Portfólio Natalia Ribacki

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NATALIA COMERLATTO RIBACKI PROJETO PARA A CADEIRA DE CERÂMICA 2014/1 UNIVERSIDADE FEDERALDO RIO GRANDE DOSUL



O aguardante nº Cinco Eram ao todo 15 pessoas na fila. Para onde elas queriam ir é a parte menos importante da história. Importante mesmo é ressaltar que chovia, e muito. E era noite. É bem verdade também que era um lugar um pouco perigoso da cidade que estavam os aguardadores da fila. Tinha chegado o momento, e as portas do lugar que não é importante se abriram. As duas primeiras pessoas que aguardavam entraram sem maiores conflitos. A terceira, porém, e também a quarta, sua amiga, avisaram ao quinto aguardante que não iriam entrar, pois esperavam alguma outra coisa também não importante. — Moça, com todo o respeito, agradeço-te pela passaagem pela porta que não importa antecipado ao que me era previsto — disse nº Cinco — porém, como aguardante quinto, acho necessário que hajam duas pessoas em minha frente. Por favor, aguardantes seguintes, podem passar em minha frente. As aguardantes nº Seis e nº Sete não hesitaram em dar dois passos à frente. Assim que o fizeram, o aguardante nº Seis também achou que não seria justo passar para a frente, já que nº Cinco havia chegado antes. E, para ser justo com a situação, pediu para que o casal nº Oito e nº Nove (que estavam tão empolgados entre si que nem sabiam o que se passava) para que fossem na frente deles entrar no lugar que não era importante. Nº Sete quando era nova em algum lugar sempre se comportava parecida com os demais, era sua estratégia de socialização. Estava usando uma calça camuflada (tinha ido entregar uns papéis na Brigada Militar) e usava chiquinhas em seus cabelos (tinha ido ver sua amiga depois de entregar os papéis). A cidade era nova, então achou sensato imitar aos demais, e segundo a lógica (única coisa que nº Sete nunca errava), pediu para que os aguardantes nº Dez, um senhor idoso, e nº Onze, um “hippie” ostentando marcas em suas roupas, passarem à frente dela. Nesse ponto, o casal já tinha também entendido a lógica da situação. Riram entre si, e encararam como uma brincadeira. Todo cordial, o rapaz nº Oito ajoelhou-se perante nº Doze e nº Treze para que pusessem à sua frente. Sua namorada, agora mudara as feições, pois a garota nº Doze, para quem ele olhava enquanto ajoelhado, era a mais bonita da fila, inclusive mais que ela. Por seu ciúme, olhou o rapaz nº Quinze, ignorando as regras ali criadas. Beijou-o nos lábios, e levou de mãos dadas para a sua frente na fila. A senhora nº Quatorze ficou irritada com a situação, suas varizes estavam inchadas e queria entrar logo no lugar que não era importante. Durante toda essa cena, ninguém passou pela porta, exceto nº Cinco, que, com a sementinha plantada, pode sossegar em seu lugar.



A nova moradora Eram quatro moradores novos e todo semestre eles mudavam, mas às vezes eram mais pessoas na casa. E assim, todos os moradores daquele quarto, nº 25, ficaram aliviados, por não haver superlotação. Eram três garotas e um garoto. O apartamento era pequeno, e quase impossível de haver movimentos que passassem despercebidos. Havia duas estantes, uma com duas gavetas bem grandes, e outra com oito gavetas, porém menores. A primeira garota a chegar, anotou tudo o que havia de errado no quarto, e, depois de conhecer a segunda e o terceiro morador, saiu para comprar o que faltava para a casa. Na volta, a primeira garota foi direto ao trabalho, sem nem mesmo cumprimentar a última que recém havia chegado, e começou apertar o parafuso de alguns dos puxadores das gavetas que ela tinha anotado. Na terceira gaveta, porém, sua cara ficou pálida, e ela a fechou rapidamente. Tinha certeza de ter conferido todas elas, antes de sair de casa, e de não ter visto aquilo antes. Todos os outros moradores perceberam sua expressão, mas guardaram para si naquele momento. E durante aquela noite, um por um, fingindo dormir esperando que todos os outros estivessem, foram ver o que havia naquela gaveta que tanto assustara a menina. O garoto, que se dizia forte para aguentar qualquer pancada, saiu correndo. A segunda garota, deu um grito abafado, que acabou por acordar a quarta garota a chegar, que também foi conferir, discretamente. Havia uma arma dentro daquela gaveta, e ninguém sabia dizer de onde ela surgiu. E ao fim daquele dia, junto com o objeto que fora colocado na gaveta, havia mais uma moradora dentro da casa.



A moça da casa verde Suas fotos eram ótimas, ou era o que diziam seus amigos (ou que se diziam seus amigos). Quem tem vida noturna geralmente não vota a falar com pessoas diurnas. Ou ele que era assim, e quem se dizia amigo dele, adotava o mesmo estilo de vida. Além de ganhar pouco, e não ter seus direitos de insalubridade ou seus 20% a mais no salário por ser trabalhador noturno, ele se cobrava muito. E tinha seus “projetos secretos” — como gostava de chamar quando eram feitos apenas por ele, e mostrados apenas quando prontos. E esses projetos eram levamos mais a sério que o próprio-ganha pão dele. Naquela noite em específico, ele sentia que seu projeto do mês daria certo, seria só uma questão de achar o lugar, que, sinceramente, não podia ser tão complicado. Casas abandonadas têm por tudo, às vezes até com inquilinos rondando dentro delas, que daria um ar mais interessante para sua ideia. Não sabia. Na verdade não sabia nem onde fazer as fotos. E caso não terminasse naquela noite, ou pelo menos não começasse, não conseguiria dormir sabendo que não foi útil o suficiente para apresentar um projeto novo naquele mês. O que deixava de fazer sentido no ponto em que ninguém via os seus trabalhos. Mas, se essa era a condição para dormir bem, ele assim o fazia. Caminhou quadras e quadras, nas ruas que ele já conhecia. Todas as casas sabia de cor. Aquela casa verde estava abandonada, mas já havia tirado tantas fotos nela, que pensou ser ridículo fazer outro trabalho ali. Olhava a próxima e analisava, e assim seguia. Havia feito isso durante três horas, e já não aguentava mais, havia passado sete vezes na mesma rua, durante aquele tempo. — O quanto você preza por seu aparelho, senhor? Não é recomendado andar com câmeras como essas durante a noite, ainda mais nesta cidade, que bem sabes da fama. — Eu tenho também uma arma, e prezo por meu aparelho e minha vida, mas não sei trabalhar senão à noite. — Não se preocupe, não quero assaltar-te. Só estava curiosa. Mas agora, deixo-te. Também não preciso prezar por minha vida. E assim a moça saiu, e deixou o fotógrafo sozinho, naquela rua. Tomou um gole do vinho que levava junto, para não sentir tanto o frio da madrugada. Olhou melhor para onde aquela mulher estranha estava pouco antes. Era justamente aquela casinha verde, que tanto fizera fotos. O mais absurdo disso tudo, ele percebeu, que atrás daquela casa, havia uma cerca rasa, e atrás dela, outra casa abandonada. Entrou no portão da casa verde, e foi direto para a porta da sua nova descoberta. E sobre aquela mulher, a única coisa da qual tinha certeza era de que não se esqueceria. Ou algo muito bom aconteceria naquela noite, ou algo muito ruim. E entrou pela porta.




Os temperamentos de Abel

Abel parecia sempre calma. Mas era bipolar. Às vezes até cuspia fogo. Quando tinha crises de raiva, voltava para casa de sua mãe, só ela a confortava. Assim que acalmava, voltava amável para a casa de seu marido. Fazia terapias constantemente. Começou a escrever um diário e cantar no coral. O marido de Abel também era bipolar. Quando tinha suas crises de raiva, batia em Abel.






#2 – argila tabaco a 1000°C / #2II – argila tabaco a 1200°C / #4 – argila branca a 1000°C / #4 — argila branca a 1200°C

Testes de engobe a 1200°C, na ordem da descrição acima.


Antes de ser queimada

Depois de queimada a 1200 째C






ENSAIOS FOTOGRテ:ICOS AO AR LIVRE










ENSAIO FOTOGRテ:ICO: LUZ E SOMBRA






LUGAR EXPOSITIVO VAZIO




APRESENTAÇÃO FINAL






Natalia Comerlatto Ribacki Brasileira, 18 anos Avenida Araguaia, número 1120 Igara – Canoas – RS Telefone: (51) 3478-1909 - (51) 8445-8422 / E-mail: ribackin@gmail.com

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