Esta obra ficcional foi desenvolvida com base na obra de Benedito Ruy Barbosa, Meu Pedacinho de Chão e não visa qualquer tipo de lucro. A diagramação inspirada livremente na mesma obra trata-se de um um projeto curricular do curso de design gráfico do Instituto Federal de Pernambuco. Coordenação Editorial Natalia Abdon Capa e Projeto Gráfico Natalia Abdon Revisão Natalia Abdon Orientação Josinaldo Barbosa Susana Alvino Carneiro, Eveline, 2014 — Existe um Lugar / Eveline Carneiro. Santarém: Editora Globo, 2014. ISBN 85-97635-69-1 Fanfiction 51-03367 CDD-025.1
“A gente tentou entrar nesse universo da criança através dos brinquedos de lata. Tudo é de uma forma lúdica. O tamanho das casas e das portas é reduzido. É um mundo mágico, é uma fábula... É o brilho especial dessa criança, desse Serelepe. É surreal, ancestral, atemporal... Essas coisas que a gente gosta de fazer. A gente tem toda liberdade de criação e de atuação. É uma cidade toda feita de obra de arte”. — Raimundo
Rodrigues, artista plástico responsável pela produção cenográfica da telenovela Meu Pedacinho de Chão.
Agradeço a Deus em primeiro lugar, ao Benedito Ruy Barbosa por ter criado tão belos personagens, ao Luiz Fernando Carvalho por ter, de forma majestosa, dado uma nova forma a essa história, ao Raimundo Rodriguez e sua equipe por ter me permitido viajar pelo mundo mágico e lúdico de minha infância, à Paula Barbosa e ao Johnny Massaro por terem empenhado tanto talento para interpretar os queridos personagens Gina e Ferdinando que inspiraram essa história, à Eveline Carneiro que generosamente me permitiu fazer essa homenagem, ao professor Josinaldo Barbosa e aos colegas por terem me ajudado diante dos problemas e especialmente à minha família por ter me apoiado nas madrugadas em frente ao computador. Natalia Abdon
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Deus, primeiramente; à minha família, por ser meu alicerce; aos meus amigos, tanto os reais quanto os virtuais, pelas conversas divertidíssimas que invariavelmente terminavam em crises de riso; e ao Benedito Ruy Barbosa e ao Luiz Fernando Carvalho pela obra prima que foi “Meu Pedacinho de Chão”, que inspirou esta história! Eveline Carneiro
O outono embelezava a paisagem da Vila de Santa Fé com suas cores, anunciando a época da colheita. Gina, Viramundo e seu Pedro se dedicavam ao máximo no trigal, realmente aquela seria a melhor colheita de todos os tempos, e Gina ouvia com prazer o riso frouxo do pai, feliz que estava com tamanha abundância. — Mas o dotô Ferdinando fez milagre memo, né fia? — perguntava ele aos risos. — Fez memo, pai. — dizia a moça, encabulada. — Mas o que foi que o dotô Ferdinando fez nas suas terra, seu Pedro?
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— Olha, amigo Viramundo — disse o pai de Gina, coçando a barba — ieu não sei expricá não, ele mandou fazê umas tar de análise na cidade, e aí fez uns negócio aqui na terra que fez com que a prantação ficasse desse jeito. — Um trigo lindo de se vê, né, pai? — perguntou Gina, animada.
— Ô, sô, se é! Dôradinho, que nem um brinco de ôro! Gina sorria enquanto colhia o trigo, pensando em tudo o que Ferdinando havia feito na plantação do pai.
11 Lembrava do cuidado e do imenso amor que o engenheiro agrônomo tinha pela terra, como é que podia, pensava ela, um homem estudado daquele jeito, ter prazer em sujar as mãos cuidando do trigal. Realmente, o trabalho daquele um se mostrara acertado, as sementes estavam bem recheadas, daria para se ter um bom retorno naquele ano. E com a ajuda de Viramundo na plantação, ela e o pai iriam colher mais trigo por dia do que colheriam se fossem apenas os dois.
O pai ter hospedado o violeiro se revelou uma decisão sábia, o rapaz era um ótimo amigo, assim como Juliana, apesar de quando em vez ele chamá-la de “minha flor”. De início, ela não gostou nem um pouco, mas foi se acostumando, percebeu que aquele era o jeito de Viramundo amenizar o esforço da lida, e ainda tinha a cantoria… Havia aprendido a cantar com o violeiro as modas que costumava ouvir quando criança, e veja só, até que ela cantava bem, ao menos era o que Viramundo dizia.
— Fia, nóis tamo indo. Ocê num vem? — Vai na frente, pai. Ieu vou ficá mais um pouco por cá. — Vê se não demora muito, que daqui a pouco é hora da janta. — Tá bom. — Vamo, Viramundo? — Vamo, seu Pedro. — Ói que hoje ocê canta aquela moda de viola que pedi procê ontem? — Craro, seu Pedro. Tô a disposição. E Gina observou seu Pedro e Viramundo se afastarem na direção do sítio. A moça tirou o chapéu de palha e enxugou o suor de sua testa, sentou numa pedra próxima e pegou o cantil de água. Mal o pôs na boca e ouviu uma voz suave, que conhecia muito bem.
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— Gina…
— chamou Ferdinando, por detrás de uma árvore. A jovem sobressaltou-se com o susto, levantando-se de imediato.
— Ara, que bestage é essa, sô? Qué me matá do coração? — disse Gina,
daquele jeito que só surgia quando estava próximo do engenheiro, que sorria, encostado à árvore. Quanto tempo fazia que eles não se viam? Ela não saberia dizer, alguns dias, talvez. Com a proximidade da colheita, ela quase não ficava mais em casa. Ficava o dia todo na lida, com o pai e Viramundo.
— Se ocê tá procurando o pai, ele já foi pra casa mais o Viramundo. Ao ouvir o nome do violeiro nos lábios de Gina, Ferdinando amarrou a cara. Seus olhos azuis, antes brilhantes com a visão da moça, de repente se tornaram sombrios. — Pelo visto, Viramundo tá sendo de muita serventia, não é, minha cara? Gina não gostou do tom que Ferdinando deu àquela pergunta. Não sabia o porquê que o rapaz estava falando assim, mas resolveu não revidar. — Tá, sim. Ele aprendeu rápido tudo que ieu ensinei pr’ele. Com a ajuda dele, nóis vamo terminá de colher mais rápido.
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Ferdinando observava atentamente Gina. Lembrou-se do que dona Tê falara sobre hospedar o ex-namorado de Milita em seu antigo quarto e em como ele havia encantado a todos com sua cantoria. Teria também encantado Gina de uma forma que ele, Ferdinando, odiava só de imaginar? — Gina, Gina… — disse Ferdinando — E o que mais ocê achou do Viramundo? A filha de Pedro Falcão cerrou a testa. Sim, que conversa era aquela?
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— Ara… — piscou a jovem — É um rapaz muito bom. — E? — perguntou Ferdinando, sério. — Ajuda muito nóis aqui na lida.
— E?
— Canta muito bem.
— E?
— Ele me ensinou umas moda de viola.
— Como é que é?
— É, e disse que tô cantando muito bem. — concluiu Gina, sorrindo. Aquilo era demais para Ferdinando. O ciúme que o corroía toda vez que questionava Gina se tornou um monstro que o rasgava por dentro. Ele caminhou em direção à moça, que deu as costas para ele, visivelmente encabulada.
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— Gina, por favor, me diga de uma vez por todas, ocê tá gostando do Viramundo? — perguntou Ferdinando, temendo a resposta. — Ara, e por que não haveria de tá? — respondeu Gina com outra pergunta. O engenheiro fechou os olhos, mortificado. Sentia as lágrimas subirem aos olhos, mas respirou fundo para tentar represá-las. — Ele é uma boa pessoa, um bom amigo — continuou Gina — assim como a Juliana.
Ferdinando arregalou os olhos muito azuis, e depois sorriu largamente. Era de se esperar que Gina interpretasse sua pergunta de outra maneira. Uma onda de felicidade invadiu seu corpo, ele sentia o bichinho do ciúme acalentar-se em seu peito, anestesiado com a alegria.
— Ieu lhe amo, Gina. — disse por fim, próximo do ouvido dela. A jovem continuava de costas para ele, tentando, em vão, acalmar seu coração, que batia disparado. E como sempre ela reagiu da única maneira que conseguia quando o engenheiro tocava no assunto.
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— Deixa de sê besta, Ferdinando! — Ara! — disse ele, impaciente, pegando nos braços dela e fazendo com que ela ficasse de frente pra ele — Ieu tô dizendo que lhe amo, Gina! Ieu fiquei ali, a tarde toda, debaixo daquela árvore, esperando seu pai e o violeiro disgraçado irem embora, só pra tá aqui c’ocê! — Esperou porque não tinha que esperar! Ara! Dá licença! — Não! — disse Ferdinando, segurando os braços da jovem — Não antes d’ocê me dá um beijo! — Aaaaara, de novo essa história! Pois ieu num beijo, e nem quero lhe beijá! — E por que não? Um beijinho, só, Gina! — Não! — Tá certo! Então me diga o porquê!
21 Ele soltou os braços de Gina e ficou ali, parado, na frente dela, esperando que ela falasse. A moça, por sua vez, suava frio de tão nervosa, e falou a primeira coisa que veio à sua mente.
— Pruque ieu num gosto d’ocê, e num quero mais lhe ver! — disse Gina. Ferdinando preferiria que Gina o tivesse golpeado com o facão, pois com certeza doeria menos. Não, aquilo não poderia ser verdade. A moça ali na sua frente, a mulher de sua vida, lhe recusando o coração. O bichinho do ciúme novamente despertou, crescendo e se espalhando como se fosse doença.
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— Então ocê tá memo enrabichada pelo Viramundo! — explodiu. — Craro que não, sô! Pru quê que eu haveria de tá? — Porque a Milita me contou lá na venda do seu Giáco! — E aquela uma sabe de arguma coisa da minha vida? — Viramundo rompeu o compromisso que tinha com ela! E homem que é homem não rompe compromisso assim do nada! A pobrezinha da Milita tá lá na venda do pai dela, CHORANDO, dizendo que aquele um tá gostando d’ocê!
Disso ela não sabia, Gina tinha que reconhecer. E outra, ela nunca vira Ferdinando tão transtornado, ele parecia querer matar alguém com os olhos. O que era aquilo? Por que ele estava assim? Por que falava assim com ela? E de novo, ela falou a primeira coisa que veio à cabeça. — Cê tá mais é besta de cair numa conversa dessa, Ferdinando! — AAAARA, É POR QUE IEU LHE AMO, MULHER TEIMOSA DOS INFERNO! E TÔ QUE NUM ME AGUENTO DE CIÚME D’OCÊ COM AQUELE VIOLEIRO DISGRAÇADO! E tal era a intensidade do olhar de Ferdinando, que Gina se assustou. E não teve dúvidas… Virou as costas para Ferdinando e fugiu, correndo para o meio do trigal.
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Só quando estava no meio do trigal que Gina se deu conta de que ela deveria ter corrido PARA CASA, não para a plantação. Mas o baque do susto foi tão grande que ela nem pensou. Os olhos azuis rasos de lágrimas de Ferdinando, com toda aquela raiva transparecendo, o que foi aquilo afinal? Ela nunca tinha visto o engenheiro daquele jeito, ele nunca havia gritado com ela, e quanto mais Gina pensava, mais sentia os olhos umedecerem.
— Giiiiina! — chamava Ferdinan-
do no meio da plantação. A jovem corria o mais que podia, e já nem sabia se estava correndo em círculos. Quando ela tentou dar a volta para encontrar a direção de casa, deu de encontro com o próprio Ferdinando!
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Impossível evitar o tombo. Os dois corpos caíram um por cima do outro, Gina caíra de costas para o chão, com Ferdinando por cima, e apesar da posição ser tentadora, o rapaz se preocupou com o estado físico da moça. — Gina, Gina, ocê tá bem?
— Aaaaaai, sai de cima d’eu!
— Ocê me discurpa, Gina, mas… Ferdinando parou de falar. Estava escuro, mas Gina podia sentir aqueles olhos azuis lhe encarando, e a respiração ofegante do engenheiro agrônomo. Ai meu Deus, pensou a filha de Pedro Falcão. E não resistiu.
Enlaçou o pescoço de Ferdinando e
o puxou para mais perto, dando-lhe o beijo que ele tanto desejava. Não roubado, dado; bem do jeito que Ferdinando queria. Ele sugou-lhe o lábio inferior, e depois abriu passagem com a língua, aprofundando a carícia. As mãos do rapaz alisavam o corpo da jovem. Céus, a sensação era tão boa! A união de sua boca com a dele a fazia estremecer por inteiro, e seu corpo buscava algo no dele, que ela, Gina, não imaginava o que era. — Diz, Gina… — sussurrou Ferdinando, mordiscando de leve o lábio inferior da ruiva. — Dizê o quê, Ferdinando? — perguntou a moça, sem fôlego. — Ieu já lhe disse várias vezes que lhe amo, só quero lhe ouvir…
— Ieu lhe amo!
Gina falou isso rapidamente, quase se atropelando nas palavras. Ferdinando sorriu, finalmente, pensava, finalmente conseguira derrubar o enorme muro que Gina tinha ao seu redor, ele a amava e ela o amava, não havia felicidade maior. Ele a beijou novamente, apaixonado. Enlaçou a cintura dela e deitou-se de costas para o chão, fazendo Gina ficar com o corpo por cima do dele, sem parar de beijá-la por sequer um segundo. Quanto tempo ficara imaginando como seria o beijo deles depois daquele dia na casa dela, quando a moça o chamara de “covardão”? Quanto tempo sonhara com o dia em que ela enfim se rendesse a ele, dando-lhe o beijo que ele tanto pedia? Ferdinando não queria parar, a boquinha de Gina era doce demais. Não soube quanto tempo ficaram nessa situação, até que ouviram o tiro de uma espingarda.
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— Mai que diabo que tá acontecendo aqui??? — disse um raivoso Pedro Falcão com arma em punho, acompanhado de Juliana, Dona Tê e Viramundo. — Mai Gina, dotô Ferdinando, que safadeza é essa??? — disse a mãe de Gina, chorosa. Juliana estava com uma das mãos na boca tentando segurar o riso, enquanto Viramundo apertava os lábios, com a mesma finalidade. — Os dois pode começá a se expricá agora memo! Ferdinando e Gina se levantaram; estou morto, pensava o rapaz, mas pelo menos morro feliz. A ruiva estava pálida, e completamente envergonhada. — Calma, amigo Pedro…
— CARMA NADA, SEU DOTÔZINHO. QUERO UMA EXPRICAÇÃO, E QUERO AGORA!
Ferdinando encarou os quatro rostos que lhe encaravam, dois esperando uma resposta e os outros dois visivelmente se divertindo com tudo aquilo. Olhou para Gina, a pobre com cara de quem queria se enterrar no primeiro buraco que encontrasse. — Ieu amo sua filha, seu Pedro, e ela me mostrou inda agora que me ama também. — Ara, — interrompeu Pedro, furioso — mostrô como? — Com palavras e também… com ações. — ele virou-se para Gina, que o olhava mortificada. Ele podia adivinhar o que ela estava pensando: “O que ocê tá dizendo, Ferdinando?” — E como lhe tenho muito respeito, seu Pedro, ieu lhe peço que abaixe essa arma e ouça o que tenho a dizer a todos vocês. Juliana e Viramundo continuavam calados, tentando de tudo para não rir e quebrar a seriedade da situação, que parecia se complicar. — Minha fia o que ocê foi fazê? — disse dona Tê, chorando — Ocê se atracando com o dotô no meio da prantação?
— Foi um acidente, Dona Tê… — disse Ferdinando, com aquele jeito que assumia quando procurava contornar uma situação — Ieu apareci aqui na plantação d’ocês porque queria ver como que andava a colheita… e encontrei Gina sozinha. E como ocês já deve de tá sabendo, há tempos que a peço em casamento e ela sempre diz não, e hoje não foi diferente. Ele se aproximava dos demais enquanto falava, seu Pedro ainda com a arma em punho. Ferdinando pôs a mão no queixo, pensando, tinha que escolher muito bem as palavras. — Só que hoje ieu fui um pouquiiiiiiinho mais firme nas minhas palavras — e Ferdinando olhou de soslaio para Viramundo — e isso meio que chateou Gina, que correu pra plantação. — Ieu devia ter corrido pra casa, pai, mai nem me dei cont…
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— E é claro, — disse Ferdinando, interrompendo Gina — que quando vi que ela havia corrido pra plantação, fiquei com receio dela se perder, afinal já estava escurecendo, e fui atrás dela. Chamei o nome dela, várias vezes, e aí… nos encontramos. E de uma maneira que ieu descreveria como se tivesse sido atropelado por um touro, devo lhe dizê, que não acabaria de outra forma que não fosse no chão. Seu Pedro abaixou a arma, desconfiado. — Mai a Gina tava em cima d’ocê! Ferdinando olhou de quina. E falou baixo, para Gina não ouvir: — Melhor ela por cima d’eu do que ieu por cima dela, num é, seu Pedro? O pai de Gina arregalou os olhos com tamanho atrevimento por parte do engenheiro.
— Quê que ocê tá dizendo, seu atrevido?
— Ara, o que ieu tô querendo lhe dizê, seu Pedro, dona Tê, é que finalmente vossa filha me disse que me ama. Aqui mesmo, inda agorinha. E ela se declarou pr’eu, e selamos nosso amor com um beijo!
— O QUÊ??? — gritou seu Pedro.
Gina enterrou o rosto nas mãos. — O que ocê tá dizendo, Ferdinando? — disse a ruiva, num tom que Ferdinando conhecia muito bem. — Ara, Gina, ocê mesma acabou de dizê que me ama, não foi? E acabamos de nos beijar, né memo?
— Ai, Gina! Até que enfim! — disse Juliana, batendo palmas — Eu sempre soube que você gostava do doutor Ferdinando!
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— Ara, que ieu num tô gostando dessa história! — disse seu Pedro, furioso — Primeiro vejo ocês dois de agarramento no meio do trigal, e agora fico sabendo que ocê beijou minha fia ôtra veiz? — Na verdade — disse Ferdinando, sério — foi a sua filha que me beijou, seu Pedro.
— Minha Virge Nossa Senhora! — exclamou dona Tê, prestes a desmaiar. Viramundo e seu Pedro a apoiaram, para que não caísse. Depois Pedro caminhou em direção à filha, que a essa altura de pálida havia ficado vermelha que nem tomate.
— Isso é verdade, fia? — perguntou o homem, desconfiado. — Não negue, Gina! — disse Ferdinando, logo atrás.
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35 A ruiva abriu a boca, mas não saiu uma única palavra. E agora, como sair dessa situação? Por mais que pensasse, não tinha ideia de como. Olhava para o pai, que esperava uma resposta, e para Ferdinando, que a olhava significativamente. Sem saída, respondeu: — É, pai. Ieu beijei ele sim… Ferdinando quase não se cabia de felicidade ao ouvir a resposta dela. Sabia que não havia mais volta.
— Ieu beijei ele sim, mas foi sem querer! — E como é que se beija, sem querer, fia? — disse Pedro, num tom decepcionado — Agora ocê se deu ao disfrute, vai ficá falada, e como é que vai de sê?
Gina começou a chorar, vendo a decepção nos olhos do pai e a tristeza da mãe. — Pois ieu lhe digo, seu Pedro — disse Ferdinando — como é que vai de sê de agora em diante. Ieu sou um homem honrado e é claro que, dada à situação, só há um meio de se consertar as coisas. O engenheiro foi até Gina, e tomou as mãos dela entre as suas, e levou até os lábios, beijando-as. Gina olhava para ele, sem entender, e ficou de cara no chão quando Ferdinando virou-se para Pedro Falcão e disparou:
— Seu Pedro Falcão, me faça o homem mais feliz da Terra dando a mão de sua filha em casamento!
Ferdinando não cabia em si de tanta felicidade quando chegou em casa. Como já era tarde, todos já haviam jantado, provavelmente o Coronel Epa estava em seu escritório. Devagar, subiu as escadas, procurando não fazer muito barulho. Estava feliz demais e não queria que o pai estragasse isso também. Pensando no que acabara de acontecer, a verdade é que nos últimos dias ele havia ido até o trigal dos Falcão para ver Gina. Andara por toda a extensão da plantação procurando pela jovem, esperando uma oportunidade de falar com a ruiva. Contudo, quando a via, ela estava sempre acompanhada de Viramundo, o que despertava a sua raiva. E ficava com mais raiva ainda quando ouvia o violeiro tocar e cantar, e Gina, meio tímida, acompanhando em segunda voz. “Ara”, pensava, “ele não sai de junto dela não?”. Mas agora…
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Enfim, ele sabia que ela o amava. Ela mesma havia lhe dito isso, e o havia beijado… “Aaah, o beijo de Gina”, pensava Ferdinando enquanto deitava na cama, “que coisa mais divina era aquela boca
querendo a minha!”
Fechou os olhos, relembrando cada momento vivido naquela plantação… o cheiro do corpo dela, uma mistura de terra e trigo… os cabelos ruivos e cacheados, macios ao toque de suas mãos… a respiração dela, ofegante, enlouquecedora. Se não fosse a chegada de seu Pedro e os outros, ele teria ultrapassado todos os limites e a teria feito mulher ali mesmo, em meio à terra, paixão comum dos dois.
— Minha… a teria feito minha… Minha Gina. — sussurrou Ferdinando para si
mesmo. — Ferdinando? — chamou Catarina à porta do quarto — Ocê só chegou agora?
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— Boa noite, Catarina… — disse Ferdinando, levantando-se da cama — Sim, cheguei agorinha há pouco. — E posso saber onde é que o sinhô se encontrava até essas hora? Os lábios de Ferdinando se abriram num sorriso. Ele olhou nos olhos da madrasta, que pôde contemplar o brilho daqueles olhos azuis. — Ocê foi vê a Gina, não foi? O rapaz começou a rir. A ruiva realmente o deixava diferente, ele se sentia diferente. Catarina, perspicaz como era, já conseguia identificar o jeito que o enteado ficava quando encontrava a moça. — Pelo visto, correu tudo bem, num é memo? — Ieu diria quase — observou Ferdinando, divertido — A bem da verdade, ieu quase que tomei um tiro do pai dela, seu Pedro Falcão… Catarina pôs as mãos na boca, espantada.
— Eeeehnn, num foi bem ieu, ieu, mas acredito que a ordem dos fatores num altera o produto, num é memo, minha cara? O que importa de ocê sabê é que ela, finalmente, disse que me ama. E tanto quanto que ieu amo aquela jaguatirica. Ferdinando suspirou, enquanto dava as costas para a madrasta, indo em direção á janela. — E ela me beijou, Catarina… Por vontade própria. Ieu num forcei ela, como da outra veiz. Foi ela. Ela me puxou pela gola da camisa — Ferdinando fechou os olhos, suspirando e sorrindo — e me deu o beijo mais doce que existe nesse mundo. Naquela hora, só ela existia pra mim, nada mais. Uma lágrima solitária rolou pelo rosto do rapaz. Catarina sorria, emocionada. — Ieu senti, Catarina… Senti de verdade, ali, naquele momento, o que era um beijo de amor. De amor verdadeiro. Nunca havia sentido nada igual antes, mai agora ieu sei. É o que sinto pela Gina, e ela sente por mim. É por isso que…
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— Mas pru causa de quê, Ferdinan…? Não! Num vai me dizê que ocê beijou ela ôtra veiz? Que eu pedi a mão dela em casamento pro pai dela.
Catarina abriu a boca, mas não saiu palavra. Ferdinando sabia que a madrasta não aprovava seu envolvimento com a “roceira”, como Catarina costumava chamar Gina, mas também sabia que teria o apoio dela para o desafio que estava por vir. — Ah, Ferdinando… — comoveu-se Catarina, por fim — Ocê tá perdido! — Ieu tô? — retrucou o rapaz — Acho que tô memo. Perdido de amor por aquela uma…
— Ocê tá perdido memo! — falou
uma voz cavernosa atrás de Catarina — Perdido das ideia!
— Ocê perdeu o juízo, Ferdinando? — perguntou o Coronel Epa — Enrabichado por aquela uma fia do Pedro Falcão? Ocê já se esqueceu do que ieu já lhe disse?
— Não, meu pai — disse o rapaz, carrancudo — Mai me discurpe, o senhor não manda no meu coração.
Coronel Epa ergueu os braços, adentrando o quarto do filho. — Nada do que o senhor me diga, meu pai, vai mudar o que sinto, — continuou Ferdinando — ieu vou casar com a Gina, vou fazer dela a minha mulher, e nada, nem ninguém vai me impedir de ficar pra sempre com a mulher que eu amo! — Olhe, que tar ocês ter essa conversa pra mais tarde? — perguntou Catarina, tentando acalmar os ânimos. — Ferdinando, Ferdinando — disse o coronel, ignorando a esposa — aquela uma não é muié pr’ocê, é uma ignorante como todos daquela vila,
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44 um homem como ocê, se enrabichar por uma roceira daquela, não tem o menor cabimento!
— Não fale assim da Gina, meu pai!
— Como é que pude ter um filho assim, ocê sabe quanto que ieu investi em ocê? No mínimo era pr’ocê casá com a fia de um político renomado da capitar, não com uma qualquer…
— NÃO FALE ASSIM DA GINA!!!
Ferdinando derrubou alguns objetos que estavam em cima de uma escrivaninha quando gritou. Coronel Epa e Catarina arregalaram os olhos, o rapaz nunca havia agido assim.
— Ieu vou falar de uma vez por todas, meu pai e ouça bem: — ieu amo a Gina, mais do que tudo nessa minha vida, e vou me casá com ela. — Entonce, o senhor ponha-se daqui pra fora…
— Epaminondas! — interveio
Catarina — Não faça isso, por favor! — Ponha-se daqui pra fora, porque fio meu num casa com qualquer uma! — Muito bem! — disse Ferdinando, indo em direção do armário de roupas — Entonce ieu vou embora. Mai saiba, meu pai, que vou triste, triste pruquê o senhor não entende o que é amor de verdade. — Epaminondas! — disse Catarina, nervosa, mexendo as mãos — Ocê ficou caduco de veiz? Mandá seu fio embora só pruquê ele ama a fia do Pedro Falcão? — E ocê acha pouco, Catarina? Acha pouco?! — Acho! Acho sim, seu fio merece ser feliz com a muié que escolhê! — Amor? Quem falou em amor aqui, Catarina? Amor num serve de nada! É uma perda de tempo!
— O que ocê tá dizendo, Epaminondas? — perguntou Catarina, estreitando os olhos. — Num adianta, Catarina, meu pai num vai mudá de opinião, e ieu também não, entonce…
— Amor num serve de nada? Perda de tempo? — retrucou Catarina — Entonce o
que ocê acha que tô fazendo casada c’ocê?
Epaminondas percebeu que havia mexido no vespeiro. — Responda, meu pai… — disse Ferdinando, sorrindo — Mai escolha bem as suas palavras! Epaminondas arregalou os olhos, sabia que qualquer palavra faria Catarina explodir como fogos de São João.
— Ocê me responda, Epaminondas Napoleão! — Ieu… Ieu num acho nada! O que nóis dois temo de a vê com a loucura do Ferdinando? — Escolheu errado, meu pai.
— OCÊ TÁ PERDIDO, EPAMINONDAS! HOJE OCÊ DORME SOZINHO! E Catarina saiu porta afora, com o marido nos seus calcanhares. Ferdinando continuava retirando as roupas do armário, a mala já aberta sobre a cama. No dia seguinte, sairia daquela casa para viver uma nova vida… Afinal, seu Pedro Falcão havia concedido a Ferdinando a mão de sua filha Gina. E era por isso que, apesar da briga com o coronel, o engenheiro agrônomo não havia perdido o brilho de seus olhos nem o sorriso aberto.
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Gina acordou já com o dia claro. O dia anterior havia sido um alvoroço, com o pai e Ferdinando acertando os detalhes do noivado na sala de estar. Ela havia ficado fula da vida porque ninguém perguntara se ela QUERIA casar com o rapaz, e quando falou isso, Ferdinando arregalou os olhos, surpreso, enquanto que seu Pedro Falcão respondia, impaciente:
— E ocê ainda acha que tem de querê?! Vai casá sim senhora!
— E além do mais, Gina, — retrucou Ferdinando — dada a nossa situação, é a solução mais óbvia… De qualquer forma, ieu num quero fazer nada que ocê num queira, como já lhe disse naquele dia lá no MEU QUARTO.
Gina gelou quando Ferdinando disse isso enfatizando maliciosamente bem as duas últimas palavras. Os pais da jovem olharam questionadores para ela, e vendo nos olhos dela que o engenheiro estava falando a verdade, foram categóricos. — Tem que casá o mais rápido possível, pai. — No máximo até o fim do mês, mãe. Pensando bem, lembrou Gina, não tinha mesmo jeito… Enquanto se beijavam no meio do trigal, ela sentia coisas que não sabia explicar, era uma mistura de alegria e ansiedade toda vez que os lábios e as mãos de Ferdinando a tocavam. Ela queria continuar com aquilo, só não imaginava como, e quando o rapaz se deitou no chão a colocando por cima, ela sentiu seu corpo queimar, nunca havia se sentido assim antes. Era como estar perto de uma fogueira, sem se importar o quão quente estava.
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Levantou-se, foi até ao banheiro, arrumou-se. Já de volta ao quarto, mirou seu reflexo no espelho e não pôde evitar se sentir insegura — a futura senhora Ferdinando Napoleão. Gina Falcão Napoleão. Gina Napoleão. Não parecia certo, um homem estudado como ele casar com alguém que nem ela, da roça. Está certo, ela havia terminado o Grupo Escolar lá na Cidade das Antas, mas havia decidido que seu lugar era no sítio, lidando com a terra. — Seria tão melhor se ele fosse que nem ieu… — suspirava Gina, triste — Ele é tão educado, elegante… Já ieu… — Merece ser feliz tanto quanto ele! — respondeu uma voz amiga. Juliana estava na porta, observando a jovem.
— Gina… — disse a professora, segurando as mãos da jovem — Como você pode estar se sentindo tão pra baixo? Ferdinando te ama do jeitinho que você é, deveria estar feliz! — É que ieu num sei, mai num parece certo — retrucou Gina. — É por que ele é rico e você é pobre, como já me falou uma vez? — Tumbém! — respondeu a moça — Queria que ele fosse que nem ieu, pronto! Mai num é! Como é que pode? — Pode que ele te ama! Juliana ajeitava o cabelo de Gina enquanto falava. — Sabe, eu estava observando ontem enquanto ele se explicava, os olhos dele brilhavam tanto, Gina, pareciam duas estrelas! Ferdinando estava tão repleto de felicidade quando disse que você havia se declarado, a voz dele tão suave quando te pediu em casamento!
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Gina olhava para Juliana, ainda confusa. — Mai pru quê ieu? — Ora, Gina! — disse Juliana, impaciente — E alguém nessa vida escolhe quem vai amar? Você já não disse que ama o Ferdinando? — É, ieu disse… — Então! Gina bagunçava os cachos, como se fosse arrancar os próprios fios. — Aaaara, ieu já nem sei o que disse! Já nem sei o que fiz! — Bom, agora é tarde. — retrucou a professorinha — Ah, antes que eu me esqueça, seu pai foi mais o Viramundo pra lida e eu e Dona Tê iremos até as Antas. — Ara, pru causa de quê que ocês vão pras Anta?
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— Ora, Gina, comprar seu enxoval! — respondeu Juliana, rindo. Gina queria perguntar o que era enxoval, mas a amiga a interrompeu antes que falasse — Eu só vim mesmo te avisar, seu pai disse que você não precisa ir pra lida hoje. E dona Tê deixou o almoço preparado. — Mai o quê que ieu vô fazer aqui dentro de casa, sozinha? — Fique aí sendo noiva! Minutos depois, Gina estava completamente só em casa, mais que contrariada. Foi até o jardim de casa e deitou em cima da grama, descontente com o ócio em que se encontrava. O céu azul límpido, com poucas nuvens, com aquele azul que lembrava os olhos do filho do coronel, aqueles que quando fitavam os seus era como… era como… — Ai, que ieu num quero pensá! — e levantando-se rápida e raivosamente, andou apressadamente para casa…
E quando adentrou a sala, viu que Ferdinando estava lá. — Bom dia, Gina. — cumprimentou Ferdinando, sorrindo. Gina sentiu as bochechas aquecerem, porque a primeira coisa que viu no rapaz, depois dos olhos, foi a boca. — Bom… bom dia, Ferdinando! — disse a ruiva, tentando se controlar. — Cadê todo mundo? — Meu pai tá na lida mais o Viramundo e a mãe foi mais a Juliana lá pras Anta, comprar um tal de enxovar! Ferdinando riu com a resposta de Gina. Estava na cara que ela não sabia do que enxoval se tratava. Mas preferiu não comentar sobre isso, para não constrangê-la. — Ara, do que ocê tá rindo? — De felicidade, minha querida. Felicidade porque finalmente ocê vai ser minha mulher. O rapaz se aproximava cada vez mais da ruiva enquanto pronunciava tais palavras. Gina virou de costas para ele, que acariciou as pontas dos cabelos dela. — Estamos noivos, ieu quase num acredito!
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— Craro, ocê num deixou ôtra escolha. Foi falando aquelas coisa tudo, convencendo o pai e a mãe! Ocê é pior que uma cobra peçonhenta! — Ara… — disse Ferdinando no ouvido de Gina — Não fale assim que me magoa, Gina… E ieu vim aqui só pra lhe ver, pra deixá meu dia feliz… — Ara, pru quê? — Briguei com meu pai ôtra vez, por sua causa. — Minha causa? Como assim? — Meu pai não aceita nosso casamento — e Ferdinando levou as mãos à cintura de Gina, que permanecia de costas para ele –, então ele me expulsou de casa e me deserdou. Ferdinando suspirava enquanto acariciava a cintura da moça. Gina fechava os olhos, tinha que resistir. — Saí de casa que nem da ôtra veiz, com uma mão na frente, ôtra atrás. Quer dizê, nem tanto assim, tenho umas economias que vai dar pra me sustentar sozinho por um tempo até arranjar uma ocupação…
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O rapaz mal conseguia se conter de tanto desejo. Os cabelos de Gina roçavam em seu rosto, e ele só conseguia pensar no beijo do dia anterior, e da sensação de ter o corpo dela tão junto ao seu. Queria tudo aquilo novamente. Precisava sentir o gosto dela outra vez. — Então, ocê ficou pobre?… — perguntou Gina, inesperadamente. Ela sentiu a cabeça de Ferdinando assentir afirmativamente. A jovem finalmente virou-se para ele, e o rapaz pode ver seu rosto, as bochechas coradas, e aquela boca tão tentadora. Gina levou uma das mãos até o rosto dele, e o acariciou, passando levemente os dedos pela lado de sua face. Ferdinando sorria enquanto sua noiva fechava os olhos, num consentimento que não necessitava de palavras. Ela queria o que ele queria.
— Meu amor… — sussurrou Ferdinando antes de beijar Gina. Ferdinando precisava, NECESSITAVA, manter o controle de suas ações. Ele tinha consciência disso, mas os lábios de Gina o faziam perder qualquer receio. As mãos dele estavam em toda parte do corpo da ruiva, ele queria, PRECISAVA sentir a pele dela. O rapaz sabia o quanto que o fogo queimava entre os dois, sabia que precisava parar, mas ele já havia encostado a moça na parede, desabotoado a blusa dela, e ela havia desatado a sua gravata e aberto seu colete. A língua dele percorria o pescoço da jovem, “que delícia” pensava ele, “mas preciso parar. Ah, meu Pai do Céu, ela só tá com uma camisetinha por debaixo da blusa!” Ferdinando queria ousar mais, queria sentir os seios dela nas suas mãos, porém…
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— Vamo pará aqui, Gina… — disse o rapaz, ofegante. — Pru quê, Ferdinando? — retrucou a ruiva, também no mesmo estado. — Pru quê num quero fazê isso até o dia do nosso casamento. Ocê tem que chegá na Igreja assim, inocente, pura, do jeito que lhe conheci. — Tá certo… Ocê tá certo… Gina falava isso, mas fechando os olhos, e Ferdinando sabia o que significava. Ele a beijou novamente, e tudo novamente pareceu parar. Ele sabia que seu Pedro iria demorar, e dona Tê e Juliana também, podia muito bem dar vazão ao desejo que o consumia há tanto tempo, e já que iriam se casar mesmo, por que não? E enquanto pensava em mil argumentos para continuar, flashbacks de todos os momentos vividos com Gina invadiram sua mente.
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59 — Aaaara! — disse Ferdinando, levando uma das mãos àquela parte da calça. O aperto incomodava. — Vamo pará, Gina, pru quê isso aqui só casando! — O que ocê tem, Ferdinando? — perguntou a moça, sem perceber nada. — Ahhhnnn, num é nada, minha querida, apenas algo que acontece quando se tá perto de um fogo como esse que tem entre a gente, sabe? — Não, num sei não! — ÓTIMO. No dia do nosso casamento ocê vai entender, e vai entender bem demais! Agora dê licença, preciso urgentemente lavar meu rosto com uma água BEM fria!
E correu até o banheiro, onde se lavou. Respirou fundo várias vezes, e ficou ali por vários e longos minutos até o volume debaixo de suas calças diminuir. Se estivesse em casa, isso seria muito simples de resolver, mas na residência de Pedro Falcão isso não seria possível. — Ferdinando, ocê tá bem memo? — disse Gina à porta, preocupada. — Sim, sim, minha querida — respondeu o rapaz — Só tô dando um tempinho maior aqui pra me recompor, não quero que seus pais me vejam assim quando chegarem. — Mai assim como? — Digamos que seu pai não me perdoaria de jeito manera! É algo que é meio impossível, sabe, Gina, de esconder… — Ara, que num tô entendendo é mai nada! — ÓTIMO, AINDA BEM. Isso é algo que uma moça como ocê só fica sabendo na noite depois do casamento. Até lá, vamo tê que tomá mai cuidado, meu amor.
E ele ouviu os passos de Gina se afastando da porta do banheiro, e a voz dela resmungando alguma coisa que ele não entendeu. Quando só restou o silêncio, Ferdinando olhou o próprio reflexo no espelho e disse para si mesmo: — Seu Pedro tem razão. Tem que ser no máximo até o fim do mês! Mai do que isso num vô aguentá! E retornou à sala.
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As horas se transformaram em dias, que se tornaram semanas, e durante todo esse tempo, dona Tê preparava o enxoval de Gina. Havia comprado os melhores tecidos das lojas da Cidade das Antas para fazer ela mesma o vestido de casamento da filha, e não teve um dia em que ela não transbordasse em felicidade e se afogasse em lágrimas toda vez que terminava uma parte da peça, tão contente estava de finalmente ver a sua cria desencalhando. Ou prestes a desencalhar. — Ai que vai sê o vestido mai bonito da vila! — dizia, aos risos, parecendo que a noiva era ela mesma e não a filha.
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Juliana observava tudo e não deixava de se surpreender com a habilidade de dona Tê em costurar. A mãe de Gina havia pedido a ela, Juliana, e a algumas comadres, que fizesse flores de crochê para enfeitar a saia do vestido de noiva. A professora, no começo, temia pela Gina algum possível exagero, ou mesmo mau gosto, por parte da mãe; mas no fim, viu que a ideia de dona Tê para a peça era até condizente com a de muitas modistas da capital. O vestido estava lindo. A cara amarrada de Gina é que estragava tudo. — Ai que ieu já posso descê desse negócio? — perguntava a ruiva de cinco em cinco minutos, do alto do tamborete. — Ai, Gina! Dá pra melhorar essa cara? — reclamava a jovem de cabelo rosa. — Mai é que tô cansada! Esse vestido que nunca fica pronto!
— Ara, Gina — dizia dona Tê — vestido de noiva é assim, tem que tá tudo perfeitinho, afinal só se casa na igreja uma vez! A mãe de Gina pegou um lenço de dentro do bolso do avental. Começava a chorar outra vez. — Ai, que eu num acreditando ainda que a minha Gina vai casá! Santo Antônio ouviu minhas prece! — É, mas quem não ouviria sendo posto de cabeça pra baixo dentro do poço? — murmurou Juliana consigo. — Como, Juliana? — Nada não, dona Tê… — Ai, ieu já posso descê? Mal Gina disse isso, se ouviu alguém entrando sem bater na porta. Era seu Pedro. — Pois entre, Ferdinando. — disse seu Pedro entrando em casa. — NÃO!!! — gritaram dona Tê e Juliana ao mesmo tempo. Juliana correu até a porta e empurrou seu Pedro porta afora, impedindo Ferdinando de entrar. — Aaaara, mai o quê que é isso, Juliana? — Isso memo, o quê que tá acontecendo? — Gina não está… Apresentável, é isso!
Dona Tê correu com a filha da sala para o quarto, a ruiva mais do que contrariada. — Aaaara, mai pruquê isso agora? — Fica quieta, e anda logo! Vamo tirá esse vestido! Do lado de fora, Juliana tentava acalmar os ânimos de seu Pedro. — Perfessora, me exprique pruquê num posso entrá na minha própria casa! Ieu tô cum fome! — Só espere um pouco, seu Pedro, até a Gina e a dona Tê saírem da sala! Não demorou muito e a mãe de Gina aparecia à porta. — Boa tarde, dotô Ferdinando. — Boa… tarde, dona Tê. — cumprimentou o rapaz, cabreiro — Como vai a senhora? — Como Deus qué, né, dotô… — Ieu tô querendo saber pruquê que num pude entrá em casa! — E ieu tô querendo vê a Gina, uma última vez antes do casamento… — O sinhô terá que esperá um bocadinho, dotô, ela tá no quarto se arrumando…
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E Pedro continuou a reclamar, dizendo que estava com fome. Todos entraram em casa, e Ferdinando percebeu o motivo de toda a bagunça: retalhos de tecido por tudo que era canto, a máquina de costura aberta, assim como vários carretéis de linha espalhados. Seu Pedro ficou encimesmado. — Mai que bagunça toda é essa? — Ara, pai, tava fazendo uns ajustes no vestido da Gina… O casamento já é amanhã! — E é por isso que tô aqui, dona Tê. Queria ver Gina… — Ela ainda tá lá em cima. — interrompeu a mulher de seu Pedro — Pru quê que o sinhô num vorta mais tarde? — Hum… — murmurou Ferdinando, com olhar pensativo — Ela tá lá em cima? — É. — Se arrumando? — É. — Muito bem… — disse o rapaz, com um sorriso esperto — Acho que vou seguir seu conselho, dona Tê, inté.
Dona Tê e os demais olharam surpresos o rapaz caminhando em direção à saída. Quando Ferdinando bateu a porta, seu Pedro falou: — E agora, onde que vamo armoçá? — Ara, pai, craro que na cozinha! E lá foram os Falcão e Juliana para a cozinha. Quando a sala estava completamente vazia, Ferdinando adentrou novamente. Ele sabia que a entrada da casa dos Falcão tinha um ponto cego, onde era fácil se esconder. E sorrindo subiu as escadas em direção ao quarto de Gina. A moça estava diante do espelho, apenas de toalha, o cabelo preso num coque. Estava escolhendo a roupa que vestiria, já que toda a arrumação do vestido havia lhe tomado tempo desde o momento em que acordara. Felizmente, havia tirado o vestido, que sua mãe levara para outro cômodo. E enquanto escolhia a roupa, ela mirava-se no espelho, outra vez admirando suas formas femininas. À vezes fazia isso, tentando encontrar sua beleza… E estava tão entretida que não percebeu a porta do quarto abrindo devagar.
Ferdinando mal conseguia respirar. Lá estava Gina diante do espelho, apenas de toalha, como naquele dia que ela saíra correndo do banheiro com Juliana atrás. Naquela hora, ele a vira apenas de relance; mas agora tinha a chance de vê-la como a mulher que era, não a menina, ou a moça, mas a mulher — que seria sua no dia seguinte. Quis entrar e pegá-la de surpresa, enlaçá-la com os braços e beijá-la, mas sabia que não podia, ainda. Porém, ela estava tão incrivelmente inconsciente de sua sensualidade, que quando ela virou de costas para o espelho, ainda com a face mirando o próprio reflexo, sem perceber deixou a toalha lhe desnudar um dos seios. Ferdinando levou uma das mãos aos dentes, precisava controlar-se. Ele a queria demais, queria amá-la como se deve amar uma mulher, mas do jeito certo, com aliança no dedo e papel assinado. Gina seria sua esposa, seria a mulher de toda a sua vida, não aventura de uma noite. Ou dia, no caso. Fechou a porta devagar e também devagar foi embora da casa dos Falcão, indo em direção à escola, cujo quartinho Juliana havia emprestado.
No caminho encontrou Viramundo, que àquela altura já havia voltado para a casa de seu Giácomo e para Milita. Cumprimentou educadamente o violeiro, mas sem dizer palavra. Já no quartinho da escola, Ferdinando deitou-se na cama, relembrando os últimos momentos. Gina seminua diante do espelho, sem perceber mostrando a ele o que o aguardava na noite de núpcias, fazia brotar um sorriso nos lábios do rapaz, uma mistura de vários sentimentos, entre eles amor, satisfação e desejo. Ferdinando se sentia o homem mais sortudo da face da Terra, porque sua noiva era a mulher mais bonita que já conhecera. Dos pés à cabeça.
— Aaaara! — disse Ferdinando, agarrando
o travesseiro — Que ieu tô lôquinho pra sentir a Gina junto d’eu! Mais um dia… Mais um dia… Mais um dia e farei dela a minha mulher!
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Batidas na janela do quartinho o fizeram despertar de seu devaneio. Levantou-se, contrariado, para abri-la, e qual não foi sua surpresa ao ver o capataz de seu pai. — Bas tarde, patrãozinho. — disse Zelão — Vim lhe trazê um recado do coroné. O recado dado por Zelão era simples: coronel Epaminondas queria ver o filho. Ferdinando acompanhou o capataz, muito contrariado, pois imaginava qual era o assunto: Gina, claro. O casamento era no dia seguinte, e com certeza o pai faria um último esforço para demover o rapaz da ideia de casar com a filha de Pedro Falcão.
Enquanto caminhava, Ferdinando pensava em todos os argumentos possíveis para rebater cada palavra do coronel, afinal, ele só não casaria com Gina se estivesse morto. E o pai não iria querer isso… não é? Quando entrou em casa, viu espantado o pai sentado no sofá da sala. Epaminondas parecia saído de um deserto, tamanho o abatimento. Parecia que as últimas semanas haviam sido um verdadeiro inferno. Ferdinando lembrou da briga que tiveram antes de sair de casa novamente. “Em se tratando de Catarina, com certeza deve ter sido quase um inferno”, pensava o rapaz.
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— E então? — disse o coronel. A voz autoritária continuava a mesma — Essa loucura de casamento continua mesmo? Ferdinando suspirou. — Loucura nada, coronel. E sim, o casamento é amanhã. Epaminondas olhou para o filho, que não o chamou de pai. E balançou a cabeça, desgostoso. — Desde que ocê saiu daqui, que Catarina me mantém no quarto de hóspedes. Há semanas que não a vejo, nem a Pituquinha. Tudo por sua causa e daquela roceira.
— Aquela roceira tem nome, coronel — retrucou Ferdinando, duro — É Gina. E o senhor deveria reconsiderar o meu casamento, já que lhe trará mais benefícios do que desgosto. Os olhos do pai do rapaz se arregalaram ao ouvir as últimas palavras do rapaz. — Benefícios? Que benefícios um casamento ruim como o seu poderia me trazê, Ferdinando? — Ara, senhor coronel Epaminondas… — e enquanto dizia essas palavras, o rapaz circulou pela sala até ficar atrás do sofá onde o coronel se sentava — Numa palavra só: ELEIÇÕES. — E o quê que as eleições têm de a ver com isso? — perguntou Epaminondas, abismado.
— Senhor meu pai — continuou o rapaz — Imagine dois homens de influência política muito grande como o senhor e o seu Pedro Falcão. — O quê que tem? — Imagine agora, o seu filho, eu, com a filha dele, Gina, casando na Igreja amanhã pela manhã. Duas forças políticas unidas pelo casamento. E… Em ano de eleições para a prefeitura. — Mai isso… — E Epaminondas se levantou devagar do sofá — Mai ieu num havia pensado nisso!
E o coronel agitava os braços, mais do que animado, falando da BRILHANTE ideia de Ferdinando em casar com a filha de seu EX-inimigo político. — Catarina! Catarina! Venha aqui, vamos nos preparar para um casamento! E enquanto Epaminondas subia as escadas, Ferdinando abria um sorriso de canto, com uma expressão de missão cumprida. — Amanhã, Gina… Amanhã! — murmurava satisfeito.
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O casamento de Ferdinando e Gina foi um grande acontecimento em Vila Santa Fé. Nunca se viu tanta felicidade num único evento. Ferdinando era só sorrisos, e Gina estava linda de noiva. Padre Santo chegou a chorar no altar enquanto realizava o enlace dos noivos. A festa durou o dia inteiro, seu Pedro e o coronel Epaminondas chegaram a cantar juntos, matando dona Tê e Catarina de vergonha, já que estavam para lá de bêbados. Pituca, Serelepe e Tuim corriam para lá e para cá com as outras crianças, doutor Renato conversava com seu Giácomo, e Zelão observava Juliana de longe. Mas nenhuma outra pessoa se comparava em felicidade quanto os noivos.
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No final da tarde, Ferdinando e Gina partiram para a Cidade das Antas. O presente de Catarina havia sido uma viagem até a capital, mas a noite de núpcias seria na casa que Epaminondas possuía na cidade. Ferdinando quase não se cabia de ansiedade, lembrava da ruiva seminua no quarto, e tentava controlar a excitação, não queria assustar a esposa. Gina, passada a euforia da festa, estava receosa. Juliana, a pedido de dona Tê, havia lhe explicado o que era o casamento, e uma sensação, quase um medo, tomou conta de seu coração. — Mai é assim, que nem bicho? — É, mais ou menos, Gina… — disse Juliana — A diferença é que há amor e muito carinho. E Ferdinando, com certeza, será muito carinhoso com você.
Gina vestiu a camisola, peça, aliás, que mais parecia emprestada de Juliana, já que mais mostrava do que escondia. Ela prendeu os cachos num coque, sentou na cama, e esperou o que parecia uma eternidade. E o coração dentro do seu peito batia descompassado quando ouviu a porta do quarto abrir.
— Gina… — disse Ferdinando.
A ruiva se manteve de costas para ele, o coração quase explodindo na caixa do peito. Ela não viu que o marido vestia apenas a calça do pijama, o torso desnudo… sentiu o lado da cama abaixar sob o peso do rapaz, e não pôde conter um suspiro. — Ocê prendeu o cabelo, Gina… Ieu prefiro ele solto…
E delicadamente, Ferdinando desfez o penteado de Gina, os cachos ruivos caindo sobre suas costas como cascata. Os dedos do rapaz acariciaram os fios, como algumas vezes havia feito, nos dias em que tentava conquistá-la. — Meu amor… minha Gina… A jovem sentiu a pele arrepiar quando sentiu as mãos do marido afastando seus cabelos a fim de beijar sua nuca. — Não tenha receio de nada, minha querida — sussurrava o rapaz em seu ouvido. — Ferdinando… Gina virou-se no leito, ficando de frente para o marido. E quando olhou nos olhos azuis de Ferdinando, a insegurança foi embora. O marido tomou-lhe o rosto entre as mãos e a beijou apaixonadamente, e Gina acariciou o peito nu do rapaz, que a deitou na cama.
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As mãos de Gina, frias de nervosismo, contrastavam deliciosamente com a pele quente de Ferdinando, e isso só o excitava ainda mais. Ele abaixou as alças da camisola e beijou os ombros da jovem, e não sossegou até chegar aos seios dela. Gina apertou os lábios, envergonhada, não sabia como reagir. Ele falava baixinho, afirmando o quanto que ela era linda, e como estava feliz por finalmente serem marido e mulher. A voz dele a atingia de um modo indescritível. Sentia-se úmida em sua intimidade, e seu corpo sofria uma espécie de espasmo com as carícias de Ferdinando, que eram delicadas e ao mesmo tempo ansiosas. Quando ele a beijou na boca novamente, os braços dele por volta de seu corpo, e o peso dele em cima, Gina sentiu o calor que já era demais tomar conta de todo o seu ser, assim como toda a excitação rígida de Ferdinando, que sabe-se lá em que momento havia se livrado da calça do pijama.
— Ferdinando… o quê?…
— Calma, meu amor… — disse o marido, malicioso, percebendo a que Gina se referia — Confia em mim. Ocê só precisa se deixar levar… Ele ergueu a pernas de Gina sobre seus quadris, posicionando-se. Livrou-se da roupa de baixo que ela ainda usava, sem dó de rasgar a peça. O corpo dela era tão lindo… E ela estava tão deliciosamente pronta… — Ieu te amo, Gina. — e devagar, a tomou para si. A ruiva arregalou os olhos e gemeu ante a invasão de Ferdinando. O rapaz a olhava nos olhos, atento a cada reação da esposa, movimentando-se devagar, para que ela se acostumasse a recebê-lo. As mãos de Gina apertaram seus ombros, ela era forte, o apertão doeu, mas isso só o excitou ainda mais. Aos poucos foi aumentando o ritmo, e satisfeito viu a esposa se entregando completamente a ele, a boca de um procurando a do outro, como se tivesse sede… Sede um do outro.
— Ocê me deixa louco, Gina… Louco!
— Fer… dinando… Ferdinando!
Gina gritando o seu nome foi demais. Atrasou o clímax, porque queria que a primeira vez da esposa fosse completa, e Gina, sem saber como se controlar, explodia entre gemidos e gritos. Ela fechava os olhos, a boca aberta, a respiração ofegante, Ferdinando de olhar fixo na ruiva, igualmente gemendo e ofegando; e quando percebeu que ela estava no limite, não se segurou mais — e ambos explodiram de prazer, as mentes momentaneamente vazias, os sentidos eriçados, os gemidos em uníssono. Ferdinando beijou Gina, devorando aqueles lábios doces, cansado, feliz, pleno, imensamente feliz.
— Só existe um lugar que eu quero estar pro resto da minha vida… É ao seu lado, Gina. A jovem sorriu. Seu coração ainda acelerado, a respiração ainda curta, a impediram de responder prontamente.
— Ieu te amo, Gina.
— Ieu te amo, Ferdinando. —
disse, por fim.
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U
o n a m
s i o dep
Ferdinand o voltava p ara casa de mais um d pois de ia de traba lho nas ter que finalm ras do pai, ente havia aceitado o do filho. S s serviços eus c coronel Ep onhecimentos ajuda ram a melhores s minondas a ter uma afras de to d da a sua vid as Pedro tam a. Seu bém conti nuava usuf das habilid ruindo ades do ge nro, assim da ajuda d como a filh trabalhar d a, que só parou de ura Sim, não d nte o resguardo. emorou m uito para Ferdinand oe família, afi Gina aumentarem a nal, depois da noite d núpcias, n e ão teve
e às vezes
dia ou noit
dia E noit
o fogo não
e—
e — que
crepitasse.
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la, no ar to, na sa ram u q o n e s s Fo passa casa onde a d o ir e h iver em n ba referiram v lantação, p s le e — da p a morar ou no meio ueira — ia r p ó r er uma fog d n e c a moradia p o m saciável, tos era co os dois jun Gina passou a ser in ta da . ce gigantesca essa nova fa uando, a v a r o d a o q d de vez em e Ferdinan m re a ig r b esar de e um jeito esposa. Ap voltavam às boas “d l e existia casa o ã n e u q eles sempr iam E todos diz dois, apesar de não especial”. s ue os que aquele “receita” q a mais feliz a r e l a u cer to q saberem ao ntinha tão unidos. omo, ma o seu Giác d a d n e v assou pela o, sor rindo ã lc a F ro d O rapaz p Pe o casa de seu s gêmeos n o d m u e foi até a m Gina co , com seu ao ver logo va com o outro bebê zendo a esta sto, fa colo. Julian do de esconder o ro -se em sua can Pedro brin e dona Tê balançava casal, ir, s bebês, um , mas a criança r O . a id v a liz d da mãe cadeira, fe leira ruiva e b a c a o d o pai. rda os olhos d haviam he a r a rd e h o só o menin
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— Oi, Ferdinando! — disse Gina — Olha, é o
papai! Dá oi pro papai!
Ferdinando se apressou em se juntar a todos. Gina vestia a mesma roupa de quando o marido a vira pela primeira vez, meio masculinizada, mas definitivamente mais feminina, como ele bem sabia, e os cabelos cacheados soltos ao sabor do vento. Ele viu o brilho dos olhos dela e não viu mais nada, só queria estar perto dela, uma hora longe de Gina era quase uma eternidade. Como ele vivia dizendo, só existia um lugar em que ele queria para sempre estar, e esse lugar era ao lado de sua jaguatirica. — Meu amor — disse Ferdinando — aqui
estou de volta pra você!
— Seja bem vindo, meu engenheirínhu! —
sorriu Gina. E como para atestar tamanha felicidade, Ferdinando e Gina uniram os lábios num esplêndido beijo…
E lá do alto de um telhado, o galinho Bené cantava, em homenagem a tão grande Amor.
Fim
Memorial Descritivo
O texto original do livro trata-se de uma fanfiction (história criada por uma fã de algum produto midiático como filmes, séries, novelas...) baseado nos personagens Gina e Ferdinando de Meu Pedacinho de Chão. A autora do texto, Eveline Carneiro, é administradora do grupo Gina e Ferdinando – Meu Pedacinho de Chão no facebook onde publicou pela primeira vez seu texto.
Proposta Visual
Autorizada a diagramação para a publicação da história deu-se início à pesquisa sobre a temática. Algumas características já eram de meu conhecimento, pois como fã da produção acompanho e leio a respeito. A novela aborda um universo visto pelos olhos de uma criança e apresenta elementos inspirados no neosurrealismo e em outros movimentos artísticos. Mistura de elementos como plástico, borracha e tecido nos cenários e nos figurinos fez parte da proposta da equipe de artes da novela. Por ser lúdico tudo era permitido e nada era abuso. Seguindo esses conceitos resolvi trabalhar uma diagramação mais leve e ritmada. Fazendo uso textos em formas e tamanhos diferentes. E traços que levassem o leitor a fazer certo movimento de leitura. O livro foi dividido nas quatro estações assim
como a novela, que apresentou as mudanças das estações através dos elementos cenográficos e dos figurinos, e por isso apresenta texturas que as indicam. Os textos não seguem um padrão de tamanho, embora apresente a mesma tipografia, e podem variar conforme a necessidade do texto. Nos momentos de tensão as falas ganham mais corpo. Quando um personagem grita, por exemplo, o texto fica enorme na página e quando o momento é de chamego as frases ficam mais justinhas. Público-alvo: Fãs da telenovela Meu Pedacinho de Chão e do casal Gina e Ferdinando (Ginando) Fonte utilizada: Centaur Regular; Haiku’s Script v.08 Regular; Honey I Stole Your Jumper Regular.
Definições de Impressão
Cor: 4x4 Encadernação: Lombada Quadrada Formato Fechado: 11,5cm X 14,5cm Personalizado Papéis Utilizados: Folhas Internas: Couchê 150g/m² Folhas Externas: Couchê 230g/m²
Este livro composto com as tipografias Centaur Regular, Haiku’s Script v.08 Regular e Honey I Stole Your Jumper Regular e impresso em papel Couchê de gramatura 150g/m²; capa em Couchê de gramatura 230g/m² na MicroArt Sinalização & Gráfica. A encadernação e montagem desse livro foi produzida em estilo lombada quadrada de maneira artesanal.