborar um projeto aberto como já discorrido anteriormente, podendo ser ampliado e modificado gerando novas possibilidades, seria atingida a partir do momento em que os usuários se apropriassem e dessem diferentes destinos à ele. Os ensaios variam de acordo com o seu local de implantação, suas necessidades e potencialidades específicas. A articulação entre o meio físico, temporal e social, ou seja, o local, a intervenção e as pessoas, faz com que dois vínculos sejam criados. Primeiro, entre indivíduos: a quebra da rotina gera surpresa, dando assunto aos usuários mesmo sendo desconhecidos. Segundo, entre pessoas e lugar, a partir do momento em que ocorre a apropriação do espaço, a pessoa passa a se sentir pertencente àquilo, criando identidade O quadro a seguir retoma as possíveis apropriações identificadas, ou seja, as temáticas, demonstrando que os elementos gerados a partir das combinações, subtrações e multiplicações não possui apenas uma forma de ser utilizado.

154


155


servidor

conectivo

lĂşdico

expositivo

armazenagem

permanĂŞncia

permanĂŞncia

156

armazenagem expositivo


lĂşdico

conectivo

servidor

157


“O programa em arquitetura passaria a ser entendido como programação de situações geradoras de acontecimentos. Seria uma condição mínima para a ativação de um suporte arquitetônico e um lugar. Assim, em vez da defesa da propagandeada multifuncionalidade, passaríamos a investir na articulação e combinação dos gramas de um programa, das unidades mínimas que podem compor um suporte programático, e não na adoção a priori de sistemas fechados de funções prontaspara-uso.” GUATELLI, 2012, p.63

158


articulações

159


possíveis combinações De acordo com a investigação de cada lugar e as possibilidades de temáticas, começa-se a formular articulações dos elementos criados para suprir as carências e potencializar esses espaços. As intervenções funcionariam como suportes ao cotidiano e eventualidades do local.

1 10

3 2


8

9

7

4

5 6


4

vale do anhangabaú / viaduto do chá

+

162

+

=

permanência

armazenagem

conectivo

mesas e bancos;

armazenamento de energia obtida por painéis fotovoltaicos para utilização de aparelhos eletrônicos;

conexão entre o Vale e o Viaduto;


163


8

largo santa efigênia

+

+

armazenagem

expositivo

servidor

paracilclo com locker;

paineis expositores;

poderia assumir diferentes funções: café, centro de informação, etc;

=

+

+

armazenagem

permanência

conectivo

armazenamento de energia obtida por painéis fotovoltaicos para utilização de aparelhos eletrônicos;

além de conectivo entre o passeio e a “nova cota” também funciona como arquibancada sendo um espaço de permanência;

conexão entre o passeio e a “nova cota”;

164


165


10

rua dom josé de barros

e

+

armazenagem

expositivo

conectivo

armazenagem das mercadorias;

expositor de mercadorias;

conexão entre o passeio e a “nova cota”;

=

+

166

armazenagem

permanência

armazenamento de energia obtida por painéis fotovoltaicos para utilização de aparelhos eletrônicos;

além de conectivo entre o passeio e a “nova cota” também funciona como arquibancada sendo um espaço de permanência;


167


“As intervenções efêmeras, apesar de temporárias, podem ser de impacto duradouro, pois é o poder da experiência, mais que sua duração, o importante para que se meça seu efeito na cidade.” KRONENBURG, 1998.

168


proposições

169


170


4

vale do anhangabaú/viaduto do chá Local de extrema representatividade da cidade. A intervenção tem como partido criar uma maneira mais atraente de conexão entre o Vale e o Viaduto, aproveitando a sua paisagem. Assim, permitiria locais de permanência, como mirantes em seus patamares, que também poderiam ter suas apropriações diversificadas. A estrutura por ter rodízios em sua base seria móvel e, em alguns momentos determinados durante o dia, poderia correr paralelamente ao viaduto até 8 metros para cada lado. Isso possibilitaria novos enquadramentos e percepções da paisagem, além de criar uma interação com o usuário, surpreendendo-o e alterando as formas imaginativas do seu entendimento por conexão. Os painéis fotovoltaicos, assim como o wifi livre acentuariam mais a permanência dos usuários na estrutura, tornando-o além de uma conexão e um mirante, um espaço de estar. “aquela ponte, objetivamente, era a construção que respondia aos anseios centenários de toda uma cidade; e, subjetivamente, era o projeto de uma cidade inteira.” BUCCI, 2010, p.34.

171


planta superior

vista


planta inferior

corte transversal

0

1

5


174


Fotomontagem da intervenção no Vale do Anhangabaú.

175


Fotomontagem da intervenção no Viaduto do Chá.

176


177


Maquete da Intervenção

178


179


Maquete da Intervenção

180


181


182


183


184


8

largo santa efigênia Marcado pelo grande fluxo de pessoas que cruzam o Viaduto Santa Efigênia, parte-se da intenção de criar um suporte para as necessidades cotidianas dos transeuntes. Dessa forma, buscou-se através da temática servidor criar uma lanchonete, um sanitário e um espaço que poderia ser utilizado como a barraca temporária de guias de lojas que é instalada durante a semana. Para permanência, serviria como bancos a arquibancada e a cobertura dos blocos servidores na cota elevada. Os painéis expositivos em uma das laterais poderiam dar informações sobre locais no entorno, ou expor trabalhos artísticos da população. Também existem paraciclos com armários, tão importantes nesses espaços conectados por ciclovias.

185


planta superior

planta inferior

186

vista


0

1

5 187


vista

corte transversal

188

vista


0

1

5 189


190


10

rua dom josé de barros As ruas da região da República são marcadas pelo intenso comércio informal por meio de ambulantes e camelôs em nas vias exclusivas de pedestres. Nesta intervenção, não se pretende alterar essa dinâmica, que é uma das responsáveis da vitalidade do centro, mas apenas indicar possibilidades para incorporar esse uso na estrutura proposta. Criando um sistema acoplado à matriz que permitiria tanto a armazenagem da mercadoria quando fechado, como a sua exposição quando aberto, efetivaria uma ocupação menor do espaço, além da possibilidade de realizar o caminho pela cota superior da intervenção, possibilitando um passeio sem tantas interferências aos transeuntes e compradores. Também um local de permanência, algo quase inexistente nas vias que se tornam apenas de passagem devido à grande quantidade de pessoas. O wifi livre e os painéis fotovoltaicos para os usuários e vendedores também prolongariam o uso assim como nas outras intervenções.

191


planta superior

planta inferior

vista 192


0

1

5 193


possíveis apropriações “Quando o espaço físico se transforma em espaço social, na ocorrência da intervenção, é o momento de expressão da amabilidade urbana. Cabe ressaltar que o espaço com suas características atraentes está no comando, pois sem ele não se torna real a possibilidade de intervenção.”FONTES, 2013.p.29

4

praça ramos de azevedo

194


4

vale do anhangabaĂş/viaduto do chĂĄ

195


8

largo santa efigĂŞnia

196


10

rua dom josĂŠ de barros

197


6

198

páteo do colégio


vale do anhangabaĂş

5

4

199

praça do patriarca


intervenção como corte no tempo

usos cotidianos

200


considerações finais Enfatizo que as intervenções propostas se tornam relevantes para cidade e se diferenciam do cotidiano - embora o utilizem como partido -, devido o seu caráter temporário e sua intenção transformadora. Parafraseando a autora Adriana Fontes, “elas funcionam como cortes no tempo contínuo, cíclico ou linear do cotidiano, podendo ocorrer em diferentes frequências”1, com o valor e importância de presentear a vida com o inesperado.

2

São lugares ambíguos, de articulação entre cotidiano, eventos, usuários, ações e cidade e, ao mesmo tempo, de distanciamento e ruptura da rotina, como locais de respiro. Representam espaços de transição, com potencial para novos arranjos sociais e formas imaginativas, permitindo a experimentação de novas percepções possíveis do espaço público e, consequentemente, de cidade, reembrando que a sua efetivação só se comprovaria a partir do momento de sua apropriação pelos usuários. Assim, os arquitetos e urbanistas devem ser os responsáveis por criar oportunidades através de suportes indefinidos, ou seja, “recursos de indeterminação”, sendo as pessoas sempre a finalidade do projeto, além de, visarem a cidade como uma reunião de espaços coletivos de qualidade. 1 FONTES, Adriana Sansão. Intervenções temporárias, marcas permanentes: apropriações, arte e festa na cidade contemporânea. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: FAPERJ, 2013. p.63 2 Corte no tempo: intervenções temporárias x usos cotidianos. Esquema adaptado da citação anterior 201


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