Moradia Estudantil Flexível

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NATALIA FERNANDES CELANT

MORADIA ESTUDANTIL FLEXIBILIDADE COMO ARTICULADOR DO COLETIVO E PRIVADO

Trabalho final de curso apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências parciais para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista sob a orientação do Prof. Me. Onésimo Carvalho de Lima.

RIBEIRÃO PRETO 2016


Agradeço primeiramente a Deus, que me deu energia e sabedoria para concluir todo este trabalho. Aos meus pais e minha irmã, Paulo, Valquiria e Gisele, pelo apoio e amor incondicional. Aos meus amigos do Moura Lacerda, que nos momentos de fraqueza sempre me incentivaram. Ao meu orientador, por sua paciência, compreensão e atenção durante todas as etapas.


MORADIA ESTUDANTIL FLEXIBILIDADE COMO ARTICULADOR DO COLETIVO E PRIVADO

Trabalho final de curso apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para cumprimento das exigências parciais para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista sob a orientação do Prof. Me. Onésimo Carvalho de Lima.

Banca Examinadora:

Prof. Me. Onésimo Carvalho de Lima

Prof° César Elias

Convidado


“Habitar

significa literalmente morar, viver, residir.

Sintetiza a verdadeira expressão dos desejos mais fortes do homem, de possuir e deixar sua marca pessoal em algo que lhe pertence. Nesse sentido, a moradia não deveria ser algo pré-determinado, fruto de um projeto acabado, mas resultado de um processo, o processo de morar, onde o último ato pertence a quem irá habitar.” Lisiane Jorge (2012, p. 21)


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1 SÍNTESES TEÓRICAS FUNDAMENTAIS 1.1 MORADIAS ESTUDANTIS 1.2 HABITAÇÃO COLETIVA 1.3 COLETIVIDADE E PRIVACIDADE 1.4 FLEXIBILIDADE E ESPACIALIDADE 1.5 ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIDADE

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2 LEITURAS PROJETUAIS 2.1 CIDADE DEL SABER 2.2 UNIFESP SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 2.3 MASSACHUSETTS COLLEGE STUDENT RESIDENCE 2.4 VILA ESTUDANTIL - USP RP

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2 CONDICIONANTES PARA O PROJETO 3.1 LOCALIZAÇÃO 3.2 LOTE E TERRENO 3.3 NORMAS E DIRETRIZES GERAIS DA USP 3.4 LEVANTAMENTO DO ENTORNO 3.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES 3.6 DIRETRIZES TECNOLÓGICAS

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4 O PROJETO 4.1 MEMORIAL JUSTIFICATIVO 4.2 IMPLANTAÇÃO 4.4 PLANTAS 4.5 TIPOLOGIAS 4.6 CORTES 4.7 ELEVAÇÕES 4.8 PERSPECTIVAS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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BIBLIOGRAFIA

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO



INTRODUÇÃO



APRESENTAÇÃO

N°de alunos: 8.000

Vagas: 378 (4,72%)

O assunto escolhido para este trabalho do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda trata da Habitação: modos de morar e está inserido na área de Projeto de Arquitetura. O foco sobre o qual recai o estudo realizado é: Moradia estudantil: Flexibilidade como elemento articulador do coletivo e privado. Segundo Delabrida (2014), os ambientes residenciais estudantis, assim como as próprias salas de aula, são determinantes para a formação do indivíduo e exercem influências individuais e coletivas, exigindo cuidados redobrados por interferirem diretamente no bem-estar físico e moral de seus usuários, além de colaborarem para a persistência no ensino superior daqueles que são de outra cidade e possuem baixa renda, dependendo, assim, da moradia oferecida pela universidade. Delabrida (2014) pontua que a importância das moradias estudantis aumentaram nos últimos anos devido à políticas públicas como o SISU e o ENEM, por exemplo. Nesse contexto, a maioria dos estudantes muda-se para outras cidades, de acordo com a classificação nos exames. É neste ponto que esse tipo de habitação ganha maior visibilidade, pois os estudantes, agora longe de suas casas, precisam de um lugar para morar. A USP (Universidade de São Paulo) é a maior e mais importante universidade pública do Brasil e uma das mais prestigiadas do mundo, possuindo onze campis distribuídos entre cidades do estado, dentre elas, Ribeirão Preto. De acordo com o setor de Serviços Sociais da USP - RP, seu campus possui, aproximadamente, 8.000 matriculados nos diversos cursos oferecidos. No entanto, são cedidos três complexos de moradias para esses estudantes, totalizando 378 vagas, o que deixa evidente a insuficiência do atendimento. Uma vez que a moradia é um dos fatores responsáveis pela permanência e conclusão dos estudos dos alunos carentes, a proposta desta pesquisa é a realização de um projeto de moradia estudantil voltada ao campus da USP de Ribeirão Preto. Tal proposta aumenta, assim, o número de unidades habitacionais e diminui a evasão na universidade por desistência devido à falta de condições financeiras para custear a moradia. Neste contexto, onde a satisfação dos estudantes no que diz respeito às necessidades coletivas e individuais

no ambiente habitacional é primordial, é importante a compreensão de que embora a abordagem de diferentes pessoas dos mais variados hábitos e costumes, todas convivem em um único lugar e problemas dele derivados podem desencadear desentendimentos. A coletividade engloba um grupo de indivíduos que partilham seus interesses e histórias de vida, vivendo num mesmo cenário em prol de um mesmo objetivo. No entanto, embora essa convivência seja desejada, todo ser humano precisa de privacidade, referente à vida privada e a intimidade, onde se procura paz e liberdade no anonimato. A satisfação desse dual coletivo e privado é, portanto, característica preponderante da presente pesquisa. Posto isto, é de suma importância o conceito de flexibilidade, que neste caso, se retém na versatilidade da moradia, de forma a responder e adequar-se aos diferentes modos de vida dos usuários e induzi-los a participarem de sua configuração. Aqui abrimos espaço para a justificação da importância de um habitar flexível. Esteves (2013, p. 23) diz: “Habitação e habitar vêm de uma só palavra latina - habere (ter/haver) – o que significa habitar em mim, ter-me, tomar posse de mim mesmo, isto é, produzir a minha própria identidade, o que sugere a potencialidade de moldarmos os nossos edifícios habitacionais conforme as nossas rotinas, ajustando-os à nossa intimidade e certezas, se bem que momentâneas, uma vez que essas certezas se alteram com cada vez mais rapidez”. Portanto, a ideia de flexibilidade do espaço é colocada como imposição à compartimentação interior rígida e a distribuição tipificada dos usos, que segundo Jorge (2012), provocam limitações arquitetônicas. O intuito é permitir espaços dinâmicos, capazes de abrigar a singularidade do indivíduo e a imprevisibilidade da vida. Além disso, os edifícios flexíveis e versáteis possuem o ciclo de vida maior, dispondo de uma vida útil mais longa devido sua facilidade de modificação. Além disso, outra característica abordada é a perspectiva dos estudantes moradores em relação às suas próprias moradias. Nesse contexto, a maioria deles as consideram meramente como ponto de parada durante o período letivo, ou seja, não criam vínculos e nem se sentem à vontade devido à falta de caracterização e conforto do espaço. Por isso, atributos como privacidade e apego ao lugar são indispensáveis para que os universitários percebam a moradia, embora temporária, como um lar acolhedor, harmônico com seu uso. Para isto, Barros (2008) considera que “é de extrema importância ter um conhecimento estruturado a

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partir da observação ambiente-comportamento”, onde os problemas frequentes são relacionados com o ambiente construído, a fim de extrair os pontos mais críticos e carentes de intervenções, já identificados em bibliografias. Desta forma, é possível reconhecer parâmetros projetuais (apresentados posteriormente) que surgem a partir do uso e são aceitos pelos seus benefícios, servindo como arquétipos que sugerem configurações físicas do ambiente para que ele acomode plenamente as necessidades dos habitantes, o que o torna portador de significado. Portanto, a proposta para a Moradia Estudantil visa apresentar novas vagas para o Campus da USP de Ribeirão Preto, que contém espaços destinados à habitação, atendendo os requisitos de coletividade e privacidade. Tal proposta utiliza-se da arquitetura e da espacialização interna para o alcance da flexibilidade. Diante do conteúdo apresentado, percebe-se que, atualmente, existe uma discrepância entre o número dos que solicitam vaga de moradia na USP - RP e o número dos que efetivamente conseguem, que corresponde a menos de 5% de acordo com o setor de Serviços Sociais da universidade. A seleção dos candidatos é feita por tal setor, a partir de critérios socioeconômicos (renda per capita de até três salários mínimos). Tal escassez leva os alunos que não foram eleitos a morarem de modo clandestino, o que interfere na qualidade do espaço planejado para determinado número de estudantes, pois, assim, acarretam aglomerações. O tipo de ocupação pode levar a expulsão do aluno da habitação a qualquer momento e este fator, aliado à dificuldade enfrentada para a legalização, desestimula a permanência na universidade, levando a desistência de uma parcela significativa. Além disso, a rotatividade dos usuários deste tipo de habitação encontra um sério problema no que diz respeito à flexibilidade espacial e arquitetônica, uma vez que as moradias ainda possuem distribuição e organização rígidas e tipificadas. Sendo assim, a problemática é pautada em como criar novas unidades habitacionais que garantam diferentes possibilidades para adequações e suprimento das necessidades coletivas e privadas através da flexibilidade. No ponto de vista teórico, Scoaris (2012) diz que as moradias estudantis pertencem a um campo de estudo que ainda carece de evolução, pois embora bastante abordadas, na maioria das vezes, somente as características gerais do edifício são consideradas. A presente pesquisa toma importância por procurar suprir os anseios coletivos e privados dos moradores, considerando a rotatividade constante dos alunos que ocupam as moradias da USP, o

que induz a um ambiente versátil, que pode ser ajustado de acordo com os costumes dos moradores e suas necessidades momentâneas. Esteves (2013, p. 8) diz: “Atualmente, vivemos num mundo em que a repercussão da globalização, tecnologias da informação, migração, incerteza e instabilidade, começam a ditar novas tendências e formas arquitetônicas para o habitat. No entanto, o mercado disponibiliza, ainda, uma escolha muito limitada no que diz respeito a novas soluções dos espaços habitacionais, consequentes, em partes, da compartimentação interior rígida e da distribuição tipificada dos usos [...]. Os modos de vida mudam e, muitas vezes, as habitações não”. Segundo Herman Hertzberger (1999), a forma arquitetônica deveria ter a competência de desempenhar várias funções, sendo capaz de adaptar-se e assumir novas aparências, embora permanecendo a mesma. Logo, notase a importância de um habitar flexível que, para ele, garante atributos à edificação e contribui para o alongamento de sua vida útil. Para Jorge (2012, p.40): “Embora a flexibilidade não seja uma novidade, no ramo da arquitetura, sua aplicabilidade, na habitação contemporânea, restringe-se a exemplos pontuais ou inesperados, sendo pouco explorado pelas empresas construtoras, configurando um tema inovador de investigação”. Outra característica que demonstra suma relevância desse tipo de habitação é o papel social que ela desempenha. Costa e Oliveira (2015, p.8) dizem que: “As moradias estudantis desempenham papel fundamental na formação social dos estudantes, pois muito mais que imóveis, possibilitam o convívio com uma gama de indivíduos dos mais diversos perfis e posicionamentos [...], tendo a capacidade de promover a democracia e a ética numa perspectiva de aceitação da diversidade cultural, sexual, racial, regional, política, cultural e artística”. Sendo assim, a disponibilização de um ambiente que é capaz de atender tal diversidade pode melhorar a experiência de troca de histórias de vida através do convívio pacífico e harmonioso que leva em conta a dual privacidade e coletividade. Para Herman Hertzberger (2003, p. 12), tais conceitos não são opostos, mas sim complementares uma vez que “é sempre uma questão de pessoas e grupos em inter-relação e compromisso mútuo, é sempre uma questão de coletividade e indivíduo, um a face do outro”. O objetivo geral desta pesquisa é elaborar um projeto de arquitetura de moradia estudantil flexível voltada


ao campus da USP de Ribeirão Preto, SP. Para atingir esse objetivo geral, foi necessário estabelecer também objetivos específicos, como: - Definir os conceitos condutores da pesquisa; - Pesquisar parâmetros projetuais relacionados a habitações coletivas; - Buscar estratégias de flexibilidade na arquitetura; - Estudar moradias estudantis referenciais; - Propor uma arquitetura flexível; Para o cumprimento de tais objetivos, foram estabelecidos os seguintes métodos e instrumentos: a) Coleta de dados: Foram feitas pesquisas de campo realizadas nas próprias moradias existentes na USP RP. b) Pesquisa bibliográfica: Dois tipos de pesquisas bibliográficas foram realizadas, buscando por informações referentes aos conceitos de flexibilidade, coletividade e privacidade, a fim de criar aproximação e conhecimento sobre o objeto de estudo, sendo dissertação, tese, livros, reportagens, entre outras. 1) As de natureza histórica, que levantaram informações sobre o surgimento e importância da flexibilidade na arquitetura, servindo de base refletiva para a projeção futura; 2) As de natureza teórica, que através da ordenação, conceituação e compreensão dos termos condutores da pesquisa, possibilitaram coerência na construção da proposta. c) Pesquisa exploratória: Onde através de leituras projetuais criou-se familiaridade com o tema e obteve-se referências para a formulação do projeto. d) Pesquisa documental: Levantamento de legislações, restrições do solo e zoneamento da cidade pertinentes a localização do objeto proposto. e) Pesquisa iconográfica: Usando linguagem visual através de imagens para melhor entendimento do conteúdo descrito. A organização do trabalho se dá em quatro partes principais: O capítulo 1, que concentra os fundamentos teóricos pertinentes à pesquisa e suas conceituações; O capítulo 2, que possui leituras projetuais através da análise de projetos de moradias universitárias já existentes; O capítulo 3, que contém todas as considerações importantes para o projeto, como a localização, a escolha do terreno, legislação, levantamento do entorno, programa de necessidades e pré-dimensionamento; E o capítulo 4, que apresenta a proposta da Moradia Estudantil para o campus da USP de Ribeirão Preto, SP.

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1 SÍNTESES

TEÓRICAS



As regras modernas e universalizantes trouxeram muitas contribuições para a racionalização e ciência da edificação no século passado, porém, tais regras ainda dominam a produção arquitetônica atual através da repetição idêntica de pavimentos tipos, preceitos funcionalistas, exigências mínimas para a habitabilidade e normas dimensionais padronizadas. Porém, esses critérios produzem uma arquitetura embasada em usuários desconhecidos, de caráter universal e comportamentos homogêneos, o que desfavorece o uso diversificado do espaço da habitação, condição essencial para um estilo de vida plural. Jorge (2012). “Habitar significa literalmente morar, viver, residir. Sintetiza a verdadeira expressão dos desejos mais fortes do homem, de possuir e deixar sua marca pessoal em algo que lhe pertence. Nesse sentido, a moradia não deveria ser algo pré-determinado, fruto de um projeto acabado, mas resultado de um processo, o processo de morar, onde o último ato pertence a quem irá habitar”. Jorge (2012, p. 21). Habitar um espaço é sentir-se protegido por ele, é ter as necessidades espacializadas, criando, assim, uma dimensão simbólica ao edifício. Segundo Esteves (2013, p. 23), “Habitação e habitar vem de uma só palavra latina – habere (ter/haver) – o que significa habitar em mim, ter-me, tomar posse de mim mesmo”, sugerindo a intensidade da inter-relação entre habitação e habitante, e a importância de se proporcionar meios que permitam a criação de vínculos.

1.1 MORADIAS ESTUDANTIS

De acordo com Scoaris (2012), as universidades ainda contrariam a criação necessária de vínculos entre habitação e habitante, transmitindo seu caráter institucional para as unidades habitacionais oferecidas aos alunos. Tal percepção institucional do espaço residencial é apontada como um dos principais fatores de descontentamento com o ambiente residencial estudantil, uma vez que o morador tem pouco controle sobre o ambiente ocupado. Essa situação, quando confrontada às expectativas dos universitários com relação às suas habitações, se apresenta como fator redutor das possibilidades de uso e apropriação naquilo que poderia ser potencializado pelo projeto de arquitetura, que se encontra despersonalizado, diminuindo também seu potencial de sociabilidade. Dessa forma, as moradias estudantis são analisadas por Scoaris (2012) a partir de dois eixos principais e atualmente controversos:

a. DE CARÁTER INSTITUCIONAL: Segundo Scoaris (2012, p. 68), moradia institucional “é toda habitação edificada para um determinado grupo, quase sempre temporária e vinculada a uma instituição”. A estruturação arquitetônica dos demais edifícios que compõem a instituição, edifício estes não habitacionais, são também observados nos edifícios de uso habitacional, o que se opõe ao sentimento de pertença e identidade dos estudantes. Scoaris (2012) diz que os ambientes institucionais geralmente são vistos como sagrados e imutáveis, o que poderia ser suavizado através das estratégias projetuais listadas pelo autor e transcritas a seguir: - Cor do mobiliário e das superfícies parietais: Scoaris (2012, p. 70) diz que “uma das queixas mais recorrentes apontadas pelos universitários está relacionada à aparência física dos edifícios residenciais”. O fato ocorre devido a habitual ambientação monocromática que é muito relacionada com os demais edifícios não habitacionais da instituição. - Formas de acessos e circulações: As conformações espaciais que criam corredores extensos e fechados são apontadas como catalisadoras do anonimato, sendo assim, associadas a características negativas, exceto quando aliados com elementos atrativos. Tal configuração talvez seja a mais frequente nas residências estudantis. - Demarcações privadas do espaço comum: Embasado em Hertzberger (1999), Scoaris (2012) diz que a percepção privada é obtida através da forma como a área se apresenta, principalmente naquilo que diz respeito ao controle de acesso às unidades específicas e a forma como elas são supervisionadas e conservadas. - Opções diferenciadas de dormitórios: Segundo Scoaris (2012), a oferta de variados tipos de dormitórios é uma característica muito positiva, tanto no que diz respeito ao número de estudantes alocados quanto aos equipamentos e serviços a eles disponibilizados. A possibilidade de escolha do ambiente residencial figura como outro aspecto redutor do formalismo institucional. - Flexibilidade de arranjo dos dormitórios: O uso de mobiliário fixo na área dos dormitórios impossibilita a reorganização do layout caso seja necessário o suporte de situações imprevistas no projeto, ou simplesmente por questões de preferência individual. A possibilidade de controle organizacional das unidades é identificada como um fator positivo, pois reduz as sensações de impessoalidade e formalismo. b. DE POTENCIAL DE SOCIABILIDADE: Que segundo Scoaris (2012, p. 100) “se estrutura em um conjunto de fatores que, muitas vezes, tem um potencial operacional infinitamente superior as disposições

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arquitetônicas”. Tais fatores, apresentados pelo autor e transcritos a seguir, tem por objetivo potencializar a interação entre os moradores das residências estudantis, de acordo com as disposições espaciais apresentadas: - Área de preparo de refeições: Embasado em Pride (1999), Scoaris diz que o local de preparo das refeições nos arredores dos dormitórios é um dos principais requisitos para moradias estudantis, pois possibilita encontros casuais e criação de vínculos afetivos. - Agrupamento dos dormitórios: Outra tentativa de reforçar os vínculos afetivos entre os estudantes moradores. A criação de locais que possam ser compartilhados entre mais de unidade habitacional, como um hall que as confronte, por exemplo, reforça ainda mais essa estratégia, pois é muito mais provável imaginar que tal conformação seja convidativa as práticas dos estudantes, tal como sentar-se no chão para um jogo de cartas. - Espaços “acidentais”: Os espaços comuns das residências estudantis e aqueles que se localizam no percurso de acesso ao edifício e de acesso aos dormitórios podem ter seu uso potencializado através da criação de equipamentos, mobiliário ou elementos construtivos estrategicamente projetados para interações sociais.

1.2 HABITAÇÃO COLETIVA Neste contexto de criação de vínculos entre habitação e habitante, torna-se de suma importância a inclusão de conceitos humanizadores nas moradias estudantis durante o processo do projeto, uma vez que, segundo Barros (2008), os valores humanos estão diretamente ligados à qualidade espacial, principalmente quando relacionados a habitações coletivas, que abrigam uma grande variedade de pessoas. Por isso, é de grande relevância a identificação de parâmetros projetuais, capazes de fomentar o desejo de seu uso consciente e estratégico. O uso de tais parâmetros à fase de concepção do projeto propicia resultados mais eficientes, servindo como norteadores de estrutura sobre a qual, para Barros (2008), qualquer projeto pode ancorar-se, pois estará preparado para responder às complexidades do contexto atual. “Os parâmetros projetuais só devem ser usados como guias para o desenvolvimento de conceitos de projeto e não como receitas prontas. E o projetista tem que estar apto a fazer mudanças e acomodações no projeto, de acordo com

as condições e características físicas do local e também com a experiência advinda diretamente do local”. Barros (2008, p. 44). Com isso, vê-se que os parâmetros devem servir somente como suporte para a reflexão, uma vez que cada particularidade exigirá adaptações, trazendo, assim, a vivência para dentro do processo do projeto. A seguir, serão apresentados alguns dos parâmetros projetuais contidos em Barros (2008), pertinentes a presente pesquisa e considerados fundamentais pela autora, que enfatiza que quando presentes num sistema no espaço, garantem um alto grau de vitalidade:

FIG. 1

fig. 1: diretrizes projetuai em habitações coletivas. Inclusão de conceitos humanizadores no processo de projeto.


1.3 COLETIVIDADE PRIVACIDADE

E

“Problemas de falta de privacidade com relação as outras pessoas no interior da habitação existem em muitas daquelas onde a privacidade visual não foi considerada no layout da unidade, tais como [...] porta do banheiro abrindo diretamente para a sala, dormitório aberto [...] e passagem através de um dormitório”. Reis (1997 apud Reis e Lay 2003, p. 22).

Seguindo o intuito de inclusão de conceitos humanizadores em projetos de habitação coletiva, a compreensão sobre as necessidades coletivas e individuais dos moradores é fundamental para sua satisfação em relação à moradia. Tais necessidades tornam-se ainda mais significativas nas moradias universitárias, que contam com estudantes vindos de diversos lugares com expectativas das mais diferenciadas. De acordo com Kupritz (2000 apud Reis e Lay 2003), coletividade significa “reunião de indivíduos que formam uma unidade em relação a interesses, sentimentos ou ideias em comum. Pertence ou é formado por muitos”. Já privacidade diz respeito à “vida privada. Condição do que é íntimo e pessoal”. “O conceito de privacidade invoca a possibilidade de controlar, em diferentes graus, as interações com outras pessoas e/ou com outros espaços internos ou externos, e assim interromper ou diminuir o fluxo de informações e estímulos. ” Reis e Lay (2003, p. 21)

A privacidade visual se refere aquilo que é visualizado nos espaços das habitações e a possibilidade de controlar ou até mesmo de bloquear a visão. O ato do controle está relacionado a aspectos psicológicos e segundo kupritz (2000 apud Reis e Lay 2003, p. 23) “autonomia ou poder de controlar e regular a própria vida, é uma função da privacidade e está a serviço de ajudar a manter a identidade própria – a principal função psicológica da privacidade”. (Fig. 2). De acordo com Escóssia e Kastrup (2005, p. 295), o conceito de coletividade vem sendo abordado frequentemente, tratado como uma dimensão da realidade que se opõe a individualidade e investigado em relação às dinâmicas de interações entre grupos. Porém, tal oposição tem sido uma problemática levantada por diversos autores de diferentes campos de estudo. “A noção de agenciamento é a que nos parece mais apropriada para definir o funcionamento do conceito de coletivo. Agenciar é estar no meio, sobre a linha de encontro de dois mundos. Agenciar-se com alguém, com um animal, com uma coisa - uma máquina, por exemplo - não é substituílo, imitá-lo ou identificar-se com ele: é criar algo que não está nem em você nem no outro, mas entre os dois, neste espaçotempo comum, impessoal e partilhável que todo agenciamento coletivo revela”. Escóssia e Kastrup (2005, p. 303).

Para Kupritz (2000 apud Reis e Lay 2003, p. 22), a privacidade é a segunda necessidade humana mais importante, ficando atrás somente das necessidades fisiológicas O autor aponta três principais mecanismos de controle da privacidade: 1) Mecanismos sociais: onde as instituições regulam a privacidade através de política e normas padronizadas; 2) Mecanismos comportamentais: onde os próprios usuários regulam a privacidade através de processos psicológicos; 3) Mecanismos ambientais: onde elementos físicos são usados para o controle da privacidade. Os mecanismos ambientais, modo mais pertinente à pesquisa, possuem a capacidade de controlar a acessibilidade interpessoal e de sinalizar o desejo de maior ou menor interação social, através de elementos físicos como barreiras fixas ou móveis e outros elementos espaciais, sendo a privacidade regulada pela estruturação espacial. A importância da privacidade em habitações coletivas tem-se revelado um fator preponderante para a satisfação do morador, de acordo com Reis (1997 apud Reis e Lay 2003), sendo a privacidade visual a mais solicitada.

Hertzberger (1999) também defende que tais conceitos de coletivo e individual não são opostos, mas sim complementares, pois garantem a integração das relações humanas básicas. Segundo o autor, o grau de privacidade ou coletividade é determinado de acordo com o grau de acesso, com a forma de supervisão, com quem utiliza o espaço, com quem toma conta e suas respectivas responsabilidades. “Numa escola, cada sala de aula é privada em comparação com o hall comunitário. Este hall, por sua vez, é, como a escola em sua totalidade, privado em comparação a rua”, Hertzberger (1999, p. 14). O que Hertezberger coloca é que não existe uma classificação exata do que é espaço público, semi-público e privado, mas sim nuances de demarcações territoriais, produzidas através da forma, material, luz e cor e acompanhadas pela sensação de acesso. Para ele, a tradução dos conceitos público e privado

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respaldada nas responsabilidades diferenciadas é capaz de tornar os usuários em moradores, uma vez que é possível criar condições para um maior senso de responsabilidade e, consequentemente, maior envolvimento entre morador e moradia através do sentimento de pertença e de zelo. “Um ninho seguro, um espaço conhecido à nossa volta, onde sabemos que nossas coisas estão seguras e onde podemos nos concentrar sem sermos perturbados pelos outros é algo que cada indivíduo precisa tanto quanto o grupo”, Hertzberger (1999, p. 28). A revisão bibliográfica reforça a questão já abordada que embora o modo de morar coletivo, os estudantes precisam de privacidade, de um espaço para chamar de seu. Hertzberger aponta ainda que é muito interessante a criação de intervalos entre os lugares coletivos e privados, espaços ou elementos que garantam as boas vindas e as despedidas, refletindo sentimento de hospitalidade, o que é tão importante para o contato social como as paredes são para a privacidade. Tais intervalos são caminhos para eliminar a divisão rígida entre as demarcações territoriais, pois serve como espaço intermediário que abriga as duas esferas, coletiva e privada, podendo ser usados por ambos. Desse modo, se as sugestões espaciais forem incorporadas ao projeto, os moradores são influenciados de maneira estratégica a ocuparem também o espaço coletivo, o que faz com que ele seja aprimorado através do sentimento de responsabilidade.

1.4 FLEXIBILIDADE ESPACIALIDADE

E

FIG. 2

Segundo Esteves (2013), a flexibilidade nos espaços habitacionais é capaz de acompanhar questões financeiras e culturais ao longo do tempo, as incertezas do futuro e mudanças dos hábitos e preferências individuais da sociedade, em oposição a edifícios com elementos estáticos, que se tornam insatisfatórios. Mas afinal, qual a importância de um habitar flexível? “Como não é possível prever todas as mudanças e exigências nos hábitos quotidianos, a flexibilidade espacial na habitação vem aumentar, assim, o leque de respostas aos mais variados propósitos espaciais e modos de vida, de forma a suportar uma diversidade de atividade, ao encontro de costumes e práticas diferenciadas. ” Esteves, (2013, p.35).

Diversos parâmetros projetuais identificados para a melhoria da qualidade de habitações coletivas apontam a flexibilidade como um dos principais instrumentos para amenizar a incongruência entre a estrutura física e espaço social. Esteves (2013) faz uma abordagem sobre flexibilidade de maneira muito útil para a presente pesquisa, definindo conceitos de suma importância. Segundo a autora, o ambiente pode sofrer dois tipos de alterações: de longo prazo, que diz respeito a tudo relacionado aos diversos usos, como cultura, tecnologia e ambiente; e de curto prazo, que se refere a espaços que oferecem multiusos, de forma direta ou instantânea. Flexibilidade sugere movimento e mudança, algo novo, ou seja, uma nova realidade suscetível de modificação e ou alteração, que a liberta da rigidez. Nabeel Hamdi (apud Esteves, 2013 p. 39) a define como: “Liberdade de escolha entre opções existentes ou a criação de programas que atendam às necessidades e aspirações específicas dos indivíduos em relação às edificações que ocupam. Além disso, para arquitetos a flexibilidade normalmente demonstra o quanto um projeto é capaz de assegurar nas edificações, nos programas ou nas tecnologias utilizadas, uma boa funcionalidade inicial, que possibilita resposta às futuras modificações”.

Dessa forma, a flexibilidade na habitação é voltada para a satisfação do morador, uma vez que pode responder aos desejos individuais ao longo do tempo e pode melhorar o espaço doméstico através da viabilidade de readequação e

fig. 2: d i f e r e n t e s visualizações obtidas a partir de variados graus de privacidade.


fig.

3: Exemplo de organização inflexível, onde todas as atividades são setorizadas e não apresentam variações. fig. 4: Os novos modos de morar exigem organizações flexíveis, pois sobrepõem mais de uma atividade em um único espaço. fig. 5 e 6: Mobiliário retrátil e ambientes multifuncionais em busca de eficiência, versatilidade e flexibilidade.

adaptação conforme as necessidades efêmeras, segundo as horas e atividades diárias, características essas que contribuem para a formação de identidade do edifício. Quando apontamos aqui o termo qualidade, nos referimos à dinâmica, graduação e reversibilidade oferecidas pelo espaço, que qualificam o modo de vida dos usuários e também auxiliam o desenvolvimento administrativo e cultural. De acordo com Esteves (2013), existem duas principais formas de flexibilidade: inicial ou conceitual, que corresponde à sua concepção na fase inicial do projeto, com ou sem a participação do usuário; e permanente ou contínua, que diz respeito ao período de uso, oferecendo possibilidades de modificação do espaço e do uso ao longo do tempo. Esteves (2013) diz que a flexibilidade possui diferentes características, como adaptabilidade, que está relacionada a polivalência e multifuncionalidade de usos, sem haver arranjos físicos, em contrapartida da mobilidade e elasticidade, que requerem mudanças físicas no espaço. Para maior compreensão, abrimos aqui um intervalo para a definição dos termos supracitados. Adaptabilidade: Unidades que podem ser utilizadas de diversas maneiras, podendo ser facilmente alteradas de acordo com as circunstâncias. Mobilidade: rápida modificação do espaço através de elementos fáceis de deslocar, correr e recolher. Elasticidade: modificação da superfície habitada juntando uma ou mais zonas de estadia. Polivalência: forma estática que se presta a diversos usos sem que ela própria tenha que sofrer mudanças físicas. Esteves (2013). Fig. 3 e 4. A flexibilidade vem em prol da busca pela melhoria entre a relação de usuários e edifício, pois possibilita maiores chances de resposta às necessidades e desejos dos moradores anônimos. Jorge (2012, p. 25) diz: “Ao arquiteto, cabe a responsabilidade de repensar a configuração do habitat para esta sociedade emergente, incentivar novos usos e funções através de estratégias de flexibilidade que proporcionem uma vertente de indeterminação, alterações e reconfigurações dos elementos construídos prolongando a vida útil do bem de habitação durável”. O conceito de flexibilidade, na arquitetura, possui diversas interpretações que, muitas vezes, são divergentes. Os mais identificados em literatura são: adaptabilidade, participação, polivalência, multifuncionalidade, elasticidade, mobilidade e outros. A flexibilidade representa a superação do espaço habitacional automatizado e estéril, sendo capaz de acomodar o processo de mudança do indivíduo, em todos os sentidos, Jorge (2012). Fig. 5 e 6.

FIG. 3 e 4

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FIG. 5 e 6


página 22

Para Hamdi (1991 apud Jorge, 2012, p. 55), flexibilidade pode ser definida como: “Liberdade de escolha entre opções existentes ou a criação de programas que atendam às necessidades e aspirações especificas dos indivíduos em relação aos edifícios que ocupam.” O conceito de flexibilidade está diretamente relacionado à definição de qualidade residencial, que segundo Oliveira (2000, apud Jorge 201, p. 60), tem seu conceito geral definido como “adequação da habitação e sua envolvente às necessidades imediatas dos moradores, compatibilizando as necessidades individuais com as da sociedade, e incentivando a introdução ponderada de inovações que conduzam ao desenvolvimento”. Ou ainda segundo Juan (apud Jorge 2012, p. 60), que destaca o conceito de qualidade como “adequação ao uso e satisfação total das necessidades do usuário, pode-se dizer que a flexibilidade entra como garantia de sua obtenção”. Sendo assim, a flexibilidade é um instrumento capaz de reduzir os custos por prolongar a vida útil do edifício através de readequações do uso e rearranjos espaciais. Jorge (2012, p. 60). A autora classifica a flexibilidade em flexibilidade planejada, que é oferecida ao morador durante o processo do projeto; e flexibilidade permitida, que se caracteriza através da personificação futura. Já Abreu e Heitor (2008, apud Jorge 2012, p. 62), levantam dois tipos de estratégias de flexibilidade, relacionados aos processos construtivos e organização espacial: Conversão, referente à alteração na configuração espacial da habitação; e diversidade, referente à variedade tipológica apresentada. Spangenberg (2005, apud Jorge 2012, p. 68) define diferentes tipos de flexibilidade: flexibilidade de latitude, que apresenta intervalos estruturais; flexibilidade de subdivisões, que permite alterações na organização interior; e flexibilidade funcional, que possibilita o desempenho de mais de uma função. Fig. 7,8 e 9. Segundo Rabeneck (apud Jorge 2012, p. 77), uma habitação flexível é materializada através da liberdade de reformulação e organização do espaço interno, já definido rigidamente por seus limites de vedações, sendo estes alguns componentes de um esquema flexível: - Divisórias internas não portantes e removíveis; - Ausência de colunas ou preferencialmente grandes vãos entre elementos e vedos portantes; - Marginalização da área úmida e das instalações de serviços em relação à seca; - Utilização de formas geométricas simples nos quartos. Jorge (2012) destaca métodos construtivos cujos

componentes ou módulos industrializados impulsionam a flexibilidade: sistema modular, sistema de painéis e sistemas volumétricos híbridos, abordados a seguir. “O sistema construtivo pode ser definido como um grupo de componentes e partes inter-relacionados e independentes, que formam a unidade complexa do todo e regem seu funcionamento [...] Os sistemas fechados são associados ao objeto moderno, determinista e previsível em sua essência e pouco favorável a uma adequação com o meio ambiente e com os fatores exógenos que a influenciam, sem aptidão para conduzir processos de crescimento e mudança. Os sistemas abertos, por sua vez, apresentam uma forte interação com o meio, [...] reconstruindo a estabilidade do todo a partir da alteração dos componentes. Os sistemas arquitetônicos abertos são influenciados por fatores ambientais, tecnológicos, simbólicos e socioeconômicos”. Mesquita (2000 apud Jorge 2012, p. 176) define soluções de três grupos organizadores do espaço aberto – estrutura, vedações e instalações, que contribuem para impulsionar a flexibilidade construtiva: - ESTRUTURA: O espaçamento de vigas e pilares deve ser amplo; Evitar alvenarias estruturais que impossibilitem abertura de vãos; Dissociação dos demais subsistemas – vedações e instalações. - VEDAÇÕES: Componentes leves, de pouca espessura e independentes dos demais subsistemas; Divisórias leves; Painéis operacionais; armários móveis; Painéis pivotantes; - INSTALAÇÕES: A principal diretriz é a dissociação das instalações dos demais subsistemas; Preferência pela concentração dos serviços em blocos; O percurso das instalações deve priorizar trajetos sob pisos flutuantes ou acima de forros falsos e rebaixados. Votava (2006 apud Jorge 2012, p. 198), aponta alguns instrumentos para o alcance da flexibilidade, e que necessitam, assim, de conceituação:

SISTEMA DE PAINÉIS:

“Painéis planos como paredes maciças, pisos, forros, janelas e portas, divisórias e telhados, pré-fabricados em um sistema de produção, transportados ao sítio e montados no local”, Jorge (2012, p. 204). A aplicação de painéis garante a flexibilidade desde que esteja relacionada a concepções moduladas, desmontáveis, operacionais (deslizantes ou giratórios) e leves, pois, assim, facilitam alterações. Figg. 10 e 11.

SISTEMAS VOLUMÉTRICOS/ HÍBRIDOS:

Módulo volumétrico voltado para áreas molhadas, como banheiros e cozinhas, denominado módulo de


fig. 7: Apartamento de 32m² que possibilita 24 opções de arranjo através de paredes e mobiliários deslizantes, cama retrátil, prateleiras multiuso, etc. fig.

8: Esquema da mutabilidade do Apartamento do arquiteto Gary Chang, Hong Kong. fig. 9: “casa encaixotada” com total autonomia. A caixa se fragmenta para abrigar diversas atividades como comer, trabalhar, estudar, higienizar-se e dormir.

serviços. Tais módulos são independentes do corpo da obra, podendo ser configurados de inúmeras maneiras e empilhados verticalmente, de modo a formar um núcleo central de serviços, Jorge (2012). Fig. 12. Com isso, identifica-se que os sistemas construtivos abertos são responsáveis pelo desenvolvimento da flexibilidade, pois estão diretamente relacionados com a capacidade de articulação dos inúmeros elementos que o compõem, aumentando o grau de liberdade da construção.

FIG. 10

FIG. 7

FIG. 11

23

FIG. 8 e 9

fig.

10: Montagem de cobertura e divisórias a partir de painéis de gesso. fig. 11: Painéis deslizantes giratórios que integram cozinha e zona habitável. Recolhidos, mudam o cenário. fig. 12: U n i d a d e s volumétricas multifuncionais Copod, fabricadas por Elements Europe.

FIG. 12


1.5 ESTRATÉGIAS FLEXIBILIDADE

DE

composição espacial e descarta possibilidades de equívocos funcionais. Fig. 13 e 14.

1.5.2.

AMPLIAÇÃO

EXÓGENA

página 24

VARANDAS:

Devido a eventual inflexibilidade dos edifícios, gerada pela rigidez espacial das habitações, os moradores buscam, sempre que possível, adequar o espaço às suas necessidades, adicionando particularização, identidade e esteticidade. Somado a este fato, Jorge (2012) diz que o grau de flexibilidade que a habitação deve alcançar é inversamente proporcional à área disponível, ou seja, quanto menor o espaço da habitação, mais instrumentos de flexibilidade ela deve ter. “Muito mais do que um instrumento de manutenção, a flexibilidade pode assegurar a durabilidade da habitação e a satisfação do morador, com instrumentos variados que atuam, no espaço interior, na envolvente exterior, na inserção de comodidades de novos usos e significados”. Jorge (2012, p. 222). Em determinados casos, a flexibilidade permite a fusão de múltiplas atividades em um único espaço, sobrepondo lazer, entretenimento, descanso e trabalho, já em outros casos, percebe-se o desaparecimento de cômodos específicos que não condizem mais com a realidade habitacional atual. Jorge (2012) indica uma série de estratégias para o alcance da flexibilidade na habitação, sendo as mais pertinentes ao presente trabalho descritas a seguir:

1.5.1. FLEXIBILIDADE ORGANIZACIONAL:

Segundo Jorge (2012), a localização estratégica das áreas molhadas e da circulação pode contribuir para a flexibilização espacial das áreas privativas. Por isso, é preciso estabelecer previamente a localização de áreas que dependem, obrigatoriamente, de serviços e equipamentos mecânicos, como instalações hidro-sanitárias, que apresentam propensão à rigidez, devendo ser concentradas em núcleos de localização periférica ou central. São as circulações verticais, banheiros e cozinhas. Essa estratégia gera zonas neutras na habitação, que através do uso de painéis deslizantes, pode transmitir a sensação de amplitude e gerar circulação infinita em torno do corpo hidráulico. Pode ainda haver ausência de elementos de compartimentação interna, o que oferece ao morador diversas oportunidades de uso, uma vez que não é previamente definido. Tal característica induz a participação do morador na

“Instrumento de ampliação horizontal, as varandas são organismos de menor proporção e respondem pelos benefícios que oferecem às unidades residenciais”, Jorge (2012, p. 307). Para a autora, a varanda é um instrumento muito importante, pois garante a transição entre espaço interior e exterior, conferindo informalidade, lazer e descontração, além de melhorar a qualidade térmica e oferecer contemplação da paisagem. Outro potencial conferido à varanda, segundo Jorge (2012), é sua capacidade de transformar o aspecto da fachada, pois amplia seus limites. Fig. 15, 16 e 17.

1.5.3. ADAPTABILIDADE:

“A adaptabilidade, através de dispositivos móveis, conduz a uma adequação instantânea do espaço da habitação, com uma propensão ao melhor aproveitamento do espaço físico, no dia a dia, sendo um recurso eficaz para os apartamentos de pequenas dimensões e para a provisão de ambientes multifuncionais”. Jorge (2012, p. 373). Portanto, a adaptabilidade pode corresponder às variações de anseios multáveis e imprevisíveis dos moradores, a curto e longo prazo, além de ser capaz de atender a rotatividade dos que ocupam os espaços, que possuem naturezas e costumes distintos, exigindo a adaptação do espaço para sua satisfação individual. De acordo com Jorge (2012), a adaptabilidade é capaz, além de responder aos anseios individuais dos moradores, de ajustar-se a apartamentos de área útil reduzida, compensando as restrições presentes nessa tipologia. “As palavras mais apropriadas para explicar essa relação seriam economia e transformação: economia do espaço e alteração de usos. Para promover, então, a adaptação do espaço para novos usos, surgem os elementos dinâmicos, representados por paredes móveis, membranas de separação que podem ser constituídas por elementos construtivos rígidos ou deformáveis”. Jorge (2012, p. 379). Fig. 18, 19 e 20.

1.5.4. FACHADAS FLEXÍVEIS:

“Responsável pelas vedações verticais que envolvem o edifício, a fachada é o elemento de separação do ambiente exterior do espaço interno de permanência prolongada dos indivíduos”, Jorge (2012, p. 433). Além disso, a autora afirma que a fachada é responsável pela interlocução visual entre os


espaços situados do lado de dentro e de fora, dividindo o que é de domínio público e o que é de domínio privado. A fachada é também o que expressa a aparência do edifício para o observador, funcionando como o rosto da edificação, forma com a qual a obra se comunica com o universo externo. Para Jorge (2012), a singularidade e a diversidade da fachada são características que reforçam a identidade do edifício no cenário urbano, ficando sua composição a par da organização das aberturas, cores, texturas e materiais. Fig. 21, 22 e 23

fig.

13: Estratégias de flexibilidade – Flexibilidade organizacional fig. 14: Elementos vazados fixos colaboram para a flexibilidade organizacional. fig. 15: Estratégias de flexibilidade – Integração de varandas e espaços internos. fig.

16: Residência de estudantes em Estocolmo. As sacadas apresentamse como elementos estruturador da fachada.

Posto isto, o presente trabalho apresentou que a carência de moradias oferecidas aos estudantes da USP de Ribeirão Preto é um dos fatores responsáveis pela evasão de alguns alunos que não possuem condições de se inserirem no mercado imobiliário, através de aluguéis. O número reduzido em relação à procura é um dos motivos que influenciaram o desenvolvimento da presente pesquisa. Além disso, a incoerência das moradias estudantis, que seguem normas construtivas rígidas e padronizadas, com as reais necessidades de adaptação do espaço sentidas pela grande diversidade dos estudantes moradores, renovada a cada ano letivo, reforçou a importância do trabalho, que propõe conceder um espaço capaz de responder à multiplicidade de estilos de vida e à integração programática. A solução mais adequada para o alcance de tais objetivos, com base em referências teóricas, é a arquitetura flexível, capaz de proporcionar ao morador maior satisfação por meio da adaptabilidade espacial e liberdade de sua configuração. As estratégias habitacionais voltadas para a massa tornaram-se ultrapassadas e ineficientes, pois homogeneíza os indivíduos em um homem tipo, tratado como usuário anônimo, mas, uma vez que a moradia estudantil é também responsável pela formação de caráter do estudante, deve ser capaz de absorver e se transformar com a pluralidade e suas necessidades coletivas e individuais. Portanto, torna-se cada vez mais emergente a importância de um habitar conduzido sob o viés da arquitetura flexível, que através da adoção de procedimentos simples, pode melhorar a qualidade de vida dos usuários do espaço. Tais adoções tornam-se mecanismos para a flexibilização do espaço através de características como: Flexibilidade organizacional, que usa de localizações estratégicas das zonas propensas à rigidez para flexibilizar as zonas neutras e habitáveis; Ampliação exógena, que utiliza a varanda como elemento de extensão

do espaço interno, conferindo também ligação entre interior e exterior; E adaptabilidade, que através de dispositivos móveis permite a modificação instantânea do espaço físico. Com isso, vemos que atributos como mobilidade e adequação garantem uma rápida transformação do espaço, o que aumenta as possibilidades de satisfação dos moradores em relação a sua moradia e contribui para uma vida útil maior do edifício, devido sua facilidade de se ajustar de acordo com as necessidades momentâneas. FIG. 13

FIG. 14

FIG. 15

25


FIG. 16 e 17

FIG. 22

FIG. 18

FIG. 23

fig. 17: Fachada da CocaCola. A geometria complexa da fachada principal, que em determinados pontos serve de sacadas, é resultado da rotação de diferentes chapas de vidro estruturadas por aço.

página 26

fig. 18: Estratégias de flexibilidade – Adaptabilidade.

FIG. 19 e 20

FIG. 21

fig. 19: Apartamentos em Fukuoka, Japão. Flexibilidade espacial através de paredes e armários rotacionados, conforme atividades e necessidades. fig. 20: Exemplificação de adaptações espaciais realizadas através de painéis operacionais, que separam ou integram ambientes. fig.

21: Estratégias de flexibilidade – Fachada operacional e dinâmica. fig. 22 e 23: Tipologias e mecanismos de aberturas das janelas.


2 LEITURAS PROJETUAIS



As leituras projetuais são importantes na fase de concepção de um projeto, pois garante o desenvolvimento do pensamento gráfico, onde podemos testar hipóteses e compreender possíveis relações entre as partes, e de análise gráfica, onde verificamos a composição da forma e enfatizamos as características do espaço. De acordo com Clark e Pause, em “Precedents in Architecture: Analytic Diagrams, Formative Ideas, and Partis, 3ª. ed. New York: Wiley, 2004”, as análises tem por objetivo estabelecer comparações entre obras arquitetônicas, através de esquemas que simplifiquem e narrem a leitura, avaliando os seguintes elementos: estrutura, luz natural, massa, planta, unidade, circulação, repetitivo x único, geometria, hierarquia e partido arquitetônico. Ching (1998) complementa que as análises arquitetônicas possibilitam evidenciar os princípios formadores e ordenadores do espaço, analisando além dos elementos já citados, os princípios de ordem do projeto, como eixo, simetria, ritmo, hierarquia e repetição. Contudo, analisar projetos arquitetônicos nos auxilia no aprimoramento de nossa capacidade de projetar, pois a pratica desenvolve o olhar clínico e crítico sobre projetos realizados por outras pessoas, onde abstraímos considerações que podem ser produtivas em nosso projeto. O primeiro objeto analisado é o ganhador do concurso de Alojamentos Estudantis para a Ciudad del Saber, no Panamá, realizado pelo escritório Sic Arquitetura, de São Paulo. O segundo é o 1° pré-classificado de um concurso, idealizado para a UNIFESP de São José dos Campos pelo escritório Arquitetos Associados. O terceiro, o Massachusetts College of Art and Design’s Student Residence, idealizado pelo escritório ADD inc. O quarto, a Vila Estudantil, localizada no próprio campus da USP de Ribeirão Preto. Todas as análises buscaram por características relacionadas à pesquisa.

2.1 a

lojamentos

estudantis – cidad del saber

sic arquitetura

29

local: miraflores, panamá data: 2014 escritÓrio: sic arquitetura

Fonte das imagens: www.galeriadaarquitetura.com.br/ Fonte do texto: www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/

terreno: aprox. 7.000m² construÍdo na 1° fase: 4.378m² construÍdo na 2° fase: 4.461m²

IMPLANTAÇÃO

Nove blocos implantados de maneira perpendicular em relação ao terreno e paralelos entre si, interligados através de uma estrutura metálica linear de circulação que percorre toda a extensão longitudinal dos alojamentos. A Distância entre cada bloco foi determinada em função da vegetação, mantida, em maior parte, para a formação de jardins entre blocos (servindo como espaços de encontro = coletividade). A execução foi dividida em 2 fases.

O pátio (P) entre os blocos ganha maior dimensão, configurandose como espaço público, de reunião, sociabilidade e acesso. Abaixo dos dois blocos adjacentes encontram-se os principais serviços de apoio, como auditório, lavanderia e café.


PARTIDO O clima quente e úmido do Panamá fez com que o escritório adotasse diversas formas de ventilação como partido, além da necessidade de um projeto sem frente ou fundo demarcados, a fim de valorizar a exuberância do extenso gramado do terreno. Além da implantação sustentável que respeitou a vegetação existente. PROGRAMA E ACESSOS Cada bloco elevado por pilotis contém 2 pavimentos, onde cada um conta com 12 dormitórios, totalizando 24 deles por bloco e aproximadamente 200 no total. Existem 3 tipologias de plantas que oferecem espaço para 2 ou 3 estudantes no mesmo dormitório e ainda um dormitório para deficientes físicos, que recebem quartos individuais com dimensões adaptadas.

3 pessoas 2 pessoas

adaptado

página 30

1)

2) FECHAMENTOS E FLEXIBILIDADE As fachadas são compostas por painéis corrediços com aletas perfuradas que garantem a entrada de luz nos ambientes e contribuem para a ventilação natural, uma alternativa flexível onde cada unidade pode controlar a quantidade que penetra no ambiente. ESTRUTURA Os blocos dos alojamentos possuem estrutura em concreto armado, moldado ‘in locu’ com vãos de 7,50×3,60m e dois balanços de 2,50m estabelecendo uma estrutura equilibrada, com laje maciça, armada em uma única direção. O conjunto possui fundações rasas do tipo sapata, em concreto armado. Já o edifício de circulação possui sua estrutura em aço, com uma malha de 3,60 x 7,50m, vencendo o vão entre eles com vigas metálicas.

1)

pilares

2)


2.2 m

oradia

estudantil – unifesp são josé dos campos

arquitetos associados

local: são josé dos campos, sp concurso: 2015 escritÓrio: arquitetos associados

Fonte das imagens e texto: http://www.archdaily.com.br/

1)

IMPLANTAÇÃO Os dois pavilhões habitacionais (1 e 2) foram implantados de modo a aproveitar as áreas livres e de jardins como extensões das unidades. A ordenação dos edifícios oferece abertura voltada para o quadrante leste a todos os espaços privativos (o que garante ventilação cruzada), já os espaços comuns redesenham o chão e diluem, assim, os imites entre edifício e paisagem. Ambas são estratégias para ampliar a abertura visual para a paisagem que os circunda.

31

PARTIDO O partido adotado pressupõe uma intervenção arquitetônica e paisagística (edifício como elemento estruturador da paisagem), e procura qualificar e delimitar o espaço através dos dois pavilhões. Dessa forma, o projeto se define a partir da sobreposição de três elementos principais: um sistema modular regular, um vazio articulador e um redesenho da topografia = apropriação das áreas livres. PROGRAMA E ACESSOS Um acesso principal na cota elevada se dá a partir de uma rampa que direciona até a área de acolhimento e convívio, de onde partem os acessos aos dois edifícios. O projeto conta com 4 tipos de planta, todas seguindo o mesmo padrão de organização, com modificações somente nas dimensões e divisões 2) APARTAMENTO INDIVIDUAL:

2) 1)

- 4 dormitórios c/ 1 cama cada; - 1 corredor de circulação; - 1 lavanderia; - 2 banheiros; - 1 cozinha ventilação cruzada


página 32

APARTAMENTO OBESO:

APARTAMENTO DUPLO:

APARTAMENTO PNE:

- 4 dormitórios c/ 1 cama cada (+ amplo); - 1 corredor de circulação; - 1 lavanderia (+ ampla); - 1 banheiro amplo; - 1 cozinha (+ampla)

- 2 dormitórios c/ 2 camas cada; - 1 corredor de circulação; - 1 lavanderia; - 2 banheiros; - 1 cozinha

- 2 dormitórios c/ 1 camas cada (adaptado); - 1 corredor de circulação (adaptado); - 1 lavanderia (adaptada); 4) 1 banheiro (adaptado); 5) 1 cozinha (adaptada)

2.3 m

assacHusetts

add inc.

college of art and design’s student residence

IMPLANTAÇÃO O edifício está localizado em Boston e possui sua implantação de forma geométrica, sendo apenas o térreo de forma curva, avançando o lote em relação aos demais pavimentos. Oferece capacidade para 493 estudantes.

PARTIDO O partido foi fazer o edifício da faculdade de arte se destacar na paisagem, sendo referencial de identificação. A ideia era executa-lo de forma a parecer uma pintura, sendo tão colorido e vibrante Fonte das imagens e texto: http://www.archdaily.com/469699/massachusetts-college-of-art-and- como uma. Devido suas características, foi design-s-student-residence-hall-add-inc apelidado pelos estudantes como “Casa da Árvore”, por ser visto como uma “árvore local: boston da vida”, responsável pelo renascimento e data: 2013 continuação da escola. escritÓrio: add inc.


FACHADA O escritório se inspirou numa pintura de Klimt, de 1909 como uma metáfora para sua composição. Com isso, a fachada é feita em painéis metálicos coloridos de 6 cores, larguras e profundidades distintas. As cores iniciam no térreo no tom de marrom escuro para referenciar a casca de uma árvore, avançando progressivamente em tons mais claros. Algumas molduras de janelas se acentuam no tom verde para representar as folhas da árvore.

PROGRAMA O edifício conta com 21 andares, sendo o térreo voltado para o café e sala de estar, o segundo pavimento para um centro de saúde e o terceiro, para equipamentos de apoio como cozinha, sala de jogos, lavanderia, academia. Os demais andares são destinados as unidades de habitação.

33

2 pessoas 4 pessoas

2 pessoas

4 pessoas

Para a interação e coletividade dos estudantes moradores, o projeto demonstra grande preocupação em criar espaços que atender seus objetivos e aspirações, sendo a equipe de Design do escritório os responsáveis por desenhar suas melhores ideias, surgindo assim, lounges em todos os pavimentos habitacionais


2.4 v

estudantil usp ribeirão preto illa

página 34

Construída em 2010, a Vila Estudantil é a mais recente moradia feita para os alunos e está localizada em uma área de expansão do Plano Diretor da USP. Abriga 170 alunos distribuídos em seus 4 blocos e cada bloco, por sua vez, possui 278m² de área projeção. O conjunto possui 3 pavimentos destinados a moradia e mais uma caixa de circulação que avança sua altura, destinada à circulação vertical (escada e elevador) e a caixa d’água, totalizando 834m² voltados para habitação em cada um dos blocos.

PLANTA TÉRREO - Banheiro P.N.E. - 2 Dormitórios - Circulação interna menor

PLANTA PAVIMENTO TIPO - Banheiros não adaptados - 3 Dormitórios - Circulação interna maior


3 CONDICIONANTES PARA O

P R O J E T O



3.1 LOCALIZAÇÃO O projeto proposto está inserido na região Oeste do município de Ribeirão Preto, mais precisamente no Campus da USP, localizado na Av. dos Bandeirantes, 3900, Monte Alegre (Entrada B).

3.2 TERRENO E LOTE A USP de Ribeirão Preto possui uma grande área disponível para a implantação de futuras unidades, sendo, de acordo com seu Plano Diretor, os eixos norte e sul os que mais cresceram nos últimos anos. O terreno escolhido para a implantação do projeto de novas moradias estudantis localiza-se no eixo Norte e foi selecionado devido sua proximidade com o mais novo conjunto de moradias, a Vila Estudantil. Sua localização garante proximidade com as unidades já existentes, possibilitando interação entre os alunos, além do restaurante da USP, conhecido como Bandejão e dos bancos Bradesco, Santander e Banco do Brasil.

1) Centro 2) USP 3) Quadra 4) HC 5) Vila Esturantil 6) Bandejão 7) Santander 8) Banco do Brasil

37


página 38

USP

LOTE

A ideia central para a implantação das novas unidades é criar conexão com a Vila Estudantil através da via de pedestre (1), dando continuidade até a nova via a ser implantada (2), de acordo com o plano diretor. Outro fator preponderante para a escolha do terreno foi a previsão de um estacionamento em frente ao lote, previsto pelo plano diretor e que poderá ser usado pelos moradores (3).


3.3 NORMAS E DIRETRIZES GERAIS DA USP

A USP possui suas própias normas e não segue a legislação da cidade. Tais normas são estabelecidas pela Superintendência do Espaço Físico da Universidade de São Paulo (SEF) e são obrigatórias para a implantação de edificações:

RECUOS: Devem possibilitar a circulação 1de pedestres, com ambientação e escala adequada ao espaço. Devem garantir condições de iluminação e ventilação adequadas às suas funções. Os seguintes recuos mínimos devem ser respeitados: - Em relação às vias principais de tráfego de veículos, deverá ser considerado o mínimo de 15 metros até o edifício. - Em relação às vias locais, deverá ser considerado o recuo mínimo de 10 metros até o edifício. Fig. 28. - Em relação ao estacionamento, deverá ser considerado o recuo mínimo de 5 metros até o edifício. Fig. 29. - Para conjuntos arquitetônicos deverá ser considerado um espaço livre frontal dado pela expressão: f > ou = 3h; sendo f = recuo frontal h = altura do edifício mais alto do conjunto. Fig. 30. 2POSICIONAMENTO: A implantação ótima é aquela em que as faces predominantes do edifício (faces na direção do comprimento) são paralelas à linha EO. As faces predominantes deverão ter as aberturas necessárias para atender às condições requeridas para a iluminação natural / ventilação, enquanto as faces a elas perpendiculares deverão ser, obrigatoriamente, sem aberturas (fachada cega). Caso as condições do “lay-out” interno, da captação ou proteção dos ventos dominantes ou das características topográficas do terreno não permitam a implantação ótima, a posição de implantação ideal será obtida girando-se o edifício em aproximadamente 45º (quarenta e cinco graus) em torno do centro de giração (intersecção das linhas NS e EO). Fig. 31.

39


3.4 LEVANTAMENTO DO ENTORNO Os levantamentos têm como objetivo coletar informações sobre o entorno do local cujo objeto de estudo está inserido, a fim de obter conhecimento sobre as características do lugar através de análises de indicações presentes na legislação municipal.

USO DO SOLO

página 40

PQ. VILA UNIVERSITÁRIA

MONTE ALEGRE Fonte: Isabela Manciopi O mapa de uso do solo indica as atividades exercidas no lote, atividades estas que respeitam o Plano Diretor vigente. De acordo com o levantamento, o entorno é predominantemente residencial, possuindo habitações de variados padrões que definem a classificação social e economica da área: 1) Habitações mais antigas no bairro Monte Alegre = Bairro mais antigo; 2) Habitações mais novas no bairro Paque Residencial Vila Universitária = Bairro mais atual; Os poucos comércios estão concentrados no bairro Monte Alegre, que também abriga uma unidade da CPFL, principal serviço do entorno, sendo os demais localizados na própia USP (Bancos como Bradesco, Santander e Banco do Brasil e o Restaurante Bandejão); Os vazios, por sua vez, são concentrados no bairro Parque Vila Universitária, característica que pode ser atribuída devido ao fato de se tratar de um novo bairro, ou até mesmo por falta de interesses. As áreas verdes, por fim, contituem as praças, rotatórias e canteiros distribuídos pela área de estudo.


OCUPAÇÃO DO SOLO - FIGURA FUNDO PQ. VILA UNIVERSITÁRIA menor densidade

Fonte: Levantamento da autora

MONTE ALEGRE maior densidade

No entorno da USP, a legislação municipal (2157/07) determina um gabarito básico de até dez metros de altura para todas as edificações e como consequência, nota-se a predominância de lote térreos, seguidos de sobrados com 2 pavimentos e poucos casos em que a edificação atinge 3 ou mais pavimentos. Essa característica, assim como a de figura fundo, contribui para a qualidade de vida local, gerada por boa insolação e ventilação pelo fato de não haver edifícios altos que “barrem” a passagem de tais elementos. Já no interior da USP, nota-se que o padrão das edificações é de 4 e 3 pavimentos, como no caso da Vila Estudantil, conjunto mais próximo da área de intervenção.

De acordo com o levantamento de figura fundo, nota-se que o bairro Monte Alegre é muito mais denso quando comparado ao bairro Parque Vila Universitária, que apresenta mais lotes vazios e recuos frontais, laterais e de fundos. Tal característica pode ser atribuída pelo fato do bairro Monte Alegre ser mais antigo que o Parque Vila Universitária, sendo assim, mais consolidado, ou até mesmo por falta de interesses de investimento. Porém, embora mais denso, o bairro Monte Alegre dispõe de afastamentos suficientes para manter a salubridade do local, permitindo insolação e ventilação entre as unidades.

PQ. VILA UNIVERSITÁRIA

VILA ESTUDANTIL

Fonte: Levantamento da autora Fonte: Google Maps

MONTE ALEGRE

41


3.5 PROGRAMA NECESSIDADES

DE

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES: As atividades que constituem o programa serão agrupadas da seguinte forma: 1SETOR HABITACIONAL: Comporta as unidades habitacionais, divididas em apartamentos que abrigam de 2 a 6 estudantes; 2ESPAÇOS COMUNS RESTRITOS: São espaços de convivência destinados aos moradores da residência estudantil, não podendo ser usados por estudantes que não residem no conjunto (cozinhas coletivas por pavimento); 3ESPAÇOS COMUNS ABERTOS: São espaços que fazem parte da residência estudantil proposta, mas que podem ser usados também pelos estudantes residentes da Vila Estudantil, com intuito de integração entre os dois conjuntos (Espaço de estudo e convívio); 4INFRAESTRUTURA: Elementos que garantem o funcionamento e manutenção das unidades (reservatórios, central de gás, coleta de lixo); 5CIRCULAÇÃO: Espaços responsáveis por receber e distribuir o fluxo de pessoas entre todas as áreas do conjunto (corredores, passarelas, elevador e escada).

página 42

QUALIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO ESPAÇO ESPAÇO HABITAÇÃO

Apartamentos Salão de Estar e Convívio Cozinha

ESPAÇOS COMUNS RESTRITOS

Lavanderia Lazer ao ar livre (cobertura)

ESPAÇOS COMUNS ABERTOS INFRAESTRUTURA

Salão de estudos Captação Solar Caixa d'água Eixo circulação vertical

DESCANSO ARMAZENAMENTO PESSOAL DESCANSO, ARMAZENAMENTO E ESTUDO INDIVIDUAL ESTUDO INDIVIDUAL ESTUDO COLETIVO CONVIVIO PREPARO DE ALIMENTOS ESTUDO COLETIVO LIMPEZA E HIGIENE

ESPAÇO 1

DESCRIÇÃO/EQUIPAMENTOS cama, guarda roupa, bancada e banheiro Sofá, puffs, poltronas, televisão e estante fogão, geladeira, cuba, microondas, armário, mesa e cadeira Máquina de lavar, tanque, varal, máquinas de secar, armário e banco Churrasqueira, cuba, bancada, bancos, academia ao ar livre mesas e cadeiras placas de captação solar nas coberturas Caixa d'água Escada antecamara e elevador

806,48 m² 88,64 m² 244,85 m² ESPAÇO 223,67 m² 274,26 m²

QUANT. (unid.) 28 1 8 1 1 1 14 5 1

806,48 m²

88,64 m²

CONVÍVIO

ESPAÇO 3

244,85 m²

PREPARO DE ALIMENTOS

ESPAÇO 4

189,36 m²

LIMPEZA E HIGIENE

ESPAÇO 5

274,26 m²


OCUPAÇÃO DO TERRENO E DENSIDADE POPULACIONAL O estudo do terreno e sua ocupação foi feito com base nas normas internas da USP que determinam recuos a serem respeitados, o que pré-estabelecealgumas diretrizes.

A proposta possui 1.315,54 m² de construção voltada para as unidades habitacionais e 235,15m² voltados para o edifício coletivo. Pode abrigar até 140 estudantes, número que varia de acordo com a disposição dos dormitórios, que altera a capacidade de moradores.

3.6 DIRETRIZES TECNOLÓGICAS

fig.

24: Edifício préfabricado, montado com auxílio de máquinas.

O projeto prevê o uso de sistema estrutural metálico e pré-fabricado. São leves, feitos na indústria e montados no local, diminuindo, assim, o tempo de execução e mão de obra e, consequentemente, seu custo final, além de ser um processo construtivo de pouco desperdício. Essa dinâmica caracteriza a mecanização da construção ao preparar seus principais elementos de modo industrializado, levando em conta questões de sequencia, padrão e escala. Como a construção dessas peças é realizada dentro de uma indústria, é possível ter total controle da qualidade, resistência, dimensões e acabamentos.

FIG. 24

43



4 O PROJETO



4.1 JUSTIFICATIVO

MEMORIAL

O conceito do projeto é garantir privacidade e intimidade para os usuários nessa tipologia habitacional que é de natureza coletiva e de convivência mútua, tendo como partido a flexibilidade, que neste caso retém-se na versatilidade da moradia, onde os estudantes possam participar diariamente da configuração do espaço, de acordo com suas rotinas. Neste contexto, adaptabilidade (unidades facilmente alteradas) e mobilidade (modificação do espaço através de elementos de deslocar, correr, etc) tornam-se palavras-chave. O projeto foi se desenvolvendo a partir da ideia de se criar dois edifícios habitacionais e um edifício que concentraria todas as atividades coletivas, como uma forma de provocar interação entre os estudantes moradores, sendo os três volumes conectados por passarelas.

Dormirórios Banheiros Cozinhas

Circulação vert e horiz. Atividades coletivas

Para manter conexão visual com os edifícios da Vila Estudantil, que possuem volumes com alturas diferentes (caixa d’água), o intuito foi trazer essas caixas altas também para o projeto. Nessa fase inicial de concepção do projeto, inúmeros estudos volumétricos foram feitos a partir de maquetes físicas para facilitar a compreensão do projeto aplicado à realidade. Com isso, foi possível identificar pontos positivos e negativos de cada forma de implantação e selecionar a mais coerente.

1) PONTOS POSITIVOS: Maior facilidade de aproveitamento das curvas de nível; Banheiros recebem boa insolação; PONTOS NEGATIVOS: Forma muito rígida; Usos muito repetitivos. 2) PONTOS NEGATIVOS: Exige maiores interferências na topografia; Sensação de desconforto causado pelo espaço apertado, que permitiu passagens estreitas entre os edifícios. PONTOS POSITIVOS: Cones visuais para os 2 blocos de dormitórios; Jogo de volumes, usos e pé direito no conjunto coletivo; Rampas interligam os dormitórios ao centro coletivo.

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3) PONTOS POSITIVOS: Boa insolação para os banheiros; Setor coletivo protegido da insolação; Integração do Setor coletivo entre as proposta e a Vila Estudantil; PONTOS NEGATIVOS: Dificuldade de integração com a via de pedestres, pois o edifício se coloca como paredão.

4) PONTOS POSITIVOS: Ampliação do espaço livre; Dormitórios mais reservados da insolação; Capacidade de reprodução;

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PONTOS NEGATIVOS: Impermeável em relação à Vila Estudantil, pois o edifício se coloca como um paredão; Sala de estudos (setor coletivo) que deveria ser de uso comum entre a proposta e a Vila Estudantil torna-se privado; Setor coletivo recebe forte luz solar;

5) PONTOS POSITIVOS: Integração do Setor coletivo entre as proposta e a Vila Estudantil; Amplo espaço livre disponível; PONTOS NEGATIVOS: Impossibilidade de cones visuais para os dois edifícios de dormitórios;

6) PONTOS POSITIVOS: Maior espaço livre disponível; Insolação igual para as duas unidades e dormitórios; PONTOS NEGATIVOS: Impermeável em relação à Vila Estudantil, pois o edifício se coloca como um paredão;


7) PONTOS POSITIVOS:

Desenvolvimento de maquete física mais detalhada a partir da forma de implantação

Cones visuais para os dois edifícios de dormitórios; Amplitude dos espaços livres no térreo; PONTOS NEGATIVOS: Setor coletivo reservado, dificultando a integração com a Vila Estudantil; 8) PONTOS POSITIVOS: Ampliação do espaço livre; Integração com a Vila Estudantil e com a via de pedestre; Capacidade de reprodução; PONTOS NEGATIVOS: Exige maiores adaptações ao terreno; Setor coletivo recebe forte luz solar.

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SISITEMA CONSTRUTIVO

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TOPOGRAFIA

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T As alterações naDUCtopografi a foram feitas para receber O PR L o edifício em um Túnico nível. Tel modificação é viável pois o NA IO A UC D E volume de corte compesa o de aterro, portanto não haverá SK DE TO AU compra nem descarte de terra. gastos com AN ED

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FIG. 25

imagem autoral

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O sistema construtivo foi definido pelo conceito de industrialização e pré-fabricação, onde componentes chegam ao local da obra prontos para montagem, o que diminui mão de obra, tempo e gastos e colabora para uma construção mais limpa e organizada. Toda a estrutura utilizada é metálica, pois permite grandes vãos devido seu baixo peso, o que também resulta em fundações menos profundas (usadas aqui, sapatas isoladas e radier). Essa adoção, aliada às vedações de placas pré-moldadas de concreto armado, colaborou para a flexibilidade do projeto, pois como não foram necessárias paredes estruturais, os ambientes podem facilmente ser modificados ou ampliados para novos usos. A laje é alveolar, pois além de pré-fabricada e de pequena espessura e peso (por ser composta por menos material do que a laje maciça), facilita a passagem de fiação elétrica em seus alveolos. Os fechamentos são compostos de painéis metálicos deslizantes, responsáveis por boa parte da flexibilidade do projeto, pois permitem que o morador controle a quantidade de insolação e ventilação desejada. Tal movimento dos painéis também resulta numa fachada flexível, que se altera constantemente de acordo com a manipulação de cada unidade habitacional. As superfícies foram desenvolvidas como planos de painéis independentes, também como estratégia para aumentar a flexibilidade construtiva, pois podem facilmente ser modificadas caso haja necessidade futura, sendo possível alterar portas e vedações de lugar, sem que precise alterar a estrutura do edifício.

Por fim, a estruturação da passarela, onde os próprios guarda-corpos as sustentam suspensas. Esses guarda-corpos são metálicos, compostos por treliças e fucionam como uma viga invertida. Tais treliças não ficam aparentes, são fechadas com placas metálicas.

Corte do terreno Aterro do terreno fig. 25: Componentes construtivos préfabricados = planos independentens.


B

A

IMPLANTAÇÃO

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6

52

5

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CALÇADA

52

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BLOCO A

CALÇADA

51

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BLOCO C

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8 ABERTURA

VIA PEDESTRE

COLETORES SOLARES VOLTADOS PARA NORDESTE PASSARELAS COBERTURA DESTINADA A USO DE LAZER

i = 8,33 %

COBERTURA MAIS ALTA COBERTURA MAIS BAIXA CAMINHOS

52

9 BLOCO B

D

D 53

A

B

0


MEMORIAL JUSTIFICATIVO

FIG. 26

Segundo normas da USP, a boa implantação é feita quando alinhada ao eixo L - O ou a 45° dele, como adotado no projeto. Os caminhos conectam os edifícios entre si e também conectam o conjunto à via de pedestre que foi estendida da Vila Estudantil e calçadas circundantes.

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FIG. 27

VEGETAÇÃO A vegetação do projeto foi inserida de forma planejada, levando em consideração as necessidades de cada área de inserção e as características de cada espécie. As de porte grande foram colocadas com intuito de proporcionar sombreamento; As de floração, além de sombreamento, para compor o paisagismo do projeto; As de porte médio foram previstas para articular as passarelas com o térreo, que por possuir menos espaço para crescimento, não poderia ser de porte grande. Por fim, os arbustos, que foram implantados com função de proporcionar privacidade as unidades do térreo.

FIG. 28

Porte grande: sombreiro - copa grande e espessa, proporcionando amplo sombreamento.

fig. 26: Sombreira

Porte grande: sibipiruna - bom diâmetro de copa. Porporciona sombra e paisagismo através de suas flores amarelas.

fig. Sibipiruna

Porte médio: oiti - copa abundante e tronco alto, proporciona ótima sombra. Arbusto: murta - atua como cerca viva, proporcionando privacidade visual às unidades do térreo.

27:

fig. 28: Oiti FIG. 29

fig. Murta

29:


PLANTA BAIXA - TÉRREO

ESC. 1:125

53

1

E

DOBRE


QUADRO DE ÁREAS: - DORMITÓRIO = 137, 72 m² - BANHEIRO = 54,15 m² - COZINHA = 118,00 m² - CONVÍVIO E ESTUDO = 150 m²

DENSIDADE POPULACIONAL: MÁXIMA = 20 ALUNOS

1

O espaço de estudos e convivência foi elaborado de forma integrada, sendo setorizados somente por um painel que de um lado serve a sala de TV e de outro, serve a lanchonete da sala de estudos, reforçando, assim, a adoção da flexibilidade como forma de garantir a privacidade de cada ambiente ao mesmo tempo que garante a coletividade dos dois. FIG. 30

escritório do google - orange county Integração do espaço de trabalho e descontração Acessibilidade: A legislação do estado de SP 10.844/01 reserva 7% do total de unidades do conjunto para portadores de deficiência. 7% de 28 unidades = no mínimo 2 unidades (para melhor atendimento, as 4 unidades do térreo foram reservadas). Essa medida permitiu vãos livres no térreo (pavimentos superiores com 4 unidades habitacionais, térreo com 2), projetados para manter linguagem com o edifício coletivo, que não é uma caixa maciça pois possui volumes abertos. Tais espaços foram destinados a descanso e estudo ao ar livre.

MEMORIAL JUSTIFICATIVO


PLANTA BAIXA - 1 ° PAVIMENTO 2 ESC. 1:125

55

E

DOBRE


QUADRO DE ÁREAS: - DORMITÓRIO = 230,62 m² - BANHEIRO = 45,20 m² - COZINHA = 118,00 m² - CONVÍVIO = 96,25 m²

DENSIDADE POPULACIONAL: MÁXIMA = 40 ALUNOS Para garantir a flexibilidade das unidades habitacionais, nenhum elemento fixo foi utilizado na organização do espaço, apresentando assim, inúmeras possibilidades de configuração de acordo com as necessidades momentâneas dos estudantes, que podem construí-lo como desejarem. Somente os volumes dos banheiros se apresentam como elementos sólidos, onde até mesmo as cozinhas foram retiradas das unidades e inseridas em local coletivo, em busca de maior flexibilização dos dormitórios. Essa escolha pelas cozinhas coletivas reflete também a intenção de criar pontos de encontros casuais entre os moradores do pavimento, criando assim, diferentes escalas de privacidade e coletividade.

NICHOS CAMAS

DORMITÓRIO

COZINHA COLETIVA

EDIFÍCIO ATIVIDADES COLETIVAS

2 Os nichos de camas foram criados através do uso de painéis manipuláveis de correr (de EPS) e cortinas, que garantem privacidade através do bloqueio visual, demarcando o espaço de cada estudante quando desejado, sem perder a flexibilidade do ambiente, uma vez que não são elementos fixos e podem ser recolhidos a qualquer momento, integrando todo o ambiente.

Ilustração dos painéis de correr que fazem os nichos de camas. Fonte: http:// artezanalnet.com.br/

MEMORIAL JUSTIFICATIVO


PLANTA BAIXA - 2 ° PAVIMENTO

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3

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E

DOBRE


QUADRO DE ÁREAS: - DORMITÓRIO = 230,62 m² - BANHEIRO = 45,20 m² - COZINHA = 118,00 m² - CONVÍVIO = 88,20 m²

DENSIDADE POPULACIONAL: MÁXIMA = 40 ALUNOS

3

Essa flexibilidade que permite a participação diária do usuário na composição de sua própria moradia é atenuada com o uso de painéis de correr nas superfícies de vidro, assim é possível controlar também a quantidade de insolação e ventilação que entra na unidade. A caixa de circulação também ganhou tratamento com painéis para garantir sua ventilação, mas diferente das unidades habitacionais, estes são painéis pixos. PS: a localização dos banheiros foi feita de forma a aproveitar ao máximo o espaço interno das unidades. Estudos de localização espelhada para compartilhamento de shaft de diferentes unidades foram feitos, mas a disposição criou corredores que seriam inutilizados (como mostra planta abaixo) e, por isso, foi descartada.

MEMORIAL JUSTIFICATIVO


PLANTA BAIXA - 3 ° PAVIMENTO

ESC. 1:125

4

4

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E

DOBRE


QUADRO DE ÁREAS: - DORMITÓRIO = 230,62 m² - BANHEIRO = 45,20 m² - COZINHA = 118,00 m² - CONVÍVIO = 88,20 m²

DENSIDADE POPULACIONAL: MÁXIMA = 40 ALUNOS

4

Fechamentos nas passarelas de ligação entre os dois edifícios habitacionais foram adicionados para preservar a forma original desses edifícios (que possuem volumes recuados em relação aos outros por conta de tais passarelas) e também para dar continuidade na sensação de “dentro e fora” que se tem ao entrar e sair do eixo de circulação, em direção às passarelas. As passarelas foram organizadas de forma a permitir um eixo vertical de visualização de um dos jardins do térreo.

imagem autoral - projeto

Já a lavanderia foi organizada a partir das paredes estruturais que a sustentam até o térreo. Sua parte frontal não possui vidro, somente painéis, o que permite entrada de ventilação que acontece de forma cruzada devido abertura zenital.

MEMORIAL JUSTIFICATIVO


TIPOLOGIAS Para apresentar a flexibilidade que as unidades permitem, foram estudadas diferentes possibilidades de configuração do espaço para uma mesma tipologia, variando a disposição do layout, o grau de privacidade e também o número de alunos acomodados.

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2 ESTUDANTES

4 ESTUDANTES

4 ESTUDANTES

3 ESTUDANTES


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TIPOLOGIAS

3 ESTUDANTES

3 ESTUDANTES

4 ESTUDANTES

4 ESTUDANTES


TIPOLOGIAS

63 4 ESTUDANTES

3 ESTUDANTES

3 ESTUDANTES

5 ESTUDANTES


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TIPOLOGIAS

4 ESTUDANTES

6 ESTUDANTES

3 ESTUDANTES

5 ESTUDANTES


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CORTE AA

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CORTE BB

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Os volumes que abrigam as caixas d’água são fechados com intuito de oculta-las. Portanto, o acesso para manutenção é feito através de portas laterais na cobertura. As escadas são de meio lance (h = 1,5m) para dar acesso as diferentes alturas de piso da lavanderia e área de lazer. A rampa que permite acesso aos diferentes níveis dessa área de lazer é enterrada, aprofundando-se para o térreo.

CORTE DD

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MEMORIAL JUSTIFICATIVO

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ELEVAÇÕES

67 FACHADA NOROESTE

FACHADA SUDESTE

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FACHADA NORDESTE


PERSPECTIVAS FACHADA NORDESTE

FACHADA SUDOESTE

69 FACHADA OESTE


PERSPECTIVAS

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FACHADA NOROESTE

FACHADA LESTE

FACHADA NORTE


PERSPECTIVAS FACHADA SUDOESTE

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LAZER


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PERSPECTIVAS


PERSPECTIVAS PASSARELA - 1° PAV.

FECHAMENTO PASSARELA

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PASSARELA - 2° PAV.

FECHAMENTOS PASSARELAS


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho apresentou que a USP recebe, a cada ano letivo, diversos novos estudantes em suas moradias. Essa rotatividade de moradores exige adaptações no espaço habitacional para conciliá-lo com as reais necessidades sentidas pela grande diversidade de pessoas. Para isto, foram estudadas diferentes formas de alcançar tais objetivos e propô-se a arquitetura flexível como melhor solução, utilizando-se de sistema estrutural autônomo; superfícies como planos de painéis indepentendes; facilidade de adaptação dos espaços, seja no cotidiano ou para futuras alterações; materiais e estruturas leves, capazes de colaborar para a flexibilidade do projeto; e interação entre moradia e morador, onde o morador tem total liberdade para configurar o espaço de acordo com suas vontades momentâneas. Propô-se também que a flexibilidade seria um elemento articulador entre o dualismo coletivo e privado, satisfazendo as necessidades de intimidade ao mesmo tempo em que permite interação e convivência mútua. Para isto, utilizou-se da flexibilidade organizacional e de elementos que atribuiram mobilidade ao projeto, possibilitando que o morador opte por aquilo que mais lhe agrada através de simples alterações diárias, melhorando a qualidade de vida dos usuários do espaço. Portanto, a proposta de moradia estudantil conclui-se com seus objetivos alcançados.


FONTES IMAGENS: - Fig. 1: Raquel Regina Martini Paula Barros. Habitação coletiva: a inclusão de conceitos humanizadores no processo do projeto. p. 8. - Fig. 2: Antônio Tarcísio da Luz Reis e Maria Cristina Dias Lay. Privacidade na habitação: atitudes, conexões visuais e funcionais, 2003. p. 27. - Fig. 3: http://www.cimentoitambe.com.br/sociedade-muda-e-com-ela-as-plantas-das-moradias/ - Fig. 4: http://novasformasdemorar.blogspot.com.br/ - Fig. 5: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012. - Fig. 6: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012 - Fig. 7: http://www.arqbacana.com.br/internal/arquitetura/read/11352/gary-chang - Fig. 8: http://www.arqbacana.com.br/internal/arquitetura/read/11352/gary-chang - Fig. 9: http://www.allanwexlerstudio.com/projects/crate-house - Fig. 10: http://www.designdegessobertioga.com.br/portfolio/ - Fig. 11: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 208. - Fig. 12: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 211. - Fig. 13: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 228. - Fig. 14: http://www.thinkingatdesign.com.br/ - Fig. 15: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 230. - Fig. 16: http://www.archdaily.com.br/ - Fig. 17: : http://www.vidroimpresso.com.br/ - Fig. 18: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 229. - Fig. 19: http://faculty.virginia.edu/GrowUrbanHabitats/case_studies/ - Fig. 20: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 382. - Fig. 21: Estratégias de Flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Liziane Jorge, 2012, p. 231. - Fig. 22: http://maisarquitetura.com.br/fachada-dinamica-por-ernst-giselbrecht-partner - Fig. 23: http://mrmannoticias.blogspot.com.br - Fig. 24: http://www.concreteshow.com.br/ - Fig. 25: http://www.metalica.com.br/ - Fig. 26: http://www.aplantadavez.com.br/ - Fig. 27: http://www.aplantadavez.com.br/ - Fig. 28: http://www.aplantadavez.com.br/ - Fig. 29: http://www.aplantadavez.com.br/ - Fig. 30: http://www.fashionismo.com.br/

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BIBLIOGRAFIA BARROS, Raquel Regina Martini Paula. Habitação coletiva: a inclusão de conceitos humanizadores no processo do projeto. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, 2008. COSTA, Gerson Carlos de Oliveira e OLIVEIRA, Pedro. Moradias Estudantis: Uma política pública na consolidação do Direito à Cidade. Universidade Federal da Bahia, 2015. DELABRIDA, Zenith Nara Costa. Variáveis Individuais, Sociais e do Ambiente Físico em Residências Universitárias. Universidade Federal de Sergipe, 2014. ESCÓSSIA, Liliana e KASTRUP, Virgínia. O conceito de coletivo como superação da dicotomia indivíduo-sociedade, 2005. ESTEVES, Ana Margarida Correia. Flexibilidade em arquitetura, um contributo adicional para a sustentabilidade do ambiente construído. Dissertação de mestrado. FCTUC, Coimbra, 2008.

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HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura, 1999. JORGE, Liziane de Oliveira. Estratégias de flexibilidade na arquitetura residencial multifamiliar. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2012. REIS, Antônio Tarcísio da Luz e LAY, Maria Cristina Dias. Privacidade na habitação: atitudes, conexões visuais e funcionais, 2003. SCOARIS, Rafael de Oliveira. O Projeto de Arquitetura para Moradias Universitárias, contributos para verificação da qualidade espacial. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2012.


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