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Da parte ao todo – Contribuição para a IV Conferência Nacional do Enlace escrito por Daniela Mussi e Vinicius Almeida – Enlace/SP
O texto que apresentamos propõe-se a introduzir um debate para a militância do Enlace do significado de ser de esquerda e socialista. Para tal, optamos por uma contribuição baseada em nossas interpretações da realidade de Marx e dos marxistas do século XX, o século das revoluções.
Construindo um olhar sobre a conjuntura: da crise capitalista e da crise revolucionária
O mundo capitalista de hoje sobrevive assombrado. Depois de 40 anos de equilíbrio instável, conquistado à custa da guerra, da fome e da opressão, a crise econômica e social voltou a assolar os países do centro e da periferia desse sistema. O ano de 2008 foi um marco, representado pela explosão da bolha do capital financeiro intercontinental, que culminou com a quebra de grandes empresas financeirizadas, bem como com a injeção de trilhões de dólares pelos Estados nacionais para salvação de outras tantas. O ano de 2011 simboliza outro marco, de lutas e revoluções contra as ditaduras nos países árabes, somadas às lutas contra o desemprego, a exploração e perdas de direitos nos países europeus mais atingidos pela crise econômica. O capitalismo está assombrado, portanto, pelo fracasso das alternativas criadas em seu interior como tentativas de proclamar o “fim da história”, o fim do conflito social. Afinal, na mesma medida em que a crise da dominação econômica se expandiu, o protagonismo popular se materializou nas lutas políticas espalhadas pelo mundo, abrindo um novo período de esperança e especialmente de desafios. Sabemos, porém, que essa crise econômica é mais um momento de fracasso desse sistema, uma farsa de antigas tragédias, como previa Marx, permitindo a quebra do fetiche que encobre a luta política real entre as classes opressoras e as classes oprimidas. Quando Marx pensou sobre as crises do capitalismo no século XIX, escrevendo sobre ela nos jornais da época, suas palavras não eram tão bem absorvidas, compreendidas, como podem ser hoje, passados mais de 150 anos de crises e sacrifícios humanos impostos para manutenção desse modo de produção. Além disso, as ideias do pensador alemão sobre a complexa relação entre crise econômica e crise revolucionária também não eram óbvias em seu tempo. Mas será que elas já são óbvias em nosso tempo? A relação entre crise econômica e crise política contida no pensamento de Marx não era clara nas reflexões dos intelectuais da II Internacional e dos sindicalistas revolucionários europeus do final do século XIX, início do século XX. Os primeiros viam as crises econômicas como um indício positivo do fim do capitalismo, um cavalgar tranquilo e sereno para um socialismo reformista, organizado nas bases da incompetência da direção das classes dominantes no Estado. Os sindicalistas revolucionários, por sua vez, viam nas crises econômicas o avanço do colapso eminente e destrutivo do sistema, que deveria ser enfrentado com a negação das instituições e formas políticas burguesas e com a realização de uma grande e definitiva greve geral. Como sabemos, essas duas formas de interpretação do marxismo realizavam, cada uma ao seu modo, uma “revisão” das ideias de Marx para que encaixassem no que consideravam a melhor forma de luta: ora a socialista-parlamentar, ora a sindical-