Minha Caranga Os Mitos da VW ,
A HISToria dos carros mais populares do mundo e, de quem os mantem em casa ,
ADAPTADOS,SIM ~
AS MAQUINAS QUENTES
CARANGAS DO CINEMA
ANTIGOS E IMPORTADOS
TUNADOS,NaO
DO REI ROBERTO CARLOs
EDITORIAL Uma revista para ler em casa, no conforto de uma poltrona. Quem sabe apreciando um bom café. A Minha Caranga é isso, um momento de lazer, um intervalo no estresse do dia-a-dia, uma leitura tão agradável quando a de um livro. Aqui, colecionadores e amantes das carangas poderão mergulhar no universo do antigomobilismo e se sentir tão à vontade que vai parecer que estão conversando com cada personagem. É que, como você, sabemos que todo carro antigo é um objeto histórico, que remonta a trajetória da nossa própria humanidade. Mas, para além disso, concordamos que há um valor inestimável, que somente quem possui o automóvel pode contar. Na Minha Caranga, além de conhecer as estradas pelas quais as carangas já rodaram, você vai poder entender o que faz os antigos tão especiais para quem os possui. Imagine só reencontrar um carro que pertenceu ao seu bisavô. Mais do que isso, conseguir comprá-lo, restaurá-lo e deixa-lo como você o conheceu. Sim, o saudosismo é inebriante, tem cheiro de infância. Mas já pode parar de imaginar, pois a história aconteceu e está a apenas algumas páginas de distância. São emoções do colecionador Paulo Renato e nós compartilhamos com você. E já que estamos no ano do fim da fabricação da Kombi no Brasil, que tal se despedir em grande estilo? Em “O Adeus da Velha Senhora”, vamos acompanhar a trajetória de um dos carros mais populares do mundo e entender porque a VW decidiu tirá-lo das linhas de montagem. Trazemos para você também a história de um modelo retrô, pintado à mão, que tem até nome: Oldercy. Uma das Kombis mais charmosas que circulam pelas ruas de Natal. Kombis e Fuscas são os grandes destaques da nossa primeira edição, mas você ainda vai saber como o Rei Roberto Carlos iniciou sua paixão pelas “máquinas quentes”, descobrir quais são os antigos que foram estrelas da TV e da sétima arte, além de dicas úteis para quem se apaixou por um carro antigo estrangeiro ou quem sonha em um dia conquistar a tão falada placa preta. Enfim, preparamos cada página com o mesmo carinho que um colecionar cuida do seu modelo – quase que como um filho. Esperamos que possamos surpreender você, leito, nesta e em todas as nossas próximas edições, com a criatividade e o olhar apaixonado que repousamos sobre cada história. Separe um sofá confortável e boa leitura.
,
SUMARIO 08 Frases da Edição 10 Idas e Vindas do Fusca 16 Geração Old Beetle 20 Antigos e Importados 22 O Carro do Meu Bisavô 30 Os Carros do Rei 34 Em Busca da Placa Preta
40 Jackson Turbo 46 Adaptados sim, Tunados nรฃo
51 Carangas do Cinema 52 Hall da Fama 54 Adeus da Velha Senhora 62 Light, a Kombi de Woodstock
64 Sรกvio, Dercy e Oldercy
Fala, Colecionador “Uma vez eu parei em um sinal em frente a um ponto de ônibus lotado. É claro que todo mundo ficou olhando o Fusquinha. Quando o sinal abriu e eu fui sair, o cabo do acelerador quebrou. Aí eu abri a porta e tinha um palito de picolé no chão. Fui no motor, coloquei no lugar do cabo e fui embora.” Bruno Costa, co-fundador do Northeast Volks Clube.
“A minha filha entra no carro sempre que quer, eu deixo ela mexer em tudo. Algumas coisinhas já quebraram, mas é só mandar consertar. O que importa é ela começar a gostar também. Alguém vai ter que cuidar desses carros pra mim um dia.” Adriano Rocha, colecionador e membro da Comissão de Placa Preta do CCA-RN.
8
“As únicas que podem realmente não gostar dos Fuscas são as mulheres que andarem nos modelos mais antigos, porque o conduíte do combustível passa por dentro do carro e, como o tanque é na frente, o vento leva o cheiro da gasolina para os cabelos delas. Mas, fora isso, pode fazer o teste!” Sergio
Almeida,
colecionador,
fusqueiro,
coordenador
“Às vezes a pessoa tem o carro, gosta, cuida, mas fica só naquilo. E, para colecionadores, não dá pra ser feliz sozinho. Afinal, um dos maiores prazeres é poder partilhar o sentimento e ter com quem conversar.” Paulo Renato, colecionador, membro do Natal Fusca Clube.
de
comunicação no Natal Fusca Clube.
“Empresários, hippies e surfistas – esses são os três principais tipos de donos de Kombi. Como surfista, posso dizer: dá pra levar os amigos e as pranchas. Se for necessário, da até pra dormir lá dentro.”
Sávio Luna, surfista, dono de uma Kombi coletiva.
9
Idas e vindas do
Fusca 10
xiste carro mais simpático e alegre do que ele? O Fusca é, sem sombra de dúvidas, a cara do Brasil, está marcado na vida dos brasileiros, dos mais velhos até os mais jovens, nascidos quando ele já não era sequer fabricado. Afinal, quem não vivenciou seu apogeu soube dele nos livros de história. A trajetória do veículo está intrinsicamente ligada ao crescimento do país: é um ícone do desenvolvimento econômico na década de 1950, do então presidente Juscelino Kubitschek, que modernizou o país através da produção automobilística. 11
Porém, longe de toda bonança que representa para nossa nação, a origem do Fusca remonta a um capítulo tenebroso da história mundial. A encomenda veio da Alemanha, em nome do próprio Adolf Hitler, que queria um carro pequeno e econômico, para servir às necessidades do país à época, ainda devastado pelos horrores da Primeira Guerra Mundial. O pedido fora concedido em 1933 pelo engenheiro Ferdinand Porsche, que criou um modelo de baixo custo e alta resistência. O sucesso foi instantâneo, principalmente durante o período de enfretamento militar. Diversas são as imagens do ditador nazista a bordo do modelo, que era sempre produzido em um azul escuro meio acinzentado, quase preto. Uma cor bem
12
ao estilo da política alemã da época. As primeiras 215 unidades foram, invclusive, entregues somente a signatários nazistas, de modo que a produção em série começou apenas em 1941, quando se tornou o “carro do povo”, o mais vendido em solo alemão. Com fim da Segunda Guerra e a derrota nazista, a economia foi enfraquecida e a própria fábrica, localizada em Fallersleben, havia sido destruída. No entanto, o Fusca conseguiu sobreviver aos tempos difíceis e sua
produção foi retomada pelo governo. Em 1947, o início das exportações fez da Holanda o primeiro país a recebe-los. N o ano seguinte vieram os conversíveis. Com espaço para dois passageiros, tinham o motor mais potente que os tradicionais e foram produzidos até a década de 1980. Foi num conversível, aliás, que Juscelino Kubitschek desfilou em pé, em dezembro de 1959, na inauguração oficial da fábrica da Volkswagen, na Via Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP). A chegada dos primeiros Fuscas no Brasil, já havia acontecido há oito anos, mas eram todos importados e restritos às elites. Graças à visão de economia interna de JK, que trouxe a empresa para solo nacional, o custo se tornou mais acessível. Aqui, eles saíram com motor 1200 e 54% dos componentes nacionais.
Como era esperado, o êxito se repetiu. Somente no primeiro ano foram vendidas mais de oito mil unidades. Nesta época, a nível mundial, a VW já produzia cerca de um milhão de Fuscas por ano e uma média de mil por dia. Para nós, vieram os primeiros traços do impacto social do carro: com o acesso da classe média, parte da população deixou de andar de bondes e optou pelo veículo próprio. Por isso, as casas passaram por um reajuste de espaços, afinal, a grande novidade era a construção das garagens nos jardins. Uma curiosidade, no entanto, é sobre seu nome. Muito provavelmente em decorrência da dificuldade em pronunciar-se a língua alemã, em cada lugar do mundo ele foi batizado diferentemente. A lista é grande e a maioria é relacionada aos animais com os quais seu formato se assemelha. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi chamado de “Beetle”, que em inglês significa besouro. No México foi “Escarabajo” (escaravelho), na França “Coccinele” (joaninha), na Bulgária, “Kostenurka” (tartaruga). No Brasil, o nome foi uma derivação “aportuguesada” do nome original: Volkswagen Sedan. Como em alemão o “V” tem som de “F”, os brasileiros costumavam chamar de “Folkswagen”. Depois de tirar o “Sedan”, tiraram o “wagen”, tornando-se apenas “Folks”. Posteriormente, chegou-se ao Fusca. E de apelido, tornouse oficial: era tão comum que a empresa resolveu adotá-lo oficialmente em 1983. 13
de
ruas e muito menos do
assunto
três milhões de unidades
lado esquerdo do peito de
conversa:
fabricadas
até
quem cresceu junto com
em outubro, no Salão do
a o fim da produção,
ele. É, inclusive, o carro
Automóvel, em São Paulo,
em
fora de linha que mais
o New Beetle, uma espécie
se vê circulando por aí,
de versão atualizada e
entre
moderna do Fusca. O novo
Foram
mais
no
1996,
finalmente
país
quando
sucumbiu
competitividade
à
com
colecionadores
e
nas
tem
rodas
foi
de
lançado
modelos mais modernos
usuários do dia-a-dia – é
carro
traços
mais
e não conseguiu incluir
um velhinho, mas ainda
esportivos, como o teto
itens de segurança que
“aguenta o tranco”, como se
pintado de preto, frisos
se tornaram obrigatórios
diz. Somente em Natal são
cromados na grade inferior
como o airbag e o freio ABS.
dois clubes especializados
do para-choque e um filete
Neste ano, foi instituída a
apenas nele, o Clube de
de led nos faróis. O interior
data de 20 de janeiro como
Fuscas de Natal e o Natal
é altamente luxuoso, com
o Dia Nacional do Fusca,
Fusca Clube. E se procurar
direito a bancos de couro
e a VW lançou a Série
em grupos de amantes do
e tecnologia no melhor
Ouro, com quantidade de
antigomobilismo, lá estão
estilo Audi. Ironicamente,
carros reduzida e detalhes
eles.
a nova geração chega ao
diferenciais. O último país
Brasil como a primeira,
a tirar o carro de linha foi o
a
México, em 2003.
O retorno
O carro saiu das
Em 2012, o saudosista
fábricas, mas não saiu das
Fusquinha voltou a ser
14
preços
altos
e
inacessíveis. O custo do automóvel pode chegar a R$ 100 mil.
15
GERAÇÃO Old Geração Old Beetle Beetle
16
Se você procurar a pessoa que menos entende de carros, antigos ou atuais, talvez ela diga que não sabe o nome de nenhum automóvel. Mas mostre um Fusca e ela o reconhecerá. Pelo menos é o que garante Sergio Almeida, coordenador de comunicação do Natal Fusca Clube. A máxima é verdadeira até para crianças que nem viveram a era do Fusca e, para ele, este é um dos motivos que o fazem ser mais do que “o carro do ano”: é o carro do século – do passado e deste. Não é possível negar que há verdade nisso. Até os menos apaixonados hão de reconhecer que é, de fato, o modelo mais famoso da Volkswagen no Brasil. Até a chegada do Uno, da Fiat, era o primeiro carro de todo jovem ou de quem estava começando a vida. Um reinado que resistiu inclusive ao fim da fabricação pela marca, há mais de dez anos. A última “fornada” saiu em 1996, uma espécie de despedida, quando foi lançada a Série Ouro com um número reduzido de carros.
Apenas 1.500 unidades foram produzidas no Bras, cada uma leva o símbolo da Série Ouro na lateral
17
Sergio é um representante da geração que experimentou a estrada pela primeira vez em um Fusca. Para ele, possuir hoje um exemplar da Série Ouro e mantê-lo original é um privilégio. Foram apenas 1.500 unidades para todo o país, em quatro cores: branco star, prata lunar, vermelho tacá e verde vice, a cor do seu. Todos os modelos são muito raros atualmente, principalmente porque vieram com itens especiais de fábrica. De fato, o carro é diferenciado. Curiosamente, por assemelhar-se em detalhes a outros modelos. O volante é do Gol, o banco tem estofamento igual ao Pointer GTI, o manual do proprietário é o mesmo da série Itamar. Além disso, o painel vem com fundo branco, o farol de milha é feito especialmente para ele, na mesma cor da pintura e tem ainda o desembaçador do vidro traseiro. Seu Fusca, contudo, é o mais novo do Clube. Entre os 40 sócios, o mais antigo pertence justamente ao mais jovem: um modelo 1968, de cor azul, de
18
Arthur Gabriel, que tem apenas 18 anos. O carro foi o pedido de presente ao pai quando passou no vestibular. A história, é claro, ficou famosa entre os fusqueiros. – O pai já queria dar um carro pra ele, então perguntou qual ele gostaria de ganhar. Quando Arthur disse que queria o carro do século, o pai e a mãe entraram em pânico. Só podia ser uma Ferrari, lembra Sergio, rindo. O Natal Fusca Clube se reúne todas as terças-feiras, a partir das 19h, no estacionamento do SeaWay, religiosamente. Assiduidade, aliás, a única exigência para ser associado. São todos bem-vindos, desde que mostrem que realmente vivem o antigomobilismo. Todo novo integrante é acolhido, mas só ganha a efetivação, os adesivos e camisas oficiais depois de 90 dias, período em que deve frequentar as reuniões semanais e será observado, enquanto recebe ajuda de um “padrinho”. Desde a fundação, são apenas sete meses de existência, por isso ainda não realizam
eventos próprios, mas participam de todos os outros promovidos na capital potiguar, além de viagens para municípios do interior, geralmente integrando iniciativas filantrópicas. Já foram, à convite, para Barra de Maxaranguape e Pedro Velho. Nas duas ocasiões, expuseram os carros e levaram cestas básicas arrecadadas pelo grupo para pessoas mais necessitadas. Em Natal estiveram presentes também quando da tragédia que se abateu sobre o bairro de Mãe Luiza, zona leste da cidade, e um desmoronamento de terra levou dezenas de casas abaixo. Novamente, levaram alimentos para doação. Apesar de poucas, as viagens são sempre um evento que esperado. – As “carreatas” de Fuscas coloridos cruzando o estado sempre chamam atenção. As pessoas param para olhar, às vezes até pedem que a gente pare um pouco para que fotografem. Uma rotina à qual quem é colecionador já está acostumado, lembra Sergio.
Fusqueiros por amor Ciúme parece ser algo um pouco inevitável quando o amor precisa ser divido e o relacionamento de quase todo amante de carros antigos passa por isso. Sergio conta que às vezes a esposa se queixa quando sente que o carro ganha mais atenções do que ela, mas é compreensiva. A única vez em que chegaram a realmente discordar foi quando compraram um carro zero, mas havia somente uma garagem coberta. – É claro que o Fusca ficou protegido, jamais deixaria ele no sol, estragando a pintura. Mas para haver conciliação, aluguei outra garagem – lembra o fusqueiro. Amor, aliás, é o que faz colecionadores como ele cuidarem de seus carros como se fossem filhos. O Série de Ouro dele é lavado e polido toda a semana. Em casa, fica sempre embaixo de uma capa. Se vai sair tem que estar sempre por perto. Tem orgulho de mostrar o design, o cromado que não se produz mais hoje em dia – e que requer muito mais atenção para não enferrujar. E tal qual um pai reconhece o choro ou o riso do filho, Sergio garante que o som do motor de um Fusca é inconfundível. É possível, inclusive, saber quando o motor é 1600 ou 1300, já que o primeiro é mais alto do que o segundo. O barulho é, de acordo com ele, como ouvir um “besourinho”. E como toda família sempre tem a ovelha negra, ele confessa: – Não aceitamos muito esse New Beetle. É como o “primo rico e esnobe” que ninguém gosta.
19
Antigos &
Importados
Guia Prรกtico Para Importadores de Primeira Viagem 20
Gosto não se escolhe, se impõe. No mundo do antigomobilismo isso pode variar bastante: há aqueles que prefiram os carros fiéis ao modelo original, outros aderem aos “tunados”, há os de passeio, até os de guerra. Mas... e quando um colecionador se apaixona por um modelo que não existe no país? Nestes casos, duas recomendações: atenção e paciência para lidar com o processo de importação. Não é novidade para nenhum brasileiro a complexidade na tramitação de grandes compras no exterior. Impostos, tempo de espera... Mas para quando o coração bate mais forte, o prazer supera qualquer dificuldade. No caso dos carros antigos há uma série de fatores que influenciam na viabilidade da compra – se algo estiver fora do “manual”, o novo membro da família pode não conseguir chegar em casa. Para evitar surpresas ou dores de cabeça preparamos um guia prático para importadores de primeira viagem.
Qualquer um pode comprar? Para vir ao Brasil, a primeira exigência é que o carro seja “maior de idade”, precisa ter fabricação de pelo menos 30 anos. E se o interessado ainda não é associado a algum clube, eis a sua primeira obrigação. Isto porque a importação de veículos usados, de modo geral, não é permitida, a menos que tenham a idade estipulada e que a compra se dê para fins culturais ou de coleção. Outra especificação inicial é que não é permitida a compra em quantidade, para comércio, ou mesmo quando se configura a chamada habitualidade. Ou seja, nada de comprar um importado todo ano.
Sai caro? Sim, adquirir um antigo lá fora sai caro. Normalmente, somando-se os gastos com fretes e os tributos aplicados, o valor pode chegar ao dobro, quando não ao triplo. Com uma calculadora na mão, dá para se ter uma ideia do custo com impostos. Anote: -Imposto de Importação de 35% sobre o valor do custo e do frete (C&F); -Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), de 25% sobre o valor do bem; - Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), de 18% sobre o valor do carro (que pode variar de acordo com o estado); - COFINS, à alíquota de 9,6% e PIS/PASEP, à alíquota de 2%, também sobre o valor do carro. E já que é para falar de custos é bom lembrar que o carro antigo importado demandará um cuidado maior, uma vez que a reposição de peças será sempre mais cara, por vir de fora do país.
Por isso, o pretendente precisa ser zeloso e dedicado. Nossa dica é: evite comprar modelos que precisem de restauração!
E a burocracia? Hora de se preparar com documentos e avaliações. O primeiro passo é fazer um registro de importador no Sistema Ambiente de Registro e Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros da Receita Federal, o chamado “RADAR”. A aprovação no órgão pode levar até dois meses e serve apenas para uma importação. Ou seja, você precisará refazê-lo caso queira comprar outro carro. Com o RADAR em mãos, o interessado deve buscar o Certificado de Adequação à Legislação Nacional de Trânsito, o CAT, fornecido pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). É o CAT que certifica o número de chassi (VIN) e o número do motor, que serão usados para posteriormente registrar o veículo. O último documento a buscar é a Licença de Importação (LI), cuja solicitação é feita por meio do Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), acessível pelo site da Receita Federal.
Como posso pagar? Nada de efetuar o pagamento diretamente ao comprador. A transação deve ser feita em um banco no Brasil, que deve operar no mercado de câmbio — negociar uma taxa de câmbio e entregar o valor do carro em Real. O banco remeterá o valor correspondente em dólar ao vendedor no exterior.
Acabou? Está quase lá. Depois de pagar ao vendedor, você ainda precisa pensar no transporte do veículo, que pode ser aéreo, marítimo ou terrestre, a depender do local de origem. Para evitar problemas, o mais indicado é contratar um Agente de Cargas que cuide do processo de coleta, preparação, liberação alfandegária e envio do carro para o Brasil. Porém, é justamente na chegada que é preciso ter mais atenção, pois um descuido pode levar a mais gastos desnecessários. Para que o carro seja liberado, é obrigatório que o novo proprietário já esteja com o CAT. Sem ele, o veículo ficará retido e uma taxa diária será cobrada para mantê-lo na alfandega. Ou seja, nada daquela mania de deixar tudo para a última hora! Pronto, agora acabou.
21
Clรกssico 22
23
A história de Paulo Renato e seu Fusca amarelo-manga 1979 começa antes mesmo de ele nascer. Em uma época em que ter carro ainda era luxo, João Evangelista, seu bisavô, conseguiu tirar o Fusquinha zero da fábrica. O automóvel passou quatro anos em suas mãos, até que o destino o fez trocar de dono pela primeira vez. No dia 3 de março de 1987, um dia antes de Paulo vir ao mundo, Seu João se despediu da vida e deixou a viúva como nova herdeira. Dona Raimunda nunca soube dirigir, o que naquele tempo era muito comum para mulheres e até para muitos homens de sua idade. Afinal, havia apenas pouco mais de duas décadas que comprar um carro se tornara possível no Brasil. Por isso, o Fusca passou alguns anos parado. Felizmente, a distância da sua garagem para a casa de Paulo era muito curta: os dois eram vizinhos. A proximidade permitiu que a curiosidade do menino repousasse os olhos no amarelinho. 24
Não foi amor à primeira vista. Na verdade, foi um amor até um pouco estimulado, mas da maneira mais natural possível. É que, aos cinco anos, Paulo foi apresentado ao primeiro Fusca de que tem lembrança, o Herbie. O personagem da Walt Disney, um fusquinha 1963 branco pérola, simpático e personificado, conquistava crianças desde 1969, em sua primeira aparição, no longametragem “Se meu Fusca falasse”. Depois de ver o Herbie ganhando corridas e perceber que aquele na garagem era quase igual a ele, não deu outra: Paulo queria se sentir como o herói infantil das telas da TV. Passou a pedir para os pais passearem com ele e era sempre atendido. Assim, a ligação entre o menino e o carro dava seus primeiros passos – ou rodava os primeiros quilômetros. O amarelinho, contudo, era mais para isso, passeios de vez em quando. No máximo, um quebra galho para os pais, já que os dois trabalhavam e tinham apenas um carro. Por causa conflito de agendas, Dona Raimunda chegou a ceder o Fusca, mas logo o casal conseguiu adquirir um usado e então ele voltou para garagem da bisavó, saindo apenas em algumas ocasiões – que para Paulo eram sempre uma diversão à parte. 25
princípio, quis apenas de recordação. Mas não demorou muito para que ele colocasse na cabeça que queria (e poderia) achar o carro e consegui-lo de volta. Foi aí que iniciou a busca. Enfurnou-se
em
casa durante um fim de semana e ficou de plantão no computador. A partir do chassi, descobriu o Renavam e a placa atual do carro – que, vale salienMas
não
durou
depois, quando já tinha
tar, passara da cor ama-
muito tempo. Pouco mais
19 anos e carteira de
rela de duas letras para
de um ano depois, a tia
habilitação. Ajudava a avó
as cinzas com três letras
vendeu a uma amiga. E
a organizar uma papelada
que conhecemos. Insistiu
essa amiga a outro ami-
antiga em seu escritório
e conseguiu os primei-
go... e de mão e mão, ele
no momento em que ela
ros dados do proprietá-
foi perdido de vista. Ficou
lhe fez a pergunta.
rio: nome e idade. Mas
apenas na memória afeti-
– E isso aqui, meu filho?
ainda faltava o endereço,
va dos tempos de crian-
Ainda vai querer ou eu
uma informação sigilosa.
ça, que agora, um pouco
posso jogar fora?
Como conseguir?
maior, Paulo olhava com
Era o manual do
– Expliquei toda a situa-
proprietário, ainda com
ção a um amigo policial e,
a assinatura de seu bi-
depois de muita conver-
Não foi acaso
savô. Lá, todos os dados
sa, convenci-o a buscar o
O começo do fim do
do amarelinho, as revi-
endereço no banco de da-
desencontro
sões e, inclusive, a com-
dos da polícia para mim –
binação do chassi. A
conta ele, rindo.
saudosismo.
mais 26
de
aconteceu
uma
década
Tinha um certo receio, não sabia como o carro estaria. Mas já havia decidido que o compraria independente disso, queria mesmo que estivesse somente a lataria. Porque a restauração ele até conseguiria depois, mas não seria a mesma coisa se fosse outro Fusca qualquer. Tinha que ser ele, o seu Fusca, o que fora do bisavô que não pôde conhecer, mas que permeou as melhores lembranças da infância. Coordenadas em mãos, faltava apenas a coragem de ir até lá, falar com o novo dono do carro. Quer dizer, coragem tinha, tanto que foi três vezes. Mas não sabia que abordagem usar para não assustar quem quer que fosse. Afinal, o quão inusitado seria se um estranho aparecesse na sua casa dizendo que conseguiu seu endereço na polícia porque quer comprar seu carro, que na verdade já foi dele quando era criança? Para sorte dele, não foi o que a dona da casa achou. No dia em que seu sexto sentido o avisou foi até lá novamente e, desta vez, encontrou-a entrando em casa. Era o
momento. Esperou que o portão fechasse e em seguida apresentou-se. A moça espiou por um espaço entreaberto e ouviu toda a história. Fez uma série de perguntas sobre o Fusca para saber se era tudo verdade, e todas as respostas bateram. Foi convidado a entrar. – Tudo bem, eu acredito em você. Mas o que você quer? – Eu quero comprar o carro. – Mas o carro é do meu filho e ele não quer vender, é muito apegado. – Então me deixe ao menos vê-lo. Então, encostado na lateral da casa, estava
o amarelinho. Ainda era amarelinho, apesar de um pouco desbotado. Não tinha mais a vivacidade daquela cor que o encantava nos tempos de menino. Quando pôs os olhos nele viu como estava diferente. Bancada de couro, roda aro 17, diversas modificações. Mas sabia que “era ele”. E isso o fez marejar os olhos. Quando o marido da moça chegou em casa Paulo contou tudo outra vez. Trocaram os telefones e ele fez o pedido: – Eu sei que vocês não querem vender. Mas se um dia, qualquer dia, vocês mudarem de ideia, por favor, me avisem.
27
Então, mesmo sem previsão nenhuma de compra, começou a juntar dinheiro. Juntou durante bastante tempo, até que teve um grave problema de saúde e precisou usar tudo na internação. Ironicamente, bastou as economias acabarem para a tão esperada ligação chegar. Seria uma sinal? Que nada. Mesmo sem um tostão furado fechou a compra e garantiu pagamento em uma semana. Começava a peregrinação para conseguir dinheiro emprestado. Por coincidência ou arquitetura do destino, a história chegou aos ouvidos do tio-avô, filho de Seu João, que ficou sensibilizado e decidiu ajudá-lo. Finalmente o Fusquinha voltava para casa. Mas então foi a vez do próprio Paulo sair dela: iria se mudar de cidade, começar uma vida nova em outro estado. Pagar uma cegonha para trazer o carro estava fora de cogitação, se não tinha dinheiro nem para pagar o tio ainda, quem diria para isso. Teve que ir embora sozinho. Mesmo assim, durante dois anos deixou que a saudade o puxasse pelo braço todos 28
os meses, fosse só para dar uma olhadinha nele, fosse para ligar o motor ou fazer as manutenções que fossem possíveis. Um grande dia, duas fortes emoções As viagens nunca foram problema para Georgia, sua noiva. Porém, o mais perto que chegaram de preocupa-la foi justamente no dia casamento, em janeiro de 2014. Por não ter condições de bancar uma cegonha, Paulo esperava pelo contato de um conhecido que fazia fretes. Aguardava uma ocasião em que estivesse vindo para sua nova cidade. E adivinha quando a ligação chegou? Sim, na
manhã do grande dia dos noivos. Mais uma vez as memórias mais importantes do Paulo estavam intrinsecamente ligadas ao amarelinho. O grande dia do casal foi bem diferente para cada um: Geórgia passou a tarde no salão, enquanto ele pegava a estrada para garantir a vinda do Fusca. – Viajei correndo naquele dia para dar tempo de embarcar o carro. Mas confesso que estava mais preocupado em deixar ele sozinho do que perder a hora da cerimônia, comenta rindo.
– Hoje meu carro
laxar. E esse momento
significa para o Paulo
tem 100% das peças no-
eu escolho passar com o
menino e o homem que
vas. Foi um investimento
Gelb. Quando entro nele,
é hoje. A ligação afetiva
caro, mais do que o dobro
eu consigo voltar no tem-
tornou-se tão grande en-
da compra. Ele custou R$
po e me sentir como uma
tre todos que quando os
6 mil e eu já gastei cerca
criança. É desestressan-
parentes ligam de estados
de R$ 13 mil nele. Mas
distantes e fazem aquela
vale a pena cada centavo.
clássica pergunta sobre
Consegui deixá-lo exata-
como estão todos na casa,
mente como era na mi-
o Gelb nunca fica de fora.
nha infância, se você qui-
Tornou-se um “membro
ser saber como ele era na
da família”.
época, é só olhar para ele
O único “ciumen-
hoje, conta feliz.
to e possessivo”, na ver-
O amarelinho ago-
dade, é ele mesmo. Mas
ra se chama Gelb, ama-
nada fora do normal, são
relo em alemão, língua da
apenas reflexos do amor,
pátria mãe do fabricante.
aquele cuidado extra que
O batismo carinhoso veio
se ganha quando a ba-
da própria esposa. Para
talha para conquistar o
ele, uma prova de que não
outro é difícil, sabe? Pro-
existem ciúmes na rela-
teção que fica bem clara
ção dos três. O máximo
durante a própria entre-
que acontece são adver-
vista.
tências, quando ela acha
– O mais distante
que ele está se dedicando
que eu chego do meu car-
exaustivamente ao carro.
ro é como estamos agora.
Mas Paulo garante que é
E só porque o pessoal do
tudo saudável – aliás, qua-
Clube, que eu confio, está
se que como uma terapia.
olhando ele para mim. Se
– Eu tenho o momento de
te, é maravilhoso.
eu for para um lugar que
trabalhar, o momento da
E a adoção do Gelb
eu ache que não é seguro
família, o momento com
não foi somente pela es-
e eu não possa mantê-lo
a esposa e tem o meu
posa. Toda a família pa-
sob vista, eu prefiro ir em-
momento sozinho, de re-
receu entender o que ele
bora. 29
OS
Carros do
30
Rei
Foi através da música que o Rei conseguiu sua majestade. Romântico incurável e eterno apaixonado por carros, Roberto Carlos conquistou seus maiores sucessos cantando sobre quilometragens e brotos que conheceu pela estrada. “Parei na contramão”, “O Calhambeque”, “O Cadillac” – só para citar algumas. A relação do cantor mais adorado e comercialmente bem sucedido do país com os automóveis é antiga. Natural de Cachoeiro de Itapemerim, no Espírito Santo, os sonhos do menino Roberto passavam longe dos palcos e da fama, estavam na verdade dentro de oficinas. Queria ser mecânico. Tinha verdadeiro encanto por caminhões. Cantar só entrou em seus planos quando começou as aulas de piano e descobriu que tinha a voz afinada. Se apresentou em uma rádio local, tomou gosto pela música, fez sucesso - e o resto é história. De lá para cá, já são mais de 50 anos em “alta velocidade”, dirigindo uma variedade de carros de deixar qualquer colecionador babando. Como muitos brasileiros, começou com um Fusquinha - branco, de estofamento vermelho e com três anos de uso. Uma de suas primeiras aquisições com o retorno financeiro do início de carreira. E a evolução nas “máquinas quentes” de Roberto veio de acordo com o sucesso. Do Fusquinha, foi para um Bel Air, também branco com interior também vermelho. E também usado. Por causa de um acidente perto de
Três Rios, com pouco tempo precisou trocar a caranga. Foi quando comprou seu primeiro zero quilômetro, outro Fusca 1965. No ano seguinte, já estava com uma frota: um Oldsmobile Cutlass conversível novinho, um Impala 1964 e uma limusine Cadillac Fleetwood 1962. Na vida e na arte Durante a trajetória foi, inclusive, astro de cinema por três vezes. Interpretou a si mesmo em “Roberto Carlos em ritmo de aventura”, de 1967. Na cena a mais emblemática do filme, aparece pendurado a vários metros de altura, por um guidaste, a bordo de um Chrysler Esplanada. Pela coragem e, claro, pela propaganda do carro, Roberto acabou ganhando um modelo novinho para chamar
de seu. Nas aparições, estava sempre pilotando os grandes modelos da época, ou cantando músicas que tinham os carros como tema. Em 1970, estrelou no filme mais visto do Brasil naquela década, “Roberto Carlos e o Diamante Rosa”, junto a outros dois queridinhos da Jovem Guarda: Erasmo Carlos e Wanderléia. Na produção, o lançamento de mais duas clássicas canções sobre rodas, “Nas curvas da Estrada de Santos” e “120, 150, 200km por hora”. cas que tinham os carros como tema. Em 1970, estrelou no filme mais visto do Brasil naquela década, “Roberto Carlos e o Diamante Rosa”, junto a outros dois queridinhos da Jovem Guarda: Erasmo Carlos e Wanderléia. Na produção, o lançamento de mais duas clássicas canções sobre rodas, “Nas curvas da Estrada de Santos” e “120, 150, 200km por hora”.
31
Por último, mas pela primeira vez interpretando um personagem, foi às telonas em “Roberto Carlos a 300km por hora”, de 1971. Mesmo assim, não saiu do universo motorizado - viveu o Lalo, um mecânico que tinha o sonho de ser piloto de Fórmula 1. Como não poderiam faltar, aparecem as carangas, todas pilotadas por ele. No fim da produção, mais uma vez, foi presenteado com um carro. Desta vez, um Charger R/T, doado pela Chrysler. Mas, afinal, Roberto Carlos é mesmo um colecionador? Não só é como já até participou de exposições. Em 2010, os fãs de São Paulo puderam ver de pertinho o Calhambeque Azul que o Rei buzinava quando se inspirou para um de seus maiores hits. Além dele, claro, um Cadillac, um LTD e uma Mercedes-Benz 1978 prateada. Em São Paulo tem ainda mais um carro, só que um bem discreto, um Escort Guarujá preto, de 1992. Talvez o cupê seja por querer passar desapercebido na multidão paulista. Um dos queridinhos do Rei, entretanto, revela que nem só de antigos vive o homem. Um carro que,
especula-se, seria único no país, importado sob encomenda por ele. Um Lamborghini Gallardo LP 5704 Spyder Permormante, avaliado em mais de um milhão de reais. Foi neste (super!) possante de luxo que ele chegou para mais uma participação em um cruzeiro, em 2014. Em 1970, estrelou no filme mais visto do Brasil naquela década, “Roberto Carlos e o Diamante Rosa”, junto a outros dois queridinhos da Jovem Guarda: Erasmo Carlos e Wanderléia. Na produção, o lançamento de mais duas clássicas canções sobre rodas, “Nas curvas da Estrada de Santos” e “120, 150, 200km por hora”. Por último, mas pela primeira vez interpretando um personagem, foi às telonas em “Roberto Carlos a 300km por hora”, de 1971. Mesmo assim, não saiu do universo motorizado - viveu o Lalo, um mecâ nico que tinha o sonho de ser piloto de Fórmula 1. Como não poderiam faltar, aparecem as carangas, todas pilotadas por ele. No fim da produção, mais uma vez, foi presenteado com um carro. Desta vez, um Charger R/T, doado pela Chrysler.
Mas, afinal, Roberto Carlos é mesmo um colecionador? Não só é como já até participou de exposições. Em 2010, os fãs de São Paulo puderam ver de pertinho o Calhambeque Azul que o Rei buzinava quando se inspirou para um de seus maiores hits. Além dele, claro, um Cadillac, um LTD e uma Mercedes-Benz 1978 prateada. Em São Paulo tem ainda mais um carro, só que um bem discreto, um Escort Guarujá preto, de 1992. Talvez o cupê seja por querer passar desapercebido na multidão paulista.
É novo, mas é quente Um dos queridinhos do Rei, entretanto, revela que nem só de antigos vive o homem. Um carro que, especula-se, seria único no país, importado sob encomenda por ele. Um Lamborghini Gallardo LP 570-4 Spyder Permormante, avaliado em mais de um milhão de reais. Foi neste (super!) possante de luxo que ele chegou para mais uma participação em um cruzeiro, em 2014.
Roberto e Fitipaldi posam ao lado do famoso calhambeque azul
32
Antes que algum colecionador discorde, basta seguir a linha de raciocínio: o novíssimo italiano não destoa em nada do estilo Roberto para carros. Afinal, a fama de amante de “carrões” não é nenhuma novidade. Em 1965, em “Festa de Arromba”, Erasmo Carlos já anunciava que a entrada em grande estilo já era uma marca: Mas vejam quem chegou de repente, Roberto Carlos no seu novo carrão... Em depoimento, ele próprio explica que os presentes que se dá são uma forma de compensação pelo que não pôde ter quando era um menino pobre no Espírito Santo. Mas afinal, quem somos nós para questionar o Rei, não é mesmo? À Revista Cadillac, só resta esperar também ter uma chance de poder ver de pertinho o Calhambeque mais famoso do país.
33
EM BUSCA 34
placa DA preta 35
Símbolo de orgulho
70% de conservação, o que
tempo desligados, ou cor-
para quem possui e objeto
requer um esforço gran-
rem o risco de parar de
de desejo para quem ainda
de dos proprietários. No
funcionar. E, nestes casos,
não chegou até lá. A placa
Rio Grande do Norte, ape-
conseguir peças originais
preta é sinônimo de origi-
nas 60 donos alcançaram a
para troca é não é tão fácil
nalidade no mundo do an-
conquista. Destes, 50 fazem
assim.
tigomobilismo. Para o co-
parte do Clube de Carros
Atualmente são pou-
lecionador, o status de um
Antigos do RN, o maior do
cas as opções de reposição
carro antigo é como o de
estado.
no Brasil, a maioria em São
uma obra de arte, por isso
carro
Paulo ou Minas Gerais. Ou
quanto mais fiel ao mode-
com décadas de existência
seja, para quem mora fora
lo original, melhor – e nada
funcionando com as peças
desses estados, a situa-
mais gratificante do que
de fábrica exige dedicação,
ção já está um pouco mais
atestar isso publicamente.
por isso se torna uma rari-
complicada. O problema é
As placas pretas fo-
dade ainda maior. A gaso-
que mesmo nestes locais,
ram criadas na década de
lina deve ser mais durável,
há pouca variedade de pe-
1990 pelo Código de Trânsi-
de alta octanagem, já que a
ças disponíveis, então a so-
to Brasileiro para designar
rodagem do carro deve ser
lução é buscar fora do país,
os modelos que possuam
baixa, para preservá-lo. Ao
normalmente nos Estados
no mínimo 80% de fidelida-
mesmo tempo, os motores
Unidos – o que acaba levan-
de à linha de montagem e
não podem passar muito
do ainda mais tempo.
36
Manter
um
Mas, antes que alguém se assuste, é importante lembrar que a dificuldade não é ônus exclusivo dos antigos. - As concessionárias não são mais feitas para dar esse tipo de assistência ao condutor, servem mais para revisão e manutenção. É compreensível, três mil veículos zero começam a rodar todos os meses no nosso estado. É impossível manter estoque para todo mundo, explica Adriano Rocha, colecionador e membro da Comissão de Placa Preta do CCA-RN. Se ainda assim alguém ainda fica assustado com a possibilidade de ter muitas dores de cabeça para manter um antigo original, ele lembra
O TESTE
que a probabilidade de um carro novo quebrar é sempre
Para conseguir a placa
teran Car Clube e o CCA-RN
preta, o colecionador precisa
são autorizados a realizar a
- Por causa da parte
conquistar o reconhecimen-
inspeção.
eletrônica. São peças de fá-
to de um órgão responsável
Ao contrário do que
cil destruição, oxidação. Os
pela licença. O carro deve
se possa imaginar, a avalição
carros de antigamente eram
ser submetido a inspeção de
não soma pontos, na verdade
feitos para durar, para resis-
um clube credenciado pelo
os subtrai. Todos os candida-
tir a estradas de barro, pistas
pela Federação Brasileira de
tos começam com 100 e vão
ruins. Prova disso é ver mo-
Veículos Antigos, para que
perdendo a medida fogem
delos mais velhos resistirem
este possa emitir o Certifica-
ao padrão exigido. Alguns
conservados até hoje. Os de
do de Originalidade. Para se
itens, contudo, não são
hoje prezam por conforto, se-
ter uma ideia, o Rio Grande
aceitos de maneira alguma
gurança e principalmente por
do Norte conta com mais de
e excluem imediatamente o
economia. Mas a durabilidade
5 clubes, mas apenas o o Ve-
carro.
maior.
é posta de lado. 37
38
existe carro 100%.
mente o amor, a vontade
cações, apesar de resul-
- Eu nunca dou todos os
de conservar o carro. In-
tarem na perda de dois
pontos para o carro. É
clusive, para ele, a ideia
a três pontos cada, são
algo de escolha minha.
de que as pretas fazem
aceitas. Um motor que
Cada comissão tem cinco
o veículo se valorizar no
originalmente possuía ig-
avaliadores, eles podem
mercado é falsa.
nição aplatinada e hoje é
pensar
mas
- É tabu. Eu tenho
elétrico, um dínamo que
eu vejo assim: se eu der
modelos com e sem pla-
teria
elétrica
100 pontos para um carro
ca preta. E um dos sem
mas está com um alterna-
hoje e amanhã chegar um
já venceu até uma com-
dor, ou mesmo um carbu-
melhor que ele, eu avaliei
petição contra um preta.
rador que deveria ser de
o primeiro errado. O má-
Assim como é besteira
corpo simples mas está
ximo que eu dou é 99.
achar somos nós que ga-
Algumas
modifi-
geração
diferente,
entre-
nhamos status com placa
postulante
tanto, parece ser o de
ou prêmios. O p rê m io é
seguir a lista de exigên-
menos para quem alme-
d o c ar ro . S e um d ia eu
cias, não há com o que se
ja a placa preta. Para
v end er m eu s c arros (o
preocupar. Mas Adriano
Adriano, o que move os
que n ão p r et end o), o
garante que com ele não
colecionadores
p r êm i o i r i a j un t o.
com corpo duplo. Se
o
Pontuação,
é
real-
Tabu: SP2 sem placa preta de Adryano venceu um placa preta durante exposição
39
T
Jackson
urbo
o fusqueiro de
40
6 rodas
41
São seis rodas no total, quatro do Fusca cinza zito 83, mais as duas da cadeira de Jackson de Araújo. E vão para todo lugar, sempre que ele precisa sair de casa. Paratleta de natação, o colecionador é o único dono de carro antigo adaptado do Rio Grande do Norte e faz parte de clubes de Fuscas há oito anos – primeiro no Pequenos Gigantes, de 2006, do qual foi co-fundador, depois o Clube de Fusca do RN, de 2007 e agora integra o Natal Fusca Clube, de onde não pretende sair. Seu comportamento perante o carro, contudo, difere do da maioria dos companheiros associados. A começar que o seu é mais do que item de coleção, é meio de transporte.
42
Por isso, acha excessivo quando ouve algum colega dizer que anda pouco para preservar o motor. Ou que tem receio que cheguem muito perto ou até mesmo entrem no carro, seja para olhar ou para tirar fotos. Neste caso só tem duas regras: nada de comida e nada de cigarro – detesta o cheiro, como qualquer não fumante. Para se ter uma ideia, um dos passeios que mais gosta de fazer é ir à praia com a esposa e dirigir à beira-mar. A maresia, é claro, é um dos principais inimigos para quem tem um carro com tantas peças metálicas. Mas ele não liga, diz o bom do Fusca é esse: se enferrujar é só trocar. Não é como esses “carros de plástico” de hoje, que é difícil de conseguir peça. O
gosto pela proximidade com as ondas, contudo, lhe rendeu histórias para contar. Uma delas foi de quando foi flagrado por um guarda ambiental. É que, como se sabe, utilizar o carro nessa região é proibido, já que é uma área de tráfego de pessoas. Foi parado e se justificou: - Seu guarda, o senhor me desculpe, mas é que eu sou cadeirante, se eu quiser tomar banho essa é a única forma que eu tenho de chegar até o mar. O senhor deve saber que quase nenhuma praia é acessível para deficientes, então não me resta outra opção. O guarda ainda protestou, mas o deixou passar. De outra vez, em uma dessas idas de encontro ao mar, esqueceu de esvaziar os pneus. Então, quando a a r ei a f i c o u m a i s f o f a ,
“
Já me cansei de ver motoristas estacionando
irregularmente em vagas especiais. É decepcionante. Eu nem vou mais falar, porque eu sei que vai dar em briga.”
o carro acabou atolado. Nesses momentos, “sobra” para a esposa o trabalho de cavar próximo aos pneus, enquanto ele retira um pouco do ar. Já aconteceu mais de uma vez, mas ele diz que não reclama, não tem besteira de sujar a mão de graxa se for preciso. Aprendeu a dirigir no próprio veículo, o primeiro que comprou. É que apesar de ser lei, ainda são poucas as auto-escolas de Natal que possuem carros adaptados para atender os cadeirantes. Em 2005, quanto tirou sua habilitação, eram simplesmente inexistentes, por isso mesmo, gastou R$ 800 para comprar as peças necessárias. Duas
alavancas: uma para a embreagem e uma que freia e acelera, todas na altura do volante, acessíveis às suas mãos. Atualmente, de acordo com Jackson, existem outros tipos de aparelhos para direção de cadeirantes, até mais modernos. Com um sensor no câmbio, a embreagem se torna “automática”, então só é necessária uma alavanca, para aumentar e diminuir a velocidade. No mercado, chegam a custar R$ 4 mil. Mas ele garante que não valem a pena, vivem apresentando problemas e a cada seis meses precisam de revisões que custam caro.
Ao alcance das mãos: são duas alavancas, uma passa a marcha e a outra acelera e freia 43
Entre dificuldades e deleites, já se foram quase o
dez
anos
Fusquinha.
alteração no
A
que
motor,
com única
fez
foi
que
ele
transformou de 1.3 para 1.6. O motivo? Primeiro, aguentar
o
dia-a-dia.
tranco Mas,
do
além
disso, é que ele gosta de correr. Já ganhou, inclusive, o apelido de “Jackson Turbo”, pelas altas velocidades com as quais gosta de deslizar pelas estradas. A única O curioso é que Jackson passou um ano dirigindo sem a carteira e nunca foi parado em nenhuma blitz. Até que, no dia em que voltava do último exame para conseguir a carta, um policial resolveu lhe pedir os documentos. A sorte é que estava com os papeis do Dentran-RN e pôde comprovar que acabara de finalizar as últimas provas do processo de formação de condutores. Mais uma vez, o policial ficou um pouco contrariado, mas acabou por deixa-lo seguir. Ao contrário do que possa soar, Jackson não é um transgressor por natureza. É que, de fato, a cidade não ajuda. A única vez em que esteve um local completamente 44
adaptado aos cadeirantes, segundo ele, foi no Canadá. Em Natal, admite, houve uma progressão, ainda que tímida. Mas além das dificuldades estruturais, ele conta que o que mais o incomoda é a falta de educação das pessoas. - Já me cansei de ver motoristas estacionando irregularmente em vagas especiais. É decepcionante. Eu nem vou mais falar, porque eu sei que vai dar em briga. Estaciono perto e fico apenas observando. E denuncia: – Em alguns locais, não bastasse o problema da conscientização, as empresas simplesmente pintam o chão. Mas sinalizar não é suficiente, nós precisamos de um espaço maior para montar a cadeira antes de descer do carro.
parte
inconveniente
é
que, para ele, não é um carro
econômico.
Faz
cerca de 10km por litro, quando se ainda fosse 1.3, faria entre 13 ou 14. Quantos
ainda
passará junto dele ainda não sabe, mas tem certeza de que, se depender da deterioração
do
carro,
ainda vai demorar muito. - É um carro potente, feito
para
atravessar
até o deserto, já que a refrigeração dele é a ar. E se continuar no ritmo de conservação, a
próxima
precisarei
vez
que
mexer
no
motor será daqui a mais dez anos, brinca.
45
Adaptados, sim.
Tunados, n達o. 46
antigos, eles são adeptos do hoodride. O
estilo
começou
na Califórnia, justamente De
fato.
com a VolksWagen, que
de
por este motivo batiza o
“tunar” vem da Europa
nome do clube. Em uma
de 1960. Um carro tunado
pesquisa rápida na internet
pode modificar desde a
as primeiras fotos podem
lataria aos motores. A ideia
assustar os mais tradicionais:
é
automóveis
é que eles são fãs da ferrugem
com a personalidade dos
e outros sinais de desgaste. É
palavrão. É o que adverte
proprietários,
como um culto aos “danos
Bruno
disso,
A
Nem sobre
fale
tunning
perto deles: isso é um
deixar
os
mas, além seu
naturais” que o tempo causa
de um Fusca 1976 e co-
desempenho, segurança e,
nos veículos, que reflete, de
fundador
aos olhos dos donos, a beleza.
certa forma, a história do
Volks Clube. A menção
No
carro e do seu proprietário.
é pelo grande desagrado
é tão séria que existem até
quando
os
empresas especializadas em
Em
veículos adaptados, grande
marcas específicas, as tuning
significa mais ou menos
forte do seu grupo, com os
houses.
“carro do gueto”. Foi criado
Costa,
27,
do
dono
Northeast
confundem
é
mania
aumentar
exterior, essa cultura
É claro que a ideia de
modificados. Uma distinção
A origem faz entender. inglês,
hoodride
justamente por pessoas da
transformação é realmente
periferia
– Todas as adaptações
abominável para qualquer
investir nos veículos, mas
dos nossos carros são itens
colecionador, já que vai
não tinham muito poder
de série, são pequenas
contra
econômico
peças, detalhes, mas que
antigomobilismo, que é a
l o. Por isso, priorizavam
já existiram nos nossos
preservação. Contudo, os
os
modelos
sócios do Northeast têm,
esportivas,
sim,
Mas a pintura acabava
que, explica, é grosseira.
É
bem
antigamente. diferente
de
a
uma
essência
do
característica
que
queriam
para
motores,
f azê rodas
suspensão...
que os diferencia e que
ficando
numa nave espacial, isso
divide
entre
plano. Por isso a lataria
sim é tuning.
os
carros
descascada, com manchas.
transformar
o
veículo
opiniões
amantes
dos
em
segundo
47
– Os mais velhos não entendem: sempre que nos encontramos com os “coroas” eles nos crucificam, perguntam como temos coragem de fazer um pecado desses... Mas eles não entendem. É um gosto, um estilo. Não fomos nós que inventamos, mas nós nos identificamos com ele, esclarece o jovem colecionador.
48
Apesar do estigma de descuidados, nem todos os sócios são adeptos do visual “surrado” dos hoods. O próprio Bruno procura manter seu Fusca azul firenze sempre impecável. O polimento sempre está tinindo, os cromados brilhando e, ao menor sinal de problema mecânico, ele corre para a oficina. Assim como qualquer amante do antigomobilismo, ele garante que cuida como um filho. Outro ponto forte que às vezes reforça a confusão com os tunados é o rebaixamento. No Northeast isto é tão levado à sério que, para se tornar membro oficial, o candidato tem que diminuir a suspensão e entregar para os veteranos as duas lâminas do eixo que são retiradas dos carros para deixá-los “lambendo o chão”, como eles dizem entre si. Mas ele garante que isso não prejudica o carro, é só dirigir com cuidado. Existem ainda outras peculiaridades para fazer parte do grupo. Eles são fiéis à ideologia e só aceitam carros da Volkswagen. Atualmente, têm Fusca, Kombi, Variante, Karman Guia e até uma Brasília – todos com motores refrigerados a ar, uma marca de fabricação que foi da década de 1950 até 1996. A exigência demonstra o comprometimento com os antigos, já que a refrigeração a água é um traço mais moderno, do fim da década de 90 até hoje.
49
Carros, amigos e rock’n’roll Fundado em 2008, o clube nasceu quase que como por geração espontânea. Eram todos amigos, gostavam dos carros antigos adaptados e compartilhavam ainda o mesmo gosto musical: o rock’n’roll. Por que não criar um grupo? Northeast, por serem todos nordestinos. E assim foram crescendo: os três membros iniciais saltaram pra 12, mas, se contarmos os não oficiais, chegam a quase 30. – Chamamos de “não oficiais” porque fazemos questão de só efetivar aqueles que tiverem um carro dentro dos moldes. Teve um colega que
até comprou um Fusca e rebaixou para fazer parte! Mas no geral todos entendem, até porque são sempre bem-vindos, bem tratados. Só não são um Northeast, diz Bruno. A naturalidade da criação foi reforçada até pela própria diferença de idade entre eles e a maioria dos colecionadores. São todos jovens, entre 20 e 30 anos, e às vezes sentiam pouca conexão com a realidade dos mais velhos. São os “tiozões”, como eles chamam. O alicerce principal do grupo é a amizade. Quando um carro “fica no prego”, todos se mobilizam para ajudar. Se decidem fazer
alguma encomenda de fora do estado ou do país, vão todos juntos, torna-se uma compra coletiva. Não realizam eventos ainda, mas pagam uma mensalidade que viabiliza as reuniões em datas importantes para eles. O clima é realmente de confraternização. – Uma vez apareceu uma oferta muito boa e eu pensei em vender meu carro. A minha mãe me perguntou ‘o que você vai fazer com seus amigos? Todos gostam dele!’, conta rindo. Para ele, os Fuscas são máquinas de fazer amigos. Por isso, não há possibilidade do grupo terminar, só crescer.
O Northeast Volks Clube se reúne todos os sábados no estacionamento do Carrefour da Zonal Sul de Natal, a partir das 17h. 50
Carangas do Cinema Para os aficionados de carteirinha - aqueles que, só de olho, sabem o ano de lançamento, se alguma peça foi modificada e em que época aquele item esteve em fabricação, ver um carro antigo é sempre um grande divertimento. Porém, mesmo para aqueles que não entendem muito, mas se sentem atraídos pelo visual e o design retrô, poder observar os antigos é igualmente agradável. Para especialistas e amantes sem PHD, a Revista Cadillac criou a sessão Cadillac on movies, com dicas de filmes nos quais nossos queridinhos motorizados dão o ar da graça. Tem gênero para todos os gostos, aproveite.
Cadillac Records – Em plena década de 1940 o filme conta a história de Leonard Chess, homem branco de origem pobre, que tinha dois sonhos: ter uma vida econômica estável e possuir um Cadillac. Para chegar até lá resolve abrir uma gravadora musical, a Chess Records, que dá espaço, pela primeira vez, para os afro-americanos mostrarem a força do Blues. Com o sucesso Chess passa a presentear cada artista contratado com um Cadillac novinho – ou seja, carros antigos não vão faltar!
60 Segundos – Nicolas Cage vive Randal Memphis Raines, um lendário ladrão de carros que consegue roubar qualquer veículo em um minuto. E sim, quase todos os carros que ele consegue tomar são antigos. Depois de muitos anos Memphis decide largar a vida de bandido. O problema é que seu irmão resolve
seguir
os
mesmos
passos e acaba se dando mal. Para salvá-lo, Memphis precisa deixar a aposentadoria e roubar 50 carros em uma só noite. Este filme promete adrenalina em alta octanagem.
Encurralado – O primeiro longa de Steven Spielberg é a nossa dica para quem gosta de um bom suspense. A bordo de um Plymouth Valiant, David Mann, um pacato vendedor de eletrônicos em viagem de negócios, ensina porque não se deve provocar motoristas desconhecidos nas estradas. Ao fazer uma ultrapassagem, David acaba despertando a ira de um caminhoneiro, que passa a lhe perseguir incessantemente. Para quem gosta de sentir aquele calafrio na espinha, é uma boa dica! 51
Hall Da Fama “Deixei o Aero fazendo um serviço durante a tarde. Quando voltei, o dono da oficina disse que um estranho havia passado por lá e perguntado quem era o proprietário do carro. Ele respondeu que era eu e perguntou o porquê da curiosidade do passante. O outro então disse que teria sido ele mesmo quem trouxera o carro de Brasília. Deu para ter certeza que ele falava a verdade porque eu já havia trocado o as placas, não teria como ele ‘adivinhar’ de onde tinha vindo. E então a tal pessoa disse que o Aero teria participado das filmagens de um especial de fim de ano de Roberto Carlos, no qual ele cantava a música “Caminhoneiro” – mas não lembrava o ano. Como eu sou fã, sabia quando tinha sido o lançamento da canção: 1984. Fui atrás de um especialista, Seu Chico, dono de um bar temático do Rei. Para minha alegria descobrimos o Aero Willys na fita cassete em que ele havia gravado o programa. Fiz uma cópia pra mim e guardo com muito carinho.
52
“O proprietário resolveu me vender em um evento de carros antigos em São Paulo. Só que, na hora, a caminhonete não estava lá. Ele disse que eu esperasse um pouquinho porque estavam gravando um longa metragem com ela – mas nem ele sabia que filme era. Não me importei com a demora, eu realmente queria muito o carro. É que tenho uma foto ainda pequeno com meu pai e uma babá dentro dele, então tinha um valor sentimental. Fui receber o carro seis meses depois. Um belo dia, estava assistindo a televisão quando aparece o filme Cine Hollyúde. Quando eu vi a caminhonete rodando com o personagem do prefeito fiquei surpreso. Fiquei olhando para o telefone esperando tocar – e não deu outra. O antigo dono me ligou e começou a dizer que eu era muito sortudo e demonstrou um certo interesse em comprar o carro de volta. Mas ele sabe que eu jamais venderia. Fiquei brincando dizendo que, se ele quisesse, eu deixava ele dar uma volta, tirar umas fotos.”
53
54
O Adeus da Velha Senhora
No mundo dos carros antigos, o grande burburinho deste ano foi o anúncio do fim da fabricação da Kombi pela Volkswagen. O motivo da comoção é compreensível, com mais de 60 anos na estrada, ela marcou gerações. A própria empresa criou um vídeo publicitário, no qual a Kombi aparece como uma velha senhora que se despede, emocionada e saudosista, ao fim de uma longa caminhada. A Revista Minha Caranga reconta agora sua criação, as razões que levaram ao seu fim e o relato de quem ainda guarda um modelo com carinho.
55
1957: a primeira Kombi produzidano Brasil sai de fábrica
A primeira vez que se pensou nela foi ainda na década de 1940 e podemos dizer que é uma prima não tão distante do Fusca. Seu inventor, o holandês Bem Pon, desenhou o protótipo de um veículo de porte médio e baixo custo, que fora fabricado a partir do conjunto mecânico do WV Sedan. Ou seja, Kombi e Fuscas compartilham peças importantes, como o motor – daí porque o ruído de ambos é tão parecido. Mas enquanto o primo foi pensado como estratégia bélica na Alemanha, a Kombi só foi lançada em 1951, após a Segunda Guerra Mundial. O nome, assim como o do parente, também precisou ser adaptado para a pronúncia brasileira. Foi 56
uma abreviação de Kombinationsfahrzeug, que em tradução para o português significa “veículo combinado”. Este, inclusive, o grande sucesso do carro, já que permitia tanto o transporte de pessoas, até nove, como de cargas pesadas, de quase uma tonelada. Ao mesmo tempo, era muito fácil de manobrar, já que a diferença do tamanho para o Sedan era de apenas 21cm. A primeira versão vinha com motor quatro cilindros, refrigeração a ar e apenas 25 cavalos de potência. O início da fabricação ao Brasil, como o Fusca, foi em São Paulo, em 1953, mas aqui já saiu de linha
Você nunca perde em um estacionamento lotado, diz anúncio em inglês
com um upgrade, força de 30 cv. As únicas concorrentes eram a Rural, da Willys-Overland e, a partir de 1965, a Chevrolet Veraneio. Porém, nenhuma oferecia tantos lugares ou um consumo de combustível baixo por usarem motores grandes, de seis cilindros, garantindo à Kombi o primeiro lugar nas vendas. Nas propagandas publicitárias, a VW se gabava: era o único carro, fora ônibus e caminhões, em que era possível fazer passeios com a turma toda, carregando as malas e até um barco. Era o veículo ideal para viagens em família, mas também para pequenas e médias empresas que precisavam des-
locar produtos. Mais para frente se tornou ainda o queridinho dos transportes alternativos e serviços em geral, como ambulâncias e até carro de bombeiros. Foram produzidas, além das versões com janelas traseiras de vidro ou furgão, como picape, com cabine simples ou dupla. E menos de quatro anos após o lançamento, já chegavam os novos modelos: seis portas, nas opções luxo e standart. A versão brasileira, contudo, não permaneceu apenas em solo nacional. A partir da década de 1970, quando as exportações começaram, a nossa Kombi foi revendida para mais de cem países, como
a Argentina, o Chile, o México, o Peru, além de sociedades mais distantes como a Nigéria, na África. Em cada local onde chegou a Kombi teve nomes diferentes, foi Rugbrød na Dinamarca, Bus nos Estados Unidos, Junakeula na Finlândia e Papuga na Polônia. Em todos os países, contudo, as diferenças entre os modelos não eram muito grandes, já que foi somente em 1975 que a VW na Alemanha decidiu reestili zar o utilitário. A linha seguinte tinha a frente do Clipper alemão, vendido na Europa desde 1968. Junto com as mudanças estéticas, o motor também foi modernizado, passando a 1.6. 57
Mudamos até não poder mais Foram diversas as metamorfoses da Kombi ao longo do tempo. Na década 1980, era praticamente uma mudança por ano: em 81, ganha opção a diesel, em 82 ao etanol. Em 83, freios a disco e cinto de três pontos nos bancos dianteiros. Já na década de 1990, as modificações foram para atender as novas exigências da legislação ambiental: catalizador para reduzir as emissões de CO2 e injeção eletrônica no lugar do carburador – era o único carro brasileiro que ainda era carburado. Em 97, quando o país já era o último fabricante no mundo, foi lançada a Kombi Carat, considerada modelo de luxo. Tinha o teto mais alto, bancos em veludo, setas em cristal, lanternas traseiras escurecidas e a grande novidade: as portas corrediças. O preço era maior e, talvez por isso, não tenha tido boa procura, uma vez que seu grande apelo era ser acessível. Foi extinta dois anos depois. A partir de 2000, os últimos anos de sua repro58
dução, a VW decidiu produzir os veículos apenas na cor branca. A penúltima série foi em 2005, a Série Prata, quando deixou o posto de último carro do planeta ainda fabricado com o arrefecimento a ar, o que aumentou sua potência e economia. A modernização no sistema de resfriamento pegou desprevenidos aqueles acostumados com o alto ronco do motor, que tornava difícil até escutar a rádio: de repente era um carro silencioso como os outros. Além disso, se tornou flexível, capaz de rodar com gasolina, álcool ou até uma mistura dos dois. Ainda respondia por 7,2% das vendas no Brasil quando completou 50 anos de fabricação nacional. Por isso, no ano de 2007, 50 unidades saíram d e f á b r i c a
fábrica com pintura saia
e blusa nas cores vermelho e branco, numeradas com placa de identificação no painel. Em 2013, já sessentona, a legislação mais uma vez a obrigava a mudar. Precisava incorporar freios ABS e air bag até o ano seguinte. Especulações sobre o fim começaram, mas a VW preferiu não se pronunciar sobre o assunto e estudou em segredo uma saída. Infelizmente não houve engenheiro capaz de fazê-lo.
Aposentadoria e homenagens póstumas O d e s f e c ho j á er a c er t o . Ta n t o q ue no m e s m o a no , 6 0 0 un id a d e s f o r a m enc o m end a das para a Série Last Ed i t i o n . T o d a s s a í r a m c o m pi n t u r a r e t r ô a z u l s a i a e bl u s a , b a nc o s d e vinil, cortinas, acabam en t o d e l u x o e p l a q ue t a s enum er ad a s no p a i n el . O v alo r f oi b a s t a n t e s alg ad o , R $ 8 5 m i l r e a i s . M a s n em i s s o f oi c a p a z d e e s m o r e c er o s c o l e c i o n ad o r e s e a m a n t e s d a id o s a . A p ro c u r a f oi t ã o g r a nd e , q ue lo g o f oi n e c e s s á r i o d o b r a r a q u a n t id ad e . O ú lt i m o m o d elo
a sair da fábrica receb eu um a p lo t agem n a l a t er al e l ev ou f o t o s d e t o d o s o s t r a b al h ad o r e s d a V o l k sw agen d e S ã o B er n a rd o d o Ca m p o . C o l e c i o n ad o r e s c o m en t a m q ue o p r e ç o t er i a s id o a i nd a m a i o r . A s ú lt i m a s ho n r a r i a s no B r a s i l f o r a m em 2 0 14 , q u a nd o f oi l a n ç a d o o v í d e o pu bl i c i t á r i o e um ho t s i t e , no q u al p ro p r i e t á r i o s d e no r t e a s u l pud er a m c o n t a r h i s t ó r i a s e f a z er o s ú l t i m o s p e d id o s à v el h a s en ho r a . Q u i n z e d el e s f o r a m a t end id o s , i nc l u s i v e um enc o n t ro c o m
f ã s , r e al i z ad o n a p r ó pria fábrica. Na A l em a n h a , o m u s eu d a V o l k sw a gen , em Wo l f s b u r g , r e al i z ou um a ex p o s i ç ã o c o m Fu s c a s e K o m b i s c h a m ad a “ 6 0 a no s d a V o l k sw agen no B r a s i l ” . A l é m d a L a s t Ed i t i o n , m o d elo s a n t er i o r e s e s t i v er a m à m o s t r a . N o s i t e o f i c i al d o m u s eu constava: “Era assim [ K o m b i ] q ue o s ‘ c a r ro s d o s s o n ho s ’ d o s b r a s i l ei ro s er a m c h a m ad o s no s a no s 5 0 . N e s t e q ue s i t o , el e s t i n h a m um a p a i x ã o em c o m um c o m o s al em ã e s ” .
Kombi Last Edition 59
60
61
Light, o ônibus de Woodstock Uma Kombi multicolorida. Não é preciso dizer mais nada, a referência é instantânea: Woodstock, 1969. Movimento hippie, contestação pacífica, amor contra a guerra. A Kombi viveu tudo isso junto aos jovens daquela geração. E nos quatro dias em que mais de meio milhão de pessoas foram à fazenda Bethel, em NY, ouvir artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e The Who, ela também esteve presente. Light, The Woodstock Bus, ou o Ônibus de Woodstock, foi o símbolo daquele movimento, daquele show: a arte contra a violência. A pintura do modelo 1963 foi feita por Robert Richard Hieronimous, um Ph.D. da arte, famoso por já ter feito outros “Art Cars”, como eram chamados. Aquela, contudo, foi a primeira arte no estilo psicodélico dos anos 60 feita em uma Kombi. E cada parte dos desenhos carrega em si um significado, uma tradução das aspirações e da identidade daquela geração. Confira agora a anatomia da Light de acordo com o próprio artista.
62
Esquerdo Este é o lado que leva o nome da Kombi artística: Light. A maior parte dos símbolos se repete, como o Sol, o fogo e as ondas da água, sob as quais está novamente uma estrela de cinco pontas e uma folha. Um novo par de asas se abre sob a constelação.
Traseira Nesta parte do veículo vemos várias palavras. A primeira é, na verdade, uma assinatura, a do artista. Temos Shalom, paz em hebraico. Abaixo “S-He is coming”, que seria “Ela/Ele está chegando”. Nesta área, temos outra vez elementos da natureza, o fogo no canto esquerdo, as ondas da água, em azul, por todo o lado direito e, em dourado, ondas de força magnética. No encontro entre as três forças, o sol, cujos raios trazem símbolos das maiores religiões. Ainda nos dois lados estão símbolos da Mystery School, uma espécie de treino espiritual. No parachoque, “Nós vivemos” e “Para servir”, separados por um Olho de Isis.
Frente Temos a Via Láctea, o local de nascimento da vida no universo. Abaixo dela está um par de asas (espírito) sobre os componentes ar, terra, fogo e água. Em seguida, aparece a serpente mordendo o próprio rabo, que significa a eternidade, e nela oito círculos com corpos celestes: Sol (espiritualidade); Saturno (karma); Venus (Harmonia); Marte (atividade); Mercúrio (mente); e a Lua (personalidade). O círculo central é
o coração, a força coesiva universal, o amor. Do lado esquerdo, uma mão segura um sistro egípcio. Do direito, a constelação Piscis Austrinus. O peixe simboliza a regeneração ou o renascimento da consciência. Acima do parachoque, está representado um OVNI. E no parachoque, as expressões “Cristo em você”, “Voz do silêncio”, e “Ra Om”, um mantra antigo para meditação.
Direito
Teto Logo no início vê-se a palavra “oração”, referência à meditação interna. Acima, seis estrelas. Seis é o número da harmonia, da beleza e do balanço. As listras simbolizam energias: as vermelhas as masculinas e as brancas, femininas. São também as cores das listras da bandeira dos Estados Unidos. No final, o jardim de flores lembra os ciclos da vida e da morte, plantar e colher.
Como não poderia deixar de ser, uma homenagem ao símbolo da pátria norte-americana, a águia. Ela é posta como um centro de energia que regenera o planeta até suas conexões antepassadas, representadas pela Esfinge. Abaixo dela, uma serpente verde, que carrega dez encarnações do Deus indiano Vishnu. O Sol mais uma vez reaparece, fortalecendo a ideia de renascimento do espírito. Também são vistas várias estrelas de cinco pontas, que são a vitória das mentes intuitivas. Acima da águia estão escritos que são lidos em três idiomas: em hieróglifos lê-se “destino”, em hebraico “Sabedoria” e em escritos Atlantes está “Fora das trevas surge a luz”.
63
Sรกvio, Dercy e Oldercy
64
65
- Não tem uma vez que eu saia na rua com ela que não pare alguém, que não fotografe, que não buzine. Sempre atrai atenção, diz Sávio Luna. O estudante, junto a dois amigos, Alexandre Alves e Leandro Miranda, é dono de uma Kombi coletiva, uma das mais charmosas da capital potiguar, a Oldercy Gonçalves. De fato, não passamos dos 30 minutos de entrevista até que chegassem as primeiras pessoas perguntando de quem era o carro e se poderiam tirar algumas fotos. Ele, como sempre, consente. Mas a partir daí, é um olho na entrevista e outro nos curiosos em volta da Oldercy. Por que ela chama atenção? Pelo estilo. A começar que é muito difícil não simpatizar com a Kombi, um carro tão antigo e tão famoso em filmes, principalmente aqueles que retratam o Woodstock, na década de 60. Paz e amor. Mas ela não é qualquer Kombi. Diferente das mais recentes, a Oldercy é bicolor: metade bege VW 61 e metade vermelho ferrara. E tem toda uma aura vintage, os aros com faixa branca e detalhes em vermelho, vidro frontal split window, características que apenas os modelos mais antigos como ela, de 1966, possuíam. 66
Também era comum, aliás, os carros da Volkswagen não virem o retrovisor direito, que não era obrigatório pela legislação. Por questões de segurança, Sávio decidiu coloca-lo, mas fez questão de tirar os pretos de plástico, que eram produzidos aqui no Brasil, onde fora fabricada, e trocar pelos metálicos dos Estados Unidos, mais bonitos e que combinavam mais com ela. Tem placa preta, mas a sua faz parte do figurino despojado. Foi presente de Kristen Bañes, uma amiga, e veio direto da California. Dentro do carro, um show à parte: o estofado traseiro do banco do motorista virou tela para outra colega, que também resolveu presentear a Oldercy. Ela preencheu em cores um sol radiante, no mais típico estilo hippie. Sávio conta não sabia o que ela pintaria, mas confiou no tato da amiga – e não se arrependeu. Os outros bancos seguem a tendência, cada um é coberto com uma manta étnica estampada com os mais fortes tons do espectro de cores. Uma veio do México, outra do Peru e outra carrega os fios da verdadeira tessitura potiguar, para não perder as origens.
67
No painel, mais um item de época propositalmente estiloso: um porta garrafas com uma cerveja estrangeira, de vidro, com logomarca cheia de desenhos de surfistas. A maior parte dos acessórios gringos foi generosidade de Fulana. E a maior prova de que a Oldercy retribui o mesmo apreço por ela, é a foto que carrega no quebra-sol esquerdo. Um dos tantos passeios que fez, no qual a amiga estava presente. Um jeito de garantir que as duas estariam sempre juntas. Quando chegou a Natal, os três resolveram deixa-la com a cara da falecida. Um trabalho artesanal – tudo foi pintado às seis mãos. Ficaram algumas falhas, ele confessa. Mas o perfeccionismo nunca foi um objetivo. Outro detalhe diferente da fábrica e que também deixaria nervoso o colecionador mais tradicional é o emblema frontal. O símbolo da Volkswagen, já enferrujado, foi produzido e aplicado por um amigo, que acabou deixando ele torto. – Às vezes as pessoas tiram fotos e quando percebem que ele não está alinhado ficam achando que foram elas que não deixaram a mão parada na hora do clique, ri Sávio. Falando em foto, Sávio garante que nunca se importa que encostem nem que entrem no carro para fazer os registros. Só fica nervoso quando resolvem subir no parachoque. Afinal, é um parachoque e não um “puleiro”, como ele mesmo diz. A única vez em que ficou realmente chateado foi quando percebeu que um casal de estranhos, sem sua autorização, simplesmente abriu as portas e resolveu checar como era tudo por dentro. Compreensível: quem gosta que mexam nas suas coisas sem pedir?
68
Fotos cedidas
Mas já houve outros tipos de interessados na Oldercy. Ela já figurou como coadjuvante em pelo menos seis tipos de produções em vídeo diferentes – desde editorial de moda, propaganda política, até uma espécie de programa sobre a vida de uma surfista profissional de Natal. O nome do vídeo, disponível na internet, é Seis Ondas. Mas o convite mais inusitado talvez tenha sido quando ele foi procurado por uma noiva. Sim, ela queria chegar de Kombi no próprio casamento. E mais: dirigindo. – Fiquei surpreso quando ela me procurou, mas topei. Acho que a surpresa maior foi, na verdade, para o pai dela. A Kombi foi para fazer uma homenagem, já que ele teve uma no passado, mas foi tudo em segredo. O pai ficou esperando ansioso, achando que era a filha a cada carrão luxuoso que passava. De repente chega ela em uma Kombi, no assento do motorista. Ele ficou emocionado. Depois dessa vez, ainda foi contratado para um segundo casamento e mais quatro noivas já o procuraram. Cada serviço custa R$ 300 reais, dinheiro que é sempre revertido para os custos com gasolina e em investimentos na Kombi. Mesmo com tantas aparições, ele garante que não tem medo de que o carro fique visado e alguém tente rouba-lo. E explica o motivo de não ter essa preocupação: – Eu acho difícil isso acontecer porque o carro é muito chamativo para que passasse despercebido em qualquer lugar... E segundo porque ele não corre muito, então a fuga seria bem complicada, brinca.
69
70
71