Editorial
Índice
alimento entra pela boca e enquanto é triturado pelos dentes a saliva começa a dissolvê-lo, transformando a comida numa pasta que logo irá para o esôfago e...chega! Nessa edição do Apetite, estamos interessados em uma pequena parte do processo de alimentação. Não queremos saber o caminho para onde ele vai, e sim de onde veio, como é feito e se tem calda de chocolate no sorvete ou molho barbecue na carne. Desculpem os leitores mais apegados a religião, mas na edição presente cometemos um pecado: a Gula. Lanches, sorvetes, miojos requintados. Devoramos tudo! O fato é que não comemos simplesmente para retirar dos alimentos a energia necessária para realizar atividades. Comemos porque...Oras! É uma delícia! E em vários sentidos. As reuniões familiares não seriam tão memoráveis (nem haveria tantas pessoas presentes) não fosse a torta da vovó, o bolo de chocolate de 3 camadas da sua tia, ou o vinho que transforma qualquer primo mala-sem-alça em “Meu amigo de fé, meu irmão camada...”. Quando viajamos para um país distante ou para o estado vizinho, na primeira noite de passeio para onde costumamos ir? Ao lugar que prepara a comida típica da cidade ou estado. Como negar que o tempero das baianas não vem do acarajé? Ou que o pão-de-queijo mineiro só é famoso por causa do jeitinho daqueles que o fazem? Na esquina de uma rua qualquer ou no restaurante mais refinado é possível encontrar boa comida. Gastronomia é só uma palavra. Só porque o strogonoff que a sua mãe prepara não está num menu de um restaurante chique, não quer dizer que ela não seja uma chef! O que o Apetite deseja nesta edição é mostrar como comida e paixão se relacionam e trazem a tona a vitalidade da experiência degustativa: desde os lanches mais prosaicos até o doce e o café mais delicados, depois de saborear o almoço de domingo. Queremos demonstrar como cada experiência e cada história contada nas entrevistas foi um aprendizado sensorial. E, além disso, trazer por meio de uma conversa entre amigos, qual foi a nossa percepção sobre os momentos de alegria e de emoção diante de um tema tão rico e complexo, ao mesmo tempo, tão delicioso de se envolver. É de barriga cheia e com molho de macarrão no colarinho que desejamos: boa leitura!
Um prazer elementar................................3 Arroz com feijão, frango e tempurá...........4 Bourdain abre a panela de pressão............4 Do outro lado do balcão.............................5 E que vença o melhor!...............................6 Cesta básica: itens mais baratos em três supermercados bauruenses.........................8 Nao custa nada comer bem.......................8 A caça pós festa..........................................9 Cupcakes do sustento..................................9 Uma refeição afinada...............................10 Uma Bauru estrangeira..........................10 Um lanche além da identidade municipal.11 O hambúrguer de cada dia........................11 Criatividade para inovar o tradicional......12 A mágica do sabor artesanal....................12
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Expediente
Suplemento produzido pelos alunos do 4º termo de Comunicação Social - Jornalismo, 2012, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, para as disciplinas de Jornalismo Impresso II e Planejamento Gráfico-Editorial em Jornalismo II.
Reitor
Professores Responsáveis
Equipe de Reportagem
Diagramação
Julio Cezar Durigan
Ângelo Sottovia Aranha Tássia Zanini
Cinthia Quadrado Fernanda Luz Guilherme Henrique Jéssica Sumida Maitê Borges de Oliveira Natália Dário Ricardo Simoni Vinicius Vermiglio
Fernanda Luz Natália Dário Vinicius Vermiglio
Diretor da FAAC Roberto Deganutti
Chefe do Departamento de Comunicação Social Ângelo Sottovia Aranha
Coordenador do curso de Jornalismo Juarez Xavier 2
Endereço Departamento de Comunicação Social FAAC/Unesp Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 14-01 Vargem Limpa, Bauru-SP (14)3103-6000 Ramal: 6066
Capa e infográfico Rafael Valério
Fotos
Fernanda Luz Natália Dário Ricardo Simoni Vinicius Vermiglio
Um prazer elementar Quando comer bem é o que importa, não importa o que Guilherme Henrique
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ituação 1: chegar em casa com o estômago nas costas de tanta fome depois de um dia comprido, abrir a geladeira, os armários e não encontrar nada muito apetitoso. A solução? Fazer um macarrão instantâneo e enriquecê-lo com tudo o que cair da geladeira vazia após você revirá-la. Depois disso, a fome deixará aquele macarrão insosso pronto em 3 minutos tão saboroso quanto qualquer prato preparado pelas mãos do mais famoso dos gourmet franceses em um bistrô qualquer de Paris. Situação 2: escolher sua melhor roupa, passar seu melhor perfume e ir em um restaurante caríssimo, onde o sabor do prato é inversamente proporcional ao tamanho da porção, mas nem por isso o preço deixará de ser pequeno. Esse jantar custará, talvez, uma grande parte do seu salário, mas você não reclamará. Aquela mirrada quantidade de comida deu-lhe um prazer incomparável. Situação 3: esperando pelo ônibus, você sentirá o aroma de um carrinho de cachorro-quente. Esse aroma será mais forte que a sua vontade de resistir e, por algumas moedas que você terá em mãos, um cachorro quente, não muito saudável e de procedência duvidosa, lhe saciará a fome até que o ônibus chegue. O que essas três situações hipotéticas, mas completamente verossímeis, têm em comum? Além, é claro, de falar sobre alimentação (uma ação instintiva, praticada desde quando surgiu a vida e, da qual sem ela, nem mesmo bactérias existiriam). Elas retratam o incondicional e elementar prazer de comer bem. É difícil encontrar alguém que não goste de comer e que não tenha um prato preferido, por mais simples que ele possa ser. Mas, afinal, o que é uma comida boa? O que difere gastronomia da alimentação? Gastronomia, segundo os dicionários, é o conjunto de habilidades relacionadas com o preparo, apresentação e apreciação da comida. A gastrononia tem ares de arte. Mas nada impede de que uma comida sem tanta pompa seja tão ou mais saborosa que pratos requintados. “É só nomenclatura. A fome não diferencia. A palavra “Gastronomia” vem do grego e quer dizer “prazer do ventre”. Seja o requinte de um prato francês ou o “peéfão” (prato feito) com zoiúdo (ovo) da esquina, gostamos mesmo é de matar a fome”, diz Rony Cácio criador da companhia “ Comida dos Astros”. Apesar disso, a ideia de que gastronomia é algo muito complexo ainda está bastante presente entre muitas pessoas. “Gastronomia são aquelas comidas complicadas, para mim o importante é alimentação que deve ser saudável. A pessoa precisa equilibrar o que come para que a comida a ajude a ter saúde”, afirma Gérry Batista, copeiro da Lanchonete Skinão. Ou ainda, é comum pensar que só a alta gastronomia pode proporcionar prazer na alimentação: “alimentação é mais necessidade, já a gastronomia está mais ligada ao prazer de comer” aponta Márcio Gonçalves, que as vezes ajuda o irmão num trailer que vende lanches. Talvez a fome seja o grande tempero para uma boa comida. Qualquer prato simples vira um manjar dos deuses quando a fome aperta. Gabriel Naro, estudante de Ciências da Comunicação, que de vez em quando se arrisca na cozinha dá a sua definição de um prato saboroso: “comida gostosa é aquele prato que você termina de comer e você está satisfeito, só que quer comer mais”. A comida sempre fará, por motivos óbvios, parte de nossas vidas. Seja por nos manter vivos ou por fazer parte da cultura de cada povo. Assim, não interessa se a comida é cara, se é feita por um chef de renome internacional ou pela cozinheira que mal sabe escrever e decora as receitas na sua memória que nunca a trai. Pode parecer uma resposta tacanha, mas a melhor comida é aquela que te faz bem, aquela que você goste e que te traga boas lembranças não importa o que os outros achem.
Fernanda Luz
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Arroz com feijão, frango e tempurá K
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Ricardo Simoni (texto e foto)
queda do último dente de leite do caçula, a compra do sobrado na rua das Laranjeiras, o alistamento militar do filho mais velho: – Passou tão rápido! Dizia Lucinda para si mesma. Estava feliz por poder organizar aquele jantar que celebraria o noivado do caçula. Dias antes do jantar, começou uma bela faxina no sobrado, levou a casinha e o cachorro para o quintal do fundo, deu um trato na prataria que ganhou de presente de casamento. E enquanto escolhia feijão, se deu conta de tanta coisa que passara naquela casa e de todos os momentos em que a família ficou reunida ao redor daquela mesa. Foi no velho fogão azul que aprendeu a fazer com sua avó a famosa feijoada que todo mundo pedia no almoço de domingo. Também foi na cozinha, que ela ensinou seus filhos a ler e a escrever. E, cá entre nós, e que não fiquem sabendo os meninos, foi numa tarde de verão que Lucinda e
seu marido Geremias conceberam o filho mais velho, enquanto preparavam uma massa de pão sovado. Tito, o filho do meio, quando menino, sempre reclamava: – Mamãe, o Bicho-Papão quer me pegar! Atenta à reclamação, ela separava algumas cocadas e paçocas, entregava ao pequeno e ia com ele até o local da aparição, fazia o garoto deixar o pratinho no lugar onde viu Papão pela última vez. Enfrentar os medos, preparar água com açúcar para o acidentado do carrinho de rolimã; os três filhos eram a maior realização daquela saudosa dona de casa. Lucinda sempre bronqueava por conta da bagunça dos meninos, mas no fundo, no fundo, como era
sem sal uma casa em que tudo se mantinha tão arrumadinho. – Mãe, que é que tem pro almoço hein? É que a Satie não come carne vermelha. -o primogênito foi o primeiro a começar a namorar, apareceu com aquela “oriental mirradinha” que “tinha medo dos bifes” e “fritava cebola no açúcar queimado”. A perseguição de Lucinda foi tanta que o marido sempre calado teve que chamá-la para uma conversa: – Lucinda, para de proteger o garoto. Desse jeito ele vai virar um frango! – Ele tem que fazer boas escolhas, dar valor a um bom casamento. Caso contrário ele vira um galinha! Aquela recordação trouxe o arrependimento pela injustiça
com Satie, tanta provocação e desgaste quase acabaram com o namoro do filho. Magoada, a japonesinha só aceitou voltar a namorar depois de um pedido formal de desculpas feito pela sogra: “Preciso que você me ensine a fazer esse tal de tempurá que o meu filho tanto fala!” Anos e anos depois, com o filho já casado com Satie, Lucinda morria de orgulho da netinha que nas brincadeiras infantis detestava ser chamada de café com leite. Foram tantas lembranças que os preparativos passaram em um piscar de olhos. -DING DONG. A campainha tocou e os convidados começaram a chegar. – A vovó pôs toalha no lavabo, Saori, lava a mão antes de comer. – Boa noite dona Lucinda. O cheirinho do jantar está dando água na boca. – Imagina, Satie! É só uma comidinha simples, bem brasileira, nada muito complexo. Mas espero que vocês gostem!
e passeio para meninos ricos. Quando criança, o interesse de Bourdain por comida não era muito diferente dos outros garotos, mas uma sopa fria mudou tudo. Depois de ter provado o prato, chamado Vichyssoise, Anthony mudou totalmente sua relação com a comida. Começou a provar tudo que podia e conta que, às vezes, fazia questão do prato mais esdruxulo. “Decidi que iria superar meus pais que se julgavam gourmets. E ao mesmo tempo, eu poderia deixar meu irmão mais novo ainda não-iniciado com nojo. Eu iria mostrar-lhes quem era o gourmet! Cérebro? Queijo fedido que cheirava como pés de um homem morto? Carne de cavalo? Pão-doce? Manda a ver!” Desde então, Bourdain tornou-se um gourmet, e claro, com pretensões de chef. No ritmo rápido e preciso de quem foi muito influenciado pela literatura beat de Jack Kerouac,
é difícil largar o livro. A primeira vez de Bourdain numa cozinha foi muito complicada. Ele foi humilhado e debochado e, como se saberia depois, não seria a primeira vez e tais atitudes são regra, não exceção. Depois do primeiro emprego, foi para a CIA (sigla em inglês para Instituto de Culinária da América) aperfeiçoar as técnicas que já tinha aprendido e se habilitar para trabalhar em cozinhas mais profissionais. O livro vale a pena pois é muito raro um depoimento tão franco e bem articulado de alguém que vive pela gastronomia a vida toda. Diferente de alguém que penetra numa cozinha e conta a experiência, Bourdain fala de diversos temas envolvendo o mundo dos fogões e panelas, e ao mesmo tempo aproveita para contar sobre sua trajetória na carreira. Como escreve Nina Horta na orelha do livro: “em meio a nuvens de fumaça de maconha,
quantidades importantes de cocaína, outras várias drogas e uma animada atividade sexual, Bourdain mistura lembranças e comentários, com direito a mafiosos e Frank Sinatra, muito derramamento de sangue, bebedeiras gigantescas, pitadas de suspense e uma alegria atordoante no ar”. Preço: R$ 63,00 Editora: Cia. das Letras
Bourdain abre a panela de pressão
Vinicius Vermiglio
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alava-se que Rasputin costumava comer um pouco de arsênico no café-da-manhã todos os dias, criando resistência, para o dia em que um inimigo tentasse envenená-lo e isso me parece sensato”. Essa é uma das dezenas de afirmações cômicas e, ao mesmo tempo, pertubadoras que Anthony Bourdain escreve no livro “Cozinha Confidencial Uma aventura nas entranhas da culinária”. Bourdain lançou o livro que todos os chefs e demais trabalhadore de cozinhas mais temiam: revelou os segredos sórdidos e obscuros de seu local de trabalho. Além disso, conta sua própria história e, com um sarcasmo acompanhado de modéstia e muito senso do real, mostra como se tornou o renomado chefe do restaurante nova iorquino Les Halles. O livro começa com o autor relembrando sua infância abastada, com férias na França
Crédito: Companhia das Letras
Do outro lado do balcão O repórter Apetite Vinicius Vermiglio trabalhou por um dia na cozinha do Griletto do Shopping Bauru Vinicius Vermiglio (texto e foto)
09h00: No Bauru Shopping todas as lojas estão fechadas no térreo. O terceiro andar, onde funciona a praça de alimetação, está a pleno vapor nos bastidores de cada cozinha. Cortar, cozinhar, fritar, temperar. Sem parar.
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ntramos por volta das 8 da manhã. Carlos Antônio da Silva, o “seu” Toninho, Tonho ou Tony, cozinheiro chefe do Griletto de Bauru e eu. Assim que chegamos à cozinha, vestimos uma touca, lavamos as mãos e colocamos luvas. Toninho começa o dia ligando para o CEASA (Central de Abastecimento) de Bauru e pedindo alguns ingredientes que estão em falta na cozinha. Próximo às 8h30 começa a chegar o restante do pessoal, como Sara Siqueira Aguiar, Bruno Fontana, Charlene Aparecida Gomes. Nessa terça, são seis funcionários na cozinha. Toninho e Sara entram às 8h30 e saem às 16h, pois trabalham todo dia (ele outro emprego e ela estuda à noite). Para os demais, que trabalham em dias alternados, o turno vai até as 22h30. Começa o expediente. Toninho se aproxima de mim com um saco de tomates. Retira um e coloca-o na bandeja de plástico ao lado da faca. -Você nunca cortou tomate, né? Responder “não” foi desnecessário. Revirei os olhos e dei um sorriso amarelo que disse tudo. Paciente, Toninho me ensinou a cortar um tomate, coisa que parece ser a tarefa mais simples de seu trabalho. Com uma faca bem afiada ele primeiro tira o pedúnculo do tomate (aquela parte verde), depois corta-o em fatias incrivelmente idênticas, só deixando a “bundinha” do tomate fora do recipiente para salada. O que Toninho deixou de fora da salada será usado para o vinagrete. Para fazê-lo, recebi uma pequena guilhotina de tomates, e ao invés de cortar cabeças, cortei “bundinhas”. E quadriculadas. Enquanto tudo isso acontece, o clima na cozinha é de descontração, ainda que o trabalho não pare. A cozinha fala da novela, combina a próxima balada, per-
gunta quem sou eu e o motivo de estar ali. A panela de 5kg ferve tanto quanto o ambiente. O calor que vem do fogão de chama azul e intensa, a fritadeira elétrica de batatas, a grelha e a chapa fazem o calor de Bauru parecer agradável. Bruno Fontana é alto, magro e esconde um moicano discreto sob a touca. Ele cuida do arroz, do purê, pega no freezer e nas geladeiras o que Toninho pedir, e ainda tem tempo para abraçar as amigas de trabalho e combinar os planos do fim de semana. Ele já foi barman, mas desistiu: “não tinha vida social”. Apesar de cozinhar com muita prática, Bruno tem planos fora da cozinha. Pensa em cursar Direito. Já Sara quer cursar Veterinária. Com 20 anos de idade, se divide entre a escola a noite, o trabalho e a filha que completou 2 anos no dia 11 de outubro. Ajudei-a na tarefa de colocar um saquinho de sal e um palito de dente em cada um dos saquinhos contendo um par de talheres. Sara fala sobre tudo com todos os companheiros de trabalho. Ficou sem graça quando disse que gostaria de entrevistá-la, mas enquanto eu a ajudava conversamos mais por suas perguntas do que pelas minhas. Mariana Aparecida Santos é tão jovem quanto Sara. Também tem uma filha, 4 anos, e há dois meses descobriu que está grávida. Mari já trabalhou na Casa do Pão de Queijo e é a segunda vez que trabalha no Griletto. Ela conta que antes a administração não era tão boa, já que a franquia de Bauru não tinha um dono, mas sim um gerente do próprio Griletto. Fernanda Pampani Tarcinalli. Ela e mais dois irmãos (Gustavo e Fernando) compraram juntos a loja em fevereiro deste ano. Fernanda conta ter comprado a loja “no escuro” e levou um susto ao ver que os padrões da franquia não estavam sendo
seguidos. Hoje tudo é pesado, etiquetado e mantém um padrão de qualidade. O restaurante está se restabelecendo em Bauru. Num dia de semana comum, chegam a sair 200 pratos em 2 horas (horário de almoço). Em feriados ou fins de semana, esse número pode chegar a 400 pratos. Fernanda cursou Direito, mas largou a profissão quando viu que não conseguia se distanciar emocionalmente das causas e nem das pessoas com as quais lidava. Fernanda é dona, mas trabalha tanto quanto seus funcionários. Entra no clima da brincadeira, da descontração. Entre ela e Toninho as cobranças e os pedidos são num tom firme a ao mesmo tempo brincalhão. À primeira vista pode parecer que estão prestes a bater boca., mas tudo acaba no tocar da campainha. Mais um pedido (e uma risada) saindo... O trabalho é cansativo, mas ninguém ali trabalha de cara fechada. Seria impossível conviver e trabalhar juntos sem as brincadeiras e as piadas internas. Mesmo com carteira assinada, a rotatividade de empregados é grande. Pela cozinha passam pessoas honestas em busca de seus objetivos e sonhos. Percebe-se que há sempre um ingrediente especial no prato de todos os clientes: a vontade de vencer de cada um ali.
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E que vença o melhor! Apetite lança uma batalha entre repúblicas de estudantes de Bauru. Inovação e criatividade foram essenciais para a vitória Jéssica Sumida / Maitê Oliveira Fotos por Fernanda Luz
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rês destemidas repúblicas aceitaram o desafio Apetite de transformar um inofensivo pacote de miojo em uma revolução gastronômica, o fetiche culinário das ciências humanas, exatas e biológicas. Mas para transformar nossos inexperientes gourmets nos revolucionários dispostos a transformar um pacote de macarrão instantâneo no instante macarrão da existência, tivemos que fazer uma oferta à altura. Um incrível engradado de latinhas de cerveja geladinhas, gostosas e suadinhas. É óbvio que na hora quem quisesse poderia amarelar, mas muito mais bonito e refrescante seria ter a satisfação de garantir aquela cerva do triunfo amenizando alguma das tórridas tardes bauruenses. Em meio à descontração, improviso, faro de cozinheiro e bom gosto, os estudantes prepararam pratos surpreendentemente curiosos para um miojo, que muitas vezes acaba sendo um salva-vidas na hora da alimentação, especialmente pela sua praticidade. As repúblicas deveriam contar com dois integrantes, no mínimo, para cozinhar; não poderiam ultrapassar o limite de dez ingredientes; e as notas de cada um dos cinco critérios poderiam variar de 0 a 10 pontos, avaliados por Guilherme Henrique e Fernanda Luz, dois jurados da nossa equipe. República A Toca, Quase Rep e República Cilada, foram as três participantes da Batalha de Repúblicas, cada qual com uma característica peculiar que se transmite nos sabores dos pratos: planejamento, descontração e improviso, respectivamente. Planejamento, porque A Toca preparou três pratos no dia anterior em que fomos lá para eleger aquele que mais agradava o paladar da casa; a Quase Rep, por sua vez, identifica-se como descontraída, pois nem parecia que os garotos estavam cozinhando, dada as conversas, risadas e despreocupação com a presença de nossa equipe e, por fim, a República Cilada contou com o improviso para elaborar o prato, já que ainda não tinham nada planejado, além de terem esco-
lhido com criatividade os ingredientes, que pareceram inusitados aos olhos da equipe. A TOCA
Em meio a uma cozinha espaçosa, foi ali que a República A Toca preparou o “Pimentoca”, prato resultado de pimentão recheado com frango desfiado e miojo. Antes de decidir pela “Pimentoca”, Gabriel Naro, um dos responsáveis pela preparação, afirma ter preparado mais dois pratos, um com creme de queijo e gongorzola e outro com
Gabriel nos conta também que sempre gostou de cozinhar, e até mesmo pensou em fazer gastronomia, só não o fez por ser um curso que requer muito dinheiro. O mais interessante é que o gosto por cozinhar surgiu de maneira necessária e inusitada. “Na verdade, eu estava no cursinho, aí eu voltava para casa a noite e minha mãe não tinha o costume de jantar, e eu tinha que comer qualquer coisa, até que um dia eu pensei: eu tenho que aprender a fazer alguma coisa. E foi assim que ganhei o gosto por cozinhar”, comenta o participante,
PIMENTOCA Ingredientes: filé de frango pimentão vermelho salsinha azeite tempero do miojo queijo ralado pimenta do reino azeitona
Modo de fazer: deixar o peito de frango descansando no tempero (salsinha e sal). Tirar o miolo do pimentão e cozinhá-lo em uma panela com água. Cozinhar o miojo. Refogar o frango numa panela com azeite até ficar com uma cor dourada. Adicionar o sachê de tempero no miojo e tirar o caldo. Desfiar o frango e misturar ao miojo. Rechear o pimentão com a mistura e salpicar queijo ralado. Levar ao forno, até dourar e derreter o queijo ralado.
creme de queijo frito no azeite e na cebola. entusiasmado com o concurso. A ideia do prato surgiu de Gabriel, a parAs notas dadadas pelos nossos jurados tir do hábito dele de sempre apreciar co- para a “Pimentoca” foram: midas com pimentão. “Eu sempre gostei de Sabor: 10 fazer pimentão recheado, aí eu pensei por Apresentação:10 que não miojo com pouquinho de pimenta Textura: 9 e uma coisa a mais, foi então que eu tive a Identificação de ingredientes: 8 ideia e fiz alguns testes e deu certo” diz. Cheiro: 10
QUASE QUASE REP Ao entrar na Quase Rep, os ingredientes já estavam praticamente todos a postos na mesa. Anderson Generozo, mais conhecido como Chuky, e Pedro, carinhosamente chamado de Porco, começavam a organizar a cozinha. Enquanto preparavam o miojo, os meninos nos contaram o que mais gostavam de comer, os temperos favoritos e como cozinhavam na casa. Pedro, apesar de cursar gastronomia, não é o único integrante a ser cozinheiro no dia a dia. “Aqui todo mundo cozinha e a gente já fez bastante coisa diferente, como Taco, Temaki...”, diz Chucky. O prato mais cozinhado no dia-a-dia, segundo os garotos, é o macarrão, acompanhado de alguma carne, que cada um escolhe e prepara, e uma salada. E sobre alimentação saudável? “Quando cozinhamos, cozinhamos para todo mundo, aí é mais fácil, agora se estamos sozinhos...”. Chucky diz que é difícil alguém cozinhar sozinho. Nesses casos, optam por comer algo fora de casa Para Pedro, a gastronomia tem uma função até mesmo social, de apresentação. “Quando a gente junta a galera, sempre tem um vinho, por exemplo, que a gente vai tomando. Isso reúne as pessoas”, diz. Chucky acrescenta que a gastronomia, ao contrário da alimentação do dia-a-dia, é um ritual, em que você pensa em como o prato será preparado e porque será feito. “É cozinhar com um contexto”. O “quase”, prato preparado pela Quase Rep ganhou as seguintes notas: Sabor: 9 Apresentação: 8 Textura: 8 Identificação de ingredientes: 8 Cheiro: 9
BINO
Ingredientes: creme de leite limão tempero do miojo queijo parmesão ralado salsinha Modo de fazer: cozinhar o miojo por três minutos. Enquanto isso, espremer um limão. Após o miojo ficar pronto, colocar o sachê do tempero (galinha caipira) e tirar todo o caldo. Em seguida, adicionar duas colheres do limão espremido no creme de leite e juntar tudo ao miojo. Depois de pronto e no prato salpicar salsinha e queijo ralado por cima. Servir ainda quente.
Ingredientes: alho granulado queijo mussarela azeite páprica picante cominho em pó curry pimenta calabreza paio molho de tomate azeitona
Modo de fazer: em uma panela com água colocar a pimenta calabresa, o curry e a páprica picante. Colocar o miojo para cozinhar junto com esses ingredientes, não precisando esperar a água ferver. Em outra panela, colocar o molho de tomate juntamente com o paio cortado em pedaços, as azeitonas e o alho e levar ao fogo. Servir o miojo jutamente com o molho e para complementar a receita colocar queijo mussarela cortado em cubos por
REPÚBLICA CILADA Ao entrar na bela república, as garotas ainda não faziam ideia de como elaborar o miojo. Inúmeros ingredientes sob o balcão determinam a indecisão, até que se chega a um consenso e, finalmente, a receita começa a ser preparada. Natália Bressan, uma das cozinheiras, diz que a rotina alimentar da casa é muito variada, por conta de que cada uma das meninas possui um horário diferente. “Tem gente que come fora e tem gente que faz comida, por exemplo, uma das meninas daqui faz comida todo dia e como sempre, mas a maioria cozinha mais quando dá tempo e costumamos fazer arroz, feijão, macarrão, algum tipo de legume, coisa diferente a gente só faz no final de semana mesmo”, explica Bressan. A única que foge, bruscamente, da rotina alimentar da casa é a Laís Fermino, uma das integrantes, por ser vegetariana. Aos finais de semana as garotas costumam fazer pipoca. A curiosidade fica por conta da forma que Nathália Fontes prepara, com vinagre e Sazon. A partir de muita descontração e boas risadas, o miojo fica pronto e a mistura de ingredientes, até então nunca vista pela equipe, deixa todos surpresos. O azedinho do limão com a cremosidade do creme de leite é o que marca e dá um toque especial ao prato da Cilada. O prato preparado pelas meninas da República Cilada foi apelidado de Bino e ganhou as seguintes notas: Sabor: 7 Apresentação: 5 Textura: 6 Identificação dos ingredientes: 7 Cheiro: 5
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Não custa nada comer bem
Alimentos comuns, que temos em casa, podem ser boas opções para uma dieta saudável Maitê Oliveira
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anter hábitos saudáveis de alimentação tem ficado mais difícil a cada dia. Há vários empecilhos para tal: rotinas atarefadas, falta de tempo para preparar refeições e a dificuldade para aceitar mudanças de hábitos e exercícios físicos. Além disso, o custo dos alimentos que geralmente são dados como saudáveis por revistas que trazem matérias sobre emagrecimento, programas televisivos sobre bem-estar e nutricionistas, podem desanimar quem pensa em seguir uma dieta com baixos índices de gordura e ricas em vitaminas e outros nutrientes necessários. Porém, segundo a nutricionista Rosileidi Chicotti, “temos bons alimentos ricos em nutrientes com custo acessível e uma ótima atividade física, a caminhada, sem custo nenhum. Basta sabermos consumir quantidades e tipos de alimentos adequados”. Rosileidi explica que consumindo arroz, feijão, um legume e algum tipo de carne (não-gordurosa), a pessoa já tem uma ótima combinação nutricional. Também é preciso ficar alerta a erros que são cometidos no dia-a-dia, que muitas vezes são divulgados como saudáveis. Rosileidi aponta erros de alimentação: o
primeiro é trocar pão por torradas. Mesmo que seja francês, o pão é indicado desde que seja uma unidade. Ao ser torrado, ele perde somente água, tornando-se mais leve. Logo, as pessoas ingerem grandes quantidades, com a falsa sensação de se estar comendo menos. O segundo é deixar de comer carne. O alimento é fonte de proteína animal e auxilia na manutenção da massa muscular. Portanto, pode ser consumido, desde que não tenha muita gordura. O terceiro pecado é cortar os carboidratos
da dieta. “O carboidrato é um combustível necessário para o funcionamento adequado do nosso cérebro, pois na sua ausência as proteínas têm de trabalhar dobrado. Isso prejudica a sua principal função, que é proteger e manter a massa muscular”, ensina Rosileidi. O recomendável, segundo a nutricionista, é consumir carboidratos complexos, por exemplo, os que estão presentes em alimentos como arroz, feijão, aveia, pão, milho e alimentos integrais.
Dieta de aproximadamente 1600 calorias
Café da manhã 01 Xícara (chá) de leite desnatado com café ou uma colher (sobremesa) rasa de achocolatado; 01 pão francês sem miolo com 01 colher rasa (sobremesa) de requeijão light; 01 fatia de abacaxi. Lanche da Manhã 01 banana nanica.
Almoço 01 prato (sobremesa) de fo-
lhas com pepino e tomate; 04 colheres (sopa) de arroz; 03 colheres (sopa) de feijão; 01 bife médio (120g) na chapa com ervilhas e cebola; ½ xícara de chuchu com cenoura cozida; ½ copo de suco de caju com adoçante.
Lanche da Tarde 01 xícara de copo de leite desnatado com café; 02 biscoitos de água e sal com margarina.
Jantar 01 prato (sobremesa) com folhas e beterraba; 03 colheres (sopa) de arroz; 02 colheres (sopa) de feijão; 01 filé de pescada na chapa com limão e ervas finas; ½ xícara (chá) de creme de milho; ½ pêra pequena. Ceia 01 xícara de chá de camomila com adoçante
A cesta básica na cidade de Bauru
Maitê Oliveira
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A CAÇA PÓS FESTA Ficar com fome durante a madrugada em Bauru é um problema, são poucas as opções Foto:Fernanda Luz
Fernanda Luz / Guilherme Henrique
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ocê já foi pra balada e nas altas horas deu aquela fome? O que encontrou quando foi em busca de um lugar pra comer? É o que a equipe do “Apetite” foi investigar nas ruas de Bauru. As baladas estavam começando e as horas foram passando, e fomos ao Franz’s Café, na avenida Getúlio Vargas, onde vários casais comiam e as atendentes trabalhariam até amanhecer. Outro lugar, que nunca fecha, isso mesmo, nunca fecha, é o Habibs, na Nações Unidas, que tem o maior pico de movimento das 4 às 6 da manhã. Apesar disso, existem poucos lugares para comer em Bauru
durante esse horário, e por isso os estudantes, majoritariamente sem carro, tem como principal destino o fast-food árabe. No Mc’Donalds, por exemplo, só funciona o drive-thru e o já citado Franz’s Café fica distante das principais festas. Além disso, não existem conveniências 24 horas para atender os famintos notívagos. Há também os que dispensam as esfihas, pizzas ou cafés, para poder comer um macarrão instantâneo em casa, ou até mesmo não saem preparados para comer fora depois da festa. Mas quem tem fome não tem muitas opções, quem trabalha com comida na noite tem várias
histórias. Ronaldo Andrade, de 28 anos, trabalha no Habibs no turno da noite há mais de três anos, e tem vários “causos” sobre quem frequenta o restaurante. “Toda semana são as mesmas pessoas. É difícil mudar”, é o que diz. “Alguns dias aparece um pessoal que sai de uma boate gay de Bauru”. Ronaldo não reclama deles, apesar de entrarem no horário de limpeza, por serem “muito gente boa”. Bem humorado, Ronaldo também conta que até por volta das 2 manhã são pais de família que frequentam o local, e depois “são só alcoólatras” diz o funcionário, já acostumado ao horário. As peripécias dessas pessoas
Cupcakes do sustento
que querem matar a fome são várias. Muitos capricham no banheiro (dormindo ou passando mal), outros conversam alegremente com os atendentes, alguns reclamam da demora da sua esfiha de espinafre e, vez ou outra, alguns tem disposição para arranjarem briga. O Habibs vai ser palco de muitas histórias ainda, já que não existem outras opções tão baratas e rápidas para quem acabou de dançar e tomar umas e outras na noite. E quem não aprecia a culinária fast-food árabe, vai continuar reforçado o estoque de macarrão instantâneo, pois comer na madrugada em Bauru não é nada fácil. Cupcake do Leo: chocolate com menta
Dois estudantes que continuaram morando em Bauru depois de começarem a vender docinhos
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Fernanda Luz (texto e fotos)
ntrevistamos Gabriel Victoriano, aluno de psicologia e Leo Alvarez, de Design, ambos estudantes da Unesp e eles falaram sobre como conseguem um dinheiro e fazendo sucesso com suas receitas especiais de cupcakes e outros doces vendendo pela universidade. Cada um possui sua estratégia para conseguir conquistar os amigos, alunos, professores e outros funcionários do Campus: Gabriel utiliza o Facebook para compartilhar informações de quando e onde ele vai vender, até mesmo divulgação de promoções, e também acredita que o boca a boca seja uma estratégia que lucre mais, já que a troca de experiências e sabores vai passando de pessoa pra pessoa, “o bom relacionamento com os estudantes é essencial para que eles compartilhem o gosto pelo produto com
os amigos, muitas vezes, pessoas vieram comprar os doces pois ouviram algum amigo elogiar e ficam curiosas para experimentar também”, afirma. “Prefiro acreditar que a qualidade é a melhor propaganda!”, é o que diz Leo Alvarez, que também sabe que fazer um anúncio bem humorado nas redes sociais pode ajudar bastante nas vendas. O maior motivo pra eles começarem a vender doces era pra ter um dinheiro extra que ajudasse no orçamento mensal. Leo começou no meio do ano passado, mesmo momento que sua bolsa do projeto de extensão acabou e o dinheiro dava apenas pra pagar as contas. Então, ele e um colega de classe, Felipe Pedroso, decidiram vender doces. Leo sempre gostou de cozinhar e seguiu uma receita de família: o cupcake de capuccino de sua avó, que acabou
se tornando o mais pedido entre as diversas receitas que ele faz. A situação não foi muito diferente para Gabriel, que quando a bolsa de iniciação científica também terminou e ele precisava de dinheiro para continuar a morar em Bauru, alguns amigos e professores sugeriram que ele vendesse doces, o que trouxe certa autonomia pra ele na cidade. Sua receita de maior sucesso é também um cupcake, só que de Nutella. E em épo-
ca de calor, o bombom de Leite Ninho “o pessoal aprova bem”. Sempre tem variedade de sabores cada um ao seu jeito. Leo lembra e guarda o segredo das receitas de sua avó.
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Uma refeição afinada Conheça o Comida dos Astros, um grupo de lamber os beiços
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Cinthia Quadrado
ual a semelhança entre No tabuleiro da baiana e o Vatapá? E entre a Feijoada completa e o Tico-tico no fubá? Todas são músicas feitas por grandes compositores como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Chico Buarque e Zequinha de Abreu. Cada uma delas é uma bela refeição para os ouvidos brasileiros. Não ficou satisfeito? Então, acalme-se, porque ainda não acabou. Quando o assunto é comida e música, nós não podemos deixar de lado as paródias feitas pelo grupo Comida dos Astros. A repórter Cinthia Quadrado conversou com Rony Cácio, idealizador do projeto. Como surgiu a ideia de feazer o Comida dos Astros? “A necessidade faz o homem” tinha acabado de chegar em São Paulo e para sobreviver de arte, fiz teatro mambembe em
bares e restaurantes da Vila Madalena, em 1998. Fazia esquetes com textos da peça “As mamas de Tirésias”, do Guillaume Apollinaire. Num momento foi necessário chegar com algo novo. Já era parodista e sem
a pop star falava seus gostos gastronômicos num programa de rádio cantando seus sucessos em versões paródicas, sempre com o tema comida. Quem são as suas referências no trabalho? O povo,
nenhuma pretensão de criar fórmula, surgiu o programete ‘Na janta com Magronna’, onde
a minha família. Tenho apreço por Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, O Tropicalismo, o
Movimento Armorial, o Mangue Beat, Secos e Molhados, Raul, Novos Baianos. Descobri o recentemente o Cavalo Marinho, folguedo da Zona da Mata de PE, Chico Anysio, Monty Phyton, TV Pirata e admiro muito o Alex Atala e o Ferran Adrià. Em que a gastronomia é diferente da alimentação? É só nomenclatura. A fome não diferencia. A palavra “Gastronomia” vem do grego e quer dizer “prazer do ventre”. Seja o requinta de um prato francês ou o “peéfão” (prato feito) com zoiúdo (ovo) da esquina, gostamos mesmo é de matar a fome. Você tem planos para o futuro do Comida dos Astros? Estou em meu primeiro monólogo, que estreia em abril de 2013, comemorarando os quinze anos do grupo. Estreia em Abril de 2013.
Uma Bauru estrangeira De quibe a sushi, a cidade possui restaurantes típicos que agradam a todos os paladares
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Guilherme Henrique / Jéssica Sumida / Maitê Oliveira Foto: Fernanda Luz
uem vive ou visita Bauru não imagina a variedade de restaurantes típicos existentes na cidade. Árabe, japonês, chinês, italiano, mexicano são alguns desses estabelecimentos que compõe o cardápio bauruense. O agradável restaurante quase passa despercebido na rua Araújo Leite, não fosse os escritos “Empório Árabe”. Segundo Hecmet Farha, proprietário do restaurante e neto de Libanês, o estabelecimento surgiu a partir de um empório de produtos árabes. Em 1996, nasceu a ideia de se ampliar o local e fazer um restaurante. Hecmet nos conta que, no começo, temia que a ideia não tivesse sucesso. “Nosso medo era que não tivesse muito frequência, por ser diferente, mas estava enganado, a ideia foi bem aceita, principal-
mente pela variedade de comidas”, explica o proprietário, empolgado . O carro chefe do restaurante é o carneiro assado e recheado, servido de quinta à domingo. Além disso, há também o charuto de folhas de uva, recheado com carne. A culinária árabe se destaca pelos seus temperos específicos, usados na maioria dos pratos, como pimenta síria, noz moscada, cravo e canela. E como degustação, Hecmet deixa para os clientes o Arak, uma bebida destilada, feita de uva com essência de anis, dona de um sabor adocicado. “É bem refrescante, mas é mais forte que a cachaça brasileira”, compara. Em outra parte da cidade, próximo ao Vitória Régia, localiza-se o restaurante japonês, culinária que costuma fazer sucesso entre o público jovial
e que conta com dois fatores essenciais: a qualidade de produtos sempre frescos e os detalhes, que deixam a comida mais atraente. O Japapou surgiu em 2010, apenas com o serviço de entregas, e só depois abriu espaço para o público. O proprietário e
Pão sírio e zaata dão um toque especial ao prato árabe
professor de geografia, Marcus Nakayama nos conta que tem dificuldade de conciliar sua rotina entre as salas de aula e o restaurante. “O tempo exigido é muito grande, você tem que correr atrás de compras, de mercadorias, tem a parte administrativa, de escritório, de funcionários. Isso exige muito tempo, além das aulas que possuo”, detalha. Para Marcus, o sucesso se deve a qualidade dos seus pratos, o preço acessível e a boa localização do estabelecimento. Os pratos mais pedidos são o Temaki e o Yakissoba. Há também atrativos criativos, que agradam até quem não gosta de comida japonesa, como o Temaki de morango com chocolate, uma casquinha de biju recheada de creme de avelã e morangos.
Um lanche além da identidade municipal As muitas receitas do Bauru explicam porque esse lanche é tão pedido no Brasil inteiro
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Jéssica Sumida / Natália Dário / Ricardo Simoni Fotos por Fernanda Luz
ma quinta-feira à noi- em 1998 a Câmara Municipal te, há em torno de dez aprovou a lei reponsável por mesas ocupadas e uma “tomar as medidas necessárias televisão ligada, mas que pou- para o registro do Sanduíche co se nota. O que parece mais Bauru, como produto idealizaimportar naquele ambiente é a do por um bauruense”. O Bar Skinão foi o primeiro companhia, o barulho da chapa e o cheiro do lanche que levou em Bauru a comercializar o lano nome Bauru a ser conhecido che original. Jacir Barbosa, chapeiro do Skinão em todo o Brahá trinta e dois sil. Essa é a desanos conta que crição do Bar são comercialiSkinão na noite zados por volta em que provamos o Bauru lede 350 lanches Bauru por dia. gítimo. Mas o lanche O lanche tão Bauru original do Skinão não é só aprepedido na cidade foi idealizado pelo estudan- ciado por moradores da cidade. te Casemiro Pinto Neto, em São Muitos visitantes aproveitam Paulo, nos longínquos anos 20. a viagem para experimentar o O sanduíche original leva em tão famoso Bauru. Fiel consusua receita rosbife, rodelas de midor do sanduíche produzitomate, picles e queijo derreti- do no Ponto Chic, o fotógrafo do na água, montados em um paulistano Claudinei Nakasone que esteve na cidade para uma pão francês sem miolo. O sanduíche construiu tão palestra fez questão de experibem a identidade da cidade que mentar o lanche feito em Bau-
ru. “É gostoso comer a comida duzido lá é assado e leva em sua típica da região. Eu quero ex- receita massa fermentada preperimentar o Bauru daqui, que sunto, queijo, molho de tomate deve ser parecido com o de São e orégano. “Nas encomendas, esse lanche sai bastante, prinPaulo”, prevê Nakasone. No entanto, os visitantes que cipalmente porque as crianças vinham à cidade nas segundas- gostam muito”, complementa feiras se decepcionavam por Patrícia. A distribuidora Casa não poderem experimentar o do Salgado oferece um Bauru que segue essa lanche original, já que o Skinão mesma receita, mas em tamanão abre nesse dia. Atualmente, nho maior. Na lanchoisso não é mais nete Abril em problema. A padaria Burekas Portugal o lanche é montado também faz o Bauru legítimo. Bauru da Padaria Copacabana na chapa com “Nós somos credenciados e há pão francês, presunto, mussabastante procura principal- rela e rodelas de tomate, segunmente por pessoas que estão do o dono Carlão Tanaka. Independentemente de ser visitando a cidade”, explica o o Bauru legítimo ou em suas gerente, Giovan Roque. Além do tradicional, o Bauru receitas “genéricas”, talvez o pode ser encontrado em recei- que torne inigualável o prazer tas “genéricas”. Patrícia Abiate, de comer esse sanduíche seja a nutricionista da Padaria Copa- sensação de provar um lanche cabana, conta que o Bauru pro- que é famoso em todo o Brasil.
O hambúrguer de cada dia
Esse lanche tão comum do paladar brasileiro teve grandes modificações em sua história
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Jéssica Sumida / Natália Dário Fotos por Natália Dário
esquisas históricas mostram que a primeira versão do hambúrguer foi criada no século XIII pelos Tártaros, e consistia em moer uma carne crua e amaciá-la sob a cela dos cavalos. No século XVII a carne foi aprimorada com temperos. Foi apenas em meados do século XIX que o hambúrguer chegou na América, onde as pessoas passaram a combinar a carne grelhada com duas fatias de pão. O hambúrguer chegou no Brasil em 1952, trazido pelo tenista Robert Falkenburg. Na décda de 60, as lanchonetes viraram ponto obrigatório dos jovens de classe alta. Nos anos seguintes o lanche passou a ser produzido também em traillers estacionados nas ruas. Mas se no início da comercialização o hambúrguer era mais procurado por jovens e aos fins de semana, hoje, apesar de ser um alimento calórico, o
sanduíche é aceito pelos brasileiros sem ter dia específico. Em Bauru, há aproximadamente 300 traillers cadastrados na Secretaria de Planejamento. A fim de investigar o porquê do hambúrguer ser tão aceito, visitamos três traillers na cidade. O “Tio Guerreiro” fica estacionado na frente da UNESP. Antonio Guerreiro Filho, o proprietário, conta que começou a trabalhar com lanches por falta de opção. “Eu comecei vendendo minipizza, pois não sabia fazer lanche. Então fui a um carrinho de hambúrguer para aprender a fazer”, explica. Na frente do Condomínio Camélias, encontra-se o “Dú Lanches” comandado por Eduardo Gonçalves. “Caí de paraquedas nessa profissão. Eu trabalhava com entregas de moto. Até que um dia troquei minha moto por um trailler”, conta. Eduardo explica que eles recebem, em média, seiscentos pedidos por dia.
No meio de tantas opções de traillers da Praça da Paz encontramos o “Ki-Sabor”. A proprietária Mara Pessoa explica que trabalha com isso há 15 anos. “Foi minha tia que me chamou para trabalhar com ela”, conta. Durante as visitas aos traillers experimentamos o lanche X-Salada e constatamos que eles têm sempre a mesma base de ingredientes: pão, carne, queijo, alface, tomate e condimentos. Cada carrinho, contudo, tem o seu toque especial. No caso do Tio Guerreiro, a batata palha deixa o lanche bem crocante. Já no “Dú Lanches”, a cebola cortada em cubos dá um sabor diferenciado. E no “Ki-Sabor”, o responsável pelo incremento é o presunto. Cada trailler que vende hambúrguer terá sua receita especial. Vale a pena experimentar as diversas modalidades que os carrinhos ao redor da cidade nos oferecem.
Hambúrgueres do Dú Lanches, Tio Guerreiro e Ki-Sabor, respectivamente. X-Salada tem em média 550 kcal.
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Criatividade para inovar o tradicional Novos ingredientes prometem dar outros sabores ao conhecido brigadeiro Texto e foto por Natália Dário
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ue os doces são aceitos pela maioria das pessoas não há dúvida. As sobremesas são vistas como um prêmio tanto para as crianças que comeram todos os legumes no almoço quanto para os adultos que se sentem merecedores dessas delícias. A novidade da área doceira encontra-se atualmente nos estabelecimentos focados na venda de um só produto como as brigaderias que têm representantes em São Paulo, Goiânia, Recife e Rio de Janeiro entre outras cidades. A principal característica dos brigadeiros gourmet está na remodelação da receita original, utilizando produtos de alta qualidade e combinações de ingredientes. E foi por sentir falta de uma brigaderia em Bauru que as pedagogas Fernanda Barontini e Aline idealizaram a Srta. Brigadeiro. “A Aline visitou Recife, conheceu uma loja especializada e veio com a ideia.
Como a gente sempre se reunia e trocava pratos e informações sobre receitas, a gente pensou em trazer uma brigaderia para Bauru”, conta Fernanda. A Srta. Brigadeiro está localizada em um quiosque no Bauru Shopping. “O brigadeiro gourmet tem que estar localizado em um lugar que as pessoas tenham interesse pelo produto e após pesquisas identificamos que o shopping tem esse público”, explica. Para a produção, a Srta. Brigadeiro tem parceria com duas doceiras que são as responsáveis por pôr a mão na massa. Fernanda conta que os doces são feitos com uma massa de brigadeiro comum, mas em função da conservação, ela usa uma receita diferente das que são feitas em casa. “A massa do brigadeiro é feita com chocolate belga. Nós pesquisamos para saber qual o sabor de chocolate que casa mais com o paladar do brasileiro”, conta.
São produzidos aproxima- considerado um emotion food, damente 300 brigadeiros por que desperta sensações da insemana e esse número tende a fância e traz nostalgia àqueles dobrar aos sábados e domingos. que os consomem. “Acho que A Srta. Brigao mercado de brigadeideiro trabalha ros gourmet é com 40 sabobem promisres diferentes, sor, pois é um sendo que os mais pedidos doce tipicamente brasisão o belga, ninho, nozes, leiro e o Brasil está em amêndoas e paçoca. “Já a Brigadeiro sabor belga é o mais pedido alta no cenácriançada gosta dos que têm rio mundial”, aponta Fernanda. O segredo da Srta. Brigadeiconfeitos coloridos que nós chamamos de kids”, comenta. ro, segundo Fernanda, está no Sabores exóticos como o de capricho com que os doces são pimenta-rosa e o de café tam- feitos. “Cada brigadeiro é consibém ganharam o paladar do derado por nós como um filhipúblico. Fernanda conta que nho, pois eles são feitos artesaos sabores foram criados por nalmente, não em produção em elas, por meio do experimento série. São feitos um a um e pede combinações, mas destaca sados um a um. E esse é o valor que alguns sabores, como o de que nós queremos passar, para morango são receitas de família que ao comer o brigadeiro a pessoa possa se lembrar da sua que elas readequaram. A crescente procura acon- casa, da sua avó, do seu anivertece também por ser um doce sário”, relata Fernanda.
A mágica do sabor artesanal
Mão na massa é um dos mistérios da fabricação artesanal de sorvetes
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Natália Dário
nstalada nas proximidades dos condomínio Camélias e Falmboyantes a sorveteria Nova Delícia é um ícone da cidade na fabricação de sorvetes artesanais. A história da Nova Delícia começou em 2006 quando o proprietário Valdir de Oliveira resolveu mudar de vida. Por ter parentes que já trabalhavam no ramo, ele decidiu abrir uma sorveteria. No início Valdir aprendeu com esses parentes a produzir sorvetes. A novidade da Nova Delícia veio em 2008, quando contrataram uma consultoria técnica por quatro meses para auxiliar na produção. “Foi quando a gente fez uma mudança bem radical. Nós saímos do leite in natura e fomos para o leite em pó, optamos por um outro estabilizante, outro sistema de produção, trocamos a máquina e instalamos o sistema de pasteurização. Foi uma inovação
muito forte, deu uma guinada tro graus em um período de tempo de duas horas. Esse prode 360 graus”, conta Valdir. Outro fator que faz a dife- cesso aumenta o tempo de vida rença na Nova Delícia é justa- do leite e elimina as bactérias. mente seu modo de produção. O próximo passo é a maturação, “O industrial é automatizado, em que a parte sólida, chamajá o artesanal é mão na massa, da de calda base, descansa por literalmente”, explica Valdir. A mais duas horas para reidraprodução Natália Dário tar. É após inicia-se esse processo que com uma começa tabela de a saboribalanceazação do mento de ingrediensorvete no misturates vinda da Itália, dor, onde é feita a que atende A sorveteria produz mais de 400 sabores às normas mescla de mundiais de fabricação de sor- cada sabor de sorvete. Termivete artesanal. Essa tabela de- nada a produção os sorvetes termina o piso e o teto da quan- vão para a comercialização. Mas se essas diferenças e tidade de todos os elementos que irão compor o sorvete. Em características da produção seguida ocorre o processo de do sorvete artesanal passam pasteurização, no qual o leite é despercebidas pelos olhos elevado a uma temperatura de dos consumidores, a textura e 75 graus e resfriado para qua- sabor desses sorvetes são os
responsáveis por conquistar o paladar. São produzidos mais de 400 sabores em sistema de rotação, sendo que 84 ficam expostos no balcão. “O carro chefe nosso há um bom tempo é o Ninho Trufado, seguido da linha de chocolate. Nós trabalhamos com aproximadamente 15 sabores de chocolates. Sabores tradicionais como creme, milho verde, morango, flocos, leite condensado e coco queimado também vendem bem”, conta. Muitos dos sabores foram desenvolvidos por eles após a consultoria. “Para se criar um sabor de sorvete é preciso deixar sua mente viajar, é encontrar a combinação”, comenta, mas sem revelar seus segredos. O sucesso da sorveteria, acredita Valdir, está na qualidade do estabelecimento, do atendimento e da gama de sabores só possíveis graças ao processo artesanal. A Nova Delícia fica na avenida Orlando Ranieri.