Arquitetura sensível, percepções do ser e do espaço urbano

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Natascha Marcela Vital

arquitetura sensível

percepções do ser

e do espaço urbano




“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” { Albert einstein }

_Centrifugação humana_ No centro do caos, carros Chuviscos, cheiros, vem a chuva Volta pra casa, carroça, Chuveiro, chá, camomila, Cama, chora, cachola adormecida Retorna a chaga, chega, É chegada a hora, De gritar o choro engolido, Pra essa cidade Que me censura. { Natascha M. Vital }


Autora: Natascha Marcela Vital Orientadora: Profª Mª Fabiana Miano Mori Centro Universitário Moura Lacerda Arquitetura e Urbanismo Ribeirão Preto/SP 2016


Resumo Diante da vontade de se projetar um ambiente com várias possibilidades de trocas de sentimentos e de vivências humanas fez-se a elaboração do tema desta pesquisa sobre arquitetura sensível, percepção do ser e do espaço urbano. A proposta de ressuscitar as percepções dos espaços e lugares vividos começa com uma rederizoma de fomento sócio cultural como meio de ligar os setores da cidade, que permitirá a experimentação das diversidades e complexidades sociais e econômicas de cada setor. Partindo disso, a escolha do setor contemplado a iniciar a rede-rizoma para o planejamento do projeto arquitetônico foi feita a partir de uma análise sobre o descaso do poder público com o setor norte da cidade de Ribeirão Preto - SP, com a questão da moradia, falta de equipamentos públicos e com as ocupações irregulares. O projeto foi elaborado com o olhar atencioso para o bairro e seus habitantes, com cada detalhe arquitetônico tendo sido pensado para expandir todas as possibilidades sensitivas e incorporar uma identidade de pertencimento que dignifique o ser. Palavras-chave: Arquitetura sensível. Arte e arquitetura. Rede-rizoma.

abstract Faced with the desire to design an environment with various possibilities for exchanging feelings and human experiences, it was elaborated the theme of this research on sensitive architecture, perception of the being and of the urban space. The proposal to resuscitate the perceptions of living spaces and places begins with a rhizome of sociocultural promotion as a means of connecting the sectors of the city, which will allows the experimentation of the diversities and social and economic complexities of each sector. Based on this, the choice of the sector contemplated to initiate the rhizome for the planning of the architectural project was made from an analysis about the neglect of the public power with the northern sector of the city of Ribeirão Preto-SP, the housing issue, the lack of public equipment and irregular occupations. The project was elaborated with the attentive look at the neighborhood and its inhabitants, and every architectural detail was thought to expand all the sensory possibilities and to incorporate an identity of belonging that dignifies the being. Keywords: Sensitive architecture. Art and architecture. Rhizome.


agradecimentos e dedicatórias angela

fefa prof fabi

prof vera

artes

xango

buda carolzinha

beatriz s.

gehh samantha indíos lara ancestrais deda zaha hadid felipe s. prof andré gabrielle música prof pythagoras fabiano navegantes prof chiquinho pedroka deus de glória eu brasil prof regina universo iansã prof lanchoti rayane nathalia c. gabriela carla mayana caboclo prof maria f. oxalá cape prof gabriel prof luciana charles carlos poesia deus prof ana f. zumbi dos palmares orunmilla norivaldo rafaela prof eliete prof rafael ruchele ibeji oxóssi lina cinthia rose bianca ogum amores prof tânia prof roberto prof terezinha ana carol karina prof ana m. dandara exú lucas gledson o. niemeyer nanã maria abadia prof rodrigo prof domingos hayla prof onesimo oxum leonice brejo judith lina bobardi prof césar carmem adriana prof rita maira yemanjá francisca mariana g. beyoncé bonde prof jarryer espíritos de luz camila vitim


ri má Su RIZOMAS_ERRÂNCIAS_CIDADELA Rizomas Interiores_30 Errâncias da Cidade_31 Cidadela das Ocupações_32

MORFOLÓGICAS_VIABILIDADE Percepções morfológicas_34 Execução do Projeto_39


Intro_07

INDIVÍDUO_ESPAÇO_IDEIA_PERIFÉRICO_AUTOPOIESE_rizoma Indivíduo e Percepção_09 Espaço e sensações_11 Ideia de Conforto_12 Olhar periférico_15 Autopoiese e Microplanejamento_17 Rizoma_18

PARQUE_PARC_DIGITAL Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura_21 Parc de la Villette_23 Centro de Cultura Digital CCD_25

Croquis_PROJETO_memorial_det_BIBLIOGRAFias_poesias Croquis_Planta_41 Cortes_Elevações_Perspectivas_46 Memorial_Detalhes_54 Considerações Finais_58 Bibliografia_60


Intro

Com a percepção de um mundo cada vez mais veloz e voraz, causas dos reflexos da globalização, obteve-se uma sociedade que tende a ser mais fria com as relações humanas. Com isso, vemos que muitos indivíduos cada vez mais se perdem em meio ao seu próprio habitat, dando assim estímulo a essa pesquisa, que deseja possibilitar o despertar da dormência do sentimento empático na sociedade contemporânea. Mostrando a importância da criação de um espaço diversificado, que desenvolva, sensibilize e que se assemelhe aos espaços frequentemente vividos no cotidiano desses seres humanos. Dessa forma, pergunta-se: como despertar nos indivíduos a percepção do espaço urbano e das relações humanas, por meio de uma arquitetura sensível? Pensando nesta questão, o projeto será guiado com duas premissas, sendo elas o aspecto social e cultural, que nos dias de hoje se fazem necessários para tornar as relações humanas cada vez mais intrínsecas, tendo como objetivo trazer para o projeto sensações íntimas e coletivas, percepções inteligíveis e físicas em que o indivíduo possa vir a agir de forma positivamente em seu espaço. Fazendo-o se sentir habitante dentro do seu próprio habitat, criando nele o sentimento de pertencimento aos lugares que frequenta. Pretende-se, nesse sentido, criar um espaço onde todos possam sentir-se parte de um todo. Portanto, o objetivo geral da pesquisa é sugerir um edifício multissensorial em cada setor da cidade de Ribeirão Preto - SP, criando assim uma rede de fomento sociocultural. Para isso, a arquitetura será utilizada como instrumento para reestabelecer as relações humanas e espaciais, a partir da percepção e manifestação dos sentidos de cada lugar, estimulando ações coletivas nos indivíduos. Dos cinco pontos propostos na pesquisa, somente um ponto foi escolhido para a execução do projeto arquitetônico e técnico, o do setor norte da cidade que, apresenta maior necessidade de equipamentos de cultura e lazer. 7


Indivíduo_espaço_ideia_periférico_autopoiese


Indivíduo e Percepção

O campo de atuação do arquiteto e urbanista é muito amplo, tendo como protagonista o ser humano e suas atividades psicomotoras. Nesta mesma linha de pensamento, Edward Twitchell Hall fala que “O homem e suas extensões constituem um sistema inter-relacionado. É um erro agir como se os homens fossem uma coisa e sua casa, suas cidades, sua tecnologia, ou sua língua, fossem algo diferente. Devido à inter-relação entre o homem e suas extensões é conveniente prestarmos uma atenção bem maior ao tipo de extensões que criamos [...].” (HALL, 1966, apud ELALI, p.166-167, 1997).

Por isso, muitas vezes as relações que alguns indivíduos têm com os locais frequentados são agressivas. Tanto por parte da arquitetura como por parte do indivíduo, porque ambas não absorvem o que cada uma traz em seu formato e projeção. A arquitetura deve proporcionar sensações e imaginações ao ser humano, permitindo que as utilizem da forma que a sua cultura, o seu corpo e sua projeção de futuro lhe preencham o ser. E não como um geômetra que não leva em consideração as necessidades e peculiariades do indivíduo em relação ao seu espaço. Assim, Bachelard em A Poética do Espaço diz, “O espaço percebido pela imaginação não pode ser o espaço indiferente entregue à mensuração e à reflexão do geômetra. É um espaço vivido. E vivido não em sua positividade, mas com todas as parcialidades da imaginação.” (BACHELARD, p. 19, 1993).

Entendo, com isso, que a percepção humana se relaciona com a arquitetura,

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Fonte imagem: https://www.novelistik.com/books/desvarios-664f96e4


alguns deles irão atrofiar, enquanto os outros, sendo enfatizados e muito utilizados, irão evoluir em novas formas, o que vai ao encontro do pensamento de Pallasmaa (p. 17, 2011) afirmando que, “A falta de humanismo da arquitetura e das cida-

devendo ser sentida e vivenciada em espaços urbanos humanizados, respeitando a identidade e a diversidade cultural, proporcionando vivências sociais intrínsecas com o espaço-lugar. Lugares esses que são melhores exemplificados remetendo a memória afetiva do indivíduo, como em seu antigo lar.

negligência com o corpo e os sentidos e um desequilíbrio do nosso

“Então, os lugares onde se viveu o devaneio reconstituem-se

sistema sensorial”.

por si mesmos num novo devaneio. É exatamente porque as

Isso se assemelha à forma que um responsável técnico pela projeção das cidades tem uma responsabilidade muito maior, acaso projete uma cidade sem o humanismo, pois ele imediatamente se responsabiliza pelas atrofias das engrenagens orgânicas e consequentemente com as limitações sensitivas do homem contemporâneo. Em sequencia o autor a seguir explora mais sobre os sentidos humanos. No atual

des contemporâneas pode ser entendida como consequência da

lembranças das antigas moradas são revividas como devaneios que as moradas do passado são em nós imperecíveis.” (BACHELARD, p. 26, 1993).

Contudo, a lembrança, para o ser humano, de um lugar “ninho”, lugar para onde se volta, é tão importante que ele, conscientemente ou inconscientemente, constrói lugares próximos ou semelhantes àquela lembrança de lar; sentem pelo cheiro, por alguma textura ou pela disposição dos móveis, que outrora entraram em contato, e que lhe remetem a alguma memória que dificilmente se apagará, porque lhe é peculiar. Assume-se, para isso, que a adaptabilidade do ser em relação ao espaço e ao lugar tem que partir de uma harmonia espacial, em que as intenções do projetista se tornem imperceptíveis, coincidindo com o autor supracitado Bachelard que explana no trecho a seguir, “A imobilidade irradia-se.

estado da civilização humana, a maioria da nossa energia percepciona e é absorvida pelo impacto visual [...]. Os sinais visuais e acústicos parecem depender menos nas estruturas dos edifícios do que o cheiro, o gosto ou o toque. Noutras palavras, a nossa cultura pende mais para valores imateriais do que nos períodos anteriores [...]. A globalização dos mercados os media, a biotecnologia e a engenharia genética tem tido, e continuarão a ter uma influencia sobre a nossa condição humana. Um exemplo e - como já disse antes - o impacto sobre os nossos cinco sentidos e, por conseguinte, a

Um aposento imaginário se constrói em torno do nosso corpo que

nossa percepção do mundo. (HERZOG, p. 45, 2002)

se acredita bem escondido quando nos refugiamos num canto.

No entanto, utilizar o sistema sensorial humano para projetar ambientes sociais é imprescindível em um projeto em que o indivíduo se sinta pertencente e que possa trabalhar todas as suas faculdades mentais e físicas.

[...] É necessário delinear o espaço da imobilidade fazendo dele o espaço do ser.” (BACHELARD, p. 287, 1993).

Vemos que, se não usarmos todos os seus cinco sentidos,

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Espaço e sensações Continuando na linha de pensamento do capítulo anterior, vê-se que a necessidade de se ter uma memória que lhe traga um sentimento de pertencimento é extremamente necessária para a construção do ser humano em sua percepção de mundo. Nesta mesma temática, Zevi, (p. 132, 1996) “afirma que as quatro fachadas de um edifício constituem apenas a caixa dentro da qual está encerrada a joia arquitetônica, isto é, o espaço.” O autor eleva a espaço como

protagonista, dando a ela o papel principal de elemento definidor de significado. O espaço pode trazer o sentimento de pertencimento, tornando-o seu lugar; lugar esse que Norberg exalta, (p. 6, 1965) “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano.” Na ótica de Norberg, o lugar pode ser manifestado por uma arquitetura sensível, entendendo-se arquitetura sensível aquela que deve ser projetada em sua amplitude de significados unicamente para o homem e a natureza, que trazendo de volta o indivíduo para seu local de múltiplas atividades cotidianas,de modo que a arquitetura não restrinja os espaços dos indivíduos e das suas vivências. Também colocado por Pallasma no trecho a seguir, “Um edifício não é um fim em si mesmo; ele emoldura, articula, estrutura, dá significado, relaciona, separa e une, facilita e proíbe.Ainda pensando a relação de

espaço e lugar, no capítulo seguinte será explorada as noções do conforto no espaço projetado e vivido. Consequentemente, experiências arquitetônicas básicas assumem frequentemente formas verbais ao invWés de substantivas.” (Pallasmaa, p. 43, 2011). Por isso, a arquitetura, como arte complexa que é pra ser

completa, tem que ser planejada levando-se em consideração emoções sensíveis ao ser humano, principalmente o respeito à sua diversidade.

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Ideia de Conforto Para projetar uma cidade, precisa-se de uma noção sobre humanismo extremamenWte sensível, face a padronização das normas técnicas sob os profissionais de arquitetura. E o espaço guarda uma relação radical com a nossa existência, com a consciência que temos de nós mesmos. É no espaço que percebemos realidade concreta. O “penso, logo existo” não se dá livre de uma percepção espacial, pois as coisas que existem são as coisas percebidas. Em sua fenomenologia da percepção, Merlau –Ponty propõe que a percepção do mundo significa uma existência com o mundo e com nossos semelhantes. Explorando o espaço, exploramo-nos a nós mesmos. Encontramos novas referências e recuperamos outras. [...] E é este um importante elemento discriminador da arquitetura enquanto gênero artístico: não a representação, mas a realidade; não a matéria; mas o espaço. Quer em si mesmo, quer em simbolização, o espaço da arquitetura é uma fonte de espiritualidades, com índoles e feições privativas dele, de sua realidade intransferível. (SCHMID p. 45, 2005).

Entender o mundo, criando a noção de pertencimento e como ser orgânico que necessita de transcender a matéria a cada nova sensação que o mundo oferece, se faz necessário para compreensão do espaço-lugar consolidado em matéria sólida. “A escola nos ensinou que temos cinco sentidos – visão, audição, paladar, olfato e tato. Além desses, tradicionais, a ciência hoje reconhece a existência de vários outros.” (SCHMID p. 105, 2005).

As faculdades mentais e físicas do ser humano são muito mais amplas do que as conhecidas como cinco sentidos. Há percepções que, somadas, criam outra extremamente forte e potente em sua capacidade de alcance. Alguns sentidos são complexos, produzindo efeitos cuja explicação não é trivial. Por exemplo, ao assistir em vídeo um avião fazendo piruetas, podemos sentir tontura. Assim também, num ambiente cujas paredes na sua metade inferior sejam brancas e, no restante, pretas, recebemos uma informação lumínica que contradiz o labirinto (pois normalmente a luz vem do alto). E a natureza nos apresenta exemplos de percepção sensorial que se quer imaginamos. (SCHMID p. 105-106, 2005). O próprio ambiente de uma floresta pode proporcionar diferenças em texturas, cores e muitos outros estímulos nos instintos dos seres humanos, que comumente estão fadados a vida urbana burocratizada e muitas vezes estéril, sem sensibilidade e conexão com sua fonte primária da vida. [...] as necessidades humanas não se limitam àquelas cuja satisfação é indispensável à sobrevivência física, mas também inclui as decorrentes da natureza espiritual do humano, que compreendem

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as necessidades psicológicas, artísticas e ideológicas; daí enquadra-se a arquitetura como arte, porque se propõe a resolver problemas de ordem espiritual e material indistintamente, atingindo os

Numa segunda idade, esse indivíduo provoca a consciência e manda-a executar um filtro que determinará um juízo

dois campos com amplitude e intensidade bem grandes. (SCHMID

muitas vezes pré-estabelecido, perante sua vivência dentro

p. 117, 2005).

de costumes culturais da sociedade em que vive.

As necessidades abstratas do ser humano podem ser absorvidas, expressadas e concretizadas numa boa arquitetura, que capta a essência dos indivíduos e transpõe para

Sendo assim, vê-se por conforto todo o ambiente que é esassim o espaço edificado teria sentido para o homem e para

seu espaço de convívio cotidiano. Apreendemos naturalmente

as suas potencialidades infinitas.

as coisas, antes que os sentidos individuais. Sentimos baseados

A seguir no próximo capítulo, veremos a importância da pro-

timulante dos seus sentidos físicos e mentais. Pois somente

dução cultural descentralizada dos grandes polos geradores

num juízo previamente formado do mundo, não num testemunho

de riquezas, como nos centros das cidades, olhando assim

da consciência. Nós acreditamos saber muito bem o que é “ver”,

melhor para as margens destas. Apreendemos natural-

“ouvir”, “sentir”, porque há muito tempo a percepção nos deu obje-

mente as coisas, antes que os sentidos individuais.

tos coloridos ou sonoros. Quando queremos analisar a percepção,

Sentimos baseados num juízo previamente formado do

transportamos esses objetos para a consciência. A atenção não

mundo, não num testemunho da consciência. Nós acre-

muda a maneira como vejo as coisas, ela apenas torna determinado ou indeterminado. O juízo é frequentemente introduzido como

ditamos saber muito bem o que é “ver”, “ouvir”, “sentir”, porque há muito tempo a percepção nos deu objetos coloridos ou sonoros. Quando queremos analisar a

aquilo que falta à sensação para tornar possível uma percepção.

percepção, transportamos esses objetos para a cons-

(SCHMID p. 122-123, 2005).

ciência. A atenção não muda a maneira como vejo as

A sinestesia permite que o indivíduo, desde a sua primeira

coisas, ela apenas torna determinado ou indeterminado.

idade, experimente sensações novas sem um pré-julgamento, pois são novas e as aceitam como são.

O juízo é frequentemente introduzido como aquilo que falta à sensação para tornar possível uma percepção. (SCHMID p. 122-123, 2005).

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A sinestesia permite que o indivíduo, desde a sua primeira idade, experimente sensações novas sem um pré-julgamento, pois são novas e as aceitam como são. Numa segunda idade, esse indivíduo provoca a consciência e manda-a executar um filtro que determinará um juízo muitas vezes pré-estabelecido, perante sua vivência dentro de costumes culturais da sociedade em que vive. Sendo assim, vê-se por conforto todo o ambiente que é estimulante dos seus sentidos físicos e mentais. Pois somente assim o espaço edificado teria sentido para o homem e para as suas potencialidades infinitas. No próximo capítulo, veremos a importância da produção cultural descentralizada dos grandes polos geradores de riquezas, como nos centros das cidades, olhando assim melhor para as margens destas.

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Olhar Periférico

Exemplificando: ao tratar dos espaços periféricos aos grandes centros urbanos, não é possível apreendê-los globalmente como se entendêssemos que o adjetivo que os qualifica os torna necessariamente iguais. É urgente saber de que periferia se trata e como se processam usos e hábitos que a singularizam e a fragmentam. (FERRARA p153, 1999) A

Espaço e informação são elementos interdependentes, visto não ser possível conceber, apreender um espaço senão através dos usos e hábitos decorrentes do modo de produção que os caracteriza. Por outro lado, não é possível haver informação senão a partir de um estímulo físico, social ou cultural, produzido por diferentes tipos de vida que geram novos aprendizados por outros comportamentos. Espaço e informação fazem-se mutuamente, ou seja, é possível prever alterações espaciais sempre que um novo estímulo provoca novo aprendizado e consequente mudança de comportamento. (FERRARA p. 151 e 152, 1999)

Vemos que um ambiente constituído por vivências socioculturais e físicas são capazes de gerar informações que tendem a ser mutáveis perante a rotina daqueles habitantes e seu comportamento é influenciado. Para apreender a informação do espaço, é necessário fragmentá-lo, transformando-o em lugar informado. É necessário ultrapassar aquela totalidade homogênea do espaço para descobrir seus

descentralização das moradias na pós-modernidade, trouxe uma grande diversidade social e cultural nas margens das cidades. Com isso semelhanças nas escalas econômicas que as segregam em contraponto a riqueza cultural que elas produzem. Usos e hábitos constituem a manifestação concreta do lugar urbano, na mesma medida em que o lugar é a manifestação concreta do espaço. Usos e hábitos, reunidos, constroem a imagem do lugar, mas sua característica de rotina cotidiana projeta, sobre ela, uma membrana de opacidade que impede sua percepção, tornando o lugar, tal como o espaço, homogêneo e ilegível, sem decodificação. (FERRARA p.153, 1999)

O véu que cega às percepções é o mesmo véu voraz do capitalismo selvagem que passa por cima das culturas e das sensibilidades humanas, tornando-as estéreis como sua capacidade de reprimir e oprimir por ganância. Por isso, só é possível realizar uma pesquisa de percepção ambiental se for possível tornar clara uma realidade contextual, isto é, se

lugares nos quais a informação se concretiza, na medida em que produz aprendizado e comportamento traduzidos nos seus signos: usos e hábitos. (FERRARA p.153, 1999)

ultrapassarmos a homogeneidade de um espaço encontrando-lhe os lugares que o dividem e circunscrevem, mas aquelas variáveis que interferem decisivamente na articulação de usos e hábitos. Esse

A fragmentação do espaço em lugares traz aos usuários descobertas individuais dentro da totalidade.

primeiro esforço perceptivo que é executado pelo pesquisador recebe o nome de contextualização. (FERRARA p.154, 1999)

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Analisar a realidade de uma região e ver em qual contexto ela está inserida dentro dos lugares que as dão pertencimento, demanda de uma tremenda sensibilidade do pesquisador para entender e traduzir esses lugares. Essa imagem de sensações vivas, totais e singulares, é unidirecional e arbitrária, visto não permitir qualquer liberdade de interpretação do seu sentido, do seu valor ou da realidade da sua manifestação: se a cor de um objeto é X, não me é facultado imaginar que possa ser Y. (FERRARA p.173, 1999) Há uma tendência a se indicar ou muitas vezes forçar um pensamento coletivo, principalmente nos meios de comunicação, nas artes e na arquitetura, um pensamento que esses profissionais desejam que seus usuários tenham, consumam ou tornem hábito, sem deixar a possibilidade de o indivíduo ocupar e modificarem ao seu modo e cultura. É esta associação perceptiva exigida pelos nossos ambientes pós-modernos que incorpora a exploração eletroeletrônica e suas novas tecnologias como suas próprias extensões; cria-se, para o receptor, a necessidade de operar, no ambiente, com aquelas linguagens múltiplas que nele se desenvolvem. Na cidade pós-moderna, a percepção supõe a elaboração de juízos perceptivos sobre fragmentos de linguagem, daí ser possível falar de ambientes comunicativos. (FERRARA p. 183, 1999) A diversidade com a qual podemos nos comunicar na atualidade, as tecnologias e o mundo interligado,

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nos permite refletir em nossa arquitetura uma dinamicidade com informações úteis ao nosso aprendizado, que é constante. A organização modernista sobre a cidade, a habitação e os espaços; o pós moderno sugere uma experiência ambiental em que vários sistemas, ideias, propostas, são insistentemente ensaiados na tentativa de gerar, não apenas novos espaços, mas sobretudo novas percepções ou outras ações sobre o espaço. Este espaço é, necessariamente, aquele de um outro tempo: uma cidade voltada para a comunicação. (FERRARA p. 183, 1999) Percepções e estímulos vindos de toda parte e a arquitetura como promissora das artes, pode exprimir essas sensações dentro do espaço urbano na contemporaneidade. Vendo a importância do planejamento e de um olhar mais atencioso para as periferias, será explicado na sequência desse capítulo, temas que se aprofundam nas necessidades intrínsecas dos bairros, das vizinhanças e dos indivíduos como produtores de si mesmos.


Autopoiese e microplanejamento

As intervenções sobrepostas na arquitetura já existentem e traz para a urbanidade novo respiro, um respiro por novidade e novas vivências sociais. Nesse cenário Rosa comenta, “Urbanismo em rede? Ou microintervenções estrategicamente conectadas? Os casos estudados indicam uma rede social urbana de alcance metropolitano - circuitos de resistência à cidade genérica que organizam microambientes na cidade, nutrindo a discussão das especificidades e dos lugares urbanos. Identificamos microarquiteturas sobrepostas a estruturas modernas monofuncionais, anexando a elas as complexidades capazes de induzir espaços urbanos de qualidade.” (ROSA p. 18, 2011) Já de acordo com Maturana, esses sistemas são autopoiéticos

e solidão do próprio eu. Contudo para Maturana, o termo “autopoiese” traduz o que ele chamou de “centro da dinâmica constitutiva dos seres vivos”. Tornando relevante a criação de espaços que promovam vivências coletivas, já que a: Coletividade – viver junto na cidade – serve como uma base para se repensar questões sociais em termos urbanísticos: “a cidade é o nosso potencial, e nós somos seus construtores.” (ROSA p. 20, 2011) Sendo assim Rosa complementa, o arquitetônico como um espaço aberto a intervenção e, se entendemos o arquiteto como um todo aquele que age em seu ambiente, apontamos para a possibilidade de uma outra investigação da cidade e para outra forma de se planejar o urbano. Para exercê-la de modo autônomo, eles precisam recorrer a recursos do meio ambiente. Em outros termos, são ao mesmo tempo autônomos e dependentes. Tratam-se, pois, de um paradoxo.

por definição, porque recompõem continuamente os seus componentes desgastados. Pode-se concluir, portanto, que um sistema autopoiético é ao mesmo tempo produtor e produto. Poiesis é um termo grego que significa produção. Autopoiese quer dizer autoprodução. A teoria Autopoiética tem sido aplicada em Imunologia, na interação homem computador, sociologia, economia, filosofia e administração pública, que define os seres vivos como sistemas que produzem continuamente a si mesmos. (H. MATURANA, 1979, p.23).

No entanto, viver em sociedade nos permite trabalhar sentimentos que não seria possível se vivêssemos numa ilha deserta, estaríamos assim fadados a mesmice

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Neste cenário, o paradoxo que o arquiteto vive em recorrer de recursos da natureza para levantar sua arquitetura, sendo que ele não pode criar projetos que destoe da fonte primária de inspiração e da matéria prima. O arquiteto como artista total, plural em sua formação, tem potencial de através do sonho das pessoas traduzir em projeto os espaços de relações múltiplas e sensitivas. Conclue Rosa com a definição de planejamento que o arquiteto deve direcionar seu olhar, “Aceitamos a cidade real, como um produto de decisões políticas, projetos e vontades coletivas e pessoais e acreditamos existir nesta cidade enorme potencial para reorganização, rearticulação e recodificação. Indicamos a tarefa de mapear os campos onde tais formas de reorganização acontecem, de identificar novos campos com abertura e a capacidade de receber novos objetos que estimulem relações e, por fim, apontamos para a necessidade de entender e propor mecanismos coerentes aos campos e potencial identificados. Chamamos essa tarefa de microplanejamento.” (ROSA p. 20, 2011) Em suma, o direcionamento desse olhar minucioso que o autor propõe para os arquitetos e urbanistas, é para enxergar as capacidades infinitas dos locais de intervenção, onde vivem os indivíduos que vão gerar, se assim tiverem os meios propícios, para a própria construção de si.

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rizoma

Rizoma – ri.zo.ma; sm (rizo+oma) Bot: Caule subterrâneo no todo ou em parte e de crescimento horizontal.

Pensando na proposta inicial de uma rede de fomento sóciocultural nos cinco setores da cidade, o termo mais coerente com a proposta dessa pesquisa é rede-rizoma, e em sequencia deste pensamento Deleuze e Guattari apud Rafael Trindade nos esclarece que:

“O rizoma é um modelo de resistência ético-estético-político, trata-se de linhas e não de formas. Por isso o rizoma pode fugir, se esconder, confundir, sabotar, cortar caminho. Não que existam caminhos certos, talvez o correto seja o mais intensivo (e não o caminho do meio). As linhas de fuga são aquelas que escapam da tentativa totalizadora e fazem contato com outras raízes, seguem outras direções. Não é uma forma fechada, não há ligação definitiva. São linhas de intensidade, apenas linhas de intensidade. [...] Não podemos mais apostar em compartimentos, o rizoma se espalha. Não há motivos para seguir uma linha reta, um método cartesiano. As linhas tortas se ligam, se confundem, se espalham, alastram. As conexões se multiplicam, logo, a intensidade também. Aí sim temos a chance de criar novos sentidos, micro-conexões se difundindo, se diluindo, se confundindo, se disseminando. “A questão é produzir inconsciente e, com ele, novos enunciados, outros desejos: o rizoma é esta produção de inconsciente mesmo” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I).”

Vimos temas sobre autopoiese, microplanejamento e rizoma, mostrando similiaridade entre conceitos. O conhecimento e a construção de si próprio, e como tal conhecimento implica na consciência de individualidade e coletividade numa relação mútua, fazendo com que o conceito de rizoma venha para tramar essas relações cada vez mais intrínsecas.

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Parque_Parc_Digital

Com a proposta de projetar um edifício em rede de fomento sócio-cultural que estimule ações, e que evidencie os espaços urbanos de cada setor da cidade para a promoção de vivências mais saudáveis para os indivíduos e para o meio urbano. As referências a seguir servem como guias para este projeto de pesquisa.

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O projeto da Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura na Espanha, se destaca pela sua topografia que qualifica os dois ambientes propostos no projeto configurando espaços de atividades diversas, amplificando as relações dos indivíduos.


Fonte: Todas as imagens do Archdaily

O projeto Parc de la Villette em Paris, nos mostra como trinta e cinco edifícios pontuais em rede num parque dão possibilidades de ocupações diversas e espontâneas, e todas com semelhanças no conceito que o arquiteto propôs e que servem como ativadores do espaço urbano.

O Centro de Cultura Digital se encontra localizado no subsolo do Paseo de la Reforma na Cidade do México, o projeto foi trabalhado pensando numa estratégia de projeto que não infringisse a anatomia existente do lugar. Contempla espaços que brincam com a opacidade de cada pavimento e dão sensações diversas para seus usuários.

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Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura Arquiteto: Martín Lejarraga Localização: Calle Costa Rica, Espanha Ano: 2007

Fonte: Todas as imagens do Archdaily

Este projeto contempla atividades distintas em dois pavimentos que qualifica e não agride o seu entorno. A falta de equipamentos públicos na cidade fez a proposta do projeto contemplar uma biblioteca no subsolo e um parque desportivo ao ar livre. O parque se adapta e protege a biblioteca, criando uma harmonia entre as atividades tão distintas.

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O projeto propõe novas maneiras de se aproximar e estar nos edifícios públicos e de se apropriar do espaço urbano.


Fachada de vidro da biblioteca, com transparências e cores diferentes.

O parque que fica no térreo, deixa o usuário livre para permear o terreno e aproveitar todos os equipamentos interligados e que suprem a necessidade desportivas.

Fonte: Todas as imagens do Archdaily (Alteradas)

A biblioteca utiliza o subsolo de forma a dispor o espaço criando um ambiente avesso da agitação do parque no pavimento térreo. Com salas de leitura, oficinas e cursos, salas administrativas, brinquedotecas e um grande acervo de livros. Os pontos de circulação vertical que dá acesso a quem está no parque na área expositiva, se dá próximo as salas de aulas.

Acesso livre a biblioteca que se localiza no subsolo do terreno.

Recuo que cria um nicho para descanso e apreciação dos espaços e atividades múltiplas da biblioteca e do parque.

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O parque disponibiliza em seu espaço atividades como quadras poliesportivas, áreas de jogos, play grounds, jardins, escalada, mapa com informação da cidade e das atividades presentes no parque e que amplia o espaço de convívio urbano.


Parc de la Villette Arquiteto: Bernard Tschumi Localização: Paris, França Ano do projeto:1987 As folies é vista como um edifício desmembrado, pois está explodido em uma trama do parque. Ela se confunde com a paisagem, pois o artificial se mescla com o natural criando um estado de redescoberta da paisagem do parque. Com proposta desconstrutivista a grelha em que os edifícios estão inseridos cria distorções e transformam o ver do indivíduo, propondo que estes a ocupem da forma em que as suas necessidades sociais convêm. O mesmo tom de vermelho nos edifícios trazem unidade e o conceito entre eles que o arquiteto propôs. As Folies são pequenas construções que abrigam funções variadas, normalmente vinculadas ao ócio, ao lazer e ao social, e que tinham por objetivo destacar pontos de interesse na paisagem, ao longo de um determinado caminho. Tschumi projetou para cada folie do parque um desenho específico, e os volumes de todas elas estão inseridas em um cubo de 10 metros de aresta.

Fonte: Imagens Archdaily

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Os elementos arquitetônicos deslocados como: escadas e pilares que se desfazem no nada e edifícios sem função específica, imprimem ao conjunto uma liberdade construtiva poucas vezes vista.

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Fonte: Todas as imagens do Archdaily

O arquiteto usou a estratégia de criar esses edifícios descontínuos, em que o propósito é criar locais de diversão e de lazer. Ao longo, do percurso telhas que se assemelham a serpente foi instalada para ligar as principais atrações do parque, esses pontos principais são chamados de Folies.


Centro de Cultura Digital - CCD Arquiteto: at103 Localização: Cidade do México, México Ano Projeto: 2012

O Centro Cultural Digital está localizado no subsolo de uma estação de passagem e tem cerca de 3.000 m² dividida em dois pavimentos. A ideia do CCD era dar acessso à tecnologia e as novas expressões artísticas que utilizam dos meios virtuais para se expor para o mundo.

Fonte: Todas as imagens do Archdaily

Tubos de ventilação

Espaço de convívio

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Sala de projeção

Sala de exposição sensitiva

Elemento de fechamento orgânico em madeira que dá ao projeto sensações de conforto e fluidez.

Fonte: Todas as imagens do Archdaily

Sala de cinema

Sala com telão em led

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Centro de Cultura Digital - CCD No segundo nível os materiais ficam mais translúcidos que se somam a madeira criando espaços polivalêntes.

Com grandes espaços de interação digital, o usuário consegue interagir com cinemas de alta tecnologia, painéis expositivos e salas de projeção que levam os indivíduos as diversas sensações.

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Fonte: Todas as imagens do Archdaily (Alteradas)

O Centro Cultural Digital tem dois pavimentos, no primeiro nível há espaços com mais privacidade que brinca com diferentes opacidades dos materiais.


No corte acima espaços bem distribuidos para o público que se permite adentrar no ambiente sensitivo, que brinca com cores, luzes e tecnologia. A sala de cinema obtêm o tratamento acústico e térmico necessário para as propostas digitais dos profissionais. No corte abaixo a circulação por rampas dá acessibilidade aos usuários permitindo acessar os ambientes privados e públicos do centro cultural.

Fonte: Todas as imagens do Archdaily (Alteradas)

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Ribeirão Preto é uma cidade com disparidades econômicas e sociais, que clama por medidas que tragam unidade e pertencimento pela cidade. A proposta é de se conectar áreas dos cinco setores da cidade, em uma rede de fomento sócio-cultural que buscará trazer essa identidade que os ribeirãopretanos tanto necessitam, gerando assim uma cidade mais saudável para os próprios indivíduos e para o espaço urbano. Verificouse que a mobilidade que a cidade apresenta em suas vias arteriais supre a conexão desses pontos queW apresentam equipamentos diversos e de grande atração de toda cidade e região. Essas áreas onde estão definidos os pontos de cada setor foram pensados com base em seu poder de atração dos bairros ao redor. Com essa rede-rizoma pretende-se além de criar vínculos entre bairros, trazer uma unidade territorial.

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Errâncias da Cidade Ribeirão Preto é um município brasileiro do interior do Estado de São Paulo e sua população é de aproximadamente 665 mil habitantes. Por ter um solo muito fértil, sua economia é fortemente agroindustrial, sendo forte também no setor da saúde, com hospitais e universidades se destacando como um dos mais importantes do Estado. Ribeirão Preto com seus serviços especializados abastece a cidade e sua região de influência, além de apresentar um dos maiores PIB do interior paulista. Os mapas mostram a relação dos setores da cidade nos aspectos sociais, econômicos e demográficos. O mapa da figura 1 aponta que o setor oeste da cidade se apresenta com a maior densidade populacional, por conter muitas indústrias, comércios e serviços que adensam esse setor, mas em contrapartida o mapa de figura 2 apresenta o setor norte com a maior população residente.

Fig. 2

Fig. 1

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A tabela de figura 3, apresenta a relação de crescimento de Ribeirão Preto, de sua região de influência e da cidade de São Paulo, mostrando uma perspectiva de crescimento na taxa de natalidade, de expansão territorial e de população futura. Esse crescimento populacional é Aimportante para o município, principalmente nos aspectos econômicos. Entretanto a falta de planejamento desse crescimento ocasiona trânsito lento com engarrafamentos, saúde precária e falta de segurança, que influencia diretamente na questão habitacioFig. 3 nal, fazendo as pessoas procurarem cada vez mais condomínios fechados, aumentando mais ainda a segregação social tão latente das cidades contemporêneas.


Fonte: Imagens Google

Cidadela das Ocupações

Fig. 4 Muitas cidades brasileiras lidam com a urbanização desenfreada, deixando a especulação imobiliária moldar e setorizar a cidade excluindo cada vez mais as camadas mais pobres da população. O governo que se beneficia com essa especulação e não toma medidas eficientes para extinguir os bolsões de pobreza, são por isso, um dos grandes culpados das mazelas de nossa sociedade. As ocupações irregulares nos vazios urbanos são tratadas como uma violação para os proprietários de terra, mas condiz em nossa Constituição o direito à terra a todo cidadão. Há uma dificuldade das pessoas que moram em comunidades carentes de se arranjar empregos que possam suprir as necessidades básicas, pois morando em habitações onde as condições

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sanitárias estão a céu aberto e suas crianças sem creches, dificulta e não cria oportunidades desse cidadão sair da miséria. No mapa da figura 4 verifica-se que bolsões de ocupações estão concentradas no setores norte e oeste, apontando menos bolsões no setor leste e quase nenhum no setor sul e centro. O aparecimento e a permanencia dessas ocupações no setor norte e oeste representa o descaso do poder público do município com as camadas economicamente mais baixas em relação aos outros setores da cidade, e pouco se faz com políticas de remoção e habitação social nas ZEIS.


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Ponto Centro O setor central é abastecida de muitos equipamentos, como de lazer, saúde, culturais, administrativos, comércio e serviços que faz dela um setor muito atrativo em comparativo aos outros setores da cidade. Por haver poucos lotes de uso misto, como exemplo edifícios com habitação nos andares superiores e comércio no térreo, o centro da cidade se esvazia após o horário comercial, trazendo insegurança e desconfianças dos frequentadores do centro para uma vida noturna.

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A área sugerida fica entre as ruas Saldanha Marinho, Florêncio de Abreu e Lafaiete. É próxima também ao quadrilátero central, à escolas, faculdades, shopping, clubes, mercadão e centro popular de compras, parques de lazer,

Fonte: Produção Própria

Bom Prato que vende comida à R$1,00 real, unidades básicas de saúde, hospitais e principalmente por se localizar próximo a rodoviária que é referência para a região que utiliza dos serviços especializados de Ribeirão Preto, o centro da cidade é um polo gerador de trabalho, de entretenimento.

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Fonte: Produção Própria

Fonte: Prefeitura M.R.P.

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Ponto Oeste O setor oeste compõe uma das zonas com maior quantidade de bairros, aproximadamente setenta bairros com vários pontos de ocupações irregulares. Indústrias de grande porte e uma avenida com uma grande extensão suprindo as necessidades de comércio e serviço dos bairros ao redor, chegando a servir como polo comercial completando a demanda da zona central. Segundo o IBGE a zona oeste é considerada com a maioria da população de baixa renda juntamente com a zona norte se asemelhando também . Seu solo é majoritariamente composta pela ZUP, ZUR e ZPMs.

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Na parte mais antiga do setor oeste predomina loteamentos de habitações horizontais e as habitações verticais se concentram destinadas aos programas de interesse social, muitas vezes ligadas a remoção de favelas de outros setores da cidade, mas observa-se uma diferença na tipologia que fica próximo à Universidade de São Paulo, onde há edifícios de padrão econômico médio. Concentra-se na zona oeste equipamentos como parques de lazer, hospitais, postos de saúde, indústrias de vários portes assim como a Refrescos Ipiranga - Coca Cola, escolas, clubes, centros religiosos, universidades, museus, comércios e serviços. A área sugerida foi escolhida por se localizar em meio a uma área verde de preservação e uma avenida muito movimentada e de importância municipal, a Avenida Dom Pedro I.

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Fonte: Produção Própria

Fonte: Produção Própria

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Fonte: Prefeitura M.R.P.

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As vias que servirão de acesso são a Avenida Independência e a Avenida Presidente Vargas, importantes avenidas que permitirão o fácil acesso para a conexão entre a rede de fomento sócio-cultural. Verifica-se a presença de universidades, de escolas, indústrias, centros religiosos, postos de saúde, hospitais, estádio de futebol, cemitérioa e comércios e serviços.

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Fonte: Produção Própria

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Fonte: Produção Própria

Fonte: Prefeitura M.R.P.

O setor sul concentra a população com maior renda per capita da cidade. Com esse viés verificamos a super valorização do solo e o esforço do governo do município em manter este setor sempre muito bem abastecido de todos os equipamentos, mostrando assim os interesses em comum com a especulação imobiliária que explora cada centímetro de terra da zona sul, passando muitas vezes por cima das restrições do seu solo. Por ser um setor que concentra um grande polo comercial e de serviço que é o Ribeirão Shopping, reforça a presença de condomínios de alto padrão e de empresas internacionais que investem justamente nesse público. A área foi sugerida estrategicamente por se posicionar entre um shopping center, um conjunto habitacional de interesse social e habitações horizontais e verticais de altíssimo padrão econômico. A possibilidade de integração social é estimulante neste projeto, pois somente através de trocas de experiência se desenvolve o sentimento empático tão necessário na sociedade atual.


Ponto Leste

A zona leste se destaca pela sua Para acesso a área sugerida, as vias que grande diversidade de parcelamen- abastecem o setor como a Avenida Henry Nestlé, Avenida Castelo Branco, to do solo e de renda existente neste setor da cidade, contando ainda com a problemática da segregação social. O setor leste é área de afloramento da bacia do Aquífero Guarani, com isso há de se tomar todos os cuidados com impermeabilização do solo, mas a especulação imobiliária não está se importando com as leis que barram construções nessas áreas agravando ainda mais o meio ambiente.

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Fonte: Produção Própria

Fonte: Prefeitura M.R.P.

Avenida Treze de Maio e Avenida Barão do Bananal, que são importantes avenidas que dão acesso a aproximadamente 60 bairros que compõe a zona leste, permitindo o acesso à área mais fácil. Por apresentar grande diversidade em sua tipologia e renda, a ideia de unir pessoas de culturas e níveis de vida variados e que possam compartilhar de espaços e benefícios, faz do setor leste uma zona muito interessante. A mistura social e a possibilidade de uma vida digna são condições indispensáveis para a urbanidade contemporânea.

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Ponto Norte

Fonte: Produção Própria

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Dentre os cinco pontos propostos nesta pesquisa, o objeto de estudo que será desenvolvido é o ponto do setor norte. Por apresentar dados estatísticos de maior crescimento nos próximos 10 anos e por ser o setor com maior numéro de favelas, caracterizando assim a urgência em medidas eficientes para suprir as necessidades sócio-culturais da zona norte. O setor norte conta com uma faculdade, escolas técnicas, centros religiosos, cemitério, emissora de TV, clubes e o aeroporto Leite Lopes, onde há previsão para se tornar internacional. A área está localizada próxima a um cruzamento de vias importantes da zona norte, a Avenida Eduardo Andréia Matarazzo -Via Norte, a Avenida Brasil e a Avenida Costa e Silva, que dão acesso a muitos bairros que compõe este setor. Ao lado da área escolhida há uma escola de ensino médio, um posto de saúde e uma praça com alguns equipamentos de lazer ao ar livre.

R. Dep. Orlando Jurca

Fonte: Prefeitura M.R.P.

Fonte: Produção Própria

O setor norte é constituido de 19 subsetores, 51 bairros e aproximadamente 30 comunidades em ocupações irregulares. Segundo o IBGE a zona norte é considerada com a maioria da população de baixa renda juntamente com a zona oeste. O tipo de residência mais comum na zona norte é a horizontal, mas há uma crescente procura nas habitações verticais de interesse social. Este setor não conta com muitos equipamentos comparado aos outros setores da cidade, fazendo seus morados procurarem áreas verdes desocupadas e que em sua maioria são degradadas e com pouca ou nula manutenção e que para obter algum tipo de lazer. Seu solo é majoritariamente composta pela ZUP, ZUR e ZPMs. Composto por muitas indústrias, os núcleos de habitações se concentram em loteamentos próximos a escolas e postos de saúde.


Execução do Projeto

O projeto contempla um dos setores da cidade para iniciar o projeto arquitetônico e técnico, o setor norte. Alguns dados técnicos estabelecidos pela Secretaria de Planejamento de Ribeirão Preto/SP.

Com a proposta de criar um edifício multissensorial em cada setor da cidade de Ribeirão Preto - SP, formando uma rede-rizoma de fomento sociocultural, foram pensadas maneiras de viabilizar e tornar executável o projeto proposto nesta pesquisa, que se fará com as parcerias público-privada. FUNART - Fundação Nacional de Artes

Legislação

PRONAC - Programa Nacional de Apoio a Cultuta - LEI ROUANET -PROAC -FNC - Fundo Nacional de Cultura -FICART - Fundos de Investimento Cultural e Artístico - Incentivos Fiscais às empresas privadas Os programas do governo que incentivam projetos vinculados à cultura e artes, e o livre apoio e patrocínio das iniciativas privadas. 39

Gabarito: Fica estabelecido o gabarito com altura até 10 (dez) metros. De Área Permeável no lote com no mínimo as seguintes proporções: a) 5% (cinco por cento) para lotes com área de até 400 (quatrocentos) metros quadrados; b) 10% (dez por cento) para lotes com área acima de 400 (quatrocentos) até 1000 (mil) metros quadrados; c) 15% (quinze por cento) para lotes com área maior que 1000 (mil) metros quadrados. Reservas de áreas públicas: a)5% (cinco por cento) para área institucional; b) 20% (vinte por cento) para sistema de áreas verdes e de lazer. Das Quadras e dos Lotes dimensões mínimas: a) área de 140 m² (cento e quarenta metros quadrados); b) frente de 7 (sete) metros lineares; c) para os lotes de esquina a área mínima será de 180 m² (cento e oitenta metros quadrados) e frente mínima de 9 (nove) metros.


POESIAs_croquis


“Arquitetura é música congelada.” { Arthur Schopenhauer }


Ideias em croquis O projeto leva em seu conceito e partido o aspecto social e cultural, tendo como objetivo trazer para o projeto sensações íntimas e coletivas, percepções inteligíveis e físicas em que o indivíduo possa vir a agir de forma positivamente em seu espaço. Bairro Quintino Facci II Praça Padre Nilton Elias de Barros

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UBDS-Dr. Sergio Arouca Quintino II

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TERRENO ESCOLHIDO 3.224,00m²

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Pista de Skate RSP

Croquis iniciais

Escola Estadual Prof. Dr. Oscar de Moura Lacerda

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Croquis

Croqui estrutural

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Programa de necessidades Salas de artes visuais, corporais, manuais e sonoras Descobrimentos com cobertura vazada Almoxarifado Administração Sala audiovisual Banheiros públicos Pista de Skate Bowl Galeria sensorial Cozinha comunitária/lanchonete Biblioteca Horta Espelho D’água Cesta de basquete com trave futebol Percuso sensível pedestre/bike/skate e patinete

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elevações

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perspectivas



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MEMORIAL Salas de oficinas de artes corporais, visuais, sonoras e de construção de instrumentos musicais. Estruturas que possam vencer grandes vãos criando galpões para melhor acomodar o programa de necessidades. A estrutura pensada com vigas e pilares de aço e laje impermeabilizada com uma telha sanduiche em cima como solução de isolante térmico, as fachadas tem desenho retangulares em vidro e montante.

Equipamento de lazer como a cesta de basquete com uma trave de futebol, ponto de ônibus e o percuso sensorial, que percorre o terreno todo possibilitando atividades como a caminhada para pedestres e um caminho para bicicletas, patins, skates e patinetes.

Container adaptado em banheiros públicos e com acessibilidade, localizado no centro do terreno, foi pensado assim para concentrar as instalações hidráulicas e para melhor aproveitamentos dos espaços das salas de oficinas de todos os módulos.

A galeria é uma sala que expõe e explora os diferentes tipos de arte que colaboram para novas possibilidades das necessidades e dificuldades físicas e mentais dos indivíduos, e tem a proposta de mudar a exposição dependendo de cada artista. Horta coletiva que entra nas atividades necessárias de cultivo aos alimentos e contato com a natureza. Descobrimentos à céu aberto permite aos usuários novas possibilidades e diversos mobiliário de lazer ao ar livre.

As árvores foram implantadas para dar qualidade ao projeto, ajudando a despertar sensações diversas no ser humano, pensando nisso foi potencializado com mais espécies de Resedá, Ipê Branco, Jacarandá e Pata de Vaca.

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Lanchonete, biblioteca, A cozinha comunitáalmoxarifado, câmara fria, ria tem o propósito administração, sala de de ensinar a arte da artes manuais e de au- culinária e destinar sua diovisual, completam o produção as comuniprograma de necessidades dades carentes dos que ajudarão os usuários bairros próximos. à preencher às demandas sócioculturais.


detalhes técnicos Planta da pista de skate bowl com níveis

A pista de skate pré existente no terreno é o partido projetual do ponto do setor norte. A necessidade de potencializá-la para uma pista profissional com medidas e níveis padrão internacional e com propostas de artes integradas ao restante do projeto, faz da pista de skate bowl (Largura superior:18 m, Largura inferior:15m, Comp:24m)um grande atrativo para novas possibilidades e desafios nesta modalidade de esporte e lazer. A pista Skatepark Sundial na Suíça serve de inspiração de arte e tecnologia -0,30

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http://www.archdaily.com.br/br/627510/skatepark-sundial-uma-pista-de-skate-convertida-em-relogio-solar

Skatepark Sundial: uma pista de skate convertida em relógio solar

As rampas do skatepark da cidade de Lugano, Suíça, não servem apenas para se andar de skate, são também murais de arte urbana que, inclusive, apresentam uma função bastante particular. Trata-se de um desenho feito pelo coletivo russo Zuk Club que mostra as horas através das sombras geradas pelas rampas além de artes que lembram mandalas.

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A escolha pelo uso do cobogó na fachada dos galpões veio como elemento de identificação visual, pois o tijolinho à vista foi o material mais encontrado nas construções das habitações do bairro. Além da função estética, seus desenhos vão garantir um jogo de luz, sombra e privacidade ao interior dos galpões, fazendo os tijoliinhos reassumirem assim o sentimento de pertencimento que os indivíduos dos bairros poderão ter pelo projeto.

Cobertura de lona tensionada

A cobertura de lona tensionada faz alusão lúdica à uma tenda de circo. Com a coloração branca para reduzir a absorção do calor, tem inclinação de 30% e é aparafusada à armação por meio de ganchos de aço. A lona é leve e resistente à água, suportando todas as intempéries. Os pilares da cobertura terá um sistema de captação da água da chuva que escoará dentro do pilar e será drenado no solo em reservatórios que abastecerão todo o terreno. A tenda foi pensada como um espaço comum à livres intervenções da população local.

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Fonte das imagens: http://www.archdaily.com.br/br/797614/16-detalhes-construtivos-de-aparelhamento-de-tijolos

Identificação visual

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detalhes técnicos


Trazendo mais um traço de organicidade para o projeto, o espelho d’água que permeia seu caminho entre os galpões, faz referência e homenagem ao córrego que dá nome à cidade de Ribeirão Preto. Relembrando o cuidado com os recursos naturais e tornando mais próxima a relação dos cidadãos do bairro com a água. Trazendo conforto térmico para o ambiente proposto os mini aspersores inseridos presos junto às pedras de seixo polido preto do fundo do espelho d´água, que disparam gotículas de água para cima periodicamente e refrescam o espaço coberto pela lona tensionada. Duas pontes de concreto passam por cima do espelho d’água permitindo a travessia assim como há trechos do espelho d’água que podem ser pulados sem muito esforço.

Para resolver o problema de ruídos exteriores aos galpões, foi usado um recurso do vidro acústico com folha dupla. Ele é composto por duas lâminas de vidro, paralelas, de tamanhos diferentes e com espaçamento de ar e um perfil de alumínio entre eles. http://www.divinalvidros.com.br/produtos/duplo-insulado/

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considerações finais

O projeto proposto no primeiro ponto da rede-rizoma é uma constante de mudança de uma escala maior que trará para cidade novas percepções e movimentações no sentido de união dos ribeirãopretanos. Neste caso, pretendeu-se projetar um lugar acolhedor que se assemelhasse às lembranças confortáveis de cada indivíduo, que por meio do programa de necessidades projetual foi contemplado por atividades artísticas, físicas e psicomotoras, que potencializarão as interrelações e as vivências íntimas. Em suma, a arquitetura servirá como propulsora de modificações infinitas nos indivíduos dos bairros que, desde a escolha da materialidade utilizada até a dimensão pensada em cada espaço, fez desse projeto, único e com grandes potenciais de transformações.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, M. Não-Lugares. Introdução a uma antropologia da supermodernidade. 3º ed. Coleção Travessia do século. Campinas, Papirus, 1994. BACHELARD, G. A Poética do Espaço. 2º ed. São Paulo, Martins Fontes, 1993. “Biblioteca Pública Municipal e Parque de Leitura / Martín Lejarraga” [Biblioteca Pública Municipal y Parque de Lectura / Martín Lejarraga] 29 Set 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Delaqua, Victor) <http://www.archdaily.com.br/163919/biblioteca-publica-municipal-e-parque-de-leitura-slash-martin-lejarraga> Acessado 26 abr. 2016. “Centro de Cultura Digital CCD / at103” [Centro de Cultura Digital CCD / at103] 05 Jan 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Alves, Jorge) <http://www.archdaily.com.br/90070/centro-de-cultura-digital-ccd-slash-at103> Acessado 26 abr. 2016. Deleuze G., Guattari F. apud Rafael Trindade, artigo:<https://razaoinadequada.com/2013/09/21/deleuze-rizoma/>Acesso em: 06 nov. 2016 ELALI, G. A. Psicologia e Arquitetura: em busca do locus. Rio Grande do Norte, 1997. FERRARA, L. D. Olhar Periférico: Informação, Linguagem, Percepção Ambiental, 2º ed. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1999. HERZOG, J. Immaterial/Ultramaterial. 1º ed. New York, George Braziller, 2002. MARIOTTI, H., artigo: <http://www.teoriadacomplexidade.com.br/textos/autopoiese/AutopoieseCulturaSociedade.pdf> Acesso em: 14 abr. 2016. NORBERG-SCHULZ, C. Intenciones en Arquitectura. 2º ed. Barcelona, Gustavo Gili, 1998. PALLASMAA, J. Os Olhos da Pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre, Bookman, 2011. “Parc de la Villette / Bernard Tschumi” [AD Classics: Parc de la Villette / Bernard Tschumi] 21 Dez 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Eduardo Souza) <http://www.archdaily.com.br/160419/classicos-da-arquitetura-parc-de-la-villette-slash-bernard-tschumi> Acessado 26 abr. 2016. REIS, L. B., artigo: <http://www.unicamp.br/fea/ortega/temas530/leon.htm>Acesso em: 26 abr. 2016. ROSA, M. L. Microplanejamento Práticas Urbanas Criativas. 1º ed. Editora de Cultura, 2011. SCHMID, A. L. A Ideia de Conforto: Reflexões sobre o ambiente construído. Curitiba, Pacto Ambiental, 2005. ZEVI, B. Saber ver a arquitetura. 5ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 1996.

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_Urbanóide_ Neste asfalto torto Buracos e valetas Ando com demasiada pressa Pressa de amaciar o caminho Ouvir o passarinho que canta Canta pela sua liberdade Canta em si bemol, mas muitas vezes Confundidos com dó. Canta para a urbanidade que cresce e o deixa Entre fios de alta tensão, Entre prédios de más construção, Condutas de ódio e desamor Enfim como todos nessa gaiola torta Que és este mundão. { Natascha M. Vital }


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