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22 ANO 1 / NOVEMBRO 2010 – R$ 12,90
MODA COM MUITO ESTILO: NA MOTO OU NO DIA A DIA
revistariders.com.br
PÉ NA ESTRADA
// CONHEÇA 11 SEGREDOS DA ROTA UBATUBA-PARATY + SICÍLIA SOBRE DUAS RODAS EXCLUSIVO
VALENTINO ROSSI
A TENSA (E DELICIOSA) RELAÇÃO DO ÍDOLO COM O PAI GIANNE ALBERTONI
Top encarna Brigitte Bardot numa Harley-Davidson GP DA YAKUZA Os bastidores das corridas que acontecem à sombra da máfia japonesa 120 MOTOS... EM CASA! Galpão esconde a mais incrível coleção do Brasil
BRUCE WILLIS TODAS AS LIÇÕES (E ERROS) DO ATOR
+ CINEMA // MÚSICA
CERVEJA // GASTRONOMIA //
AVALIAMOS: BMW F800-R // CBR 1000-RR
© Valdemir Cunha
EDITORIAL QUATRO RODAS TRANSPORTAM O CORPO
DUAS MOVEM A ALMA Falar sobre homens e motos em termos de estilo e atitude e não de cilindradas ou do ranking de pilotos. Foi com essa proposta inovadora que Riders Magazine surgiu há pouco mais de três anos, na Itália, para logo se transformar num sucesso e marco de inovação editorial. Ao percorrer suas páginas, você poderá comprovar que Riders Magazine é, de fato, em tudo diferente e inovadora. Ela enxerga o homem por cima da moto não como extensão da máquina, mas como ser pensante, contemporâneo, com estilo de vida rico e diversificado. Um homem bem-sucedido, curioso, atento a tudo o que acontece, e que está sempre em busca de emoção. Um homem que conduz sua vida como quem pilota sua moto. Para nós, da Nastari Editores, publicar Riders Magazine no Brasil é um orgulho e um desafio. Desafio porque a edição brasileira, além de compartilhar a mesma alma da edição italiana, terá seu conteúdo majoritariamente produzido aqui e com igual qualidade editorial e gráfica. E, claro, orgulho por ter sido confiada a nós esta missão. Com este número 1, iniciamos uma longa e prazerosa viagem que celebra o espírito de liberdade, rebeldia e emoção que definem a alma Riders. Você é o convidado especial para seguir conosco.
Alfredo Nastari – Publisher
Annie Leibovitz e Jacques-Louis David // A foto de capa deste número 1 de Riders foi produzida pela consagrada retratista americana Annie Leibovitz. Ela se inspirou na famosa tela Bonaparte Cruzando os Alpes no Grand-Saint-Bernard, feita por Jacques-Louis David, que foi pintor oficial do imperador francês
O time de Riders // 1. Fabricio Calado; 2. Leonardo dos Anjos; 3. a diretora de publicidade, Liliane Santos; 4. Edson Rossi; 5. o diretor executivo, Sidnei Lubianco; 6. Sérgio Siriguti; 7. Fernando Martinho; 8. Luciano Araujo
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Publisher
Alfredo Nastari Diretor de Redação
Edson Rossi Editor de Arte
Riders Brasil é uma publicação da Nastari Editores
Luciano Araujo
www.nastarieditores.com.br Rua Deputado Lacerda Franco, 300, conjunto 181, Pinheiros CEP 05418-000 - São Paulo (SP) - Telefone (11) 2366.4911
Editor de Imagem
Valdemir Cunha Editor Assistente
Comitê Executivo Diretor-Presidente: Alfredo Nastari Diretores: Sidnei Lubianco e Liliane Santos
Fabrício Calado Reportagem
Publicidade publicidade@nastarieditores.com.br Diretora: Liliane Santos Executivos de Negócios: Marcelo Hecksher, Paulo Paiva, Priscila Bueno e Rosana Diniz Representantes Comerciais: Rio de Janeiro: Verone Representações, tel. (21) 2543.5999 e.mail: christinaverone@gmail.com Brasília: CR Pinto Publicidade, tel. (61) 3323.2121 e-mail: carlos@crpintopublicidade.com.br
Leonardo dos Anjos Editor Assistente de Imagem
Fernando Martinho Assistente de Arte
Sérgio Siriguti Edição de moda
Marina Torquato Colunistas
Carlos Alberto Barbosa, Geraldo Simões, Julio Menezes, Milly Lacombe, Fernando Garcia e Paulo Miklos
Operações operacoes@nastarieditores.com.br Diretor Executivo: Sidnei Lubianco Administração e Finanças: Lucimara Lima Circulação e Operação: Alex Jardim Marketing: Ligia Favoretto Secretária: Liliane Mary Nascimento Web Criação e Desenvolvimento: Jota3W Comunicação Digital Coordenação de Conteúdo Web: Geiza Martins e Leonardo dos Anjos Sob licença da HLM - Hachette Lifestyle Media S.r.l. Viale Sarca 235, 20126, Milão (Itália)
Colaboradores Brasil
textos: Cadão Volpato (Zapping), Cassia Ávila, Cleiton Sotte e Jonas Furlan; fotografia: Alisson Louback, Angelo Pastorello, Carlos Cubi e Ivan Berger; produção: Carla Romano e Fabiana Neves; revisão: Gabriela Dioguardi; tradução: Paulo Migliacci
Itália
Diretor de Redação Roberto Ungaro Publisher Alessandro Saibene ISSN 2178-7077
Impressão Ibep Distribuição nacional com exclusividade para todo o Brasil Dinap S.A. As demais edições de Riders podem ser adquiridas pelo email edicoesanteriores@nastarieditores.com.br, pelo site revistariders.com.br ou por meio da central de atendimento ao leitor ao preço da última edição acrescido dos custos de postagem, mediante disponibilidade dos nossos estoques.
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Riders 11/2010
Atendimento ao leitor (11) 2366.4913
expediente
PARCEIROS DE VIAGEM Intrépida trupe (aka: Riders Team) Além de nosso staff interno e dos seis colunistas, os feras abaixo foram fundamentais para a qualidade desta edição de estreia
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CADÃO VOLPATO
CASSIO NARCISO
Pai recente do quarto filho, nosso monstro das dicas de entretenimento da coluna Zapping é músico, escritor e jornalista, além de dirigir e apresentar o programa Metrópolis, da TV Cultura
Sua paixão é pilotar e escrever sobre motocicletas. Nas pistas, participou do Husqvarna Supermoto Cup e foi instrutor da Motoschool em Interlagos. Testou quase 100% das motos disponíveis no mercado nacional. Nesta edição, supervisionou todas as informações técnicas
MARINA TORQUATO
CLEITON SOTTE
Estudou dança, área em que deu aulas, mas com a moda é que se identificou. Em nossa edição de estreia, assina as páginas de Estilo, o editorial de Moda e o styling do ensaio com Gianne Albertoni. Como se sobrasse tempo, é empresária e estilista – sua grife, Mini por Marina Torquato, é sucesso em moda infantil
Abalizou-se em reportagens bon vivants e/ou etílicas nesta edição graças a um treinamento intensivo entre astros do rock, às vezes nem tão astros (às vezes nem tão rock)
JONAS FURLAN
ANGELO PASTORELLO
Jovem jornalista de Paulínia (SP), 25 anos, abandonou o tênis para se dedicar às letras. Lê o que aparece sobre jornalismo e fotografia, já fez aulas de violino e é apaixonado pelo seriado House. Um perfil rider, por excelência
Fotógrafo há mais de 20 anos, produz editoriais, publicidade e trabalhos autorais. Já expôs em Cuba e em Roma. Colabora com várias revistas, fazendo moda, retratos e ensaios sensuais – clicou para a gente Gianne Albertoni.
CARLOS CUBI
IVAN BERGER
Fotógrafo desde 1999, apaixonado confesso pelo ofício, circulou pelos maiores estúdios. Cubi, que se autodefine detalhistaperfeccionista, é presença certa nas principais revistas do país e campanhas publicitárias
Fotógrafo autodidata de moda, editorial e publicidade, já fez mais de 40 capas de revistas. Na estreia de Riders, foi responsável pelo ensaio de moda de 12 páginas, que consumiu um sábado das 6h às 18h num sítio na Grande São Paulo
ALISSON LOUBACK
CASSIA AVILA
Aos 32 anos, fotografa há seis. Retratista, já estudou psicologia, paisagismo, trabalhou com comerciais de TV e direção de arte em design. Hoje, divide seu interesse entre a fotografia e as leituras de filosofia. Nesta edição, fez as fotos do perfil de Ara Vartanian
Top da geração anos 90, estampou campanhas das maiores marcas nacionais e internacionais como Ellus, Forum, Valisere, Fendi, Versace... Formada em jornalismo, produz o site cassiaavila.com.br, no qual fala de moda, beleza, arte, viagens e gastronomia. Fez a reportagem com Ara Vartanian
parceirosriders de viagem man
Riders 11/2010
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SUMÁRIO © Valdemir Cunha
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144 Colunistas
© Angelo Pastorello
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Demasiado Heroicos... por Paulo Miklos 26 Viva a Tristeza... por Milly Lacombe 28 Get your Motor Running... por Julio Menezes 30
© Gigi Soldano
Seções 13 28 29 31 40 42 44 46 50 52 64 156 161 162
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Shots 2+2 - Daytona 675 x Mini Cooper S Números Estilo - sandálias, jaquetas, polos, capacetes, mochilas Riders Chrono - relógios emborrachados Riders Tecno - celulalres Riders Beleza - perfumes Riders Man - Steve Jobs Riders Man - Guiga Spinelli Riders Man - German Lorca Riders Girl - Gianne Albertoni Zapping - Música, shows, filmes, livros... Agenda Buona Notte - Vulpini
© Alamy
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© Roberto Carrer
Reportagens 54 Reportagem - Valentino e Graziano Rossi 72 Reportagem - Bike Art 78 Reportagem de Capa - Bruce Willis 84 Reportagem - Coleção Brasil 92 Reportagem - Yakuza 100 Moda - Tudo Blue 110 Alma Riders - Bikes de câmbio fixo 116 Garagem - Ara Vartanian 124 Casa - Loft em Nova York 130 Máquina 1 - BMW F800R 136 Máquina 2 - CBR 1000RR 142 Mundo Moto - Nakeds de 600cc a 750cc 144 Road Book 1 - Ubatuba-Paraty 150 Road Book 2 - Sicília
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Escolha a sua lancha com o mesmo cuidado com que você escolheu a sua motocicleta: Nova Sterling Legend 28 Se você já gostou do design da nova Sterling Legend 28 não deixe de conhecer o que ela ainda tem de melhor: sua performance. Inspirada nos clássicos americanos e italianos do início do século XX, a SL28 é fabricada com as mais modernas técnicas de construção naval, que vão desde o uso de avançadas resinas, tecidos de fibra de vidro multiaxiais, reforços com fibra de carbono, até a estrutura tipo sanduíche de seu convés. Além disso, a Sterling Yachts cumpre e supera todas as normas de construção aplicáveis às embarcações que fabrica. Especial atenção é dada também ao seu acabamento de qualidade superior e ao uso de equipamentos e matérias primas de primeiríssima linha, vindas de fornecedores de renome internacional. O resultado desse cuidado todo se traduz em um conjunto confortável, eficiente e preciso, que permite ao seu piloto uma direção muito mais esportiva. Quem tem uma motocicleta única, merece sentir a emoção e o prazer de possuir a mais sofisticada e exclusiva lancha do mercado.
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contato@sterlingyachts.com.br
Rua Almirante Pereira Guimarães, 220 - Pacaembu - São Paulo - SP - Tel: 11 3726-3905 A Sterling Yachts se reserva o direito de modificar materiais, especificações de equipamentos e/ou modelos sem aviso prévio. As fotos/ilustrações podem conter equipamentos opcionais. Todas as medidas são aproximadas. O equipamento Standard pode variar, dependendo da região para qual é vendido o produto. Os dados sobre performance são estimados e podem variar em função de carga, manutenção e das condições metereológicas (vento e ondulação).
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OsTOUrE,
supernaked de inspiração persa
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se tem notícia de motocicletas fabricadas em série com tração por corrente em duas rodas e, ao utilizar eixo cardã, o designer Shojaie tornou sua criação ainda mais exclusiva. O guidão também é diferenciado e funciona em conjunto com o sistema de suspensão dianteira e a balança. Por esse motivo, a Ostoure teve de ganhar mudanças no sistema de arrefecimento. A supernaked utiliza três radiadores porque possui o ousado sistema de suspensão que toma o espaço de onde geralmente ficaria o grande radiador. Para solucionar essa questão, dois reservatórios extras, menores, foram instalados em sua lateral e outro maior ao centro, à frente. Em tempo: essa mitológica moto existe apenas no papel.
© Fotos Divulgação
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epois de criar novas formas e estilos para carros de luxo, o designer iraniano Mohammad Reza Shojaie decidiu desenhar “a” moto naked. Com o nome de Ostoure (que significa lenda, em persa), o modelo é inovador em muitos sentidos. Segundo seu criador, o visual foi inspirado nas esculturas antigas que eram feitas em pedra em Persépolis, antiga capital do Império Persa, o atual Irã. O designer ama carros e motos e já se aventurou também trabalhando uma Lamborghini, entre outros ícones. No caso da Lamborghini, ele abusou de angulações e chamou o trabalho de Presa. O que mais se destaca na Ostoure é a tração integral com eixo cardã em ambas as rodas. Sim, ela é uma moto com tração nas duas rodas. Não
Cassio Narciso
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SHOTS
© MotoGP Divulgação
O INIMIGO DE ROSSI // Conheça Lorenzo, o cara que venceu com folga o mundial de MotoGP Os cerca de 45 segundos que você vai levar para ler este texto são suficientes para Jorge Lorenzo dar cinco voltas numa pista de atletismo em torno de um campo de futebol. Sacou? Foi assim que o espanhol de 23 anos, nascido em Mallorca, logo em sua terceira temporada tornou-se campeão da principal categoria do motociclismo, a MotoGP. A confirmação do título,
faltando três provas para o fim da disputa, rolou no GP da Malásia, dia 10 de outubro. A conquista teve a participação excepcional de dois homens fantasiados como os personagens Mario e Luigi, do clássico jogo SuperMario, entregando ao piloto uma placa onde se lia “game over” (“jogo encerrado”). Não se sabe se a escolha dos personagens, italianos, foi alguma espécie de
mensagem subliminar ao até então parceiro de Lorenzo na equipe Fiat Yamaha, o italiano Valentino Rossi, que andou se estranhando com o espanhol ao longo da temporada e correrá pela Ducati em 2011. Os dois protagonizaram o maior pega dos últimos anos na categoria, no GP da Catalunha, em 2009, e serão agora inimigos oficiais. Lorenzo tem currículo.
Tornou-se o mais jovem campeão europeu de 125cc, em 2001, aos 14 anos. No ano seguinte, disputou o mundial da categoria. Em 2003, venceu o GP do Rio de Janeiro na 125cc, sua primeira vitória em mundiais. Estreou nas 250cc em 2005 e tornou-se bicampeão em 2006-2007, o que o levou para a MotoGP em 2008. O restante já é história.
AS NOVIDADES DO UNIVERSO DAS MOTOS Por Cassio Narciso
SUZUKI BOULEVARD M1500 CHEGA AO BRASIL. AVANÇOS NO DESENHO E UM MUSCLE DE RESPEITO
AS BOAS DO MÊS
GOOD NEWS
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empurrado por um muscle de 1500cc capaz de produzir, segundo a fábrica, 80cv a 4.800 rpm e 12,8 kgf.m a 2.700 rpm. Apesar de ser um modelo custom, a suspensão dianteira
é do tipo invertida (upside down) encontrada geralmente em motos esportivas. A lanterna traseira também tem ares modernos ao utilizar led em vez de lâmpadas. A máquina está disponível nas cores preta e vermelha, e tem preço sugerido de R$ 45.900.
pretende investir em divulgação, pós-venda e honrar a tradição da grife. Um de seus modelos mais famosos é a mítica MV Agusta F4, definida por seus projetistas como “arte em movimento”.
Depois de dois anos, Harley vende Agusta Após um biênio com o controle da marca, a americana HarleyDavidson concluiu a venda da italiana MV Agusta. O novo presidente da MV é Claudio Castiglioni, que informou que
Kawasaki ER6-n tem ABS como opcional A Kawasaki do Brasil ampliou o leque de motos que têm como opcional o sistema de freios ABS. Agora, a naked e bicilíndrica ER6-n também pode ser equipada com o item de segurança. O modelo básico custa R$ 25.500 e a versão com ABS é comercializada por R$ 27.700 (preço sugerido).
Ela é bonita e gostosa e, o melhor: joga limpo! Falamos da MiniScooter E-Concept, modelo elétrico que a BMW divulgou recentemente. Por ora, sem previsão de preço e lançamento
O tablet fone
JackAss 3D
Faltou aquele Mario
Alunos, tomem nota
Campeão mundial
A gigante chinesa Huawei lançou um tablet que faz ligações. Calma, não será a volta dos anos 90, quando as pessoas seguravam “tijolos”na cabeça para fazer ligações: o tablet S7 se comunica com fones sem fio via bluetooth.
O terceiro filme da série deve chegar aos cinemas em novembro. Se JackAss 2 já testava os limites do estômago, as loucuras em 3D prometem estourar algumas cabeças. (Nota da Redação: para muitos, JackAss 3D é má notícia.)
Dois clássicos dos games estão de volta às origens com o lançamento de Sonic the Hedgehog 4 e Donkey Kong Country Returns. Os dois jogos marcam o retorno das franquias ao “estilo plataforma”, de novo em 2D. Nostalgia imperdível.
O ensino de música será obrigatório nas escolas do Brasil. Um plano de implantação da lei (de 2008) deverá ser feito até o ano que vem e determinar o início do programa – veja na pág. 157 o que a Venezuela fez a respeito e os resultados obtidos.
Dia 19 , em Roma, o brasileiro Jacob Palis Jr receberá o Balzan, espécie de Mundial da Matemática. Levará um checão de quase R$ 1,3 milhão. Já o Brasil levará um dos poucos prêmios mundiais que não em esportes.
Riders 11/2010
© Fotos Divulgação
Apreciadores de motocicletas de grande porte da categoria custom ganham outra opção. E que opção. A Suzuki lança no Brasil a Boulevard M 1500 (foto abaixo), que já está nas concessionárias da marca. O modelo tem estilo moderno,
VEM AÍ A SCOOTER QUE REABASTECE NA TOMADA
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PATRICINHA COM TABASCO Sandra Bullock despontou para o estrelato dirigindo um ônibus. No caso de Rachel McAdams, ela foi atropelada por um. Na pele de Regina George, de Meninas Malvadas (2004), a atriz canadense de 31 anos iniciou sua ascensão no cinema. A diferença dela em relação aos outros belos rostinhos que a cada temporada surgem em Hollywood é que há certo twist, uma pitada sutil de safadeza, na nova queridinha da América – o que a deixa bem mais envenenada que suas antecedentes. Depois da vilã de Meninas, seus papéis de destaque listam filmes como The Notebook -Diário de Uma Paixão (2004 – um longa como Crepúsculo: pode até ser bom, mas você nunca assistiu), Penetras Bons de Bico (2005), Voo Noturno (2005) e a consagração no papel da ladra Irene Adler, no recémadaptado Sherlock Holmes (2009). Atualmente, filma com Woody Allen. Rachel é a atriz que Riders sugere para você ficar de olho em 2011.
«JÁ TRABALHEI NO MCDONALD’S E MINHA IRMÃ MAIS NOVA ERA MINHA CHEFE. ATUAR DEU MAIS CERTO» RACHEL MCADAMS, 31 © Divulgação
FILOSOFANDO SOBRE SUA INAPTIDÃO
Tchau, Natal
Tchau, Arnold
Tchau, El Bulli
Tchau, rolha
Já que vão refazer, que refaçam direito. Vem aí Top Gun 2, quase 25 anos após o original. Tom Cruise, no máximo, fará uma ponta. Se Harrisson Ford e Sylvester Stalone filmaram sequências de Indiana Jones e Rambo, Cruise seria obrigatório em Top 2.
Aviso: grandes chances de o Papai Noel fugir com as renas antes de aparecerem a primeiras árvores natalinas. Culpa da grinch Mariah Carey, que lança este mês um álbum natalino (Merry Christimas II You).
Com a eleição este mês para governador na Califórnia, Arnold Schwarzenegger deixa o comando do estado. Em caso de uma ameaça de robôs esquisitões, o pedaço oeste do país já era.Mas nem tudo está perdido: se a invasão for de aliens, Sigourney Weaver ainda tem casa por lá.
O espanhol El Bulli, o melhor do mundo pentacampeão em uma lista com nove anos, vai fechar. O chef Ferran Adrià disse que a casa para em julho de 2011. Reservas para o ano que vem só em dezembro, mas é mais fácil jantar na Casa Branca.
É o fundo do poço. Uma das vinícolas mais pop da região de Champagne (a Duval-Leroy, que existe desde 1859) apresentou o seu Clos des Bouveries 2004 sem rolha. Agora, ao abrir a garrafa, uma tampaabridor simulará o clássico som de “pop” .
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AS NADA BOAS DO MÊS
Tchau, Tom
BAD NEWS
PARA TRABALHAR NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA
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SHOTS “EU NÃO VOU COMER OSTRAS. EU QUERO MINHA COMIDA MORTA. NÃO DOENTE OU MACHUCADA. MORTA.” WOODY ALLEN, 74 DANDO A ENTENDER QUE PASSARIA FOME SE FOSSE JANTAR NO NOMA (À DIREITA).
DRINQUES & BEBIDAS Equilibrando-se em um sidecar Por Carlos Alberto Barbosa*
Como o nome pulou do shot para a certidão de batismo do coquetel, continua um mistério. Bem, o que importa é que o sucesso desse drinque exige cuidadosa escolha dos ingredientes e equilíbrio no preparo. Muito suco de limão fará com que a acidez domine a bebida. Alguns mililitros a mais de triplesec tornará o álcool muito evidente, bem como o sabor ficará adocicado. Um brandy ou conhaque de origem duvidosa, ou de segunda linha, fará deste coquetel algo tão comum que nem terá valido a pena gastar com os demais itens. Por fim, a crosta de açúcar na taça é essencial. Ela fará uma ponte entre a acidez e o adocicado da preparação final.
A história dos grandes: de fabricantes a modelos Por Fabrício Calado
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QUANDO A LAMBRETA ENCONTRA A COZINHA HELOÍSA VELLOSO É SÓCIA DA OFFICINATRES, EMPRESA QUE FAZ CONCEITUAÇÃO E GESTÃO PARA HOTÉIS E RESTAURANTES. NAS HORAS VAGAS, COLECIONA CARAMUJOS
Ingredientes: 45 ml de conhaque 30 ml de triple-sec 30 ml suco de limão Preparo: Em uma taça Martini, molhe a borda com conhaque e faça uma leve crosta de açúcar. Deixe-a de lado. Na coqueteleira, coloque 5 a 8 pedras de gelo, adicione os ingredientes e bata. Coe na taça Martini. O que sobrar da coqueteleira, sirva em um shot. Eis o sidecar!
*Carlos Alberto Barbosa é mestre em filosofia e chef internacional pelo Senac-SP, onde dá aulas na pós-graduação. Mantém o blog bebericos.com.br - carlos.alberto@bebericos.com
WIKIMOTO URAL
A ESTRATEGISTA POR TRÁS DOS GRANDES CHEFS DA GASTRONOMIA
A CULPA É DO STALIN Pelo menos uma coisa boa o regime totalitário de Joseph Stalin (18791953) produziu: a Ural. Combinação de estilo, economia e praticidade ímpar… ok, talvez não tão ímpar assim. Fruto do período pré-Segunda Guerra Mundial, a Ural
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© Fernando Martinho
Moto, bebida e comida têm muito em comum. Nos três casos, aprendese com a experiência. E a duras penas – ou quedas – que técnica e equilíbrio são a chave para o prazer e o sucesso da aventura. Mesmo as pilotagens e preparações mais simples pedem técnica apurada. É o caso de um coquetel cujo nome tem total relação com motos: o sidecar, que junta três elementos – conhaque, triple-sec e suco de limão. Ele teria recebido esse nome em homenagem a um assíduo frequentador do Harry’s New York Bar, de Paris. (Aliás, o bar parisiense fará 100 anos em 2011). Durante a I Guerra Mundial um apreciador do coquetel usava uma motocicleta na qual estava instalado um sidecar para chegar ao bar. Essa versão mais romântica é questionada por Dale DeGroff, lenda da coquetelaria mundial, que aposta numa origem mais simples para o nome do coquetel. Segundo De Groff, no livro The Essential Cocktail, o nome sidecar guarda relação com um copo tipo shot, servido ao lado da taça principal. No shot vai o que sobrou na coqueteleira após a taça principal ter sido completada. Esse chorinho é o sidecar.
Ela não é chef de cozinha. Nem tem restaurantes estrelados. Também não é apresentadora de TV. Mesmo assim, dá para dizer que Heloísa Mäder Velloso é a versão brasuca de Gordon Ramsay – aquele chef sisudo que, no programa Kitchen Nightmare (GNT), se transforma em pesadelo (e salvação) dos donos de restaurantes. Enquanto o escocês de 45 anos aproveita o programa auxiliando endereços a virarem a mesa, a curitibana, também de 45 anos, ajuda na inauguração e no reposicionamento de bares e restaurantes brasileiros. Ao lado dos sócios, Izabel Soares e Ângelo Matteucci, ela toca a Officinatres, que presta consultoria para abrir ou alavancar negócios em gastronomia e hotelaria. O trio estuda
todos os detalhes: a escolha do endereço, itens do cardápio, treinamento da equipe, decoração e dá aulas de gestão. Entre os clientes, há pesospesados, como Alex Atala, do Dalva e Dito e D.O.M. – o 18º melhor do mundo pela inglesa Restaurant. Heloísa tem outras três paixões: a natação, uma coleção de caramujos estilizados (!) e motos. “O caramujo é o símbolo do slow food, que eu adoro.” Já as motos, paixão antiga. O sonho era ter uma lambreta do ano em que nasceu. “Há dois anos, encontrei uma e me dei de aniversário. É tudo original”, diz. Se o caramujo remete a slow food, a lambreta remete ao trabalho benfeito e cuidadoso, atento ao design, típico dos anos 60: exatamente o que imprime ao Officinatres. Perdeu, Ramsay.
«NÃO DETONE A MASTURBAÇÃO. TRATA-SE DE SEXO COM UMA PESSOA QUE EU AMO» WOODY ALLEN, 74
tem ao menos duas versões conflitantes a respeito de sua origem. Uma delas é que, em meados de 1939, a União Soviética comprou de um intermediador sueco cinco motos BMW R7. O motivo era bélico. Já farejando a
QUE, COMO FAZ QUESTÃO DE FRISAR (LEIA ACIMA), NÃO É NADA CHEGADO EM OSTRAS
iminência de um conflito com os alemães, os russos queriam um veículo militar ágil, capaz de fazer frente
às blitzkrieg do exército de Adolf Hitler. A outra versão é que os documentos com detalhes da motocicleta foram vazados da fábrica da BMW. Qualquer que seja a verdadeira história, a R7 serviu de inspiração para a Ural, que ganhou o nome de M-72. Quando
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os alemães foram expelidos do solo soviético, em 1944, a fábrica se mudou da manufatura moscovita para uma cervejaria perto da base das montanhas Ural. O resto, como eles dizem, é história. Até hoje a moto é produzida.
SE há ALGO DE pODRE nO reino da dinamarca nãO é A cOmiDA. EStá Lá O tOp REStô DO mUnDO
QUER SER GLOBAL? EntãO miRE nA SUA ALDEiA ApREnDA cOm O chEf rené redzepi QUE SEGUiR nA cOntRAmãO mUitAS vEzES é A únicA SAíDA. cOm ESSE pRincípiO, ELE REinvEntA A AncEStRAL cULináRiA nóRDicA E LEvA O nOmA AO pOStO DE mELhOR DO pLAnEtA
© Giovanni Tagini/Alamy
Quanto tempo para ser o melhor do mundo? Seis anos se você se chamar Noma. E o que precisa ser feito? Ignorar conselhos que 100 entre 100 gurus da administração vendem. Coisas como olhar a concorrência, fazer benchmark, analisar tendências e pensar globalmente. O dinamarquês René Redzepi fez o contrário. De forma radical. “Se algum dos ingredientes não cresce nas terras nórdicas, nós não vamos cozinhá-lo”, já afirmou. Até abril de 2011, de acordo com a lista da Restaurant Magazine (publicação britânica especializada em alta culinária, que anualmente elege os melhores restaurantes do mundo), a melhor refeição do planeta pode ser encontrada sob as ordens de Redzepi, 32 anos. Nas margens do porto de Copenhague (Dinamarca), no térreo de um prédio que costumava servir de armazém no século 18, fica o Noma, casa criada em 2004. A grande tendência na gastronomia é fugir de sabores globalizados. Sair da estrutura em que a cozinha de um lugar tem a mesma cara em qualquer canto do mundo. Mas dizer – hoje – que a busca de ingredientes locais é a tendência da alta gastronomia ficou fácil. Duro foi pensar assim há seis anos. Nesse período, de 2004 para cá, o El Bulli, com sua cozinha molecular, levou quatro troféus
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de melhor do mundo na eleição da Restaurant (já havia levado um na primeira edição da lista, em 2002). O americano French Laundry papou duas vezes o posto (2003 e 2004) e o inglês The Fat Duck ganhou em 2005. Ao emplacar o primeiro posto da lista, o Noma virou o quarto endereço agraciado. Redzepi já trabalhou no El Bulli. Já trabalhou também no French Laundry. E sabia o que queria e por onde ir. Tanto que não fez em sua casa dinamarquesa releituras de seus antigos – e vitoriosos – empregos. Buscou algo com a cara de seu país. O chef também não caiu na armadilha de se limitar a uma cozinha típica. Criou um conceito diferenciado para manufaturar seus pratos: utilizar o ambiente local como referência, sem ser tradicionalista. A ideia é usar somente ingredientes nórdicos – e dessa forma afastar o Noma da criticada globalização da culinária, em que as tendências mundiais afetam pratos locais da mesma forma que um novo terno da Armani influenciaria todos os ternos vendidos em lojas do Brasil. Com esses ingredientes locais, faz combinações de forma criativa, trazendo a cozinha nórdica para o século 21, mas mantendo a sua identidade regional. Enfim, olhando para a sua aldeia e mantendo seu jeito de conquistar o mundo.
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SHOTS decifrando o dlna QUE SIGNIFICA AlGo Como ‘rEdE dA AlIANçA por Um AmbIENtE dIGItAl’
namoro 2.0: sua tv está de olho no notebook AS EmprESAS SE UNEm pArA FAzEr todoS oS prodUtoS – E oS dA CoNCorrêNCIA – ComUNICArEm-SE ENtrE ElES. Não vAI dEmorAr mUIto E SUA pArAFErNálIA hIGh tECh EStArá ‘dISCUtINdo A rElAção’ Ilustração Sergio Siriguti
pé na estrada dICAS dE dEStINo pArA FAzEr SozINho, Em GrUpo, A doIS... por Fernando Garcia*
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FRAIBURGO, SC Breve histórico: começou a ganhar vida em 1937 por meio dos irmãos Rene e Arnoldo Frey, cuja família de origem alsaciana (hoje região francesa que já foi alemã) chegou ao Brasil em 1919. A economia local baseava-se na extração de madeira e depois se
Se você é daqueles refratários à tecnologia, fique esperto. Continuar arredio pode fazê-lo ser incapaz de ver um jogo de futebol na tv. Isso porque, no caso dos aparelhos eletrônicos, uma coisa é certa: todos estão cada vez mas próximos. A sua televisão já ‘conversa’ com o seu computador, com o seu videogame e também com o seu celular. E, usando a configuração certa e certo apuro ao escolher os equipamentos, é possível formar uma estação multimídia completa em sua sala de estar. A brincadeira faz sentido por causa de uma filosofia chamada DLNA (a sigla vem do inglês para algo como “Rede da Aliança por um Ambiente Digital”), conceito gerado por um grupo de empresas que produz aparelhos eletrônicos com a intenção de fazer com que eles interajam entre si. A ideia é permitir que seus arquivos, fotos, games e contatos sejam facilmente trocados entre todos os aparelhos da casa, formando uma espécie de rede pessoal (cafeteiras de design invocado e barbeadores elétricos supostamente continuarão excluídos da lista). De resto, todos eles vão se
comunicar para melhor atender suas preferências. Helton Kunen, 24, é rato de internet. Ele toca o blog HitechLive (hitechlive. com.br) e é sócio da Coworkers, empresa de comunicação em redes sociais. Nosso professional geek nos ajudou a escolher três gadgets com alta capacidade de conversar entre si. Se você possui ou planeja comprar qualquer um deles, fique atento: na coluna aí à direita, destacamos parte das funcionalidades que talvez sejam novidade para quem não tem tempo ou ânimo para fuçar o manual todo. Os gadgets indicados foram escolhidos por se tratarem de produtos facilmente encontráveis no mercado brasileiro. Com um set assim, será possível realizar total integração entre tv, videogame e pc, por exemplo. Não é a única opção para conseguir essa integração em sua casa, mas serve como exercício para mostrar os benefícios que o conceito DLNA traz. A graça é usar a tecnologia para sua comodidade, e não virar refém dela. Assim, as partes ‘sociais’ da sua vida não se limitarão ao Facebook ou o Twitter.
rendeu às maçãs. Da pronúncia de Frey nasceu Fraiburgo, que virou cidade em 1961. Localização: a 375km de Florianópolis e a 300km de Curitiba. Para que tipo de Rider: o de estradas sinuosas. Onde ficar: Hotel Renar, diárias a partir de R$ 229 (duplo).
Onde comer: No Midori, japa fera em truta que faz uma sobremesa chamada Ovo Doce: parece ovo, mas a gema é um pêssego e a clara é manjar de coco. Um prato típico local é o michuí, de origem árabe. Em resumo, a terra tem DNA alemão, o produto é a maçã, o restaurante
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Tvs da Linha Infinita (LG) Acessam a internet através de uma plataforma própria chamada NetCast. De início, a função só suportava os portais Terra, Uol, Youtube e um canal de previsão do tempo. Uma nova versão do sistema acada de sair, dando acesso a mais serviços, como o Skype, o Twitter , o Facebook e várias lojas digitais. Playstation 3 (Sony) Acessa a internet, permitindo que mesmo o jogador sozinho em casa jogue com qualquer pessoa do mundo, com uma performance muito rápida. Pode ser conectado por bluetooth e abrir arquivos do seu computador, sem precisar de fios. Ainda elimina a necessidade de um leitor de bluray, uma vez que seus jogos são exclusivos dessa mídia. Laptop Vaio VPC-Z110GB (Sony) Gera imagens em Full HD e possui a saída HDMI necessária para transformar sua tv em um monitor de alta definição. Possui também um leitor biométrico, que registra as digitais do dono, garantindo acesso exclusivo ao seu conteúdo.
é japonês e a comida típica é arabe. O que ver (ou fazer): a graça é participar da colheita de maçã. Para isso, planeje viajar entre fevereiro e maio. *Fernando Garcia é especilista em viagens de moto e mantém o site rotagourmet.com.br
SEGURANÇA
DÚVIDA CRUEL // Dar ou pedir no Natal?
Por Geraldo Simões*
© Fotos Divulgação
Se você tem alguma dúvida sobre o presente de Natal mais legal desde a primeira aparição de Santa Claus, nós vamos te oferecer um sério dilema: estes dois itens são tão legais que não será difícil você comprar para seu melhor amigo e decidir ficar com os mimos. O lançamento são as canetas que a Montblanc fez em homenagem a John Lennon, para lembrar o ano em que o ex-Beatle completaria 70 anos. A linha John Lennon tem quatro modelos: a Special Edition, em versões ballpoint e rollerball, a Commemmoration Edition 1940 e a Limited Edition 70. Os preços
começam em R$ 1.850 e vão até onde nem Lennon imaginaria. Pela beleza dos itens, vale o desembolso. A outra quinquilharia de luxo também saiu recentemente e é mandatória: um flash drive no shape de uma maçã com toda a discografia do fab four. O Beatles USB tem 14 discos (os 13 da discografia oficial – veja infografia na página 29 – e Past Masters, uma coletânea) com a arte inclusa e 13 minidocumentários sobre a gravação de cada álbum As canetas você encontra nos pontos de venda da Montblanc. O pen drive, em sites como o Amazon.
ONDE NENHUM CAMELÔ JAMAIS ESTEVE Site chinês de quinquilharias oferece tudo aquilo que você sempre quis comprar, mas ninguém nunca teve coragem de vender. E o melhor: o frete é grátis Garantimos que você não vai gastar horas na frente do computador durante a sua primeira visita ao Deal Extreme (dealextreme.com). Voce vai gastar dias. O site é uma espécie de megacamelódromo high tech, que vende coisas que você nem sabe que existem,
malucos, como um falso apontador laser que dá choque nos amigos e uma bolinha terapêutica anti-stress em forma de seio. O site oferece opção de frete grátis para aqueles que têm paciência para esperar por volta de um mês (e alguns dias) até o produto chegar.
mas vai querer comprar assim que vir o preço. Nessa loja chinesa virtual, dá para adquirir toda sorte de acessórios, desde coisas que podem ser muito úteis, como um bafômetro a pilha (foto), para usar no controle de eventuais bebedeiras, uma cafeteira que funciona via USB, ou até itens realmente
«NUNCA CONFIE EM NINGUÉM EM UM FILME ITALIANO. E FIQUE LONGE DE EFEITOS ESPECIAIS E EXPLOSIVOS» CLINT EASTWOOD PARA O ATOR ELI WALLACH NAS FILMAGENS DE O BOM, O MAU E O FEIO (1966)
<<ENTRE ASPAS>> Diálogos, cenas e frases que todo homem precisa saber Por Fabrício Calado
Às vezes, uma boa fala no momento e contexto corretos pode ser a salvação. No trabalho, entre amigos, numa discussão amorosa... Quem assiste a filmes sabe. Por isso, compilamos algumas das frases mais memoráveis do mundo do cinema, na tela ou do lado de fora dela.
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“Mantenha seus amigos perto, e os inimigos ainda mais perto.” Michael Corleone, em O Poderoso Chefão 3.
“O horror, o horror.” Walter E. Kurtz, em Apocalypse Now, num comentário avalizado sobre o sentido da vida.
“Se você fala com Deus, você é religioso. Se Deus fala com você, você é psicótico.” Dr. Gregory House, da série House.
“Nunca pare. Nunca pare de lutar até a luta estar terminada.” Do agente Eliot Ness para Al Capone em Os Intocáveis.
ACERTE NA FRENAGEM SABE A REGRA DE QUE NÃO SE DEVE USAR 100% O FREIO TRASEIRO? POIS ESQUEÇA-A SE QUISER EVITAR QUEDAS
Você certamente está saturado de ouvir aquela mesma história sobre frenagem: usar 70% do freio dianteiro e 30% do freio traseiro. Pois esqueçam esta fórmula matemática. Existem situações nas quais se usa 100% do freio traseiro. Imaginese em baixa velocidade com a namorada na garupa. A cada vez que usar o freio dianteiro, a transferência de massa para a frente vai fazer a menina se apoiar no piloto que, por sua vez, vai espremer os ovos no tanque. Esse omelete pode ser atenuado usando apenas o freio traseiro. Nas pistas, estamos acostumados a ouvir pilotos, sobretudo os mais velhos, dizendo que simplesmente não usam o freio traseiro. Se fosse verdadeiro, como explicar a existência de freio traseiro nas motos de corrida? Na verdade, o que provoca o travamento da roda traseira na frenagem não é o freio traseiro. É o EXCESSO do dianteiro! Nas motos sem sistema dual ou combinated (dianteiro e traseiro estão no mesmo comando) o acionamento é feito por comandos separados. Normalmente a tendência é aplicar o freio dianteiro com muita violência no começo da frenagem. Com isso, a moto sofre a transferência de massa para a frente, a suspensão dianteira se comprime e, consequentemente, a traseira levanta. Se o motociclista encostar no freio traseiro neste momento a roda traseira trava sem dó e pode levar ao tombo. Portanto, deve-se dosar o freio traseiro e não simplesmente ignorá-lo. A frenagem deve começar por ele. Ao acionar primeiro o freio traseiro, a transferência de massa para a frente será menor, a suspensão dianteira sofrerá menor compressão, a frente não afundará e a traseira continuará estabilizada. Isso deve ser feito após muito treino e quase simultaneamente. A sequência deve ser traseiro-dianteiro sempre. *Geraldo ‘Tite’ Simões é jornalista e piloto de testes há mais de 25 anos. Mantém em Piracicaba (SP) um curso de pilotagem preventiva – speedmaster.com.br.
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SHOTS BOA, OBAMA! Chega de Oprah Winfrey. Enfim, algo bacana chega dos States
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Boont ESB // Beba com: indiana Álcool: 6,8% Road Dog // Beba com: frutas secas Álcool: 6,0%
© Fernando Martinho
Local 1 // Beba com: tudo Álcool: 9,0% Hazelnut Brown // Beba com: doces Álcool: 4,8% Morimoto Black Obi // Beba com: peixes Álcool: 5,0% East India // Beba com: japonesa Álcool: 6,8%
Old Scratch// Beba com: apimentados Álcool: 5,5%
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Dos seriados com claque de risadas no fundo até a moda dos emos, consumimos cacarecos bem ruins do Tio Sam. Seria muita sacanagem se nunca tivéssemos acesso à coisa mais legal que eles inventaram desde 1903 (ano em que nasceu a Harley-Davidson): a onda de cervejas artesanais. A coisa estourou e finalmente chega ao Brasil com uma distribuição capaz de atender mais consumidores – e não apenas iniciados que traziam suas relíquias na volta da viagem. Em 20 anos, os Estados Unidos saíram de umas 50 microcervejarias para mais de 1,5 mil. Isso significa muita variedade e criatividade nas cervejas. A diferença delas para clássicos europeus, especialmente as belgas, está no que os americanos chamam de drinkability, certa facilidade para beber. Ainda assim, sem perder o sabor, bem distante das lagers geladonas que abundam o mercado. “Os Estados Unidos estão fazendo receitas clássicas, mas com sabor diferente”, afirma Paulo de Almeida, do Empório Alto de Pinheiros, em São Paulo, uma das primeiras lojas a oferecer vasta oferta de americanas. “Eles têm uma variedade muito grande. E o lúpulo americano é aromático.” O sabor está bacana, mas o preço ainda anda salgado: a partir de R$ 15 (355ml). Mas vale você fazer o teste. Cheers, como diriam por lá. Reportagem Cleiton Sotte
Acima de tudo
Super Titanium
A nova linha de relógios Super Titanium, produzidos a partir de tecnologias aeroespaciais, são 5 vezes mais resistentes do que os de aço inox e mais leves do que o titânio comum. Para a Citizen, construir um relógio é sobretudo ultrapassar os limites. Citizen e Eco-Drive são marcas registradas da Citizen Holdings Co., Ltd., Japan.
www.citizen.com.br
PAULO MIKLOS Ilustração Luciano Araujo Fotografia Manoela Miklos
deMASIAdO herOIcOS nós, brasileiros, Humanizamos nossos Heróis. assim eles ficam mais parecidos com a gente e só assim podemos acreditar que foram extraordinários seus grandes feitos. e ai do estrangeiro que seguir por esse caminHo!
e arremessando mãe e filho a uma considerável Quando a gente sai da casa dos pais, distância. Ninguém se feriu. Anos mais tarde, na verdade já vinha saindo há um bom já adolescente, eu começaria a ensaiar minha tempo, caindo no mundo, definindo espaços pose de rocker com o blusão de couro que ele e afinidades, e já era quase visita na casa usava nessa noite. Hoje eu posso dizer que dos velhos. Agora, quando são os filhos que conheço o Brasil, estive nos 26 estados da estão saindo, a sensação é de estar ficando federação, muitos deles eu cortei de ponta pra trás, de abandono, mesmo que a nossa a ponta pelas estradas. Não é pra menos que maior torcida seja a felicidade deles e chamamos de circo do rock nossa caravana. saibamos que chegou o momento. Somos saltimbancos tomando de assalto Meu pai tinha uma Jawa 350, uma moto as cidades. Artistas levando uma vida das grandes, em 1959. Conheceu uma carioca cigana, indo até onde o povo está. Um dia durante o curso de medicina no Rio, casou-se em cada porto. Pedra que rola e voltou para constituir família não cria limo. Serpenteando em São Paulo. Quando a gente fala pelas curvas das Minas Gerais, do pai da gente, o certo é tratar Compreendo nas longas retas do planalto, o assunto como quando a gente perfeitamente sertão adentro, no frio dos cita grandes feitos dos grandes essa paixão pela pampas, sobrevoando o litoral vultos da história nacional. Não máquina. É o esplêndido ou a imensidão interessam detalhes vacilantes, que eu sinto pela da floresta amazônica. Muitas eventualidades escorregadias, minha guitarra. vezes animamos grandes dias de pouca sorte ou pequenos Às vezes, um encontros de motociclistas. acidentes. O fato é que, voltando contra o outro E o amor pela motocicleta para casa numa noite, a esposa não tem idade, cor, crença, e o filho de seis meses esperavam sexo ou classe social. Fizemos shows em para recepcioná-lo no portão do sobrado de praça pública, com desfile das motos mais Pinheiros. Como todo acontecimento histórico malucas, e eventos fechados, com exibição controverso, temos algumas versões para das máquinas mais sofisticadas. essa história também. Aconteceu que, ao Compreendo perfeitamente essa paixão tentar frear diante do portão, derrapou numa mancha de óleo deixada pelo velho Oldsmobile pela máquina. É o que eu sinto pela minha guitarra. Às vezes estamos um contra Dynamic Cruiser do meu avô e fez sua o outro. Mas vamos nos entendendo cada vez entrada triunfal levando o portão de ferro
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melhor. Sempre juntos, nos completamos. E ela me leva pra o mundo. Uma coisa que nós, brasileiros, exercitamos com prazer é esculhambar nossos próprios mitos, em uma atitude saudável de autocrítica e autoconhecimento. Humanizamos nossos heróis. Assim eles ficam mais parecidos com a gente e só assim podemos acreditar que foram extraordinários seus grandes feitos. E ai do estrangeiro que seguir por esse caminho! Nós fazemos isso com carinho. Faz lembrar o filme maravilhoso da Carla Camurati, Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995), que além de tomar posse da nossa história, humanizando nossos heróis, devolveu a confiança no nosso próprio cinema. E eu pensei que fosse a mãe que mais sofreria com a saída da filha única, a companheira de sempre. Mas fui eu quem ficou mais melancólico. Então concluo que a vida é cheia de pequenos acidentes, manobras desajeitadas e do receio de grandes desastres que não se confirmam. Quem não derrapa não encontra o ponto de equilíbrio. O erro humaniza o herói. Toda a felicidade, minha filha. Teu pai vai estar sempre por você.
Paulo Miklos, 51 anos, é músico. Faz sucesso como vocalista e multi-instrumentista do Titãs, grupo do qual foi um dos fundadores em 1981, tem dois discos individuais, além de carreira de ator, no cinema e na tv.
MILLY LACOMBE Ilustração Luciano Araujo Fotografia Arquivo pessoal
VIVA A trIstEzA QUANDO ATRAVESSÁVAMOS A RUA, MEU PAI ME PEGAVA PELA NUCA E DIZIA: ‘GATINHO A GENTE SEGURA ASSIM’. EU NEM ME DAVA O TRABALHO DE VER SE ALGUM CARRO ESTAVA VINDO. SE ELE ME CONDUZIA, ENTÃO ERA SEGURO
Estávamos em frente ao aparelho de tv da sala, em uma época na qual as casas tinham, quando muito, apenas um aparelho de tv, e foi a primeira vez que vi meu pai chorar. Eu tinha 10 anos e, até aquele momento, guardava em mim apenas uma certeza – por pior que fosse a situação, meu pai nunca deixaria que nada de ruim me acontecesse. Por isso, ver aquele homem tão grande e tão forte e tão seguro derramar uma lágrima não era compatível com a imagem que eu fazia dele. Minha mãe eu já tinha visto chorar. Mas nunca meu guardião, o cara que me protegia dos perigos do mundo. Quando atravessávamos a rua, ele me pegava pela nuca dizendo “gatinho a gente segura assim”, e eu nem me dava ao trabalho de ver se algum carro estava vindo. Se ele me conduzia, então era seguro. Também por isso a percepção de seus olhos úmidos naquela tarde de domingo tenha me chacoalhado. Até hoje não sei se ele sabe que eu o flagrei chorando, mas também não sei se estava preocupado em esconder. Não cresci ouvindo meu pai dizer coisas como “homens não choram” para meu irmão. Aliás, minha realidade sempre foi levemente alterada – meu pai nunca dirigiu, nunca conseguiu desentupir uma privada, pregar um quadro ou matar uma barata, para desespero de minha mãe. Ainda assim, ele era o cara. Era ele que me falava sobre o mundo lá fora, sobre certo e
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errado, sobre futebol e felicidade. Era ele que lia para o sofrimento profundo, ainda que só os muito íntimos consigam passar em silêncio para mim na cama, ele que incentivava minhas pela tristeza, ficamos ali sentindo uma dor manias e que dava bola para minhas neuroses. que era irremediavelmente, e apenas, nossa. Que mais podemos querer de um homem? E eu lembro de ter, ainda com a cabeça em seu Esse era um domingo especial. Nosso time ombro, entendido que os verdadeiros heróis são jogaria contra o Corinthians e a vitória dava de carne e osso. E que talvez a sabedoria esteja direito a uma vaga na final do Brasileiro em saber sofrer muito mais do de 1976. Futebol era nosso grande que no fato de tentarmos, a todo elo e até ali, a vida era fácil. Aos 10 anos, o custo, evitar a dor, que é, em As derrotas tinham sido tinha apenas variadas escalas, absolutamente facilmente administradas e as uma certeza: inevitável. Talvez tenha sido vitórias, docemente celebradas. por pior que fosse exatamente ali que percebi uma Só que aquela derrota seria a situação, meu coisa que tenho como verdade diferente. Morando em São pai nunca deixaria até hoje: só a tristeza é capaz de Paulo, tínhamos decidido não que nada de ruim nos reconciliar com a realidade. ir ao Rio ver o jogo, que era, “A partir de agora, quando de certa forma, o mais importante acontecesse ganharmos, você enxergará na história do nosso time. a alegria em cores novas”, Diante da tv, como sempre fazia, meu pai me disse naquele dia. ele ia me explicando o jogo, as inversões Meu pai morreu 24 anos depois dessa tarde de posição, os riscos estratégicos assumidos de domingo. No meio de tantas memórias, por cada time. Até que o juiz apitou o fim e, tristezas e alegrias, só uma coisa faltou de repente, tornou-se definitivo – ser dita em abundância – obrigada. estávamos eliminados. Assim como na vida, no futebol não há como retroceder. Diante da gelada constatação do fim, meu pai simplesmente chorou. Não como uma criança, aliás, para o visitante Milly Lacombe, 43 anos, era publicitária. “Aos 30 fiz voto desavisado, alguém que não fosse especialista de pobreza ao decidir viver da letra.” Foi colaboradora naquele homem como eu era, a lágrima da Folha de S.Paulo em Los Angeles, dirigiu a revista TPM talvez nem se fizesse notar. Mas eu notei. e é comentarista de futebol. Autora de Tudo É Só Isso Sem dizer nada, porque não existe retórica (ed.Benvirá), vive com a mulher e dois cachorros.
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julio menezes Ilustração Luciano Araujo Fotografia João Ribeiro
Get your motor runninG A MOTOCICLETA é O MAIs MAsCuLInO, ELETrIzAnTE E CuLT dOs vEíCuLOs dE AvEnTurA E vELOCIdAdE já CrIAdOs. TAnTO é vErdAdE quE suA MuLhEr sEMprE TEnTArá IMpEdI-LO dE TEr A prIMEIrA
concessão da sua algoz seria proibir na sua casa Uma das melhores maneiras de se gastar as comédias românticas. Aquilo definitivamente dinheiro é comprando uma motocicleta. baixa a taxa de testosterona, convida a uma Talvez a pior seja deixando a menina espécie de lassidão, além de gerar no sexo na garagem. Seria como tirar um ovo feminino expectativas que se você vier a cumprida galinha para devolvê-lo à cloaca. las, antecipará sua esterilidade em pelo menos A motocicleta é o mais masculino, eletrizante dez anos, além de causar a frigidez dela em cinco; e cult dos veículos de aventura e velocidade já vocês apenas farão guerras de travesseiros e criados. Tanto é verdade que sua mulher sempre correrão de mãos dadas em parques de diversão tentará impedi-lo de ter a primeira. Certamente em dias de chuva primaveril. os jipeiros, donos de lanchas cigarrete e até Vá aos poucos substituindo os politicamente corretos e por outro tipo de filme. Não seja ecológicos ciclistas tentarão te Moto não foi ingênuo a ponto de pensar que convencer do contrário. Mas se eu Easy Rider ou O Selvagem poderão fosse você, pensaria 100 vezes antes inventada para criar teia de despertar, nessas meninas, algum de trocar sua Triumph por uma aranha. Cabe a interesse que vá além dos sorrisos Berlineta Caloi. Veículo com as você fazer o que de Peter Fonda e Marlon Brando. características de uma motocicleta deve ser feito: Para a maioria delas, motocicleta não foi inventado pra criar teias de no cinema é a Noviça Voadora aranha. Garagem é o lugar ideal para meter sua menina guiando sua lambreta. Não, nada juntar jornais velhos, vasilhames de na estrada de clássicos, tente um daqueles refrigerante e cotovelos e conexões filmes onde os camaradas saem de três quartos... Claro que da marca para caçar ou pescar uma vez por ano. No início Tigre, afinal você sempre foi malvadão, lembra? não fale em motocicleta. Isso ela só saberá no dia. Você que ainda não perdeu sua virgindade — Mas e as varas de pesca??? estradeira, seja numa highway, seja nos buracos — Ah, a gente retira no local. de uma vicinal, é claro que não foi por falta de Quantos casamentos já não foram salvos tempo ou disposição. Talvez o problema seja de por viagens de motocicleta?! ordem mais complexa: sua mulher, namorada, Outro problema que o motociclista tem pra mãe? Mas isso também pode ser contornado. resolver é aquela bobagem que o fabricante A maneira menos indicada seria convidando-a inventou e que os vendedores de concessionárias para ir junto... Bem, isso é lá com você... ou vocês, adoram levar adiante: há motos para a cidade não sei. Uma coisa que ajudaria muito para a
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e outras para estrada. Tudo besteira, isso não passa de mais uma lenda urbana... Ou rural, vai depender da cidade em que você comprou a moto. Qualquer moto é para a estrada, assim como a estrada é para a motocicleta. E caso você ainda não tenha se dado conta, ela precisa de um piloto. E cabe a você, e a mais ninguém, fazer o que deve ser feito: rasgar o protocolo onde você escreveu seu guia do cotidiano e meter sua menina na estrada. E essa estrada, meu amigo, não é a que te conduzirá, é a que te trará. Vai te devolver o que você esqueceu: aquilo que você de fato é. Porque você pode ter certeza, o motociclista precisa pilotar na mesma quantidade que respira. Essas trips nos levam ao oco. É uma experiência sensitiva. Os caras da beat generation sentiam tanta liberdade nas estradas que consideravam o pedágio “um rompimento com o vazio”. É, só é possível preencher o que ainda tem espaço. E a estrada e a sua menina podem te dar isso de sobra. E aí, depois de cumprir o seu dever, você decide com o que completar esse tanque que é sua alma, sei lá, bolachinhas de maisena, rock’n’roll, comédias românticas, gasolina. Aí é com você. Na verdade tanto faz, desde que esteja disposto a acelerar e esvaziar seu peito novamente.
Julio Menezes, 46 anos, é fotógrafo e escritor. Começou na foto em 1981 e escreveu Gasolina (ed. Porto de Ideias). Hoje vive numa idílica pousada no litoral norte paulista.
RIDERS 2+2 Por Cassio Narciso // Ilustração de Sergio Siriguti
O que a estrada uniu, duas rodas não separam. Neste comparativo entre dois compactos, toda a ginga britânica é posta à prova, principalmente nas curvas. Conheça os pontos fortes do Mini Cooper S, muito além de Mr. Bean, e da Triumph Daytona 675, objeto de desejo de pilotos não só da Europa, como também daqui. Duas pequenas máquinas, mas capazes de fazer qualquer estrada se curvar
Duelo de minigigantes Se engana quem acha que tamanho é documento. Compactos, o Mini Cooper S e a Triumph Daytona 675, ambos símbolos da engenharia inglesa, são garantia de alto desempenho e design, principalmente para quem gosta de curvas. Concebido para ser um ‘fusca’ inglês, o Mini já ganhou diversos prêmios e atualmente é tido como um carro cult. Tanto é assim que fez escola e ganhou sucessores não só no Reino Unido, mas em todo o mundo. Atualmente várias marcas estão lançando carros compactos, como a Audi e seu modelo A1. Com motor transversal, tração dianteira e suspensão independente nas quatro rodas, o Mini tem um espaço interno surpreendente apesar das dimensões reduzidas. E estética à parte, é ágil como só alguém de sua estatura. Com o carro em movimento, basta provocar o motor na primeira curva para conhecer as suas qualidades dinâmicas. A suspensão ‘cola’ o veículo ao chão e o pequeno espaço entre eixos torna passear em qualquer serra uma diversão.
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Para quem quer ainda mais da experiência, é possível achar uma versão conversível desse inglesinho que não passa despercebida. Outra baixinha que atrai olhares por onde passa é a Daytona 675, modelo line-up da Triumph preferido da maioria dos pilotos brasileiros. Os faróis duplos na dianteira dão personalidade à máquina. As linhas são agressivas e o escapamento, com saída por baixo do banco, faz a moto parecer ainda mais um modelo de competição. Ao acelerar, é difícil não notar o ronco do motor, que mais se assemelha a um assobio metálico. As acelerações são rápidas e dignas de uma superesportiva. Para liberar todo o potencial dessa moto, o ideal é procurar um autódromo para um track day ou até mesmo fazer bonito em competições amadoras. Com uma dessas, é possível ao piloto encostar até mesmo o cotovelo no chão. Como já deu para perceber, cavalgar a 675 não é para qualquer um. Com a velocidade máxima superior aos 250 km/h, essa moto é verdadeiro foguete sobre duas rodas e exige tanto respeito quanto juízo.
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Mini Cooper S
1. Trata-se de uma versão apimentada do compacto inglês, com tradição e inovação do Mini original, lançada com o intuito de ser um carro popular
2. Com os diferenciais da época, como tração e motor na dianteira, dimensões reduzidas e suspensão acertada, ganhou fama de ser bom de curva e até foi chamado de ‘kart’
3. Também é célebre como o carro do Mr. Bean (seriado inglês) e pela ‘ponta’ no filme Uma Saída de Mestre. A marca é subsidiária da BMW. O motor
1.8 rende 175cv
Triumph Daytona 675
1. Nascida a partir da ideia de uma moto de 600cc. Possui três cilindros, para dar mais equilíbrio, e compensa a falta do quarto cilindro com 75cc a mais de motor
2. Além de ser conhecida pela resposta de seu motor, que gera 126cv, também contorna as curvas com facilidade, por causa das suas dimensões reduzidas
3. Lançada em 2006 para o lugar da Daytona 650, tem o maior torque da categoria (7,54 kgfm). Os pneus permitem que você incline ao máximo a moto
númeROS
A maior banda de todos os tempos. Passamos a vida ouvindo isso sobre os Beatles. Mas basta ver os números abaixo para entender por que é tudo verdade. Todos os dados são oficiais ou foram confirmados com mais de uma fonte de informação. Pode apostar
c s i os ofcia d s o n s is e
õ l anç ç n á l b e u d n s vend a 00.000 a c do i d o 3 s 0 de sd 9 00. a v e a i r 1 e o t 1 a s 9 l Beat 63 e1 or p i .0 les á a 1 a m h de oas: último show da band ao viv té h
21 m a 292 apresen taç ilhõ m o õ es e repetições 216 avras te da síl s feit d l m a ar pa b as 538 00 artistas já gr eport a “n 2 ava ag e2 ra e m +d
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Please Please Me, With The Beatles, A Hard Day’s Night, Beatles for Sale, Help, Rubber Soul, Revolver, Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Magical Mystery Tour, The Beatles/ White Album, Yellow Submarine, Abbey Road, Let it Be
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DISCOGRAFIA*
) lbum il de 1964 eA e abr hit 4d
2 1º grupo a f disco ech sf a
ng ua Beatles no Ca ci oS om pelos ver rr as n 3 6 tar n n i 9 s a 1 n m s C ú a g s d i a a c r l l á a u o 1 H r e p 196 canta evereiro de 1963 ey Ju b, em ( de são 1º de f ita a músic da N de: n e M a po a” de rday, el pn Eq o e º1 m est d Y
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le Y B nny and the Moo a n d o s g e P ea s em oves eetles, Joh , Lon B L l g artney (10,4 m he n, The Paul McC aram pela i), Georg John ea eH c prim an e ), de to i e i r ym m ol, on a v arri ª estrofe, ma ez so ,5 i s po ós a 4 14 iver es ap tava a banda e fa nove – , n lav a en ez L s e s c v s o o e r c p riati a so pós ve apr ria. O vo br : P ue histó au e l a
33 m inu 55.6 to sf 0
de n-M dia: 22 de novem sd esmo a b r m c x o. O Ca o ai Buy Me Love, Tw sn t f ’ p rtn n o a r ist a i m 51 nçad oard (C nd e de se adotar T
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or m 1 9), Starr (2), o f a b k S de f son (1 de o i r u ã r r a ( tod o to 15 :H os utoria th the Beatles) e o segundo em 1 o (4). 2 Fr i 9 a 6 ag 6 W 8 ( nt to Hold Your H sã a n d I Wa 63 o e P (The ou, 19
0
oj a, d s o o, d s ã s o o pe ração discografa nã da dupla Lenn ia 29 dia
rafa ofcial, comp 0 discog ac t o s 197 Ps da ,E 3 a ndo L 1965, no Shea Stadium, em Ps e a n N to 96 clui sto de o Candlestick P ov n a l a o , r o in k Y ,e g ag 966 e,
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*Riders considera apenas os LPs de estúdio lançados entre 1963 e 1970. Não estão incluídos discos que saíram depois do fm da banda, nem compactos e EPs. Inclui-se Magical Mystery Tour, lançado como LP nos EUA e EP na Inglaterra
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www.johnjohndenim.com
MENS
backstage | campaign summer 11
ESTILO
PRONTO PARA O VERÃO
Por Marina Torquato Fotografia Carlos Cubi
ATITudE Pé NO chÃO 1
Bonitas e confortáveis, as sandálias ganham espaço e prometem ser a aposta cool da estação. Esquentou, abuse delas!
1. Sandália de couro Side Walk (R$ 129)
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2. Sandália de camurça e couro The Craft (R$ 177)
3. Sandália de couro e algodão Base (R$ 194) 4. Sandália de couro Jorgito Donadelli (R$ 129)
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Produção: Carla Romano; Assistente de produção: Fabiana Neves
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estilo Moto Jaquetas
Jaquetas precisam proteger. Mas não abra mão da elegância. Em três versões: dia a dia, adventure e estilo dia a dia 1. Rev’it! (R$ 649) 2. Dainese (R$ 1.455) adVeNtuRe 3. Rev’it! (R$ 1.499) 4. Dainese (R$ 1.990) estilo
5. Rev’it! (R$ 1.890) 6. Dainese (R$ 2.320)
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pOlOs COlORIDAs
Escolha certeira! Polo junta o lado formal da camisa e o conforto da camiseta. Invista nas cores fortes e nas listras
1. Forum (R$ 235) 2. Colcci (R$ 236) 3. TNG (R$ 60) 4. Zapalla (R$ 205) 1
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5. Everlast (R$ 70) 6. Lacoste (R$ 249) 7. Gant (R$ 253) 8. Triton (R$ 199) 9. Sérgio K (R$ 280)
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Produção: Fabiana Neves
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As motocicletas Yamaha estão em conformidade com o Promot - Programa de Controle de Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares. Imagens meramente ilustrativas. SAC Yamaha: (11) 2431-6500 / sac@yamaha-motor.com.br. Caso necessário, ligue para a Ouvidoria: 0800-774-9000 / ouvidoria@yamaha-motor.com.br/CAS - Atendimento ao deficiente auditivo ou de fala: 0800-774-4050.
NO TRÂNSITO SOMOS TODOS PEDESTRES.
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PRODUZIDO NO POLO INDUSTRIAL DE MANAUS
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2 1. LS2 (R$ 379) 2. Hebo (R$ 329) 3. Shoei (R$ 1.749) 4. AGV (R$ 2.224) 5. Arai Helmet (R$ 2.195) 6. Scorpion Exo (R$ 1.105)
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© Fernando Martinho
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Mochilas viraram a peça curinga de todo homem. Vão para o escritório, a academia, o bar, o restaurante... E para a moto!
1. Hering (R$ 120) 2. Oakley (R$ 700) 1
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3. Adidas Originals (R$ 400)
4. Victorinox (R$ 379) 5. OLK (R$ 189) 6. Ermenegildo Zegna (R$ 1.540)
7. Calvin Klein Jeans (R$ 289)
8. The North Face (R$ 400)
9. Reebok (R$ 150) 4
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Produção: Fabiana Neves
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riders chrono Por Marina Torquato Fotografia Carlos Cubi
emborrachados No mundo das horas a vez é do relógio esportivo com pulseira de borracha. Para acertar os ponteiros com a moda, aposte no azul e no laranja
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1. nixon para surface to air (R$ 320) 2. tommy hilfiger para ViVara (R$ 380) 3. diesel (R$ 799) 4. dumont (R$ 320) 5. mido (R$ 2.180)
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6. timex (R$ 598) 7. ulysse nardin para amsterdam sauer (Preço sob consulta) 8. armani exchange (R$ 1.050) 9. tissot (R$ 4.050 ) 10. michael Kors (R$ 1.399)
Produção: Carla Romano Assistente de produção: Fabiana Neves
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riders TeCNO Por Marina Torquato Fotografia Divulgação
NãO é TrOTe Deixe o problema de procurar rede para quando for a uma pousada de frente para o mar. Veja o que há de novo entre os celulares, em modelos que cabem em vários bolsos e orçamentos
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1. hTC MAgiC Suporte para e-mail, wi-fi, bluetooth e touchscreen LCD 3.2" (R$ 320) 2. iPhONe 4 Câmera 5.0 Mp com flash LED, grava vídeo em HD, novo OS com mais APPs (R$ 1.799 - 16Gb; R$ 2.100 - 32Gb) 3. sAMsUNg wAve Interface Social Hub de integração de e-mails, câmera de 5.0 Mp (R$ 1.899) 4. lg dUAl ChiP gX500 Dual Chip, GSM Quadband (R$ 799) 5. MOTOrOlA BACKFliP Interface Motoblur, integra e-mail, notícias e atualizaçôes em redes sociais (R$ 1.299) 6. BlACKBerry BOld 9700 Navegação por Trackpad, tela de alta resolução (R$ 2.399) 7. NOKiA N900 Sistema Maemo 5 Linuxbased, Câmera de 5.0 Mp, gravação de vídeo em HD (R$ 1.699) 8. sONy eriCssON XPeriA X10 Reconhecimento facial em fotos com integração à agenda (R$ 1.999)
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Enrique Iglesias
SAC: 0800 704 3440
www.neutrolab.com.br
riders BeLeZa Por Marina Torquato Fotografia Carlos Cubi
Verão sem rastros Muita personalidade nas fragrâncias frescas, que remetem à natureza, são as apostas das grandes grifes para os lançamentos da estação mais quente do ano
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1. imperiaL siLVer CoLogne Tânia Bulhões Perfumes, 100 ml, amadeirado com notas de mahogany, blackberry e green leaves (R$ 95) 2. L’oCCitane Verdon Eau de Toilette pour Homme, 50 ml, cítrico com notas de bergamota, limão, menta, lavanda e cedro (R$ 112) 3. guCCi By guCCi sport Pour Homme, 50 ml, amadeirado aromático com notas que vão do grapefruit e patchouli às sementes ambreta (R$ 226) 4. montBLanC Individuel, 50 ml, ambarino refrescante com notas de bergamota, lavanda, menta e outros (R$ 320)
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5. marC JaCoBs Men, 75 ml, amadeirado, fragrância de figo, especiarias orientais e almíscar (R$ 235)
6. dsquared2 He Wood Rocky Mountain, 50 ml, amadeirado, notas de vetiver, musk, incenso, violeta, e outros (R$ 227)
7. daVidoff adVenture Eau Fraiche, 50 ml, aromático, notas de gengibre e aroma de cedro e vetiver (R$ 160) 8. prada Amber pour Homme, 100 ml, fragrância suave de patchouli, gerânio, couro e cítrica, entre outras (R$ 432)
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steve jobs
a teoria da maçã Não se trata de um discurso recente, mas de um discurso eterno. A fala de Jobs em Stanford é um misto de biografia e receituário de superação, praticamente inédita em publicações brasileiras. O ‘my way’ do cara que enfrentou um câncer raro e até a demissão da empresa que fundou
Steve Jobs discursa como paraninfo da turma de Stanford, nos Estados Unidos. É preciso um estádio para acomodar o público. Ali, os alunos tiveram acesso a conhecimentos que extrapolam o universo da tecnologia e cobrem outros terrenos, igualmente nebulosos: a vida, seja ela pessoal, acadêmica ou profissional. Não demora muito para a fala de Jobs aos universitários, reproduzida integralmente a seguir, parar na internet em texto, áudio e vídeo. Ele discursou em 12 de junho de 2005, mas há poucas coisas tão atuais quanto este texto, que praticamente podemos chamar de inédito em grandes veículos brasileiros. Que Jobs te inspire e ensine. três breves histórias
“Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Nunca me formei na universidade. Verdade seja dita, isto é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar para vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias. 1. sobre ligar os pontos
“A primeira história é sobre ligar os pontos. Tranquei a matrícula (no Reed College) depois do primeiro semestre, mas continuei por lá, informalmente, por mais 18 meses antes de realmente sair. E por que eu saí? Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem não formada que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um
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advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina. Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: ‘Apareceu um garoto que nós não estávamos esperando. Vocês o querem?’ Eles disseram: ‘É claro.’ “Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. Esse era o começo de minha vida. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente, escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe operária, estavam sendo usadas para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não conseguia ver valor naquilo. Eu não tinha ideia do que queria fazer na minha vida e menos ideia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo daria certo. “Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que tranquei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim tão romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto
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de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare krishna. E amava tudo aquilo. “Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada pôster, cada capa, cada cartaz eram escritos com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir às aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar o espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante. “Nada daquilo tinha qualquer probabilidade de ter aplicação prática para a minha vida. Mas dez anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro Macintosh, tudo voltou na minha cabeça. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se não tivesse trancado a faculdade (e, desobrigado das disciplinas obrigatórias, conseguido tempo para assistir às outras aulas como ouvinte), o Mac não teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é provável que nenhuma pessoa ou nenhum computador as tivesse.
Š James Leynse / Corbis
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“Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa tipografia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos, ligar os pontos, olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás dez anos depois. De novo: você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem de acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem de acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, carma ou o que quer que seja. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em algum momento vai te dar confiança para seguir o seu coração, mesmo que isso te leve para um caminho diferente do previsto... e isso fará toda a diferença. 2. Sobre amor e perda
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© Monica M. Davey / Corbis
“Minha segunda história é sobre amor e perda. Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz (Steve Wozniak, co-fundador da Apple) e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em dez anos, a Apple passou de algo que éramos apenas eu e Woz em uma garagem para uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação – o Macintosh – e eu tinha acabado de fazer 30 anos. E aí fui demitido. “Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém que, na minha opinião, possuía talento para dirigir a companhia comigo. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir e, consequentemente, nós entramos num confronto. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. Então, aos 30 anos, eu estava fora. E de maneira bem pública. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora, e isso foi devastador. Eu realmente não sabia o que fazer por alguns meses. Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Packard (um dos funddores da HP) e Bob Noyce (um dos fundadores da Intel) e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Eu era um fracasso público e até mesmo pensei em deixar o Vale (do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, onde ficam diversas empresas geradores de inovações científicas e tecnológicas).
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“Mas, lentamente, algo começava a nascer dentro de mim. Eu ainda amava o que fazia. As coisas que aconteceram na Apple não mudaram isso em nada... Eu havia sido rejeitado, mas continuava apaixonado... Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser um iniciante de novo, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa. “A Pixar seguiu em frente, fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple. E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. “Foi um remédio com um gosto horrível, mas o paciente precisava disso. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto com as pessoas que você ama. Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz. Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não se acomode. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não se acomode. 3. Sobre morte
“Minha terceira história é sobre morte. Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que significa algo mais ou menos como ‘Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia você vai estar certo.’ Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: “Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?
“E se a resposta for ‘não’ por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar algo. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões na vida. Porque quase tudo – expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar... Todas essas coisas simplesmente desmoronam perante a morte, deixando apenas o que é apenas importante. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração. “Há cerca de um ano (2004), fui diagnosticado com câncer. Eram 7h30 e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no meu pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que era quase certo que aquele era um tipo de câncer incurável e que eu não deveria esperar viver mais do que três ou seis meses. Meu médico me aconselhou a ir para casa e ‘deixar os meus assuntos em ordem’ – que é o código dos médicos para ‘prepare-se para morrer’.
“Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca escapou. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse exato momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará o velho e será varrido. Me desculpem ser tão dramático, mas isso é apenas a verdade. O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não caia na armadilha do dogma, que é viver de acordo com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros calar a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário. “Quando eu era pequeno, havia uma publicação fantástica chamada Whole Earth Catalog, que foi uma das bíblias da minha geração. Foi criada por um sujeito chamado Stewart Brand
“Lembrar a morte é a melhor maneira de evitar a armadilha de que há algo a perder. Não há razão para não seguir o coração” “Significa tentar dizer aos seus filhos, em alguns meses, tudo aquilo que você pensou que teria os próximos 10 anos para dizer. Significa deixar tudo acertado para fazer as coisas o mais fácil possível para sua família. Significa dizer seu adeus. Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, mais tarde, eu fiz uma biópsia, quando eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Porque, no fim das contas, era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu fiz a cirurgia e, felizmente, estou bem. Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar por mais algumas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito útil, mas apenas abstrato, figurativo: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o Paraíso não querem morrer para chegar lá.
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em Menlo Park, não muito longe daqui. E ele a trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e da diagramação eletrônica. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e Polaroid. Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e transbordava boas ferramentas e ótimos conceitos. Stewart e sua equipe publicaram várias edições e, quando a publicação tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa da última edição, havia a foto de uma estrada de interior, ensolarada, daquele tipo onde você poderia estar pedindo carona se fosse aventureiro o bastante. Abaixo, estavam as palavra: ‘Continue faminto, continue tolo.’ “Foi a mensagem de despedida deles. Continue faminto. Continue tolo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem famintos. Continuem tolos. Muito obrigado a todos vocês.”
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por cleiton sotte FoToGrAFIA valdemiR cunha
Guilherme spinelli
Conselheiro dos sertões Guiga estreou em 1990, com pouco mais de 18 anos. Concilia ralis com a vida executiva, acaba de vencer a segunda maior prova do mundo com um carro a etanol, mas tem ralado mesmo no papel de pai recente
Enfrentar seus demônios não é suficiente. É preciso superá-los. Um ano após o acidente que o tirou do rali Dakar, Guilherme Spinelli, o Guiga, volta com sede de vingança. Este ano, ao lado do navegador Youssef Haddad, ele sagrou-se tricampeão do rali dos Sertões, o segundo maior do mundo. Pela primeira vez na história da disputa, o carro vencedor é movido a etanol. Tais conquistas não passam despercebidas, mas só elas não bastam para o piloto cuja única constante é correr. Tanto que acumula as funções de piloto e diretor de provas da Mitsubishi. Sem esquecer de outra função para a qual ele não tinha preparo anterior: a de pai. Nesta entrevista, Guiga fala da vida profissional, de como é a rotina fora do mundo rali e como alguém que passa os dias a milhão faz para desacelerar. Agora que um carro movido a etanol venceu o rali dos Sertões, você deve continuar com ele? Carro de corrida nunca tem fim, né? Sempre tem o que melhorar. Lógico que, após um rali duro como o dos Sertões e sendo a estreia do carro, a gente voltou com um mega dever de casa. Sem dúvida continuaremos trabalhando nele e provavelmente ainda este ano participaremos de alguma competição no Brasil com o carro. Como começou a paixão por ralis? Desde pequeno eu acompanhava as provas por causa de um tio meu (José Augusto Spinelli), que corria ralis há muitos anos. Uns três dias após completar 18 anos, disputei o primeiro rali, com um Escort XR3. Foi um Campeonato Carioca em Nova Friburgo, havia a prova de
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regularidade no sábado e a de velocidade no domingo. Tive um bom resultado. Isso foi em 1990. Adorei. Realizei um sonho, e dei continuidade a ele, com alguns intervalos por falta de patrocínio ou porque precisava conciliar com a faculdade. Qual a diferença em termos de estrutura entre aquela época e hoje? Quando comecei a correr a nossa estrutura era bem caseira, com ajuda de amigos, familiares. Em 1999, recebi convite da Mitsubishi para correr meu primeiro rali dos Sertões, com uma picape L200. Depois disso, virei piloto contratado, carreira que dividi com a de programador visual, minha formação. No ano passado, eles me chamaram para o cargo de diretor de competições. Sua diretoria abrange o quê? Tudo o que envolve competição dentro da Mitsubishi. Mais ligado à engenharia. Mas tem tanto a parte da engenharia de competição quanto a parte de manutenção dos carros, a equipe em si. A parte de fabricação dos carros fica com direção industrial, as vendas sob o guarda-chuva da área comercial, e os eventos ficam com o marketing. Entre o preparo e a prova, que cuidados você tem com a parte física? Como acumulo as funções de piloto e diretor, procuro manter uma constância de atividade física, mas nada além do que uma pessoa normal que tenha atividade física como rotina por questão de saúde ou por prazer. Misturo um pouco de aeróbica com musculação, e intensifico essa rotina uns três meses antes de um rali mais duro, pra trabalhar os músculos mais exigidos.
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Há outros esportes que você pratica? Confesso que hoje tenho praticado pouco. O que mais tenho feito é squash e, de vez em quando, futebol. Futebol era uma rotina da minha vida antes de mudar para São Paulo. Eu jogava uma, duas vezes por semana sempre. Ando de moto de vez em quando, mas é uma coisa bem light. No máximo, uns passeios. E no fim de semana, se vou à praia e tiver um barco, dou uma esquiada ou ando de jet ski. Você é fã confesso de vela. No futuro, se vê mudando de esporte? Velejar é uma das coisas que faço quando dá. A Mitsubishi tem muito envolvimento no mundo da vela, então volta e meia pinta algo. Recentemente tive a oportunidade fantástica de velejar num barco S40 ao lado do Torben Grael, pessoa que eu adorei conhecer. Velejar ao lado dele, perguntando e ouvindo dicas de vela, foi muito bacana, mas também nada profissional. É difícil compor algo agora com a minha rotina. E qual é a sua rotina fora do mundo competitivo-corporativo? Sou pai recente de um filho de um ano e meio. Então, essa é a grande paixão, atividade noturna, diurna e de fim de semana. Minha mulher é muito parecida comigo e temos uma rotina muito familiar, gostamos de ficar em casa com o filho. Tem programas que a gente curte também, mas nada muito agitado: jantar fora, ir ao cinema, a show, exposição ou concerto. E sempre tentamos viajar nos fins de semana.
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POR edson Rossi FOTOGRAFIA valdemiR cunha
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dr JeKYLL & mr HYde da FOTO Nos anos 40, revolucionou o jeito de o brasileiro clicar. O autoral e o documental convivem em sua obra modernista. Está para o universo da fotografia como os nomes da Semana de 22 estão para as artes plásticas
Num raro trecho silencioso de Moema, bairro bacana de São Paulo, a rua só de casas espaçosas dá a entender que vive ali uma vizinhança bem cuidada, padrão comercial de margarina na tv. Não se engane. É pouco provável que haja outro CEP na cidade reunindo dois exploradores tão especiais. De um lado mora Amyr Klink, o navegador. Na calçada oposta, praticamente em frente, German Lorca, o revolucionário. Falaremos de Lorca, que nos recebe ao portão. Na sala de entrada da casa, nada de fotos nas paredes. Para ser preciso, apenas duas, sobre pequenas mesas de canto. Como assim? Um dos maiores fotógrafos brasileiros vivos tem 33 telas de vários artistas nas paredes da sala e quase nenhuma foto? “Mas são fotos”, diz o paulistano de 88 anos (28/5/1922). “Fiz retratos desses pintores, e eles acabaram me pagando com telas, menos uma ou outra, como este quadro aqui, de Wesley Duke Lee. Este eu comprei.” Lorca é assim, a surpresa. Uma atrás da outra. Depois de não encontrar fotos na sala d’O Fotógrafo, vejo de lado um notebook. Pergunto de quem é. “Meu”, diz. “Faz uns cinco anos que tenho mexido em fotos nele.” Sim. Com mais de 60 anos de carreira, o mestre do tempo em que ser fotógrafo incluía jornadas dentro de laboratórios abraça a foto digital. Nunca espere padrões, regras, normas, rotina ou ausência de risco na obra de Lorca. Ele é um rider. Quando fotografar era quase sinônimo de gente posada num estúdio, foi para a rua registrar cenas paulistanas cotidianas do Parque Dom Pedro, do Brás, da Mooca,
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e flagrantes – como o clássico bonde incendiado no centro de São Paulo após um protesto de passageiros pelo aumento das passagens (foto de 1947). Quando esse lado quase fotojornalístico ganha força, ele mira o oposto e mergulha na experimentação, na distorção, na poesia – como a foto em que pernas de uma modelo, de uma mesa e de cadeiras se misturam (1970) ou do menino que se sobrepõe nele mesmo (também de 1970, foto que ele segura à direita). Lorca – ao lado de um restrito grupo de cinco ou seis caras reunidos no FCCB (Foto Cine Clube Bandeirante) – faz na segunda metade dos anos 40 o que o grupo de Menotti Del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-1954) e Tarsila do Amaral (1886-1973) havia feito pelo restante das artes na Semana de 22. Vale lembrar que nos anos 20 a fotografia tem status mundano, tanto que é tema ignorado pelos modernistas. É com Lorca e sua turma que a foto ganha contorno de arte no Brasil. Eles foram os modernistas da foto. “Modernista? Bem, sempre fui avançado”, diz. Primeira máquina já casado
Filho de espanhóis, nascido no Brás numa família de oito irmãos – uma morreu ainda criança –, Lorca não cogitava ser fotógrafo. Não mesmo. Vai trabalhar e estudar, torna-se contador, abre um escritório e toca a vida. Sua primeira câmera é comprada apenas quando ele já estava casado com Maria Elisa, que morreu há seis meses. “Foi uma Welti (alemã), para fazer fotos da Maria Helena (a filha recém-nascida).” É aí que a fotografia vira paixão.
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Menos de dois anos depois, em janeiro de 1948, se associa ao FCCB. Participa de seus encontros de forma ativa e a paixão vira obsessão. Daí a receber o convite para um job não demora: é chamado para fazer fotos de uma retífica, a Marien, para arquivo da empresa. “Recebi por cinco dias de trabalho o que ganhava em um mês com contabilidade.” Trata de mudar de profissão. Sorte da fotografia. Em 1952 abre seu estúdio – que existe até hoje, sob comando de seus filhos Fred e José Henrique. Em 1954, é o fotógrafo oficial da festa de 400 anos de fundação da cidade de São Paulo. Nesse início, faz de tudo. De fotos de casamento à publicidade, outra marca em sua carreira. Ao contrário de boa parte dos fotógrafos, ele sabe separar o autoral do encomendado, e assim foi contratado por todos os maiores anunciantes e agências. Lorca tem tês filhos, seis netos, bisneto. Cuida de perto da venda de suas imagens. Tem um curador para isso em São Paulo. No Rio, elas estão na Galeria Tempo. “Vendem por R$ 12 mil, R$ 14 mil, até R$ 18 mil”, diz. Ele fica com metade. A maior parte do tempo, porém, dedica a planejar novas mostras. “Tenho ensaios inéditos para exposições. Um de Nova York, um sobre aguardentes...” O de Nova York foi publicado num livreto, imagens feitas por 35 anos. De um lado, traz fotos com intervenções experimentais; de outro, flagrantes. A bipolaridade clássica de Lorca. Seu lado Jekyll e seu lado Hyde.
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por MoReno Pisto FoToGrAFIA GiGi soldano
Tal pai, Tal filho Um (Valentino) sempre atrasado. O outro (Graziano) sempre adiantado. Um (Graziano) acorda às 7h. O outro (Valentino) prefere não ter hora para acordar. Em resumo: dois opostos. Que falam de derrapagens, brigas, mulheres... e um segredo de Valentino: “Seria um prazer me tornar pai de uma menina”
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Valentino: “Uma vez, um cara mais veloz colou em mim. Fiquei com medo e o deixei ultrapassar. Quando voltei ao boxe, você pegou a minimoto, colocou no carro e disse: ‘Melhor voltarmos para casa. Esse não é esporte para covardes’ ”
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Édipo não sobe em moto // Valentino e Graziano discutem tudo, desde o donjuanismo do filho às excentricidades do pai, como levar uma galinha à pista de corrida e dormir dentro de um carro
Em dado momento, Valentino apanha os suspensórios e pergunta: “Mas como é que visto isso?” Graziano olha torto para ele e diz: “Não é exatamente uma ciência”. É o momento mais emblemático da entrevista. Naquela frase e naquele gesto (Valentino não sabe como colocar os suspensórios, e seu pai os usa o tempo todo) tudo se revela: o relacionamento entre eles, seu caráter, aquilo que os aproxima e os separa. Lá estão eles, Graziano e Valentino. Pai e filho, um o contrário do outro. Graziano sempre adiantado e Valentino pontualmente atrasado. Graziano, que venceu três provas na categoria 250 em 1979, mas jamais saiu vitorioso na 500; Valentino, que venceu tudo que é possível vencer. Graziano e Valentino, que nunca trocaram declarações de afeto. “Mas”, acrescenta Valentino, “se ele tivesse dito que gosta de mim, eu responderia que também gosto dele”. E Graziano, como responderia caso o filho dissesse gostar dele? “Eu o olharia nos olhos e perguntaria se está passando mal.” (silêncio). Mas também são parecidos: rápidos, brincalhões, autoirônicos.
Valentino: E com isso chegamos à filosofia da derrapagem, uma religião. O seu credo é que a qualidade de um veículo, moto ou carro, está em como ele se comporta na derrapagem. Se funciona bem, ótimo, senão, não te serve. Outra coisa que aprendi com você foi o amor pela competição. Ainda lembro da maior bronca que me deu. Graziano: Qual? Valentino: Você ainda não me deixava andar de moto, mas cedeu e me levou para correr de minimoto. Durante algum tempo, havia um certo Benelli que andava mais rápido que eu. E em certa volta ele colou em mim, fiquei com medo e o deixei ultrapassar. Quando voltei ao boxe, você pegou a minimoto, colocou no carro e disse: “Melhor voltarmos para casa. Você não pode desistir de uma disputa. Esse não é esporte para covardes”. Graziano: Deve ter sido uma das poucas coisas que consegui te ensinar, porque você sempre insistiu em agir de acordo com a sua cabeça. Valentino: Não é verdade, vá! Também aprendi com você a não me levar a sério e a fazer coisas do modo mais profissional e sempre com um sorriso.
“Se ele tivesse dito que gosta de mim, eu responderia que também gosto dele” – Valentino sobre o pai Quando Valentino está na pista, esquece do mundo. O pai o contempla do boxe da Fiat Yamaha Team. Valentino pode estar vencendo, perdendo ou ter sofrido uma queda, o pai assiste a tudo impassível. Nunca haviam posado juntos. Abriram exceção a Riders. Ouvi-los conversar é um espetáculo. Nós nos limitamos a colocar a bola em jogo e a deixar o gravador ligado. Qual é a primeira imagem que recordam de vocês dois juntos? Valentino: Eu tinha uns 3 ou 4 anos e Graziano me levou com outro menino, filho de um amigo seu, a uma pista de motocross. Graziano: Já eu lembro de você em um carrinho com rodas de plástico e pedais, uma Lotus preta, lembra? Você tinha uns 3 anos e era vítima das minhas vontades. Em uma zona industrial, marquei uma pista com cones de trânsito e depois amarrei o carrinho à minha scooter. Eu rebocava com a scooter e você dirigia o carrinho que, evidentemente, derrapava a cada curva. Você já estava aprendendo a compensar com o volante e se divertia como louco. Essa imagem resume ao menos a parte veloz da nossa vida em comum.
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Graziano: Verdade. Porque a moto é um belo brinquedo. Quando eu rebocava aquele carrinho com a scooter, queria te ensinar que o importante não é só andar forte, mas se divertir. Você aprendeu logo. Já o fazia inconscientemente, e logo pegou gosto. Bastava ver suas derrapagens. Uma especialidade em que sempre fui ótimo. Valentino: Você inventou essa história de derrapar porque, na velocidade, não era tão forte. Graziano: Pode ser que eu tenha sido meio braço duro, mas houve época em que andei forte. Valentino: Você venceu três provas de 250 em 1979, mas sua corrida mais bonita foi em Ímola, no Trofeo delle Nazioni, com uma 500, quando causou a queda de Kenny Roberts. Graziano: Foi minha primeira corrida numa 500. Outra prova boa foi a de Assen, com a 250, contra as Kawasaki oficiais de Ballington e Hansford. Mas você se saiu muito melhor. Difícil escolher só um exemplo, mas a minha preferida foi aquela corrida de 500 em Donnington. Quando você venceu na 125 e na 250, todo mundo dizia que era um grande piloto, mas eu ficava pensando que era preciso esperar pela 500 para ter certeza. Quando você venceu Donnington, percebi que era.
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Valentino: Eu me diverti muito na conquista do primeiro mundial na categoria 500, um ano depois. Talvez porque você tivesse vencido na 250, mas tentado a 500 sem sucesso. Acho que acabei completando o trabalho que você havia iniciado. Mas gosto de brincar com você por aquela corrida de 250 que você perdeu em Silverstone. Você estava na frente, seguido por uma Kawasaki, de Ballington ou Hansford, que tentava ultrapassar. Graziano: (Batendo na testa) Era Ballington. Valentino: Era a última volta, mas você achava que faltavam duas, teve medo e caiu. Graziano: Tudo bem, que se pode fazer? Ainda rio da sua primeira queda com uma moto de verdade, em Magione, perto de Perugia, testando uma Cagiva 125 da equipe Lusuardi. Você tinha 12 ou 13 anos. Lembro que você subiu na moto, entrou na pista, andou 50 metros, fez uma curva à esquerda e caiu. Tudo bem, nada grave, você voltou ao boxe, controlou a moto, tentou de novo e caiu outra vez na mesma curva. Não esquecerei de que, quando você voltou ao boxe, ficamos quietos, mas em nossos olhos era possível ler a pergunta: “Será que esse menino é mesmo filho de Graziano?” Por sorte a resposta foi positiva. Mas só me convenci após a vitória na 500. Lembro de, ao você ganhar sua primeira MotoGP, cortei os cabelos para cumprir uma promessa. Foi a única vez que cortei o cabelo com prazer. Valentino: Por quê? Graziano: Quando você é bonito, ótimo, mas quando não, precisa usar os cabelos compridos ou gravatas coloridas. Valentino: Verdade. Depois de cortar o cabelo, você começou a usar gravatas coloridas. Tudo bem que você não seja bonitão, mas antes de se
casar com Lori, imagino que eu e você fazíamos o mesmo sucesso com as mulheres. Graziano: (rindo) Não é verdade. Talvez fizéssemos o mesmo sucesso quando eu já tinha 40 e você 16. Nunca tive muita sorte com as mulheres, mas tive a sorte de ter dois filhos belíssimos, você e Clara (hoje com 12 anos, filha de Graziano e Lori). Mas nunca fui conquistador. Não quero competir com você. Outro dia, passei três dias sem saber se você estava vivo. Você não atendia o telefone e eu não conseguia te encontrar. Mas aí surgiram fotos de você com uma namorada em um barco e eu disse para mim mesmo: “Ah, enfim descobri onde ele estava”. Mas devo acrescentar que todas aquelas que você me apresenta desfrutam a minha consideração. Valentino: Verdade, eu te conto quando uma moça me interessa, quando a acho bonita. Mas você também era bonito na juventude, Graziano. Casou-se cedo com Stefi, verdade, mas pelo que a mamãe conta sei que tinha sucesso. E você sempre foi conhecido pelas esquisitices: a galinha, dormir no carro quando acompanha o circuito de MotoGP, ou seu modo de vestir, sobre o qual continuo a nutrir sérias dúvidas. Por exemplo, você usa colete até no verão. Por quê? E as gravatas? E os suspensórios. Bem, os suspensórios até me agradam, caem bem em você. Graziano: Ora, todos usam gravata, todo mundo se cobre quando tem frio. A história do carro é uma grande esperteza, mas ninguém compreende. Ir à pista com um carro rápido, e dormir nele, é a maneira mais útil e agradável de viver o ambiente do boxe e da pista. Valentino: Mesmo assim você continua a viajar em avião particular.
Graziano Rossi, nascido dia 14/3/1954, em Pesaro. Terceiro na classe 250cc em 1979, quando faz seu melhor resultado (três vitórias e dois pódios, em segundo e terceiro lugar). Em toda a carreira, acumula sete pódios e três vitórias. Valetino Rossi, 16/2/1979, Urbino. Em 1996, estreia no mundial 125 e termina em nono, vencendo a última corrida. No ano seguinte, muda para a equipe oficial da Aprilia e conquista o primeiro título, com 11 vitórias. Em 1999, na 250, vence o segundo título. O terceiro chega em 2001, com a Honda 500. Depois disso, chega à categoria MotoGP e venceu dois títulos em 2002 e 2003. Transfere-se à Yamaha e vence em 2004 e 2005. Em 2006, é vice. No ano seguinte, terceiro. Volta ao título em 2008 e 2009. Este ano, fica fora de quatro provas devido a uma fratura na perna. É anunciado como piloto da Ducati para a temporada 2011
Nico cereghiNi, apreseNtador de tv, lembra graziaNo pré-valeNtiNo Venceu só três GPs na 250, quase quatro, porque caiu quando estava na liderança de uma prova, a 400 metros da linha de chegada. Mesmo assim, Graziano Rossi, o pai, deixou forte impressão no circuito mundial de motociclismo porque era um sujeito original e comunicativo. ‘Grazia’ começou no motocross aos 18, com algumas vitórias na categoria estreante, montando
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uma Maico 250. Aos 21 anos, se transferiu às provas de velocidade, no campeonato italiano júnior da categoria 250, em 1975. Com uma Benelli, venceu duas provas e foi segundo no campeonato. Transferido à categoria sênior, começou correndo com a Yamaha 250 e 350, e em 1977 chegou à 500, graças a um amigo, Focarini, que comprou uma Suzuki quatro cilindros para que ele
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pilotasse. Naquele ano, de cabelos longos e acompanhado pela belíssima Stefania, esteve entre os classificados para o GP delle Nazioni, em Ímola, encontrou um patrocinador e, por fim, em 1978, conseguiu andar entre os líderes em duas ocasiões, fechando em sexto na França e em nono na Finlândia. Lucchinelli e Ferrari eram velozes e tinham melhor equipamento. Na 500, havia pouco
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espaço e só uma equipe italiana de ponta. Quando recebeu uma proposta de Giancarlo Morbidelli, de Pesaro como ele, Graziano passou a defender a equipe de Morbidelli nas categorias 250 e 500, vencendo na primeira. Foi uma bela temporada, porque em 16 de fevereiro nasceu Valentino, em maio veio o primeiro pódio de Graziano e em junho a primeira de suas três vitórias na 250
(Iugoslávia, Holanda e Suécia). A queda impediu sua vitória na Inglaterra, mas as Kawasaki de Ballington e Hansford haviam aberto larga vantagem no início da temporada, devido a um problema de projeto na 250 italiana. Rossi encerrou a temporada em terceiro. Na temporada seguinte, transferiu-se para a 500, com uma Suzuki, pela equipe Gallina. Um acidente prejudicou seu
desempenho e ele fechou o ano com dois pódios e a quinta posição geral. Em 1981 ele ficou fora das pistas; em 1982, com uma Yamaha, sofreu uma queda nas 200 milhas de Ímola. Foi socorrido pela equipe de Claudio Costa, que salvou sua vida. Com isso ele deixou as motos e partiu para o rali, pilotando um Porsche 500 no rali de Valtellina. Depois disso, continuou a andar de moto, mas só a passeio.
Graziano: “Se você não é bonito use cabelos compridos ou gravatas coloridas” Valentino: “Tudo bem que você não seja bonitão, mas antes de você se casar com Lori imagino que fazíamos o mesmo sucesso com as mulheres”
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Graziano: Sim, mas porque um amigo me leva. Quando ele se cansar de mim volto a acompanhar o circuito europeu de carro. E não gosto de viajar no motor home. É lento demais. No avião mal dá tempo de conversar ou olhar para trás. Minha BMW é cômoda, faz 200 km/h e ao longo dos anos fui multado duas ou três vezes. Não durmo em hotéis porque se o fizesse não estaria com você, já que nos finais de semana de corrida só te vejo à noite. Assim, dormir no carro é questão de praticidade e não de economia. E a história da galinha... Se tiver tempo eu a conto direito um dia. Graziano: Sei... Valentino: Ok. Eu e meus amigos éramos muito brincalhões. Em um dia, no centro de Pesaro, vimos aquelas pessoas todas passeando com cachorros que vestiam roupas ridículas. Começamos a pensar: por que não uma galinha? Saímos à procura de um lugar que nos vendesse uma galinha e depois criamos uma espécie de roupa e arreio que lhe prendia as asas. Às 6h da tarde, em pleno horário do passeio, estávamos prontos. Mas ninguém do grupo queria caminhar com a galinha, todo mundo ficou com vergonha. Por isso, eu a levei. O problema é que àquela
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altura a galinha já estava com sono e caiu dormindo. Para despertá-la, a levamos ao açougue para ver galinhas mortas. Mas não adiantou. A piada acabou ali. Não é verdade que eu a levava à pista. A propósito, o nome da galinha era Cristina. Mas você e seus amigos também aprontam. Valentino: Desde que tenho 18 anos, gosto de viver na noite, mas isso não significa que fico todo dia dançando e me embriagando. Gosto de dormir tarde. Mesmo que chegue em casa à 1h, assisto a um filme que acaba lá pelas 3h. Graziano: Digamos que você e o sono têm um relacionamento especial. Você é daqueles que, se pegar um avião para o Japão, cai dormindo dez minutos depois da decolagem e só acorda se te chamarem. Incrível. Valentino: Já você prefere levantar às 7h, essa é a diferença entre nós. Mas eu não sou preguiçoso depois que acordo. Já você acorda e não quer fazer nada, especialmente trabalho manual. Sempre vem com a desculpa de que faz mal às costas. Graziano: (rindo) Isso não é verdade. E você está sempre atrasado. Com os seus amigos que têm o mesmo estilo de vida, não há problema, mas a vida é difícil para os outros.
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Derrapadas e vitórias // 1) Graziano ao volante de um kart no começo dos anos 80; 2) 1975, recebendo o prêmio por uma vitória no campeonato júnior (“o cabelo é um adereço cênico”, ele brinca); 3) Celebrando a primeira vitória na categoria 250, na Iugoslávia, 1979; 4) Com sua Alfa em uma prova de turismo; 5) Derrapando com uma Honda 500 XL: “Para derrapar melhor, o pneu traseiro era slick, de uma GP 250 e o dianteiro, cross”; 6 e 7) Com macacão da equipe Morbidelli, em 1979. O patrocinador era a Bulloneria (casa de ferrolhos) Emiliana
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O nascimento de um mito // 1) Valentino e Graziano (de rabo de cavalo) antes de uma partida de tênis; 2) Aos 10 anos, em prova de kart; 3) Empinando a bicicleta aos 4 anos; 4) Prova de rali com um Peugeot 206; 5) Valentino começou assim: prova de minicross; 6) Dentro do carro, aos 2 anos; 7) Com o capacete do pai, que naquele ano (1982) corria com uma Yamaha 500 na equipe de Giacomo Agostini
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claudio lusuardi, dirigente da PriMeira equiPe “Vi Valentino Rossi pela primeira vez correndo com uma minimoto em Cattolica. Seu pai, Graziano, me ligou porque queria minha opinião e percebi imediatamente que estava diante de um fenômeno. Mas não foi grande mérito: seria impossível não perceber. Quando me pediu para correr na equipe oficial Cagiva, pela qual eu era responsável, não tive dúvida. Deixei que ele testasse uma das motos. Tinha só 13 anos. Era tão baixo que seus pés nem tocavam o chão. De repente, caiu. Graziano estava preocupado, não queria me fazer perder
tempo. Disse: ‘Você vai ver, ele vai se divertir’. Conversei com Valentino e perguntei por que desejava correr conosco, quando todos os outros pilotos estavam vencendo com a Aprilia. ‘Porque Graziano me disse que você me faria vencer’, respondeu, de modo direto e sorridente. Era tudo que eu buscava em um piloto: capacidade, determinação e paixão. “No início, houve muitos problemas. Ele se apressava e cometia muitos erros. Mas nunca cometia o mesmo erro duas vezes. Bastava vê-lo na moto para ter certeza de que se
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tornaria campeão um dia. Brincalhão e sempre disposto a pregar peças. Era imprevisível. Certa vez, em Misano, eram 10h da noite e ainda estávamos trabalhando no boxe quando ouvi alguém me chamar do muro. Era Valentino, que havia conseguido, não sei como, entrar na pista com um carrinho. “O problema mais difícil era encontrá-lo. A imagem mais constante daquela época é a de Graziano correndo desesperado pelos boxes, procurando o filho, minutos antes de uma largada. A primeira grande alegria veio em Binetto (Bari),
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quando ele chegou em 14° e conquistou os pontos necessários para disputar as finais do campeonato italiano. Festejou como se tivesse vencido um mundial. “Quando o vejo, ainda lembro daquele menino. Há alguns anos, me convidou a visitar seu motor home antes de uma corrida. Parecia que tínhamos voltado no tempo. O mesmo sorriso, ainda a mesma canção de Jovanotti. Disse: ‘Quando abaixo o visor e entro na pista, relaxo’. Paradoxalmente, o momento de maior tensão. Creio que seja este o Valentino mais verdadeiro.”
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NÚMEROS DO ITALIANO IMPRESSIONAM E DEIXAM NOMES COMO SCHUMACHER PARA TRÁS Todos já ouvimos falar de Valentino Rossi. Mas o quanto ele é realmente bom? Um jeito de responder pode ser trazendo a F1, precisamente, o nome de Michael Schumacher. Vamos aos números do alemão: 267 GPs disputados (inclui o da Coreia, dia 24 de outubro de 2010, segundo dados oficiais da F1), com 91 vitórias e 68 poles. Sete títulos mundiais em 17 temporadas. Isso porcentualmente dá: 34,1% vitórias de tudo o
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que correu (vence uma a cada três corridas); 25,5% de poles (uma pole a cada quatro GPs); e 41,2% títulos por temporada (a cada cinco mundiais, vence dois). Os do italiano: 179 provas na categoria principal do motociclismo (500cc), 79 vitórias, 49 poles e também sete títulos mundiais. São, então: 44,1% de vitórias (contra 34,1% de Schumi); 27,4% de poles (contra 25,5% do alemão); e 63,6% de títulos (contra 41,2%), marca impressionante de
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dois títulos mundiais a cada três temporadas. A favor de Rossi vale dizer ainda que o Moto GP é muito mais equilibrado que a F1. Toda essa volúpia por vencer e andar na frente estará em 2011 ao dispor de um time genuinamente italiano, a Ducati, com quem Rossi assinou contrato por dois anos. Até hoje, na categoria maior, ele correu quatro temporadas com a Honda e as sete recentes com a Yamaha. Agora, a Itália está em festa.
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MOTOgP/500CC
250CC
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3º Lugares
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tOtaL De PóDiOs
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POLes
49
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VOLta mais ráPiDa
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títuLOs
(inclui GP da Austrália, dia 17 de outubro de 2010)
Troca de personagens // À esquerda, Valentino e Graziano trocando de papel: Valentino posando com os suspensórios, peça característica do pai; Graziano fingindo abraçar o macacão do filho. “O único piloto que me emocionou quase tanto quanto você foi Kenny Roberts”, diz Graziano. “Para mim”, responde Valentino, “o mais forte de todos foi Mike Hailwoods”
Valentino: Você é confiável, eu não. Mas também é verdade que, se não tivesse um filho como eu, teria de começar a trabalhar. Não sei o que você teria feito. Seria uma desgraça. Graziano: (ainda rindo) Não, não, não. Não é bem assim. Três anos depois que você nasceu eu já começara a pilotar carros e tinha autonomia. Está bem, digamos que eu não tenha pensado muito no futuro, imaginando que descobriria como me virar. Graças a você, não preciso mais pensar nessas coisas. Valentino: Nosso relacionamento se estreitou muito. Porque há anos você me dizia que eu devia mudar e depois acabei mudando (referência ao problema de Valentino com a Receita italiana, que em 2007 começou a investigá-lo por evasão fiscal devido a irregularidades nos anos de 2001 a 2006, quando o piloto se mudou para o Reino Unido e, supostamente, omitiu de sua declaração de renda à Itália os contratos com patrocinadores; em 2008, sem rebater as acusações, fez um acordo e pagou 35 milhões dos 112 milhões de euros cobrados pelo Fisco para
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regularizar sua situação). Sempre soube que você tinha alguma razão, mas acreditava que exagerasse um pouco. Chegamos a um entendimento, ou melhor, nós já nos entendíamos, mas seu papel na minha equipe era pequeno. Quando veremos Valentino papai? Valentino: Eu adoraria ser pai. Mas não por enquanto, porque não tenho tempo. Graziano: Pode bem ser que você se torne pai por acidente, e pode ser até melhor, porque você vai descobrir que filhos são muito divertidos. Valentino: Confesso: gostaria muito mais de ter uma filha. Graziano: Por quê? Valentino: Sei lá, porque me agrada. Graziano: Concordo que são maravilhosas por 13 ou 14 anos, mas quando começam a sair sozinhas, tudo se complica. Se você tivesse nascido menina, imagine a confusão que seria.
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por fabRicio calado FoToGrAFIA angelo pastoRello produção maRina toRquato
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Motor a explosão A vitoriosa carreira de modelo está guardada. Apresentadora de tv e atriz – estreia seu primeiro papel de protagonista no cinema –, nossa garota alcança novo patamar. E, além de tudo, ela ainda curte moto
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Filosofia sobre duas rodas // Gianne não pilota, mas a melhor frase ever sobre motocicletas ela acaba de dar à Riders: “Motos não fazem você apenas chegar aos lugares, elas fazem o caminho ser mais interessante”. Diga aí se já ouviu definição melhor?
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“Se eu tivesse moto, seria essa”, afirma Gianne Albertoni, uma Via Láctea de 1m80 derramada numa sortuda Shovelhead branca com banco cavaco, modelo 1977, H-D com custo aproximado de R$ 100 mil. Apesar da queda pela moto, a modelo e apresentadora teria mais dificuldade para se equilibrar sobre duas rodas que usando um salto alto e debaixo de um enxame de flashes de paparazzi. “Adoro moto, mas tenho medo de dirigir”, diz. Ela lembra da vez em que fez uma campanha em que saltava de paraquedas e pousava sobre uma moto em movimento, “mas não quiseram me ensinar a pilotar.” Para Gianne, motos transmitem uma sensação de liberdade que transcende a estrada. “Elas não fazem você apenas chegar aos lugares, elas fazem o caminho ser mais interessante.” Alguém bem que podia patentear a frase. Para os não iniciados, pode parecer que se trata de mais uma modelo prodígio descoberta na adolescência que ao deixar a carreira migrou para a tv. Não. Ela é uma modelo prodígio descoberta na adolescência que migrou para a tv, para o teatro, para o cinema... Seu próximo filme, o quarto, tem estreia prevista para 12 de novembro. Será uma das protagonistas da comédia adolescente Muita Calma Nessa Hora, de Felipe Joffily. Fará o papel de uma publicitária. Desde a tal descoberta, aos 13 anos, Gianne fez uma carreira nível 1 – o que inclui campanha para as mais bacanas grifes internacionais, capas de revistas femininas do Brasil e de fora e o circuito das melhores semanas de moda do planeta. Tipo jogador de futebol que passa por grandes clubes de Espanha, Inglaterra e Itália. Hoje, com 29 anos, ri ao contar que acumula na carreira lembranças nem sempre positivas. A pedido de Riders, recordou dois micos memoráveis. O primeiro é o clássico escorregão ao desfilar. O outro momento citado por ela foi compartilhado em rede nacional: durante uma das enchentes de 2009 em São Paulo, Gianne largou seu carro no meio do caminho e foi andando até a TV Record, onde integra a bancada do programa Hoje em Dia. Como a atração é transmitida ao vivo, e Gianne não chegava, o jeito foi improvisar. “A equipe de filmagem foi pra rua e eu comecei a apresentar o programa com o microfone em uma mão e o guarda-chuva na outra.”
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Dos palcos às pautas
Além de apresentadora do Hoje em Dia, Gianne comanda o quadro De Carona com a Moda, no mesmo programa, onde dá dicas de estilo e promove uma ‘tunagem’ em uma telespectadora sorteada. A empreitada televisiva tem dado certo. Tanto que decidiu estender a permanência na vida do outro lado da passarela. Por ora, o período sabático do universo fashion não tem hora para acabar. “Resolvi me dedicar somente à carreira de apresentadora e quero me aperfeiçoar cada vez mais em jornalismo, é empolgante!”, afirma. Gianne não emite sinais de que se arrepende da escolha e muito menos sente falta do mundo que deixou. “Não me sobra tempo para sentir (saudade). Faço o programa ao vivo pela manhã, gravo matérias à tarde e (curso) faculdade de jornalismo à noite.” Como ela se apressa em explicar, não se trata de ingratidão. “Com as viagens na carreira de modelo conheci vários países, suas línguas e culturas, quase todos os estilistas e seus trabalhos, e pude aprender sobre moda”, diz. “Foi uma fase muito boa da minha vida e, neste momento, vivo outra que estou amando.” A propósito de amores, como é que alguém chega em Gianne? Em geral, ansioso, segundo ela. Tome nota: o segredo, diz, é ser sutil. “As piores são aquelas prontas, clichês. As melhores são as que você não percebe que é uma cantada.” Para quem quiser tentar a sorte, Gianne diz que, quando tem tempo livre em São Paulo, curte passear e brincar com o cachorro, Elvis, além de ir ao cinema e teatro. Quem vê este ensaio há de concordar que a falta de familiaridade com a Harley-Davidson em nada compromete a performance da moça. Nem os cupins que teimaram em aparecer fora de época no local das fotos e muito menos um súbito blecaute – um caminhão atingiu um poste perto dali, o que não surpreendeu em nada Gianne: “Sempre que eu vou fotografar acontece alguma coisa.” A escuridão toma conta da oficina que serve de cenário. Na volta da luz, ela mostra a mesma desenvoltura do começo da sessão, como se nada tivesse ocorrido. E prova que domina esse ambiente de cliques como poucas.
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A inspiração // Maio de 1968? Esqueça. No calendário Riders, “o” mês é outro: janeiro de 1968. Brigitte Bardot aparece no dia 1º na tv francesa com seu ShowBardot. Num dos quadros, canta HarleyDavidson, canção composta por Serge Gainsbourg para Bardot. A bombshell faz a mais insinuante performance da música mundial. Gigatons de erotismo. Foi em homenagem à Bardot e inspirado neste videoclipe que fizemos o ensaio. Gianne adorou a ideia. Antes que algum coração mais sensível se manifeste, sim, confessamos: o cabelão da nossa top ficou anos 80, longe da pegada e da época do clipe – mas quem aqui pode estar preocupado com isso?
Créditos // Cabelo e maquiagem: Junior Mendes (First) Produção: Carla Romano Agradecimentos: Johnnie Wash Figurino: hot pants Verve, jaqueta Harley-Davidson para Johnnie Wash, botas Forum, top Minha Avó Tinha, camisa Le Lis Blanc
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pop art POR BaRBaRa Majnoni FOTOGRAFIA Gianluca Giannone
Moto CLUBe eM CoreS e LUZeS O artista plástico italiano Marco Lodola – que tem obra no acervo do MuBE, em São Paulo – transforma a paixão por motos em peças exclusivas e premiadas
O italiano Marco Lodola é artista premiado, reconhecido e de sucesso. Cria motos de todos os tipos em seu universo de cores e luzes. O que não deixa de ser uma maneira de ficar perto de um sonho de adolescência: ter uma Ducati 125 vermelha. Marco não conseguiu convencer o pai a bancar seu objeto de desejo, mas mesmo assim deu um jeito de pilotar. Em 1970, aos 15 anos, percorria as estradas da região de Pávia, província ao sul de Milão onde nasceu, montado sobre uma Gilera 124 cinza emprestada. Uma queda que fez arrastar seu queixo pelo asfalto causou uma lesão inesquecível, só agravada pela necessidade de pagar os danos causados à moto que pertencia a um colega de escola. Foi por essa época que ele resolveu deixar as estradas e transformar a moto – mas não só motos – em arte. No começo dos anos 80, com um grupo de colegas artistas plásticos, criou o movimento conhecido por Novo Futurismo. Riders foi visitá-lo na Lodolândia, antiga fábrica têxtil em Pávia na qual ele cria esculturas luminosas. No currículo, projetos realizados para marcas mundiais dos mais diversos segmentos. Nomes como Carlsberg, Coca Cola, Illy, Swatch, Valentino, Ducati e HarleyDavidson. Também já participou de exposições no Mube (Museu Brasileiro de Escultura), em São Paulo, onde uma peça sua está no acervo permanente, e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Veja a seguir sua entrevista.
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“É uma técnica mais pessoal, que traz semelhanças com métodos publicitários. Uso uma estrutura de neon na parte interior e cores fortes nas superfícies externas”
Por que motos que se iluminam? Mantive meu sonho (de adolescente) no coração, apesar dos 10 pontos que levei no queixo ao sofrer uma queda. Comecei com aquarelas, têmperas, e depois passei para uma técnica mais pessoal, que trazia semelhança com métodos publicitários, usando uma estrutura que tinha neon na parte interior e cores fortes nas superfícies externas. E os pedidos apareceram como? Amigos, colecionadores, empresas. Na verdade, um dos meus primeiros pedidos era uma Harley-Davidson em tamanho natural para Max Pezzali (músico italiano que teve uma banda chamada 883... sim, por causa da HarleyDavidson Sportster). Demorei meses a realizá-la. Pezzali usou a escultura em sua turnê, ele a posicionava no palco para sensibilizar a opinião pública e os rapazes sobre o uso do capacete. Logo depois veio outra encomenda, para a
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Numero Uno (primeira concessionária oficial da Harley-Davidson na Itália). A escultura ainda está na sede da empresa, na rua Niccolini, em Milão. Você só faz Harley? Não. Roberto Crepaldi (empresário que idealizou a naked feita a mão chamada Vun, para o grupo motociclístico milanês CR&S, do qual é sócio) me mandou imagens da moto, pedindo conselhos sobre como apresentá-la em uma feira. O nome (uma palavra do dialeto lombardo que quer dizer “um”) me irritava, mas percebi que a moto tinha um design muito marcante, em tons de cinza. Por ‘deformação’ profissional, recomendei o uso de cores. Ele terminou iluminando o estande de sua marca na feira com uma de minhas esculturas, baseada em seu modelo de motocicleta. A mesma que é utilizada num comercial de Valentino Rossi para uma empresa de telefonia, o que me deu grande satisfação.
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Harley e Piaggio // Acima, a versão de Lodola para a Harley-Davidson do músico italino Max Pezzali. A HD feita em tamanho natural foi um de seus primeiros pedidos recebidos. À direita, o artista plástico sentado em uma Piaggio Ciao.
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Como conheceu Crepaldi? Ele deve ter visto em alguma exposição o trabalho que fiz para a Ducati. Que trabalho foi esse? Eles mandaram uma 996 ao meu estúdio e pediram que eu atuasse sobre a moto real. Não paravam de chegar amigos para ver a moto, tocá-la, tirar fotos. Eu queria uma máquina negra para trabalhar melhor com as luzes e tentei criar a impressão de uma potência impressionante, com fios luminosos que saíam do escapamento, como se fosse um foguete. Ela foi exibida, com outras peças que interpretavam motos, fora do contexto das pistas. Participei de diversos desses projetos. Não sou um artista que só trabalha por encomenda, tento me aproximar diretamente daquilo que me interessa. Mas recebeu outros pedidos especiais? Um colecionador pediu quatro motos com os nomes de seus quatro filhos homens. Outro, um profissional liberal, queria uma peça que mostrasse ele e sua mulher em uma Vespa. Os jovens, por sua vez, preferem referências mais atuais. Querem interpretações da moto de Valentino Rossi ou Casey Stoner (piloto australiano de MotoGP).
Trabalho no MuBE // A obra Paracadutisti, de 135cm x 160cm (2004), de Marco Lodola, faz parte do Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo
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Motos são arte? Sim, faço parte do Novo Futurismo, grupo artístico dos anos 80 inspirado pelo futurismo histórico e pelo mito da velocidade, de (Filippo Tommaso) Marinetti (1876-1944, que publicou o “Manifesto Futurista” em 1909, em que defendia que a arte rompesse com tudo o que significava tradição e louvasse o novo, a eletricidade e a velocidade, além de flertar fortemente com o fascismo). Por isso represento sempre objetos em movimento. Gosto de capturar o instante. Quanto você ganha com essas esculturas? Menos do que mereço. Mas o sucesso verdadeiro é acordar a cada manhã que Deus nos conceda e fazer aquilo que nos agrada. Se, além disso, como dizia (o cineasta Federico) Fellini (1920-1993), alguém lhe der dinheiro por algo que faria de graça, você pode se considerar afortunado. Você se considera um rider? Se o termo significa percorrer a vida com adrenalina, sim. Minha mensagem é esta: enfrente a estrada da vida, velozmente, quer o agrade, quer não, sem hesitar um instante. E não tenha medo.
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Entrevista Definitiva
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Política
Moda
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O GURU LISERGICO DE MOBY E STING
ELEICÕES BRASILIA E UM CIRCO
ACK NICHOLSON
CONFISSÕES DE UM VELHO SAFADO
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POR MILLY LACOMBE
DURO DE APOSENTAR Bruce Willis está, mais uma vez, prestes a salvar a própria pele de inimigos ferozes. Aos 55 anos – como aos 30 – ele prefere fazer cenas de ação sem dublê. O problema de salvar o mundo uma vez é que você acaba se acostumando com a função
Bruce Willis fala baixo. Em entrevistas de seus filmes, é preciso ter audição de superherói para conseguir entender o que ele diz. Como normalmente termina a frase com um sorriso contido no canto da boca, que ele deixa levemente torta, fica difícil saber se ele acabou de fazer uma piada ou, como é mais comum, se foi sarcástico na resposta. Em qualquer dos casos, a prudência manda que o interlocutor também sorria. A falta de força nas cordas vocais talvez seja produto da total intolerância que tem com entrevistas e entrevistadores. Como muitas estrelas em Hollywood, Bruce não curte a classe e tampouco esconde a birra. Uma atenuante é pertencer ao sexo feminino – Bruce é um sedutor e, mesmo entediado com
a série de perguntas que é atirada em sua direção, não consegue deixar de flertar. Por outro lado, mesmo se o profissional pertencer ao gênero ‘errado’, Bruce não chega a maltratar. Usualmente contido, vai respondendo tudo o que é perguntado, mais ou menos como os heróis que interpreta nos filmes de ação: faz serviço completo, sem mostrar grande emoção. Aos 55 anos, com uma tsunami de novos atores fazendo filmes que transbordam virilidade, pode-se suspeitar que ele não esteja em sua melhor forma. Se fosse um produto, poderíamos dizer que correria risco de sair de moda. Só que o ator não é um produto – embora haja controvérsias – e está longe de se deixar matar.
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Aposentadoria não é exatamente a melhor palavra para usar com o cara. Quatro de seus maiores salários – todos cachês entre 20 milhões e 25 milhões de dólares – foram filmes feitos a partir de 2000. Sim, as melhores propostas de emprego para tio Bruce aconteceram com ele tendo mais de 45 anos, e sua maior fonte de renda até hoje é o Sexto Sentido (1999), quando tinha 44 anos. Com o longa, entre cachê e participação nas vendas de vídeos e outros subprodutos, ele já teria embolsado algo como 100 milhões de dólares.
Caixa forte // De 2000 para cá, o ator fez quatro longas em que o cachê superou 20 milhões de dólares. Em resumo, seus quatro maiores salários foram depois dos 45 anos. À direita, com Demi Moore, em 1988, no início do casamento que durou 13 anos
Próximo filme: só com feras
© Fotos WireImage
Agora estreia no Brasil mais um filme de ação com o ator – Red. Conta a história de um ex-funcionário da CIA que se vê obrigado a formar uma quadrilha de exagentes ilustres para desvendar por que está sendo ameaçado de morte. Ao lado de Bruce, só gente que, se jogasse futebol, faria o Real Madrid parecer time de colégio – Helen Mirren, John Malkovich, Morgan Freeman, Richard Dreyfuss... Trata-se de uma adaptação da graphic novel de Warren Ellis e Cully Hamner; em forma de uma comédia de ação. Red é uma sigla para Retired Extremely Dangerous, ou Aposentados Extremamente Perigosos. Tipo de filme que pode adquirir, como Pulp Fiction (1994) e Vida Bandida (2001), a alma de cult e relançar Bruce que, afinal, está acostumado com viradas.
o fortão está à solta // SETE coiSaS quE você não SabE SobRE bRucE williS Com 30 anos de atuação no cinema celebrados este ano (seu primeiro papel num filme foi uma ponta em O Primeiro Pecado Mortal, filme de 1980 com Frank Sinatra e Faye Dunaway no elenco – Willis era o “homem entrando no restaurante”, numa cena em que ele está praticamente irreconhecível, de chapéu). Nessas três décadas, o cara
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atuou em 83 produções se considerarmos tv e cinema. Mesmo com tanta exposição, tem muita coisa sobre Bruce Willis que talvez você não saiba. Numa pesquisa pela carreira do ator, reunimos algumas da facetas menos conhecidas do cara: 1. o jogador
Foi o pioneiro a licenciar sua imagem para ser usada num jogo de videogame, cedendo
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sua voz e tendo feições e movimentos capturados para dar vida ao personagem principal de Apocalipse, de 1998, lançado para Playstation 1. No videogame, ele faz o papel de Trey Kinkaid, um cientista que (obviamente) está salvando o mundo das criações de outro cientista, maluco, que costumava ser seu colega. 2. o marketeiro 2.0
Durante a promoção de Duro de Matar 4.0: Viver ou Morrer (2007), Bruce falou à imprensa via
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Second Life – o ambiente virtual 3D. Na época, ele atraiu grande atenção da mídia. Em algum recanto da web, ainda vive essa coletiva, em que o ator responde a jornalistas, blogueiros e usuários, todos com avatares. Se hoje isso soa distante ou até cômico, releve o contexto: em 2007, o Second Life era a síntese do moderno. Como naquele ano o número de usuários do serviço de ‘vida dupla’ explodiu a níveis facebookicos (para a
época), a jogada de marketing foi bem sucedida. Se alguém souber que fim levou o Second Life, favor mandar e-mail (isso ainda é usado?) para a redação. 3. o showman
Em 2003, pela primeira vez em 20 anos, o apresentador de televisão norte-americano David Letterman (no Brasil, exibibido pelo GNT) teve um problema de saúde
que o impediu de estar à frente de seu tradicional programa de entrevistas. Bruce, um dos entrevistados daquele dia, se ofereceu para cobrir Letterman e apresentou o talk show pelo amigo.
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Em 1985, aos 30 anos, quando parecia que sua carreira seria apenas em palcos de teatro no circuito off-Broadway, ele foi escolhido entre 3 mil candidatos para estrelar A Gata e o Rato na tv. O enorme sucesso do seriado – inclusive no Brasil – fez com que fosse pinçado para protagonizar Duro de Matar, em 1988. Os produtores buscavam um herói musculoso que pudesse emprestar humor ao personagem. O sarcasmo de Bruce se encaixou ao roteiro como uma bala no coração do antagonista. E a partir daí, virou o Bruce que conhecemos hoje, um cara que, por pelo menos meia dúzia de vezes, já nos salvou do aniquilamento.
© Divulgação
Politicamente, um republicano
Nova estreia// Bruce Willis com Mary-Louise Parker em cena de Red, seu filme mais recente em cartaz
exatos 20 anos antes de Lohan, em 1987? Diga “Bruce Willis”. Outra: em 2008, o ator começou um relacionamento, que virou casamento no ano passado, com a modelo britânica nascida em Malta Emma Heming (desfilando, à direita), 32 anos. No mesmo 2008, Lindsay também começou um namoro com uma mulher britânica, a dj Samantha Ronson. Estaria Lohan tentando ser a versão feminina não-calva do astro? Se for o caso, a estrada é longa. Nenhum de seus filmes tem explosão. Ou terrorista. Ou algo cataclísmico. Próxima!
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5. O SR. PERFUME
De todos os produtos que uma grife Bruce Willis pode inspirar, talvez um perfume seja o último. Menos pra LR Health & Beauty Systems, empresa de cosméticos alemã que achou a ideia boa. Com o aval do astro, saiu em julho deste ano o perfume Bruce Willis, talvez o único com “gotas de imortalidade, porque caras espertos vivem para sempre. Como Bruce”, segundo tenta nos convencer o fabricante, em seu material promocional. Aos curiosos, a fragrância é “amadeirada, verde
© Fotos WireImage
Essa é difícil notar, mas duas coincidências unem os improváveis Bruce Willis e a patricinhaencosto Lindsay Lohan (atriz de filmes que você não quer ver, na foto à direita de biquíni listrado), a top referência na geração de atrizes problemáticas. Ela foi presa pela primeira vez em 31 de maio de 2007, no feriado americano conhecido por Memorial Day (espécie de Dia dos Finados pros mortos em guerras). Adivinha quem também foi preso pela primeira vez no mesmo Memorial Day,
4. A VERSÃO BETA
Mas o durão testosterônico-musculosoadrenalínico das telas não faz o mesmo tipo fora delas. Hoje, separado de Demi Mooore, é seu melhor amigo, capaz de sair para tomar umas cervejas com Ashton Kutcher (o atual da ex) e paizão que não consegue ficar dois dias sem ver as filhas, de 22, 19 e 16 anos. Aliás, uma de suas frases mais marcantes foi dita a respeito da paternidade: “Tenho muito mais orgulho de ser pai do que de minha carreira como ator.” Ele casou-se novamente, em 2009, com a modelo Emma Hemming (veja abaixo). Se na vida doméstica o cara não causa estrago, no campo político... São os melhores momentos em sua lista de esquisitices. Bruce é republicano e, em Hollywood, republicanos têm a popularidade de barbeadores em comunidades do Taleban. Ainda assim, não teme defender publicamente suas posições.
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e elegante”. Se o perfume é tudo isso, não sabemos. Numa reportagem da revista feminina Elle versão Canadá, de setembro, o perfume era vendido a 35 euros (frasco de 100ml).
Singer // Num momento cantor – gravou dois álbuns, um de R&B e outro só de blues, ambos nos anos 80
Base militar
© Corbis
A invasão do Iraque é um desses temas. Sempre que pode, fala do orgulho que sente pelos rapazes e moças que estão além-mar. Cobranças a respeito não ficam sem reposta. “Sou republicano somente porque quero um governo menor”, já declarou. A explicação para tanta devoção político-militar talvez esteja em seu passado – o pai dele foi um dos rapazes mandados para a Europa para manter a paz depois da Segunda Guerra e Bruce, de certa forma, é produto desses serviços prestados. Foi em uma base militar na Alemanha que David Willis conheceu a alemã Marlene, com quem se casou e, de volta aos Estados Unidos, formou uma família. O que, de certa forma, justifica tanta energia política. Se houvesse para a crítica de cinema um comentarista com cabeça estatística, alguém já teria dito que de todos os 68 filmes que fez, 11 deles (16,2%) continham números em seus títulos e que, somados, eles já ultrapassaram em bilheteria os 2,5 bilhões e dólares. Em outras palavras, tio Bruce never stops.
#5brucewillisfacts > Era gago na infância; > Trabalhou como segurança em uma indústria química; > Passou um tempo num rehab de alcoólatras; > É chamado de Bruno entre amigos e parentes; > Perdeu o irmão caçula em 2001, de câncer de pâncreas
6. o cantor
Bruce Willis já gravou dois discos, um em 1987 e outro em 1989, ambos pela Motown. O estilo flutua entre o R&B clássico e o blues. A canção Respect Yourself, do primeiro disco (The Return of Bruno), alcançou o quinto lugar das paradas americanas em 1987. Os dois foram condensados no álbum Classic Bruce Willis: The Universal Masters Collection, de 2001. 7. o olheiro
Quem se surpreendeu com a estelar atuação de Michael Clarke Duncan no papel do condenado
à morte com poderes sobrenaturais do filme À Espera de um Milagre (1999), que rendeu a Duncan indicações ao Oscar e Globo de Ouro, pode anotar o crédito: quem o indicou para o papel foi Bruce Willis.
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POR EDSON ROSSI, cOm FERNANDO GARcIA FOTOGRAFIA FERNANDO mARtINhO
máquinas do tempo Colecionador mantém 120 modelos clássicos e esportivos – 80 deles restaurados e em funcionamento. BMW, Ducati, Guzzi, H-D, Honda, Kawasaki, Laverda, Maserati...
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Antonio Carlos // Empresário mantém galpão com relíquias que garimpa, compra, restaura e deixa em funcionamento. Perfeccionista, busca muitas peças de sua oficina (abaixo) no exterior
Volte. Volte mais. Volte mesmo no tempo. É lá no baú da infância que Antonio Carlos Lopes identifica a origem de sua paixão. E ela não só dura até hoje, ela aumenta. Mede aproximadamente 120 motos (80 delas em perfeito funcionamento e as demais em processo de restauração) e cerca de 20 carros. Fora os de uso pessoal. Pergunto qual o primeiro veículo da coleção. Ele sorri. “Meu primeiro carrinho era feito de pedaços de madeira presos ao chão, eram os pedais; tinha câmbio de ripa, além de latas, barbantes e palitos fazendo as vezes de instrumentos”, diz Toninho, 52 anos. Uma geringonça lúdica criada no quintal de casa. O cara que tem uma moto Maserati da qual só há outras 16 no planeta e uma BMW 1928 cujo exemplar é o único no país em funcionamento fala com paixão de um carrinho de madeira. Empresário de sucesso – além de negócios próprios e em sociedade, participa do conselho de administração de grandes corporações –, ele usa o tempo que sobra para as motos e os carros. Cuida pessoalmente da logística toda. As regras de administração e estratégia que segue no trabalho também são usadas na coleção. Com isso, cada aquisição segue um rito que invariavelmente tem quatro passos, depois de comprados a moto ou o carro. O passo 1 é conseguir o manual do fabricante ou livros que mostrem o modelo original; passo 2, mapear tudo o que será necessário para o restauro; passo 3, conseguir peças e itens em museus, a maioria na Europa – parte deles mantém oficinas regulares justamente para abastecer colecionadores; passo 4, se o museu não resolver 100% da parada, o que é comum, recorrer a oficinas e profissionais de sua segurança. “Sou obsessivo”, diz. Para fazer a ponta da alavanca de câmbio de uma BMW conversível 1928, acaba de contratar os serviços de um protético. Ele não fala em valores. Não se trata de um investimento. Não no sentido mercantil. Toninho calcula que deva existir no Brasil um ou outro colecionador com mais exemplares de motos que ele, mas não no mesmo estado de conservação. No galpão onde mantém seus brinquedos, se orgulha de ligar e ver funcionar perfeitamente pelo menos 80 modelos de motos. Algumas com mais de 80 anos. Qualquer um se orgulharia. E se emocionaria.
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Honda 750cc // 1973 Kawasaki 500cc // 1975
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Savoy City & Araçatuba
Volte. Volte no tempo. Não muito. Até um sábado de manhã no mais seco inverno paulistano desde 1943 – isso publicam os jornais. Solzão de 27 graus às 9h30 da matina. Estamos no meio da Zona Leste. Pela avenida passa um ônibus para Savoy City. Tem umas dez cidades americanas com esse nome, uma delas no Texas, mas aposto que a linha levará a um bairro na periferia paulistana. Acertei, claro. Já a probabilidade de o lugar onde estávamos ser o endereço da maior e melhor coleção do motos do Brasil, como me haviam informado, pareceu baixa. Errei, claro. Do lado de fora das altas portas metálicas que cercam o lugar você não suspeita o que pode encontrar. Mas basta entrar no galpão mantido pelo empresário Antonio Carlos Lopes para se ver num museu. Tudo é limpo. Impecável. Organizado. Umidificadores ligados para enfrentar o tempo seco. São dois pisos e um mezanino. No inferior, abaixo do nível da rua, ficam a oficina e os veículos em restauro e conserto – mas dá vontade de escrever ‘em concerto’. Ali, dois mecânicos e um funileiro-pintor dão expediente de três dias por semana, com jornada em período integral, para dar conta do trabalho. No segundo piso, o do nível da rua, está a maior parte da coleção. Na parte de cima, a do mezanino, outros exemplares de motos, os modelos de corrida e algumas relíquias – como a mesa e as cadeiras em madeira maciça usadas por décadas, desde a fundação, pela diretoria do Centauro Moto Clube (hoje Motor Clube), além de troféus, macacões que foram do ex-piloto Alexandre Barros e parte da biblioteca sobre motos e carros que Toninho usa como base de pesquisa para realizar suas detalhistas restaurações. Mas o galpão a caminho de Savoy City não existiria sem garimpagens, que fazem Toninho buscar o que for em qualquer lugar. Ele conta sobre sua última grande aquisição. Por meio de um mecânico da cidade de Araçatuba, interior de São Paulo, soube de uma moto italiana C.M. 500cc, ano 1948. Um achado: C.M. era um dos fabricantes clássicos bolonheses e Bolonha é um dos berços da escola italiana de motocicletas. Depois de acertos telefônicos, uma viagem infrutífera ao interior e uma elevação de 50% no valor final da moto, ele a recebe em São Paulo. “Isso faz um ano, levarei outro até deixá-la pronta”, diz. Dois anos entre conseguir um modelo e restaurá-lo. Ali, o tempo gira de outra maneira.
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Ducati 350cc // 1968 Laverda 750cc // 1972
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BMW 750cc // 1928 Guzzi 250cc // 1956
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Leo e Vicente // Nas fotos abaixo, os mecânicos que dedicam três dias por semana à coleção de 120 motos. Leo (à esquerda) é filho de italianos. Vicente (à direita) é italiano
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Leonardo e Vicente – por enquanto vamos chamá-los assim – cuidam das motos na oficina da coleção do empresário Antonio Carlos Lopes, num galpão em São Paulo. Fazem a manutenção de cada um dos modelos e o conserto daqueles que estão em processo de restauração. Um torno auxilia na confecção de pequenos itens e peças que Toninho, o dono, não garimpa. O que seus mecânicos não conseguirem fazer será encomendado em oficinas exclusivas capazes de criar qualquer coisa. Endereços espalhados do Brasil a uma cidade perdida na Alemanha. Toninho conhece de motos e de suas almas. Diz o que quer. Leo e Vicente fazem o serviço. O primeiro é filho de italianos. O segundo, italiano. Nasceram mexendo em motos, tiveram motos e não querem fazer nada que não envolva moto. São apaixonados. Conhecem todos os modelos. Todas as grandes escolas. São capazes de avaliar o estado de um motor pelo cheiro. Na coleção de Toninho, são os doutores. Os que operam os pacientes. Leo começa: “Não há castigo maior para um motor que aceleração máxima com a moto parada”, diz, antes de se apresentar. Aos 51 anos (23/5/1959, Cornélio Procópio-PR), tem mais de três décadas em oficinas. Mexe em qualquer modelo. “Mas gosto mesmo das escolas inglesa e italiana.” Seu parceiro de oficina é Vicente. Tem 75 anos (14/3/1935, Carpi, província de Modena-Itália), vive no Brasil desde 1952. Mas antes, aos 11 anos, já trabalhava em meio a motores. São 64 anos de currículo. “Era um moleque que gostava de sentir a fumaça do escapamento”, diz. “Sabia pelo cheiro se era motor a gasolina ou a gasóleo (diesel). Desde os 11 anos sou da graxa, graças a Deus.” Leo se chama Otello Mostarda Filho. Diz não saber o porquê do apelido. Vicente também não é Vicente. Seu nome é Cinzio Bellini. O apelido teria sido dado pelo pai. Não achei prudente ir a fundo na questão de Otello e Cinzio virarem Leo e Vicente. Não me cobre. São homens que sentem aromas raros no cheiro de um escapamento.
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Aermacchi 250cc // 1964 Ducati 200cc // 1960 (tanque geleia)
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H RD 1000cc // 1948 Harley-Davidson 750cc // 1946
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por FabRizio Tommasini FoToGrAFIA CaRliTo sChiliRo
na pista da máfia As corridas acontecem em circuitos parecidos com hipódromos, em que se usam motos construídas para virar apenas à esquerda. É a Auto Race, uma categoria sob a sombra da Yakuza, a máfia japonesa
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Carruagens de fogo // Em um dos momentos de maior tensão da prova, pilotos – que lembram guerreiros (à direita) – usam o pé esquerdo como pivô. O traçado é sempre anti-horário
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No estádio de Kawaguchi, um bairro economicamente deprimido na região do porto de Tóquio, batedores de carteira, desocupados e trapaceiros aglomeram-se junto aos espectadores nas arquibancadas. A atmosfera se assemelha à de um hipódromo decadente em qualquer canto do mundo. Como costuma ser o caso então, não está em jogo apenas o espetáculo esportivo e o palpite dos torcedores: as vidas de muitos dos presentes dependem das corridas. Afinal, as apostas são pesadas nas provas de Auto Race, versão japonesa do motociclismo Speedway. O termo para designar a disputa vem de autobike e as batalhas são travadas por oito pilotos que dão seis voltas por uma pista de asfalto de 500 metros de comprimento. As motos são todas iguais entre si, o percurso ocorre em sentido anti-horário e nenhuma delas têm freio, como na Speedway. Os motores
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Suzuki de 600cc são conhecidos como grasshoppers, porque fazem as motos zumbir como gafanhotos. O câmbio de duas velocidades fica à direita, de modo a facilitar a entrada na curva, e o guidão é muito mais alto à esquerda, para deixar o espaço necessário para o piloto usar a perna como apoio nas curvas, ao estilo dos modelos supermotard. A natureza do jogo
Esse híbrido entre diversas disciplinas parece ter mais elementos em comum com uma corrida de cavalos do que com o motociclismo. Parte por seu apelo selvagem, parte pelo dinheiro, atraiu a atenção da Yakuza, a máfia japonesa, que percebeu o potencial de apostas clandestinas oferecido por esse espetáculo. Já no momento em que a Auto Race foi inventada, em 1949, a Yakuza tomou
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o controle da modalidade e o manteve até 1967, quando a federação japonesa de motociclismo, fundada em 1961, terminou por absorver a categoria, salvando-a de um final infeliz. A Yakuza foi afastada mas, como as apostas na Auto Race são legais, e isso atrai o jogador de azar apaixonado pela modalidade, a organização criminosa viu na manipulação dos resultados uma maneira de se manter por perto. Para combater o desmando, a federação estabeleceu uma regra que impede os participantes de deixar o circuito durante toda a duração da jornada. Funciona como se fosse a versão privada de um reality show em uma Alcatraz cinco estrelas: alojados em dormitórios luxuosos nos quais estão proibidos de fazer qualquer contato com o mundo exterior, os pilotos ocupam uma prisão dourada cuja população não passa de 500 pessoas.
Jogos mortais // Na página oposta, apostador aguarda resultado. Para evitar manipulação das provas, os competidores são mantidos em isolamento, sob vigilância permanente
no dna, os samurais Descendentes de guerreiros compõem a mais vasta organização criminosa do Japão Quando o Japão enfim obteve certa estabilidade política, no século 17, e criou um sistema burocrático, numerosos samurais se viram excluídos. Cientes de que sozinhos não iriam longe, eles se reuniram em grupos e dedicaram-se a oprimir o povo. Seus descendentes formam a Yakuza, organização criminosa de estilo mafioso, dividida em bandos conhecidos como Kumi. O nome Yakuza deriva de três números que formavam o jogo mais baixo do oicho-kabu, jogo de cartas japonês similar ao blackjack. São eles ya, ku e za, ou oito, nove e três – caminho similar ao de outro sindicato do crime, o PCC, que atende pelos números 1533, inspirado na posição destas letras no alfabeto pré-reforma ortográfica. A começar pela agiotagem, a Yakuza diversificou seus negócios. Hoje, a indústria do crime deve muito de seus números à organização: sozinha, a Yakuza
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responde por mais de 500 homicídios ao ano, controla a prostituição e o tráfico de drogas e dispõe de representantes no mundo corporativo, os sokaya, que se infiltram nos conselhos de grandes empresas e controlam suas escolhas com táticas de intimidação. Em 1992, o governo promulgou a lei anti-boryokudan (outro nome do crime organizado), um jeito de apertar o cerco, mas na prática pouca coisa mudou. Ainda hoje, a associação é vista por muitos japoneses como uma protetora na qual podem confiar, e isso dificulta eliminá-la. A audácia dos criminosos os leva a se reunir em palácios que ostentam insígnias da organização, a circular em automóveis de luxo, usar roupas vistosas, de grife e cometer crimes abertamente. Conhecidos pelas tatuagens, elas não são vistas como reservadas aos malfeitores. No Japão, em geral quem as tem é membro da Yakuza.
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As motos, como os corredores, também são vigiadas para evitar interferência e ficam estacionadas em um grande boxe único, de onde só saem pouco antes da largada de cada etapa. As únicas modificações permitidas se referem a elementos estéticos como selins e manoplas, que devem ser comprados em lojas instaladas no interior do circuito e aprovadas pelos fiscais.
Gringos fora // Estrangeiros são raros nas pistas e nas arquibancadas. Para ser selecionado, piloto precisa ter pelo menos 16 anos e passar por seleção rigorosa
Peneira a cada dois anos
Apesar dos riscos da disputa e da pressão do crime, há muitos japoneses interessados em participar dessas provas e dispostos a enfrentar o penoso processo requerido para que se tornem pilotos. A cada dois anos, é realizada uma seleção por meio de exame de admissão, aberto a maiores de 16 anos. Em tese, as mulheres também podem conquistar licenças de pilotagem, mas na prática é virtualmente impossível avistar uma no circuito, muito provavelmente por causa da fração machista da velha cultura japonesa. Quando passam pela seleção e se tornam pilotos, os participantes recebem a classificação S, A ou B, de acordo com seus resultados de pista nos seis meses precedentes. Isso determina quem está capacitado a participar de torneios mais avançados e, assim, disputar maiores prêmios.
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no país todo, seis arenas No princípio, o improviso. Sem estrutura, as primeiras corridas de Auto Race eram realizadas em hipódromos, porque ainda não existiam pistas especializadas. O primeiro circuito do gênero foi construído em Funabashi, em 1950, e hoje existem seis locais onde se disputam provas nacionais. Em Kawaguchi, periferia norte de Tóquio, fica o estádio que recebe mais espectadores e é considerado a meca da categoria Auto Race. Em Likuza está o maior de todos, com 370 mil metros quadrados. Nos últimos anos, começaram a acontecer provas noturnas no panorâmico estádio de Isesaki, onde a pavimentação e o centro do anel têm iluminação no nível da pista. O circuito de Hamamatsu é famoso por ser vizinho a fábricas de motocicletas como a da Suzuki, que produz o motor único da Auto Race. A atmosfera do circuito se incendeia na primeira semana de maio, quando ocorre o tradicional festival das pipas. O circuito de Sanyo, cercado por verde e montanhas, foi o primeiro a abrigar uma sala de conferência com palco para eventos e telões de alta resolução nos quais são transmitidas as corridas.
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Vida nos paddocks // Motos e trajes permitem delírios visuais ao gosto do piloto. Acima, repare nos tanques minúsculos: apenas um litro basta para as seis voltas da corrida
Assistir a uma corrida de Auto Race custa de 50 a 1 mil ienes (entre R$ 1 e R$ 21), mas fazê-lo pode não ser tarefa fácil, porque os japoneses resistem a permitir o acesso dos gaijin (estrangeiros). Como na máfia, para entrar aqui é necessário ser apresentado por alguém familiar ao ambiente. Mas vale a pena, porque, desconsiderando a desconfiança sobre a lisura da competição, o Auto Race é emocionante mesmo para quem não aposta. As provas são disputadas em temporadas de cinco dias. Nos três primeiros, são 12 corridas diárias, com intervalos de 20 minutos. No quarto dia, acontecem quatro semifinais, entre os melhores de cada bateria do dia anterior. No último dia, são três finais para determinar a classificação geral. Como o regulamento prevê desclassificação por manobras indevidas, é raro ver conduta antidesportiva. Não há classificação por tempo de volta ou prova livre. Os três primeiros lugares ganham prêmios em dinheiro. Todos os outros voltam para casa de mãos vazias – se voltarem, pois aqui estão homens que se arremessam a 150km/h. Antes de cada largada, fiscais de prova, um por piloto, verificam o posicionamento no grid e sinalizam que tudo está correto com um gestual diante da roda
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dianteira. As roupas, cabelos e coreografia dos fiscais podem resultar em uma cena engraçada, mas quando é dada a largada, o riso dá lugar a três minutos de pura adrenalina, entre colisões e quedas. As motos parecem andar no limite de velocidade permitido por seus pneus slick, e a roda traseira muitas vezes perde aderência, gerando pequenas, e seguramente perigosas, derrapagens em alta velocidade. As trajetórias se cruzam e as motos se esbarram por seis voltas, as ultrapassagens se sucedem e a bandeirada de chegada é o único momento de se ter certeza quanto às posições de cada concorrente. Os movimentos no selim são calculados com precisão milimétrica e basta deslocar o peso de forma desordenada por algumas frações de segundo para que a rota seja afetada e o resultado fique comprometido. É um espetáculo que faz esquecer o detalhe que torna única essa categoria: na Auto Race, o maior risco não cabe somente àqueles que estão na pista. Também correm perigo os que assistem com um olho nas motos e outro no painel de apostas, temerosos quanto ao resultado desse sinistro jogo de azar.
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Listras na camisa de tricoline Ricardo Almeida (R$ 555) e na gravata TNG (R$ 50). Casaco de tela Marcelu Ferraz, (preรงo sob consulta), cinto de couro Forum (R$ 170) e bermuda de sarja Dzarm (R$ 120)
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edição MaRina ToRquaTo fotografia ivan BeRgeR
o tom é blue, mas o recado é hardcore Do mais claro passando pelos mais intensos e chegando ao mais escuro, o azul é a cor da estação. Na hora de vestir, a ordem é misturar tudo. E abusar das sobreposições e texturas
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A regata de algodão New Captain (R$ 78) faz a vez do colete sobre a camisa de tricoline listrada Tommy Hilfiger (R$ 278). Bermuda de sarja da Redley (R$ 222) e cinto de tela Marcelu Ferraz (R$ 98) À direita, sobre a pele o casaco de tricô de algodão Billabong (R$ 140). Calça saruel Mario Queiroz (R$ 210) e cinto Bar Denim para Trash Chic (R$ 75)
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O blazer de alfaiataria Mario Queiroz (preço sob consulta) sobrepþe camisa de tricoline mista Renner (R$ 20). Por baixo, bermuda de microfibra Colcci (R$ 177)
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Jaqueta de náilon com capuz (R$ 5.855), camisa de linho (R$ 585) e short de microfibra (R$ 670). Tudo Ermenegildo Zegna. Na cintura, gravata TNG (R$ 50) À direita, camiseta de algodão Rip Curl (R$ 90), calça de malha de algodão Marcelu Ferraz (R$ 498), bota de camurça Side Walk (R$ 149) e cinto Calvin Klein Jeans (R$ 119). O colete de linho Mario Queiroz (R$ 350) vai jogado no ombro
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O colete The North Face (R$ 278) vai por cima da camisa de algodão da Iódice Denim (R$ 180). A calça é Adidas Originals (R$ 250), o tênis de couro é da DC (R$ 410) e a gravata, TNG (R$ 50)
Créditos // Cabelo e maquiagem: Jorge Abreu Produção de moda: Carla Romano Assistente de produção: Fabiana Neves Modelo: Flavio Vilela (Mega) Tratamento de imagem: Head Press
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teXto e FotoGRAFIA nicola caRignani
revolução
sem marcha As bikes de câmbio fixo, sem freio, sem nada, ganham adeptos – mas talvez devêssemos dizer que elas ganham malucos
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Minimalismo // Para seus adeptos, as fixas são a melhor, senão a única, forma de liberdade numa bike
Hambúrgueres, Elvis e loucuras sobre rodas. Têm coisas que só poderiam ter nascido nos Estados Unidos. Uma dessas novidades ganha terreno também no Brasil. Vêm da Califórnia as origens do Council of Doom, grupo que lançou a tendência das bicicletas de câmbio fixo, sem marcha e sem freio: só liberdade. O segredo está na simplicidade: reduzir em lugar de acrescentar, a partir de uma lógica minimalista. Lá fora, esse tipo de bicicleta é popularmente conhecido como fixie, abreviação de fixed gear. No Brasil, o nome também segue a tendência de que menos é mais e aqui são chamadas simplesmente de fixas. É a palavra chave para definir um novo estilo de ciclismo que imita as bicicletas de corrida nos velódromos. A simplicidade é tamanha que para muitos adeptos do estilo de vida biker, ela se tornou uma filosofia de vida, remetendo à época em que ainda não existia o câmbio. Os modelos são tão enxutos que alguns tampouco portam freios no guidão, mas apenas freio-pedal: para parar, é preciso pedalar para trás, muitas vezes tendo de jogar o corpo à frente. Também não é possível deixar de pedalar, pois a bicicleta só reage a estímulos. Ou seja, a conexão entre quem dirige e a bike é total.
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No condado de Orange, sul da Califórnia, surgiu a centelha inicial da tendência, com o grupo Council of Doom. Em pouco tempo a ideia cresceu e multiplicou-se por cidades como Nova York, Milão, San Francisco, São Paulo, Tóquio e Londres – onde nosso editor-assistente de fotografia, Fernando Martinho, deu suas pedaladas e decretou: “É muito maneiro, mas bem difícil se costumar com as freadas”. Tudo nasceu na pequena e próspera cidade de Irvine – centro da costa conhecida por Newport Beach – e suas praias banhadas pelo Pacífico, vizinha da Disneylândia. Na cidade, mais de metade das edificações pertencem à Irvine Company, um colosso imobiliário que adquire e vende propriedades: são casas grandes e imponentes, organizadas em quarteirões como que copiados uns dos outros, aglomerados urbanos com arquitetura e coloração igual, onde até mesmo o corte da grama nos jardins parece seguir normas precisas. O Council of Doom não só é o pioneiro como os maiores promotores da ideia de bicicletas de câmbio fixo. Era um grupo de jovens menos ricos que os protagonistas da série The O. C., inspirada pelo nome do condado Orange County).
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O fundador e o cérebro criativo do grupo é Jeffrey Wolfgang Schmidt, que chegou à cidade vindo de Oakland, destino bem violeno mais ao norte, do outro lado de San Francisco. Wolfy buscava um local mais tranquilo para viver e disposto a compartilhar sua paixão: pedalar uma fixie. Hanna-Barbera na parada
“Era uma necessidade”, diz Wolfy. Recémchegado a Irvine, precisava de companhia para aventura e Andy, Fletcher, Justin e Kevin já andavam com fixas. “Por isso, não demoramos a nos tornar grandes amigos”. Foi esse o espírito que ditou também a escolha do nome do grupo, inspirado pela organização dos personagens malvados no desenho animado Space Ghost, indefectível criação dos estúdios Hanna-Barbera. Em 1967, a produtora CBS pediu ao estúdio de desenhos animados seis novos episódios de Space Ghost para turbinar a maratona de cartoons do sábado de manhã. Até então, a série era apenas reprisada. Foi então que surgiu a saga Council of Doom, que incluiu participações de outros astros do estúdio Hanna-Barbera, como os Herculóides e Shazzan, cujas séries próprias foram lançadas logo após o especial.
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Personagens animados à parte, muitos de seus adeptos pelo mundo pedalam em meio ao tráfego das grandes cidades, ocasionalmente duelando em corridas irregulares conhecidas como Alleycat Race (“corrida do beco do gato”, em tradução livre), espécie de gincanas dessas bikes em que, mais que chegar na frente, importa causar confusão entre os pedestres e tirar dos automóveis o controle das ruas. No Brasil, uma das alleycat races de que se têm conhecimento – pois seus organizadores deixaram rastros pela internet – aconteceu em abril, em Curitiba. O saldo do evento, segundo post no blog FixaCWB /Curitiba Fixed Gear: “Nenhum morto, alguns retrovisores quebrados, uma lanterna de ônibus quebrada, alguns pneus furados, diversão pra caralho e vontade de já fazer outra!”. Mas nem tudo é inconsequência. Para seus praticantes mais fiéis, as fixas continuam a ser uma filosofia de vida. Hoje, com o boom desse estilo, uma bike dessas pode custar até mais na comparação de preço com uma normal – não menos de R$ 700 no Brasil. Não deixa de ser irônico que o novo hype encareça a fixa, porque inicialmente sugriu como algo voltado a uma estratégia de baixo custo, atraindo jovens de baixo poder aquisitivo. Criada em meados do século 19 e início do século 20, a bicicleta de marcha única foi adotada primeiramente por couriers americanos, os pais dos motoboys. Por ser mais barata que uma moto e menos sujeita a ficar presa no trânsito, essa bicicleta permitia aos donos de empresas de delivery fixar horários para a entrega de documentos. Saltos improváveis
Não parece ABS // Integrantes do Council of Doom mostram acima como frear uma fixa: travando o pedal e jogando o peso do corpo à frente
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“A bicicleta me dá tudo aquilo de que preciso na vida”, diz Wolfy. “Permite que eu pague minhas contas, me leva para onde preciso, me mantém em forma, me propicia diversão e contato com pessoas interessantes.” Na aristocrática cidade californiana em que o espírito de liberdade se contrapõe a uma homogeneização descontrolada, o Council of Doom consegue se diferenciar. Não se limita a imitar a evolução do ciclismo BMX e se diverte ao ampliar e até subverter os limites das bicicletas, usadas sobre a grama e sobre áreas construídas, em percursos que pedem saltos improváveis e manobras difíceis de realizar sem marchas ou freios no guidão. Sem marchas e freios, ponto.
Mais que esporte,
estilo de vida
Na revista ESPN o esporte também é comportamento e estilo de vida: entrevistas, competições, bastidores, política, cultura, viagens e tudo o que se refere a atletas, times, clubes e personagens do esporte nacional e internacional. Fique por dentro do mundo dos esportes com a Revista ESPN. (11) 3512 9492 | assinerevistaespn.com.br
GARAGEM por CASSIA AVILA FoToGrAFIA ALISSON LOUBACK
GRAxAs pREciosAs Designer de joias renomado, Ara Vartanian dedica-se, nas horas vagas, a um mundo particular e exclusivo: sua oficina de motos em casa
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Há caras com alma vintage. Ara Vartanian é um deles. Por razões profissionais – é um consagrado designer de joias – ele precisa viver de maneira contemporânea, plugado no atual e no que será tendência. Sem exagero, ele não pode apenas olhar o futuro, ele tem de enxergar o pós-futuro. Mas seu estilo superapurado traz sempre um olhar voltado ao passado. É dali que enxerga tão à frente. Sua casa é reflexo de sua personalidade como a de poucas pessoas. São vários cinzeiros antigos de cristal de Murano espalhados pela mesa de centro, banquetas que vieram de clássicos diners americanos, o pôster gigante da versão em italiano do filme Hells Angels on Wheels (1967, de Richard Rush), que na Itália virou Angeli dell’Inferno sulle Ruote e no Brasil foi lançado como Os Demônios sobre Rodas. São referências. Mas o canto que Ara realmente curte é outro. É sua garagem. Motos e carros dividem o espaço. Não adianta muito fazer contas porque ele muda a cada instante, mas até o mês passado o placar indicava 10 motos e quatro carros. Feras em convivência pacífica. Sua paixão, no entanto, não é apenas por pilotar. Ele é o que podemos chamar de bike builder, apesar de não gostar do termo. “Sou muito mais fazer uma moto na garagem do que ser um bike builder”, diz. “É um hobby. Você vê as peças antigas e elas têm alma.” Sua oficina começou de maneira bem orgânica: por falta de mão de obra. “Andar em moto antiga não é só andar. O mais importante é ter o contato com ela, para saber o que pode acontecer”, diz. Esse espírito o fez juntar peças, ferramentas, conhecimento.
Espíritos invocados // Na garagem de Ara, motos coexistem em harmonia com carrões, em um cenário repleto de capacetes estilosos e pôsteres de filmes clássicos como Os Demônios sobre Rodas, de 1967
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“A junção de elementos é o que mais me atrai. Seja nas joias ou nas motos”
Criador e criatura // Ara gosta de refazer suas motos. Pesquisa sobre elas e traz peças, numa garimpagem que inclui amigos e dá vida a modelos de estilo único
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“Moto antiga é ali, na lata”, diz. “Muito mais simples de resolver o problema, pois se trata de uma mecânica simples.” Isso o levou a manter a garagem. Do nada, ela ganhava corpo. Como Ara diz, “juntar o que está jogado na oficina, montar a moto e sair para dar um rolê com os amigos ou minha esposa é o maior tesão no final.” Apaixonado por motos ele é desde sempre. A primeira, ainda criança, foi uma mobilete, que teve aos 8 anos. Aos 14, ganhou do pai uma Yamaha RD 350, das mais rápidas da época. “Foi uma loucura ele ter me dado essa moto”, diz. Ia para Interlagos fazer provas de arrancada. Ao se mudar para os Estados Unidos, trocou o estilo. Foi a fase de ter Harley e uma de trilhas, a Kawasaki KDX. “Moto não é só um meio de locomoção. Você tem um envolvimento com o negócio”, diz. Em sua garagem doméstica monta modelos das décadas de 40, 50, 60 e 70. Usa peças originais vindas do mundo inteiro. E coisas que encontra por aqui, entre amigos. A última que montou foi uma Kawasaki Z1R 1000 1978 (a mesma que ‘arrebenta’ na foto que abre esta reportagem). Hoje, dedica-se a uma Harley.
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Sua coleção reúne ainda outras duas H-D (uma Knucklehead 1946 e uma Panhead 1953), duas Triumph (T1000 1955, Bonneville 1969), uma Triton Caferacer 1960 – Ara fala dela e da Knucklehead oito linhas abaixo – uma Honda (Elsinore MR 50 1974), uma Suzuki (RV90 1974) e uma Yamaha (minienduro JT1 1971). Os carros da galeria são dois Porsche (356C conversível 1964 e o modelo 911 1973), um Camaro (Z28 1971) e um Mustang (Fastback 1965). Uma seleção digna de respeito. O bom gosto de Ara é mesmo irretocável. — Triton é uma combinação de ‘Tri’, da Triumph, e ‘Ton’, da Norton. Motos feitas nas garagens da Inglaterra para ter o melhor dos dois mundos: motores Triumph e quadros da Norton. Era o que tinha de melhor na época para andar em alta velocidade pelas estreitas estradas inglesas de café para café... daí vem o termo café racer desse modelo. — A Knucklehead no Brasil é conhecida como Chicago porque era a moto mais potente da H-D nos anos 40 e usada pela polícia para perseguir bandidos, mafiosos, que fugiam nos potentes V8s da época.
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Building room // Nesta página, Ara ‘desfila’ em uma de suas criações. À direita, em seu escritório, o designer arquiteta como fazer a alquimia que transforma metais em joias, sem deixar de lado a paixão automobilística
No caso dessas duas motos, elas não existiam. Ara foi garimpando as peças e montando o quebra-cabeça, seguindo muito criteriosamente a origem e o período delas. “O maravilhoso de tudo isso é que nada se faz sozinho. São horas de conversa, leitura e pesquisa”, diz. Uma saga que também envolve trabalho de amigos, artistas e aficionados como Beto Vieira (mecânico que o ajuda), Dani Klajmic, Edu Mendes, Paulo Joe King... Libanês nascido em Beirute há 35 anos (25/2/1975), Ara veio para o Brasil ainda pequeno. O ofício atual – designer de joias – vem do sangue. Seu pai era negociante de pedras preciosas e Ara passou a infância engatinhando no escritório entre as pedras e ouvindo sobre o business. Cursou o colegial em Genebra, formou-se em economia na Universidade de Boston e foi trabalhar no mercado financeiro em Nova York, na compra e venda de papéis de empresas de tecnologia. Mais tarde, começou também a comprar e vender diamantes na bolsa de Diamantes de Nova York, onde atua até hoje. Mas nunca perdeu seu lado B, o que curtia as motos.
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Numa das viagens ao Brasil, em 2000, já um tanto cansado das finanças, vê seu irmão mais velho, Jack, que trabalha com o pai, com a própria marca e enxerga ali um novo caminho. Foi o que bastou para desenhar seu primeiro anel. Num mercado marcado pela tradição e pelo clássico, como o de joias, ele é considerado de estilo único e ousado. Sua fonte de inspiração? As próprias pedras. Tudo começa por elas. Para ele, mais que ourivesaria, faz alquimias. Mistura pedras, ouro, design, e bom gosto. Mistura motor, tanque, quadro e bom gosto. “Tudo se mistura. A junção de elementos é o que o mais me atrai, nas joias ou nas motos.” Suas peças são vendidas no Brasil e no exterior. Estampam editoriais das principais revistas e são usadas por um vasto contingente de personalidades e celebridades. Se ele gosta? “A estética deixa meu cérebro alimentado e criativo”, diz. “Seja para criar jóias, montar motos ou cozinhar, outra de minhas paixões.” Um apaixonado profissional.
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por Achille MAgistRetti FoToGrAFIA seRgio ghetti
Irã e Nova York, eNFIM JUNTos O arquiteto iraniano Farshad Shahrokhi transforma seu endereço americano num 3 em 1 radical. De dia, escritório. De noite, clube com música ao vivo. No tempo que sobra, vira sua casa
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exílio vira estilo Filho de um político exilado depois da revolução islâmica do Irã, o arquiteto Farshad ‘Shadi’ Shahrokhi fundou em 1997 a SHAdi+company, empresa que projeta e fabrica objetos de design. Na foto acima, a fachada do prédio em que trabalha, vive e organiza shows
Nova York. O elevador de carga conduz ao quarto andar. Poderia ser uma semana do filme 9 ½ Semanas de Amor (Adrian Lyne, 1986), mas essa referência só faz sentido se você estiver ali pela casa dos 40 anos – ou mais. Se precisar se informar sobre o filme, recorra ao Google rapidamente, ou vá ao Youtube. Já é o bastante para rever uma espetacular Kim Basinger no auge da beleza. Mas não, não venho acompanhado por Basinger, e sim por outra “senhora”: uma Norton Commando MK1 750, 1968. Estou no interior de um edifício de forma triangular, como que um ferro de passar feito de tijolos fincado no centro do Meatpacking District, em Nova York.
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A região na época do filme era “o frigorífico de Manhattan”. Agora se tornou uma das áreas mais procuradas da cidade, colonizada por bares (o Maritime Lobby, que parece um navio), restaurantes (Macelleria, o quase histórico Pastis), casas noturnas (Cielo, Soho House), lojas de moda e grifes (Alexander McQueen, La Perla, Stella McCartney... E, claro, a Apple Store, na 14ª com a 9ª Avenida). Shadi me ajuda a tirar a Norton do elevador. “Como foi o passeio? Os comandos funcionaram?” Aceno que sim. Tento fingir que não tive dificuldades, mas o velho sistema de alavancas invertidas para freio e câmbio das motos inglesas não é o mais familiar para mim.
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Amor rodado // Aos 12 anos, veio do pai o primeiro amor motorizado: uma scooter. “Indestrutível. Aprendi a dirigir e a enfrentar o trânsito louco em Teerã com ela.” Nos Estados Unidos, comprou a primeira moto de verdade, uma BSA
Antes de entrar no loft de Shadi, é necessário passar por um laboratório de sua empresa, a SHAdi+company (shadiandcompany.com), que desenvolve produtos de design para fabricação em Nova Jersey. Shadi conta que, quando o trabalho para, ele muitas vezes passa o final de semana inteiro dedicado a ajustar um simples carburador ou pintar um tanque de combustível. Scooter indestrutível
A paixão é antiga. “Meu pai me deu minha primeira moto, uma Honda Z50, quando eu tinha 12 anos; o selim ficava meio metro acima do chão. Lembra dessas?” Ele mostra uma foto em um
livro, na qual vejo dois irmãos, gêmeos, cada um pesando seus 200 quilos, sentados no selim de uma Honda Z50. “Indestrutível aquela scooter. Aprendi a dirigir e a enfrentar o trânsito louco em Teerã com ela”, diz Farshad ‘Shadi’ Shahrokhi, nascido no Irã há 42 anos. O pai dele, viceministro da agricultura no governo iraniano derrubado em 1979 – ano da Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá Rouhollah Khomeini –, fugiu em 1984 com a família para os Estados Unidos. Shadi estudou arquitetura, primeiro em Boston e depois no Instituto de Arquitetura do Sul da Califórnia, em Los Angeles. “Foi lá que comprei minha primeira moto de verdade”, diz.
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“Não era uma Harley-Davidson americana, mas sim uma BSA B40, uma moto inglesa de 350cc, modelo 1965.” Ele conta que o som do motor monocilindro de vibração suave era maravilhoso. “Comprei a moto por alguns dólares, de um sujeito em Pasadena, em 1990. Três anos depois, despachei-a para Nova York e agora ela é uma das mais belas peças que tenho em exposição no meu loft.” Percorro com Shadi sua casa, dividida apenas por barreiras sobre rodas que podem ser movimentadas. “No início, diversificar o espaço interno era obrigatório, porque tinha pouco dinheiro e muitas necessidades. Mas depois isso, tornou-se um estilo de vida.”
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Selvagem no deserto //
É só um loft, mas multiuso. Muitas vezes o lugar é usado como laboratório, estúdio e até pra shows de jazz
A cidade esvazia nos fins de semana, quando todos vão a Long Island. É o melhor momento para se ter uma moto. “Saindo de Manhattan de moto, em três horas você está diante das ondas”, diz Shadi
Ao longo das 24 horas do dia – e acredite que muitas vezes o dia ali dura isso ou mais –, o loft pode funcionar como estúdio e laboratório, como residência, como local para festas e até como clube para jazz ao vivo. No horário comercial, o pessoal da SHAdi+company se acomoda às mesas onde ficam os computadores, recebe clientes, realiza reuniões. De noite, poltronas, sofás e até telões de vídeo instalados sobre rodas são movimentados pelo espaço, criando novos ambientes. A grande mesa no centro da sala pode ficar suspensa do teto por um sistema de polias elétricas. “Toda noite de domingo, durante anos, promovi shows ao vivo aqui.”, diz. “Acompanhava na bateria músicos de jazz da cena underground de Nova York e figuras como Jim Jarmusch e Philip Glass vinham tomar uma cerveja e escutar boa música.” Logo adiante da cozinha há outra engenhoca inventada por Shadi, um boxe de banho suspenso de dois metros quadrados.
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“Gosto de ter companhia quando cozinho.”
Ao lado do balcão do bar (que oculta uma cozinha capaz de servir às exigências de um pequeno restaurante), fica exposta uma linda BMW Boxer 750 da década de 70. Acaba de reformá-la, com selim Knosher, carenagem Dunstall, pequenos retrovisores reclináveis nas manoplas, carburador modificado a mão com peças Ducati e muitas outras coisas. “É perfeita para sair da cidade e pegar uma autoestrada”, diz. “O melhor veículo para escapar do tráfego.” Nos fins de semana de verão, a cidade se esvazia e todo mundo vai a Long Island. Para chegar aos Hamptons de carro, na sexta à noite, demora-se cinco horas. “De moto, saindo de Manhattan, em três horas você está diante das ondas.” diz, com ar de satisfação.
máquina BmW F800R
por MAURIZIO GISSI FoToGrAFIA ROBERTO CARRER
alma alemã, coRpo latino A menos germânica das BMW – ou a menos tradicional, dependendo do ponto de vista. Esta naked se dá bem no trânsito das grandes cidades e é muito agradável de dirigir
Indefectíveis, o branco e o azul circulados por um anel preto com as letras B, M e W que vejo no centro do guidão não me deixam esquecer que estou pilotando uma máquina alemã. Noto isso a cada vez que olho para os instrumentos, claro. Mas ao pegar a estrada percebo que se esta naked tivesse a logomarca encoberta eu demoraria para reconhecê-la como um produto oriundo da Bayerische Motoren Werke, ou simplesmente BMW. Não porque lhe falte identidade ou faça lembrar um modelo japonês. Falo isso por sua diferença em relação aos demais produtos da fábrica da Baviera: ela não oferece motor boxer ou transmissão por cardã, tampouco soluções motociclísticas originais. O que temos aqui é um motor paralelo de dois cilindros com suspensão tradicional, o preço que a empresa paga para atingir um novo público, mais jovem ou acostumado a gastar menos do que o padrão alemão – apesar de no Brasil isso não significar extamente uma moto barata. É o mesmo princípio que decretou o sucesso da monocilíndrica F650, no longínguo 1994, e que quatro anos atrás deu origem à série bicilíndrica F800 – primeiro com as versões carenadas S e ST, para estrada; mais tarde com a enduro GS, a melhor das três; e a mais recente, a naked da série. O modelo apresenta diversas qualidades que irão satisfazer o consumidor brasileiro, foco assumido da grife alemã.
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O principal motivo para ela cair no gosto nacional de motos de alta cilindrada é se enquadrar em uma categoria que faz sucesso por aqui – as naked – e também por ser uma moto bem construída e de funcionamento preciso. Ela perde no quesito custo se comparada a modelos de mais cilindradas à venda no Brasil, como a Ducati Monster (1100cc, R$ 48.900) e a Triumph Street Triple (1050cc, R$ 46.900), que por aqui estão praticamente na mesma faixa de preço da BMW F800R standard (R$ 45.900). A versão premium da BMW sai ainda mais cara, a partir de R$ 51.900. Design tem acertos e deslizes
Grana à parte, vamos falar da máquina: ela tem linhas agradáveis, esportivas, mas não inutilmente vistosas. Com o farol duplo e assimétrico da GS e referências claras à K1300R, máxi naked de muita personalidade. Porém, certos detalhes denunciam exigências da contenção de custos: os apoios de pé para o passageiro, fixados ao quadro, são passíveis de crítica; da mesma forma que o reservatório de óleo de freio, visível demais, no guidão; assim como os tubos de freio também visíveis demais, sob o farol; e o acabamento plástico de alguns itens. Já a instrumentação clara merece elogios (no Brasil, o modelo premium é complementado por um computador de bordo). O mesmo elogio vale para os comandos elétricos.
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Quadro, motor e rodas são revestidos de preto e a carroceria no Brasil pode ser em branco, amarelo metálico, cinza granito e tricolor (azul-branco-vermelho). O modelo premium vendido aqui oferece, segundo a empresa, além de computador de bordo, manoplas aquecidas, para-brisa esportivo e freio ABS. O ABS, aliás, merece menção: em uma moto leve e de fácil dirigibilidade como a F800R, é excelente pedida. O modelo testado vem com esse freio instalado e comprovamos que seu funcionamento melhorou – agora o ABS opera de modo menos antecipado e invasivo que nos modelos anteriores. A moto roda de modo suave. A começar pela posição de dirigir, que é perfeita: pedais no ponto correto, guidão bem posicionado e altura justa (banco a 80cm – tendo como opcionais o banco alto, a 82,5cm, e a versão baixa, a 77,5cm). O falso tanque de combustível não atrapalha (o verdadeiro, de 16 litros, fica sob o selim). Com o tanque cheio, a F800R bate nos 200kg de peso. E se a sua primeira experiência com ela for pilotando na cidade, a agilidade de manobras no trânsito o surpreenderá, bem como a sensação de que ela pesa menos do que na realidade. O motor é muito regular (nenhum outro bicilíndrico é tão fluido em marcha lenta), a dosagem do acelerador é fácil, a fricção é progressiva e o ângulo de manobra é amplo: não é difícil fazer slalom entre os carros pelas ruas.
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Sim, city // Urbana por natureza, o modelo naked da BMW encara a cidade de frente e mostra agilidade para slalom entre os carros de centros congestionados. Mas a F800R também encara com desenvoltura e boa performance as rodovias
O câmbio da F800R é de seis marchas e a transmissão por corrente se mostra silenciosa e de manutenção mais simples. O equilíbrio ciclístico está entre seus pontos fortes: trata-se de uma moto bem balanceada e de perfeita sincronia entre as características do motor e a neutralidade de comportamento do quadro. Isso funciona tanto para uso urbano quanto uso misto – cidade-estrada. Mas ninguém adquire uma naked para turismo, seria a escolha errada. E isso simplifica o trabalho dos projetistas, que podem pensar uma moto compacta e concentrar atenções na suspensão e no motor. Com 87 cavalos, ela chega a uma velocidade máxima de 200km/h (segundo o fabricante) e sem problemas de estabilidade ou frenagem perto desse limite. Ainda assim, a condução perde em precisão porque a suspensão absorve incorretamente as ondulações. O ambiente ideal para a F800R, onde essa máquina deverá passar a maior parte do tempo, será no trânsito ou em estradas vicinais, com passagens ocasionais por rodovias. Uma crítica é quanto ao regime do motor, que se sai bem, mas não chega a entusiasmar em giros muito elevados. Há de se reconhecer, contudo, o ótimo ajuste e o funcionamento exemplar, pois embora o ruído de escapamento seja alto, o rugido do motor twin é agradável, especialmente acima dos 4 mil giros. Não há hesitação alguma a partir dos 2 mil giros e em marcha longa. Acima dos 5 mil giros, surge um pico de torque, que se repete aos 7 mil e de forma mais acentuada aos 9 mil giros.
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F800R
VELOCIDADE MÁXIMA DE 200KM/H
MOTOR: 4 tempos, bicilíndrico, 4 válvulas/cilindro, refrigerado à água CILINDRADAS: 798 POTÊNCIA: 87cv a 8 mil giros TRANSMISSÃO: câmbio de seis marchas, corrente FREIOS: disco duplo flutuante de 320mm com pinça de 2 pistões (dianteiro) e disco simples de 265mm com pinça de 1 pistão (traseiro) PESO: 177kg (vazia) e 199kg (em ordem de marcha) MEDIDAS: 2.145cm (comprimento) x 1.160cm (altura) x 905cm (largura) CONSUMO: 26,3km/litro (a 90km/h) e 19,2km/ litro (a 90km/h) PREÇO: R$ 45.900 (standard) e R$ 51.900 (premium) Informações do fabricante
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Em relação ao conforto, as pernas não ficam muito expostas ao ar quente, o que é fundamental na hora de encarar a cidade. O maior problema são as vibrações sentidas nos pedais e guidão acima dos 5 mil giros, e por volta dos 120-130km/h – a velocidade de uso mais comum, na estrada, da F800R. Nada que incomode demais, mas o sistema de equilíbrio do propulsor não reproduz a eficiência natural de um motor em V. O câmbio, em compensação, tem engates precisos, especialmente apreciáveis quando o piloto busca um bom apoio dos pneus entre uma curva e outra. É uma moto agradável de pilotar. Perde bem quando se carrega um passageiro, o que limita sua agilidade e aceleração. Caso contrário, ela irá satisfazer seus anseios esportivos. Olhos atentos ao Brasil
A gigante BMW nasceu em março de 1916 como uma empresa ligada à indústria da aviação, mas ao fim da primeira guerra mundial, com a derrota da Alemanha, foi proibida de continuar a municiar a indústria
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aeronáutica. Com isso, se dedicou às motocicletas e, depois, aos automóveis. O primeiro modelo de moto da marca foi a R32, de 1923 – já era um modelo revolucionário. O projeto do engenheiro Max Friz trazia eixo cardã, motor boxer de 2 cilindros, 500cc e 8,5cv. Pode-se dizer que o DNA daquela R32 está até hoje nas motos feitas pela marca. No Brasil, a empresa considera 2010 como um ano divisor no mercado de motocicletas de maior porte – a BMW tem modelos a partir de 450cc, mas o preço base da linha é da G650GS (a partir de R$ 29.900). No ano passado, a marca comercializou 1,5 mil unidades e a previsão é fechar 2010 com 3,5 mil – crescimento de 133%. Desde dezembro de 2009, a empresa alemã mantém um acordo operacional com a Dafra e monta em Manaus a G650GS. Com isso, o preço do modelo saiu da casa dos R$ 40 mil para a faixa abaixo de R$ 30 mil, estratégia considerada decisiva para a ampliação do mercado.
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Esguia e versátil // A BMW F800R tem excelente posição de pilotagem (o banco de série está a 80cm) e mostra ser uma máquina ágil. A ideia do tanque de gasolina sob o selim a torna mais esguia e distribui melhor o peso
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por MASSIMO TEMPORALI FoToGrAFIA ROBERTO CARRER
FEITA PARA
ULTRAPASSAR Superbike e um conceito zen: o de comunicar, com o motor desligado, que esta Honda não traz apenas potência e tecnologia, mas também arte e filosofia
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Força bruta // O modelo da Honda tem potência de 178cv. Trata-se de uma máquina tão rápida que, nas curvas, enquanto o piloto ensaia mentalmente a manobra, ela já se inclina e completa o traçado. Requisito: reflexos em dia
Se você está em jejum de pilotar motos de grande potência, vai precisar de tempo para ficar relaxado ao guidão desta
No vocabulário dos motociclistas, Honda significa onipotência. Resultado dos números quase sempre imbatíveis do colosso japonês. Como senão, a marca não ocupa o topo da cadeia alimentar quando o tema são modelos de alta potência, terreno em que BMW, Ducati, HarleyDavidson, KTM e Triumph costumam estar. Isso não vale para a moto desta reportagem. A filosofia da linha CBR 900 é vitoriosa e evoluiu ao longo dos 16 anos transcorridos desde o lançamento da primeira versão. E o modelo virou refúgio para todos aqueles que não querem correr riscos ou sentir arrependimentos. A CBR 1000 RR Fireblade oferece continuidade em relação às antecessoras. Depois de haver tropeçado com a versão 2004, estupenda, mas projetada sem uma profunda atenção aos detalhes – detalhes que são sempre caros à marca –, parece justo os projetistas terem voltado ao boxe para conceber um novo tigre. O perfil dela é claramente inspirado pelas pistas, desenvolvido para oferecer o máximo de desempenho aerodinâmico. A parte técnica e tecnológica não oprime uma expressão estética mais refinada. Pelo contrário. O design também agrada e aponta para o novo, que se reflete na carenagem. O padrão cromático no Brasil traz quatro variações: o branco perolizado com detalhes em azul e vermelho, o prata metálico com tons laranjas ou com tons vermelhos e a toda preta. O que temos é uma reformulação estilística altamente conceitual. Além da atenção aos detalhes, houve grande avanço aerodinâmico. A CBR é toda estendida. A profundidade do novo pensamento da Honda traduziu-se numa espécie de lipoaspiração. O motor novo, mais curto, é mais leve (o peso é 2,5kg menor). O quadro, que continua a ser feito
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de alumínio forjado, foi totalmente reprojetado e consiste não mais de nove e sim de quatro elementos, o que permitiu economizar outros 2,5kg. As rodas e os freios também estão mais enxutos, resultando em menos 1kg. Também na condução ela parece derivar do último modelo da série 900 (com 954 cc), lançado antes que a nova série 1000 chegasse ao mercado, em 2004. Com tanta preocupação e menos peso, a agilidade é a maior das muitas qualidades da CBR 1000 RR, uma máquina tão rápida nas curvas que enquanto o piloto ainda ensaia a manobra mentalmente, ela já se inclina e completa a curva. É algo que nos apanha desprevenidos. O piloto precisa reorientar suas reações e reflexos. Para o bem e para o mal. O “mal” se relaciona à exuberância em termos de potência. Sabe quando alguém chega e diz “experimentei uma Honda nova, mas a sensação é a de que a piloto desde sempre”? Não é o caso com ela. O recado que ela passa é muito claro: se você está em jejum em termos de pilotar motos de grande potência, somente o tempo o ensinará a relaxar ao guidão desse modelo. Potência assusta
Argumentos (contra e a favor) para tanto? a) uma primeira marcha que permite atingir os 160km/h a 13,2 mil giros, com o limitador acionado; b) potência declarada de 178cv; c) o comportamento do propulsor de quatro cilindros é o de um motor hipercomprimido, expresso por uma explosão de potência no uso em regimes mais elevados (acima dos 5 mil giros, a potência chega a assustar); d) um câmbio duro e giro irregular em baixa rotação (abaixo dos 4 mil giros); e) o rugido do motor na aceleração vem acompanhado de vibrações.
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SONHO SAN The Power of the Dreams é o slogan mundial da Honda. Nada mais justo. A companhia de 180 mil funcionários, é líder no mercado de motos. Isso inclui o Brasil, onde ficou com 75% das vendas em 2009. Deve seu crescimento a sua filosofia. E deve sua filosofia a seu fundador, Soichiro Honda (1906-1991). O ex-dono de oficina que passa a fornecedor da indústria de aviões teve sua fábrica bombardeada no fim da Segunda Guerra. Vendendo joias da mulher, compra um lote de motores para gerador e os adapta em bicicletas. Sucesso de vendas. O fôlego renovado serve para fundar a Honda, em 1948. Um ano depois nasce uma moto de 98cc. Qual o nome dela? Dream. Explicado por que o slogan mundial da empresa de Soichiro é o Poder dos Sonhos?
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o motor opera de modo arisco e entre as rivais da categoria 1000cc este modelo é o que empina com mais facilidade
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Os motores suaves do passado foram esquecidos. Este é mais exigente, mas também mais libidinoso. Quando você sair com uma moto desse tipo, deixe a prudência em casa e desfrute a alegria da situação, como se fosse a sua última chance de um passeio com ela. É difícil andar a menos de 150km/h, mesmo na garagem de casa. A nova Honda é uma fera das pistas, mas é necessário saber conduzi-la com sutileza e experiência. É preciso ousadia e confiança para dirigi-la, ou bastarão duas voltas para que você esteja de língua de fora e com os braços fatigados. Em um circuito de muitas curvas e boas retas, o trecho de curvas pode exigir ser percorrido em primeira marcha. Imagine os grandes solavancos, a necessidade de compensar no equilíbrio do corpo. Já na parte da esticada é preciso resistir à aceleração devastadora das retas. Manter a moto equilibrada cansa e o motor que opera em modo arisco, não vai ajudá-lo a manter a trajetória. Entre as rivais na categoria 1.000 cilindradas, a CBR é a que empina com mais facilidade. A suspensão se comprime como um limão, e aquela potência toda requer esforço constante do garfo e da suspensão traseira, e pneus de alto desempenho. Bastam algumas voltas para perceber. Vamos falar a verdade: o bicho é um monstro à solta. Sua vocação para a velocidade se vê na estrada, onde, a 130km/h, a sensação é de estar parado. O motor gira a 5,4 mil rotações, e mesmo nesse nível mostra nervosismo semelhante ao de um motor dois tempos quando o torque está para chegar ao pico. Assim, se tornou possível atingir com uma Honda, e não apenas com Suzuki e Yamaha de altíssima potência, o limite de 300km/h. Em sexta marcha, o limitador restringe a rotação a 12,5 mil giros. De outra forma, ela atingiria velocidade semelhante à da RC212V, da MotoGP, que bate os 320km/h. Quando a mamãe Honda quer falar sério, não faltam argumentos.
178cv a 12 mil giros Motor: 4 tempos, 4 cilindros em linha, refrigerado a água Cilindradas: 999,8 PotênCia: 178,1cv a 12 mil giros transMissão: 6 marchas; por corrente Freios: duplo disco flutuante de 320mm com pinça radial quádrupla (dianteiro); 220mm com pinça simples (traseiro) Peso: 177kg Medidas: 2.080cm (comprimento) x 1.130cm (altura) x 685cm (largura) Preço: r$ 56.000 (standard) r$ 58.000 (com aBs)
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MuNDO MOTO Por Cassio Narciso
DESIGN
VELOCIDADE
PREÇO
CONFORTO
PILOTAGEM
quaNTO MaiOR a esfeRa De COR, MelhOR O iTeM
Nakeds de 600cc a 750cc e retorno. Outro diferencial é o chassi do tipo diamond, feito em alumínio. Como opcional, ela pode ser equipada como freios C-ABS, que além de impedir que as rodas travem durante a frenagem combina a ação de dianteiro e traseiro. Sua tendência à esportividade fez com a gigante japonesa
organizasse um campeonato com uma categoria dedicada a Hornet, chamada Racing Festival, organizado pela primeira vez em 2010.
Desenvolvida para ser divertida na cidade, tem características que facilitam a condução em trajetos urbanos, como o assento baixo que permite até mesmo os pilotos com altura de até 1,70m colocarem os pés no chão de forma segura e firme. Ela também é leve, seu peso a seco é de 186 kg. Dessa forma,
o piloto não precisa ser tão alto ou forte para controlar o peso dessa naked tornando a pilotagem mais confortável e divertida.
se bem conduzida, leva o seu motor de 650cc a mostrar toda sua alma esportiva. Apesar de ter o banco bipartido, ele é largo e transporta piloto e garupa com mais conforto do que entre as concorrentes. Há pouco tempo, o modelo nacional recebeu injeção eletrônica e sistema de
arrefecimento a líquido. Ela também é a que tem o maior porte entre as nakeds médias, e por isso paga um preço: tem 215kg a seco.
A naked da Kawasaki aposta em uma cilindrada superior que as demais concorrentes, são 750 cc no motor, que oferece 106cv a 10.500rpm e torque de 8 kgfm a 8.300 rpm. O visual é moderno e agressivo, o que
colaborou muito para sua fama de arisca. Mas para garantir visual tão esportivo, o conforto, mais especificadamente para o garupa, é baixíssimo, já que, quase não há banco para ele. A Z750 também utiliza o garfo da suspensão dianteira invertido de 41 mm com retorno e précarga da mola ajustáveis.
Esse modelo é muito vendido na Europa e entrou no mercado nacional em 2009. Pode ser equipado com o sistema de freios ABS.
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hONDA
CB 600F hORNET A máquina da Honda é a líder de vendas da categoria e tem diversos diferenciais voltados ao desempenho esportivo. A suspensão dianteira é do tipo upside-down (com garfos invertidos) e ainda traz ajustes de pré-carga da mola, compressão
YAMAhA XJ6-N Recém-chegada ao Brasil, a Yamaha XJ6-N, lançada no início de 2010, foi projetada para ser fácil de pilotar e também funcionar como a porta de entrada para o mundo das motos da categoria naked que utiliza motor com quatro cilindros.
SuzukI
BANDIT 650 Essa motocicleta é muito conhecida dos brasileiros. A Bandit 650 tem suspensões e ciclística com calibragens voltadas ao conforto de piloto e garupa. Mas não se engane com essa característica. A naked da Suzuki,
kAwASAkI z 750
Motor: 4 cilindros, 600cc Potência: 102cv / 12.000rpm Peso: 173kg Preço: R$ 33.260
Motor: 4 cilindros, 600 cc Potência: 77,5cv / 10.000rpm Peso: 186kg Preço: R$ 27.500
Motor: 4 cilindros, 650 cc Potência: 85cv / 10.500rpm Peso: 215kg Preço: R$ 31.151
Motor: 4 cilindros, 750cc Potência: 106cv / 10.500rpm Peso: 203kg Preço: R$ 33.990
mundo moto
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por cleiton sotte FoToGrAFIA valdemiR cunha
UbaTUba-ParaTY
UM ParaÍSo E 11 dESTINoS Acredite, com nosso roteiro você vai redescobrir por que este trecho do litoral brasileiro é um dos lugares mais bonitos do mundo. Dicas de endereços exclusivos, novidades, segredos...
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Recompensa // Praia do Estaleiro, ao lado da Almada, em Ubatuba: mata e praia preservadas como recompensa da viagem
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Lindas paisagens, praias para as quais o termo paradisíaco deveria ser exclusivo, comida e bebida excelentes e uma estrada desafiadora. Nosso desafio foi encontrar segredos capazes de surpreender quem já foi e quer voltar, quem nunca foi e até mesmo quem nunca sai de lá. 1. a praia
Dica Riders: praia da Almada (Ubatuba). Dividida por um rio, mantém as características de um vilarejo. Seu acesso se dá pela estrada homônima que se inicia no km 11 da BR101. 2. o surfe
Dica Riders: com duas horas e R$ 100, vire surfista. Na ponta direita da praia de Itamambuca (Ubatuba) está a Escola Zecão de Surfe. “Você sai daqui surfando em duas horas ou seu dinheiro de volta”, diz o instrutor Diego Mantovani. 3. a trilha
Dica Riders: praia da Fazenda (Ubatuba). Tem a trilha do Picadão (2h30 de duração), a do Jatobá (3h), a da Rasa (4h) e a do Corisco (9h só de ida). 4. a cachoeira
Dica Riders: numa pequena via que fica após a ponte na estrada da Murycana (sentido Cunha da Paraty-Cunha), fica a Cachoeira Pedra Branca, cuja queda forma uma piscina natural. Está numa área particular, e paga-se taxa de entrada (R$ 2). 5. a cachaça
Dica Riders: pegue uma estrada de terra a 7,3km do trevo de entrada da cidade sentido Angra. Busque a fazenda Santo Antônio, onde é feita de forma artesanal a premiada Maria Izabel (mariaizabel. com.br). Ali a própria Maria Izabel (a proprietária) e três funcionários cuidam da limitada produção. 6. a flambada
Dica Riders: se beber cachaça não bastar, que tal ‘comer’ cachaça? A Casa do Fogo (casadofogo.com. br), em Paraty, oferece um amplo cardápio de pratos flambados com cachaças locais. 7. a loja
Dica Riders: o ateliê da mexicana Patrícia Sada (patriciasada.blogspot.com). A arquiteta chegou a Paraty há 28 anos para estudar os traços coloniais da cidade, material que rendeu o livro Paraty: Traçados de um Centro Histórico. Pinturas feitas em telas, troncos e folhas são sua marca registrada.
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Show de atrações // Do alto, a partir da esquerda: Maria Izabel com a cachaça que a tornou célebre; lojas descoladas que lembram a tradicionalíssima Vila Madalena paulistana; árvore de palmito juçara; a praia de Itamambuca (Ubatuba); itens do brechó náutico em Paraty; o típico casario do Centro Histórico de Paraty; a praia Brava da Almada, a 15 minuots a pé da praia da Almada
ColoCamos a Cavalaria numa estrada sinuosa Encarar uma estrada sinuosa como a Rio-Santos com uma esportiva chamada Fireblade é pedir para ser torturado. Você não consegue esticar o que a moto pede. Tenho certeza de que o pessoal da Riders fez de propósito. O que compensa, e como!, é pegar algumas boas retas tendo como pano de fundo a paisagem sem igual no planeta. Sempre que viajo, procuro observar o máximo as paisagens e ter uma conversa comigo mesmo
enquanto piloto. Mas, quando se tem uma CBR 1000RR Fireblade, das esportivas mais rápidas da atualidade, o passeio não é exatamente assim – os prazeres são outros. Conhecendo bem a ‘cavalaria’, acresci um objetivo à viagem: evitar multas. O que, confesso, não consegui. Ela é uma autêntica superbike, por isso manter a velocidade entre 110 ou 120km/h é incrivelmente difícil. Garupa? Nem pensar. Apenas se você odiar a pessoa. O pequeno banco traseiro eu considero decorativo.
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Também é preciso planejar o que levar na mochila, já que amarrar a bagagem na traseira da moto, quando se chega a 100km/h em primeira marcha e antes de 3seg, é arriscar demais ficar sem os pertences. Bem, você pode levar aquela ex-namorada na garupa. Já a máquina fotográfica, não – leve-a na mochila. Desço a serra, terrível para a Fireblade e para as minhas costas. Logo vêm as pequenas retas e lombadas, rumo a Paraty. Não é mais possível acelerar com vontade. A estrada
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passa por reformas e tem cascalhos soltos. Em Paraty, lembre-se da característica mais importante para quem chega de moto esportiva: o famoso piso de pedras irregulares. Evite o que der. Basta se informar como chegar até as pousadas pelas ruas internas. Visitei ainda duas praias: Trindade e a da Almada. Em ambas, o mesmo sentimento. O caminho é ruim para a moto esportiva, mas tem a recompensa de uma belíssima paisagem ao avistar o mar. Por Cassio Narciso
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8. o brechó
Dica Riders: dê um pulo no Brechó Náutico (garimponautico.com), para encontrar da peça perdida de sua lancha ao item para decorar a casa. 9. a comida
Dica Riders: entre os clássicos da culinária local, o casadinho de camarão do Lapinha (ponta esquerda da praia do Pontal) continua imbatível.
Leste ou Oeste // Acima: nas poucas retas, acelere; à direita, a Praia da Almada (Ubatuba): a pequena enseada permite que você veja o sol descer por trás das montanhas olhando da beira da praia
10. a pousada
Dica Riders: a Casa Turquesa (casaturquesa.com. br) no centro histórico. O piso, de mármore e madeira, requer que você calce pantufas. 11. o ceviche
Dica Riders: Le Gite D’Indaiatiba (legitedindaiatiba. com.br) é um clássico e vale para dormir ou comer. Entre as maravilhas feitas no restaurante local, a novidade (deliciosa) é o prato da moda: o ceviche.
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VIVER COMO REI
ER ID S M PA
A
As dicas do roteiro Ubatuba-Paraty reúnem o que há de melhor para comer, para dormir, para conhecer, para descansar. Seja um roteiro curto ou uma esticada de alguns dias, veja o que há de melhor
6 Cachoeira Pedra Branca Fica numa propriedade privada (paga-se R$ 2 pelo acesso). Pegue a estrada Murycana (sentido Cunha da estrada Paraty-Cunha). Acredite, será o melhor banho de cachoeira da sua vida
5 Pousada Casa Turquesa T (24) 3371.1037 São apenas nove suítes desta pousada de luxo aberta em 2008. As tarifas variam de R$ 790 a R$ 1.152 (baixa temporada) a R$ 880 a R$ 1.400 (alta temporada)
SÃO PAULO
PARATY
RIO DE JANEIRO
1 Surfe em Itamambuca T (12) 3845.1003 Na ponta direita da praia de Itamambuca, a pegada é o surfe. Para os neófitos, há aulas na Escola do Zecão. Em duas horas você sai se achando Kevin Slater
2 Praia do Estaleiro Seguindo sentido Paraty a partir de Ubatuba, a praia do Estaleiro é de águas calmas, areia branca e fina, própria para a pesca e a prática de esportes náuticos
3 Praia da Almada Se você tiver tempo para apenas um mergulho, a praia é esta
4 Restaurante Banana da Terra T (24) 3371.1725 O tradicional restaurante substituiu um clássico de seu cardápio, o peixe azul marinho, pelo peixe com banana, numa receita bem mais refinada e excelente
7 Cachaça Maria Izabel mariaizabel.com.br Paraty reúne dezenas de produtores de cachaça, mas realmente bons são poucos. Este é um deles
8 Restaurante Le Gite D’Indaiatiba W legiteindaiatiba. com.br T (24) 3371.7174 Pode ser dica de onde comer (muito bem) e onde dormir (muito bem). Mantido com total atenção a detalhes pelo casal proprietário, um francês e uma mineira
LEGENDA //
UBATUBA
ONDE COMER
ONDE DORMIR
ONDE IR
RIO DE JANEIRO PARATY SÃO PAULO
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s nto Sa
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UBATUBA
UBATUBA O C E A N O AT L Â N T I C O
ARREDORES
BRASIL
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por Jasmina TRifoni FoToGrAFIA Luca LocaTeLLi
Sicília
jornada irreSiStível Madonie, Nebrodi, Etna: é a Sicília das montanhas, das estradas desafiadoras. E você pode alugar a moto a partir do Brasil: de scooters a modelos de alta potência
“Major Challenge.” Grande desafio: é assim que um guia britânico de viagens rodoviárias define as estradas sicilianas, classificando-as como as mais estressantes da Europa, com buracos gigantescos e faixas de demarcação que desaparecem repentinamente em meio ao nada. “Hahaha”, responderia um brasileiro, acostumado a situações bem mais tenebrosas. E é preciso ter em mente que, embora os motoristas e motociclistas locais não sejam agressivos, desconhecem conceitos como distância de segurança e limites de velocidade. “Hahaha, que surpresa!”, diríamos. Como se não bastasse, é preciso desconfiar das placas encontradas na estrada, casuais e brincalhonas: “Atingir a meta será como uma caça ao tesouro, mas afinal se trata do Etna!” É fato que os ingleses percorrem o sul da Itália minuciosamente desde a época do Grand Tour, no início do século 19 (tanto que seus guias de viagens continuam a ser os mais precisos já escritos). No entanto, é igualmente verdade que não foram capazes de compreender que o que faz a diferença na ilha italiana são exatamente os imprevistos e tudo o mais que lamentam. E exatamente por isso um brasileiro ali se sentirá muito em casa.
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Mar ou montanha? // Os moradores de Palermo fazem uma parada Ă sombra; basta subir um pouco para escapar do calor da cidade e ter uma vista fantĂĄstica
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Natureza e tradição // Nesta página: pastor e seu asno e motoqueiro e sua moto: em ambos os casos, sem capacete. Na página ao lado, a pequena Cefalú, próxima a Palermo
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Parte do percurso é pelo traçado da tradicional Targa Florio, prova ícone do automobilismo. E é preciso parar nos stazzi para se provar o queijo tumazzu
Estamos dotados do DNA mediterrâneo que faz a gente apreciar a frase sibilina de um senhor já idoso que encontramos no início da viagem, à beira-mar em Palermo: “Não adianta consultar o guia; leia Pirandello e só assim você aprenderá sobre os milhares de Sicílias”. Por isso, entre todas as Sicílias possíveis, preferimos o risco de descobrir a mais enigmática: a das montanhas. Delimitadas pelos três parques nacionais do Etna, do Madonie e do Nebrodi, as montanhas são consideradas como ilhas no seio da ilha, não apenas por estarem muito acima das perfumadas águas mediterrâneas, mas porque constituem a mais óbvia característica da natureza local. Tão próximo a Palermo que parece estar perto de tocá-la, o parque da serra de Madonie representa apenas 2% do território siciliano, mas abriga 2,6 mil espécies de plantas, e por isso representa um
formidável jardim botânico, abrigando de variedades alpinas a subtropicais de vegetação. E são as árvores mesmas que nos sugerem o local da primeira parada, pouco após deixarmos para trás o tráfego da rodovia que une Palermo a Cefalú. São árvores surreais, de ramos pendentes e ostentando como que fios de branco luminoso. Doce e picante, a síntese siciliana
Um camponês de barba também branca nos oferece um líquido extraído da árvore, que define como Manna delle Madonie. Segundo o camponês, a substância tem propriedades farmacêuticas e um gosto semelhante ao do mel, além de ser excelente ingrediente para doces. O nome dele é Giulio Gelardi, e sua família trabalha há gerações extraindo maná. Gelardi é presidente da associação Slow Food, criada para
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orientar a produção de maná nos distritos de Castelbuono e Pollina. Ele ganhou fama internacional ao produzir chocolate recheado com maná (e não chocolate de maná, explica, oferecendo uma de suas criações). O sabor é a um só tempo doce e picante, a síntese da Sicília. Passando por bosque de seculares abetos e pastos escaldantes, a estrada para Madonie – que é parte do percurso do Targa Florio, mítica prova que existiu entre em 1906 e 1977 e se tornou emblemática no automobilismo mundial – reserva surpresas a cada curva. É preciso parar nos ‘stazzi’, refúgios típicos de pastores, construídos em pedra, para provar o tumazzu, queijo preparado com feno e muitas vezes citado como especialidade da culinária siciliana pelo escritor Andrea Camilleri, famoso no país pelas histórias do comissário Montalbano.
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Imagens sicilianas // Da esquerda, no sentido horário: um camponês extrai maná de um freixo. Palermo vista da montanha. Asfalto e pastos. Sesta de moradores locais junto a um pomar
O caminho até o Etna é recheado de pastos ardendo ao sol, vinhedos e bosques de freixos dos quais se extrai maná, um fluido branco com gosto semelhante ao mel
A viagem prossegue na direção de Geraci Siculo, uma cidadezinha construída sobre as rochas a mil metros de altura e pouco mais de 2 mil moradores, famosa pelas águas minerais quentes e pela prática continuada da falcoaria, arte tradicional que envolve criar e treinar aves de rapina para a caça. Em seguida, Petralie, formada por duas comunidades construídas lado a lado, Petralia Soprana e Petralia Sottana, que oferecem vistas panorâmicas do Pizzo Carbonara, com 1.792 metros, o mais alto dos picos do Monte Madonie, que também é comumente utilizado como estação de esqui entre os moradores de Palermo. A estrada que acompanha o dorso da montanha em direção a leste atravessa Sperlinga, uma rocha perfurada por dezenas de grutas. O lugar é uma ilha na ilha: a população descende de soldados lombardos chegados 700 anos atrás, mas que continuam a falar seu dialeto setentrional e se orgulham de
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seu doce típico: o panetone. Essa especialidade antecipa, de certo modo, a paisagem das montanhas mais ao norte, parte da serra de Nebrodi, cujo nome deriva da palavra grega nebros, a divindade conhecida como fauno. Vale a pena o longo percurso através do parque nacional, passando pelos distritos de Cesarò e San Fratello, onde se veem grupos de cavalos selvagens, os sanfratellani, uma das mais antigas espécies equinas italianas, que dividem o território com ovelhas e porcos selvagens. Seguindo o percurso, chegamos ao fim da viagem divisando o Etna. Da aldeia de Cesarò, a estrada até o Etna é um desfile de maravilhas, de campos cultivados com vinhas às plantações de pistache de Bronte, a mais famosa variedade do planeta. Também há trechos de solo negro, formado por lava de erupções passadas, por cujas frestas escapam os vapores ardidos do enxofre
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vulcânico. Ao chegar descobrimos que para os sicilianos, o Etna não é uma cratera, mas “la muntagna”, sempre no feminino, com um olhar enamorado. E é fácil perceber o motivo quando cai a noite e percebemos o vulcão e nos encantamos com suas rubras labaredas. alugue sua moto no brasil
Saindo do Brasil, é possível deixar acertado o aluguel de moto na Sicília. Procure seu agente de viagens ou uma das locadoras locais. Na Sicily Moto Rent (sicilymotorent.it) você pode alugar, entre outras, uma BMW F650GS (95 euros/dia ou 299 euros/semana). Há scooters como a Honda Lead 100 (35 euros/dia, 150 euros/cinco dias). Não é preciso carteira de motociclista, apenas a habilitação de carros.
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SICÍLIA: VER, COMER E DORMIR
ER ID S M A
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8 Hostaria Nangalarruni hostarianangalarruni.it O maná é protagonista de muitos pratos. Sugestão: de aperitivo, flan de cogumelos selvagens, pasta com manchas de feijão e tomate seco de entrada e, por fim, filé de porco em crosta de amêndoas e pistache maná negro
7 Relais Santa Anastasia santa-anastasia-relais.it Antiga abadia beneditina transformada em uma das melhores casas de campo da Sicília: 28 quartos, piscina e ótimo restaurante
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Viaje aos parques regionais da ilha: talvez seja a melhor maneira de descobrir a verdadeira Sicília. Nosso roteiro tem 462 quilômetros de percurso pelas montanhas, mas você pode montar seu trecho. Curvas difíceis, lindos panoramas, história e tradição gastronômica, eis o que o espera
Parco dell’Etna parcoetna.ct.it Com o slogan de “sons, perfumes e cores, tudo isso no entorno de um vulcão”, o parque nacional do Etna proporciona momentos de rara beleza. O vulcão que dá nome ao lugar é o mais ativo da Europa
(Capri Leone) 316 km
PALERMO 462 KM (Santo Stefano di Camastra) (Termini Imerese) (Campo felice di Roccella) 50 km (Castelbuono) 378 km
1 Parco delle Madonie parcodellemadonie.it Cenário de algumas das mais altas e belas montanhas sicilianas, o Parque Nacional de Madonie fica entre Palermo e Cefalù, e é uma reserva natural
(Collesano) (Cesarò)
(Petralia Sottana) 102 km
(Geraci Siculo) 119 km
(Parco delle Madonie) 77 km
2 Ristorante Hotel Pomieri hotelpomieri.it A cozinha do lugar, no vilarejo de Petralia Sottana, oferece ótimos pratos de inspiração local, como funghi com ervas das montanhas. Com sua temática de inspiração medieval, o albergue é uma boa pedida para quem procura hospedagem mais rústica
5 Al Catoio Via Madonna di Loreto tel. (35) 34 6321.7488. Bronte. Trattoria típica da Sicília, fica no centro histórico de Bronte e sua estrutura é rústica, datada do período da colonização árabe. Entre os pratos típicos, vale provar o macarrão com molho de coelho e as delícias de pistache
4 Parco dei Nebrodi parcodeinebrodi.it Maior área protegida da Sicília, oferece uma paisagem exuberante, repleta de montes, vegetação típica, bancos de pedra arenosa-argilosa e animais selvagens, como lobos e águias
3 Accademia italiana Cavalieri Alto Volo aicav.com Instituição cultural e esportiva devotada à artes da falcoaria, cavalaria e cães de caça em geral. Mesmo para quem não entende de nenhum desses temas, vale para ver as demonstrações de voo de falcões
LEGENDA // ONDE COMER
MAR
(Bronte)
ONDE DORMIR
ONDE IR
MEDITERRÂNEO
PALERMO
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SICILIA SICÍLIA
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ITÁLIA
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MÚSICA, CINEMA, SHOWS, TV, LIVROS ...
ESCUTE, ASSISTA E LEIA: VASCULHAMOS O MUNDO DO ENTRETENIMENTO PARA INDICAR OS MELHORES LANÇAMENTOS (ALÉM DE ALGUMAS DICAS IMPERDÍVEIS)
WEEZER // HURLEY Não, nós não vamos falar de Lost. Só os caras do Weezer podem explicar o porquê de terem batizado seu disco novo de Hurley e colocado a foto do ator Jorge Garcia na capa. O fato é que os nerds andavam meio perdidos e esse é o melhor disco da banda em anos, com o rock alternativo melódico de volta a sua boa forma.
© Fotos: Divulgação
Leonardo dos Anjos
ALOE BLACC // GOOD THINGS Aloe Blacc é um cara inovador. Seu primeiro disco, Shine Through (2006), trazia ânimo para o cansado gênero do R&B moderno, lotado com mesmices radiofônicas à la Chris Brown, Usher e outros cujas músicas parecem iguais. Apesar das boas críticas, o álbum não vendeu e o cantor ficou na obscuridade. Mas, no começo deste ano, com o lançamento do single I Need a Dollar, um soul moderno que balança o corpo (com um arranjo que deixaria Stevie Wonder orgulhoso) e a alma (uma letra sobre a luta operária que só militante radical faria igual), Blacc mostrou que é possível estourar
E DA PÉLVIS, DO COURO E DO REBOLADO, SOBRE A NATUREZA DO MATERIAL QUE MOVE OS IMPULSOS HUMANOS
PHIL COLLINS + JOHN LEGEND&THE ROOTS // ANOS 60 NA VEIA Going Back e Wake Up! são dois lançamentos obrigatórios nas paradas e continuar vanguardista. Após o sucesso da canção, ele chega com Good Things, com ótimas faixas inéditas e uma versão incrível de Femme Fatale, do Velvet Underground – provando que não só uma mulher pode cantar essa música. Dos novos nomes do R&B americano, ele talvez seja o único novo de verdade. E isso é boa coisa. LDA
ARCADE FIRE // THE SUBURBS
ADONIRAN E NOEL //
Não há uma revista séria de música que não tenha falado bem do último disco da banda Arcade Fire, cujo título nada empolgante é The Suburbs. Não se iluda: empolgação é uma das marcas dessa trupe de canadenses liderada por um sujeito meio messiânico, de voz aguda, que atende pelo nome de Win Butler. The Suburbs está levando a banda às paradas, o que é esquisito: o Arcade já foi
Duas lendas estariam completando 100 anos este ano: Adoniran Barbosa e Noel Rosa. Os sambas de São Paulo e do Rio de Janeiro sofreram enorme influência da obra dos dois compositores. Vale, portanto, a indicação dos discos-homenagem Adoniran: 100 anos e Noel Rosa: 100 anos de Celebração. Ambos têm a mesma premissa: grandes cantores da atualidade revisitam o legado de Adoniran e Noel. LDA
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uma banda independente das mais performáticas. A apresentação cheia de vibração continua a mesma, mas os canadenses encontraram enfim o coração dos ouvintes por meio de artifício mais simples. The Suburbs é um conjunto memorável de boas melodias, no estilo de um Van Morrison um pouco mais enfeitado. Bowie também é influência. Cadão Volpato
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«AMBIÇÃO É UM SONHO COM UM MOTOR V8» ELVIS PRESLEY, AQUELE LÁ, DO TOPETE
Três chefs da música decidiram revisitar o vasto cardápio cancioneiro negro americano dos anos 60 em dois álbuns: assim saíram do forno as iguarias Going Back (Phil Collins) e Wake Up! (John Legend & The Roots), ambos com regravações da melhor época da gravadora Motown e outros filés do soul daquele tempo. Os ingredientes e o sabor escolhidos em cada um são opostos, mas o resultado é igualmente bom: enquanto o veterano Phil Collins segue à risca
a receita infalível dos clássicos, a cozinha novata formada por John Legend e o Roots prefere usar um tempero mais exótico para servir suas releituras. 1. O veterano: Phil Collins queria gravar um disco com as canções que ouvia na infância, tudo igual aos originais. Going Back é bom porque a nostalgia de Collins transpira por todas as faixas. 2. A nova cozinha: Legend e o Roots se juntaram para regravar músicas negras politizadas dos 60’s e 70’s. Wake Up! é o resultado dessa salada moderna nada indigesta. LDA
NINA BECKER // AZUL E VERMELHO Você vai se apaixonar por Nina Becker. Por várias razões. Nina é a musa da Orquestra Imperial, o coletivo de gafieira com figurões cariocas. Outro motivo é que a moça lançou recentemente um pacotão de estreia: os discos solo Azul e Vermelho.
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O primeiro é um trabalho minuncioso de estúdio, sofisticada trilha para caminhar na praia, como sugere a capa do CD. Já Vermelho é mais cru, casual. Gravado ao vivo, soa mais como a metáfora musical de um descanso na rede num sítio nas montanhas. LDA
guItAR tRIo //
CoNCeRtos desCoNCeRtANtes //
Ipê AMARelo//
Como um guitarrista se torna imortal? Talvez quando não seja mais necessário dizer seu nome. Ou se ouvir um de seus riffs já for suficiente para que as pessoas saibam de quem você quer falar. No caso dos três personagens do documentário A Todo Volume, lançado por aqui em DVD, eles fazem parte das respostas acima. Basta ouvir Kashmir, New Year’s Day e Seven Nation Army que não seria mais necessário dizer o nome das músicas, nem das bandas e muito menos os dos caras: você saberia de quem falamos. O diretor Dave Guggenheim teve a grande sacada de juntar Jack White (White Stripes), The Edge (U2) e Jimmy Page (Led Zeppelin) para uma DR (discussão de relacionamento) sobre guitarras e o estágio de seu casamento com elas. Rock and roll no talo. LDA
I wanna be your girl from Ipanema
Duas palavras que têm tudo a ver com o Brasil: descontração e música. Por que a nossa produção clássica deveria ser, então, pela falta de um termo melhor, sisuda como uma composição alemã? Quatro paulistas levantaram a bola e deram o corte certeiro: a música clássica tem tudo a ver com o gingado nacional. O quarteto Ipê Amarelo lançou Mercado Paulistano (veja no site da Riders a agenda dos caras), com músicas de compositores da velha e da nova geração, mesclando linguagens e estilos, dando uma aula de sonoridade. Descontraído e genial, como só o povo brasileiro consegue ser. LDA
Fora o status de ídolos, o que há em comum entre Frank Sinatra, Iggy Pop, Sid Vicious e Tom Jobim? Vejamos. O encontro de dois gênios, Frank Sinatra e Tom Jobim, aconteceu em 1967. Quarenta anos depois, é um dos clássicos indiscutíveis da música universal. O lançamento de Sinatra-Jobim: The Complete Reprise Recordings traz, pela primeira vez, o registro completo do encontro. Não dá pra não ter. Ali estão juntas, finalmente, canções maravilhosas como How Insensitive e Bonita. How Insensitive, aliás, foi cantada por Iggy no álbum Premilinaires.
De Iggy (e The Stooges, sua banda dos anos 70) tem o relançamento de Raw Power (Sony), com direito a um CD bônus. Quando o disco saiu, em 1973, ainda não havia o movimento punk, mas Iggy já se retorcia no palco, com vozeirão de barítono, dorso nu e altura de garoto. É música para se ouvir em volume elevado. Exemplo: Gimme Danger. Na fonte do velho Iggy e sua banda, beberam todos os primeiros ícones punks, como o Sex Pistols, de Sid Vicious, que gravou iconoclástica versão de My Way (símbolo na voz de Frank Sintra) no álbum The Great Rock n Roll Swindle.
gustAvo dudAMel // A Venezuela tem um programa público de ensino musical chamado El Sistema. Se existe prova viva de que o programa deu certo, ela se chama Gustavo Dudamel. Aos 29 anos, (19 deles no El Sistema), é um dos mais conhecidos maestros do mundo, condutor da Sinfônica de Gotemburgo, na Suécia, e diretor
JAIR NAves // musical da Filarmônica de Los Angeles, dos EUA. Los Angeles Philharmonic - The Inaugural Concert é o DVD que mostra Dudamel em sua estreia à frente da filarmônica, executando a Sinfonia nº 1 (Titã), de Gustav Mahler, e City Noir, de John Adams, composta para a ocasião. Clássico sem afetação. LDA
plAylIst dA RedAçÃo // ouça em revistariders.com.br I Speak because I Can Laura Marling
Appetite for Destruction Guns N’ Roses
Leonardo dos Anjos, repórter
Luciano Araujo, editor de arte
Give them the Rights The Congos
The Concert Creedence Clearwater Revival
Fabricio Calado, editor assistente
Sergio Siriguti, assistente de arte
AgeNdA Modernosos, tiozões endividados, um gênio e os farofeiros mais rock and roll da história: confira os shows que valem a pena este mês
Massive Attack //
16 de novembro São Paulo Turnê do novo disco, o bacana Heligoland.
Tudo bem que você não quer saber disso e vai pra ouvir ao vivo ‘aquela música da abertura do House’ (Teardrop), mas....
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Iggy pop gravou tom Jobim, que cantou com sinatra, que foi ‘homenageado’ por sid vicious
Creedence Clearwater Revisited //
19 de novembro São Luís 20 de novembro São Paulo Não confundir este revival caça-níquel com o C.C. Revival original. Os irmãos Forgety, fundadores, saíram nos
O que você consegue se juntar Bob Dylan com Nick Cave e moda de viola caipira? Talvez o que Jair Naves faz no EP Araguari, inspirado no caso de dois irmãos mortos por um crime que não cometeram. O álbum traz o ex-vocalista do agora defunto grupo de grunge-indie Ludovic correndo riscos em águas menos turvas. Passada a primeira impressão, o que se nota em Araguari é Jair cantando com uma intensidade agora de outra natureza, inclusive num dueto com uma segunda voz feminina, em que relata um fictício divórcio consensual. As outras letras são mais introspectivas. Para ouvir bem longe do jogo de facas. Fabrício Calado
anos 70. Este genérico tem só baterista e baixista originais (mas ainda vale mais que A Fazenda 3).
MetAllICA 3x É BoM, BoM, BoM // Algumas pessoas não percebem a beleza e a sonoridade peculiar de uma distorção - detalhe importante: no volume máximo. Azar delas. Num encontro que tremeu as poltronas dos cinemas pelo mundo, chega às lojas o show mais barulhento e legal do ano: Big 4, gravado na Bulgária. Mais de cinco horas de Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax. Se você quiser mais algumas sessões de ‘sinfonia’,
pode adquirir os dois lançamentos anteriores do Metallica: Français pour une Nuit, gravado no histórico anfiteatro de Nimes, na França, e o não menos poderoso e barulhento Orgulho, Paixão e Glória, show da turnê que passou pelo Brasil este ano e que foi gravado durante as três apresentações na Cidade do México. Prepare seu home theater. Se você curte Los Hermanos, dê passagem. Luciano Araujo
Tendo a seu lado a banda...bem, isso faz diferença? Jeff Beck é Jeff Beck. Pode esperar hinos de várias épocas, do Yardbirds à carreira solo e o disco novo, com orquestra. Incendiário.
40 anos de existência e vários hinos do rock na bagagem (We’re not Gonna Take it e I Wanna Rock entre eles), Dee Snider e sua trupe sempre fazem shows que garantem diversão. Prepare a farofa, peruca, calça colada e lantejoulas.
twisted sister //
Jeff Beck //
24 de novembro Rio de Janeiro 25 de novembro São Paulo
26 de novembro Curitiba 27 de novembro São Paulo Os drag queens supremos do rock dando as caras novamente em solo brasileiro. Com quase
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Zapping // Filmes
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cinema // estreias
john lennon // a Vida antes de ser um beatle Quando John Lennon era apenas um sonhador A história dos Beatles foi revelada amplamente ao longo dos anos, desde que os rapazes de Liverpool encerraram as atividades da banda em 1970 e foram se perdendo pelo caminho. Mas uma história pouco conhecida veio à tona com as memórias da meia-irmã de Lennon, Julia Baird, que escreveu
Imagine - Crescendo com Meu Irmão John Lennon. Transformada em filme, aqui batizado de O Garoto de Liverpool, a história da juventude de Lennon pré-Beatles informa toda a genialidade e a rebeldia do homem adulto e do artista. No final dos anos 50, Lennon (Aaron Johnson) é um estudante de artes dividido entre a
música, a mãe ausente e carismática e a tia tirana. No meio do caminho, o encontro fatal com o outro lado da moeda, um garoto chamado Paul. Dirigido por Sam TaylorWood, que apesar do nome é uma mulher, O Garoto de Liverpool é um filme delicado, intimista, movido pelo rock’n’roll mais selvagem de Elvis
e companhia e ainda distante da gritaria que perseguiria os Beatles até o fim. Lennon, o garoto de Liverpool, vive todos os tormentos que a idade adulta transformaria em hits como Mother, Julia (o nome da mãe) e Imagine, canções que iluminam até a cegueira o passado de um mito.
> Robert De Niro, Edward Norton e Mila Jovovich atuam em Homens em Fúria, filme que promete pelos atores envolvidos. A trama começa quando um incendiário condenado (Norton) convence sua esposa (Jovovich) a seduzir o seu oficial de condicional (De Niro). Tudo se complica quando o relacionamento foge do controle e os três pagam pelo que pode ter sido o maior erro de suas vidas. Leonardo dos Anjos > A neta de Jorge Amado, Cecília, estreia na direção cinematográfica adaptando Capitães da Areia, um dos livros mais conhecidos do avô. A tarefa pode soar ingrata. Um filme de duas horas não comportaria o grande número de personagens do material original. Porém, a obra é rica em detalhes e o ritmo da trama é rápido: isso favorece a adaptação. Vale para ver como Cecília Amado se saiu. LDA > Os diretores Robert Rodriguez e Quentin Tarantino fizeram trailers fake para um projeto conjunto chamado Grindhouse. O longa À Prova de Morte (Death Proof),
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Quadrinhos no cinema // não é só o homem aranha pendurado na grana Não é novidade para ninguém que Batman, Super-Homem e X-Men são filmes baseados em séries de histórias em quadrinhos. Os filmes estrelados pelos personagens icônicos das HQs são um filão explorado em
Hollywood por décadas. Tudo bem que, hoje, essas adaptações são levadas mais a sério, e o Oscar póstumo de Heath Ledger por sua aterrorizante e perfeita encarnação do Coringa em O Cavaleiro das Trevas (2008) é prova disso.
Como consequência, os grandes estúdios começaram, nos últimos anos, a prestar atenção nas séries de HQ mais adultas, não tão reconhecidas pelo grande público. Scott Pilgrim, que estreia este mês no Brasil, e Red
Sucessos das telas, cult nas HQs
300 (2007) e Sin City (2005) são obras de Frank Miller. Estrada para Perdição (2005), estrelado por Tom Hanks, veio da graphic novel
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homônima, que já era inspirada no mangá Lobo Solitário. Constantine (2005), com Keanu Reaves, vem de Hellblazer, da DC Comics.
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Vêm por aí: The Walking Dead, da Image Comics, acaba de estrear na tv americana. Vão bem os planos para levar Sandman (bíblia cult da DC) para a tv. E como Neil Gaiman, seu autor, dirige Morte: o Preço da Vida, derivado da franquia, Sandman também deve chegar aos cinemas.
(vide reportagem com Bruce Willis) são exemplos de filmes que têm bons índices de audiência sem que muita gente saiba que foram inspirados em alguma HQ. A indústria cinematográfica está tão empolgada que Mark Millar (autor de Procurado) já licencia suas séries para que virem filmes ao mesmo tempo em que estão sendo escritas e publicadas. Kick Ass é outro fruto de sua safra. E a empreitada promete mais. No quadro à esquerda, confira alguns filmes de sucesso oriundos de HQs cult, bem como produções de peso, como Sandman, clássico do britânico Neil Gaiman, que deve virar série de tv. LDA
de Tarantino, era parte da obra. Agora, partindo dos trailers e atendendo a um pedido dos fãs, Rodriguez (com Ethan Maniquis), concluiu o longa Machete, uma piração sangrenta característica do diretor, com Robert De Niro à frente do elenco. A conferir. CV > Então você comprou todos os livros da coleção Harry Potter para seus filhos e acabou lendo todos? E, quando os longas saíram, você levou a prole ao cinema e, no fim, se divertiu a valer? Nada tema. Mesmo se não tiver filhos, é com esse espírito que você deve assistir Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1, último lançamento da franquia. No fim das contas, os filmes da série sobre o bruxo mirim divertem até mesmo quem teve infância. LDA
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ZaPPinG // liVros
Os Diários Secretos de Agatha Christie John Curran, Leya, 480 págs., R$ 49,90
A Morte de Bunny Munro Nick Cave, Record, 352 págs., R$ 50
O irlandês John Curran é um fã tão fiel de Agatha Christie que conseguiu juntar num único volume dois contos inéditos de Hercule Poirot, imortal criação da escritora, notas de trabalho, desenhos, fotos, mapas, trechos e capítulos inteiros excluídos das 66 novelas, 20 peças teatrais e mais de 150 contos dela ao longo dos anos. Tudo isso estava disperso em 73 cadernos guardados por Mathew Prichard, neto de Agatha, do qual Curran é amigo. O resultado é uma viagem fabulosa ao universo de uma das maiores criadoras de mistério que a literatura já viu viu. CV
O cantor, compositor, roteirista e romancista australiano Nick Cave é um desses raros artistas capazes de fazer bem tudo o que fazem. Cave, que já morou no Brasil nos anos 90, impõe ao rock um padrão radical na interpretação das letras soturnas que compõe. Não é artista para muitos, mas possui reputação que poucos ostentam. Está no segundo livro, e ambos têm a ver com o clima que ele criou na música. A Morte de Bunny Munro é a história de um caixeiro-viajante que transita com o filho pela Inglaterra atrás de sexo e redenção. CV
Tempestades Comuns William Boyd (Rocco) 384 págs., R$ 59,50
The Brazil Series Bob Dylan, Prestel, 192 págs., R$126,90
Em Londres, um homem encontra um desconhecido e transforma dramaticamente a própria vida, descendo até o submundo. Nascido em Gana, mas educado na Grã-Bretanha, Boyd utiliza diversas informações reais – como a dos corpos do Tâmisa – e recursos cinematográficos para incrementar suas narrativas. Isso eletriza a ação e dá à trama ritmo de thriller hitchcockiano. CV Bob Dylan é um artista prolífico. Tanto que suas visitas ao Brasil renderam muito mais que samba e ressaca de caipirinha: o poeta supremo de sua geração se sentiu inspirado a retratar em quadros impressões e sentimentos sobre o país. As telas viraram exposição, atualmente no Museu Nacional de Arte da Dinamarca. O livro (homônimo à exposição) reúne as pinturas da série em 100 trabalhos, 98 já expostos e dois inéditos. Leonardo dos Anjos
Desgracida Dalton Trevisan (Record) 240 págs., R$ 37,90
Deixe o Grande Mundo Girar Colum McCann, Record, 378 págs., R$52,90
Dalton Trevisan é um dos grandes escritores brasileiros vivos. Aos 85 anos, ele destila grandes venenos em pequenos frascos: seus livros são curtos, mas são implacáveis no conteúdo. Fiel a seu universo, composto por cenas familiares meio bestas, tipos antigos mórbidos, sexo e Curitiba. Tudo está em Desgracida, livro que se lê num susto, mas que deixa um travo amargo no leitor. CV Um equilibrista passeando sobre um fio de arame esticado entre as Torres Gêmeas, em 1974, centraliza as narrativas em torno das quais se movimenta o romance Deixe o Grande Mundo Girar, de Colum McCann, irlandês radicado em Nova York que possui a incrível habilidade de fazer ecoar a destruição das torres no 11 de setembro de 2001 sem, no entanto, tocar no assunto. As narrativas compõem um mosaico contemporâneo. Dos melhores livros do ano. CV
«QualQuer um Que consegue manter a habilidade de ver beleza em todas as coisas, nunca vai envelhecer» Franz kaFka, Escritor nascido Em praga, autor da história absurda E nada otimista do homEm quE acorda transformado Em um insEto
um argentino para transformar em ídolo // descubra rodolfo walsh
tire as crianças do chat //
Veja se isso não é uma vida digna de um romance: Rodolfo Walsh nasceu na Patagônia argentina em 1927, descendente de irlandeses. Até 1956 foi um pacato revisor de provas numa editora, jogador de xadrez nas horas vagas e profundo conhecedor de romances policiais ambientados em Buenos Aires. Ele próprio escrevia esse tipo de literatura. No fatídico 1956, Walsh jogava xadrez tranquilamente até que começou a perceber uma movimentação esquisita na cidade: era, na verdade, uma tentativa de golpe de estado em andamento. Os apoiadores do deposto Juan Domingo Perón tentavam retomar o poder. O resultado foi uma repressão em massa,
J.K. Rowling que se cuide. Nomes de peso estão lançando livros infantojuvenis. Gente como... o cara mais poderoso do mundo. Não bastassem os lançamentos da trinca formada por John Grisham, Neil Gaiman e Salman Rushdie, os jovens do mundo poderão se entreter sob o comando da pena do presidente americano Barack Obama. Primeiro veio Rushdie, que lançou Luka e o Fogo da Vida (Companhia das Letras, 208 págs., R$ 33), fábula modernosa em que um menino deve salvar o pai, contador de histórias que vive em sono profundo. Grisham estreia no segmento
agravada pela prisão e fuzilamento sumário de um punhado de indivíduos que havia se reunido para ver uma luta de boxe bem na hora do toque de recolher. Clandestinidade A vida de Walsh muda a partir daí. Ele encontra por acaso alguns sobreviventes, resolve escrever a história do fuzilamento, cai na clandestinade para se inteirar melhor dos fatos, publica um livro e assume o que não fizera até então: entra para a luta armada. É como guerrilheiro que ele cai nas mãos da polícia e desaparece, em 1977. Mas antes deixou uma corajosa Carta Aberta à Junta Militar, denunciando todas as barbaridades do regime. O que sobrou da obra
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Operação Massacre Rodolfo Walsh, Companhia das Letras, 288 págs., R$ 46
Essa Mulher e Outros Contos Rodolfo Walsh, Ed. 34, 256 págs., R$ 39
de Walsh não é só enigmático – é literatura de primeira, quase tão boa quanto o romance que sua vida daria. Finalmente chegam ao Brasil dois exemplos impactantes de livros desse desgarrado. O primeiro é a reportagem que fez sua reputação. Operação Massacre é um
thriller político que não se consegue largar. E Essa Mulher e Outros Contos traz o autor de intrigantes e imaginativas histórias policiais. Ou seja, as duas vertentes desse escritor único podem ser conferidas numa só tacada. Rodolfo Walsh é um cara que vale a pena descobrir. Cadão Volpato
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infanto-juvenil com Theodore Boone: Aprendiz de Advogado (preço sob consulta). Gaiman teve lançado aqui recentemente O Livro do Cemitério (336 págs., R$ 39,50). O livro de Obama sai este mês. Of Thee I Sing: A Letter to my Daughters (algo como “Sobre você eu canto: uma carta para minhas filhas”) é ilustrado por Loren Long, o mesmo do livro infantil de Madonna. A obra de Obama é um tributo a norte-americanos importantes. A moral da história: com esses caras entrando no ramo, escrever livros infantis deixou de ser brincadeira de criança. LDA / CV
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Nossa musa, Mariana Graciolli, topou nos ajudar com umas dicas culturais. Ao lado, seguem indicações mais que especialíssimas de um livro, um filme e um show musical. Todos são clássicos e se você não leu, viu ou escutou, já passou da hora de ir atrás. Toda edição, Mari será nossa convidada para mais dicas imperdíveis.
Jack Kerouac O LIVRO On The Road é um livro que deu início a um gênero da literatura, o beat. Leia antes da adaptação para o cinema, do diretor Walter Salles, estrear em 2011.
Wall Street O FILME A obra de 1987 que deu um Oscar para Michael Douglas é um ícone aos yuppies canalhas. Tanto que esse é o único filme de Oliver Stone que teve sequência.
AC/DC O SHOW O certo é ver o AC/DC do alucinado Angus Young ao vivo. O blu-ray de No Bull revive a turnê do disco Ballbreaker (1996).
UP AND COMING
O BOM MCCARTISMO SIR PAUL MCCARTNEY VAI NOS ABENÇOAR DE NOVO. OS INGRESSOS ACABARAM? BEM, TRATE DE DAR UM JEITO DE CONSEGUIR (MESMO!) O SEU COM AQUELE MELHOR AMIGO
© Epiphone Divulgação
O cara ao lado escreveu a premiada Let it Be. Teve um planeta batizado em sua homenagem. Foi parte daquela banda, os Beatles. Tornou o nome Paul mundialmente conhecido muito antes do polvo da Copa. Seu nome aparece no Guinness Book como o compositor mais bem-sucedido da história da música popular – e mesmo ele, com azar no matrimônio, tem a vida mais ganha que muitos bem casados por aí. É por essas e muitas outras que novembro de 2010 se tornou sagrado até para ateus no Brasil: a lenda viva apresentará sua turnê Up & Coming pelo país, nos dias 7, em Porto Alegre, e 21 e 22 em São Paulo. Guarde essas datas, cancele qualquer outro compromisso, peça demissão ou divórcio (ou os dois) e se desfaça de sua carteira de ações na Bovespa se preciso.
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Se por acaso a própria menção do nome de Sir Paul não abala sua fé a ponto de convencer o quão obrigatório é esse show, vale notar que o repertório da atual peregrinação pelo mundo da missa mccartista tem mudado muito pouco. Hinos O ídolo toca mais ou menos 30 músicas e, entre os hinos que o público pode esperar, figuram The Long and Winding Road, Live and Let Die, Get Back, além das três canções pop mais bonitas desde a invenção dos acordes de guitarra: Hey Jude, Eleanor Rigby e, por último, mas não menos importante, o hit do deixa-disso, Let It Be. O recado “faça o que tiver que fazer, mas vá” já está claro, mas o simples gesto de escrever sobre a chance de testemunhar o mito executando com maestria esses e outros clássicos foi
suficiente para causar na redação da revista um disparar de corações do tipo que só se consegue com litros de café. Com as pré-vendas esgotadas de imediato e as filas enormes que se formaram nas bilheterias, os ingressos acabaram. Conseguir assistir aos shows vai demandar amizades muito influentes ou vias alternativas. Mas, se este escriba pudesse apontar um boxe dos Beatles contra a cabeça de alguém para convencê-lo a ver esse show, muito provavelmente ele cogitaria a opção com carinho. Sim, é ilegal apontar uma ‘arma’ para a cabeça de uma pessoa para mostrar-lhe a luz, mesmo que essa arma seja o disco Revolver. Mas se o juiz fosse fã de Beatles, ele entenderia. Leonardo dos Anjos
zapping
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agenda
Riders 11/2010
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BUONA NOTTE Os prATOs dO dIA dO ‘BIsTrô’ vUlpINI
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Riders 11/2010
buona notte
© Valdemir Cunha
Se servisse boeuf bourguignon e magret, a gente diria que a oficina de Joelmir Vulpini, na zona oeste de São Paulo, é um bistrô, tendo dois pratos na seleção de especialidades da casa: lambretas (como a da foto) e vespas. “Já fiz a mecânica de mais de 1 mil e o restauro de umas 200”, diz Vulpini, que mexe com esses ícones dos brasileiros há 23 anos. Moto, para ele, é um prato cheio.