Monografia_ TFG

Page 1

novas formas de habitar na cidade contemporânea

universidade presbiteriana mackenzie faculdade de arquitetura e urbanismo orientador: prof. dr. mario figueroa aluna:natĂĄlia campanelli romeu



Agradecimentos Agradeço, primeiramente, aos meus pais, por todo amor e carinho, pela paciência da minha ausência, e claro, por todo incentivo dado ao longo dos 5 anos que se passaram, sem vocês não teria sido possível. Às minhas irmãs por todo o carinho, por estarem sempre torcendo por mim. E também a toda família pelo apoio e por serem minha inspiração. Ao meu orientador, Mario Figueroa, por suas orientações sempre imprescindíveis, por toda atenção e todos os livros que fizeram toda a diferença. Ao professor Júlio Vieira, por toda a ajuda no projeto. Aos meus amigos Bianca, Fabio, Afonso e Letícia, que fizeram parte deste percurso não só nos trabalhos, mas nas conversas, risadas, nas madrugadas não dormidas, obrigada por todo o companheirismo. À minha prima e amiga Luiza, por todas as trocas de informações, ajudas, conselhos, por estar sempre presente e pela compreensão. Às Marianas por ajudarem mesmo no último momento, muito obrigada. A todas as minhas amigas que estiveram o tempo todo ao meu lado e que acreditaram no meu trabalho, que me colocaram para cima nos momentos de cansaço. Pelas incansáveis vezes que tentaram ajudar de alguma forma, pela compreensão, e por todo o amor, vocês são essenciais em todos momentos. A todos que de alguma forma contribuíram para isso. Elisa,Lígia, Rafaela, Fernanda, Mariana companheiras de tfg, momentos mais que compartidos, vividos intensamente. Aos meus companheiros de trabalho, que também ajudaram muito.


Resumo O cenário da habitação no século XXI é complexo, assim como toda a organização social, política e econômica contemporânea. Em cidades super adensadas, com populções de mais de milhões de pessoas, a relação entre o espaço da moradia com o contexto urbano é imprescindível para a composição não só do edifício habitacional, mas também da composição do módulo do apartamento. Em São Paulo, a maior parte dos edifícios habitacionais construídos hoje não condiz com a realidade contemporânea, pois seguem a “lei” do mercado imobilário. Assim, o cenário da cidade é de edifícios altos, com programas parecidos fechados ao restante da cidade. Além disso, há os condomínios fechados de casas, que formam verdadeiras ilhas isoladas. Modelo que favorece a degradação do espaço público, segregando a cidade. Por isso o estudo visa analisar edifícios habitacionais desde o início do século XX até os dias atuais, a partir do momento histórico, da sua arquitetura e a sua relação com a sociedade. Novas formas de morar consistem em habitar o presente, com conjuntos habitacionais que atendam a diversidade social, e com tipologias capacitadas a transformarem-se nas diferentes fases da vida, e ainda, que atendam às necessidades dos invíduos que vão viver naquele espaço. Edifícios residenciais que se relacionem com a cidade e com a vida coletiva do espaço urbano. O objetivo do trabalho é revelar a falta de qualidade arquitetônica habitacional atual na cidade de São Paulo e apontar a desconectividade com a cidade contemporânea.


Abstract The 20th century has a complex dwelling scenario, as well as a contemporary social, economic and political structure. structure, economic and political. In high-densely highly dense cities, with populations of over millions of people, the relationship between the house space with the urban environment is vital, not only to the composition of the residential building, but also to the composition of the flat module. In São Paulo, most of the residential buildings constructed nowadays follows the housing market and not the contemporary reality. Thus, the city’s landscape is overflowing of with high-buildings, with similar programs and not open to the city itself. In addition, there are condominiums which create isolated islands. All these models promote the degradation of public space and segregate the city. Therefore, the study aims to analyze residential buildings from the early 20th century to the present day, through its historical moment, architecture and relationship with society. The new ways of living consists consist in inhabiting the present, with housing developments that attends the meets social diversity, with empowered typologies capable of transformations that assimilate the individual needs, but also criate a good relationship with the city and the collective life of urban space. The study’s objective is to reveal the shortage of housing architectural quality in São Paulo and to point out the disconnection with the contemporary cit



Sumário 1. introdução 2. edifício Esther

8 14

2.1 contexto 2.2 arquitetura

3. edifício Linked Hybrid

28

3.1 contexto 3.2 arquitetura

4. edifício Silodam

44

4.1 contexto 4.2 arquitetura

5. Unitè d’Habitation de Marselha

60

5.1 contexto 5.2 modulor 5. arquitetura

6. COPAN

74

6.1 contexto 6.2 arquitetura

7. edifíco Simpatia

88

7.1 contexto 7.2 arquitetura

8. edifício Multifuncional Luz

98

8.1 memorial descritivo | conceito 8.2 projeto

9. conclusão

118

10. bibliografia

120


1. introdução

8

1. Michael Wolf_ architecture of density_ a70


2. Michael Wolf_ architecture of density_ a32

O cenário da habitação no século XXI é complexo, assim como toda a organização social, política e econômica contemporânea. Em cidades super adensadas, com populações de mais de milhões de pessoas, como são seus abrigos? Como são os espaços de suas casas? Qual a relação estabelecida entre o espaço da moradia com o contexto urbano? “Material básico de la ciudad, el tema de la vivienda se enfrenta a un esclerótico anquilosamiento de sus fórmulas precisamente por el obliga- 9 do tributo que éstas todavía rinden a los seguros y ensayados “modos” de aquelllos modelos de edilicios y urbanísticos preconizados por la disciplina oficial en los últimos veinte años : modelos confiados en una ciudad “impuesta” de modo anómalo sobre el territorio. Pequeñnas quimeras de orden, armonía e homogeneidad, perplejas de repente ante la acelerada e imprevisible situació de convivencia que se produce hoy con nuevas areas salvajes y heterogéneas de mestizaje, contradicción y libertad, propias no


sólo del actual tejido cultural y social, sino del propio tejido urbano: un tejido que ya no sería unitario y completo, sino fruto de constantes dinámicas de transformación, mezcla, fractura y mutacíon. “(GAUSA, Manuel, pág. 11)

A relação entre a moradia e a sociedade, o momento em que se concebe a sua construção é imprescindível para a composição não só do edifício habitacional, mas também da composição do módulo do apartamento. Com isso, o estudo visa analisar edifícios habitacionais desde o início do século XX até os dias atuais, a partir do momento histórico, da sua arquitetura ( como as tipologias estão distribuídas, a existência de espaços comunitários, a relação com a cidade, a presença de outros usos e o apartamento) e a sua relação com a sociedade. “Em cada momento histórico de la modernidad que ha comportado un replanteamiento de los modos de vida debido a los cambios políticos, sociales, económicos y productivos, se ha tenido claro que era necesaria una difusión de nuevos valores, de nuevos medios para mejorar la vida de las personas. Nos hallamos ahora en un momento clave y es necesario estabelecer una red de comunicación y participaión de abajo arriba, para entender los cambios que se ha producido en la sociedad y, a su vez, es necesario un esfuerzo para buscar soluciones a estas demandas y para explicar, de arriba abajo, cómo las viviendas pueden responder mejor a los retos sociales, urbanos, tecnológicos y de sostenibilidad que tenemso ante nosotros. Hoy hemos de aprender vivir en las nuevas subjetividades y sociedades en transformación de principios del siglo XXI: aprender a valorar, proyectar, participar, compartir y habitar el presente.”(MUXXI;, Zaida e MONTANER, Josep María, pág 35)

Novas formas de morar consistem em habitar o presente, com conjuntos habitacionais que atendam à diversidade social, e com tipologias capacitadas a transformarem-se nas diferentes fases da vida, e ainda, que atendam às necessidades dos invíduos que vão viver naquele espaço.

10

Entretanto, a maior parte dos edifícios habitacionais construídos hoje, na cidade de São Paulo,não condizem com a realidade contemporânea, pois seguem a “ lei” do mercado imobiliário. Assim, o cenário da cidade é de edifícios altos, com programas parecidos(com 1 ou 2 tipologias de apartamentos, grandes áreas de playground e lazer) fechados ao restante da cidade. Além disso, há os condomínios fechados de casas, que formam verdadeiras ilhas isoladas, fechadas por muros e que


se conectam com a cidade através de uma “gaiola” de portas gradeadas vigiadas por diversas câmeras de segurança. Modelo que favorece a degradação do espaço público, segregando a cidade. Além disso, a verticalização excessiva dos edifícios contribui para os problemas do trânsito, pois as ruas não foram projetadas para receber o fluxo gerado pela própria construção. “Las viviendas serán mejores se adapten a su localización en la ciudad y a las características de la morfología urbana, y destacarán aquella que introduzcan aportaciones al entorno por su estructura espacial, calidad arquitetónica y cesión de espacios comunes. La valorzación de la calidad arquitetónica de la vivienda contemporánea se hace desde la óptica de sua relación con el funcionamiento de la ciudad y el uso de la colectividad.” (MUXXI;, Zaida e MONTANER, Josep María, pág 37)

Portanto, é necessário pensar em novas alternativas para a moradia. Edifícios residenciais que se relacionem com a cidade e com a vida coletiva do espaço urbano. O objetivo do trabalho é revelar a falta de qualidade arquitetônica habitacional atual na cidade de São Paulo e apontar a desconectividade com a cidade contemporânea. Além disso, através dos estudos de caso escolhidos, discutir alternativas, que foram importantes em outros períodos da história e como a relação com o seu contexto foi imprescindível para a arquitetura que possuem, e, por fim a evolução da configuração dos edifícios e apartamentos.

11

3 .Gabo Morales_ condomínio

4. Gabo Morales_ condomínio

5. Michael Wolf_a43


edifício ESTHER são paulo, BRASIL|1936 Adhemar Marinho | Álvaro Vital Adhemar

12


13


2. edifício Esther 2.1contexto O edifício Esther localizado na cidade de São Paulo, na praça da República, foi construído em 1936 e projetado pelos arquitetos Adhemar Marinho e Álvaro Vital Brazil. É um importante ícone moderno da cidade, na medida em que a sua arquitetura apresenta os principais conceitos modernos racionalistas corbusierianos. Sua concepção ocorrera em um contexto de uma cidade que estava em constante expansão, e que já apresentava uma população de quase 1 milhão de habitantes. Diante disso, era necessário pensar em alternativas que assegurassem a moradia para essa população, sendo que o crescimento da mesma é resultante de toda a transformação advinda da Revolução Industrial. A população rural passou a ocupar as cidades, que era onde as indústrias estavam instaladas, e ainda havia a classe operária de imigrantes que vieram para o Brasil no final do século XIX e início do século XX. Assim, a verticalização dos edifícios foi a alternativa usada para atender ao grande contingente de pessoas, os quais apresentavam a arquitetura racional moderna como resposta à arquitetura eclética presente na cidade. As formas puras e sem or

14

6. mapa sara brasil: praça da república 1930


7. implantação e térreo edifício Esther

15

8. imagem da cidade de São Paulo e a praça da República


namentações transformaram a imagem urbana, que passou a utilizar o concreto, material industrial no lugar da alvenaria e da taipa, de caráter natural. Assim, a arquitetura da cidade deixou de seguir o modelo europeu se baseando no modelo norte-americano dos arranha-céus. O edifício e a sobreposição dos apartamentos era uma solução rentável frente às casas horizontais, que compunham a cidade. “ O arranha céu de Manhattan nasce por etapas entre 1900 e 1910. Ele representa o encontro fortuito de três diferentes novidades urbanísticas que, após vidas relativamente independentes, convergem para formar um único mecanismo: 9. imagem do edifício Esther na cidade de São Paulo

16

1. a reprodução do mundo 2. a anexação da torre. 3 a quadra isolado


(KOOLHAAS, Rem. Nova York Delirante. pág. 106)

O processo de verticalização ocorreu principalmente entre as décadas de 1930 e 1940 (período de construção do Esther), sendo que as grandes empresas foram responsáveis por esses prédios, pois tinham a intenção de construir uma sede com escritórios para a empresa e incluíam habitação no programa, com o intuito de cobrar o aluguel como forma de investimento. É importante ressaltar que dentre as tecnologias que permitiram a metropolização de São Paulo, está o elevador, a máquina de construir arranhas-céu, como afirma Ângelo Bucci. “ A ideia do elevador talvez tenha sido estimulada pelo sonho do arranhacéu, mas é essa máquina que tornou possível a ideia objetiva da construção de um edifício em altura.” (BUCCI, Ângulo. São Paulo, razões da arquitetura.pág.32)

17

10. corte do edifício Esther


O centro foi a região escolhida para a implantação desses edifícios, que possuíam de 6 a 10 pavimentos. É importante ressaltar que isso foi possível devido ao processo tecnológico e o uso de novos materiais na arquitetura e que isso revelou o desenvolvimento da metrópole de São Paulo e trouxe inúmeras consequências, como a mudança da ocupação do solo, uma nova imagem da arquitetura: a do arranha-céu e a sobreposição de casas. O código de obras Arthur Saboya que regulamentariza a verticalização dos condomínios, sendo uma das primeiras leis que estabelece as condições gerais do edifício, desde projeto e suas especificações, o licenciamento e até a fiscalização da obra. Os apartamentos projetados nos edifícios apresentavam uma configuração diferente da casa térrea, pois espaços como salas de jantar, toaletes, copas, gabinetes e quartos de empregada, ou não existiam, ou eram comuns a vários apartamentos, ou seja, coletivo. Modelo que se assemelha aos antigos cortiços que eram parte da cidade. Assim, esses apartamentos eram voltados para a classe operária, que não tinha como pagar empregados e não poderiam ter apartamentos maiores.

2.2 arquitetura

18

A Usina Esther realizou um concurso para escolher um projeto que abrigasse a sede do escritório da empresa. O projeto dos arquitetos cariocas Adhemar Marinho e Álvaro Vittal Brazil foi escolhido pela sua genialidade como solução arquitetônica. É considerado o primeiro edifício moderno da cidade, mesmo diante da existência de outros edifícios na época, que também possuíam um programa de uso misto, mas nenhum deles apresentava os conceitos modernos ditados por Le Corbusier. Sua forma pura, os elementos usados em sua fachada, sua estrutura revelam o seu caráter moderno. A influência de Le Corbusier é devido à sua visita ao Brasil em 1929, junto a isso, também houve a Semana de Arte Moderna de 1922, que contribuiu com a disseminação de novas ideias e


conceitos. Entretanto, mesmo diante de influências exteriores e de novas ideias, a verticalização das casas, ainda não era bem vista pela sociedade brasileira, nem todos acreditavam nessa solução moderna. Ainda, após a experiência dos cortiços, que passaram por um processo de degradação devido à prostituição e falta de higiene, a vida coletiva e a convivência não foram aceitas em um primeiro momento pela sociedade brasileira. "O problema da casa é um problema de época. O equilíbrio das sociedades hoje depende dele. A arquitetura tem como primeiro dever, em uma época de renovação, operar a revisão dos valores, a revisão dos elementos constitrutivos da casa" (CORBUSIER, Por uma arquitetura.)

As características que tornam o edifício Esther moderno compreendem a estrutura, que é independente das alvenarias, ou seja, os pilares estão recuados e há uma racionalização de seus vãos, as plantas são livres, e permitem diferentes layouts para a adaptação de diferentes atividades. A cobertura possui um terraço-jardim, revelando, assim, mais uma vez, a presença dos pontos corbusierianos no edifício. Além disso, o uso diversificado do prédio também era inovador na época, 3 pavimentos de escritórios e 7 de apartamentos, sendo o térreo ocupado por comércio. O térreo livre sobre pilotis, onde se encontrava a parte comercial do prédio e a sua fachada que nos pavimentos de escritórios possui janelas corridas, enquanto que nos pavimentos onde estão os apartamentos há uma varanda e caixilhos e vedações de alvenaria estão por trás das mesmas. As janelas em fita facilitam a iluminação uniforme por todo o espaço. Entretanto, como analisa Fernando Atique, na prática alguns pontos corbusierianos não foram respeitados, como o térreo sob pilotis, pois os pilares foram usados para o arrematamento das alvenarias que dividiam os espaços das lojas. Assim, o térreo já não era livre. A construção do Esther também tinha como função gerar renda assim como outros edifícios da época, funcionando como um empreendimento que geraria lucro. Com isso, algumas soluções foram usadas para garantir esse fim, como os apartamentos, que não possuíam cozinha, tor-

19


nando os apartamentos do tipo flat. Havia no seu subsolo uma cozinha para atender as diferentes tipologias de apartamentos que constituem o edifício. O aluguel era uma forma de obter a rentabilidade do edifício, que garantia a auto sustentabilidade, pois o dinheiro proveniente dos aluguéis auxiliava na manutenção do prédio. A implantação do edifício Esther deu-se em um lote, onde foi criada uma nova rua: a Gabus Mendes, que possibilitou que os arquitetos explorassem a forma retangular como solução. Como regia o regulamento da prefeitura na época, não era permitido construir com recuos laterais, o que levava muitas vezes a soluções de pátios internos. Porém, com a abertura da rua foi possível criar e deixar livre as quatro fachadas do edifício, garantindo iluminação e ventilação em todas as faces. Além disso, o afastamento do Esther em relação ao “fundo do terreno” e com a criação da Rua Gabus Mendes possibilitou a construção do edifício Arthur Nogueira. Consequentemente, toda essa configuração da implantação gerou um espaço para cidade através de galerias-corredores, onde se instalaram as lojas nos térreos dos edifícios. 11. esquema aparatamentos do edifício Esther

20

“A inserção urbana deste edifício é contundente. A decisão de dividir o lote irregular com uma rua, configurando um ediifício principal, absolutamente isento, e um segundo edifício, neutro e coadijuvante, integrado à quadra, maximizou as possibilidades urbanas do conjunto. O espaço público não é residual, ao contrário, determina a forma e favorece a organização, programática. O artiíficio multiplicou as superfícies de fachada, favorecendo o uso comercial assim como o agenciamento das unidades de habitação. Paralela à rua criada, uma galeria ordena o acesso à circulação vertical do edifício oferecendo também a possibilidade de transposição longitudinal. O edifício Esther transcende o seu destino de objeto arquitetônico para tornar-se um edifício de responsabilidade urbana.”(FIGUEROA, Mario.pág 73)

Os apartamentos no 4º pavimento possuem de 1 a 2 dormitórios, já nos pavimentos 5, 6, 7 e 8 eram de 2 ou 3 dormitórios, e no 9º e 10º andar estão os apartamentos duplex. 64 apartamentos compõe o Esther, sendo que 28 deles não possuem cozinha em sua planta. Portanto, o edifício apresenta uma diversidade tipológica importante, pois atendia já a diferentes grupos familiares, e também não era voltado apenas à classe média, pois


os apartamentos menores e que não possuíam cozinha, área de serviço e quarto de empregada eram para famílias que não podiam pagar um empregado que fizesse o serviço de limpeza. Ainda, Vittal Brazil descreve os apartamentos duplex como apartamentos de luxo, constituídos por uma sala com um pé direito de 6 metros de altura, vestíbulo e escada própria, além da sala de jantar, cozinha, despensa e quarto de empregado. Os escritórios podiam ser de variados tamanhos, o módulo que o constitui era de 3,0 metros por 7,5 metros de profundidade, sendo que o tamanho máximo que poderia alcançar é de 40 metros por 7,5. O corredor central que dava acesso aos escritórios funciona de maneira independente, ou seja, o número de módulos usados por uma empresa ou consultório não influenciava nos acessos. Os escritórios foram ocupados principalmente por profissionais liberais como médico e dentistas, já que o anúncio do Esther apintava que esses espaços eram voltados para esses profissionais. Os acessos verticais são compostos por 5 elevadores, dos quais apenas 3 levavam aos escritórios, o que torna os acessos independentes e que deram ao Esther o nome de 4 edifícios em 1. “Sendo o Edifício “misto”, apartamentos e escritórios, resolvemos, por economia no transporte, confundir a circulação de serviço dos apartamentos, com a de escritórios, isolando sempre a circulação nobre de apartamentos (grifo original). Assim, dois elevadores grandes servem exclusivamente os apartamentos que possuírem cozinha, em suas entradas de cozinhas. Os dois menores e laterais e o central, servem exclusivamente os apartamentos em suas entradas nobres. (Brazil & Marinho, 1983 b, pág.230)

A análise feita do Edifício Esther revela sua grande relação com o contexto em que foi construído. Desde a sua localização, a arquitetura apresentada e seus próprios espaços são resultantes da organização social, política e econômica da época. A influência de Le Corbusier, a verticalização, a busca da rentabilidade do edifício são características determinantes e que possuem uma relação direta com a época. É claro, que a arquitetura moderna ainda influenciará na história de outros im-

21


portantes edifícios no Brasil, mas o Esther foi o ponto de partida na cidade de São Paulo e até hoje está em funcionamento.

22

12. imagem do edifício Esther_2013


23

13. plantas do edifĂ­cio Esther


24

14 . elevação do edifício Esther


15. planta do décimo andar edifício Esther

25

16. planta do subsolo do edifício Esther


edifício LINKED HYBRID pequim, CHINA|2009 Steven holl

26


27


3. edifício Linked Hybrid 3.1 contexto O conjunto de edifícios que constituem o Linked Hybrid, projetado pelo arquiteto Steven Holl de 2003 a 2009 está localizado na cidade de Beijing (Pequim) na China. Com área de 220.000 m² e um programa misto que envolve 644 apartamentos, áreas verdes públicas, zonas comerciais, hotel, cinemas, creche, escola, estacionamento subterrâneo, o linked hybrid representa a arquitetura contemporânea e a complexidade das megalopóles do século XXI.

nota 1. dados do site: www.china. org.cn

17.esquema concepção altura

28

Beijing, 20,69milhões (2012)1 de habitantes, é uma cidade que necessita de uma alta densidade não só de habitação, mas de usos também. O alto custo do solo e a demasiada concentração de pessoas tornam necessário o máximo de aproveitamento do lote. Entretanto, a máxima densidade não foi explorada através da verticalização excessiva, houve a preocupação de amenizar a altura das torres a partir da variação de volumes e com as ligações das torres, dando forma a uma paisagem completamente distinta do resto da cidade. O uso misto não se detém apenas a escritórios, serviços e habitação, o programa vai além dessas atividades, incluindo espaços institucionais, como de educação e os espaços de caráter público que não estão apenas na cota urbana, eles aconte-


18. imagem Linked Hybrid

cem em altura, através das passarelas que ligam as torres e também das áreas verdes sobre as lajes dos edifícios. A multiplicidade dos usos tornam o Linked uma verdadeira cidade, “open city within a city”. O Linked Hybrid cria “ruas elevadas”, que além de fazerem parte do edifício-bairro, também tm caráter público, abrindo-se para a cidade, favorecendo a vida comunitária e contribuindo o uso do solo. "El híbrido era igualmente el resultado del pensamiento funcional, pero a una escala en la que los flujos de usuarios tenían tanta importancia como los flujos económicos mientras el condensador concentra toda su capacidad de transformación sobre los integrabtes de una comunidad cerradalos habitantes de la vivienda comunal, los miembros de club, los trabajadores de una fabrica- el híbrido se abre a la ciudad y favorece el contato entre desconocidos e intensifica el uso del suelo, densificando a la vez las relaciones, y deja margen para la indeterminación, frente al control que impone el condensador."(this is hybrid, p. 52)

29


3.2 arquitetura

2. análise de Giulio Carlos Argan sobre o quadro “A dança”: “É este precisamente o quadro da síntese, da máxima simplicidade. É a síntese das artes. A música e a poesia confluem na pintura, e a pintura é concebida como uma arquitetura de elementos em tensão no espaço aberto; é síntese entre a representação e a decoração, o símbolo e a realidade corpórea, entre o volume, a linha e a cor.”( ARGAN, pág.259) Também pode ser associado ao projeto do Linked Hybrid.

O conjunto é formado por rica composição, são 8 torres de alturas variadas, dispostas em círculo em torno de um grande e público pátio central. O embasamento ora negado pelo vão entre blocos, ora conectando torres, se dá por volumes elevados do chão todos com lajes-jardim também públicas, ao centro estão dois volumes prismáticos funcionando como cinema. A disposição das torres, ligadas por pontes ou passarelas elevadas remetem a composição do quadro “A Dança” de Matisse (1910).2 Talvez o grande elemento tipológico do conjunto seja um elemento dependente como construção: As passarelas. Elas vêm neste projeto cumprir o grande triunfo projetual do arquiteto, conectar em altura todas as torres por um grande pavimento contínuo de uso público, ocupadas em cada conexão de torres por uma determinada atividade, como uma piscina, ou por um café, ou por espaços para observar a cidade, uma galeria de arte e academia. As passarelas podem ser consideradas verdadeiras pontes, como descreve Ângelo Bucci “a ponte é como uma rua inteiramente construída. É a rua onde não há chão, onde ela não era possível ser.” A área ocupada pelo Linked Hybrid é completamente aber-

30

19. imagem implantação e coberturasLinked Hybrid


ta ao restante da cidade. A implantação acontece de modo que muitos percursos podem ser feitos pelos pedestres. A malha resultante dos eixos não apresenta nenhuma ortogonalidade, apesar do paralelismo entre algumas linhas. A estrutura retificada se desintegra, quando se inserem objetos arquitetônicos deslocados em relação ao lote. A ortogonalidade também se nega quando se estabelece passeios sinuosos e descontínuos. De imediato percebe-se uma provocativa e intencional construção do vazio. A inserção das massas construídas se dá ao redor da quadra, onde se concentra a verticalidade do conjunto. Ao centro mesmo as massas edificadas se mantêm recuadas ao solo. A atribuição de um uso em maioria quase que absoluta desse vazio pelos espelhos d’água, apenas reforça a intenção do arquiteto de fazer desse vazio um espaço de função e não de negação. O conjunto é uma grande composição assimétrica, seja pela geometria dos volumes, seja pela disposição deles no lote. O elemento que garante talvez algum contexto entre eles é a gama primária de cores, e a repetição de modo quase monótono dos caixilhos como solução de fechamento aos edifícios.

31

20. imagem implantação e térreo Linked Hybrid


A centralidade do edifício é a falta de centralidade. A negação do elemento central é constituída a partir do momento em se transforma objetos independentes em um grande conjunto contínuo. Que por sua vez também não é apenas um vazio, é tomado de usos de programas de espaços de ocupação e de contemplação. Outro fator que nega a centralidade é a distribuição e a miscigenação dos usos, que se extendem pela cota urbana e também em outros níveis.

21. esquema de porosidade de acessos do Linked Hybrid

32

O edifício é construído por estrutura mista onde temos lajes em concreto junto a pilares e vigas metálicas. Possui reforços contra-ventamento embutidos e suas passarelas são econômicas estruturalmente, uma vez que a caixa é na verdade uma grande treliça plana rígida.


A primeira percepção que se pode ter do local é a de receptividade, por sua implantação ser completamente aberta ao público, e também por não se impor como edifício, já que predomina a horizontalidade pelo espraiamento dos blocos no lote. Uma segunda possível percepção é de uma nova familiaridade, uma vez que Steven Holl mesmo afirma que o edifício foi concebido não como uma imposição, mas como uma sugestão de um novo modo de se habitar, do antigo modelo de cluster já consolidado em Beijing. A multiplicidade dos usos presentes nos espaços do Linked Hybrid favorece a vida comunitária não só de seus moradores, mas também de todos os usuários que usufruem das diversas atividades de seu programa. Como defende Rodrigo Antoncic, os lugares de ócio, salas de estudo, ginásios e outros programas

33

22. esquema de circulação vertical e espaços públicos do Linked Hybrid


23. piscina na passarela

34

26 . esquemas das passarelas e seus usos

24. imagem interna das passarelas

25. imagem interna das passarelas


27. imagens da parte externa das passarelas_ Shu He

35


28. plantas pavimento tipo

36

29. elevação


funcionam como um bem comunitário, “un colectivo para reconocerse”. “La inserción urbana alude primariamente a la posibilidad de que la residencia comparta espacios de centralidad con otras atividades de la ciudad negociando ciertos atributos convercionalmente asociados al ambiente doméstico(intimidad, privacidad, quietud) de cara la multiplicidad de interferencias proprias del ambiente urbano, en un proceso que para ciertos autores es parte esencial de la experiencia urbana, la cual asume un cierto grado de fricción o conflito como uno de sus aspectos constitutivos”(ANTONCIC, Rodrigo Perez, pág. 113)

A incorporação urbana da habitação presente no projeto de Steven Holl é correspondente à realidade contemporânea em que vivemos. A densidade elevada das megalópoles, como as da China, exigem uma resposta como o Linked Hybrid, onde moradores e usuários usufruem de diversas atividades em um mesmo local, que leva à experiência coletiva e consequentemente agrega valor ao espaço urbano. “Can we enforce densities that, in the end, would lead to a more productive city?And can we do this throughout the world?Can local densification allow “peak-capacity” for (global) flexibility as for even further growth? As a positive side effect, this density lead to much more programmatic variety, more synergy, effiency, urbanity, and posibilities for architecture.”(MVRDV, KM3, pág,271)

Ainda, a relação da inserção da habitação com a cidade enriquece o projeto, que muitas vezes pode apresentar uma boa composição tipológica, mas não se conecta com a cidade. Como defende Montaner é imprescindível a relação da moradia com o seu contexto urbano. Essa relação pode ser estabelecida não só pela sua implantação e pela presença de outros usos, mas também pela sua ligação do interior-exterior. As passarelas são revestidas com peles de vidro que funcionam como verdadeiras molduras do espaço urbano de Beijing. 37

As cores usadas nas laterais dos caixilhos das fachadas e nas pontes são baseadas nas cores dos templos budistas presentes na cidade de Beijing, as cores primárias utilizadas são vistas conforme o deslocamento através dos espaços dos edifícios. O funcionamento das cores foi baseado no livro I-Ching(ou livro


das mutações), um dos livros mais antigos chineses. O restante da fachada é cortada por estruturas que contraventam as torres contra terremotos e, ao mesmo tempo, garantem a planta livre para os apartamentos. O lago central funciona como um reservatório de água cinza que pode ser reutilizada. No inverno, ele também é usado como pista de patinação. Além disso, ele reflete todo o complexo, tornando o hotel e o cinema em volumes flutuantes, durante a noite, a mistura das cores refletidas na água formam um fenômeno que deve ser vivenciado. O edifício híbrido possui um sistema geo-termal em que poços de 100 metros de profundidade levam calor às torres durante o inverno, e no verão o dissipam nas camadas mais profundas da terra.

38

30. corte


31. planta apartamento

As tipologias de apartamentos são com 2 dormitórios, sendo que há uma sala de uso polivalente, que pode ser transformado em um terceiro dormitório. A disposição dos ambientes é diferente em cada tipologia, sendo que na planta acima a cozinha está no centro do apartamento, enquanto na segunda opção, a cozinha divide a sala de estar e de jantar, e ocupa a fachada. As paredes são verdadeiras divisórias, ou seja, permi32. planta apartamento

39


33. imagem ligação torres

40

34. imagem cota zero

34. imagem superior hotel e cinemas


tem a flexibilidade dos layouts dos apartamentos. Além disso, são criadas visões diagonais dos espaços, que foram projetados de forma aberta para a convivência e interação dos seus moradores. A flexibilidade dos apartamentos permite que diferentes pessoas possam abrigar o Linked Hybrid, e os ajustes sejam feitos de acordo com suas necessidades. “Pensar en espacios flexibles implica, entre otras estrategias de diseño, definir una adecuada articulación de los diversos sistemas que confluyen en la vivienda( sistemas estructurales, elementos constructivos, cerramientos e instalaciones). Deben ser pensados para permitir la mayor evolución y adecuación a los requerimientos cambiantes de los usuarios.”(MONTANER, Josep María. MUXXÍ, Zaida, pág.53)

Portanto, o projeto constitui um complexo habitacional que corresponde às novas formas de habitar, por ser parte integrante da cidade, pela presença de usos mistos e a criação de espaços públicos, ao mesmo tempo que suas tipologias flexíveis se adaptam às mudanças assim como a vida contemporânea em que vivemos.

41

35. corte


edifĂ­cio Silodam amsterdam, HOLANDA|2002 42

MVRDV


43


4.Silodam 4.1 contexto Edifício habitacional construído na cidade de Amsterdam entre 1995-2002 pelo escritório holandês MVRDV. Segundo Josep María Montaner, o projeto é uma interpretação pós-moderna da Unité d’Habitation de Le Corbusier. Projeto da Operação Urbana que buscava densificar a área ocidental do porto, próxima do rio IJ, na ponta do cais e próxima de 2 silos, que foram convertidos em edifícios habitacionais. Com o declínio das atividade porturárias, diante de um significativo crescimento populacional e da substituição do silo de pedras para o silo de concreto, o governo estimulou a construção de habitações nessa área, que encontrava-se deteriorada, a fim de elevar também a qualidade urbana da área e de sua vizinhança.

36. construções na cidade de Amsterdam

44

A sua proximidade com a água, torna o Silodam um edifício importante no contexto de Amsterdam já que a cidade é cortada por diversos canais, que são usados como vias de deslocamento e os barcos atracados nos mesmos são usados como moradia. Além disso, a sua localização na ponta do cais e sua forma retangular e com contêineres em sua fachada, remetem a um barco, destacando-se do skyline do


37. edifício Silodam visto do rio IJ

restante da cidade. Os outros dois edifícios ao lado que também faziam parte do porto, que funcionavam como armazéns, possuem fachadas de tijolos, enfatizando, ainda mais a fachada do edifício Silodam. Além disso, ambos os edifícios também possuem habitações, como previa a revitalização da área. “Diferentemente dos canais mais antigos, os do século XVII são traçados com uma série de troncos retilíneos, para tornar mais regulares os lotes edificáveis, as casa tem, quase sempre uma largura uniforme, mas as fachadas, são desiguais, e formam um extraordinário passeio arquitetônico, bastante diferente dos arranjos monumentais do classicismo francês, embora um pouco grandioso.”( BENEVOLO, Leonardo. História da Cidde. pág. 538)

O edifício apresenta diversas tipologias, as quais podem ser observadas em sua fachada como peças que se encaixam compondo um único volume. A interpretação pós-moderna

45


da Unitè d’Habitation de Le Corbusier é por projetar um edifício-massa, com menor altura, diversas tipologias distribuídas verticalmente, entretanto, a sobreposição é de plantas diferentes umas das outras, sem uma repetição. Ainda, as formas que constituem as tipologias não representam a função do edifício, ou seja, a função é independente da forma, assim como a sua estrutura. Portanto, a diversidade em cada planta e de tipologias é como a diversidade de sua fachada. Outra interpretação de sua forma seria de pilhas de contêineres uns sobre os outros.

38. esquema da distribuição de tipologias e outros usos do Silodam

46

“El equipo MVRDV se caracteriza por la más atrevida investigación formal, una búsqueda basada en la fragmentación y disyunción llevadas al extremo y que explora sin trabas todo el tipo de mecanismos. El amontamiento y la superposición de fragmentos en el espacio es uno de los procesos clave que MVRDV propone en sus experimentos, junto a otros como inscribir programas complejos en iconologías simples: disponer volúmenes primásticos sobre la trama del terreno, elevar formas en el aire, desplegar planos horizontales e inclinados o semienterrar edificios en topografías artificiales. Todo ello mediante diversas combinaciones verticales, en plataformas, en plataformas, torres, megestructuras o volúmenes delimitados dentro de los cuales se sitúan una multitud de cuerpos diversos, o libres o encapsulados, llenos o vacíos. Tal como hicieron dadaístas y surrealistas, esta combinación, de fragmetos se traslada del plano al espacio, de la dos a las tres dimensiones; aunque a veces sus propuestas sean más gráficas e impactantes que realmente complejas”( MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetónicos Contemporáneos. pág. 164)


A complexidade da organização de sua fachada também é encontrada na configuração do edifício, que possui 4 conjuntos de elevadores que acessam diferentes blocos do edifício. Os corredores de acesso variam a cada andar, na medida em que as tipologias também diferem uma das outras, porém em todos os apartamentos é trabalhado o mesmo módulo estrutural de 5,4 metros. As diferentes tipologias encontradas nos Silodam são resultantes de estudos feitos pelo escritório MVRDV, que propôs junto às casas, escritórios e comércio, que lhe dá o caráter de complexidade, diversidade e fragmentação. A mescla de usos, a superposicão, a relação do morar e o trabalho e peças urbanas com alta densidade são respostas à cidade contemporânea. A multifuncionalidade proposta pelo escritório holandês é " in times of uncertain economies building production becomes mores and more phasable. That results in small buildings which have to be `multfuncional´ and therefore general in concept. At such times the realization of a condominium with a critical size and specific social ambitions is a sensible task of that can almost only by gathering together different clients putting them under conditions so pressurized as to promote interdependencies"(MVRDV, Farmax, pág, 534) 39. e 40. esquemas conceituais da distribuição de tipologias e outros usos do Silodam e proposta de misturar as diferentes tipologias

47


para se conviver, é uma fragmentação que não segrega como condomínios que não se comunicam com o espaço público, e acabam funcionando como ilhas isoladas, uma comunidade com portas. “En definitiva, las piezas arquitetónicas que llos grandes operadores multifuncionales imponen sobre las ciudades, exigiendo grandes solares limpios de memoria social y patrimonio, promoviendo una compartimentación de lo urbano que no es más que la perversión de la zonificación de la ciudad racionalista- residencia, trabajo y ocio conectadas por vías rápidas.”(MONTANER, Josep María. Sistemas Arquitetónicos Contemporáneos. pág.169)

4.2 arquitetura Com 10 andares de altura e 20 metros de comprimento, o Silodam possui 157 apartamentos, sendo que possui tipologias duplex, triplex, apartamentos com jardim, lofts, estúdios com pátio, maisonettes. Assim, busca criar pequenas vizinhanças colocando esses diferentes tipos próximos, em um mesmo andar, como reação ao crescimento da individualização. Como o projeto era coordenado pelo governo da cidade, por uma incorporadora de escritórios, uma de habitação e uma equipe de desenvolvimento de habitação, os interesses eram diferentes em torno de um mesmo projeto, que foi desenvolvido a partir de um estudo da curva de gauss, executada pelo MVRDV. O resultado desse estudo foi a mistura de variadas tipologias em um mesmo andar, com o intuito de criar vizinhança. É relatado pelo escritório que havia indisposição por parte da coordenação do projeto em aceitar esse conceito. Entretanto, o projeto foi executado como o escritório previa, com a justificativa de impedir um possível apartheid. 48

Muitos dos espaços públicos originais do programa ficaram de fora por motivos financeiros e o espaço comercial foi reduzido pela metade. Espaços públicos que foram incluídos no edifício acabado incluem uma marina para pequenas embarcações a céu aberto, as baías permitem vistas do IJ , através da construção do cais e uma grande escada de madeira com conexão a


um deck de entrada com colunas e os passos ainda mais para um deck de madeira elevado que se estende para dentro do rio com vista para o IJ , no lado leste do edifício. Os espaços comerciais do programa estão localizados sob esta plataforma que é aberto sob pilotis. As galerias que se alternam na posição e altura também ler como espaços públicos no exterior. Conclui-se que a relação urbana do Silodam é muito maior com a

41 e 42. plantas com as diferentes tipologias e as circulações internas

49

43. imagem do cais em que se encontra o Silodam e os outros 2 silos


50

44. corte do edifĂ­cio


45. planta

46. planta

51


47. tĂŠrreo

52

49. Silodam e o acesso Ă marina

48. marina


50. varandas na cobertura

51. circulção no último pavimento

53


água, já que se encontra em uma localização extrema do cais e é todo cercado por água. Ainda, o edifício não se fecha à cidade a partir do momento em que os barcos podem atracar dentro do espaço do seu térreo. O Silodam adota uma solução diferente para sua cobertura, sendo que ela não possui função do terraço-jardim moderno como o da Unitè. É através dele, que se cria pequenas varandas dentro dos apartamentos, as quais são abertas pela parte superior e recebem a entrada de luz e calor. “La diversidad de tipos de ocupación y la pluradida de hábitos, ncesidades y preferencias justifican que se diversifiquela oferta para así proporcionar una vivienda adecuada a todo el mundo. Esta diversificación no se ha de referir únicamente a las viviendas destinadas a las diferentes composiciones de familia nuclear, sino también a las viviendas destinadas a otras formas de convivencia, atendiendo principalmente a la edad y relación entre sus

54

52. planta apartamento duplex


53. planta apartamento último pavimento, com varanda

mbros.”(PARICIO, Ignacio, pág, 23)

A releitura da Unitè D’habitation feita pelo escritório holandês ganha mais importância ao preencher o edifício com unidades de diferentes tipologias, atendendo, assim, a um maior número de pessoas, podendo atender além de famílias nucleares, abrigando também pessoas solteiras idosos, emigrantes, casais recém casados e estudantes. Aliás, as pessoas que vivem sozinhas preferem edifícios que tenham espaços de convivência para poderem se relacionar.

55


56

54. plantas apartamento dĂşplex


55. plantas apartamento dĂşplex

57


UNITÈ D'HABITATION marselha, FRANÇA|1952 58

Le Corbusier


59


5. Unitè d'Habitation de Marselha 5.1 contexto A unidade de habitação de Marselha é um dos grandes marcos da arquitetura moderna sendo projetado pelo arquiteto Le Corbusier no período pós segunda guerra mundial. A importância do edifício é revelada na composição e distribuição das

60

56. Unitè D’Habitation


unidades habitacionais, juntamente com os outros usos presentes no espaço do prédio. Além disso, foi aplicado o Modulor, desenvolvido pelo próprio Le Corbusier, que utilizou esse sistema na composição das tipologias do edifício. “El subtítulo del primer libro de “El Modulor”: Ensayo sobre una medida ármonica a la escala humana, aplicabel universalmente a la arquitectura y a la mecánica” (CORBUSIER, Le. Modulor 2, página 40)

Localizado em um área periférica da cidade de Marselha, o edíficio foi construído com o intuito de atender à população desabrigada da cidade, resultante dos bombardeios e confrontos que destruíram algumas cidades francesas. Com isso, foi constituído um Ministério de Reconstrução e Urbanismo, que pretendia fazer renascer o urbanismo no país. O então ministro, Raoul Dautry, responsável pelo Ministério de Reconstrução, pediu ao arquiteto suíço que produzisse um edifício que abrigasse o maior número possível de pessoas e que pudesse ser reproduzido em outras cidades. Ainda, o arquiteto teve a concessão dada pelo governo para realizar seus experimentos e não era preciso seguir o código de obras vigente no país. “A série está baseada sobre análise e a experimentação. A grande indústria deve se ocupar da construção e estabelecer em série os elementos da casa. É preciso criar o estado de espírito da série. O estado de espírito de construir casas em série. O estado de espírito de residir casas em série. O estado de espírito de conceber casas em série.” ( CORBUSIER, Le, página 159)

A racionalidade era uma marca do trabalho de Le Corbusier, que utilizava a tecnologia em sua arquitetura. Havia uma relação entre a expressão criativa e o mundo tecnocrático, objetivo e racional. A tecnologia permitia a expressão e a beleza da arquitetura. Essa postura conceitual do arquiteto é refletida no projeto da Unidade de Habitação. O estado de espiríto da casa em série representa a racionalização da arquitetura defendida por Le Corbusier. Entretanto,

61


havia a preocupação por parte do arquiteto com a criação de um arquitetura correspondente à sociedade e, ainda, defendia a estandadização dos elementos construtivos e não da padronização por completo. O conceito das casas em série é anterior à Unitè d’Habitation e estava presente em outras obras anteriores do arquiteto. Construção barata e rápida, as casas em série eram uma solução para reconstruir a Europa após a guerra. “A ideia era sintonizar a arquitetura e as formas de construção, aos anseios da sociedade industrial. E, sobre a moradia, Corbusier acreditava que tanto o operário quanto o intelectual não mais possuiam o abrigo conveniente ao seu modo de vida, ainda que de fato esse equipamento corrrespondesse à necessidade primordial humana.“ (MAIA, Ernani. página 64)

O conceito da máquina de morar defendido Le Corbusier era para a sociedade da indústria e o mecanicismo era familiar ao homem e por isso ele deveria habitar uma máquina, com banhos quentes, água fria, com espaços com boa higiene e etc. Além disso, Le Corbusier acreditava que uma nova arquitetura deveria ser criada para a sociedade moderna, que necessitava uma habitação que traduzisse os novos costumes sociais. O arquiteto foi um dos primeiros a perceber o processo de transformação da sociedade, que passou a ser urbana e mecani-

62

57. implantação Unitè D’Habitation


cista. “Em outras palavras uma casa como um automóvel, concebida e organizada como um ônibus ou uma cabine de navio. As necessidades atuais da habitação podem ser precisadas e exigem uma solução. É preciso agir contra a casa que usava mal o espaço. É preciso (necessidade atual: preço de custo) considerar a casa como uma máquina de morar ou como uma ferramenta.“ (CORBUSIER, pág. 170)

Portanto, a habitação de Marselha revela todos os estudos e teorias que Le Corbusier desenvolveu e estudou ao longo da sua carreira. Como a aplicação da tecnologia na arquitetura, que era uma forma de representação artística e não apenas como um meio construtivo. E como defende Colquhoun, pela primeira vez, a arquitetura e a tecnologia, a realidade e sua representação poderiam ser vistas como convergentes.

5.2 modulor Durante o período entre guerras de 1942 e 1948, Le Corbusier desevolveu a teoria do Modulor, que compreende um sistema de medidas em que cada magnitude se relaciona com as demais medidas do corpo humano, segundo a Proporção Áurea ou Secção Áurea. A aplicação do Modulor é tanto no desenho funcional e estético da arquitetura, como em objetos anatômi58. estudo do modulor

59 e 60. o modulor na fachada da Unitè D’Habitacion

63


cos em geral. O modulor permitiu retomar a relação direta entre as proporções do edifício e as do homem. Foram 2 estudos realizados, nos quais a medidas foram estudadas pelo arquiteto, no primeiro livro publicado, em 1950, em que a estatura utilizada é de 1,75 m e que a silhueta com o braço levantado alcança a altura de 2,16 metros. Já no segundo livro do Modulor, as medidas são de um homem de estatura de 1,86 m com o braço levantado 2,26m. A unidade de habitação foi a primeira oportunidade para a aplicação das proporções obtidas em seus estudos. “ Pegue um homem de braços levantados, com 2,20 de altura; instalem-no em dois quadrados superpostos de 1,10 m; deslizem sobre os dois quadrados um terceiro, que deve fornece-lhes uma solução. O lugar do ângilo reto, deverá poder ajudá-los a situar esse terceiro quadrado. Com essa grade de obra, ajustada sobre o homem instalado no interior estou convencido de que vocês 61. o térreo sob pilotis e a conexão do edifício com a cidade

64


62,63 e 64. o térreo sob pilotis e a conexão do edifício com a cidade

chegarão a uma série de medidas compatiíveis com a estatura humana(de braços levantados) e com a matemática...”(CORBUSBIER, Le. El modulor)

5.3 arquitetura

“O arquiteto, ordenando formas, realiza uma ordem que é pura criação de seu espírito; pelas formas afeta intensamente nossos sentidos, provocando emoções plásticas; pelas relações que cria, ele desperta em nós ressonâncias profundas, nos dá a medida de uma ordem que sentimos em consonância com a ordem do mundo, determina movimentos diversos de nosso espírito; é então que sentimos a beleza.“(CORBUSIER, Le. pág. 3)

As inovações da “Unitè” vão além do modulor, pois cria-se um edifício-cidade, autossuficiente. A ideia de um bairro vertical é verificada até na quebra da sua implantação, onde o edifício não está alinhado com a rua, mas está voltado para o eixo norte-sul para garantir melhor insolação para os seus apartamentos. Os serviços presentes dão suporte à unidade habitacional, atendendo os moradores e garantindo a autonomia do edifício em relação ao seu exterior. Assim, Le Corbusier personifica os pontos da Carta de Atenas, que propunha a coletividade através das relações de atividades básicas como a circulação, o habitar, o lazer e o trabalho. Sustentado sob pilotis, o edifício conquista o espaço público, que invade o seu térreo, tornando-se contínuo. Ainda, o térrreo abriga os acessos de elevadores por onde o edifício se conecta com a cidade. Com 137 metros de comprimento, 24,50 metros de largura e 56 metros de altura, a “unitè” possui 337 unidades de moradia, além dos serviços distribuídos em andares interme-

65


diários. Ao todo é composta por 18 níveis de laje, sendo que na última encontra-se o terraço-jardim. As tipologias são diversas e parte da variação de 3 tipologias principais, com isso obtém-se 23 tipologias diferentes no edifício. Os apartamentos estão distribuídos ao longo de uma rua principal (de acesso), que foram chamadas de “ruas internas”, por possuírem uma largura de 2,60 m e que levam aos elevadores, rampas e escadarias que fazem a conexão vertical com a cidade. Além disso, a circulação vertical também leva aos outros espaços do edifício. Com os apartamentos dúplex, as paradas dos elevadores não acontecem em todos os andares, como é possível observar no corte do edifício(ver imagem 74). Ou seja, as ruas inter-

66

65. 6º e 7º pavimento


66. plantas dos apartamentos dĂşplex

67. corte esquemĂĄtico dos apartamentos dĂşplex

67


nas são encontradas nos andares, 2,5,7,8,10 e 16. Os andares intermediários do 7º e 8º andar que abrigam os serviços para as habitações, compreendem desde lojas de necessidades básicas como mercado, farmácia, padaria, restaurante como também há máquinas de lavagem e secagem. Ainda há quartos que funcionam como um pequeno hotel para hóspedes que visitarem os moradores.

68. imagem dos quartos e a divisória que os separa

69. imagem da parte inferior do apartamento

68


70. parte inferior do apartamento

71. imagem da sala de estar |jantar

72 e 73. imagem da sala e a varanda

Após os estudos do modulor, os apartamentos da Unitè foram desenvolvidos a partir de um retângulo obtido pelo modulor: a “loggia”. A forma retangular define uma célula de dois níveis, dividida em 5 módulos quadrados e que estão dispostos em uma estrutura auto-portante. É através dessas paredes auto-portantes por onde passam as tubulações sanitárias e elétricas desde o térreo até a cobertura do edifício. As variações tipológicas partem de 3 elementos que são dispostos de maneiras diferentes nos apartamentos: a entrada da cozinha e a sala de estar, o quarto do casal e o banheiro, e o quarto duplo para as crianças. Ainda, esses elementos foram usados tanto em apartamentos simples como em dúplex, que foram pensados como verdadeiras peças que se encaixam, sendo que o acesso de ambos acontece em mesmo nível, porém no “superior” os quartos encontram-se sobrepostos à sala e à cozinha, enquanto nos inferiores, é preciso descer a escada para acessar o espaço íntimo. O pé direito duplo chega a 4,80 metros de altura permitindo a entrada de luz através do grande caixilho que ocupa todo a altura do ambiente da sala, sendo que nos outros ambientes, o pé direito é de 2,26 m. O quarto para as crianças foi projetado com uma divisória deslocável,

69


para que ficasse aberta para diversão, proporcionando maior convivência da família.(ver imagem 68)

74. corte do edifício

O terraço-jardim é a laje de cobertura, que possui uma piscina, circuito de corrida, sala de ginástica, quadra esportiva, ou seja, atividades de lazer e diversão que fazem parte da extensão da casa. Revelando o caráter de edifício-bairro da Unitè, onde o último andar também é um espaço coletivo em altura. As torres de elevador levam a esse espaço que possui formas esculturais, por onde saem os canais de evacuação de ventilação, ainda, há um outro espaço sob pilotis que é acessado por rampas e possui revestimento em cerâmica. O terraço-jardim é composto de formas inusitadas e convidativas para favorecerem ainda mais o seu uso.

75. terraço-jardim e a piscina

70


71

76. planta terraรงo-jardim

77. planta tipo


+

COPAN são paulo, BRASIL|década de 50 72

Oscar Niemeyer


73


6. COPAN 6.1 contexto Um dos edifícios mais famosos da cidade de São Paulo, o Copan, destaca-se na paisagem do centro por sua forma curva, altura elevada e caráter pioneiro. Projetado na década de 50 por Oscar Niemeyer com a colaboração de Carlos Alberto Cerqueira Lemos, sua construção foi concebida pela Companhia Pan-americana de Hotéis e Turismo.

78. vista do COPAN na cidade de São Paulo

74

Após o Plano de Avenidas de Prestes Maia, desde 1930, o centro de São Paulo passou por grandes mudanças em sua configuração, assim como já foi citado, com a construção de muitos prédios (como a do edifício Esther) e a verticalização passou a compor o cenário urbano, após a liberação do gabarito máximo. Além disso, houve a criação da Lei do Inquilinato em 1942 que proibia o alguel de edifícios, e assim nasce o conceito do


condomínio pelo preço de custo. Posterirormente em 1952, a revisão do Código de obras Arthur Saboya, permite construir com o gabarito máximo, o que estimulou a verticalização e o adensamento. O empreendimento era inicialmente composto por 2 edifícios, sendo que um deles abrigaria 600 apartamentos de hotel e o outro com 30 andares de apartamentos residenciais, que se ligariam no térreo através de uma marquise. Além disso, o programa multifuncional do edifício compreendia restaurantes, lojas, cinema, teatro, estacionamento. Entretanto, a Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo não conseguiu realizar o projeto, por apresentar dificuldades financeiras e a sua construção foi assumida pelo Banco Brasileiro de Descontos, o Bradesco. A mudança do empreendedor causou alterações na obra, que fora executada diferentemente do projeto proposto por Niemeyer. A primeira delas é a substituição do hotel pelo banco, uma grande agência bancária. O jardim, o restaurante, o teatro tampouco foram construídos. A sobreloja deveria ser ocupada pelo comércio, o que também nunca aconteceu, é um espaço ocioso. Oscar Niemeyer só considerava a concepção da volumetria como sua “autoria”, diante das alterações na obra do seu projeto. As quitinetes construídas no edifício foram pensadas como espaços mínimos e as primeiras projetadas na cidade com banheiro sem ventillação natural. Na realidade, outros edifícios foram construídos anteriormente como hotel e depois vendidos como habitação, já que a legislação da época não permitia banheiros ventilados com tubulações em apartamentos residenciais. Inclusive, o edifício Montreal (1952) projetado também por Niemeyer foi construído como hotel e vendido como moradia. Com isso, a lei foi colocada em pauta para que fosse alterada. Assim, os apartamentos com banheiros com dutos ganharam melhor aproveitamento da fachada- e janela, utilizando-se dos preceitos modernos, que foram explorados no projeto do edifício.

75


6.2 arquitetura O Copan possui 6 blocos de apartamentos, sendo que os blocos E e F também foram executados diferentemente do projeto inicial, ao invés de moradias com 4 dormitórios, foi feita uma subdivisão dos espaços transformando-os em quitinetes. Logo, de 900 apartamentos, o edifício passou a ter 1.160 apartamentos e uma popoulação de 2.038 moradores, com 72 lojas e o cinema, que é ocupado por uma igreja atualmente. O conceito dos espaços mínimos construídos para moradia, ou as quitinetes, atendiam às necessidades de um público específico da população, o sucesso na venda dessas unidades revela como o mercado ignorou novos tipos de composições habitacionais na cidade durante um bom período. A parcela moradora dessas unidades eram migrantes que vinham para São Paulo para trabalhar, estudar ou tentar a vida na metrópole moderna, mas que não tinha condições de alugar um imóvel residencial tradicional. Muitas vezes os migrantes instalavam-se em pensões ou em casas de família e assim, as quitinetes surgem como uma solução de moradia para os mesmos. O centro era uma localização muito favorável para os migrantes, pois concentrava muitos serviços, possibilidades de empregos e instituições. “Na verdade, a evolução de nosso apartamento tem como base a manipulação dos seu variados programas de necessidades pelos seus promotores , ou incorporadores, que se regem mais pelas leis do mercado imobiliário que pelos usos, costumes e anseios próprios de um determinado quadro cultural.” (LEMOS, Carlos. pág. 77)

76

Os espaços mínimos estão ligados ao trabalho e ao ócio, assim a quitinete possui os tamanhos reduzidos dos ambientes como a cozinha e a sala/quarto para acomodar o necessário e suficiente para uma pessoa viver. Os mobiliários são de tamanhos reduzidos o suficiente para acomodar uma ou duas pessoas. “Aqui em São Paulo a partir de 1949-50 houve o incremento de construções de prédios de apartamentos ditos “econômicos” no centro da cidade, destinados ao solteiros ou casais sem filhos, que passassem o dia todo no trabalho. Foram inspirados nos apartamentos de quarto e banheiro dos hotéis, alguns deles vendidos rapidamente em condomínio por hoteleiros


frustrados, que preferiram a corretagem à profissão, naquela época pouco rendosa. Verificou-se, então, a existência de grande demanda desse tipo de moradia, pejorativamente chamada de “apartamento-já-vi-de-tudo”. A Prefeitura aceitou esse programa, até então inédito em apartamentos residenciais tradicionais e passou a aprová-los em quantidade, com uma condição porém: não podiam possuir cozinhas diretamente acessíveis pelos quartos ou pelos banheiros. Providência inútil, porque, dentros dos armários embutidos, ou nas passagens da porta de entrada, os incorporadores, deixavam pontos de gás e de água clandestino, destinados às quitinetes dos futuros usuários.” (LEMOS, Carlos. pág. 159)

O COPAN seguiu o exemplo da Unitè d’Habitation de Marselha, criando um edifício-cidade. A relação entre ambos é direta, na medida em que o Copan também apresenta variação tipológica, com apartamentos de 37 m2, 57 m2,143 m2 e 187m2. O volume que compõe o edifício pode ser dividido na sua base que possui as ativdades comerciais e serviços, e o corpo “ principal”

77

79. implantação do edifício


80. planta térreo_ escala 1:1000

as habitações. O terraço, que também faz parte de sua base possui salas de escritórios e deveria ser um espaço de lazer e diversão, entretanto, esse é mais um espaço que não fora executado como previa o projeto. Os 2 andares de sobreloja também foram destinados a escritórios. O subsolo que deveria possuir 500 vagas, apresenta 221 vagas. As tipologias variadas, com apartamentos de tamanhos distin78 tos abrigariam, consequentemente, diferentes estratificações

sociais, o que não ocorria muito em São Paulo. A intenção de Niemeyer era criar o convívio entre as famílias, assim como Le Corbusier havia feito na Unidade de Habitação de Marselha, através dos espaços comunitários.


A população residente no Copan é de 5.000 pessoas, o que gera uma alta densidade, transformando-o em uma verdadeira cidade vertical. A conexão dessa cidade vertical com o contexto urbano da cidade de São Paulo acontece através dos seus 13 elevadores e do seu térreo, que funciona como uma continuidade da rua em que está inserido. Ainda, o desnível natural do terreno é reproduzido nas “ruas” internas do térreo de lojas. As suas dimensões reproduzem as da Unitè d’Habitacion, entretanto a solução de uma lâmina não tornaria possível alcançar os mesmos números, assim Niemeyer utilizou a forma de um “S” para conseguir o melhor aproveitamento do lote e também seguindo a interpretação do seu lugar de inserção, constituindo um objeto que se destaca no skyline da cidade. “Indiferente ao gesto favorável ou contrário à cidade e às curvas espontâneas e sensuais, a ondulação do edifício COPAN obedece a critérios pre-

79

81. elevação sudeste


82. imagem do entrelojas

83. vista área destacando a forma em “S”

84. imagem do térreo e seu comércio

85. imagem da fachada sul

80


cisos de construção do artefato inconformes com uma figura serpenteante casual ou gestual como se quer fazer pensar. O “S” se constrói segundo uma operação geométrica exata que une três segmentos retos com arcos tangentes de círculo. O primeiro segmento é paralelo à Avenida Ipiranga e à lâmina frontal e mais alta do hotel, o segundo segmento reto é paralelo às edificações traseiras e o terceiro segmento reto é paralelo à Rua Araújo. Portanto a hipótese formativa da lâmina e os critérios de implantação do edifício dão legalidade a uma forma pautada pelo acordo geométrico com objetos e linhas presentes. Essa atenção do conjunto metropolitano pode ser confirmada também com sua entrega na divisa do vizinho da Rua Araújo, ajustada com admirável cuidado.” (ESPALLARGAS) “O edifício COPAN é sempre associado à solução mais plástica, livre e sensual do arquiteto quando, na verdade, deveria ser entendido como sua proposta moderna mais radical e controvertida 16. A planta metropolitana e serpenteante da lâmina justapõe e disfarça cinco edifícios, diferentes classes sociais, pois está dividida em porções com diversos tipos e tamanhos de unidade habitacional organizadas segundo esquemas variados e conflitantes de circulação vertical em núcleos e circulação horizontal com

81

86. imagem da fachada norte do edifício

87. imagem da fachada norte


corredor.” (ESPALLARGAS)

88. planta tipo

82

O brise soleil adotado como solução para proteger a fachada norte do edifício também funciona como um protetor para a garantir a privacidade dos moradores e ele cobre a multiplicidade das famílias que vivem no edifício. Os brises foram distri-


buídos horizontalmente, a longo da fachada e sua repetição acontece a cada metro do andar, de modo que ele não prejudica a visão dos apartamentos para o restante da cidade. A modulação das esquadrias de vidro da fachada nos blocos A e B são correspondentes às alturas dos brises, entretanto isso não se mantém ao longo do edifício. Além disso, o brise é sustentado por pilares distribuídos sem uma modulação fixa devido à forma curva do prédio. “O arquiteto Carlos Lemos afirma que, desde o começo esse empreendimento prevê a mistura de diferentes padrões habitacionais igualados pela magnífica uniformidade exterior, em que o brise-soleil horizontal vai revelar surpreendente expressão pública ao proteger a privacidade e cobrir a multiplicidade de milhares de moradores. Tal decisão, longe de ser indiferente, envolve complicadas adaptações nas plantas do edifício para sustentar as porções construídas segundo diferentes sistemas distributivos. Parecem ser necessárias estruturas específicas em cada caso, no entanto qualquer diferença estrutural pode liquidar a forma contínua da elevação. Outra vez, tolera-se a adaptação construtiva numa mesma fachada oculta por brisesoleil.“ ( ESPALLARGAS)

As juntas de dilatação do prédio são perceptíveis em sua fachada e são quase corrrespondentes com as mudanças de blocos. A divisão dos seis blocos:

83

89. esquemas brises soleil


bloco A: - 64 apartamentos de 90 m2

bloco C: - 64 apartamentos de 140m2

84

bloco E: - 168 apartamentos de 28m2 a 63m2

bloco B: - 448 quitinetes de 26 m2 --192 apartamentos de 38 m2

bloco D: - 64 apartamentos de 170m2

bloco F: - 160 apartamentos de 25m2 a 54m2

90. plantas por blocos


85

91. elevação norte


edifício Simpatia são paulo, BRASIL|2007 86

Grupo SP


87


7. Edifício Simpatia 7.1 contexto Edifício construído em 2007 na cidade de São Paulo, no bairro residencial da Vila Madalena. Projetado pelo escritório Grupo Sp, o prédio contrapõe-se à arquitetura residencial produzida atualmente na cidade de São Paulo. Primeiramente, pela implantação do edifício que segue o desnível natural do lote, que é mais baixo na parte posterior do terreno, onde está a piscina e a área de lazer para os moradores. “O edifício serve-se da topografia acidentada, a situação típica de vale, que existe entre a rua Simpatia – no nível mais alto – e a rua Medeiros de Albuquerque – no nível mais baixo – definindo a ocupação em dois blocos: um superior e aéreo– a estrutura habitacional – e outro inferior e arraigado – os serviços e espaços dos automóveis.”

O projeto revela uma nova proposta de como morar na cidade contemporânea, não se fechando por completo para a cidade ao criar uma ligação com a praça presente na parte posterior do terreno e por não ser cercada por um grande muro, diferentemente dos condomínios fechados que favorecem a malha urbana segmentada e pouco fluida. “O ímpeto do mercado imobiliário em construir novos bairros de edifícios residenciais muitas vezes expulsa outros usos, como o comércio local de pequeno porte,e destrói configurações antigas mais ricas, mais harmoniosas, mais vivas. O exemplo dos grandes condomínios fechados, que se tornaram moda nas últimas décadas, é mais um indicativo da forma preocupante como se resolve, no Brasil, a moradia da população mais rica, criando um modelo depois reproduzido nos empreendimentos econômicos.”(SETTE, João pág. 16)

88

“Agora não mais edifícios grudados uns aos outros. Agora prédios isolados, cujos apartamentos são de três ou quatro suítes e três ou quatro boxes para carros no subosolo. Plantas de perímetros sinuosos, cheios de reentrâncias e saliências gerando cômodos delimitados por ângulos ocultos. Profusão de latrinas e chuveiros para uma classe pós- revolução militar cujo êxito se mede através dos metros quadrados de azulejos gastos em relação às área totais construídas.” (LEMOS, Carlos, pág.81)

O edifício Simpatia trabalha uma densidade baixa, apesar da necessidade de adensamento, já que a RMSP abriga uma po-


89

92. fachada principal e acesso pela Rua Simpatia


90

93. corte do edifĂ­cio Simpatia


90. implantação do edifício Simpatia no bairro da Vila Madalena

95. implantação da cota de acesso do edifício Simpatia

94. planta do primeiro pavimento edifício Simpatia

91


96 e 97. imagem interna do apartamento

92

98. imagem externa do prĂŠdio


pulação de mais de 11 milhões de habitantes, os 8 andares do Simpatia se diferem da verticalização excessiva e tampouco planejada pela prefeitura da cidade. É um balanceamento do adensamento do espaço, pois prédios muito elevados causam impactos para as ruas, e nem sempre há um sistema de infra- estrutura capaz de assegurar esse enorme contigente de pessoas que vivem nesses espaços. Além disso, edifícios, como o Copan, foram construídos na época em que era permitido utilizar o gabarito máximo, apenas ao longo do tempo foi possível perceber que essa alteração no código de obras de Saboya gerou diversos problemas na cidade de São Paulo, como o da mobilidade. Há também a especificidade do bairro da Vila Madalena, que possui um caráter residencial, e assim, o crescimento de torres habitacionais, juntamente com a falta de transporte público, causaram grandes problemas como trânsito intenso. Ou seja, soluções verticalizadas, porém sem explorar o gabarito máximo, são mais condizentes atualmente, para evitar a “cultura da congestão” citada por Koolhaas. “A ‘cultura da congestão’ propõe a conquista de cada quadra por uma estrutura única. Cada edifício se tornará uma ‘casa’- um domínio privado que inflará para receber hóspedes, mas não ao ponto de pretender a universalidade no espectro de suas ofertas. Cada ‘casa’ representará um estilo de vida e uma ideologia diferentes.” (KOOLHAAS, Rem. pág. 151)

7.2. arquitetura As tipologias propostas são completamente livres, de acordo com a necessidade de cada morador. São 8 andares, com apartamentos de 95,65m² e 112,09m² que podem ser configurados a gosto do cliente. Para isso, as instalações hidráulicas e elétricas passam por fora do edifício (ao invés de utilizar shafts) e assim é possível configurar os espaços da cozinha, dos quartos e banheiros como quiser. Segundo, os arquitetos foram produzidos apartamentos muito distintos em um mesmo edifício, e inclusive as janelas foram posicionadas de acordo com a proposta de cada cliente. “Os apartamentos estão organizados em dois blocos opostos, Simpatia e Medeiros, com conformações e vistas diferenciadas, mas ambos oferecem múltiplas formas de ocupação, conforme as necessidades de vida de seus usuários. Esta diversidade se expressa na aleatoriedade das aberturas das

93


99. planta tipo

94


faces norte e sul que sublinham a singularidade de cada apartamento. Nas faces leste e oeste, planos de vidros na extensão total das unidades marcam a presença do edifício na paisagem urbana que, por sua vez, inunda o ambiente juntamente com a luz.”

A total liberdade de “montar” o apartamento e atender à necessidade de cada morador é uma resposta ao indivíduo contemporâneo. Entretanto, há um custo construtivo elevado para que isso aconteça. O edifício Simpatia juntamente com outros edifícios propostos por incorporadoras como Ideas Zarvos e Max Hauss procuram construir novos tipos de edifícios habitacionais na cidade de São Paulo, pois o problema do mercado imobiliário ainda persiste desde a época de construção do Esther, do Copan e ainda influencia diretamente na produção arquitetônica atual. Além disso, como levanta Carlos Lemos em 1989, pode-se afirmar que ainda hoje, os prédios residenciais paulistanos são verdadeiros clubes fechados ao restante da cidade, com poucas variações tipológicas (atendendo sempre a uma parcela da população), muitas vagas na garagem e com diversos espaços de lazer, que nem sempre promovem uma experiência coletiva, já que só os moradores do prédio podem usufruir dos mesmos. O habitar deve fazer parte da cidade como um conjunto, uma peça que compõe o espaço urbano, ou seja, deve ser estudado o seu entorno, de tal maneira que o seu impacto sobre a região seja favorável aos seus vizinhos e à cidade. Criar edifícios-bairros como componentes independentes da malha urbana preexistente é negar a cidade e contribuir com a “cultura da congestão”. Por isso, é necessário repensar a habitação, pois a sua complexidade é a mesma do contexto do século XXI.

95


edifĂ­cio Multifuncional Luz 96


97


8. Edifício Multifuncional Luz 8.1 memorial descritivo|conceito O projeto de um edifício multifuncional foi escolhido como uma resposta à cidade contemporânea. A complexidade da megalópole de São Paulo, local de inserção do projeto, exige uma solução que contribua com seus espaços públicos. A mescla de usos favorece a cidade, na medida em que os cidadãos podem usufruir de diferentes atividades em um mesmo local, diminuindo o deslocamento, qualificando a região de inserção e agrega valor ao lote. São Paulo possui grandes problemas relacionados ao deslocamento de pessoas, pois há bairros que possuem caráter específicos, uns mais residenciais, e outros mais comerciais e de serviços, isso implica em uma concentração maior de pessoas em determinados espaços em detrimento de outros, que recebem uma população pendente, ou seja, que “habita” essa região apenas um período do dia. O centro, que engloba a região da Luz, possui muitos edifícios comerciais e de serviços e por ter uma boa infra estrutura de transportes, recebe diariamente uma concentração de pessoas, que passam o dia por lá, mas que não vivem, ou seja, à noite, a região não tem a mesma vida.

98

O lote escolhido para o desenvolvimento do projeto é ao lado da nova estação do metrô luz da linha 4 amarela. A região da luz é de ocupação antiga na cidade de São Paulo, devido à Estação da Luz que fora implantada na mesma no final do século XIX pela São Paulo Railway. O comércio era a principal atividade ligada à estação, que teve muita importância no escoamento da produção de café do interior do estado até o porto de Santos e também no transporte de pessoas. Entretanto, a partir da década de 50, com o surgimento da indústria automobilística no país, houve uma mudança, na qual as rodovias passaram a ser a principal forma de deslocamento. Ainda, o centro da cidade de São Paulo sofreu um esvaziamento, com a expansão da cidade em outras regiões, que levou grande parte de sua população embora. O processo de esvaziamento do centro teve como consequência a deteriorização dos seus


99


100. terreno de projeto

101 e 102. praça da estação do metro Luz

espaços públicos, que muitas vezes foram abandonados e depois ocupados irregularmente por famílias desabrigadas e mais tarde, por usuários de drogas na região da Luz, que foi apelidada de cracolândia. Em um contexto com problemáticas sociais e econômicas, a prefeitura criou a Operação Urbana da Luz, que pretende valorizar a área, já que todo o centro possui uma rica infra estrutura de transportes, de equipamentos culturais ,de lazer e comércio. A principal ferramenta de valorização é trazer mais pessoas para habitar essa região, para isso a operação tem como objetivos: retomada de espaços públicos e privados ocupados por atividades ilícitas, renovação de edificações degradadas e incremento do uso não-residencial. Portanto, a escolha de um edifício multifuncional está dentro das necessidades e da própria proposta de requalificação urbana da região da Luz.

100

“A região central da cidade, como vimos nos tópicos anteriores , sofreu um processo de intensa mudança nas últimas décadas. O surgimento de novas centralidades (Paulista, Faria Lima, Marginal/Berrini) provocou um deslocamento de empresas antes sediadas no centro para aquelas regiões. Ao mesmo tempo a população residente também diminiu, desestimulando novos empreendimentos imobiliários residenciais. Ocorreu um verdadeiro esvaziamento empresarial e de moradores, seguido de deteriorização e desvalorização dos espaços construídos. Estas edificações( com mais de 50 anos)ficaram obsoletas e não respondem a novas exigências, como infra-estrutura de comunicações, acessos a deficientes, lajes em tamanhos suficiente, refrigeração/aquecimento etc.”(SANDRONI, Paulo. pág 377´)


8.2 projeto A nova estação da Luz da linha 4 amarela ocupa o subsolo de uma praça por onde é acessda, e como a linha do metrô é profunda, 25 metros abaixo do nível da rua, foi necessário a desocupação de antigos edifícios para que fosse possível a construção da estação. O terreno do projeto, ainda não foi ocupado e tampouco existe uma proposta para sua ocupação. Por estar ao lado de uma estação de metrô e com uma praça e sendo uma faixa que liga as ruas Brigadeiro Tobias e Cásper Líbero, ele faz parte de um cenário interessante. A concepção do edifício nasce da necessidade de integrar esse contexto: a praça e as ruas. O edifício é colocado transversalmente no lote ocupando o limite da praça até a empena cega do edifício vizinho. Por ter uma extensão transversal menor, e ter 3 empenas cegas no limite vizinho, o edifício foi posicionado ocupando as 3 empenas cegas, composto por 2 volumes na posição transversal do terreno. O volume que ocupa o limite da rua Cásper Líbero é de uso habitacional, enquanto, o volume q ocupa o limite oposto( da Rua Brigadeiro Tobias) é o de serviço. O terceiro volume é o institucional que liga ambos através do limite oposto ao da praça, ou seja, forma-se um U aberto para o espaço da praça. Os usos foram distribuídos em 30 % voltados para habitação, 30% serviços, 20 % de comércio e 20 % institucional. Como o edifício está ocupando as empenas cegas, com o intuito de “esconder” essa face dos edifícios vizinhos, a altura do volume residencial é de 12 andares, assim como o seu vizinho, para não criar um conflito. O mesmo raciocínio é usado no edifício de serviços, que possui 13 andares. O comércio é o único uso que está presente nos 3 volumes que compõem complexo multifuncional, e ele também liga esses 3 volumes fisicamente, constituindo-se um volume único e maior. De acordo com o levantamento feito, há a presença de comércio, no térreo da maior parte dos edifícios de seu entorno, portanto, no projeto, ele está distribuído no seu térreo e primeiro pavimento. O térreo é ocupado por pequenos módulos de lojas, que se comunicam com a galeria de lojas dos edifícios vizinhos. É também onde estão todos os acessos de cada uso do prédio: um acesso para as lojas no andar superior que também permite o

101


!

"

!

102 e 103. empenas-cega vizinhas ao terreno de projeto

102

"

#


$

%

&

'

(

)

*

+

,

-

'

(

)

*

.

)

/

0

/

$

'

%

*

(

1

2

%

3

1

+

4

)

5

0

1

/

%

*

-

+

%

&

1

3

1

/

&

0

$

6

%

)

$

)

&

7

8

'

%

(

1

$

)

*

'

/

)

(

)

.

1

3

$

1

3

$

1

3

$

9

:

0

/

5

0

1

;

2

3

'

&

)

&

1

/

3

1

/

%

*

+

1

$

0

1

+

(

)

/

2

)

8

3

1

*

+

+

%

'

2

/

1

0

$

/

)

+

'

*

*

'

1

*

+

5

0

0

-

1

$

'

/

%

/

%

*

1

(

*

'

1

+

+

<

%

1

)

>

0

*

2

4

)

.

+

(

1

1

*

*

5

%

0

$

0

1

-

-

)

)

(

(

%

1

*

$

9

1

=

%

/

2

*

)

)

*

'

+

&

1

)

1

(

'

$

%

)

/

/

1

(

+

'

)

$

'

%

*

/

-

+

)

(

%

(

%

*

0

$

7

8

3

%

(

(

1

1

+

2

1

A

)

+

)

'

>

/

1

+

3

)

'

>

$

?

'

1

B

(

/

)

)

(

(

(

1

$

1

2

0

)

(

%

*

%

1

*

(

-

'

)

@

+

$

'

)

%

*

0

5

/

0

)

1

$

'

/

0

(

%

)

$

(

%

$

/

)

3

(

1

&

)

-

C

1

2

)

)

D

&

/

,

*

*

'

$

*

)

3

2

1

&

0

+

)

%

*

*

)

9

E

%

1

1

/

F

'

3

*

3

+

)

3

1

0

%

(

/

)

)

2

*

)

)

%

2

'

(

-

+

)

.

1

*

0

'

/

B

/

5

)

C

4

0

1

)

*

(

'

1

>

/

1

*

'

$

@

$

)

)

-

C

1

.

'

C

'

'

2

1

+

>

1

)

/

2

1

.

$

*

%

3

)

&

*

%

$

)

3

%

<

)

(

*

)

(

*

1

2

)

D

*

)

-

C

4

)

)

3

*

%

*

(

.

1

c贸digo de planificaci贸n urbana, se abren unas min煤sculas, irregulares e irresponsables ventanas que permiten que unos milagrosos rayos de luz iluminen la oscuridad en la que vivimos." *

$

)

-

1

9

G

/

$

2

)

+

)

$

%

/

3

+

)

C

1

/

$

'

B

/

)

2

104. proposta projeto

103


104

105. implantação projeto escala 1:500


106. implantação e térreo projeto

acesso aos andares superiores do institucional, um núcleo para os escritórios, um para o subsolo e o teatro, um núcleo para os apartamentos. O volume do institucional é composto por uma midiateca. Além disso, há em seu subsolo um teatro experimental, que tem acesso pelo próprio térreo. É na cota urbana onde acontece todas as conexoões do edifício com a cidade, sendo um ponto de circulação intensa e consequentemente de convivência social. A conectividade dos elementos que fazem fronteira com o lote é uma das principais características do edifício, que não é um volume imposto, mas uma peça de ligação com o espaço urbano. O volume residencial possui 4 tipologias, apartamentos do tipo estúdio com 35 m², apartamentos de 45 m²,65 m² 75 m² e 80 m² a diversidade também nos apartamentos é uma forma de valorizar o edifício permitindo que diferentes grupos de pessoas possam habitar a região.Os apartamentos são flexíveis de maneira em que as áreas molhadas são fixas e os outros espaços podem ser conformados de acordo com a necessidade de cada família.

105


106


107


107. vista interna da midiateca

108. vista do edifĂ­cio

108


109. corte BB

109


110. planta 1ÂŞ pavimento

111. planta 2ÂŞ pavimento

110


112. planta 3ÂŞ pavimento

111 planta 2ÂŞ pavimento

113. planta pavimento tipo

111


114. planta 1ÂŞsubsolo

112


115. planta 2ÂŞsubsolo

113


116. corte AA

114


“ El nuevo concepto de flexibillidad ( más allá de la caricatura del usuario bricoleur dedicado a transformar continuamente el interior de su vivienda) debe hoy asociarse una mayor polivalencia y versatiidad del espacio. En este sentido, cobrarían igual importancia tanto las acciones tácticas de orden estructural (utilizacíon progresiva de grandes luces y minimizacíon de la estructura) o las relacionadas con la concepcíon de los equipamentos ( concentracíon estratégica de módulos técnicos, definición tramada de redes energéticas, vaciado...) como aquellas referidas a sistemas de distribuición y división, más o menos evolutivos.(GAUSA, Manuel, pág 31)

“ La flexibilización de las viviendas también puede constituir una buena respuesta a la diversidad programática actual y a muchas otras consideraciones que aconsejan que la vivienda sea flexible entre ellas a) la necesidad de que una vivienda anónima se adecue fácilmente a una ocupación concreta, b) la evolución de esta misma ocupación, c) los cambios periódicos de ritmo de vida, d) el deseo de incorporar nuevos equipos a la vivienda a medida que éstos van popularizándose y e) la necesidad de que se pueda desarrollar más de una actividad en cada uno de los espacios en que se divide.(PARICIO, Ignacio, SUST, Xavier. pág. 25)

O volume de escritórios possui também salas com tamanhos diferentes para que profissionais de diferentes áreas possam trabalhar no local, a planta também é livre, permitindo a flexibilidade dos módulos dos escritórios, que podem ser ocupados por empresas maiores ou menores. Há uma escada interna que permite uma circulação local, de um andar para outro, permitindo que uma empresa maior possa ocupar mais de um andar. A estrutura é toda em concreto e lajes nervuradas, para que vão maiores possam existir. As coberturas possuem lajes impermeabilizadas que viabilizam a ocupação de áreas de lazer e descanso. Os volumes de escritórios e de habitação estão voltados para o norte e ambos, tem seus conjuntos tanto na face leste quanto oeste. Assim, nos apartamentos há venezianas metálicas externas, instaladas na estrutura da varanda, para ser reguladas de acordo com a luminosidade que entra no espaço do apartamento. O projeto possui uma área total de 24.900 m² de área construída, contribuindo o adensamento da região da Luz.

115


116

117 ampliação apartamento


117

118. volumetria apartamento


118


119


BIBLIOGRAFIA ANTONCIC, Rodrigo Pérez; ECHENIQUE, Bernardo Valdés. Domicilio urbano. Chile: ARQ, 2006. ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. ARTIGAS, Julio Camargo. O sonho de morar coletivo: ideologias e projetos modelares. 2007. ATIQUE, fernando. Memório Moderna - a trajetória do Edifício Esther. São Carlos: RiMa, Fapesp 2004. BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura: da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo: Romano Guerra, 2010. COLQUHOUN, Alan. Modernidade e Tradição Clássica. Ensaios sobre arquitetura. São Paulo. Cosac & Naify. 2004 CORBUSIER, Le. El modulor. Barcelona: Poseidon, 1976. CORBUSIER, Le. Por uma arquitetura. São Paulo. Perspectiva. 6 ª edição. 2011. DEAN, Penelope. MVRDV (FIRM). Mvrdv: Km3: Excursions on Capacity . Rotterdam: ACTAR, 2005 FRENCH, Hilary. Os mais importantes conjuntos habitacionais do século XX.Porto Alegre. Bookman: 2009. GAUSA Manuel. Nuevas alternativas, housing, nuevos sistemas. Actar. Barcelona,1998. KOOLHAAS, Rem. Nueva York Delirante. Gustavo Gili. Barcelona. 2008 LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1989 MAIA, Ernani. A máquina de morar: um hardware de morar? São Palo 2005 120MONTANER, Josep Maria .Sistemas Arquitectónicos contemporáneos.Editora Gustavo Gili.2008

MONTANER, Josep María. MUXÍ, Zaida. FALAGÁN, David H. Herramientas para habitar el presente. La vivienda del siglo XXI. Edición Máster Laboratorio de la vivienda del siglo XXI.Barcelona.2011 MVRDV.Farmax excursions on density.1997.


OUKAWA, Carolina Silva. Edifício Copan: uma análise arquitetônica com inspiração na disciplina análise musical. Dissertação de Mestrado.São Paulo., 2010 ROSALES ,Mario Arturo Figueroa. “Habitação coletiva em São Paulo 1928 > 1972”. Tese de doutorado. São Paulo, 2002. XAVIER, Denise. Arquitetura metropolitana. Annablume editora. São Paulo. 2007

http://www.aprenda450anos.com.br/450anos/vila_metropole/2-4_edificio_copan.asp http://www.tucavieira.com.br/V-se-encontra-da-posicao-da-seta http://www.arch2o.com/linked-hybrid-steven-holl-architects/ http://arkinetia.com/breves/le-corbusier-modulor_a449

Imagens

_introdução 1. http://photomichaelwolf.com/#architecture-of-densitiy/10 2. http://photomichaelwolf.com/#architecture-of-densitiy/10

85. 86. 85. 86. 87. 88. 89. 90. _edifício simpatia 90. http://www.gruposp.arq.br/?p=19_ Nelson Kon 91. http://www.gruposp.arq.br/?p=19 92. http://www.gruposp.arq.br/?p=19 94. http://www.gruposp.arq.br/?p=19 95. http://www.gruposp.arq.br/?p=19 96. http://www.gruposp.arq.br/?p=19_ Nelson Kon 97. http://www.gruposp.arq.br/?p=19_Nelson kon 98. http://www.gruposp.arq.br/?p=19_ Nelson Kon

121


99. http://www.gruposp.arq.br/?p=19

122


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.